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Melodia

Lisa Bee

De frente para a faculdade de música da Federal do Rio


de Janeiro, um prédio suntuoso e antigo, Marina
pensava se havia feito a escolha certa. Achava que sim.
Sua primeira aula seria em meia hora e aguardava
somente sua amiga chegar. Quando pensava que ela
iria atrasar, eis que alguém lhe toca os ombros.

- Cheguei!
- Ai Monica que susto!
- Calma Marina. Parece bicho do mato.
- Não ué, estou aqui distraída e você aparece do nada.
- E aí, o que achou da faculdade?
- Nem entrei ainda, mas o prédio é lindíssimo.
- Então vamos entrar que lá dentro é mais bonito ainda
e tem uma lanchonete que faz um sanduíche de queijo
maravilhoso.
- Nossa! Só pensa em comer meu Deus!

Entraram na faculdade, na verdade na escola de música


e passaram na lanchonete para Monica comer o tal
sanduíche, dali foram pra aula. Era de harmonia e
percepção. Sentaram não muito na frente, não queriam
chamar a atenção, mas isso era praticamente
inevitável. Monica era uma peça rara, tinha cabelos
cacheados, olhos cor de mel, era muito branca e
magra, tinha o rosto marcante, por onde passava,
todos olhavam. Com Marina não era diferente. Não
tinha quem não olhasse para aqueles olhos verdes.
Seus cabelos eram loiros até o meio das costas, tinha
uma franjinha simpática que deixava seu rosto jovial,
pele clara, nariz arrebitado, não era alta, seu rosto
parecia ter sido esculpido a mão, por ser um pouco
bochechuda, parecia um anjo barroco. A aula começou
e as duas se concentraram. Quando a aula acabou elas
se levantaram e já iam saindo quando a professora
chamou.

- Meninas... preciso falar com vocês. São novatas, sim?


- Sim. – Monica respondeu.
- Preciso anotar o nome de vocês para o diário.
- Monica Avilar.
- Marina Calleguer Sfalcin.
- Nossa! Como se escreve isso? Pode dar só um que
não tem problema.
- Marina Calleguer.
- Nomes de artista. – a professora brincou. – Vocês são
irmãs?
- Não. – Marina estranhou a pergunta.
- É porque os nomes têm a mesma inicial. – A
professora sorriu. - Prontinho. Estão liberadas.
- Sabe onde fica a secretaria? Preciso saber quem é
meu professor particular. – Marina perguntou.
- Qual instrumento?
- Piano.
- Primeiro ano?
- Sim.
- Deve ser com o Marconi. Procure no segundo andar,
primeira porta a esquerda.
- Obrigada.

Saíram da sala a procura da secretaria. Monica já sabia


qual era seu professor, pois fora à escola um dia antes.
Realmente a professora tinha razão, Marina teria aulas
com Marconi. Foram até a sala dele e a loirinha se
apresentou.

- Bom dia professor. Sou Marina Calleguer, terei aulas


de piano com o senhor.
- Bom dia menina. Não me chame de senhor, por favor.
– Ele sorriu.
- Tudo bem. – Marina sorriu também.

Marconi era moreno, meio gordinho e de estatura


mediana.

- Estou olhando aqui Marina, sua aula é amanhã às três


da tarde. Tem alguma coisa pronta que possa me
apresentar?
- Sim, duas músicas brasileiras.
- Ótimos, vamos nos dar bem, adoro brasileiras. E
você? Também terá aulas comigo?
- Não eu sou da transversa. – Monica falou com tanto
orgulho que parecia tocar um instrumento sagrado.
- Ah sim.

As duas saíram da sala e voltaram pra casa. Dividiriam


um apartamento na Tijuca, era modesto e cabia no
orçamento. Monica tinha uma vantagem sobre Marina,
seu pai ajudaria nas despesas por uns tempos, já a
loirinha teria que arrumar alguma coisa pra se
sustentar, pois seu pai não tinha muitas condições e o
pouco dinheiro que mandava, ela sabia que faria falta
em casa. As duas vinham de uma cidade do interior de
São Paulo, sabiam muito bem o esforço que as famílias
tinham feito para que elas estivessem ali.

- Preciso arrumar algum emprego, mas com aula às dez


da manhã e às três da tarde fica difícil hein.
- Logo você arruma alguma coisa, eu acho mais fácil à
noite. Você podia tocar em algum lugar. Na escola eu vi
uns avisos de gente procurando músico.
- Sim eu vi também, mas pianistas geralmente já têm,
o que eles procuram é sempre um baixista, cantor,
flautista. – falou apontando para Monica.
- Vamos procurar né?

E foi como Marina disse; os anúncios só procuravam


outros músicos. Em poucas semanas Monica já tinha
arrumado um conjunto para tocar. Era um grupo que
tocava em casamentos. Já Marina cada dia ficava mais
preocupada. Os meses iam passando e o dinheiro só
diminuindo. Um dia na aula, Marconi notou que ela
estava relapsa e perguntou.

- Que foi Marina, algum problema? To achando você


muito distraída. Está tocando como se tivesse deixado
a alma em algum lugar e só o corpo estivesse aqui,
você não é assim.
- Preciso de emprego, não posso ficar no Rio sem
trabalhar. Meus pais não têm condições de me manter
aqui.

Marconi pensou um pouco, achava que podia ajudar


Marina, mas não queria fazer falsas promessas.

- Posso perguntar a alguns de meus alunos se estão


precisando de pianistas, tenho amigos que tocam na
noite, você topa se aparecer algo?
- Claro, na minha cidade eu tocava em casamentos.
- Ótimo. Se souber de alguma coisa, te falo, mas
procure se concentrar e não ficar preocupada; vai
aparecer alguma coisa.

Depois da conversa Marina se sentiu mais confiante,


quanto mais gente soubesse que estava procurando
emprego, seria melhor. Os dias foram passando e nada
de emprego, estava quase topando um trabalho em
uma lanchonete, se caso isso acontecesse, teria que
mudar o horário da aula de piano e teria de trocar de
professor, não queria, mas seria o jeito. Rezava todas
as noites pedindo ajuda. O dinheiro andava curto e ela
economizava até na comida.
Numa sexta à noite, estava em casa estudando para
uma prova de harmonia quando Monica chegou
animada do mercado.
- Vamos sair!
- Vamos não, estou estudando.
- Vamos sim e você vai gostar. Os meninos do grupo
me chamaram para ir num barzinho lá no Leblon, só
toca MPB, você vai adorar.
- Hoje não, outro dia.
- Sai dessa fossa, você precisa sair.
- To sem grana. – falou meio chateada.
- Vamos entrar de graça.
- To sem roupa.
- Te empresto uma.
- To sem animo.
- Bom... aí terei de levar você à força. Anda levanta.

Monica insistiu tanto que Marina acabou indo.

Chegando ao tal barzinho, sentaram numa mesa mais


ou menos próxima ao palco. Em seguida chegaram os
amigos de Monica.

- Oi meninas, tudo bom? – um deles perguntou.


- Ótimo. Quando começam?
- Daqui a pouco, só falta o tecladista.

Os três sentaram com elas e ficaram de conversa. Hugo


era o baixista, Pedro o baterista e Eduardo o vocalista e
violonista. A banda se chamava Acorde. Os três
também estudavam música, só que Hugo e Pedro eram
da Unirio. Hugo era de Parati e Pedro do Rio mesmo,
assim como Eduardo, porém ao contrário dos outros ele
morava sozinho.

- Gente, ta quase na hora e o André não chega. –


Eduardo se manifestou.
- Ele sempre faz isso e eu já falei pra trocar de
tecladista, mas vocês nunca me ouvem. – Hugo
protestou já falando enfezado.
Esperaram mais um tempo, as pessoas já chegavam
em maior número, enchendo o bar. Então o dono veio
cobrar a apresentação deles.

- Gente, atraso toda vez não dá. Vamos começar.


- Já estamos indo. – Eduardo falou já pegando o celular
e tentando ligar para o tecladista. – O telefone não
atende. E aí?
- E aí que estamos ferrados! – Pedro concluiu.
- Vamos sem ele. Vai ficar esquisito, a gente pula umas
músicas e faz sem ele.
- Qual é o repertório de vocês? – Monica perguntou
tendo uma ideia.

Pedro pegou a folha e mostrou pra ela, que analisou


com cautela e depois olhou sorrindo para eles.

- Marina toca isso tranquilo, ela é pianista.


- Mas você não é piano clássico?
- Sou. – Marina estava meio sem jeito.
- Mas ela toca.
- Sério? – Eduardo estava animado.
- Claro. – Monica insistiu.
- Sim, eu sempre gostei de MPB, então essas músicas
me são familiares. – falou sorrindo. – Toco lendo cifras
também.

Monica sorriu ao ver a empolgação da amiga.

- Então vamos, antes que o dono nos dispense.

Em poucos minutos já subiam ao palco, era um


pequeno tablado, mas cabiam todos. Ajeitaram os
instrumentos e começaram. Marina não sabia dizer o
quanto estava animada. O show começou e parecia que
haviam ensaiado há meses, tamanho o entrosamento.
Num dado momento Marina viu entrar uma mulher
morena, alta, cabelos lisos pretos, rosto marcante e
tinha um sorriso quase sarcástico. Estava acompanhada
de uma mulher ruiva e de outro casal. Sentaram num
canto onde dava pra ver perfeitamente o palco.
Estavam tocando samba de uma nota só, quando Lívia
falou:
- Ainda bem que é sexta, vou passar o final de semana
dormindo.
- Que isso linda, tem de aproveitar pra fazer outras
coisas que não dá tempo durante a semana. – Bianca
falou acariciando a mão de Lívia debaixo da mesa.
- Pois então, vou dormir. – Lívia retirou a mão.

Bianca não era propriamente sua namorada, era uma


distração. Era uma ruiva de cabelos volumosos, não
passava despercebida nos lugares, tinha os olhos
castanhos e mais ou menos um metro e setenta e
cinco. Quase da altura de Lívia, que tinha pra lá de um
e oitenta.

Fizeram os pedidos e só aí Lívia reparou que no grupo


que estava tocando havia agora uma menina. Ia
sempre naquele bar ver a banda, pois era amiga dos
músicos.

- Ué, venho sempre aqui e nunca vi aquela menina ali


tocando.
- Deve ser outro conjunto. – Carlos, que estava junto
comentou.
- Não é. Os meninos são os mesmos, eu conheço o
vocalista, ele é namorado do meu primo, aquele que
trabalha comigo no escritório. É um cara muito legal.
- Quem você não conhece Lívia? – Larissa brincou com
a morena.
- Conhece meio mundo e a outra metade quer conhecê-
la. – Bianca falava orgulhosa, como se Lívia fosse uma
artista de Hollywood.
Lívia ficou admirada ao ver a loirinha, se distraiu levada
pelo som da música que tocava na hora, olhava pra ela
e sentia como se a conhecesse. Ficou totalmente alheia
aos outros da mesa. Sempre ia naquele bar porque
gostava das músicas que o grupo tocava, mas naquele
dia parecia ter algo especial. Ficou reparando na
menina que tocava teclado, estava concentrada, séria,
mas ao mesmo tempo tinha um semblante triste ou
talvez preocupado.

Quando o show acabou os garotos levantaram pra


agradecer e Marina permaneceu sentada. Então
Eduardo falou ao microfone:
- Queria agradecer imensamente uma pessoa muito
especial que salvou nossa noite hoje. Marina, por favor,
levante-se.

Então Marina levantou e foi aí que seus olhos se


cruzaram com os de Lívia que a olhava intensamente;
era como se estivesse vendo alguém que conhecia há
muito tempo. Nem ouviu direito as palmas direcionadas
a ela. Sentiu uma coisa esquisita, não soube explicar,
mas parecia que dali para frente sua vida não seria
mais a mesma.

Desceram do pequeno palco e juntaram-se a Monica,


que tinha acompanhado o show, animada.

- Gente! Adorei! Marina, você estava ótima.


- Que é isso Monica. – a loirinha estava visivelmente
sem graça.
- Nossa! Você salvou a nossa noite. Quero muito te
agradecer. – disse Eduardo animado.

O dono do bar chamou o rapaz, pagou o cachê da noite


e combinou para o dia seguinte. Gostou tanto que
resolveu chamá-los novamente. Eduardo voltou
contente e falando:
- Que tem pra fazer amanhã à noite? – perguntou a
Marina.
- Nada, por quê?
- Porque nós temos outra apresentação, o dono
chamou mais uma vez. Normalmente ele só chama
uma vez na semana, mas achou tão boa a
apresentação que vai ter bis.
- Nossa que ótimo! – Monica estava empolgada, sabia
que aquilo seria a salvação da amiga.
- Bom, nem combinamos o seu cachê. Mas quanto você
cobra para tocar com a gente? – Eduardo parecia sem
graça.
- Normalmente vocês dividem o cachê?
- Sim.
- Está ótimo, nós dividimos ué.
- Sério?
- Claro.
- Mas você tocou de improviso, foi chamada de última
hora. Geralmente o povo daqui não cobraria barato.
- Olha, eu não vou me aproveitar do problema de vocês
pra dar um preço abusivo. Nós dividimos.
- Essa menina caiu do céu! – Pedro falou fazendo
gestos como se estivesse rezando.
- Então ta combinado pra amanhã?
- Claro, podem contar comigo.

Pediram algo para comer e beber, era por conta da


casa. Eduardo estava combinando o repertório do dia
seguinte com Marina e quando olhou para o lado viu
Lívia e foi até a mesa dela.

- Licença gente, já volto.

Chegou até a mesa para cumprimentá-la.

- Boa noite, tudo bom gente?


- Eduardo! O show foi ótimo. – Lívia falou elogiando-o.
– Sente-se um pouco.
- Nossa! Vocês nem imaginam o sufoco que passei
hoje. Nosso tecladista não apareceu e nem deu
satisfação. Quem nos salvou foi Marina.
- Ah sim, a mocinha que estava tocando. – Bianca falou
olhando para Marina na mesa mais distante.
- Ela mesma. Caiu do céu e na hora certa.
- Parece mesmo um anjo. – Lívia nem entendeu porque
falou aquilo. “Que coisa idiota Lívia!”
- E amanhã estamos de volta, o dono chamou pra outro
show.
- E o tecladista?
- Já era! Por motivos de força maior, Marina tomou o
lugar dele. – riu.
- É o mercado ta concorrido, senão andar na linha
acaba rodando.
– Bom, vocês me dão licença, preciso voltar pra minha
mesa.

Os garotos e as meninas saíram do bar deixando tudo


combinado para o dia seguinte. Quando estavam saindo
passaram pela mesa onde Lívia estava. Marina não
pode deixar de olhar, a morena chamava mesmo a
atenção. Olhou de canto de olho e nem soube por que
sorriu timidamente. Lívia, que também a viu, ficou
encantada com aquele gesto, sem também entender
por que.

Quando Marina chegou em casa estava radiante.

- Viu amiga, agora já tem um emprego. – Monica se


animava.
- Nossa! Essa foi a coincidência do ano. Ainda bem que
você me convidou pra sair.
- Eu sabia que ia render alguma coisa, meu sexto
sentido me avisou. – brincou.
- Sua boba.

Aquela noite Marina dormiu feliz, acordou no dia


seguinte animada. Pegou a lista de músicas que os
garotos lhe deram e repassou o repertório para a noite.
Monica que acordou pouco depois a viu repassando as
músicas.

- Ih, esse repertório vai gastar de tanto que você olha


pra ele.
- Estou repassando as músicas, algumas aqui eu não
sei tocar, vou ver se pego a partitura.
- Se tivéssemos um computador seria fácil.
- É verdade, mas isso é um acessório ainda distante da
nossa realidade.
- Quem sabe se formos juntando né?
- É, quem sabe...

A loirinha levantou da cama e se vestiu, foi até a rua


ligar para os pais e contar a novidade. Sua mãe a
princípio ficou preocupada dela tocando a noite e ainda
mais no Rio de Janeiro, mas quando disse que Monica
sempre a acompanharia, ficou mais tranquila. Disse ao
pai que não precisava mandar dinheiro por enquanto,
que se precisasse falaria. Depois foi até uma lan house
e pegou as partituras que precisava.

Monica passou o dia estudando umas músicas para a


próxima aula e Marina repassando, sem tocar, as
músicas. Apenas analisava as cifras e ajeitava tudo em
sua pasta. À tarde Eduardo passou no apartamento
delas e combinou um horário de buscá-las.

Lívia acordou cedo e deu uma geral no apartamento, a


faxineira havia faltado. Olhou no celular e viu que
Bianca havia ligado várias vezes, não quis atender e
resolveu desligá-lo. Queria sossego nesse final de
semana. Quando terminou a faxina foi assistir TV,
passava um filme antigo e isso lhe deu sono. Acabou
sonhando com uma loirinha pianista e quando acordou
tinha um sorriso nos lábios.
“Mas o que é isso!? Lívia deixa de ser ridícula, uma
mulher velha sonhando com crianças!”

Mesmo se distraindo, vez ou outra se lembrava daquela


garota e daquele sorriso tímido no final da noite.
Lembrou que no dia anterior Bianca fez de tudo para ir
até seu apartamento, mas ela não quis, não estava
afim e isso era raro acontecer. Lívia nunca negava um
pedido daqueles, mas por algum motivo havia perdido
à vontade. Não entendia porque ainda estava com
Bianca, sabia que não gostava dela. Já estava na hora
de trocar de parceira. Esse era o problema de Lívia,
nunca se prendia a ninguém, era apenas enquanto
durava a curiosidade e a paixão, em seguida trocava e
tudo começava de novo. Ficou analisando sua vida, não
sabia se estava no caminho certo, mas até então tudo
estava funcionando bem.

Lívia era promotora pública, havia estudado na Federal


do Rio e prestado concurso pouco depois que se
formou. Sempre foi uma excelente aluna e seu esforço
valera à pena. Saiu da periferia do Rio e mora hoje
numa cobertura duplex na Barra e tinha orgulho da sua
trajetória. Ajudava a família que morava no interior do
Rio, sua mãe e sua tia. Insistia para que a mãe fosse
morar com ela, mas nunca teve sucesso, então sempre
ia visitá-la. Estava quase anoitecendo quando decidiu
que não ficaria em casa. Saiu para dar uma volta e no
meio do caminho ligou para seu primo Fabrício.

- Fá, que vai fazer hoje?


- Vou a um barzinho...

- Você vai com essa roupa? – Monica estava incrédula


olhando para Marina,
- Que tem a minha roupa?
- Poxa amiga, você é a estrela da noite.

Marina achou graça.


- To falando sério. Tira isso, coloca uma roupa melhor.

Marina usava uma calça jeans, uma blusa branca e


sapatos baixos. Monica tanto perturbou que a loirinha
acabou colocando um vestido branco com detalhes em
rosa e uma rasteirinha combinando. Saíram, pois
Eduardo já estava esperando.

Sentados numa mesa próxima ao palco e conversando


animados, Eduardo falava empolgado, havia gostado de
Marina logo de cara.

- Sabe que gostei de você. Vamos nos dar bem.


- Espero que sim, ontem não pude agradecer, mas
vocês terem me chamado pra tocar, foi uma ajuda e
tanto. Estou precisando trabalhar.
- Agradecer? Marina, quem tem que agradecer sou eu.
Não é a primeira vez que nosso tecladista some, ele já
nos deixou na mão várias vezes.
- Não entendo isso. Sempre fui tão certa com minhas
coisas que não consigo imaginar. Já toquei até com um
dedo quebrado.
- Jura?
- Já e era o indicador, você sabe que isso para um
pianista é o fim da picada. – ela sorriu,
- Eu sei.
- Sempre lidei com músicos muito responsáveis, tive
essa sorte. Por isso não entendo.
- E acho que é por esse motivo que vamos nos dar
bem, você é tudo que precisávamos.
- Acho que rolou um clima ali. – Monica apontava para
Eduardo e Marina.

Hugo começou a rir.


- Claro, clima de que? Amizade não é?
- Não ué.
- Tem que ser, porque Eduardo é compromissado. E
olha o compromisso dele chegando ali.

Monica não entendeu. Nesse instante chegava Fabrício


acompanhado de Lívia. Marina até parou de respirar.
Ela estava lindíssima. Usava calça preta e uma blusa
sem mangas também preta, os cabelos soltos e a franja
penteada certinha, seus olhos realçavam por conta da
maquiagem.

- Boa noite. – Fabrício falou.


- Hei! Fá, quero te apresentar Marina, a tecladista que
te falei ontem.
- Menina, você está famosa. Eduardo falou tanto de
você ontem que minha curiosidade me fez vir aqui
hoje. – falou já puxando uma cadeira para se sentar e
outra para Lívia.
- Oi, prazer. Espero que tenha falado bem.
- Nossa, muitíssimo bem. Antes que ela me chame de
mal educado, gente, essa é Lívia, minha prima.
- Muito prazer. – ela falou séria.

A voz dela era rouca e incisiva, Marina achou mais


fascinante. Sua sorte era que discrição era sua maior
qualidade e pode se controlar e não olhar tanto para a
morena.

De cara Marina viu que Fabrício e Eduardo eram


namorados, só Monica que não tinha entendido ainda.

- Amiga, achei que rolou um clima.


- Que clima Monica?
- Entre você e Dudu.
- Dudu? Que intimidade é essa?
- Ele bonitinho amiga.
- Monica, ele é gay.
- Que?
- Gay Monica. Pessoa que gosta de outra do mesmo
sexo.
- Eu sei o que é, mas não percebi.
- Porque você é sonsa demais. Eles formam um casal
bonito.
- Só você pra falar uma coisa dessas.
- Ué, é o que eu acho.
- Ta eu não tenho nada contra, mas daí a achar bonito,
também não acho.

Marina sabia que Monica tolerava bem a


homossexualidade, mas somente à distância. Por isso
mesmo nunca havia falado de suas preferências
sexuais, pois nem ela mesma sabia direito qual era.
Marina sempre entendeu o fato de que há amigos e
amigos, uns pra desabafar, outros pra agitação, outros
para profissão e Monica era a amiga animada e que
tinha os mesmos ideais, mas de confidência amorosa
ela não era a pessoa certa, não para Marina. Estava
pensativa quando uma voz a chamou de volta.

- Você toca faz muito tempo? – era Lívia.


- Oi, é... sim, me formei em piano clássico, estudei
doze anos. Depois decidi seguir carreira e estou
fazendo faculdade.
- Está estudando onde?
- Na federal.
- Ah sim, estudei lá também.
- Você é musicista? – Marina perguntou um tanto
espantada.
- Não. – Lívia sorriu. – Estudei direito.
- Ah...
- Você é de onde Marina?
- Eu sou de... como sabe meu nome?!
- Eu estava aqui ontem quando tocou com os meninos,
Eduardo apresentou você.
- Ah é verdade.
- Você não se lembra de mim? Me viu quando estava
saindo. Até sorriu. – Lívia foi incisiva.
- É... eu... é verdade.
- Esqueceu...
- Não. Eu apenas... ah deixa. – Marina estava vermelha
e suas bochechas pareciam pegar fogo.

Pra sua sorte Eduardo chamou.


- Vamos, o dono fez sinal ali que pode começar.
- Licença. – Marina falou com Lívia.

Num impulso a morena segurou a mão da loirinha,


sentiram um arrepio tão forte que Marina se virou
assustada e Lívia quase gaguejou ao falar.

- Toca... Você pode tocar uma música pra mim?


- Toco. – Marina sorriu.
- Qual?
- Você vai saber.

Subiram e o show começou. Nessa noite fariam em


duas partes, tocariam por uma hora e meia, dariam um
intervalo e depois mais uma hora. Faltando pouco pra
terminar a primeira parte começaram a tocar Wave.
Marina olhou para Lívia e sorriu. Imediatamente a
morena soube o motivo. Timidamente a loirinha olhava,
mas não perdia a concentração no que fazia. Minutos
depois a banda deu a pausa para o intervalo. Voltaram
à mesa e a primeira a falar foi Monica:
- Adorei! Má, Wave ficou linda, e olha que você pegou
ela hoje.
- Nunca tinha tocado? – Hugo perguntou.
- Não, eu sempre a escuto, mas nunca tive a
oportunidade de tocar, hoje de tarde peguei a partitura,
mas tocar mesmo, aqui foi a primeira vez.
- Ficou ótima.
- Qual é seu forte, Marina? – Pedro perguntou.
- Sabe que não sei ainda. Sempre pendi mais para o
erudito, mas confesso que gosto da música popular
brasileira. Ainda não defini.
- Está tendo aulas com quem?
- Marconi.
- Nossa, ele vai te engolir. – Eduardo brincou.
- Por quê?
- Ele é exigente, mas é um dos melhores. Antes dele só
a Vera, mas ela só pega veterano do terceiro ano em
diante.
- Eu tenho me esforçado para ser boa aluna.
- Você tem piano em casa?
- Aqui não. Em São Paulo sim.
- Onde você estuda aqui?
- Na faculdade mesmo, eu marco horário.
- Em casa é melhor, estuda a hora que quer.
- Eu sei, mas ainda não tenho condições de ter um
piano em casa.
- Por isso eu toco transversa, posso carregar pra todo
lado. – Monica brincou.
- Estou no mesmo barco que Marina, andar com uma
bateria nas costas é bem complicado. – Pedro sorriu.
- Adorei a música. – Lívia falou tocando o braço de
Marina.
- Achou que eu ia esquecer? Lembrei do seu pedido no
último minuto.
- Sim, ficou linda.
- Eu adoro Wave, é uma das minhas favoritas.
- Não estava me referindo só à música.

Marina quase desmaiou. O olhar de Lívia era


indescritível.

- Vamos voltar?
- Já? – Lívia estava quase indignada.
- Sim, o dono daqui não gosta de intervalos longos.

Voltaram e recomeçaram com um clássico de Tom


Jobim, Luisa. Marina estava tão contente de poder
tocar que se animava improvisando nas músicas,
deixando os garotos felizes.

- Você tem certeza que vai pegar essa garota? –


Fabrício falou com Lívia.
- Do que você está falando?
- Eu não nasci ontem e sei bem o que você quer com
ela. Não acha uma judiação isso? Ela é nova Lívia, não
é da cidade, mora há pouco tempo aqui. Nem sabe
direito das coisas.
- Ela é linda.
- Mas não é nem o seu tipo. Tem cara de criança ainda,
e você gosta do tipo mulher fatal.
- Talvez queira diversificar.
- Ta de sacanagem né?
- Ela parece legal, gostei mesmo dela.
- Ahan. Olha lá o que vai fazer. Marina parece ser super
gente boa.
- Ok.

Lívia não quis discutir, se limitou a apreciar Marina


tocando, parecia um predador observando a caça.

Quando o show acabou o dono veio para pagar o cachê


e combinou de voltarem toda semana na sexta e no
sábado por um mês.

- Marina você nos deu sorte. – Eduardo falou


entusiasmado.
- Que isso gente. Todo bom trabalho é reconhecido.
- Bom, nem preciso falar que você já é da banda.
- Sim, um acorde novo! – Hugo brincou.

Na hora de ir embora, Eduardo voltou com Fabrício.


Hugo e Pedro estavam de carro, mas por conta dos
instrumentos só cabia mais um e Monica ia com eles.
Pra desespero de Marina, a única pessoa disponível
para levá-la era Lívia.
- Eu posso ir de ônibus, não tem problema. Monica vai
comigo.
- Que isso ficou doida. Se tem carona vamos
aproveitar. Ônibus há essa hora é perigoso. E não
moramos perto.
- Ela tem razão, isso não é hora de andar por aí em
ônibus. Ainda mais você com essa carinha de anjo. –
Lívia falou em tom sério.

Saíram do bar e foram pra casa. Marina entrou no carro


de Lívia um pouco acanhada. Era um Audi A8, preto.
Nunca vira um daqueles.

- Você mora aonde?


- Na Tijuca.
- Ok. – Lívia ligou o carro e saíram. – Então agora vou
te ver todas as sextas e sábados.
- Oi?
- Vocês vão tocar toda sexta e sábado. Vou lá te ver.
- Só me ver?
- Eu gosto dos garotos também.
- Ah bom.
- Mas você deu um gostinho todo especial à banda.
- Imagina.
- Falo sério.
- Obrigada então. Eu gostei muito de tocar com eles e
preciso tocar também para me manter aqui no Rio.
- Morar no Rio de Janeiro é ótimo, mas o custo de vida
aqui realmente é muito caro.
- Eu que o diga, sair do interior e vir pra cá é uma
mudança e tanto.
- Você deve ter deixado muita coisa pra trás... família,
namorado, amigos.
- Sim, família, amigos, mas namorado não.
- Está solteira então?
- Sim, estudo e namoro são coisas que não combinam
na minha cabeça.
- Já namorou antes?
- Já.
- Que pergunta idiota, com esse rostinho lindo, com
certeza deve ter namorado e muito.
- Nem tanto quanto imagina, eu sempre fui de namorar
e não de ficar. Meus namoros duraram muito, daí tive
poucos.
- Entendo.

Foram chegando perto do apartamento de Marina.

- Vou deixar meu cartão com telefone, me ligue e


vamos combinar de sair ou ir à minha casa. Você e sua
amiga.
- Obrigada. E agradeço a carona também.
- Foi um prazer vir conversando com você.

Lívia a olhava tão de perto que Marina quase tropeçou


pra sair do carro. Rapidamente fechou a porta e entrou
no prédio. Quando entrou no apartamento Monica
estava saindo da cozinha.

- Que demora! Saíram junto com a gente.


- Ela dirige devagar.
- Também com aquele carrão! Se fosse meu andava a
vinte por hora.
- Boba. – Marina sorriu. – O carro é bonitão mesmo,
cheio de botões.
- Ela é muito rica, diz Hugo que ela é promotora.
- Sim, ela disse que estudou direito.
- Cheia da grana, não está como nós que escolhemos o
caminho da música. Seremos pobres a vida toda. –
Monica fez um falso drama.
- E você está reclamando?!
- Que nada, eu adoro essa minha vida.
- Também gosto dessa vidinha mais ou menos, mesmo
que eu não ganhe muito dinheiro. Tendo pra viver, ta
bom.
As duas foram dormir. Marina sonhou a noite toda com
Lívia, acordou até confusa. Foi ao banheiro e tomou um
banho frio para espairecer. As duas passaram o
domingo em casa descansando e estudando pra uma
prova que teriam no meio da semana.

Logo na segunda cedo Eduardo foi até a faculdade falar


com Marina.

- Hei menina, precisamos conversar. – ele estava sério.


- Sim, o que foi?
- Bom, temos show na sexta e precisamos ensaiar
umas músicas.
- Tudo bem, mas pela sua cara não é só isso.
- Temos um problema. Como você sabe, dispensamos
nosso tecladista.
- Sim.
- Ele é dono do teclado. Aquele que você usou nas duas
apresentações.
- Entendo, e ele o quer de volta não é?
- É. Precisamos de outro e eu não sei com quem pegar.
Quase ninguém gosta de emprestar.
- Bom, eu não conheço muita gente ainda, mas posso
perguntar ao Marconi.
- Já falei com ele, mas não tive sucesso. Ficaria muito
difícil você comprar um teclado, mesmo que simples?
- Nossa. Bom eu não sei, porque estou aqui faz pouco
tempo e o dinheiro que ganhei das duas apresentações
eu estou usando para despesas. – Marina explicou toda
sua situação e de sua família.
- Como vamos fazer? – Eduardo parecia aflito.
- Calma, vou conversar com Monica, ela conhece
bastante gente.
- Me liga então amanhã.

Em casa, mais a noite, as duas conversaram.

- Eu te empresto, falo com meu pai e você vai me


pagando devagar. Não precisa comprar um top de
linha, pode comprar até usado. Já vi até anúncios de
venda de teclados na faculdade.
- Será que isso vai dar certo?
- Claro que vai amiga.

No dia seguinte as duas olharam os anúncios e


pegaram os endereços e telefones. Foram a alguns
lugares e os teclados melhores estavam muito caros e
os mais em conta não estavam bons.

- Achei aquele penúltimo o melhorzinho. – Marina falou


meio desanimada.
- É, o cara disse que divide.
- Vou falar com Eduardo.

Marina ligou para o rapaz e falou sobre a compra. No


dia seguinte os dois foram até o local para que ele
olhasse também o instrumento.

- Não é lá grande coisa, mas acho que quebra o galho.

Compraram e levaram para o ensaio. Funcionou muito


bem, Marina conseguiu com Marconi um pedal de
volume e sustain para dar mais expressão às músicas.

- Acho que vou perder minha aluna para o popular. –


Falou o professor desolado.
- Que isso Marconi. Estou feliz porque to trabalhando.
- Eu sei minha querida, mas quem entra nesse mundo
dificilmente sai ileso.
- Seu bobo. Com o teclado, poderei treinar mais
exercícios de mecanismo em casa. Ficarei mais rápida.
- Se seus dedos ficarem mais rápidos, as teclas vão
correr de você. – brincou.

Na sexta-feira estavam todos prontos para começar,


menos Marina, pois seu teclado não queria ligar.
- Acho que o problema está no plug.
- Vamos olhar. – Eduardo examinou e viu que tinha um
mau contato. Passaram uma fita e voltou a funcionar.

Aquilo deixou a loirinha insegura, pois se balançasse


muito, poderia soltar novamente. Passou o show tensa
e quando acabou a primeira coisa que falou.

- O moço me enganou, disse que o teclado estava em


perfeitas condições.
- Eles sempre falam isso.
- Calma amiga, daqui a algum tempo você terá um
novinho.

Lívia que desta vez estava em uma mesa ao lado, não


quis se juntar aos músicos para não dar bandeira.
Escutou mais ou menos a conversa e perguntou a
Fabrício o que era.

- Parece que Marina teve que comprar um teclado às


pressas e o dinheiro só deu praquele ali.
- Sei...
- Que cara é essa?
- Nada. Fabrício quer parar com isso! Não fiz nada!
- Ainda né.

Quando o show acabou Lívia já tinha saído. Marina


quase não conseguiu esconder a decepção. Voltou para
casa pensativa.

No dia seguinte a loirinha acordou cedo para olhar o


problema no teclado. Mexeu, fuçou, mas não quis
insistir com medo de piorar ainda mais. À noite quando
chegou ao bar estavam todos esperando com umas
caras animadas.

- Que caras! Alguém ganhou na loteria?


- Não! Você ganhou! – Eduardo sorria.
- Eu? Por quê?

Eduardo se afastou mostrando a Marina o teclado novo


já colocado no palco.

- Que é isso?
- Ué, achei que soubesse o que era.
- Besta! Eu digo, porque tem um teclado novo ali?
- Não sabemos, diz o dono do bar que fizeram essa
entrega hoje à tarde em seu nome. Marina Calleguer é
você, não é?
- Sim. Mas...
- Graças a Deus, eu estava com medo daquele outro
teclado.

Marina não entendeu nada. Queria saber se Monica


tinha algo a ver com aquilo, mas ela não tinha
chegado. Estava tocando em um casamento e de lá iria
para o bar. Meio desconfiada, subiu ao palco para olhar
o instrumento e o ligou. Testou os sons, os pedais,
também novos e sorriu. Não sabia por qual motivo
aquele teclado estava ali, mas aproveitou pra usufruir,
afinal era novinho.

Ao telefone Fabrício, do lado de fora do bar, falava com


sua prima:
- Até onde você está metida nisso?
- Do que se trata?
- Não se faz de boba. Você está apelando.
- Não sei do que você fala.
- Lívia, você está na profissão certa, pois nunca vi
ninguém mentir com tanta facilidade.
- Não estou mentindo, só não sei do que você está
falando.
- Desse teclado novinho que deu de presente pra
Marina.
A morena se limitou a rir ao telefone e desligou.

O show começou e notava-se à distância a felicidade de


Marina. Estava contente pelo instrumento novo, mesmo
não sabendo de onde viera. No intervalo Fabrício
chamou Eduardo para conversar.

- Já sei de onde veio esse teclado.


- De onde?
- Lívia.
- Por que será que não estou surpreso? Eu a vi
conversando com Marina na semana passada, senti que
estava interessada.
- Era bom avisar a menina, você sabe como Lívia é.
Marina vem do interior, não sabemos o que se passa
naquela cabecinha. Podia falar sobre nós, depois fale
sobre Lívia.
- No intervalo vou ver se consigo conversar com ela.
- É melhor.

Nesse instante Lívia apareceu. Estava lindíssima e


chegando do trabalho, vestida impecavelmente.

- Um suco de limão, por favor.


- Não prefere algo mais doce? – Marina se aproximou
sorrindo.
- Claro que prefiro. – olhou a loirinha de cima a baixo. -
Mas limão acalma e refresca minha cabeça. Não vi a
primeira parte do show, mas cheguei a tempo para a
segunda.
- Que bom, daqui a pouco voltamos.
- Sente-se. Está com um brilho nos olhos, o que
aconteceu?
- Bom, eu estou feliz mesmo. Parece que as coisas
estão dando certo pra mim.
- Fico feliz.

O papo engatou e rendeu. Marina falou das músicas


que gostava e Lívia também.

- Marina, preciso falar com você. – Eduardo se


aproximou. – Oi Lívia. – saiu puxando a loirinha com
ele.
- Que foi? Ta com pressa?
- Senta aqui, vamos conversar.
- Aconteceu alguma coisa?
- Ainda não, mas vai. Marina, preste bem atenção no
que vou te falar. Você sabe que em cidade grande se
vê de tudo, não é?
- Sim.
- Então, há relacionamentos um pouco diferentes,
como...
- Relacionamentos gays?
- Isso, boa menina.
- E daí?
- E daí que eu queria falar sobre Fabrício e...
- E você. Que são namorados.
- Como é que você sabe?
- Eduardo, só um cego não vê. Aliás, só Monica que não
viu, porque é sonsa demais. Eu notei no dia que
conheci Fabrício.
- Nossa, achei que essa conversa ia ser mais difícil.
- Era sobre isso que queria conversar?
- Também, a outra coisa é sobre Lívia. Eu a conheço
desde que comecei a namorar Fabrício e isso tem certo
tempo. Ela é uma excelente pessoa, mas não esquenta
cadeira. Você me entende?
- Não. – a loirinha parecia confusa.
- Ela não mantém um relacionamento por muito tempo.
Sempre está com uma pessoa diferente, Lívia não se
envolve. O que vale pra ela é apenas a conquista,
depois disso ela descarta.

Marina o olhava de olhos arregalados.

- Não te conheço ainda, nem sei das suas preferências


sexuais, mas sei que Lívia joga pesado quando quer
conquistar alguém. E não sei por qual motivo, você caiu
nas graças dela.
- Mas eu não... – Marina estava confusa.
- Só estou avisando para tomar cuidado com ela. Lívia
come pelas beiradas e quando a pessoa vê já se
envolveu. Quem você acha que colocou aquele teclado
novinho ali?
- Foi ela?
- Foi e isso é um jogo para te conquistar.
- Então vou devolver. Ninguém me conquista com
presentes. De fato estou precisando, mas não é bem
assim que as coisas funcionam comigo.

Quando Marina ia falar com Lívia, Hugo apareceu


dizendo que era pra voltar a tocar. Então ela ponderou
e deixou a conversa para depois.

Estavam pelo meio da apresentação quando Monica


chegou e procurou uma mesa para sentar, não achou,
foi então que avistou Fabrício a chamando e sentou-se
à mesa com ele e a morena.

- Quase não chego. O casamento atrasou, ô noiva


folgada.

Os dois acharam graça da menina.

- Você conhece Marina desde quando? – Lívia


perguntou curiosa.
- Desde que começamos a estudar música, com sete
anos.
- Nossa, desde a infância juntas.
- Sim. Marina é minha companheira de todas as notas.
– Monica brincou.
- Ela parece ser muito legal. – Fabrício falou olhando
intencionalmente para Lívia.
- É sim. Marina é uma pessoa muito boa, ingênua às
vezes. Tem um coração de ouro, toda a família dela é
assim. O pai dela é uma das melhores pessoas que
conheço.
- Ele faz o que?
- Eles têm sítio, mas Marina mora na cidade com a mãe
e o irmão mais velho.

Lívia ouvia a história e ficava mais encantada.

- É impressão minha ou aquele teclado é outro?


- Não é impressão, é outro mesmo. – Fabrício falou
olhando feio dessa vez para Lívia.
- Ué, não entendi.
- Fabrício me falou sobre o problema com o outro
teclado e resolvi ajudar. Foi um presente para a banda.
– Lívia inventou essa de última hora.
- Nossa que maravilha. Marina deve estar radiante, ela
sempre quis ter um teclado, mas são caros e nunca
dava pra comprar. No seu último aniversário, seu pai
lhe prometeu um de presente, mas tiveram problemas
com o irmão mais velho e o dinheiro que era para o
instrumento, teve que ser usado para pagar contas
atrasadas do irmão.
- Nossa que chato.
- Ah, ela aceitou na boa.

Lívia se comoveu, percebeu então que tinha feito a


coisa certa.

Quando o show acabou Monica subiu ao palco para ver


o teclado novo.

- Ma, é fantástico. Deve ter sido caríssimo.


- Provavelmente. – A loirinha estava séria.
- Lívia disse que foi uma ajuda para a banda, que gosta
muito de Eduardo e quis dar uma força. Belo presente.

Aquilo desconsertou Marina. Ficou mais confusa ainda.


Seria presente para a banda ou para ela? Quando
desceu do pequeno tablado viu que Lívia tinha ido ao
banheiro e foi atrás. A esperou sair e quando ela
apareceu na porta a chamou.

- Podemos conversar?
- Claro meu anjo.
- Por que essa de dar o teclado para a banda?
- Vocês estavam precisando, não estavam? Só quis
ajudar um amigo. Gosto muito de Eduardo.

Marina achou que ela fosse falar que o presente era pra
ela.

- Agradeço a força então, realmente está ajudando


muito.
- Imagine, faria novamente se precisasse. E você
estava linda tocando hoje.

A loirinha sentiu o sangue invadir suas bochechas.

- Obrigada. – baixou a cabeça envergonhada.


- Tímida fica mais linda ainda. – Lívia atreveu um
carinho no rosto dela.
- Preciso voltar pra mesa dos meninos.

Quando chegou lá, ouviu o dono do bar conversando


animado.

- Tem um pessoal ali numa mesa pedindo pra tocar


chorinho, vocês tocam?
- Infelizmente não. Podemos tentar para uma próxima
apresentação.
- Eu toco com Marina, fazíamos dupla na escola em São
Paulo.
- Isso, vamos relembrar os velhos tempos.

As duas voltaram ao palco e arrasaram. Tocaram


Chiquinha Gonzaga, Waldir Azevedo, Pixinguinha,
Ernesto Nazaré e terminaram com Patápio Silva. Foram
aplaudidas de pé. Até quem não conhecia o gênero da
música gostou. Quando desceram do palco os garotos
estavam eufóricos.

- Monica, vamos te contratar hein. – Hugo se animou.


- Estou à disposição. – a menina sorriu.

Quando Marina sentou a primeira coisa que ouviu atrás


de si foi Lívia falando com voz quase sensual.

- Como pode ficar mais linda?

Marina somente olhou de soslaio e se virou, estava


confusa e não gostava de se sentir assim. Inventou
uma desculpa e foi embora mais cedo. Pediu a Eduardo
que levasse o teclado para a casa dele e ela levou o seu
velho para casa. Monica quis ficar porque estava de
papo com Hugo.

No domingo cedo Marina levantou e não viu Monica em


casa. Achou aquilo esquisito, como não tinha telefone
em casa nem celular... Mudou a roupa e saiu pra ligar
para Eduardo de um orelhão.

- Eduardo, você sabe da Monica?


- Sei, saiu com Hugo ontem.
- Ah, nem precisa falar mais nada. – Marina riu,
fazendo Eduardo rir também.
- Ela ta bem, pode ficar tranquila, Hugo é um cara
legal.

Quando voltava pra casa encontrou a amiga na porta


do prédio.

- Ê mulher! A noite rendeu?


- Amiga, nem te conto. Aliás, conto. – Monica contou
que tinham saído pra andar na praia, conversa vai
conversa vem acabaram ficando. A coisa esquentou e
ela foi pra casa dele. Hugo morava sozinho.
- E aí?
- Menina, e aí que nada aconteceu. Acho que ele
percebeu que eu fiquei constrangida, afinal, no primeiro
encontro já avançar o sinal...
- Nossa, esse cara é uma raridade. Já não se fazem
homens assim.
- Ele é tão romântico. – Monica estava maravilhada. –
Vim só tomar um banho e vou voltar pra almoçar com
ele, você não quer vir?
- Não, vou ficar em casa e mexer naquele outro
teclado. Se der eu vou usá-lo para treinar em casa.
- Por que não trouxe o novo?
- Ah não, é da banda e eu não quero mexer. Esse me
atende.
- Ai, ai... – Monica revirou os olhos.

Marina estava estudando quando o interfone tocou.


Pensou que seria Monica voltando do encontro, mas se
enganou.

- Oi Marina, sou eu Lívia.

Marina estranhou ao mesmo tempo em que ficou feliz.

- Oi, pode subir.

O prédio não era grande, tinha apenas quatro andares


e não tinha elevador. Marina morava no quarto andar.

- Nossa, preciso fazer mais exercícios. – Lívia chegou


um tanto ofegante. – Estou fora de forma.
- Que nada, você está ótima. Entra, fique à vontade.

Lívia usava uma calça jeans e uma blusa preta, os


cabelos estavam soltos e lhe caíam até o meio das
costas. Usava tênis e isso lhe deu um aspecto mais
jovial. Ficou reparando no apartamento, mas
discretamente. O lugar era simples. Tinha uma cozinha
americana, a sala não era muito grande, mas era
aconchegante.

- Gostei do “apê”.
- É pequeno, mas dá pra nós duas. Monica fica naquele
quarto e eu nesse. – Marina apontou.
- Posso ver seu quarto? – a morena perguntou
sorrindo.
- Pode.

Entraram e Lívia pode ver que Marina era uma pessoa


realmente simples. A cama estava encostada na parede
e com as almofadas, mais parecia um sofá. Tinha uma
pequena mesa no canto e um guarda roupa com três
portas. O teclado estava num outro canto ligado.

- Estava tocando? Cadê o novo? – Lívia se referiu ao


outro instrumento que havia comprado.
- Deixei com Eduardo e sim, estava estudando. Não
para a banda, mas lendo uma partitura para a próxima
aula.
- Posso ouvir?
- Ainda estou lendo, não é nada bonito de se ouvir.
- Ah, me deixa ouvir, gosto de ver você tocando.

Marina estava acanhada, mas atendeu ao pedido. O


que lia era uma Fuga de Bach a quatro vozes. Lívia
ouvia atenta e parecia querer devorar a loirinha com os
olhos. Quando Marina parou a morena sorriu.

- Está bonito, eu gosto de Bach.


- Como sabe que é Bach?
- Ei, eu também escuto música erudita. Já ouvi Eduardo
tocando no violão.
- Olha, não sabia que ele gostava de Bach.
- Ele gosta, mas sua paixão é MPB.
- Eu também. Por isso me dei bem com ele.
- Esse banco que você está não é ruim? – Lívia se
referia a um tamborete em que Marina estava sentada.
- Não é lá muito bom, mas quebra o galho. Ta bom
demais, antes pra estudar era só na faculdade. Agora
eu estudo também em casa e é bem mais cômodo.
Posso estudar até mais a noite se quiser, coloco o fone
e toco sem incomodar ninguém.
- Isso é bom.
- Não é o mesmo que piano, pois as teclas são
diferentes. Essas são mais leves, mas já está bom
demais. – a loirinha falou sorrindo.

Lívia a achou linda. Tinha uma expressão tranquila e


delicada.

- Olha, estou com uma música aqui para tocar, os


meninos pediram uma seleção de Djavan. Você gosta?
- Adoro!
- Então, estou olhando aqui, alguns acordes são
difíceis, confesso que sou péssima com os diminutos,
mas Djavan compensa.
- O que vai tocar?
- Pensei em Lilás, Linha do Equador, Flor de Lis e claro,
Oceano.
- Já sabe tocar alguma?
- Estava olhando Oceano, mas ainda não está toda
pronta.
- Toque o que já sabe, deixa ver como está.

Marina então tocou o refrão, como eram só cifras, para


dar uma noção melhor, arriscou cantar baixinho.

Amar é um deserto
E seus temores
Vida que vai na sela
Dessas dores
Não sabe voltar
Me dá teu calor...
Vem me fazer feliz
Porque eu te amo
Você deságua em mim
E eu oceano
E esqueço que amar
É quase uma dor...”

- Bom, é por aí, ainda falta muito pra acertar.

Lívia estava hipnotizada. Parecia ouvir o canto de um


anjo.

- Hei tudo bem? Ta tão ruim assim que você ficou


muda?
- Não eu... eu... estou surpresa. Nunca vi ninguém
tocando com tanta paixão. Parece que você está
colocando sua alma, como se quisesse se mostrar mais.

Nunca ninguém tinha falado aquilo com Marina. Para


ela música realmente era o espelho da sua alma. Tudo
que sentia conseguia transmitir por notas musicais,
mas poucas pessoas reparavam nisso.

- Eu só tento passar para os outros o que a música


realmente significa pra mim. – baixou a cabeça
timidamente.
- E faz isso muito bem. Você vai seguir carreira?
- Não sei. Sinceramente, não me vejo tocando em
orquestra. Nem dando aula. Eu gosto mesmo de criar
arranjos, recriar composições. Gosto de trabalhar em
equipe. Piano solo é uma coisa que me soa estranho.
- De repente você dá certo como arranjadora ou
produtora musical.
- Quem sabe não é? Enquanto isso estou estudando e
dando o meu melhor.
- Bom, deve estar achando estranho a minha visita. Eu
vim aqui pra te chamar pra almoçar. Quer?

Marina pensou bem. Almoçar fora não estava nos seus


planos, até porque Lívia a levaria a um restaurante caro
e ela não tinha dinheiro para isso.

- Bom, eu não sei...


- Aceite, por favor. O lugar é lindo e você vai adorar.
- É que eu não... bom... – queria dizer o motivo, mas
estava sem graça.
- Eu convido e eu pago. Aceite vai. – Lívia pedia como
um cachorro pedia por comida.
- Tudo bem, vou trocar de roupa.

Pegou uma roupa mais ou menos como a de Lívia,


imaginou que se ela estava de jeans e tênis, não
deveria ser nada chique.

Ao saírem do prédio Marina meio que procurou o carro


de Lívia e não o viu, até que a morena apertou um
controle que estava na mão e o alarme soou fazendo a
loirinha olhar. Era um Chrysler conversível. Arregalou
os olhos nem disfarçando o espanto.

- Capota fechada ou aberta? – a morena perguntou


com um sorriso meio sarcástico.
- Tanto faz.
- Então será aberta, assim você aproveita o sol.

Marina entrou no carro até com medo de sentar. Ficou


pensando em quantos carros teria aquela mulher.

- Não pense que tenho uma coleção deles. É só esse e


o outro. – Lívia pareceu adivinhar seus pensamentos.
- Ah não, eu nem pensei nada. – a loirinha tentou
disfarçar.

Praticamente foram em silêncio para o restaurante,


sorte que não demorou. Era no alto da Boa Vista.
Chegaram e se sentaram a uma mesa que ficava do
lado de fora do restaurante, dando uma vista para a
floresta da Tijuca. O restaurante não estava cheio e
isso deu mais comodidade às duas.

- Bonito aqui.
- Eu adoro, é calmo e posso almoçar sossegada. Você
conhece quais lugares do Rio?
- Nenhum, ta bom pra você? – Marina sorriu.
- Jura? Ah então vamos combinar de dar um passeio
depois. Assim posso te mostrar o que tem de bom na
cidade maravilhosa.
- Combinado. Eu sempre gostei do Rio, mas nunca tive
muita oportunidade de passear aqui por conta da
distância da minha cidade.
- Você conhece mais lugares do país?
- Não muito. Somente perto mesmo da minha cidade. E
em Pinheiro Machado, pois a família de minha mãe é de
lá.
- Onde fica isso?
- Rio Grande do sul.
- Tem no mapa?
- Tem. – Marina sorria divertida com a cara de Lívia.
- Seu sorriso é lindo, devia sorrir mais. – a morena a
encarou.
- Eu sorrio. Não? – a loira questionou.
- Quando toca fica séria, concentrada, chega a fazer
um bico. Que eu particularmente acho lindo, mas que
fica séria você fica.
- É porque eu não gosto de errar, se me distrair posso
perder o fio da meada. Vou tentar sorrir mais, senão
vou parecer antipática.
- Você fica linda de qualquer jeito.

Lívia estava atacando de todos os lados.

- Mas pode parecer antipatia.


- Nem se fizer muito esforço ficará antipática. Eu que
pareço antipática. Quando entro num tribunal o chão
até treme de tão feia que é minha cara. Todo dia
quando acordo o diabo pensa: Nossa! Ela acordou!

Marina sorriu.

- Você não me pareceu ser assim. De fato é séria, mas


tem seu lado divertido.
- Que poucos conhecem.
- Então sou privilegiada.
- Pode apostar. Vamos pedir?
- Sim.

Pediam e enquanto aguardavam o garçom trouxe uma


garrafa de vinho.

- Você bebe?
- Raramente. Fico meio leve quando bebo.

Lívia sorriu.

- Então vou pedir outra coisa.


- Não, tudo bem, eu te acompanho, mas só tomo essa
taça, é o meu limite.
- Está gostando da faculdade Marina? – Lívia perguntou
e serviu o vinho ao mesmo tempo.
- Estou, no começo estranhei um pouco. Meu professor
é muito exigente.
- Assim que é bom.
- Eu sei, minha professora em São Paulo também era.
- E você é de onde? Te perguntei naquele dia e você
não me respondeu?
- É verdade, eu tive que sair rápido pra voltar a tocar.
Sou de Jaú, interior de São Paulo. Essa tem no mapa.

Lívia achou graça.


- Sim, conheço Jaú. É famosa pela produção de
sapatos.
- Isso aí.
- Você mora com seus pais.
- Sim e não. Meu pai passa a maior parte do tempo no
sítio. Eu moro com minha mãe na cidade. Mas ele vai
pra cidade todo final de semana ou nós vamos para o
sítio. Meu pai é produtor de cana.
- Ah sim. E você gosta de ficar no sítio?
- Às vezes sim, não se tem muito que fazer, mas é bom
pela tranquilidade.
-Tem irmãos?
- Sim, um irmão mais velho, já é casado e tem uma
filha. Já sou tia. – Marina sorriu.
- Olha que legal. E você gosta de ser tia?
- Adoro! Faço qualquer coisa por ela. É o amor da
minha vida. Sou tia coruja.
-Eu não serei tia.
- Por quê?
- Sou filha única.
- Ah sim. Sua família mora no Rio?
- Não na capital, mas no interior também. Visconde de
Mauá... é região serrana.
- Já ouvi falar, dizem que é lindo.
- Vou pra lá alguns finais de semana. Esse não fui
porque minha mãe saiu em viagem com algumas
amigas.
- Ser filha única tem suas vantagens. Não tem irmão
para pegar no seu pé.
- Seu irmão faz isso?
- Às vezes, agora que casou nem tanto, mas antes era
um saco. – Marina falou revirando os olhos. – Mas eu
gosto dele.
- Minha mãe, depois que me teve, precisou tirar o útero
por conta de complicações no parto. Também ela não
teria mais filhos, já que assumiu a gravidez sozinha.
Meu pai se mandou.
- Nossa.
- Minha mãe me criou sozinha, morávamos aqui no Rio.
Ela só se mudou pra Mauá porque uma irmã de minha
avó morava lá com a filha. Então fica melhor perto da
família, mas isso foi depois que saí da faculdade.
Enquanto não me formei ela ficou do meu lado.
Passamos muita dificuldade aqui. Graças a Deus, hoje
posso dar a ela o que precisa.

Lívia não sabia nem porque tinha contado sobre a vida


dela para Marina. Não agia assim, não dava detalhes da
sua história. Parou de falar e abaixou a cabeça.

- Que bom que você pode fazer isso, família é o nosso


principal alicerce. Sem eles não temos nada de
concreto nesse mundo. – Falou acariciando as mãos de
Lívia, que estavam em cima da mesa. - Sinto saudade
dos meus pais, só poderei vê-los daqui um mês.
- É longe?
- Mais ou menos, pego um ônibus para a capital e
depois outro para Jaú. Mas a grana também não ajuda,
não posso ficar indo e vindo porque a passagem é cara.
- Entendo.
- Graças a Deus Eduardo me chamou para tocar com
eles. Bendito tecladista irresponsável que eles tinham.
– Marina brincou. – Agora com o dinheiro que ganho
dos shows posso me manter aqui. Infelizmente meus
pais não podem me ajudar.

Conversavam enquanto almoçavam, Marina falou sobre


sua vida no interior e contou histórias sobre a escola de
música e de quando fazia apresentações, falou das
dificuldades que a família enfrentava e o sacrifício que
os pais fizeram para que ela viesse para o Rio. Lívia
falou do seu trabalho e de alguns casos que já pegara
no tribunal. Ao término a morena insistiu para pedirem
sobremesa, nem estava com fome, mas queria passar
mais tempo com Marina. Quando saíram do restaurante
a morena a levou para um passeio rápido de carro.
Marina adorou os lugares que Lívia mostrou, já estava
tarde quando chegaram ao prédio na Tijuca.

- Lívia queria te perguntar uma coisa.


- Pode perguntar.
- Por que me deu aquele teclado? E não adianta dizer
que foi por conta da banda, Eduardo falou comigo
antes. Por que veio aqui hoje e me chamou pra
almoçar? Sua vida é tão diferente da minha. Qual o
interesse nisso tudo?

Lívia respirou fundo, precisava falar rápido e passar


confiança a Marina.

- Quando te vi a primeira vez tocando te achei


diferente, parecia tão confiante e inocente ao mesmo
tempo. Gostei de você. Depois conversando com
Fabrício e os garotos, pude perceber que você era uma
pessoa legal. Vi que juntava o útil ao agradável. Só
quis te ajudar.
- Como assim?
- Marina, ser bonita, inteligente e boa pessoa são
características raras num ser humano. Todas juntas
então, nem se fala. Eu apenas gostei de você. – Lívia
falou segurando as mãos de Marina.
- É que eu sou uma pessoa muito diferente do meio em
que você vive. E você tem outra experiência de vida...
e...
- Hei, não está me chamando de velha ta?
- Não!
- Não sou tão mais velha que você. Quantos anos tem?
- Vou fazer dezoito.
- Pois eu tenho vinte e cinco. Você tem carinha de anjo,
parece ser mais nova. Tem rosto de menina.

Marina baixou a cabeça.

- E foi isso que me encantou. – Lívia segurou seu


queixo levantando-o a ponto de ficarem bem próximas.
– Posso te dar um beijo?
- Eu não sei se...
- Queria te dar um beijo pra você nunca mais
esquecer...

Nem terminou de falar e delicadamente Lívia a beijou,


primeiro o lábio superior e depois o inferior, mordendo
de leve. Aos poucos foi colocando sua língua e
buscando a de Marina que acabou se entregando. O
mundo parou ali e Marina não soube precisar quanto
tempo ficaram se beijando, somente quando Lívia se
afastou e então ela abriu os olhos e viu o mais
profundo azul dos olhos de Lívia.

- Eu preciso ir. – abriu a porta do carro e saiu


rapidamente.

Lívia sorriu satisfeita, não insistiu e deixou para


procurar Marina depois. Foi para casa tomar um banho
e relaxar, precisava pensar.

Marina entrou no apartamento correndo, pra sua sorte


Monica ainda não tinha chegado. Correu para o
banheiro e tomou um banho gelado. Ainda sentia o
gosto de Lívia nos lábios.

“O que foi isso meu Deus?! Nunca senti uma coisa


assim.”

Quando saiu do banho viu Monica saindo da cozinha.

- Eita, achei que tinha se afogado aí dentro.


- Chegou faz tempo?
- Tem uma meia hora. Tudo bem?
- Tudo, como foi o almoço?
- Ah, ele é tão lindo!
- Isso é namoro?
- Acho que sim. – estava radiante, parecia ver corações
a sua frente.

As duas sentaram na sala e Monica contou como foi seu


dia, já Marina achou melhor omitir o almoço que tivera
com Lívia.

- Você passou o dia aqui?


- Sim. Fiquei estudando.
- Caxias você não?
- Estou aproveitando que o teclado está funcionando.
- Ainda vai usá-lo?
- Vou.
- Hugo me disse que Eduardo vai trazer o novo aqui
hoje. De repente a gente vende esse ué. No conjunto
que toco o rapaz quer um teclado, posso vender pra
ele.
- Dê seu preço, afinal você mesma me ajudou a
comprar.
- Vou tentar.

Aproveitaram o resto da noite pra passar uma matéria


da qual teriam prova naquela semana. Eduardo chegou
e entregou o teclado para Marina. Quando estava
saindo esta o acompanhou até o portão lá embaixo.

- Eduardo, posso falar com você?


- Claro.
- Lívia veio aqui hoje.
- Ai, porque será que não estou surpreso?!
- Saímos pra almoçar e depois ela me deixou aqui de
volta. Não contei a Monica, não sei como ela reagiria a
isso.
- O que aconteceu?
- Nos beijamos e...
- Marina, já te alertei sobre Lívia. Depois não vá dizer
que não foi avisada.
- Ela pareceu ser tão legal.
- Ela sempre parece ser legal e de fato é, mas Lívia não
é de namorar. E vem cá, desde quando você é lésbica?
Você já teve alguma experiência gay?
- Já.
- Gente e eu pensando que você era muito inocente.
- Ah Eduardo, eu não nasci ontem. Sou só uma pessoa
discreta.
- Eu sei, mas te acho gente boa demais pra sofrer na
mão de Lívia. Se quiser curtir tudo bem, mas não caia
de cabeça nisso.
- Obrigada por me alertar.
- Se precisar conversar, estou sempre às ordens.

Despediram-se e Marina subiu. Monica já ajeitava suas


coisas pra dormir e a loirinha fez o mesmo. Antes de
pegar no sono ficou pensando nas palavras de Eduardo,
mas quando adormeceu sonhou com o beijo de Lívia.

Aquela semana passou voando. Marina teve prova na


segunda e na terça, ensaio na quarta e quinta teve aula
com Marconi que a elogiou muito.

- Menina, to gostando de ver. Terá um concerto só com


peças de Bach, vou te colocar na lista.
- Eu?
- Não, a minha avó. – brincou.
- Marconi, eu li sobre esse concerto, são alunos quase
formados. Não posso me juntar a eles.
- E por que não? Só porque é calouro ainda? Pois será a
primeira. E não será só piano, tem alunos de harpa,
flauta e violão. Eduardo estará lá.

Marina ficou um pouco assustada, mas o entusiasmo de


Marconi a animou. Saiu da aula e foi direto falar com
Monica que saiu da sala toda contente.

- Amiga, estou escalada para a apresentação de Bach.


- Eu ia dizer a mesma coisa.
- Temos que comemorar. Vamos pra lanchonete comer
aquele sanduíche de queijo.

À noite Hugo passou para pegar Monica para sair e


chamou Marina.

- Sou branca, mas não tenho vocação pra vela.


- Que isso! Eduardo estará com Fabrício.
- Vela de novo e de dois! Podem ir numa boa, vou ficar
pra dar uma repassada nas músicas novas pra sexta.

Marina até tentou estudar, mas ficou pensando em


Lívia. Depois daquele dia não a tinha visto mais e nem
notícias tinha também. Não sabia como procurá-la e
também achou melhor, não sabia das intenções dela e
Eduardo já a tinha avisado.

Lívia por sua vez estava ao telefone despachando


Bianca.

- Já disse que não vou sair hoje.


- Mas por quê?
- Não estou afim e amanhã tenho muitas questões a
resolver no escritório e ainda pego um tribunal à tarde.
Se eu sair, será na sexta-feira e olhe lá. Pois no final de
semana pretendo visitar minha mãe.
- Você anda me evitando.
- Se você pensa assim, não posso fazer nada.

Bianca sabia que estava sendo dispensada, então seu


orgulho falou mais alto. Não insistiu mais e decidiu
largar Lívia de lado. Quando desligaram Lívia se deixou
cair em uma cadeira no seu quarto, estava era
pensando em Marina.

- Lívia, Lívia... acorda. Se não se prendeu até hoje, não


é agora que vai se amarrar e logo nessa menina. –
falou para si mesma.
Sentou em seu escritório e começou a ler uns
processos, acabou desviando sua atenção.

Sexta-feira no bar, o Acorde começou a tocar e a


morena não estava lá. Marina olhou por todos os lados
e nada dela aparecer. Fabrício que estava assistindo
ficou de olho nela, sabia quem estava procurando.
Quando desceram para o intervalo o rapaz a
interceptou antes de chegar à mesa.

- Está procurando Lívia não é?


- Não, eu... é estava. – riu sem graça.
- Pode ser que não venha, amanhã deve acordar cedo
para visitar tia Marta.
- Ah sim.
- Marina, você é uma menina bonita, gente boa, não se
amarre em Lívia.
- Não estou amarrada.
- Aqui no Rio tem muitas garotas que dariam qualquer
coisa pra ficar com você. Tecladistas aqui são famosas.
– o rapaz brincou.

Estavam conversando animadamente que nem


perceberam quando Lívia apareceu. Vinha
acompanhada de um amigo. Sem que Marina visse, ela
chegou por trás e apertou seus ombros.

- Cheguei tarde, mas a tempo de ouvir uma música do


Djavan?
- Oi! – Marina logo se animou. – Claro, ainda falta uma
pra tocar.
- Senta aí Lívia, já estamos voltando. – Eduardo falou.
- Não obrigada, estou com um amigo. Não devo
demorar, amanhã viajo cedo. – Falava e ainda
mantinha as mãos no ombro de Marina. – Vou esperar
pela minha música. – Falou ao seu ouvido e saiu.
Monica observou a cena e nada falou. Quando a banda
saiu ela se dirigiu a Fabrício e perguntou:
- É impressão minha ou sua prima está dando em cima
de Marina?

Fabrício quase engasgou com a cerveja.


- Não que eu tenha nada contra, mas ela deveria saber
que Marina é hétero.
- E é?
- Claro, ela já namorou e tudo. Quase casou.
- O que?!
- Sim, exagero meu dizer quase casou, mas ela fez
planos e tudo. Só terminou porque o namorado a traiu.
- Novidade essa agora.
- Marina é muito centrada, não mistura relações
amorosas com estudo e trabalho. Por isso sempre está
sozinha. Bota tudo na frente do namoro.
- Eu gosto dela.
- Eu também e torço pra que ache alguém que a ame e
que ela ame também, acho Marina muito fechada.
Muito reprimida, da roça, só de olhar pra ela já se sabe
que é do interior.
- Nossa Monica, não precisa falar assim! Nem parece
amiga dela.
- Eu falo isso pra ela também.

Fabrício achou o comentário desnecessário e não quis


esticar o papo.

Quando a banda recomeçou Marina já tinha um olhar


totalmente diferente e não conseguiu esconder o
sorriso. Faltando cinco músicas para acabar tocaram
Linha do Equador de Djavan. Cantarolou baixinho e
olhando para Lívia de vez em quando. Quando a música
acabou a morena se levantou e se despediu de Monica
e Fabrício na mesa. Deu um tchau para a banda e antes
de sair do bar virou-se e piscou o olho para Marina que
sorriu timidamente. Ninguém percebeu, pra sua sorte.
No domingo de manhã os garotos resolveram fazer um
churrasco na casa de Fabrício. Hugo e Monica estavam
no clima de romance e não se desgrudavam.

- Aqueles dois ali vão casar. – Pedro brincou.


- Vão. E vamos tocar no casamento deles. – Marina
veio falando.
- Podem apostar. – Monica tinha escutado e entrou na
conversa.

Fabrício ouviu o telefone tocar e saiu para atender.


- Fá, é Lívia tudo bom?
- Tudo. Já voltou?
- Ainda não, voltarei apenas na segunda. Queria te
pedir um favor, tenho uns processos para despachar na
segunda cedo. Não os separei, estão na minha gaveta
que fica trancada. Pegue as chaves no meu
apartamento e despache pra mim.
- Claro. Passo lá hoje e pego.
- Que está fazendo de bom?
- Nada demais, um churrasco com o pessoal. Marina
está aqui. – Fabrício falou já se arrependendo do que
dissera.
- Ah é? Posso falar com ela?
- Ai, pra que eu fui falar!
- Anda, vai... chame ela aí.
Pra não dar na pinta, já que Monica estava desconfiada,
Fabrício chamou Marina fingindo mostrar algo e quando
ela entrou lhe entregou o telefone.
- É pra você.
- Pra mim? Quem é?
- Atende ué. – saiu para dar privacidade à loirinha.
- Alô?
- “Mas é doce morrer nesse mar, de lembrar e nunca
esquecer... Se eu tivesse mais alma pra dar eu daria,
isso pra mim é viver...”
O rosto de Marina imediatamente se iluminou.

- Adorei a música!
- Cantei pra você. - falou baixinho.
- Eu vi e achei lindo! Estou com saudades. – Lívia nem
soube por que disse aquilo.
- Por que não veio no churrasco?
- Estou em Mauá, na casa de minha mãe.
- Volta hoje?
- Só amanhã.
- Ah...
- Está se divertindo aí?
- Sim, eu gosto de juntar o pessoal. Conversamos
sobre coisas diferentes. Por exemplo: Música! –
brincou.
- Posso ver você amanhã quando eu chegar?
- Pode.
- Então me espere na esquina da sua rua, as oito. Vou
te levar pra jantar.Ta bom.
- Aproveite o churrasco e até lá.
- Obrigada, bom resto de domingo e venha com
cuidado.

Quando desligaram Lívia ficou pensando na delicadeza


de Marina ao pedir cautela para viajar. Ninguém nunca
falara assim com ela. Realmente era uma garota
diferente.

Melodia
Lisa Bee
lisabeex@yahoo.com.br

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O dia nunca passou tão devagar, Marina tentava não
ligar para o encontro com Lívia, mas não conseguia.
Disfarçou o quanto pode para não dar na cara e Monica
desconfiar. Pra sua sorte a garota saiu da faculdade e
foi para casa de Hugo e provavelmente passaria a noite
lá.

Chegaram juntas. Quando Marina se aproximava do


local, Lívia buzinou e encostou o carro. Como estava
calor, usava um vestido preto que lhe caía até os
joelhos, tinha detalhes em branco e era bem largo,
usava um top por baixo. Os cabelos estavam soltos e
molhados, quando entrou no carro a morena sentiu seu
perfume. Lívia adorou aquela visão.

- Nossa que cheirosa!


- Obrigada. Você também está muito bonita! Nós
vamos a algum lugar muito chique? – Marina ficou um
pouco preocupada, já que viu que Lívia usava um
terninho e salto alto.
- Não meu anjo. O lugar é simples e terá pouca gente.
Estou assim porque venho do meu escritório. Hoje meu
dia foi de cão. E o seu como foi?
- Estudando, como sempre. Estou ensaiando aquela
fuga de Bach.
- Já está pronta?
- Sim, faltando os ajustes finais.

Marina não sabia nem onde Lívia a estava levando, mas


não era muito perto. Ficou tentada a perguntar, mas se
conteve. Um tempo depois pararam em frente ao que
parecia ser um condomínio, tinha dois blocos. Entraram
e desceram numa garagem.
- Vem, o elevador fica ali. – Lívia a chamou.

Entraram no elevador e quinze andares acima, saíram


direto numa antessala, muito bem arrumada. Lívia tirou
uma chave da bolsa e abriu a porta. Marina estava
entrando em seu apartamento.

- Bem-vinda. É aqui que me escondo. – falou abrindo


os braços, como que mostrando o apartamento. A
loirinha ficou boquiaberta. Era imenso, o piso negro
contrastava com os móveis brancos. Da onde estava
dava pra ver parte da sala e tinha uma parede de vidro
enorme.
- Bonito aqui. – Marina ainda tinha os olhos
arregalados.

Lívia se divertiu com a cena.

- Vem, vou te mostrar o resto.

A morena foi puxando Marina pela mão e mostrando os


cômodos, tudo tinha a cara de Lívia, muito bem
decorado, mas básico, nada muito enfeitado ou
colorido. O último lugar a ser mostrado foi o quarto.
Era no segundo andar e muito grande também. Havia
um closet e de outro lado o banheiro.

- Nossa que banheira grande!


- É muito confortável.

Marina ficou pensando em quantas mulheres Lívia já


não levara ali. Sentiu ciúme e fechou o cenho, mas logo
sorriu de novo quando a morena a chamou.

- Linda, vem ver a varanda, tem uma vista magnífica.

Abriu a porta e dali puderam ver o mar.


- Nossa que lindo! Você deve ficar aqui bastante tempo.
- Aí que se engana, venho pouco aqui.

Na varanda havia uma mesa com duas cadeiras e ao


canto uma espreguiçadeira bastante convidativa.
Marina chegou até o parapeito e olhou para baixo,
sentiu até uma vertigem, chegou a cambalear e foi
amparada por Lívia que a abraçou por trás.

- Opa. Tem medo de altura? – disse envolvendo sua


cintura com os braços.
- Normalmente não, mas aqui é bem alto.
- Eu te seguro. – repousou o queixo na cabeça da
loirinha.

Marina sentiu-se confortável naqueles braços longos e


fortes, recostou sua cabeça no peito de Lívia e fechou
os olhos. Foi uma sensação indescritível. A morena
sentiu o abandono de Marina e a abraçou mais forte,
não conseguia distinguir que sensação era aquela.
Ficaram assim por algum tempo até que o estômago de
Marina se manifestou.

- Está com fome?


- Na verdade não. Mas acho que meu estômago está. –
falou uma loirinha sem graça.
- Então vem. – a morena riu.

As duas desceram as escadas indo para a cozinha e


Marina estranhou o fato de nem sentir cheiro de
comida.

- Você vai fazer o jantar? – perguntou curiosa.

Lívia sorriu.

- Não, eu não sei cozinhar. Mas já providenciei nosso


jantar.

Pegou o telefone e avisou que já poderiam trazer.

- Já está vindo.

Enquanto não entregavam o jantar, ela arrumou a


mesa. Terminou bem a tempo de chegar o pedido.

- Desculpe a ignorância, mas aqui eles têm serviço de


quarto? – Marina realmente estava confusa.
- Não linda, eu sempre peço comida desse restaurante.
Hoje à tarde liguei para eles e encomendei o jantar,
pedi que deixassem pronto e eu avisaria a hora de
entregar.
- Ah sim.
- Sente-se, vou lhe servir.

Nunca em momento algum Lívia serviria alguém, ainda


mais num segundo encontro. Estava surpresa com ela
mesma.

Jantaram num clima quase romântico. A morena havia


tirado o casaco e estava apenas de saia e uma blusa
bem decotada, deixava o colo à mostra e Marina não
pode deixar de ver. Quando terminaram foram para a
sala. Lívia ligou o som e deixou Marina à vontade.

- Se importa se eu tomar um banho rápido? Preciso


tirar essa roupa, ta com cheiro de tribunal.

Marina achou graça e disse que tudo bem, ficaria na


sala, esperando. A música estava tão relaxante que
recostou a cabeça no sofá e fechou os olhos. Pouco
tempo depois a morena voltou, percebeu que a loirinha
não a tinha visto, então se aproximou em silêncio por
trás da poltrona e se inclinou beijando a testa de
Marina.
- Oi. Já voltou?
- Era só um banho rápido.
- Está cheirosa. – Marina falou passando a mão nos
cabelos de Lívia que caíam em seu rosto.
- A música estava tão boa que você dormiu.
- Não dormi, apenas recostei aqui, estava relaxando.
Faço isso às vezes.

Lívia deu a volta e sentou ao lado de Marina. Ficou


olhando para ela e devagar se aproximou para lhe dar
um beijo. A loirinha quis abaixar a cabeça, mas foi
impedida pelas mãos da promotora.

- Gostei tanto daquele beijo que ele não saiu da minha


cabeça. Queria repetir a dose. Posso?

Em resposta Marina tomou a iniciativa e a beijou


segurando o rosto da morena delicadamente. Lívia não
se conteve e puxou Marina contra seu corpo, apertando
a cintura dela num gesto apaixonado. Parou de repente
e olhou nos olhos de Marina que se mostrava
totalmente entregue.

“Calma Lívia, muita calma!”

Lívia respirou fundo e falou calmante, ou tentando


parecer calma.

- Menina, você me deixa louca. Tem noção do quanto


estou me segurando pra não te agarrar com vontade?
- Não precisa se apavorar, eu não vou sair correndo. –
Marina disse acariciando o rosto dela e sorrindo
ternamente.
- Estou acesa!
- Shii... Calma!

Marina colocou a mão nos lábios de Lívia e depois os


beijou com carinho.

- Acho que nunca beijei uma mulher tão bonita. –


confessou.
- Já beijou outras mulheres? – Lívia ficou surpresa.
- Já. Tive uma namorada, na verdade não foi bem um
namoro. Ficamos algumas vezes, logo depois que
terminei com meu ex, mas durou pouco.
- Você gostava dela?
- Éramos muito amigas antes do relacionamento
começar, não sei se gostava a ponto de amar. Foi só
uma experiência.
- E você gostou?
- Olha, confesso que me senti diferente. Relacionar-se
com mulher é mais intenso que com homens, mas eu
gostei sim.
- Você tem pressa de voltar pra casa hoje? – mudou de
assunto.
- Bom, na verdade tenho, porque não sei que horas
Monica vai chegar e ela vai achar bem estranho eu
estar fora até tarde da noite.
- Hum...
- Por quê?
- Não pode ligar pra ela?
- Não temos telefone em casa e ela não tem celular,
assim como eu também não tenho.
- Incrível no século vinte e um você não ter um celular.
- Eu tenho um, mas está em São Paulo, deixei com
minha mãe. Preciso ver um pra mim aqui, mas me
faltou oportunidade ainda.
- Queria que passasse a noite aqui comigo. – Lívia
tentou.
- Não! Monica vai ficar preocupada.
- Só por isso?
- É que acho estranho, vir aqui pela primeira vez e
passar a noite. Não acho isso certo.
- Hum. “Tomei um toco!” – A morena fez um bico.
- Ah que é isso, que bico é esse?
- Achei que poderia ficar aqui comigo.
- Não posso. Quem sabe outra oportunidade.
- Pode ficar só mais um pouco então?

Marina pensou e achou que não teria problema.

- Posso. – Sorriu franzindo o nariz, gesto que deixou


Lívia mais encantada.
- Então senta assim. – Lívia virou-se para Marina e a
fez passar as pernas por trás da sua cintura, ficando
uma de frente para a outra. Como a loirinha estava de
vestido, ficou um pouco sem jeito e acanhada. – Calma,
não vou olhar sua calcinha. – riu.
- Boba. Esse vestido é largo, da pra cobrir tudo.

Entre uma conversa e outra, sempre vinha um beijo


roubado por Lívia. Apesar de todos os avisos de
Eduardo, Marina não conseguia enxergar nada de ruim
na mulher que estava a sua frente. Bem sabia que Lívia
era do tipo conquistadora, jogava charme, cantadas,
mas não via mal nisso. Afinal, quando se queria
conquistar, era esse tipo de coisa que se fazia mesmo.

- Já está ficando tarde, preciso ir. – Marina falava com


muito custo, pois Lívia estava com a boca colada em
seu pescoço fazendo coisas com a língua que a estava
deixando desnorteada.
- Fica mais um pouco. Por favor!
- Pedindo desse jeito como é que eu vou resistir.

Marina aceitou o pedido com um beijo cheio de paixão.


Momentos mais tarde, disse novamente que teria que ir
pra casa.

- Ta bom, vou te levar.


- Posso ir de ônibus, não precisa se deslocar até lá.
- Não, eu te trouxe, eu te levo. Além do mais é muito
perigoso e você com essa carinha de anjo solta por aí
essa hora da noite não é uma boa.

Lívia a pegou pela mão e quando estavam saindo,


parou na porta e a beijou de repente, abraçando Marina
e a levantando do chão.

- Vou te largar senão você não sai daqui hoje.

Marina apenas sorriu.

- Ah, eu te trouxe um presente. Espere. – Lívia correu


até sua bolsa e tirou de dentro um pequeno embrulho.
– Abre.
Marina abriu e era uma casinha de cerâmica com um
escrito na frente. “Visconde de Mauá.”
- Uma lembrança da minha cidade, de coração.
- Que lindo! Obrigada, adorei. – Marina a beijou nos
lábios.

Quando chegaram em frente ao prédio Lívia a beijou


ardentemente.

- Isso é pra você não se esquecer de mim.


- Nem que eu quisesse. Volte com cuidado viu. Acho
que você corre muito.
- Acha? Que isso, pra Rio de Janeiro ta bom.
- Não sei, mas acho que poderia ter mais cautela. Vá
devagar.
- Ta bom.

Beijaram-se novamente e Marina desceu do carro. Lívia


só foi embora quando viu que a garota tinha entrado e
fechado o portão.

No dia seguinte Monica acordou e foi direto para o


quarto de Marina.

- Quero saber onde estava que chegou tarde? – disse


pulando em cima dela.
- Você estava em casa?
- Não.
- Ué, como sabe que saí?
- Eu vi você entrando no prédio, eu tava logo atrás.
- Me viu chegando? – Marina achou que Monica tivesse
visto o carro de Lívia.
- Sim, subindo as escadas já.
- Ah sim. Eu fui ligar para meus pais, me bateu uma
preocupação de repente e fui ligar. Não ia conseguir
dormir se não falasse com eles.
- Sei. – Monica falou em tom desconfiado. - Achei que
tivesse de cacho por aí.
- Que cacho Monica! Você que pelo visto vai me
abandonar daqui a pouco, ta quase casada.
- Ai, ele é lindo.
- É lindo, mas você não acha que está indo muito
rápido?
- Não, ta tudo certo.
- Então ta.
- Hoje vou sair pra ver um celular. Não quer ir comigo?
Aproveita e veja um pra você.
- Vou com você sim, mas vou esperar para comprar o
meu. Tenho que ver até quando vão durar essas
apresentações com a banda. De repente dá uma parada
aí vou ter que economizar.
- Marina, se você economizar mais terá de parar de
comer.
- Deixa de ser boba.
- Você segura demais as coisas.
- Mas eu preciso Monica.
- Eu sei amiga, só digo que poderia relaxar. As coisas
estão andando, vai dar tudo certo.
- Tudo bem, mas o celular fica pra depois.
- Ok. – Monica revirou os olhos e foi se arrumar. Marina
só não sabia que ela tinha visto sim a amiga descer do
carro de Lívia. Esperou pra ver no que ia dar aquilo
tudo.
As duas saíram para procurar um celular e só
encontraram um bom que coubesse no orçamento
depois do almoço.

- Nossa, graças a Deus achamos um. Minhas pernas


estão doendo. E ainda tem que andar até a faculdade.
– Marina reclamou.
- E assistir aula de história da arte.
- Me dê um tiro, por favor.
- Só depois que atirar em mim. – Monica fez um gesto
como se desse um tiro em sua cabeça.

As duas rumaram para a faculdade e só saíram de lá


quase a noitinha. Hugo estava esperando Monica na
saída e foi acompanhando as duas até em casa. Subiu
com elas para o apartamento e ficaram vendo TV até
que Marina resolveu ir dormir.

- Boa noite pra vocês, o sono me chama.

Os dois ainda ficaram na sala e por fim foram para o


quarto. Hugo acabou dormindo lá. Marina acordou com
uns barulhos vindos do quarto de Monica, sabia bem o
que era.

- Meu Deus, só espero que ela esteja se protegendo. –


Virou para o lado, colocou o travesseiro sobre a cabeça
e tentou dormir, mas custou a conseguir.

No dia seguinte estava um caco, levantou cedo para ir


pra aula e pareceu ir no rumo. Chegou a cochilar no
ônibus.

“Monica me paga!”

Assistiu aula a pulso, quase dormindo em cima do


caderno de pauta. Quando saiu encontrou com Eduardo
na entrada da escola.

- Nossa que cara é essa? – falou vendo as olheiras da


menina.
- Não dormi.
- Que houve?
- Monica e Hugo.

Eduardo não se conteve e começou a rir.

- E você ri? Juro que compro um radinho hoje com um


fone potente. Prefiro escutar bolero de Ravel e contar
carneirinhos para dormir.
- Ai Marina, você me mata de rir.

Nesse instante chegou Fabrício num carro bem


conhecido, vinha acompanhado de Lívia. Ela ia somente
deixá-lo para se encontrar com Eduardo, mas quando
viu Marina, resolveu encostar o carro e parar um
pouco.

- Olá.
- Oi. – Os dois responderam ainda sorrindo.
- Estão rindo de que?
- Marina e suas ideias.
- Vamos almoçar? – Lívia convidou.
- Vim deixar Fabrício pra almoçar com você Eduardo,
mas tive uma ideia, vamos todos juntos.

Eduardo olhou para Marina, deu de ombros e Fabrício


quem decidiu.

- Então vamos que eu to cheio de trabalho hoje.


- Nem me fale. – Lívia suspirou.

Foram a um restaurante próximo dali. Não parecia


muito barato, mas não era luxuoso. Serviram-se e
sentaram pra comer.
- Então, qual era a graça?
- Marina não dormiu a noite. – Eduardo já falou
começando a rir.
- Que aconteceu? – Fabrício perguntou.
- Monica e Hugo lá em casa. Preciso falar mais alguma
coisa?

Todo mundo começou a rir.

- Ai gente, to morrendo de sono. Falei que hoje vou


comprar um radinho com um fone.
- É, escutar bolero de Ravel. – Eduardo completou.
- Argh! Que horror. – Fabrício fez careta.

O pessoal todo riu.

- Tadinha. Se quiser pode dormir lá em casa.

Fabrício olhou para Lívia e estreitou os olhos em tom de


desaprovação.

- Não, obrigada. O radinho já me resolve.

Continuaram comendo e conversando. Marina foi a


primeira a acabar.

- Você sempre come tão pouco assim? - Lívia


perguntou a Marina.
- Como, estou de dieta.
- Como sempre? Já viu Marina comer outras vezes?
- Já. Já almoçamos e jantamos juntas.
- Ah é? Que novidade, não? – Eduardo olhou para a
loirinha.
- É, jantamos juntas na segunda. – disse
envergonhada.
- Aliás, poderíamos marcar alguma coisa lá em casa
essa semana.
- Quinta-feira tem um concerto, na verdade mais um
recital, só Bach. – Eduardo falou. – Você foi escalada
não foi Marina?
- Fui. – disse em tom preocupado.
- Que cara é essa? Você dá conta numa boa.
- Eu posso ir nesse recital?
- Pode sim. – Eduardo falou.
- Mamãe chega quinta à tarde, ela vai gostar de
assistir, vou levá-la.

Marina meio que se decepcionou, pois achava que Lívia


iria para vê-la.

- Vocês tocam na sexta?


- Sim.
- Então depois do show podiam ir até minha casa.
Depois junta todo o pessoal lá, ou quem quiser ir.
- Combinado.

Terminaram e foram pagar a conta. Marina levou um


susto, mas não teve jeito, pagou e saiu. “Lá se foi meu
radinho.” Eduardo e Fabrício sentiram o problema, mas
nada puderam fazer na hora. Quando saíram Marina e
Eduardo voltaram para a escola de música, Lívia e
Fabrício para o trabalho.

- Você não desiste não é Lívia? – Fabrício falava


enfezado dentro do carro.
- Que isso Fá. To levando numa boa e ela ta gostando.
- Claro, sei bem como é seu jogo de sedução.
- Posso te falar uma coisa? Honestamente?
- Deve.
- Eu gosto dela, é uma garota diferente. É meiga, doce,
sincera e ingênua.
- Aí você gosta mais né, tem um gostinho especial.
- Não é isso, eu estou falando sério. Acho Marina uma
menina boa e sinto querer ela perto de mim. Me passa
uma paz. Não sei dizer...
- Está falando sério? – Fabrício estava incrédulo.
- Estou. – Lívia estava séria. – Sei que tenho problemas
com relacionamentos duradouros, mas ela parece ser
diferente.
- Ela é diferente. Tem outra realidade, você não nota
isso?
- Eu noto, mas não pode ser mudado?
- Como? Você vai sustentá-la? Já olhou o padrão de
vida dela e o seu? E não é preconceito, mas é que ela
não vai conseguir acompanhar isso. Você pode não
perceber as coisas, mas viu como ela fica preocupada
até com um almoço?! Tem a vida simples demais.
Como vai ser isso mais pra frente? Você não vai querer
descer o seu nível social por causa dela que eu te
conheço bem.

Pela primeira vez Lívia estava sem argumento. Pensou


bem nas palavras de Fabrício.

- Não a faça sofrer, Marina é bacana demais pra você


sacaneá-la.
- Pode deixar, não vou fazer mal a ela.

Indo pra escola Eduardo deu uma ótima notícia.

- Marina o dono do bar me ligou pra falar que eles vão


fazer uma reforma e vai ficar fechado por duas
semanas, mas quando reinaugurar faremos shows
todas as sextas. Contrato fechado para seis meses e
pagando mais.
- Nossa que barato!
- E tem mais. Essas duas semanas eu fechei um show
numa quinta para uma boda de prata, o pessoal nos viu
tocando lá no bar e gostou. E o outro show, você nem
vai acreditar.
- Por quê?
- É no pão de açúcar.
- Mesmo?
- Sim, lá no alto do morro da Urca.
- Nossa que sonho.

Os dois tão pagando bem.

- Que beleza. Poderei comprar um celular, o meu ficou


em São Paulo com minha mãe e ficar em orelhão aqui o
tempo todo não ta dando.

Eduardo sorriu, no fundo tinha certa pena da garota.


Queria ajudar, mas também fazia seus sacrifícios.

- Conte sempre comigo pra qualquer coisa. – falou


meio penalizado.
- Eu sei que posso contar. Acho que você foi um anjo
que Deus colocou no meu caminho, ele sabia que eu ia
precisar.
- E você a irmãzinha que eu não tive.

Os dois voltaram para a escola e cada um foi assistir


sua aula.

Quando Marina chegou, Monica estava no banho.


Comeu alguma coisa e entrou para o quarto.

- Ei, tudo bom? – Monica perguntou.


- Tudo.
- Preciso pedir desculpas. Ontem fiz barulho né? E... Te
dar os parabéns adiantado amiga! – Pulou em cima da
garota para lhe dar um abraço. – Desejo tudo de bom
pra você, muita saúde e que aqui no Rio você consiga
tudo que sonha pra sua vida.
- Obrigada. Achei que ia se esquecer.
- Claro que não.
- Mas meu aniversário é só amanhã.
- É que vou dormir na casa de Hugo. – falou meio sem
graça.
- Está muito distraída com esse namoro e sim, fez
bastante barulho ontem. Mas tudo bem, não dormi
bem, mas essa noite eu vou né?

Monica riu.

- Vai sim. – sorriu.


- Sei. Não comenta sobre meu aniversário, sabe que eu
fico sem graça.
- Tudo bem, vou ficar quieta.
- Monica você está se protegendo direitinho não é?
- Claro, ta achando que sou doida?
- Perguntei só pra confirmar mesmo. Se cuida então,
boa noite.
- Boa noite.

Marina entrou no banho e quando saiu foi direto pra


cama. Não sabe por que, mas chorou ao lembrar-se da
família, dos amigos que deixara no interior. Dormiu
sem perceber.

No dia seguinte a primeira coisa que fez foi ligar para


sua mãe.

- Oi mãe, tudo bom?


- Oi filha, tudo jóia e por aí?
- Aqui está tudo bem.

Contou as novidades e depois perguntou por sua


sobrinha.

- Como vai a Isa?


- Está uma graça, cada dia mais arteira.
- Estou com saudade dela, de todos, aliás. Talvez dê
pra ir aí daqui umas semanas, nas pausas daqueles
shows. Já guardei o dinheiro da passagem.
- Não se preocupe, qualquer coisa seu pai manda pra
você.
- Não precisa, vai dar tudo certo.
Despediram-se e Marina saiu meio cabisbaixa para
aula. Não percebeu o garoto atrás dela. Quando ia
atravessar a rua ele puxou sua bolsa e saiu correndo.

- Ei, minha bolsa!

As pessoas passavam e não deram nem atenção, ela


tentou correr, mas foi em vão. Achou sua bolsa jogada
uns metros a frente, mas somente com documentos e
chaves. Sem nenhum dinheiro. Chegou na escola com
os olhos cheios de lágrimas. Entrou na sala de aula e
seus olhos vermelhos eram visíveis. Monica que viu,
logo levantou:

- Que houve?
- Fui assaltada.
- Ô meu Deus! Vem, vamos sair daqui.

Levou Marina até a cantina e pediu um copo com água


e açúcar.

- Toma, fica calma.


- Levou o dinheiro com o qual ia viajar. Estava
guardando para ir pra casa.
- Amiga, calma. O importante é que você está bem.
- Eu tinha juntado... ia depositar no banco hoje... –
Marina começava a soluçar.
- Você junta de novo. Isso não será problema. Vem
aqui. – Monica a abraçou e deixou que ela chorasse,
entendia a dificuldade da amiga e ficou com pena.

Deixaram a aula de lado e foram para casa. Hugo ia


encontrar com Monica a tarde, mas ela o dispensou
contando o ocorrido e disse que ficaria com Marina.
Mais que rapidamente ele deu a notícia ao resto do
grupo que baixou todo na casa delas. Quando entraram
Monica logo advertiu:
- Ela dormiu agora. Com muito custo tomou banho e
deitou. Por favor, não comentem o ocorrido, senão ela
vai chorar de novo.
- Nossa eu to arrasado, sinto como se fosse comigo. –
Pedro falou.
- É, você também já foi assaltado. – Eduardo falou.
- Pois é. A gente fica se sentindo um trouxa.
- Nossa, ela juntou esse dinheiro pra ir pra casa. Estava
programando isso.
- A gente dá um jeito. Eu dou meu cachê pra ela dos
shows que faremos. Ela não sabe quanto é ainda. Posso
dar uma enganada. – Eduardo falou.
- Eu também dou o meu. – Pedro concordou.
- Calma gente, ajuda é bem vinda, mas tem que
combinar isso direito. – Hugo se manifestou.
- Tudo bem, mas vamos ajudar. – Eduardo estava
decidido.

O telefone de Eduardo tocou e era Fabrício querendo


saber onde estava.

- Estou na casa de Marina e Monica. Marina foi


assaltada essa manhã...

Como Fabrício estava dirigindo o celular estava no viva


voz e Lívia estava ao seu lado...

- Vire esse carro agora, nós vamos pra lá.

O rapaz nem questionou, chegaram em instantes. Lívia


subiu rapidamente as escadas e bateu na porta. Monica
foi abrir e a morena quase passou por cima dela.

- Onde ela está? Quero vê-la.

Todos olharam assustados, até mesmo Fabrício que já


conhecia bem sua prima.
- Calma Lívia.
- Quero saber onde ela está.
- Está no quarto dormindo, por favor, não acorde... –
Monica não teve tempo de falar nada.

Lívia passou por ela e entrou no quarto, fechou a porta


e deixou todo mundo chocado.

- Que deu nela? – Monica perguntou.


- Estou sem palavras. – Fabrício falou pasmo.
- Deixa ela conversar com Marina. Lívia é boa nessas
horas, fala coisas animadoras. – Eduardo tentou
disfarçar.
- Então ta né. Alguém quer um suco ou café.
- Eu quero.
- Eu também.

Cada um foi respondendo tentando mudar a conversa e


despistar Monica.

Lívia agachou na beirada da cama e acariciou os


cabelos da loirinha. Tinha o semblante tranquilo, mas o
nariz estava vermelho de tanto chorar. A morena sentiu
um aperto no coração. “Meu Deus o que é isso!? To
ficando louca!” Tanto alisou os cabelos de Marina que
ela acordou.

- Lívia... – seus olhos encheram de lágrimas.


- Oi meu anjo, calma. Eu estou aqui. – abraçou-a
aconchegando-a em seu colo. – Quem fez isso com
você? Te machucaram?
- Não. Mas levaram meu dinheiro. Eu não percebi o
garoto se aproximando, tinha acabado de falar com
minha mãe no telefone, estava distraída. Eu não... –
recomeçou o choro.
- Calma, não chore. – Lívia beijava o topo de sua
cabeça. – Pelo menos você está bem, isso é o
importante. – a afastou um pouco e falou sério. – Você
viu quem fez isso?
- Não, ele saiu correndo, só depois que achei minha
bolsa jogada no chão.
- Se eu pego um filho da puta desses, não sobra nem a
alma pra ir pro inferno.

Marina voltou a chorar e Lívia a abraçou.

- Quer sair pra dar uma volta?

Marina hesitou e Lívia insistiu.

- Vamos, você distrai e daqui a pouco esquece.


Prometo te trazer de volta sã e salva.

Marina ouviu vozes do lado de fora e perguntou:


- Quem está lá fora?
- Os meninos e sua amiga Monica.

A loirinha se surpreendeu, ainda mais por Lívia estar


dentro do quarto dela. Pensou no que Monica estaria
achando disso.

- Vamos? Vou te levar pra um lugar bem legal que


conheço, tenho certeza que vai gostar.

Marina se levantou e esfregou os olhos parecendo uma


criança. Olhou para o espelho:
- Nossa, eu to horrível!
- Está linda. Troque só de roupa, porque sair de pijama
não seria uma boa. Apesar de eu achar que está uma
graça. – Lívia se referia ao pijama rosa com
borboletinhas que Marina usava. – Vou me virar e você
troca de roupa, pode deixar que eu não olho.

A loirinha ficou desconfiada, mas escolheu um


vestidinho prático e rapidamente trocou pelo pijama. As
duas saíram do quarto e Marina foi recebida com
sorriso pelos garotos.

- Ah, acordou a bela adormecida. Eu desconfiei que


Monica tivesse te dado um chá de apagão. Você não
acordava mais. – Eduardo brincou.
- Eu dei foi água com açúcar mesmo.
- E aí Marina, se sente melhor? – Pedro perguntou.
- É, vai passar, não tem mesmo o que fazer. –
respondeu triste.
- Tenho certeza que você recupera o dinheiro rapidinho.
Damos graças a Deus que você está bem, isso é o que
importa. – Fabrício também falou.
- É verdade. Nessa violência que está o Rio hoje em
dia, sair e voltar vivo pra casa já é muito bom. E a
tendência é só piorar, já que as autoridades não fazem
seu devido papel. – Lívia falava indignada.
- É... – a loirinha baixou a cabeça novamente.
- Vou levá-la pra dar uma volta. Assim ela se distrai e
esquece isso. Mais tarde eu a trago de volta Monica,
pode ficar tranquila.
- Tá bom, só quero que ela fique bem. – olhou
desconfiada.
- Vai ficar. – Lívia beijou o topo da cabeça de Marina.

As duas saíram e Monica ficou intrigada.

- Qual é a da sua prima com Marina? – se dirigiu a


Fabrício.
- Nada, por quê?
- Vir aqui, querer levá-la pra dar uma volta.
- Que tem isso?
- Não sei, parece que está interessada nela.

Eduardo até engasgou.

- Se tiver, tem algum problema? – ele perguntou.


- Não... Não... Só achei esquisito.
- Você tem preconceito? – o rapaz indagou.
- Eu não. Na verdade nunca tive um amigo gay, mas
não vejo problema. Convivo numa boa. – falou sem
olhar direito pra eles.
- Bom saber. – Fabrício falou sério.

Dentro do carro Lívia sorriu e falou animada.

- Vamos dar um passeio.


- Você não tinha que estar trabalhando?
- Tinha, mas isso eu vejo depois. Posso faltar um dia ao
meu escritório, dou um duro danado naquilo lá, não é
possível que não possa tirar meio dia de folga.
- Obrigada. – Marina falou baixinho.
- O que disse?
- Estou agradecendo por estar ao meu lado.
- Não me agradeça, estou fazendo com interesses a
parte.
- Interesse?
- Sim, te levo pra dar uma volta e passo mais um
tempo ao seu lado. Também estou me beneficiando
com isso. – Piscou o olho para a loirinha, que sorriu em
troca.

Lívia a levou até a Pedra Bonita, aonde as pessoas iam


para saltar de asa delta ou pular de paraglider.

- Nossa que legal aqui. Você gosta de lugares altos.


- Por que diz isso?
- Seu apartamento é no décimo quinto andar.

Lívia achou graça.

- Vem, senta aqui para poder ver a paisagem.

Lívia a puxou e sentaram em uma pedra próxima à


plataforma de saltos. A morena sentou primeiro e
puxou Marina, fazendo-a sentar entre suas pernas, de
costas pra ela. A loirinha encostou a cabeça no colo de
Lívia e sentiu o vento bater no rosto. Talvez Lívia não
soubesse, mas aquele passeio estava sendo mais que
especial para ela naquele dia. Tinha a sensação de que
o tempo havia parado.

- Está gostando?
- Sim, parece que estou voando de asa delta.
- Quer voar?
- Não! – Marina abriu rapidamente os olhos.
- Tem medo?
- Acho que teria.
- Nunca viajou de avião?
- Não. – Disse envergonhada.
- Pois vai um dia, eu tenho certeza.
- Não ligo pra isso. As pessoas têm a intenção de ter
muito dinheiro, fazer muitas viagens, comprar muitas
coisas. Eu só quero ter uma vida estável, morar num
lugar meu e ajudar minha família. Não desejo ser rica.
- Quando eu tinha sua idade, desejava somente ter
uma casa pra morar, pois morávamos de aluguel. Hoje
tenho muito mais do que desejei ter.
- Você se esforçou, sua mãe te ajudou e com o apoio
dela você venceu na vida. Admiro muito isso nas
pessoas. Se você tem o que tem é porque
provavelmente é uma merecedora de tudo isso, pois é
uma boa pessoa.
- Será mesmo que sou?
- Eu aposto que sim.
- Quer fazer outra aposta?
- De que?
- De que você muda de ideia em pouco tempo.
- Não mudarei.
- Estamos apostadas.
- Por que está dizendo isso?
- Porque não sou uma pessoa perfeita.
- Ninguém é. – Marina virou o rosto e com uma das
mãos tocou o rosto de Lívia. – Temos que aprender a
gostar das pessoas como são e entendê-las sem julgar.
É difícil isso, mas é valido tentar.
- Você realmente é uma pessoa ímpar.
- Estou procurando virar par, não quero ficar ímpar a
vida toda. – A loirinha brincou.
- Você vai achar alguém que a faça feliz.

Aquelas palavras incomodaram Marina. Por que Lívia


não poderia ser esse alguém? Ficaram um bom tempo
ainda apreciando a paisagem e se curtindo, parecia até
um namoro. Ao entardecer Marina disse que precisava
voltar pra casa.

- Monica deve estar preocupada.


- Ela ta é com o namorado dela.
- Ah isso é.
- Está com fome?
- Um pouco, não almocei.
- Então agora é a outra parte do passeio.

As duas levantaram e entraram no carro. Antes de dar


partida Lívia se virou para Marina e falou baixinho.

- Faz mais de uma hora que eu quero te dar um beijo,


posso fazer isso agora?

Marina sorriu.
- Acho que estou precisando mesmo de um beijo seu.

Lívia apertou um botão no painel do carro, reclinou o


banco de Marina e o dela, dando espaço para que
chegasse mais perto. Segurou o rosto de Marina e a
beijou com toda delicadeza que pode. Sentiu as
lágrimas descerem pelo rosto dela. Parou o beijo e viu
um par de olhos verdes marejados.

- Que foi meu anjo?


- Nada, ainda estou triste. Desculpa, você está fazendo
tudo para me alegrar e eu aqui chorando feito uma
idiota.
- Isso vai passar. Só não estou gostando de ver esse
rosto lindo, vermelho. Que eu posso fazer pra melhorar
essa carinha? Se eu contar uma piada, será que você
vai rir?

Marina sorriu franzindo o nariz.


- Adoro quando ri assim.
- Assim como?
- Franzindo o nariz, dá vontade de morder. Pode?

Marina riu meio de lado.


- Pode.
- Hum... – Lívia mordeu o queixo, depois as bochechas,
a ponta do nariz e desceu para o lábio inferior,
mordendo e chupando no final.

Sem querer Marina soltou um gemido baixinho. Aquilo


acendeu os instintos de Lívia. Começou a subir uma das
mãos, que estava na cintura, foi até o seio, mas sentiu
a mão de Marina a impedindo, então recuou. Começou
a morder o pescoço da loirinha, o lóbulo da orelha,
depois desceu até o colo e tentou baixar a alça do
vestido, mas também foi impedida. Marina puxou seu
rosto e beijou sua boca, passando a língua devagar nos
lábios de Lívia.

- Você está me deixando louca. – a voz da morena saiu


completamente rouca.

Marina fingiu não escutar e continuou com o beijo,


agora com mais paixão. Lívia pegou os dois braços da
loirinha e os levantou, segurando-os acima da cabeça.
Beijou as laterais e chegou no colo. Baixou a alça do
vestido, fazendo aparecer a beiradinha do seio
esquerdo, ficou louca quando viu o biquinho enrijecido
por baixo do tecido. Quando ia acabar de baixar a alça,
Marina se soltou e a levantou novamente.
- Ah, você quer acabar comigo. Só pode.
- Quero não, você que está querendo me deixar doida
aqui. Não acha que aqui seria muito arriscado?
- Arriscado por quê?
- Por ser um carro ué.
- Meu carro tem insulfilm e vidros blindados, ninguém
vai nos incomodar.
- Não é isso. – Marina se desvencilhou. – É que não
acho que seja o lugar mais apropriado.

Lívia respirou fundo e entendeu o que Marina queria


dizer.

- Tudo bem. – Lívia se ajeitou no banco e ligou o carro


para saírem.
- Está brava?
- Não. – estava séria.
- Está chateada?
- Também não.
- Está o que então?

A morena parou o carro de novo e a agarrou lhe dando


um beijo cheio de intenções e depois falou:
- Estou morrendo de vontade de você, mas vai passar.

Acelerou e desceu o morro. Marina sorriu timidamente


enquanto se ajeitava no banco. No meio do caminho
arriscou colocar a mão esquerda na perna de Lívia, que
levou sua mão cobrindo a de Marina.

- O lugar que vou te levar é um dos que mais gosto de


ir aqui no Rio, sempre levo minha mãe lá. Tudo que se
come lá é gostoso.
- Se tiver pão com manteiga eu já vou gostar, com a
fome que estou.
- Também estou morrendo de fome. – apertou a mão
de Marina.
A loirinha se limitou ao silêncio.

Chegaram ao local e Marina ficou maravilhada.

- Eu sempre quis vir aqui. Já tinha lido sobre ela na


internet.
- Então já conhecia a Confeitaria Colombo?
- Só pelo computador, é mais linda ao vivo.
- Então vamos entrar.

Foram direto para o segundo andar, sentaram-se e


pediram um café completo. Enquanto comiam Marina
falava sobre o lugar.

- Meus compositores prediletos vinham aqui, Chiquinha


Gonzaga e Villa Lobos. Quando cheguei ao Rio, dentro
do ônibus ainda, comentei com Monica que queria vir
aqui qualquer dia desses.
- Aqui está então.
- Obrigada por me trazer. – disse sorrindo.
- Não me agradeça linda, quero é ver você sorrindo de
novo. Isso já é um agradecimento. “Mas o que eu estou
dizendo?! Lívia, quer parar de ser romântica!”

Marina olhava atenta ao lugar e ficava mais admirada.


Quando terminaram de comer Lívia fez uma ligação
para o escritório, depois disse que ia ao banheiro.
Quando estava voltando encontrou com Bianca.

- Querida, está viva! Quanto tempo?


- Que isso Bianca? Parece que não nos vemos há anos.
- Em relação à frequência que nos víamos, tem tempo
que não te vejo. Que faz por aqui?
- Vim tomar um café.
- Sozinha?
- Não.
Já estavam se aproximando da mesa onde Lívia estava
e Bianca pode ver Marina.

- Ah sim, trouxe sua sobrinha. – disse em tom meio


sarcástico.
- Não, essa é Marina, uma amiga minha.
- Ah sim. Prazer Marina. – Bianca sorriu.
- Oi, prazer.
- Pedofilia dá cadeia e sem fiança, você deveria saber
disso melhor do que eu. – Bianca cochichou no ouvido
da morena. Não passando despercebido por Marina.
- Deixa de ser ridícula.
- Bom meninas, vou indo tenho muito que fazer hoje
ainda. E Lívia... me procure quando sair do jardim de
infância.

Marina ficou possessa, quase não acreditou no que


ouviu. Apesar de Bianca ter dito em voz baixa, não
tinha como não escutar. Quando Lívia se sentou a
loirinha estava emburrada. Sabendo o motivo, tentou
descontrair.

- Terminou de comer?
- Já.
- Você viu que eles têm um piano aqui? De vez em
quando tem alguém tocando, venho pra cá só pra ouvir
às vezes.
- Deve ser bonito.
- Quer tocar lá?
- Lá em cima?
- É.
- Pra que?
- Queria te ver tocando, eu adoro.
- Já me viu tocando em outros lugares. Não vou me
expor aqui nesse lugar só porque você acha bonito. –
Marina falou mais ríspido do que imaginou.

Lívia estranhou a resposta, mas não falou nada.


- Me desculpe, não queria ser grossa.
- Mas foi.
- Desculpe, é que não gosto desse tipo de exposição.
Em casa eu toco sempre que me pedem, mas acho uma
exposição sentar num lugar público e tocar sem motivo.
Você pode me ver tocando em outras ocasiões.
- Tudo bem.

Quando estavam saindo Lívia pediu que Marina


esperasse do lado de fora e entrou novamente, pegou
um embrulho no balcão.

- Isso é pra você levar.


- O que é?
- Uma torta de morango com amêndoas que eles fazem
aqui. Um presente pra você.
- Não precisava. – Marina agora ficara sem graça, havia
sido grossa e Lívia atenciosa.

Quando chegaram em frente ao prédio onde Marina


morava Lívia somente se despediu, não ia subir.

- Queria agradecer pelo passeio, eu adorei tudo.


- Que bom, fico feliz por isso.
- Desculpe novamente pelo que falei na confeitaria, não
tinha necessidade daquilo.
- Não tem problema, eu compreendo.
- Quero te pedir uma coisa, posso?
- Fale.
- Pode me dar um beijo? – Marina sorriu.
- Isso nem precisava pedir.

Lívia a puxou beijando-a com vontade, quase colocando


Marina em seu colo. Quando se afastou a loirinha ainda
tinha os olhos fechados. De repente os abriu e o verde
se encontrou com o azul.
- Às vezes tenho a impressão de que já te conheço. –
Marina falou mais para si mesma.

Lívia sorriu, mas não falou nada.

- Obrigada mais uma vez pelo passeio. Fica com Deus e


vai...
- Já sei, vai com calma pra casa.
- Isso.
- Ah, espere. Quero que fique com meu cartão, aqui
tem meus telefones do escritório, da minha casa e
celular. Se precisar de qualquer coisa me ligue.
- Pode deixar.

Beijaram-se de novo e se despediram. Quando Marina


entrou no apartamento Monica estava no quarto
estudando.

- Oi, trouxe uma coisa que você vai adorar.


- O que?
- Comida! – a loirinha sorriu.

Marina foi até a cozinha e abriu o embrulho mostrando


a torta.

- Nossa isso deve ta muito bom.


- Então aproveita.
- Onde comprou?
- Não comprei, ganhei. Lívia me deu, é da confeitaria
Colombo.
- Uia! Você era doida pra ir lá.
- Pois é, tem que ver como é bonito.
- Gostou do passeio?
- Sim, fomos até a Pedra Bonita.
- Saltou de paraglider? – Monica riu.
- Não bobona, só conheci. A vista de lá é linda. –
Marina se lembrou dos momentos com Lívia.
- Essa moça parece ter gostado de você.
- É. – a loirinha sorriu. – Ela é legal, muito educada.
- Bonita ela não? – Monica jogou verde.
- É né? Ela chama a atenção onde passa. Bom, vou
tomar um banho e estudar. Tem concerto essa semana.
- Estava estudando também, pode ouvir depois? Quero
saber se estou indo bem.
- Claro.

Marina entrou no banho e quando saiu, sentou na sala


pra ouvir Monica. Realmente estava ótima. Monica
podia não acreditar, mas tinha talento nato para música
e uma facilidade incrível de tocar qualquer instrumento.
Tocava piano também, além de contrabaixo, violão e
saxofone. Resolveu se dedicar à flauta transversa, pois
era o sonho de seu pai.

A semana correu bem, Marina contou a seus pais o


episódio do assalto e ele disse que mandaria dinheiro
para ela. Nem que fosse o da passagem. Ela não
aceitou dizendo que se precisasse pediria. Não viu nem
falou mais com Lívia durante aqueles dias. Sexta-feira
de manhã Monica andava de um lado para outro na
sala:
- Que foi Monica? Ta gastando o chão. – Marina
brincou.
- Não tenho roupa.
- Como não tem roupa? Achei que estivesse nervosa
por conta da apresentação.
- Não! Sabe que não ligo, mas não sei o que vou vestir.
- Quer ver se tenho alguma coisa que te sirva?
- Não. Você coloca roupas muito estilo menininha. –
debochou.
- Hein? – Marina se indignou. – Não coloco nada.
- Coloca sim. Faz parecer que tem até menos idade.

Aquilo foi quase um tapa na cara, fez Marina lembrar o


episódio com Bianca na confeitaria.
- Ah, eu gosto.
- Eu não acho feio, só acho que você poderia se
valorizar mais como mulher.

Marina foi até seu quarto e olhou para o vestido que


estava em cima da cama, o que iria usar na
apresentação. Era banco com detalhes de florzinhas
verdes, realmente não era o estilo mais adulto de se
definir. Achou que Monica poderia estar certa.

- Acha que esse está muito infantil? – mostrou o


vestido.
- Acho.
- Mas o que eu vou vestir então?
- Pronto, já não bastasse eu na dúvida, agora você.

Monica entrou no quarto da amiga e abriu o guarda


roupa, revirou as gavetas e tirou os cabides e achou
uma saia preta mais curta e de cintura alta. Pegou uma
blusa branca sem mangas e colocou como se montasse
um manequim.

- Aí, fica mais elegante. Coloque um cinto, eu tenho


um. Vai ficar ótimo, ta usando cintura alta.
- E o que eu iria calçar?
- Salto.
- Não gosto de salto para tocar.
- Você vai tocar uma música. – enfatizou o uma. – E
isso não vai te matar.

Marina vestiu as roupas e realmente ficaram boas.


Penteou os cabelos e fez duas tranças nas laterais as
prendendo atrás da cabeça. Parecia outra mulher.
Ajudou Monica a escolher o que vestir. Optaram por
uma calça reta social e uma blusa salmão mais larga
com um decote na frente. Saíram e foram para a
escola. Chegando lá havia certa movimentação na
porta, as duas viram Marconi, que logo as encaminhou
até o teatro.

- Concertistas na frente, daquela fileira ali em diante


são pra convidados. Gente, que monte de pastas são
essas? – perguntou aos alunos.
- Partitura ué. – um deles respondeu.
- É Marina, só você me mata de orgulho. Vai tocar sem
ler. – saiu apressado para terminar de ajeitar outras
coisas.

Os garotos da banda chegaram pouco depois


acompanhados de Lívia e sua mãe.

- Mãe, senta aqui, a visão é melhor.


- Nossa que bonito esse lugar.
- Sim, vai ficar mais lindo ainda quando começarem a
tocar. – Lívia pensou em Marina.

O concerto começou e aos poucos os alunos foram se


apresentando. Quando Monica subiu ao palco os
garotos aplaudiram animados, principalmente Hugo que
fez a graça de assobiar chamando a atenção. Aquilo
deu mais motivação à garota que tocou entusiasmada.
De piano só havia quatro alunos e Marina seria a
penúltima. Quando chegou a sua vez, se levantou e
subiu ao palco. Lívia olhou para a programação e olhou
para a moça que estava sentada em frente ao piano.

“Ué?! Erraram?”

Só depois viu que era Marina quem estava sentando


para tocar.

“Meu Deus como está linda!”

Não só pensou como falou, fazendo sua mãe perguntar:


- O que foi?
- Nada, estou fazendo uma observação aqui.
- Baba não prima. – Fabrício brincou.
- Deixa de ser bobo.
- Mãe, essa que é Marina, minha amiga da qual lhe
falei. – Lívia falou mostrando a loirinha.
- Bonita ela.
- Hum, ta se apresentando pra sogra. – Fabrício mais
uma vez implicou.
- Quer parar!?
- Fabrício, meu filho, faça silêncio. – Marta o advertiu.
- Só estava brincando com Lívia tia.
- Deixe-a prestar atenção na moça.
- Ela já faz isso tia. – Fabrício não se conteve.
- Eu acerto com você depois. – Lívia falou levantando
uma sobrancelha.

Marina respirou fundo, olhou para o meio do piano


como se procurasse algo e fechou os olhos. Era como
um ritual. Seus dedos tocaram as teclas e o tempo
parou, parecia ficar em transe. O reitor, que estava
assistindo ficou maravilhado.

- Essa menina é boa.


- Ela é muito aplicada, estou muito feliz de tê-la como
aluna. Tem algumas manias, mas isso é fácil de
melhorar. – Marconi falava orgulhoso.

Marina terminou e foi aplaudida como os outros alunos,


mas seus olhos verdes procuravam um par de olhos
azuis que facilmente encontrou. Estava séria até vê-los,
depois abriu um sorriso luminoso. Ao final do concerto
as pessoas se juntavam para se cumprimentar.

- Marina, você foi ótima! Viu, nem precisou ficar


nervosa. – o professor a elogiou.
- Não fiquei, só antes um pouco.
- Parabéns menina. Está no caminho certo. E você
Monica também arrasou, posso falar com folga que é
uma das melhores flautistas que tem nessa nova leva.
– falou e saiu para falar com os outros alunos.

Os garotos se aproximaram para elogiar também.

- Muito bom! Só podia ser minha namorada. – Hugo era


só elogios.
- Esse ta babando, mas de fato você foi ótima Monica.
Fiquei impressionado com a respiração, porque fuga
não é fácil. – disse Eduardo.
- Obrigada, obrigada! – Monica fez reverência.
- E você loirinha, nem preciso dizer que fiquei babando.
Só pensava uma coisa: Aquela ali é a tecladista da
minha banda. – Pedro elogiou, pareceu até rolar um
clima.

Os outros garotos riram e só não brincaram porque


Lívia chegou mais perto com a mãe.

- Boa noite. Gente, pra quem não conhece essa é Dona


Marta, minha mãe.
- Muito prazer. – responderam Marina e Monica.
- Menina, você toca bem hein! – a morena se dirigiu a
Monica. – Fiquei impressionada, acho seu instrumento
lindíssimo. Mas o meu preferido ainda é o piano. – se
virou para Marina. – Você foi simplesmente magnífica.
Meus parabéns!
- Obrigada. – Marina estava envaidecida.
- Que tal sairmos pra comemorar? – Lívia convidou. –
Nada demorado, afinal hoje é quinta ainda.
- Vamos ao café do forte, lá é tranquilo e não deve
estar cheio essa hora. – Fabrício sugeriu.

Seguiram para lá, uns no carro de Lívia e outros no de


Fabrício.

Sentaram-se do lado de fora numa mesa comprida para


que coubessem todos. Lívia chamou o garçom e fez os
pedidos. Estavam conversando animados, é claro que a
morena fez questão de se sentar ao lado de Marina.
Ficou entre ela e sua mãe. E ao lado de Marta, Fabrício
que fez questão de ficar ali para ouvir a conversa.

- Lívia me falou de você Marina. – Marta sorriu.


- É? Espero que bem.
- Claro que falei bem. – a morena resmungou.
- Disse que você é muito inteligente e esforçada.
Salvou a vida dos meninos outro dia.
- Eles também salvaram a minha, precisava muito
trabalhar e juntou o útil ao agradável.
- Você é de São Paulo, sim?
- Sou do interior. Sou de Jaú.
- Seus pais não ficaram preocupados de você ter vindo
pra cá?
- Claro! Mas não teve jeito, nessa carreira musical, ficar
no interior é perder tempo. Como diz minha mãe.
Deixa, mas reza. E tem que ser assim mesmo. – falou
um tanto triste, se lembrando do assalto.
- Eu que o diga, Lívia também me preocupa aqui no
Rio.
- Eu não vim sozinha de tudo, tenho Monica que é uma
amiga de todas as horas.
- Gostaria que Lívia também tivesse uma amiga, ela
fica muito sozinha aqui.
- A senhora que pensa tia. Lívia está sempre
acompanhada. – Fabrício cutucou.
- Quer perder o emprego? – a promotora cochichou em
seu ouvido.
- Não. Quero é jogar lenha nessa fogueira. – riu.
- Palhaço.
- Precisa fazer mais amigos aqui minha filha.
- Eu faço mãe, tenho Fabrício e Marina também é uma
amiga, a conheci faz pouco tempo, mas nos damos
bem.
- Muito bem. – Fabrício mais uma vez.

Se pudesse, Lívia o matava com os olhos.


- Me conta uma coisa Marina. Piano é um instrumento
difícil?
- Ah eu não acho, toco desde pequena. Comecei com
sete anos.
- Queria muito aprender.
- Eu não tenho muito jeito pra ensinar, mas se a
senhora quiser, posso dar umas dicas. Monica é melhor
professora que eu.
- Seria uma boa.
- Mamãe sempre quis aprender um instrumento, quem
sabe não é o piano? – Lívia completou.

Continuaram conversando até que Marina se levantou


para ir ao banheiro, fazendo Lívia se levantar fingindo
falar ao telefone, mas foi pretexto para ir atrás dela.
Entrou no banheiro e a viu lavando as mãos.

- Você está simplesmente maravilhosa com essa roupa.


- Vesti meio que a contra gosto, Monica disse que me
visto que nem criança.
- Eu gosto de qualquer jeito, mas realmente essa roupa
está lindíssima.
- Obrigada. Vamos?
- Vamos, só vou ao banheiro, me espere.
- Tudo bem.

Lívia entrou no reservado e minutos depois chamou


Marina.

- Marina, pode me ajudar aqui, não consigo abotoar a


calça.

A loirinha na maior inocência abriu a porta e Lívia a


puxou.

- Peguei! Agora só largo se me der um beijo.


- Lívia, isso é perigoso. E se chegar alguém?
- Não vão nos ver, estamos fechadas aqui. Agora o
beijo.
- Mas...

Nem teve tempo de responder e sua boca foi calada


com lábios apressados. Não tinha como se esquivar,
pois o reservado era pequeno e nem queria sair dali
também. Lívia se afastou sorrindo.

- Tava doida pra fazer isso desde a hora que te vi


tocando.
- Você é louca.
- Sou, por você.

Nesse instante alguém chega ao banheiro. A morena


fez sinal para que ficasse em silêncio e esperou. A
pessoa entrou no reservado ao lado e Marina teve
vontade de rir, sendo impedida por Lívia, que
aproveitando a posição beijou o pescoço da loirinha e o
mordeu de leve. Marina teve de se segurar para não
soltar um gemido. Depois que a pessoa saiu as duas
saíram também e voltaram para a mesa.

Para não levantar suspeita, Marina voltou primeiro e


depois Lívia ainda com o telefone na mão como se
estivesse falando nele. A noite transcorreu bem, mas
não demoraram em voltar pra casa. Marta estava um
pouco cansada e queria dormir cedo.

No dia seguinte nem Marina nem Monica tiveram aula,


então aproveitaram a manhã para dormir. Quando
acordaram, por volta de onze horas, as duas
resolveram dar uma faxina no apartamento. Como de
costume, Marina estudou um pouco a tarde e Monica foi
ensaiar com o conjunto para tocar em um casamento
no domingo. Já estava anoitecendo quando Eduardo
passou no apartamento para pegar Marina. Seria o
último final de semana da temporada tocando no bar,
depois disso só os dois shows que Eduardo tinha
agendado.

- Será que depois desses shows vão aparecer outros? –


Marina indagou.
- Claro. Estou fazendo uns cartazes pra divulgar mais e
também cartões da banda. Quando estiver pronto,
deixo uns com você.
- Cartazes?
- Sim, e você vai ter que tirar umas fotos.
- O que?! – Marina assustou.
- É isso aí mocinha. Fotos sensuais de biquíni para o
cartaz da banda.

Marina olhou incrédula para a cara dele, que começou a


rir.

- To brincando paulista. Pretendo tirar fotos nos shows


e depois fazer uma montagem. Mas essas fotos só
vamos tirar no show lá na Urca.

Chegando ao bar o pessoal estava a espera, com


exceção de Monica que só chegou quando já tinham
começado. Estavam com músicas novas e isso agradou
o público, não tocaram só MPB da velha guarda.
Quando acabou o pessoal pediu bis e um homem ainda
quis dar uma canja, depois que a banda assentiu, ele
subiu no palco.

- Queria cantar Dona na versão do Roupa Nova.

Hugo olhou meio preocupado, essa música ele não


sabia. Marina sabia mais ou menos e Eduardo já tinha
tocado, Pedro só iria acompanhar.

- Hugo, fica olhando pra mim que eu te falo as notas. –


Marina falou.
Começaram meio devagar até que o homem começou a
cantar, meio desafinado no início, mas depois acabou
se soltando e cantando melhor. O público animou e
cantou junto animando mais o local. Quando acabaram
deixaram um cd tocando e foram para o apartamento
de Lívia, ela tinha preparado tudo para recebê-los.

Estava tudo arrumado e nas mesas tinha só comida


japonesa, pois Lívia adorava. Tinha convidado Carlos e
Larissa, que chegaram logo depois deles.

- Oi, boa noite. Nossa que chique, vou matar a vontade


de comer comida japonesa. – Larissa se animou.
- Que bom que vieram.
- Daqui a pouco chega Bianca.
- O que? – Lívia quase gritou.
- Eu a chamei, não era pra chamar?
- Não Carlos. – Lívia ficou com raiva. – Bianca é
passado.
- Ihh, então espero que ela não venha.
- Será um milagre se isso acontecer. Bom, fiquem à
vontade, minha mãe está aí hoje, muito cuidado com
os comentários, não vão piorar minha imagem. – riu.
- Fica tranquila.

Carlos e Larissa eram casados há alguns anos e amigos


de Lívia. Ele era advogado e Larissa arquiteta.
Conheceram Lívia na faculdade e se tornaram amigos.

Ao sentar na poltrona Lívia logo puxou Marina para se


sentar ao lado dela. Monica viu aquilo e olhou esquisito.
Fabrício também reparou e viu a cara de Monica, mas
ficou atento.

- Senta aqui. Quero você do meu lado. – Lívia falava


com tanta firmeza que ninguém ousava questionar suas
atitudes ou ao menos brincar.
- Eu adorei! – Marta falou animada. – Vocês deviam
fazer show em Mauá.
- Ué, só convidar que nós vamos.
- Seria uma boa, lá é tão bonito. – Marina falou
empolgada.
- Conhece lá?
- Não, só pela internet.
- Quem sabe vai conhecer não é? Lívia podia convidar
Marina para ir lá em casa.

Marta nunca chamou nenhum amigo ou amiga de Lívia


para ir até sua casa, o convite inusitado foi motivo de
estranhamento para ela.

- Podemos combinar isso. – Lívia falou em tom sério.


- Hum a sogrinha até convidou. – Fabrício não perdeu a
oportunidade.

Lívia fingiu que não ouviu. O interfone tocou e a


morena até gelou, devia ser Bianca.

- Oi amor! Festinha surpresa! Adorei o convite.

Lívia revirou os olhos, contrariada.

- Oi Bianca. Fique à vontade, não é festa, apenas uma


reunião com amigos.

Bianca olhou em volta e viu o pessoal do conjunto,


inclusive Marina.

- Ah sim, está de babá hoje.


- Para com isso! Não quero ver você falando mal de
Marina.
- Ihh ta defendendo. No começo é assim não é Lívia,
depois você desinteressa.

Lívia deu de ombros e saiu, sentou novamente ao lado


de Marina.
- Tudo bem? Você ta com uma cara. – a loirinha
perguntou.
- Nada demais, desafetos.
- Ah. – Marina logo viu Bianca e entendeu.
- Hoje você vai dormir lá em casa lindinho? – Monica
perguntou pra Hugo.
- Eu vou, passo o final de semana com você lá.
- Um final de semana inteirinho sem dormir. - Marina
entrou em desespero.

Eduardo caiu na gargalhada.

- Marina, pode ficar lá em casa se quiser. – Pedro


ofereceu todo amistoso.
- Não! Ela dorme aqui. – Lívia se apressou.
- Calma gente, tem Marina pra todo mundo. – Eduardo
continuou rindo. – Pode dormir lá em casa também.
- Não precisa pessoal. Eu dou um jeito. Mônica vai me
deixar dormir essa noite, não vai Monica?! – Olhou
significativamente para a amiga.
- Claro! Fica tranquila. Prometo!
- Sei não. – Fabrício que estava quieto resolveu ajudar
a prima. – Dorme aqui Marina, porque esses dois tão
num agarramento que não dá pra prometer nada. –
falou e piscou pra Lívia.
- Não sei, não quero incomodar.
- E não vai, fica com a gente, mamãe vai gostar da sua
companhia.
- Mamãe né? – Fabrício falou e saiu.

Lívia se levantou e foi atrás dele.

- Você está do meu lado ou contra mim?


- Eu? Estou em cima do muro. Olha Lívia, te dei uma
força ali, mas sinceramente não sei qual é a sua com a
garota. Às vezes parece que você gosta dela e às vezes
dá a impressão de que só quer curtir. Por isso tenho te
cutucado, seja honesta comigo. Você quer o que com
ela?
- Não sei, eu mesma fico confusa. Gosto do jeitinho
dela, de estar perto dela, mas eu vejo muitas
diferenças entre nós. Ela é muito nova ainda e isso
pode ser um problema, sem contar aquilo que
conversamos outro dia das outras diferenças.
- Essas coisas não pesam quando se gosta de verdade
da pessoa.
- Às vezes penso que ela poderia melhorar em alguns
aspectos.
- Tipo o que?
- Ela é nova ainda, tem uma carreira pela frente, vai
crescer e se tornar uma mulher muito bonita, mais do
que é. Marina é uma menina ainda, está em fase de
adaptação no Rio, parece meio perdida, insegura e isso
também me incomoda.
- Você quer alguém mais seguro.
- Isso ou que ela fosse mais madura. Não que não seja,
mas que fosse mais.
- Entendo, mas isso só com o tempo querida. Terá
paciência ou não.
- Eu acho que não me preocupo com o lado financeiro,
não ligo para essas diferenças, já passei meus apertos
na vida também.
- Já viveu na pele, então sabe como é.

Eduardo chamou Fabrício e ele saiu deixando Lívia


pensativa.

A ruiva ficou desfilando pra lá e pra cá conversando


com um e com outro até chegar até Marta.

- Até que enfim vou conhecer a senhora.


- Lívia sempre vai me visitar, por isso não venho muito
aqui e acabo não conhecendo os amigos dela. Dessa
vez ela me convidou para assistir uma apresentação,
então eu vim. Aproveito e passo o final de semana
aqui.
- Muito bom. Apresentação de que? – perguntou
curiosa.
- De música clássica. Aquela mocinha ali tocou e aquela
loirinha também. – apontou para Monica e Marina.
- Ah. Lívia agora está mais humana ajudando os
pobres. – Bianca se referia aos garotos da banda.
- Como assim?
- Resolveu interagir com esse pessoal da banda.
Povinho estranho.
- Lívia sempre tem contato com eles, afinal o rapaz ali
é namorado de Fabrício.

Uma coisa que pouca gente sabia era que Marta sabia
da preferência sexual do sobrinho e também da filha,
somente não ficava comentando o assunto, pois era
algo que não dizia respeito a ninguém.

- A senhora sabe... – Bianca ficou confusa.


- Eu vejo mais do que as pessoas podem apostar.
- Eu só acho que Lívia deveria se enquadrar mais na
condição dela, uma promotora bem sucedida,
inteligente se misturar com músicos de bar. Isso não
combina com ela.
- E combina o que? Moças elegantes por fora e indignas
por dentro?

Bianca ficou sem ar. Não soube o que falar.

Marina que passava perto ouviu parte da conversa e


não pode precisar o quanto ficou chateada, era como se
tivessem jogado um balde de água fria. Sentiu-se
inferior e deslocada. Teve vontade de voltar pra casa.
Voltou para onde estavam todos, ficou em pé mesmo e
logo saiu para perto da varanda. Ficou admirando a
vista. Bianca se aproximou dela e falou em tom
debochado.
- Não come nada menina?
- Estou sem fome.
- É, só de olhar para esses hashis dá pra perder a
fome. Muito complicado.
- Não acho. Muito simples. Você pega dessa forma. –
Marina pegou os dois pausinhos e posicionou da forma
correta pegando um sashimi, molhou no shoyu e
comeu. – Muito simples. – saiu lhe dando as costas.

Quem estava perto e viu a cena, não pode deixar de rir.


A cara de Bianca era impagável. A loirinha se apoiou no
parapeito da varanda novamente e ficou olhando a
paisagem.

- Linda a vista, não é? – Marta se aproximou.


- Verdade. E o vento é melhor ainda.
- Bianca está pegando no seu pé?
- Nada que possa me incomodar. Atitudes não me
incomodam, palavras sim.
- Não ligue pra ela, é uma coitada. Vive no pé de Lívia
pegando migalhas de atenção. Ela já teve seus quinze
minutos de fama, agora minha filha já se cansou dela.

Marina entendeu e ficou confusa ao mesmo tempo.

- Marina eu sei que Lívia é gay. Como também sei que


seus olhos até brilham quando olha pra ela.

A loirinha baixou a cabeça sem graça.

- Não se envergonhe, aceito tudo nessa vida desde que


leve a felicidade. Se ela é feliz assim, eu respeito.
Querer eu não queria, mas respeito, para o bem dela.
O começo da aceitação vem de casa, se os seus não te
aceitam, como vai ser aceito para o resto do mundo?
- Está certa. Isso dá mais confiança a qualquer um.
- Gosta mesmo dela?
- Mais do que pensei. Estou descobrindo um sentimento
novo com Lívia, já havia namorado outra garota antes.
Mas ela é diferente de tudo que já vi. É segura, ousada,
inteligente, bonita, carinhosa. Nunca vi essas
qualidades todas numa pessoa só.
- E é bem sucedida.
- Isso não faz diferença pra mim. – falou como se
sentisse ofendida. - Eu venho de uma família muito
simples, fui criada pelo plantio da cana, meu pai diz
que cada calo que ele tem na mão vale a felicidade de
ver os filhos bem. E dinheiro nunca sobrou em casa e
nem por isso deixamos de ser felizes.
- Você tem dado duro aqui não é?
- Muito. Às vezes tenho vontade de voltar pra casa e
deitar no colo da minha mãe. Mas se ela sofre a minha
ausência hoje, vai sofrer mais ainda se me vir
fracassada na vida. Então quero dar orgulho a ela.
- E vai conseguir, tenho certeza.
- Deus a ouça.
- E quanto a Lívia, mostre a ela que você é mais do que
uma garotinha do interior. Acho que ela gosta de você,
só não está acostumada a ter um relacionamento sério.
Nesse ramo ela não se esforçou muito. – riu.

Marina ouviu o conselho e sorriu. Continuaram


conversando até que Lívia se aproximou.

- Posso saber o que as comadres estão fofocando? –


chegou por trás enlaçando a cintura de Marina com um
braço.

A loirinha ficou meio sem jeito, por estar perto da mãe


de Lívia, mas viu que ela não ligou, então relaxou.

- Estamos falando da vida.


- Da sua ou a de Marina?
- De modo geral.
- E eu to atrapalhando a conversa?
- Não Lívia, estávamos apenas falando de carreira,
trabalho, sonhos... essas coisas. – Marina alisou seu
braço.
- E tem algum sonho desse aí que eu posso realizar? –
Lívia falou toda carinhosa com a loirinha.
- Não, porque os sonhos são meus e eu que quero
realizá-los.
- Eu acho você uma pessoa muito talentosa e tenho
certeza que vai conseguir muita coisa boa nessa vida.
- Sim, mas por enquanto sou pobre, imatura e muito
nova. – Marina se desvencilhou dos braços de Lívia e
voltou para a sala.
- Geniosa ela. Será que ouviu minha conversa com
Fabrício?
- Não sei, mas ouviu o que Bianca falou comigo. –
Então Marta contou o que tinha conversado com a ruiva
e Lívia ficou possessa. Saiu da varanda, entrou pela
sala e foi direto onde ela estava, conversando com
Carlos.
- Vem aqui, por favor. – pegou a ruiva pelo braço e a
levou até a entrada do apartamento, fechou a porta e
ficou só na antessala perto do elevador.
- Que foi?
- Vá embora, agora. Não quero ver você na minha
frente.
- Aconteceu alguma coisa?
- Você ainda pergunta? Sabe muito bem o que falou
dos meus amigos, se você não gosta deles, o que faz
aqui? Nem te convidei a vir na minha casa. Entenda
uma coisa, aquele povinho ali faz parte da minha vida.
Você que ta destoando deles, então saia! Quero você
longe de mim!
- Acha que isso é fácil?
- Acho, principalmente pra uma promotora que conhece
meio mundo da justiça. Conseguir uma liminar para
que você fique longe de mim não é nem um pouco
difícil. E aí? Quer bater de frente comigo?

Bianca ficou pálida.


- Calma Lívia, eu não falei por mal, estava apenas
conversando e...
- Some daqui.

Lívia nem se deu ao trabalho de olhar para trás. Largou


Bianca ali e virou as costas fechando a porta na cara
dela. Carlos veio em seguida e ficou surpreso.

- Ué, ela já foi?


- Ela foi convidada a se retirar. Outra hora te conto.

Quando Lívia voltou o papo na sala estava animado.


Ainda ficaram um bom tempo conversando. Monica
comentava o episódio de Marina com Bianca.

- Marina pega no pausinho aí.


- Viu como sei usar? Esse povo acha que somos da roça
amiga.
- Lá também tem comida japonesa.
- Isso aí.
- Não imaginei que gostasse. – Lívia falou.
- Eu adoro, por isso sei usar os hashis.
- Mas a primeira vez foi um terror hein. – Monica a
entregou.
- Nossa, nem me fale, não consegui de jeito nenhum.
Daí peguei e levei um par pra casa e fiquei treinando lá,
comi uma semana só usando hashi. Menos o almoço,
mas café da manhã, lanche, tudo eu usava, até
aprender.
- Por isso ta craque.
- Posso dar aula se quiserem. – sorriu a loirinha.

Já passava das duas da manhã quando o pessoal


resolveu ir embora. Como na maioria dos lugares,
quando um fala que vai, outros vão atrás. Marta estava
cansada, mas não se entregou, ficou o tempo todo com
eles conversando.
- Eduardo, acho que vou aceitar o convite de ir dormir
na sua casa.
- Ótimo. É bom que botamos o papo em dia.
- Que papo? Vocês se falam sempre. – Lívia estava
indignada. – Você disse que ia dormir aqui.
- Eu não disse isso. Você quem falou que eu não iria
incomodar.
- E não vai, dorme aqui. – disse segurando a mão dela.
- Não, melhor ir com o Dudu. – Marina se soltou.

Estavam quase na porta, uns se despedindo dos outros.


Lívia puxou a loirinha num canto.

- Por que não quer dormir aqui?


- Porque não. Vou incomodar, tirar a privacidade da sua
mãe.
- Não é por isso, ela não vai se incomodar. O que
aconteceu?
- Talvez eu me sinta melhor na casa de Eduardo que é
mais o meu estilo. – falou a última palavra com um
gesto de aspas com os dedos.

Então Lívia entendeu o que estava acontecendo.

- Escuta o que vou te dizer. Você não tem estilo de


ninguém, você é única. Pelo menos aos meus olhos. E
não ligue para o que uma idiota como Bianca fala, ela
não tem escrúpulo e nem bom senso.
- O que ela disse não é nenhuma mentira, só a forma
como foi dita que machucou, mas não é só ela que
pensa assim. Você também e isso me machuca mais. –
Marina tinha os olhos marejados, mas segurou as
lágrimas e não chorou. – Agora preciso ir.
- Não! Fica, por favor, a gente conversa.
- Hoje não, estou cansada. Já viu a hora?

Lívia estava visivelmente chateada.


“Ela esta me dando um toco de novo?!”

Fabrício a chamou pra se despedir e ela se virou para


falar com ele. Marta viu a situação da filha e quis
intervir.

- Fica Marina, amanhã faço waffles pra você. Tenho


certeza que não vai se arrepender. – Piscou os olhos
para ela.
Marina sorriu.
- Isso é chantagem.
- É um pedido. – Marta sorriu.
- Ta bom eu fico, mas não tenho roupas, só essa aqui.
- Problema nenhum, você veste alguma coisa minha,
somos quase da mesma altura. Lívia saiu grande assim
nem sei por qual motivo. – brincou.
- Então eu peço e você não fica, minha mãe pede de
primeira e você aceita. Muito bom isso.
- Ela me ofereceu uma coisa que você não ofereceu.
- O que?
- Waffles.
- Se soubesse que queria negociar...
- Ia me dar o que?
- Tenho muito a oferecer, você nem imagina. – Lívia
olhou com tanta intensidade que Marina corou.
- Sou de gosto simples moça, venho do interior, os
Waffles já me bastam. – Disse passando a mão no
rosto dela e seguindo Marta até a sala.

O pessoal se foi e Marina ficou.

- Vou tomar um banho e já volto. – Marta falou e subiu.

Assim que ela saiu, Lívia chamou a loirinha para a sala.

- Meu anjo vem aqui. – sentou Marina no sofá e se


ajoelhou no chão, de frente a ela e entre suas pernas. –
Se falei alguma coisa que te ofendeu, por favor, me
desculpe. Eu não queria te magoar. E se foi Bianca, não
ligue, porque ela não sabe nada da vida. O pai dela é
um diplomata rico que banca todas as gracinhas que
ela faz. É uma pessoa fútil e vazia.
- Ela não falou nenhuma mentira, mas é que às vezes a
verdade dói não é?
- E quem é que sabe da verdade? Ninguém pode julgar
ninguém. Isso sim é verdade. Eu juntei todo o pessoal
aqui e fiz essas coisas pensando em você. – disse
sorrindo e segurando as mãos da loirinha. – Queria que
ficasse feliz.
- Eu estou feliz, só fiquei um pouco envergonhada. Vai
passar.
- To animada que você vai dormir aqui.
- Eu vou só dormir Lívia. – Marina já foi logo avisando.
- Eu sei, mas estou contente da mesma forma. Você...
– baixou a cabeça, depois levantou novamente e falou.
- ...você quer dormir comigo, no meu quarto?
- Não sei se isso é uma boa ideia.
- Juro que não faço nada.
- Jurar em vão perante uma autoridade dá cadeia
sabia? – brincou.
- Tô sabendo. E será que a autoridade aí não pode me
dar um crédito? – Lívia fez uma cara meio safada.
- Não sei, sua expressão não me passa confiança.
- E Vossa Excelência quer alguma garantia?
- Gostei do Vossa Excelência. – Marina sorriu. – Pode
me chamar assim daqui pra frente.

Lívia deu uma gargalhada. Fazendo a loirinha rir junto


com ela. E num impulso a beijou. Suas mãos que
estavam apoiadas no sofá, subiram para as coxas de
Marina e foram até a cintura. A pianista colocou as
duas mãos no ombro da promotora e apertou quando
sentiu o beijo ficar mais ardente. Lívia se aproximou
mais e puxou Marina pela cintura, fazendo-a abrir mais
as pernas e colar seu corpo no dela. Aquele contato
acendeu todos os instintos da morena.

- Não sei exatamente o motivo, mas só de ter você


colada em mim, meu corpo fica louco. – falou
sussurrando no ouvido de Marina.
- É porque você é assanhada. – a loirinha se afastou.
- Você que me assanha.
- Eu?
- É. Gostosa e linda desse jeito.
- Ah que nada.
- Verdade. – beijou seus lábios. – Você pode não saber,
mas existe uma mulher muito bonita aí dentro. Acho
que ela está desabrochando ainda.
- Desabrochar é uma palavra inusitada.
- Meio brega, mas é verdade. E então excelência, vai
dormir comigo?
- Promete que não vai fazer nada?
- Prometo.
- Jura dizer a verdade, somente a verdade, nada mais
além da verdade?
- E num é que ela sabe das coisas? Andou frequentando
algum tribunal?
- Sim, matei uma pessoa. – Marina fez cara de mal.
- Então terei que prendê-la. – Lívia levantou uma
sobrancelha.
- Mas quem prende não é o guarda?
- Eu sou uma autoridade, posso prender se quiser.
- Hum... – Marina teve um pensamento quase obsceno.
- Que cara é essa?
- Pensei demais aqui. – Marina mordeu o queixo de
Lívia, que ainda permanecia ajoelhada à sua frente.
- Quando penso que você é muito ingênua e vejo essa
cara de sem-vergonha, começo a duvidar.
- Não sou ingênua, sou transparente. Quem me
conhece sabe que não tenho nada a esconder do que
sou e de onde vim.
- Transparente não é não. Essa roupa não me deixa ver
nada. – Lívia brincou.
- Ainda bem.
- Que pena. Tenho certeza que tem muita coisa boa
aqui. – Enfiou as mãos por debaixo da saia, mas não
avançou.
- Tem nada, sou muito rechonchuda ainda.
- Eu to gostando do que vejo.
- Porque é uma safada.

Lívia riu e se levantou.

- Vem, minha mãe já deve estar saindo do banho. Vou


ver o que ela separou pra você vestir. Espero que nada
muito comportado.
- Vindo da sua mãe, pode esperar.

Subiram as escadas e Marta estava saindo do banheiro


quando as duas apareceram.

- Marina, esse pijama serve em você, tem toalhas no


banheiro também. Precisa de calcinha?
- Não, eu tenho uma na bolsa.
- Você anda com uma calcinha na bolsa? – Lívia
perguntou intrigada.
- Ando, quando se mora fora de casa e não tem carro,
é bom se prevenir.

A morena achou graça.

- Vou tomar meu banho então.


- Pode ir no banheiro do meu quarto. – Lívia falou.
- Tá bom.
- Fique à vontade linda.

Marina entrou pro banho e Lívia foi até o quarto de sua


mãe.

- Mãe, ela pode dormir comigo? – parecia uma criança


pedindo um brinquedo.
- Lívia, não acha que ela vai ficar constrangida?
- Acho que ela pensa mais no constrangimento da
senhora.
- Penso que ela vai ficar sem jeito.
- Eu não vou fazer nada, ela sabe disso.
- Será que não vai?
- Mãe!
- Lívia eu conheço muito bem você. E sei que agora
está empolgada com essa menina. Será que essa
empolgação tem prazo para acabar?
- Não sei. Eu a acho diferente de tudo.
- De todas você quer dizer.
- Pode ser, ela é meiga, é simples, gosta de coisas
simples.
- Ela gosta é de você, por isso não acho certo magoá-
la. Se ver que isso não vai dar em nada, então pare
agora.
- Mas eu gosto da presença dela. – insistiu.
- Então ta bom Lívia, você já é adulta e sabe o que
fazer. Só saiba que ela não é uma pessoa qualquer.
Não é do tipo aproveitadora e se magoá-la pode não ter
volta.
- Eu sei.
- Uma vez na vida, dê valor a quem gosta de você. E
gosta sem interesses.

Lívia baixou a cabeça e ficou pensativa. Sua mãe tinha


toda razão e ela parecia uma adolescente.

Marina entrou no banheiro e ficou admirada. Era todo


preto e tinha uma hidromassagem enorme de um lado
e uma ducha do outro. A bancada era imensa,
principalmente para uma pessoa. Quando saiu de lá a
morena estava ajeitando a cama.

- Cama arrumada! Tem dois travesseiros pra você.


- Só preciso de um.
- Eu gosto de dois, um pra apoiar a cabeça e outro pra
abraçar. Se bem que essa noite acho que não vou
precisar dele. – olhou de cima a baixo para Marina.
- Você prometeu...
- Tá certo excelência. – sorriu. – É que você está uma
graça com esse pijama. – Lívia se referia ao pijama
rosa e branco que sua mãe emprestara a Marina. Era
um short e uma blusinha sem mangas, estava muito
simpático.
- Vai tomar seu banho anda. – Marina começou a
empurrar a morena para o banheiro.

Quando Marina estava se deitando Marta apareceu na


porta.

- Vai ficar bem aí?


- Vou sim. – Marina parecia sem jeito.
- Marina estou acostumada, não precisa ficar sem jeito.
Não sou uma mãe moderninha, mas como eu disse,
respeito a escolha de minha filha e outra, sei que você
é uma pessoa sensata. Não vai fazer nada que não
queira.
- É...
- Boa noite então e durma bem. Diz pra Lívia que já fui
dormir, até ela sair do banho eu já estou no quinto
sono. Nunca vi demorar tanto.

Realmente Lívia demorou, Marina bem que tentou


esperar, mas não aguentou. Acabou adormecendo.
Sentiu um corpo quente lhe abraçar pelas costas e uma
boca beijar sua nuca. Abriu os olhos e sorriu. A morena
parecia usar um roupão, não sabia se estava vestida
por baixo.

- A sua pele é tão macia. – Lívia sussurrou no seu


ouvido.
- Lívia você me prometeu... – Marina sentia as mãos da
morena passearem pelo seu corpo.
- Eu menti. – Lívia mordeu o lóbulo da orelha dela.
- Isso dá cadeia.

A morena riu. Estava excitada com a situação. E ter a


loirinha ali ao seu lado estando sozinhas a deixou em
brasa. Parecia ter pressa.

- Você não vai me denunciar, vai? – agora uma das


mãos ameaçava um toque no seio esquerdo.

Marina se virou e ficou de frente para ela que


imediatamente subiu ficando sobre seu corpo.

- Se você for presa, quem vai me pedir os melhores


beijos do mundo? – Marina falou de uma forma tão
doce que fez Lívia perder a urgência e se acalmar.
Abaixou a cabeça escondendo-a no colo de Marina e
aspirou seu perfume.
- Está cheirosa.
- É o sabonete do seu banheiro. – Marina respondeu.
- Você sempre é cheirosa.
- Isso eu faço questão de ser mesmo.

Lívia a beijou de novo, mas dessa vez com mais


delicadeza. Marina abriu as pernas e enlaçou a cintura
da morena, sentindo o peso do corpo dela sobre o seu.

- Isso é golpe baixo. – a morena levantou uma


sobrancelha.
- O que? – Marina se fez de desentendida.

Lívia respirou fundo, beijou o queixo da loirinha, ficou


olhando em seus olhos. Parecia procurar alguma coisa.

- Que foi? – Marina indagou.


- Estou admirando. Seus olhos são a coisa mais bonita
que já vi, quando olho pra eles, penso que conheço
você de algum lugar. Como se estivesse te
reencontrando.
Marina ficou na dúvida sobre as palavras de Lívia.
Estava sendo sincera ou era apenas uma cantada?
Sentia sinceridade nas palavras, mas o histórico da
morena não ajudava.

- Seus olhos também me chamam a atenção. Fico


observando você e tenho a sensação de que me é
familiar. Mas posso estar impressionada.
- Impressionada com o que?
- Com você.
- Por quê?
- Você é a mulher mais bonita que eu já vi na minha
vida. – Marina falou com tanta sinceridade que Lívia
não aguentou.

Beijou aqueles lábios macios e não pensou mais na


promessa, se deixou levar. Suas mãos percorreram o
corpo de Marina e ao contrário da vez anterior a
loirinha não se opôs a nada. Colocou umas das mãos
embaixo da blusa dela e sentiu seu corpo arrepiar. Foi
subindo com cautela, não sabia se ela deixaria,
percebeu que não teve impedimentos então chegou a
um seio. Quando passou os dedos no biquinho, sentiu a
loirinha arquear o corpo e gemer. Terminou de levantar
a blusa e viu os seios empinados, de bicos rosados.
Marina ainda não era uma mulher feita, mas seu corpo
era lindo. Com beijos molhados foi fazendo um rastro
da barriga até a boca e lhe beijou com paixão. Marina
abriu o roupão de Lívia e viu que ela usava uma lingerie
de renda preta, ficou admirada. Sabia que ela tinha um
corpo bonito, mas era mais do que imaginava.

- Você quer? – Perguntou olhando em seus olhos.

Marina pensou se estava fazendo a coisa certa, pensou


em hesitar, mas viu sinceridade nos olhos de Lívia.
- Quero. – falou baixinho.

A morena se levantou um pouco e puxou o short do


pijama, deixando Marina só de calcinha. Beijou sua
barriga e mordeu, Marina quis abrir o sutiã de Lívia,
mas ficou com vergonha.

- Pode abrir. – Lívia falou beijando-lhe os lábios.

Então a loirinha delicadamente tirou a peça e viu os


seios da morena, eram lindos e fartos. Passou a mão
bem de leve com tanta sutileza que Lívia achou o gesto
quase imaculado. Acariciavam-se sem pressa e seus
toques eram calmos e leves. A morena não tinha
aquela urgência que sentia das vezes que fizera sexo
com outras mulheres, com Marina era diferente. Não
fazia sexo, fazia amor. “Amor?!” - pensou
rapidamente. Ela estava fazendo amor e isso era
inédito. Desceu pelo corpo de Marina e buscou ser o
mais gentil que podia. Tirou a sua calcinha e viu um
triangulo de pêlos dourados. Marina se acanhou um
pouco e colocou as mãos como que escondendo. Lívia
achou aquilo inaudito. Subiu por seu corpo novamente
e levou uma das mãos de Marina até sua calcinha para
que ela a tirasse também. Estavam totalmente nuas e
sentindo seus corpos colados. Lívia novamente desceu
com beijo até chegar aonde queria. Abriu as pernas de
Marina bem devagar e levou a boca até o clitóris. A
loirinha gemeu baixinho e segurou os cabelos da
morena, acariciando-os. Não sabe por quanto tempo
ficou assim, Lívia era carinhosa, quente e isso fez com
que Marina se entregasse por completo. Sentiu a língua
da morena fazer coisas inimagináveis, num beijo intimo
e ardente. Para Lívia o gosto de Marina era algo que
nunca havia experimentado, nem com toda a
experiência que tinha. Por um momento achou que
estava sonhando, estava entorpecida. Sentiu que a
loirinha entrava no clímax, seus gemidos estavam
roucos e seu corpo começou a tremer. Quando ela
finalmente gozou a morena parou e foi beijando cada
parte que ia passando, até que viu aqueles olhos
verdes semicerrados. Estava ofegante e com as
bochechas vermelhas, Lívia a achou linda. Sorriu e a
beijou na bochecha, no queixo, na ponta do nariz e
finalmente nos lábios.

- Acho que nunca senti isso na minha vida. – Lívia falou


quase num desabafo.
- Tirou as palavras da minha boca. – ainda estava
ofegante.
- Linda!

Marina sorriu ao ouvir ser chamada de linda. A abraçou


tão forte que Lívia estranhou.

- Hei, não vou sair daqui. Não precisa me agarrar desse


jeito.
- É pra sentir você.
- Mas está sentindo.
- Só que eu quero mais.

Marina beijou a morena com vontade, se virou na cama


e ficou por cima dela. Sabia muito bem que teria de se
esforçar, não tinha nem de longe a experiência de Lívia.
Fez tudo com calma, a intenção não era impressionar,
mas ser ela mesma. Beijou o colo de Lívia, depois
desceu para os seios e se deteve neles, mordia e
assoprava, fazendo a morena se arrepiar.

- Você está judiando de mim? – a voz saiu rouca.


- Não, estou provando você.

Marina continuou descendo e tirou a calcinha da


morena, encontrou os pêlos bem aparados, passou a
língua da virilha até o meio da coxa e quando Lívia
menos esperou, ela abocanhou seu sexo e sugou todo
aquele líquido. Sentiu um gosto ímpar e isso a excitou
como nunca havia acontecido. Levou as mãos até os
seios da morena e apertou-os enquanto sugava seu
sexo. Não demorou muito para que a morena gozasse.
Marina sentiu como se fosse dona daquele corpo
escultural. Foi parando devagar e sentindo o corpo da
outra tremer. Ficou por cima dela e beijou seus lábios.

- Onde você aprendeu isso?


- Não fiz nada demais.
- Não é o que fez, mas como fez. Posso dizer que estou
de pernas bambas e isso é raro.
- Ah é? – Marina lhe deu um selinho.
- É. Vem cá. – Lívia a abraçou e aconchegou a loirinha
no seu colo.

Adormeceram naquela posição.

Estava quase amanhecendo quando Marina se mexeu e


acordou, ainda estava em cima de Lívia, na mesma
posição que dormiram. Ficou observando a morena, as
sobrancelhas delineadas, a franja bagunçada, os lábios
perfeitos. Era linda. Os olhos dela se abriram e tinham
um azul impressionante.

- “Foi assim como ver o mar, a primeira vez que meus


olhos, se viram no seu olhar...” – Marina cantou um
pedaço da música.

Lívia sorriu e recebeu o beijo mais doce que podia.

- Dormiu bem?
- Dormi como um anjo.
- Você é um anjo.
- Sou nada.
- Se bem que o que você fez comigo ontem não é digno
de um anjo. Depois a safada sou eu.
- Você é safada e assanhada.
- Que ultraje!

Marina riu, levantou e ficou sentada em cima de Lívia,


mas enrolada na coberta, não se sentia à vontade para
mostrar seu corpo. A morena percorreu o corpo dela
por baixo da coberta e parou as mãos na cintura.

- Acordar com essa visão é um privilégio. Ficaria


melhor sem a coberta.
- Depois diz que não é safada.
- Eu não sou é boba, uma mulher linda dessas na
minha frente, nua e eu vou ficar marcando bobeira?
Vem aqui vem linda.
- Não. – Marina tinha um sorriso safado.
- Ah é? Então eu vou aí.

Lívia se levantou, sentando na cama, ficando de frente


para a loirinha.

- E agora? Vai correr?


- Não. – Marina ainda tinha o mesmo sorriso.
- Então posso fazer o que eu quiser?
- Pode.
- Ah Marina, você não sabe o que diz.

Lívia arrancou a coberta e ambas ficaram nuas.


Segurou a loirinha com firmeza e rodeou as mãos na
cintura, trazendo-a para um beijo. Mordia os lábios de
Marina e chupava. Desceu uma das mãos para o seio e
apertou o bico fazendo a garota gemer entre os beijos.
Levou a outra mão até o sexo dela e a sentiu molhada,
enfiou dois dedos bem devagar e não sentiu
resistência, então começou com estocadas bem leves,
sentindo o corpo da loirinha. Marina colocou as mãos
sobre os ombros de Lívia e começou um rebolado que
deixou a morena louca. Os movimentos foram
aumentando e então Marina também massageou o
clitóris de Lívia até que as duas gozaram juntas.
Abraçaram e permaneceram inertes, somente sentindo
os corpos respirarem cansados. Lívia deitou e puxou
Marina com ela, virando-a numa posição para deitarem
de conchinha. Abraçou a loirinha bem forte e aspirou
seu perfume. O dia estava quase clareando.

- Temos que levantar? – Marina falou cansada.


- Não meu amor. Está cedo ainda. Dorme que quando
for a hora eu te chamo.

Lívia ficou alisando aqueles cabelos loiros e pensando


na noite que passara. De repente um pensamento a
perturbou: “Eu a chamei de amor?!” Dormiu pensando
nisso.

Quando Marta acordou estava tudo em silêncio ainda,


viu no relógio e ainda era cedo. Levantou da cama e foi
andando pelo apartamento, passou pelo quarto de Lívia
e tentou abrir a porta, estava fechada, mas não
trancada. Entrou devagar e viu as duas dormindo
abraçadas. Desconfiou que pudesse ter acontecido
alguma coisa, mas só ia saber mesmo quando a filha
acordasse. Estava na cozinha fazendo um café quando
Lívia apareceu.

- Bom dia mãe.


- Bom dia minha filha.
- Dormiu bem?
- Sim e você também, pelo visto.
- Dormi. – Lívia nem quis esconder o sorriso.
- Lívia, Lívia... – quis repreendê-la.
- Mãe me deixa. Sei o que estou fazendo.
- Será que sabe? Normalmente eu não ligo para o que
faz da sua vida amorosa, mas dessa vez vou ficar no
seu pé.
- Ah sim, você, Fabrício, mais quem?
- Isso porque você é sem juízo.
- Não sou, sabe que não. E dessa vez está sendo
diferente.
- Em que, posso saber?
- Ela é diferente, eu sou diferente com ela também.
- Deus, só espero que não faça besteira.

A preocupação de Marta era que Lívia mais uma vez


largasse mão de alguém. No início era sempre
empolgada, mas depois algo acontecia e ela perdia
totalmente o encanto. Sempre saía alguém machucado
e era a outra parte.

- Mãe, não precisa se preocupar com o café. Vou pedir


alguma coisa.
- Prometi a Marina que faria waffles.
- Mas eu quero levar café na cama para ela.

Marta olhou surpresa, Lívia nunca tinha feito isso nem


para ela.

- Agora fiquei com ciúme. Nunca recebi café na cama.


- Ah mãe, eu faço um pra você então, mas lá em Mauá.
Prometo.
- Sei. – Olhou de rabo de olho.
- Não sabia que queria um, você sempre levanta tão
cedo e faz tudo.
- Quem faz tudo? – Marina apareceu na cozinha.
- Ah, você levantou. Não era pra levantar. – Lívia
lamentou.
- Você disse que me chamaria quando se levantasse.
- Não, disse que chamaria quando fosse a hora.
- E não é?
- Não. Volta pra lá!
- Que?
- É. Anda, corre! – Lívia começou a botar pressa na
loirinha. Foi até ela e abraçando-a por trás foi andando
até a escada. Pegou-a no colo e subiu levando-a para o
quarto. Marta ficou boquiaberta.
- Fica quietinha aqui. Eu já volto.
- O que eu vou ficar fazendo aqui?
- Veja TV. Não saia daqui.

Marina não entendeu, mas ficou quieta. Lívia desceu


correndo e pediu o café da manhã.

- A senhora toma com a gente, assim eu agrado todo


mundo.
- Não precisa, depois te cobro o meu. – Marta quis dar
mais privacidade a elas.
- Ah mãe, vai tomar café sozinha?
- Não, eu como alguma coisinha do que chegar. Pode
fazer sua surpresa, ela vai gostar.
- Ah não. Você toma com a gente, eu te chamo, só vou
levar pra fazer surpresa e depois te chamo. Ela gosta
de você e sei que também gostou dela.

Marta sorriu, Lívia tinha razão. Simpatizou com Marina


desde o primeiro dia que a viu e em poucos dias já
sentia um carinho por ela.

- Ta bom. Vou ficar no quarto e você me chama lá.

Um tempo depois chegou o café, Lívia correu e foi


arrumar tudo numa bandeja. E levou para o quarto.
Marina havia cochilado de novo.

- Mas que dorminhoca. – deixou a bandeja de um lado


da cama e foi se aproximando da garota, abraçou seu
corpo e cheirou sua nuca. – Você dormiu de novo?
- Eu só cochilei. Deu preguiça.
- Hum... – Beijou o pescoço dela. – ...trouxe uma
coisinha. – Beijou de novo.
- O que?
- Café da manhã na cama. – Beijou-lhe os lábios.
- Nossa! Você faz isso pra todas? – quando percebeu
Marina já tinha falado. – Ah desculpe, foi o impulso.
- Acha que já fiz isso antes? – Lívia ficou séria.
- Não... não sei.
- Nunca fez! Posso garantir. – Marta entrou no quarto
falando.

Marina ficou meio sem graça.

- Viu?! Você é a primeira. – Lívia sorriu novamente. –


Senta aqui mãe, vamos comer juntas. Ela ta com ciúme
Marina, porque nunca levei café na cama pra ela.
- Ah, então vamos para o quarto dela, tomamos o café
lá.
- Não! Pode ser aqui, já me dou por satisfeita. Isso
tudo aqui ta com uma cara boa.

A bandeja era grande e tinha salada de fruta, geléias,


croissant, pães, suco e leite com chocolate.

- Vamos todas sair da dieta. – Marta falou rindo.


- Depois fazemos uma caminhada, aí compensa.
Podemos andar na praia.
- Marina, andar na praia uma hora dessas? – Lívia
perguntou.
- Ué, o que tem. Eu mesma vou ter que sair pra ligar
pra minha mãe, ligo sempre as quartas e sábados. Já vi
que tem um orelhão aqui perto.
- Que orelhão menina, ligue daqui de casa. Pra que vai
sair pra isso.
- Não precisa, eu to acostumada.
- Você não tem um celular? – Marta perguntou.
- Não. Eu ia comprar um, mas houve um imprevisto e
eu vou esperar mais um pouco. Tinha um, mas ficou
em São Paulo, minha mãe precisou dele.
- Você tem irmãos? – Marta perguntou.
- Tenho um mais velho. Ele ajuda meu pai na roça e no
final de semana eles vão para a cidade, já é casado e
tem uma filha.
- Seu pai é produtor?
- Sim, de cana de açúcar. Tem gado também, mas é
pouco. Cria galinhas também, porco, pato, mas tudo
para uso nosso. Ele não vende.
- Sua mãe não fica com ele por quê?
- Porque eu morava lá, talvez eu estando aqui ela
passe mais tempo com meu pai. Aproveita e cuida das
coisas. A gente planta muita coisa lá. Em casa as
verduras, legumes e frutas, a maioria vem da roça.
- Pelo menos a alimentação de vocês deve ser muito
saudável.
- É sim. Nada de agrotóxico.

Enquanto Marina ia contando, Lívia observava seu jeito.


Realmente era uma menina ingênua e de costumes
simples. Por isso era diferente. Quando acabaram,
recolheram a bandeja e foram para a cozinha lavar a
louça, Marina mudou de roupa e já ia saindo.

- Bom, vou ali e já volto


- Aonde vai?
- Vou ligar pra minha mãe.
- Não linda liga daqui.

Marina ficou um pouco sem jeito.

- Vai, tem um telefone ali naquela mesa. – Lívia


mostrou e ela foi até lá.

Discou e esperou.

- Oi mãe! Bom dia! ...Aqui está tudo bem e aí?


...Manda um abraço pra ele. Liguei só pra dizer que
está tudo bem... Está sim, ela é meio esquisita mesmo,
sabe como é né, muito agitada... Vou falar... Ta indo
tudo bem... Ah sim, foi ontem e foi muito bom. Depois
eu conto tudo com detalhes para a senhora. Não posso
demorar no telefone. Não estou ligando de orelhão,
estou na casa de uma amiga... Obrigada. Benção mãe.
Lívia da sala não pode deixar de ouvir a conversa,
achou a ligação rápida, Marina realmente só dava um
alô para a mãe não se preocupar. Provavelmente para
a ligação não ficar cara. Lembrou de quando sua mãe
foi pra Mauá, também ligava e falava rápido.

- Prontinho. Eu só falo que estou bem e pronto. Senão


ela se preocupa.
- Ta certo. Quando vai vê-la?
- Talvez depois dos shows da semana que vem.
- O bar não vai entrar em reforma? – Lívia foi se
aproximando para abraçá-la.
- Vai, mas são outros shows. – Marina abriu os braços
para aconchegá-la.
- Não sabia desses. – lhe deu um selinho.
- Sim, um é uma boda de prata. E o outro é lá no
morro da Urca.
- Lá no alto?
- Sim! – Marina falou empolgada.
- Nossa e será que eu posso ir?
- Acho que pode. Eduardo não falou nada de público
restrito. Acho que vai ter um evento lá durante alguns
dias e na sexta nós vamos tocar.
- Então vou lá te ver.
- Vou adorar. – Marina a beijou e acariciou aqueles
longos cabelos negros.
- E tem mais shows depois desses?
- Não. Por quê?
- Por nada. – Lívia parecia estar pensando.
- Ta pensando em que hein?
- Nada, só tentando arquitetar uma coisa.
- Sei. E posso saber o que é?
- Mais pra frente.
- Ó! E eu vou ficar curiosa?
- Vai. Eu gosto de surpresas.
- Ai, ai...

A morena a beijou e abraçou levantando Marina do


chão.

- Linda! Sabia que adorei a noite de ontem? – Lívia


falou em seu ouvido e colocou-a no chão.
- Eu também gostei. – Marina falou com timidez.
- E quero repetir a dose.
- Depois diz que não é safada. – Marina se
desvencilhou dela e se virou fingindo estar contrariada.
- Hei, vem aqui. – Lívia a puxou e abraçou pelas costas.
– Quem manda ser gostosa. Agora eu viciei. – virou
Marina e beijou-a novamente.

Marta, que havia ido ao quarto, chegou até a sala e viu


as duas juntas, tentou não chamar a atenção e ir direto
para a cozinha, mas não deu certo. Marina a viu e se
soltou de Lívia que não entendeu, mas quando se virou
viu o motivo.

- Preciso voltar para o apartamento. Tirar essa roupa,


estou com ela desde ontem.
- Pegue roupas lá e volte pra cá.
- Não precisa, acho que essa noite Monica não deve
dormir lá.
- Hugo disse que passaria o final de semana lá.
- Ah é, tinha esquecido.
- Então, dorme aqui.
- Lívia, sua mãe ta aqui, ela quer sua companhia
também.
- Sei dividir minha atenção.

Marta voltou da cozinha e se aproximou das duas.

- Marina eu não esqueci, Lívia que me desviou da


minha promessa.
- O que? – a menina não entendeu.
- Seus waffles! – Falou desolada.

A loirinha achou graça da cara dela.


- Ah, não tem problema. Fica pra outra vez.
- Não! Você tem que provar meus waffles. Eu faço no
café da manhã de amanhã. – Marta olhou
intencionalmente para Lívia.
- Não precisa Marta, o café de hoje já foi suficiente. Era
bem mais do que eu esperava.
- Mas os meus waffles não têm nada a ver com o café.
Dorme aqui e você não vai se arrepender.

A loirinha acabou cedendo e aceitando ficar o final de


semana lá.

- Ta bom vai, eu fico.


- Oba! Então eu te levo na sua casa, você pega as
roupas e voltamos. Pode ser?
- Pode.
- Vem conosco mãe?
- Quero dar uma volta na rua, preciso comprar um
perfume que sua tia me pediu.
- O filho desnaturado dela não pode fazer isso? – Lívia
se referia a Fabrício.
- Fabrício é mais desligado que qualquer outra coisa.
- Para algumas, para outras nem tanto. Bom, vamos
então, vou só trocar de roupa.

Saíram primeiro para passar na casa de Marina, ela as


convidou para subir e as duas aceitaram. A loirinha
abriu a porta e estava tudo em silêncio.

- Ué, não tem ninguém em casa? – Entrou no quarto da


amiga, a cama estava desarrumada, mas realmente
não tinha ninguém em casa. – Fiquem à vontade, só
vou pegar uma roupa.

Enquanto Marina se trocava e olhava o que ia levar.


Lívia e Marta sentaram na sala.
- Aqui é bonitinho.
- Sim, me lembrou quando mudei logo que a senhora
foi pra Mauá. Era mais ou menos assim o apê.
- É verdade. Elas moram de aluguel?
- Provavelmente sim. Hoje em dia os aluguéis da Tijuca
estão caros.
- O povo se aproveita dos estudantes que vêm de fora.

Marina saiu do quarto e chegou na sala.

- Linda, aqui vocês pagam aluguel, não é?


- Sim. Um horror! Mas não achamos outro mais barato,
os que tinham eram em lugares bem perigosos. Aqui
ainda ta bom.
- Estou falando com Lívia que eles se aproveitam de
vocês virem de fora e cobram uma nota.
- Com certeza. Mas eu acho que está bom, o prédio é
tranquilo. Eu e Monica estudamos todos os dias e os
vizinhos não reclamam.
- Claro! Vocês tocam muito bem, nem podem reclamar.
– falou Marta.
- Bom estou pronta. – sorriu.
- Então vamos. – Lívia se levantou junto com a mãe.

Dirigiram-se para o Barra Shopping, Marina nunca tinha


ido lá, na verdade nem pensara em ir. Era outro mundo
para ela. Ficou olhando e não pode deixar de admirar.

- Bonito aqui.
- É um shopping como os outros. – Lívia falou.
- Mas é bonito ué.
- Vou te levar num lugar aqui que vai gostar. – Lívia
passou o braço pela cintura de Marina.

Marta ficava de olho no comportamento da filha,


parecia uma adolescente.

- Mãe, qual loja a senhora quer ir?


- É no segundo piso.

Foram para lá e Marina olhava por todos os lados


admirada com as lojas. Compraram o perfume que
Marta queria e continuaram andando. Lívia passou em
frente a uma loja e viu um conjunto de saia e blazer,
achou bonito e entrou para experimentar. Quando saiu
do provador, tanto Marta quanto Marina se
encantaram.

- Nossa ta linda. – Marina sorriu.


- Ta mesmo. – Marta concordou.
- Ficou excelente Lívia! – a vendedora falou um tanto
efusiva.
- Gostou mesmo? – Lívia perguntou a Marina.
- Gostei. – ela sorriu.
- Vou levar então.
- Mais o que minha linda? Temos mais novidades.

O tratamento da vendedora com Lívia deixou Marina


irritada, pareciam ter intimidade demais. Marta logo
percebeu e deu um jeito de distrair a loirinha, fazendo-
a olhar outras roupas.

- Está sumida querida. – a vendedora falou enquanto


dobrava as roupas.
- Trabalhando muito.
- Apareça mais na loja, vamos marcar alguma coisa,
sinto falta daquelas noitadas.

Não tinha a menor chance de Marina não ouvir, pois a


loja não estava cheia, não era grande e a vendedora
não falava baixo. Marta olhou para Lívia com uma cara
feia e Marina preferiu sair da loja.

- Vai ficar difícil, estou namorando e curtindo minha


namorada em programas mais tranquilos. Obrigada,
tchau.
Lívia saiu e nem viu a cara de decepção que a
vendedora fez.

- Onde está Marina?


- Saiu, pra não ouvir essas sandices. Eu me pergunto
pra onde vai o seu juízo às vezes.
- Ele tira férias. – Lívia descontraiu.

Marina esperava olhando uma vitrine de uma loja a


frente da que Lívia estava.

- Gostou de alguma coisa aí?


- Oi? Ah não, estava só olhando.
- Aquela roupa ali combina com você. – Lívia mostrou
um vestido todo preto, mais soltinho com detalhes
brancos na beirada.
- Bonito mesmo.
- Vamos entrar pra ver?
- Não.
- Por quê?
- Porque não quero.
- Que custa?
- Custa nada, o vestido é que custa.
- Posso dar de presente pra você?
- Não.
- Mas por quê?
- Porque não Lívia. Pra que isso? Eu tenho roupas.
- Eu sei, mas queria te dar um presente.
- Você já me deu um, trouxe de Mauá, lembra?
- Aquilo nem foi presente.
- Sim, mas não quero. Vamos?
- Ta bom. – Lívia foi contrariada.

Marta assistia a cena e achava graça.

- Ah esqueci a chave do carro na loja, vou voltar.


Podem ir andando.
As duas foram andando e olhando vitrine, enquanto
Lívia correu. Olhou rapidamente, estavam distraídas
então entrou na tal loja do vestido.

- Quero esse vestido e aquelas sandálias. Rápido! E é


presente.

A vendedora viu que ela estava com pressa e correu o


quanto pode. Entregou a sacola, Lívia pagou e saiu.
Colocou o presente dentro da sacola que estava sua
roupa que tinha acabado de comprar.

- Voltei. A moça tinha guardado a chave e quase que


não acha. – deu uma desculpa.

Marina ainda parecia enfezada com o que ouvira da tal


vendedora, estava meio séria.

- Amor, tem uma loja aqui que você vai gostar. – Lívia
puxou Marina pela mão.

A loirinha mesmo com raiva não deixou de reparar em


como Lívia a chamou, nem Marta, que só levava susto
a cada comportamento da filha.

Entraram em uma loja de chocolates e todo tipo de


guloseimas.

- Nossa! Que loja legal! – Marina se animou.


- Tudo aqui é gostoso. TUDO!

Lívia pegou um bombom e deu pra ela comer.

- Morde. Tem licor dentro.

Marina mordeu e achou uma delícia.


- Hum, que gostoso.
- Olha esse mãe, tem creme de menta. – Falou
mostrando a Marta, que também experimentou e
gostou
- Estamos comendo sem pagar? – Marta indagou.
- Não. – Lívia riu. - Eu conheço o dono, por isso estou
nessa intimidade toda, mas aqui a gente escolhe e pesa
depois. Vamos escolher. Comemos depois do almoço.

Marta pegou uma caixa pequena e escolheu alguns.


Lívia, exagerada, pegou a caixa maior.

- Vem linda, a gente escolhe juntas. – Pegaram


bombons, garrafinhas de chocolates, chocolates
importados, pirulitos, até frutas banhadas em calda
quente.
- Posso comer uma dessas agora? – Marina perguntou
olhando para uma cereja com chocolate.
- Claro. – Lívia pegou um e deu na boca dela.
- Nossa que delícia. – Falou deixando escorrer
chocolate no canto da boca.

Lívia até se arrepiou. Se não estivesse em público teria


tirado com a própria língua.

- Delicia é você com esse chocolate na boca. Sorte sua


que estamos em público. – falou baixinho e limpando a
boca da loirinha com o polegar.
- Eu já terminei de escolher. – Marta falou.
- Acho que acabamos também não é? – Marina falou
ainda vermelha de vergonha pela declaração de Lívia.
- Sim.

A morena levou tudo até o caixa e pagou. Continuaram


passeando até dar fome.

- Tem um restaurante italiano muito bom aqui,


podemos ir lá. – Lívia sugeriu.
- Por mim tudo bem. – Marina concordou.
- Desde que seja comida eu to aceitando, to morrendo
de fome. – Marta falou fazendo as duas darem risada.

Sentaram e pediram, cada uma escolheu sua massa.


Marina quis espaguete, Lívia um pene e Marta ravióli.
Os pratos chegaram e elas comeram conversando. A
loirinha deu um show de elegância almoçando, para a
surpresa de Lívia. Marina enrolou o espaguete com o
garfo e a colher, fazendo tudo como manda a etiqueta.
Quando terminaram de comer não quiseram a
sobremesa, pois tinham muito chocolate. Andaram
mais um pouco e foram para casa. Lívia jogou a sacola
no sofá e caiu em cima dele.

- Nada melhor que o aconchego do lar.


- Nossa, falou e disse. – Marina se sentou. – Sinto falta
do meu quarto em Jaú, do meu piano...
- Com o tempo você vai se acostumar ao Rio, vai
acabar sendo seu lar. – Marta sentou-se ao lado dela.
- Eu sei. Sinto falta mesmo é da família. Se eles
estivessem aqui, eu me acostumaria mais rápido. O
aconchego é do lar familiar, não da casa em si.
- Quando mamãe foi para Mauá eu morava num
apartamento no Grajaú, sempre achei que era legal lá.
Depois que ela mudou, fiquei deslocada. Era falta dela.
– Lívia sorriu para a mãe.
- Eu acho legal a relação de vocês duas, parecem mais
irmãs.
- Mas Lívia é uma ótima filha, não posso nunca me
queixar dela. Tem seus defeitos que eu tento a todo
custo corrigir ou ao menos diminuí-los, mas isso todo
ser humano tem.
- E algum dia aprende. Acredito que a tendência do ser
humano é sempre melhorar. Ela ainda tem salvação. –
Marina brincou.
- Ela será salva do purgatório. – Marta entrou na
brincadeira.
- As duas vão parar ou vou ter que argumentar a meu
favor?
- Papo de advogada. Vamos correr Marina! – Marta se
levantou, fazendo de conta que iria puxar a garota, que
achou graça. – Bom eu vou descansar as pernas que
passear no shopping me destruiu.
- Onde posso deixar minhas coisas? – Marina
perguntou.
- No meu quarto mesmo.
- Eu levo pra você Marina, vou subir. – Marta pegou a
mochila dela e subiu pra descansar.

Assim que ela saiu Lívia chamou Marina.

- Psiu. Loirinha bonitinha.

Marina fez que não ouvisse, ela continuou.

- Gatinha, vem cá. Psiu!

A loirinha não aguentou e riu.

- Que foi? – disse com um sorriso lindo no rosto.


- Vem aqui.

Ela chegou perto e a morena a puxou fazendo cair em


cima dela.

- Era isso que eu queria.


- Que eu caísse em cima de você?
- Sentir você mais perto de mim. – a morena sorriu e a
beijou. Ficaram num amasso no sofá e nem se
preocuparam com Marta. O tempo passou e elas nem
perceberam. Para Marina era um sonho misturado com
fantasia. Lívia era um presente, que parecia não ser
para ela, mas iria aproveitar e deixar rolar, agora já era
tarde pra tentar evitá-la. E para Lívia era uma sensação
nova, trilhava por um caminho totalmente diferente e
estava gostando. Não sabia quanto tempo ia durar
também, mas estava adorando todos os momentos ao
lado de Marina.

Ainda estavam se beijando quando Marina se lembrou


de ver as horas.

- Meu bem, preciso saber das horas, tenho que me


arrumar pra ir tocar. – falou entre beijos.
- Você me chamou de meu bem? – Lívia parou e sorriu.
- Chamei... – Marina ficou receosa.
- Nunca me chamou assim. Chama de novo?
- Meu bem. – Disse sorrindo e acariciando o rosto dela.

A beijou novamente e apertou Marina contra seu corpo.

- As horas...
- Ai, ta bom, são seis horas. – Lívia esticou o braço
olhando no relógio.
- Preciso me arrumar daqui a pouco.
- Quer subir, a gente toma banho e se arruma juntas.
- Como assim a gente toma banho? – Marina riu mais
de vergonha que qualquer outra coisa.
- Quer tomar banho comigo? – Lívia perguntou como
uma criança.

A loirinha ficou encabulada, tomar banho com Lívia


seria uma exposição do seu corpo e tinha vergonha.

- Não sei... eu... tenho vergonha. – falou escondendo o


rosto com as mãos.
- Qual o motivo da vergonha?
- Ah, sei lá...
- Eu apago a luz. – brincou.
- Não é isso... ah não sei...
- Tudo bem, não vou te forçar. Quero que faça comigo
o que sentir vontade e prazer.
- Eu sei, a gente dá tempo ao tempo.
- Tá bom. Agora outro beijo.
- Mais?
- Muitos!
- Que pidona!
- Se der corda eu quero muito mais.
- Ô mulher safada essa que eu arrumei.
- Você tem direito a devolução ou troca da mercadoria,
se quiser. – Lívia fingiu desdém.
- Hum... – Marina se levantou. - Deixa ver... – ficou
examinando a morena, que permaneceu deitada.
Passou a mão pela lateral de seu corpo e enfiou dentro
da blusa. – O material é bom, firme, macio... –
levantou a blusa e cheirou a barriga da morena. –
Cheiroso! – Passou a língua fazendo Lívia se arrepiar. –
Gostoso também... É... não quero devolver, nem
trocar. Aceito este mesmo.

Lívia a puxou para um beijo cheio de paixão.

- É do tamanho certo pra mim, é muito mais do que eu


imaginava, do que meus sonhos permitiam. Você é o
melhor presente que Deus me deu. – Marina falou
olhando para aqueles olhos azuis, que com a
declaração ficaram um pouco marejados.
- Como você consegue fazer isso comigo eu não sei. Só
sei que eu nunca me senti tão completa.

Beijaram-se de novo e esqueceram-se da hora. Só


lembraram quando Eduardo e Fabrício interfonaram.

- Meu Deus do céu, olha só o que você fez! Agora estou


atrasada. – Marina levantou rápido e reclamou, mas em
tom de brincadeira.
- Eu? Você não estava aqui à força.
- Você me distraiu. – Fez bico.
- Como?
- Sendo linda desse jeito. – Beijou a morena e saiu
correndo.
- Volta aqui. – Lívia correu atrás e a agarrou.
- Lívia, preciso correr, os meninos estão subindo. –
Marina tentava se soltar.
- Calma, tem tempo ainda. Vem aqui gostosa! – Lívia a
puxou e abraçou por trás e foi caminhando com ela até
a porta para abrir para os meninos. As duas estavam
brincando e rindo.
- Nossa que melação toda é essa? – Fabrício falou.
- Marina você não está pronta? – Eduardo se assustou.
- Estou quase, me arrumo em um minuto. Só preciso
me livrar desse bichinho aqui. – Disse apontando para
Lívia.
- Usou agora me descarta. – Lívia brincou. – Gente,
entra que nós já vamos nos arrumar.

Os dois entraram e esperaram na sala, Lívia subiu com


Marina. Bem que tentou um banho com ela, mas não
deu certo. Tomaram banho separadas, Marina foi na
frente, quando saiu do banheiro enrolada na toalha viu
o vestido da vitrine no shopping em cima da cama.
Olhou para Lívia em tom de reprovação.

- Vai ficar lindo em você. – Lívia tinha uma cara de


criança sapeca.
- Porque fez isso?
- Não resisti, achei o vestido a sua cara. Por favor,
aceite.

Marina ficou olhando para ela e com aquela cara de


cachorro sem dono que Lívia fazia, ela não resistiu.

- Tá bom vai. Me ajuda a vestir? – perguntou em tom


inocente.
- Só se for agora.

Lívia pegou o vestido e abriu o zíper que tinha atrás,


Marina se virou de costas e desenrolou da toalha. A
morena engoliu seco, o corpo dela era lindo. Tinha uma
cintura fina, bumbum empinado e pernas grossas, seu
corpo era quase dourado, tinha os cabelos caindo ao
meio das costas.

- Meu Deus! Desse jeito fica difícil me apressar. – Lívia


jogou o vestido de lado e pegou Marina por trás.
- Lívia! Preciso descer...
- Só um minutinho, prometo não demorar. – A morena
já mordia a orelha de Marina e passava as mãos por
todo seu corpo.
- Hum... não faz isso... – levantou uma das mãos até a
nuca da morena e acariciou.

Lívia nem ouviu, levou uma das mãos até o seio e a


outra foi caminhando pela barriga, ventre até chegar ao
sexo de Marina, ela já estava molhada.

- Por Deus, você é uma delícia. – disse sugando o


pescoço da loirinha.
- Ah... por favor...

Lívia escorregou o dedo para dentro da vagina de


Marina e com o polegar ficou massageando o clitóris, a
fez levantar uma perna e colocar em cima da cama
para poder se apoiar melhor. Apertava o bico do seio e
mordia o pescoço dela. Marina começou a rebolar
sensualmente, deixando Lívia ainda mais excitada.
Gemia baixinho e segurava os cabelos de Lívia.

- Goza pra mim... – a morena sussurrou em seu


ouvido.

Marina sentia um prazer tão intenso que gemia


abafado, não demorou muito para seu corpo todo
estremecer. Suas pernas estavam moles, mas Lívia a
segurou.

- Não vou deixar você cair. Senta aqui. – falou


carinhosamente.

Marina sentou na beirada da cama e Lívia fez questão


de vesti-la. Primeiro a calcinha, depois o vestido, ao
contrário do que pensou antes, Marina não se sentiu
envergonhada. A morena tirou as sandálias da caixa e
falou se justificando.

- As sandálias combinavam com o vestido, por isso


comprei. – falou olhando com rabo de olho, esperando
uma reação da loirinha.
- Você não tem jeito. Vem aqui. – Marina puxou Lívia
fazendo-a ficar de joelhos entre as pernas dela. – Não
precisa me agradar com presentes. O que eu quero de
você lhe sai de graça. Me agrade com beijos, carinhos,
atenção e sorrisos...é isso que quero. Entendeu?
- Entendi. – Lívia disse sorrindo e depois calçando as
sandálias nela.

Marta estava entrando no quarto e viu a cena. Viu


Marina beijando Lívia delicadamente.

- Agora seu banho meu bem.

Lívia correu para tomar um banho rápido. Neste


instante Marta bateu na porta já dentro do quarto.

- Hoje você tem show não é?


- Sim e você vai né?
- Quero ir, mas acho que estou atrasada, você está se
arrumando já.
- Podemos esperar, não tem problema.
- Não, eu vou depois então. Avise a Lívia.
- Eu posso ir com Eduardo e Fabrício, eles estão na sala
lá embaixo. Depois você vai com Lívia.
- Ah eles estão na sala? Vou até lá dar um oi, aí tomo
banho com calma e pego um táxi. Podem ficar
tranquilas.
Marta foi falar com os garotos e saiu. Pouco depois
Lívia apareceu enrolada na toalha.
- Vou me vestir rápido.

Jogou a toalha na cama e foi para o closet. Marina


levantou e foi atrás dela curiosa. Lívia estava de costas
procurando uma roupa, completamente nua. Seu corpo
era escultural, as costas eram musculosas, braços
torneados. Lívia girou a cabeça e a viu observando.

- Hei que foi?


- Estou admirando uma obra de arte.
- Boba. – se virou e pegou uma calcinha.

Marina se aproximou e a abraçou por trás encostando


seus lábios nas costas dela, aspirou o perfume.

- Cheirosa. – Passou a unha levemente pelas costas


dela. – Macia. – Deu uma mordida nas costas dela. – E
gostosa.
- Linda, vamos nos atrasar. – a voz de Lívia quase não
saiu.
- Não to nem aí.

A morena se virou, ficando de frente para Marina que


pode ver os seios dela quase na altura de sua cabeça.

- Calminha aí baixinha. Deixa eu vestir minha roupa e


vamos embora, senão a banda se atrasa. Prometo
compensar você depois. Certo?
- Não! Eu não sou baixinha! – Marina estava com um
bico enorme.

Lívia soltou uma gargalhada.


- Ta bom minha linda. Você é estatura baixa. – beijou a
loirinha. – Agora deixa eu me vestir.
Marina cedeu e saiu para acabar de se arrumar, passou
uma leve maquiagem, fazia tempo que não se
maquiava, achou que Lívia gostaria. Se perfumou e
aguardou. A morena saiu do closet já toda arrumada.

- Que linda! – as duas falaram ao mesmo tempo.

Marina usava o vestido que ganhara, sandálias pretas


de salto e uma maquiagem que realçava somente os
olhos, os cabelos estavam soltos. Lívia colocou uma
calça jeans justa e escura e uma blusa branca mais
folgada sem manga e com detalhes no decote, estava
de salto e cabelos soltos também.

- Está uma gata, do palco vou ter que tomar conta de


você. – Marina brincou.
- Vamos?
- Vamos.

Na sala, Marta estava de papo com os meninos.

- E aí tia, como foi o sábado? Marina ficou aqui?


- Sim, fomos até a casa dela para que pegasse umas
roupas, depois fomos ao shopping, almoçamos lá e
voltamos.
- E Lívia?
- Estou admirada com o tratamento que ela dá a
Marina. Comprou presente pra ela hoje, fomos até
aquela loja de chocolate e ela gastou um horror lá só
agradando a garota.
- Quem te viu quem te vê. – Fabrício falou espantado.
- E Marina? – Eduardo perguntou.
- Ela é um anjo. Não reclama de nada, não pede nada,
está sempre satisfeita com as coisas. Parece que caiu
do céu. Fico pensando nas coisas que Deus faz, Lívia
sempre teve uma vida amorosa muito desregrada, fútil
e com péssimas influências. Essa garota veio pra tirar
minha filha desse caminho.
- E será que Lívia gosta dela?
- Querido, eu vi minha filha calçando sandálias em
Marina.
- O que? – Fabrício estava de boca aberta.
- Ela não percebeu ainda, mas se ajoelha aos pés de
Marina, literalmente. É apenas um gesto, eu sei, mas é
algo que ela nunca fez. Está amável, delicada e tem
necessidade de agradar Marina. Não é como das outras
vezes que ela dava presentes para impressionar. Agora
ela faz isso para ver a menina feliz.
- To besta! – disse Eduardo.
- Eu estou feliz. Gosto de Marina, parece uma menina
boa, de família, espero sinceramente que Lívia não
estrague tudo. Espero com sentimento de mãe.

As duas desceram abraçadas e brincando uma com a


outra.

- Sua mãe disse que vai depois de táxi, disse que quer
se arrumar com calma.
- Ué, por quê?
- Não sei, vê com ela aí.
- Mãe, a senhora não vai agora?
- Não, vou tomar um banho e depois pego um táxi,
senão atraso vocês. Eu perdi a hora dormindo.
- Quer que eu venha te buscar?
- Não precisa, eu me ajeito, tem táxi logo aqui
embaixo.
- Bom, estamos prontas.
- Marina, eu vim te buscar, mas nem precisa. Lívia está
de carro, Fabrício também.
- Então, porque não espera sua mãe, lá ainda vamos
passar o som. Quando vocês chegarem provavelmente
nem teremos começado. – Marina se virou para Lívia e
falou toda carinhosa.
- Hum, vai sem mim?
- Vou morrendo de saudade. – A loirinha falou baixinho.
- Ai, ai, será que dá pra desgrudar? – Fabrício implicou.
- Tá bom, vamos, senão atrasa tudo lá.

Despediram-se e Lívia que estava pronta ficou na sala


esperando a mãe tomar banho. Foi para a varanda e
ficou pensando e olhando a paisagem. Lembrou de uma
coisa que queria fazer, não sabia se era certo, mas a
curiosidade falou mais alto. Por ser promotora e saber
que muitos a viam como vilã no tribunal, às vezes
recebia ligações estranhas, então decidiu colocar um
gravador para registrar as conversas nos seus telefones
para se precaver. Resolveu ouvir a conversa de Marina
com a mãe, porque ficou desconfiada de alguns
trechos.

- Oi mãe! Bom dia!


- Bom dia filha. Tudo bem?
- Aqui está tudo bem e aí?
- Aqui também. Hoje seu pai ta aqui, mas está lá fora
conversando com o vizinho novo.
- Manda um abraço pra ele. Liguei só pra dizer que está
tudo bem.
- Encontrei com os pais de Monica na igreja, ela está
bem? Tem dado pouca notícia.
- Está sim, ela é meio esquisita mesmo, sabe como é
né, muito desligada.
- É, diga a ela que a mãe dela também gostaria que ela
ligasse. – riu.
- Vou falar.
- E os estudos? Ah, como foi o recital?
- Ta indo tudo bem. Ah sim, foi ontem e foi muito bom.
Depois eu conto tudo com detalhes para a senhora. Não
posso demorar no telefone. Não estou ligando de
orelhão, estou na casa de uma amiga.
- Tudo bem, então fique com Deus e boa semana.
- Obrigada. Bença mãe.
- Deus te abençoe.

Quando a gravação terminou Marta estava ao pé da


escada olhando para a filha.

- Já achou chifre em cabeça de cavalo?


- Mãe! Que susto! Não, eu só fiquei curiosa.
- Sabia que ia fazer isso.
- Eu sou uma advogada, não esqueça, gosto de saber
de tudo.
- Neste caso está bisbilhotando. Se ela souber que você
fez isso vai ficar chateada.
- Eu sei. Foi bobeira minha.
- Lívia, me diga uma coisa. O que sente por ela?

A morena respirou fundo e falou:


- Quando estou com Marina me sinto tranquila, como
se ela controlasse a minha ansiedade. Ela tem o poder
de me acalmar. Não quero mais nada quando estou ao
lado dela.
- Isso é amizade.
- Não mãe, também não vou dar detalhes de outras
coisas. Sinto atração por ela sim, desejo, mas não é só
carnal.
- Já sentiu isso antes?
- Só aquela vez.

Lívia se referia a um namoro que teve com uma garota


da faculdade, era de família tradicional e tinha dinheiro.
Na época Lívia ainda vivia com dificuldade. Namoraram
por muitos anos e no fim do curso a garota a largou
para ficar com um cara rico, pois era do mesmo nível
social. O episódio havia deixado Lívia arrasada e nunca
mais se prendeu a relacionamento nenhum. E as
palavras ditas pela garota nunca saíram da cabeça
dela. Sempre que conquistava alguma coisa, se
lembrava de tudo: “Não podemos ter um
relacionamento a vida toda. Olha só pra você e olhe pra
mim, não somos da mesma classe social e isso com
certeza vai me prejudicar.” Na época, Marta só soube
desse namoro depois que Lívia contou sobre sua opção
sexual.

- Filha, espero que dê certo. Vejo você vagando por


relacionamentos tão vazios, estava falando isso agora
há pouco com os meninos e eles também torcem por
você.
- Fabrício não crê em mim.
- Os dois têm medo de você magoar Marina.
- Não vou fazer isso.
- Estou confiando em você. – olhou com seriedade.
- E você gostou dela hein mãe.

Marta sorriu.

- Ela é uma boa menina e como falei para os garotos,


me parece que ela só quer você e não o que você tem.

As duas saíram e foram para o bar, chegando lá Monica


tinha deixado lugares reservados para elas e o show já
tinha começado.

- Marina me disse que se eu não guardasse uma


cadeira para vocês, ela me jogava o teclado na cabeça.
O que fizeram com minha amiga? Ela está linda!
- Demos um trato nela. – Marta brincou.
- Eu adorei! Podem continuar, ela ta precisando. Não
que seja feia, mas ela não se dá valor. Essa roupa lhe
fez jus ao corpo que tem. – Monica sorriu.

Lívia ficou satisfeita, assistiu ao show sem piscar os


olhos. Marina estava realmente linda e até recebeu
elogios do público. Em dado momento alguém mandou
servir uma bebida para ela, o garçom levou e entregou
um bilhete. Ela o leu sem deixar de tocar. Fez uma cara
com um misto de riso com vergonha. Depois entre uma
música e outra pediu a Eduardo que falasse ao
microfone que ela não bebia.
- Gente, gostaria de informar que as bebidas podem
direcionar a mim, Pedro e Hugo, pois a nossa
queridíssima tecladista não bebe em serviço e nem
marca encontros após o show. E ela não está aberta a
negociação.

Marina achou graça. Pedro contou na baqueta e


recomeçaram a tocar. Pouco depois entregaram outra
bebida e outro bilhete, ela entregou a Eduardo e o
mesmo falou novamente.

- Não adianta insistir galera.

Lívia fazia uma cara enfezada, mas sorria quando


Marina piscava o olho pra ela.

Quando o show terminou eles avisaram sobre a


reforma no local e que voltariam em breve. Monica
levantou para ir cumprimentá-los.

- Amiga, você ta linda! Avisei para Lívia continuar te


empurrando pro caminho da luz. – brincou. – Essa
roupa ta maravilhosa.
- Que é isso Monica, é só um vestido.
- E lindo! Como está passando lá naquele apê? Melhor
que eu claro!
- Ta tudo bem, elas são simpáticas. Volto amanhã ta?
Veja se sossega o facho. Teve um final de semana
inteiro pra namorar. – Falou fazendo aspas com os
dedos. – Onde você esteve hoje de manhã que eu fui lá
e não te achei?
- Eu saí com Hugo, fomos no jardim botânico, tem que
ver que lindo é lá.
- Que legal, depois quero conhecer.
- Você foi lá pra que?
- Pra pegar umas roupas, não imaginava dormir fora o
final de semana.
- Está te fazendo muito bem, até sua pele melhorou. –
Monica jogara a indireta da noite, mas Marina fingiu
não entender.
- Vem, vamos sentar.

Ficaram de papo até a madrugada. Estavam animados,


falando sobre música, shows. Monica contava histórias
da cidade dela e de Marina e os casos sobre as
apresentações que já tinham feito juntas. Todos
achavam graça dela.

- Uma vez tocamos em um aniversário e tinha um


maluco que, pra agradar, jogou balas em nós. Só que
doeu né. Imagina uma bala de coco voando a cinco
metros de distância. Marina quase ficou cega, o cara
acertou uma na cara dela.
- Nossa, foi mesmo. Minha vontade era de jogar o
teclado em cima dele. – disse revirando os olhos.

Lívia escutava a tudo em silêncio, mas não estava


entediada, apenas observava. Algumas vezes Marina
acariciava sua perna por baixo da mesa e ela lhe olhava
e sorria. Monica fingia não perceber, mas estava
atenta. Apesar de ser desligada, conhecia muito bem
Marina para dizer que ela estava diferente. Quando
resolveram ir embora combinaram que Fabrício levaria
a banda, mais Monica.

- Juízo hein! – Marina advertiu.


- Eu tenho juízo.
- Então use! Falei com minha mãe ontem e ela disse
que encontrou com a sua e você não dá notícias há
dias. Quer matar seu pai do coração?
- Ah, eu me esqueci.
- Pois é, ponha essa cabecinha pra funcionar. Ligue
então.
- Vou ligar.
- Fique bem viu.
- Você também.
Despediram e todos voltaram para a casa. No caminho
Marta fez uma observação.

- Sua amiga Monica é muito engraçada.


- Ela é. Não tem quem fique sério perto dela.
- Ela sabe de vocês duas.
- Que? – Marina arregalou os olhos.
- Sabe sim, só não tem certeza. Fique atenta a ela, só
para não se surpreender depois. Se ela é mesmo sua
amiga, não vai criar problema.

Marina ficou apreensiva, mas Marta estava certa.


Monica não iria repudiá-la por isso, eram amigas.

Chegando ao apartamento Marta deu boa noite e foi


dormir. Já no quarto, Lívia arrumava a cama e Marina
pegava as cobertas e travesseiros.

- Vocês estava séria hoje. Aconteceu alguma coisa?


- Não, estava apenas observando.
- O que?
- Você, os meninos, sua amiga Monica...
- Hum... e viu alguma coisa que te desagradou? –
Marina se aproximou querendo abraçá-la.
- Só aqueles bilhetinhos sem-vergonha que você
recebeu. – disse um tanto brava.

A loirinha riu.

- Ô meu amor, nem liguei. Joguei tudo fora, você viu.


- E o que estava escrito? – Lívia se virou para ela para
abraçá-la e levantou a sobrancelha.
- Um falava em sair depois do show. Eduardo disse que
não. E o outro era se não podia negociar. Aí você ouviu
a resposta.
- Você não é negociável mais. – apertou Marina contra
ela, segurando pela cintura.
- Não sou. Estou fechada para balanço.
- Você agora tem dona.
- Tenho? – Marina perguntou surpresa.
- Tem. – ainda estava séria.
- E essa minha dona é muito exigente? – Disse
colocando as mãos no ombro de Lívia.
- Bastante. E ela está querendo umas coisinhas neste
momento.
- Posso negociar também...
- Ah, comigo você negocia?
- Claro. Tem que haver uma relação de custo e
benefício.
- Hum... – Lívia levantou novamente a sobrancelha. - O
que você quer?

Marina mexeu nos cabelos dela os colocando atrás da


orelha.

- Primeiro, que me chame de amor novamente. Gostei


disso...
- Que coisa fácil. Achei que queria algo mais
complicado. Chamar você de amor não é esforço
nenhum.
- Então fala...
- Amor. Meu amor... – Marina sorriu.

Lívia parecia ter necessidade de ouvir aquela palavra,


não de qualquer um, mas de alguém que realmente
gostasse e valesse à pena. Fazia tempo que não ouvia.

- E o que mais meu amor quer? – Marina a beijou


delicadamente. – Hum? – mordeu o queixo.
- Quero fazer amor com você. – Falou no ouvido da
loirinha.

Ficaram se olhando, como que hipnotizadas até que


seus lábios se aproximaram e o beijo veio cheio de
paixão. Lívia puxou Marina para seu colo, fazendo suas
pernas cruzarem em sua cintura. Sentou na beirada da
cama e foi tirando o vestido dela a deixando só de
calcinha.

- Você é linda. – disse em seu ouvido e a puxando para


um beijo.

Marina tirou a blusa dela e desabotoou o sutiã, passou


levemente a mão em um seio e sentiu que a morena se
arrepiou, passou novamente a mão agora apertando o
bico e a morena gemeu. Beijou aquela boca como se
fosse a primeira vez, tentando mostrar a Lívia tudo que
sentia por ela e que agora estava totalmente entregue
àquele sentimento.

- Vem aqui, que eu não me aguento de tanta vontade


de você. – a voz de Lívia saiu quase que suplicando.

Puxou Marina para o meio da cama e arrancou sua


calcinha jogando-a longe, tirou o resto de sua roupa e
deitou por cima dela, fez abrir as pernas e se encaixou
entre elas, sentindo seus sexos molhados. Colocou os
braços de Marina para cima e mordeu as laterais até
chegar ao pescoço e sugar com vontade arrancando um
gemido da loirinha. Começaram um rebolado gostoso,
encaixando-se perfeitamente, os corpos pareciam feitos
um para o outro.

Marina gemia baixinho e agudo, deixando Lívia


enlouquecida de prazer. Aumentaram os movimentos
até que seus corpos sacudiram juntos gozando ao
mesmo tempo, mas a morena não parou, pegou a mão
de Marina e levou em seu sexo, fazendo o mesmo na
loirinha.

- Mais rápido, por favor, amor... ahh... mais... rápido...


ahh. – Marina pedia, ao mesmo tempo em que também
acelerava seus movimentos.
- Geme pra mim... ahh... isso... ahh...

Os gemidos ficaram mais altos e os movimentos eram


rápidos e mais uma vez o gozo chegou. Lívia abraçou
Marina tão apertado como se quisesse que ela entrasse
em seu corpo. Olhava para a imagem dela, a franja
meio bagunçada, o peito arfante, bochechas vermelhas
e os olhos semicerrados. A boca entreaberta pedindo
pra ser beijada e foi o que fez. Mordeu o lábio inferior e
passou a língua depois.
- Delícia!

Marina aconchegou a morena em seu colo e ficaram


assim por um tempo, descansando.
- Com você as coisas são tão diferentes que eu custo a
acreditar. – Lívia falou baixinho, sentindo os carinhos
de Marina em seus cabelos.
- Eu sempre acreditei que Deus mandasse somente as
pessoas certas para nossa vida. Mas quando você
apareceu eu demorei a entender que era um presente
dele, pois pra mim, você era algo intocável. – Marina
virou de repente ficando por cima de Lívia. – Agora
vejo que nada acontece por acaso e que vir para o Rio
foi a decisão mais certa que tomei. – beijou-lhe os
lábios.
- Você não vinha pra cá?
- Eu não sabia se vinha, porque meus pais não tinham
condições de me ajudar por muito tempo. Eu vim
sabendo que poderia voltar para casa a qualquer
momento. Aliás, posso voltar. O fato de ter conhecido
os meninos e tocar com eles, não é garantia de nada.
Shows podem ter e não ter, cachê também.
- E se voltar vai fazer o que em São Paulo?
- Não sei, estudar outra coisa por lá, não sei ao certo.
- Não! Você não vai voltar. – Lívia a abraçou e depois
falou olhando em seus olhos. – Quero que você saiba
de uma coisa... Se precisar de ajuda me fale, por favor,
não quero que volte porque é seu sonho estudar
música e não quero ficar longe de você.
- Lívia, não posso e não quero depender de ninguém,
muito menos de você. Nos conhecemos há pouco
tempo e você também não tem obrigação nenhuma
comigo.
- Eu sei, mas eu gostaria de ajudar se você precisasse.
- Mas...
- Querida, me escute... Quando eu comecei meus
estudos passei muita dificuldade aqui no Rio com
mamãe. Sinto por não ter tido apoio de ninguém, ver a
sua situação me lembrou como era difícil também na
minha época. Me deixa te ajudar e é só se você
precisar. É como se eu retribuísse a Deus tudo que ele
me deu de bom.

Marina ficou comovida com aquelas palavras, mas


receber ajuda de Lívia era demais, não poderia aceitar,
até mesmo porque nem sabia para que direção aquele
relacionamento iria.

- Aceita? – Lívia falou beijando a mão da loirinha.


- Tudo bem, mas só se eu tiver muito enrolada mesmo.
Admito que sou orgulhosa e não gosto de depender de
ninguém.
- Eu sei, mas promete me falar?
- Prometo.
- Então ta bom. – Lívia sorriu e a beijou.

Marina olhou para um lado, olhou para outro.

- Amor...
- Oi.
- Estou com vontade de comer alguma coisa doce. –
Marina estava olhando para a caixa de chocolates que
estava no criado ao lado da cama. – Posso pegar um
chocolate daqueles?
- Claro, comprei pra você, nem precisava pedir.
Marina se esticou um pouco para pegar a caixa, Lívia
aproveitou para mordê-la.

- Ai.
- Gostosa! Por isso que eu mordo.

Marina pegou uma garrafinha feita com chocolate e


licor por dentro. Mordeu um pedaço e deu um beijo em
Lívia, passando o chocolate para a boca dela.

- Hum... delícia... – Lívia passava a língua nos lábios de


Marina.
- Você não viu nada. – Marina empurrou para que a
morena se deitasse e a segurou, não deixando se
levantar. Pegou a garrafa e entornou um pouco do licor
na boca dela e depois lambeu sensualmente. Lívia ficou
maluca, aquilo era algo inédito para ela.
- Ah, mas você quer que eu fique doida não é?

Marina continuou derramando licor pelo corpo da


morena. Passou entre os seios e lambeu, depois num
dos seios e chupou com vontade arrancando gemidos
de prazer da outra. Desceu pela barriga e foi
derramando o líquido e lambendo, até que chegou ao
sexo dela. Jogou o líquido no ventre e deixou escorrer
até os pêlos. Sorveu tudo que podia, entornou mais um
pouco e lambeu passando a língua com vontade,
chupando o clitóris da morena.
Lívia estava em êxtase, segurava os cabelos de Marina
e os acariciava.
- Mais... por favor... amor....

Marina chupava com delicadeza e avidez, sentia as


pernas da morena estremecerem numa antecipação do
gozo. Agarrou a cintura dela e a apertou contra sua
boca para aumentar o contato. Quando viu que ela iria
gozar introduziu dois dedos em sua abertura dando
estocadas fortes. Fez a morena arfar e gritar de prazer.
Depois de sentir que ela relaxara deu um beijo leve
entre as pernas dela e foi subindo salpicando beijinhos
pelo seu corpo. Lívia estava totalmente entregue àquela
loirinha, seu corpo estava esgotado. Marina beijou seu
rosto com carinho e deitou por cima dela, encostando a
cabeça em seu peito. Então Lívia a abraçou. Ficou
pensando no que estava sentindo naquele momento.
Um sentimento que não sabia o que era fazia muito
tempo.

- Amor... – Marina a chamou.


- Oi.
- Hoje, você é a melhor parte da minha vida. – Beijou o
colo dela e fechou os olhos.

Lívia se emocionou. Ficou alisando os cabelos de Marina


até que conseguiu dormir.
No dia seguinte Marina acordou primeiro e fico olhando
a morena dormir, ressonava tão tranquila, seu rosto
estava sereno. Olhou tanto que a morena acordou.

- Bom dia! – Marina falou sorrindo.


- Morri e estou no céu?
- Não. – riu.
- Estou vendo um anjo.
- Você dá essas cantadas sempre ou é só comigo? – a
loirinha achou graça.
- Ah, eu fui sincera.
- E essa cantada é velha.
- Ta bom vai, exagerei. Mas que é muito bom acordar
olhando para você, isso é.
- Dormiu bem?
- Dormi e você?
- Muito bem. – Marina se virou para Lívia a abraçar por
trás. Gostava de ficar naquela posição com ela.

Lívia ligou a TV e ficaram assistindo um filme que


estava pela metade já.
- Quer ir no cinema comigo algum dias desses? –
Marina perguntou.
- Eu quero. Que filme será que ta passando?
- Não sei, a gente escolhe na hora.
- E quando vamos?
- O dia que você tiver livre.
- Pra você estou livre sempre.
- Ah, não diga isso, você tem seus compromissos ué.
Vamos ver um horário legal durante a semana talvez.
Essa semana tem os shows que te falei, podemos ir
antes se você não estiver ocupada.
- Essa semana tenho uma audiência danada.
- É? Pode me contar?
- Posso, você quer mesmo saber? – Lívia achou curioso
Marina se interessar pelo trabalho dela. Normalmente
as pessoas achavam chato. Já ouvira isso antes.
- Eu quero, depois que te conheci e me contou que era
promotora, fiquei curiosa para saber como é no
tribunal.
- Sério? – Lívia sorriu.
- Verdade, acho legal. Deve ser emocionante mostrar
provas e fatos contra ou a favor de alguém. No seu
caso contra né. Fico imaginando você falando no
tribunal e claro fantasio horrores, porque você deve
ficar irresistível com aquela roupa... como é que se
chama mesmo?
- Toga.
- Isso.

Lívia se remexeu na cama incrédula com as palavras da


loirinha.

- Bom, então vou contar. Estou num caso de um senhor


que está sendo acusado de estuprar e matar uma
jovem. A justiça nesse país é tão lenta que ele,
atualmente, já é velho e nem acredito que atente
contra a vida de alguém hoje. Mas há alguns anos sim
e ele será condenado da mesma forma.
- E qual a linha de defesa?
- Estão tentando alegar que ele não oferece mais risco
para a população.
- Mas ele tem que pagar pelo que fez, é questão de
justiça.
- Concordo. Então montei minha acusação baseando-
me no fato de que se ele teve como fazer o que fez há
dez anos, agora tem que pagar pelas consequências.
Senão vira impunidade.
- E com isso as pessoas vão fazendo as coisas erradas,
sabendo que não serão condenadas.
- Isso aí. Então essa audiência vai demorar, é júri
popular e os advogados de defesa são muito bons,
porque o réu tem boa condição financeira, mas vou
colocá-lo na cadeia.
- Mas você tira de letra, tenho certeza.
- Como sabe se nunca me viu atuando num tribunal? –
Lívia perguntou duvidando.

Marina se virou para ela e respondeu sem gaguejar.


- Porque nota-se a distância que você adora o que faz e
que tem competência de sobra pra isso.
- Hum... linda! – Lívia a beijou.
- Você que é linda. – sorriu.

Ficaram na cama ainda um tempo entre carícias


amorosas. Até que Marta bateu na porta.

- Pode entrar mãe.

Marina pensou que Lívia devia confiar plenamente na


mãe, para não trancar a porta de seu quarto. Marta
entrou meio desconfiada.

- Estamos conversando, entra.


- Achei que pudessem estar dormindo ainda.
- Acordamos faz pouco tempo.
- Bom dia Marina.
- Bom dia. Senta aqui pra conversar com a gente. –
Marina puxou a coberta para que Marta se sentasse.
- Não minha filha, eu vou a cozinha pagar uma
promessa.
- Hein? – Marina achou graça.
- Vou fazer os waffles.
- Ah, nossa achei que ia rezar.
- Mãe! waffles só para Marina? E pra mim? – Lívia fez
um bico.
- Pra você também ciumenta.
- Marina você quer com o que?
- Não entendi. – falou sem graça.
- Waffles de que?

Marina ficou confusa e Lívia a ajudou.

- Pode ser salgada, com queijo, presunto, peito de


peru, requeijão ou doce com chocolate, mel, sorvete.
Tem sorvete no freezer mãe.
- Ah... ah... não sei. Pode ser uma salgada e uma
doce? – ela perguntou meio envergonhada.
- Mãe, faz uma de requeijão com ervas e uma de
nuttela com sorvete crocante. Ela vai gostar.
- E pra você?
- Eu como com ela.

Marta saiu do quarto e deixou as duas sozinhas


novamente.

- Nossa deve ser gostoso. Nunca comi waffles. – Marina


falou sem olhar para Lívia. – Eu já vi em filme, mas ao
vivo nunca.

Lívia sorriu, mas não quis brincar com Marina.


Realmente ela era simples e qualquer coisa boba como
waffles a agradava.
- Vem aqui meu anjo. – a puxou e a abraçou como se
quisesse mostrar a ela que gostava de ficar perto, de
fazer carinho, querendo cuidar dela. Era estranho
porque nunca fora tão carinhosa com alguém, só com
sua mãe, o que era bem diferente.

Marina olhou para ela e viu naqueles olhos azuis uma


sinceridade muito grande. Aproximou-se mais e falou
em seu ouvido bem baixinho.

- Quer tomar um banho comigo?

Lívia custou a acreditar no que ouvira. Levantou e


pegou Marina no colo, levando-a para o banheiro.
Marina sorriu com um misto de felicidade e timidez.
Tirou a roupa dela com delicadeza. Entraram no box e
Lívia a colocou no chão, abriu o chuveiro e deixou a
água quente sair. Entrou debaixo dela e puxou Marina
com ela. Beijaram-se por um longo tempo, apenas
sentindo a água cair em seus corpos. Ao contrário do
que Marina imaginou, Lívia não partiu pra cima
querendo alguma coisa sexual.

- Vou dar banho em você, posso?


- Pode. – Marina estava visivelmente acanhada.

Lívia pegou uma esponja, colocou o sabonete líquido e


começou a esfregar as costas de Marina, de forma tão
delicada que mais parecia uma massagem. Aproveitou
para admirar o corpo dela, era jovem ainda, mas tinha
um corpo lindo e sabia que à medida que ficasse mais
velha as formas mudariam e ficaria ainda mais bela.
Lavou os cabelos e depois falou com toda ternura que
podia.

- Agora é minha vez. – entregou a esponja pra ela.

Marina fez o mesmo, porém lavar os cabelos era uma


tarefa um pouco mais difícil já que Lívia era bem mais
alta.

- Será que você poderia se abaixar só um pouco?

A morena se controlou e não riu, mas sua vontade era


de arreliá-la. Sentou numa beirada que fazia a divisão
entre o box e a banheira, abriu as pernas e Marina
pode ficar entre elas e de pé. Aproveitou a posição e
segurou a cintura da loirinha, beijou os seios, um de
cada vez, depois levou a mão até o sexo dela e
massageou com cautela. Marina começou a sentir as
pernas amolecerem.

- Amor... ahh... – Gemeu baixinho.

Lívia a fez sentar em seu colo, de lado e continuou


massageando até que ela gozou sacudindo em
espasmos.

- Agora não consigo nem me levantar.


- Vai sair daqui do jeito que entrou.

Pegou-a no colo e saiu do banheiro, depois voltou e


pegou uma toalha para enxugá-la. Marina sorria e
gostava da atenção que a morena lhe dava. Vestiram-
se e foram para a cozinha. Desceram brincando uma
com a outra e rindo.

- Achei que tinham desistido dos meus waffles. – Marta


reclamou, mas brincando.
- Não! Estou morrendo de fome! – Marina olhava a
mesa do café com os olhos brilhando.
- Pra sua altura até que você come bem. – Lívia
brincou.
- Ah... vou me lembrar disso depois. – Marina estava
indignada.
- Eu gosto das baixinhas. – Lívia fez cócegas nela.
- Sua boba.

Sentaram-se próximas e Lívia puxou as pernas de


Marina para que ficassem em cima das suas. Estavam
num grude só.

Marta olhava para as duas e ficava satisfeita. Colocou


os waffles num prato e serviu. A loirinha então pegou
um pedaço e deu na boca de Lívia.

- Ih, vai ganhar na boca. Mas é muita folga não é não?


– Marta brincou.
- Ela merece. – Marina sorriu acariciando o rosto da
morena. – Nossa, ta muito bom! Será que a minha mãe
aprende a fazer pra mim quando eu for a São Paulo?
- Não é difícil, tem que ter a forma, mas a massa é
fácil. E o que vai colocar por cima é você quem escolhe.
- Muito bom. – deu outro pedaço a Lívia e comeu outro.
- A minha mãe não é grande coisa na cozinha. Quando
quer, faz pratos muito gostosos, mas quando não quer
também, sai da frente. Uma vez ela foi fazer um molho
e quis colocar pimenta, só que não olhou direito e virou
o vidro, ele estava destampado, caiu tudo no molho.
- Meu Deus! – Marta se espantou.
- E ela não falou nada. Na hora do almoço era um tal
de tomar água. Eu tinha um namorado na época e ele
quase engasgou coitado. – falou rindo, fazendo as duas
rirem também.
- Você namorou muito tempo? – Lívia olhou de soslaio.
- Quase dois anos.
- Nossa!
- Terminaram por qual motivo? Assim se não for
indiscrição a minha. – Marta perguntou.
- Ele era muito ciumento e queria controlar minha vida.
Tudo que eu fazia ele queria saber, mas era exagerado.
Se eu fosse na padaria ele queria que ligasse pra
avisar. Aí quando disse que ia focar meus estudos na
música para fazer vestibular, ele enfezou. Pois sabia
que faculdade de música não tinha perto de Jaú. Aí quis
me boicotar.
- Como assim?
- Ele tentava me distrair dos estudos. Brigava comigo
toda hora, arranjava outras coisas para me fazer mudar
de ideia, mas não deu certo. Ele foi ficando nervoso
com a situação porque viu que não havia mudado meu
propósito. Eu sabia disso e me sentia um pouco
culpada, por querer uma coisa diferente da dele. Saí
um dia para comprar um presentinho pra ele e fui fazer
surpresa, aí o peguei me traindo, na casa dele mesmo,
com uma conhecida minha ainda.

Marta e Lívia ficaram surpresas.

- Fiquei em choque. Ver alguém te traindo é uma coisa


muito estranha, dá um nó na garganta e parece que
passa na sua cabeça seus momentos todos com aquela
pessoa.
- E ele viu?
- Viu, quis se justificar, mas eu saí de lá e nunca mais
vi a cara dele.
- Até hoje?
- Sim, poucos meses depois eu vim para o Rio.
- Homens! Uns trastes! – Lívia protestou.
- Que nada, tem muito homem legal por aí, eu que dei
azar. Acho que foi melhor assim, Deus tira aqui e dá
uma coisa melhor lá na frente. – Falou sorrindo e
olhando com carinho para Lívia, que ficou toda boba
com o comentário.
- Chega de história trágica, vamos comer nossos
waffles. Ainda tem o doce, ta na geladeira. – Marta
mudou de assunto.
- Oba!

Marta as serviu e Marina se deliciou.

- Nossa esse é mais gostoso! Eu gosto mais de doce.


- Também gosto de coisas doces. – Lívia sorriu
- Vem, abre a boca pra provar esse aqui. – Marina
novamente serviu Lívia.
- Ela ta toda besta. – Marta olhou implicando com a
filha. – Nunca teve esse tratamento VIP, como vocês
costumam dizer.
- Nunca? Ah que isso, então vou compensar o tempo
que passou.
- Nem minha mãe me trata assim. – Lívia fingiu uma
mágoa.
- Ah, que mentira! Eu trato sim, faço os pratos que
você mais gosta.
- Do que ela gosta? – Marina perguntou interessada.
- Lívia adora massas e peixes. E doce ela gosta de
coisas geladas, pavês, sorvetes, tortas...
- Bom saber. Você não cozinha? – Perguntou à morena.
- Eu me viro na cozinha.
- Se vira comprando comida fora, esse é o jeito dela se
virar. – Marta riu.
- Ah mãe, é mais pratico.
- E você, sabe cozinhar? – Lívia perguntou.
- Eu sei. O que não sei aprendo. Eu gosto de cozinha.
- É mesmo? Viu mãe, acertei na mosca. Linda, pianista
e excelente cozinheira.
Todo mundo riu!

Terminaram o café e limparam a louça. Ficaram


conversando na varanda durante toda a manhã. Marta
em uma cadeira, Lívia a Marina em outra. A morena
sentada com Marina recostada em seu peito.

- Até que enfim vamos ficar um pouco nessa varanda.


Lívia nunca vem pra cá.
- Venho pouco porque não tenho tempo mãe.
- Não é falta de tempo, é falta de costume.

Marta falou de sua infância, da vida em Mauá. Contou


curiosidade sobre Lívia, coisas que Marina adorou
saber.

- Mãe certas coisas não se conta, vai que ela se


arrepende. – brincou.

Marina riu e passou a mão no rosto de Lívia, da franja


até o queixo num gesto carinhoso.

Almoçaram no apartamento mesmo, Marta fez um


almoço simples e muito gostoso, depois deram uma
volta na praia. Lívia resolveu tomar água de coco e
parou num quiosque.

- Oi Lívia! Quanto tempo! – Uma loira de olhos cor de


mel, vestida num biquíni mínimo apareceu ao seu lado.
- Ah, oi Samantha. Tudo bem?
- Agora melhor! Faz tempo que não te vejo.
- Estou trabalhando muito.

Marina e Marta estavam sentadas numa mesa perto e


observavam.

- Não tem vindo à praia, sinto sua falta para nossas


caminhadas.

“Caminhada, sei...” – pensou Marina. - Toda vez que


ela sai é assim? - perguntou.

- Nem sempre. – Marta tentou não rir da cara de


Marina, que estava brava. – Eu só observo para ver o
que ela vai fazer e ela nunca me decepciona.
- Você tem malhado em casa? Está com um corpo
ótimo. – a loira falou.
- Tenho malhado no prédio, quando não se tem tempo
o que salva é a academia mesmo. Preciso ir, minha
mãe está esperando ali.
- Ah é? Vou lá conhecê-la.
- Não! Fica pra outro dia, ela está com pressa. – Lívia
se despediu rapidamente e voltou.

Marta que estava olhando falou completando a frase


anterior.

- Ela nunca me apresenta para esse tipo de mulher,


sabe que não aprovo.
- Mas ela me apresentou e...
- Você é diferente, ainda não percebeu isso?

Marina tinha a cabeça um tanto confusa. As palavras de


Marta de certa forma a confortaram e deram
segurança, mas não se esquecia dos conselhos de
Fabrício e Eduardo. Sem contar no que ouviu da
conversa de Lívia com o primo.

- Água de coco fresquinha. – a morena falou sentindo o


clima e sabia bem por que. Entregou um coco à mãe e
o outro à Marina e sentou ao lado dela. Estava de
óculos escuros e ficou olhando para a loirinha que
olhava para o mar.
- Não vai me dar nem um golinho? – pousou a mão em
cima da perna de Marina.
- Ah desculpe, não sabia que queria. – Entregou o coco,
mas Lívia não o pegou, puxou só o canudo e tomou um
gole. Um silêncio sepulcral se fez.
- A praia hoje está calma. – Marta tentou puxar
assunto.
- Quer dar um mergulho mãe?
- Eu não, nem trouxe maiô.
- Quer amor? – Lívia estava toda carinhosa.
- Não estou de biquíni. Aliás, nem o trouxe para o Rio.
- Por que não?
- Não achei que fosse a praia, vim para estudar e
trabalhar.
- Hum. Então fica pra próxima.
- Se quiser nadar pode ir, a gente fica aqui na sombra
não é Marta?
- É sim. Vai Lívia, sei que você gosta.

Lívia hesitou, ficou na dúvida se seria uma boa ideia,


mas acabou indo, o mar realmente estava convidativo.
Tirou o short e a blusa, ficando só num biquíni preto
que fazia jus ao seu corpo. Foi correndo para a água e
mergulhou. Marina não pode deixar de admirar, ela era
realmente bonita e sensual, ficou pensando no que
Lívia tinha visto nela, achou melhor não se perguntar. A
morena nadou um pouco e quando estava voltando
notou que vinha em sua direção a loira do quiosque.
Marina ficou olhando de longe para ver o que a morena
ia fazer. A loira puxou papo e Lívia fingiu não dar
atenção, olhava fixamente para Marina. A loira pareceu
entregar um papel para a promotora, mas esta o pegou
e amassou, continuou andando e quando passou por
uma lixeira num carrinho de picolé jogou o papel no
lixo. Quando chegou até as duas, Marina estava séria
ainda.

- A água está ótima!


- Estou com inveja, pare de falar. – Marta brincou.
- Mãe, a senhora tem que deixar um maiô aqui ou
biquíni mesmo, está em forma ainda.
- Da próxima vez eu trago. Quando vai pra Mauá?
- No próximo final de semana eu acho. Só que vou no
sábado cedo. – Lívia olhou para Marina, mas ela olhava
para o mar. – Bom acho que já sequei um pouco,
podemos subir.

Levantaram-se e foram andando pelo calçadão, Marina


se mantinha séria e Lívia sabia o motivo.

- Por que será que essa bonitinha está tão séria? –


disse se aproximando por trás.
- Não é nada.
- É sim, mas tudo bem eu sei como faço pra ver aquele
sorriso que eu adoro. – Lívia começou a fazer cócegas
em Marina que não se aguentou e riu. – Viu como
tenho meus truques? – Disse abraçando a loirinha. –
Apesar de achar que fica linda brava, eu prefiro seu
sorriso lindo com covinhas. Bonitinha! Lindinha!
Gatinha. – à medida que ia falando ia beijando o
pescoço de Marina. – Gostosa! – falou ao ouvido dela.

Marina ficou meio sem graça porque Lívia a estava


agarrando na rua, na frente de outras pessoas, mas a
morena parecia nem ligar. Acabou cedendo aos
encantos dela. Passaram pela tal loira que falou com
Lívia justamente quando a morena abraçava Marina, aí
sim ela gostou.

- Crianças, modos na rua. – Marta advertiu.


- Ta bom, parei.

Chegaram ao apartamento e Lívia foi tomar um banho


pra tirar a água salgada do corpo. Marina ficou na
varanda conversando com Marta.

- Dê um desconto a Lívia. Esse povo que fica na cola


dela, é coisa antiga.
- Eu fico imaginando o quanto ela não aprontou por aí.
- Fabrício deve ter contado muita coisa, não?
- Na verdade não, ele só se preocupou com o fato de
Lívia não se apegar a ninguém.
- Te incomoda essas investidas dessas moças?
- Ah, um pouco. Nem sei se tenho o direito de ficar
incomodada. É ciúme isso, mas eu sinto, não vou
negar.
- É porque gosta dela. Lívia sempre enxergou
relacionamentos como algo descartável. Ela tem seus
motivos, sei que não justifica, mas são coisas do
coração. Espero que você tenha paciência com ela e
que consiga mudá-la.
- Acho que a diferença entre os outros relacionamentos
e eu, é que falando sinceramente, não ligo para o que
Lívia faz da vida, quanto ganha ou como gasta seu
dinheiro. Eu gosto dela e não de sua carreira. De fato a
admiro muito, mas se ela tivesse a mesma condição
que eu, gostaria dela do mesmo jeito.
- Você gosta mesmo dela?
- Acho que mais do que pensava. No início, confesso
que fiquei com receio, ainda mais pelos alertas que
recebi. Depois me deixei levar, não pensei nas
consequências, agora, passando o final de semana com
ela aqui vi que não tem mais volta. Gosto mais do que
imaginei, não sei se já percebeu isso, mas é.

Lívia estava descendo quando as viu conversar, então


esperou acabarem de falar para aparecer, acabou
ouvindo tudo.

- Ela gosta de você. Como mãe posso ver isso, mas vá


com calma.
- Pode deixar, quero que ela fique comigo enquanto se
sentir bem. E se depender de mim ela se sentirá bem
sempre.
Marta sorriu.

Depois que viu que o assunto tinha terminado a


morena apareceu.

- Pronto! Limpa e cheirosa! – chegou animada, mas


com receio de Marina ainda estar chateada.
- Vem cá. – Marina esticou os braços para ela.
- Colinho?
- Isso.

Lívia deitou, colocando a cabeça no peito de Marina,


que ficou alisando seus cabelos.

- Você vai embora amanhã Marta? – Marina perguntou.


- Vou cedo, Lívia me leva na rodoviária.
- Porque não passa a semana aqui?
- Ah não, tenho meus afazeres, aqui é muito agitado
pra mim.
- Nossa, morar em Mauá deve ser muito bom. Tranquilo
né?
- Muito. O Rio é só para fins de semana, mas confesso
que prefiro quando Lívia vai pra lá.
- Penedo é ali perto não é?
- Sim, e Itatiaia e Resende. O Parque de Itatiaia é
muito bonito, você ia gostar.
- Monica foi ao jardim botânico aqui no Rio e adorou.
- Lá também é lindo.
- Gosto de lugares assim, com muita árvore e som de
água caindo. Do meu quarto lá na roça eu ouço o
barulho do riacho, pra dormir é ótimo.
- Deve ser bom ficar lá.
- Às vezes sim, mas tem hora que enjoa e sem contar
que é bem fora de mão. Só serve mesmo pra passar o
fim de semana.

Marta fez sinal para Marina olhar Lívia, que havia


dormido.

- Dormiu. – falou baixinho.


- Eu vou tomar um banho também e dar uma
deitadinha, vai passar um filme bom hoje na TV.
- Fico por aqui, servindo de travesseiro.
- Você gosta! – Marta brincou.

Marina ficou um tempo com Lívia em seus braços,


acariciava seus cabelos, o rosto e beijou o topo de sua
cabeça. Quis cochilar também, mas não conseguiu,
ficou admirando a paisagem da varanda. Quase uma
hora depois a morena acordou.

- Dormi no seu colo? – parecia confusa.


- Dormiu. Estava cansada?
- Na verdade nem tanto, mas aí eu deitei e vocês
estavam conversando eu acabei pegando no sono. O
colinho estava bom.
- Que bom que gostou. Pode se servir dele à vontade.
- Está brava ainda? – Lívia tinha receio.

Marina sorriu e beijou seus lábios.


- Não. Já passou.

A morena queria dizer que a partir de agora só tinha


olhos para Marina e que nada podia atrapalhar o
relacionamento delas. Ficou surpresa quando pensou
em relacionamento, mas não queria mais saber, queria
era viver aquilo tudo.

- Que foi?
- Nada, estou te olhando. – Lívia ainda observava.
- Posso te contar um segredo?
- Pode.
- Você fica linda de biquíni.
- É? – sorriu.
- Ahan... pensei em muitas coisinhas...
- Jura? Depois eu que sou safada. – Lívia riu. – No que
pensou?
- Não posso contar.
- Como não? Eu sou parte interessada.
- Só que eu tenho vergonha.
- Ahh, não tenha. Me conta!

Marina respirou fundo e resolveu falar.


- Pensei em tirar aquele biquíni... beijar sua
barriga...morder bem de leve... e depois subir pelos...
- Para! Senão te pego aqui na varanda.
- Não tem quem não olhe para você de biquíni.
- Você não me olhou. – Lívia fez um bico, que Marina
achou lindo.
- Olhei sim, quando você não estava me olhando.
- Fazendo charme.
- Ahan e você caiu. – deu uma gargalhada.
- Boba! Achei que estivesse com raiva de mim, por
conta daquela...
- Shii... deixa aquilo pra lá, já passou. – Marina a
beijou.

Ficaram na varanda até quase anoitecer, simplesmente


conversando. Lívia nunca mais imaginou que uma
simples tarde de conversa deitada no colo de alguém
era tão bom ou até melhor que uma noite de sexo.
Sentia paz e sabia que proporcionava algo para aquela
loirinha encantadora que estava com ela. Marina
conversava animada, ria das histórias de Lívia e isso
era uma coisa inédita.

Quase anoitecia quando as duas resolveram se levantar


dali. Foram até o quarto onde Marta estava e essa
dormia profundamente.

- Filme... ai ai... – Marina fez sinal negativo com a


cabeça.
- Tenho que acordá-la daqui a pouco, vamos sair pra
jantar.
- Ah vamos? Não fui convidada. – Marina brincou.
- Eu ia convidar uma outra aí... – Lívia entrou no jogo.
- Ah é? Posso saber quem é?
- É uma gata aí que eu conheci.

Entraram no quarto.
- Ela é uma delícia. – Lívia continuou falando. – Sem
contar que é cheirosa. – de repente se virou para
Marina e a agarrou pela cintura. - E faz amor tão
gostoso que eu to viciada. – deu um beijo cheio de
segundas intenções. Marina retribuiu a altura e não
demorou muito para que as roupas fossem jogadas
pelo quarto.

Instantes depois já exaustas na cama, Lívia puxa


Marina para seu colo.
- Quer jantar aonde?
- Achei que você já tinha definido um lugar.
- Sei de alguns lugares, mas talvez queira ir em algum
específico.
- Amor, como posso escolher lugar para jantar se nem
conheço o Rio direito. Os lugares que saí até hoje a
maioria foram com você.

Lívia ficava contente quando Marina a chamava de


amor. Sentia o carinho dela muito nítido.
- Então vou levar vocês duas a um restaurante bem
tranquilo. Mamãe prefere lugares assim.
- Eu também, comer com muita gente e barulho eu
acho ruim. Lá na faculdade não servem almoço, só
lanche, mas quando saio para almoçar o lugar às vezes
está cheio eu perco até a fome.
- Por que não almoça naquele que fomos outro dia?
- Lívia, aquele restaurante é caro. Se eu almoçar lá
todo dia vou ter que morar na rua. – riu.
- Então vou te pegar pra almoçar todos os dias. Assim
você economiza e eu passo mais tempo contigo.
- Não, não! Vai ficar pagando almoço pra mim todo dia
agora?
- Qual o problema?
- Não quero. Uma vez ou outra tudo bem, mas toda vez
não.
- Teimosa. – Lívia mordeu o pescoço dela.
- Sou não.
- É sim! – mordeu de novo.
- Para de me morder, cachorrinha. Está vacinada?
- Estou, o cartão de vacinas está completo.
- E esse bichinho tem pedigree?
- Ih, acho que ele é vira lata.
- Não tem problema eu o quero assim mesmo. Vem
aqui bichinho, me dá um beijo. – Marina puxou Lívia e
a beijou.

Ficaram um tempo na cama até dar a hora de tomar


banho e mudar de roupa. Lívia acordou a mãe e ela
também foi se arrumar.

- Que roupa devo usar? – Marina perguntou saindo do


banho.
- Eu prefiro nenhuma. – A morena beijou a nuca de
Marina. – Mas coloque uma roupa casual. Eu vou usar
jeans.

Saíram e foram a um restaurante bem tranquilo, era


aconchegante e ficaram em um local com poucas
pessoas. Pediram e jantaram conversando. Marta
combinou a volta dela para Mauá. Seria no primeiro
ônibus, Lívia a deixaria na rodoviária e levaria Marina
de volta indo direto para a faculdade.

No dia seguinte fizeram o combinado, Marina se


despediu de Marta prometendo uma visita em Mauá.
Lívia tinha tudo arquitetado na cabeça, mas não havia
falado ainda para a loirinha. Queria se certificar de que
daria tudo certo. Já dentro do carro as duas
combinavam para onde iriam.

- Amor, pode me deixar em casa.


- Não tem aula agora?
- Não, só de tarde. Eu vou pro apartamento porque
Monica deve estar lá ainda.
- Quer almoçar comigo? – Lívia perguntou toda
simpática.
- Amor, vai vir aqui só pra me buscar? O que eu te falei
ontem?
- Só dessa vez. Que tem isso? – pedia com jeito.
- Não vai te atrapalhar?
- Não.
- Então ta. Me pega que horas?
- Meio dia ta bom?
- Tá.
Beijaram-se e se despediram.

Assim que Marina entrou no apê deu de cara com


Monica.

- Bom dia!
- Opa, achei que tinha se mudado. – a amiga brincou. –
Disse que vinha ontem.
- Que nada. Eu vinha, mas saímos pra jantar e
chegamos tarde. E aí, aproveitou bem o fim de
semana?
- Ai, aproveitei. – Monica parecia uma abobalhada
apaixonada. – Passeamos, namoramos, fiz comida pra
ele, ele me levou na praia do arpoador, tão romântico.
- Meu Deus, já vi que esse casamento sai mais cedo do
que imagino.
- Como foi o final de semana?
- Foi bom, dormi mais do que tudo.
- A moça é gente fina? – Monica se referiu a Lívia.
- É sim e a mãe dela é muito simpática.
- Ah, a mãe dela ficou aí? Achei que tinha ido embora
no sábado.
- Não, foi embora hoje.

Monica tinha ficado intrigada com o fato de Marina e


Lívia terem ficado o final de semana juntas, mas ao
saber da permanência da mãe da morena, suas dúvidas
diminuíram.

- Nossa preciso muito estudar, esse final de semana


todo sem encostar numa tecla sequer. – Marina
reclamou.
- Deixa de ser caxias Marina! Eu também não estudei.
- Você tem facilidade, eu não.

Marina falou e foi saindo da sala e entrando no quarto,


deixou suas coisas e sentou no teclado para estudar.
Monica revirou os olhos, mas acabou fazendo mesmo.
Quando estava perto da hora do almoço que Marina se
lembrou de como iria se explicar para Monica que não
iria almoçar em casa, quando pensava numa desculpa a
amiga bateu na porta de seu quarto.

- Má, vou almoçar com Hugo, quer vir?


- Não obrigada, vou almoçar em casa mesmo.
- Nos encontramos na aula então.
- Ta bom.

Meia hora depois que Monica saiu, Marina saiu também,


a morena já esperava no carro.

- Hei! – Marina se aproximou e deu um selinho.


- Selinho não, eu quero um beijo decente. – Lívia
reclamou.

Marina então segurou o rosto dela e beijou-lhe os lábios


bem devagar. Ao final do beijo sugou o lábio inferior,
mordendo-o depois.

- Hum... agora sim.


- Como foi a manhã meu bem?
- Até que tranquilo, mas a tarde a coisa pega pro meu
lado.
- Por quê?
- Um cliente vai lá no escritório, não sou eu que vou
pegar a causa dele, pois não faço mais isso. Será
Fabrício e ele está uma pilha de nervos, até brigou com
Eduardo.
- Coitado gente. Vou me encontrar com ele hoje à
tarde.
- Provavelmente estará chateado.

As duas foram para o restaurante conversando.


Almoçaram e depois Lívia deixou Marina na porta da
faculdade. Alguns alunos que estavam ali repararam no
carrão em que a loirinha chegou e uns fizeram
comentário, mas ela nem reparou. Foi para a aula e
como havia falado encontrou-se com Eduardo na
cantina depois.

- Ei Dudu. Tudo bem? – perguntou como se não


soubesse de nada.
- Tudo e você?
- Tudo jóia. – ela o olhou atenta e continuou. Que cara
é essa?
- Ah, briguei com Fabrício. Ele ta nervoso por conta de
um trabalho aí e eu que pago o pato.
- Ô meu Deus. Tenha paciência com ele, depois ele vai
ver que está errado e virá pedir desculpas.
- Espero que sim. Não gosto de brigar com ele.
- Ninguém gosta de brigar com a pessoa que ama.
- Mas me conta, como foi o fim de semana? Ta num
chamego danado! – ele brincou.
- Nossa, estou nas nuvens. Ela é tão... tão... linda!

Eduardo caiu na gargalhada.


- Falou que nem Monica.

Marina riu também.

- Fomos ao shopping no sábado e no domingo


almoçamos em casa mesmo e jantamos fora a noite.
Não sei sabe, conversei muito com dona Marta e ela
pediu que eu tivesse paciência com Lívia. Estou tendo e
confesso que vou deixar levar até onde der. Ela tem
sido atenciosa comigo, me chamou pra almoçar hoje e
tudo.
- Marta disse que ela age diferente com você.
- Não sei como ela agia com as outras e nem quero
saber. Ela deve ter aprontado muito, onde quer que vá
alguém a conhece. Não como se conhece qualquer um,
conhece intimamente sabe.
- Ô, se sei. – levantou as sobrancelhas.

Monica apareceu e a conversa sobre Lívia morreu ali.


Ficaram de papo até tarde da noite, quando foram para
casa já passava das oito horas. Fabrício ligou para
Eduardo e pediu desculpas, assim como Marina falou.
Disse que havia se excedido e ficou tudo bem.
Aproveitou e perguntou sobre Marina, pois Lívia queria
o paradeiro dela. Ele disse que ela havia ido para casa.

No apartamento Lívia ficou pensando num jeito de dar


um celular a Marina, mas ela não ia aceitar. Ficou com
raiva de querer falar com ela a noite e não ter como. E
ir até a casa dela com Monica lá, não seria uma boa,
pois a garota iria ficar ainda mais desconfiada.

“Esconder um relacionamento é complicado!


Relacionamento?!” Lívia se assustou com seu
pensamento. Demorou a dormir aquela noite.

No dia seguinte ficou pensando como iria fazer para


falar com Marina, tentou por Fabrício e pediu que ele
ligasse para Eduardo, mas o rapaz não sabia onde ela
estava. Foi até a faculdade e esperou um pouco perto
da hora do almoço, mas nem sinal dela. Foi para o
apartamento quando saiu do trabalho, mas nada
também. Chegou em casa irritadíssima. Ligou para a
mãe.

- Ah mãe, não consigo falar com Marina!


- E o que você quer com ela?
- Eu? Ah... nada, só vê-la. – ficou sem graça.
- Está com saudades?
- Eu não! Ah vai... Tá bom... Estou. – falou baixo.
- Lívia, não é vergonha isso, aprenda a sentir as coisas
e assumi-las. Amanhã tente falar com ela logo cedo,
será melhor na casa dela do que na faculdade.
Depois que desligaram Lívia bolou um jeito de dar um
celular a ela. Dessa vez dormiu mais rápido, mas
acordou cedo e foi à rua comprar o aparelho. Pensou
em um top de linha, mas provavelmente Marina não
iria aceitar. Então viu um muito simpático branco e rosa
e achou a cara dela, tinha como colocar músicas em
mp3 e até radio. Lembrou-se dela reclamando de
Monica com Hugo e riu.
- Vou levar esse. É para presente.

Saiu da loja entrou no carro e deixou o presente no


banco de trás. Foi trabalhar e assim que Fabrício
chegou pediu que ele ligasse para Eduardo.
- Nossa, que saco você hein. Dá logo um celular pra
essa menina desamparada que eu não sou pombo
correio.

Lívia olhou para o rapaz que estava de mau humor e


levantou uma sobrancelha.
- Primeiro, eu já providenciei o celular, só não tive
oportunidade de dar a ela. Segundo, não tenho nada
com suas crises bipolares, enfrente seus clientes.
Terceiro, me respeite que sou sua chefe. E quarto,
Marina não é desamparada e se você se referir a ela
dessa forma outra vez, pode se considerar demitido.

Fabrício arregalou os olhos e ficou parado na frente


dela.
- Se não conseguir se mexer, me fale o número de
Eduardo que eu mesma ligo.

Fabrício pegou o telefone e ligou para o namorado.


- Oi Du. Sabe de Marina?
- Encontro com ela hoje, temos ensaio para o show de
amanhã e sexta.
- Eles têm ensaio hoje. – Fabrício falou com Lívia ainda
com Eduardo ao telefone.
- Quero horário e local.
- É no mesmo lugar? – Fabrício falou com Eduardo.
- Sim.
- Ok. Beijo. Tchau.
- Te levo lá quando acabarmos aqui.

Lívia fez render o dia para que saísse cedo do


escritório. A tal audiência seria no dia seguinte cedo e
queria deixar tudo acertado. Saiu na hora certa, foi em
casa tomou um banho rápido e foi para o tal ensaio,
Fabrício a levou. Ficou do lado de fora porque não sabia
se Monica estava lá dentro. Quando o ensaio acabou
Hugo foi com Pedro e Marina com Fabrício e Eduardo,
só depois que saiu do local que viu o carro de Lívia
parado próximo a eles. Ficou toda animada. Os dois
entraram no carro no banco de trás e ela no da frente.

- Oi meu amor! – Lívia falou com um sorriso


incrivelmente lindo.
- Oi meu bem! Que saudade!

Beijaram-se como se não se vissem há meses. Fabrício


e Eduardo ficaram de queixo caído no banco de trás.
- Que amor! – Eduardo brincou.
- Não fala nada não, porque senão leva bronca. –
Fabrício advertiu.
- Deixa de ser besta Fabrício, você sabe que exagerou
hoje de manhã. Vamos jantar todos?
- Não posso demorar, nem avisei nada a Monica.
- Quer ligar meu anjo?
- Não, ela não está me esperando, mas só não posso
demorar.
- Tudo bem, vamos por aqui por perto mesmo. Está
com fome?
- Não muita, comi alguma coisa esquisita no almoço
que não me caiu bem.
- Ah eu também hein, desde àquela hora estou como se
tivesse comido um boi. – Eduardo concordou.
- É, eu estou enjoada.
- Ih, foi Lívia que te engravidou. Viu prima, agora vai
ter que assumir. – Fabrício implicou.

Todos riram da bobeira do rapaz.


- Eu assumo, ainda mais uma criança que com certeza
nasceria linda. – sorriu para Marina.

Os dois não paravam de se surpreender com as


declarações da morena, parecia outra pessoa.
Sentaram-se num restaurante onde a especialidade era
salada e comidas mais light. Assim Marina pode comer
algo mais leve sem que piorasse seu enjôo. Lívia tirou
da bolsa um embrulho e falou toda sorridente.

- Amor, ganhei isso aqui por conta de um plano que fiz


de telefone lá no escritório, só que como eu já tenho
um, queria saber se você não quer ficar com ele.

Fabrício olhou com uma cara de deboche para ela e só


não a arreliou porque Lívia o fuzilou com os olhos.
- O que é?
- Abre. Até embrulhei para presente, caso você
aceitasse...

Marina abriu e viu o celular, olhou para Lívia séria.


- Até aonde você mente nessa história?
- Não estou mentindo.
- Lívia, te conheço tem pouco tempo, mas o suficiente
pra saber que você adora fazer essas gracinhas.
- Ah, aceita linda, o que eu vou fazer com esse celular?
Ganhei e estou te dando. – disse quase fazendo bico.

Marina olhou para os dois à sua frente para ver se


havia alguma entrega nos seus olhares, mas eles
estavam estáticos, pareciam nem respirar.

- Vocês dois são comparsas, eu sinto isso.


- Não sei de nada! – Eduardo se defendeu.
- Eu só falo na presença do meu advogado. – Fabrício
brincou.
- Ta bom, estou acreditando em você, mas não faça
nada pelas minhas costas, ta me ouvindo? – Marina a
olhou bem sério.
- Estou. – Lívia tinha uma carinha sapeca.
- Obrigada. – a beijou no rosto. – Agora posso falar
com você todo dia e com a minha mãe sem ter que ir a
um orelhão.
- Viu como vai ser útil? – Eduardo saiu em defesa de
Lívia. – Celular é importante Marina, ainda mais que
mora em outra cidade.
- Eu sei, só não acho prioridade. Tenho outras coisas
para ajeitar aqui, por isso deixei pra depois.
- Agora não é mais problema. – Lívia segurou sua mão
com carinho.

Ficaram conversando que perderam a hora, sair com os


dois era animado. Eduardo e Fabrício eram
completamente diferentes, mas combinavam
perfeitamente. Um era calmo e desligado o outro era
nervoso e atento. Contavam piadas, casos de trabalho
e riam animados.

- Esse final de semana não tem show não é? – Lívia


perguntou.
- Não, só amanhã e sexta.
- Que tal irmos para Mauá? – sugeriu. – Vou visitar
minha mãe e aí ficamos na casa dela.
- Eu acho ótimo, assim vejo minha mãe, senão ela me
chama de desnaturado. – disse Fabrício.
- Bom, por mim não tem problema. Preciso ver como
vou falar com Monica.
- Eu ajudo, digo que Marta convidou. – Eduardo falou.
- Bom garoto. Você é mais aliado que esse ingrato aí. –
Lívia falou se referindo a Fabrício.
- Não sou ingrato, sou realista.
- Vai ser ótimo, você vai adorar Mauá meu anjo. E se
der passeamos por Penedo também e Itatiaia. Deve ta
um friozinho bom lá.
- Hum, adoro frio. – Marina se empolgou. – Cabe todo
mundo lá?
- Cabe. Elas moram numa espécie de vila. Mamãe num
chalé, tia Bete no outro e um terceiro que elas alugam.
- Que interessante. Assim ficam perto uma da outra.
- Isso.
- Será que dá pra ir?
- Bom, só não vou responder agora, porque preciso
conversar com Monica.

Certa hora foram embora, Lívia achou melhor deixar


Marina primeiro, caso Monica visse, diria que estavam
vindo do ensaio.

- Podíamos combinar de sair mais vezes. – Eduardo


sugeriu.
- Pois é. Eu saio pouco aqui e outra, agora com Monica
namorando, que não vou sair mesmo.
- Nossa, aqueles dois engataram um romance, parece
que nunca namoraram na vida. – Fabrício opinou.
- Deixa eles ué, desde que se cuidem de resto ta bom.
- Se cuidar como, Marina?
- Ué, camisinha. Monica grávida nesse momento não
seria uma coisa boa.
- É verdade. Nós não temos esse problema. – Lívia
brincou.
- Boba. – Marina lhe deu um tapinha no braço.

Marina desceu do carro e subiu para casa. Monica ainda


estava acordada.
- Uai, onde você foi?
- Eu saí do ensaio e Fabrício convidou para ir num
restaurante. Aí eu tava de carona, acabei indo.
- Por que não veio com Pedro e Hugo?
- Eu fiquei depois do ensaio para passar uma música
com o Eduardo. A que vamos tocar na entrada do casal
da boda de prata. – Marina inventou aquilo de última
hora.
- Ah sim. É amanhã não é?
- Isso e depois o da Urca. To doida pra tocar lá. – falou
empolgada.
- Amanhã eu toco numa cerimônia religiosa também. É
casamento no civil, mas vão fazer um coquetel. Chique,
tem que ver. Pediram para ir de roupa de gala.
- Nossa, isso porque não tem festa. – Marina riu.
- E essa sacola é o que? – Monica se referiu ao celular.

Marina ficou pálida, tinha esquecido dele.


- Ah, então esse celular o Fabrício me deu. – inventou
na última hora também. – Diz ele que o escritório onde
trabalha fez um plano de telefonia e eles ganharam
vários, como ele sabia que eu não tinha e queria
comprar, me deu. Disse que foi recompensa pelo
assalto.
- Nossa que beleza! É o mesmo escritório daquela
prima dele né?
- Sim. – Marina baixou a cabeça.

O assunto morreu ali e foram dormir.

No dia seguinte Marina foi cedo para a aula de piano,


passou a manhã toda na faculdade e aproveitou para
estudar num piano que estava vago. Monica pra variar
tinha saído da aula e ido para a casa de Hugo. Marina
estava concentrada estudando quando o telefone tocou.
Levou um susto, ainda não tinha se habituado a ideia
do celular. Atendeu sabendo que era Lívia, pois só ela
ainda tinha o número.

- Oi amor. – falou com voz melosa.


- Como sabe que sou eu?
- Você é a única que tem o número do telefone. – riu. –
E eu sei olhar a bina.
- Achei que tinha passado para o pessoal.
- Ainda não, esqueci ontem de dar aos meninos e hoje
deixei anotado para Monica caso ela precisasse.
- Ela não achou estranho?
- Claro que achou, mas eu dei uma desculpa.
- Hum... Quer almoçar?
- Estou estudando. Que horas você vai?
- Seria agora.
- Eu queria ficar aqui pra aproveitar que este piano está
vago.
- Nossa, trocada por um piano. Que injustiça. – Lívia
resmungou.
- Não diga isso. Já foi a audiência?
- Já, deu tudo certo. Depois te conto os detalhes, mas o
fato é que ele está na cadeia, vai sair por bom
comportamento daqui uns anos com certeza, mas pelo
menos vai pagar pelo que fez.
- Meus parabéns, estou orgulhosa de você. – falou
animada.

Lívia ficou toda boba com o elogio, nunca se sentira


assim.
- Prometo uma coisa então, pra compensar a falta no
almoço. Quer negociar? – Marina falou.
- Quero.
- Sexta-feira quando terminar o show eu passo o final
de semana com você em Mauá. Te darei toda minha
atenção, vou paparicar você, encher de beijos e
mordidas, abraços e serei toda sua.

Lívia suspirou no telefone.


- Então quer dizer que você vai?
- Decidi agora. – riu.
- Que esses dias passem voando porque eu já fiquei em
brasa aqui.
- Vou apagar seu fogo.
- Ah Marina, você não tem noção do que está me
prometendo.

Lívia desligou empolgada e Marina rindo.

O show a noite foi muito bom, os convidados gostaram


e Eduardo aproveitou para distribuir cartões. Quando
foi pagar o cachê Marina estranhou.

- Nossa, deu isso tudo?


- Deu ué, fechamos bem o show.
- Que maravilha, duas vezes mais que no bar.

Na verdade os garotos fizeram uma vaquinha para


aumentar o cachê dela, para que pudesse repor o
prejuízo do assalto. Em casa quando estava deitada já,
Lívia ligou.

- Oi linda! Como foi lá?


- Foi ótimo, diz o Dudu que todo mundo gostou e pegou
telefone.
- Que bom então. Amanhã vou te ver.
- Estou com saudades.
- Eu também, não vejo a hora de chegar amanhã.
Depois do show você é minha. Vai direto lá pra casa.
- Preciso dormir bem porque amanhã vejo que a noite
será movimentada.
- Me aguarde.

Desligaram com a ansiedade para o dia seguinte.

A sexta-feira foi corrida, pois Marina teria uma aula


novamente com Marconi na parte da manhã e uma
prova à tarde. Quando saiu da Faculdade correu para
arrumar o cabelo, pois os meninos pediram produção
para o show, iriam tirar fotos para o cartaz. Lá no salão
viu que também faziam depilação, então resolveu fazer
uma coisinha. Saiu de lá correndo e foi pra casa tomar
banho. Encontrou com Monica no portão do prédio.

- Mulher preciso correr, estou atrasada e tenho que me


arrumar.
- Toma seu banho primeiro, depois eu vou. Você vai
com quem? – Monica perguntou.
- Acho que Fabrício vem me buscar. – mentiu, pois
sabia que era Lívia. – Vem comigo?
- Não, Hugo vai passar aqui antes.

Marina pensou como ia dizer, mas não viu um jeito


melhor, então foi direta.

- Eu vou viajar esse final de semana.


- Vai pra Jaú?
- Não, Eduardo e Fabrício chamaram para ir a Mauá
conhecer a família deles e a cidade.
- Nossa! Que chique, nem me chamaram. – Monica
ficou um tanto chateada.
- Eles me chamaram no dia do ensaio, você não estava
perto e...
- Tudo bem Má, estou brincando. Então se você vai,
Hugo pode vir pra cá?
- Ué, tudo bem. Monica, mesmo eu estando aqui, ele
pode vir também. Só não fazer muito barulho. –
brincou. – Eu vou dormir hoje na casa de Eduardo, para
podermos sair bem cedo amanhã.
- Sem problema. Você bem que podia arrumar um
namorado. Assim faz barulho junto.
- Ai que horror Monica!

As duas riram.

- Deixa eu correr que to atrasada.


- Vai lá, te encontro no show.

Marina correu, arrumou sua mala, pegou o teclado


embalou tudo e foi para o banho. Saiu rápido e se
maquiou. Procurou uma roupa, não quis usar vestido.
Então usou uma calça jeans mais justa e uma blusa
preta mais soltinha com um decote na frente. Calçou as
sandálias que Lívia lhe deu e se maquiou, passou um
lápis mais escuro nos olhos e um rímel que realçou a
cor, ficando mais verde, o restante da maquiagem era
mais simples. Quando saiu Monica estava se arrumando
também.

- Noooossa! Se superou. Ta aprendendo a se produzir.


- É que Eduardo pediu que desse uma caprichada para
o cartaz.
- Muito bom. To achando que ele quer é te ver
produzida.
- Olha a bobeira hein.

O telefone de Marina tocou e era Fabrício falando que


esperava lá embaixo.
- Bom, já vou indo. Te encontro lá.
- OK. Boa sorte!
- Valeu!

Marina desceu com a mochila nas costas e o teclado


com a alça atravessando. Quando apareceu na calçada
com dificuldade os meninos viram e foram ajudar.

- Por que não disse que estava com muita coisa


Marina?
- Calma gente dá pra levar.
- Vem, vamos ajudar.
- Cadê Lívia?
- Ela pediu que eu te buscasse e deixasse você e Dudu
lá na Urca. Eu vou buscá-la depois, ela ficou enrolada
no escritório.
- Ah ta. – falou um tanto desapontada.

Foram entrando no carro e conversando.


- Calma bonitinha, que ela vem. Falou em você o dia
inteeeeiiro! – Fabrício exagerou na última palavra.
- Falou o que?
- Falou do final de semana, que foram no shopping, que
foram na praia, jantar fora e que vão viajar juntas e bla
bla bla...
- Juro que nunca vi Lívia tão empolgada. – Eduardo
confessou.
- Sério? – Marina perguntou curiosa.
- Verdade, ela fala de você como se fosse o primeiro
amor da vida dela e faz planos como se fossem casar.
- Que exagero gente.
- Não é não. – Fabrício interveio.

Pelo caminho só falaram de Lívia, até chegar ao Pão de


Açúcar. Eduardo esperou um pouco para subir com
Marina e Fabrício foi buscar Lívia. Marina ficou
maravilhada dentro do bondinho. Olhava tudo em volta
e seu sorriso era comovente, parecia uma criança num
parque de diversões.

- Nossa é muito lindo! Olha a cidade toda iluminada. –


falava andando de um lado para o outro.
- Lá de cima é mais bonito ainda.

Quando chegaram lá no alto, colocaram o teclado e


deixaram tudo preparado para o show, passaram som e
depois levaram Marina para conhecer. Ali, por enquanto
só estavam os músicos que haviam chegado e um
pessoal da produção.

- Lá de cima a vista ainda é mais legal. – Eduardo


falou. – Outro dia a gente sobe até o Pão de Açúcar.
- Eu vou adorar!
- Mas quem vai trazê-la aqui sou eu. – Lívia chegou por
trás abraçando a loirinha.
- Hei! Que saudade! – Marina se virou abraçando bem
forte a morena.
- Ôôô... que abraço apertado.
- Senti sua falta.
- Eu também minha linda, até sonhei com você. – Lívia
a olhou com ternura e lhe deu um beijo rápido nos
lábios, antes que mais alguém visse.
- Eu to sobrando aqui ou posso ficar de vela? - Eduardo
brincou.
- Pode ficar seu bobo. – Marina falou.
- Fique e aprenda a ser carinhoso com seu namorado. –
Lívia abraçou Marina e beijou o topo de sua cabeça.
- Aff... mulheres! – Eduardo revirou os olhos.

Ficaram andando por ali até que o restante da banda se


aproximou deles.

- Marina! Altamente produzida! – Pedro brincou.


- Ué, tem que tirar foto. – ela sorriu tímida.
- Está uma gata mesmo, eu diria uma delícia. – Lívia
sussurrou logo atrás dela.

Monica reparou que Lívia havia chegado primeiro e


indagou para si mesma a presença da promotora todas
as vezes nos shows. Deixou pra lá, achava que estava
colocando minhoca na cabeça. O promotor os chamou
para se prepararem, pois as pessoas estavam subindo
já. Havia uma tenda com um bar tender e uma
iluminação bem moderna, o lugar estava realmente
bonito. Quando a banda começou os convidados se
dirigiam mais para perto do palco. Lívia estava distraída
ouvindo a música quando alguém chegou atrás dela.
- Oi gata! Que milagre sair do casulo.

Ela se virou para ver quem falava e viu que era uma
juíza com quem já tinha saído algumas vezes e
obviamente já tinha largado.
- Oi Camila. Como vai?
- Bem melhor agora.
Camila havia sido seu affaire antes de Bianca, saíram
por quase seis meses e todo mundo achou que aquele
relacionamento duraria, até porque tinham muito em
comum e a juíza era absurdamente linda. Tinha os
cabelos loiros dourados, parecidos com os de Marina,
olhos cor de mel e uma pele morena, nas horas vagas
fazia triátlon e isso lhe rendeu um belo corpo.
- Não sumi, apenas estou trabalhando muito.
- Estou naquela mesa ali. – Disse apontando. – Vamos
nos sentar.
- Não, obrigada. Estou curtindo o som aqui,
- Desde quando gosta de música?
- Desde muito tempo e desde que meus amigos tocam
nesta banda.

Camila não era burra e percebeu logo o interesse de


Lívia.
- Está de olho naquela menina? – falou um tanto
surpresa.
- Camila, o que você quer? – ela desconversou.
- Sabe o que quero. Estou com saudades de você. –
disse alisando o braço da promotora.
- Você não precisa de mim. Tem muitas garotas que
dão um rim para ficar com você.
- Não quero qualquer uma, quero você.
- Estou indisponível.

Camila se aproximou e falou ao ouvido dela.


- Pois quando estiver liberada, sabe que pode me
procurar... quando quiser.

Lívia fechou os olhos se mostrando irritada e saiu de


perto.

Marina assistiu tudo e olhava discretamente, sentiu um


frio no estômago e uma sensação de incômodo muito
grande.
Tocaram por quase quatro horas seguidas, sem
intervalo. Quando acabaram um DJ começou
imediatamente. Os músicos desceram do palco e foram
recebidos pelos amigos.

- Amiga arrasa! – Monica cumprimentou Marina que


devolveu o cumprimento batendo na mão dela.
- Show! – Fabrício falou. - Daqui a pouco estão
distribuindo autógrafos.
- Nossa que exagero. – Hugo brincou.

Marina se mantinha um pouco séria, por conta do que


viu anteriormente entre Lívia e a outra mulher.
Sentaram-se um pouco e curtiram a festa, até que Lívia
se manifestou para ir embora, pois iriam viajar cedo no
dia seguinte.

- Ela vai? – Monica perguntou a Marina.


- Pelo que parece sim. Fabrício não me avisou nada,
mas a mãe dela mora lá né.
- Ah sim. Uia vai viajar de carrão!
- Menina boba meu Deus! – Marina riu.

Despediram-se e desceram os quatro, Marina, Lívia,


Fabrício e Eduardo combinando de saírem bem cedo no
dia seguinte.

As duas foram em silêncio para o apartamento. Marina


não estava chateada, mas com medo, na verdade
receio. Nem sabia o motivo direito, por isso ficava
calada. Lívia estava doida para chegar em casa e poder
conversar com ela, era a terceira vez que Marina ficava
assim e talvez na quarta a loirinha não tivesse tanta
tolerância. Finalmente quando chegaram e botaram o
pé dentro do apartamento a morena a puxou pelo braço
e a beijou.

- Isso é pra você saber que hoje só tenho olhos para


você e mais ninguém me importa. Seja quem for e
como for. Era só isso que queria que soubesse. É a
única que em tão pouco tempo, conseguiu me encantar
por completo.

A soltou e saiu andando pelo apartamento e subindo as


escadas. Marina ficou até zonza com aquele beijo. Foi
andando para o quarto e pensando que tinha que parar
com aquelas atitudes e passar a confiar mais em Lívia.
Se quisesse que fosse diferente, teria que fazer
diferente também. Parou na porta do quarto e viu a
morena arrumando a cama. Deixou a mochila no chão e
chegou perto dela, seus olhos marejaram e ela não
conseguiu conter o choro, ia chamar pela morena, mas
não conseguiu, o que pode fazer foi tocá-la para que
olhasse para trás.

- Que foi amor?


- Desculpa. – Marina chorava. – Acho que gosto tanto
de você que te ver com outra pessoa me dói lá dentro
como nem sei explicar e vem um aperto no peito. Me
perdoa.

Lívia correu para abraçá-la.


- Eu que peço perdão por esses episódios
desnecessários. Infelizmente não posso fazer nada para
que não aconteça. Só te peço para confiar em mim.
- Eu confio. – Marina disse olhando em seus olhos.

Beijaram-se novamente. Lívia foi se excitando e deu


vazão aos seus desejos acumulados pelos dias que não
vira a loirinha.

- Estou morrendo de vontade de você, desde a hora em


que te vi. – beijava e mordia ao mesmo tempo. – Eu
não consigo mais ficar longe de você Marina. Não
consigo! – parou de repente olhando para ela como se
buscasse cada detalhe daquele rosto. – Faz amor
comigo?
Marina nem precisou responder, Lívia viu naqueles
olhos verdes um sim. Era a rendição e o desejo. Pegou
a loirinha pela cintura e levou até a cama, tirou sua
roupa, a deixando somente de calcinha. Os seios
empinados foram um convite, Lívia não se conteve,
abocanhou-os e mordeu de leve, depois sugou para
depois passar a pontinha da língua nos bicos
endurecidos. Marina gemia enlouquecida agarrando-se
aos cabelos negros de Lívia. As carícias eram
embaladas por gemidos das duas que não esperaram
muito para que pudessem se sentir. Quando a morena
arrancou a calcinha de Marina percebeu que ela estava
depilada e havia deixado apenas uma tira fina de pelos
que lhe tirou totalmente a razão.

- Deus do céu! Hoje você quer mesmo me matar.


- Gostou? – Marina tinha um sorriso safado nos lábios.
- Sem-vergonha! Vou te mostrar se gostei ou não.

Lívia arrancou a calcinha dela e jogou longe, abriu suas


pernas com rapidez e se enfiou entre elas. Lambia,
sugava, mordia, sorvia cada gota. Marina se contorcia
de prazer, gozou várias vezes seguidas e suas pernas
estavam totalmente sem força. A morena arrancou sua
própria calcinha e encaixou seus sexos começando a
rebolar sentindo aquele contato fascinante.

- Amor... amor... – Marina gemia no ouvido dela


deixando a morena mais estimulada.
- Quer mais? – Lívia rebolava sensualmente.
- Quero...
- Então pede...
- Eu quero mais... ahhh... mais... – Marina abria mais
as pernas e rebolava junto com ela.

Gozaram juntas em espasmos alucinantes.


Lívia se levantou, sentando-se na cama e recostando
nos travesseiros, colocou Marina sentada em seu colo
de frente para ela. A abraçou, ainda sentindo sua
respiração agitada. Ajeitou a franja de Marina que
teimava em cair no seu rosto, colocou os cabelos dela
atrás da orelha e a beijou. Suas testas se uniram num
gesto carinhoso e só se ouvia suas respirações
cansadas. Quando se acalmaram Lívia olhou em seus
olhos, respirou fundo pensando bem no que ia dizer,
não queria adiar nem se precipitar, arriscou.
- Eu te amo. – olhava-a a nos olhos.

Marina custou a entender, achou que estava sonhando.


Falou ternamente:
- O que é amor? É sentir saudade? É saciar os desejos
com o responsável pela saudade? É querer acordar ao
lado dessa pessoa? Poder olhar nos seus olhos e se
sentir seguro? Pensar nela até dormindo? Se for... Eu
também te amo!
O momento foi selado com um beijo cheio de carinho.
Eram cúmplices de um sentimento inédito para Marina
e há muito não sentido por Lívia. Ficaram abraçadas
por um bom tempo, sem dizer nada, apenas curtindo a
presença uma da outra. Quem quebrou o silêncio foi a
loirinha.
- Acho que Monica está querendo me falar sobre a
gente.
- Por que acha isso? – Lívia alisou seu rosto.
- Porque ela me faz umas perguntas esquisitas. Hoje
mesmo lá no show, ela viu você chegando e perguntou
se ia também para Mauá. Eu disse que talvez sim, já
que sua mãe mora lá e ela olhou para você meio
desconfiada. Quando passei o final de semana aqui ela
também jogou umas indiretas.
- Acha que ela pode se incomodar?
- Sinceramente não sei, ela diz que não liga e que
aceita homossexualidade, mas nunca teve nenhuma
pessoa próxima. Essas coisas são fáceis de aceitar
quando se está longe.
- É verdade, mas acho que ela é sua amiga. Me
surpreenderia muito se criasse encrenca.
- Tomara. Ela é minha melhor amiga mesmo. Sem ela
aqui não sei o que fazer...
- Você tem a mim. Não sou muito, mas sirvo pra
alguma coisa. – Lívia fingiu descaso.
- Não! Você é muito, é até mais do que eu preciso,
estou no lucro. Deus me deu de presente uma mulher
linda, inteligente e que me ama. Que mais eu posso
querer?
- Quer namorar comigo? – Lívia a surpreendeu.

A loirinha arregalou os olhos, parecia que tudo ia rápido


demais, só não conseguia controlar.

- Sério?
- Sei que está sendo tudo muito rápido, mas estou
deixando meu coração levar tudo isso. E sim, é sério. –
Lívia tinha uma expressão realmente séria. – Eu gosto
da sua companhia, eu sinto vontade de ver você feliz o
tempo todo e eu te amo. Então, quer namorar comigo?
- Quero. – Marina deu o sorriso mais lindo que Lívia já
vira.

Beijaram-se de novo até que as carícias foram


aumentando e dando lugar a gemidos e falas
desconexas. Lívia levou a mão até o sexo de Marina e a
sentiu molhada, começou a esfregar os dedos bem de
leve sentindo escorregar, a loirinha começou a rebolar
e desceu a mão até o sexo de Lívia massageando
também. Arqueou o corpo para trás, dando uma visão
total de seus seios que foram abocanhados com
vontade, Lívia alternava de um para outro mordendo e
lambendo os bicos. Quando estavam gozando olharam-
se com paixão e falaram ao mesmo tempo.
- Te amo, te amo, te amo... – E foram repetindo até
chegarem ao clímax abraçando-se no final.
Quando o sono chegou as duas adormeceram
cansadas, mas felizes.

Acordaram cedo no dia seguinte.

- Amor, levanta! Precisamos nos arrumar. – Lívia


chamou Marina.
- Hum, to com preguiça. – a loirinha se espreguiçava
toda na cama.

Lívia olhou seu corpo e ficou tentada, mas não podia.


- Tentação! Não me desconcentre. Vamos, tomamos
banho rápido pra acordar e pé na estrada.

Marina levantou e as duas foram para o banheiro. O


banho foi jogo rápido e quando estavam saindo a
loirinha pegou sua mochila.

- Tem roupa de frio aí? Estamos no outono, e lá sempre


é mais frio.
- Tem um casaco ué. Vamos ficar lá um final de
semana só.

Lívia olhou para aquela mochila e não acreditou muito,


Marina estava subestimando o tempo da cidade.
- Vamos?
- Vamos. – Lívia a pegou pela mão e saíram.

Passaram na casa de Fabrício, onde ele e Eduardo já


esperavam na calçada do prédio.
- Nossa, pra que sair tão cedo Lívia? – Fabrício entrou
bocejando no carro.
- Pra chegar cedo lá. Quero levar Marina para conhecer
a cidade.
- Ah, isso vai demorar semanas, porque Mauá é
enorme. – ele debochou.
- Não seu bobo, também quero levar ela em Penedo e
se der em Itatiaia.
- Passeios românticos. – ele revirou os olhos. - Marina
o que você fez para agarrar essa promotora?

Ela nem teve tempo de responder e Lívia se adiantou.


- Nem queira saber, são detalhes muito íntimos.

Lívia levou um tapa no braço.


- Ela que me agarrou.
- É verdade, tomei a iniciativa.

Todos riram.

Pegaram a estrada, o trânsito ajudou bem e em pouco


tempo chegaram a Mauá. Fabrício e Eduardo ficaram
surpresos, pois durante quase todo o tempo da viagem
Lívia e Marina foram de mãos dadas, ou Marina ia com
a mão em cima da perna direita da morena. Olhavam-
se com carinho e se tratavam como namoradas. Um
olhava para o outro e fazia sempre uma cara de
surpresa. Quando chegaram na vila foram recebidos
por Marta e Bete.

- Chegaram cedo, que bom! Assim damos um passeio.


– Marta foi a primeira a falar. – Como foram de
viagem?
- Bem tranquila. Bom dia mãe, como vai a senhora?
- Deus te abençoe. Vou bem graças a Deus. E você
bonitinha, tudo bem? – se referiu a Marina.
- Tudo. Nossa aqui é lindo, até onde eu vi.
- E tem mais coisas bonitas para você ver.
- Oi meu filho, lembrou de sua mãe! – Bete veio
abraçando Fabrício.
- Oi mãe, não me esqueci da senhora, estou sem
tempo.
- Sei... sei... Lívia também não tem tempo e vem
sempre aqui.
- Mas eu sou uma filha perfeita, ele é um desnaturado.
– Lívia brincou.
- Obrigado! Obrigado mesmo viu. Valeu pela força! –
Fabrício brincou.
- Tudo bom dona Bete? - Eduardo a cumprimentou.
- Oi Dudu, tudo ótimo. Como vai a banda?
- Ah está uma maravilha.
- Fabrício disse que teve problemas com o tecladista, e
depois arranjaram outra pessoa?
- Sim, olha ela aí na sua frente. – Ele apontou Marina.
- Nossa, não sabia que era ela. Estão de parabéns, uma
moça muito bonita.
- Vem gente, vamos entrar e deixar as coisas lá dentro.
– Marta chamou.

Marta levou Lívia e Marina e Bete levou Fabrício e


Eduardo.
- Nos encontramos lá nos fundos. – disse a morena.

Quando entraram Marina foi a primeira a falar.


- Nossa que bonito aqui dentro. – falou admirando o
chalé. – Eu adoro chalés, parecem aconchegantes.
- Eu gosto muito daqui. Por isso não vou muito ao Rio,
fica difícil largar meu cantinho.
- Olha, confesso que também não largaria. Adorei sua
casa.
- Então está convidada para vir muitas vezes, quantas
quiser. – Marta falou simpática.
- Ela virá. – Lívia sorriu.
- A mãe de Fabrício sabe dele e Eduardo? Fiquei curiosa
agora, desculpa perguntar.
- Que isso, sem problema. Ela não sabe diretamente,
desconfia ou finge que não sabe. – disse Marta. – Trata
Eduardo como um amigo de Fabrício.
- Ah.
- Essa é sempre a melhor saída quando não quer
contar.
- Melhor mesmo. – Marina concordou.
- Vem amor, vamos subir para nosso quarto. Acomodar
as coisas e sair.
- Nosso quarto? Ih Marina, já está assim é? – Marta riu.
- Ta vendo? Agora estou importante. – brincou
abraçando a namorada.
- Ta ficando sério dona Marta. Sua filha está
namorando. – Lívia sorriu.
- É mesmo? Fico feliz que esteja namorando e que seja
Marina.
- Sabia que ia gostar. – Lívia abraçou a mãe também.
- Vão, subam e se ajeitem.

As duas foram para o quarto. Era bem amplo, tinha


duas janelas, sendo que uma dava para uma pequena
varanda e a outra era tipo uma bay window. Havia uma
cama de casal ao centro e um armário grande com um
baú próximo a ele. Uma pequena lareira no canto e um
banheiro.
- Que quarto legal, gostei dele.

Lívia a abraçou por trás e a levou até a bay window.


- Olha que vista? – os fundos davam para um rio e uma
mata bem fechada, subindo a montanha.
- Que lindo amor! Hum, quero namorar aqui mais
tarde. Posso?
- Você pode tudo. – a beijou. – Agora vamos passear?
Quero te mostrar a cidade. E coloque um casaco mais
grosso, está ventando muito. – falou pra ver a intenção
de Marina.
- Esse não dá? Ele é grosso. – Se referia a um casaco
branco. Era a cara dela, tinha uma listra verde nas
mangas, umas aplicações na frente e capuz. Mas era
um pouco fino.
- Acho que vai sentir frio, veremos então.
- Não vou.

Lívia não falou mais nada. Desceram e avisaram Marta


que iam sair.
- Você vem mãe?
- Não, vou preparar o almoço. Bete também está
fazendo alguma coisa por lá, vamos juntar depois.
- Ta bom, volto para o almoço.

As duas saíram e Lívia achou melhor andarem pela vila


só para mostrar as lojas, depois que o comércio
fechasse ela não poderia aproveitar mais. O vento
bateu mais forte e Marina encolheu os braços, mas não
reclamou. Entraram numa loja de presentes, com
várias lembranças da cidade.

- Olha, parecida com a casinha que você me deu. – a


loirinha mostrou.
- Sim.
- Vou levar uma pra minha mãe. – Marina escolheu
uma de seu agrado e levou.

Quando saíram novamente veio o vento e a loirinha


cruzou os braços. Lívia a abraçou tentando esquentá-la.
Entraram em uma loja de roupas, pois Lívia deu uma
desculpa esfarrapada dizendo que precisava de um
casaco novo. Escolhia um e outro e olhava para a
namorada. Marina já tinha entendido que Lívia queria
comprar um casaco para ela. Quando ia falar que não
queria a morena se adiantou.

- Não discuta comigo. Aqui está frio e esse seu casaco


não vai aguentar. À tarde nós vamos dar uma volta
mais longa, à noite vamos sair e você não vai aguentar
o frio. Não te trouxe aqui para ficarmos enfiadas em
casa. – Falou com tanta autoridade que Marina nem
discutiu.

Escolheram dois casacos, outro um pouco mais


reforçado que o de Marina e três blusas de lã. Quando
Lívia foi pagar, a loirinha viu um gorro e achou a cara
da promotora. Pegou e levou a outro vendedor e pediu
que embrulhasse para presente. Guardou dentro de sua
bolsa sem que ela visse. Ao saírem Lívia falou:
- Veste aquele casaco preto agora e guarda esse seu.

Marina obedeceu e Lívia a achou linda no casaco novo.


Era vermelho escuro, com um zíper na frente e nas
mangas havia bordados brancos.

- Está linda.
- Obrigada. – Marina falou sem graça.

Lívia nada falou, pegou na mão dela e continuaram


andando. Pararam para comer pinhão, pois Marina não
conhecia.
- Isso é gostoso!
- Sim, mas não exagere, porque mamãe está fazendo o
almoço. Se chegarmos sem fome lá, ela manda a gente
embora. – Brincou.
- Então já parei. – Marina levantou as mãos para o alto.
- Vamos que agora o trajeto é de carro. Foram até a
toca da raposa, uma das cachoeiras famosas na região,
Marina ficou encantada. Lívia aproveitou e tirou muitas
fotos.
- Posso tirar foto sua? – Marina perguntou.
- Pode. Essa máquina, você vai se dar melhor assim. –
Lívia regulou no automático.

Marina deu uma olhada, tirou uma foto solta para


avaliar a máquina e pronto.
- Amor, fica ali virada para a cachoeira.

Lívia fez o que a loirinha pediu e Marina ajustou a


máquina como queria e bateu a foto. Depois de umas
cinco fotos em posições diferentes, Lívia ficou curiosa.
- Deixa ver o que você está aprontando. - Quando viu
ficou surpresa. – Nossa! Ficou muito bom.
- Claro a modelo ajudou.
- Estou falando de modo geral.
- Viu, eu sei tirar foto, conheço máquina digital. Já
chegou na minha terra. – a loirinha brincou.
- Palhacinha. É que achei que você não ia se adaptar,
sei lá... – falou um tanto sem graça.
- Meu irmão tem uma parecida, por isso eu conheço.
- Vou deixar a máquina na sua mão então.
- Vou adorar, adoro tirar fotos. Depois gravo em um cd
pra levar pra minha mãe, ela adora fotos.

Continuaram andando por ali, fizeram uma caminhada


rápida. E quando deu a hora do almoço voltaram para
casa.
- Antes de anoitecer te levo em outra cachoeira e
aproveitamos para jantar. E amanhã te levo em
Penedo.
- Vamos jantar fora?
- Ahan.
- Vamos sozinhas?
- Ahan.
- E vamos aonde? – Marina estava cheia de perguntas.
- Surpresa.
- Ah... – fez bico.
- Você vai gostar.
- Eu sei que vou, com você do meu lado, qual lugar que
fica ruim?
- Ah, essa declaração merece um beijo.

Lívia parou o carro em frente à casa da mãe e beijou


Marina.
- Desde que chegamos não me deu nem um beijinho. –
a morena reclamou.
- Ô que judiação. Vou te compensar meu bem. –
Marina a puxou e beijou novamente. – Eu prometi ser
toda sua e te paparicar, mas é você que está fazendo
isso. Bela namorada que sou.
- A mais linda de todas. – sorriu.

Saíram do carro e entraram em casa, vinha um cheiro


excelente da cozinha.
- Hum que cheiro bom. – Marina falou.
- Comidinha da mamãe. Isso é uma benção.
- Estou doida pra comer a comida da minha também.

Marta saiu da cozinha falando que ainda não estava


pronto e que elas esperassem mais um pouco. As duas
resolveram se sentar na sala onde também tinha uma
bay window. Lívia sentou esticando as pernas e Marina
sentou entre as pernas dela.
- Quando vai ver sua família?
- No próximo final de semana. Saio daqui na sexta e
volto no domingo a noite.
- Um final de semana inteiro sem você?
- Comporte-se hein.
- Hum... – foi a morena que fez bico dessa vez.
- Passa rápido.
- Virei pra cá então.
- Isso, assim sua mãe te vigia pra mim. – Marina
despistou olhando para cima.
- Você ainda não confia em mim, não é? – ficou séria.
- Confio, estou brincando. Confio em você mais do que
pensa. Até porque não tenho motivo para pensar o
contrário.
- Obrigada por me dar um voto de confiança.
- Eu sempre dou voto de confiança às pessoas, quando
perco é porque elas mesmas me fizeram perder.
- Você fala que Deus foi muito bom com você, mas ele
também me deu um presente que eu nem mais
esperava.

Beijaram-se ternamente, ficaram trocando carícias,


brincando e conversando, era realmente um namoro
que fazia bem as duas. Eduardo chegou com Fabrício
que pigarreou interrompendo um beijo do outro casal.

- Ê paixão!
- Vai dar uns pega no seu namorado também e para de
me encher. – Lívia falou brincando.
- Eu dou, mas eu sou discreto. – Fabrício deu um beijo
rápido em Eduardo.
- Essa fase de namoro já passamos, agora somos
sóbrios. – disse Eduardo.
- Daqui a pouco passa essa fase boa aí e fica só a
rotina. – Fabrício se sentou no sofá.
- Que nada, a gente vai mudar sempre. – Lívia falou.
- Vai nada, vocês se esquecem disso.
- Todo namoro tem suas fases ruins mesmo, mas eu
dou um jeito de temperar.
- Ou colocar um caldinho. – Marina brincou.
- Onde foram? – Eduardo perguntou.
- Fomos na Toca da Raposa, primeiro andamos por aqui
e depois fomos lá.
- Gostou Marina?
- Adorei!
- Ela gosta de tudo, mulher fácil de agradar. – Lívia a
abraçou.
- Eu gosto de novidade.
- Ah é? Quer dizer que quando eu deixar de ser
novidade, como vai fazer?
- Te trocarei. – Marina piscou o olho para os meninos.
- O que? – Lívia estava indignada, até afastou a
loirinha.
- Brincadeira amor.
- Você falou muito sério. – Lívia foi se levantando.
- Lívia deixa de ser boba que eu tava brincando.
- Não, não... falou sério demais pro meu gosto.
- Preciso de um advogado. Fabrício, me ajuda.
- Eu? Contra promotor público eu não me arrisco. Eles
são miseráveis. – Brincou.

Lívia se levantou e foi para a cozinha.


- Agora vê, eu aguento isso?
- Aguenta, você a ama. – Fabrício falou.
- Amo. – achou graça.
O almoço ficou pronto. Sentaram-se a mesa e Lívia
ficou do lado da mãe, olhava meio enfezada para
Marina que lhe sorria de volta.

- Ela está com raiva.


- Que houve? – Marta perguntou.
- Disse que vou trocá-la quando enjoar. – Marina riu.
- Ah, isso vai demorar ainda. – Marta entrou na
brincadeira.
- Mãe! Ainda dá razão?
- A gente quando enjoa de uma roupa não a descarta?
É assim mesmo.

Lívia ficou enfurecida.


- Só a roupa, você não ta meu amor. – beijou o rosto
dela que quis se esquivar. – Olha que carinha mais
linda! Fica brava e fica mais bonita, como pode?

Lívia fingia não ligar. Marina pegou o prato e sentou ao


lado dela para lhe dar comida na boca.
- Vem. Eu falei que ia te paparicar e vou cumprir. Toma
meu anjo, comida na boca.

Lívia fez que não quisesse.


- Ah, eu não recusava o tratamento de uma loiraça
dessas. – Fabrício falou implicando.
- Ela aceita. Não é meu bem? E ela sabe que eu a amo.
E que se continuar com esse bico hoje à noite vamos
dormir cedo. – Falou a última frase no ouvido de Lívia.

Imediatamente a morena abriu um sorriso.


- Só vou aceitar porque sou uma excelente
negociadora.
- Isso aí. – Marina piscou para ela.

Bete olhava tudo e nada falava, estava acostumada ao


comportamento de Lívia e que Marta aceitasse. Sempre
conversavam sobre o assunto, mas Marta nunca falava
de Fabrício. Esse assunto dizia respeito somente a ele e
sua mãe.

Quando o almoço terminou Marta foi para a cozinha


ajeitar a louça e Bete a ajudou.
- Marta, que houve para Lívia trazer uma namorada
aqui?
- As coisas estão mudando minha irmã.
- Ela parece boa moça.
- É sim, por isso tudo está mudando. E eu rezando para
que continuem assim.

Na sala o pessoal se reuniu para conversar, o tempo


estava nublando e isso preocupou Lívia para a saída a
noite.
- Vai chover e estragar meus planos.
- Calma, às vezes para até lá. E outra, se não der pra
sair eu não ligo.
- Ah já sei... o importante é você do meu lado. –
Fabrício falou com voz melosa imitando Marina.
- Besta! – Marina jogou uma almofada nele.
- Estou estupefato, perplexo, pasmo...
- Que isso? Abriu um dicionário?
- Não me interrompa... estou assustadoramente
intrigado com o poder que essa baixinha tem. Marina,
de onde você vem tem mais de você? Porque conheço
muita gente que precisa de um sossega que nem você
deu em Lívia.
- Fabrício, quer fazer o favor de me respeitar?

Todo mundo ria na sala.


- Eu não sosseguei ninguém, eu só dou a ela o que ela
precisa.
- Não me diga, por favor, eu quero passar sem os
detalhes! – ele disse revirando os olhos.
- O que você me deu que eu precisava?
- Atenção e carinho. – Marina a olhou com simpatia.
Lívia pensou que sempre se surpreendia com Marina,
com seus gestos e declarações.
- Como posso não amar uma pessoa assim? – Lívia a
abraçou.
- Tudo por causa do Pablo. – Eduardo falou. – Se ele
não tivesse faltado àquele show, Marina não teria
tocado com a gente, você não a teria visto tocando e
uma hora dessas estaria só e abandonada. – riu da
última frase.
- Eu estaria só e abandonada, porque Monica me largou
à deriva no Rio. Agora só tem olhos para Hugo.
- Gente impressionante também, Hugo só fala dela.
- São os encantos das paulistanas. – Lívia beijou o topo
da cabeça de Marina.
- Marina, seu pai é produtor de cana, sua mãe deve ter
passado açúcar em você. – Fabrício brincou fazendo a
loirinha gargalhar.
- Minha mãe passou foi mel mesmo.
- A minha passou pimenta. Tsss! – Lívia fez um gesto
como que encostando no braço e saindo fumaça.
- Por falar em mãe eu vou ligar pra minha. Senão ela
fica preocupada. – Marina se levantou e foi pegar o
celular no quarto, desceu as escadas já discando o
número de casa. Falou com a mãe e disse que estava
em Mauá passeando, falou da cachoeira e que estava
tudo bem. – Prontinho!
- Já tranquilizou a mãe. Como ela se chama? – Eduardo
perguntou.
- Maria José ou Zezé. – Marina sorriu.
- Eu não sabia o nome dela. – Lívia falou.
- Nunca me perguntou também ué.
- Descuido isso.
- Tem que saber o nome da sogra Lívia, que falta de
educação. – Eduardo a arreliou.

Ficaram de papo até o meio da tarde. Depois


resolveram sair para dar uma volta e jantar. Lívia e
Marina subiram para o quarto, enquanto Fabrício e
Eduardo foram para a casa de Bete se arrumar.

- Acho que vai combinar. – Marina se olhava no espelho


com um par de botas na mão.
- O que meu anjo?
- Essas botas com a calça. Só usei uma vez. Nem sei
por que eu as trouxe para o Rio. Quando estava
arrumando minhas malas, olhei para elas e decidi na
última hora.
- Seu subconsciente que lhe disse: Leve-as, pois você
vai dar um passeio com a morena mais linda do Rio de
Janeiro. – Lívia brincou.
- Só do Rio? Pra mim ela é a mais linda do mundo, sem
exagero.

Lívia sorriu para ela.


- Linda! Te amo.
- Também te amo, muito!

Beijaram-se apaixonadamente.
- Pena que já está vestida. – Lívia falou com os lábios
colados nos de Marina.
- Você disse que tínhamos que sair mais cedo. Assim
voltamos mais cedo também e a noite serei toda sua.
Eu prometi, não prometi?
- Ahan... – Beijava seu pescoço. – E eu estou morrendo
de vontade de você.
- Mas ontem a gente fez amor até tarde. – Marina
sentia os beijos em seu pescoço e falava com voz
melosa.
- Ontem foi ontem, já passou. – Beijou seu colo e
passou a mão num dos seios.
- Amor, se comporte. Mais tarde, certo?
- Ta bom, ta bom...

Marina terminou de se vestir, estava com uma calça


jeans, a bota preta sem salto e uma blusa preta de lá
também que havia ganhado de Lívia. Os cabelos
estavam soltos e a franja que já estava um pouco
grande, lhe caía quase nos olhos. Passou um perfume e
um hidratante no rosto por conta do frio.

- Que gatinha! Tem compromisso pra hoje à noite? –


Lívia a olhava.
- Tenho. Vou sair com minha namorada.
- Ah que pena, ia te chamar para sair. Não quer
desmarcar com ela e sair comigo?
- Não. Eu prometi e tem mais... não tem convite nesse
mundo que me faça desmarcar com ela.
- Sortuda essa sua namorada.

Marina olhou com cara de sapeca e falou.


- Depois que eu enjoar dela, podemos conversar... –
seu sorriso era quase cômico.

Lívia enfezou de novo e virou as costas.


- Não amor, estou brincando.
- Estou rindo por dentro. – permanecia séria.
- Ô amor! Não vou enjoar de você. Vem aqui, me da
um beijo.
- Não!
- Ah, só um vai...
- Não.

Marina se aproximou enquanto ela se arrumava,


abraçou sua cintura e mordeu seu queixo, o pescoço,
alisou as costas de Lívia.
- Sabia que eu adoro seu cheiro? Que essa semana que
passou senti sua falta todos os dias, principalmente na
hora de dormir? – Beijou o colo. – Só dormi direito
novamente ontem, quando estava contigo. Incrível
como em pouco tempo você me faz falta.

Marina encostou a cabeça no colo da morena, no


começo falou para que ela soubesse o quanto amava,
mas terminou a fala pensando realmente no quanto
amava aquela pessoa.
- Te amo muito minha promotora enfezada.

Lívia que fingia não escutar, acabou se emocionando


com a declaração da loirinha.
- Também te amo! Achei que não conseguiria mais isso
na minha vida. Mas você conseguiu isso de mim.

Beijaram-se novamente.
- E você ainda acha que vou enjoar? Se soubesse o que
se passa no meu coração, não duvidaria disso nenhum
segundo. – Abraçou forte a morena.

Quando Lívia terminou de se arrumar que Marina pode


ver o quanto estava bonita. Usava uma calça escura,
bem justa e uma blusa cinza escuro com um sobretudo
por cima negro como a calça e botas combinando.

- Que tal?
- Nossa que linda!
- Essa chuvinha que vai bagunçar meu cabelo. Ele fica
arrepiado quando tem garoa assim.
- Hum, então espere.

Marina foi até sua bolsa e tirou um saquinho de


presente.
- Eu comprei isso hoje de manhã naquela loja. Não sei
nem se você gosta de usar, mas vai te ajudar com a
chuva.

Lívia abriu o saquinho e viu um gorro preto. Era


discreto e simples, combinava com sua roupa.
- Perfeito! – colocou na cabeça e ajeitou.
- Gostou? – Marina falou timidamente.
- Adorei amor. – falou sorrindo.

Marina ajeitou a parte de trás e os cabelos da morena.


- Não vai passar nada no rosto?
- Não, pra que?
- O frio pode queimar a pele. Vem aqui. Abaixa só um
pouquinho. – Lívia achou graça do pedido. – E não ria
da minha estatura. – levou um tapa no braço. Marina
passou um hidratante no rosto da morena e ao final
beijou a ponta de seu nariz.

Desceram e os garotos já esperavam na sala. Marta


não quis ir, achou melhor deixar os jovens irem
sozinhos. Tinha marcado um jogo de damas com
algumas amigas.

Lívia levou Marina para a cachoeira do escorrega.


Quando chegaram lá a chuva tinha parado.

- Nossa, que maravilha.


- Essa cachoeira tem um tobogã natural, as pessoas
sentam ali e escorregam até lá embaixo. Por isso o
nome.
- Deve ser legal. Já escorregou aqui?
- Eu já. – Lívia fez uma cara sapeca.
- Eu também já, é muito bom. No calor é um dos
melhores programas de Mauá. – disse Fabrício.

Andaram ali por perto e tiraram fotos até escurecer,


depois pegaram o carro e foram a um restaurante
próximo do local onde a especialidade era fondue.

- Nossa que frio lá fora! Aqui dentro ta bem melhor. –


Marina falou.
- E ainda queria usar aquele seu casaquinho. – Lívia
implicou com ela.
- Ah, não achei que fosse fazer tanto frio.
- Aqui sempre é mais fresco, ainda mais quando fica
essa chuvinha fina.
- O fondue daqui é muito bom. Já comeu fondue
Marina? – Eduardo perguntou.
- Não. Já estive em uma festa que eles serviram na
mesa, mas eu não comi.
- Por que não?
- Porque eu estava contratada pra tocar, não pra
comer.
- E não ofereceram?
- Nada! Tem gente que acha que músico não come e
não tem sede. – brincou.
- Isso é verdade, já toquei em lugares que se não fosse
Fabrício para levar algo para a banda estaríamos
lascados.
- Esse povo é muito mal educado. – Lívia reclamou. –
Que falta de bom senso.

O garçom veio para atendê-los e então pediram o


fondue salgado primeiro. Pediram um vinho para
acompanhar. Quando o garçom veio, Marina viu em
uma travessa várias carnes cruas e na outra o queijo
derretido. Achou estranha aquela carne crua e ficou
imaginando como se comeria aquilo.

Eduardo viu da sua cara de preocupação e a


tranquilizou.
- Calma que eles ainda vão trazer o óleo quente, você
coloca a carne dentro, ela frita e depois você mergulha
no queijo.
- Ah... – ela se tranquilizou.
- Tem pão também amor, você pode molhar direto no
queijo.
- Achei que iam me fazer comer carne crua. – ainda
estava de olhos arregalados.

Todos à mesa acharam graça.


- O fondue que eu vi era doce, de chocolate.
- Vamos pedir esse também, depois desse.

Depois que o garçom serviu tudo os quatro se


deliciaram. Marina servia Lívia na boca como já vinha
fazendo desde o almoço.
- Agora é assim? Toda vez é comida na boca? – Fabrício
implicando como sempre.
- É, eu prometi a ela tratamento cinco estrelas esse
final de semana.
- Viu, casais recentes são assim. Esse aqui não me dá
nem água, só esporro. – Eduardo falou achando graça.
- Em vez de ficar implicando, poderia fazer o mesmo
Fá. – Lívia piscou o olho para ele e mordeu a carne que
Marina a servia.
- Vocês duas não têm é vergonha na cara, fazer isso
aqui na frente de todo mundo.
- Eu não devo nada a ninguém. – Lívia falou.
- Nem eu. – completou Marina.
- No Rio, em alguns lugares eu até entendo e respeito
sendo discreta, mas aqui ninguém me conhece mesmo.
Não vou deixar de fazer ou receber um carinho da
minha namorada porque não estão gostando. Ai deles
se me tirarem daqui por conta disso.
- Viu! Por isso quis logo uma promotora. – Marina
brincou.
- Excelente escolha. – Lívia piscou para ela.

Acabaram o fondue de queijo e logo veio o de chocolate


com pedaços de fruta.

- Esse eu te sirvo amor. – Lívia espetou um morango e


mergulhou no chocolate. – Cuidado que está quente.
Marina mordeu achando uma delícia.
- Isso aqui é comida dos Deuses.
- Come bastante mesmo, aí chega mais tarde pega no
sono e dorme. – Eduardo brincou.
- Ah não dorme nada.
- Não mesmo.

As duas se olharam com cumplicidade e caras sem-


vergonhas.

Terminaram de comer e voltaram para casa. Fabrício e


Eduardo se despediram na porta. Quando as duas
entraram em casa Marta já estava dormindo. Foram
direto para o quarto e mal entraram Lívia passou a
chave na porta.

- Vem aqui delícia. – Puxou Marina pelo braço e a


agarrou.

Marina correspondeu à altura e se entregou as carícias


da namorada. Arrancaram as roupas em segundos.
Lívia levou a loirinha até a bay window e a sentou de
pernas abertas, ajoelhou-se entre elas e foi direto em
seu sexo. Lambia e chupava com maestria, colocou as
pernas de Marina em seus ombros e se deliciou com o
gosto da loirinha, que gemia sem controle. Agarrava os
cabelos de Lívia e puxava, já totalmente descontrolada.
Gozou em poucos instantes, mas Lívia não quis parar,
levou a mão em seu clitóris e massageou novamente,
subiu pela barriga da loirinha com beijos e parou nos
seios lambendo e mordiscando. Marina arqueou o corpo
para trás e abriu mais as pernas até gozar novamente
sacudindo todo o corpo. Quando suas pernas relaxaram
ela praticamente caiu em cima de Lívia.

- Será que você ainda me deixou com um pouquinho de


energia? – falou com certo dengo.
- Por que amor?
- Quero fazer uma coisa, mas primeiro preciso me
recompor. – disse sorrindo e ofegante ao mesmo
tempo. Quando sentiu que as pernas estavam mais
firmes, se levantou e foi até sua mochila, estava
totalmente nua e já não sentia mais vergonha. Pegou
um pequeno frasco e olhou para Lívia, que a observava
encantada.
- Vem... – chamou já perto da cama.

Lívia se aproximou e sentou na beirada da cama.


- Deita de costas pra mim.
Lívia então deitou e Marina sentou em suas nádegas.
Derramou um óleo que tinha no frasco e começou a
massagear as costas da morena.
- Nossa que cheiro bom.
- É uma essência, comprei da mesma moça que me
depilou. Ela vende umas coisinhas interessantes. –
falava e massageava ao mesmo tempo.
- Que coisinhas?
- Tipo óleos, cremes, calcinhas comestíveis...
- Opa! Preciso conhecer essa moça. – Lívia sorriu. –
Sabe que eu tava precisando de uma massagem?
- Sei, você é muito tensa. Precisa relaxar.
- Acha que sou tensa?
- Acho, não só tensa como agitada, às vezes parece
estar calma, mas não está. Por dentro você pega fogo.
- É que sou quente. – brincou.
- Não falo disso sua boba, falo de ansiedade.

Lívia fechou os olhos e suspirou.


- Está gostando?
- Muito, a sensação é de total bem estar.
- Que bom, eu estava ansiosa, achei que não ia dar
conta de você. – Marina falou meio envergonhada.
- Dar conta? Como assim? – Lívia quis se virar, mas a
loirinha não deixou.
- Ei, quietinha aí, ainda não terminei.
- Mas como é isso de dar conta?
- Eu acho que você faz muita coisa por mim, tenho
medo de que se canse disso uma hora, então como não
posso retribuir da mesma forma, quero te compensar
com o que está ao meu alcance. – Marina tinha a voz
calma e suave. – Sei que temos muitas diferenças,
principalmente financeira, não queria que elas
existissem, mas já que existem, quero estreitar essa
diferença com gestos simples, pra você saber que o que
eu quero é seu amor e sua atenção, só isso.
Lívia ficou pensando no que ela falou, fechou os olhos e
se deixou relaxar. Acabou adormecendo. Marina a
olhou com carinho, ficou alisando seus cabelos,
instintivamente a morena procurou seu colo, sem
acordar e adormeceram ali.
No meio da noite, Lívia estava agitada na cama e se
debatendo. Dizia algumas coisas sem sentido.
- Não, vai me deixar aqui? Volte, por favor! Vamos
conversar! As coisas vão mudar.

Marina podia sentir a agonia da namorada.


- Amor, acorda... shii... ei... já passou.

Lívia acordou espantada.


- Nossa! Que pesadelo horrível.
- Calma, já passou. – alisava seus cabelos. – Vem,
deita aqui de novo. Podia sentir o coração acelerado
dela.
- Eu dormi depois da massagem?
- Dormiu.
- E deixei você à deriva? – brincou.

Marina achou graça.


- Deixou.
- Ah, que falta de educação. – disse envergonhada.
- Você tava dormindo tão linda que não te acordei,
fiquei velando seu sono e também dormi.
- E eu que pensei numa noite daquelas.
- Uma noite “daquelas” não precisa ser só sexo.

Lívia se aconchegou mais nos braços da loirinha e


respirou fundo.
- Também é bom ficar assim.
- Também gosto. Cama, coberta, uma namorada linda
e chuva lá fora. Que mais eu posso querer?
- Faço das suas palavras as minhas. - Sorriu.
- Está mais calma?
- Ahan.
Marina beijou os cabelos da namorada e adormeceu.
Acordou com a claridade no quarto. Lívia dormia de
bruços virada para ela. Estava com o semblante calmo.
Marina levantou, trocou rapidamente de roupa e
desceu. Rezou para encontrar Marta pela casa. Estava
entrando na cozinha quando ela a chamou.

- Já acordou?
- Oi, bom dia! Acordei. Queria saber se posso preparar
um café da manhã para Lívia.
- Claro. Vou te ajudar.

Em poucos instantes Marta esquentou um leite com


chocolate e fez torradas enquanto Marina pegava um
iogurte na geladeira e colocava em uma taça com
cereais. Pegou um cacho de uva e uns morangos.
Prepararam a bandeja e Marina subiu para o quarto.
- Obrigada! Acho que ela vai gostar.
- Ah vai sim.

Marta achou graça da empolgação da menina.

Quando a loirinha entrou no quarto, Lívia ainda dormia.


Deixou a bandeja numa mesa de canto e tirou a roupa
novamente se enfiando embaixo das cobertas. A
morena sentiu um corpo gelado encostar-se ao seu.

- Está gelada linda.


- É o frio.
- Hum... vem cá que eu te esquento. – Lívia colocou
Marina sob ela. A loirinha a abraçou sentindo o peso de
seu corpo. Olhavam-se carinhosamente, beijaram-se e
suas línguas se encontraram. O beijo ficou mais
ardente, mas não tinha urgência de sexo. Queriam se
curtir, aproveitar aquele momento de intimidade. Lívia
acariciava o corpo de Marina em cada parte, passeava
suas mãos por cada canto sentindo o corpo se arrepiar.
Sua língua ficou mais exigente e procurou o pescoço da
loirinha, lambia e mordia sentindo estremecer a carne.
Marina arranhava as costas de Lívia e abraçava sua
cintura com as pernas. Lívia encaixou seus sexos e fez
um movimento de vaivém bem devagar. Marina
segurou sua cintura e apertou contra ela. Novamente
as línguas se encontraram e entraram no ritmo daquele
momento. Gozaram depois de muitas carícias e beijos
apaixonados. Lívia escondeu sua cabeça no pescoço de
Marina e continuou em cima dela.

- Esquentou?
- Muito!

A morena sorriu e já ia saindo de cima dela.

- Não, fique aqui.


- Estou pesando em cima de você, linda.
- Eu gosto de sentir você assim. – falou baixando os
olhos.
- Por quê?
- Não sei, você é diferente, não estou dizendo isso pra
te agradar ou impressionar. Não sou assim. Sua
presença me passa confiança, me deixa segura e
quando você está ao meu lado eu sinto que nada de
ruim vai acontecer.

Lívia ficou comovida com aquelas palavras, não era a


primeira vez que Marina dizia aquilo.
- Te amo viu. Minha loirinha linda. – se declarou.
- Também te amo meu anjo. – alisou aqueles longos
cabelos negros. – Está com fome?
- Um pouco. Parece que dormi um dia inteiro.
- Ainda é cedo, não são nem nove horas.
- Vamos tomar café?

Marina forçou o corpo para mudar de posição e ficou


em cima de Lívia.
- Vamos. – pegou o travesseiro e cobriu o rosto da
namorada. – Fique assim.
- Que é isso? – a voz saiu abafada por conta do
travesseiro.

Marina correu e pegou a bandeja.


- Agora pode tirar. - Marina estava sentada na cama
com a bandeja ao lado dela. – Café da manhã na cama
para minha namorada.
- Nossa, o serviço é cinco estrelas mesmo.
- Tem um monte de coisas. Torradas, suco, chocolate
quente, iogurte, frutas e uns biscoitinhos.

Lívia olhava admirada pelo fato de Marina estar sem


roupa e à vontade.
- Que foi?
- Queria saber se a mulher sentada ao lado da bandeja
também faz parte do café? Estou adorando ver você
toda nua em cima da cama.
- Ah, agora fiquei com vergonha. – se cobriu com o
lençol.
- Não fique, se soubesse como tem o corpo bonito.
- Meu corpo ainda é meio rechonchudo.
- Porque é nova, quando estiver na minha idade vai
pedir pra ter esse corpo.
- Quando eu puder vou começar a fazer exercícios.
Malhar ou caminhar, qualquer coisa. Não gosto de ficar
parada.
- Você fazia alguma coisa na sua cidade?
- Andava a pé. – Marina riu. – Exercício mesmo eu não
fazia, mas ajudava minha mãe no sítio e em Jaú eu
andava pra lá e pra cá, porque morava no centro e não
pegava ônibus.
- Seu pai tem carro?
- Só a caminhonete de carregar as coisas do sítio. Meu
irmão tem uma moto.
- Se quiser, podemos nos exercitar, porque não
caminhamos?
- Amor, você tem seus compromissos.
- Mas eu malho todo dia, posso substituir a malhação
por alguma coisa com você. Ou pode malhar lá comigo,
seria minha convidada, não tem problema nenhum.
- A gente vê isso depois. Ou eu to precisando tanto
assim? – disse se olhando e apertando a barriga.
- Você que tocou no assunto ué, eu não disse que tava
precisando de nada.
- Ta insistindo tanto. – Marina fez bico
- Ah não, eu só sugeri. Vem aqui que eu vou desfazer
esse bico.

Lívia puxou a loirinha e beijou seus lábios.


- Vamos comer, esse chocolate ta uma delícia, eu
experimentei um pouco lá embaixo, sua mãe me deu a
receita.
- Trocando receitas com a sogra.
- Claro, sabendo do que você gosta vou te fisgar pela
boca. Não é assim que se pegam os peixes? – brincou.
- Achei que eu tinha fisgado você. – mordeu uma
torrada.
- Você me seduziu.
- Ah é?
- Uma pobre menina do interior. – a loirinha riu.
- Inocente né?
- Ahan.
- Sei bem dessa inocência aí. – Lívia a olhava com um
sorriso de canto que era sua marca registrada.
- Ainda bem que você me quis. – Marina beijou os
lábios dela. – Antes do chocolate prova esse iogurte. –
Ela havia picado os morangos e colocado dentro junto
com os cereais.
- Estou adorando esse tratamento. Pena que é só esse
final de semana.
- No Rio também te dou tratamento VIP, o ruim é que
Monica já desconfia muito de mim, aliás, da gente.
- Ela não te faz perguntas indiscretas?
- Não, mas ela fica de olho na gente. Quando disse que
viria pra cá ela não falou nada, somente que eu
aproveitasse. Ela não é boba. Sua mãe mesmo já disse
que ela sabe, acho que só não quer falar, quer que eu
fale.
- E você vai falar?
- Não é o momento pra isso, nem sei se existirá esse
momento, mas agora não. Estamos no início dos
estudos, moramos juntas. Já pensou se dá algum
problema? E precisamos nos separar? Ficaria ruim pra
ela e pra mim.
- Aí você vem morar comigo. – Lívia falou mais no
ímpeto que raciocinando.
- É bem verdade o que as pessoas dizem sobre casais
de mulheres, elas se conhecem num dia, namoram no
outro e casam no terceiro. – achou graça.
- Não ta me levando a sério? – Lívia permaneceu séria.
- Estou amor, só que isso ainda é cedo. Cada coisa no
seu tempo devido, não é?
- Isso.
- Se Monica viesse falar comigo sobre nós, teria alguma
problema pra você?
- Nenhum. Nunca escondi meus relacionamentos, no
meu escritório todos sabem que sou gay e quem eu
mais precisava que soubesse e me aceitasse já sabe e
aceita, que é minha mãe. Então não vejo problema
algum.
- Meu pai morreria se soubesse que sou gay.
- Ele é preconceituoso?
- Não sei se a palavra certa é essa, mas ele foi criado
numa família muito religiosa e tradicional, já pode
imaginar os princípios dele né.
- É. – respondeu pensativa. - Vamos terminar o café?
Quero te levar em Penedo e se der em Itatiaia.
- Amor, está chovendo.
- Não tem problema, agora eu tenho um gorro ultra
super mega potente que não deixa meus cabelos
arrepiados. – Brincou. – E foi minha namorada linda
que me deu. – puxou a loirinha e beijou seus lábios.
Terminaram o café e tomaram um banho para sair.
Lívia se arrumou primeiro e deixou Marina terminando
de se arrumar no quarto. Foi atrás de Marta.

- Bom dia mãe.


- Bom dia minha filha. Chegaram ontem que eu nem vi.
- Não chegamos tarde. Tive aquele pesadelo essa noite.
- De novo filha? Está se sentindo bem?

Lívia fez que sim com a cabeça e depois sorriu.


- Não estava sozinha quando acordei.

Ela sempre tinha pesadelos e todos eles com a ex


namorada, sempre sobre o episódio do dia em que a
garota terminou o namoro. Acordava chorando e
assustada toda vez.

- Mãe, vamos pra Penedo, a senhora vem conosco né?


- Não minha filha, vai curtir seu passeio.
- Eu quero que a senhora venha, não vim aqui só para
trazer Marina. A senhora adora Penedo que eu sei e
adora aqueles chocolates de lá.
- Ta bom, vou me arrumar.

Marina apareceu no alto da escada quando Marta ia


subindo.

- Olha que linda que ela está!

Usava uma calça grossa de lã preta e uma blusa branca


também de lã, as botas até o joelho e os cabelos
lavados e soltos.

- Vai fazer sucesso em Penedo. – Marta brincou.


- Hei, que isso. Essa aí já tem dona. – Lívia revidou.
- Isso tudo aqui é obra da sua filha, que fica comprando
as coisas pra mim. Se estou bonita é culpa dela.
- Mas é bonita pra mim e não para os outros.
- Deixa eu me arrumar, senão atrasa. – Marta subiu as
escadas e foi para seu quarto.

Marina se aproximou lentamente de Lívia que já a


olhava com cobiça. Enlaçou seu pescoço com os braços
e a beijou.

- Hum... está cheirosa. – a morena falou.


- Gostou?
- Adorei. Vai me dar trabalho hoje. Vou ter que ficar de
olho.
- Então verá que só tenho olhos para você, sua boba.

Ficaram de namoro na sala até Marta voltar. Dessa vez


foram só as três, pois os garotos passariam o dia com
Bete.
Chegando em Penedo, deixaram o carro no centro e
passearam por ali. A cidade era conhecida como a
Finlândia Brasileira, suas casas e lojas eram em estilo
colonial. E assim como Mauá também era rica em
paisagens e cachoeiras. Visitaram algumas lojas, foram
ao museu e depois almoçaram. Antes de irem embora
foram comprar chocolates. A loja era imensa e Marina
não sabia pra onde olhar.

- Vou levar uns chocolates para casa. Minha mãe


adora!
- E esses daqui são muito gostosos. – Marta falou.

Marina comprou algumas barras e bombons. Levou


também um licor para seu pai.
- Hum, esse licor ta com uma cara ótima. Vou levar um
também. – Lívia se animou.

Após as compras as três ainda andaram mais um pouco


por Penedo, depois deram uma volta de carro e
tentaram ir à Itatiaia para visitar o parque, mas estava
fechado por conta do mal tempo.

- Pena estar fechado, você ia gostar.


- Não tem problema, da próxima vez nós vamos.
- Gostou do passeio Marina? – perguntou Marta.
- Adorei! Mauá é muito bonita e Penedo também.
- Então pode vir quantas vezes quiser.
- Agradeço o convite.

Quando chegaram em Mauá deixaram as compras no


quarto e foram a casa de Bete. Fabrício e Eduardo
tinham saído e as duas ficaram conversando. Bete quis
saber das aulas de Marina e confessou que sempre teve
vontade de estudar música. Falou que tinha vergonha e
por isso não quis aprender. Marina a encorajou e disse
que ainda estava em tempo. Perto de anoitecer os
garotos voltaram e todos lancharam na casa de Bete
mesmo.

Já no quarto, Marina arrumava suas coisas para


viajarem no dia seguinte.

- Pra que a pressa? Vamos sair amanhã depois do


almoço.
- É? Eu não sabia, achei que fosse de manhã cedo.
- Não amor, agendei meus compromissos no escritório
para a tarde e você também não tem aula, não é?
- Sim.
- Devia ter te falado antes, desculpa.
- Não tem problema. Eu até gostei, o bom é que não
preciso acordar cedo. Ou preciso?

Lívia achou graça.


- Não linda. Dormiremos até mais tarde.
- Eu gosto de dormir.
- Sei disso.
- Você acha ruim? – Marina parecia insegura.
- Não. Eu durmo pouco porque tenho pouco sono
mesmo. Deve ser porque sou tensa como você falou.

Marina sentiu certo incômodo na frase da namorada.


Aproximou-se de Lívia, que estava sentada na bay
window, e segurou suas mãos.

- Quando disse que você era tensa não foi uma crítica.
Só pensei que talvez pudesse ficar mais tranquila, acho
até que a sua profissão exige um pouco de tensão
mesmo. Exige que você seja mais articulada, mas nos
momentos de folga pode relaxar.
- Às vezes não consigo relaxar.
- Por que não?
- Não sei. Falta de prática talvez, a gente se acostuma
a ser de uma forma que fica difícil mudar depois.
- Você gostou mesmo da massagem?
- Gostei.
- Então vou fazer sempre que quiser.
- Todo dia!
- Amor, todo dia não dá. – Marina sorriu.

Ficaram conversando e namorando no quarto. Mais a


noite foram para a sala fazer companhia a Marta, que
assistia TV. Marina se recostou no sofá e esticou os
braços para dar colo à namorada.

- Colinho bom esse. – Lívia a abraçou.


- Vou fingir que nem ouvi, porque até então o colinho
bom era o meu. – Marta falou fingindo indignação.
- Ah mãe, os dois colos são bons, tenho o seu aqui e o
dela no Rio.
- Sei...
- Ciumenta.
- Eu não.

Marina se divertia com as duas, era impressionante a


cumplicidade que tinham.
- Colo de mãe não tem igual, a minha não é de dar
colo, mas só de sentir ela perto de mim eu gosto. Mãe
tem esse dom de passar calma para os filhos.
- É verdade, quando mamãe está perto eu não tenho
medo de nada.
- Quem tem medo sou eu. – Marta brincou. – Lívia já
fez cada coisa que foi de arrepiar os cabelos.
- Como assim? – Marina ficou curiosa.
- Ela já fez esses troços de descer da corda, de nadar
num bote no meio da correnteza, já voou num
paraquedas maluco.
- Esportes radicais então hein mocinha?
- Eu fazia, até que enjoei. Agora to sossegada.
- Graças a Deus! – Marta levantou as mãos para o alto
como que agradecendo e fazendo as duas rirem.

Marina e Lívia ainda ficaram assistindo TV um tempo,


até que resolveram ir para o quarto. Como havia
prometido, a loirinha fez outra massagem em Lívia,
mas dessa vez ela não dormiu. Esperou a namorada
para dormirem juntas. No meio da noite a morena
acordou e ficou olhando Marina dormir, sua cabeça
deitada em seu peito e o rosto virado para ela.
Acariciou-o e depois seus cabelos, fazendo ela se mexer
um pouco. De repente lhe deu uma vontade louca de
beijá-la e assim fez. Abaixou um pouco e beijou seus
lábios, mordeu de leve, depois passou a língua. Marina
sentiu aquele toque e acordou. Lentamente os beijos
deram lugar a gemidos e toques provocantes, fizeram
amor no meio da madrugada e adormeceram
novamente.

A claridade do quarto foi quem acordou as duas. Lívia


primeiro, pois não gostava de claridade. Olhou para o
relógio e viu que estava quase na hora de partirem.
Levantou-se, tomou um banho e ajeitou suas coisas.
Depois acordou Marina.
- Amor... – Beijou-lhe os lábios. – Lindinha, vamos
levantar? A gente toma café e parte.

Marina abriu os olhos e sorriu com doçura.

- Acordar esses dias todos com esse sorriso compensou


todo o passeio. – Lívia sorriu e a beijou.
- Estamos atrasadas?
- Ainda não, mas tem que se levantar e se arrumar.
- Ta bom. – Ela se espreguiçou como uma gata.

Lívia passou a mão na sua barriga fazendo cócegas e


Marina se encolheu.

- Vou descer e ficar com mamãe lá embaixo.


- Ta bom, já desço.

Marina se levantou e foi para o banho.

Na cozinha Lívia conversava com a mãe que ajeitava a


mesa para tomarem café.

- Já comeu mãe?
- Sim, acordei cedo, dormi cedo também. Que horas
vocês vão?
- Depois do café um pouco, não quero correr e chegar
no Rio em cima da hora. Marina tem aula logo após o
almoço.
- Ela gostou da viagem?
- Adorou.
- É tão fácil agradá-la.
- Sim. – Lívia sorriu.
- E então? Está tudo bem aí nesse coração?

Lívia suspirou e pensou para responder.

- Está sim mãe. Eu gosto dela, Marina é extremamente


carinhosa e faz isso sem precedentes, espera de mim o
que ninguém espera.
- É porque você estava acostumada com
relacionamentos por interesse. Com ela não, noto que é
diferente.
- Sim, mas eu às vezes ainda a trato como uma
menininha, que é o que ela me parece ainda.
- Ela vai amadurecer, dê tempo ao tempo. Garanto que
se tornará uma pessoa madura e sensata. Ela tem
princípios.

Lívia contou sobre o celular, as roupas que havia


comprado e o comportamento de Marina. Marta deu
razão à loirinha, dizendo que a filha não poderia
proporcionar essas regalias sempre.

- Às vezes isso irrita Lívia. Ela quer ser independente e


você está tornando-a dependente de você.
- Vou maneirar, mas eu gosto de vê-la feliz.
- E sabe que pra isso precisa fazer muito menos.

Nesse instante Marina apareceu na cozinha.


- Bom dia.
- Bom dia menina. – Marta falou. – O café está
esperando.
- Estou com fome mesmo.

Sentaram-se para comer e Marta acabou as


acompanhando.

Após comerem e conversarem um pouco, as duas se


despediram de Marta e foram chamar Fabrício e
Eduardo. Saíram todos na calçada.

- Marina, adorei te conhecer. Volte mais vezes! – Bete


falou.
- Obrigada dona Bete. Voltarei sim.
- Que isso de Dona Bete. Só Bete ta bom. – sorriu.
- Mãe fique com Deus, eu ligo quando chegar. – Lívia
falou para Marta.
- Vê se faz o mesmo desnaturado! – Bete chamou a
atenção de Fabrício.
- Sim senhora.
- Obrigado pela estadia Bete. – Eduardo agradeceu.
- De nada meu filho, volte sempre que quiser também.

Todos se despediram e os quatro saíram. Já dentro do


carro Lívia conversou com os garotos.

- Gostaria de pedir um favor a vocês. Marina e eu


estamos meio pé atrás com Monica, não sabemos se
ela desconfia, se sabe da gente e se concorda com o
relacionamento. Por um tempo, podiam nos dar uma
ajuda, nos acobertando.
- É, Monica ainda é uma incógnita pra mim. – disse a
loirinha.
- Como seria isso? – Fabrício perguntou.
- Quando Marina for lá para casa, podia dizer que ela
está na casa de Eduardo, em viagens que fizermos
foram vocês que convidaram. Essas coisas.
- Por mim sem problema. – Eduardo falou.
- Cobro taxa extra. – Fabrício brincou.
- Sabia. Você tem décimo terceiro, décimo quarto
salário, benefícios e ainda quer taxa extra? – a morena
sorriu.
- Décimo quarto salário? – Marina arregalou os olhos.
- É, meu bem. Seria uma participação nos lucros.
- Poxa, vou largar a vida de músico e virar advogada. –
desabafou.
- E não é Marina? Ser músico ta dureza. – Eduardo
brincou.
- Se ta. – disse ainda surpresa, fazendo todos rirem.

Chegando ao Rio, Lívia deixou os garotos na casa de


Fabrício e saiu com Marina. Ainda dentro do carro
perguntou:
- Almoça comigo?
- Hum... – parou pra pensar. – Almoço! – disse
beijando-a.
- Onde quer ir?
- Não sei, pode ser na sua casa?
- Lá em casa? Por quê?
- Porque lá é mais tranquilo e eu posso namorar mais
um pouco.
- Gostei da ideia.

Foram para o apartamento e Lívia pediu o almoço.


Sentaram no sofá para esperar a refeição e ficaram
namorando. Depois ela deixou Marina na porta da
faculdade.

- Vejo você hoje ainda? – ela perguntou.


- Não sei amor, que horas você sai do escritório?
- Mais tarde, como não trabalhei de manhã, deve ter
muita coisa pra fazer agora.
- Talvez quando sair, já estarei em casa.
- Eu te ligo então, pode ser?
- Pode.

Beijaram-se e se despediram.

Quando Marina saiu do carro alguns alunos a olharam


novamente e assim que pisou na faculdade deu de cara
com Monica.

- Má! Como foi de viagem?


- Nossa, foi ótima. Lá é lindo e eu trouxe um presente
pra você. – Tirou da mochila uma pequena caixa com
chocolates e lhe deu.
- Chocolate! Vou comer agora!
- De jeito nenhum! – Chegou seu professor. – Vai
comer chocolate e fazer aula? Quer babar essa gosma
na flauta menina?
- Ah, só um!
- Só se me der um também. – ele brincou.
- Má, vou pra aula e depois quero os detalhes.
- Ta bom.

Marina foi assistir a suas aulas e depois aproveitou o


horário vago para estudar. Vez ou outra Lívia mandava
uma mensagem carinhosa no celular.

À noite já em casa Marina estava estudando para uma


prova quando o celular tocou. Viu que era Lívia e
atendeu perto da janela para que Monica não ouvisse.

- Oi. – falou carinhosa.


- Oi meu anjo. Está em casa?
- Estou. E você, ainda no escritório?
- To agarrada aqui. Acho que preciso é daquela
massagem.
- Hum, podemos providenciar.
- Tem serviço delivery?

Marina morreu de rir.


- Tem, mas tem que marcar hora.
- O que está fazendo ai?
- Estudando, tenho prova na quarta, mas é tranquilo.
- Você é inteligente, sei que vai se sair bem.
- Ô melação! – Fabrício passou no fundo e gritou.
- É um abusado mesmo! – Lívia resmungou fazendo
Marina achar graça.
- Amor, não vai ficar aí até tarde. Tem que descansar,
acordamos cedo hoje.
- Eu sei, não vou demorar. Será que nos vemos
amanhã?
- Seria bom, porque eu estou morrendo de saudade. –
Marina falou em tom meloso.
- Eu também. Então bom estudo e durma bem.
- Você também. Se cuida viu? Te amo.
- Também te amo.
Desligaram e Marina voltou a estudar. A semana
passou correndo, Lívia teve vários compromissos
impossibilitando de se verem. Na quinta-feira ela ligou
para Marina logo cedo, a loirinha estava indo para a
faculdade.

- Hoje à noite você vai dormir lá em casa. – disse


enfática.
- Mas... eu não sei se... bom tem ver... – Marina estava
desconcertada, pois Monica estava do lado dela.
- Por que não sabe e tem que ver?
- É que... deixa ver quando vai acabar minha aula, aí
eu te ligo, pode ser?
- Você tem algum compromisso?
- Não, na verdade não sei, vou olhar aqui. Daqui a
pouco te ligo e falo.
- Marina?! – Lívia estava indignada.

Marina desligou já pensando numa desculpa para dar a


Monica.

- Eduardo acha que não faço mais nada no Rio.


- Que foi?
- Quer marcar um ensaio, mas eu quero estudar hoje,
porque sei que quando viajar não vou estudar nada lá
em casa. Só posso ensaiar depois que terminar tudo.
- Ele não comentou nada com Hugo.
- Porque quer passar umas músicas só comigo,
estamos escolhendo para o repertório.
- Eu hein, nunca vi isso, passar só com tecladista. De
repente ele ta afim de você.
- Que isso Monica. Ficou maluca?! Ele namora.
- Mudou de lado ué.
- Ai, vou fingir que não ouvi.

Assim que Monica entrou pra sua aula, Marina foi


correndo para o banheiro e de lá ligou para Lívia.
- Amor desculpa! Monica estava do meu lado e ela não
deixa passar nada.
- Ah eu achei isso esquisito. Não falo com você direito
quase a semana toda e quando ligo você me trata
assim.
- Me perdoa, sabe como ela é. Não posso dar qualquer
vacilo.
- Sei... – estava séria.
- Hum... não fica brava. Você disse sobre dormir na sua
casa? Eu vou, saio da aula, passo em casa rápido e
pego minhas coisas. De lá já vou para minha cidade.
- E como vai explicar isso a sua amiga?
- Dou um jeito. Digo que estou precisando ensaiar, sei
lá. Invento qualquer coisa. Pego um ônibus e vou direto
para sua casa.
- Não, vem até meu escritório. Estarei aqui ainda e
daqui nós vamos.
- Ta bom, me passe o endereço por mensagem que eu
chego aí.
- Ok. Beijos. – Lívia ainda tinha a voz em tom sério.
- Amor?
- Oi.
- Amo muito você. Minha promotora brava. – falou
baixinho. Tirando um sorriso de Lívia.

Desligaram e Marina foi estudar. Terminada a aula de


piano, teve outra aula de transposição e
acompanhamento. Tirava de letra essa matéria, pois
tinha facilidade para acompanhar uma melodia, apenas
sabendo o tom da música e tinha excelente ouvido, seu
professor já a chamava de “absoluta”, fazendo
comparação a quem tem ouvido absoluto na música.
Pois ela conseguia saber uma nota musical sem
precisar do tom ou referência. Quando saiu da aula,
esperou Mônica e no caminho de casa falou que
Eduardo tinha marcado ensaio e que não voltaria, pois
dormiria na casa dele.
- Amanhã eu só tenho aula de manhã, então vou para a
faculdade e de lá pego meu ônibus.
- Ihh, to achando que tem coisa aí.
- Que coisa menina?
- Acho que o Dudu ta afim de você.
- Para de falar besteira Monica, você sabe que o
Eduardo namora e sabe também quem ele namora.
- E daí quem ele namora? – Monica fez cara de
espanto. – Eu já disse que ele pode mudar de lado ué.

Marina olhou para a amiga incrédula, ou ela não havia


entendido ou se fazia de boba.

- Eu entendi o que quer dizer, ele é gay, mas não


impede de uma hora querer trocar de lado não é?
- Aff... essas coisas não acontecem.
- Claro que acontecem.
- Ta bom Monica, mas ele não está afim de mim, pelo
menos não acho.

Chegando em casa, Marina somente pegou sua mochila


com algumas roupas. Despediu-se de Monica pedindo a
amiga juízo no final de semana em que estaria fora.

- Comporte-se hein. Hugo vem pra cá não vem?


- Vem. – Monica sorriu.
- Então juízo.
- Sim senhora. Mande um abraço pra dona Zezé e outro
pra minha mãe.
- Cara de pau você hein. Que dia vai lá visitar sua
família?
- Vou no próximo final de semana talvez, porque esse
eu estou tocando.
- Ta certo. Beijos, fica com Deus.
- Vai com ele.

Marina pegou o ônibus e foi para o escritório de Lívia,


no caminho mandou uma mensagem para Eduardo
pedindo para confirmar que ela iria pra casa dele.
Chegando à frente do prédio, olhou para cima e depois
olhou no celular.

- Nossa! Décimo segundo andar. Ela gosta de lugares


altos.

Entrou, pegou o elevador e subiu. Chegando ao andar


indicado olhou para um lado e para outro, o escritório
era à direita. Quando se virou viu logo a placa com o
nome dela. Foi andando devagar e assim que pisou lá
dentro uma secretária muito bem arrumada a olhou de
cima a baixo.

- Pois não? Em que posso ajudá-la?


- Queria falar com Lívia.
- Qual o seu nome?
- Marina.

A secretária olhou na agenda.

- Dra. Lívia está muito ocupada, pode voltar outra


hora?
- Eu posso aguardar?
- Vai demorar garotinha. – Continuava olhando Marina
dos pés a cabeça.
- Tudo bem eu espero.
- Você quem sabe.

Marina andou até uma janela próxima e ficou


esperando em pé. Até porque a secretária não a
convidou a sentar-se. Ficou mais de meia hora parada
ali. Chegou outra garota, um pouco mais nova que a
secretária e também olhou para Marina.

- Quem é? – perguntou falando baixo para a secretária.


- Está esperando a Lívia. Vai dormir aí, porque acho
meio difícil ela atender. Nem tem hora marcada e
nunca vi na vida.

Marina podia ouvir os cochichos, mas não entendia


direito. Ficou vermelha de vergonha e queria sair
correndo dali. Nesse instante Fabrício apareceu e
arregalou os olhos.

- O que você ta fazendo aí do lado de fora e em pé? –


Disse passando direto pelas meninas e indo até Marina.
- Estou esperando Lívia.
- Tem quanto tempo que você está aqui?
- Pouco mais de meia hora.
- Jesus misericórdia, se Lívia souber disso... Vem
Marina, entra.

Marina entrou com Fabrício e foi direto para a sala de


Lívia, o que deixou a secretária e a outra garota de
boca aberta.

- Quem será esta figura? – falou a secretária.


- Não sei, só sei que é alguém que não deveria ter
esperado para falar com Lívia.

Fabrício deu uma batida na porta e logo entrou.


- Visita pra você...

Lívia estava ao telefone e sorriu fazendo sinal para que


Marina entrasse.
- Ela é toda sua. – disse o rapaz e saiu.

Marina entrou e ficou em pé parada na porta.


Discretamente olhou a sala da namorada, era parecida
com o apartamento no quesito estilo, tudo muito básico
e bem decorado, sem excessos. Os móveis eram
escuros e o piso era de madeira, havia uma janela de
vidro imensa e uma mesa para seis pessoas. Lívia,
ainda ao telefone, fez sinal para que Marina se
aproximasse dela. A beijou e continuou falando ao
telefone.

- Eu sei... pode ficar tranquilo senhor Augusto, vamos


resolver isso até segunda-feira de manhã... Até lá,
obrigada. – desligou. – Oi meu anjo, demorou. O
trânsito ta ruim?
- Nem tanto. Tudo bem?
- Melhor agora. – Lívia puxou Marina e beijou sua boca.
– Ô saudade dessa boca gostosa.
- Eu também, sonhei com você a noite toda. Acordei
até mais feliz.
- Sonhou o que?
- Não posso falar essa hora, é imprudente.

Lívia achou graça, beijou seus lábios e a abraçou


sentindo seu perfume.

Estavam de chamego quando alguém bateu na porta,


Marina se afastou rapidamente e Lívia autorizou que a
pessoa entrasse.

- Lívia, chegaram esses papéis do escritório do senhor


Augusto.
- Sim, falei com ele agora pouco, estava esperando
esses documentos. Obrigada.
- Aquele cliente que ligou de manhã, já ligou mais três
vezes, o que eu faço com ele?
- Nossa que cara chato, já disse que não pego pensão
familiar. Cruzes! Vou mandar prender esse sujeito. –
falou revirando os olhos. – Não paga pensão poxa.

A secretária olhou para Marina que estava sentada na


cadeira em frente à promotora.
- Mais alguma coisa? – disse olhando para a loirinha.
- Não, obrigada.

A secretária já ia saindo quando Fabrício entrou.


- Lívia, tem que avisar a Érica que Marina aqui é passe
livre, ela a deixou esperando lá fora por mais de meia
hora. Se eu não chego, ela tava lá até agora.
- Como é que é? – Lívia fechou o cenho.
- Ela não tinha hora marcada e eu achei que era...
- Você não é paga para achar nada Érica, da próxima
vez me avise. Se vem aqui só pra me avisar de um
cliente chato, como não pode me avisar que alguém me
espera lá fora? Use essa cabeça ruiva para alguma
coisa, por favor.
- Me desculpe... – A secretária estava totalmente
desconcertada.
- Preste atenção, Marina pode entrar na minha sala a
hora que ela quiser, ouviu bem? Mesmo que eu estiver
em reunião, atendendo o Papa, ela entra na minha sala
quando bem entender.
- Ok.

Érica saiu da sala e Fabrício que estava ao lado


aproveitou e fechou a porta.
- Eu tinha que falar. Podia até ter deixado passar, mas
ela é tão petulante que não aguentei. Érica trata as
pessoas do modo que lhe convém e de acordo com as
aparências. Ainda vai aprender a não julgar pela capa.

A forma como ele falou deixou Marina sem graça, pois


parecia que ela não tinha boa aparência então. Lívia
também percebeu, mas viu que o rapaz não falou com
má intenção. Após deixar uns papéis na mesa de Lívia
ele saiu e se despediu das duas, dizendo que ia
embora.

- Fabrício, eu disse a Monica que teria ensaio somente


com Eduardo hoje e dormiria na casa dele. Qualquer
coisa você confirma viu?
- Tudo bem, daqui a pouco ela vai pensar que vocês
dois tem alguma coisa.
- Já pensou. – Marina riu.
Despediram-se e ele saiu.
- Está séria, que houve? – Lívia perguntou.
- Não, estou normal.
- Érica te tratou mal?
- Não! – respondeu rapidamente. – Ela foi educada.
- Não tratou mal, mas também não tratou bem não é?
- É, mas não tem problema.
- Depois vou conversar com ela. Vem cá, vem. – Lívia
fez sinal com a mão.

Marina se aproximou e a morena a fez sentar em seu


colo, beijou seu rosto e acariciou seus cabelos.
- Está com fome?
- Ainda não.
- Hoje vou pedir comida japonesa, sei que você adora.
- Hum, eu gosto mesmo! – ela sorriu. – Ainda tem
muito trabalho?
- Mais ou menos, mas é jogo rápido. Preciso dar
andamento num processo para Fabrício e depois vamos
embora.
- Posso me sentar àquela mesa para estudar?
- Claro amor. Vai estudar agora?
- É que semana que vem tenho um trabalho para fazer,
então peguei um livro para ler. Como lá em casa não
vou estudar mesmo, vou aproveitar e adiantar
enquanto estou aqui.
- Tudo bem.

Marina ficou lendo seu livro enquanto Lívia terminava


seu trabalho, instantes depois Érica bateu na porta e a
promotora autorizou sua entrada. Ela apenas se
despediu dizendo que estava indo e desejou bom final
de semana à ela e à Marina, que foi educada
retribuindo. Quando Lívia terminou, reuniu os papéis
ao centro da mesa e ajeitou suas coisas, era
extremamente organizada. Levantou-se e foi até
Marina, que concentrada, nem viu que a namorada se
aproximava.
- Já terminei. – beijou o topo de sua cabeça.
- Nossa nem vi você se aproximando, estou
concentrada aqui. – Marina estava com o livro aberto e
um bloco ao lado fazendo anotações.
- Nossa já anotou isso tudo?
- Sim, na verdade eu estou anotando é muita coisa,
mas o livro é ótimo, fala sobre música renascentista.
- Pra quando é o trabalho?
- Quarta-feira que vem.
- Então dá tempo.
- Ah dá sim.
- Vamos?
- Vamos.

A loirinha recolheu suas coisas e foram embora.

No apartamento, enquanto Marina deixava suas coisas


no quarto, Lívia ligava para pedir o jantar. A loirinha
desceu as escadas e abraçou a namorada, que ainda
estava ao telefone e repousou a cabeça em seu peito.
Lívia enlaçou sua cintura e pousou o queixou na cabeça
dela. Gostava desses gestos carinhosos que a loirinha
tinha.

- Quer tomar um banho, meu anjo? – falou colocando o


telefone no gancho.
- Preciso, saí da aula e só peguei minhas coisas em
casa e vim.
- Então vamos.

Já iam subindo quando telefone tocou e Lívia atendeu.


- Oi Lala! – disse brincando com Larissa.
- Lívia, liguei no seu celular e não atende. Vamos sair?
- Meu celular deve estar descarregado. Hoje não, vou
ficar em casa, tenho um compromisso.
- Amanhã, Carlos e eu vamos numa festa de
inauguração de uma nova casa de shows aqui no Rio.
Vamos? Tenho convite VIP.
- Vamos ver, de repente dá pra ir. Amanhã eu confirmo
com você, pode ser?
- Claro, te espero ligar.
- Ok, beijos.

Despediram-se.
- Quem era?
- Larissa, minha amiga. Ela estava aqui aquela vez do
coquetel, lembra?
- Lembro, casada com aquele moço, o...
- Carlos.
- Isso.
- Estava me chamando para sair, mas hoje eu tenho
outros planos. – beijou Marina.
- E amanhã? Ela convidou para que? – disse meio
desconfiada.
- Acho que uma inauguração, de uma casa de show.
- Ah sim.
- Não sei se vou. – Lívia falou com descaso.
- Por que não? Se estiver afim, vá se distrair ué, sei
que você gosta e ainda vai ficar sozinha. Ou você vai
para Mauá?
- Eu disse que ia, agora não sei.
- Então aproveita o convite dos seus amigos.
- Posso ir mesmo? – Lívia parecia uma criança pedindo
alguma coisa.
- Claro meu bem. – Marina mexeu em seus cabelos. – E
que é isso de pedir? Não precisa da minha autorização.
- Achei que não fosse gostar da ideia de me ver saindo
sozinha.
- Não! Eu não gosto é de ver esse bando de mulher
folgada dando em cima de você, mas isso não tenho
como controlar. Eu confio em você. – Marina tentou
transmitir sinceridade em suas palavras.
- É, vou ver se vou. Se eu me animar.
- Isso. – beijou seus lábios.
- Confia mesmo em mim?
- Confio. Porque te amo e sei que me ama também.

Lívia pegou a loirinha no colo e a levou para o banheiro.


Colocou a banheira para encher e despiu Marina bem
devagar. Deixou que ela tirasse sua roupa também e
quando estavam completamente nuas, entraram na
banheira. Lívia ligou a hidromassagem e colocou a
loirinha sentada em seu colo, de frente para ela.
Beijaram-se por um longo tempo, entre carícias e
sorrisos.

- Acho que uma das melhores coisas do mundo é poder


se aconchegar nos braços de quem se ama. – Marina
falou deitando a cabeça no colo de Lívia e a abraçando.

A morena fechou os olhos e a aconchegou.


- Vou sentir sua falta esse final de semana. Mesmo com
pouco tempo que nos conhecemos, sinto como se
fizesse parte da minha vida há muitos anos.
- Eu também sinto sua falta, todo dia que não te vejo.
Aí fico contando as horas pro dia passar.
- Meu dia tem passado rápido, com tanto processo pra
ler que quando vejo o dia acabou.
- Ta trabalhando muito amor. Vem, vire-se que eu vou
fazer sua massagem.
- Hum, eu bem ia pedir mesmo.
- Nem precisa, vou fazer sempre que estivermos
juntas.

Lívia mudou de posição ficando de costas para Marina,


relaxou os ombros e fechou os olhos apenas sentindo
aquelas mãos delicadas. Marina só parou porque o
interfone tocou. Havia um no banheiro e ela mesma o
atendeu.

- Amor é o jantar.
- Fique aí, vou lá pegar.
- Vou sair também.
- Tem um roupão que comprei pra você, está no guarda
roupa.
- Ta.

O roupão era branco e felpudo, tão macio que Marina o


abraçou vestida nele. Lívia usava um parecido, porém
negro. Desceu as escadas e encontrou a namorada
ainda na porta. A ajudou com os pacotes.

- Na cozinha?
- Não amor, na sala mesmo.

Marina levou para sala e ajeitou a mesa.


- Eu comprei saquê, você já tomou?
- Não. É meio forte, acho que sou fraca para bebida.
- Experimente, mas se não gostar, tem suco na
geladeira.

Sentaram e comeram conversando sobre a semana de


trabalho e faculdade. Marina se distraiu e tomou saquê
tanto quanto Lívia. Ao fim do jantar, já estava
vermelha e rindo das histórias que a namorada
contava. Quis se levantar para ir ao banheiro, mas
sentiu as pernas bambas e quase caiu.

- Opa! Acho que tem alguém leve demais.


- Leve eu?! Quem me dera, sou mais pra pesinho de
porta.
- Não diga besteiras, vem, vou te ajudar.
- Acho que beber esse troço não foi uma boa ideia.
- Já vai passar.

Lívia carregou Marina no colo até o quarto, ligou o ar,


pois fazia calor. Havia um pequeno frigobar, que ela
quase não usava, mas sempre mantinha pelo menos
água dentro dele. Pegou uma garrafa e deu à loirinha.

- Tome meu anjo, água vai ajudar.


- Eu preciso mesmo é fazer xixi e não beber água. –
disse meio mole.
- Sim, mas beba água também.

Marina foi se levantar para ir ao banheiro e caiu de


joelhos. Lívia olhou a cena, não sabia se ria ou se
ficava preocupada. Levou a garota para debaixo do
chuveiro, tirou seu roupão e deixou cair uma água fria.
Sentiu pena, pois Marina se encolheu toda.

- Esse banho vai tirar essa moleza.

Quando ela saiu a morena a enxugou e levou para a


cama, deu mais água a ela e se deitou fazendo Marina
deitar em seu peito.

- Amor, assim eu vou dormir.


- Melhor que durma mesmo, senão pode demorar a
passar o efeito.
- Mas eu queria... – Marina parou de falar.
- Queria?
- Fazer amor com você... – Falou em tom meloso. –
Porque amanhã eu vou viajar e só vou te ver semana
que vem...
- Eu sei amor, mas...
- E se eu não fizer isso... – Marina se levantou com
certa dificuldade e ficou de frente para Lívia
completamente nua. - ...você pode sentir vontade e
procurar em outra...

Lívia colocou a mão nos lábios dela a interrompendo.


- Não diga isso, nem que fiquemos um ano sem fazer
amor, não vou procurar outra pessoa. Não estou com
você por causa de sexo, estou porque te amo.
- Mas a tentação é grande. – Fez um gesto engraçado
enfatizando a última palavra.

Lívia achou graça.


- A minha tentação é você agora, toda linda e nua na
minha frente.
- Então vem aqui... – Marina fez sinal com o dedo
indicador e um sorriso sem-vergonha nos lábios.
- Ah Marina, não me provoque.
- Vem... – Foi se afastando lentamente, até mesmo
para não cair da cama, ainda se sentia zonza.

Lívia a puxou e colou seus lábios nos dela.


- Gostosa!

Beijou com paixão e lambeu seu corpo todo, mordeu,


passeou suas mãos por todos os cantos. Marina gemia
e se entregava as carícias de Lívia, que a pegou pela
cintura e fez ajoelhar na cama ficando de quatro,
chegou por trás levando a mão em seu sexo e
massageou devagar, sentindo o líquido escorrer entre
os dedos.

- Está molhada... delícia... – a voz de Lívia saiu rouca.


Mordeu os ombros da loirinha e apertou o bico do seio.
Marina sentia as pernas bambearem, quando gozou
deixou seu corpo cair na cama, com Lívia caindo em
cima dela. Virou rapidamente e puxou a morena
fazendo-a se ajoelhar em frente ao seu rosto, levou a
língua direto em seu sexo, segurando Lívia pela cintura
e apertando contra sua boca. Marina sentia aquele
gosto indescritível que a promotora tinha e não se
importou em demorar, queria curtir aquele momento.
Passava a língua com vontade para depois deixar só a
pontinha em cima do clitóris. Quando viu que a morena
ia gozar, levou a mão até sua abertura e introduziu dois
dedos com estocadas fortes. Lívia caiu sobre ela com a
respiração entrecortada e ofegante. Olharam-se com
carinho e Marina a abraçou.

Lívia levantou a cabeça e ficou olhando diretamente nos


olhos da loirinha.
- Que foi?
- Estou pensando em como fazer você acreditar que te
amo e que não penso em mais ninguém.

Marina ficou calada somente olhando naqueles olhos


azuis. Respirou fundo e falou tentando ser o mais
sincera possível.
- Eu confio, mas às vezes acho que sou pouco para
você. Que uma hora ou outra vai se cansar de mim.
- E me diz como vou me cansar?
- Não sei, eu sou nova, tenho que correr atrás da
minha independência ainda, sou uma estudante pobre e
há muitas diferenças nesse aspecto entre você e eu.
Sua vida social é totalmente diferente da minha, seus
hábitos.
- Vida social se muda e hábito não é uma necessidade.
Posso mudá-los também.
- Pra que? Por quê? Por mim?
- Sim.
- Isso não é justo.
- Não é questão de justiça, é de vontade. Se eu achar
que devo, eu mudo.
- Mas se você é assim hoje é porque gosta e vai mudar
pra que?
- Já parou para pensar que sou assim por falta de
opção?

Lívia se endireitou e sentou na cama puxando Marina


para se sentar frente a ela.
- Minha linda, certas coisas que faço na vida são pela
mais pura falta de opção. Se saio para festas, bares e
boates é porque não tenho companhia em casa. Mamãe
sabe o quanto me custa ficar sozinha. Ela só não mora
aqui comigo, porque não tenho coragem de tirá-la da
tranquilidade de Mauá. Às vezes acho que você não me
conhece direito.
- Acho que não conheço mesmo. – Marina baixou a
cabeça. – Faz poucos meses que estou aqui no Rio.
- Então, com o passar do tempo, vamos nos
conhecendo e verá que sou diferente do que pensa.
Mas isso é fruto do que Fabrício falou de mim, tenho
certeza.
- Não é isso...
- Tudo bem, entendo a postura dele. Agora me dá um
abraço, bonitinha. – Lívia apertou a loirinha contra seu
corpo e deitaram na cama. Adormeceram pouco depois.

No dia seguinte Marina acordou cedo para ver a hora,


Lívia ainda dormia. Viu que tinha tempo para a aula.
Ligou a TV bem baixinho e ficou assistindo. Não
demorou muito para que a morena acordasse.

- Bom dia meu amor! – Marina a beijou.


- Bom dia. Já acordou?
- Faz pouco tempo. Achei que tinha perdido hora.
- Você tem aula? Não pode faltar?
- Tenho. Não gosto de faltar, podem passar alguma
coisa importante.
- Não pode pegar com Monica?
- Ela não faz essa matéria. Por que de tantas
perguntas?
- É que tirei a manhã pra ficar com você, já que vai
viajar queria curtir mais sua companhia. – falou em
tom sério.
- Ô meu bem, então eu fico com você. – acariciou seu
rosto. – Achei que ia trabalhar, você não falou nada
ontem. – a abraçou deitando a cabeça em seu colo. –
Convite mais que aceito, eu tava com preguiça de ir à
aula mesmo.
- Você disse que não gosta de faltar.
- Gostar não gosto, mas por um motivo desses, eu falto
uma semana se precisar.

Lívia gostava do jeito de Marina falar, era espontânea.


Passaram a manhã na cama namorando e fazendo
amor. Nem tomaram café, só almoçaram. Lívia levou
Marina na rodoviária e se despediram dentro do carro
com beijos apaixonados.

- Juízo aqui hein mocinha.


- Juízo lá bonitinha.
- Pode deixar, te mando mensagem quando chegar.
- Quando volta?
- No domingo à noite eu saio de lá e chego aqui na
segunda cedinho.
- Te pego aqui na rodoviária. Quando estiver entrando
no Rio me avise.
- Não amor, é muito cedo.
- Eu venho, fique tranquila.

Beijaram-se de novo e saíram do carro. Lívia a levou


até a roleta de embarque e lá lhe deu um abraço.
Esperou que Marina entrasse no ônibus e ele saísse.

Assim que se sentou e se acomodou a loirinha mandou


uma mensagem para Monica dizendo que estava saindo
e desejou bom final de semana. Mais no meio do
caminho mandou uma mensagem toda carinhosa para
a namorada. Quando chegou na capital, trocou de
rodoviária e foi para o terminal da barra funda, pegou o
outro ônibus para Jaú e chegou em casa quase a
noitinha. Foi recebida pela família quando desceu do
ônibus.

- Mãe! Que saudade! – abraçou a mãe e se dirigiu a seu


pai. – Tudo bem pai?
- Tudo ótimo. Como foi de viagem?
- Tranquila, dormi quase o trajeto todo.
- Que novidade! – a mãe brincou, pois sabia que a filha
sempre dormia em qualquer viagem.

Foram para casa e lá Marina contou as novidades do


Rio, claro omitindo o namoro. Mas não escondeu que
conheceu Lívia, falou sobre todo mundo. Mostrou
algumas fotos, inclusive as de Mauá.

- Que lugar lindo! – falou Maria José.


- Lá é muito legal, tem cada cachoeira mais bonita que
a outra.
- E você foi com esse pessoal? – perguntou apontando
para Eduardo, Fabrício e Lívia.
- Sim. Esse aqui é o Dudu, o que toca comigo. Esse o
Fabrício o... – parou para pensar. ...amigo dele e Lívia
que é prima de Fabrício. A mãe de Fabrício e a de Lívia
moram em Mauá. São irmãs.
- Bonita essa moça!
- Mãe ela é alta! Olha nessa foto a diferença de
tamanho dela pra mim. – Marina brincou.
- É. – Maria José ficou reparando na foto das duas.
- Dudu estuda violão, está no quarto período. Lívia e
Fabrício são advogados, ela na verdade é promotora e
os dois trabalham juntos. A mãe dela é muito legal,
muito simpática.
- E Monica, não foi nessa viagem?
- Ih, a senhora nem sabe. Monica agora só tem olhos
para o Hugo, o baixista da banda. Os dois tão que tão
num chamego.
- Começou a namorar muito rápido, daqui a pouco
desanda nos estudos.
- Que isso! Ela tem juízo, é meio avoada, mas sabe dos
seus compromissos.

Marina contou todas as novidades, falou do concerto


que tinha participado e das aulas na faculdade, jantou
com a família e no sábado de manhã foi para o sítio.
Passou o final de semana lá.

Lívia saiu com Carlos e Larissa para a tal inauguração


da casa de show, mas não se divertiu, pensava o tempo
todo em Marina e contando as horas para ela voltar.
Assustou-se com tal pensamento, pois nunca havia tido
essa atitude.
- Mãe, queria mudar um pouco as minhas roupas. –
Marina falou se olhando no espelho.
- Que tem de errado com elas?
- Acho que me deixam muito menininha. Monica fica
dizendo que eu pareço ter menos idade do que tenho.
- Quando tiver com quarenta anos e alguém lhe disser
isso você vai adorar.

Marina achou graça da mãe.


- Vou deixar esses vestidos aqui.
- Se quiser, podemos ir à rua para comprar alguma
coisa. Se você acha que está fora da moda, mas eu não
acho.
- Não é fora de moda. É mudar um pouco só. Mas não
vou comprar nada agora, preciso economizar.
- Seu pai não está mandando dinheiro para você. Posso
te ajudar se quiser.
- Não precisa, guarde para alguma eventualidade. Eu
vou me virando lá no Rio.

Marina só retornou à cidade depois do almoço no


domingo, pois queria preparar suas coisas para voltar.
Aproveitou bem a companhia de todos e matou a
saudade da sobrinha, não desgrudou dela. Antes de ir
embora sua mãe lhe deu uma roupa nova atendendo ao
pedido da garota por querer mudar de estilo. Quando
chegaram do sítio, ela foi correndo na cidade e
comprou uma calça e uma blusa.

- É mais ou menos assim que você quer? – mostrava a


calça com a blusa em cima da cama.
- Mãe, não precisava, eu disse que ia ver isso depois.
- Que nada, é um presente.
- Obrigada.

Marina aproveitou também para levar o biquíni, caso


precisasse no Rio. A loirinha se despediu de todos com
os olhos cheios de lágrimas. Saindo da cidade ligou
para Lívia.

- Oi. – a voz ainda estava chorosa.


- Que foi lindinha?
- Estou saindo daqui ta.
- E essa voz, o que é?
- Ah... nada, só saudade do pessoal. Minha sobrinha ta
linda, estou levando fotos para você conhecê-la.
- Vou adorar. Não fique triste que logo você vai vê-los
de novo.
- Agora só nas minhas férias.
- Vai passar rápido amor.
- É, vai sim.
- Te espero amanhã cedo viu. Faz boa viagem.
- Obrigada. Amo você.
- Também te amo.

Despediram-se e Marina virou de lado, ajeitou o


travesseiro e dormiu. Chegando em São Paulo, fez o
caminho inverso, saiu da Barra Funda indo direto para
o terminal do Tietê para pegar o ônibus para o Rio.
Eram seis horas da manhã quando chegou na entrada
da cidade e ligou para Lívia como ela havia pedido.
Assim que desceu do ônibus a namorada já a esperava
com uma caixa nas mãos. Marina veio sorrindo e a
abraçou.

- Saudade desse abraço! – Lívia falou apertando-a.


- Eu também. Fiz você acordar cedo amor.
- Acordaria até de madrugada para vir te buscar. Isso
aqui é pra você. – Entregou a caixinha e pegou Marina
pela mão e foram para o carro.

Dentro do veículo a loirinha, com a caixa no colo, olhou


curiosa.
- O que é?
- Abra.
Marina abriu e viu um bichinho de pelúcia tocando um
piano.
- Que lindo! – abraçou-o. – E tem o seu cheirinho.
- Sim, como diz Fabrício, tive a ideia mais original de
todas, passar meu perfume no bichinho. – Lívia se
referia à cena que Fabrício tinha visto dela passando
seu perfume no presente. – Não sabia que todo mundo
fazia isso.
- Geralmente é para a pessoa se lembrar de quem deu
o presente, mas eu nunca me esqueço de você. –
inclinou-se para beijá-la. – Obrigada.
- Como foi lá? Matou a saudade? – ligou o carro e saiu.
- Foi ótimo, aproveitei para descansar, comer a
comidinha da mamãe e curtir a sobrinha. Ela ta linda
amor, tem que ver que fofura. Já manda beijinho pra
gente. Tirei umas fotos pelo celular. – Marina mostrou
as fotos e Lívia ficou encantada.
- Que linda. Ela se parece com você. Tem os olhos
parecidos.
- Minha cunhada falava que ia olhar para meus olhos,
para que Isa nascesse com os meus, da mesma cor.
Deve ter funcionado.
- É verdade.
- E seu final de semana?
- Fiquei em casa o sábado todo e à noite fui naquela
inauguração, mas voltei cedo, não teve nada demais lá.
Domingo eu fui a Mauá e voltei, cheguei de noite.
- Minha mãe achou você muito bonita. Ela te viu nas
fotos de Mauá. Eu tive que me controlar para não ficar
só falando de você o tempo todo, mas a minha vontade
era dizer que eu tinha a namorada mais linda do mundo
e que ela tomou conta do meu coração.

Aquelas palavras foram o presente para Lívia por


acordar tão cedo.
- Quer ir lá para casa meu bem? Assim você descansa.
- Ta bom. Preciso mesmo esticar a coluna, o ônibus não
é ruim, mas o bom mesmo é uma cama.

As duas chegaram ao apartamento e Marina tomou um


banho para relaxar. Quando saiu do banheiro estava
somente de calcinha e sutiã. Lívia não estava no
quarto. Deitou na cama e esticou os braços para trás
fechando os olhos. Respirou fundo e somente relaxou.
Minutos depois sentiu o perfume de Lívia e um peso
sobre seu corpo. Sorriu para ela ainda com os olhos
fechados.

- Está sorrindo. Como sabe que sou eu?


- Senti seu perfume e ouvi seus passos. – Marina abriu
os olhos e a abraçou.
- Eu entrei descalça no quarto.
- Mas eu ouvi.
- Está com sono?
- Não. Só com o corpo meio dolorido.
- Então deixa sair de cima de você.

Lívia fez menção de sair, mas Marina a segurou.


- Não. Fique. Eu gosto. – fechou os olhos e puxou a
morena.

Lívia não conseguiu ficar quieta por muito tempo, sentir


aquele corpo só de calcinha e sutiã embaixo dela era
demais para seus instintos. Começou a se esfregar e
em poucos minutos já tinha tirado as roupas íntimas da
loirinha e as suas roupas. Não tinha pressa em fazer
amor, só queria sentir o cheiro e o gosto da namorada.
Depois de muitas carícias chegaram ao clímax e se
abraçaram. Marina se sentia nas nuvens, uma sensação
de prazer e aconchego. Era sempre o que sentia
quando estava com Lívia.

- Te amo. – Falou baixinho em seu ouvido.


- Você é o amor da minha vida. – Lívia disse num
sussurro quase inaudível.
Adormeceram abraçadas.

Monica estava na faculdade quando encontrou com


Eduardo saindo de uma aula.
- E aí Dudu. Como foi o ensaio?

Eduardo imediatamente lembrou-se do combinado com


Marina.
- Rendeu bem. Passamos umas músicas, excluímos
algumas do repertório.
- Vão voltar esse final de semana não é?
- Pois é. Estou ansioso, passei pelo bar outro dia e já
estavam nos acabamentos.
- E eu não estarei aqui, vou pra casa nesse fim de
semana.
- Ah que pena. Marina foi esse final de semana não é?
Eu a levei na rodoviária.
- É, ela chega agora de manhã. Nem sei se vem direto,
deve estar moída da viagem.
- Imagino, depois ligo pra ela pra saber das novidades.

Marina se remexeu na cama e acabou acordando Lívia.


A loirinha virou de bruços e continuou dormindo. Lívia a
acordou com um beijo na nuca.

- Ei mocinha, vamos acordar?


- Hum, tirei um sono bom. – se espreguiçou.

Lívia a puxou pela cintura para beijá-la.


- Você não está com fome?
- Um pouco.
- Vem almoçar então. Depois te levo para a faculdade.

Almoçaram juntas e Lívia levou Marina, dessa vez a


deixou perto da faculdade, pois Monica podia estar por
perto e desconfiar. Marcaram de se falar a noite quando
chegassem em casa.

À noite, assim que Marina entrou no apartamento


Monica a encheu de perguntas.
- E a viagem? Foi boa? Como ta o pessoal? Deu recado
a minha mãe? Que urso é esse?
- Calma! Foi tudo bem e não dei o recado, mas pedi a
minha mãe que falasse com ela. Esse urso eu ganhei
da... minha mãe. – Marina despistou.
- Lindinho ele. Eu vou nesse final de semana. Devo sair
daqui na quinta a noite. Porque nesta sexta tenho uma
aula que não é importante.
- Que bom, vai poder aproveitar mais um dia. E aqui,
tudo correndo bem?
- Sim, esse final de semana fiquei na casa de Hugo.
- Achei que ele viria pra cá.
- Não, achamos melhor ficar por lá. Só no domingo que
apareci para ajeitar algumas coisinhas.

As duas conversaram por um tempo e depois foram


dormir.
- Você até que não ta com cara de cansada. – Monica
observou. – Deve ter dormido a viagem toda.
- Dormi bastante. Mas quero uma cama agora. Dormir
uma noite no ônibus não é nada bom.
- Verdade. Durma bem então.
- Até amanhã.

Assim que entrou no quarto, Marina mandou


mensagem para Lívia desejando boa noite.

A semana correu tranquila, Marina entregou o trabalho


e teve aulas dobradas de piano. Monica estava na
expectativa da viagem e para compensar o namorado
dormiu na casa dele todos os dias da semana. O que
possibilitou Marina de falar mais à vontade com Lívia.
Ao telefone as duas marcavam de se encontrar.
- Amor, Monica viaja amanhã à noite. Então eu queria
te fazer um convite.
- Que convite?
- Quer jantar comigo? Aqui em casa mesmo, uma
coisinha simples.
- Hum... jantar. Deixa ver na minha agenda... – Lívia
fez de difícil.
- Olha direitinho, se você não puder, eu chamo a outra.
- Engraçadinha. Claro que eu aceito. Preciso levar o
que?
- Traga você. Só isso.

Despediram-se combinando o horário do jantar. Na


quinta de manhã, depois que saiu da aula, Marina foi ao
mercado comprar os ingredientes para o jantar. Chegou
em casa, preparou os ingredientes, deixando tudo
quase pronto. Iria fazer um escondidinho de camarão.
Cozinhou as batatas e preparou o recheio. Depois foi
tomar um banho. Quando saiu, acendeu um incenso e
ligou o pequeno som que Monica havia trazido de casa.
Lívia tocou o interfone e em seguida já batia na porta.

- É aqui que mora a pianista mais linda e talentosa do


Rio de Janeiro?
- Ih, acho que a senhorita se enganou de casa. Aqui
mora uma pianista iniciante e feinha.
- Acho que ela não tem espelho em casa. – Lívia entrou
e a beijou com paixão. – Está cheirosa.
- Acabei de sair do banho.

Marina estava com um vestido preto mais soltinho e


sandálias baixas.

- Esse vestido é novo?


- Não, eu trouxe de casa, ele é fresquinho e nesse calor
que faz no Rio, tem que ser uma coisa assim.
- Adoro quando usa vestido.
- Eu fico meio menininha. – Marina fez uma careta. –
Falei com minha mãe que quero mudar um pouco meu
visual. Monica vive dizendo que me visto que nem uma
garotinha.
- Eu prefiro sem roupa, mas você insiste nesse negócio
de se vestir. – brincou.
- Safada. – Marina lhe deu um tapa no braço. – Vem,
estou preparando nosso jantar.
- Está cozinhando? – Lívia perguntou surpresa.
- Estou ué.
- Tirando minha mãe, ninguém nunca cozinhou pra
mim. – a morena falou meio sem jeito.
- Então sou a primeira? Espero que esteja com fome,
assim a comida desce melhor.
- Falo sério. Ou é a comida da minha mãe ou pago para
cozinharem pra mim.
- Pois então vou te cobrar um preço alto. – Marina se
aproximou dela toda insinuante.
- Diga seu preço que eu pago. – falou num sorriso
safado e levantando uma sobrancelha.
- Vai sair caro. – Marina parou se encostando ao marco
da porta da cozinha.
- Vale a pena. – olhou-a de cima a baixo.

A loirinha voltou para a cozinha e continuou preparando


o jantar. Lívia chegou por trás dela e beijou seu
pescoço.

- Já disse que te amo hoje?


- Ainda não.
- Eu te amo. – falou baixinho em seu ouvido.

Marina se virou e enlaçou o pescoço de Lívia com os


braços.

- Também te amo. – beijou sua boca. – Agora deixa eu


terminar esse escondidinho.
- E ta escondendo o que? – brincou.
- Camarão.

Lívia sentou-se em uma cadeira e ficou observando


Marina na cozinha. Tinha um jeito todo delicado.

- Como foi essa semana na faculdade? – puxou


assunto.
- Fiz aula dobrada de piano. Marconi me passou uma
lista de músicas novas, ta me dando trabalho.
- Você dá conta. Vai ter outro concerto?
- Acho que não, pelo menos não tem nada programado.
– Marina colocou o escondidinho no forno e se voltou
para Lívia. – Pronto, agora só assar.
- Estou com fome.
- Eu também, vim da faculdade direto, nem comi nada,
tomei banho e fui preparar o jantar.
- Minha fome é você. – Lívia a puxou pela mão, fazendo
Marina sentar em seu colo de frente com as pernas
aberta.
- Ei, quer deixar de ser assanhada? Estou de vestido e
você me puxando assim?
- Não tem nada aqui que eu já não tenha visto. –
beijava seu pescoço e percorria seu corpo com as
mãos.
- Sim, mas isso fica pra depois. – Marina segurou as
mãos da namorada. – O jantar primeiro.
- Não posso ir direto para a sobremesa? – voltou a
acariciá-la.
- Sou sua sobremesa? – sorriu.
- A mais deliciosa de todas. – Lívia a beijou, dessa vez
sendo correspondida. Ficaram num amasso gostoso até
que o cheirinho do escondidinho tomou conta da
cozinha.
- Está pronto. – Marina falou sentindo as mãos de Lívia
passearem por debaixo do vestido.
- Depois a gente come.
- Mas tenho que tirar do forno amor, senão vai
queimar.
Lívia parou com as carícias e respirou fundo.

- Calma! – Marina sorria.

Levantou e tirou a travessa do forno, colocou na mesa.

- Que cara ótima! – Lívia olhou a travessa com cobiça.


- Vamos ver o gosto. - Pegou os pratos e os talheres. –
Amor, quer tomar suco ou refrigerante? Eu não comprei
vinho, não sabia qual era bom. No mercado tinha uns
que julguei serem bons, mas eram caros. – disse
arregalando os olhos.
- Vamos tomar suco, mais leve.
- Ta bom.

Marina serviu Lívia e depois se serviu.


- Nossa! Está uma delícia.
- Muitas vezes minha mãe estava na roça e eu tinha
que me virar. Acabei tomando gosto pela cozinha.
- Muito bom, agora eu caso. – Lívia sorriu.
- Mas eu não sou muito boa pra passar roupa, lavar até
que me viro também.
- Arrumei uma mulher completa, pianista, cozinheira,
inteligente, linda e gostosa.

Marina sorriu timidamente. Às vezes ficava


desconsertada com os elogios de Lívia.

Terminaram o jantar e foram para a sala. A loirinha


ficou um pouco sem jeito, pois estava óbvio que seu
apartamento era bem mais simples que o de Lívia e não
tinha muitas coisas para fazer.

- Amor, aqui não tem TV por assinatura, mas se quiser


podemos assistir um filme, tem uma locadora aqui
perto.
- Não vim aqui pra ver TV. Vim pra namorar. – disse
abraçando Marina e a beijando na testa. – Adorei o
jantar.
- Gostou mesmo? – A loirinha envolveu seu pescoço
com os braços.
- Gostei, você cozinha muito bem e como disse, nunca
ninguém cozinhou pra mim.
- Então daqui pra frente você será minha cobaia.
Porque eu adoro inventar pratos e testar receitas
novas.
- Eu vou adorar. – Lívia sentou no sofá junto com
Marina. – Monica fica até segunda em são Paulo?
- É, essa semana mal a vi, ficou na casa de Hugo. Ele
só não vai com ela porque tem show amanhã.
- Ah é mesmo! Vou lá te ver.
- Estou curiosa para ver como ficou a decoração nova.
Ensaiamos essa semana, refrescamos a memória para
algumas músicas e tiramos algumas novas.

Marina queria fazer um convite a Lívia, mas ficou meio


sem jeito, arriscou assim mesmo.

- Você quer dormir aqui comigo hoje? O apartamento é


simples, não tem vista para o mar e nem a minha cama
é de casal, mas a de Monica é, podemos ficar lá e...
- Vou adorar! – Lívia respondeu antes que ela
terminasse de falar. – Mas eu prefiro a sua cama
mesmo. A gente se ajeita lá.
- Vai ficar apertado.
- Dou um jeito nisso.

Deitadas no sofá, namoraram e conversaram até o


sono chegar. Depois foram para o quarto. Marina bem
que tentou ajeitar a cama para que ficasse mais
confortável, mas não deu muito certo. Lívia, que já
tinha tirado sua roupa, estava só de calcinha e sutiã.

- Não trouxe roupa de dormir e acho muito difícil uma


sua caber em mim.
- Vai ficar só um pouco pequena.
- Ahan. – segurou o riso. Deitou na cama e chamou
Marina. – Deita, eu te abraço e assim dá pra dormir.
- Vou ficar praticamente em cima de você.
- Quer coisa melhor? Eu to adorando.
- Boba.
- Melhor ainda se tirar a roupa e ficar que nem eu.
- Mas é muito safada, não é Lívia?
- E você adora.

Marina riu, tirou a parte debaixo do pijama ficando só


de calcinha e a blusa que usava.

- Se eu tirar a blusa fico sem nada, não estou usando


sutiã.
- Também não ligo se tirar.

A loirinha deitou e se aproximou de Lívia encostando o


rosto em seu peito e abraçando sua cintura.

- Amor? – Lívia chamou.


- Oi.
- Você vai dormir? – perguntou um tanto curiosa.

Marina achou graça da pergunta. Se remexeu,


levantando-se da cama e sentando em cima do púbis
da morena. Aquela posição já acendera os instintos da
morena. Marina passou as unhas pela barriga de Lívia e
arranhou de leve, causando um arrepio. Lívia enfiou as
mãos por baixo da blusa de pijama e segurou a cintura
da namorada, fez menção de puxá-la para baixo, mas
Marina não deixou, num movimento rápido tirou sua
calcinha e a de Lívia, começou a se esfregar nela, ainda
sentada em seu púbis. Lívia fechou os olhos e sentiu o
contato, estava molhada. Marina tocou o clitóris dela
fazendo leve pressão.

- Vem aqui Marina, está me deixando louca.


- Shhi... não estamos com pressa, estamos?

Lívia não teve como impor, quando via aquele sorriso


se derretia toda. Marina continuou a esfregar os dedos
enquanto rebolava sensualmente, até que Lívia gozou e
quando pensou que teria uma trégua a loirinha desceu
da cama e se ajoelhou no chão puxando as pernas da
morena e se enfiou entre elas sugando seu sexo, agora
com mais voracidade. Lívia se sentou na cama e
acariciou aqueles cabelos loiros. Era incrível como podia
se abandonar completamente para Marina.
- Ai... amor... assim...

Marina usava a língua com maestria e em pouco tempo


Lívia gozou novamente. Ainda teve forças para puxar a
loirinha e abraçá-la.
- Te amo, te amo, te amo. – A cada declaração, Marina
a beijava. – Não sabe como te amo e agradeço a Deus
todos os dias por você ter aparecido na minha vida.

Lívia se surpreendeu com a declaração repentina.


- Também te amo minha linda. Você é o meu juízo, a
minha tranquilidade, é o meu caminho certo.
- Não sabe o bem que me faz...

Falaram ao mesmo tempo e sorriram.

Os lábios se tocaram e novamente se amaram. Dessa


vez foi Lívia quem fez Marina delirar e dizer palavras
desconexas. Tocava aquele corpo como se fosse a
primeira vez. Mordia, lambia, beijava cada pedacinho e
quando sentiu seu corpo tremer a abraçou forte. Marina
se aconchegou em seu colo, respirando ofegante. Seus
corpos se encaixaram para dormirem abraçadas. Na
manhã seguinte Marina acordou primeiro e deixou Lívia
dormindo tranquila. Preparou o café da manhã e foi
correndo na padaria comprar pão.
Quando Lívia acordou e viu que Marina não estava no
quarto, se levantou e a procurou, não a viu, então
voltou para o quarto. Viu que o celular dela estava em
cima do criado, então imaginou que não tinha ido
longe. Não aguentou de curiosidade e pegou o telefone,
mexeu nas ligações recebidas e discadas, nas
mensagens e se tinha foto. Marina só mandava
mensagem para ela e ligava para a mãe. Viu sua pasta
da faculdade e resolveu folhear. Seus trabalhos
corrigidos estavam numa repartição e a maioria era
feito a mão, sua letra era bonita, pequena e
redondinha, era de forma. Haviam partituras e folhas
pautadas, em uma delas estava escrito uma frase:
“Qual o melhor encontro da vida, senão um amor
reconhecendo outro?” Sorriu. Depois viu que numa
bolsinha tinha algumas canetas e a maioria lápis de um
material diferente, parecia grafite. Ouviu o barulho da
porta e guardou tudo. Deitou novamente na cama. De
olhos fechados percebeu Marina entrando no quarto e
sentando na beirada da cama. Abriu os olhos e viu o
mais belo sorriso.

- Bom dia! Não vou nem perguntar se dormiu bem,


deve estar toda moída.
- Dormi otimamente bem e não estou moída.
- Comprei pão quentinho. Vem, senão ele esfria.
- Você foi à padaria?
- Sim, essa hora sai pão fresquinho e é uma delícia.
- Então vamos, que estou com fome. Ontem à noite me
deram uma canseira. – se levantou da cama.
- É? Quem foi essa sem-vergonha? – Marina fingiu não
saber.
- Uma loirinha assanhada que conheci. – Lívia a
abraçou por trás e foi andando para a cozinha.
- Ah, tenho certeza que essa loirinha aí só fica
assanhada quando vê uma morena alta de olhos azuis.

As duas tomaram o café e Lívia se despediu para ir


trabalhar. Marina tinha aula e dessa vez não quis faltar.
Combinou de ir para o escritório da namorada quando
saísse da faculdade. Assim que subiu as escadas da
escola de música um garoto que era de sua turma a
cumprimentou.

- E aí Marina, não veio de carrão hoje?

Por um instante ela ficou sem entender e depois se


lembrou do carro de Lívia.

- Hoje vim de ônibus mesmo. – sorriu forçado.

Aquele comentário a incomodou, teve a sensação de


que as pessoas comentavam sobre a vida dela.

“Como é que pode, a gente pensa que fofoca é só coisa


de gente do interior.”

Depois da aula, como combinado, foi para o escritório


de Lívia. Assim que apareceu na recepção a secretária
abriu caminho para que ela entrasse. A outra estagiária
não entendeu ao certo e depois foi conversar com
Érica.

- Ué! Não entendi. – estava confusa.


- Essa garota deve ser algum cacho da Lívia, pra poder
entrar aqui assim a qualquer hora.
- Ai, ai, esse povo gay não tem vergonha mesmo.
- Quer perder o estágio?
- Eu não, por quê?
- Se Lívia ou Fabrício ouvirem uma coisa dessas, você
está na rua e será jogada pela janela ainda.
- Credo! Foi só um comentário.
- De mau gosto. A falta de vergonha na cara não é só
coisa de gay, é de hétero também. - Érica a
repreendeu.
Érica era secretária de Lívia desde que a promotora
montou o escritório, eram da mesma idade, não tinham
nada em comum a não ser que uma era boa chefe e a
outra boa funcionária. O limite entre as duas era o
respeito e isso bastava. Lívia sabia dos defeitos dela,
mas tolerava por ser boa funcionária.
Marina bateu na porta e recebeu um ok do outro lado.

- Olá!
- Hei! Entra, estou terminando pra gente almoçar.

Marina se sentou na cadeira em frente à mesa de Lívia.

- Muito trabalho?
- Um tanto quanto. – riu.
- Vou ficar ali na mesa então. Estou com uma resenha
para fazer.
- Se quiser pode usar meu notebook. Está naquela
gaveta da estante.
- Não precisa, eu vou fazendo umas anotações e depois
passo a limpo.
- Os professores não exigem o trabalho digitado?
- Não, só alguns. Quando pedem, eu vou a uma lan
house e faço lá.

Lívia continuou trabalhando e Marina estudando. Um


tempo depois Fabrício entrou na sala com uma pasta
abarrotada de papéis.

- Chefinha, esse processo vai levar anos para ser lido.

Lívia, sem levantar a cabeça, olhou para ele apenas


levantando os olhos e a sobrancelha.

- Oi Marina! Lívia te botou pra trabalhar? – perguntou


vendo a garota lendo.
- Não! – sorriu. – Isso é trabalho da faculdade.
- Ah sim, não fique muito tempo nesta sala, que ela te
coloca no meio da função. – sentou em frente à
promotora. – Meu estagiário é horrível, quero outro.
- Foi você mesmo que o escolheu.
- Eu me enganei, ele é lerdo Lívia e chega atrasado
todo dia.
- Então dispense-o e ligue para a faculdade para saber
se eles têm outro disponível.
- Tudo bem. Por enquanto vou trabalhando com a sua
estagiária.
- Pode ficar com ela se quiser. Pretendo contratar outro
funcionário.
- Pra que?
- O movimento está aumentando e eu preciso de mais
gente para dar conta da parte burocrática.
- Tenho um amigo da faculdade que é excelente. Ele
forma junto comigo.
- Quero com OAB já.
- Ah, aí vai ter que procurar melhor.
- Pode deixar o processo aí que vou ler, chame a
estagiária converse com ela e veja pra mim na
faculdade outro estagiário por enquanto, até eu ver o
que fazer com um novo contratado. – Lívia conversava
com ele sem levantar a cabeça, apenas olhava de vez
em quando e voltava sua atenção para a documentação
que tinha em mãos.
- Qual é o nome dela?
- Dela quem?
- Da estagiária.
- Sei lá.
- Aff, a menina ta aqui tem quatro meses e nem
sabemos o nome dela.
- Prontinho. Leve esses documentos e deixe com essa
garota para levar ao fórum, diga a ela para protocolar
tudo.
- Sim senhora. Já vai almoçar?
- Não sei, vou ver o que Marina quer fazer.
- Hum, a última palavra continua sendo a sua. Sim,
querida o que você quiser. – o rapaz brincou.
- Palhaço.
- Hoje tem show, você vai?
- Claro.
- Eduardo está tão empolgado que até sonhou de noite.
- Marina também está.
- Bom, vou nessa.

Fabrício saiu da sala e Lívia foi em direção a Marina.


Estava tão concentrada que nem a viu chegar. A
morena se aproximou por trás, apoiando as mãos nos
braços da cadeira e a beijou no topo da cabeça.

- Psiu. Quer almoçar?


- Não estou com muita fome. Nossa, esse trabalho é
mais difícil do que eu pensei. É muita coisa pra fazer.
- Pra quando é?
- Na outra sexta-feira.
- Se você digitar ao invés de escrever, vai andar mais
depressa. Porque depois de fazer suas anotações vai
ter que passar a limpo ainda.
- É. – Marina falou desanimada.
- Pode usar meu notebook, eu quase não o uso. Vai te
ajudar.
- Fico com medo de estragar.
- Não vai, você é responsável. Sei disso.
- Posso mesmo? – Marina virou a cabeça para cima.
- Pode. – Lívia a beijou.

Saíram pra almoçar e Lívia deixou o escritório na mão


de Fabrício. Almoçaram no shopping e quando
terminaram ficaram andando por lá mesmo até a hora
de Lívia voltar. Passando por uma loja, Lívia viu um
conjunto muito bonito e olhou para Marina.

- Que foi? Pode parar.


- É a sua cara.
- Não é não.
- Amor, podia usar hoje no show.
- Se todo show que eu fizer tiver que comprar uma
roupa nova, vou morar na rua com roupa nova, porque
não vou ter dinheiro para o aluguel.
- Te dou de presente.
- Você me dá muitos presentes.
- Dou nada, você não deixa.
- Porque não acho justo isso.
- E desde quando receber presente da namorada é ser
justo ou não. Quero te agradar ué.

Marina parou de andar e ficou de frente para a


namorada.

- Você já me agrada. Não sabe o quanto. Agora vamos


andando.

A contragosto Lívia foi com ela, mas olhou para o nome


da loja e memorizou.

Mais tarde quando deixou Marina em casa e já ia para o


escritório, fez uma ligação do celular para a loja e
encomendou a roupa. Pediu que entregassem no
escritório. A noite pegaria a loirinha para irem ao show.
Assim que entrou no apartamento Lívia lhe deu o
presente.

- Não brigue comigo. Não resisti.


- Outra vez não resistiu. – Marina estava séria.
- Experimenta, se não gostar eu devolvo.

Marina levou a roupa para o quarto e se vestiu, abriu a


porta e foi mostrar para a namorada. Era uma calça
leging preta e uma blusa mais clara e larga com um
cinto preto. Usava as sandálias que Lívia tinha lhe dado
da outra vez.

- Uau! Nem preciso dizer que está linda.


- Não ta muito justa essa calça?
- É assim mesmo. – Lívia se levantou e foi se
aproximando com aquele olhar faminto. – Posso te dar
um beijo?
- Faz tempo que não me faz essa pergunta. – Marina
sorriu.

Beijaram-se, mas logo saíram para o show.

Realmente o bar tinha ficado muito bonito, a decoração


era uma mistura de rústico com elegância. Não perdera
o ar aconchegante, pelo contrário, tinha ficado mais
agradável. Havia um palco dessa vez com uma
iluminação embutida para as bandas que ali iam tocar.
Os garotos ficaram empolgados. Marina foi a última a
chegar e quando apareceu na entrada do local Pedro
veio recebê-la.

- Marina! Ta bonita.
- Nossa, bonito ta esse lugar.
- Ficou irado não é?
- Muito.

Lívia havia deixado a loirinha na porta do bar e foi em


busca de um lugar para estacionar o carro. Não
demorou muito para encontrar, estava na calçada em
frente ao local quando viu que Pedro passou o braço
em volta da cintura de Marina e a levou para dentro do
bar. A tecladista ficou desconcertada, tirou a mão dele
delicadamente, mas ele insistiu. Lívia fechou o cenho e
entrou no bar. Algumas pessoas estavam sentadas na
entrada e cumprimentaram os músicos dizendo que os
aguardavam ansiosos.

- Viu como estamos chiques, tem até gente esperando.


– Hugo falou animado.
- E o dono? Cadê ele? – Marina perguntou.
- Passou aqui mais cedo, está lá dentro. Ele tem um
sócio agora, que foi quem investiu na nova decoração.
- Muito bom mesmo. – Marina falou olhando em volta e
avistou Lívia vindo com uma cara muito séria.
- Nossa, ela ta com uma cara. – Eduardo falou.
- É, deixa eu saber o que aconteceu. – Marina se
afastou.
- Marina ainda está saindo com essa mulher? – Pedro
perguntou só para Eduardo.
- Está sim.
- Que desperdício. – balançou a cabeça negativamente.
- Pedro, melhor procurar outra. – Eduardo sorriu.
- Homem gay eu aceito, agora mulher eu não consigo
conceber! – falou contrariado.
- Isso é ser machista. E é por isso que as mulheres
estão trocando de lado. E seja discreto, porque Hugo só
desconfia delas e ele pode contar a Monica.
- Relaxa que não vou falar nada.
- Que foi amor? Está séria?
- Eu que pergunto o que foi. Vi Pedro bem à vontade te
levando pra dentro do bar como se fosse seu
namorado.

Marina ficou sem graça, mas não teve culpa no


ocorrido.

- Ele passou o braço na minha cintura, eu tirei, mas ele


insistiu. Quando nos aproximamos dos meninos eu me
livrei logo dele, não pude fazer muito.
- Podia ter pedido a ele para tirar a mão.
- Mas eu tirei...
- Não, acho que até gostou.
- Que isso! Amor, não fale assim.

Os garotos chamaram e Marina teve de ir.

- Depois conversamos. – Lívia a olhou séria.

Marina saiu desconsertada. O show começou e nem


bem o primeiro compasso da música tocava e a banda
foi aplaudida, arrancando sorrisos dos músicos. Marina
olhou para Lívia sorrindo e ainda sentiu aquele olhar
reprovador. Novamente ficou sem graça.

Fabrício estava chegando atrasado, sentou-se ao lado


da prima.

- E aí, tem tempo que começou?


- Não, foi agorinha.
- Que cara feia! Que houve?

Lívia contou o ocorrido e Fabrício achou graça.

- Está com ciúme! Quem diria! Deixa só Eduardo saber


disso.
- Pedro é um folgado e isso não é ciúme.
- É sim, admita. Não te custa admitir ciúme. Já disse
que a ama?
- Já.
- Então isso é ciúme mesmo. E você brigou com ela?
- Marina deixou ele se aproximar.
- Vai vê ficou sem jeito. Lívia ela é uma garota ainda,
não sabe lidar com essas coisas. Ela não soube lidar
nem com você. Veja só com pouco tempo que se
conhecem, parecem casadas já e olha que Eduardo e
eu avisamos tudo sobre você. E ela nem quis saber, se
entregou totalmente. Se você quiser agora sacaneá-la,
ela vai perder o rumo na vida.
Lívia ficou pensando no que ele dissera. Fabrício
parecia sem juízo, mas tinha mais que ela mesma.
- Não vou desistir dela. Ela é importante pra mim. –
Lívia a olhava com doçura.
- Ta vendo como gosta dela e se gosta está sentindo
ciúme.
- Ai que coisa chata você.

Fabrício se limitou a rir e tomar a cerveja que o garçom


servia.
O show não teve intervalo, tocaram direto, as músicas
novas fizeram sucesso. Quando acabou Marina estava
esticando as costas.

- Também estou quebrado hein. – Hugo falou.


- E Marina, as músicas novas fizeram sucesso. O
público bem que gostou. – Eduardo veio falando e
guardando o violão.
- Não disse? Ainda tem música boa que não seja só
bossa nova.
- Gente, to com fome. – Pedro passou por eles e foi
logo descendo do palco.

Quando se sentaram Lívia não estava na mesa.

- Cadê ela? – Marina perguntou a Fabrício.


- Foi ao banheiro.

Quando a morena voltou, veio conversando com uma


mulher muito bem arrumada e parecia ser íntima dela.
Parecia bem animada. Parou no meio do bar e ficou de
papo com ela. Marina olhou desconfiada, fingiu não dar
importância.

- Ela tem ciúme de você. – Fabrício falou em seu


ouvido.
- O que?
- É isso mesmo que ouviu, ela ficou possessa com
Pedro.
- Não tive culpa!
- Eu sei, ela também sabe, mas tem ciúme. Ela vai
fechar a cara, mas depois volta ao normal. Marina,
nunca vi Lívia sentir ciúme de alguém. Ela tem ciúme
das coisas e não dos outros.
- Mas parece que agora está bem alegrinha. – Marina
olhava para ela, que agora segurava as mãos da
mulher num gesto bastante intimo. - Olha, pra mim
chega. Vou embora, e depois nos falamos.
- Espera garota, ela vai sentar aqui.
- Não, eu não fiz nada, não preciso passar por isso.

Marina se despediu dos garotos e disse que precisava ir


para casa, pois teria um compromisso no outro dia. Foi
ao banheiro primeiro e de lá saiu por um lado onde
Lívia não a visse. Quando a morena voltou, perguntou
por Marina.

- Já foi, ela disse que tinha um compromisso amanhã


cedo.

Lívia olhou para Fabrício e ele a puxou num canto.

- Ela saiu, porque você é uma idiota. Que é isso de ficar


de papo com outra e largá-la aqui? Está com raiva? Vá
resolver o problema com a pessoa em questão. Ridículo
isso que você fez. Eu falo sempre que Marina que é a
criança, mas quem não saiu do jardim de infância foi
você.

Lívia se levantou sem se despedir dos garotos. Saiu


atrás da namorada.

Dentro do ônibus Marina chorava silenciosamente para


não chamar a atenção. Desceu quase em frente ao
apartamento e entrou em casa. Jogou a pasta de
partituras na mesa e tirou a roupa. Foi para o banheiro
e lá sim, chorou como uma criança. No fundo, sentia
que aquele relacionamento tinha mais problemas do
que pensava. Diferenças sociais e financeiras, sem
contar a idade. Achava que Lívia era muito para ela,
sentia-se pequena perto dela. Sentiu raiva, ciúme,
tristeza, tudo ao mesmo tempo. O telefone tocou e era
ela, mas Marina não quis atender. Minutos depois o
interfone também tocou e ela também não atendeu.
Chorou até dormir.
No sábado acordou depois das dez da manhã com o
celular tocando. Achou que era Lívia, mas se enganou,
era Eduardo querendo lhe entregar o cachê do show.
Ele marcou de levar para ela antes do almoço.

Quando ela abriu a porta ele entrou e somente deixou o


envelope com o dinheiro para ela.

- É jogo rápido, vou sair para almoçar e vim trazer pra


você.
- Obrigada, podia ter deixado para entregar na
faculdade.
- Achei que podia precisar.
- Precisar eu preciso, mas não to matando cachorro a
grito.
- Desculpa Marina, não trouxe só por isso, mas...
bom... vou saindo.

Marina não entendeu a frase, quando Eduardo saiu e


ela ia fechando a porta Lívia apareceu. Havia
combinado com ele de ir lá, pois o garoto seria sua
chave, já que provavelmente Marina não abriria a porta
para ela. A morena usava uma calça jeans meio
surrada e uma blusa clara com uma fita de presente
enrolada na cintura.

- Entrega para senhorita Marina.

A loirinha teve vontade de rir, mas se segurou.

- Não pedi presente nenhum.


- Aceite este presente, pois ele tem algo a lhe dizer.

Marina por fim deixou Lívia entrar.

- Me desculpe, por favor! Não quis te magoar, sei que


não teve culpa ontem, mas quando vi aquele folgado
com você fiquei morrendo de ódio.
- Você pede para que tenha confiança em você sendo
que não tem comigo. – Marina falou chateada.
- Perdoa amor, por favor.
- Nós temos muitas diferenças Lívia, esse
relacionamento não vai dar certo. Você tem que ter ao
seu lado mulheres como aquela com quem estava
ontem, por sinal bem à vontade. Aquela ali sim, é
mulher pra você. Bonita, chique, elegante, do seu
nível...

Marina não terminou de falar, pois Lívia calou sua boca


com um beijo tão intenso que a loirinha perdeu o
fôlego.

- Não quero saber de nível, quem gosta disso é


pedreiro. Eu quero você, ainda não percebeu que é
você quem eu amo, que me satisfaz, que me agrada.
Eu sou louca por você Marina, entenda isso! E se fiquei
brava ontem é porque tive ciúme. Não sei lidar com
isso, faz tempo que não sentia.
- Se toda vez que tiver raiva ou ciúme agir assim, eu
não vou aguentar. Isso dói, me magoou, tanto que não
aguentei ficar lá ontem. – Marina baixou a cabeça.
- Não farei isso nunca mais. Juro! – Levantou o rosto
dela.
- Eu te amo Lívia, nunca vou te trair.
- Desculpe. Não quero ver esse rostinho triste, muito
pelo contrário. Prometo conversar mais com você sobre
esse problema. Sei que às vezes se sente deslocada,
mas não sinta. Você tem tudo que eu quero.
- Você não entende...
- Pensa que não, mas entendo. Escute... – segurou o
rosto dela com as mãos. - ...Em pouco tempo aprendi o
que é ter um relacionamento sério e descobri isso com
você. Não abro mão de você na minha vida e vou fazer
qualquer coisa para tê-la ao meu lado e feliz.
Beijou Marina de forma tão delicada que a loirinha
acabou cedendo. Marina a abraçou, mas sentiu o laço
que ela trazia na cintura.

- Que laço é esse?


- É pra embrulhar o presente.
- E de onde você tirou essa ideia?
- Eu vi numa história que li na internet. A namorada se
embrulhou para presente, era um casal como a gente.
Por isso vi semelhança, uma morena e outra loirinha.
- Ah... eu adorei o presente. – sorriu.
- Na história a loirinha quis saber o que o presente
fazia.
- Ah é? Então vejamos... O que ele faz, hein? É melhor
eu desembrulhar mais. – tirou o laço e depois a blusa –
Quanto embrulho! – tirou também o sutiã. – Deixe-me
ver se eu adivinho o que esse presente faz! – pôs a
mão na cintura e ficou pensando e olhando para a
morena. – Acho melhor continuar desembrulhando. –
tirou a calça e a deixou somente de calcinha. –
Cheiroso ele, forte... – mordeu o ombro da morena. –
Gostoso também.

Lívia estava no seu limite e não aguentou sua


excitação. Pegou Marina e a levou para o quarto.
Fizeram amor de uma forma quase selvagem. Marina
gemia e arranhava as costas de Lívia e não se dava por
satisfeita e sempre queria mais. Exaustas de tanto
gozarem, caíram deitadas uma nos braços da outra.
Lívia deitada de barriga para cima e Marina abraçada a
ela com a cabeça em seu peito.

- Que presente safado esse! – sorriu.


- Gostou dele?
- Adorei!
- Eu vim aqui pra te raptar.
- Pra onde?
- Bom na verdade não preparei nada em especial, só ia
te levar lá pra casa.
- Então eu tenho um convite pra te fazer. Vamos ao
cinema hoje? Aqui perto tem um, podemos ir lá e
depois pra sua casa.
- Vamos direto daqui?
- Algum problema nisso?
- Não, só não trouxe roupa pra sair.
- Ué, está ótima assim.
- Ta bom então.

Almoçaram no apartamento mesmo, Marina fez uma


comida bem caseira. Arroz, feijão, batata frita, bife de
frango e uma salada.

- Faz tempo que não como nada tão...


- Simples?
- É, desde o tempo da faculdade. Eu adoro a comida da
minha mãe, mas ela faz umas coisas diferentes, porque
sabe que eu gosto.
- Lá em casa a gente ta acostumado a comer coisas
simples. Meu pai tem colesterol alto, ele precisa comer
sempre carne magra e minha mãe é hipertensa, nada
lá em casa se excede no sal. E a maioria das frutas e
verduras vem do sítio.
- Muito saudável.
- Esse é o lado bom. – sorriu.

Arrumaram a cozinha e depois ficaram na sala


conversando. Lá pelas sete da noite saíram para ir ao
cinema, Lívia deixou o carro num estacionamento
próximo e foram a pé. Na entrada do cinema Marina se
antecipou e comprou as entradas. Lívia deixou que ela
fizesse.

- Quer pipoca? – A loirinha perguntou.


- Eu quero. - Lívia aceitou e deixou que a loirinha
comprasse também.
Entraram na sala com um saco enorme de pipocas,
água e um saquinho de balas.

- Você vem no cinema pra comer ou para ver filme?


- Os dois. – respondeu parecendo uma criança
animada.

Lívia revirou os olhos achando graça. Depois falou


querendo mexer com ela.

- Eu venho pra namorar.


- Por que será que eu não me surpreendo com isso? –
sorriu.

O filme começou e nem bem a luz apagou e Lívia logo


se assanhou. Pousou a mão na perna direita de Marina
e acariciou. Não demorou muito para começar a beijar
o pescoço da loirinha, que se deixou levar pelas
carícias. Em pouco tempo as duas estavam num
amasso e totalmente alheias ao filme. Pouco antes das
luzes acenderem, mostrando que o filme já havia
acabado, as duas estavam se recompondo.

- Gostou do filme? – Lívia perguntou com sarcasmo.


- Safada! Você não tem vergonha mesmo não é? –
beliscou seu braço.
- Ai! Não fiz nada que as pessoas também não façam.

Saíram do cinema e passaram rapidamente no


apartamento para Marina pegar umas roupas.

- Preciso tomar um banho, você vem comigo? – Lívia


chamou assim que entram em casa.
- Vou ligar pra minha casa, pode ir que eu já vou.

Lívia entrou no banho e Marina ligou para a mãe, falou


que Monica havia viajado e a mãe confirmou, pois já se
encontrara com ela. E disse que estava mandando
umas roupas para ela pela amiga. Quando desligou,
Marina tirou a roupa e entrou no banheiro. Lívia estava
de costas, com as mãos apoiadas na parede e a cabeça
embaixo do chuveiro, deixando que a água caísse em
seus cabelos.

- Que foi? – Marina a abraçou por trás e beijou suas


costas.
- Nada, estou tentando relaxar. – Lívia virou e a beijou
nos lábios. – Tudo bem com sua família?
- Sim, minha mãe disse que está mandando umas
roupas. Monica vai trazer. Eu deixei lá pra lavar, porque
lavar aqui na mão, nem sempre fica bom.
- Eu até que lavo roupa bem, hoje não faço mais isso,
mas me viro quando preciso.
- Confesso que não é meu forte.
- Se quiser, pode mandar pra cá que eu junto tudo e a
empregada lava.
- Não precisa, eu me viro. Monica e eu temos um
pacto, ela lava e eu passo. – Marina passava a mão nos
cabelos de Lívia que insistiam em cair no rosto. – Fica
de costas, vou ensaboar você.
- Faz aquela massagem? – a morena pediu
carinhosamente.
- Faço, mas depois, na cama. Trouxe um hidratante,
acho que vai gostar.

Terminaram o banho e foram para cama. Marina vestiu


o roupão e pediu que Lívia não se vestisse.
- Que vai fazer comigo? – Lívia fingiu estar assustada.
- Pode deixar que não vou abusar de você.
- Ah que pena. – riu.
- Sem-vergonha.

Marina pegou na mochila o hidratante e voltou para a


cama.
- Deita de bruços.
Sentou como da outra vez em Mauá e espalhou o
hidratante pelas costas da morena. Sentiu que Lívia
suspirou e depois viu que fechou os olhos. Começou a
massagear, apertava com certa força e depois passava
a unha de leve, vendo a pele se arrepiar. Desceu até a
cintura dela, subiu pelos braços, depois pegou sua mão
e massageou os dedos, fazendo o mesmo com a outra
mão. Levantou e massageou as pernas também,
seguindo até os pés. Quando terminou, achou que Lívia
estivesse dormindo, mas se enganou. Ela estava de
olhos abertos e parecia pensativa. Marina tirou o
roupão e pegou a coberta, cobrindo-as. Houve um
sincronismo, ela esticou os braços ao mesmo tempo em
que Lívia já se aproximava para se aconchegar em seu
colo.

- Que foi amor? Te achei quieta desde a hora do banho.


Você não tava assim antes.
- Estou pensando na semana agitada que vou ter. Não
comentei com você, mas tenho reunião no escritório.
Depois dessa reunião eles querem fazer um pequeno
coquetel, coisa de gente besta. Mas tenho que ficar,
porque é um pessoal que trabalha comigo, preciso estar
bem com eles. Pode ser que não te veja nesse dia.
- Tem que fazer uma social. – Marina acariciava seus
cabelos.
- Isso aí.
- Não tem problema, você não pode é se complicar por
minha causa. Nos vemos no outro dia.
- Tenho que ficar de olho nesse Pedro. – fechou a cara.
- Ah, para. Ele pode até tentar, mas não terá sucesso.
- Hum. – Lívia resmungou fazendo Marina sorrir.
- Bichinho bravo.
- Hum. – Resmungou de novo.
- Que eu amo. Acho que nunca amei alguém tanto
quanto amo você. E se amei, nem me lembro se era
tão bom assim.
As palavras de Marina serviram para Lívia se lembrar
do passado.

- Às vezes a pessoa diz “eu te amo” sem se preocupar


com a intensidade que essas palavras têm. – Lívia falou
mais para si mesma e sobre o que viveu.

Marina ficou em silêncio por uns instantes e depois


falou parecendo contrariada.
- Mas eu falo quando tenho certeza do que sinto
naquele momento. Já ouvi eu te amo para logo em
seguida ver a mesma pessoa que disse nos braços de
outra. – tinha um rancor na voz.

Lívia se levantou e olhou em seus olhos.


- Não me referi a você.
- Eu sei.
- Confio em você.
- Então não vai ficar cismada por não ir ao show na
semana que vem?
- Aí eu não sei. – Lívia deitou novamente emburrando.
– Aquele cara é um malandro isso sim.
- Então vejamos. Que posso fazer pra você se sentir
melhor quanto a isso? – Marina falava tão suavemente
que Lívia desemburrou a cara.
- Pode dizer que me ama todo dia.
- Eu já faço isso.
- Pode me ligar no dia do show para dizer então.
- Isso vai te deixar mais tranquila? – Marina achou
estranho o pedido.
- Vai.
- Mas não posso ligar enquanto estiver tocando.
- Tudo bem, e quando não estiver você me liga?
- Ligo, mas isso é só na semana que vem. – parou e
pensou. - De repente eu saio de lá e venho correndo
para me encontrar com você. Se bem que desde que te
conheci, não tenho passado o final de semana direito
com Monica.
- Mas ela só fica com Hugo, ora bolas.
- Tudo bem, mas não sei o que ela vai fazer semana
que vem. Pode ser que eu não possa vir pra cá ou que
a gente não possa se encontrar com mais folga.
- Ai... ai... – Lívia emburrara novamente.
- Mas a gente dá um jeitinho.
- Eu sei um jeitinho.
- Qual?
- Você vem morar comigo.
- Que? – Marina arregalou os olhos.
- Que tem? É verdade... ó... – Lívia se levantou. – Aqui
você não precisa pagar aluguel e nem precisa se
preocupar com outras despesas, o dinheiro que ganhar
será só seu.
- Ta querendo me sustentar?
- Seria uma ajuda de custo. – sorriu.
- Não, seria sustentar. Como vou sair e largar Monica?
E o que vou dizer aos meus pais quando eles, por
acaso, vierem aqui. Olha pai, não estou morando mais
no apartamento, porque sabe, eu moro com a minha
namorada. No mínimo ele enfarta.

Lívia achou graça.


- Não posso amor. Sei que às vezes fica difícil a gente
se ver, mas sempre damos um jeito. Moramos na
mesma cidade. E vir pra cá seria muito precipitado,
não?
- Por quê? Você não diz que me ama? E eu não amo
você? Então, qual o problema?
- Calma dona impulsiva. Uma coisa de cada vez.
- Ah. – Lívia emburrou de vez. Virou para o lado,
fechou a cara e cruzou os braços num gesto indignado.

Marina não quis falar, pois com ela não se tinha muitos
argumentos. Achou melhor agir. Aproveitou que ela
estava de costas e beijou sua nuca, passou a mão em
suas costas, arranhou de leve, até porque suas unhas
estavam curtas. Beijou seu ombro, mordeu o pescoço.
Sentiu a respiração da namorada se alterar, mas ela
ainda fingia não ligar. Desceu a mão pela cintura dela e
chegou até o os pêlos pubianos e acariciou, depois
ameaçou colocar os dedos em sua abertura, mas voltou
para os pêlos. E com a mão lá e a boca bem próxima a
sua orelha, falou com a voz mais doce que Lívia já
ouvira.
- Não quer fazer amor comigo?

Lívia se rendeu. Girou o corpo ficando por cima de


Marina, prendendo seus braços.
- Alguém resiste? Não tem como.
- A intenção é não resistir mesmo. – sorriu franzindo o
nariz.
- Linda!

Beijaram-se e deram vazão ao desejo. Fizeram amor a


noite inteira. Em cima da cama, no tapete do quarto,
na mesa que ficava no canto. Lívia colocou Marina
debruçada na mesa e por trás acariciava seu clitóris e
com a outra mão agarrava sua cintura. Marina estava
sem forças já. Arranhava os braços da namorada e
gemia como uma gata. Lívia estava insaciável. Quando
gozaram, pegou Marina no colo e a levou de volta para
a cama, deitando as duas de conchinha, como
gostavam. Beijou o pescoço dela delicadamente.

- Te amo muito.
- Também te amo. – a voz de Marina saiu cansada.

Dormiram quando o sol já estava nascendo. O telefone


tocou e as duas nem ouviram.

- Aposto que estão de sacanagem. – Fabrício falou


desligando o telefone.
- Deixa elas, estão apaixonadas. – Eduardo interveio.
- Marina está né, ainda não me convenci com Lívia.
- Depois do que vi em Mauá, estou convencido sim.
- Esse namoro está no início ainda, Lívia é uma caixinha
de surpresas. Acredite, só me convenço quando ela
pedir aquela loirinha em casamento.
- Aí já é demais né.
- Você não conhece relacionamento lésbico? Elas se
conhecem num dia, namoram no outro e casam no
terceiro. Amor implacável. – riu.
- Eu acho que elas se dão bem, Marina tem paciência
com Lívia e Lívia parece ter se identificado com Marina.
Ela tem carinho por ela.
- Identificado com o que? As duas são completamente
diferentes. E carinho não é amor.
- Ah Fabrício, para de pegar no pé. Marina também não
é criança, ela sabe o que é certo ou errado para ela.
- Espero que sim.

Marina acordou com o telefone, mas não teve tempo de


atender. Levantou e olhou pela porta que dava pra
varanda, o sol estava forte. Quando viu no relógio já
eram quase meio-dia. Lívia dormia tranquila e não quis
acordá-la. Tomou um banho e desceu pra cozinha.
Procurou na geladeira alguma coisa pra fazer, depois
olhou nos armários e teve a ideia de fazer uma
lasanha. Estava distraída e nem viu que a morena
chegou à cozinha e ficou observando-a. Estava com
uma blusa comprida e descalça. Olhava a panela com o
molho, ao mesmo tempo em que tirava o macarrão e
deixava escorrer numa outra panela. Montou a lasanha
e colocou no forno. Quando virou se assustou com
Lívia.

- Ai, que susto! Acordou faz tempo amor?


- Não, você não estava na cama aí resolvi descer pra
ver o que estava aprontando. – foi se aproximando.
- Estou fazendo uma lasanha.
- Eu vi.
- Estava me espionando é?
- Apenas observando. – Lívia a beijou. – Sabia que
você está muito sexy com essa blusa?
- Eu? Nossa, essa blusa é velha, é um camisolão. Ela é
fresquinha por isso coloquei. Tomou banho?
- Tomei. Minhas costas estão ardendo. Acho que uma
gata me arranhou.

Marina morreu de vergonha com o comentário, ficou


vermelha imediatamente.

- Desculpa, é que... ontem você estava impossível. –


falou envergonhada.

Lívia ficava toda besta com os elogios da namorada


sobre seu desempenho na cama, inflava seu ego.
Almoçaram sem pressa e Lívia adorou a comida.

- Estou me acostumando mal, vou querer comidinha da


namorada sempre.
- É né, comidinha, massagem, mais o que?
- Quero você inteira só pra mim.

Marina sorriu e levantou de sua cadeira, sentando no


colo de Lívia, de frente pra ela.

- Você já me tem.
- Quero todo dia, toda hora. – a olhou com cobiça.
- Assim você enjoa.
- Não sei o que Fabrício te falou sobre mim, mas pode
apostar que não enjôo de você.

Marina pensava naquelas palavras, poderia ser


verdade, mas como será que Lívia tinha enjoado das
outras mulheres? Passaram a tarde namorando e mais
a noite foram ao shopping dar uma volta.

Monica voltou na segunda de manhã e apareceu na


faculdade à tarde. Deixou as malas no apartamento e
quando encontrou Marina a avisou sobre suas coisas.
- Sua mãe mandou roupa pra você. Ela perguntou se
você estava namorando.
- Minha mãe é uma figura mesmo. Por que não
perguntou a mim?
- Porque sabia que você não ia contar.
- E o que você contou?
- Que não estava namorando, mas que eu desconfiava
de alguém.
- Como assim? – Marina se surpreendeu.
- Ué, falei de Eduardo e que ele dava muita atenção a
você. Ela disse que viu ele na foto que você mostrou.
- Monica!
- Falei o que penso. – levantou as mãos num gesto
desleixado.

Marina revirou os olhos como se dissesse que a menina


não tinha jeito. Entraram para a aula e só saíram mais
a noite. Como Monica havia viajado, quando as duas
chegaram ao apartamento Hugo já a esperava. Marina
reparou o fato dele trazer um presente e lembrou de
Lívia. “Cariocas! Muito galantes.”

- Tem problema se eu dormir aqui hoje Marina? – ele


perguntou receoso.
- Não. Tudo bem.
- Valeu!

Os dois subiram num agarramento só, Marina sabia que


aquela noite teria de dormir com o fone no ouvido.

Na quarta, os meninos da banda haviam desmarcado o


ensaio e este seria somente no dia seguinte e mais
cedo. Quando saíram do estúdio Lívia os esperava
encostada no carro. Marina abriu um sorriso tão
luminoso que qualquer um podia notar. Foi andando
depressa ao encontro da namorada e aproveitou a rua
vazia para abraçá-la.

- Olha o chamego. – Fabrício, que estava ao lado,


implicou.
- Inveja é fogo. – Lívia retrucou.
- Tudo bem Fabrício? – Marina falou ainda abraçada à
namorada.
- Tudo. Ensaio demorado esse.
- É que atrasamos para começar. Eu tive aula até mais
tarde. Nossa tenho muita coisa pra preparar, está
chegando a etapa final do período e eu to cheia de
música.
- Eduardo também tem reclamado.
- Mas ele estuda em casa. Eu, pra estudar piano, tenho
que marcar hora na faculdade e está cada dia mais
concorrido.
- Teclado não é a mesma coisa né. – ele falou.
- Não, o peso das teclas é diferente, mas ajuda muito.

O restante da banda se aproximou e dali foram


embora. Como sempre, Lívia a levara e depois deixava
Fabrício e Eduardo. Marina só saiu do carro depois de
ganhar um beijo cheio de más intenções de Lívia.

- Eu tenho mesmo que ver isso? – implicou o primo.


- Podia aproveitar e fazer o mesmo. – Marina brincou.

Depois que Marina saiu Lívia comentou dentro do carro.

- Onde será que tem piano aqui nessa cidade?


- Ah não! Para! Não vai fazer isso. – Fabrício logo
retrucou.
- O que? Fiquei boiando agora. – Eduardo falou
confuso.
- Você não vai comprar um piano. – voltou Fabrício
incisivo.
- Piano? Pra que Lívia quer um piano? – Eduardo ainda
estava confuso.
- Eduardo, acorda! Por que ela vai comprar um piano?
– Fabrício olhou para o namorado tentando fazê-lo
entender.
Eduardo parou para pensar e depois entendeu.
- Nossa! Que chique! Muito romântico isso, eu sei onde
vende piano.
- Então você vai me ajudar. – Lívia ficou animada.
- Não vai nada. Você não vai comprar um piano Lívia.
Que vai fazer com ele depois? – Fabrício interveio.
- Não lhe devo satisfações do meu dinheiro e ele será
um presente para Marina, que, aliás, nem sei o
aniversário dela. Se tivesse perto, poderia lhe dar de
presente.
- E o que vai fazer com esse piano depois?
- Depois de que?
- Lívia, você acha mesmo que vai levar esse
relacionamento adiante?
- Fabrício, você realmente não me conhece. E não tem
reparado em mim nos últimos meses.
- Eu tenho e realmente você mudou um pouco. Levo fé
em vocês duas. – Eduardo ficou do lado de Lívia.
- Ai, eu não falo mais nada então. Depois sou o chato,
o implicante, então deixa pra lá.
- Lívia, amanhã estou de folga de manhã, podemos ver
esse piano. Não vai conseguir de imediato, geralmente
são encomendados.
- Sem problema.

Como combinado os dois foram até uma loja onde


Eduardo havia comprado seu violão, lá eles também
tinham um catálogo de pianos, havia alguns na loja,
mas somente os modelos de armário. E Lívia queria um
de cauda. Olharam os catálogos, como ela não entendia
nada, deixou por conta de Eduardo.

- Essa marca é a melhor de todas, lá na escola eles têm


dele e é o que Marina sempre estuda.
- Realmente a Steinway & Sons é líder em qualidade,
tradicionalismo e elegância. – o vendedor falou
animado.
- Líder no preço também, né amigo? – Eduardo logo
falou.
- De fato um Steinway não é barato, mas compensa
por sua qualidade de som, sua acústica. Alguns desses
pianos costumam demorar um ano para serem
fabricados, são feitos artesanalmente.

Lívia bateu o olho em um modelo do catálogo e ficou


fascinada.

- Olha que lindo esse! Vai ficar muito bom na minha


sala.
- A senhora toca? – o vendedor perguntou.
- Não, mas minha namorada sim. – ela respondeu tão
naturalmente que o vendedor nem teve tempo de se
surpreender. Já Eduardo não teve a mesma reação,
quase deixou cair o papel que estava em sua mão.
- Marina é pianista e estuda na federal, ela precisa de
um piano para treinar. Por isso estamos querendo
comprar. – disse ainda surpreso.
- Esse modelo é excelente. Ele aceita bem ambiente de
teto alto e amplo, é para salas grandes.
- Exatamente o que preciso. Quero esse.
- Lívia, primeiro a gente pergunta preço. – Eduardo
falou baixinho.
- Quanto é moço?
- Olha, um Steinway desses está em média cento e
vinte mil.

Eduardo quase desmaiou. Lívia se manteve séria, sem


dar chance do vendedor saber se ela havia achado caro
ou não. Seu olhar para o catálogo era indecifrável.

- Poderiam me acompanhar, por favor. – o vendedor os


chamou para os fundos da loja.
Entraram num salão e o vendedor puxou um pano que
revestia o que parecia ser um piano. Quando ele o
descobriu Eduardo ficou boquiaberto, era o modelo do
catálogo.

- Os trouxe aqui para poder ver de perto. Este piano foi


encomendado por um cliente, faz três meses. Chegou
ontem e o colocamos aqui, ele vem pegá-lo na semana
que vem.
- É lindo. Os da escola são mais antigos, esse está
novinho.
- Esse custou o preço que lhes falei. – observava a
reação deles.
- Quanto quer por ele? – Lívia foi incisiva.
- Ele não está à venda senhora, o dono vem buscá-lo
creio que na segunda.
- Eu pago mais por ele. Quanto quer?

O vendedor cresceu os olhos, mas nada podia fazer.

- Não posso, confesso que seria interessante para mim,


mas meu chefe não vai autorizar.
- Quero falar com seu chefe então. Preciso de um piano
para hoje. Tenho urgência.
- Calma Lívia, talvez encomendando eles possam
acelerar a vinda do piano. Não é?
- Acredito que sim. – respondeu o vendedor.
- O seu chefe, por favor. – Lívia fingiu não ouvir.

O rapaz não sabia ao certo o que fazer, então chamou


o chefe que veio em poucos minutos.

- É o seguinte, preciso desse piano, ele não está à


venda, mas estou disposta a pagar o que me pedir
nele.
- Já foi comunicado ao dono que o instrumento chegou?
– o senhor perguntou ao vendedor.
- Sim, ele vem buscá-lo na segunda.
- Então sinto muito, caso não tivessem falado, poderia
vendê-lo e tratar uma nova encomenda, mas neste
caso fica difícil.
- Eu pago a vista.
- Lívia. – Eduardo a puxou pelo braço. – Tenha
paciência.
- Se eu encomendar um agora, só chegará depois que
acabarem as aulas de Marina. Não vai adiantar.
- Se eu não comprar aqui, vou até São Paulo e lá
consigo um. Então, podemos negociar?
- Se a senhora for até São Paulo, mesmo que consiga
um pagará um valor altíssimo para trazer ao Rio.
- Isso não é problema para mim.
- O transporte poderia prejudicar a qualidade do
instrumento.
- Isso sim é um problema, por isso vamos negociar
este aqui. Eu pago a mais o que gastaria para trazer
um piano de São Paulo para cá.

Eduardo olhava para Lívia perplexo, tentava falar, mas


ela não deixava espaço.

- A senhora gastaria mais de cinco mil. Seria melhor


esperar outro.
- Minha namorada não pode esperar.

O senhor por um momento pareceu ter parado de


respirar.

- É pegar ou largar.
- Lívia...
- Eduardo, eu saí de casa para comprar um piano e vou
comprar.

O dono da loja olhou para ela e sorriu.


- A senhora quer que entregue o instrumento que
horas?
Ela sorriu satisfeita.
- Pode hoje à tarde?

Lívia entregou o cartão com o endereço, combinou um


horário melhor e acertou os valores a pagar. Quando
saiu da loja Eduardo estava pálido.

- Meu Deus do céu! Eu não vou nem comentar o fato de


você ter gasto uma pequena fortuna num piano.
- Então não comente. – entrou no carro.
- Lívia, tem noção do que acabou de fazer?
- Tenho. Dinheiro é pra isso mesmo, comprar coisas.
- Tão caras assim?
- Ela merece.

Ligou o carro e saíram.


- Gosta mesmo dela? – Eduardo a indagou.
- Mais do que eu mesma imaginei gostar de alguém.
- Isso não é uma fase?
- Não.
- Lívia, escute, eu te conheço desde que comecei a
namorar Fabrício e isso faz algum tempo. Sempre te vi
perambular e saltar de um relacionamento a outro, o
seu tempo de namoro com Marina ainda é curto, não
está impressionada?
- Já me viu impressionada?
- Já.
- E impressionada eu gastava meu dinheiro comprando
pianos caros?

Ele sorriu.
- Eu a amo e quero o melhor pra ela.
- Me dou por satisfeito.
- Obrigada por me ajudar e peço por favor, para não
contar sobre o valor desse piano a Fabrício.
- Tudo bem. Posso pedir uma coisa?
- Pode.
- Vai dar o piano que dia?
- Amanhã, pois hoje tenho uma reunião e vocês têm
show.
- Posso estar perto? Quero ver a carinha dela. – ele
falou feliz.
- Claro, vou convidar você, Fabrício, Carlos e Larissa,
faz tempo que não os vejo. Combinamos algo amanhã
à noite.

De tarde, os funcionários da loja levaram o piano,


montaram e um afinador foi logo em seguida para fazer
os ajustes. Realmente ele combinava com a sala e a
promotora ficou imaginando Marina tocando nele,
ficaria mais lindo ainda. À noite Lívia teve a reunião
seguida de um coquetel e como combinaram Marina lhe
ligava para saber se estava tudo bem e dizer que
também estava bem. Não dormiu no apartamento da
namorada porque Monica estaria em casa e dessa vez
outra desculpa não iria colar. No sábado de manhã
Monica arrumou suas coisas dizendo que ia para
Paraty, uma cidade próxima ao Rio, visitar a família de
Hugo. Marina não pode esconder a felicidade. Assim
que Monica saiu ela ligou para Lívia.

- Bom dia amor. – a loirinha falou com voz melosa.


- Bom dia minha linda. Acordou agora?
- Que nada, bem mais cedo. Monica agitou a casa aqui.
- E onde ela está?
- Nesse momento indo para Paraty com Hugo e vai
passar o final de semana lá. Estava pensando em ir
praí.
- Você não vai estudar hoje?
- Não sei. – Aquilo não era a pergunta que Marina
esperava. – Talvez eu dê uma lida em algumas
partituras novas, mas...
- Então eu passo aí de tarde para te pegar para
jantarmos, pode ser?
- Pode. – a voz de Marina entregava sua decepção.
Quando desligaram Lívia estava com o coração partido.
Praticamente deu um gelo na namorada por conta da
surpresa. Depois se animou e foi ligar para o pessoal
convidado a ir até sua casa. Mais à tarde, ela não
aguentou e foi ao apartamento, já arrumada para sair.
Marina atendeu a porta e sorriu sem jeito.

- Tudo bem? – Lívia beijou-lhe os lábios.


- Tudo. Estava estudando.
- Muita coisa pra estudar?
- É, bastante, tem uma música muito difícil. Marconi
está me escalpelando.
- Tadinha. – beijou-a novamente.
- Você chegou cedo? Ou estou atrasada?
- Vim mais cedo um pouco, pra namorar sabe...
- Ah... – Marina sorriu.

Lívia sabia que ela estava chateada com o fora que


levara mais cedo. Abraçou a namorada
carinhosamente, beijou seu rosto, tentou se desculpar
veladamente.

- Te amo muito viu gatinha linda!


- Também te amo.
- Amor, quando é seu aniversário?

A pergunta foi tão repentina que Marina olhou


indagativa.
- Por que quer saber?
- Curiosidade ué.
- Meu aniversário é em maio.
- Já passou então.
- Sim.
- Peraí, mas eu já te conhecia nessa época.
- Ahan. – Marina despistou.
- E por que não me falou nada?
- Porque não tive oportunidade ué. Ia chegar pra você
e falar: Hei, hoje é meu aniversário.
- Poderia ter falado meu anjo. A gente podia ter feito
alguma coisa especial.
- E fizemos.

Lívia a olhou curiosa.


- Foi no dia que você me levou na Pedra Bonita e na
confeitaria, eu adorei o passeio. Pra mim foi especial. –
Marina sorriu.

Lívia se lembrou daquele dia, era o mesmo do assalto.


Ficou penalizada e ao mesmo tempo com raiva da
garota ter passado por tal situação num dia especial
para ela. Marina era realmente simples, qualquer um
teria feito drama naquele dia.
- Vou tomar banho, já volto.

Bem que Lívia queria participar do banho, mas achou


melhor não. Tinha preparado uma noite mais que
especial e esperava que tudo desse certo. Combinou
com Fabrício para ir ao apartamento e receber Carlos e
Larissa e nem deixou espaço para que ele falasse da
compra do piano. Havia contado ao casal sobre o
relacionamento e eles confidenciaram que já tinham
notado, principalmente por sua ausência nas noites
cariocas.
Marina saiu do banho enrolada na toalha.

- Amor, vamos aonde? Que tipo de roupa devo usar?


- Nada formal, põe aquela roupa que você usou no
show da Urca.
- Ta bom.

Saiu do quarto já arrumada e viu Lívia usar o celular,


parecia mandar uma mensagem, mas não perguntou o
que estava fazendo.
- Estou pronta.
Olhou para ela e sorriu.
- Está linda! – Lívia estava tão sorridente que Marina
achou até estranho. A loirinha pegou sua mochila como
de costume. Subindo o elevador Lívia abraçou Marina
carinhosamente.
- Já disse que te amo?
- Disse, mas eu gosto de ouvir sempre.
- Te amo, minha loirinha bonitinha.

Quando as duas saíram do elevador e entraram no hall


o ambiente estava meio escuro.
- Ué, não tem luz? – Marina perguntou entrando já pela
sala.
- Tem sim. – Uma voz masculina respondeu, era
Fabrício.

Quando ele acendeu a luz que Marina pode ver o piano


ao longe, próximo às poltronas da sala. Sua voz sumiu,
não conseguiu dizer nada, piscou os olhos achando que
estava em outro lugar ou que errara de apartamento.
Olhou para Lívia que a olhava com ternura.

- Não vou dizer que um cliente me deu, porque você


não vai acreditar.
- Meu Deus! Como... Aonde... – estava pasma. – Por
que...
- Porque eu te amo. – Lívia falou em seu ouvido e
abraçando-a por trás.

Os olhos de Marina marejaram, nunca na vida sentira o


que estava sentindo naquele momento.
- Marina! Hoje teremos concerto. – Eduardo veio se
aproximando e tentando fazer com que ela não
chorasse. – É claro que você vai dar a honra de tocar
pra todo mundo não vai?

A loirinha olhou para o lado e aí que viu Larissa e


Carlos. Ainda estava paralisada. Virou-se para Lívia e
olhou nos seus olhos, ficou parada como se não tivesse
ninguém ali.

- Como você consegue me surpreender todos os dias?


- É pra você não enjoar de mim. – sorriu.
- Nunca! Você é a pessoa mais incrível que já conheci
na vida. É o meu alicerce, meu apoio, se tornou minha
vida. – as lágrimas rolaram e dessa vez não teve como
segurar. – Te amo muito. – Marina a abraçou se
envolvendo também nos braços de Lívia.
- Elas começam a me convencer. – disse Fabrício.
- Eu levo fé. – Eduardo sorriu.

Carlos e Larissa se aproximaram dos dois rapazes sem


nada dizer.

- Agora o concerto. – Eduardo interrompeu o momento


romântico.
- Eu nem trouxe partitura. – falou timidamente.
- Já te vi tocando sem ler, porque não pode agora? –
Eduardo falou.
- Ah Marina, Lívia falou que você é uma excelente
pianista. Podia nos dar o prazer de te ouvir. – Larissa
incentivou.

Marina então sentou no piano, que já estava aberto,


concentrou, fez o mesmo ritual que faz quando toca.
Tocou lenda do Caboclo de Villa Lobos, era mais lenta.
Depois tocou um chorinho de Ernesto Nazareth. Foi
aplaudida por todos. Lívia estava toda boba vendo a
namorada tocar. Seus olhos nem piscavam.

- Você toca Tom? – Carlos perguntou.


- Só se Eduardo me acompanhar.

Ela tocou Luiza, Garota de Ipanema, Águas de Março,


Samba do Avião e pra fechar Eu sei que vou te amar.
Depois tocou trechos de músicas que a banda tocava.
Atendeu ao pedido de Carlos que queria aprender a
tocar e o ensinou “parabéns pra você” no piano. Ele
ficou todo animado.

- Carlos, você como pianista é um fracasso. Ainda bem


que não ta nesse ramo. – Lívia brincou.
- Está de parabéns menina, você toca muito bem. Virei
seu fã. – Ele se dirigiu a Marina.
- Obrigada, estou começando ainda, mas um dia eu
chego lá.
- Vai chegar com certeza. – Lívia falou abraçando-a
cheia de orgulho.

Foram para a sala conversar e beber, até a hora do


jantar. Marina ainda não acreditava no que estava
acontecendo. Olhava para Lívia e sorria-lhe com tanto
carinho que a promotora se sentia enternecida. Depois
de certa hora todos foram embora, Lívia levou-os até a
porta e quando se virou, viu Marina olhando para o
piano e passando as mãos, como se o acariciasse.

- Acho que vou perder a vez pra esse piano. – se


aproximou. – Você está namorando ele mais que eu.
- Estou custando a acreditar.
- Você gostou do presente? – Lívia a abraçou por trás
como gostava.
- Gostar não é bem a palavra. Eu adorei, estou sem
palavras, não sei nem o que dizer. Posso dizer que te
amo? Que você sim é o meu melhor presente. Que não
consigo mais imaginar minha vida sem você nela. E
isso é mais importante que qualquer coisa. E me
pergunto às vezes, por que você é assim comigo?
- Porque eu te amo, porque quero proporcionar a você
o que tiver de melhor nessa vida e falo no sentido
material e emocional. Nunca se sinta sozinha, porque
terá sempre a mim. Se te dou presentes, não é para te
comprar, é pra ver seu sorriso, que eu tanto amo.
A loirinha não teve mais palavras, estava vivendo o
melhor momento de sua vida e queria curtir cada
segundo. Abraçou a namorada e a beijou com carinho,
demonstrando seu amor. Os beijos se tornaram
urgentes e seus corpos ansiaram por mais carícias.
Lívia empurrou Marina para se apoiar no piano,
fazendo-a esbarrar nas teclas.
- Acho melhor fecharmos. – Marina sorriu.

Lívia então fechou a tampa e colocou a namorada em


cima do piano, arrancou sua blusa em segundos e viu
aqueles seios arfantes e pedindo para serem tocados.
Chupou e sugou com vontade, arrancando gemidos
excitantes de Marina. Abriu sua calça e viu a calcinha
de renda preta transparente na frente, deixando
aparecer os pêlos aparados. Enfiou a mão por dentro da
calcinha e sentiu a namorada molhada.
- Delícia!

Baixou o corpo e sentou-se no banco do piano ficando


de frente para Marina, colocando suas pernas em seu
ombro. A visão era mais que privilegiada. Sugava,
lambia e percorria com as mãos aquele corpo pedindo
para ser amado. Marina gemia e arfava, tremia
involuntariamente. Lívia sabia tocá-la como se conhece
cada pedacinho dela. Quando chegou ao clímax suas
pernas amoleceram, foi amparada pela morena que a
abraçou e a pegou no colo.
Subiram para o quarto e deitaram na cama, Marina
ainda sentia o corpo mole.

- Está molinha?
- Estou. – respondeu com dengo.
- Hum... vem cá.

Marina se virou e deitou seu rosto no colo de Lívia,


ficaram abraçadas se acariciando, sentindo uma paz
muito grande, que só os amantes sentiam.
Adormeceram sem perceber.

No meio da noite, Marina acordou sentindo o peso do


corpo de Lívia sobre o seu. Gostava daquela sensação,
só depois percebeu que estava nua. Delicadamente se
virou para sair de baixo dela, o que fez com que Lívia
se virasse de barriga para cima, ainda dormindo. Ficou
pensando que devia estar cansada, pois dormira com a
roupa que estava usando na noite anterior. Como ela
estava de vestido não foi muito difícil tirar, baixou a
alça e tirou por baixo, deixando-a somente de calcinha.
Ficou admirando o corpo seminu da namorada.

“Tão bonita!”

Passou de leve a mão em sua barriga, nas pernas,


depois puxou a calcinha bem devagar e se ajeitou em
cima dela. Beijando seus seios, colo e pescoço. Lívia
sentiu os carinhos e a abraçou, Marina então, se
posicionou entre as pernas dela e começou a rebolar
bem devagar. Como Lívia fazia quando faziam amor.
Sentiu o sexo molhado e o contato aumentar quando a
morena abriu mais as pernas. Lívia pressionou a cintura
de Marina contra seu corpo e subiu as mãos por suas
costas a puxando para um beijo. Suas línguas se
encontraram e dançaram sincronizadas, assim como
seus corpos. Marina apoiou os braços nas laterais de
Lívia e aumentou o rebolado.
- Assim... ah... – a morena sussurrou soltando um
gemido.

Marina aumentou seus movimentos e as duas gozaram


ao mesmo tempo, selando o momento com um beijo
apaixonado. Lívia relaxou e somente sentiu aquele beijo
quente e molhado. Marina foi descendo por seu corpo
com mordidas até chegar entre suas pernas. Não
esperou muito para devorar aquele sexo encharcado,
Lívia puxava seus cabelos e gemia alto, sentindo a
língua dela penetrar em sua vagina. Gozou novamente
arqueando o corpo e puxando os lençóis. Marina sorriu
satisfeita por saber proporcionar prazer à namorada.
Sorria admirada, vendo aquele corpo respirar
descompassado. Lívia sentiu o olhar da namorada e
sorriu para ela ainda de olhos fechados.

- Onde aprendeu isso menina?


- Vendo minha namorada fazer.
- Hum... vem aqui. – esticou os braços para que ela se
deitasse.

Marina se aconchegou e ficou alisando os cabelos da


morena até que dormiu. Lívia sentiu que ela havia
relaxado o corpo. Dormiu em seguida.

Acordaram ao mesmo tempo, Marina estava agarrada a


Lívia, parecia sentir frio, o ar estava ligado e seus
corpos estavam descobertos. Lívia tentou puxar a
coberta, mas a loirinha a segurou.

- Não amor, fica...


- Só vou pegar a coberta meu anjo. – se esticou o
quanto pôde e puxou o edredom.
Marina acabou acordando, se espreguiçou e abraçou o
travesseiro com um sorriso no rosto. Olhava para Lívia
e sorria mais ainda.
- Que foi? – a morena perguntou.
- Estou olhando para você. – sorriu - Quando te vi pela
primeira vez, senti como se te conhecesse, seus olhos
eram familiares pra mim. Dizem que a gente reconhece
um grande amor pelo olhar. Será que te reconheci?
Lívia ficou envaidecida com aquelas palavras.
- Quem sabe? Eu me apaixonei pelo seu jeitinho. Ele
me conquistou aos poucos.
- Obrigada por me fazer a mulher mais feliz do mundo.
- Te fazendo feliz, eu também sou feliz.
- Amor, tenho a impressão de que depois que
começamos a namorar, você vai menos em Mauá.
- Não é verdade, quando você viajou eu fui. E eu vou
sempre, mas não é todo final de semana.
- Daqui a pouco sua mãe reclama e com razão.
- Ela entende quando não posso ir e quando falo que é
por sua causa ela nem liga.
- Eu adoro a sua mãe. – Marina sorriu.
- Ela também gosta de você. Vamos tomar um café? Ou
não está com fome?
- Depois dessa noite, estou morta de fome.
- Então vem bichinho faminto.

Lívia bem que tentou preparar um café, mas era muito


desajeitada. Queria fazer waffles, mas não deu certo.
- Cozinha realmente não é seu forte. – Marina brincou.
- Ai que fracasso. – falou desanimada.
- Já entendemos que nesse relacionamento eu cozinho
e você lava a roupa. Certo? – continuou brincando.
- Certo. Pode ser da lavanderia? – sorriu como uma
criança levada.
- Ai... ai...
- Pelo menos a calda do waffle ta boa. – Pegou colher
com chocolate e lambeu, depois pegou um pouco e
passou nos lábios da loirinha. – Hum que delícia! – se
aproximou para beijá-la. – Fica mais gostosa.
- Assanhada! – Marina lhe deu um tapinha no braço.
- Sou assanha, mas você adora. – Lívia veio se
aproximando com a colher suja de chocolate. – Essa
calda quente vai ficar ótima em você, vem cá vem...
- Não amor, vou ficar grudando. – Marina foi se
afastando.
- Vai nada, eu vou tirar tudinho. – olhava com cobiça
para o corpo dela.
- Não se aproxime.

Lívia vinha andando com um sorriso sem-vergonha nos


lábios e a sobrancelha arqueada. Marina saiu correndo
pelo apartamento e Lívia foi atrás.
- Vem aqui gatinha, não pode ir muito longe.
- Fique longe de mim.
- Ah, não tenha medo, eu prometo ser boazinha.
Gatinha... vem cá... – Lívia a olhava com desejo.
- Não amor, eu só trouxe essa roupa.
- Depois você pega uma minha. – Lívia tentava
encurralá-la. – Você não tem saída.

Marina olhou para um lado e para outro e realmente


estava presa. A campainha tocou e ela aproveitou a
distração da namorada e saiu correndo em direção a
porta, mas Lívia a pegou primeiro e sujou seu rosto
com chocolate.

- Peguei!
- Ah... olha só o que você fez... – Marina fazia beicinho,
mas ria ao mesmo tempo.
- Ta linda.
- É né? – pegou o restante da colher e passou no rosto
da namorada, até o pescoço.
- Sabe que vai ter que tirar isso não é? – levantou a
sobrancelha.
- Sei, com o maior prazer. – sorriu.

Abriram a porta e deram de cara com Fabrício e


Eduardo.

- Que é isso? Teve guerra aqui? – Eduardo falou.


- Uma perseguição. – Marina sorriu. – Bom dia
meninos. Entrem.
- Se tiverem se pegando, a gente volta depois. –
Fabrício implicou como sempre.
- Deixa de ser bobo menino. A gente não se “pega” o
dia todo. – Lívia falou.
- Era só uma brincadeirinha. – Marina falou sorrindo.
- Estávamos tomando café, vamos pra cozinha.
As duas levaram os garotos para a cozinha e se
sentaram a mesa.

- Vão ficar sujas assim?


- Claro que não. – Marina respondeu a Fabrício. Depois
pegou um papel toalha e foi limpar a namorada.
- Não era bem assim que eu queria. – Lívia fez bico.
- Depois a gente conversa melhor sobre esse assunto.
– Marina sorriu carinhosamente recebendo em troca um
beijo
- Eu fico chocado com esse relacionamento. Eduardo
estou vendo mesmo o que estou vendo?
- Está. – Eduardo sorriu.

Marina limpava o rosto da namorada e recebia os beijos


mais doces.

- Isso é o que eu chamo de relacionamento meloso. –


Eduardo brincou.
- Literalmente. – Lívia achou graça. – Vamos tomar
café, a intenção era fazer waffles, mas não deu muito
certo.
- Só tia Marta que sabe. E os delas são de comer
rezando.
- É verdade. – Marina concordou.
- Você já comeu os waffles dela?
- Eu já.
- Ih, então vai dar casamento mesmo. Tia Marta nunca
fez waffles para nenhuma das namoradas de Lívia.

O comentário de Fabrício soou um tanto esquisito, ele


mesmo percebeu e tentou consertar.

- Digo... ela deve gostar muito de você pra ter feito


waffles.
- Quem não gosta de Marina? – Eduardo desconversou.
- Por isso eu tomo conta. – Lívia falou com um
semblante sério.
- Nem precisa, já estou satisfeita com o que tenho. –
Marina lhe sorriu.
- Então, passamos aqui pra saber se vocês não topam
pegar uma praia.
- Hum, o sol está convidando mesmo. – Lívia se
animou.
- Eu trouxe meu biquíni, deixei aqui da última vez que
vim. – Marina falou um tanto tímida.
- Oba, então dá pra ir. – Eduardo logo se levantou.
- Então vamos trocar de roupa, já voltamos. – Lívia
levantou e levou Marina com ela.

No quarto Marina pegava o biquíni, a parte de baixo era


preta e a de cima era estampada em tons de amarelo,
vermelho e verde. Lívia havia entrado no closet para
pegar o seu. Quando saiu já viu a namorada
devidamente vestida. Apenas ajeitando a camiseta.
Usava um short jeans também. Terminaram de se
arrumar e desceram.

Já na praia, andaram pela orla um tempo até que


pararam em um quiosque. Lívia pediu água de coco
para ela e Marina, Fabrício e Eduardo foram de cerveja.
Por conta do calor Marina tirou a blusa e ficou só com a
parte de cima do biquíni, Lívia olhou de soslaio
percebendo os olhares alheios em cima da namorada.

- Amor, tem que passar filtro solar. – falou como se


estivesse em casa, nem deu atenção aos que
prestavam atenção. Pegou na bolsa o protetor solar e
passou nas costas da loirinha e depois no rosto. –
Apesar de estarmos na sombra, esse mormaço também
queima.
- Deixa eu passar em você. – Marina pediu o frasco.

Lívia tirou toda a roupa e ficou só de biquíni e Marina


então pode passar o protetor no corpo todo dela.
Marina não percebeu, mas dois alunos da faculdade
passaram por perto e a viram fazer aquilo, olhavam
curiosos e deram uns sorrisinhos cínicos. Eduardo viu e
balançou a cabeça negativamente.

- Que foi? – Fabrício cochichou.


- Aqueles dois ali olhando para Marina. Uma duplinha
de músicos fofoqueiros que tem naquela faculdade.
- Eu acho que Marina deveria tomar mais cuidado, as
duas, aliás.
- Depois vou conversar com ela.

Marina terminou o que estava fazendo e Lívia continuou


deitada. Ficou conversando com os meninos, até que
ela e Eduardo resolveram dar um mergulho.

- Depois eu vou, quero ficar aqui no sol um pouco,


pegar uma corzinha porque estou desbotando.

Marina tirou o short e foi com Eduardo. Dentro da água


os dois brincaram com as ondas. A praia não estava de
tudo vazia, mas dava para nadar sem esbarrar em
ninguém. Em determinada hora Eduardo comentou com
ela sobre os garotos e a alertou.

- Tem que ficar de olho Marina, esse povo é maldoso e


pode fazer fofoca. Sei que ninguém tem nada com a
sua vida, mas falo por Monica, ela ainda não sabe de
nada. E se desconfia que fique assim por um tempo,
até ver qual a dela.
- Hugo comenta alguma coisa?
- Não, ele é um cara muito correto. Ele sabe do meu
relacionamento com Fabrício, mas nunca falou nada.
Nem contra, nem a favor. Fica na dele.
- Entendo, tomarei mais cuidado.
- Lívia, poderia ser mais discreta com Marina quando
estiverem na rua? – Fabrício também aproveitou pra
comentar.
- O que? – Lívia não entendeu.
- Eduardo viu dois caras da faculdade passarem aqui e
eles viram Marina passando protetor em você. Esse
povo é muito fofoqueiro, isso pode prejudicar a menina
depois na faculdade.
- Ninguém tem nada com a nossa vida.
- Eu sei, mas você ainda tem uma posição privilegiada
perto dela. Já está encaminhada na vida, ela está só
começando e isso pode atrapalhar.
- Tudo bem. – respondeu e se virou de costas.

Os dois saíram da água e voltaram para o quiosque.


Marina veio andando e torcendo o cabelo, depois o
balançou para tirar o excesso da água, não teve quem
não a olhasse. Apesar de ainda ser nova, seu corpo já
começava a chamar a atenção, pelas curvas que
surgiam.

- Nossa que gata! – Fabrício sorriu.

Lívia que estava de costas se virou para olhar quem era


e viu Marina chegando. Seu corpo parecia estar
dourado, por causa do reflexo de sol. Comeu a loirinha
com os olhos e só depois que ela chegou perto que teve
noção de que o biquíni que ela usava era bem sensual,
ou ficara sensual nela.

- Posso saber onde arranjou esse biquíni? – a olhou


com uma sobrancelha levantada.
- Ué, trouxe lá de casa, você não disse que era bom ter
um biquíni aqui?
- Sim, mas não um biquíni mínimo que nem esse.

Marina achou graça.

- Não é mínimo, é maior que o seu, que está cavado


demais.
- Ihh, estão tendo a primeira DR. – Eduardo brincou.
- Não é cavado nada, você já me viu com ele?
- Vi, mas não quer dizer que não o tenha achado
pequeno demais desde a primeira vez que o vi.
- Meu biquíni é cavado Fabrício? – Marina perguntou.
- Sei de nada, eu uso é sunga. – ele riu.
- Senta que você está chamando muito atenção desse
jeito. – Lívia falou sério para Marina.
- Como é que é?
- Você veio andando e todo mundo olhou.
- O que é bonito é pra se ver mesmo. – Fabrício falou.
- Não o que é meu. – a morena continuava séria.

Marina se sentou na beirada da mesma cadeira que


Lívia estava e segurou a mão dela.

- Meu anjo, mesmo que olhem, eu não dou confiança.


Esse é o único biquíni que eu tenho aqui no Rio e
mesmo que tivesse outros, você implicaria do mesmo
jeito. Eu também acho o seu meio curto, mas posso
falar com sinceridade?
Lívia a olhou como se esperasse pela resposta.
- Eu até gosto, assim posso ver as pessoas te
admirando, mas sabendo que você é minha. – Falou
baixo e delicadamente, como sempre fazia quando
conversava com Lívia.
- Tem como resistir? – Lívia olhou para os dois, que já
estavam rindo da cena. – Depois Fabrício diz para me
comportar perto de você.
- Pois é, isso é um assunto para resolvermos depois.
Quanto àquele pessoal da faculdade, devemos só
evitar, não custa nada.
- Não vai colocar sua roupa? – Lívia voltou ao assunto
do biquíni.
- Pra que?
- Ora, pra... pra... o sol está forte.
- Lívia, estamos na sombra e eu estou com calor. Aliás,
alguém quer água de coco, eu vou buscar.
- Chame o rapaz que ele traz aqui.
- Eu vou lá.
- Vou te ajudar. – Fabrício se levantou.

Marina foi andando com ele e até chegarem à barraca o


rapaz falou brincando.

- Lívia é jogo duro hein, não provoca o ciúme dela


senão terá problemas.
- Não tem motivos para ter ciúme. O meu biquíni está
curto mesmo? – falou meio insegura.
- Não menina, está normal, ela que está fazendo graça.

Quando voltaram a morena estava deitada de bruços e


de costas. Além do coco eles trouxeram água comum.

- Quer? – a loirinha perguntou a namorada.


- Agora não. – respondeu sem olhar para ela.

Marina olhou para Eduardo e Fabrício e fez uma cara de


sapeca, pegou a garrafa de água e derramou nas
costas de Lívia.

- Acho que precisa se refrescar.


- Ai Marina! – Lívia deu um pulo da cadeira.
- Molhar é bom, pra hidratar a pele.

Lívia emburrou e fechou a cara, sentou-se na cadeira e


pegou o coco ao seu lado. Marina a olhou sorrindo e ela
não devolveu o sorriso. Então a loirinha sentou-se ao
lado dela e acariciou seu braço.

- Mulher brava! Que eu amo. – falou só para ela ouvir.

Ainda ficaram um tempo ali. Mais tarde resolveram


almoçar num restaurante próximo e que permitia a
entrada de pessoas com roupa de banho. Marina vestiu
somente o short, ficando com a parte de cima do
biquíni, ainda contrariando a namorada. Depois do
almoço voltaram para casa. Fabrício e Eduardo se
despediram das duas e elas subiram para o
apartamento. Assim que entrou no prédio Marina quis
lavar o pé que estava sujo de areia. Quando entrou no
apartamento Lívia a agarrou de repente e arrancou a
parte de cima do biquíni.

- Vou dar um sumiço nesse biquíni indecente. – jogou a


peça longe e depois desabotoou o short da loirinha num
segundo, puxando a parte de baixo do biquíni junto. –
Quem tem que ver esse corpo sou eu e mais ninguém.
– ia beijando cada parte que via pela frente.

Marina não teve como argumentar. E Lívia não fez


rodeios.

- Abra as pernas para mim. – Falou incisivamente e


meteu a mão entre as pernas da loirinha e tocou seu
clitóris fazendo uma pressão, ao mesmo tempo em que
a outra mão apertava o bico do seio e ali mesmo na
entrada do apartamento fez amor com a namorada.
Quando sentiu que a loirinha amoleceu a beijou com
carinho. Marina havia ficado calada, como se não
tivesse gostado de tal situação, mas não reclamou.
Depois apenas pegou as roupas jogadas no chão e
subiu para o quarto. A promotora estranhou a reação
dela, mas nada falou. Deixou suas coisas na área de
serviço, pois tinham areia e também subiu, ao entrar
no quarto viu que Marina estava no banho. Tirou o
biquíni e entrou no box, Marina estava de costas e
fingia ou não tinha percebido a aproximação de Lívia.
Ela pôs as mãos em seu ombro e beijou o topo de sua
cabeça. Marina não se virou, então a morena deu a
volta e viu que ela estava chorando.
- Que foi amor? – perguntou preocupada.

Marina não conseguiu falar, cobriu o rosto com as mãos


e chorou mais ainda. Lívia a abraçou o mais forte que
pode.
- Fala meu anjo, o que aconteceu?
- Se acha que fico me exibindo para as pessoas ou que
quero chamar atenção, está enganada. – falou entre
soluços. – Eu não sou esse tipo de mulher que pensa. E
eu não sou um objeto do qual você pode pegar a hora
que quiser e do jeito que quiser. – saiu do box e pegou
a toalha.

Lívia ficou imóvel por um segundo, não sabia o que


fazer. Precisava tomar banho e precisava ir atrás de
Marina. Deixou a água cair por seu corpo só para tirar a
maresia e correu atrás da loirinha. Marina já ajeitava
suas coisas no quarto para ir embora.

- Espera! Marina, por favor, me espera.

Ela não deu ouvido e pegou sua mochila. Lívia,


enrolada na toalha, foi atrás e pararam na sala.

- Calma! Desculpa, por favor, me desculpe. Me perdoa,


meu amor, me perdoa. – Sua voz era preocupada. –
Não achei que fosse se ofender, eu estava com ciúme,
me precipitei, desculpa. Não fiz por mal e não quis te
tratar daquela forma, não pensei que te magoaria.

Marina forçava se soltar, mas não conseguia, pois Lívia


era mais forte.

- Me solta!
- Não!
- Você não pode me obrigar a ficar aqui.
- Não posso, mas, por favor, me escuta. – soltou-a. -
Você pode ir, mas me escuta primeiro.

Marina parou então e a escutou.


- Eu não quis te magoar, não achei que fosse se
ofender. Foi meu instinto que falou mais alto. Desculpa.
Achei que fosse gostar, eu errei. Não faço mais isso,
prometo. Não vai embora, ficamos juntas só no sábado
e domingo, não me prive mais da sua companhia.
Fique, por favor. – pedia com toda sinceridade.
Marina parou e olhou para o chão como se tivesse
vergonha de alguma coisa. Lívia aproveitou que ela
parecia se render e a abraçou.
- Me perdoa. Não vou fazer mais. Achei que... que ia
gostar. Não sei. – tentava se explicar.
- Não gosto de ser tomada a força... ninguém mais vai
fazer isso comigo. – Marina retomou o choro e
escondeu o rosto no peito da namorada.

Lívia não entendeu o que ela disse, somente a abraçou.


Depois pegou a mochila dela e colocou na cadeira,
depois sentou com Marina no sofá. Ela ainda chorava.
Ficou acariciando seus cabelos até que ela se
acalmasse. Quando ela parou e a olhou com aqueles
olhos verdes, mas vermelhos pelo choro, ficou
sensibilizada.

- Amor, que foi? Não estou desmerecendo sua reação,


mas me parece que tem mais coisa acontecendo. Quer
me contar?

Marina abaixou a cabeça.


- Não tenha vergonha de mim.

A loirinha tomou fôlego, passou as mãos no rosto para


limpar as lágrimas, depois olhou nos olhos de Lívia e
falou.
- Já fui violentada uma vez.

A morena arregalou os olhos e não soube articular uma


palavra.
- Vou te contar isso somente uma vez, porque é um
assunto que só minha mãe sabe.
Lívia a olhava demonstrando toda sua atenção.
- Quando eu tinha oito anos, tínhamos um vizinho que
era casado e não tinha filhos. Ele e sua mulher sempre
gostaram de criança, então eu ia muito lá. Um dia ele
estava sozinho em casa e me chamou pra sentar no
colo dele, eu fui. Daí ele começou a passar a mão em
mim e me lamber. Eu não entendia o que estava
acontecendo, mas sabia que aquilo não era certo, afinal
estávamos numa sala que ele tinha como uma oficina e
ela ficava bem escondida.
Lívia apertava a mandíbula num gesto tenso e cerrava
o punho. Marina continuou.
- Não sei dizer quanto tempo eu fiquei ali, mas ouvimos
um barulho no portão da casa e era a esposa dele
chegando, então ele me soltou e eu saí correndo. Ele
sabia que eu não contaria nada, por isso nem me
ameaçou. Nunca mais entrei na casa dele sozinha. Mas
pra minha desgraça meu pai o chamou pra ajudar com
alguns serviços no sítio e ele vivia rondando meu
quarto. Nessa época eu já era uma mocinha, devia
estar com uns doze anos. Um dia ele entrou no meu
quarto enquanto dormia, só não fez nada porque meu
irmão chegou na hora.
- Seu irmão percebeu?
- Não, esse vizinho é um senhor muito católico, muito
solícito ali na região e ninguém desconfia dele, pelo
contrário. Gostam muito dele e da esposa. Depois de
alguns meses meu pai o dispensou.
- Ele ainda é vivo?
- É, mas está entrevado numa cama, a esposa que
cuida dele. Diversas vezes meu pai já foi lá ajudá-la a
levantar ele da cama ou do chão, pois como é muito
grande e gordo, às vezes cai e a esposa não aguenta
levantá-lo. Como eu sumi da casa deles sempre me
cobravam uma visita, aí um dia contei pra minha mãe o
motivo deu nunca mais ter voltado lá. Ela chorou tanto,
disse que eu deveria ter contado na época, mas eu não
entendia direito o que era e sentia vergonha.
Quando Marina acabou de falar, Lívia estava respirando
pesado, parecia bufar de raiva. Seus olhos pareciam
escurecidos de ódio.

- Esse infeliz devia estar na cadeia.


- Existem muitos como ele e eu penso em quantas
crianças não o visitaram que ele não fez o mesmo que
fez comigo.
- Cretino desgraçado! – fechou o punho dando um soco
na poltrona.
- Jurei que nunca faria nada de que não tivesse
vontade. Principalmente sexo, ter alguém a força é um
ato de crueldade sem tamanho. – sua voz saiu chorosa.

Lívia a abraçou tão forte, como se quisesse mostrar que


tudo estava bem.
- Não fique assim meu amor, já passou e hoje ele está
tendo o que merece. Deus sabe o que faz. Isso me
revolta de uma forma como não sei explicar. Sabe
disso, pois coloquei na cadeia aquele imbecil do qual
falamos aquela vez. – Lívia pegou as duas mãos de
Marina e as beijou. – Sinto muito que tenha passado
por isso. Prometo, juro pela minha mãe que nunca vou
te forçar a nada. Nosso relacionamento será baseado
no consentimento mútuo. Está me entendendo? Não
quero que nada de mal lhe aconteça. – A beijou nos
lábios. – Eu te amo Marina. – Lívia voltou a abraçá-la
sentindo uma dor no coração. Estava com pena e ao
mesmo tempo com raiva da própria atitude. Ficou
sensibilizada com a situação de Marina e nunca poderia
ter imaginado que algo assim tivesse acontecido com
ela.

Mais a noite quando estavam assistindo TV, Eduardo


ligou as convidando para ir até a casa de Fabrício, as
duas aceitaram e foram até lá. O apartamento de
Fabrício era a prova viva de que homem solteiro
morando sozinho não dava certo.

- Se não fosse a faxineira isso aqui seria uma desordem


geral. – Lívia brincou.

Marina ficou impressionada com a quantidade de livros


e papéis que tinham espalhados pela casa.

- Como você consegue morar aqui? – Lívia continuou.


- Eu me entendo nessa papelada que, aliás, vem tudo
do seu escritório.
- Ele não me parecia desorganizado. – Marina falou
baixo para que o rapaz não escutasse.
- Mas ele é. – Lívia respondeu no mesmo tom e
achando graça da cara da namorada.
- Eu bem que tento arrumar, mas não tem jeito. Ele
bagunça tudo de novo. Ainda bem que nem trago
minhas partituras pra cá, senão perderia todas. –
Eduardo falou.
- Parem de reclamar, não é sujeira, são só folhas.
- Ahan. – os três responderam ao mesmo tempo, rindo
depois.

Fabrício os chamou para sentarem na varanda, não era


grande, mas o suficiente para acomodá-los. Tinha uma
mesa e três cadeiras, sendo que uma era grande. Então
Lívia se sentou e acomodou Marina em seu colo.

- Mas vocês não se desgrudam né? – brincou com as


duas.
- Ué, você não tem outra cadeira. Vou sentar aonde? –
Marina brincou.
- Eu pego uma lá na cozinha, fique com a minha.
- Não precisa, porque ela está muito bem aqui. – Lívia
o interrompeu.
- Aí, num disse? Não desgruda.
- Eu acho que ele tem inveja de vocês. – Eduardo
brincou.
- Também sinto isso. – Marina sorriu. – Há quanto
tempo estão juntos?
- Vamos fazer dois anos de namoro.
- Nossa, tem tempo.
- Eduardo é um santo. Aguentar Fabrício esse tempo
todo não é moleza. – a morena brincou.

Fabrício, que tinha ido a cozinha buscar bebida, voltou


com uma bandeja.

- Marina, como você não bebe, trouxe suco.


- Ah, obrigada.
- Você trás bebida e cadê as coisas que compramos no
mercado? – Eduardo perguntou.
- Não dá pra trazer tudo de uma vez. Você sentou aí e
não levantou ué.
- Ta, vou te ajudar. Era só pedir.

Os dois eram engraçados juntos, pareciam casados há


anos. Foram para cozinha reclamando.

- Apesar de brigarem assim, eles se amam. Nunca vi


tanta cumplicidade. Quando um precisa o outro vai
correndo.
- Eles têm diferenças, mas combinam e se completam.
– Marina sorriu.
- Eu completo você?

Marina pensou para responder.


- Você me sacia. – respondeu sério e olhando para
Lívia. – Você trás o que eu preciso, satisfaz minhas
necessidades e tira o melhor de mim. Isso deve se
completar. – sorriu.

Lívia beijou aqueles lábios que lhe sorriam.


- Se eu fosse um quebra-cabeça a se montar, você
seria a peça mais importante. Eu sempre achei que
tinha tudo que precisava, que dinheiro comprava o que
queria e que estava feliz. Só quando você apareceu em
minha vida que percebi o quanto me faltava e o quanto
estou melhor agora.

Beijaram-se de novo e trocaram carinhos.


- Muito romântica a frase do quebra-cabeça viu. –
Marina riu e beijou o nariz da namorada.
- Foi a forma que tive de me expressar melhor. – Lívia
fez uma careta.
- Linda.
- Te amo. – sussurrou em seu ouvido como se
estivesse contando um segredo.
- Eu também. – Marina fez o mesmo.
- Ô chamego! Ainda bem que não são diabéticas, de
tanta melação viu. – Eduardo veio trazendo as coisas
de comer.
- O tempo vai passar e isso vai acabar. – Fabrício
trouxe mais bebida num isopor. – Acabam os carinhos,
as palavras delicadas tipo, amor, meu bem, querida. De
repente começam os apelidos sem lógica tipo, Bê, que
é abreviação de bebê ou inha, abreviação de gatinha.
Ridículo – revirou os olhos fazendo as duas rirem. –
Quando passar de um ano acaba isso tudo e o sexo vira
rotina, passa a ser marcado. Duas vezes por semana,
três vezes por mês.
- É, aí a TV fica mais interessante e o namoro mais
calmo.
- Primeiro, nos tratamos por apelidos praticamente
quando estamos a sós. – Lívia quis retrucar.
- Mentira, que eu já vi você chamando Marina de amor,
de gatinha. – Fabrício revidou.
- Não terminei... Segundo, já assistimos TV juntas e
nada é monótono.
- Se já começou com a TV logo no início, imagina daqui
uns tempos, vocês...
- Terceiro, não fazemos sexo, fazemos amor.
- Touché! – Eduardo bateu a mão na de Lívia num
gesto de cumprimento.
- Me limito a ficar quieta, já tenho advogada para me
defender. – Marina beijou a morena.
- Eu brinco com vocês, mas no fundo eu sou da torcida
organizada para sair casamento. – Eduardo sorriu e
tomou um gole da cerveja. – Lívia sabe que torço pela
felicidade dela e vejo Marina uma candidata certa para
isso.
- Ainda bem. Não quero que ela abra concurso e vagas
para outras se candidatarem.

Todos riram da loirinha.


- E nem você. – Lívia brincou.
- Não! Eu estou satisfeitíssima com o meu quebra-
cabeça. – Marina pegou os dois braços da namorada e
envolveu sua própria cintura, se aconchegando.
- Que quebra-cabeça? – Eduardo ficou confuso.
- Nada, coisa nossa.
- Aí já têm até códigos de conversa. – Fabrício
implicou.
- Marina, não sei como consegue disfarçar esse
relacionamento de Monica. Ou ela é muito sonsa ou
você é excelente atriz.
- Eu acredito na primeira opção. – Fabrício riu.
- Monica já está desconfiada, mas não tem coragem de
me falar. Talvez ela não saiba qual será a própria
reação, então prefere fingir que não vê. Ela já até
incitou um relacionamento entre você e eu.
- Sério? – Eduardo acabou rindo.
- Verdade. Aquela vez que ensaiamos e eu fui para o
apartamento de Lívia, ela acha que fiquei no seu
apartamento e que rolou alguma coisa. Sinceramente
eu disse que não rolava nada, mas também não estou
forçando a barra. Se ela acha isso mais fácil assim.
Claro, se você não se importar.
- Por mim tudo bem.
- Eu até pensei que vocês dois poderiam simular um
relacionamento mesmo. – Lívia sugeriu. – Tudo bem
Fabrício?
- Tudo bem, se fosse outra pessoa eu não gostaria,
mas Marina é tranquila.
- A gente vai levando pra ver aonde vai dar isso. –
Marina falou. – Só que essa situação me incomoda, não
gosto de mentir para Monica, apesar de achar
necessário.
- Pode até ir levando, mas não por muito tempo,
porque Monica não é boba. Como vai fazer pra estudar
no piano novo? Vai dizer que Lívia comprou porque quis
ajudar? Outra vez? Não bastasse o teclado, agora um
piano. Sem chance de ela aceitar isso.
- É. Não tinha pensado em como falar isso pra ela.
Posso dizer que estou estudando com você. Ela não vai
me acompanhar mesmo.
- Por enquanto pode dar certo, mas...
- Mas quando não der mais a gente pensa em outra
coisa. Não vamos ficar imaginando antes de acontecer
não é? – Lívia interrompeu o assunto.
- No momento em que eu julgar certo, falo com ela.
Não vou mentir para minha melhor amiga.

A conversa durou até tarde da noite. Lívia e Marina se


despediram dos dois e voltaram para o apartamento.

Na segunda Marina ficou no apartamento na parte da


manhã para estudar.

- Se precisar de alguma coisa me liga ta? – Lívia beijou


os lábios da loirinha.
- Tudo bem. Bom trabalho. Te amo.
- Também te amo e bons estudos. Te ligo mais tarde.

Marina estudou a manhã toda e quando deu a hora foi


para a faculdade. Encontrou com Monica na cantina.
Estava animadíssima, contando detalhes da viagem.

- Má, a cidade é linda. Quero morar em Parati.


- Ah sim, largar os estudos e me deixar sozinha.
- Não boba, quando eu estiver bem velhinha,
- Ta certo.
- Hoje à noite você tem ensaio?
- Não.
- Preciso que me ajude nessas músicas aqui. – Monica
mostrou as partituras. – São para o exame final. Vou
comer essas músicas, nem peguei na flauta esse final
de semana.
- Eu tenho estudado viu. Eduardo arranjou um piano
pra mim, não venho mais na faculdade. Está muito
difícil marcar hora aqui, o pessoal só dá preferência aos
veteranos. – Marina aproveitou para colocar o assunto
do piano no meio da conversa.
- Hum, arranjou um piano. Prestativo, não?
- Ele tem me ajudado. – sorriu.
- Sei. – falou com ar debochado.
- Deixa de ser besta, vamos pra aula, você precisa é
estudar menina.

Estudaram até tarde da noite. Os vizinhos não


reclamavam do barulho, pelo contrário, até gostavam.

Na aula de Marina, Marconi pediu que ela tocasse com


outro aluno, assim como estava fazendo com Monica.
Ela aceitou, mas com isso teve mais trabalho, pois
seriam mais duas músicas para estudar. Combinou com
o rapaz de estudar na parte da tarde, após sua aula de
piano. No meio do ensaio ele soltou uma piadinha que a
desagradou.

- É... Marina, está requisitada na faculdade. Ta famosa


logo no primeiro período. Vem até de carrão.
- Que nada, eu ralo como todo mundo. – se limitou a
responder o óbvio.

O rapaz viu que não tinha chance de esticar a conversa,


então retornou ao ensaio.

Quando chegou em casa, Marina quis tocar no assunto


com Monica.

- Esse povo da faculdade é fofoqueiro mesmo. Nunca


vi.
- Está falando de que?
- Estava ensaiando com um menino, aquele da flauta. E
ele veio fazendo piadinha, dizendo que só chego na
faculdade de carrão. Isso aconteceu umas poucas
vezes.
- Eu já ouvi isso também.
- Já?!
- Semana passada. Não te falei nada, porque sabia que
ia se chatear. O povo ta falando que você é sapatão. –
Monica falou tranquilamente.
- O que? – Marina estava vermelha de vergonha. –
Mas...
- As pessoas são cruéis Marina.
- Engraçado, eu ando sempre com você e Eduardo.
- Deve ser por isso, sabem que Eduardo é gay. Acham
que você é também.

Marina ficou desconsertada. Monica continuou.

- Eu não sei qual é a de Eduardo, às vezes acho que ele


gosta de você. E acho que aquela prima de Fabrício
gosta de você também. Ela te olha como se fosse te
comer. Eu não entendo é o Fabrício nisso tudo.

Marina lembrou-se da conversa no dia anterior e


resolveu jogar com o que podia, mas Monica perguntou
antes.

- Você sente alguma coisa por Eduardo?


- Eu gosto dele, não sei dizer...
- Hum... Sabia que tinha coisa aí, acho que ele também
gosta de você. Agora tome cuidado com aquela mulher,
ela tem cara de encrenca.

Marina não gostou do que Monica falou de Lívia, teve


vontade de defendê-la, mas sabia que não podia. Se
Monica soubesse o que Lívia já tinha feito por ela,
pensaria diferente, com certeza.

No dia seguinte ela contou à namorada sobre a


conversa e omitiu o comentário da amiga. Lívia disse
que o certo por hora era disfarçar mesmo.

- Hoje não tenho aula a tarde, vou estudar lá no


apartamento. Posso?
- E precisa pedir? Claro que pode.
- Estou com a chave que você me deu, vou direto e te
espero lá.
- Ta bom.

Quando Lívia saiu do elevador, chegando ao


apartamento, já ouvia Marina estudando. Parou um
tempo e ficou ouvindo. Sorriu sem perceber. Abriu a
porta devagar para Marina não perceber, mas seu
celular tocou e acabou lhe entregando. A loirinha se
virou e ia se levantando quando ela fez sinal para que
continuasse.
- Não pare vou atender na cozinha.

Marina continuou e poucos minutos depois Lívia voltou,


beijou o topo de sua cabeça e parou ao lado do piano.
Marina somente terminou o exercício que executava e
parou.

- Está tocando há muito tempo?


- Entre uma parada e outra acho que tem umas quatro
horas, mas eu paro de uma em uma hora. – disse
esticando as costas e em seguida levantando para
abraçá-la.
- Saudade de você! – falou com certa manha e beijando
seus lábios calorosamente.
- Hum, que beijo bom. Gostei dessa saudade aí.
- Acho que estou carente. – abraçou a namorada pela
cintura, encostando a cabeça em seu peito.
- É por causa do que conversamos hoje? – Lívia passou
os braços pela cintura dela.
- Sim. Por que as pessoas tomam tanta conta da vida
dos outros?
- Porque não têm nada mais útil para fazer. Não ligue
meu anjo, isso vai acabar passando. Eduardo já passou
por isso e hoje ele nem liga.
- Como posso inventar um namoro com ele, se todo
mundo diz que ele é gay?
- Nossa questão não é o pessoal da faculdade, é
Monica. E isso vai durar pouco.

Marina estava confusa, mas pensava que o certo


mesmo era fazer o que tinham combinado.

- Falei sobre um piano pra Monica, mas minha vontade


era contar que você tinha me dado o presente mais
lindo que já ganhei.
- Disse exatamente o que?
- Que Eduardo tinha conseguido um piano pra que eu
estudasse.
- Ótimo, ela deve ter achado estranho.
- Claro. Mas não tem problema, isso vai protelar as
coisas.

As duas foram para a cozinha lanchar e para surpresa


de Lívia, Marina quis dormir lá mesmo. Achou uma
excelente ideia.

As semanas iam passando e cada vez que se


aproximava das provas finais, mais corrido ficava.
Marina se alternava entre estudar, ensaio da banda e
com Monica e o outro aluno. A amiga tocou para um
harpista e também ficou bem atarefada. Eduardo fez
dupla com Marina em música de câmara e estavam se
dando bem.

- A gente entrosa fácil hein Dudu.


- É, coisa de músico bom. – ele brincou.

Os dois ensaiavam em uma sala na escola e sempre


passava alguém para ouvir. Monica se animou ao ver os
dois tocando juntos.

Lívia ficou enrolada com um processo que demorou


mais do que esperava, com isso Fabrício também se
complicou, mas no final tudo foi resolvido. Faltavam
duas semanas para os exames finais e Marina estava
uma pilha de nervos por conta de tantos compromissos.
Eduardo tinha fechado quatro shows, além dos que
faziam no bar e isso acabou de completar a agenda. No
final do quarto show, os músicos desceram do palco e
sentaram-se à mesa onde estava o pessoal.

- Esse bar é bem legal hein, mais chique que o outro. –


Monica observou.
- Sim, pagam mais também. – Eduardo falou enquanto
guardava o violão.
- Amiga, temos visitas hoje. – Monica se referia a
Hugo.
- Hugo não é visita Monica, ele praticamente mora com
a gente.

O namoro dos dois ia a mil maravilhas.

- Você está cansada. Nota-se isso a distância. – Monica


continuou.
- Preciso de férias urgentes. Não durmo direito, acordo
de madrugada, não consigo mais dormir uma noite
toda.

Monica sabia que as idas de Hugo atrapalhavam, o


barulho da rua também e que Marina nunca reclamava,
mas pra ela chegar a comentar é porque realmente
estava cansada. Fabrício ouvia a conversa e deu a
deixa.

- Marina, se quiser pode ficar lá em casa.


- Ou lá em casa. – Eduardo falou.
- Viu, tenho muitas opções. – Marina brincou com a
amiga.
- No meu apartamento tem espaço também, pode ficar
num quarto sozinha. – Lívia se meteu na conversa. –
Moro no alto o único barulho que se escuta é do vento.
- Aí Marina, no apartamento de Lívia você vai dormir
bem. – Ele sorriu com malícia, levando um beliscão da
prima.
- Vou ver, acho que vou aceitar mesmo, assim Monica
fica numa boa com o namorado e eu descanso. Senão
não chego viva para as provas.

Monica adorou a ideia, mais porque ficaria à vontade


com Hugo.

No dia seguinte Marina pegou suas roupas e foi embora


com Eduardo depois que saiu da faculdade, mas ele a
deixou no apartamento de Lívia, que já a esperava na
entrada.
- Oi gatinha. – beijou-lhe os lábios.

Marina estava visivelmente cansada e apesar de não


parecer Lívia também estava.
- Pedi uma lanchinho pra gente, não sei se está com
fome.
- Acho que estou com fome sim.
- Acha? – Lívia achou graça.
- É, lembro que lanchei à tarde, mas acho que não comi
nada depois. O dia hoje foi danado.
- Nem me fale.

As duas foram para a cozinha.


- Meu dia foi tão tumultuado também. Semana que
vem preciso ir a Curitiba. Tem uma audiência lá. Vou
carregar Fabrício comigo.
- Nossa, é muito complicado?
- Mais ou menos, mas está tudo esquematizado. Faz
uns dois meses que trabalho nesse caso.
- Eu reclamando e você cheia de trabalho também.
Desculpe.
- Não tem problema, meu trabalho é meio chato
mesmo. Fica difícil partilhar dos detalhes.
- Eu não acho chato, pelo contrário, acho emocionante.
Queria muito te ver num tribunal.
- Sério?
- Verdade, já te falei isso.
- Então uma hora eu levo você. Devo ir a Curitiba
outras vezes, aí levo você comigo.

Marina sorriu franzindo o nariz, deixando Lívia


encantada.
- Podemos tomar um banho? Estou com cheiro de
fumaça de cigarro de gente fumando no ônibus. – a
loirinha fez uma careta.

Lívia se aproximou dela e cheirou seu pescoço.


- Ta nada, seu cheirinho é muito bom.
- Sem contar que estou com o nariz entupido, não
entendi porque tinha máquina de fumaça naquele bar
ontem. Acho que essas coisas se usam em shows e eu
tenho alergia. Só não comecei a espirrar porque o lugar
era grande.
- Então vamos para o banho. Tem uma banheira nos
esperando.
- Adivinhou meus pensamentos.
Lívia a pegou no colo.
- Eu gosto quando me pega assim. – Marina sorriu.
- E gosta mais do que?
- Gosto quando me abraça, quando me beija, entre
outras coisas.

Foram para o quarto e entraram no banheiro. Lívia


tirou a roupa de Marina e a loirinha fez o mesmo com
ela.
- Vem aqui. – dessa vez Marina entrou primeiro na
banheira e sentou, puxando Lívia para ficar em seu
colo. – Sou pequena, mas eu dou conta. – brincou.
- Ah dá, se dá. – Lívia repousou a cabeça no peito da
loirinha e fechou os olhos.

Marina jogava a água morna em seus braços, passava


a mão molhada no rosto e acariciava ao mesmo tempo.
- Cuidar bem dessa morena aqui, senão ela me troca.
- Nem em sonho. – Lívia respondeu com os olhos
fechados.

Marina a beijou no rosto e mordeu sua bochecha. Lívia


levou a mão por trás da nuca dela e a puxou para
beijar sua boca. Aproveitando a posição, Marina
acariciou um seio e desceu percorrendo um caminho
passando pela barriga, ventre até chegar entre as
pernas dela. A morena se abriu mais e deixou a loirinha
fazer o que queria. Marina enfiou dois dedos em sua
vagina e com o polegar massageou o clitóris. Lívia
arqueava o corpo e mordia o lábio inferior da loirinha.
Quando gozou e gemeu abafado enrijecendo o corpo. A
loirinha puxou seu corpo para mais perto e abraçou
com carinho.

- Gostosa. – falou em seu ouvido.


- Não levanto mais dessa banheira. Acho que perdi o
jogo das pernas.
- Eu te ajudo, não posso te carregar, mas te ajudo.
Quando saíram da banheira, caíram direto na cama.
Nem se vestiram, se enfiaram completamente nuas
embaixo do edredom e dormiram abraçadas.

O sol já estava alto quando o telefone tocou. Lívia nem


se mexeu da cama, foi Marina que ouviu e foi atender.
- Alô. – tinha voz de sono.
- É por isso que minha filha me largou, esqueceu que
tem mãe e só tem olhos pra bonitinha aí.
- Marta, bom dia!
- Boa tarde, porque já passa de meio-dia.
- Minha nossa! Perdemos a hora.
- Foram dormir tarde não é?
- Nem tanto, estamos é cansadas mesmo.

Marina contou as novidades, falou da faculdade e que


Lívia estava trabalhando muito. Marta sabia por alto
dos acontecimentos, pois a filha ligara para ela.

- Pode deixar que vou cobrar da sua filha uma visita,


mas não brigue com ela, pois tem trabalhado muito,
tadinha. – Marina olhava com carinho para a namorada
que ainda dormia.
- Tudo bem, te espero aqui qualquer dia desses.
- Eu vou sim.

Despediram-se, Marina colocou o telefone no gancho e


deitou por cima das costas de Lívia, beijou sua nuca e
aspirou seu perfume. “Cheirosa!” Ela acabou acordando
e se remexendo, virando para ficar de frente e
colocando Marina sentada em seu ventre.

- Bom dia, dorminhoca.


- Eu? Acordei primeiro que você. Já até falei com sua
mãe.
- É? Quando?
- Agorinha. Ela ligou e disse que você anda ausente.
- É, não fui mais lá, muito trabalho, mas sempre ligo.
- Disse a ela que vamos aparecer. – beijou sua boca.
- Você é a queridinha da minha mãe, não sei como
conseguiu isso.
- Meus encantos! – Marina sorriu brincando.
- Eu sei, adoro todos eles. – Lívia subiu as mãos que
estavam nas pernas de Marina para sua cintura, alisou
sua barriga e depois subiu para os seios, espalmando a
mão de leve. A loirinha fechou os olhos àquela
sensação e sorriu. Lívia aproveitou a posição e enfiou
um dedo em sua vagina, depois escorregou para o
clitóris e sentiu escorrer a excitação da namorada por
eles. Marina mordia o lábio inferior numa expressão
sexy que Lívia nunca tinha visto, estava linda. Aliás,
estava mudando, seu corpo parecia tomar forma e aos
poucos ia se transformando em uma mulher. Apertava
o bico de um seio e com leves estocadas fazia a loirinha
cavalgar em seus dedos.
- Isso... assim... goza pra mim... – Lívia tinha a voz
rouca de desejo.

Marina aumentou o rebolado, inclinou o corpo para


frente e apoiou os braços na lateral para acelerar os
movimentos, depois jogou o corpo para trás como se
quisesse que Lívia enfiasse mais os dedos. Gozou
gemendo alto e agudo. Sentiu que a namorada retirou
os dedos de dentro dela e a puxou carinhosamente.
- Te amo. – beijou seus lábios.
- Também... te amo...

Dormiram novamente.

Acordaram depois das duas da tarde, tomaram um


banho e decidiram que iriam pra Mauá.

- Amor, não trouxe roupa pra ir pra lá.


- Então não vamos dormir, voltamos à noite. Vamos só
para ver minha mãe.
Chegando lá fizeram surpresa para Marta, que ficou
feliz com a presença das duas. À noite, já perto de ir
embora Marta conseguiu convencer as duas a ficarem.

- Marta, não trouxemos roupas.


- Lívia tem roupa aqui e você usa alguma minha.

Marina não teve como negar. Dormiram e foram


embora só no domingo à tarde.

- Eu nem estudei esse final de semana.


- Encare como um descanso amor, você tem ficado
muito tempo sentada naquele piano.
- As provas estão chegando.
- E você vai se sair muito bem como sempre. – Lívia
alisava suas pernas enquanto dirigia.
- Deus te ouça.

Quando chegaram ao Rio, Marina aproveitou para


estudar enquanto Lívia lia o processo que iria
representar em Curitiba. Quando Marina se sentiu
cansada foi até o escritório que a namorada tinha em
casa. Ela estava concentrada lendo alguns papéis,
usava um óculos de grau. Chegou por trás dela e
repousou o queixo em sua cabeça.

- Que moça concentrada.


- Oi amor, nem te vi chegando. – Lívia se virou e tirou
os óculos.
- Fica linda de óculos. – Marina sentou em seu colo.
- Pareço mais velha.
- Imagina, fica sexy. – mexeu na franja dela, tirando-a
de seu rosto.
- Cansada?
- Não, só as costas que doem às vezes, mas logo
passa. Esse final de semana foi uma benção, estava
muito cansada. Monica é minha melhor amiga, mas
quando Hugo está lá em casa os dois não sossegam. E
não estou falando só de sexo, é conversa mesmo, eles
ficam de papo até tarde e não sei se você já percebeu,
mas ele fala alto.

Lívia achou graça.

- Você ri né? – deu um tapa no braço da morena.


- Hum... porque não fica aqui até terminar as provas?
Sinceramente, acho que Monica vai gostar, vai dar mais
liberdade a ela.
- Não sei, a ideia é ótima, mas...
- Mas?
- Se bem que eu descansaria bastante. – falou
pensativa.
- Só pra descansar é? – Lívia fingiu desapontamento.
- Não, sua boba. Ficaria mais perto... – Pausou e olhou
com uma cara sapeca. - ...do meu piano.

Lívia levantou uma sobrancelha num gesto contrariado.

- Eu sabia que um dia seria trocada por esse piano. –


olhou para o lado.
- Não troco você nem por um piano feito pelas mãos de
Bach.
- Duvido. – ainda olhava para o lado despistando.

Marina pegou seu rosto e virou para se olharem.

- Eu te amo Lívia, assim como amo a música. São as


duas coisas que fazem parte da minha alma. Não
consigo ficar sem. – sorriu e beijou a ponta de seu
nariz.

Lívia pousou as mãos em suas pernas e subiu para sua


cintura. Marina usava um short de malha bem
larguinho, a morena rodeou os dedos pelo elástico do
short e a olhou com um sorriso safado nos lábios.
- Vou voltar a estudar. – Marina tirou as mãos dela. – E
você continue lendo.
- Ah claro, porque ler milhares de papéis era o que eu
queria mesmo... – Lívia revirou os olhos.

Segunda cedo Marina foi ao apartamento e encontrou


com Monica já saindo.
- E aí mulher? Ta com uma cara ótima. Descansou?

Marina odiava esse comentário dela, soava falso.


- Bastante. Sinto-me renovada. – sorriu. - Já você está
com olheiras, que houve?
- Muito exercício. – riu.
- Aff, ainda bem que não fiquei aqui.
- É eu queria te pedir um favor... – Monica falou sem
graça. – Hugo pediu para ficar aqui alguns dias, porque
vão trocar a caixa d’água do prédio onde ele mora.
Será um transtorno, vai faltar água, então eu falei
que...
- Que ele podia ficar. – Marina sorriu, mais por saber
que não iria precisar arranjar uma desculpa para ficar
fora.
- É...
- Tudo bem Monica. Não precisa ficar acanhada,
façamos o seguinte, vou ficar na casa do Eduardo
então. Só não quero que diga a minha mãe que estou
lá. Ela não vai te ligar, mas quando estivermos em Jaú,
não fale com ela.
- Eu sei, minha mãe também não sabe que Hugo dorme
aqui. Agora me conta, rolou algo?
- Que? Que rolou menina. Rolou foi muito estudo.
Minhas costas estão podres. Estou doida pra passar
essa etapa das provas. Seu trabalho de Música
Brasileira está pronto?
- Está e o seu?
- Terminei também, imprimi na casa da prima do
Fabrício. – jogou com a conversa. – Ela me emprestou
o notebook dela e aí adiantei bem alguns trabalhos.
- Prestativa ela. – Monica debochou.
- Monica, não fale das pessoas sem conhecê-las. Lívia é
uma pessoa legal, não vi nada de errado nela.
- Pedro disse que ela não é flor que se cheire.
- Ela te fez alguma coisa?
- Não. Claro que não.
- Então não tem motivo para falar qualquer coisa dela.

O assunto encerrou ali.

Marina arrumou suas coisas, dessa vez uma mala


maior. E foi para a faculdade carregando tudo com a
ajuda de Monica. Quando acabou de subir as escadas,
Marconi as viu e brincou.

- Eu sabia que iam acabar se mudando pra cá.


- Bobo, eu que estou de mudança. – Marina sorriu.
- Ué, vai desistir das provas?
- Nem que eu morra, levanto do caixão e venho fazer
essas benditas provas. Mas preciso me concentrar e
consegui um piano para tocar com mais frequência, vou
pra casa de um amigo.

Assim que entrou na sala Marconi chamou Marina para


conversar.

- Marina, sei que cada aluno aqui tem seu professor e


que não devo me meter em assunto que não é meu.
Mas o professor de Monica disse que ela anda muito
desleixada nos estudos. Chega atrasada na aula e quer
sair mais cedo. Só chega na hora quando vem junto
com você.

Marina sabia que era por conta do namoro.

- Vou conversar com ela.


- Ela vai passar, pois é muito inteligente e tem muita
facilidade, mas se continuar assim não vai concluir o
curso em tempo normal, as coisas vão só dificultando,
você sabe. E aluno que tem boas notas, é mais
requisitado, você sabe.
- Deixa comigo, eu falo com ela durante as férias.

Depois da aula Marina ia saindo carregando a mala


quando o carro de Lívia parou em frente à faculdade.
Ela intuitivamente olhou para um lado e para outro,
para ver se não tinha ninguém olhando, felizmente
tinha poucos alunos na faculdade àquela hora. Lívia
abriu o porta-malas e ajudou a loirinha a colocar sua
bagagem lá, depois entraram no carro.

- Hei lindinha! Como foi a aula? – beijaram-se.


- Foi ótima. Marconi praticamente já me passou, mas
preciso fazer a apresentação.
- Viu como eu estava certa. Você passa tranquilo. –
arrancou com o carro.
- Não passei ainda né, mas só dele falar que está tudo
certo já me dá mais segurança.
- Falou com Monica?
- Nem te conto, Hugo vai passar uns dias lá. – Marina
contou da conversa e Lívia achou uma excelente
coincidência.
- Esses dois, não sei, viu? To achando que vou sobrar a
qualquer momento.
- Sobra nada, eu não deixo. Pego você pra mim. – Lívia
beijou-lhe os lábios rapidamente.
- Presta atenção no trânsito!
- Ta bom. – sorriu como uma criança.

No meio da semana Lívia viajou e deixou mil


recomendações com Marina. Abasteceu o apartamento
e disse que se precisasse poderia ligar qualquer hora.
Deixou o cartão do banco com ela e a senha.
Surpreendeu-se com tal atitude, nunca na vida tinha
feito isso com ninguém.

- Não queria te deixar sozinha.


- Que é isso amor, são só três dias.
- Comporte-se viu.
- Você também e boa sorte.

Despediram-se com um beijo apaixonado.

Chegando em Curitiba Lívia se instalou no hotel e


Fabrício e o estagiário num quarto sozinhos. Na hora do
almoço qual não foi sua surpresa, deu de cara com
Camila, que veio em sua direção assim que a viu.

- Que surpresa boa. Passeando?


- Não, estou a trabalho. – disse se sentando.
- Ah, mas após todo trabalho, vem o descanso.
- Sim, mas eu vou descansar na minha casa.

Lívia se levantou, arrastando com ela os dois rapazes.

- Eu não tinha terminado de comer! – Fabrício


reclamou.
- Come depois. Vou para meu quarto, não quero ser
incomodada até a hora de irmos.

O julgamento começaria às três da tarde e Lívia se


trancou para se concentrar. Faltando pouco mais de
meia hora, alguém bateu na porta e ela atendeu
pensando ser Fabrício.

- Te achei! O que não faz esse pessoal de hotel por uns


míseros trocados.
- Mas?! O que quer aqui Camila?
- Sabe bem o que eu quero. – Camila empurrou Lívia
para dentro do quarto sem que ela esperasse e a
beijou. Por uns instantes a morena pareceu confusa,
mas a empurrou com força.
- Sai daqui Camila. Esquece que eu existo!
- Lívia, pra que tanta repulsa? Nos dávamos tão bem.
- Falou no tempo certo, dávamos. Não estou mais
disponível.
- Não vou desistir tão fácil, não acredito que tenha se
esquecido das nossas aventuras sexuais. – beijou-a
rapidamente sem que Lívia esperasse, mas foi
empurrada logo em seguida.

Camila saiu do quarto sorrindo maliciosamente e quase


trombou com Fabrício entrando. Ele viu a cara de Lívia
e a de Camila e balançou a cabeça negativamente.

- Eita que aconteceu alguma coisa.


- Nada do que você está pensando.
- Todo mundo diz isso.
- Cala a boca Fabrício, não sabe o que está dizendo.
Não aconteceu nada, essa daí que não se enxerga.
- Lívia, Lívia... – Fabrício balançava a cabeça.

No Rio, Marina estudava com Eduardo, Monica e


Frederico ao mesmo tempo, o rapaz da flauta.
Marcaram um ensaio geral na faculdade para facilitar.
Quando Frederico foi embora ela passou com a amiga
que logo terminou também para ir se encontrar com o
namorado. Marina a olhava saindo e estava
preocupada.

- Monica, estuda em casa. Não desconcentra, senão


pode prejudicar sua nota.
- Pode deixar, está tudo sob controle.
- Ela está errando um pedaço da música, não acerta o
tempo de jeito nenhum. – Eduardo falou.
- Já conversamos, repassamos, mas ela não está
concentrada.
- Namoro atrapalha às vezes.
- Pois é. Monica sempre foi assim, sua sorte é a
facilidade que tem para aprender as coisas, no lugar
dela eu estaria muito pior, preciso de mais
concentração para estudar.
- Eu também e nesse ponto Fabrício me ajuda muito.
- Eu gosto de ver o relacionamento de vocês, são
diferentes, mas se dão bem. Gosto dele, é um cara
muito legal. Pega no meu pé e de Lívia, mas acho
engraçado.
- Fabrício se preocupa com você demais, no início ele
advertia e praticamente ameaçava Lívia se fizesse algo
com você.
- Fico muito feliz que tenha encontrado bons amigos
aqui. É minha família de coração.

Por conta das provas, Eduardo negociou com o dono do


bar que eles tocavam toda sexta, para passar a data
daquela semana para a outra. Pois as provas
terminariam na quinta e na sexta eles estariam livres.

Aqueles três dias foram de muito trabalho. Lívia teve


problemas com a defensoria e precisou de recesso
várias vezes, mas no fim conseguiu que o réu tivesse
pelo menos quinze anos de prisão. Camila bem que
tentou falar com Lívia, mas ela havia trocado de quarto
e informado que se a incomodassem que ela
processaria o hotel. Quando tudo terminou ela não
esperou um minuto na cidade, logo voltou para o Rio.
Mandou uma mensagem para Marina dizendo mais ou
menos o horário que iria chegar. Dentro do avião, já
com as coisas mais calmas Fabrício resolveu tocar no
assunto.

- O que aquela mulher queria com você?

Lívia respirou fundo e falou pausadamente.

- Camila e eu tivemos um affaire, pouco antes deu


conhecer Bianca. Nesse tempo ela quem quis terminar,
confesso que fiquei mal por alguns meses, mas depois
conheci Bianca e tudo voltou como era antes. Não sei
se ela se arrependeu, mas agora quer um “revival”. E
isso não interessa, o importante é que EU não quero
mais nada com ela.
- Vocês se beijaram?
- Ela me beijou, mas eu a empurrei. – falou amarrando
o cenho, mas depois olhou para o primo. – Fabrício,
não conte a Marina que Camila estava lá. Nem sei o
que fazia em Curitiba, essa foi a pior coincidência que
já tive na vida.
- Não vou falar nada, prometo. Só quero que seja
honesta com a menina caso aconteça alguma coisa.
- Marina se tornou muito importante, você não tem
ideia. Não vou magoá-la.

Os dois se calaram.

A loirinha correu e comprou algumas coisas para fazer


um jantar, pois chegariam entre sete e oito horas da
noite. Tomou um banho e arrumou o quarto. Desceu
pra cozinha e começou a preparar o jantar, quis um
prato rápido e prático. Então fez estrogonofe e de
sobremesa um bolo gelado. Quando Lívia chegou o
apartamento estava todo escuro. Ela abriu a porta e
chamou por Marina, que não respondeu. Andou até
chegar à mesa da sala e deixou sua pasta e o casaco
lá. Sentiu uns braços lhe envolverem por trás e um
beijo em seu ombro direito.
- Senti saudade, muita. – a voz de Marina era doce.

Lívia se virou e a abraçou pela cintura, fazendo a


loirinha subir para seu colo, enlaçando sua cintura com
as pernas.
- Não sei mais viver sem você.

A levou para o quarto e nem quis saber de jantar,


fizeram amor como se não se vissem há anos. Exaustas
e suadas, estavam deitadas, Lívia de barriga para cima
e Marina de lado, agarrada em seu corpo com a cabeça
em seu peito.

- Pensei em você todos os dias. – Lívia confessou. –


Estava doida para vir embora. Quando o julgamento
acabou minhas malas já estavam no fórum. Fabrício
ficou possesso, queria sair à noite e voltar só amanhã
de manhã.
- E Eduardo esperando por ele, olha que sem-vergonha.
- Eles estão fazendo aniversário de namoro, acho que
ele queria comprar um presente.
- Ô amor, e você não esperou o coitado?
- Não, comprasse antes, ele teve tempo. Eu queria vir
embora ver minha namorada. – sorriu. – Tudo bem por
aqui?
- Sim, ensaiei com o pessoal, Eduardo desmarcou o
show de hoje, passou para sexta e sábado que vem.
- Que dia é a apresentação?
- Quinta-feira a minha, a dos formandos é no sábado.
Não vou poder ir, por conta do show.
- É verdade.
- Meu professor me chamou hoje para conversar sobre
Monica. O professor dela tem se queixado da falta de
compromisso dela nas últimas semanas. É o namoro,
ela está deixando as outras coisas de lado.
- Isso não é bom.
- Nem um pouco e essa semana que vai ficar sozinha
com ele nem quero saber se está estudando ou não.
Senão fico mais preocupada.
- Ela já é grandinha meu amor, sabe o que é certo ou
errado. Com certeza vai estudar
- Assim espero.
- Estou com fome, quer comer alguma coisa?
- Na verdade eu fiz um jantar, mas ele foi deixado de
lado. Está pronto, agora preciso esquentar de novo.
- Ah, não sabia que tinha jantar. – Lívia se virou para
ela.
- Fui no mercado e comprei umas coisinhas, os
mercados daqui de perto são muito frescos.
- Por quê?
- Eles vendem tudo embaladinho, certinho, comida pra
solteiros e solteiras. Tem pra todo tipo de pessoa,
claro, todo mundo rico, porque os preços são
absurdamente caros. Mas venha, também estou com
fome, não comi esperando você chegar.
- Eu cheguei logo te agarrando, toda assanhada. – Lívia
pareceu estar sem jeito.
- Adorei! – Marina sorriu. – Vem assanhada! – brincou.

Na sala de jantar a mesa estava pronta e com velas a


postos, só faltavam acender. Enquanto Marina foi até a
cozinha, Lívia reparou no que ela havia preparado.
Sorriu contente. Marina se esforçava em agradá-la e
sempre trazia surpresas boas. Pensou nela comprando
em um mercado na barra. Deve ter se assustado,
realmente tinha mais pompa que qualquer outra coisa.
Quando ela veio trazendo a travessa, as velas já
estavam acesas.

- Nem sei se você gosta, eu fiz estrogonofe.


- Hum. O cheirinho ta bom.

Marina colocou a travessa sobre a mesa e voltou para a


cozinha. Veio trazendo o restante das coisas.
- Espero que goste, nem provei.
- Eu gosto é dessa cozinheira. – Lívia abraçou Marina
por trás e mordeu sua orelha. – Pianista e cozinheira de
mão cheia.
- Boba! Eu sou aprendiz de cozinheira.
- Ah, mas eu gosto de tudo. Inclusive da cozinheira. –
dessa vez mordeu o pescoço, causando arrepio na
outra.
- Deixa de ser assanhada e vamos jantar.

Sentaram-se para comer e depois do jantar arrumaram


a cozinha. Dormiram logo em seguida.

Na manhã seguinte Marina acordou cedo e deixou Lívia


dormindo. Fechou a porta do quarto e desceu. Ligou
para a mãe, deu as notícias da semana e depois se
sentou ao piano. Resolveu estudar utilizando o
abafador, para não acordar a namorada. Distraiu-se
tanto que nem a viu passando por trás. Lívia alisou
seus cabelos e beijou o topo de sua cabeça.

- Bom dia!
- Bom dia. – Marina sorriu.
- Que som esquisito é esse, deu problema no piano? –
Lívia pareceu preocupada.
- Não amor, eu que estou usando o abafador. – Marina
pegou sua mão e beijou.
- Ué, por quê? – Lívia se sentou ao lado dela no banco
do piano, porém na posição inversa.
- Não quis te acordar. Eu levantei cedo e vim pra cá,
você estava tão tranquila dormindo.
- Dormi que nem uma pedra essa noite. Essa viagem
me desgastou bem.
- Tadinha. Da próxima vez eu me escondo na mala e te
faço uma surpresa lá. Aí cuido de você.

Por um momento Lívia pensou em Marina fazendo uma


surpresa a ela e vendo Camila em seu quarto, sentiu
até um frio na barriga.

- Que você quer fazer hoje? – Marina a tirou de seus


pensamentos.
- Namorar. – Sorriu.
- Acho que posso cuidar disso.
- Bom, isso se eu não for atrapalhar seus estudos,
nesse piano. – a morena fingiu ciúme.
- Ah, que ciumenta. – Marina a abraçou. – Será que um
beijinho resolve esse bico?
- Um beijinho? Nossa! Você toca esse piano como se o
acariciasse, senta nele com todo cuidado, fica alisando
toda hora e comigo é só um beijinho?

Marina segurava o riso.


- Então vejamos. – Mudou de posição, sentando no colo
da namorada, como se fosse montar. – Eu acaricio você
também. – Passava a mão em seu rosto, cabelos,
ombros, percorreu os braços. – Mais o que? – Colocou a
mão no queixo como se pensasse. – Ah sim, eu não
beijo o piano, mas beijo você. – beijou seus lábios. –
Mordo. – mordeu o lábio inferior. – Posso tocar você
também. – levou a mão por dentro da do hobby da
morena e enfiou dentro da calcinha. Lívia tombou a
cabeça para trás e gemeu baixinho. Marina aproveitou
para morder seu queixo e beijar seu pescoço.

A morena segurou na cintura de Marina e apenas


deixou ela fazer o que quisesse, estava a mercê
daqueles toques cuidadosos e exigentes ao mesmo
tempo.

- Gosta assim? – falou em seu ouvido.


- Ahan... mais rápido, por favor...

Marina acelerou os movimentos e sentiu aquele corpo


fascinante ficar rígido e estremecer. Lívia encostou sua
cabeça no ombro dela, sua respiração era falha.

- Ainda acha que gosto mais desse piano que de você?


- Tive provas consideráveis agora. – Lívia sorriu
ofegante.

O final de semana foi para as duas pra descansar e


namorar. No domingo à tarde saíram para fazer uma
caminhada e tomar água de coco na praia, depois
deram um passeio pela cidade. Como havia prometido
há muito tempo, Lívia levou Marina para conhecer o
Corcovado e o Pão de Açúcar, dessa vez com mais
folga.

Aquela semana seria de correria total. Monica havia se


dado conta de que não estava preparada o suficiente
para a prova e se descabelou. Fazendo Marina ficar
preocupada.

- Sabia que você ia surtar. Depois eu que sou a


apavorada.
- Eu estou errando Marina.
- De nervoso. Sei que é difícil pedir calma, mas hoje é
terça-feira e ainda temos tempo pra estudar. Eu fico a
sua disposição para passar a música de câmara. O
restante é com você, mas eu ajudo no que puder
também.

As duas ensaiaram até tarde da noite, até que deu o


horário da escola fechar. Dessa vez Monica não quis
saber de Hugo, deixou o rapaz em casa de molho. Ao
saírem da faculdade Lívia esperava Marina do lado de
fora. A loirinha quase caiu pra trás quando viu a
morena vestida num terninho preto risca de giz e blusa
preta, salto alto, cabelos soltos e muito bem penteados.

- Nossa! Que chique! Que ela ta fazendo aqui? – Monica


perguntou pra Marina, que estava muda.

Lívia veio se aproximando com o sorriso mais


encantador do mundo.
- Boa noite meninas! Estão perdidas essa hora aqui no
centro?
- Estávamos estudando. - por fim Marina falou.
- Posso dar uma carona para vocês?
- Não vamos para o mesmo lugar, Marina ainda vai
para a casa de Eduardo.
- Sem problema, eu deixo você em casa e a levo até lá.
- Por que você ta aqui essa hora? – Monica perguntou
desconfiada.
- Eu vim aqui no centro atender um cliente e quando ia
embora vi as duas saindo, achei que quisessem carona.

“Quanta cara de pau!” – pensou Marina.

- Vamos então. Carona a gente não recusa.

Entraram no carro e saíram.

- Muito corrido por conta das provas? – Lívia puxou


assunto.
- Estou completamente apavorada. Marina não, nem
parece que tem prova final.
- Só estou me concentrando, mas no fundo estou
nervosa.
- Ela é cdf, estuda o dia inteiro.
- Ela tem cara mesmo de estudiosa. – Lívia a olhou
sorrindo.

Marina nem se atreveu a olhá-la, pois não aguentaria o


riso.

- Chegando em casa vou estudar, noite a fora se


precisar.
- Monica, lembra do que tia Célia falava com a gente
quando estudávamos no conservatório?
- Sei...
- Angu de um dia só, não engorda cachorro! - as duas
falaram ao mesmo tempo.
- Não adianta agora apavorar e querer fazer tudo de
uma vez.
- Eu sei, mas agora vou pelo menos estudar pra me
sentir mais segura.

Chegaram ao endereço de Monica e ela se despediu,


combinando um ensaio no dia seguinte. Assim que o
carro arrancou Marina deu um beliscão na namorada.
- Ai, o que é isso? – Lívia reclamou.
- É pra deixar de ser cara de pau. “Estava passando por
aqui e as vi... nossa ela tem cara de estudiosa.” Dizem
que os promotores mentem e você faz jus à fama.
- Ô linda, achei que ficaria feliz de ter ido buscar você.
- E estou, mas não precisava fazer aquele teatro todo.
- Ué, tem que disfarçar, não?

Marina a olhou de lado, não aguentou e sorriu.

- Boba! Amo você, sabia?


- Sabia!
- Convencida.
- Sabia também.

Levou um tapa no braço.

- Ai, você está me batendo muito hoje. Não vou ganhar


nenhum beijinho? – a morena fez um bico.
- Ganha sim. – Marina aproveitou que estavam paradas
no sinal, segurou seu rosto e beijou delicadamente.
- Ah não quero beijo assim, quero assim. – Lívia a
puxou e deu um beijo cheio de intenções.

Quando chegaram em casa Marina logo pediu por um


banho.
- Preciso tomar banho, estou suada, cansada e com as
costas doídas. – falou se dirigindo ao banheiro.
- Judiaram de você hoje, não é lindinha?
- Nossa! Primeiro ensaiei com Fred e depois Monica me
alugou.
- Acho que agora ela está acordando.
- Juro que não imaginava que ela fosse ficar assim,
sempre namorou, mas cuidava dos estudos.
- De repente passando esse aperto ela aprende. – Lívia
abriu o chuveiro.
- Tomara.
- Agora vem que eu vou te dar banho. – Abraçou a
loirinha por trás e entrou no box.

Não fora propriamente um banho, mas verdadeiras


carícias.

Nos poucos dias que se seguiram Marina só fazia


estudar e ajudar a amiga. Repassaram todas as
músicas e depois tiveram a última aula cada uma com
seu professor. Marconi já adiantara que a loirinha tinha
passado nas outras matérias teóricas e que só faltaria
mesmo a prova prática. Era quinta-feira e Marina
estava em frente ao espelho escolhendo uma roupa
para tocar. Lívia não havia chegado do trabalho e
mandara mensagem dizendo que iria direto para a
apresentação. Queria que a namorada estivesse com
ela. Estava ansiosa e Lívia tinha o poder de acalmá-la.
Respirou fundo e continuou olhando para o espelho e
provando as roupas.
Lívia estava no shopping correndo com uma sacola na
mão e o telefone na outra.

- Fabrício! Preciso correr! Ainda tenho que passar na


joalheria.
- Lívia, até parece que é você que vai tocar. Pode
deixar que eu fecho o escritório.

A promotora tinha saído cedo e deixado um bilhete


falando que não iria almoçar em casa, pois estava cheia
de trabalho. Mais a tarde mandara uma mensagem
para Marina, falando do horário de se encontrar,
porém, o que Marina não sabia era que ela queria fazer
uma surpresa. Comprou uma roupa nova para ela e
passou na joalheria para mais uma extravagância,
talvez o passo mais importante de sua vida. Havia
também reservado uma sala num restaurante só para
os garotos da banda, Monica, ela e Marina, queria
comemorar. Quando entrou no elevador, estava
ofegante. Olhava para o relógio e pensava se ainda
daria tempo. Abriu a porta do apartamento e procurou
por algum sinal de Marina. Subiu para o quarto e viu a
loirinha ao que parecia, tentando montar uma roupa
sobre a cama para vestir. Olhou para a porta e viu a
morena, parecendo cansada.

- Oi amor. Achei que íamos nos encontrar lá na escola


de música. – a olhou com mais minúcia. – Nossa, que
cara é essa? Correu de alguém? – brincou.
- Não! Corri pra cá. Ainda bem que cheguei a tempo.
Quero chegar junto com você, aliás, quero te levar. –
sorriu, já se acalmando. – E ficar do seu lado.

Marina achou bonitinha a atitude dela em se preocupar


por levá-la a audição.
- Então toma banho linda, eu já tomei o meu, estou
aqui procurando uma roupa.

Lívia pegou a sacola e entregou a ela.


- Comprei pra você. É um presente pelo ciclo vencido.
Sei o quanto estudou e se esforçou.
- Outro presente não é? – Marina a olhou séria.
- Você merece. – se aproximou para beijá-la.
- Obrigada. Sem você do meu lado acho que não faria
da mesma forma, se estou tranquila agora é porque
está comigo. – Beijou a morena com carinho.

Lívia correu para o banho e em poucos instantes saiu e


se arrumou. Marina já estava pronta e se olhando no
espelho. Era um vestido longo, lilás com detalhes em
preto e uma sandália combinando com o vestido. Fez
duas pequenas tranças no cabelo e amarrou atrás.
Estava muito bonita.

- Uma gata! - Lívia tinha um olhar faminto.


- Nem pense nisso. Estamos as duas prontas.
- Quero um beijo pelo menos. – se aproximou e a
pegou pela cintura.

Saíram depois de muitos beijos. Já dentro do carro o


celular de Marina tocou e era Monica querendo saber
dela.

- Estou a caminho. Me encontra na porta da escola. –


desligou. – Coitada, está apavorada, nunca vi Monica
assim.
- Vai passar, daqui a pouco ta todo mundo feliz. Ah
mamãe lhe mandou um beijo e desejou sorte. Disse
para eu tirar muitas fotos para mostrar a ela depois.
- Que gentil, depois vou agradecê-la. Minha mãe
também ligou e disse que assim que eu terminar que é
para ligar pra ela, a hora que fosse. Está rezando de lá.
- Viu, está protegida de todos os lados.

Chegaram e pararam próximos à escola, havia outros


carros, mas Lívia conseguiu uma boa vaga por conta de
um flanelinha muito esperto que ficava por ali. Antes de
descerem a morena segurou as mãos de Marina e falou
suavemente.

- Meu amor, desejo boa sorte, fique calma que vai dar
tudo certo, sei que você se preparou para isso e agora
está colhendo o fruto de seu esforço. Saiba que estarei
na plateia te aplaudindo de pé. Não porque é uma
excelente pianista, mas também porque te amo muito.

Marina ficou comovida com as palavras da namorada.


- Obrigada meu bem, saber que você está do meu lado
é mais importante que qualquer coisa.
- Não sei se agora é o momento certo, mas eu acho
que tenho que fazer isso enquanto estivermos a sós.
Por mim faria em público, mas quero respeitar sua
opinião e privacidade. – tirou uma caixinha de um
compartimento da porta do carro e a abriu, eram duas
alianças. - Marina, você quer ser a mulher a ficar do
meu lado, a pessoa mais importante, a minha
prioridade, a pianista dos meus sonhos e a minha
cozinheira preferida? – sorriu ao dizer as últimas
palavras.

A loirinha ficou atônita. Seus olhos marejaram e uma


lágrima teimosa caiu.
- Eu... nossa... – gaguejou. – Não sei como conseguir
ser tudo isso, mas eu aceito e prometo fazer o possível
pra corresponder às suas expectativas.
- Você já corresponde a todas.
- Eu aceito.

Beijaram-se como se fosse a primeira vez. Estavam


felizes, era como se um flash passasse pela cabeça das
duas, não sabiam como ou quando aquele
relacionamento tinha ficado tão sério, mas o que
importava era que se amavam. Trocaram as alianças e
cada uma beijou a mão da outra num gesto de carinho.
- Te amo! Meu anjo mais lindo. – Lívia alisou seus
cabelos falando emocionada.
- Também te amo.
- Isso poderia ter sido mais romântico, mas não resisti.
- Lívia falou meio envergonhada.
- Não importa quando e onde você faça as coisas, o
importante pra mim é ter você. Não me importo com o
cenário e sim com a protagonista. – sorriu.

Saíram do carro e foram direto para a escola, Eduardo


e Fabrício chegaram logo em seguida e minutos depois
Monica apareceu com Hugo. Pedro foi depois
acompanhado de uma menina, que todos entenderam
ser uma namorada.

- Mais tranquila amiga? – Marina perguntou.


- Agora estou. Eu fiquei nervosa antes, mas quando vai
chegando a hora, vou me acalmando.
- Assim que é bom, porque nervosismo atrapalha
muito.
- Está chiquérrima! Adorei o vestido. – Monica a olhou.
- Você também está, vai arrasar.
- Vamos né, porque tocamos juntas.
- Essa escola só tem aluna gata mesmo hein. – Fabrício
se aproximou para brincar com elas.
- Porque acha que eu estudo aqui? – Eduardo também
chegou perto.
- E aí Du? Tudo pronto? – Monica perguntou.
- Tudo sob controle.
- Eduardo já está acostumado, veterano não tem mais
nervoso. – Marina falou.
- Na próxima vocês também estarão mais tranquilas.
- Que aliança é essa? – Fabrício falou no ouvido de
Marina, que ficou desconsertada. – Quando foi?
- Agora há pouco no carro.
- Nossa que original! – ele revirou os olhos. – Lívia já
foi melhor.
- Para de pegar no pé dela. Eu adorei.
- Como tudo que ela faz. Amor é fogo mesmo.

As pessoas começaram a chegar e o movimento


aumentou, fazendo com que todos fossem para o
auditório. Os alunos sentaram nas cadeiras marcadas e
os convidados nas fileiras mais atrás. Antes de se
afastar, Marina olhou para Lívia e sorriu para ela,
recebendo um piscar de olho e um boa sorte. Monica
tamanho nervosismo nem percebeu a aliança na mão
da amiga.

- Não sei como ninguém viu aquela aliança. – Fabrício


brincou. – Parece mais um cinto de tão larga.
- Demorei tanto a escolher e você ainda me fala uma
coisa dessas?
- É bonita, só não é discreta; ouro branco e um
diamante daquele tamanho cravado no meio, só Monica
sonsa mesmo que não viu, mas assim que ela ver vai
comentar. E eu quero ver a cara de Marina.
Lívia ficou quieta, pois o comentário de Fabrício a
incomodou.

As apresentações se iniciaram e um a um foi subindo


no palco para se apresentar. Primeiro os alunos em
dupla, Marina e Frederico foram um dos primeiros,
depois Marina tocou para Eduardo e voltou para tocar
com Monica para encerrar esta parte do recital. De
longe se notava a cumplicidade das duas, Marina olhou
para a amiga e sorriram. Fizeram sinal uma para a
outra e começaram. Quando terminaram a música se
abraçaram emocionadas. Foram aplaudidas de pé. Um
professor veio até o palco e elogiou a performance dos
alunos, depois deu início as apresentações individuais.
Era por ordem alfabética, para não causar problemas
entre os alunos. Eduardo foi um dos primeiros. Por
conta das mesmas iniciais Marina se apresentou e logo
em seguida Monica. Quando a loirinha subiu ao palco o
silêncio imperava no lugar, sentou-se ao piano, colocou
a partitura, abriu, tudo muito pausado. Olhou para o
fundo do piano, fechou os olhos e respirou fundo ao
mesmo tempo em que colocava as mãos posicionadas
nas teclas, era seu ritual. Abriu os olhos e começou a
tocar. O som do piano encheu todo o auditório. Marconi
estava radiante e só recebia elogios pela aluna. Lívia
tirava foto ininterruptamente. Ao final da música Marina
também foi aplaudida de pé. Monica veio em seguida,
resolveu tocar em pé, diferente dos outros flautistas,
isso lhe dava mais segurança. Marina torcia para ela
sentada na primeira fileira. Terminou sendo aplaudida
também e de pé pela amiga pianista. Quando o último
aluno se apresentou e desceu do palco os músicos se
reuniram para se cumprimentar e também receberam
os elogios dos professores. Pouco depois Fabrício se
aproximou com Lívia, Hugo, Pedro e a namorada.

- Meus parabéns às musicistas e ao músico.


- Passamos amiga! – Monica abraçava Marina.
- É passamos, agora que venha o segundo período. – a
loirinha sorriu.

Um foi parabenizando o outro até que Lívia se


aproximou.

- Estava linda, radiante e tocou divinamente bem. –


Abraçou a loirinha apertado. – Te amo! – falou em seu
ouvido.
- Obrigada, significa muito para mim saber que você
gostou. E eu também te amo, minha linda. – falou
ainda abraçada a ela.

O abraço foi mais longo que o de um cumprimento


normal, mas as duas nem estavam ligando. Depois que
todos se cumprimentaram. Lívia convidou para irem ao
restaurante dizendo que ela havia reservado mesas.

- Nossa quanta gentileza! – Monica falou.


- Vocês merecem e na verdade a ideia foi de Fabrício,
eu só dei um empurrãozinho. – piscou o olho para o
primo.

Assim que chegaram ao restaurante o garçom os


recebeu e levou todos para o lugar indicado. Lívia
tratou logo de sentar Marina ao seu lado e do outro
sentou Eduardo, seguido de Fabrício. Hugo e Monica
ficaram na frente deles na mesa. De fato eram três
casais.

- Nossa, acho que vou dormir por uma semana inteira


agora. Parece que tiraram um peso das minhas costas.
– Marina desabafou.
- No segundo período você estará mais acostumada
com isso, é porque a primeira vez é difícil mesmo. –
Eduardo a animou.
- Já eu, estou relaxada. Agora é férias!
- E eu terei minha namorada de volta. – Hugo abraçou
Monica.
- Ihh, tinham dado uma trégua. Marina, voltou o
agarramento.
- Senhor! Ainda bem que vou pra minha casa, aliás,
vamos não é? – falou com Monica.
- Então, eu não tinha te falado, mas eu pensei em ir só
na segunda quinzena de julho.
- Por que Monica? Já avisou seus pais?
- É que eu a chamei para ficar uns dias em Parati, com
a minha família. – falou Hugo.
- Seu pai vai ficar doido! E não sou eu a pessoa que vai
avisá-los de que você não vai.
- Pode deixar que eu falo, já tenho discurso pronto. –
disse sorrindo.
- Mulher doida! - Marina revirou os olhos.
- Sou doida, mas te amo. – sorriu. - Amiga, queria te
agradecer por ter me ajudado essa semana. Se não
fosse você eu acho que teria surtado na hora.
- Que isso, sei que faria o mesmo por mim se eu
precisasse. Senão, pra que servem os amigos?
- De qualquer forma, muito obrigada.
- O agradecimento é ter você ao meu lado nessa
jornada não é? – Marina sorriu.
- É! Juntas até o fim! Uhuuu! – Monica levantou o copo
para um brinde.
- Um brinde aos músicos. Os melhores da cidade! –
Eduardo também levantou seu copo.

Todos brindaram.

- Pensei em ir com você. Que acha? – Lívia falou


baixinho com Marina enquanto os outros conversavam.
- Pra São Paulo?
- É, já andou de avião?
- Nunca.
- Então, seria uma boa oportunidade, a primeira
experiência seria uma ponte aérea, aí você toma gosto.
- Ah, eu não sei, esse bicho quando cai faz um estrago
danado.
- De acordo com as estatísticas acontecem mais
acidentes de carro do que com aviões.
- E iríamos nós duas?
- Pensei em levar Fabrício comigo e Eduardo lógico.
Assim disfarça mais.
- Estava pensando em uma coisa quando vínhamos pra
cá, mas depois conversamos. De qualquer forma não
sei amor, será que Monica não vai desconfiar? – Marina
pareceu em dúvida.
- Ficamos em um hotel.
- Não! Podem ficar lá em casa, só preciso conversar
com minha mãe.
- Fale com ela amanhã.
- Tá bom, de manhã eu ligo e converso.
- Isso! – Lívia se empolgou.
- Falar em mãe, preciso ligar para ela, disse que
avisaria assim que terminasse tudo. – Marina ligou
para falar com a mãe, mas o barulho da mesa
atrapalhou a conversa, então se levantou e ficou um
pouco distante, o suficiente para conseguir falar.
- Oi mãe! Deu tudo certo, já estamos no segundo
período. Sim! Monica foi ótima também, agora estamos
comemorando... Não vou voltar tarde... Sim, já estou
de férias. Amanhã te ligo e conto mais detalhes.

Enquanto Marina falava ao telefone Lívia a observava,


estava linda naquele vestido e seu andar era todo
gracioso.

- Baba não. – Eduardo implicou.


- Você está pegando a mania do seu namorado. – Lívia
sorriu.
- É a convivência.
- Marina está falando com quem? – Monica perguntou.
- Com a mãe. – Lívia foi quem respondeu.
- Ah sim, amanhã eu ligo para os meus pais. Meu pai
particularmente fica na torcida.
- Então ligue de uma vez ora.
- Eles devem estar dormindo. Marina que é filhinha da
mamãe mesmo, liga toda hora se deixar. – debochou.
- Ela está certa, como está longe tem que manter a
família informada de tudo. – Eduardo a defendeu.

Monica olhava para a amiga e aí que reparou na


aliança.

- Nossa, que anel bonito! Não vi que tinha comprado.


Devia estar muito nervosa para não ter reparado,
principalmente porque ela não usa anel.
- Não? – Lívia se surpreendeu.
- Ela não gosta muito, porque atrapalha pra tocar.
- Ah... – pareceu decepcionada.
- Marina mudou um pouco, parece mais madura. Até no
jeito de se vestir, de falar... – Fabrício observou.
- São os ares do Rio de Janeiro. – Hugo falou.

Quando Marina retornou a mesa, Monica logo se


manifestou.

- Amiga! Anel lindo! Onde comprou? Deixa eu ver! –


esticou as mãos para a amiga.

Marina foi pega de surpresa e antes mesmo de ter


conversado com a namorada resolveu logo aquela
situação que a incomodava tanto.
- Não é bem um anel, é uma aliança.

Lívia sentiu um frio na espinha.


- Aliança? – Monica demorou um pouco para entender.
- Sim, ganhei hoje juntamente com o pedido mais lindo
que já ouvi.

Monica olhou um pouco surpresa e esperando que


Marina continuasse a falar, mas a loirinha
simplesmente pegou a mão direita de Lívia, onde
estava sua aliança e colocou em cima da mesa,
entrelaçando seus dedos.

- Pode-se dizer que estamos...? – olhou para a morena


e sorriu.
- Noivas. – Lívia beijou sua têmpora direita.
- Mas...? – Monica estava perdida. – Desde quando? –
gaguejou. – Por quê?

Marina olhou para Lívia como se pedisse ajuda, então a


morena resolveu falar.

- Monica, preste atenção. Sei que isso lhe parece


absurdo ou inaceitável, mas eu amo Marina. Desde que
a vi pela primeira vez tocando com os meninos, fiquei
encantada. Por insistência minha, aos poucos fui
conhecendo a pessoa maravilhosa que ela é, aconteceu
que nos apaixonamos e desde então estamos
namorando.
- Há quanto tempo?
- Quatro meses mais ou menos. – Marina foi quem
respondeu.
- Por isso ela te pegou na faculdade algumas vezes, por
isso dormiu no apartamento dela, viajou... – Monica
parecia encaixar os fatos. – Por que não me contou?

O silêncio imperava na mesa.


- Tive medo que se zangasse ou não aceitasse. Já
falamos sobre isso, não é?
- Sim. – baixou a cabeça.
- Tentei mentir falando que sentia algo por Eduardo,
falei que ele e Fabrício eram só amigos, mas vi que
mentir não ia ser legal. Você é minha melhor amiga,
sempre foi. Vivemos juntas desde criança e sua
amizade é muito importante na minha vida. – Marina
falava de forma doce. – Eu não aguentava mais
esconder de você, ia conversar com Lívia hoje sobre
isso, mas já que você viu minha aliança, decidi falar
aqui mesmo.
- E vocês vão morar juntas? – Monica perguntou
preocupada.
- Não! – Marina achou graça da preocupação da amiga.
– Isso é um passo muito importante, não pode ser feito
assim de repente. E outra, não vou te deixar morando
sozinha.
- Convite não faltou. Disse a ela que poderia morar
comigo, mas ela prefere você. – Lívia fingiu ciúme.
- Boba! A concorrência é forte, Monica é minha amiga
há muitos anos.
- Desde os seis anos de idade. – Monica sorriu. Depois
parou um pouco e olhou para as duas. – Olha, confesso
que desconfiava, mas não acreditava. As pessoas têm
comentado...
- Eu sei. – Marina concordou.
- Você está feliz?
- Muito!
- Então eu tenho que respeitar. Não entendo, achava
que... bom, você já é adulta e sabe o que quer da sua
vida. Penso que mais que eu até. Então que seja feliz. E
você trate-a bem, senão terá problemas com a cidade
de Jaú inteira, viu? – advertiu a promotora.
- Sim senhora. Pode deixar que ela está em boas mãos.
- Assim espero. – Monica sorriu.

“Também espero.” – Pensou Fabrício que olhou para


Eduardo, parecendo pensar a mesma coisa.

Monica esticou os braços sobre a mesa para pegar nas


mãos de Marina.

- Sempre te admirei e te respeitei, agora não será


diferente.
- Obrigada por aceitar tudo isso e ficar do meu lado.
- Estarei sempre.
- Então mais um brinde! – Eduardo levantou o copo.
Brindaram satisfeitos e Marina mais aliviada. Lívia
passou o braço em volta do corpo dela e a abraçou,
Marina repousou a cabeça em seu ombro sorrindo.

Jantaram e ainda pediram sobremesa. Na saída do


restaurante Fabrício se despediu juntamente com
Eduardo e coube a Lívia e Marina levarem Monica e
Hugo para casa.

No caminho para casa Lívia dirigindo, pôs a mão na


perna esquerda de Marina, como fazia algumas vezes.
Ela olhou um tanto receosa, pois não sabia qual seria a
reação da amiga.

- Marina, quando vai para Jaú? – Monica perguntou.


- Devo ir na segunda.
- Estou querendo ir também, que acha Monica? – Lívia
falou.
- Você? Em Jaú? Que vai fazer lá?
- Conhecer a sogra. – brincou.
- Aff, conheça o sogro também e veja como é bravo.
- Ihh, aí já complicou. Mas falando sério, pensei em ir
com ela para passear mesmo.
- Você não trabalha não é? – perguntou quase num
deboche.
- Trabalho e muito, mas posso tirar folga, afinal o
escritório é meu e tenho folgas quando preciso.
- E a gente escolheu ser músico. – revirou os olhos
fazendo todos no carro rirem. – Bom, eu acho que vai
levantar suspeita, mas...
- Fabrício e Eduardo podem ir, assim dá pra disfarçar. –
Marina falou.
- É uma ajuda.

Chegaram ao apartamento e Lívia encostou o carro


falando.
- Ainda conversaremos sobre isso, não é? – olhou para
Marina.
- É. Monica eu passo aqui ainda antes de viajar. Preciso
pegar umas roupas.
- Tudo bem.

No apartamento Monica estava sentada no sofá um


pouco pensativa.

- Que foi lindinha? – Hugo perguntou.


- Esse relacionamento, será que isso vai adiante?
- Pelo pouco que conheço e ouvi falar de Lívia, parece
que ela está mesmo gostando de Marina.
- Você já sabia?
- Desconfiava, mais do que você. Pois já a conheço
através de Fabrício, que é namorado de Eduardo.
- Por um momento achei que Eduardo estava afim de
Marina.
- Sem chance, pode até ser que ela tentou fazer você
acreditar nisso, mas ele é gay convicto. – sorriu.
- Meu Deus! Nem sei onde vai dar isso tudo. Espero
que Marina saiba o que está fazendo.
- Nunca desconfiou dela?
- Não. Ela namorou a ponto de ficar noiva, o namorado
a traiu. Depois não a vi mais com ninguém, pensei que
queria mesmo ficar sozinha.
- Vai vê se decepcionou com o ex.
- Pode ser... Vai saber né? Pelo menos a mulher tem
grana.
- Não acho que ela esteja com Lívia por dinheiro.
- Eu também, mas dinheiro melhora muito as coisas.

Hugo até estranhou o comentário, mas deixou pra lá.

Marina e Lívia estavam dentro do elevador, já subindo


para o apartamento.

- Posso saber o que te fez contar tudo para Monica


assim tão de repente?
- Seu amor por mim e minha confiança nela. Espero ter
feito a coisa certa.
- Acho que ela precisa de tempo para digerir tudo isso.
- Espero que sim. – Falou pensativa.

Entrando no apartamento Lívia a abraçou.

- E que tal me dar um beijo? Estou louca por um tem


um bom tempo.
- Todos os beijos que você quiser. – beijou a namorada
e entre um amasso e outro as duas subiram para o
quarto.

Na sexta Lívia acordou e deixou Marina dormindo, foi


trabalhar e deixou um bilhete carinhoso no quarto,
outro no banheiro e outro na cozinha. Quando a loirinha
acordou ficou toda boba. Tomou café e por costume
sentou no piano para tocar. Eduardo ligou pouco depois
e combinou de ir para lá, apenas para conversar.

- Agora nas férias música é só curtição.


- Sim, fica mais descontraído, até pra estudar.
- E ontem? Foram levar Monica, ela não disse nada no
caminho?
- Não, mas sei que ficou nos observando. Ela ainda vai
se acostumar.
- Verdade. O que eu puder fazer pra contribuir eu faço
e Fabrício também.
- Obrigada, vocês são excelentes amigos.

Coincidência depois, Monica ligou e pediu o endereço de


Lívia, iria fazer uma visita. Assim que ela chegou
Marina a recebeu no hall e ela viu que Eduardo estava
lá.

- Ô Dudu! Estão ensaiando?


- Que nada, só brincando de tocar. Hoje tem show e eu
resolvi só repassar umas coisinhas.
- Hugo perguntou se iam ensaiar.
- Não há necessidade, vim aqui mais pra jogar
conversa fora.

Da onde estava Monica não podia ver o piano, só


quando entrou que o notou na sala.

- Meu Deus! Um... Steinway & Sons. – os olhos


estavam arregalados.
- É. – Marina estava toda orgulhosa do piano.
- Então era aqui que você estudava.
- Sim, não tinha dito que vinha para cá, pois ficaria no
mínimo estranho.
- Da outra vez que estive aqui eu não o vi na sala.
- Claro! Porque ele não estava aqui. – Eduardo falou. –
Foi um presente para Marina.
- Ela te deu um Steinway & Sons de presente? – Monica
levantou a sobrancelha mais perplexa que duvidosa.
- No dia que ela comprou eu estava junto. – Eduardo
contou empolgado. – Nunca vi alguém fechar um
negócio tão rápido. Lívia queria um piano, mas esse só
por encomenda. Haviam outros, mas ela queria
Steinway, então olhou no catálogo e escolheu. O
vendedor, pra agradar, quis mostrar um que estava no
galpão, aguardando entregar para o dono. – ele fez
uma pausa.
- E? – Monica perguntou.
- E que o dono teve de esperar mais três meses para
chegar outro piano, porque o dele está aqui nessa sala.

Marina abriu a boca num gesto de incredulidade, mas


seu sorriso logo apareceu.

- Gente! Um piano desses custa caro. – Monica falou


surpresa.
- Coisas do amor.
Marina ficou envaidecida, sendo percebido pela amiga,
que não falou nada.

- O som dele é incrível. – Eduardo olhava para as


teclas.

Marina sentou e resolveu tocar um pouco, logo Eduardo


a acompanhou. Monica se empolgou e tirou a flauta da
mochila e se juntou aos dois. Tocaram clássicos da
bossa nova. Lívia ligou, mas por conta da música,
Marina não ouviu, então resolveu ir até o apartamento.
Saindo do carro na garagem um vizinho a abordou:
- Lívia! Que beleza de música. Vou querer apresentação
todos os dias.

Ela não entendeu nada. Dentro do elevador escutou


uma música e ao sair dele ouviu mais nitidamente.
Abriu a porta e viu o trio animado. Ficou os
observando, tocavam samba de uma nota só. Quando
terminaram ela bateu palma.

- Meus vizinhos estão morrendo de inveja. Um me


parou pra dizer que quer apresentação todo dia. Vamos
cobrar cachê e ganhar um extra. – disse andando em
direção a eles. – Tudo bem amor? – beijou Marina nos
lábios esquecendo completamente de Monica ali perto.
- Tudo bem. – a loirinha sorriu.
- Te liguei, mas você não atendeu, agora entendi o
motivo.
- Ah, nós nos empolgamos um pouco. – falou sem jeito.
- Adorei!
- Já que recebemos elogio, agora só tocamos com
cachê. – Monica brincou.
- Que isso! Não pode nem dar uma melhorada que já
vai cobrando. – Lívia sorriu.
- O lance é valorizar o passe. – riu.
- Então, eu vim chamar essa mocinha aqui pra almoçar,
mas acho que vou pedir alguma coisa aqui mesmo. Não
posso demorar, estou cheia de serviço e se for viajar,
preciso adiantar muita coisa. Ligou pra sua mãe, meu
anjo?
- Ai, eu esqueci. – falou colocando a mão na cabeça. –
Acordei, sentei aqui, logo Dudu chegou, depois Monica
e eu me distraí. Ligo depois do almoço, prometo.
- Tudo bem então. Vou pedir o almoço. Quer alguma
coisa em especial? – Lívia alisou os cabelos da
namorada.
- Não.
- Sobremesa? – Sorriu.
- Hum, podia. – os olhos da loirinha brilharam.
- Ta bom, já venho. – Beijou o topo de sua cabeça.
- Eu quero salmão trufado com molho de pêra francesa.
– Eduardo gritou.
- Vai sonhando! – Lívia respondeu lá de dentro da
cozinha.
- Ah, não funcionou. – ele fingiu se chatear.

Monica estava calada, parecia tensa, observava o


tratamento de Lívia com Marina, realmente eram um
casal como os outros. Não tinha nada preconcebido,
mas pensava ser diferente do que se julgava habitual.
Lívia era extremamente atenciosa e carinhosa com
Marina, que também correspondia a altura. Talvez
estivesse exagerando e seus conceitos estivessem
ultrapassados. Reparou que as duas tinham mais
cumplicidade que ela e Hugo ou muitos casais héteros.
- Vem gente, vamos pra sala. – Marina chamou.

Sentaram pra conversar até o almoço chegar e o papo


rendeu. Almoçaram na cozinha mesmo e logo Lívia teve
de ir embora.
- Vai ficar o dia todo aqui? – perguntou abraçando
Marina pela cintura já na porta do apartamento.
- Acho que vou. – Marina enlaçou o pescoço de Lívia
com os braços. – Você demora a chegar?
- Não sei amor, pode ser que sim. Se eu não chegar a
tempo, vou direto para o show e nos encontramos lá.
- Então bom trabalho, se cuida viu. Não esquece que te
amo. – a beijou.
- Também te amo. – Lívia lhe deu um beijo todo
apaixonado. – Até mais tarde. – lhe deu mais um
selinho rápido.
- Até.

Monica olhava de canto de olho de onde estava, mas


não passou despercebido por Eduardo.
- Me pergunto se você está admirando ou recriminado.
- Oi? Ah não... eu... só estou observando.
- Com boas ou más expectativas?
- Não sei, é tudo muito novo. Não sou uma pessoa
retrógada, acho que é falta de costume.
- Aos poucos você vai entender; se gosta realmente de
Marina, vai aceitar.
- Certas mudanças não são tão fáceis. – falou ainda
olhando pra elas.

Lívia foi direto do apartamento para o fórum, encontrou


com Fabrício lá. Ao entrar numa sala viu Camila
passando pelo corredor e mais que depressa fechou a
porta.

- Você está se escondendo dela? – Fabrício perguntou


incrédulo.
- Estou, quero evitar confusão. Toda vez que essa
mulher aparece vem junto com encrenca. Quero
distância e sossego.
- Isso aí, agora você é uma mulher compromissada.
- E enlaçada. – apontou para a aliança.

Por intermédio de outras pessoas, Camila soube que


Lívia estava em audiência e entrou na hora do
julgamento. Admirava a performance da promotora e
quando estavam saindo ela a abordou.
- Meus parabéns. Está cada dia melhor.
- Obrigada. Tchau!
- Calma lindinha. Só estou fazendo um elogio.
- Eu agradeci, agora preciso ir. Estou com pressa.
- Lívia, o carro já está lá fora. – Fabrício avisou.
- Vamos então.

Saiu apressada.

- Calma Camila, tudo é questão de tempo. – a juíza


falou para si mesma.

Marina aproveitou a tarde livre e ligou para a mãe.


Falou com mais detalhe da apresentação no dia anterior
e depois perguntou sobre levar alguns amigos.

- Não tem problema Marina, desde que eles não liguem


de dormir no chão. Eu arrumo mais colchonetes. Quem
são?
- Eduardo, que toca comigo, Fabrício, nosso amigo e a
prima dele, Lívia.
- De repente eles querem ficar no sítio também.
- Sim, vou falar com eles então.

Estava feliz, sua mãe aceitara numa boa e só faltava


acertar tudo com Lívia. Estava ansiosa para contar a
novidade. Arrumou-se para o show e esperou Eduardo
para irem juntos. Encontraram-se todos no bar, mas
Lívia e Fabrício só chegaram para a segunda parte do
show. Marina a achou linda e quando seus olhos se
cruzaram sorriram simultaneamente. No final do show,
Marina se sentou entre Monica e Lívia e dessa vez a
amiga pareceu mais relaxada. Não demoraram muito,
apenas o tempo de comerem alguma coisa e irem
embora.

- Monica, amanhã passo lá no apartamento. Estará em


casa?
- Provavelmente. Preciso ir a faculdade entregar um
trabalho novamente, acredita que perderam?
- Nossa senhora! Aquele pessoal é muito
desorganizado.
- Pois é, ainda bem que tinha salvado.

Deitadas na cama e totalmente nuas, Lívia sobre o


corpo de Marina, encaixada entre as pernas dela,
namoravam com beijos e mordidas.

- Adorei o show. – Lívia falou.


- A banda está entrosada, daí quando precisamos
improvisar fica fácil nos entender.
- Verdade. – mordia seu queixo.
- Ah amor, liguei pra minha mãe.
- E aí?
- Quando vamos? – sorriu.
- Sério? Posso ir?
- Pode! – sorriu e acariciou o rosto dela. - É só não
reparar na casa, pois terão que dormir em colchonetes.
- Nem me importo. Quero ficar perto de você. Vou
avisar os meninos e ver as passagens. A gente desce
em São Paulo, aluga um carro e vai pra Jaú. Dá quanto
tempo de viagem?
- Umas quatro horas. Por que não vamos de ônibus de
São Paulo para Jaú?
- Porque de carro a gente pode passear por lá. Vou
conhecer a sogra! – Falou animada. – E o sogro!
- É né. Fica esperta que eles não são fáceis.
- Dou um jeito. Conquistei a filha, agora conquisto os
sogros.
- Me conquistou é? – Marina passou o indicador
contornando o rosto da namorada.
- E não foi? Insisti, rodeei, agradei e depois peguei.
- Pegou Lívia! – deu um tapa nela. – Cafajeste!
- Ô lindinha, peguei pra mim, um peixinho lindo.
- Se falar sereia vai ficar brega. – riu.
- É, pensei nisso. – Lívia achou graça também. – Acho
que no fim das contas você quem me pegou.
- É dizem isso mesmo. – Marina olhava para cima como
que distraída.
- Ah é?
- Sou boa laçadora. Morei na roça to acostumada com
bichos indomáveis. – ria.
- E enlaçou direitinho. Aqui a prova. – mostrou a
aliança.
- Às vezes não acredito que namoramos.
- Por quê?
- Sei lá, era algo fora da minha realidade namorar aqui
no Rio, ainda mais alguém como você.
- Que tem eu? Sou como a maioria, tenho duas pernas,
dois braços, dois olhos. – piscou os olhos num gesto
brincalhão e Marina riu. – Uma boca. – beijou a
namorada. – Um nariz. – cheirou seu pescoço fazendo-
a rir novamente.
- Não é isso sua boba. Achava que uma pessoa já com
a vida feita, não iria se apaixonar por uma menina
como eu, que está apenas começando.
- Me chamou de velha? – Lívia levantou uma
sobrancelha.

Marina deu uma gargalhada.


- Não, você entendeu o que eu disse.
- Vou te mostrar um dos motivos pelo qual me
apaixonei por você...

Lívia começou a rebolar, roçando seus sexos.


- Ah... isso... é... muito bom... – Marina abria mais as
pernas.
- Não viu nada.

Fizeram amor noite a fora e foram dormir quase


amanhecendo.

Monica entrou na faculdade com o trabalho nas mãos e


encontrou com Frederico, o rapaz que tinha tocado com
Marina.

- E aí Monica? Folga até agosto agora hein.


- Graças a Deus.
- Ta perdida aqui?
- Vim entregar um trabalho, perderam o meu.
- Normal. - riu. - E Marina?
- Está... em casa. Por quê?
- Por nada. Queria agradecer por tocar comigo, não deu
tempo na quinta. Muita gente ao mesmo tempo e
quando a vi já estava saindo com a namorada.

Monica ouviu o comentário e nada falou.

- Me fala uma coisa... – se aproximou da menina. –


Você convive numa boa com isso?

Ela não soube o que responder, olhou para os lados


tentando ganhar tempo.

- Sou uma pessoa de mente aberta. E se ela está feliz,


qual o problema? – falou e saiu dando a deixa para o
rapaz concluir que o boato era verdade.

À tarde estava vendo TV com Hugo, quando a porta se


abriu, era Marina.

- Hei gente. Tudo bem?


- Tudo. – os dois responderam ao mesmo tempo.
- Vim pegar umas coisinhas. Monica quer que leve
alguma coisa pra você ou quer que traga quando for a
Jaú?
- Ah eu quero hein. Vou ligar para minha mãe e pedir
pra separar umas roupas que estão lá.
- E pelo visto você não vai né?
- Vou. – Monica enfatizou a palavra. – Mas quero
passar o final das minhas férias lá.
- Já eu pretendo ficar uns vinte dias. Aproveitar bem a
família.
- Vai todo mundo? – Monica perguntou desconfiada.
- Fabrício, Dudu, Lívia e eu. Já conversei com minha
mãe.
- E ela levou na boa?
- Sim, são meus amigos.
- Amigos, sei...
- Monica, queria que eu dissesse o que?
- É, ta certa.

Marina terminou de pegar suas coisas e saiu. Pegou um


ônibus e voltou para o apartamento. Lívia havia ficado
em casa para terminar de ler uns documentos e
adiantar tudo no trabalho para poder viajar. Ligou para
Fabrício e falou sobre a viagem dizendo que daria folga
a ele se topasse ir junto, ele nem pestanejou, aceitou
de cara. Marina guardou suas coisas e ajeitou a mala
que estava meio revirada. Depois foi procurar a
namorada, devia estar no escritório. Quando ia
entrando ouviu o telefone de Lívia tocar e esperou um
pouco, não queria invadir seu espaço. Ia saindo quando
escutou a namorada falar com raiva.

- O que você quer? Já disse para não me encher a


paciência Camila. Não quero e não vou. Me deixa em
paz.

Desligou o telefone. Marina imaginou que seria a tal


mulher do show da Urca e que provavelmente queria
alguma coisa com Lívia. Esperou um pouco e bateu na
porta para entrar.

- Oi amor. – o rosto da morena mudou ao vê-la. - Já


pegou tudo?
- Sim, estava arrumando ali no quarto, mas mala não
tem jeito, sempre fica revirada.
- Coloque no closet, tem espaço lá.
- Daqui a pouco estou tomando conta da casa.
- Não é por falta de convite. Esse apartamento é
grande e você bem que poderia vir morar comigo. – fez
bico.
- Ah, que bico bonitinho. – se sentou no colo da
morena. – Mas ainda é cedo, vamos esperar. Já tenho a
chave daqui, um piano e boa parte das minhas roupas.
- Falta o mais importante, você. – Lívia beijou seus
lábios.
- Vamos esperar.
- Ai, esperar, esperar... – Lívia amarrou o cenho.
- Eu já fico aqui tanto tempo amor, passo os finais de
semana com você e agora passarei até mais tempo, já
que Monica sabe da gente.
- De fato melhorou bem ela saber.
- Então, vamos devagar. – acariciou seu rosto.
- Que tal irmos a Mauá amanhã? Pra dormir hein,
voltamos na segunda cedo.
- Oba, estou com saudade de dona Marta.
- Então preparamos as coisas e vamos assim que
acordarmos.

Marina olhou a mesa da namorada, cheia de papéis.

- Quanto papel! Ir pra Mauá não vai te atrapalhar?


- Vou levá-los, de repente consigo ler alguma coisa lá.
- Tudo bem, então já vou arrumar minhas coisas e
deixar pronto, porque depois que chegar do show ficará
em cima da hora. Quer que arrume as suas?
- Eu quero.
- Alguma roupa em especial?
- Aquele casaco que levei da última vez e minhas botas
pretas.
- Onde vai vestida assim? – Marina fingiu desconfiar.
- Vou levar minha namor... noiva. – corrigiu. – Para
jantar fora.
- Moça de sorte essa. – Marina sorriu e a beijou.
Subiu para o quarto para ajeitar as malas. Lívia ligou
para a operadora de celular e pediu que trocassem seu
número. Acertaram e ficaram de mandar um novo chip
para ela na segunda. Depois olhou na internet
passagens para São Paulo e viu que só teriam na terça-
feira a noite. Marcou assim mesmo e depois iria
conversar com Marina. Lívia passou a tarde no
escritório e Marina não quis incomodar. Quando deu a
hora de ir para o bar, as duas se arrumaram e
desceram.

No final do show Eduardo chamou o dono do bar para


conversar, pois como iriam viajar não poderiam tocar
nos dois próximos finais de semana. A princípio ele
reclamou, mas o rapaz o convenceu a chamar um
grupo de amigos deles que tocava jazz e ele aceitou.
Pedro pareceu não gostar muito da ideia, mas foi voto
vencido na banda. Afinal estavam tocando direto toda
semana e mereciam um descanso. Monica aproveitou
para entregar algumas coisas para Marina levar para
São Paulo e se despediu dela.

- Juízo aí viu? – a loirinha recomendou.


- Você também, muito juízo. Agora posso falar. –
sorriu.

Marina e Lívia acordaram cedo e foram para Mauá, no


caminho Lívia falou do horário da viagem a São Paulo.

- Amor, só consegui passagem para terça quase a


noite. Sairemos daqui umas seis da tarde.
- Quanto tempo até São Paulo?
- Não dá uma hora, uns quarenta minutos talvez, mas
chegaremos lá e até que alugamos um carro acho que
não vai dar pra ir direto para Jaú. A gente dorme num
hotel e sai na quarta cedinho.
- Tudo bem. Assim não pegamos estrada à noite.
Marina não reclamava de nada e Lívia ficava
impressionada com isso, pra loirinha não tinha tempo
ruim.
Quando chegaram em Mauá, Marta as recebeu cheia de
sorrisos.

- Marina! Meus parabéns, fiquei sabendo que arrasou


na audição.
- Obrigada, fiz o melhor que pude.
- E estava linda! – Lívia completou. – Tudo bem mãe?
- Tudo ótimo, vamos entrando.

Marta sentou com elas na sala e colocou o papo em dia,


falaram das aulas, das férias e a viagem que fariam
para ver a família de Marina. Depois Lívia pediu licença
e se recolheu no quarto para ler os documentos que
havia levado.

- Nossa, ela tem trabalhado muito. – Marina falou.


- A viagem vai ser bem vinda, assim ela descansa
também. Lívia não sabe parar de trabalhar, às vezes.
- Se concentra lendo e revisando inquéritos, laudos,
processos, que às vezes perde a noção da hora.
- E como estão as coisas no Rio?
- Tudo bem, agora estou mais tranquila, por estar de
férias. Vou cuidar melhor de Lívia. – falou com carinho.
- Está empolgada. Espero que corra tudo bem. – Marta
falou com certa preocupação.
- Vai correr, minha mãe é super tranquila, meu pai é
mais sério, mas é boa pessoa também.
- Disso eu não tenho dúvida, só tenho medo de
desconfiarem.
- Bom, estamos meio que combinados com Eduardo e
Fabrício para disfarçar melhor.
- Mesmo assim, a gente pensa que pai e mãe não
vêem, mas se enganam. Nós sabemos de tudo.
- Vai dar tudo certo.
- Se Deus quiser.
- Falei com Monica.
- Sobre vocês e Lívia?
- Sim, contei no dia da apresentação.
- Menina, e ela não ficou desconcentrada? Essas coisas
não se falam assim.

Marina riu da preocupação de Marta.

- Falei depois da apresentação, quando fomos jantar


pra comemorar.
- E ela?
- Ah, estranhou um pouco, mas aceitou e acho que
agora é questão de se acostumar. Realmente acho que
ela desconfiava, mas não queria enxergar. Monica é
minha amiga e vai entender.
- Os amigos não nos julgam, eles nos entendem e
respeitam.

Estava anoitecendo e as duas continuaram o papo até


que Marta olhou no relógio.

- Lívia deve ter afogado naqueles papéis. Disse que


íamos jantar, mas acho que esqueceu.
- Vou lá ver.

Marina foi para o quarto e encontrou a namorada


fazendo algumas anotações.

- Meu amor, está tarde, sua mãe quer saber se ainda


vamos jantar.
- Quantas horas?
- São quase nove horas.
- Meu Deus! Nem me dei conta, desculpe.
- Não tem problema. – Beijou sua testa. – Se quiser
continuar aí, a gente come alguma coisa por aqui
mesmo.
- De jeito nenhum, vou tomar um banho.
- Então vou avisar sua mãe para se arrumar também.
Quando Marina voltou para o quarto Lívia ainda estava
no banho, então trancou a porta e tirou a roupa. O
banheiro estava todo enfumaçado, por conta do banho
quente e Lívia estava com a cabeça enfiada debaixo do
chuveiro. Marina abriu o box e a abraçou por trás.

- Que foi amor? Está quietinha aí.


- Descansando a cabeça. – Lívia apenas virou o rosto.
- Tem trabalhado muito não é?
- Um pouco. – respirou fundo.

Na verdade Lívia não estava trabalhando além do


normal, já era acostumada com sua rotina. O que a
incomodava era Camila no seu pé e o que aquilo
poderia prejudicar sua relação com Marina. Girou o
corpo e abraçou a namorada repousando o queixo em
sua cabeça.

- Você confia em mim?


- Confio amor. Por que isso agora?
- Por nada.

Olhou para Marina e se perdeu naqueles olhos verdes,


sorriu timidamente parecendo uma adolescente. Seus
lábios se encontraram beijando devagar, com carinho
até que os beijos se tornaram mais quentes. Marina se
desvencilhou de Lívia deixando escapar um gemido.

- Amor, temos que sair.


- Só mais um minutinho. – Sua boca descia para
encontrar um seio.
- Sua mãe está esperando... ah... amor... – Marina
sentia a língua de Lívia passar no bico do seio. –
Ah...não faz isso...

Lívia levou a mão até o clitóris dela e esfregou sem


tirar a boca de onde estava. Marina não resistiu e se
entregou.
Uns bons minutos depois, as duas saíram do quarto e
desceram para a sala.

- Nossa, se a demora foi porque estavam se


aprontando, valeu a pena. Estão lindas! – Marta as
esperava na sala.
- Também está linda mãe.

Procuraram um lugar mais aconchegante possível.


Foram a pousada de um amigo de Lívia e jantaram em
seu restaurante. Estava muito frio, então ficaram perto
de uma lareira.

- Leandro, obrigada por conseguir um lugar perto da


lareira. A mocinha aqui está congelando. – Lívia se
referiu a Marina.
- Imagina, você é cliente especial.
- Nossa! E olha que estou acostumada ao frio de São
Paulo.
- Hoje está frio mesmo, até eu que estou acostumada
com o clima, estou congelando.

Lívia passou o braço atrás de cada uma e as abraçou.

- Eu esquento vocês.
- Vou chamar o garçom, sejam bem vindas. – Leandro
saiu.
- Eu reclamo, mas eu adoro frio. Por isso moro aqui. –
Marta falou.
- Também gosto, no sítio nessa época do ano faz um
frio danado, gosto de ficar lá pra ver a cerração de
manhã.
- Ih, quero ver essa cerração aí, será que tem jeito? –
Lívia brincou.
- Claro, é só acordar cedo.
- Ah, então ela não vai ver, Lívia gosta de dormir até
tarde.
- Eu faço um esforço mãe.
- Depois me conta Marina. – riu.

Quando a bebida chegou, Lívia pegou a mão direita de


Marina, assim como ela havia feito no restaurante no
dia da apresentação.

- Mãe, quis trazê-las para jantar porque quero


comemorar uma coisa. – colocou a mão dela e de
Marina sobre a mesa. – Ficamos noivas. – sorriu.
- Meu Deus! Que maravilha! Como eu não vi essa
aliança?! Que por sinal, é enorme.
- Ela é exagerada. – Marina riu.
- Quando foi?
- No dia da apresentação dela. No carro, não foi num
lugar romântico, mas...
- Mas foi o pedido mais lindo do mundo. – Marina falou
interrompendo a namorada.
- Então vamos brindar. – Marta levantou a taça de
vinho. – Que sejam felizes, Deus as abençoe.
- Que assim seja. – as duas falaram juntas.

Jantaram conversando depois resolveram pedir


sobremesa.

- Aqui a sobremesa mais gostosa é a cheesecake. Já


comeu? – Lívia perguntou.
- Não, é de que?
- É uma torta de queijo, vou pedir, você vai gostar.
- Hum, deve ser boa.
- Qual doce que você não gosta? – Lívia brincou.
- Ah, é que doce é gostoso. – Marina falou sem graça.
- Deixa a menina Lívia.
- Estou brincando com ela mãe. Sei que Marina adora
doce. É minha formiguinha. – brincou.

O garçom veio trazendo três pedaços de torta, só que a


de Marta era de limão.
- Hum, a sua ta com uma cara boa também. – Marina
falou olhando.
- Quer parar de ser gulosa que a sua está aí na frente.
– Lívia implicou.
- Eu sei amor, só falei que ta com a cara boa.
- Eu te dou um pedaço. – Marta estendeu um pedaço
para ela, que comeu satisfeita.
- Nossa, que delícia!
- Ai... – Lívia revirou os olhos.

Marina tirou um pedaço da sua e quando colocou na


boca sorriu como se estivesse comendo algo dos
deuses.

- Gostou?
- Muito! É minha preferida.
- Ah ta. – Lívia achou graça. – A última sobremesa que
comemos lá em casa foi a sua preferida também.
- Eu mudei de ideia, agora é essa aqui. Qual é mesmo o
nome?
- Cheesecake.
- Isso. Adorei! – falava como uma criança.

Já em casa, Marina e Lívia não demoraram a dormir,


pois sairiam cedo no dia seguinte. Despediram-se de
Marta e prometeram voltar logo que voltassem de São
Paulo. Na estrada Lívia vinha atenta ao trânsito e pouco
falava.

- Está preocupada amor?


- Não.
- Está calada.
- Estou pensando aqui numa coisa... você não tem
habilitação não é?
- Não, acabei de fazer dezoito.
- Então vamos providenciar uma.
- Pra que?
- Pra dirigir? – Lívia foi sarcástica.
- Eu entendi sua boba. – deu um tapa no braço dela. –
Mas eu não preciso de carteira agora.
- Já sei, não é prioridade.
- Exatamente.
- Certas coisas são apenas úteis, não custa ter a mão,
vai que uma hora precisa. Vou ver quanto fica pra fazer
as aulas e combinamos um horário.
- Não podemos esperar?
- Pra que? E outra, é uma vantagem pra nós, assim
poderá voltar dirigindo e me descansar.
- Tem sempre um argumento, não é Lívia?
- Tenho Marina. – falou debochando.

Assim que chegaram em casa Lívia deixou Marina no


apartamento e foi trabalhar. Estava sentada em sua
mesa quando Fabrício chegou com uma caixa.

- Lívia, chegou um chip de telefone. Foi você quem


pediu?
- Foi, estou trocando meu número. Peça a Érica para
providenciar que todos saibam que troquei meu
telefone.
- Pra que isso?
- Camila.
- Aff. – ele revirou os olhos, deixou o chip na mesa e
saiu.

Lívia pegou e o colocou no celular, ligou para o


apartamento, Marina atendeu.

- Alô.
- Gostaria de falar com a senhorita Marina. – Lívia
mudou a voz.
- Sou eu, quem deseja?
- Bom dia senhorita. Te vi em um show nesse final de
semana e te achei muito bonita. Tem algum
compromisso para hoje à noite?
Marina ficou corada até a raiz dos cabelos.

- Olha, não sei quem está falando, mas isso não tem
graça.
- Que isso! Não estou pedindo nada demais, só um
jantar romântico. Te achei tão linda, nunca vi uma
mulher mais gata que você.
- O que? – Marina estava indignada. – Procure outra
pessoa, pois eu sou compromissada. – desligou o
telefone.

Ficou olhando para o aparelho ainda com raiva. Ele


tocou novamente, era o mesmo número.

- O que foi? – falou ríspido.


- Nem comigo você quer sair? – Lívia falou com voz
normal.
- Ah? Lívia! Era você?

A morena morreu de rir do outro lado da linha.

- Que telefone é esse?


- Meu número novo, anote-o.
- Por que trocou?
- Precisei.

Marina não discutiu o motivo, mas imaginava pelo que


era.

- Amor, na verdade ligo pra dizer que não vou almoçar


em casa. Só chego bem à noite, vou adiantar o máximo
que puder aqui pra viajar amanhã tranquila.
- Tudo bem, acho que não vou sair, te espero a noite.
- Ok. Te amo.
- Também te amo.

Como falou, Lívia ficou até tarde da noite no escritório


e Fabrício a acompanhando, pois também viajaria.
Quando chegou em casa já passava das onze e Marina
estava dormindo. Foi a cozinha e viu um bilhete
dizendo que tinha jantar no forno. Achou bonitinho a
loirinha se preocupar com ela. Jantou e subiu para o
quarto, Marina dormia profundamente. Entrou no
banho e saiu rápido, se enfiou debaixo das cobertas. A
loirinha sentiu o corpo de Lívia e virou para se
aconchegar nela.

- Demorou linda. – falou com os olhos fechados.


- Mas graças a Deus só ficou pouca coisa pra amanhã.
– beijou sua testa.
- Que bom. – cheirou o pescoço da morena. – Está
cheirosa...
- Tomei banho querida. E você também está cheirosa...

Dormiram profundamente.

A terça foi corrida, Marina arrumou sua mala e a de


Lívia, que havia deixado uma lista de coisas dela que
era pra colocar em sua mala. Às quatro da tarde, Lívia
chegou em casa correndo, tomou um banho rápido
enquanto Marina combinava com o táxi para buscá-las.
Desceram e o táxi já as esperava, passaram para pegar
Fabrício e Eduardo e foram para o Santos Dumont.
Fizeram o check-in e ficaram esperando. Marina estava
visivelmente nervosa.

- Meu amor, fica tranquila, o avião não vai cair.


- Pra tudo tem uma primeira vez.
- Que isso! Eu não quero morrer num desastre de
avião. – Fabrício falou.
- Calma viu, eu estou aqui. - Lívia a abraçou.

O vôo foi anunciado e eles seguiram para embarcar.


Sentaram-se e Lívia falou para Marina ir na janela para
ver a vista. Quando o avião taxiou a loirinha apertou a
mão da morena e Lívia riu da expressão dela. Quando
pegou a pista e aumentou a velocidade, Marina
arregalou os olhos quando viu o chão se afastando. O
dia estava meio chuvoso e o avião, quando subia,
entrou em uma nuvem ficando tudo branco em volta.

- Uia! Ficou tudo branco! Não to vendo nada.


- É assim mesmo amor.
- Se eu não to vendo o piloto também não está. – falou
apavorada.

Lívia achou graça.


- Ele tem piloto automático.

Quando saiu da nuvem Marina pode ver o céu cheio de


estrelas e a visão foi maravilhosa.
- Olha que lindo! – tirou uma foto rapidamente.
- Chega mais perto do vidro pra foto ficar melhor. –
Lívia a ajudou.
- O povo ta pensando que sou da roça, tirando foto
daqui de dentro.
- O povo eu não sei, mas eu to. – Fabrício implicou do
banco de trás.
- Chato! – ela riu.

Quando tudo se acalmou a loirinha relaxou no banco.


- Agora acho que posso respirar. – suspirou.
- Linda! Parecia um bichinho fofo com medo do novo.
Linda, linda... Dá vontade de encher de beijinho. – Lívia
falou puxando-a para mais perto.
- Ah, é que eu nunca... – Marina ficou envergonhada.
- Ô meu amor, eu sei, a primeira vez que viajei de
avião também tive pânico. Só que não tinha ninguém
para segurar minha mão. – Lívia fez biquinho.
- Tadinha. Eu seguro agora. – Marina segurou a mão
direita dela e Lívia deitou a cabeça no ombro da
loirinha.
- Daqui a pouco estamos chegando, vamos deixar as
coisas no hotel e de lá mesmo procuro a locadora. Qual
carro devemos pegar?
- Um que tenha quatro rodas e ande. – Marina brincou
fazendo Fabrício rir no banco de trás.
- Fabrício faz que nem Eduardo, durma! – se referiu ao
outro rapaz que ressonava no banco de trás.
- Ele está dormindo porque tomou remédio, tem horror
a avião.
- Isso ele não me contou. – Marina falou rindo.
- Pois é, ele fica mais apavorado que você.

Momentos depois o avião desceu no aeroporto de


Congonhas. Pegaram um táxi para o hotel e assim que
se acomodaram no quarto, Lívia ligou apara a recepção
para providenciar o carro.

- Enquanto não chega, vamos tomar um banho pra


sair?
- E nós vamos aonde?
- Pensei em dar uma volta aqui perto, tem um
restaurante muito legal, é italiano, acho que vai gostar.
- Os meninos vão?
- Vou ligar pra saber.

Lívia ligou, mas Fabrício disse que não ia, pois estava
cansado e como viajariam cedo no dia seguinte, ele
preferia dormir cedo.

Depois de saírem do banho, Lívia ligou para a recepção


novamente para se certificar do carro. O atendente
informou que ele já estava aguardando. As duas
desceram e enquanto ela assinava o contrato da
locação, Marina observava o hotel e as pessoas
entrando e saindo. Todo mundo muito bem arrumado,
os funcionários uniformizados. Pensou que nunca tinha
estado num lugar daqueles. Havia um piano perto do
bar, mas estava vazio.
- Quer tocar? – Lívia chegou por trás passando o braço
em sua cintura.
- Não! Só se for pra pagar a conta do hotel. – brincou.
– Muito chique isso aqui.
- É um hotel executivo, existem outros mais chiques.
- Mais que esse?
- Sim.
- Nossa! Aí neste caso teria que tocar vinte e quatro
horas pra pagar a conta.
- Boba! Você, por hora, é minha pianista particular.
Gosto de exclusividade.
- Exclusividade só na pianista?
- Em tudo. Você é toda minha e não abro mão disso.

Marina se sentia lisonjeada com aquelas declarações e


realmente se sentia de Lívia, como se mais ninguém
fosse lhe tocar. Saindo do hotel, Marina avistou o carro
e se assustou.

- O carro é esse?
- É. – Lívia não esboçou nenhuma reação.
- Pra que um carro desse tamanho? – Se referia a um
modelo da Hyundai.
- Porque ele tem mais lugares, na verdade dois a mais.
E tem tração nas quatro rodas, é mais confortável e vai
nos ajudar para ir ao sítio.
- Vai colocar ele na estrada de chão. – Não era nem
uma pergunta, mais uma constatação.
- Claro.
- Meu Deus!

O restaurante era muito bonito, tiveram que esperar


um pouco do lado de fora, pois como não tinham feito
reserva, aguardaram por uma mesa. Ficaram
conversando até que o garçom as chamou. Havia um
lado só de queijos e outros tipos de frios que os clientes
poderiam se servir. Primeiro passaram por lá
apreciaram as iguarias.
- Nossa esse queijo é bom? – Marina colocava um
pedaço na boca.
- Eu adoro também. Quando venho aqui, sempre passo
ali primeiro. Muitas vezes nem janto, só como os
queijos. – sorriu.
- Já veio muitas vezes aqui? – o tom de voz da loirinha
era desconfiado.
- Algumas.
- Ah... – Olhou para os lados.
- Quer saber se vim acompanhada, é isso? – Lívia a
olhava nos olhos.
- É.
- Sim, uma única vez.

Marina abaixou a cabeça um pouco chateada. Na


verdade sabia da resposta, mas esperava outra.

- Se soubesse que ficaria com essa cara, eu teria


mentido.
- Não! Não quero que minta para mim. Prefiro a
verdade. Eu também não tinha nada que ter
perguntado. Curiosidade besta.
- Então vamos mudar de assunto?
- Vamos.

Depois de provarem dos queijos, pediram um nhoque.


Jantaram em clima romântico e depois foram para o
hotel. Assim que entraram no quarto Marina foi pegar
água no frigobar.

- Amor, posso tomar água?

Lívia olhou para ela incrédula.

- Como assim, “posso tomar água”? Claro que pode,


você nunca me perguntou isso.
- Não é que essas coisas em hotel são muito caras.
Uma vez eu viajei com minha família para o litoral,
ficamos num hotel. Meu pai proibiu terminantemente
de pegar qualquer coisa na geladeira, isso incluía água.
Comprávamos na rua e levávamos para o quarto, pra
economizar.

Lívia achou graça da história, mas ficou com pena


também. A família de Marina era uma das muitas nesse
país que lutava para viver e ter o mínimo de conforto.

- Aqui nesse frigobar você pode pegar o que quiser, ok?


– Passou por ela com uma toalha na mão, beijou seus
lábios e foi para o banheiro.
- Vai tomar banho?
- Um rápido, só pra descansar pra dormir. Quer vir?

Marina nem pensou duas vezes. Entraram para o banho


e de rápido não teve nada. Quando saíram a loirinha
lembrou-se dos garotos.

- Será que Eduardo e Fabrício estão dormindo?


- Vai saber, esses dois tão naquela fase morna do
relacionamento, mas passa.
- Será que o nosso vai ter isso, como eles falaram? – a
loirinha perguntou fazendo drama.
- Acho muito difícil.
- E por quê?
- Porque nós duas inovamos, reinventamos, mudamos
e saímos da rotina. – Lívia abraçou e beijou seus lábios.

Marina olhou para ela e teve uma ideia.


- Amor, posso pegar aquele sorvete que ta no frigobar?
– sorriu inocente.
- Pode linda. Mas você quer tomar sorvete essa hora?
- É que quando eu como algo salgado, eu quero comer
algo doce depois.

A loirinha se desvencilhou dos braços de Lívia e foi até


a geladeira, pegou um pequeno pote de sorvete e
voltou olhando para ela maliciosamente.

- Você não disse que eu adoro doce? – falou


empurrando ela para a cama e fazendo-a se deitar. –
Então vou comer doce da melhor forma que tem,
saboreando junto com a morena mais gostosa desse
mundo. – abriu a toalha de Lívia e deixou seu corpo nu
todo a mostra. – Vou começar a inovar. E para que
esse relacionamento não fique morno, nada melhor
que... sorvete.

Marina pegou a colher e tirou um pouco do pote,


passou pela barriga da morena, deixando um rastro até
os seios. Desceu com a boca e foi lambendo, fazendo
Lívia se arrepiar inteira.

- Assim você vai me matar... ahh... – a voz de Lívia


saiu rouca.
- Ninguém morre disso.

Marina pegou mais um tanto e derramou no ventre e


lambeu novamente, depois lambeu a colher tirando o
que restava e abocanhou o clitóris da morena. Lívia
gemeu alto e arqueou o corpo. Marina se entreteve ali
por um bom tempo, não tinha pressa e estava
adorando degustar uma morena com sorvete. Lívia
segurava seus cabelos, ora se agarrava nos lençóis se
contorcendo.

- Amor... por favor... não pára... mais... ah... ahh...

Marina sabia que ela estava em seu limite, então


aumentou os movimentos e pressionou a língua no
ponto onde sabia que a morena delirava de prazer. A
respiração de Lívia ficou acelerada e seu corpo tremeu
sinalizando o gozo, Marina então, segurou suas pernas
e sugou todo seu líquido. Deixou o pote de sorvete do
lado da cama e subiu pelo corpo da morena, ficando em
cima dela.

- Adorei isso. – Lívia ainda ofegava.


- Shii... - Marina beijou seu queixo e mordeu. – É pra
inovar, sair da rotina...

A promotora soltou uma gargalhada.


- Boba!
- Que te ama!
- Também amo você. – Lívia virou de repente ficando
por cima dela. – Estou completamente apaixonada,
largada, abandonada e de quatro.
- Ui, de quatro? – Marina sorriu com malícia.

Lívia levantou uma sobrancelha. Levantou ficando de


joelhos e puxou a loirinha fazendo-a ficar de costas. Foi
tão rápido que Marina não teve como pensar, de
repente estava de quatro.

- Essa calcinha está me atrapalhando. – Lívia a rasgou


numa puxada só. Depois puxou novamente o corpo de
Marina para tirar sua blusa. Ela esticou os braços para
cima, facilitando e Lívia puxou a peça já descendo as
mãos e parando nos seios. Pegou os dois biquinhos e
apertou entre os dedos. Marina levou a mão na nuca da
morena e virou o rosto para beijá-la. Esfregavam-se de
forma sensual, Lívia mordia a nuca e o ombro de
Marina e suas mãos passeavam por seu corpo.
Posicionou o corpo dela de quatro novamente e a
penetrou por trás bem devagar, sentiu a vagina
molhada.
- Que delícia, é tudo pra mim? – falou excitada.
- Devagar... ah....

Lívia massageava o clitóris e a penetrava ao mesmo


tempo. Manipulava um seio junto com os movimentos
da outra mão. Marina rebolava e gemia como uma
gata, não demorou muito a estremecer e antes que
gozasse Lívia parou o que fazia e se enfiou debaixo das
pernas dela. Marina ficou de joelhos e a morena entre
eles, fez com que ela se abaixasse um pouco e lambeu,
sugou, mordeu de leve, sentindo o gosto e a maciez
daquela carne, subiu as mãos e chegou aos dois seios e
enquanto os acariciava, pressionou a língua no clitóris
fazendo Marina gozar e cair sobre seu corpo.

Fizeram amor até de madrugada em várias posições e


maneiras diferentes. E do pote de sorvete não sobrou
nada. Acordaram com as batidas de Fabrício na porta
do quarto. Lívia se levantou, colocou um roupão e foi
andando meio sonolenta. Abriu a porta e estava
bocejando.

- Que você quer uma hora dessas?


- São nove horas da manhã, que horas nós vamos?
- Calma, ta cedo ainda.
- Cedo nada, vamos chegar lá de tarde. Você não
dormiu direito? Está com uma cara.
- Dormi otimamente bem.
- Ahan – ele levantou uma sobrancelha.
- Preciso tomar café, você já tomou o seu?
- Estou descendo com Dudu.
- Então quando terminar me chame de novo. Vou pedir
meu café aqui no quarto.
- Folgada meu Deus!

Lívia fechou a porta e ligou para o serviço de quarto,


pediu um café reforçado. Separou uma roupa para
viajar e deixou a mala pronta e depois foi ao banheiro e
lavou o rosto. Marina se espreguiçou na cama e
chamou por Lívia.
- Amor!

Ela saiu do banheiro.


- Que foi?
- Nada, achei que tinha saído. Quantas horas?
- Nove horas.
- O que? – Marina deu um pulo da cama. – Nossa,
vamos chegar tarde.
- Calma, chegaremos para o almoço. Pedi café pra
gente.
- Vou correr e mudar de roupa. – Marina saiu andando
pelo quarto completamente nua.

Lívia adorou a visão e foi se aproximando com olhos


famintos.
- Delícia de mulher andando nua desse jeito. – agarrou
a loirinha por trás.
- Amor, preciso arrumar as coisas.
- Calma, não vou demorar. – encostou Marina na
parede e tirou o próprio roupão, colando seu corpo no
dela. Marina apoiou os braços na altura da cabeça e
Lívia aproveitou aquela posição para percorrer seu
corpo com as mãos. Lambia e mordia, enquanto Marina
gemia baixinho. Fizeram amor novamente e depois
tomaram um banho rápido para esperar o café da
manhã.

Depois que comeram pegaram a estrada rumo a Jaú.


Antes de sair, Marina ligou para a mãe e informou o
horário que deveriam chegar e ela combinou que os
aguardava para o almoço. A estrada estava boa e sem
trânsito, isso facilitou a ida. Pararam num posto na
estrada para irem ao banheiro e retomaram a viagem.
Por volta de uma hora entravam na cidade. Lívia não
conhecia o trânsito e pediu ajuda a Marina, que indicou
o caminho. Em poucos minutos estavam na porta de
sua casa. Era um lugar simples, com um pequeno
jardim na frente e uma escada que dava acesso a
entrada de casa.

- Gente, essa é minha casa. Sejam bem vindos.


- Estou doido pra esticar as pernas. – Eduardo falou.
- Amor, vou tirar a aliança, senão pode ser que minha
mãe desconfie. Tudo bem?
- Tudo lindinha. Deixa ela aqui no carro.
- Não, vou guardar comigo.

Lívia sorriu da preocupação da garota.


- Me dá um beijinho antes da gente entrar? – a morena
pediu.

Beijaram-se e saíram do carro.


- Beijinho antes de entrar. Que coisa medonha. –
Fabrício brincou.
- Medonha foi a ideia que tive de trazer você! Seu
mala. – Lívia respondeu. – Pare de me amolar.

Marina subiu os poucos degraus e bateu na porta, mas


já abrindo com sua chave.
- Ô de casa!

Ninguém apareceu de imediato, então eles foram


entrando. A primeira coisa que Lívia reparou foi no
piano de armário que ficava na sala.

- Marina! Graças a Deus que chegaram bem. – sua mãe


veio animada recebê-los. – Fizeram boa viagem?
- Fizemos, a estrada está boa. Mãe quero apresentar.
Essa é Lívia, esse é Fabrício, primo dela e Dudu, meu
amigo da faculdade.
- Prazer senhora. – Lívia foi polida.
- Ah, nada de senhora. Pode me chamar de Zezé.
- Ta certo. – Lívia sorriu.
- Oi, muito prazer. – foi a vez de Fabrício.
- Prazer dona Zezé. – Eduardo também cumprimentou.

De repente um neném aparentando um ano de idade


entra na sala.
- Titi! Titi! – veio sorrindo. – Aahhh!
- Isa! Ei neném! – Marina se abaixou para abraçá-la. –
Saudade dessa menininha! – Beijou seu rosto. – Dá um
upa na tia!

A menina a abraçou sorrindo.

Lívia pode perceber que a sobrinha de Marina era uma


cópia dela. Tinha cabelos loiros, poucos, mas da mesma
cor e os olhos eram verdes, idênticos aos dela.

- Pessoal, esse é meu xodó, Luisa. Para os íntimos Isa.

Todo mundo brincou com a criança, que abriu um


sorriso deixando todos encantados.

- Ela é a sua cara. – Eduardo falou.


- Coitada, não desanima a criança. – Marina brincou.

Lívia estava parada feito uma boba com um sorriso no


rosto. Ver Marina com aquela criança havia deixado
uma sensação de bem estar, de família.

- Meninos, o almoço está quase pronto. Não sabia do


que gostavam então fiz uma lasanha, molho branco
Marina, do jeito que você gosta.
- Hum... estou começando a gostar dessas férias. –
Fabrício falou empolgado.
- Eu arrumei o quarto de seu irmão para os garotos e
você dorme com a moça no seu quarto Marina. – Zezé
falou.

Marina olhou para Lívia e sorriu contente.


- Então vamos levar as malas e acomodar as coisas, já
voltamos.

Marina saiu pela casa e deixou os meninos no quarto do


irmão que tinha uma cama de solteiro com bicama.
Depois foi ao seu quarto com Lívia, que sorriu logo que
entrou.
- Olha que bonitinho, parece o quarto de uma
menininha.

Se referia ao branco dos móveis e a parede pintada de


rosa.
- Ah, esses móveis são escolha da minha mãe, tenho
eles desde que fiz sete anos. – tentava se justificar.
- Uma graça. Adorei sua mãe, muito simpática. A ideia
de me deixar aqui foi a melhor coisa que ouvi até
agora.
- Sem-vergonha. – Marina lhe deu um beliscão.
- Ai! Pelo menos ficarei mais perto de você.
- Eu sei amor, também gostei da ideia. – falou
baixinho. – Agora vamos, senão minha mãe vem aqui.

Saíram do quarto se dirigindo à cozinha. Maria José


terminava de tirar a lasanha do forno. E Luisa estava
brincando no chão com várias panelas.
- Meu amor! Quanta panela! – Marina se abaixou para
brincar com ela.
- Ixi! – sorriu para Marina.
- Nossa, já tem dois dentinhos. – Lívia também se
abaixou. – Você sabe cozinhar neném?

Isa as olhava e sorria batendo uma colher nas panelas,


fazendo muito barulho.
- Cozinhar eu não sei, mas bater panela com certeza. –
Maria José brincou.
- Mãe ela cresceu muito.
- Está muito espertinha e andando, você viu né.
- Vi.

Lívia brincava com a menina com tanta naturalidade


que surpreendeu Marina.
- Bom, o almoço ta pronto. Cadê os meninos?
- Chegamos. – Eduardo respondeu entrando na
cozinha.
- Cadê o pai e o Mateus?
- Estão na roça e Barbara também. Os dois não vieram
porque estão cortando cana essa semana e ela você
sabe como é acanhada quanto tem visita.
- O pessoal quer conhecer o sítio.
- Ih esse povo da cidade grande... será que vai gostar?
- Vamos sim, eu adoro a tranquilidade do interior.
Minha mãe mora em Mauá, junto com minha tia, mãe
de Fabrício. Lá também é pequeno e me refugio sempre
quando posso.
- Marina me contou que foram para lá passear.
- Verdade, minha mãe convidou. Ela gosta muito de
Marina.

A loirinha sorria satisfeita vendo a mãe entrosar com


Lívia. Enquanto conversavam se serviam e a lasanha foi
um sucesso, todo mundo repetiu.
- Gente, ainda tem sobremesa. Fiz pudim.
- Oba, o pudim da minha mãe é uma delícia.
- Dona Zezé, Marina sempre gostou muito de doce? –
Lívia perguntou já em tom sarcástico.
- Desde pequena, é que nem uma formiga.
- Imaginei. – levantou uma sobrancelha com um sorriso
de canto.
- Para. – Marina falou baixo batendo na perna dela.

Fabrício revirava os olhos e Eduardo ria. De tarde


sentaram para conversar na sala e Marina atendeu aos
pedidos insistentes e tocou piano. Eduardo, que havia
levado seu violão, a acompanhou cantando e tocando
junto.

- Vocês devem fazer sucesso no Rio. – Maria Jose


elogiou.
- Nós tocamos toda sexta mãe, agora teremos uma
folga de duas semanas, mas o contrato é até o fim do
ano.
- Que maravilha. Toquem mais, estou adorando.
Continuaram na apresentação até tarde.

À noite, na hora de ir dormir, Lívia se enfezou por conta


da porta aberta em seu quarto.
- Você tinha que dormir de porta aberta?
- Sempre foi assim, eu tenho medo de escuro.
- Lá em casa você não parece ter medo. – levantou
uma sobrancelha.
- Mas lá eu tenho você ao meu lado. – sorriu
docemente alisando os cabelos da namorada que
estava no colchonete do seu lado. – E outra, se eu
fechar a porta agora minha mãe vai estranhar.
- Humpf. – Lívia fechou a cara.
- Brava, que eu amo. Dorme com Deus. Te amo muito.
– beijou a palma da mão e passou no rosto da morena.

Lívia sorriu e levantou rapidamente agarrando Marina e


lhe dando um beijo apaixonado.
- Também te amo.

Marina ficou tão desnorteada que nem respondeu.

No dia seguinte prepararam tudo para ir para o sítio.


Lívia foi dirigindo e Marina ao seu lado. Maria José foi
entre os meninos e Luisa na cadeirinha. O tempo
estava meio nublado, mas não chovia, porém o frio era
intenso.

- Nossa, aqui em São Paulo faz mais frio que no Rio. –


Eduardo falou.
- Então se prepare porque lá na roça é pior. – Marina o
animou com as palavras.
- Fiquei bastante animado agora. – revirou os olhos.
- Já está tudo pronto por lá, os meninos no quarto de
Mateus e Marina no seu mesmo com Lívia.
- Ué e Mateus, dorme aonde?
- No meu quarto, que é o maior, ele fica lá com Barbara
e Luisa.
- Papai sabe disso?
- Sabe, ele que deu a ideia.
- Hum. – Marina ficou pensativa.
- Como seu pai se chama? – Lívia perguntou baixinho,
como que envergonhada.
- Roberto. – Marina sorriu.
- Ah sim.

Quando saíram do asfalto e pegaram a estrada de


chão, Lívia reparou que tinha barro em alguns lugares.
- Choveu por aqui?
- Sim, anteontem choveu bem.

Lívia não teve dificuldade em passar no barro.


- Viu como o carro caiu bem nessas horas? – olhou
para Marina sorrindo.
- É, caso contrário estaríamos naquele buraco lá atrás.
- Eu penso em tudo. – pousou a mão na perna de
Marina num gesto instintivo e logo retirou arregalando
os olhos, sorte que Maria José não percebeu.

Avistaram a primeira porteira e Marina desceu pra


abrir, assim foi com mais quatro porteiras até chegar a
casa. Marina viu o pai com uma enxada na mão e
correu ao encontro dele. Lívia foi com o carro até
próximo a casa e parou onde Maria José indicou,
desceram e foram na direção da loirinha e de Roberto.
Lívia pode perceber que Marina era a versão feminina
do pai e vendo-a conversar e vir andando com ele,
notou que até os trejeitos eram parecidos.

- Bom dia minha gente! – ele cumprimentou.


- Bom dia. – responderam ao mesmo tempo.
- Pessoal, esse é meu pai, seu Roberto. Pai esse é
Dudu, Fabrício e Lívia.
- Fiquem à vontade, aqui é roça viu, num tem muito
que fazer, tem cana pra cortar. – sorriu fazendo os
outros rirem.
- O ar puro já me satisfaz e a paisagem é maravilhosa.
– Lívia logo se manifestou.
- Vamos entrando gente, Mateus deve estar lá dentro.
- Ta não, foi no vizinho pegar uns materiais que
estavam emprestados. – Roberto falou.

O lugar da casa não era grande, perto dela havia um


açude e na beirada dele um monjolo que funcionava
por conta da queda d’água de uma pequena cachoeira.
O curral ficava mais ao fundo próximo a um galinheiro.
A plantação de cana se estendia por todo o terreno
atrás da casa e perdia-se de vista.

Todos entraram e se acomodaram. Barbara saiu de um


dos quartos e cumprimentou o pessoal ao mesmo
tempo em que pegava a filha.

- Ei filhinha! Mamãe tava com saudade.


- Barbara só deixou Luisa comigo porque Marina ia
chegar, normalmente ela não desgruda da menina. –
Maria José falou baixo para a nora não escutar. – Bom,
eu vou cuidar dos afazeres e vocês fiquem à vontade.
Marina acomodou os garotos e depois levou Lívia para
seu quarto. A morena bem que tentou roubar um beijo,
mas a pianista foi incisiva.
- Agora não Lívia, quer que meu pai nos veja?
- Vou ficar na vontade as férias inteiras?
- Se isso for preciso para que tudo fique tranquilo, vai
sim.

Saíram do quarto e foram para a cozinha, Marina


ajudou a mãe e Lívia ficou na varanda com os garotos e
Barbara.

- Mãe, estava pensando. Pode juntar todo mundo no


meu quarto e Mateus e Barbara voltam para o quarto
deles, assim não os deslocam.
- Que isso, eles não ligam.
- Mais por conta de Luisa. E outra, colocando os
colchonetes todos juntos, os três se esquentam.
- Você quem sabe, se achar melhor assim.

Mateus veio de charrete do sítio vizinho e a deixou


perto da casa, desatrelou o cavalo e levou umas
ferramentas para o pai, só depois que cumprimentou os
que estavam na varanda.
- Bom dia!

Marina chegou na hora.


- Opa, bom dia. Mateus, esses são meus amigos.

Apresentou todos e ele somente acenou com a cabeça.


Mateus era mais sério a primeira vista, mas depois se
socializava melhor.

O pessoal só se juntou mesmo na hora do almoço.


Havia uma mesa grande que cabiam todos e assim
almoçaram conversando.

- E aí Marina, já ta falando carioca? – o irmão


perguntou.
- Ah, acho que não, mas estou aprendendo um monte
de gírias.
- Ela deu foi sorte, porque as pessoas com quem
convive mais tempo não têm o sotaque carregado. –
Eduardo falou.
- É verdade, eu pouco tenho sotaque, Eduardo também
e Lívia que teria mais, também não tem graças a anos
de fonoaudióloga. – Fabrício riu.
- Ué, não sabia que tinha feito fono? – Marina se
surpreendeu.
- Fiz pra poder encarar melhor um tribunal, juiz
nenhum me daria uma causa com o sotaque que eu
tinha.
- Tipo carioca malandro. – Fabrício debochou levando
um chute por debaixo da mesa. – Ai. – Reclamou.
- Você é advogada? – foi Roberto quem perguntou.
- Sou formada em direito, mas atualmente sou
promotora.
- Também minha chefinha. – Fabrício bateu no ombro
da prima.
- E você é o puxa-saco. – Roberto brincou com o rapaz
tirando boas risadas do pessoal.
- Viu, reconheceram seu disfarce. – Lívia falava ainda
rindo.
- Eduardo toca comigo pai.
- Ah, então é dele que sua mãe falou.
- Estou famoso por aqui? – o rapaz brincou.
- É que Marina disse que você é um grande amigo.
- Verdade, pessoas como Eduardo são como anjos da
guarda. – disse olhando carinhosamente para o rapaz.
– Mas não posso reclamar, fiz boas amizades no Rio e
me sinto feliz com isso. Fabrício é uma mão na roda,
sempre ajuda a banda, dá conselhos, briga também, os
outros garotos também são ótimos. Sem contar Monica
que é doida, mas é minha parceira de aventuras,
passamos poucas e boas naquela faculdade.
- Contar com os amigos é muito bom. – disse Maria
José.
- Esqueceu de ninguém não? – Lívia fingia desolação.
- Você? – Marina sorriu afetuosamente. – Bom, você é
quem mais me motiva a querer melhorar, lutar pelos
meus sonhos, é a maior incentivadora que poderia ter
ao meu lado. – Marina falou sem disfarçar o brilho nos
olhos que não desgrudavam dos de Lívia.

Fabrício que notou o momento romântico, cortou logo


querendo também justificar essas palavras.

- Lívia nos deu um teclado de presente e deixou Marina


estudar no piano da casa dela! – falou sem respirar.
- Calma, uma coisa de cada vez. – Roberto quem falou.
– Como é que é isso?
- Quando nosso tecladista saiu, carregou o teclado dele
e Marina não tinha um. Até comprou um usado, mas
era a treva aquilo. Lívia comprou um novo e deu pra
banda.
- É mesmo, isso foi um gesto muito carinhoso. – Marina
sorria. – O piano é por que... ela tem um na casa dela
e me deixou estudar lá quando eu precisasse, pois os
da faculdade são muito concorridos e os veteranos têm
mais preferência.
- Que beleza! Viu minha filha, você achava que seria
muito difícil no Rio e que talvez nem ficasse por lá.
Deus lhe mandou verdadeiros anjos e tudo deu certo. –
Maria José falou.
- E eu agradeço todos os dias.
- E Monica, como ela está se comportando por lá? –
Zezé perguntou.
- Ah mãe, Monica sempre foi doidinha, mas ela no
fundo tem juízo. Está namorando Hugo, o baixista da
banda, ele é um bom rapaz. Ela só é empolgada. Por
pouco não prejudica sua nota na faculdade. Isso porque
deu mais prioridade ao namoro que aos estudos, mas
passou tanto aperto que acho que aprendeu.
- O pai dela morreria se ela não se formasse.
- Eu sei.
- E quando ela vem?
- Aí já não sei. Ela disse que viria antes de acabarem as
férias.
- É, vem quando estiver faltando uma semana. –
Eduardo riu.
- Eu não duvido Dudu.
- Não sou ninguém para julgar, mas acho que ela
deveria dar mais valor a família, afinal os pais dão um
duro danado para vê-la estudando fora. – Lívia falou.
- É, pais não são pra vida toda. – Eduardo falou.

Almoçaram sob conversa animada e a tarde passou que


nem viram. Andaram pelos arredores do sítio e
puderam conhecer sobre a produção de cana ouvindo
Roberto falar animado.

À noite, já no quarto, os quatro se ajeitavam pra


dormir.

- Vocês dois dormem mais desse lado que eu vou ficar


nesse canto aqui. – Lívia apontava para o colchonete.
- E pra que tudo isso? – Fabrício perguntava.
- Não discuta comigo.

Marina apenas olhava a arrumação dos três. Pouco


depois que se deitou e estava quase cochilando, sentiu
um abraço envolver seu corpo.

- Lívia, ficou maluca? – Marina falou baixo.


- Fiquei, estou com saudade de abraçar você. – Lívia
falou baixo também.
- Só de abraçar? – Marina se virou perguntando com
voz inocente.
- Não, de beijar também. – beijou-lhe os lábios. – De
morder. - mordeu o lábio inferior. – E de fazer amor...
– colocou uma das mãos entre as pernas da loirinha e
apertou seu sexo.
Marina gemeu afastando a mão da morena.
- Aqui não amor, meus pais podem acordar e tem os
meninos ainda...
- Sim, e os meninos querem dormir. – Fabrício logo se
manifestou.
- Quer calar a boca? – Lívia falou entre dentes.
- Não! Quero dormir.

Lívia voltou a avançar o sinal e Marina a interrompeu


novamente.
- Lívia, por favor, aqui não. – quase implorava.

Lívia parou, ponderou pensando na outra vez que havia


tomado Marina a força.
- Tudo bem, desculpe incomodar. – falou sério e se
desvencilhando da namorada.
- Fica aqui comigo, a gente dorme juntas, mas se ouvir
algum barulho você corre pro colchonete, tudo bem? –
falou delicadamente.
- Tudo bem. – ainda estava séria.

Marina se aconchegou ao corpo de Lívia, que a abraçou,


mas ficou preocupada, sabia que quando aquela
promotora queria alguma coisa e não conseguia, ficava
irritada. Dormiu e acabou tendo pesadelos em função
de seus pensamentos.

Maria José sempre acordava cedo, acompanhava o


marido que se levantava praticamente com as galinhas.
Foi para a cozinha preparar o café da manhã e passou
pelos quartos para ver se estava tudo em ordem.
Estava distraída passando o café quando Marina
chegou.

- Bom dia mãe.


- Bom dia minha filha.
- Quer ajuda?
- Prepare a mesa somente. Seu pai está tirando leite
das vacas, quer ir lá?
- Ah eu quero.
- Sua vaquinha está prenha, deve nascer bezerrinho no
fim do ano.
- Que beleza.

Marina foi em direção ao curral ajudar o pai. Voltaram


com a leiteira cheia.
- Leite pronto pra ferver. – Roberto falou.

Eduardo e Lívia estavam chegando na cozinha.


- Bom dia minha gente. – o rapaz falou.
- Bom dia. – todos na cozinha responderam.
- Passaram muito frio? – Roberto brincou.
- Que nada. – Eduardo respondeu. – Dormir neste
silêncio é uma benção. Fazia muito tempo que não
dormia ouvindo barulho de grilos, água corrente e da
natureza mesmo.
- Quando a avó de Marina era viva reclamava do
monjolo, dizia que incomodava pra dormir. Falava
assim: Aquele diacho fica a noite toda... pó... pó... pó...

Todos acharam graça de Roberto contando.

- Minha avó era uma figura, tenho saudade dela. –


Marina falou pensativa.
- Está calada Lívia, não dormiu bem? – Maria José
perguntou.
- Dormi sim, é que de manhã eu fico quieta mesmo.

Marina a olhou de soslaio e nada falou.

- O outro rapaz está dormindo ainda? – Roberto


perguntou.
- Está, depois eu vou chamá-lo.

Sentaram para tomar café praticamente em silêncio.


Marina estava um pouco desconfiada do
comportamento de Lívia e Maria José percebeu que
tinha algo errado, mas apenas observou. Roberto
conversava com Eduardo, mas pouco também. O
ambiente só melhorou quando Luisa chegou andando e
carregando uma boneca. Seguida por Barbara e Mateus
que cumprimentaram a todos.

- Titi!
- Ei menina! Que boneca bonita!

Marina pegou a menina no colo e ficou brincando com


ela. Quando terminaram de comer alguns foram para a
varanda. Lívia voltou para o quarto com Eduardo e
Fabrício. Marina continuava com Luisa no colo até que
Barbara chegou para levar a criança para mamar.
Então resolveu sair para fazer uma caminhada.

No quarto, Lívia era repreendida por Eduardo, que


achou estranha a cara dela.

- E porque você não dormiu com sua namorada, vai


ficar com essa cara de cão o dia todo?
- Ela é minha noiva e eu só queria estar mais perto. –
falava enfezada.
- Ah sim e o título de noiva lhe dá mais direito sobre
ela. Lívia, deixa de criancice. Marina veio pra cá pra
poder curtir a família. Vocês duas ficam grudadas
praticamente o tempo todo no Rio. Será que você não
pode ter um pouco de compreensão? É a casa dos pais
dela, quer que alguma coisa dê errado e estrague as
férias dela?
- A vida dela né? Porque se os pais dela descobrem
sobre vocês, é bem capaz dela nunca mais botar os pés
aqui. – Fabrício completou. – Estou admirado com seu
comportamento infantil.
- Vocês têm privacidade suficiente no Rio, então pra
que tudo isso aqui? Respeite-a sendo mais flexível com
as coisas.

Lívia continuou emburrada, mas sabia que os meninos


estavam certos. Quando saíram do quarto ela foi
procurar por Marina.

- Ela estava na varanda, mas acho que saiu. – falou


Mateus. - Gente, alguém quer pescar? Estou indo pro
açude.
- Pescar? Com vara ou molinete?
- Olha, não sei como vocês pescam na cidade grande,
mas aqui no interior a gente usa é isso aí mesmo. – riu.
- Eu quero! – Eduardo se animou.
- Eu fico aqui descansando e tirando foto. – Fabrício
falou já se sentando numa cadeira na varanda.
- Então vamos ver se você é bom de pesca. – Mateus
brincou com Eduardo.

Depois que os dois saíram Fabrício pegou a máquina e


ficou tirando fotos da onde estava mesmo. Nem
reparou que Barbara se aproximou.

- Está gostando das férias?


- Bastante. Aqui é uma tranquilidade só, bem diferente
do Rio. Muito trânsito, carros buzinando, gente
estressada.
- Imagino. Não sei como Marina aguenta.
- Ela se adaptou bem.
- Também, arrumou amigos muito legais.
- Nós gostamos muito dela também.

Os dois ficaram de conversa e Fabrício pode perceber


que Barbara era mais atenta do que se imaginava e
poderia saber facilmente sobre a relação de Marina com
Lívia.

- Oi! – Lívia falou chegando por trás de Marina.


- Oi. Não ouvi você se aproximando. – continuou
andando.
- Posso caminhar com você?
- Claro.

As duas andavam pelo caminho contrário que levava ao


sítio. Marina sempre que ia lá, fazia esse percurso, pois
havia muitas sombras e era muito calmo. Gostava de
caminhar e pensar na vida. E era o que estava fazendo
até Lívia chegar.

- Ficaremos quanto tempo aqui? – Lívia perguntou.


- Uma semana, talvez menos. Por quê?
- Por nada, mas daqui voltamos pra sua casa em Jaú,
não é?
- Sim. Pensei em ficar até perto do dia do próximo
show, mas vejo que será um problema isso.
- Qual o problema?
- Você.
- Eu?!
- É, sei que está fazendo um esforço muito grande
vindo pra cá. Não tem muito que fazer e o que se tem
são coisas simples. Assim como o lugar é muito
simples.
- Que isso, eu...
- Sem contar a falta de privacidade. – interrompeu.

Lívia ficou quieta.


- Então provavelmente ficaremos até o meio da semana
que vem.
- Não amor. Vamos ficar até a data que você quiser. –
Lívia parou no meio do caminho segurando o braço de
Marina.
- Acha que fico feliz, estando aqui e vendo a sua cara
como a de hoje de manhã?
- Eu estava com sono amor, não era cara feia pra você.
- Ahan. – continuou andando.
- Marina. – Lívia a pegou pelo braço e andou até uma
árvore próxima. – Escute uma coisa. – encostou a
loirinha na árvore. – O fato de querer estar próxima,
querer ter mais privacidade é porque me acostumei a
isso. Sinto falta de ter você mais perto, mas não
significa que eu não esteja gostando. Eu te amo Marina
e isso é o suficiente pra querer ficar ao seu lado
simplesmente. Perdoa se pareço impaciente.
- Você nem disfarça.
- É falta de costume, vou tentar corrigir.
- Se quiser ir embora, eu fico e volto depois, pode ser
assim também. – baixou a cabeça.
- Eu vim, estou aqui, conheci sua família e só volto com
você. Adorei todos eles e estou gostando de passar as
férias aqui, penso em mamãe que também iria gostar.
- Iria mesmo. – Marina sorriu.
- Vamos aproveitar.
Pegou Marina pela mão e continuaram o passeio.

Os dias que se seguiram transcorreram muito bem. A


noite sempre se juntavam para conversar e contar
histórias. Roberto falava do sítio, da colheita e sempre
com brilho nos olhos. Maria José se concentrava em
agradar a todos. E Marina aproveitava o tempo para
matar a saudade da família e principalmente da
sobrinha. Estava brincando com ela no chão da sala
quando Lívia se aproximou.

- Posso brincar?

Como resposta Luisa pegou uma panelinha e entregou


a ela.

- Acho que ela quer te ensinar a cozinhar. – Marina riu.


- Ih, até você já sabe dos meus dons culinários? – Lívia
fez cócegas na menina que começou a rir.

Enquanto Luisa mexia nos brinquedos no colo de Lívia,


Marina a observava, admirada.

- Você leva jeito com criança.


- Que nada, é costume. Fabrício é um pouco mais novo
que eu e quando éramos crianças eu ajudava tia Bete a
cuidar dele. Acho que até perdi o jeito.
- Perdeu nada.
- Será que se eu convidar o pessoal para jantar
amanhã quando voltarmos para Jaú, eles aceitam?
- Papai talvez resista, mas eu te ajudo.
- Então à noite a gente fala sobre isso.

No jantar Lívia cutucou Marina, que falou sobre saírem


para jantar.

- Estou convidando, é uma forma de retribuir a estadia,


que tem sido muito agradável.
- Difícil é sair da roça moça, essa semana tem muito
trabalho. – Roberto pareceu sem graça.
- Ah pai, um dia só não faz mal.
- Vamos deixar pra ver isso na próxima semana. –
Maria José falou.
- Mas eu vou cobrar hein. – Lívia brincou.

Na semana seguinte voltaram para a cidade, só ficando


no sítio Roberto e Mateus. Os dois haviam prometido ir
durante a semana. Assim que chegaram em casa Lívia
quis sair com Marina para andar pela cidade.

- Amor, pensei direitinho, caso eles não queiram jantar


fora, a gente faz o jantar pra eles. Que acha?
- A gente? – Marina riu. – Nós duas sabemos que quem
cozinha nesse relacionamento sou eu.
- Então, você cozinha e eu ajudo, serei sua assistente.
- Hum, gostei disso. Mas acho que eles vão aceitar,
minha mãe é mais maleável e ela gosta de sair, meu
pai que é mais bronco pra essas coisas.

Lívia parou o carro numa vaga e antes de descer olhou


para Marina parecendo uma criança e falou:
- Quando a gente chegar no Rio você pode cozinhar pra
mim? Estou com saudade da sua comida.
- Ô amor, eu cozinho sim. Quer alguma coisa em
especial? Mesmo que não saiba fazer, eu aprendo. –
sorriu e segurou a mão de Lívia.
- Qualquer coisa, tudo que você fez até hoje tava
gostoso. Na verdade acho que estou sentindo falta
daqueles momentos só nossos.
- Hum. – Marina se aproximou e viu que a rua não
estava muito movimentada e beijou a boca de Lívia. –
Também sinto falta, meu bem. Prometo que chegando
em casa eu te paparico, faço almoço, jantar, café da
manhã e tudo que você quiser. – segurou seu rosto e
beijou seus lábios novamente.
- Ô tentação! Vontade louca de pegar você aqui e agora
dentro desse carro. – Lívia a puxou e segurou firme na
cintura de Marina, mordeu seu pescoço e chupou com
vontade.
- Amor, não faz isso que também está ficando difícil
resistir. – Marina tentava se desvencilhar, mas as mãos
de Lívia já procuravam lugar entre suas pernas. –
Amor... amor... – quase implorava.
- Tá bom! Parei! Vamos descer, caso contrário não vou
me segurar.

Marina a olhou com ternura e deu um selinho.


- Te amo!

Lívia saiu do carro, deu a volta e quando ficou de frente


pra ela a abraçou forte.
- Também te amo.

Segundos após se separarem, Marina viu o ex


namorado passar e as olhar com curiosidade.
- Hum, meu ex.

Lívia se virou para vê-lo e o encarou.


- É, você realmente merece coisa melhor. Nesse caso,
eu.
- Modesta. – lhe deu um tapa no braço.
- Realista.
- Boba, mas eu concordo. Ele não chega a seus pés.

Andaram pelas ruas e compraram algumas coisas. Lívia


comprou roupas de inverno para Luisa, tudo escolhido
pelas duas.

- Preciso comprar um presente para os sogros.


- Ah é? Ta querendo agradar?
- Sabe como é né. – brincava. – Me dá uma dica.
- Meu pai gosta muito de vinho e minha mãe gosta de
qualquer coisa.
- Sabe onde tem uma boa adega aqui?
- Olha, adega não sei, mas tem um mercado aqui que
vende queijos, vinhos entre outras iguarias.
- Então vamos.

Chegando ao mercado Lívia escolheu um vinho chileno


e também comprou alguns queijos.
- Podíamos fazer uma coisinha hoje à noite. Que tal?
- Tudo bem. – Marina concordou. – Aqui tem um
salame muito bom, ele é temperado com azeite e ervas
finas.

Compraram tudo que precisavam e saíram. Passaram


em frente a uma loja de bolsas e compraram uma para
Maria José. E Marina comprou outra para Marta.
- Também tenho que agradar minha sogrinha. Adoro-a!
- Ela também te adora amor. Que acha da gente
almoçar aqui na rua?
- E largar os meninos lá em casa?
- Que tem? Eles não vieram porque são preguiçosos e
ficaram dormindo.
- Vou avisar minha mãe então.

Marina ligou e avisou que iria almoçar na rua.

Foram ao shopping e almoçaram por lá. Quase na hora


de ir embora, Lívia viu uma loja que vendia utensílios
domésticos, procurou uma forma de waffles e achou.

- Linda, vou levar pra sua mãe. Você disse que gostaria
que ela aprendesse a fazer.
- Amor, já compramos muitas coisas.
- Só mais essa.
- Ai, ai...

Assim que saíram deram de cara novamente com o ex


de Marina e dessa vez ele parou para cumprimentá-la.
- Oi Marina! Quanto tempo.
- É, faz tempo mesmo.
- Voltou pra Jaú?
- Não, estou passando férias com minha família e
amigos. – olhou para Lívia.
- E como está no Rio?
- Muito bem, graças a Deus. Agora tenho que ir, minha
mãe está me esperando.
- Calma, vai ficar aqui até quando? Podíamos marcar de
sair.
- Não dá, estou indo embora por esses dias e quero
aproveitar a companhia deles. Tchau.

Marina deu as costas para ele e saiu. Lívia nada falou


até o perder de vista. Quando entraram no carro ela
disparou a falar.

- Idiota, palhaço, infeliz, abusado e pretensioso. – Lívia


bufava.
- Ei! Calma mocinha. Ele não fez nada e já passou.
- Imbecil.

Marina olhou para ela e achou graça da cara de brava.

- Vem aqui bichinho. – puxou a morena pelo rosto. –


Você fica linda quando está com raiva, mas eu gosto
mais ainda do seu sorriso. – beijou sua boca. – Que tal
me dar um. – esfregou seu nariz na ponta do nariz
dela, fazendo Lívia sorrir. – Agora sim, melhorou.

Lívia ligou o carro e voltaram para casa de Marina.


Chegaram parecendo Papai Noel em fim de ano.

- Minha nossa senhora! Compraram a cidade toda?


- Ah mãe, Lívia quando decide ir às compras, ninguém
segura.
- Óóóó... – Fabrício chegou na sala olhando os
presentes.
- Sem comentários. – Eduardo o interrompeu.
- São só umas coisinhas. – Lívia tentou se justificar. – E
presente pra esse neném lindo aqui. – falou olhando
para Luisa.

Tirou das sacolas as roupas e por último uma caixa


grande toda colorida e entregou a menina.
- Esse, nós duas escolhemos em comum acordo. –
falou do presente.

Luisa foi andando em direção a caixa e a rasgou de


cima a baixo. Era um carrinho para passear, rosa, lilás
e verde. Tinha buzina, pisca-pisca e um teto flexível.

- Olha neném, tem musiquinha. – Lívia apertou o botão


fazendo tocar uma música infantil.

Luisa ria e levantava as mãozinhas.


- Nossa, que lindo filha! – Barbara chegou falando.

Luisa virou de repente e abraçou Lívia num gesto


carinhoso e que acabou desconsertando a morena.
- Isso, dá “upa” na tia. – Marina falou achando graça da
cara de Lívia. – Trouxemos mais coisas mãe. O pai já
chegou?
- Ele está no banho.
- Então depois entregamos o dele. Esse aqui é da
senhora. – entregou a bolsa. – E esse também, vou te
ensinar a usar.
- Que é isso?
- Faz waffles.
- Como?
- Waffles mãe, vou fazer amanhã no café da manhã,
até compramos os ingredientes.

Marina ainda entregou um presente para a cunhada e


deixou um para o irmão.
- Eu não ganho nada? – Fabrício retrucou.
- Você ganhou a viagem.
- Ahh... Chefe mais pão dura.

Maria José achava graça de Fabrício.

Como combinou no dia seguinte Marina fez waffles pra


todo mundo e um especial para a noiva.

- Esse negócio é muito gostoso. Só não sei se levo jeito


pra manusear.
- Mamãe não é uma chef de cozinha, mas quando quer
faz direito. A mãe de Lívia cozinha muito bem.
- Minha mãe gosta de inventar receita, por isso vocês
duas se dão bem. – Lívia falou.

Poucos dias antes de irem embora as duas conseguiram


levar o pessoal para jantar. Deixaram que Maria José
escolhesse o lugar. Já sentados à mesa e após fazerem
os pedidos, Roberto falou agradecido.

- Eu queria agradecer o convite e o presente. Não


precisava disso tudo.
- Nós que agradecemos a estadia. Adorei os dias que
passamos aqui, me sinto renovada.
- Vocês são boas visitas, não dão trabalho e ainda dão
presente. – Maria José riu.
- E podem voltar sempre que quiserem. São bem-
vindos.

As bebidas chegaram e eles brindaram animados.


Jantaram em clima de felicidade e despedida ao mesmo
tempo.
No dia de ir embora Marina chorava a toa. Na hora
mesmo de ir, se despediu do pai e da mãe com um
abraço apertado.

- Olha, vocês não reparem, mas comprei um presente


pra cada um também. Na verdade eu que fiz. – Maria
José falava e entregava a Lívia e aos garotos um
pacote.

Eles abriram e era uma toalha bordada com o nome de


cada um.

- Mãe, você bordou isso quando? – Marina perguntou


curiosa.
- À noite, todos os dias e escondido de vocês. –
Roberto a dedurou.
- Não precisava se incomodar dona Zezé. – Eduardo
falou. – Muito obrigado, eu adorei.
- Eu também.

Marina ficou comovida com a atenção que a mãe deu


aos amigos.

Foi para se despedir de Mateus, com ele era algo mais


polido, mas com muito choro também. Abraçou a
cunhada e quando foi a vez da sobrinha ela não se
aguentou, chorou como criança.

- Titia vai sentir muita saudade viu.


- Titi!
- Fica com Deus, bonitinha. Titia ama você.

Luisa a abraçou encostando a cabeça no ombro de


Marina. Saíram pouco antes das duas da tarde. Dessa
vez Fabrício foi dirigindo com Eduardo na frente. Marina
e Lívia foram no banco de trás. Quando pegaram a
estrada Marina deitou a cabeça no ombro da morena e
os olhos estavam cheios de lágrimas. Lívia estendeu o
braço e a abraçou.

- Meu amor, não chora. Daqui uns dias vem um feriado


e você vai poder vir visitá-los.
- Eu sei, mas eu sinto muita falta deles.
- Que eu posso fazer para que se sinta melhor? – Lívia
acariciava seus cabelos.
- Você já faz. Acho que se não fosse você e os
meninos, talvez eu nem estivesse no Rio. Só que
família é diferente, tenho saudade deles e quando estou
longe me sinto fora de lugar.
- Não está, e eles estão felizes que você esteja
estudando e indo bem na faculdade. Estão orgulhosos.
- É verdade Marina. Sua mãe, quando fala de você, os
olhos chegam a brilhar de orgulho. Seu pai também,
apesar de parecer mais comedido. – Eduardo também
falou.
- Adorei sua família, aliás, minha também. Porque se é
a família da minha noiva, é a minha também.

Marina pegou a aliança que estava guardada na bolsa e


colocou no dedo.

- Acho que agora posso colocar.


- Ah bom, achei que tinha desistido.
- Nunca! Mas não é uma aliança que prova nada, é o
que está aqui. – apontou o coração.
- E o que está aí? – Lívia falava baixinho.
- Meu amor por você. – Marina a olhou nos olhos.
- Linda! – beijaram-se.

Marina voltou a se aconchegar nos braços de Lívia e


acabou adormecendo. Quase perto de São Paulo, Lívia
acordou.
- Nossa cochilei. Fá está tão quieto que acho que
deixou a voz lá em Jaú.
- Estou concentrado. Quase nunca pego estrada.
- Vamos deixar o carro na locadora e ir direto para o
aeroporto viu? Não comprei as passagens de volta, mas
acho que deve estar tranquilo, é meio de semana.

Quando estavam próximos da locadora Lívia acordou


Marina. Acertaram tudo e o próprio funcionário os
deixou no aeroporto como cortesia. Não tiveram
dificuldades para pegar o vôo e antes das dez já
estavam em casa. Marina apenas mandou uma
mensagem para Monica avisando que havia chegado.
Enquanto Lívia deixava as coisas no quarto a loirinha
também ligou para a mãe e avisou que havia chegado.
Quando subiu, a morena já a esperava para tomarem
banho.

- Que saudade de ficar assim. – Lívia a abraçou


embaixo do chuveiro.
- Eu também. Gosto tanto desse abraço. – Marina
encostou a cabeça no colo da morena. – Amor, acha
que meus pais desconfiaram? – levantou a cabeça.
- Acho que não. Nem tiveram motivo, não fizemos nada
na frente deles. Fabrício é mais observador para essas
coisas, depois vou perguntar a ele.
- E o que achou da viagem? – Marina parecia receosa.
- Ao lado da minha noiva? Qualquer viagem é boa.

Marina sorriu franzindo o nariz esquecendo qualquer


dúvida que poderia ter. Beijaram-se apaixonadamente.
Lívia não aguentava mais segurar a vontade que tinha
de fazer amor com Marina. A puxou pela cintura,
fazendo com que enlaçasse as pernas nela. Mordia seu
pescoço e sugava com vontade, Marina arranhava seus
ombros e gemia baixinho, aumentando ainda mais a
excitação da morena.

- Amor... vamos pra cama... – Marina pedia com voz


manhosa.
- Daqui a pouco... – Lívia mordia o lábio inferior da
loirinha enquanto apertava um seio. – Não estou com
pressa, quero você bem devagar... – mordeu a orelha e
levou a mão que estava no seio até entre as pernas
dela.
- Ah... mas eu também quero você... aahhh – Marina já
rebolava sentindo os dedos de Lívia.
- Então primeiro goza pra mim. – sussurrou em seu
ouvido e aumentou seus movimentos.

Marina arqueou o corpo tombando a cabeça para trás,


seus gemidos estavam cada vez mais altos e agudos.

- Isso... geme gostoso. – a voz de Lívia saia


completamente rouca. Sentiu quando a loirinha gozou
arranhando suas costas e contraindo as pernas.

Fechou o chuveiro e saiu do banheiro indo direto para a


cama. Sentou na beirada com Marina ainda em seu
colo. Beijavam-se com urgência e saudade. Marina
empurrou Lívia para que se deitasse e saiu de cima
dela, abrindo suas pernas em seguida. Delicadamente
levou os dedos em sua vagina e constatou que estava
molhada.

- Hum... Isso tudo é pra mim?

Lívia gemeu abafado e sorriu.

- Safada, está cada dia mais sem-vergonha.


- E você não gosta? – Marina bolinava o clitóris
encharcado.
- Adoro.

Usava os dedos com maestria, esfregava devagar para


em seguida acelerar os movimentos. Reclinou o corpo e
sugou um seio, mordendo o biquinho, depois voltou a
se concentrar entre as pernas da morena. Levou a boca
ao clitóris e os dedos em sua abertura, fazendo
movimentos circulares. Lívia abriu mais as pernas e se
deixou levar por aquela sensação de prazer e luxúria.
Marina ficava fascinada com aquela visão, ver aquele
corpo estremecendo aos seus toques era um prazer
extraordinário. Lívia gozava, mas Marina parecia
insaciável, só parou com os movimentos quando a
morena levou sua própria mão interrompendo a
loirinha.

- Pare, senão minhas pernas vão cair.


- Cansou? – sentou no púbis da morena.
- Não... – ofegava. – Vem aqui, que eu não saciei a
minha vontade de você...

Puxou Marina pela cintura e a beijou com desejo,


estava saciando seus instintos e sua excitação era
incontrolável. A noite foi muito curta para as duas.
Ainda faziam amor quando o sol começava a nascer.
Marina estava sentada na beirada da cama e Lívia entre
suas pernas a lambia com voracidade.

- Ah... amor... aahhh... – arqueava o corpo e sentia as


mãos da morena subirem para seus seios.

Lívia se levantou, subindo na cama, girou o corpo e


pela primeira vez Marina soube o que era a posição 69.
Esgotadas, deitaram lado a lado, de barriga para cima.
Lívia passou a mão no rosto tirando a franja e falou
ainda respirando descompassado.

- Acho que durmo um dia inteiro.


- Eu também. – Marina respondeu também cansada.
- Mas primeiro um banho, que tal? – Lívia virou, ficando
em cima de Marina.
- Banho? Tem certeza? – a loirinha riu desconfiada.
- Juro!
- Você não consegue jurar. Lembra da primeira vez que
dormi aqui?
- Se eu não consigo cumprir com meus juramentos a
culpa é sua. Por ser gostosa, cheirosa e deliciosamente
linda, fica difícil resistir. – falou enchendo a loirinha de
beijos.

Tomaram banho e mesmo cansadas fizeram amor


embaixo do chuveiro novamente. Quando iam dormir,
Lívia resolveu desligar o celular e o telefone que ficava
no quarto, para não incomodá-las. Dormiram por
longas horas e só acordaram porque o interfone tocava
insistentemente. Lívia levantou e foi atender.

- Oi. - a voz saiu mais irritada do que imaginou.


- Senhora Lívia, me desculpe incomodá-la. É que tem
alguém aqui na portaria querendo falar com a dona
Marina. – o porteiro falou receoso.
- E quem é?

Ele pareceu perguntar o nome e depois respondeu:

- Monica.
- Ah sim, pode mandar subir.

Lívia olhou no relógio e viu que eram quase quatro da


tarde. Esperou Monica subir e quando abriu a porta
para ela, pediu que esperasse um minuto.

- Atrapalho?
- Não, imagina. – tentou não ser irônica. – Vou chamar
Marina, ela está dormindo.
- Qualquer coisa eu volto depois.
- Não precisa, só um minuto.

Lívia saiu e Monica ficou pensando se estaria


incomodando. Ficou reparando no apartamento com
mais minúcia, era realmente um lugar bonito e
aconchegante. Qualquer um se sentiria bem naquela
situação. Pensou em várias coisas, foi interrompida por
Marina, que descia as escadas.

- Ei Monica!
- Oi, e aí? Tudo bem? – reparou que a loirinha usava
um roupão e imaginou que estivesse ocupada mesmo.
- Tudo jóia, estava dormindo. Chegamos muito tarde e
ainda fui desfazer as malas.
- Você vai passar a semana aqui?
- Não sei, por quê?
- Por nada, só pra saber. Como foi de férias?
- Ótimo, matei a saudade, mas sempre fica um
pouquinho.

Monica achou graça.

- Você é muito manteiga derretida, daqui a pouco vai


vê-los de novo.
- E aqui, como estão as coisas?
- Bem, fiquei uns dias na casa de Hugo, depois fomos
ver a família dele. Quando vai passar no apartamento?
– perguntou de novo.
- Como disse, não sei, está precisando de alguma
coisa?
- Não, só queria conversar.

Marina sentiu que Monica queria falar algo e que no


apartamento de Lívia não era o melhor lugar.

- Passo lá amanhã, pode ser?


- Pode.
- Quer tomar um café? Eu to morrendo de fome.
- Queria uma água, se não for incomodar.
- Monica, pelo amor de Deus. Para com esse lance de
incomodar e aqui pode ficar a vontade.
- Ah, sei lá né. Apartamento chique. – falou com ironia.
- Lívia é mais simples do que imagina.

Marina fez um lanche rápido junto com Monica e depois


levou a amiga até o elevador.

- Amanhã eu passo lá.


- Combinado.

Voltou à cozinha e arrumou uma pequena bandeja para


levar para o quarto. Lívia assistia TV e quando viu a
loirinha entrando, ajeitou as coisas na cama para que
ela se sentasse.

- Lanchinho. – Marina falou sorrindo.


- Hum... Isso faz parte da promessa feita em Jaú?
- Eu prometi alguma coisa? – se fez de desentendida.
- Ah sua cara de pau, você disse que ia fazer um monte
de coisas.
- Disse? – Marina foi engatinhando para sentar sobre o
ventre de Lívia.
- Ahan... – a morena percorreu a lateral do corpo da
namorada.
- Acho que não me lembro.
- Ah, cachorrinha, deixa você...
- Cachorrinha? – Marina fingiu espanto.
- É...
- Houve um tempo em que você me chamava de
gatinha.
- E você ainda é minha gatinha. – mordeu seu queixo.
- Então, vou cumprir com minha promessa, vem que
vou servir seu café... da tarde, porque pela hora.
- Dormimos muito, não é?
- Bastante.
- A noite foi agitada.
- Foi.
- Te dei uma canseira?
- Deu. – Marina se limitava a responder, brincando com
Lívia.
- Se arrependeu? – Lívia ficou desconfiada.
- E quando é que me arrependi de algo que fiz com
você? Nunca!

Lívia era só sorrisos.

No dia seguinte Lívia foi trabalhar e deixou Marina no


apartamento dela. Assim que entrou viu Monica sair do
quarto para o banheiro.

- Bom dia! Dormindo ainda?


- Aproveitando as férias.
- É, tem que descansar, temos alguns dias ainda.
- Pois é, e queria falar sobre isso também. – Monica
logo foi objetiva. – Durante o resto das férias você vai
ficar aqui ou com Lívia?
- Não sei Monica, são coisas que não pensei e não
penso a respeito. Óbvio que se me perguntar onde
quero ficar, vou dizer que com ela. Mas Lívia também
tem seus compromissos e não gosto de atrapalhar.
- Pensa em morar com ela?
- Ela já me fez o convite, mas sinceramente, acho isso
muito cedo. Pode ficar tranquila que não vou te
abandonar.
- Não é isso, é que... – Monica pausou, parecendo
pensar no que falar. - ...Talvez se você fosse pra lá,
Hugo viria pra cá ou eu moraria com ele.
- Monica! Da mesma forma que acho cedo ir morar com
Lívia, também acho que você morar com Hugo é muito
precipitado. E se não der certo o relacionamento? Já
pensou em seus pais vindo pra cá ou os meus? Onde
ficariam?
- É, nisso eu não pensei.
- É mais provável que seus pais venham que os meus.
Ainda mais que você não vai lá né.
- Ainda não fui, mas vou. Semana que vem.
- Ficar uma semaninha né? – Marina a repreendeu.
- Melhor que nada, Hugo não vai.
- Bom, se está pensando em morar com ele, faça o
teste dele vir pra cá. Mas não acho interessante nos
desfazermos desse apartamento agora. Não custa
esperar um pouco né?
- Tudo bem. E quando ele estiver aqui...
- Eu fico com Lívia, pode ficar tranquila.
Depois da conversa, Monica pareceu mais tranquila.
Marina então pegou algumas de suas coisas e voltou
para o apartamento.

No escritório, Fabrício tentava entender o


comportamento de Lívia.

- Não entendi o motivo daquela sua cara num dia lá no


sitio da família de Marina.
- É que ela não queria... namorar.
- Claro, na casa dos pais, você ficou doida?
- Eles não iam ver.
- Lívia, entenda, Marina ainda é nova, não tem esse
jogo de cintura que você tem. E já pensou se os pais
descobrem? Botam ela pra fora de casa.
- Você acha? Queria mesmo te perguntar se percebeu
algo lá.
- Deles não muito, mas pelo jeito dá pra notar que eles
são conservadores demais. E a cunhada é mais
cismada, não fala muito, mas observa pra caramba.
- Ela falou algo?
- Não, mas ficou de olho. E o que você achou da
viagem? Não tive tempo de perguntar antes.
- Eu gostei.
- Só? Esperava mais empolgação.
- Ué, dizer que gostei, não é empolgado?
- Lívia, te conheço. Quando você gosta mesmo não
para de falar sobre o assunto.

A morena parou um pouco, respirou fundo e depois


falou pausadamente.

- Eu gostei da viagem, adorei conhecer a família de


Marina. Só não gostei de não ter privacidade com ela.
Mas isso acho que é porque me acostumei ao ritmo
daqui. Fiquei pensando nas coisas que me falou.
- Que coisas?
- Nas diferenças que temos de família, financeira, de
maturidade. Eu sei que Marina ainda é muito inocente,
às vezes imatura.
- Ela mudou um pouco.
- Sim, concordo, mas ainda age como se fossemos um
casal de adolescentes.
- De repente é porque ela ainda se sente uma e não é
você quem vai mudá-la. Isso se muda vivendo,
crescendo e aprendendo. Você sabe disso, o que não
sabe é se vai ter paciência. Porque agora está tudo
bem, ainda é tudo muito novo, mas quando caírem na
rotina eu quero ver se vai aguentar.
- Por que você pragueja meu relacionamento?!
- Não estou praguejando. É uma advertência, todo
casal passa por crise, sabe disso. Quando você enjoava,
trocava de namorada.
- Não eram namoradas, eram no máximo ficantes.
- Mas trocava. Sinceramente não sei o que você viu
nela, Marina não é nem seu tipo físico. Você
normalmente gosta de mulher mais alta, bem magra e
no estilo perua. Ela não tem nada disso.

Fabrício saiu da sala deixando Lívia pensativa.


Realmente Marina não era em nada parecida com as
mulheres que ficava, mas ela a amava. Adorava seu
jeito, mas em algumas coisas realmente eram
diferentes. Muitas vezes a indecisão da garota a
deixava inquieta e até sem paciência.

Marina aproveitava as horas em que Lívia estava


trabalhando para tocar piano. E quando a morena
estava em casa, as duas conversavam, namoravam e
sempre faziam amor. Marina nunca se sentiu tão feliz e
para Lívia tudo era diferente e novo, aqueles momentos
eram únicos. Vez ou outra comentava sobre a volta as
aulas de Marina e do tempo que não poderiam mais
ficar juntas. Marina percebeu até irritação nos
comentários da promotora, mas sempre dava um jeito
de agradá-la.

Uma segunda a noite, Lívia chegaria em casa mais


tarde, pois não trabalhara no escritório de manhã por
conta de uma audiência. Marina aproveitou a última
semana de férias e se dedicou a dar atenção a morena.
Foi ao mercado e comprou algumas coisas para
preparar um jantar. Estava tudo pronto quando
lembrou que não tinha comprado nada para beber.
Desceu novamente e quando voltava do mercado, Lívia
passou por ela de carro. Era noite e poucas pessoas
passavam na rua.

- A gatinha ta sozinha? Posso te dar uma carona, linda?

Marina olhou e tentando fazer descaso, respondeu:


- Não posso, sou noiva e nenhum pouco desfrutável.
- Ah, que pena. E quem é essa pessoa maluca que
deixa uma lindinha dessas sozinha e a essa hora?
- É que minha noiva trabalha muito. Estou justamente
indo pra casa, para lhe fazer uma surpresa.
- Que sorte ela tem hein? Entra no carro então, eu te
dou uma carona. Assim você chega mais rápido.
- Você é muito confiada, não? Não desiste?
- É que nunca vi uma mocinha tão bonita na rua e
sozinha.
- Agradeço o elogio, mas recuso a carona. – continuou
andando.
- Que é isso! Aceite, é com boa intenção. – Lívia tinha
um sorriso lindo no rosto.

Marina, então entrou no carro.

- Só estou aceitando, pois tenho certa pressa. É que


venho cumprindo uma promessa.
- Você vai à igreja? – brincou.
- Não. – Marina riu. – É outro tipo de promessa.
- E pode me contar?
- Claro que não! É surpresa para minha noiva.
- Mas não era promessa?
- Sim, mas é surpresa também.
- Me fale onde você está indo que a deixo lá. – Lívia
continuou brincando.
- É logo virando a esquina.
- Sabia que é perigoso andar na rua uma hora dessas?
- Eu saí rápido, só para comprar uma bebida.

Lívia encostou o carro a poucos metros do seu prédio.

- Por que parou o carro? – Marina fingiu espanto.


- Queria conversar um pouco mais com você, conhecê-
la melhor.
- Conversar. – riu. – Sei...
- Sério, te achei muito simpática e não tenho muitos
amigos na cidade, queria apenas conhecê-la melhor.
- Não sei se devo, minha noiva é muito ciumenta.
- Boba! Ela que não está aqui com você. – Lívia foi se
aproximando.
- Já disse, ela trabalha muito. – Marina tentava se
afastar.
- Deveria cuidar melhor de você, é tão linda. – avançou
novamente.

Marina não teve como recuar mais, pois já estava


colada na porta do carro.

- Você é irresistível, sabia? – Lívia falava com a boca


colada no ouvido de Marina.
- Eu não posso... sou noiva...
- Não tenho ciúme. – riu. – Levou uma das mãos ao
seio de Marina enquanto mordia seu pescoço. A loirinha
não resistiu mais.
- Amor... dentro do carro é perigoso... ahh...
- Não é... o vidro é filmado e ninguém nos verá. – suas
mãos já buscavam lugar entre as pernas de Marina,
que para sua sorte, usava vestido. Puxou sua calcinha e
chegou ao clitóris. – Rebola pra mim, gostosa...

Marina gemia baixinho e rebolava de encontro aos


dedos da morena. Agarrou-se ao pescoço de Lívia e
puxou seus cabelos. Suas bocas se encontraram e o
beijo foi mais que urgente. Marina gozou em pouco
tempo.

- Meu Deus! Que loucura, se alguém pega a gente,


estamos lascadas. – Marina tentava se recompor.
- Calma amor, ninguém vai nos prender.
- Não é prender, é passar vergonha.

Lívia ligou o carro e metros adiante entrou na garagem


do prédio. Dentro do elevador ela passou o braço pela
cintura de Marina e beijou sua testa, a loirinha estava
vermelha ainda.

- Vermelha desse jeito, vai conseguir disfarçar bem. –


riu.
- Ah, para, sua boba. – Marina colocou as mãos no
rosto.
- Minha menina tímida.

Entrando em casa, Lívia a agarrou por trás, mordeu o


ombro de Marina, subiu para o pescoço, enquanto suas
mãos já percorriam por aquele corpo que tanto
cobiçava.

- Lívia, quer sossegar! – Marina tentava se soltar.


- Não sabe como estou morrendo de vontade de você...

Lívia carregou Marina para o quarto e de lá entraram no


banheiro. Só saíram depois que a morena se deu por
satisfeita. Deitadas na cama, uma ao lado da outra,
Marina lhe deu um tapa na coxa.

- Safada!
- Apaixonada. – Lívia se virou e ficou por cima da
loirinha. – Completamente apaixonada.
- Você é muito sem-vergonha e só pensa em sexo
Lívia, como pode isso? Tem hora que me pega de jeito
e... – pensou pra falar. – Eu fico...
- Satisfeita? Cansada?
- Também sua boba. – deu um tapa no braço dela. – Eu
fico impressionada com a sua vontade de fazer sexo.
- Fazer amor. – corrigiu. - Acho que já estou sentindo
sua falta antecipada. Depois que começar as aulas você
vai olhar só para aquele piano. – fez bico.
- Ô meu amor, que isso. Eu divido bem a atenção. E
por falar em atenção, vem aqui. – Marina levantou e
puxou Lívia pela mão.
- Pra onde vamos?
- Pra sala.

Chegaram à sala e Marina pediu que Lívia esperasse de


olhos fechados. Correu pra cozinha e pegou o jantar, os
pratos e as taças. Fez tudo correndo.

- Agora vem.
- O que você está aprontando? Eu queria...

Lívia viu a mesa posta com velas e flores e o jantar


servido.

- Que lindo!
- Fiz pra você. Queria ter lhe ajudado no banho, fazer
massagem e depois jantar, mas a senhorita apressada
não me deu tempo.
- Isso tudo é pra mim?
- Não, eu convidei a torcida do flamengo também, só
que eles estão atrasados. – riu. – É lógico que é pra
você. Vem, senta aqui.

Lívia sentou e Marina sentou ao seu lado, serviu o


jantar e ali comeram em clima romântico.

- Sei que minhas férias estão acabando e que depois as


coisas vão ficar mais corridas, mas isso não quer dizer
que não vá lhe dar atenção. E você não pode esquecer
que eu a amo, sou e sempre serei sua.
- Eu sei amor...
- E que se por um acaso o tempo ficar curto, meu amor
será ainda maior, porque ele aumenta de acordo com a
saudade que sinto por você. Te amo!

Beijaram-se com imenso carinho e dali voltaram para o


quarto, mas não fizeram amor, apenas se curtiram e
aproveitaram os momentos que tinham a sós.

A banda retornou aos shows e Eduardo conseguiu


agendar todas as quintas em outro bar. E alguns
sábados em um clube. O volume de shows aumentou a
renda dos músicos e Marina pode até guardar dinheiro.
As aulas voltaram e por conta de trabalhos e provas
Marina dormia algumas noites no apartamento com
Monica.

- Bem que esse notebook de Lívia nos ajudou hein?


- Caiu do céu. Senão estaríamos fazendo à mão como
antigamente.
- Descobri um site que dá pra baixar aquele programa
que o professor falou, o de fazer partituras.
- Ih Monica, isso é seguro?! Ficar pegando programa
pirata pode vir com vírus.
- Que nada, deixa comigo.

Monica entrou no site, baixou o programa e assim que


o instalou o computador travou, reiniciou e não quis
mais abrir qualquer programa.

- Aí, olha o que aconteceu! Tem como voltar? – Marina


estava aflita.
- Não sei. Vou ligar pro Hugo, ele deve saber.

Ela ligou, mas não tiveram sucesso. Marina ficou


chateada porque o computador não era dela e não
saberia como explicar a Lívia.

- Agora sobrou pra mim.


- Eu falo com ela Marina, digo que a culpa foi minha.
- Só que o computador está sob minha
responsabilidade. À noite, depois do ensaio eu vou vê-
la e falo com ela.
- Desculpa amiga, pode falar que eu vou mandar
arrumar.

Marina pegou o notebook e foi para a aula e depois


para o ensaio. Quando saíram Monica também estava
esperando Hugo e como todos se juntaram resolveram
sentar num quiosque perto da praia para beber alguma
coisa.

- Que foi amor? Está com uma cara. – Lívia perguntou.


- Preciso te contar uma coisa.
- Sou toda ouvidos. – Lívia se virou para ela e ficou
prestando a atenção.
- Hoje de tarde estava fazendo um trabalho com
Monica e ela resolveu baixar um programa que monta
partituras. – Marina falava devagar quase parando. –
Então ela... – olhou para cima, para os lados. – Depois
que ela o instalou...
- Atalha Marina, estou ficando nervosa já.
- Calma...
- Ela ta querendo dizer que depois que eu instalei o
note travou e agora não funciona. Só que eu disse pra
ela que vou arrumar e que ela não tem culpa, inclusive
nem queria que eu colocasse o programa, eu que
insisti. Pronto falei! – Monica despejou tudo de uma
vez.
- É isso? – Lívia levantou a sobrancelha.
- É. – Marina baixou os olhos.
- Marina, não precisa ter vergonha, essas coisas
acontecem. – Lívia tentou ser delicada.
- Você me emprestou o notebook, então é
responsabilidade minha que ele não estrague.
- Não foi culpa sua. – alisou seus cabelos. – Depois a
gente leva pra arrumar.
- Me desculpe.
- Não tem o que desculpar, esquece isso.
- Amanhã vou levar num amigo de Hugo e ele disse
que vai dar um jeito. Tem algum dado nele que você
precise salvar? – Monica perguntou a Lívia.
- Não. Quase não usei aquele note.

Marina ainda parecia sem graça com a situação e Lívia


achou estranho. Monica que era a responsável não
estava nem ligando, pois já estava resolvendo tudo.

- Ele disse que entrega em dias. – Monica falou. – Vai


ficar novinho em folha e pode apostar que não pego
mais nenhum programa na internet, muito duvidoso
isso.
- Realmente, tem que ter cuidado com essas coisas. –
Lívia falou. – Já me lasquei também com isso.
- Eu morro de medo de baixar essas coisas na internet,
prefiro ficar sem. – Marina falava.
- Tem que arriscar ué, dessa vez deu errado.

O papo continuou até tarde. Decidiram ir embora, por


conta da hora. Essa noite Marina resolveu dormir no
apartamento, então Lívia deixou ela e Monica em casa.

- Tem certeza que não quer vir? Amanhã te deixo na


faculdade. – Lívia falou.
- Não, eu tenho aula cedo e você disse que iria para o
escritório mais tarde.
- Isso não é problema.
- Não quero atrapalhar.
- E desde quando me atrapalha Marina? – Lívia estava
irritada com a atitude da loirinha.
- Calma, está com raiva de alguma coisa?
- Não. É que você acha que incomoda, que atrapalha.
Se digo que não, eu falo a verdade, não teria porque
mentir.
- Ta bom, mas hoje não vou. Amanhã eu durmo lá
depois do show e passo o final de semana com você.
Pode ser?
- Tudo bem, você quem sabe. – respondeu séria.
- Ih, vai ficar chateada?
- Vai mudar alguma coisa?
- Claro, não quero que fique chateada. Não vou com
você hoje, mas vou amanhã.
- Ta bom. – Lívia deu um beijo rápido em Marina e
ligou o carro.

A loirinha saiu dando boa noite e subiu pro


apartamento. Foi dormir aborrecida. No dia seguinte,
acordou cedo e foi pra aula, no caminho Monica
percebeu que ela estava chateada e comentou.

- Brigou com Lívia?


- Não.
- E por que essa cara?
- Ela queria que eu fosse dormir na casa dela ontem e
eu não fui.
- Nossa e ela brigou por isso?
- Lívia gosta das coisas do jeito dela.
- E você sempre faz. – não era uma pergunta e sim
uma constatação.
- Faço quando quero.
- Vai me dizer que ela nunca te convenceu? – Monica
foi quase irônica.

Marina pensou pra responder e a amiga estava certa.


Lívia sempre dava um jeito de conseguir o que queria e
ela sempre cedia.

- Eu a amo, é por isso.


- Tenha respeito por você primeiro e pelas suas
opiniões.

Marina ficou pensativa, Monica estava certa por um


lado, mas no fundo achava também que fazia as
vontades de Lívia porque se sentia bem. Nem
conseguiu assistir aula direito, ficou dispersa quase
todo o tempo. Quando saiu da faculdade foi almoçar
com os garotos e ainda assim ficou mais calada.

- Que foi Marina? Está distraída hoje. – Eduardo


comentou.
- Nada, estou pensando na matéria.
- Ahan! Ela está encanada. – Monica logo dedurou.
- Com o que gente? – Eduardo ficou curioso.
- Lívia ficou brava com ela ontem, porque não foi
dormir na casa dela.
- Ah Marina! E você dá corda pra essas bobeiras de
Lívia? Ela é assim mesmo, gosta tudo do jeito dela e ai
de quem se atrever a contrariá-la. Falo isso por
Fabrício, que corta um dobrado com ela. Quando ela
vier com essas palhaçadas corte logo, senão vai ficar
escrava das vontades dela.

Marina ficou olhando um tanto assustada e Eduardo


notou, então tentou tranquilizá-la.

- Você tem que estabelecer parâmetros, não pode só


ceder. Tem que ter meio termo. Entende?
- Entendo. – baixou a cabeça.
- Ela vai admirá-la mais se você for uma pessoa mais
segura de suas decisões.

Marina achou que as palavras deles faziam todo


sentido. Continuaram almoçando e depois ela passou
no apartamento, pegou suas coisas e foi para o
apartamento de Lívia. Quando chegou, sabia que ela
não estaria em casa. Deixou algumas coisas no quarto,
depois foi estudar piano. Perdeu a noção da hora e
quando olhou no relógio faltava uma hora para ir tocar.
Subiu correndo, tomou banho e se arrumou. Ligou para
Lívia, mas ela não atendeu seu celular. Já havia ligado
durante o dia, mas não conseguira falar também. Ligou
para Eduardo e marcou com ele no apartamento; como
seria o primeiro show naquele bar, ela não sabia onde
era. Quando se encontraram, Marina logo perguntou:
- Dudu, Fabrício ainda está trabalhando?
- Não, eu estava saindo quando ele chegou.
- Lívia não chegou em casa ainda.
- Deve estar enrolada no escritório.
- Tentei ligar também e nada.
- Depois ela aparece no show.

Começaram a tocar e nada da promotora. Marina ficava


procurando, mas ela não apareceu. Quando terminaram
de tocar, nem ficaram no local. Recolheram suas coisas
e foram embora. Fabrício deixou a loirinha no
apartamento de sua prima.

- Mocinha, sobe devagar viu? – tentou brincar com ela.


– E tira essa ruga da testa.
- Estou preocupada, Lívia não me atendeu e nem
apareceu hoje.
- Deve estar cansada.

Quando ela saiu do carro ele logo falou.

- Olha a merda aí. Eu te juro que peço demissão e


abandono Lívia se ela sacanear com Marina.
- Pede demissão nada que você precisa do emprego.
Isso foi só um desencontro. – Eduardo tentou justificar.
- Desencontro?! – riu. – Vamos ver.

O elevador nunca demorou tanto para descer. Marina


entrou, apertou o botão e subiu. Chegou ao
apartamento e abriu a porta, estava tudo quieto.
Chegou a imaginar coisas, como Lívia não estando em
casa, ou que estivesse com outra pessoa. Subiu as
escadas e foi direto pro quarto. Estava tudo escuro,
mas pode ver que ela dormia. Marina se sentiu
estranha, como se não fizesse parte de onde estava,
não gostava de se sentir assim. Entrou no banheiro,
fechou a porta com todo o cuidado para não acordar a
noiva. Tomou um banho bem quente. Deitou devagar
na cama e se aproximou de Lívia, realmente parecia
estar dormindo. Os cabelos estavam espalhados no
travesseiro e pela pouca claridade podia ver o contorno
do rosto. Ficou admirando-a por um tempo, alisando
seus cabelos. Depois beijou sua têmpora e deitou.

Apesar de estar quieta, Lívia estava acordada. Esperou


um pouco e depois virou-se para o lado de Marina, deu
de cara com um par de olhos verdes a olhando.

- Não dormiu? – sua voz saiu grave.


- Ainda não. – a voz de Marina saiu doce.
- Está sem sono?
- Por que não foi no show? – Marina perguntou receosa.
- Tenho que ir em todos eles?
- Não, mas poderia ao menos ter me atendido. Estava
tão ocupada que não podia?
- Estava.
- Tudo bem, me desculpe se a incomodei. – Marina
virou para o outro lado.

Lívia ficou incomodada com a situação. Sabia que tinha


sido grossa, mas achava que mudaria o jeito de Marina
sendo mais rígida com ela às vezes. Abraçou a loirinha
por trás e escondeu o rosto em seu pescoço.

- Perdoe, prometo atender da próxima vez.

Marina sentiu conforto naquele abraço, mas estava


chateada. E confusa também com as palavras de
Monica e Eduardo.

- Ta certo Lívia, foi um mal entendido.


- Vai ficar com raiva? – Lívia cheirou o pescoço dela e
mordeu de leve.
- Não estou com raiva.
- Certeza? – Lambia do pescoço a orelha, enquanto
uma das mãos já procurava o seio da loirinha.
- Tenho... ahh...

Só o contato com aquela pele macia e o cheiro de


Marina já inebriava os sentidos de Lívia.

- Faz amor comigo? – a voz da morena saiu quase num


sussurro.

Em resposta Marina se virou e beijou os lábios da


morena. Sentia o corpo arrepiar a cada toque dela e
não pensou em mais nada, apenas se deixou levar pelo
que sentia naquele momento.

Na manhã seguinte Lívia acordou cedo e preparou o


café da manhã, depois ficou esperando Marina descer.
Quando ela apareceu na cozinha viu a bancada toda
arrumada e a morena esperando, vestida num hobby
negro. Pensou estar no paraíso.

“Acordar e ter uma visão dessas... Não há coração que


aguente!”
- Bom dia! – Lívia sorria.
- Bom dia.

A morena veio ao encontro dela e beijou-lhe os lábios.

- Tentei preparar um café bem esperto pra gente.


- Você que fez tudo? – Marina perguntou surpresa.
- Foi. Só não consegui fazer waffles, porque voou tudo
quando liguei o liquidificador pra fazer a massa. – Lívia
apontou para a sujeira no canto da pia.

Marina riu imaginando a situação.

- Não ria, eu me esforcei. – fez beicinho.


- Eu sei meu bem. – Marina fez um carinho no rosto
dela.
- Eu gosto quando me chama de meu bem.
- Também gosto quando me trata bem. – Marina
rebateu na hora, deixando Lívia um pouco sem graça. –
Então deixa provar pra ver se está tudo bom.
- Senta, que vou te servir.

Lívia a serviu e comeram juntas. A morena havia feito


misto quente, suco e preparou um iogurte parecido
com o que Marina havia feito em Mauá.

- Preciso ir pra aula, senão vou me atrasar.


- Vou te levar.
- Não precisa, ainda é cedo pra você sair, descanse um
pouco, ontem você trabalhou até tarde.

Marina pegou uma maçã e colocou na mochila.

- Isso aqui é pro lanche. – sorriu.


- Almoça comigo?
- Almoço. – a loirinha pegou as partituras e colocou na
mochila também. – Bom trabalho. Te amo.
- Boa aula, também te amo.

Lívia a levou até a porta e antes de sair beijou seus


lábios apaixonadamente. Depois que Marina saiu ficou
pensando em sua atitude no dia anterior e não
entendeu porque perdera a paciência. E não havia
trabalhado até tarde, pelo contrário, ficou enrolando no
escritório porque não queria encontrar com Marina.
Teve vergonha de sua atitude.

Quando chegou ao escritório estava com o semblante


normal. Fabrício a olhou e nada comentou.

- Que foi? Pode despejar o sermão por não ter ido ao


show ontem.
- Não tenho nada para lhe dizer, eu já disse antes e
você sempre soube o que eu penso desse
relacionamento.
- Não vai chamar a minha atenção?
- Pra que? Sua consciência por si só já faz isso.

Ele saiu deixando a promotora sem palavras pela


primeira vez.

Marina foi para a aula se sentindo melhor. Quando


esperava Marconi entrar na sala, eis que surge outra
professora.

- Bom dia Marina, meu nome é Vera. A partir de hoje


vou lhe dar aula.

A loirinha arregalou os olhos, sem esconder a surpresa.

- O que houve com Marconi?


- Nada, simplesmente você passou para a minha pauta
de alunos.
- Ele não quis me dar mais aula?
- Não querida, eu quis dar aula pra você.

Marina não entendeu nada.

- Ele me passou o que você está estudando, podemos


começar com os exercícios. Antes de qualquer coisa,
toque a escala de Fá sustenido para mim.

Marina fechou o cenho, não gostava de tocar escala,


muito menos a de Fá sustenido.

“Mas que diacho de mulher, fá sustenido?!”

Tocou a escala de forma devagar, pois quase nunca a


estudava.

- Muito bem, vamos treinar mais a velocidade depois.


Agora pode começar pelos exercícios.
- Só tenho um pronto. O outro ainda estou estudando.
- Tudo bem querida, pode ser. Quero vê-la tocando o
que sabe, para avaliar seu desempenho.

Aquele tratamento estava incomodando Marina. Não


tinha intimidade nenhuma com a professora para ela
lhe chamar de querida. Tocou todas as partituras que
estavam prontas e depois parte daquelas que estava
estudando. Vera elogiou e depois combinou outro
horário de aula com ela.

- A partir de agora será minha aluna e teremos aula


três vezes por semana.

Marina apenas assentiu com a cabeça e guardou suas


partituras.

- Vamos nos dar bem Marina, gostei de você.


A loirinha saiu e no andar de baixo encontrou com
Monica e contou a novidade.

- Nossa, eu já ouvi falar dela. Dizem que é o cão do


avesso, mas é uma das professoras mais disputadas. E
normalmente só pega alunos do sexto período em
diante.
- É pra me sentir melhor ou pior? – Marina debochou.
- Depende do seu ponto de vista. – riu

Marconi ia passando e a pianista foi correndo falar com


ele.

- Marconi, porque me passou pra outra professora?


- Não te passei Marina, na realidade Vera viu você
tocando no recital e gostou muito. Ela é excelente
professora. Vai se dar bem.
- Ela é muito exigente!
- Por isso mesmo, vai ver como vai melhorar. Fiquei
feliz que ela tenha escolhido você, geralmente ela pega
aluno veterano.
- Eu preferia você. – falou chateada.
- Pode ter aula comigo se quiser, podemos marcar
aulas extras. Assim eu vou acompanhando seus
estudos. E até te ajudo com as músicas populares.
- Jura?
- O que eu não faço para ver esses olhinhos verdes
brilhando? – o professor brincou.

Marina sorriu satisfeita.

- Passa na minha sala depois e conversamos sobre as


aulas. – Marconi falou e saiu.

Marina foi com Monica assistir outra aula e antes de


almoçar agendou com Marconi as aulas extras. Lívia já
a esperava quando ela saiu da escola.
- Quer almoçar conosco Monica? – Lívia convidou.
- Não, mas se quiser me dar uma carona eu aceito, vou
encontrar com Hugo.
- Então vamos.

Entraram no carro e Monica logo disparou.

- Conta pra ela a novidade Marina.


- Que novidade? – Lívia perguntou.
- Troquei de professor, agora tenho professora. Vera, o
nome dela.
- É a melhor professora da escola e foi ela quem
escolheu Marina. Tem aluno do sexto período doido pra
fazer aula com ela e não consegue. Agora vão se
descabelar porque ela está dando aula a uma aluna do
primeiro ano.
- Sério amor? Que notícia boa! – Lívia falou empolgada.
- Ah, ela é muito séria, não brinca como Marconi. É
rígida e mandou-meeu tocar a escala de fá sustenido.
- Nossa! Logo de cara? – Monica fez cara feia.
- É.
- Carrasco mesmo. Mas em pouco tempo vai ver como
tocará melhor.

Marina revirou os olhos.

- Não entendi o lance da escala, mas estou feliz. Se ela


te escolheu é porque sabe do seu potencial. – Lívia
pousou a mão na perna dela.
- Eu entendo, mas eu gostava de Marconi. Ele me
ofereceu aula extra e eu aceitei.
- Vai estudar mais?
- Vou amor, eu gosto da aula dele. Então estudo com a
Vera durante o dia e a tarde eu pego aula extra com
ele.
- Gente é aqui que eu fico. – Monica falou. – Hugo já
está ali me esperando. Má, até mais tarde.
- Até.
- Por que até mais tarde? Você vai dormir na sua casa
hoje? – Lívia perguntou num tom mais sério do que
imaginou.
- Não. Hoje tem show e ela vai.
- Ah sim. – ficou sem graça.
- Você vai? – Marina perguntou timidamente.
- Vou sim meu anjo.

A loirinha não escondeu o sorriso. Deixaram o carro no


estacionamento do restaurante e entraram. Marina
pediu uma salada, não estava com muita fome e Lívia
pediu peixe.

- Está de dieta? – a promotora perguntou.


- Não. Estou sem fome mesmo, mas se emagrecer
também não vou reclamar.
- Seu corpo está ótimo.
- Mas pode melhorar.
- Então me conta, como foi a aula da professora nova?
- Ah, ela é boa professora e como falei é muito
exigente, mas eu não gostei do tratamento dela
comigo.
- Como assim?
- Ela me chama de querida. – falou a última palavra
fazendo aspas com os dedos e revirando os olhos.
- Como é que é?!
- Eu não tenho intimidade com ela para me chamar
assim. Acho esquisito essa forma de tratamento.
- Não gostei disso. – Lívia levantou uma sobrancelha. –
Qual é a dessa professora?
- Eu não sei, só sei que sinto saudade antecipada de
Marconi.
- Pelo menos ele lhe dará aulas extras.
- E vai me ajudar com outras músicas. Eu gosto muito
dele, foi simpatia a primeira vista. Ele sabe que gosto
de MPB e não se importa.
- Será que posso assistir a aula dessa professora?
- Pra que? Não sei. – Marina ficou confusa. – Posso
perguntar a ela, mas não agora, acabei de ser
apresentada à megera.

Lívia achou graça da forma como Marina falou.

- Peça pra voltar a estudar com Marconi, se você se


sente melhor.
- Ué, você ficou toda contente com a professora, falou
que ia ser bom. Agora ta me dizendo pra trocar?
- Ah, é porque você não gostou dela. – Lívia desviou os
olhos.
- Lívia, olhe pra mim.

A morena abaixou a cabeça e depois levantou os olhos.

- Está com ciúme?


- Não.

Marina achou estranho, mas não insistiu. Depois do


almoço Lívia foi para o escritório e Marina para o
apartamento estudar. Só parou quando a promotora
chegou.

- Não pare, estava tocando tão bonito.


- É que está na hora de me arrumar.
- O que estava tocando? – Lívia parou ao lado dela.
- Chama-se Rapsódia Húngara, mas é a quatro mãos. A
professora passou hoje e estou dando uma olhada na
minha parte. Ela tocará comigo.
- Hum. – Lívia levantou a sobrancelha.
- Essa música é tocada num desenho do Tom e Jerry e
se não me engano no do Pica-Pau também. – Marina
sorriu. – Senta aqui do meu lado. – Marina chegou para
o lado e deu espaço para Lívia sentar.

Começou a tocar e fazia a parte da professora como


que cantando.
- Parece bonita. – Lívia continuou séria, parecia
desinteressada.
- Hoje estava tocando uma música da Vanessa da
Matta, Eduardo insistiu em tocar, não sei se ficará boa
na voz dele. É pra no caso de alguém pedir.
- Qual é?

Marina então começou os primeiros acordes, pra depois


cantar a música.

“Ainda bem
Que você vive comigo
Porque senão
Como seria esta vida?
Sei lá, sei lá
Nos dias frios em que nós estamos juntos
Nos abraçamos sob o nosso conforto
De amar, de amar
Se há dores tudo fica mais fácil
Seu rosto silencia e faz parar
As flores que me mandam são fato
Do nosso cuidado e entrega
Meus beijos sem os seus não dariam
Os dias chegariam sem paixão
Meu corpo sem o seu uma parte
Seria o acaso e não sorte”

Os olhos de Marina eram tão expressivos e fixos na


partitura que Lívia se comoveu. Virou o rosto em
direção a ela e beijou o topo de sua cabeça e a
abraçou, mas sem atrapalhar a música.

“Ainda bem
Que você vive comigo
Porque senão
Como seria esta vida?
Sei lá, sei lá
Se há dores tudo fica mais fácil
Seu rosto silencia e faz parar
As flores que me mandam são fato
Do nosso cuidado e entrega
Meus beijos sem os seus não dariam
Os dias chegariam sem paixão
Meu corpo sem o seu uma parte
Seria o acaso e não sorte
Entre tantos anos
Entre tantos outros
Que sorte a nossa hein?
Entre tantas paixões
Esse encontro
Nós dois, esse amor.”

Quando Marina cantou a parte final os olhos de Lívia


estavam marejados. Marina parecia perceber mais as
coisas do que Lívia imaginava.

“Entre tantos anos


Entre tantos séculos
Que sorte a nossa hein?
Entre tantas paixões
Esse encontro
Nós dois, esse amor.”

- Nossa, ficou tão ruim que você ta chorando. – a


loirinha a abraçou sorrindo.
- Ficou lindo. Você deveria cantar essa música, tem a
voz de um anjo.
- Ah, anjo é demais. Eu sou, no máximo, afinada.
Vamos ver o que Eduardo vai querer fazer.
- Já disse que te amo hoje?
- Só de manhã. – sorriu docemente.
- Te amo. – beijou-lhe os lábios. – Te amo. – mordeu o
pescoço e a pegou no colo. – Te amo. – Foi andando
para o quarto enchendo a loirinha de beijos que ria
sentindo cócegas.

No bar onde já tocavam desde o início do ano os


frequentadores mais assíduos já esperavam pela
banda. Eduardo apareceu com Pedro e logo chegou
Hugo, acompanhado de Monica.

- Ei Dudu! Que horas vão começar? – perguntou um


rapaz sentado numa mesa perto do palco.
- Daqui a pouco, estamos esperando a tecladista.

O rapaz fez um sinal para que Eduardo se aproximasse


e então perguntou.

- Gatinha ela, por acaso tem namorado? – parecia


muito interessado.
- Tem sim, ela é noiva.
- Noiva? Bicho, que louco. Ela parece nova.
- E é, mas já foi fisgada.

Eduardo pediu licença e saiu. Não passou muito tempo


e Marina chegou acompanhada de Lívia. Estava
lindíssima, usando uma saia até os joelhos e uma blusa
branca com detalhes no decote que deixou à mostra o
colo; usava um colar e os cabelos estavam soltos, com
a franja cuidadosamente penteada. Por conta do clima
que ainda era frio, colocou um casaco. Lívia também
estava muito bonita, usando um macacão todo preto,
botas de salto alto, cabelos soltos e com uma
maquiagem que realçava seus olhos.

- Minha nossa! Capricharam hoje. – Eduardo falou


olhando para as duas.
Marina vinha andando e cumprimentando algumas
pessoas que a elogiavam e Lívia estava logo atrás com
uma das mãos na cintura da loirinha, como que
marcando território. Quando se aproximaram do
restante da banda, Monica logo as elogiou.

- Vão a qual festa depois daqui?


- Que isso, você não diz que tenho que me produzir?
Então estou tentando.
- Está conseguindo. – olhou a amiga de cima a baixo.
- Obrigada. Deu certo no casamento? – Marina se
referia ao casamento em que Monica tinha tocado.
- Sim, acabou cedo, a noiva não atrasou nada. Essa
tava doida pra casar.

A piada fez todo mundo que estava perto rir.

Depois que começou o show Lívia se sentou com


Monica e Fabrício e pediu algo para beberem.

- Tudo certo? – Fabrício perguntou.


- Sim.
- Certo mesmo?
- Ta Fabrício. O que você quer saber? – ela se irritou.
- Nada, só saber se está tudo bem entre vocês.
- Está sim, maravilhosamente bem. – Lívia não deu
detalhes, achava que a intromissão das pessoas no
relacionamento dela com Marina poderia atrapalhar,
então se limitou a falar o mínimo possível.
- Marina está tão bonita. – Monica falou com os dois. –
E não sou só eu que acho. O povo aqui repara nela. –
falou olhando para Lívia.
- Sim, muito obrigada por me informar. – a morena riu
de lado.

Um garçom chegou perto de Marina e deixou um copo


de suco, ela olhou rapidamente e voltou a concentrar
no teclado. No final da música ela chamou o garçom e
perguntou quem havia mandado e ele fez sinal,
mostrando uma pessoa no fundo do bar. Ela somente
agradeceu e voltou a tocar. De longe, Lívia reparava
em tudo e resolveu mandar também uma bebida para
Marina. Pouco tempo depois o garçom entregou um
coquetel de frutas. Marina arregalou os olhos achando
estranho, novamente perguntou ao garçom e ele
apontou para Lívia, que sorria discretamente para ela.
Marina retribuiu o sorriso e pegou a taça tomando um
gole. Um tempo depois o garçom veio com um bilhete e
entregou a Marina. Era um recado do outro rapaz que
havia mandado o suco, perguntando por qual motivo
ela não o tomara. Marina respondeu com toda
educação dizendo que não aceitava bebida de
estranhos e agradeceu o carinho.

No final do show, descendo do palco ela foi abordada


pelo mesmo rapaz.

- Posso me apresentar? – falou timidamente.


- Pode. – Marina sorriu.
- Meu nome é João, fui eu quem mandou o suco pra
você.
- Oi João, prazer.
- Me disseram que você não toma nada alcoólico. Achei
que gostaria do suco. – Falou timidamente.
- De fato eu não bebo, mas agradeço pelo suco. Me
desculpe por não tomá-lo, mas é que a gente escuta
tantas histórias macabras sobre boa noite cinderela e
outros golpes que fica difícil.
- Eu entendo. Então você conhece a pessoa que te
mandou o outro drinque?
- Sim. – Marina sorriu.

Lívia a distância olhava o casal com os olhos apertados.

- Seu sorriso é muito bonito Marina, alguém já te falou


isso? – o rapaz continuava tímido.
- Já. – Marina levantou a mão direita e mostrou a
aliança.
- Ah, você já é comprometida.
- Sou sim. Agradeço a gentileza pelo suco, mas preciso
ir.
- Me desculpe se eu faltei com o respeito.
- Que isso, imagina. Você foi educado demais, existem
poucas pessoas como você.
- Ainda assim, eu virei sempre que puder assistir o
show, gosto muito da banda.
- Que ótimo, ficarei feliz em te ver por aqui.

Marina se despediu do rapaz com dois beijos no rosto e


saiu.

- Eita que esse ta babando. – Eduardo brincou.


- Nossa, que saia justa. E ele foi todo simpático, mas
eu já tenho dona.

A primeira coisa que viu quando chegou perto da mesa


foi o olhar de Lívia. Ela levantou da cadeira e puxou a
cadeira ao lado para que Marina se sentasse. A loirinha
achou até esquisito, pensou que a noiva fosse brigar ou
comentar alguma coisa.

- Quer comer alguma coisa meu amor? – perguntou a


morena.
- Hum... não. Quero outro coquetel daquele.
- Gostou? – falou sorrindo enquanto colocava os
cabelos da loirinha atrás da orelha.
- Muito bom.
- Esse suco aqui também é gostoso, morango com
guaraná.
- Me deixa provar.

Marina bebeu um pouco e gostou.


- Garçom, troca o coquetel pelo suco que nem esse.
- Marina, arrasando corações. Achei até que daria
autógrafos. – Pedro veio brincando.
- E num é? Daqui a pouco vou querer seguir carreira
solo.
- Ingrata, te dou a fama e você faz isso comigo. –
Eduardo fez drama.
- Ah imagina, só largaria vocês caso não me quisessem
mais.

Monica que estava no banheiro, voltava pra mesa e de


longe já implicando.

- Lívia deve estar trincando os dentes de ciúme. –


parecia meio alterada.
- Você bebeu? – Marina riu.
- Bebi, bebi, bebi, bebi... – falou se sentando.
- Eu tava de olho nela lá do palco. Uma cerveja atrás
da outra. – Hugo falou.
- Perguntei se tava acostumada a beber e ela disse que
sim. Então eu deixei e acompanhei. – Fabrício disse
animado. – Mas eu to bem ainda, só estou alegre.
- Meu Deus! – Marina balançava a cabeça.
- Má! Eu já disse que você está linda né!? Menina como
ta conseguindo tocar com esse anelão? Você nunca
toca com nada nos dedos. – Monica parecia muito
agitada.
- Isso não é um anelão Monica, é minha aliança e não
tiro pra nada.
- Não mesmo? – Lívia perguntou.
- Não, eu não gosto de anel que tem pedras grandes
que ficam fora do círculo, pois elas caem entre os
dedos às vezes. Esse aqui a pedra é cravada no anel.
Nem incomoda.
- Se precisar tirar tudo bem. – passou o braço pelos
ombros de Marina. – Mas confesso que prefiro você
com ele. – falou em seu ouvido, fazendo um carinho
em seguida como se aspirasse o perfume de Marina.
- Ô chamego! Aqui, o lance é bater papo, namorar é
em casa, mais tarde. – Monica voltou a falar alto.
- Monica fala baixo – Marina se indignou. – Garçom,
traga muita água e gelada.
- Que água, só se for água que passarinho não bebe.

Chegava a ser engraçado as tiradas da garota, não


tiveram como segurar o riso.

Passava das duas e todo mundo estava cansado,


menos Monica que estava ligada no duzentos e vinte.

- Amor, vamos? – Marina chamou Lívia.


- Claro, estou um pouco cansada. – a morena levantou
e chamou o restante. – Vamos gente? Alguém quer
carona?
- Eu estou de carro. – Fabrício se manifestou. – Levo o
pessoal, podem ir.

Lívia deixou um dinheiro com o primo para as despesas


e se despediu, saindo com o braço envolto na cintura
de Marina, que pareceu não se importar.

- A outra acha que não a conheço. – Fabrício observava


as duas.
- Que foi? – Eduardo perguntou.
- Lívia, saindo com Marina, isso tudo é demarcação de
território. Pra mostrar que a loirinha bonitinha da banda
tem dona e que é pra todo mundo saber que ELA é a
dona.
- Ah Fá, não vi dessa forma.
- Já viu ela fazendo isso quando Marina está vestida
normalmente?
Eduardo ficou pensativo.
- Na praia, aquela vez ela ficou com ciúme.
- Sei não... Lívia tem uns comportamentos esquisitos,
hora ta impaciente com Marina e hora age como se
estivesse de quatro por ela.
Eduardo não deu atenção ao namorado e continuou
conversando com os demais.

Lívia continuou com as gentilezas, abriu a porta do


carro para Marina quando entraram e saíram dele.
Abriu a porta do apartamento e antes de entrarem a
pegou no colo como se fosse uma noiva.

- Já que você diz que sou sua noiva, vou carregá-la


como tal. – Lívia entrou e foi direto para o quarto. Ia
beijando e mordendo o pescoço de Marina, que ria
gostosamente.
- Acho que sim, não é? Aliança na mão direita quer
dizer que estou noiva.
- Minha noiva! – Lívia ia repetindo aquelas palavras e
beijando o corpo de Marina. Chegaram ao quarto e logo
se despiram deixando somente as peças íntimas.
Marina usava uma calcinha de renda vermelha e não
usava sutiã. Lívia entre beijos tirou a calcinha com os
dentes. Marina abriu as pernas para receber o corpo da
morena e com os próprios pés tirou a calcinha de Lívia.
Abriu o sutiã e contemplou aqueles seios fartos. Lívia
segurou os dois braços de Marina na altura de sua
cabeça e encaixou os sexos começando uma esfregação
gostosa. Ouvia os gemidos baixinhos da loirinha e
sentia sua excitação aumentar.
- Geme pra mim... – Lívia falava rouco. Apertava um
seio massageando devagar até que desceu uma das
mãos entre as pernas de Marina e enfiou dois dedos em
sua abertura.
- Ahh...
- Quer assim? – fazia movimentos leves.
- Assim... isso... Não para...
- Diz que me ama. – Lívia pedia entre beijos molhados
e não parava com os movimentos.
- Eu te amo... te amo... muito... ahh...
Quando Lívia percebeu que Marina chegaria ao orgasmo
introduziu mais um dedo em sua vagina e cobriu um
mamilo com a boca sugando devagar. Marina gozou
gemendo alto e arqueando o corpo.

- Te amo... – beijou Lívia. – Te amo! – mais beijos. –


Te amo muito! – Marina segurou o rosto da morena e
beijou a ponta do nariz.

Lívia abaixou a cabeça escondendo o rosto entre o


pescoço e o ombro de Marina, aspirou o perfume dela e
suspirou.

- Você me deixa louca, sabia?

Marina ficava acanhada quando Lívia falava daquela


forma. Baixou os olhos e mordeu o lábio inferior.

- E tímida, fica mais linda. – Levantou a cabeça e beijou


sua testa, depois os lábios.

Marina foi se remexendo, desceu uma das mãos até o


meio das pernas de Lívia e começou a manipular o
clitóris. Lívia abriu mais as pernas e deixou que a
garota fizesse o que quisesse. Seus seios ficaram na
altura do rosto de Marina que aproveitou para sugá-los
alternadamente. Mordia o bico e fazia leve pressão com
os dentes. Lívia não demorou a gozar deixando seu
corpo cair sobre o de Marina.

Namoraram pela madrugada. E só depois de meio-dia é


que acordaram. Marina mexeu e despertou Lívia junto
com ela.

- Bom dia gatinha dorminhoca. – Lívia falou.


- Bom dia amor.

Nem quiseram sair da cama, ficaram por lá até o


estômago reclamar. Saíram só à tarde pra jantar e
depois seguiram para Mauá numa viagem de última
hora. Marta ficou feliz em vê-las e passaram o final de
semana tranquilo. Mais pra Lívia que ficou longe dos
comentários alheios.

O mês passou voando. Lívia trabalhou pouco no


escritório por conta das várias audiências que teve,
Fabrício assumiu a frente e praticamente nem almoçava
para dar conta de tudo. Marina nunca estudara tanto.
Vera se mostrava uma professora muito rigorosa, mas
isso rendeu uma grande evolução para a loirinha.
Quando fazia aulas com Marconi, era notável sua
melhora e ele sempre a elogiava.

Por conta dos muitos compromissos as duas quase não


se viam e quando chegavam a se encontrar Lívia estava
cansada, Marina estava exausta e a única coisa que
conseguiam fazer era dormir. A vida sexual não estava
das mais ativas, mas carinho sempre existia entre elas.

Lívia estava no escritório pedindo um almoço e


esbravejando com a demora do pedido.

- Mas que diabo! Será que é tão difícil entregar um


almoço? E olha que vocês estão a metros do meu
escritório!

Fabrício estava entrando na sala e viu a cena de olhos


arregalados.

- Ok, não quero mais, muito obrigada... Não quero


saber se já está pronto. Se estivesse, a comida estaria
aqui na minha frente.

Lívia bateu o telefone e bufou de raiva.


- Ei, trouxe um lanche pra mim, vamos dividir. – falou
calmo.
- Quero almoço Fabrício, não lanche.
- É comida japonesa, você gosta.

Lívia olhou para ele, ainda de cara feia, depois


suspirou.

- Ta bom, traz aqui. E obrigada.

Ele foi até a sala dele e voltou trazendo a barquinha de


sushis, sashimis e etc.

Sentados comendo, ele resolveu perguntar:


- Lívia, hoje você está mais nervosa, que houve?
- Trabalho, muito trabalho.
- Você já trabalhou muito outras vezes e não se
estressou tanto.
- Ai Fabrício, não amola. – se irritou novamente.

Ele não disse nada, então ela ponderou e falou


calmamente.

- É falta de sexo, não vejo Marina direito faz semanas e


quando vejo ela está cansada e confesso, eu também.
- Sexo? Cadê aquele papo de fazer amor?

Lívia somente revirou os olhos e novamente se irritou.


Tomou um pouco de suco e continuou.

- Tenho uma audiência amanhã. Aquele outro caso de


pedofilia.

Fabrício apenas assentiu com a cabeça.

- Adivinha qual juiz está no caso?


O rapaz fez sinal de que não sabia.

- Ou melhor, juíza. É Camila.


- Ih, mas que inconha.
- Nem me fale, isso vai me render uma aporrinhação.
- Faça seu trabalho e saia de lá.

Lívia ficou olhando para o copo de suco como se


olhasse uma bola de cristal. Fabrício não quis esticar a
conversa, pois conhecia bem a prima e principalmente
a chefe.

À noite, ela chegou em casa e ligou para Marina.

- Onde está?
- Estou na faculdade, tendo aula com Marconi.
- Você veio aqui hoje? Estou em casa.
- Fui pra pegar umas partituras e estudar um pouco.
- Vai voltar?
- Não, vou sair tarde daqui. Vou amanhã, pode ser?
- Eu te pego, vem aqui hoje.
- Ai amor, vou sair tarde e é longe. Amanhã tenho aula
cedo, show à noite. Prometo sair da aula e ir direto
para seu escritório.
- Amanhã tenho audiência, não vou ao escritório.
- Te encontro a noite no apartamento antes do show
então.
- Ta bom Marina. Boa aula.

Marina sentiu a chateação na voz da namorada.

- Desculpa, prometo que amanhã nos encontramos. –


tentou argumentar.
- Tudo bem.
- Te amo viu?
- Eu também.

Desligaram, mas Marina não se deu por satisfeita.


Infelizmente não podia fazer muito e não iria se
sacrificar, Lívia teria de entender. A promotora por sua
vez ficou chateada, queria ficar com Marina,
principalmente antes de encontrar com Camila. Não
sabia ao certo por que, mas era importante para ela.

No dia seguinte a promotora acordou cedo, se arrumou


e foi direto para o fórum. Encontrou com Fabrício
chegando também.

- Pronta?
- Pronta.
- Amem! Vamos lá!

Assim que a audiência começou e Lívia pisou no


tribunal, sentiu os olhos de Camila pousarem sobre ela.
Começou primeiro o advogado de defesa, falando por
um longo tempo. Seguido dele Lívia falou com a
imponência de sempre e a segurança de quem não
estava ali disposto a ser derrotado. Camila a devorava
com os olhos e de certa forma isso incentivou ainda
mais o seu discurso. Houve um recesso e nesse tempo
Lívia aproveitou para almoçar, correu dali com Fabrício
e nem viu a cara de Camila. Horas depois, quando
voltaram o advogado de defesa a cumprimentou e
sentou-se para falar sobre o caso.

- É Lívia, hoje você não ta me dando trégua. Já lhe


peguei em outros casos, mas confesso que esse é o
mais difícil.
- Marcos, você sabe bem que as chances do seu cliente
são mínimas, o que você vai fazer é atenuar a pena,
mas isso se eu deixar.
- Cá entre nós, a juíza parece estar mais do seu lado
que do meu.
- Não existe isso. – Lívia desconversou.
- Ok e quando você fala os olhos dela brilham. Hoje
você se superou.
- Obrigada, aceito o elogio. – sorriu.

Quando Camila entrou, os dois se separaram e


voltaram ao trabalho. Passava das seis da tarde quando
a juíza deu seu veredicto.

- Em virtude dos fatos aqui apresentados e por


abranger a lei onde já é crime o abuso sexual, quão
grandemente é criminoso o distúrbio de conduta
sexual, onde o indivíduo adulto sente desejo
compulsivo por crianças. Crime este absurdamente
irracional, repugnante e mórbido. Pela promotoria
apresentar provas contundentes deste caso e
brilhantemente defender a honra dos inocentes e
indefesos. Declaro o réu Jurandir Cardoso de Souza
culpado! A cumprir pena em regime fechado por trinta
e cinco anos, sem direito a fiança. – bateu o martelo.

O réu abaixou a cabeça e os guardas o levaram. Lívia


olhava para Camila e sentiu algo que não queria. Poder
e desejo, e essa mistura não era boa. Fabrício, como
sempre, reparou o olhar fascinado da prima, ficando
preocupado. Lívia se recolheu e entrou na sala
reservada aos promotores, estava pegando sua pasta
quando Camila entrou.

- Sua atuação foi brilhante e merece meu elogio. – a


voz era grave.
- Obrigada. – Lívia se virou. – Sabe que em casos como
esse eu faço o que for preciso para a condenação.
- Sei sim e a admiro por isso.

Para estranheza de Lívia, Camila não deu em cima dela


e não foi inconveniente como de costume.

- Preciso ir. – a morena falou pegando sua pasta e


saindo. – A propósito, suas palavras no final fecharam
com a dignidade devida.
- Obrigada, fico lisonjeada vindo de você.

Sorriram mutuamente e Lívia se foi.

Dentro do carro voltando para casa ela se manteve


séria e parecendo pensativa. Fabrício não quis
comentar sobre nada. Desceu em sua casa e de lá Lívia
seguiu para a sua. Entrando em casa já ouvia Marina
tocando piano. Parou na porta e se recostou,
observando a garota tocar, parecia concentrada. Marina
parou, pois havia errado e resmungou algo que Lívia
não entendeu, voltou a tocar, errou de novo.

- Mas que caramba, isso aqui é impossível!


- Não para você, tenho certeza. – Lívia falou ainda
encostada na porta.
- Amor! Que saudade. – Marina se levantou e veio
pulando como um coelho abraçar Lívia.

Beijaram-se demoradamente.

- Estava doida pra você chegar. – Marina falou


abraçando Lívia.
- Não está atrasada para o show?
- Dudu ligou dizendo que o dono pediu pra começar
mais tarde. Espero que nem tanto, amanhã tem aula.
- Aula com a professora? – Lívia fez um certo bico.
- É. Você quer assistir minha aula amanhã? Quer dizer,
se não tiver nenhum compromisso. – Marina puxou
Lívia pela mão e foram pra sala.
- Que horas será?
- Oito horas. – sentaram no sofá.
- Hum... – Lívia olhou para os lados num gesto
pensativo. – Preciso estar no escritório às dez horas no
máximo. Dá pra assistir nem que seja uma parte.
- Então combinado. Senti sua falta todos esses dias. –
Marina falou dengosa.
- Nem pareceu, não quis me ver ontem. – Lívia falou
magoada.
- Meu bem, não pude ir, minha aula acabaria tarde.
- Eu ia te buscar Marina.
- Tudo bem, mas que horas chegaríamos aqui? Íamos
cair na cama e dormir.
- Talvez...
- Safada, diz que está cansada e ainda pensa em sexo.
- Não é verdade, estou com saudade de você e não é
só sexo, é vontade de ficar com você. – abraçou
Marina. – De sentir seu corpo. – mordeu seu pescoço. –
Ouvir sua voz. – Levou uma das mãos até um dos seios
ao mesmo tempo em que mordeu o lábio inferior de
Marina.
- Ahh... – a loirinha soltou um gemido.

Fizeram amor ali mesmo, no sofá, matando a saudade


de muitos dias.

Depois do show Marina dormiu com Lívia e no dia


seguinte ela a acompanhou até a aula. As duas
entraram juntas na faculdade e como era muito cedo,
não havia muito alunos, mas os poucos que estavam lá
não deixaram de notar a presença da promotora. Lívia
sempre chamava a atenção por onde passava, seja pela
altura, pelo porte, pela pose, realmente era alguém que
não passava despercebido e Marina sabia disso, até
gostava.

- Bom dia Vera, hoje trouxe uma amiga... – olhou para


Lívia. – Ela tem um compromisso aqui perto e
perguntou se poderia ficar aqui até dar a hora, eu disse
que não teria problema. Tem algum pra você?
A professora olhou um pouco surpresa, mas não
demonstrou resistência.

- Tudo bem.
- Lívia, sente-se aqui então. – falou com a voz mais
doce que Lívia já ouvira. Olhou para Vera e continuou. -
Vamos começar com...
- Escala Marina.

Marina tocou três escalas diferentes, depois passou


para os exercícios. No fim deles, pensou que Vera iria
pedir a música nova, dada na aula anterior, já ia
trocando as partituras quando ela pôs a mão em seu
ombro.

- Não querida, essa música é da próxima aula, darei


mais tempo para você estudar.

Lívia arregalou os olhos e os estreitou em seguida


ficando invocada com aquele tratamento que a
professora dava a Marina.

- Toque o mesmo exercício.


- De novo?
- Sim, quero que transponha meio tom.
- Como?
- Transpor meu anjo. Você sabe o que é, não?
- Sei, mas... – Marina ficou sem palavras. Olhou para a
partitura, para as teclas do piano, deu uma espiada em
Lívia que não se mexia da cadeira. E foi tocando o
exercício, porém mais devagar, já que estava
transpondo. Terminou e esperou que Vera falasse algo.
- Muito bem, vejo que frequentou as aulas de
transposição. Tem aluno aqui que abomina isso.
Estudou a rapsódia?
- Sim.
- Então vamos tocá-la.
Vera se sentou ao lado de Marina e começaram a
música. As duas tinham uma sincronia perfeita.
Pareciam quatro mãos de uma mesma pessoa. Lívia
ficou admirada, mas logo fechou o cenho quando viu
que Vera olhou para Marina sorrindo, aquilo a estava
incomodando. No final da música a promotora olhou no
relógio e aproveitou a pausa para se despedir.

- Preciso ir. Te vejo mais tarde? – Lívia sorria.


- Pode apostar que sim. – Marina retribuiu o sorriso.

Lívia então beijou o topo de sua cabeça e saiu.

Quando a promotora saiu, Vera fez um comentário


inusitado.

- Marina, procure não trazer pessoas para a aula, pois


isso a desconcentra.
- Ela não ficou nem meia hora direito. – revidou.
- Somente se for urgente, gosto de dar aula à vontade
com meus alunos.

Marina não quis estender o assunto.

No escritório o dia passou tão depressa que Lívia nem


percebeu, estava quase saindo quando bateram na
porta.

- Lívia, tem alguém querendo falar com você. – Érica


falou em tom mais baixo.
- Quem é?
- Sou eu Lívia, dá licença. – Camila foi logo entrando.

Érica, sem saber o que fazer deixou as duas sozinhas.

- Que faz aqui? – Lívia perguntou.


- Vim lhe mostrar uma coisa. – Camila sentou-se na
frente dela e colocou em cima da mesa vários papéis
indicando um processo. – Esse caso vai cair pra mim,
eu o peguei de um conhecido que me passou
antecipadamente, você chegou a receber alguma coisa?
- Camila por acaso você sabe que o que está fazendo é
crime e pode lhe custar a carreira?
- Sei que não devia estar lhe mostrando, mas se por
acaso este processo cair pra você eu pego também,
caso contrário, passarei.
- Nem vou ler. – Lívia se levantou. – Se me dá licença,
eu preciso ir embora, tenho um compromisso.
- Lívia, peço desculpa se me precipitei, mas é que este
caso...
- Camila, não! – Lívia se exaltou.

Camila parou de falar assustada.

- Desculpe, sabe que ética é o que mais prezo na minha


profissão. Não vou olhar nada antecipadamente. Se cair
pra mim, você saberá.
- Ta certo. Perdoe, não quis ser inconveniente. – falou
numa falsa mágoa.
- Sem problema. – Lívia olhou a hora. – Preciso mesmo
ir.
- Estou de saída também. Posso lhe fazer uma
pergunta?
- Pode. – Lívia até pôde imaginar o que era.
- Está namorando?
- Não.

Camila chegou a esboçar um sorriso.

- Estou noiva.

Lívia foi saindo da sala e Camila foi logo atrás.

- Érica, diga a Fabrício que já fui e que o encontro mais


tarde. Camila, passar bem. Bom final de semana.

Virou-se e foi andando em direção ao elevador. Camila


a seguiu, entrando no elevador junto com ela.

- Está feliz?
- Claro.
- É a menina que vi no show aquela vez, não é?
- Por que quer saber?
- Lívia, ela é quase uma criança. Não dá pra entender.
Pra que procurar uma menina quando se tem mulheres
adultas e mais maduras ao seu dispor.
- Ninguém tem que entender nada, da minha vida cuido
eu.
- Quando se cansar de bancar a babá, vai se lembrar
do que estou dizendo.

O elevador chegou ao térreo e Camila saiu na frente.


Lívia ficou perturbada com as palavras dela e decidiu
ignorar.

Terminada a apresentação da banda, como de costume


os músicos se sentaram um pouco para comerem e
beberem alguma coisa. Em dado momento, Lívia bateu
o talher que tinha na mão em um copo e falou
chamando a atenção para si.

- Eu quero aproveitar que tenho testemunhas aqui e


fazer uma pequena observação que me deixou arreliada
desde a manhã.

Todos a olharam, ela olhou para Marina, levantou uma


sobrancelha e deu um meio sorriso, fazendo a loirinha
achar graça.

- Quero saber qual é a da professora de Marina? Assisti


uma aula dela hoje de manhã e fiquei impressionada
com o tratamento que ela dá a MINHA noiva. “Meu anjo
e querida” são denominações um tanto íntimas para
uma professora. - o pessoal da mesa começou a rir,
menos Fabrício. – Não terminei. – bateu no copo de
novo. – Deixo bem claro que não gostei de tal
tratamento para com minha estimada noiva e que
desde já protesto em favor de minha pessoa para que
ela troque de professora. E tenho dito. – deu mais um
toque no copo como se batesse o martelo.
- Eu apoio! – Eduardo falou.
- Eu me abstenho de qualquer comentário, pois não
conheço tal professora. – Fabrício falou sério.
- Já eu digo que tal tratamento se deve a beleza e
simpatia ímpar de nossa loira de olhos verdes. Nem
professora resiste. Mas como musicista, acredito ser
importante para a senhorita sua noiva. – Monica falou a
última palavra entre aspas. – Ter aulas com tal pessoa,
já que é uma das melhores do país.
- Protesto! – Lívia bateu na mesa sorrindo. – Existem
outros profissionais tão bons quanto ela e que
provavelmente não dariam em cima de minha estimada
noiva.
- E Marina, não diz nada? – Hugo a chamou. – Ela é
quem tem que dizer.

Todos olharam para a garota, que achava graça dos


comentários. Marina bebeu um pouco de suco,
pigarreou e depois disse pausadamente.

- Meus amigos, amigas, minha amada noiva. Digo


desde já que não concordo com o excesso de
intimidade de referida professora, mas que realmente
as aulas me valem muito para aprimorar o
conhecimento, portanto é devido continuar tendo aula
com ela.

Lívia ia protestar quando Marina segurou sua mão


como que a impedindo.

- Porém, digo aqui perante todos que não há professor,


professora, nem qualquer ser habitável deste mundo
que me faça mudar meu mais nobre sentimento por
você e que nunca deixarei de amá-la colocando todos
aqui presentes como testemunhas desse amor que
transborda em meu coração. – bateu na mesa.
- Falou bonito! Aplausos para ela! – Eduardo já batia
palmas achando graça.

Monica bateu palmas também, mas se sentiu acanhada


um pouco. Fabrício continuava sério e não entendo o
comportamento da prima. Lívia olhava Marina com um
sorriso estonteante. Beijou sua testa e passou o braço
em seu ombro, puxando-a para si.

- Te amo. – cochichou em seu ouvido.


- Eu também. – Marina acariciou o rosto da morena.

O final de semana passou muito rápido para as duas.


Descansaram e namoraram, dessa vez não puderam ir
a Mauá. Com o início das provas Marina se viu mais
apertada e sem tempo, Lívia também encarou vários
processos e pegou alguns casos particulares, que
deixou na mão de Fabrício e ficou apenas
supervisionando. Monica ficou mais esperta dessa vez e
não deixou que o namoro a deixasse tomar o tempo
dos estudos. Estudava sempre com Marina e não tinha
mais nenhum trabalho atrasado. Marina ligava para os
pais sempre e dava notícias, os visitou num feriado,
mas ficou por três dias somente. A sensação que tinha
era que o segundo período passara mais rápido que o
primeiro. Por conta de tantas coisas para estudar e não
conseguir se encontrar com Lívia, Marina praticamente
se mudou para o apartamento dela. Assim ficava mais
fácil para tudo, estudar piano e claro, namorar.

Depois do encontro com Camila em seu escritório, Lívia


nunca mais falara com ela. Às vezes se encontravam
nos tribunais, mas somente se cumprimentavam. A
banda marcava ponto sempre as quintas e sextas nos
bares e às vezes tocavam no sábado em algum show
esporádico.

Com o fim das provas, para encerrar o segundo período


só faltavam as apresentações. Marina iria tocar uma
música sozinha e fechar a apresentação com a
professora. Dessa vez Monica tocaria em dia diferente.
E fecharia as apresentações tocando na orquestra da
escola. Estava muito feliz. No dia da apresentação
Marina estava uma pilha de nervos. Andava de um lado
para outro no apartamento e não conseguia estudar.
Quando sentava ao piano suas mãos travavam e ela
ficava nervosa.

- Que isso amor, nunca te vi assim! – Lívia falou.


- Estou nervosa! É essa megera dessa professora que
fica no meu pé.
- Vai dar tudo certo. Vem cá. – Lívia a puxou para um
abraço. – Sabe que se preparou e que não há motivo
para o nervoso, você sabe o que tem que fazer. Respire
fundo, relaxe e concentre-se, como sempre fez.
- Está difícil dessa vez. – os olhos encheram de
lágrimas.
- Não chora lindinha. Estarei do seu lado.
- Promete?
- Claro, toma um banho e vá se arrumar.

Marina foi para o banheiro e tentou relaxar embaixo do


chuveiro. Lívia achou um pouco de exagero aquele
nervoso, mas não julgou; realmente Marina devia estar
nervosa por conta da professora. Esperou que ela
saísse do banho e tomou o seu. Foram para a
apresentação.

Dessa vez Marina foi quem abriu a apresentação,


tocando sozinha. Depois que todos tocaram inclusive
Eduardo, ela subiu ao palco para fechar a apresentação
com a professora. Foram aplaudidas de pé. Vera deu
um abraço apertado em Marina. Depois receberam os
aplausos e quando a loirinha ia saindo a professora a
abraçou de novo, deixando a pianista desconsertada.
Lívia não gostou do que viu, mas nada pode fazer.
Marina desceu e recebeu os cumprimentos dos outros
alunos e dos professores, depois se dirigiu ao local
onde estavam seus amigos. Foi abraçada por todos.

- Vamos comemorar! – Eduardo logo animou.


- Ah, calma aí. Eu não toquei ainda. Tem comemoração
amanhã também? - Monica reclamou do convite.
- Claro Monica! Cada uma terá sua comemoração
devida. – Marina falou sorrindo para a amiga.

Se dirigiram a um restaurante e brindaram a mais uma


etapa vencida. Marina se sentia feliz.

- Estou feliz, mais um período. – falou com Lívia.


- Fico contente que se sinta assim. – a morena sorriu.
- Você parece cansada, amor?
- Estou mesmo, não tenho parado para nada. Final de
ano parece que as coisas sempre apertam.
- Tenho essa impressão também, mas agora o ano está
acabando e você tem recesso.
- Graças a Deus! Poderemos passar o final de ano em
paz.

Marina olhou sem graça para Lívia, ainda não sabia o


que fazer com o Natal e Ano Novo. Com certeza sua
família cobraria sua presença em São Paulo e Lívia no
Rio. Preferiu não falar nada naquele momento. O
namoro estava tranquilo, mas com a rotina e
praticamente morando juntas, Lívia já não tinha a
mesma atenção com ela e por conta dos excessos das
aulas, Marina também parecia mais desligada. Não
demoraram no restaurante, pois Lívia queria ir embora,
estava com sono.

No sábado de manhã, Marina estava ajeitando suas


partituras e guardando como fez no período anterior.
Lívia ainda dormia e a loirinha preferiu deixá-la
descansando. Desceu e foi comprar pão e algumas
coisas gostosas. Quando voltou Lívia já estava na
cozinha tomando café.

- Ah você já está comendo? Comprei umas coisinhas


pra você.
- Assim eu vou engordar. – levantou da mesa e colocou
o copo de suco na pia.
- Vai nada, a gente faz exercício depois. – Marina
sorriu.
- Do jeito que estamos cansadas, vamos só comer e
dormir. – deu um beijo rápido em Marina. – Ainda bem
que agora é só curtir as férias.

Marina aproveitou o momento para falar com ela.

- Então, queria conversar sobre isso. Eu vou para casa


passar uns dias como de costume. Você vai dessa vez?
- Não sei, será que vão desconfiar? Levar Fabrício e
Eduardo de novo não vai colar.
- Também acho.
- E quando pensa em ir?
- Na semana do dia vinte.
- De dezembro? – Lívia perguntou, mas se respondeu
ao mesmo tempo. – Claro que é, porque hoje é dia
trinta de novembro. – revirou os olhos. – Então você
vai passar o Natal lá?
- É amor. Você passará com sua mãe não é?
- Sim. E no ano novo?
- Pensei em voltar depois dele... – apertou os lábios.
- O que? Marina, vai passar as duas datas em São
Paulo?
- Amor, é minha família. Eu passo pouco tempo com
eles agora. Nunca passei o natal e ano novo longe
deles. – tentava se explicar.

Lívia quis argumentar, sabia que a garota estava certa,


mas a queria do seu lado pelo menos no ano novo.

- Não pode ao menos negociar com eles? Você vai


agora e fica lá até o dia trinta de dezembro, depois vem
pra cá e passa o ano novo, depois voltamos.
- Lívia, pra que isso? Ficar indo e vindo, no mínimo eles
vão estranhar. E eu tenho shows até dia dezoito, não
posso deixar os meninos na mão.

A promotora andou de um lado para outro tentando


achar uma solução, mas viu que não tinha. Olhou para
Marina e falou o mais friamente que conseguiu.

- Tudo bem, faça como quiser. – subiu para seu quarto.

Marina achou absurdo o comportamento de Lívia e não


foi atrás dela. Resolveu deixá-la se acalmar. Foi para o
escritório do apartamento e ficou lendo um pouco,
acabou adormecendo no pequeno sofá que tinha lá.
Lívia ficou no quarto vendo TV, mas não se concentrou
em nada, estava nervosa e chateada.

“Vivo fazendo tudo que ela quer. Será que não pode ter
um pouco de consideração?! Podia ao menos tentar
conversar com os pais, mas é acomodada demais pra
isso!”
Seus pensamentos eram perdidos e desconexos. Nem
viu o tempo passar, quando resolveu sair do quarto e
procurar por Marina, a achou no escritório dormindo
com um livro aberto no peito. Sorriu e a deixou só, saiu
para dar uma volta.

Quando Marina acordou, estava anoitecendo.

- Gente, perdi completamente a hora. Nem almocei!


Será que Lívia almoçou? – falou sozinha.

Procurou pela noiva no apartamento e não a encontrou.


Foi até a cozinha e comeu uma fruta, esperou por Lívia,
até que resolveu ligar. O telefone chamou por um
tempo e depois deu caixa postal. Entrando no quarto
viu que ele estava em cima da mesa. Tomou um banho
e se arrumou para ir assistir a apresentação da amiga.
Esperou por Lívia até o último minuto, até que resolveu
sair. Chegou sozinha e encontrou Fabrício e Eduardo já
sentados aguardando.

- Que demora vocês duas! Cadê a outra, foi procurar


vaga? – Fabrício falou.
- Ela não vem. – Marina falou desanimada.
- Por que não?
- Tivemos uma pequena discussão, depois eu falo.

A apresentação começou e todos se concentraram em


ver. Monica tocou divinamente e quando se juntou a
orquestra ficou toda contente. Marina a aplaudiu de pé.
Como haviam combinado, saíram da escola e foram
comemorar. Dessa vez em um lugar mais modesto.
Foram ao bar que sempre tocavam na quinta. Após
sentarem e fazerem o pedido, Fabrício não se aguentou
e perguntou curioso.

- Que houve?
- Lívia está chateada porque não vou passar o ano novo
com ela, nem natal. Vou para casa.
- Está certa, vai ver sua família. Não os vê faz tempo.
- Sim, fui no último feriado, mas fiquei poucos dias. Só
que ela ficou brava mesmo, nunca a vi assim.
- Ela vai repensar isso e pedir desculpa; no fundo Lívia
sabe que agiu errado. – Eduardo tentou acalmá-la.
- Espero que sim.
- Uma coisa que Lívia tem é sensatez. – completou o
rapaz.

Fabrício nada falou, pois já tinha fama de implicante.

Monica chegou com Hugo e continuaram conversando


noite a fora.

Lívia andou pela praia até anoitecer, chegou em casa


numa hora em que sabia que estaria sozinha. Tomou
um banho e ficou na varanda, costume esse que
adquiriu por conta de Marina. Certa hora da noite o
interfone tocou e ela olhou no relógio, pela hora não
podia ser ela, pois ainda estaria na apresentação de
Monica.

- Dona Lívia, tem uma senhora querendo lhe falar. – o


porteiro comunicou.
- Quem é?
- Se chama Camila.

Lívia sentiu um frio na espinha. Pensou em dispensar e


dizer que estava ocupada, mas seus instintos falaram
mais alto.

- Pode pedir para subir.

Sua respiração ficou acelerada, sabia que não era certo


o que estava fazendo, mas não conseguiu se conter.
Abriu a porta para Camila e a recebeu. A juíza usava
uma calça leg preta com sandálias de salto, uma blusa
de cor creme bem solta e um cinto transpassando,
realçando a cintura. Os cabelos estavam na altura dos
ombros num corte moderno e muito cheirosa.

- Entre Camila, algum problema?


- Não, estava passando por aqui perto e quis visitá-la.
Achei que nem fosse me receber. Está sozinha em
casa?
- Por hora sim.
- Que faz sozinha uma hora dessas, mulher?
- Descansando. Tive uma semana cheia.
- Imagino, tenho acompanhado seus casos, você tem
se dado bem.
- Graças a Deus. Você está me vigiando?

As duas caminharam até a sala de estar.

- Não, apenas admirando seu trabalho. Agora você toca


piano? – olhou para o instrumento.
- Claro que não. – Lívia sorriu, mas não respondeu a
pergunta.

As duas se olharam como que tentando entender o que


faziam ali.

- Quer beber alguma coisa? - A morena perguntou.


- Água somente, estou com sede.

Lívia foi buscar e voltou com uma jarra nas mãos e um


copo, a serviu e deixou em cima da mesa. Não tinham
muito que dizer e o assunto não conseguiu se estender.

- Bom eu só passei para saber se está bem e dizer que


estou gostando de ver como tem se destacado nos
tribunais. Está ficando temida por todos.

Lívia sorriu pelo elogio.


- Que isso, nem é tanto. Agradeço o elogio.

Camila se levantou e foi andando até a porta. Virou-se


de repente e ficou cara a cara com Lívia que vinha logo
atrás.

- Eu... – afastou-se um pouco. – Desculpe, era só para


dizer que ainda penso em você e no tempo que
passamos juntas, às vezes tenho saudades e...
- Camila... – Lívia falou próxima demais da boca dela e
não resistiu.

Puxou-a para um beijo ardente, colando sua boca na


dela e procurando sua língua. Sentiu o perfume de
Camila e aquilo assanhou seus instintos mais
selvagens. Ouviu no fundo de seus pensamentos o
sorriso de Marina e parou de repente.

- Não posso! Não posso! Desculpe... não posso! – se


afastou colocando as mãos na boca e depois passando
nos cabelos.
- Tudo bem Lívia. Eu que peço desculpa, me deixei
levar.

Lívia abriu a porta deixando Camila sair e a fechou em


seguida encostando-se nela. Depois correu para o
banheiro e tomou um banho, como que querendo tirar
o gosto e o cheiro de Camila de seu corpo. Deitou na
cama e abraçou o travesseiro de Marina, sentindo seu
cheirinho. Chorou de remorso. Adormeceu com os
pensamentos confusos.

Marina pensou em ir para sua casa, mas talvez


conseguisse encontrar Lívia mais calma e conversar
com ela. Fabrício a deixou na porta do prédio e ela
subiu. Abriu a porta e tudo estava escuro, julgou que
Lívia estivesse dormindo e acertou. A encontrou deitada
encolhida e abraçada a seu travesseiro, achou
bonitinho. Tomou um banho rápido e deitou-se ao lado
dela. Acariciou seus cabelos, beijou sua testa e passou
as costas da mão em seu rosto, depois beijou-lhe os
lábios.

- Te amo. – sussurrou.

Lívia se mexeu e soltou o travesseiro, Marina então


aproveitou e a abraçou. Instintivamente a morena se
aconchegou em seu colo, parecendo uma criança.

- Não! Eu juro que não queria! – Lívia falava baixinho.


– Volta aqui! Eu tentei, mas não consegui. Me perdoa!

Marina viu que sonhava e falou carinhosamente.

- Calma meu amor, estou aqui. Shii... Vai passar.


Calma.

Lívia acordou assustada.


- Tudo bem? – Marina perguntou com voz carinhosa.
- Acho que foi um pesadelo, não me lembro. – esfregou
os olhos.
- Já passou. – beijou sua testa.
- Como foi a apresentação?
- Muito boa, fiquei orgulhosa de Monica. Enfim estamos
no terceiro período.
- Parabéns as duas, depois a parabenizo pessoalmente.
– Lívia não quis explicar porque não foi e Marina
também não tocou no assunto.

Ficaram em silêncio apenas sentindo o contato dos


corpos e pensando no relacionamento. Marina tinha a
cabeça apoiada no ombro de Lívia, pois a abraçava por
trás. Beijou seu pescoço, cheirou. A morena se
aconchegou mais gostando daquele contato. Fazia
tempo que não ficavam assim.
- Sinto falta disso. – a voz saiu manhosa.
- Eu também meu amor, agora poderemos nos curtir
mais.

Lívia pensou no que tinha feito com Camila e quis


apagar aquele incidente. Ela e Marina voltariam ao
normal e aquele erro ficaria no passado.

- Fica comigo aqui amanhã. – Lívia pediu.


- Eu fico meu bem. Agora estou de férias e posso cuidar
de você.

Lívia sorriu e virou-se para abraçar Marina.


Adormecerem com os corpos grudados.

Na manhã seguinte quem acordou primeiro foi a


morena. Olhou Marina e parecia dormir tranquila,
imediatamente se lembrou do que fizera na noite
anterior e seu rosto queimou de raiva e vergonha.

“Não pode acontecer de novo meu Deus!”

Ficou no quarto esperando a loirinha acordar.


Aproveitou pra ler uns processos que estavam sob
responsabilidade de Fabrício. Concentrou-se a tal ponto
que Marina acordou e ficou observando-a.

- Que concentrada! – falou brincando.


- Oi meu anjo, nem vi que acordou. – beijou seus
lábios. – Estava aqui lendo esses processos que estão
com Fabrício, mas eu gosto de supervisionar. Dormiu
bem?
- Como um bebê. E você?
- Também e bebê você ainda é. – brincou.
- Sou nada, já sou maior de idade. – Marina riu.
Lívia deitou por cima dela e Marina entrelaçou suas
pernas em sua cintura, adorava ficar assim.

- Quer fazer o que hoje? Ficar em casa, sair pra dar


uma volta, Mauá não dá pra ir, porque pela hora não
vai compensar, depois ligo pra mamãe.
- Ela queria ir à apresentação e não deu de novo. Tanta
correria. – Marina passava o dedo contornando a
sobrancelha de Lívia. – E sobre hoje, podíamos dar
uma volta, andar um pouco, estou muito parada. O dia
todo sentada no piano e estudando.
- E agora você está livre daquela criatura. – Lívia
mordeu o queixo dela.
- Aff, nem me fale. Não quero ver a cara dela tão cedo.
- Vamos dar uma volta na praia, pegar um sol.
- Eu preciso mesmo, estou branca que nem uma vela.

Lívia achou graça.

- Eu gosto.
- Já eu prefiro uma morena.

Ficaram de chamego na cama um tempo e depois


resolveram descer. Andaram pela orla, almoçaram e
depois fizeram o programa preferido de Lívia, passear
pelo shopping.

Em casa, depois do passeio, Marina colocava as bolsas


no sofá da sala e tirava as sandálias.

- Pés no chão! Que sensação boa.


- Nunca vi alguém gostar tanto de andar descalço.
- Eu sempre gostei, desde pequena e na roça ando
sempre. Por isso tenho o pé ferrado, parece pé de
peão.
- Eu acho que são bonitinhos. – Lívia olhou com carinho
para ela.

Marina aproveitou o momento de paz para conversar.

- Amor, senta aqui um minutinho que precisamos


conversar. – pegou a morena pela mão para sentarem
no sofá. – Preciso falar sobre minha viagem pra casa. –
baixou o olhar e o levantou de novo encarando Lívia. –
Desculpa se frustrei seus planos, mas você precisa
entender que vejo minha família muito pouco. E são
duas datas que se passam com a família,
principalmente o Natal.

Lívia a olhava e mordia o lábio inferior.

- Eu vou assim que terminar os shows e nessa pausa


eu fico lá, volto logo depois do ano novo. Prometo.
Você ainda estará em recesso. E minhas aulas só vão
começar depois do Carnaval pelo que sondei na
faculdade. – Marina segurou o rosto da promotora
entre suas mãos e falou carinhosamente. – Não sabe o
quanto gosto de estar ao seu lado, mas eu tenho minha
família e sinto muita falta deles. – os olhos chegaram a
brilhar quase lacrimejando.
- Entendo meu anjo e me desculpa se fui grossa, falei
aquilo num momento de stress e me deixei levar pelo
cansaço. Me desculpa.
- Tudo bem, eu entendo e concordo que esses últimos
meses foram tumultuados.
- Você quer ir de avião? Assim chega mais rápido,
posso te levar até São Paulo e te deixo dentro do
ônibus indo pra Jaú. Depois volto, ponte aérea é coisa
rápida.
- Não precisa, eu vou como sempre fui mesmo. E outra,
de avião sai mais caro.
- Você que pensa, hoje em dia com promoções se
consegue ótimos preços e eu tenho minhas milhas do
cartão.
- Não amor, prefiro que guarde essas milhas aí pra
outra coisa. Vou de ônibus mesmo.

Lívia ainda quis insistir, mas Marina foi enfática, não


queria depender dela pra tudo.

Olhou para a mesa de centro e viu uma jarra de água


com um copo.

- Veio alguém aqui ontem?

Lívia foi pega de surpresa e até gaguejou para falar.

- Não... digo... veio. Um... um vizinho que quis


perguntar umas coisas sobre direito do consumidor, eu
somente esclareci. Sentamos aqui e ele pediu água
depois, esqueci de voltar com a jarra para a cozinha.
- Ah...

A morena pensou no que tinha acontecido e sentiu seu


rosto arder de vergonha.

Marina aproveitou as férias para descansar e cuidar de


Lívia. Estava sempre esperando quando ela chegava do
escritório e fazia tudo que queria. Um dia antes de ir
para casa Marina quis fazer uma surpresa com jantar
especial para as duas. Tinha juntado um dinheiro
durante uns meses e comprou um presente para Lívia,
aproveitou para comprar para a família também e
depois passou no mercado. Comprou ingredientes para
fazer uma ceia, como se estivessem comemorando o
Natal. Decorou a mesa com artigos natalinos e deixou o
presente escondido para entregar depois. Preparou um
prato para a entrada, o prato principal e uma
sobremesa. Deixou tudo pronto e foi tomar banho.
Lívia conversava com Fabrício sobre um cliente e já se
preparava para ir para casa.

- Pode ficar tranquila que no máximo em duas semanas


a audiência estará marcada.
- Fica de olho nisso hein Fabrício.
- Sim senhora chefia. – disse sorrindo. – E Marina,
quando vai?
- Amanhã. Vou levá-la na rodoviária.
- Achei que seria convidado para passar as férias no
interior de novo, me refrescar, tomar banho de
cachoeira, respirar ar puro.
- Dessa vez não vai rolar, seria muita cara de pau
nossa ir outra vez na casa dela. Os pais vão achar que
somos uns folgados.
- Ela volta quando?
- Lá pelo dia dez. – Lívia procurava por um documento
em cima da mesa.
- Cedo, achei que iria ficar até o fim das férias.
- Combinamos assim. – olhava para os papéis, parou e
olhou para Fabrício. – E antes que fale alguma coisa, eu
não a forcei viu? Ela quem decidiu assim.
- Já posso ir? Combinei com o Du de comprar o
presente da minha mãe. Não quero deixar pra última
hora, porque as lojas ficam abarrotadas de gente. E eu
não suporto tumulto.
- É um fresco mesmo. – Lívia riu.

Fabrício se limitou a fazer uma careta. Assim que saiu


da sala, Lívia recolheu os documentos, guardou e
quando estava pegando sua bolsa o telefone de sua
mesa tocou.

- Alô.
- Lívia, sou eu Camila.
- Ah sim, oi Camila. – suas pernas bambearam com a
lembrança do que fizera.
- Está muito ocupada? Podemos nos ver?
- Olha, estou saindo e preciso chegar cedo em casa.
- É coisa rápida.
- Pode adiantar por telefone? Ou esperar para outro
dia?
- Não, é urgente.

Lívia ficou intrigada e resolveu atender ao chamado.

- Estou descendo, me encontre...


- Estou aqui na portaria do prédio, te espero aqui
embaixo.
- Tudo bem.

Lívia desceu e se despediu de todos no escritório. Saiu


do elevador e encontrou Camila a esperando.

- O que foi?
- Está de carro?
- Sim.
- Podemos ir até lá?
- Mas o que está acontecendo, é algo urgente?
- Sim.

O rosto de Camila parecia preocupado e Lívia achou


muito esquisito, resolveu acompanhá-la e assim que
entraram no carro e fecharam a porta, Camila pulou em
cima dela para beijá-la.

- Desde aquele dia não consigo mais esquecer você. –


falava com a boca colada na de Lívia. – Preciso de um
beijo seu, meu corpo anseia pelo toque da sua mão. –
a voz saia rouca e sensual. – Por favor.

Lívia ficou acesa, sentiu seu sexo latejar com aquele


contato. Camila sabia instigá-la e deixou a vontade
falar mais alto. Puxou a juíza pelos cabelos e beijou sua
boca com ardor, suas línguas se buscavam num contato
selvagem. Camila sentou no colo de Lívia e pegou a
mão dela enfiando entre suas pernas, estava sem
calcinha.

- Olha como estou molhada... ahhh... e é tudo pra


você...

Lívia perdeu a noção do perigo e se deixou levar, enfiou


dois dedos na abertura de Camila e espalmou a mão no
clitóris fazendo a mulher enlouquecer.

- Ahhh... enfia tudo... ahhh... – gemia alto e agudo. –


Mais forte... – Camila a arranhava e mordia seus lábios,
em pouco tempo o orgasmo chegou. – Nossa, meu
corpo não aguentava mais de tanto desejo por você, de
vontade, de ver seus olhos me olharem com
intensidade. – beijou a boca de Lívia. – Você me deixa
louca! Me satisfaz como ninguém. Me tira a razão!

Lívia tinha os olhos fixos nos dela e a respiração


descompassada.

- Sai do meu carro! Isso não é certo. Camila pelo amor


de Deus o que estou fazendo?! Sai! Agora!
- Lívia, calma, você não fez nada que eu não quisesse.
- Eu é que não quero! Saia!
- Quer sim, e está gostando. Sabe muito bem a
diferença de fazer sexo com uma mulher e com uma
menina. Você precisa de energia, de sangue quente e
isso não tem com ela.

Camila saiu de cima de Lívia e desceu do carro, bateu a


porta e entrou em seu próprio carro depois. Lívia saiu
da garagem cantando pneu.

“Minha nossa senhora! O que eu estou fazendo? Não


posso! Não posso!”
Seus pensamentos estavam cada vez mais confusos.

Fabrício havia descido e entrado no carro, mas resolveu


voltar para pegar uma pasta que havia deixado em sua
mesa, mas viu Lívia descendo com a juíza. Escondeu-se
entre os carros e as seguiu. Viu quando as duas
entraram no carro de Lívia e poucos minutos depois
escutou os gemidos lá dentro. Trincou os dentes de
raiva e teve vontade de quebrar a cara de Lívia. Parou
atrás do carro ao lado e observou até que Camila saiu
apressada e Lívia foi embora. Voltou para seu carro e
correu para casa de Eduardo. Chegou lá bufando de
raiva.

- Que aconteceu? – Eduardo arregalou os olhos.


- Olha, eu avisei! Mas como eu avisei! Agora eu quero
ver como isso tudo vai acabar. Eu te juro que perco o
emprego, mas Lívia vai ouvir o que merece. – andava
de um lado para outro.
- Pare um pouco e me diga o que houve.
- Eu vi Lívia traindo Marina.
- O que? Você tem certeza disso? Pelo amor de Deus
Fabrício, tem noção do que esta falando?
- Tenho e vi, eu vi! – estava muito exaltado.
- Acalme-se. Me conta o que viu e o que aconteceu.

Fabrício explicou tudo contando com detalhes. Ao final


era Eduardo quem estava com raiva.

- Filha da mãe. E logo com essa mulher, naquele show


que fizemos na Urca, Marina não gostou dela.
- Deve ter sentido o perigo. Mulher tem muita intuição.
- E agora?
- Agora? Agora que eu vou contar pra Marina.
- Não! A menina vai pra casa amanhã, deixe-a ir passar
o natal com a família e voltar. Depois conversamos com
ela.
- De repente isso é melhor mesmo. Senão a coitada vai
pra lá chateada, se bobear nem volta.
- É sim. – Eduardo baixou a cabeça. – Meu Deus!
Marina vai morrer de tristeza.
- Lívia é quem vai morrer, você vai me visitar na
cadeia. Vou matá-la! De tanto que eu a avisei, pedi,
praticamente implorei para que não sacaneasse com
Marina. Ela não merece isso.
- Calma. Pensaremos no que fazer.
- Com Lívia eu vou falar amanhã, assim que Marina
viajar. Ela tem que saber o que eu vi.

Lívia dirigia completamente distraída. Estava muito


arrependida, alterada, confusa e com um remorso que
lhe doía. Ficou vagando pela cidade totalmente perdida.

Marina saiu do banho e estranhou a demora da


promotora. Ligou para o escritório, mas ninguém
atendeu. Tentou o celular de Lívia, mas na confusão
dentro do carro sua bolsa caiu no chão e ela não ouviu
o celular tocar. Marina deitou um pouco no sofá da sala
e ficou esperando, acabou adormecendo.

Quando Lívia colocou a chave na porta Marina acordou


e pulou da poltrona. Correu para acender as velas e
apagar a luz. A morena olhou tudo arrumado e sentiu o
coração rasgar dentro do peito. Marina arrumava o
cabelo, achou que estava bagunçado por ter se deitado.

- Amor, demorou! Que aconteceu?

Lívia olhava tudo com certo espanto e não conseguia se


mexer.

- Ei, meu amor, que foi? – Marina se aproximou e


beijou seus lábios. – Aconteceu alguma coisa no
escritório?
- Não... Eu... Fiquei presa no trânsito. – Lívia por fim
conseguiu responder. – Você estava me esperando faz
tempo? – a voz saía quase num sussurro.
- Mais ou menos. – Marina a pegou pela mão e com a
outra pegou a pasta de Lívia e colocou no sofá. – Eu
preparei um jantar só para nós duas. É um jantar de
Natal. Como não vou poder passar com você essa data
eu antecipei um pouquinho. – sorriu.

Lívia não aguentou a culpa e seus olhos se encheram


de lágrimas.

- Nunca na minha vida alguém me fez uma surpresa de


Natal. Nem mamãe. Quem me conhece sabe que gosto
muito dessa data e por muitas vezes a passei sozinha,
por conta do trabalho. – as lágrimas agora escorriam
livremente por seu rosto. - Depois que mamãe foi pra
Mauá, algumas vezes eu fiquei aqui por conta de
trabalho e passei o dia vinte e quatro sozinha, em casa,
esperando intimamente por uma surpresa, mas ela
nunca vinha.
- Hoje não é propriamente o Natal. – Marina enxugava
as lágrimas dela. – Mas gostaria que se sentisse como
se fosse o dia. Preparei uma pequena ceia pra nós
duas. Vem sentar à mesa.

Lívia se deixou levar pela mão.

- Já volto.

Enquanto Marina ia pra cozinha a morena tentava se


concentrar e ter ao menos um pouco de animação, de
fato estava feliz, mas ao mesmo tempo tinha a culpa na
consciência. A loirinha voltou com o prato de entrada.
Eram pequenas torradas com um creme por cima e
temperadas com ervas finas. Tinham o formato de
Papai Noel, sinos de Natal e estrelas.
- Estavam na sessão infantil, mas eu achei tão
bonitinho e resolvi comprar. – riu sem graça.
- Que lindo! Senta aqui do meu lado.
- Calma que já voltou com o vinho.

Marina voltou rapidamente e sentou ao lado de Lívia,


que não se contentou e a virou para que suas pernas
ficassem em cima das suas, assim ficariam mais
próximas. Pegou uma torrada e mordeu.

- Gostou?
- Uma delícia. Realmente fiz uma excelente escolha, a
combinação é mais que perfeita. Pianista e cozinheira.
Preciso de mais o que? – brincou.
- Eu também não estou mal, uma advogada promotora.
Se eu fizer algo de errado já tenho quem me defenda.
– Marina sorria contente.
- Você é um anjo e nunca irá fazer nada de errado,
tenho certeza disso. – Lívia acariciou o rosto de Marina
falando sinceramente.

Após saborearem a entrada, Marina buscou o prato


principal. Como assar um peru seria um exagero,
comprou algumas partes e fez um arroz temperado,
com peito de frango recheado e uma salada simples.

- Hum, que cheiro bom.


- Olha, não é uma ceia viu?

Lívia esperou somente que Marina colocasse a travessa


na mesa e a puxou para que sentasse em seu colo.

- Não importa, poderia ser arroz com feijão. Ficaria


gostoso do mesmo jeito. Eu amo você! Não sabe o bem
que está me fazendo e adorei a surpresa. – beijou os
lábios de Marina delicadamente. Ajeitou-se na cadeira
abrindo as pernas, fazendo Marina sentar no meio
delas. Pegou o prato e serviu. – Podemos comer assim?
Aí eu fico mais perto de você. – abraçou a loirinha.
- Não estou te amassando?
- Que nada, você encaixa perfeitamente.

Lívia deu comida na boca de Marina e ela fez o mesmo,


como faziam no início do namoro.

- Tem tempo que não fazemos isso, não é? – Lívia


falou.
- Verdade. Paramos em função da falta de tempo,
acontece.
- Gosto quando ficamos assim. – Lívia voltou a abraçá-
la. – Me sinto mais calma, confortável, como se
estivesse casada e vivendo em família.
- Hum... – Marina sentia o beijo gostoso da morena em
seu pescoço. – Eu também gosto meu bem. Com você
parece que as coisas são mais fáceis, mais prazeroso.
- Ah isso faço questão que seja mesmo. – Lívia mordeu
a orelha de Marina.
- Safada. Vamos terminar de comer, que ainda tem
sobremesa.
- Oba!

Quando Marina voltou com a sobremesa, Lívia nem


mais se lembrava do que tinha acontecido em relação à
Camila.

- Fiz uma torta, pequena, afinal viajo amanhã e não ia


deixar uma travessa enorme de doce. É de chocolate
meio amargo com avelã, nozes e macadâmia.
- Meu Deus! Vou malhar por meses seguidos e ter que
me confessar pelo pecado da gula.

Marina tirou um pedaço maior para as duas comerem


juntas.

- Que delícia! – Lívia elogiou.


- Ta boa mesmo.
- Deixa ver. – A morena beijou a boca de Marina e
lambeu o chocolate. – Uma delícia mesmo!

Depois de toda a ceia, as duas foram para o quarto.


Lívia disse que precisava de um banho e enquanto ela
estava no banheiro, Marina entrou no closet e pegou
um chapéu de Papai Noel juntamente com o embrulho
do presente e ficou esperando. Quando Lívia saiu
enxugando os cabelos, viu a loirinha com o chapéu na
cabeça.

- Presente de Natal adiantado!

Lívia achou graça da satisfação da garota.

- Espero que goste, porque eu demorei horas pra


escolher. Além do fato de que sou indecisa, você é
exigente.

Lívia a olhou curiosa e olhou para o embrulho, era uma


caixa um pouco grande. Pegou-o e começou a abrir,
retirou primeiro o cartão e leu os dizeres.

“Meu amor, sei que não poderei passar o natal com


você, mas se não estarei fisicamente, estarei em
pensamento lhe enviando boas energias. Deus sabe o
quanto você é importante pra mim e me faz bem. Te
amo muito e Feliz Natal.
Marina”

Lívia voltou a se emocionar, retirou depois um saquinho


aveludado do embrulho e abriu. Era um colar com
vários pingentes. Uma nota musical, um coração, uma
medalha de Jesus e nossa senhora e um olho grego,
todos em ouro branco e muito delicados.
- Marina, não precisava.
- Claro que precisava e sei que gosta. Vive comprando
jóias.
- Essas coisas custam caro.
- Poxa, mas será que não posso comprar um presente
pra minha noiva? Ela faz tanto por mim. O mínimo que
você merece é um presente que goste.
- Eu gosto é de você. – Lívia puxou Marina, que caiu
sentada em seu colo. – E não é só gostar, é amar. Sou
completamente apaixonada por você, loirinha linda que
apareceu na minha vida. – enchia Marina de beijos, que
sorria.
- Tem mais um presentinho aí dentro.
- Ah sim, vamos olhar. – pegou o embrulho novamente
e enfiou a mão tirando um ursinho vestido com uma
toga, roupa que Lívia usava algumas vezes quando ia
aos tribunais. – Que bonitinho. – sorriu.
- Ele é seu colega de trabalho. – Marina brincou.
- Ah sim, vou trocar idéias com ele depois. Adorei meu
anjo.
- Gostou mesmo? – Marina falou receosa.
- Sim, gostei de tudo, da ceia, dos presentes e
principalmente da companhia.
- Só que ainda não acabou. – Marina sorriu
maliciosamente.
- Não? – Lívia já imaginava o que estava por vir.
- Tcs tcs tcs... – balançou a cabeça. – Empurrou-a para
deitar na cama e sentou por cima dela.

Marina pegou as mãos de Lívia e levou até a frente de


seu vestido para que abrisse os botões. Desabotoando
um a um, Lívia viu que a garota usava uma lingerie em
tom vermelho um pouco mais escuro. Sentiu seu sexo
umedecer àquela visão. Abriu todos os botões e tirou o
vestido. Marina usava um espartilho e uma calcinha
completamente transparente, deixando a mostra os
pêlos aparados. Nunca tinha visto Marina tão sexy,
começou a respirar entrecortado, seus olhos
escureceram pela excitação. Marina se abaixou e beijou
seus lábios com delicadeza, tinha os gestos suaves e
era disso que Lívia gostava. Do carinho que Marina
tinha com ela, da educação, da sutileza, tudo era
diferente.

- Te amo muito! – Marina falou em seu ouvido.

Lívia não respondeu, apenas a tomou nos braços e


girou na cama, ficando sobre seu corpo. Beijou o
pescoço e subiu até chegar aos lábios, mordeu-os,
voltou novamente para o pescoço, chupou e desceu
para os seios. Tirou a lingerie que lhe impedia ver
aquele corpo que tanto amava e a jogou longe. Beijou
um seio, depois o outro, lambeu devagar, arrancando
gemidos de Marina. Desceu mordendo sua barriga e
arrancou a calcinha rasgando-a. Marina abriu as pernas
e deixou que Lívia saboreasse seu sexo, como sempre
fazia. E ela não teve pressa, passava a língua sorvendo
cada gota, sentia as pernas de Marina contraírem e
quando seu corpo começou a tremer, percebeu que o
gozo estava chegando. Enfiou dois dedos e sugou com
vontade o clitóris, fazendo a loirinha gritar de prazer.
Quando sentiu seu corpo relaxado, subiu novamente
com beijos molhados até chegar àquela boca arfante.
Marina tinha as bochechas rosadas e os olhos semi
cerrados, era uma visão maravilhosa.

- Quem a ama sou eu. Eu que a desejo, que adoro


sentir seu olhar, morro de vontade de tê-la só pra mim
e só você consegue me satisfazer em tudo! Meu amor,
minha luz, minha metade. Nunca se esqueça disso
Marina. Você é minha razão.

Marina olhava para Lívia e sentia o coração acelerar a


cada palavra.

- Você também é tudo isso, me faz tão bem que às


vezes nem acredito que a tenha ao meu lado. – Marina
falava suavemente.

Ficaram um bom tempo em carícias e promessas


amorosas. Marina tirou o roupão de Lívia e a calcinha,
resolveu explorar aquele corpo que pedia por carinhos.
Beijava cada parte, mordia, sugava, suas mãos
exploravam por onde passavam. Marina era meiga e
sabia o que fazer mesmo sem ter muita experiência
com outras mulheres. Lívia relaxava e sentia o prazer
que ela lhe proporcionava. Fizeram amor a noite toda e
só pararam porque o sono as venceu. Dormiram por
poucas horas e quando o relógio despertou Marina
acordou e foi para o banho, deixando Lívia dormindo.

Estava perdida em pensamentos quando sentiu um


abraço e um beijo em sua nuca.

- Por que não me chamou?


- Achei que estava cansada, ia chamar só quando fosse
a hora de ir.
- Cansada estou, mas quero curtir você mais um
pouquinho. – virou Marina e a beijou nos lábios.
- Eu também estou cansada, acho que vou dormir a
viagem toda.
- Isso não é novidade. – riu. – Você é dorminhoca
mesmo. – mordeu o lábio inferior dela.

Namoraram debaixo do chuveiro e só saíram porque


Marina estava em cima da hora. Lívia a levou até a
rodoviária e antes de descerem do carro ela pegou as
duas mãos de Marina e falou seriamente.

- Amor, faça boa viagem, diz para sua família que


desejei um feliz natal e uma boa passagem de ano. E
quando voltar estarei lhe esperando morrendo de
saudade. Feliz Natal viu?
- Pra você também amor, muito juízo e cuidado quando
for para Mauá. Diz pra dona Marta que mandei um
abraço e um beijo de natal para ela. Te amo.

Beijaram-se e desceram para o terminal. Marina entrou


no ônibus e dormiu como um bebê. Lívia voltou para o
apartamento e resolveu ajeitar suas coisas e ir embora
para Mauá de uma vez, não esperaria Fabrício. Ficar no
Rio sem Marina não era uma boa coisa. Estava
arrumando as malas quando alguém tocou a
campainha, achou estranho o porteiro não avisar.
Quando abriu a porta Fabrício irrompeu pelo
apartamento quase a jogando no chão.

- Eu vou matar você! – bateu a porta e foi encarando a


morena com altivez. – Você prometeu que não faria
mal a Marina sua sem-vergonha, cara de pau. Quantas
vezes você vai ter que perder a confiança das pessoas
para aprender a dar valor a elas?

Lívia conseguiu se recompor do susto e perguntou:


- Do que está falando? Isso é jeito de entrar na minha
casa?!
- Estou falando do que vi. Ontem, na garagem do
prédio, dentro do seu carro. – a olhava com raiva.

Lívia arregalou os olhos e sentiu a vergonha lhe tomar


o rosto.

- Eu... Aquilo não...


- Vai negar? Claro que vai! Cara de pau do jeito que é.
Sabe Lívia, eu mesmo estou estranhando o fato de
estar com raiva do que vi. Nunca liguei para seus
relacionamentos e sempre achei suas namoradas fúteis
e vazias. Mas com Marina é diferente, ela é nova, tem
uma vida pela frente, pode encontrar pessoas muito
melhores que você. E não merece o que está fazendo.
Há quanto tempo? Desde aquele beijo em São Paulo?
Fala!
- Não está acontecendo nada. Camila entrou no meu
carro e se jogou em cima de mim! – Lívia alterava a
voz.
- E você, muito solícita, deu um jeito de apagar o fogo
dela.
- Eu não queria. – passava as mãos pelo cabelo. – Juro
que não queria. Agi sem pensar e estou muito
arrependida. Não sabe como me sinto depois daquilo.
Mandei Camila sair e desaparecer da minha vida. Isso
você não viu.
- Vi sim, mas não importa. O que vale é o que você fez
antes. Não pensou em Marina? No quanto ela te ama e
faz tudo por você? Não respeita os sentimentos dela?
- Claro que respeito, Marina é a melhor coisa que
aconteceu na minha vida.
- Pois quando ela souber vai ter certeza de que tê-la
conhecido foi a pior coisa que podia ter acontecido a
ela.

Lívia ia falar, mas se calou assustada. A idéia de Marina


saber o que tinha acontecido deixou seu coração
apertado e o medo tomou conta.

- Você não vai falar pra ela.


- Eu? Imagina. Quem vai falar é você.
- Você contou pra mais alguém?
- Eduardo e ele não vai contar essa vergonha pra
ninguém.
- Fabrício, por favor, deixe esse assunto morrer, não
vai acontecer de novo. Eu juro, quero Camila longe de
mim e assim vai ser.
- Eu conheço Camila muito bem. Ela vai lhe tentar, vai
atrás de você com aquele joguinho de quem não quer
nada. E quando menos esperar, ela estará em cima de
você e de pernas abertas. Por isso você gosta, porque
as duas são diferentes, Marina é uma garota ainda e
Camila é mulher. Ela faz o que Marina não faz, se
oferecer, se rebaixar. Essa é a diferença, educação e
respeito. Não é todo mundo que tem e dinheiro
nenhum compra.

Fabrício saiu batendo a porta e deixou a prima atônita


na sala, sem saber o que fazer. Lívia andava de um
lado para outro, como se quisesse resolver o problema,
mas não tinha jeito. Ficou com medo de Fabrício falar,
mas pelo menos agora Marina estava a caminho de
casa. Juntou suas coisas e foi pra Mauá.

Assim que pôs os pés em casa, Marta a olhou


desconfiada.

- Vai me contar agora ou quer esperar passar o Natal?

Lívia se virou para a mãe com um rabo de olho e


sentou no sofá, suspirou e começou a contar. Marta
apenas escutava sem qualquer julgamento.

- Minha filha, mas por que fez uma coisa dessas?


- Não sei mãe, Camila é um inferno na minha vida. Se
soubesse que conhecê-la me traria tantos problemas eu
juro que voltaria atrás.
- No início achei que vocês iam se dar bem, afinal, ela é
juíza, bem sucedida, tem pose. Depois vi que era fútil
que nem as outras. Ser juíza não lhe deu o principal,
conteúdo e respeito.
- Fabrício veio com o mesmo papo.
- Ele sabe?
- Ele viu.
- Minha nossa!
- Disse que não vai contar, mas eu não confio. Preciso
conversar com Marina, resolver isso, não sei. – repetiu
as últimas palavras com os olhos perdidos.
- Se acalme, vou conversar com ele. – Marta pegou as
duas mãos da filha e falou olhando em seus olhos. –
Lívia, me prometa que não vai mais encostar um dedo
nessa mulher. Caso contrário essa história não vai
acabar bem.
- Não quero vê-la mais. Aliás, até agora ela quem tem
me procurado.
- E você tem cedido aos apelos dela. Fica difícil não se
verem, pois têm trabalhos relacionados, mas não tenha
mais contato com ela que não seja profissional.
- Eu gosto tanto de Marina, eu a amo. Não sei por que
isso aconteceu.
- Porque Camila tem uma coisa que Marina ainda não
tem, maturidade, opinião, decisão... Mas isso não é
garantia de um bom relacionamento.

A morena abaixou a cabeça, estava muito chateada.

- Se Deus quiser essa fase vai passar, tenho certeza


que você vai usar seu juízo. - abraçou a filha afagando
seus cabelos.

Mais à tarde Fabrício chegou com Eduardo e todos se


juntaram para jantar. Marina ligou para Lívia dizendo
que tinha chegado em casa e que estava tudo bem.

- Amor, manda um abraço para o pessoal e um beijinho


em Luisa.
- Pode deixar, manda um beijo pra todo mundo aí e
outro especial na sua mãe.
- E eu não ganho? – fez bico.
- Claro e outro pra você.
- Estou morrendo de saudade já.
- Essa é boa. – Fabrício que ouvia, resmungou.
- Também estou, já, já estou de volta. Feliz Natal meu
amor.
- Feliz Natal linda.

Despediram-se e quando Lívia passou por ele, lhe


lançou um olhar severo.

- Tenho medo de cara feia não. – ele revidou.


- Quer parar? Senão o Natal será um fiasco. – Eduardo
o repreendeu.
- Fiasco é essa mulher fajuta, que não respeita
ninguém.

Marta estava por perto e ouviu a conversa de Fabrício,


aproveitou que Bete tinha ido ao mercadinho para
comprar um ingrediente que faltou e chamou Lívia para
chegar até a sala.

- Gostaria de falar uma coisa aqui. Primeiro, é Natal e


eu não quero confusão na minha casa. Fabrício, eu
gosto muito de você, mas está se metendo demais na
vida de minha filha, coisa que ela não faz na sua. Lívia
pode não ter juízo para seus relacionamentos, mas
mulher fajuta ela não é. Se estamos morando nessa
casa e bem acomodadas, sua mãe e eu, é por causa
dela. E se você tem um bom emprego e pode ajudar
seu namorado, também é por causa dela. Faça como
Eduardo, tente ajudar e se não conseguir, cuide
somente dos seus problemas. Acredito que esse
incidente não irá se repetir, pois nós duas já
conversamos.
- Tia Marta, eu só quero que ela entenda que não pode
fazer isso com Marina. Ela enche a boca pra falar que é
noiva, mas não respeita a pessoa que está ao seu lado.
- Eu concordo com você, mas acha que recriminando e
criticando é a forma mais correta de ajudar?
- Concordo com você. – Eduardo se manifestou. –
Fabrício quer ajudar, mas só consegue irritar as
pessoas. E tem mais, Marina sabe muito bem onde se
enfiou. Não foi por falta de aviso.
- Não acha que fica difícil resistir com tanta bajulação?
Lívia a cercou de cuidados e atenção que qualquer
garota na idade dela se sentiria lisonjeada.
- Mas ela é responsável por seus atos e eu acredito que
Lívia possa resolver isso sem interferências. E se não
conseguir é porque tinha que ser e isso fará parte do
aprendizado dela. – Marta foi enfática.
- Isso aí. – Eduardo concordou. – Se tudo der errado,
eu sentirei muito, ficarei do lado de Marina, pois gosto
muito dela e bola pra frente.

Lívia pigarreou na intenção de ser ouvida e quando eles


olharam ela falou.

- Eu agradeço pelas palavras mamãe e por Eduardo se


manter a distância, me dando a chance de resolver, ao
contrário de Fabrício. Não tenho que pedir desculpas a
ninguém pelo que fiz, a não ser a Marina. Podem não
acreditar, mas eu a amo. Reconheço meu erro e vou
consertar. Não quero perdê-la. – Seus olhos marejaram
e para não chorar na frente de todos, ela subiu para
seu quarto.

Fabrício ficou sério e nada falou, Marta continuou nos


afazeres e logo Bete retornou da rua. Eduardo esperou
um pouco e depois subiu para falar com Lívia. Bateu na
porta, que estava somente encostada e entrou.

- Licença moça. Vamos esclarecer umas coisinhas.

Lívia estava na bay window chorando e encolheu as


pernas para que ele se sentasse.

- Olha, Fabrício é estourado, se acha o defensor dos


fracos e oprimidos e pensa que Marina é assim, por isso
tomou partido da causa dela. Eu concordo com ele em
termos, mas quero que saiba que no que precisar de
ajuda para sair dessa situação eu estou do seu lado.
Não porque gosto de você, mas porque gosto muito de
Marina também.
- Quem não gosta dela? – Lívia deu um meio sorriso.
- Aquela loirinha não sabe o carisma que tem. Marina é
simples e isso é que faz dela uma pessoa agradável. E
você tem minha admiração, por tudo que passou nessa
vida e pelo que tem feito a sua família e até ao
carrancudo do seu primo. – riu. – Estou disposto a lhe
ajudar.
- Obrigada, isso é importante pra mim. Preciso colocar
meus pensamentos em ordem.
- Isso já é um avanço. Posso lhe perguntar uma coisa?
- Pode.
- Por quê? – Eduardo não precisou estender a
pergunta, Lívia sabia do que se tratava.
- Desde quando se tem explicação para as vontades.
Não sei o que me acontece quando Camila chega perto.
Ela é decidida, é cheia de confiança.
- Isso atrai, não é?
- Atrai, pelo menos a mim. Não que eu não goste do
jeito de Marina, é como se uma tivesse uma coisa que a
outra não tem.
- Mas ficar com as duas não dá né?
- Sei disso.
- Tem que escolher. – Eduardo pousou a mão na perna
dela e sorriu. – Só que nisso ninguém pode lhe ajudar.
– saiu do quarto.

Lívia sabia qual era a escolha certa, sua cabeça e seu


coração já tinham escolhido. O problema eram seus
instintos.

Marina chegou em casa animada, tinha comprado


presentes para todos e estava feliz com isso. Abraçou
os familiares e depois foi brincar com Luisa.

- Neném, estava morrendo de saudade de você.

Como Barbara arrumou um trabalho de fim de ano e


dona Zezé tinha ido à rua, ela ficou com a menina por
um bom tempo. Tinha um carinho tão grande por ela
que só o fato de se separarem já lhe apertava o
coração. Estavam brincando na sala quando Maria José
voltou.

- Ela não dormiu?


- Que nada, ta acesa aqui.
- E você deve estar cansada filha, chegou de viagem e
nem cochilou.
- Estou não, dormi no ônibus.
- Vou pedir um favor então. Fique mais um pouco com
ela que eu estou nos preparativos do Natal.
- Fica tranquila que esse favor eu faço com prazer.

O natal na casa de Marina sempre fora mais uma


reunião familiar. Seu pai tinha muitos irmãos e todos
vinham para a o sítio comemorar a data. Maria Jose já
não tinha mais nenhum irmão vivo e por isso se
juntava à família do marido. No dia vinte e quatro as
tias se juntaram para começar a cozinhar os pratos da
ceia. Marina ficou por conta de Luisa, pois Barbara
trabalhou até tarde no comércio. Pouco antes de chegar
o restante da família, a loirinha chamou os pais e lhes
deu o presente de Natal.

- Espero que gostem.


- E quem não gosta de presente? – Maria José falou.

Marina entregou os presentes e os pais abriram.


Roberto ganhou um kit portátil de ferramentas e Maria
José um perfume.

- Pai, espero que seja útil.


- Nossa, bastante! – se animou. – Vou levar comigo,
tem tudo aqui dentro dessa malinha.
- Olha que beleza! Vou usar hoje na ceia. – Maria José
falava do perfume.
- Que bom que gostaram. – Marina falou satisfeita.
- Não precisava ter se incomodado, nem ter gasto seu
dinheiro com a gente.
- Que isso, vocês fazem tanto por mim. Não custa nada
retribuir.

Roberto olhou para Maria José e voltou-se para o


guarda-roupa, pegou um envelope e entregou a filha.

- Marina, conversei com sua mãe e achamos melhor


não lhe dar um presente, mas sim um dinheiro para
você poder comprar o que quiser. Assim você vê o que
ta precisando. Não é um dinheirão, mas dá pra comprar
uma coisinha.

Marina teve pena dos pais, mesmo estando apertados,


queriam agradar.

- Não precisa disso gente, deixa que agora eu dou os


presentes. – sorriu.

Abraçaram-se e depois foram para a sala. Marina veio


trazendo um presente para Luisa. Entregou a caixa
toda colorida, deixando a menina entusiasmada. Luisa
rasgou o papel e desembrulhou a caixa. Era uma
boneca do tamanho dela e quando apertava a cintura,
ela falava. Puxou a boneca pelos cabelos e foi
arrastando pela casa. Achou graça da animação da
menina.

Os parentes logo chegaram e num instante a casa


estava cheia. O papo era animado e a conversa rendia.
A família de Roberto gostava de vinho e quando se
juntavam, após alguns goles, só contavam piada e
casos engraçados. As risadas eram ouvidas de longe.
Na hora da ceia, se reuniram em volta da mesa,
rezaram e depois comeram. Fizeram um amigo oculto e
na hora de entregar os presentes era uma farra. Foram
dormir bem tarde e ainda combinando de fazer um
churrasco no dia seguinte. Marta preparou a mesa
como sempre fazia todo ano, Bete cozinhou e Lívia,
Fabrício e Eduardo ficaram na sala conversando.
Quando deu a hora, todos foram para a sala de jantar.
Sentaram-se à mesa e fizeram uma prece, depois
comeram. Bete ficava sempre animada com Natal, após
o jantar, se juntaram perto da árvore de Natal e Lívia
entregou os presentes. Havia comprado no dia em que
tinha saído com Marina. Fabrício também entregou
presentes e por estar com raiva da prima, não entregou
o dela. Eduardo também levou presentes para Bete e
Marta e para Lívia deu um livro.

Passado o feriado do Natal, Marina foi para a casa na


cidade e nas horas vagas aproveitava para estudar
piano. Passeou com a sobrinha e se encontrou com
alguns amigos, saiu com eles e matou a saudade de
todos. Monica passou o Natal em Jaú e foi com Marina
até a casa da professora que lhe dava aula de música.
Contaram as novidades sobre a faculdade.

- Então está tendo aula com a famosa Vera Mendonça.


– a professora comentou.
- Nossa, levei tanto susto, eu gostava do outro
professor.
- Mas lembre-se que é um privilegio ter aula com ela.
- Eu sei, ela realmente é uma excelente professora.
- Fico orgulhosa que esteja caminhando tão bem, você
tem futuro Marina e sabe que torço muito por você. – a
professora sorriu.
- Obrigada, sei que tenho uma torcida grande. – sorriu
também. – Monica que está importante, agora faz parte
da orquestra.
- Ah que isso, eu só fiz uma participação, nem sei se
vou conseguir vaga, tem que fazer uma prova ainda.
- Ela substituiu um aluno que passou mal e foi muito
elogiada.
- Que maravilha Monica! Estou muito contente com
essas notícias. Vocês merecem pelo esforço que
tiveram para chegar a uma federal. Meus parabéns!

Despediram-se e já voltando pra casa, Marina


perguntou para a amiga:
- Volta quando para o Rio?
- Dia trinta e um de manhã, chego lá na hora da virada
praticamente. Vou passar com meu gatinho na praia.
- Isso não é perigoso Monica?
- E por que seria?
- Muita gente, sei lá, pode dar confusão.
- Marina, se fossemos pensar nas coisas que podem dar
confusão ou problema nessa vida, não faríamos nada.
- Sábias palavras. Você está certa. – Marina achava a
amiga doidinha, mas dessa vez ela falava a verdade.

O ano novo ela passou apenas com a família em casa,


uma tia havia convidado para ir à praia, mas ela não
quis. Perto da virada, ela deu uma desculpa para sair
de casa e ligou para Lívia.

- Oi amor. Tudo bem?


- Ei meu anjo. – Lívia sorriu. – Como está?
- Morrendo de saudade. – falou com voz manhosa.
- Eu também.
- Liguei pra desejar uma boa passagem de ano e que
no ano seguinte nós possamos ter mais momentos
felizes juntas e com nossas famílias.
- Se Deus quiser. Mamãe está mandando um abraço e
desejando feliz ano novo.
- Mande outro pra ela. O pessoal aqui manda
lembranças também. Eu saí de casa pra poder falar
mais a vontade com você.
- Está dando sopa na rua é? Espero que seu ex não
tenha te importunado.
- Que nada, nem vi aquele palhaço.
- Acho bom.
- Boba ciumenta, nem que eu veja, dele não quero
nada.
- Estou louca pra você voltar. Tenho uma surpresa.
- Surpresa?
- Sim, mas nem adianta querer dica, que dessa vez
você só verá quando chegar aqui.
- Agora fiquei curiosa.
- Isso é bom.
- Olha amor, não vou me estender, pra conta não ficar
cara, eu liguei pra ouvir sua voz e pra dizer que te amo
muito e te pedir uma coisinha.
- O que? – Lívia até ficou preocupada.
- Quando eu chegar quero muitos beijos e abraços
apertados pra poder matar a saudade.
- Isso eu faço com o maior prazer, pode apostar.

Depois de desligarem, Marina voltou pra casa e foi


ajudar a mãe nos preparativos do jantar de ano novo.

Lívia desligou o telefone com um sorriso nostálgico no


rosto.

- Matando a saudade? – Marta perguntou.


- Só um pouco.
- Posso saber que surpresa está preparando?
- O presente de Natal dela. Ela fez uma ceia um dia
antes de viajar, comprou presente pra mim e tivemos
uma noite muito romântica. – Lívia falava ao mesmo
tempo em que lembrava. – E eu não tinha preparado
nada para ela. – ficou chateada.
- E ela nem te cobrou, não é?
- É isso que fico impressionada. Qualquer outra pessoa
teria ao menos perguntado ou insinuado sobre
presente. Marina não, ela é totalmente desprendida
dessas coisas.
- Ta vendo? O que adianta ter maturidade ou dinheiro,
talvez classe? Simplicidade é uma das qualidades mais
extraordinárias num ser humano.
- Não quero perdê-la mãe.
- Só a perderá se você mesma deixar. O que pensa em
fazer de surpresa?
- A senhora vai me dar uns tapas se eu contar.
- Juro que não. – Marta cruzou os dedos jurando.
- Quero comprar um carro pra ela. Marina fica pra lá e
pra cá de ônibus e carro dará mais conforto e qualidade
de vida a ela.
- Ela nem tem habilitação Lívia.
- Ela arruma ué, já queria mesmo colocá-la na
autoescola.
- Você quem sabe, se acha que será um bom presente,
eu não vou discordar. Não faça isso com culpa no
coração. Não a traia, depois pensando que um presente
caro vai redimir do seu erro. – Marta era cortante nas
palavras e Lívia nem discutia, sabia que a mãe estava
certa.

Na passagem de ano ela ficou com a família na varanda


como sempre faziam para ver os fogos e depois
jantaram. Lívia ainda permaneceu mais uns dias em
Mauá, mas voltou para o Rio para trabalhar, resolveu ir
sozinha para o escritório adiantar algumas coisas e
depois tirar uns dias para ficar com Marina quando ela
voltasse. Antes de ir embora a mãe lhe recomendou
muita sensatez e ponderação, para que nada de mal
acontecesse.

Acordou cedo e foi para o escritório, se trancou lá e


começou a ler uns processos, fazendo anotações.
Estava absorta quando o telefone da sua mesa tocou.
Teve receio em atender, pois não conhecia o numero.

”Atendo ou não? Ah, atendo!”

- Alô!
- Ué, cadê a secretária?
- Camila o que você quer?
- Quero te ver.
- Não! Nem pensar. Me esqueça, o que você quer de
mim, muitas outras mulheres têm a oferecer.
- Quem disse que quero só sexo, Lívia eu gosto de
você, sabe que sempre a admirei e se não demos certo
da outra vez foi por pura falta de sorte. Nunca achei
que fosse se relacionar seriamente, por isso não levei
fé.
- E agora que estou namorando, ou melhor, noiva, você
está me dando crédito?
- Pra falar a verdade sim, mas aquela garota não é
para você. Ela é nova, imatura, bobinha. Você precisa
de uma mulher de verdade e isso você sabe que posso
te oferecer. Temos uma carreira brilhante, dinheiro,
estabilidade.
- Mas não tem o que mais preciso.
- O que? Posso ser o que você quiser. Vai me dizer que
não gostou daquele dia no carro? Eu pude sentir que
sim. Você estava selvagem, procurava algo que parecia
não ver a muito tempo... queria calor, queria algo
quase violento.
- Você não sabe o que quero Camila, não invente as
coisas. – Lívia já começava a suar.
- Eu sei o que você quer... Você quer uma mulher
fogosa, que te faça sentir prazer e que lhe mostre isso
também. Que seja quente na cama, que esteja como
eu agora... – pausou e soltou um gemido em seguida. –
Molhada, ansiando por seus toques, querendo sua
língua entre minhas pernas.

Lívia batia o pé no chão agitada. Camila voltou a falar.

- Sabe que desde aquele dia eu não consigo mais


esquecer você e toda vez que me toco é em você que
penso e fico mais excitada, como agora. Vem resolver
este problema, vem... – falava como uma gata no cio.
Lívia bateu o telefone e passou as mãos no cabelo.
Sentia-se encurralada, não por Camila, mas por seus
instintos. Deixou tudo no escritório e saiu de lá
correndo. Entrou no carro e foi dirigir, isso a acalmava.
Só chegou em casa tarde da noite, deitou na cama e
dormiu.

No dia seguinte não foi para o escritório, temendo a


ligação de Camila. Trabalhou em casa mesmo. Pediu
almoço e continuou trabalhando, achou que enfiar a
cabeça no trabalho seria a melhor coisa. Por volta das
quatro da tarde um cliente ligou para esclarecer umas
dúvidas.

- Olha, senhor Augusto, fica difícil lhe falar dos termos


do processo, pois não tenho nada em mãos. Está tudo
em meu escritório.
- Eu sei Lívia, mas estou com certa urgência. Peço até
desculpa por ligar em sua casa, mas é que de fato
preciso saber se posso pedir por mais essa indenização
ou não.

Lívia respirou fundo, pensou que por ser um cliente


muito bom, deveria fazer uma graça.

- Tudo bem, vamos ao meu escritório. Nos


encontramos lá daqui uma hora.

Tomou um banho rápido e se arrumou, não quis um


traje social como andava durante a semana, pois não
estava em horário de trabalho. Vestiu uma calça jeans,
um tênis e uma blusa de malha. Quando chegou
Augusto já a esperava, os dois sentaram em sua sala e
ela pôde esclarecer o que ele tanto pediu.

- Muito obrigado Lívia, sei que está de férias e que


Fabrício foi quem pegou esse processo, mas sem
querer desmerecê-lo, confio mais quando falo com
você.

Ela sorriu toda satisfeita com o elogio e agradeceu.

- Eu agradeço a confiança senhor Augusto.

Levou o cliente até a porta e ia saindo também, quando


pra seu desespero Camila saiu do elevador.

- Ainda bem que te achei aqui, preciso muito conversar


com você.
- Estou de saída juíza. Podemos marcar na semana que
vem. Só vim atender um cliente por extrema urgência.
- Meu caso é urgente também, conversamos ontem,
lembra? – Camila falou dissimulando.
- Como eu lhe disse, no momento não posso resolver
aquele problema. – Lívia olhava para Camila e para
Augusto, que não entendia nada.
- Bom, eu vou indo, não quero atrapalhar. – Augusto
aproveitou o elevador e desceu, largando as duas
sozinhas.

Assim que se viu só com Lívia, a juíza foi logo


avançando para cima dela.

- Claro que pode resolver meu problema.

Camila foi empurrando a promotora para dentro do


escritório e bateu a porta, fechando-a.

- Como é que você descobre onde estou? Está me


seguindo?
- Meu faro segue você, porque é a única capaz de
resolver meu problema. – arrancou a blusa, ficando
somente de sutiã e saia, além das sandálias. – Sei que
você também quer... você não resiste. – arrancou a
saia e mostrou-se somente com a lingerie de renda
branca.
Lívia se afastava como se fugisse de uma onça. Olhava
para Camila e sentia a respiração pesada.

- Vem Lívia, sou todinha sua... – Camila enfiou a


própria mão dentro da calcinha e se masturbou, tinha
uma expressão sexy e começou a gemer baixinho,
aquilo ouriçou os instintos da morena. Lívia a empurrou
para o sofá próximo enfiando a cabeça entre as pernas
dela. O cheiro era luxuriante e ela não aguentou. Sugou
o sexo de Camila até que ela não aguentasse mais e
gemesse alto, fizeram sexo em cima da mesa, no chão,
na cadeira. Camila a arranhava e gemia alucinada,
fazendo Lívia perder a noção do que estava fazendo. A
juíza ficou de quatro e empinou a bunda para Lívia, que
enfiou os dedos em sua vagina e com estocadas fortes
levou-a ao orgasmo, caindo no chão de cansaço.
- Estou morta, você acabou comigo.

Lívia nada falava, estava estática, com os olhos


perdidos.

- Quer ir pra minha casa? Podemos tomar um banho


relaxante de banheira e comer alguma coisa. Depois
podemos ir pra cama...
- Eu quero ir pra minha casa... – Lívia falava tão baixo
que Camila não ouviu.
- O que disse?
- Casa... quero ir... pra minha... – olhou para Camila
como se despertasse. – Saia! – gritou. – Sai da minha
vida Camila, você não vai conseguir arruinar minha
vida. – Levantou e vestiu suas roupas rapidamente e
tirou Camila de lá. Fechou o escritório e desceu. A
juíza, ainda atordoada vestiu-se rapidamente e desceu.
Lívia havia deixado o carro na rua mesmo, pois havia
encontrado uma vaga. Quando acionou o controle para
abrir o carro viu Monica passando com Hugo.
- Lívia! Quanto tempo! Não a vejo, desde o ano
passado! – Monica brincou. – Piada mais sem graça,
todo mundo fala isso.
- Oi Monica, tudo bem? – Lívia não correspondeu à
piada.
- Tudo ótimo.
- Achei que estava em São Paulo.
- Estava, cheguei um dia depois de Marina e voltei dia
trinta e um pra cá. Vim ficar com Hugo.

Lívia teve inveja do rapaz, pois ele passara o réveillon


ao lado da namorada e ela não. Marina não era como
Monica.

- Marina deve vir daqui uma semana mais ou menos,


no máximo dez dias. – Monica parecia saber dos
pensamentos da outra. – Ela disse que está morrendo
de saudade e só fala de você.

Nesse instante Camila passou por eles e falou para


Lívia.

- Adorei! Pode apostar que vamos repetir a dose.

Lívia trincou os dentes e teve vontade de dar um tiro


nela. Monica olhou desconfiada e nada falou. Hugo deu
um sorriso sem graça e também não comentou.

- Vocês estão indo pra onde? Querem carona?


- Não, estamos indo para a casa de um amigo de Hugo,
fica a duas quadras daqui.
- Tudo bem. Preciso ir então. – falou sério. – Bom início
de ano para vocês.
- Pra você também. – Monica falou olhando para Lívia e
sem entender. – Que será que deu nela? Estava séria.
– perguntou ao namorado ao mesmo tempo em que via
a promotora sair com o carro.
- Sei não, isso não me cheirou bem.
Monica não quis estender o assunto, mas ficou
pensativa.

Lívia foi pra casa tomou um banho frio, queria tirar o


cheiro de Camila do corpo dela. Saiu horas depois e seu
celular gritava praticamente, viu que era sua mãe e não
quis atender. Tomou um remédio e dormiu até no dia
seguinte. Queria esquecer o que tinha feito.

Aproximava-se o dia de Marina de ir embora e ela já


sentia falta da família. Ficou mais agarrada a eles e
aproveitou bem a companhia da sobrinha. Falava com
Lívia às vezes, mas somente conversas rápidas. Ela já
tinha voltado ao normal de sua rotina no escritório e
combinou com Marina que tiraria uns dias de folga para
ficar com ela quando voltasse. Na verdade queria fazer
uma viagem e se conseguisse programar a tempo,
levaria Marina para um passeio.

Fabrício conversava com Lívia somente o necessário e


tinha parado com as brincadeiras. Ela sentiu a diferença
no relacionamento deles, mas não comentou nada.
Eduardo a tratava normalmente e desde o dia que se
encontrara com Camila, não falou mais com sua mãe,
sabia que ela perceberia alguma coisa.

- Fabrício, venha até minha sala. – chamou-o pelo


telefone.

Ele apareceu em poucos minutos.

- Pois não.
- Vou sair, estou deixando os relatórios que me pediu
aqui nessa gaveta. Não volto mais hoje, feche o
escritório, por favor.
O rapaz ficou tentado a perguntar aonde ela iria,
imaginou que fosse sair com Camila, mas se segurou.
Lívia saiu sem dar paradeiro, entrou no carro e foi
direto as concessionárias. Queria um carro no estilo
hatch para a noiva. Não sabia qual seria a preferência
de Marina, pois ela nunca nem comentou sobre carros,
dizia apenas que os de Lívia eram confortáveis.
Procurou então a Citroen e lá viu vários carros, mas um
em especial chamou sua atenção, um modelo
esportivo. Ele tinha tecnologia e serviria para estrada
de chão. Lembrou-se do sitio da família dela.

“Quando ela for pra lá, vai poder colocar o carro na


estrada sem medo.”

O vendedor se aproximou e viu que ela se interessava


pelo veículo.

- É um modelo muito completo, senhora. Tem GPS


integrado, Viva-voz Bluetooth com comandos no
volante e porta USB e entrada para iPod. Tecnologia do
computador de bordo e do piloto automático com
regulador e limitador de velocidade. Sensor de chuva,
faróis com acendimento automático e função follow-me.
- Isso tudo? – Lívia se espantou.
- Além de air bag frontal duplo que reforça a
segurança. O sensor de estacionamento ativa-se se a
marcha ré for acionada e emite sinal sonoro caso haja
obstáculos. Sistema de fixação do estepe na porta
traseira e é o único com abertura por telecomando da
chave. Essa tecnologia deu à equipe de projeto Citroen
um prêmio de inovação na área de engenharia
automobilística.
- Meu deus! – Lívia se divertia.
- E a Citroen, sempre atenta em como reduzir impactos
ambientais, optou por produzir Este modelo com 85%
de seus materiais recicláveis e 20 quilos de materiais
não nocivos ao meio ambiente.

Lívia achava graça da fala decorada do rapaz.

- E ele fala com a gente? Dança e resfolega? – riu


divertida fazendo o rapaz rir também.
- Por pouco senhora, é um excelente carro e ainda tem
o maior porta-malas entre seus concorrentes.
- Tudo bem, você me convenceu. Vou levar.
- Sério? – ele nem acreditou. – Digo... perfeitamente
senhora. Vou providenciar a documentação, o carro
chegará em trinta dias.
- Que? Não! Eu quero que entreguem amanhã.
- É que este modelo somente sob encomenda.
- Mas por que será que nessa cidade tudo tem que ser
encomendado? – coçava a cabeça. – Eu gostei desse
carro aqui, não posso levá-lo?
- Mas este é expositor da loja, senhora.
- Não interessa, quero levá-lo. Olha, tenho um amigo
meu que tem uma revendedora de carros, se eu não
comprar aqui, comprarei com ele e lá eu saio dirigindo
o carro que quiser. Optei por vir aqui, porque tem uma
publicidade informando de taxa 0% de juros.
- Vou conversar com meu gerente.

O rapaz saiu e logo voltou com o suposto gerente, que


tinha um sorriso mecânico no rosto.

- A senhora pode me acompanhar, vamos faturar o


carro.

“A história do tenho um amigo... sempre funciona.”

Lívia sorriu satisfeita. Faturou o carro no nome de


Marina, tinha pedido a documentação dela uma vez e
guardou por garantia. Lembrou que ela passou sem ao
menos perguntar o motivo, confiava plenamente nela e
por isso Lívia sentiu remorso.
- Como será a forma de pagamento?
- A vista.

O vendedor olhou satisfeito para ela.

Lívia acertou tudo e foi para casa. Ligou para Marina


querendo incitá-la sobre a surpresa, mas seu telefone
não atendeu. Insistiu e nada, aproveitou e ligou para a
mãe.

- Oi filha! Esqueceu que tem mãe?


- Não dona Marta, estava trabalhando muito e não tive
tempo.
- Sei... – a voz era desconfiada. – Como andam as
coisas?
- Bem, trabalhei muito. Amanhã vou ao escritório
somente para assinar algumas coisas e depois é folga,
vou sair com Marina que chega depois de amanhã.
- E aquele problema?
- Está resolvido.
- Tem certeza Lívia?
- Tenho mãe.
- Estou confiando em você.

Lívia prendeu a respiração para a mãe não perceber.

- Pode confiar.
- Então, diga a Marina que tenho saudade dela e que se
quiserem podem passar uns dias aqui.
- Pode deixar. Fica com Deus mãe.
- Você também e juízo minha filha.

O coração de Lívia se apertava cada vez que fazia uma


coisa errada, mas ela confiava que sairia dessa
situação. Queria somente que Marina voltasse e tudo
estaria resolvido. Na manhã seguinte tentou falar com
ela e conseguiu, mas o sinal era muito ruim. A loirinha
alegou que estava na estrada do sítio e lá o telefone
não pegaria direito. Lívia voltou a concentrar-se no
trabalho. Não quis almoçar na rua temendo encontrar
com Camila.

“To parecendo uma idiota com medo.” – pensou


irritada.

Pediu um almoço simples e voltou ao trabalho.

- Lívia, tem um tal de Anderson querendo falar com


você, diz que é sobre um carro. – Fabrício falou
entrando na sala.
- Vou atender. – pegou o telefone. – Alô... tudo bem.
Pode entregar aqui no meu escritório, estarei aqui até
as seis horas. E não esqueçam, por favor, o que pedi
que colocassem no carro. Obrigada.

A curiosidade foi mais forte e Fabrício perguntou.

- Trocou de carro?
- Não. – respondeu sem olhar para ele.
- Comprou outro, pra que meu Deus? É coleção?
- Não é coleção. – continuava olhando os papéis.
- Qual modelo?
- Um esportivo da citroen.
- Que maneiro!

Lívia se mostrava indiferente. Fabrício viu que não tinha


diálogo, então saiu da sala.

Na recepção, Érica estava ao telefone quando viu


Camila chegar. Já a conhecia, mas ficou na dúvida se
ela era uma das pessoas de passe livre ou não.

- Quero falar com Lívia. – Camila era quase arrogante.


- Um minuto, por gentileza. – Na dúvida Érica resolveu
perguntar a chefe, então ligou para sua sala. – Lívia,
senhora Camila está aqui fora querendo falar com você.
- É urgente! – a juíza falou alto.
- E diz que é urgente.
- Diga que espere, pois agora não posso, estou em
reunião com um cliente.

Érica sabia que era uma desculpa, pois não havia


ninguém na sala de Lívia.

- Ela pediu que esperasse um minuto, está com um


cliente em sua sala e já deve sair.
- Tudo bem. Me sirva um café por favor.

Marina desceu do ônibus animada, iria fazer uma


surpresa para Lívia. Combinou que chegaria no dia
seguinte de manhã, mas havia pegado um ônibus em
horário diferente, chegando um pouco mais tarde no
Rio. Pegou um táxi e foi para o escritório da noiva.

Érica fez o que a juíza pediu e voltou ao seu lugar.


Fabrício foi lhe entregar uma pasta e viu Camila
sentada, não conseguiu disfarçar o espanto. Chamou
Érica num canto e perguntou o que ela queria.

- Quer falar com Lívia, mas ela disse que está em


reunião com um cliente.
- Hein?
- Fabrício ela não quer atender. – Érica cochichou.
- Ai... ai... – o rapaz revirou os olhos. Quando olhou
para o lado viu Marina apontando na porta. – Jesus
misericórdia! – andou para recebê-la. – Marina! Veio
mais cedo!
- Fala baixo que eu quero fazer uma surpresa. – ela o
repreendeu.
- Surpresa mesmo! Vai lá então.
Camila olhava para Marina e quando a viu entrando se
lembrou de quem se tratava.

- Ei, qual é o problema? Por que ela pode entrar para


falar com Lívia e eu não?

Érica e Fabrício ficaram sem saber o que dizer.

Marina foi entrando, puxando a mala pela alça. Bateu


na porta da sala de Lívia e abriu, ela nem olhara,
pensando ser Fabrício ou Érica incomodando.

- É nessa sala que está a morena mais linda do mundo?


– perguntou sorrindo.

Lívia olhou surpresa para a porta.

- Meu amor! – Levantou correndo para abraçá-la.


- Oi meu bem. – Marina recebeu o abraço apertado.
- Quando chegou? Como... por que não me avisou?
- Queria fazer surpresa. – Marina sorriu.

Beijaram-se com tanta paixão que as pernas de Marina


bambearam.

- Morri de saudade. – Lívia falou abraçando-a


novamente.
- Eu resolvi vir antes, dei uma desculpa em casa
falando que precisava ensaiar e vim. Peguei um ônibus
que sai de lá bem cedo, praticamente de madrugada.
- Fez boa viagem?
- Fiz sim, dormi né, como sempre. Está ocupada? Eu
vou para o apartamento e te espero...
- Não! Fique aqui comigo. – Lívia imediatamente se
lembrou de Camila lá fora e não quis que Marina fosse
embora. – Não me demoro, estou só esperando uma
encomenda e depois eu vou. – beijou Marina
novamente a apertando contra seu corpo, estava muito
feliz com a surpresa. A loirinha retribuiu se entregando
totalmente aos carinhos dela, que se apoiou em sua
mesa e puxou Marina para ficar entre suas pernas.
Suas mãos percorriam aquele corpo sentindo crescer a
vontade de tê-la ali mesmo.
- Morri de saudade de você. – falou entre beijos.
- Eu também. – a voz de Marina saiu quase num
gemido, sentia as mãos de Lívia seguirem para um seio
e se arrepiou. – Amor... – falou manhosa.
- Que foi? – Lívia sussurrava ao mesmo tempo em que
mordia a orelha dela.
- Não é perigoso? – mordeu o queixo da morena.
- Você trancou a porta? – Lívia desceu as duas mãos
para a bunda de Marina, quase a suspendendo para seu
colo.
- Não...

Nesse instante bateram na porta e ela subiu as mãos


para a cintura de Marina abraçando-a, enquanto a
loirinha beijava seu colo e sorria da cara que tinha
feito. Lívia respirou fundo e falou gravemente.

- Entra.

Fabrício entrou apressado.

- Lívia, dá licença. Marina, me desculpa, mas é que...

Camila o empurrou.

- É que eu quero falar com... – Camila parou vendo a


cena e apertou a mandíbula. Lívia estava abraçada a
loirinha demonstrando total intimidade e Marina tinha
um sorriso tímido.
- Posso saber o que está acontecendo? – Lívia revidou.
- Estou esperando lá fora faz um bom tempo para falar
com você e sua secretária não me deixa entrar. Disse
que atendia um cliente, depois essa menina entrou e foi
direto falar com você. Qual é a diferença? – Camila
tinha o cenho fechado.
- A diferença é que ela é minha noiva e pode vir falar
comigo quando e a hora que quiser, mesmo eu tendo
cliente ou não. – Lívia ainda estava abraçada a Marina.
– Qual é o assunto Camila?

Fabrício assistia a tudo sem mexer um músculo.


Somente quando Lívia mencionou o nome da mulher,
que Marina lembrou dela.

- Preciso ter uma conversa em particular.

O telefone da mesa de Lívia tocou e ela atendeu


soltando Marina de seus braços. Era o homem da
concessionária informando que o carro estava lá
embaixo e se ele poderia subir para entregar os
documentos.

- Pode subir, estou aguardando.


- Camila, não posso falar com você. Tenho um assunto
pendente a tratar agora e o que você quer não é
urgente. – a olhou nos olhos.
- Tem certeza?
- Absoluta. Marina chegou de viagem hoje e quero sair
cedo para aproveitar a companhia dela, temos
compromissos mais tarde. – olhava para a loirinha com
um sorriso sem-vergonha nos lábios.
- Ok Lívia, você quem sabe, mas ainda nos veremos...
de novo.

Camila olhou para Marina de cima a baixo e depois para


Fabrício que a observava cinicamente. Saiu da sala com
um andar provocante e nem olhou para trás.

- Lívia, já posso ir pra casa? – Fabrício perguntou.


- Terminou tudo? – Lívia estranhou a pergunta.
- Sim e também não me sinto bem. De repente me deu
um mal estar, fiquei enjoado... ou enojado, não sei
direito. – olhou para a prima com rancor.

Lívia o encarou apertando os lábios, mas não disse


nada. Apenas o liberou e voltou sua atenção para
Marina.

- Preciso receber um cliente aqui, pode me esperar um


pouco?
- Claro.
- Esse cliente é meio chatinho e pode não gostar de ver
mais alguém na sala, poderia esperar na sala de
Fabrício? É coisa rápida, prometo.
- Claro amor, quando terminar me chame.
- Ta bom.

Beijaram-se e Marina saiu. Quando entrou na sala de


Fabrício ele ainda estava lá.

- Está se sentindo mal? Quer que ajude em algo?


- Não Marina, é só um mal estar. Já vai passar. – o
rapaz olhou para ela e teve pena. – Vou pra casa e
Eduardo dá um jeito em mim.
- Isso aí, nada como um colo do namorado pra passar
qualquer desconforto.
- Verdade.

Ia saindo quando voltou-se e falou com Marina.

- Marina, Lívia tem te tratado bem?


- Claro, como sempre.
- Não brigaram mais?
- Não, desde aquela vez, não mais.
- Ok. Fica com Deus menina. Até mais.
- Até e melhoras. – Marina ficou sem entender o motivo
das perguntas.

O homem entrou e deu as chaves do carro para Lívia e


também uma pequena pasta com manual, certificado
de garantia e proposta de seguro do carro.

- Muito obrigado pela preferência senhorita Lívia, já lhe


digo que fez uma boa aquisição. Gostará muito do
carro.
- Espero que sim, mas não é pra mim, é para minha
noiva e ela ainda vai tirar a primeira habilitação.

O homem fez uma cara de espanto nada disfarçada,


mas soube contornar e sorrir amarelo como a maioria
fazia. Lívia achava graça do espanto das pessoas e se
divertia. Apareceu na porta da sala de Fabrício sorrindo
ainda.

- Prontinho linda. Vamos?


- Vamos. Vou pegar minha mala, ficou na sua sala.
- Já está aqui comigo, eu levo pra você.

As duas saíram de mãos dadas e Érica ficou com a


responsabilidade de fechar o escritório. Lívia tinha um
sorriso bobo nos lábios e imaginava a cara que Marina
ia fazer quando visse o carro. Assim que pisaram na
garagem a morena avistou o carro ao lado do seu como
pedira ao vendedor. Ao se aproximarem mais ela
abraçou Marina por trás e cobriu seus olhos.

- Que isso amor?


- Isso é uma surpresa. Vem andando que a levo.
- Mas não estou vendo nada ué.
- Vou lhe guiando, confie em mim.

Pararam de frente para o carro e então Lívia a soltou.

- Surpresa!

Marina abriu a boca querendo falar, mas as palavras


não saíram. O carro estava envolto numa fita com um
laço vermelho.

- Meu Deus... mas... – gaguejava sem saber o que


dizer.
- Gostou? – Lívia a abraçou por trás, pousando a
cabeça no ombro dela. – É meu presente de Natal pra
você.
- Eu... – Marina passou a mão no carro, quase não
acreditando. – Mas... – virou-se para Lívia e falou
ternamente. – Amor, pra que faz uma coisa dessas?
Um carro? Eu nem sei dirigir.
- Não sabe ainda, mas a partir da semana que vem vai
começar a fazer aulas. Vou levá-la a uma autoescola e
matriculá-la.

Marina ainda custava a acreditar.

- Por que você tem essa mania de me deixar sem


palavras?
- Eu faço isso com as pessoas. – Lívia sorriu. – E se
soubesse das tantas vezes que me deixou sem o que
dizer...
- Te amo muito. Muito mesmo, você é meu presente, o
melhor de todos. Não importa o que você me dá, o que
eu quero de você é carinho, amor, respeito e confiança.

Lívia desfez o sorriso quando Marina falou em


confiança.

- Você tem tudo isso de mim. – Marina continuou. – Eu


sou toda sua. – a abraçou o mais apertado que
conseguiu.
- Eu também te amo e você me tem por inteiro, é a
única pessoa nesse mundo que tem o melhor de mim.
– falou sinceramente.

Beijaram-se nem se importando onde estavam. Lívia


puxou Marina para entre os dois carros e não controlou
mais suas vontades. Beijou o pescoço dela, mordeu e
percorreu as mãos por todo aquele corpo que se
arrepiava aos seus toques. Estavam num amasso
gostoso quando o carro novo disparou o alarme. As
duas levaram um susto e Marina quase pulou no colo
de Lívia.

- Odeio esses sensores. – Lívia bufou de raiva.


- Como desliga isso?
- Não sei, tem que apertar algum botão desse controle
aqui. Agora, eu não sei qual é.

Lívia apertava um a um, até que o carro parou de


apitar.

- Aff, já não era sem tempo. Eu quero ir embora. –


Lívia falou irritada. – Quero fazer amor com você e
sempre tem alguma coisa me impedindo. – fez um bico
quase engraçado.
- Calma, já vamos. – Marina achava graça, mas gostou
do que ouviu. – E como vamos? Se temos aqui dois
carros e apenas uma motorista? Vai deixar qual aqui?
- O meu. Vamos no seu porque quero testar essa
belezinha.

Lívia abriu a porta para Marina, fazendo um gesto


cavalheiro.

- Primeiro a senhorita.

Deu a volta e entrou fechando a porta, imediatamente


o veículo as travou.

- Nossa que eficiência. Vamos ver o que ele faz. – ligou


e o veículo era bem silencioso.
- Nem faz barulho. – Marina falava reparando nos
detalhes do carro.
- Tem GPS, tem som e DVD que mandei colocar.
Marina passava as mãos no banco de couro e olhava a
tudo impressionada.

- É muito bonito.
- Gostou?
- Adorei! Nunca pensei nem em ter um carro, quanto
mais um desses.
- Então vamos ver se ele anda.

Saíram da garagem indo direto para casa. Lívia achou o


carro super macio e fácil de dirigir. Foi comentando
com Marina durante o trajeto que ela não teria
problemas para dirigi-lo. Marina se mostrava insegura
quanto a assumir a direção em um trânsito como o do
Rio de Janeiro, mas Lívia a tranquilizava dizendo que na
autoescola eles lhe dariam todo o suporte. Chegando
em casa, assim que fecharam a porta Lívia puxou
beijando sua boca, buscava sua língua e sentia o
abandono da loirinha em seus braços.

- Quero você... quero muito... – falava ao ouvido dela.


- Amor, preciso tomar banho... ahh... viajei a noite
toda. – Marina quase não conseguia falar.

A morena a pegou no colo e levou para o quarto.

- Minha gatinha quer um banho? É pra já. – a levou até


o banheiro, tirou sua roupa e a dela enquanto deixava a
banheira enchendo. – Tem mais uma coisinha que
queria lhe dar, mas será depois do banho.
- Mais presente? Não acha que já está bom.
- Não, esse é só uma coisinha pequena. – Lívia tinha
um sorriso moleque.
- Sei. – Marina riu. – Essas suas coisinhas pequenas...
– fez sinal de negativo com a cabeça, como que
dizendo que a morena não tinha jeito.
Entraram na banheira e se entregaram a muitas
carícias, perdendo totalmente a noção do tempo. Lívia
a enxugou e depois Marina fez o mesmo.

- Antes de mais nada, quero lhe entregar isso aqui. –


Lívia tirou uma caixinha de uma gaveta ao lado da
cama e abriu. Era um cordão em ouro branco, parecido
com o que Marina havia lhe dado e tinha um pingente
em formato de chave, muito delicado. – Comprei esse
cordão e essa chave aí é de responsabilidade sua. –
sorriu timidamente. Pegou outra caixinha e abriu, tinha
um coração com um buraco de chave desenhado
dentro. – Esse aqui fica comigo, no cordão que você me
deu.

Marina sorria do jeito tímido de Lívia.

- Vou guardar como meu bem mais precioso. – segurou


o rosto de Lívia entre as mãos e falou carinhosamente.
– O seu amor está guardado no lugar mais importante
do meu coração e cuidar de você é minha tarefa
predileta. Eu faço isso não porque gosto, mas porque
preciso também e me faz bem ver você feliz. – algumas
lágrimas teimosas caíam de seus olhos e nem Marina
entendeu o motivo do choro, estava de fato
emocionada.

Lívia também se emocionou e sorriu ao ouvir tais


palavras.

- Acho que esse foi o presente mais brega que lhe dei.
– riu.
- É, chave do coração... – Marina apertou os lábios num
gesto brincalhão. – Não tem presente que você me dê
que eu não goste, e sabe que não é pelos valores, mas
pelo que representam.
- Amo você Marina, por tudo que é e faz de bom na
minha vida.
Lívia a beijou e depois de muito tentar, finalmente ia
fazer amor com ela. Deitou Marina na cama, estava
totalmente nua, apenas usando o cordão e a aliança,
achou linda aquela visão. Percorreu seu corpo com
beijos até chegar a sua boca. Marina abriu as pernas
deixando a morena se encaixar entre elas. Por um
momento Lívia teve medo de perdê-la, ficou parada
olhando-a e admirando seu sorriso, seus olhos, o nariz
arrebitado. Marina sorriu da forma como Lívia mais
gostava e isso a despertou do transe.

- Você me ama? – perguntou receosa.


- Muito.
- Então diz pra mim. – falou enquanto beijava o
pescoço, o queixo, as bochechas.
- Eu te amo Lívia. – a loirinha sentia os beijos ardentes
em seu corpo. – Te amo muito... ahh... muito...

Lívia segurou os braços de Marina na altura de sua


cabeça como que a prendendo. Sorriu maliciosamente e
voltou a beijá-la. Encostou seu sexo no dela e se
esfregou bem lentamente, Marina enlaçou as pernas
em seu corpo e acompanhou os movimentos de Lívia.
Segurou em sua cintura pressionando para aumentar o
contato. Era uma sensação tão boa que A loirinha
fechou os olhos sentindo total prazer. Lívia aproveitou e
sugou um seio, mordendo o biquinho, passou para o
outro que pedia para ser acariciado e mordeu também.
Aumentaram seus movimentos, pois os corpos já
pediam por mais intensidade e quando o orgasmo
chegou, um beijo demorado selou aquele momento.
Como fazia, às vezes, quando chegavam ao clímax,
Lívia escondeu seu rosto no peito de Marina, sentindo
seu perfume. A loirinha a abraçou afagando-lhe os
cabelos.

- Meu amor está muito romântica hoje. – brincou com a


morena.
- E você não gosta? – Lívia a olhou.
- Gosto sim, mas tem vezes que você é... selvagem.
- E aí você não gosta? – Lívia apoiou os cotovelos para
não fazer muito peso nela.
- Também, na verdade eu gosto de qualquer jeito.
- Ah é? – Lívia mordia o colo de Marina fazendo-a rir.
- Que cara é essa?
- Estou pensando... – se fazia de desentendida.
- Posso saber em que?
- Em diversificar as coisas. – seu sorriso era safado.
- Olha, apesar de eu achar o seu sorriso lindo, ele me
diz também que você deve estar aprontando alguma
coisa. – mexia nos cabelos de Lívia.
- Amor, você já teve relação com homens, não é?
- Já, por que a pergunta?
- E você gostava da penetração?

Marina ficou vermelha até a raiz dos cabelos.

- Não precisa ficar com vergonha lindinha.


- Ai, mas que pergunta fora de hora. – Marina escondeu
o rosto com as mãos. – Eu gostava, às vezes... embora
não... – parou de falar.
- Não...? – Lívia aguardava a resposta.
- Ai amor, nunca consegui ter um orgasmo com
penetração. – baixou o olhar.

Lívia ficou surpresa com aquela declaração e pensou


bem no que falaria.

- E você sente vergonha por isso?


- Nunca parei pra pensar se é motivo de vergonha,
cheguei a pensar que o problema poderia ser comigo.
- É claro que não é. Caso contrário você não... bem
comigo você é bem diferente então. – Lívia sorriu.
- Ah para. – Marina cobriu o rosto novamente. – Com
você eu fico... nossa... não tem idéia.
- Tenho sim e fico toda boba. – Beijou a boca da
loirinha. – Enfim, o que eu quero saber é se você
aceitaria ter uma relação comigo com penetração.
Aceitaria? – perguntou desconfiada.

Marina sabia do que Lívia falava e a pergunta a pegara


de surpresa.

- Bom, podemos tentar. – falou mexendo no cordão de


Lívia. – Caso eu não me adapte, podemos parar?
- Claro amor. – Lívia acariciou os cabelos de Marina.
- E onde vamos arrumar um objeto desses? – Marina
fez aspas à palavra.
- Eu tenho um...
- O que? – Marina recuou e se afastou de Lívia. – Você
tem um... um... pênis em casa. – falou contrariada.
- É.
- E quer usar comigo? Com quantas mulheres já usou
isso Lívia? E agora quer usar comigo? – Marina tinha as
faces vermelhas. – Não tem mesmo vergonha na cara.
– se cobriu com o lençol. – Já até imagino por que quer
usar, quer comparar, não é? – falou chateada. – Ainda
mais que eu não tenho experiência e você já... já ficou
com mulheres bem mais velhas que eu.
- Amor, não é por isso. – Lívia veio se aproximando. –
Eu só falei que tenho um, não precisamos usar esse. –
beijou os lábios de Marina. – Posso comprar outro.
- E por que ainda tem esse guardado?
- Porque... porque.... sei lá! Guardei e nunca mais usei,
esqueci dele e me lembrei hoje. – Lívia a abraçou por
trás e beijou seu ombro. – Desculpa amor, não quis lhe
ofender. Vai desamarrar essa carinha se eu jogá-lo
fora? – a beijou de novo. – Hum?

Marina ainda tinha a cara emburrada e Lívia sabia como


melhorar aquela situação. Mordeu seu pescoço, a nuca,
alisou suas costas e arranhou de leve.
- Você pode me dar um beijo? – falou em seu ouvido.

Marina riu e lembrou-se de quando Lívia pedia beijos a


ela.

- Lembra que quando começamos a sair você me pedia


beijo?
- Lembro. E eu fazia aquilo morrendo de medo de você
me dar um fora.
- Que nada, você é malandra, sabe conquistar uma
mulher.

Lívia a virou para ficar de frente e olhou em seus olhos.

- Posso ter manha, posso ser galanteadora, como diz


Fabrício, mas quando a conheci fiquei tão insegura, que
quando estávamos a sós tinha receio de você não
querer nada comigo.

Lívia falou parecendo uma adolescente e Marina achou


bonitinho.

- Jogue fora esse negócio então, depois arrumamos


outro.

A morena levantou da cama e foi pegar o pênis,


colocou numa caixa, passou uma fita adesiva em vários
lugares, dificultando para abrir.

- Depois eu jogo no lixo na garagem, assim não


identificam de quem é. A cinta eu posso guardar?
- Pode.

A morena voltou pra cama e deitou ao lado de Marina.

- Estraguei nossa noite romântica?


- Não amor, vem aqui.
Lívia sentou-se de frente para ela e entrelaçaram suas
pernas.

- Está com fome?


- Na verdade estou. – Marina falou. – Não comi desde a
última parada do ônibus.
- Então está é morrendo de fome, conhecendo-a como
conheço. Quer jantar fora? – Mordeu o queixo de
Marina.
- Só se você estiver afim, qualquer coisa nós pedimos
comida aqui mesmo.
- Não, vamos sair. Quero uma noite completa.
- Meu Deus! Não liguei pra casa avisando que cheguei.
– Marina olhou o celular e o viu cheio de chamadas de
São Paulo. Ligou para a mãe e a tranquilizou dizendo
que o celular que tinha acabado a bateria e ela não
percebeu. Maria José lhe passou um sermão, mas ficou
tudo bem.

Enquanto isso Lívia ia mudando de roupa. Depois que


desligou, Marina foi procurar em sua mala uma roupa
nova que tinha comprado com o dinheiro que seus pais
lhe deram no Natal. Era um vestido com um decote
fazendo realçar os seios e o colo, acentuava a cintura e
era soltinho, caindo até pouco acima dos joelhos.
Calçou as sandálias e escovou os cabelos. Como não os
cortara, eles já passavam do meio das costas. Maquiou-
se de leve somente realçando os olhos e passou um
batom com brilho, sem ser muito chamativo. Olhou-se
no espelho e gostou da imagem que viu, parecia mais
mulher, mas sem perder o rosto angelical. Saiu do
banheiro e viu que Lívia terminava de se arrumar,
estava muito bonita também, usando uma calça preta
com risca de giz, uma blusa da mesma cor com um
decote mais discreto. Usava botas de salto, ficando
mais alta. Quando a morena terminou de ajeitar a
roupa, olhou para a porta do banheiro e viu Marina
encostada com as mãos para trás admirando-a.
- Nossa que mulher linda. – Lívia falou olhando-a. –
Será que ela quer sair comigo? – se aproximou.
- Ela quer sim. Até porque está doida pra dar um beijo
nessa morena linda que está convidando.

Beijaram-se por um longo tempo. Lívia se segurou para


não ultrapassar os limites.

- Estou me controlando aqui. – disse com a respiração


acelerada. – Vamos, senão não respondo por mim.

Saíram novamente no carro de Marina.

- Quero testar esse carro, mas logo você estará


dirigindo nele. Segunda você começa as aulas.
- Será que eu dou conta? – Marina falou insegura
- Claro meu anjo. E esse carro é automático, aqui você
só precisa acelerar e frear. Na escola você vai aprender
em um carro comum, com câmbio manual, mas vai ver
como é fácil.

Lívia passou em frente ao shopping da Barra e teve


uma idéia repentina.

- Amor, vou parar aqui rapidinho, você me espera?


- Claro, mas... Aonde vai?
- Comprar uma coisa que esqueci.

A rapidez com que ela subiu para ir a uma sexy shop e


voltou foi tão grande que Marina nem desconfiou do
que se tratava.

- Voltei.
- Que rápida.
- Quando eu quero, eu sou. – Lívia sorriu brincando e
beijando os lábios de Marina.
Chegaram ao restaurante e procuraram uma mesa mais
reservada.

- Nossa que lugar bonito. – Marina reparava no local.


- Eu gosto daqui porque é mais calmo. Pra jantar é
melhor, não gosto de barulho.

O garçom se aproximou e Lívia pediu champanhe.

- Vamos comemorar o natal e o ano novo atrasado,


depois vamos à praia pular as sete ondinhas. – brincou.
- Eu topo.
- Toda arrumada desse jeito, você quer ir mesmo?
- Claro. Eu tiro as sandálias ué.

Lívia achava interessante a disposição da loirinha.


Qualquer mulher no lugar dela reclamaria de desfazer
maquiagem e cabelo por conta do vento do mar.

Brindaram fazendo boas promessas para o ano que se


iniciava. Depois pediram o jantar e entre uma conversa
e um carinho, comeram sossegadas.

- Aqui tem uma sobremesa divina. – Lívia comentou.


- Você diz que eu gosto de doce, mas também fica me
instigando a comer. – Marina fez bico, rindo em
seguida.
- É que eu também estou com vontade, aí eu fico te
incentivando pra disfarçar. – sorriu como uma criança.
- Cara de pau.
- Posso pedir? – Lívia sorria cheia de vontade.
- Pode amor.

Chamou o garçom e pediu a sobremesa. Assim que ele


trouxe, Marina se aproximou mais da noiva e dividiu
com ela, lhe dando a sobremesa na boca. Estavam em
clima romântico quando o sorriso da morena sumiu de
repente. Camila entrava acompanhada de amigos e
sentava em uma mesa um pouco mais distante, mas
que dava perfeitamente para vê-las. Disfarçou e
continuou conversando com Marina, que nem percebeu.

- Gostoso mesmo, mas eu sou suspeita, porque adoro


doce.
- Fabrício diz que sou meio amarga, então não gosta de
mim? – Lívia falou brincando.
- Que bobagem é essa que ele falou? Você não tem
nada de amarga, você é uma delícia. - Marina parou
repentinamente depois do que disse.
- Como é que é? – Lívia riu.
- Digo... eu não acho que seja amarga... é... – ficou
vermelha.
- Desde quando precisa dessa vergonha toda pra falar
comigo? – Lívia achava graça da timidez da garota. –
Depois de quase um ano de namoro você ainda tem
vergonha comigo? – segurou as mãos de Marina
delicadamente.
- Não sei, é o meu jeito da roça. – baixou a cabeça
sorrindo.
- Você não é da roça e muito menos tem esse jeito,
você é tímida. E posso falar uma coisa? – Lívia chegou
bem perto e falou em seu ouvido. – Eu adoro! E me
deixa mais excitada, você não sabe o quanto.

Marina abriu um sorriso que encantou os olhos de Lívia.

- Meu Deus, como eu amo você. – olhava naqueles


olhos verdes.
- Também te amo. – Marina acariciou o rosto da
morena.

Só não via quem não queria o clima entre as duas e


isso não passou despercebido por Camila, que apertava
as mãos num gesto nervoso. Assim que terminaram de
comer, pediram a conta e se levantaram para ir
embora. Lívia fez questão de enlaçar a cintura de
Marina quando se levantaram e foi caminhando com ela
pelo restaurante passando em frente à mesa da juíza.
Não a olhou, mas sentiu que ela estava irritada. Marina
estava tão feliz que nem percebeu a presença dela.
Entraram no carro e como combinaram foram para a
praia pular as sete ondas. Marina tirou a sandália e
Lívia a bota. Caminharam descalças na areia por um
tempo e depois pularam as sete ondas uma rindo da
outra.

- Fica dando bobeira aí na água, que uma onda vem e


te pega. – Lívia brincou.
- Um banho de mar há essa hora seria revigorante. –
ela sorriu.
– Vai entrar molhada no carro novo?
- Ah não! Aí eu teria de ir a pé pra casa.

Lívia a abraçou e ficaram admirando as ondas


quebrando em frente a elas.

- Você acredita que as pessoas têm almas gêmeas? –


Marina perguntou.
- Se tem eu já achei a minha. – Lívia repousou o queixo
na cabeça da loirinha.
- Nunca podia sequer imaginar que me apaixonaria aqui
no Rio e que encontraria uma pessoa como você. –
virou-se e olhou nos olhos de Lívia. – Não é qualquer
felicidade que sinto, é a felicidade do amor e da
completude. É uma coisa que vai durar a vida toda.

Lívia a olhava com ternura, alisou seus cabelos e


apertou o corpo de Marina contra o seu.

- Depois de tanto que já aprontei e que já fiz as


pessoas passarem, não imaginei que Deus me daria o
privilégio de ter alguém tão especial como você ao meu
lado. – Lívia era sincera em suas palavras.
Não disseram mais nada, apenas se olharam e isso já
bastava para saber que se amavam. Beijaram-se com
delicadeza respondendo ao sentimento que as unia. Ao
final do beijo se olharam sorrindo com a sensação de
que não tinha mais ninguém no mundo.

- Vamos pra casa? – Lívia perguntou.


- Vamos.

De mãos dadas, voltaram para o carro e foram para o


apartamento. Lívia pegou uma sacola e subiu com ela.

- O que é isso que comprou? – Marina perguntou já


dentro do quarto.
- Eu comprei uma coisinha, mas não sei se vou usar
agora. – Lívia falou indecisa.
- Alguma roupa?
- Não. – a morena riu.
- Hum... – Marina estava curiosa, mas não insistiu.
- Vem cá. – puxou a loirinha e beijou seus lábios. –
Você confia em mim?
- Muito.

Apesar de ter perguntado, a resposta de Marina


perturbou Lívia por conta do que fizera com Camila.

- Sabe que nunca a machucaria, não sabe?


- Sei amor. – Marina acariciava o rosto da noiva ao
mesmo tempo em que a puxava para se deitarem na
cama.
- Faz amor comigo, por favor. – pediu com os olhos
marejados.
- Não me peça isso como um favor. Por que está
chorando? Que está acontecendo amor? – Marina era
tão carinhosa que Lívia não se controlou.
- Eu só quero que saiba que amo você mais do que já
amei qualquer outra pessoa na minha vida. E que se
um dia não estivermos juntas ou algo nos separar,
quero que se lembre que você foi a única pessoa que
conseguiu tocar a minha alma com seu sentimento.

Marina a abraçou, repousando a cabeça de Lívia em seu


peito. Sentiu um aperto no coração e a apertou contra
seu corpo tentando afastar aquele sentimento. Lívia
enxugou as lágrimas e olhou para a loirinha esboçando
um sorriso.

- Acho que estou ficando uma velha melancólica.


- Você não é velha, muito menos melancólica. Eu gosto
de você do jeitinho que é. – passou os dedos
enxugando as lágrimas da morena. – Te amo em cada
detalhe, em cada gesto e exatamente como é. – beijou
a morena com delicadeza.

Lívia esquentou o beijo mordendo o lábio inferior de


Marina, pressionou seu corpo a fazendo abrir as pernas
e enlaçar sua cintura. Lívia levantou seu vestido e
puxou a calcinha. Parou um momento lembrando-se do
que havia comprado no shopping e pensou se a noiva
aceitaria. Ficou com medo dela recusar e de repente
uma idéia surgiu. Pegou o lençol e vendou os olhos de
Marina.

- Mas o que está fazendo? – perguntou sorrindo.


- Estou a sequestrando e vendando seus olhos, porque
vou lhe torturar.
- Nossa que agressiva. – Marina sorria.
- Quero saber se confia mesmo em mim.
- Confio sim amor.

Lívia terminou de vendá-la e com o pedaço que sobrou


do lençol amarrou as mãos de Marina no alto de sua
cabeça.

- Pelo visto não poderei mesmo me mexer.


- Não.
A morena abriu mais o decote do vestido e deixou os
seios da loirinha a mostra.

- Hum... por qual vou começar? – sorriu


maliciosamente.

Marina também sorria, mas de uma forma mais tímida.

- Sabe o que eu acho interessante? – Lívia perguntou.


- Não.
- O arrepio da pele. E quando isso acontece com você,
seus seios ficam lindos e me dá vontade de morder. –
falava bem próxima de um seio, fazendo Marina sentir
os lábios dela.

Então Lívia começou a tortura. Mordeu, sugou e lambeu


o seio esquerdo deixando Marina louca de prazer.
Passou para o outro enquanto sua mão acariciava o
primeiro com os dedos, fazendo leve pressão. Usou a
língua demoradamente e soprou, fazendo a pele se
arrepiar de novo.

- Gostosa... – falou no ouvido de Marina.

Subiu o vestido e tocou o sexo da loirinha com os pelos


molhados.

- Está molhada? É pra mim? – passava a mão sobre os


pêlos.
- Ahan... – Marina respondeu quase num sussurro.
- Então eu vou aproveitar, sabe por quê? – a voz de
Lívia era rouca e sexy ao mesmo tempo.
- Não...
- Porque você tem um gosto delicioso e único. Um
gosto doce, que me deixa louca. – falava enquanto
começava a bolinar o clitóris de Marina. – Você é
macia, é delicada e eu gosto de provar cada pedacinho
seu. – falou descendo com beijos molhados, ardentes,
sentindo a loirinha contrair o corpo a cada toque. Parou
na barriga e mordeu levemente, depois pulou o sexo e
mordeu a virilha, as coxas, descendo para os pés e
beijando-os. Abriu o frigobar próximo a ela e tirou uma
garrafa de água de dentro dele, bebeu um gole e voltou
ao sexo de Marina, abriu os lábios enfiando a língua
gelada em seguida.
- Ahhh... – Marina gritou sentindo aquele contato.

Lívia lambeu e sugou o clitóris enlouquecendo a loirinha


que arqueava o corpo e gemia. Parou o que estava
fazendo e subiu beijando todo o corpo dela e falou em
seu ouvido:
- Quer mais?
- Quero.
- Sabia que estou insaciável hoje? E não vou parar até
você pedir? – mordeu o queixo de Marina e saiu de
cima do corpo dela. Tirou sua roupa e pegou o pênis e
a cinta.
- Onde você está? – Marina perguntou.
- Calma, estou voltando.

Lívia terminou de vestir a cinta com o pênis e voltou


para a cama. Cobriu metade do corpo da loirinha para
que ela não sentisse o pênis. Passou a língua nos lábios
dela, mordeu o lábio inferior, mordeu o queixo e desceu
a mão até o seio.

- Você gosta assim? – manipulava o bico e pressionava


com os dedos.
- Ahan...

Depois passou para o outro seio fazendo o mesmo.


Marina tentava se soltar, mas sem sucesso. Lívia
mordia, lambia, fazia carícias deixando o corpo da
loirinha pronto para o que queria.
- Amor, por favor... eu... ahh... eu quero...
- Quer? – Lívia perguntou enquanto sua mão
massageava o clitóris da loirinha.
- Quero... ah...
- Calma que ainda não é hora...

Desceu a boca até seu clitóris e sugou com vontade.


Quando sentia que ela iria gozar, parava e esperava um
pouco, deixando a loirinha descontrolada. Marina
chegou a perder a noção do tempo. Quando Lívia
percebeu o momento certo, se encaixou entre as
pernas dela e roçou o pênis em seu clitóris, depois
desceu colocando a pontinha em sua vagina. A loirinha
sentiu algo diferente e enrijeceu o corpo ficando séria a
princípio, então Lívia a desamarrou. E ela pode ver os
mais lindos olhos azuis olhando-a com carinho.

- Quero que confie em mim e se sentir algo eu paro na


hora.
- Ahan... – continuava olhando seriamente para Lívia

A morena voltou a beijá-la e a acariciar um seio, aos


poucos foi introduzindo o pênis ao mesmo tempo em
que rebolava, fazendo Marina rebolar junto com ela.
Quando percebeu que ela relaxara colocou tudo e
começou com estocadas leves, as duas movimentando
juntas. Marina arranhava os braços de Lívia, gemia
sentindo um prazer que nunca sentira antes. Lívia
aumentou as estocadas mexendo o quadril num
movimento circular. Seus lábios estavam colados e
suas línguas se buscavam com prazer, quando Marina
sentiu o gozo chegando mordeu o lábio inferior de Lívia
gemendo abafado e sacudiu o corpo em espasmos, mas
Lívia não parou com os movimentos e continuou
rebolando até que gozou fazendo Marina ter outro
orgasmo. Os corpos estavam perfeitamente encaixados
e pareciam um só. Respiravam ainda descompassados,
estavam vermelhas e suadas.
- Eu... eu nunca senti isso... na minha vida. – Marina
falou olhando para Lívia.
- A machuquei? – Lívia tinha certa preocupação.
- Não. – a loirinha sorriu. – Eu amo você. – beijou a
boca da morena.
- Ai... – Lívia sentiu uma fisgada nos lábios.

Marina então levou os dedos para ver o que era e


percebeu que havia uma marca de mordida.

- Ihh... – fez uma cara de preocupação.


- Que foi?
- Acho que a mordi. – passou o polegar nos lábios da
morena. – Desculpa amor. – estava envergonhada.
- Quer dizer que ao invés de ter uma gatinha, eu tenho
é uma cachorrinha. – levantou uma sobrancelha
sorrindo maliciosamente.
- Mas ela é vacinada. – Marina riu como uma criança,
fazendo Lívia rir também.
- Boba. – deu um selinho em Marina.

Lívia retirou o pênis com cuidado e desamarrou a cinta,


jogando-a de lado.

- Tive medo de machucar você. – olhava Marina com


carinho.
- Não machucou meu amor.
- Gostou?

Marina se envergonhou um pouco e baixou o olhar,


Lívia achou lindo.

- Gostei.
- Linda. – beijou a loirinha. – Linda! – beijos. – Linda! –
mais beijos. – Ai! – sentiu a boca doer. – Marina isso
vai ficar roxo.
- Desculpa! – cobriu o rosto com vergonha.
- Pelo menos vão saber que eu tenho dona.
- Podemos colocar gelo, vai ajudar. Vou lá buscar.

Levantou e foi até a cozinha para pegar gelo, achou


uma bolsa térmica e a levou.

- Isso aqui é bem melhor, vem cá, deixa eu ver como


está. – quando viu o tamanho da marca seus olhos
arregalaram, não passando despercebido por Lívia.
- Está feio não é?
- Um pouquinho, é que... parece que vai inchar. –
colocou o gelo e deixou um pouco, depois retirou e
beijou delicadamente o lugar, colocando o gelo
novamente.
- O que vai sarar não é o gelo e sim o beijinho de um
anjo. Se bem que esse anjo está ficando safado, ele até
me mordeu.

Marina corou.

- Foi num momento de descontrole. – a loirinha


respondeu.

Lívia achou muita graça da carinha dela.

- Se esse descontrole foi proporcional ao prazer que


sentiu, espero que se descontrole sempre e me morda
o quanto quiser.
- Sua sem-vergonha, você está é gostando. – deu um
tapa no braço dela.
- Eu adoro tudo que se refere a você. – sorriu com
carinho.

O tempo parecia parar quando estavam juntas. Não se


importavam com mais nada e queriam apenas se curtir.
Lívia sentia uma paz ao lado de Marina, que ninguém
mais conseguia proporcionar a ela. Era como se fosse a
sua sanidade.
Passaram o final de semana em casa e só saíram para
ir ao mercado. Marina cozinhou para Lívia, conversaram
e namoraram na varanda e somente no domingo
decidiram almoçar fora.

- Amor, podemos chamar Fabrício e Dudu? – Marina


perguntou.

Lívia se incomodou um pouco, pois imaginou que


Fabrício iria fazer piadinhas e jogar indireta, mas não
tinha como recusar o convite, pois aos olhos de Marina
não tinha motivo.

- Tudo bem, diga a eles que vamos almoçar no


restaurante Frontera do Jardim Botânico.
- Jardim Botânico? É perto de lá? Podemos ir? – Marina
pediu que nem criança.

Lívia riu da empolgação da garota.

- Podemos amor. Almoçamos e vamos pra lá.

Marina ficou animada, ligou para os garotos e


marcaram de se encontrar lá.

Chegando ao local, procuraram uma mesa mais


tranquila e sentaram. O garçom veio imediatamente e
elas pediram o que beber. Minutos depois chegou
Fabrício com Eduardo.

- Olá! Duas moças bonitas, agora acompanhadas de


belos rapazes. – brincou Eduardo.
- Estamos bem acompanhadas. – Marina sorriu.
- E aí Marina, como foi de férias?
- Foi ótima, meu irmão mandou um recado. Disse que
os peixes nunca mais foram os mesmos depois que
você pescou lá. – brincou com Eduardo.
- Ele está é com medo de que eu volte e pesque mais
peixes que ele.
- Ahan. Você quase acabou com os peixes do açude. –
Lívia brincou se referindo ao fato de que Eduardo não
pescara grande coisa quando estava no sítio.
- Estou aprendendo ora. Um dia chego lá. –
resmungou.
- Lívia! O que é isso na sua boca? Levou um tombo? Já
sei, uma picada de abelha! – Eduardo arregalou os
olhos.
- Abelha sim, uma abelhinha paulista. – falou olhando
para Marina.
- Jura que foi você? – falou apontando para Marina.
- Foi. – ela baixou a cabeça totalmente envergonhada.
– Eu...
- Ela se descontrolou. – Lívia passou o braço para
abraçá-la.

Eduardo morreu de rir das duas.

- Já pediram? Estou morrendo de fome. – Fabrício


falou.
- Só pedimos algo para beber.

O rapaz chamou o garçom e pediu o cardápio. Quando


ele o entregou quis se retirar, mas Fabrício fez sinal
para que esperasse.

- Já vou pedir amigo, só um minuto.


- Nossa que pressa, está com fome mesmo. – Marina
sorriu.

Eduardo sabia que Fabrício não estava a fim de ficar ali


e só aceitou o convite por causa de Marina, mas ele não
queria ficar muito tempo perto de Lívia.

- Ele não tomou café, na verdade acordamos há pouco


tempo. – Eduardo justificou.
- Nós acordamos cedo. – Lívia olhou com carinho para
Marina.
- Sei, acordaram cedo para o jantar. – Eduardo brincou.
- Mentira, acordamos cedo sim, fiz café da manhã pra
ela e depois ficamos na varanda conversando,
namorando. – Marina segurou a mão de Lívia.
- Você está acostumando muito mal essa daí. Ta que
nem empregada dela. – Fabrício implicou.

Lívia fechou o cenho e olhou para Fabrício como se


quisesse matá-lo, mas antes que falasse qualquer
coisa, Marina a interrompeu.

- Empregada é aquela pessoa que faz sob pagamento


mensal. Eu faço com o maior prazer. E se ela gosta,
vou continuar a acostumando mal.
- Ai que menina boba. – ele revirou os olhos. – Dizem
que o amor é cego, e é mesmo.

Ele criticou, mas Marina entendeu como piada e sorriu.


Lívia ficou quieta. Fabrício fez o pedido e Eduardo o
acompanhou. Lívia e Marina ainda demoraram, mas
logo chamaram o garçom.

Almoçaram conversando normalmente, porém Fabrício


se mostrou mais quieto. Depois que terminaram e
estavam saindo do restaurante, Marina se lembrou do
Jardim Botânico.

- Amor, podemos ir lá agora?


- Claro meu anjo.
- Aonde vão? – Eduardo perguntou.
- Ao Jardim Botânico, Marina quer conhecer. Quer ir?
- Quer Fá?
- Estou cansado, amanhã é dia de batente e estarei
sozinho no escritório.
- Sozinho? – Marina indagou surpresa.
- Ele está ficando doido, amanhã estarei lá. – Lívia o
olhou de cara feia.
- Ué você disse que...
- Disse que estaria lá essa semana.

Fabrício queria estragar a surpresa, mas Eduardo


interveio.

- Ele ta com Alzheimer, esquece de tudo. Eu vou com


vocês no Jardim Botânico, to a fim de segurar vela
hoje. Depois vocês me deixam em casa? Estão de carro
né?
- Claro.

Dirigiam-se ao estacionamento e quando Fabrício ia


entrando no carro, viu quando Lívia apertou o controle
e um veículo na frente do seu piscou os faróis.

- Ué, que carro é esse? – perguntou sério.


- É o carro de Marina. – Lívia respondeu seriamente.
- O que? – Eduardo ficou boquiaberto. – Mas essa
loirinha ta podendo mesmo. Que carrão Marina! Esse é
o carro dos meus sonhos. Um deles né, porque nos
meus sonhos eu tenho vários carros. – brincou.
- Eu na verdade, nem sonhava em ter um carro, quanto
mais um desse. – Marina falou.
- Ganhou de Natal?
- Sim, no dia que cheguei de viagem. – ela sorriu.
- Éeee, eu devia ter arrumado um namorado promotor,
não um advogado. – Eduardo sorriu. – Estou brincando
viu. – olhou para Fabrício que olhava a cena sem se
manifestar.
- Na próxima semana vou providenciar as aulas para
ela aprender a dirigir. Por enquanto eu sou a motorista.
Vamos?

Despediram-se de Fabrício e entraram no carro.


Eduardo elogiou e ficou brincando com Marina, falando
que com GPS ela não se perderia no Rio. Entraram no
Jardim Botânico e a loirinha ficou maravilhada.

- Nossa que lugar bonito! Eu moraria num lugar desse.


- Eu também, esse barulhinho de água me relaxa. –
Eduardo falou.
- Me lembra o sítio lá em Jaú.

Circularam por lá um bom tempo. Lívia levou Marina


para conhecer o orquidário e o bromeliário. Tiraram
fotos, beberam água da bica e depois sentaram para
descansar.

- Adorei aqui.
- Nem parece que estamos no Rio de Janeiro, não é? –
Lívia falou. – É tranquilo demais.

Tomaram água de coco e depois resolveram ir embora.


Deixaram Eduardo em casa e retornaram ao
apartamento. Lívia pegou o notebook e sentou em seu
escritório, começou a procurar um lugar para viajar
com Marina. Sua intenção era sair do Brasil, mas pra
isso a loirinha teria que ter passaporte e com certeza
ela não tinha. Então pensou em um lugar de praia, já
que fazia calor, resolveu ir para Recife. Reservou um
hotel, comprou as passagens para o dia seguinte,
imprimiu tudo e saiu do escritório. Marina estava na
sala ajeitando algumas partituras, que haviam ficado
lá. Separou as que ia devolver à escola e as que queria
tirar cópia.

- Essa aqui não. – falava sozinha. – Essa eu gostei,


mas acho que sei tocar sem ler. - separou a folha. –
Essa vai com certeza.

Lívia a olhava divertida.

- Nossa, quantas cópias! – Marina contou a quantidade


de folhas.
- Leve no escritório amor, lá tem Xerox e você faz de
graça.
- Sério? – sorriu animada.
- Sério. – Lívia sorriu também.
- Poxa, se eu soubesse teria feito isso antes. – Marina
brincou.
- Sempre que precisar pode ir lá.
- Obrigada.
- Mas tem uma condição. – Lívia levantou uma
sobrancelha com aquele olhar que só ela sabia fazer.
- E qual é? – Marina a abraçou e mexeu no cordão da
morena mordendo o lábio inferior num meio sorriso.
- Pra cada cópia eu quero um beijo.
- Hum... – Marina pareceu pensar. – São muitas cópias.
- Então serão muitos beijos.
- Acho que dou conta. Posso começar de uma vez? –
beijou a morena e mordeu seu queixo.
- Eu vou adorar. Gosto de pagamento adiantado.

Marina levou Lívia até a sala para pagar a dívida,


ficaram namorando.

- Amor, seu biquíni ta aí?


- Está.
- Então amanhã vamos à praia. – Lívia falou
displicentemente.
- Amanhã? Você não vai trabalhar?
- Não, só de tarde. Vou curtir você mais um pouco. –
beijou-lhe os lábios.
- Meu bem, queria lhe perguntar uma coisa. Aquela
mulher que estava no seu escritório, ela trabalhava
com alguma coisa relacionada a você?
- Que mulher? – Lívia se fez de desentendida.
- Aquela que chegou brava no escritório querendo falar
com você urgente e até achou ruim eu ter entrado
antes dela.
- Ah sim, ela é uma ridícula que acha que todo mundo
tem que atender aos seus chamados.
- Ela não me é estranha.
- Não se lembra dela?

Marina fez uma expressão de negativa. E Lívia


continuou.

- Ela é aquela mulher que estava no show da Urca.

A loirinha arregalou os olhos quando se lembrou.

- Nossa, ela está um pouco diferente. Cortou os


cabelos, deu uma mudada, parece mais nova.
- Camila é uma refém da moda, faz tudo que pode para
não parecer ter a idade que tem.
- E qual a idade dela?
- Eu sei lá, deve ter bem mais de trinta.
- É não parece mesmo, ela deve gastar horrores para
manter a boa aparência.
- Dinheiro não é o problema para ela.

Aquelas palavras incomodaram Marina, muitas vezes se


distraía pensando se teria uma vida financeira mais
estável e tranquila. Sabia que só não estava passando
aperto no Rio por causa de Lívia. Sempre que pensava
nisso ficava chateada.

- Que foi? – Lívia notou que Marina ficara calada.


- Nada, estou só pensando.
- Eu estou pensando em tomar um banho e assistir um
filme. Que acha?
- Ta bom. – Marina respondeu um pouco sem ânimo.
- Então vamos.

Lívia subiu fazendo cócegas na loirinha para ver se a


animava. Tomou seu banho e depois Marina tomou o
dela. Quando ela entrou no banheiro a morena correu
para arrumar a mala. Tinha que fazer tudo em tempo
recorde. Aproveitou que a mala de Marina já estava
mais ou menos arrumada, pegou o biquíni dela e jogou
tudo lá dentro, apenas tirou uma roupa para ela usar
no dia seguinte. Desceu com as malas correndo e ligou
para o porteiro pegá-las e colocar lá em baixo, deixou
agendado um táxi no dia seguinte para buscá-las.

- Não posso atrasar, tenho um vôo às nove horas.


- Sim dona Lívia, já vou ligar marcando.
- Essas malas ficam aqui, pois não quero que Marina
veja.

Lívia havia passado o cadeado nelas e sabia muito bem


que o porteiro não faria nada de mal, pois trabalhava
há muitos anos ali no prédio e era de confiança.

Quando fechou a porta ouviu Marina descer.

- Quem era?
- O porteiro. Perguntando se eu recebi a
correspondência.
- Ah...
- Por que desceu? Pode voltar, vamos ver o filme.
- Eu estou procurando minha mala, você a guardou?

Lívia esqueceu que Marina iria usar a mala dela ainda.

- Eu? – coçou a cabeça. – Eu guardei no closet, estava


no meio do caminho e amanhã a faxineira vem, só
facilitei pra ela.

Marina não entendeu nada.

- Preciso trocar de roupa.


- O roupão ficou ótimo e depois você não vai precisar
de roupa. – a olhou com malícia. – Anda, vamos que o
filme deve ta começando.

Lívia deitou na cama e colocou Marina de costas para


ela, entre suas pernas e a abraçou. Ligou o ar
condicionado, puxou uma coberta e se aconchegaram.
Lívia tinha um sorriso estampado no rosto e quase não
conseguia disfarçar a empolgação para viajar no dia
seguinte. A toda hora mordia o pescoço de Marina e
beijava sua nuca.

- Assim eu não vou conseguir me concentrar.


- Eu também estou com dificuldade de me concentrar.
Você aqui na minha frente toda cheirosa.
- Não seja por isso. – Marina saiu do colo de Lívia e
deitou ao lado dela ficando de bruços de frente para a
TV. – Prontinho, problema resolvido. - falou séria.
- Humpf. – resmungou a morena.

Mudou de posição ficando do lado de Marina.

- Fiz alguma coisa que a deixou chateada?


- Não.
- Então por que está com essa carinha séria?
- Estou? – Marina tentou disfarçar, mas resolveu falar
numa boa. – Acho que foi a conversa sobre aquela
mulher, a tal Camila.

Lívia apertou o maxilar.

- A incomodou em que? – mexeu nos cabelos de


Marina.
- Acho que o fato dela ser independente, de ter uma
vida tranquila, provavelmente deve ajudar a família.
Não estou com inveja, deixo isso bem claro, mas fico
pensando se conseguirei ao menos ajudar a minha
família um dia. Eles fazem tanto por mim.
- Claro que vai conseguir amor, você é nova e não
preciso ser profeta pra dizer que terá um futuro
brilhante e que será resultado do seu esforço hoje.

Marina sorriu, mas com o olhar triste.


- Não pense que Camila é um anjo para a família, ela
não tem ninguém. A mãe já faleceu e o pai casou com
uma mulher mais nova que ela. Os irmãos não falam
com ela, pois viviam brigando, agora cortaram relação
de vez. Ela é uma pessoa muito difícil.
- E como sabe disso tudo?

A pergunta surpreendeu Lívia.

- Eu a conheço faz algum tempo.


- Já teve alguma coisa com ela?

Lívia abaixou a cabeça respondendo silenciosamente.

- Não precisa falar mais nada, já me respondeu. –


Marina sentou na cama cruzando os braços.
- Amor, faz tempo isso, não foi mais que duas saídas. –
mentiu. – Hoje nem nos vemos direito. – mentiu de
novo.

Marina ainda tinha o rosto sério, sabia que Lívia não


tinha o histórico muito bom, mas com Camila ela se
sentia diferente quando pensava sobre o assunto.

- Vem cá amor, não fica com essa carinha. Camila não


passa de uma arrogante e prepotente. Não fique
pensando no que ela é, pois não é nada do que
imagina. – Se aproximou da loirinha e falou olhando em
seus olhos. – Ter estabilidade financeira é questão de
tempo, e dinheiro não é a solução pra tudo. Veja meu
exemplo, vivia enfiada em festa, convivendo a maioria
do tempo com gente vazia e não me sentia feliz. –
beijou o rosto dela. – Isso só aconteceu depois que a
conheci e não consigo mais me lembrar como era
antes, nem quero. O importante é o que temos no
coração.
Marina ficou emocionada com aquelas palavras.

- Obrigada por me fazer sentir bem. – sorriu.


- Ainda não entendeu que sua felicidade é minha
prioridade? Que mais eu tenho que fazer pra você
acreditar em mim?
- Nada amor, eu acredito, mas é que às vezes fico
insegura e sei que pareço uma criança.
- Mas você é minha criança, meu bebê. – Lívia a
abraçou. – Agora podemos ver o filme?
- Podemos. – a loirinha sorriu.

No dia seguinte Lívia acordou cedo, tomou banho e


mudou de roupa.

- Amor, tomou banho? – Marina se espreguiçava na


cama.
- Bom dia bonitinha. Tome seu banho também, pra
gente tomar café e sair. – beijou os lábios da loirinha.
- Sair? Não íamos à praia?
- E vamos, mas primeiro preciso passar em outro lugar
e de lá nós vamos.
- Ta.

Marina se espreguiçou de novo, seu corpo estava


coberto pelo edredom. Lívia a olhou e sabia que por
baixo ela estava nua. Aproximou-se e puxou a coberta
para deixar a mostra o corpo de Marina.

- Delícia! – a olhava cheia de intenções. – Tome seu


banho, senão vamos nos atrasar.

Marina se levantou e foi ao encontro de Lívia


aconchegando seu corpo ao dela.

- Quer parar de me provocar? Depois eu que sou a


safada.

A loirinha sorriu e correu para o banho. Lívia aproveitou


e colocou em cima da cama a roupa que havia
separado para ela. Quando Marina saiu do banheiro viu
a roupa e achou estranho.

“Ué, até roupa ela separou?!”

Vestiu-se e desceu indo para a cozinha. Comeram e


saíram rapidamente. Lívia chegou à portaria e chamou
o porteiro, ele informou que o táxi já esperava.

- Vamos de táxi? – Marina estava mais confusa ainda.


- Isso, porque meu carro está no escritório e eu vou
buscá-lo.
- Ah é verdade.

Entraram no táxi.
- Santos Dumont, por favor.

Quando desceram em frente ao aeroporto Marina ficou


toda perdida. O motorista tirou as malas do carro e
entregou a elas. Lívia pegou Marina pela mão e foi
entrando com ela no aeroporto, mas a loirinha parou
fazendo a promotora olhar para trás.

- Quer me dizer o que está acontecendo? Por que


estamos no aeroporto e carregando nossas malas?
- Calma amor, vem andando que eu explico.

Lívia tentou enrolar a loirinha, mas estava cada vez


mais difícil. Foram andando com Marina a enchendo de
perguntas.

- Lívia, você não me respondeu. Pra onde estamos


indo?
- Calma. Eu combinei que íamos a praia não foi? –
falava sem olhar para ela e entregava as passagens
para o check in.
- Foi e, no entanto estamos no aeroporto.
- É porque você não tem paciência. – pegou as
passagens e foi andando procurando o portal de
embarque, estavam em cima da hora.
- Boa viagem, senhoras. – desejou a atendente.
- Viagem? – Marina arregalou os olhos.
- Vem. – Lívia a puxou e caminharam rapidamente. Por
conta do barulho Marina se rendeu ao silêncio. Pararam
em frente ao portão de embarque e entraram. Quando
pisaram no avião é que Lívia falou. – Ufa deu tempo.
Agora vamos à praia. – disse calmamente.

Marina a olhava sem entender absolutamente nada.

- Eu disse que queria ir à praia. Estamos indo, Recife


que nos aguarde. – pegou a loirinha pela mão
novamente e sentou.

Marina olhou em volta, olhava para Lívia e não


acreditava no que ela estava fazendo.

- Mas... Como você?... Por que sempre faz isso comigo?


- Porque eu adoro ver essa carinha de surpresa que
você faz.
- Por isso escondeu minha mala, como eu não percebi
isso.
- Porque você é inocente demais. Quero passar uns
dias só contigo, ontem reservei hotel e comprei as
passagens.
- Meu Deus, quando penso que não posso mais me
surpreender... – a olhou com carinho.
- Eu quero surpreendê-la sempre, isso esquenta o
relacionamento. – Lívia brincou.

Acomodaram-se direito e colocaram o cinto. Marina


segurou a mão de Lívia, estava com medo.
- Acho que nunca vou me acostumar com esse bicho.
- Vai sim, ainda vai andar muito de avião.
- Quanto tempo pra chegar em Recife?
- Três horas no máximo.

Quando o avião aterrissou as duas desceram, pegaram


as malas e foram para o hotel. Lívia chegou à recepção
e deu seu nome. O atendente percebeu que se tratava
de um casal e nem por isso as tratou diferente.

- Fico impressionada com o profissionalismo que


encontramos no Brasil. Aqui o povo, em sua maioria,
atende melhor os gays que em muitos países. – Lívia
comentou com Marina.
- O dinheiro que se paga é igual, vindo de um
homossexual ou de um hétero.
- O rapaz vai levar a bagagem. Por favor, podem
acompanhá-lo.

Assim que entraram no quarto ficaram surpresas com a


vista.

- Nossa que lindo! – Marina chegou à sacada.


- Ficaremos aqui alguns dias e depois vamos para Porto
de Galinhas, lá ficaremos em uma pousada. O próprio
hotel que indicou.
- Que cidade bonita! Adorei a surpresa. – Marina falou
abraçando a noiva.
- Ainda não viu nada. Vamos trocar de roupa e descer
pra almoçar, depois conhecer um pouco da cidade.
Amanhã pegaremos um roteiro no hotel, fica mais fácil.
- Queria conhecer Olinda, eu sempre achei a cidade
muito bonita.
- É claro que vamos lá.
- Só um minuto que vou lavar o rosto e passar um
protetor solar. – Marina foi até a mala procurar sua
bolsa de cosméticos e não achou. – Amor, você não
pegou aquela minha bolsa onde eu deixo o protetor
solar, escova de dente, escova de cabelo, hidratante...
– Olhou para Lívia que já fazia uma cara de quem tinha
feito coisa errada.
- Ai... acho que não. – coçou a cabeça. – A gente passa
em algum lugar e compra.
- Nossa então eu estou sem nada? Nem perfume?
- É que eu fiz tudo correndo pra você não ver. – falou
meio sem jeito.
- Ai meu Deus. – Marina pegou a morena pela mão. –
Está bem, a gente vê isso depois. Preciso pelo menos
de uma escova de dente.
- Providenciarei senhorita. – disse abrindo a porta para
saírem.

Passaram numa farmácia e compraram algumas coisas


que Marina precisava, depois entraram numa loja de
cosméticos para comprar o filtro solar. Lívia viu um
perfume que havia acabado de ser lançado e o mostrou
para Marina.

- Amor, olha que gostoso? – a entregou para que


experimentasse.
- Muito bom mesmo.
- Então vou lhe dar, é pra me redimir de ter esquecido
suas coisas.
- Não precisa, já ganhei presentes demais.
- Só mais esse. – a morena fez uma carinha de
cachorro sem dono.
- Aceito se você me deixar lhe dar um presente
também.
- Combinado.

Compraram tudo e saíram. Procuraram um restaurante


e almoçaram sossegadas.

- Dizem que a culinária de Recife é uma das melhores


do país.
- Ai meu Deus, então vou segurar a boca, porque senão
engordo.
- Que nada, pode comer a vontade que aqui nós vamos
gastar é caloria.
- Sem-vergonha.
- Eu? Por quê? Estou me referindo às caminhadas,
passeios, o calor que faz a gente suar e perder calorias.
- Ahan. – Marina riu.

Depois de almoçarem pegaram um táxi e andaram pelo


centro. Foram ao marco zero, a casa da cultura e
depois andaram pela praia da Boa viagem, pois era
mais perto do hotel. Porém, fazer o trajeto de táxi não
compensou e Lívia optou por alugar um carro.
Chegaram ao hotel quase à noite e o recepcionista
guardou o veículo para elas.

- Amanhã vamos conhecer as igrejas, algumas das


mais bonitas do país estão aqui em Recife.
- Você já veio aqui antes? - Marina perguntou
desconfiada.
- Já, com minha mãe. E por falar nela vou ligar dizendo
que estou aqui. Nem avisei. E falar com Fabrício
também, aquele infeliz quase estragou minha surpresa.
- Nossa! E eu que não falei nada com Monica. Vou ligar
para ela também, mas pra minha mãe não vou dizer
que estou aqui, porque no mínimo ela vai achar
estranho.
- Qual o problema? Diz pra ela que foi um convite.
- Ah eu fico com receio dela desconfiar.

Lívia achou a atitude da namorada um pouco infantil,


mas largou de lado. Depois que falaram com suas mães
e Lívia falou com Fabrício, foram tomar um banho.

- Estou salgada de maresia. – Lívia falou.


- Hum, deixa eu ver. – Marina lambeu o ombro da
morena.
- Ah, não faz uma coisa dessas. – Lívia a puxou de
repente e seus corpos colaram um no outro. Entraram
no box e abriram o chuveiro, caindo uma água fria.
- Aaiii! – gritaram ao mesmo tempo.
- Nossa, dizem que água fria acalma os ânimos e
acalma mesmo! – Lívia reclamou.

Marina mexeu na torneira e regulou a temperatura.

- Não precisa ser muito quente, afinal está calor.

Tomaram banho com direito a muitas carícias e depois


foram para a cama. Lívia estava insaciável e parecia
não se cansar. Marina estava sentada no colo dela com
as pernas entrelaçadas em sua cintura.

- Amor, você trouxe aquele... objeto? – perguntou um


pouco envergonhada.
- Trouxe, quer usar?
- Hoje não. Você já acabou comigo e ainda quer mais?
- Vamos usar hoje?! – Lívia se empolgou.
- Você não está cansada?
- Um pouco, mas eu aguento.
- Você é muito sem-vergonha Lívia, só pensa em sexo?
- Não, penso em você também. E penso na gente, no
nosso futuro, penso em morarmos juntas...
- Ta bom, já entendi. – sorriu. – Que tal dormirmos?
Amanhã tem muita coisa pra fazer, nosso roteiro está
cheio. E eu estou muito cansada. – apoiou sua testa na
testa de Lívia.
- Ainda não saciei a minha vontade. – Lívia percorreu o
corpo da loirinha com as mãos e parou em sua cintura.
– Gostosa! – mordeu o lábio inferior dela.

Marina estava mudando e seu corpo era a prova disso,


aos poucos tomava formas e curvas que Lívia cada vez
mais achava excitante. Só de olhá-la já se acendia
toda. Seus cabelos estavam mais longos e a franja, ela
não cortava mais tão curta, estava mais comprida e lhe
dava um ar sensual. Lívia aproveitou a posição em que
estavam e acariciou o clitóris de Marina, sugando um
seio ao mesmo tempo. Fizeram amor até o cansaço
chegar e adormecerem exaustas.

Acordaram juntas no dia seguinte, tomaram um banho


e desceram para tomar café. Partiram para o passeio
animadas. Marina tirava foto de tudo, parecia uma
criança no parque de diversões.

- Nosso próximo passeio será para a Disney. – Lívia


brincou. – Para o meu neném aproveitar bastante.
- Neném é? À noite você não me chama de neném. –
Marina falou enquanto tirava uma foto.

Lívia apenas sorriu lembrando-se da noite anterior.

Andaram por quase toda Recife, passaram pela Oficina


Brennad, Paço da Alfândega, passaram pela Bom Jesus,
umas das ruas mais famosas de Recife e ao Mercado
São José, onde Marina comprou muito artesanato.

- Acho que compramos tudo e não sobrou nada pra


ninguém. – Lívia brincou olhando para as sacolas que
Marina carregava.
- Boba! Comprei lembrancinhas e algumas coisinhas
para preparar uma receita daqui, mas vou fazer quando
chegarmos em casa, lá no Rio.
- Adoro quando se refere a minha casa como sua.
Parece até que moramos juntas. – Lívia a abraçou.
- Não moramos oficialmente, mas passo a maior parte
do tempo lá. – Marina sorria.
- Me dê umas sacolas dessas, é muito peso pra você
carregar. Vamos deixá-las no carro. Próxima e última
parada de hoje é o Forte do Brum. Passaram pela rua
Aurora e visitaram o forte. Marina ficava encantada a
tudo que via. Saíram de lá mortas de fome.
- Eu comeria um boi. – Marina falou.
- Que tal peixe?
- Comeria um dos grandes então.

Lívia achou graça. Procuraram um restaurante à beira


da praia e sentaram.

- Lanchar não é a mesma coisa de comer. – Lívia


comentou.
- É, aqueles bolinhos que comemos estavam bons, mas
não enche barriga.

Depois de comerem voltaram para o hotel.

- Quero tomar um banho gelado. – Marina falou tirando


a roupa e entrando no banheiro.
- Não vai me esperar?
- Ué, vai tomar banho frio?
- Por você eu faço esse sacrifício. – Lívia fez uma cara
desolada.

Com a água gelada ficou muito difícil Lívia fazer


qualquer tipo de gracinha no banho. Saíram de lá se
sentindo renovadas.

- Ta vendo como água fria é bom para o corpo, me


sinto outra. – Marina falou secando os cabelos com a
toalha.
- Pois eu me sinto totalmente broxa.
- Lívia! – Marina a olhou como se a repreendesse. –
Que horror!
- Estou falando a verdade, água fria me deixa
impotente.
- Isso é reversível? – Marina largou a toalha e foi
andando sensualmente para perto da noiva.
- Ô se é. – a olhava com cobiça. – O remédio certo é
uma certa loirinha de olhos verdes. – a segurou pela
cintura.
Marina sentou no colo dela, de frente, com os joelhos
dobrados na cama. Mordeu o queixo de Lívia e depois
beijou seus lábios.

- Acho que já esquentou. – falou sentindo as mãos da


morena percorrerem seu corpo.
- Estou em ponto de bala.

Lívia beijava o corpo de Marina com luxúria e sentia sua


excitação crescer forte. Pegou a cinta com o pênis e
colocou rapidamente, apoiou Marina na parede e
chegou por trás roçando o pênis em sua bunda. Teve
receio de que a loirinha não gostasse.

- Amor, aí não. – Marina falou baixinho.


- Shii...

Continuou roçando e com as mãos acariciava os seios


da loirinha, mordia o lóbulo da sua orelha e falava
coisas excitantes para ela.

- Você me deixa louca, sabia?

Quando percebeu que Marina estava lubrificada o


suficiente sentou em uma poltrona próxima a elas e
puxou Marina de encontro à seu corpo fazendo-a sentar
e a penetrou de uma vez só, arrancando um gemido
dela. Sentiu que enrijeceu o corpo, então levou sua
mão direita até o clitóris dela e massageou bem
devagar, sentindo seus dedos escorregarem. Começou
a rebolar junto com os movimentos dos dedos e a outra
mão buscou um seio e apertou o biquinho. Marina
segurou o pescoço de Lívia e o virou para beijá-la, suas
línguas se encontraram num beijo ardente.
Aumentaram os movimentos sentindo o sexo latejar.
Marina arqueou o corpo e arranhou as pernas de Lívia,
gemia alucinada sentindo um prazer intenso. O
orgasmo veio forte sacudindo seus corpos. Lívia a
abraçou, apertando seu corpo no dela e beijou suas
costas, ainda respirando descompassado. Retirou o
pênis e a abraçou de novo.

- Amo você. – beijou mais uma vez as costas de


Marina. – É o amor da minha vida. – apertava contra
ela.
- Você também é o meu amor, é a dona do meu
coraçãozinho.

Lívia sorriu.

- E também a única que conseguiu minha confiança.

O sorriso de Lívia morreu na hora, fechou os olhos


tentando apagar da mente a imagem dela mesma
fazendo sexo com Camila.

- Eu não mereço você.


- Se estamos aqui, é porque merecemos uma a outra. –
Marina se virou ficando de frente para ela. – Acredito
que se duas pessoas ficam juntas é porque precisam
conviver para aprender alguma coisa. Não nos
encontramos por acaso.

Ficaram abraçadas um tempo em carícias mútuas até


adormecerem.

No dia seguinte Marina acordou primeiro, tomou um


banho rápido e voltou para a cama. Lívia dormia
profundamente. Ficou observando seu semblante
tranquilo, a franja bagunçada cobrindo a testa, o nariz
empinado e os lábios carnudos, era perfeita aos olhos
de Marina. Pegou o telefone e ligou para a recepção,
pediu café no quarto.
“Estou ficando acomodada que nem Lívia, é a
convivência.” – pensou sorrindo.

Quando Lívia acordou viu um par de olhos verdes e um


sorriso lindo. Beijou a boca de Marina com tanta
vontade que a loirinha até perdeu o ar.

- Bom dia!
- Ô, bom mesmo. Acordou inspirada. – Marina sorriu.
- Também com a noite de ontem. – Lívia apoiou o
cotovelo na cama sustentando a cabeça.
- Pra um neném até que dou pro gasto. – Marina fingiu
contrariedade, tirando uma gargalhada de Lívia.
- Você é sim meu neném, mas em algumas horas. –
beijou a ponta do nariz da loirinha.
- Pedi café da manhã aqui, tem problema? – Marina
mordeu o lábio inferior.
- Não amor, acho até bom, assim comemos sossegadas
e logo descemos. Hoje vamos à praia, não vamos?
- Claro.

O café chegou e as duas comeram sentadas na varanda


admirando a vista belíssima para o mar.

- Amanhã vamos à Olinda e depois de amanhã


fechamos a conta aqui e vamos para Porto de Galinhas.
As praias de lá também são muito bonitas.
- Até agora estou adorando tudo. – Marina falava
empolgada.
- Quando pensei em viajar com você, não tive trabalho
nenhum para escolher o roteiro, você gosta de tudo. Se
eu te levasse para Pindamonhangaba você ia gostar.
- Lá eu já conheço, meu pai tem amigos que moram lá.
Mas o que importa pra mim é sua companhia, é isso
que faz os lugares ficarem mais bonitos.

Lívia sorriu toda abobalhada.


- Por isso que eu amo esse neném. – brincou.
- Neném né? – fez bico.
- E eu gostei de chamá-la assim. – puxou Marina para
abraçá-la. – Posso?

Marina fingiu hesitar, mas aceitou.

- Pode. – sorriu.

Arrumaram-se para ir à praia e seguiram a sugestão do


recepcionista do Hotel, indicando a Praia de
Tamandaré. Estacionaram o carro e procuraram um
quiosque mais sossegado. Estava cheia, mas
conseguiram um local bom.

- Amor, não esquece o filtro solar. – Lívia recomendou.


- Vou passar. – Marina pegou o protetor e começou a
passar e Lívia foi pegar água de coco para elas. Quando
voltou viu um marmanjo ao lado de Marina.
– Não obrigada, não precisa. – ela se esquivava dele.
- Só um tiquinho, desse jeito você não vai passar
direito. – o rapaz insistia em passar o filtro solar nela.
- Já disse que não precisa. – Marina tentava se
desvencilhar.
- Não ouviu o que ela falou meu amigo? – Lívia veio
rapidamente se aproximando.
- Oxe dona, não falei com você.
- Mas eu sim, pode nos dar licença? – Lívia não alterou
a voz e olhava insistentemente para o rapaz.
- E a senhora é quem pra falar assim?
- Sou noiva dela. Agora saia. – falou um pouco mais
alterado.
- Ah? Vixi, que coisa nojenta isso.
- Nojento, mas até agora pouco você estava dando em
cima dela. Não vou falar de novo, se não sair eu chamo
a polícia e digo que está nos importunando.
O rapaz levantou, saiu resmungando algo que as duas
não conseguiram ouvir.

- Tudo bem meu anjo?


- Ahan. – Marina ainda olhava o homem se afastar. –
Ele resmungou alguma coisa sobre a gente.
- Com certeza nos praguejando. É inveja porque eu
consegui uma mulher linda e ele não. – Lívia sorriu.
- O povo aqui chega mesmo.
- É já vi que vou ter que ficar de olho. Mulher bonita dá
trabalho. – Lívia entregou coco a Marina. – Me dê o
protetor, deixa terminar de passar em você.

Enquanto Lívia passava protetor em Marina, olhos


curiosos as fitavam, mas as duas nem ligavam. Ficaram
na sombra, pois o sol estava muito forte. Quando ele
baixou um pouco as duas foram para a água.

- Nossa que gelada! – Marina se encolheu.


- Ah que nada, ta até morninha.
- Morninha!?
- Vem devagar que você vai se acostumando. – Lívia a
pegou pela mão e foi caminhando andando de costas,
mas de frente para Marina. Quando veio uma onda a
morena aproveitou para puxá-la de uma vez só. Em
baixo d’água aproveitou para beijar a loirinha e depois
emergiram, ainda abraçadas.
- Amor, aqui na praia com todo mundo olhando, você
não fica sem graça. – Marina baixou a cabeça.
- Não devo nada a ninguém, nem você. – voltou a
abraçá-la.

Marina viu que realmente eram completas


desconhecidas ali e levou numa boa. Nadaram, pularam
ondas e depois voltaram para o quiosque.

- Amor, quer almoçar? – Lívia perguntou.


- Eu quero comer casquinha de siri.
- Hum, a idéia é boa.

Lívia pediu duas casquinhas de siri e voltou para a


mesa, reparou que as pessoas passavam e olhavam
para Marina.

- Sabia que você chama muito a atenção com esse


biquíni?
- E você não né?
- Não estou falando de mim, estou falando de você.
- Mas não pode reclamar de uma coisa da qual
acontece com você também.

Lívia fez um bico e olhou para o mar. Marina achou


graça, segurou a mão dela delicadamente e virou seu
rosto.

- Mesmo que me olhem o importante é que eu estou


olhando para você, mas se a incomoda tanto eu coloco
o short. – Marina vestiu o short que estava na cadeira
ao lado e colocou uma camiseta. – Pronto, se isso a
deixa mais segura.
- Eu tenho ciúme de você, só isso. – Lívia falava com
certa irritação.
- Tudo bem ter ciúme, acho até que é bom num
relacionamento, eu também tenho ciúme de você. Só
não podemos deixar ele atrapalhar nossa relação.
- Que vai muito bem. – sorriu.
- É! - Marina sorriu também.

O garçom veio trazendo as casquinhas e serviu às


duas.

- Nossa que delícia. – Marina experimentou.


- A sua parece maior que a minha, me dá um
pouquinho. – Lívia enfiou a colher na casquinha de
Marina.
- Ah!? Sua olho grande, me devolve! – Marina brincou.
- Agora já comi. – Lívia sorria divertida.

Passaram a tarde na praia e bem a tardinha recolheram


suas coisas guardando no carro e depois foram
caminhar. Só chegaram ao hotel à noitinha. No quarto,
Marina foi tirar a roupa e sentiu o corpo arder.

- Acho que o protetor não foi tão eficiente.


- Ih amor, você está bem vermelha. – Lívia passou a
mão pelas costas da loirinha. – Está ardendo muito?
- Não a ponto de incomodar. Acho que tomando banho
deve melhorar. – Marina se virou para ela. – Você
também está vermelha.
- Esse protetor é muito fajuto, amanhã compramos
outro.
- Vamos tomar banho e passar um hidratante, assim
evita descascar.

Entraram no banheiro, demoraram mais pelas carícias


que pelo banho em si. Marina passou hidratante em
Lívia e depois a morena fez o mesmo com ela.

- E aquele cara abusado hoje de manhã? – Lívia


lembrou do rapaz.
- Já tinha me esquecido dele.
- Pois eu não. Cabra folgado! – emburrou. – Esses
homens são assim, vêem uma mulher bonita e se
acham no direito de importuná-la. Juro que minha
vontade foi de dar um soco na cara dele. – falava
enquanto passava o hidratante em Marina.
- Que isso Lívia! Não gosto de violência e não precisa
tanto, você falou pra ele sair e ele saiu.
- Será que nem uma aliança é sinal de que a pessoa
tem compromisso? Esse povo ta ficando cara de pau.

Marina achou graça de ver Lívia resmungando, virou-se


de frente para ela sorrindo.
- Mulher brava. – segurou seu rosto pelo queixo e
beijou-lhe os lábios.
- Eu posso confessar uma coisa? – Lívia baixou o olhar.
- Que foi? – Marina levou seu rosto.
- Não sei explicar, mas desde que ficamos noivas eu
tenho tido mais ciúme de você, de repente vem um
sentimento de posse, uma vontade de sair gritando pra
todo mundo que você é minha noiva e tem dona. De
mostrar que estamos juntas para todo mundo.

Marina escutava calada e inexpressível.

- Tenho medo de perder você.


- Não vai me perder. Só Deus sabe o que vai nos
acontecer, mas no que depender da minha vontade,
estarei ao seu lado sempre. Posso dizer que já não sou
mais dona de mim, porque você é minha dona. Não
passo um minuto sem pensar em você. Acredite nisso.
– Marina pegou na mão de Lívia, entrelaçando seus
dedos.
- Eu acredito e só por isso me controlo.
- Quando se sentir assim você pode me dizer? Na hora
em que sentir. – beijou a mão dela.
- Posso, mas por quê?
- Pra que na hora eu possa fazer alguma coisa pra lhe
ajudar. Sentir essas coisas não deve ser bom.
Infelizmente vivemos em uma sociedade que
demonstrar afeto em um relacionamento como o nosso
gera alguns problemas, mas eu farei o que puder. Não
quero que tenha pensamentos ruins. Não faz bem. –
puxou o travesseiro e se recostou. – Vem aqui amor.

Lívia se aconchegou no colo de Marina, deitando a


cabeça em seu peito. Sabia que um dos motivos de ter
aquela sensação era por ter traído Marina e isso a
deixava arrasada.

- Eu tenho medo de perder as pessoas que amo, já fiz


tanta besteira, que tenho medo de ser castigada.
- Deus não castiga, ele ensina. Estamos nesse mundo
para aprender. Tudo que nos acontece é para que
possamos tirar uma lição e não repetir o erro. – alisava
os cabelos de Lívia.
- Será que aprendi tudo? - Lívia pensou na sua situação
com Camila e fechou os olhos.
- Se não aprendeu, vai aprender. – Marina falava em
tom brando.
- Neném, quer jantar fora ou comer alguma coisa por
aqui mesmo?
- Neném é? – Marina riu. – Deixa você.
- Você disse que podia. – Lívia riu.
- Ta certo. Bom eu não estou com muita fome, jantar
seria muito.
- Eu também não estou com fome. Esse calor me tira o
apetite. – Lívia pegou o controle para aumentar o ar.
- Desse jeito vou ter que me cobrir, já está gelado
amor.
- Ta com frio? Eu te esquento. – olhou Marina com
malícia.

Girou o corpo ficando sobre ela e desceu as mãos para


sua cintura, fazendo pressão para abrir as pernas.
Beijou sua barriga e aspirou o perfume. Sentia o corpo
de Marina, era macio e cheiroso sempre e isso instigava
os instintos de Lívia. Desceu até chegar ao ventre e
parar entre suas pernas. Beijou o sexo e subiu as duas
mãos para os seios acariciando enquanto sua língua
explorava o sexo da loirinha.

- Ahh... amor... – Marina gemia baixinho. – Mais... por


favor... – Suas mãos se perdiam nos cabelos de Lívia.
Ela usava a língua com maestria e sabia o ponto exato
onde podia levar Marina à loucura. Fazia movimentos
circulares e intensos. Sugou com vontade até sentir o
corpo sacudir. - Ahhh... aahhh. – Marina arranhou os
ombros de Lívia arqueando o corpo e depois relaxou.
Lívia beijou a virilha dela e depois deitou a cabeça em
sua barriga. Marina alisou seus cabelos e olhou para
ela, estava séria. Não quis falar, puxou a morena pelo
ombro e depois virou-se para que ela deitasse. Então
sentou ao seu lado com as pernas dobradas e admirou
seu corpo, Lívia não era musculosa, mas tinha o corpo
definido, braços e pernas torneados e a barriga era
reta, os seios eram empinados. Passou levemente as
unhas pela barriga dela, olhava em seus olhos e sorria
timidamente. Levou a mão até os pêlos pubianos e
acariciou de leve, depois desceu para o sexo. A morena
abriu as pernas se rendendo àquelas carícias. Sua
expressão era sexy e excitante, mordia o lábio inferior
e fechava os olhos, a respiração era pesada e deixava
escapar uns gemidos. Marina escorregava os dedos
pela abertura dela e sentia a vagina contrair, levou a
outra mão a um seio e apertou o bico para depois
bolinar com os dedos. Lívia começou a rebolar sentindo
o corpo enrijecer, então quando o orgasmo chegou
Marina a beijou abafando seus gemidos. A morena a
puxou para um abraço fazendo Marina repousar a
cabeça em seu peito.

Aquela sensação de paz e de aconchego as fez cochilar


um tempo. Lívia acordou um pouco assustada com a
hora, mas não era tarde. Marina estava aninhada em
seus braços dormindo tranquilamente.

“Vixi! Agora estou com fome! Será que tem serviço de


quarto a essa hora?” – pensou olhando para o relógio.

- Amor. – chamou Marina delicadamente. – Lindinha,


acorda. – beijou seus cabelos. – Neném...

Marina acordou meio perdida.

- Quando eu chamei de neném você acordou. – Lívia


sorriu.
- Dormimos? Quantas horas?
- Na verdade cochilamos, são quase dez horas. Íamos
jantar, agora nem sei. Está com fome?
- Agora estou, mas não está tarde para sair?
- Não, podemos jantar aqui perto ou pedir alguma coisa
no quarto. Deixa ligar para a recepção.

Lívia se informou sobre o serviço de quarto, mas não


agradou muito do cardápio.

- Vamos sair neném? De repente achamos alguma


coisa melhor.
- Ta bom. – Marina levantou com certa preguiça e
esticou os braços se espreguiçando.

Lívia aproveitou e a puxou para um abraço.

- Delícia! Parece uma gata se espreguiçando. – beijou a


nuca dela.
- Gata? Acho que estou mais para patinho feio.
- Que feio que nada! Saiba valorizar o que tem de
bonito e olha que são muitos atributos. Por falar em
atributos, você anda me agredindo, sabia?
- O que? – Marina se virou assustada. – Como assim?
- Outro dia me mordeu, quase arrancando parte dos
meus lábios. Hoje me arranhou nos ombros, olha aqui.
– disse apontando para os arranhões. – Terei de tomar
cuidado, senão na próxima me arranca um braço. –
sorriu.
- Ai amor, desculpa. Minhas unhas estão compridas, eu
não tenho tocado, então deixei crescer. – Marina estava
claramente envergonhada. – Me perdoa.
- Acho que vou ter que amarrá-la. – Lívia levantou uma
sobrancelha. – Se bem que eu gosto quando me
arranha.
- Sua sem-vergonha, pois da próxima vez quem vai lhe
amarrar sou eu.
- Hum... – Lívia fez um ar pensativo. – A idéia não é
ruim. – sorriu. – Vamos? Se arrume rapidinho.

As duas saíram em instantes e pediram indicação no


hotel. Recomendaram um restaurante não muito longe,
mas teriam que ir de carro. Resolveram não jantar,
apenas comer algo mais leve, por conta da hora. Um
trio de garotas sentou-se à mesa ao lado e ficou
conversando. Parecia ser um casal e mais uma amiga.
Uma era ruiva, outra morena de cabelos lisos e outra
morena de cabelo cacheado. Lívia havia saído para ir ao
banheiro e quando voltou notou o trio.

- Nossa estão numa animação. Parecem bêbadas.


- É incrível o que a bebida faz com o ser humano, por
isso não gosto de me exceder. E isso quando bebo.
- Eu já bebi com mais frequência, hoje estou mais
quieta nesse aspecto. Acho que você me acalmou.
- Mudei muito a sua rotina? – Marina perguntou
parecendo se incomodar.
- Claro que mudou e pra melhor. Muitas vezes cheguei
em casa bêbada e não tive quem me ajudasse. Sentia-
me mal com isso, então não incomodava minha mãe,
afinal ela nunca concordou com os meus porres.
- Ta certa.
- Eu ou ela? – Lívia sorriu.
- Ela, claro! – Marina pôs a mão sobre a de Lívia.

O trio continuava rindo e fazendo graça, vez ou outra


olhando para as duas. Em determinada hora
resolveram puxar assunto.

- Boa noite meninas, vocês não são daqui. – falou a


morena de cabelo liso.

Marina olhou para Lívia e depois para as meninas,


respondendo:
- Não. Eu sou de São Paulo e ela do Rio.
- Ô terra boa São Paulo. Lá só tem gatinha. – falou
agora a morena de cabelo cacheado.

Lívia ficou séria ante o comentário.

- E vocês estão a passeio? – dessa vez foi a ruiva.


- Em lua de mel. – Lívia logo respondeu.
- Ah, eu sabia que eram um casal. – a morena de
cabelo cacheado falou rindo. – Ela entrega na hora. –
apontou para Lívia. – Você nem tanto. – sorriu para
Marina e se aproximou dela.

Marina recuou e sorriu sem graça e ali teve a certeza


de que ela estava bêbada, por conta do bafo de
cachaça.

- Clara deixa a moça que ela é comprometida. – falou a


ruiva.
- Se você quiser diversificar, estou às ordens. – falou
ao ouvido de Marina que arregalou os olhos.

Lívia se levantou rapidamente e puxou Marina para


perto dela.

- Marina, vamos embora! – falou irritada.

A loirinha prontamente se levantou e deu a mão a Lívia.

- Marina! Que nome bonito! Parece um anjo. – Clara


sorria, fazendo as amigas se divertirem com a situação.

Foram até o caixa e pagaram, Lívia reclamou das


garotas deixando o dono do estabelecimento sem
graça. Saíram e entraram no carro.

- Que povo abusado! – disse bufando.


- Calma, já saímos.
- Estou chocada com a cara de pau daquela garota!
Nunca vi uma coisa assim. Paraíba de uma figa!
- Amor, estamos em Pernambuco.
- Eu sei! Mas ela tem cara de Paraíba... Diversificar?! –
riu ironicamente. – Uma baixinha, gorda com cara de
broa, fedendo a cachaça falando pra você diversificar.
Era só o que me faltava. – Lívia estava inquieta no
carro. – Humpf.

Marina a olhava com um sorriso, achando graça da


forma como reclamava.

- Meu bem olha pra mim.

Lívia olhou ainda com a testa franzida.

- Não quero diversificar. Muito menos com ela.


- Claro, porque ela é horrível.

Marina riu do comentário.

- Ta bom meu amor, ela é horrível. Não faz o meu tipo.


- E qual é o seu tipo?
- Morenas altas, cabelos lisos, olhos azuis, corpo
atlético e aquele jeitinho carioca. – beijou os lábios dela
mordendo o lábio inferior. – E quando tem ciúme fica
ainda mais linda e eu adoro desfazer esse bico. –
mordeu o queixo dela.

Lívia puxou Marina juntando seus corpos e a beijou


ardentemente.

- Você é só minha. – falou entre beijos. – Só minha.


- Eu sou amor.

Lívia olhou para aqueles olhos verdes e sentiu


novamente a sensação de perda. Ficou séria e seu
rosto pareceu preocupado, Marina percebeu a
mudança.
- Vamos embora, quero mostrar pra você o quanto sou
sua. E que ninguém vai mudar isso.

No quarto Marina demonstrou o quanto a amava e era


dela, fizeram amor até amanhecer, dormiram
abraçadas, como se seus corpos fossem um só.

Na manhã seguinte, após o café, pegaram o carro e


foram para Olinda conhecer a parte histórica. Marina
ficou espantada com a quantidade de ladeira e morros
que havia ali.

- Nunca vi tanto morro junto.

Lívia achou graça.

- E que tal fazer uma caminhada do Alto da Sé até o


Mosteiro de São Bento?
- Se você está me perguntando isso é porque deve ter
muito morro pra subir.
- Estou brincando amor, não farei essa judiação com
você. – pôs a mão sobre a perna esquerda de Marina. –
Vamos de carro e andamos na parte alta da cidade. Lá
tem uma tapioca divina.
- Hum! Tapioca! Eu adoro! – Marina falou animada.

Tiraram fotos por todos os lugares onde passaram,


comeram tapioca e depois foram ver o pôr do sol. A
visão era encantadora. Lívia abraçou Marina por trás e
repousou o queixo na cabeça dela. A loirinha se
aninhou naquele abraço e respirou fundo.

- Acho que nunca vi um por do sol tão bonito. Ou será


a companhia?
- Não, é o por do sol. – Lívia brincou.
- Podia estar chovendo que eu estaria feliz do mesmo
jeito.
- Está gostando do passeio?
- Muito! Mas isso tudo não teria graça se você não
estivesse do meu lado. – Marina se virou, rodeando os
braços na cintura de Lívia e a olhou. – Eu amo você! –
e encostou a cabeça em seu peito. A sensação era tão
boa que ambas fecharam os olhos somente sentindo o
vento. Lívia abriu os olhos e viu que onde estavam não
tinha muito movimento. Levantou o rosto de Marina e
beijou seus lábios levemente, num beijo doce e suave.
- Eu também te amo. – sussurrou quando os lábios se
separaram.

Quando estavam saindo Marina resolveu comprar outra


tapioca. Lívia a esperou e quando ela estava voltando,
encontrou com o trio do dia anterior.

- Ah, era só o que me faltava. – resmungou a morena.


- Olá bonitinha! Que coincidência! – Clara sorriu.
- Ô se é. – Marina somente respondeu e continuou
andando.
- Veio ver o por do sol? Muito romântico, não?
- Ahan.
- Espera. – segurou o braço de Marina. – Queria lhe
pedir desculpas por ontem, eu estava um tanto...
- Bêbada. Tenho horror a gente bêbada. E mais ainda
de gente inconveniente.
- Perdoa gata! Não fiz por mal.
- Mas eu vou te dar um soco por mal. – Lívia veio
chegando perto das duas.
- Calma amor! – Marina pôs a mão no abdômen dela. –
Essa moça só veio pedir desculpa e nós também já
estamos indo.
- Olha aqui, você é grande, mas não é duas! E se
quiser me encarar pode vir, porque eu não tenho medo
de você.
Lívia olhou para a baixinha resmungando e depois para
Marina.

- Não, você tem é inveja mesmo. Não vou me rebaixar


encostando o dedo em você. Seria muita injustiça.
- Vamos. – Marina a chamou e as duas saíram entrando
no carro em seguida.

Lívia ainda tinha raiva e no rosto uma expressão grave.


Sua cabeça estava infestada de pensamentos confusos,
nunca na vida tinha sentido tanto ciúme de alguém
como sentia de Marina. E ela não estava sabendo lidar
com tal situação e isso a incomodava muito.

- Fez bem em não brigar, não gosto disso e não valeria


a pena. – Marina falou calmamente e olhando para ela.
- Podemos ir embora para o hotel? – pediu como uma
criança.
- Claro. – Marina afagou seu rosto.

O trajeto para o hotel foi em silêncio.

Passando pela recepção Lívia falou que era para


encerrar a estadia no dia seguinte de manhã, pois
partiriam para Porto de Galinhas. O resto da noite foi
passado em silêncio, Marina não quis incomodar Lívia,
apenas deitou em seu colo, adormecendo depois.

No dia seguinte tomaram café, saindo em seguida do


Hotel por volta das dez da manhã. De Recife a Porto de
Galinhas, era pouco mais de sessenta quilômetros. No
caminho, como Lívia ainda estava calada, Marina ligou
o rádio e estava tocando uma música de Lulu Santos, a
morena escutou um pouco a música e depois começou
a cantar:

- Ela me encontrou, eu tava por aí, num estado


emocional tão ruim. Me sentindo muito mal. Perdido,
sozinho, errando de bar em bar. Procurando não achar.
– olhou para Marina que sorria de volta. – Ela
demonstrou tanto prazer em estar em minha
companhia. Eu experimentei uma sensação que até
então não conhecia. De se querer bem, de se querer
quem se tem.

Então as duas cantaram juntas.

- E ela me faz tão bem, ela me faz tão bem. Que eu


também quero fazer isso por ela.

Sorriram quando a música acabou.

- Perdoe por ficar assim, ultimamente tenho ficado


confusa e acabo sendo grosseira com você. – Lívia
desculpou-se.
- Você nunca foi grosseira comigo. Confesso que ver
você calada me deixa desconfortável, mas eu procuro
te respeitar nesse momento.
- Obrigada.
- Pelo que amor?
- Por ser quem é, só isso. – Lívia sorriu para ela e
continuou dirigindo.

Chegando em Porto de Galinhas, procuraram pela


pousada e logo se acomodaram. O quarto era grande e
bem aconchegante. Trocaram de roupa e foram para a
praia que ficava logo em frente à pousada.

À noite jantaram na pousada mesmo e subiram para o


quarto. Tomaram banho juntas como de costume.
Ainda enroladas na toalha, Marina falou tentando ser o
mais séria possível.

- Deite-se na cama e fique quieta. – olhou para Lívia.


- Como é? – a morena riu.
- Agora! – vou bruscamente. – Deita aí. – empurrou a
morena.

Lívia deitou já se assanhando e Marina pegou o lençol


amarrando as mãos dela na cabeceira da cama.

- Hum... estou gostando.

Depois de amarrada, Marina arrancou a toalha de Lívia,


deixando-a completamente nua.

- Onde está aquele nosso brinquedinho? – passou os


dedos pelo ventre da morena.
- Está na mala, numa nécessaire preta.

Marina buscou e o colocou em Lívia com ela dando as


coordenadas de como o prendia.

- Que pretende fazer comigo? – falou sorrindo


maliciosamente.
- Quietinha, você já vai saber.

Marina tirou sua toalha e apagou a luz do quarto,


deixando somente a claridade de fora, vinda da lua
cheia. Lívia pode ver a silhueta do corpo dela, era uma
tentação e teve ímpeto de tocá-la, mas suas mãos
estavam muito bem presas. Improvisou no celular
deixando uma música tocando e se aproximou
sensualmente. Beijou os pés de Lívia e foi subindo por
suas pernas. Pegou, ainda que constrangida, o pênis e
fez como se o massageasse. Lívia não soube explicar
porque, mas aquilo a excitou de tal forma que deixou
escapar um gemido.

- Vem aqui linda... – Lívia chamou.

Marina não respondeu, fingindo não prestar atenção.


Ajoelhou-se sobre Lívia bem próxima à sua cintura,
ameaçou abaixar, mas continuou e levou seu sexo até
a boca da morena, que nem esperou muito. Passou a
língua demoradamente, chupou o quanto pôde, mas
Marina não permaneceu ali por muito tempo. Voltou a
ficar próxima a sua cintura e pegando a base do pênis o
encaixou em sua vagina bem devagar, fechando os
olhos numa expressão sexy. Lívia a olhava fascinada,
seus olhos estavam escurecidos pela excitação.
Começou a se movimentar fazendo Marina cavalgar. O
clima esquentou e em pouco tempo seus corpos
sacudiram num orgasmo intenso.

Marina caiu sobre Lívia, colocando os braços na lateral


do corpo dela, seus rostos estavam próximos.

- Me solte, por favor... – Lívia pedia ofegante e Marina


a soltou. – Preciso tocar em você. – abraçou a loirinha
e a beijou. Trocaram carícias até o clima esquentar de
novo. Lívia penetrou Marina novamente, mas dessa vez
suas mãos estavam livres para tocá-la. Beijava seu colo
e mordia os seios, alternando entre um e outro. Marina
pegou uma das mãos da morena e levou até seu
clitóris.
- Aqui... assim...

Lívia massageou devagar, enquanto mordia o pescoço


dela, suas falas eram desconexas, mas apaixonadas.
Gemeram num longo orgasmo.

No dia seguinte procuraram por praias mais desertas,


pois a intenção de Lívia era namorar. Só não teve
sucesso.

- Lívia nem pense em fazer qualquer coisa. Aqui na


praia não!
- Ah neném, só um beijinho. – tentava abraçá-la por
trás.
- Não! – Marina se desvencilhou.
- Ô judiação. – fez bico.
Passearam pela orla, foram à feira de artesanato, que
era sempre o lugar predileto de Marina, conheceram a
ilha de Itamaracá, praia de carneiros e o forte Orange,
passaram quatro dias em Porto de Galinhas. Lívia
estava feliz pela viagem e por ver a alegria de Marina.
De volta para o Rio, dentro do avião a promotora
comentou.

- Amor, podíamos providenciar um passaporte pra


você. Vai que uma um dia dá pra gente fazer uma
viagem para fora do Brasil.
- Eu, fora do Brasil? – Marina riu.
- Por que não? Tem lugares lindos por esse mundo a
fora. Embora eu goste muito de rodar por esse Brasil.
Aqui tem as paisagens mais belas do mundo.
- Lívia, eu ficaria mais confortável se pudéssemos viajar
quando eu também tiver condições financeiras.
- Mas pra que isso?
- Pra que eu me sinta mais útil.
- Desse jeito nós só vamos viajar quando...
- Quando eu me formar. Ou quem sabe receber cachês
melhores. – sorriu um pouco sem graça.

Lívia se incomodou com a conversa. Não quis esticar o


assunto para não se desentender com a noiva.
Chegando ao Rio, pegaram um táxi e retornaram ao
apartamento. Lívia avisou sua mãe que haviam
chegado e Marina avisou Monica. Ainda tinha mais
alguns dias de férias, mas na próxima sexta-feira já
teria show com os garotos. Na manhã seguinte,
enquanto Lívia se atualizava sobre os assuntos do
escritório, em casa mesmo, Marina colocava a fofoca
em dia com Monica. Conversaram até a hora do almoço
e Monica ainda almoçou com as duas.

- Então você ganhou um carro? – Monica comentou.


- Pois é. Agora você imagina, eu dirigindo e aqui no Rio
de Janeiro.
- Moleza Má.
- Moleza nada! O trânsito daqui é uma loucura.
- É só você se costumar. – Monica falava com
naturalidade.
- Queria que Marina tivesse essa segurança toda que
você tem. – Lívia falou. – Tudo para ela é difícil e no
entanto, acaba fazendo muito bem no final.
- Ela é assim mesmo, desde pequena. Isso é charme!
Ela ganha todo mundo com esse papo. – Monica riu.
- Ei! Não é nada disso. – Marina a repreendeu fazendo
Lívia achar graça.

Depois do almoço Monica foi embora combinando de só


se verem no dia do show. Lívia procurou uma
autoescola e matriculou Marina. Foi com ela no primeiro
dia e a deixou assistindo as aulas teóricas. Chegando
em seu escritório a primeira pessoa que viu foi Fabrício
e não teve vontade de puxar assunto com ele que não
fosse sobre trabalho.

- Deixe na minha mesa o que eu realmente precisar ler.


– virou-se para a secretária. – Érica, quero minha
agenda só dessa semana.

A secretária prontamente a atendeu e Lívia percebeu


que tinha muito compromisso, tendo que ficar até tarde
no escritório. Fabrício levou alguns processos para ela e
quando ia saindo resolveu voltar e perguntar.

- Fizeram boa viagem?


- Sim, descasamos bastante. – respondeu sem olhar
para ele.
- Que bom. – saiu sem dar chance da chefe responder.

Sexta-feira chegou e lá estava a banda tocando depois


de uma pausa das férias. O bar estava cheio. Lívia se
atrasou, mas conseguiu chegar antes deles acabarem.
Já perto do final do show, quando iam parar, um cliente
antigo do bar aproveitou a pausa da banda para pedir
uma música inusitada para eles.

- Toca Chitãozinho e Xororó.

Marina que tinha aproveitado o tempo para tomar água


e quase engasgou. Olhou para Eduardo e riu tentando
disfarçar.

- Ô meu amigo, eu tenho que ver aqui... é... acho que


a banda não toca... – olhou para a banda. – E aí gente?

Marina abaixou a cabeça e depois olhou para cima


como se tentasse lembrar alguma coisa. Chamou
Eduardo e cochichou em seu ouvido, o rapaz sorriu
consentindo com o que ela havia comentado. Então a
loirinha arriscou umas notinhas no teclado começando
a tocar a música Evidências.

- Vou pedir ajuda ao público já que eu não sei a letra


toda. Canta comigo então gente... “Quando eu digo que
deixei de te amar, é porque eu te amo. Quando eu digo
que não quero mais você, é porque te quero...” – jogou
para o público.

Marina sorria da situação e olhava para Lívia que


também sorria de onde estava.

- “E confessar que eu estou em suas mãos, mas não


posso imaginar o que vai ser de mim, se eu te perder
um dia.” – Eduardo continuou. – “Eu me afasto e me
defendo de você, mas depois me entrego. Faço tipo falo
coisas que eu não sou, mas depois eu nego. Mas a
verdade é que eu sou louco por você e tenho medo de
pensar em te perder. Eu preciso aceitar que não da
mais, pra separar as nossas vidas.”
Quando a banda tocou o refrão o bar inteiro já cantava
junto com eles.

- Vamos lá pessoal, cantem comigo. – Eduardo pedia


animado. – “E nessa loucura de dizer que não te quero,
vou negando as aparências, disfarçando as evidencias,
mas pra que viver fingindo, se eu não posso enganar
meu coração. Eu sei que te amo. Chega de mentiras,
de negar o meu desejo, eu te quero mais que tudo, eu
preciso do seu beijo. Eu entrego a minha vida, pra você
fazer o que quiser de mim. Só quero ouvir você dizer
que sim. Diz que é verdade, que tem saudade. Que
ainda você pensa muito em mim.”

A banda cresceu e se empolgou, deixando o público


mais animado. Marina ria da situação junto com os
músicos. Fabrício olhava para a banda revirando os
olhos, já que não gostava de sertanejo. Monica já
levantava as mãos e cantava junto totalmente
empolgada. Lívia olhava tudo com um sorriso no rosto.

Quando a música acabou eles foram aplaudidos de pé.

- Por incrível que pareça, com tanta bossa, samba,


prelúdio e muitos acordes complicados, o que agradou
mesmo foi sertanejo. – Eduardo achou graça.
- Pra você ver como tem que ser eclético. – Hugo
comentou.
- Eu adorei! Por mim pode por no repertório. – Marina
veio rindo e quando se virou para descer do palco, Lívia
a recebeu.
- “Mas a verdade é que eu sou louca por você e tenho
medo de pensar em te perder. Eu preciso aceitar que
não dá mais, pra separar as nossas vidas.” – cantou
para ela. – Estava linda! – pegou a loirinha pela cintura
e a desceu. O clima estava tão romântico que nem
deram bola para o que o restante do bar iria achar. A
sorte é que estavam mais ao fundo e somente os
garotos viram.
- Te amo! – Marina sorriu para ela.
- Mas essas duas estão cada dia mais grudentas. Eu
não aguento.
- Eduardo ta implicante que nem o namorado dele. –
Marina deu um beliscão no rapaz.
- Marina! Nossa folga acaba essa semana! – Monica
reclamou.
- Pois é. Segunda-feira estamos de volta ao batente. Eu
com aquela megera. Você vai continuar com o mesmo
professor?
- Acho que sim.
- Nos encontramos segunda então? – Marina
perguntou.
- Ué, já vai?
- Já. Lívia quer dormir cedo, amanhã vamos para Mauá.
- Vamos Monica, você vai gostar de lá. – Lívia chamou.
- Ah, fica para uma próxima vez, eu vou para Parati
com Hugo.

As duas despediram-se dos amigos e foram embora.

Depois de passarem o final de semana em Mauá, tanto


Marina quanto Lívia encararam a semana cheia de
compromissos. Como Marina havia previsto, a
professora de piano ainda era a mesma, logo na
primeira aula encheu a loirinha de partituras e marcou
aula para mais dois horários durante a semana, ficando
assim impossível Marina ter aulas com Marconi. Lívia
teve muitos processos durante aquele período e só
conseguia ver Marina à noite, muitas vezes quando
chegava em casa ela já estava dormindo. Com a
correria do dia a dia nem teve tempo de encontrar com
Camila e até estranhou o sumiço dela. Pensou que
pudesse estar viajando ou se entretendo com alguém.

Era o dia de Marina fazer prova de direção, já havia


feito a prova teórica e passado sem maiores problemas.
Estava um pouco ansiosa, porém se controlava para a
surpresa de Lívia.

- Você vai me esperar amor?


- Claro, fica tranquila que você vai passar. Está
dirigindo muito bem. – beijou sua boca rapidamente. –
E se não der certo, a gente tenta de novo, ok?
- Ok. – sorriu.

Marina desceu do carro da promotora e foi esperar


junto com os outros aspirantes a motorista. Meia hora
depois a chamaram e ela entrou no carro, Lívia ficou
torcendo a distância. Passado um tempo a loirinha
voltou com um papel na mão e um rosto indecifrável.
Entrou no carro, fechou a porta e olhou para a noiva
com o semblante sério.

- E aí?
- Quer jantar comigo essa noite? Eu dirijo. – Marina
sorriu.
- Ahh! Eu sabia! Parabéns meu amor!
- Obrigada por me apoiar. – abraçou Lívia.
- Temos que comemorar!
- Claro! Hoje vamos sair para jantar, mas infelizmente
não posso dirigir, pois não tenho a CNH nas mãos
ainda.
- Quanto tempo para chegar?
- Mais ou menos uns quinze dias.
- Então hoje vamos comemorar em casa, quando a sua
habilitação chegar, nós saímos e você dirige. Pode ser?
- Tudo bem. – Marina sorria.

E assim foi, quando a habilitação chegou, Marina ligou


para Lívia e deu a notícia. Naquele dia as duas saíram
para jantar. Na garagem do prédio a loirinha abriu a
porta do carro para Lívia.

- Faço questão de ser educada, como a minha


namorada.
- Ei, eu já subi de posto, sou sua noiva. – Lívia
retrucou, mas brincando.
- Ah sim, minha noiva.

Entraram no carro e Marina o ligou já manobrando para


sair da garagem.

- Aonde vamos? – Lívia perguntou.


- Pensei naquele restaurante que você me levou a
primeira vez que saímos.
- Eu gosto de lá, é calmo e foi a primeira vez que
saímos juntas. Ainda não éramos namoradas, mas eu
já gostava de você. – Lívia confidenciou.
- Eu também. – Marina fez um carinho nas mãos dela.

Foram um pouco mais devagar, pois a loirinha ainda se


acostumava com o trânsito do Rio. Dirigia
perfeitamente bem, era segura e tinha os olhos atentos
à tudo, mas não deixava de dar atenção a Lívia. Marina
fez questão de pagar tudo em retribuição ao que Lívia
havia feito.

- Amor, não precisava então vir num restaurante


assim. – Lívia falou tentando ser delicada.
- Eu quis ué, e outra, não posso agradar você alguma
vez? Faz tanto por mim.
- Estou dizendo é que não precisava gastar seu
dinheiro.
- Tenho minhas economias. – Marina sorriu e ligou o
carro.

Agora que já tinha habilitação ficava mais fácil se


locomover, mas nunca ia a faculdade de carro, pois
tinha receio que os alunos falassem dela. A vida no Rio
parecia mais corrida do que antes. As aulas na
faculdade apertavam e ela e Monica sempre estudavam
juntas para dar conta de todas as matérias. Dessa
forma Monica se sentia mais segura também, pois sabia
que Marina era disciplinada e não a deixaria para trás
nos estudos.

- Monica aquela professora é um castigo. – Marina


reclamou.
- Ela pega no seu pé, não?
- Nossa! Com isso eu não tenho tido tempo nem de ver
Marconi, queria tanto ter algumas aulas com ele, mas e
o tempo? Não me sobra nada.
- Mas eu tenho escutado muito bem de você na
faculdade, inclusive já ouvi alguns rumores de que te
querem na orquestra.
- Sério? E o Paulo? Vai sair?
- Ele foi convidado para uma turnê na Europa, ficará
mais de seis meses fora. Já pensou se te colocam lá?
- Não pensei, meu Deus! Será mesmo?
- Vai ter que se ajeitar melhor é com a banda, mas
acho que dá pra conciliar. Sinceramente acho que tem
chance, se estivesse tendo aulas com Marconi talvez
não conseguisse, mas com a Vera será bem mais fácil.
Tudo que ela fala vira lei.

Marina ficou pensativa.

- Sem contar no cachê de cada apresentação. Aquela


vez que andei tocando com eles recebia cinco vezes
mais que tocando em casamento. E eu sou flautista viu.
Imagina uma pianista?

Os olhos da loirinha brilharam. Com o convite poderia


melhorar bem sua situação no Rio e ajudar seus pais.
Não criou maiores expectativas, pois poderia se
frustrar. Continuaram estudando pela tarde a fora.

Lívia entrou no seu escritório e passou direto por Érica


que tentou falar alguma coisa e não conseguiu. Quando
abriu a porta de sua sala deu de cara com Camila.
- Mas que diabo você está fazendo aqui. Érica! – gritou
a secretária.
- Eu tentei avisar, mas ela passou por mim como uma
bala.
- Lívia, voltei de viagem e queria muito conversar com
você. – Camila falou fazendo sinal para a secretária
sair.
- Agora não, estou muito ocupada.
- Essa é a frase que mais gosta de me dizer, no entanto
quando tem tempo para mim nos damos muito bem. –
alisou o braço da morena.
- Camila dá um tempo, me deixa em paz. Segue sua
vida que eu sigo a minha, não temos mais nada a ver
uma com a outra. Eu sou uma pessoa comprometida e
não quero confusão.
- Acha que não temos nada a ver, mas eu não
concordo. E quanto a você ter compromisso, não tenho
ciúmes. – riu maliciosamente.
- Por favor saia, estou pedindo com educação.
- Vamos nos encontrar qualquer dia desses, lá em casa,
estou morrendo de vontade de você. – falou em seu
ouvido.

Camila saiu deixando Lívia parada como uma estátua


no meio da sala. Antes de fechar a porta piscou para
ela e saiu. A promotora ficou atordoada, sentindo um
arrepio no corpo e os pensamentos bagunçados como
sempre. Sentou em sua cadeira e recostou fechando os
olhos. Saiu do transe porque o telefone tocou, era
Marina. Ligou para falar que se atrasaria e só chegaria
em casa depois das dez, pois estava com um trabalho
em grupo para fazer e os integrantes não tinham um
horário melhor para se encontrar. Como ela chegaria
tarde em casa, Lívia resolveu trabalhar até tarde.

Depois que todos saíram Lívia se trancou no escritório e


ficou trabalhando. Concentrou-se de tal forma que
esqueceu da hora. Passava das dez quando Marina
ligou para seu celular.

- Amor, onde está?


- Estou no escritório. Aproveitei que você não estaria
em casa e fiquei aqui trabalhando. Nossa nem vi a
hora. Estou indo pra casa.
- Vou te esperar, ainda estou estudando para a prova.
- Já chego em casa. Beijos.

Lívia saiu trancando tudo e foi para casa. Seu telefone


tocou e não identificou o numero do telefone, então não
quis atender, mas ele continuou insistente até que ela
resolveu atender.

- Alô.
- Lívia, por favor preciso que venha a minha casa, sofri
um atentado. – era Camila ao telefone.
- Como é que é? Do que está falando Camila?
- Entrei em meu apartamento e está tudo revirado.
Ainda tinha alguém aqui quando entrei, mas saiu pela
porta de serviço.
- Já chamou a polícia? – Lívia realmente se preocupou.
- Eles já vieram e aqui e fizemos um boletim de
ocorrência. Estou apavorada. – a voz de Camila parecia
nervosa e Lívia se comoveu.
- Vou passar aí.

Assim que chegou se identificou na portaria e subiu,


por ingenuidade deveria ter perguntado ao porteiro se
havia tido algum problema num dos apartamentos, mas
estava tão preocupada que não pensou nisso. No início
de sua carreira, Lívia também sofreu um sequestro
relâmpago e na época ficara apavorada, principalmente
porque sua mãe estava junto. Sempre se preocupava
com sua segurança e saber que alguém estava
passando pela mesma coisa a deixava muito
impressionada. Somente por isso foi ajudar Camila.
Quando bateu na porta, imediatamente a juíza a abriu.

- Graças a Deus. – correu em abraçá-la.

A morena reparou que o apartamento estava todo


bagunçado, ao menos a entrada até onde ela podia ver.

- Você está bem?


- Agora estou, mas não quero ficar aqui hoje.
- Vá para um hotel ou para casa de seu pai.
- Ele não está aí.
- Mas eu acho que não terá mais problemas, peça um
reforço da polícia. Se quiser conheço uma firma de
segurança, eles são confiáveis. Posso chamá-los e...
- Não! – Camila a interrompeu. – Fique aqui comigo um
pouco, só um pouco, por favor.

Lívia ficou com pena e não teve como recusar o


convite. Foi até a cozinha e preparou um copo de água
com açúcar e deu a ela. As duas sentaram-se para
conversar até que Camila pareceu se acalmar.

- Bom eu já vou indo. – Lívia falou se levantando.


- Fique mais um pouco. – Camila pôs a mão em sua
perna.
- Não posso, está tarde e amanhã tenho que estar no
fórum muito cedo.
- Obrigada por vir, eu não tinha para quem ligar. –
Camila aparentou desolação.
- Sem problema, cuide-se.

Quando Lívia virou-se Camila a segurou e num ímpeto


a beijou, mas não com a voracidade que fazia, dessa
vez foi delicado. A morena se assustou e tentou afastar
o corpo dela, mas Camila apertou-se contra seu corpo e
o beijo foi mais intenso. Suas línguas se encontraram e
daí pra frente Lívia não conseguiu se controlar mais.
Em minutos Camila estava em cima da bancada da
cozinha com as pernas abertas e enlaçadas na cintura
dela. Gemia alucinadamente com as estocadas que a
morena dava em sua vagina.

- Mais forte, mais forte... – pedia gemendo. – Ahhh...


eu vou gozar... ahhh... ahhh... – seu corpo estremeceu
forte. Puxou Lívia para um beijo e relaxou.
- Não posso ficar aqui, meu Deus o que eu estou
fazendo! – era como se Lívia despertasse daquela
situação sempre quando já tinha cometido o erro. –
Camila, por favor não me procure mais. Me deixe em
paz. – vestia suas roupas. – Me deixe em paz! – repetiu
e saiu do apartamento.

Olhou no relógio e era mais de meia-noite quando


desligou o carro na garagem do seu prédio. Ao entrar
no apartamento procurou por Marina e a viu no
escritório dormindo em cima dos livros. Correu até o
lavabo e lavou o rosto, as mãos, estava com nojo de si
mesma. Pegou a loirinha no colo e a levou para o
quarto. Deixou-a deitada na cama e foi tomar um
banho. Dormiu abraçada a ela e chorando.

Na manhã seguinte, Marina acordou e preparou um


café da manhã. Estava ajeitando a mesa quando sentiu
o abraço de Lívia.

- Bom dia.
- Ei, bom dia! Chegou tão tarde que eu nem vi. Aliás,
eu acho que dormi no escritório.

Lívia sorriu.

- Dormiu sim, eu a peguei e levei para a cama.


- Você chegou que horas? – Marina perguntou confusa.
Lívia pigarreou.

- Pouco depois das onze, peguei um trânsito infernal.


Essa cidade está cada dia pior.
- Eu tava tão cansada que nem vi.
- Ta muito corrido na faculdade?
- É que os professores ficam confabulando a desgraça
dos alunos sabe... eles se juntam em noites de lua
cheia e combinam suas provas e trabalhos ao mesmo
tempo, isso tudo regado a rituais macabros, onde eles
colocam nossos nomes numa caldeira fervente. –
Marina falava fazendo gestos engraçados.

Lívia soltou uma gargalhada.

- É verdade amor. Essa semana eu tenho três provas,


dois trabalhos e uma pesquisa sobre música sacra.
Monica está estudando comigo e é isso que nos ajuda,
assim uma cobra da outra.
- Você dá conta. – puxou Marina para um abraço. – É a
pianista mais competente dessa cidade, talvez do país e
um dia será do mundo. – enchia Marina de beijos.
- Mas você bateu com a cabeça hoje de manhã? –
Marina passava a mão na testa de Lívia.
- Bati e me vi completamente apaixonada por uma
loirinha de olhos verdes. Todo dia a amo mais um
pouco. – beijou-lhe os lábios.
- Amor, tenho uma novidade.
- Está grávida! – Lívia arregalou os olhos.
- Não sua boba.
- Ah que pena!
- Que isso! Quer ter filhos? – Marina perguntou
surpresa.
- Um dia, mas isso é assunto pra depois. Conta a
novidade.
- Monica me falou que estão precisando de um pianista
para a orquestra e que estão cogitando meu nome.
- Verdade? Amor que maravilha!
- Será que eles me chamam?
- Eu chamaria, pianista linda e competente.
- Nossa, seria muito bom para meu currículo. Será
como pianista temporário, pois o que está lá foi
convidado para tocar na Europa e quando ele voltar
toma seu posto novamente, mas já é alguma coisa.
- Tomara que dê certo, eu vou torcer.
- Obrigada.
- Agora preciso ir, tenho audiência bem cedo, nem
passo no escritório hoje.

Lívia foi se arrumar e Marina a acompanhou. Ajudou a


escolher a roupa e saíram juntas. Naquele dia à tarde a
promotora recebeu um buquê de flores e uma pequena
caixa com uma jóia e um cartão. Era de Camila
agradecendo pela gentileza no dia anterior. Fabrício foi
quem recebeu e deixou na sala dela, não teve como
não ler o cartão, pois ele estava sem envelope como se
fosse um postal. Antes de ir para casa Lívia passou no
escritório para deixar suas coisas e viu o presente.

- Sua amada deixou para você. – o rapaz sorriu.

Ela pegou e viu que era de Camila.

- Sua gentileza me comove. – Fabrício foi irônico.

Lívia pegou tudo e jogou fora, com exceção da jóia que


entregou a Érica.

- Pra você, por ser uma excelente secretária.

A garota ficou toda feliz com o presente.

Algumas semanas depois Marina entrava na sala para


ter aulas com Vera e a viu conversando com o maestro
da orquestra. Seu coração quase saiu pela boca. Tentou
disfarçar a curiosidade, mas seus olhos praticamente a
denunciavam.

- Marina, entre querida. Conhece Ernesto?


- Sim, bom dia. Tudo bem?
- Tudo ótimo. Marina estou conversando com Vera
sobre seu currículo, que apesar de ser uma nova aluna,
tem bastante pontos positivos. Estou precisando de um
pianista e o que procuro não é experiência e sim
disciplina. Quero alguém que chegue na hora, que seja
atento e o mais importante, que seja humilde. E por
tudo que já me falaram sobre você, esse último é seu
maior atributo. Estou cansado de músicos estrelinhas.
- Eu agradeço o elogio, sempre faço o melhor que
posso.
- O nosso próximo ensaio será nesta quarta-feira. Te
espero às duas da tarde no auditório.

Marina prestou atenção no que ele falou, mas custou a


acreditar.

- Está na orquestra da escola de música. – Vera sorriu


para ela.
- Meu Deus! Muito obrigada Ernesto! – sua emoção foi
tão grande que abraçou o maestro. – O que eu preciso
estudar para o ensaio?
- Nada por enquanto, este ensaio será somente para
apresentações, estão entrando outros músicos além de
você e quero conversar com todos.

Marina mal conseguiu se concentrar na aula depois que


o maestro saiu. Queria que acabasse logo para contar a
novidade para Lívia. Assim que saiu correu para o
escritório dela.

Lívia estava ao telefone quando Érica entrou


acompanhada de Camila. Seus olhos faiscaram em
cima da secretária.

- Lívia me desculpe, mas ela insistiu tanto e nem me


deu tempo de avisá-la.
- Não sei por que insiste em não me receber, sabe que
temos assuntos pendentes.
- Não temos nada a tratar. – a promotora foi grossa.

Camila mandou Érica sair e fechou a porta.

Quando Érica viu Marina entrando pediu apenas um


minuto, pois Lívia estava com outra pessoa em sua
sala.

- Só um minuto que vou avisá-la.


- Tudo bem eu espero aqui.

Fabrício apareceu com umas pastas na mão e a


cumprimentou.

- Ué, que faz aqui fora? Érica agora tem Alzheimer?


- Não seu bobo, é que Lívia está com alguém na sala
dela.
- Pode entrar por minha conta, pois não é importante. –
Fabrício queria que Marina visse Camila lá dentro.

Quando abriu a porta as duas estavam conversando,


Lívia em sua cadeira e Camila de frente para ela
apoiada na mesa. O rapaz teve uma surpresa maior
que se as duas estivessem fazendo qualquer outra
coisa.

- Chefe, tem visita.

Lívia olhou para Marina que olhava para Camila com


uma cara de surpresa.
- Oi meu anjo, que surpresa. – Lívia sorriu e fez sinal
para que Marina entrasse. – Camila, esta é minha noiva
Marina. – apresentou à juíza.

Camila olhou de cima a baixo para Marina, mas não a


cumprimentou.

- Depois conversamos, não esperava ser interrompida.


Eu te ligo e nos encontramos de novo. – Camila saiu
sem olhar para trás.

Lívia fechou a cara não gostando da falta de educação,


mas assim que ela fechou a porta, sorriu e voltou a
atenção para Marina.

- Que mulher grossa. – Marina reclamou.


- Ela é muito intolerante, agradeço imensamente por
ter vindo, pois me tirou do papo chato dela.
- Que ela queria com você?
- Ah... – pigarreou. – Nada demais, Camila é juíza e
sempre que nos esbarramos nos tribunais ela me liga
para comentar alguma coisa.
- Não gosto dela. – Marina emburrou.
- Ela não merece nem o seu desprezo. Vem cá, você
chegou aqui me parecendo animada, o que aconteceu?

Marina logo abriu o sorriso novamente.

- Amor, estou na orquestra. Me convidaram! Tenho


ensaio semana que vem! – falou dando pulinhos no
chão.
- Jura?! Que ótimo linda! – Lívia abraçou-a
parabenizando.
- Provavelmente será por um prazo determinado, mas
ainda assim isso valorizará meu currículo, sem contar o
salário e o cachê por apresentação.
- Estou muito orgulhosa de você.
- Agora terei de estudar dobrado. Passei aqui só para
lhe dar a notícia, queria que fosse a primeira a saber e
daqui vou para casa. Aí ligo pra minha mãe e depois
pra Monica.
- Chego cedo hoje.
- Que bom, vou esperar sem dormir dessa vez. –
sorriu.

Despediram-se e assim que Marina chegou ao


apartamento ligou para a mãe e contou a novidade.
Maria José ficou muito animada, disse que ia contar
para a cidade toda. Depois Marina ligou para Monica
que agitou uma comemoração.

No final de semana Marina e Lívia foram para Mauá e lá


contaram a novidade a Marta, que fez um jantar para
comemorar. No domingo de manhã Marta resolveu ir
para o Rio junto com as garotas.

- Ótimo mãe! – Lívia se animou. – Passe um tempo


com a gente lá.
- Vou pra te vigiar. – falou enquanto Marina não estava
perto.
- Que isso! Eu não preciso de vigia, sei me cuidar.
- De você eu sei que sabe, não sei se tem é cuidado
dela. – apontou para Marina descendo as escadas.
- Amor, mamãe vai conosco.
- Oba! Teremos waffles todo dia de manhã!
- Interesseira você, não? – Marta brincou.

Arrumaram tudo e saíram à tarde de Mauá chegando ao


Rio quase a noite. Depois que Marta se acomodou e
Marina entrou para o banho, Lívia foi conversar com a
mãe.

- Mãe, gosto muito quando a senhora vem passar uns


tempos comigo, mas não preciso que me vigie.
- Lívia eu a conheço, quando você agrada demais é
porque tem coisa errada. Você deu um carro de
presente para Marina, viajou com ela. Você gosta de
impressionar e isso já conseguiu. Agora eu quero saber
se você já se livrou daquele problema. Já?
- Está controlado. – Lívia tentou despistar.
- Como assim?
- Ela me procura, mas eu não dou conversa.
- Certeza? Não minta para mim. Ficaria muito chateada
com isso.
- Aconteceu de novo, mas faz tempo que não nos
vemos e eu tenho a evitado o quanto posso, pra não
acontecer outra vez. Eu juro que corro dela.
- Você não sabe controlar seus instintos? Parece uma
adolescente Lívia.
- Não sei o que acontece comigo mamãe. Camila é
intransigente, ousada, tem personalidade forte e...
- E isso a atrai. Marina é um doce, mas é menininha
demais e tem hora que te cansa.

Lívia abaixou a cabeça, sua mãe tinha razão.

- Eu a amo, mas às vezes é mais forte, por isso corro


de Camila como o diabo foge da cruz. Quando estou
com Marina meu mundo se transforma, eu gosto de
viver com ela, de estar ao seu lado, mas com Camila eu
me sinto mais mulher. Isso é horrível. Como pode uma
coisa dessas? – chorava como criança.
- Você está indecisa. Gosta da companhia de Marina, a
ama, mas com a outra você tem paixão, fogo. Posso
até dizer que isso é normal, o problema é que você
coloca em risco seu relacionamento. E pior, vai acabar
machucando uma pessoa que não merece. Decida o
que quer. Eu não vou me meter, pois isso é uma
questão sua. Só tenha cuidado para não escolher o que
é passageiro e depois perder o que seria pra sempre.
As palavras de Marta eram simples, mas atingiram Lívia
em cheio. Foi ao banheiro lavar o rosto para que Marina
não percebesse. A mãe estando no Rio as coisas seriam
mais tranquilas e de certa forma se sentia mais
protegida.

Com os ensaios da orquestra a rotina de Marina mudou


um pouco. Vera deixou de exigir tanto e passou a
ajudá-la com as músicas passadas pelo maestro. Como
suas notas estavam boas, ela não teve que se
preocupar com os próximos trabalhos. O que ela
recebia por estar na orquestra era bem mais do que o
que recebia com a banda, mas ainda assim continuou
fazendo show com eles aproveitando para guardar
dinheiro e enviar um pouco para a família, que mesmo
protestando ela insistia. Monica saiu do grupo que
tocava em casamentos e entrou em outro que tocava
chorinho e sempre tocavam em coquetéis e alguns
bares específicos. Com Marina ficando direto no
apartamento de Lívia, Hugo praticamente foi morar
com Monica.

- Vocês dois aqui, vê se colocam o juízo em primeiro


lugar viu. – Marina recomendou.
- Relaxa Marina, não fazemos nada que você também
não faça. – Monica riu com sarcasmo.

Marina ficou vermelha como uma pimenta.

- Só que eu não preciso me preocupar com gravidez.


- Que isso, a gente se previne. – Hugo falou. – Se bem
que uma menininha de olhos cor de mel e cabelos
cacheados ficaria uma graça.
- Ave Maria com vocês dois. – Marina revirou os olhos.
– Preciso ir, ainda me encontro com Eduardo, ele te
passou as músicas novas? – perguntou a Hugo.
- Passou, eu vou escutar hoje.
- Eu nem sei quais são e tem show amanhã.
- Esquenta não que são todas tranquilas, já falei com
ele que o nosso repertório está muito grande, temos
que tirar algumas músicas. Já enjoei de muitas, mas
ele é teimoso.
- Aí vou ter que concordar. Tem coisa ali que eu toco de
olhos fechados e de costas. – brincou. – Beijos e juízo
os dois hein! – recomendou mais uma vez.
- Êta mulher chata! – Monica fez uma careta.

Com a presença de Marta, a rotina de Marina e Lívia


havia mudado um pouco. Ela fazia questão de que as
duas almoçassem em casa e isso exigia que tanto uma
quanto a outra se deslocasse até o apartamento todo
dia. Quebrou um pouco os horários, mas deu certo. O
tempo passava voando e as duas mal puderam
comemorar os próprios aniversários e menos ainda o
aniversário de namoro, mas sempre se davam atenção.
Por conta da orquestra, Marina só tinha aulas de manhã
e a tarde usava o tempo livre para estudar em casa.
Marta adorava, pois tinha música ao vivo.

- Eu sou mesmo uma pessoa privilegiada. – comentou.


– Tenho música de qualidade e ao vivo todas as tardes.
– sorriu.
- É mãe, a senhora vê Marina tocando mais que eu. –
Lívia fez um bico e olhou para a loirinha.
- Não é verdade, você me vê tocando sempre nos
shows.
- Isso não é a mesma coisa, no show tem os meninos e
você toca pra mais gente.
- Ela quer que você toque só para ela Marina. – Marta
falou sorrindo.
- Hum... ta bom, vou preparar um recital só pra você. –
Marina piscou para Lívia.

Depois do almoço Lívia voltou ao escritório e Marina


continuou nos estudos. E foi assim por todos os dias
que Marta estava com elas. Lívia, quando podia, saía
mais cedo do escritório e se juntava às duas. Gostou da
rotina e achou ruim quando a mãe manifestou a
vontade de ir embora. Marta disse que tinha as coisas
dela em Mauá e num domingo à tarde pegou o ônibus
de volta. Despediu-se das meninas desejando a visita
delas e recomendando a Lívia muita calma e
serenidade.

- Mãe, eu amo muito a senhora. – Lívia a abraçou antes


dela entrar no ônibus.
- Também te amo filha, tenha calma e cuide-se, isso
tudo vai passar.

Lívia se emocionou e deixou Marina emocionada


também.

- Saudade da minha mãe também. – a loirinha falou


com os olhos marejados.
- Na falta da tua mãe eu estarei aqui viu lindinha,
quando quiser um colo de mãe, pode contar com o
meu. – abraçou Marina.

Assim que as duas retornaram ao apartamento Marina


perguntou a Lívia:
- Tem alguma coisa para fazer agora?
- Não.
- Então senta aí. – mostrou a mesa próxima ao piano.

Pegou uma garrafa de vinho e uma taça na pequena


adega na sala e colocou em cima da mesa, serviu Lívia
e depois se sentou ao piano e colocou as partituras em
ordem começando a tocá-las. Lívia sorriu e relaxou na
cadeira apenas ouvindo a melodia. Marina tocou
músicas eruditas e populares, misturando mais lentas
com algumas agitadas. Uma hora depois parou de tocar
e olhou para a morena que lhe sorria encantada.

- Adorei! – falou batendo palmas. - Será que a pianista


me dá o telefone dela?
- Não posso, já tenho noiva. – falou virando-se para
Lívia e sorrindo, entrando na brincadeira.
- Ah que pena, cheguei atrasada.
- Pelo que vejo você também é compromissada. –
apontou a aliança de Lívia.
- Ela não tem ciúme ou pelo menos demonstra pouco. –
sorriu.
- Aposto que tem. Ainda mais sendo bonita como é.
- Me achou bonita? – Lívia se aproximou encarando-a.
- Achei. – Marina fingiu timidez.
- Então me dá uma chance. – cheirou o pescoço da
loirinha. – Eu gostei tanto de você, acho que estou
apaixonada. – beijou os lábios dela.
- Você é muito safada, diz isso pra me impressionar. –
enlaçou o pescoço da morena.
- Juro que só digo a você. – Lívia olhou nos olhos dela.
– Vou lhe mostrar que é única em minha vida. – Pegou
Marina no colo e a levou para o quarto.

O primeiro encontro de Marina com a orquestra foi


somente para apresentações e só na outra semana é
que começaram de fato a ensaiar. Era cansativo, mas
como Vera a ajudava o resultado estava ficando muito
bom. E já tinham uma apresentação para fazer para
dali a dois meses. Marina programou a vinda de sua
família para assistirem. Estava empolgada e ao mesmo
tensa com a chegada deles. Lívia havia comprado as
passagens de avião para que viessem de São Paulo
para o Rio, porém ainda não tinham pensado em onde
eles ficariam.

- Amor, por que eles não podem ficar aqui? – Lívia


perguntava.
- Eu não sei Lívia, eles podem desconfiar.
- De que? O apartamento é grande, eles dormem no
meu quarto, seu irmão e sua cunhada ficam no outro
quarto e nós dormimos no escritório, lá tem o sofá que
vira cama de casal. E mamãe fica no outro quarto
menor que tem a cama de solteiro.
- Você já tem tudo programado né? Quando quer
alguma coisa não tem quem argumente contra.
- Claro, penso em tudo. – Lívia sorriu. – E ainda acho
melhor eles ficarem aqui que é mais confortável, lá no
seu apartamento ficarão todos muito amontoados. E
tem Hugo que fica mais lá que na casa dele.
- E o que eu vou dizer a eles?
- Diz que eu ofereci o apartamento e que mamãe
estará aqui para ficar de companhia.
- Ta bom, não tem jeito mesmo, se não fizer isso você
vai emburrar que eu sei.
- Não vou emburrar, só estou querendo que todos
fiquem bem enquanto estão no Rio. Agora, se acha que
isso não é importante, faça como quiser. – Lívia virou
de costas fingindo mexer em algo.

Marina a olhou assustada, achou a atitude meio


grosseira.

- Já disse que está tudo bem Lívia, será como você


sugeriu. – falou e saiu, subindo para o quarto.

Lívia ficou na sala assistindo TV e deixou Marina no


quarto, só depois de um tempo que subiu e a viu lendo
na cama.

- Desculpa linda! Eu me exaltei, também estou um


pouco nervosa com a vinda deles e você ainda diz que
tudo tem que ser do meu jeito.
- E não é? Quando as coisas não saem da forma que
quer, você se altera e age com falta de educação.
- É que você fica nervosa, mas não age. Eu procuro
pensar em resolver a situação. Aí quando arrumo um
jeito e você dá de contra...
- Não dei de contra, só penso na possibilidade deles
desconfiarem. Minha cunhada é mais esperta do que
imagina. Tenho medo dela descobrir algo.
- Nada vai acontecer, eu sei que não. Fique calma. –
Lívia afagou suas mãos.
- Ta bom.

Marina voltou a atenção para o livro e Lívia foi para o


escritório de sua casa.

Uns dias depois a família de Marina chegou ao Rio e


foram recebidos por ela e Lívia. As duas foram em
carros diferentes para buscá-los no aeroporto. Marina
abraçou a todos muito feliz por estarem na cidade.

- Fizeram boa viagem? – foi Lívia quem perguntou.


- Fizemos. Moça que frio na barriga que dá na gente
quando esse bicho sobe. – Roberto falou.
- Luisa adorou, veio na janelinha olhando tudo e
sorrindo. – Zezé comentou.
- Vamos indo então, minha mãe está esperando lá em
casa com o almoço na mesa.
- E aí Mateus, não deu frio na barriga? – Marina
perguntou.
- Que nada, muito bom viajar de avião, se tivéssemos
vindo de ônibus ainda estávamos agarrados na estrada.

Eles se separaram e Lívia levou Maria José e Roberto,


Marina levou Mateus, Barbara e Luisa, pois já havia
colocado no seu carro a cadeirinha para carregar a
sobrinha.

- Nossa que carrão! – Mateus falou entrando no veículo.


Ela deve ganhar muito dinheiro.
- Lívia trabalha muito, nem sei como teve tempo de vir
aqui agora buscar vocês. – Marina falou. – A mãe dela
está aí e ela quem ofereceu de vocês ficarem lá no
apartamento delas. É maior e mais cômodo. Então
enquanto estiverem aqui, eu vou ficar lá também.
- Muita gentileza sua e de sua mãe nos receberem na
sua casa viu. – Maria José falou com Lívia no outro
carro.
- Imagina dona Zezé, mamãe vem aqui no Rio e fica a
maior parte do tempo sozinha pois eu trabalho o dia
todo. Ela vai gostar da companhia de vocês.
- Marina ficará aonde? – Roberto perguntou.
- Eu a chamei para vir também, senão não tem graça,
ela no apartamento dela e vocês aqui.

Marta os recebeu com um sorriso e muito simpatia.

- Que prazer conhecer vocês. Marina falou de vocês a


semana toda. – depois que disse que pensou no fora
que havia dado, pois para Marina falar, teria que
conviver com elas mais tempo. – Sempre que nos
encontramos ela fala de vocês. – corrigiu.
- Obrigada por nos receber. – Zezé sorriu. – Estamos
deslocando vocês na própria casa, é muita visita.
- Imagina. – Marta sorriu. – Esse apartamento é grande
e já combinamos tudo direitinho. Vocês ficam no quarto
de Lívia, os dois com a criança no meu quarto e eu no
outro menor. Elas dormem no escritório, pois tem sofá-
cama. Eu ia dormir lá, mas minha coluna esses dias
não anda boa. Aí Marina trocou comigo. – Marta havia
inventado uma desculpa excelente para deixar as duas
juntas.
- Vê se pode, eu na cama com você passando aperto de
dor na coluna.

Depois das devidas apresentações todos se sentaram


na sala para esperar o almoço.

- Vou lá te ajudar Marta, assim não fica


sobrecarregada. – Marina se levantou a acompanhando
até a cozinha.

Já na cozinha, Marta riu do próprio comentário.

- Menina, quase te entrego. Eu e minha boca.


- É assim mesmo, a gente fala pelo hábito.
- Me ajude a pegar as coisas do forno.

Depois do almoço Lívia voltou para o escritório e Marina


foi ao seu apartamento falar com Monica. Fez mil
recomendações sobre os pais dela e que ela não desse
nenhum fora.

- Fica calma Marina, não vou falar nada que possa lhe
comprometer. – riu do nervosismo da loirinha.
- Olha lá hein? Vou para o último ensaio da orquestra.
- Eu te acompanho, tenho aula agora à tarde.

Marina, assim como alguns músicos da orquestra,


esperavam os retardatários chegarem e enquanto isso
ficou ensaiando com o abafador no piano. Não tocava
nada em específico, apenas improvisos. Um colega na
flauta resolveu acompanhá-la e logo os violinistas se
prontificaram, sendo acompanhado pelos
percussionistas. Quando perceberam estavam tocando
fazendo um arranjo diferente em cima da melodia de
Samba do Avião. Marconi escutou de longe e foi
conferir de perto, não se surpreendeu ao ver Marina no
piano.

- Essa menina é demais. – bateu palma quando


acabaram. – Marina você me mata de orgulho!
- Ei! Quanto tempo! Saudade de você!
- Eu também menina.

Os dois sentaram-se na primeira fileira do auditório e


ficaram conversando até o ensaio realmente começar.

- Não esquece de mim quando ficar rica e famosa. – o


professor brincou.
- Ah que nada, você é meu preferido, sabe disso. –
sorriu.

Despediram-se e ela foi ensaiar.

Quinta e sexta a banda tocou nos bares de costume e


Marina levou a família para ver. Apesar de estarem
acostumados a dormir cedo, eles toleraram bem o
horário tardio. Puderam conhecer o restante da banda e
rever Eduardo.

- Meu jovem, quanto tempo. – Zezé o cumprimentou.


- Oi dona Zezé, está passeando no Rio. Marina
comentou, mas a gente anda estudando tanto que só
se vê em dia de show.
- Estamos na casa da amiga dela e estou adorando o
passeio.
- Marina, vamos levá-los para conhecer a cidade.
- Vou levar, no domingo de manhã e na segunda.
Vamos ver se dá pra conhecer os principais lugares.
Marta está ajudando muito, ela sai com eles aqui por
perto.
- Sogrinha é pra isso. – falou só para Marina ouvir.
- Palhaço. A sua vem aí também viu, ela chega no fim
de semana.
- Nossa e num é. Vai ficar comigo e Fabrício.
- Juntemos a família toda.

Lívia que havia chegado se juntou ao pessoal.

- Nossa por pouco não pego nem a segunda parte do


show. Ô dia difícil! Fabrício você trouxe a pasta que te
pedi?
- Sim senhora. Está com Marina, depois pegue com ela.
- Cadê ela?
- Está no banheiro.

Lívia foi até ela e a encontrou saindo do reservado.

- Ei bonitinha.
- Oi meu bem, chegou agora?
- Graças a Deus.
- Deu tudo certo lá no fórum?
- Sim, mas foi cansativo. Entra aí um pouquinho. –
pediu que ela voltasse ao reservado.

Marina entrou e Lívia fechou a porta.

- Só pra te dar um beijo. Estou com saudade, um dia


inteiro sem um beijinho. – deu um selinho nos lábios
dela, mas Marina segurou seu rosto para um beijo mais
longo, mordendo o lábio inferior no final.
- Matou a saudade? – beijou de novo.
- Acho que me deu mais vontade. – Lívia encostou sua
testa na de Marina. – Preciso me comportar, não é?
- Ahan. – Marina sorriu.

Depois da abstinência da morena em São Paulo, com a


vinda da família de Marina as coisas estavam como da
outra vez. E Lívia se segurava, dessa vez sendo mais
tolerante. As duas ouviram vozes no banheiro, era
Monica com Barbara.

- Engraçado, achei que Marina estivesse aqui. – Monica


comentou.

Lívia fez sinal para que ficasse quieta, mas as duas


riam e colocavam as mãos sobre a boca. Logo que elas
saíram, Lívia esticou a cabeça para ver e abriu o
reservado, saindo junto com Marina.

- Foi por pouco. – a loirinha arregalou os olhos.

Roberto e Zezé ficaram orgulhosos de ver a filha


tocando e saber que o público gostava da banda.
Assistiram aos dois shows deles e no sábado se
preparavam para a apresentação da orquestra. De
manhã Marina quis sair com a mãe para comprar uma
roupa nova. Acabou todo mundo indo para almoçar no
shopping.

- As coisas aqui são muito caras. – Zezé comentou.


- É, eu assustei a primeira vez que vim aqui.
- Será que não achamos outro lugar pra comprar filha?
- Calma mãe, sua roupa será um presente meu. Pode
escolher.

Lívia observava as duas e ficou feliz em saber que


Marina estava presenteando a mãe. Via a satisfação da
loirinha em agradar a família. Compraram roupas novas
e depois as mulheres foram ao salão, enquanto
Roberto, Mateus, Eduardo e Fabrício ficaram na praça
de alimentação tomando chope. Quando todas saíram
estavam arrasando no visual.

- Ô mulherada bonita! – Roberto falou. – Até Luisa


ganhou um penteado.
Marina vinha com Luisa nos braços e sorrindo, quem as
visse pensariam que eram mãe e filha. Lívia olhava
toda boba.

- Quem sabe um dia não me dá uma netinha linda


assim. – Marta comentou somente com a filha.
- Um dia dona Marta... Vai saber, não é? – Lívia a
abraçou.

Voltaram para casa e se arrumaram. Marina tinha que


ir primeiro então foi de táxi.

- Eu fico mais tranquila com ela indo de táxi, dirigir


nessa cidade é muito perigoso. – Zezé falou. – Não sei
pra que ela quis tirar carteira de motorista.
- Que isso Zezé, aqui no Rio não é tão ruim de dirigir.
Tem trânsito, mas não é como pensa. E Marina um dia
vai comprar o carro dela, aí já terá a sua habilitação. –
Marta falou tentando convencê-la.
- Eu rezo todo dia pra ela se cuidar aqui. Sabe como é
preocupação de mãe.
- Se sei, Lívia não me deixa tranquila também.
- As duas se dão bem, não é? – Barbara falou.
- Sim, eu gosto muito de Marina. Ela é uma menina
muito boa e Lívia viu nela uma grande companhia. –
Marta falava a verdade. Realmente Marina fazia muito
bem a Lívia, só omitiu pequenos detalhes.

A orquestra passava o som e Marina estava mais


ansiosa que nervosa. Queria logo começar. O maestro
lhe dava alguns conselhos e logo Marconi apareceu
para lhe cumprimentar.

- Marconi, estou ansiosa. Minha família está no Rio,


vieram para me assistir.
- Então vou conhecer seus pais. Será uma honra, vou
dizer que a filha deles foi minha melhor aluna.
- Não enche a minha bola que eu fico confiante demais.

Os dois riram.

- Vim desejar boa sorte viu. Sei que é um grande passo


pra você e que vai dar conta. Você merece o lugar onde
está. Não esqueça que ninguém consegue sem esforço
e você é prova viva disso.
- Obrigada.

Abraçou-a e a deixou concentrando-se. Depois ele


chegou perto de Vera que falou enciumada.

- Ela gosta mais de você que de mim.


- Vera, deixa de ciúmes. Marina só não está
acostumada com seu jeito.
- Tem quase um ano que estudamos juntas, e ela
continua arredia.
- Ela vai se acostumar.

Os convidados já chegavam e se acomodavam. A


família de Marina, juntamente com Lívia, Marta e os
garotos mais Monica e Bete, sentaram-se numa fileira
onde dava para vê-la melhor. Os músicos foram
entrando um a um e logo depois o maestro, que
cumprimentou a platéia e depois se virou para a
orquestra, levantou a batuta e começou. A acústica do
auditório Leopoldo Miguez era uma das melhores e o
som se propagava de uma forma envolvente. Maria
José ficou muito emocionada, deixando escapar umas
lágrimas. Em um dos atos Marina solava e no momento
em que ela começou seus olhos concentraram-se na
partitura.

- Ela fica linda quando se concentra. – Lívia comentou


com Eduardo.
- Espera que vou pegar o babador. – ele brincou. –
Feche a boca, está dando pinta.

A orquestra se apresentou por pouco mais de uma


hora. Ao final os músicos se levantaram e foram
aplaudidos de pé. O maestro se aproximou de Marina e
passou o braço em seu ombro.

- Gostei de ver. Está de parabéns Marina.


- Obrigada, sempre podemos melhorar, mas o elogio é
meu maior incentivo.

Quando pode descer do palco Marina foi envolvida pela


família e os amigos, que a abraçaram e sua mãe em
especial veio emocionada.

- Que lindo filha!


- Ih mãe, a senhora está chorando. Fui tão mal assim?
– brincou.
- Foi muito bonito, estou muito orgulhosa, vou contar
pra Jaú inteira.

Marconi passou próximo a eles e Marina o chamou.

- Marconi, esses são meus pais, meu irmão, minha


cunhada e minha sobrinha. – sorriu. – Gente, esse é o
Marconi, ele foi meu primeiro professor.
- Opa, família inteira. Muito prazer.

Todos o cumprimentaram.

- Tenho que dizer que vocês têm uma filha de ouro.


Marina é uma excelente aluna, muito aplicada e
esforçada. Sempre falo e é verdade, ela me mata de
orgulho. – sorriu.
- Marina, quanto pagou para ele falar isso? – Eduardo
brincou.
- Ah seu bobo, sabe que Marina é minha queridinha
aqui na faculdade.

Seu Roberto e dona Zezé estavam com o ego inflado de


tantos elogios à filha.

Lívia se aproximou falando.

- Gente, queria convidar vocês para jantar, um evento


desses precisa no mínimo ser comemorado. – passou o
braço na cintura de Marina. – Essa menina merece.

Fabrício olhava tudo sem se manifestar e Eduardo


ficava de olho pra que ele não fizesse nenhum
comentário maldoso. Lívia os levou em um restaurante
no Leblon. Havia reservado uma sala somente para
eles.

- Nossa que lugar chique. Lívia deve gostar muito de


Marina pra fazer uma festa dessas. – Barbara
comentou.
- Não é festa, é só uma comemoração. Marina rala
muito aqui no Rio, merece não é? – Eduardo se
apressou em falar.
- A gente passa cada coisa que ninguém imagina. –
Monica entrou no assunto. – Posso dizer que hoje as
coisas estão mais ajeitadas, mas no início ficávamos
perdidas. Sozinhas, não tínhamos amigos que nos
ajudasse aqui no Rio. Os primeiros meses foram
difíceis. Tínhamos apenas uma à outra. Fiquei com
medo de Marina desistir, porque ela pensou várias
vezes nisso.
- Eu não estaria aqui se não fosse você, sabe que é
minha irmã do coração. – Marina sorriu para ela.

Ao som ambiente do restaurante, muito vinho e


champanhe todos brindaram e festejaram a noite
inteira. Tudo corria muito bem quando Camila
apareceu. Pela vidraça da sala onde estavam Lívia a
viu, assim como Fabrício, que voltou seu olhar para a
prima esperando sua reação. Ela nada falou e
disfarçou. Porém a juíza não perdeu a oportunidade de
ir falar com eles e entrou no lugar.

- Boa noite! – Camila falou.

Lívia gelou a ponto de enrijecer o corpo.

- Boa noite Camila, como vai?


- Bem, mas vocês estão melhores, estão
comemorando. Que maravilha! Qual o motivo?
- Estamos prestigiando uma pessoa. – Fabrício
respondeu.
- Sim minha filha. – Zezé se adiantou pensando se
tratar de alguém amigo e apontou para Marina.
- Ah sim. – Camila tinha um ar arrogante. – Não vou
atrapalhar a festinha. – falou desdenhando. – Divirtam-
se. – quando ia saindo voltou-se e olhou para Lívia. –
Querida, depois nos falamos, preciso terminar aquele
nosso assunto que ainda está pendente. – e saiu
sorrindo.

Marina ficou tão séria que nem disfarçou. Não gostou


nada do tratamento que a juíza deu a Lívia, cerrou os
punhos num gesto de raiva e não olhou mais para a
morena. Marta foi quem cortou o clima.

- Será que só eu nessa mesa está com fome? Gente,


não como nada desde o almoço. Preciso de algo
substancial. Fui arrumar meus cabelos e me prenderam
no cabeleireiro por horas. Por isso essas modelos são
tão magras, ficam se embelezando e não comem. –
tirou risada dos demais.
- Chame o garçom mãe, e vamos pedir o jantar.

Tudo transcorreu bem, mas Marina continuava séria e


sem dar atenção a Lívia. Fabrício reparava cada detalhe
e percebeu que a loirinha não era tão ingênua como ele
achava. Findado o jantar cada um foi para sua casa e
de tão cansados Roberto e Maria José dormiram logo.
Mateus e Barbara ficaram no quarto assistindo um
filme. Luisa já dormia. Marta também foi dormir e
Marina ficou na varanda olhando para o mar. Lívia a viu
quieta e foi trocar de roupa, quando voltou a loirinha
estava no mesmo lugar. Resolveu ir até ela, chegou por
trás e pôs a mão em seu ombro.

- Não vem dormir?


- Agora não. – Marina respondeu sem olhar.
- Podemos conversar ou acha melhor amanhã?
- Não precisamos conversar.
- E vai ficar assim até quando?
- Me deixa quieta Lívia. Vai dormir.
- Acha que vou conseguir dormir sabendo que você
está aqui e com raiva de mim. Quero saber ao menos o
que aconteceu.
- Você não sabe o que é? – olhou com certo deboche.
- Eu imagino, mas pra ter certeza precisamos
conversar. – Lívia se aproximou mais, ficando ao lado
dela. – Sinto muito sobre a presença de Camila, não
tenho como evitá-la em lugares públicos.
- Não é isso, é a forma como ela trata você. Como se
tivessem algo, como se ainda existisse intimidade. Ela
tem acesso a você, coisa que as outras não têm.
Enquanto já te vi evitando várias mulheres, com ela
isso não acontece. Por quê? Além disso ela não me
trata bem e não entendo o motivo, nunca fiz nada a
ela.
- Se eu pedir desculpa vai adiantar alguma coisa?

Marina não respondeu, mais por não saber a resposta.

- Me deixa sozinha Lívia. Preciso pensar.


- No que?
- Preciso entender essa situação e o meu sentimento,
não quero conversar, pois posso dizer coisas que vão te
ferir e eu não quero isso. Preciso entender se estou
exagerando ou não. E pra isso tenho que ficar sozinha.

As palavras de Marina cortaram o coração de Lívia.


Apesar de tudo ela ainda pensava em resguardar o
relacionamento, não colocando a culpa em ninguém.
Tentava avaliar as coisas melhor que ela.

- Tudo bem. – Lívia beijou o topo da cabeça de Marina.


– Te amo. – e saiu.

Marina sentou na espreguiçadeira da varanda e ficou


pensando por um bom tempo. Teve ciúme, medo,
desconfiança, mas quando se lembrava das declarações
amorosas de Lívia e de quando ficavam juntas, todas as
suas dúvidas sumiam.

“Mas por que essa mulher sempre aparece? Será que


ela ama Lívia até hoje?” Com pensamentos indo e vindo
o sono a venceu e dormiu ali mesmo.

Lívia virou pra um lado e pra outro sem conseguir


dormir. Resolveu ler um pouco e o tempo foi passando,
nada de Marina, até que ela voltou à sala e viu a
loirinha dormindo na varanda. Seu semblante era
tranquilo, mas o nariz vermelho denotava choro.
Pegou-a no colo e levou para o escritório onde estavam
dormindo. Tirou a roupa da apresentação, que ainda
usava e a deixou somente de calcinha e sutiã. Puxou a
coberta e aninhou Marina em seus braços, que
instintivamente se aconchegou. Ficou alisando aqueles
cabelos loiros e só assim se sentiu melhor, dormindo
em seguida.

No dia seguinte Marta levantou cedo e bateu na porta,


viu as duas dormindo abraçadas.

“Mas é uma falta de juízo mesmo.” Chegou perto de


Lívia e a chamou baixinho.

- Minha filha, acorde.

Lívia abriu os olhos com dificuldade.

- Que foi mãe? Quantas horas?


- É cedo, eu que acordei pra beber água e passei por
aqui. Não pode ficar assim com Marina, já pensou se os
pais dela abrem a porta e as vêem assim?
- Eu nem me dei conta. – falou se desvencilhando de
Marina bem devagar para não acordá-la. – Dormi tarde,
estou com sono ainda.
- O que houve? – Marta se ajoelhou perto do sofá-
cama.
- Marina não gostou do que aconteceu ontem no
restaurante.
- Deve ter ficado cismada, com razão, aquela mulher é
inconveniente.
- Camila é meu maior castigo. – esfregou os olhos.
- Vá dormir então, eu vou fechar a porta e dizer que
vocês dormiram tarde e estão cansadas. Vou tentar
distraí-los.

Marta fechou a porta e Lívia voltou a dormir abraçada


com Marina. Cheirou seus cabelos, seu pescoço
sentindo seu perfume suave e dormiu. Acordaram
horas depois, as duas juntas, pois Marina se remexeu e
assustou Lívia. Ficaram se olhando como que
desconcertadas.

- Bom dia. – Lívia acariciou o rosto da loirinha.


- Bom dia. – Marina baixou os olhos.
- Se eu não vou te buscar, você iria dormir na varanda.
- É, estou me perguntando como vim parar aqui.
- Não consegui dormir e fui lá te ver, você estava
encolhidinha na cadeira. – beijou sua testa. – Aí te
peguei no colo, trouxe para cá, tirei sua roupa e cobri
você. Fiquei velando seu sono até que dormi também.
– Lívia respirou fundo e olhou nos olhos de Marina. –
Perdoe amor pelo inconveniente de ontem. Eu queria
que sua noite tivesse sido a mais especial, infelizmente
não pude lhe proporcionar isso, eu...
- Shii... – Marina colocou o dedo nos lábios dela. – Você
não tem culpa da falta de bom senso daquela mulher.
Ela me incomoda sim, não vou negar, mas preciso
trabalhar isso dentro de mim, me sentir mais segura.
Tenho a sensação de que ela vai me prejudicar. Bobeira
minha eu sei, mas espero que passe.
- Não quero que pense em Camila, ela não vale um
segundo da sua atenção.

Marina baixou os olhos, tinha o olhar ainda perdido.

- Olha pra mim. – Lívia levantou seu queixo. – Eu te


amo e nenhuma pessoa nesse mundo pode mudar isso.
Te ver chateada me deixa sem reação, fico
completamente desnorteada a ponto de não conseguir
dormir como ontem.
- Lívia... – Marina a olhou seriamente. – Se um dia se
cansar de mim ou se me trair, por favor, me diga,
quero ser a primeira a saber. Não suportaria ser
enganada por você.

Lívia puxou Marina contra seu corpo e a abraçou tão


forte como se quisesse fundir seus corpos. Chorou
silenciosamente, de remorso, de culpa, de vergonha,
era um misto de sentimentos. Não soube o que dizer,
apenas se agarrou a loirinha. Marina foi quem
interrompeu o abraço.

- Peraí! Eu estou somente de roupas íntimas? Lívia você


não me vestiu? Dormimos assim?
Lívia a olhou com uma cara safada.

- Pare de rir! – Marina fez um bico. – Já pensou se


meus pais abrem essa porta? – levantou procurando a
roupa de dormir e a vestiu rapidamente. – Sua sem-
vergonha, não tem um pingo de juízo.

A morena continuava a olhando divertida.

- Já entraram aqui. – falou num sorriso contido.


- O que? E eu estava assim?

Lívia caiu na gargalhada.

- Foi minha mãe sua boba. – puxou Marina fazendo cair


em seu colo. – Ela fechou a porta e disse que ia distrair
seus pais. Eles nem devem estar em casa.
- Humpf. – Marina estava emburrada.
- Não emburra senão vou ter que recorrer às minhas
habilidades.
- Que habilidades?

Lívia começou a fazer cócegas em Marina, mordendo e


beijando ao mesmo tempo.

- Para amor... – ria – Por favor. – mais cócegas.


- Só se disser que me ama. Ainda não ouvi hoje. – Lívia
parou por um momento.

Marina a olhou com ternura, sorriu franzindo o nariz.

- Eu te amo sua sem juízo. – beijou-lhe os lábios.

As duas estavam namorando quando a porta se abriu


de repente, era Luisa entrando puxando uma centopéia
que tocava uma musiquinha.
- Cristo Deus, que susto Isa!
- Titiiii! – veio sorrindo.
- Bom dia neném. – Marina a pegou no colo. – Você
está acordada a toda já né? Dá bom dia pra tia Lívia.

Luisa mexeu as mãozinhas e sorriu para Lívia, tentou


falar o nome dela, mas não conseguiu.

- Fala assim: Bom dia tia Lívia! – Marina a ensinava.


- Li... Li... – Sorriu. – Liliii...
- Ih... já ganhou um apelido.

Lívia sorria para ela.

- Essa menina é muito especial, nunca vi uma criança


tão feliz.

Luisa esticou os bracinhos para que Lívia a pegasse e


ficaram brincando com ela até Barbara chegar na porta.

- Ela já esta amolando vocês? Luisa, vem aqui minha


filha.
- Deixa ela, estamos brincando. – Lívia sorriu.
- Onde está minha mãe e meu pai? – Marina
perguntou.
- Saíram com Marta para dar uma volta.
- Faz tempo?
- Não, eu acordei agora pouco e eles estavam saindo.
Voltam para definir o almoço.
- Podíamos almoçar na Urca, naquele restaurante perto
do Pão de açúcar. – Lívia sugeriu.
- É uma boa. Esperamos eles voltarem então.
- Vem Luisa, vamos trocar de roupa.

Barbara saiu com a menina deixando Lívia e Marina a


sós novamente.

- Vamos nos trocar também? – Marina perguntou.


- Que tal darmos uma volta na praia, levamos Luisa,
será que sua cunhada deixa?
- Deixa sim, vou pedir a ela.

As duas se arrumaram e encontraram com Mateus e


Barbara na sala.

- Gente, vamos descer um pouco e ver se encontramos


o pessoal. Querem ir?
- Ah eu to com preguiça. – Mateus falou. – Ainda mais
com esse sol.

Barbara não se manifestou, não parecia ter vontade


também.

- Posso levar Luisa então? – Marina pediu.


- Claro, só passa filtro solar nela. – Mateus
recomendou.

Depois de prontas as três desceram. Na calçada Marina


e Lívia davam a mão a Luisa que andava feliz. Foram
na praia, deixaram a menina andar descalça na areia e
brincar com as ondas, depois lavaram os pés e
caminharam até uma sorveteria. Luisa ficou agitada
quando viu a quantidade de cores e brinquedinhos que
tinha no lugar.

- Nossa ela vai ficar maluquinha. – Marina riu.

Lívia pegou uma taça grande e colocou sorvete para as


três, encheu de guloseimas e calda de chocolate e
voltou para a mesa.

- Isso é pra acabar com nosso almoço, sim? – Marina


apontou para a taça.
- Ah, mas ta com uma cara ótima.

Os olhos de Luisa brilharam quando viram a taça em


cima da mesa. Lívia tirou um pouco e deu a ela, que lhe
sorriu como se agradecesse.

- Ela gosta de você. – Marina falou. – E você me


surpreende com o jeito que a trata, pensava que não
tinha muita paciência com crianças.
- É que eu cuido de um neném todo dia. – Lívia sorriu.

Marina demorou um pouco pra entender.

- Ahh, eu nem sou neném. – falou limpando a boca de


Luisa, que estava sentada em seu colo. – Você acha? –
pareceu preocupada.
- Acho que é a neném mais linda que já vi. – Lívia
cochichou e ofereceu sorvete para Marina. – Se bem
que sorvete me lembra o que meu neném fez uma
vez...
- Pra você ver que esse seu neném, quando quer é bem
sem-vergonha.

Tomaram o sorvete e voltaram a caminhar. Lívia quis


entrar num pequeno shopping só para comprar um
brinquedo para Luisa.

- Você está estragando a minha sobrinha. – Marina a


repreendeu.
- E você também não faz isso?
- Faço. – Marina fez uma cara de criança levada.

Escolheram um mini notebook, para crianças, tocava


música, falava inglês, entre outras coisas.

- Acho que ela não vai aproveitar muito agora, meu


bem. – Marina olhava para o brinquedo.
- Agora não, mas ela é esperta e logo vai fuçar nesse
negócio. – Lívia estava animada.

Saíram da loja com Luisa carregando a sacola do


próprio brinquedo.

- Olha quem vem ali. – Marina mostrou a menina.

A menina foi correndo de encontro aos avós.

- Luisa, está passeando? Seus pais não têm vergonha,


largaram você com Marina pra tomar conta. E ainda
amolando Lívia.
- Que nada, Luisa é uma criança muito boa. Tomar
conta dela é um prazer.
- Onde estavam?
- Tomando sorvete.
- É, foi uma bolinha só. – Marina completou rindo.
- Mateus e Barbara não vieram por quê?
- Quiseram descansar mais.
- Deixa eles, os dois têm trabalhado muito. Barbara só
pôde vir porque conseguiu folga da loja.
- Lívia, onde vamos almoçar? – Marta perguntou.
- Pensei naquele restaurante da Urca. De lá já subimos
no pão de açúcar.
- Então vamos, senão não dá tempo de conhecer os
lugares.

Se dividiram nos carros como no dia em que chegaram


e seguiram para o restaurante. Almoçaram sem muita
demora e subiram para o Pão de Açúcar. Tiraram fotos
e deram boas risadas da cara que Maria José fazia
dentro do bondinho por conta da altura. Depois que
desceram foram ao Corcovado, ainda passaram pela
Confeitaria Colombo já era quase noite. Marcaram de ir
ao bondinho de Santa Terezinha no dia seguinte e ao
Jardim Botânico.

À noite Luisa estava elétrica e deixando todos agitados


na casa, Lívia pediu para levá-la ao parquinho do
prédio, surpreendendo totalmente Marina. Estavam
descendo pelo elevador e a loirinha ainda a olhava.
- Está gostando mesmo do ofício de babá. – sorriu para
Lívia.
- Estou treinando, sabe como é, sou noiva e vai que
minha noiva engravida a qualquer momento.

Marina deu uma gargalhada.

- Nem pense nisso, ainda estou estudando, filho só


depois da faculdade. Isso se eu tiver condições de ter
um.
- Quer ter filhos mesmo?
- Não sei te dizer. Às vezes eu tenho vontade, mas me
acho muito imatura ainda. Sei que se tiver saberei
cuidar, mas não quero me precipitar.
- Tem razão, filho é um compromisso para a vida toda.
- Porque a gente sempre quer dar a eles o melhor do
melhor. Educação, viagens, estrutura e tudo mais. Não
gostaria de não poder proporcionar isso a um filho
meu.

Ficaram sentadas num banco próximo e deixaram Luisa


se esbaldar no parquinho. Depois foram no balanço,
escorregador e até num pequeno carrossel. Só
voltaram quando notaram que a menina estava
cansada.

- Está sujinha neném. – Lívia falou.


- Nossa, acho que o banho dela vai sobrar pra mim, ela
estava limpinha quando desceu.
- Mas eu to falando de você. Olha a sua roupa. – Lívia
riu.
- Você não está muito fora disso viu.

Quando entraram no apartamento Lívia colocou Luisa


no chão e ela foi sujando a casa toda de areia.

- Minha nossa senhora! Luisa! Está sujando tudo. –


Zezé veio correndo para pegá-la.
- Deixa ela, brincamos muito. Agora acho que ela
dorme. – Lívia falou.

Maria José pegou a menina e ela mesma deu banho.


Marina e Lívia também tomaram banho,
separadamente claro e foram deitar, pois já estava
tarde.

No dia seguinte fizeram como combinado e a última


parada foi o Jardim Botânico. Acabaram por almoçar ali
perto. A última parada foi na praia de Copacabana e
depois voltaram para o apartamento. Maria José
arrumava as coisas para irem embora no dia seguinte e
Marina já se mostrava triste. Parou na porta do quarto
onde estavam os pais e ficou olhando.

- Filha, quando vai para São Paulo?


- Não sei mãe, vou esperar um brecha das
apresentações. Talvez vá até mesmo no meio da
semana. Porque final de semana está complicando e
não posso deixar de tocar.
- Ta certo.

Roberto se aproximou e entregou um pequeno


envelope.

- Marina, isso é pra ajudar nas despesas, ficamos aqui


todos esses dias e não gastamos um centavo.
- Não precisa pai, eu que fiz questão.
- Mas demos despesas à moça dona da casa.
- Ela quem ofereceu de vocês ficarem. Por favor, não se
incomode com isso, foi um convite. Guarde pra quando
eu for e a gente faz uma viagem ali por perto.
- Podemos ir para Brotas, você gosta de lá.
- Isso. Combinado!
Marina deixou os pais e se recolheu, quando entrou no
escritório Lívia estava lendo e viu que seus olhos
estavam vermelhos.

- Meu amor, não chora. Daqui pouco tempo você vai


visitá-los.
- Eu sei, sou uma chorona mesmo. – Marina se
aproximou.

Lívia a pegou pela mão e fez sentar no seu colo.

- Vem cá, não fica assim. Olha, acho que daqui um mês
terei de ir a São Paulo, você vai comigo e de lá vai para
Jaú. De avião vai mais rápido, você fica lá uns dias e
volta quando eu voltar.
- De repente dá certo né? Obrigada por me consolar e
me aguentar.
- Eu adoro te aguentar. – Lívia a beijou no rosto.

Na hora de deixar os pais no aeroporto Marina tentou


se conter, mas não teve jeito, acabou chorando quando
abraçou Luisa. Prometeu a eles uma visita breve e logo
entraram no avião. Em seguida Marta também voltou
para Mauá. Depois Marina se despediu de Lívia e foi
para a faculdade, voltando as duas para a rotina
normal. Marina só chegou em casa a noite. Sua mãe
ligou para avisar e aproveitou que ela estava sozinha
para conversar um pouco.

- Chegaram bem mãe?


- Chegamos, mas viajar nesse negócio é muito
arriscado, teve uma hora que ele deu uma sacudida. –
falou assustada.
- Deve ter dado turbulência. – Marina achou graça. – O
que acharam do Rio? Gostaram do passeio?
- Ah gostamos, a cidade é muito bonita. Luisa está
animada até agora.
- Ela é uma graça, Lívia ficou encantada com ela.
- Marina, não acha que amolamos muito a moça?
Ficamos na casa dela, fizemos ela de motorista e a mãe
dela ainda teve de dar atenção a gente.
- Que isso mãe, elas são simpáticas e boas pessoas.
Fizeram por querer.
- Ela parece gostar de você, mas tem uma vida muito
atribulada.
- Lívia trabalha muito mesmo, mas eu gosto da
companhia dela, é uma pessoa inteligente.

Neste instante Lívia abriu a porta do apartamento e viu


Marina ao telefone. Aproximou-se e beijou sua cabeça.

- Sinceramente, ela me faz mais companhia que


Monica, que agora que está namorando me largou de
lado. – Marina brincou. – E a mãe dela me trata como
filha, isso nos aproximou mais.

Lívia olhou curiosa para Marina e ela fez sinal dizendo


que falava com a mãe.

- Que bom que fez boas amizades, fico mais tranquila.


E quanto a Monica, quero só ver no que vai dar esse
namoro, o pai dela morreria se ela não terminasse os
estudos.
- Ela é doidinha, mas é responsável. Só precisa de
orientação e eu não largo dela, sou como uma irmã
mais velha daquela maluca. – Marina riu.
- Fica com Deus então minha filha e cuide-se.
- A senhora também, mande um beijo para todo
mundo.
- Deus te abençoe, manda um beijo para Lívia e a mãe
dela.
- Pode deixar.

Depois que desligaram Lívia perguntou:


- Era sua mãe? – a abraçou.
- Sim, liguei para saber se tinham chegado bem. –
beijou o queixo de Lívia.
- E você estava falando era de mim àquela hora?

Marina sorriu.
- Estava. – mexeu no cordão de Lívia. – Preciso falar
bem de você, mas isso não é esforço nenhum e eu não
inventei nada.
- Hum... – mordeu o pescoço da loirinha. - Quer tomar
um banho comigo?

Entraram para o banho e perderam um bom tempo em


carícias debaixo do chuveiro.

As semanas transcorreram normalmente, Lívia


realmente teve um compromisso em São Paulo e
Marina foi com ela para visitar sua família. Ficou três
dias com eles. O período estava terminando e as provas
já se iniciavam, assim como os trabalhos finais. Marina
dividia sua rotina em estudar, ensaiar com orquestra e
banda. Encontrava com Lívia às vezes para almoçar ou
só à noite. A promotora levava sua rotina normalmente
estranhando o fato de não ter se encontrado mais com
Camila, dando graças a Deus, mas o sumiço dela
também a intrigava.

As provas começaram e o recital de final de período


estava marcado. Dessa vez Monica e Marina não
tocaram juntas, pois ambas tocaram na orquestra. O
namoro de Mônica continuava firme e forte. Eduardo
estava no período final e seu recital foi separado do
delas. Todos passaram com notas boas. Ao final do
recital Marina teve a noticia de que no próximo período
teria aulas de música brasileira com Marconi. Ficou
muito animada.
No dia do recital de Eduardo saíram todos para
comemorar e depois foram para o apartamento dele e
de Fabrício. Ele não estava formado de fato, mas já
podia se considerar, pois faltavam apenas algumas
notas e um trabalho para concluir.

- Graças a Deus! – o rapaz falou aliviado.


- E agora Dudu, pretende fazer o que? – Marina
perguntou.
- Queria ingressar num mestrado, na faculdade mesmo.
Penso em dar aulas também.
- Você tem cara de professor mesmo. – a loirinha
brincou.
- E você hein? Está indo para o quarto período.
- Passou rápido, estou indo para a metade do curso.
- E já é a pianista da orquestra.
- Isso é por pouco tempo, não tenho a ilusão de que
continue lá, quando o outro voltar, provavelmente
sairei. – Marina falou um tanto desanimada.
- De qualquer forma muitas portas vão se abrir depois
disso, pode apostar. – o rapaz a animou.

As férias chegaram e como era costume Marina foi


visitar a família. Combinou com Lívia que voltaria em
mais ou menos vinte dias e nesse tempo a banda
também estaria de férias novamente fazendo um
acordo com o dono do bar. Fabrício, nesse período,
resolveu ficar de olho na prima. Surpreendentemente
ela não fez nada que ele pudesse desconfiar. Chegou a
pensar que tudo tinha passado.

- Sou muito desconfiado, não tem jeito. – falou com o


namorado.
- Tem que parar de julgar as pessoas. – Eduardo o
censurou.
- Eu sei Du, mas sabe como Lívia é. Já aprontou tanto
que fica difícil.

Lívia estava programando outra viagem para as duas,


mas Luisa pegou dengue e isso adiou a ida de Marina
para o Rio. Numa tarde em que faltavam dois dias para
ela ir embora, resolveu ligar para Lívia.

- Amor, Luisa pegou dengue, está com febre e chora


tanto. Estou morrendo de pena.
- Tadinha, como foi isso?
- Achamos que foi a casa da vizinha, que tem um
monte de cisternas espalhadas pelo quintal, além de
pneus velhos que ela usa pra plantar as coisas.
- Nossa que desleixo, quem sofre são os outros, porque
aposto que ela não tem nada.
- Pois é. Estou pensando em ficar mais uns dias, para
esperar Luisa melhorar.
- Quantos dias?
- Acho que uns cinco dias no máximo.
- Isso tudo Marina? – falou chateada.
- Amor, fico preocupada em largar ela aqui. Quero vê-la
bem.
- Ela tem pai e mãe ué, não vai deixar a menina só.
- Eu sei meu bem, mas eu gostaria de saber se ela
ficou bem mesmo. Mas não vou demorar, prometo
estar aí em poucos dias.

Lívia tentava programar a viagem, mas a incerteza da


volta de Marina não ajudava. Ficou um pouco chateada,
mas esperava que tudo se resolvesse no prazo que a
loirinha deu. Ficou somente aguardando uma posição
dela. Só que Luisa acabou sendo internada, pois havia
ficado desidratada. Marina ficou todos os dias no
hospital com ela e numa folga que teve ligou para a
noiva.

- Amor, ela internou. Está no soro, o médico achou


melhor, estava ficando muito desidratada.
- Meu Deus! E ela está sendo bem atendida?
- Está, esse hospital é bom e ela tem um plano de
saúde, pelo menos isso meu irmão faz por ela, mas vai
atrasar minha ida. – falou pisando em ovos.

Lívia nada falou do outro lado e o silêncio incomodou


Marina.

- Amor, desculpa, eu não imaginava que isso fosse


acontecer.
- Nem eu Marina, mas tudo bem. Não podemos fazer
nada não é? Nunca pode. Espero sinceramente que ela
melhore e se precisar de alguma coisa me ligue.
Quando estiver vindo me avise, ok?
- Tudo bem. – Marina falou chateada e desligaram.

Poucos dias depois Luisa apresentou melhora e saiu do


hospital. Estava mais magra, mas nada que uma boa
alimentação desse jeito. Marina ficou quase dez dias a
mais que o combinado. Resolveu comprar passagem e
fazer surpresa para Lívia como da outra vez.

A promotora estava almoçando perto de seu escritório,


quando sentiu alguém lhe tocar o ombro, virou-se para
olhar e era Camila.

“Encrenca!”

- Quanto tempo, não? – Camila falou com certo


deboche.
- É, você me deu sossego. Aquilo que você fez no
restaurante foi...
- Falta de educação e bom senso. Eu sei, me arrependi
muito. Me desculpe.

Lívia desconfiou dela, parecia falar com sinceridade,


mas nela tudo era de se duvidar.

- Já passou.
- Sua namorada deve ter ficado bem chateada.
- Nem tanto, Marina é muito compreensiva e não liga
para essas coisas.
- E cadê ela, por falar nisso?
- Está visitando a família.
- Largou você sozinha aqui no Rio? Que falta de zelo. –
brincou.
- Fazer o que? – Lívia terminou de comer e limpou a
boca com o guardanapo.
- Está de saída?
- Sim, tenho que levar meu carro para a revisão.
- Se quiser te dou uma carona. Estou de carro também.
- Não precisa, eu me viro.
- Que isso Lívia, você me ajudou outro dia, quero
retribuir.

“Lívia não aceita que isso é furada!”

- Vamos Lívia, deixa de bobeira.


- Tudo bem. “To ferrada”

Lívia deixou o carro na concessionária e pegou carona


com Camila.

- Pode me deixar próximo do escritório, porque antes


preciso comprar umas coisas na papelaria ali perto.
- Antes disso só uma paradinha rápida. – Camila saiu
do trajeto e virou uma rua pegando a via principal,
pouco tempo depois estavam entrando no motel.
- Camila quer parar de palhaçada. Vamos embora.

A juíza fingia não ouvir, entrou com o carro e pegou um


quarto.

- Prometo que será a última vez. – se jogou em cima


de Lívia e beijou seus lábios.

Pegou as mãos da morena e enfiou por baixo de sua


saia fazendo-a sentir toda sua excitação.

- Isso é sacanagem!
- Vai me deixar molhadinha assim? – Camila falou
gemendo.

Lívia a puxou do carro entraram para o quarto. Tiraram


as roupas e se jogaram na cama, com Camila o sexo
era diferente, era urgente, quase bruto. Algo
pornográfico e isso excitava Lívia. Ficaram por horas no
motel, perderam a noção do tempo. Cansadas e
deitadas de barriga para cima, Camila ainda ofegante
falou satisfeita.

- Acho que durmo por uma semana. – virou-se para


Lívia. – Você acabou comigo. – arranhou seu braço.

Lívia tinha os olhos fechados como se não quisesse


ouvir e estar ali.

- Preciso ir embora. Agora! – Se levantou. – E se você


não vier, te largo aí.
- Calma! Estou indo. – Camila se levantou e trocou de
roupa. Saíram do motel e Lívia fez com que ela a
deixasse bem distante do escritório. Foi caminhando
com uma dor de cabeça e sentindo que suas costas
pesadas. Chegou ao escritório quase na hora de fechar
e se trancou em sua sala. Érica não disse nada e
Fabrício não a viu chegando, quando estava saindo a
secretária o abordou:
- Fabrício, posso ir também?
- Claro, vai ficar fazendo o que aí menina?
- É que Lívia chegou agora pouco.
- Lívia está aí?
- Faz quase uma hora, se trancou na sala e não quer
ser incomodada.
- Chegou com alguém?
- Não, veio sozinha.
- Pode ir, depois eu fecho.

Fabrício bateu na porta, como não teve resposta entrou


assim mesmo.

- Vai fazer hora extra hoje?

Lívia estava concentrada lendo uns papéis.

- Vou, não tenho muito que fazer em casa.


- Quer ajuda?
- Não, obrigada. Fechem tudo pra mim.

Fabrício saiu e trancou o escritório a deixando sozinha.


Lívia olhava para os papéis, mas a sua cabeça pensava
em milhões de coisas. Teve vontade de jogar tudo para
o alto e sumir. Ligou pra sua mãe.

- Mãe! – a voz era de choro.


- Que foi Lívia
- Eu sou uma idiota! Uma inútil, sem moral, não
respeito nem a pessoa que amo.
- Você fez de novo. – não era nem uma pergunta, era
mais uma constatação. – Por que Lívia? Não vou te
ofender ou reprimir, queria saber apenas o que
acontece para fazer uma coisa dessas.
- Eu não sei, Camila é um inferno, ela me tira o juízo,
me envolve e quando vejo já estou... – não conseguiu
terminar de falar.
- Calma Lívia. Termine com Marina, assim pelo menos
você não vai sentir esse peso na consciência.

“Peso, é isso que sinto mesmo!” – Lívia pensou

- Nunca! Marina é minha razão.


- Mas não está sendo suficiente.
- Minha vontade é de sumir!
- Pois se isso vai te aliviar, que faça. Viaje, programe
umas férias e vá sozinha.
- Não quero ficar longe dela, esses dias que ela não
está aqui me sinto tão sozinha.
- Quando ela chega?
- Não sei, não me deu mais notícia e isso me deixou
com uma raiva.
- Aí por isso a traiu de novo. Não justifica.
- Não foi por isso.
- Lívia, sinto muito que esteja nessa situação. Você é
adulta o suficiente para resolver seus problemas, por
isso não vou me meter. Sinto muito que seus valores
tenham mudado.

As palavras de Marta foram como facadas, ela desligou


e o que disse ficou ecoando na cabeça de Lívia. Depois
de longas horas resolveu ir para casa, estava arrasada,
seus olhos estavam vermelhos e inchados. Lavou o
rosto antes de sair e pegou um táxi. Quando entrou no
apartamento nem quis acender a luz, deixou a pasta
num sofá e caiu no outro.

Marina que havia chegado de surpresa a esperava no


apartamento, chegou de tarde e arrumou algumas
coisas que estavam bagunçadas. Ligou para a mãe
avisando de sua chegada, depois tomou um banho e
vestiu uma camisola, ficou esperando. Ouviu quando a
porta se abriu e ficou quietinha esperando Lívia subir,
como ela não apareceu resolveu espiar e a viu deitada
no sofá. Desceu descalça para não fazer barulho se
aproximou, mas Lívia não percebeu sua presença.
Então se apoiou bem devagar e sentou em cima do
ventre dela. A morena sentiu e se assustou, abriu os
olhos rapidamente, mas por estar escuro só viu uma
silhueta e os longos cabelos loiros. Sentiu o perfume de
Marina e suspirou.

- Meu amor... – sua voz saiu num sussurro.


- Shii... – Marina colocou o dedo em seus lábios e
depois baixou para beijá-los. – Eu quase morri de
saudade de você.
- Eu também, senti tanto a sua falta.

Marina passou as mãos no rosto dela e sentiu algumas


lágrimas.

- Que foi meu amor, por que está chorando?

Lívia não soube o que responder, apenas abraçou


Marina.

- Me fala, o que aconteceu? Algum problema no


trabalho?
- Acho que tenho trabalhado demais, muita cobrança.
Briguei com Fabrício, tive problemas com um cliente
também. – inventou.
- Ô meu amor, essas coisas acontecem e vai passar. E
quanto a Fabrício deixa ele pra lá, ultimamente tenho
notado que está mais distante, mas é o jeito dele
mesmo, até Eduardo reclama. – alisava o rosto da
morena. – Não fique assim viu? Vou cuidar de você,
vem, vamos tomar um banho e relaxar. Isso vai ajudar.
- Preciso mesmo tomar um banho. – pensou na tarde
que passara com Camila e teve nojo do que fez.
- Vou dar banho em você, posso? – Marina sorriu.
- Pode. – sorriu também.

Entraram no banheiro e aí que Lívia pode ver Marina


melhor, ela estava um pouco mais magra e havia
repicado os cabelos nas pontas, estava muito bonita.
Ficou olhando para ela como quem olha para um anjo.
Deixou que ela lhe tirasse a roupa e depois tirou a dela.
Entraram juntas na banheira que já estava preparada.
Marina acomodou Lívia em seu colo repousando a
cabeça dela em seu peito. Passou os braços em volta
dela e num abraço apertado falou carinhosamente.

- Senti tanto a sua falta, tanto, que não me vejo mais


vivendo sem a sua presença. Perguntava-me todos os
dias como eu vivi sem você, já não me lembro de como
era minha vida antes de te conhecer. Devia ser tão sem
graça que nem me recordo. – beijou a nuca dela e
continuou. – Já me disseram que amor não tem
definição correta, mas eu não concordo com isso mais.
Amor é sentir saudade, é querer estar perto e sentir
desejo, isso todo mundo sabe. Só que amor também é
ajudar, cuidar, querer melhorar e fazer a pessoa amada
melhorar também. Ficar triste quando ela estiver. É
pensar nela sempre sorrindo e dar a vida por ela. Eu
daria minha vida por você.

Lívia virou o corpo e sentou na banheira colocando


Marina em seu colo.

- Você é a única mulher nesse mundo que me tocou o


coração de verdade. Nunca se esqueça disso! Eu não te
mereço e quando você descobrir isso vai querer me
deixar. Mas não se esqueça de que você é a única. –
beijou-lhe os lábios. – Única... – mais um beijo. –
Única...

E foi descendo com beijos e mordidas pelo corpo de


Marina, girou novamente colocando a loirinha por cima
dela, Marina abriu as pernas e deixou seus sexos em
contato. Começaram a se esfregar lentamente,
sentindo o prazer aumentar junto com seus
movimentos.

- Eu te amo Marina... te amo... te amo... – Lívia repetiu


olhando em seus olhos.

Estremeceram num orgasmo intenso e um beijo selou


aquele momento que era só delas e que Lívia não
sentia com mais ninguém. Quando estava com Marina
não tinha dúvidas sobre seus sentimentos por ela, mas
era só ela se afastar ou Camila se aproximar que as
coisas mudavam. Ali resolveu que queria mudar de vez
aquela situação, não deixaria mais que Camila tirasse
seu sossego nem a incomodasse, caso contrário poderia
perder Marina pra sempre.

No dia seguinte Lívia ligou para o escritório dizendo que


não iria trabalhar e que só voltaria na segunda.

- Diga que estou resolvendo assuntos particulares. –


falou com Érica. – E não quero ser incomodada. Não
me retorne e passe tudo para Fabrício.

Desligou e voltou sua atenção para Marina que estava


saindo do banheiro.

- Temos cinco dias livres a contar de hoje. O que quer


fazer?
- Hum... – Marina encostou na porta. – Posso pedir
uma coisa?
- O que quiser. – Lívia sorriu.
- Podemos ficar aqui? – foi se aproximando da cama. –
Só nós duas... – engatinhou até ficar ao lado da
morena. – Podemos?
- Não quer dar um passeio, mesmo que aqui perto. –
Lívia alisou o braço dela.
- Mas aonde?
- Pensei em Petrópolis. Tem umas pousadas bem
aconchegantes por lá. Não precisamos fazer passeios,
nem conhecer a cidade. Apenas mudamos o cenário. –
sorriu.
- É que eu queria ficar um tempo mais sossegado com
você. – Marina mexia no elástico da calcinha de Lívia. –
Ultimamente temos dedicado pouco tempo a nós.
Principalmente eu a você, fiquei tanto tempo fora.
- Não ficou porque quis amor.
- Mas você não gostou ou pensa que esqueci da sua
voz no telefone? – falou a olhando sério.
- Eu sou muito intransigente, não deveria ser assim,
ainda mais com você. – Lívia se envergonhou.

Marina pareceu pensar no que falar, olhou para cima e


depois para Lívia.

- Tenho muito medo de decepcionar você. Acho que


tudo que fiz na minha vida depois que a conheci, foi
pensando no que você iria achar. É como se quisesse
surpreendê-la sempre, com coisas boas claro.
- E surpreende. – levantou-se ficando de frente para
ela. - Eu fico impressionada com seu esforço e
disciplina, da dedicação que tem nos estudos, no
trabalho e até com as pessoas.
- Se impressiona, mas não me admira.

Lívia não soube o que falar, pois Marina estava certa,


nunca tinha dito que a admirava. Era óbvio que se
orgulhava dela, mas eram sentimentos diferentes.

- Eu...
- Não precisa dizer que me admira, seria algo forçado
agora. – baixou o olhar. – E eu preciso provar a você
que mereço sua admiração. Um dia eu consigo, quem
sabe né? – sorriu sem graça. – Então vamos nos
arrumar? Petrópolis fica muito longe? – mudou o
assunto.
- Não. Pouco mais de uma hora dependendo do
trânsito.

Marina levantou e foi pegar a mala novamente.

- Essa mala nunca viajou tanto. – brincou. – Preciso


levar muitas roupas de frio, não é?
- Sim, se aqui no inverno já está assim, imagina lá que
é serra? Então se agasalhe. Se bem que no quarto
usaremos poucas roupas.
- Sem-vergonha. – Marina riu e jogou um casaco que
estava em sua mão em cima de dela. – Vou vestida
com esse casaco, ele é mais quentinho.
- Não precisa colocar roupas muito chiques, não vamos
a lugares sofisticados.
- Eu lá tenho roupa chique? Ando mais largada que
tudo.

Lívia se aproximou dela e a virou ficando de frente.

- Você não anda largada, anda sempre linda. Eu gosto


do jeito como se veste. – segurou seu rosto. – E eu
posso nunca ter dito que a admiro, mas meu coração
diz e sente. – beijou-lhe os lábios. - Agora vamos indo
que Petrópolis nos aguarda e o friozinho de lá também.

Chegaram perto do horário do almoço e se instalaram


em uma pousada mais afastada. Ficaram em um
pequeno chalé de dois andares, onde tinha geladeira,
fogão, como se fosse uma casa. O quarto ficava em
cima onde tinha também um banheiro, lareira e uma
pequena varanda. Em baixo havia além da cozinha uma
sala com TV, outra lareira e um anexo com uma mesa
ao lado de uma parede toda de vidro, dando uma vista
extraordinária.

- Olha que maravilha! Dá pra cozinhar aqui. – Marina


falou.
- Vai querer cozinhar?
- Qual o problema? Você gosta quando cozinho.
- Adoro, estou com o gostinho daquele jantar
pernambucano até hoje. – sorriu.

Marina havia prometido o jantar, mas Lívia não se deu


bem com os ingredientes e o prato lhe causou dor de
barriga.

- Agora você é pianista da orquestra, tem uma vida


muito atribulada e não tem tempo. – abraçou-a por
trás. – Nem pra mim. – fingiu mágoa.
- Ah que mentira, eu sempre lhe dou atenção. – Marina
se virou. – Tanto que queria ficar a sós com você por
uns dias para termos mais privacidade.
- E teremos, aqui nesse chalé. Podemos passar num
mercadinho e comprar umas coisinhas.
- Você gostou da idéia de cozinhar, não é? – beliscou a
morena.
- Sua comida é muito boa. Compete pau a pau com a
de minha mãe.

Mudaram de roupa e foram dar uma volta ali por perto.


Depois foram de carro ao supermercado e compraram
algumas coisas. Como Lívia gostava de frutos do mar,
Marina fez um risoto de camarão.

- Isso ta muito bom. – falou ainda mastigando.


- Nossa deve ta mesmo, porque você não fala de boca
cheia. – Marina riu.
- É que eu tava com fome, a gente almoçou pouco. A
comida daqui não é grande coisa, deve ser por isso que
no chalé deles tem fogão.
O comentário fez Marina rir.

- Aqui em Petrópolis tem uma rua muito famosa onde


as pessoas compram roupa. Vem gente de todo lugar
do país.
- Eu não sabia.
- Tudo lá é barato, podíamos ir lá comprar umas
roupinhas.
- Mais roupas amor? Você tem tão poucas. – debochou.
- Ah... – Lívia desanimou.
- Ta bom, a gente dá uma passada lá. Só não exagere
viu?

No dia seguinte pegaram o carro e foram até a famosa


Rua Teresa. Lívia não se conteve e mesmo contra a
vontade de Marina comprou roupas, sapatos e
acessórios.

- Você não tem jeito. – Marina falou sentando-se à


mesa de um restaurante.
- Lá em Recife você também comprou muita coisa viu?
- Eram artesanatos e produtos locais, não poderia
comprá-los novamente em outro lugar. O que você
comprou tem em todo canto do mundo.
- Mas você vai ficar linda naquele vestido com aquela
bota. – Lívia teve muitos pensamentos safados. – Uma
delícia! – falou com malícia.
- Deixa de ser assanhada! – beliscou a perna da
morena.

Almoçaram e depois foram para o chalé.

- Dessa vez o almoço compensou. – Lívia fala enquanto


dirigia.
- Gostei do restaurante também, tanto que comi
demais e agora estou com sono.
- Sono?
- É, na verdade estou um pouco cansada. Cheguei de
viagem e fui direto me encontrar com você. E aí dormi
tarde... – olhou para Lívia. – Acordei cedo e viajamos,
essa noite eu demorei a dormir também.
- Por que amor?
- Não sei, perdi o sono no meio da noite e não consegui
mais dormir, só consegui cochilar quase amanhecendo.
- Podia ter me chamado, eu lhe fazia companhia.
- Você estava tão bonitinha dormindo que eu nem
chamei, precisa descansar também. Quando cheguei a
achei tão abatida.

Lívia lembrou de Camila e trincou os dentes de raiva.

- Amor, que horas você chegou de São Paulo?


- No mesmo horário da outra vez, só que eu passei no
meu apartamento pra ver Monica, mas ela não estava
pra variar. Deixei um bilhete e saí.
- Hoje dormiremos cedo então, se dermos sorte deve
ter alguma coisa que preste passando na TV, assim
ficamos embaixo das cobertas quentinhas.
- Isso é um paraíso! – Marina encostou a cabeça no
banco do carro.

Assim que entraram no chalé e descarregaram as


compras Lívia correu para preparar a banheira.

- Vem amor... – foi puxando Marina pelo braço, tirou a


roupa dela e depois tirou a sua. – Você emagreceu. –
falou passando as mãos pela cintura dela.
- Acho que foi de preocupação com Luisa. Ela ficou tão
amuada, chorava tadinha. Deu uma pena. – lembrou-se
da menina. - Eu gosto tanto dela, mas tanto que não
suporto vê-la sentindo nada e nem passando vontade.
Acho que é coisa de tia. – sorriu.
- Você a ama e quer ver o bem dela. Sua cunhada
também é boa mãe e seu irmão me parece um bom
pai. – entrou na banheira e ajudou Marina a entrar.
- Eles são, só acho que ele é descansado demais. Não
pensam no futuro de Luisa, em dar uma educação
melhor. Meus pais deram um duro danado para que
estudássemos em escolas boas e inclusive música e
outras línguas. Eu parei de estudar inglês porque a
grana ficou curta e eu tive que escolher entre música
ou inglês e como já tinha certa dificuldade para falar
qualquer outra língua eu escolhi continuar com o piano.
– sentou de costas para Lívia e encostou as costas em
seu peito. – Se eu pudesse ajudaria mais na criação de
Luisa.
- Vai ajudar, tudo a seu tempo. Por enquanto ela é
criança e não precisa tanto. Quando estiver maior você
ajudará, tenho certeza.
- Fico pensando na minha vida daqui um tempo. Será
que poderei mesmo ajudar minha família? E se eu não
der certo na carreira? Tenho medo de ficar que nem
esses músicos que tentam sucesso a vida toda e não
conseguem. E nem digo de ficar famoso na mídia, mas
de ter um emprego melhor. Ficar tocando na noite a
vida toda não dá.
- Meu anjo, fica calma que tudo tem sua hora. Você
está indo muito bem, é só olhar o que já conquistou até
agora. É por isso que perdeu o sono? Fica pensando
nessas coisas?
- Também... – molhou o rosto. – Penso na gente
também.
- E o que pensa sobre a gente? – Lívia a abraçou
repousando o queixo no ombro dela.
- No nosso futuro, em assumir um relacionamento
assim. Não quero levantar bandeira de nada, mas não
quero ficar escondendo. Penso no que tudo isso poderia
prejudicar na sua carreira.
- Nada, quem me conhece sabe que sou gay.
- Você é mais segura com essa situação que eu. -
Marina virou-se para ela. – Talvez porque já tenha
experiência.

“Esse assunto é perigoso.” – Lívia pensou.

- Já tive meus grilos neném, hoje não ligo para


comentário nenhum. Podem falar a vontade de mim.
Estou aquém de qualquer falatório e não preciso da
opinião de ninguém.
- Você está certa, eu que sou muito medrosa. Não vê
com Monica? Ela pensa que não notei que, depois que
soube da gente, se afastou mais de mim. Estudamos
juntas, mas é acabar os estudos e ela corre pra ficar
com Hugo.
- É o namoro também, aqueles dois não se descolam.
- Não é isso, eu percebo a distância que ela mantém,
como que uma medida de segurança. Tipo, eu aceito,
mas não me aproximo muito.
- Azar o dela, porque você é uma amiga e tanto, a
ajuda muito e se quisesse não precisaria mais dela.
- Não fale assim Lívia, é claro que preciso dela. Monica
é minha amiga, gosto muito dela.
- Mas pelo que fala, ela é quem não faz questão da sua
presença, só que é quem mais precisa.
- Nem tanto, ela já cogitou a hipótese de morar com
Hugo e eu com você. Eu que não concordei.
- Por que não me disse isso?
- Porque sei que ia se empolgar. – virou-se de frente
para ela. - E acho que ainda é cedo, mas concordei de
Hugo ficar mais tempo lá.
- Você quase não pisa naquele apartamento mais, seus
pais vieram e nem foram lá direito. Já moramos juntas
e você nem se deu conta. – Lívia sorriu e tirou a franja
de Marina que lhe caía no rosto. – Já casamos.
- Ah é? E nem teve cerimônia... lua de mel... – passou
o dedo no osso da clavícula de Lívia com um sorriso no
rosto.
- Não teve lua de mel? – Lívia a puxou para mais perto.
- Tive muitas... acho que vivo em uma lua de mel.
Embora um pouco agitada às vezes.
- Agora estamos em uma lua de mel. – Lívia beijou-lhe
os lábios. – E está muito bom... – mordeu o lábio
inferior.
- Que tal sairmos daqui? Já estou ficando enrugada. –
Marina sorriu.

Lívia se levantou e pegou o roupão rapidamente para


não sentir frio.

- Entra aqui. – Abriu o roupão para que Marina entrasse


nele abraçando-se nela.
- Amor, tem outro roupão ali.
- Não precisa, esse dá pra nós duas e de quebra ainda
fico grudada em você.

Foram abraçadas até a cama.

- Esse frio ta de doer os ossos. – Marina falou se


encolhendo.
- Eu vou acender essa lareira.

Marina deitou e se cobriu enquanto Lívia ajeitava a


lenha e riscava o fósforo.

- Liga a TV amor, vê o que está passando. – pediu.


- Acho que agora só o jornal.

Lívia colocou alguns pedaços de lenha, tentava acender


não tendo muito sucesso.

- Meu bem não precisa se incomodar com isso, a


coberta já resolve.
- Eu faço questão de acender essa lareira. Até porque
eu adoro, se pudesse teria uma em casa, mas no Rio
não faz frio para tanto. – riscou o fósforo e jogou na
lenha. – Mas que droga, tem que acender.
Marina a olhava de divertida. Abraçou o travesseiro e
ficou admirando a desenvoltura desastrada da morena
com a lareira, acabou adormecendo. Alguns minutos
depois de muito tentar, Lívia conseguiu acender.

- Prontinho, agora vai esquentar e... – olhou para


Marina que dormia como um anjo. – E vamos dormir. –
sorriu. Deitou e aconchegou a loirinha em seu colo,
ficou vendo TV até sentir sono e dormir também.

No meio da noite Marina acordou e viu que a lareira


ainda estava acesa. Estava nos braços de Lívia e sentiu
uma paz naquele momento. Passou a mão pelo corpo
dela e parou em seu ventre. Estava nua assim como
ela, passou a unha levemente e ficou brincando com os
pêlos pubianos da morena ao mesmo tempo em que
beijava seu pescoço. Depois levou um dedo até seu
sexo passando do clitóris até a abertura e enfiando na
vagina. Lívia abriu os olhos e se deparou com um par
de olhos verdes.

- Shii... – Marina a beijou antes que falasse algo.

Depois levou o dedo até a boca de Lívia e fez com que


ela chupasse lubrificando-o, assim desceu novamente
para seu sexo e começou a esfregar lentamente. A
morena abriu as pernas deixando total acesso as mãos
de Marina, que subiu em seu corpo enquanto beijava o
queixo, as bochechas e lábios. Lívia aproveitou a
posição em que estavam e levou as mãos até os seios
dela, massageando-os e sentindo os bicos enrijecidos.
O que Marina fazia com os dedos era muito bom, e ela
abriu mais as pernas para aumentar o contato. Desceu
uma das mãos e também começou a esfregar no clitóris
da loirinha. Olhavam-se como se quisessem decifrar o
que cada uma sentia naquele momento. Juntas,
aumentaram os movimentos até gozarem ao mesmo
tempo.

- Vem aqui. – Lívia puxou Marina, que se debruçou. –


Eu amo você. – falou em seu ouvido. – Quando
fazemos amor sinto como se minha alma fosse tocada.
É uma felicidade tão grande que não consigo imaginar
sentir isso com mais ninguém.
- Deve ser porque essa é a hora que eu entrego
totalmente meu coração a você. – beijou os lábios dela.

Marina então seguiu com beijos até chegar ao sexo de


Lívia, passou a língua demoradamente arrancando um
gemido dela.

- Ahh Marina! Não faz isso...

A loirinha sorriu satisfeita com o que estava causando.


Devorou aquele sexo sem pressa, sentindo o gosto da
morena. Arranhou a barriga dela bem de leve, sentindo
o corpo enrijecer. Suas mãos se encontraram e
entrelaçaram os dedos, Lívia então se levantou e
segurou a cabeça de Marina.

- Ahh... que delícia... ahhh... – Lívia arqueou o corpo


apoiando os braços para trás sentindo tanto prazer que
suas falas eram totalmente sem sentido. Marina
aproveitou a posição para subir suas mãos até os seios
dela e apertar os bicos, bolinava com delicadeza
fazendo Lívia gritar de prazer. – Mais rápido amor. –
falava gemendo.

Marina aumentou os movimentos e o orgasmo veio


rápido, sacudindo o corpo da morena em espasmos. Só
esperou que ela se acalmasse e voltou a língua para
onde estava, porém dessa vez levou dois dedos até a
vagina dela e a penetrou. Suas estocadas eram fortes e
rápidas, fazendo Lívia gozar novamente. Só se deu por
satisfeita quando a morena caiu exausta na cama.
Deitou ao seu lado e ficou observando o peito de Lívia
subir e descer descompassado. Puxou uma mecha do
cabelo dela tirando de seu rosto e beijou sua bochecha,
voltando a admirá-la.

- Desculpa tê-la acordado a essa hora. – falou como se


realmente estivesse se desculpando, mas com uma
cara sem-vergonha.
- Pode me acordar assim toda noite se quiser. – Lívia
sorriu. – Você ta cada dia mais safada.

Ainda ficaram namorando um bom tempo, fizeram


amor novamente e depois dormiram.

No dia seguinte Lívia acordou primeiro e quis


providenciar um café da manhã. Saiu do chalé e foi até
a recepção na pousada para perguntar se poderia levar
alguma coisa para o chalé.

- A senhora pode escolher o que quer e nós levaremos


até lá. – respondeu o recepcionista.
- Demora muito?
- Não senhora, alguns minutos apenas.
- Ok, vou lá escolher então.

Marina acordou e não viu Lívia na cama, chamou por


ela, mas ninguém respondeu. Vestiu um roupão e
desceu para procurá-la. A porta se abriu e Lívia
apareceu.
- Oi amor, onde foi?
- Você já acordou? Será que nunca consigo chegar com
o café da manhã na cama pra você? – Lívia falou
emburrada.
- Ah, eu levantei porque não a vi na cama e vim lhe
procurar. Quer que eu volte? Ainda estou com preguiça,
posso dormir de novo até chegar o café. – sorriu
enlaçando o pescoço da morena com os braços.
- Aí não é mais surpresa. – Lívia fez um bico.
- Oh meu Deus! Que bico é esse? – beijou-a
rapidamente. – Dá próxima vez eu fico quietinha
deitada.
- Dormiu bem?
- Maravilhosamente bem, me sinto renovada.

Marina acabou de falar e alguém bateu na porta.

- Deve ser o nosso café.

Uma moça veio trazer o carrinho com a bandeja e


olhou para as duas de uma forma tão assustada que
ficou difícil Lívia não perceber.

- Algum problema?
- Não... não... é que...
- Nunca viu duas mulheres juntas? - Lívia levantou uma
sobrancelha.

Marina olhava divertida para situação. A moça saiu


rapidamente fechando a porta.

- A sua cara foi impagável. – Marina riu.


- Esse povo olha pra gente como se fossemos duas
aberrações.
- Vamos combinar que é difícil aceitar mesmo, as
pessoas estão acostumadas ao convencional. Até acho
que nunca tivemos problemas das vezes que viajamos.
- Eles são treinados para não tratar mal, seja lá quem
for. Meu dinheiro, seu dinheiro e dos outros hóspedes
são iguais. – Lívia falava bravo. – Se essa moça tivesse
falado algo eu...
- Amor... – Marina sorria.
- To falando sério, porque ela pode ir lá reclamar ou
fofocar qualquer coisa e...
- Meu amor... – Marina repetiu.
- Se nos tratarem mal eu processo eles.
- Lívia. – segurou o rosto dela com as mãos. – Calma
meu bem! – beijou seus lábios. – Vamos tomar café?
Estou com fome.
- Vamos. – falou ainda fazendo bico.

Sentaram-se e saborearam as variedades que tinham


ali. Depois deram uma volta de carro pela cidade, mas
sem parar em lugar algum, apenas para Marina
conhecer.

- Tem certeza que não quer passar no Museu Imperial?


– Lívia perguntou.
- Tenho, quero voltar pro chalé.

Ainda passearam mais um tempo, Marina queria ir pro


chalé para fazer o almoço, então Lívia voltou.
Almoçaram conversando amenidades, coisas do
trabalho, da faculdade e sobre os amigos. Quando
terminaram Lívia ajudou a loirinha com a louça e em
poucos minutos estavam deitadas debaixo das
cobertas. Lívia de barriga para cima e Marina deitada
de bruços envolvendo a cintura dela com um braço e
com a cabeça em seu ombro. A morena olhava
satisfeita para a lareira.

- Hoje foi fácil. – sorriu.


- Também com a quantidade de álcool que você jogou
nela, achei que ia incendiar o chalé todo. – riu.
- Não debocha.
- Brincadeira amor, é você que pegou o jeito. – Marina
não conseguia segurar o riso.
- Quer rir não é? – Lívia virou de repente ficando por
cima dela.
- Vai me fazer cócegas? – Marina já ria
antecipadamente.
- Vou, a não ser que você negocie.
- Hum... – fingiu pensar. – Posso negociar, sou boa
nisso.
- De fato é...e aí?
- Posso te dar uma coisinha... – sorriu.
- O que?

Marina abriu mais as pernas e envolveu a cintura de


Lívia, desceu uma das mãos e pegou a mão da morena
fazendo-a enfiar em sua calcinha.

- Isso aqui. – sentiu os dedos de Lívia.


- Hum... muito bom. E por acaso posso incluir outra
coisa nessa negociação? – falou enquanto esfregava os
dedos no clitóris da loirinha.
- O que?... ahh...

Lívia levantou a blusa de Marina e deixou um seio a


mostra.

- Quero um desses. Posso? – olhava com malicia.


- Pode...
- Posso lamber?
- Ahan...

Lívia então lambeu passando a língua em volta do


mamilo deixando-o arrepiado e depois olhou para o
bico enrijecido e olhou para Marina, tudo sem parar de
mexer os dedos.

- Posso morder?

Marina estava completamente molhada e em êxtase


com o que Lívia fazia com os dedos. Não conseguiu
responder, somente gemia.

- Acho que isso é um sim.

Então Lívia mordeu e depois sugou com delicadeza.


Marina enterrou as mãos nos cabelos da morena.

- Eu te amo. – Lívia falava em seu ouvido.


- Também te amo... meu amor... ahhh... – Marina já
estava no limite.

Então Lívia montou na perna da loirinha e esfregou seu


sexo gozando as duas ao mesmo tempo. Depois que
suas respirações acalmaram, Marina perguntou
timidamente.

- Você trouxe aquele objeto... – fez um gesto dando a


entender que falava do pênis.

Lívia achou graça.

- Trouxe. Quer usar é?


- Quero. – Marina parecia tímida. – Quero fazer uma
coisa. Coloque-o e me espere. Apague a luz também.
- Claro, vou correndo. – Lívia já estava excitada. Pegou
na mala a cinta e a colocou, voltando a deitar na cama
enquanto Marina fazia alguma coisa no banheiro.

Marina pegou uma pequena sacola em sua mala e


trancou-se no banheiro. Havia comprado uma lingerie
em São Paulo. Era uma camisola toda transparente da
mesma cor dos olhos dela e com detalhes em preto que
lhe caía pouco abaixo da bunda, a calcinha era de uma
fina renda e bem cavada, se prendia com dois laços nas
laterais. Não se sentiu muito confortável, mas sabia
que a usaria por um tempo muito curto.
“O que a gente não faz pra agradar quem ama.” –
pensou enquanto se olhava no espelho. Passou um
hidratante que tinha um gosto de chocolate, quando
terminou abriu a porta. O quarto estava escuro, mas
pode ver Lívia recostada na cama. A morena viu pela
claridade vinda de fora que Marina estava vestida, mas
podia ver as sombras do seu corpo, sentiu um cheiro de
chocolate que ouriçou seus instintos. Marina se
aproximou da cama e imediatamente Lívia se levantou
sentando-se na beirada.

- Que cheiro bom... – levantou um pouco a camisola e


falou aspirando a barriga da loirinha. – Fez isso tudo
pra mim? – percorria o corpo dela com as mãos.
- Fiz... – Marina mexia nos cabelos de Lívia e tinha os
olhos fixos no dela. – Comprei pouco antes de viajar.
- Quero te ver melhor. – Lívia acendeu um abajur que
estava no criado ao lado da cama e olhou Marina com
cobiça, achando-a linda.
- Gostou? – perguntou receosa.
- Adorei. E sabia que você fica muito gostosa vestida
assim? Na verdade você é gostosa de qualquer jeito.

Marina sorriu de modo tímido. Com beijos delicados,


Lívia percorreu as laterais do corpo da loirinha
levantando a camisola, se aproximou de um seio e
beijou, lambeu e sugou de leve. Sentiu que Marina já
estava totalmente entregue. Levantou ficando atrás
dela, beijou seu pescoço e a nuca enquanto suas mãos
acariciavam os seios. Desceu beijando as costas, a
bunda e as pernas. Tirou a calcinha desamarrando os
laços e quando descobriu o sexo de Marina viu que
estava molhado. Virou-a de frente e levou a mão entre
suas pernas, quando sentiu que ela estava pronta
puxou sua coxa para que apoiasse a perna na cama e
devagar introduziu o pênis, enquanto a segurava
apoiando pela cintura. Marina enlaçou o pescoço de
Lívia gemendo baixinho. Sentiu certo desconforto, pois
não era a melhor posição para ela, mas sentia um
prazer nos braços da morena que nem ousou sair dali.
Com leves estocadas Lívia começou a rebolar até que
não conseguiu conter os movimentos e aumentou o
ritmo gozando junto com Marina. Sentindo as pernas
bambas, retirou o pênis bem devagar e sentou na cama
posicionando Marina em pé entre suas pernas. Seus
braços envolveram a cintura dela enquanto a cabeça
repousou em seu peito. De relance acabou olhando
para o pênis e viu que ele tinha sangue, arregalou os
olhos e levantou a cabeça de repente. Olhou para
Marina rapidamente.

- Eu machuquei você? – seus olhos demonstravam


receio.
- Não amor...
- Você não sentiu nada? – puxou a loirinha para que ela
sentasse também.
- Senti um pouco de dor no início, acho que pela
posição, mas depois parou.
- Por que não me falou?
- Não estava ruim... que foi?
- Marina tem que falar, acho que a machuquei um
pouco. Desculpa amor... – alisava seu rosto. - Morro de
medo de machucar você com isso.
- Não machucou, se sangrou deve ter sido o mau jeito
só.
- Você por acaso não estava... excitada? – Lívia estava
cheia de dúvidas.
- Estava, não deu pra perceber? – Marina respondeu
parecendo chateada.
- Deu, mas sei lá, achei que... enfim, se não te
machuquei tudo bem. Fiquei preocupada.

A loirinha baixou a cabeça e depois falou chateada:


- Eu tinha pensado em outra coisa pra essa noite e não
que terminássemos com você preocupada e eu sem
graça.
Lívia a olhou com carinho.

- Ei, quem disse que a noite acabou? – Levantou uma


sobrancelha. – Eu ainda quero muito pegar uma certa
loirinha que está tão sexy hoje... Já tirei sua calcinha,
mas quero tirar o resto. – se referia à camisola. Então
se sentou recostando na cabeceira da cama e puxou
Marina para que se sentasse em seu colo, adorava ficar
assim com ela. Beijou-lhe os lábios e ficaram um bom
tempo namorando e se curtindo até que Lívia se
acendeu de novo.
- Quero você outra vez... – sussurrou no ouvido de
Marina.
- Você sempre me tem. – Marina mordeu o lábio
inferior dela.

Lívia tirou a camisola da loirinha e desceu as mãos


suavemente passando pelos seios e parando na cintura,
subiu a mão direita e parou na nuca dela acariciando os
cabelos a outra mão foi para o seio. Excitou Marina o
quanto pode e quando sentiu que ela estava pronta foi
introduzindo o pênis bem devagar, fazendo roçar em
seu clitóris e voltar à vagina, até colocá-lo todo, depois
bolinou o clitóris dela enquanto sugava um seio. Sabia
que isso deixava a loirinha louca de prazer.

- Ahh... – Marina gemia e arranhava os ombros de


Lívia.
- Rebola pra mim... – a pegou pela cintura e guiou seus
movimentos aumentando o ritmo. Seu sexo latejava
diante daquela visão de Marina cavalgando em seu
colo. Seus olhos estavam fixos um no outro até Lívia
puxá-la para um beijo ardente, suas línguas se
buscavam e os corpos pareciam um só. Não demorou e
explodiram num orgasmo intenso. Sem esperar muito
trocaram de posição e Marina ficou de quatro com Lívia
a penetrando por trás, beijava suas costas e segurava
os seios massageando-os. Depois a morena retirou o
pênis e ficou de pé ao lado da cama, pegou Marina no
colo fazendo a loirinha enlaçar sua cintura com as
pernas e assim a penetrou novamente. Não demorou e
explodiram em mais um orgasmo. Caíram deitadas na
cama, exaustas e ofegantes.
- Você me deixa louca, sabia? – Lívia olhou para
Marina.

Ela quis responder, mas ficou com vergonha, apesar de


ter bastante intimidade com Lívia ainda se sentia
acanhada com as palavras dela. Sentou na beirada da
cama e olhou para ela.

- Que foi? – perguntou a morena.


- Nada. – Marina admirava encantada a beleza dela.

Lívia virou-se ficando de frente para ela e puxou sua


cintura beijando seus lábios em seguida, mordiscava e
passava a língua sensualmente. Foi avançando
novamente cheia de más intenções.

- Você me deixa acesa. – sua voz saiu rouca.


- De novo amor? – Marina falou dengosa.
- Estou morrendo de vontade de você... – mordeu o
lóbulo da orelha de Marina.
- Então... – Marina se remexeu saindo de baixo do
corpo dela e levantou. – Vai ter que me pegar. – e saiu
correndo descendo as escadas.

Lívia não esperou muito, apenas vestiu seu roupão e


desceu atrás dela.

- Não pode ir muito longe, esse chalé não é grande.


- Eu me escondo. – Marina respondeu.
- Gatinha, vem cá.
- Miau! – Marina fez graça lá da cozinha.
- Ah, não faz isso... – Lívia apareceu na porta da
cozinha e lá estava Marina sorrindo. – Eu disse que
seria fácil.
- Ainda não me pegou.

Quando a morena se aproximou, Marina fez que ia para


um lado da mesa e foi para outro, mas quando saía da
cozinha duas mãos a agarraram por trás pela cintura.

- Te pegar é questão de tempo. – Lívia falou em seu


ouvido. Foi andando abraçada a ela até a mesa da
pequena sala e virou Marina de frente para ela,
fazendo-a sentar na mesa. Abriu o roupão deixando
aparecer a cinta com o pênis. Marina olhou para a cinta
e depois para Lívia.
- Acho que se tivesse um, seria desse tamanho. –
sorriu meio de lado.
- É? E você gosta quando uso? – Lívia se aproximou
mais.
- Ahan... – a loirinha fechou os olhos sentindo o pênis
roçar em sua vagina.

Lívia começou com beijos leves no pescoço, no queixo,


mordeu o lábio inferior de Marina, depois desceu para
os seios. Uma das mãos foi parar entre as pernas dela,
quando sentiu que estava pronta penetrou só a
pontinha do pênis, sem parar de beijá-la. Fez um leve
movimento de vai e vem.

- Mais amor. – Marina pediu.


- Mais o que? – se fez de desentendida.
- Coloca mais... – Marina estava totalmente entregue.
- Colocar o que? Eu não entendi... – falou em seu
ouvido.
- Enfia tudo. – Marina então cruzou as pernas em volta
de Lívia e puxou de encontro ao seu corpo fazendo o
pênis enfiar todo de uma vez. Lívia começou a fazer
movimentos circulares e aos poucos aumentava o
rebolado e gemia junto com Marina. Não demorou
muito e sentiram seus corpos estremecerem,
explodindo num orgasmo.

Deitadas novamente na cama, estavam abraçadas se


acariciando.

- Você está impossível hoje. – Marina beliscou


levemente a barriga da morena. – Já perdi a conta de
quantas vezes fizemos amor...
- Culpa sua, quem manda usar lingerie sexy, ser
cheirosa e gostosa. Você por acaso tem noção de que
hoje está completamente deliciosa?
- Hoje? – fez um bico.
- Todos os dias. – sorriu segurando seu rosto. – Adoro
quando faz isso? Quando veste roupas assim e se
produz pra mim. – parou pensar e falou. - Isso ta
parecendo coisa de homem cafajeste.
- Verdade, mas acho que fazer coisas às vezes é bom
para diversificar. Lembra quando falamos sobre isso
com Fabrício?
- Pois então não teremos problemas que entediarão
esse relacionamento.
- Se depender de mim não. Não quero ser trocada.
- Não se troca uma pessoa como você. – Lívia falou
sério.

Marina sorriu contente com aquelas palavras.

No dia de ir embora Marina fez um dengo danado.

- Queria que o tempo parasse, foi tão bom ficar aqui. –


falou olhando a paisagem da varanda.
- Gostou mesmo do passeio linda? Quase não saímos. –
Lívia abraçou por trás.
- Acho que foi por isso, porque aproveitei mais sua
companhia em um lugar diferente. Fiquei mais
pertinho. – se virou. – Eu gosto de ficar só com você –
mexeu no cordão de Lívia. – Conversar, namorar,
cozinhar, assistir filme, programa de casal brega. – riu.
- Isso tudo é tão inédito pra mim.
- E não gosta? – perguntou temerosa.
- Adoro, é muito bom saber que tem alguém que quer
ficar ao meu lado fazendo coisas simples, querendo me
ver feliz a troco de nada.
- Mentira que não é a troco de nada.
- Como assim? Você diz que gosta de coisas simples,
que quer me fazer feliz.
- Mas tudo isso tem um interesse por trás, claro. –
Marina virou de costas e se apoiou no parapeito da
varanda.
- Marina?!
- Pensa o que? Que faço as coisas que você gosta e
quer, só por você? Está redondamente enganada, faço
por mim também. – falava segurando o riso.
- Então eu devo pensar que...
- Que tudo na vida tem um interesse por trás, ninguém
é tão altruísta. – a olhou sério.
- Eu não sei o que dizer... – Lívia estava visivelmente
sem graça.
- Se faço as suas vontades e te agrado é por um
propósito. – virou de frente para ela. – Hoje só consigo
estar feliz quando a vejo feliz. – deu o sorriso que a
morena mais gostava. – Por isso faço tudo que você
quer.
- Sua boba! – a puxou para um abraço. – Por um
momento achei que falava sério. Pensei que fingia
comigo.
- E por acaso eu consigo fingir? Eu sou tão lerda que
nem isso eu sei.
- Vou ter que concordar com a parte de fingir, você não
finge mesmo. – fez uma cara safada.
- Cafajeste! – Marina deu um tapinha no braço dela.

Abraçaram-se por um tempo e depois Lívia falou.

- Quer ficar mais um dia aqui? – Beijou o topo da


cabeça de Marina.
- Jura?! – os olhos dela brilharam.
- Juro meu anjo, já notei que você ta fazendo corpo
mole pra ir. Geralmente você é quem ajeita tudo para
viajar.
- Eu gostei daqui, é calmo, frio, me passou uma paz
esses dias.
- A mim também, nunca viajei pra tão perto e me senti
tão longe da rotina do Rio. Precisava disso.

Ficaram mais dois dias no em Petrópolis e voltaram


para o Rio chegando lá só a noitinha. Desarrumaram
suas coisas e prepararam tudo para começar o ritmo
frenético de novo. Marina se inteirou das aulas e ficou
feliz na primeira aula com Marconi. Saía rindo da sala
junto com ele, quando avistou Vera. Estava mudada
com os cabelos mais curtos, em um corte moderno,
que lhe deixou mais jovem.

- Marina, esqueceu de mim essa semana? – se referiu à


aula que ela havia faltado.
- Eu estava viajando, cheguei ontem, mas na sexta eu
não vou faltar.
- Venha comigo, vou lhe entregar uma música, quero
que esteja pronta para a aula de sexta.
- Depois a gente se fala menina. – Marconi se despediu
e Marina foi a contra gosto.

Estavam entrando na sala quando Monica apareceu.

- Marina! Recebi sua mensagem, como foi a lua de mel?

Marina a olhou com reprovação por estar perto da


professora.

- Ai, desculpa!
- Foi tudo bem, cheguei ontem. Me espera que vou
andando com você.
Vera entregou a partitura e recomendou mil coisas.

- Dê prioridade a ela, largue o... namoro um pouco e se


dedique a música. – Falou olhando Marina da cabeça
aos pés.
- Sim senhora, sei dividir bem meus compromissos. –
falou rispidamente.

Depois que saíram da faculdade Marina praguejou.

- Professora nojenta.
- A culpa foi minha, eu dei mole.
- Como estão as coisas por aqui? Eu mal cheguei de Jaú
e Lívia me carregou para Petrópolis. Vamos passar ali
no banco, preciso entregar o dinheiro do aluguel e das
outras contas.

As duas almoçaram juntas e botaram o papo em dia.


Marina percebeu que Hugo estava tão presente na vida
de Monica quanto Lívia na dela, só não oficializaram a
situação. Conversaram sobre as aulas, falaram mal dos
professores chatos e marcaram os horários para
estudarem as matérias em comum. Nada mudou muito
para Marina, continuava com os ensaios da banda, da
orquestra, shows nos fins de semana e provas,
trabalhos e muita partitura pra estudar. Só sentia falta
de Eduardo, que formado, não ia mais à faculdade. Vez
ou outra combinavam um final de semana para ir em
Mauá visitar Marta ou ela vinha para o Rio. A promotora
prometeu e cumpriu a promessa de que nunca mais
veria Camila e assim foi. Fabrício já não implicava
tanto, mas ficava de olho.

O relacionamento de Marina com Vera havia melhorado


um pouco, isso por conta da insistência de Marconi que
elogiava a professora com a aluna.
- Vera gosta de você Marina, tem noção de que só está
na orquestra porque ela mandou?
- Tenho, mas ela é muito seca.
- Não é nada, ela te chama até de querida.
- Disso eu não gosto. Não quero que me trate com
intimidade se nem temos.
- É o jeito dela, dê uma chance para que vocês se
dêem bem. Vai ver como as aulas vão fluir mais.

Marina pensou no assunto e resolveu atender ao pedido


de Marconi. Na aula seguinte que teve com Vera se
mostrou mais receptiva.

- Vera, não acha que do compasso oito ao dezesseis eu


poderia ser pianíssimo. Porque dali pra frente vem a
parte da explosão da música.

Vera olhou surpresa, Marina nunca falava dentro da


sala de aula.

- Deixa ver. – sentou ao lado dela e tocou os oito


compassos mencionados e viu que realmente ela
estava certa. – Verdade Marina, assim a música cresce
mais. Que bom que notou essa diferença, sinal de que
está se envolvendo com a melodia.
- Eu sempre me envolvo quando toco, me sinto
invadida por vários sentimentos. É como se a melodia
quisesse me contar alguma coisa. – sorriu.
- Tem alunos que tocam por tocar, não prestam
atenção no que a música quer dizer. – as duas riram. –
Você tem um talento nato, mas vejo que gosta mais do
popular.
- Isso a incomoda? – Marina a olhou com certo medo
da resposta.
- Falando a verdade? Sim. Gostaria muito que seguisse
carreira solo, fora do Brasil você tem grandes chances
de ser uma pianista renomada.
- Eu não me vejo fazendo isso. – baixou o olhar.
- Tudo bem, tem que fazer o que gosta. – segurou o
queixo dela levantando seu rosto. – E do que gosta? –
a olhou nos olhos.
- Eu gosto de criar, fazer arranjos musicais. – sorriu
animada.
- Já ouvi dizer que seus exercícios de harmonia são os
mais criativos. – Vera falou achando graça.
- É, eu viajo naquelas pautas e pior que dão certo.
Sabe como a Amélia é enjoada com as cadências. Ela
aceita todas que eu coloco.
- E se gosta de fazer arranjos, de compor, por que não
fez composição?
- Achei que piano seria melhor pra mim, talvez eu faça
depois de me formar.
- Pegue umas matérias para se habituar.
- Nossa, tenho tanta coisa já pra fazer, mais matérias
eu estaria perdida. – a loirinha falou arregalando os
olhos.
- Eu exijo muito de você, não?
- Bastante, mas no fundo eu gosto.
- Vou pegar mais leve, você é boa aluna, não precisa
de sermões ou de um carrasco. – sorriu. – Vamos
continuar?
- Claro.

Marina terminou a aula se sentindo até melhor,


estreitar o relacionamento com Vera realmente foi um
bom conselho de Marconi. Saiu de lá sorrindo e
conversando com ela, fato que chamou a atenção de
Monica.

- Ué, quem é você? Devolva minha amiga Marina.


- Palhaça! Está estranhando o fato de vir conversando
com ela?
- Claro, no mínimo pensei que ela tivesse feito uma
lavagem cerebral em você.
- Temos que mudar não é? Não posso passar o curso
todo batendo de frente com ela. Marconi falou para
baixar a guarda e acho que está funcionando.

Realmente funcionou, com o passar das semanas as


duas estavam mais próximas e a aula até rendia mais.
Numa sexta-feira já terminando o estudo a professora
perguntou sobre os shows e Marina falou onde tocava e
com quem.

- Se der tempo eu vou assistir a um show seu. Faz


tempo que não saio.
- Vai sim. Sei que música popular não é muito do seu
gosto.
- Eu gosto, alguns estilos que não sou muito chegada.
Farei o possível pra ir.

Marina saiu da faculdade e foi direto para o


apartamento. Se arrumou e quando saía para o show
deu de cara com Lívia saindo do elevador.

- Oi minha linda! Já está saindo? – beijou-lhe os lábios.


- Eu já.
- Não pode me esperar um pouco? Eu tomo um banho
rápido e vamos juntas.
- Claro amor.

Subiram para o quarto e foi o tempo de Lívia tomar


banho e se arrumar. Marina anotava algumas coisas em
sua agenda.

- Já? Muito rápida você. – Marina sorriu.


- Ainda temos quanto tempo? – a morena a olhou
sedutoramente.
- Alguns minutos.
- Em alguns minutos eu consigo dar umas três
rapidinhas. – sentou ao lado dela rindo.
- Nossa! Que coisa mais machista! – Marina riu.
- Na verdade eu só queria namorar um pouco. –
aproximou para beijá-la e esfregou o nariz no de
Marina.
- Amanhã é sábado e poderemos namorar o dia inteiro.
– Marina beijou de novo. – Mas ainda temos um
tempinho.
- Olha aí nessa agenda se tem um horário pra sua
noiva.
- Ah tem, eu desmarco todos os meus compromissos
pra ficar com ela.

Namoraram um pouco e depois foram para o bar. Como


de costume Lívia se sentou com Monica e Fabrício.
Pediram algo para beber e apreciaram a banda. Pouco
antes do intervalo que sempre faziam Marina viu que
Vera apareceu e sorriu para ela que acenou de volta.
Lívia procurou onde a loirinha tinha olhado e viu que
era sua professora.

- Ó! E num é que a professora dela veio? – Monica falou


admirada.
- É a professora dela? Está diferente. – Lívia observou.
- A própria, Marina tem se dado melhor com ela.
- Ah é? Ela não me contou.
- Ela andou reclamando com Marconi e ele aconselhou
a ser um pouco mais receptiva com Vera. Então ela ta
tentando.
- Hum. – Lívia levantou a sobrancelha sinalizando
contrariedade.

Quando a banda parou Marina foi falar com a


professora.

- Que bom que veio!


- Cheguei atrasada, mas consegui ver um pouquinho do
show.
- Fizemos um intervalo apenas, vamos voltar daqui a
pouco.
- Ah sim, então vou pedir algo para beber.
- Se quiser se sentar com meus amigos, eles estão ali
naquela mesa. – apontou para onde estavam. – Assim
não fica sozinha.
- Eu chamei uma amiga, ela deve estar chegando.
- Então ta bom, fique a vontade e espero que goste.
- Confesso que gostei das últimas músicas já.
- Eu fico mais aliviada. – Marina colocou a mão no
peito.

Quando foi para a mesa sentou-se ao lado de Lívia que


logo passou o braço por cima da cadeira.

- Marcando território. – Fabrício falou com Eduardo.


- Começou. Tava demorando você implicar.
- Eu não estou errado, ela está com ciúme da
professora.
- Deixa ela Fá.
- Amor, quem é aquela que você foi conversar? – Lívia
perguntou fingindo não saber
- Não a reconheceu? É a Vera, minha professora, na
aula de hoje eu a chamei pra vir ao show.
- Está intima dela agora é?
- Não meu bem, só convidei. Estou tentando ser mais
amiga dela, senão ficará difícil terminar o curso com
uma professora da qual eu não goste.
- Depois que ela mudou o visual melhorou não foi
Marina? Ela parece até mais simpática. – Monica falou.
- Sim, achei que com o corte de cabelo ficou até mais
jovem. – Marina riu.
- Ah e você reparou que ela cortou o cabelo? – Lívia
falou emburrando.
- Não tinha como não reparar, ela tinha o cabelo
cumprido amarrado num rabo de cavalo baixo, meio
esquisito, agora curtinho parece mais jovem. O corte
lhe caiu bem.
- Hum. – Lívia ficou séria.
- Bonitinha! – Marina franziu o nariz rindo.
- Hum...

Marina segurou uma das mãos de Lívia


carinhosamente.

- Mulher ciumenta! – sorriu conseguindo desfazer a


cara amarrada da outra.
- Só você pra aguentar essa daí. – Fabrício comentou.
- Amor é assim mesmo meu caro. – Eduardo interferiu
pra não dar problema. – A gente aguenta tudo, até
implicância.
- Ai, ai... – Monica nada falou. Ainda não tinha se
acostumado de fato com os dois casais.
- Eu não “aguento” Lívia e não gosto que fale assim
com ela. – Marina se dirigiu a Fabrício. – Se vocês dois
têm problemas no escritório tudo bem, isso não é da
minha conta, mas daí a estender para outros assuntos
eu acho muita infantilidade.
- Ih, se já chegou ao ponto de defender, eu não tenho
mais o que falar mesmo. – Fabrício riu sem graça.
- É claro que vou defendê-la, acha que faria diferente?
- Chega, chega, Fabrício só implica mesmo e não passa
disso neném. Eu nem ligo mais. – Lívia interrompeu o
assunto antes que o primo se estressasse e falasse
demais.
- Pois então, eu to doido pra sentar e conversar e vocês
ficam de implicância. Agora que não estudo mais na
faculdade quero saber das novidades. Marina está
amiguinha da professora megera. Agora que vai ser a
queridinha da faculdade – Eduardo brincou.
- Estamos estreitando o relacionamento.
- Bonito isso de estreitar relacionamento, estou
achando muito bom. – Lívia debochou. – Daqui a pouco
ela vai querer estreitar mais coisa.
- Ei, também não é assim. Não confia em mim?
- Confio minha linda, estou só brincando.
- Isso ainda vai me render muitas perguntas.
- Vai. – Eduardo foi quem respondeu. – Mas me conta
como estão as coisas?

Durante o intervalo Eduardo quis saber das novidades e


contou que estava se matriculando num cursinho para
concurso e que algumas inscrições para professores
fora do Rio estavam se abrindo.

- Uma é na UFPE em, na Universidade de Recife.


- Recife é lindo, estivemos lá em lua de mel e eu
adorei. – Marina comentou.
- Quantas luas de mel já foram? – Eduardo riu da
própria pergunta. – Vocês vivem em lua de mel.
- Se você passar terá de morar lá? – Só quando falou
que Marina se deu conta.
- Pois é, eu não pensei nisso, mas quero fazer a prova.
Vamos ver no que dá.

Quando deu o horário de voltar a banda se reuniu


novamente no palco. Carlos e Larissa apareceram e se
juntaram na mesma mesa onde Lívia estava. Monica
aproveitou a distração dela para fazer uma pergunta a
Fabrício.

- Por que você implica tanto com ela? No lugar dela, no


mínimo eu tinha mandado você embora, já que é sua
chefe.
- Ela não me manda embora porque precisa de mim.
- Fabrício, ninguém é insubstituível.
- Eu sei, mas minhas implicâncias não são pra tanto.
- Ultimamente eu tenho notado que você está mais
sério e quando Lívia aparece você fica olhando como se
a reprovasse.
- Você observa bem hein.
- Mais do que as pessoas imaginam.
- Acontece que Lívia não é a santa que quer ser. Ela
tem seus defeitos e eles um dia podem prejudicar
muito Marina que está cega e não vê.
- Vê o que?
- Nada Monica, deixa isso pra lá.
- Um dia, isso foi no início do ano, eu e Hugo
estávamos passando perto do escritório dela e a vi
saindo. Ela estava bem séria, conversamos um pouco e
depois passou uma mulher que falou uma coisa
estranha. Algo como nos vemos depois, achei aquilo
suspeito demais.
- Você é mais esperta que Marina, se ela tivesse sua
lucidez não estaria mais com Lívia.

Monica ficou um pouco confusa, mas conseguiu


entender que algo de errado estava acontecendo.

- Deixe o tempo se encarregar das coisas. – Fabrício


falou.

Larissa que estava ao lado de Lívia fez um comentário


sobre Marina que agradou a morena.

- Ela está mudada Lívia. Não tem mais aquele rostinho


de menina, ou então eu que não a vejo faz muito
tempo.
- É, vocês dois sumiram, mas vou concordar com você.
Ela mudou mesmo. – admirou a noiva.
- Tenho trabalhado muito e Carlos está viajando
demais, mal temos tempo para nós.
- Sei como é, minha vida não está sendo diferente.
- Está sossegada não é?
- Bastante, é uma vida que não pensei ter pra mim,
mas que estou adorando. – sorriu.

Depois do show Marina voltou à mesa de Vera que já


estava acompanhada.

- Adorei Marina! Sua banda é muito boa e o repertório


de muito bom gosto.
- Fala isso hoje que não tivemos nenhum pedido extra,
já tocamos vários tipos de música, até sertanejo. Tudo
ao nosso estilo, mas...
- Me poupe dos detalhes. – revirou os olhos fazendo
Marina ri.

Da outra mesa Lívia resmungava.

- Ela ta saidinha demais com essa professora.


- Deixa a menina Lívia, agora que estão se dando bem.
É importante pra ela. – Eduardo falou.
- Se você não notou, Marina não é mais uma menina.
- Notei sim, eu não confio é nessa professora.

Lívia se levantou e foi caminhando para a mesa de Vera


e pegou na mão de Marina.

- Vamos meu bem? – sorriu.


- Vamos. Vera, obrigada por ter vindo nos assistir.
Fiquei muito feliz.
- Imagina, eu que agradeço a oportunidade de sair um
pouco de casa e distrair, adorei o programa.
- Boa noite.

Voltaram até a mesa da banda e se despediram de


todos. Lívia deixou um convite feito a Carlos e Larissa
para aparecerem na sua casa quando puderem.

- Sua professora gostou da banda? – a morena falou


enquanto dirigia.
- Parece que sim.
- É, estavam de papo depois do show.
- Falávamos do repertório.
- Sei...

Marina não estendeu o assunto, então esperou


chegaram ao apartamento. Assim que Lívia fechou a
porta a loirinha falou sensualmente.
- Vem aqui, vou lhe mostrar que não precisa ter
ciúmes... – falou desabotoando o vestido e andando
para trás.

Lívia sorriu maliciosamente e foi acompanhando os


passos dela. Subiram para o quarto e num instante
estavam sem roupas.

Semanas depois Fabrício estava saindo do escritório no


final de expediente e deu de cara com Monica.

- Monica, que coincidência.


- Não é? Eu vim falar com você.
- Sobre?
- Aquele assunto no bar, aquele dia você falou que Lívia
não parece ser o que é, falou de Marina prestar
atenção. Lívia a está traindo? – perguntou na cara.

Fabrício foi pego de surpresa e chegou a gaguejar.

- Eu... bom... Vamos conversar ali. – levou a garota até


uma lanchonete e sentaram. – Faz um tempo eu
descobri que Lívia tem um caso com uma juíza.
- O que?!
- Fala baixo e acalme-se. O nome dela é Camila, elas já
tiveram um lance aí faz um tempo, mas não deram
certo. Não sei por qual motivo estão tendo esse caso.
Provavelmente porque Lívia é uma sem-vergonha filha
da mãe.
- Peraí, não quero saber dela. E Marina nessa história?
- Marina não sabe, não enxerga. Deve ter ciúme de
Camila, mas não percebeu nada entre as duas.
- E como você sabe?

Fabrício contou o episódio do carro e depois de algumas


desconfianças que tinha.

- Tirando esse fato, que eu vi, os outros só desconfio.


- Mas que ordinária! Marina tem que saber disso.
- Não! Monica não se meta nisso. Quando eu descobri
fui falar com Lívia e ela me prometeu que não veria
mais Camila e que tudo não passou de uma confusão.
- Ah e você acreditou. – revirou os olhos.
- Não é isso, simplesmente não vou me meter. Porque
depois quem sai de ruim na história sou eu.
- Não posso deixar que Marina seja feita de boba
assim.
- Olha, se quiser falar, o problema é seu e não diga que
fui quem te deu essa informação. Assuma o risco
sozinha.

Monica foi embora pensando no assunto. Teve vontade


de ligar para Marina e contar. Pensou que se contasse o
relacionamento iria acabar e tudo voltaria como antes,
mas de certa forma Fabrício estava certo.

Das vezes que encontrava com ela tinha pena e ódio ao


mesmo tempo. Muitas vezes quando estudavam juntas
ficava olhando para a amiga e se distraía.

- Que foi Monica?


- Nada, estou olhando pra você e reparando em como
mudou.
- Deixa de bobeira. – falou envergonhada.
- Verdade Má. Você parece mais mulher, mais decidida,
aos poucos está deixando de ser pateta.
- Ah sim, muito obrigada por me dizer como pensava a
meu respeito. – brincou.
- Acho que vir pro Rio te fez muito bem. – Monica falou
com certa melancolia.

Voltaram a estudar até perderem a hora. Quando


Marina olhou no relógio se assustou.
- Gente, nem vi o tempo passar. – olhou no celular e
viu uma mensagem de Lívia falando que ia se atrasar.
– Se bem que Lívia vai se atrasar.

Hugo hoje me deu o bolo, segundo ele tem dois


trabalhos pra fazer e vai virar a noite, vindo pra cá não
vai conseguir terminar.

- Então vamos sair?


- Pra onde mulher?
- Sair, ir a um barzinho ou lanchonete, fazer alguma
coisa Monica. Não saímos juntas mais. Você sempre
com Hugo, eu com Lívia ou todo mundo junto. Vamos
nós duas só, estou de carro, te deixo em casa depois.

“Ai Monica, vê se fica de bico calado então!” – pensou.

Acharam um café perto de casa mesmo.

- Lugar legal esse, nunca tinha reparado. – Marina


sentou-se e olhou em volta.
- É lógico, você só frequenta zona sul agora. – Monica
debochou.
- Os únicos lugares que frequento são: Faculdade, dois
bares no Leblon e na Lapa, ensaios e volto para o
apartamento.
- Sem contar as viagens, agora cada férias num lugar
diferente. – continuou.
- Deixa de ser besta. – deu língua para ela.
- Vai me dizer que não gosta? Lívia lhe dá tratamento
VIP.
- Não posso negar que adoro viajar, mas é pelo fato de
estar com ela. – Marina falou toda melosa.
- Hum... que coisa hein? Lívia tinha que ter um defeito.
Porque parece que é impecavelmente perfeita. Isso não
existe.
- A perfeição está aos olhos de quem vê. Pra você Hugo
é um príncipe encantado.
- Ai, ele é. – Monica suspirou.
- Viu?
- Eu caso com ele. Acho que encontrei o amor da minha
vidinha mais ou menos. – falou rindo.
- Só não vá arrumar filhos agora hein Monica.
- Eu sei, eu me cuido, às vezes. – olhou para Marina. –
Mas não acontece nada.
- Vai confiando. – Marina advertiu.
- Você é que não precisa se preocupar. – falou quase
ironizando.
- Essa é uma vantagem. – a loirinha sorriu.

Conversaram amenidades e por vezes Monica ficou


tentada a jogar alguma indireta para Marina, mas se
segurou. Só saíram do café depois que Lívia ligou
dizendo que estava indo pra casa. Marina deixou a
amiga de volta no apartamento e foi embora.

As provas finais chegaram junto com a correria de


sempre. Marina estava mais relaxada por conta das
notas e Vera a deixou despreocupada em relação à
audição, tocariam uma música juntas. Haviam
combinado isso para o período anterior, mas não deu
tempo de preparar.

Um dia após uma aula, Vera encontrou com Marconi e o


chamou pra conversar.

- Diga querida. – ele sorriu.


- Queria conversar sobre Marina. Você sabia que ela se
matriculou para fazer matérias de composição?
- Ela me contou e disse que você apoiou.
- Ela gosta de criar arranjos, noto que faz isso quando
me espera para começar a aula e eu resolvi incentivar.
Estive em uma apresentação da banda dela.
- Ah é? Que ótimo! O que achou?
- Eles são bons.
- Claro, são todos alunos daqui. – Marconi riu. – Estou
gostando de ver sua relação com ela, estão se dando
bem.
- Gosto dela, é uma garota esforçada. Posso fazer uma
pequena observação?

O professor riu ante o que estava pra ouvir.

- Diga.
- Marina é lésbica.

Marconi soltou uma gargalhada.

-Vera, Vera... olha o que você está me falando. –


sorria.
- Sei que é casado, tem dois filhos, e não é ligado
nessas coisas, mas... Você não notou?
- Desde o dia em que ela apareceu na porta da
faculdade com uma morena alta, de olhos azuis, com ar
imponente e escrito na testa: Estou com essa loirinha.
– gargalhou.
- Eu achando que estava contando uma novidade.
- Algumas pessoas já comentaram aqui, você não
percebeu porque não se liga em fofoca. Mas o que tem
isso? A opção é dela e não interfere em nada. Ou você
está...
- Ei, vira essa boca pra lá. Me envolver com aluna não
mesmo. Minha ética está acima de tudo.
- Mas você está interessada nela?
- Não posso negar que ela me atrai, mas não se
interessaria por mim. Sou muito mais velha.
- Nem tanto, você tem quarenta e oito anos bem
distribuídos. Está em cima minha amiga.
- Isso não vem ao caso, só queria que soubesse das
aulas e que a ajudasse. Provavelmente ela sairá da
orquestra ano que vem, então pensei em dar um apoio
para outro projeto. Em uma conversa ela me disse que
se vira aqui sozinha e que trabalhar é o que ela mais
quer.
- Eu sei disso, vamos esperar passar as férias e ela sair
da orquestra. Conversamos sobre o assunto mais pra
frente.

No dia da apresentação todos se reuniram como de


costume. A apresentação de Marina junto com a
professora deixou Lívia enciumada. Ainda mais que
Vera deu um abraço demorado nela ao final da música.
Disfarçou o quanto pode, porque depois iriam para seu
apartamento brindar mais um semestre e ela não
queria discussão com ninguém.

Eduardo aproveitou que todos estavam reunidos e deu


a notícia que Fabrício já sabia, mas havia guardado
segredo.

- Gente, queria aproveitar todos reunidos e dizer...


- Que está grávido de Fabrício. – Pedro brincou.
- Gente, Pedro quase não fala, mas quando fala só sai
abobrinha. – Monica brincou.
- Deixa de onda cara. Quero dizer que fiz o concurso da
UFPE e passei, agora sou o mais novo professor da
Escola de Música da Universidade de Pernambuco. –
sorriu satisfeito.
- Que maneiro! – Pedro estendeu a mão.
- Parabéns Dudu! Fico feliz por isso! – Monica veio se
aproximando.

Todos o cumprimentaram e Marina ficou por último.


- Sabe que vou morrer de saudade de você, não é? –
os olhos brilhavam com lágrimas.
- Sei minha amiga, mas ainda não fui. Devo ir só
depois do carnaval.
- Que você seja muito feliz e que consiga alcançar
todos os seus objetivos. Eu torço muito por você e pelo
seu sucesso. – abraçou o amigo em lágrimas.
- Faço das suas palavras as minhas e não preciso ser
profeta para saber que você conseguirá tudo que
deseja.

Os dois permaneceram abraçados sendo interrompidos


por Lívia.

- Você está fazendo minha namorada chorar? –


brincou.
- Me processa! – Eduardo sorriu.

A reunião durou até altas horas, quando todos foram


embora Marina reparou que Lívia estava séria e a
chamou para conversar.

- Amor, está muito séria, o que houve?


- Nada, cansaço apenas.
- Não minta para mim. Você não estava assim antes de
irmos para audição. Essa sua cara não me engana. É
ciúme, mas eu ainda não sei do que. – aproximou-se
dela e segurou suas duas mãos. – Me fala, lembra que
conversamos em Recife sobre isso? Você me disse que
falaria caso sentisse alguma coisa.

Lívia baixou a cabeça, estava desconsertada e irritada.

- É da professora. – falou baixo. – Acho que ela está


afim de você.
- O que?! Você ta vendo coisa.
- Eu sei perceber as coisas Marina, e ela está afim de
você. Desde que começou a te dar aula. Esse
tratamento de querida e meu anjo não se dá a qualquer
um. E você não nota ou faz que não vê.
- Está insinuando que eu gosto? – Marina ficou brava.
- Quem não gosta de um elogio ou de alguém lhe
inflando o ego? – Lívia também alterou a voz.
- Eu! Não me interesso por esse tipo de coisa, gosto de
ouvir elogios de quem amo, de quem convivo.
- E eu quase não elogio você não é? Por isso vai
procurar ouvir da professorinha.

Marina ficou imensamente irritada, Lívia estava sendo


injusta. Pegou suas coisas e foi para o banheiro. Tomou
banho, trocou de roupa e foi se deitar no quarto de
hóspede. Sair àquela hora seria estupidez, pois era
madrugada e ela sabia muito bem da violência do Rio
de Janeiro.

- Aonde vai? – Lívia perguntou.


- Vou dormir no outro quarto e você repense nas coisas
que me disse, pois são totalmente infundadas. Não
sabe o quanto está sendo injusta comigo. – seus olhos
se encheram de lágrimas e antes que começasse a
chorar saiu do quarto e entrou no outro trancando a
porta. Demorou a dormir.

No dia seguinte acordou com dor de cabeça. Saiu do


quarto e procurou por Lívia, mas não a viu. Arrumou
suas coisas e estava saindo para do apartamento e indo
para o seu, quando a morena abriu a porta.

- Vai embora? – perguntou olhando para a mala.


- Vou.
- Espera, vamos conversar.
- Não tem conversa Lívia. Enquanto não me pedir
desculpas, não vou falar com você.
- Pedir desculpa pelo que? Eu não estou errada.
- Está sim! – Marina se enfureceu.
- Porque está tão irritada? Será que é porque pisei no
seu calo.
- Que? Você não sabe o que diz, ou deve estar
querendo brigar comigo por nada, pra ficar longe de
mim. Se for assim, já conseguiu, estou saindo.

Marina virou as costas e entrou no elevador, mas ainda


ouviu Lívia falar.

- Ela está afim de você, tenho certeza.


- Mas eu não, eu só amo você. – falou baixinho no
elevador.

Chegou no apartamento chorando e foi recebida por


Monica que a aconselhou a ir para Jaú ficar com a
família. E foi o que ela fez, pegou o primeiro ônibus e
foi embora fazendo surpresa tanto para a família
quanto para Lívia, que quando foi procurá-la não a
achou.

- E quando ela foi? – perguntou a Monica.


- Ontem, já deve ter chegado lá.
- Ela não disse nada.
- E você ia querer ouvir? Você ficou louca Lívia? Ter
ciúmes de Marina com Vera! Isso é quase insano. Só a
sua cabeça pode achar que Marina se interessaria por
Vera, mais velha que ela, professora e que até bem
pouco tempo chamava a mulher de megera. Acorda!
Marina te ama e de verdade. Posso ver isso nos olhos
dela.

Lívia ficou sem graça e não conseguiu sustentar o


olhar.

- Eu sugeri que ela fosse pra casa ficar com a família.


Deixa ela quieta lá e não a incomode com suas
maluquices. E vê se não piora as coisas viu. – olhou
bem nos olhos dela.

Lívia saiu do apartamento sem rumo. Pegou o carro e


foi pra Mauá ficar com a mãe.

Marina chegou de surpresa em casa deixando todo


mundo feliz, menos ela própria. Tinha um o olhar triste
e murcho, mas disfarçou o quanto pode. Procurou sair
com a família e dar atenção a Luisa que já falava as
primeiras palavras. Só não deixou de pensar em Lívia,
ela não saía de sua cabeça. Passado alguns dias
recebeu uma ligação dela.

- Oi. – Lívia parecia sem graça.


- Oi.
- Fez boa viagem?
- Só agora deu falta de mim?
- Não amor, eu soube que você viajou no dia seguinte,
mas fiquei sem graça de ligar. Está tudo bem?
- Está, mas eu... estou sentindo sua falta. – Marina
falou quase num sussurro.
- Eu também estou morrendo de saudades. Quando
volta?
- Depois do ano novo, não sei.
- Volta pra mim, por favor. – Lívia pediu com dengo.
- Vai ficar aí nas festas de fim de ano?
- Ainda não me decidi, devo ir para Mauá. Só que no
dia trinta e um mesmo, pois tenho compromissos no
escritório que vou adiantar como sempre faço pra poder
curtir umas férias com você.
- Quando eu estiver saindo, ligo avisando então.
- Tudo bem. Liguei pra desejar feliz natal. Mande um
beijo para sua família e um ótimo ano novo a todos. Eu
amo você.
- Manda um beijão pra sua mãe e diz que estou com
saudades dela. Também amo você e te desejo um Natal
muito tranquilo e uma passagem de ano muito feliz,
saúde e paz.

Desligaram com Marina se sentindo mal e Lívia


chateada. Apesar da conversa, sabiam que as coisas
não estavam resolvidas. Foi aí que a loirinha teve a
idéia de ir embora antes do réveillon. Faria surpresa
para Lívia e passaria o ano novo com ela. Como já
estava a muitos dias em Jaú, deu a desculpa de ter que
tocar e voltar mais cedo. A princípio seus pais
reclamaram, mas depois entenderam.

O natal foi em família como sempre e dessa vez levou


presentes para todo mundo, além de muitos brinquedos
para Luisa. Monica resolveu passar o Natal e ano novo
com a família também, gesto que agradou muito seu
pai.

Na semana de vir embora, Marina foi à rua comprar um


presente para Lívia, resolveu que o seria algo de que
ela gostasse, então foi a uma loja de roupas íntimas.
Comprou uma lingerie nova para usar com ela.
Encontrou com Monica e a família passeando no
shopping.

- Quanto tempo! – Monica brincou.


- Pois é!
- Fazendo compras Má! Tem presente pra mim?
- Na verdade tem, comprei juízo pra você. – Marina
brincou. – Feliz Natal atrasado amiga, seu presente
está lá em casa. Passe lá para pegar, porque eu vou
embora amanhã.
- Por quê?
- Vou fazer surpresa a Lívia. Ela pensa que vou depois
do réveillon.
- Hum, eu também tenho uma surpresa para Hugo,
mas primeiro vou contar a ele e depois a você.
- Ta certo. – Marina riu sem perceber que Monica
parecia tensa. – Te vejo no Rio então.
- Isso aí. Feliz ano novo. – a abraçou.
- Boa passagem de ano também. – Marina retribuiu o
abraço e saiu.

Lívia passou o natal em Mauá e logo voltou para o Rio


trabalhar. Fazia hora extra no escritório, mas não
prejudicou os horários de Érica e Fabrício, assim como
dos estagiários. Estava tarde quando resolveu ir pra
casa, pegou o carro e passou numa padaria, quando
saia de lá encontrou com Camila.

“Meu Deus, ela ainda existe?”

- Lívia, quanto tempo!


- É, estava sumida você, não?!
- Sentiu minha falta? – perguntou displicentemente.
- Não. – falou sério.
- E não está nem um pouco curiosa com meu sumiço?
- Na verdade estou mesmo. Achei que tivesse morrido.
– sorriu debochadamente.
- Não querida! Eu viajei e depois fui resolver problemas
de ordem profissional. Estou me mudando do Rio, vou
para o Acre.
- Como é?! – Lívia riu.
- Sim, fiquei sabendo de uma vaga lá, o salário é ótimo
e eu to indo. Não sei se vou me adaptar, mas vou
tentar.

Lívia ficou realmente surpresa e de certa forma


aliviada.
- Devo dizer o que? Parabéns? Se é o que quer né.
- Devia dizer: Vamos nos despedir então... – veio pra
cima da morena com um olhar sedutor.
- Sem despedidas íntimas, apenas as formais mesmo.
- Ah que isso Lívia, vamos fazer da forma mais gostosa
que tem. – alisou o braço da morena. – Estou usando
uma calcinha que te deixaria louca. – falou em seu
ouvido. – E estou molhadinha, só de ver você.

Lívia sentiu seu corpo se arrepiar. Em questão de


minutos as duas estavam no apartamento dela se
jogando na cama e arrancando as roupas numa
voracidade incrível. Camila gemia e puxava os lençóis
sentindo a boca de Lívia em seu sexo. Puxou os cabelos
dela e arqueou o corpo sentindo um orgasmo atrás do
outro.

- Me fode Lívia! Me fode! Ahh, que delícia... ahhh... eu


quero gozar... ahhh... – gritava deixando Lívia ainda
mais excitada.

Passaram a noite fazendo sexo e só dormiram quando o


dia amanheceu.

Marina desceu na rodoviária com um sorriso de orelha a


orelha. Seria o primeiro réveillon junto com Lívia e
estava radiante com a idéia. Pegou um táxi para chegar
mais rápido e desceu na frente do prédio. Subiu o
elevador cheia de expectativas. Como estava chegando
cedo imaginou que a morena estivesse em casa ainda.
Abriu a porta do apartamento bem devagar, estava
tudo em silêncio. Deixou a mala na sala e subiu as
escadas, a porta do quarto de Lívia estava fechada. Ela
empurrou bem devagar e custou a acreditar no que viu.
Lívia deitada de bruços com Camila repousando a
cabeça em suas costas e um braço envolvendo sua
cintura, ambas nuas. O estômago de Marina
embrulhou, sua vista pareceu escurecer, sentiu como
se alguém a pegasse e sacudisse todo seu corpo.
Acendeu a luz num instinto de tentar clarear as coisas,
como se aquilo não fosse verdade. Com a claridade
Lívia abriu os olhos e viu Marina parada na porta.

- Marina!

Os olhos dela estavam fixos nos de Lívia, seu rosto era


inexpressivo até Camila se mexer na cama.

- Querida vem aqui... – falou ainda com os olhos


fechados.

Marina fez um cara de nojo e saiu do quarto.

- Amor, espera! – Lívia vestiu um roupão correndo. –


Espera! Marina por favor! Volte! – corria para poder
alcançá-la. – Precisamos conversar, não julgue sem
saber, por favor!

Marina desceu, puxou sua mala e não esperou o


elevador. Desceu as escadas do prédio correndo. Não
quis olhar para trás e nem quis escutar o que Lívia
berrava.

Cinco anos depois

- Patroinha, acorda! – Renata brincou. - Você pediu que


eu te chamasse as oito. Então ta na hora! – chamava. –
Anda!
- Eu acordo, mas me recuso a levantar! Onde estava
com a cabeça que te pedi pra me acordar essa hora?! –
Marina esfregava os olhos e se mexia vagarosamente.
- Não tem que estar no estúdio às nove? Até que você
levanta, toma banho, come alguma coisa, acho que
ainda vai chegar atrasada.
- Eu faço tudo muito rápido, pode ficar tranquila.
- Precisa que eu vá com você?
- Não, eu queria que você marcasse uma reunião com
aquele pessoal de Florianópolis. – fez uma cara de
quem pedia um grande favor.
- Sim senhora. Tea with me!
- Que é isso Renata? – Marina fez uma cara sem
entender.
- Nunca ouviu? É “chá comigo”. E depois diz que
aprendeu inglês. – falou revirando os olhos e saindo do
quarto, deixando Marina rindo de suas bobeiras.

Renata era a secretária de Marina fazia um ano.


Conheceram-se através de um amigo em comum. A
loirinha precisava de alguém para gerenciar seus
compromissos e Renata apareceu. Era um pouco mais
alta que Marina, morena quase mulata e tinha os
cabelos enrolados e meio rebeldes. Sua marca
registrada era o sorriso, seu bom humor era a arma
contra o estresse do dia a dia. Era solteira, mas tinha
uma filha adolescente, fruto de um relacionamento que
não deu certo. Quando aceitou trabalhar com Marina
viu que logo se dariam bem, pois tinham muita coisa
em comum, uma delas era o respeito. Renata é hétero
convicta e Marina gay totalmente resolvida. Saíam
juntas e gostavam de dar risadas das situações em que
envolviam no cotidiano. Além de companheira, Renata
tinha aquela intuição feminina invejável, sempre
aconselhava Marina e conversava com ela sobre
trabalho e até relações amorosas. Havia se tornado o
seu braço direito.

Marina levantou da cama e tomou um banho rápido,


apareceu na cozinha toda pronta, tomou um suco e
comeu uma fruta, pegou um pão e se despediu da
amiga.

- Rê, to saindo!
- Só vai comer isso? Um dia você vai desmaiar na rua.
- Desmaio não. Qualquer imprevisto me liga. – saiu.

Ligou o carro e foi para o estúdio, no caminho ligou


para a mãe e combinou com ela de pegá-la na
rodoviária com Luisa, passariam uns dias em São Paulo
e depois viajariam para Bahia. Mudara-se para a cidade
para ficar mais perto da família e por conta dos
negócios. Havia se tornado uma das melhores
produtoras de música do país e tinha um estúdio
renomado. Apesar de ser mais familiarizada com São
Paulo achava a cidade cinza, bem diferente do Rio.
Parou no sinal e viu uma mulher alta e morena
atravessando a rua, seus olhos se fixaram nela. O sinal
abriu e ela arrancou com o carro e foi para o estúdio.
Chegando lá se trancou em sua sala até que os músicos
chegassem. Seus pensamentos ficaram perturbados e
sentiu como se voltasse no tempo...

Cinco anos antes...

Naquele dia em que surpreendeu Lívia na cama com


Camila, saiu de lá e se escondeu no seu apartamento
ficando sozinha até Monica chegar de Jaú. Uns dias
depois, quando a amiga chegou encontrou Marina
abatida e a casa totalmente fechada.

- Marina! Há quanto tempo está aqui?


- Tem quase duas semanas. – respondeu chorando.
- Passou o ano novo aqui? Que aconteceu? Você ta
horrível!

Marina contou tudo e terminou a história soluçando de


tanto chorar.

- Desgraçada! Eu sabia que ia dar nisso, aquela filha da


mãe não podia ter feito uma coisa dessas com você.
- Sabia que ia dar? Como assim? – não entendeu. –
Você sabia de alguma coisa?

Monica baixou o olhar e respirou fundo.

- Sabia. Fabrício e Eduardo também.


- Como puderam...
- Calma. Eu queria te contar, mas Fabrício achou
melhor não me meter e deixar que você descobrisse.
Eduardo achou que era apenas uma fase e tudo ia
passar, sabe como ele é né?
- Há quanto tempo?
- Eu não sei te dizer. No último réveillon eu vi Lívia sair
do prédio onde trabalha e estava muito estranha;
pouco depois que nos encontramos essa mulher passou
por nós e falou algo que me deixou cismada, eu acho
que naquele dia tinha acontecido algo.
- Mais de um ano? – falou surpresa. - Não quero vê-la
nunca mais na minha vida. Quero sumir daqui do Rio,
quero sumir do mundo. – chorava copiosamente.
- Calma Marina, isso vai passar. Dói agora, mas depois
vai ver como será melhor pra você. Esse
relacionamento não ia dar certo mesmo. – Monica
alisava seus cabelos. – Imaginava que ela não era a
pessoa certa pra você.

Marina ouvia, mas não entendia as palavras de Monica.

- O que eu vou fazer da minha vida? – a loirinha cobriu


o rosto com as mãos chorando ainda.
- Estou do seu lado e os meninos também. Isso vai
passar.

Lívia tentava falar com Marina, mas em vão, parecia


que ela tinha evaporado da terra. Além de não
conseguir contato, ninguém lhe falava nada sobre seu
paradeiro em virtude da sacanagem que havia feito.

Dias depois das aulas já iniciadas Marina estava


chegando em casa quando encontrou com Hugo na
calçada, chegando junto com ela.

- Ei Marina, como está?


- Levando. – sorriu sem graça.
- Monica conversou com você?
- Sobre o que?
- Ela não falou nada?
- Não sei... nada do que?

Os dois foram subindo e quando entraram no


apartamento Monica saía de dentro da cozinha.

- Ei lindo! – beijou o namorado.


- Monica, não contou pra Marina?

A garota fez sinal para que ele deixasse para depois.

- O que ta acontecendo? – Marina olhava para os dois.


- Monica está protelando demais e se ela não falar você
vai acabar vendo do mesmo jeito. – Hugo foi direto ao
ponto. – Ela está grávida, temos um neném a caminho.
– sorriu.

Marina não sabia se dava os parabéns ou os pêsames.

- Eu... bom... devo dizer que isso é uma coisa boa... –


estava em dúvida ainda. – Ô amiga, parabéns! –
abraçou Monica. – E ta de quantos meses?
- Vou completar três ainda.
- Está indo no médico direitinho? Seus pais sabem
disso?
- Calma, uma pergunta de cada vez. Comecei o pré-
natal agora. E contei ao meu pai quando estava lá.
- E ele? – Marina parecia mais receosa que Monica.
- Ele disse que vai me ajudar.
- Nossa que bom, fico feliz que ele tenha dado apoio.
- Acontece que vamos morar juntos, como uma família
mesmo. – Hugo logo despejou a bomba.
- Hugo, calma. Temos que rever isso. – Monica o
interrompeu.
- Rever o que? Foi o que combinamos e seu pai acha o
mais correto.
- É que algumas coisas mudaram.
- O fato de Marina não estar namorando mais, não
muda nossa situação. – falou enfático.

Marina os olhava discutir e já sabia qual o final da


história: teria de procurar outro apartamento.

E assim foi: em um mês a loirinha estava morando


sozinha e tentava se organizar da melhor forma. Tinha
conseguido uma quitinete num preço legal e não era
longe da faculdade, assim economizava o ônibus.
Economizava o quanto podia, pois tinha medo de não
conseguir se virar sozinha na casa nova.

Estava esperando Vera na faculdade, havia recebido um


recado de que ela iria se atrasar. Olhava pela janela da
sala e via os carros passarem, mas sua cabeça estava
em outro lugar vagueando pelas ruas do Rio de Janeiro.
De repente viu um carro parar e conhecia bem quem
estava dentro dele e quando viu Lívia descer quis sair
dali. Estava na porta quando deu de cara com a
professora.
- Calma, eu cheguei, não vai matar aula.
- Não estou matando aula, eu preciso ir embora. – os
olhos já estavam cheio de lágrimas.
- Ei, ei... espera Marina. Onde pensa que vai assim? Me
conta o que houve?
- Agora não dá, preciso ir.
- Parece que está fugindo de alguém.
- E estou, preciso ir.

Vera fechou a porta e ficou na frente dela.

- Está com algum problema?


- Estou, eu... é que... – Marina não sabia como
começar. – Tem uma mulher vindo aqui falar comigo e
eu não quero falar com ela.
- Tudo bem, me fale o nome que eu resolvo isso.
- Lívia, o nome dela é Lívia.

Vera logo se lembrou de quem se tratava. Fechou a


porta da sala e desceu; quando entrou na secretaria
pra falar que não queria ser incomodada na sua aula,
Lívia entrou.

- Preciso saber onde está a aluna Marina Calleguer.

Vera fez sinal para que a secretária enrolasse Lívia.

- Ela... acho que não veio hoje. – respondeu


- Engraçado, parece que a vi na janela. – notou Vera ao
seu lado e falou. – Ei, você é a professora dela, onde
ela está?
- Marina está fazendo prova, não pode sair agora.
- Eu vou esperar.

Vera deixou Lívia e voltou para sua sala.

- Ela quer esperar, mas agora está segura aqui, disse


que faria uma prova.
- Ai senhor. – Marina alisava os cabelos.
- Pode me contar o que está acontecendo?
- Você não vai entender. – baixou a cabeça.
- Tente, sou mais compreensiva do que imagina. –
disse segurando o queixo dela.

Então Marina contou tudo desde o início. Colocou a mão


no rosto e chorou ao acabar de falar.

- Ela era sua namorada então.


- Noiva. – Marina corrigiu.
- Que seja. O que ela fez foi muito feio, traição é algo
imperdoável, eu não admitiria nunca qualquer
desculpa. Fique aqui comigo e quando ela sair a gente
sai também.

Passaram a tarde conversando e Marina se sentiu


aliviada dividindo aquela situação com alguém. Vera a
havia surpreendido com sua atitude; achava que iria
repreendê-la. Quase à noite as duas saíram da sala e
quando Marina saía da Faculdade deu de cara com Lívia
a esperando do lado de fora.

- Marina, por favor, nós precisamos conversar. –


segurou seu braço.
- Não tenho nada pra falar com você. – puxou o braço.
- E me solte!
- Amor me escuta, sei que fiz errado, eu não sei onde
estava com a cabeça, me perdoa. – seus olhos já
estavam cheios de lágrimas.
- Eu sei onde estava com a cabeça, muito
provavelmente no meio das pernas dela. – Marina falou
com rancor. – Não quero vê-la nunca mais na minha
frente. – ia andando a passos rápidos.
- Não faça isso comigo. – pedia.
- Não faça? – parou de repente e a olhou com deboche
e raiva ao mesmo tempo. – E o que você fez comigo?
Você não tinha o direito de trair a única pessoa que a
amou com sinceridade, com respeito e que confiou em
você. – sua voz ficou embargada. – Você jogou no lixo
o sentimento mais verdadeiro que alguém pode ter pelo
outro. E isso não tem perdão. Falava do meu ex, o
criticava, mas e o que você fez? A mesma coisa! –
virou as costas e saiu andando.
- Espera! – Lívia voltou a segurar o braço dela.
- Me solta!

Lívia correu dando a volta e ficando de frente para


Marina.

- O que eu posso fazer pra mudar essa situação? –


falou chorando.

Marina olhou em seus olhos antes de responder,


respirou e falou com toda calma do mundo.

- Voltar no tempo.

Saiu e não olhou para trás, era difícil demais.

Demorou para que sua vida entrasse no eixo. Teve


mais dificuldade para estudar piano, pois antes tinha a
facilidade de ter um no apartamento de Lívia, mas isso
não foi problema. Vera conseguiu uma sala e um bom
horário só para ela estudar. As coisas pareciam tão
difíceis de novo e num instante a vida ficou sem graça.
Marina perdeu a vontade pra tudo e só queria voltar
pra casa e ficar com a família. Os shows com a banda
já haviam voltado e Marina até achou que teria
problemas com Lívia indo incomodá-la, mas Eduardo
havia proibido a ida dela em qualquer show deles. Só
ficou sabendo do ocorrido por Marina. Lívia não falou,
pois sabia que para Fabrício isso seria a glória. Antes de
começar a apresentação Eduardo foi conversar com a
loirinha.

- E aí mocinha, tudo bem?


- Levando. – essa a palavra que Marina mais usava.
- Vai passar Marina.
- Isso é o que todo mundo me diz.
- Não pense que está sendo fácil para ela também,
Lívia está visivelmente acabada. Não chega mais nos
horários para trabalhar, só cumpre hora certa quando
tem audiência, mas isso porque ela pode até ser presa
se não andar na linha. E se ela não vem aqui, é porque
proibimos. Não queremos que a incomode durante o
show e também não atrapalhe a banda, mas a vontade
dela era vir aqui todo dia.

Marina ficou quieta só ouvindo.

- Sei que ela merece o que está passando, mas não


está moleza viu.
- Ela ainda tem com quem dividir os problemas, a mãe
mora perto e sabia do nosso relacionamento. Eu não
tenho com quem conversar direito, tenho só você;
Monica depois que juntou com Hugo não deu mais as
caras, mal nos vemos na faculdade. Às vezes até acho
que ela me evita.
- Monica me surpreendeu, sempre dizia ser sua amiga,
achei a atitude dela muito egoísta. E Marta não quis vir
para o Rio ficar com Lívia, ela sabe que a filha errou e
não vai passar a mão na cabeça dela por isso. Marta te
adora Marina e ficou muito chateada com tudo isso.
- Eu gosto dela também.
- E quanto a mim, bom... – pensou para falar. – Eu ia
te falar mais cedo, não tive oportunidade, mas não dá
pra adiar. Estou indo semana que vem.
- Já?
- Como já? O carnaval passou, eu disse que seria logo
depois.
- Nossa, eu ando tão distraída que nem estou vendo o
tempo passar. Minha vida ta muito bagunçada, não sei
como fazer voltar tudo ao normal.
- Não vai voltar como antes, mas pode ser melhor que
antes. Não desanime Marina, as situações na nossa
vida aparecem para que possamos sempre aprimorar
nosso conhecimento e melhorar enquanto ser humano.
- Sofrer pra crescer, bonito isso, mas só na teoria.
Como vai ficar a banda?
- Sinceramente não sei, eu gostaria que continuasse,
afinal fazemos shows há dois anos nesta formação, mas
não depende de mim.
- Desejo boa sorte a você e não se esqueça de mim
viu? – Marina sorriu.
- Como esqueceria, você é minha amiga mais querida.
– falou abraçando a loirinha.

A banda não durou um mês após a ida de Eduardo;


com a dificuldade de achar outro vocalista o grupo
acabou se desfazendo. Pedro recebeu um convite para
tocar em outro conjunto e Hugo estava às voltas com a
gravidez de Mônica. Com isso mais uma preocupação
Marina tinha.

“Preciso arrumar o que fazer, senão o dinheiro acaba.”

Tinha feito umas economias, mas não podia confiar só


nelas. Foi pra aula pensativa e preocupada. Mal
conseguia prestar atenção, só tinha Lívia na cabeça e
os problemas que vinham acontecendo. Lembrou-se
dela falando. “Nunca se sinta sozinha, porque terá
sempre a mim.”

- Então cadê você agora? – falou pra si mesma.

Encontrou com Monica no corredor e se surpreendeu ao


ver a barriguinha de grávida.
- Olha que bonitinha! Já está com barriguinha. Já sabe
o sexo?
- Não, vou saber só o mês que vem. E aí? Tudo bem?
- Como sempre... levando.
- Você emagreceu muito Marina, tem se alimentado
direito?
- O suficiente pra ficar de pé. – sorriu sem graça.
- Deve estar sentindo falta da mordomia né? Até eu
sentiria.

Monica não poderia ter feito comentário mais idiota.

- Não sinto falta de coisas materiais, deveria saber


disso, já que me conhece há tanto tempo.
- Desculpa, não quis ofender. Preciso ir, Hugo está me
esperando.
- Tudo bem.

Despediram-se e quando Monica virou as costas Marina


ficou olhando e pensando em como eram amigas e
agora eram tão distantes. Foi pra casa se sentindo mal,
cansada e frustrada. Não tinha mais o sorriso que
encantava as pessoas. Ligou para a mãe e chorou
desabafando no telefone, mas apenas o que ela poderia
saber.

- Calma filha, as coisas vão se ajeitar. Lembra quando


você foi e ficou preocupada com trabalho, logo arranjou
um. Tudo tem seu tempo, tenha fé e se precisar sabe
que podemos te ajudar.

As palavras eram reconfortantes, mas na prática não


funcionava. Dormiu muito mal aquela noite pensando
no que fazer da vida. No dia seguinte foi pra aula de
piano empurrada, chegou na sala e Vera já a esperava
com uma cara de quem iria dar alguma notícia.
- Marina, minha querida, precisamos conversar.

“Lá vem.”

- Sim, o que?
- Ontem o pianista anterior da orquestra se apresentou,
ele voltou da Europa.

Marina sorriu com certo sarcasmo.

- Terei de sair da orquestra não é?


- Sim.
- Eu já imaginava. Tudo bem, depois converso com
Ernesto e me despeço dele. Foi muito boa a
experiência.

Vera ficou com o coração apertado, sabia que muita


coisa estava acontecendo com a loirinha, mas nada
podia fazer naquele momento. Marina não soube como
tocou naquele piano, estava tão desanimada que nem
para as próximas aulas do dia ficou para assistir. Foi
pra casa se sentindo muito mal.

Algumas semanas depois quando a situação estava


realmente complicada e o dinheiro tinha acabado é que
ela se desesperou. Correu atrás de alguns conjuntos ou
bandas que estavam precisando de pianista, mas nunca
tinha vaga. Ela sempre chegava atrasada ou nunca era
o que estavam procurando. Um dia tentou levar a aula
numa boa, mas não conseguiu. Começou a chorar e
assustou a professora.

- Que foi Marina? O que você tem? Anda tão abatida,


desanimada, estou tão preocupada com você?
- Estou totalmente enrolada. Saí do apartamento que
dividia com minha amiga, não toco mais na banda e por
último perdi a vaga na orquestra. Não sei o que fazer e
preciso trabalhar pra me sustentar aqui, mas por algum
motivo não consigo me encaixar em grupo nenhum. –
desabafou. – Incrível como as pessoas te elogiam e
enchem a bola, mas quando precisa delas, as mesmas
viram as costas.
- Calma. – Vera pediu.
- Calma?! O que todo mundo me diz é pra ter calma!
Não aguento mais isso. Está tudo acontecendo ao
mesmo tempo. – começou a chorar desesperadamente.

Vera a abraçou e alisou seus cabelos, sabia bem o


motivo de alguns alunos a evitarem. Na faculdade já
rolava um boato fortíssimo sobre Marina ser gay. E a
maioria dos alunos se mostrava preconceituoso e não a
queria por perto. Quando sentiu que havia se acalmado
sentou de frente a ela e conversou calmamente.

- Olha, vou te dar uma boa notícia então. Eu já havia


conversado com Marconi sobre você e acho que posso
ajudá-la em algo que gosta.
- O que? – enxugou as lágrimas com as mãos.
- Você me disse que gosta de fazer arranjos, de criar e
está fazendo aulas de composição. Tenho um amigo
que trabalha na UNIRIO e estão precisando de um
instrumentista no estúdio dele. Vou te encaixar lá. Você
precisa aprender outro instrumento, mas isso será
moleza.
- Eu não sei tocar mais nada além de piano.
- Vai aprender violão e flauta. E quanto ao seu
apartamento se não der conta venha morar comigo. Eu
moro sozinha e você pode ficar na minha casa até se
arranjar.

Marina se surpreendeu com o convite, mas não disse


nada a respeito. Pelo menos se sentiu mais aliviada em
ter novamente o apoio de alguém no Rio.
Vera entrou em contato com Felipe, o tal amigo e não
demorou muito para que Marina começasse a trabalhar
no estúdio, primeiro como uma experiência, mas em
pouco tempo ele tinha gostado da garota.

- Ela é boa Vera... tem futuro hein? – falou com Vera e


Marconi.
- Ai, perdi a aluna! – Vera fez uma cara desolada.
- Eu disse que ela nos abandonaria.
- Vou registrá-la e acertar o salário direitinho.

Como ainda estava recebendo pouco, Marina realmente


teve que se mudar da quitinete e acabou indo para a
casa de Vera. Era uma casa em estilo colonial, ficava na
Urca e era bem aconchegante. Simples e bem
decorada, parecia-se muito com a professora. E foi lá
que tiveram o primeiro envolvimento. Marina havia
chegado do estúdio de Felipe e encontrou Vera na
cozinha preparando o jantar.

- O cheiro ta bom, hein?


- Fiz um jantar pra comemorar o trabalho novo.
- Queria agradecer por tudo que está fazendo por mim.
– sorriu segurando as mãos dela.
- Fico feliz que você esteja bem e sorrindo novamente.
Ver seu rosto assim é a melhor forma de
agradecimento. – se aproximou mais.

Marina sentiu que ela queria agradar e se deixou levar


pelo sentimento. Aconteceu uma única vez e para o
espanto da loirinha, Vera se mostrou delicada e
sensível, mas Marina ainda não estava pronta para um
novo relacionamento e muito menos gostava de Vera
para tal. A professora entendeu e não mais insistiu.
Passaram a conviver como grandes amigas depois
disso.
O tempo foi passando e aos poucos Marina foi
retomando sua vida e ficando mais estável. Morou com
Vera por quase um ano sem seus pais saberem, não foi
tão difícil esconder, pois eles não voltaram mais ao Rio.
Monica ganhou neném, se chamou Paulo, homenagem
ao pai. Marina foi visitá-la em Jaú, a amiga havia dado
a luz na cidade natal e ficaria lá por um tempo. Trancou
a faculdade para se dedicar ao filho. Hugo fez o mesmo
e foi morar com ela, arranjou emprego na escola de
música da cidade e ajudava nas despesas, mas quem
bancava mesmo era o pai de Monica.

Com o trabalho no estúdio Marina só ia à faculdade


para assistir aula e fazer provas. Dedicava-se
completamente nas gravações dando o seu melhor,
algo que não passou despercebido por Felipe, que cada
vez mais a envolvia nos projetos. Marina passou a ser
essencial para que tudo desse certo nas produções do
estúdio. Meses antes dela se formar é que havia
juntado dinheiro suficiente para morar sozinha e
mobilhar o apartamento. Na véspera de sua formatura
os pais vieram ao Rio para assistir a apresentação.
Havia se formado com aproveitamento máximo na
faculdade e foi a última aluna a se apresentar tocando
com Vera e depois com Marconi. Quando a música
acabou os dois professores a abraçaram com carinho,
mas foi Vera quem lhe deu um beijo na testa num
gesto carinhoso.

- Você foi divina, tenho muito orgulho de você.


- Obrigada! Eu não teria conseguido se não estivesse
ao meu lado me ajudando. – aquela frase a fez
lembrar-se de Lívia que por tantas vezes a ajudara e
incentivara. Ficou emocionada e não conseguiu conter
as lágrimas.

Sua família veio a abraçar e depois Eduardo, que tinha


vindo somente para sua formatura e Fabrício que há
muito não via.

- Ei! Os dois sumidos, obrigada por virem.


- Quando recebi o convite comprei logo minha
passagem. – Eduardo falou.
- Eu desmarquei uma audiência em São Paulo para vir,
sua importante. – Fabrício brincou.
- Que maravilha! Hoje vamos comemorar.
- Mas é claro!
- Comemorar? Oba! – Monica veio chegando e com
neném no colo.
- Monica, quanto tempo! – Marina realmente se
surpreendera, pois nunca mais tinha visto a amiga
desde que o filho tinha nascido – Paulo já deve estar
andando.
- Você é desleixada! – Monica brincou. – Nunca mais
me visitou.
- Falta de tempo, tenho trabalhado muito e no último
período as coisas apertaram de verdade.
- Marina parabéns! Estou muito feliz por você, viu?
- E você Monica, quando se forma? – Eduardo
perguntou.
- Daqui a dois anos e vocês vêm pra minha formatura
se Deus quiser.
- Claro, estaremos aqui.
- Agora vamos comemorar.

Quando se viraram deram de cara com Lívia. Estava


impecavelmente linda, cabelos soltos mais compridos
lhe caíam abaixo das costas, a franja de lado, usava
uma calça jeans negra e um casaco que ia até a coxa,
porém sem mangas e da mesma cor da calça. Estava
acompanhada da mãe que acabou por inibir qualquer
reação dos demais.

- Viemos lhe desejar parabéns. – falou para que todos


ouvissem.

Maria José na sua inocência foi simpática com ela.

- Lívia! Achei que não fosse mais amiga de Marina,


você sumiu!
- Estive viajando, mas vim para a formatura dela. –
respondeu sem tirar os olhos da loirinha.

Marina ao ouvir aquela voz rouca chegou a estremecer.

- Como soube? – perguntou, mas olhando para Marta.


- Me informei na faculdade e vi o convite no mural. –
foi Lívia quem respondeu. - Queria muito estar aqui
nesse dia e larguei um compromisso em São Paulo só
para lhe ver. – olhava diretamente em seus olhos. –
Parabéns Marina! – estendeu os braços para abraçá-la.

Marta somente observava sem nada dizer. Marina a


princípio quis se afastar, mas viu que ficaria muito
estranho aos olhos da família. Quando sentiu os braços
de Lívia envolverem seu corpo uma sensação nostálgica
e de bem invadiu seu coração. Entregou-se ao abraço
como se entregava a ela quando faziam amor. Foi a
última vez que viu Lívia; depois sua vida mudou e os
rumos a levaram para outro lugar.

De volta aos cinco anos depois


De olhos fechados lembrava-se daquele dia, guardava o
cheiro ainda na memória e por vezes refazia essa cena
em sua cabeça, mesmo com o passar dos anos. Uma
batida na porta a tirou de seus pensamentos.

- Marina! Está na hora. – era Felipe a chamando.

Haviam ficado sócios depois de alguns anos


trabalhando juntos. Uma oportunidade apareceu para
que Felipe abrisse um novo estúdio e Marina entrou de
sócia com ele. A parceria deu muito certo e o trabalho
deles era considerado um dos melhores do país.
Sempre que a mídia queria lançar uma banda ou
cantor, procuravam o estúdio. Os melhores cantores de
bandas também gravavam seus cd´s sob os arranjos
de Marina e atualmente já arriscavam montar uma
produtora para gravação de DVD. Ela sabia muito bem
o quanto trabalhara para conquistar tudo que tinha. E
com a ajuda de poucos, sua família, Vera e Marconi.
Eduardo também fez parte dessa trajetória, embora
acompanhasse sempre de longe.

Quando entrou na sala de observação ficou aguardando


os músicos começarem, sua presença causava certo
frisson. Marina continuava linda, agora com cabelos
curtos, num corte repicado e moderno. Malhava todos
os dias e corria quando tinha tempo, hábito que fez seu
corpo mudar radicalmente.

- Essa é a tal Marina? – perguntou um dos músicos


dentro da cabine.
- Sim. Aquela da revista que você viu. – respondeu o
outro.
- Nossa que gata! É mais bonita ao vivo. Eu pegava ela.
– falou com um sorriso sarcástico. O que ele não sabia
era que os microfones já estavam ligados e podia-se
ouvir até a respiração deles de onde a loirinha estava.
Felipe estava ao lado dela achando graça do
comentário.

- E aí Má, pega ele?


- Pego, só se for pra jogar fora. – Marina apertou um
botão chegando perto de um microfone e pigarreou. –
Gente, os microfones estão ligados, estão prontos pra
começar? E... ah sim... Baixista, eu não estou
disponível para “pegação”. – sorriu.

O rapaz não soube onde enfiar a cara de tanta


vergonha. Marina e Felipe riam de onde estavam e
deram sinal para que a banda começasse. Sua rotina
era acompanhar as gravações e trabalhar na produção
das músicas. Algumas vezes dependendo do músico
chegava a criar o arranjo fazendo uma participação no
cd. Adorava o que fazia e por isso tinha tanto sucesso.

Rio de Janeiro

- Até que enfim lembrou que tem mãe.


- Desculpa mãe, tive um problema com o carro e não
pude vir antes. – falou Lívia saindo do carro.
- Porque não veio no outro?
- Está com um problema no ar condicionado e não quis
vir nele, vou mandá-lo também para a revisão e depois
vender. Já está na hora de trocar.
- Você e sua trocação de carro. E aquele outro, porque
não o vende também.
- Não! Aquele carro vai ficar guardado.
- Vai desvalorizar.
- Não interessa. Ele ficará exatamente onde está. –
Lívia se referia ao carro que havia dado a Marina.
Entraram em casa e depois de deixar suas coisas no
quarto Marta sentou na sala para conversar com ela;
estava preocupada com a filha.

- Como estão as coisas?


- Indo. Muito trabalho no escritório e pouca distração.
- Por que não viaja? Você gosta e pode muito bem tirar
uns dias pra descansar.
- Não quero, o trabalho me ajuda a desviar meus
pensamentos.
- Lívia, minha filha, já se passaram cinco anos. Você
não pode viver só por conta de trabalho, muito menos
de lembranças.
- São elas que me mantêm viva ainda. – abaixou a
cabeça.
- Acho que vou para o Rio ficar com você, assim posso
cuidar melhor da sua alimentação e da sua saúde. Você
está muito magra. Sem contar essa novidade de fumar,
acho isso um absurdo pra alguém que levava uma vida
tão saudável.
- O cigarro me acalma.
- E te mata também.

Lívia passou o fim de semana com a mãe e na segunda


voltaram as duas para o Rio. Marta ficou no
apartamento e Lívia foi trabalhar. Estava no escritório
quando Fabrício entrou com uma revista na mão.

- Bom dia! Seus documentos, seu cappuccino e seu


cigarro. Argh! – fez uma careta. – Ah sim e mais isso
aqui. – jogou a revista na mesa.
- Que é isso?
- Uma revista, livro conhecido por reportar notícias do
país ou do mundo abrangendo fatos do cotidiano,
política, saúde e cultura.
- Deixa de ser besta! Estou perguntando o que tem
nela pra me interessar.
- Folheie, e vai saber.

Lívia a princípio não deu atenção, mas como estava há


horas lendo o mesmo processo decidiu relaxar. Olhou
para a revista e a pegou começando a folhear e qual foi
a sua surpresa ao ver Marina dando uma entrevista em
sua casa e haviam fotos de sua mãe e uma menina que
deveria ser a sobrinha, mais alguns amigos. O coração
da morena disparou, leu a reportagem toda e viu as
fotos. Olhava para os olhos de Marina e sentia um
desespero; ela parecia feliz, mas seus olhos não
condiziam com aquilo tudo. Tinha uma foto dela com
Luisa e a menina estava a cara da tia. Que também
estava diferente, o rosto mais fino, cabelos curtos,
estava mais magra e mais bonita. Não conseguiu mais
trabalhar naquele dia e foi pra casa.

- Mãe! Olha essa revista! – disse chegando à sala do


apartamento.

Marta olhou e levantou uma sobrancelha.

- Eu já vi.
- Como assim já viu? Não me falou nada.
- E pra que vou te falar que vi Marina numa revista?
Pra você ficar chateada?
- Ela é dona de um estúdio, eu já sabia, mas o trabalho
deles é reconhecido mundialmente. Estou tão feliz por
ela. – falou olhando para a foto.
- Também fiquei feliz, ela merece tudo que conseguiu.
- Olha Luisa como está a cara dela.
- Realmente são bem parecidas.
- Está tão linda. – admirou a foto da loirinha.
- Você já tentou falar com ela depois daquele dia da
formatura?
- Não! – Lívia respondeu como num susto.
- E por que não? Quem sabe ela não está mais
receptiva.
- Marina nunca mais vai me aceitar. – falou chateada.
- Minha filha. – Marta sentou ao lado dela e segurou
suas mãos. – Você errou feio, não foi por falta de aviso
isso...
- Sermão agora mãe! – interrompeu.
- Não estou lhe dando um sermão, mas um conselho.
Errou, mas pode tentar consertar, ao menos tente e se
não conseguir é porque não tinha que ser mesmo.
Quando tudo aconteceu eu imaginei que você ficaria
chateada, mas logo se recuperaria e continuaria com
sua vida. Hoje eu vejo que gostava mesmo de Marina e
por que fez aquilo tudo eu ainda não entendi, mas
tente reconquistá-la. Você é boa nisso.

Lívia passou a tarde toda olhando para a revista. Seus


pensamentos a levaram num tempo em que se sentia
mais feliz.

“Acho que uma das melhores coisas do mundo é poder


se aconchegar nos braços de quem se ama... Porque eu
te amo, porque quero proporcionar a você o que tiver
de melhor nessa vida e falo no sentido material e
emocional. Nunca se sinta sozinha, porque terá sempre
a mim... Marina, você quer ser a mulher a ficar do meu
lado, a pessoa mais importante, a minha prioridade, a
pianista dos meus sonhos e a minha cozinheira
preferida?”

Lembrava de tudo com detalhes. Dormiu pensando


nela.

Depois que Marina descobriu tudo, Lívia tentou correr


atrás dela, mas não conseguiu e sabia que não poderia
simplesmente sair do apartamento usando um roupão.
Até que se trocasse já teria perdido a loirinha de vista.
Voltou e viu que Camila havia acordado com a
confusão. Tiveram uma discussão e um ponto final,
porém tardio.
- O que está acontecendo?
- Quer saber mesmo? Você conseguiu, está satisfeita
agora? Arruinou minha vida, por sua causa eu perdi a
pessoa que mais amo nesse mundo.
- Você não me comeu a força, fez porque quis. –
Camila falou com deboche. – Quando estava entre
minhas pernas não pareceu achar ruim.

Levou um tapa da morena na mesma hora. Lívia nunca


batera em ninguém, quanto mais em uma mulher.
Camila ficou atordoada, colocou a mão no rosto
sentindo-o queimar.

- Some da minha vida, eu quero você longe de mim.


Você não me traz nada mais além de confusão e o que
sinto por você é nojo, por rastejar aos meus pés, por
implorar que eu fique com você. Perdeu seu orgulho se
oferecendo como uma vadia. Fora daqui! – gritou a
última frase.

Camila vestiu sua roupa e saiu do quarto, quando ia


embora falou da porta.

- Saiba que não fiz nada sozinha e que poderíamos nos


dar bem juntas, mas você está me trocando por uma
pobre da roça. Agora quem não quer sou eu. – bateu a
porta e saiu.

Lívia vestiu uma roupa e saiu em disparada para o


apartamento de Marina, mas chegando lá estava tudo
escuro e achou que ela não estivesse lá dentro. Rodou
por horas de carro e depois voltou lá, mas continuava
tudo escuro. Ficou preocupada em onde Marina poderia
estar; não tentou o celular, pois sabia que não
atenderia. Esperou que as coisas se acalmassem para
procurá-la na faculdade, mas o encontro foi desastroso.
Sua vida virou de cabeça pra baixo. Não tinha
entusiasmo para trabalhar e só fazia cumprir agenda.
Perdeu o contato com os amigos e vivia trancada em
casa, somente sua mãe ia visitá-la. Marta nada falava
do acontecido, só quando Lívia mencionava o nome de
Marina. Via a filha definhar num choro constante,
estava realmente no fundo do poço. Começou a fumar
e se estressava constantemente, se alimentava mal e
emagrecera muito por conta disso. E nunca mais viu
Marina até o dia de sua formatura. Estava linda tocando
piano, era a estrela da noite. Não ia se aproximar, mas
acabou não resistindo. E o abraço daquele dia revivia a
todo o momento em sua mente.

São Paulo

Depois que saiu do estúdio Marina passou no mercado


e comprou muitas bobagens para comer com a
sobrinha que chegaria no dia seguinte. Seu telefone
tocou e era Monica.

- Má, como vai?


- Ei Monica. – sorriu quase forçado.
- Nossa! Saber seu telefone é muito difícil.
- Nem todo mundo tem meu celular, como conseguiu?
- Sua mãe, ela me passou.
- Ok, por favor, não repasse a ninguém. – Marina falou
sério.

Tinha certa mágoa com Monica por simplesmente


abandoná-la quando mais precisou. E depois de ter se
formado e conseguido se ajustar na vida a garota quis
se aproximar de novo. Então agora se mostrava mais
arredia. Um pensamento sobre Monica veio de repente
levando ao passado.

“- Sempre te admirei e te respeitei, agora não será


diferente.
- Obrigada por aceitar tudo isso e ficar do meu lado.
- Estarei sempre.”

A voz de Monica do outro lado a tirou daquele


momento.

“Não esteve do meu lado, quando eu mais precisei.” –


pensou.

- E Paulo, deve estar grandinho.


- E bagunceiro. Ele gosta de piano viu, vai se tornar um
pianista tão bom quanto à tia.

”Tia?!”

- Sei...
- Má, estou em Jaú, mas vou para São Paulo semana
que vem, Hugo vai fazer um curso e vamos ficar uns
dias aí.

Marina já sabia o teor da conversa.

- Você estará ocupada?


- Semana que vem devo ficar aqui só até na sexta,
viajarei a noite com minha mãe e Luisa.
- Isa está linda, é a sua cara. A vi na reportagem na
revista, está chique viu, dando até entrevista.
- Aquilo foi insistência de Felipe.
- Então, queria saber se podemos no ver... e... –
Monica hesitou.
- Se quiser ficar lá em casa tudo bem, serão bem
vindos.
- Jura?
- Juro Monica.
- Nossa eu fico feliz que possa me ajudar; as coisas não
andam tão fáceis por aqui e...
- Monica tenho que desligar, estou indo pra casa e
celular e trânsito não combinam. Assim que chegar em
São Paulo me ligue e eu mando buscá-la. Beijos.
- Beijos amiga, obrigada.

Depois que desligou Marina ficou pensando nas últimas


palavras de Monica.

- Amiga! Ai, ai... – balançou a cabeça num gesto


negativo.

Monica passava por certas dificuldades, há quase seis


meses seu pai havia falecido e as finanças não
andavam muito bem. Agora sabia como era ter que
trabalhar e não ter com quem contar.

No dia seguinte Marina buscou a mãe e sobrinha.

- Tia, podemos alugar um filme?


- Podemos meu amor, de tarde a gente desce pra ir à
locadora.
- Oba! – a menina saiu pulando que nem um coelho.
- Fez boa viagem mãe? Como estão todos?
- Estão bem, trabalhando bastante. Mateus está
fazendo um curso técnico e seu pai comprou o trator.
- Deu certo aquela transferência?
- Sim, do jeito que combinamos.

Marina se referia ao dinheiro que havia mandado para o


pai. Depois que se formou e que viu sua vida mais
estável resolveu contar a eles sobre sua condição
sexual. Julgou não ter mais nada a perder, pois já tinha
perdido o amor da sua vida e os amigos mais próximos.
O que viesse era lucro. Maria José ficou muito chateada
na época, perguntava-se onde tinha errado na criação
da filha e Marina somente argumentava que essas
coisas não se escolhiam. Já Roberto se enfurecera e
junto com ele o filho, que era seu reflexo. Não quis vê-
la mais e Marina que não tinha muito, perdera mais um
pouco. Com o tempo sua mãe repensou, com a ajuda
de Barbara. A cunhada, que nada falou no dia, depois
ligou para Marina e apoiou a atitude dela e disse que
tentaria ajudar. Havia conseguido com Maria José que
agora convivia com escolha da filha, desde que nunca
visse ela com ninguém. Com Mateus e Roberto, ainda
estavam tentando amolecer seus corações. Mesmo
assim Marina ajudava o pai sem ele saber, que na
verdade se fazia de desentendido. Não proibia as visitas
da esposa à filha, mas não aceitava Marina em sua
casa.

- Mãe, por que passou meu telefone para Monica?


- Ela insistiu tanto e eu fiquei com pena. A mãe está
vendendo a casa e a chácara, vão comprar um lugar
mais modesto para viver.
- Ela não está trabalhando?
- Quem? Monica? Faz uma apresentação aqui e ali, mas
isso não sustenta mãe com filho. E Hugo está no
mesmo barco furado.
- Meu Deus! Ela tinha uma carreira pela frente, era tão
talentosa. Ligou-me pedindo para ficar aqui enquanto o
marido faz um curso. Eu que na verdade convidei, acho
que ela ficou sem graça de pedir.
- Como são as coisas, ela pouco quis saber de você e
agora pede ajuda. Estou orgulhosa que tenha oferecido,
poucos fariam isso.
- Disse que viajaria na sexta, ela ficará só até esse dia.
- Ta de bom tamanho.

Marina foi alugar o filme com a sobrinha e aproveitou


para comprar roupas para ela. Fazia tudo que Luisa
queria, mas sempre ensinava o valor das coisas e a ter
educação. Pensava que Luisa era a filha que não teria.

Segunda-feira Monica ligou dizendo que chegaria à


tardinha, então Marina mandou que alguém a buscasse
e levasse direito à seu apartamento. Zezé quem os
recebeu no apartamento.

- Achei que Marina morasse longe, mas ela mora no


centro. – Monica falou admirando o apartamento.
- Tudo em São Paulo é longe minha filha. – Zezé
comentou. – Entrem, já vou servir o jantar.

Estavam jantando quando Marina abriu a porta rindo


junto com Renata.

- Ai Renata, você não vale um real.


- Esses homens acham que a gente ta matando
cachorro a grito. Não podem ver duas mulheres lindas
que já se engraçam, ai que horror. – revirou os olhos.

Marina olhou para a mesa e estavam todos jantando e


as olhando.

- Ei! Já chegaram! Quanto tempo Monica!


- Oi Marina. – Monica sorriu e a abraçou.
- Como vai Hugo?
- Bem e você?
- Graças a Deus bem. Esse é o Paulo? Nossa que
rapazinho bonito! Você vai dar trabalho pra sua mãe
hein? – brincou.

Paulo tinha os olhos da cor dos de Monica e os cabelos


enrolados; era muito simpático.

- Luisa disse que vai me levar no playcenter. – sorriu.


- É? Ela por acaso falou quem vai “levá-la” ao
playcenter? - fez aspas no levá-la.
- Eu levo filha, amanhã saio com os dois para passear.
- Então ta bom. Gente, essa é Renata minha amiga e
nas horas vagas secretária. – riu.
- Oi gente! Tem lugar pra mim aqui hoje? Vou dormir
aqui, minha filha ta pra casa da avó.
- Te deu sossego? – Zezé brincou.
- Deu, que fique lá a semana toda.
- Você dorme comigo, mamãe tem o quarto dela e
Monica, Hugo e Paulo no quarto de hóspedes. Lugar
não falta. – Marina falou.

Jantaram todos sob os olhares indagativos de Monica.


Quando saíram da mesa ela veio falar com Marina.

- E aí, namorando muito?


- Não, solteira mesmo. Esse será meu estado natural.
- Nunca mais se envolveu com ninguém?
- Nada sério, apenas passatempo. – Marina se limitava
a responder o básico.
- E Renata é...
- É o que falei na sala, minha amiga e secretária,
trabalha comigo faz um ano. Sem ela não existo. Ela
sabe tudo da minha vida, tudo! Aonde vou ela está,
inclusive para a Bahia que é pra onde vou na sexta.
- Só passeando hein amiga.
- Não, vou a trabalho, tenho uma reunião lá e vou levar
mamãe para conhecer. O ano virou e eu nem tive
tempo de descansar, essa viagem será pra compensar.
Nas horas vagas tento descansar e passear com elas
um pouco.

Conversaram sobre suas vidas e Monica pode reparar


no quanto Marina mudara, mas não deixava de ser a
mesma pessoa simples e simpática. Agora tinha
orgulho dela. Foi para o quarto pensando em como a
vida dava voltas e todas as lições tinham o tempo
devido para acontecer.

Marina teve uma semana caótica por conta das


gravações, mas sempre procurava dar atenção à mãe e
às visitas. Monica sentiu que ela estava mais afastada e
sabia o motivo. Ainda assim foi muito bem tratada e
teve toda a estrutura que precisou nos dias que ficou
lá. Zezé levou todos para passearem e quem mais
gostou foi Paulo. O curso de Hugo terminaria na sexta,
no mesmo dia em que Marina viajaria e quando ela saiu
com a mãe, Renata e Luisa, Monica também se
despediu.

- Obrigada pela ajuda Má. Sem você eu estaria perdida.

Marina quis responder algo à altura, mas deixou pra lá.

- De nada Monica, amigos são pra essas coisas.


- Tenho muito orgulho de você. E quero ficar velhinha
sendo sua amiga. – sorriu.
- Será minha amiga até quando quiser. – Marina
retribuiu o sorriso. – Você dizia que moraria em Parati
quando ficasse velhinha, não esqueça disso. – riu.
- Agora essa realidade é bem distante. – falou um
pouco triste.

Despediram-se e cada uma foi pra um lado. Foi a


última vez que Marina viu Monica.

Dentro do avião Renata perguntou assim que se


acomodaram.

- Ela é a pessoa com quem você estudou no Rio?


- Sim, a própria.
- Ah, mas você tinha que ter me falado isso antes. Eu
teria dito umas verdades pra ela.
- Pra que Renata? Monica está ouvindo agora as
verdades da vida. Não precisa de lição de moral, a vida
está ensinando.
- Sábias palavras chefinha.

Ao ouvir Renata falar, lembrou-se de Fabrício quando


brincava com a prima e acabou pensando nela:

“- Por que você tem essa mania de me deixar sem


palavras?
- Eu faço isso com as pessoas.”

Marina teve o pensamento interrompido pelo


comandante avisando que estavam chegando.

Rio de Janeiro

- Mãe, a senhora tem razão. – Lívia entrou falando na


cozinha logo cedo.
- Eu sempre tenho. – Marta brincou. – O que foi?
- Vou reconquistá-la. A senhora me ajuda?
- Está preparada para ouvir um não?
- Quantos “nãos” ela me disser.
- Então mude de verdade e volte a ser quem era,
Marina gostava daquela Lívia, não dessa que eu vejo
agora.

Lívia sabia que a mãe tinha razão. Decidiu não mais


fumar ou pelo menos diminuir. Ligou para Fabrício e
pediu o telefone de Eduardo.

- Pra que Lívia? – perguntou do outro lado da linha.


- Preciso de um favor dele.
- Ai, ai...

Depois que ele passou o número ela ligou na mesma


hora.

- Du, sabe o telefone de Marina?


- Bom dia pra você também. Pra que quer o telefone
dela?
- Pra botar na minha agenda de opções. – debochou. –
É pra ligar, por favor, me dê?!
- Daria se tivesse, mas o número do telefone dela é
segredo de estado; ultimamente temos nos comunicado
somente por email, Skype ou MSN. E ela anda sumida,
deve estar viajando.
- Sabe onde posso conseguir?
- Talvez no estúdio dela, mas se eu que sou amigo não
tenho, eles não passariam para uma estranha.
- Vou tentar. – Lívia ligou para o estúdio e lá
informaram que Marina estava em viagem. – Estamos
com uma encomenda para lhe entregar, é um prêmio
que a senhorita recebeu, tenho urgência em falar com
ela.
- Prêmio?! – a secretária pareceu se animar. – Bom a
senhorita Marina está na Bahia, em Salvador, só
retornará na semana que vem.
- Sabe qual hotel?
- Não posso dar essa informação senhora.
- Tudo bem eu retorno na semana que vem. – voltou à
estaca zero. Olhou para o relógio e para a mãe que
ouvia tudo ao seu lado. – Vamos pra Bahia! Arrume
suas coisas.

Marta revirou os olhos, mas não quis discutir. Se Lívia


não achasse Marina, ao menos fariam uma viagem para
espairecer. Lívia conseguiu as passagens para o mesmo
dia pagando uma taxa extra. Levou seu notebook e
durante a viagem foi pesquisando hotéis e eventos ou
qualquer coisa relacionado à música. Digitou o nome de
Marina, o nome de seu estúdio e foi mapeando mais ou
menos os passos da loirinha. Assim que chegaram se
hospedaram em um hotel que ela já conhecia. Estava
se arrumando para sair quando seu celular tocou.

- Alô?
- Lívia você é a mulher mais sortuda desse mundo. –
Eduardo falava ao telefone.
- Por quê?
- Anote aí o celular de Marina.
- Ta brincando?!
- Sério. Hugo me mandou um e-mail pra saber como
estão as coisas e contou que ficou na casa dela esta
semana que passou. Eu respondi na mesma hora
perguntando se ele sabia o telefone dela, disse que era
urgente. Ela está em Salvador numa reunião...
- Eu sei, estou aqui também.
- O que?
- Fale o telefone.
- Como você...? Meu Deus, você é louca.
- Eu sou... sou louca por ela. – sorriu animada com a
novidade.

Desligou e pensou no que diria ao telefone; precisava


pensar em algo que ela não desconfiasse. Foi na rua e
comprou um chip da região, respirou fundo e ligou.

Marina estava entrando em reunião quando sentiu seu


celular vibrar no bolso. Olhou e não reconheceu o
número. Não atendeu, pois tinha pressa. Entrou na sala
e desligou o celular.

- Que porcaria! – Lívia resmungou. - Atende esse


celular Marina.

Esperou a tarde toda, saiu com a mãe para se distrair,


fez compras e foi na praia. Perto das seis horas da
tarde tentou novamente. Olhou para a mãe ficando em
dúvida.

- Liga minha filha, veio aqui pra isso.

Discou o número, chamou algumas vezes e de repente


ouviu aquela voz suave que tanto amava. Colocou um
pano para abafar mais o som e mudou a voz.

- Alô?

O coração de Lívia disparou, respirou fundo e demorou


alguns segundos para falar.

- Alô?! – Marina falou de novo.


- Oi, senhora Marina?
- Quem fala?
- Meu nome é... Fabiana. Eu... gostaria de ter uma
palavrinha com a senhorita.
- Olha se for telemarketing, agora não posso falar.
- Não senhorita, falo da revista Salvador é Cultura,
gostaria de fazer uma reportagem sobre a influência da
música nos jovens de hoje. Poderíamos nos encontrar?
- É... olha... como se chama mesmo?
- Fabiana.
- Então Fabiana, minha agenda anda meio tumultuada
aqui em Salvador, estou em reuniões o dia todo e
acredito não ser possível. Poderemos marcar numa
próxima oportunidade.
- Não iria tomar muito seu tempo. Por favor, é jogo
rápido.

Marina riu do outro lado.

- Vou te passar pra minha secretária ela vai verificar


um horário melhor então.

Lívia sorria animada do outro lado até ouvir Marina


falar baixinho.

- Renata, alguém querendo uma entrevista. Não posso,


se livra dela, por favor.
- Alô. – Renata falou logo em seguida.
- Oi, eu somente queria uma entrevista, por favor. –
Lívia quase suplicava. – Acho que Marina não está
muito afim, mas prometo ser rápida. Por favor, me
ajude.

Renata ficou tocada com a forma com que Lívia pedia.

- Olha moça, façamos o seguinte. Marina veio a


trabalho, mas trouxe a família com ela e quer ter
momentos livres para levá-los para um passeio. Se
você for muito, muito rápida, eu lhe digo onde ela
estará amanhã à tarde e você faz a entrevista. Só não
pode demorar mais que uma hora, no máximo. Anote
meu telefone, para que me ligue assim que chegar lá.
- Prometo, menos que isso até, eu farei somente
algumas perguntas.
- Tudo bem.

Renata passou o lugar e combinaram de se encontrar


às duas da tarde. Lívia mal dormiu aquela noite.
Acordou cedo, tirou todas as roupas da mala provando
uma a uma.

- Qual está boa mãe?


- Lívia, ainda faltam mais de cinco horas para você
encontrá-la.
- Estou ansiosa. Vou fumar!
- Vai nada! Você me prometeu parar. – zangou. -
Parece uma adolescente indo para o primeiro encontro.
– Marta riu. – Vista-se da maneira que se veste
sempre, não mude por isso. Quando estavam juntas ela
gostava da forma como você era e se vestia.
- Ela não gosta mais daquela Lívia. – a morena falou
amargurada.
- Gosta, só se decepcionou. E o tempo passou pra curar
a ferida que você causou. Tente tratá-la bem agora.
- Sempre tratei bem Marina.
- Eu disse tratar bem da ferida. Ela ainda existe, só
está cicatrizada. Se tudo der certo cuide para que ela
nunca mais pense no que aconteceu.

Depois do almoço foram para o local que Renata havia


falado. Era um parque aquático e assim que Lívia
entrou pensou logo em Luisa, provavelmente estaria ali
por causa dela. Ligou para Renata e ela atendeu
imediatamente. Renata indicou o lugar e Lívia foi até lá
morrendo de medo, mas com toda a esperança que
tinha no coração.

- Oi. – chamou Renata que estava de costas.

Renata se virou e deu de cara com uma morena alta,


cabelos longos, olhos azuis da cor do céu. Não precisou
de muito tempo para saber quem era.

- Ah não! Eu não acredito que caí nessa. Se Marina


souber que trouxe você pra cá eu perco meu emprego.
- Oi? – Lívia não entendeu.

Renata a pegou pela mão e saiu andando com ela pra


um canto mais escondido.

- Você é Lívia, não é?


- É... eu...
- Ah, não me enrola! Eu sei quem você é. Por que fez
isso? Marina não quer vê-la, deixe-a em paz. Está feliz
com a mãe e a sobrinha aqui, não estrague o seu
passeio.
- Eu só queria vê-la. Não consigo viver sem Marina.
- E como conseguiu até agora? Nasceu sem ela, não
precisa dela pra viver. Ainda mais depois de tudo.
- Quem é você pra vir falar em depois de tudo? Por
acaso sabe o que aconteceu?
- Nos mínimos detalhes, inclusive os mais sórdidos. Eu
trabalho para Marina, mas conheço a vida dela de cabo
a rabo. Sei de tudo que ela passou, sei o quanto sofreu
e ainda sofre. Ela é uma das melhores pessoas que já
conheci, não mereceu o que passou.
- Se sabe de tudo, então também tem de saber que
também sofri muito e que reconheço meu erro. Quero
consertá-lo, queria uma chance, todos têm direito a
uma. Se vivi até agora foi porque tive a ajuda de minha
mãe. Marina foi e ainda é parte de mim e se pudesse
voltaria no tempo pra corrigir tudo aquilo. – seus olhos
marejaram. – Nunca mais soube o que era felicidade,
nem o que é um sorriso sincero. Sonho com ela todos
os dias, lembro dela a todo minuto e chamo por seu
nome sempre.

Renata olhava para Lívia com certa pena, sentiu


sinceridade em suas palavras, mas não sabia o que
podia fazer para ajudá-la.

- Escuta, não force as coisas. Dê tempo ao tempo.


- Mais? Faz cinco anos que não sei o que é viver.
- É... o tempo já correu mesmo.

O jeito de Renata falar era engraçado e fazia Lívia se


sentir mais confiante com a situação; viu que ela
poderia ser sua aliada.

- Você veio aqui só para vê-la? – Renata perguntou.


- Sim. – Lívia baixou a cabeça.
- Como descobriu?
- Ligando, perguntando.
- Quem lhe deu o telefone dela? Nossa se ela descobrir
quem fez isso vai mandar matar.
- Foi Eduardo.
- Ele não tem o telefone dela.
- Hugo passou pra ele, que depois me passou.
- Hugo é o marido da amiga dela, ou melhor, ex-amiga.
Ela esteve com a gente semana passada. Monica o
nome dela. Procurou Marina quando precisou, mas no
passado a deixou na mão. Muito cara de pau; não fui
com a cara deles.

Lívia achou graça da revolta da moça.

- Ri não, viu? Monica largou Marina logo que vocês se


separaram por conta da gravidez e ela teve de morar
sozinha, depois de favor, até que conseguiu um
emprego mais ou menos. Passou um aperto só.
- Não sabia disso.
- Pois é. Olha eu tenho que sair, daqui a pouco ela dá
pela minha falta. Não a importune. se quiser vê-la, está
no brinquedo com a sobrinha e a mãe dela está no
restaurante. A deixei lá e vim me encontrar com você.
Fique longe, não force. Vá com calma e use a
imaginação.
- Vou tentar. – falou desanimada.
- Quer ouvir uma coisa boa? Eu acho que ela ainda a
ama. Sonha com você, chama por seu nome também.
Eu já dormi com aquela figura. Ela só não sabe que sei,
mas ainda está magoada. Cuide para que essa mágoa
passe.
- Já dormiu com ela?!
- Não é isso que está pensando, eu gosto do outro lado
da coisa. – riu.

Lívia achou graça, depois deu um sorriso confiante por


conta das palavras de Renata. Despediram-se e foram
em direção opostas para não dar na pinta. Quando Lívia
se aproximou do restaurante para falar com a mãe
levou um susto, ela conversava com Zezé.

- Então Lívia veio passear, espairecer. Anda


trabalhando demais. – Marta falou.
- Já Marina está a trabalho, mas aproveita as horas
vagas para passear. Ela adora paparicar a sobrinha.

Zezé sabia da história toda, mas nem tocou no assunto.


Imaginou em sua ingenuidade que tudo estava
esquecido. Conversava com Marta como se fossem
comadres. Lívia ainda estava distante quando viu que
Marina se aproximou com Luisa. Estava linda, usava
um short jeans e uma blusa branca aberta e amarrada
na cintura, escondendo a parte de cima do biquíni, sua
barriga ficou meio a mostra, imaginou que Marina devia
se exercitar. Viu que ela se espantou com a presença
de Marta e fechou o cenho.

- Mãe! É... Marta?! – não entendeu direito. – Eu... é...


Como nos... o que faz aqui? – perguntou surpresa e a
cumprimentando.
- Vim passear um pouco. A Bahia é meu lugar
predileto, tem as praias mais lindas do Brasil.
- De fato.
- Está bonita menina, como consegue ficar mais linda
com o tempo? – Marta sorriu e deixou Marina
encabulada. – Gostei de revê-la. Sua mãe me contou
que veio a trabalho, te vi numa revista e fiquei muito
feliz de saber que está progredindo no trabalho.
- Obrigada. Você veio sozinha?
- Não, ela veio comigo.

Marina ouviu uma voz rouca atrás de si. Sentiu seu


corpo estremecer e o coração acelerar. Virou-se e
estreitou os olhos quando viu Lívia.

- Oi Marina. – os olhos se encontraram.

Renata que chegava com um suco nas mãos e viu a


cena a metros de distância.

- Putz! Danou-se!
- Mãe, vamos embora! – Marina chamou.
- Não precisa sair, já estou de saída. – Lívia falou
seriamente. – Vamos mamãe.

Marta pediu licença, mas antes de sair falou a Marina.

- Fiquei mesmo feliz em revê-las. – abraçou a loirinha.

As duas saíram e mais uma vez Lívia olhou para Marina


de uma forma tão intensa que ela baixou o olhar.
Marina passou o resto da tarde totalmente
descontrolada. Chegou a derrubar um copo de água de
coco em cima da mesa.

- Ai meu Deus! Cuidado Luisa, senão vai molhar sua


roupa.
- Tia eu já estou molhada da piscina. – a menina falou
olhando cismada para a tia.
- Ah é.

Renata riu da cena.

- Marina, há quanto tempo não vê aquela moça?


- Que moça mãe?
- Sabe que estou falando de Lívia.
- Desde a minha formatura.
- Deveria então evitar encontrar com ela. Se fica assim
toda vez que acontece...
- Como toda vez mãe? Disse que não a vejo faz muito
tempo e não tem nada de errado comigo. Não tem
como eu evitar encontrar com Lívia nos lugares
públicos.
- Muita coincidência encontrá-la aqui na Bahia. – Zezé
falou desconfiada.
- É assim mesmo. – Renata entrou no assunto. – Olha,
eu fiquei admirada com a altura dela. Como é alta
minha gente. Nunca vi um rosto tão... marcante. –
jogou pra ver o que Marina iria falar.
- Pra quem viu de longe você reparou bem. – Zezé logo
cortou. – Se não gosta de vê-la Marina, deveria evitar
então.
Apesar de aceitar a opção da filha Maria José não
queria que ela se envolvesse com alguém, preferia que
ficasse só. Saiu com Luisa para buscar um sorvete e
essa foi a oportunidade de Renata jogar a sementinha
da esperança, como ela mesma dizia.
- Ela é mais bonita do que eu imaginava.

Marina olhou para Renata e voltou o rosto para o


movimento do lugar. Renata então continuou.

- Ainda gosta dela não é? Não precisa responder, está


na cara que gosta. Nunca a vi alterada assim,
normalmente é controlada e dona de uma segurança
invejável. É normal Marina, afinal vocês duas tiveram
um relacionamento durante um bom tempo e ele
marcou todas as duas, não deve ter sido só você.
- Por que ela tinha que aparecer de novo? – Marina
virou o rosto e Renata pode ver seus olhos cheios de
lágrimas. – Ela não tinha esse direito.
- Ei, essas coisas acontecem, são coincidências da vida.
Deus coloca as situações e as pessoas no lugar certo.
Nada é em vão.

As palavras de Renata fizeram Marina se lembrar do


seu passado.

“- Se estamos aqui, é porque merecemos uma a outra.


Acredito que se duas pessoas ficam juntas é porque
precisam conviver para aprender alguma coisa. Não nos
encontramos por acaso.”

- Eu mesma já achei isso um dia, hoje não tenho


certeza. Levo uma vida muito regrada e sou feliz assim.
- Será mesmo? Você é disciplinada, decidida, tem
dinheiro, mas é mesmo feliz? Nem aprofunda seus
relacionamentos por conta da sua mãe e sua família.
- Pois é, tem minha família, o que eles pensariam de
um relacionamento nesse molde.
- Sua mãe a respeita, mas não aceita. Como a maioria
das mães ela até tenta não contrariar aceitando-a gay,
mas sozinha. Toda mãe tem o instinto de preferir o
filho viado sozinho, a filha sapatão sozinha, do que vê-
los acompanhados e felizes. Não é fácil aceitar essas
coisas também.
- Marta aceita Lívia numa boa.
- Ela é uma raridade, você sabe disso.
- Sei. – voltou a olhar o movimento. – Nos dávamos
bem. Ela me dava conselhos e muitas vezes foi minha
segunda mãe. – olhou para Renata de volta.
- Tem saudade daquele tempo?

Marina não respondeu, apenas abaixou a cabeça. Então


Renata preferiu não insistir. Saíram do parque e
voltaram para o hotel quase de noite. Luisa tomou
banho e dormiu logo, Maria José ficou assistindo TV e
Renata saiu com Marina para passearem. Foram
conhecer o pelourinho, aproveitaram a noitada e só
voltaram de madrugada para o hotel. Maria José as viu
chegando, mas não falou nada. Só no café da manha
do dia seguinte que comentou sobre o horário de
chegada das duas.

- Demoraram ontem.
- Nossa hoje nós vamos lá no pelourinho. De noite é
movimentado nos bares, mas de dia tem feira de
artesanato, a senhora vai gostar.
- Achei que tivesse saído com Lívia e Marta.
- Não mãe.

Renata só ouvia e comia calada.


Lívia estava na sacada do hotel olhando para o mar.
Marta comentava alguma coisa, mas ela não ouvia.

- Está me ouvindo?
- Não.
- Que foi? Está calada desde o encontro. Não foi bem o
que imaginou, mas tem que estar preparada para
frustrações.
- E estou, mas confesso que foi um balde de água fria
mesmo. A senhora se importa se formos embora?
- Não filha; já conhecemos Salvador, nada aqui é
novidade pra mim.

Recolheram suas coisas e partiram.

Depois das reuniões e acertarem um contrato muito


rentável, Marina encerrou seu trabalho em Salvador.
Haviam negociado a gravação de algumas bandas que
seriam lançadas no Carnaval, tudo seria gravado lá
mesmo e seu estúdio somente revisaria. E isso renderia
também a gravação ao vivo do festival de verão que
acontecia todo ano na cidade. Marina ficou satisfeita e
ligou para Felipe. Passou mais uns dias com a família e
voltaram no domingo. Chegando em São Paulo, Maria
José nem desfez as malas, no dia seguinte iria embora
com Luisa.

- Com as aulas começando, não pode faltar. – Marina


falou rindo para a sobrinha.
- Tia, eu volto nas férias de julho.
- Ta bom querida, vamos programar um monte de
passeios.

No dia seguinte, após deixar as duas na rodoviária, foi


para o estúdio trabalhar. O festival foi gravado e dele
saiu um DVD produzido pelo estúdio. Marina tinha
tantos compromissos nas próximas semanas por conta
disso que não teve tempo de pensar em Lívia durante o
dia, mas toda noite lembrava-se dela e do encontro em
Salvador. Um dia quase na hora de ir pra casa Felipe a
chamou em sua sala.

- Má, senta aí.


- Ih, se é pra sentar é porque vem bomba.
- Já morou no Rio, aliás moramos.
- Sim.
- Trouxemos o estúdio pra cá por uma oportunidade de
negócio, fiquei com o outro lá, depois me desfiz dele,
porque esse dava mais lucro.

Marina escutava a tudo atenta.

- Quer voltar pra lá? – o rapaz perguntou na dura,


deixando Marina de olhos arregalados. – Já sei, tem
seu apartamento aqui, toda uma estrutura, mas surgiu
uma oportunidade ótima e isso vai melhorar os
negócios. Apareceu um bom contrato lá e daria certo se
você ou eu fossemos toda semana, ficássemos num
hotel e voltássemos pra cá. Só que eu acho que desse
contrato vem mais coisa e aí dá pra montarmos outro
estúdio lá.
- Nossa Felipe! Teria que pensar nisso, eu...
- Lhe dou um apartamento lá. Será seu e não do
estúdio, para compensar o deslocamento. Negociamos
um valor de compra e o imóvel fica no seu nome.
- Não quer mesmo que eu recuse hein?

Ele riu.

- Sei que você gosta da cidade e a ocasião pede um


bom investimento que renderá o dobro depois. Sabe
que lá você é mais referência que aqui, afinal tem o
respaldo da faculdade. É quase uma lenda da música.
- Ta bom, não precisa puxar saco. – ela brincou. – Me
deixa pensar até amanhã pelo menos, te falo logo cedo.
- Ok. Pense com carinho. Sei que o ano mal começou e
já te jogo essa bomba, ou melhor, mudança, mas será
uma boa para nós dois.
- Pensarei.

Marina foi pra casa e mil pensamentos tomaram conta


de sua mente. Tomou banho, jantou e depois pegou o
violão para tocar. Havia aprendido antes de começar a
trabalhar com Felipe e além do piano, também tocava
flauta transversa, saxofone, contrabaixo e arriscava até
percussão às vezes. Realmente havia se tornado uma
referência na faculdade. Gostava de ouvir tais elogios,
mas não se deixava engrandecer por eles. Gravou a
melodia tocada no violão para levar ao estúdio no dia
seguinte e foi dormir.

Estava na esteira quando Renata chegou.

- Chefa! Bom dia! Hoje você tem médico as quatro,


salão as seis e um jantar em comemoração ao cd novo
daquela banda que você adora. – riu.
- Palhaça! Tenho mesmo que ir no jantar?
- Tem, você foi produtora do CD e verifiquei o que me
pediu, eles estão vendendo e muito.
- Incrível como as bandas de rock fazem sucesso. É só
colocar rapazes de roupas coloridas. – riu.
- A garotada gosta, Sarah mesmo escuta esses
meninos e ela quer um CD autografado que você vai
conseguir hoje pra ela. – se referiu à filha. – Gente
essa menina está me dando trabalho! Quinze anos não
é uma idade de Deus! Como é chata e se acha a
esperta, como se fosse mais adulta que eu. Me pediu
pra colocar um piercing na língua, vê se pode? Eu disse
que de jeito nenhum! Sou moderna, mas não sou
louca. Isso pode dar um problema na língua dela gente.
- Quer ir morar no Rio? – Marina perguntou parecendo
alheia ao que a secretária falava.
- Ela acha que... Como é? – Renata parou de frente
para Marina.
- Que acha de nos mudarmos para o Rio? Recebi a
oferta de Felipe e tenho uma a lhe fazer também.
- Ta falando sério?
- Muito. Felipe me disse que surgiu uma boa
oportunidade de montar estúdio novamente lá, mas pra
isso alguém tem que se mudar. Eu sou sozinha e é
mais fácil, ele tem família e filhos, não ia rolar voltar
pro Rio. Só vou se você me acompanhar.
- Está me pedindo em casamento? – Renata riu.
- Dou casa, comida e roupa lavada. – Marina desceu da
esteira e enxugou o suor do rosto. – É sério, não posso
ir sem você e não quero contratar outra pessoa lá.
Minha oferta é, melhoro seu salário e você aluga um
apartamento por uns tempos, depois a ajudo a comprar
um apartamento lá. Isso não é papo pra te convencer.
- Eu sei. – Renata pareceu pensativa. – Tenho que falar
com Sarah, não posso nem imaginar se vai gostar ou
não. Seria só por ela que ficaria aqui.
- Então fale e me diga o mais rápido possível.
- Pode deixar.

Marina foi para o trabalho, depois foi ao médico,


sempre fazia check-up no início do ano e depois foi ao
salão se arrumar para o jantar. A toda hora pensava na
proposta de Felipe e isso a associava a Lívia.

“Morar no Rio de novo? Meu Deus, me dê uma luz! Vou


ou não vou?”

Estava chegando do jantar quando recebeu uma ligação


de um número de Recife e imaginou ser Eduardo.

- Marina! Tudo bem querida?


- Ei Du! Como conseguiu... ah já sei, foi Hugo ou
Monica. Eu disse a ela que não passasse meu telefone a
ninguém.
- Nem pra mim? – falou chateado.
- Pra você tudo bem, mas se ela passou pra você com
certeza passou pra mais gente. Você deu esse número
a alguém?
- Não! – pensou em Lívia.
- Espero mesmo, não pretendo trocá-lo de novo. Não
sei como uma mulher me ligou em Salvador, ela queria
uma... ei... peraí... – Marina começou a ligar os fatos. –
Não pode ser.
- Marina do que está falando?
- Nada, isso é outro assunto. Mas e aí? Como estão as
coisas em Recife.
- Estão bem, mas te ligo para informar que estaremos
mais perto agora. Estou voltando para o Rio.
- Jura?
- Consegui uma vaga e pedi transferência para a UFRJ
e acho que conseguirei no conservatório brasileiro de
música também.
- Que maravilha! Também tenho novidades.
- Vai casar!? – brincou.
- Que casar? Ficou maluco? Não tenho vida pra isso.
Estou com uma proposta para voltar a morar no Rio,
dependo somente de Renata para dizer se vou agora ou
não.
- Renata é...?
- Minha secretária. – Marina riu. – Se ela topar vou no
próximo mês.
- Então eu torço para que ela aceite. Eu me mudo na
semana que vem já.
- Vai voltar a morar com Fabrício?
- Não sei.
- O namoro ta firme Du?
- Ah Marina, está e não está. A distância nos deu certa
liberdade de procurar outras pessoas, mas não sei
voltando para o Rio. Talvez eu tenha meu próprio canto
e depois a gente decide.
- Semana que vem eu estarei lá para fechar um
contrato e quando chegar te ligo para sairmos e
relembrar os velhos tempos.
- Tudo bem, espero você ligar.

Marina nem soube por que falou em relembrar os


velhos tempos, se daquela época tinha também
recordações amargas.

Lívia estava afundada em papéis quando Fabrício


entrou na sala.

- Hoje eu fico aqui até mais tarde, não me traga mais


coisa pra ler.
- Vim dizer que Eduardo está voltando.

Lívia levantou a cabeça.

- Que ótimo. Quando?


- Ele conseguiu se transferir e chega semana que vem.
Vai dar aulas na Federal. Vamos sair, quer ir conosco?
Vamos ao antigo bar onde eles tocavam.
- Eu adoraria, mas que dia vai ser? Devo viajar essa
semana para Curitiba. Deve ser pra semana isso.
- Te aviso então, se você tiver aí a gente sai.

Como previu a viagem caiu no mesmo dia que Eduardo


chegaria e Lívia não pode ir, para a sorte de Fabrício
que a convidou ao mesmo tempo em que Eduardo
convidou Marina; o encontro seria desastroso.

- Nossa Du, quase dou uma mancada, já fui logo


convidando Lívia. Não sabia que ia chamar Marina. –
falou com o rapaz no telefone.
- É; foi uma coincidência ruim.
Eduardo contou mais ou menos o encontro das duas e o
que tinha feito para Lívia entrar em contato com
Marina.

- Se ela souber nunca mais olha na sua cara. Marina


tem verdadeiro ódio de Lívia.
- Eu ainda torço para as duas.
- Você tem muita esperança. Ali não tem mais jeito.

Marina chegou ao Rio trazendo Renata e Sarah com ela


e se instalaram no hotel, depois foi para a reunião e
deixou a secretária passeando pela praia com a filha;
teriam algumas horas livres. Quando voltou encontrou
as duas no quarto, bateu na porta e foi Sarah quem
abriu.

- Ei mocinha, cadê sua mãe?


- Ta no banho. Vamos mudar pra cá! – falou como se
tivesse contando que comprou uma roupa nova.
- Como é?
- É, falei com ela que se for melhor pra ela, nós
mudaremos.
- Não ficará chateada de perder os amigos em São
Paulo?
- Eu sou gente boa, faço amigos em qualquer lugar.

Marina não pode deixar de rir. Sarah era diferente


fisicamente de Renata, mas em personalidade era uma
cópia fiel. Decidida, extrovertida e totalmente
desapegada.

- E aí Marina, deu tudo certo? – Renata perguntou


saindo do banho.
- Graças a Deus, foi uma reunião tranquila. Já estava
tudo acertado e pelo visto aqui também. Sarah me
falou da mudança.
- Pois é, ela quer vir. Ta mais empolgada que eu. –
Renata sentou na cama, estava enxugando os cabelos
com a toalha. – Olha, não tenho parentes em São Paulo
mesmo, minha mãe mora com minha irmã em Goiânia
e é longe do mesmo jeito. Morando aqui acho que terei
mais oportunidades.

Marina se animou ao ouvi-la falar.

- Quando mudamos? – perguntou sorrindo.


- Agora é só ver com Felipe. Preciso procurar um
apartamento aqui, mas podemos vir antes e ficar num
hotel.
- Você disse que me ajudaria com um aluguel, pensei
direito depois. Por que não moramos juntas? Se não for
incomodá-la. Assim economiza aluguel que aqui
também não é barato e eu financio um imóvel,
negociamos o pagamento das prestações. Se tiver que
pagar um aluguel, pago as prestações então, ou parte
delas.
- Sua idéia é melhor que a minha.
- Sempre. – Renata gargalhou.
- Eu devia me casar com você mesmo, não quer mudar
de lado?
- Ai com tantas decepções no mundo masculino eu
estou pensando seriamente.
- Bom, vou pro meu quarto, tomo um banho e depois
vamos sair. Combinei de ligar para um amigo que se
mudou pra cá de novo, o Eduardo, já lhe falei dele.
- Já sim.
- Vamos sair. Nada chique hein, barzinho só.
- Eu preciso ir? – Sarah perguntou.
- Não ta afim?
- Ah mãe, papo de músico, de negócios. Vai passar um
monte de seriado que eu gosto e um filme; quero ficar.
- Você quem sabe ué.
Marina ligou para Eduardo e os dois combinaram de se
encontrar no bar onde tocavam antigamente. Ao entrar
sentiu saudade e seu coração se apertou. Olhou para o
palco, ainda ficava no mesmo lugar, havia um conjunto
com três músicos. Seus olhos se encheram de lágrimas.
Sentiu dois braços a envolverem e falar baixinho.

- Sabia que eu já toquei aqui com a loirinha mais linda


do mundo? – Eduardo sorriu.
- Dudu! – Marina se virou. – Que saudade de você meu
amigo!
- Achei que nunca mais a veria. Só pela internet ou
revistas. Agora que é uma empresária chique, não
encontra mais com os amigos.
- A culpa é da minha secretária que não coloca diversão
na minha agenda, só trabalho. – mostrou a amiga. –
Du, essa é Renata minha secretária, amiga,
conselheira, às vezes mãe, às vezes madrasta e
também meus dois braços. – riu.
- Muito prazer, você também é famosa. – a
cumprimentou com dois beijinhos no rosto. – Quando
falo com Marina você é mencionada em todas as
conversas.
- Ela não vive sem mim.
- Gente vamos sentar, a nossa mesa está vazia. –
apontou a mesa que sempre se sentavam. – Vem mais
alguém?
- Fabrício somente.
- Somente né? – Marina olhou desconfiada.
- Sim, Lívia não está na cidade, viajou.
- Pra onde? – Marina perguntou sem pensar. – Digo,
não quero saber. Eu encontrei com ela em Salvador. –
fechou o cenho.
- É? – Eduardo fingiu espanto. – Como foi isso gente?

Renata olhou pra ele e sabia que estava mentindo.

- Foi num parque, estava com a mãe, coincidência


aquilo. Não entendi sabe, senti dedo seu na história,
mas prefiro acreditar que não fez isso comigo.
- Há muito não falo com ela, recebo e-mails, mas só
spams e raras notícias. – na realidade Eduardo se
comunicava com Lívia tanto quanto com Marina, mas
achou melhor omitir isso.

Fabrício chegou e ficou surpreso ao ver a loirinha.

- Como está diferente!


- Espero que seja um elogio. – Marina brincou.
- Claro que é! Está linda! Nem parece que o tempo
passou pra você.
- Ah passou, pode acreditar.
- Deve arrasar corações.
- Ela arrasa, principalmente quando não dá bola pra
eles. – Renata falou tirando risadas de todos.
- Fabrício, Renata, Renata, Fabrício. – fez a devida
apresentação.
- Gente amanhã vou passear com Renata. Penso em ir
ao Jardim Botânico, vamos?
- Eu vou. Aquele lugar recarrega minhas energias. –
Eduardo falou animado.

Um garçom se aproximou e reconheceu os dois


músicos.

- Meu Deus! Vou chamar seu Antonio, ele vai gostar de


vê-los. – chamou o dono do bar que veio animado.
- Eduardo! Marina! Que alegria vê-los aqui. – abraçou
os dois. – Como vão? Nunca mais vi vocês dois nem o
restante da banda.
- Ah seu Antonio, cada um foi pra um lado.

Eduardo contou resumidamente a vida de cada músico


e ao final o dono pediu que eles dessem uma palhinha.
- Uma música só Má? – Eduardo perguntou.
- Vamos lá, preciso exercitar meu piano.

Lívia saiu do fórum muito cedo, olhou no relógio e


resolveu correr no hotel e fechar a conta, se o trânsito
ajudasse conseguiria um vôo para o Rio e chegaria lá a
tempo de sair com Fabrício e Eduardo. Pegou o carro
no estacionamento e foi direto para o barzinho, se
sentia animada e nem sabia o motivo. Quando entrou
viu Marina tocando com Eduardo. Ficou paralisada na
porta, chorou silenciosamente, tinha vontade de correr
até ela e pegá-la no colo. Amava aquela mulher, vê-la e
não poder tocá-la era doloroso demais. Ia saindo
quando bateu de frente com Renata.

- Desculpa eu não queria... Ei, eu te conheço.


- Claro, sou a santa que lhe deu o privilégio de ver sua
ex. Renata ao seu dispor. – brincou.
- Muito bem-humorada você.
- Aonde vai? Ou melhor, aonde ia?
- Eu vim ver Eduardo, mas não vou arriscar chegar
perto dela.
- De fato agora não é a melhor hora, mas olha, amanhã
eles estão combinando de ir lá no Jardim Botânico.
- Marina adora aquele lugar.
- Então vá também, nesse horário. Te mando uma
mensagem.

Lívia achou estranho a moça ajudá-la.

- Não que eu esteja achando ruim, mas por que está


fazendo isso?
- Digamos que eu tenha me simpatizado com você e
que seu santo é forte. Porque em qualquer outra
situação eu teria te mandando praquele lugar morro
abaixo pra ir mais rápido. Traição não é algo perdoável,
mas eu vi sinceridade em você. Todo mundo erra e tem
que ter ao menos uma chance de consertar o erro.
Você merece uma.
- E vou agarrá-la com todas as forças que tiver.
Obrigada. – Lívia segurou as duas mãos de Renata e
agradeceu.
- Amanhã hein?
- Ah, o meu telefone não é aquele, já até joguei o chip
fora. Anote o meu número do Rio.
- Ainda bem, senão mandaria mensagem lá pra
Salvador. – Renata riu.

Depois de passar o número, Lívia ainda ficou do lado de


fora observando Marina e morrendo de vontade de
estar ao seu lado.

- É, se estou passando por isso, é por culpa minha


mesmo. – disse baixinho.

Quando Renata voltou, Marina estava descendo do


palco.

- Você ingrata, nem nos viu tocar direito.


- Fui ao banheiro, cerveja é isso aí, você bebe um copo
e faz cinco litros de xixi.

Todo mundo na mesa riu.

Depois de certa hora sentaram em uma mesa do lado


duas três mulheres e um rapaz. Uma delas olhava
insistentemente para Marina.

- Ei Má, está de olho em você. – Eduardo falou.


- Sem chance.
- Por que não? Você ta solteira ué.
- Ela aguarda pela princesa encantada. – Renata
brincou.
- Não quero qualquer mulher na minha vida. Nunca fui
disso.
- Escolhe, escolhe e ainda erra. – Fabrício riu, mas viu
que a piada foi fora de hora. – Mas nada impede de
querer acertar de novo.
- Quando for o momento terei alguém.

A moça da mesa ao lado quis puxar papo, mas Marina


logo foi embora com Renata.

A manhã seguinte foi animada pela ida ao Jardim


Botânico. Renata achou o lugar maravilhoso, tirou
muitas fotos de Sarah, que ficava fazendo pose o
tempo todo.

- Essa idade é fogo viu? Ah lá, ta se achando a modelo.


– Renata arreliou a filha.
- Deixa ela, mulher.
- Depois pega as fotos e coloca no Orkut, Facebook,
Twitter e por aí afora.
- Nossa, são tantas redes sociais que eu me perco, não
tenho nada disso. To desatualizada virtualmente. –
Marina brincou.
- Eu também não, tinha um Orkut, mas acabei
encerrando a conta. – Eduardo falou.

Renata aproveitou a distração de Marina e mandou uma


mensagem para Lívia, que retornou em segundos
dizendo que aguardava do lado de fora. Dali pra frente
era Deus e o destino.

Lívia entrou de carro e o estacionou num lugar mais


reservado, mesmo tendo trocado de veículo ficou com
medo de Marina perceber. Começou a caminhar com os
olhos atentos, ela não poderia vê-la primeiro. Avistou o
pessoal perto do orquidário. Ficou escondida atrás dele
e pensando em qual seria sua abordagem.

“Se eu for educada, ela sairá correndo. Se for mais


estúpida, ela também sairá correndo.”
Lívia resolveu da forma que achou melhor. Quando viu
que Marina saiu aproveitou que ela falava ao telefone e
estava distraída ficando mais atrás do pessoal e a
puxou para um canto.

- Peguei você! – Lívia falou.

Marina deu um grito que foi logo abafado pela mão de


Lívia.

- Não grita e fica calma que eu não vou fazer mal a


você. Quero só conversar e te falar umas coisinhas.
Isso será possível?
- Ahan. – Marina falou ainda com a boca tampada.

Lívia então retirou a mão e ficou olhando para os olhos


dela que não desgrudavam dos seus.

- Não vai falar? – a voz de Marina saiu quase ofegante,


estava um pouco assustada.
- Estou olhando para você e tentando entender seu
olhar, pra depois dizer o que quero.
- E o que meu olhar quer dizer?
- Que você ainda me ama, mas não confia em mim.
- Muito pretensiosa você. – Marina sorriu com deboche.
- Pretensão seria dizer que ainda me ama só. Escute o
que vou lhe falar. Eu esperei muito tempo pra pensar
no que fazer e decidi que não vou abrir mão de você
nem desistir do nosso amor. O que fiz pode não ter
perdão para os casos onde não exista um sentimento
tão forte como o nosso. Eu vou te reconquistar e isso
pode demorar anos, mas sei esperar, como venho
esperando por você até hoje. Eu a amo e a quero de
volta.
- As coisas não são como pensa, não sinto mais nada
por você Lívia. O que sentia era forte, mas acabou no
dia em que a vi na cama com aquela mulher escrota. E
eu que desconfiava dela ouvi muitas vezes você me
pedir para esquecê-la. Você não deu valor ao meu
amor, agora não o tem mais. – falava com os olhos
cheios de lágrimas.
- Eu dei valor, mas me perdi em sentimentos
distorcidos que me confundiram.
- Pois vá se orientar em outro lugar, não comigo.
- Me dê uma chance. Você querendo ou não, eu vou
tentar. E sabe por que sei que ainda me ama?
- Não.
- Por isso.

Lívia beijou os lábios de Marina e a apertou contra a


árvore em que estavam encostadas. Puxou a loirinha
pela cintura e a envolveu nos braços. Sentiu aquele
abandono e a língua dela procurar a sua. Apertava o
corpo de Marina contra o seu e quase perdeu o juízo
quando ouviu um gemido dela em seus braços. Ao
contrário do que imaginou ela não a repudiara e isso
lhe deu ânimo para tentar reconquistá-la, mas num
momento de sensatez interrompeu o beijo e sentiu nos
lábios dela que ainda queria mais. Quando seus olhos
se abriram Lívia sorriu para ela.

- Sua cafajeste, cara de pau, filha da mãe. – à medida


que ia falando dava uns tapas no braço de Lívia que
sorria com a cena.
- Viu como ainda me quer? Mas eu não a quero dessa
forma, pegando a força. As coisas vão acontecer ao seu
tempo e eu vou sim reconquistá-la. Mas o próximo
beijo que dermos, você terá de me pedir.

Marina riu debochando.

- Se pensa que vou lhe pedir alguma coisa, esqueça! Eu


não quero você, não quero ser traída de novo, ser
enganada e feita de boba como você fez comigo.
- Vou jurar aqui na sua frente e por tudo quanto é mais
sagrado nesse mundo que nunca mais na minha vida a
trairei, nem em pensamento. Eu aprendi a lição e da
forma mais dolorosa possível. Se quer ter a certeza de
uma coisa nessa vida, tenha de duas: primeira, vamos
ficar juntas e segunda, não trairei você nunca mais. –
falou olhando em seus olhos e bem próxima de seu
rosto. – Eu a amo. Terá de conviver com isso pelo
menos. – beijou rapidamente seus lábios e saiu
andando como se nada tivesse acontecido.

Deixou Marina encostada à árvore totalmente


abobalhada. Minutos depois de recobrar a consciência
saiu para procurar o pessoal, olhava ao redor para ver
se via Lívia, mas ela simplesmente sumira. Avistou os
três sentados e foi até eles. Estava com o rosto
vermelho.

- Marina, você passou protetor solar? Seu rosto está


vermelho. – falou Eduardo.
- É, aconteceu alguma coisa? – Renata perguntou com
a cara mais lavada do mundo.
- Nada gente! Deve ser o sol mesmo. Vamos almoçar,
estou com fome.

Renata recebeu uma mensagem no celular e quando foi


olhar era de Lívia.

“Primeira etapa cumprida, agora é ter paciência.”

Mandou outra de volta dizendo que depois


conversavam. Foram a um restaurante ali perto mesmo
e depois foram à praia.

Lívia voltou para o trabalho feliz da vida e cantarolava


feito uma apaixonada.

- Viu o passarinho verde? – Fabrício perguntou.


- Não, vi um amarelinho.
- O que?
- Nada Fabrício, vai cuidar de seu serviço.
- Vou sair mais cedo hoje, Eduardo quer sair pra ver
apartamento.
- Tudo bem.
- Sabe quem ta na cidade?
- Não. – Lívia olhava algumas coisas no computador.
- Marina! – falou animado.
- É mesmo? Deve estar a trabalho. – Lívia fingiu
descaso.
- Não vai querer saber onde ela está ou com quem
está?
- Pra que?
- Ué, pra... pra... ir falar com ela.
- Ela não me receberia.
- Também acho, ainda mais que agora está
namorando, ela nega, mas tenho certeza que aquela
secretária dela é caso.

Lívia olhou o rapaz por cima dos óculos e depois os


tirou.

- Você deveria ser menos venenoso e guardar seus


comentários maldosos pra gente fofoqueira como as
com quem convive.
- Credo! Não fui maldoso, só falei o que acho.
- Guarde seus comentários para si.

Depois do fora que levou, Fabrício voltou pra sua sala.


Lívia aproveitou para mandar uma mensagem para
Renata e perguntar se ela podia conversar. Ela
respondeu que sim e logo a promotora ligou.

- O que você fez com ela? – Renata logo perguntou.


- Eu a peguei de jeito, disse que não desistiria dela e
que iria lutar até reconquistá-la.
- Mandou bem, porque ela ta avoada até agora.
Almoçamos, andamos na praia e voltamos pro hotel.
Amanhã ela tem reunião e me perguntou sobre qual
era o assunto.
- Você sempre a acompanha nas reuniões?
- Não, somente em algumas para fazer anotações. Essa
de amanhã eu não vou, ficarei aqui no hotel.
- Passe aqui no meu escritório então. Quanto tempo
ficarão no Rio?
- A semana toda. Olha, passar aí eu não sei, acho que é
perigoso, se ela me vir com você eu perco o emprego.
- Se perder o emprego eu lhe dou um e pago o dobro.
- Gente como estou cotada. Desculpa, mas eu adoro
meu trabalho e adoro música. Promotoria pública, leis e
advogados são monótonos demais pra mim.
- Como sabe que sou promotora?
- Minha filha, eu sei tudo sobre você. Ela me conta
acordada e dormindo. Das vezes que viajamos juntas e
dormimos no mesmo quarto ou no avião, ela sempre
fala seu nome.

Lívia sorriu ao ouvir isso.

- Em qual hotel vocês estão? Vou mandar um presente


para ela.
- Ai meu Deus, como vou explicar o presente? Ela não
pode desconfiar de mim.
- Ela sabe que quando quero alguma coisa eu consigo;
descobrir o hotel onde ela está não é difícil, se você não
me falar eu vou saber assim mesmo.
- Ai ta bom.

Renata deu o endereço e falou que não ligaria mais


para Lívia para não dar na pinta. Não quis comentar
sobre a mudança de Marina para o Rio, pois não tinha
nada certo ainda.

Dois dias depois da ligação Marina entrou em seu


quarto e ele estava repleto de pétalas de rosas jogadas
pelo quarto e entre elas, vários bombons também
espalhados. Em cada canto do quarto havia um cartão
com dizeres românticos. Renata que imaginou o que
tinha lá dentro não quis entrar com a patroa.

- Meu Deus o que é isso? – Marina arregalou os olhos.


Fechou a porta do quarto e pegou um dos cartões que
dizia:

“Ainda não consegui esquecer aquele beijo.”

Estava assinado por Lívia.

- Que frase mais cafajeste. – ao invés de estar com


raiva, Marina tinha um leve sorriso nos lábios. – Como
eu vou limpar isso? – riu olhando para a quantidade de
pétalas e bombons espalhados.

Renata bateu na porta e logo entrou.

- Marina, você esqueceu o... Nossa! Quem morreu?

A loirinha desfez o sorriso pra demonstrar


contrariedade.

- Por enquanto ninguém, mas vou cometer um


assassinato.
- Quem foi?
- Lívia.
- Nossa! Que romântico! – sorriu.
- Romântico? Lívia é uma sem-vergonha, não tem um
pingo de orgulho.
- Ah, mas tem criatividade. Espalhar pétalas e bombons
é muito bonito. – Renata olhava para todo o quarto.
- Você está do lado dela ou do meu? – Marina se
indignou.
- Ô Marina, não estou do lado de nada, só achei bonito.
– Renata passou o braço no ombro dela e a fez sentar.
– Calma, senta aqui. Por que o nervoso? Ela não está
aqui, não precisa se irritar. E a intenção deve ter sido
boa.
- Como ela sabe que estou nesse hotel?
- Às vezes leu no jornal, ou os seus amigos falaram.
- Deve ter sido Fabrício, aquele linguarudo.
- Que seja, mas não precisa ficar assim.
- Ela não tem o direito de fazer isso comigo.
- Isso o que? – Renata a olhou bem.
- Isso de... de... de me deixar...
- Impressionada? Porque a sua cara é de quem gostou,
eu a conheço. E não precisa ter vergonha disso, ela a
sacaneou, mas de repente quer consertar as coisas.
Você é quem vai decidir se aceita ou não.
- É claro que não.
- Tudo bem, direito seu, mas não diga da boca pra fora.
- Seria muito absurdo eu ficar com ela depois de tudo.
- Absurdo pra quem? Ah sim, para as pessoas que
sabem e que vão julgá-la. Você não tem que decidir
ficar com Lívia porque os outros acham certo ou errado,
mas pelo que seu coração acha.
- Eu... meu coração... – Marina pegou um punhado de
pétalas. – Eu a vi no Jardim Botânico aquele dia e... –
seus olhos encheram de lágrimas. – Nos beijamos.
- O quê?! – Renata arregalou os olhos. – E você não me
conta isso? Por isso estava no mundo da lua. Por que
não me contou?
- Achei que iria me repreender, afinal ela...
- Eu, repreender? E quem sou eu pra fazer isso? Casei
com um idiota, engravidei dele, ele me chifrou eu ainda
tentei relevar, ele me chifrou de novo e foi preso por
porte de drogas, eu ainda fui visitar na cadeia. E agora
vou te julgar?

Marina sabia que Renata estava certa.

- Você gostou? – Renata perguntou vendo um sorriso


tímido em Marina. – Claro que gostou, pergunta idiota
a minha. Não sinta vergonha disso, esse sentimento se
chama amor e poucas pessoas o conhecem de verdade.
- Eu não vou ceder a ela dessa forma. Lívia vai ter que
penar muito para ter minha confiança de volta.
- Então está dizendo que ela tem chance? – Renata a
encarou com um sorriso sacana.
- Ainda a amo Renata, mas toda vez que me lembro da
traição sinto uma mágoa por dentro.
- Essa ferida vai fechar, deixe que ela cuide disso.
- Lívia não sabe cuidar de feridas e sim causá-las, ela
não tem paciência com as pessoas. Eu notava isso nela
comigo.
- As pessoas mudam, a vida as faz mudar. Anda, toma
seu banho, eu ajeito isso aqui pra você e depois vamos
jantar porque eu to com fome.

Marina entrou para o banho e esfriou a cabeça embaixo


da água fria. Quando saiu se sentia mais calma. Jantou
e depois foi dormir. Depois do contrato fechado e tudo
acertado na sexta-feira ela ligou para Felipe e avisou
sobre a decisão de se mudar para o Rio. Ficou de
acertar os detalhes quando chegasse em São Paulo.
Passou o final de semana aproveitando a cidade, fez
compras e no domingo a noite pegou o avião de volta
pra casa. Achou estranho Lívia não dar mais retorno e
reconheceu pra si mesma que ficara decepcionada.
Pensou que ela fosse aprontar mais alguma.

Lívia estava na academia fazendo musculação. Queria


acertar sua vida e colocar tudo no lugar. Voltou a se
exercitar e aos poucos parava com o cigarro. E quando
Marta não estava no Rio ela pedia comida no
restaurante que já conhecia. Começou a se sentir
melhor depois de voltar aos antigos hábitos. Trabalhava
até mais animada e o bom humor reapareceu. Quem
gostou foram os funcionários do escritório.
Na semana seguinte em meio aos preparativos da
mudança Renata mandou uma mensagem para Lívia
dizendo que estariam de volta no Rio em um mês. A
notícia foi o suficiente para a promotora começar a
articular uma surpresa qualquer para Marina. Dias
depois Eduardo ligou chamando-a para almoçar e deu a
melhor notícia que ela poderia receber.

- Ela vai se mudar pra cá. – falou animado.


- Você está falando sério? Pare de brincar com essas
coisas. Por que Renata não me falou? – deixou escapar.
- Como é que é? Renata?! Você a conhece? Lívia, o que
você está aprontando?
- Uma pergunta de cada vez. – sorriu maliciosamente.

Então a promotora contou tudo e a ligação que tinha


com a secretária e como ela estava sendo intermediária
das situações.

- Se Marina souber que Renata está fazendo isso... –


balançou a cabeça num gesto negativo. – Renata ta
enrolada.
- Ta nada!
- Você não conhece mais Marina. A que você conheceu
não existe mais. Ela tem uma fama de ser exigente e
autoritária que você não imagina. É o que sempre leio a
respeito dela, claro que vem associado com
profissionalismo, mas ela não é mais aquela menininha
boba que conhecíamos.
- Ela está linda! Mais bonita que antes, não sei como
consegue.
- Lívia. – Eduardo pôs a mão sobre a dela. – Está
pronta para se decepcionar? Porque isso pode não dar
certo. Sei que a sua intenção é boa e apesar de tudo eu
sempre levei fé em você, mas não depende só do seu
desejo.
- Ela me ama ainda Du. Está magoada, mas eu vou
mudar isso. – olhava confiante para o amigo.
Depois do almoço cada um seguiu para o trabalho.
Eduardo já estava dando aulas na faculdade e vez ou
outra encontrava com os antigos professores. Hoje
tinha sido a vez de Marconi.

- Meu amigo! Agora não posso chamar mais de aluno. É


colega de trabalho.
- E aí Marconi! Pois é, estou dando aulas aqui.
- Como vão as coisas?
- Me adaptando à faculdade e à vida no Rio de novo.
Recife é uma cidade grande, mas o Rio de Janeiro é
bem mais intenso. O trânsito daqui só perde para o de
São Paulo.
- Falando em São Paulo, me fale de Marina. Tem
notícias dela?
- Tenho, ela volta pro Rio daqui a um mês mais ou
menos. Montará o estúdio aqui de novo.
- Mas isso é uma excelente notícia! Quando falar com
ela diga que mandei um abraço e que quero vê-la.
- Pode deixar.

Quando Marconi entrou na sala dos professores viu que


Vera estava sentada lá. Deu a notícia sobre Marina
deixando a professora feliz.

Um mês depois de muita função de mudança, compra


de apartamento, papelada e muita burocracia, Marina
se mudou. Não vendeu seu apartamento em São Paulo,
mas o alugou. Seus móveis chegaram primeiro que ela
e foi Renata quem providenciou para que tudo
estivesse no lugar quando ela chegasse. Lívia ligou
querendo marcar um encontro, como a secretária
estava sozinha no Rio, achou que não teria problema.
- Onde é o apartamento? – a morena perguntou logo
que sentaram.
- Nossa! Eu também vou bem, obrigada.
- Ah, desculpa Renata, estou ansiosa.
- É? Imagina ela então. Está às voltas com essa
mudança, a mãe dela não poderá vir para ajudar e
ainda tem a construção do novo estúdio. Ela nem
dorme direito.
- Tadinha.
- Ah que pena né? E você doida pra consolar. –
debochou. - Estou deixando tudo pronto para a vinda
dela e só depois cuido da minha mudança.
- Então fala: onde vão morar?
- No Leblon, o endereço é esse. – Renata estendeu um
pedaço de papel. – Anote no seu celular e jogue esse
papel fora. E eu nunca lhe dei esse endereço, certo?
- Positivo e operante. – Lívia brincou.
- Está tão engraçadinha. Eu tinha outra impressão de
você, achava que era uma pessoa mais séria,
controlada.
- Sou muito séria no meu trabalho, com a família sou
mais extrovertida.
- E quando estava namorando?

Lívia baixou a cabeça, depois olhou para os lados.

- Eu fazia tudo pra ela. Não sei como me deixei levar


pelo desejo. Camila foi um inferno na minha vida,
espero que fique bem longe agora.
- Onde ela está?
- Se mudou para o Acre. No dia que aconteceu tudo nos
encontramos porque ela queria dar essa notícia.
- Ah sim, aí você quis se despedir. – Renata fez aspas
na última palavra.
- Pode jogar na minha cara, eu não vou revidar.
- Sem querer botar a culpa em alguém, só estou
conjecturando as coisas, mas algum motivo você teve
pra trair.
- Não sei lhe falar ao certo o que aconteceu. Quando
comecei a namorar Marina ela era muito novinha, havia
acabado de completar dezoito anos. Tinha uma
ingenuidade que me encantava e era muito simples,
mas ao mesmo tempo era meio bobinha e às vezes isso
cansava. Era muito insegura e indecisa, ao contrário de
Camila.
- E aí você deslumbrou com a maturidade da outra.
- Sei que não justifica nada, mas é por aí. Camila me
instigava e quando via já estava envolvida. Foi uma
besteira aquilo, a coisa mais idiota que já fiz no mundo.
- Olha, é como disse outro dia. Não sei por que, mas eu
confio em você. Ou tem uma lábia muito boa, ou
realmente quer mudar as coisas. Acho que a ama de
verdade, caso contrário não estaria correndo atrás dela.
E nesse tempo todo já teria outra pessoa. E pode ter
certeza de que ela não é mais aquela menininha boba.
É muito decidida, sabe o que quer e ninguém tira ela de
idéia.
- Marina foi a única mulher que chegou ao meu
coração. E está lá até hoje, o lugar dela ninguém toma.
- Diga isso a ela e não a mim. – Renata sorriu.
- Vou dizer. No dia em que ela chegar me avise que eu
vou mandar um presente para o apartamento.
- Ai, ai, ai. Pela Nossa Senhora dos Exageros, o que
você vai fazer? Sei de cada presente seu que
misericórdia.
- Ela contou é?
- Do piano, do carro, das viagens, do celular, não
necessariamente nessa ordem.
- O piano está no mesmo lugar até hoje, do jeito que
ela deixou. Tem até umas partituras lá em cima. E o
carro eu mandei cobrir com uma capa e está na minha
garagem também.
- Jura? Que coisa romântica. – sorriu. – E meio sinistra.
– pensou - Bom, Marina vem de carro, porque não
confia que ninguém dirija o carro dela. Morre de ciúme
dele.
Lívia achou graça pensando em Marina tendo ciúme de
um carro.

- Não ria, é sério. Ela tem um modelinho pequeno da


Chrysler, é o xodó dela. Ninguém dirige.
- É a cara dela esse carro.
- Pequeno né? – as duas riram. – Então, ela deve
chegar bem de tarde porque não vem correndo e vai
direto para o apartamento. Falou que estou proibida de
fazer festa surpresa ou de boas-vindas nesse dia,
porque ela quer descansar.
- Entendido, então não vou exagerar, mas quando ela
chegar verá meu presente lá.
- Pode me adiantar o que é?
- Ainda não sei o que vou fazer, mas eu lhe aviso com
antecedência, fique tranquila. Ta tudo sob controle.
- Ai senhor. Vamos combinar o seguinte: ela chegará
aqui quase a noite e eu terei de ir em outro vôo um
pouco antes dela chegar. Você tem que deixar seu
presente lá antes deu sair, senão não terá como entrar.
- Não vão se encontrar?
- Não, eu só consegui esse vôo, os outros estavam
lotados e eu preciso estar em São Paulo no mesmo dia,
estou vendendo tudo meu e aqui vou ajeitando
devagar.
- Serão bem-vindas aqui no Rio.
- É, se eu me der mal como assessora de Marina
Calleger, viro secretária de promotora pública.

As duas riram.

O dia da vinda de Marina estava perto e Lívia ainda não


tinha pensado no que comprar para ela. Provavelmente
já deveria ter tudo, afinal agora era uma pessoa bem
sucedida. Foi para a rua procurar o que comprar.
Pensava em mil coisas e não se decidiu, então teve
uma idéia um tanto diferente.

Marina se preparava para viajar, saiu um pouco tensa,


pois nunca pegara a estrada sozinha. Já tinha ido para
Jaú, mas sempre acompanhada de Renata ou da mãe.
Encheu o carro de balas, chicletes e chocolate, carregou
o pen drive com muitas músicas e foi embora.

- GPS é uma benção. – ligou o aparelho e ficou atenta a


ele. Parava na estrada somente para ir ao banheiro e
lanchar. Seguiu viagem tranquilamente e chegou ao Rio
pouco depois das seis da tarde. Guardou o carro na
garagem e subiu carregando a mala. Por um momento
desejou ter alguém para recebê-la.

Abriu a porta do apartamento e não acreditou no que


viu. Havia uma decoração com velas bem delicadas,
algumas luminárias em estilo japonês, um perfume
bom e uma música suave tocava ao fundo. Quando
olhou melhor viu que em cima do aparador da sala, da
mesa de centro e na mesa de jantar haviam barcas
com comida japonesa e saquê.

- Nossa! Renata você merece até um aumento. – falou


sozinha.

Deixou a mala num canto e foi lavar as mãos, depois se


deliciou com as iguarias.

- Nossa, isso ta muito bom. – estava comendo quando


viu um cartão ao lado de uma vela.

“Seja bem-vinda! O Rio de Janeiro ficou mais bonito


agora.”

Estava assinado por Lívia.


- Ah! Filha da mãe! Como ela conseguiu meu endereço?
– Marina estava indignada. Ligou para Renata furiosa. –
Renata!
- Chegou patroa! Fez boa viagem?
- Como Lívia soube meu endereço?
- Oi?
- Renata, não me enrole. Cheguei aqui e vi o
apartamento todo arrumado, cheiroso, com comida
japonesa. Achei até que era coisa sua.
- Ué e eu achei que era excentricidade sua. Eu vi uns
homens arrumando as coisas junto com a mudança,
mas não disse nada ué. Como ela conseguiu eu não sei,
sinceramente.

Marina não teve alternativa a não ser acreditar em


Renata.

- Aproveita o banquete então ué, eu acabei de chegar


também. Atrasei pra sair daí, mas já estou em casa
arrumando minhas coisas e sem comida pra mim. –
fingiu chateação - Semana que vem no máximo eu to
chegando.
- Juro que se não tivesse passado a escritura pro meu
nome eu sairia daqui. – falou ainda brava.
- Ah que é isso Marina, não é pra tanto. Se não quiser
ser incomodada mande barrar a entrada dela na
portaria. Esse prédio é seguro e tem esses privilégios.
- É vou fazer isso.

Assim que desligou a campainha tocou, nem se tocou


de que não esperava ninguém. Abriu a porta sem ao
menos olhar no olho mágico e deu de cara com um
buquê de rosas imenso.

- Mas... o que...?

Lívia retirou o buquê da frente do rosto e colocou uma


caixa de bombons bem grande também.

- Podemos diversificar, caso não queira rosas. – a


morena sorriu.

Marina a olhou franzindo a testa, ia fechar a porta, mas


a morena foi mais rápida.

- Ta bom, mas se nada disso funcionar, esse funciona.


– pegou outra caixa e tirou de dentro dela um urso
branco gigante.
- Você não tem vergonha na cara? – Marina falou
enfezada.
- Não tenho mesmo. Nem orgulho quando se trata de
você.
- Sai Lívia. – quis fechar a porta.
- Vou sair. – Lívia a segurou. – Calma, não vou agarrá-
la a força. Disse que aquela foi a única vez, a próxima
será por sua vontade. Aceite os presentes, sei que
gosta. E aqui nesta caixa tem uma chave e um coração,
lembra? – olhou para ela mostrando outra caixinha. –
Essa chave eu só a terei quando você achar que sou
digna dela. É brega, eu sei, mas é uma forma de
simbolizar sua confiança comigo.
- Vá embora. – Marina estava com a voz quase
embargada.
- Vou. Fica com Deus e mais uma vez seja bem-vinda.
Aproveita o jantar viu? – sorriu e beijou sua testa.

Marina fechou a porta sentindo que o coração ia sair


pela boca. Sentou no sofá e olhou todos os presentes.
Abraçou o urso e ficou aninhada a ele um bom tempo.
Depois subiu para tomar um banho, voltou e comeu
mais um pouco. Resolveu guardar as coisas porque
tinha muito.

“Lívia sempre exagerada!”


Antes de deitar pegou a caixa com as jóias em formato
de chave e coração e ficou olhando, lembrando daquela
que ganhara há cinco anos. Ainda a tinha, mas muito
bem guardada. Pegou o urso novamente e o abraçou
para dormir, ele tinha o cheirinho de Lívia. No dia
seguinte ligou para sua mãe e avisou que já estava
devidamente instalada. Maria José não havia gostado
da idéia de Marina se mudar, além de ficar mais longe
da família, ficaria mais perto de Lívia. Porém sabia que
quando a loirinha botava uma coisa na cabeça,
ninguém poderia tirar.

Depois de ajeitar suas coisas no fim de semana e


descansar um pouco, Marina se preparou para a
batalha com a obra no estúdio. Sabia que uma
construção não era fácil. Felipe tinha um andar de um
prédio na zona sul e era lá que construiriam o estúdio,
que era na verdade onde ficava o antigo. Derrubariam
as paredes e começariam a montagem dele do zero.
Por ser na cobertura não tiveram problemas em mexer
na estrutura. Marina foi até lá para conhecer o local e
conversar com o arquiteto e o construtor. Acertaram
tudo para começar na outra semana, enquanto isso
aproveitava para ajudar Renata com a mudança e a
adaptar Sarah ao Rio de Janeiro.

- Patroa, adorei o apartamento. – Renata falou


admirando o local.
- Vou achar ele enorme depois que você se mudar.
Espero que não saia tão cedo.
- Ah, daqui uns tempos vai querer que eu saia, pra ter
mais privacidade. Sei que você gosta.
- Privacidade pra que?
- Sei lá, vai que arruma alguém.
- Imagina! Sem chance isso. – Marina olhou
desconfiada para Renata e aproveitou a oportunidade.
– Renata, você tem certeza que não viu Lívia se enfiar
aqui e preparar aquela... aquele... aquilo tudo que ela
fez? – gesticulou com as mãos.
- Juro que não. Eu vi uns homens entrando e colocando
umas coisas na mesa, pareciam de um restaurante,
achei que tinha contratado sei lá. Não lhe liguei porque
estava a caminho e achei que ia incomodá-la.
- Ela teve a cara de pau de ainda vir aqui e me
importunar.
- Estranho! Sua boca fala uma coisa e sua cara diz
outra. Você está quase rindo.
- Não estou! Ta imaginando coisa.
- Você gostou, confessa. Foi diferente, foi
surpreendente. Sei que gosta disso.
- Por que não consigo mentir pra você? – Marina
resmungou.
- Porque eu tenho sexto sentido, intuição e a conheço.
- Não vou ceder às investidas dela, não quero! Ela me
magoou e isso eu não vou perdoar. Já fui traída uma
vez e Lívia sabia disso, sabia também que tinha sofrido
com a traição e ainda assim não teve respeito por mim.
- Seu ex a traiu e fez isso por imaturidade e vingança.
- Ah e Lívia fez por quê? Por amor e caridade?! –
ironizou.
- São pessoas diferentes. Você não gostava mais dele.
E ela? Você a ama? Responda-me com sinceridade e
sem se envergonhar.

Marina baixou a cabeça como se quisesse esconder.

- Amo, com todas as minhas forças. Achava que tinha


esquecido, mas ao vê-la de novo sei que não deixei de
amar.
- Então minha amiga relaxa e deixa o resto com ela.
- Não! Vou concentrar minha cabeça no trabalho, é o
que sempre fiz e é melhor assim.
- A decisão é sua. – Renata levantou as duas mãos
num gesto como se largasse de lado.

Depois de começada a obra no estúdio Marina só ficava


por conta de conferir material de construção e vistoriar
a obra. Felipe a deixou totalmente por conta disso e
segurava sozinho o estúdio de São Paulo. Se falavam
sempre por telefone.

- Temos que pensar quem daqui vamos mandar praí. –


falou o sócio ao telefone.
- Está pensando em transferir o pessoal? Eu pensei em
contratar gente daqui mesmo.
- Os melhores já estão contratados Marina. Andei
conversando com Diogo, é o único livre; ainda assim,
ele toca com a Maria Betânia hoje e me disse que assim
que voltar de uma turnê pode trabalhar conosco.
- Eu estudei na federal aqui, posso ver se têm algum
aluno. Diogo ficaria na ponta supervisionando. Talvez
na UNIRIO tenha mais gente interessada.
- Então deixo a seu critério, é mais enjoada que eu. –
Felipe riu.
- Não sou enjoada, sou exigente.
- Claro, o que é a mesma coisa. – riu de novo.

Após acertar algumas mudanças na obra, ela resolveu


ir até a faculdade. Aproveitaria pra fazer uma visita aos
antigos professores.

Lívia estava saindo do fórum com Fabrício e resolveu


almoçar na rua.

- Quer chamar Eduardo? Eu espero.


- Deixa eu ligar pra ele. – o rapaz pegou o telefone e
marcou de encontrar no restaurante. – Eduardo disse
que a faculdade hoje está num alvoroço só.
- Por quê?
- Uma visita ilustre. Marina apareceu lá e souberam que
está contratando um pessoal para trabalhar com ela.
Diz que tem aluno se estapeando pela vaga.
- Nossa, é tudo isso?
- É, aquela baixinha causa impacto mesmo.

Na faculdade Marconi estava mais do que feliz com a


presença da ex-aluna.

- Achei que não viria me ver.


- Me mudei faz poucos dias e ainda estou ajeitando
minha vida. Onde está Vera? Gostaria de vê-la.
- É só olhar para trás. – falou a professora.

Marina se virou e correu para abraçá-la.

- Que saudade! – Vera falou.


- Eu que morro de saudade de vocês, infelizmente o
trabalho não me deixa tempo para revê-los, mas aqui
estou para botar o papo em dia.

Conversaram um bom tempo e depois resolveram ir


almoçar. Encontraram com Eduardo no corredor e
decidiram ir com ele. Chegando ao restaurante
encontraram Fabrício com Lívia.

- Ai meu Deus! Eu não sabia que ela vinha. – Eduardo


falou desconsertado.

Marina pensou bem, achou desaforo sentar em outro


lugar.

- Era de se imaginar, mas sentamos juntos, sou uma


pessoa civilizada, não preciso me retirar e acho que
nem ela.
Lívia ficou toda satisfeita até ver que Vera estava junto,
fechou o cenho e emburrou.
- E essa mulher? Tinha que vir? – falou entre dentes
para Eduardo.
- Fica quieta que você ta no lucro. Se soubesse que
estava aqui eu não teria aceitado, não quero confusão
com ela.
- Marina bagunçou as aulas hoje na faculdade. –
Marconi brincou.
- Não achei que o pessoal fosse me reconhecer.
- Você tem a mesma carinha menina, só cortou os
cabelos. – falou o professor.
- Umas rugas de preocupação a mais. – riu.
- A idéia de recrutar alunos será uma boa. – Vera
comentou.
- Sim, na verdade eu não preciso de profissionais fixos,
porque normalmente trabalho com artistas que já têm
seus músicos particulares e que gravam para eles, mas
também criamos arranjos, campanhas publicitárias,
jingle e é nessa hora que preciso de bons profissionais.
Eu gosto da idéia de pegar alunos ainda em formação,
pois dá a eles mais experiência. Comecei assim. –
sorriu.
- Fará um bom trabalho com eles, tenho certeza.

O papo na mesa transcorreu bem, mas Lívia e Marina


não se dirigiam a palavra. Vera e Marconi ficaram um
pouco constrangidos, pois notaram que havia
diferenças entre as duas. Logo que terminou de comer
Marina pediu licença, pois precisava ir embora.

- Vou com você querida. – Vera falou.


- Tudo bem, a acompanho até a faculdade. – Marina
sorriu toda simpática.

Aquilo deixou Lívia enfurecida, quase levantou e socou


a cara da professora, mas sabia que ela nem tinha
culpa e que Marina estava forçando. Ficou bufando de
raiva.

- Calma! Está saindo fumaça pelo seu nariz. – Eduardo


brincou.
- Não me irrite mais.
- Ei, não estressa. Ela fez pra te provocar e funcionou.
- Não vou me deixar levar por isso, vou abstrair.
- Boa garota. – ele a arreliou.

Lívia rosnou pra ele de volta.

Marina saiu do restaurante se sentindo o máximo pela


cara que Lívia tinha feito. Acompanhou Vera até a
faculdade, trocaram telefones e endereços.

- Vera, esse celular é o meu e, por favor, lhe peço para


não repassá-lo a ninguém. Senão não tenho sossego.
- Tudo bem, fiquei feliz em revê-la.
- Eu também.
- Nos vemos por aí, sempre que puder apareça na
faculdade. – sorriu.

Abraçaram e Marina voltou para a obra. Chegando lá


teve uma péssima notícia, o engenheiro disse que
haviam embargado tudo por se tratar de um estúdio de
música e o escritório de baixo não concordou alegando
que o barulho iria incomodá-los.

- Que barulho!? - Marina se indignou. – Estamos


revestindo o chão, as paredes idem e tudo com o
melhor material possível. Como ele pode embargar
alegando barulho se nem está pronto ainda.
- Terá de recorrer judicialmente. – falou o engenheiro.
- Nossa senhora! Aonde vou arrumar um advogado?! –
Marina estava desolada.

Saiu da obra pensando e depois se lembrou de Fabrício.


Pediria ajuda a ele. Chegou em casa e ligou para o
celular do rapaz, mas deu caixa postal, então tentou o
escritório, Érica quem atendeu:

- Quem gostaria?
- Marina. Marina Calleguer.
- Um minuto, por favor.

Aguardou na linha e logo ele falou.

- Fala moça! O que manda?


- Oi Fabrício, preciso de sua ajuda, ou melhor, dos seus
serviços.

Marina relatou o assunto e ele pediu que ela fosse até o


escritório e levasse alguns papéis.

- Tenho mesmo que ir?


- Sim. Preciso de alguns documentos e alvará da obra
para dar entrada no fórum.
- Demora muito?
- Alguns dias.
- E até lá a obra fica parada?
- Infelizmente sim.

Marina tomou um banho rápido e se arrumou para ir ao


escritório, não queria perder um minuto. Olhou para o
apartamento e falou para si mesma.

- Ainda nem aproveitei minha casinha.

O apartamento era bem arejado, tinha janelas grandes


de vidro e o piso era todo branco. Marina fez um quarto
de estúdio como o seu outro apartamento em São
Paulo e às vezes ia para lá tocar, se distrair, ou
trabalhar mesmo. Seu quarto era suíte e nele tinha
uma banheira sem paredes que separassem, apenas
um vidro jateado. Quando viu achou muito diferente e
gostou da inovação. No outro quarto que era de
hóspedes ficava Renata com Sarah. Ainda tinha uma
sala de jantar, uma de TV e outra de reuniões. A
cozinha era grande e também tinha uma área bem
ampla. Tinha uma varanda embaixo, mas o diferencial
era a piscina na parte de cima com churrasqueira e
tudo.

No caminho, Marina avisou Felipe e ele disse que ela


poderia fazer o que achasse melhor para resolver o
assunto. Assim que chegou ao escritório Érica reagiu
como se tivesse visto um fantasma.

- Fabrício está me esperando. – Marina falou séria.


- Ah sim. Pode entrar.

Marina bateu na porta e ele autorizou.


Cumprimentaram-se e sentaram para que ele
analisasse o caso.

- Acha que demora quantos dias? – perguntou


apreensiva.
- Sendo bem sincero, talvez quase um mês. Eu conheço
esse pessoal que embargou, é um escritório meio
concorrente nosso. O pai desse cara é juiz e por isso
ele se acha à margem da lei e de tudo. Vive aprontando
confusão.
- Se eu conversasse com ele pessoalmente? Talvez
negociasse...
- Está falando de dinheiro? Ele não precisa disso, ele
faz pra aparecer mesmo.

O rapaz voltou a olhar os documentos e então parou


para pensar.

- Tem alguém que ia gostar muito de bater de frente


com ele, é claro que eu entraria como advogado do
caso, mas essa pessoa montaria todo o processo com
argumentação e tudo.
- Me fala que eu a procuro agora.
- Está na sala aqui do lado. – Fabrício riu com
sarcasmo.
- Ah não. Quero Lívia fora disso.
- Escuta Marina, sei dos seus motivos e a apoio, mas
neste caso seria bom que ela olhasse, porque além de
conhecer esse idiota, ela é melhor que ele. A briga na
justiça ela ganha com certeza. Estudaram juntos e ela o
conhece bem. Posso chamá-la?
- Tenho que ficar aqui?
- Claro, tem que ouvir o que ela vai dizer. Não se
preocupe que Lívia é muito profissional, não vai
misturar as coisas.
- Tudo bem.

Fabrício pegou o telefone e a chamou.

- Lívia, estou com uma dúvida, pode vir à minha sala?


- Um minuto. – ela respondeu.

Pouco depois ela entrou e nem acreditou no que viu.

- Lívia, temos um problema. – Fabrício falou.

A morena somente olhava para a loirinha. Marina


estava linda, usava uma calça jeans claro e uma blusa
pólo preta, mas com detalhes bem delicados na barra,
calçava um tênis branco com cinza e estava muito
cheirosa, os cabelos estavam molhados e parecia ter
acabado de sair do banho.

- Nossa que cheiro bom aqui. – Lívia falou.


- Temos um problema. – Fabrício cortou.
- E qual é?
- A obra do estúdio de Marina foi embargada. O estúdio
fica no último andar do Edifício Sales Bonjardim, que
fica na Barra. A reforma começou há algumas semanas
e os vizinhos do andar debaixo embargaram alegando
que o barulho do estúdio, quando ele funcionar, vai
atrapalhar o trabalho deles.
- Como eles embargam uma coisa que nem começou
ainda? Não podem fazer isso, pelo menos não agora.
- Você sabe onde é esse prédio?

Lívia precisou pensar e logo se localizou.

- Ei, é onde fica o escritório do Bernardo.


- Sim e foi ele mesmo quem fez essa sacanagem.

Lívia sorriu com sarcasmo e balançou a cabeça num


gesto contrariado.

- Você se enganou Fá. Quem está com um problema é


ele. Um problemão!

Fabrício sorriu ao ver o entusiasmo da prima. Lívia


pegou o documento sobre o embargo e leu
atentamente, pegou alguns outros que estavam na
mesa e depois de ler tudo falou calmamente.

- Marina, pode ligar para o seu mestre de obras e dizer


para retomar o trabalho agora se quiser.
- Não posso, aqui diz que está sujeito à ação da polícia.
- Deixa chamarem a polícia, se prender qualquer um
dos trabalhadores que estiverem lá eu rasgo a minha
OAB.

Marina olhou nos olhos de Lívia e soube que ela falava


sério. Apesar de tudo confiava nela e na profissional
que era. Ligou para o engenheiro e avisou que estava
tudo liberado e que contratasse mais homens para
terminar o mais rápido possível.

- E agora o que eu faço? – Marina perguntou.


- Não faça nada, continue com a obra e aguarde um
contato nosso. Com certeza Bernardo vai criar caso
com isso e quando ele vier com o fubá eu já voltei com
a polenta. – Lívia sorriu.
- Tudo bem, eu aguardo e se precisarem de algo ligue
para Renata que ela me avisa.
- Deixe seu telefone assim entramos em contato direto.
– Lívia tentou.
- Não, melhor com ela. Agradeço a atenção de vocês.
- Se precisar me liga nesse número, pois meu celular
mudou. – Fabrício falou.

Marina até achou que Lívia daria o telefone dela, mas


não o fez. Antes da loirinha sair da sala a morena se
retirou.

- Bom, preciso ir, tenho um cliente agora. Fique


tranquila Marina, esse cara só quer fazer alarde. – Lívia
saiu fechando a porta.

Marina sorriu sem jeito e saiu da sala logo em seguida.


Depois que ela se foi Fabrício correu na sala da prima.

- Atender cliente?! Ahan.


- Tive que fazer um charme, assim valorizo o passe.
- Esse negócio de falar com ela pra continuar a obra é
por sua conta viu?
- Não falei pra impressionar. Quem expediu aquele
documento foi um juiz que conheço, ele é sujeira e com
certeza foi comprado. Deve ter dado a autorização
junto com a prefeitura sem nem olhar o local da obra.
Nenhum engenheiro foi lá para verificar. Eu espero
mesmo que ele vá à justiça brigar por isso, estou doida
pra bater de frente com ele. Meu receio é que Bernardo
é agressivo, se ele encostar um dedo em Marina eu não
respondo por mim.
- Vai falar com ele quando?
- Preciso me preparar e quando for, já levo comigo um
reforço. Quero cortar o mal pela raiz.
Marina foi pra casa e encontrou Renata na cozinha.

- Tem comida?
- Fiz macarrão, quer?
- Ah não, procurava por algo mais leve. – falou
desanimada.
- Que cara é essa?
- Estão tentando embargar a obra do estúdio, mas eu
já procurei advogado pra me ajudar.
- Por que não me falou? Eu ia te ajudar também.
- Pode deixar, conversei com Fabrício, lembra dele?

Renata assentiu com a cabeça.

- Então, ele disse que vai pegar o caso. E mandou


continuar a obra assim mesmo, disse que o cara
responsável por isso só quer aparecer. Vamos ver né?
- O Fabrício não trabalha com a...
- Lívia. Sim e se isso te alegra ela vai entrar com a
defesa pra mim, se eu precisar é claro, mas ela acha
que o cara não vai adiante com isso.
- Hum... – Renata olhou com um misto de riso e
preocupação, viu que Marina estava realmente
desanimada.
- Calma, se ela disse que vai resolver é porque vai. E o
rapaz também parece ser bom advogado, ele vai
ajudar.
- Espero que sim, vou malhar um pouco, depois tomar
banho e cama. – Marina subiu para a piscina onde
também ficavam os aparelhos de ginástica numa
pequena sala. Malhou e depois tomou um banho frio;
deitou se sentindo cansada.

Três semanas se passaram desde então. Lívia vivia


mandando presentes e fazendo surpresas para Marina.
Já havia mandado cartões, flores, um dia mandou um
boneco todo feito de balas e confeitos de chocolate.
Sabia que ela ia gostar, pois sempre tivera uma queda
por doces. Não mandava jóias nem presentes caros,
Marina não ligava para esse tipo de coisa. Certa vez
contratou um avião daqueles que carregam uma faixa,
escrito: “Marina, eu te amo!” E mandou passar em
frente ao apartamento dela e com a ajuda de Renata,
que a chamou para mostrar outra coisa, a loirinha
acabou vendo o avião. Ficou furiosa com aquilo, mas
depois que foi para seu quarto achou graça e sorriu
pensando em Lívia. Eram surpresas atrás de surpresas
e cada dia ficava mais difícil resistir.

Lívia saía de casa para trabalhar quando sua mãe ligou


perguntando por ela.

- Pra você sumir desse jeito só pode estar aprontando.


- Não mãe, pode ficar tranquila, estou bem. Tenho
algumas novidades para contar.

Enquanto dirigia, colocou o celular no viva voz e contou


as últimas notícias para a mãe. Quando Marta soube
que Marina havia se mudado para o Rio ficou muito
contente.

- Vou reconquistá-la mãe. Essa é a palavra que está na


minha cabeça dia e noite.
- Espero que saiba o que fazer. – Marta avisou.

A obra continuava firme e forte, agora com mais


pedreiros para adiantar o serviço. Marina estava
empolgada com essa função. Havia recrutado alguns
alunos na faculdade e ficou de conversar com eles
depois que o estúdio ficasse pronto. Encomendou os
equipamentos, tudo novo e de qualidade, com
tecnologia de ponta. Estava saindo do local quando um
homem pediu licença parando-a próxima ao elevador.

- Senhora Marina?
- Sou eu.
- Meu nome é Bernardo Martins, gostaria de saber com
que direito a senhora retomou a obra desse estúdio? –
perguntou com empáfia.

Marina hesitou um pouco e depois respondeu com


delicadeza.

- Com autorização do meu advogado que conseguiu


retirar esse embargo que não faz sentido.
- Ah não faz sentido? A senhora acha que meu
escritório que tem nome e renome em todo o país vai
se sujeitar a conviver com músicos fuleiros transitando
para lá e para cá no mesmo prédio?
- Senhor Bernardo, primeiramente, os músicos que
frequentam o meu estúdio não são fuleiros, e é bem
provável que o senhor tenha alguma música deles em
seu carro. Segundo, o prédio é livre e eu sou dona do
imóvel, nada me proíbe de fazer dele o que eu quiser.
Estou me certificando de que nenhum barulho possa
incomodar não só o senhor como aos outros
profissionais que trabalham aqui.
- A senhora não sabe com quem está lidando. – a
ameaçou.
- Sei sim, pois meu advogado já me preveniu sobre
você. Agora se me der licença, tenho mais o que fazer.
- Nós vamos brigar na justiça e se a senhora acha que
pode contra mim, está redondamente enganada. Além
de ficar sem o estúdio, pode até ficar sem o seu imóvel,
vai entrar ruim e sair pior ainda, pois posso acabar com
sua vida.

Bernardo falou tão convicto de si que assustou Marina,


mas ela procurou não deixar transparecer. Entrou no
elevador e assim que a porta se fechou desabou em
lágrimas. Não sabia o que fazer e pra onde ir naquele
momento, então procurou o escritório de Lívia. Ligou
para Fabrício, mas ele estava na receita federal
resolvendo assuntos de clientes, mas pediu que ela
fosse ao escritório e esperasse por ele. Assim que
botou os pés lá dentro, Érica se apressou em falar com
a promotora.

- Lívia, senhorita Marina está aqui na sala de espera,


aguarda o Fabrício.
- Mande entrar agora.

Quando a loirinha entrou Lívia notou que seus olhos


estavam vermelhos.

- O que foi? – perguntou preocupada.


- Eu... acabei de me encontrar com o tal cara que
embargou a obra.
- Bernardo.
- Isso... ele... falou que vai levar o caso para a justiça,
que não vai deixar que músicos fuleiros frequentem o
prédio e que eu vou... – se segurava para não cair em
lágrimas. - ...Vou perder o imóvel... e... ai meu Deus,
por que ele está fazendo isso? – abaixou a cabeça e
chorou.
- Calma querida. – Lívia quis abraçá-la, mas teve
receio, então somente alisou seus cabelos. – Ele não
pode fazer nada disso, o que disse a ele?
- Disse que sou dona do imóvel e que meu trabalho é
com músicos de qualidade, mas isso não interessa,
nenhum músico pode ser tratado assim. O prédio é
livre e é claro que antes de fazer um estúdio, Felipe se
certificou de que não teria problemas, o anterior era lá.
Ele pode me fazer perder o estúdio? – Marina
perguntou preocupada.
- Claro que não meu anjo. Ele a ameaçou, aquele filho
da mãe! Se ele quer brigar nós vamos brigar, mas eu
vou evitar que façamos isso na justiça. Eu mesma vou
falar com ele e quero ver aquele imbecil me ameaçar.
- Eu não soube mais o que dizer... eu... fiquei... nossa,
nunca pensei que aconteceria de novo... me senti um
nada.
- Você falou bem e se defendeu como pode. Estou
orgulhosa que tenha enfrentado aquele idiota, a
maioria não faz isso por medo dele. Você não teve. –
continuava alisando os cabelos dela.

Fabrício chegou e se interou do ocorrido, então Lívia


falou que iria pessoalmente falar com Bernardo.
Combinaram de no dia seguinte ir ao escritório dele, ela
e Fabrício.

- Fica calma viu? Nós vamos resolver isso pra você. Eu


prometo que depois de falar com ele, nunca mais vai
vê-lo te incomodando. – olhava nos olhos dela.
- Obrigada. – Marina sorriu, recebendo outro sorriso da
morena.

Renata ligou avisando que Felipe tinha pedido uma


reunião para falar da obra e estaria chegando em
poucas horas. Então Lívia sugeriu que se reunissem em
seu escritório mesmo.

- Quer esperar aqui? – perguntou a morena. – Pode


ficar na minha sala, eu vou ter que sair por uns
minutos, você pode ficar a vontade.
- Acho que vou à rua, preciso fazer umas compras pro
meu apartamento, volto depois.

Para não forçar a barra Lívia esperou que Marina saísse


e depois saiu. Voltaram quase ao mesmo tempo.
Marina chegou primeiro. Sob ordens da promotora ficou
na sala dela e para passar o tempo resolveu ler uma
revista, estava distraída quando a porta se abriu,
acabou se assustando.
- Desculpa, entrei tão de repente. To atrasada?
- Não se desculpe, a sala é sua. – Marina falou
calmamente e se levantando. – Vou esperar lá fora.
- Espera! – Lívia a segurou pelo braço. – Pode ficar
aqui, vou pedir que os outros entrem quando
chegarem, aqui é melhor para conversar. Se quiser eu
fico na outra sala.
- Não tem cabimento eu tirar sua privacidade dentro do
seu próprio ambiente de trabalho, não precisa sair. –
Marina insistiu em sair.
- Fique. Não está incomodando, aqui ficará mais
confortável. Está com uma carinha de cansada.

Realmente Marina estava exausta por conta da função


com a obra, mudança e o problema do embargo. Como
Renata ainda estava envolvida com sua mudança
particular, ela acabou se sobrecarregando. Sentou na
poltrona e falou com voz desanimada.

- Tenho andado cansada. Renata está resolvendo


problemas particulares e eu tenho me virado sozinha
esses dias. Às vezes durmo tarde ouvindo gravações
coisa que Felipe me manda de São Paulo. – Marina nem
soube por que desabafou com a promotora.

Lívia sentou-se perto dela e ficou prestando atenção no


que falava.

- Sem contar que montar outro estúdio sempre é um


grande investimento e tenho medo desse atraso nos
prejudicar com os contratos que fechamos. Já estamos
na etapa final, falta testar os equipamentos.
- Não vai atrasar, pode apostar nisso. De forma alguma
deixarei que Bernardo a atrapalhe, o problema dele
agora é comigo.
- Acha que depois do estúdio pronto ele ainda pode me
prejudicar?
- Não, vou conseguir na justiça uma liminar que o
impeça de chegar perto de você. Quero-o longe do seu
caminho. Estudei na faculdade com Bernardo, sempre
foi riquinho e metido. Se achava o tal, como se nada o
atingisse. O pai é juiz e só por isso pensa que pode
tudo, mas o reino de glórias dele acabou faz tempo.
Desde que se envolveu em escândalos judiciais, acabou
perdendo a credibilidade. Hoje em seu escritório tem
profissionais de alto gabarito e é o que o mantém ainda
funcionando, se fosse só pelo nome dele as portas
estariam fechadas há tempo. Já nos esbarramos no
tribunal e ele não é páreo pra mim. – Lívia falou com ar
superior.
- E você não deixa de ser modesta. – Marina riu.
- Minha maior qualidade.
- Sei disso.
- E você nunca deixa de ser linda. – Lívia olhou para ela
sorrindo e tirando um sorriso tímido da loirinha. –
Desculpa, não queria...

A porta se abriu e Fabrício entrou acompanhado de


Renata e Felipe.

- Desculpa, estamos entrando. – Falou como se


soubesse que estava atrapalhando algo, nem quis olhar
para Lívia, ela com certeza rosnaria para ele.
- Oi Felipe. – Marina o abraçou.
- Tem passado aperto aqui hein amiga? Vamos resolver
isso, se preciso saio no braço com esse desgraçado.
- Nossa que violência. – Fabrício arregalou os olhos. -
Na minha terra a gente resolve é no machado. – O
rapaz brincou.
- E de onde é essa terra? Me fala que nunca piso lá.
- Sou gaúcho, criado no Rio, mas o sangue é de lá.

Felipe estava perto dos quarenta anos, mas tinha a


aparência jovem. Os cabelos muito escuros e
arrepiados lhe davam um ar jovial. Tinha os olhos
claros e a pele branca, rosada nas bochechas, era alto
e forte, tinha um porte bonito, voz firme e isso
impressionava. Se dava muito bem com Marina, desde
o dia em que a viu quando a chamou para trabalhar,
viu nela uma parceira pra tudo e o resultado foi
positivo.

Depois das devidas apresentações, todos se sentaram.


Renata no início ficou apreensiva com medo de deixar
escapar qualquer coisa sobre a relação dela com Lívia.
Tinha que tratá-la com indiferença. Primeiro falaram
sobre o problema com o vizinho encrenqueiro, Lívia os
tranquilizou dizendo que antes de qualquer medida
mais drástica conversaria com Bernardo. Depois ela e
Fabrício os deixaram a vontade para conversar sobre o
estúdio e repassarem alguns compromissos.

- Já agendei com alguns músicos na semana que vem.


Os equipamentos chegam essa semana. Daqui vamos
lá ver o estúdio, está ficando bom viu.
- Eu quero é testar a acústica. – Felipe falou
empolgado. – Você me disse que tem um amigo seu
aqui, o que tocou com você.
- Sim, Eduardo.
- Chame ele, vamos pra lá fazer um som, trouxe
minhas coisas.

Quando estavam saindo Lívia voltou à sala.

- Desculpa gente, preciso pegar uns papéis.


- Ah fique a vontade, sinta como se a sala fosse sua. –
Felipe brincou.
- Ah sim, muito agradecida. – Lívia sorriu.
- Já estamos indo, vamos ao estúdio ver como tudo
ficou. Queremos testar aqueles brinquedinhos.
- Ah sim, espero que tenha ficado bom. – Lívia remexia
nuns papéis em cima da mesa.
- Não quer vir? Gostamos de platéia. – Felipe chamou
num momento de empolgação.
- Eu... – Olhou para Marina que nada falou.
- Só vou atrapalhar.
- Que nada, como disse, todo músico gosta de se
exibir, vai lá.
- Ta certo, quando terminar aqui eu dou uma passada
lá. Se ainda estiverem tocando eu subo.
- Ok.

Saíram e no carro Marina falou com Felipe.

- Felipe, fica chamando todo mundo pra ir lá, nem


sabemos se as coisas estão funcionando. - Marina
falou.
- O técnico não ia hoje? Deve ter ao menos ligado os
retornos.
- Sim, mas ele me disse que testaria aos poucos, pois
se der problema em algum equipamento fica mais fácil
de achar o problema.
- Fique tranquila, é só para descontrair, afinal eles
estão nos ajudando. – piscou para Renata.

Na realidade Felipe sabia quem era Lívia por intermédio


de Renata, que durante o trajeto para o escritório foi
lhe contando resumidamente a história. Desde que
conhecera Marina e começaram a estreitar o
relacionamento, ele ficou sabendo sobre a sua
sexualidade e não tiveram problemas. Tanto que ele
agora queria dar uma forcinha. Assim que chegaram ao
estúdio se encantaram. Estava nos finalmente, faltava
alguns equipamentos, mas a parte de vedação de som
estava toda pronta.

- Renata, vai lá, grita e tira a roupa para vermos se o


som não vai escapar. – Felipe brincou.
- Palhaço. Eu posso até gritar, mas striptease só
pagando.
- Duas crianças. – Marina revirou os olhos. Olhou ao
lado e pegou o violão que havia levado, tocou as cordas
e viu que estava desafinado. Mexeu ajustando as
cordas e em pouco tempo estava afinado de novo.
- Muito nojenta você. – Felipe a observava. – Quero ver
mesmo se está no tom certo, aposto que ta meio
acima.

Marina riu e deu língua pra ele.

Conferiram pelo teclado e a afinação estava em cima.

- Morra com minha inveja. – Felipe riu.


- Eu lhe ensino meu segredo depois.
- Agora só falta uma cervejinha e um tira-gosto.
Renatinha, não quer pegar qualquer coisa? Eu imploro.
– Felipe juntou as duas mãos como se rezasse.
- Não precisa apelar, eu vou lá embaixo.

Renata desceu pra procurar um lugar que vendesse


qualquer coisa de comer. Achou rápido e voltou, estava
entrando no prédio quando viu Lívia e Fabrício subindo
junto com Eduardo.

- Eita que chegamos em boa hora. Além de estúdio vão


montar um bar lá em cima? Aí que Bernardo tem um
filho colorido. – Fabrício brincou.
- Vamos senão vocês perdem o show, não é pra
qualquer um hein? Marina Calleguer e Felipe Brito só
para convidados.

Quando entraram no estúdio Felipe mexia na


equalização da mesa de som e Marina tocava o violão
dedilhando uma melodia suave e cantarolando. Os
recém-chegados sentaram num canto e ela não os viu,
estava mais afastada e distraída. Os olhos de Lívia
brilharam ao vê-la, nem disfarçou o encanto daquele
momento.

- Ela é demais. – Felipe falou. – Posso ficar horas


vendo-a tocar esse violão.
- Acho que ela toca piano melhor. – Eduardo falou.
- Tem que vê-la tocando sax, eu morro de orgulho, pois
fui eu quem ensinou.
- Foi nada Felipe. – Renata o arreliou.
- Acho que tudo que ela faz é perfeito. – Lívia falou sem
desgrudar os olhos de Marina.
- A outra ta babando. – Eduardo comentou.
- Senta aqui Lívia, assim pode vê-la melhor. – Felipe
mostrou uma cadeira e sem que ela visse apertou um
botão. – Você aprecia música? – perguntou
displicentemente.
- Sim, me acostumei a ouvir música boa e depois que...
enfim, depois de um época da minha vida a música era
minha aliada. Adorava vê-la tocando.

Marina começou a ouvir umas vozes, porém a de Lívia


mais em evidência, só não parou de tocar, continuou
dedilhando as cordas.

- Sentia a melodia tocar minha alma, ela toca como se


pedisse para decifrar sua vida, seus sentimentos, acho
que foi por isso que eu me... apaixonei. – disse a
última palavra baixinho.
- Elas já tiveram um lance aí. – Fabrício cochichou.
- Ah. – Felipe olhou para Renata.
- Tempos passados. Gostaria de poder sentir aquela
sensação de aconchego de antigamente. Nunca mais
senti isso depois que a perdi. – Lívia desabafou.

Marina parou de tocar e olhou para frente, vendo-os


pelo vidro, sorriu para eles e fez sinal para que
entrassem.

- Vamos lá Eduardo, quero ver se toca de verdade. –


Felipe brincou.
- Eu estou com ciúme dessa loirinha aí com esse violão.
– brincou com Marina.
- Pronto, entrego a você. – Marina esticou o violão.

Felipe havia trazido uma viola de doze cordas e


aproveitou que Eduardo estava lá e fez uma dupla com
ele. Marina acabou acompanhando no pandeiro.

- E num é que o trio funcionou? Podiam lançar um cd. –


Fabrício falou admirado. – Eu comprava um.

Tocavam “Boa sorte” de Vanessa da Mata, com Eduardo


e Marina dividindo a letra. Lívia não piscava os olhos,
estava vidrada na loirinha.

- Eita que se babar no vidro Felipe vai mandar você


limpar. – Renata implicou.
- Acho que vou embora. – Lívia falou um pouco triste.
Despediu-se dos dois ali fora e deixou um abraço para
os três que estavam dentro da cabine do estúdio.

Várias músicas depois os três pararam de tocar e


saíram. Marina logo deu falta de Lívia e num ímpeto
perguntou por ela:

- Onde está Lívia?


- Ela já foi. – Renata apenas respondeu.
- Acho que não estava se sentindo bem. – Fabrício
falou olhando para Renata.
- Ah. – Marina não conseguiu esconder o
desapontamento.

Saíram do local e cada um foi pra sua casa,


combinando de saírem mais tarde. Assim que chegou
em casa Renata falou com a patroa.

- Você está cedendo.


- Oi?
- Está gostando de ficar perto dela. Pensa que não
reparo em você?
- Está louca Renata. Se está se referindo à hora que
perguntei por ela no estúdio é porque não a vi, seria
indelicadeza.
- Ahan. Ela lhe manda presentes e você nem reclama
mais.
- Pois na próxima oportunidade vou falar que não quero
que mande. Não sou comprada com presentes. – falou
emburrada.
- Ta bom.

Renata aproveitou que Marina entrou no banho e ligou


para Lívia.

- Faça o jogo inverso. Pare de mandar presentes e finja


não ligar. Ela vai sentir a diferença, confunda-a, Marina
fica doida com isso.
- Como você é má. Alguém já lhe falou isso? – Lívia
riu.
- Já e eu adoro. – Renata gargalhou.
- Mudarei um pouco os planos.

À noite quando se encontraram no restaurante para


jantar conversaram sobre música quase o tempo todo e
contavam casos sobre o trabalho.

- Marina leva cantada sempre. – Felipe brincou.


- Fala como se não levasse também.
- Com você é mais engraçado. Tem muito músico
casado com filhos que adora ficar pertinho da loirinha.
Os sertanejos são os piores. Não todos, claro, mas tem
uns bem salientes. – Felipe fazia graça.
- Aquela roqueira bem que queria esticar o ensaio pra
sua casa. – Marina debochou.
- Gente, fala os nomes, senão não tem graça. –
Fabrício quis saber.
- Não. Seria antiético. Eu falo brincando e nem ligo pra
isso, quero fazer meu trabalho.
- E ganhar dinheiro. O contrato na Bahia foi um dos
melhores até agora. – Felipe se empolgou. – E acho
que você voltar pra cá será uma coisa muito boa. –
terminou de falar avistando Lívia entrando no
restaurante. – Opa, nossa advogada veio. – sorriu.
- O advogado sou eu, ela é minha assistente. – Fabrício
brincou.
- Ah claro. – Renata riu.
- Boa noite. Tudo bem com vocês?
- Tudo sim, senta aí. – Felipe convidou.
- Vim só dar um oi, não vou me sentar aqui, estou
aguardando uma amiga.

Marina que fingia não prestar a atenção virou o rosto


para olhá-la.

- Fabrício me chamou, mas ela já tinha me convidado,


aí acabei transferindo o programa para cá. Esse
restaurante é ótimo. – Lívia viu sua convidada e se
despediu. - Ah sim, ela já chegou. Boa noite gente.
- Boa noite. – responderam.

Marina já estava com as bochechas vermelhas. Lívia


estava acompanhada de uma loira alta, quase do seu
tamanho, era muito elegante e simpática. Nem
conseguiu jantar tamanha raiva que sentiu.

- Muito obrigada por me ajudar Patrícia. – Lívia falou. –


Tenho certeza que ela ta se corroendo por dentro.
- Amiga é pra essas coisas.

Patrícia era uma velha amiga dos tempos da faculdade,


porém se formou somente para prestar concurso e
atualmente trabalhava em Brasília, pouco vinha ao Rio.
Lívia aproveitou que ela estava na cidade e a convidou
para jantar. Ambas eram gays, mas nunca se
envolveram, o que tornou a relação entre as duas uma
boa amizade.
Como Marina falava pouco, Renata puxou assunto com
ela.

- Morde o pé da mesa pra disfarçar a sua raiva.


- Ih Renata, pare de me encher. Não quero saber de
Lívia, ela pode comer a cidade inteira se ela quiser.

A secretária assustou com o palavreado da loirinha.

- Que é isso? Desde quando fala dessa forma?


- Perdão, me excedi. Acho que vou embora, quer ir?
- Sim, não quero deixar Sarah muito tempo sozinha em
casa, ela ainda está se adaptando aqui, fez poucos
amigos.

As duas se despediram de todos e quando saíram


passaram pela mesa de Lívia e Patrícia. Renata
aproveitou e piscou para ela, mostrando que havia
dado certo a nova tática.

Na sexta-feira, tanto Marina quanto Felipe foram para o


estúdio terminar de conversar com o técnico e ajeitar
os últimos detalhes. Ao saírem de lá se encontraram
com Bernardo, que os olhou com soberba e resmungou
algo inaudível.

- Que cara feia, isso pra mim é fome. – Felipe riu.


- Não sei hein, esse cara cheira a encrenca sempre.
- Eu acredito em Lívia e Fabrício. Se disseram que ele
não pode com a gente, então fico tranquilo.

Marina admirava o jeito otimista em Felipe e reconhecia


que era contagiante. Dentro do programado o estúdio
começaria a funcionar em meados da semana seguinte.
Estavam ansiosos com a inauguração. Não fariam festa
nem nada, seria uma ramificação do que já tinha em
São Paulo. À tarde os dois se sentaram com Renata
para fazer os últimos acertos de pessoal.

- Gente, acho que esses dois aqui como atendentes


serão bons. – Renata mostrava o currículo. – Têm boa
aparência e ambos falam inglês, sendo que a moça
também fala alemão. O rapaz é músico. Acho que isso
é uma vantagem.
- E quanto aos operadores de som? – Felipe perguntou.
- Diogo volta nessa semana. E vou trabalhar com mais
dois que me indiciaram lá na faculdade. – Marina falou.
– Não são alunos, mas me pareceram competentes,
vou arriscar.
- Tudo bem, se por acaso não der certo, por hora eu
mando um de São Paulo pra cá.
- Acho que não vai precisar.

Depois de acertarem tudo Felipe se despediu e voltou


para São Paulo desejando boa sorte a Marina.

Lívia estava entrando no prédio de seu escritório


quando viu Marina.

- Algum problema? Bernardo fez alguma coisa? –


perguntou preocupada.
- Problema nenhum.

Entraram no elevador.

- Eu vim pra falar com você. Quero que pare de mandar


presentes pra mim, se pensa que vai me comprar com
isso, desista. Por favor, não insista. Não quero você em
minha vida, não preciso dos presentes que me manda,
nunca precisei antes, não é agora que vou precisar.
Que adiantou me encher de presentes caros, se quando
quis me trair não pensou duas vezes? – foi dura com as
palavras deixando Lívia um pouco envergonhada.
- Tudo bem, se lhe incomoda tanto eu vou parar. Não
precisava ser tão grosseira.

Lívia saiu do elevador e deixou a loirinha para trás.


Entrou em sua sala e chorou como criança. Enfiou a
cabeça no trabalho depois e tentou esquecer o
incidente, mas se tivesse olhado para trás teria visto os
olhos de Marina cheios de lágrimas.

Passaram o final de semana uma pensando na outra.


Marina trancada no quarto e Lívia em Mauá chorando
no colo da mãe.

- Eu disse que teria de se preparar para um não. –


Marta consolava a filha. – Ela é teimosa e tem orgulho,
não é fácil perdoar uma traição.
- Achei que poderia mudar as coisas. Ela me magoou
com aquelas palavras.
- Não depende só de você filha. E você também a
magoou e não com palavras, mas atitudes.

Lívia estava desolada e sem esperança. Nada parecia


amolecer o coração de Marina. Passou o final de
semana fazendo caminhada, pensando na vida e
meditando sobre suas atitudes. Deveria deixar Marina
de lado então e seguir seu rumo, parar de pensar nela
seria o melhor a fazer. E ficaria o resto da vida sozinha,
não queria mais ninguém.

Na segunda a tarde Marina foi para o estúdio cedo,


conversou com os dois novos funcionários e deu
instruções de como deveriam trabalhar. Depois foi para
sua sala e também fez uns acertos com os dois garotos
que havia chamado para a experiência como
operadores de som.

- Temos uma gravação na semana que vem. A banda é


do Rio mesmo e o cantor é bem enjoado com relação à
altura dos instrumentos, costuma pedir pra repassar
várias vezes, então fiquem atentos. Serão
supervisionados por Diogo. Por essa semana estamos
ainda com o movimento menor, está sendo tudo
marcado para mais adiante, enquanto isso podem se
familiarizar com os equipamentos.
- Agradecemos a oportunidade dona Marina, estamos
empolgados em começar. – falou um dos rapazes.
- Se quiserem continuar trabalhando aqui, me chame
de Marina. – a loirinha falou sério e depois riu. – Se me
chamar de dona mais uma vez serei obrigada a chamar
o segurança e te colocar pra fora. – brincou. – Nem fiz
trinta ainda rapaz.

Os rapazes estavam animados com a oportunidade e


ainda de trabalhar com Diogo que era um músico muito
conceituado. Marina saía do estúdio para almoçar e viu
Bernardo se aproximando.

- Boa tarde senhorita Marina. – ele vinha


acompanhado de mais dois homens. – Viemos
interditar esse botequim.
- O que? – Marina assustou.
- Disse que não ia deixar por menos e trouxe um
engenheiro e um Policial para que esse muquifo seja
fechado. Eu disse que não queria músicos neste prédio
e continuo não querendo. Vá montar suas tralhas em
outro lugar. Eu não trabalho no mesmo lugar que essa
ralé. – falava alto e debochado.
- Pra fazer isso terá de passar por cima de mim.

Assim que ela falou os dois atendentes vieram lhe dar


apoio moral.

- Isso será moleza.

Bernardo foi com os dois homens para cima de Marina


e os atendentes, a loirinha tentava manter a firmeza,
mas por dentro se sentia frágil como uma criança. Mais
dois seguranças apareceram para reforçar o comboio
que o advogado trazia. Quando pegou no braço dela
sentiu uma mão em seu pescoço.

- Seus pais não lhe ensinaram que é feio agredir uma


mulher? – Lívia falou por trás dele. – É claro que não
aprendeu isso, você não tem pais, deve ser de uma
chocadeira.

Lívia apareceu com um delegado e um jornalista,


conhecidos dela.

- Eu prometi a mim mesma que se encostasse um dedo


nela eu não responderia por meu juízo. Posso saber
com que direito você está importunando minha cliente?
Tem algum documento plausível que justifique sua
atitude boçal? – apertava o pescoço dele.

Bernardo se desvencilhou.

- Lívia! Eu não vou admitir que um estúdio seja


montado neste prédio onde só tem escritórios de
renome. Aqui não é lugar de bagunça e música é coisa
de gente que não tem o que fazer, ao contrário das
pessoas que trabalham aqui.
- Acho que não conhece minha cliente. É dona de um
dos maiores estúdios desse país e é dele que saem os
melhores artistas que a mídia divulga. Admitir é um
verbo muito pessoal não é meu caro? Já que sua
tolerância para com o próximo é bem curta.
- Se quiser, eu tiro esse estúdio daqui.
- Tira mesmo? – falou o delegado. – Meu nome é
Francisco, sou delegado. Gostaria de saber se tem
algum tipo de mandato ou qualquer documento que
impeça o funcionamento do local.
- Eu tenho... eu consegui um embargo e ainda assim
eles insistiram. – Bernardo já gaguejava e pegava o
celular para ligar para alguém. – Vou falar com meu...
- Seu pai? – Lívia o interrompeu. – Sim, ligue pra ele e
diga que a imprensa está aqui e vai adorar revê-lo.

Bernardo desligou o celular e olhou para Lívia com um


ódio quase palpável.

- O seu embargo foi forjado e eu descobri mais esse


deslize seu. Já conversei com um juiz e me certifiquei
de que este estúdio é totalmente aceitável já que segue
no âmbito legal as normas exigidas. Tudo isso
acompanhado por um engenheiro e um técnico de som
com certificado e garantia de qualidade de serviço. –
Lívia mostrou uma pasta contendo tudo o que falava. –
Fique com essa cópia para poder ler com calma. E,
além disso, estou pedindo judicialmente uma liminar
que impeça você de chegar perto do estúdio e de
Marina por pelo menos cinco metros. É exatamente a
distância da porta do seu escritório até aqui e do andar
de baixo para o de cima. Se subir em uma cadeira já
estará violando a lei. Se eu fosse você não faria isso.

Bernardo estava indignado, mas totalmente sem


palavras.

- Acho que já falei muito. – Lívia olhou para ele. – Pode


se retirar agora? Caso contrário eu chamarei reforço.

O rapaz olhou para Marina que estava paralisada, se


sentiu ofendida com as palavras de Bernardo. Sempre
soube da má fama dos músicos em geral, mas nunca
gostara disso. O advogado se retirou com os homens
que havia levado.

- Está tudo bem agora. Ele não vai mais falar com
você, nem pra dar bom dia. – Lívia falou sorrindo para
Marina.
- Obrigada. Achei que ele fosse... sei lá... me bater.
- Nem se fosse esclerosado. Se te encosta a mão
estava morto uma hora dessas. Bernardo só late alto,
mas é covarde. – Lívia se voltou para o delegado e
agradeceu. – Obrigada Francisco, fez pressão nele.
Você também Lucas.
- Posso publicar uma nota sobre o assunto?
- Claro, faça como achar melhor.
- Acho que vou indo, tenho ainda algumas coisas a
resolver. – Marina falou. – Obrigada por me ajudar, não
teria conseguido sem você. – olhou nos olhos de Lívia.
- Eu a acompanho até lá embaixo.

As duas desceram e ao se despedirem Lívia falou com


tranquilidade.

- Marina, não ligue para o que ele falou. Bernardo só


sabe diminuir e ofender as pessoas, é o esporte
predileto dele.
- E faz muito bem. – Marina falou cabisbaixa. – Bom,
preciso ir. Mais uma vez obrigada pela ajuda, depois
manda a conta. – sorriu.
- Marina. – Lívia a chamou num impulso.
- Oi?
- Boa sorte com o estúdio. Tenho certeza que vai fazer
sucesso, seu trabalho é o melhor. – sorriu.
- Obrigada.

Lívia entrou no carro e Marina também. A promotora


ficou pensando no que tinha acontecido. Jamais em sua
vida teria defendido alguém que nem confiança dava a
ela, como Marina andava fazendo.
“Você a ama sua idiota.”

Marina se sentia cansada, seu corpo parecia ter sido


atropelado. No caminho pra casa ligou para Felipe e o
deixou a par do que tinha acontecido tranquilizando-o
ao mesmo tempo. Resolveu ir pra casa mais cedo para
descansar e pediu para que Renata resolvesse qualquer
pendência em relação ao estúdio e reorganizasse seus
compromissos. Tomou um banho e se enfiou debaixo
das cobertas, sentia frio, mas não entendia, pois estava
calor. Quando Renata chegou a encontrou deitada e
amuada.

- Está se sentindo mal?


- Não sei; acho que estou gripando.

A secretária mediu sua temperatura e viu que estava


febril. Tirou a prova dos nove com um termômetro e
estava certa.

- Toma esse antitérmico, vai ajudar a baixar. Está


assim desde que horas?
- Assim que saí do estúdio mais cedo.
- Alguma coisa te deixando preocupada?
- Não mais, acho que agora tudo vai se resolver por lá.
- É que nunca a vi doente, estou até estranhando.

Marina mais se sentia triste que doente. As palavras de


Bernardo a entristeceram e, aliadas à rotina dos
últimos dias e os problemas com Lívia, seu corpo
sentiu. Conseguiu dormir depois que tomou remédio,
mas acordou à noite banhada em suor e se sentindo
enjoada, acabou vomitando. Resolveu tomar um banho
e somente conseguiu que o mal estar passasse. Voltou
a deitar e dormiu de novo. No dia seguinte acordou se
sentindo pior. Seu corpo doía mais e o enjoo estava
mais forte; vomitou de novo.
- Está vomitando? – Renata chegou à porta do
banheiro.
- Desde a madrugada.
- Por que não me chamou mulher? Vamos pro médico
agora.
- Esperei que amanhecesse; procurar um hospital de
madrugada é dose. Tente ligar para algum médico.

Renata procurou no catálogo, mas não se sentia segura


em marcar qualquer médico sem conhecer. Sua
alternativa foi ligar para Lívia e perguntar se ela
conhecia algum.

- Que houve?
- Marina está passando mal desde ontem.
- Eu achei o rostinho dela abatido depois da confusão,
pensei que era só o susto.
- Que nada! Chegou em casa e deitou, teve febre e
agora está vomitando. Pode indicar um médico em que
eu possa levá-la?
- Vomitando?! Tenho um cliente que é clinico geral, ele
é excelente médico, por hora vai falar o que fazer. Mas
quero que me deixe informada sobre ela.
- Fica tranquila.

Renata ligou para o médico e disse que era indicação


de Lívia. Conseguiu consulta para antes do almoço e
levou Marina. Foi constatado estafa, pois pelos exames
ela não tinha infecção nem qualquer outra virose. O
médico fez algumas perguntas de rotina e percebeu
que Marina estava era cansada.

- Precisa repousar e nada de se envolver em trabalho.


Tire ao menos uma semana de descanso.
- Doutor, acabei de montar um estúdio, não posso
abandoná-lo.
- Não vai abandonar nada, somente fazer uma pausa.
Dizem que estafa é doença de fresco, mas posso dizer
que ela não escolhe quem vai pegar. Você está cansada
e é só, mas esse cansaço pode acarretar em coisas
piores se não cuidar. Pense em você primeiro, depois
no trabalho. - Passou um remédio e uma dieta a seguir.
– Siga o que está na receita e em uma semana vai
estar novinha em folha.

As duas passaram na farmácia e compraram o remédio.


Renata decidiu passar no mercado e abastecer a casa.
Compraram frutas e verduras, além de umas coisinhas
gostosas.

- Ninguém é de ferro né? Alguma caloria temos que


levar. – riu a secretária.

Chegando em casa é que Renata teve uma idéia.


Mandou uma mensagem para Lívia somente relatando
o parecer do médico e assim que Marina entrou no
banho ela ligou.

- Você vem pra cá, porque eu vou ter que desaparecer


carregando Sarah comigo.
- Como é?
- Vou fingir que tenho que me ausentar e vou largar
Marina aqui sozinha. É aí que você entra. Vem pra cá e
cuide dela.
- Você é louca? Não vou fazer isso pra ser enxotada
logo de cara.
- Deixa de ser dramática, venha com jeito e cuide dela.
Marina precisa é disso, de cuidados e não os meus. Ela
quer carinho, atenção, paparico, só que não admite.
Vou fingir aqui uma ligação e combino com minha filha.
Você aparece aqui só à noite, ok?
- Ta bom, mas só tentarei uma vez. Se ela me rejeitar
eu não volto mais.
- Ela ta carente, aceitará qualquer coisa.
- Ah obrigada pela parte que me toca e me chamar de
qualquer coisa. – Lívia resmungou.
Renata riu e desligou. Combinou com Sarah de saírem
do apartamento e disse que depois explicava.
- Mas mãe! Pra que a pressa? Tem que ser hoje?
- Sim, hoje, agora! Arrume uma mala pequena, são só
alguns dias e bico calado.
- Ta bom. – a menina revirou os olhos.

Chegou à porta do quarto de Marina e disse parecendo


estar apressada.

- Tive um problema.
- Que foi? – Marina falou parecendo sonolenta por
conta do remédio.
- Minha mãe ligou e vou precisar ir para Goiânia hoje
ainda.
- Nossa! E ela falou o motivo?
- Aí que ta, não falou nada. Acho que não quer me
preocupar. Prometo ir e voltar num pulo.
- Tudo bem Renata, espero que não seja nenhum
problema grave. Somente repasse os compromissos
para semana que vem e avise isso aos meninos do
atendimento lá no estúdio.
- Pode deixar. Melhoras viu patroa. – beijou a testa de
Marina e saiu.

Nem se deu ao trabalho de avisar ninguém, pois estaria


no Rio. Marina se viu sozinha e isso a deixou mais
abatida. Pensou em ligar para a mãe, fazia tempo que
não falava com ela, mas se falasse que estava de
repouso era bem capaz dela querer ir para o Rio ou
então ficaria preocupada de longe.

- Não posso bancar a menininha, tenho condições de


me virar sozinha, sempre fiz isso. – falou para si
mesma. Achava inacreditável ter conseguido tudo na
vida, menos ser feliz.

Mesmo bancando a durona sentiu a solidão ali do lado.


Ligou a TV e passou a tarde deitada. Somente a noite
foi que resolveu tomar banho e comer alguma coisa.
Não sentia mais enjôo, mas não tinha fome alguma.
Procurava por algo mais leve na geladeira quando ouviu
a campainha. Pensou em Lívia e no que ela estaria
fazendo, foi abrir a porta desejando que os dias sozinha
passassem rápido.

- Oi. – a morena segurava uma bandeja e tinha o mais


lindo sorriso.

Marina pôs a mão na boca como que encobrindo o


susto e sorriu, mas os olhos estavam cheios de
lágrimas.

- Ei lindinha. – foi entrando, segurou a bandeja em


uma das mãos e com a outra acariciou o rosto de
Marina. – Que foi? Achei que ia brigar de me ver e não
chorar. Tudo bem, eu deixo só a bandeja e volto. É
serviço de quarto e...
- Fica. – Marina correu e a abraçou chorando.

Lívia a apertou forte e alisou seus cabelos.

- Eu vim pra cuidar de você. – fechou a porta e entrou


com Marina. Deixou a bandeja em cima da mesa e a
abraçou de novo. – Não chora bonitinha.
- Estou me sentindo sozinha. – Marina escondia o rosto
entre as mãos. – Renata teve de sair e eu não estou
bem, passei mal.
- Eu sei, ela me ligou hoje cedo perguntando por um
médico de confiança. Depois eu liguei para saber de
você e ela me avisou que ia ter que viajar. Achei
melhor vir aqui ver como você estava. Confesso que
vim morrendo de medo de você me colocar pra fora. –
Lívia se desvencilhou do abraço e a olhou. – Já comeu
alguma coisa?
- Ainda não, estava na cozinha procurando o que
comer.
- Não precisa mais procurar, trouxe umas coisinhas
aqui. – a morena pegou a bandeja levando para a sala.
Tirou o plástico que protegia e pegou um cacho de uva.
– Primeiro uma fruta pra forrar o estomago.

Foi dando uma a uma até Marina comer pelo menos


meio cacho. Depois comeram um pãozinho com patê e
tomaram suco, comeram biscoito e pra terminar um
pedaço de bolo.

- Agora fiquei cheia. – Marina falou encostando-se ao


sofá.
- Eu confesso que estava com fome. Passei em casa só
pra tomar banho e depois fui comprar esse lanche.
- Muito bonita a bandeja.
- Também gostei. – Lívia pegou uma flor que enfeitava
e entregou a Marina. – Ainda vem uma flor de brinde. –
sorriu. – O que está sentindo? O médico passou algum
remédio?
- Ele disse que eu estou com estafa acho que minha
imunidade ficou baixa aí adoeci. Tive febre e vomitei,
mas agora me sinto melhor. Sinto o corpo dolorido
ainda e um pouco de cansaço.
- Passou o enjôo?
- Sim.
- Que bom. Deve estar cansada mesmo, correndo com
a obra do estúdio e ainda com Bernardo no seu pé.
- As coisas que ele me falou doeram mais do que
pensei.
- É um cretino. Esquece o que ele disse. Bernardo não
vale nada, ele é quem tem que se preocupar com a
distância que tem de tomar agora.
- Se você não tivesse chegado acho que ele teria me
tirado a força de lá. Aí sim eu me sentiria pior.
- Eu sempre salvo as donzelas indefesas. – Lívia
brincou.
- Boba. – Marina deu um tapinha na perna dela.
- Já estava para conversar com ele fazia um tempo,
mas fiquei protelando porque queria levar um reforço
de peso. Polícia e imprensa é o que precisávamos para
ele baixar o fogo.
- Essa semana eu terei de repousar, só espero que não
atrase meus compromissos no estúdio. Deixei dois
funcionários cuidando de tudo no atendimento.
- Renata parece ser competente, ela dá conta também.
- Minha vida não anda sem ela por perto. – Marina
admitiu.

As duas conversaram civilizadamente, nem pareciam


ter trocado farpas dias antes. Marina estava um doce e
Lívia não parecia ter aquela pretensão que irritava a
loirinha. Um clarão forte atravessou as vidraças e em
seguida um trovão ensurdecedor.

- É, vai chover hein? – Lívia se levantou. - Bom, acho


que está alimentada e bem. Vou deixar você descansar.
Se precisar de qualquer coisa me ligue, por favor. Não
hesite viu? Eu venho correndo pra você. – falou sem
pensar a última frase.

Deixou Marina lisonjeada com a atenção que estava lhe


dando. Ela se levantou para sair e foi impedida.

- Fica comigo? – Marina pediu como um bichinho


indefeso. – Eu não queria ficar sozinha hoje.

A promotora a olhou com doçura, sabia que havia


rendição naquele pedido. Pensou se ficar não seria
precipitado, mas nem estava ligando para decisões
calculadas. Queria ficar ao lado de Marina, precisava
disso, se sentia bem e não quis saber das
consequências.

- Eu não trouxe roupa de dormir.


- Posso ver se Renata tem alguma coisa que lhe sirva.
Vem, vamos olhar no quarto dela.
- Ela não vai achar ruim de mexermos nas coisas dela?
- Não, Renata é tranquila.

Procuraram por uma roupa e acharam uma calça mais


larga com uma regata que serviram em Lívia.

- Quer assistir um filme? Eu tenho um monte de DVD. –


Marina perguntou. – Menos suspense. – fez bico.
- Ta bom, eu ia sugerir algo no estilo Hitchcock, mas
tudo bem, aceito sugestões. – brincou.

Escolheram uma comédia romântica bem leve e


deitaram para assistir. Lívia ficou sem jeito de deitar na
cama de Marina, não queria parecer abusiva.

- Deita Lívia, minha cama não morde.


- Não sei eu... Onde vou dormir depois?
- Pode ficar no quarto de Renata, é ao lado do meu. Ela
está morando temporariamente aqui, mas já está
procurando um apartamento. Nosso acordo era que se
ela viesse, eu a ajudaria a comprar um imóvel. –
Marina parecia se justificar.
- É bom que serve de companhia pra você.
- Sim, me sinto sozinha às vezes, mesmo estando
cercada de gente. – aquilo foi mais um desabafo.
- Também me sinto só, principalmente nos finais de
semana. Todo mundo tem o que fazer e eu me vejo
sem lugar nessas horas.
- Não tem ido para Mauá?
- Sim, às vezes vou, mas é diferente. – baixou a
cabeça.
- O filme começou. – Marina desviou do assunto.

Recostaram na cabeceira da cama e começaram a


assistir. Não demorou muito para que Marina pendesse
a cabeça para o lado ficando encostada em Lívia. A
morena passou o braço e a abraçou aconchegando seu
corpo com o travesseiro. Viu que ela ressonava
tranquila.

- Dorme como um bebê. – falou baixinho e beijou seus


cabelos. Não viu o filme acabar, porque dormiu
também.

Acordou no meio da noite para ver se Marina estava


com febre, mas não. A loirinha dormia tranquilamente.
Levantou um pouco e foi olhar a chuva lá fora. A vista
do quarto de Marina era muito bonita, se lembrou de
quando ela ficava na varanda de seu apartamento
admirando a paisagem. O barulho do trovão acabou
assustando a loirinha.

- Lívia! – acordou gritando.

A morena correu até a cama.

- Que foi? Estou aqui.

Marina esfregou os olhos e sentou na cama.

- Nem vi o filme terminar. Esse remédio que o médico


passou me dá um sono, dormi que nem senti.
- É pra você descansar mesmo. Está sentindo alguma
coisa?
- Não, só um pouco de moleza. – falou com dengo. –
Ainda está chovendo?
- Muito! Acho que amanhã o Rio de Janeiro fica
embaixo d’água. Se já não está.
- Está sem sono? Você estava parada aí na janela.
- Só levantei para ver se você estava com febre e
depois vim olhar a chuva. Graças a Deus não tem
febre. Deita, você precisa descansar.

Lívia a fez deitar e a cobriu, ficou alisando aqueles


cabelos loiros. Marina quis que ela ficasse no quarto,
mas estava sem jeito de pedir.

- Vou me sentir melhor se dormir aqui comigo. – falou


quase num sussurro.
- Tem certeza? – a voz de Lívia era suave.
- Ahan. – fechou os olhos sentindo o sono chegar.

Então Lívia passou para o outro lado da cama e se


enfiou debaixo da coberta. Puxou o corpo de Marina
abraçando-a por trás fazendo uma conchinha. Sentiu
que a loirinha suspirou como que descansando,
também dormiu logo em seguida.

Na manhã seguinte Lívia acordou e deixou o café


pronto para Marina. Colocou um bilhete na porta do
quarto para que ela visse assim que acordasse. No
papel dizia para seguir as pistas e Marina fez o que
estava escrito e a cada passo que dava encontrava
outro bilhete até que chegou à cozinha e encontrou a
mesa posta. Sorriu ao ver a delicadeza do gesto de
Lívia. Sentou-se para comer e viu outro bilhete.

“Tome seu café e descanse, se quiser venho almoçar


com você. Beijos.”

Marina de repente sentiu o apetite voltar e comeu mais


do que o normal. Depois ligou para Renata para saber o
que tinha acontecido. A secretária deu uma desculpa
dizendo que a mãe estava com dengue.

- Espero que ela melhore então. Dengue não é moleza,


tem que cuidar direito.
- E você? Está se cuidando? To achando sua voz até
melhor. – Renata falou quase num deboche.
- Estou sim, dormi muito bem essa noite. – falou
sorrindo de orelha a orelha e segurando o bilhete de
Lívia nas mãos.
- Muito, mas muito obrigada por me acolher. – Renata
falou na casa de Eduardo.
- Você só não pode sair na rua. Se Marina a encontrar
aqui no Rio não vai entender nada.
- Não é possível que nos encontremos numa cidade
desse tamanho.
- O Rio de Janeiro é um ovo, acredite. Acho que o
mundo é que é pequeno.
- Meu plano vai dar certo, Lívia deve me ligar ou
mandar mensagem para dizer como foi ontem.

Nem bem ela falou e o celular vibrou com uma


mensagem da morena contando da noite.

- Aí ó, ela dormiu lá, mas disse que nada aconteceu só


ficou cuidando de Marina. Eu sou um gênio, essa
doença dela veio a calhar.
- Nossa que coisa macabra. – Eduardo estava
assustado. – Fico de cara com a sua forma de conduzir
as coisas.
- Eu sou prática e quero ver minha chefinha bem.
Marina só trabalha, não fica com ninguém, acho que
não ama outra pessoa além de Lívia.
- Ela nunca mais namorou?
- Não. Teve uns casinhos insignificantes.
- As duas se amam. Eu que convivi com elas durante o
namoro via isso. Lívia meteu os pés pelas mãos e agora
quer consertar.
- Se ela ama Marina de verdade tem o direito de querer
consertar o estrago que fez.
- Ela ficou muito mal depois que tudo acabou, parou de
comer, começou até a fumar. Afastou-se dos amigos.
Depois que botou na cabeça que vai reconquistar
Marina é que está tentando parar. Nem parecia mais a
mesma pessoa, não brincava, não sorria, só muito
raramente.
- O amor deixa as pessoas mais bonitas e felizes, por
isso quero juntar aquelas duas.
- Bom, vou pra faculdade dar minha aula, fique a
vontade.
- Obrigada, vou trabalhar. Mesmo à distância eu quero
deixar as coisas em ordem.
- Distância... Sei. – Eduardo riu.

Marina tomou um banho e esperou um pouco para ligar


para Lívia; não queria parecer ansiosa. Quando decidiu
que já era hora não encontrou a promotora no
escritório. Érica havia avisado que ela tinha saído para
almoçar com uma amiga e que talvez não voltasse de
tarde. Aquilo irritou Marina, desligou o telefone se
sentindo uma idiota.

- Eu toda amistosa e ela almoçando com uma amiga.


Humpf!

A campainha tocou e ela foi abrir, sua cara estava mais


contrariada do que queria.

- Você não me ligou, estou incomodando? – era Lívia


com as mãos cheias de sacolas. – Se não quiser
almoçar comigo tudo bem, eu deixo seu almoço.
- Cadê sua amiga? Já almoçaram? – a voz soou irritada
e Marina se odiou por isso.
- Oi?! Ah sim... minha amiga é você. Disse a Érica que
tinha um compromisso e que talvez não voltasse de
tarde.

Marina ficou sem graça e o silêncio deixou Lívia


entender que não estava sendo bem-vinda.

- Desculpe incomodá-la, passei mesmo para saber se


estava bem e trazer seu almoço. Acho que vai gostar.
- Gostarei mais ainda se almoçar comigo. – Marina
sorriu.
- Sério?
- Entra. – abriu espaço para ela entrar e fechou a
porta. – Eu te liguei para agradecer a gentileza de
manhã e convidar para almoçar. Só não achei que fosse
trazer o almoço.
- Não queria que ficasse na cozinha e trouxe coisas que
você gosta. – colocou as sacolas na mesa e foi
retirando as vasilhas com comida. – Tem salada, ravióli
e risoto de camarão.

Marina olhava aquela comida toda e pensava que Lívia


era sempre exagerada.

- E que horas chega o resto do pessoal? – riu.


- Que pessoal?
- Ué, pra essa comida toda, só pode vir mais gente, ou
acha que daremos conta disso tudo?
- Ah, aí você guarda para o jantar. Assim não precisa
se preocupar em ter que fazer o que comer.
- Vou buscar os pratos.
- Como está se sentindo?
- Bem, nada de enjôo e nem de febre. Olhei minha
temperatura de manhã e estava normal. – respondeu
da cozinha.
- Eu também olhei, você estava dormindo ainda. Que
bom que está melhorando, daqui a pouco está novinha
em folha.

Serviram-se e almoçaram conversando amenidades.


Quando terminaram levaram os pratos para a cozinha e
Lívia ajudou Marina a lavar e enxugá-los.

- Tem um espaço aí para a sobremesa?


- Sobremesa? – Marina se animou.
- Acha que eu ia esquecer? Você adora doce. –
voltaram para a sala e a morena tirou uma torta que
tinha ficado na sacola, era de chocolate com nozes e
outra cheesecake.
- Hum. – os olhos da loirinha brilharam.
- Eu acho que vou querer a cheesecake.
- As duas são suas, não vou comer. – Lívia sorriu.
- Por que não?
- Estou cortando os doces, andei abusando uns tempos
aí e digamos que meu corpo não gostou disso. – riu.

Marina colocou no seu prato e comeu satisfeita.

- Meu Deus! Isso com certeza é dos deuses.

Lívia achava graça e lembrava-se de quando Marina


comia doces. Parecia uma criança com um pirulito nas
mãos. Não havia mudado seu jeito simples.

- Não quer nem um pedacinho? Não vai lhe fazer mal. –


Marina estava com a colher já direcionada para Lívia. –
Só um pouquinho? – esticou o braço.

Lívia acabou aceitando e dado na boca é que ela não ia


recusar mesmo. Passaram a tarde conversando e sem
perceber contaram suas vidas nos anos que passaram.

- Então você conheceu Morten Harket? Eu sou


apaixonada por ele! – Lívia falou.
- Sim. Quando estive na Noruega. Isso tem quase um
ano. Ele é lindão! - sorriu. – Tenho fotos com ele e o
restante da banda.

Marina mostrou as fotos e também outras com artistas


do Brasil e exterior. Lívia se sentiu orgulhosa dela,
sabia que Marina tinha a vida que sonhara.

- Eu dizia que você ia viajar o mundo todo e estava


certa, olha aí.
Marina sorriu sem graça e Lívia mudou de assunto.

- Eu pouco viajei, mais a trabalho. Fiz apenas uma


viagem a Nova York num congresso sobre união
homoafetiva.
- Agora está aprovado.
- Sim, foi um avanço, apesar de achar que não é isso
que muda a situação do homossexual no Brasil. Como
diz minha mãe: o buraco é mais embaixo. Para que
sejamos aceitos é preciso ter educação e isso ainda não
é unanimidade nesse país.
- Quando esteve lá?
- Meados do ano passado.
- Olha! Eu estava lá em julho. Na verdade fui à Flórida
levar Luisa à Disney e depois passei uma semana em
Nova York. Comprei equipamentos para o estúdio em
São Paulo.
- Então levou Luisa à Disney? – Lívia deu um sorriso
meio de lado. - Quem se divertiu mais? – brincou.
- Ah, confesso que adorei o lugar. – a loirinha falou
timidamente. – Luisa se divertiu muito também ta. –
justificou.
- Claro, ela que teve a idéia de ir.
- E foi mesmo! Ela viu na TV e perguntou onde era.

Lívia sorria divertida com as justificações de Marina.

- Para de me zoar. – deu um tapinha na perna da


morena.

Conversaram durante tanto tempo que nem viram a


noite chegar.

- Acho que tomei muito seu tempo, você passou a


tarde aqui. – Marina olhou no relógio.
- O tempo passa rápido demais quando estou com
você. E na verdade eu queria ficar mesmo. – olhou em
seus olhos. – Pra saber se está melhorando e porque
gosto de ficar ao seu lado. – baixou a cabeça.

Marina não sabia o que dizer. O que queria era correr


para os braços dela, mas seu orgulho não deixava. Não
queria quebrar aquele momento, sentia que estava
perdendo a guerra entre amor e ódio.

- Quer conhecer o estúdio aqui de casa?


- Vamos lá.

Marina a puxou pela mão e a levou até o pequeno


estúdio que tinha montado.

- É menor, só pra que eu possa tocar sem incomodar os


vizinhos e também gravar alguma coisa quando
preciso.

O lugar era todo branco e cinza, num estilo moderno.


Havia alguns quadros na parede com fotos de Marina e
vários músicos conhecidos, além de Felipe e amigos de
São Paulo. Tinha um piano de cauda, um violão,
guitarra e alguns instrumentos de percussão, além de
um teclado que parecia ser de última geração. Na
pequena cabine havia uma mesa de som digital e
microfones espalhados.

- Muito bonito e você toca todos esses instrumentos?


Violão já vi que sim, lá no outro estúdio.
- Também toco sax, percussão às vezes, arrisco na
flauta, mas me identifico mesmo é com o piano. Esse
eu comprei por intermédio de um amigo, músico
também, fez sucesso com uma música na novela.
- Que música? – a pergunta foi proposital.

Marina abriu o piano e começou a tocar.

- Chama-se talking to the moon.


“I know you're somewhere out there
Somewhere far away
I want you back
I want you back
My neighbors think
I'm crazy
But they don't understand
You're all I have
You're all I have

Tocava com os olhos fechados sentindo ser


transportada para outro mundo.

At night when the stars


Light up my room
I sit by myself
Talking to the moon
Try to get to you
In hopes you're on
The other side
Talking to me too
Or am I a fool
Who sits alone
Talking to the moon
I'm feeling like I'm famous
The talk of the town
They say
I've gone mad
Yeah, I've gone mad
But they don't know
What I know

Lívia estava fascinada, debruçou no piano e nem piscou


os olhos como se não quisesse perder um segundo
daquele momento. Sentiu-se voltando no tempo; seu
coração se encheu de esperança e amor novamente.
Cause when the
Sun goes down
Someone's talking back
Yeah, they're talking back
At night when the stars
Light up my room
I sit by myself
Talking to the moon
Try to get to you
In hopes you're on
The other side
Talking to me too
Or am I a fool
Who sits alone
Talking to the moon
Do you ever hear me calling?
Cause every night
I'm talking to the moon
Still trying to get to you
In hopes you're on
The other side
Talking to me too
Or am I a fool
Who sits alone
Talking to the moon
I know you're somewhere out there
Somewhere far away”

Quando Marina terminou seus olhos se encontraram.

- É essa... – Marina falou sem deixar de olhar para ela.


– Deve conhecer...
- Sim, já a escutei muito... – Lívia foi se aproximando
dela. – É linda.
- Eu adoro essa música...
- Não é só a música. – Lívia se aproximou mais se
sentando ao lado de Marina; não conseguia mais
segurar a vontade que tinha de beijá-la, mas se
conteve e ficou esperando bem próxima ao rosto dela.
- Me dá um beijo? – a loirinha pediu quase num
sussurro.

Lívia sorriu como se escutasse a voz de um anjo.


Marina colocou as duas mãos em seu rosto e viu as
lágrimas saírem de seus olhos; as enxugou com o
polegar, depois beijou as bochechas e aqueles olhos
azuis que nunca esquecera. Lívia sorriu diante do
momento esperado, suas bocas se aproximaram
lentamente até que os lábios encontraram um ao outro,
reconhecendo o toque que há muito sentiam falta. Foi
um beijo delicado, carinhoso, cheio de ternura. Lívia
passou a mão atrás da nuca de Marina e a aproximou
mais. Suas línguas se acariciaram saciando e matando
a saudade. A loirinha se entregou por completo,
abandonou seu corpo como sempre fazia. Somente a
falta de ar separou suas bocas. O medo que Lívia sentiu
achando que Marina iria repudiá-la depois era tanto que
não teve coragem de dizer nada. Quando abriu os olhos
e viu os de Marina se fixou neles esperando uma reação
dela. Então Marina encostou sua testa na dela e sorriu.

- Ontem eu me perguntei por que tinha conseguido


tudo que queria na vida, mas o que dava mais valor
estava longe de alcançar.
- E o que era? – Lívia tirou alguns fios de cabelo que
caíam no rosto de Marina.
- Felicidade, ela sempre me escapa. Por mais que eu
tente senti-la através de outras coisas, acho que ela só
está em um lugar.
- Aonde? – Lívia falou num sussurro.
- No amor...

Lívia sorriu com ela.

- Eu a amo, nunca deixei de amar. Rezei todos os dias


para que me perdoasse e voltasse a me amar.
- Nunca deixei de amá-la.
- Me perdoa por todo mal que lhe causei e lhe fiz
passar. Não era para ter ficado sozinha, não era para
você sofrer. Eu lhe prometo que de hoje em diante farei
da sua vida a mais feliz; prometo me dedicar a você
sempre e serei completamente sua. – beijou-lhe os
lábios, mas agora com paixão, com ímpeto, quis
mostrar que falava a verdade.

Os beijos se tornaram mais ardentes, mas Lívia não


queria agir no impulso, queria muito Marina, mas tinha
que ser no momento certo, não gostaria de ouvir a
palavra arrependimento depois. Pararam por instantes
para se recomporem, Marina já estava quase no colo de
Lívia. Por um momento sorriu lembrando-se de algo.

- Você me disse que o próximo beijo que me daria,


seria porque eu iria pedir...
- Esperar por esse pedido foi um martírio. – sorriu.
- Quer dormir aqui comigo?

Lívia quase não acreditou no que ouviu.

- Tem certeza, se eu dormir aqui vamos...


- Eu quero que durma comigo.
- Não trouxe roupa de novo. – sorriu.
- Bom, tem as de Renata, a de ontem não ficou ruim,
ainda está lá no meu quarto.

Lívia se levantou da cadeira e sem que Marina


esperasse a pegou no colo, como fazia antigamente.

- Que é isso?
- Eu sei que você gosta.

Marina sorriu. Dali foram para o quarto.


- Preciso tomar banho. – falaram ao mesmo tempo.
- Pode ir, depois eu vou.

Lívia achou melhor não ir junto. Quando Marina saiu do


banho ela entrou e tomou o seu. Vestidas e deitadas na
cama a loirinha reclamou de fome.

- Temos o restante do almoço. – Lívia falou.


- Eu queria uma coisa mais calórica. – Marina riu que
nem criança.
- Tipo o que?
- Uma pizza ou um hambúrguer.
- Não acha que pra quem estava com enjôo e
vomitando isso seria muito pesado há essa hora?
- É tem razão. – falou murchando.
- Conheço um restaurante que entrega comida em casa
e eles fazem sanduíche também.
- Então liga, que até chegar eu morrerei de fome.
- Nossa senhora, ta varada desse jeito? – Lívia brincou
e recebeu uma almofadada nas costas.

Pediu dois sanduíches e voltou pra cama. Estava se


sentindo meio perdida, não sabia se avançava o sinal
ou se ficava na sua esperando por Marina. No fundo se
sentia ridícula em estar assim em cima do muro; nunca
agira desse jeito.

- Que foi? – Marina a olhou.


- Nada, estou pensando aqui.
- Em quê?

Lívia ficou olhando para ela como se quisesse que ela


adivinhasse o que pensava. Beijou-lhe os lábios com
delicadeza e se aproximou devagar. Teve uma
sensação estranha, como se aquilo não fosse durar por
muito tempo.

- Você vai me perdoar um dia? – falou entre beijos.


- Lívia... – Marina parou de beijá-la. – Deixe que as
coisas aconteçam naturalmente. Não estamos aqui,
juntas?
Vamos devagar e deixar que o tempo acerte o resto.

A morena sorriu e voltou a beijá-la, sentia seu corpo se


acender, notou que Marina também a queria. Estavam
num amasso gostoso e perdidas em carícias quando o
telefone de Lívia tocou, assustando Marina. Era o rapaz
querendo entregar o sanduíche.

- Ah moleque, isso é hora de ligar? – resmungou.


- É sim, eu to com fome.

Lívia olhou para Marina, seus olhos denunciaram que


sua fome era outra, mas não disse nada. Abriu a porta
para o rapaz e pegou os sanduíches.

- Quanto foi? – Marina perguntou quando ela chegou no


quarto.
- Já paguei, não se preocupe.
- Não precisava, eu que quis o sanduíche.
- Mas eu também vou comer.
- Então quanto foi o meu pelo menos?
- Marina, para com isso.
- Pare você! Gosto de pagar minhas contas, diga
quanto é. – falou decidida.

Lívia pegou a notinha e entregou a ela, que pegou o


dinheiro na bolsa e lhe deu. Não queria que Lívia
pensasse que continuaria pagando as coisas para ela.
Comeram num certo silêncio que só a TV ajudou a
disfarçar.

- Desculpa, acho que é o costume. – Lívia falou. – Não


só quando pagava antes, mas até hoje e não pense que
eu ando pagando conta de outras mulheres. É que
normalmente quando saio com amigos, os poucos que
tenho ainda, eu que pago, quando saio com mamãe
também.
- Tem que parar com essa mania, assim está
acostumando mal as pessoas. – Marina se virou para
ela, ficando de pernas cruzadas e de frente. – Sempre
notei que Fabrício, quando saíamos juntos se fazia de
bobo na hora de pagar a conta. E você prontamente
pagava como se quisesse impressionar, mas ao
contrário disso só criou um mau costume por parte
deles. Pela sua mãe não, acho que tem mais é que
pagar mesmo. – riu e mexeu nos cabelos dela. – Agora
os outros e principalmente os amigos mais próximos
têm que aprender a dividir a conta com você.
- É difícil mudar depois de muito tempo.
- Vai ser mais difícil pra eles com certeza. Aí você vai
ver quem são seus amigos de verdade. Tem que
aprender a se dar valor, eles têm que gostar de você
pelo que é e não pelo comodismo que dá a eles.

Lívia abaixou a cabeça fazendo um bico.

- Own, biquinho bonitinho. – beijou-lhe os lábios.

A morena aproveitou a posição de Marina para puxá-la


para seu colo, fazendo com que enlaçasse as pernas
em sua cintura.

- Eu adorei seu cabelo. – falou sorrindo. – Achei


moderno e lhe deu um ar sensual.
- É? – Marina mexeu no cordão de Lívia, ainda era o
mesmo que usava antigamente. – Cortei quando fui
para São Paulo.
- Quando foi?
- Depois que me formei continuei trabalhando com
Felipe, pouco tempo depois ele me ofereceu sociedade,
só que eu não tinha grana pra entrar como sócia. Então
fizemos um acordo: eu entrei com meu trabalho e fui
pra São Paulo ficar no estúdio que ele tinha lá. Era
menor que o daqui na época, depois se tornou maior, aí
ele desfez o que tinha aqui.
- E agora voltou com o estúdio pra cá. – Lívia riu.
- Sim, porque na verdade estávamos levando músicos
daqui para gravar lá e isso era dispendioso. Tendo um
estúdio aqui o custo é mais baixo para a gravação, sem
contar os contratos que fechamos para a criação de
campanhas publicitárias. Cheguei em São Paulo
perdidinha, mas estava confiante.
- Eu a acompanhava sempre; buscava na internet e
quando digitava seu nome apareciam várias coisas,
trabalhos, parcerias, ficava orgulhosa.
- Estava me vigiando? – Marina sorriu com malícia.
- É, digamos que sim. – Lívia a beijou. – Estou
brincando, acompanhava porque queria saber sobre
você, se estava bem. Perguntava a Eduardo também.
- Sempre mantive contato com Dudu, mesmo distante
nos falávamos pela internet, só com ele também.
- Monica pelo visto sumiu. – Lívia ficou séria.
- É, Monica teve muitos problemas. Engravidou, teve de
parar a faculdade, atrasou muita coisa na vida dela.
Filho é uma responsabilidade muito grande e ela só viu
isso depois que Paulo nasceu.
- Como ela ta hoje?
- Fazendo casamentos, festas particulares,
praticamente o que já fazia antes. Fica difícil seguir
uma carreira com um filho pequeno. Hugo pelo visto
saiu da área musical; estiveram na minha casa em São
Paulo, ela me ligou para pedir pra ficar lá. Confesso que
não me senti bem ao vê-la, me fez lembrar que quando
precisei, ela virou as costas. Ta certo que ela também
passava por uma fase complicada, mas não justifica.
- Fiquei muito triste com o que ela fez e que cara de
pau pedir pra ficar na sua casa quando ela mesma lhe
negou moradia antes.
- Não negou moradia Lívia, apenas nos separamos e só.
- E pra onde você foi?
Marina percebeu que estava pisando em terreno difícil.

- Bom... – olhou para os lados. – Primeiro eu fui morar


numa quitinete, acabei não dando conta de bancar,
porque a banda acabou, a vaga na orquestra tive que
largar, pois o pianista principal havia voltado. Daí fui
pra casa de... – colocou os cabelos de Lívia atrás da
orelha dela e beijou a ponta de seu nariz. - ...Fui pra
casa de Vera.
- Ah é? – Lívia não quis demonstrar irritação.
- É. Ela me convidou e não vi alternativa, não tinha
mais ninguém aqui. – Marina sentia que as mãos de
Lívia seguravam firme sua cintura. – Mas fiquei pouco
tempo lá, ela que me apresentou Felipe e um tempo
depois de começar a trabalhar com ele eu fui me
ajeitando. Depois montei meu apartamento aqui, mas
logo fui pra São Paulo, foi tudo meio rápido.
- Hum.

Marina achou melhor não contar sobre o breve


relacionamento com Vera, se tivesse que fazer isso
seria em outro momento.

- Você teve algum relacionamento durante esse tempo?


– Lívia perguntou.
- Por que quer saber?
- Curiosidade...
- Tive poucos relacionamentos, nenhum namoro pra ser
mais específica. Me envolvia, depois percebia que não
era a pessoa certa e logo acabava com tudo. Satisfeita?

Lívia levantou uma sobrancelha em sinal de


desconfiança.

- Nada mais profundo?


- Não.
- Nem um lance mais envolvente?
- Não. – Marina segurava o riso.
- Então não chegou a fazer aniversário de namoro.
- Não.
- Nem...
- Não. – sorriu.
- Ahh... – enfezou. – Melhor parar de perguntar. – pôs
a mão na testa de Marina para ver se estava com febre.
– Acho que a febre sumiu de vez, graças a Deus. Está
sentindo alguma coisa?
- Estou... – Marina despistou.
- O que? – Lívia perguntou preocupada.
- Estou morrendo de vontade de lhe dar um beijo e
você aí me fazendo perguntas descabidas.

A morena sorriu sem jeito e depois puxou Marina pela


nuca a beijando. O beijo ficou mais ardente, sentiu que
Marina a provocava esfregando seu corpo no dela e
ficou difícil resistir.

- Você está me provocando... – Lívia falou entre um


beijo e outro.

Marina continuou se esfregando e beijando Lívia de


forma sensual; queria atiçar seus instintos. Sentia sua
respiração acelerar e as mãos percorrerem seu corpo
lhe causando arrepios. Lívia estava em seu limite, mas
não queria fazer nada precipitado e queria que fosse
especial. Parou de repente segurando Marina pelos
ombros.

- Calma aí mocinha. – parou para pensar no que


falaria. – Meu anjo, eu queria que a nossa... que a
gente... bom, queria que fosse especial.
- E não vai ser? – Marina falou calmamente.
- Aqui na cama seria legal?
- Lívia, se não for na cama, será aonde?! – riu - Está
pensando em algum lugar diferente?
- Não, só queria que você gostasse. – baixou o olhar.
- É claro que vou. Por que pensa o contrário ou está em
dúvida? É você que está aqui, não tenho dúvida de que
vou gostar. – falou acariciando o rosto da morena.

Sentiu que Lívia ainda estava receosa, então pegou a


mão dela e colocou dentro de seu short.

- Tanto estou gostando que to molhada. – falou em seu


ouvido.

Lívia gemeu abafado sentindo o sexo de Marina em


seus dedos.

- Vou gostar mais ainda se você me beijar.

Suas bocas se uniram e daí em diante Lívia não se


preocupou mais. Deitou Marina na cama e possuiu
aquele corpo que há anos desejava. Tirou sua roupa
devagar, beijando cada pedacinho, aspirava seu
perfume e depois mordia. Seu corpo estava mudado,
mais musculoso, mas sem perder a feminilidade; a
barriga estava definida e as pernas mais torneadas.
Ficou fascinada com o que viu. Sentia suas mãos em
seus cabelos, acariciando de maneira delicada, e não
teve pressa em seus gestos. Retirou o short e depois a
calcinha, riu da frase que estava escrita nela “área vip”.
Quando descobriu seu sexo os pêlos estavam
cuidadosamente aparados, passou a língua em sua
virilha e ouviu um gemido; depois levou a língua até o
clitóris e lambeu até ouvir os gritos de prazer que lhe
assanharam mais ainda. Lívia sentiu seu sexo latejar,
abriu as pernas de Marina e se posicionou entre elas
com seus sexos em contato. Começou a se esfregar
sentindo a loirinha rebolar, ela sorria de uma forma
provocante ao mesmo tempo em que mordia seu
queixo.

- Eu amo você. – Lívia olhava em seus olhos.


Marina abriu mais as pernas e rebolou mais rápido, não
demoraram a gozar. A TV estava ligada e passava um
show, tocava uma música da Vanessa da Matta e as
duas se sentiram levadas pela melodia.

“Fique mais, que eu gostei de ter você. Não vou mais


querer ninguém, agora que sei quem me faz bem...”

- Sonhei tanto com esse dia que agora custo a acreditar


que estou aqui. – Lívia falou.
- Se eu te beliscar você vai acreditar? – Marina brincou.
- Não teria uma maneira mais romântica?

Marina então a beijou com doçura, mas depois quis


esquentar o clima de novo. Procurou o sexo de Lívia e
colocou sua mão no clitóris, sentiu que encharcou
rapidamente.

- Eu fiz isso daqui? – perguntou ingenuamente e sem


parar com os dedos.
- Ahan... ahh...

Lívia posicionou os joelhos sobre a cama e abriu mais


as pernas. Marina escorregou os dedos para dentro de
sua vagina e a penetrou mantendo o polegar no clitóris.
Sentiu os músculos contraírem aos seus toques e
quando Lívia gozou diminuiu os movimentos aos
poucos, fazendo-a gozar mais uma vez.

- Gostosa. – falou em seu ouvido.

A morena ficou parada respirando


descompassadamente. Deixou seu corpo cair ao lado do
de Marina e repousou a cabeça em seu peito. Sentiu
que ela estava diferente, mais decidida, parecia mais
confiante. Não quis pensar muito, só queria curtir a
loirinha novamente.
- Estou fora de forma. – falou cansada.

Marina se apoiou no cotovelo e ficou olhando para ela


com um sorriso bobo no rosto.

- Preciso voltar a malhar e claro largar aquele bendito.


- Bendito? – Marina perguntou.
- O cigarro.

A loirinha arregalou os olhos.

- Você está fumando Lívia?


- Não! Quero dizer estou... bom... na verdade...
estava... agora menos do que antes.
- Como pode isso? Quando? Por quê?
- Muitas perguntas, calma... Depois que terminamos eu
comecei a fumar, achei que seria uma fase, mas não
foi, toda vez que ficava triste ou chateada eu fumava e
com isso me viciei, mas estou parando.

Marina sentou na cama e a olhou.

- Eu não quero vê-la fumando. – falou seriamente. –


Acho o cúmulo você, que sempre foi adepta do esporte
e da boa saúde, ter começado a fumar. Poderia ter feito
qualquer coisa, até engordado, mas fumar não.

Lívia a olhava morrendo de vergonha. Chegou a abaixar


a cabeça, mas vez ou outra a olhava, desconcertada.

- Não admito que fume perto de mim, portanto vai


parar nem que seja forçada. Há quanto tempo não
encosta num cigarro?
- Desde manhã; depois vim almoçar com você e fiquei
aqui direto. – falou cabisbaixa.
- Então foi a última vez que viu um cigarro na sua
frente. Não vai mais fumar, está me ouvindo? – falou
com autoritarismo.
- Ta bom amor. – Lívia falou quase num sussurro.

Marina ponderou e viu que estava exigindo demais,


afinal cada um sabe dos seus motivos para fazer ou
não alguma coisa. Segurou o rosto da morena e viu que
seus olhos estavam cheios de lágrimas.

- Não chora, me desculpe. Acho que não tenho o direito


de exigir isso de você.
- Você está certa Marina, não devia ter começado a
fumar. Depois ficou difícil parar, mas eu juro que estou
tentando. Mamãe também tem me ajudado.
- Também vou te ajudar viu? – beijou-lhe os lábios. –
Vai largar esse vicio horroroso.
- Obrigada. – falou ainda se sentindo sem graça.
- Quer fazer um trato comigo? – Marina tentou animá-
la. – Sou boa fazendo isso. – subiu para sentar no colo
de Lívia. – Toda vez que sentir vontade de fumar, eu
faço alguma coisa para a vontade passar. – falou
insinuante.
- Qualquer coisa? – Lívia percorreu a lateral do corpo
dela com as mãos.
- Ahan. – mordeu o queixo da morena. – É só me falar.
– beijou a ponta do nariz. – Que eu dou um jeitinho. –
mais beijo. – Nessa vontade aí. – outro beijo.
- Acho que to com vontade agora.
- Ah é? Safada, não vai me enganar viu. – Marina
começou a empurrá-la para deitar na cama.
- Juro que não. – Lívia fez sinal com os dedos.
- Então vamos dar um jeito nisso.

Marina arranhou a barriga dela recomeçando as


carícias. Fizeram amor de novo.

Quando o sol clareou o quarto, Marina acordou e foi até


a cozinha. Deixou bilhetinhos que nem Lívia fez no dia
anterior, só que dessa vez ela estaria esperando na
cozinha. Colocou uma camisa branca que tinha, com
botões na frente, era meio masculina, mas gostava de
usá-la, se sentia confortável. Preparou o café da manhã
e ficou esperando pela morena. Não demorou para que
Lívia também acordasse com a claridade, procurou por
Marina na cama, como não a encontrou se levantou.
Saiu do banheiro e viu o bilhete na porta. Chegou a
pensar que ela poderia ter saído e desceu um pouco
desanimada; quando entrou na cozinha a encontrou
sentada na mesa, esperando.

- Bom dia. – tinha um sorriso encantador.


- Bom dia. – a morena se aproximou beijando seus
lábios. – Está me esperando faz tempo?
- Umas duas horas. – brincou. – Não, acordei mais
cedo, mas terminei agora de arrumar a mesa. Fome?
- Muita!
- Então senta que eu vou servi-la.

Tomaram café e conversaram, depois Lívia ligou para o


escritório e disse que não trabalharia o resto da
semana.

- Está faltando ao trabalho por mim?


- Claro, vou cuidar de você por esses dias até Renata
chegar.
- Eu quero, não sou paparicada assim faz muito tempo.
- Preciso pegar algumas roupas em casa, não posso
ficar usando a mesma calcinha e a roupa de Renata
esses dias todos.
- Pra que calcinha? – Marina riu.
- Ah não precisa?
- Não. Eu por exemplo estou sem.

Lívia olhou com cobiça para as pernas de Marina, mas


ela se levantou e foi colocar as xícaras na pia.

- Está mesmo sem calcinha? – chegou por trás


colocando a mão por baixo da blusa e sentindo a pele
macia. – E não é que está? – beijou o pescoço dela e
mordeu o lóbulo da orelha. – Delícia, agora você me
assanhou.
- Sossega então. – Marina se virou. – Porque eu vou
malhar ainda e aí você aproveita para pegar suas
roupas.
- Malhar? Você ficou doida? Está se recuperando ainda
meu anjo.
- O médico falou para descansar do trabalho e eu já me
sinto bem, não gosto de ficar parada. Combinamos
assim, eu faço exercício só até você voltar.
- Por que não vem comigo?
- Não quero entrar no seu apartamento. – falou sério.

Lívia se assustou com a declaração repentina, mas


entendeu o motivo.

- Tudo bem. Estou indo então.

Marina foi malhar e Lívia saiu para buscar algumas


roupas. No caminho foi pensando em como faria já que
Marina não queria ir mais à sua casa. Depois
conversaria com ela sobre o assunto e teriam de
resolver de alguma forma. Na volta passou numa
floricultura e também numa loja de doces. De volta ao
apartamento abriu a porta com a chave que Marina
havia lhe dado. A encontrou no andar de cima onde
tinha montado a pequena academia. Ainda fazia
esteira.

- Voltei.

Marina fez sinal para que ela se aproximasse e a beijou


rapidamente; estava suada e cansada. Lívia teve
muitos pensamentos safados vendo-a naquela roupa de
ginástica. O top deixava a barriga à mostra e seus
olhos não saíam dali. Marina diminuiu o ritmo e desceu
da esteira com uma toalha nas mãos enxugando o
rosto.

- Fazer esteira me deixa revigorada.


- Agora banho e descansar um pouco.
- Estou me sentindo bem, preciso só do banho.
- Então vai, vou fazer umas ligações para Érica e pedir
que ela pegue uns processos pra mim.

Desceram e enquanto Lívia falava ao telefone Marina foi


à cozinha beber água, aí que viu as flores e uma torta
doce; seus olhos brilharam.

- Depois não quer que eu malhe, comendo tanto doce


vou engordar. – falou abraçando-a.
- Sim Érica, deixe-os na minha mesa e diga a Fabrício
para atender o Sr. Augusto, ele deve passar aí amanhã
pela manhã. – desligou. – O que disse? – se virou para
Marina.
- Que você vai me engordar com tanto doce.
- É pra comer aos poucos. – beijou a testa dela.
- Sei que está limpinha e cheirosa, mas não quer vir
tomar um banho comigo?

Lívia nem pensou duas vezes e o banho foi regado a


gemidos e carícias.

Marina não teve mais notícias de Renata. Ligou para o


estúdio na sexta de manhã assim que acordou e falou
com os atendentes. Os dois disseram que Renata havia
entrado em contato e resolvido algumas pendências,
uma delas remarcando as reuniões de Marina para a
semana seguinte.

- Estranho! Renata está ausente, mas continua


resolvendo minhas coisas. Coitada ela nem me ligou
mais.
- Vai ver o problema não é tão grave.
- Ela não falou mais nada também. A mãe deve ter
melhorado

Lívia preferiu ficar quieta, senão poderia falar demais.


Olhou para Marina mexendo no telefone e só então
percebeu que ela usava uma blusinha justa e um short
bem parecido com uma cueca.

- Que foi? – a loirinha perguntou percebendo o olhar


dela.
- Estou te observando. – sorriu. – Isso seria uma
cueca?
- Sim, é da Pucca. – virou de costas para ela ver o
desenho.
- Nossa que maduro isso, calcinha da Pucca. –
debochou.
- Pode ser infantil, mas é sexy. Se não acha tem quem
ache. – falou com desdém enquanto mexia no celular.

A resposta pegou Lívia de surpresa, não gostava


quando Marina falava assim.

- Não disse que não gostei, disse que... ah deixa pra lá.

Notando que a morena havia ficado sem jeito, Marina


se aproximou.

- Desculpe, não quis ser grosseira. – sentou de frente a


ela. – Achei que estava me criticando ou me zoando.
- Às vezes você fala com tanta empáfia que me
desconcerta. Não me acostumei com esse seu jeito
ainda.
- Não quis ser mal educada.
- A questão não é essa, é o jeito de falar, você mudou
e isso é fato. Eu é que tenho que me acostumar com
isso.
O assunto foi encerrado para não dar margens a
discussões.

À noite Lívia manifestou a vontade de sair para jantar.


Aproveitou que Marina saiu do banho e ainda não tinha
se vestido para perguntar.

- Quer sair pra jantar? Não precisa ser longe, pode ser
aqui pertinho.
- Ta bom, vou me trocar.

Mudaram de roupa e foram. Ao chegarem na garagem


Lívia perguntou se iriam no carro dela ou no de Marina,
coincidentemente os dois estavam parados um ao lado
do outro e o modelo do novo veículo da promotora era
tipo caminhonete, mais alto e robusto, já o de Marina
era menor e compacto.

- Parecem nossos carros mesmo. – fez um comentário


em relação ao tamanho dos carros.
- Está me chamando de baixinha? – Marina pareceu
invocada.
- Não, estou te chamando de compacta.
- Saiba que ele é pequeno, mas é rápido,
aconchegante, econômico e muito seguro.
- É exatamente o que procuro em você. – Lívia
gargalhou.
- Humpf. O seu é grande, toma muito espaço, não deve
ser nada econômico e sabe-se lá se é seguro e
confiável. – depois que falou é que pensou no que disse
e se arrependeu. Sentiu que Lívia mais uma vez ficou
aborrecida. – Perdoe, a comparação foi péssima, mas
você realmente é exagerada. – quis aliviar.
- Sabe por que comprei esse carro? – a voz soou
chateada.
- Não.
- Porque eu procurava um carro confortável e seguro,
pensando em uma família.

Marina não soube o que dizer.

- Vamos no seu então, já que ele é seguro e


aconchegante. – Lívia falou já se dirigindo ao lado do
carona e esperando que Marina abrisse a porta.

Marina ficou se sentindo mal com o comentário, mas


não falou nada e deixou que passasse. Procuraram um
restaurante e optaram por um em que a especialidade
fosse frutos do mar.

- Esse lugar eu não conheço. –Marina falou olhando


para o lugar.
- É relativamente novo. Já vim aqui outras vezes
porque o linguado na brasa deles é indiscutivelmente o
melhor que já comi.

O garçom se aproximou e elas fizeram o pedido.


Enquanto o jantar não chegava pediram um coquetel
de frutas para beber. Marina estava distraída
conversando quando alguém a tocou no ombro.

- Marina! Que bom que a vi aqui! – era uma cantora


que Lívia reconheceu ao vê-la.
- Oi, quanto tempo! – Marina se levantou para abraçá-
la.
- Agora está no Rio, não? Felipe me contou.
- Sim, me mudei faz alguns meses e o estúdio ficou
pronto há poucos dias.
- Preciso me encontrar com você, estou com uma
proposta de um cd acústico, ao vivo. Quero você na
produção dele. Vou regravar canções antigas e quero
arranjos novos.
- Fico feliz que tenha se lembrado de mim. – sorriu.
- E como não me lembrar de você mulher? – a cantora
falou entusiasmada.
- Combinamos na semana que vem de nos
encontrarmos. Você me mostra o que tem em mente e
a gente faz os arranjos.
- Ótimo, eu te ligo. Qual o telefone do estúdio?

Marina deu o telefone e pediu que ela falasse também


com Renata. Despediram-se e a loirinha voltou a
sentar. Em seguida o jantar foi servido e comeram em
silêncio.

- Não vai me dizer por que está quieta? – Marina


perguntou.
- Você também está.
- Está assim por conta de Luciana? – referiu-se a
cantora.

Lívia parou de comer, colocou os cotovelos em cima da


mesa apoiando as mãos no queixo e olhou para Marina.

- Sim, estou com ciúme.

A loirinha riu.

- Se não quiser levar a sério tudo bem. – Lívia falou.


- É engraçado isso. Durante um tempo eu via mulheres
se aproximarem de você e simplesmente dar em cima
na maior cara de pau. Eu tinha que confiar em você,
fingir que nada acontecia e entender tudo. Agora
parece que as coisas se inverteram.

Lívia olhou para ela e reconheceu que estava certa.


Muitas vezes ficou na saia justa por conta de suas ex
ficantes e Marina sempre se comportava
educadamente. Era hora dela demonstrar que confiava
na loirinha.

- Está certa. – falou calmamente.


- Como é?! – Marina não acreditou no que ouviu.
- Disse que está certa.
- Lívia.

A morena a olhou esperando que ela falasse.

- Nada, vamos comer e ir embora.

Terminaram de jantar e voltaram para o apartamento


de Marina. Mal entraram e ela pulou no colo de Lívia.

- Não tenha ciúme, me desculpe pelas grosserias e eu


quero muito você.

Lívia sorriu e a levou para o quarto, fizeram amor noite


afora.

O final de semana as duas passaram em casa


conversando e namorando. Lívia não queria que a
semana começasse de novo, nem parou para pensar
em como seria dali em diante. E Marina se sentia
pronta para uma nova vida no Rio, mas o
relacionamento seria uma válvula de escape, por hora
não era prioridade. No domingo à noite a morena
resolveu perguntar em como seria dali pra frente.

- Vai trabalhar amanhã?


- Sim, quero ver como ficaram as coisas no estúdio
essa semana que não fui. E já começar a desenrolar os
contratos assinados. Amanhã vou saber de Renata,
confesso que não procurei por ela esses dias porque
bem, gostei da enfermeira que apareceu pra cuidar de
mim. – sorriu.
- Eu fiz o meu melhor. – beijou seus lábios. – Fiquei
muito preocupada com você, se não tivesse me
aceitado aqui eu teria ficado louca querendo saber da
sua saúde.
- Adorei tudo que fez por mim e todos os mimos, fez
bem ao meu corpo e alma.
- Sempre disse que vê-la feliz era me ver feliz.
Continuo pensando assim. – a olhou nos olhos.

Marina não queria mais ouvir aquelas declarações, pelo


menos não até confiar totalmente em Lívia. Então não
respondeu e mudou de assunto para que a morena não
ficasse chateada.

Na segunda de manhã Marina foi para o estúdio e Lívia


para seu escritório. Combinaram de almoçar juntas.
Tanto uma quanto a outra estava com um sorriso
estampado no rosto. Marina se reuniu com os dois
técnicos e Diogo para gravarem um jingle para uma
campanha publicitária e ali ficaram até perder a hora.
Quando viu já passava da uma e não teria mais tempo
para almoçar. Ligou para Lívia tentando se justificar.

- Desculpa, não vi a hora e acabei me enrolando aqui.


Acho que vou comer qualquer coisa por aqui mesmo e
à noite nos vemos, tudo bem?
- Não dá pra gente se ver nem um minutinho?
- Acho que não, estou bem enrolada, não trabalhei
semana passada e ainda acho que vou levar trabalho
pra casa.
- Tudo bem, então veja se não vai comer porcarias,
almoce direito viu. Nos vemos à noite?
- Só se você passar lá em casa.
- Eu passo,

Lívia ficou chateada, mas relevou afinal Marina ainda


estava ajeitando as coisas no trabalho. Desceu pra
almoçar e voltou para sua sala, trabalhou a tarde toda
e se inteirou dos compromissos da semana, que estaria
bem tranquila. Estava quase saindo quando recebeu a
visita de Eduardo.
- É aqui que trabalha a promotora mais competente do
Rio de Janeiro?
- Não, essa já aposentou, ficou a aprendiz dela. – Lívia
brincou.
- Incomodo?
- De maneira alguma, entra aí.
- E esse sorriso é de que hein? – perguntou se
sentando na cadeira em frente a ela.
- Amor, amor, amor... – sorriu.
- Deu certo?
- Você ta metido nisso né?!
- Renata está lá em casa. – riu fazendo Lívia rir
também.
- Ela é uma figura, tenho que lhe agradecer. Passei dias
maravilhosos! Foi muito bom.
- Fiquei preocupado no início. Depois vi que os dias
passaram e Marina havia sumido, logo pensei que tinha
dado certo.
- Ela está diferente, no jeito, no olhar, até na maneira
de falar.
- Marina mudou muito Lívia, não é mais aquela menina
ingênua. Ela aprendeu muito com a vida e se tornou
mais forte, decidida, acho que até um pouco arisca e
bruta, mas eu desculpo em função das coisas que
passou. Mudou da cidade dela pra tentar a vida aqui e
estava tudo dando certo até tudo começar a dar errado.
- Me sinto tão culpada por isso. – Lívia se entristeceu.
- Não sinta, porque não foi tudo culpa sua. Acabou
desencadeando outras coisas ao mesmo tempo, mas
ela também perdeu apoio da amiga, a banda se desfez,
enfim, você já sabe. A ajuda veio de onde ela não
esperava e por isso é muito grata a Vera e Marconi.
- É, já notei que terei de conviver com essa Vera.
- Ela não é uma ameaça, acredite. Marina é uma
pessoa humilde, de gosto simples, mas aprendeu a se
comportar como uma mulher de negócios. Ela é
talentosa e muito requisitada no meio dela, vai
perceber isso com o tempo. Terá que dividi-la muitas
vezes.
- Acho que é com isso que terei de me acostumar, com
essa vida atribulada que ela tem.
- Sim, antes era só faculdade e mesmo que apertasse
ela tava ao seu lado. Hoje ela viaja muito e às vezes se
tranca no estúdio passando a madrugada trabalhando.
Sei por que sempre conversamos e vez ou outra ela me
ligava pra trocar idéia sobre alguma música.

Lívia ficou pensativa, teria de se adaptar à vida nova de


Marina e à nova Marina também.

- Tem hora que ela me fala umas coisas tão rudes.


Parece que quer me atacar. – falou um pouco triste.
- Acho que ela ainda tem mágoa e quer mostrar pra
você que mudou.
- Notei que não gosta quando a trato como antes.
- Porque não é como antes. Nem ela é, nem a vida dela
e nem o relacionamento de vocês. Não faça isso, pode
perdê-la de novo.
- Não! Farei o que for pra ficar ao seu lado.
- Agora vê se para de fumar viu, ela não gosta de
cigarro.
- Já sei. Contei a ela sobre o meu vício. – revirou os
olhos.
- Agora já encontrou o remédio para largá-lo. – o rapaz
sorriu.

Mais tarde Lívia passou em casa e tomou banho pra ir à


casa de Marina. Achou que não estivesse em casa por
conta da demora em abrir a porta.

- Oi! – Marina abriu. – Entra, estou no estúdio, só um


minutinho. – beijou-lhe os lábios.

Lívia entrou e foi atrás dela.


- Posso entrar ou vou atrapalhar?
- Não atrapalha, só não pode fazer barulho, estou
gravando uma coisa aqui, fica dentro da cabine.
- Ta bom.

Marina sentou no banquinho e pegou o violão e Lívia


ficou observando de dentro da pequena cabine. Era
tudo muito bem equipado, pequeno, mas organizado.
Marina tocava num ritmo meio samba e fazia
anotações, toda vez que errava fazia uma careta que
Lívia achava lindo. Terminou de gravar o que queria e
foi até onde a morena estava.

- Eu ainda não gostei, amanhã vou pedir Diogo para


fazer umas mudanças.
- O dia foi cheio hoje? – pegou as mãos dela e as
beijou.
- Um pouco, estamos com duas campanhas
publicitárias e ainda tem aquele CD de Luciana. Vou me
encontrar com ela mais pro final dessa semana. E o seu
dia, muito tumultuado? – alisou os cabelos da morena.
- Nem tanto.
- Não consegui falar com Renata hoje. Será que ela
vem essa semana?
- Ela nem ligou?

Marina fez que não com a cabeça.

- Bom, ela me dá um sinal de fumaça se estiver


precisando de alguma coisa. Agora preciso de um
banho, cheguei e vim direto pra cá. Minhas costas
estão até doendo de ficar encurvada nesse violão. –
esticou as costas.
- Quer que prepare a banheira? Depois faço uma
massagem aí você relaxa.
- Hum... isso é tentador, acho que vou aceitar. O que
eu tenho que fazer em troca?
Lívia achou graça da pergunta.

- Nada meu anjo.


- Ah, você não é tão... boazinha. – brincou.
- Quando se trata de você sim. Vamos, vai tirando a
roupa que eu preparo tudo.

Do quarto entraram no banheiro e enquanto Marina


tirava a roupa Lívia enchia a banheira e colocava alguns
sais de banho.

- Pronto. – chegou da porta falando.

Marina já estava nua e entrou na banheira. Lívia a


admirava as curvas de seu corpo. Ficou esperando que
ela a convidasse, mas como o convite não veio ela saiu
do banheiro apenas encostando a porta de vidro. Como
era jateado Marina pode ver a sombra de Lívia andando
pelo quarto. Viu que ela pegou sua bolsa e alguma
coisa parecendo uma agenda onde anotou algo. Depois
sentou numa cadeira perto da cama e ficou lendo. Ao
sair do banho Marina não vestiu nada, colocou apenas o
roupão.

- Acho que tomar banho é como passar por um portal


milagroso, me sinto outra pessoa depois.

Lívia sorriu, mas demonstrando certo desânimo.

- Vou tomar meu banho agora, aí já faço sua


massagem.

Levantou e entrou no banheiro, tirou a roupa lá dentro


e tomou seu banho, saiu em poucos minutos. Marina
estava deitada de bruços com uma coberta até a
cintura. Lívia pegou um creme hidratante e passou ao
longo de suas costas, espalmando as mãos logo em
seguida.
- Hum! Que delícia. – falou com a voz relaxada.

A promotora massageou da nuca até a cintura e depois


tirou a coberta para massagear as pernas também e os
pés. Depois de terminar viu que Marina estava
dormindo, então virou seu corpo bem devagar e a
cobriu. Beijou o topo de sua cabeça e deitou também.
Ficou olhando ela dormir até o próprio sono chegar. Um
tempo depois Marina abriu os olhos, não tinha dormido,
apenas cochilou, mas percebeu quando Lívia beijou sua
cabeça. Ficou acordada velando o seu sono e
admirando seu rosto. Sempre, desde que a viu pela
primeira vez, era a mulher mais linda. Seu rosto era
harmonioso, nariz empinado, boca delineada e os olhos
eram do que mais gostava; intensos, cheios de brilho e
vida. Por um tempo se achou a mulher mais sortuda do
mundo por ter Lívia ao seu lado, depois caiu em si,
vendo que ela não era sua devido à traição que tinha
acontecido. Será que conseguiria ter essa sensação
outra vez?

Na casa de Eduardo Renata se preparava para voltar.

- Acho que já deu né? As duas estão há quase uma


semana juntas.
- Sim, acho que engrenou. Espero que Marina use seu
bom senso.
- Por que ta dizendo isso?
- Lívia falou sobre o jeito dela e que às vezes lhe dá
respostas meio tortas. – fez uma careta.
- Marina é assim mesmo, direta e prática. Nem sempre
isso é uma virtude, mas sim uma falta de educação.
- Ela não era assim.
- A vida muda as pessoas, não sei como ela era antes,
mas eu acho que vai dar certo, porque Lívia é o amor
de sua vida.
- Vai dar. – ele sorriu.

De manhã as duas tomavam café conversando


animadas.

- Esse queijinho é muito bom. – Marina falou comendo


um pedaço.
- Me diz o que é de comer que você não acha bom?
- Não queira saber, tem muitas coisas.
- Como diz Fabrício, me poupe dos detalhes sórdidos. –
fez uma careta.
- Eu gosto de comer, por isso malho muito. Não dá pra
manter o corpo em forma com o tanto que como.
- Seu corpo está ótimo, não se preocupe.
- Está porque eu não me descuido dele.
- Também preciso cuidar do meu, aos poucos vou
retomando minhas atividades.
- Você também não está mal. – Marina piscou para ela.
- Muito obrigada, acho que foi um elogio.
- Com certeza. – deu um selinho nela.

Lívia puxou o corpo de Marina para um beijo mais


apaixonado e ela correspondeu.

- Agora sim, acordei direito. – falou a morena.


- E o cigarro? Fumou? – Marina perguntou desconfiada.
- Não, por enquanto meu remédio antitabagismo tem
funcionado.
- Qual remédio está tomando?
- É um medicamento novo, vem de São Paulo. –
brincou, mas falando sério. – Comecei a tomar esses
dias.
- Por que não me falou?
- Achei que já tinha visto. Eduardo disse que vou
melhorar rapidinho. Também o remédio é gostoso, é
doce.
- É xarope? – Marina levantou para guardar o leite na
geladeira.
- Não. – Lívia se levantou indo atrás.
- É de morder. – mordeu o pescoço dela. – E pode
lamber também. – lambeu até a orelha. – Mas o que eu
mais gosto é de chupar. – deu um chupão no pescoço,
arrancando um gemido da loirinha.

Só então que Marina entendeu que o remédio era ela.

- Quer dizer que sou seu remédio?


- Ahan. – continuou com mordidas leves em seu
pescoço.
- Espero que ele a cure, porque cigarro faz muito mal e
não quero vê-la doente por causa dele.
- Sim meu amor, não vou fumar. – procurou seus
lábios girando seu pescoço.

Marina adorou ouvi-la chamar de meu amor, virou de


frente e beijou sua boca. Lívia a sentou na mesa da
cozinha e abriu suas pernas se encaixando entre elas.
Apoiou as mãos na beirada da mesa e a beijou de novo.

- Hoje acho que dá pra almoçarmos juntas. – Marina


falou.
- Você me liga então? Não quero incomodá-la no
trabalho. Quando folgar me fala que eu me encontro
com você.
- Não me incomoda de jeito nenhum. Passa lá por volta
de meio-dia e a gente vai almoçar, pode ser?
- Sim senhora. – beijou seus lábios.
- Isso, seja obediente que terás recompensa. – brincou.
- É? – sorriu beijando a de novo.
- Ahan. – Marina puxou Lívia pela gola da blusa e
mordeu seu lábio inferior. – Esqueci de agradecer pelo
banho e pela massagem de ontem, hoje à noite farei
isso.
- Que o dia passe rápido. – sorriu.

Estavam namorando na cozinha quando ouviram a


porta se abrir e Renata entrar.

- Bom dia! – olhou para as duas juntas. – Uia, tem


visita, desculpa entrar de repente.
- Achei que o rio Araguaia tivesse te levado. – Marina
brincou.
- Palhaça. Cheguei cedo pra trabalhar, você ta cheia de
compromissos.
- Eu vi que você andou marcando compromissos pra
mim, ligou de lá?
- Sim, quero aumento de salário pelo roaming.
- Pode deixar, eu acerto depois. – Marina riu.

Renata olhou para Lívia e sorriu descaradamente.

- E aí? Deu mais problema com o vizinho do estúdio?


- Não. Graças a Deus ele não incomodou mais. –
Marina quem respondeu.
- Pelo visto você tem advogada particular agora. Não
vai mais se preocupar caso ele te perturbe.
- Bom, você já conhece Lívia e ela também já te
conhece.
- Sim, nos conhecemos naquele dia no meu escritório.
– Lívia falou.
- Isso. Então patroa, vamos trabalhar?
- Vamos. – Marina desceu da mesa. – Te encontro lá? –
sorriu para Lívia.
- Sim.
- Então bom trabalho. – beijou seus lábios.
- Você também.

Lívia saiu piscando o olho para Renata que não


aguentou e sorriu.
Entre uma reunião e outra, Marina estava em sua sala
conversando com Renata quando a mesma puxou
assunto sobre Lívia.

- Não vai me contar que está namorando de novo?

Marina achou graça da pergunta.

- Antes você me contava suas coisas. – a secretária


falou fingindo mágoa.
- Renata, não estou namorando.
- Ah não? E acordar com uma mulher, tomar café com
ela e combinar de almoçar é o que?
- Estamos nos reconhecendo. – usou bem a palavra. –
Lívia apareceu lá em casa logo depois que você viajou e
eu tava carente, sozinha, acabou que nos entendemos.

Renata coçou a cabeça num gesto meio confuso.

- Não entendi...
- Ainda não é namoro, talvez seja, não sei, estou
confusa com isso. Gosto dela, você mais do que
ninguém sabe disso, tentei evitar, fugir, mas não deu.
Não vou me entregar totalmente, mas vou deixando
acontecer.
- Hum.

Assim que Marina entrou com Diogo para gravar um


jingle Renata foi falar com Lívia.

- E aí? Me conta o que ela não me contou.


- Se ela não te contou é porque quer privacidade ora.
- Ah ta, eu me quebro no meio pra ver vocês duas
juntas, te ajudo e agora ninguém me conta nada? Vou
te chantagear. – brincou.
- Sabia que ia jogar na minha cara. – riu. – Resumindo,
sim é namoro e estamos juntas. Sinceramente eu
imaginava um recomeço de conto de fadas, mas não
está sendo bem assim. Não sei se ela gosta de mim
como antes.
- Notei pelas palavras dela que está com medo ou
receio de dar errado de novo, talvez seja essa a
diferença que tem notado. Dê tempo a ela, tudo se
ajeitará.
- É o que mais tenho escutado e minha esperança é
essa.
- Tenho que desligar, ela ta voltando.

Quando Lívia olhou no relógio já era quase meio-dia.


Concentrou-se tanto no computador fazendo uma
acusação que perdeu a hora. Correu para se encontrar
com Marina. Ligou para ela, mas o celular não atendeu,
então mandou mensagem. Assim que entrou no estúdio
um atendente veio ao seu encontro.

- Queria falar com Marina.


- A senhora tem hora marcada?
- Não, ela pode entrar quando quiser. – Renata veio
falando lá de dentro. – O nome dela é Lívia e guarde
bem esse rostinho, ela entra aqui sempre, e se Marina
estiver em reunião, de qualquer forma você manda ela
pra mim.
- Sim senhora. – o rapaz falou sorrindo.

Lívia entrou e comentou com Renata.

- Me senti importante agora hein.


- Ta vendo como sou boazinha?
- Onde está Marina?
- Ela esta ao telefone tratando alguma coisa, tem horas
isso. Vou lá falar com ela.

Renata entrou na sala de Marina e falou baixinho que


Lívia a esperava, ela olhou no relógio e fez uma cara de
quem estava enrolada.
- Um minuto Luciana. – pediu uma pausa ao telefone. –
Nossa que demora no telefone. – falou baixo. – Diz pra
ela que não poderei ir e peça desculpa, Luciana me
prendeu aqui e pelo visto vai demorar.
- Tudo bem.

Renata voltou para sua sala e deu o recado.

- Nossa eu vim aqui só pra almoçar com ela. – Lívia


falou chateada.
- Ela ta agarrada lá. Essa Luciana é meio chata mesmo,
toda vez que faz alguma coisa com a gente demora,
porque ela é muito detalhista, Marina também é,
quando junta as duas, sai da frente.
- Marina me disse que só falaria com ela no final de
semana.
- Sim, as duas tinham uma reunião pra sexta, mas
Luciana vai ter que viajar, por isso se antecipou.
- Ok, diga a ela que ligo depois.
- Não fique brava, é assim mesmo viu?
- Sei como é. – falou sério.

Lívia voltou para o escritório se sentindo uma idiota.


Nem conseguiu trabalhar direito. Quando saiu do
escritório foi pra sua casa e esperou que Marina ligasse,
mas ela não ligou.

À noite no apartamento, Renata estava indignada.

- Por que você não vai ligar? – Renata perguntou a


Marina.
- Ela quem devia me ligar!
- Continuo com a mesma pergunta. Por quê? Se foi
você quem deu o bolo nela, no mínimo deveria ligar
pedindo desculpa.
- Pra que? Eu não tava fazendo nada errado, estava
trabalhando ora bolas.
- Mas combinou uma coisa com ela e não cumpriu,
quando essas coisas acontecem a gente pede desculpa.
- Você ta do lado dela?
- Não tem lado Marina, tem bom senso, você não está
usando o seu. Tudo bem, não quer ligar, não ligue.

A semana passou sem que as duas se vissem, Lívia se


segurou para ligar. Achou desaforo ficar correndo atrás
também e se Marina não apareceu é porque deveria
estar muito ocupada. Na sexta a noite pegou suas
coisas e foi pra Mauá, sabia que a companhia da mãe
seria o melhor naquele momento.

- Não vou ligar mais. – Lívia falou emburrada.


- Vocês nem voltaram direito, porque esse
comportamento?
- Mãe, ela não me dá atenção, não me liga, nem ta
esquentando comigo.
- Antes ela ligava, dava atenção e esquentava com
você. Agora eu acho que ela quer dar o troco.
- A senhora ta do lado de quem?
- De ninguém, estou tentando analisar por ambos os
lados. Quando ela estiver mais arredia experimente ser
gentil, atenciosa, mais do que ela espera. Gentileza
gera gentileza, quem sabe com modos diferentes ela
não muda?

Lívia deitou a cabeça no braço do sofá, estava irritada.

Na sexta a noite Marina chegou em casa animada para


sair.

- Nossa nem acredito, a semana rendeu. Conversei com


Felipe hoje e ele está super empolgado com o estúdio
novo.
- É, tem bastante trabalho. To pensando na campanha
daquela empresa de energia.
- Nossa, eu também. Eles pediram uma coisa meio
infantojuvenil.
- Você dá conta.
- Vou ligar pra Lívia, não falei com ela a semana toda.
Deve ta chateada né?
- Deve? Se fosse comigo tinha te dado um pé na bunda
há muito tempo. Não ligou pra pedir desculpas, não
deu mais satisfação e nem quis saber se ela ta viva.
Você é muito grossa.
- Ela sabe que trabalho muito.
- Ahan. – Renata foi pro seu quarto falar com Sarah
que estava estudando. – Deixa eu cuidar da minha filha
que ta abandonada.

Marina ligou para o escritório e ninguém atendeu,


tentou na casa de Lívia e também não atendeu, por
último tentou o celular. Ela atendeu com voz de sono.

- Alô.
- Ei, ainda se lembra de mim? – Marina brincou.
- Não consigo te esquecer. – Lívia falou sério.
- Acho que estou lhe devendo desculpas não é?
- É você quem tem que saber isso, se acha que sim.
- Desculpa Lívia, trabalhei muito essa semana, graças a
Deus estamos com a agenda cheia.
- Que bom, fico feliz.
- Estou ligando pra me desculpar e convidá-la pra
jantar. Aqui em casa, eu faço o jantar, será que ainda
gosta da minha comida?

Lívia apertou o maxilar e se praguejou por estar em


Mauá, mas se lembrou de como Marina a havia tratado
e respondeu com classe.
- Aceito seu pedido de desculpa e infelizmente não
poderei sair pra jantar hoje. Estou em Mauá na casa de
minha mãe.
- Ah que pena. Você volta quando?
- Domingo à noite ou segunda cedinho, fica pra
próxima. Bom final de semana e aproveite pra
descansar, sua semana foi bastante agitada. –
desligou.

Marina ficou frustrada, jogou o telefone em cima da


cama e depois deitou, ficou olhando para o teto,
pensativa. Minutos depois levantou num repente e foi
ao quarto de Renata.

- Vamos pra Mauá?


- Oi?!
- Mauá, região serrana do Rio.
- Eu estudei geografia, sei onde fica. – debochou.
- Então? Vamos?
- Quer ir Sarah? – Renata perguntou a filha.
- Lá é bom?
- É bonito, tem cada cachoeira maravilhosa e de noite
esfria e dá pra gente comer um fondue.
- Gostei disso. – Sarah falou animada.
- Se arrumem, vamos agora.

Em minutos estavam saindo. Marina dirigiu atenta à


estrada, não gostava de dirigir a noite, mas por Lívia
fez um esforço.

“Esforço?! É Marina, você gosta mesmo dela!”

Chegando em Mauá procurou pela casa de Marta.

- Será que ainda me lembro?


- O que?
- Da casa da mãe de Lívia.
- Ah, esse é um encontro?! E você trás duas velas?
Trouxe o castiçal também? – brincou.
- Deixa de onda, vocês vão gostar.
- Que cidade maneira! Olha quanta casinha bonita mãe!
– Sarah estava empolgada. – Trouxe meu biquíni novo
pra nadar e minha bota pra sair à noite. Aqui é frio
mesmo.
- Biquíni e bota. Que discrepância meu Deus!

Marina estacionou na frente da casa de Marta. Eram


quase nove horas. Desceu do carro e tocou a
campainha, a própria quem abriu.

- Ah não acredito!
- Aceita visita uma hora dessas? – Marina falou
sorrindo.
- Você eu aceito qualquer horário minha filha! Que bom
revê-la!
- Nos vimos tão rápido em Salvador que nem deu pra
conversar direito.
- Pois é, mas entre, seja bem-vinda de novo.
- Essa é Renata minha secretária e amiga.
- Nas horas vagas. – Renata acrescentou brincando.
- Fiquem a vontade, estava fazendo o jantar.
- Se quiser podemos ficar num hotel.
- De jeito nenhum, aqui tem lugar pra todo mundo. –
sorriu - Lívia está lá em cima. Sobe lá no quarto dela,
acho que deitou um pouco pra descansar e acabou
dormindo.
- Ta bom.
- E vocês duas venham que vou levá-las para o quarto
de vocês.
- Gente adorei essa casa! – Renata olhava ao redor. – É
aconchegante.
- Eu também gosto muito daqui. – Marta sorriu.

Marina subiu as escadas e foi direto ao quarto. Sentiu


certa nostalgia ao entrar nele. Abriu a porta devagar,
estava escuro. Pela pouca claridade viu que a morena
estava deitada de barriga pra cima e com as mãos
atrás da cabeça. Tirou o tênis bem devagar para não
fazer barulho e subiu na cama, deitando em cima de
Lívia. A morena sentiu um peso sobre seu corpo e logo
viu que era Marina.

- Estou sonhando? – falou baixinho.


- Não, vim te buscar pra jantar comigo. – cheirou o
pescoço dela.

Lívia percorreu o corpo dela com as mãos e parou na


cintura.

- Você me desculpou mesmo? – Marina falou com voz


dengosa e esfregando seu nariz no de Lívia. – Hum?
- Sua semana foi cheia, só isso. Também tenho meus
dias de função no escritório.
- Eu devia ter ao menos ligado, mas realmente as
coisas fugiram do controle. – falava ao mesmo tempo
em que salpicava beijos no rosto da morena.
- Sem problema, deve ter sido importante, pra você
não poder ligar. – Lívia realmente estava chateada e se
Marina tivesse chegado um pouco antes a teria visto
chorar. Estava triste, porque as coisas não estavam
saindo conforme ela tinha previsto.
- Quer jantar? – mordeu o queixo dela.
- Nem sei quantas horas, não está tarde?
- Um pouco, mas eu estou pronta e não precisamos sair
pra jantar em um lugar chique, eu só queria passar um
tempo com você. – beijou os seus lábios. – Estou com
saudades. – sua voz era doce e Lívia acabou cedendo.
- Tudo bem, vou só trocar de blusa.

Tentou levantar, Marina a impediu.

- Não vai me dar nenhum beijo?

Lívia a puxou pela nuca e beijou seus lábios, buscou


sua língua e conseguiu tirar um gemido de Marina. O
beijo foi provocante e sensual, ela queria mesmo que
desnorteasse a loirinha.

- Satisfeita?
- Muito, mas fiquei com mais vontade.

Lívia olhou para ela com um sorriso sem-vergonha e


depois foi trocar de blusa. Desceram juntas e sorrindo.
Encontraram Marta, Renata e Sarah na sala.

- Vamos jantar, querem ir? – Lívia convidou.


- Acho que fico por aqui, não vou bancar a vela. –
Renata brincou.
- Eu faço companhia para elas. – Marta completou. – Já
fiz um jantar e elas comem aqui não é?
- Isso aí.
- Amanhã podemos ir numa cachoeira? – Sarah
perguntou.
- Claro, aqui tem uma maravilhosa. – Lívia falou. –
Trouxe biquíni? O tempo de manhã ta bom pra nadar.
- Trouxe sim. Oba! Nunca nadei numa cachoeira.
- Renata, você não leva sua filha em lugar nenhum? –
Marina brincou.
- E desde quando São Paulo tem lugar assim pra ir?
Cachoeira lá só se for artificial.

O pessoal achou graça do comentário.

- Bom, estamos indo, não demoramos. – Lívia falou e


saíram. – Vamos no meu carro sim. – não deu nem
opção de Marina escolher.
- Tudo bem, mas a parte de não demorar ficou por sua
conta. – sorriu com malicia.
- Está pensando em que? – olhou curiosa para Marina.
- Nada. – falou com uma cara de santa que não
enganou ninguém.
Jantaram e depois Marina insistiu para ir a algum lugar
para namorarem. Lívia procurou a pousada de seu
amigo Leandro e se hospedaram lá. O chalé era muito
bem decorado, com detalhes em madeira e uma cama
enorme de casal ao centro, tinha uma banheira numa
parte onde havia uma parede toda de vidro, dando uma
vista incrível para o vale. Outro detalhe era o teto de
vidro que Marina achou muito bonito. Ainda tinha a
lareira, uma TV na parede e um frigobar.

- Lindo esse chalé!


- Leandro tem bom gosto, admiro muito a forma como
ele conduz a pousada, é um profissional como poucos.
– Lívia falou.
- Vem cá. – Marina se aproximou enlaçando o pescoço
da morena. – Posso namorar você um pouco? – sorriu e
beijou-lhe os lábios.
- Por que veio pra Mauá?
- Queria vê-la, estava com saudades e também pedir
desculpa. A convidei pra jantar, mas você estava aqui,
aí resolvi vir pra cá. – beijou de novo. – Pra jantar e
namorar. – mais beijo.
- Achei que não faria uma coisa dessas por mim.

Marina a olhou e respondeu com calma.

- Faço muita coisa por você, não tudo, mas faço.

Lívia pareceu se incomodar com a resposta.

- Você está chateada porque não liguei nem dei


satisfação, tudo bem, eu entendo. Só que o que mais
lhe deixa chateada é o fato de que eu não sou mais
aquela menininha agarrada a você. Sempre tive uma
vida separada da sua, só que hoje isso é mais
aparente.
- Não é isso, mas não vamos discutir agora.
- Está sem argumentos. – Marina deu de costas.
- Eu? Sem argumentos? – Lívia chegou por trás. – Você
me conhece e sabe muito bem que argumento é o que
não me falta e consigo tudo que quero. – falou em seu
ouvido.
- Consegue nada. – Marina fingiu descaso caminhando
para perto da parede de vidro.
- Sabe que consigo. – segurou na cintura de Marina. –
Agora, por exemplo, eu estou doida pra fazer amor com
você.
- E se eu não quiser?
- Vai querer e vai me pedir pra possuir você.
- Ah, você é muito convencida, não perdeu essa pose
né Lívia?!
- Não me convenço, eu sou, é fato. – sussurrou no
ouvido dela e mordeu depois.

Tirou o casaco que Marina usava e abriu o zíper da


blusa deixando aparecer o sutiã; depois desabotoou,
mas não tocou nos seios, segurou sua cintura, passou a
unha de leve em sua barriga.

- O seu cheiro é muito bom. Sabia que a parte que


mais gosto de morder em você é aqui? – Mordeu a
nuca. – Porque causa arrepio e você arrepiada fica
ainda mais gostosa. – mordia cada pedaço que
encontrava.

Marina pegou as mãos dela e levou a seus seios como


se pedisse para acariciá-los e Lívia não se recusou.
Massageou os bicos e continuou mordendo o pescoço.
Desceu as mãos para abrir a calça jeans e abaixou
deixando-a só de calcinha. Era de renda preta e
transparente na frente; enfiou a mão sentindo os pêlos
nos dedos e retirou depois, deixando Marina
enlouquecida. Queria que ela pedisse, mas sabia que
teria de se esforçar bastante, mas era um jogo que ela
gostava. Virou a loirinha de frente e a fez tirar sua
roupa. Usava sutiã e calcinha brancos que
contrastavam com a pele morena, viu que Marina a
olhou, admirada. Lívia se agachou e beijou as pernas
dela, tirou a calcinha e mordeu a virilha, o ventre,
desceu bem perto do sexo, mas não tocou. Mordeu as
coxas, a bunda e subiu beijando suas costas até chegar
à nuca. Abraçou a loirinha e levou uma das mãos em
um seio e a outra bem perto de seu sexo. Marina abriu
as pernas, mas em vão, pois Lívia retirou a mão antes.
Beijou a boca dela com paixão, agarrou o corpo da
loirinha segurando pela cintura e fez Marina enlaçar sua
cintura com as pernas. Apoiou-se na beirada da cama
com ela no colo e levou sua mão até o sexo, mas bem
de leve, deixando Marina louca. Ficou estimulando e
esperando que ela pedisse. Beijava seu colo, seios e
lábios, alternando sempre enquanto suas mãos se
perdiam por aquele corpo.

- Mais... – Marina rebolava devagar.


- Então me peça. – Lívia falou em seu ouvido.
- Você também quer... ah... – Marina sentia um seio
ser sugado, estava molhada e não conseguia se
controlar. – Ahh... Lívia...
- Peça. – a voz de Lívia saiu rouca.
- Não. – Marina falou dengosa, mas sem conseguir
resistir às carícias da morena.
- Peça. – Lívia espalmou a mão no sexo dela e
pressionou sentindo sua mão molhar.

Marina teve que ceder, não aguentava mais e o prazer


era incontrolável, arqueou o corpo sendo segurada por
Lívia pela cintura.

- Me possua. – falou baixo.


- Não ouvi.

Marina endireitou o corpo segurando Lívia pelos ombros


e olhou em seus olhos, estava ofegante.
- Me possua agora. – mordeu o lábio inferior dela e
beijou em seguida.

Lívia ficou maluca, enfiou os dedos na vagina de Marina


e a fez gozar com estocadas fortes. Sentiu que seu
corpo amoleceu quando o orgasmo chegou; era linda
quando ficava assim. Os olhos semicerrados e o peito
agitado.

- Eu amo você. – Lívia declarou.

Marina fechou os olhos e sorriu. Ouvir aquelas palavras


era como um sonho. Durante os anos que passou longe
de Lívia ouvia essa declaração todos os dias em seus
pensamentos. Sentiu um abraço gostoso e a boca da
morena em seu pescoço.

- Você é muito sem-vergonha. – Marina beliscou o


braço dela.
- Sou e você gosta disso em mim, por que... – Lívia ia
dizer que era só com ela, mas pensou rápido. – Porque
te instiga a fazer um jogo.

Sabia que Marina não ia acreditar se dissesse que ela


era a única mulher da sua vida e preferiu evitar o
desgaste.

- Você me deixa doida. – Marina falou fechando os


olhos.
- E acha que fico como quando te vejo? Acho que nunca
teve noção do quanto me provoca e me assanha.

Olharam-se por um tempo, depois se beijaram, com


carinho e amor.

- Espera. – Marina levantou rápido e correu pra


banheira, abrindo a torneira para enchê-la. – Nossa que
frio. – correu pra cama e se cobriu.
- Quer inundar o quarto? – Lívia riu se referiu à
banheira jorrando água.
- Não sua boba, vou deixar enchendo e depois a gente
entra.
- Ah sim, você vai me chamar dessa vez. – olhou para
cima, lembrando do último banho de banheira.

Marina olhou para ela e sorriu sem graça. A banheira


encheu e as duas entraram. Marina se aconchegou no
colo de Lívia, sentando de frente pra ela com suas
pernas enlaçadas na cintura. Ligaram o som e
namoraram escutando música.

- Embora saiba o motivo, vou perguntar assim mesmo.


Por que você não quer ir mais ao meu apartamento? –
Lívia perguntou numa boa.
- Porque acha que não quero?
- Talvez por ter visto... – baixou a cabeça.
- É isso mesmo, não quero olhar para o lugar onde fui
feliz e triste ao mesmo tempo. – virou o rosto e olhou
para o vale do lado de fora.

Lívia segurou o queixo dela, virando-o.

- Precisamos resolver isso. Ou vou passar a vida toda


indo pra sua casa.
- Qual o problema?
- Nenhum, mas é estranho a mulher que eu amo não ir
à minha casa.
- Podemos falar disso depois? – Marina olhava para
baixo.
- Tudo bem.

Depois do banho relaxante voltaram pra cama e só


saíram do quarto no dia seguinte cedo, nem tomaram o
café da pousada. Assim que chegaram em casa foram
para o quarto dormir. Marta acordou e preparou o café,
logo Renata e Sarah acordaram também e as três
comeram juntas. Estavam de conversa na cozinha
quando ouviram passos e risadas.

- Você roncou que eu ouvi. Desde quando começou a


roncar? – Lívia falava.
- Eu não ronco, você deve ter sonhado.
- Não, o sonho era muito real. – fazia cócegas em
Marina. – Mas tudo bem, eu te amo mesmo assim. –
abraçou-a por trás. – Ainda que ronque alto. – mordeu
o pescoço dela.
- Para! Eu não ronco.

Chegaram a cozinha ainda abraçadas.

- Claro que ronca. – Renata falou com cara séria.


- O que? Está demitida por justa causa. Inventar um
absurdo desses.

Lívia morreu de rir.

- Você ronca sim, quando dorme de barriga pra cima.


- Eu já ouvi. – Sarah falou.
- Segunda-feira vou ao médico, nunca que vou roncar a
noite.
- Não ligo, eu viro você pra não roncar. – Lívia a soltou
e beijou a mãe. – Bom dia mãe.
- Bom dia filha.
- Estou com fome. Vamos comer porque vou levar
Sarah na toca da Raposa.
- Que é isso? – a menina perguntou.
- Uma cachoeira muito famosa que tem aqui.
- Gente isso não é perigoso? – Renata perguntou.
- Não, pode ficar tranquila. Vamos todas fazer um
piquenique.
- Hum, boa idéia. – Marina sorriu.

Tomaram o café e prepararam tudo para o passeio.


Sarah ficou encantada quando viu a cachoeira.
- Nossa, eu posso nadar?
- Naquela parte ali pode, que é mais rasa. – Lívia
mostrou.

O céu estava limpo e o sol convidava a entrar na água.


Marina não quis se molhar, assim como Marta. Renata,
Lívia e Sarah aproveitaram a água, nadaram um bom
tempo. Marina ficou conversando com Marta e ao
mesmo tempo observando Lívia e como ela chamava a
atenção das pessoas que estavam por ali. Não tinha
quem não olhasse para ela. O biquíni branco e o corpo
moreno e esguio eram uma combinação perfeita.

- Lívia parou de malhar, precisa voltar a se exercitar. –


Marta comentou.
- Ela me contou que começou a fumar. Fiquei
horrorizada!
- Imagina eu?! Nunca suportei cigarro. Ela está
tentando parar e me prometeu se esforçar.
- A mim também, tenho acompanhado isso. Não tanto
quanto gostaria, mas já disse que não quero ela
fumando perto de mim.
- Não precisa ser tão rígida, ela vai conseguir parar.
Tenha paciência.

Marina ficou envergonhada com o comentário e de ter


sido repreendida. Marta não era puxa-saco da filha,
pelo contrário, era sempre justa. Parecendo adivinhar
os pensamentos de Marina ela ainda falou.

- Lívia é a melhor filha do mundo. E não é porque é a


minha filha, mas porque é carinhosa, esforçada,
batalhadora. Enveredou por caminhos mais
complicados, mas quer se endireitar. Como mãe eu só
faço ajudar, porque sem ela não sei o que seria da
minha vida. – falava e olhava para a filha. – Sei que é
teimosa, geniosa, mas é também muito honesta e
dedicada quando quer, às vezes se frustra e por isso
faz escolhas erradas.
- Eu... – Marina olhou para cima. – Eu a amo. Não
consigo dizer isso a ela ainda, mas a amo com todas as
minhas forças. Tenho mágoa pelo passado, mas vou
superar. Sei que não a tenho tratado como ela gostaria
ou esperava.
- Te entendo, é difícil confiar em alguém quando há
traição. O que ela fez não justifica nada, mas se
arrependeu. Lívia sofreu tanto com a separação de
vocês e sei que não foi diferente pra você. Dê uma
chance a ela.
- Estou dando essa chance.
- Mas trate-a com respeito só assim vão se acertar.

Marina entendeu o recado, não tratava Lívia melhor,


pois era a forma que viu de punir o que ela havia feito,
mas se estava com ela deveria melhorar esse
tratamento. As três voltaram da água e o assunto
mudou.

- Estou com fome. – Sarah falou.


- Bom, aqui tem fruta, sanduíches, suco, biscoitos. –
Marta abriu a cesta mostrando.
- Quando vamos comer fondue?
- Sarah, quer se acalmar, o mundo não vai acabar hoje.
– Renata a repreendeu. – Se enxuga que esse vento ta
meio frio.
- De noite a gente sai pra comer o fondue. – Lívia falou
se sentando em cima da enorme toalha que haviam
colocado no chão.
- Podemos ir naquele aqui perto? – Marina perguntou
estendendo uma toalha pra ela.
- Claro linda. – sorriu. - Ta frio mesmo. – falou se
arrepiando.
- Veste a blusa meu bem. – Marina estendeu a blusa de
frio.
Lívia olhou achando estranho aquele tratamento,
imaginou que tinha dedo da mãe no meio. Colocou a
blusa e tirou a parte de cima do biquíni por dentro dela,
para que não molhasse o moletom. Marina pegou um
morango e o mordeu.

- Quer? – ofereceu a ela, que aceitou pegando das


mãos da loirinha. – Esse morango ta docinho.
- Hum, achei que eram seus dedos. – Lívia falou
baixinho só para Marina ouvir.

Ela sorriu timidamente. A morena aproveitou a posição


que estava e aconchegou Marina entre suas pernas,
sentada de costas. Ela encostou a cabeça no ombro de
Lívia e passou o braço dela em sua cintura.

- Sentindo frio? – a morena falou em seu ouvido.


- Um pouco. – encolheu os ombros.
- Vem cá. – Lívia a abraçou mais.
- Adorei esse lugar! Vou tirar horrores de fotos pra
colocar no meu blog. – Renata falou.
- Você tem blog? – Lívia perguntou.
- Ai, ai, ela e esse blog. – Marina revirou os olhos. – Se
deixar ela vira a noite mexendo naquilo.
- Não me critique ok? Porque o seu blog bomba na
internet e é única e exclusivamente por minha causa e
nem peço hora extra para atualizá-lo.
- Onde você arrumou essa peça rara? – Lívia perguntou
sobre Renata.
- Achei num mercado de pulgas. – Marina riu fazendo o
resto gargalhar. – Somos inseparáveis, na verdade eu
não consigo fazer mais nada sem Renata por perto. Ela
quem cuida da minha agenda pessoal e profissional. Eu
fico por conta de trabalhar. Se espirro ela já ta
procurando médico, se preciso viajar as passagens já
estão compradas.
- Eficiência não é pra todo mundo. – Renata falou com
orgulho.
- Humildade também não. – Lívia mexeu com ela.
- Eu dou até palpite no trabalho de Marina.
- Isso é verdade, você ainda não me deu palpite na
campanha da empresa de energia.

Marina contou sobre a campanha e falou que eles


queriam algo que atingisse mais os jovens. Lívia ouvia
com atenção as duas conversarem e sentia orgulho de
Marina. Ainda não tinha visto a loirinha trabalhar, mas
sabia que era competente. Distraiu-se da conversa e
ficou cantarolando uma melodia enquanto comia um
pedaço de pão.

- Que música é essa? – Marina perguntou só pra ela


ouvir.
- Não sei, devo ter escutado em algum lugar.
- Tenho boa memória e posso dizer que nunca ouvi
essa musiquinha aí. E até gostei do ritmo. – cantarolou
junto com Lívia. – Me vende ela. – Marina sorriu.
- Vai custar caro hein. – levantou uma sobrancelha.
- Quem sabe uma negociação... – Marina apertou a
coxa da morena.
- Ui.

Passaram a tarde na cachoeira e nem almoçaram,


ficaram só com o lanche que haviam levado.
Passearam pelo local e fizeram uma caminhada
ecológica. Voltaram para tomar banho e descansar um
pouco. Depois saíram para comer o fondue prometido a
Sarah. Quando o garçom veio trazendo a carne crua
Sarah logo arregalou os olhos.

- Vou comer esse troço cru?

Não teve quem ficou sério na mesa.

- Não Sarah, primeiro você coloca a carne aqui. –


Marina mostrou a cumbuca de óleo quente. – Aí quando
ela fritar você molha no queijo.

Lívia voltou no tempo, lembrando da primeira vez que a


loirinha havia comido fondue. Sorriu ao lembrar e olhou
para Marina que explicava para a menina. Passou o
braço em volta da sua cintura, fazendo a loirinha olhar
para ela. Beijou sua cabeça e sorriu.

- Será que ela aguenta o doce? – Lívia perguntou.


- Se não aguentar que fique bem claro que eu vou
comer fondue doce ainda hoje. – Marina logo se
manifestou.

Saíram do restaurante de madrugada, nem repararam


na hora de tanto que conversaram cotando casos e
histórias engraçadas.

Em casa, Lívia se jogou na cama, se sentia cansada.


Bocejou e espreguiçou antes de falar com Marina.

- O dia hoje foi cheio, minhas pernas estão doendo.


- Você já foi mais animada. – Marina falou enquanto
tirava a roupa.
- Eu já fui mais nova, isso sim.
- Que nada, também estou mais velha e não me sinto
cansada.

Lívia riu.

- Você não fuma, não sabe os males que o cigarro traz.


- É, não sei. – olhou para Lívia. – E você também não
saberá mais.
- Sim, sim... nada de cigarros. – falou levantando os
braços.

Marina tirou a roupa, ficando somente de calcinha e


uma blusa fina de malha. Pegou uma bolsa e entrou no
banheiro, depois voltou. Lívia continuava deitada,
Marina sentou ao lado dela e alisou seu braço.

- Está querendo alguma coisa. – Lívia falou olhando


para ela.
- Adivinha?! – Marina sorriu como uma criança sapeca.

A morena puxou para que ela deitasse em cima dela.

- O que está querendo hein mocinha?

Marina abriu a calça de Lívia e foi puxando para baixo


com a ajuda dela, deixando-a sem nada, apenas com a
blusa. Depois subiu novamente ficando sentada em
cima do púbis de Lívia.

- Quero fazer uma coisa.


- O que?

Marina esticou o braço e pegou um pênis de borracha


com uma cinta.

- Usar isso.

Lívia sorriu e o pegou das mãos dela, sentou na cama e


quando ia se preparar para colocar a loirinha
interrompeu.

- Não, eu quero usar. – tomou das mãos dela.


- Por quê?
- Porque sim ué.
- Mas... eu...
- Achou que usaria em mim? Se me der uma explicação
plausível para eu não usar em você, até aceito.
- Não vai usar isso em mim. – Lívia se levantou da
cama.
- Por que não? Isso é preconceito sabia?
- Não é. É que você sempre...
- Sempre fui a mulherzinha? Lívia não seja machista,
tenho horror disso.
- Por acaso sabe usar isso? – levantou a sobrancelha.
- Claro que sei.
- Então já usou antes.

Marina olhou para o lado, para ela, ficou sem jeito para
falar.

- Já, já usei antes sim. Tem problema pra você?


- Tem. – Lívia entrou no banheiro e bateu a porta.

Marina ficou imóvel, não sabia o que falar ou fazer.


Levantou e foi até a porta do banheiro, mas estava
trancada.

- Lívia, abra a porta.


- Não. Vai dormir, me deixe quieta aqui.
- Vai dormir no banheiro? – riu.
- Vou, me deixe.
- Não faça isso; saia, vamos conversar. – falou com voz
doce.

Lívia não respondeu mais e Marina cansou de ficar


esperando atrás da porta. Foi se deitar, mas não
dormiu. Um tempo depois ouviu a porta se abrir. Lívia
pareceu tirar a roupa e depois deitou se enfiando
debaixo das cobertas. Marina ficou quieta fingindo
dormir até ela puxar rapidamente sua calcinha e passar
alguma coisa em suas pernas.

- O que está fazendo? – Marina perguntou meio


confusa.

Lívia prendeu a cinta na loirinha e depois deitou.

- Vem. – falou parada olhando pra cima.

Marina colocou as mãos em sua própria cintura então


viu que a cinta estava presa.

- Anda, se quer usar...


- Que isso, ta parecendo a mulher casada que faz sexo
com o marido para satisfazê-lo. Se não vai se sentir
bem, não vou fazer nada. – começou a desamarrar a
cinta.
- Você estava certa, não tenho um motivo plausível
para me negar a fazer isso, só o preconceito.

Marina olhou perplexa, Lívia estava se mostrando


flexível.

- Anda logo Marina. – fez um gesto de pressa.


- Calma. – debruçou em cima dela. – Não vou fazer
nada que não queira, sexo tem que ser em comum
acordo. Quero que goste e não que se sinta
pressionada.
- Quando você aprendeu a usar isso? – Lívia olhou para
ela.
- Bem, tive um lance aí com uma garota e ela gostava
de usar. Confesso que a primeira vez eu fui
desajeitada, mas depois eu me acostumei e...
- Ta bom, sem detalhes, por favor. Não quero ouvir da
mulher que amo as cenas de amor dela com outra
pessoa. – Lívia sentou na cama ficando de costas para
ela.
- Não era amor. – pôs a mão no ombro da morena. –
Era sexo, não valeu de sentimento pra mim.

Marina começou a beijar as costas de Lívia, afastou


seus cabelos e beijou a nuca. Virou ela de frente e
beijou sua boca. Excitou Lívia o quanto pode com
beijos, mordidas e carícias ousadas, até que ela
relaxasse. Quando viu que ela estava pronta, se enfiou
entre as pernas dela e a penetrou bem devagar.
Empurrou o pênis até o fundo e começou com um
rebolado sensual enquanto beijava sua boca. Apertava
um seio e bolinava o bico com os dedos. Lívia se
agarrou no lençol, fechava os olhos gemendo baixinho.
Pressionou a cintura de Marina contra seu corpo e
acompanhou o rebolado dela. Gozou de forma intensa
sacudindo em espasmos. Marina beijou a bochecha
dela, o nariz, a testa e voltou aos lábios.

- Você é linda. – falou sorrindo. – Gostou? – esfregou


seu nariz no dela.

Lívia pensou se Marina já não tinha feito essa pergunta


a outra pessoa. Fechou os olhos tentando apagar esse
pensamento.

- Gostei. – falou baixo.


- Mesmo? – Marina voltou a beijar o pescoço dela
excitando Lívia de novo. A morena se levantou ficou por
cima de Marina e foi desprendendo a cinta tirando-a.
Puxou Marina para a beirada da cama e se agachou no
chão para ficar entre as pernas dela. Devorou seu sexo
com a língua e sem que ela percebesse colocou a cinta.
Quando sentiu o sexo dela bem molhado a penetrou de
uma vez só. Marina gritou de prazer excitando ainda
mais a morena. Pegou-a no colo e sentou na bay
window, fazendo a loirinha cavalgar em cima dela.
Apoiou Marina pela bunda e com a outra mão segurava
pela nuca, guiou seus movimentos enquanto sugava os
seios.
- Aqui... – Marina pegou uma das mãos da morena e
levou até seu clitóris para que ela o acariciasse.

Lívia manipulou bem devagar sentindo a excitação de


Marina escorrer entre as pernas.

- Mais Lívia, mais... ahh... – rebolava rápido.

Aumentaram os movimentos em sincronia.


- Ahh Marina... ahh... agora... ah... – Lívia estava
quase gozando.

Marina estremeceu o corpo gozando junto com ela.

- Nossa... meu Deus... – falava com dificuldade. – Isso


foi muito... bom.

Lívia a puxou pela cintura e a abraçou, repousando a


cabeça dela em seu ombro. Tirou o pênis bem devagar
e retirou a cinta. Olhou para Marina: estava com as
bochechas vermelhas e o cabelo caindo em seu rosto.
Retirou uma mexa delicadamente e beijou sua testa.
Ficou olhando aquele rosto de traços perfeitos, nariz
arrebitado e os olhos fechados, ainda respirava
cansada.

- Eu amo muito você, é um amor sem tamanho, chega


a doer o peito. Nunca senti isso por mais ninguém. –
Lívia se declarava ao mesmo que desabafava.
- Você não... – Marina a olhou. – Não teve mais
ninguém nesse tempo?
- Não.

A resposta foi sincera e não deu margem para dúvidas.


Marina ficou impressionada, logo Lívia que era cheia de
si e sempre tivera mulheres bonitas ao seu redor.

- Não quis mais ficar por ficar, ter prazer somente. Tem
que haver um fundamento para as coisas, você me
ensinou isso. Não quero mais fazer sexo, eu quero
fazer amor, eu quero um amor. Daqueles que é pra
vida toda. – olhou para Marina. – Quero uma mulher
que me ame, porque ela vai ser amada por mim
incondicionalmente.

Marina não soube o que dizer, somente a abraçou forte.


No domingo foram conhecer Penedo que ficava perto.
Renata e Sarah se esbaldaram nos chocolates, tiraram
fotos e até passearam a cavalo. À tarde resolveram ir
embora para não chegar muito a noite no Rio. Marina
foi dirigindo e Lívia atrás as acompanhando.

A semana começou agitada para Lívia que já tinha


marcado uma audiência e sabia que esta demoraria o
dia inteiro. Chegou tarde em casa e com dor de cabeça.
Ligou para Marina e disse que não iria na casa dela.

- Por que não pode vir? – perguntou chateada.


- Estou cansada meu anjo e com dor de cabeça. Meu
dia foi de cão.
- Ah, só um pouco.
- Já estou de pijama e deitada. Amanhã passo cedinho
no estúdio pra te ver, pode ser?
- Tenho reunião cedo. – Marina emburrou.
- Então à noite eu passo aí.
- Ta bom.

Depois que desligou, não demorou muito para Renata


mandar uma mensagem falando que Marina estava de
mau humor. Lívia respondeu que era saudade dela. No
dia seguinte à noite Lívia passou no apartamento de
Marina e ela não havia chegado ainda. Ligou no celular,
mas não atendeu, ligou para Renata que avisou que
estavam as duas no estúdio ainda e que Marina estava
gravando. Lívia achou melhor ir pra casa, já que iria
demorar. Estava saindo do banho quando o interfone
tocou. O porteiro avisava que Marina queria falar com
ela.

- Amor, sobe, estou de camisola.


- Sabe que não vou subir.
Lívia tinha se esquecido desse detalhe, então desceu
para vê-la.

- Passei rápido, você esteve no estúdio?


- Sim, mas estava em reunião, achei melhor vir pra
casa. – entrou no carro e lhe deu um beijo. – Oi
Renata. – se dirigiu a secretária no banco de trás.
- Opa!
- É eu demorei. – Marina estava séria.
- Tudo bem?
- Sim, agora preciso ir, está tarde e eu quero um
banho.
- Já? Nossa demorou mais me esperando trocar de
roupa que aqui comigo. Sobe um pouquinho. – pediu
fazendo bico.
- Não.
- Por favor.
- Não.
- Isso vai ficar difícil, nunca vai colocar os pés na minha
casa?

Marina olhou para ela impaciente e Lívia não insistiu.

- Tudo bem Marina. Tchau. – beijou-a novamente e


saiu do carro.

No caminho pra casa a secretária resolveu dar sua


opinião.

- Acho exagero esse lance de não ir a casa dela. Já


passou Marina e você me disse que ela está sendo
flexível com você, por que não pode ser com ela?
- Naquele apartamento eu não piso mais.
- Gênio ruim hein?
- Me chame do que quiser, isso não vai mudar minha
opinião.
- Pode mudar a de Lívia.
- O que quer dizer com isso?
- Você entendeu, é muito bom ter alguém bajulando a
gente e paparicando, mas as pessoas cansam. – Renata
pegou sua agenda para anotar algumas coisas e dali
em diante o silêncio imperou no carro.

Mesmo com os compromissos da semana Lívia decidiu


fazer uma loucura aos olhos de sua mãe.

- Pra que vai vender o apartamento?


- Marina não quer mais ir lá. Como posso namorar uma
pessoa que não quer entrar na minha casa?
- Você adora esse apartamento Lívia! Não o venda.
Reforme-o, alugue, faça qualquer outra coisa.
- Não vou alugar, não gosto de mexer com imóveis
assim, dá muita dor de cabeça. Gosto daqui, mas não
sou mais apegada a essas coisas. Que adianta
prejudicar meu relacionamento por causa de um
apartamento? Já coloquei a venda.
- Espero que saiba o que está fazendo.
- Também espero mãe.

Lívia procurou um corretor conceituado na cidade e


colocou seu apartamento a venda. Em poucas semanas
três pessoas já haviam procurado para comprar. Na
mesma imobiliária ela viu outro apartamento para
comprar, a construtora já havia terminado a parte
externa e estavam na fase de acabamento. Caso ela
comprasse poderia escolher os pisos, bancadas, pintura
e detalhes do lugar. Antes de vender o seu, foi visitar o
local e se agradou do que viu.

- Adorei aqui, é amplo. – falou com o corretor.


- Sim, ainda está no embolso, mas depois de pronto vai
ver como ficará claro e arejado. A vista para o mar é
incrível, nem notará a diferença do seu outro imóvel.

O apartamento era de cobertura triplex. Havia uma


antessala de entrada e logo uma sala imensa, com uma
lareira de canto ainda em acabamento. As portas de
vidro estavam colocadas e davam uma claridade muito
boa no ambiente. A cozinha era bem grande e a área
de serviço espaçosa. Tinha dois cômodos grandes
embaixo que poderiam ser feitos de escritório e mais
um de sala de TV se quisessem, além da sala de jantar
e estar que era bem ampla. Subiram para o segundo
andar e visitaram os quatro quartos que havia, todos
suíte, sendo que duas tinham espaço para banheira. No
último andar da cobertura era a piscina com
churrasqueira, mais uma área que dava para fazer
academia ou salão de festas.

- Bom, se você vender o meu, me mudo pra cá, mas


temos um porém, não posso vendê-lo se não tiver um
lugar para colocar minhas coisas.
- Podemos conversar com o cliente interessado em seu
apartamento. Acredito que com o andar da obra deste
aqui em dois ou três meses no máximo ele estará
pronto. Estamos com uma equipe muito rápida.
- Se me entregarem esse apartamento em três meses
eu pago à vista.

O vendedor chegou a arregalar os olhos. Poucos


clientes compravam um apartamento daquele a vista.

- A senhora... – pigarreou. - ...pode ficar tranquila que


faremos até a sua mudança.
- Fechado. Combine com o comprador do meu outro
apartamento, esta semana eu parto em busca da
decoração para este aqui.
- Colocaremos a sua disposição um arquiteto e o
construtor da obra para que possa fazer isso com
tranquilidade. Ficará muito satisfeita com este lugar, já
vendemos a outra cobertura e faltava apenas esta e um
apartamento no quarto andar.
- Espero que seja um bom lugar para morar. – Lívia
olhava em volta e cheia de esperança.

Em poucos dias o corretor ligou dizendo que o negócio


podia ser fechado e que o comprador do apartamento
esperaria ela sair. Lívia assinou todos os papéis
juntamente com um contrato de prazo de entrega do
imóvel novo. Ficou radiante com a aquisição e as
mudanças a fazer. Ligou pra mãe e pediu que ela
viesse ao Rio para ajudá-la na escolha dos pisos e
acabamentos do imóvel. Nesse meio tempo nada falou
com Marina e a ninguém do escritório, queria fazer
surpresa. Se desdobrava entre trabalho, ver a obra,
escolher e comprar material e namorar. Não queria que
Marina desconfiasse de nada e mesmo estando com os
horários apertados ligava para ela, procurava almoçar
junto, mandava presentes carinhosos durante a
semana e justificava quando tinha que se ausentar.
Sentia-se cansada, mas alegava excesso de trabalho, o
que não era de tudo mentira. Havia pegado alguns
clientes indicados por um amigo e por conta disso teve
a necessidade de contratar mais uma pessoa.

- Fabrício, já selecionou os currículos que te pedi?


- Por que eu tenho que fazer isso? Não pode ser Érica?
- Achei que queria escolher melhor o currículo da
pessoa que vai trabalhar com você.

O rapaz fez uma cara feia e entregou a Lívia uma pasta


com alguns currículos.

- Tem cinco selecionados aí, não sei se tem preferência


por homens ou mulheres.
- Minha preferência é por competência.

Lívia olhou tudo e pediu que Érica ligasse para três dos
que estavam ali, queria ela mesma conversar com eles.
Sentou com os candidatos para uma avaliação em
grupo e depois conversou com um por um. O primeiro
rapaz achou muito tímido e pareceu meio atrapalhado,
a segundo garota havia gostado do jeito dela, era
decidida e esforçada, ainda não tinha OAB, mas já tinha
feito prova e garantiu que havia passado. O terceiro era
convencido demais e ela achou que poderia ter
problemas com ele. Depois dos três lá fora olhou mais
uma vez o currículo e pediu que Érica chamasse a
menina e assim que ela entrasse, dispensasse os dois
garotos.

- Então Beatriz, está contratada. – falou sorrindo.


- Jura?! Ai nem acredito! Agora posso falar, preciso
muito trabalhar e não vai se arrepender de ter me
contratado, farei o que puder para atender suas
expectativas. – falou animada.

Ela lembrou Marina quando mais nova, tinha os cabelos


loiros compridos e os olhos verdes, a pele era um
pouco mais morena devido ao sol do Rio de Janeiro.
Seu sorriso e simpatia era um álibi para conquistar os
outros.

- Você vai começar amanhã mesmo viu, antes mesmo


da sua OAB chegar.
- Hoje sai o resultado, amanhã mesmo chego com a
notícia se passei ou não.
- Caso não tenha passado, vou dar tempo de você
tentar outra vez. Gostei de você e acho que vale a pena
esperar pelo seu registro.
- Muito obrigada dona Lívia, vou agarrar essa
oportunidade.
- Por favor, não me chame de “dona”. – olhou sério
para ela. – Não sou tão velha quanto pensa. – sorriu.
- Ah me desculpe, é por respeito.
- Então te espero amanhã. – esticou a mão para
cumprimentá-la e se despedir. – Traga seus
documentos para registrarmos você.
- Tudo bem.

Depois que a garota saiu, Lívia recolheu suas coisas e


foi pra casa. Tomou banho e saiu pra jantar com a mãe
no apartamento de Marina. Chegando lá foram
recebidas pela loirinha de avental e colher de pau na
mão.

- Olha, ela é cozinheira mesmo. – Marta brincou.


- Não mexa com ela mamãe, não ta vendo que tem
uma colher de pau na mão? – Lívia brincou.
- Sua boba, é bom andar na linha senão vai levar uma
colherada dessas. – beijou rapidamente os lábios dela.
– Entrem, estou terminando o jantar.
- Depois de muito tempo estou conhecendo a casa da
minha nora.
- Falta de educação a minha não ter chamado antes
Marta, mas é que o trabalho nunca me deixa ser
cicerone direito. – riu.
- Tudo bem querida, eu entendo.
- Sentem-se que já vou servir o jantar e depois te
mostro o apê.
- Cadê Renata? – Lívia perguntou.
- Saiu com Sarah, acho que foram ao cinema. –
respondeu da cozinha.
- Como vai sua família Marina? – Marta perguntou.
- Estão bem, falo com mamãe sempre e ela me dá
notícias do meu pai e meu irmão. – não quis dar
detalhes da convivência com eles. – Luisa deve vir pra
cá no final de julho passar férias. Estou aguardando a
vinda dela. – falou sorrindo.
- Tia coruja meu Deus! Vamos levá-la pra passear e
agitar o Rio. – Lívia piscou pra ela.
- Dá corda pra ela que você ta enrolada. Luisa é ligada
no duzentos e vinte. – Marina brincou.

Comeram e durante a conversa quase que Marta


entregou sobre a mudança de Lívia. Para distrair a
promotora comentou sobre a nova funcionária.

- Hoje contratei uma funcionária nova, o nome dela é


Beatriz. Me lembrou você quando te conheci, loirinha
de cabelos cumpridos e olhos verdes. Ficou muito feliz
quando a contratei.
- Por que teve de contratar uma funcionária? – Marina
perguntou.
- Um amigo me indicou alguns clientes e não estou
dando conta somente com Fabrício e estagiários. Eu
mesma não posso pegar caso nenhum porque sou
promotora pública, não tenho nem tempo para isso.
Somente reviso os processos que ele pega.
- A pergunta é: por que você contratou uma funcionária
e não um funcionário? – Marina olhava diretamente
para Lívia.
- Eu olhei alguns currículos, selecionei três para a
entrevista e ela foi a que mais me agradou. É
inteligente, educada, humilde e simpática. Os outros
dois não tinham esses requisitos.
- Claro, eram homens isso já os eliminou. – falou
levantando e retirando o prato da mesa.

Lívia olhou para Marta que fez um sinal para que ela
fosse atrás.

- Vou na varanda ver o movimento, a vista parece


ótima. – se levantou e saiu.

Lívia foi atrás de Marina na cozinha, ela estava


ajeitando a louça.

- Ei bonitinha. – a abraçou pela cintura. – Que foi?


Marina largou a louça e virou de repente.

- Que foi?! Você pergunta ainda o que foi? Contratou


uma secretária...
- Advogada. – corrigiu.
- Que seja. A contrata para trabalhar com você e quer
que eu pense o que? Ainda me diz que é loirinha que
nem eu. – falou com desdém.
- Você tem todos os motivos para desconfiar de mim. E
só por isso eu me desdobro em lhe mostrar que mereço
sua confiança. Contratei Beatriz pela competência que
ela pareceu ter e porque vi que precisava do emprego.
Quando disse que ela me lembrou você, foi porque é
tão esforçada quanto. E não tão linda quanto você. –
sorriu. – Não tenha ciúme.
- Não é ciúme. – Marina continuava emburrada.
- Ah não? Então é o que? – Lívia fazia cócegas na
cintura dela.
- Receio... – segurava o riso. – Você tem queda por
loiras.
- Confesso. – levantou as mãos. – Tenho mesmo, por
loiras baixinhas, de olhos verdes, cabelos curtos,
sorriso lindo, gostosas e sexy e claro, pianistas. –
voltou a abraçá-la. - Agora também na versão
violonista, percussionista, saxofonista e por aí vai. –
beijou a testa dela. – Eu a amo Marina. Passei minha
vida procurando você sem saber e quando encontrei fiz
a besteira de perder. Agora que Deus e você me deram
outra oportunidade, não vou desperdiçá-la.
- Estou de olho em você ta? – beliscou a barriga dela.
- Acha que não fico de olho em você também, sempre
cercada de músicos bonitos e galantes, sem contar que
no meio que você convive os gays são mais atirados.
- É, vou ter que concordar. São mais cara de pau.
- Pois é, eu que teria de morrer de ciúme, mas tenho
me controlado bem.
- Falando em controlar, e o cigarro?
- Não fumo desde aquele dia, tudo bem que masco
chiclete de cinco em cinco minutos, mas me controlo.
- Muito bem! Merece um beijinho. – beijou o queixo
dela e mordeu.
- Nosso trato era mais ousado que esse beijinho.

Lívia a agarrou e beijou com vontade, deixando Marina


sem ar.

- Sua mãe está aí, esqueceu? – tentava se recompor.


- É pra você saber também que eu te amo.

Saíram da cozinha e foram ver onde Marta estava.


Chegaram na varanda brincando e mostrando que
estava tudo bem. Marina mostrou o apartamento para
Marta e o estúdio. Quando foram embora Lívia se
despediu com um beijo apaixonado. Na volta pra casa
ela reclamou com a mãe sobre Marina não falar sobre
amor com ela.

- Ela nunca diz que me ama.


- Já experimentou falar isso com ela? É um assunto
para discutirem.
- Fazer DR não é comigo, ainda mais com ela estando
desconfiada, acho que só vai piorar.

No dia seguinte Beatriz chegou cedo e com o resultado


da prova, havia passado.

- Que boa notícia menina. – Lívia sorriu. – Assim que


estiver com o número do registro você me avisa.
- Sim, pode deixar.
- Como gratificação pelo resultado, vou lhe dar uma
bonificação. Aqui trabalhamos assim, funcionário que
produz tem crédito.
- É sério? – sorriu de orelha a orelha.
- Sério. – Lívia balançou a cabeça. – Bom, daqui em
diante você trabalhará mais com Fabrício, eu só reviso
os casos que ele pega. Terá sua sala, ao lado da dele e
se precisar de alguma coisa é só me falar ou com ele
mesmo.
- Ta certo.

No fim do dia Marina apareceu no escritório, Lívia


soube bem por que e achou graça do ciúme velado
dela. Fabrício ficou surpreso em vê-la ali, sabia por alto
do retorno das duas, mas não tinha tido tempo para
falar com Marina. Já sua prima não lhe dava mais
espaço para isso.

- Adorei te ver aqui. – sorriu e abraçou a loirinha.


- Muito trabalho?
- Mais ou menos, tenho dado conta. Beatriz começou
hoje e vai dar uma mão a Fabrício.
- Achei que ela ficaria mais com você.
- Não, eu precisava de alguém que trabalhasse junto
com ele. Ela já vai pegar firme, ele está atolado de
coisa, mas gosta que eu sei. Eduardo que vai reclamar,
andam meio afastados.
- Me admira muito esses dois estarem juntos até hoje.
- Acho que ali é costume e acomodação, mas deixa
eles. – Lívia se encostou na beirada da mesa e puxou
Marina para ficar entre suas pernas. – Quero te curtir
um pouco. – beijou sua boca devagar, passando a
língua em seus lábios. Desceu as mãos para a bunda
dela e pressionou contra seu corpo.
- Ei, deixa de ser assanhada que estamos no seu
trabalho.
- Que tem isso? Você é minha namorada, não estou
fazendo nada demais. E está tão linda com essa roupa.
– se referiu ao conjunto social que Marina usava, era
uma calça preta com bolsos discretos na frente, blusa
branca e um colete da cor da calça. – Muito difícil
resistir a você. – mordeu seus lábios.

Bateram na porta e Marina se afastou um pouco para


que Lívia desse sinal para entrar, foi então que ela
conheceu Beatriz.

- Lívia, esses processos aqui são os novos, estão


montados. Fabrício perguntou se vai ler hoje ainda?
- Acho que sim, pode deixar comigo, se não ler aqui,
leio em casa.

Marina olhava para Beatriz com cisma.

- Beatriz, essa é Marina minha namorada. – passou o


braço na cintura dela. – E Má, essa é Beatriz, nossa
nova funcionária.

A menina ficou assustada com a apresentação, mas se


virou bem sorrindo e estendendo a mão para Marina.

- Muito prazer.
- Prazer. – Marina sorriu também.
- Bom, eu já vou indo então. – Beatriz falou. – Fabrício
disse que eu poderia pegar alguns livros se quisesse,
peguei dois, mas devolvo rápido viu?
- Fique a vontade, quero mais é que leia mesmo, isso é
importante. A propósito, espere. – Lívia pegou um
envelope e entregou a Beatriz. – Aqui está o depósito
da sua bonificação. Não pago em dinheiro, porque aqui
no Rio não podemos dar esse mole de andar com
dinheiro na bolsa.
- Muito obrigada. – Beatriz estava feliz. – Esse dinheiro
não poderia ter vindo em melhor hora. Posso lhe dar
um abraço? – os olhos estavam um pouco marejados.

Marina olhou com reprovação, mas Lívia não ligou.


Abraçou a menina e desejou a ela um bom começo no
escritório. Beatriz agradeceu mais uma vez e saiu
deixando-as sozinhas.

- Posso lhe dar um abraço? – Marina a imitou. – Ah


Lívia!
- Você viu algo de mais?
- Ela é muito simpática pro meu gosto.

Lívia balançou a cabeça em sinal de censura.

- Você está exagerando, não faça isso, a menina só


quer ser gentil.
- Ahan. E você está adorando. – olhou com raiva.
- Que é isso amor, não fale assim, está me ofendendo.

Marina respirou fundo e viu que tinha se alterado.

- Desculpa, acho que é TPM.

A promotora se aproximou de novo dela e a abraçou.

- Tenho uma surpresa pra você, mas só pra daqui uns


dias.
- E está me contando agora só pra me deixar curiosa?
Você é muito gente fina comigo. – sorriu ironicamente.
- Vai gostar, eu acho né. Estou ansiosa para ver sua
cara e até com medo.
- O que você está aprontando? – perguntou
desconfiada. – Não está planejando viagem né? Não
posso de jeito nenhum sair do estúdio agora.
- Não é viagem, sei que está apertada no trabalho. –
Lívia desfez o sorriso.
- Tem uma dica? – Marina sorriu franzindo o nariz.
- É uma mudança e tanto pra mim e estou fazendo por
você. Quero lhe mostrar que você é mais importante
que qualquer outra coisa na minha vida.

Marina ficou surpresa com a declaração.


- Eu sei que você me ama. – falou abaixando a cabeça.
- Que bom que sabe, porque eu não sei se você me
ama. – a morena falou chateada. – Pelo menos não diz.
- Eu não digo por que... Aliás, eu já disse quando nós
reatamos, me lembro bem disso.
- Acho que se arrependeu então, porque nunca mais
falou.
- Sei lá, acho que não precisa.
- Nossa, se não acha isso necessário, não sei por que
ainda insisto no nosso relacionamento. Será que nunca
mais vou ouvir de você que me ama?

Marina não soube o que dizer e deu graças a Deus que


seu telefone tocou. Atendeu e era o rapaz do estúdio
pedindo que ela retornasse para falar com um cliente
que a esperava.

- Preciso voltar ao estúdio, tem um cliente me


esperando, achei que só iria amanhã, mas ele se
antecipou. Te vejo mais tarde?
- Não, vou sair com mamãe para resolver umas coisas
e não sei vai dar tempo.
- Então eu a vejo amanhã. – beijou seus lábios. – Se
cuida.
- Você também. – falou chateada ainda.

Quando saiu viu Fabrício passando e ele a chamou.

- Voltaram hein? – brincou.


- É.
- Pensou bem nessa decisão?
- Acho que sim.
- Também com toda aquela insistência, nem tinha mais
pra onde correr. – ele riu.
- É, Lívia quando quer é muito insistente.
- E você cedeu. – era quase irônico o tom de voz dele.

Por um instante Marina teve vergonha de ouvir aquilo.


Fabrício falava como se reatar o relacionamento fosse a
pior coisa que ela tinha feito. Saiu se sentindo mal dali.
Estava sendo dura demais com Lívia e ao mesmo
tempo se sentia idiota por estar com ela. Isso causava
desencontros, às vezes tinham momentos gostosos e
logo travavam uma briga de orgulho. Sabia que a
amava, mas não baixava a guarda enquanto não
confiasse totalmente nela. A prova seria a nova
funcionária, queria saber se Lívia se envolveria ou não
com ela.

Depois que saiu do escritório, Lívia se encontrou com a


mãe no endereço do novo apartamento. Foram ver
como estava. Tudo ia dentro do previsto e só faltava
pintar e colocar as luminárias nos devidos lugares.
Como o apartamento tinha mais quartos, elas saíram
para ver móveis de decoração.

- Gente, vou me descapitalizar. – Lívia brincou. –


Depois eu reponho o dinheiro.
- Você deveria investir melhor seu dinheiro e não ficar
só guardando.
- Eu não guardo, eu aplico, faço fundos de
investimento. Rende bem e é mais seguro, pelo menos
eu acho né.

Foram a uma loja de móveis e decoração. Escolheram o


quarto que seria de Luisa. Lívia fez questão de que
tivesse um quarto pra ela em sua casa. Os móveis de
seu escritório ela aproveitaria, acrescentando somente
uma mesa diferente. Para a sala de TV havia mudado o
sofá e no seu quarto queria tudo novo, principalmente
a cama. Os antigos móveis, conseguiu negociar e
vender na própria loja. Comprou aparelhos para a
academia, que ficaria no terceiro andar e também
cadeiras de piscina.

- Agora temos um problema.


- O que? – Marta perguntou.
- O estúdio. Quero montar um pra ela, mas não sei
nada desses equipamentos.
- E Renata?
- Isso mãe, ela vai me ajudar.

Lívia ligou para Renata e marcou de encontrar com ela.


Pra sua sorte a secretária saía do estúdio e a encontrou
em seguida.

- Que manda? – sorriu e cumprimentou as duas.


- Preciso montar um pequeno estúdio caseiro.
- Ai, ai... isso ta me cheirando a confusão. Você ta
aprontando o que hein?
- Nem queira saber. - Marta revirou os olhos.
- Senta aí, vamos tomar um suco e eu te conto tudo.

Lívia contou sobre a venda do seu apartamento, a


compra do outro e as mudanças que estava
enfrentando.

- Você é louca! – Renata sorria. – Está saindo da sua


casa antiga por causa de Marina? Está cedendo demais,
espero que ela reconheça isso.
- Eu também espero. – Marta falou.
- Quero ter uma vida feliz com ela, só isso. – baixou a
cabeça.
- Não fique com essa cara, o que está fazendo é lindo,
mas arriscado. Bom, vou fazer uma lista de
equipamentos e te passo tudo por e-mail. Tire a
metragem do local para que possa isolar
acusticamente. Eu te levo depois nas lojas
especializadas e eles mesmos fazem isso.
- Obrigada Renata. – segurou as mãos da secretária.
- Estou orgulhosa de você, sabia? Nem sei por que.
Sinto que quer o bem dela. Está fazendo tudo para
serem felizes e torço para que consiga.
- Eu agradeço. Por favor, não preciso nem pedir para
não contar nada a ela.
- Claro que não.

Marcaram de se encontrar dali uns dias para comprar


os equipamentos. Renata levou Lívia numa loja onde
Marina havia intermediado a importação dos
equipamentos do estúdio novo.

- Aqui tem todo tipo de som, dos mais modernos e


caros, aos mais simples. Vai depender do que você
quiser fazer lá.
- Quero um que nem o da casa dela, talvez mais
equipado. Um meio termo entre o da casa e o outro
estúdio.
- Ok.

Conversaram com um vendedor e encomendaram o


que precisavam, Lívia mostrou o tamanho do estúdio e
não demorou para fecharem negócio. Ainda comprou
alguns instrumentos.

- O piano dela foi embalado hoje, vão levar de tarde. –


Lívia falou. – Vou comprar outro menor para o estúdio.
- Compre um teclado, ela vai preferir. Ela comentou
com Diogo que queria um modelo novo da Roland. –
Renata mostrou na revista o modelo e Lívia comprou
sem pestanejar. - Estou impressionada, você tem bala
na agulha hein?

Lívia riu do jeito de falar da secretária.

Quando voltou ao escritório, Beatriz a esperava para


tirar umas dúvidas, estavam conversando no sofá da
sala de Lívia e nem viram Fabrício entrar.
- Eita que estão tão entretidas que nem me viram.
- Oi Fabrício, Beatriz veio fazer umas perguntas e
acabou que estamos de papo aqui.
- Sei. – falou desconfiado. – Bia, depois redige pra mim
essas cláusulas?
- Claro, vou lá fazer.
- Não menina, amanhã. Não viu a hora?
- Acho que o papo rendeu que nem me dei conta. –
Beatriz olhou no relógio.
- Agora ta chamando de Bia? – Lívia brincou. – Vou te
chamar assim também, pode?
- Claro gente, todo mundo me chama de Bia. – se
levantou. – Deixa eu ir, vou pegar uns documentos,
minha OAB saiu.
- Bom, vou indo também marquei com Marina de sair.
- Aonde vão? – Fabrício perguntou.
- No barzinho que ela tocava. Quer ir com Dudu?
- Acho que sim viu, estou precisando distrair. O
trabalho ta acabando comigo.
- Falar nisso, como Beatriz tem se saído?
- Bem, ela realmente é esforçada e dedicada. Pensa
rápido e não reclama o que é uma grande vantagem.
- Que bom isso.

À noite Lívia pegou Marina em sua casa e saíram.


Chegando ao barzinho encontrou com Eduardo e
Fabrício já sentados lá. Renata chegou logo em seguida
com Sarah e uma amiga da escola. Pediram bebidas e
brindaram.

- Ao trabalho que dignifica a alma. – Eduardo falou.


- Se eu achar o infeliz que falou isso eu mato ele. –
Fabrício brincou fazendo o restante rir.
- Realmente o trabalho é ótimo, mas cansa. – Marina
comentou.
- Cadê sua mãe Lívia, não quis vir?
- Que nada, ela ta meio cansada hoje.
Na verdade Marta ficou monitorando a mudança que já
estava sendo providenciada. Lívia mudaria de vez na
semana seguinte.

- Cansado to eu, ainda bem que agora tenho uma


parceira. – Fabrício comentou. – Beatriz tem me
aliviado bastante.
- Essa Beatriz é um anjo né? – Marina debochou.
- Se é anjo eu não sei, mas parece que ela caiu do céu
mesmo. Se deu bem com todo mundo no escritório, até
com a chefinha.
- Deixa de ser bobo, eu gosto dela, e acho que se deve
dar oportunidade a quem quer trabalhar. Tem gente
que quer emprego e não trabalho.
- Concordo. – Eduardo falou. – O povo quer o salário,
mas trabalhar por ele não.

Marina nada falava, prestava atenção em Lívia e em


Fabrício principalmente.

- O bom da Bia é que ela não nega serviço e não


reclama.
- Bia? Já tem apelido?
- É Du, a loirinha conquistou todo mundo lá.

Lívia sabia que as frases de Fabrício eram intencionais,


típico dele, mas sua preocupação era Marina e no que
ela estava pensando.

- O que estavam conversando hoje de tarde Lívia? – ele


perguntou.
- Nada demais, ela me contou coisas da época em que
estudava e sobre alguns professores, como estudamos
na mesma faculdade temos professores em comum.
Lembramos de histórias de curso, ela no tempo dela e
eu no meu. Falando em estudar, o que está achando
daqui do Rio Sarah, está gostando? – mudou de
assunto.
- Muito.
- Eu respondo por ela, fez muitos amigos já. – falou a
amiga da menina.
- Que bom.
- Será que Bia tem namorado? – Fabrício voltou no
assunto. – Ela te falou algo Lívia?
- Não, acho que não tem.

O papo sobre Beatriz rendeu tanto que Marina se


irritou. Acabou levantando e pegando sua bolsa.

- Bom, o papo está ótimo, mas eu vou embora.


- Que isso? Nem sentamos direito. – Eduardo falou.
- Estou cansada, amanhã acordo cedo.
- Peraí Má, vamos ficar mais um pouco. - Lívia pediu.
- Pode ficar eu não ligo. Renata se quiser ficar também,
depois vai com você.

Marina saiu e Lívia foi atrás, Renata também e Sarah


com a amiga.

- Satisfeito Fabrício? – Eduardo falou bravo.


- De que?
- Não faz de bobo, você tentou até conseguir irritar
Marina. Quando é que vai dar uma trégua às duas?
- Olha, sei que me olham como carrasco, mas eu não
concordo com a volta desse relacionamento e acho que
Marina vai se decepcionar com Lívia de novo.
- E o que você tem com isso? Acho que se mete demais
na vida dela e esquece de olhar a sua. Eu to cansado
disso, pra mim chega. – saiu deixando o rapaz sozinho.

Lívia foi atrás de Marina.

- Calma aí. – a segurou pelo braço.


- Me deixa, não quero ouvir desculpas ou explicações.
- Não tenho que explicar, muito menos me desculpar,
não fiz nada!
- Ah não?
- O que eu fiz?

Renata percebeu a discussão e se afastou um pouco.


Eduardo chegou perto e a chamou.

- Vem Renata, eu levo vocês pra casa, deixa elas se


entenderem.
- Meu salvador! – riu. – Vamos.
- Você é uma santa Lívia. – ria com deboche.
- Marina está sendo injusta e sabe disso. Está se
deixando levar pelo veneno de Fabrício, que até hoje
não sei por qual motivo se mete tanto na minha vida.
Não brigue comigo amor, sabe que não fiz nada. –
pediu tentando abraçá-la.
- Me solta, não quero vê-la mais hoje. Você sempre
piora as coisas, estraga tudo e perde o que tem de
bom. – olhou com raiva para ela.

Virou as costas e saiu andando deixando a morena sem


ação; viu um táxi parado, entrou nele e foi embora.
Lívia entrou no carro e não se conteve, começou a
chorar, ficou nervosa e pegou um cigarro, na primeira
tragada teve raiva e jogou fora. Não sabia o que pensar
e tudo parecia não dar certo quando Marina brigava
com ela. Foi pra casa chorando e se trancou no quarto.
Marta ia perguntar o que tinha acontecido, mas deixou
que ela se acalmasse primeiro.

Assim que Marina pisou em seu apartamento Renata a


chamou.

- Senta aí que nós vamos conversar.


- Não to com clima para sermão. – saiu andando.

Renata a impediu com a mão.

- Senta que você vai me ouvir nem que seja a última


vez. Não vou mais ter esse tipo de conversa contigo.

Marina assustou com a forma de Renata falar e


resolveu respeitar.

- Percebeu o que fez? Aliás, tem notado como trata


Lívia desde que voltaram? Às vezes é gentil como uma
porta. – ironizou. – Pra que voltou com ela? Se vai
tratá-la dessa forma era melhor estarem separadas.
- Não a trato sempre com grosseria.
- Tudo bem, mas na maior parte do tempo sim. E se
não é grossa é seca. Ela faz tudo por você. Te manda
flores, presentes, liga, dá atenção e você só joga balde
de água fria. Se não consegue perdoá-la, termine. Ela
merece uma pessoa mais carinhosa ao lado dela, que a
trate como merece. Pronto, era só isso que tinha pra
falar.
- Eu... não é bem assim...
- Não quero justificativa pra suas atitudes. Não é pra
mim que tem que falar. Nem é da minha conta, mas eu
não consigo ver certas injustiças. Ame Marina, ou
largue e deixe que alguém a ame como se deve.

Renata saiu deixando a loirinha sozinha. As últimas


palavras deixaram Marina atordoada, não pensava de
forma alguma em alguém amando Lívia como ela
amava, mas também não confiava o suficiente e ainda
tinha mágoa pela traição. Iria cedo falar com ela e
acertar tudo de uma vez.

Lívia acordou cedo, ou melhor, nem dormira direito.


Tomou um banho frio, vestiu uma roupa toda preta e
quando saiu deu de cara com a mãe no quarto.

- Essa cara de choro é o que?

Lívia contou tudo à mãe e disse que tomaria uma


decisão cortando o mal pela raiz. Chegou em seu
escritório e pegou Fabrício chegando também.

- Bom dia Lívia. – falou sorrindo.


- Vem na minha sala que quero falar com você. – falou
serio.

Ele a seguiu e mal entraram ela se virou e falou sem


rodeios.

- Está demitido!
- O que?! – arregalou os olhos.
- Está demitido! Não vou repetir.
- Você não pode me demitir!
- Por que não? O escritório é meu e aqui trabalha pra
mim quem eu quero e quem quer me ver bem, o que
não é o seu caso. Sabe Fabrício, sempre achei que você
seria um excelente parceiro. Gosto do seu trabalho, do
profissionalismo, mas você não tem caráter pessoal.
Não sei por qual motivo tem interferido tanto na minha
vida nos últimos anos. Por acaso gosta de Marina?
- Que isso! Sabe que não, sou gay ora bolas. – falou
nervoso.
- Então sinceramente eu não entendo, se dissesse que
gostava dela eu até perdoaria. Com que intuito você
envenena nosso relacionamento então, eu não sei. É
desde o início e quando nos separamos você pareceu
gostar.
- Claro, você a enganou e traiu. Quando ela descobriu,
eu fiquei aliviado.
- Não por isso, mas gostou de nos ver separadas. Por
que hein?
- Você não a ama, você envolve as pessoas e depois as
joga fora. Fez isso com Marina e ela não merece ser
enganada de novo. Ela merece alguém melhor, como
Vera, por exemplo, é uma pena que o relacionamento
delas não tenha ido pra frente.

Lívia ouviu aquelas palavras como uma facada no


estômago, Marina não havia falado sobre o
relacionamento dela com Vera. Fabrício percebeu a
gafe, mas tentar consertar não dava mais.

- Some daqui, vou pagar o que você tem direito e


quero te ver longe da minha vida. Você fala que não
tenho coração, mas só envenena as pessoas e vai
acabar sozinho por isso.
- Vou procurar meus direitos sim, você vai saber disso
na justiça. – ameaçou.
- Me processe mesmo Fabrício e nunca mais conseguirá
emprego em lugar nenhum do país.

O rapaz engoliu em seco e saiu nervoso batendo a


porta, por pouco não passa por cima de Beatriz.
Recolheu suas coisas e foi embora. Lívia ligou pra mãe
e contou tudo.

- Fico com pena de tia Bete, ela vai ficar muito triste.
- Calma filha, Bete sabe entender as coisas, eu
converso com ela.

Beatriz bateu na porta e Lívia pediu que entrasse.

- Bom dia. – sorriu a menina.


- Beatriz, senta aí que vamos conversar.

Como pediu, a menina sentou e aguardou assustada o


que a chefe tinha pra falar.

- Acabei de demitir Fabrício por razões que eu explico


depois. Então você agora está responsável pelos
processos que ele estava advogando. Fique tranquila
que te dou todo o suporte que precisar e vou contratar
mais uma pessoa para trabalhar com você.

Beatriz estava atônita, mal conseguia se mexer. Lívia


levantou da cadeira onde estava e sentou no sofá,
encostou a cabeça e botou as duas mãos na testa num
gesto preocupado.

- Meu Deus! Quanta coisa na cabeça pra resolver. –


soltou os braços relaxando-os no sofá.

Beatriz ficou na dúvida se sentava do lado dela ou se


ficava onde estava, mas resolveu interagir.

- Fica calma. – segurou a mão dela. – Tudo na vida tem


sua fase, as situações sempre passam e sempre
mudam. Falo isso pra você e pra mim. – sorriu.
- Eu sei, mas na hora da confusão a gente fica perdido
mesmo. – Lívia olhou para ela e decidiu contar tudo o
que estava acontecendo. – Bem, vou te deixar a par da
situação para que entenda melhor...

Contou tudo sobre sua vida, seu relacionamento, a


traição, as implicâncias de Fabrício, até chegar na
própria Beatriz e no ciúme de Marina. A menina ficou
envergonhada. Não imaginava que pensariam isso dela.

- A culpa não é sua, Marina que parece procurar um


jeito de brigar comigo. Até concordo que ela tenha
desconfiança, mas eu não dei motivo.
- Muito menos eu. - falou calmamente. – Olha, vamos
por partes... Primeiro aqui no escritório, a saída de
Fabrício me pegou de surpresa, não tem nem uma
semana que estou aqui, mas nunca tive medo de
trabalho, com você me ajudando eu fico mais tranquila
e assim que tiver outra pessoa, acho vai melhorar
porque em conjunto consigo trabalhar melhor. – sorriu.
- Pode ficar tranquila que seu salário será corrigido. –
sorriu meio desanimada.
- Não se preocupe com isso, o que eu ganho é mais do
que esperava, pra quem ta começando na carreira.

Neste instante Marina chegou ao escritório e disse que


ia até a sala de Lívia; ao se aproximar viu que a porta
estava entreaberta e pode ver dali que ela conversa
com Beatriz. A menina segurava as mãos de Lívia que
estava recostada no sofá. Parou na porta para escutar o
que falavam.

- Fabrício fez muito mal em se meter na sua vida, já


que você não deve nada a ninguém. De repente ele
tem inveja e esse sentimento é terrível, faz estragos na
vida de uma pessoa. Agora você já resolveu este
problema. – pausou um pouco – Agora, quanto à sua
vida pessoal... Infelizmente não posso falar muito, não
conheço sua namorada. Ela tem razão de desconfiar,
mas se resolveu reatar o relacionamento deveria botar
uma pedra no assunto. Se isso não aconteceu, tente
conversar com ela, pelo que pude notar naquele dia
acho que ela gosta de você. – sorriu.
- Às vezes tenho vontade de jogar tudo pro alto, estou
cansada de tentar fazer Marina confiar em mim, de
agradá-la, ser carinhosa e receber de volta
desconfiança e grosseria.
– Fique calma viu? Se ela realmente a ama as coisas
vão terminar bem.
- Será que ela me ama mesmo?
- Ela tem até ciúme de mim! Como não te ama? –
brincou, fazendo Lívia rir também.

Marina pode perceber que não havia nada entre as


duas além de um principio de amizade. Beatriz nem
demonstrava ser homossexual. Saiu sem que as duas
percebessem e passou por Érica apressada, que não
entendeu nada. Saindo do elevador encontrou com
Fabrício ao telefone, ele a viu e chamou.

- Ei Marina!

Ela se virou para olhá-lo.


- Está sabendo? – perguntou ele.
- Do que?
- Fui demitido ora. Achei que estivesse com Lívia agora.
- Não, ela estava ocupada.
- Ah claro, deve ta rindo da minha cara ou comendo a
funcionária nova. – falou com desprezo.
- Por que essa raiva toda? Lívia sempre te tratou bem,
sempre te deu oportunidades. Não entendo.

Fabrício abaixou a cabeça e quando olhou novamente


para Marina seus olhos estavam cheios de lágrimas.

- Lívia sempre foi a prima preferida, a queridinha da


família, a que não tem pai, a coitada. Conseguiu tudo
que tem porque sempre teve regalias. E o que ela fez
com isso? Não deu valor às pessoas, como eu por
exemplo. Sempre fiquei ao seu lado, sempre fui um
ótimo funcionário e agora ela me manda embora.
- Fabrício, desde que te conheço, sempre me alertou
contra ela.
- Eu dizia que ela ia te machucar e não foi o que
aconteceu?
- Sim, aconteceu, mas isso não é problema seu e não
devia se meter tanto. Por ser indiscreto deu no que
deu. Tem que deixar de ser inconveniente, crítico e
maldoso nos comentários, isso também magoa.
- Agora vai me dar lição de moral?
- Não, estou tentando abrir seus olhos, mas se acha
que estou exagerando tudo bem. – falou e saiu.
- Espera. – segurou o braço dela.
- Peço desculpas pelas implicâncias, eu gosto de você e
quero seu bem. Desde que te conheci vi que seríamos
grandes amigos e não suportei saber que Lívia te traía
com aquela vagabunda. – foi se aproximando de
Marina. – Quando soube que você descobriu fiquei
louco e minha vontade era de matar Lívia, ela não
podia ter feito isso, depois percebi que algo tinha
mudado dentro de mim. Eu gosto de você Marina, mais
do que pensei. – tentou beijá-la, mas ela se esquivou.
- Fabrício! Está maluco?! Olha, seria muita pretensão
minha dizer que já imaginava algo assim, todo aquele
teatro de picuinhas e fofocas era por que gostava de
mim?
- Desde quando vocês duas ficaram noivas.
- Meu Deus! – Marina estava perplexa. – Infelizmente o
sentimento não é correspondido, sempre achei você um
cara esforçado e achava que gostava de Dudu.
- Eduardo é uma boa pessoa, mas é muito travado e
utópico, cheio de ilusões e isso não esquenta
relacionamento. Ainda bem que ele terminou comigo,
não suportava mais ficar com ele.

A cada palavra que ele dizia, Marina ficava ainda mais


indignada.

- Você diz que não sente o mesmo, mas se quiser


tentar um dia. Lívia ainda vai te trair de novo, pode
apostar nisso. E Beatriz é a próxima vítima.
- Antes que comece com seu veneno eu vou embora.
Espero que possa reavaliar suas atitudes. – deu as
costas e saiu.

Fabrício na verdade fazia um teatro, gravou a conversa


e iria mostrar a Lívia depois. Queria de alguma forma
atrapalhar o relacionamento das duas, mas não teve
sucesso.

Marina chegou ao estúdio e se trancou em sua sala.


Pensou muito no relacionamento delas, reviveu
momentos bons e ruins, brigas e reconciliações.
Lembrou das palavras de Renata e muita coisa que
Lívia também falara com ela. Foi interrompida pela
secretária.
- Luciana está lá fora, veio pra conversar sobre a
gravação do CD.
- Mande-a entrar.

Depois dos devidos cumprimentos, Luciana disse que


queria gravar o CD numa fazenda na região serrana do
Rio e que já havia montado parte do equipamento lá.
Os ensaios seriam gravados e depois usados no DVD
como making of. Pediu que Marina fosse até essa
fazenda para acompanhar as gravações e por conta da
distância não daria para que ela fosse e voltasse todos
os dias, teria de dormir lá.

- Bom, preciso me programar para isso. Felipe teria de


vir e assumir o estúdio aqui por uns dias.
- Sabe que só faço as coisas com vocês. Por favor, me
dê essa atenção, quero que este CD saia
impecavelmente perfeito.
- Pode deixar, só preciso me organizar. Te respondo
ainda essa semana.

Combinaram de se falar no fim da semana e só depois


que Marina prometeu acompanhar tudo de perto é que
Luciana sossegou.

Lívia mandou chamar o garoto que achou meio tímido,


conversou com ele e disse que começaria no dia
seguinte. Apesar da timidez pareceu se dar bem com
Beatriz. Foi pra casa mais cedo e levando trabalho para
analisar mais à noite. Ainda tinha que passar no novo
apartamento, somente pegou sua mãe e foram para lá.
No caminho conversaram sobre tudo que estava
acontecendo.
- Conversou com tia Bete? – perguntou a mãe.
- Sim, ela ficou chateada, claro, mas entendeu. Faz um
tempo que ela tem chamado a atenção do filho. As
implicâncias de Fabrício passaram dos limites.
- Uma hora enche o balde.
- Ela disse que vai ligar pra ele e conversar, pedir que
ele vá para Mauá.
- Melhor pra ele. Vou pagar tudo que ele tem direito e
mais alguma coisa, para evitar problemas futuros.
- Isso, melhor mesmo. E quanto a Marina?
- Não a vi hoje, meu dia foi tão corrido que nem tive
cabeça pra ligar. E pra que também? Pra escutar
desaforo e ser ofendida? – fez um sinal negativo com a
cabeça. – Chego a pensar se estou no caminho certo
fazendo tudo que estou fazendo agora.
- Lívia, eu te perguntei se estava fazendo a coisa certa.
- Mãe, fiz tudo isso por Marina, eu a amo. Mesmo ela
brigando comigo. – falou triste.
- Agora já está feito. Me ligaram hoje para montar os
móveis do quarto de Luisa e o seu. O tal quadro que
você falou ficou pronto também e eles disseram que
iam colocar no lugar.
- E o estúdio?
- Renata pediu pra ligar para ela e eu me esqueci de
lhe falar.
- Ai mãe! Era pra ter me avisado.
- Eu esqueci, tenho tantas coisas na cabeça. – Marta
sacudiu a cabeça parecendo confusa.
- Ah desculpa, a senhora tem me ajudado muito com
essa mudança.

Assim que chegou ao prédio Lívia ligou para Renata e


ela foi encontrá-la no apartamento. Identificou-se na
portaria e subiu. Ficou maravilhada com o que viu.

- Mulher! Isso aqui é um palácio! Tem um quarto pra


mim? Porque você tem que ter feito um quartinho pra
mim, vou vir aqui sempre.
Lívia morreu de rir.

- Pode deixar que terá sempre um lugar pra você nessa


casa. Acabei de chegar e fiquei conversando com o
decorador, ainda nem vi tudo, vamos que eu to curiosa
pra ver como ficou lá em cima.

O quarto de Luisa era uma mistura de espaço teen com


quarto de princesa. Os móveis eram brancos e nas
paredes havia decalques coloridos. A cama era de
solteiro e podia ser transformada em sofá se quisesse.
Tinha uma bancada com um notebook e vários livros
infantis, o guarda-roupa também era branco com um
espelho na porta.

- Que graça. Ela vai adorar. – Renata falou.

Foram para o quarto de Lívia. O piso era preto e os


móveis eram brancos com detalhes em preto. A cama
era tamanho queen e acima dela, na parede, havia uma
foto estilizada de Lívia e Marina, num desenho em
carvão.

- Nossa que lindo! Onde arrumou essa foto?


- É antiga, tiramos num dia de bagunça lá em casa e eu
mandei fazer o pôster, mas com um efeito diferente.
- Ficou muito legal.

O banheiro ficava numa porta toda de vidro e ao fundo


tinha um jardim de inverno. O closet tinha oito portas e
era bem amplo.

- Esse quarto mais parece uma casa inteira. – Marta


brincou. – Dá pra morar só aqui.
- O melhor vem agora. – Lívia apertou um botão e se
abriu em frente a cama uma tela enorme de TV. –
Cinema particular.
- Casa comigo? – Renata olhou para ela piscando os
olhos.
- Ah, se você fosse loira eu até encarava. – brincou.
- Se Marina não te quiser eu quero, sei cozinhar, lavar
e passar.

Riram.

- Agora só falta o estúdio. – Lívia falou.


- Combinei com eles de virem aqui amanhã. Se quiser
eu venho e fico supervisionando, só não sei lhe dizer se
tudo vai funcionar conforme tem que ser, porque não
entendo muito dessas coisas.
- Não tem problema, eu chamo Dudu, ele deve me
ajudar.
- É, de alguma coisa ele deve entender. Olha queria lhe
dizer uma coisa: Marina vai viajar uns dias pra uma
fazenda aqui perto, vai acompanhar a gravação de um
CD. Ela vai sumir viu?
- Não vou procurá-la. Ela me ofendeu muito, decidi que
se ela não me procurar eu não vou atrás.
- Que é isso Lívia! Depois de fazer isso tudo aqui?
- Estou agindo da maneira mais honesta, mas ela não
me quer, então não vou rastejar atrás dela.
- Entendo você, não vou lhe julgar.

Marta voltou da cozinha falando sobre a área de


serviço.

- O moço instalou tudo aqui na área, tem até varal. –


riu.
- Eles são bons. – Lívia sorriu.

Depois que saíram Lívia voltou pra casa e foi trabalhar.


Leu todos os processos que estavam na mão de
Fabrício e se inteirou de tudo, virou a noite
trabalhando.
De manhã bem cedo Renata entrou em contato com
Eduardo e pediu que ele se encontrasse com ela e
Marta. Marcaram um melhor horário e foram para o
apartamento de Lívia.

- Que lugar é esse? – perguntou curioso olhando tudo


em volta.
- Você só está aqui porque precisamos de você, caso
contrário só pisaria aqui no dia da inauguração.
- É uma casa de festa?
- Não. – Renata riu. – Aqui é o apartamento de Lívia.
Ela comprou.

Renata contou toda a história e Eduardo se animou com


a novidade.

- Bárbaro! Sou fã de Lívia, quando crescer quero ser


que nem ela. – riu.

Depois de montar todos os equipamentos Eduardo os


testou e deu o aval de que estava tudo funcionando
bem. Agora só faltava mesmo a mudança de Lívia.

No escritório, Guilherme, o funcionário novo se


apresentou e começou imediatamente. O dia passou
tão rápido que nem percebeu. Ficou com os dois até
tarde no escritório para colocar tudo em ordem. Lívia
ligou para a mãe, ela e Renata haviam acabado de
chegar do apartamento.

- Filha, agora falta só mudar.


- Graças a Deus! Vou ligar para a imobiliária e falar
com eles.

Providenciou tudo no dia seguinte e enquanto


mudavam ela e a mãe ficariam num hotel. Continuava
trabalhando num ritmo frenético, estava muito
preocupada com o rendimento dos novos funcionários e
mais ainda com sua agenda de compromissos.

- Essa justiça é tão lenta que eu chego a me questionar


se escolhi a carreira certa.
- Pare de ser imediatista. – Beatriz falou sorrindo.
- O judiciário nosso é o mais lento do mundo! – revirou
os olhos.
- Também, tudo se processa hoje em dia. Uma falta de
“bom dia” leva à justiça por dano moral. – Guilherme
falou.
- Fico pasma com esses julgamentos que duram anos
para serem resolvidos; os de assassinato então nem se
fala. Por isso as pessoas ficam com a famosa sensação
de impunidade. – Beatriz comentou com ele.

Renata chegou em casa e encontrou Marina arrumando


a mala.

- Já vai?
- Hoje à tarde. Já liguei pro Felipe e ele ficará aqui
esses dias. – fechava a mala. – E quando voltar vou
resolver minha vida.

Renata fez uma cara de quem não entendeu.

- Vou procurar Lívia e botar um ponto final nessa


história.
- Como?
- Você saberá. E não comente nada com ela, senão
pode piorar ainda mais. Está se metendo demais na
minha vida pessoal, às vezes parece até Fabrício.

Num momento raro, Renata ficou sem ação e se


ofendeu com tal comparação. Lívia iria morrer com
tudo isso. Decidiu não interferir mais, estava se
envolvendo muito mesmo e ficando mais chateada com
a história do que deveria. Eram adultas para
resolverem sua vida e o melhor a fazer era se afastar.

Marina saiu puxando a mala de rodinhas e foi para o


trabalho, de lá foi para a tal fazenda. Chegou quase à
noitinha, jantou com todos os músicos e depois foi
dormir. O ritmo de gravação foi puxado, começavam
bem cedo e terminavam só à noite, mas o resultado
estava compensando o excesso de trabalho. Luciana
era exigente e Marina também, as duas juntas
trabalhavam em harmonia. No último dia Marina estava
na varanda da fazenda admirando a paisagem e a
chuva que caía; iria embora no dia seguinte cedo.

- Está pensativa. – Luciana chegou perto.


- Quase nostálgica. – Marina sorriu.
- Seus pensamentos têm nome?
- Alguns têm, outros não. – Marina olhava para frente.
- Sabe que eu também tenho pensando muito
ultimamente. Não quer ficar aqui mais um dia? –
Luciana se aproximou mais.
- Não posso, tenho meus compromissos no Rio. Se não
estivesse chovendo eu teria ido hoje mesmo. Felipe
está me aguardando voltar para ir embora pra São
Paulo, ele também está abarrotado de coisa lá pra
fazer.
- Se ficasse poderíamos curtir mais essa fazenda, tem
cachoeiras lindas.
Marina se lembrou de Lívia nadando na cachoeira da
última vez que foram a Mauá. Sorriu com tal
pensamento.

- Gostou não é? – Luciana falou achando que pensava


na proposta.
- Na verdade pensei em outra coisa.
- Eu que não paro de pensar em você, desde o dia que
a vi no Rio. – alisou o rosto de Marina. – Quando você
olha pra mim, sinto um frio na barriga, você me
desconserta.
- Que isso Lu, nunca olhei pra você com essas
intenções. – Marina desviou o olhar ficando
envergonhada.
- Deveria. – seus olhares se cruzaram e Luciana não
perdeu tempo, deu um beijo repentino em Marina, que
no susto não se esquivou. Demorou um pouco pra
raciocinar sobre o que estava acontecendo. Sentiu o
gosto de Luciana e também sentiu o coração ficar
apertado, só tinha Lívia em sua cabeça.
- Não! – se afastou. – Não posso, não quero. Luciana
não confunda as coisas. Eu... – respirou fundo. – Sou...
tenho que ir pro meu quarto, amanhã acordo cedo.

Saiu apressada e foi pro quarto, deitou na cama e se


encolheu pensando no rumo que sua vida estava
tomando. Queria uma coisa e fazia outra, não estava
certo. Acordou bem cedo no dia seguinte e voltou para
o Rio, chegou em casa somente para deixar as malas. E
foi procurar Lívia no escritório, mas não a encontrou.

- Onde ela está? Viajou? – perguntou a Érica.


- Não senhora eu não posso...
- Lívia teve que resolver um problema particular e não
nos autorizou a falar. – Beatriz apareceu falando.
- Eu sou namorada dela, tenho direito de saber, agora
fiquei preocupada.
Beatriz a olhou com gravidade.

- Se a senhorita é namorada dela deveria saber mais


do que nós e não nos perguntar onde ela está. Se ela
não lhe disse, não sou eu que vou dizer.

A resposta veio como um tapa na cara. Marina saiu de


lá envergonhada, mas Beatriz estava certa. Se tivesse
mesmo preocupada deveria ter falado com Lívia antes.
Tentou ligar no celular e não teve sucesso. Por fim
resolveu ir até o apartamento dela, chamou pelo
porteiro e ele deu uma notícia inacreditável.

- A senhora Lívia se mudou.


- Como é?
- Sim, faz alguns dias, ela não mora mais aqui.

Marina chegou a ficar zonza, parecia estar num filme


onde as pessoas desapareciam de repente.

- Ela deu o endereço novo?


- Não a mim, senhora.
- Obrigada.

Saiu andando meio perdida, entrou no carro e não


soube como chegou em seu estúdio. Diogo a esperava
para perguntar da gravação e contar das novidades.

- Marina, a empresa de energia adorou o jingle, já está


rodando no comercial.

A loirinha se lembrou de quando ouvira a melodia dessa


campanha, era a mesma que Lívia cantarolava no dia
do piquenique. Sorriu ao lembrar-se dela e teve uma
saudade incômoda, que não sentia há bastante tempo,
algo doído no peito.
- Onde está Renata? – perguntou a Diogo.
- Ela chegou cedo, entrou na sua sala e depois saiu.

Ao entrar na sala Marina viu um papel no meio de sua


mesa, pegou e leu.

“Má, estou me afastando por uns dias, quero tomar


certa distância das coisas que estão acontecendo. De
forma alguma quis me meter em sua vida e se a
prejudiquei peço perdão. Se não quiser aceitar meu
afastamento, peço minha demissão aqui. Acerto tudo
com você depois.”

Por instantes Marina achou que estava numa


pegadinha. Caiu sentada na cadeira como se tivesse
desmoronando.

- Todo mundo sumiu!

Seu último recurso foi Eduardo e deu graças a Deus por


ele atender ao telefone.

- Du! Você ta vivo!


- Pelo que me consta ainda estou. – riu.
- Onde está todo mundo? Cheguei de viagem e fui
procurar Lívia, ela se mudou. Você está sabendo disso?
- Estou. – falou calmamente.
- Pra onde ela foi?
- Não posso lhe falar Marina.
- Por quê? Eu sou namorada dela.
- Ah é? Tem certeza? Namoradas se falam por um
espaço curto de tempo, trocam mensagens carinhosas,
se vêem sempre.
- Não me irrita.
- Minha intenção não é essa. Se não sabe onde ela está
é porque não se inteirou da vida dela nos últimos
meses. Olha, estou na faculdade e minha próxima aula
começa daqui a pouco, não posso deixar meus alunos
esperando. Beijo e seu cuida.

Desligou sem esperar que ela falasse qualquer coisa.


Com muito custo Marina trabalhou aquele dia, atendeu
todos os compromissos e repassou tudo com Felipe,
que logo voltou pra São Paulo. Foi pra casa no fim do
dia se sentindo pior do que quando passou mal.

Lívia fechou a porta do novo apartamento e sorriu


quando viu tudo arrumado.

- Está lindo! – Marta abriu os braços.


- Não imaginei nada tão bom quanto. – Eduardo falou.
- Eu imaginei tudo de bom isso aqui. – Renata
emendou.

Olharam os três para Lívia que estava somente


observando.

- Fale alguma coisa. – Renata a cutucou.


- Uma vez alguém me disse que lar é um lugar aonde a
gente chega e tem vontade de ficar. Farei desse lugar o
meu lar e é aqui que vou construir minha família, estou
prometendo a mim mesma isso. – os olhos encheram-
se de lágrimas.
- Aaahhh – todos a abraçaram.
- Não chora Lívia. Lhe garanto que ela vai gostar. –
Eduardo a animou.
- E aposto que uma hora dessas está perdida que nem
cego em tiroteio com o sumiço de todo mundo. –
Renata falou. – Ela se faz de durona, mas nem é tanto
assim. Quando for buscá-la ela vai pular no seu colo.

Renata havia falado com Lívia sobre a conversa com


Marina antes dela viajar. E tiveram a idéia de
desaparecer todos para que ela sentisse a diferença
que é estar sozinho e sem ajuda. Tanto Eduardo quanto
Renata achavam que Lívia estava mimando demais
Marina e por isso ela não estava lhe dando valor.

- Então amanhã eu vou embora, porque vou sobrar


nesta casa. – Marta brincou.
- A senhora vai embora só essa semana, na outra eu
vou buscá-la viu? – Lívia abraçou a mãe.
- Quero dar privacidade a vocês.
- Fala como se fosse dar tudo certo.
- Dará. – Marta e Renata falaram ao mesmo tempo.
- Ó, isso é um bom sinal. – Eduardo falou.

Depois de visitarem todos os cômodos Renata foi pra


casa de Eduardo e Marta e Lívia foram dormir. O dia
seguinte prometia muitas surpresas. Sabia que mal
conseguiria dormir de tanta ansiedade.

Já Marina não poderia se sentir pior, seu corpo parecia


ter sido atropelado. Tentou inutilmente ligar no celular
de Lívia, no de Renata e por fim no de Eduardo e
ninguém atendia. Quando seu telefone de casa tocou
foi correndo atender na esperança de ser um deles.

- Oi filha! Quanto tempo não nos falamos!


- Oi mãe. – falou decepcionada.
- Que voz é essa? Está com algum problema?
- Não, cansaço mesmo. Tudo bem por aí?
- Graças a Deus! Luisa pergunta de minuto em minuto
se é dia dela ir praí. – riu. – Está empolgada com a ida
dela para o Rio.
- Também estou doida pra ela chegar. - Marina fingiu
uma felicidade.
- Está tudo bem mesmo?
- Sim mãe, vou dormir porque estou cansada mesmo, o
dia foi cheio. Cheguei de viagem hoje e nem tive tempo
de me refazer.
- Tudo bem, fica com Deus e mande um beijo para
Renata.
- Mando sim. – desligaram. – Se eu soubesse onde ela
está. – alou pra si mesma.

Tomou um banho e só dormiu porque tomou um chá


bem quente com um remédio. Teve sonhos
tumultuados fazendo seu sono ficar agitado. Acordou
com o despertador do celular apitando, jogou ele longe
e voltou a dormir. Queria se desligar do mundo.

Lívia chegou animada no escritório.

- Bom dia!
- Que é isso?! Parece até chefe de excursão. –
Guilherme brincou.
- Hoje estou animada.
- É pra ficar mesmo, ganhamos ó. – o rapaz mostrou
um processo.
- Que ótimo! Tem que comemorar!
- É eu chamei Beatriz pra sair hoje à noite.

Lívia sorriu com malícia.

- Estou viajando aqui ou tem um lance aí entre vocês?


- Ah, não sei. – Guilherme ficou vermelho de vergonha.
– Eu gosto da companhia dela.
- Então vai à luta, chama mesmo pra sair e leva ela
num restaurante bem legal.
- Restaurante? Eu pensei num barzinho ou talvez uma
boate.
- Não acho que Bia seja desses programas, ela me
parece tão tranquila.
- Quase não saio também, fico na dúvida em onde
levá-la.
- Vou te dar umas dicas. Conheço vários restaurantes
aqui e lugares badalados.

Guilherme ficou animado. De tarde chamou Beatriz


para sair com o intuito de comemorar o primeiro
processo ganho deles. Ela aceitou e depois foi falar com
Lívia.

- Aceitei sair com ele. – falou timidamente.


- Fez bem, ele gosta de você.
- Eu gosto dele também, é um bom rapaz.
- Ah não Bia, bom rapaz? Tem que dizer que ele é
bonito, charmoso...
- Ele é ora bolas, mas eu gosto do jeito dele. É
educado, responsável e me respeita. Poucos homens
são assim hoje, ainda mais na idade dele. Guilherme é
recém-formado, conseguiu emprego num escritório
conceituado e não perdeu a cabeça se deixando levar
pela ambição.
- Isso é uma virtude. Por isso acho que vocês
combinam, você tem a mesma simplicidade dele.
Espero que essa saída possa render frutos.
- E você? Está com uma carinha diferente, parece
ansiosa, mas feliz ao mesmo tempo.
- Hoje eu vou falar com ela. – sorriu.
- Então, ela esteve aqui ontem, perguntou por você.
Não dissemos nada e ela se irritou, disse que era sua
namorada e que tinha o direito de saber. Eu dei um
chega pra lá nela, acho que ficou com raiva de mim,
mas não fui grosseira.
- Tudo bem. – Lívia pôs a mão em cima da mão de
Beatriz. – Obrigada pela força, agora depende dela.
- Boa sorte. – sorriu.

No meio da tarde Lívia deixou o escritório e buscou a


mãe em casa para levá-la a rodoviária.

- Comprei tudo que me pediu e fiz a massa de waffle,


só precisa colocar na forma.
- Pode deixar.
- Boa sorte minha filha, espero que ela a receba bem e
que se acertem.
- Eu to ficando é nervosa, estava animada, mas agora
to com um frio na barriga! – passou a mão nos cabelos.
- Mãe, nunca senti isso na vida, só com Marina.
- O amor faz isso mesmo, por isso nunca sentiu antes.

Despediram-se e Lívia foi ao encontro de Marina.


Passou no estúdio pensando que ela estivesse lá, mas
não estava. Então foi ao seu apartamento, não quis
ligar antes senão atrapalharia sua surpresa. Conversou
com o porteiro e ele a autorizou subir sem ser
anunciada. Estava com a chave de Renata, mas tocou a
campainha primeiro e se escondeu atrás de um vaso
que havia no hall, ninguém apareceu. Tocou de novo,
esperou e nada. Pegou a chave e abriu a porta bem
devagar. Andou como uma gata sem fazer barulho,
olhou na cozinha, na sala e entrou no estúdio, não
tinha ninguém. Foi no quarto dela e ouviu um som bem
baixinho, era a TV ligada. Marina estava debaixo das
cobertas e toda encolhida, estava dormindo. Lívia
chegou bem perto dela, o nariz estava vermelho sinal
de que havia chorado. Uma mecha da franja caía sobre
seus olhos, Lívia a tirou delicadamente; sorriu. Marina
parecia uma menininha indefesa daquele jeito. Desligou
a TV e puxou a coberta devagar. Quando começou a
pegá-la no colo ela abriu os olhos.

- Lívia... – falou num sussurro. – Onde esteve?


- Shii... Cuidando do nosso futuro. – levantou com ela e
saiu do quarto.

Marina enlaçou seu pescoço e deitou a cabeça em seu


ombro.

- Procurei por você, precisamos conversar...


- Sim, precisamos, mas daqui a pouco. Você tomou
alguma coisa?
- Remédio pra dormir. – falou meio sonolenta.
- Tudo bem, o efeito deve passar daqui a pouco.

Lívia trancou o apartamento e saiu. O porteiro as olhou


assustado, então Lívia falou com a maior cara de pau.

- Vou levá-la ao médico, ela machucou o pé.

Entraram no carro e foram para o apartamento novo.


Marina aos poucos foi acordando e então se deu conta
de que estava de pijamas e meia.

- Você me tirou de casa desse jeito?!


- Não tinha tempo pra vestir você. E talvez nem me
deixasse fazer isso.
- Onde estamos indo? – falou bocejando.
- Vamos... ali.
- Ali. – riu. – O que está aprontando?
- Aguarde.

Um tempinho depois.

- Vamos sair da cidade?


- Não. – Lívia achou graça.
- Que longe! – reclinou o banco para deitar.

Lívia olhou para ela.

- Estamos chegando.

Entrou na garagem de um prédio bem alto que Marina


nem conseguiu ver até em cima. Saíram do carro e
entraram no elevador. Quando a porta fechou Lívia
pegou um lenço e vendou os olhos de Marina.

- Que é isso? Para!


- Calma, confie em mim.
- Não gosto disso. – falou emburrada.
- Quietinha, nem vai demorar. – a porta se abriu. –
Pronto, chegamos.

Conduziu Marina segurando em sua cintura e andando


devagar. Abriu a porta do apartamento e tirou a venda.
Marina olhou em volta e ficou confusa. Havia uma
decoração simples, mas bonita, um cheirinho gostoso,
foi andando e viu que na sala a mesa estava posta para
duas pessoas. Achou tudo muito bonito, mas não
entendeu o motivo de estar ali.

- Quem mora aqui? Porque me trouxe pra esse lugar?

Lívia deu a volta ficando na frente dela e se ajoelhou no


chão.

- Eu moro aqui. – sorriu nervosa. – E gostaria de pedir


uma coisa... – tirou do bolso uma caixinha. – Quer
casar comigo e passar o resto da sua vida ao lado da
pessoa que mais a ama nesse mundo?

Marina pôs a mão na boca assustada com tudo que


estava acontecendo. Não sabia se perguntava sobre o
apartamento ou se respondia a pergunta, queria saber
do sumiço de Lívia, eram tantas coisas que ficou
paralisada. Lívia achou aquele silêncio uma eternidade,
por um momento pensou em sair correndo de tanto
nervoso que sentia. Marina se ajoelhou também e
pegou as duas mãos da morena.

- Eu aceito passar o resto da minha vida com a pessoa


que mais amo nesse mundo. – sorriu e chorou ao
mesmo tempo.
Lívia colocou a aliança nela e Marina fez o mesmo.
Beijaram-se sentindo o gosto de suas próprias
lágrimas. Marina finalmente se rendia e se entregava
ao amor novamente. Ao se separarem é que notaram
que ainda estavam ajoelhadas.

- Podíamos levantar. – Marina riu.

Lívia se ergueu e ajudou a loirinha, beijaram-se


novamente, com um abraço apertado depois.

- Eu quero lhe mostrar nossa casa.


- Nossa? O que houve com o outro apartamento?
- Eu vendi. – Lívia olhou para ela.
- Vendeu? Você gostava de lá.
- Que adianta gostar de um lugar se nele não tem o
que mais preciso? Aquele apartamento nunca mais foi o
mesmo depois que você pisou lá e ficou muito sem
graça quando foi embora. Não me trazia boas
recordações. Neste aqui vamos construir uma vida nova
e com lembranças só nossas e felizes.
- Eu amo você. – Marina falou sorrindo e segurando o
rosto da morena.
- É tão bom ouvir isso. – Lívia fechou os olhos e
respirou fundo.
- Pois vai ouvir sempre daqui pra frente. Perdoe por lhe
fazer passar momentos ruins, estava confusa e agi com
imaturidade. Feria você pra tentar diminuir minha
mágoa, acabei machucando você e a mim mesma.
- Já passou, agora é vida nova. Vem que eu vou lhe
mostrar tudo. – Lívia deu a volta abraçando Marina por
trás e foram andando pra conhecer o lugar. – Como
pode ver, sala de jantar e sala de estar. Tem lareira! –
falou empolgada.
- Estou vendo, muito bonita. Será que teremos frio pra
poder acendê-la? – Marina riu.
- Nem que eu tenha que ligar o ar condicionado no
máximo pra sentir frio e depois acender essa bendita.

Marina gargalhou com a idéia da outra.

- Nem que seja um friozinho nós teremos. – a loirinha


virou o pescoço olhando pra ela com carinho.

Andaram até a sala de TV.

- Temos também sala de TV e tem até um barzinho no


canto.
- Que linda! Adorei esse sofá! Grande ele.

Saíram da sala e foram até o cômodo menor que Lívia


fez de escritório para ela. E depois foram à cozinha.

- Geladeira nova, fogão novo e aparelhos mais


modernos. Tem uma parada aqui que bate, mói, pica,
tritura, sacode. – sacudiu Marina. – Amassa. – apertou
o corpo dela num abraço. – E dança. – fez movimentos
com ela fazendo-a rir.
- Boba. – Marina ria. – Que fogão bonito.
- É pra você cozinhar.
- Ah que pensamento machista! – beliscou o braço de
Lívia.
- Não linda, falei porque sei que gosta de cozinhar.
Tudo que eu fiz aqui foi pensando em você.

Marina virou de frente para ela e tinha um sorriso todo


bobo nos lábios.

- Eu sei meu bem, estou brincando. – beijou-lhe os


lábios.
- Vamos, continuando. – voltaram à posição anterior e
Lívia foi andando com ela.

Mostrou a área de serviço, a despensa que ficava ao


lado e depois voltaram para um anexo da sala de estar
que Marina não tinha visto.

- Meu piano! – falou surpresa.


- Acho que ele está num lugar bem favorável, daqui dá
pra ver o mar e você pode tocar sentindo até um
ventinho no rosto.

Como Marina não respondeu Lívia a olhou curiosa, os


olhos dela estavam cheios de lágrimas.

- Ô meu amor, está chorando por quê?

Ela balançou a cabeça e colocou a mão na boca.

- Ficou tão bonito. Sempre me lembrei desse piano, às


vezes sonhava que estava tocando nele. Nunca contei
isso a ninguém, pois com certeza me achariam ridícula.
- Agora poderá tocá-lo quando quiser. Vamos, ainda
tem muita coisa pra ver. – abraçou a loirinha de novo.
– A varanda é bem grande, comprei umas cadeiras e
aquela outra ali ó. – mostrou. – Pra gente deitar. – se
referiu a uma cadeira de madeira e acolchoada. –
Agora pro andar de cima.

Subiram as escadas com Lívia fazendo cócegas em


Marina para ela rir. Primeiro mostrou o quarto de
hóspede.

- Esse quarto ficou para as visitas, tem até banheiro.


Agora vamos num outro quarto que montei pra outra
visita.

Lívia abriu a porta do quarto ao lado e mostrou o que


seria o quarto de Luisa.

- Será que ela vai gostar?


- Eu não acredito! Você fez um quarto para Luisa.
- Claro, quando ela vier, faço questão que fique bem
acomodada.
- Meu Deus, você não existe. – encheu o rosto de Lívia
de beijos.
- Eu existo sim, pode até me apertar. – brincou. – Quis
fazer o quarto dela porque desde que a conheci me
simpatizei com aquela figurinha.
- Ela vai adorar, nem vai querer sair daqui. – riu.
- Bom, vamos andar mais.

Fechou a porta e ficou na dúvida se mostrava o estúdio


ou o quarto delas.

- Que foi? – Marina perguntou.


- Estou na dúvida se mostro nosso quarto ou o outro
quarto.
- Que tem esse outro quarto?
- Vou mostrá-lo primeiro.

Andaram até a porta do estúdio e Lívia abriu a porta.

- Espero que tenha feito tudo certinho e como você


gosta, acho que aqui é o lugar que mais me preocupei
para que tudo saísse direito.

Marina achou que não poderia ficar mais surpresa até


ver o estúdio todo montado e equipado.

- Meu Deus, você gastou muito dinheiro fazendo isso


aqui.
- Não pense nisso, pense que é um conforto para você
trabalhar em casa se quiser. Tem até um saxofone e
um teclado, me disseram ser o que você queria, é um
modelo novo. – sorriu.
- Como comprou esse som e os instrumentos?
- Renata me ajudou. – riu como criança.
- Tinha que ter dedo dela nisso tudo. – Marina passava
a mão na mesa de som e nos outros equipamentos
como se não acreditasse.
- Gostou?
- Eu adorei, estou sem saber o que dizer. Acho que o
que tenho pra falar é que te amo. – olhou para a
morena. – Te amo demais. – beijaram-se com paixão.
– Posso ver nosso quarto agora?
- Pode.

Entraram no quarto e a primeira coisa que Marina viu


foi o quadro das duas.

- Nossa que lindo! Somos nós! – sorriu.

Era a foto de Lívia e Marina, a morena meio de perfil


beijando o ombro da loirinha que na foto tinha um
sorriso tímido. O quadro era preto e branco desenhado
em carvão.

- Temos também uma cama enorme para você rolar


pra lá e pra cá sem me derrubar.
- Eu nunca a derrubei! – Marina falou indignada.
- Temos também um banheiro com banheira, que você
adora e mais um jardim de inverno que se você abrir
aqui... – abriu a cortina. – vai tomar banho e ver a
chuva cair lá fora ou ver o mar.
- Que lindo! Eu adorei tudo.
- Não terminei senhorita.
- Ah sim, desculpe, pode continuar. – Marina riu.
- Temos um closet tamanho família e temos também
uma TV.
- TV? Aonde?

Lívia apertou o botão e a TV desceu.

- Misericórdia. Você não tem jeito.


- Tem mais. – pegou Marina pela mão. – Subindo de
novo.

Saíram do quarto voltaram para a escada que tinha


duas direções, a que dava para os quartos e a que
subia para a piscina. Abriu a porta e Marina pode ver a
altura que estavam.

- Temos piscina, churrasqueira, academia, porque


agora minha mulher é uma marombinha que faz
exercícios todos os dias. – brincou. – E ainda dá pra
curtir a paisagem. – entrou num pequeno cômodo que
tinha ao lado da churrasqueira e ligou uma música. – E
tudo isso com som estéreo em todos os cantos da casa.
O moço que ligou o som fez pra mim de graça, como
brinde por eu ter comprado tudo com ele. Se eu quiser,
daqui coloco som lá embaixo e lá de baixo aqui. Muito
moderno!

Marina se divertia com ela falando empolgada.

- Podemos descer? – Marina a interrompeu.


- Claro.

Desceram e foram para o quarto a pedido de Marina.

- Vou lhe dizer exatamente o que quero agora, preste


atenção. – falou olhando nos olhos de Lívia. – Primeiro
quero tomar um banho. – mordeu o queixo dela. –
Depois quero deitar nessa cama enorme e fazer amor
com você, porque a partir de hoje não quero passar
mais um minuto longe da mulher que amo. Entendeu o
que eu quero? – falou com uma voz suave.
- Perfeitamente. Seu pedido está sendo providenciado.

Pegou Marina no colo e a levou para o banheiro. Deixou


a banheira enchendo enquanto devagar tirava suas
roupas. Deixou que Marina também tirasse as suas e
entraram juntas na banheira. Tomaram banho em meio
a carícias e promessas amorosas. Quando foram para o
quarto Lívia fez questão de levar a loirinha no colo.
Fizeram amor por horas, só pararam quando seus
corpos se sentiram cansados.

- Linda, gostosa, cheirosa, delícia... – a cada palavra


Lívia salpicava beijos pelo corpo de Marina. Estava
entre suas pernas sobre ela pouco acima de sua
cintura. – Sabia que quando a vi naquela revista, fiquei
morrendo de medo de você ter alguém? Parecia tão
feliz e realizada.
- Eu sou realizada, mas isso não significa que eu seja
completamente feliz. Não é só o trabalho que traz
felicidade. – mexia nos cabelos de Lívia enquanto
falava. – Quando comprei meu apartamento em São
Paulo foi que percebi a mudança em minha vida, mas
não senti uma felicidade total. Eu tinha dinheiro, uma
carreira promissora, estabilidade e estava só.
- Nunca perguntei, porque faltou oportunidade. Eu vi
sua mãe em Salvador, mas não vi o restante da sua
família.
- Eles não falam comigo. – Marina baixou o olhar.

Lívia apoiou os cotovelos na cama subindo mais o seu


corpo, ficando quase toda em cima de Marina.

- O que houve?
- Depois que... – pareceu pensar no que ia dizer. –
Depois que comecei a trabalhar e minha vida ficou mais
estável, contei para minha família sobre mim.
- E aí?
- Meu pai quase me deserdou, minha mãe foi na
mesma onda dele e meu irmão era óbvio que ia apoiá-
los. Somente minha cunhada ficou em cima do muro,
mas não se opôs a eles, com medo de ser repreendida.

Lívia a olhou penalizada, ficou pensando no que ela


teria passado. Passou a mão em seu rosto.

- Um tempo depois minha mãe entrou em contato


comigo, dizendo que as coisas não poderiam ficar
assim. Bárbara também conversou com ela e aos
poucos a convivência foi melhorando, mas com meu pai
e meu irmão eu não falo até hoje. Porque eles não
querem.
- Nunca mais os viu?
- Não. – falou triste. – Eu os ajudo sempre, mando
dinheiro pela minha mãe, compraram alguns hectares,
arrumaram a casa do sítio também. Minha meta é que
ela mude da casa na cidade para outra melhor.

Lívia ficou orgulhosa dela, mesmo com a rejeição não


perdera o carinho pela família. Era isso que admirava
em Marina, a simplicidade, a doçura e vontade de
sempre ver as pessoas felizes.

- Eu admiro muito você. – beijou os lábios dela. –


Sempre admirei, nunca falei porque achava que as
atitudes demonstravam. Descobri que certas coisas são
melhores de se ouvir. – sorriu sem graça.
- Você agia da forma que achava estar certo.
- Eu via onde errava, mas não fiz nada pra mudar. De
agora em diante eu serei mais atenta a você. – beijou-a
mais uma vez e recomeçaram as carícias, mas Marina
parou e falou dengosa.
- Amor, estou com fome.
- Eu também. – Lívia olhou com malícia.
- Além de mim, tem mais alguma coisa pra comer? –
riu.
- Hum... tão gostosa assim, não. – mordeu o pescoço
dela.
- Eu aceito até um pãozinho murcho.
- Vejamos, eu fui ao mercado antes de me mudar e
tem algumas coisinhas. Vem, deixe-me alimentá-la,
porque quero estrear cada cômodo desse apartamento.
– deu um sorriso safado.
- Faço idéia do que seja essa estréia.

Ao se levantar da cama é que Marina lembrou que não


tinha roupa.

- É, preciso ir ao meu apartamento. Me raptaram e eu


não trouxe roupa.
- Calma que a sequestradora é precavida. – a morena
abriu o closet e mostrou algumas roupas.
- Roupas?
- Não, são fantasias de carnaval. – ironizou.
- Boba. – deu um tapinha no braço de Lívia. – Comprou
roupas pra mim?
- Sim, poucas peças na verdade. Só pra passar esses
dias aqui, mas se quiser ir em casa, podemos pegar as
suas.

Marina olhou as roupas e as admirou. Lívia havia


pensado em tudo mesmo.

- Veste essa blusa? – Lívia sugeriu uma blusa de botão


cumprida que era dela. – Você fica muito sexy.
- Gostou né?
- Ahan. – mordeu a orelha da loirinha.

Vestiram-se e foram pra cozinha.

- Amor, deixei um jantar preparado.


- Você? – Marina arregalou os olhos e sorriu.
- Não fiz o jantar, encomendei. – deu língua pra ela.
- Ah sim. – sorriu franzindo o nariz.
- Debochada, ainda vou surpreendê-la na cozinha um
dia.
- Vai sim amor. – deu alguns tapinhas no ombro dela. –
Podemos jantar então, não está tão tarde assim.

Lívia preparou tudo e levou para a sala de jantar que já


estava pronta. Conversaram todo o tempo e a morena
falou sobre a mudança.

- Eu estava ficando louca com a idéia de você não ir até


o outro apartamento. Sabia que se não fizesse alguma
coisa nosso relacionamento ia durar pouco. E como já
não estava feliz morando lá, decidi vendê-lo. Foi tudo
muito rápido. Fui até um corretor de imóveis e botei o
apê a venda, em seguida o corretor me mostrou esse
prédio, estava em fase de acabamento. Então aceitei
comprar este.
- E onde ficou depois que vendeu o outro?
- Lá mesmo, o comprador topou comprar e só se mudar
depois que eu saísse. Fiquei num hotel uns dias
enquanto a mudança vinha pra cá.
-Eu não percebi nada.
- A mudança aconteceu quando você estava fora, na
gravação de um cd.
- Ahh... – Marina se lembrou de Luciana e até sacudiu a
cabeça querendo esquecer o que tinha acontecido lá. –
Quis me desfazer de tudo que lhe lembrava coisas
ruins, tanto que troquei até os móveis do quarto.

Levantaram-se e foram até a cozinha levar os pratos.

- Que já foi estreado. – Marina riu.


- E ainda quero estrear o resto do apê. – Lívia a
abraçou.
- É?
- Ahan. – mordeu o pescoço dela.

Marina foi se afastando até encostar-se à bancada que


havia no centro da cozinha.

- Você está muito assanhada.


- A culpa é sua. – a morena levava a mão ao seio de
Marina.
- Que acha de estrearmos essa bancada? – sentia os
beijos da morena em seu pescoço. – Já estou sem
calcinha mesmo. – falou com sensualidade.
- Depois a safada sou eu, mas antes quero fazer uma
coisa. – Lívia parou com os beijos e saiu da cozinha,
deixando Marina toda sorridente. – Já volto.

Em poucos minutos voltou usando a cinta com o pênis.


Olhava para Marina com desejo e sua excitação
aumentou ainda mais quando ela abriu as pernas e
falou com uma voz sensual:

- Vem...

Lívia não perdeu tempo, segurou as coxas de Marina,


fazendo com que suas pernas enlaçassem sua cintura.
Suas mãos percorriam todo o corpo dela, abriu a blusa
e abocanhou um seio mordendo, sugando e beijando o
biquinho duro. Sentia a pele dela se arrepiar. Esfregou
o pênis em sua vagina e roçou de leve, deixando-a
louca. Apoiou uma das mãos em sua cintura e
pressionou empurrando o pênis todo de uma vez.
Marina gemeu alto e sorriu.

- Devagar... ahh...

Lívia sentia sua excitação escorrer por entre as pernas.


Rebolava enquanto dava leves estocadas. Ouvia os
gemidos de Marina e sentia seu corpo arder de desejo.
O orgasmo chegou rápido, Marina mordeu os lábios de
Lívia e cravou a unha em seus ombros quando gozou.

- Estou molinha. – falou dengosa.

Lívia sorriu e a pegou no colo, levando para a sala de


televisão. Tirou a cinta e deitaram no sofá. Namoraram
e se curtiram até que seus corpos se acenderam
novamente. Lívia possuiu Marina de várias formas,
sentou-a na beirada do sofá e devorou seu sexo, depois
deitaram no tapete e fizeram amor novamente, dessa
vez devagar, curtindo cada segundo, cada toque. Só
pararam quando o sono as venceu. Acabaram dormindo
ali mesmo e no meio da noite Lívia acordou e levou
Marina para o quarto.

De manhã ao acordar Marina estava sozinha e


estranhou o ambiente.

- Ué, como vim parar aqui?


- Eu trouxe você. – Lívia apareceu na porta carregando
uma bandeja. – Bom dia meu amor. – deixou a bandeja
em cima da cama e a beijou carinhosamente.
- Bom dia. – olhou para a comida. – Hum... café da
manhã! – sorriu que nem criança.
- Preparei tudo! – Lívia sorriu animada também.
- Até os waffles?!
- Bom, os waffles mamãe deixou a massa pronta eu só
fiz colocar na forma. – olhou envergonhada.
- Ah que bonitinha, está aprendendo já. Depois a
ensino a fazer a massa. – beijou sua bochecha.

Depois de tomarem café Marina quis buscar algumas


roupas em seu apartamento. Estando lá, aproveitou
para voltar no próprio carro. Estavam na varanda
namorando e curtindo a paisagem quando interfone
tocou. Lívia atendeu e autorizou Renata e Eduardo a
subirem.

- Bom dia! – Renata falava como uma chefe de


excursão.
- Bom dia minha amiga.
- Essa aí ta animada que eu quase não seguro, queria
vir aqui hoje cedo. Eu disse que vocês gostam de
acordar tarde.
- Verdade, mas não acordamos tão tarde assim.
- Percebi pelas olheiras. – Renata brincou. – Cadê
minha patroa?
- Está na varanda, venham, entrem.
Lívia veio conversando com eles altamente animada.

- Aha! Surpresa! – brincou.


- Você sumiu e não deixou rastro, poderia demiti-la por
justa causa ou abandono de trabalho. Sabia?
- Não faria isso, você não vive sem mim. – riu.
- É, não vivo mesmo. – Marina riu também.

As duas se abraçaram.

- Fico feliz que esteja bem e agora com tudo nos


conformes.
- Estou muito feliz, não imagina o quanto. – Marina
sorriu.

Eduardo apareceu logo atrás de Renata e abraçou


Marina, todos se sentaram na varanda. Lívia se
aconchegou no colo da loirinha, que era onde estava
antes de se levantar.

- Só curtindo a paisagem. – Renata brincou. - Meu


quarto ta pronto? Porque pra ajudar a fazer aquele
estúdio eu exigi um cantinho nessa casa.
- Está sim, te coloquei junto com as crianças. – Lívia
riu.
- Imaginei que tivesse dedo seu nessa história. –
Marina falou. – Só não sei até onde seu dedo ta
enfiado.
- Até o talo. – Eduardo brincou fazendo todas
gargalharem.
- Desde o comecinho, digo recomeço. – Renata olhou
pra cima como se quisesse se fazer de desentendida.

Marina olhou desconfiada.

- Vou contar. Não aguento mentir mesmo e uma hora,


com essa boca grande minha vou acabar entregando.
Desde Salvador quando se viram pela primeira vez
depois daquele tempo todo.
- O que?! – Marina se levantou.
- Calma. – Lívia a fez deitar novamente. – Lembra
quando ligaram pedindo uma entrevista em Salvador?
- Sim uma jornalista insistente.
- Era eu. – Lívia sorriu sem graça.
- Não acredito. – Marina revirou os olhos.
- Você me passou pra Renata e então ela marcou de
nos encontrarmos naquele parque aquático.
- Não sei por que resolvi marcar com ela, acho que
minha intuição falou mais alto. Tive certa simpatia
quando falei por telefone com você. – Renata
comentou.
- Então eu fui pra lá e aí conversei com Renata, ela me
disse pra ir com calma e eu já ia embora quando minha
mãe encontrou com a sua. Acabou que nos vimos
também. De lá pra cá Renata tem me ajudado. – piscou
para Renata.
- E como conseguiu meu telefone? – Marina indagou.
- É... – Eduardo pigarreou. – Eu que dei. – deu um
sorriso amarelo.
- Mas vocês são muito discretos mesmo hein? Por
quantas vezes pedi pra não dar meu telefone a
ninguém! Eu só não brigo com vocês por que... – olhou
para Lívia. – Porque foi a melhor coisa que poderiam
ter feito por mim. – beijou os lábios da morena.
- Own... que meigo. – Renata sorriu.
- Ta achando meigo? Você não viu essas duas juntas,
são um grude, uma melação pavorosa, chega a subir
minha glicose.
- Deixa de ser enjoado. Ta que nem o outro lá. – Lívia
fez cara feia.
- Sai fora, aquele lá não quero ver nem a cara. –
Eduardo resmungou.
- Mandei ele embora. – Lívia falou.
- Sério?
- É. Depois de tanta coisa que Fabrício me causou,
indiretamente claro, parecia um sanguessuga do meu
lado, estraga prazer e sempre me alfinetando. A gota
d’água foi aquele dia no bar. Me enchi daquilo e mandei
ele embora, já botei outro no lugar.
- Rápida você, não? – Eduardo falou. – Aquele dia eu
me estressei também e desde então não vi mais
Fabrício.
- Acho que está com tia Bete. E espero sinceramente
que ela esteja dando conselhos para o filho, mas vamos
mudar de assunto pra não estragar o dia. E falando em
dia bom, preciso ligar para minha mãe, ela deve estar
curiosa.
- É claro que Marta também está metida nisso. –
Marina falou.

Até então, ela somente ouvia a todos e achou melhor


omitir a conversa que havia tido com Fabrício, afinal,
não importava mais. Ficaram de papo até a hora do
almoço, pediram comida em casa e comeram ali
mesmo na varanda. Renata passou a agenda de Marina
para ela e botaram os compromissos em ordem; sabia
que a semana seguinte estava cheia.

- Trabalhar fora do estúdio é bom, mas quando volto


pra ele meus compromissos estão dobrados.
- Não reclama que eu sei que você gosta. – Renata
cutucou a perna de Marina com a caneta.

O final de semana das duas foi tranquilo e puderam


conversar dessa vez sem reservas e sem agressões.
Lívia já tinha percebido que Marina mudara, estava
mais articulada, falava do estúdio com orgulho e sabia
muito bem qual o seu lugar no mercado de trabalho.
Nem por isso perdera a humildade e o costume pelas
coisas simples. Teria que mudar sua postura com ela,
pois as diferenças que tinham antes já não existiam
mais. À noite antes de dormirem Lívia chamou a
loirinha para descer até a garagem.
- Quero lhe mostrar uma coisa. – tirou a capa de cima
de um veículo e deixou aparecer o carro que havia dado
a Marina há cinco anos.
- Meu Deus, você ainda tem esse carro! – estava
boquiaberta.
- Não me desfiz dele, era como se ainda tivesse um
pouco de você comigo. Pelo menos uma vez por
semana eu o ligava e andava dentro da garagem
mesmo, levava para manutenção e às vezes ficava
dentro dele, lembrando de você.

Marina ficou comovida. Virou-se para Lívia e segurou


seu rosto carinhosamente.

- Meu amor, não precisa mais de um carro pra me ter.


Sou sua agora, acho que nunca deixei de ser. – beijou-
lhe os lábios carinhosamente.
- Por enquanto vou mantê-lo aqui, apesar de novo o
valor dele já não ser mais o mesmo, acabou defasando.
E você agora tem seu carro também, não sei se ainda
quer este.
- Bom, vamos deixá-lo aí por enquanto. – abraçou Lívia
pela cintura e foram andando de volta para o
apartamento. – Ter um veículo sem usar hoje em dia é
bobeira, porque dá despesa e só desvaloriza.
- É, tem razão. Já tenho meu carro, você tem o seu
também, de repente poderíamos vender.
Marina esperava que ela falasse isso mesmo, achou que
dando essa sugestão Lívia poderia se ofender.
- Vamos aguardar, deixa ele quietinho aí. Se tivermos
oportunidade de vendê-lo a gente vende.

No quarto, antes de dormir, Marina resolveu contar


sobre sua história com Vera, queria deixar tudo em
pratos limpos com Lívia.

- Amor, preciso conversar sobre um assunto com você.


– falou meio receosa.

Lívia sentou na beirada da cama e pacientemente


esperou-a falar, mas já imaginando qual seria a
conversa.

- Sou toda ouvidos.


- É sobre Vera... eu... quero dizer... nós... – começou a
gaguejar.
- Tiveram um relacionamento. – a morena falou
calmante.
- Como sabe?! – Marina perguntou espantada.
- Fabrício fez o favor de me contar quando o demiti.
- Cretino! – a loirinha fechou o cenho e deu um soco na
cama.
- Não importa mais. E não toquei no assunto esperando
que você viesse falar comigo. Confesso que se não
tivesse me falado eu ficaria chateada, mas conhecendo-
a bem, sabia que uma hora falaria.
- É que nosso final de semana foi tão gostoso que não
queria estragar com um assunto desses.
- Tudo bem meu anjo. Não quero saber por que se
envolveu com ela, o importante é que já passou e
agora estamos juntas. – sorriu.
- Não está brava?
- Claro que não! Por que estaria? Nem estão juntas
mais.
- É que aquele dia no restaurante você fez uma cara. –
fez um gesto de assustada.
- Naquele dia você me sacaneou dando corda pra ela.
Queria me atingir e conseguiu. – beliscou a barriga de
Marina. – Minha vontade era dar um soco naquela
mulher, toda folgada do seu lado. – fez cara feia.
- Não tive um relacionamento com ela, apenas nos
envolvemos, uma única vez. Não gostava dela e nem
gosto para isso, somos apenas amigas.
- Acho bom que ela saiba disso e que agora você tem
dona de novo. – foi avançando sobre o corpo da
loirinha.
- Dona brava. – fez um bico e franziu o nariz.
- Muito. – começou a morder o pescoço dela. – Mas vou
lhe mostrar que sei ser dócil quando quero.

Começaram um amasso gostoso e só terminaram


quando o sono chegou.

Na segunda as duas se arrumaram para ir trabalhar.

- Posso pegá-la pra almoçar? – Lívia perguntou.


- Melhor eu buscá-la porque tenho uma reunião lá
perto, aí passo no escritório.
- Ótimo. Então tenha um bom dia de trabalho. – beijou
a loirinha.
- Você também. Eu te amo viu?
- Também te amo.

Saíram, cada uma no seu carro e foram trabalhar.


Marina como previu teve um dia atribulado, saiu da
reunião em cima da hora do almoço e passou no
escritório para buscar Lívia. Almoçaram quase perto do
estúdio, para que Marina pudesse ir direto pra lá sem
se atrasar para outro compromisso.

- Amor, te deixei a pé. – Marina falou. – Quer voltar no


meu carro? Depois você me pega aqui.
- Não precisa, eu vou de táxi, seu carro é muito
pequeno pra mim. – debochou.

Marina olhou com uma cara enfezada.

- Não é nada!
- Bem capaz de eu ter que dobrar as pernas ao meio. –
continuou debochando.
- Olha aqui Lívia, nem dirigiu um carro daquele, fique
sabendo que é muito confortável.
- Pra alguém de um metro e meio. – falou fingindo
descaso. – Onde você o comprou tinha um pra adulto?
– segurava o riso.

Marina limpou os lábios com o guardanapo e o jogou na


mesa fazendo um bico indignado. Levantou da mesa
para sair quando Lívia a segurou pela mão.

- E sabe por que eu não o dirijo? Porque ele só tem


charme quando uma loirinha linda está no volante. Fico
babando por ela.

Marina não conseguiu deixar de rir, sentou novamente


se acalmando.

- Sua boba. Você é que gosta de coisas grandes.


- Se engana, eu gosto é das pequenininhas. – a olhou
com malícia.
- Cafajeste! – deu um tapinha na mão dela.
- Adoro quanto me chama assim. – sorriu.

Durante aquela semana Lívia teve que viajar para São


Paulo e Marina não pôde ir; a morena saiu na quarta e
só voltaria na sexta a noite.

- Vou sentir saudade. – Marina falou antes de saírem


de casa.
- Também meu anjo, mas volto pra você rapidinho.

Beijaram-se demoradamente.

Em São Paulo, Lívia se hospedou no hotel de costume,


havia ido sozinha e sentiu falta de companhia. Lembrou
de Fabrício quando ia com ela e sentiu saudade daquele
tempo. Foi para o tribunal e por lá ficou o dia todo.
Marina foi trabalhar e se trancou com Diogo para
gravarem um arranjo para um comercial de cerveja,
alguns alunos da faculdade tinham sido contratados e
estava uma função lá dentro. Quando conseguiu sair se
trancou em sua sala para poder ligar para Felipe e
resolver algumas coisas. Depois que repassou alguns
compromissos da agenda entrou num site de notícias e
ficou lendo até que Renata chegasse. Seus olhos
estreitaram quando leu uma notícia em especial.

“Juíza Camila Fontarini julgará caso de corrupção do


empresário Fábio Medina.”

Dentre as informações da reportagem Marina leu que a


juíza estaria em São Paulo coincidentemente naquela
semana em que Lívia também estava. Seus
pensamentos se bagunçaram e ela perdeu totalmente o
bom senso. Começou a ligar insistentemente para Lívia
e seu celular só dava desligado, imaginou mil coisas e
isso a deixava mais aflita.

- Que cara é essa mulher? – Renata entrou na sala.

Marina mostrou a reportagem e continuou a ligar.

- Calma Marina, se ela estiver numa audiência não vai


atender mesmo.
- E se ela não estiver? Eu vou pra lá. – levantou da
cadeira. – E se eu for e encontrá-la de novo com aquela
mulher? Não vou aguentar.
- Que vai lá o que? Senta aí e fica calma, parece
criança! Vamos por partes. Sabe o endereço do fórum
ou telefone? Se não souber nós achamos. Depois
perguntamos sobre Lívia, saber em qual julgamento ela
está. Se não souberem, nós também achamos. – riu
tentando acalmá-la.
Procuraram na internet o telefone, insistiram com um e
outro até saberem que Lívia estava em audiência e que
havia tido atraso.
- Aí ta vendo? A coitada está trabalhando, fique calma.
Tenho certeza que quando ela olhar o celular com mil
chamadas suas, virá correndo pra cá.

Marina sentou aliviada na cadeira.

- Me sinto ridícula de pensar assim, mas infelizmente


não consigo me segurar.
- Entendo você, mas procure não se apavorar e dar um
voto de confiança a ela.

Assim que Lívia saiu ligou o celular e tinham várias


chamadas de Marina. Ligou para ela preocupada.

- Amor, o que aconteceu? Me ligou tantas vezes!

Marina não soube o que dizer, pensou numa desculpa e


disse que era saudade.

- É que eu queria te contar de um contrato que fechei e


depois dizer que estou morrendo de saudade. – falou
com voz manhosa.
- Já, já eu chego aí lindinha.
- Você chega na sexta mesmo?
- Chego amor, vou tentar pegar o vôo mais cedo viu? –
Lívia tentava amenizar a situação.

Desligaram e ela sentiu o coração apertado ao ouvir a


voz de Marina, parecia aflita, mas nem entedia o
motivo direito, já que não lhe contara nada.

Quando chegou ao hotel Lívia tomou um banho e


depois ligou a TV, viu no noticiário sobre Camila e que
ela estava na cidade, imediatamente associou a aflição
de Marina àquilo tudo. Olhou no relógio, vestiu uma
roupa e saiu do quarto levando somente sua bolsa.
Pegou o primeiro táxi que passava.
- Congonhas, por favor.

Por volta de meia-noite a morena abria a porta de seu


apartamento. Tirou os sapatos e pelo silêncio no andar
de baixo, imaginou que Marina estava lá em cima.
Abriu a porta e ela dormia encolhidinha embaixo das
cobertas. Tirou a sua roupa rapidamente, levantou o
edredom e se enfiou debaixo dele. Abraçou o corpo de
Marina e a virou para poder ficar em cima dela. A
loirinha deu um sorriso de satisfação e depois abriu os
olhos.

- Amor?! Você voltou? – passou as mãos no rosto de


Lívia.
- Voltei pra dizer que amo você. – lhe deu um beijo
carinhoso. – E quando estou longe, penso em você de
segundo em segundo. – beijou de novo. – Confie em
mim. – sussurrou.
- Eu confio, perdoe se por um momento desconfiei, é
medo de perder você de novo. – Marina parecia
desabafar.

As duas não mencionaram o assunto, mas sabiam


exatamente do que falavam. Beijaram-se novamente e
se abraçaram pra dormir uma nos braços da outra. Na
manhã seguinte Lívia acordou cedo, tinha comprado
passagem para chegar em São Paulo antes das nove,
pois sua audiência era as dez horas da manhã.

- Agora preciso ir amor. – tentava se desvencilhar dos


braços de Marina.
- Fica mais um pouco. – Marina estava agarrada a
cintura dela.
- Só mais um dia, amanhã estou de volta. – segurou a
loirinha pela cintura. – Prometo chegar cedo.
- Ta bom, vou te acompanhar até a porta. Se cuida viu
e não esquece de mim.
- Nunca!

Lívia bem que estava gostando daquele ciúme da


loirinha, isso a deixava mais carinhosa com ela.
Despediu-se com beijos ardentes. Em São Paulo
procurou focar no trabalho, sempre que saía do tribunal
ia direto para o hotel e não saía para mais nada.

Marina se entreteve com várias gravações no estúdio.


Gostou muito de trabalhar com os alunos da faculdade
e ao final do trabalho na sexta ela se reuniu com eles
para um happy hour.

- Gente que meninada nova. To me sentindo uma anciã


no meio deles. – Renata falou olhando para os
meninos.
- Deixa de ser boba.
- Sério, devia ter trazido Sarah, ela ia gostar. Falando
em gostar, você bem que adorou a volta de Lívia no
meio da noite só pra te deixar tranquila.
- Acho que ela soube o motivo das minhas ligações.
- Não falou com ela?
- Não, fiquei com vergonha, mas ela entendeu.
- Você não vai voltar mais para o seu apartamento né?
- Bom... – Marina pareceu pensar. – Ainda não falei
com Lívia sobre isso. E tem você lá no apartamento
também.
- Não precisa se justificar, você é dona do seu nariz
ué.
- Sei disso, a questão agora é quando minha mãe
chegar. Acho muito difícil que ela aceite minha situação
com Lívia.
- Azar o dela, você não precisa mais da aceitação deles.
- Que é isso Renata, são minha família! – Marina a
repreendeu.
- Tudo bem. – levantou os braços. – Mas não vá se
privar da felicidade para agradá-los. Ninguém merece
isso. Eu que preciso mesmo arranjar um lugar pra ficar.
Andei olhando uns apartamentos aí, mas ainda
precisamos conversar sobre isso.
- É, pra semana nós duas sentamos e vemos sua
situação. Confesso que com a função no estúdio eu me
esqueci do nosso combinado.
- Que isso, eu sei que as coisas acabaram se enrolando.
E outra, não estou desamparada, estou morando com
você. – riu.
- Marina! – um garoto as interrompeu. – Quero saber
se quando estudava você também tinha nervoso nas
audições. Era muito ruim?
- Nossa! Quase morria. Estudava tanto que meus dedos
quase entortavam. – brincou.
- Você tem fama até hoje lá, dizem que ninguém
gabarita que nem Marina.
- Gabarita? – Renata não entendeu.
- Ela é a única aluna até hoje que tirou nota máxima
em todas as provas práticas de final de período.

O ego de Marina inflou na mesma hora.

Não demoraram muito com a garotada, Marina queria ir


cedo pra casa. Preparou um jantar para elas e tomou
um banho para esperar Lívia. Quando ela abriu a porta
Marina veio andando em sua direção. Usava um hobby
longo e branco. A morena colocou a pasta em cima do
aparador da sala e correu para abraçá-la.

- Que saudade meu anjo. – beijou a testa dela e depois


a boca.
- Muito cansada? – Marina passou as mãos no cabelo
de Lívia colocando-os atrás da orelha.
- Demais, foi difícil viu, mas deu tudo certo. Mal saí de
lá e encontrei com um colega de trabalho que vai me
passar com detalhes um caso que vou pegar. –
caminharam abraçadas até a sala. – Ele sabe por
antecipação porque trabalha no judiciário e tem acesso
aos processos.
- É algo grave?
- Parece que um jovem morreu num acidente de carro
onde o motorista estava alcoolizado.
- Meu Deus! – Marina pôs a mão na boca.
- Vou me inteirar disso e depois lhe conto. - abraçou
Marina e a beijou de novo. – Eu preciso de um banho.
Ia tomar antes de sair do hotel, mas fiquei com medo
de perder o vôo por conta do trânsito. São Paulo ta
cada dia mais difícil pra dirigir.
- Então toma seu banho, eu já tomei o meu, vou
acabar de arrumar a mesa para jantarmos.
- Você está cheirosa mesmo. – mordeu o pescoço dela.
– E gostosa com essa roupa. – percorria o corpo da
loirinha com as mãos.
- Deixa de ser assanhada.
- Culpa sua. – soltou-a. – Volto rapidinho. – subiu as
escadas correndo.

Marina colocava tudo na mesa, quando Lívia desceu


vestindo uma blusa larga e um short, os cabelos
estavam soltos e molhados.

- Está pronto.
- Confesso que minha fome é outra. – chegou por trás.
- Suas mãos hoje estão muito... indisciplinadas. –
tentou se soltar.
- Você nunca reclamou disso. – voltou a abraçá-la. – E
está deliciosamente linda com esse hobby, quero saber
o que tem por baixo dele.
- Nada que você já não conheça. – correu dela.
- Ô, conheço cada pedacinho e nos mínimos detalhes. –
sentou-se a mesa. – Mas nunca me canso de ver e de
tocar. – sorriu com malícia.

Marina a serviu e jantaram conversando sobre a


semana que tiveram. As duas trabalharam muito e
aproveitaram o final de semana pra passarem
namorando e aproveitando a companhia uma da outra.
No domingo à noite estavam na sala assistindo um
filme na TV quando Maria José ligou para o celular de
Marina. Conversaram durante um tempo, falaram sobre
a ida dela e de Luisa para o Rio e depois a loirinha
desligou.

- Quando elas vêm? – Lívia perguntou ficando de frente


para ela.
- Daqui uns cinco dias. Está esperando Luisa entrar de
férias.
- Precisamos programar o que fazer nesses dias, se
Deus quiser estarei mais tranquila no escritório e posso
ficar mais tempo a disposição.
- Amor, preciso ver o que fazer em relação a nós duas.
– Marina falou pisando em ovos.
- Quer conversar com ela sozinha? Ou quem sabe nós
duas não falamos?
- Não sei o que fazer. Tem tanta coisa pra resolver,
quando vim para o Rio fiz um acordo com Renata e o
tempo ta passando e não fiz nada até agora. Minha
mãe está vindo e não conversei com ela sobre a gente,
está tudo acontecendo ao mesmo tempo.
- Calma, uma coisa de cada vez. Qual o acordo com
Renata?
- Eu prometi a ela que uma vez instaladas aqui, a
ajudaria com a compra de um apartamento. Isso
porque ela largou tudo em São Paulo pra vir. No início
ela moraria comigo e depois compraria um
apartamento pra ela. Agora eu to aqui e não sei o que
fazer. Pra falar a verdade, estou aqui essa semana e...
- E não vai continuar? – Lívia a olhou intrigada.
- Amor, qual é nossa situação? Vou morar aqui?
- Ué, por que não?
- Se vamos morar juntas eu quero estabelecer umas
condições então. Devíamos ter conversado sobre isso
antes.
- Que coisas?
- Como você comprou esse apartamento e como
comprou os móveis e as outras coisas aqui?
- Existe um processo de câmbio, que há muito tempo
substituiu o escambo, chama-se compra e venda. Eu
dou o dinheiro e eles me entregam o produto. – riu.
- Palhaça. – beliscou a barriga da morena. – Não quero
morar de favor, se estou dividindo minha vida com
alguém, quero dividir as outras coisas também. Quero
construir minha vida junto com você e não somente ao
seu lado.

Lívia pensou bem e viu que ela estava certa.

- Tudo bem linda, vamos dividir então. A gente faz as


contas dos gastos gerais e divide ou então cada uma
assume um tipo de conta. Podemos abrir uma conta
conjunta, assim movimentamos o que precisar nela.
Pode ser? – sorriu.
- Pode. – Marina lhe deu um selinho.
- E com isso você vem morar aqui. Certo?
- Certo. – sorriu.
- Eu quero casar com você. – Lívia olhou nos olhos
dela. – Quero ter uma família, filhos e tudo que vem no
pacote. E se você quiser vamos oficializar isso.
- Jura?
- Você tem coragem? – perguntou apreensiva.
- Com você do meu lado eu tenho coragem pra tudo.

Lívia ficou toda boba com a resposta de Marina. Puxou-


a para um abraço e beijou sua boca.

- Eu amo muito você! Muito, muito, muito! – enchia o


rosto dela beijos.
- Hoje acho tudo tão mais fácil, há anos atrás eu
acharia essa proposta inviável.
- Você amadureceu, aprendeu muita coisa na vida e
hoje se tornou mais segura do que quer.
- Foi por isso que me traiu? Por que eu era imatura? –
Marina perguntou tão de repente que fez com que Lívia
a olhasse surpresa. – Pode falar, até hoje não entendo
porque fez aquilo comigo. Não fico pensando nisso, mas
queria entender. – baixou a cabeça.

“Ai, isso não vai prestar!” – Lívia pensou.

Respirou fundo, segurou o rosto de Marina, fazendo ela


olhar em sua direção.

- Quer mesmo falar sobre isso?

Marina não respondeu, então Lívia resolveu falar.

- Tudo bem, se quer saber eu vou falar, mas será a


última vez. Não vale a pena perdermos nosso tempo
com o passado, porque não vai mudar nada. Depois
que Camila soube que eu estava namorando passou a
ficar no meu pé e sempre me procurava. Eu me
esquivava o quanto podia e fugia dela como o diabo
foge da cruz. – segurava firme as mãos da loirinha. –
Toda vez que discutíamos, ou que eu via em você uma
atitude infantil, insegura, ficava muito contrariada. E
era incrível como nessa hora Camila aparecia se
mostrando certa de tudo e cheia de confiança. Não
justifica o que eu fiz, mas acabou me atraindo para
uma confusão total de pensamentos. Meti os pés pelas
mãos e é a única coisa da minha vida de que me
arrependo. – seus olhos já estavam cheios de lágrimas.
- Saber que ela estava em São Paulo essa semana me
deixou muito nervosa. Quando li a reportagem me deu
uma sensação ruim.
- Sei que confiar em mim é difícil, mas eu nunca mais
deixarei que você fique apreensiva por isso. Farei
qualquer coisa pra lhe mostrar que sou totalmente sua.
– beijou os lábios dela. – Até mesmo pegar um avião e
chegar no meio da noite pra lhe ver. – sorriu.
- Você é louca, não devia ter feito aquilo.
- Fiz por você e farei sempre que sentir que está em
dúvida do meu amor.

Depois de muitos beijos e carícias é que Marina se


lembrou do problema do apartamento.

- Ainda tem o lance do apartamento. – pôs a mão na


testa.
- Sim, o que tem em mente? Qual a sua vontade?
- Eu gosto dele, acabei de comprá-lo. Montei um
estúdio lá, gosto do local, é um bairro sossegado, não
queria me desfazer dele.
- Bom, eu não gosto muito de mexer com aluguel, mas
de repente alugá-lo seria uma boa.
- O que farei com as minhas coisas?
- Alugue com tudo dentro. Ou então traga suas coisas
para cá, ainda falta muito pra ajeitar aqui.
- Quanto aos móveis eu não sou ligada a eles, alguns
objetos de decoração sim, são coisas que comprei em
viagens que fiz. O estúdio eu posso vender – colocou a
mão no queixo. – De repente Felipe aproveita alguma
coisa.
- Então traga o resto das coisas pra cá. Até porque eu
decorei ao meu gosto, mas quero que dê seu toque
pessoal, a casa é nossa. – sorriu.
- Aluguel seria uma boa, o meu outro apartamento em
São Paulo está alugado.
- Olha só, quer dizer que minha mulher tem muitos
imóveis? – abraçou Marina.
- Se não der certo como produtora, eu vou investir no
ramo imobiliário. – brincou.
- Mulher de negócios, acho um charme. – beijou-a.
- Se eu alugar o apartamento, posso usar o valor do
aluguel para ajudar Renata a comprar o dela. Tenho
que procurar uma imobiliária que seja de confiança.
- A imobiliária onde comprei esse apartamento parece
ser um bom lugar, eles foram muito corretos comigo e
bastante solícitos. Eu te levo lá essa semana, quem
sabe lá mesmo não tem algum apartamento para
Renata?
- Não seriam muito caros? Se forem todos no nível
desse aqui, acho meio difícil de comprar. Afinal esse
aqui não deve ter sido barato. – olhou para Lívia como
se a repreendesse.
- É, me custou alguns dígitos e economias, mas a gente
junta, dinheiro é pra gastar quando precisa e foi por
uma boa causa.
- Você é louca. – balançava a cabeça num gesto
negativo. – Por isso quero dividir as despesas com
você. Bom, então estamos chegando num consenso,
alugo meu apartamento, e já vejo um para Renata.
- Isso. – beijou Marina.
- Amanhã procuramos uma imobiliária com ela.
- Isso. – a beijou de novo.
- Agora vamos dormir, que ta tarde.
- Isso! Não! – arregalou os olhos. – Quero namorar
mais. – sorriu beijando-a.
- Amanhã preciso acordar cedo amor.
- Só mais um pouquinho. – fez bico.
- Ai que bico mais lindo. – beijou-a. – E eu não resisto.
– sorriu franzindo o nariz. – Vem cá bicudinha que eu
vou é te morder.

Durante a semana procuraram a imobiliária e tentaram


fazer um acordo entre o valor do aluguel do
apartamento de Marina com a prestação de um novo
para comprar. Conversaram e negociaram com o
próprio corretor. Renata visitou vários apartamentos
acompanhada, hora de Marina e Lívia e hora de
Eduardo. Até que viu um do qual se agradou e resolveu
que compraria aquele.
- Achei muito bom, não é grande. Dá pra mim e pra
Sarah numa boa e tem uma área ótima.
- Eu gostei dele também, parece bem confortável e eu
achei grande viu. – Marina falou.
- Comparado ao de Lívia.
- Ah Rê, Lívia é exagerada, o apartamento dela não é
grande, é enorme. Outro dia me perdi e entrei no
quarto de hóspede querendo entrar no nosso quarto. –
riu.
- Eu adoro a Lívia, acho ela uma pessoa incrível! Nunca
vi ninguém como ela. Cheia de idéias, agitada,
animada, inteligente, engraçada e claro, apaixonada
por você. Por isso me simpatizei com ela desde que a
conheci em Salvador.
- Você entrou na minha vida pra me reaproximar dela e
isso eu não vou esquecer nunca. – sorriu segurando a
mão de Renata. – Assim que assinarmos os papéis da
sua escritura vamos comemorar viu.
- Claro! Sairemos todas! E o Dudu, ele tem me ajudado
muito.
- Juro que se ele não fosse gay eu torceria por vocês.
Se não reparou ainda, vocês dois combinam muito.
- Eu o adoro, é um excelente amigo.
- Verdade, Eduardo é outra pessoa que faz toda a
diferença em minha vida.
- Falando em fazer diferença e a sua mãe?
- Chega amanhã. – Marina suspirou. – Junto com ela
vem Marta pra dar apoio moral.
- Lívia vai pedir sua mão pra sua mãe, que lindo! –
ironizou.
- Deixa de ser debochada. – jogou uma caneta na
secretária. – Anda, vamos trabalhar que eu ainda tenho
que passar no escritório de Lívia. Conversei com Dudu,
ele disse que fica com alguns equipamentos do estúdio
lá do meu apartamento. Depois ele vai lá pra pegar, já
fica avisada.
- Ok.
Lívia estava em sua sala quando Guilherme entrou para
tirar umas dúvidas no processo. Estava muito
sorridente e ela quis saber o motivo.

- Eu pedi Bia em namoro e ela aceitou.


- Que maravilha! Estou tão feliz por isso ter acontecido.
- Eu fui até na casa dela fazer isso.
- É? Então me conta, porque eu to prestes a fazer o
mesmo com a mãe de Marina e quero saber como é. –
sorriu.
Guilherme ficou meio sem jeito, mas levou numa boa.
Beatriz entrou na sala também e os dois contaram
como aconteceu. Lívia disse que estava nervosa porque
nunca tinha feito aquilo com ninguém.
- A sua sogra é brava? – Beatriz perguntou.
- Comigo ela sempre foi simpática, mas antes de saber
que eu era a namorada da filha dela. Sei por Marina,
que ela não aprova relacionamento gay, por isso meu
nervoso. Não sei até que ponto ela pode influenciar na
nossa história.
- Não acho que Marina seja o tipo de pessoa que se
deixa influenciar por opiniões nessa escala. É a vida
dela que ta em jogo, pelo pouco que você fala dela,
acho que vai enfrentar a família se for o caso.
- Espero que não precise enfrentar nada.

Neste instante Marina bate na porta e entra na sala.

- Estou atrapalhando?
- Não amor, entra. Estávamos falando de você.
- Espero que bem. – se aproximou dela e a beijou. –
Boa tarde gente. – cumprimentou Guilherme e Beatriz.
- Claro que falava bem, disse a eles que amanhã vou
pedir sua mão em casamento pra sua mãe.
- Ai, nem fale. – fez uma cara preocupada. – Estou
rezando pra que dê tudo certo, mas se não der,
paciência. Não posso abrir mão da minha felicidade por
questões contrárias. – sentou na perna de Lívia que a
abraçou.
- Viu? Eu disse a ela que você não mudaria sua opinião
caso sua mãe não concordasse. – Beatriz falou.
- Tenho um palpite de que ela não vai aceitar sorrindo,
mas vai tentar compreender.
- Deus a ouça. – a morena falou.
- Bom, vamos então Bia que ainda tenho de passar no
cartório para reconhecer firma de um cliente. –
Guilherme falou se levantando. - Preciso comprar um
carro, porque de moto não ta dando, chego meio
amarrotado nos lugares. – riu. – Vi um carro outro dia,
mas o cara me enrolou, disse que estava novo, só que
ele já tinha levado água até a altura do volante numa
das chuvas que alagou o Rio.
- Que sacana! – Lívia falou. – Esse povo não tem
vergonha na cara né? Deve achar a gente com cara de
idiota.
- Eu vi porque levei num amigo meu que tem oficina.
Comprar carro usado tem disso, mas a grana ainda ta
curta pra comprar um zero e eu acho que se perde
muito dinheiro também, porque desvaloriza rápido.
- Estamos vendendo um carro que ta novo, mas não é
zero. – Marina falou.
- Ah é mesmo! Eu dei um carro a Marina faz um tempo,
ela usou pouco na verdade. Depois ele ficou guardado,
está novinho mesmo. Comprei zero na época. Se
interessar é só me falar que trago pra você ver.
- Ué, eu acho que me interesso. Qual carro que é e por
quanto estão vendendo?
- É um air cross, completinho...

Lívia explicou sobre o carro e pesquisaram na internet


sobre o valor de tabela dele. Guilherme se interessou e
marcaram dele ver o veículo depois. As duas saíram do
escritório e passaram em um supermercado pra
abastecer a casa.
- Amor, para de comprar porcarias! – Lívia repreendeu
a loirinha.
- É que Luisa gosta.
- Mas ela precisa comer coisas saudáveis também, está
acostumando mal.
- Ela se alimenta bem Lívia e vez ou outra é bom comer
algo diferente.
- Pela quantidade que tem no carrinho isso não vai ser
pra vez ou outra. – olhava para as caixas de biscoito e
pacotes de chocolate.
- Vai me dizer que não gosta de coisinhas gostosas?
- Ah eu adoro! Como uma coisinha gostosa sempre. –
falou chegando por trás dela.

Marina beliscou a coxa dela.

- Ai!
- Para de assanhamento que estamos no mercado.

Lívia achou graça. De lá foram para casa e arrumaram


tudo para receber as visitas.

- Tirei o resto da semana de folga, amanhã eu pego


minha mãe cedo na rodoviária e trago pra cá.
- Eu também estarei aqui cedo, não consegui tirar o dia
todo porque também combinei com Guilherme de levar
o carro pra ele ver.
- Não tem problema.
- Mamãe chega daqui a pouco, vou buscá-la também.
- Eu fico pra fazer o jantar.
- Você faz aquele macarrão que eu gosto? – Lívia pediu
toda dengosa.
- Claro, que mais você quer? – enlaçou o pescoço dela.
- Posso escolher?
- Pode. – sorriu.
- Então eu quero... – olhou para cima. – Um beijo, uma
mordida e ouvir que você me ama.
- Achei que ia pedir algo de comer.
- Não, eu só quero colo.

Marina beijou seus lábios e depois os mordeu.

- Eu amo você. – esfregou a ponta do seu nariz no


dela. – Amo muito! Você é toda minha vida, é a parte
boa dela desde que a conheci. E não vai me perder,
prometo isso.
- Tenho medo que sua família pressione, afinal eles são
parte de você também. – falava preocupada.
- Entenda uma coisa. Eles são parte de mim, mas não
são o meu melhor. Eles têm toda a minha atenção e
amor, mas só você me tem por inteiro. E ninguém vai
mudar isso.

As palavras de Marina acalmaram Lívia e o beijo que


ela lhe deu deixou seu coração mais tranquilo.

- Vou buscar minha mãe e já volto.

Quando as duas chegaram o apartamento tinha um


cheirinho de comida pronta.

- Hum, cheguei na hora boa! – Marta falou.

Marina saiu da cozinha usando um avental.

- Ei, como vai? Seja bem-vinda. E sim, o jantar está


pronto, só estava aguardando vocês.
- Olha que bonitinha mãe, de avental e tudo fazendo
comida pra sogra e pra esposa. – Lívia riu.
- Você anda com pensamentos tão machistas! – Marina
a olhou estreitando os olhos. – Vou pegar você com um
pau de macarrão.
- Ai. – Lívia brincou. – É brincadeira, está linda desse
jeito. – beijou a testa dela.
- Obrigada. – piscou para ela. - Vamos comer então.
Marta conversou com elas sobre a vinda de Maria José
e disse que estaria junto logo que sentassem pra
conversar. Caso tudo saísse errado Marina voltaria para
o seu antigo apartamento que ainda não estava
alugado e ficaria lá com a mãe.

- Ficarei também somente uns dias e depois converso


com ela a sós e ela volta pra Jaú. Não posso viver de
fachada com ela só porque está aqui. – Marina falou.
- Vai dar tudo certo, mãe sempre entende. Quando
soube que Lívia era gay tomei um susto, mas aos
poucos fui aceitando e compreendendo a situação dela.
Nunca concordei com a vida boêmia que levava, mas
depois que ela a conheceu vi que o sentimento que
tinha por você era tão puro quanto um casal de homem
e mulher sente.
- Se aprendermos a respeitar as pessoas, a convivência
vai melhorar. O problema é que tem gente que não
aceita ser contrariado. – Lívia falou.
- Meu pai por exemplo. – Marina comentou triste. –
Nunca mais o vi desde que contei a eles. E Mateus vai
pelo mesmo caminho, é lógico, tem que seguir os
passos do pai. Ainda bem que Barbara não pensa assim
e ela pode ajudar a mudar a opinião dele.

Depois do jantar elas foram deitar, acordariam cedo no


dia seguinte. Marina não conseguia dormir, virava de
um lado para outro na cama.

- Amor, está sem sono? – Lívia a puxou abraçando-a.


- Não, mas minha ansiedade não me deixa dormir.
- Calma querida, vamos tirar de letra tudo isso.

Lívia levou a mão até a sua nuca e massageou de leve,


acariciou seus cabelos e ficou dando beijinhos na região
do pescoço. Sentiu que seu corpo foi relaxando até que
dormiu.
Logo pela manhã Marina se despediu de Lívia e Marta e
foi buscar a mãe; preferiu ir no carro de Lívia, já que
era maior e poderia trazer as malas confortavelmente.
Na rodoviária, Luisa quando a viu correu para seus
braços.

- Tia!
- Ei lindinha! Que saudade! – deu um abraço apertado.
– Como você cresceu!
- Ela cresce tão rápido que noto a diferença toda a
semana. – Maria José veio falando e trazendo as malas.
- Oi mãe! Fizeram boa viagem? Sinto muito por não
poder ir buscá-las.
- Que isso minha filha. O ônibus é ótimo e viemos
confortavelmente.
- Graças a Deus que chegaram bem. Vamos, devem
estar com fome.
- Eu to! – Luisa logo se pronunciou.
- Pois eu comprei um monte de coisas gostosas pra
gente comer. E já fiz um roteiro dos lugares onde
vamos passear. – foram andando para o carro.
- Tia eu posso voar de asa delta?

Marina riu e olhou para a mãe.

- Ela ta com essa idéia desde quando falei que viria pra
cá.
- Querida, para voar tem que ter uma altura mínima e
você ainda não tem. – falou carinhosamente. – Mas
podemos procurar outras aventuras tanto quanto voar
de asa delta.
- Ta bom. – sorriu.
- E o pessoal mãe? Estão todos bem?
- Sim, Barbara mandou um abraço e seu pai e seu
irmão não falaram nada, mas seu pai perguntou se
você já tinha lugar pra ficar. – sorriu sem graça.
- É, ao menos se preocupa um pouco.
- Ué, trocou de carro? – Maria José olhou para o
veículo.
- Mais ou menos, vim nesse porque é maior e melhor
para carregar as malas.
- Trouxemos muitas porque a vó queria trazer o
presente. – Luisa falou.
- Luisa! Quer ficar quieta! – repreendeu a menina.
- Ai. Saiu sem querer. – Luisa fez uma cara travessa.

Marina achou graça. Colocou a menina na cadeirinha e


logo saíram. Quando começaram a entrar no prédio,
Maria José reparou em volta. A idéia de Marina era
mostrar o apartamento e depois da mãe devidamente
instalada ela sentaria para conversar junto com Lívia e
Marta. E assim foi, abriu a porta e foi mostrando o
lugar.

- Nossa! Que lindo filha! Eu tinha outra idéia do seu


apartamento.
- Aqui tem até piscina. – Marina falou.
- E eu posso nadar? – Luisa perguntou animada.
- Claro, estamos no inverno, mas se um dia sair sol
você pode sim. Quero lhe mostrar uma coisa. – Marina
pegou na mão da menina e subiu as escadas. – Esse é
seu quarto. – abriu a porta mostrando.

Os olhos de Luisa brilharam e um sorriso iluminou seu


rosto.

- Que quarto legal! – saiu pulando e foi direto na


bancada que tinha o computador e alguns brinquedos.
– Tia, tem computador! E olha esse jogo, eu adoro ele!
Quanta coisa! – olhava em volta.
- Gostou querida? – Marina sorria.
- Muito! Obrigada tia, eu sempre quis ter um quarto cor
de rosa. – pegou uma boneca e abraçou.
Marina sorriu, pensou em Lívia e no cuidado que tivera
ao decorar o quarto da sobrinha.

- Ficou bonito mesmo. – Maria José falou.


- Sabia que ela ia gostar. Vamos. Deixa ela brincando
aí que vou levá-la ao seu quarto.

Marta ia ficar no quarto de hóspede, mas com a


chegada de Zezé, preferiu ficar no escritório de Lívia
que tinha um sofá cama.

- É muito grande o apartamento! Não se sente sozinha


aqui?
- Não mãe e é sobre estar sozinha que queria conversar
com a senhora.

Entraram e deixaram a mala em um canto e foram em


direção ao quarto de Marina.

- Mãe, eu não fico sozinha aqui. – abriu a porta e Maria


José pode ver Lívia e Marta.
- Oi dona Zezé. – Lívia sorriu.
- Ah... oi. Tudo bem com vocês? – Maria José
estranhou a presença das duas, mas as cumprimentou
dando dois beijinhos. – Quanto tempo não as vejo!
Desde a viagem a Salvador.
- É verdade. – Marta sorriu. – Como foi a viagem? Um
pouco cansativa não é?
- Sim, mas como disse a Marina, o ônibus é bem
confortável e nem sentimos muito o cansaço.
- Esses ônibus de hoje são bem melhores.

Marina sentou-se na cama ao lado de Lívia e esta


envolveu a cintura da loirinha com o braço. Marta
estava na cadeira e Maria José sentou ao seu lado em
outra cadeira.
- Cadê Luisa? – a morena perguntou.
- Está no quarto dela brincando. – a loirinha sorriu. –
Ficou animada com os brinquedos. Se deixar vai ficar lá
as férias todas.
- Não estou entendendo direito, é... – Maria Jose olhou
para Lívia e Marta. – Marina, você disse que ia
conversar comigo e...?
- Então mãe, a senhora perguntou se eu me sinto
sozinha aqui. A resposta é não, porque estou morando
com Lívia. – olhava diretamente para a mãe. – A
principio não, quando vim para o Rio me instalei em
meu próprio apartamento, mas depois de um tempo
nos acertamos novamente e agora moramos juntas.
Faz pouco tempo.
- Acertaram de novo? Como assim? Marina você tinha
dito que nunca mais...
- Que nunca mais iria me relacionar com ninguém. Isso
porque depois que meu relacionamento com Lívia
acabou eu não encontrei alguém que realmente
amasse.
- E agora achou? – o tom foi de deboche.
- Reencontrei. – olhou para Lívia sorrindo.
- Sabe que não concordo com esse tipo de vida e que
somente aceitei porque você não estava se envolvendo
com ninguém. Por que mudou de idéia? Me desculpe
moça, mas agora que minha filha está encaminhada na
vida você resolveu procurá-la de novo? Há quanto
tempo estão juntas? – se dirigiu a Lívia.

Antes que ela respondesse Marina falou.

- Isso não tem nada a ver mãe! E voltamos faz pouco


mais de uma semana.
- Antes quando você era só uma estudante sem
dinheiro e passou os seus apertos aqui ela não estava
junto. Agora que tem um trabalho e ganha bem, tem
uma vida inteira pela frente, pode arrumar alguém
mais... adequado... – olhou para Lívia. – Ela quer
atrapalhar? É muito fácil gostar de uma pessoa que tem
dinheiro, uma carreira promissora, que more num lugar
privilegiado e ainda é bonita. Você pode ter qualquer
pessoa Marina, arrumar um bom marido e...
- Mãe! Lívia não está comigo pelo dinheiro. Lembra-se
direito dela? Foi ela quem mais me ajudou aqui quando
ainda estudava, infelizmente nosso relacionamento
tomou um rumo diferente do que eu esperava, mas
isso passou. Ela também trabalha e muito! E pra que
fique sabendo, este apartamento é dela. O comprou
pensando em mim e até mesmo em minha família,
tanto que fez um quarto só para Luisa. Quem mais faria
isso por mim? Lívia não precisa da minha carreira ou do
meu dinheiro.

Maria José ficou impressionada com as palavras da


filha.

- A senhora pode não concordar com meu


relacionamento, mas daí a ofendê-la eu não vou deixar.
- Ela te traiu!
- Sim e já conversamos sobre isso acertando nossas
diferenças. Deixamos o passado pra trás e agora quero
viver uma vida nova com ela. Tenho o direito de ser
feliz.
- Pode ser feliz com outra pessoa. Há muitos homens
bons.
- Tão bons que mesmo não conversando com a filha,
aceitam seu dinheiro para benefício próprio. – Lívia
falou surpreendendo a todas. – Eu não tenho nada
contra a senhora e a família de Marina. Ela faz com o
dinheiro dela o que quer, mas é muito interessante
saber que o pai e o irmão não conversam com ela ao
mesmo tempo em que aceitam sua ajuda. Cômodo
não?
- Eles não sabem que é ela quem ajuda. E Roberto
sempre pergunta por ela, se preocupa, apenas não
entende a escolha que ela fez.
- Marina pode ser uma pessoa estabelecida na vida,
mas não consegue ser totalmente feliz porque não tem
a companhia de toda a família. Ela faz de tudo para
agradar vocês, sempre pensa no bem estar de todos e
só tem em troca o desprezo.
- Não desprezo minha filha
- Não falo da senhora, falo do restante. Que tipo de
amor é esse? Como podem condenar nosso amor se a
própria família não o tem por ela? Eu traí sim, me
arrependi e fiz o impossível para reconquistá-la. Graças
a Deus Marina é a melhor pessoa que já conheci em
minha vida e tem um coração puro, com sentimentos
tão nobres que poucos têm.

Marina estava emocionada com as palavras de Lívia.

- Eu queria saber onde errei. – Maria José falou


consternada.
- Não erramos. – Marta que até então só escutava,
resolveu falar. – Quando Lívia me contou sobre sua
homossexualidade eu também me assustei. Não
entendia porque ela havia escolhido essa vida. Depois
percebi que isso não é uma escolha, é um fato. Escolha
é ela encarar esse fato ou não. E foi aí que me vi
orgulhosa dela, que encarou tudo de cabeça erguida e
venceu na vida, apesar da torcida contra. Lívia é a
melhor filha que poderia ter, Deus me deu um
presente. Eu a amo incondicionalmente. Fazendo certo
ou errado, caminhando pelo lado bom ou ruim. E sabe
por quê? Porque toda mãe aceita e compreende a
felicidade de um filho. Se ela é feliz ao lado de outra
mulher eu só tenho que ficar também. E ainda mais
porque essa mulher é Marina, uma menina que desde
que conheci me simpatizei e que gosto como filha
também.
- É tudo muito difícil. – Maria José abaixou a cabeça. –
Como pode isso?
- O amor não tem destino certo, ele simplesmente
acontece. – Marta falou calmamente. – Entenda que
não é fácil, mas é compreensível. Só tem que respeitar.
- A senhora não precisa me aceitar mãe, só precisa me
entender e respeitar meu sentimento. Não vou deixar
de gostar da senhora nem deles, são minha família e eu
amo muito vocês. – Marina chorava e era amparada por
Lívia que a abraçava com carinho.

Maria José olhou para elas, desde que conheceu Lívia


desconfiou de algo, mas não quis acreditar. Achava
estranho que ela desse muita atenção a filha, mas
achou que era uma grande amizade. Não podia negar
que ficara tranquila com essa aproximação porque viu
que Marta e Lívia eram boas pessoas. Lembrou da
visita deles ao Rio e de como foram bem tratados. Não
podia entender, mas podia respeitar, era sua filha e ela
era importante demais para que ficasse com opiniões
contrárias.

- Eu confesso que não estou acostumada, não era isso


que planejava para você.
- Ninguém planeja. E não é a sexualidade, é encarar
isso e correr o risco de ser alvo de muito preconceito.
Saiba que um pai aceitar um filho gay lhe dá muito
mais coragem de erguer a cabeça. – Marta segurou a
mão de Maria José. – Aos poucos você vai entender que
a felicidade não tem molde nem fôrma. Ela vem de
vários modelos. – sorriu.
- Desculpa filha, entenda que sua mãe não é moderna,
fui criada na roça. – chorou olhando para Marina.
- Ah mãe, a senhora é a melhor mãe do mundo. E eu
quero ser a melhor filha que você poderia ter também.
- Você já é.

Abraçaram-se emocionadas. Marina sentiu que tirou um


peso das costas e Lívia conseguiu respirar aliviada.

- Preciso me acostumar a tudo isso, Marina nunca me


apresentou ninguém como namorada. Ela nunca nem
ao menos apresentou uma amiga...
- Ainda bem, serei a única e espero que última. – Lívia
descontraiu.
- Tenha certeza disso. – a loirinha olhou com carinho.
- Podemos tomar café? Estou morrendo de fome! –
Marta pediu. – Esperei que chegassem e
conversássemos.
- Achei que já tinham comido. – Marina falou.
- Não. Esperamos pra ter essa conversa e tomarmos
café todas juntas, como uma família feliz.

Nesse momento a porta se abriu com Luisa entrando


como uma bala.

- Tia! Olha só que legal esse brinquedo, tem que


memorizar e eu já passei da fase quinze. – vinha
trazendo um jogo cheio de luzes.
- Que bom meu amor. Sinal de que você tem boa
memória. – sorriu.
- Eu tenho. – sorriu e olhou para Lívia. - E me lembro
de você, é a moça que tava lá em Salvador. É a mesma
que tinha no computador da tia Marina. Seu nome é
Lívia, sua foto ficava na tela.
- Ah é? – Lívia olhou levantando uma sobrancelha e
sorrindo com malícia. – Eu também me lembro de você,
mas quando era bem pequenininha, agora já é uma
mocinha.
- Eu cresço muitos centímetros por ano. – sorriu
orgulhosa.
- Isso é bom!
- Vou ficar grande que nem você! – olhou para cima.
- Será? Com a família alta que você tem. – Marina riu.
– Vamos tomar nosso café.
- É eu to com fome. – Luisa reclamou.

Descendo para a cozinha Lívia falou no ouvido de


Marina.
- Foto minha no computador é? – riu.

Marina nada falou, ficou sem graça.

- Eu também tinha uma sua, aliás, tenho. Fica na


minha mesa no escritório. Nunca a tirei de lá.

Olharam-se sorrindo. Para Marina agora estava tudo


bem, sua mãe aceitando ou ao menos respeitando seu
relacionamento, tudo parecia ser mais fácil. Sentaram-
se a mesa e comeram tranquilas.

- Cadê Renata? – Maria José perguntou. – Ela mora


aqui também?
- Não, está no meu outro apartamento. Porém ela
muda esse mês ainda, comprou um apartamento pra
ela.
- Tia, eu posso ir com você pro trabalho?
- Pode, mas acho que vai ficar entediada lá. Não quer
ficar aqui e brincar no quarto?
- Ah é! Eu tenho um quarto maneiro agora, mas eu
quero ir ao estúdio também. – sorria e ia tomando um
iogurte.
- Essa semana eu não vou lá, mas na semana que vem
a gente vai.
- Tirou folga? – sua mãe perguntou.
- Mais ou menos; só esses dois dias. Na segunda eu
volto, pedi a Renata que ajeitasse meus horários para
que eu possa aproveitar mais a companhia de vocês.
- Não se atrapalhe por nossa causa Marina, senão
quando formos embora você vai se matar de trabalhar.
- E agora eu fico de companhia pra elas, podemos sair,
conhecer alguns lugares. – Marta falou.
- Tudo bem, não vou me atrapalhar.

Terminaram o café da manhã e saíram para dar uma


volta ali por perto. Almoçaram na rua mesmo e dali
Lívia foi trabalhar levando o carro antigo de Marina.
Despediu-se discretamente, mas sob os olhares atentos
de Maria José.

- Gostei do carro, o que acha Bia? – Guilherme


mostrava a ela.
- Muito bonito e realmente está novo.
- Vou ver no banco sobre um empréstimo; eu lhe dou
uma entrada e financio o resto. – falou com Lívia.
- Não precisa financiar Guilherme. Dê a entrada e o
resto a gente negocia no seu salário.
- Está falando sério?
- Você é bom funcionário, não tem por que eu não
ajudar.
- Então como garantia ele fica no nome de Marina até
eu pagá-lo totalmente.
- Tudo bem. – sorriu.
- Negócio fechado. – apertaram as mãos.

Lívia sorriu e ficou feliz ao ver o rapaz entusiasmado.


De volta em sua sala, Lívia falou.

- Bom, aqui está a chave e o manual dele. Esta é a


apólice do seguro que ainda vai vencer, veja se faz
seguro dele hein. – entregou tudo ao rapaz.
- Com certeza! Um carro desses sem seguro chega a
ser ultrajante. – brincou. Já ia saindo quando
Érica entrou na sala informando que Marina estava no
telefone.
- Oi meu anjo.
- Amor, pode passar no mercado e trazer leite? Sua
mãe pediu, mas ela quer o desnatado.
- Tudo bem. Eu ia ligar, queria saber se você não quer
vir me buscar.
- Vendeu o carro?
- Vendi.
- Que rápido! Achei que ele ia pensar ainda.
- Guilherme está precisando de um carro e aquele
estava novo.
- Então eu te pego aí.

Quando Marina chegou Lívia estava quase saindo, dava


algumas coordenadas a Beatriz antes de ir.

- Sabe se Guilherme marcou alguma coisa no fórum


desse caso aqui? – apontou para uma pasta verde.
- Já, ele foi lá ontem. Agora me diga uma coisa, eu li
sobre um processo de uma família do Mato Grosso,
aquilo vai dar uma indenização e tanto. Quando vai
ser?

Marina bateu na porta e a abriu com cuidado, mas


Luisa irrompeu escritório adentro.

- Luisa, espera! – chamou a atenção da menina. - Oi,


boa tarde. Atrapalhamos?
- Não querida, entre. – Lívia fez sinal e se levantou indo
ao encontro das duas. – Já estou saindo. Ei menina! –
pegou-a no colo – Este caso é o seguinte... – sentou no
sofá junto com Luisa. – O motorista tem dezenove
anos, é filho de um empresário muito rico em São
Paulo, dono de uma empresa de turismo conhecida no
país inteiro. O rapaz estava dirigindo em alta
velocidade e possivelmente embriagado quando perdeu
o controle do veículo e bateu em duas árvores e um
poste. Uma garota se machucou, perdendo o
movimento do braço esquerdo e outro garoto morreu
na hora.
- Hum. – Beatriz fez uma cara de desolação. - Não tem
nenhum exame?

Lívia fez que não com a cabeça.

- E também não quis fazer teste de bafômetro no local.


É direito dele, mas depois ficou alegando que não havia
ingerido álcool.
- É o caso que me contou? – Marina perguntou.
- Sim. Achei incrível o médico legista não ter pedido
algum exame toxicológico do rapaz logo depois do
acidente.
- Suspeito não?
- Muito. Eu acho que esse médico foi comprado. De
qualquer forma o outro médico que fez a necropsia do
outro rapaz questiona no laudo dele a falta de qualquer
exame do motorista.
- E o que aconteceu com o motorista?
- Foi preso em flagrante, mas agora está em liberdade,
o pai pagou fiança. Porém vai responder processo por
homicídio culposo, direção perigosa e talvez por dirigir
embriagado. Isso se eu provar que ele ingeriu álcool
antes de dirigir. Isso é o que vai acontecer com ele sem
que ninguém faça qualquer acusação. Além disso a
família do rapaz falecido está entrando com uma ação
na justiça por sobrevida.
- Que é isso? – Marina não entendeu,
- É quando falece uma pessoa que provavelmente teria
uma vida estabelecida na sociedade. O garoto tinha
dezessete anos, estava na faculdade federal e era bom
aluno. Pelo ritmo de vida e hábitos cotidianos ele seria
talvez um bom profissional, trazendo para a família
uma estabilidade financeira. O que fazem neste caso é
uma estimativa de vida e o valor que ele ganharia por
mês, isso é multiplicado e o resultado é o valor da
indenização.
- Nossa! Isso vai dar uma grana alta.
- Sim, segundo os familiares ele não bebia, não fumava
e praticava esportes, foi medalhista num torneio de
química e física, passou em terceiro lugar no vestibular
da Unicamp.
- Ou seja, tinha um futuro brilhante.
- É isso aí. É lógico que nenhum dinheiro no mundo o
trará de volta, mas a família quer ser ressarcida dessa
perda de alguma forma.
- E nada melhor que com dinheiro no bolso. Sempre
tem um advogado pra vir com aquela história: Eu sei
que é uma perda lastimável e que o dinheiro não
aplacará a saudade, mas você tem seus direitos. –
Beatriz falava com se encenasse uma peça de teatro.

Marina achou graça.

- Estou rindo, mas você está certa.


- Agora estou mais inteirada desse processo. Sou
promotora do primeiro caso, quanto ao da indenização
que a família pede eu só acompanharei. Eu fico
indignada com essas situações, o moleque estava
correndo, vinha de uma festa as quatro da madrugada
e foi muito imprudente. A CNH dele nem foi
apreendida, achei isso um absurdo e se depender de
mim ele não dirige tão cedo.
- O pai dele deve ter comprado o policial. – Beatriz
comentou.

Luisa prestava atenção em tudo sem dar um pio.

- Ah claro. Bom, agora eu vou Bia. Se precisar de mim


pode ligar no celular. Amanhã eu não venho, mas estou
no Rio mesmo.
- Sem problemas, bom final de semana pra vocês. –
sorriu.
- Pra você também. – Marina falou.

Saíram conversando com a menina.

- Veio passear? – Lívia perguntou.


- Eu vim tomando conta da minha tia.

Lívia achou graça.

- Seu trabalho é bonito!


- Trabalho não Isa, é o escritório. – Marina corrigiu.
- Não, o trabalho também. Ela deixa preso quem faz
coisa errada.

Lívia olhou surpresa para ambas.

- E num é que ela sabe das coisas?!


- Essa menina sabe mais do que imaginamos.

Passaram no mercado e foram para casa. Luisa vinha


toda feliz com um potinho de jujubas nas mãos.

- Luisa! Comendo doce há essa hora? Assim não vai


jantar! – Maria José a repreendeu.
- Eu janto vó. Tem espaço aqui dentro ainda! – passou
correndo pela sala e subiu as escadas.
- Essa menina tem muita energia. – Lívia falou achando
graça.
- Você não viu nada. – Maria José revirou os olhos.

Mais tarde resolveram sair pra jantar. Marina chamou


Renata e Sarah para ir junto. Realmente Luisa comeu
de tudo. Conversava na mesa com elas como se fosse
adulta. Lívia ficava encantada e Marina como toda tia
coruja se derretia pela sobrinha.

- Luisa, amanhã vou te levar ao pão de açúcar! – Lívia


falou animada.
- Que legal! Eu sempre quis ir lá.
- Você já foi querida, só não lembra. – Marina falou. –
Era muito pequenininha.
- To inclusa nesse passeio? – Renata falou.
- Claro! Vai lá pra casa que saímos todas de lá. – disse
Lívia.

Luisa mal dormiu aquela noite, estava ansiosa pelo


passeio no dia seguinte. Depois que Maria José e Marta
deitaram, Lívia e Marina foram para o quarto.
- O dia hoje foi cheio. Tenho a impressão de que estou
acordada há dias! – Marina tirava a roupa.
- Já eu tenho a sensação de que não ganho um beijo há
dias. – fez bico.
- Tadinha! – Marina se aproximou. – Posso compensá-
la agora? – beijou e mordeu o queixo da morena. –
Estou pensando em tomar um banho, mas não sei se
tenho companhia. – falou distraída.
- Eu posso acompanhá-la se quiser. – Lívia tirava o
restante da roupa de Marina e a pegava no colo.

Entraram no box e saíram depois de muitas carícias.


Marina deitou de bruços na cama e Lívia a abraçou por
trás, ficando quase que por cima dela.

- Estou te apertando?
- Não, assim é bom, me sinto protegida.
- Gosto da sensação de proteger você. Às vezes ainda
parece uma menininha assustada e dá vontade de
pegar no colo e encher de beijinhos. – beijou a nuca
dela.

Marina se virou, ficando de frente para Lívia.

- Não sou mais uma menininha.


- Sei que não amor, foi modo de falar.
- Lembra quando lhe disse que queria sua admiração?
- Sim. – Lívia apoiou o cotovelo na cama. – E eu já
disse que a admiro muito.
- Falou sério quando disse isso? – Marina se mostrava
insegura.
- Não; falei pra agradar ou reconquistar você. Eu
realmente a admiro, por tudo que passou e conseguiu.
Você venceu diante de muitas dificuldades e, além
disso, é uma excelente profissional. Sempre... – parou
um pouco. – Sempre acompanhei você, lendo
reportagens ou procurando na internet. Via o quanto
era requisitada e elogiada no seu meio, além de claro
muito assediada também. – fez um bico contrariado,
provocando riso em Marina. – Tinha marmanjo que
elogiava demais.
- Nunca nem dei atenção.
- Quando a conheci me identifiquei com a sua situação
na época, você precisava trabalhar, estava sozinha e
tinha suas dificuldades. Sempre admirei sua
concentração e seu esforço em conseguir as coisas,
hoje eu admiro por ter conseguido e continuado a ser
uma pessoa simples.
- Eu queria ser como você. – Marina passava o dedo
indicador contornando o rosto de Lívia.
- Como eu? – beijou os dedos dela.
- É. Queria ser segura das minhas escolhas, queria ter
uma vida tranquila sem ter que me preocupar com
dinheiro no final do mês, queria até ser assediada. Faz
bem pro ego.
- Posso confessar uma coisa? Eu queria ser como você,
ter um coração bom e ter gostos simples. Com o tempo
me tornei exigente, muitas vezes extravagante.
- Gosto de você do jeito que é. – Marina sorriu pra ela.
- Eu também gosto de você como é... – Lívia se
posicionou entre as pernas dela. – ...Cada pedacinho...
– foi beijando pelo pescoço e descendo pelos seios,
barriga até chegar a seu sexo. Arrancou a calcinha e
lambeu, depois sugou bem devagar sentindo as mãos
dela em seus cabelos. Quando seu corpo estremeceu
parou com os movimentos e subiu novamente beijando
sua barriga e mordendo de leve até chegar a boca.
- Que silenciosa. – sorriu com malícia. – Até estranhei,
você não é assim.
- Minha mãe está no quarto ao lado, esqueceu?
- Ah é. – Lívia se fez de desentendida. – Então temos
que nos comportar, mas rir pode, não pode? – fez
cócegas nela.

Marina deu um gritinho e riu, colocou as mãos na boca


num susto.

- Para de me fazer rir. – deu um tapinha no braço de


Lívia. – Vem aqui. – puxou a morena e enlaçou a
cintura dela com as pernas. – Te amo muito.
- Também te amo, estou muito feliz com o rumo que as
coisas estão tomando. Tenho uma casa nova e muito
legal, um trabalho que adoro, uma vida estável e por
último... – olhou para Marina. - ...E não menos
importante... – beijou seus lábios. – Tenho uma mulher
linda ao meu lado e que deixa meus dias ainda mais
felizes e é por ela que eu trabalho e faço meu melhor.
Quero que ela se orgulhe de mim sempre.
- Me orgulho de você, não sabe o quanto.

Marina abriu mais as pernas e tirou a calcinha de Lívia


com os pés. Seus sexos ficaram em contato e
começaram uma esfregação deliciosa. Marina não
conseguiu segurar os gemidos, estava sentindo um
prazer indescritível, mordia os ombros de Lívia
tentando abafar o som. Quando ia gozar a morena
abafou os gemidos dela com um beijo. Gozaram juntas
e se abraçaram para dormir.

De manhã Luisa acordou cedo e empolgada com o


passeio, abriu a porta do quarto de Marina e pulou em
sua cama. Por sorte no meio da noite ela e Lívia haviam
vestido uma roupa.

- Tia! Acorda, está na hora de irmos!

Marina levou um susto com a menina, mas não pode


deixar de rir.

- Bom dia pra você também menina.


Lívia acordou com a movimentação.

- Tia, vamos! – pulava na cama.


- Calma Luisa, ainda está cedo. Primeiro vamos tomar
café, depois esperar Renata chegar e aí vamos.
- Eu já liguei pra tia Renata, ela disse que está vindo.
- Minha nossa! Você acordou Renata há essa hora? –
Marina falou rindo.
- São quase nove horas! – Luisa falou como se fosse
muito tarde.
- Ta bom meu amor, já vamos levantar.
- Tia Lívia, será que dá pra ficar na beiradinha do
bondinho, eu quero ver lá embaixo.

Lívia sorriu quando a menina a chamou de tia.

- Pode sim, não vai ficar com medo?


- Não! Eu gosto de lugares altos! Quero ser piloto de
avião e salvar o mundo.

As duas riram.

- Essa menina tem cada idéia. – Marina a olhava


achando graça.
- E eu fui promovida a tia. – Lívia riu. – Adorei isso.
- Mas se você é namorada da minha tia, então você é
minha tia também.

Marina arregalou os olhos, ficou vermelha como um


pimentão. Lívia caiu na gargalhada com a cena.

- Para de rir! – beliscou a morena.


- Ai! Sua cara está ótima.
- Essa cama é legal! – Luisa pulava. – E o quarto
também, olha que grande! Tem piscina aqui dentro. –
olhava para a banheira.
- Não é piscina meu amor, é uma banheira. – Lívia
explicou. – E olha só que legal. – apertou o controle e
fez descer a televisão.
- Que maneiro! Eu posso assistir um filme aqui?
- Pode meu anjo.
- Eu adoro filmes. – sorria empolgada.
- Hoje a noite a gente assiste um, qual você quer?
- De suspense. – olhou desconfiada para Marina.
- Não senhora, nada de suspense, você é criança ainda.
Vai assistir desenhos, ora essa.
- Ah tia! – resmungou. – Eu não tenho medo.
- Não acho certo, é muito novinha ainda.
- Ela que tem medo, por isso não me deixa ver. –
cochichou com Lívia.
- Eu sei, ela esconde o rosto no travesseiro nas cenas
mais feias. – cochichou também.
- Querem parar as duas?!
- Tia você é medrosa, mas eu te amo! – Luisa riu.
- É, eu também te amo. – Lívia aproveitou o embalo.
- Eu to perdida com vocês. – revirou os olhos.

Levantaram da cama e Lívia carregou a menina no colo


até a sala. A mesa já estava pronta, Marta e Maria José
conversavam na varanda.

- Gente, vamos tomar café? Tem uma criança indócil


aqui querendo sair. – Marina brincou.
- Bom dia meninas! – Marta falou primeiro.
- Ela acordou vocês? Luisa eu não disse que era pra
esperar sua tia acordar?
- Ah, eu estava ansiosa. – falou meio envergonhada.
- Não tem problema, foi um excelente despertador. –
Lívia beijou as bochechas da menina.

Assim que se sentaram para tomar café Renata chamou


pelo interfone e logo subiu, sentou-se a mesa pra
tomar café com elas.

- Eu mereço um café completo por ter sido acordada às


oito horas da manhã! – olhou para Luisa.
- Eu só não te pego porque não resisto a esses
olhinhos. – Sarah brincou fazendo cócegas na menina.
– Mas oito horas foi de amargar! Em plenas férias!?

Saíram munidas de máquina digital e câmera filmadora.

- Parece que vamos gravar um filme. – Marina falou.

Luisa adorou a subida ao pão de açúcar. Como estava


cheio Lívia a pegou no colo e ficou perto da beirada
mostrando tudo pelo vidro.

- É muito legal! – falava animada.

Lá em cima tiraram fotos de tudo que viam pela frente.


Lívia chamou Marina num canto e disse que faria uma
surpresa para Luisa.

- Amor, não é perigoso?


- Imagina, é seguro e ela vai adorar.

A promotora havia alugado um helicóptero por vinte


minutos e estava tudo pronto para decolarem. Luisa
nem acreditou, saiu pulando animada em direção ao
heliporto.

- Calma aí baixinha. Você tem que ir com um adulto. –


Marina a segurou.
- Tia Lívia, eu nem acredito! Posso ir na frente?
- Acho que não querida, mas eu te deixo ir na beirada
de novo.

Chamaram Marta e Maria José para subir, Sarah não


quis ir e Renata a deixou com um colega que havia ido
também. Marina olhava para a mãe e viu que ela
estava apreensiva.

- Mãe, a senhora vai gostar do passeio e o dia hoje está


muito bonito.
- Não sei nem se vou conseguir ver a paisagem. – falou
um tanto apavorada fazendo a filha rir.

Quando o helicóptero decolou Luisa começou a bater


palma mostrando animação. Apontava pra todo lugar
que via e tentava tirar fotos. Lívia pegou a máquina da
mão dela e tirou uma foto somente das duas.

- Junta aqui comigo.

Sorriram e ela bateu a foto.

- Não é a mesma coisa que um vôo de asa delta, mas


pelo menos você está voando.

A menina estava radiante e ao final do passeio deu um


abraço apertado na morena.

- Obrigada, foi melhor que qualquer passeio de asa


delta.
- De nada meu amor, vamos fazer muitos passeios
ainda.

Enquanto Luisa saiu pulando, Marina se aproximou de


Lívia e lhe deu a mão.

- Você não existe. – sorriu. – Obrigada por fazê-la feliz.


É importante pra mim.
- E o que é importante pra você é prioridade pra mim.
– Lívia sorriu e beijou sua testa. – Vamos que esta
menina não está na metade de sua energia. – pegou
Marina pela mão.

Zezé e Marta as olhavam.

- Vai me dizer que não acha bonito um amor assim? No


mínimo merece consideração. – Marta falou.
Maria José não quis continuar o assunto, só observou e
ficou pensativa. Depois de descerem o morro da Urca
foram almoçar no forte de Copacabana. Como ainda era
cedo, partiram rumo ao Corcovado. Enquanto subiam
devagar as escadas Luisa ia e voltava na frente delas
numa animação invejável.

- De noite quando chegar em casa ela vai cair na cama


e dormir. – Maria José falou.
- Vou nada, ainda vamos assistir filme, não é? – olhou
para Marina e Lívia.
- Ahan. – as duas responderam ao mesmo tempo.

Renata vinha com Sarah e tirava fotos.

- Já sei, vai pro blog. – Lívia falou.


- Certíssima. Marina junta com Lívia que vou tirar uma
foto.

As duas se juntaram e Renata bateu a foto que depois


juntou às outras, indo parar em cima do piano de
Marina, onde ela reuniu fotos de várias fases de sua
vida. Estava anoitecendo quando voltaram para casa.
Deixaram Renata em casa e combinaram de sair no fim
de semana todas juntas.

- Rê, chama o Eduardo.


- Eu chamei chefinha, hoje inclusive, mas ele não pode
vir, estava corrigindo prova e tinha uma aula pra dar de
tarde.
- Amanhã ele vai poder.
- Vou chamar de novo, ó, deixei no porta-luvas do
carro uns documentos para você ler e assinar. Preciso
deles na segunda.

Marina pegou os documentos deixando sua mãe


curiosa.
- Você disse que Renata vai mudar pra onde?
- Compramos um apartamento e ela deve mudar em
algumas semanas. Eu vou alugar o que comprei aqui.
- Você deu o apartamento a ela?
- Não mãe, combinei com ela que se viéssemos para o
Rio eu a ajudaria a comprar um apartamento. Foi uma
forma de agradecer, ela é uma excelente funcionária
além de ser fiel a mim.

Depois de tomarem banho e descansarem Lívia veio


com um DVD para assistirem. Sua mãe e Maria José
preferiram a novela. Ela, Marina e Luisa deitaram na
cama com uma bacia de pipoca e colocaram o DVD pra
rodar. Em menos de uma hora Luisa estava dormindo.

- Bem que sua mãe falou.


- Quando ela apaga é de uma vez só. – riu a loirinha. –
Essa menina é meu xodó. O pai dela é muito
descansado, não pensa no futuro dela, já a mãe é
esforçada, mas também não tem grandes ambições. –
alisava os cabelos de Luisa.
- Você pode ajudar amor.
- E eu ajudo, hoje ela está numa escola particular, faz
aula de dança, joga futebol e assim que estiver
completamente alfabetizada eu quero que ela faça aula
de música.
- Ela joga futebol? – Lívia achou graça.
- Atacante querida. – riu.
- Mas essa menina não é mole.

Riram as duas.

- Eu gostaria muito que meu irmão fosse mais


cuidadoso com ela. Não que ele seja um péssimo pai,
mas é relapso e vejo que se eu não faço por ela, talvez
ela não tivesse melhores oportunidades.
- Deus faz as coisas certas e por isso colocou você de
anjo da guarda dela aqui na terra.
- Ah que isso, eu sou no máximo uma fada madrinha.
- Vou levá-la pra cama, já volto. – Lívia pegou a
menina e saiu do quarto com ela no colo. Estava
entrando no quarto dela quando Maria José apareceu.
- Desmaiou né?
- Não viu nem uma hora de filme. – sorriu. – Vou
colocá-la pra dormir.

Deitou a menina e a cobriu. Deixou a luzinha da


bancada acesa e deu um beijinho na testa dela. Maria
José olhava surpreendida com aquele tratamento.
Quando a morena saiu ela segurou seu braço.

- Você é boa moça, me simpatizei quando te vi a


primeira vez lá em casa. Confesso que não era isso que
queria para minha filha, mas ao menos ela escolheu
alguém de coração bom. – sorriu.
- Obrigada dona Zezé. É importante pra nós que a
senhora aceite, não sabe como Marina a admira e quer
ganhar sua admiração.
- Ela já tem minha filha, já tem. – segurou a mão dela.
– Boa noite.
- Boa noite.

Lívia ficou imensamente feliz e entrou no quarto com


um sorriso de orelha a orelha. Marina estava lendo os
papéis que Renata havia deixado. A morena trancou a
porta e veio engatinhando na cama; começou beijando
os pés de Marina e foi subindo pelas pernas até chegar
a seu ventre. Ela continuava lendo fingindo não sentir
nada.

- Cheirosa! – mexia no elástico do pijama dela. – Que


papéis são esses?
- Renata deixou pra que eu lesse. Uns são do estúdio,
esses aqui são da compra do apartamento. Esse
corretor é muito bom, deu os cálculos de tudo que
vamos gastar com a compra, escritura, impostos e
taxas. Como ela não tem nenhum imóvel no nome dela
vai ter um desconto de cinquenta por cento em uma
das taxas.
- Sim, o ITBI.
- Esse mesmo. – Marina alisava os cabelos de Lívia. –
Como sabe?
- Já fiz um inventário onde tinham muitos imóveis, tem
gente que luta a vida toda pra construir um patrimônio
e quando morre deixa pra incompetentes que acabam
com tudo em questão de meses às vezes.

Enquanto Marina estava lendo, Lívia ficou mordendo e


dando beijinhos em sua barriga.

- Você está me distraindo.


- Eu? Desculpe, não era minha intenção. – continuou
beijando, mas dessa vez as mãos já procuravam
espaço entre as pernas dela.

Marina ainda tentou continuar a leitura, mas não


conseguiu. Colocou os papéis de volta no envelope e o
jogou em cima da mesa, puxou a morena pelos
ombros.

- Quer parar de me provocar?!


- Estou morrendo de vontade de você e vou tê-la
agora.

Tiraram suas roupas em segundos.

Passearam bastante no final de semana. Visitaram os


lugares mais conhecidos e depois foram ao shopping
com Luisa. Maria José e Marta não quiseram ir,
estavam cansadas do tour pela cidade e Renata disse
que as encontrava mais tarde, pois tinha que ajudar
Sarah com um trabalho da escola. Marina ficava
encantada vendo como Lívia gostava de Luisa. As duas
se davam bem e se entendiam em várias questões,
tinham gostos parecidos.

- Amor, nós vamos ali naquela loja de jogos.


- Ah isso não é pra mim. Fico aqui com Dudu, ou você
quer ir? – perguntou ao rapaz.
- Não, deixa as duas jogando.

Os dois pediram um suco e ficaram de papo.

- Lívia está me surpreendendo em relação à Luisa.


- E a mim? – Marina falou. – Tudo bem que quando Isa
era pequena Lívia já a tratava muito bem, mas agora.
- Será que nossa beldade de olhos azuis não está
querendo ter um filho?

Marina pareceu ficar pensativa.

- Ela sabe que agora não dá. Temos nossa vida muito
atribulada e se eu tiver um filho gostaria de ter mais
tempo para cuidar dele.
- Eu tenho vontade de ter um filho também.
- Por que não adota?
- Quando estava com Fabrício ele nunca manifestou
essa vontade. E adotar estando sozinho é meio
complicado. Eu queria ter um filho meu também.
- Bom, aí já é diferente, precisa de uma mulher pra
isso.

Eduardo deu um sorriso que fez Marina olhar


desconfiado.

- Olha, não sei não. Eu te conheci gay, mas sinto no ar


um cheiro de mudança. Você e Renata se dão bem
demais pro meu gosto.
- Ah que isso. Renata é gente fina demais, uma mulher
batalhadora e inteligente, além de bonita, mas não
passa de amizade. Não tem nada a ver.
- Não mesmo?
- Não... – olhou para Marina. – Um pouco... – sorriu.
- Eduardo! – olhou cismada. – Se acontecer, saiba que
eu dou a maior força. Renata é como uma irmã pra
mim e você sempre foi meu amigo do coração.
- Não tenho relacionamento com uma mulher há muitos
anos.
- E daí se tiver agora?
- Não sei se ainda consigo... ah sei lá... com mulher é
diferente, em tudo né.
- Está falando de sexo? – Marina falou alto.
- Fala mais alto que as vendedoras das lojas do andar
de cima não ouviram.

Ela riu da piada.

- Ta, desculpa. Essas coisas não se esquecem e outra,


cada pessoa é de um jeito e a gente tem que ser
criativo.
- Ah é? Que coisa hein, quero detalhes disso. –
debochou.
- Nada de detalhes. Só posso lhe dizer que a
imaginação é que melhora o relacionamento.
- Sei, Lívia que o diga, aquela ali pensa em cada coisa.
- Sem detalhes da minha vida íntima, ok?

Lívia veio com a menina empoleirada em suas costas e


tinha nas mãos um bichinho de pelúcia.

- Tia! Ganhamos um bichinho pra você!


- É?! Obrigada querida. – sorriu pegando-o.
- Deu um trabalhão, porque ele não vinha de jeito
nenhum. Tia Lívia comprou muitas fichas.
- Foi uma questão de honra pegar esse bicho. – a
morena sorriu.
- Ah, mas ele é muito bonito. – Luisa pegou de volta da
mão de Marina.
- Estou pensando aqui, eu acho que ele vai combinar
mais no seu quarto novo, junto com os outros que já
tem lá.
- Posso mesmo ficar com ele? – os olhinhos da menina
brilharam.
- Claro meu amor. – Marina afagou os cabelos dela.
- O que estão comendo? – Lívia perguntou.
- Dudu pediu uma porção de frios, mas está no fim.
- Eu queria uma coisa doce. – Lívia olhava em volta da
praça de alimentação procurando o que comer.

Luisa olhava em volta também e avistou uma


sorveteria, mas nada falou. Não era de pedir as coisas
e quando pedia era algo simples. Ficou esperando pra
ver se alguém prestava atenção nela, enquanto isso
brincava com o bichinho. Não demorou muito para que
Lívia manifestasse a vontade de tomar sorvete.

- De repente eu tomo um sorvete, mas ali só vende


aquelas taças enormes. Se tivesse ajuda... – olhou para
Luisa.
- Ah, essa daí não só te ajuda como toma o sorvete
todo pra você, se quiser.
- Que tal uma taça gigante de sorvete? – a morena
perguntou.
- Pode ser com calda de chocolate?! – Luisa animou
rapidamente.
- Isso e calda quente também.

Pegou a menina no colo e pouco depois voltou com


uma taça enorme nas mãos e duas colheres.

- Um sorvete gigante desses e duas colheres só? –


Marina olhou sério para as duas. – Não acham que é
sorvete demais pra duas pessoas?
- Eu divido amor, toma. – Lívia deu na boca de Marina.

Eduardo olhou a cena e quis brincar.


- Eu ganho na boca também?
- Posso te dar um pouco do meu. – Luisa esticou o
braço oferecendo a ele.
- Hum que delícia!

Na volta pra casa pegaram Renata no apartamento de


Marina, ela aproveitou a oportunidade e pegou o resto
de suas roupas que estavam lá.

- Depois venho pra pegar os objetos pessoais.


- Está mudando de vez meu Deus. Bem me disseram
que casal de lésbica é assim, conhece num dia, namoro
no outro e...
- Casa no terceiro dia. – Eduardo completou a frase de
Renata.
- Isso aí.
- Vocês dois parem com isso. Conheço Lívia faz muitos
anos e só agora estou oficializando. – Marina quis
justificar.
- Ta bom, vamos dar um desconto.

No caminho pra casa Luisa dormiu e foi colocada na


cama assim que chegaram.

- Ela precisa tomar banho. – Maria José falou.


- Ah mãe, deixa, só deve acordar amanhã cedo e aí ela
toma. Já tomou antes de irmos ao shopping.
- Ela ta adorando as férias. – sorriu. – Me confessou
hoje de manhã que está melhor do que ela esperava.
- Que bonitinha. Eu sinto uma falta danada dela quando
volta pra São Paulo.
- Ela também sente.

Depois que Zezé e Marta foram dormir, os outros


subiram pra piscina e ficaram conversando. O assunto
girou em torno dos trabalhos realizados no estúdio e
entre uma situação e outra Lívia foi conhecendo ainda
mais sobre o trabalho de Marina.
- Eu confesso que gosto de gravar com artistas
desconhecidos. Não são todos, mas a maioria dos
famosos têm uma opinião muito fechada e não aceitam
palpite da nossa parte. Felipe fica indignado.
- Fica mesmo, essa semana ele me mandou um e-mail
reclamando de um atraso no cd da Luciana. Depois que
vocês ensaiaram tudo, ela ainda mexeu numas coisas.
– Renata falava. – Nem te avisei porque sabia que ela
queria era bajulação.
- Então era para o cd dela que você foi para a tal
fazenda – Lívia perguntou num tom quase de
desconfiança.
- Foi. Ela queria um lugar mais tranquilo e alugou essa
fazenda para ensaiar.
- Hum. – olhou para o outro lado.

Eduardo fez uma cara de que lá vinha encrenca, então


Renata mudou o rumo da conversa. Falaram sobre
viagens e shows, Marina se mostrou atenta ao mercado
de trabalho e impressionou Lívia com isso.

- Com essa pirataria toda, estamos investindo em


produção de shows. Os artistas ganham é nessa hora,
porque com a venda de cd e DVD não ta rolando.
- Eu gosto é de trabalhar com campanhas publicitárias.
- Renata falou. – Sai cada jingle maneiro e minha
chefinha é a melhor.
- Puxa saco! – Eduardo falou.
- Vai ganhar até um aumento. – Marina riu.

O papo rendeu até tarde, só foram embora porque já


estavam cansados.

No quarto Lívia mexia no controle da TV zapeando os


canais e Marina passava um hidratante no corpo. Fazia
de um jeito sensual que não passou despercebido pela
morena.

- Está cansada? – Marina perguntou.


- Não muito, por quê? – Lívia continuava olhando para
a TV.
- Por nada... – subiu na cama e deitou ao lado dela,
repousando a cabeça em seu colo.
- Marina quando vai começar a me contar as coisas que
acontecem no seu trabalho? Porque o que você me
conta é superficial e o que quer que eu saiba.
- Se está falando sobre Luciana, eu não disse antes
porque não estávamos conversando e depois porque as
coisas foram acontecendo e eu me esqueci.
- Esqueceu? – olhou pra ela.
- Sim e não achei importante o suficiente e se quer
saber mesmo, eu sabia que você iria implicar, por isso
não falei.
- Que adianta você não contar se uma hora eu fico
sabendo?
- Boca grande a de Renata, depois eu vou falar com
ela.
- Claro e dizer pra não abrir mais o bico e continuar me
escondendo as coisas. Vai ser assim?
- Não. – Marina se levantou e ficou de frente para Lívia.
– Se eu não falo é porque sei que se irrita, até acontece
de alguém me dar uma cantada ou ser um pouco mais
abusado, mas eu não deixo passar disso.
- Eu confio em você, mas se continuar me omitindo as
coisas vou deixar de confiar. Promete que vai me
contar tudo?

Marina olhou nos olhos dela e sorriu.

- Ta bom amor, mas tem que me prometer que não vai


ficar com raiva.
- Eu prometo.
Marina olhou em volta e pareceu pensar um pouco.
Mexeu no cordão de Lívia e beijou a boca dela.

- Aconteceu uma coisinha lá durante a gravação.


- Como é que é? – Lívia recuou o corpo e cruzou os
braços. – Ta vendo Marina, você está me escondendo
as coisas.
- Amor, escuta. Era o último dia de gravação, eu estava
na varanda olhando o tempo quando Luciana se
aproximou. Conversamos um pouco e depois ela veio
com uma conversa mole de que gostava de mim e que
pensava em mim.

Lívia estreitou os olhos, Marina sentiu que ela estava


quase bufando, colocou as mãos nos braços dela como
se quisesse acalmá-la.

- Naquele exato momento eu estava mesmo era


pensando em você, em voltar pro Rio e conversar sobre
a gente, acertar tudo de uma vez. Ela me beijou de
repente, mas eu me afastei dela e saí de perto sem dar
explicações. Nunca mais a vi e quero que quando nos
encontrarmos de novo você esteja do meu lado.

Lívia levantou da cama e andou de um lado para outro.

- Eu sabia que aquela mulher gostava de você, vi isso


na cara dela. Que ódio! Tenho horror de gente
dissimulada. Aconteceu mais alguma coisa que eu não
esteja sabendo? – olhou para Marina.
- Não. Eu fui embora no dia seguinte cedo e não a vi
mais. – Marina saiu da cama também e se aproximou
de Lívia. – Me desculpe, não falei porque sabia que ia
ficar assim, nervosa.
- Nervosa? Eu estou tomada de ódio. – pegou Marina
pelo braço. – Você é só minha. E ninguém vai tirar você
de mim.
Suas bocas se encontraram num beijo cheio de desejo
e dali foram pra cama.

Faltando poucos dias para a volta de Luisa e Maria


José, Marta as convidou para irem a Mauá conhecer a
cidade.

- Aproveitamos e conhecemos os arredores. Vocês vão


adorar. – Lívia falou animada.
- Não ta muito frio lá? – Maria Jose perguntou receosa.
- É só levar uma roupa mais quentinha.
- Então tudo bem, podemos ir quando quiserem.
- Dá pra ir amanhã de manhã meu anjo? – Lívia
perguntou a Marina, que ficou meio sem graça com o
tratamento na frente da mãe.
- Preciso ir ao estúdio hoje então, Diogo reclamou com
Renata que está abandonado.
- Tudo bem eu passo no escritório também, preciso
deixar uma documentação com Guilherme e vou com
você.

Marina foi com Lívia até o escritório, conversaram um


pouco com Guilherme e Beatriz, depois foram para o
estúdio.

- Vou passar no meu amigo Bernardo e perguntar a ele


se o barulho está incomodando muito. – Lívia falou.
- Deixa de ser implicante. – a loirinha deu um tapinha
no braço dela. – Ta vendo como não faz barulho
nenhum e pelo que Renata falou há essa hora devem
estar gravando com um grupo de pagode.
- Eu sei amor, não precisa justificar pra mim. – a
abraçou e beijou sua testa.

Entraram no estúdio de mãos dadas e pra surpresa de


Marina, Luciana estava na recepção insistindo para falar
com ela.

“E não morre tão cedo!” – pensou a loirinha.

- Marina! Estou atrás de você. – falou sorridente.


- Eu também. – Lívia falou entre os dentes e levando
um olhar repreensivo de Marina.
- Oi Luciana, algum problema?

Luciana olhou para Marina e Lívia e depois reparou que


estavam de mãos dadas.

- Problema algum, estou aqui tentando falar com você,


mas seus atendentes me disseram que você estava de
férias.
- Não estou exatamente de férias, mas é que minha
mãe está na cidade e eu sempre tiro uns dias de folga
para ficar com ela e minha sobrinha.
- Vim aqui para lhe contar que a música carro chefe do
cd está como a mais pedida nas rádios.
- Jura? Que notícia boa. Eu tinha lhe falado que aquela
música seria sucesso.
- Claro, composição minha e arranjo seu, não tinha
como dar errado. Somos uma dupla imbatível. – falou
sorrindo. – Está muito ocupada? Quer almoçar comigo?
- Agradeço o convite, mas sim, eu vim para conversar
com Diogo e depois vou almoçar com Lívia. A propósito,
amor esta é Luciana e Luciana esta é Lívia minha
namorada.

O sorriso que Lívia deu foi contagiante, ficou toda boba.


Já a cara que Luciana fez não foi das melhores.

- Ela provavelmente já me conhece. – falou a cantora


com desdém.
- Sim, muito prazer. – neste instante o celular de Lívia
tocou. – Com licença.
Enquanto a morena falava ao telefone Marina
conversava com Luciana sobre o cd, comparando-o com
os anteriores.

- Não podemos ir para a sua sala? – Luciana perguntou.


- Claro, venha. – levantou e foi até Lívia que estava
próxima a uma janela, pegou na mão dela e a puxou.

Renata estava em sua sala quando viu as três


entrando, Lívia ainda ao telefone e Marina conversando
com Luciana. Arregalou os olhos fazendo uma cara de
surpresa. As três entraram e fecharam a porta. Assim
que desligou Renata entrou na sala.

- Marina, precisa de alguma coisa?


- Não Rê, cadê o Diogo?
- Está lá dentro, quer que chame?
- Não eu vou até lá, não vou demorar aqui.

Lívia desligou o celular e cumprimentou Renata.

- E aí, tudo certo? – sorria.


- Sim. – Renata alternava o olhar entre Lívia e a
cantora.
- Vamos pra Mauá amanhã cedo, quer ir?
- Ah minha amiga, quem sou eu. Alguém tem que
trabalhar nessa família.
- Vá no final de semana, eu a busco na rodoviária de
Resende.
- Ué, de repente. Talvez possa ir com Eduardo. Será
que dá? – pareceu ter vergonha.
- Claro. – Lívia riu com malícia. – Vocês dois... sei não.
- Para de bobeira. Vou falar com ele, de repente vamos
no carro dele mesmo, não precisa ir nos buscar.
- Vocês ficam lá em casa, mamãe vai adorar, ela gosta
de casa cheia. E se não for problema, tem Fabrício, ele
provavelmente está na casa de tia Bete, mas pretendo
ignorá-lo. Nunca mais o vi depois que foi demitido.
- Menos mal, assim evita conflito. E pra mim não há
problema, tem que ver se Eduardo não se incomodará.
- Ele é um cara do bem, não vai ligar pra isso.

Marina conversava com Luciana e Renata percebeu que


Lívia não ligava.

- Achei que estaria roendo o pé da mesa de tanto


ciúme. – cochichou.
- Não. Estou tranquila. – falou com descaso.
- Tomou calmante? – riu.
- Vai te catar. – deu tapa no braço dela.
- Deixa eu voltar pra minha sala, fica combinado então,
no sábado de manhã eu apareço lá.
- Ótimo, vamos te esperar.

Renata saiu e Lívia sentou num sofá atrás de Luciana.


Ficou fazendo careta enquanto ela falava, deixando
Marina com vergonha, porque queria rir e não podia.

- Então Marina, podíamos marcar alguma coisa, um


jantar.
- Que acha meu amor? – perguntou a Lívia.
- Por mim tudo bem, é só marcarmos. Vamos esperar
sua mãe ir embora, senão não aproveitamos a
presença dela e de Luisa.
- Verdade, qualquer hora dessas nós combinamos. Me
desculpe o mau jeito Luciana, mas eu preciso ir lá
dentro falar com Diogo. Só passei aqui para conversar
com ele.

Luciana pareceu ficar sem graça, mas não teve outra


opção. Despediram-se e Marina foi entrando passando
pelo corredor com Lívia atrás dela.

- Adorei ver você me chamando de amor na frente


dela. – parou para lhe dar um beijo.
- E você é meu amor. – Marina a abraçou. – Não quero
que fique enciumada por coisa boba, o que eu puder
fazer pra evitar eu faço. – beijou a boca dela. – Agora
vamos ver o que o Diogo quer. – abriu a porta e
entrou, o rapaz estava com um fone no ouvido e os
dois rapazes estavam mexendo um na mesa de som e
o outro no computador. – Bom dia!
- Ei Marina, você sumiu!
- Desculpa Diogo, minha mãe está na cidade, estou
dando uma atenção maior a ela.
- Tem problema não. Olha, preciso de uma ajuda aqui.
Os garotos estão com um problema nessa música. –
mostrou uma partitura simples somente em clave de
sol.
- O que é isso?
- Essa é a melodia principal, que faz a voz do cantor.
- Sim. – olhava atentamente.

Lívia sentou num banquinho e somente observou.

- Nós ficamos um tempão ontem pra desvendar o


mistério. Simplesmente não se encaixa com os acordes
do refrão.
- A melodia principal?
- É.
- Que isso Diogo, essa música é de quem? – falou
baixinho.
- Pode falar alto que eles não estão escutando. – o
rapaz riu. – Essa música é do vocalista mesmo.
- Eu hein, ele compõe e ainda faz errado? Essa banda
não anunciou o término na televisão?
- Pois é, mas estão lançando um CD novo.
- Bom, deixa ver o que acontece. Pede a eles para
tocarem a música.

Diogo fez sinal para a banda que estava ensaiando


outra música e assim tocaram a que tinha o problema.
Quando entraram no refrão Marina ouviu atentamente
e fez sinal para pararem. Pediu que voltassem ao refrão
e o tocassem três vezes seguidas até que achou o
problema. Pegou um violão e dedilhou umas notas
mostrando a Diogo, ele fez mais um acerto e depois
fizeram sinal para que a banda parasse.

- Meninos... – Marina falou ao microfone. – Por favor,


do terceiro acorde até o oitavo esta errado.

Diogo pegou o violão e tocou para lhes mostrar. O


vocalista pareceu entender o erro e com as notas certas
ele mesmo tocou no cavaquinho fazendo um sinal
depois de positivo. A banda recomeçou a música e
dessa vez saiu tudo certo.

- Sabia que você resolveria. – o vocalista falou com


Marina. – Não é a toa que confiamos no seu trabalho de
olhos fechados.
- Fico lisonjeada, mas não resolvo tudo. A música ficou
ótima e isso é mérito de vocês. – sorriu.

Marina ainda ficou um pouco ali dentro conversando


com Diogo e assistindo um pouco da gravação. Como
estava de pé Lívia a puxou para sentar-se em seu colo
e ela não se opôs. Os músicos ficaram olhando meio
desconfiados, mas nada falaram.

- Você fica tão bonitinha quando está trabalhando. –


Lívia falou no ouvido da loirinha. – Fica ainda mais linda
quando está concentrada.
- Boba. Assim eu fico com vergonha.
- Estou morrendo de vontade de te dar um beijo.
- Vamos resolver esse problema. – Marina virou o rosto
e beijou a boca de Lívia, mas foi um beijo rápido. –
Precisamos ir.

Lívia se levantou e saíram as duas de mãos dadas.


Marina ainda parou para falar com Renata e depois
saíram.

Na manhã seguinte saíram cedinho para Mauá. Luisa foi


dormindo ainda e acordou no meio do caminho quando
pararam para ir ao banheiro. Assim que entraram na
cidade Maria José ficou admirada.

- Que bonito! Parece uma vila!


- É o que todo mundo diz. – Marta falou.

Após se instalarem e Marta mostrar a casa foram dar


uma volta ali por perto e acabaram almoçando na rua.
Depois pegaram o carro e foram conhecer Penedo.
Luisa andou a cavalo com Marina e Lívia ficou tirando
foto das duas. Foram à loja de artesanato e por último
de chocolate.

- Olha Luisa se esbaldando no chocolate quente. –


Marta riu. – Já é o terceiro eu acho.
- Luisa! Menos minha filha, depois vai ter dor de
barriga. – a avó a repreendeu, mas sem sucesso.
- Deixa mãe, eu vejo o que fazer.

Marina foi até a menina e conversou com ela e a fez


deixar o chocolate quente de lado. Andaram mais um
pouco pela cidade e depois voltaram para Mauá.

- Quando Renata chegar nós vamos à Resende e a


Itatiaia. – Lívia falava enquanto dirigia. – Em Resende
tem a AMAN e o parque de Itatiaia que não ficam
devendo em nada na beleza.
- Podíamos jantar na pousada do seu amigo, o fondue
de lá é muito bom. – Marina pousou a mão na perna de
Lívia.
- Tudo bem, pode ser hoje? Ou quer esperar o pessoal?
- Vamos esperar, assim vai todo mundo junto.
- Certo. – piscou para Marina.
Maria Jose assistia a tudo sem comentar nada, às vezes
ficava envergonhada ou sem graça, mas no fundo
percebia que as meninas não abusavam no tratamento
pessoal. Olhava o semblante de Marta e o via tão
natural, provavelmente já devia estar acostumada.
Todo dia saíam para conhecer a região e à noite
jantavam fora ou comiam em casa mesmo, com Marta
sempre fazendo o jantar.

- Deixa que eu te ajudo, não sou tão boa na cozinha,


mas me esforço. – Maria José falou.
- Minha mãe cozinha bem viu Marta. – Marina piscou o
olho pra sogra.
- Você já me falou. Mas cozinha melhor que eu? –
Marta fez um pouco de drama.
- As duas são páreo duro. – Marina sorriu. – Digamos
que eu esteja bem servida, com vocês duas não passo
vontade.
- Eu também estou, porque Marina cozinha muito bem.
– Lívia chegou falando. - Ao contrário de mim que sou
uma negação na cozinha.
- Mas você é boa em outras coisas. – Marina passou
perto de Lívia dando um beijo em seu ombro. – Sabe
arrumar casa melhor que eu e é ótima pra trocar
lâmpada. – riu.
- Marina não leva jeito para trocar lâmpada, só se for
de um aquário. – Zezé debochou.
- Ah que judiação. – Lívia falou olhando para a loirinha.
- Já me conformei com meu tamanho. – falou fazendo
bico.
- Eu adoro! – Lívia beijou o topo de sua cabeça.

A campainha tocou e como Luisa estava na sala


brincando, ela quem foi abrir.

- Oi! – sorriu para Bete e Fabrício.


- Olá menina, tem alguém em casa além de você? –
Bete perguntou.
- Tem... – parou pra pensar. – Tem vovó Zezé, vovó
Marta, tia Marina e tia Lívia.
- Nossa, já entraram pra família. – Fabrício se agachou.
– Você deve ser Luisa.
- Sou sim, como sabe meu nome?
- Eu te conheci quando era neném ainda. Sou Fabrício
primo de Lívia e esta é minha mãe.
- Vou chamá-las. – virou as costas e saiu correndo. –
Tiiiiaaaa!

Lívia apareceu na sala e os viu na porta.

- Entrem, fiquem a vontade. Estamos jantando,


venham na cozinha. – Pegou Luisa no colo e voltou
para a cozinha. – Tia Bete e Fabrício. – falou com as
demais.

Marina se sentiu constrangida com a presença do


rapaz, mas disfarçou bem. Era mais uma coisa que
havia acontecido que ela não contara para Lívia.

- Já jantamos, viemos somente fazer uma visita. – Bete


falou.
- E eu me despedir. – Fabrício completou. – Estou indo
para Londres, fazer um curso e tentar arrumar alguma
coisa por lá.
- Vai ser melhor pra ele. – Bete completou.

A notícia assustou a todos.

- Ô meu filho, pra que tão longe? – Marta perguntou.


- Tenho conhecidos lá e lugar pra ficar.
- Então boa sorte, torço por você. – Marta o abraçou.

Lívia ficou sentada com Luisa no colo e nada falou.


Marina se aproximou dele desejando sorte também e
boa viagem. A campainha tocou novamente e Luisa se
remexeu no colo de Lívia para abrir a porta de novo.
- Calma menina! – sorriu.

Dessa vez era Renata, Sarah e Eduardo.

- Ei Isa! Está sozinha?


- Não gente, ninguém deixa uma criança de seis anos
sozinha. – falou debochando e revirando os olhos.
- Nossa que menina precoce. – Eduardo riu.
- É que vocês são a segunda visita que me perguntam
isso. – falou virando as costas e saindo andando.
- Pelo visto tem mais gente aqui. – Renata foi
entrando, seguida pelos dois. – Ô de casa!
- Opa! Chegaram numa hora ótima. – Lívia sorriu. – Na
hora da janta.
- Nós comemos pelo caminho. – Renata falou. – Íamos
sair amanhã, mas Eduardo teve uma aula cancelada e
aí resolvemos sair hoje cedo.
- Muito bom, assim amanhã podemos sair cedo para
passear.

Quando Fabrício veio para a sala com a mãe e as


demais é que Eduardo soube quem eram as visitas.

- E aí Du, tudo certo? – o rapaz falou como se nada


tivesse acontecido.
- Ótimo! – sorriu.
- Bom gente, estamos indo. Renata foi um prazer te
conhecer e Marina... – deu uma pausa. – Seja feliz. –
sorriu para ela e a abraçou.

Ao saírem, Marta voltou para a cozinha com Zezé e o


restante ficou na sala. Marina contou da viagem de
Fabrício.

- Fico aliviado de ele ir embora, assim não perturba a


felicidade alheia. – Eduardo falou se sentando. –
Fabrício é uma boa pessoa, mas tem mania de
controlar coisas que não são de sua conta.
- Eu que o diga, mas vamos mudar de assunto porque
esse já me cansou.
- Poderia jurar que vocês discutiriam. – Renata falou
para Lívia.
- Não vou perder mais o meu tempo discutindo com
Fabrício e Marina também não gosta de confusão, em
respeito a ela fiquei quieta. – deu um beijo rápido na
loirinha.
- Loirinha ta mandando geral. – Eduardo brincou.

Marina piscou pra ele e sorriu.

- Nada disso, aqui quem dá a última palavra é sempre


Lívia.
- Verdade, eu digo: Sim meu amor. – beijou-a
novamente.
- Relacionamentos assim é que dão certo, viu Rê? –
Eduardo olhou para Renata.
- Eu sei, por isso quando eu falo você tem que
obedecer. – olhou para ele com cumplicidade e depois
se beijaram.

Marina e Lívia ficaram boquiabertas.

- Mas eu num to dizendo?! Olha só amor, esses dois de


namoro e a gente nem sabendo. – Lívia falou com
Marina.
- Já desconfiava.
- Eu também, mas achei que ia demorar pra engrossar
esse caldo.
- Nos acertamos mesmo ontem a noite. – Eduardo
falou. – A coisa foi acontecendo e a gente resolveu
tentar. E Sarah deixou. – ele olhou para a menina.

A menina sorriu e falou contente.

- Quero ver minha mãe feliz, se for você a pessoa a


fazer isso, ótimo.
- Muito prática minha filha. – Renata riu.
- Então isso merece um brinde, vou abrir uma garrafa
de vinho. – Lívia levantou para pegar uma garrafa na
adega.
Jantaram e brindaram ao novo casal.

Durante o final de semana passearam pelas cidades


vizinhas e conheceram os lugares que Lívia havia
falado. Compraram roupas de frio, conheceram várias
cachoeiras e comeram fondue. Luisa se esbaldou no de
chocolate. Meio que antecipando a partida, Marina
estava mais agarrada a sobrinha e Lívia deixou que ela
desse total atenção a ela. Voltaram para o Rio à noite
sob protesto de Marta, que preferia a saída delas no dia
seguinte bem cedo.

- Mamãe poderia ter vindo. – Lívia falava enquanto


dirigia.
- Ela deve ta querendo ficar no cantinho dela, faz
tempo que estava no Rio. – Marina comentou.
- Marta fica muito tempo com vocês?
- Às vezes fica uma temporada boa, como também
chega a ficar meses sem botar os pés no Rio.
Geralmente eu é que venho para Mauá.

Chegaram em casa e logo foram dormir.

Maria José e Luisa foram na parte da manhã no dia


seguinte e a despedida foi chorosa. Marina abraçava a
sobrinha e lhe dizias palavras carinhosas, Lívia ficou
penalizada.

- Calma meu anjo, daqui uns dias quem sabe não


poderemos vê-las em Jaú? – Lívia falava
carinhosamente.
- Muito difícil, com meu pai e meu irmão que não me
aceitam. Só vejo Luisa porque Barbara deixa, mas
tenho certeza que eles não gostam.
- Eles não dizem nada Marina, acho que seu pai um dia
pode mudar de opinião. Se um dia forem a São Paulo,
por favor me ligue, quem sabe dá pra nos vermos.
- Tudo bem mãe. Façam boa viagem e vão com Deus! –
abraçou a mãe. – E você bonitinha, obedeça sua mãe e
estude direitinho.
- Ta bom. – sorria. – Tia, eu ainda vou ter meu quarto
quando voltar? – perguntou com receio.
- Claro linda. Esse quarto é só seu, ninguém mais vai
mexer nele. – sorriu.
- Eu posso dividir não tem problema, mas não deixem
bagunçar.
- Tudo bem. – riu. – Deus te abençoe viu. – beijou a
testa dela.

As duas entraram no ônibus e aí que Marina caiu no


choro. Lívia a abraçou com carinho e beijou o topo de
sua cabeça.

- Prometo que em pouco tempo iremos a Jaú, seu pai


querendo ou não.

Foram andando abraçadas até o carro.

- Quer que a deixe no estúdio?


- Sim, talvez não possa almoçar com você. Acho que o
dia vai ser meio puxado, vou deixar Diogo mais
folgado, ele tem trabalho muito nos dias que não fui.
- Tudo bem, eu a pego mais tarde então.

Sabendo que Marina ficaria amuada o dia todo, Lívia


tentou deixá-la mais animada. Assim que chegou ao
escritório lhe mandou flores.
- Chefinha, bom dia! – Renata entrou na sala. – Bom
nada né, com essa cara de choro.
- Já estou com saudades de Luisa e de minha mãe.
- Não demora e elas estão de volta. Tem feriado bom
daqui uns dois meses.
- Talvez... – Marina falou pensativa.

Alguém bateu na porta e entrou, era a recepcionista.

- Marina, chegaram flores.

O rosto da loirinha se iluminou, pegou o buquê e


cheirou, tinha um sorriso bobo nos lábios. Leu o cartão
que simplesmente dizia: Te amo!

- Que cavalheirismo! Se Lívia fosse um homem eu


casava com ela. – Renata brincou.

Marina pensou no amor que sentia pela morena e no


tempo que perdera tentando não aceitá-la de volta.

- Acho que não sei mais viver sem ela. – falou olhando
para Renata.

Apesar do dia tumultuado no escritório, Lívia sempre


parava e enviava presentes para Marina, e foi assim
durante o dia todo. Mandou flores duas vezes, depois
encomendou comida japonesa para ela almoçar e em
cada caixinha tinha um cartão com frases amorosas.
Depois mandou chocolate e à tardinha comprou em
uma loja um enfeite, era uma boneca tocando piano,
ambos feitos de lata. Por conta da decoração da sala de
Marina, achou que combinaria.

- Nossa! Que lindo! – Marina falou abrindo a caixa. –


Nossa meu dia foi tão cheio que nem ao menos liguei
para agradecer os presentes.
- Que grossa você hein?
- Ah Renata, o dia foi complicado, Diogo ainda quer que
eu dê uma olhada, ou melhor, que eu escute uma
turma que vem gravar um clipe para uma campanha.
São várias vozes e eu sei que isso vai dar trabalho.
- A música é bem legal!
- Também gostei e já vou pra lá que esse povo todo
está esperando. – Marina saiu com o celular na mão
pra ligar para Lívia. Na primeira tentativa ela estava
ocupada, então entrou no estúdio e começou a gravar.
Na segunda tentativa ela havia saído e Érica não soube
dizer se ia demorar.

O primeiro cantor começou e Marina foi logo cortando-o


na primeira frase.

- Está rouco? – perguntou pelo microfone.


- Sim, hoje minha voz não está ajudando. – respondeu
parecendo inseguro.
- Tente não subir muito o tom, permaneça na sua área
de segurança.
- Ok.

O rapaz voltou a cantar e Marina o deixou continuar.

- Essa gravação promete. – olhou para o técnico de


som ao seu lado.

Somente o primeiro rapaz atrasou, depois dele


entraram mais duas meninas e elas foram rápidas.

- Muito bem! Quero gravar com a dupla sertaneja


agora, vozes separadas, por favor.

Os dois entraram, porém um ficou no canto


observando. O que fazia a segunda voz gravou primeiro
e foi muito rápido.
- Esse rapaz sabe o que faz hein, muito bom ele. –
falou o técnico.
- Gostei dele também. – olhou para o vidro e fez sinal
para o outro ir. – Agora você.

O cantor fez uma hora pra começar e demorou um bom


tempo dizendo que sua afinação não estava boa.

- Sua voz está ótima, fique tranquilo que daqui eu


escuto e está tudo em ordem.
- Eu sei que minha voz é boa. – falou com empáfia. –
Mas não sinto que estou dando o meu melhor.
- É uma pena então, pois a gravação será feita apenas
hoje. Se o seu “melhor” não aparecer, vai assim
mesmo. – Marina tentou ser o menos debochada
possível. Cruzou as pernas e ficou olhando para ele
com um sorriso mais simpático do que o que ele
merecia. – Podemos começar?

Soltaram a música e o cantor começou, gravou sem


mais reclamações. Depois dele ainda vieram mais dois
cantores sertanejos e outra cantora solo. Embora
estivesse cansada, Marina estava empolgada com a
gravação, pois o resultado ficaria acima de suas
expectativas.

Lívia chegou ao estúdio e entrou direto para a sala da


namorada, trazia um embrulho nas mãos, mas antes
passou pela de Renata.

- Ela não está aí mocinha, está gravando.


- Hum, posso esperar aqui então?
- Não, você pode entrar. Ela não está tocando, está
apenas supervisionando uma gravação. Vai lá.

Lívia saiu com o embrulho nas mãos, abriu a porta do


estúdio devagar como se não quisesse fazer barulho.
Marina estava de costas para ela e bem entretida na
música que ouvia. Lívia puxou um banco, o empurrando
pelas rodas e sentou atrás dela. Chegou bem próximo
ao seu ouvido e falou num sussurro.

- Fica linda trabalhando.

Marina se virou num susto.

- Oi meu amor! – sorriu e a beijou. – Nem tive tempo


de te ligar, o dia foi agitado viu.
- Está muito ocupada? – pôs a mão na perna dela e
com a outra segurou o embrulho.
- Mais ou menos, estamos gravando uma música, são
vários cantores, digamos que eu esteja na metade.
- Hum... posso esperar?
- Não vai ficar entediada?
- Imagina! Eu gosto de assistir o seu trabalho. Olha,
trouxe pra você. – estendeu o embrulho. – Mas se não
puder abrir agora tudo bem.
- Claro que vou abrir. – Marina desamarrou o laço
rapidamente e abriu o papel celofane, rasgou o papel
que embrulhava uma caixa e viu que era um Ipad.
- Nossa amor, que lindo!
- Esse é um modelo novo, lançou no Brasil não faz um
mês.
- Adorei! – sorria como uma criança.
- Que bom que gostou.
- Obrigada. – beijou-lhe os lábios rapidamente. – Você
me encheu de presentes o dia todo e eu nem liguei pra
agradecer. – falou chateada.
- Eu sei que trabalhou muito. – sorriu – E mais tarde eu
cobro os agradecimentos.
- Safada! – Marina deu um beijo rápido em Lívia.

O técnico que estava do lado nada falou e os demais


dentro do estúdio não perceberam. Lívia ficou
impressionada com a tranquilidade de Marina ao
mostrar o relacionamento delas no seu ambiente de
trabalho. Ficou admirada em vê-la trabalhar, era
sempre concentrada e educada mesmo quando o
resultado não saía como esperava. Marina chegou a se
irritar com um dos cantores, mas teve jogo de cintura e
terminou as gravações com bom humor.

- É isso gente, muito obrigada. Assim que estiver tudo


pronto enviaremos um comunicado aos assessores de
vocês.
- Marina, ainda acho que eu deveria gravar amanhã. –
falou o cantor sertanejo.
- Eu vou olhar com calma a sua gravação, se achar que
deve gravar de novo mando lhe chamar.
- Tem que ver isso, porque minha agenda está um
pouco cheia, foi difícil marcar o dia de hoje. Peço que
faça com antecedência então.
- Farei, se precisar. – olhava sério para ele.

Depois que todos saíram, inclusive o técnico Marina


ainda ouvia pelo fone a gravação do tal cantor.

- Esse cara é irritante! Minha agenda está um pouco


cheia. – o imitou. - Essa foi boa. – falou com uma cara
enfezada. – Não ta ruim, a voz dele é que horrível
mesmo.

Lívia olhava divertida para ela.

- Que foi? Ta rindo né? É porque você não passou a


tarde ouvindo a ladainha desse palhaço.
- Não estou rindo, estou sorrindo. Fica linda quando
está brava.
- Boba! – deu um tapinha no braço dela.

A morena a puxou pelo braço fazendo ficar de pé entre


suas pernas.

- O dia foi difícil né? – Lívia perguntou.


- Muito, não pude nem te dar atenção.
- Não tem problema, eu imaginei que ficaria abarrotada
de coisa aqui, você tirou muitos dias de folga.
- Pelo menos meu dia passou rápido e eu me distraí,
mamãe ligou dizendo que havia chegado bem, mas não
falei com ela, Renata quem me deu o recado.
- Que bom. – Lívia sorriu e beijou a ponta do nariz
dela.
- Vamos embora? Está tarde já, vou fazer um
jantarzinho romântico.
- Oba, vou ganhar um jantar da minha... – parou para
pensar no que diria. – Noiva? Esposa?

Marina achou graça.

- Acho que ainda somos namoradas ou namoridas,


porque moramos juntas, mas não casamos. E o mínimo
que merece é um jantar, passou o dia me paparicando,
ainda que de longe. E nem por isso, é por me fazer feliz
todo dia um pouco. – beijou a boca de Lívia.
- O dia que nós pudermos oficializar isso, com certeza
vamos fazer, não muda nada em sentimento pra mim,
mas gostaria muito. – sorriu.

Saíram de lá e deram carona a Renata. Quando ela ia


saindo falou sobre a mudança.

- Chefinha, no final da semana eu me mudo.


- Ótimo Renata! Semana que vem você tira uns dias de
folga então para ajeitar a casa nova.
- No final de semana então nós te ajudamos com tudo.
– Lívia falou.
- Valeu gente! Vou precisar de ajuda mesmo.

A semana passou voando e no dia da mudança de


Renata todos se juntaram para ajudá-la. Assim que a
equipe de mudança deixou os móveis no lugar, o
restante entrou limpando e colocando tudo em ordem.
Ainda por conta de algumas burocracias Renata tirou
folga na semana seguinte, mas voltou a trabalhar na
quinta.

Marina estava estudando a proposta de uma professora


da faculdade que havia lhe dado aulas de prática em
conjunto. Ela era regente da orquestra jovem
atualmente. Estava engajada num projeto onde faria
apresentações pelo Rio de Janeiro e interior com
músicas populares, usando instrumentos clássicos.

- Então Marina, gostaria de saber se posso contar com


você nesse projeto?
- Eu ficaria muito feliz em poder ajudar Ana. Sempre fui
apaixonada por música popular e adaptar a orquestra
seria fantástico.
- Ótimo. – a regente logo se animou. – São garotos
iniciantes e aspirantes a orquestra principal, estão
empolgados.
- Imagino, essa galerinha precisa de apoio, pois muitos
acabam desistindo pelo caminho. Podemos marcar na
semana que vem e estudar quais músicas colocaremos.
- Certo, eu ligo e marcamos, já venho com algumas
idéias e você pensa em outras.
- Até lá então.

Marina ligou para Felipe e ele também se animou.


Todos os compromissos realizados tanto em São Paulo
quanto no Rio de Janeiro eles ficavam cientes. Logo na
semana seguinte regente e produtora se reuniram para
fechar o repertório e começar na produção dos
arranjos.

- Diogo vai adorar, ele é ótimo músico. – Marina falou


empolgada.
- Eu o conheço, estudou comigo, fomos da mesma sala.
- Verdade, tinha me esquecido.
- Não sou tão velha né Marina. – Ana brincou.
- Ai Ana, não é isso. Quando eu entrei pra faculdade
você tinha começado também sua carreira como
professora.
- As pessoas têm a visão de que regente tem que ser
velho. – sorriu.
Ana era um pouco mais velha que Lívia, estava na casa
dos trinta, mas seu rosto parecia de uma menina ainda.
Era baixinha e os cabelos eram na altura dos ombros e
bem lisos.
- Diogo estará aqui amanhã, vamos marcar na parte da
tarde que é melhor, assim esticamos para a noite.
- Combinado.

Quando Marina saiu de sua sala encontrou Renata já


saindo.

- Marina, Lívia te ligou pedindo que retornasse para ela.

A loirinha fez um gesto de que ligaria e logo se


despediu de Ana.

- Nos vemos amanhã. – se despediram com um beijo


no rosto.

Marina ligou para Lívia e ela falou que atrasaria no


escritório.

- Lívia vai atrasar. – falou um pouco pensativa. – Rê,


você está ocupada?
- Não muito, o que foi?
- Pode vir à rua comigo? Eu quero comprar um
presente pra ela.
- Aniversário de namoro?
- Não, é que Lívia sempre compra presentes pra mim,
eu nunca retribuo e gostaria de comprar alguma coisa
que ela realmente gostasse.
- Ok, só vou repassar a agenda e vamos, vai pensando
no que comprar.

Essa era a tarefa difícil, Marina achar algo que Lívia


realmente gostasse. De fato o que ela comprasse sabia
que a morena iria gostar, mas queria dar algo
diferente. Saíram e passaram por vários shoppings,
lojas conhecidas, lugares que Marina imaginou ter algo
que fosse relevante, mas não tiveram sucesso.

- Como é difícil dar um presente a ela. – desabafou.


- É que você está procurando algo material, procure
algo que seja substancial, intrínseco.
- Como é? – riu. – Você está ficando igual a Eduardo,
falando utopicamente.
- Dê algo que ela não espere, mas não tem a
necessidade de ser um presente caro ou grande, ou
diferente. O que Lívia deseja nesse momento?
- Casar. – falou prestando atenção no trânsito.
- Oi?
- Ela quer casar. Lívia sempre foi louca para
oficializarmos nosso relacionamento. Meu Deus como
nunca pensei nisso? Vamos agora a um cartório.
- Querida! Não tem cartório aberto há essa hora.
- Claro que tem, espera que vejo um.

Marina pegou o telefone e saiu discando para um e


outro até conseguir um cartório com um juiz de paz,
conseguiu uma juíza que realizava casamentos gays e
foi atrás dela. Correu o quanto podia para providenciar
tudo antes que Lívia chegasse em casa.

- Enquanto eu converso com a juíza, você chama


Eduardo, serão nossas testemunhas, pena que Marta
não poderá vir, mas isso a gente vê depois. Contrata
um Buffet e não exagera, seremos nós quatro.
- Eu podia casar também hein? – Renata colocou a mão
no queixo.
- Deixa de ser boba, seu casamento será um festão e
não corrido como esse. Espero que ela goste.
- Vai gostar, será uma surpresa e tanto.

Enquanto Marina conversava com a juíza, que em sua


gentileza se prontificou a ir a casa delas sem que
marcassem antecipadamente, Renata ia atrás de um
Buffet. Chegaram em casa e arrumaram tudo as
pressas. Marina correu para tomar um banho e se
vestir. Preferiu um vestido branco e simples, nada que
ostentasse.

- Será que Lívia está de branco também? – Renata


brincou enquanto maquiava a loirinha.
- Não, hoje ela saiu de terninho preto.
- Ah sim, está de noivo. – riu.
- Besta!

Assim que tudo estava arrumado ouviram a porta do


elevador se abrir, Lívia girou a maçaneta e viu que tudo
estava escuro. Achou que Marina não estava em casa.

- Amor?! Já está aí?


- Estou sim. – Marina sorriu e acendeu a luz.
- Nossa que linda! Vamos sair? – perguntou meio
desconfiada.

A loirinha fez que não com a cabeça e se aproximou


lentamente.

- Venha. – deu as mãos à morena e caminharam até a


sala.

Foi então que Lívia viu a juíza e de cada lado Renata e


Eduardo. Seus olhos se fixaram nos de Marina e depois
voltaram-se para a juíza.
- Lívia, meu nome é Julia, estou aqui para realizar o
casamento de vocês. – sorriu com simpatia.
- Eu... nossa... – gaguejou e passou as mãos no cabelo.
– Amor, você...
- Quietinha, a juíza vai falar.

Deram as mãos novamente ficando de frente para a


juíza. Ela começou falando sobre união e sociedade, se
referiu aos casais gays como um amor de coragem e
luta. Depois falou sobre o amor de Lívia e Marina e que
nem o tempo havia mudado. As palavras emocionaram
a todos os presentes.

- Lívia, você aceita Marina como sua esposa e promete


amá-la e respeitá-la ao longo de suas vidas?
- Sim. – a morena respondeu com o mais lindo sorriso.
- Marina, você aceita Lívia como sua esposa e promete
amá-la e respeitá-la ao longo de suas vidas?
- Sim. – Marina já estava com os olhos cheios de
lágrimas.

Trocaram as alianças e a juíza em seguida falou:

- Eu as declaro casadas.

As duas se beijaram emocionadas e sob palmas de


Renata e Eduardo.

- Gente eu esqueci do arroz! – Renata falou. – Tem que


jogar arroz em recém-casados.
- Só tem arroz já pronto na geladeira. – Marina
brincou.
- Vai ser ele mesmo. – Renata ia saindo quando Lívia a
pegou pelo braço.
- Me jogue arroz cozido pra você ver... – olhou sério
para ela.
- Brincadeirinha! Agora posso te chamar de cunhada,
porque Marina é como uma irmã pra mim.
- Certo cunhadinha.
- Parabéns as duas, desejo muitas felicidades. – Renata
as abraçou e logo Eduardo veio para completar o
abraço.

Julia esperou aquele momento de confraternização e


depois se aproximou.

- Que Deus ilumine a jornada de vocês duas, que a


felicidade sempre as acompanhe.
- Obrigada. – Marina respondeu. – E obrigada também
por ser tão solícita e me atender nessa urgência.
- É a loirinha tava doida pra casar, queria fisgar logo a
morena. – Eduardo brincou fazendo todos rirem.
- Queria mesmo, não se acha uma morena dessas,
promotora de nome, renome e simpática por aí. –
sorriu para Lívia. – Na verdade eu queria lhe dar um
presente. Você me faz tão bem e sempre se preocupou
comigo, queria retribuir o carinho.
- A retribuição vinha sempre com um sorriso seu. –
Lívia acariciou o rosto dela.
- Eu te amo.
- Também te amo.

Beijaram-se novamente e se abraçaram.

O clima era o mais romântico possível, aproveitaram o


coquetel e depois jantaram enquanto conversavam
animadamente.

- Marina me contou a história de vocês e me sinto


privilegiada de poder participar de um momento tão
especial como esse. – Julia falou.
- Nos conhecemos através da música e acho que ao
longo desses anos as músicas sempre nos
acompanharam. – Lívia falou abraçada a loirinha.
- Acho que cada momento nosso deve ter uma trilha
sonora. – Marina falou encostando a cabeça no ombro
de Lívia.
- Merecem uma lua de mel agora. – Eduardo falou.
- Ih, só daqui uns meses, eu tenho compromisso no
estúdio até o fim do ano.
- E eu estou de processos até a alma.
- Que romântico! Lua de mel no trabalho. – Renata as
arreliou.

Depois que todos se foram e Marina se viu a sós com


Lívia, ela a pegou pela mão e levou para o quarto.

- Agora um banho e a noite de núpcias.


- A melhor parte do casamento. – Lívia a pegou no colo
como uma noiva.
- Safada! – deu um tapinha no ombro dela. – Adoro
quando me pega no colo. – enlaçou o pescoço da
morena com os braços.
- Toda mulher merece ser carregada assim.

Marina a olhou com cara feia.

- Mas eu só carrego a minha. – sorriu.

Tomaram um banho demorado e com direito a muitas


carícias, depois foram para a cama.

- Adorei o presente, já tinha lhe dito que casamento


não aumentaria meu sentimento e nem confirmaria
nada, mas agora me sinto sua por completo, por direito
e você também é minha, só minha. – começou a beijar
o pescoço de Marina e foi descendo mordiscando cada
pedacinho que encontrava. Devorou seu sexo deixando-
a louca de desejo e quando sentiu que estava bastante
excitada pegou a cinta com o pênis. Apoiou-se com as
mãos na cama e esfregou a pontinha, roçou forçando a
entrada até ela e a puxou para cima de seu corpo.
- Não me deixe louca. – o verde de seus olhos estavam
escurecidos.
- Então me pede... – Lívia falou sussurrando.
- Me possua... – mordeu o lábio da morena. – Me
possua agora! – a voz de Marina saiu rouca. – Eu quero
você dentro de mim...

Lívia então enfiou o pênis todo de uma vez, rebolava


sensualmente tirando gemidos de Marina que
arranhava seus ombros e rebolava ao mesmo tempo.

- Goza pra mim. – Lívia repetia em seu ouvido.

Os movimentos eram cadenciados e cada vez mais


rápidos, até que seus corpos sacudiram em espasmos.
Lívia retirou a cinta e abraçou Marina. Olhou para ela
com carinho e vê-la com os olhos semicerrados e a
respiração descompassada e totalmente nua a excitou
de tal forma que não resistiu. Voltou a beijá-la, sugou-
lhe os seios e mordeu os mamilos, foi descendo com
beijos ardentes até se conter no clitóris e sugar com
vontade. As mãos apertavam os seios e arranhavam de
leve a lateral do corpo dela.

- Delícia... ahhh... mais amor... – Marina gemia e


falava palavras desconexas. – Isso... mais... ahh...
mais... aahhh...

O orgasmo chegou em pouco tempo e ela mais uma


vez se entregou àquela sensação. Lívia subiu pelo seu
corpo vendo sua pele arrepiar.

- Gostosa! – mordeu o queixo e o beijou.

Marina se virou de repente e ficou por cima de Lívia.

- Nossa, que rápida!


- Pensa que acabou? – Marina tinha uma cara safada.

Lambeu o pescoço de Lívia e parou no queixo dando


uma leve mordida, passou a língua em seus lábios e
desceu mordendo sem rumo certo. Quando parou entre
suas pernas viu que a morena estava em brasa. Passou
a língua demoradamente em seu clitóris e depois
chupou sentindo o gosto de sua excitação. Quando suas
pernas se contraíram Marina enfiou dois dedos em sua
vagina e a fez gozar em segundos.

- Ahhh... – a morena gritou de prazer. Deixou-se cair


na cama totalmente exausta. – Você... sabe... me
deixar... acabada.

Marina deitou sobre seu corpo com um sorriso bobo nos


lábios.

- É. – beijou-a. – Você é grande, mas eu sei dobrá-la. –


beijou de novo.
- Sabe mesmo. – Lívia a puxou para um abraço e se
aconchegaram nas cobertas. – Será que mereço você?
- Eu sei que mereço ser feliz e minha felicidade está
onde você está.

Olharam-se com carinho e amor.

- Minha loirinha linda! – beijou a boca de Marina.


- Minha morena safada. – beliscou a barriga de Lívia.
- Ai amor, faço um elogio e você me trata assim?! – fez
bico.
- Eu dou beijinho...

Marina recomeçou as carícias e só pararam quando


seus corpos se cansaram.

No dia seguinte Lívia acordou primeiro e preparou um


café da manhã bem rápido antes que Marina acordasse.
Levou tudo para o quarto e quando ia entrando a viu se
espreguiçar na cama. Deixou a bandeja em cima da
mesa de canto e foi pra cama. Quando Marina percebeu
sua presença puxou o lençol a cobrindo.

- Você está se cobrindo por quê? Impressionante isso!


Te conheço faz muito tempo e sei de cada detalhe
desse corpo gostoso e você ainda o cobre. Vergonha?
- Um pouco. – Marina a olhou com certa timidez e
levantou para ir ao banheiro.
- É bom mesmo que se cubra, porque senão eu não
resisto. – a olhou com malícia.
- Nunca resiste, mesmo eu estando de roupa, você
sempre a tira. – sorriu e entrou no banheiro.

Lívia correu até ela.

- Não me provoca... – abraçou Marina por trás e


mordeu seu pescoço.
- Hum, você não se cansa? – falou com dengo.
- De você, nunca!

Fizeram amor embaixo do chuveiro.

Tomaram o café que Lívia havia preparado e depois


fizeram uma caminhada pela praia, almoçaram por ali
perto. Marina quis visitar Renata e elas foram mais
tarde ao seu apartamento novo. À noite Lívia ligou para
a mãe e contou a novidade, embora tenha reclamado
da falta do convite, Marta ficou contente pelas duas e
desejou felicidades. Marina fez Lívia prometer uma
visita assim que folgassem no trabalho.

No decorrer das semanas Marina ficou engajada na


montagem do repertório e fazendo os arranjos para a
orquestra. Lívia ficou por conta do processo que
envolveu o filho do empresário em São Paulo, estava
marcado para duas semanas posteriores e ela teria de
viajar pra lá. Beatriz acompanhou de perto e gostou
muito da acusação que a promotora tinha elaborado.

- Nossa, ele não vai ter chance. Se a família do garoto


que morreu estiver presente isso será um álibi para que
eles ganhem na justiça.
- Nem a CNH desse garoto foi apreendida, achei isso
um absurdo, mas se depender de mim ele só vai dirigir
por mais duas semaninhas e que aproveite bem seus
últimos dias de motorista.
Mais perto da data de ir à São Paulo, Lívia chamou
Marina para ir com ela, assim passariam uns dias em
Jaú se ela quisesse.
- Não sei amor, estou com esse projeto da orquestra,
não posso interromper.
- Não pode ou não quer?
- Ah, os dois. – Marina se desconsertou.
- Poxa, não dá pra ir nem por poucos dias?
- Vou conversar com Ana então, ela está tão
empolgada que dar uma pausa seria jogar um balde de
água fria nela.
- Água fria em mim! Vim toda contente convidar e você
recusa. – falou chateada.
- Não estou recusando Lívia, estou dizendo que vou
pensar.
- Ta bom.

Lívia não conseguia disfarçar quando ficava chateada,


achava que era uma forma de sinalizar seus
sentimentos. Marina conversou com Renata e mais a
tarde com Ana combinando uma data para retornarem
ao trabalho. Ana a principio ficou um pouco triste, mas
não se opôs.

- Ta certa, tem que ver sua família, fica sempre longe


deles. – falou sendo simpática.
- Aproveito e falo com Felipe, não o vejo faz tempo. Ele
correndo e eu também. Será quase uma viagem de
negócios, mas Lívia também quer ir a Jaú, está
insistindo.
- Quem é Lívia? – Ana perguntou curiosa.
- Minha esposa. – respondeu com naturalidade
enquanto fazia anotações em uma partitura.

Percebeu que Ana deu um sorriso sem graça, mas nem


ligou.

- Não sabia que era casada.


- Me casei mesmo faz pouco tempo, mas namoro há
muitos anos.
- Por acaso é a mesma da faculdade?
- Como assim, mesma da faculdade? – Marina se
endireitou olhando diretamente para Ana.
- Quando você estudava rolou um boato de que estava
namorando uma mulher, depois esse boato se
confirmou.
- Quem confirmou? – Marina estava intrigada.
- Acho que alguém da sua sala ou que estudava com
você, aquela menina que estava sempre do seu lado,
uma de cabelos cacheados.
- Monica?! – era mais uma constatação que uma
dúvida. – Não acredito que ela tenha feito isso comigo.
- O que eu ouvi na época era que você tinha uma
namorada, mais velha e que sempre levava você pra
faculdade, como eu nunca vi, também nunca acreditei,
mas um amigo meu desconfiou e disse que essa garota
havia falado. Essa fofoca circulava entre os alunos
somente, os professores eu acho que não sabiam.
- Não acredito, ela era minha amiga.
- Imagina se não fosse. – Ana ironizou.

Marina ficou muito aborrecida, Monica tinha se revelado


para ela, não imaginou que fizesse uma coisa dessas.
Passou a tarde toda chateada e pensando no assunto.
Despediu-se de Ana ao sair do estúdio e deixou
combinado de voltarem daí duas semanas mais ou
menos.
Chegou em casa e arrumou suas malas e as de Lívia, a
pedido dela. Tomou banho e a esperou para pegarem o
avião. Eduardo as levaria até o aeroporto. No caminho
Lívia notou o silêncio da loirinha, mas nada falou na
frente de Eduardo.

- Mocinhas, boa viagem e quando voltarem me liguem.


Se quiser eu venho buscá-las. Renata mandou um
abraço, não pode vir porque está numa reunião da
escola de Sarah.
- Obrigada Du, mande um beijo pra elas. – Lívia falou.
- Diz pra ela que eu ligo amanhã de manhã. – Marina o
abraçou também. – Ah Du, pede a Renata para marcar
médico pra mim, ela sabe o que é.
- Sem problema.
- Está sentindo alguma coisa? – Lívia perguntou.
- Não é só revisão que faço todo ano. – falou
despreocupando a morena.

Assim que entraram no avião e Lívia se acomodou,


olhou para Marina. Ela observava o movimento pela
janela, parecia distraída.

- Amor, o que aconteceu? – pôs a mão em seu braço.

Marina virou a cabeça com um sorriso murcho, olhou


para Lívia e tentou melhorar o ânimo.

- Lembra quando eu estudava ainda? Conversamos


sobre um boato na faculdade onde falavam que eu era
gay?
- Lembro, você ficou um pouco cismada, até
procuramos disfarçar.

Marina deu um sorriso irônico.

- Pelo visto não adiantou nada, todo mundo sabia. Os


alunos, no caso, viviam comentando pelas minhas
costas.
- Sabiam como? Não entendi...
- Eles sabiam que eu namorava você, porque Monica
fez questão de confirmar o boato. Sempre que alguém
perguntava, ela confirmava e assim foi espalhando a
fofoca pela faculdade inteira. Enquanto eu achava que
conseguia esconder, ela escancarava pra todo mundo.
- Que mulher idiota! – Lívia se revoltou. – Eu não
consigo acreditar que ela tenha feito uma canalhice
dessas com você. Como ficou sabendo disso?
- Hoje, conversando com Ana, comentei de nossa
viagem e disse que ia com você, ela perguntou quem
era e eu falei que era minha esposa. Daí ela perguntou
se era a mesma daquela época. Fiquei curiosa e
perguntei o que era da mesma época e ela me contou
tudo. – baixou a cabeça fazendo um gesto negativo.
- Não ligue minha linda. – pegou as mãos de Marina. –
Isso tudo já passou e quem falou pelas suas costas
foram covardes, mais ainda Monica que além de falar,
fez isso se passando por sua amiga.
- Ela ainda esteve na minha casa, não faz muito tempo.
- Fingida e dissimulada, além de interesseira é claro,
mas deixa ela.
- Na hora fiquei chateada, acho que ainda estou. – fez
um bico se sentindo chateada.
- Ah não fique. – Lívia a puxou para que deitasse a
cabeça em seu ombro. – Não devemos nada a ninguém
mais e Monica está bem longe de nossas vidas.

Lívia preferiu não prolongar o assunto, para que Marina


não se chateasse mais. A viagem foi rápida e chegaram
ao hotel sem maiores engarrafamentos.

Estavam se preparando para dormir quando Marina


olhou para Lívia e perguntou de repente.

- Você já se arrependeu de alguma coisa na sua vida?


A morena, que dobrava uma blusa e colocava na mala
até se assustou com a pergunta.

- Está fazendo essa pergunta pra mim?! – olhou para


ela expressivamente.
- Ah amor, desculpa! Não estou falando daquilo. Eu
pergunto se você já pensou em fazer uma coisa e na
verdade era outra ou se teve expectativa sobre algo
que não aconteceu.
- Claro, já tive minhas frustrações, decepções...
- Eu achava que iria pra faculdade, me tornaria uma
pianista e trabalharia com Monica, ela era uma irmã pra
mim. – Marina sentou na cama e ficou passando os
dedos sobre o bordado da colcha. – Pensava que
seríamos uma dupla imbatível, sempre nos demos tão
bem, desde criança. Será que o tempo todo ela foi falsa
comigo? – falou quase chorando.
- Ô amor, não fique assim. – Lívia correu para abraçá-
la. – Sabe... eu acho que Monica se perdeu um pouco.
Ambas chegaram ao Rio com ideais, mas você não
perdeu o foco e ela sim. Depois que começou a
namorar com Hugo, as coisas mudaram. Aí veio o
nosso relacionamento e convenhamos, ela não aceitou
muito bem. Tentou, fingiu, mas forçou muito. E nas
entrelinhas fazia suas piadinhas. Só que mesmo com
um relacionamento “anticonvencional” – fez aspas com
as mãos. – Você progrediu, melhorou e se destacou
mais que ela, essas coisas causam inveja.
- Nunca pensei que ela faria isso... – baixou o olhar.
- Mas fez e perdeu muito. – Lívia deitou e abraçou
Marina. – Olha onde você está agora e olha onde ela
está, a diferença é notável. Enquanto você batalhava,
estudava madrugada a fora e se empenhava, ela fazia
fofoca. Adianta agora a fofoca que ela fez? Estamos
felizes do mesmo jeito, com fofoca ou sem. E ela?

Marina não respondeu.


- Não acho que tenha feito por maldade
completamente. – Lívia continuou. – De repente foi
imaturidade.
- É pode ser... – Marina se virou para ela. – Deixa pra
lá, já passou e realmente as coisas estão muito
melhores. Eu tenho você! – deu um sorriso lindo.
- E eu a você. – Lívia a beijou na boca. – Nem acredito
que é minha esposa. – beijou novamente.
- Você fala que somos casadas?
- Na verdade nunca me perguntaram, mas eu sempre
mencionei você como minha namorada ou noiva, agora
não será diferente.

Marina lhe deu um abraço apertado e foi se


aconchegando nos braços dela.

- Não quero vê-la chateada viu? – Lívia beijou o topo


da cabeça dela. – Tudo já passou, estamos melhor que
nunca agora e não é uma fofoca velha que vai
atrapalhar nossa felicidade.

Continuaram abraçadas até dormir.

Como de costume, Lívia alugou um carro para facilitar a


locomoção delas e antes de ir para o fórum, passou no
estúdio de Marina para conhecer. Felipe estava em sua
sala quando as duas chegaram.

- Quem é vivo sempre aparece. Essa é a sócia mais


ausente que conheço. – brincou.
- Sou sua única sócia, seu bobo. – Marina o abraçou.
- Sentem-se. Marina, tenho novidades, acho que agora
a produtora sai.
- Verdade? Que ótimo Felipe!
- Depois te conto mais detalhes, agora me fale sobre os
projetos no Rio.

Marina contou tudo e depois mostrou o estúdio à Lívia,


em seguida ela logo foi embora deixando a loirinha por
conta das novidades no trabalho. Felipe deixou Marina
a par de tudo e aproveitando a presença dela pediu que
monitorasse algumas gravações.

- Vou explorar um pouco, sabe que tem músico que


pergunta por você. Eu digo que está no Rio e eles ficam
chateados, não têm mais a loirinha de olhos verdes por
aqui.

Marina deu uma gargalhada.

- Esse pessoal é que não sabe que você é bem melhor


que eu.
- Você é perfeccionista, por isso eles te querem. Estou
pensando em enviar algumas gravações, pelo menos às
do pessoal que perguntar por você, assim dá uma
revisada e me fala.
- Sem problema, farei com o maior prazer.

Passaram o dia revisando gravações e olhando os


novos projetos. Marina só se deu conta da hora quando
Lívia ligou para buscá-la.

- Gente, o tempo passou voando. Bom demais ficar


aqui Felipe, nem vi a hora passar e adorei o dia.
- Está se sentindo sozinha no Rio não é?
- Na hora de gravar um pouco, Diogo é mais sério, mas
eu não comento isso, claro. Ele é muito bom no que
faz, só que eu sou mais descontraída.
- Vamos trocar de lugar então.
- De jeito nenhum, eu adoro o Rio. Gostava daqui
também, mas prefiro lá e além do mais agora já tenho
minha vida estabelecida.
- Casada...
- É... – olhou a aliança. – E muito feliz.

Neste instante a atendente anunciou que Lívia havia


chegado.

- Pede a ela para entrar. – Felipe falou. – Você merece


ser feliz, aqui você era só profissional, mas eu via que
não estava contente com tudo.
- A melhor coisa que fiz foi voltar para o Rio.
- Eu também acho. – Lívia falou entrando na sala. –
Desculpa, não pude deixar de ouvir.
- Oi amor, como foi lá? – beijaram-se.
- Amanhã tem a audiência final.
- Lívia é promotora no caso do filho daquele empresário
de turismo.
- Ih eu to sabendo desse lance, mulher você não sabe a
repercussão que está dando esse caso.
- Imagino.
- A população está revoltada porque até agora não
aconteceu nada com o playboy.
- Até agora, porque eu cheguei pra colocá-lo na cadeia.
- Quase uma heroína. – Felipe brincou, fazendo as duas
rirem.
- Vamos indo? – Marina se levantou. – Estou morrendo
de fome, só lanchamos hoje.
- Não almoçou?
- Ai não, é que nos entretemos aqui e quando vi já
estava tarde.
- Menina, menina... – a olhou como se chamasse a
atenção. - Felipe, vamos indo então. Vou levar esta
mocinha faminta para jantar.
- Te vejo amanhã Marina? – Felipe perguntou.

A loirinha olhou para Lívia.

- Temos alguma coisa de manhã?


- Não, minha audiência começa à tarde. Gostaria que
fosse comigo.
- Então eu venho de manhã.
- Ótimo, é bom que assim, você assiste alguns ensaios.

Lívia escolheu um bistrô famoso em São Paulo para


levar Marina. Sentaram numa mesa bem reservada,
onde tinha pouco movimento.

- Acho que como o cardápio inteiro.


- Eita, você não fez ao menos um lanche?
- Comi uns biscoitos e tomei um suco.
- Amor, assim não pode, como se descuidou? Você não
é assim;
- É que eu me empolguei, eu gosto de trabalhar com
Felipe, estava sentindo falta disso. – segurou a mão
dela.
- Hum... sente falta daqui?
- Só do trabalho, lá no Rio me sinto mais sozinha nesse
aspecto.
- Estou pensando em vir mais para cá ou negociar de
Felipe ir mais ao Rio, assim acho que o trabalho rende
até mais. Estamos com muitas campanhas publicitárias
e Felipe é ótimo nisso.
- Vou ter que dividir minha mulher com a ponte aérea.
– Lívia colocou os cotovelos na mesa e apoiou o queixo.
- Não amor, será só de vez em quando. – Marina
acariciou o rosto dela.

O jantar chegou e elas comeram conversando sobre a


semana em São Paulo. No dia seguinte seria a
finalização do julgamento e Lívia queria Marina perto
dela.

A porta do fórum estava lotada, muitos repórteres,


imprensa de todo o país. Lívia chegou e foi logo cercada
por vários deles, mas não disse muitas palavras. Um
segurança ajudou a se livrar da confusão, depois entrou
em uma sala destinada a ela. Marina estava ao seu lado
sempre de mãos dadas.
- Meu Deus! Isso tomou uma repercussão maior do que
eu imaginei.
- Vai dar mais ibope depois que sair a sentença. – Lívia
vestia a roupa que usava nos tribunais.
- Está nervosa? – Marina se aproximou ajeitando a
vestimenta.
- Não, estou ansiosa, quero logo que termine pra ver a
cara daquele playboyzinho. – envolveu a cintura da
loirinha com os braços. – Queria muito você aqui
comigo. – beijou-a - E sempre quis me ver num
tribunal. Ainda mais com júri popular, fica mais
emocionante.
- Hoje é um dia de muitas decisões.
- É... no fundo eu tenho pena é da família, quem sofre
mais são os pais.
- Verdade.

Bateram na porta e chamaram por Lívia, ela deu um


beijo rápido em Marina e saiu. Assim que todos
estavam presentes o julgamento começou. Primeiro
falou o advogado de defesa, depois algumas
testemunhas a favor do réu e por último entrou Lívia
praticamente despejando informações e provas contra
o rapaz. Ela tinha filmagens de câmeras de segurança,
depoimentos de pessoas que moravam perto do local
do acidente, um recibo comprovando a venda de bebida
alcoólica para o jovem poucas horas antes do acidente,
dentre outras coisas mais relevantes.

- De acordo com essas provas aqui mostradas, posso


constatar que a versão contada pela defesa e pelo
próprio réu tem divergência com o que realmente
aconteceu. Divergências essas que favorecem o réu. Eu
gostaria de saber se os jurados aqui presentes têm
filhos e mesmo que não o tenham, provavelmente têm
sobrinhos ou conhecidos próximos na faixa etária do
jovem Igor, falecido no acidente. Sua vida foi
interrompida por imprudência de um motorista que não
teve consideração pelas vidas que levava em seu carro.
Quando estudamos para tirar nossa Carteira Nacional
de Habilitação o que mais nos ensinam é ser
responsável e defensivo na direção. Não estou aqui
para avaliar todos os jovens, mas os tempos mudaram
e a juventude do século XXI é muito mais
inconsequente comparada às anteriores. Não quero
somente mostrar o motivo para uma condenação, mas
conscientizar o jovem de suas atitudes desregradas. E
que elas têm consequências fatais e devem ser
punidas, para que casos assim aconteçam cada vez
menos. - Lívia olhou para os jurados expressivamente e
depois se sentou. Seus olhos se cruzaram com os de
Marina e a morena ganhou um lindo sorriso de
admiração.

O juiz releu alguns papéis ficando em silêncio por vários


minutos, o júri também deu seu veredicto e após um
tempo que pareceu uma eternidade o juiz se
pronunciou.

- Diante dos fatos apresentados e por unanimidade do


júri aqui presente, eu declaro o réu Ricardo de Souza
culpado. – bateu o martelo.

Todos que assistiam ficaram de pé para bater palma,


mas o juiz ainda não tinha terminado, então foi pedido
silêncio.

- Ele cumprirá pena em regime fechado por vinte e seis


anos. E em virtude de mais acusações, estas feitas pela
família de uma das vítimas, o próximo julgamento
acontecerá amanhã, mas não vai alterar a pena
estabelecida pelo julgamento de hoje.

Lívia saiu se sentindo vitoriosa, a família do garoto que


havia morrido foi procurá-la e ela lhes deu algumas
orientações a respeito da audiência do dia seguinte.

- Estão no caminho certo e a justiça está do lado de


vocês. – falou segurando a mão da avó do rapaz.

Marina veio se aproximando, Lívia pediu licença e as


duas foram para a sala da promotoria.

- Meu amor você foi o máximo! – Marina a abraçou


envolvendo os braços em sua cintura.
- Gostou mesmo? Por um momento achei que estava
entediada.
- Não! De certo a parte que o advogado de defesa falou
me deixou com sono. – riu. – Fiquei mais enojada eu
acho.
- Eles são assim mesmo, afinal têm que defender,
estão sendo pagos e muito bem por sinal.
- Mas você foi brilhante, fiquei tão orgulhosa. – mexia
nos cabelos dela. – Sabia que fica muito sexy com essa
roupa? – Marina deu um sorriso sem vergonha.
- Menina, posso te prender por falar uma coisa assim. –
a morena a olhou com malícia.

As duas estavam num momento mais carinhoso quando


a porta foi aberta de repente.

- Sabia que estava aqui!

Marina custou a acreditar no que estava vendo, estava


de mãos dadas com Lívia e a morena sentiu quando ela
apertou deus dedos.

- Lívia, divina como sempre! – Camila falou. – Quando


li que era você a promotora deste caso, pensei logo,
esse moleque vai pegar no mínimo vinte e cinco anos
de prisão, errei por um ano só. – falava como se fosse
íntima. – Sabe que estou no caso do mafioso, sim? Pois
se tiver que escolher com quem vou trabalhar, minha
melhor opção é você.

Lívia olhava para Camila como quem olha para uma


parede, já Marina tinha os olhos fixos na juíza e mal
conseguia respirar.

- Quem autorizou sua entrada aqui? – Lívia tentou


manter a calma, ao mesmo tempo em que abraçou
Marina como se quisesse protegê-la.
- Não preciso de autorização para entrar em lugar
algum.
- Tudo bem, assim como eu não preciso tolerar você,
vamos Marina. – ia saindo puxando a loirinha consigo.
- Marina!? Ainda é a mesma? Menina você é mesmo
muito insistente e corajosa. – olhou para Marina com o
desprezo de sempre.

As duas já saíam pela porta quando Marina resolveu


voltar.

- Espere! – voltou-se para Camila e falou tentando ser


o mais segura de si. – Eu sou sim insistente e corajosa,
primeiro porque eu acredito no amor e tenho mesmo
que ter coragem para lidar com pessoas ridículas e
medíocres como você. Não será alguém inferior que vai
acabar com a minha felicidade.
- Cuidado com o que fala garota, posso te prender,
afinal eu sou uma juíza e você não é nada mais do
que...
- A mulher que eu amo. – Lívia interrompeu Camila. –
Marina é minha esposa, é a pessoa que escolhi para ser
feliz e se precisar passar por cima de você para
protegê-la eu farei. Camila, não se rebaixe, coloque-se
no seu lugar miserável de sempre e me deixe viver com
quem eu amo de verdade.

As duas viraram as costas e largaram a juíza sozinha


na sala. Depois que entraram no carro Marina colocou
as mãos no rosto tentando botar os pensamentos em
ordem.

- Como essa mulher entrou na minha sala? – Lívia deu


um soco no volante. – Não acredito que isso tenha
acontecido.
Marina tirou as mãos do rosto e olhou para ela.
- Ela mesma disse que entra em qualquer lugar.
- Nunca imaginei que isso aconteceria amor, me
perdoe. – falou totalmente envergonhada.
- Lívia... – segurou suas mãos. – A culpa não é sua. –
beijou-as – Conhecendo bem Camila eu sim pensei que
hora ou outra ela faria algo do tipo. E ainda acho que
ela não vai sossegar. – fechou os olhos e respirou
fundo. – Eu confio em você, plenamente. Só queria
saber se posso ficar tranquila quanto a minha
confiança.
- Claro que pode amor. Não duvide nunca do meu
amor, eu não passei o que passei para perder sua
confiança de novo. Eu te amo. – beijou a boca da
loirinha. – Amo muito! – beijou de novo. – Não sei mais
viver sem você. – dessa vez o beijo foi mais
apaixonado.

No final do beijo a morena falou invocada:


- Esse traste tinha que voltar pro Acre.

Marina sorria ao mesmo tempo em que a beijava.

Nos dias que se seguiram Lívia somente acompanhou o


processo das duas famílias e enquanto estava no
fórum, Marina ficava no estúdio. Após os dias de
trabalho, as duas resolveram ir para Jaú. Marina ligou
para a mãe e avisou da chegada delas, mas disse que
ficariam num hotel em Bauru, uma cidade vizinha.
Assim que chegaram e se acomodaram, ligaram para
Maria José avisando que estavam indo vê-la. Roberto e
Mateus estavam no sítio, assim ficou mais fácil a visita
delas.

- Oi mãe! Que saudade!


- Fizeram boa viagem meninas? – Zezé perguntou
enquanto abraçava Marina.
- Graças a Deus! – Lívia respondeu também a
abraçando.
- Entrem, fiz um lanchinho para vocês.
- Nós almoçamos na estrada, não precisava se
incomodar dona Zezé.
- Nada de dona, Lívia, e conhecendo Marina, sei que ela
está com fome.
- Comida de mãe a gente não recusa. – riu.
- Sabia! – Zezé falou achando graça.
- Cadê Luisa?

Mal a loirinha perguntou e a menina veio correndo,


tinha os cabelos molhados.

- Tia! – pulou no colo de Marina. – Você fez surpresa!


Eu adorei. – a abraçou.
- Gostou? Pois eu estava morrendo de saudade! –
beijou a bochecha dela.
- Tia Lívia, você que veio dirigindo?
- Foi sim, por quê?
- Ah, por isso chegaram rápido do Rio, minha tia Marina
dirige muito devagar. – revirou os olhos fazendo todos
rirem.
- Mas nós não viemos do Rio mocinha, estávamos em
São Paulo. E sua tia é lenta mesmo.
- Deixa de ser chata! – Marina deu um tapinha no braço
de Lívia.
- Você voltou pra lá tia? – perguntou a Marina.
- Não meu amor, Lívia tinha um compromisso e eu vim
com ela. – colocou a menina no chão. – Aproveitei e
me encontrei com Felipe no estúdio.
Barbara apareceu na sala e as cumprimentou.

- Achei que nunca mais apareceria aqui.


- Meu Deus! Quanto tempo! – Marina foi abraçá-la. –
Sabe que não venho mais por conta...
- Eu sei e te entendo.
- O pai está pro sítio?
- Sim, volta depois de amanhã.

Marina fez uma cara de desânimo, sabia que com a


presença dele não poderia ver a mãe e a sobrinha.

- Venham, vamos comer que a broa ta quentinha.

Barbara aproveitou a oportunidade para agradecer


Marina por tudo que vinha fazendo por Luisa.

- Sem sua ajuda acho que ela não estaria tendo essa
base educacional.
- Luisa é inteligente, dedicada e muito esperta. Merece
estar numa boa escola, além do mais é minha sobrinha
e eu faria qualquer coisa por ela.
- Voltou do Rio contando as novidades, o quarto novo.
- Isso foi coisa de Lívia, eu mesma me surpreendi.
- Obrigada. – olhou para Lívia.
- Quem tem que agradecer sou eu. Luisa encantou
nossa casa quando foi pra lá. A considero como
sobrinha também e pode ter certeza que se depender
de nós o futuro dela estará garantido. – pegou a mão
de Marina. – Ela é uma menina especial.

Marina ficou toda orgulhosa com as palavras de Lívia e


percebeu que a mãe já não estranhava tanto a
intimidade das duas.

- Fico muito, mas muito contente de saber que estão


bem. – Barbara falou. – Marina sabe que eu nunca fui a
favor das atitudes de Mateus e do pai dele. Não importa
as diferenças, o importante é a família unida e eles
estão se esquecendo disso.
- Deixa pra lá Barbara, uma hora as coisas se acertam.
- Mateus é contra, Marina, mas quando a filha dele
chega com presentes ele bem que se faz de bobo. Ele
sabe que a escola dela quem paga é Marina, que os
cursos que Luisa faz também é Marina quem paga, pra
isso ele aceita?

Barbara estava certa e por isso ninguém soube o que


responder.

- No fundo ele sabe que isso é o melhor para a filha. –


Marina sorriu.
- E agora nós estamos casadas. – Lívia sorriu
mostrando a aliança.

Maria José quase engasgou com o café.

- É, casamos. – Marina constatou.


- Como é isso? – Zezé perguntou.
- Casamos com um juiz, ou melhor, juíza de paz.
- Isso muda alguma coisa?
- Não mãe, o que muda é que usamos aliança na mão
esquerda. – Marina brincou.

Maria José ainda olhou meio desconfiada, mas não quis


comentar nada, afinal estava se acostumando com a
relação das duas.

Aproveitaram os dias da ausência de Roberto e Mateus


para passearem pela cidade, compraram roupas para
Luisa e algumas coisas pra casa. Marina não quis ficar
direto, com medo de o pai chegar de repente. Então
todo dia à noite elas voltavam para o hotel em Bauru.
Naquele dia estava na expectativa do pai chegar e por
isso havia se despedido antecipadamente da mãe e da
sobrinha.

Após tomarem banho, a loirinha olhava da sacada do


hotel para a cidade, seu olhar parecia perdido.

- Que foi meu anjo? – Lívia chegou por trás abraçando-


a.
- Pensando aqui... podíamos ir embora amanhã.
- Por quê?
- Meu pai chega cedo em casa amanhã e
provavelmente só vai embora no fim de semana, que
no caso nós já iríamos mesmo. Não faz sentido ficar
aqui.

Lívia pensou no que falar, repousou o queixo na cabeça


dela e respirou fundo.

- Nós vamos falar com seu pai. – falou calmamente.


- O que? – Marina se virou. – Não vamos não!
- Por que não? O que vamos perder? Seu pai já não te
aceita, o máximo que pode acontecer é ele nos mandar
embora.
- Posso perder Luisa! Mateus sempre fica do lado de
meu pai e se ele não me deixar mais vê-la?
- Acha mesmo que Barbara vai permitir uma coisa
dessas? Ela está do seu lado, do nosso lado. Sabe o
quão bem você faz a filha dela. E cá entre nós, seu
irmão é um frouxo, ele faz tudo que a esposa manda,
não vai ser agora que vai bancar o machão. Ainda mais
sabendo que Luisa gosta de você e que nós a
ajudamos. Ele é idiota, mas não é burro.
- Não tenho coragem para enfrentar isso. – Marina
escondeu o rosto no peito de Lívia.
- E quem disse que está sozinha? Junta a minha
coragem com a sua que dá alguma coisa. – riu. –
Estarei do seu lado pro que der e vier. – segurou o
rosto dela. – Como era mesmo aquele lance do na
alegria e na tristeza, na saúde e na doença? – fez
Marina sorrir. – Neste caso é na coragem ou no medo.
Seu pai é um homem bravo, confesso que ele me
desperta certo receio, mas eu dou conta. – falou
firmando a voz.

Marina olhou para ela e sorriu.

- Você é única na minha vida. – beijou-lhe os lábios.


- Espero mesmo, porque duas de mim você não
aguenta. – sorriram. – Sou muito chata.

Marina sorriu e puxou a morena pela mão, voltando as


duas para o quarto.

- Vem aqui minha chatinha, que eu adoro quando pega


no meu pé e me irrita. – sorriu franzindo o nariz.
- Ah é? Que novidade é essa!? – Lívia sentou na
beirada da cama fazendo Marina sentar também e
envolver as pernas em sua cintura. – Que mais você
gosta que eu faço? – começou a tirar a roupa dela. –
Gosta disso? – beijou e mordeu o pescoço. – E disso? –
mordeu o queixo e depois o lábio inferior. – Que mais
você gosta? – percorria o corpo dela com as mãos. –
Hum? – mordia o lóbulo da orelha.
- Gosto quando me toca aqui... – Marina pegou a mão
de Lívia e enfiou dentro de sua calcinha. – Assim... –
começou a esfregar os dedos dela fazendo Lívia se
acender toda. – E gosto quando me beija assim. –
capturou os lábios da morena num beijo cheio de más
intenções.

Lívia esfregava o clitóris da loirinha no ritmo do beijo


que ficava cada vez mais ardente. Parou um momento
e a olhou nos olhos.

- Você é gostosa demais! – girou o corpo e colocou


Marina deitada, abriu as pernas dela e devorou seu
sexo como gostava.

Fizeram amor noite a fora e dormiram quando o dia


começou a clarear. Acordaram por conta do calor.

- Amor, você não ligou o ar? – Lívia falou ainda com a


voz sonolenta e tateando a mão procurando o controle
do ar condicionado até achá-lo e ligar.

Marina se espreguiçou e abraçou o corpo nu da


morena.

- Não estou sentindo calor, você está? – repousou a


cabeça no colo dela.
- Muito, mas agora vai melhorar.

Marina puxou a coberta já sentindo o vento gelado do


ar e dormiram novamente.

Já passava da uma da tarde quando Marina acordou,


porque sentiu fome. Olhou no relógio e se assustou
com a hora. Lívia dormia profundamente então não
quis acordá-la. Ligou a TV bem baixinho e depois ligou
para a recepção e pediu comida no quarto. Estava
chovendo muito e ela não se animou a sair do hotel.
Lívia se remexeu e procurou o colo da loirinha, deitou a
cabeça em seu ventre e esta lhe alisou os cabelos. Um
tempo depois um funcionário bateu na porta trazendo o
almoço das duas. Marina tentou se levantar sem
acordar Lívia, mas não teve jeito.

- Aonde você vai? – a morena perguntou com os olhos


ainda fechados.
- Só vou pegar nosso almoço querida, um minuto. –
abriu a porta e puxou o carrinho para dentro,
agradeceu à senhora e fechou a porta.
Quando olhou para a cama Lívia estava estirada de
bruços, abraçada a dois travesseiros e com a coberta
por cima. Marina deitou em cima dela, afastou seus
cabelos e beijou a nuca.

- Que mocinha dorminhoca. – beijou de novo.


- Foi a noite de ontem, acho que estou perdendo o
jeito.
- Não mesmo, eu estou arrasada, foi a fome que me
acordou. – riu.
- Temos comida?
- Ahan. – mordeu de leve a nuca dela. – Pedi um risoto
de palmito, frango grelhado e salada. – mordeu de
novo com mais pressão.
- Hum... melhor comermos, antes que você me coma. –
riu.
- Então vem. – Marina saiu de cima dela.
- Isso lá fora é chuva?
- E muita, chove desde cedo. Por isso abri a cortina, sei
que gosta de olhar a chuva. – Marina falava enquanto
preparava seu prato e o de Lívia. – Vem amor, senão
esfria.

A morena levantou e vestiu um roupão para almoçar.


Depois de terminarem Lívia cogitou a hipótese de ir à
casa de Marina.

- Podíamos ir mais a noitinha.


- Aonde?
- Na sua casa, o que conversamos ontem? – lembrou-a.
- Com essa chuva? A gente não pode ir amanhã?
- A chuva nem está tão forte. Vamos amor,
enfrentamos isso de uma vez e pronto, tenha certeza
que não tem como piorar mais do que está.

Marina abaixou a cabeça, estava indecisa e com medo.

- Então vamos, assim encaramos logo a fera e


acabamos com isso.

Quando o carro virou na rua de sua casa, Marina ligou


para avisar a mãe que estava chegando. Maria José
disse que Roberto havia saído, mas que voltaria cedo.
Entraram em casa e ficaram na sala mesmo, a chuva
persistia lá fora e o tempo já estava esfriando. Luisa
dormia no quarto, então Marina foi vê-la, deixando
Lívia com Maria José.

- Quando Roberto chegar, vocês podem sair pelos


fundos, ele não vai vê-las.
- Nós viemos aqui para conversar com ele.
- Como é? Não! Isso será uma confusão danada.
- Não tem problema dona Zezé, o que não quero é que
Marina fique nesse impasse com o pai. Não sabe como
isso a incomoda.
- Ela vai é causar mais brigas. Marina sabe que não
posso com Roberto.
- Tudo bem, se isso acontecer eu prometo a senhora
que ela não põe mais os pés aqui.

Não demorou muito para Roberto chegar com Mateus,


ele e Marina entraram ao mesmo tempo na sala, ela
vindo do quarto. Olhou para o pai surpresa, estava
mais magro. Ele tentou não parecer surpreso, mas não
conseguiu.

- Marina!? O que faz aqui? – o tom de voz foi quase


imparcial.
- Esperava que ao menos ficasse feliz em me ver pai.
- Eu... bom...
- Vim de São Paulo, estava no estúdio de lá e vim
acompanhando Lívia, lembra dela?
- Boa tarde senhor Roberto. – a morena o
cumprimentou se mantendo séria.
- Veio aqui pra que? – dessa vez foi Mateus quem
perguntou e com a voz mais áspera.
- Eu vim ver Luisa, minha mãe e Barbara. E pra
conversar com vocês dois também. - Marina não sabe
de onde veio a coragem, mas respirou fundo e começou
a falar. – Faz muitos anos que não os vejo, a não ser
por fotos e notícias por minha mãe.
- Nós também temos notícias suas. – Roberto falou.
- E por que não falam comigo? Por que não vão me
visitar? É porque não aceitam minha vida como é, não
toleram o fato de eu ser gay e estar casada com outra
mulher.
- Casada? Mas que barbaridade é essa? – Mateus riu
debochando.
- É o que vocês ouviram, sou sim casada, tenho uma
vida feliz, estável, meu próprio negócio e estou ao lado
de quem amo. Qual a barbaridade nisso tudo?
- Deus não permite essas coisas? – Roberto falou. – Ele
ainda vai castigá-la.
- O Deus que eu conheço não castiga e se ele faz já
está fazendo agora. Quer mais castigo do que viver
longe da família?
- Você não disse que está feliz? Então pra que sua
família?
- Porque fazem parte de mim, do que eu sou.
- Ah eu não sou viado!
- Cala a boca Mateus! – Barbara chegou à sala já
recriminando o marido. – Fica na sua que você é o que
menos pode falar.
- Menos por quê?
- Porque é dela que vem o dinheiro para as melhores
escolas de Luisa, os melhores brinquedos, a melhor
educação. Se a sua filha tem o futuro garantido é por
causa de Marina. Tenha bom senso e cale a boca.

“Ponto pra você, cunhada!” – Lívia pensou.

- Eu faço isso por Luisa porque a amo, assim como amo


todos vocês. Por isso os ajudo quando precisam, quero
ver minha família bem. Independente de qualquer
coisa.
- Acham justo isso? – Lívia perguntou a todos.
- Você sabia disso tudo Maria José? – Roberto olhou
para a esposa.
- Sabia do relacionamento delas, do casamento soube
quando elas chegaram na cidade.
- Há quanto tempo estão aqui?
- Não interessa, vim para visitá-los, mas não vou me
demorar. – Marina começou a falar com rancor. –
Queria que o senhor me aceitasse pai, porque tentei e
acho que tento até hoje ser uma boa filha, mas vejo
nos seus olhos que nunca vou conseguir isso. – os
olhos começaram a ficar marejados. – Só queria que
soubesse que ainda assim, estarei ao lado de vocês
quando precisarem.

Marina ia saindo puxando Lívia pela mão, quando seu


pai falou com a voz embargada.

- Perdoe um pai que teve uma criação severa, que tem


a alma bruta, endurecida pelas dificuldades da vida. Se
me perguntassem um dia o que eu queria para os meus
filhos, diria sem pensar, quero-os casados, com filhos e
felizes. – olhou para as duas de mãos dadas. – Não era
isso que eu imaginava. E você é a melhor filha, mas
não posso aceitar como vive sua vida. – virou as costas
deixando todos sozinhos na sala.

Mateus foi atrás do pai, mas deu com a cara na porta,


pois Roberto se trancou no quarto querendo ficar só.

- Calma meninas, quem sabe uma hora tudo se acerta,


não é? – Barbara tentou consolar.
- Vou falar com ele. – Zezé saiu da sala.

Lívia abraçou Marina, que chorava muito e as duas


foram embora. Maria José bateu na porta e Roberto
abriu, ela o abraçou e viu que ele realmente estava
chateado com tudo aquilo.

- Não posso aceitar Zezé. Ela é uma mulher, bonita,


inteligente, por que não está casada com um homem?
- É a escolha dela. Acha que já não sofre com a vida
que escolheu? As pessoas são preconceituosas. E
Marina ainda sente rejeição da família. Foi difícil pra
mim no começo, eu aceitei porque ela estava só, mas
eu a via triste, ser sozinho é muito triste. Quando
Marina veio me falar desse relacionamento eu também
não aprovei, mas não pude deixar de perceber o olhar
feliz e o sorriso no rosto. Sou mãe, tento compreender
e respeitar suas escolhas, faça isso também.
- Não consigo! – balançou a cabeça. – Se quiser
conviver com isso, vá morar com ela então. Não vou
aprovar uma desordem familiar como essa.

Maria José ficou sem ação, estaria ali escolhendo viver


com a filha ou com o marido. Sentiu que as coisas
estavam piores agora, pois não poderia mais ver a filha
como fazia antes.

Marina saiu sem olhar para trás, a chuva estava muito


forte, mas ela nem quis abrir o guarda-chuva. Lívia se
apavorou com a saída rápida dela e se atrapalhou para
abrir a porta do carro, então ambas se molharam
bastante. Assim que entrou no carro a loirinha desabou
num choro de soluçar.

- Calma meu amor, não chora, por favor. – Lívia tentou


abraçá-la. – Isso vai passar. – beijou sua cabeça.
- Meu pai... me renega. – chorava copiosamente. – Ele
não vai me aceitar... por que as coisas são assim? Eu
sempre fui boa filha, estudiosa, sempre ajudei em casa.
Posso dizer que fui mais esforçada que meu irmão.

Lívia ficou penalizada, não sabia o que dizer para


acalmá-la. Ligou o carro e partiu de volta para o hotel,
ainda pegariam estrada e não queria demorar.
Somente passou numa loja de conveniências e comprou
água para Marina.

- Toma um pouquinho, vai ajudar. – estendeu a


garrafa. – Se enxuga também meu anjo, senão pode se
resfriar. – entregou uma toalha a ela e usou outra para
se enxugar.

Voltaram para a estrada e sempre andando devagar,


ligou o som e colocou uma música bem calma, reclinou
o banco de Marina e ela se recostou. Chorou tanto que
acabou dormindo. Lívia segurava sua mão e acariciava,
às vezes olhava rapidamente, mas a loirinha dormia
tranquila. O trajeto não era longo, chegaram ao hotel
no início da noite. Lívia não quis acordar Marina, então
dispensou o manobrista e da garagem subiram direto
para o quarto, por sorte ninguém a viu carregando a
loirinha no colo. Deitou Marina na cama, tirou sua
roupa e a cobriu. Foi até o banheiro e depois trocou de
roupa deitando também. Abraçou a loirinha e deixou
que ela se aconchegasse em seu colo. Pensou em como
a vida dava voltas e as pessoas por muitas vezes eram
ingratas. Marina lutou com dificuldade, sempre honrou
os pais, os ajudou mesmo quando não tinha dinheiro e
agora o pai a desprezava. Pensou em si mesma, que
nem ao menos conheceu seu pai, mas sabia que podia
contar com sua mãe. E Marina? Será que a mãe dela
estaria sempre do seu lado? Devia estar dividida entre
a opinião do marido e o amor da filha. Acabou
adormecendo em meio a tantos pensamentos.
Na mesa do jantar na casa dos pais de Marina todos
comiam sem conversar, vez ou outra Mateus olhava
para Barbara ou para a mãe. Luisa apareceu e
perguntou intrigada:

- Por que ninguém fala nada?


- Luisa vai brincar na sala. – Barbara falou.
- Eu vim saber se tinha alguém aqui, porque não ouvi
vozes. Cadê tia Marina, ela não vem hoje?
- Marina já veio e você estava dormindo.
- Não me chamaram? Ah... – virou as costas voltando
para a sala.
- Marina tem vindo aqui? – Roberto perguntou.
- Sim, quando estavam no sítio ela veio alguns dias
para nos ver.
- Por que ela está na cidade?
- Ela não veio pra cá, estava em São Paulo a negócios e
resolveu chegar até aqui.
- Pra que? – Mateus perguntou.
- Como pra que? Somos a família dela, ela gosta de
Luisa, será que não pode vir visitar ao menos a mãe e a
sobrinha?
- Pode mãe, eu só fiquei curioso.
- Você debocha demais, devia ficar na sua, é o último
que poderia falar. – Barbara recriminou o rapaz.
- E você anda muito puxa saco pro meu gosto, qual é?
– Mateus se alterou.
- Calem a boca. – Roberto falou em voz baixa, mas a
discussão continuou.
- Ela ta é querendo comprar você e Luisa com
presentes caros. – Mateus continuou.
- Marina nunca me deu nada e pra Luisa ela dá
presentes desde quando era estudante.
- Está fazendo de caso pensado e...
- Calem a boca!! – Roberto gritou. – Não quero mais
ouvir o nome de Marina nessa casa!

Todos ficaram em silêncio e de cabeça baixa. Maria


José comia devagar, mas em dado momento deixou o
talher e falou em tom calmo.

- Marina é uma excelente profissional, trabalha muito e


todos gostam dela, tanto que sempre é chamada por
muitos artistas famosos. Além de dona de seu próprio
negócio, ela tem a cabeça feita, é ajuizada, sempre foi,
mas não se tornou fútil ou egoísta porque ganhou
dinheiro. Ao contrário, ela é humilde, nos ajuda
sempre. E ajuda os outros, quer ver o bem de todos. E
agora eu pergunto: por que ela não é digna de estar
aqui sentada conosco? Porque está casada com outra
mulher e isso agora é crime? Deve ser... – ela mesma
respondeu sua pergunta. - Antes então ela fosse
imprestável ou irresponsável, mas se estivesse casada
com um homem seria melhor. – levantou-se da mesa e
saiu da sala.

Todos ficaram quietos se olhando e digerindo as


palavras de Maria José. Bárbara foi a primeira a
levantar e sair com o prato na mão, Mateus foi atrás e
Roberto ficou ainda um tempo pensando no que a
esposa tinha falado, os olhos perdidos não conseguiam
achar uma razão.

De madrugada Marina se remexeu e acabou acordando


Lívia, que estava abraçada a ela. Tinha uma luz acesa
deixando o quarto parcialmente iluminado. A chuva
havia piorado, trovões faziam a trilha sonora da noite.

- Que foi amor? – perguntou abraçando mais forte a


loirinha.
- Assustei com o trovão, está chovendo muito. – se
encolheu naquele abraço. – Como você me trouxe?
- No colo. Você dormiu no carro e não quis te acordar,
achei que só iria cochilar, no fim eu que acabei
dormindo com você. – sorriu.
- Podemos ir embora amanhã? – Marina falou com
dengo, quase chorando.
- Claro minha linda, cedo nós fechamos a conta e
partimos. – beijou-a. - Vou tirar você dessa cidade,
voltamos pro nosso cantinho o quanto antes, ta bom? –
beijou-a mais uma vez.
- Às vezes queria esquecer que tenho família, pensar
que sou sozinha. Seria mais fácil se fosse. Não ter
família para julgar meus atos, talvez tivesse mais paz...

Lívia a virou de frente e falou olhando em seus olhos.

- Você é a melhor pessoa que conheço, tem caráter,


humildade e amor no coração. Paz não é encontrar tudo
perfeito do lado de fora, é quando olhamos pra dentro
sem nos assustar. Eles não podem te julgar, porque
você é perfeita, ao menos pra mim. – beijou a ponta do
nariz dela.

Os olhos de Marina se encheram de lágrimas, sorriu e


chorou ao mesmo tempo.

- Eu amo tanto você. – segurou o rosto de Lívia com as


mãos.

Lívia sorriu e a beijou nos lábios com carinho, depois


beijou seus olhos, a ponta do nariz e por último a testa.

- Não quero vê-la chorando, você não merece isso.


Faço qualquer coisa pra que se sinta melhor. – alisou o
rosto dela. – Me fale que eu faço agora se quiser.
- Que me abrace e fique comigo. – Marina falou quase
num sussurro.

Aconchegaram-se de novo debaixo das cobertas e


dormiram.
No dia seguinte partiram cedo da cidade, mas antes
entraram em Jaú e Marina comprou um presente para a
mãe, outro para Barbara e um para Luisa. Pediu que
entregassem em casa junto com um cartão de
despedida para elas. Ainda chorava quando pegaram a
estrada e Lívia sempre tentava animá-la. Maria José foi
quem recebeu os presentes e ficou emocionada, se
trancou no quarto por horas. Roberto nada falou, mas
sentiu vergonha de sua própria atitude com a filha.
Quase perto de São Paulo Lívia olhou e viu que Marina
ainda dormia, a chuva havia diminuído, mas o tempo
estava nublado.

- Viagem fuleira essa... – resmungou.


- Que foi amor? – Marina acordou.
- Nada linda, estou olhando o tempo.

Marina se endireitou no banco e pôs a mão na perna de


Lívia.

- Nossa viagem não foi “fuleira”. – brincou com a


palavra. – Já disse a você que pra mim não importa
onde estamos ou aonde vamos, desde que esteja ao
meu lado tudo fica bem.

Lívia sorriu e olhou para ela rapidamente lhe dando um


selinho.

- Eu quero... bom, eu gostaria de levar você a um lugar


romântico. Você tem que voltar para o estúdio quando?
- Tecnicamente eu estaria ainda em Jaú, mas como as
coisas não deram muito certo, temos uns quatro dias
mais ou menos. Preciso estar no estúdio na segunda à
tarde ao menos.
- Ok. – Lívia sorriu e começou a mexer no GPS do
carro.
- Aonde vamos?
- Calma. Tenha medo não, ta tudo sob controle. –
ainda mexia no aparelho e sorria.
- Me fala! – Marina falou impaciente.
- Calma! – Lívia a olhou como se a repreendesse e
voltou a mexer no GPS. – Pronto!
- Agora vai me falar? – cruzou os braços emburrando.
- Falo meu amor! – Lívia a beijou. – Vamos para
Campos do Jordão!

Marina se agitou toda.

- Sério? Eu sempre tive vontade de ir lá.


- Nunca foi? Ah fala sério!
- Verdade! Apesar de ter morado em São Paulo muito
tempo nunca tive a chance de ir lá, acho que é uma
cidade para se visitar a dois.
- Então a hora é essa. Agora é baixa temporada e não
teremos problemas em achar hotel.
- Podemos ficar num chalé, eu prefiro.
- Claro amor.

Chegaram à tardinha e morrendo de fome, pois não


pararam para almoçar e ficaram somente com um
lanche. Lívia pediu algumas informações de pousada e
depois foram almoçar. Alugaram um chalé bem
confortável com banheira, lareira, tinha até uma
pequena sala de TV.

- Um dia ainda compro um chalé pra mim. – Marina


falou olhando tudo ao redor.
- Tem vontade de ter um?
- Eu tenho, desde quando conheci a casa de sua mãe
em Mauá.
- Podemos construir um lá.
- Um dia amor, agora nós temos outras prioridades.
Você comprou um apartamento, eu estou ajudando
Renata com o dela.
- É, agora eu tenho uma prioridade também.
- Outra? Você gasta muito dinheiro! Deus como é que
não faliu ainda?!
- Essa prioridade nem faz gastar dinheiro. – foi se
aproximando. – Porém me toma um tempo danado,
mas eu não estou reclamando.
- Está falando de que? – Marina se confundiu.
- Minha prioridade agora é tomar um banho bem
quentinho com minha esposa, namorar um pouco e
fazer amor com ela. – sussurrou no ouvido da loirinha
que sorria às declarações. – Estou morrendo de
vontade de você... – beijou a nuca e mordeu.
- Vem pro banho que eu dou um jeito nessa vontade.

Entregaram-se ao banho e com muitas carícias, depois


foram pra cama terminar o que tinham começado no
chuveiro. Lívia estava carinhosa, delicada, tocava
Marina como se ela fosse frágil. Encheu-a de beijos e
mordidas, percorrendo seu corpo todo com toques
insinuantes deixando-a louca de prazer. Gozaram
várias vezes. Marina olhava para o rosto de Lívia e
ficava admirada. A boca entreaberta, bochechas
coradas e o nariz arrebitado, sua franja estava
bagunçada. Passou os dedos retirando uma mecha que
caía no rosto e depois a beijou. A morena sorriu e
fechou os olhos.

- Você é linda! – Marina falou ainda olhando para ela. –


Não me canso de olhar, de observar seus gestos e
admirar a pessoa que é. Isso será eterno em mim.

Lívia se virou ficando de lado na cama.

- Eu não poderia ser mais feliz, sempre digo isso e vou


repetir. Tenho tudo que quero e Deus sabe o que sinto
quando estamos juntas, você me toca a alma e o amor
que tenho por você é inaudito.

Abraçaram-se e recomeçaram as carícias. Saíram do


chalé no dia seguinte para conhecerem a cidade.
Passearem pelo centro, andaram de teleférico e depois
fizeram um tour de trenzinho pelos arredores. Foram
ao mosteiro, ao borboletário, passaram pela cervejaria
Baden Baden e jantaram no Festival del la pasta, um
dos restaurantes mais famosos da cidade. Pelos dias
que se seguiram foram às feiras de artesanato e
compraram muitos chocolates. No último dia Marina
quis ficar no chalé à noite. Pediram comida no quarto e
assistiram a um filme deitadas na cama e debaixo das
cobertas.

- Nossa vida é de casadas mesmo. – Lívia riu.


- Por que está falando isso?
- Não reparou nossa rotina? Quando namorávamos
você tocava na noite e sempre estávamos em algum
barzinho.
- Era porque eu tocava amor.
- Sim, mas no final do show a gente sempre ficava
conversando e lá iam altas horas. Dormíamos tarde,
acordávamos tarde, nossa vida era mais boêmia. Agora
trabalhamos o dia todo chegamos em casa exaustas,
tomamos banho e deitamos pra assistir TV.
- Acha que poderíamos ser mais... agitadas? – Marina
olhou para ela e mordendo o lábio inferior num gesto
inseguro.
- Eu gosto como está. Antes era diferente, pois a
condição era outra. Mudamos o ritmo por conta do
rumo que a vida nos deu, mas eu adoro. Sempre tive
uma vida social intensa... – fez aspas com os dedos. –
Pensava em ter uma rotina tranquila um dia, uma casa,
alguém pra abraçar quando fosse dormir, pra ouvir
meus comentários nos filmes e tomar café da manhã
junto.

Marina a olhava sorrindo.

- Ta certo que perdi alguns amigos de badalação como


Carlos e Larissa, mas isso faz parte. Você não sabe,
mas fazer isso tudo só é muito chato. – Lívia continuou.
– Eu me pegava várias vezes falando sozinha e
comentando comigo mesma sobre algo que via. – riu. –
Sou muito feliz por ter quem me ouça agora. – olhou
para ela.

A loirinha se aproximou e sentou no colo de Lívia,


segurou suas mãos e as beijou.

- Sempre a ouvirei, lhe darei atenção e ficarei ao seu


lado. Até quando começa a falar no meio do filme. – fez
uma careta.
- Eu não falo, eu comento. – emburrou.
- Ta bom amor, você comenta. – beijou sua bochecha.
- Não mudaria nada em nossa vida, eu gosto de tudo
como está.
- Tem uma coisa que você falou, faltou aí um detalhe...
– Marina olhou para o lado.
- O que?
- Quando chegamos em casa tomamos banho sim, mas
não deitamos pra assistir TV todas as vezes.
- Ah não? – brincou.
- Tcs tcs... – Marina foi se afastando dela. – Tem os
dias em que nos amamos... – deitou de costas na
cama, apoiando os cotovelos. – E você vem como um
animal insaciável... – foi abrindo as pernas. – E me
pega de jeito...

Lívia se acendeu toda e prontamente se posicionou


entre as pernas da loirinha.

- Te pego de jeito? Como? – começou a morder o


pescoço de Marina. – Assim? – lambeu o queixo dela. –
Ou assim? – mordeu um mamilo deixando-o durinho. –
Não estou certa de como é...
- Ahh... vem... vou lhe mostrar como eu gosto... -
Marina abriu mais as pernas se entregando totalmente.
A viagem de volta foi tranquila, antes de sair na
segunda-feira Marina passou no estúdio para se
despedir de Felipe. Deixaram combinado uma visita
dele ao Rio algumas semanas depois. Do aeroporto
cada uma foi para seu trabalho. Marina tinha uma
reunião com o produtor de uma banda de rock e Lívia
tinha um cliente logo depois do almoço. Mal a loirinha
pisou no estúdio e Renata veio despejando os
compromissos.

- Chefinha! Reunião daqui a uma hora, tem uma


gravação às três, mas Diogo está cuidando disso, só
que ele pediu para você dar um pulo lá dentro. Você
tem médico às seis.
- Médico?
- É, foi você quem pediu pra marcar, não lembra?
- Não, mas tudo bem.
- Quer que desmarque?
- Não, eu estou precisando de um check up. Que mais?
- É médica viu e não médico. E Ana quer falar com
você, acho que a orquestra vai ensaiar na escola hoje à
noite.
- Eu quero ver! – se animou.
- Acho que é isso que ela quer também, que você
assista. – Renata sorriu. – Essa mulher arrasta um
caldo pro seu lado.
- Renata que é isso!
- Vai me dizer que não reparou? Você já foi mais
antenada.
- Ta bom reparei, mas não rola. E não comente com
Lívia, senão dá divórcio.
- Nossa, nem casaram direito. Aqui, me conta como foi
a viagem!
- A parte boa ou a ruim?
- Conta tudo! – Renata sentou-se de frente para ela. –
Sou toda ouvidos.
Marina falou sobre a discussão com a família e a reação
de seu pai e de como ficou chateada, depois contou da
viagem a Campos do Jordão com mais animação.

- Trouxe chocolates, muitos! – os olhos brilhavam. –


Nem sei como faria se Lívia não estivesse comigo. –
olhou para a foto da morena em sua mesa. – Ela me
deu apoio, carinho e fez eu me sentir melhor diante
disso tudo.
- Chama-se suporte emocional. – Renata riu. – Ela é
boa nisso, já percebi. Seu pai precisa é levar um susto
pra poder dar valor a filha que ele tem, acho que só
assim.
- Ele é muito orgulhoso e eu também sou, não vamos
nos entender tão cedo.
- Quem sabe... só Deus!
- Bom, agora vamos ao trabalho.

No escritório Lívia contou para Beatriz e Guilherme do


julgamento, falou da reação do júri e do público.

- Nossa a repercussão foi grande, saiu em tudo quanto


é jornal. Você viu? – Guilherme estendeu um jornal
para a promotora.

Lívia abriu e deu uma olhada, a reportagem elogiava a


atuação dela no caso e falava sobre justiça e
inconsequências.

- Esse caso mexeu comigo, sabia? Fiquei penalizada


com a família do garoto que morreu. – Lívia olhava a
foto dele. – Quis ajudar mais, mas não posso me
meter, seria antiético.
- Você já fez muito, a sua acusação serviu de base para
os advogados da família dele, agora o juiz dá ganho de
causa com certeza. – Beatriz falou.
- Leu toda a reportagem? – Guilherme perguntou.
- Estou lendo ainda.
- É ta falando também que estão querendo te colocar
no caso daquele mafioso. Porque você e a tal juíza já
trabalharam em outros processos.
- Ih, não quero não. – Lívia fechou o cenho. – Quero
distância de Camila!
- Eu acho que esse processo vai dar encrenca, mexer
com essa gente não é brincadeira.
- Por que está falando isso Bia?
- Mafiosos são perigosos e vingativos, fique distante
deles.
- Vou falar com alguns conhecidos para me tirarem
dessa se caso realmente forem me chamar, vou alegar
excesso de trabalho, pedir afastamento, qualquer coisa.

Lívia ficou preocupada com aquela notícia, não queria


de jeito nenhum se envolver com Camila e muito
menos naquele caso, imaginou que poderia não acabar
bem.

O dia foi muito corrido e Marina mal teve tempo de


comer. Pouco antes de ir ao médico ligou para Lívia
avisando que se atrasaria por conta do ensaio da
orquestra.

- Posso ir? – a morena perguntou.


- Claro, nos encontramos lá na escola.

Na clínica que Renata havia marcado, Marina esperava


ao mesmo tempo em que olhava seus compromissos.
Não demorou a ser atendida, a médica era muito
simpática, seu no nome era Ângela.

- Boa noite Marina, como vai?


- Bem, prazer em conhecê-la.
- Você não é daqui, sim?
- Não, sou do interior de São Paulo, já morei no Rio há
alguns anos para estudar, depois voltei para São Paulo
a trabalho e agora vim de vez para cá.
- Está fazendo sua revisão anual?
- Sim, é bom né?
- Isso aí, toda mulher deveria ter a consciência de fazer
o preventivo todo ano. Vamos, pode tirar a roupa
naquela salinha e vestir o roupão com o lado aberto
para frente.

Marina fez o que a médica pediu e depois fez os


procedimentos necessários, examinou o útero, seios,
barriga.

- Está sentindo alguma coisa? – Ângela perguntou.


- Tenho sentido mais cólica nos últimos meses. Nada
que um remédio não resolva.
- Você tem relações sexuais com frequência?

Marina pensou se dizer a verdade não chocaria a


médica. Ângela parecia ser nova, achou que estava
pensando demais e respondeu logo.

- Sim, sou casada.


- Usa camisinha? – a médica perguntava enquanto a
examinava.
- Ah... não!
- Tem tanta confiança assim no parceiro?
- Parceira, na verdade. – mordeu o lábio inferior.

A médica não fez mais perguntas e continuou com seu


trabalho.
- Pode se vestir Marina.

Após se vestir Marina sentou na cadeira que ficava de


frente a mesa da médica. Ângela fazia umas anotações
no computador.

- Estou bem? – Marina perguntou.


- Sua saúde está em ordem menina, vou pedir uns
exames apenas para conferir e você traz pra mim assim
que ficarem prontos. Vamos fazer uma ultrassom
também por conta dessa cólica que está sentindo. Não
vou perguntar se toma anticoncepcional, porque não é
o caso.
- Algum problema pra você atender uma...
- Problema nenhum Marina. – Ângela se antecipou. –
Sempre atendo meus pacientes de forma homogênea.
Somente os alerto sobre as prevenções das doenças.
- Eu... eu queria saber sobre gravidez. – pareceu ter
vergonha.
- Está querendo engravidar?
- Não agora, mas quem sabe daqui um tempo. Minha
esposa adora criança e já cogitamos a hipótese de ter
um filho.
- Vamos fazer alguns exames mais detalhados então,
vou pedir alguns de sangue para ver sua taxa
hormonal. O ultrassom pode marcar aqui mesmo que
eu faço, se você quiser.
- Tudo bem, acho melhor.

Ângela foi muito profissional e nada comentou sobre o


relacionamento de Marina. Depois de sair com os
pedidos de exame na mão, a loirinha foi até a escola
assistir ao ensaio da orquestra. Lívia ainda não tinha
chegado então ela enviou uma mensagem dizendo que
estava no auditório. A orquestra havia acabado de
começar uma música, a sincronia estava perfeita. Havia
uma pequena platéia. Eram alunos da faculdade
estavam tendo aula e aproveitaram uma folga pra
assistir. Marconi chegou com Vera e foram vistos por
Marina que veio se aproximando.

- Olá! – sorriu para eles.


- Aí a menina sumida! Eu disse a Vera que hoje você
estaria aqui. – Marconi a cumprimentou lhe dando um
abraço.
- Oi gente, boa noite! Como vão?
- Com saudade da nossa aluna. – Vera sorriu e a
abraçou também.
- Perdoem, minha vida anda tão corrida que não tenho
outra desculpa a dar, a não ser a falta de tempo
mesmo.
- Nós te perdoamos. – Marconi brincou. – Adorei esse
projeto! Quando Ana me contou fiquei muito
empolgado e ainda mais por saber que estava
envolvida. Ela tem ensaiado com a orquestra desde a
semana passada, está muito bom.
- Obrigada, nos esforçamos muito para dar às músicas
um toque moderno e erudito, queríamos misturar a
música popular com instrumentos clássicos, deu certo.
- Não é novidade pra mim que esteja perfeito. – Vera a
olhou. – Vindo de você é certeza de um bom trabalho.
- Olha a rasgação de seda. – Marconi brincava.

Sentaram-se na segunda fila, pois a visão era melhor


do que na primeira. Entre uma música e outra os três
conversavam analisando as canções tocadas. Um
tempo depois Eduardo chegou acompanhado de Lívia e
Renata. A morena viu que Marina estava sentada entre
Vera e Marconi, mas não fez cara feia. Todos se
cumprimentaram e Marina se levantou para sentar ao
lado da esposa.

- Ei meu amor. – puxou a morena pela mão e foi para a


terceira fileira, sentando atrás dos demais. – Senta aqui
comigo. Como foi o dia?
- De cão, mas sobrevivi.
- Lá no estúdio o dia foi cheio também.
- E na médica, como foi?
- Bem, ela me pediu uns exames de rotina e marcou
uma ultrassom. Farei essa semana ainda.
- Alguma coisa de diferente?
- Não amor, só rotina mesmo, depois conversamos. O
que está achando da orquestra?
- Muito lindo! Nunca vi uma orquestra tocar música
popular, ficou ótimo. Também uma das responsáveis
por isso é a melhor musicista desse país. – abraçou
Marina.
- Ah para, Ana também fez um excelente trabalho. Está
quase acabando aqui, já vamos daqui a pouco ok?
- Sem pressa linda, estou à disposição.

Vera não pode deixar de escutar a conversa delas e


percebeu que eram novamente um casal. Marconi
também ouviu e ficou satisfeito em ver Marina feliz de
novo. Quando a orquestra acabou eles se levantaram.
O professor aproveitou para falar com a loirinha.

- Sabia que esse sorriso iluminado tinha nome. –


brincou com ela.
- Tem sim. – por um momento Marina ficou tímida. –
Estou muito feliz Marconi.
- Sabe que lhe desejo tudo de melhor nessa vida, não
sabe?
- Agradeço sempre por torcer por mim.
- Você merece.

Ainda conversaram com Ana e alguns alunos da


orquestra e depois foram embora. Na saída um aluno
perguntou ao outro apontando para Marina.

- Aquela ali que é a Marina?


- Sim, ela quem fez os arranjos junto com a regente.
- Muito gata!
Outro aluno que tinha escutado o comentário chegou
por trás e falou.

- E a morena alta que está ao lado dela é a namorada.


– sorriu.
- Como sabe?
- Todo mundo comenta isso.
- Meninos, andem vamos terminar de guardar os
instrumentos que está tarde. – Ana chamou a atenção
deles.

Em casa Marina já tinha tomado banho, estava


passando hidratante no corpo quando Lívia saiu do
banheiro.

- Amor, lavou o cabelo essa hora? Vai dormir com ele


molhado.
- Não vai não, ta calor. Como foi lá na médica?
- Ah sim, ela me pediu uns exames de sangue e vou
fazer ultrassom essa semana ainda.
- Ultrassom? Pra que?
- Eu comentei com ela a possibilidade de engravidar,
não pra agora. Aí ela disse que seria uma boa fazer
mais exames pra saber se estou preparada.

Lívia se animou com a novidade.

- Engravidar? Sério linda? – foi abraçá-la.


- Eu disse que pra agora não. – falou achando graça da
morena.
- Tudo bem, mas eu já me empolguei. Você disse à
médica que é casada com uma mulher?
- Claro.
- E ela?
- Não falou nada e nem podia. – virou-se para
continuar passando o hidratante. – Eu gostei dela, é
atenciosa.
- É bonita? – perguntou desconfiada.
- Não tanto quanto você. – Marina a olhou sorrindo.
- Touchê! – Lívia piscou pra ela.

Durante a semana Marina fez os exames que a médica


pediu e na sexta-feira voltou para fazer a ultrassom.
Ângela a examinava olhando diretamente para a tela.

- Marina, você disse que sente cólica quando menstrua.


- Sim.
- É somente nesse período?
- Que eu me lembre sim.
- Sua menstruação tem vindo regularmente e o fluxo
está sempre igual?
- O fluxo aumentou de uns tempos pra cá, mas ela tem
vindo certa todo mês.
- Sente dor quando tem relações sexuais?
- Não.
- Você tem relação com penetração? – perguntou ainda
olhando para a tela onde mostrava o útero e o ovário.
- Às vezes.
- Estou te fazendo essas perguntas, pois tem uma
pequena mancha no seu útero, não posso precisar o
que é, somente com outro exame mais detalhado. Tem
algum histórico de câncer na família?

A pergunta assustou Marina.

- Acho que não, pelo menos nunca soube.


- Não precisa ficar assustada, vou pedir outro exame
que você pode fazer agora se tiver tempo.
- Claro.
- É aqui na clínica mesmo. Pode se vestir que eu a
acompanho.
As duas foram para outra sala e Marina fez o tal
exame. Já dentro da sala e com o resultado Ângela
pode conversar com ela melhor.

- Marina, você tem um pequeno cisto no útero, mas


nada preocupante. É comum que cistos apareçam em
determinada idade da mulher quando ela não teve
filhos. Perguntei sobre seu histórico familiar, pois isso
pode se reincidir. Podemos tirar o cisto, mas ele pode
voltar e neste caso é mais preocupante.
- Se eu tirar e ele voltar?
- O melhor seria retirar o útero. – Ângela foi logo
direta.

Marina apertou os lábios ficando nervosa.

- A cirurgia para a retirada desse cisto é muito simples


e você sai do hospital no mesmo dia.
- Isso pode me prejudicar se eu quiser ter filhos? –
perguntou apreensiva.
- De maneira nenhuma, a menos que se reincida. Aí no
caso o melhor seria engravidar e depois fazer a
histerectomia. Depois que fizer a cirurgia nós vamos
acompanhar periodicamente para ver os resultados. –
percebendo a feição preocupada da loirinha, Ângela
tentou acalmá-la. – Calma, não precisa ficar assim,
converse com sua parceira sobre a cirurgia, garanto
que é muito simples e você não sentirá nada, nem vai
tirá-la da sua rotina.
- Vou conversar com Lívia. Posso marcar essa cirurgia
para quando?
- Sexta-feira que vem se você quiser.

Marina saiu da clínica e foi direto pra casa, esperou


Lívia chegar para falar com ela. Tomou banho e a
aguardou na sala, assistia TV quando ela abriu a porta.

- Ei, já chegou? Achei que viria primeiro que você. –


beijou e a olhou com mais atenção. – Que carinha é
essa?
- Precisamos conversar... – Marina abaixou o olhar.
- Que foi amor? – Lívia sentou-se na mesinha de centro
ficando de frente para ela.
- Fui à médica e fiz o ultrassom. Ela viu uma pequena
mancha no meu útero. Achou melhor que fizesse mais
exames e fiz na hora mesmo, estou com um cisto no
útero. Não é nada grave, já marquei uma cirurgia para
retirá-lo.
- Quando?
- Na sexta-feira que vem. A questão é que ele pode
voltar, ela disse que é comum em algumas mulheres
que ainda não tiveram filhos e que possivelmente
tiveram casos de câncer na família. Se ele voltar, para
que não fique mais grave ela acha melhor que eu faça
uma histerectomia.

Lívia a olhava com toda a atenção segurando suas


mãos.

- Amor, será que não poderei ter filhos? – Marina


perguntou com os olhos cheios de lágrimas.
- Ô linda, claro que pode. O que mais a médica disse?
- Ela falou que se o cisto voltar o ideal é engravidar e
depois retirar o útero.

Lívia olhou para os lados tentando ter calma e não


preocupar ainda mais a esposa.

- Vamos ter calma, certo? – beijou seus lábios. –


Primeiro a cirurgia, depois nós vamos acompanhar o
pós-operatório. – beijou a de novo. – Se o cisto voltar,
a gente pensa no que fazer.

Marina abaixou a cabeça.

- Olhe pra mim querida. – segurou seu queixo. – Se


não puder ter filhos, adotamos ou eu terei. Não sei se
seria uma mãe muito jeitosa, mas não se preocupe com
isso que vai dar tudo certo. E essa cirurgia como é?
- Não é demorada e eu saio no mesmo dia da clínica.
- Eu vou com você. – a abraçou. – Não tenha medo
meu amor e nem fique preocupada. Isso é coisa à toa,
a médica mesmo falou.
- Espero que sim.

A semana passou voando, Lívia teve de ir a São Paulo,


mas foi e voltou no mesmo dia. Marina ficou às voltas
com o ensaio da orquestra e algumas reuniões no
estúdio. Quando perceberam já era quinta-feira e o dia
estava corrido, pois ambas não trabalhariam na sexta
por conta da cirurgia. Renata remarcou os
compromissos de Marina e tentou adiantar o que podia.

- Rê, depois das seis não marque mais nada, porque


vou assistir o ensaio da orquestra de novo.
- Sim senhora. Amanhã eu vou visitá-la em casa viu?
- Ta bom. – Marina sorriu sem graça.
- Não faz essa carinha. Vai dar tudo certo amiga.

No ensaio da orquestra os alunos estavam agitados


com a presença dela, sabiam que ela estava ali para
rever algumas músicas e mudar os arranjos. Marina
esperava eles tocarem e depois fazia as modificações
junto com Ana.

- Gostaria que os violinos fizessem isso aqui. – tocou no


piano o que queria. – Já fica a deixa para o trompete.

Os violinistas repetiram o que ela havia tocado e no fim


acertaram a parte que estava estranha. O tempo
passou que ela nem percebeu. Lívia chegou carregando
uma sacola e a chamou. Marina desceu do palco para
recebê-la.
- Aposto que não comeu.
- É, eu fiquei meio enrolada aqui. – Marina tentou
justificar.
- Precisa comer amor, senão não faz o jejum direito.
Trouxe um lanche, senta aqui e coma.
- Na verdade não estou com muita fome. – fez uma
careta.
- Mas vai comer, anda, senta aqui que eu divido com
você.

Lívia ia tirando pedaço por pedaço e dando a Marina.


Tomaram o suco dividindo uma com a outra.

- Pronto, agora está alimentada. – a morena sorriu.


- Já estou acabando aqui, você me espera?
- Claro.

Lívia a observava conversando com os músicos e ficava


admirada com o jeito delicado. Marina era meiga,
simpática, sabia tratar bem as pessoas e isso era nato
nela. Não fazia o mínimo esforço para ser agradável.
Conseguia olhares de cobiça, mas não retribuía nenhum
deles. Inclusive os de Ana que Lívia percebeu.

Em casa, deitadas já pra dormir, Lívia fez um


comentário que tirou Marina de seus pensamentos.

- Essa Ana poderia ser ao menos mais discreta ao olhar


pra você. A orquestra inteira sabe que ela gosta de
você.
Marina achou graça.
- Você ficou reparando nela?
- Não tem como não reparar, está na cara. Sabe que eu
aprendi a controlar meu ciúme? Porque se isso fosse há
uns anos eu teria ido tirar satisfação com ela.

Marina levantou, se sentando na cama e olhou com


seriedade.
- Não precisa disso, não dou motivo para ter ciúme.
- Sei disso, por isso me controlo. Ter mulher bonita dá
nisso, a gente tem que marcar território, caso contrário
chega um folgado ou folgada e dá em cima.
- Me acha tão bonita assim? – Marina pareceu receosa.
- Linda como um anjo, uma beleza diferente e rara, que
mistura traços delicados em uma personalidade forte,
um jeito meigo em uma mulher decidida. Você pra mim
é um contraste que deu certo. – sorriu e a beijou.

Marina sorriu, mas com os olhos cheios de lágrimas.

- Não chore meu amor. Por que isso agora? – encheu


Marina de beijos. – Hum?
- Estou pensando em como estaria vivendo se você não
tivesse aparecido na minha vida de novo.
- Bom, você eu não sei, mas eu estaria jogada às
traças. – brincou.
- Que nada, teria muitas mulheres ao seu lado que eu
sei. – Marina beliscou a barriga da morena.
- Um dia eu ia me cansar daquela vida. – olhou para
ela. – Eu é que não sei mais como é uma vida sem
você.

Beijaram-se longamente. Depois dormiram, acordariam


muito cedo no dia seguinte.

Deram entrada na clínica no horário marcado. Lívia


conheceu Ângela e as duas puderam conversar melhor
enquanto Marina era preparada na sala de cirurgia.

- Prazer, sou Lívia, esposa de Marina.


- Bom dia Lívia, meu nome é Ângela. – a médica
explicou o procedimento e tranquilizou a promotora. –
Marina ficará aqui até a tarde em observação, correndo
tudo bem ela pode ir pra casa. A cirurgia é a laser e por
isso muito rápida.
- Ela terá que tomar alguma medicação?
- Sim, já vou lhe prescrever e se quiser adiantar pode
comprar de uma vez. Marina vai precisar de repouso e
nada de comidas condimentadas, vou passar uma dieta
para segui-la por uma semana.

Ângela escreveu tudo e entregou a Lívia.

- Quer assistir a cirurgia?


- Posso?
- Claro.

Entraram na sala de cirurgia e Marina já estava


deitada. Reconheceu Lívia pelos olhos, pois a morena
usava touca, jaleco e uma máscara no rosto.

- Ei, me disfarcei de médica, burlei a segurança e vim


ficar com você.
- Você fica bem de médica. – Marina sorriu.
- Melhor que de promotora? – levantou uma
sobrancelha.
- Não, de promotora você é inigualável.

Ângela se aproximou e conversou um pouco com


Marina enquanto outro médico lhe aplicava a anestesia
pelo soro, em poucos segundos ela adormeceu.

- Lívia, pode se sentar ali que já vamos começar.

Como previsto a cirurgia foi rápida e em menos de duas


horas Marina já estava na sala de recuperação apenas
aguardando que seu quarto ficasse pronto.

- Ela vai acordar que horas? – Lívia perguntou à


enfermeira.
- Eu acredito que em uma hora, uma hora e meia.
Então a morena aproveitou para buscar os remédios.
Passou num mercado próximo, comprou frutas e tudo
que a dieta de Marina permitia, ainda teve tempo de
comprar um presente. Assim que chegou ao hospital a
loirinha estava a caminho do quarto, mas ainda dormia.

- Ela acabou de entrar. – disse a enfermeira. – Dra.


Ângela deve vir daqui a pouco para conversar com
você.

A enfermeira saiu e Lívia deixou o presente na mesa ao


lado da cama. Sentou numa cadeira, ficou esperando
Marina acordar. Segurou a mão dela e observou seus
traços delicados. Pouco tempo depois ela acordou e viu
um par de olhos azuis.

- Oi. – Lívia abriu um sorriso para ela. – Como está se


sentindo querida?
- Com sono. – a voz de Marina era dengosa.
- É a anestesia. – beijou-lhe os lábios. – Trouxe um
presente. – sorriu. – Não queria trazer flores e
chocolates porque você não pode comer, então trouxe
isso aqui. – mostrou um pequeno ursinho vestido de
médico. – Na minha ausência ele cuida de você. –
beijou-a de novo.
- Obrigada. – Marina sorriu, mas estava sonolenta
ainda.
- Não se mexa muito e procure repousar. Eu fico aqui
velando seu sono.
- Na verdade estou com fome.

Lívia soltou uma gargalhada.

- Eu sabia, não ia demorar muito para reclamar de


comida. – riu.
- Não como desde ontem amor. – Marina reclamou.
- Já, já eles trazem algo para você comer.
Estavam se beijando quando Ângela bateu na porta e
entrou no quarto.

- Bom dia! Já acordou Marina?


- E com fome. – Lívia riu. – Acabou de reclamar aqui.
- Se está com fome é porque está se sentindo bem. –
sorriu. – Vim saber se está sentindo alguma coisa, dor,
tontura...
- Não, só sono... e fome. – olhou para Lívia.

Enquanto a examinava Ângela ia falando sobre a


cirurgia.

- Correu tudo bem, nós retiramos o cisto e fizemos uma


biópsia, o resultado sai à tarde. Se você não sentir
nada até o resultado, estará liberada para ir pra casa. A
enfermeira vem daqui a pouco para lhe dar uma
medicação e logo em seguida você vai almoçar. Pode
escolher de uma vez o que quer comer, deve ter
algumas opções no cardápio.

Marina olhou para Lívia e achou engraçado ter cardápio


num hospital. Ângela pediu licença e se deixou a
disposição caso precisassem de algo.

- Cardápio! Que coisa chique! – Lívia brincou.


- Então escolhe aí o que eu vou comer. – Marina logo
se empolgou.

A enfermeira veio para lhe dar a medicação e logo


depois ela almoçou. Lívia passou o dia com ela no
hospital, a ajudou a ir ao banheiro quando precisou,
trocou sua roupa e ficaram apenas aguardando Ângela
retornar com o resultado da biópsia. Por volta das cinco
da tarde ela veio e avisou que estava tudo certo.

- Está de alta Marina, procure repousar em casa e na


semana que vem eu a vejo no consultório. Nada de
subir escada correndo, siga a dieta e beba bastante
líquido. Ao menor sinal de dor ou alguma alteração no
corpo você me liga. – Ângela lhe estendeu um cartão
com os telefones.
- Nossa, já estou indo ao banheiro toda hora, se beber
mais líquido será melhor dormir de fralda.
- Está indo assim ao banheiro por conta do remédio,
até amanhã já melhorou.

Enquanto Marina foi ao banheiro, Lívia aproveitou para


falar com a médica.

- Está tudo bem mesmo?


- Sim, pode ficar tranquila Lívia. O que aconteceu com
Marina é muito comum, por isso é importante fazer o
preventivo todo ano, ele previne de muitas coisas.
- Verdade. Vou acompanhá-la na próxima consulta.
- Ela ficará em observação e fará exames periódicos
durante a margem de risco, pois como expliquei o cisto
pode voltar. Passado esse tempo é vida normal de
novo. – sorriu.
- Obrigada doutora, pode deixar que cuido dela agora.
- Sei disso, qualquer coisa me ligue.

Marina voltou e as duas foram andando devagar


acompanhadas de Ângela que as levou até a saída.
Chegando em casa Lívia pediu ajuda ao porteiro para
levar as compras e foi com Marina no colo, que estava
morrendo de vergonha.

- Quer parar com isso? Eu consigo ir sozinha.


- A médica disse que você não pode fazer esforço.
- Tudo bem, mas subir de elevador não é esforço
nenhum. – resmungou.

O porteiro as olhava achando graça do comportamento


das duas, provavelmente não percebeu que eram um
casal. Lívia levou Marina para o quarto e a deitou na
cama, guardou as compras e voltou para ficar com ela.

- Preciso de um banho. – foi falando e se levantando.


- Calma, eu preparo a banheira pra você. – tentou
impedi-la.
- Não amor, eu vou tomar no chuveiro mesmo, só pra
tirar esse cheiro de hospital.

Lívia se aproximou para pegá-la, mas Marina não


deixou.

- Amor, calma. Eu consigo ir sozinha, não estou


sentindo nada. Só um pouco de sono, mas estou bem.
- Eu quero cuidar de você. – falou meio chateada.
- Mas está cuidando meu anjo, só não precisa se
preocupar tanto. – Marina viu que a morena ainda
estava aborrecida e falou com delicadeza. – Eu adoro
quando se preocupa comigo, mas não precisa se
exceder, estou bem. – beijou-a. – Quer tomar banho
comigo? Assim você me ajuda a lavar as costas. –
sorriu.
- Ta bom. – Lívia sorriu também.

Tomaram um banho demorado e depois Marina se


deitou. Vestiu um pijaminha leve e ligou a TV.

- Quer comer alguma coisa?


- O que eu posso comer?
- Quase tudo, só deve evitar frituras, chocolates e
peixe. Vou preparar um lanche pra você, volto
rapidinho.

Lívia preparou uma salada de fruta e levou suco e


alguns pães. Marina comeu tudo e depois quis dormir,
acabaram dormindo juntas. Acordaram com o telefone
tocando, Lívia quem atendeu.
- Lívia, liguei para o escritório e me disseram que você
não foi trabalhar porque tinha ido levar Marina ao
Hospital. Posso saber por quê? – era Marta indignada.
- Oi mãe. – a voz era de sono. – Marina teve que fazer
uma pequena cirurgia. – explicou tudo com detalhes e
acalmou a mãe.
- Ela está bem?
- Sim, está dormindo.
- Quer que eu vá praí?
- Se a senhora se sentir mais tranquila, tudo bem. Mas
não é o caso, ela está bem e a cirurgia foi muito
simples, nada com o que se preocupar.
- Então tudo bem, qualquer coisa você me liga. Não me
deixe sem notícias, ora bolas!
- Pode deixar mãe, estamos bem. Me desculpe não ligar
antes, eu ia ligar depois, mas a senhora se adiantou.

Lívia desligou sob o olhar atento de Marina.

- Acordou lindinha?
- Era Marta e nós nem avisamos nada a ela, que coisa
feia. – fez uma careta.
- É, ela ficou brava. – Lívia riu. – Mas expliquei que
está tudo bem. Disse que se precisarmos é só ligar que
ela vem correndo.
- Deixa ela quietinha lá, não vamos tirá-la da casa dela
pra isso.
- Quer ligar e avisar sua mãe? – a morena perguntou
delicadamente.
- Não, desde que voltei ninguém me ligou, se eles não
se preocupam comigo, não vou me preocupar em dar
notícias também. – falou um pouco chateada.
- Tudo bem amor, você quem sabe. – beijou-a. – Daqui
a pouco tem um remédio pra você tomar. – Lívia olhou
no relógio.

Marina sorriu com malícia.


- Quer dizer que agora além de advogada, você
também é minha enfermeira.
- Entre outras coisas também. – Lívia despistou. –
Posso ser o que você quiser. – mordeu o lábio inferior
da loirinha.
- Hum... isso é bom. – Marina se remexeu até ficar
quase em cima de Lívia. – Estou tento pensamentos
safados. – mordeu o queixo de Lívia.
- Então guarde-os, porque a mocinha aí está de
repouso.
- Não amor, eu não posso fazer esforço. – fez bico.
- Ah sim, e o seu pensamento safado não inclui
nenhum tipo de esforço?
- Não. – deu um sorriso sem vergonha.
- Amor, vamos esperar, você operou hoje e a médica
pediu repouso. – Lívia falava e sentia as mãos de
Marina percorrendo seu corpo. – Meu anjo... não faça
isso...

Marina enfiou a mão por baixo da blusa de Lívia e


encontrou um seio, apertou o biquinho bem de leve
enquanto beijava aqueles lábios carnudos que tanto
gostava. Lívia girou o corpo devagar, ficando por cima
dela, mas sem fazer peso em seu corpo.

- Marina, pare! Não quero voltar com você pro hospital


no final de semana. Eu prometi a médica que cuidaria
bem de você e vou fazer.
- Amor, não tem problema, eu perguntei a ela.
- O que? Você perguntou a médica se podia... Marina!?
– olhou surpresa para ela, que ria da situação. – Você
está mentindo.
- Ta bom, não perguntei, mas não tem problema. Eu
sei que não.
- Que tal esperarmos um dia pelo menos? – beijou sua
boca. – Não custa nada.
- Custa, porque eu estou com vontade de você... Pro
meu corpo melhorar ele precisa dos seus beijos, suas
mordidas, seus carinhos... – falava ao mesmo tempo
em que a beijava.
- Hoje não! – Lívia se levantou rapidamente. – E não
me tente!

Marina fez um bico gigante e se encolheu na cama.


Lívia pegou o remédio e um copo com água lhe
entregando.

- Tome, o outro agora é só amanhã de manhã.

Marina nada falou, ainda ficando emburrada. Lívia foi


ao banheiro e quando voltou a loirinha estava
recostada na cabeceira da cama com um travesseiro na
barriga, não falou nada, mas os olhos denunciavam
dor.

- Que foi amor?


- Acho que virar aquela hora em cima de você não foi
uma boa idéia. – apertou a barriga.

Lívia sentou ao lado dela na cama com a bula do


remédio na mão.

- Pelo que estou lendo esse medicamento é para dor,


você está sentindo agora porque o efeito deve ter
acabado, mas daqui a pouco começa a fazer de novo.
Quer que eu ligue pra médica? – segurou a mão dela.
- Não, vamos esperar pra ver se passa.
- Estava pensando em ver um filme, que acha?
- De terror não hein? – Marina fez bico.
- Claro que não amor, um romântico então.

Lívia ligou a TV e colocou o filme, se recostou na cama


e colocou Marina entre as pernas, apoiando as costas
dela em seu colo, circulou os braços em sua cintura e
ficou massageando o ventre dela bem de leve.
- Quando era criança minha mãe dizia que a dor
passava quando a gente esfregava assim. – sorriu.
- A minha também, sendo verdade ou não, carinho de
quem a gente ama sempre é bom. – virou o rosto e
beijou Lívia nos lábios.

No sábado de manhã Renata e Eduardo apareceram


para uma visita. Lívia abriu a porta e pediu que
subissem, Marina estava no banho.

- Como ela ta? – Renata perguntou.


- Bem, passou a noite bem, sentiu um pouco de dor à
noite, mas passou logo que tomou remédio.
Sinceramente acho até bom que fique sensível, pois
assim ela sossega. Hoje já acordou falando que queria
gravar num sei o que no estúdio aqui.
- Pelo menos é em casa né, podia ser no outro.
- Ela não sai de casa ate irmos à médica, a cirurgia foi
tranquila, mas o pós-operatório é muito importante.

Marina saiu do banho e os cumprimentou.

- Bom dia!
- Ei menina, to sabendo que já está fazendo arte. –
Eduardo brincou.
- Que nada, sou muito comportada. – sorriu. – Amor,
não ta na hora do remédio?
- Ta aqui linda. – lhe deu o copo com o comprimido.
- Hum... tratamento de primeira. Essa enfermeira está
custando caro? – Renata brincou com as duas.
- Não, pra ela meus serviços são gratuitos. – Lívia
abraçou Marina.
- Ela ta cuidando de mim. – a loirinha sorriu e beijou o
rosto da esposa.
- Agora que ela fica mais dengosa. – Renata arreliou
Marina que deu a língua pra ela.
Renata e Eduardo foram embora somente à noite,
almoçaram com elas e passaram a tarde conversando.
E o final de semana foi tranquilo para as duas. Na
segunda-feira, depois de muito insistir, Marina foi
trabalhar, mas sob protesto de Lívia. Prometeu se
cuidar e não fazer nenhum esforço. Passou o dia em
sua sala cuidando apenas de compromissos
burocráticos, quando o corpo sentiu por estar bastante
tempo sentado, ela foi embora para casa.

Era uma quarta-feira, Marina saía do banho quando


percebeu que sangrava, passou a toalha para se limpar
e viu que tinha bastante sangue.

- Lívia! – gritou do banheiro.

A morena estava no quarto arrumando a cama e correu


para ver o que era.

- Que foi amor?


- Estou sangrando. – mostrou a toalha. – Começou
agora eu acho.
- Vou ligar pra médica. – correu para o telefone.

Ângela falou que era normal o sangramento e que era


pra aguardar que em dois dias diminuiria. Como Marina
teria consulta na próxima sexta, se até lá não
diminuísse ela faria novo ultrassom.

- Vamos deitar linda, repouso vai ajudar. – Lívia


preparou a cama e Marina deitou parecendo
preocupada. – A doutora disse que não é nada demais
viu, falou até que já deveria ter sangrado. Até sexta já
passou. – segurou uma das mãos da loirinha.
- Posso dormir no seu colo? – Marina falou com dengo.
- Não precisava nem perguntar.

Lívia a abraçou e ela dormiu logo em seguida.

Sexta-feira chegou e a consulta foi logo pela manhã. O


sangramento de Marina havia diminuído bem e Ângela
ainda assim fez o ultrassom.

- Está tudo normal Marina. Esse sangramento acontece


mesmo e não tem com o que se preocupar. Seus
exames de sangue também estão ótimos.
- Graças a Deus! – Marina falou aliviada.
- Ela é muito teimosa, não fica quieta. Acredita que já
está trabalhando? – Lívia dedurou. – E se deixar ela
anda pra lá e pra cá.
- Deixa de ser dedo duro! – Marina resmungou.
- Ângela tem que saber o que você anda aprontando.

A médica ria da conversa das duas.

- Calma meninas, Marina me parece mesmo agitada,


mas tem que se cuidar. O repouso é o principal remédio
nessas horas. E Lívia, não exagere, deixe ela trabalhar
um pouco, senão bem capaz de se sentir abatida. –
pegou um receituário e entregou a Marina. – Mude o
remédio para este agora. Não tem sentido dor, porque
você não reclamou.
- Sim, eu não sinto mais nada.
- Então pode trocar o remédio e se sentir dor, tome do
outro, só se sentir dor.
- Tudo bem.
- Vida normal agora Marina, vejo vocês daqui duas
semanas. Vamos espaçando a consulta e acompanhar,
mas tudo indica que está tudo bem.
Marina e Lívia saíram felizes do consultório. Depois
foram para o trabalho e só se encontraram à noite no
auditório da escola, onde a loirinha acompanharia o
ensaio da orquestra. Estava quase indo embora quando
Lívia apareceu.

- Achei que não vinha mais. – Marina a beijou


rapidamente.
- Me atrasei no escritório e ainda peguei um trânsito
danado.

Na realidade Lívia tinha atrasado porque estava ao


telefone tentando ser substituída por outro promotor no
caso em que Camila era a juíza. Em hipótese alguma
queria vê-la de novo e muito menos trabalhar no caso
que envolvia mafiosos. Não quis contar a Marina por
enquanto, por isso inventou uma desculpa.

- Já estou de saída, só vou marcar com Ana o próximo


ensaio.

Marina marcou para dali a dois dias e foram embora


cada uma no seu carro. Entrando no apartamento é que
ela percebeu que Lívia estava tensa.

- Aconteceu alguma coisa que você não me contou?


- Não amor, está tudo bem.
- Você está com uma cara de preocupada.
- São os compromissos no escritório, muita coisa pra
fazer. – passou a mão nos cabelos.
- Eu tenho te dado muito trabalho não é?
- Desde quando cuidar de você é um trabalho? –
abraçou Marina pela cintura. – Passou o dia bem? –
beijou sua testa.
- Passei, já me sinto recuperada. – começou a enfiar as
mãos por dentro da blusa de Lívia.
- Sei... e pelo visto bem assanhada.
- A médica disse vida normal, você não ouviu? –
mordeu o queixo da morena e passou a língua em seu
pescoço.
- Menina, não faça isso. Já estou acesa aqui, ainda
mais esses dias que fiquei de castigo. – sentia os beijos
de Marina em seu pescoço e colo.
- Então pode sair do castigo. – Marina falou com voz
sexy enquanto instigava Lívia tocando em pontos
estratégicos.
- Amor, não devíamos esperar mais um pouco? –
tentava não tocá-la.
- Não... – pegou a mão da morena e colocou dentro de
sua calça, estava molhada. – Quero que você me
possua agora. – a voz saiu decisiva.

Lívia não perdeu tempo, arrancou sua roupa e a de


Marina e em poucos segundos estavam no sofá fazendo
amor. Tentava ser delicada, achava que poderia
machucar Marina, mas ela não dava trégua e a queria
com desejo e ansiedade. Gozaram várias vezes e
variando posições até se cansarem e subir para tomar
banho. Deitadas na cama, Marina sobre o corpo de
Lívia acariciando sua barriga, falou calmamente.

- Agora vai me contar o que está te deixando tensa?

Lívia enrijeceu o corpo na mesma hora.

- Se não quiser falar agora, tudo bem, mas não minta


pra mim. – olhou para ela e depois deitou a cabeça em
seu colo.
- Ta bom, não vou falar tudo, pois não quero que fique
preocupada, fui chamada para uma audiência da qual
estou tentando me livrar. E se Deus quiser vou
conseguir, por isso ainda não lhe contei.
- E por que não quer trabalhar nesse caso?
- Camila será a juíza. – Lívia omitiu a outra informação.

Marina a olhou novamente e sorriu.


- Amor, não pode fugir daquela criatura. Eu confio em
você, sei que não vai acontecer nada.
- Mas não quero e lhe explico depois o motivo.
- Tudo bem.

Marina se sentou na púbis de Lívia e recomeçou as


carícias com um sorriso sem vergonha nos lábios.

- Acho que essa médica lhe deu uma injeção de


hormônio durante a cirurgia. – a morena riu. – Até
pouco tempo a safada aqui era eu.
- De repente eu aprendi com você... – abaixou o corpo
e mordeu o ombro dela, depois o pescoço. – Ou então
você se enjoou de mim... e não me quer mais... – fez
beicinho.

Lívia se levantou ficando de frente para ela.

- Nunca! – suas bocas se juntaram num beijo ardente.


– Vou lhe mostrar que a quero como no primeiro dia
em que a vi.

As semanas passaram e Marina se recuperou


totalmente. Voltou a trabalhar em ritmo normal e se
envolveu mais com o ensaio da orquestra, pois a
primeira apresentação seria em poucos dias. Felipe
cumpriu o combinado e vez ou outra ia ao Rio
acompanhar o trabalho com Marina. Ela também ia a
São Paulo, mas ficava somente poucos dias e não quis
mais visitar seus pais em Jaú. Barbara mandava e-
mails com fotos de Luisa, já que a família de Marina
também não dava notícias. Como sempre, ela
depositava dinheiro na conta da sobrinha para as
despesas que pudesse precisar, conta essa que ficava
sob a responsabilidade de Barbara e da própria Marina.
Lívia teve de viajar algumas vezes, mas sempre por
pouco tempo. Estava vindo de Curitiba quando seu
telefone tocou, era Beatriz do escritório falando sobre a
audiência.

- Estou chegando aí, me dá uns minutos. – desligou o


telefone.

Assim que entrou chamou ela e Guilherme para sua


sala e pediu para não serem incomodados.

- Lívia, você foi escalada.


- Não pode ser Bia, eu pedi, justifiquei, agora só se eu
tiver uma doença.
- Credo!
- Quem sabe se você alegar viagem ou outro processo?
– Guilherme falou.
- Eles remarcam a data se houverem dois processos no
mesmo dia. Nossa, Marina quando souber vai me
matar. Eu vou me matar! – falou com raiva. – Isso é
coisa de Camila, aposto.
- Fale com ela então, quem sabe você consegue sair
dessa. Eles ainda podem mudar, dizem que os
advogados de defesa abandonaram o caso, eles agora
estão trabalhando com um pessoal da Venezuela.
- Claro, é de lá que vem as drogas que eles compram.
Vou tentar falar com Camila, mas acho que isso será
impossível. Bom, agora preciso ir, vou buscar Marina na
escola de música, já estou atrasada.
- Fique calma, acho sinceramente que você vai escapar
dessa. A gente tem que correr pelas beiradas e achar
uma solução, bater de frente não sei se vai adiantar. –
Beatriz tentou tranquilizar a promotora.
- Deus te ouça!

Lívia chegou ao ensaio quase perto de acabar. Sempre


que viajava trazia alguma coisa para Marina e dessa
vez não foi diferente. A loirinha estava distraída
andando pelo auditório, gostava de ouvir o som de
vários ângulos, nem percebeu quando Lívia se
aproximou e a agarrou.

- Que faz uma mulher linda dessas andando sozinha no


escuro por esse auditório?!
- Amor, que susto! – deu um tapinha nela. – Estou
ouvindo de longe pra ver se o som está limpo, tem
músico errando coisa ainda. – voltou seu olhar para ela.
- Fez boa viagem meu bem? – beijou-a.
- Fiz e estou com saudade de você. – beijou sua boca.
– Muita! – beijou de novo. – Morrendo de saudade! –
deu um beijo mais longo.
- Hum... beijo gostoso! – sorriu.

Lívia tirou da bolsa uma caixinha.

- Presente, acho que vai gostar.


- Amor, pare de me paparicar. – pegou a caixinha. –
Você sempre me traz presente, estou mal acostumada.
- Eu adoro isso. – riu.

Marina abriu a caixinha e viu um pequeno cubo, era um


mini som.

- Que bonitinho!
- Ele tem entrada pra USB, cartão de memória ou ligar
o celular se você quiser. Carrega pelo computador, pela
tomada e a bateria dura até oito horas. Achei sua cara,
pode usar na sua mesa no escritório. Ainda tem esse
lado aqui que você pode colocar uma foto, minha claro.
– riu.
- Linda! – beijou-a. – Claro que a foto será sua.
Obrigada pelo presente. – lhe deu um beijo mais
demorado.

Marina virou ficando de costas para Lívia, se


aconchegando nos braços dela e dali observaram a
orquestra tocando. A loirinha se lembrou de sua
infância.

- Quando ouço essa música lembro-me de quando era


criança e morava no sítio ainda. Meu pai ouvia esse
cantor quase todos os dias.

Lívia nada falou, apenas repousou o queixo na cabeça


dela e a abraçou pela cintura.

- Tenho uma saudade daquela época, mas não de


querer voltar no tempo, mas de lembrar somente e
sorrir. – a voz saiu um pouco triste, não demorou para
seus olhos se encherem de lágrimas.
- Deve ser a mesma época em que eu vivia na favela e
sonhava em ser alguém, ter uma vida estável e uma
família feliz. Sinto saudade da minha avó, ela dizia que
eu seria feliz e teria uma família bonita. Acho que ela já
conhecia você. - beijou o rosto de Marina.

Ela riu gostoso e apertou o braço de Lívia ao seu corpo.


A música parou e Marina foi andando mais pra perto do
palco.

- Gente, me escute! Estão errando o compasso


seguinte ao refrão, não ta bonito de longe! – falava alto
para que a escutassem. – Ana, daí você não ouve
porque o som fica mais forte, venha ouvir de onde
estou.

Ana desceu e acompanhou Marina, realmente se deu


conta da diferença de som.

- Nossa que coisa! – falou contrariada.


- O som de perto ajuda muito, preenche mais e a gente
pensa que está bom. Quem ouvir daqui vai perceber
que tem algo errado.
- Vou descer e falar com eles agora! – Ana desceu
brava e falou com os alunos, pediu a Marina que
andasse entre eles na hora da música para ouvir um
por um. Com um papel na mão a loirinha ia ouvindo
cada músico e anotando algumas coisas. Ao final da
música ela chamou a atenção.
- Meninos é o seguinte, não podem se enganar. Tem
músico indo no embalo do outro ou confiando que o
colega vai fazer o que ele não está fazendo. Se for pra
fazer mímica me falem que eu os substituo por um
gravador, isso é mais simples que ficar perdendo tempo
ensaiando aqui. – Marina falava com tanta autoridade
que impressionou Lívia, a morena apoiou o queixo
colocando o braço na cadeira e sorriu se divertindo com
a cena. – Não dá pra ganhar aplauso e elogio em cima
do mérito de outro, cada um aqui tem que fazer a sua
parte. Por favor, colaborem, eu sei exatamente quem
ta fazendo o que, mas por hora não vou apontar
nomes, acho isso muito feio. Principalmente na idade
que estão. Não são crianças!
- Vamos repassar apenas mais uma vez e depois eu os
libero, com isso amanhã teremos outro ensaio. – Ana
emendou no sermão de Marina.

Recomeçaram e as duas puderam notar uma melhora


na música. Saíram de lá tarde da noite por conta do
imprevisto. No dia seguinte ensaiaram novamente e
dessa vez com uma melhora significativa. Marina e Ana
ficaram satisfeitas e elogiaram os alunos. Combinaram
mais um ensaio final, pouco antes da estréia.

No dia da apresentação Marina acordou cedo para se


organizar, tinha que receber Felipe que ficaria em sua
casa, buscar Marta na rodoviária, repassar o som com
os músicos à tarde e depois ir ao salão cortar o cabelo,
maquiar e se produzir para a noite. A repercussão foi
muito grande e a imprensa estaria em peso no local.
Vários artistas foram convidados e confirmaram
presença. Apesar da função, Marina parecia tranquila.
- Qual o itinerário de hoje? – Lívia perguntou.
- Buscar Felipe e sua mãe, passar o som, ir ao salão e
depois a apresentação.
- Entre uma coisa e outra tem tempo pra um beijo? –
sorriu abraçando-a.
- Muitos deles! – beijou-a.
- Até que está tranquila, achei que ia acordar nervosa.
- Que nada! Já passei dessa fase de me estressar, fiz o
meu melhor, agora é colher os frutos.
- Isso aí! Vamos então?
- Vamos.

Buscaram Felipe, que veio com a família e em seguida


pegaram Marta na rodoviária. Levaram para conhecer o
auditório e depois almoçar. À tarde eles passaram o
som enquanto Lívia ficava com a esposa de Felipe e os
filhos, Marta também a ajudou. No final da tarde
Marina saiu com ele e dali voltaram ao apartamento.
Ela foi com Lívia, Marta e a esposa dele para o salão e
já chegaram em casa produzidas.

- Que mulheres lindas! Estou num harém. – Ele


brincou.
- Estamos em cima da hora, vamos senão atrasamos
tudo.

Ao chegarem ao local fotógrafos se aproximaram.


Renata e Eduardo chegaram logo depois levando Sarah
com eles.

- Eu queria que minha filha tomasse gosto pela música.


- Rê deixa a menina. – Marina falou. – De repente ela
gosta de outra coisa.
- De computador! – revirou os olhos.
- Ué, que tem de mais? Usando da maneira correta,
não há problema.
- Ela gosta de música, mas só de ouvir. Tocar mesmo
nada. – Eduardo comentou. – Eu tento ensinar, mas ela
não leva jeito. – riu.
- Eu gosto de dançar. - Sarah se manifestou.
- Aí, quem sabe não estamos diante da próxima Ana
Botafogo! – Lívia brincou.
- Ahan, botar fogo lá em casa só se for. – Renata riu.

Entraram e se acomodaram. Marina vez ou outra tinha


que se levantar e cumprimentar um professor, um
músico, mas quando a orquestra entrou no palco todos
se sentaram para ouvir. Marconi foi quem apresentou a
regente e os músicos, falou de Marina e do apoio do
estúdio nessa empreitada. Elogiou o projeto e focou
muito no aprendizado do jovem brasileiro e na
importância da música na vida de cada um. Ao final do
discurso foi muito elogiado e aplaudido. A orquestra
começou sob admiração de todos, a cada música que
tocavam eram aplaudidos. Marina estava orgulhosa e
por tabela Lívia também. Quando tocaram o acorde
final da última música todos estavam de pé aplaudindo
empolgados. Ana fez sinal para que Marina e Felipe
subissem ao palco e falou sobre o apoio dos dois.

- Gostaria de agradecer Marina e Felipe que são


responsáveis por essa apresentação maravilhosa. Sem
a ajuda deles nada disso teria acontecido e com certeza
foi por nos apoiar, que as dificuldades foram mais
fáceis de enfrentar.

Marina sorria satisfeita com o resultado do trabalho, de


repente seu sorriso se desfez e ela franziu a testa,
disfarçadamente colocou a mão no canto direito do
ventre. Lívia que não desgrudava os olhos dela
percebeu e comentou com a mãe.

- Marina não está bem.


- De onde tirou isso minha filha?
- Está sentindo alguma coisa, a carinha dela não ta
boa. – ficou inquieta até Marina descer do palco.

Ana falou mais algumas palavras, Felipe e Marina


também, assim que desceram do palco e sentaram
novamente para um bis da orquestra Lívia perguntou.

- Que foi amor, sentiu alguma coisa? Eu vi sua carinha


daqui.
- Uma dor aqui do lado, mas já passou.
- Em casa a gente conversa melhor. – segurou a mão
dela.

A faculdade promoveu um coquetel para os convidados


e os músicos da orquestra. Marina e Felipe paravam a
cada passo que davam para cumprimentar as pessoas.
Ana ficou às voltas com os músicos que estavam
animados.

- Queríamos falar com Marina, será que ela tem um


tempo? – um deles perguntou a regente.
- Claro, vão lá, ela não morde.

Os meninos se aproximaram e chamaram a loirinha, ela


se virou e se deparou com um presente. Era uma
pianista tocando num piano de calda tudo feito em
vidro.

- Marina, queríamos dar a você este presente e


agradecer o apoio que nos deu.
- Obrigada. – sorriu. – Eu tenho que agradecer
também, pois trabalhar com vocês me fez reviver muito
do meu começo, sinto saudades. Vocês foram demais e
estou muito orgulhosa.
- Se não fosse você, não estaríamos aqui hoje.
- Imagina, vocês é que fizeram o mais difícil, eu só dei
o empurrão inicial.
- Que conversa é essa de se não fosse você? – Ana
chegou por trás parecendo indignada. – Ta vendo
Marina? Eu ralo, viro noite preparando partitura pra
esses meninos e é você a homenageada. Não tenho
mais moral mesmo. – sorriu.
- Ciúme não! Também trouxemos presentes. –
entregou a Ana uma estatueta de uma regente também
feita com vidro.
- Ah sim, porque senão eu ia chorar. – fez um drama
fazendo todos rirem.

Marconi apareceu para conversar com todos e veio


brincando com Marina.

- É sempre assim, desde que a conheço ela rouba a


cena. – brincou.
- Ah para, há quem diga que sou chata demais.
- Eles não sabem o que dizem. – riu.
- Marconi, cadê Vera? Ela apareceu em um ensaio, não
a vi mais e pensei que estaria aqui hoje.
- Vera pediu transferência. – falou como se desse uma
notícia difícil.
- O que? Por quê? Ela não me disse nada.
- Sabe que ela discreta, não é? Aquele dia do ensaio ela
já havia conseguido, mas não quis falar nada. Eu só
fiquei sabendo no dia mesmo quando ela comunicou
aos professores.
- Gente, por que ela fez isso?
- Ela está para aposentar daqui alguns anos e queria a
vaga de reitora da universidade de Ouro Preto, por isso
foi pra lá.
- Desejo sorte a ela então, espero que consiga, gosto
muito dela.
- Ela também gosta de você.

Lívia sentiu um ciúme indescritível, mas se controlou o


quanto pode. Lá pela madrugada Marina já se
incomodava com a dor novamente e pediu para ir
embora. Entregou a chave para Felipe e disse que ele
poderia ficar, mas ele resolveu ir também. Despediram-
se de todos e saíram.

Em casa Marina tirou o vestido e deitou apenas de


calcinha e sutiã.

- Então amor, que dor foi essa? Voltou não foi?


- Sim, na hora em que estava no palco doeu como uma
pontada e parou. Agora está como que dolorido, mas é
pouca.
- Vou ligar pra médica.
- Que isso Lívia! Olha a hora!
- Ué, o que tem isso? Ela é médica e tem que atender
quando o paciente precisa.
- Amanhã amor, deixa pra amanhã. – Marina se virou
de lado. – Vamos dormir porque eu to com sono. –
bocejou.

Lívia ficou contrariada, mas cedeu.

- Tudo bem, amanhã cedo a gente liga.

Na primeira hora depois que acordaram Lívia falou com


Ângela. Ela receitou um remédio e pediu que elas
fossem à clínica na segunda-feira cedo. Depois de
tomar o medicamento a dor passou e Marina não sentiu
mais nada durante o final de semana todo. Aproveitou
a presença de Felipe para conversar sobre o estúdio e
os compromissos de final de ano, que já se
aproximavam. Depois ele quis passear pela cidade com
a família e aproveitar o domingo.

Segunda cedinho elas foram à clínica de Ângela e lá


fizeram novo ultrassom. Lívia olhava para o monitor e
não entendia muito, mas percebeu que a médica não
tinha uma cara muito boa.
- E aí? – perguntou ansiosa.
- Calma Lívia. – Marina a repreendeu. – Ela está mais
nervosa que eu. – brincou.

Ângela olhou de novo, fez umas marcações na tela e


depois mandou imprimir o laudo.

- Vamos pra minha sala, pode se vestir Marina.

Ao sentaram em frente à médica Ângela falou com


calma.

- O cisto voltou, mas quero que fique tranquila.


Fizemos a biópsia aquele dia e nada foi constatado. Eu
havia falado sobre a possibilidade de voltar, lembra?

Marina fez que sim com a cabeça.

- Então, o que acontece Marina é que a principio esses


cistos são benignos, mas eles podem ficar malignos
com essa reincidência.
- O melhor seria retirar o útero?
- Sim, podemos fazer um tratamento, mas isso
também não é garantia. E você me falou que queria
engravidar. Se fizer o tratamento para o
desaparecimento do cisto, não poderá engravidar. Se
quiser ter filhos, o que faremos é controlar para que o
cisto não cresça e logo depois de ter o bebê, a gente
faz a histerectomia.
- Quanto tempo eu tenho? – perguntou apreensiva.
- Como assim? – Ângela não entendeu.
- Pra engravidar, quanto tempo?
- Podemos controlar o tamanho do cisto, mas não
eliminá-lo sem nova cirurgia. Se você quiser engravidar
esse controle será feito junto com a gestação. Pelo
tamanho que você está agora, no máximo dois meses
para se decidir.
- E não causará mal ao bebê? – dessa vez foi Lívia
quem perguntou.
- Não, posso garantir. Se você quiser esperar Marina,
nós faremos nova cirurgia para retirar o cisto e
continuar monitorando como estávamos fazendo.
- É que esse apareceu muito rápido, o último ultrassom
que fiz não tem duas semanas.
- Sim, de fato não tínhamos indício dele no último
exame, mas não precisa decidir isso correndo,
conversem em casa e marcamos uma consulta para o
final da semana, pode ser?
- Eu acho melhor a gente pensar direitinho querida e
decidirmos o que for melhor pra você. – Lívia segurou a
mão de Marina.

Ao saírem da sala Marina segurava o choro, quando


entraram no carro ela não conseguiu.

- Calma amor! Vamos pensar direitinho. Veja pelo lado


bom, a gente viu esse problema no início e podemos
resolver sem pressa. – abraçou-a.
- Mas e o nosso bebê?
- Se não pudermos ter filhos de sangue, teremos
adotados. Isso não será problema.
- Eu sou tão nova pra perder o útero, não sei o que
pensar na verdade.
- Não tem essa de idade, pode acontecer. Não faz de
você melhor ou pior que ninguém. Vamos conversar a
noite com mamãe.
- Com que cabeça irei trabalhar meu Deus?
- Quer ir pra casa?
- Não, acho que se ficar sem nada pra fazer aí que é
vou piorar. Me deixa no estúdio e me busca depois? –
os olhinhos estavam vermelhos de chorar.
- Claro minha linda. Não chora ta, estou do seu lado e
isso é só uma fase que vai passar. Eu te amo e não vou
deixar que nada aconteça com você.
- Obrigada.
- Ô mania de agradecer, essa você não perdeu. –
brincou. – Não entendeu até hoje que quem agradece
sou eu, por ter você ao meu lado?
- Te dou muito trabalho. – fez cara feia.
- Se todo trabalho fosse esse... – beijou a loirinha nos
lábios com delicadeza. – Vamos amor, quero ver um
sorriso nesse rosto. – começou a fazer cócegas nela
fazendo-a rir. – Isso, assim que eu gosto. Linda!

Foram para o trabalho e realmente foi melhor para


Marina, ela ficou envolvida numa gravação a manhã
toda e almoçou com Renata no estúdio mesmo.
Conversaram um pouco sobre o assunto, Marina se
sentiu mais tranquila desabafando com a amiga. À
tarde tiveram uma reunião com uma emissora, a
loirinha seria responsável pela escolha da trilha sonora
de uma novela. Ficou bastante empolgada com o
trabalho e assim que saiu foi contar para Lívia, que já a
esperava.

- Amor, vamos fazer a trilha sonora da próxima novela


das nove. – sorriu.
- Que bom amor.
- Já me deram uma prévia dos personagens e estou
com as idéias fervilhando.
- Acho ótimo isso, depois eu quero ler sobre eles.
- E desde quando você curte novela? – Renata brincou
- Não parece né, mas minha mãe gosta e muitas vezes
eu assisti com ela. Acabei me acostumando.
- Te conheço há muitos anos e dessa eu não sabia. –
Marina sorriu para a morena.
- Tenho muitas faces. – brincou.
- Então será que uma dessas faces é gentil e pode dar
uma carona a esta secretária desprovida de recursos
automobilísticos? – Renata falou.
- Claro, te cobro bandeira dois pela comodidade e
privilégio de estar em minha companhia. – Lívia
respondeu.
- Nossa! Depois de tudo que fiz por você? A
proletariado aqui vai de ônibus mesmo.
- Esse lance de depois de tudo que fiz por você ainda
me deixa intrigada, não sei ao certo o que você
aprontou com Lívia. – Marina a olhava com
desconfiança. – Um dia eu descubro.
- Nada chefa, coisa pouca.
- Ahan. – riu.

No caminho Renata ainda brincou com Marina para que


ela relaxasse um pouco. Em casa as duas se sentaram
com Marta na varanda para conversar, deixaram-na a
par de tudo primeiro.

- Querida não fique com medo, tudo vai dar certo. –


Marta tentou acalmá-la.
- Sabe o que mais me chateia é saber que a
possibilidade de ter filhos agora será mínima.
- E por que isso? A médica não disse que pode
controlar o cisto durante a gestação?

Marina a olhou sem entender muito.

- Fique grávida. – Marta sorriu.


- Que isso Marta, gravidez não é assim. Tem que ser
pensado e conversado, programado...
- A sua esposa está do seu lado, por sinal muito quieta,
pergunte a ela se gostaria de ter um filho agora.

Marina olhou para Lívia e se manteve séria.

- Um filho é uma responsabilidade muito grande. –


Marina falou. – Não sei se tenho maturidade, mas sei
que um dia gostaria de ter e talvez já não possa mais.
– falou triste.

Então foi a fez de Lívia falar.

- Ter um filho é realmente uma responsabilidade muito


grande e pra vida toda. Tem que ser mesmo planejado
e programado. Dizer se agora é ou não o momento, eu
não sei. – olhou para Marina. – Só sei que você será a
mãe mais linda do mundo. – sorriu pra ela. – Não vejo
nenhum empecilho para não termos esse filho. Você é
saudável, temos uma vida estável graças a Deus e
estrutura para ter uma criança em casa. Qual o
problema? – beijou as mãos dela.
- Sério amor?
- Seriíssimo. – levantou as sobrancelhas. – Vamos ser
mães! Que tal?
- E eu avó! – Marta as abraçou.
- Mãe. – Lívia parou pensou um pouco pra falar. –
Tecnicamente não seria avó, pois Marina fará
inseminação e...
- Marina é como minha filha, então o filho dela será
meu neto. Nunca ouviu dizer que mãe é quem cria?
Com avó também é assim. – sorria para elas. – E outra,
eu ajudo, porque uma mãe de primeira viagem já é
complicado, imagine duas mães? – achou graça.
- Então amor, que acha? – Lívia voltou seu olhar para
Marina.

Elas se olharam, pareciam partilhar da mesma idéia,


porém com medos diferentes. Lívia tinha toda sua
empolgação como de costume e Marina sempre
ponderava. Sabia que Lívia era louca pra ser mãe,
então realizaria um sonho dela, ou melhor, das duas.

- Se for menina eu quero que tenha os seus olhos. –


sorriu para Lívia.
- Oba! – Lívia a abraçou
- Nossa ela ta empolgada como se estivesse comprando
um brinquedo. – Marta riu.
- Minha família mãe, aquela que tanto sonhei! Está se
formando aos poucos. – a promotora falou abraçada a
Marina e com os olhos cheios de lágrimas.
- Vocês merecem ser felizes e um filho também é
concretizar um amor. Que essa criança seja bem-vinda
a essa família. – Marta abraçou as duas.

O final de semana transcorreu numa boa, almoçaram


com Marta no apartamento de Renata.

- Estamos pensando em juntar as escovas de dente. –


Renata falou durante o almoço.
- Que notícia boa! Eu acho que vocês combinam tanto
que já deveriam ter feito isso. – disse Lívia.
- Aqui, não sou que nem você que conhece num dia,
namora no outro e casa no terceiro. – Eduardo implicou
com ela.
- Não sou apressada, eu apenas encurto o processo da
convivência inicial. Já vou logo pro casório.
- É a desculpa mais esfarrapada que já ouvi pra
impaciência. – ele riu.
- Fico feliz que queiram tomar essa decisão, nunca na
minha vida iria pensar que meu melhor amigo da
faculdade ia se casar com a minha melhor amiga.
Perfeito! – Marina levantou o copo e propôs um brinde.
– Que sejam felizes! - Todos brindaram juntos.
- Peraí! – Lívia interrompeu antes do brinde. – Falta
mais um brinde.

Eles a olharam sem entender e ela continuou.

- Ao novo casal e aos padrinhos. – sorriu e olhou para


Marina.
- Padrinhos?
- Vamos engravidar. – Marina sorriu olhando
cariosamente para Lívia.
- Ta brincando?! – Renata se levantou e foi abraçar a
amiga. – Que notícia boa amiga. Ainda bem que me
escolheram de madrinha, caso contrário teria sérios
problemas.
- Não poderia ser outra pessoa. – Marina recebeu o
abraço.
- Um brinde ao futuro, que ele venha cheio de alegrias.
– Eduardo falou e dali brindaram as boas novas.
Jantaram conversando sobre as novidades.

Marina marcou de voltar na médica logo no início da


semana, conciliou o horário com o de Lívia para que
pudessem ir juntas e falar da decisão que haviam
tomado. Marta não quis ficar no Rio, pois tinha um
aniversário de uma amiga em Mauá. Foi embora
pedindo as duas para lhe darem notícia. No consultório
ambas aguardavam na sala de espera e estavam sob
olhares curiosos de outras pacientes.

- Esse povo não é nada discreto. – Lívia cochichou.


- Deixa olhar, é inveja, pois elas não têm em casa um
marido tão bonito quanto a esposa que eu tenho. –
Marina sorriu.
- Com certeza, dou de dez em todos eles.

Marina riu do comentário e acabou afastando os olhares


das outras. A secretária pediu para entrarem e logo que
se sentaram já deram a notícia.

- Vamos ter um bebê. – foi Marina quem falou primeiro.

Ângela sorriu do entusiasmo da loirinha.

- Prefiro ter um filho agora, depois fazemos o


tratamento ou o que for melhor. Agora, tenho algumas
dúvidas a tirar.
- Pode perguntar Marina, eu imaginei que fosse preferir
ter o bebê agora.
- Minha gravidez será de risco? Tanto pra mim quanto
para a criança ou só pra ela ou só pra mim? Eu terei de
fazer muito repouso? É porque meu trabalho exige que
eu viaje às vezes e...
- Calma amor, uma pergunta de cada vez. Ângela já
nem se lembra da primeira. – Lívia segurou a mão dela
e riu.
- Ah desculpa, estou ansiosa.
- Vamos por partes Marina. Sua gravidez será como as
outras, fará o pré-natal normalmente. Eu sugiro que
faça apenas uma quantidade maior de ultrassom. Dieta
normal, ritmo de vida normal e exercícios leves farão
parte da sua rotina. Pode trabalhar sem problema e
viajar quando quiser. Você e o bebê não correrão risco,
apenas se o cisto aumentar, mas creio que não será
problema no início da gravidez. Ficaremos mais atentos
no final e com o tamanho que ele terá até lá. O
tratamento para controlá-lo não causará danos, mas
não evitará que ele cresça, somente retardará o
processo.
- Posso fazer o pré-natal aqui?
- Claro, eu vou acompanhar você e temos um dos
melhores pediatras do país trabalhando conosco.
- Que bom, assim fica tudo no mesmo lugar.
- Claro. Você tem em mente qual clínica irá fazer a
inseminação?

Marina olhou para Lívia e aí que se lembrou de não


pensarem sobre isso.

- É, não tínhamos pensado nisso antes. – mordeu o


lábio inferior.
- Não tem problema, posso indicar uma clínica que é
referência no país. Atendo muitas pacientes que já
fizeram inseminação lá. Vou lhe dar o endereço.

Ângela deu mais algumas coordenadas para Marina e


Lívia sobre inseminação e o tratamento para controlar o
cisto e a gravidez. Assim que saíram do consultório
foram direto para a clínica. Conversaram com o médico
e foram muito bem atendidas. Foram orientadas sobre
como aconteceria a inseminação e depois escolheram o
doador. Para a surpresa das duas, foi tudo muito
rápido. Decidiram por usar óvulos de Lívia com um
doador que tivesse as características de Marina, a
própria quis assim.

- Tem certeza que quer desse jeito querida? – Lívia


perguntou já dentro do carro.
- Absoluta. – Marina nem pensou para responder. –
Será um filho meu e seu, pois é assim que vivo a nossa
vida com parte de você em mim e uma parte minha em
você. – pôs a mão na perna dela. – Estou muito feliz e
torcendo pra dar certo.
- Vai dar. – Lívia a beijou rapidamente.

Avisaram Marta sobre o dia e de como tudo seria feito.


Lívia e Marina tomariam remédio para controlar o
período fértil, teria de ficar igual nas duas, para que
assim pudesse ser feito a inseminação in vitro. Não
seria de imediato, o médico pediu pelo menos uns dois
meses e enquanto isso Marina era medicada para que o
cisto não aumentasse. Enquanto as duas ajustavam o
período fértil, a vida seguia normal. Lívia e Marina
viajaram para São Paulo juntas, as duas a trabalho.
Enquanto uma estava no fórum, a outra estava no
estúdio. Marina não quis falar por hora com Felipe
sobre a gravidez, queria fazer a inseminação primeiro
para ver se ia dar certo e só depois contar da novidade.

O tempo passou voando, entrou o mês de dezembro e


faltavam algumas semanas para o natal. Lívia ficou às
voltas com um caso de homofobia, no qual trabalhou
com muito prazer. O processo de Fabio Medina, o
mafioso ainda se arrastou e acabou atrasando o
julgamento, sendo então passado para o próximo ano.
Lívia achou melhor, pois assim ganhava tempo para se
esquivar dessa situação. Chegou tarde em casa e
encontrou Marina já de banho tomado e a esperando
com a mesa do jantar pronta.

- Hum, que delícia chegar em casa e encontrar minha


mulher linda e cheirosa. – abraçou-a. – A frase foi
machista, mas de coração. – brincou.
- Cheguei cedo, Diogo quis ficar repassando uma
gravação de ontem, então eu vim embora. – beijou
Lívia nos lábios.

Marina usava um hobby branco com renda verde e por


baixo uma camisola curta. Lívia percorreu a lateral do
corpo dela com as mãos e logo se acendeu.

- Vou tomar um banho e ficar cheirosa também, hoje


andei muito no fórum e estou cheirando a cigarro
daquele povo. – tentou se virar.
- Não, não... – Marina a impediu. – Eu quero você
agora. – a voz saiu rouca e sensual.
- Amor, melhor tomar banho, você está tão cheirosa.

Marina já tirava a roupa de Lívia deixando-a só de sutiã


e calcinha.

- Você não está cheirando a cigarro, ainda sinto seu


cheiro e isso ta me deixando louca! – puxou a morena
para o sofá, sentou em seu colo com as pernas
envolvendo a cintura dela.

Lívia não perdeu mais tempo e abriu o hobby deixando


Marina somente com a camisola. Mordia, lambia e
beijava por onde sua boca passava. Marina ria com as
carícias e se entregava totalmente. Num instante já
estavam nuas e se esfregando. Lívia viu que a cinta
estava num canto do sofá, que Marina havia deixado
estrategicamente. Colocou rapidamente sem perder o
ritmo das carícias.
- Vem aqui gostosa que eu vou comer você todinha.

Puxou Marina fazendo com que ficasse sentada e de


costas para ela. A penetrou de uma só vez e sentiu seu
corpo estremecer, Marina rebolava devagar, falava
palavras sem sentido. Lívia levou uma das mãos ao
clitóris dela e a outra a um seio, acariciando os dois ao
mesmo tempo.

- Ahh... amor... ahhh. – Marina gemia e arranhava os


braços de Lívia. – Isso... vai... assim...
- Goza comigo gostosa... – Lívia falava enquanto
mordia a nuca dela.

O orgasmo veio rápido e forte sacudindo seus corpos.


Caíram relaxadas no sofá, Marina por cima de Lívia e
com a respiração ainda cansada, mas conseguiu falar.

- Eu... – virou-se de frente pra ela. – Eu amo muito


você. – deu um sorriso lindo. Tinha as bochechas
vermelhas e Lívia achou-a mais linda ainda.
- Também te amo muito! – beijou a boca dela.

Pegou Marina no colo e foi com ela para o banheiro.


Tomaram banho juntas e foram para a cama. Estavam
insaciáveis, fizeram amor de várias formas e até se
cansarem. Deitadas na cama e completamente suadas,
Marina ainda ficou instigando Lívia passando a mão por
seu corpo e arranhando de leve.

- Quer parar de me assanhar.


- Não estou fazendo nada. – falou com voz melosa.
- Ah não?! Hoje você está impossível. – mordeu o braço
dela.

Marina desceu a mão e levou até o seu próprio clitóris e


o acariciou.
- Então se você não quer... Vou ter que fazer justiça
com as próprias mãos. – mordeu o lábio inferior numa
expressão sexy.
- Ah linda, não fala isso! – Lívia segurou a mão dela e
se posicionou entre suas pernas. – De jeito nenhum
que vou deixar minha mulher sem sentir prazer.
- Você deve estar cansada. – a loirinha se remexeu até
sair debaixo de Lívia e ficando de pé falou já na porta
do quarto. – Agora, se quiser, vai ter que me pegar. –
saiu correndo.
- Ah essa noite promete. – Lívia falou levantando uma
sobrancelha e caminhando calmamente indo atrás de
Marina. Pegou a cinta e colocou novamente enquanto
descia as escadas.

Marina estava sentada no banco do piano de pernas


cruzadas e com as mãos apoiadas nas laterais.

- Por que demorou? – perguntou provocando-a.


- Menina não me provoque, senão depois você não
aguenta. – ajoelhou ficando entre as pernas dela e as
descruzou deixando a loirinha a sua mercê.

Marina riu e seus olhos se cruzaram por um instante


ficando paralisadas.

- Estou pensando no que vou fazer com você agora. –


Lívia levantou a sobrancelha e riu com malícia.
- Eu sei o que você tem que fazer... – Marina alisou o
braço dela com o pé.
- Sabe? – pegou o pé dela e beijou.
- Ahan. – ela riu. – Teremos um bebê, então temos que
praticar.
- Gostei da idéia.

Lívia lambeu do pé até a coxa e depois mordeu bem


perto da virilha. O sexo de Marina estava molhado e
podia sentir seu cheiro delicioso. Levou a ponta da
língua e passou bem de leve, a loirinha segurou seus
cabelos e pressionou sua cabeça, Lívia chupou e sugou
o quanto podia. Quando percebeu que ela ia gozar
levantou e a pegou no colo. Colocou Marina sentada na
tampa do piano e a penetrou devagar, ao mesmo
tempo em que rebolava em círculos.

- Vem amor... ah... isso... – Marina puxou a cintura de


Lívia e empurrou todo o pênis para dentro.

Lívia a deitou na parte da calda do piano e sugou seus


seios, suas mãos estavam na cintura dela guiando seus
movimentos. Quando estava prestes a gozar Marina
levantou o corpo e ficou de frente para Lívia, encostou
sua testa na dela, gozaram juntas.

- Você é tudo na minha vida. – Marina abraçou Lívia.

A morena tirou a cinta pegando a loirinha no colo em


seguida, sentou no banco do piano e a abraçou forte.

- Já ouvi que a felicidade está na simplicidade da vida.


– mexeu nos cabelos dela. - E eu descobri o que era ser
simples quando a conheci. Se sou feliz hoje, é porque
você me ensinou.

Abraçaram-se e permaneceram assim por um tempo


até seus corpos descansarem.

- Eu tinha feito um jantar. – Marina falou.


- Que deve estar frio uma hora dessas. – Lívia riu.

Realmente o jantar estava frio e optaram por não


comer. Estava tarde e foram pra cama. No dia seguinte
Lívia acordou primeiro e desceu pra preparar o café da
manhã, mas antes deixou um bilhete ao lado de Marina
e foi colando papeizinhos com palavras carinhosas pela
casa até chegar a cozinha, como fizeram quando
reataram. Quando Marina acordou foi lendo um a um.
O primeiro dizia “gostosa”, outro na porta do quarto
escrito “gatinha”, depois outro no início da escada
escrito “delícia” e mais um lá embaixo dizendo “eu te
amo”. O último estava na porta da cozinha: Amor da
minha vida. Então Marina viu Lívia esperando-a,
sentada em frente à bancada. Tinha os cabelos soltos e
usava uma calça preta com uma blusa branca mais
solta, estava pronta para trabalhar.

- Bom dia lindinha! – falou sorridente.

Marina veio se aproximando e a abraçou, usava só uma


calcinha e um blusão.

- Está pronta amor e eu ainda desse jeito.


- É que tenho hora pra chegar ao escritório. Vem tomar
café que ontem não comemos e você precisa se
alimentar. – colocou suco no copo.
- Ainda não estou grávida, por enquanto como pra uma
só. – sorriu.
- Depois de ontem eu acho que ta grávida sim. – piscou
pra ela.
- Se você pudesse me engravidar, nós duas já teríamos
uns seis filhos pelo menos. – riram as duas.

Depois do café Lívia saiu dando um beijo cheio de


paixão em Marina.

- Te encontro no almoço?
- Sim, pra irmos à clínica. Bom trabalho querida, te
amo.
- Eu também.

Marina chegou ao estúdio com um sorriso de orelha a


orelha. Renata logo percebeu e brincou com ela.

- Eita que esse sorriso ta até disfarçando a olheira. –


riu.
- Ah não posso reclamar, meu bom humor está no
auge. Aguento qualquer coisa. O que eu tenho pra
hoje?

Entraram na sala falando sobre os compromissos do


dia. Pelo estúdio transitavam muitas pessoas, pois a
gravação de um cd acústico estava sendo produzida e
muitos músicos foram contratados. Marina ficou mais
em sua sala e só saía de lá quando Diogo a chamava.
Recebeu uma ligação de Felipe falando sobre as
novidades em São Paulo e quando menos percebeu a
manhã passou. Lívia a pegou para almoçarem e de lá
foram para a clínica. O médico verificou os exames e
logo deu a notícia.

- Marina pelo que tudo indica você já pode fazer a


inseminação. Pelos exames vocês duas estão ovulando,
eu fiz os cálculos e a semana é essa mesma. – falou
animado. – Vamos retirar os óvulos de Lívia e fazer a
fertilização in vitro, depois implantaremos estes óvulos
em você.

As duas se entreolharam e sorriram.

- Podemos marcar quando?


- Amanhã à tarde e depois você precisa de repouso,
pelo menos o restante do dia.
- Tudo bem! – estava animada.
- Marina, como te falei, faremos algumas tentativas,
pode não dar certo na primeira, mas isso não quer
dizer que você tem algum problema para engravidar,
podemos tentar outras vezes. Algumas mulheres
chegam a tentar até cinco vezes.
- Certo.

Saíram do consultório animadas com a notícia e se


preparam para o dia seguinte. Marina ficou até tarde
gravando com Diogo e Lívia no escritório em reunião
com Beatriz e Guilherme.

- Então amanhã é o grande dia. Quer dizer, um deles


né, porque daqui pra frente é etapa por etapa. –
Beatriz comentou.
- Verdade! – Lívia sorriu. – Estou doida para vê-la com
barriguinha.
- E realizar todos os desejos que as grávidas têm. –
Guilherme revirou os olhos. – Acordando de madrugada
pra fazer a comida que ela quer, saindo de casa num
domingo de tarde pra buscar mamão com sorvete que
ela cismou em comer. – riu.
- Faço tudo, penso até em aprender a cozinhar.
- Essa mulher vai babar gente, to até vendo. – Beatriz
riu.
- Agora mais do que nunca preciso me preocupar em
sair daquele julgamento. Não quero estressar Marina
com nada. Estou procurando uns contatos antigos e
vou recorrer a eles, serão minha última cartada pra não
ter que falar com Camila.
- O que precisar estaremos aqui pra ajudar viu? -
Guilherme a tranquilizou.
- Vamos trabalhar minha gente que amanhã eu venho
só de manhã.

Passaram a tarde concentrados num processo que


estava sob responsabilidade de Beatriz e só saíram do
escritório à noite. Com Marina foi o mesmo e as duas
só se viram bem tarde. Chegaram praticamente juntas
em casa. Lívia deixava suas coisas no escritório do
apartamento quando Marina abriu a porta.

- Amor, está em casa? – gritou enquanto entrava.


- Ei, cheguei agora. – veio andando e a abraçou. –
Cansada?
- Bastante! Gravei a tarde toda com Diogo e adiantei
tudo pra amanhã. Quero ficar por conta dos
compromissos de escritório só, nada de gravar.
- Estou ansiosa. – Lívia passou a mão no rosto dela. –
Doida pra chegar amanhã. – sorriu.
- Também estou. – beijou-a. – O médico disse que
estamos ovulando ao mesmo tempo. Será que é por
isso que estou com tanto... desejo. – arregalou os
olhos. – E que só de olhar pra você eu fico toda... –
mordeu o lábio inferior de Lívia. – Molhada...

Lívia sentiu seu sexo latejar com aquelas palavras.

- Eu não preciso estar ovulando para ficar excitada,


mas realmente de ontem pra hoje ta difícil me
controlar. – puxou Marina pela cintura e subiu com as
duas mãos para os seios dela. Foi abrindo os botões da
blusa bem devagar e a tirou deixando-a só de sutiã.
Baixou a calça e a calcinha junto e sentiu que estava
realmente molhada. – No escritório, vez ou outra
pensava em você e me acendia toda. – falava enquanto
a beijava.
- E eu doida pra chegar em casa e fazer amor com
você... – sentia os beijos de Lívia pelo pescoço. – Aqui
amor... – levou a mão dela em seu clitóris.
- Isso tudo é pra mim? – Lívia passou a mão bem
devagar fazendo Marina gemer. – Vou te pegar de jeito
hoje, gostosa!

Pegou Marina no colo e foram para o quarto deitou ela


na cama, mordeu e beijou seu corpo todo até chegar ao
sutiã.

- Adoro sutiã que abre na frente. – desabotoou numa


rapidez e deixou os seios a mostra. Mordeu os mamilos
e lambeu até se fartar. Voltou com beijos até o ventre
da loirinha e chegou em seu sexo devorando com a
língua e sugando todo o líquido dela. Marina se
contorcia de prazer e gemia, ao mesmo tempo em que
sorria. Não quis gozar sozinha, então puxou Lívia pelos
ombros, abriu as pernas e deixou que ela se
encaixasse. Tirou a calça dela empurrando para baixo
com os pés, arrancou a blusa e a jogou longe.
- Quero que goze comigo. – começou a rebolar e se
esfregar, seus sexos em contato davam uma sensação
indescritível a ela.

Lívia massageou um seio enquanto a beijava, Marina


também segurava um seio de Lívia e apertava o
biquinho duro. O orgasmo sacudiu seus corpos
rapidamente. Lívia deu um beijo nela com tanta paixão
que Marina se excitou de novo. Girou o corpo e ficou
por cima dela colocou o dedo na boca de Lívia e depois
enfiou direto na vagina dela, massageando o clitóris. A
morena aproveitou a posição para levar a mão ao
clitóris de Marina também e mais uma vez explodiram
num orgasmo.

Tomaram um banho e ainda fizeram amor debaixo do


chuveiro, só saíram porque a fome as incomodou. Pela
hora fizeram só um lanche e depois dormiram.

Na clínica, no dia seguinte, as duas aguardavam o


médico para que a inseminação fosse feita.

- Amor, ainda não comprei seu presente de Natal. –


Lívia comentou.
- Vamos combinar uma coisa? Será nosso primeiro
Natal juntas e eu não quero presente. Nossa vida esse
ano foi tão boa, muitas mudanças e pelo visto teremos
outras vindo aí, meu melhor presente foi ter você
comigo. – deu um sorriso lindo pra ela. – E além do
mais você já me dá muitos presentes.
- Não quer nem uma lembrança?
- Suas maiores lembranças estão aqui. – colocou a mão
no coração. – Eu quero você do meu lado, só isso.
- Tudo bem. Estou empolgada com o nosso primeiro
Natal e ano novo. – Lívia falava como uma criança.
O médico as interrompeu chamando Marina que
apertou a mão de Lívia num gesto tenso, a morena
olhou para ela e sorriu tentando tranquilizá-la. Primeiro
os óvulos de Lívia foram retirados e separados para a
fertilização com o sêmen do doador escolhido. Mais
tarde dentro da sala e já deitada na cama aguardando
o primeiro procedimento, Marina pediu que Lívia ficasse
com ela e o médico não se opôs.

- Doeu amor? – a loirinha perguntou parecendo


nervosa.
- Não meu anjo. – achou graça da carinha dela. – E em
você também não vai doer. – acariciou seus cabelos.

Não demorou muito para que o médico fizesse a


inseminação, depois pediu que Marina aguardasse
algumas horas e logo a liberou recomendando muito
repouso.

- Marina, assim como falei sobre a possibilidade de


você não engravidar, tem também a possibilidade de
mais de um óvulo ser fecundado.
- Eu sei, não posso me assustar se vierem gêmeos,
trigêmeos...
- Sim. – ele sorriu. – Pode ir pra casa e manter repouso
pelo resto do dia. Daqui duas semanas eu te vejo para
fazer o teste de gravidez. Isso vai dar dia vinte e
quatro de dezembro. – olhou no calendário. – Vocês
vão viajar?
- Não. – responderam juntas.
- Então está marcado.

Saíram com Lívia praticamente carregando Marina no


colo.

- Amor, calma. – Lívia pedia. – Você não entende a


palavra repouso?
- Entendo, você é que se preocupa demais.
- Ai que teimosa. – abriu a porta do carro para ela.
- Chata! – beijou Lívia rapidamente ganhando um
sorriso em troca.

Ficaram em casa o final de semana inteiro praticamente


vendo TV e conversando. Estava quente e Marina
queria ir para a piscina, mas Lívia a proibiu de nadar.

- De jeito nenhum!
- Por que não? Está calor! – insistia.
- Marina, você precisa repousar até fazer o exame. Se
estiver sentindo calor, ligue o ar.
- O médico disse que era só ontem.
- Não custa ficar mais uns dias, por que não usa o
chuveiro para se refrescar?
- Eu quero ficar na água prometo que fico quietinha. –
pedia como uma criança.
- Depois esses óvulos saem pelo ralo... – fechou a cara.
- Como é que é? – Marina riu. – Não acredito que você
falou uma coisa dessas. Amor eles não vão sair pelo
ralo.
- Se eu pudesse te virava de cabeça pra baixo só pra
evitar que a inseminação dê errado. – falou fazendo
gestos engraçados.

Marina caiu na gargalhada.

- Eu te amo sabia? Vem chatinha, vamos pra piscina e


prometo que não faço movimentos bruscos.

Marina pôs o biquíni e acabou convencendo Lívia a


entrar na água também. Passaram a tarde se
refrescando. À noite no domingo ligaram para Marta e
deram a notícia. Combinaram a vinda dela para o Rio
logo na semana antecedente ao Natal.
Lívia trabalhou aquelas semanas numa ansiedade
gritante, mas se controlava. Renata parecia mais
empolgada que sua chefe e a toda hora falava que
vinha uma sobrinha a caminho e Eduardo entrava no
jogo.

- Vocês ficam falando sobrinha, mas pode ser sobrinho.


– Marina falou com os dois.
- Eu tenho uma intuição de que será menina. – Renata
falou.
- Já eu acho que é menino. – Eduardo quis contrariar.
- Por hora não acho nada, nem estou me sentindo
grávida. Talvez nem esteja. – falou meio decepcionada.
- Calma Marina, eu só descobri que estava grávida de
Sarah no terceiro mês.
- Nossa se tiver que esperar isso tudo, Lívia enfarta. Ela
nem se aguenta de ansiedade, tenta disfarçar, mas não
consegue. – Marina riu.
- Ela ta doidinha, nota-se a distância. Tem um sorriso
contagiante, sem contar que se ela já paparicava você,
agora se estiver grávida eu não quero nem estar perto.
Vai ficar nojenta de tanto te mimar. – Eduardo riu.
- Lívia será bom pai... digo, boa mãe. - Renata riu. -
Tenho certeza disso. Eu sou fã daquela coisa.

Marina achava graça dos dois falando.

- Minha vida não teria cor sem vocês, sabiam?


- Sabíamos. – os dois responderam ao mesmo tempo e
riram depois.

Marina teve vida normal e nada sentiu até um dia antes


de realizar os exames. A noite estava sonolenta e meio
indisposta, mas não falou com Lívia. No dia seguinte,
na hora de ir para a clínica ela comentou com Marta
sem que Lívia ouvisse.

- Ontem a noite eu fiquei meio zonza, será que...


- Pode ser. – Marta sorriu.
- Não quero criar expectativa, posso estar enganada,
talvez impressionada e achando coisas.
- Vamos amor? – Lívia apareceu na sala.
- Vamos.
- Boa sorte. – Marta piscou para Marina.

Entrando na sala o médico tirou sangue de Marina e


voltou em alguns minutos, ela já não aguentava de
ansiedade e Lívia por mais que disfarçasse, também
queria saber do resultado. O médico olhou para as duas
e olhou para o exame.

- Tem sentido alguma coisa nesses dias? – perguntou a


Marina.
- Não posso falar que sim, porque somente ontem eu
senti uma sonolência e um pouco de tontura, mas
posso estar sugestiva.
- Por que não me falou? – perguntou chateada.
- Não queria que ficasse impressionada.
- Ah Marina para com isso, não sou criança. – fechou a
cara se enfezando.
- Você poderia ficar com mais expectativa do que está,
só quis lhe preservar. – Marina tentava se justificar em
vão, pois Lívia ainda mantinha o rosto sério e
emburrado.

O médico as olhava divertindo-se.

- Calma as duas. Ao invés de discutirem já compraram


o berço? – perguntou.
- A gente ainda não... – Lívia parou de repente. –
Como?
- Está grávida Marina! – sorriu. – Normalmente eu falo
mais sério, mas vocês são o casal mais engraçado que
eu já tive.
- Sério mesmo? Deu certo? – Marina não acreditava.
- Claro, está aqui para comprovar.

Lívia deu um pulo da cadeira e abraçou Marina.

- Vamos ter um bebê amor! – tentou segurar as


lágrimas, mas não conseguiu. – Nosso bebê. – abraçou
mais ainda a loirinha.
- É querida, nosso neném está a caminho. – passou os
dedos em seu rosto enxugando as lágrimas.

O médico se comoveu, e levantou da cadeira para


cumprimentá-las.

- Parabéns as duas, essa criança terá um lar feliz,


tenho certeza. Daqui pra frente Marina siga com o pré-
natal, Ângela vai me passando as informações sobre
você. Sei que o momento é de alegria, mas você está
com apenas semanas de gestação. É comum perder um
bebê nos primeiros meses na primeira gravidez. Então
mantenha repouso e ao menor sinal de dor ou
sangramento fale com Ângela. Você está fazendo um
tratamento por conta do cisto e isso requer mais
cuidados.
- Nos últimos meses o que mais tenho escutado é fazer
repouso. – riu - Mas pode deixar que agora farei
repouso mesmo.

Agradeceram ao médico e saíram felizes da clínica.

- Vou ligar pra minha mãe e avisá-la. Ela deve ta que


não se aguenta.
- É... Seria uma boa se pudesse ligar pra minha
também. – Marina baixou a cabeça.

Lívia ia pegando o celular quando viu a carinha triste de


Marina.
– Ô amor desculpa, que idiotice a minha. – virou-se pra
ela e pegou suas mãos. – Não vou ligar então,
avisamos quando chegarmos em casa, mas você
deveria ligar pra sua mãe também. Tenho certeza que
ela vai gostar, pode não demonstrar, mas vai gostar.
- Não, tenho medo de ligar e escutar ainda mais
desaforos. Depois daquele dia, ela nem me ligou, nem
procurou. Acho que ao invés de resolver tudo, meu pai
afastou mais ainda a gente. Antes pelo menos ela me
ligava e vinha me visitar.
- Tenho certeza que pra ela não deve estar sendo fácil
também.
- Impressionante como as coisas mudam. Ela não me
aceitou, depois me aceitou desde que não me
envolvesse com ninguém. Daí tivemos aquela conversa
e ela passou a nos aceitar, achei que estávamos no
caminho certo indo falar com meu pai e desandou tudo
de novo. – falou desanimada.
- Vai passar amor e ela vai ver que errou. – beijou a
testa dela. – Não fique triste viu, vamos melhorar essa
carinha porque hoje é dia de comemorar!
- Calma meu bem, você ouviu o que o médico falou?
Pode acontecer de...
- Você não vai perder esse neném. Não pense nisso,
ok?
- Ta bom. – tentou sorrir.

Lívia ligou o carro e ao voltarem pra casa ela resolveu


passar numa loja de artigos para tricô. Comprou
agulhas e linhas de diversas cores.

- Pra que isso Lívia?


- Vou fazer uma brincadeira com mamãe.

Chegando ao apartamento as duas estavam sérias e


Marta as recebeu aflita.
- E aí? Contem!

As duas se olharam e entregaram a ela uma sacola.

- Que isso?
- Abra mãe e não discuta.
- É, eu quero um sapatinho na cor branca e outro
vermelho que dizem que dá sorte. – Marina disfarçou o
riso.

Marta demorou uns minutos para entender até que a


ficha caiu.

- Minha nossa! – correu para abraçá-las. – Vou ser avó!


Vou ser avó!
- Vai dona Marta! – Lívia sorria. – E das mais corujas
que eu sei.
- Estou tão feliz por vocês! Isso é um presente de
Natal. Essa noite vamos agradecer a Deus por essa
benção. Quem já sabe?
- Além do médico e nós duas, a senhora. – Marina riu.
- Ah pelo menos isso, porque sou sempre a última a
saber! – resmungou fazendo as duas caírem na
gargalhada. – Pra hoje a noite está quase tudo
preparado, falta pegar a torta que você encomendou. –
falou com Lívia.
- É só à tarde.

Marta levou as duas para a sala e mostrou a árvore de


Natal montada.

- Que linda! Eu adoro árvores de Natal, sempre montei


em casa. – Marina falou. – Confesso que esse ano não
sobrou tempo.
- Eu também gosto. Lívia nunca ligou muito, mas eu
sempre montei.

Passaram a tarde ajudando Marta nos preparativos da


ceia e depois se prepararam para receber Renata,
Eduardo e Sarah. Marina saiu do banho e arrumou sua
roupa para a noite, usaria um vestido vermelho
comprido com detalhes em branco justo até a cintura e
depois se abria ficando mais solto. Lívia escolheu uma
calça mais larguinha branca e uma blusa verde escuro.
Marta usou uma calça social rosa claro e uma blusa
branca. Estavam todas muito bem vestidas e
conversando na varanda. Lívia deitada na
espreguiçadeira e Marina em seu colo.

- Esse ano foi mesmo corrido, mas foi muito bom. –


Lívia falou.
- Bom não, ótimo. Eu comecei meu ano trabalhando e
viajando muito, terminei morando no Rio e casada.
Intenso! – fez um gesto engraçado.
- Arrependida? – Lívia fez uma cara de chateada.
- Nem um pouco. – Marina virou o rosto e a beijou. – É
que não parece que foi tudo em menos de um ano.
- A vida passa rápido mesmo, me lembro de quando vi
você a primeira vez. – Marta falou com Marina. – Tinha
uma cara de menininha, às vezes assustada, mas com
os olhos sempre brilhando e cheios de vida. Ainda os
tem, mas não é mais assustada, cresceu e virou uma
mulher.
- Mas ainda é minha menininha. – Lívia abraçou Marina.
- Cheguei ao Rio muito preocupada, mais com a minha
permanência aqui do que com a faculdade.
- Deu tudo certo.
- Graças a Deus!

A campainha tocou e elas foram receber os convidados.

- Ho, ho, ho! – Eduardo brincou. – O papai Noel já


desceu pela chaminé?
- Ainda não! – Marina respondeu. – Entrem.

Os três traziam sacolas nas mãos e deixaram no pé da


árvore.

- Estávamos na varanda admirando a vista, a noite ta


linda! Vamos pra lá! – Marta chamou.

Depois de se acomodarem Lívia e Marina buscaram


uma bandeja de frios e bebidas para todos e antes que
se sentassem deram a notícia.

- Agosto ou setembro! – Marina riu.


- O que? – Renata perguntou sem entender.
- É em agosto ou setembro que você vai virar tia. –
Lívia piscou o olho pra ela.

Renata se levantou rapidamente.

- Não acredito! Má, que notícia boa! – correu e abraçou


Marina. – Que felicidade amiga! Desejo tudo de bom
pra você, pro neném e pra essa mãe besta que ele vai
ter. – se referiu a Lívia.
- Ei, peraí né. – retrucou.
- Vocês vão ser as melhores mães do mundo. –
Eduardo também cumprimentou.
- Sempre quis ter irmão mais novo ou irmã. Já que
minha mãe não se prontifica, eu me apresento como
irmã mais velha. – Sarah brincou.
- Claro querida, você me ajuda a tomar conta.
- Merecemos um brinde, não? – Lívia levantou o copo.
- Claro! – Renata levantou o dela também.

Brindaram todos à chegada do neném e ao melhor


presente de Natal que poderiam ter. Durante a ceia
conversaram sobre vários assuntos e o tempo passou
que nem perceberam, já era meia-noite quando Sarah
quis abrir os presentes. Renata deu a Eduardo um tênis
novo e pra ela, ele um brinco e uma roupa nova. Os
dois deram a Sarah um celular que ela já vinha pedindo
há tempos.
- Achei que não ia ganhar!
- Aff é mole? A gente dá e ela reclama da demora.
Adolescentes! – a mãe revirou os olhos.

Lívia foi buscar o presente que ela e Marina haviam


comprado para Marta.

- Mãe seu presente ficou escondido porque ele é


grande.

Buscaram no escritório uma TV de plasma.

- A senhora gosta e sempre quis ter uma, mas nunca


deu prioridade a isso, agora foi a vez.
- Agora vai assistir a novela até mais animada! –
Marina brincou.
- Que enorme! Aposto que o tamanho foi Lívia que
escolheu, ela é exagerada.
- Acertou na mosca. – Marina respondeu.

Lívia e Marina deram a Eduardo um relógio e a Renata


um netbook, já que ela reclamava que sua agenda
ficava cheia demais.

- Agora vai facilitar. – Marina falou.


- Chefinha que máximo! Nunca mais vou reclamar dos
seus excessos de compromissos e deles não caberem
nas páginas da minha agenda. Agora posso marcar mil
coisas num só dia. – riu.
- Faça isso e eu jogo esse computador na sua cabeça. –
Lívia a olhou ficando séria.
- Ai que meda! Calma que eu sempre deixo espaço pra
você na agenda da sua esposa. – mandou um beijo pra
ela implicando.
- Meninas, não briguem. – Eduardo chegou com os
presentes. – Má, esse é seu e Lívia o seu. – entregou
um pra cada uma.
Marina ganhou um livro que era uma enciclopédia da
música e Lívia outro livro sobre direito e as mudanças
do código penal.

- Du como achou esse livro? – Marina perguntou. –


Estou procurando por ele há meses.
- Um amigo trouxe da Inglaterra pra mim.

Marta veio trazendo presentes também e deixou os de


Lívia e Marina por último.

- Comprei, mas sem saber se poderia entregar. Podem


achar precipitado, mas intuição de mãe nunca falha. –
entregou duas caixinhas a elas.

As duas abriram ao mesmo tempo e viram um pingente


de bonequinho em ouro branco.

- Que lindo mãe!


- Obrigada Marta, nos dará sorte.

Colocaram no cordão e se abraçaram.

Sarah mexia no telefone que nem percebeu quando


Lívia e Marina vieram com o presente dela.

- Mocinha. – Marina a chamou. – Olha seu presente não


é bonito e nem imediato, mas fizemos pensando no seu
futuro. – entregou um envelope para ela.

Sarah o abriu e leu com calma.

- O que é? – Renata perguntou.


- Deixa a menina ler primeiro.
- Mãe! É um plano de previdência!
- Sim, até os seus vinte e cinco anos. O tempo é curto,
mas será um investimento para quando sair da
faculdade poder pegar o dinheiro e investir no que
quiser.
- Nossa Marina que legal. – Eduardo falou.
- Não precisava disso amiga. Você tem tantas outras
coisas para ver ainda. – Renata sorriu. – Mesmo assim
obrigada. – agradeceu.
- Sarah é como uma sobrinha, penso muito no futuro
dela.
- Obrigada. – a menina agradeceu.

Ficaram madrugada afora conversando até Renata


decidir ir embora.

- Gente, vamos que agora nossa mamãe tem que


dormir.
- Também acho. – Lívia concordou.
- Eita que essa menina vai ser paparicada a gravidez
inteira. – disse Marta.
- A senhora não é a primeira a me falar isso. No
escritório Bia e Gui falaram a mesma coisa.
- Eu também ouvi de Eduardo. – Marina falou.
- Ta todo mundo implicando comigo e você nem me
defende? – Lívia olhou indignada para Marina.
- Defendo querida, defendo... – alisou o braço dela num
gesto consolador.
- Falando em Beatriz e Guilherme, como estão os dois?
– Marina perguntou.
- Namorando firme e se bobear logo casam.
- Provavelmente antes da gente. – Renata beliscou
Eduardo.

Todos riram.

- Depois a apressada sou eu. – Marina olhou pra ela


rindo.
- Os dois são ótimos funcionários e confesso que o
andamento das coisas no escritório tem sido muito
melhor com eles. – Lívia se referia a Fabrício.
- Bom, vamos indo. Amanhã a gente volta e bate mais
papo.

Despediram-se todos. Marta foi para seu quarto e


Marina ajudou Lívia a colocar a louça suja na máquina.

- Pode ir deitar amor, eu termino aqui. – a morena


falou.
- Vou te ajudar pra acabar mais rápido. – sorriu pra
ela.

Limparam tudo e subiram para o quarto. Marina tirou o


vestido e esticou as costas se alongando. Lívia chegou
por trás e a abraçou.

- Cansada? – cheirou o pescoço dela.


- Ahan. – Marina levou a mão até a nuca de Lívia. –
Essa semana foi de lascar. – riu.
- Será que ainda tem ânimo pra uma coisa? – falou
com carinho.
- O que?

A morena a virou de frente pra ela e sorriu, depois


beijou a testa de Marina.

- Namorar um pouco. Quero ficar com você nos braços,


só isso.

Marina achou aquele pedido lindo e sorriu franzindo o


nariz do jeito que a morena mais gostava. Trocaram de
roupa e deitaram abraçadas na cama. Marina no colo
de Lívia com a cabeça recostada em seu ombro.

- Lembra quando brigamos porque você não ia passar o


natal ou ano novo comigo?
- Claro, você quem brigou comigo.
- Ta, eu briguei. – Lívia mordeu o ombro dela num
gesto brincalhão. – Desde que nos conhecemos e eu
percebi que estava apaixonada, queria passar o natal
ou ano novo com você. Sempre via as pessoas se
beijando e se abraçando nessas datas e queria fazer o
mesmo.
- Nunca passou nenhuma das duas datas com alguém?
- Não. Já passei o réveillon na praia com amigos, mas
na hora da virada eu nunca beijei ninguém. – falou um
pouco triste. – Sempre achei que essa era uma hora
para se estar com alguém que se ama de verdade, não
era o meu caso. Mesmo que estivesse com alguém, na
hora da virada eu me afastava.
- E fazia o que?
- Nada, ficava olhando os fogos ou o mar, das vezes
que estava em Mauá eu ficava com mamãe. E
sempre... – pausou e respirou fundo. – Sempre pedia
pra um dia estar ao lado de quem eu realmente
amasse. – sorriu timidamente. - Aí quando a conheci
achei que isso ia acontecer, mas nunca dava certo.
- Foi na véspera do réveillon que...
- Que eu fiz aquela besteira toda. – interrompeu
Marina.
- Teria sido nossa primeira passagem de ano juntas.
- E não sabe o quanto me arrependo e por isso lhe pedi
pra sentarmos aqui e eu poder curtir você um pouco.

Lívia virou Marina para ela e olhou em seus olhos.

- Meu amor, perdoe pelo que lhe fiz e nunca duvide do


meu amor por você. Eu sei que errei e paguei por esse
erro durante anos sofrendo sua ausência e sentindo a
dor de estar longe da mulher da minha vida. Se eu
pudesse lhe mostrar em tamanho a felicidade que estou
sentindo agora, teria que sair deste prédio, pois não
caberia aqui.

Marina ouvia tudo com atenção e se emocionou com a


declaração sincera de Lívia.
- Nunca mais vou machucar você e deixar que fique
triste por minha causa. Se depender de mim, só verei
sorriso nesse rosto lindo, que nunca, nunca saiu da
minha cabeça e do meu coração.

Marina sorriu e a beijou com delicadeza.

- Feliz Natal meu amor! – falou entre beijos.


- Feliz Natal linda. – Lívia respondeu emocionada.

No dia seguinte Marina acordou primeiro que Lívia.


Ficaram acordadas até tarde no dia anterior e nem
viram a hora que adormeceram. A morena dormia de
bruços tinha uma expressão tranquila. Marina alisou
seus cabelos e sorriu. Resolveu levantar e preparar o
café da manhã, sabia que pela hora Marta já deveria
estar acordada. Desceu as escadas e encontrou com ela
saindo da cozinha.

- Bom dia!
- Ei menina, acordada primeiro que Lívia?
- Ta vendo como ela é dorminhoca?! – riu.
- O café está pronto e pela sua cara vai querer levar
pra ela no quarto não é?
- Na verdade eu tive outra idéia. – Marina riu se
divertindo.

Mudou de roupa e colocou um vestidinho bem


fresquinho, botou um chapéu de papai Noel e arrumou
a mesa com detalhes natalinos. Aguardou que Lívia
acordasse, mas ela estava demorando então Marta foi
chamar.

- Lívia, acorda minha filha! Daqui a pouco é hora do


almoço e você aí dormindo ainda. – abriu as cortinas
clareando todo o quarto.

Ela abriu os olhos com relutância e fez uma careta.


- Nossa mãe que delicadeza em me acordar. – virou
para o lado e passou a mão pelo colchão da cama –
Cadê Marina?
- Ela saiu.
- Saiu? Pra onde?! – se levantou.
- Ela disse que ia na rua ver umas coisinhas.
- Coisinhas? Mãe hoje é feriado não tem quase nada
funcionando.
- Não sei Lívia, Marina saiu e pronto ué.

Lívia se levantou irritada, acordou assustada, não viu


Marina e sua mãe ainda não colaborava. Entrou para o
banho e bateu a porta. Marta começou a rir, saiu do
quarto e foi falar com Marina.

- Ela ta uma fera. Levantou até bufando e foi tomar


banho.

Quando ouviram o barulho dela descendo as escadas


pararam de conversar. Lívia entrou na cozinha meio
distraída.

- Bom dia! – Marina falou para que ela olhasse.


- Ué? – fez uma cara confusa. – Mamãe disse que você
tinha saído...
- Ela te enganou. – Marina riu. – Arrumei a mesa no
estilo natalino.
- To vendo. – riu – Tem até uma mamãe Noel. – se
aproximou e a beijou na boca. – Está linda! – beijou de
novo. – E a senhora me enganou. – virou-se para a
mãe.
- Morri de rir da sua cara enfezada.
- Vem amor, vamos tomar café, meu estômago está
gritando. – Marina reclamou e puxou a cadeira para se
sentar.
- Tem que se alimentar bem daqui pra frente viu
mocinha, come por dois agora. – Marta falou.
- Ela já comia por dois, ela e o estômago. Agora vou ter
que trabalhar dobrado porque a conta do supermercado
vai aumentar consideravelmente. – Lívia implicou com
Marina.
- Hum. – ela fez bico. – Eu acordo cedo, preparo uma
mesa linda dessa e ela ainda implica comigo.
- Oh lindinha desculpa. Está tudo muito bonito. - lhe
deu um beijo e sentou ao seu lado.

Marta já tinha tomado café, então resolveu deixar as


duas sozinhas.

- Vou descer pra comprar uma revista e já volto.

Assim que ela saiu Lívia puxou Marina e deu um beijo


demorado.

- Isso é pra você saber que te amo.


- Também te amo. - sorriu. – Quer suco ou leite?
- Suco, comi tanto ontem que nem to com tanta fome
assim. – pegou uma torrada.
- Eu to. Antes de você descer eu tava beliscando aqui.
– deu um sorriso sapeca. – Não aguentei te esperar.
- Depois reclama que te chamo de gulosa.
- Você é chata! – fez bico. – Fica pegando no meu pé.
- Sou a chata que você mais ama.
- Amo!

Ficaram de conversa na cozinha até Marta subir.

- Vocês estão aí ainda? Eu achei um povo perdido lá


embaixo.
- Bom dia!

Era Renata e Eduardo.

- Oi! Cadê Sarah? – Marina perguntou.


- Não veio, foi passar o dia na casa de uma amiga.
Ainda estão tomando café?
- É que Lívia acordou agora.
- Tem waffles! – Eduardo cresceu o olho. – Vou comer
um.
- Você disse que tava de dieta. – Renata o repreendeu.
- Que isso Rê, desde quando se faz dieta no natal?
Deixa ele. – Marina falava e passava requeijão no
waffle. – Senta e come também que eu sei que você
adora.
- Lembra quando a gente fazia em São Paulo? Era
rodízio de waffles. – Renata falou. – Tinha de tudo, com
patê, requeijão, presunto, camarão e depois vinha de
sorvete, chocolate, mel, geléia.
- Passávamos o dia todo sem comer praticamente, só
pra aguentar a comilança de noite.

Lívia achava graça quando Renata e Marina falavam


sobre a rotina delas em São Paulo, dava para notar que
a loirinha tinha uma vida simples e muito tranquila. O
papo rendeu tanto na cozinha que a hora passou e
ninguém viu. Quando perceberam já passava do
horário do almoço. Resolveram não almoçar e passar a
tarde beliscando o que haviam comido na noite
anterior. Aquele foi o natal mais feliz que Lívia já tivera.
Estava em família, entre amigos e com a mulher que
amava. Sabia que para Marina aquele Natal seria
diferente, pois passaria longe da mãe e da sobrinha,
mas fazia de tudo para agradá-la e pra que não
sentisse a falta da família.

Após o Natal veio a semana antes do ano novo, Marina


somente cumpriu alguns compromissos no estúdio e
aproveitou para marcar uma consulta com Ângela;
começava agora o pré-natal. No escritório de Lívia as
coisas estavam mais tranquilas, então ela resolveu dar
andamento na sua dispensa do caso de Fabio Medina.
Liberou todo mundo e desejou a eles uma boa
passagem de ano. Beatriz e Guilherme passariam a
virada em Arraial do Cabo, sugestão de Lívia.

No dia da virada ela resolveu ligar para alguns


conhecidos, mas não teve sucesso. Estava desistindo
quando achou o telefone de um antigo professor e que
há pouco tinha se mudado para o Rio de novo. Seu
nome era Alcino e ele tinha lhe dado aula nos dois
últimos períodos da faculdade, depois sempre o
encontrava nos tribunais de Curitiba, pois era juiz.
Quando se aposentou ele voltou para o Rio de Janeiro.
Lívia pegou o telefone e ligou, pensou até que ele
estivesse viajando, mas graças a Deus não estava.

- Alcino, sou eu, Lívia. Tudo jóia?


- Lívia como vai? Feliz natal, atrasado! – riu. – E já
desejo feliz ano novo!
- Pra você também. Passou o feriado aqui no Rio?
- Sim, minha esposa quis ficar, pois a mãe dela está
doente e precisando de cuidados.
- Que pena, espero que melhore.
- Preferi ficar aqui também, viajar nessa época é
sempre tumultuado.
- Verdade.
- O que você manda? Pra me ligar numa semana entre
Natal e réveillon não é coisa à toa. – sorriu.

Lívia gostava da franqueza de Alcino, por isso se deu


bem com ele na faculdade, era sua melhor aluna.

- Preciso de um favor, se puder me ajudar eu agradeço.


- Venha até minha casa, conversamos aqui.

Imediatamente ela foi até a casa dele e lá conversaram


melhor. Lívia contou tudo sobre o caso de Fabio, mas
Alcino já estava a par. E depois falou do seu
envolvimento com Camila. Ele já sabia que Lívia era
gay e Camila também, sempre respeitou as decisões
dela e nunca tiveram atrito por isso. Não eram amigos
íntimos, mas se respeitavam no trabalho e se davam
bem.

- Camila é tinhosa. Está te colocando nesse caso


somente por implicância.
- Eu sei, mas não quero me meter nisso. Não só por
trabalhar com ela, nem é isso que me incomoda. –
olhou para o juiz. – Alcino, pela primeira vez na minha
vida estou com medo de pegar um julgamento. Sabe
que nunca me esquivei de nada e encarei tudo quanto é
tipo de processo, mas agora... – pausou.
- Agora?
- Estou casada, tenho uma mãe que precisa de mim e
minha esposa está grávida.
- Lívia... que beleza! – falou um tanto assustado.

A morena percebeu a falta de jeito do juiz, mas


relevou.

- Descobrimos há poucos dias. – sorriu. – Minha vida


está acomodada e não quero me enfiar numa situação
onde tenho certeza que o fim não será só justiça, sabe
que mexer com um mafioso do porte de Fabio é
perigosíssimo e só Camila parece não entender isso.
- Ela quer o status de ser a juíza do julgamento dele.
Quer sentenciar a condenação dele.
- Está sentenciando a própria morte. – Lívia foi
enfática.

Alcino concordou com ela e resolveu ajudar.

- Vou dar uma sondada e entrar em contato com alguns


amigos. Sabe se tem alguém interessado neste caso?
- Se tiver, deve ser algum doido que nem Camila.
- Eu saberei, te ligo após o ano novo, hoje mesmo já
começo a ver isso.
- Muito obrigada Alcino. – Lívia segurou a mão dele.
- Sabe que tenho um carinho muito grande por você,
tive poucos alunos que foram tão interessados em
direito sob o ponto de vista da justiça. A maioria hoje
em dia visa o dinheiro e você não era assim. Tenho
orgulho de ter sido seu professor, conto isso pra muita
gente. – sorriu. – Vou te ajudar menina, pode ficar
tranquila.
- Agradeço mais uma vez e feliz ano novo!
- Pra você também querida.

Lívia saiu aliviada da casa de Alcino e esperando uma


resposta positiva. Passou no mercado e comprou umas
bebidas para a passagem do ano. Estava lotado quase
desanimou, mas se manteve firme e teve paciência. A
virada seria como no natal, ficariam em casa mesmo na
companhia de Renata e Eduardo. Enquanto aguardava
na fila do caixa ficou pensando sobre o ano que estava
acabando. Começou como todos os anos anteriores,
desanimada, sem rumo e de repente a vida lhe deu
uma volta quase milagrosa.

“Deus, não sei mais como agradecer o presente que o


senhor me deu.”

Saiu do mercado e foi direto pra casa, quando a porta


do elevador se abriu ela ouviu o som do piano, Marina
estava tocando. Entrou e parou atrás dela para admirá-
la. No final da música Marina falou sem olhar para trás:

- Vai ficar parada aí?


- Como sabe que estou aqui? Eu nem fiz barulho.
- Eu tenho olhos de águia. – brincou e virou no banco.
– Na verdade dá pra ver o reflexo no piano. – riu.
- Espertinha. – Lívia se aproximou para beijá-la.
- Demorou amor, ficou presa no escritório?

Lívia logo pensou na conversa com Alcino.


- Não. – beijou-a. – Fiquei presa no mercado. Juro que
se não fossemos receber visitas eu teria desistido de
comprar, a fila estava enorme. – fez um gesto
engraçado. – Mas continue tocando bebê. Vou colocar
as bebidas no freezer. – beijou de novo.
- Vou te ajudar, eu estava só desenferrujando os
dedos. – a acompanhou até a cozinha. - Às vezes eu
fico com preguiça de tocar no teclado lá no estúdio e
pego sempre o violão que é mais fácil. – ia pegando as
garrafas e entregando à Lívia. Parecia meio chateada e
a morena pensou ser por conta da família dela.
- Falou com sua mãe depois do natal?
- Eu liguei lá pra casa, mas não atendeu. Depois
mandei um e-mail para Barbara, ela me respondeu
hoje. Disse que foram para o sítio e voltaram ontem à
noite para passar o réveillon na cidade. Mandou fotos
de Luisa, ela ta tão bonitinha. – sorriu. – Está cobrando
a mãe uma vinda pra cá. Passou o aniversário dela e eu
nem pude ligar. Mandei um presente, depositei um
dinheiro na conta da mãe dela e pedi que comprasse
algo que estava precisando.
- Fez bem. E por que ela não vem?
- Com quem amor? Barbara não pode vir por causa do
trabalho, por ela mandaria Luisa com alguém, mas
minha mãe pelo visto não vem mais. – respondeu
chateada.
- E se fossemos buscá-la?
- Acho que perderíamos a viagem.
- Hum. – Lívia ficou pensando. – Converse com sua
cunhada, se ela topar nós pegamos Luisa e viajamos
com ela. – falou empolgada.
- Deixa virar o ano, hoje não quero pensar nisso.
- Ta bom.

A tarde ficou por conta de uma arrumação no


apartamento, já à noite estavam as três animadas com
a virada do ano. Marina vestiu uma saia longa e uma
blusa justa os dois brancos com detalhes em prata.
Lívia preferiu um macacão que fez jus a seu corpo.
Logo à noite Renata e Eduardo chegaram numa
agitação danada e Sarah repreendendo a mãe que
estava bastante efusiva.

- Mãe, quer parar com as gracinhas?


- Gente! Tem mais de cinco anos que não passo o
réveillon ao lado de alguém. Tem noção disso? –
Renata falava sorrindo.
- Salvei sua virada de ano hein? – Eduardo a abraçou.
- Eu salvei a sua também viu, não tire tanta onda. –
deu um beijo nele.
- Se eu olhasse esses dois separadamente não diria que
combinavam tanto.

Conversa vai conversa vem Marta se lembrou de Bete


que havia ficado em Mauá.

- Bobeira dela não vir ficar com a gente. – Lívia falou.


- Ela quis passar o ano quieta no canto dela, respeitei
isso.
- O nosso amigo, como está? – Eduardo se referiu a
Fabrício.
- Ele liga e fala que está bem. – Marta quem
respondeu. – Está estudando e focado na carreira.
Torço para que se dê bem.
- Também espero que sim. – Eduardo comentou numa
boa.

Lívia se manteve calada, não tinha mais interesse em


Fabrício e não queria parecer falsa perguntando sobre
ele, realmente não queria saber. Marina também ficou
quieta ainda mais por não ter falado nada sobre a
conversa que tiveram, aquele assunto pra ela já era
passado. O assunto sobre Fabrício não se estendeu
muito, logo mudaram o rumo da conversa. A música
tava boa, o papo agradável e quando deu perto de
meia-noite foram para o terceiro andar, onde moravam
não dava para ver os fogos de Copacabana, mas foram
lá pra fora comemorar assim mesmo. Na contagem
regressiva Marta deu a mão a Sarah que pegou a de
Renata e assim por diante todos deram as mãos e
fizeram a contagem falando juntos.

- 10, 9, 8, 7, 6 ,5 ,4 ,3 ,2 ,1 Feliz ano novo! – sorriram


com a virada.

Cada um desejou felicidade e sorte ao outro entre


sorrisos e um abraço gigante. Renata deu um beijo em
Eduardo e Marta abraçou Sarah. Lívia puxou Marina e a
abraçou, depois se olharam com carinho e o beijo foi
inevitável. As línguas se buscavam mutuamente,
normalmente elas não se beijavam assim na frente de
outras pessoas, mas era ano novo e mereciam.

- Uhu! Ano novo galera! – Renata gritava animada. – Aí


amor, você nem me dá um beijo assim. – reclamou
com Eduardo.
- Ah meu Deus, que carência, vem cá moreninha. –
puxou Renata e a beijou também.
- É Sarah, ficamos só nós. – Marta olhou para os casais
sorrindo.
- Que coisa mais pegajosa, aff. – a menina revirou os
olhos.
- Feliz ano novo meu amor. – Lívia falou com os lábios
colados nos de Marina.
- Pra você também querida. – Marina sorriu.

Ao se separarem as duas sorriram uma para a outra


como que enfeitiçadas. Renata que as tirou do transe.

- Galera vamo beber pra animar! – já vinha pulando


com a garrafa de champanhe na mão.

Marta esticou uma taça para que ela enchesse e


Eduardo também.

- Não vai beber figura? – Falou com Lívia.


- Hoje não, vou acompanhar minha esposa que não
está bebendo também.
- Isso aí, grávida não pode beber. Tem que
acompanhar mesmo, na saúde e na doença, na alegria
e na tristeza, no champanhe ou no suco! – riu e
levantou a taça. – Um brinde a nós!

Todos brindaram sorrindo, mais um ano vindo e cheio


de novidades boas.

Passados os dias de festas e feriados a rotina foi


voltando ao normal. Marta foi embora para Mauá e Lívia
e Marina retomaram o trabalho. Haviam combinado
umas férias, mas somente quando a promotora
terminasse um trabalho já com data para julgamento.
Marina precisou contratar mais dois músicos e não
conseguiu. Por conta das férias, teve dificuldade de
achar aluno na faculdade. Então Marconi a ajudou e
ficou sabendo da gravidez.

- Não acredito que vou ser avô! – falou sorrindo.


- Viu como são as coisas, me conheceu menininha e
agora já serei mãe.
- To vendo é que to ficando velho. – fez uma cara feia e
depois sorriu. – Meus parabéns querida! Desejo muita
saúde e felicidades ao bebê e a sua família.
- Se Deus quiser. – sorriu desanimada. – Família não é
uma constante na minha vida agora, mas ainda bem
que tenho amigos verdadeiros como você. São minha
família de coração.

Marconi entendia a situação de Marina e tentou


consolar.
- Deus não tira sem nos dar alguma coisa boa em
troca. Se não está bom agora, é porque ainda não
acabou. Porque no final tudo acaba bem, não é?
- É verdade. – falou mais animada.
- Agora, vamos ao trabalho. Na falta de aluno, vai o
professor mesmo.
- Quer melhor? – riu. – Preciso gravar uma chamada
para uma séria que será transmitida por uma emissora.
Pensei em você no piano, Diogo no violão e eu fico na
percussão.
- De jeito nenhum! E eu vou deixar de ter o privilégio
de ver você tocando? Há quanto tempo não me dá essa
graça!? – riu. – Você no piano, por gentileza.

Os dois riram e entraram para o estúdio. Só saíram


quando a gravação estava impecavelmente terminada.

No quarto as duas conversavam após o banho.

- Depois do julgamento posso tirar uns dias amor. Que


tal se fossemos buscar Luisa e levá-la para passear?
- Primeiro tenho que conversar com Barbara, depois
ver uma data melhor no estúdio e...
- E quem sabe ver se tem hora pra sua esposa. – falou
fingindo mágoa.
- Ô que pecado, não estou lhe dando atenção? – Marina
largou o vidro de hidratante e foi abraçar Lívia. – Vem
aqui bichinho que eu dou um jeito nesse bico. –
mordeu a boca dela.
- Bichinho? Faz tempo que não me chama assim. –
sorriu.
- Você sempre foi e sempre será meu bichinho. –
Marina a beijava com doçura.

Ficaram de chamego até dormirem.


No escritório, Lívia preparou Beatriz e Guilherme para
ficarem sozinhos enquanto saía de férias.

- Depois que eu voltar a gente negocia uns dias pra


vocês.
- Prefiro férias picadas mesmo, tirar trinta dias de uma
vez é ruim. – Guilherme falou.
- Vai pra onde Lívia? – Beatriz perguntou.
- Dessa vez é praia, geralmente procuro lugares frios,
mas Marina quer levar a sobrinha numa ilha na Bahia.
- E como ela está?
- Está bem, quando voltarmos começaremos o pré-
natal. Já estou louca pra comprar as roupinhas.
- Calma mulher, nem sabe o sexo. Por enquanto é
comprar roupa branca, amarela e verde. – riu.
- Eu queria mesmo que fossem gêmeos, sempre foi
meu sonho, mas isso é só uma possibilidade.
- Quem sabe? Em inseminação isso pode acontecer.
- Não quero comentar com Marina, ela pode se sentir
culpada caso não aconteça. Já estava apreensiva de
não conseguir engravidar.
- Verdade.
- Bom, então qualquer coisa me liguem.
- Boas férias. Descansa que quando voltar o batente a
espera.
- Obrigada. Por isso preciso descansar, encarar o ano
que ta chegando.

Como combinou, Marina tirou uns dias de folga e


programou umas férias com Lívia. Iriam para uma ilha
na Bahia, um resort. Entraram em contato com Barbara
para saber se podiam pegar Luisa. A cunhada avisou
que ligaria assim que conversasse com o restante da
casa. Em dois dias ela ligou de volta dizendo que
poderiam buscar a menina. Em Jaú, Marina não chegou
a ver ninguém da família. Barbara encontrou com elas
na rodoviária, pois tinham preferido ir de ônibus.

- Ei Barbara, como vai? – Lívia perguntou.


- Tiaaaa! – Luisa logo correu para o colo de Marina.
- Oi gatinha, como você cresceu!
- Eu to crescendo muito! E você não vem mais me ver.
– falou chateada.

Aquelas palavras cortaram o coração de Marina.

- Luisa, já expliquei o motivo da sua tia não vir te ver.


- Qual o motivo? – Lívia ficou curiosa.
- Viagens. – Barbara arregalou os olhos.
- É, tenho viajado bastante. – Marina emendou. – Mas
agora estamos aqui e vamos passear.
- Infelizmente não vamos ficar, senão atrasamos na
chegada a São Paulo, pegaremos o avião de lá mesmo.
- Tudo bem por lá? – Marina perguntou a cunhada.
- Sim, seu pai teve cólica renal faz uns meses, mas já
se recuperou totalmente. Eu troquei de emprego, por
isso não posso sair de férias, em compensação estou
ganhando mais.
- Que bom.
- É... e dona Zezé, é aquilo que você já sabe, não para
nunca. Ela sente sua falta Marina, mas acho que
preferiu dar um tempo até a poeira baixar.
- Entendo. – abaixou a cabeça.
- Continuo mantendo vocês informadas. – Barbara
piscou o olho.
- Vamos, vamos, vamos! – Luisa animava.
- Gente, na mala dela tem roupa pra todas as ocasiões.
– Barbara riu.
- Vamos para praia e ela vai precisar é de roupa
fresquinha mesmo, mas qualquer coisa a gente compra
lá.
- O ônibus está indo embora já. – Luisa falava
apressada.
- Querida, não fique muito tempo com ela no colo. –
Lívia falou.

Marina a colocou no chão e ela se afastou para olhar o


ônibus que partia.

- Calma meu amor, aquele não é o nosso. – falou com


a sobrinha.
- É ela já está pesada e a coluna não aguenta. –
Barbara falou.
- Não é isso, é que... – Marina olhou para Lívia e voltou
a olhar para Barbara. – Você vai ganhar uma sobrinha
ou sobrinho. – falou com certa timidez.
- Ai meu Deus! Jura?! Que notícia ótima. Parabéns
Marina! – abraçou a cunhada.

Tanto Lívia quanto Marina se espantaram com a


espontaneidade de Barbara. Agia como se fosse uma
coisa muito normal, o que não deixava de ser, mas
dadas as circunstâncias, era aceitável que ela se
desconsertasse, mas não acontecia.

- Você também Lívia, meus parabéns. E que essa


criança traga felicidade ao lar de vocês.
- Estamos torcendo pra isso, mas Barbara por enquanto
não comente nada lá em casa.
- Pode deixar, essa notícia é você quem tem que dar,
mas já vou bordar uma toalhinha. – sorriu.
- Obrigada pelo apoio e por deixar Luisa com a gente. –
Marina a abraçou e agradeceu.
- Eu que agradeço, é o mínimo que eu poderia fazer,
por tanto que você nos ajuda.

Despediram e entraram no ônibus. Marina foi sentada


do lado da janela com Luisa na outra cadeira e Lívia no
corredor. Não deu meia hora e ela dormiu.
- É que nem a tia, não aguenta viajar. – a morena riu.
- Não sei o que acontece, me dá um sono. – Marina já
bocejava.

O ônibus estava meio vazio, então Lívia colocou Luisa


deitada sozinha em dois bancos e sentou ao lado de
Marina que logo se aconchegou em seu colo para
dormir.

- É, to de vigia agora de duas loirinhas. – falou pra si


mesma.

O tempo estava agravável e quando chegaram a São


Paulo somente pegaram as malas no hotel e foram para
o aeroporto.

- Tia, quando a gente voltar, vai pra sua casa não é?


- Sim, por quê?
- Por que eu gosto de lá.
- Ah é? E gosta mais do que?
- Eu gosto porque sua casa fica no alto e eu vejo um
monte de coisa de lá. – sorriu.

Entraram no avião e enquanto esperavam para a


decolagem Luisa não parava de falar, contava sobre a
escola, sobre os coleguinhas de sala, falou da avó e do
avô e dos pais.

- O vô ficou doente, ele nem andava direito. Ficava


encurvado o tempo todo. Agora ele ta bom. Minha mãe
que brigou com meu pai, ele fica o tempo todo
resmungando.
- De que? – Marina perguntou curiosa.
- De você ué.
- De mim?! – se assustou.
- É, ele fala que você fica me comprando e me dando
coisas caras pra me agradar. Eu sei que é pra me
agradar, mas se não der eu vou gostar de você do
mesmo jeito. – sorriu para a tia – Mas ele fala bem de
você para os outros, já vi ele falando que se não fosse
você muita gente não seria famosa. Eles acham que
sou surda, falam tanta coisa lá em casa. – falou quase
desdenhando.
- Que mais você escuta? – Lívia começou a sondar e
levou um beliscão de Marina.
- Vovó fala que uma hora vai jogar tudo pro alto e
minha mãe diz pra ela ter calma. Elas conversam
baixinho, mas eu escuto. E o vô diz que Deus sabe o
que faz. Essa eu não entendi. – fez uma carinha
pensativa.

Marina olhava para ela, mas a cabeça estava longe.

- Essa menina é mais esperta do que pensei. – Lívia


falou.

Chegando ao resort se acomodaram num bangalô


muito aconchegante. Tinha dois andares, uma suíte e
mais um quarto no andar de cima e uma sala com uma
pequena cozinha no andar de baixo. A suíte tinha
paredes de vidro e a estrutura era de madeira
mesclada com bambu. A vista pro mar era magnífica.
Ainda tinha uma varanda embaixo e uma piscina
particular que Luisa adorou.

- Tia! – olhou para a piscina. - Será que eu posso


nadar?
- Agora Isa? Já está anoitecendo.
- Ta calor querida, deixa ela. – Lívia falou.
- Tudo bem vai, vou pegar seu biquíni.

Depois de colocar o biquíni em Luisa, Lívia sondou a


profundidade da piscina.

- Luisa, entra aqui nessa beirada. – Lívia pediu.


A menina entrou e foi andando, então puderam ver que
dava pé para ela.

- Viu como cresci? Eu fico em pé nela toda.

Marina riu da animação dela.

- Então vai nadar crescidinha. Vamos desarrumar as


malas e jantar que eu to morrendo de fome.
- Novidade hein tia.
- Deixa de ser abusada. – repreendeu, mas brincando.
- Agora você tem que comer mesmo porque senão o
neném não cresce.

Marina e Lívia se entreolharam e sorriram.

- Ela realmente presta atenção em tudo.

Marina tomou banho e depois Lívia, trocaram de roupa


e colocaram algo mais fresquinho. Chamaram Luisa pra
tomar banho e enquanto ela estava no banheiro Lívia
pediu serviço de quarto.

- Amor, pedi um lanche. Jantar eles não servem, só no


restaurante mesmo.
- Tudo bem. – sorriu.

Luisa terminou o banho e Marina a vestiu, ficaram


esperando na varanda até o rapaz entregar o lanche.

- Nossa que grande esse sanduíche. Nunca comi um


assim. – Luisa arregalou os olhos.
- Sua tia come isso num piscar de olhos. – Lívia fez a
menina rir.
- Querem parar as duas! E quer saber? Como mesmo,
parem de pegar no meu pé. – fez bico.
- Ah tadinha dela. – Lívia a abraçou.
- E não vem com abraço. – fingiu emburrar.
- Ih Luisa, como faz pra tirar cara feia das pessoas.
- Assim ó. – a menina respondeu fazendo cócegas em
Marina.

Lívia fez o mesmo e as três deram boas risadas. Após


comerem Luisa quis brincar um pouco na sala. Lívia e
Marina ficaram deitadas no sofá assistindo TV enquanto
isso.

- Quando é a consulta na médica? – Lívia perguntou.


- Daqui duas semanas.
- Posso ir?
- Deve né Lívia. – Marina falou meio brava.
- Ah amor, não sei como são essas coisas de pré-natal.
Eu quero acompanhar em todas as consultas.
- Desculpa, respondi com grosseria também, não
precisava disso.
- Dizem que os nossos hormônios na gravidez ficam
descontrolados causando muitas sensações
extremadas, muita vontade de chorar, dormir, comer,
brigar...
- Ainda não estou sentindo tudo isso, só uma coisa.
- O que?
- Desejo, vontade de fazer amor com você e tenho
notado que a nossa frequência diminuiu. Por acaso
fiquei diferente com a gravidez? – perguntou num tom
ríspido. - Às vezes sinto que não me quer... – pareceu
chateada.

Lívia não soube o que dizer, sabia que estava evitando


não porque não gostava de Marina, ao contrário, a
amava e muito, mas tinha medo de que algo
acontecesse com ela ou o bebê.

- Eu sei que faz tempo que não fazemos amor. –


respondeu sem graça. – É que... – mudou de posição
ficando de frente para ela. – O médico falou que você
tinha que fazer repouso nos primeiros meses e estou
com receio de acontecer alguma coisa se fizermos
amor. – olhava para ela envergonhada.
- Então não tocará em mim até eu ganhar neném?!

Lívia ficou pensando na pergunta de Marina, olhou para


os lados, passou a mão nos cabelos.

- Não conseguiria isso. – olhou novamente para ela.


- Quando formos pra cama vamos resolver isso. –
beijou-a nos lábios.

Lívia puxou o corpo dela e esquentou mais o beijo até


Marina se lembrar que Luisa brincava ali perto.

- Amor, tem criança aqui. – sorriu sem graça.


- Ela ta brincando.
- Você mesma disse que Luisa é mais esperta do que
pensamos.
- É...

Olharam para ela e sorriram.

- Eu adoro essa menina. Acho que foi ela quem me


despertou o lado mãe. – a morena falou. – Sempre quis
ter uma família, mas filhos eu achava uma possibilidade
remota. Primeiro por ser gay e segundo por não ter
muita habilidade com criança. Quando conheci Luisa
fiquei encantada com ela, me deu uma vontade de ter
alguém sob minha responsabilidade.

Enquanto Lívia falava Marina sorria encantada.

- O sorriso de uma criança é uma dádiva, não tem nada


mais sincero.
- Acho que será a melhor mãe do mundo. – Marina a
beijou. – Só não pode mimar a criança, senão fica mal
acostumada.
- Isso vai ser difícil. – coçou a cabeça. – Só um
pouquinho pode? – sorriu.

As duas estavam rindo e conversando quando Luisa


voltou os olhos para elas.

- Tia, quero dormir.


- Vamos lá pra cima, nós também vamos dormir.

Subiu e colocou a menina na cama e deu um beijo de


boa noite, Marina ia saindo quando a menina a chamou.

- Tia.
- Oi meu bem.
- Quando seu neném nascer vou deixar de ser sua
sobrinha?

Marina olhou para ela e viu que os olhinhos estavam


cheios de medo.

- Não meu amor, você sempre será minha sobrinha.


Até quando estiver adulta e eu velhinha. – riu.
- Porque quando seu neném nascer a tia Lívia vai dar
mais atenção a ele.
- Mas isso não impedirá dela dar atenção a você
também.
- E será que ela vai ter tempo?
- Claro, ela sempre tem tempo pra você.
- Eu gosto dela. – sorriu meio de lado.
- Ela também gosta de você.
- Então... – parou para pensar. - Então ta. – sorriu.
- Dorme bem querida, qualquer coisa me chama aqui
do lado viu. – piscou pra ela e saiu.

No quarto Lívia olhava a paisagem pela janela, quando


sentiu dois braços envolverem sua cintura. Pegou as
mãos de Marina e as beijou.

- Enchi a banheira... – falou virando-se para ela.


Tiraram as roupas e entraram no banheiro. Lívia pegou
Marina no colo com todo romantismo. Sentaram uma
de frente para outra com a loirinha envolvendo a
cintura de Lívia com as pernas. Começaram a se beijar
e aos poucos deram vazão ao desejo. As línguas se
encontravam e os lábios estavam cada vez mais
exigentes. Lívia percorria o corpo de Marina com as
mãos deixando-a arrepiada. Excitou-a o quanto pode
até tirá-la da banheira e deitarem na cama. Deitou por
cima dela e segurou seus braços no alto da cabeça,
depois veio mordendo as laterais até chegar ao
pescoço. Sentiu as pernas dela puxarem seu corpo e se
abrirem para seus sexos ficarem em contato. Lívia
desceu para um seio e lambeu, sugou até Marina
gemer de prazer. Levantou ficando sentada na cama e
a puxou também ficando de frente. Levou a mão até
seu sexo, que fez o mesmo. Penetraram-se
mutuamente, seus dedos sentindo toda a excitação e
não demorou para gozarem. Em seguida Lívia virou
Marina de costas, queria mostrar que ainda sentia
prazer. Levou a mão a um seio e a outra ao sexo dela,
escorregou seus dedos para dentro da vagina de Marina
e a penetrou como ela gostava, sem deixar de
manipular o clitóris.

- Ahh... isso.... – gemia sentindo os dedos da morena.


Levou sua mão para trás e procurou também o sexo da
morena.

Gozaram novamente e deitaram abraçadas, sentindo o


corpo ainda tremer. Marina sentia o corpo relaxado e
uma sensação de êxtase enorme. Sorria de uma forma
sexy que deixou Lívia seduzida.

- Como pode ser tão linda?

Sorriu ainda mais e recebeu um beijo ardente em troca.


- Eu te amo. – falou olhando nos olhos de Lívia. –
Quando fazemos amor não sinto só prazer, é como se
meu corpo se enchesse de vida. – mexeu no cabelo
dela. – Não sabe como seus carinhos são importantes
pra mim. – a olhou nos olhos.
- Deve ser porque me entrego de corpo e alma a você
como nunca fiz com ninguém. Preciso sentir você pra
sentir a vida plenamente.

Voltaram a fazer amor e depois dormiram a noite toda


abraçadas, os corpos perfeitamente encaixados como
se fossem um só.

Acordaram no dia seguinte bem cedo. Queriam


aproveitar o dia para ir à praia e passear pelo local.
Trocaram de roupa e saíram do quarto para acordar
Luisa.

- Ontem antes dela dormir me perguntou se quando o


neném nascer ela deixará de ser minha sobrinha. Acho
que está com ciúme do neném. Perguntou também se
você vai ter tempo pra ela.
- Tadinha! Mas o pensamento dela tem razão, nós
sumimos e quando aparecemos é com a novidade de
um neném a caminho. Está achando que não vamos
mais gostar dela. Deixa que vou acordá-la.

Lívia entrou no quarto e sentou na beirada da cama,


Luisa dormia tranquila. Passou a mão no rostinho dela
e tirou a franja que caía no rosto.

- Bom dia bonitinha! Vamos acordar? – beijou a testa


dela. – Temos um café da manhã pra saborear.

Luisa fez um careta primeiro e depois se remexeu na


cama, até abrir os olhos. Lívia sorriu para ela que
também deu um sorriso em troca.

- Você é a cara de sua tia. Se não a conhecesse e visse


as duas andando juntas diria que são mãe e filha.
- Bom dia! – a menina respondeu ainda meio
sonolenta.
- Vamos? Fiquei sabendo que aqui tem um
escorregador maneiro e acho que você vai gostar. Tem
passeio de barco, de lancha.
- Eu posso andar de lancha? – logo se animou.
- Se for comigo pode.
- Oba!

Levantou da cama num pulo e trocou de roupa,


escovou os dentes e logo estava pronta.

- Cadê tia Marina?


- Deve estar arrumando nossas coisas para irmos.

Saíram as duas do quarto, Luisa nas costas de Lívia.

- Estamos prontas!
- Por acaso as senhoritas passaram protetor solar? –
Marina perguntou.
- Ops! É que a gente sabia que você ia lembrar. – Luisa
falou rindo.
- Então delegamos essa função a você. – Lívia
completou.
- Muito bonito. Andem, sentem aqui.

Marina passou protetor nas duas e depois Lívia passou


nela e saíram. Luisa ia à frente olhando tudo e voltava
pra contar para as duas. O lugar onde ficava o café da
manhã era amplo e bem arejado. As mesas eram todas
de bambu combinando com os bangalôs e muito bem
arrumadas.
- Me sinto no Hawaii. – Lívia riu.
- Debochada. – Marina beliscou o braço dela.
- Ai! Até que estou gostando.

Primeiro comeram frutas e depois se deliciaram nos


pães. Luisa se comportou muito bem na mesa, nem
parecia ter a idade que tinha.

- Minha mãe fala que precisamos comer frutas. Por isso


que eu cresço bastante.
- Isso aí. – Lívia piscou pra menina. – Eu comi muita
fruta quando era nova e olha o meu tamanho.

Luisa olhou para Marina intrigada.

- Se você me perguntar se comia fruta, eu te pego viu


menina. – olhou enfezada.

Lívia e Luisa caíram na gargalhada.

- Isa, ela é pequena, mas é uma graça, não acha? – a


morena sorriu para Marina.
- Eu acho ela linda! Meus amigos têm inveja de mim
por ter uma tia tão bonita.
- Nisso concordamos, também acho ela linda e as
pessoas morrem de inveja de mim.

Marina ficou tímida com os comentários, mas se sentiu


lisonjeada.

- Nossa preciso fazer uma caminhada pra digerir isso


tudo. – Marina falou.
- Então vamos andar.

Passearam pela praia e depois foram para a piscina.


Luisa logo quis ir ao escorregador. Como tinham vários
salva-vidas as duas ficaram tranquilas. Pediram água
de coco e passaram a manhã toda na piscina, vez ou
outra Marina ia se refrescar com Lívia no chuveiro.
Depois do almoço marcaram um passeio de barco. Lívia
alugou uma lancha pequena e saíram para passear.
Luisa adorou e tirou muitas fotos. No meio do passeio
Marina começou a ficar enjoada e decidiram voltar.

- Passeios de barco nunca foram os meus prediletos. –


falou desanimada.
- Ô amor não fica assim. Já estamos voltando e você
pisa em terra firme. Além do mais está grávida e pode
ter enjoado um pouco mais que o normal. – a abraçou
carinhosamente.

À noite Luisa quis ficar na piscina do bangalô. Marina


foi tomar banho e descansar enquanto Lívia ficou lendo
numa cadeira perto da piscina.

- Não está cansada meu bem? – Marina apareceu de


cabelos molhados, vestindo um short branco e uma
blusa roxa. Por conta do sol seu corpo estava quase
dourado.
- Você pegou sol viu? – Lívia a olhou. – Está tão
morena quanto a mim. – sorriu e pegou na mão dela
fazendo-a se sentar em se colo.
- Ah, pra ficar morena como você seriam muitos anos
de praia. – disse enlaçando o pescoço dela com os
braços.
- Gostou do dia hoje?
- Sim, tirando a parte que enjoei no barco. – fez uma
carinha desanimada. – O resto foi ótimo. Aquela ali
dorme cedo hoje. – apontou para Luisa.
- Espero que sim, tenho planos pra hoje à noite. –
mordeu o queixo dela.
- É? Com quem? – sorriu.
- To de olho numa loirinha que anda por aí desfilando
de biquíni, expondo sua figura.

Marina soltou uma gargalhada gostosa.


- Estou certa de que essa loirinha desfila só pra esposa
dela. – beijou-lhe os lábios e mordeu no final.
- Hum... ela beija bem.
- Então você já beijou essa mulher? – fingiu indignação.
- Claro! Várias vezes. – beijou-a. – Ela é uma delícia. –
beijou de novo e percorreu o corpo dela com as mãos.
– Adoro fazer amor com ela. – falou mordendo o lóbulo
da orelha fazendo Marina gemer.
- Amor não faz isso.
- Por quê? Luisa nem ta ligando pra gente e acho que
ela já acostumou a nos ver juntas. – Lívia continuava
com os beijos pelo pescoço da loirinha.

Marina gemia baixinho e sentia seu corpo arder.

- Parou! – segurou as mãos de Lívia. – Deixa de ser


assanhada!

Lívia que também estava em brasa encostou a testa no


peito dela e suspirou.

- Luisa tem que dormir cedo hoje.

Marina riu do desabafo da morena. A menina saiu da


piscina e veio molhada para perto das duas e fazendo
uma brincadeira sacudindo o cabelo em cima delas.

- Ai Luisa! – Marina deu um pulo da cadeira. – Que


água gelada!
- Joga mesmo Isa, to precisando refrescar. – Lívia riu.
- Tia Lívia, amanhã nós vamos fazer o que?
- Penso em ficar por aqui mesmo, nada de passeios de
barco, sua tia não se sentiu bem. – sorriu para Marina.
- Aqui tem um spa muito bom, acho que vou fazer uma
massagem. – Marina falou.
- Ih, então enquanto sua tia faz massagem a gente
passeia pela ilha, numa aventura radical. – fez uma
expressão animada.
- Oba!
- Cuidado com ela hein Lívia. Não vai levar Luisa em
nada perigoso.
- Relaxa amor, ta tudo sob controle. – riu.
- Ahan. – Marina riu também.
- Amanhã o dia é nosso! – piscou pra Luisa.

A menina saiu animada e voltou pra piscina, mas logo


quis tomar banho e descansar para o dia seguinte.
Assim que ela dormiu Lívia entrou no quarto e fechou a
porta.

- Vem aqui gostosa! – puxou a loirinha por trás e beijou


sua nuca já com as mãos por baixo da blusa dela.
- Ai amor, calma. Não tem ninguém com pressa aqui...
– Marina se soltou e foi para o banheiro.
- Tem sim, eu que to que não me aguento de vontade
de você.

Marina trancou a porta e quando saiu estava vestida


numa camisola transparente e bem curta, estava sem
calcinha. Lívia estava recostada na cabeceira da cama e
olhou para ela cheia de desejo, os olhos se estreitaram
numa expressão quase selvagem. Marina veio andando
sensualmente e engatinhou na cama até ficar sentada
de frente para ela.

- Está deliciosamente linda. – a morena mordeu o


pescoço dela.
- Amor, você não trouxe nosso... – sentia os beijos
ardentes dela em seu colo.
- Eu trouxe. – Lívia sabia o que era. – Quer usar?
- Quero...

A voz de Marina saia dengosa e isso excitava mais


ainda a morena.
- Tem certeza amor, será que não vai te machucar...
- Eu quero você dentro de mim. – Marina falou olhando
para ela e completamente excitada.

Lívia nem questionou, pegou a cinta e colocou


imediatamente retornando a posição em que estavam.
Devagar a morena foi penetrando e sentindo o pênis
deslizar facilmente tamanha a excitação de Marina. Ela
gemia no ouvido de Lívia e arranhava seu ombro.
Começou a cavalgar devagar e rebolar de um jeito que
assanhava os instintos da morena.

- Isso gostosa... rebola assim vai....

Mordia e lambia os seios enquanto suas mãos estavam


na cintura dela guiando seus movimentos. Marina
respirava ofegante entre os beijos ardentes que
recebia. Chupou o lábio inferior de Lívia e fez uma
pressão no final. Quando sentiu os dedos dela
acariciarem seu clitóris mordeu o ombro da morena
para não gritar de prazer. Deitaram ainda cansadas,
mas Marina queria mais, foi descendo pelo corpo de
Lívia até chegar entre as pernas dela, passou a mão e
sentiu que estava molhada.

- Hum... quero isso tudo pra mim.

Lambeu da vagina até o clitóris fazendo Lívia agarrar os


lençóis e arquear o corpo. Lambeu bem devagar e
chupou até que ela não aguentasse mais.

- Isso amor... assim... – rebolava descontroladamente.


Gozou em poucos minutos.

Marina foi subindo pelo corpo da morena e deitou a


cabeça em seu colo. Lívia a abraçou e adormeceram
sem perceber.
Ao abrir os olhos de manhã Lívia deu de cara com um
par de olhos verdes a fitando.

- Oi! – Marina sorriu. – Bom dia!

Lívia sorriu e passou a mão na franja, pois caía em


seus olhos.

- Bom dia meu amor! – falou olhando mais


atentamente para ela. – Aonde arrumou esse picolé?
- Eu tava lá embaixo com Luisa e um moço passou
vendendo, comprei.
- Logo de manhã? Nem tomamos café? Aliás, quantas
horas?
- Quase dez. – Marina chupava o picolé toda contente.
- Nossa, deve ser por isso que estou com fome. Me dá
um pedacinho?
- Não. – sorriu se fazendo de boba.
- O que? Como não? Me dá, anda!
- Não!

Lívia pegou o braço dela e segurou mordendo um


pedaço do picolé que acabou escorrendo pelo canto da
boca e queixo.

- Aí se sujou, deixa que eu limpo. – Marina veio


lambendo sensualmente, deixando Lívia toda acesa.
- Marina, Marina, você quer ficar trancada nesse quarto
o dia todo hoje?
- Não, você me deixou arrasada ontem e eu quero fazer
uma massagem para relaxar. Sem contar que Luisa
está indócil e já me perguntou três vezes que horas
vocês vão embarcar na aventura. – riu.

Nem acabou de falar e a menina apareceu no quarto


gritando como uma chefe de excursão.

- Bom dia! Está pronta tia Lívia?


- Oi lindinha!
- Eu sou sua lindinha? – sorriu e foi subindo na cama se
aconchegando em Lívia.
- Você é. – Lívia beijou o topo da cabeça dela.
- E tia Marina é o que?
- Ela é linda e você lindinha.
- Então quando eu crescer serei linda?! Eu vou ficar
maior que ela.
- Será lindona então. – Lívia ria do jeito da garota.
- Vou trocar de roupa para irmos.

Saíram e tomaram café, depois Marina marcou sua


sessão de massagem, passaria a tarde no spa. Lívia
saiu com Luisa e andaram pela ilha fazendo um tour
que a morena incrementou com muitas histórias, dando
um ar de aventura. Fizeram um mini rafting, andaram
de lancha, passearam numa pequena trilha e depois
Luisa foi na tirolesa. A tarde havia um grupo de
crianças que iam fazer um passeio, acompanhadas de
guias e Lívia deixou a menina ir. Conversou com o guia
e ele garantiu que era seguro. Deu dinheiro a Luisa
caso precisasse ou quisesse comprar algo. Ficou
esperando ela voltar, cerca de uma hora mais ou
menos. Sentada numa cadeira perto do bar tomava
água de coco quando um rapaz sarado apareceu todo
sorridente.

- Esse lugar sempre me surpreende. – falou olhando


para ela.
- A mim também. – se manteve séria.
- Todo lado que olho tem uma mulher bonita, mas você
parece ser esculpida a mão.
- Também fico surpresa. Quando penso que vou ter paz
pra tomar minha água de coco, aparece alguém
importunando. Licença.
Saiu sem olhar para trás e foi andando para a beira da
praia. Pouco tempo depois veio Luisa saltitante como
um coelho e contando do passeio.

- Tia Lívia foi muito massa! A gente escorregou numa


corda segurando só com as mãos e depois caía na
água. – falava numa empolgação que Lívia achou
graça.
- É mesmo?! E o que mais?

Enquanto a menina contava sobre o passeio, Lívia


reparou que as outras crianças vinham com bonecos do
resort, boné na cabeça e até blusa do passeio, já Luisa
não tinha nada disso. Enquanto conversavam iam
andando para o spa, para encontrar Marina.

- Tia Lívia, posso entrar nessa loja um pouquinho, ou a


tia Marina já está esperando a gente?
- Pode querida, temos tempo ainda.

Entraram na loja e ficaram olhando as prateleiras,


havia blusas, cangas, roupas de banho, acessórios em
geral e também souvenir do lugar. O celular de Lívia
tocou e ela foi atender deixando a menina sozinha, fez
sinal dizendo que estava do lado de fora. Luisa
continuou olhando tudo na loja e viu um porta-retrato
que gostou, pegou-o e levou até o balcão.

- Moça, isso custa muito? – sorriu.

A vendedora chegou na frente do balcão, pois não


conseguia ver a menina de onde estava. Pegou o porta-
retrato e olhou o preço.

- Não custa caro, por quê?


- Eu tenho esse dinheiro aqui. – estendeu duas notas
de cinquenta. – Acho que dá não é?
- Dá sim e tem um troco grande. – riu.
- Então com o troco eu posso levar isso aqui? – pegou
outro porta-retrato.
- Pode sim.
- Ta bom, embrulha pra presente os dois.

Lívia se distraiu ao telefone e nem viu o que Luisa


estava fazendo. Estava conversando com sua mãe e
contando as novidades para ela. Nem percebeu Marina
chegando por trás e segurando seu braço.

- Ta bom mãe, a gente se fala quando eu chegar ao


Rio. Vamos até Mauá levar Luisa pra passar uns dias.
Beijos. – desligou. – Oi amor, íamos encontrar com
você, aí como tinha tempo Isa quis entrar nessa loja,
minha mãe ligou, eu me distraí e agora nem sei.
- E cadê ela?
- Ta aqui dentro ainda.

Nesse momento a menina saiu com duas sacolas na


mão.

- Aí ela. – Lívia falou.


- Oi tia, você já ta aqui? – tentou esconder as sacolas
atrás de si mesma, mas não deu certo.
- Que é isso na mão? – Marina perguntou.
- Era pra entregar lá na casinha, mas já que você viu. –
entregou uma sacola. – Esse é um presente para as
duas. – pegou a outra sacola. – E esse é pro neném,
pra colocar no quarto.

Marina não soube o que dizer nem Lívia que ficou


totalmente sem reação.

- Eu to agradecendo pelos dias de férias, se esperasse


pelo meu pai eu não sairia de Jaú pra nada.
- Oh querida, obrigada. – Marina se agachou para
abraçá-la.
- Não precisava de presente Isa, o presente que você
nos dá é vir conosco de férias. Dá um gostinho especial
na nossa viagem. – Lívia sorriu e beijou a testa dela.
- Mas eu gosto de agradecer assim.
- Tudo bem, então vamos abrir pra ver o que é. –
Marina rasgou logo um embrulho e Lívia o outro. Os
dois porta-retratos eram diferentes, mas muito bonitos.
– Que lindo Isa! Você quem escolheu?
- Foi! A moça da loja me ajudou também.
- Eu adorei, vamos colocar na sala não é amor? – Lívia
falou. – E o do neném vamos guardar para quando
arrumarmos o quarto.
- Isso aí, será que agora podemos comer? Estou com
fome faz tempo.

Luisa e Lívia se olharam e caíram na gargalhada.

- É o neném não é tia? Ele faz você comer muito. – a


menina alisava a barriga de Marina.
- A cara de vocês duas vai ter troco, certo? Você
baixinha, me aguarde e você... – olhou para Lívia. – À
noite conversamos.
- Ih... lascou. – Lívia coçou a cabeça e riu.

Sentaram no restaurante e lancharam, já que almoço


àquela hora não tinha mais jeito. Depois andaram mais
um pouco na praia e foram para o bangalô. Luisa
tomou banho e dormiu cedo, nem quis usar a piscina.

- Ela ta cansada. – Marina a olhava dormir.


- Também o dia foi cheio. Toma um banho comigo?
- Vamos, to cheia de creme de massagem e sal de
maresia. Ta ótimo. – Marina riu.
- Untada e sem grudar. – Lívia riu também.

No banho as duas conversavam.

- Não imaginei que Barbara tivesse dado dinheiro a


Luisa. Que bonitinha, comprando presente.
- Acho que não deu. Bom, eu a deixei ir num passeio
com outras crianças tudo monitorado por guias aqui da
ilha, dei dinheiro a ela e fiquei esperando. Ela voltou
toda animada contando e eu reparei que não usava
blusa e nem havia comprado qualquer coisa como as
outras crianças.
- Guardou o dinheiro pra comprar um presente. –
Marina constatou.
- Ela é bem sua sobrinha mesmo. – sorriu e a beijou.
- Nada de beijo que eu não esqueci a piadinha agora à
tarde.
- Ô amor, foi só uma brincadeira. – Lívia começou a
morder o pescoço dela. – E Luisa também brincou. –
beijava as bochechas.
- Muito engraçadinhas.
- Eu sei que agora você precisa comer mais e eu vou
realizar todos os seus desejos. – beijou a boca. – Tudo
que minha gatinha quiser. – mordeu o lábio inferior e
passou a mão pela lateral do corpo de Marina.
- Você é muito safada Lívia.
- Sou safada e apaixonada por você.

Beijaram-se apaixonadamente.

Depois de quase uma semana passeando, as três


retornaram para o Rio. Chegaram bronzeadas. Marina
apareceu no estúdio com Luisa e Renata foi a primeira
que falou.

- Quem são vocês? Têm hora marcada, a minha chefe


saiu de férias. – riu.
- Viu como as branquinhas também se bronzeiam?! –
falou. – Muito corrido aqui Rê?
- Ta tudo sob controle.
- Falou que nem Lívia agora.
- E cadê ela?
- Me deixou aqui e foi para o escritório.
- Quero saber da viagem, me conta tudo. Ei Isa!
Passeou muito?
- Um tantão!
- Vamos pra Mauá no final de semana, quer ir?
- Vou ver com Eduardo e te falo até lá.

Foram entrando e atualizando as fofocas. Luisa ligou


pra mãe pra dar notícias e depois ficou no computador
se distraindo.

Lívia chegou ao escritório e pediu uma reunião rápida


com Beatriz e Guilherme, falou sobre a conversa com o
professor da faculdade e disse que esperava por uma
resposta dele.

- Ainda não falou com Marina? – Guilherme quem


perguntou.
- Não, estou tentando não envolvê-la nisso.

Inteirou-se dos compromissos e depois ficou trancada


em sua sala trabalhando. Na quinta-feira marcaram de
ir à médica e Marina começou o pré-natal.

- Já estamos com cinco semanas de gestação. Que


maravilha! – Ângela falou enquanto fazia a ultrassom. –
Tem sentido alguma coisa?
- Não, um pouco mais de sono talvez.
- Isso é natural.
- Quando vou sentir enjôo?

A médica achou graça da pergunta.


- Era pra ter começado, mas algumas grávidas não têm
enjôo ou ele começa tardio e dura pouco. Depende
muito da alimentação da mulher, do condicionamento
do corpo mesmo.
- Ah, a alimentação dela é completa. – Lívia riu e levou
um tapa.
- É bom que se alimente bem e sem exageros ao
menos por agora, deixe para exagerar nos últimos
meses. O que não queremos é complicações durante
sua gestação principalmente por conta do cisto.
- Qual o tamanho dele agora?
- Está aqui. – Ângela mostrou. – Ainda pequeno, ele vai
crescer, mas não muito. A medicação vai controlar.
Agora vamos ao que interessa. – a médica ligou uma
tela maior e elas puderam ver o tamanho do bebê. –
Olha aqui seu bebê, ainda é um carocinho de feijão. –
sorriu.

Lívia deu um sorriso estonteante e segurou a mão de


Marina.

- Olha amor, que pequenininho. – a loirinha falou.

Ficaram que nem abobalhadas olhando para a tela e


vendo como que um pequeno pontinho podia fazer
tanta diferença na vida delas. Após a consulta Ângela
fez algumas recomendações e marcou o próximo dia
para que voltassem.

- Se sentir qualquer coisa anormal antes disso me


ligue.
- Tudo bem.
- Você está ótima e o bebê também. – sorriu.

Agradeceram e saíram pra ir pra casa.


Renata e Eduardo animaram ir para Mauá e na sexta a
noite chegaram à casa de Marta.

- Maravilha ter vocês aqui! Ei menina, como está


bonita. – abraçou Luisa. – Está cada dia mais parecida
com você Marina. Como pode?
- Sorte a dela. – Lívia falou.
- Quero saber como está meu bebê! – Marta falou.
- Mãe, não sou mais criança.
- Não estou falando de você, estou falando de meu
neto, ou neta.

Todos riram menos Lívia.

- É, perdi o posto. – falou fingindo se emburrar.


- Fomos à médica e está tudo bem. – Marina falou toda
contente.
- Ele é a minha cara. – Lívia falou.
- Ahan, só se você tiver cara de caroço de feijão.
- Quero mostrar uma coisa. – Marta foi até o quarto e
voltou com um macacão verde claro nas mãos. – Fiz
ontem. E já estou começando a fazer outro. Gente
velha tem tempo pra essas coisas. – riu.
- Nossa que lindo mãe!

Marina pegou o macacão e sorriu.

- Você não está velha! Será a avó mais enxuta do Rio


de Janeiro. E obrigada, foi o primeiro presente que
ganhamos.
- Ei! – Luisa interveio.
- Ah não! Foi o segundo, essa bonitinha aqui já nos deu
o primeiro.
- É. – sorriu.

O final de semana foi agradável. Marta ficou por conta


de Luisa, dizia que já estava treinando para ser avó.
Marina e Lívia descansaram e saíram com Eduardo e
Renata para conhecer mais dos arredores.

Luisa ainda ficou no Rio até o final de suas férias e


curtiu bastante a presença de Lívia e Marina, as duas
puderem sentir que a menina estava mais agarrada a
elas. E acharam que seria ciúme, por conta do bebê.
Então a levaram para passear e Luisa até conheceu a
faculdade de música.

- Marconi, você a conheceu quando era pequena. Olha


como já está uma moça!
- Gente, que menina bonita!
- Oi! – Luisa sorriu para ele.
- Sua tia foi minha aluna, será que você vai ser
também? – agachou para falar com ela.
- Só se ela deixar eu vir morar aqui.
- Pede a ela, acho que deixa hein.
- Claro que deixo! Luisa é minha sobrinha predileta.
- Sou a única né tia. – fez cara feia pra ela.
- Não deixa de ser minha preferida.

Sentaram na cantina pra conversar e passaram a tarde


na faculdade, mostrando as salas e os instrumentos a
menina.

Após algumas semanas Luisa voltou para a casa dos


pais. Marina e Renata a levaram e fizeram a mesma
coisa de quando Marina foi buscá-la. Encontraram-se
com Barbara na rodoviária.
- Fizeram boa viagem?
- Claro, dormimos horrores. – Marina riu.
- Eu não né! – Renata falou rindo. – Marina é que
dorme em qualquer canto.
- Mãe eu andei de lancha e fiz trilha com a tia Lívia. E a
tia Marina me levou na faculdade dela.
- Não é minha faculdade Isa, é onde eu estudei.
- É quase sua, porque todo mundo te conhece lá e te
elogia.

Marina revirou os olhos e sorriu.

- Não vai ficar nem uns dias? – Barbara perguntou.


- É tia! Fica até domingo.

Marina bem que ficou tentada a ficar, mas sabia que ia


se desgastar e não queria se aborrecer, ainda mais
estando grávida.

- Não posso, só iria me chatear. Prefiro voltar pra casa


e deixar que eles me procurem se um dia quiserem.
- Entendo. – Barbara falou comovida.

Renata preferiu se afastar um pouco e deixar que


Marina conversasse com a cunhada.

– E o bebê? Já ouviu o coraçãozinho? – Barbara


perguntou.
- Ainda não. Talvez no próximo ultrassom. – falou
animada.
- Fiquei doida pra contar, mas estou me segurando.
- Não Barbara, por favor! Deixe pra falar quando ele
estiver perto de nascer.
- Quem sabe assim eles não criam coragem e voltam a
falar com você?
- Deus é que sabe. Bom, preciso ir. – agachou e
abraçou Luisa. – Lindinha, fique com Deus e obedeça
sempre sua mãe. Eu amo você.
- Eu também tia. No meio do ano eu quero voltar. Pode
mãe? – olhou para Barbara.
- Claro, combinamos.
- Diz pra tia Lívia que eu gosto muito dela também. –
abraçou a tia.

Os olhos de Marina logo se encheram de lágrimas.


Despediu-se de Barbara e deu a ela um envelope com
algum dinheiro e deixou combinado a quantia que já
mandava todo mês.

- Acho bobeira ficar mandando dinheiro se eles nem se


preocupam com você.
- Eles precisam.
- Sempre nos viramos, agora não é diferente.
- Fico com a consciência mais tranquila.
- Você quem sabe. Boa viagem Marina. Boa sorte na
gestação e mande um beijo para Lívia.

Despediram-se e Marina entrou no ônibus com Renata.

Lívia não pode ir por conta de dois julgamentos que


tomaram seu tempo naquela semana, mas havia
exigido que Renata fosse com a esposa. Como sempre,
ao deixar a sobrinha, Marina saiu chorando. Pra aliviar
o momento triste Renata brincou.

- Sua mulher é muito chata. – falou. – E você está


ficando mimada, sabe quantas coisas tenho para fazer
no Rio? Depois você pega no meu pé quando encho sua
agenda de compromisso num dia só.
- Calma Rê! Vamos aproveitar a viagem para fazer
compras. – falou tentando sorrir.
- Só umas comprinhas pra melhorar meu dia. – riu.

Em São Paulo aproveitaram para ver Felipe e ir ao


estúdio. Foi então que Marina contou da novidade pra
ele, que logo assumiu o posto de padrinho.
- Só se for ao meu lado, porque a madrinha já sou eu.
– Renata avisou.
- Tudo bem eu te aguento, faço pelo bebê.

Marina achava graça dos dois. Ficaram dois dias na


cidade e fizeram compras a vontade. Renata comprou
roupa para Eduardo e para Sarah.

- Aquela menina é insaciável, nunca vi ter tanta roupa.


E usa tudo hein. Parece que troca de peça três vezes
por dia. Tem tanto sapato que chego a pensar que é
uma centopéia.
- Lívia também tem muita roupa. Se ela sair com Sarah
pra fazer compra as duas deixam os dois rins pra pagar
a conta.

Marina comprou vestidos e roupa de gestante; calças


mais largas e sapatos baixos.

- Não vai comprar roupa para o bebê?


- Claro, mas com Lívia. Ela está tão empolgada pra
fazer isso que se eu comprar alguma coisa antes dela,
acho que vai ficar aguada.
- Gente ela ta mesmo! Quando fala nessa criança seus
olhos brilham!

Chegando ao Rio, Eduardo quem foi buscá-las. Deixou


Marina no escritório de Lívia e Renata em casa. A
loirinha entrou e Guilherme a ajudou com a mala.

- Lívia está aí?


- Sim, na sala dela, pode ir lá.

Marina bateu na porta e logo abriu. Lívia estava


sentada e de costas, falava ao telefone com o professor
Alcino.
- Tem certeza disso? Entendi... só se a juíza autorizar
então. Eu agradeço sua atenção e afinco neste caso
Alcino, assim que falar com ela te aviso. Obrigada. –
girou a cadeira. – Oi linda! Está aí faz muito tempo? –
perguntou meio apreensiva.
- Não, abri a porta agora.
- Vem cá. – levantou e foi em direção a ela. – Como foi
lá?
- Bem. Luisa mandou um beijo enorme e disse que no
meio do ano quer vir de novo.

Abraçaram e conversaram um pouco, logo Lívia saiu


pra ir embora. Estava agoniada com o julgamento, não
queria, mas se via sem saída. Afastou o pensamento e
deixou pra pensar nisso depois.

Na hora do jantar Marina mostrou as roupas que havia


comprado.

- Não comprou pro bebê?


- Pensei em fazermos isso juntas. – sorriu.
- Oba! – se empolgou.

Via a expressão feliz de Marina e se sentia totalmente


plena, a felicidade dela era o que importava no
momento e o bem estar também. Voltou seu
pensamento para o julgamento e seu sorriso se desfez.
Tinha que dar um jeito de sair daquela situação.

Algumas semanas depois as duas voltaram à médica,


Marina com pouco mais de dois meses de gravidez.

- Essa barriguinha ta crescendo hein? – Ângela falou.


- Também acho, já até comprei roupas mais folgadas.
Achei que não ia aparecer rápido desse jeito, tem
grávidas que demoram.
- Isso varia muito. E você Lívia, já está treinando a
trocar fraldas?
- Ainda não. – riu. – Mas ando lendo sobre bebês.
Ainda bem que temos minha mãe para dar apoio, senão
estaríamos enroladas.
- Avó nessas horas é uma benção. – Ângela falou ao
mesmo tempo em que começava a passar o aparelho
de ultrassom. Olhava para a tela e fazia uma expressão
séria, que deixou Marina e Lívia curiosas. – Marina você
disse que tem sentido mais fome?
- Sim, mas eu já como muito mesmo, não posso avaliar
somente pela gravidez.

Ângela continuou com o exame e olhando para a


barriga e pra tela. Congelou a imagem e circulou três
objetos bem próximos.

- Prestem atenção, esse aqui é o cisto que Marina tem


e que está do mesmo tamanho em relação ao exame
anterior.

As duas olharam atentamente e a médica continuou.

- Aqui é o bebê, olha como cresceu. – sorriu. – E aqui...


– apontou para o outro circulo. – Escutem. – ligou o
som e ouviram o que seria uma batida de coração, mas
se confundiu parecendo duas batidas. Aparentemente
as duas não entenderam. – Acho melhor treinar bem a
troca de fraldas Lívia, porque vocês terão gêmeos. –
sorriu novamente.
- Ai meu Deus! – Marina quase se levantou.
- Calma aí que não terminei. – Ângela a segurou.
- Gêmeos amor! – a loirinha olhou para Lívia, mas ela
estava atônita ainda. – Acho que não gostou da idéia. –
Marina falou olhando para Ângela.
- Eu... sempre... Meu Deus! Isso é um sonho! – estava
sem palavras. – Acho que não posso mais descrever a
felicidade que sinto. – olhou para Marina com os olhos
marejados.
Ângela conseguiu ficar emocionada, via ali uma família
se construindo e estava feliz com a conquista delas.

- Gêmeos são lindos, ainda mais quando crianças.


Agora... – deu uma pausa. - Quero ver quando eles
estiverem correndo a toda pela casa se você vai desejar
tê-los de novo. – Ângela fez uma piada. – Não preciso
nem dizer que agora tudo é dobrado.
- Vou trabalhar dia e noite. – a morena riu.

Ângela terminou o exame e prescreveu vitaminas para


Marina. Fez algumas recomendações, pois gerando
duas crianças ela sentiria algumas diferenças. Por conta
da novidade, a médica ficou mais atenta ao caso de
Marina. Dois bebês e um cisto no útero não seria uma
gestação tão simples. Porém, não quis assustá-las e
somente pediu um pouco mais de cuidado. Saíram do
consultório e correram para dar a notícia a todos.
Ligaram para Renata, Marta e Barbara, esta última
quando desligou estava sob a mira de Maria José.

- Com quem falava ao telefone?


- Com uma amiga, ela está grávida e soube agora que
é de gêmeos.
- Ah sim. – falou desconfiada. – Parabéns a ela.
- Ela merece. – falou sorrindo.

Marina olhava para as vitrines no shopping totalmente


empolgada, mas não mais que Lívia, que queria
comprar tudo.

- Quer sossegar?! Ta parecendo uma criança no parque


de diversões. E ainda temos mais uns seis ou sete
meses pela frente e outras roupas virão. – Marina a
repreendia.
- Olha amor que lindo esse shortinho! E olha aquele
vestido! – apontava um por um na vitrine.
- Nada de shortinho e vestido querida, não sabemos o
sexo ainda. Por enquanto só macacão, pagão e calça
com blusa e cores neutras, viu?
- Ta bom, vamos entrar nessa loja aqui. – a puxou pela
mão.

A vendedora que as atendeu por um momento não


entendeu que se tratava de um casal.

- A barriguinha está aparecendo já.


- Pois é. – Marina falou.
- E são gêmeos! – Lívia logo falou com empolgação.

Olhavam as roupas e Lívia escolhia todas. Até que a


vendedora perguntou:

- A senhora está grávida também?


- Não, só ela, mas eu empolgo junto, ainda mais mãe
de primeira viagem.

A vendedora olhou para Marina e falou sorrindo.

- Seu marido deve estar muito feliz.

Lívia fechou a cara na mesma hora. Marina achou


melhor não falar nada, pois viu que a vendedora não
iria aceitar muito bem. Saíram de lá com as mãos
abarrotadas de sacolas. Ainda foram a uma loja de
sapatos e dessa vez Lívia falou de cara.

- Estamos procurando sapatinhos para recém-nascidos,


ainda não sabemos o sexo. – deu a mão a Marina.

A moça logo entendeu e sorriu mecanicamente. Não


demonstrou nenhum tipo de rejeição. Só saíram do
shopping porque Marina tinha uma reunião com um
empresário, caso contrário Lívia ficaria lá a tarde toda.
Assim que a loirinha chegou ao estúdio Renata veio
para abraçá-la.

- Eu sabia que seria gêmeos.


- Sabia nada.
- Intuição, não esqueça. Aposto que Lívia ta babando
mais ainda.
- Ta menina, ficou toda boba com a notícia e já
comprou metade das roupas infantis do Rio de Janeiro.
A outra metade ela compra amanhã, está numa
empolgação de dar gosto.
- Posso puxar um pouco o saco dela? Ela merece, vejo
que está se dedicando totalmente a você e aos filhos.
Deixa ela comprar as roupinhas.
- Eu sei. – Marina sorriu. – Pensa que não gosto desse
jeito exagerado dela? É meu bichinho.
- Ih pronto, agora ficou melosa. – Renata revirou os
olhos. – Vamos entrando que o povo ta esperando.
Entraram em reunião e só saíram à noite, após fechar
um grande contrato com artistas do nordeste.

Por semanas Marina e Lívia trabalharam muito. Início


de ano a produtora sempre ficava as voltas com
gravações e perto do carnaval seu foco era a música
baiana. O contrato do ano anterior havia rendido a
Marina muitos artistas bons e agora gravava um cd
com músicas de todos eles. Sua barriga já estava bem
saliente e entrava agora no quarto mês de gravidez.
Começou a enjoar e isso estava tirando totalmente seu
apetite.

- Amor, precisa comer! - Lívia alisava os cabelos dela.


- Não consigo, só pensar em comida e meu estômago
já revira. – fala desanimada.
- Não tem nada que você tenha vontade de comer? Eu
compro pra você querida. Que tal uma torta doce? Algo
com sorvete... estamos no verão e você gosta. – beijou
o ombro dela.

Marina pareceu pensar na torta, mas de repente se


levantou e correu para o banheiro. Lívia só ouviu o
barulho que ela fazia ao vomitar. Foi até lá e tentou
ajudá-la.

- Lívia... me deixa sozinha! – falava fazendo vômito.


- Eu quero ajudar.
- Vai ajudar muito se sair daqui! – falou num tom
grosseiro assustando a outra.
- Desculpa, achei que pudesse... sei lá... fazer alguma
coisa. – saiu e fechou a porta.

Ficou chateada, mas não discutiu, entendia a situação


da esposa. Foi pra sala de televisão e ficou lá quieta.
Depois de alguns minutos, Marina lavou o rosto e
escovou os dentes. Era a única tarefa que achava
agradável, escovar os dentes e sentir a boca
refrescante. Saiu do banheiro e procurou por Lívia.
Como não estava no quarto, imaginou que tivesse
descido e ficado chateada. Foi de cômodo em cômodo
procurando-a e ouviu a TV, então foi até a sala. Lívia
estava deitada e abraçada a uma almofada. Ficou
olhando da porta e como ela não se mexeu, resolveu
sair dali.

Lívia percebeu que ela estava na porta, mas não quis


olhar. Estava chateada, mas também tinha seu orgulho.
Esperou passar o aborrecimento para falar com ela.
Marina foi pra cozinha procurando o que comer, abriu a
geladeira na tentativa de achar algo que não lhe
enjoasse. Pegou um prato com queijo e um pão,
quando estava preparando acabou se cortando.
- Ai! – soltou a faca e colocou o dedo na boca, mas logo
sentiu o gosto de sangue e tirou o dedo. O corte tinha
sido maior do que pensava.

Lívia ouviu da sala e correu para ver o que tinha


acontecido. Chegou na mesma hora em que Marina viu
o sangue nos dedos e ficou pálida. Apressou-se em
ampará-la, pois a loirinha já cambaleava.

- Meu amor, o que foi isso? – a segurou.

Marina já estava mole e logo Lívia sentou com ela na


cadeira.

- Cortei o dedo sem querer e... – respirou fundo. –


Fiquei zonza de repente.
- Ô querida, vem cá. – Lívia a pegou no colo e levou
para a sala. Deitou-a no sofá e deu um copo de água
bem gelada. – Toma meu amor. – Enquanto ela bebia,
a morena foi buscar uma caixinha com algodão e
curativos.

Enquanto limpava o dedo de Marina e colocava um


band-aid ela falou chateada.

- Não me sinto bem. – começou a chorar. – Estou com


fome e ao mesmo tempo não consigo comer nada. Fui
grossa com você sem motivo algum. Desculpa amor. –
chorava como criança.
- Meu anjo, não precisa se desculpar. Já passou. –
beijou-a. – Quer deitar?
- Quero. – respondeu dengosa.
- Vem aqui.

Lívia a pegou no colo de novo e levou para o quarto.


Assim que deitou, Marina enjoou novamente e correu
para o banheiro. Dessa vez a morena não a
acompanhou, quis evitar outra chateação. Minutos
depois ela saiu e deitou no colo de Lívia.

- A única coisa que compensa depois de vomitar é


escovar os dentes.
- Por que amor? Não entendi.
- O gosto da pasta na minha boca diminui o enjôo.
- Então agora vai passar. Quer que ligue para a
médica?
- Agora não. Ela vai querer me ver e não quero sair de
casa num domingo quente desses.
- Tudo bem, amanhã eu ligo e converso com ela. Está
com calor?
- Ahan. – a voz era manhosa e isso cortava o coração
de Lívia.
- Vou diminuir a temperatura do ar. – olhou no controle
e já estava a vinte e um graus, colocou quinze para
esfriar mais. Marina logo dormiu sentindo os carinhos
da morena em seus cabelos.
Um tempo depois Lívia já tinha os pés gelados de tanto
frio, mas Marina dormia apenas de short e camiseta,
sem nenhuma coberta. Levantou-se sem acordá-la e
ligou pra médica.
- Ângela, é Lívia. Me desculpe te ligar num domingo.
Tudo bem?
- Imagina Lívia, tudo jóia. Aconteceu alguma coisa com
Marina?
- Nada grave, é que ela tem enjoado bastante nos
últimos dias e isso me preocupa. Tudo que come, acaba
vomitando. Isso não pode trazer problemas?
- Se acontecer em todas as refeições sim.
- Não são todas. Almoçar ela consegue melhor, o
problema é de manhã e à tarde.
- Então vou receitar mais uma vitamina e um remédio
para melhorar esse enjôo. Ela vai tomá-lo uma hora
antes de cada refeição. Passe no consultório amanhã e
pegue com a secretária. Se continuar, aí marcamos
uma consulta de urgência.
- Ela falou que só consegue se sentir bem quando
escova os dentes. Daqui a pouco vai comer um tubo de
pasta de dente.

A médica gargalhou do outro lado da linha.

- Isso é normal, quando engravidei a única coisa que


conseguia tirar meu enjôo era limão. Chupei tanto
limão que cheguei a ferir a boca.
- Misericórdia! Agora mesmo está dormindo com o ar
condicionado quase congelando nosso quarto. Estou de
meias e luvas pra conseguir ficar do lado dela.

Ângela riu de novo.

- Que figura vocês duas! Gravidez é assim mesmo,


aguenta firme!
- A causa é nobre. – riu. – Combinado pra amanhã, eu
passo cedo na clínica. E obrigada por me atender.
- Se precisar de mais alguma coisa, não hesite em me
ligar.

Desligaram e Lívia foi até a cozinha tomar água, olhou


para a geladeira e de repente teve uma idéia. Correu
no quarto e viu que Marina continuava dormindo.
Trocou de roupa e pegou sua bolsa, saiu rapidamente.
Nem foi de carro, o que queria estava a metros de sua
casa. Entrou numa sorveteria e comprou um pote
enorme de sorvete de menta. Depois passou numa loja
de doces e comprou balas de hortelã e todo o tipo de
guloseima que pudesse refrescar o hálito. Em meia
hora já estava de volta em casa. Colocou o sorvete
numa taça e levou para o quarto. Ao entrar sentiu o ar
gelado e até se arrepiou.

- Deus que frio! – falou baixinho.

Tirou a roupa e vestiu um pijama larguinho. Pegou uma


coberta e jogou na cama, deitou ao lado de Marina e se
cobriu. Colocou um pouco de sorvete na boca e se
aproximou dela. Beijou seus lábios e deixou que o
sorvete passasse para a boca de Marina. Ela sorriu e
passou a língua nos lábios de Lívia.

- Hum... isso é bom... – falou ainda de olhos fechados.


- Isso o que? – a voz de Lívia saiu grave e sensual. – O
sorvete ou eu?

Marina adorava quando ela falava assim. Sentiu seu


corpo inteiro se arrepiar. Abriu os olhos e se deparou
com o par de olhos azuis que mais amava.

- Os dois. – segurou no pescoço dela e a puxou para


um beijo. Sentiu seu sexo latejar na mesma hora.
Buscou a língua de Lívia e sugou com vontade. –
Gostosa!

Girou o corpo e ficou por cima dela, sentando em cima


de seu ventre. Apoiou as mãos na cama e se inclinou.

- Eu quero mais. – falou sorrindo deliciosamente. Olhou


para o lado e viu a taça de sorvete. Pegou e passou nos
lábios da morena. – Descobri o que vai fazer passar
meu enjôo.

Buscou o sorvete na boca de Lívia e a beijou sentindo


seu corpo em brasa. Em questão de segundos estava
tirando a roupa dela e a sua. Colocou sorvete nos
pontos estratégicos e foi lambendo até chegar ao sexo
de Lívia. Ela, a principio se assustou com a reação
repentina de Marina, mas a essa altura já estava
totalmente excitada. Abriu as pernas e deixou que a
loirinha lhe possuísse como queria. Colocou sorvete
bem em cima da vagina, fazendo Lívia arquear o corpo
com aquela sensação. Marina imediatamente levou a
língua e chupou até retirar tudo. Era o gosto de Lívia
misturado ao sorvete e isso estava excitando ainda
mais a loirinha. Penetrou e sugou ao mesmo tempo
fazendo a morena gozar várias vezes. Só parou, porque
a posição estava um pouco incomoda por conta da
barriga. Deitou ao lado dela e ficou observando o corpo
da morena descansar.

- Meu Deus! Você estava enlouquecida. – Lívia falava


com dificuldade.
- É você quem me deixa assim. – passou a mão pelo
corpo dela.

Lívia se virou para ficar de frente pra ela e apoiou o


cotovelo na cama.

- Passou o enjôo? – alisou o braço de Marina.


- Completamente. – sorriu.
- Gostou do sorvete?
- Ahan.

As duas se olhavam com desejo e nem precisavam de


muitas palavras.

- Eu só provei, mas quero experimentar de novo. –


Lívia olhou para os seios dela.
- Que tal aqui. – Marina pegou um pouco de sorvete e
passou entre os seios.
- Deliciosamente perfeito.

Lívia se posicionou de forma que não fizesse peso sobre


o corpo de Marina e lambeu seus seios, sugou e chupou
bem delicadamente. Foi descendo com beijos molhados
até chegar ao sexo dela. Então bem devagar foi
sugando e passando a língua, como se fosse algo
imaculado. Não quis penetrá-la, então fazia leve
pressão no clitóris, enquanto suas mãos buscavam os
seios e apertavam os bicos rígidos. Marina gemia e
segurava os cabelos da morena, dizia palavras perdidas
e sua voz era rouca e sexy.
- Isso amor... faz mais rápido... assim... ahhh... isso...
aahhh... – começou a rebolar e sentir o corpo
estremecer. Chegou ao orgasmo gritando o nome de
Lívia. – Ahh... Lívia, amor... Lívia... isso... – gozou
intensamente.

Lívia diminuiu o ritmo e se deitou abraçando-a. Beijou


sua testa e acariciou a têmpora esquerda, beijou a
ponta do nariz e depois os lábios novamente.

- Linda... linda... linda... – tinha um sorriso bobo nos


lábios.
- Eu amo você. – Marina retribuiu com um sorriso
luminoso.
- Também te amo.

Abraçaram-se carinhosamente.

- Nunca me chamou de Lívia.


- Como nunca?
- Não nessa hora. – a morena riu.
- Ah... acho que sim.
- Não que eu me lembre.
- Não gostou? – Marina pareceu apreensiva.
- E desde quando eu não gosto de algo que você faça?
– sorriu e a beijou. – Só achei diferente. – paro um
pouco e a olhou nos olhos. – Fiquei mais excitada... –
estreitou os olhos e riu com malícia.

Marina sorriu com a timidez que sempre tivera quando


Lívia a olhava assim. A morena achava lindo depois de
tanto tempo ela ainda ter esse olhar de menininha. Era
único e apaixonante. Beijou aquela boca com
delicadeza e fez um carinho em seu rosto. Marina
interrompeu o beijo e falou meio chateada.

- Desculpe por mais cedo amor, às vezes fico nervosa.


Não sei o que me dá e acabo perdendo a paciência. –
baixou o olhar.
- Não peça desculpas. – Lívia segurou o queixo dela. –
Entendo o que está passando, então eu relevo. Na hora
me assustei, por isso fui pra sala e deixei você sozinha.
Achei que queria um tempo de mim.
- Nunca! Não quero tempo nenhum, te quero do meu
lado. É isso que me faz seguir em frente cada dia.
Saber que tenho você.

Lívia sabia que Marina se referia ao fato de estar longe


da família e se sentir só nesse aspecto. Por isso tinha
tanta paciência e se mostrava totalmente solícita a ela.

- Eu faço tudo e qualquer coisa por você. Tudo pra ver


seu sorriso.

Beijaram-se e deitaram abraçadas. Marina no colo da


morena, escondendo a cabeça em seu pescoço.

- Adoro seu cheirinho. – respirou fundo.


- Ainda bem né amor. Imagina se enjoasse com ele? Eu
tava perdida. – riu.
- Nunca! Preciso sentir seu cheiro... sempre... sempre.
– falou praticamente adormecendo.

Lívia sorriu e a abraçou mais forte, pegou a coberta,


pois o frio já tinha tomado conta de seu corpo
novamente. Adormeceu com ela.

Na segunda cedo Lívia pegou a receita de vitaminas e


assim que Marina começou a tomar o enjôo foi
melhorando. Passado algumas semanas, ainda não
tinham conseguido ver o sexo dos bebês, mas Ângela
prometeu que na próxima consulta isso seria possível.
- É Marina, ainda não deu. Vamos ter que esperar mais
algumas semanas.
- Tudo bem, eu espero. Essa daqui que está louca pra
saber. – olhou sorrindo para Lívia.
- Claro! Quero decorar o quarto deles.
- Eu sei querida, daqui uns dias já saberemos. – Marina
a consolou.

Ângela achava bonita a relação das duas e a forma


como se tratavam, eram carinhosas sem parecer brega
e causar qualquer constrangimento aos outros.

- Como está o enjôo? – perguntou a Marina.


- Agora quase não sinto, aquele remédio me ajudou
muito. Deus como estava horrível. Eu quase bati em
Lívia um dia desses. Não aguentava mais comer e
vomitar e ao menor sinal de comida meu estômago já
embrulhava.
- É comum, principalmente na parte da manhã.
- Agora não sinto quase nada. O que me incomoda são
os rompantes que eu tenho. Hora choro como criança,
depois fico nervosa, daí fico muito agitada e depois
muito... muito... – pareceu sem graça.
- Excitada? – Ângela riu e olhou para Lívia.
- É... – Marina pôs a mão no rosto. – E aí depois de
excitada eu tenho um sono que me faz dormir como
pedra.

A médica ria junto com Lívia.

- Querem parar de rir?! – a loirinha se indignou.


- Ô amor, é que chega a ser engraçado. – beijou a
testa dela. - Você se descreveu perfeitamente.
- Existe algo que possa fazer pra melhorar isso? –
Marina olhou para Ângela.
- Claro. Ter os bebês. – riu. – E depois ainda vai
demorar a se estabilizar. A carga hormonal é muito
grande, por isso você tem picos de humor, de
ansiedade e desejos.
- Sem contar o calor que eu sinto. O tempo está mais
ameno agora, mas ainda assim, sinto como se
estivesse em pleno verão.
- Acredite, isso é perfeitamente normal. Precisa criar
meios que possam somente aliviar, porque passar essa
fase, só quando der a luz. – sorriu.

Marina mordia o lábio inferior num gesto preocupado,


mas foi Lívia quem a acalmou.

- Eu adoro seus rompantes meu anjo. Tiro de letra. –


piscou pra ela e ganhou um sorriso em troca.

Um dia em casa, as duas arquitetavam um jeito de


fazer o quarto dos filhos, faziam isso durante o café da
manhã.

- Não acho que desfazer seu escritório seria justo. –


Marina falou enquanto tomava um chá gelado. – Afinal
eu tenho meu estúdio aqui e poderia me desfazer dele
também. Sem contar que seu escritório está no andar
de baixo.
- Se usarmos o quarto de Luisa seria por pouco tempo
também.
- Por quê?
- Se os gêmeos forem do mesmo sexo, não teria
problema, ainda mais se forem meninas. Mas e se
forem meninos, ou menino e menina? Daqui um tempo
eles não iriam querer ficar no mesmo quarto.
- Nossa amor, isso é pra daqui muitos anos. Não pense
nisso agora.
- Teríamos que mudar de novo. – riu.
- De jeito nenhum! Pode parar Lívia. – Marina falou
sério. – Chega de mudança, eu adoro esse apê e não
vou sair daqui, não por agora.
- Ta bom amor. A gente estuda outra forma depois.

Saíram para trabalhar e se despediram no carro. Marina


insistia em dirigir, não queria depender de Lívia e
apesar de contrariada a promotora aceitou.

Marina estava em sua sala quando abriu um site de


notícias e quase caiu da cadeira quando viu a foto de
Lívia e a matéria dizendo que ela seria a promotora do
caso de Fabio Medina. Sentiu um aperto no peito e o
coração quase foi na boca. Passou a mão no telefone e
ligou pra ela.

- Eu quero saber quando você ia me contar que estava


envolvida nesse julgamento?
- Que julgamento?! Ai não! Calma amor, não estou
envolvida.
- Ah não! Então colocaram errado a sua foto no jornal?
– estava com a voz alterada.
- Meu amor, não fique nervosa, você ta grávida.
- Nervosa? Imagina se eu to nervosa, você foi chamada
para acusar um mafioso que mata por informação e eu
estou nervosa? Impressão sua!
- Estou resolvendo minha dispensa neste caso, confie
em mim.
- Vou confiar sim, com você escondendo as coisas de
mim, vou confiar mesmo. – desligou o telefone. Marina
se levantou, mas sentiu o corpo pesado e a cabeça
rodar, sentou de novo e chamou Renata na outra sala.
- Fica quietinha aí que eu vou ligar para Lívia.
- Não quero que ligue pra ela. Eu vou pra casa.
- Nesse estado? De jeito nenhum. O que ta
acontecendo?
Marina contou o que tinha visto e Renata também ficou
brava com a situação.

- Ela devia ter te falado antes.


- Devia, mas não falou e depois me pede pra ser
sincera e transparente com ela também.
- Vem, vou dar um jeito de levar você pra casa.

Lívia correu para o estúdio, mas Marina não estava lá.


Foi pra casa e quando entrava no apartamento Renata
estava saindo.

- Você é muito cara de pau!


- Que isso Renata, posso saber o motivo da raiva?
- Como não contou a Marina sobre esse julgamento?
- Eu ia contar, primeiro achei que poderia sair da lista
de promotores, não deu certo, fui escalada, tentei com
um antigo professor para que intercedesse por mim,
também não deu. Fui enrolando pra tentar escapar sem
que ela soubesse, não fiz por mal. – as palavras de
Lívia foram sinceras, de modo que Renata entendeu o
que ela tentava fazer.
- Marina está uma fera viu? E quase passou mal agora
pouco.
- Vou falar com ela.

Subiu as escadas e viu a loirinha saindo do banheiro,


parecia ter vomitado.

- Que foi amor?


- Não pergunte se estou bem e o que é, porque não
estou! – falou com certa dificuldade.

Lívia se apressou para ajudá-la a se deitar.

- Me perdoa querida, não quis preocupá-la com isso. –


repetiu as palavras que havia dito a Renata. – Entende
que não menti, apenas tentei te poupar. Me perdoa. –
beijava as mãos dela.
- Não me esconda as coisas Lívia. – Marina falava mais
calma. – Não sabe como me senti quando vi aquilo, me
deu um aperto no coração. Não queria que se
envolvesse com esse caso, esse povo é perigoso. E
essa mulher é obcecada por você. Não tinha outra
pessoa pra colocar no seu lugar? Claro que sim. – ela
mesma respondeu a pergunta.
- Eu sei amor, tentei de tudo, agora só me resta
interceder junto a Camila. E isso eu não queria.
- Se preservar a vida da mulher que eu amo e a mãe
dos meus filhos será falar com Camila, eu mesma falo
se você quiser. – falou com segurança.
- Essa semana ainda eu falo com ela. Parece que ela
vem ao Rio e eu vou com Beatriz tentar interceder.
Será minha última alternativa.
- Vai dar certo, tem que dar. Não quero te perder. –
abraçou forte a morena.
- Não vai perder meu anjo.

Lívia deitou ao lado dela e a abraçou até que dormisse.


Assim que sentiu o corpo de Marina relaxado ela ligou
para o secretário de Camila e marcou com ela uma
reunião no dia seguinte.

Estava anoitecendo quando Marina acordou sentindo


uma dor no ventre. Levantou-se e sentiu algo estranho,
quando ficou de pé totalmente viu que havia sangue
entre as pernas. Correu no banheiro e sentou no vaso,
sentiu a dor novamente e gritou por Lívia, que veio
correndo e assustada.

- Oi amor? Você... Marina, está sangrando!


- Começou agora. – falou um pouco apavorada.
A morena ligou para Ângela e ela pediu que fossem a
sua clínica urgentemente. Deram entrada com Marina
ainda sangrando. A médica fez alguns exames e deu
um remédio para estancar a hemorragia.

- Marina, levou algum tombo ou alguma pancada na


barriga?
- Não.
- Pelos exames você não tem nada que possa ter
causado esse sangramento. O cisto aumentou um
pouco, mas dentro do esperado até agora. Algum
problema no trabalho ou...
- Sim, o problema sou eu. – Lívia a interrompeu. –
Marina está preocupada com um processo do qual vou
acusar uma figura importante.
- Não pode se estressar Marina, isso não faz bem aos
bebês e a você também. Vou te passar um remédio que
só vai tomar se sentir que está ficando nervosa. Quero
repouso absoluto até semana que vem. O sangramento
já parou e você não se levanta da cama até que a dor
pare totalmente.
- Tudo bem, cuidarei dela e não deixarei que faça
abusos. – Lívia falou seriamente.
- Vejo vocês daqui uma semana.

Ao saírem do consultório a morena somente passou


numa farmácia e comprou os remédios que a médica
pediu. Lívia fez questão de pegar Marina no colo e levá-
la até o quarto.

- Se depender de mim não vai botar os pés no chão.


- Exagerada.
- Preocupada. Não imagina como fiquei de consciência
pesada por isso. Não vou me perdoar se algo acontecer
com você ou com nossos filhos.
No dia seguinte Lívia foi se encontrar com Camila num
café próximo ao escritório dela. Estava acompanhada
de Beatriz.

- Lívia, você não perde tempo. – a juíza falou com


sarcasmo.
- Camila, esta é Beatriz, trabalha comigo no escritório.
- Prazer querida.

Beatriz somente sorriu.

- Vou direto ao assunto Camila, quero que procure


outro promotor e me dispense do julgamento de Fabio
Medina. Não quero acusá-lo.
- Mas Lívia, isso seria um excelente trampolim para sua
carreira.
- Não preciso de trampolim nenhum. Não quero
participar desse julgamento.
- Me admira muito estar com medo. Eu não estou. –
falou com orgulho.
- Sou corajosa, sempre fui. Não corro de meus
compromissos, a questão é que agora as coisas
mudaram.

Camila parecia não entender, até que Lívia se


emocionou ao falar de Marina.

- Estou casada e amo muito minha mulher. Ela está


grávida e estamos formando nossa família, como eu
sempre quis. Sabe muito bem que um julgamento
como esse não ficará só no tribunal. – olhou para ela
com os olhos marejados. – Tenho muito a perder se a
deixar para trás. Pessoas que precisam e se alguma
coisa acontecer comigo, não sei o que seria delas.

Camila ficou parada olhando nos olhos da promotora e


por um momento quis que Lívia estivesse dizendo tudo
aquilo para ela e por ela. Desviou o olhar, reparou nas
pessoas passando depois voltou a olhá-la.

- Queria muito que trabalhasse comigo neste caso, não


posso te responder agora sobre o que penso. Mais
tarde saberá o que decidi. – levantou-se e deixou as
duas sozinhas.

Lívia olhou para Beatriz e fez uma expressão como


quem não entendeu.

- Acho que ela vai repensar. – a garota falou.


- Sei não, Camila é imprevisível.
- Ela está nesse julgamento, mas não deveria estar no
Acre?
- Vai saber. Não entendo a vida que ela leva.

Voltaram para o escritório. Lívia ficou até a hora do


almoço apenas, depois foi buscar Marta que passaria a
semana com elas para que ficasse com Marina. Deixou
a mãe em casa e voltou pro trabalho. A cabeça estava
fervilhando, não sabia se voltava a falar com Camila ou
se a deixava pensar. Concentrou-se no trabalho que até
perdeu a hora. Guilherme bateu na porta e entrou em
seguida.

- Vai dormir aí?

Lívia levantou a cabeça e tirou os óculos.

- Estão saindo?
- Já ué, passa das sete.
- Gente, disse que chegaria cedo em casa hoje.

Saíram logo em seguida e Lívia ainda pegou um


engarrafamento. Chegou em casa quase nove da noite.

- Minha filha, achei que tinha tido algum problema no


escritório, já estava te ligando.
- Não mãe, me atrasei mesmo e ainda peguei um
trânsito de cão. Cadê Marina?
- Está no quarto cochilando. Fiz o jantar, não vai
comer?
- Não, só uma fruta e vou deitar com ela, quero ficar
perto.
- Ela passou a tarde bem, não sentiu dor e se
alimentou. Estou de olho nela.
- Obrigada mãe. – segurou suas mãos. – Vou subir.

Quando chegou ao quarto, Marina estava dormindo


ainda. Correu e tomou banho para poder deitar com
ela. Enfiou-se debaixo das cobertas e a abraçou,
ficando agarradinha. Pouco depois Marta apareceu com
uma maçã e lhe deu.

- Coma, senão serão duas de repouso.

Lívia sorriu e foi comendo enquanto conversava com a


mãe. Depois que Marta saiu do quarto voltou a abraçar
a loirinha e dormiu.

Acordaram as duas juntas no dia seguinte.

- Bom dia. – Marina falou primeiro.


- Bom dia querida. Dormiu bem? – alisou o rosto dela.
- Ahan. – segurou a mão de Lívia e a beijou.
- Está com fome?
- Não, estou meio sonolenta ainda.
- Dorme mais um pouco então, vou preparar seu café
da manhã e trago depois.
- Não vai trabalhar?
- Mais tarde, vou passar a manhã com você.
- Estou bem amor, não precisa atrapalhar sua rotina
pra ficar comigo.
- Minha rotina é você, o resto não é prioridade.

Marina cochilou de novo e só acordou uma hora depois.


Lívia tomou café com ela e a deixou ainda em repouso
quando foi trabalhar. Ficou esperando uma resposta de
Camila o dia todo e nada. E foi assim aquela semana
inteira sem que a juíza desse sinal de vida.

Marina voltou à médica e ela a liberou para que


pudesse trabalhar.

- Nada de movimentos bruscos viu mocinha. Você ainda


requer cuidados, mas já pode voltar a trabalhar. –
falava enquanto a examinava. Dessa vez fariam um
ultrassom em 3D. Ângela olhava tentando ver o sexo
dos bebês, mas nada falou com as duas e com Marta,
que dessa vez foi junto. Deixou pra falar se realmente
conseguisse ter certeza.
- Ta tudo bem? – Lívia perguntou.
- Com os bebês sim, o cisto aumentou um pouco, mas
dentro do esperado. Já estão estocando fraldas? Porque
gasta muito viu? – riu.
- Nossa nem me fale. To reservando um quarto só pra
elas. – Marina brincou.
- E as roupinhas? Aposto que Lívia já comprou um
monte.
- Ângela, se eu não seguro, Lívia compra uma loja
inteira.
- É que é tudo tão bonitinho, não consigo resistir.
- Os bebês terão de trocar de roupa umas cinco vezes
por dia, só pra dar conta de usar tudo.
- Graças a Deus que eles terão uma família
estruturada. Muitas crianças não têm. – sorriu e olhou
para as duas. – E vocês compraram roupas mais
unissex, sim?
- Ah é, porque senão é dinheiro perdido.
- Então podem comprar agora roupas de menina e
menino. – falou olhando para ver a reação das duas.
- É sério?! – Lívia sorriu e se levantou para olhar a tela
de ultrassom, como se soubesse interpretar as
imagens.
- Vai ser o casal de gêmeos mais bonito do Rio de
Janeiro. – Ângela completou. – Acho que a ficha de
Marina ainda não caiu.
- Um casal amor. – Lívia a olhava. – Ei...

Marina estava com o olhar parado na tela de ultrassom


e de repente deu um largo sorriso.

- Acho que vou chorar. – uma lágrima já descia pelo


rosto apesar do sorriso.
- Ta chorando porque viu que agora é trabalho
dobrado. – Marta brincou.
- Não, é porque meu sonho está se realizando, junto
com o dela. – Marina deu a mão a Lívia.
- Se está acontecendo é porque vocês merecem, tenho
certeza. – a médica falou sorrindo para as duas.

Ao saírem da clínica as três foram almoçar e a conversa


girou em torno dos bebês. Marta era só sorriso. Faziam
planos para a decoração do quarto, sobre o nome deles
e até onde iriam estudar.

- Estamos exagerando hein? Nem sabemos o que cada


um deles quer ser. – Marina riu. – Eu fui criada com
total liberdade, tanto que fiz música e meus pais nunca
se opuseram.
- Verdade, muitos pais erram escolhendo a profissão
dos filhos e os frustram pra uma vida toda.
- Preciso contar a Renata e a Barbara. Renata vai ficar
doidinha. – riu.
- Sua família não sabe ainda? – Marta perguntou.
- Não. – Marina baixou o olhar. – Eles nunca mais me
ligaram e somente Barbara mantém contato. Queria
poder contar pra eles e dividir minha alegria. – sorriu
desanimada.

Marta não soube o que falar, era uma situação


delicada, mas quanto mais se mexia, pior ficava.

- Quando é assim, Deus ajeita as coisas. – sorriu


tentando consolá-la.
- Amor, preciso voltar ao escritório, já terminou? – Lívia
perguntou carinhosamente.
- Ahan. – limpou a boca.
- Não vai comer sobremesa? – sorriu.
- Hoje não, prefiro não exagerar no doce, a médica
pediu.
- Tadinha, fazendo sacrifício. – abraçou-a.
- Nem tanto, lá em casa tem sorvete e muitos bombons
de menta. – encostou a cabeça no ombro da morena. –
Marta, ela comprou todos os doces de menta e hortelã
da cidade. – alisou o rosto de Lívia e a beijou.
- Claro, ia deixar você passando vontade? De jeito
nenhum! – beijou o topo da cabeça da loirinha.
- Em casa eu tomo meu sorvete, mas vou te esperar. –
sorriu como uma criança sapeca. Lívia sabia o motivo.
- Então ta bom. Vamos, que não posso me atrasar.

Ao se levantarem Lívia avistou Camila parada na porta


do restaurante as observando e ao saírem ela se
escondeu atrás de uma pilastra, não deixando que
Marina a visse. Ao passarem próximas é que a juíza viu
o tamanho da barriga de Marina e que estava de mãos
dadas com Lívia. Lívia queria perguntar sobre o que
tinha decidido, mas viu que não teve brecha e preferiu
que Marina evitasse o dissabor do encontro.

Lívia deixou as duas em casa e voltou a trabalhar.


Quando estava saindo, à noite, recebeu um telefonema,
era o assessor de Camila dizendo que Lívia havia sido
substituída por outro promotor que viria do Rio Grande
do Sul. Ela saiu do escritório tão feliz que queria
comemorar. Passou numa padaria e comprou tudo que
Marina gostava. Chegou em casa animada e chamando
por elas.

- Amor! Mãe! Tem alguém aí?

Marina veio do estúdio e Marta da varanda.

- Que foi?! - A mãe perguntou.


- Trouxe muitas coisas gostosas. Já que minha mulher
não quis sobremesa no restaurante, agora eu comprei
um doce que ela gosta. E outras coisas gostosinhas.
- Quanta animação! – Marta falou.
- É, estou animada porque tenho uma esposa linda,
uma mãe maravilhosa e terei dois filhos abençoados
que se Deus quiser terão a carinha da mãe deles. –
sorriu.

As duas se entreolharam e não entenderam nada.

- Então ta, vamos comemorar a felicidade.

Marina olhava a mesa cheia de coisas gostosas e sentiu


a boca encher d água.

- É... a dieta vai por água abaixo. – riu e pegou um


pãozinho. – Depois que eu ficar imensa, você não
reclama. – olhou para Lívia.
- Pode ficar imensa, gigante, enorme, que eu não ligo.
Quero ver você sorrindo, só isso.

Marta não sabia do julgamento, pois Lívia havia


combinado com Marina de não falar nada com a mãe,
já que não conseguira esconder dela, ao menos Marta
ela queria poupar. Então deixaria para falar da
novidade no quarto a sós com a loirinha. Comeram
tanto que Marina quase enjoou de novo.

- Deus do céu. Desse jeito não chego nem ao sétimo


mês. Vou engordar muito!
- Um dia só não vai fazer você engordar. – Marta
tentou despreocupá-la.

Enquanto comia, Lívia somente a observava. Marina


estava linda, havia engordado somente a barriga e os
quadris estavam mais largos, os cabelos mantinha
curtos por ser mais prático. Sabia usar roupas de
gestantes, não deixava a barriga à mostra e estava
sempre elegante. Seu jeito era delicado e ainda parecia
uma menininha. Se diziam que mulheres grávidas
ficavam maravilhosas, Marina era a prova disso.

No quarto, Lívia cantarolava distraída, Marina a olhava


intrigada.

- Não vai me contar o que aconteceu?


- Vou. – sorriu e se aproximou dela. – Não falei lá
embaixo por conta de mamãe. O que acontece é que eu
consegui dispensa daquele julgamento. Não vou mais
ter que acusar aquele mafioso desgraçado de uma figa.

Marina abriu um sorriso e pulou no colo de Lívia.

- Ei, cuidado! – a morena a segurou. – Meus filhos vão


pensar que a mãe está numa montanha russa. – riu.
- Não acredito amor! Rezei tanto por você! Esse
julgamento vai trazer problemas demais. Juro de
coração que estou com medo por Camila, ela não sabe
onde está se metendo.
- Camila é metida a corajosa, sempre achou que estava
acima de qualquer ameaça, mas agora não está tendo
a noção de com quem está lidando.
- Estou feliz por não estar nessa confusão, meu coração
diz que não vai acabar bem.
- Não interessa mais, o importante é que conseguimos.
- Graças a Deus!

A morena a olhava com encanto, parecia perdida em


seus pensamentos.

- Que foi? – Marina alisou o rosto dela.


- Estou te olhando. – sorriu. – Sabia que está a grávida
mais linda que já vi? – envolveu os braços em sua
cintura.
- Tudo bem que você não vê muitas grávidas, mas vou
aceitar o elogio.
- Eu vejo sim. Na rua, no prédio onde trabalho. A
secretária do senhor Francisco do andar de baixo está
grávida, mas ela não está tão bonita quanto você.
- E você fica reparando nela é? – Marina fingiu mágoa.
- Fico. – Lívia beijou seus lábios.
- Ah é Lívia?! – ficou indignada.
- É, sabe por quê?
- Não, não sei por que você fica olhando para outras
mulheres. – a voz saiu realmente chateada.
- Olho pra ter certeza de que realmente a minha esposa
é a mais linda de todas as mulheres do mundo. –
beijou a testa dela. – Que é a grávida mais bonita. –
beijou a ponta do nariz. – E a mãe mais gostosa que
conheço. – riu e a beijou nos lábios.
- Você é muito boba, sabia? – Marina beliscou a barriga
dela.
- E você é muito linda! – sorriu para ela. – Acha mesmo
que fico olhando para outras mulheres? – beijou o
pescoço dela. – Hum?! – mordeu a nuca fazendo
pressão com os dentes.
- Não. Sei que tem o seu lado conquistadora e
cafajeste, mas confio em você.
- Eu, cafajeste? – Lívia se afastou um pouco.
- Totalmente. – a loirinha fez uma cara de sarcasmo. –
E eu adoro, porque é seu lado safado que me deixa
louca. – a olhou com malícia.
Lívia abraçou Marina e a beijou com todo carinho. O
clima começou a esquentar e aos poucos o beijo foi se
tornando mais ardente e as roupas iam sendo tiradas e
jogadas pelo chão. Completamente nuas, Lívia parou
para olhar Marina e ficou meio sem ação.

- Que foi? – a loirinha sorriu e alisou o rosto dela.


- Será que não vou te machucar, porque você está...
- Estou grávida Lívia e não doente, esta frase é velha,
todo mundo conhece.
- Não quero te machucar. – falou insegura.
- E não vai.

Marina sentou na beirada da cama e guiou os


movimentos de Lívia.

- Vem... me beija aqui. – puxou o rosto dela para que


beijasse seu pescoço e ombros. Depois pegou as mãos
dela e levou até os seus seios e fez com que
massageasse os mamilos.

Lívia se excitou, mas foi comedida. Marina pegou sua


outra mão e foi descendo contornando a barriga até
chegar em seu sexo.

- Agora aqui... bem devagar... – sentiu os dedos da


morena. – Ah...
- Querida eu acho que...
- Shii... vem... – Marina deitou na cama e abriu as
pernas para que Lívia a possuísse. Aconteceu de forma
delicada e sem pressa. Lívia beijou seu sexo e acariciou
com cuidado. Sentia a excitação de Marina escorrer em
seus dedos, mas não teve urgência para que ela
gozasse.
- Mais amor... mais...

Lívia então a penetrou com dois dedos e lambeu o


clitóris ao mesmo tempo. Sentiu seu corpo sacudir em
espasmos e relaxar em seguida. Deitou ao seu lado e
ficou admirando aquele perfil de traços delicados, o
nariz arrebitado, bochechas vermelhas. Ficava linda
quando faziam amor.

- Te amo muito. – alisou o rosto dela.

Marina a olhou sorrindo e beijou seus lábios.

- Também amo muito você. – fechou os olhos e depois


falou com doçura. - Estou tão feliz que nossa família vai
aumentar. Me deu vontade de morder você quando
Ângela falou que teríamos um casal. Sua carinha foi
linda. – continuava sorrindo.
- Você está realizando um sonho meu.
- Estamos realizando amor.

Beijaram-se de novo e dessa vez foi Marina quem quis


possuir Lívia.

O tempo foi passando e a barriga de Marina só


crescendo, assim como sua fome. Às vezes tinha
momentos em que parecia querer comer um boi, depois
vomitava. Com o tempo o enjôo acabou de vez, mas
sensações repentinas continuavam, hora chorava, hora
ria, ficava nervosa, queria fazer amor com Lívia o dia
inteiro, depois dormir uma semana. A morena passava
aperto com os rompantes dela, mas se mostrava
sempre carinhosa. Toda manhã acordava e dava um
beijo em Marina e outro em sua barriga. Conversava
com os bebês pra ver se eles mexiam, mas nada
acontecia. Até que um dia Marina estava no estúdio de
casa, gravando uma trilha para Felipe. Lívia chegou do
trabalho e se sentou ao lado dela.
- Que música é essa?
- Nenhuma em particular. Criei essa trilha, ele pediu
pra colocar de fundo num DVD de uma empresa.
- Ficou boa.
- Estou sem inspiração. – reclamou fazendo bico.
- Vou cantar pra você, aí sua inspiração vem. – a
morena riu.
- Sabe que você canta bem?
- Eu? Você é mesmo um amor, me elogiando. Não
canto nada, linda.
- Quando quer e não força a voz, você canta direitinho.
Outro dia estava cantarolando e eu percebi que tem a
voz afinada. Muitos não têm.
- O que eu estava cantando?
- Uma música do Caetano Veloso eu acho.
- Ah sim, oração ao tempo.
- Isso.

Marina procurou o tom no piano e começou a tocar.

- Canta pra mim. – pediu.

Lívia começou a cantar baixinho, parecia acanhada,


mas Marina era tão doce que ela acabou se
descontraindo e perdendo a vergonha.

- “És um senhor tão bonito, quanto a cara do meu filho.


Tempo, tempo, tempo, tempo, vou te fazer um pedido.
Tempo, tempo, tempo, tempo...” – sorriu timidamente
para Marina, mas continuou cantando. - Compositor de
destinos, tambor de todos os ritmos. Tempo, tempo,
tempo, tempo. Entro num acordo contigo. Tempo,
tempo, tempo, tempo...”

Marina parou de repente e olhou assustada para Lívia.

- Já sei, desafinei e...


- Não! Continua...
Voltou a tocar e Lívia continuou cantando.

- “Por seres tão inventivo e pareceres contínuo. Tempo,


tempo, tempo, tempo. És um dos deuses mais lindos.
Tempo, tempo, tempo, tempo... Que sejas ainda mais
vivo. No som do meu estribilho. Tempo, tempo, tempo,
tempo. Ouve bem o que te digo. Tempo, tempo,
tempo, tempo...”

Marina parou de tocar com uma das mãos e pegou a


mão de Lívia, colocando em cima de sua barriga. A
morena não entendeu a princípio e continuou cantando.

- Peço-te o prazer legítimo e o movimento preciso.


Tempo, tempo, tempo, tempo. Quando o tempo for
propício. Tempo, tempo, tempo, tempo... De modo que
o meu espírito ganhe um brilho definido. Tempo,
tempo, tempo, tempo...

Os bebês mexeram e Lívia parou de repente.

- Mexeu amor! Eles mexeram!


- É, estavam mexendo enquanto cantava, mas quando
você parou, eles pararam também. Por isso pedi que
continuasse. Acho que gostaram da sua voz.

Lívia ficou emocionada, beijou a barriga de Marina e


falou quase chorando.

- A mãe de vocês é desafinada, mas canta com o


coração.
- Por isso eles gostaram, meu bem. – alisou os cabelos
dela.
- É a primeira vez que mexem. – sorriu.
- Só porque você cantou, agora vai ter que cantar pra
eles todo dia.
- Eu faço esse sacrifício. – riu.
Marina achou linda a expressão dela, Lívia parecia uma
menina empolgada, ao mesmo tempo em que era
responsável e dedicada. Não tinha dúvidas de que seria
uma boa mãe, poderia ficar tranquila que se algo
acontecesse a ela, seus filhos estariam em boas mãos.

- Linda! Você será a melhor mãe que eles poderiam ter.


– beijou-a nos lábios. Vamos cantar de novo pra ver se
eles mexem.

Retornaram a música e passaram a tarde vendo os


bebês mexerem.

Depois de muito pensarem sobre o quarto dos bebês,


decidiram fazer algumas mudanças no quarto de Luisa,
a menina mesmo quem deu a idéia. Disse que queria
tomar conta dos primos quando estivesse no Rio.
Compraram os berços e um carrinho para gêmeos e
mais todo e qualquer tipo de apetrecho para crianças.
Lívia entrou na internet e fez uma lista de produtos e
acessórios que as crianças usam. Anotou tudo e saiu
pra comprar. Deixou Marina doida por conta dos
exageros.

- Meu amor, tem coisa aqui que eles só vão usar


quando tiverem uns dois anos.
- Não tem problema, melhor sobrar que faltar.
- Minha nossa senhora. Se Marta estivesse aqui ia te
podar.
- Ainda bem que não está, mamãe e você juntas não
me deixam fazer nada. – fez um bico.

A loirinha revirou os olhos e continuou andando rumo


às compras.
- Vem bicudinha, vamos comprar a mamadeira de
vidro. Porque esta eu faço questão de ter. – deu a mão
a ela e saíram.

Certa noite de madrugada Marina acordou e foi pra


cozinha; procurou o que comer na geladeira e não
achou o que queria. Olhou nos armários e nada
também. Voltou para o quarto choramingando. Lívia
acordou quando ela deitou novamente na cama.

- Que foi querida? Por que está chorando?


- Não tem nada pra comer. – fez um bico emburrado.
- Como? – se controlou pra não rir.
- Estou com fome, quero comer e não tem comida.
- Amor... – se posicionou ficando de frente pra ela e
segurou suas mãos. – É claro que tem comida, fizemos
compras ontem. – Pode não ter o que você quer comer.
- Ah... – se lamentava copiosamente.
- O que meu anjinho quer?
- Não sei, eu quero comer uma coisa doce, gelada e
que tenha coisas crocantes que eu possa mastigar.
- Hum... – Lívia pensou.
- Aqui não tem... – falou dengosa.
- Não precisa chorar linda, eu dou um jeito.
- Eu ando chorona mesmo. Dizem que grávida chora a
toa.
- Fica quietinha aí que eu já volto. Meus bebês não vão
passar vontade e quando digo bebês isso inclui você. –
sorriu.
Mudou a roupa rapidamente e foi atrás do desejo de
Marina. Olhou no relógio, eram duas da madrugada.

“Senhor, me ajude!” – pensou na dificuldade que teria


de achar uma sobremesa. Rodou nas padarias mais
próximas e não achou nada parecido. Tentou no
mercado vinte e quatro horas e também não. Achava
sorvete, mas não tinha nada crocante, achava tortas,
mas não estavam geladas. Até que ao passar por uma
lanchonete do Bob´s teve uma idéia. Comprou um
milk-shake de ovomaltine.

- Pronto, achei!

Comprou um copo de meio litro. Chegou em casa


rápido para que não derretesse e levou pra ela. Marina
estava acordada ainda.

- Amor, espero que seja isso. Bate com as descrições


que me falou. É gelado, doce e crocante. Lívia achou
graça da cara que a loirinha fez. Parecia uma criança
que ganhara um pirulito. Pegou o copo da mão dela e
puxou um tanto grande pelo canudo e fechou os olhos.
- Nossa que delícia. – sorriu.

Lívia ficou parada ao lado dela se sentindo o máximo


por ter conseguido realizar mais um desejo.

- Vou pro céu porque realizei o desejo de uma grávida.


– riu.
- Não sei se vai pro céu, mas vai ganhar um beijinho de
agradecimento.

Marina segurou seu rosto e beijou sua boca. Ainda


tinha milk-shake nos lábios.

- Hum... beijinho gostoso. – lambeu os lábios da


loirinha. – Agora toma tudo, comprei o maior, se não
der conta guarda pra amanhã.

Não deu nem meia hora e Marina deixou o copo vazio


ao lado da cama.

- Misericórdia! – Lívia arregalou os olhos. – Ainda bem


que foi o maior, senão teria que voltar pra comprar
outro.
- Obrigada amor, agora posso dormir satisfeita.
- Ô! Amém né?

No dia seguinte Lívia relutou em acordar. Ficou


conversando com Marina na noite anterior até que ela
dormisse, isso atrapalhou seu sono depois. Não se
preocupou muito, pois era sábado e no dia seguinte
aproveitaria pra descansar. Marina acordou primeiro,
desceu e foi a rua com Renata. Quando voltou a
morena ainda dormia.

- Nossa, que sono hein?


- Deixa ela dormir Rê. Ontem a fiz levantar da cama às
duas da manhã pra comprar um milk-shake.
- Ta brincando né?!
- Não. – apertou os lábios.
- Tua cara de pau chega a me assustar.
- Não se recusa o desejo de uma grávida, não sabia
disso? – Lívia falou descendo as escadas.
- Acordou amor! – Marina foi ao seu encontro para
beijá-la. Usava uma jardineira jeans com um top e
sandálias.
- Onde foi bonita assim?
- Saí com Renata pra comprar fraldas, tem uma marca
que entrou em promoção. Aproveitei pra correr lá.
- Nossa, não cabe mais um pacote de fralda nessa
casa.
- Minha filha você pensa que é muito? Num dou três
meses pra eles acabarem com tudo. – Renata riu.
- Aí aproveitei pra almoçar. – Marina terminou de falar.
- Quantas horas?
- Uma hora.
- Eita! Eu dormi isso tudo?
- Dormiu. – Marina sorriu. – Eu trouxe seu almoço. Não
esperei pra almoçar com você porque não sabia se ia
acordar mais tarde, mas lhe faço companhia.
Sentaram na varanda e conversaram enquanto Lívia
almoçava. A televisão estava ligada e foi aí que viram a
notícia sobre o julgamento de Fabio: tinha sido
condenado a trinta e oito anos de prisão em regime
fechado. Lívia olhou para Marina como que
compartilhando do mesmo pensamento.

- Essa juíza ta lascada. – Renata falou.

As duas nada comentaram.

Passaram-se alguns meses e Marina entrava no sétimo


mês de gravidez. Já sentia dificuldades para andar.
Marta insistia em ficar com elas, mas Lívia não queria
incomodar. À noite, preparando-se para dormirem, foi a
loirinha quem manifestou a vontade de que a sogra
ficasse com ela.

- Sua mãe podia vir amor, assim ela me ajuda a


organizar melhor as coisas dos bebês.
- Tudo bem então, se vai se sentir melhor com ela aqui,
eu ligo amanhã.

Marina foi abaixar pra pegar uma blusa que havia caído
no chão e quase que não levanta.

- Ta cada dia mais difícil. – fez uma careta. – Estou


andando que nem uma pata, só consigo dormir de lado,
não consigo ver nem os meus joelhos. – lamentou.

Lívia a olhava e sorria. A loirinha estava mais inchada,


mas ainda ficava linda.

- Está linda querida! Deslumbrante como uma gestante


no sétimo mês de gravidez. – abraçou-a por trás.
- Foi-se o tempo em que você conseguia circular os
braços em volta de mim. – riu; - Será que meu corpo
vai voltar ao normal? – falou apreensiva.
- Claro! Você se cuidou a gravidez toda, passou
hidratante, óleos, nem teve estrias.
- Vou malhar dia e noite. – arregalou os olhos.
- Eu te ajudo a perder peso, mas seu metabolismo é
bom, rapidinho você volta ao normal. E se não voltar,
qual o problema?
- Você me troca.
- Nem que você tenha duzentos quilos. Eu faço
musculação pra aguentar, se for o caso.
- Humpf! – Marina fez um bico.
- Vem bonitinha, vamos deitar. A noite passada você
não dormiu bem e hoje vou fazer uma massagem pra
você relaxar.

Marina deitou de lado e Lívia fez a massagem como


falou. Depois a abraçou, ficando as duas debaixo das
cobertas. Ela já não conseguia abraçar a cintura de
Marina, pois a barriga não deixava.

- Preciso de braços maiores. – brincou.


- Boba. – Marina lhe deu um tapinha no braço.
- Pesa muito? – Lívia alisou a barriga.
- Ah pesa, quando deito de barriga pra cima parece que
vão me sufocar. E quando chutam parece que meu
estômago vai vir na boca.
- Eles são agitados.
- Que nem a mãe deles. – sorriu.
- Ainda bem, eu gosto de criança bagunceira. São mais
espertos e inteligentes.
- Fala isso agora viu, quero ver quando estiverem
correndo pela casa e você doida atrás deles.
- Vou agitar com eles.
- Sei, pelo visto terei que tomar conta de três crianças.
- Amor, o que são aqueles papéis com nomes em cima
da mesa lá embaixo?
- Ah... é... – Marina riu. – Eu coloquei alguns nomes lá
pra sortear depois.
- Então o nome dos meus filhos será escolhido por
sorteio? – levantou a sobrancelha.
- Parecia uma boa idéia quando pensei. – Marina a
olhou sorrindo.

Lívia parou um pouco, suspirou e falou virando o rosto


de Marina pra ela.

- Você está uma grávida linda! A vejo sorrir e seu rosto


parece se iluminar. Dizem que as mulheres grávidas
ficam radiantes e é a mais pura verdade. Quando a
elogio, não é só pra que se sinta bem, falo
sinceramente. – beijou-lhe os lábios.
- Estou inchada amor, andando que nem uma pata e...
- Não! Está linda! – a interrompeu.
- E nem me sinto mais desejável... – desviou o olhar.
- Quer que eu lhe mostre o quanto é desejável pra
mim? – Lívia beijou seu pescoço e o lóbulo da orelha. –
Você é cheirosa, macia, delicada e mesmo com essa
barriga toda e andando como uma pata... – riu. –
consegue ser maravilhosa. – beijou seus lábios com
mais paixão. Foi correspondida, mas interrompeu o
beijo. – No início quando tive receio de fazermos amor,
era por me preocupar em não machucá-la. Depois eu
relaxei, e hoje só não acontece porque você não quer.
- Estou me sentindo feia, desajeitada e por mais que
você fale o contrário, sou eu que me sinto assim. Sei
que faz de tudo pra que eu me sinta bem, mas não é
fácil. – pausou e depois respirou pra falar. - Depois da
cirurgia eu vou tirar o útero e pode parecer bobagem,
mas sinto como se depois que acontecer, não serei
mais mulher.

Lívia a principio se assustou um pouco com o que ela


disse.
- Entendo o que quer dizer. Só quero que saiba que
nada mudou e nem vai mudar. Você será sempre a
mesma Marina pra mim. A loirinha de olhos verdes que
encheu meu coração de amor, a pianista que tocou
minha alma, a produtora que tem toda minha
admiração, a mãe mais linda que já vi e por último e
não menos importante. – sorriu. – A única mulher
capaz de me deixar totalmente plena.
- Resumindo, eu a mato de orgulho. – a loirinha riu
gostoso.
- É por aí. – Lívia deu um sorriso tão bonito, acabou
fazendo com que Marina chorasse.
- Eu te amo tanto. – alisou o rosto dela. – Você é o
motivo de todas as minhas alegrias. Todos os meus
bons pensamentos têm sua assinatura. – beijou-a –
Amo você!
- Também te amo minha linda. Não fica amuada, que
logo essa fase vai passar. – beijava o rosto dela com
carinho.

Estavam conversando e namorando quando anunciou


no jornal a morte de Camila. Ela havia sido encontrada
morta dentro do próprio apartamento e tudo indicava
que era um acidente na cozinha. Marina sentiu um
arrepio no corpo e estremeceu.

- Meu Deus!
- Eu sabia. – Lívia trincou os dentes.
- Apesar de tudo ela não merecia, morreu por querer
ser corajosa demais.
- Tem horas que é melhor ser um manso vivo que um
herói morto. Que adiantou tanta arrogância? Isso foi
morte encomendada, tenho certeza.
- Vamos rezar pra ela amor, pra que Deus dê um bom
lugar a sua alma e que descanse em paz.

Lívia ficava impressionada com a capacidade que


Marina tinha de ser simples e gentil. Tinha um bom
senso invejável.

A notícia sobre Camila correu o país, o velório foi em


São Paulo e Lívia achou de bom tom ir. Deixou Marina
com Marta e foi com Guilherme. Cumprimentou os
familiares e não ficou muito tempo. Despediu-se dela
muito triste e desejando uma boa passagem. No
aeroporto enquanto esperavam o avião Lívia viu um
móbile musical, achou que ia combinar com o quarto
das crianças. Cada peça ao ser tocada tinha uma nota e
acendia uma luz bem suave.

- Agora preciso saber montar em casa. – riu pra


Guilherme que se divertia com a cena.
- Você não existe. – fez sinal de negativo com a
cabeça. – Se precisar de ajuda fala com a Bia, ela é
ótima pra ler manual.
- Já percebi, ela lê, lê e lê. Depois faz tudo certinho. –
riu. - Vão casar quando? – Lívia perguntou na lata.
- Que isso! Ta muito cedo, queremos curtir primeiro.
- Ta certo, vocês são novos ainda. Eu que quis logo
essa vidinha de casada.
- Ta reclamando? Você adora!
- Adoro mesmo, não troco por nada.

Viajaram falando sobre relacionamento e Guilherme se


revelou muito conservador. Lívia ficou admirada de ele
aceitar numa boa o relacionamento dela com Marina e
nunca ter feito uma cara feia.

Quando a promotora chegou Marina falava ao telefone


com Barbara, contava das novidades e também recebia
notícias do pessoal. Barbara insistia em contar sobre a
gravidez para os pais de Marina, mas ela não deixou.

- Não Barbara, depois que eles nascerem eu vejo isso.


E segura a língua de Luisa hein.
- Tudo bem.
- Vou desligar, Lívia acabou de chegar de viagem.
- Mande um beijo pra ela e outro pra você e os nenéns.

Desligou e foi até o escritório atrás de Lívia que


guardava suas coisas.

- Chegou meu bem. Como foi por lá?


- Muito triste. O pai dela chorou, muitos amigos,
reencontrei gente da faculdade. Todos emocionados.

Marina olhava penalizada.

- Está com fome? Sua mãe já deitou, mas eu preparo


algo pra você.
- Não quero jantar, mas você faz um sanduíche pra
mim? To sentindo falta da sua comida. – sorriu.
- Claro amor, vem.

Marina preparou um lanche e fez companhia para Lívia,


acabou comendo com ela.

- Comprei uma coisa, vou te mostrar. – a morena


limpou a boca e correu pra pegar o móbile.

Marina foi atrás dela, mas andando devagar.

- Calma aí, não posso correr.

Lívia veio com uma caixa na mão.

- Achei a cara deles e sua. – entregou a ela.

Marina abriu a caixa e viu o desenho do móbile.

- É lindo!
- Agora preciso aprender a montar. – fez uma cara de
criança levada.
- Eu te ajudo. – sorriu pra ela. – Adorei amor! Vai ficar
no quarto deles.

Abraçaram-se e Lívia sentiu a barriga de Marina mexer.

- Mexeu! - pôs a mão e sentiu de novo. – Acho que


gostaram do presente.
- Nos últimos dias eles têm mexido bastante. Hoje que
você viajou eles ficaram quietos o dia todo. É só
ouvirem a sua voz que eles se agitam.
- Eles sabem que a outra mãe é bagunceira. – agachou
e ficou conversando com os nenéns.

Marina ria divertindo-se. Lívia dava beijinhos e passava


a mão bem de leve, como se fizesse carinho neles.

No final do sétimo mês Marina começou a ficar mais


inchada e com dificuldade para andar por conta de dor
nas pernas. Na consulta com Ângela, a médica pediu
que ela ficasse mais em casa e que já fosse se
preparando para ter os bebês.

- Daqui pra frente Marina estamos sob alerta, qualquer


hora é hora. Deixe uma bolsa com roupas suas e dos
bebês preparadas.
- Eu já fiz isso. – Lívia correu em responder.
- Desde o terceiro mês de gravidez que essa bolsa ta
pronta. – Marina revirou os olhos e riu.
- Precaução ué.
- Melhor assim não é Lívia? Os precavidos valem por
dois. – Ângela brincou com a promotora. – Procure ficar
mais deitada e com os pés pra cima Marina, isso alivia
o inchaço e mantenha a dieta com pouco sal.
- Moleza isso, Marina só gosta de doce.
- Doce pode, mas sem exagerar, não queremos uma
diabetes gestacional já no fim.

Foram para o estúdio depois do consultório e Marina já


anunciou que iria se afastar até ganhar neném.
Combinou com Felipe de segurar os dois estúdios e
Diogo ficaria a postos também. Os funcionários a
cumprimentaram e desejaram saúde e felicidades a ela
e aos bebês. Depois foi pra casa acompanhada de
Marta.

- Às vezes sinto que vou explodir.


- É assim mesmo, quando estava prestes a ganhar Lívia
eu estava enorme. E ela nasceu grande hein?
- Tenho medo de acontecer alguma coisa comigo. –
Marina falou apreensiva. – Marta... – olhou para a
sogra. – Se me acontecer qualquer imprevisto, ajude
Lívia, por favor.
- Que isso Marina, não vai...
- Estou falando sério. – a interrompeu. – Se por acaso
algo der errado, gostaria muito que meus filhos
ficassem com vocês. Se dependesse de mim, minha
família nem os conheceria, já que não estão dando a
mínima para o que me acontece. – falou triste.
- Não vai acontecer nada querida, fica calma. Você está
bem e os bebês vão nascer já cantando e dançando. –
brincou.

Marta ficou preocupada, mas quis acalmá-la. Sabia que


aquela gestação tinha sido toda controlada por conta do
cisto e que Marina poderia sim ter algum tipo de
complicação no parto. Não quis pensar negativo, então
rezou para afastar aquela sensação.

Quando Marina entrou no oitavo mês de gravidez


Ângela fez um ultrassom e viu que o cisto estava
aumentando. Chamou Lívia para conversar a sós, para
não preocupar a loirinha.

- Não quis que ela participasse dessa conversa, mas


não é nada grave.
- O que houve?
- O cisto está aumentando e eu não posso dar mais
medicação do que já estou dando, poderia prejudicar os
bebês.
- Então...?
- Acho melhor marcarmos logo a cirurgia. Antes que as
coisas se compliquem.

Voltaram para a sala e Ângela conversou com Marina.

- Quero marcar sua cesariana Marina, acho que não


precisa esperar mais. Logo que você tiver os bebês, a
gente já marca a cirurgia para a histerectomia.
- É, nunca achei mesmo que fosse ter parto normal.
- Poderíamos tentar se não fosse o problema do cisto,
mas seria arriscado.

Marcaram a cesariana para uma quinta-feira, assim


teriam alguns dias para se preparar.

Renata se dedicou totalmente ao estúdio e teve uma


boa ajuda de Eduardo. Felipe vinha de São Paulo a cada
quinze dias e lhe dava as coordenadas. O movimento
não foi prejudicado e tudo estava sob controle, para a
tranquilidade de Marina.

- Fica calma chefinha! Quando você voltar seu posto


estará sendo ocupado por mim. – brincou.
- Ah é? Quero ver quando começar a receber cantadas
de músicos folgados. Eduardo vai morrer de ciúme.
- Ele ta na minha cola o dia todo. Parece até que ta
marcando território.
- Deve ser mal de cariocas. Lívia faz isso também. –
riu.
- Fica tranquila que o estúdio está caminhando bem. E
eu vou te mantendo a par dos compromissos, pra
quando voltar não ficar tão perdida.
- Se Deus quiser, volto logo. – falou quase num
desânimo.

Percebendo a carinha da amiga, Renata quis


descontrair.

- Ele há de querer. Relaxa, curte os bebês e a mãe


babona deles. – riu.

Renata tinha o dom de tranquilizar Marina. Sabia que


estando nas mãos da secretária, nada daria errado.

Lívia ajudou Marina a preparar a mala e certificar de


que nada faltaria no hospital. Estava tudo pronto para a
data marcada da cesariana. Porém um dia antes da
cirurgia, Marina sentiu uma dor e teve um sangramento
muito forte. Precisou ir às pressas para a clínica. Por
sorte Lívia estava em casa.

- Vim o mais rápido que pude. – falou com a médica já


entrando no hospital.
- A sala de cirurgia está pronta. – Ângela falou
colocando Marina na maca.

Estava cada vez mais pálida e parecia querer dormir.

- O que aconteceu? – a morena perguntou apreensiva.


- Não sei te dizer, só examinando. Dessa vez você não
poderá entrar, mas fique tranquila que vai ficar tudo
bem. Te dou notícias assim que possível.

Lívia segurou a mão da loirinha e a beijou.


- Meu amor eu vou ficar aqui fora viu? Não saio daqui
sem você, vai dar tudo certo.
- Eles... vão... ficar com você. – falou devagar e com
certa dificuldade.
- Ficarão conosco, nós duas juntas.
- Amo você...
- Também te amo.

Marina entrou na sala de cirurgia e Lívia ficou


aguardando o que parecia ser uma eternidade. Fizeram
alguns exames e descobriram que o cisto havia
pressionado a bolsa e ela estourou. Por conta disso,
Marina também estava com uma hemorragia e por isso
o sangramento. Ângela mais que depressa fez a
cesariana, primeiro nasceu a menina, logo em seguida
o menino. Por estar sedada, Marina não os viu nascer.
Quando Ângela entregou o garoto para que a
enfermeira o limpasse os monitores cardíacos acusaram
uma parada respiratória na loirinha.

- Corre! – gritou para o enfermeiro.

A pressão dela baixava rapidamente, tentaram


desfibrilador, mas ela não reagiu. Ângela achou que ia
perdê-la.

- Uma última vez.

O enfermeiro veio, jogou a carga e esperou. Ângela


olhou a pressão e havia estabilizado.

- Graças a Deus! – verificou o pulso e voltou-se para o


enfermeiro. – Prepare que vou fazer a retirada do
útero.
- Não vai esperar? Agora é arriscado.
- Se eu esperar ela pode ter outra hemorragia, não
adianta retirar somente o cisto, vou fazer tudo de uma
vez. Risco por risco, melhor não esperar.
Mais de quatro horas se passaram e Lívia estava à
beira da loucura. Queria notícias e só o que falavam era
que Marina ainda estava em cirurgia. Sua mãe havia
ligado e já vinha acompanhada de Renata. Chegaram
naquele momento.

- Lívia por que você não me ligou? – Marta falou


preocupada.
- Desculpa mãe, quando tudo aconteceu a senhora
tinha acabado de sair.
- Cheguei em casa e não encontrei vocês, só me dei
conta de que tinha acontecido algo porque não vi a
bolsa de Marina no quarto, mas isso foi agora pouco.
- Eu nem me lembrei de nada. – Lívia foi relatando tudo
que tinha acontecido e terminou falando desanimada. –
Faz horas que ela está lá dentro e eu não tenho notícia.
- Calma, ainda não devem ter terminado. – Renata
falou.
- Vamos rezar que tudo vai ficar bem. – Marta tentou
confortá-la.

Dentro da sala de cirurgia Ângela terminava de fazer a


histerectomia, Marina tinha a pressão muito baixa, mas
resistia.

- Aguenta firme menina, estamos acabando.


- Doutora, ela está muito pálida. – o enfermeiro falou.
- Eu sei, mas ela vai aguentar. Tem duas crianças
lindas esperando por ela.

Quando terminou a cirurgia pediu pra falar com Lívia.

- E aí Ângela? Como ela está? E os bebês?


- Calma, uma pergunta de cada vez. Os bebês estão
ótimos, você vai vê-los daqui a pouco. O parto foi
relativamente tranquilo, mas Marina teve uma parada
cardíaca. Pensei em retirar somente o cisto, mas não ia
adiantar e isso poderia prejudicar a recuperação dela.
Então fiz a histerectomia e essa cirurgia foi um pouco
complicada devido a perda de sangue e baixa pressão
dela. Marina está na UTI agora e em coma.
- O que?!
- Calma.
- Calma?!?! Ângela minha mulher está em coma e você
me pede pra ter calma?!
- Não adianta se apavorar. Lívia, ela é nova e tem
grandes chances de se recuperar. Está numa das
melhores clínicas do país.

Lívia apertava o braço da cadeira, estava com raiva,


com medo, tinha tantas sensações que não sabia qual
era a pior.

- Posso vê-la?
- Primeiro vou te levar até as crianças, estão na
incubadora.

Ao ver os filhos Lívia se emocionou.

- Ele é a cara dela. – Ângela falou. – E posso afirmar


que a menina se parece com você.

O menino era loiro e muito clarinho, já a menina tinha


os cabelos muito pretos.

- São saudáveis, nasceram com quase três quilos cada


um. Agora vem, vou te levar na UTI, mas lá não
podemos demorar.

Quando Lívia viu Marina toda cheia de aparelhos, não


aguentou e chorou.

- Por que isso aconteceu?


- Calma Lívia, Marina vai sair dessa. O tempo será
nosso aliado agora, as primeiras quarenta e oito horas
serão cruciais.
- Esperar é que é o problema. E os bebês?
- Ficarão aqui nesse mesmo período, melhor pra eles,
pois nasceram prematuros.
- Vou falar com minha mãe e uma amiga que estão lá
fora.
- Pode ficar sossegada que eu mesma vou monitorar
tudo. Não sairei desse hospital até que Marina saia
daqui andando.

Lívia se sentiu confortável com aquelas palavras,


Ângela lhe passava uma segurança e isso era
importante. Contou a mãe e a Renata que ficaram
desoladas.

- Não sei se agradeço ou se reclamo. Meu Deus, não


podia vir as notícias boas todas juntas? – Renata
falava.
- Ela vai ficar bem, minha intuição de mãe diz isso.
- Deus te ouça mãe... Deus te ouça.

As três saíram do hospital, deixaram Renata em casa e


foram pra casa. O apartamento de Lívia nunca ficou tão
vazio, chorou como uma criança ao olhar o quarto dos
bebês.

- Queria que eles estivessem aqui. Queria que ela


estivesse aqui.
- E estarão, daqui uns dias. – Marta a abraçou.
- Vou voltar pra lá mãe e esperar, quero ficar do lado
dela.

Marta ia censurar a filha, mas pensou no que ela


estaria sentindo.

- Tudo bem, faça o que se sentir melhor.

Lívia tomou banho, pegou algumas roupas e foi pro


hospital. E nos dias que se seguiram ficou ao lado de
Marina e dos filhos. Os amigos ligavam e sempre
diziam palavras reconfortantes, desejando saúde. As
quarenta e oito horas se passaram e o estado da
loirinha era estável. Nem havia melhorado, nem
piorado. Ângela a monitorava todos os dias e num
deles perguntou a Lívia.

- Quando é que vão colocar nomes nos bebês? Está


esperando ela acordar?

Lívia sorriu meio sem graça.

- Na verdade sim.
- Lívia, acho melhor fazer de uma vez, pois pode
demorar. – tentou não ser pessimista.
- Trouxe uma caixa com vários nomes. É pra sortear.
- Como é?! – a médica perguntou surpresa.
- Marina queria assim, então vou fazer do jeito que ela
desejou.

Ângela achou engraçado, mas entendeu. Lívia pegou a


caixa e pediu a mãe para sortear. Marta mexeu bem os
papéis e puxou um.

- Ai meu Deus! Espero que tenha escolhido bons


nomes. – desdobrou o papel e leu. – Helena e
Henrique.

Lívia deixou escorrer uma lágrima no rosto e não falou


nada.

- Que nomes lindos. – Ângela falou sorrindo. – Bela


escolha vovó. Vou pedir imediatamente para colocarem
as pulseirinhas. – falou e saiu do quarto.
- Ela vai adorar esses nomes. – Lívia falou.
- Vai sim filha. – Marta a abraçou.
A rotina era sempre a mesma. Lívia ia para o trabalho,
verificava todas as pendências pela manhã e depois
voltava para o hospital. A família de Marina nada sabia
ainda e também não tinham ligado. Barbara havia dado
um sumiço, Lívia achou melhor dada a situação no
momento. Numa manhã de sábado Ângela a chamou
no quarto. Olhou para Lívia e se manteve séria.

- O quadro dela é estável, mas acreditamos que é


irreversível.

Os olhos de Lívia estavam parados.

- Está com os batimentos normais, pressão normal,


mas não reage. Tentamos todo tipo de medicação e
nada.
- Ela vai morrer? – perguntou em tom sério.
- Marina não tem qualquer sintoma que a leve a óbito,
mas ela não tem estímulo pra acordar. É como se não
quisesse viver, é essa a impressão que me passa. Você
quer entrar no quarto?
- Eu posso?
- Claro.

Lívia entrou com Ângela e logo a médica saiu para


deixá-las a sós.

- Meu amor. – falou baixinho. – Estou aqui, desde a


semana passada. Estou cuidando de você e dos nossos
filhos. Eles agora têm nome sabia? Helena e Henrique.
Mamãe quem escolheu, na verdade sorteou da sua
caixinha. – sorriu. – Henrique é a sua cara e dizem que
Helena se parece comigo. Estou com saudades, queria
tanto que estivesse do meu lado. Por favor, não me
deixe sozinha, não sei viver sem você. – começou a
chorar. – Reaja Marina, por nossos filhos, pela nossa
vida.
Abaixou a cabeça e beijou a mão da loirinha. Suas
lágrimas agora eram incontroláveis. Não pode ficar
muito tempo na UTI, mas Ângela prometeu que ela
poderia ir lá todos os dias. Ao sair do hospital um pouco
para espairecer, Lívia sentou numa pequena praça onde
havia um chafariz em uma fonte. O tempo estava
gostoso, ventando um pouco e um sol bem fraco.
Olhava a tudo como se estivesse em preto e branco.
Pensou em quando conheceu Marina, em como ela era
quando mais nova, estudiosa, disciplinada e linda.
Sempre fora linda. Lembrou das viagens, dos passeios
pelo Rio, de quando sentavam pra conversar na
varanda e ficavam horas namorando. Não ligava para
essas coisas até conhecê-la. Era por Marina ser simples
que havia conquistado seu coração. Achou graça
quando se lembrou das férias com a família dela e de
como era dedicada a eles.

- É isso! Família!

Pegou o telefone e ligou para Renata pediu o endereço


certo dos pais dela e foi pra casa. Voou no primeiro
avião pra São Paulo e de lá foi pra Jaú, bateu na porta
dos Calleguer às nove da noite.

- Boa noite. – falou olhando para Roberto.


- O que faz aqui essa hora?
- Estou aqui pra falar de Marina.
- Marina! O que houve com ela?
- Primeiro eu vou entrar. – falou imponente.

Maria José ouviu umas vozes e foi até eles.

- Quem é? – parou quando viu Lívia. – O que você


quer?
- O que eu quero? Primeiro eu quero todo mundo
sentado aqui nessa sala agora! – falou com autoridade.
- Mas o que é isso? O que pensa que está fazendo?
- Já, já eu te falo. Chame a todos.

Maria José não ia chamar, mas Mateus e Barbara


apareceram na sala em seguida.

- Pronto, agora eu vou dizer o que eu quero. – olhou


um por um. – Eu quero minha vida de volta, quero
minha esposa rindo e feliz ao meu lado. Quero ouvir a
voz dela todas as manhãs me desejando bom dia,
quero andar com ela na praia e sentir o seu perfume
trazido pelo vento. Quero vê-la criando nossos dois
filhos. Talvez vocês não se importem com ela, mas eu
sim e é por isso que estou aqui. – manteve a posição
firme.

Como ninguém se mexeu, Lívia retomou a fala.

- Há quase um mês Marina deu a luz a gêmeos, duas


crianças lindas, mas teve complicações no parto por
conta de um cisto no útero. Ela sabia que teria esse
risco, mas resolveu ter filhos assim mesmo. Hoje está
em coma, num estado que os médicos consideram
irreversível. Sabem por quê? Marina não quer mais
viver, perdeu o sentido pra ela não ter mais a família
perto. Desde a última vez em que estivemos aqui eu
senti isso nela. Nunca reclamou, pois não é
característico dela. Mas é incrível saber que alguém
trabalha e se empenha por uma família que não dá a
mínima.

Maria José caiu sentada no sofá chorando.

- Minha filha...
- Pois é, sua filha. A mesma que te ajudou sempre e
que nunca deixou que passassem dificuldade. Que
mesmo sabendo que não aceitavam sua condição,
continuava ajudando e amando vocês. Agora é ela
quem precisa de atenção e carinho.
- Eu não sabia que ela estava grávida. – Roberto falou.
- Só Barbara sabia e ainda assim foi proibida de dizer
qualquer coisa pela própria Marina.
- Ela não queria que soubesse e que se preocupassem
com ela só por conta da gravidez. – Barbara se
justificou.
- Eu quero vê-la. – Maria José se levantou.
- Vim aqui justamente para buscar vocês, mas hoje é
impossível pegarmos um avião. Só amanhã de manhã.
- Eu arrumo as coisas imediatamente, amanhã bem
cedo nós saímos.

Lívia achou que teria mais trabalho para convencê-los,


mas graças a Deus não.

- Você quer dormir aqui? – Maria José perguntou,


deixando Lívia surpresa. – Dorme, melhor que ficar
num hotel e aí amanhã de manhã saímos todos juntos.

Lívia aceitou e dormiu no quarto de Marina. Ficou


observando os detalhes dos móveis, tudo ali tinha a
carinha dela. Acabou sonhando com ela a noite toda.
Acordou se sentindo mais cansada que no dia anterior.
Saíram bem cedo no dia seguinte, Lívia pagou as
passagens para todo mundo. No caminho foi explicando
melhor a situação de Marina para a mãe e a cunhada.

- Eu não sabia da existência desse cisto. – Barbara


falou.
- A principio não era nada grave, depois a médica
sugeriu uma cirurgia para retirar o útero, a fim de
evitar maiores problemas. Só que tudo aconteceu ao
mesmo tempo, por isso o estado dela agora é delicado.
- Tive uma irmã que morreu de câncer. – Zezé falou. –
Nunca contei a Marina para não preocupá-la. Ela
morreu porque foi displicente com a saúde e no
desleixo de não ir ao médico, adoeceu. Quando
descobriu já estava tarde.
Assim que o avião pousou no Santos Dumont, foram
todos para o hospital. Marta estava à espera.

- Bom dia queridos! Como vão?


- Ansiosos. – Maria José respondeu.

Ângela veio para conversar com eles e explicou em


termos médicos o estado de Marina. Falou dos bebês e
primeiro passaram pelo berçário.

- São aqueles dois ali ó. – Marta apontou.


- Que lindos! Ele é a cara da mãe. – Maria José sorriu.
– Como se chamam?
- Henrique e Helena.

Luisa ficou empolgada com os primos, como não


alcançava a vidraça pedia toda hora pra alguém
levantá-la. Ficaram observando um tempo até que
Roberto quis ver a filha.

- Agora podemos vê-la? – Roberto perguntou sobre


Marina.
- No máximo duas pessoas. – Ângela falou.
- Os pais então. – Lívia respondeu.

Roberto entrou com Maria José e puderem ver de perto


o estado da filha. Parecia dormir tranquila, o rosto
delicado de traços meigos. Mantinha a mesma carinha
de quando era menina. Maria José chorou ao vê-la
daquele jeito.

- A médica disse que é bom conversar com ela. –


Roberto falou segurando a mão da filha.

Maria José alisou os cabelos dela e o rosto.

- Minha menina, tão forte, tão decidida, agora está aqui


indefesa. Mamãe está aqui pra te proteger viu? E seu
pai também. Viemos conhecer nossos netinhos. São
lindos e Henrique é a sua cara. – ainda ficaram um bom
tempo conversando com ela, até dar a hora de saírem
da UTI.

E assim foi por vários dias. Todos se instalaram no


apartamento de Lívia e somente ela ficou no hospital.
Sua rotina era trabalho e hospital, olhava os filhos toda
manhã e conversava com eles pelo vidro do berçário.
Visitava Marina e ficava um bom tempo falando com
ela, contando sua rotina, assim como Roberto e Maria
José. Achavam que isso ajudaria na recuperação dela.
Quando Henrique e Helena completaram um mês de
nascidos Ângela disse que eles poderiam sair da
incubadora. Lívia ainda quis permanecer no hospital
mesmo com os dois tendo alta.

- Lívia não pode ficar aqui com essas crianças, apesar


do ambiente limpo, hospital é sempre um risco. –
Ângela falou.
- Quero ficar com ela.
- Pode vir visitá-la todos os dias, assim como os pais
estão fazendo.
- Não, quero que ela saiba que estou me dedicando
totalmente.

Ângela ponderou e acabou deixando.

- Vou colocar você num outro quarto então, mas só por


uns dias, depois preciso liberar.
- Tudo bem.

Lívia se instalou num quarto maior, com uma antessala


e um banheiro mais confortável. Era arejado e bem
grande. Ficou por lá um bom tempo. Uma enfermeira
vinha pra cuidar dos bebês e Lívia sempre atenta e
aprendendo. Tudo com ajuda de Luisa que insistia em
ficar com ela. Marta sempre ia ao hospital levar a
menina e também passava um período do dia com a
filha. E ficava impressionada com o jeito dela com as
crianças, parecia ser mãe há mais tempo. Levava jeito
e os bebês só paravam de chorar quando ela os
pegava.

- Viu mãe, como sou jeitosa.


- Estou impressionada. – Marta olhava sorrindo.
- Tia Lívia ta aprendendo rápido. É bom que quando tia
Marina acordar ela ensina tudo sobre os bebês. – Luisa
falou animada.

Marta olhou para a filha e falou:


- Incrível como é a esperança de uma criança. Eles têm
mais fé que nós adultos. Devíamos seguir o exemplo.

Lívia olhou para Luisa e para a mãe. Sentiu o coração


ficar apertado. Cuidava dos filhos, mas com a cabeça
sempre pensando em Marina. Quando estava no
escritório chegava a parar no meio de uma leitura e
voltava seus pensamentos para o estado de saúde da
esposa. Às vezes começava a comer e nem terminava,
se perdia em lembranças e com isso o apetite ia
embora. Acabou emagrecendo por conta de tantas
atribulações.

No dia de receber alta, Ângela chamou Lívia e pediu pra


falar a sós.

- Lívia, por favor, me acompanhe.


- Aconteceu alguma coisa?
- Me acompanhe. – seu rosto era sério e totalmente
imparcial.

Ângela foi entrando na UTI e Lívia atrás dela sem


entender nada. Passaram pela porta e ela pode ouvir
uma voz bem baixinho.
- Onde ela está? Eu quero falar com ela...

Lívia levantou a cabeça e procurou pelo som, quando


viu trazerem Marina na maca e colocar em outro
quarto.

- Ela acordou e falante. – Ângela sorriu.


- Marina! – Lívia se apressou em ficar do lado dela. –
Você acordou! – beijava a mão dela e o rosto. – Nem
acredito que posso ver esses olhos outra vez. Senti
tanto a sua falta meu amor. – beijou a testa dela.

Marina estava um pouco pálida e a voz saía bem baixa,


quase um sussurro. Todos saíram do quarto menos a
médica, que ainda queria explicar algumas coisas.

- Vou deixar as duas a sós, mas primeiro precisamos


conversar.
- Ela acordou! – Lívia olhava como uma criança
empolgada.
- Eu sei. – Ângela sorriu. – Marina você não deve estar
entendendo muito, vou explicar. Você ficou pouco
quase dois meses em coma, logo após o parto você
teve uma parada cardíaca e perdeu muito sangue por
conta de uma hemorragia. Tive que fazer a
histerectomia após o parto e por isso seu estado se
complicou. Graças a Deus está tudo bem e hoje você
não corre mais risco. Ainda fica aqui neste quarto em
observação, mas amanhã vai para o outro onde Lívia
está.
- Meus filhos... – Marina ainda falava devagar.
- Eles estão ótimos, infelizmente não posso trazê-los
neste setor, mas amanhã no quarto poderá ficar com
eles. Lívia pode falar mais sobre os dois. – Ângela
piscou para a morena. – Com licença.

Assim que a médica saiu Lívia voltou seu olhar para


Marina.

- Tive tanto medo de perder você. – segurava a mão


dela. – Rezei tanto, pedi a Deus que não me deixasse
sozinha.
- Você está mais magra amor. – Marina a olhava com
certa pena.
- Fiquei aqui o tempo todo com você e com nossos
bebês. Eles são lindos! Henrique se parece com você,
mas tem os olhos azuis e é loirinho. Dizem que Helena
parece comigo, por causa do cabelo pretinho, só que os
olhos dela são da cor do seu. – sorriu orgulhosa.
- Os nomes que eu havia escolhido. – sorriu um pouco
e fechou os olhos.
- Jura? Foi mamãe quem sorteou naquela caixinha sua.
Eu adorei, combina com eles. – riu.
- Quero vê-los amanhã.
- Todo dia eu ajudo a dar mamadeira e faço eles
dormirem. Eles só dormem comigo amor. – disse toda
boba. – Aliás, eles só dormem. – falou indignada.
- É assim mesmo querida, recém-nascido dorme muito.

Lívia sorriu ao ouvir Marina chamá-la de querida.

- Toda vez que conseguia dormir eu ouvia você me


chamar de querida. – deu um sorriso apaixonado.
- Deve estar cansada de ficar aqui neste hospital.
- Nunca deixaria você sozinha, eu levo a sério essa
coisa de na saúde e na doença viu?

Fez Marina sorrir com o comentário.

- Tem muita gente querendo te ver.


- Eu só queria ver você. – sorriu para a morena.
- Linda! – beijou novamente as mãos dela. – Descanse
mais, amanhã você já estará no quarto.
- Fica aqui comigo.
- Claro! Não vou sair do seu lado nunca.
Depois que Marina dormiu, Lívia foi falar com Ângela e
ela autorizou a ida de Marina naquele dia mesmo a
noite para o quarto.

- Lívia, só estou liberando porque sei que é cuidadosa,


mas ela não pode receber visita hoje. Está sob cuidados
e com uma dieta bem restritiva ainda. Vou tirar os
pontos dela antes de ir para o quarto.

Lívia ligou pra mãe e contou sobre Marina, pediu que


ela falasse com a família dela.

- Nem acredito que ela acordou mãe!


- Eu disse que isso iria acontecer. Deus não abandona
seus filhos, querida.
- Avise a todos, mas visitas só amanhã.
- Tudo bem, eu mesma quero ser a primeira a chegar.
Diz pra ela que rezei muito por sua saúde e que mando
um beijo.
- Pode deixar.

Depois ligou pra Renata.

- Vou comemorar aqui de casa e amanhã na primeira


hora estarei aí para vê-la. Pode dizer a ela que estou
feliz, mas que ela vai levar um puxão de orelha por me
dar um susto desses. – fingiu brigar
- Ta certo Rê. Amanhã espero você e Dudu aqui.

Quando anoiteceu Marina foi liberada, entrou no quarto


e se surpreendeu, nem parecia um quarto de hospital.
Marina estava mais corada e isso deixou Lívia tranquila.

- A médica disse que você pode comer daqui a pouco.


- Ela quer me dar sopa. – fez uma cara meio enfezada.
- A sopa daqui é boa, eu te dou na boca. – sorriu.
Nem bem terminou de falar e a enfermeira veio
trazendo o jantar. Lívia foi dando as colheradas aos
poucos até que Marina comeu tudo.

- Onde você está dormindo? Naquela cama ali? –


Marina apontou.
- Sim, não é lá muito confortável, mas dá pra
descansar.
- Quero ir pra nossa casa, dormir na nossa cama, deitar
na varanda e conversar.

Lívia ouvia a loirinha falar e se sentia num sonho.

- Daqui uns dias meu anjo. Também quero ir pra casa.


- Você ficou aqui o tempo todo mesmo?
- Só ia trabalhar e voltava, não queria ficar longe de
você. Todos os dias eu ia à UTI e ficava conversando,
te contando as novidades, falando sobre nossos filhos.

Marina sorriu ao ouvi-la.

- Você não se recorda de nada? – Lívia perguntou.


- Não, é como se tivesse dormindo mesmo, parece que
tive alguns sonhos. Sentia seu cheirinho às vezes,
sonhei com meus pais e um dia acho que senti que
alguém segurava minha mão.

Lívia não quis falar da família dela, esperou pra fazer


surpresa no dia seguinte. Não podiam dormir
abraçadas, mas Lívia aproximou a cama dela da de
Marina e dormiram de mãos dadas. Depois de muito
tempo, foi a primeira vez que a morena dormiu
totalmente relaxada.

Na primeira hora do dia Lívia levou Henrique e Helena


novamente para o quarto. Marina estava ansiosa e
quando eles entraram, ela não conteve o choro.

- Oi! Viemos conhecer minha outra mamãe. – Lívia


falou e os colocou no colo dela.
- Com cuidado para não fazer peso em sua barriga
Marina. – Ângela alertou.
- Ei. – ela falou olhando pra eles. – Sonhei tanto com
esse dia, ainda me lembro do chorinho de vocês. –
beijou a testa de cada um. – Depois não me lembro de
mais nada. Só tenho em minha memória a preocupação
de deixar vocês tão cedo. Eu não queria. – sorriu e
chorou ao mesmo tempo.

Lívia ficou emocionada ao vê-la falando.

- Será que posso amamentá-los?


- Você tomou uma medicação para o leite não
empedrar, mas talvez se colocar no peito, pode ser que
o leite venha. Pode tentar sem problema algum.

Marina abriu a camisola e colocou Henrique primeiro,


ele puxou o peito e ela quem reclamou.

- Isso dói! – fez uma careta.


- É, dizem que amamentar é uma benção, mas
esquecem de falar que dói também. – a médica riu. –
Vou trazer uma pomada pra você, vai ajudar na
rachadura do bico e é anestésica.
- Não ta saindo leite.
- É assim mesmo, pode ir tentando, mas não se
preocupe que eles estão sendo bem alimentados.
- Todo dia eu dou mamadeira. – Lívia falou orgulhosa e
tirando um sorriso de Marina.
- Se precisarem de mim é só chamar. Daqui a pouco
chega visita e esse quarto ficará tumultuado.
- Visita? Mas nem conheço tanta gente assim aqui no
Rio.
- Ah, mas tem muita visita aí. Já, já trago sua pomada.
Até mais tarde.

Marina ficou sem entender, mas acabou se distraindo


com as crianças.

- Ela se parece mesmo com você amor. – olhava a


menina. – E Henrique tem meus traços, mas não se
parece.
- Claro que parece, ele é loiro e tem o nariz arrebitado.
E é muito simpático, ele sorriu primeiro que ela. Helena
é mais reservada, séria e geniosa como eu.
- Sei e essas características todas você descobriu por
que...?? – fez uma cara de dúvida.
- Porque eu observo bem, tem que ver como é brava.
Se não comer na hora certa ela fica enfezada. – parou
e pensou um pouco. – Se bem que isso ela puxou de
você. – riu.
- Boba.

Lívia sentou ao lado de Marina e colocou a conversa em


dia, contou as novidades do estúdio, do escritório, mas
falou a maior parte do tempo dos bebês. Marina comeu
com a morena dando comida na boca. Atenciosa como
sempre foi e recebendo o sorriso mais lindo que a
loirinha tinha.

Um tempo depois, bateram na porta e entrou na


seguinte ordem: Maria José, Luisa, Roberto, Marta,
Barbara com Mateus e Renata com Eduardo, esses dois
últimos trazendo um buquê de flores e fazendo muita
farra.

- Nossa quanta gente!


- Minha filha! Rezei tanto por você, pedi tanto a Deus e
fiz até promessa pra nossa senhora Aparecida. – Maria
José falou.
- Mãe! Não sabia que estavam aqui. – a loirinha falou
emocionada.
- Viemos assim que soubemos do seu estado.
- Ficamos preocupados. – Roberto se aproximou
falando.

Barbara também a cumprimentou e Luisa veio logo


agitando.

- Tia, tia! Os nenéns são lindos! Eu cuidei deles pra


você.
- Ei! – Lívia olhou pra ela.
- Eu e tia Lívia claro. Ela leva jeito. – olhou pra Lívia. –
Mas sem mim ela não daria conta. – falou baixinho com
Marina e rindo depois.
- Ai menina, você é uma figura.
- E eu não sei o que seria de mim sem a ajuda dela. – a
morena pegou a menina no colo.
- Maninha, você ta bem?
- Estou, na medida do possível e doida pra ir pra casa.
- Sua casa é muito legal.
- Estão todos lá? – olhou pra Lívia.
- Sim, mais fácil né?

Renata veio com Eduardo para falar com ela também.

- Deixa eu chegar perto que também tenho direito. -


pegou a mão de Marina. – Rezei muito por você, toda
noite pedia muito pela sua saúde.
- Eu também menina, deu um susto na gente. –
Eduardo falou.
- Obrigada pelas orações, com certeza fizeram toda a
diferença.

Lívia sentiu que Marina precisava ficar a sós com a


família. Fez sinal para Eduardo e Renata e logo saiu
com Marta, Barbara, Mateus e Luisa, deixando Marina
só com os pais.

- Minha filha, queríamos pedir desculpas. – Roberto


falou meio receoso. – Sabe que é difícil pra nós aceitar
essa sua...
- Vida, eu tenho uma vida pai.
- Que seja, mas é difícil. Depois daquela vez que esteve
em Jaú nós quisemos entrar em contato, mas vinha a
vergonha, o mau jeito, sabe que nossa família é meio
distante nesse ponto. Temos sentimentos, mas não
demonstramos.
- O que seu pai quer dizer é que gostamos de você, não
tem nada na sua vida que queiramos mudar, só precisa
nos dar um tempo pra entender e aceitar tudo isso.
Saber que perderíamos você serviu para abrir nossos
olhos. Eu tava distante da minha filha por orgulho e
preconceito.
- Se dizem que os pais querem a felicidade dos filhos,
então se você está feliz, está tudo bem. – Roberto
sorriu.
- Se não fosse Lívia não estaríamos aqui.
- Lívia?! – Marina não entendeu.
- Foi ela quem nos procurou e falou do seu estado,
bateu na nossa porta num dia a noite. Acho que
precisava ouvir o que ela disse, pra acordar e ver o
quanto estava errada.

Marina ficou curiosa pra saber o que Lívia tinha dito.


Pensou no esforço que devia ter feito e sorriu.

- Você gosta mesmo dela? – Roberto perguntou.


- Eu a amo pai, ela é a melhor coisa da minha vida.

Roberto e Maria José não falaram mais nada.


Abraçaram Marina e ficaram um tempo conversando
com ela e paparicando os bebês. Lívia aproveitou para
ir ao escritório. Havia pedido licença dos tribunais e
estava somente por conta de serviços internos. Beatriz
se desdobrava com Guilherme para ajudá-la.

- Vocês estão sendo ótimos amigos. – ela agradeceu. –


Não sei o que seria de mim se não estivessem aqui.
- Somos funcionários ué, é nosso trabalho. – Beatriz
falou.
- Não, somente amigos fazem o que estão fazendo por
mim.
- Estava passando por um momento complicado. A
forma que encontramos para ajudar foi trabalhando.
- Ajudaram muito, mas agora as coisas vão voltar ao
normal. Se Deus quiser em breve Marina estará em
casa com meus filhos.
- Estou louca pra ver a carinha deles. – Beatriz sorriu
animada. – Não vou ao hospital porque a hora agora é
de ficar com a família, mas quando estiverem em casa
eu vou visitá-los.
- Pode ir, Marina deve ir pra casa daqui uns dias. Minha
mãe está preparando o quarto para recebê-la.
- Ela deve de ta babando.
- Ô, se ta.

No hospital à noite quando Lívia chegou teve uma


surpresa, Marina estava amamentando.

- Amor eu consegui!

Ângela estava no quarto e deu algumas explicações.

- Sua recuperação está me surpreendendo. Havia


falado com ela que o leite poderia descer a qualquer
momento, dependia dela também, da parte psicológica.
– explicou a Lívia.
- Graças a Deus! E eles parecem com fome. – olhou
para Helena que mamava.
- Nada substitui o leite materno. – Maria José falou.
- Daqui uns dias você será liberada Marina, do jeito que
as coisas caminham, rapidinho sai do hospital.
- Deus te ouça. – Marina respondeu.

A médica pediu licença e saiu acompanhada de dona


Zezé, deixando as duas a sós.

- Já comeu querida? – a loirinha perguntou enquanto


amamentava.
- Ainda não, depois eu vou a lanchonete procurar
alguma coisa.
- Hum... podia trazer pra mim. – sorriu como criança.

Lívia achou graça e riu também.

- Amor, ainda não pode comer essas coisas.


- Poxa, uma torta de frango não seria nada mal. –
apertou os lábios como se saboreasse algo.
- Quando Ângela te liberar eu compro uma torta dessas
inteira só pra você. – alisou o rosto dela. – Façamos o
seguinte, eu como o que você for jantar. Serei solidária
na sua dieta. – falou se sentando na beirada da cama.
- Não precisa amor, eu aguento. E não sei se eu que
estou com fome ou se a comida é boa, hoje almocei
tudo e ainda queria repetir.
- Pode ser as duas coisas. – riu.
- É, não perco a fome mesmo. – arregalou os olhos.
- Por isso nossos nenéns são gulosos, puxaram a mãe.
– Lívia franziu o nariz e se aproximou para beijá-la. –
Linda! Como passou a tarde? – pousou a mão na perna
dela.
- Bem. Minha mãe ficou comigo e meu pai chegou
agora a pouco também. Barbara e Mateus só vieram de
manhã mesmo. Não querem ficar trazendo Luisa pra cá
toda hora.
- Estão certos, por mais que seja limpo é um hospital.
Bia e Guilherme mandaram um beijo e vão te visitar
quando for pra casa.
- Será que fico muito tempo aqui? – perguntou
parecendo preocupada.
- Tudo depende da sua recuperação meu anjo. E se
ficar for melhor pra você, não tem problema. Eu estarei
do seu lado. – sorriu.
- Quando penso no que passou. Por Deus, você não
merecia isso. – passou a mão no rosto de Lívia e o
acariciou. – Você até emagreceu Lívia. – pegou Helena
e deu a ela para que colocasse no berço.
- Emagreci, mas daqui a pouco recupero. – segurou a
neném e colocou no berço junto com o irmão. – Se
passei, ou melhor, passamos por isso é porque
precisávamos passar. Nunca ouviu falar que Deus dá o
cobertor de acordo com o frio? Cada um recebe o que
precisa. Não me arrependo e faria tudo de novo por
você se precisasse. – sorriu e segurou as mãos dela. –
Sabe por quê?

Marina sorriu e fez que não com a cabeça.

- Porque eu sou louca por você. – Lívia beijou


delicadamente os lábios dela. – Sou apaixonada por
essa loirinha linda. – beijou novamente.

Marina segurou o rosto de Lívia e colou seus lábios aos


dela. Estavam se beijando ainda quando a porta se
abriu bem devagar e era Maria José com Roberto. Os
dois ficaram observando o carinho que uma tinha com
a outra e se surpreenderam. Ele sorriu timidamente e
bateu na porta para sinalizar que estavam entrando. As
duas se separaram com um sorriso nos lábios ainda.

- Entra mãe, Lívia veio me ajudar com os nenéns.


- Estão alimentados e satisfeitos. – a morena sorriu.
- Já te falaram que Helena é sua cara? – Roberto falou
com Lívia e pela primeira vez, mais amistoso.
- Ela tem um pouco de nós duas. – falou sorrindo para
Marina.
- Como se deu essa gravidez? – Maria José sentou
numa cadeira ao lado da cama e tinha no rosto uma
expressão curiosa.
- Queríamos que os bebês fossem nossos. – Marina
quem falou. – Então pegamos o óvulo de Lívia e o
esperma de um doador que tivesse as minhas
características e assim foi feita a fertilização in vitro. –
acariciou a mão de Lívia e sorriu. – Depois eles foram
introduzidos no meu útero.
- Então quer dizer que esses nenéns são filhos dela. –
Roberto falou sério.
- Sim, mas considero-os meus também, porque foram
gerados na minha barriga.
- Que idéia...
- A idéia foi minha pai. – Marina o interrompeu. – Eu
decidi que os filhos seriam nossos e não só meu. –
olhou diretamente para ele.
- Marta está toda boba falando dos netos. – Maria José
quis interromper o assunto.
- Mamãe é uma figura. Se não fosse ela, não sei o que
seria de mim.
- E de mim. – Marina completou.

Por um momento os pais de Marina tiveram vergonha


da falta de assistência à filha. Dali por diante dariam
em dobro a atenção que não deram antes.

Dias depois Marina teve alta. Lívia veio com ela toda
feliz e quando chegaram em casa o apartamento estava
todo florido. E a família de Marina também a esperava.

- Nossa que lindo!


- Seja bem-vinda filha. – a mãe dela falou.
- Pedi a mamãe pra arrumar a casa pra que ficasse
bem alegre. – Lívia a abraçou – O quarto deles está
pronto. Vem cá ver.

Foram subindo as escadas devagar, Lívia com Helena


no colo e Marta com Henrique, Marina ainda não podia
carregá-los por conta da cirurgia. O berço era um só
para os dois e se quisessem poderiam colocar a
divisória no meio para separá-los, mas Lívia achava
importante que no início eles ficassem mais juntos.
Havia um pequeno fraldário e uma mesa com kit
primeiro socorros, algodão, pomadas, tudo muito
organizado.

- Você que arrumou? – Marina perguntou a Lívia.


- Foi sim. – falou colocando a menina no berço e logo
pegou Henrique para colocá-lo também. – Essa babá
eletrônica tem um ótimo alcance. Lá de baixo a gente
ouve qualquer barulho que eles fizerem, até a
respiração deles ela controla.
- Meu Deus, que tecnologia!
- No meu tempo a babá era a mãe e o pai. – Roberto
brincou. – A gente ficava doido! Se o neném chorava,
ficava preocupado, se dormia demais, ficava
preocupado. Nunca tava bom. – falou fazendo os outros
rirem.
- Marina você não pode abusar viu, precisa descansar.
– Marta advertiu. – A médica recomendou.
- Sim, vou me deitar, você vem comigo amor? –
estendeu a mão pra Lívia.
- Claro meu anjo. – Lívia deu a mão a ela. – Mãe
qualquer coisa me chama viu?
- Sim filha, eu e Zezé cuidamos dos pequeninos aqui. –
sorriu.

O jeito de Lívia e Marina se tratarem incomodava mais


a Roberto que Maria José, ela estava mais acostumada,
por ter passado um tempo com elas. Pra ele ainda era
difícil aceitar, mas se esforçava o quanto podia.

Marina tomou um banho com a ajuda de Lívia, que


tentava ser o mais delicada possível.
- Minha barriga nunca mais vai voltar ao normal. – a
loirinha reclamou se olhando no espelho.
- Que isso amor, vai sim, tudo é muito recente.
- Você deve ta me achando horrível. – fez cara feia.
- Horrorosa! To pensando em pedir o divórcio. –
brincou e depois a abraçou por trás. – Está linda e eu
não amo sua barriga, eu amo você. – beijou a cabeça
dela. – Vamos deitar, você precisa descansar e
confesso que estou querendo minha cama também.

Deitaram e dormiram por horas, abraçadas e


aconchegadas uma no colo da outra. Até Luisa fez
silêncio para não acordá-las. À noite quando acordaram
desceram para jantar. Marta havia feito tudo que
Marina gostava. Durante o jantar Roberto falou da volta
deles pra Jaú.

- Agora que voltei pra casa? – Marina reclamou.


- Depois a gente volta, estamos fora de casa faz um
tempão.
- Eu posso ficar pra ajudar? – Luisa falou.
- E as aulas mocinha? O ano não terminou ainda. –
Barbara respondeu.
- Ah. – fez uma carinha desanimada.
- Depois você volta querida, vamos precisar da sua
ajuda mesmo. – Lívia tentou confortá-la.
- Mateus e Roberto têm muito que fazer no sítio e
Barbara daqui a pouco perde o emprego pelo tempo
que ficou aqui.
- Verdade, é que a minha chefe é boa pessoa e me
deixou vir.

Jantaram conversando numa boa até que um dos bebês


reclamou de fome.

- É já jantamos e agora é a vez deles. – Marina se


levantou.
- Impressionante, um chora, daí um pouquinho o outro
também. – Maria José falou.
- Vou lá te ajudar. – Lívia se levantou também.

Depois que elas saíram Marta comentou.

- Acho que serão boas mães.


- Lívia é muito preocupada e Marina carinhosa, é uma
boa combinação. – Maria José comentou e olhou para
Roberto que parecia querer falar.
- Essas crianças têm sorte. – ele falou sem jeito.
- Claro! Mães ricas! – Mateus que estava calado, fez um
de seus comentários inusitados.
- Deixa de ser bobo. – Barbara o repreendeu.

Luisa saiu logo que acabou a sobremesa e foi no quarto


dos bebês. Marina estava sentada amamentando.

- Tia eu posso pegar o Henrique?

Marina olhou pra Lívia meio receosa, então a morena


respondeu por ela.

- Pode sim, mas senta aqui na cama.

Luisa sentou e Lívia entregou o menino. Ela ficou


mexendo no cabelo dele e conversando até que ele deu
um meio sorriso.

- Tia ele riu! – olhou para as duas. – Ele riu! Olha! –


mexeu de novo com ele e o menino sorriu novamente.
– Acho que ele gosta de mim. – Não demorou muito e
Luisa se cansou e quis voltar pra sala.

Marina terminou de dar de mamar a Helena e logo


pegou o menino. Lívia pegou a menina em seu colo e a
fez arrotar.

- Você está me saindo uma ótima mãe. – a loirinha


sorriu pra ela.
- Ando treinando. – riu.

Quando acabaram de mamar, já estava na hora de


trocar a fralda. Apesar de Lívia estar mais acostumada,
Marina levava mais jeito.

- Você é mais rápida que eu! – falou quase indignada.


- Amor, eu troquei fralda de Luisa um bom tempo,
esqueceu? Tenho mais prática. – deu um beijo rápido
nela. – Mas você está indo muito bem.

Colocaram os bebês novamente no berço e ficaram por


lá conversando.

- Amor queria te perguntar uma coisa. – Marina falou.


- O que?
- Meus pais disseram que você foi a casa deles e que
suas palavras os convenceram a vir pra cá. O que disse
a eles?

Lívia olhou para Marina e sorriu.

- Nada demais. Quando me viram, eles perguntaram o


que eu queria e eu respondi que queria minha vida de
volta. – sorriu pra ela. – E minha vida é você. – deu
um beijo longo em Marina e quando se separaram, ela
sorria. – Nem que eu agradeça a Deus de minuto em
minuto, será suficiente pra mostrar o quanto estou feliz
por ver seu sorriso de novo.
- Amo muito você e não tive dúvidas quando respondi a
meu pai que você era a melhor coisa da minha vida.

Beijaram-se de novo e ficaram no quarto curtindo os


bebês.

- Eles dormem tranquilos, não? – Marina falou.


- Mas quando choram é pra valer viu?
As duas riram.

- Precisamos de uma babá amor. – Lívia falou.


- Sim, o problema é arranjar alguém de confiança.
Tanta coisa que vejo na televisão de babás que batem
em crianças, chego a ficar arrepiada de pensar que isso
pode acontecer com eles.
- Conheço uma agência que trabalha com ótimas
profissionais, vou procurar. Por hora mamãe ficará aqui
com você para auxiliar. E eu venho mais cedo sempre
que puder. Esse tempo em que fiquei no hospital, o
escritório só não ficou jogado as traças por causa de
Bia e Guilherme.
- Eu te dou tanto trabalho! Olha o que fiz você passar.

Lívia virou-se para Marina e a abraçou pela cintura.

- Faria tudo de novo, não mudaria nada e a amaria


mais se fosse possível. – sorriu e a beijou.

Bateram na porta e era Marta dizendo que tinham


visitas, Renata, Eduardo e Sarah.

- Eles não são visitas, são de casa. – Lívia falou.

Os três trouxeram presentes e ficaram no quarto


conversando, depois foram pra varanda, Lívia colocou
os bebês no carrinho e os levou.

- Achei esse carrinho o máximo! – Renata falou.


- É quase uma casa, tem lugar pra colocar tudo. E ele
solta se quiser andar separado.
- Muito moderno! Que nem as lembrancinhas. – Renata
se referia aos bonequinhos que Marta havia mandado
fazer como lembrança. Era um menino vestido de
promotor público e a menina tocando um violão.
Bateram papo um bom tempo até que Marina ressentiu
um pouco da cirurgia e foi se deitar. Lívia foi com ela e
logo todos se recolheram.

Uma semana depois a família de Marina foi embora. E


naquela mesma semana receberam a visita de Marconi,
Bete, alguns alunos da faculdade que tocaram na
orquestra, de Ana e de Felipe que veio de São Paulo
para conhecê-los. Marta ainda ficou alguns dias com
elas até que arranjassem uma babá de confiança.
Marina voltou à clínica de Ângela para revisões pós-
cirúrgicas e estava tudo bem. Encaminhou as crianças
para um pediatra e mensalmente eles iam para as
consultas. Quando estavam quase completando quatro
meses é que receberam a visita de Beatriz e Guilherme.

- Muito bem, já estava mandando o convite do


aniversário de um ano e nada da visita de vocês. –
Lívia brincou.
- Ô exagero!
- Por pouco não são eles que abrem a porta. – riu. –
Sejam bem vindos, eles estão lá em cima com Marina.
- Ela está ocupada, se quiser voltamos depois.
- Não! Senão vocês só voltam pra cumprimentar na
formatura da faculdade.

Subiram e encontraram Marina os ajeitando no berço.

- Oi, que bom que vieram.


- Desculpe a demora em vir, mas esperamos que tudo
se acalmasse e você se recuperasse também. Tem hora
que visita atrapalha.
- Imagina, não iam atrapalhar.

As crianças brincavam no berço, já estavam mais


durinhas e bem espertas. Beatriz e Guilherme ficaram
admirados com a semelhança da menina com Lívia.

- Lívia é a sua cara! Só muda a cor dos olhos.


- Nem precisa comprovar no DNA. – Marina brincou.

Pegaram os bebês no colo, Henrique sempre sorridente,


Helena era mais séria, mas muito esperta. Desceram e
ficaram na sala conversando. A babá veio pra levá-los
para brincar.

- Tivemos que fazer muitas adaptações no


apartamento. Tiramos coisas que cortam e
pontiagudas, colocamos rede de proteção, entre outras
coisas que só no dia a dia a gente vê que precisa
modificar.
- É assim mesmo, criança é uma mudança e tanto.
- Principalmente na hora de dormir.
- Eles acordam a noite? – Guilherme perguntou.
- Religiosamente as três e às seis da manhã pra
mamar. São dois reloginhos. – Marina riu. – Mas isso é
bom, o pediatra disse que daqui um mês já posso tirar
uma mamada.
- Eles só mamam no peito? – Beatriz perguntou
curiosa.
- Sim, graças a Deus!
- Você fala como se fosse bom, isso não toma muito o
tempo?
- Não Bia, é importante pra criança mamar no peito. –
Lívia falou. – Quando completarem seis meses já
poderão comer outras coisas, mas por hora só no peito.
Às vezes a gente completa com outro leite, mas só se
eles sentirem fome.

O papo girou em torno de crianças, gestação e claro,


cuidar de gêmeos, o que não era uma tarefa muito
fácil.
- Ainda demos sorte que quando um acaba de mamar o
outro começa a reclamar de fome, mas quando é pra
trocar fralda, mal acaba um e tem que começar do
outro.
- Por isso precisa ter babá mesmo, senão não dá conta.

Depois que eles saíram as crianças dormiram e Marina


ficou com Lívia na varanda, era sábado e o dia estava
fresco, sentaram na espreguiçadeira abraçadas.

- Está pensativa. Que foi? – Lívia perguntou.


- Nada demais, pensando em ter uma casinha em Mauá
perto da sua mãe pra poder levar meus filhos lá aos
finais de semana. – sorriu.
- Hum... quem sabe daqui uns tempos? – sorriu
também e a abraçou.
- Cansada amor? – Marina perguntou.
- Não, mas se eu deitar eu durmo. – riu.

Marina alisou o braço dela e deitou a cabeça em seu


colo.

- Acho que mesmo se as crianças não acordarem a


noite, eu acordo as três e as seis.
- Isso é o costume, eu que não preciso levantar, acordo
junto com você. – falava enquanto mexia nos cabelos
de Marina.
- Eles estão lindos! Acho que Henrique anda primeiro
que Helena, mas ela fala primeiro que ele.
- Ela é muito comunicativa.
- Que nem a mãe. – sorriu.

Acabaram dormindo na varanda. A noite, depois que os


bebês já tinham dormido as duas estavam no quarto
saindo do banho.

- Essa semana vou cortar o cabelo, já está meio


grande. – Marina falou enquanto os penteava. – Ângela
me liberou para voltar a me exercitar, na segunda eu
começo na esteira. E já decidi, quando Henrique e
Helena completarem seis meses eu volto a trabalhar.
Acompanhar a movimentação do estúdio de casa é
muito ruim, gosto de participar mais. – parou de
escovar o cabelo e foi passar um hidratante. – Vou
começar uma dieta também, nada exagerado, afinal
estou amamentando, mas preciso me controlar, senão
não perco peso. Quero voltar a vestir minhas roupas.

Lívia a observava da cama e achava graça do jeito dela


falar. Quando Marina se deitou a morena girou o corpo
e ficou por cima dela.

- Antes de fazer isso tudo será que tem um tempinho


pra mim? – mordeu o pescoço dela e fez cócegas.

Marina riu gostoso e depois pôs a mão na boca.

- Amor a babá está aqui do lado.


- Que tem isso? Ela não vai escutar, deve estar vendo
televisão, sabe que ela adora uma novela. – beijava o
colo de Marina.
- Mas ela escuta.

Lívia parou um momento e olhou pra ela.

- Ta bom, parei. – saiu de cima de Marina.

A loirinha ficou sem ação, estava se fazendo de difícil,


mas achou que Lívia ia insistir.

- Ei, não era pra desistir assim tão rápido! – falou


indignada.

A morena soltou uma gargalhada e voltou a ficar em


cima dela.
- Então era pra insistir?
- Claro! Estou me sentindo horrorosa, gorda e preciso
saber se minha mulher ainda me deseja. – falou meio
insegura.
- Todos! – beijo. – Os dias! – beijos. – Da minha vida!
– mais beijos. – Se não fizemos amor até agora não é
porque eu não quis, é porque achei que não estava
pronta. Você fez uma cesariana, logo retirou o útero,
achei que seu corpo precisava se recuperar e você se
sentir mais a vontade.
- Obrigada por ter paciência comigo.
- Mas agora acabou-se a paciência, esperar foi uma
virtude. Quero minha recompensa! – os olhos
percorriam o corpo de Marina. – Vem aqui gostosa!

Lívia percorreu o corpo dela com beijos molhados,


sugava e mordia cada parte que passava, ia tirando a
camisola dela e aos poucos deixando seu corpo nu.
Parou entre as pernas de Marina e mordeu a virilha, o
ventre, depois as coxas; alternava até chegar ao clitóris
e lamber bem devagar do jeito que ela gostava. Marina
arranhava os ombros da morena e gemia bem baixinho.
Puxou os braços de Lívia para que alcançassem seus
seios. Sentia a boca dela sugando seu clitóris e as mãos
manipulando os bicos de seus seios. Estava em êxtase,
sorria e gemia ao mesmo tempo em que rebolava
quase gozando. Lívia desceu uma das mãos e enfiou
dois dedos na vagina dela. Sentiu seu corpo
estremecer. Deitou sobre ela e beijou sua boca,
deixando-a sentir seu próprio gosto.

- Te amo! – beijou apaixonadamente. – Te amo muito!


Delícia da minha vida.

Marina ouvia e sentia como se aquelas palavras


reacendessem sua alma. Com os pés tirou o short de
Lívia junto com a calcinha e depois levantou a blusa
dela, abriu as pernas e deixou que ela se encaixasse
entre elas, deixando seus sexos em contato. Devagar
Lívia começou a se esfregar e gemer no ouvido dela.
Marina segurava em sua cintura e pressionava mais,
sentia o sexo latejar. Mordeu o ombro de Lívia quando
sentiu que o orgasmo estava próximo. Era único aquele
momento para elas, sentiam o amor quase palpável e a
certeza total de que eram uma da outra. O cheiro, o
gosto e o toque eram únicos e por isso se entregavam
totalmente.

- Goza comigo amor. – Lívia pedia. – Isso... vai...

Marina segurou o rosto dela e a beijou mordendo o


lábio inferior. Gozaram ao mesmo tempo, Lívia deixou o
corpo cair sobre o de Marina, respirava cansada.

- Estou perdendo o jeito. – falou ainda ofegante.


- Perdeu nada, também estou cansada. – a loirinha
mexeu na franja de Lívia que caía em seu rosto. – Mas
apesar de cansada... eu... – girou o corpo. – Quero
mais...
- Eita que essa mulher hoje ta que ta... – Lívia abriu as
pernas e deixou que Marina fizesse o que queria. Entre
beijos e mordidas, levou a morena a loucura. E antes
que ela gozasse montou em sua pernas e cavalgou
enquanto enfiava os dedos na vagina dela. Gozaram
novamente juntas. Marina deitou e se encolheu no colo
da morena.
- Digamos que eu esteja satisfeita. – falou beijou o
rosto dela.
- Essa frase poderia ser minha viu? – a morena sorriu.
- Fiquei assanha como você, foi a convivência.

Lívia a abraçou e dormiram de conchinha que era o


jeito que mais gostavam.

O domingo passaram curtindo as crianças. Dispensaram


a babá e depois foram passear na praia. Lívia ia com
Henrique no carrinho e Marina com Helena. De repente
duas vozes conhecidas chamam por Lívia, ela se virou
para ver quem era e Carlos e Larissa acenavam e
vinham andando encontrar com ela.

- Meu Deus! Achei que tinham se mudado do planeta.


Nunca mais os vi! – a morena falou.
- Por pouco não mudamos. – Carlos riu. – Tenho
trabalhado tanto e viajado muito.
- Pensa que eu não reclamo também? – Larissa
emendou. – Se eu não viajo com ele, fico quase um
mês sem vê-lo.

Olharam para os bebês e para Marina. Imediatamente


reconheceram a loirinha.

- Eu vinha andando e quando te vi pensei: É enlaçaram


a minha amiga. Marina o que você fez pra prender essa
promotora? – sorriu.

Antes que Marina respondesse Lívia brincou.

- Ué, não ta vendo? Engravidei a moça e o pai dela me


forçou a casar. – riu fazendo os outros gargalharem. –
Mudei, casei e não te convidei. – falou com a amiga.

Larissa olhou para os bebês e sorriu.

- Que lindos amiga! Estão de parabéns. Marina ele é


parecido com você viu. Como se chamam?
- Henrique e Helena.
- Que graça amor. Quando teremos o nosso? – olhou
para Carlos com um ar enfezado.
- Pronto! Agora to lascado mesmo. Se tivermos um
filho ele não terá etnia certa. Vamos fazê-lo no Rio, ele
vai nascer em Porto Alegre e ser criado em São Luiz.

Lívia e Marina acharam graça.


- É verdade, viajo tanto que tem dia que acordo e nem
sei onde estou.
- Ter filhos é uma benção e a gente acha que não vai
dar conta, mas quando tudo está acontecendo a gente
faz que nem percebe. – Marina falou.
- Me contem como vão as coisas? – Larissa perguntou.
– Mudaram, casaram, são mães e...?
- Te contarei das novidades, mas vamos andando, não
posso ficar muito tempo no sol com eles. – Lívia falou.
- Quero parar pra tomar água de coco. – Marina falou.
- Ta bom amor, a gente senta ali na sombra.

Carlos e Larissa se olharam espantados, Lívia estava


diferente mesmo.

Pararam num quiosque e tomaram água de coco.


Ficaram de papo e colocando a vida em dia. Carlos
contou do trabalho e das viagens que andava fazendo.
Lívia e Marina contaram todo o ocorrido da gravidez até
os últimos dias. Impressionou os amigos pela história e
da forma como falava e tratava Marina. Sempre
atenciosa e delicada com ela.

- É minha amiga, te dobraram. Aliás, Marina, qual foi o


segredo?
- Ih, eu não sei.
- Cheguei num ponto onde descobri que estava levando
uma vida muito vazia. Quando me dei conta disso
apareceu alguém que me completou em todos os
sentidos. – disse pegando na mão de Marina e a
beijando. – É, de fato eu fui encoleirada. – riu.
- To passada! Posso falar uma coisa? Te fez muito bem.
Marina está de parabéns, por dois motivos, fez minha
amiga feliz e tem dois nenéns lindos. – olhou pra eles.
– Olha amor, estão sorrindo! Eu quero um desses!
- Ai meu Deus! – Carlos revirou os olhos.
- Nós temos dois, eu te empresto um. – Marina brincou.
- De jeito nenhum! – Lívia logo se manifestou. – Ta
pensando que vou dar meus filhos?! – riu.

Uma loira de biquíni exibindo um corpo escultural,


conhecida de Lívia as viu sentando no quiosque. Virou
pra um amigo e falou num tom quase debochado.

- Quem diria, fisgaram a Lívia!


- Pra você ver que não adiantou ter dois metros de
corpo bem definido. A loirinha de meio metro ali foi
quem pegou o peixão. – riu da loira.

Carlos e Larissa tiveram de ir embora, se despediram


prometendo não sumir por tanto tempo. As duas
ficaram mais um pouco sentadas apreciando a praia.

Marina olhou para o mar e voltou a atenção para Lívia.

- O tempo passa muito depressa não é? – falou.


- Verdade, tanto corre que o natal já ta aí de novo. Se
você achou que ano passado passou depressa, imagina
esse então.
- Ainda mais que perdi um mês dormindo. – riu. –
Nessa época no ano passado nós estávamos na
expectativa de engravidar.
- E deu tudo certo. – Lívia segurou a mão de loirinha. –
Olha o resultado aí. – olhou para os bebês e sorriu.

O sol estava ficando forte, então resolveram almoçar e


depois ir pra casa. Domingo a noite Marina ligou para
os pais e combinou a vinda para o Natal e Ano novo.
Como ainda estava em casa ela quem ficou por conta
da organização da festa. Esse ano Eduardo iria passar o
Natal com a família de Renata, voltariam para o ano
novo. Então seriam somente sua família e a de Lívia.
Bete iria para Londres ficar com Fabrício. No dia vinte e
quatro Lívia foi buscá-los no aeroporto. Quando Luisa
viu a morena logo se empolgou.
- Tia Lívia! Cadê eles? – pulou no colo dela.
- Eles quem?
- Os bebês, ora!
- Estão com Marina, trazê-los de carro sozinha não é
boa idéia e outra, não caberia todo mundo no carro.
- Do jeito que a família ta crescendo vamos precisar é
de uma van. – Roberto brincou.

Todos se cumprimentaram e voltaram para o


apartamento. Marina estava terminando de arrumar a
casa com Marta.

- Estamos de volta! – Zezé falou assim que entrou no


apartamento.
- Oi mãe! Fizeram boa viagem?
- Sim, muito bem. Cadê meus netinhos?
- Estão na sala com a babá.
- Vou lá, to morrendo de saudade deles.
- Perdeu a vez viu, primeiro os netos, depois os filhos.
– Roberto foi atrás de Maria José.

Voltaram com as crianças no colo.

- Ele ta um rapazinho e essa menina ta cada dia mais


parecida com você hein Lívia! – Maria José quem falou.
- É, dizem que ela vai ser a praga dos tribunais que
nem eu. – riu.
- Não, minha filha vai ser regente da orquestra
sinfônica brasileira. – Marina brincou.
- Quem sabe não é? Tem que deixar escolher. – disse
Barbara.
- Eu sei que eu quero ser piloto de avião. – Luisa veio
da sala falando empolgada.
- Você insiste nisso ainda menina? Cadê o abraço da
sua tia, ou me abandonou também?
- Não tia, você é minha preferida. – abraçou Marina.
Depois de instalados, todos se prepararam para a ceia.
Lívia foi levar a babá em casa por conta da hora e a
dispensou pela semana toda, já que ajuda não faltava
para cuidar das crianças. Marina sentia uma felicidade
imensa em passar o natal com todos reunidos.

- Acho que mesmo nos meus sonhos eu não imaginava


que reunir todo mundo seria tão bom. – disse ao lado
de Lívia.
- Sem muita modéstia, mas eu acho que merecemos
ser felizes, somos boas pessoas, trabalhamos muito e
agora ótimas mães. – riu e a abraçou – Mereço a
felicidade, não?

Marina se virou para ela e segurou seu rosto.

- Você merece o que há de melhor nesse mundo. – lhe


deu um selinho.
- E o melhor pra mim é você. – Lívia a beijou com
vontade.

Brindaram na hora da ceia e trocaram presentes


depois, perto da árvore de Natal.

À noite quando iam dormir, Marina preferiu levar o


berço dos bebês pro quarto dela e deixar o outro quarto
mais espaçoso pra que todos se acomodassem melhor.
Acabou colocando-os pra dormir no meio da cama entre
ela e Lívia.

- Isso vai acostumá-los mal hein. – a morena falou.


- Só hoje amor.
- Amanhã eles vão querer dormir aqui de novo, sei não.
– falou sério.
- Me dá de presente de Natal?! – pediu com todo o jeito
que só ela sabia fazer.
- E como eu resisto a essa carinha? Não tem como. –
sorriu. – E na verdade seu presente de natal está
guardado, vou te dar agora.
- Presente?!
- Ué, achou que não ia te dar nada?
- Achei. – prendeu os lábios num gesto sem graça.
- E por isso também não comprou nada pra mim? –
levantou a sobrancelha.
- É que fiquei por conta de arrumar a casa essa semana
e não tive... tempo... – mordeu a unha toda sem graça.

Lívia virou as costas pra ela e entrou no closet, pegou


uma pequena caixa e entregou a ela.

- Não precisa ficar sem graça querida, eu sei que você


ficou mais em casa essa semana. E eu na verdade
comprei esse presente pouco antes de você ganhar
neném, mas não tive como te dar, aí o tempo foi
passando e decidi dar agora no natal.

Marina pegou a caixa e abriu, era um cordão com dois


pingentes de um menino e uma menina.

- Ano passado mamãe nos deu um cordão com um


bonequinho, comprei outro com dois. – sorriu. – Ela
não imaginou que seriam dois.

A loirinha sorriu, achou o presente lindo.

- Eu até guardei aquele cordão porque ia ficar estranho


eu usar com um pingente, ia comprar outro, mas nunca
dava tempo. – olhou para Lívia e sorriu. – Engraçado
uma coisa... onde comprou esse cordão?
- Numa joalheria perto do seu estúdio. Um dia fui lá te
buscar e comprei antes de subir. Por quê?

Marina foi até o seu criado e pegou embaixo das


cobertas uma caixinha escondida e entregou a Lívia. Ela
abriu e viu que o cordão era idêntico.
- A moça nem pra me falar que tinha vendido igual. –
Marina riu.
- Como ela ia saber que a outra pessoa que comprou
era sua esposa?
- Morenas lindas de olhos azuis não existem sobrando
por aí. São poucas e eu já peguei a minha. – enlaçou o
pescoço dela pra colocar o cordão e a beijou. – Achou
que tinha esquecido seu presente? Mas não esqueci. –
deu língua pra ela.

Lívia capturou a língua dela com os lábios e lhe deu um


beijo todo apaixonado.

- Feliz natal querida. – disse com a boca colada na


dela.
- Feliz natal amor.

Helena e Henrique resmungaram no berço e elas foram


olhar.

- Ta na hora de mamar, nós já jantamos, eles não.

Depois que os dois mamaram as duas deitaram na


cama com eles e dormiram. Apesar de ter sido contra,
Lívia adorou a experiência. Dormiu com um sorriso no
rosto.

Passando a semana do Natal, vieram os preparativos


para o ano novo. Lívia chamou Beatriz e Guilherme e
todos se juntaram em seu apartamento. Renata
apareceu com Eduardo e Sarah e fizeram uma festa só.
Na hora da virada Maria José estava com Helena no
colo e Marta com Henrique. Juntaram-se todos para
brindar pouco antes da contagem regressiva. Quando o
ano virou cada um desejou felicidade, saúde, sucesso e
se abraçaram. Lívia puxou Marina e lhe deu um abraço
apertado, depois falou em seu ouvido.

- Posso passar o resto da vida com você que pra mim


cada dia vai ser especial e diferente. Descobri que essa
é a vantagem de se achar uma alma gêmea. – beijou-a
nos lábios.
- Se alguém me pedir pra contar nossa história, eu
saberia contar dia após dia, pois todos eles foram os
mais lindos que já vivi. Feliz ano novo meu amor!

Beijaram-se novamente.

Passar as duas datas com as famílias reunidas serviu


para aproximar todo mundo e trazer os laços familiares
à tona. Por decisão própria, Roberto se mostrou mais
amistoso e por várias vezes sentou pra conversar com
Lívia. Ela contava do dia a dia nos tribunais e ele falava
do sítio.

- Eles se dão bem – Marina falou com a mãe enquanto


os observava.
- Quem diria né?
- Lívia é inteligente, agradável, não vou puxar saco,
mas não tem quem não goste dela.
- Confesso que ela me surpreende sempre. – Zezé
sorriu.

Depois das festas veio o ano cheio de trabalho. Marina


voltou para o estúdio a toda e com gás extra pelo
tempo em que ficou parada. Lívia também retornou a
sua rotina e assim que se viu mais inteirada dos
serviços do escritório, deu uns dias de folga para
Beatriz e Guilherme.

- Rê, tenho gravação a tarde e não atendo ninguém. A


não ser Lívia e a babá.
- Essa babá tem mais moral que eu! – Felipe chegou de
surpresa e entrando na sala dela.
- Ei, que surpresa! Por que não avisou que vinha? –
Marina levantou para abraçá-lo.
- Tentei pegar você no flagra pra saber se está
trabalhando. – brincou.
- Se dependesse dela, tava trabalhando há meses. –
Renata falou. – Bom vou dar licença, qualquer coisa to
na minha sala.
- Ela ta certa, por mim já tinha voltado, mas a médica
recomendou repouso e Lívia fica no meu pé.
- Que isso Má. Você passou por uma fase delicada,
tinha mais é que descansar e se recuperar. E o estúdio
não ficou largado às traças.
- Agradeço por ter vindo pra cá me dar uma força. –
sentou-se no sofá sendo acompanhada por ele.
- E quando é que você também não segurou a barra
por mim? Não somos sócios, somos amigos. – sorriu. –
Vim pra falar de novidades.
- Diga!
- Comprei um terreno em São Paulo e agora a
produtora sai direito. Teremos estúdio para produção
de comerciais e clipes.
- Sério?
- Só não te contei antes por conta da sua situação. E
nem te consultei na verdade. Mas é que consegui um
acordo com a prefeitura e esse terreno saiu por um
preço excelente. A obra começa já.
- Felipe, que ótimo. – falou animada.
- Com isso vou precisar que você vá mais a São Paulo.
– o sorriso foi amarelo. – Calma, não precisa mudar pra
lá.

Marina que tinha arregalado os olhos, agora colocava a


mão no peito e se sentia aliviada.

- Deus do céu, achei que ia pedir pra eu voltar.


- Não, aqui as coisas estão caminhando muito bem, não
teria sentido. Só que ter sua assinatura na produção vai
ser de grande importância.

A loirinha ficava feliz com os elogios. Combinaram a ida


dela com mais frequência para São Paulo e naquele dia
mesmo Felipe voltou. Passou no apartamento para
visitar os bebês rapidamente e logo pegou o avião. A
noite Marina contou a novidade a Lívia e comemoraram
com muita mamadeira e fralda pra trocar.

- Vamos brindar! – Lívia falou.


- Isso, um brinde a essa nova empreitada.

Ergueram as mamadeiras e brindaram.

- A gente brinda e eles que bebem. – Lívia riu junto


com a loirinha.

A vida das duas havia mudado radicalmente, se


achavam que vida de casadas é mais quieta, a vida de
mães era mais ainda no aspecto baladas. Já durante o
dia nos finais de semana, sempre saíam para passear
com as crianças. Faziam viagens curtas e sempre
estavam em Mauá. Quando Helena e Henrique
completaram um ano a festa foi quase um evento.
Marina e Lívia convidaram todo mundo que conheciam,
tinha até artistas famosos.

- Minha mãe do céu! Me sinto numa selva! – Renata


olhava em volta do salão todo decorada com tema do
jardim encantado.
- Cuidado que daqui a pouco sai um leão de trás dessas
bolas! – Marina brincou.

Mal terminou de falar e Lívia veio com Helena no colo e


Henrique, já andando e vestido de leão.
- Aí meu leãozinho. – pegou-o no colo.
- Ficou muito bonito. – Lívia olhou em volta.
- Não se vestiu a caráter? – Renata perguntou a ela
num tom debochado.
- Ah não, eu deixei minha fantasia pra você. – riu.
- Mãe tem que participar, ora essa.
- Olha, eu faço tudo pelos meus filhos, mas vestir de
oncinha, vaquinha, não é a minha praia.

Marina ria das duas juntas. Lívia havia cortado um


pouco os cabelos e deixado a franja crescer, agora a
prendia no meio da cabeça, achava mais prático e pra
cuidar das crianças ela melhor. Haviam voltado
totalmente à rotina e Marina já estava em seu corpo
normal, quis mudar o corte do cabelo, mas estava
sempre mais curto e lhe trazendo uma aparência
moderna.

- Nunca vi mães tão bonitas. – Eduardo chegou


trazendo Sarah e uma sacola de presentes. – Está
linda Má e você também Lívia.
- Ta pensando o que? Só porque virei mãe vou ficar
esculhambada! É ruim hein! – disse Marina. – Tenho
que acompanhar minha esposa, linda, alta, olhos azuis.
O povo dá em cima!
- Amor, nem se der em baixo. – Lívia a beijou com
carinho.

Marta apareceu trazendo Maria José e o restante da


família. Luisa insistiu em tomar conta dos primos e o
fez muito bem.

Eram tantos convidados que dar atenção a todos ficava


difícil, então Marina e Lívia se dividiam e cada uma ia
pra um lado e conversava um pouco com eles. Marconi
estava sentado em uma mesa acompanhado da esposa
e de Ana, a regente da orquestra, quando Marina se
aproximou.

- A festa está linda Marina! – ele falou empolgado.


- Estou até com vontade de ter mais filhos. – a esposa
dele falou.
- De jeito nenhum! Depois dos meus criados, vou
arrumar mais? – o professor riu. – Já perdi o pique.
- Que nada, eu achei que teria mais dificuldade, mas
não. Lívia me ajuda muito também.
- Ê amor danado! Ela te surpreendeu né? – Marconi
perguntou e viu Marina abrir um sorriso.

Nesse meio tempo Lívia conversava com Felipe.

- E aí Lívia, gostando da profissão de mãe?


- Adorando! Não posso reclamar, eles são bagunceiros,
mas são ótimos. Não choram por nada, ao contrário,
estão sempre sorrindo e nem nos dão trabalho.
- Marina me surpreendeu quando disse que acordava
toda noite pra dar mamar a eles.
- Ela é uma excelente mãe, carinhosa, atenciosa com
eles.
- E você baba né?

Lívia olhou para o salão como se procurasse Marina e a


viu do outro lado olhando para ela. Respondeu a Felipe
ao mesmo tempo em que a loirinha respondia a
pergunta de Marconi.

- Muito! Sou completamente apaixonada por ela. –


sorriram ao mesmo tempo e piscaram uma pra outra.

A festa foi ótima e quando terminou Lívia e Marina


estavam exaustas.

- Gente! Quando foi que uma festa de aniversário me


cansou tanto? – Marina falou se jogando na cama após
o banho.
- Quando não era a festa dos nossos filhos. Dos outros
é mole, a gente vai, come, bebe e depois volta pra
casa. – Lívia veio do banheiro enxugando os cabelos.
- Durmo por um dia e meio. – riu a loirinha.
- Hum... – a morena jogou a toalha num canto e deitou
por cima dela. – Nem vou ganhar um beijinho?
- Te dou um beijinho. – Marina beijou rapidamente sua
boca.
- Só isso?! Poxa, achei que poderíamos...
- Poderíamos...?
- Sei lá... namorar um pouco. – começou a beijar o
pescoço dela.
- Estou tão cansada querida. – Marina passou as mãos
pelas costas de Lívia.
- Só um pouquinho linda... – sua língua percorria do
pescoço até o lóbulo da orelha e já sentia a pele dela
arrepiar. – Está cheirosa e só de calcinha e sutiã em
cima da nossa cama fica difícil resistir. – mordia bem
de leve.
- Hum... amor... não... – mesmo cansada, Marina
sentia o corpo se arrepiar.

Lívia desabotoou o sutiã, que por sorte abria na frente


e passou a palma da mão em um dos seios, depois
apertou o biquinho que já estava enrijecido. Mordia,
lambia e beijava cada pedacinho e falava ao ouvido de
Marina com voz sensual.

- Não consigo ficar muito tempo sem você... delícia... –


mordeu o lábio inferior dela. – Gostosa... – pressionou
com os dentes o bico do seio e passou a pontinha da
língua.
- Ai amor... – falou dengosa. – Hoje não... ahh... estou
cansada... ahhh... para amor... não... – Marina sentia o
corpo acender, mas estava relutante.
- Vem cá linda. – puxou a calcinha dela e mergulhou a
cabeça entre suas pernas. – Quero você bem devagar.
– passava a língua demoradamente e sorvia cada gota
de excitação dela. Sentiu que as pernas da loirinha
pressionaram seu corpo. Ela sabia que Marina queria
mais. – Ainda quer que eu pare? – falou com voz rouca
e sem parar de manipular o clitóris.

Marina estreitou os olhos e puxou o corpo de Lívia


fazendo ficar sobre o seu.

- Agora que você me acendeu e estou pegando fogo?!


Juro que se parar eu me divorcio!

Imediatamente Lívia pegou a cinta e o pênis, fazia


tempo que não usavam. Posicionou-se entre as pernas
dela e a penetrou de uma vez só. Marina arranhou suas
costas num gesto que excitou totalmente a morena.
Fizeram amor como loucas e em várias posições.
Ambas estavam insaciáveis e seus corpos pareciam não
parar de sentir prazer.

- Assim amor... assim... isso... – Lívia olhava para


Marina cavalgando em seu colo. Buscou um seio com a
mão e o outro com a boca. Sentia o gozo dela escorrer
em suas pernas.
- Ahh... ahhh... – Marina gemia mordendo o lábio
inferior, numa expressão sexy.

Explodiram num orgasmo intenso e se abraçaram


totalmente cansadas agora.

- Amo você gostosa! – Lívia mordeu o queixo dela e


beijou a ponta do nariz.
- Eu... – respirou fundo. – Também te amo. – deitou a
cabeça no ombro de Lívia.

A morena tirou a cinta e deitou abraçando Marina, que


imediatamente se aninhou em seu colo. Dormiu em
paz, sentindo o corpo extasiado. Não era só a felicidade
que sentia, era o amor que deixava seu coração em
paz.

As duas colocaram como projeto para aquele ano a


casa em Mauá. Procuraram arquitetos e fizeram vários
projetos e orçamentos.

- Vocês não sossegam né!? – Marta falou. - Quando


penso que vão sossegar já inventam moda de fazer
casa.
- Achei que a senhora ia gostar, ficaremos mais tempo
aqui talvez.
- É Marta. – Marina concordava com Lívia.
- E por que não ficam aqui?
- Crianças fazem bagunça, sua casa é muito
organizada, eles aqui tirariam o seu sossego.
- Nem ligo. – disse olhando pra eles. – Podem jogar a
casa no chão que eu vou adorar.
- Ê vó coruja! – Lívia falou.

Contrataram os arquitetos e depois de várias plantas


começaram a obra. Marta acompanhava mais de perto
e aos finais de semana Lívia ia com Marina e as
crianças para supervisionar os detalhes.

Os dois entraram na escolinha e logo já estavam


ensaiando as primeiras falas. Marina esperava na sala,
saía pra trabalhar e só esperava Lívia se arrumar. Já na
porta do elevador saíam meio às pressas quando os
dois vieram andando pro lado delas e chamando:

- Ma ma ma ma...

Marta foi atrás com a babá.

- Elas vão trabalhar meus amores.


- Daqui a pouco mamãe está voltando. – Lívia brincou e
beijou cada um na testa. – Mãe eu vou pra São Paulo,
mas volto hoje.
- E eu vou gravar até mais tarde, só chego depois das
dez. – Marina também os beijou.
- Vão com Deus. – Marta falou e as crianças deram
tchauzinho com a mão e jogaram beijos.

Dentro do elevador Lívia deu um beijo rápido em


Marina.

- Ô vida corrida! Acho que nunca fui tão atrasada pro


trabalho.
- Filhos e pontualidade não combinam. – Marina riu. –
Arrependida?
- Nunca! E você?
- Nem um pouquinho. – riu.

Desceram de mãos dadas e entraram na garagem.

- Bom trabalho linda.


- Pra você também amor, boa viagem. Volta logo viu?
- Sempre! Te amo!
- Também te amo.

Cada uma entrou em seu carro. Lívia esperou Marina


sair para ir atrás dela. Olhava para ela pelo vidro e
pensava: “Quem diria que tudo começou por causa de
uma simples melodia... Wave... Fundamental é mesmo
o amor, é impossível ser feliz sozinho. Te amo minha
pianista!”

Fim

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