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Experiências produtivas
de agricultores familiares
da Amazônia
Experiências produtivas
de agricultores familiares
da Amazônia
Copyright © 2015 by Gabriel Medina and Cláudio Wilson Soares Barbosa Autores e suas filiações institucionais
Anderson Serra
Universidade Federal do Pará (UFPA)
CIP - Brasil - Catalogação na Fonte José Ferreira de Sousa Filho
Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras
Biblioteca Pública Estadual Pio Vargas
Rurais de Medicilândia (STTR)
Experiências produtivas de agricultores familiares da Amazônia. Antônio Reis do Nascimento Filho
Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras
Gabriel Medina e Cláudio Wilson Soares Barbosa (Editores). – Goiânia: Kelps, 2015.
Rurais de Medicilândia (STTR)
198 p. il. Segunda edição Juraci Dias
Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras
ISBN: 978-85-400-1211-0
Rurais de Medicilândia (STTR)
Benno Pokorny
Universidade de Freiburg, Alemanha (Uni Freiburg)
1. Desenvolvimento Rural. 2. Agricultura Familiar. I Título
CDU: 631.1 Katiele Amorim
Universidade Federal de Goiás (UFG)
Carlos Harold
Universidade Federal de Goiás (UFG)
Índice para catálogo sistemático:
CDU: 631.1 Marlon Costa de Menezes
Universidade Federal do Pará (UFPA)
César Augusto Tenório de Lima
Autores das figuras em cada página do livro: Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)
Gabriel Medina: 8, 10, 11, 12, 13, 16, 20, 22, 25, 26, 27, 28, 29, 31, 35, 36, 37, 38, 40, 42, 45, 47, 50, 54, Nayra Glaís Pereira Trindade
57, 63, 64, 73, 75, 77, 79, 81, 92, 112, 130, 131, 132, 133, 158, 176, 179, 190, 192, 195; Cláudio Wilson Cláudio Wilson Soares Barbosa Universidade Federal do Pará (UFPA)
Soares Barbosa: 21, 32, 61, 77, 82, 87, 91, 93, 126, 150,170; Arquivo do STTR de Medicilândia: 14, 94, Serviço Cerne de Apoio à Produção
Familiar na Amazônia (Cerne)
97, 99, 101, 102, 105, 107, 108, 110, 113, 114, 115, 116, 117, 119, 120, 124, 136, 138, 141, 197; Arquivo Thaynara Viana Cavalcante
do CDS: 193, 194; Jair Carvalho dos Santos: 181, 183, 184, 178, 188; Marlon Costa de Menezes: 49; Universidade Federal do Pará (UFPA)
Nayra Glaís Pereira Trindade: 18, 43, 72; Idelbergue Ferreira Araújo: 145, 146, 147, 148; Benno Pokorny: Gabriel Medina
153; Anderson Serra: 150, 158, 163, 164, 165, 168, 169, 170, 175; Benno Pokorny e Anderson Serra: 164 Universidade Federal de Goiás (UFG) Thomaz Monteiro
(Diagrama). Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras
Rurais de Medicilândia (STTR)
Guilherme Brito
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Direitos Reservados
(Embrapa Amazônia Oriental)
É proibida a reprodução total ou parcial da obra para fins comerciais, de qualquer forma ou por
qualquer meio, sem a autorização prévia e por escrito dos autores. A reprodução parcial para fins não
comerciais está autorizada pelos autores. A violação dos Direitos Autorais (Lei nº 9.610/98) é crime
estabelecido pelo artigo 184 do Código Penal.
6 Apresentação Apresentação 7
Lista de siglas
ADEPARÁ – Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará
APAT – Autorização Prévia à Análise Técnica de Plano de Manejo Florestal Sustentável
Resumo executivo
AUTEX – Autorização de Exploração Florestal Gabriel Medina
CDS - Comitê de Desenvolvimento Sustentável de Porto de Moz
CEBRAN – Central de Biotecnologia em Reprodução Animal A partir de experiências produtivas de
CEPLAC – Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira
CERNE – Serviço Apoio à Produção Familiar na Amazônia
agricultores familiares e comunidades tradicionais,
Colônia Z64 – Colônia de Pescadores Z64 argumenta-se que o desenvolvimento da
CPF – Cadastro de Pessoa Física
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Amazônia passa necessariamente pelo(a):
FLONA – Floresta Nacional
FNO – Fundo Constitucional do Norte (Crédito)
Reconhecimento de que em muitos podem contribuir para aumentar sua re-
FVPP – Fundação Viver, Produzir e Preservar
GAR – Grupo de Ação e Reflexão
municípios os produtores familiares são siliência diante de pressões externas que
GTPF – Guia de Transporte de Produto Florestal
parte da vocação produtiva regional e seu provêm de diversos atores, de madeireiros
IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis desenvolvimento deve ser priorizado; a ONGs ambientalistas;
ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
IE – Inscrição Estadual Inclusão produtiva dos produtores fa- Tratamento da questão produtiva nas
IN – Instrução Normativa miliares como condição fundamental para unidades de conservação (com destaque
INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária a superação da pobreza e da degradação para as reservas extrativistas) como alter-
MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário ambiental na Amazônia rural; nativa concreta de desenvolvimento rural
MMA – Ministério do Meio Ambiente sustentável, em contraposição à ideia de
MS – Matéria seca Apoio a experiências locais de produ- subdesenvolvimento sustentado;
MSTTR – Movimento Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais ção agrícola, pecuária e extrativista, que
ONG – Organização não Governamental têm maior potencial de sucesso do que Reconhecimento de que o Estado tem
PAEX - Projeto Estadual de Assentamento Agro-extrativista modelos produtivos externos; papel fundamental de reconhecimento e
pH – potencial Hidrogeniônico, indicador de acidez apoio às iniciativas produtivas existentes
PMFS – Plano de Manejo Florestal Sustentável Superação da abordagem tradicional e precisa estar mais receptivo a parcerias
PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
de “proteção” das populações locais em com as populações locais, superando a
RDS – Reserva de Desenvolvimento Sustentável
favor de sua inclusão social e de seu forta- abordagem atual concentrada no coman-
RESEX – Reserva Extrativista
lecimento político e econômico, reconhe- do e controle.
RG – Registro Geral ou Carteira de Identidade
cendo que mudanças culturais também
SEMA – Secretaria de Estado de Meio Ambiente
SEMMPA – Secretaria Municipal de Meio Ambiente
SEPAQ – Secretaria de Estado de Pesca e Aquicultura do Pará
SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação
STTR – Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais
O conjunto de capítulos deste livro, contendo experiências produtivas
SUDAM – Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia
conduzidas pelos produtores familiares na Amazônia, revela um gran-
UC – Unidade de Conservação de potencial de desenvolvimento regional que precisa ser reconhecido e
UCs de Uso Sustentável – Unidades de conservação voltadas para compatibilizar o uso sustentável dos recursos naturais apoiado. O futuro da Amazônia depende de um projeto estratégico para
com a conservação da natureza, por isso admitem a presença de moradores conforme definido no SNUC. a produção e geração de renda no campo hoje.
9
Apresentação E ste livro resgata a valorização dessa participação ao apresen-
tar os desafios e potencialidades das estratégias produtivas
implementadas por famílias agricultoras da colonização, mo-
radores da várzea e da terra firme na floresta amazônica (Figura 1).
10 Apresentação Apresentação 11
população do campo. Logo, buscar melhorias para a atividade de
criação de búfalos na várzea de Porto de Moz começando pelas
restrições ambientais da atividade, por exemplo, é o mesmo que
Introdução
colocar sobre os criadores, secularmente Gabriel Medina e Cláudio Wilson Soares Barbosa
abandonados pelo Estado, a responsabilida-
de de encontrar, sozinhos, a saída para um A inclusão produtiva dos agricultores familiares é
passivo ambiental cometido coletivamente fundamental para o desenvolvimento rural sustentável
por governo e sociedade. Exigir que agri-
cultores submetam-se aos rígidos padrões da Amazônia.
da “produção limpa” sem uso do fogo, des-
matamento ou agrotóxicos, e que tenham
ainda de dominar a linguagem dos juros
bancários, insumos e índices técnicos, im-
praticáveis em sua maioria, sem olhar o
perfil e o desejo dessas famílias, é represar
milhões de recursos dedicados à produção
familiar nos bancos e condenar os agricul-
tores à miséria cada vez mais crescente no
campo.
12 Apresentação Introdução 13
agricultores, por representarem a maior mílias. É necessário um projeto estratégi- concentração fundiária ainda está no co-
parte das propriedades rurais, dinamizam co de desenvolvimento, claro e de longo meço e os níveis de degradação ambiental
a economia local e geram grande diversi- prazo, construído a partir das cadeias são baixos. Esses fatores concorrem posi-
dade de produtos, mesmo que em peque- produtivas existentes. A inclusão produ- tivamente para o desenvolvimento da pe-
na escala e com processo tecnológico sim- tiva passa pela garantia das condições quena produção e para a redução dos efei-
ples. Particularmente quando a vocação para que os agricultores possam produzir, tos negativos das transformações sociais,
produtiva dos municípios está definida e beneficiar sua produção, comercializar o econômicas e ambientais. Se a inclusão
passa pela produção familiar, é possível produto de seu trabalho e gerar renda. Es- produtiva não é resolvida nessa geração,
planejar o desenvolvimento local a partir sencialmente precisa ser um projeto pen- há o risco claro de desestruturação das ati-
das atividades existentes. Nesses casos, a sado a partir das condições e capacida- vidades dos agricultores e de suas cadeias
pergunta central é como fortalecer o seg- des locais, sem dependência de recursos, produtivas. A consequência imediata é o Figura 3. Criação tradicional de búfalos em Porto de Moz, exemplo da
mento familiar como eixo de desenvolvi- conhecimentos e tecnologias alheios aos surgimento de grande massa de pobres importância de se trabalhar propostas produtivas a partir das atividades
mento local. produtores (Figura 2). que deixam o campo, sem perspectiva de já desenvolvidas e considerando os conhecimentos, interesses e capaci-
futuro. Uma vez que as atividades produ- dades dos agricultores.
O desafio da década para a Amazônia é A demanda é urgente, pois ainda é pos- tivas existentes são desestruturadas, a de-
garantir a inclusão produtiva dos agricul- sível valer-se do potencial existente, como pendência de programas governamentais
tores familiares. A questão essencial é a o fato de os agricultores ainda estarem no assistencialistas aumenta, com poucas No entanto, ainda faltam, na Amazô-
consolidação de atividades produtivas no campo, terem produção, fazerem parte de chances de se tornarem emancipatórias. nia, experiências práticas consolidadas de
campo e a organização comercial na cida- cadeias de comercialização estabelecidas desenvolvimento local que possam servir
de como forma de geração de renda para e ainda não estarem marginalizados so- Já existe o entendimento conceitual de de exemplo. Mesmo frente à existência
que os agricultores tenham condições de cialmente como em outras regiões do Bra- que a inclusão produtiva passa pela valo- de um conceito claro acerca dos passos
viver bem e garantir o futuro de suas fa- sil. Em muitos municípios, o processo de rização e reconhecimento do protagonis- fundamentais para o fortalecimento da
mo dos agricultores e das comunidades, produção familiar, há poucas experiên-
pela construção de propostas produtivas cias concretas sistematizadas. Um esforço
a partir dos conhecimentos, interesses e nessa direção foi feito no marco do proje-
capacidades locais, pela atuação partici- to Governança de Recursos Naturais por
pativa dos atores externos e pela colabo- Agricultores familiares Rurais da Ama-
ração do governo. Dentro dessa compre- zônia nos municípios de Porto de Moz
ensão, a governança local (ou sistemas e Medicilândia, no Pará. Os municípios
locais de produção e gestão) é uma das são caracterizados pela forte presença de Mais do que
alternativas mais promissoras por partir produtores familiares, mas são essencial- ideias novas, é
Figura 2. Os agricultores da: a) capacidade dos grupos locais em mente diferentes em sua história e modo preciso valorizar
familiares e as comuni- gerenciar estrategicamente seus recursos, de vida. A área rural de Porto de Moz, por
dades tradicionais têm b) noção de que propostas e acordos que exemplo, é ocupada há mais de cem anos
as atividades
melhores condições de saiam das comunidades podem ter mais por populações ribeirinhas que vivem da produtivas já de-
gerenciar seus recursos efetividade que a gestão do Estado e c) pesca, da criação de animais e do uso da senvolvidas pelos
do que o governo. Cabe importância do Estado avalizando os sis- floresta (Figura 3). Medicilândia, por outro
agricultores e sua
ao Estado reconhecer temas de governança local para garantir lado, foi colonizada na década de 1970 por
e apoiar as iniciativas sua robustez, principalmente diante de imigrantes de outras regiões que hoje tra- capacidade de
locais. ameaças externas. balham com cacau, gado, têm criação de gestão.
Introdução 15
pequenos animais e começam a plantar seguir e sistematizadas na conclusão do pacidade e interesses locais. É uma pro- rotacionado de pastagem, segundo resul-
açaí (Figura 4). livro. Cada capítulo tem como ponto de posta simples, mas que responde técnica e tados de uma experiência que está sendo
partida as atividades já desenvolvidas legalmente (dependendo da interpretação testada em Medicilândia. O sétimo capí-
Este livro reúne as lições de quatro anos pelos agricultores e suas práticas de pro- que se dê à legislação) às exigências conti- tulo traz lições sobre o manejo de açai-
de acompanhamento de diferentes ativi- dução. Em alguns casos, foram testadas das nos planos de manejo tecnicistas. zais plantados e nativos, revelando que
dades produtivas organizadas em propos- modificações na forma de produzir, con- as variedades nativas, por apresentarem
tas técnicas que têm por objetivo apoiar siderando os interesses dos agricultores e Para a gestão pesqueira, a proposta maior resistência e menor demanda por
os agricultores em seus projetos de de- suas propostas. Nos casos em que as mo- apresentada no terceiro capítulo sistema- insumos e tratos, são mais adaptadas a
senvolvimento. A iniciativa busca lições dificações surtiram efeito, foram incorpo- tiza as experiências dos acordos de pes- agricultores com baixo nível de manejo e
sobre: a) as possibilidades de inclusão radas ao sistema produtivo e os custos de ca desenvolvidos pelas comunidades de capacidade de investimento. Esse conjun-
produtiva dos produtores familiares como implementação foram apresentados nos Porto de Moz e indica os procedimentos to de capítulos revela que o apoio à inclu-
forma de garantir o futuro da Amazônia; respectivos capítulos. metodológicos para sua elaboração e re- são produtiva de agricultores familiares
b) a viabilidade de se trabalhar propostas gulamentação. Como forma de assegurar na Amazônia precisa ser estruturado, com
produtivas construídas junto com os pro- O primeiro capítulo, sobre búfalos, o cumprimento dos acordos e avaliar sua o Estado oferecendo as condições neces-
dutores a partir das atividades que eles já aborda um tema polêmico: a criação de eficácia num horizonte de tempo preesta- sárias para que os agricultores produzam
desenvolvem, considerando seus conhe- animais de grande porte no interior das belecido, propõe-se um sistema de moni- e gerem renda.
cimentos, interesses e capacidades; e c) o Reservas Extrativistas (Resex). Embora na toramento a partir de indicadores simples.
papel do Estado e outros atores-chave no maioria das Resex exista criação de ani- A expectativa em relação ao Estado é de O oitavo capítulo traz uma avaliação
apoio ao desenvolvimento rural na Ama- mais de grande porte (bovinos ou bubali- reconhecimento dos acordos, como forma sobre as melhorias implementadas no
zônia, em particular no apoio à inclusão nos), até agora o Ministério do Meio Am- de fortalecê-los para a resolução de confli- conjunto de experiências apresentadas ao
produtiva dos agricultores familiares. biente (MMA) tem se mantido omisso em tos, principalmente com atores externos. longo do livro. O capítulo revela a impor-
tratar dessa questão à luz da legislação, tância que pequenos aportes financeiros
As experiências sobre esses temas es- por entender que há incompatibilidade Os capítulos seguintes tratam de temá- podem ter no apoio a produtores interes-
tão contidas em cada um dos capítulos a entre a atividade e o Sistema Nacional de ticas ligadas à produção agropecuária, sados em experimentar melhorias em suas
Unidades de Conservação (Snuc). No caso principalmente com base nas experiên- práticas ou investir em novas atividades
da Resex Verde para Sempre, em Porto de cias de Medicilândia, um município es- produtivas. O décimo capítulo revela que
Moz, os criadores buscam saídas, mobi- sencialmente agrícola. O quarto capítulo o baixo desenvolvimento da agricultura é
lizando-se a partir de suas organizações apresenta algumas possibilidades para uma das principais razões da pobreza ru-
e, à medida que expõem suas práticas, o cultivo de cacau em terra mista, consi- ral na Amazônia e advoga em favor do de-
levam órgãos ambientais e organizações derando o interesse dos agricultores em senvolvimento rural a partir da produção
ambientalistas a encarar a realidade das expandir os plantios para essas áreas. O agrícola e pecuária, em oposição ao sub- Este livro traz
Unidades de Conservação de Uso Susten- quinto capítulo trata da criação de gali- desenvolvimento sustentado. Finalmente, experiências
tável na Amazônia. nha caipira e caipirão em sistema de ma- na conclusão, a inclusão produtiva dos
Figura 4. Cultivo de nejo semiconfinado, de baixo custo, con- produtores familiares é apontada como o
concretas de in-
cacau em Medicilândia. O segundo capítulo do livro trata do uso siderando a disponibilidade de material e melhor caminho para o desenvolvimento clusão produtiva
Os agricultores familia- tradicional da floresta para a produção de de mão de obra no lote. sustentável da Amazônia. implementadas
res da Amazônia preci- madeira e da construção de sistemas de por agricultores e
sam ter condições de governança envolvendo extrativistas e No sexto capítulo são apresentadas su-
produzir, comercializar e órgãos ambientais. O capítulo aborda um gestões para o manejo de gado para a pro- comunidades na
gerar renda no campo. sistema de gestão florestal pautado na ca- dução mais intensiva de leite, em sistema Amazônia.
Introdução 17
Manejo de
Búfalos
na Váreza
Cláudio Wilson Soares Barbosa,
Katiele Amorim e Gabriel Medina
Práticas de alimentação,
saúde, reprodução animal e
produção de queijo de bubalinos
desenvolvidas a partir das
experiências tradicionais dos
criadores são apresentadas
neste capítulo.
É
Afogamento Transporte por água Bezerros podem ser atropelados e Evitar aglomeração dos animais ou pressionar necessário que o criador siga o calendário profilático, que é o
de animais em grandes afogados pelos animais adultos em para que nadem mais rápido. Sempre que
grupos incluindo animais situação de pressão possível mantê-los em filas deixando a líder do
cronograma de vacinação e combate a endoparasitas e ectopa-
jovens grupo guiar os demais (só as fêmeas exercem rasitas (LÁU, 2006) (Quadro 4).
liderança no rebanho). Evitar transportar
animais por áreas de boiados sempre que pos- Figura 10. O búfalo é
sível. Evitar transportar rebanhos com muitos
animais Cura de umbigo – Na várzea os dicamentos para evitar resistência nos muito resistente, mas
Chifre engatado Enroscamento dos chi- Principalmente entre búfalas com Serragem do chifre a cerca de cinco centímetros criadores não costumam fazer cura de animais. No caso de infestação por pio- alguns cuidados são fun-
fres em troncos e raízes mais de cinco anos de idade da raça da ponta. A idade indicada é a partir do quarto umbigo, sendo raros os casos de infla- lho, todo o rebanho deve ser medicado. damentais para a saúde
de árvores Murrah ou do cruzamento desta ano. O cuidado é evitar corte que provoque mação (Figura 10). Na terra firme, é animal.
com Mediterrâneo. Esses animais sangramento e crie condições para infecções e mais comum haver complicações e os Brucelose – A vacinação deve ser
apresentam chifres em forma de bicheira
círculo, com pequena abertura na cuidados com a cura do umbigo devem feita entre o terceiro e o oitavo mês de
parte interna. Ao esfregá-los em ser redobrados. Tanto na várzea quanto vida, sendo recomendado o sexto mês.
troncos e raízes de árvores há risco na terra firme, a cura deve ser feita no Mas só as fêmeas devem ser vacinadas.
de o animal ficar preso e não conse-
primeiro dia de vida do animal com so-
guir sair. Quando ocorre em regiões
alagadas pode haver afogamento lução de iodo a 10% repetindo-se esse Manqueira – A vacina para man-
Chifrada (e chifres Briga entre animais Sobretudo entre búfalas que dispu- Serragem dos chifres ou descarte quando se procedimento duas vezes ao dia até o queira deve ser aplicada junto com a
engatados) tam a liderança do rebanho. É muito trata de animal de baixa produtividade quinto dia ou até que o umbigo fique vacina de brucelose. Depois, deve ser
comum a briga entre búfalas pro- seco. Caso o umbigo esteja grande, deve feitaanualmente junto com a campa-
vocar o encaixe dos chifres fazendo
ser cortado a dois dedos do abdômen. nha de vacinação.
com que os animais fiquem presos
uns nos outros. Quando isso ocorre
em áreas alagadas aumenta o risco Verminoses e ectoparasitas (prin- Aftose – As vacinações para aftose
de morte por afogamento. Outro cipalmente piolho) – O fundamental devem ser feitas duas vezes por ano
tipo de ocorrência muito comum é
o engate do chifre na parte anterior desses tratamentos é aplicar os medi- nas campanhas que acontecem em
da coxa. Em muitos casos um animal camentos na dose correta, concluir o maio e novembro em Porto de Moz. O
morre engatado no outro tratamento iniciado e alternar os me- controle é feito pela Adepará.
Acidente em Rompimento da estru- Em marombas construídas durante O cuidado essencial está na construção da
marombas tura da maromba ou o inverno, normalmente às pres- estrutura da maromba de acordo com a quan-
frestas que permitam a sas, com estruturas frágeis ou com tidade de animais desejada. Para o assoalho
entrada das patas dos abertura entre tábuas. A maromba é recomendado deixar espaço de 2 cm entre Quadro 4. Calendário profilático.
animais e descidas e mal construída possibilita a entrada tábuas e usar tábuas de 3 cm de espessura. A Idade Cura de Vacina contra Vacina contra
subidas em rampas com das patas dos animais e derrapa- rampa deve ser o menos inclinada possível para Vermifugação
(Dias) umbigo Brucelose Manqueira
assoalho escorregadio gem provocando a fratura da bacia evitar muito esforço durante subidas e descidas
(cavidade óssea que serve de base de animais e com as laterais bem cercadas, 1a5 ✔
ao tronco e de ponto de apoio aos contendo proteção capaz de evitar que, ao 15 ✔
membros inferiores) escorregar, o animal coloque as patas para fora
30 ✔
e seja pisoteado pelos demais. Fazer espécie de
degrau para evitar que fique escorregadia 120 ✔
180 ✔ ✔
A
ou a inseminação
s comunidades têm rebanho misto com baixa produção de taxa de consanguinida- va, capaz de provocar disfunções durante encontrados os animais da raça Jafaraba-
leite (dois litros por búfala por dia, em média), mas conside- de. Alternativas incluem o parto ou subnutrição que também pode di. Mesmo apresentando menor produção
artificial são prá-
ram que o gado tem ganho de peso relativamente bom. Um a troca de touros entre ocasionar problemas após o parto. de leite, essa raça tem crescimento rápido, ticas importantes
dos principais desafios é a consanguinidade do rebanho da região, comunidades e a aquisi- podendo chegar a 1.000 kg na fase adulta. para evitar con-
que tem a mesma origem. Para superar o problema, há a possibili- ção de touros de outras Na faixa de transição entre várzea e Uma dificuldade da raça Jafarabadi para
sanguinidade no
dade de troca de touros e inseminação artificial. regiões. terra firme, a monta ocorre no início do as áreas de várzea de Porto de Moz é o
período chuvoso, principalmente nos me- tamanho e a disposição dos chifres que rebanho.
Como as famílias criam os animais soltos, ses de janeiro e fevereiro e a parição em comprometem a sobrevivência dos ani-
sem áreas individuais separadas (Figura novembro e dezembro. Para a criação na mais na época das cheias.
11), os touros cobrem as búfalas das pro- faixa de transição, os partos ocorrem no
priedades vizinhas, sem distinção. Então final do período seco com grandes exten- 3.1.1. Seleção do touro
a troca de touros entre vizinhos não é sões de terra disponíveis. Como não há
funcional para evitar que os pais cubram cercas para manejo dos animais, em mui- Considerando que o processo reprodutivo
as filhas. Uma alternativa encontrada é a 3.1. Monta natural tos casos a búfala vai parir nas ilhas, per- ocorre através de monta natural, os cria-
troca de touros entre comunidades. Outra manecendo com a cria escondida por até dores têm a preocupação em selecionar o
opção avaliada pelos criadores é a aquisi-
ção de touros de outras regiões, principal-
mente do Marajó, como forma de renovar
o sangue do rebanho da região.
D e maneira geral, a reprodução
ocorre de forma natural, obede-
cendo ao ciclo de reprodução dos
animais e sua adaptação ao ambiente.
Isso ocorre devido às condições oferecidas
cinco dias antes de se juntar ao rebanho.
Mais frequentemente entre as novilhas
de primeira cria (primíparas), há muitos
casos de abandono do bezerro recém-nas-
cido que dificilmente é encontrado com
melhor animal para reprodutor, normal-
mente da mesma propriedade. Os critérios
de seleção basicamente se restringem ao
desenvolvimento corpóreo do animal. Os
machos com crescimento acelerado e que
A inseminação é difícil de ser imple- pelos ecossistemas (várzea e terra firme) vida ou, quando encontrado, já está em apresentam boa formação de chifres (bem
mentada nas áreas onde não é possível e pelo modo extensivo como a criação é estado debilitado e morre nos primeiros armados, como definem os criadores), fi-
separar as búfalas dos touros por causa desenvolvida. dias. Alguns criadores adotam a constru- cam reservados para futuros reprodutores
da criação solta e extensiva. Nas áreas ção de cercado próximo do curral para as nas propriedades. Quando os criadores
em que os criadores têm pastos separados Para os criadores que dispõem só de búfalas que estão por parir, evitando as- têm oportunidade, adquirem touros dos
(em particular aqueles que têm pastos em área de várzea, a monta ocorre nos pri- sim a perda do bezerro. compradores de gado que adentram os
terra firme) há possibilidade de separar meiros meses do período seco, isto é, rios ou trocam com vizinhos animais com
dos touros, com facilidade, as búfalas a principalmente nos meses de agosto e se- Em ambos os ecossistemas, as novilhas aparência física bem desenvolvida.
serem inseminadas. tembro, com a parição acontecendo nos de primeira cria entram no cio a partir dos
3.1.2. Quadra-maternidade
Uma alternativa para evitar que a búfa-
U ma alternativa, embora ainda não
testada, para introduzir sangue
novo nos pequenos rebanhos dos
criadores familiares de Porto de Moz, é a
inseminação artificial. Considerando os
resultados: la realize o parto longe dos cuidados do custos para obtenção de touros de linha-
dono é o estabelecimento do piquete-ma- gem sanguínea diferente e comprovada-
Troca anual de touro – O ideal para ternidade. O piquete é uma área cercada mente bons reprodutores, fica bem mais
a criação com monta natural é a troca com oferta de água e alimento abundante barato produzir animais por inseminação
anual do touro entre as comunidades. e de qualidade para os animais ficarem do que comprar touros, considerando que
Com isso, evita-se a consanguinidade confinados no pré-parto. Isso faz com que os mais próximos estão na Ilha do Marajó.
provocada pelo acasalamento entre o criador acompanhe de perto o parto e o Para a inseminação, deve-se ter acompa-
animais com elevado grau de paren- pós-parto do animal evitando longas ca- Figura 12. A quadra-maternidade construída nhamento de pessoas com experiência,
tesco (irmã, mãe, filha...). A tendência minhadas para descobrir o local onde a próxima à maromba e à casa do criador (ao podendo ser o próprio produtor, e evitar a
é que a filiação entre animais não con- búfala escondeu a cria ou mesmo a per- fundo) facilita a cura do umbigo, permite ao aquisição de sêmen de animais não adap-
sanguíneos apresente produtividade da do bezerro por abandono, ataque de bezerro mamar o colostro nas cinco primei- tados às condições ambientais da região.
igual ou superior aos pais biológicos. morcego e afogamento em passagens. A ras horas, que é quando o leite está com
quadra ou piquete maternidade (Figura maior concentração de anticorpos, e favore- Além do sêmen do touro, é fundamen-
Conhecer as origens do touro – A 12) cumpre função parecida com a área de ce o criador no parto. A búfala entra na área tal a seleção das búfalas a serem insemi-
troca do touro dever ser baseada em recreio na ilharga da maromba destinada reservada da maromba quando começa a dar nadas pois a cria herda características
critério de escolha objetivando melhor aos bezerros. sinais de parto e fica até o bezerro ter cinco do pai e da mãe. Como critério sugere-se
produtividade. Não basta trocar por dias de vida. escolher as búfalas por produção de leite,
trocar. É necessário que o reprodutor ganho de peso, que sejam boas criadeiras
tenha boas características. Para isso é (evitando búfalas que rejeitam ou deixam
importante ter informações dos pais: se os filhos escondidos na mata), de bom
a mãe tem boa produtividade de leite, temperamento (evitando búfalas agressi-
se as filhas também apresentam boa vas) e bom úbere e bicos bem definidos, e
produtividade e, sobretudo, se o animal de fácil ordenha. Do ponto de vista sanitá-
é saudável. Um reprodutor contami- rio, é fundamental trabalhar apenas com
nado com a bactéria Brucella abortus, animais imunizados para brucelose e com
causadora da brucelose, pode contami- exame de tuberculose.
nar um rebanho não imunizado inteiro,
ocasionando perda da produção pro- As búfalas devem ser inseminadas 12
vocada por abortos além dos riscos de horas depois da identificação do cio, que é
contaminação humana. caracterizado pela inquietação do animal
e pelas búfalas se deixando montar. No
Selecionar as melhores búfalas do caso de bubalinos as búfalas costumam
plantel para a inseminação – Avaliar entrar no cio durante a noite, e é mais di-
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Desvio de descarga
Unidade
Unidade
Diárias
Unidade
3
1
2
1
1,00
30,00
30,00
30,00
3,00
30,00
60,00
30,00
sacas de fibra para o processo de desidra- 2012. Os procedimentos burocráticos para elétrica
tação (retirada do soro) (Figura 15). Quan- pedido de registro são apresentados na Esticador de arame Esticar os arames Unidade 10 2,00 20,00
(bobi)
do desidratada, a coalhada é misturada portaria Nº 025, publicada pela Adepará,
ao leite cru até formar uma mistura ho- em 25 de fevereiro de 2013. TOTAL 6.013,00
Porto de Moz
Para a confecção de braços para as em- (Vochysia paraensis), marupá (Simarou- mília explora sua área individual de explorar madeira. Em geral, essas áre-
barcações, o piquiá (Caryocar villosum) ba amara) e cedrorana (Cedrelinga cata- acordo com suas necessidades, força as concentram os maiores estoques de
é a espécie mais utilizada (Figura 3). Para eniformis), são usadas para paredes de de trabalho e espécies disponíveis. A madeira e funcionam como reserva da
a produção de móveis são usados muira- casas e barcos. exploração nessas áreas tem diminuído comunidade que a demarcou para uso
catiara (Astronium lecointei), angelim- bastante em função da redução dos es- futuro ou para a elaboração de plano de
pedra (Hymenolobium petraeum), ange- 1.2. Definição da área toques das principais espécies. manejo.
lim-rajado (Marmaroxylon racemosum),
louro-faia (Euplassa pinnata), cedro-chei-
de exploração Áreas comunitárias – Mais de 10 Áreas de livre acesso – Essas áreas
roso (Cedrela odorata) e marupá (Sima-
rouba amara). Espécies de alta densidade
como maçaranduba (Mani lkara huberi),
cumaru (Dipteyx odorata), ipê (Handro-
anthus serratifolius e Handroanthus im-
A madeira é retirada principalmente
em três tipos de áreas, concebidas
a partir de seu uso:
No sistema
comum gerenciadas por um grupo mais
privativo que uma comunidade maior.
família dona da área faça a exploração ou ferência) acima de 200 cm e tronco a 50 cm de altura do chão (quando não
venda a árvore em pé para serradores da (fuste) acima de 5 m de comprimento há sapopema), seguido de outro corte dia-
comunidade, que pagam, em média com e reto; gonal, até o encontro dos dois, abrindo B
30% da produção. Nas áreas comunitá- uma boca em formato de triângulo. Os ri-
rias, as iniciativas em curso têm conside- Logística de transporte – Distância beirinhos chamam esse procedimento de
rado os acordos firmados entre os mora- entre a localização da árvore e a mar- “fazer a cara”. Depois o corte é realizado
dores e, em alguns casos, inclui benefícios gem do igarapé, dependendo do meio do lado oposto (costa) até o tombamento
para a comunidade quando a floresta é de transporte disponível; inicial da árvore. A rota de fuga é feita do
explorada comercialmente. As áreas afas- lado oposto ao direcionamento da queda,
Esteio
0,07 x 0,04
0,07 x 0,04
0,11 x 0,11
0,11 x 0,11
4,00
6,00
2,00
4,00
20
30
10
20
10,00
15,00
8,00
16,00
89
60
41
21
890,00
890,00
328,00
336,00
T odo o sistema de organização está
baseado em laços de parentesco
existentes entre famílias. Portanto,
a forma mais comum de organização para
a atividade madeireira é entre membros
Na divisão do trabalho de extração da
madeira, existem diferentes funções. A
função de serrador fica para os que têm
maior resistência física, habilidade para
cortar as peças com precisão e afiar a cor-
0,11 x 0,11 6,00 30 24,00 14 336,00
Viga 0,11 x 0,04 2,00 10 4,00 114 456,00 de uma família ou em núcleos familiares, rente, e conhecimento do equipamento
e não de forma comunitária (envolvendo para realizar consertos quando há proble-
0,11 x 0,04 4,00 20 8,00 57 456,00
todas as famílias de uma comunidade). A ma mecânico. Cada serrador normalmen-
0,11 x 0,04 6,00 30 12,00 38 456,00
organização em núcleos familiares pode te tem um ajudante para bater a linha
0,11 x 0,04 8,00 40 16,00 29 464,00
ser explicada pelas relações de confiança (marcador), empilhar as peças serradas,
0,11 x 0,04 10,00 50 20,00 23 460,00
estabelecidas entre membros das famílias riscar com o graminho e ajudar a colocar
Barrote 0,07 x 0,04 5,00 25 12,50 71 887,50 e pela necessidade de um número mínimo a peça na posição ideal para o serrador
O
do sistema de proposto hoje pelo como descrito nesse
s grupos familiares, as comunidades e os órgãos ambientais Ao restringir o manejo florestal a mo- ciências agrárias, incluindo a engenharia gestão governo) artigo)
concordam sobre a importância do planejamento das ativi- delos técnicos, os órgãos ambientais des- florestal, muitas vezes o que se aprende é Exploração Delimitação da Delimitação da área Uso de limites naturais
dades que pode resultar em um plano de manejo florestal. O qualificam as práticas das comunidades e a fórmula de como se fazer, e não os ele- no campo área de manejo com picada, marcos e (limites de respeito) ou
plano ajuda as comunidades a atingirem seus objetivos de geração as condenam à informalidade. Mas mui- com pontos de GPS picadas
mentos fundamentais para se construir
Inventário Inventário amostral e Localização das áreas
de renda de forma planejada, a partir do melhor uso possível dos tas vezes as práticas tradicionais seguem diferentes fórmulas. Se, em vez de con- florestal inventário 100% na UPA durante as caçadas ou
recursos e ajuda também o governo a atingir os objetivos de orde- princípios similares, que buscam garantir centrar-se nas fórmulas prontas, o profis- visitas específicas para
namento e conservação das florestas, o que permite o controle da a manutenção da floresta e o controle da sional for capaz de aprender os conceitos, mapeamento mental
madeira que é comercializada. Portanto, existe consenso sobre a im- madeira (Quadro 4). Potencialmente, es- ele terá maiores condições de reconhecer Planejamento e Planejamento cartográ- A partir das árvores
construção dos fico e no local a partir derrubadas conectando
portância do planejamento para desenvolver a atividade florestal. sas práticas podem alcançar resultados as práticas tradicionais. Também é impor- ramais do inventário com ramais existentes
muito positivos e até mais eficientes do tante que o técnico perceba que, mais im- Derruba Teste do oco, direcio- Teste do oco e derruba
que os do modelo tecnicista, pois as fa- portante do que transferir seus modelos namento da queda e a partir da direção
O que precisa ser repensado e ressignifica- mílias não almejam apenas retorno eco- para a comunidade, sua função é de va- técnica de corte natural de queda
Arraste Trator de esteira, trator Tração animal, calango,
do é a forma como se faz o manejo. Para nômico. Em muitos casos, os vários ciclos lorizar o conhecimento local para a cons- (transporte) florestal (skidder), car- rodado, jerico ou
garantir a manutenção da floresta e o são garantidos pelas grandes áreas de trução do projeto de manejo participativo. regadeiras e caminhões bufete
controle da madeira, o modelo atual (res- floresta utilizadas, pela dinâmica de mer- Processamento Várias bitolas na De acordo com a enco-
paldado por estudos ainda preliminares) cado e pela baixa capacidade de explora- Para promover sistemas de manejo indústria menda, na própria flo-
resta com motosserra
aposta que a floresta manejada pode ser ção que as famílias possuem. O planeja- viáveis sugere-se:
Mercado Comercialização Mercados externos Mercados locais
explorada por vários anos se for adotado mento das ações é feito considerando os Organização Comunitária e com Família ou grupos de
um ciclo de corte definido, conforme sua conhecimentos tradicionais e buscando a Descrever o sistema de gestão – auxílio de terceiros famílias
As famílias e co- capacidade de regeneração. A Instrução viabilidade da atividade dentro das condi- Listar todas as práticas desenvolvidas Controle Responsável Engenheiro florestal Comunidade ou atores
Normativa 05 do MMA, de 11 de dezem- ções existentes. A fiscalização e o monito- (da floresta ao mercado), identificar técnico locais
munidades fazem bro de 2006, admite tanto planos de ma- ramento podem ser feitos pelos próprios como a atividade está organizada (fa- Detentor do Pessoa jurídica: asso- Grupos familiares e
plano ciação, coope- rativa ou indivíduos
a gestão de seus nejo na modalidade pleno quanto planos grupos ou pelas comunidades que che- miliar, grupo de famílias, comunidade), empresa
recursos e os ór- de baixa intensidade. Os planos plenos gam ou podem chegar a acordos de mane- conhecer os mercados e suas implica- Protocolo do Modelo oficial (docu- Não faz
permitem o uso de máquinas para o ar- jo, similares aos acordos de pesca, muito ções e conhecer as normas de uso ou a pedido de au- mentações, mapas
gãos ambientais torização prévia e inventário florestal
raste de toras e a exploração de até 30m3/ difundidos e adotados por eles mesmos. possibilidade de sua construção;
precisam dar sig- APAT amostral
ha com ciclos de corte de 35 anos. Já os
Protocolo do pla- Toda a documentação
nificado aos sis- planos de baixa intensidade não permi- Dessa forma, é possível afirmar que as Verificar enquadramento – Identifi- no de manejo formal e o PMFS/POA
Não faz
temas de manejo tem o uso de máquinas, mas garantem a famílias ou comunidades fazem ou podem car em cada parte do sistema de gestão, A partir da análise
exploração de até 10m3/ha com ciclos de fazer manejo florestal e que o mais impor- os elementos fundamentais e interpre- Emissão da
jurídica, geoprocessa- Não faz
locais passando corte de 10 anos (MMA, 2006). O manejo tante é garantir o reconhecimento de suas tá-los de acordo com os conceitos estru-
AUTEX
mento e técnica
a apoiá-los em florestal com exploração de impacto re- práticas e a adoção de métodos mais sim- turais do manejo florestal. Esse exercí- Guia de trans- Emitido pelo órgão li- Não faz
porte da madeira cenciador para todas as
vez de substituí- duzido também se baseia na engenharia ples dentro dos elementos estruturantes cio muitas vezes demonstra ao técnico
etapas de deslocamento
para planejar a forma de colheita florestal do sistema de manejo técnico já conheci- que as comunidades fazem o manejo
los por sistemas da madeira
e garantir a responsabilidade técnica do do. A maior dificuldade é prática, pois o florestal (ver como exemplo a primeira Monitora- Monitoramento Fiscalização (comando Não faz
tecnicistas e plano de manejo. Finalmente, concentra- corpo técnico que avalia os planos precisa parte deste artigo); mento e e controle) e relatório
padronizados. se nos mecanismos de fiscalização do go- ser sensibilizado a acatar as propostas das gestão técnico
Nota: Valores calculados em 2013 para a produção de 331,82 m3 de madeira serrada com motoserra. No sistema tecnicista a
sugestão técnica tem sido o transporte com jerico, em comparação com as práticas tradicionais mais simples baseadas no trans-
porte com rodado.
Requerente: Vendedor:
Comunidade/Localidade: Comunidade/Localidade:
Localização:
CNPJ: IE:
Município: Estado:
Produção anual planejada:
Espécie a ser utilizada Número de árvores por ano Volume explorado por ano (estimado)
Quantidade comercializada:
O
Ariruá dução, sobretudo para posicionamento
subsistência s acordos são constituídos em função de um ou mais proble- enfrentá-las.
Coati e Maria de Acordo Acordo não cumprido por Comunidades voltaram a mas enfrentados por uma ou mais comunidades. Normal-
Cupari Matias, Vila comunitário de moradores, pesca com se reunir para discutir o mente são provocados pelo risco de escassez de alimento
Nova Bom pesca o uso de rede, pesca do acordo de pesca e unifi-
ou pelo fato já consumado, causado pelo uso predatório dos recur-
Jesus, Vila pirarucu em período do cação do acordo de cada
Bom Jesus e defeso, parecer do procu- comunidade em um único sos pesqueiros, pelo emprego de apetrechos com alta capacidade de
São João rador do ICMBio contrário captura, como redes com malhas pequenas, pesca no período da de-
à normatização do acordo sova, entrada de pescadores estranhos às comunidades e captura de
Uiui Cuieiras, Acordo Controle da pesca do Doze anos de acordos pescado com tamanho inferior ao permitido para exploração comer-
Monte Sinai e comunitário de acari estabelecido, as com resultados no
cial. O primeiro passo para a elaboração de um acordo é sintetizar o
Santa Luzia pesca comunidades respeitam repovoamento do rio,
os períodos estabelecidos principalmente com acari; problema ou os problemas. Esse trabalho normalmente é feito por
para a captura comercial, acordo escrito entregue um grupo pequeno, envolvendo os moradores mais interessados no
usam apetrechos em ao IBAMA, mas sem estabelecimento do acordo.
acordo com o estabeleci- posicionamento sobre a
do nas normas regulamentação
Majari Espírito Santo Plano de uso Acordo frágil com des- Conseguiram fazer
e São João do PAEX cumprimento por parte reuniões para decidir as Para o detalhamento do problema, o grupo
das famílias locais que normas do acordo mas a pode trabalhar com metodologias como a
pescam comercialmente implementação ainda é construção de uma linha do tempo rela-
um desafio
tando os acontecimentos relacionados à
Acaraí Por Ti Meu Acordo de Foi criado em 1996 e Conseguiram manter a
atividade pesqueira ao longo dos anos.
Deus, Pedrei- convivência envolve a relação com exploração dos recursos
ra e Arimum os diferentes recursos de maneira estável, sem Depois verifica quais acontecimentos fo-
dos rios e floresta. Estão conflitos e sem explora- ram importantes na origem do problema:
revitalizando o acordo, re- ção predatória a pesca de rede, a entrada de marreteiros,
fletindo sobre os resulta-
dos e formulando novas
geleiras, etc (Figura 3). Para essa primeira
regras de convivência fase é muito importante que o problema
Peituru Miritizal, Acordo de pesca Os pescadores locais As comunidades conse-
Laranjal e estão cumprindo o acordo guiram pactuar normas
Cajueiro com resultados já per- gerais para controle da Figura 3. Conflitos de pesca surgem a partir
cebidos no aumento da pesca e mantêm a gestão
do momento em que pessoas usam equipa-
quantidade de pescado. do acordo baseada no
Contudo, há invasão de diálogo entre pescadores mentos com maior capacidade de captura
pescadores estranhos às externos e internos e quando novos atores invadem espaços de
comunidades uso tradicional.
Figura 4. Famílias de
várias comunidades
usam os ambientes de
Quadro 2. Quadro-resumo dos problemas.
pesca, daí a importância
Natureza Causa Atores envolvidos Consequências Evolução
de que elas participem
Invasão externa Esgotamento dos Pescadores da Conflitos com A cada ano vem
dos acordos.
estoques de pesca- cidade e de outras moradores locais, aumentando a
do em outros rios comunidades apreensão de presença de pes-
e lagos barcos e redes de cadores externos,
pesca, ameaças em alguns casos a
convite de morado-
1.2. Identificação das um trabalho de aproximação das partes
res locais pessoas envolvidas envolvidas.
Q
Uso de apetre- Facilidade em cap- Moradores das Conflitos entre Nos últimos dez
chos de pesca turar pescado com comunidades que famílias, envolvi- anos aumentou uando o problema provocar ten- 1.3. Mapeamento das
não permitidos rede de pesca não aderiram ao
acordo
mento de órgãos
ambientais e polí-
significativamente o
número de famílias
sões entre moradores, entre co-
munidades ou mesmo entre mora-
áreas de pesca
H
cia, mudanças nos com rede de pesca
dores e pescadores de fora, as principais á comunidades privilegiadas por
métodos tradicio- Conhecer as
nais de captura do pessoas envolvidas devem ser identifi- disporem de ecossistema bem di-
pescado cadas. Isso permite encontrar a raiz e versificado composto de lagos, pessoas envol-
Dissenso entre Cada comunidade Moradores das qua- Uso de diferen- Cada comunidade a abrangência do problema a partir da igarapés, rios e outros ambientes que vidas é passo
as comunida- tem suas próprias tro comunidades tes apetrechos e busca defender identificação dos atores-chave. As comu- concentram estoques de pescado de di-
des ou normas normas de pesca conflitos entre os apenas seus am- importante para
diferentes para para os mesmos próprios morado- bientes de pesca, nidades procuram saber quem agencia ferentes espécies. Antes de iniciar o pro-
o mesmo rio rios e sem clareza res, neutralização sem interação e ou apoia qualquer atividade considerada cesso de elaboração das normas, o grupo o diálogo.
de sua essência da capacidade de apoio das demais danosa, a abrangência dela e se tende a constrói um mapa falado dos diferentes
mobilização das aumentar ao longo do tempo. ambientes naturais usados para a pesca
comunidades
pelas famílias e identifica os principais
Ausência do Órgãos ambientais ICMBio, polícia Comunidades fra- Com a criação da
Estado não têm recursos militar, judiciá- gilizadas, risco de Resex aumentou a A essência do trabalho de construção usuários desses ambientes para depois
nem agentes de rio, moradores e conflito e violência presença de agen- de um processo de gestão coletiva dos re- chamá-los para as reuniões (Figura 4).
fiscalização pescadores física durante as tes do ICMBio, mas cursos pesqueiros por meio dos acordos Por exemplo, há lagos que são usados por
apreensões de pes- com pouca capaci- de pesca está nas pessoas e, para isso, é pescadores de mais de uma comunidade
ca por moradores dade de resolver os
conflitos fundamental estabelecer canais de diálo- (Box 1). Uma vez identificada essa situa-
Definição Comunidades não As quatro Enfraquecimento Comunidades estão go abertos e francos entre todos os envol- ção, não dá para pensar em normas para
de territó- têm claros seus comunidades do processo de mais abertas para o vidos. Normalmente, quando o clima é de esses lagos sem considerar os moradores
rio de cada limites e onde suas interação entre as diálogo entre elas tensão entre as pessoas, a tendência é que das comunidades vizinhas.
comunidade regras podem valer comunidades esse canal seja bloqueado se não é feito
A s famílias das comunidades dos rios Coati e Cupari estão situadas numa
grande faixa de transição entre a várzea e a terra firme. Elas usam vários
lagos e rios para a prática da pesca, como o lago Urubu, entre os rios Coati e
Uiui, considerado pelos moradores como ambiente natural de reprodução de diver-
sas espécies, dentre elas o pirarucu. De modo geral, essas comunidades vivem em
U ma vez que a comunidade iden-
tificou o problema e os atores e
mapeou as áreas de pesca, as in-
formações são socializadas com todos os
moradores e pessoas envolvidas, direta
ambientes com estações definidas: o inverno chuvoso, culminando com as cheias ou indiretamente (Figura 5). Isso é fei-
dos rios e alagamento dos campos inundáveis, e o período do verão, em que os cam- to durante as reuniões convocadas pelo
pos ficam secos. No verão, o lago Urubu permanece cheio e funciona como refúgio grupo que trabalhou na sistematização. O
dos peixes que migram das áreas de campos que secaram. problema deve ser apresentado sem juízo
de valor. Ou seja, como ele é em sua essên- Figura 5. As reuniões nas comunidades para discutir a questão da pesca
Nas cabeceiras do Rio Cupari também existe um complexo de lagos conhecido cia, sem a pretensão de culpar ou respon- normalmente são conduzidas de maneira espontânea. É importante ter
como lagos do Rancho. Trata-se de um conjunto de lagos pequenos (mais de 100) sabilizar as pessoas envolvidas. O proble- alguém que relate o problema identificado.
que permanecem cheios durante todo o ano. Esses lagos são interligados por igara- ma apresentado é analisado criticamente
pés e concentram boa parte do pescado capturado por moradores da comunidade por todos e as reflexões vão construindo
São João do Cupari. Entre os rios Cupari e Peituru existe outro conjunto de lagos ao longo dos encontros um juízo crítico ou 1.5. Solução do problema Propostas pouco
naturais, conhecido como poços da Fortaleza. Esses poços também são interligados consciência em torno do problema.
U
por igarapés mas, diferentemente do Rancho, não permitem acesso de canoas de ma vez que o problema foi identi- amadurecidas
pescadores durante o período seco. Um aspecto fundamental para a refle- ficado e analisado criticamente, a podem aumentar
xão é a importância econômica da pesca comunidade começa a pensar nas o problema. Uma
Além desses ambientes, na grande faixa de campos inundáveis entre os rios Uiui para determinado número de famílias. saídas ou soluções possíveis. Aí, todos
e Coati, existe uma infinidade de lagos pequenos que servem como abrigo para Nesse caso, é necessário encontrar res- os moradores afetados devem participar boa solução
espécies aquáticas durante a seca e são pontos de pesca para moradores do Rio postas para algumas perguntas: quantas com opiniões que apontem para alterna- pode demorar
Coati. Esses lagos são particularmente importantes para a reprodução do pirarucu, famílias na comunidade vivem da pesca e tivas, sempre pensando num horizonte de anos para ser
principal espécie comercial da região. Informações levantadas junto aos pescado- quantas têm outras atividades de geração tempo razoável, sem a pressa de encon-
construída e
res mostraram que esta espécie procura construir seus ninhos em locais com solo de renda? A criação do acordo ou normas trar soluções imediatistas que, muitas ve-
argiloso particularmente nas margens do Rio Coati que, pelas ribanceiras argilosas, para a pesca vai afetar a vida dessas famí- zes, podem aprofundar o problema. Esse é fruto de pro-
tornaram-se ambiente propício para a reprodução. Também os caminhos ou passa- lias? De que forma? Como resolver isso? processo, normalmente demora bastante cesso contínuo
gens (como são conhecidos pelos moradores os caminhos abertos pelos búfalos) são Essas e outras perguntas vão aos poucos tempo e exige muitos encontros pois, se e adaptativo.
locais importantes para a reprodução do pirarucu, pois à medida que os animais abrindo novos horizontes de reflexão en- a compreensão do problema sempre apre-
retiram da superfície a matéria orgânica (tabatinga), o solo argiloso fica exposto tre os participantes da reunião e nortean- senta divergências, as possíveis soluções
tornando-se propício à construção dos “ninhos”. do as discussões para o ponto central: a são ainda mais difíceis de serem formula-
identificação do problema. das e postas em prática.
A
de zelar pelas normas do acordo
ntes de serem normas para a pes- geração de renda (Figura 7). e apoiar as comunidades em sua
ca, os acordos são normas para gestão
proteger os meios de vida das pes- Monitoramento Não existe nenhum tipo de monito- Estabelecer dois tipos de monito-
soas e não para prejudicá-las. Assim sen- ramento inerente ao cumprimento ramento: um sobre o cumprimento
das normas estabelecidas, nem das normas estabelecidas e a
do, eles precisam ser pensados de manei- do comportamento das espécies participação de atores externos e
ra integral e de acordo com a dinâmica da manejadas outro sobre o comportamento das
vida da comunidade e o calendário produ- espécies manejadas, ambos a partir
de indicadores simples
tivo. Nas comunidades de várzea de Porto
de Moz, a pesca e a produção de queijo se Fiscalização As comunidades realizam a fiscaliza- Sugere operações de fiscalização de
ção dos rios e lagos, com apreensão órgãos ambientais e policiais como
alternam durante o ano. Entre os meses de redes pesca principalmente reforço à fiscalização local
de outubro a fevereiro, as famílias dedi- Formalização Não há Elaborar acordo escrito e protocolar
cam a maior parte do tempo à produção Figura 7. A inundação dos campos de várzea, nos órgãos ambientais
de queijo e, entre os meses de maio a se- entre os meses de fevereiro a julho, propicia
tembro, à atividade pesqueira. um excelente ambiente de pesca para os
moradores. O acordo de pesca define o tipo
Um bom exemplo vem da comunidade de equipamento a ser usado em cada período
Cajueiro no alto Rio Peituru, que elabo- com maior ou menor impacto nos estoques
rou suas normas de pesca pensando no pesqueiros.
A seguir são apresentados os ele- sicamente, as normas são voltadas ICMBio e outras forças dos aparelhos
prometimento
mentos centrais do monitoramen- para o controle do acesso aos recursos Registro das reuniões dos mem- coercitivos do Estado. Esses fatos são das pessoas com
to do acordo pelas comunidades: pesqueiros (quantidade, apetrechos, bros da comunidade para tratar do importantes no sistema de monitora- as normas do
tamanho e período), de acordo com acordo – Normalmente as comunida- mento por apresentar o grau de difi-
acordo.
Representatividade das famílias os interesses do grupo. No sistema de des se reúnem para discutir um proble- culdade que as comunidades têm no
que participam da elaboração e re- monitoramento, todas as normas cria- ma real, uma situação que aconteceu e processo de cumprimento das normas
visão do acordo – Uma vez que a das são descritas de forma sucinta para precisa de decisão do grupo a respeito. e ainda podem indicar quais medidas
elaboração das normas é concluída, é facilitar a comparação entre o que foi Contudo, nessas reuniões dificilmente precisam ser tomadas ao longo do tem-
fundamental anotar quantas e quais pensado e o que de fato aconteceu. Com são elaboradas atas. Como forma de po para convencer as famílias acerca
pessoas participaram de sua aprova- um quadro com duas colunas é possível garantir o registro dos acontecimentos, da importância do acordo para todos.
ção – extraindo a representatividade da organizar as informações para compa- uma pessoa pode fazer as seguintes As anotações sobre esses aspectos pre-
participação em relação ao conjunto de ração. Na primeira coluna, anotam-se anotações básicas: data, local, número cisam indicar a data, o que motivou a
moradores. Uma forma simples de fazer as normas estabelecidas no acordo. de participantes, situação que motivou operação e os resultados;
esse monitoramento é passar uma lista Na segunda, anotam-se as normas que a reunião e decisões do grupo. Ao final
de presença na reunião. Fazendo essas foram violadas, assinalando-se na pri- de cada período, uma pessoa pode sis- Apresentação e discussão dos re-
anotações nas reuniões de elaboração meira coluna as normas cumpridas; tematizar as informações e apresentá- sultados – De nada adiantaria orga-
e posterior revisão do acordo, é possí- las numa assembleia; nizar um conjunto de informações se
vel identificar facilmente se o número Classificação dos casos de quebra elas não são devolvidas ao grupo para
de pessoas envolvidas aumentou ou das normas do acordo – É muito co- Participação dos órgãos ambien- subsidiar as reflexões acerca da gestão
diminuiu ao longo do tempo indicando mum nas comunidades que têm acor- tais e outras instituições na gestão do acordo. Assim sendo, uma vez que
se, de fato, há participação ativa e efe- dos de pesca, que algumas famílias do acordo – Um dos principais clamo- os dados do monitoramento da gestão
tiva das famílias interessadas. Mesmo que não concordam com as normas, res das comunidades que têm acordos estão sistematizados, é recomendado
que a comunidade tenha delegado a ou mesmo as que concordam, quebrem de pesca é pela participação dos órgãos que a comunidade marque uma assem-
função de elaborar a versão preliminar os pactos estabelecidos. Normalmente, ambientais na aplicação e cumprimen- bleia convocando todos os moradores e
do acordo a uma equipe, ela deve ser isso provoca fortes conflitos internos to das normas. Sabem as comunidades as instituições direta ou indiretamente
composta pelos principais interessados que, quando não são mediados, põem que sozinhas as chances de êxito do envolvidas e apresente os resultados.
e ser representada pelos diferentes gru- em risco a coesão social local e a lon- acordo são menores. Em muitos casos, Ao mesmo tempo, é importante refletir
pos existentes no local; gevidade do acordo. Quando ocorre de elas não conseguem fazer valer as de- sobre os dados, destacando os pontos
pessoas estranhas ao grupo quebrarem cisões da maioria de moradores. Para o que precisam de ajustes, formulando
Escolha de pessoas na comunidade as normas, a situação é menos comple- monitoramento, é importante especifi- propostas para corrigir o que não está
para fazer as anotações – A comunida- xa, pois normalmente o grupo se une car quais instituições têm participação dando certo, tendo claro que a gestão
de pode escolher duas ou três pessoas e reage em defesa das normas pactua- ativa na gestão do acordo; do acordo deve contribuir para o alcan-
para fazer o registro dos acontecimen- das sem riscos à coesão do grupo. Cada ce dos objetivos estabelecidos;
tos relacionados à atividade pesqueira, vez que isso ocorre, é importante que
O cultivo do cacau em terra mista (também conhecida como terra branca) tem au-
mentado na região. No entanto, a maior parte dos agricultores não vem utilizando
nenhuma técnica de cultivo específica para as características do solo que tem
menor fertilidade natural do que a terra roxa. Mesmo ainda não havendo ne-
nhuma comprovação de viabilidade econômica e nenhuma proposta técnica
para o plantio de cacau em terra mista, muitos agricultores têm conseguido
produção satisfatória. Este artigo traz lições importantes para os agriculto-
res interessados em investir no plantio de cacau em terra mista, baseadas
nas experiências dos agricultores familiares de Medicilândia (Figura 1).
100 Cultivo de Cacau em Terra Mista Cultivo de Cacau em Terra Mista 101
O uso de adubação verde com espécies Fosfato Triplo é um adubo de alta solubi-
Agricultores têm
vegetais como feijão-guandu, mamona, lidade e libera seus nutrientes de forma
usado adubos crotalária e mucuna, que possuem bac- mais rápida, sendo indicado para cultivos
verdes como fon- térias fixadoras de nitrogênio, é uma al- anuais e de ciclo curto.
te de nitrogênio e ternativa viável para a adubação que tem
sido difundida há décadas na Transama- Potássio
comprado adu- zônica. A adubação verde reduz os custos O terceiro e último número das formu-
bos para fósforo e fornece satisfatoriamente nitrogênio às lações se refere ao potássio, que é vital na
e potássio sepa- plantas de cacau, sendo normalmente fotossíntese e atua também na resistên-
plantada nas entrelinhas durante os pri- cia das plantas às doenças. Sua principal Figura 3.
radamente, como
meiros dois anos de cultivo. fonte é o Cloreto de Potássio (60% de K). Para plantar em terra
forma de reduzir A aplicação é parcelada quando feita em mista os agricultores
os custos. Fósforo solos arenosos e com baixa quantidade estão investindo em
O segundo número nas formulações é de matéria orgânica, pois ele é facilmente adubação.
o fósforo que é, geralmente, muito defi- perdido (lixiviado) sob tais condições.
ciente em Latossolos. Atua na formação
e desenvolvimento das raízes e, por isso, A quantidade adequada de cada nu- tão ligados à capacidade das plantas de catalisa vários processos metabólicos.
é muito importante na adubação de plan- triente a ser aplicada depende da reco- resistir a doenças e ao ataque de pragas, Os solos arenosos podem se tornar de-
tio. O fósforo também é fundamental para mendação de adubação derivada da aná- influenciando diretamente na produção. ficientes por causa das perdas por lixi-
a formação das sementes que, no caso do lise de solos. Uma análise bem feita e a Entre os principais micronutrientes para viação. O boro tem se tornado muito
cacau, é o produto de maior interesse. recomendação correta podem significar cacau destacam-se: comum como fungicida, sendo usado
muita economia para o agricultor. Em na calda bordalesa, principal fungicida
As principais fontes desse nutriente são particular na Transamazônica, onde os Zinco – É o micronutriente cuja de- da produção orgânica.
o Super Fosfato Simples (18% de P2O5) e adubos são caros, a preferência tem sido ficiência mais limita a produção das
o Super Fosfato Triplo (41% de P2O5). Sua pelo uso da adubação orgânica ou adubos culturas. É quase impossível alcançar 1.2.5. Adubação de cobertura
aplicação é feita em dose única antes do verdes como fonte de nitrogênio e pela altas produções sem zinco. Solos argilo-
plantio e, posteriormente, nas adubações compra dos adubos para fósforo e potás- sos em sua maioria contêm mais zinco Na cultura do cacau, os agricultores fazem
de cobertura. No plantio, os agricultores sio separadamente, misturando-se os nu- que solos arenosos; adubação de plantio e, todo ano, no inicio
têm colocado o adubo nas covas e abai- trientes apenas no momento de fazer a das chuvas, fazem a adubação de cober-
xo das mudas, fazendo com que as raízes adubação (Figura 3). Boro – O boro está ligado ao poder tura. A adubação de cobertura serve para
procurem o fósforo e direcionem seu cres- germinativo das sementes. A deficiên- adequar os teores de nutrientes no solo,
cimento para baixo, crescendo em pro- 1.2.4. Avaliação sobre cia de boro retarda o crescimento das pois parte deles vai para os frutos.
fundidade e auxiliando na superação dos micronutrientes plantas, afetando inicialmente os pon-
períodos de seca. tos de crescimento e as folhas novas. O Para a adubação de cobertura, a análise
Em Medicilândia, os agricultores estão fa- seu uso requer cuidados, pois é muito utilizada no plantio é levada a um técnico,
No plantio de culturas perenes como o zendo testes com micronutrientes na adu- pequena a diferença entre as concen- que é avisado da adubação usada na cova
cacau, tem sido indicado o uso do Super bação. Os micronutrientes são tão impor- trações de deficiência e toxidez; e pode recomendar a adubação de cober-
Fosfato Simples que tem menor solubili- tantes quanto os macronutrientes, mas tura. A análise de solo é refeita a cada três
dade, liberando os nutrientes aos poucos são usados em quantidade muito menor. Cobre – O cobre é necessário para a anos de modo a garantir sua confiabilida-
e por um período maior de tempo. O Super Em muitos casos, os micronutrientes es- formação da clorofila nas plantas, pois de.
102 Cultivo de Cacau em Terra Mista Cultivo de Cacau em Terra Mista 103
2. Produção de mudas 3. Plantio de homogeneizar o espaçamento entre as
plantas, sendo de 3 m x 3 m o espaçamen-
104 Cultivo de Cacau em Terra Mista Cultivo de Cacau em Terra Mista 105
hectare. A produtividade média é de um Figura 5. Cacau de um ano, bem sombreado
quilo de amêndoa por pé por ano (varian- com bananeira. As plantas de sombreamento
do de 700 gramas a dois quilos) com pro- provisório são retiradas dois anos depois do
dução média de 1,1 tonelada por hectare transplantio ou na medida em que as som-
por ano. Geralmente a área ocupada com bras se tornam muito densas, prejudicando o
o cultivo de cacau na terra mista varia en- crescimento do cacau.
tre um e oito hectares, com média de três
hectares por família, dependendo da situ-
ação financeira.
4. Tratos culturais
Dentre os principais tratos culturais para o plantio do cacau, pos de poda: de formação, de recuperação
encontram-se sombreamento, roço, desbrota e poda. e de limpeza:
4.1. Sombreamento Sombreamento definitivo – É feito solo, limitando o crescimento das plantas Poda de formação – É feita após o
com árvores plantadas dentro da la- invasoras e reduzindo a necessidade de terceiro ano da cultura e consiste na
4.3. Desbrota
eliminação de galhos sombreados inde-
sejáveis, com o objetivo de dar melhor
arquitetura à planta. Normalmente per-
mite-se o desenvolvimento de apenas
produtiva. O sombreamento para o cacau
está dividido em duas etapas:
plantio. Nos primeiros anos protegerá a espécie. necessidade de desbrota geralmente é me- Poda de produção – É feita a limpeza
cultura do excesso de sol, além de di- nor do que na terra roxa, pois o número de do excesso de ramos, sobretudo quan-
Para a manuten- minuir o ataque de pragas como tripes 4.2. Roço brotações tende a ser inferior. A desbrota do estiverem entrelaçados na copa, a
e monalôniom. Ele atua até que o som- começa já no primeiro ano da cultura. fim de permitir maior aeração e melhor
P
ção dos plantios breamento definitivo já esteja implan- ara o controle das plantas invasoras arquitetura do cacaueiro. É realizada
de cacau, é fun- tado e agindo sobre a lavoura. Para a nas lavouras de cacau, o roço é feito 4.4. Podas de dentro para fora sem abrir espaços
damental fazer formação do sombreamento provisório, de duas a três vezes ao ano duran- para a entrada de luz solar sobre o eixo
sombreamento,
roços, desbrotas
e podas.
é muito usada a bananeira (Figura 5),
mas também podem ser usados a ma-
mona e o feijão guandu com espaça-
mento 3 m x 3 m.
te os primeiros seis anos e, pelo menos,
uma vez ao ano depois que a lavoura já
está formada. A formação da copa do ca-
cau reduz a luminosidade que chega até o
A poda consiste na retirada de ra-
mos que concorrem com a produ-
tividade da planta. São três os ti-
central do cacaueiro. Geralmente é feita
a cada dois anos a partir do quarto ano
após a colheita da safra principal, entre
os meses de setembro a novembro. Em
106 Cultivo de Cacau em Terra Mista Cultivo de Cacau em Terra Mista 107
áreas de terra mista geralmente o cres- de doenças como a vassoura-de-bruxa Para o seu controle, são feitas podas fi- de desenvolvimento. Após a invasão do
cimento de ramos em excesso é menor, e a podridão-parda. Normalmente é re- tossanitárias e remoção de frutos infecta- fruto, o fungo atinge as sementes, tornan-
reduzindo a necessidade dessas podas; alizada todos os anos a partir do quarto dos acompanhados de enterro ou queima do-as impróprias para a industrialização.
ano após a colheita, juntamente com a dos restos vegetais, visando a diminuição As sementes doentes podem contaminar
Poda de limpeza – A poda de lim- catação manual de frutos doentes que do inóculo. Em lavouras com presença de as sadias através do contato entre elas, no
peza consiste na eliminação de galhos ficam no chão. Os galhos e frutos do- vassoura-de-bruxa, são feitas quatro re- processo de fermentação (ABREU, 1986).
secos e doentes ou ainda de ramos cuja entes devem ser queimados em local moções anuais, nos meses de fevereiro, A maior incidência da podridão parda nos
folhagem não recebe a luz solar. Esta separado. maio, agosto e novembro, imediatamen- frutos de cacau ocorre na fase conhecida
poda é muito utilizada para o controle te antes ou após os períodos de maior como temporão na época da chuva, e di-
atividade vegetativa do hospedeiro. Jun- minui acentuadamente a partir do final
tamente com as podas sanitárias, alguns das águas.
agricultores fazem pulverizações com óxi-
5. Controle de do cuproso.
Podridão parda
O controle é feito de maneira integrada,
associando práticas culturais como podas
e remoção de frutos doentes e uso de cul-
Depois da colhei-
pragas e doenças A podridão parda é uma das principais
doenças dos cacaueiros do Brasil, causan-
tivares resistentes com controle químico.
O controle químico mais usado em Medi-
ta, vêm as etapas
fundamentais
do perdas de até 30% na produção anual. cilândia tem sido feito com o fungicida Re-
de fermentação,
5.1. Controle de pragas dicado em 250 mL por ha dissolvidos em Os sintomas aparecem em todas as partes cop (à base de Oxicloreto de Cobre) em pó
secagem e arma-
água. das plantas, mas os maiores prejuízos são com recomendação de 6 a 12 gramas por
E
mais tem incomodado os agricultores é o ntre as doenças que mais afetam os dade do produto.
chupança ou o Monalonion (Monalonion
spp.). Esta praga age sugando a seiva dos
ramos, das folhas e dos frutos novos. Seu
cacaueiros da região, estão a vas-
soura-de-bruxa e a podridão parda. 6. Beneficiamento
Pragas e doen-
ataque é maior nas áreas pouco sombrea-
das (ABREU, 1986) o que indica que uma
forma de evitar seu aparecimento é ter
as plantas com copas bem formadas, no
espaçamento ideal. O ataque desta praga
Vassoura-de-bruxa
A vassoura-de-bruxa é um fungo que
ataca ramos novos, frutos e botões florais.
Nos ramos, o sintoma é a superbrotação
lateral, fazendo com que os ramos fiquem
O beneficiamento do cacau visa obter amêndoas com umida-
de de 7% a 8%, sem impurezas e com aroma, sabor, textura
e aparência agradáveis. A produção de amêndoas de quali-
dade tem sido promovida tanto para atender os mercados externos
quanto para a fabricação de chocolate feita pelos próprios agricul-
ças são comuns
se dá principalmente do terceiro ao quin- com aspecto de vassoura. Nos frutos, os tores de Medicilândia (Figura 6). O beneficiamento é constituído das
em plantios de to anos do plantio, entre a retirada do sintomas são variados em função da in- seguintes fases: colheita e extração das amêndoas, fermentação,
cacau, mas têm sombreamento provisório e a formação fecção. Quando ataca os botões florais, secagem e armazenamento.
sido controladas definitiva do cacau, devido à maior in- gera frutos deformados com aspecto de
cidência de luz. O combate a este inseto morango, que logo se mumificam. Quan- Figura 6. Os agricultores de Medicilândia investiram na
com bom mane-
requer o uso de inseticida e aquele usado do ataca frutos formados causa lesões es- produção de seu próprio chocolate com a marca CacauWay
jo e combates com maior frequência em Medicilândia é curas, irregulares e firmes ao tato (MAR- e, para isso, estão melhorando a qualidade das amêndoas
específicos. o Decis 25 EC (à base de deltametrina) in- TINS NETO, 2005). que são processadas na fábrica instalada no município.
108 Cultivo de Cacau em Terra Mista Cultivo de Cacau em Terra Mista 109
6.1. Colheita dos aço inox, obedecendo aos padrões da vigi- 6.4. Armazenamento Apenas os agricultores reunidos na coo-
frutos e extração lância sanitária e facilitando a comerciali- perativa de orgânicos têm armazenado o
das amêndoas
zação da polpa.
A boa fermen-
O período da safra é de junho a
agosto, sendo as colheitas de en-
tressafra feitas durante pratica-
mente todo o ano. A colheita é feita com
o uso de podão, colhendo-se apenas os A
e secagem
maioria dos agricultores faz a fer-
mentação usando sacos de nylon
onde são armazenadas as amên-
atravessadores ou transportando a pro-
dução no carro de linha para a cidade.
Apêndice
diversos cuidados no que se refere ao con-
trole de ratos e insetos.
tação é funda-
frutos maduros, que são derrubados no doas do cacau ainda com polpa. Esse pro- Atividades Unidade Quantidade Custo unitário (em R$) Custo total (em R$)
mental para chão e reunidos em montes (bandeiras) cesso dura três dias em média. Depois da Sacos para produção de mudas Milheiro 1,5 25,00 37,50
a qualidade formados em locais estratégicos da roça, fermentação, as amêndoas são colocadas Análise de solo Unidade 1 30,00 30,00
das amêndoas com auxílio de paneiros. A quebra é fei- ao sol, sobre lonas, para secar. Em tempo Calcário Tonelada 2 250,00 500,00
ta até o quinto dia após a colheita sendo normal de sol, a secagem é realizada em
produzidas. Mão de obra para calagem e adubação Diária 10 40,00 400,00
realizada com pedaços de facão (cutelo) até sete dias. Esterco e leguminosas como fonte de Nitrogênio Diária 15 40,00 600,00
que não são amolados para não cortar as Super Fosfato Simples Kg 340 1,20 408,00
amêndoas. Os frutos são partidos e as se- Para melhorar a fermentação algumas
Cloreto de Potássio Kg 60 2,00 120,00
mentes retiradas da casca, separando-se famílias já estão usando o cocho (caixas
Produção de muda de cacau Mudas 1000 0,50 500,00
as sementes da sibirea (talo central). Em de madeira cobertas), e para melhorar a
Muda de banana (sombreamento) Mudas 500 0,40 200,00
seguida, as sementes são levadas para a secagem construíram barcaças com las-
Broca Diária 10 40,00 400,00
fermentação. tro de madeira fixo e cobertura móvel ou
estufa alternativa com cobertura fixa de Derruba Diária 04 50,00 200,00
A tualmente o preço da polpa se as- que sai da massa e para a ventilação. Para Coveamento Diária 06 40,00 240,00
semelha ao preço do cacau seco, uma boa fermentação no cocho, a massa é Plantio de banana Diária 05 40,00 200,00
fazendo o despolpamento se tor- revirada nos seguintes períodos: Retirada da bananeira (2 anos depois) Diária 02 40,00 80,00
nar financeiramente atrativo. No processo Capina antes do plantio do cacau Diária 04 40,00 160,00
de despolpamento, os produtores deixam Primeira virada com 24 horas (1 dia) Plantio de cacau Diária 05 40,00 200,00
mais de 30% da polpa, pois esta quanti- Segunda virada com 72 horas (3 dias) Roço primeiro ano Diária 21 40,00 840,00
dade é necessária para a fermentação. Terceira virada com 96 horas (4 dias) Roço segundo ano Diária 21 40,00 840,00
Alguns já estão usando despolpadeiras de Saída do cocho com 120 horas (5 dias) Roço terceiro ano Diária 21 40,00 840,00
Poda de formação (a partir do terceiro ano) Pé de cacau 1000 0,50 500,00
Figura 7. Instalações
para fermentação
A B Desbrota (três por ano desde o primeiro ano) Diária 02 40,00 80,00
Inseticida e adubo foliar Unidade 1 225,00 225,00
e secagem das
Adubação de cobertura (todo ano) Unidade 528,00
amêndoas de cacau:
a) cocho e b) estufa. Mão de obra para a adubação Diária 10 40,00 400,00
TOTAL 8.808,50
Experiências de construção
de infraestrutura e manejos
alimentar, sanitário e reprodutivo
para criação de galinha caipira e
caipirão são apresentadas neste
capítulo.
112 CriaÇão de Galinha Caipira e Caipirão CriaÇão de Galinha Caipira e Caipirão 113
A s famílias de Medicilândia nor-
malmente têm de 10 a 100 bicos
de galinha caipira comum, sem
raça definida. Os ovos que não são con-
sumidos servem para reprodução e os
uma linhagem geneticamente melho-
rada. Nesse caso, o criador compra, na
cidade, pintos de um dia de nascido e
os leva para criar em sua propriedade.
O interesse em trabalhar com o caipi-
aterro e alicerce. A construção é feita
próxima da residência, mas mantendo
distância mínima de 30 a 40 m, para
que o barulho não incomode a família.
O local deve ter fácil acesso à água e
para evitar que as chuvas molhem o
seu interior;
Tanto no sistema caipira como no sistema caipirão, as duas Cobertura – A cobertura é feita com
principais estruturas são galinheiro e área de pastejo: telhas de fibrotex (sem amianto), cerâ-
mica ou com materiais do próprio lote
1.1. Galinheiro os principais aspectos considerados pelos como, por exemplo, palha de palmeiras
agricultores para facilitar e orientar a sua e cavaco. Não são usados materiais que
114 CriaÇão de Galinha Caipira e Caipirão CriaÇão de Galinha Caipira e Caipirão 115
Figura 2. Cuidados com 1.2. Área de pastejo tiva tradicional, mas as aves ficam vulne-
a temperatura do am- ráveis ao ataque de predadores naturais.
biente reduzem a morta-
lidade na fase inicial.
O pasto é indispensável na criação
de frango caipira e caipirão, pois
a ave tem o hábito e a necessida-
de de pastar. A área de pastejo tem como
finalidade proporcionar o acesso das gali-
Para fazer uma área de pastejo é
necessário:
116 CriaÇão de Galinha Caipira e Caipirão CriaÇão de Galinha Caipira e Caipirão 117
Figura 4. Os comedouros
e bebedouros devem
com cano de pvc de 100 mm, cortado ao
meio, ou com madeira (Figura 4).
2. Manejo alimentar
estar bem distribuídos
dentro do galinheiro ou
em lugar protegido de
sol e chuva para evitar
desperdício de ração.
Bebedouro – Os bebedouros encon-
trados nas lojas são em forma de ci-
lindro, com um prato embaixo. Libera
a água à medida que ela é consumida
N a criação de galinha caipira produz-se ração de milho tri-
turado, macaxeira desidratada e triturada e cuim de arroz.
Também são aproveitadas frutas, verduras e sobra de ali-
mentação humana. Quando a criação é solta no terreiro, as aves
buscam alimento ciscando o chão e caçando insetos.
pelas aves. O criador também pode dis-
ponibilizar recipientes caseiros para
Plantio de leguminosas – As legu- o fornecimento de água. O essencial é Já na criação de caipirão, é utilizada ra-
minosas podem ser fornecidas como que as aves tenham acesso à água em ção industrial inicial até o trigésimo dia.
alimentação para as aves ou serem quantidade e qualidade. Durante esse período, o consumo médio
plantadas em parte da área de pastejo. de ração por ave é de 1 kg. A partir de
Pode ser usado o amendoim forrageiro Ninhos – Na criação de galinha cai- um mês, inicia-se a introdução gradativa
(Arachis pintoi), uma leguminosa de pira com reprodução na propriedade, de ração alternativa produzida no lote,
hábito rasteiro e de boa aceitação na os ninhos são construídos em local aliada ao uso de concentrados comerciais
alimentação das aves. A forma de plan- protegido de predadores, da chuva e do para balanceamento de ração, com base
tio mais comum é com mudas plan- excesso de sol. O tamanho adequado é na exigência nutricional das aves. O mais
tadas solteiras, pois o consórcio com de 35 x 35 cm de largura e de 15 cm de comum é os agricultores comprarem um
gramíneas não é recomendado, já que altura. Eles podem ser feitos com ma- saco de concentrado e misturarem com
as espécies têm resistência e hábitos de deira e a cama-de-serragem ou capim dois sacos de milho triturado produzido
crescimento diferentes. Vale ressaltar triturado e desidratado. Devem ser ins- na propriedade. A ração deve ser forne-
que, para garantir uma pastagem de talados a 1,5 m do chão, a fim de evitar cida duas vezes por dia, aumentando-se
boa qualidade é necessário que se faça ataques de predadores, e devem conter gradativamente a quantidade, de acordo
a rotação da área; suportes para que a galinha possa subir com o consumo e desenvolvimento das
para pôr e chocar os ovos (Figura 5). aves. Para produção de ração alternativa
Sombra – A sombra é necessária nos pode ser utilizado um triturador para pro-
piquetes, pois serve de refúgio para as cessar milho, macaxeira e cana-de-açúcar
aves nas horas mais quentes. O som- (Figura 6). O tamanho das partículas de
breamento pode ser feito com o plantio ração deve estar de acordo com o tama-
de árvores ou com uma construção de nho das aves, de modo a facilitar a inges-
palha. tão.
118 CriaÇão de Galinha Caipira e Caipirão CriaÇão de Galinha Caipira e Caipirão 119
3. Manejo sanitário Doenças parasitárias – Para o con-
trole das doenças parasitárias, além da
limpeza de equipamentos e instalações,
ativo à base de mebendazol. O pastejo
rotacionado também é uma forma de
controle, pois a troca de piquete faz
A manutenção das instalações e recipientes limpos para ração deve-se estabelecer um plano de con- com que o ciclo de reprodução dos pa-
e água é a melhor forma de prevenir doenças. trole de endoparasitas e ectoparasitas rasitas seja interrompido. Sem a pre-
que dependerá do monitoramento das sença do hospedeiro, as larvas não che-
120 CriaÇão de Galinha Caipira e Caipirão CriaÇão de Galinha Caipira e Caipirão 121
larmente para evitar consanguinidade
pelo cruzamento de pai e filha.
Uso de chocadeira elétrica – Per-
mite produção em larga escala e ace-
5. Comercialização
Processo reprodutivo:
122 CriaÇão de Galinha Caipira e Caipirão CriaÇão de Galinha Caipira e Caipirão 123
Criação de
Gado de Leite
Juraci Dias, Antônio Reis do Nascimento Filho,
Guilherme Brito, Cláudio Wilson Soares Barbosa,
Katiele Amorim, Carlos Harold e Gabriel Medina
Experiências de melhorias
na alimentação, formação de
pastagem, piqueteamento dos
pastos e manejo de rebanho
leiteiro sendo desenvolvidas
por produtores familiares são
compartilhadas neste capítulo.
Áreas de 2.3. Calagem (poder relativo de neutralização). Quanto com elevada produção inicial. Durante o por 15 minutos antes de encaminhá-los
maior o valor do PRNT, mais reativo é o estabelecimento, sobretudo nos primeiros para a ordenha, fazendo-os levantar, os
A
pastagem podem calagem é vista por muitos de calcário e mais rápida é a reação. O valor 30 a 40 dias, a demanda de fósforo pela animais irão bostear no piquete aduban-
ser corrigidas e maneira incorreta como uma do PRNT pode chegar até 120. forrageira é alta, enquanto a de nitrogênio do-o naturalmente.
adubação. Na verdade, a calagem e a de potássio é menor. A adubação de
adubadas para
nada mais é do que a adição de calcário A aplicação do calcário em áreas de manutenção ou de cobertura é recomen- A cama-de-frango pode ser usada na
aumentar a como condicionador do solo, adequando pastagem pode ser realizada a lanço. Em dada para repor os nutrientes que foram quantidade de três toneladas por hectare
produção. o pH para que os nutrientes sejam melhor caso de reforma de pastagens mantendo a retirados da pastagem durante o ano. Nor- na pastagem de brachiária, em um total
disponibilizados, facilitando sua captu- pastagem existente, os agricultores distri- malmente, a adubação de cobertura é fei- de cento e cinquenta sacos, com média
ra pelas raízes das plantas. As forragens, buem as sementes juntamente com o cal- ta logo no inicio do período chuvoso, com de 20 quilos por saco. A adubação deve
de maneira geral, necessitam de calagem cário a lanço ou plantam com plantadeira aplicação a lanço. À medida que a forra- ser feita após a saída do gado do piquete,
A pós a desmama, devem ser to- ele não esteja cobrindo suas filhas, para Controle de endoparasitas (verminose) Aos 30 dias de vida e repetição a cada 90 dias até os 12 meses de idade.
Recomenda-se os vermífugos de amplo espectro por via oral, que são mais
mados os cuidados apresentados evitar a consanguinidade. Para a primeira eficientes e apresentam melhor relação benefício/custo
no quadro 1. É importante anotar monta, o touro não deve ser muito grande Controle de ectoparasitas (carrapatos) Banhos planejados aplicados de 21 em 21 dias, até que o número de parasi-
o tratamento feito em cada animal para para que a novilha não tenha problema tas seja pequeno. Banhos estratégicos aplicados nas épocas mais quentes e
evitar aplicar duas vezes o mesmo me- de parto já que ela ainda não completou úmidas do ano
dicamento e também para poder fazer o seu desenvolvimento. Deve-se anotar o Fonte: Adaptado de COSTA (2006)
P
4.3.1. Manejo sanitário
ara o manejo sanitário de vacas em
lactação, deve-se observar o calen-
dário profilático (Quadro 1). Para o
evitar que caia sujeira, e depois colocado em
recipiente tampado. As vacas que estiverem
recebendo antibiótico não podem ter seu
leite retirado até o dia de carência do medi-
camento (essa informação está na bula do
O leite é comercializado in natura e a granel para consumi-
dores na sede do município. Alguns produtores trabalham
na fabricação de derivados, principalmente o queijo. O leite
atualmente esta sendo comercializado em média a R$ 1,00 o litro e
o queijo a R$ 8,00 o quilo. Com o preço do leite em alta, nos casos
diagnóstico de mastite, caso o produtor medicamento), por causa do resíduo. em que os agricultores adotaram a rotação dos piquetes, o ganho
faça o desmame precoce, é necessário com produtividade tem compensado os custos de implantação (ver
adotar o teste da caneca telada para ve- 4.3.3. Manejo de ordenha apêndice).
rificar se há presença de grumos no leite tes novos, e só depois de certo tempo as
que passa pela tela. Havendo grumos, o outras são liberadas para entrar. Além dos A ordenha deve ser feita em ambiente Para os agricultores que trabalham também com gado para corte,
animal é tido como positivo para mastite melhores pastos é recomendado garantir limpo e os baldes devem ser lavados com existem dois tipos de mercado. No mercado local, a carne é vendida
clinica. O teste é feito diariamente em to- a elas suplementação alimentar com capi- sanitizante antes e após ordenha (Figu- principalmente para vizinhos, açougues e restaurantes. No mercado
dos os tetos de todos os animais. neira e concentrado, em particular para as ra 7). As mãos do ordenhador devem ser regional, o gado é vendido para os atravessadores que compram
vacas de primeira parição. Recuperando o lavadas em solução hipoclorada antes animais, normalmente em maiores quantidades, para abastecimen-
Caso a vaca seja positiva para mastite peso rapidamente, as vacas terão o máxi- da ordenha. Os tetos das vacas também to de um frigorífico instalado em Altamira, a 90 km de Medicilândia.
e estiver em início de lactação ela deve mo de produção no pico de lactação e vol- devem ser lavados caso estejam sujos. O quilo do gado vivo custa em média R$ 5,00.
ser tratada com medicamento específico tam a entrar no cio 30 dias após o parto. Após tirar o bezerro, os tetos devem ser
e seu leite deve ser descartado durante o mergulhados em solução de higienização
tratamento, respeitando-se os dias de ca- Se as vacas em lactação forem dividi- conhecida como pré-dipping e secos com
rência do remédio pois ele deixa resíduos das em lotes, para facilitar o manejo do papel toalha, uma folha para cada teto.
Apêndice
no leite. Caso a vaca apresente mastite e concentrado, as vacas de primeiro parto Pré-dipping significa imersão dos tetos em
Custos para a implantação de um hectare de pasto piqueteados
esteja próxima do fim do período de lac- devem ter um lote especial, independente solução desinfetante antes da ordenha, e em Medicilândia, Pará.
tação, é mais conveniente secá-la pois o do dia de lactação em que ela esteja. Ela ajuda na redução da Contagem Bacteria- Atividades Custo (em R$)
produto usado para esse fim trata a mas- permanece nesse lote até o final da lacta- na Total (CBT) do leite e de coliformes. Reforma do pasto (arado e grade) 800,00
tite. Assim, sua glândula mamária se re- ção. Os lotes podem ser divididos assim:
Aquisição de sementes 240,00
cupera para próxima lactação. Se a vaca Após a ordenha, caso a vaca não te-
Plantio 100,00
apresentar reincidência de mastite, é in- Lote de vacas de primeiro parto nha bezerro para mamar, deve-se passar
Kit cerca elétrica (isolador, esticador, chave disjuntor, mola 300,00
dicado deixá-la como vaca ama ou então – Para que não ocorram agressões das pós-dipping em seus tetos. O pós-dipping para porteira)
descartá-la. vacas multíparas (de mais de um parto) é uma estratégia para controlar a mastite
Equipamento de choque (eletrificador) 120,00
sobre as primíparas (de primeiro parto) contagiosa, ajudando na cicatrização dos
Material para aterramento 105,00
4.3.2. Manejo alimentar e estas possam comer a quantidade de tetos. O iodo é o germicida mais comum
Aquisição de arame liso de três fios nas bordas e corredor e 1.200,00
ração oferecida; contido nos produtos para tetos. Compa- dois fios nas divisões
As vacas recém-paridas devem ser colo- rando-se preços, eficácia germicida e ca-
Estacas de madeira 300,00
Dividir as vacas cadas nos melhores pastos, pois elas pre- Lotes por produção – Para que não pacidade de ação diante de elevados volu-
Frete para puxar estacas 100,00
cisam ser bem alimentadas para poder haja desperdício com concentrado para mes de matéria orgânica, verifica-se que o
em lotes facilita Mão de obra para construção da cerca 300,00
recuperar o peso. Normalmente o manejo animais que não estão com a produção iodo é uma boa opção para a maioria dos
a distribuição da feito pelo agricultor permite que as vacas esperada para a quantidade de concen- produtores de leite, oferecendo a melhor
Construção de bebedouro 500,00
alimentação. recém-paridas entrem primeiro nos pique- trado que lhe é oferecida. relação entre custo e benefício. TOTAL 4.065,00
140 Manejo de Açaizal Nativo e Cultivado Manejo de Açaizal Nativo e Cultivado 141
comercial ou responsáveis por muito agroflorestais a recomendação é de 400 a
142 Manejo de Açaizal Nativo e Cultivado Manejo de Açaizal Nativo e Cultivado 143
As mudas podem ser feitas pelo próprio
produtor sem custos elevados (Quadro 1).
meses, quando são transplantadas para o
campo. O uso da areia evita danificar as
2. Plantio em terra firme O crescimento
N
do mercado tem
Após selecionar sementes de boa qualida- raízes no processo de remoção e transfe- os plantios de terra firme são utilizadas tanto variedades
de, os agricultores preparam um cercado, rência para as sacolas. nativas quanto a cultivar BRS-Pará. Por causa das caracte- incentivado agri-
colocam areia com profundidade de 5 cm rísticas físicas dos solos, a formação de açaizais em áreas cultores a plan-
e semeiam manualmente os caroços de No replantio de açaizais, as famílias de de terra firme requer algumas recomendações distintas daquelas da tar açaí em terra
açaí a uma distância e profundidade mé- áreas de várzea também usam a semea- várzea, tanto para a implantação quanto para a condução.
firme.
dia de 2 cm. O plantio é sempre regado dura a lanço. Contudo, a germinação pode
para manter a umidade. ser baixa. Para maior eficiência, aconse- Considerando que o produtor fará um A cultivar BRS-Pará é mais exigente, se
lha-se a semeadura imediatamente após grande investimento de trabalho e capital, comparada às variedades nativas de açaí.
Depois de germinadas, e com média de a despolpa, pois a semente de açaí perde é fundamental que ele escolha uma boa Assim, se o agricultor não tem condições
2 cm de altura, as mudas são transferidas rapidamente sua capacidade germinativa área. A experiência de Medicilândia reve- de fazer o plantio de acordo com as reco-
para sacolas plásticas até a idade de oito após o processamento. la a importância de se evitar solos degra- mendações da Embrapa, ele deve avaliar
dados e áreas distantes de fontes de água se não seria mais interessante plantar va-
para a irrigação. O preparo da área deve riedades nativas, que são mais rústicas.
Quadro 1. Sugestões para a produção de mudas de açaí para plantio em várzea ou terra firme. ser no final do período de estiagem.
Sementes Recomenda-se priorizar sementes de bons açaizeiros que tenham:
2.2. Tratos culturais
2.1. Seleção das
E
Touceiras com número menor de perfilhos (4 a 5);
Produção de frutos superior a cinco latas ao ano;
Rendimento mínimo de oito litros de polpa por lata de açaí em fruto. Após a despolpa, as sementes
sementes m sistema de monocultivo, espaça-
mentos variando entre três e quatro
A
devem ser lavadas em água potável e semeadas imediatamente. cultivar BRS-Pará foi desenvolvi- metros e touceiras com três ou qua-
Sementeira Recomenda-se plantar em sementeiras preparadas com areia com profundidade de cinco da pela Embrapa buscando agre- tro estipes deram resultados muito bons
centímetros e irrigadas diariamente;
gar características desejáveis e (EMBRAPA, 2004). É importante fazer uma
A germinação não ocorre de maneira uniforme. Inicia a partir do 22º dia, tendendo a estabilizar
aos 48 dias contados a partir da semeadura.
gerar açaizais homogêneos em relação à análise do solo para avaliar a necessidade
origem genética, à produtividade e à qua- de correção e adubação. A correção é feita
Viveiro Depois da sementeira, quando as mudas têm cerca de dois centímetros, devem ser passadas para sacolas
plásticas de tamanho de 15 x 25 cm, perfuradas e preenchidas com substrato (mistura de terra preta e esterco); lidade dos frutos. O porte baixo e a pre- dois meses antes do plantio e a adubação
As sacolas com as mudas devem ficar em um viveiro em local de fácil acesso, próximo à fonte de água, com boa cocidade do BRS-Pará são características pode ser feita na cova no dia do plantio
drenagem, pouca declividade e próximo ao local de plantio definitivo; positivas da cultivar. Já no terceiro ano (para detalhes sobre correção e adubação
A cobertura do viveiro pode ser de folhas de palmeira ou sombrite a 50%, com altura mínima de 2m; obtém-se os primeiros cachos e a produ- consulte o capítulo sobre cacau).
A estrutura pode ser de colmos de bambu, estipe de açaizeiro ou madeira ção é uniformizada a partir no quinto ano
Tratos Limpezas manuais periódicas; (EMBRAPA, 2004). No período de maior estiagem, a irriga-
culturais no Manutenção da cobertura; ção também amplia a capacidade produti-
viveiro
No sétimo mês, eliminar gradualmente a cobertura para aclimatação das mudas aos efeitos dos Por se tratar de uma planta desenvolvi- va do açaizeiro. Mas antes de investir em
raios solares antes de transplantá-las para o local definitivo; da com características pré-definidas, suas irrigação, vale a pena o produtor avaliar
A planta deve ser transplantada do viveiro para o campo a partir do oitavo mês propriedades produtivas podem ser dimi- se a previsão de aumento de produção
Em plantios em terra firme, é importante fazer o transplantio no início das chuvas.
nuídas se as condições de cultivo não se- compensa os custos. A outra opção é ado-
Irrigação As plantas no viveiro exigem cerca de dois litros de água ao dia por planta. Quando as chuvas guirem as recomendações. É fundamental tar um sistema de manejo do açaizal me-
não atingirem a média dois milímetros por dia, o viveiro deve ser irrigado no início ou no final do dia.
corrigir e adubar o solo, irrigar, controlar nos estruturado, com práticas de manejo
Adubação A adubação é recomendada quando a permanência das mudas no viveiro ultrapassar oito meses.
o perfilhamento, limpar os estipes e con- mais simples, com menos investimentos,
Fonte: Adaptado de SEBRAE/PA, 2011 trolar pragas eventuais. mas menos produtivo.
144 Manejo de Açaizal Nativo e Cultivado Manejo de Açaizal Nativo e Cultivado 145
Assim como no manejo dos açaizais nati- Figura 2. Consórcio de cacau e açaí: o dossel
vos, os tratos culturais nos açaizais plan- do açaizeiro produtivo permanece superior
tados em terra firme são importantes para ao do cacau, não havendo concorrência por
melhorar a produtividade. Os principais espaço no mesmo nível.
tratos culturais são roço, controle de perfi-
lhamento e limpeza dos estipes.
Há experiências
de plantio em
terra firme usan-
E sse sistema é composto de cacauei-
ros, açaizeiros de variedades nativas
e espécies florestais distintas com e
sem valor comercial. O projeto original foi
implantado considerando o cacau como
do açaí superam os obtidos com o cacau.
Isso também porque o custo de produção
do açaí é insignificante se comparado ao
do cacau.
do tanto varie-
atividade econômica principal, enquanto A experiência revela que o consórcio
dades nativas que o açaí e as espécies madeireiras foram com outra cultura produtiva ou espécies
quanto a cultivar incluídas ao subsistema como componen- florestais de interesse econômico pode ser
BRS-Pará. tes de sombreamento visando gerar o mi- um bom modelo de cultivo de açaí. O con-
croclima recomendado à lavoura cacauei- sórcio permite otimizar o uso do solo, os
ra (Figura 2). investimentos em serviços e em insumos,
diminuir o custo e aumentar a margem de
Para o açaí foi adotado o espaçamento tais estão em distribuição aleatória. Para ência do produtor em favor do plantio de ganho do produtor. Particularmente em
aproximado de 4 m, distribuído entre as explicar o plantio do açaí, o agricultor cacau. O açaizal teve boa formação e uni- Medicilândia, que tem tradição de plan-
linhas de cacau que tiveram espaçamento usou a expressão “plantei por plantar”. formidade dos cachos. No entanto, segun- tio de cacau, o consórcio com açaí parece
médio de 3 m. As demais espécies flores- Assim, o consórcio ocorreu por conveni- do avaliação do produtor e da equipe téc- muito promissor.
146 Manejo de Açaizal Nativo e Cultivado Manejo de Açaizal Nativo e Cultivado 147
3.2. Consórcio cacau, presença de espécies indesejadas. No se- Mesmo com configuração pouco co- estipes, não são feitas. Como implicação,
açaí, café e espécies gundo nível do dossel também há concor-
rência entre o açaí e as espécies florestais,
mercial, a produção é destinada priori-
tariamente ao mercado e é componente
predominam dois níveis de dossel: um
formado no pavimento superior e outro
florestais em muitos casos prejudicando a entrada importante da renda familiar. O comércio no inferior, sem um intermediário.
dos raios solares para a área ocupada pelo do açaí é feito em frutos no próprio centro
148 Manejo de Açaizal Nativo e Cultivado Manejo de Açaizal Nativo e Cultivado 149
O plantio com
3.4. Plantio de açaí suprir a carência de água nos meses de 4. Recomendações com Os açaizais plan-
em monocultivo estiagem, além do controle de eventuais
a cultivar BRS pragas e doenças”. base na experiência tados com varie-
Pará é bastan-
te exigente em
tratos culturais
O monocultivo foi formado com a
cultivar BRS Pará com doze mil
plantas em uma área destocada
e com roçagem mecanizada. Trata-se de
O plantio realizado não atende ao es-
paçamento recomendado, o que aumenta
os custos com a limpeza das entrelinhas.
de Medicilândia
dades nativas se
mostraram mais
apropriados para
A
para atingir alta uma plantação recente de aproximada- No manejo, o controle do perfilhamento s experiências e pesquisas realizadas no decorrer das últi- agricultores com
produção. mente quatro anos estando, portanto, no não segue as recomendações e deve im- mas décadas levaram a descobertas importantes para trans- pouca capacida-
início do ciclo produtivo (Figura 5). plicar perda de produtividade. Também o formar a atividade do modo extrativista de subsistência
potencial genético pode não se expressar, para uma atividade com maior eficiência produtiva e importância
de de investimen-
Mesmo se tratando de um plantio co- considerando a ausência de adubação de econômica. Isso tem sido alcançado tanto com o manejo de açaizais to e manejo.
mercial projetado e envolvendo investi- cobertura e a falta de irrigação da área. nativos como com o plantio de açaizais com variedades nativas ou
mentos altos (ver apêndice), observa-se Sem os tratos culturais recomendados, com a cultivar BRS Pará.
que o nível técnico adotado não atende às é possivel que o desempenho produtivo
recomendações para a cultivar BRS Pará. seja comprometido, retardando a unifor-
De acordo com a Embrapa (2004, p. 02), mização dos cachos para além do quinto Estudos realizados em municípios e ilhas
Apêndice
“para o bom desempenho produtivo da ano. próximas de Belém demonstram que os
Custo para a implantação de um hectare de açaizal em monocultivo com
cultura, é primordial realizar tratos cultu- ribeirinhos adotaram práticas distintas espaçamento de 3 x 3 m.
rais como adubação, roçagem, coroamen- para o manejo de seus açaizais adaptadas Custo Custo
to, manejo dos perfilhos, irrigação para à dinâmica produtiva e econômica local Quanti-
Atividade Finalidade Unidade unitário total
dade
(AZEVEDO & KATO, 2013). Nos açaizais (R$) (R$)
situados no município de Medicilândia, Preparo do Limpeza do Diária 3 45,00 135,00
Figura 5. Plantio de também existem manejos distintos que viveiro local; extração de
madeira e folhas
açaí em monocultivo. estão de acordo com as estratégias dos di- de palmeira;
Os açaizais da cultivar ferentes agricultores. construção
BRS-Pará exigem inves- Preparo da se- Diária 0,5 45,00 22,50
timentos superiores Nos quatro casos descritos, observa- menteira e semeio
aos recomendados às se que os açaizais de variedades nativas Sementes Kg 1 60,00 60,00
variedades nativas. Com parecem ser mais recomendados conside- Preparo terra Diária 2 45,00 90,00
isso, antes da implan- rando-se o baixo nível de manejo adotado enchimento de
tação é imprescindível e a baixa capacidade de investimento dos saquinhos
avaliar o objetivo e a agricultores. Isto se atribui às suas carac- Preparo Análise de solo Amostra 1 40,00 40,00
da área e Roço Diária 5 45,00 225,00
disponibilidade finan- terísticas naturais de maior resistência e adubação
ceira do projeto. Caso menor demanda por insumos e tratos. Os Adubo Kg 80 2,80 224,00
as exigências da cultivar resultados permitem dizer que a implan- Plantio Demarcação, Diária 14 45,00 630,00
não possam ser atendi- tação de açaizais com variedades nativas coveamento e
plantio
das, sugere-se plantar é uma atividade oportuna e promissora
Saquinho Milheiro 1 40,00 40,00
variedades nativas, que economicamente para agricultores fami-
TOTAL 1.466,50
são mais rústicas. liares.
Tradicionalmente, autoridades, organiza- idéia alternativa de considerar a capaci- ências. O projeto Governança estabeleceu ram as anotações dos principais avanços
ções de desenvolvimento, representações dade existente dos agricultores para me- um Fundo Financeiro Comunitário que e desafios das iniciativas. No total, 43 ini-
de agricultores, como também a maioria lhorar os seus sistemas de produção. disponibilizou recursos para custear parte ciativas foram apoiadas e analisadas.
dos agricultores familiares priorizam tec- do investimento inicial de cada iniciativa.
nologias “modernas” desenvolvidas por O projeto Governança ofereceu a possi- Inspirada em experiências promissoras Neste capítulo são apresentadas infor-
especialistas para uma agricultura de ex- bilidade de desenvolver experiências prá- da economia solidária, a equipe técnica mações quantitativas e qualitativas das
pansão (caso do gado) ou de intensifica- ticas com essa abordagem. O ponto de par- do projeto, juntamente com os agriculto- iniciativas, como também uma avaliação
ção (caso do cacau). Porém, as experiên- tida foi mobilizar agricultores familiares res e extrativistas dos GAR, elaborou um do potencial técnico para melhoria das
Tradicionalmen- cias com esses sistemas de produção são em Grupos de Ação e Reflexão (GAR) por plano de trabalho, incluindo a definição atividades desenvolvidas. Além disso,
te, iniciativas de ambivalentes. Somente um número limi- atividade produtiva. Esses agricultores de custos pagos com recursos externos e avalia-se a viabilidade e as limitações do
desenvolvimen- tado de agricultores possui capacidade fi- deveriam estar interessados e dispostos a disponibilizados pelos interessados. De- apoio a projetos desenvolvidos localmen-
nanceira, técnica e gerencial para adotar investir tempo e recursos para melhorar pois, essas atividades foram realizadas te, como alternativa à difusão de pacotes
to rural priori- os pacotes tecnológicos promovidos como atividades produtivas que já desenvol- pelas famílias interessadas, com o suporte tecnológicos desenvolvidos por especia-
zam a difusão suporte às tecnologias modernas, ainda vem e experimentar novas atividades de técnico de equipes de organizações locais listas. O capítulo termina com recomen-
de tecnologias mais considerando que os apoiadores ex- produção, de acordo com seus interesses e (Sindicato dos Trabalhadores Rurais de dações para serem trabalhadas com agri-
ternos, difusores de técnicas modernas, capacidade. Os GAR têm por objetivo ser- Medicilândia, Comitê de Desenvolvimen- cultores familiares na melhoria dos seus
“modernas” de-
possivelmente não irão garantir apoio vir como referência para a realização des- to Sustentável, Fundação Viver Produzir sistemas de produção.
senvolvidas por permanente à atividade. Com base nes- sas atividades, prestando assessoramento e Preservar e Serviço Cerne) que, além de
especialistas. sa compreensão crítica, desenvolveu-se a técnico e favorecendo a troca de experi- orientar a execução das atividades, fize-
154 Melhorias nas Experiências Produtivas: Lições Aprendidas Melhorias nas Experiências Produtivas: Lições Aprendidas 155
2. Iniciativas apoiadas A maioria das famílias dos dois municí-
pios participantes das iniciativas decidiu
produção, seja pelo nível de intensidade,
seja pelas tecnologias de produção (exem-
156 Melhorias nas Experiências Produtivas: Lições Aprendidas Melhorias nas Experiências Produtivas: Lições Aprendidas 157
aproveitamento de madeira em projetos O Fundo investiu cerca de R$ 150.000,00 dicilândia, cada iniciativa realizada por de técnicos e especialistas para o asses-
formais de manejo florestal e na criação em 43 iniciativas, das quais 352 famílias família recebeu menos recursos do Fundo soramento técnico. Em alguns casos, a
de búfalos e manejo de pesca. As outras participaram ativamente. Isso correspon- em comparação com as iniciativas coleti- prestação de assessoramento técnico por
iniciativas refletem interesses mais espe- de a uma média de R$ 3.500,00 por ini- vas de Porto de Moz. Mesmo assim, houve instituições parceiras foi feita de forma
cíficos de um número menor de famílias. ciativa ou R$ 434,00 por família. Em Me- iniciativas, como cacau em terra mista, pontual, como dias de campo para plantio
nas quais foi alto o valor dos materiais e de cacau em terra mista ou oficina sobre
equipamentos disponibilizados pelo Fun- produção de farinha, ambos em Medici-
Quadro 1. Objetivos e investimentos das iniciativas promovidas. do. A maior contribuição do Fundo, com lândia, e também de forma mais perma-
Número de Número de R$ 15.000,00 por iniciativa, foi com o ma- nente, como no caso da criação de peixes
Sistema Objetivo Contribuição do Fundo Financeiro Comunitário (R$)
iniciativas famílias nejo florestal. Em outros sistemas, como em Medicilândia, e, em Porto de Moz, na
Média (mínimo criação de galinha caipira e produção de criação de búfalos e na elaboração de pla-
Medicilândia Detalhamento dos insumos – máximo) por hortaliças, as contribuições foram meno- nos de manejo florestal.
iniciativa
res, porque buscaram somente a inten-
Gado Queijo e leite para 2 3 Instalação de cercas elétricas e compra de equi- 3.450 sificação de atividades já realizadas. Em Enquanto o Fundo contribuiu princi- Em geral, a
de leite consumo e venda pamentos de beneficiamento, em particular fo- (2.000 – 4.875)
gão industrial, forma para queijo, tacho, tambor,
alguns casos, o Fundo custeou somente palmente para a compra dos equipamen- contribuição bem
balde plástico, adubo, ração, rolo de arame liso, pequenos melhoramentos técnicos, caso tos e materiais necessários para o estabe- moderada do
aparelho e material para cerca elétrica e gastos da construção de cerca elétrica para cria- lecimento do componente produtivo, as
de laboratório ção de búfalos. A menor contribuição foi famílias envolvidas nas iniciativas contri- Fundo Financei-
Açaí Manejo com nova 2 3 Capacitação no preparo de mudas e manejo dos 1.200 com as iniciativas de produção de pei- buíram, muitas vezes de forma significati- ro Comunitário
(plantio) variedade e melhoria açaizais, compra de despolpadora e freezer para (400 – 3.000) xe, com custo médio de R$ 250,00 por va, com as áreas, mão de obra e material
no processamento e armazenamento multiplicou-se
iniciativa. de construção disponível na propriedade.
armazenamento ao longo das
Em várias iniciativas, os agricultores con-
Peixe Produção para 5 8 Compra de material (tela do berçário, alevinos, 250
Adicionalmente, a equipe do projeto tribuíram também com materiais compra- iniciativas,
consumo doméstico ração entrosada e farelada) (0 – 460)
e venda Governança acompanhou cada iniciativa, dos. Particularmente as iniciativas com principalmente
Suíno Produção de carne de 3 5 Compra de quatro matrizes, ração para a fase 1.535 tanto diretamente nas propriedades das alta necessidade de mão de obra como, pelos esforços
suínos para consumo inicial, material de construção (arame farpado, (1400 – 1800) famílias e no âmbito dos GAR (logística e por exemplo, cacau e manejo florestal,
doméstico e venda telha, caixa d’água) material de consumo para realizar visitas contaram com uma forte contribuição das das famílias
Mandioca Produção de farinha 3 5 Compra de triturador, prensa e material para 1.500 técnicas, intercambio, reuniões), quanto famílias. participantes.
de mandioca e tapio- construção de tanque de “pubagem” (bomba, (1.200 – 2.000) na documentação das experiências e as-
ca com novas varieda- mangueira preta, telhas, prego, fio, chapa de
des, infraestrutura de forno, motor para o caititu, carro de mão, folha
sessoramento técnico. Durante os seus
processamento de zinco, cimento). Capacitação para melhoria na três anos de execução, o projeto empregou
qualidade da farinha de tapioca. entre 2 e 4 técnicos com dedicação princi-
Maracujá Produção de polpa 1 2 Equipamentos de irrigação, adubo do solo e in- 2.300 pal a essas tarefas. O projeto Governan-
e fruto de maracujá fraestrutura do plantio (arame liso, caixa d’água, ça viabilizou apoio logístico para facilitar
para venda mangueiras, conexões, bobs, adubo)
a comunicação e o intercâmbio entre as
Horta Alimentação 1 12 Cooperação com a Casa Familiar Rural; aquisi- 2.500 famílias e os GAR e estabeleceu arranjos
e consumo do ção de sementes, adubo e materiais (tela, caixa
excedente d’água, cano PVC, pregos) institucionais com organizações técnicas
e de extensão presentes em Medicilândia
Média 3.554
e Porto de Moz. Nesses casos, os agricul-
Total 43 352 153.816
tores beneficiaram-se do conhecimento
158 Melhorias nas Experiências Produtivas: Lições Aprendidas Melhorias nas Experiências Produtivas: Lições Aprendidas 159
3. Experiências Quadro 2. Desempenho das iniciativas e problemas observados.
Objetivos alcançados Êxito parcial, mas sem continuação Pouco exitoso
160 Melhorias nas Experiências Produtivas: Lições Aprendidas Melhorias nas Experiências Produtivas: Lições Aprendidas 161
Quadro 2. Desempenho das iniciativas e problemas observados.
Objetivos alcançados Êxito parcial, mas sem continuação Pouco exitoso Sistema /
(Número de Desempenho Problemas e aprendizagem
Sistema / iniciativas)
(Número de Desempenho Problemas e aprendizagem
iniciativas) Acordo O acordo de pesca foi implementado. Apesar do não Acordos intercomunitários sobre gestão coletiva dos
de pesca (1) cumprimento das regras do acordo pela minoria das recursos pesqueiros têm potencial de gerar impactos
Peixe (5) Em três, as famílias estão produzindo para consumo É alto o risco na produção de peixes. Vale a pena famílias e eventual invasão de pescadores “externos”, positivos.
doméstico, mas sem comercialização; fazer adaptações no dimensionamento do tanque para houve impacto positivo na segurança alimentar das
reduzir custos, o que acaba por prejudicar o desenvolvi- O reconhecimento e regulamentação de iniciativa local
Nas duas outras, as atividades foram interrompidas no famílias e na venda local do pescado. por parte do poder público fortalecem as comunidades
início porque em uma delas o tanque estourou, e em mento da atividade.
para a gestão mais eficiente de seus recursos.
outra os alevinos morreram por má oxigenação da água.
Contudo, o respaldo do poder público é imprescindí-
Suíno (3) Em uma, a família mantém a produção para consumo e A criação de suínos de raça é possível se for feito o vel para evitar conflitos locais e invasão de pescadores
venda; manejo alimentar e sanitário adequado. externos.
Duas apenas produziram para o consumo, sem continui- Porém, a demanda de mão de obra adicional é Artesanato Os comunitários não deram continuidade à atividade Aspectos de posse e propriedade particular de terra
dade da atividade ou comercialização dos animais. significativa. de buriti (1) porque a área com disponibilidade de matéria-prima podem ter grande influência, particularmente em con-
Mandioca (3) Em duas, as famílias produziram farinha de mandioca e Os custos para melhorar uma casa de farinha são bem está localizada em propriedade particular e o dono não textos tradicionais, onde as famílias não são necessaria-
tapioca com melhor qualidade para consumo e venda; pequenos e sua construção não exige conhecimento permitiu a entrada de pessoas. Não há produção de mente as proprietárias dos recursos.
Em uma, a mandioca não foi beneficiada porque a casa profundo. artesanato.
de farinha foi mal construída. Porém, é importante planejar cuidadosamente a cons- Manejo Houve aumento da produção nas áreas manejadas. Os A melhoria de atividades produtivas com baixa deman-
trução e comprar os equipamentos adequados. de açaí (1) comunitários ampliaram o consumo e a venda , que da de mão de obra e já integradas ao mercado tem alto
Horta (1) A horta produziu por apenas um ciclo produtivo e duran- Estabelecer hortas para consumo doméstico é relativa- continua sendo plenamente desenvolvida. potencial de sucesso e continuidade.
te o verão. A produção foi consumida pelos alunos e a mente simples. Suínos (1) As famílias produziram os porcos, o que contribui para a Simplesmente oferecer qualquer insumo produtivo
atividade foi interrompida durante o inverno. Porém, produzir em horta comercial demanda alimentação. Contudo, não venderam os animais para o gratuitamente oferece o risco da adoção de tecnologias
investimentos adicionais em infraestrutura, como, por mercado, apesar da continuidade da atividade. inadequadas.
exemplo, compra de estufa para assegurar regularidade Farinha Não havia produção de farinha de boa qualidade, nem As normas de vigilância sanitária são pensadas para
na produção mesmo no inverno. de piracuí (1) para o consumo, nem para a venda, porque os equipa- a produção industrial de média e larga escala, o que
Maracujá (1) A família produziu para consumo doméstico, comercia- Agricultores experientes têm capacidade para resolver mentos necessários para atender às normas sanitárias impõe aos comunitários dificuldades no atendimento.
lização do fruto e da polpa, e continua desenvolvendo problemas de produção. são caros e inadequados para a produção em pequena
a atividade, apesar de problemas graves de pragas e escala.
doenças. PFNM (1) Atividade não iniciada por insuficiência de matéria-prima Iniciativas induzidas por organizações externas têm pe-
Búfalo (2) Em uma, a cerca elétrica foi instalada para manejo da Os criadores implementam novas técnicas gradativa- e baixa demanda do mercado. rigo de não responder aos interesses reais das famílias;
pastagem, com redução dos custos de construção da mente, passando por processos de testes, validação e Não faz sentido começar com atividades de produção,
cerca; adaptações, de acordo com as mudanças nos ciclos da caso não exista um mercado atrativo e acessível para os
Em outra, a legalização do queijo de búfala produzido natureza (cheias, secas), disponibilidade de recursos produtos.
artesanalmente não obteve êxito porque os procedi- financeiros, mão de obra e mercado.
mentos burocráticos foram complexos, de alto custo e Têm fortes limitações dos serviços de ATER local
demorados, ou mesmo porque não existiam normas de (EMATER), e dificuldade de diálogo com a da Agência de Do total de 43 iniciativas, 11 (26%) vidade é desenvolvida e produz, mas não
regularização. Inspeção Sanitária (ADEPARÁ). alcançaram as metas ou atenderam as é feita a comercialização. As demais 16
Mesmo contando com grandes conhecimentos, a expectativas dentro dos prazos, com con- iniciativas (37%) não alcançaram o obje-
implementação de propostas locais de melhoramento tinuidade após o apoio externo, gerando tivo de produção e venda de forma con-
precisa de apoio externo e reconhecimento por parte do
Estado. No caso de RESEX, do ICMBio. melhoria na renda e na segurança ali- tinuada. Resumindo, o balanço geral do
Manejo Os planos de manejo foram elaborados e protocolados Os procedimentos formais para autorização de Planos
mentar das famílias. Outras 16 iniciativas Fundo é modesto. Contudo, a análise das
Florestal (4) junto ao órgão ambiental responsável, mas ainda não de Manejo Florestal são impossíveis de ser cumpridos (37%) chegaram a ser executadas, mas o iniciativas exitosas e das que tiveram fa-
houve aprovação. Os comunitários continuam extraindo pelas comunidades de forma autônoma. êxito foi parcial, seja porque as famílias lhas conduz a entendimentos importantes
madeira de forma tradicional. Dependentes de ajuda externa, o custo financeiro ainda estão implementando a ação, seja sobre os fatores cruciais para o êxito e as
de elaboração dos projetos é alto e inviável para os porque a produção foi consumida e a ati- barreiras das atividades produtivas (ver
comunitários;
vidade encerrada, ou ainda porque a ati- Box 1).
162 Melhorias nas Experiências Produtivas: Lições Aprendidas Melhorias nas Experiências Produtivas: Lições Aprendidas 163
Box 1: Lições aprendidas dos projetos apoiados pelo 3.1. Viabilidade Box 2: Exemplos de iniciativas que geram
Fundo Financeiro Comunitário. renda.
financeira e
Agricultores conhecem profundamente os seus sistemas produtivos, mas segurança alimentar Em Medicilândia, o cacau é um produto al-
mostram deficiências no planejamento e monitoramento e também na avalia- tamente rentável. Porém, até agora, sua pro-
ção de viabilidade de atividades novas.
164 Melhorias nas Experiências Produtivas: Lições Aprendidas Melhorias nas Experiências Produtivas: Lições Aprendidas 165
Box 3. Gastos e receitas de um sistema de cacau em terra mista.
25.000 R$
20.000
15.000
10.000
5.000
0
Ano
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
-5.000
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Também os próprios agricultores ar os investimentos iniciais e, principal- certo capital disponível para pagar diaris- um processo complexo de elaboração de
mostraram dificuldade em avaliar ade- mente, por dificuldades de pagar as des- tas têm menos dificuldades de providen- plano de manejo e sua subsequente aná-
quadamente a viabilidade de opções de pesas correntes ao longo da realização da ciar o trabalho adicional necessário para lise pelas autoridades governamentais.
produção. Geralmente, eles possuem in- atividade, como também por problemas estabelecer e melhorar as atividades pro- Na prática, as comunidades dependem
formações sobre os preços, compradores de logística. As iniciativas mostram que, dutivas. Como consequência, a tendência de forte e constante apoio externo para
e rede de comerciantes somente para os enquanto o conhecimento sobre os inves- dos agricultores, no curso das iniciativas, superar as várias etapas desse processo.
produtos de intensa relação comercial e timentos iniciais são bastante reais, as ne- é de considerar a área, a mão de obra e Mesmo assim, não alcançaram o objetivo,
de práticas e rotinas já realizadas, mas cessidades de insumos para a manuten- o capital como insumos flexíveis e adap- haja vista a demora e a incompetência
não documentam os gastos de tempo, in- ção dos sistemas de produção, uma vez táveis à produção alcançada. Mesmo con- das agências governamentais em analisar
sumos e recursos empenhados nas ativi- estabelecidos, são subestimadas. Mesmo siderando experiências próprias sobre as os processos com agilidade. Um exemplo
dades. Assim, as considerações existentes com as informações disponibilizadas por limitações nesses fatores de produção, os de dificuldades para atender as demandas
sobre uma atividade limitam-se muitas agricultores com experiência nos GAR ou agricultores insistem nessa visão, muitas qualitativas do mercado observou-se no
vezes à esfera do caixa, ou seja, da entra- de técnicos que assessoram os projetos, vezes correspondendo insuficientemente caso da farinha de piracuí. Na prática, os
Atividades po- da e saída de dinheiro. Dessa maneira, o poucas famílias providenciam todos os às necessidades de uma produção estável. esforços e custos relacionados para pro-
dem não obter valor do próprio trabalho e também pos- insumos necessários durante as diversas cessar o produto conforme a legislação e/
síveis gastos patrimoniais não são consi- etapas de produção, processamento e co- Outra deficiência frequente é o risco de ou a demanda do consumidor, simples-
êxito se as famí- derados, como, por exemplo, a redução mercialização. Esse fato pode afetar nega- não considerar adequadamente aspectos mente foram maiores do que a capacidade
lias não conse- da fertilidade do solo ou a perda de valor tivamente o desempenho das atividades futuros nas decisões para o manejo dos dos agricultores, que preferiram continuar
guem dimensio- do equipamento em uso. Para atividades ao longo do tempo. sistemas produtivos. Um exemplo foi en- com produtos de baixa qualidade e práti-
não realizadas por eles mesmos, os agri- contrado no caso de uma agricultora que cas de processamento tradicionais, apesar
nar corretamente
cultores mostram maior deficiência de co- Outro problema observado nas iniciati- participou da atividade de beneficiamen- de preços significativamente menores.
os custos de nhecimento. Nesses casos, eles tendem a vas foi a falta de mão de obra, porque a fa- to do açaí e que entrou no projeto apesar
manutenção do desconsiderar possíveis riscos, a ignorar mília já estava ocupada com outras ativi- de sua decisão de mudar para a cidade.
sistema. os custos relacionados à manutenção e dades econômicas. Ao longo do tempo, as Depois do esforço em melhorar o mane-
logística e, assim, têm expectativas exces- famílias tiveram certas limitações em de- jo do açaizal, aprender novas técnicas de
sivamente otimistas em relação ao poten- dicar muito tempo às atividades, em par- beneficiamento, acondicionamento e ar-
cial de renda. ticular nos períodos de maior demanda de mazenamento e, mesmo ainda depois do
trabalho. Esse problema foi agravado pelo plantio de novas áreas com plantas mais
fato de que a viabilidade financeira das produtivas, ela abandonou temporaria-
3.2. Compatibilidade atividades realizadas dependia da pos- mente o lote, deixando os equipamentos
dos requerimentos sibilidade de usar mão de obra familiar,
por não requerer um pré-financiamento e
sem uso e a área de plantio do açaí sem
manutenção. Somente depois de um ano
com a realidade pelo modesto retorno por dia de trabalho, residindo na cidade, ela retomou as ativi-
do agricultor muitas vezes abaixo de possíveis receitas dades do lote.
com o trabalho de diarista fora do lote.
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3.3. Capacidade rejistas de insumos pouco estruturadas), adaptando-as às necessidades e condições
de adaptação a probabilidade desses acontecimentos
é alta. Na realidade, em todas as inicia-
específicas. Nessas ocasiões, os agriculto-
res atuaram em dois níveis: primeiro, de
e interesse por tivas pôde-se observar acontecimentos forma espontânea, respondendo pragma-
mudanças não esperados que afetaram o seu desem- ticamente a acontecimentos ou demandas
penho. O quadro 3 mostra uma seleção imprevisíveis e, segundo, de forma estra-
Figura 8. Ataque de
animais silvestres é um
risco para a mandioca
U m grande desafio para qualquer
produtor resulta do fato de que
processos de produção inevita-
velmente sofrem de acontecimentos im-
previsíveis (Figuras 8 e 9). Considerando
desses acontecimentos observados em
Medicilândia.
Quadro 3. Acontecimentos observados nas iniciativas estudadas em Medicilândia. Sistema Acontecimento Impacto
Sistema Acontecimento Impacto Mandioca Ataque de animais silvestres Perda total ou parcial das lavouras.
Cacau em Uso inadequado de agro-tóxicos Ameaça à saúde dos trabalhadores por problemas como dor de cabeça, náuseas e
terra mista cegueira.
Fogo acidental Perda total ou parcial da plantação. Deterioração dos equipamentos A farinheira (forno, triturador, motor) tem em média 10 anos de durabilidade quan-
do há manutenção adequada. Contudo, a falta de reparos e limpeza permanente
Mortalidade e baixo desenvolvimen- Se no período do plantio das mudas o verão for mais intenso, as plantas morrem pode diminuir o tempo de vida útil do equipamento.
to das mudas quase que completamente ou têm desenvolvimento desigual, exigindo mais gastos
financeiros e mais mão de obra para fazer novas mudas e replantio. Alto custo do transporte Se o agricultor não tiver transporte próprio, o escoamento da produção pode ser
dificultado em áreas não atendidas por carros de linha. Tudo é agravado no perío-
Encomenda de análise de solo em Demanda de tempo e recursos financeiros para os agricultores encomendarem o do das chuvas.
outro município serviço que é oferecido apenas em outras cidades.
Criação de Rompimento da barragem por Perda dos peixes, equipamentos e necessidade de reconstrução das barragens, que
Galinha Dependência de insumos externos Na possibilidade de o fornecedor de pintinhos e ração encerrar o fornecimento, o peixe enxurradas em geral envolve altos custos com aluguel de tratores.
caipira e na compra das aves e ração inicial que tem certo risco por ser uma atividade recente na região, os agricultores podem
caipirão ter que encerrar sua produção por falta de animais para recria e engorda e ração Mortalidade por falta de oxigenação Problemas com a renovação da água causados pelo mau dimensionamento dos
nas fases iniciais. tanques, períodos sem chuvas ou mesmo proliferação de microorganismos podem
levar à morte todo um lote de peixes.
Mortalidade Se o manejo alimentar e sanitário não for bem feito, grande parte do plantel pode
ser perdida em breve intervalo de tempo e comprometer a viabilidade econômica Ataque de predadores naturais Se o tanque não for bem preparado, pode haver entrada de peixes carnívoros,
da atividade. ocasionando prejuízos aos agricultores.
Insuficiência de caixa para compra Os agricultores precisam fazer um fundo de caixa para o reinvestimento da renda Dificuldade para construção dos A pouca disponibilidade de tratores nas localidades pode atrasar a construção dos
de pintinhos e ração gerada no ano anterior em compra de pintos e ração para as fases iniciais da cria- tanques açudes, assim como encarecer o investimento inicial.
ção. Se o produtor não fizer reserva financeira, a atividade será interrompida. Suínos Falta de produtos para produzir Suínos são animais com grande demanda por alimentos, e a alimentação com
Gado Queda do preço do leite Desinteresse em manter a atividade ou descuido no manejo alimentar e sanitário. ração no lote produtos do lote (frutas, mandioca, melancia) é de fundamental importância para
leiteiro manter o equilíbrio na relação custo versus benefício. A falta desses produtos no
Falta de chuvas Tem forte impacto na diminuição das pastagens e menor disponibilidade de água, lote pode inviabilizar a atividade.
o que implica redução da produção de leite.
Fuga de animais causada por curral Os suínos podem danificar as lavouras do agricultor e dos vizinhos, trazendo preju-
Açaí Frequente falta de energia elétrica Os agricultores usam gelo para conservar o açaí para o transporte até a cidade. A com problemas de manutenção ízo financeiro às famílias.
nas comunidades rurais falta de energia elétrica pode inviabilizar a produção de gelo e prejudicar a comer-
cialização do produto. Geral Dificuldades de transporte e Redução drástica da receita ou, mais frequentemente, desistência da comercializa-
comercialização ção e aproveitamento da produção para consumo doméstico.
170 Melhorias nas Experiências Produtivas: Lições Aprendidas Melhorias nas Experiências Produtivas: Lições Aprendidas 171
gas precisam de aplicação de veneno para vem como fonte de capim a ser fornecido
serem efetivamente combatidas, apesar aos animais jovens na maromba, ou para
de experiências de práticas alternativas serem pastejadas com mais facilidade por
que não ameaçam a saúde, como produ- estarem próximas dela. Isso ajuda a en-
ção orgânica e do projeto Roça-Sem-Quei- frentar um dos principais desafios relacio-
mar. Sem dúvida, preconceitos existentes nados à criação de búfalo, que é a alimen-
são também induzidos por manifestações tação adequada para os animais na época
de técnicos envolvidos na difusão de sis- das cheias.
temas de produção empresarial.
As iniciativas mostram que um am-
Apesar da capacidade de desenvolver biente de intercâmbio de conhecimentos
e adaptar práticas de produção às capa- entre agricultores, extrativistas e técnicos
Assistênica
cidades e condições específicas, as famí- promove inovações e adaptações impor- técnica deve
lias que participam das iniciativas nem tantes em favor da melhor gestão dos re- valorizar o
sempre valorizam o grande potencial de cursos naturais. As famílias participaram
conhecimento
tecnologias locais simples. Um exemplo ativamente das reuniões e atividades
em Medicilândia é o aceiro no cultivo do técnicas organizadas pela equipe técni- do agricultor.
cacau. O aceiro é a prática de limpar o ter- ca do projeto Governança. Nessas opor-
reno, criando uma faixa de proteção que tunidades, os agricultores mostraram-se
Figura 10. A ilharga da isola a área que se pretende queimar do dispostos a socializar conhecimentos e
maromba é uma prática restante do lote, evitando assim a propa- experiências com os demais agricultores
local dos criadores de Os agricultores mostraram conhecimento, tor buscasse incessantemente técnicas de gação do fogo. A propagação indevida do nos GAR. Nesses encontros, informações
búfalo que melhora o particularmente sobre os produtos clássi- combate à doença, o que resultou no êxito fogo causa prejuízo para os agricultores e relativamente simples, mas de grande
sistema produtivo. cos de intensa relação comercial, sobretu- na atividade. seus vizinhos. O aceiro é uma prática rela- importância, foram amplamente comuni-
do gado e cacau em Medicilândia e madei- tivamente simples, que pode ser feita de cadas, como o contato de fornecedores de
ra e búfalo em Porto de Moz. Mesmo assim, o conhecimento e a ca- forma mecanizada (trator), com roçadeira insumos, compradores que oferecem me-
pacidade do agricultor muitas vezes não ou mesmo de forma manual, com o uso lhores preços, técnicas bem sucedidas de
Um caso emblemático para mostrar a são suficientes para responder a todos os de enxada. Contudo, muitos agricultores manejo, entre outras.
capacidade de responder a acontecimen- acontecimentos na implantação e exe- simplesmente não o fazem, embora o pre-
tos de sistemas de produção já executados cução das iniciativas, particularmente juízo causado por essa decisão seja alto, 3.4. Preferência pela
é a iniciativa do maracujá. Nessa iniciati- face aos desafios logísticos e de comer- caso o fogo se alastre para os plantios. Por
va, o agricultor enfrentou problemas com cialização e nas iniciativas nas quais os outro lado, também foram observados
atuação individual
uma doença no fruto, até então nova para
ele. Contudo, a sua experiência anterior,
aliada à boa estruturação de outros com-
ponentes da atividade, como irrigação e
espaçamento, além da necessidade ur-
agricultores trabalham com sistemas de
produção completamente novos para
eles. Frequentemente, a atuação dos agri-
cultores segue tradições baseadas em in-
formações pouco consolidadas e às vezes
exemplos positivos de difusão de tecnolo-
gia local, como no caso da preparação de
área de recreio na ilharga da maromba (Fi-
gura 10), feita por criadores de búfalo em
Porto de Moz. A técnica consiste em fazer
O bservamos que fora das iniciativas
e grupos de avaliação e reflexão,
as famílias pouco se comunicam
com vizinhos e outros possíveis parceiros
sobre opções de produção e comercializa-
gente de resolver o problema, já que essa em preconcepções comunicadas entre vi- piquetes próximos à maromba para reser- ção. Apesar da solidariedade que em geral
atividade é uma das principais fontes de zinhos. No sistema de cacau, por exemplo, var pastos para os animais se alimenta- os agricultores mostram, e do seu interes-
renda da família, fez com que o agricul- todos os agricultores acreditam que pra- rem na época das cheias. Essas áreas ser- se em contribuir ativamente na organiza-
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ção social e participar das organizações famílias das comunidades. Cada grupo de tas ou participação em eventos realizados de extensão. Quando os agricultores ino-
representativas, são raros os casos em pessoas, normalmente da mesma família, por alguma organização. Surpreendente- vam, buscando adaptar o seu sistema
que vizinhos trocam conhecimentos e ex- tem uma área própria para a exploração mente, mesmo aqueles sem experiência produtivo a essas tecnologias, em vez de
periências de forma sistemática ou se jun- ou trabalha em determinada área comum. prática têm uma ideia real das tecnologias melhorar o conhecimento e capacidades
tam para, por exemplo, reduzir os custos Portanto, a forma usual de organização e necessidades de insumos, em particular que já dispõem, os resultados mostram-se
de transporte ou facilitar as negociações para a atividade madeireira é de uma só de equipamentos, mão de obra e produ- críticos. Essa constatação fundamenta-se
com possíveis compradores. Quase todos família ou de núcleos familiares, e não de ção esperada, em qualidade e quantidade. em três motivos: a probabilidade de erros,
os participantes das iniciativas, também forma comunitária, envolvendo todas as a falta de conhecimento de aspectos de
no contexto mais tradicional de Porto de famílias de uma comunidade. Em conse- As deficiências risco e a distância das redes de comercia-
Moz, enfocam a família, especificamente quência, iniciativas direcionadas a apenas lização. Assim, mesmo que a perspectiva
o núcleo familiar, como elemento de atua-
ção econômica e produtiva. Por exemplo,
nas iniciativas de manejo florestal no con-
texto tradicional de Porto de Moz, a forma
de organização produtiva é baseada em
uma família ou a um núcleo familiar são
mais efetivamente desenvolvidas, ainda
mais porque a comunicação e negociações
necessárias em ações coletivas muitas ve-
zes são afetadas por conflitos pessoais ou
A pesar de os agricultores terem ex-
periência e conhecimento sobre
as técnicas de implementação e
manejo de diversos sistemas de produ-
ção adaptados às condições específicas
de gerar renda com iniciativas de alto in-
vestimento seja muito atrativa, em caso
de adoção exitosa, melhoramentos e ati-
vidades com crescimento gradual têm me-
lhores chances de obter bons resultados.
laços de parentesco existentes entre as entre as famílias. dos seus lotes e às caraterísticas de suas
famílias, a maioria orienta sua produção Fatores de êxito A adaptação do
em poucos produtos voltados principal-
O
mente para o comércio e produzidos com êxito de qualquer opção produtiva sistema condu-
tecnologias padronizadas. Aparentemen- depende da possibilidade de aces- zida de forma
te, os agricultores tendem a continuar o sar mercados atrativos, incluindo autônoma pelos
4. Avaliação que já fazem, em vez de aproveitar even-
tuais opções de melhoramento, ou adotar
componentes produtivos novos. O espa-
os aspectos de transporte e de venda. Não
há logística e mercado para todos os pro-
dutos que garantam ao mesmo tempo uma
agricultores é
fundamental
Agricultores familiares e
extrativistas possuem
conhecimento do potencial de
A s experiências com as iniciativas revelam a possibilidade de
melhorar e enriquecer os sistemas de produção de agriculto-
res familiares e extrativistas na Amazônia. Foi possível esta-
belecer alguns componentes de produção e aumentar a viabilidade
dos sistemas já praticados com ajustes relativamente moderados.
ço existente para iniciativas próprias de
melhoramento raramente é usado, em
particular as que incluem possibilidades
de diversificação da produção voltada
à comercialização. Essa baixa iniciativa
renda suficientemente atrativa para justi-
ficar que o agricultor enfrente o risco de
perder investimentos feitos com recursos
limitados. Um fator comum que influen-
cia o acesso a uma tecnologia é o custo de
para a funciona-
lidade da ativida-
de desenvolvida.
sua propridade, o que é utiliza-
Foram os próprios agricultores que elaboraram a maior parte das é agravada pela falta notória de capital, estabelecimento. Tecnologias com custos
do efetivamente na elaboração iniciativas e das propostas técnicas apresentadas nos capítulos an- disponibilidade limitada de mão de obra, moderados de estabelecimento e manu-
de propostas técnicas que teriores deste livro. O agricultor é um profissional com conhecimen- acesso insuficiente à informação e baixo tenção, coerentes com a capacidade finan-
melhoram a sua base produtiva. to profundo do potencial da sua propriedade e da sua comunidade. interesse em enfrentar desafios da organi- ceira, com os recursos humanos (sobretu-
Ele tem domínio sobre as tecnologias e logística relacionadas ao sis- zação para as ações em grupo. do mão de obra) e com o conhecimento
tema de uso da terra, combinando atividades para consumo domés- do produtor, têm mais aceitabilidade do
tico e para o mercado. Resultado desse conhecimento sobre diversas De outro lado, existe um interesse geral que as que requerem altos investimentos.
práticas produtivas, somente poucas opções de produção são com- sobre os pacotes tecnológicos desenvol- Nesse sentido, é relevante também a pos-
pletamente novas para o agricultor. A maioria dos agricultores já vidos por especialistas, desenhados para sibilidade do agricultor de contribuir com
dispõe de experiências específicas, muitas delas de várias décadas, agricultura de larga escala e promovidos recursos próprios, em particular com mão
ou tem conhecimento prático das opções através de vizinhos, visi- por programas de crédito e organizações de obra familiar e conhecimento. A pos-
174 Melhorias nas Experiências Produtivas: Lições Aprendidas Melhorias nas Experiências Produtivas: Lições Aprendidas 175
Figura 11. O assesso-
sibilidade de adaptar o sistema produtivo te para garantir o êxito de todas as inicia- ramento técnico da
às suas condições específicas cria um sen- tivas. Aparentemente, os interesses e as agricultura familiar deve
timento de propriedade intelectual funda- expectativas dos agricultores nem sempre ser baseado em diálogo
mental para assegurar a funcionalidade correspondem às suas capacidades e rea- e intercâmbio que per-
local e reduzir possíveis dependências. As lidades. Sem dúvida, cada produtor é um mitam adaptar tecno-
observações mostram que particularmen- caso específico que precisa de soluções logias às capacidades e
te a fase de manutenção pode ser a mais bem orientadas a seus interesses e capaci- interesses específicos
crítica para o sucesso de um sistema de dades individuais. Assim, é preciso a con- dos agricultores.
produção porque muitas vezes é somente dução de mecanismos de assessoramento
depois de estabelecido que o agricultor en- técnico da agricultura familiar baseados
frenta gargalos na disponibilidade de mão em diálogo e intercâmbio (Figura 11), que
de obra e recursos. É quando surgem os permitam adaptar as tecnologias às capa-
maiores riscos e problemas que precisam cidades e interesses específicos dos agri-
de respostas. Portanto, é crucial conside- cultores, em vez de adaptar os agriculto-
rar conscientemente os numerosos riscos res às tecnologias baseadas na difusão de
que podem, e normalmente fazem redu- pacotes tecnológicos que, muitas vezes,
zir drasticamente a renda prevista com a seguem modelos de produção de grande
atividade. Esse é um argumento para evi- escala, pouco compatível com a situação
tar mudanças muito drásticas e optar por da maioria dos agricultores. Essa mudan-
tecnologias que assegurem ao agricultor o ça de paradigma implica que o assessora-
pleno domínio das técnicas e logísticas re- mento técnico deve considerar o sistema
lacionadas ao componente produtivo. de produção por inteiro como manejado
pelo agricultor, em vez de isoladamente
O financiamen-
Acompanhamento enfocar na promoção de somente um pro-
O assessoramen- duto ou uma tecnologia. o seu potencial para quebrar barreiras e dagem precisa de um acompanhamento to de projetos
to técnico deve
adequado superar preconceitos, como no exemplo individual de cada família, considerando produtivos com
ter a família e o
sistema de pro-
dução como foco
D iferentemente dos sistemas pro-
dutivos amplamente apoiados na
região via projetos FNO-Especial,
voltados prioritariamente para o mercado
externo (por exemplo, consórcio de côco
Nesse sentido, a estratégia de desenvol-
ver iniciativas em colaboração intensiva
com grupos de agricultores, e o seu finan-
ciamento parcial por um fundo comuni-
tário com recursos não reembolsáveis,
das iniciativas de cacau em terra mista e
da criação de suínos de raça, que nunca
foram consideradas pelo sistema de ex-
tensão rural clássico, por serem ativida-
des tecnicamente não referendadas. Tudo
um universo maior de agricultores, a sua
realização implica esforços significativos.
O fato de que várias iniciativas não alcan-
çaram os resultados pretendidos mostra,
ainda, que é imprescindível o aprimo-
recursos geridos
de forma coleti-
va, que priorizam
central de traba- as demandas de
e cupuaçu), ou mesmo os atuais projetos pode gerar resultados interessantes. Mais isso foi alcançado com um valor médio de ramento de alguns procedimentos para
lho, ativando o do PRONAF, concentrados principalmente importante ainda, essa abordagem tem investimento relativamente baixo por fa- assegurar o uso eficiente do fundo e dos
mercado e con-
potencial existen- em monocultivos (cacau e gado), o Fundo potencial para assegurar a relevância do mília, porque os agricultores foram moti- técnicos. Nesse sentido, é fundamental sumo doméstico
te e adaptando Financeiro Comunitário apoiou principal- investimento para o agricultor e de gerar vados a reduzir o custeio, pela necessida- realizar uma análise prévia das propos- específicas de
mente atividades em atendimento às de- benefícios diretos para as famílias, porque de de empenhar contrapartida. O tempo tas, para selecionar as que forem econo-
as tecnologias às cada família, tem
mandas de consumo doméstico e merca- se baseia nos conhecimentos, capacidades de elaboração das iniciativas foi relativa- micamente viáveis e compatíveis com os
necessidades dos do, e sistemas produtivos diversificados. e interesses específicos de cada família. mente pequeno e com pouca burocracia. interesses e capacidades dos agricultores alto potencial de
agricultores. Contudo, essa abordagem não foi suficien- Dessa maneira, as iniciativas confirmam Entretanto, tendo em vista que essa abor- familiares. sucesso.
176 Melhorias nas Experiências Produtivas: Lições Aprendidas Melhorias nas Experiências Produtivas: Lições Aprendidas 177
O Desafio Atual
das Reservas
Extrativistas:
Agricultura ou
Extrativismo?
Alfredo Kingo Oyama Homma
e Jair Carvalho dos Santos
É
tivas e políticas independentes livro O mundo místico dos caru-
entre a Resex e o município de importante fazer um retrospecto nhia Ford Industrial do Brasil (HOMMA, gre, bem como foram feitas aquisições de anas e a revolta de sua ave, que
Porto de Moz, do qual faz parte, O maior desafio da Resex está relacio- histórico para entender a situação 2003; LOBO, 2008). Foi prefeito de Porto de búfalos Murrah e Jafarabad que vieram, serviu de enredo para a Escola
sem integração, mas com nado com os moradores das várzeas, que atual. No dia 04 de outubro de 1941, Moz no período de 1948 a 1951. O casal provavelmente, do Estado de São Paulo de Samba Beija-Flor de Nilópolis
prejuízos para a sociedade. representam 22% (285,7 mil hectares) da o jovem advogado Michel Melo e Silva teve cinco filhos, aos quais estimulou a es- (Figura 3). no Carnaval de 1998.
182 O Desafio Atual das Reservas Extrativistas: Agricultura ou Extrativismo? O Desafio Atual das Reservas Extrativistas: Agricultura ou Extrativismo? 183
Em 1953, ocorreu a maior enchente do onde moravam e trabalhavam como va-
Desde 1951 Rio Amazonas, somente suplantada pelas queiros. Tinham uma relação de trabalho
a criação de enchentes de 2009 e 2012. No entanto, os informal e eram remunerados no sistema
búfalos integra búfalos conseguiram sobreviver, o que es- de “aviamento”. Nesse sistema, o proprie-
timulou Michel Silva a expandir a ativi- tário adianta bens de consumo e alguns
a paisagem da
dade, como alternativa principal às áreas instrumentos de trabalho e o retireiro
Resex Verde para de várzea. Dessa forma, a criação de bú- restitui a dívida contraída com produtos
Sempre que foi falos nas várzeas da Reserva Verde para extrativos, agrícolas e trabalho realizado.
criada em 2004. Sempre tem 63 anos de convivência com É um sistema de escambo em que a moe-
o meio, mostrando-se integrados à paisa- da serve apenas como referência de valor
gem, tal qual ocorre na ilha de Marajó. (SOARES, 2009; NAZARÉ, 2009).
Fazenda Aquiqui, búfalas, que produziam três mil litros de ruína da fábrica de laticínios representa o o Sistema Nacional de Unidades de Con- cesso e carecem de maior reconhecimento tivismo e, complementarmente,
leite por dia no pico de produção. A or- monumento de um ciclo que se encerrou servação (SNUC), permitir apenas a cria- e apoio por parte do governo. A piscicul- na agricultura de subsistência
os retireiros con- denha iniciava à 01:00 hora da madruga- e de uma experiência agrícola incompleta ção de animais de pequeno porte 5. Para tura é uma ideia recente, que esbarra na e na criação de animais de
tinuaram moran- da e terminava as 08:00 horas da manhã. (Figura 5). Acredita-se que o histórico da que a legislação seja cumprida, os búfalos falta de maior conhecimento tecnológico pequeno porte, e tem como
do nos mesmos Adotava-se o procedimento de tirar leite área de várzea que hoje é ocupada pela precisariam ser erradicados da reserva ou sobre tipos de peixes, rações, sistemas objetivos básicos proteger os
de duas tetas durante três meses e depois Resex Verde para Sempre não deva ser do a área com criação tradicional de búfalos de criação, manejo da água, entre outros. meios de vida e a cultura dessas
locais e vivendo
três tetas do quarto mês em diante, o que conhecimento da maioria dos moradores teria que ser desmembrada da unidade, Outra atividade tradicional é o beneficia- populações, e assegurar o uso
da criação de permitia aos bezerros mamarem de forma mais novos de Porto de Moz (jovens e deixando de levar em conta o aspecto cul- mento da espécie acari para a produção sustentável dos recursos naturais
búfalos. suficiente. adultos mais novos). tural, de 63 anos de convivência, e o fato de piracuí (farinha de peixe), que tem da unidade.
186 O Desafio Atual das Reservas Extrativistas: Agricultura ou Extrativismo? O Desafio Atual das Reservas Extrativistas: Agricultura ou Extrativismo? 187
grande potencial em algumas áreas da nes na melhoria da renda dos pequenos rando madeira, muitas vezes serrada com Belo Monte – a terceira
Resex. Nesse caso, o maior desafio encon- produtores. motosserra e em pequena escala, para
trado pelas famílias é a garantia da fonte os mercados locais. O desafio enfrentado maior hidrelétrica
O desenvolvi-
de matéria-prima, que tem sido trabalha- O investimento no incremento das ati- pelas famílias é em relação ao reconhe- do planeta
da por meio de acordos de pesca, além da vidades tradicionais e em novos cultivos cimento e apoio à melhoria de suas prá-
O
mento rural melhoria no processamento e de cuidados exige uma mudança de postura dos mora- ticas de extração de madeira. O manejo linhão que leva a energia elétrica
passa pela cria- com relação à higiene e comercialização. dores da reserva e do restante do municí- florestal comunitário na Comunidade de de Tucuruí para Manaus e Maca-
pio, mas também requer reconhecimento Arimum para a retirada de madeira, não pá, com 1.191 km e com duas tor-
ção de novas
Para os agricultores sediados nas áreas e apoio por parte do órgão gestor da re- terá efeito multiplicador na economia res de 295 metros de altura, atravessa a
alternativas de terra firme há outras alternativas para serva e do município. A criação de bovi- caso não consiga integrar um processo de Resex Verde para Sempre em toda a sua
tecnológicas para a produção agrícola e pecuária. A agricul- nos de leite com utilização de capineiras verticalização na cidade de Porto de Moz extensão. A construção do linhão e o cru-
a produção. tura pode ser incrementada tanto com a (plantio de forrageira de corte, próximas e de garantia da sua manutenção no longo zamento de cabos sobre o Rio Amazonas
melhoria de atividades tradicionais como de currais) e do sistema de parcagem (prá- prazo. foram concluídos pela multinacional Iso-
com a promoção de novas atividades. tica comum durante o período colonial, lux Corsán em 2013 (Figura 6). Trata-se de
Pode ser viável investir no incremento que consiste em prender o gado bovino O reflorestamento com espécies arbóre- uma obra de engenharia sem preceden-
do cultivo e processamento da mandioca, durante a noite em determinada área para as nativas, tais como mogno, paricá e ipê, tes no Brasil para a construção de linhas
tradicionalmente voltados para o consu- fertilizar o solo) deve ser incentivada na nas áreas desmatadas impróprias para a de transmissão e que as coloca entre as
mo das famílias, que dependem do uso de terra firme. Também existe potencial para agricultura, seria importante para recom- maiores do mundo.
variedades melhoradas, adubação e me- a criação de aves e suínos em pequena por áreas de Reserva Legal e de Preserva-
canização do preparo do solo e fabricação escala, visando o abastecimento familiar ção Permanente, mas dificilmente consti- A Hidrelétrica de Belo Monte, localizada
da farinha. O plantio de fruteiras perenes, e venda de excedente. Por causa da inde- tuiriam atrativo e não teriam viabilidade ao sul da reserva, quando concluída, será
como a bananeira, resistente a enfermi- finição com relação à criação de búfalos econômica para os pequenos produtores. a terceira maior hidrelétrica do planeta,
dades (sigatoka-negra, sikatoga-amarela nas várzeas, a partir de 2006, o rebanho No sentido prático, a maior riqueza para sendo superada pela de Três Gargantas
e mal-do-panamá), açaizeiro, cacaueiro, bovino ultrapassou o de bubalinos no mu- os moradores de terra firme está na retira- (na China) e a de Itaipu. Com a Hidrelé-
castanheira, piquiazeiro, cupuaçuzeiro, nícipio de Porto de Moz. da de madeira. trica de Tucuruí, quinta maior do mundo,
uxizeiro, tucumanzeiro, bacabeira, bacu- e com a Hidrelétrica de Belo Monte, o Es-
rizeiro, entre outras, deveria ser promo- A atividade florestal também é tradicio- O abandono da visão paternalista e a tado do Pará transforma-se no grande ge-
vido e depende da disponibilização de nal entre os moradores e tem representa- disponibilização de assistência técnica rador e exportador de energia elétrica do
mudas, recursos para investimento, de- do fonte de renda importante para muitas para o conjunto do município, e não pri- país e do mundo.
dicação no plantio e tempo de espera. O famílias da terra firme. O extrativismo vilegiando apenas a reserva, como tem
plantio de castanheiras é uma opção de de madeira, antes dominada por grandes ocorrido até o momento, são ações neces- Com a construção da Hidrelétrica de
médio e longo prazos, por gerar um pro- madeireiros, vem apresentando declínio sárias e urgentes para esse novo cenário. Belo Monte, as cidades de Altamira e Vitó-
duto com grande aceitação e valor de mer- desde 1990. O protesto dos madeireiros A segurança alimentar é outra condição ria do Xingu estão experimentando gran-
cado, fato que não pode ser negligenciado, em Altamira no dia 25 de novembro de importante tanto para os moradores da de crescimento populacional e aumento
mas que requer muita dedicação e cuida- 2003, em reação à presença do navio MV Verde para Sempre, como para todo o mu- na renda per capita, com reflexos na de-
dos para que obtenha êxito. O sucesso dos Artic Sunrise, do Greenpeace, em Porto de nicípio. manda de alimentos (agrícola, pecuária,
cacaueiros em Medicilândia e em outros Moz, marca de forma emblemática final pescado etc.), de madeira e de produtos
municípios da Transamazônica constitui do ciclo de extração de madeira por gran- agroindustriais, o que irá exigir mudan-
um exemplo do papel dos cultivos pere- des empresas. Restaram famílias explo- ças nos processos produtivos. Os mora-
188 O Desafio Atual das Reservas Extrativistas: Agricultura ou Extrativismo? O Desafio Atual das Reservas Extrativistas: Agricultura ou Extrativismo? 189
extrativa. Para muitas Resex na Amazônia com maior densidade na margem direita
ter-se-á no futuro o desenvolvimento de do Rio Xingu (lado oposto à reserva).
atividades agrícolas decorrentes do baixo
nível de renda proporcionado pela eco- A venda de serviços ambientais, outra
nomia extrativista (exceto a extração de
O assistencialis-
corrente defendida por pesquisadores,
madeira de lei que, no entanto, exige altos pode ser vítima do seu próprio sucesso. mo ambiental
investimentos). As alternativas de desen- Mecanismos de assistencialismo ambien- deve ser evita-
volvimento passam pelo reconhecimento tal devem ser evitados na busca de atalhos do na busca de
das práticas tradicionais, pelo apoio dis- fáceis. O caminho deve ser outro, baseado
pensado à melhoria dessas práticas e pela na pedagogia do mercado, na geração de atalhos fáceis. A
promoção de novas alternativas de produ- emprego e renda, como alternativa mais saída é a inclusão
ção, com potencial para contribuir para o segura. O sucesso da Verde para Sempre produtiva das
desenvolvimento e autonomia financeira e do município de Porto de Moz será afe-
da população. A criação de búfalos e bovi-
comunidades.
rido pela redução dos atuais programas
dores da Resex e do município de Porto disputa relacionada à obra revela um ca- nos, a extração de madeira, a mandioca, a de transferências governamentais para a
de Moz não podem perder a oportunidade minho que deve ser trilhado pela via de- piscicultura, o cacaueiro, o açaizeiro, en- redução da pobreza. Há oportunidades e
de produzir e fornecer para esse mercado mocrática e pacífica. Há a necessidade de tre os mais importantes, são os que apre- mercados e vai depender de tecnologia,
Figura 6. Torre de crescente. a Hidrelétrica de Belo Monte atribuir res- sentam maior potencial a curto e médio assistência técnica e de se perseguir com
transmissão de 295 ponsabilidades de desenvolvimento para prazo. tenacidade os objetivos produtivos e de
metros para atravessar As pressões dos movimentos sociais com todos os municípios da bacia do Rio melhoria de bem-estar da sociedade local.
o Rio Amazonas, cuja com relação à Hidrelétrica de Belo Mon- Xingu, a montante e a jusante, e não ape- A população do município de Porto de O retrocesso tecnológico, defendido por
linha corta as terras te restringiram-se a atender demandas nas para os municípios de Altamira e Vitó- Moz precisa ter mais voz e participação muitos movimentos sociais e ambientais,
da Resex Verde com aparência coletiva nas reivindica- ria do Xingu. efetiva – como, por exemplo, a realização pregando a volta ao passado com o cul-
para Sempre. ções, mas de cunho individual, de cará- de plebiscitos ou consultas populares para to ao atraso, são também prejudiciais no
ter assistencialista, sem uma perspectiva Conclusões a tomada de decisões cruciais -, em vez de longo prazo.
estruturante para o longo prazo. Pelo fato decisões unilaterais que têm prevalecido
de o linhão passar na área da Verde para
Sempre e, potencialmente, outras linhas
de transmissão no futuro, a reivindicação
dos moradores do município de Porto de
Moz deve estar associada a aspectos de
A s soluções tecnológicas para a
agricultura na Resex Verde para
Sempre são caras e demoradas.
Já se passaram dez anos em discussões,
havendo necessidade de ações mais con-
até o momento, como a criação da pró-
pria Verde para Sempre e a retirada dos
búfalos. A melhoria da Resex depende da
melhoria do município de Porto de Moz e
vice-versa. Para isso, deve ser entendida O
Agradecimentos
s autores expressam seus agrade-
cimentos ao Sr. Rui Rayol Lobo,
Dr. Alfredo Melo e Silva, Sra. Ma-
infraestrutura com reflexos de longo pra- cretas. É necessário o emprego de tecnolo- como um ente único e não como um terri- ria do Socorro Barbosa Soares e Dr. Nor-
zo. Essas iniciativas envolvem a criação gia para a maioria das propostas ou ideias tório privilegiado. ton Amador da Costa pelas entrevistas
de estações de pesquisa agrícola, campus que se pretende implementar. Há a neces- e informações prestadas. A Dra. Rosa de
universitário, melhoria de postos de saú- sidade de maior apoio para as pesquisas A Verde para Sempre vive o parado- Nazaré Paes da Silva, Chefe da Resex Ver-
de, de escolas, de estradas, com forma de agrícolas, modernização da agricultura e xo de ser uma reserva extrativista com de para Sempre, ao Dr. Cláudio Barbosa,
pagamento de royalties pelo cruzamento utilização de insumos modernos (tratores, poucos recursos ditos não madeireiros. A ao Dr. Alexandre Rossetto Garcia e a Dra.
das linhas de transmissão. O linhão repre- roçadeiras costais, fertilizantes, etc.). O natureza (ou o plantio pelos índios pré- Ana Paula Santos Souza pelo apoio logís-
senta o calcanhar de Aquiles similar aos desafio é muito mais o desenvolvimento colombianos, como defendem alguns estu- tico emprestado para as visitas na Resex
trilhos da Companhia Vale, mas qualquer da atividade agrícola do que da atividade diosos) dotou os estoques de castanheiras Verde para Sempre.
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Conclusão As alternativas locais
A inclusão produtiva dos produtores
familiares deve ser priorizada como alter-
E
são poucas as experiências existentes e os órgãos ambientais) tem para atuar na importante é: quais as regras do jogo para ntre os produtores familiares da Os atores locais
nenhuma delas tem viabilidade financei- região (falta de recursos, de pessoal, de a produção familiar na Amazônia, princi- Amazônia estão indígenas, popula- precisam ser for-
ra. Os modelos tecnicistas são pensados infraestrutura e de conhecimento da rea- palmente em Unidades de Conservação de ções tradicionais ribeirinhas rema- talecidos política
sem considerar as práticas, os interesses lidade), a estratégia de investir em parce- Uso Sustentável? nescentes do ciclo da borracha, comuni-
e a capacidade das famílias. A alternativa rias com as comunidades, em substituição dades quilombolas, colonos trazidos no
e economicamen-
de governança florestal apresentada pelas à abordagem atual de comando e contro- O maior investimento do Estado até período militar, assentados da reforma te como forma
comunidades dentro de suas condições le, pode ser muito promissora (Figura 3). o momento restringe-se à fiscalização e agrária e novos migrantes dos ciclos es- de enfrentar os
tem grande potencial e cabe ao governo No caso dos acordos de pesca em Porto à punição dos crimes ambientais, parti- pontâneos de ocupação da região. Esses
novos desafios
ressignificar sua concepção de manejo de Moz, por exemplo, ao regulamentar o cularmente pelos órgãos vinculados ao agricultores desenvolveram diferentes
florestal para apoiar as iniciativas locais acordo do Rio Acaí, a Secretaria de Esta- MMA. Também a atuação tímida e dis- modos de vida, que vão de economias ex- para o desenvol-
(Figura 2). do de Pesca e Aquicultura do Pará (Sepaq) tante das questões centrais para o de- trativistas a sistemas produtivos diversifi- vimento regional.
fortaleceu as comunidades e promoveu a
Os produtores familiares têm propostas boa gestão dos recursos. Por outro lado,
práticas e viáveis e são capazes de imple- quando o Instituto Chico Mendes de Con-
mentá-las. O conjunto de capítulos deste servação da Biodiversidade (ICMBio) não
O Estado tem
livro mostra que eles desenvolveram, es- aceitou o acordo dos rios Coati e Cupari,
muitas limitações tão desenvolvendo ou podem desenvolver por defender um plano de manejo geral e
para implemen- alternativas para a consolidação e cresci- não local das atividades da Resex, os re-
tar políticas de mento de suas atividades. O livro trouxe cursos pesqueiros ficaram desprotegidos e
algumas das principais experiências de- as comunidades foram penalizadas.
desenvolvimento senvolvidas por produtores de Porto de Figura 3. Representantes
e precisa estar Moz e Medicilândia, mas há muito mais Para apoiar o desenvolvimento local das comunidades pro-
mais receptivo nesses e em outros municípios. Essas ati- na Amazônia, cabe ao Estado evitar criar põem ao Estado (Minis-
vidades e os interesses e capacidades dos novas restrições que desestruturem as ex- tério do Meio Ambiente)
às propostas
produtores locais devem ser o ponto de periências produtivas em curso e passar a ações concretas para
dos produtores partida para qualquer proposta de desen- apoiá-las. Diferente de outras regiões do viabilizar o desenvolvi-
familiares. volvimento regional. Brasil, onde os produtores rurais têm a se- mento local.
Figura 5. A questão
ficado restrita a casos específicos diante de Moz, praticamente toda a zona rural é produtiva nas Resex
Adicionalmente, as dinâmicas de mer- da imensidão da região. Mais grave que ocupada por comunidades ribeirinhas tra- passa pelo apoio às
cado, que já foram muito apoiadas pelo isso, mesmo nos casos em que é efetiva- dicionais que vivem da pesca, da criação práticas desenvolvidas
Estado, têm incluído a região no agrone- mente implementada, a abordagem não de animais e da extração de produtos flo- pelas famílias como
gócio nacional, principalmente como pro- tem garantido a posterior inclusão social restais. Essas comunidades enfrentaram a alternativa concreta de
dutora de gado de corte e, mais recente- e produtiva dos agricultores protegidos. invasão de geleiras, de madeireiras e ago- desenvolvimento rural
mente, de soja. Essa dinâmica tem trazido Exemplos concretos vão da política indi- ra enfrentam o desafio de dialogar com o sustentável.
E
hectares no país. O número crescente de titulados “chefes da reserva”, designados m Medicilândia, às margens da Ro- valor de suas práticas, e apoio para imple- produzam e
Resex e de outras Unidades de Conserva- pelo ICMBio, chegam à unidade sem o dovia Transamazônica, a situação mentar as melhorias que eles projetam. gerem renda.
ção de Uso Sustentável reforça a impor- preparo necessário para trabalhar com as dos agricultores familiares ilustra
tância de se pensar com mais cuidado a populações locais, e sua elevada rotativi- as condições da produção familiar enfren- A assistência técnica precisa ser pensa-
questão das atividades produtivas nessas dade (desde a criação em 2004 a Resex já tadas por parte dos colonos e assentados da em novos moldes, valorizando as insti-
unidades para garantir vida digna aos houve seis chefes diferentes) tem levado que estão em regiões da Amazônia com tuições existentes no município, e precisa
moradores, o que inclui desenvolvimento à falta de continuidade das ações. O le- potencial de desenvolvimento. Apesar de ser vinculada aos agricultores através do
econômico e respeito aos modos de vida. vantamento inicial, que daria subsídio ao terem conseguido se consolidar às mar- Sindicato dos Trabalhadores Rurais e da
plano de manejo da unidade, com custo gens da Rodovia em áreas com bons solos, Casa Familiar Rural. As linhas de crédito
Na Resex Verde para Sempre, as ativi- superior a um milhão de reais, não teve esses agricultores já começam a enfrentar precisam ser abertas para contemplar as
dades produtivas tradicionalmente desen- uso prático até hoje e um novo levanta- o desafio de se manter nessas áreas dada atividades existentes e as demandas mais
volvidas pelas famílias não têm recebido mento parece agora ser necessário. à dinâmica atual da região que, com o as- específicas dos agricultores, que vão além
nenhum apoio dos órgãos públicos e têm faltamento da Rodovia e a construção da do gado e do cacau (Figura 6).
sido alvo de restrições crescentes por não Há necessidade de mudanças radicais Hidrelétrica de Belo Monte, passou a rece-
estarem de acordo com os padrões tecni- na postura do ICMBio e do MMA como um ber maior pressão de grandes produtores.
cistas vigentes. Isso, apesar do fato de que todo. Em vez de portar-se como o dono
foram essas atividades e esses modos de dos recursos naturais e tutor das popula- Os produtores de cacau precisam de
vida que garantiram até hoje a conserva- ções, o órgão gestor deve priorizar a cons- assistência técnica para produzir em ter-
ção da área. Uma das consequências é a trução de políticas produtivas com base ra mista. Os criadores de gado precisam
crescente desesperança dos moradores, nas condições locais. Deve reconhecer as acessar as linhas de crédito para investi-
provocando a necessidade de medidas iniciativas existentes, como os acordos de mentos pontuais no manejo de seus pas-
emergenciais para se pensar a inclusão pesca e acordos de convivência que, po- tos e rebanhos. Os criadores de galinha
produtiva a partir das potencialidades tencialmente, têm impacto positivo maior caipira e produtores de açaí precisam de
existentes. Essas medidas são fundamen- do que muitas das ações atuais de coman- assessoramento para prospectar merca- Figura 6. A inclusão produtiva dos agricultores familiares da Amazônia
tais para que as Resex atinjam de fato do e controle. Grande parte dos problemas dos para sua produção, que é crescente. precisa ser apoiada pelo Estado por meio de políticas agrícolas específicas.
SERVIÇO DE APOIO
À PRODUÇÃO
FAMILIAR NA AMAZONIA