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MEDICINA LEGAL

A medicina legal é considerada uma disciplina que se utiliza de todo o


conhecimento médico. O perito deve ter conhecimento de todas as áreas da medicina.
Ela se serve de conhecimento de ciências para-médicas (biologia, farmácia, etc.), que
prestam seu auxílio.
A medicina legal existe única e exclusivamente para servir o direito. Ela serve
muito ao penalista, mas existem outras áreas do direito em que ela tem serventia: no
âmbito cível, no que diz respeito às indenizações (erro médico), na esfera do direito do
trabalho.
Um laudo de perícia contém itens chamados discussão e conclusão. São
pouquíssimos peritos que os utilizam. Por exemplo, o indivíduo é agredido por outro
portando uma faca. E aí esse indivíduo apresenta no laudo de lesão corporal inúmeras
lesões, entre elas algumas no antebraço direito dele. Todas as lesões estão descritas
minuciosamente e tecnicamente. O advogado lerá aquele laudo e verá que houve
muitos ferimentos. Mas e daí? Lesões no antebraço tem um significado médico-legal e
judicial: podem significar lesões de defesa. Ninguém vai escrever no laudo pericial que
as lesões podem significar defesa, pois este é um trabalho do advogado.
Outro exemplo: um policial experiente vai abordar uma pessoa na rua, essa
pessoa revida e ele desfere um tiro à uma distância de 20m. Esse projétil atinge a
virilha da vítima, e pega, a artéria daquela região, fazendo com que a pessoa morra
em poucos instantes. Isso configura lesão corporal seguida de morte, e não homicídio,
pois os indícios apontam que não houve a intenção de matar.
A medicina auxilia o direito em três funções: na elaboração das leis, no
cumprimento das leis, bem como na interpretação. Aqui, algumas questões são
polêmicas, como a pessoa que dirige sob o efeito de álcool, o aborto de fetos
anencéfalos, entre outros.
Antes mesmo de se falar a palavra medicina, a medicina legal já prestava
auxílio à Justiça. No Egito antigo, não se podia matar uma mulher, condenada à morte,
se ela estivesse grávida. Para saber isso, alguém tinha que ir lá examina-la, para dizer
se estava ou não grávida. Isto é uma prática médico-legal. Na história de Roma,
ouvimos falar muito sobre necropsia. Foi feita uma em Júlio Cesar, descrevendo as
suas lesões externas.
Mesmo na Idade Média, foi uma época que a humanidade teve um progresso
enorme. Muito da medicina legal foi desenvolvido nessa época, dando surgimento a
diversos tratados.

1. IDENTIFICAÇÃO MÉDICO-LEGAL: perícia e peritos.

A perícia médico legal nada mais é do que a aplicação desse conhecimento,


médico e para-médico, para servir a justiça. A colocação em prática desse
conhecimento se dá na perícia, que vai se materializar no que chamamos de laudo
pericial. O que interessa é que ele serve à justiça, e embora o juiz não seja obrigado a
acatar o teor do laudo pericial e suas conclusões, é difícil não seguirem os laudos. A
perícia é um procedimento médico, assim como é uma cirurgia. Então, ela deve ser
feita por um médico.
Muitas vezes o laudo é o prefácio de uma sentença. Podemos tirar alguém da
prisão com um laudo, ou mesmo prender alguém injustamente, pelo fato de o laudo
estar mal elaborado. Além do laudo, existem outros documentos que o profissional de
medicina legal pode se utilizar: os atestados médicos (verificação do fato médico e
suas consequências), os pareceres (a opinião de alguém de reconhecimento sobre um
determinado evento sobre algum aspecto) e as notificações.
Com as modificações do CPP foi a introdução no processo do assistente
técnico, o que já existia na esfera cível e trabalhista. Aquele documento, que era o
parecer, deixou de ter a sua importância, de ser um documento que era habitualmente
pedido.
O perito tem que escrever ali tudo o que ele vê, de forma minuciosa, científica e
técnica. Quem faz a perícia médico-legal? Como já dissemos, ela é feita por um
médico, e está sujeita a toda a legislação médica. Nesse sentido, existem dois pilares
que sustentam um perito: a credibilidade e a competência. Se um deles faltar, o perito
cai, Todas as afirmações devem ser feitas com conhecimento técnico-científico. O
laudo nunca pode ser tomado como a verdade irrefutável dos fatos. Isto porque esta
prova é exercida diante do contraditório.
Dependendo da origem do dano, o tratamento jurídico será diverso,
encaminhando-se para a justiça cível, trabalhista, ou criminal. Assim como os ramos
do direito tem princípios, a perícia criminal tem determinados princípios, que vão
direcioná-la.
No âmbito penal, o bem jurídico tutelado é a vida e a integridade física do
indivíduo. O corpo de delito, que seria o conjunto de vestígios materiais é que se
constitui no objeto a ser periciado. Alguns desses vestígios fazem parte do estudo da
medicina legal; outros fazem parte do estudo da criminalística. Importante dizer que o
cadáver não faz parte do corpo de delito, mas as lesões que estão nele fazem. A peri-
necroscopia é a avaliação do local onde ocorreu o delito. Toda vez que um delito
deixar vestígios é obrigatória a realização de exame de corpo de delito, sob pena de
anulação do processo.
A Lei nº 9.099/95 desobriga a realização do exame de corpo de delito para as
lesões consideradas leves. Ela diz que um boletim/atestado/prontuário médico, uma
ficha de atendimento de pronto socorro pode substituir o exame de corpo de delito nas
lesões consideradas como leves. Essa é a única exceção em relação ao exame de
corpo de delito.
Todo perito tem que ser provocado, pois sua atuação deve ser requisitada pela
autoridade policial e/ou judiciária. Em qualquer fase de um processo, uma perícia pode
ser realizada. Existe uma perícia que pode ser determinada somente pelo juiz, que é a
perícia psiquiátrica. Isto é assim porque senão qualquer delegado poderia solicitar
uma perícia dessas, tendo em vista que se trata de uma perícia expositiva, de mostrar
aquilo que está no interior do indivíduo.
Essa perícia é feita por um médico-legista, que trabalham no IML; alguém que
presta um concurso público e passa a fazer parte de uma carreira (médico-legista). Ao
tomar posse do seu cargo, já está imbuído da prerrogativa de fazer perícias médico-
legais. Não precisa, portanto, ser nomeado em cada processo, como acontece na
justiça cível e trabalhista. No entanto, nem todos os lugares apresentam um Instituto
de Medicina Legal bem estruturado. Na falta de um médico legista, quem faz a
perícia? Um médico nomeado pelo juiz ou pelo delegado.
O CPP prevê que na falta de médico, alguém que tenha curso superior na área
de ciências de saúde pode realizar a perícia. Uma enfermeira, um dentista, e até um
veterinário podem fazer uma perícia médico-legal.
Quantos peritos atuam nessa perícia? Houve uma modificação recente no
CPP, há dois anos atrás, que foi nefasta. Antigamente, dizia o seguinte: dois peritos
devem fazer a perícia e assinar o laudo pericial. Isto porque medicina não é algo
exato, pode ter diferentes interpretações. Sabendo disso, dizia-se que dois médicos
deveriam fazer a perícia, para restringir o espaço de dúvida. Na prática, não era assim
que acontecia, considerando a falta de recursos humanos crônicos dos IML’s. Um
médico legista elaborava um laudo e o outro assinava sem ver.
Antigamente, não havia participação de assistente técnico (que é contratado e
atua auxiliando uma das partes). O parecer era a opinião de um médico conhecedor
do assunto; caía de para-quedas no processo. Para acabar com isso, legitimou-se a
atuação de um assistente técnico no processo penal.
Para qualquer tipo de perícia, existe a perícia direta e indireta. A perícia direta é
aquela que o perito vê com os próprios olhos e descreve o que ele está vendo ali,
naquele momento. Por outro lado, na perícia indireta, o vestígio desapareceu; o que
deveria ser periciado, por algum motivo, não está mais na frente do perito. Desse
modo, ele vai se valer de qualquer coisa que ele possa visualizar, de documentos,
prontuários, vídeos, fotografias (isso é muito aplicável na perícia cível, principalmente
no que diz respeito ao erro médico). Isto se reflete para o Direito Penal, pois existe o
exame direto de corpo de delito e o exame indireto de corpo de delito.
Um princípio fundamental no Direito Penal é a impessoalidade. Não existe
nada que diferencie uma pessoa da outra. No Direito Civil, existe a personalização do
dano. Esse diferencial é extremamente importante, pois um laudo nunca pode ser
tomado como sendo a verdade irrefutável dos fatos. Isto porque existem questões que
suscitam divergências entre os médicos legistas. Há uma diferença em algumas
interpretações; por exemplo, se o médico legista avaliou que não houve violência,
então não houve estupro. A interpretação do perito pode refletir num laudo e num
determinado resultado.
No âmbito cível, que protege os interesses individuais patrimoniais e extra-
patrimoniais, o dano será particularizado (ou personalizado). Se cada indivíduo tem os
seus interesses, temos que buscar a reparação do eventual prejuízo que ele venha
sofrer. Sob o ponto de vista médico legal, isto normalmente é relacionado com a lesão.
Quando falamos em dinheiro, precisamos dar elementos para o juiz com a finalidade
de quantificar esse quantum a ser pago por quem está procurando uma reparação. Em
se tratando de lesão que prejudicou o indivíduo de alguma forma, é o perito que vai
pegar todas as características do indivíduo, no sentido de avaliar realmente quais
foram todas as repercussões que o dano trouxe. Não só verificar quais foram essas
alterações, como também dar um parâmetro de quantificação para o juiz. Solicitando
uma perícia, ou determinando o juiz uma perícia médica, ele vai dar um tempo para
que os assistentes técnicos sejam nomeados e elaboram os quesitos, perguntas que
vão traduzir aquilo que se quer saber. O juiz vai dar esse prazo e ao mesmo tempo vai
nomear um perito, que é denominado como perito oficial, perito do juízo, ou perito de
confiança. Ele é então, nomeado e acionado. Já deve estar nos autos claro e definido
o que o juiz quer saber, o motivo da designação da perícia.
Aqui existe uma falha: em muitos casos o juiz não se manifesta, não diz aquilo
que quer saber. Muitas vezes é até evasivo, deixando o perito sem um norte a seguir.
E quem tem que dar essa direção é o juiz, pois ele tem o interesse maior de se
informar, de ter as suas dúvidas esclarecidas. Se ele não tiver dúvida acerca do caso,
pode simplesmente indeferir a realização de perícia se for solicitada por uma das
partes. Ora, se ele tem dúvidas, se ele está determinando a realização, é porque tem
dúvidas, e sendo assim, tem que expressar a sua dúvida.
Não são todas as perícias que são custeadas por uma das partes. Quando
existe hipossuficiência de uma parte ou de ambas, a perícia pode ser gratuita. E isso é
um problema, que na justiça do trabalho foi solucionado por um fundo que custeia as
perícias gratuitas. Mas no âmbito cível isso infelizmente não existe. É por isso que é
muito comum a recusa por parte dos peritos, mesmo mediante pagamento. Alguns
casos podem ser muito polêmicos e comprometedores. A perícia cível é a mais
interessante de ser feita, porque às vezes te leva a caminhos que você nunca
imaginou.
Na sequência, os assistentes técnicos são indicados, e os quesitos são
indicados. Aqui, abre-se um capítulo aparte, que é a utilização do assistente técnico
pelas partes. O assistente é alguém que apresenta conhecimento profundo em
determinada área. Os quesitos devem corresponder àquilo que as partes desejam
provar, ou àquilo que desejam contar. Os quesitos devem ser objetivos. Cabe ao perito
marcar a data e o local da realização da perícia, podendo solicitar qualquer documento
para que ela aconteça. O perito vai dirigir todo o trâmite processual dali para frente.
A primeira fase da perícia é a coleta de dados, é aquilo que a parte vai estar
contando. Durante a perícia, perguntas podem ser feitas para quem está sendo
periciado. Na fase seguinte (exame clínico), os advogados não podem estar
presentes, pois a perícia médica é um ato médico. Ali, o indivíduo é exposto na sua
intimidade. Então, quem não é médico sai da sala, ficando somente o perito e os
assistentes técnicos. Concluída a perícia, o perito elabora o laudo pericial,
respondendo os quesitos elencados. Aí entra a segunda fase importante do assistente
técnico, que é a análise do laudo pericial. Cabe ao assistente contribuir, enriquecendo
a perícia. A partir de então, a parte pode exercer o contraditório, fazendo
questionamentos ao laudo pericial referentes a dúvidas que ainda restaram (chamadas
de quesitos complementares/suplementares). Isso pode se prolongar ad eternum, a
não ser que se constate que os quesitos são procrastinatórios. Encerra-se, então, a
etapa pericial do processo.
Pela legislação brasileira, o juiz não está adstrito à análise do laudo pericial,
não sendo obrigado a acatar as suas conclusões. O juiz pode designar realização de
outra perícia, pelo mesmo perito ou por outro.
No Direito do Trabalho, sob o ponto de vista processual, é igual à justiça cível.
O que muda é o princípio, porque para o Direito do Trabalho, o que está sendo
resguardado é a capacidade laborativa do indivíduo. Então a perícia é destinada à
avaliação dessa capacidade laborativa. Deve-se responder, então, se houve redução
desta capacidade, e em que grau, fazendo uma avaliação que muitas vezes é
subjetiva, pois não existem parâmetros objetivos para se elaborar a capacidade do
indivíduo. Isto fica a critério do perito. Aqui, como na perícia cível, vale muito a
interpretação e a manifestação do advogado.

2. TRAUMATOLOGIA FORENSE

A traumatologia tem um âmbito complexo de estudo, abordando o dano, as


suas consequências e o nexo de causalidade. Consideramos o dano como qualquer
alteração da normalidade do indivíduo. Essa alteração é causada por um agente
externo, de forma violenta. Devemos pressupor que existe um conceito de
normalidade, que é relativo a cada um de nós. A OMS define como saúde o bem estar
físico, psíquico e social. Daí podemos imaginar que o mundo tem pouca gente
saudável. Então, cada um de nós vive em um determinado estado de equilíbrio
(homeostase).
Quando sofremos a atuação de um agente externo, quebrando essa
normalidade, temos um dano. Essa alteração da normalidade pode ser física
(anatomia, morfologia), funcional, psíquica ou até mesmo histológica. O indivíduo pode
sofrer a amputação de um braço. Eu vou estar alterando esse indivíduo
anatomicamente (porque estou retirando um segmento do seu corpo), sua
funcionalidade (pois deixa de ter um braço que executa algumas funções). Isto
também pode repercutir sob o ponto de vista psíquico.
Quando se pensa numa alteração, o direito protege não só a integridade física
mas o indivíduo como um todo. E quando este bem é violado, isto gera
consequências, que vão depender da origem do dano: se foi de acidente de trabalho,
se foi uma lesão produzida numa discussão, se foi uma agressão física, se foi um
atropelamento. Dependendo da origem do dano, haverá uma responsabilização a ser
apurada. Estamos falando aqui que isso é causado por um agente externo. Esses
agentes, chamamos de agentes causadores de dano.

2.1 Agentes causadores de dano


Os agentes causadores de dano poderiam ser objetos (arma de fogo, uma ripa,
uma pedra). Poderiam ser energias, como a eletricidade, a temperatura. Poderiam ser
substâncias, como por exemplo, o álcool. Poderiam ser micro organismos.
Os primeiros agentes causadores de dano seriam agentes mecânicos, aqueles
objetos que nos cercam (uma faca, um martelo, um projétil de arma de fogo, uma ripa,
um volante de um automóvel, o automóvel em si). A segunda categoria seria aquela
referente aos agentes físicos (temperatura, eletricidade, fenômenos naturais como
furacões, tsunamis, radiações). Outros agentes são os químicos, que serão
devidamente estudados na toxicologia forense. Além disso, os agentes físico-químicos
(asfixias mecânicas). Podemos falar também nos agentes biológicos (fungos,
bactérias, vírus, e assim por diante). Agentes biodinâmicos (choques de maneira em
geral, não o choque elétrico pois este é um agente físico, mas o choque anafilático, o
acidente anestésico). O acidente mais comum é aquele referente à pressão arterial.
Nos agentes mistos, teríamos uma situação indefinida, onde algum fatos não muito
definido causa dano ao agente (desnutrição, tortura).
Qualquer um desses agentes causa um determinado dano, uma determinada
lesão. Olhando o dano, essa lesão tem determinadas características. Quando olho
essa lesão, eu vejo essas características e em primeiro lugar, o que eu faço? O senhor
conhece uma caneta, o que instintivamente o seu cérebro faz quando conhece alguma
coisa? Olhando as características eu qualifico o dano, e aí tenho quais são os agentes
causadores do dano. Olhando a lesão, sou capaz de identificar a natureza do agente
que causou dano. Associamos a características do dano a um agente causador de
dano, e ao fazermos isso, estamos estabelecendo o nexo de causalidade.
Quando vejo a lesão e eu sou capaz de identificar a natureza do agente que
causou o dano. Identificar a natureza não significa identificar o objeto. Você pega um
estilete ou um bisturi e passa na mão, faz um corte. As lesões são iguais. Eu vou olhar
essas duas lesões, e não consigo dizer qual foi produzida por estilete ou bisturi, mas
posso dizer que foi causada por um instrumento cortante. O aspecto da lesão é o
mesmo, a natureza do agente é a mesma, mas isso não quer dizer que eu identifique
o objeto.
O nexo de causalidade é a relação de causa e efeito. A causa foi a
temperatura, o bisturi, o instrumento cortante. E o efeito foi a queimadura, ou o corte
causado pelo bisturi. De tudo o que falamos até agora, esse entendimento desse
mecanismo é o mais importante. A medicina legal trabalha de forma extremamente
íntima e frequente na questão de exclusão ou determinação do nexo de causalidade.
Todo o dano que o indivíduo venha a sofrer foi causado por um desses agentes
causadores de dano.
Os agentes mecânicos podem ser contundentes, cortantes e perfurantes,
podendo existir outros agentes que derivam de combinações entre eles: perfuro-
contundente, perfuro-cortante e corto-contundentes. Temos três instrumentos básicos,
que dão origem a três outros, derivados. O instrumento contundente é o mais
envolvido nas questões de acidentes de maneira geral (piso, poste, chão, volante de
um automóvel). Os instrumentos cortantes agem por pressão e deslizamento
(exemplo: bisturi, estilete, navalha, gilete). Os instrumentos perfurantes são
instrumentos que agem por pressão (alfinete, agulha). Na sequência, um instrumento
que corta mas contunde (machado, foice). O principal instrumento perfuro-contundente
é o projétil de arma de fogo. Não é de um diâmetro tão fino quanto uma agulha e um
alfinete. Por fim, um instrumento que perfura e corta é a faca, o punhal.

2.1.1 Instrumentos contundentes


Vamos estudar as lesões que esses instrumentos causam, começando pelos
instrumentos contundentes. Nestes, agem por todos os mecanismos de ação
possíveis: pressão, distensão, rotação. Esses instrumentos produzem as chamadas
lesões contusas. Estas lesões se dividem em: rubefação, edema, escoriação,
equimose, hematoma, ferida contusa.

a) Rubefação

A rubefação, quando o agente traumático vem e toca, o tecido vivo reage frente
a ação do agente traumático com uma vaso dilatação. Há um maior fluxo de sangue
no lugar. Então, há uma lesão avermelhada. Um tapa no rosto pode deixar uma
rubefação na fase do atingido. Passados alguns minutos após a ação do agente
contundente, os vasos sanguíneos voltam ao calibre normal, e a lesão desaparece.
Trata-se de uma lesão fugaz, que desaparece, que não deixa sequelas; portanto, uma
lesão de pouca importância médico-legal.

b) Edema

Os edemas, quando o agente traumático bate no tecido vivo, ou ocorre uma


distensão desse tecido vivo, naquele local os vasos sanguíneos vão se dilatar, e vai
sair líquido de dentro do vaso; esse líquido vai se acumular nas vizinhanças do local.
Essa lesão tem um nome popular: inchaço. A rubefação e o edema só acontecem no
vivo, não na pessoa que morreu. São reações vitais, fenômenos que só acontecem no
organismo vivo.
Qual a importância médico legal de saber se a lesão foi produzida em alguém
morto ou vivo? Sob o ponto de vista médico legal, podemos morrer de morte natural
ou de morte violenta. A morte natural é quando existe um processo patológico no
indivíduo que vem a causar uma morte natural (infarto, acidente vascular cerebral, um
câncer). Na morte violenta, o indivíduo pode morrer por um acidente, pelo suicídio ou
homicídio. Ocorre que o indivíduo às vezes pode ser morto por alguém, e tenta-se
simular um suicídio.
Sendo assim, a título de ilustração, toda a morte violenta é obrigatória passar
pelo IML. Mesmo que o indivíduo sobreviva e vá ser internado em hospital, e morra lá
posteriormente, mas a causa de sua entrada no hospital seja um ação violenta, o
cadáver deve passar obrigatoriamente por um estudo médico-legal.

c) Escoriação

A escoriação é uma lesão produzida por pressão e deslizamento. Cessado o


sangramento, ficam pequenas gotículas vermelhas e amarelas na superfície da lesão.
Essas gotículas são denominadas de sanguinolentas. Quanto há um aspecto
amarelado, chama-se cero-sanguinolenta. Ao passar dos dias, forma-se uma crosta.
Esta cai, e sobre ela está a pele regenerada.
d) Equimose

A equimose é uma lesão produzida quando o agente traumático atinge o


tecido, e rompem-se vasos sanguíneos. O sangue, quando sai de dentro do vaso, se
infiltra nas vizinhanças de onde houve a lesão. Esta é a lesão que conhecemos
popularmente pelo nome de “olho roxo”. No início desta lesão, ela é arroxeada. Em
torno de dois ou três dias, ela vai tomando um tom azulado. Na sequência, toma uma
coloração esverdeada. Por fim, toma uma coloração amarelada, até que se confunda
com a tonalidade da pele e desapareça. Essa transformação vai ocorrendo de acordo
com as reações químicas do sangue que saiu de dentro do vaso. Esta variação de
tonalidade é chamada de espectro equimótico.
Qual é a importância médico-legal deste espectro? Se ele mude de cor com o
passar dos dias, isso me dá a possibilidade de saber mais ou menos qual foi a data da
lesão. Saber a “idade” da lesão é muito importante, pois posso excluir o nexo de
causalidade. Vamos supor que chegue alguém no IML com uma equimose de cor
esverdeada, e ele diga que a equimose foi produzida ontem. Independentemente de
ser verdade ou mentira, no item do laudo chamado discussão, diremos que a lesão
que o examinado porta tem características de data diferente daquela referida pela
vítima. Então, ela foi produzida num evento anterior ao que foi narrado. Aqui,
excluímos o nexo de causalidade.
As equimoses não aparecem somente na superfície da pele. Elas também
podem acontecer na superfície de órgãos internos, como o coração, o pulmão, o
fígado. O impacto se reproduz nas próprias vísceras, fazendo com que possa ocorrer
equimoses na profundidade do corpo, não sendo exclusiva da superfície corporal. A
equimose pode ter vários aspectos: sugilação (chamada popularmente de “chupão”).
Qual é o significado médico-legal dessa lesão? Isto é manifestação de libido, e se é
assim, isto é um ato libidinoso. Toda manifestação da sexualidade diferente da
conjunção carnal é o ato libidinoso. Quando a equimose toma o formato do objeto que
a causou, ela é denominada vídices.

e) Hematoma

Agora vamos falar sobre o hematoma. O agente traumático bate, sai sangue de
dentro do vaso e ele arrebenta. Ao invés de se infiltrar nas camadas de tecido, ele
forma uma bolsa de sangue, deslocando do tecido vizinho. Os hematomas são
absorvidos pelo organismo; em algumas ocasiões, eles podem organizar, o sangue
coagula e ele fica endurecido. Aí, pode-se configurar uma deformidade permanente ou
um dano estético. Esta é a primeira lesão que estudamos que podem ter como
consequência um dano estético.

f) Ferida contusa

Por fim, a ferida contusa é um corte. Quando o agente traumático bate,


distende o tecido e se rasga, temos a ferida contusa. É aquela produzida por uma
pedrada, por uma pancada. E aí tem que ir para o pronto socorro tomar pontos. Se for
numa região aparente, isso pode se constituir numa deformidade permanente.
2.1.2 Instrumentos perfurantes

O instrumento perfurante é o instrumento cilíndrico-cônico (como agulhas e


alfinetes) que age sob pressão. Abrem caminho no tecido, sendo que o aspecto da
lesão é um ponto. Por isso o nome da lesão é ferida punctória. É um instrumento que
não tem uma importância médico-legal muito grande. Também não tem uma
capacidade lesiva muito grande. Os acidentes de pulsão ocorrem quando no exame
de sangue, o aplicador da injeção não consegue acertar a veia. Isso pode ter duas
consequências: a primeira delas é uma lesão nervosa, que essa agulha venha lesionar
um nervo; outra consequência é uma inflamação no vaso que forma um trombo e que
fica ali obstruindo a passagem de sangue. Isto pode se até causar a morte de um
indivíduo.

2.1.3 Instrumentos cortantes

Os instrumentos cortantes são instrumentos afiados, e eles agem por


deslizamento e por pressão. O cirurgião que empunha um bisturi, e com leve pressão
e deslizamento, produz uma lesão. Temos faca, bisturi, lâmina de barbear, caco de
vidro como exemplos dos referidos instrumentos. Se observarmos a lesão,
normalmente é uma lesão que tem ângulos. Como é o nome da ferida? Chama-se
ferida incisa ou ferida cortante. A medicina legal moderna prefere utilizar a
denominação cortante, e deixar o termo incisa para aquelas realmente feitas por
bisturi. Mas a faca não é um instrumento cortante? Não, por natureza, ela é um
instrumento pérfuro-cortante. Dependendo de como ela é utilizada, ela pode produzir
uma ferida cortante, mas como dissemos, por natureza ela é um instrumento pérfuro-
cortante.
Esse tipo de instrumento tem uma importância médico-legal porque têm uma
incidência mais frequente. Têm um potencial lesivo grande. Os eventos mais
relacionados a esse tipo de instrumento são acidentes de trabalho. Existem várias
atividades profissionais que se utilizam de instrumentos cortantes. Os acidentes de
trabalho, então, são os eventos com maior incidência da ação desses instrumentos.
São instrumentos que, quando usados, podem amputar, sem falar das cicatrizes que
eventualmente esse tipo de instrumento pode provocar.

2.1.4 Instrumentos pérfuro-cortantes

São instrumentos afiados que têm curva, como a faca e o punhal. Eles agem
mais por pressão, e menos por deslizamento, sendo que a pressão é a força
predominante. Como é o nome da ferida produzida por um desses instrumentos? Aqui,
a lesão pode ser pérfuro-incisa ou pérfuro-cortante. Normalmente essas lesões são
elípticas. Alguns autores falam em lesão bocelada (em forma de boca). A lesão pode,
ainda, ser triangular, reproduzindo o formato da lâmina do instrumento.
Toda arma que não seja arma de fogo (arma branca), ou seja, os instrumentos
cuja lâmina tenha até 10 cm de comprimento não são consideradas armas brancas.
Se você tem um canivete para descascar uma laranja, esse tipo de instrumento não é
considerado uma arma branca. Isso é uma convenção, não é algo que seja uma
questão técnica, ou legal. Esse tipo de objeto não é capaz de produzir alguma lesão
que venha causar um dano tão importante assim.
Esses instrumentos caíram um pouco de moda, mas ainda podem ser
utilizados como meios de defesa ou de ataque. Pois são instrumentos baratos,
acessíveis e eficientes para quem sabe manejá-los. Acessível porque podem ser
encontrados em qualquer estabelecimento. São de fácil portabilidade, além de não
haver necessidade de documento de porte, como acontece com as armas de fogo.
Nesse sentido, a mão e o antebraço funcionam como partes de ação de uma defesa.
Lesões na palma da mão e no antebraço podem ser consideradas enquanto lesões de
defesa.
O que acontece na prática é que nenhum perito indica isso em laudos de
lesões corporais. É preciso saber interpretar essas lesões, verificando qual significado
médico-legal essas lesões podem ter. Para aqueles que sabem utilizar o instrumento,
ele tem uma atuação extremamente lesiva. Raramente está associado a suicídio, o
que acontece mais com instrumentos cortantes. Esses instrumentos também podem
envolver acidentes de trabalho, como as pessoas que trabalham em frigoríficos, que
manipulam instrumentos afiados.

2.1.5 Instrumentos corto-contundentes

Eles cortam mas contundem, como o machado, a foice, o serrote. São


instrumentos mais robustos, mais rústicos, muito associados a instrumentos agrícolas.
Estão envolvidos em casos de homicídio, no interior. Frequentemente, também estão
envolvidos em acidentes de trabalho. A ferida produzida é corto-contusa.
Existem algumas lesões que têm uma denominação característica. Essas
lesões habitualmente podem ser produzidas por instrumentos cortantes, pérfuro-
cortantes, ou corto-contundentes. Lesões no pescoço, quando na sua parte anterior,
tem uma denominação específica: escorja. Esse tipo de lesão, na parte posterior do
pescoço, é chamada de degola. Se o indivíduo é destro, a lesão é ascendente para a
direita; se o indivíduo é canhoto, a lesão é ascendente para a esquerda. A traição
qualifica o delito. Como sei onde a lesão começa e onde termina? Onde começa, ela é
mais inferior e mais profunda, e à medida que vai sendo produzida ela é bem
superficial. Evidentemente que se trata de uma lesão delicada e importante, pois
transitam pelo pescoço vasos sanguíneos calibrosos, como as veias jugular. Logo, o
pescoço é uma região vulnerável. Por outro lado, a decapitação é a separação da
cabeça do resto do corpo. O esquartejamento é separar os membros do tronco. Qual o
objetivo de quem pratica isso? Ocultação de cadáver. Espostejar ou despostejar é
uma ação que envolve múltiplos fragmentos, “fazer picadinhos” de um corpo.

2.1.6 Instrumentos perfuro-contundentes

São instrumentos que perfuram e contundem. A ferida produzida é perfuro-


contusa. Qual o principal objeto dessa categoria? Projétil de arma de fogo. A tesoura
fechada é um instrumento perfuro contundente também, mas o principal é o projétil de
arma de fogo.

3. BALÍSTICA FORENSE
A balística forense é uma técnica muito complicada, pois extrapola o
conhecimento do especialista em medicina legal. Ela de tornou complexa em virtude
da diversidade de armas e munições no mercado. Sendo assim, nosso objetivo é
apreender o significado de alguma terminologia, e explicar sob um ponto de vista geral
como as coisas são feitas em termos de estudo de projétil de arma de fogo.
As armas podem ser classificadas de várias formas, sob vários aspectos. Por
exemplo, quanto ao calibre legal ou nominal. Quando se fala em calibre, que nada
mais seria do que o diâmetro do cano da arma, ele pode ser traduzido em polegadas
ou milímetros.
Elas também podem ser classificadas conforme a munição. Então, existem
armas em que a munição entra pela boca do cano. Na extremidade anterior do cano,
são introduzidos os projéteis. Essas armas ainda são utilizadas, principalmente no
meio rural, porque são de fácil fabricação caseira. Ao contrário, quando a munição
entra pela parte posterior do cano.
As armas podem ser classificadas conforme sua portabilidade, ou seja, como
podem ser transportadas. Teríamos, em primeiro lugar, as armas portáveis. Armas
portáveis são armas que facilmente podem ser levadas de um local para o outro. São
as principais armas que estão no nosso meio, e tem maior participação nos eventos
policiais (revólver, pistola, espingarda, metralhadora, escopeta, etc.). As armas não
portáveis seriam aquelas que necessitam de um meio de transporte para serem
levadas de um lugar para o outro. Aí temos o canhão, alguns tipos de metralhadora, a
bazuca.
Essa é uma visão geral da classificação das armas. Quanto à munição, aquilo
que contém todos os elementos da munição é chamado de cápsula ou estojo. Essa
cápsula normalmente é feita de uma liga metálica. Em alguns tipos de munição, como
o calibre 12, ela é feita de papelão.
Na parte posterior, existe a espoleta, feita de um material de nitrocelulose.
Quando o precursor bate na espoleta gera uma fagulha, fazendo com que a cápsula
entre em explosão. Essa parte interna do projétil é chamada de câmara. Dentro dela
temos um explosivo, e uma membrana que separa o projeto do explosivo, chamada de
bucha. Essa bucha é feita de uma película de plástico, ou até mesmo de papel.
Na frente, temos o projétil. Existem projéteis de várias características:
normalmente é feito de uma liga metálica contendo chumbo, por ter um peso
específico grande. Existem projéteis em que a parte chamada de ogiva é côncava,
tendo na ponta uma película um metal como o mercúrio. Esses projéteis são
chamados de projéteis de alta energia, pois quando batem no alvo eles se deformam.
Esse mercúrio é disseminado através do alvo, aumentando a capacidade lesiva do
projétil. Existem projéteis que são chanfrados, aumentando a capacidade lesiva.
Quando o projétil sai da arma, ele sai com um momento para frente, e girando no
próprio corpo, como se fosse uma furadeira.
Existem alguns tipos de munição que tem sua comercialização e fabricação
proibida, via tratados internacionais. Apesar de determinadas munições serem
expressamente proibidas, ou algumas de uso exclusivo dos militares, continuam
circulando ilegalmente. O explosivo, quando entra em combustão, aumenta
subitamente o seu volume. Produz-se uma força lá dentro que é transmitida para o
projétil, que sai da cápsula.
Quando um disparo de arma de fogo é efetuado, entra em cena o profissional
denominado técnico de balística. Eles trabalham no estudo de criminalística. Trata-se
de um pessoal extremamente especializado. O indivíduo precisa conhecer armas e
munições, bem como o efeito que elas produzem no alvo, normalmente um corpo
humano, que tem importância judicial-policial. Quando o disparo é efetuado, algumas
coisas tem que ser determinadas, que será objeto da análise pericial.
O que deve ser determinado? O perito falará da distância do disparo, qual foi a
distância que essa arma estava do alvo. Além disso, a direção desse disparo. O trajeto
e sua trajetória, que são coisas diferentes. Quem foi o autor do disparo. Identificar a
munição que foi utilizada. E por fim, identificar a arma.
O que sai da boca da arma quando um projétil é disparado? Evidentemente
que sai o projétil, mas saem outras coisas também: i) se é uma arma de fogo, sai uma
chama; ii) saem grânulos de pólvora, que não entraram em combustão; iii) sai
também fumaça ou fuligem; iv) saem gases e vapores; v) pode também sair resíduos
de bucha. Na maioria das vezes, ela se deteriora pelo calor, por ser uma película de
plástico/papel, então ela simplesmente desaparece.
Pela boca da arma, saem todos esses elementos. Eles formam uma figura
geométrica que parece um cone de base invertida. Isso tem uma denominação: cone
de deflagração. Ou seja, todos os elementos que saem da boca da arma quando um
disparo é efetuado.

3.1 Distância do disparo

Quando falamos da distância do disparo, temos outras características além do


efeito do projétil. Quando a distância é pequena, além do efeito do projétil, os
elementos que saem da boca da arma vão se somar na ferida de saída. Alguns
elementos do cone de deflagração podem não atingir o alvo, indicando se o disparo foi
a queima roupa ou não. Quando a arma está encostada, esses elementos fazem um
buraco característico. Quando temos “feridas limpas”, o disparo foi efetuado a certa
distância. Por outro lado, quando temos feridas escurecidas, o tiro foi feito a queima
roupa, ou encostado. Esse aspecto diz respeito aos elementos do cone de
deflagração, como a pólvora.
Aprendemos a classificar de modo genérico a distância do disparo. No entanto,
precisamos em alguns casos, saber a distância real do disparo. Supondo que dentro
do alvo ficaram dois projéteis, uma vez o projétil atingindo o ser humano, todos os
projéteis que estiverem no cadáver devem ser localizados e retirados.
Como se faz isso? Durante a necropsia: abre-se o cadáver e pela localização
da ferida de entrada, veremos as lesões internas que o projétil causou. Se por acaso
houver dificuldade em localiza-lo manualmente, se utiliza o raio x. Localizados os
projéteis, todos eles devem ser retirados, sendo encaminhados para a criminalística.
Lá o técnico de balística verificará todas as características que o projétil apresenta.
Existe uma tabela onde estão listados todos os tipos de munições. Identificada
a munição que foi utilizada, vai se fazer o seguinte: vai se pegar a arma suspeita e o
mesmo tipo de munição. O perito vai pegar essa arma, vai dar um tiro e vai ver qual é
o aspecto daquele desenha na cartolina. Se esse aspecto desse desenho coincidir
com a ferida de entrada que foi descrita no cadáver, ele determina a distância do
disparo. Ele vai dando disparos em distâncias sucessivas até que o desenho obtido
seja o mesmo daquele encontrado no cadáver. Isto é chamado de tiro de prova, ou
seja, disparos efetuados com a arma suspeita, com o mesmo tipo de munição.
Se mudar a arma suspeita ou o tipo de munição, o desenho mencionado irá
variar. Então, obrigatoriamente, temos que pegar a mesma arma suspeita e o mesmo
tipo de munição. Se variar um ou outro, a determinação da distância do disparo será
prejudicada.
Mas qual é a importância de se determinar a distância do disparo? Em
determinadas circunstâncias, pode existir uma simulação de causa jurídica de morte.
Em determinadas distâncias, é impossível que o indivíduo dê tiros em si mesmo. Essa
determinação é importante para a exclusão da causa jurídica de morte. Existem
distâncias em que é impossível que o indivíduo tenha atirado em si mesmo. Se houver
mais elementos envolvidos, a determinação da distância de disparo também pode
identificar qual foi o autor do disparo, caso existissem mais de um atirador em
distâncias diferentes.

3.2 Trajeto, trajetória e direção do disparo

O que é trajeto e o que é trajetória? Trajetória é o percurso do projétil até o


alvo. É o percurso da arma até o alvo. Trajeto, por sua vez, é o percurso do projétil
dentro do alvo. O trajeto pode ser aberto ou fechado. Um trajeto aberto é aquele que o
projétil transfixa o alvo. O fechado é aquele que o projétil fica dentro do alvo.
Se ele atravessou o alvo, teremos uma ferida de saída, onde encontraremos
um orifício, chamado de orifício de saída. Aqui não encontraremos escoriação nem
enxugo, porque a lesão foi feita de dentro para fora. E é lógico que também não
encontraremos aqui os elementos do cone de deflagração. O diâmetro será maior do
que na ferida de entrada.
Isso tudo diz respeito a uma munição normal. Se pensarmos em munições
especiais, o aspecto da ferida de saída pode variar. Existem munições especiais que
fazem um rombo na ferida de saída. Se eu pego o trajeto do projétil, e prolongar a
linha para fora, estarei determinando a direção do disparo. Qual é a direção do
disparo? Pode ser de frente para trás. Da direita para a esquerda, ou vice-e-versa.
Pode ser de cima para baixo ou debaixo para cima. Então, isso se chama de direção
do disparo. Como vou determinar o trajeto? Ou pela direção da ferida de entrada e
saída ou pela localização do projétil no cadáver em relação à ferida de entrada. Às
vezes, o projétil, dentro do trajeto, modifica a sua direção. Pode bater num osso, por
exemplo, e desviar o seu trajeto.
Qual é a importância médico-legal de se determinar a direção do disparo?
Pode me dar uma pista do autor do disparo. Mas além disso, a determinação da
direção, se foi feito pelas costas, a lesão pode ter sido provocada por meio insidioso
(traição), que qualifica o delito.

3.3 Arma suspeita

Identificada a munição, vai se pegar a arma suspeita e o mesmo tipo de


munição; assim, o perito dará tiros de prova. Quando o projétil passa pelo cano da
arma, existem características próprias no interior do cano da arma, como por exemplo,
características da fabricação da arma. Quando o projétil passa pelo cano da arma, ele
fica com um estriamento fino, que é como se fosse a impressão digital da arma.
O perito pegará a munição que foi retirada do cadáver, vai identificar o projétil
(ou os projéteis). Ele vai pegar a arma suspeita, e o mesmo tipo de munição, Ele dará
disparos em fardos de algodão para obter o projétil. Ele vai pegar o disparo que
conseguiu o projétil de prova, vai colocar num microscópio e vai colocar um do lado do
outro. Ele vai girando um dos projéteis para ver se esse estriamento fino coincide. Se
houver coincidência do estriamento fino, o perito identificou a arma.
A arma pode ser identifica não só pelo estriamento fino, mas também pela
marca na cápsula. O precursor, quando bate na cápsula, deixa uma marca nela. Então
a arma também pode ser identificada pelas características da marca do precursor na
cápsula. Isso quando esta é encontrada. A marca do extrator no corpo da cápsula
também pode identificar a arma.

3.4 Autor do disparo

Quando o indivíduo empunha uma arma e dispara, saem elementos do disparo


pela boca da arma, mas também pelo orifício do gatilho também saem elementos
resultantes da deflagração, que vão atingir a mão do atirador (principalmente os dedos
indicador e polegar).
A identificação do autor se dá com pesquisas com base em elementos
derivados do disparo, que são nitratos e nitritos. Buscam-se derivados de pólvora. Se
o teste de parafina for positivo, é porque existem elementos de pólvora. Mas este
exame foi derrubado pelos tribunais. Pessoas que nunca pegaram numa arma de fogo
podem fazer esse teste e dar positivo. Por exemplo, se o indivíduo for um fumante ou
um serralheiro, esse teste pode dar positivo, mesmo sem nunca ter empunhado uma
arma de fogo. Então, concluiu-se que esse teste não é adequado para identificação do
autor do disparo de uma arma de fogo.
Hoje, com outras tecnologias, podemos mencionar a microscopia de varredura
atômica. Pegam-se fitas adesivas, e da mesma forma, coloca-se na região da mão do
suspeito. As fitas vão captar se houver esses elementos. A fita sofre um tratamento
químico, indo para um microscópio especial. Pela microscopia de varredura atômica,
se forem encontrados os elementos, ele é infalível para demonstrar não
especificamente o autor do disparo, mas sim para dizer que o indivíduo disparou
alguma arma de fogo.

4. QUANTIFICAÇÃO DO DANO

O que é dano? Seria qualquer alteração anatômica, morfológica, histológica,


causada por um agente externo de forma violenta. Ao identificarmos o dano, podemos
identificar o seu agente causador, que estabeleceu o nexo de causalidade. Além disso,
precisamos quantificar o dano, ou seja, as consequências que este pode trazer ao
indivíduo a longo, médio e curto prazo. Quando se fala no CP, no art. 129, ele
classifica as lesões em leves, graves e gravíssimas. Ele traz determinados critérios
que balizam a quantificação do dano. A princípio, quando se lê os parágrafos do
artigo, temos impressão de que não há dificuldade na interpretação. Entretanto, a
quantificação do dano fica bastante à mercê do entendimento do perito.
A lesão de natureza leve é aquela que não se enquadra dentro dos critérios
das lesões graves e gravíssimas. Tratam-se de lesões que não tem uma gravidade
maior, seja de imediato, naquele momento em que é produzida, seja a sua evolução.
Ela não deixa nenhuma consequência grave para o indivíduo.

A lei 9.099 desobrigaria a realização do exame de corpo de delito. O objetivo


dessa lei foi dar mais celeridade aos processos judiciais, e também desafogar o
trabalho dos IML’s. No entanto os IML’s continuam a periciar as lesões de natureza
leve, pois a lei “não pegou”, ainda que estivessem desobrigados da realização, desde
que o exame de corpo de delito viesse a ser substituído por um atestado ou
declaração médica.

4.1 Quantificação do dano na esfera penal


4.1.1 Lesão corporal grave

As lesões de natureza grave (art. 129, §1º, CP) seriam aquelas que
causassem: incapacidade para ocupação, debilidade permanente de membro, perigo
de vida e aceleração do parto. No primeiro item, temos dois problemas: o primeiro é: o
que significa ocupação habitual? Ela é relativa a cada indivíduo, pois a ocupação
habitual para uma criança é brincar e ir para a escola. A ocupação habitual de um
jovem é trabalhar, estudar, sair. O trabalho é considerado de forma unânime como
sendo uma ocupação habitual. Ocupações que tenham características fúteis não são
consideradas ocupações habituais, tampouco ocupações que não sejam legais:
apontador do jogo do bicho.
O que é debilidade? É uma diminuição da capacidade, uma sequela. Esta
sequela deve ser permanente, ou seja, aquela lesão que apesar de ter sido curada,
deixou algum tipo de restrição. Ela pode afetar membro (braços e pernas), sentidos
(meio que nós nos comunicamos e percebemos o meio ambiente) e funções (modo de
funcionamento de um aparelho, este enquanto um conjunto de órgãos que executam a
mesma função).
Vamos supor que o indivíduo sofra uma fratura de cotovelo. Como é uma
fratura articular, ficou com uma debilidade permanente, no sentido de que não
consegue mais fazer a extensão até 180º.
Se um dos sentidos são afetados de modo parcial ou total, há uma debilidade:
perder a audição em um dos ouvidos, perder a visão em um dos olhos. Quando temos
órgãos duplos, que executam a mesma função, temos que avaliar o órgão
remanescente, para saber se ele foi afetado ou não. Se ele for afetado, o que seria a
princípio uma debilidade, pode constituir uma perda de sentido, e perda é critério de
lesão gravíssima, e não de lesão grave.
Um exemplo de debilidade de função: um indivíduo leva uma facada, e na
intervenção cirúrgica percebe-se que houve perfuração no intestino delgado. Esse
cara, daqui por diante, ficou com uma debilidade no aparelho digestivo. Na função
renal, por exemplo, temos dois rins. Se um foi perdido, e o outro está bom, trata-se de
uma debilidade. Se um já estava com problema, e o outro perdeu sua função, trata-se
de perda, que configura lesão gravíssima.
Quanto ao perigo de vida, aqui o legislador colocou esse critério sabiamente. O
que acontecia anteriormente? O indivíduo sofria uma lesão, e essa lesão colocava sua
saúde realmente em estado crítico, ameaçando a sua vida. Mas antes de 30 dias, sem
caracterizar nenhum desses critérios, o indivíduo se recupera, mas passou por uma
situação crítica. Sua lesão era considerada leve. Por exemplo: um indivíduo leva uma
pancada e fica com traumatismo craniano, perdendo a consciência. No 3º ou 4º dia
recuperava a consciência. A vida dessa pessoa ficou sob ameaça, então o legislador
colocou esse critério para corrigir esse tipo de distorção. Mas isso ainda fica a critério
do perito, acerca do conceito de perigo de vida, tratando-se de uma situação presente
ou que já ocorreu; nunca é uma situação futura, uma situação que possa ser prevista.
Como se comprova uma situação passada? Através de laudos, de documentos
médicos. Exemplos: estados de coma, choques de qualquer natureza (por hemorragia,
anafilático, insuficiência renal, infecção generalizada).
As pessoas fazem muita confusão quanto a aceleração de parto. É quando
ocorre uma antecipação do parto. Para caracterizar como critério de lesão grave, tem
que haver uma gestão corporal: uma gestante em qualquer fase de gestação, sofre
uma lesão corporal, e em virtude desta tem uma antecipação de seu parto. Deve
existir um nexo de causalidade entre a lesão corporal e a antecipação do parto. O
recém nascido nasce vivo e permanece vivo, não importando a idade gestacional. O
“macete” aqui é a vida.
A pergunta final que devemos fazer é: o recém nascido está vivo? Se está vivo,
trata-se de aceleração de parto. Agora, se ele morrer em virtude da prematuridade ou
das lesões que sofreu, deixa de ser aceleração de parto, e passa a ser aborto. E
aborto é critério de lesão gravíssima, e não critério de lesão grave. O perigo aqui da
interpretação é a questão da prematuridade e das lesões que o recém nascido sofreu.
O conceito médico legal de aborto é aplicado ao art. 129 do Código Penal, ou
seja, a interrupção da gestação, com morte do produto da concepção, em qualquer
fase que a gestação se encontre. Esse conceito se aplica tanto ao art. 129 como ao
art. 124 (que é o crime de aborto). Então, quando falamos no crime de lesão corporal,
não estamos falando no crime de aborto, porque aqui usamos o seu conceito médico
legal para ser aplicado no art. 129, na lesão corporal gravíssima. Existe um conceito
“guarda chuva”, utilizado para tipificar crimes distintos.
Uma mulher gestante, por exemplo, sofre uma lesão corporal, e antecipa seu
parto. Nasce um recém nato vivo, mas anencéfalo; 72h depois, ele morre. Do que
estamos tratando aqui? Qual o conceito de vida, segundo o Código Civil? Trata-se de
um paradigma antigo, pois um ser pode estar respirando, mas isto não é essencial,
porque o que manda é a circulação. Se há circulação está vivo, caso contrário está
morto. Mas esse paradigma também caiu, pois o que interessa é o sistema nervoso
central: a vida está baseada nisso, quando houver atividade cerebral. Se estamos
falando de um anencéfalo, que não tem sistema nervoso central, então ele não tem
vida.

4.1.2 Lesão corporal gravíssima

Existem cinco critérios para a configuração da lesão corporal gravíssima.


Quanto à incapacidade permanente para o trabalho, a lesão deixou determinadas
sequelas no indivíduo de modo que elas venham a prejudicar o indivíduo de forma
permanente. Como se fala em trabalho, considera-se o trabalho genericamente, ou
seja, o indivíduo deve ficar incapacitado para exercer todo e qualquer tipo de trabalho.
Se um cirurgião sofresse uma lesão na mão que impedisse de exercer sua profissão.
Sob o ponto de vista do Direito Penal, se ele estiver apto para desempenhar outro tipo
de trabalho, o indivíduo não é considerado inválido, pois o que interessa é o trabalho
genérico. O trabalho específico do indivíduo nos interessa no âmbito cível ou
trabalhista, tendo em vista a personificação do dano.
Na sequência, a perda ou inutilização de um membro, sentido ou função indica
situações em que o indivíduo perde um sentido, ou ainda, quando há amputação de
um membro. Quanto à deformidade permanente, inclui-se o dano estético. O que seria
uma deformidade permanente? O indivíduo que sofre uma lesão grave na perna e por
ventura fique com uma perna mais curta do que a outra: isto é uma deformidade
permanente. Ela deve ser visível, assim como o dano estético. Como no Direito Penal
não existe distinção entre os indivíduos, tratando-os igualmente (sério mesmo isso?
Hahaha ok então), não importa que o indivíduo seja novo, velho, bonito ou feio. Para
caracterizar o dano estético, basta que ele seja, segundo os costumes daquela
sociedade, visível, que ele realmente altere a estética habitual do indivíduo. Então,
vamos supor, uma cicatriz. Na valoração desse dano, entram questões muito
subjetivas, ficando a sua quantificação segundo os critérios do perito.
Quanto à enfermidade incurável, o legislador usou um termo que o indivíduo
adquiriu uma patologia, que causou um dano à sua saúde como um todo. Enfermidade
é um estado de saúde tal que o indivíduo goza com um relativo bem-estar de saúde.
Um exemplo disso seria o cego. Se a causa da sua cegueira for irreversível, este cego
não pode ser considerado totalmente saudável, mas goza de um relativo bem-estar de
saúde. Nos dias atuais, a interpretação disso tem avançado: seria considerada uma
enfermidade um indivíduo que adquira uma doença infecto contagiosa, como HIV ou
hepatite C.
O último item diz respeito ao aborto. Na aceleração de parto, dissemos que se
uma gestante sofreu uma lesão corporal e em virtude dessa lesão teve seu parto
antecipado, em qualquer fase da gestação, caracteriza-se a situação de aceleração de
parto se o recém nato nasce vivo. Por outro lado, se este nasce morto ou morre em
virtude das lesões ou prematuridade, caracteriza-se o aborto. O crime de aborto está
caracterizado no art. 124 do Código Penal. Aqui falamos de aborto no sentido
conceitual médico-legal, e não no crime propriamente dito. O conceito médico legal
serve para caracterizar tanto o art. 129 do Código Penal (referente às lesões
corporais) como o art. 124 (referente ao tipo penal do aborto).

4.1.3 Lesão corporal seguida de morte

Para que fique caracterizada a lesão corporal seguida de morte, o autor não
pode ter tido a intenção de matar a vítima. Como a medicina legal vai auxiliar o direito
nessa questão? A medicina legal vai auxiliar no sentido de descrever as lesões: o seu
número, a sua localização, a sua gravidade.
Vamos supor uma seguinte situação: um policial de 15 anos de carreira. Esse
policial, nas competições de tiro ao alvo, sempre se sobressaiu. Num determinado dia,
vai abordar um suspeito, este reage, ele (policial) saca sua arma e desfere um disparo
numa distância de uns 5m. Este projétil penetra na região da virilha da vítima, e
perfura uma artéria. Este indivíduo acaba morrendo por hemorragia.
O que nós temos? Um policial experiente em curta distância, um só disparo,
uma só lesão num local que não é um local vital. Fica caracterizado que este policial
não queria provocar a morte do indivíduo, tendo em vista o número de lesões, bem
como a localização desta. Aqui teríamos uma lesão corporal seguida de morte. No
entanto, nenhum perito insere isto no laudo, pois não cabe ao perito fazer esse tipo de
afirmação.

4.2 Quantificação do dano na esfera cível

No direito cível, o dano tem que ser personalizado. Aqui, diferente do direito
penal, cada indivíduo tem as suas particularidades, de forma que uma vez o dano
sofrido, ele pode atingir o indivíduo de forma diferente em seus interesses. Isto vai se
traduzir numa indenização. Este quantum indenizatório tem que ser proporcional ao
quantum do dano. Se no direito penal existem determinados critérios para balizar a
quantificação do dano, no direito cível não existe isso. Sendo assim, a quantificação
vai depender da qualidade do perito. Se não há padronização, imaginem a
possibilidade de discussão e de conflito entre as partes a respeito da quantificação
desse dano. Tudo acaba ficando a critério do perito. A qualidade do laudo pericial vai
depender da qualidade do perito: quanto mais detalhista for, e quanto mais critérios
tiver para avaliar o dano, melhor será o laudo pericial, e mais exata será a
proporcionalidade entre dano e indenização. Os critérios utilizados pelo perito devem
estar bem claros para o juiz.
Outro ponto avaliado é a capacidade laboral do indivíduo. Mas diferente do
direito penal, aqui leva-se em conta a profissão do indivíduo, o trabalho específico, e
não o trabalho genérico.
A dor também é avaliada: o indivíduo terá maior ou menor sofrimento físico e
mental, a depender do dano que sofre. Se ele fica por longo tempo dependendo do
socorro de terceiros para poder realizar atividades do cotidiano (locomover-se, tomar
banho, vestir-se). Ou ainda, tenha que fazer fisioterapia durante muito tempo, uso de
muleta, cadeira de rodas. Aqui devemos levar em conta não só o sofrimento físico,
mas também psíquico pois o dano traz angústia, medo para o indivíduo.

4.3 Quantificação do dano na esfera trabalhista

No direito do trabalho, o indivíduo, sofrendo um acidente, vai pleitear uma


indenização. Aqui, o principal requisito avaliado é a capacidade laboral: se ela foi
comprometida e o quanto foi comprometida. A redução da capacidade laboral do
indivíduo também não tem parâmetros, ficando à mercê do perito. Modernamente,
muitos peritos adotam o uso de tabelas. Acontece que algumas tabelas são
conflitantes entre si, não sendo unânimes entre os peritos. É preferível caracterizar as
limitações do indivíduo, bem como avaliar o histórico profissional dele, a sua
colocação no mercado de trabalho, as atividades que ele não pode mais realizar. Não
se trata somente da redução física que compromete a capacidade laboral, pois
existem outros fatores que podem ser considerados. Num dano sofrido por acidente de
trabalho, não é só a capacidade laboral que deve ser avaliada. Tudo aquilo que
avaliamos no direito cível também deve ser considerado, de modo a quantificar as
repercussões do acidente na vida do indivíduo, considerando o indivíduo não apenas
enquanto trabalhador.
Os critérios de avaliação de incapacidade da previdência social diferem
daqueles do âmbito trabalhista, de forma que não é porque ele é considerado inválido
pela previdência social que será considerado inválido segundo os critérios trabalhistas.
Por que acontece isso? A previdência social, quando se fala em acidente de trabalho,
existe um programa de readaptação do indivíduo, colocando-o em outra função. Como
os programas são muito superficiais, não alcançam a maioria das profissões, de modo
que este indivíduo, se não for alcançado por esses programas de readaptação, é
considerado inválido para o trabalho. Como existem princípios e realidades diferentes,
não se podem transportar determinadas conclusões de um ramo do direito para o
outro, quando falamos em perícia médica.

5. ASFIXIOLOGIA FORENSE

Tudo aquilo que acontece na célula ocorre no conjunto do ser humano, do


ponto de vista clínico. Aquelas que são mais sensíveis à falta de oxigênio são as
células do sistema nervoso central. Daí porque a falta de oxigênio a tal ponto pode
levar àquilo que denominamos de morte cerebral.
As asfixias são reflexo clínico de uma parada do processo respiratório, que é
dependente de uma série de fatores. Onde efetivamente acontece a respiração? Ela
acontece no alvéolo, que é parte do pulmão. Quando o oxigênio chega no alvéolo, e o
sangue, carregado de CO2 pelas hemácias, o CO2 é trocado pelo oxigênio. Esta é a
respiração.
Para que este processo ocorra, muitas coisas devem estar funcionando: em
primeiro lugar, o meio onde o indivíduo se encontra deve ser adequado, ou seja, com
uma concentração de oxigênio adequada (entre 18% e 20%). Além disso, devemos ter
permeabilidade nas vias externas (nariz e boca). Se eles não estiverem abertos, não
entrará o ar oxigenado. Também devem estar permeáveis as vias respiratórias
internas. Para que o pulmão seja expandido e contraído, a caixa toráxica precisa de
um mecanismo. Então, os músculos respiratórios fazem com que a expansão e a
contração sejam possíveis. Se eu tiver algo que impeça que isto ocorra, o ar não
entrará. O coração deve estar funcionando para jogar sangue venoso (rico em CO2)
nos pulmões. Se não houver circulação, não haverá respiração. Mas este sangue que
aqui passa deve ter hemácias suficientes para carregar oxigênio. Se a quantidade de
hemácias for baixa, a respiração não será eficiente. Além de hemácias, temos que ter
hemoglobina, pois é a proteína que se liga ao oxigênio e ao gás carbônico. Percebe-se
portanto, que há uma necessidade de que várias coisas estejam funcionando para que
a respiração venha a ocorrer.

As asfixias podem ser classificadas, e a classificação mais didática é aquela


defendida por Tadinot. Segundo este autor, teríamos: 1) a asfixia por obstrução de
vias aéreas externas. Aqui teríamos a sufocação. 2) asfixia mecânica por obstrução
das vias aéreas internas. Aqui, teríamos a engasgadura. 3) asfixia mecânica por
constrição do pescoço. Aqui, teríamos o enforcamento, o estrangulamento e a
esganadura. 4) asfixia mecânica por impedimento de movimentos respiratórios. Aqui, a
caixa toráxica não é expandida nem contraída. A fratura dos ossos da caixa toráxica
vai fazer com que o indivíduo perca a capacidade de expansão do tórax. 5) asfixia
mecânica por mudança do meio. O local onde o indivíduo está não reúne condições
adequadas para que ocorra a respiração. Aqui, haveria a presença de pouco oxigênio,
ou de partículas sólidas (soterramento), ou de partículas líquidas (afogamento).
As asfixias são consideradas um meio cruel e insidioso de se produzir a morte
ou uma lesão em alguém. Se o indivíduo sofre asfixia, não quer dizer que ele vá
morrer, pode ficar com sequelas. As asfixias mecânicas, por isso, são consideradas
uma agravante de delito. Quando a morte ou lesão de alguém é produzida por asfixia
mecânica, estará configurada uma agravante do crime. A esganadura é a constrição
do pescoço por membros do agente. Se o indivíduo vai pela frente do agente, deve
haver uma superioridade de força do agente em relação à vítima. Se esta for de uma
condição física igual ou superior, ela estará com as duas mãos livres. Então, a asfixia
por esganadura é caracterizada pela superioridade de forças do agente sobre a vítima.
Por esses motivos que são consideradas agravantes de crimes. Importante dizer que
fogo e explosivo também são considerados meios cruéis.
Quando se suspeita que a morte ou lesão ocorreu por asfixia, devemos nos
perguntar: primeiro, se houve asfixia, e segundo, qual o meio utilizado (de acordo com
a classificação que analisamos). Este diagnóstico nem sempre é fácil de ser feito.
Vejam o caso da Isabela Nardoni. Até hoje está em questionamento se a morte
ocorreu por asfixia, e qual foi o meio utilizado. Então, como o diagnóstico não é fácil de
ser feito. Muitas vezes, os meios de asfixia são utilizados para simular uma causa
jurídica de morte, como no caso do jornalista Vladimir Herzog, em que houve tentativa
de simulação de morte mediante enforcamento, configurando suicídio. Para responder
as referidas perguntas, são utilizados o que chamamos de sinais gerais de asfixia.
Temos também os específicos: cada um dos meios de asfixia imprime a vítima de
determinados sinais. Por exemplo, no enforcamento, vou encontrar um laço no
pescoço da vítima, sendo que esse laço deixa uma cavidade no pescoço. No
afogamento, encontraremos líquido nos pulmões. Então, cada um dos meios de asfixia
tem sinais específicos.

5.1 Asfixia por obstrução de vias aéreas externas

a) Sufocação

Ela pode ocorrer pela aplicação da mão do agente sobre o nariz e a boca da
vítima. Normalmente, o agente vem pelas costas (aqui temos a traição) e quando vem
pela frente temos a questão da superioridade de forças. Isto ocorre frequentemente
em crimes sexuais. Enquanto sinais específicos, podemos encontrar escoriações
produzidas na face, lesões internas na mucosa bucal (produzidas pelos dentes da
própria vítima). Pode ocorrer por colocação de objeto moldável (toalha, travesseiro,
fronha). Que sinal encontraríamos? As pregas do tecido, por exemplo. Nesta
circunstância o que é mais frequente são acidentes com recém natos, crime de
infanticídio e o homicídio. Temos também o encapuçamento: colocar um saco plástico
na cabeça do indivíduo. Aqui, a ocorrência mais frequente é o homicídio.

5.2 Asfixia mecânica por obstrução das vias aéreas internas

a) Engasgadura

Na engasgadura, em alguma parte do trajeto até os pulmões, há uma


obstrução das vias aéreas internas. O sinal mais característico é encontrar o objeto
que causou a obstrução, que geralmente se encontra na região da glote da pessoa.
Então, o mais frequente aqui são os acidentes, como a criança colocando objetos na
boca, ou a pessoa que se engasga com comida.

5.3 Asfixia mecânica por impedimento de movimentos respiratórios

Na asfixia por impedimento de movimentos respiratórios, atrás temos a coluna


vertebral, e na frente temos o osso chamado de externo, e todo o arcabouço ósseo
chamado de costelas. Os músculos intercostais, peitoral maior e peitoral menor, o
diafragma são responsáveis pelo funcionamento da fole toráxica. Em situações em
que o tórax não possa se expandir, a respiração não vai ocorrer. Isto pode ocorrer na
descarga elétrica (em que o indivíduo é impedido de fazer os movimentos
respiratórios), no “abraço de urso”, em tumultos (pânico na multidão, em que as
pessoas podem ser pisoteadas).

5.4 Asfixia mecânica por mudança de meio

a) Ausência de oxigênio/presença de outros gases

Quando o meio tem um percentual inferior de oxigênio (18-20%), temos a


presença de outro gás. Isto geralmente ocorre em espaços confinados (como a
criança que é esquecida dentro de um veículo fechado). O CO é um gás inodoro e
incolor. É produzido pela combustão de combustíveis fósseis. Na época do inverno, é
muito comum acidentes com aquecedores à gás. Este gás produz uma sensação de
sonolência no indivíduo, como se fosse uma embriaguez. O indivíduo perde a
consciência, entrando em estado de coma e morte. Isso ocorre muito em acidentes
domésticos, ou acidentes de trabalho, de intoxicação por gases. Até meados da
década de 80, era comum o suicídio por monóxido de carbono.

b) Soterramento
Quanto às partículas sólidas (soterramento), estas não serão obrigatoriamente
terra. O que vamos encontrar de sinais? O mais característico é encontrar nas vias
respiratórias do indivíduo as partículas sólidas. Os eventos mais frequentes são nos
acidentes de trabalho, além das situações de desabamento e catástrofes naturais.

c) Afogamento

Quando as partículas são gasosas ou líquidas, temos o afogamento. Aqui, o


mais frequente são acidentes de lazer, não esquecendo aqui naufrágios de meios de
transporte.

5.5 Asfixia mecânica por constrição do pescoço

5.5.1 Modalidades

a) Enforcamento

Todas as modalidades têm em comum a constrição do pescoço. O


enforcamento e o estrangulamento tem em comum a presença do laço. É a constrição
do pescoço por um laço, e o que aciona o laço é a força exercida pelo próprio peso do
indivíduo.
Onde o laço está fixo é determinado de ponto fixo. Temos a parte reta (ou
haste), que é a parte do laço que suspende o indivíduo. Na confluência, temos o nó.
Vejam, o laço do enforcamento pode ou não ter nó. Este nó pode ser fixo ou corrediço.
O que abraça o pescoço é a alça. Quando não tem nó, o indivíduo deve dar duas
laçadas no pescoço, e aí encontraremos dois sulcos paralelos.
O enforcamento pode ser completo (quando o corpo fica totalmente suspenso
no ar) ou incompleto (quando o corpo fica parcialmente apoiado numa superfície). O
enforcamento também pode ser classificado como simétrico (o nó se encontra ou na
região do queixo ou na região da nuca), ou assimétrico (quando o nó se encontra em
qualquer outra posição).
No enforcamento, o mais frequente é o suicídio. É comum também tentativa de
simulação de enforcamento.

b) Estrangulamento

Trata-se da constrição do pescoço por laço, sendo que o que o aciona são
forças agindo em sentidos opostos. Aqui, a causa mais frequente são acidentes,
principalmente acidentes de trabalho. Também são frequentes aqui os homicídios,
sendo que o comum é que o indivíduo venha pelas costas, configurando a agravante
da traição. Normalmente onde cruza o laço indica a posição do agente em relação à
vítima. Além dos acidentes e do homicídio, temos o infanticídio, ou seja, a mãe
estrangulando o filho com o próprio cordão umbilical.

c) Esganadura
É a constrição do pescoço por membros do agente, entendendo-se como
membros a mão, o braço (membros superiores), assim como os membros inferiores
(como uma chave de perna). Aqui, evidentemente, temos o homicídio, especialmente
em crimes de conotação sexual. Para minar a resistência da vítima, faz a constrição
do pescoço. E aqui também temos traição, pois o agente vem pelas costas, a não ser
que haja uma superioridade de forças grande entre agente e vítima.

5.5.2 O laço nas asfixias por constrição de pescoço

Quando se fala em laço, eles têm em comum a constrição do pescoço. Esse


laço, fazendo pressão sob o pescoço, deixa um sinal característico, que é o sulco. É a
depressão que acontece pela ação da força sobre as estruturas do pescoço. Vamos
encontrar essa depressão de uma cor pálida, como se fosse cor de pergaminho. E
essas alterações do sulco vamos observar também nas estruturas profundas do
pescoço.
O sulco é extremamente importante, é ele que permite dizer se se trata de
enforcamento ou estrangulamento. Ele também dá a possibilidade de verificar se
houve tentativa de simulação de causa jurídica de morte. Se pegarmos um fio, e
apertarmos o dedo, ao retirar esse fio, verificamos o sulco. Essa marca depende, na
sua aparência, do material que é feito do laço.
Então, podemos classificar o material desse laço como rígido (arame, fio de
condução elétrica, determinados tipos de corda, esse tipo de material deixa no
pescoço um sulco bastante profundo e visível, podendo inclusive produzir feridas
cortantes), semi-rígido (cinta, gravata, materiais intermediários) e mole (lençol, toalha,
sendo que o sulco pode ser superficial, quase não aparente, ou ainda inexistente).
Importante dizer que isso se aplica tanto no enforcamento como no estrangulamento.

5.5.3 Quadro comparativo: aspectos do sulco no enforcamento e no estrangulamento

Podemos comparar o aspecto do sulco no enforcamento e no estrangulamento:


A altura do sulco no enforcamento: o laço se desliza no pescoço e vai até o queixo,
sendo que o suco é alto. Enquanto que no estrangulamento, esse sulco é baixo.
Quanto ao sentido do sulco, ele é oblíquo no enforcamento e horizontal no
estrangulamento. Em relação à continuidade, no enforcamento é descontínuo (existem
áreas no pescoço em que o laço não atinge o pescoço, não havendo sulco). No
estrangulamento, ele é contínuo, pois se dá em toda a circunferência do pescoço.
Quanto à profundidade, no enforcamento a profundidade maior do suco se dá
na região oposta ao nó, e na medida em que se aproxima do nó, o laço vai se
tornando superficial até que ele inexista. Então, a profundidade é desigual, enquanto
no estrangulamento ela é uniforme. Esse quadro comparativo entre as duas
modalidades é fundamental.

5.5.4 Morte do indivíduo

Nas três modalidades como ocorre a morte do indivíduo? Evidentemente que a


asfixia está presente. Comprimido o pescoço, há o fechamento da traqueia, de modo
que não passe ar. Mas existem outros mecanismos envolvidos: não é só a asfixia, pois
existe o mecanismo vascular. Este laço comprime os vasos sanguíneos que transitam
pelo pescoço (artérias carótidas e para vertebrais, que irrigam o cérebro com sague
renovado). Se a irrigação do cérebro para, essas células vão sofrer, o sistema nervoso
entra em colapso. Existe o mecanismo circulatório, e se este não funciona ocorrerá a
fibrilação cardíaca. A fratura de coluna cervical raramente acontece; quando ela
acontece, ela lesa os centros respiratórios que existe no bulbo, região de transição
entre o encéfalo e a medula espinhal.

6. TOXICOLOGIA

Toxicologia é o estudo dos agentes químicos. Qualquer substância pode ser


um veneno, sendo considerado de acordo com a quantidade, levando a um estado de
intoxicação. As substâncias se disseminam até a célula alvo e produz um efeito, que
pode ser agudo, subagudo ou crônico. Este efeito é diretamente proporcional à dose,
de modo que existe a dose inócua, terapêutica e letal.
Hoje vamos falar sobre as toxiconomias. Em primeiro lugar, é preciso que se
diferencie o que é psicotrópico de entorpecente. Psico (mente) + tropismo (afinidade),
então tratam-se de substâncias que têm efeito sobre o sistema nervoso central. Elas
podem ativar esse sistema, estimulando-o, podem inibir o seu funcionamento, ou
ainda causar um distúrbio de percepção, que se traduz numa alteração da
personalidade (por isso essas drogas são chamadas de despersonalizantes). Os
entorpecentes são drogas que assim a lei os define. A Lei nº 11.343/06 determina as
drogas consideradas como tal, sendo que algumas delas não podem ser
comercializadas. Importante dizer que não é todo o entorpecente que é ilegal; a
morfina, por exemplo, é legal, utilizada como analgésico. Conforme já dissemos, não
se pode confundir entorpecente com psicotrópico. Existem, sim, muitas substâncias
psicotrópicas que são consideradas entorpecentes. Assim como existem substâncias
que não são psicotrópicas, mas são entorpecentes (benzoato de metila,
hidrocarboneto aromático, o “lança perfume”). O álcool, por sua vez, é um
psicotrópico, mas não um entorpecente. A cocaína, por exemplo, é tanto um
psicotrópico como um entorpecente.

6.1 Classificação

Os psicotrópicos podem ser classificados em psicolépticos, psicoamalépticos e


pcisodiscépticos. Quanto ao primeiro grupo, tratam-se de drogas que deprimem o
sistema nervoso central, diminuindo a sua atividade (exemplo: ansiolíticos, hipnóticos).
O segundo grupo estimula o sistema nervoso central (exemplo: anfetaminas, anti-
depressivos). O terceiro grupo são as drogas despersonalizantes, pois alteram a
personalidade do indivíduo, causando euforia, alucinação (o estímulo existe, só que
percebemos o estímulo de forma errada) e delírio (é um produto da mente do
indivíduo, pois o estímulo não existe). A droga de maior poder alucinógeno é o LSD.
Aqui também está o álcool, a maconha, a cocaína, a heroína.

6.2 Toxicomania

O que é uma toxicomania? É a relação do indivíduo com uma substância


química, e essa relação é nociva a ele e à sociedade. Existem critérios para se
classificar, para que se diga que existe essa relação. Esses critérios são:
dependência, tolerância, relação do indivíduo com a substância e os meios de obtê-la.
Eles vão dizer se o indivíduo tem essa relação com a substância química.
O que é dependência? É uma sensação que o indivíduo tem de ter contato
permanente ou periódico com uma substância química. E esta dependência o leva a
uma intoxicação periódica ou crônica. Quando se fala em dependência, existem dois
tipos: física e psíquica, vai depender das manifestações clínicas que a substância
produz no indivíduo.
A dependência física desencadeia no indivíduo manifestações físicas. Quando
ele está privado do uso da substância, pode ter aceleração do coração (taquicardia),
sudorese, hipertensão arterial, aumento da frequência respiratória, agitação motora.

Por outro lado, a dependência psíquica é quando o indivíduo, privado da


substância, começa a ter manifestações psíquicas, como angústia, melancolia,
depressão, ansiedade. Por exemplo, depois do uso de cocaína, sobrevém um quadro
depressivo, que faz com que o indivíduo busque novamente o contato com a
substância para que o livre dessa sensação de depressão.
O que é tolerância? Significa que o indivíduo vai tendo contato com a
substância, e vai tendo uma resistência a substância, de modo que para que obtenha
o mesmo efeito do que antes, vai gradativamente aumentando a dose dessa
substância. Isso faz com que muitas vezes o indivíduo morra de overdose. Se ele
adquirir uma tolerância tal a substância, pode chegar um momento que ele chegue à
dose letal da substância.
Quanto aos meios para obter a droga, o indivíduo começa depredando o
próprio patrimônio, e pode seguir a pequenos furtos, ou ainda descontar a sua
frustração por não conseguir a droga cometendo um homicídio. A relação do indivíduo
com a substância é tão intensa que faz de tudo para entrar em contato com ela.

6.3 Exame toxicológico

O exame toxicológico consiste: i) no histórico (os prolegômenos, aquilo que


ocorreu antes do fato). O histórico tem importância, pois é parte do exame
toxicológico. É tão importante que os juízes valorizam o teor do histórico em casos de
embriaguez. Como ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo (exame de
sangue e bafômetro). Assim, a prova testemunhal tem sido bastante valorizada nos
tribunais.
Outro ponto fundamental: ii) exame clínico. Aqui está o grande “calcanhar de
Aquiles”, pois interessa saber qual era o efeito da substância naquele indivíduo, no
momento em que ele se envolveu num determinado fato, num determinado delito. No
início da vida alcoólica, você bebe pouco. Mas no decorrer do tempo, por exemplo,
duas latas de cerveja não produzem efeito nenhum, pois a pessoa torna-se resistente.
O efeito da substância química em uma pessoa pode ser mais intenso do que na
outra, e para isso existe o exame clínico, para ver qual é o efeito e as manifestações
da substâncias na pessoa. Cada um reage de forma diferente quanto a mesma
substância e a mesma dosagem. Apesar de ser fundamental, o exame não é
realizado. Tecnicamente, não se fala de exame toxicológico sem exame clínico.
Temos, ainda o: iii) exame laboratorial. Ele tem duas finalidades: primeiro, é
qualitativo (ver se existe alguma substância no material que está sendo analisado, que
pode ser sangue, urina, ar respirado, até saliva), e segundo, quantitativo (quer saber
qual a concentração da substância no organismo).
A quarta fase só se faz em cadáver: iv) é o exame anatomo patológico.
Retiram-se pedaços do órgão do indivíduo para realização do exame. Basicamente, o
exame toxicológico envolve esses quatro elementos. Toda vez que se colhe material
para realizar esse exame, deve-se coletar material suficiente para realização de
exame de contraprova. O que significa isso? Existem falsos positivos e falsos
negativos em qualquer técnica laboratorial. Então, existem possíveis falhas, tanto na
identificação como na dosagem. Para isso existe o que se chama de contraprova, que
é um exame feito para tirar a dúvida do primeiro exame, devendo utilizar uma técnica
distinta daquela utilizada no primeiro.

6.4 Substâncias que causam estado de embriaguez

O álcool etílico é uma substância que está em várias bebidas. É uma das
substâncias mais consumidas no mundo. Está associada a questões de segurança e
de saúde pública. Então, existe uma questão médico legal bastante importante. Por
que o álcool etílico é uma substância perigosa? Sob o ponto de vista médico legal, é
uma droga despersonalizante, alterando a personalidade. Em relação à condução de
veículos automotores, estamos falando da associação dos efeitos neurológicos aos
efeitos psíquicos.
No caso de um indivíduo que se despersonaliza na condução do automóvel, o
álcool deprime as ações do sistema nervoso central. Isso tem uma série de
consequências: i) diminuição dos reflexos (tempo que leva de reação do indivíduo, ao
perceber o estímulo e reagir a ele); ii) altera a coordenação motora; iii) alteração de
consciência (diminui a capacidade de atenção e concentração das pessoas).
O álcool é uma substância que gera dependência física e psíquica. Nesta
questão, temos aqui também o aumento progressivo da dose, e da relação do
indivíduo com a substância. Então, o indivíduo se torna dependente físico e psíquico
da substância, torna-se tolerante às doses, e faz qualquer coisa para conseguir ter
acesso a ela. Desse modo, isso preenche aqueles quesitos de toxicomania, que vimos
anteriormente.
Qual é o conceito de dependência? Fica caracterizado quando você, para se
sentir mais à vontade, para obter um determinado efeito, procura a substância
química. É o que acontece quando chegamos em uma festa: você se sente um peixe
fora da água se você não estiver consumindo bebida alcoólica. Isto faz entender que
de uma certa forma todos nós somos um pouco dependentes de substâncias
químicas.
Os chineses dividem as formas de intoxicação em algumas fases: fase do
macaco (da alegria, da descontração), fase do leão (despersonalização mais evidente
acompanhada de questões neurológicas) e fase do porco (onde há um
comprometimento importante do nível de inconsciência do indivíduo, que já está
cambaleando).
O organismo tem uma capacidade limitada de se ver livre das substâncias
químicas. A mesma coisa acontece com o álcool. É limitada, mas é uma substância
que tem fácil metabolização (tem uma composição pouco complexa), desde que o
indivíduo tenha seu fígado e seu rim em pleno funcionamento. Não é o caso de um
cara que tenha uma cirrose, por exemplo.
Sob o ponto de vista de dosagem do álcool, ela pode ser feita de duas
maneiras: pelo sangue e pelo ar respirado. Sob o ponto de vista médico legal, qual o
grande problema do diagnóstico de embriaguez pelo ar respirado? São as questões
envolvendo a contraprova, pois o teste o bafômetro não possibilita a realização de
contraprova. Sendo assim, esse teste se torna vulnerável juridicamente para o
diagnóstico de embriaguez. O teste sanguíneo é muito mais preciso, permitindo a
realização de exame de contraprova.
Sob o ponto de vista médico, quais são as consequências do uso do álcool? A
dependência química e a questão das doenças físicas e mentais: psicose alcoólica
(nem todo alcoólatra desenvolve essa psicose). Em grandes doses, o álcool chega a
ser neuro tóxico. Temos também aqui o problema da condução de veículos
automotores, as questões policiais envolvidas com substâncias químicas (grande
número de casos de homicídios e lesões corporais).
Quanto ao efeito das substâncias químicas em geral, toda a questão de
toxicomania em relação à responsabilidade penal do indivíduo está ligada ao grau de
dependência. Quem é que vai aferir isso? É a perícia psiquiátrica. Isso em relação a
toda a toxicomania, seja por álcool, crack, cocaína. O indivíduo que for considerado
grave toxicômano é considerado como inimputável. Aquele considerado leve é
imputável. E aquele que for moderado é semi-imputável. Sendo uma doença, ela se
enquadra dentro do raciocínio de todas as doenças de origem mental. Isto quer dizer
que a responsabilidade penal de um indivíduo que seja portador de uma doença
mental, ela é dependente de uma perícia psiquiátrica. Onde o perito vai tentar
responder a uma pergunta: o indivíduo tem capacidade de entender e compreender o
caráter delituoso de seus atos? E agora vem o seguinte: e comportar-se conforme este
entendimento? Então, toda a doença mental tem como base, no que diz respeito à
responsabilidade penal, a avaliação do indivíduo, sob esse aspecto. Se mesmo o
indivíduo portador de qualquer doença mental (inclusive uma dependência química,
seja qual for), a resposta a essa pergunta deve ser dada.
Quando se fala de embriaguez (não é só o álcool que causa estado de
embriaguez, mas todas as outras substâncias depressoras do sistema nervoso
central), ela pode ser aguda (indivíduo que não é considerado dependente químico,
mas consumiu grande quantidade de álcool, se intoxicando) ou crônica
(constantemente o indivíduo está sob o efeito de bebida alcoólica). Assim, o
Código Penal tem dois termos: embriaguez completa (quando o indivíduo se encontra
totalmente sob o efeito de bebida alcoólica, sofrendo todas as consequências
neurológicas e psicológicas) embriaguez incompleta (estado em que o indivíduo está
parcialmente comprometido).
Vejam a dificuldade de aferir isso com as práticas atuais: porque para constatar
isso, pois devo saber isso não só pelo exame laboratorial, mas também pelo exame
físico do consumo da bebida. Aí conseguiria dizer se a embriaguez é completa ou
incompleta. Como não se pode realizar o exame clínico, isso se faz unicamente por
exame laboratorial. Então, existe uma tabela onde se classifica a embriaguez
conforme os níveis de álcool. Dependemos, para esse diagnóstico dos dados
laboratoriais.
No caso do indivíduo que se encontra no estado de embriaguez, temos que ver
qual for a causa. Se for caracterizado por caso fortuito ou força maior (quando a
vontade é vencida), há que ter uma interpretação diferente na aplicação da lei. Nestes
casos, o indivíduo é considerado inimputável. Quando for embriaguez incompleta por
caso fortuito ou força maior, o indivíduo é semi-inimputável. Se não for caracterizado
esse aspecto, responderá por seus atos.
O que é a embriaguez patológica? É o indivíduo que tem contato com o álcool
etílico numa dose muito pequena, mas produz-se uma alteração substancial a nível de
comportamento. Existem formas clínicas dessa embriaguez, descrito com bastante
amplitude. Por exemplo, pessoas que se tornam extremamente agressivas, ou
depressivas.
7. SEXOLOGIA FORENSE

7.1 Infanticídio

Para que se esse crime se configure, é preciso que se prove que existia vida.
Basicamente, quando se fala em vida, o paradigma antigo era o da respiração. Mas
sabemos que o critério de vida, hoje, é o circulatório, porque pode o feto nascer vivo, e
antes que respire, receba alguma ação materna. Quando o tórax se desprende do
organismo materno, há a primeira respiração. As primeiras provas são chamadas de
provas respiratórias. Existem fenômenos que só acontecem no indivíduo vivo. São
chamadas reações vitais, isto é, determinados fenômenos do corpo humano que só
aparecem no vivo. Por exemplo, a coagulação do sangue, a migração de macrófagos,
o processo de cicatrização. Existem algumas provas de vida circulatórias que não
precisam de microscópio para serem verificadas. Por exemplo, o edema que se forma
na cabeça do nenê em virtude das lesões causadas no parto. As equimoses também
só acontecem no indivíduo vivo. Então, a observação desses fenômenos circulatórios
nos fazem pensar que havia vida.
Essas provas de vida dividem-se em dois grupos: respiratórias e circulatórias.
As respiratórias podem ser pulmonares e não-pulmonares. As pulmonares procuram
ver se houve a respiração baseada na presença de ar no pulmão. A prova respiratória
mais clássica é a docimasia hidrostática. Pega-se uma cuba de vidro, enche-se de
água, mergulha-se na cuba, e se boiar, tinha ar, se afundar, passamos para a segunda
fase, separando os pulmões das vias respiratórias, e se faz a mesma coisa que antes,
sendo que a terceira e quarta fases divide-se o pulmão em pedaços. A quinta fase é
pegar os fragmentos de pulmão e espreme-los contra uma lâmina de vidro, sendo que
se borbulhar, havia ar.
Quanto as não pulmonares: pega a cabeça do recém nato, coloca numa cuba
de vidro, perfura o tímpano com um lancete. Dentro da cabeça temos as tubas
auditivas, que desembocam na faringe. Quando o feto está dentro do útero, está tudo
sem ar. Quando o feto respira, entra ar pela laringe, e vão fazer com que o tímpano
mude em virtude da presença de ar. Se houve respiração, perfurando-se o tímpano,
haverá borbulho. Esse é um exemplo de uma docimásia respiratória não pulmonar,
chamada de auricular.
Nas circulatórias, temos as reações vitais: edema, equimoses, migração de
macrófagos, coagulação e cicatrização. Com essas provas, responderemos a
pergunta se havia vida, durante ou logo após o parto. Antigamente, havia o crime de
feticídio. Antes da reforma do Código Penal, havia esse crime, da ação da mãe sobre
o feto. A cabeça aflora a vulva e a mãe age sobre ele, matando o filho. Então, ele não
chegou ainda a nascer, por isso era chamado de feto nascente, ou crime de feticídio.
Tirou-se esse crime, e manteve-se o infanticídio, só que introduziu-se a palavra
“durante o parto”, que significa dizer que o feto ainda está nascendo, ainda não se
desprendeu totalmente do organismo materno. Quando começa o parto? Começa com
o início das contrações uterinas. O parto termina quando o feto desprende-se
totalmente do organismo materno e quando a placenta também é eliminada do
organismo materno. A duração do parto é muito variada.
O problema é o termo “ou logo após o parto”. Quando se fala isso, entende-se
hoje que isso tenha que ocorrer imediatamente após o parto. Não é minutos, horas, ou
dias, de modo que se nós respondemos a pergunta acerca da vida, temos que
responder: quanto tempo viveu? E não existe prova científica, ainda, que determine
com exatidão o tempo de vida de um recém nato. Faz-se isso por estimativa. Qualquer
cuidado materno sob o recém nato descaracteriza do crime de infanticídio. Se o
cadáver estiver limpo das secreções do parto, se o cadáver estiver alimentado,
significa que a mãe teve algum cuidado com ele, e descaracterizando o “logo após o
parto”, não há crime de infanticídio. Então, a questão do cuidado materno aqui é
importante.
Para que ocorra o crime de infanticídio a ação tem que ter ocorrido sob
influência do estado puerperal. Aí, novamente há problemas em relação a isso. O que
ocorre na cabeça da mãe que contraria todo o instinto natural das espécies, que é a
proteção da cria? Que alteração mental seria capaz de causar esse tipo de situação.
Ainda não há uma explicação convincente para isso. Com o passar dos tempos,
tivemos várias teorias sobre o que fosse essa influência psíquica. Puerpério é o
período de 40 dias após o parto. É um período de involução das modificações
corporais que a gestação imprime no corpo da mulher.
Em primeiro lugar, veio a questão da honoris causa. Ou seja, a defesa da
honra. Entendia-se que a infanticida teve uma gestação não desejada, ou fruto de
adultério, ou fruto de um relacionamento não estável, ou fruto de um relacionamento
que ela pensava ser estável, não era. A gestação da infanticida é uma gestação que
ocorreria às escondidas, procurando disfarça-la. Então, fala-se de honra, porque
existia muito preconceito em relação à mulheres que fossem mães solteiras. O parto
costumava ser feito às escondidas.
Essa teoria perdurou por muitos anos. Com o tempo, observou-se que muitas
mulheres não tinham interesse nenhum em salvaguardar a sua honra. Assim, caiu a
teoria da honoris causa. Aí a ciência e os juristas ficaram sem uma causa
determinada. Veio a história da chamada “depressão pós parto”, uma alteração mental
que ocorre em aproximadamente 20% das mulheres que dão a luz. Para algumas
mulheres, esse período de depressão é intenso e duradouro. Então, quis-se atribuir a
depressão pós parto essa alteração mental associada ao stress e às dores do parto.
No entanto, viu-se que essa teoria era insuficiente.
Veio então um cara chamado Marsé, desenvolvendo uma psicose exclusiva
das mulheres em estado puerperal. Essa psicose seria responsável pelo estado
mental da infanticida. Hoje, o entendimento atual que se dá ao estado mental da
mulher que comete esse crime é: em primeiro lugar, considera-se a gestação
indesejada, porque ninguém vai agir assim se é algo desejado, esperado. É uma
gestação que ocorre escondida, dissimulada. É um parto que ocorre também às
escondidas, pois não se vê infanticidas na maternidade, nem mulheres que dão a luz
na maternidade e foram para casa matar os filhos. Então, o parto também ocorre às
escondidas. Associa-se isso à questão social, pois essas mulheres são de condição
precária. Além da questão psíquica e social, haveria um fator físico: dores e stress
decorrentes do parto. São esses três pilares que sustentam a tese da alteração do
comportamento materno. Aqui também temos uma questão subjetiva, pois esse é um
estado pelo qual a mulher passa rapidamente. Como constatar esse estado mental, se
os cadáveres são encontrados muito tempo depois? Então, fica à mercê do juiz a
caracterização desse crime. Há tanto subjetivismo e a medicina legal auxilia tão pouco
que não há o que fazer. Talvez fosse o caso de eliminar esse crime do código penal e
coloca-lo como um homicídio com atenuante.
O objeto de perícia neste crime é a mãe. Temos que saber se ela teve
gestação, se ela teve parto, e quando foi esse parto (se foi recente ou não). Também é
necessário uma perícia psiquiátrica, para sabermos a influência do estado puerperal. E
o recém nato, pois temos que saber se ele viveu, quanto tempo viveu, e a causa de
sua morte. Vejam aí que é uma perícia extremamente complexa. Quais são os meios
de infanticídio mais frequentes? De modo geral, asfixia mecânica: sufocação e
estrangulamento com o próprio cordão umbilical. Em segundo, ações traumáticas,
principalmente com o crânio.

7.2 Perícia em conjunção carnal ou ato libidinoso

As recentes mudanças no Código Penal fizeram com que a caracterização de


delitos passa a ser uma. Entretanto, ato libidinoso continua sendo ato libidinoso, e
conjunção carnal continua sendo conjunção carnal. Conjunção carnal é a penetração
do pênis na vagina. Qual é o limite do que é a vulva e do que é a vagina? Quando
falamos em órgão genital feminino, temos os órgãos genitais externos (vulva, grandes
lábios e pequenos lábios) e internos (vagina, útero, trompas e ovários).
No momento em que o pênis ultrapassa esse limite, na entrada da vagina,
configura-se a conjunção carnal. E o que é ato libidinoso? É qualquer outra
manifestação da sexualidade que não seja conjunção carnal. O que é libido? É o
apetite sexual. Quando o indivíduo tem uma ação, um ato diferente da conjunção
carnal (sexo oral, anal), trata-se de ato libidinoso.
Para que se configure esse crime, deve-se constatar violência ou grave
ameaça. Quando se fala em violência, temos a violência efetiva e presumida.
Entendia-se que esta era praticada contra menores de 14 anos ou em indivíduos que
por uma condição temporária ou permanente não poderiam reagir à ação do agressor.
Como estado temporário, teríamos a embriaguez ou uso de substância química que
deixe a vítima inconsciente. Por outro lado, a pessoa em estado de coma, tetraplégica,
seria aquela em alguma condição permanente. Então, essas circunstâncias passaram
a ser agrupadas em um termo, que é a violência contra vulnerável.
A violência efetiva é quando se encontram lesões corporais no indivíduo, ou
ainda quando ele está em óbito. Aqui, a medicina legal atua de maneira bastante
importante, quer na caracterização do dano físico evidente, constatado na perícia do
corpo de delito, encontrando vestígios de uma ação física. Agora, quando se fala em
grave ameaça, a ameaça pode ser por arma de fogo, com uso de força física, ou ainda
ameaça contra terceiros.
Quanto às partes do hímen, uma estrutura na transição da vulva para a vagina,
ele está inserido numa borda (borda de inserção), e uma borda livre. Os himens
podem ser classificados conforme o aspecto do orifício. Por exemplo, pode ser anular
(circular), cordiforme (em forma de coração), septado, e assim por diante. Existem os
himens tetra labiados, sendo que onde os lábios se encontram temos comissuras
(pontos de convergência).
O hímen tem uma face para dentro (face vaginal) e outra face que está para
fora (face vulvar). Ele também tem terminações nervosas e vasos sanguíneos. Ele é
revestido por um tecido róseo e brilhante, chamado de mucosa, que é o mesmo tecido
que reveste a cavidade oral. Quando o hímen se rompe com a penetração do pênis,
pode ou não ocorrer o sangramento. E se ocorre, é em pequena quantidade, de
duração efêmera.
Existem determinadas formações anatômicas do hímen que confundem-no
com eventuais projeções. Quando olhamos que o hímen tem essa formação
anatômica, eles podem se configurar em uma situação em que o perito que está
observando não saber se aquilo se trata de uma ruptura que se cicatrizou ou uma
projeção, o que pode gerar dúvida. Essa projeção é irregular, normalmente não vai até
a borda de inserção.
Além da classificação mencionada, podemos apontar a classificação policial ou
jurídica dos himens. Eles se classificam em presentes ou ausentes. A única outra
espécie animal que tem hímen é a macaca. Quando os himens são presentes, podem
ser perfurados e imperfurados. Himens perfurados são aqueles que têm orifício, ao
passo que os imperfurados são aqueles que são fechados. O tratamento para o hímen
imperfurado é a realização de anestesia para que se faça um orifício, já que a
ausência dele pode gerar problemas ginecológicos, principalmente quanto à
menstruação. Mas para se fazer isso deve-se lavrar uma ata. Os himens perfurados
dividem-se em: rompíveis (80% dos himens, ao sofrerem uma penetração do pênis se
rompem), resistentes (himens ósseos ou cartilaginosos, que por sua característica
impedem a conjunção carnal) e complacentes (himens que sofrem conjunção carnal e
não se rompem). Os himens complacentes são elásticos, tem uma orla estreita e
orifício grande.
A perícia de conjunção carnal é considerada pelos peritos uma das perícias
mais difíceis que existem. Deve-se tomar muito cuidado para fazer essa perícia,
principalmente em crianças. Às vezes, se tracionarmos uma genitália para ver as
condições de um hímen, pode-se provocar lesões na mucosa, e aí ficamos sem saber
se a criança foi submetida a uma manipulação de sua vulva, o que constitui ato
libidinoso. Então, é uma perícia que deve ter uma abordagem bastante cuidadosa.
Quando se trata de um hímen rompível, então teremos as rupturas. E existem
dois tipos: recente e antiga (ou cicatrizada). As rupturas ocorrem em número reduzido.
Qual é o aspecto de uma ruptura? Os ângulos são bem agudos, sendo que elas vêm
até a borda de inserção. Se a ruptura é recente, os bordos dessa ruptura estarão em
carne viva, com sinais de sangramento. Podemos encontrar, neste caso, inclusive
equimoses, secreção sero-sanguinolenta, e hematomas. Pode esta ruptura, passados
alguns dias ou algumas horas, sofrer um processo inflamatório. Assim, pode-se
constatar a presença de pus. A fibrina é um sinal de processo de cicatrização. Logo,
esses são todos os sinais de ruptura e um hímen.
Quanto tempo leva um hímen para cicatrizar, uma vez rompido? Tem autores
exagerados, que falam em três semanas. Como a mucosa tem uma grande
capacidade de cicatrização, uma ruptura, via de regra, cicatrize-se em torno de sete a
dez dias. Quando vejo uma ruptura com aqueles sinais, dizemos que ela foi recente.
Se ela foi recente, é porque houve um defloramento recente, houve conjunção carnal
recente. Quando ela perde os referidos sinais, ela passa a ser denominada de ruptura
cicatrizada, e aí não podemos dizer exatamente há quantos dias ela ocorreu. Então,
quando a ruptura perde os sinais elencados, não temos mais condição de dizer se ela
é ou não recente. O único sinal objetivo da virgindade de uma mulher é a integridade
himenal. Isso significa dizer que uma mulher que tem hímen íntegro é considerada
anatomicamente virgem. Se uma mulher com hímen complacente (aquele que não se
rompe com a conjunção carnal), ela é dita anatomicamente virgem, embora
normalmente essa mulher tenha uma vida sexual periódica.
A conjunção carnal pode ser também avaliada por outros sinais. Quando
fazemos esse exame, utilizamos um cotonete. Com ele, vamos dentro da vagina para
coletar material (exame laboratorial). Este exame vai analisar a presença de
espermatozoide, vivo ou morto. Quanto tempo fica vivo o espermatozoide na cavidade
vaginal? Depende de muitas coisas, mas em torno de 36 a 48h. A partir daí, eles
morrem e são absorvidos pela vagina, de modo que até 72h podemos encontra-los. A
presença de espermatozoide indica que houve conjunção carnal e que ela foi recente.
O ejaculado é rico de uma proteína, chamada de glicoproteína P30. Então, no
laboratório, será feita a pesquisa a partir dessa proteína. Se for constatada a presença
de esperma com essa proteína, também podemos afirmar que houve conjunção carnal
recente. Espermatozoide e esperma juntos formam o sêmen.
A conjunção carnal pode ser sugerida pela gravidez. Mas não
obrigatoriamente, porque o coito pode ter sido entre as pernas, e o sêmen entre as
pernas da mulher pode ter ingressado na vagina. Ou ainda, pela contaminação
venérea.
Na perícia de ato libidinoso, como qualquer ação diferente da conjunção carnal
(apalpação de parte íntima, sexo oral, entre outros), eles não deixam sinal. Pode-se
coletar material da cavidade oral na busca de espermatozoide, por exemplo. Então,
vejam que na maioria das vezes, a perícia de ato libidinoso é negativa, pois não se
encontram sinais. Quais são os sinais que podem ser encontrados? Equimose sob a
forma de “chupão”, que é chamada de sugilação, habitualmente na região do pescoço.
Além disso, lesões perianais. A presença de fissuras é um indicativo de coito anal.
Existem lesões mais profundas, que indicam mais seguramente o coito anal
(laceração).

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