Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
2. TRAUMATOLOGIA FORENSE
a) Rubefação
A rubefação, quando o agente traumático vem e toca, o tecido vivo reage frente
a ação do agente traumático com uma vaso dilatação. Há um maior fluxo de sangue
no lugar. Então, há uma lesão avermelhada. Um tapa no rosto pode deixar uma
rubefação na fase do atingido. Passados alguns minutos após a ação do agente
contundente, os vasos sanguíneos voltam ao calibre normal, e a lesão desaparece.
Trata-se de uma lesão fugaz, que desaparece, que não deixa sequelas; portanto, uma
lesão de pouca importância médico-legal.
b) Edema
c) Escoriação
e) Hematoma
Agora vamos falar sobre o hematoma. O agente traumático bate, sai sangue de
dentro do vaso e ele arrebenta. Ao invés de se infiltrar nas camadas de tecido, ele
forma uma bolsa de sangue, deslocando do tecido vizinho. Os hematomas são
absorvidos pelo organismo; em algumas ocasiões, eles podem organizar, o sangue
coagula e ele fica endurecido. Aí, pode-se configurar uma deformidade permanente ou
um dano estético. Esta é a primeira lesão que estudamos que podem ter como
consequência um dano estético.
f) Ferida contusa
São instrumentos afiados que têm curva, como a faca e o punhal. Eles agem
mais por pressão, e menos por deslizamento, sendo que a pressão é a força
predominante. Como é o nome da ferida produzida por um desses instrumentos? Aqui,
a lesão pode ser pérfuro-incisa ou pérfuro-cortante. Normalmente essas lesões são
elípticas. Alguns autores falam em lesão bocelada (em forma de boca). A lesão pode,
ainda, ser triangular, reproduzindo o formato da lâmina do instrumento.
Toda arma que não seja arma de fogo (arma branca), ou seja, os instrumentos
cuja lâmina tenha até 10 cm de comprimento não são consideradas armas brancas.
Se você tem um canivete para descascar uma laranja, esse tipo de instrumento não é
considerado uma arma branca. Isso é uma convenção, não é algo que seja uma
questão técnica, ou legal. Esse tipo de objeto não é capaz de produzir alguma lesão
que venha causar um dano tão importante assim.
Esses instrumentos caíram um pouco de moda, mas ainda podem ser
utilizados como meios de defesa ou de ataque. Pois são instrumentos baratos,
acessíveis e eficientes para quem sabe manejá-los. Acessível porque podem ser
encontrados em qualquer estabelecimento. São de fácil portabilidade, além de não
haver necessidade de documento de porte, como acontece com as armas de fogo.
Nesse sentido, a mão e o antebraço funcionam como partes de ação de uma defesa.
Lesões na palma da mão e no antebraço podem ser consideradas enquanto lesões de
defesa.
O que acontece na prática é que nenhum perito indica isso em laudos de
lesões corporais. É preciso saber interpretar essas lesões, verificando qual significado
médico-legal essas lesões podem ter. Para aqueles que sabem utilizar o instrumento,
ele tem uma atuação extremamente lesiva. Raramente está associado a suicídio, o
que acontece mais com instrumentos cortantes. Esses instrumentos também podem
envolver acidentes de trabalho, como as pessoas que trabalham em frigoríficos, que
manipulam instrumentos afiados.
3. BALÍSTICA FORENSE
A balística forense é uma técnica muito complicada, pois extrapola o
conhecimento do especialista em medicina legal. Ela de tornou complexa em virtude
da diversidade de armas e munições no mercado. Sendo assim, nosso objetivo é
apreender o significado de alguma terminologia, e explicar sob um ponto de vista geral
como as coisas são feitas em termos de estudo de projétil de arma de fogo.
As armas podem ser classificadas de várias formas, sob vários aspectos. Por
exemplo, quanto ao calibre legal ou nominal. Quando se fala em calibre, que nada
mais seria do que o diâmetro do cano da arma, ele pode ser traduzido em polegadas
ou milímetros.
Elas também podem ser classificadas conforme a munição. Então, existem
armas em que a munição entra pela boca do cano. Na extremidade anterior do cano,
são introduzidos os projéteis. Essas armas ainda são utilizadas, principalmente no
meio rural, porque são de fácil fabricação caseira. Ao contrário, quando a munição
entra pela parte posterior do cano.
As armas podem ser classificadas conforme sua portabilidade, ou seja, como
podem ser transportadas. Teríamos, em primeiro lugar, as armas portáveis. Armas
portáveis são armas que facilmente podem ser levadas de um local para o outro. São
as principais armas que estão no nosso meio, e tem maior participação nos eventos
policiais (revólver, pistola, espingarda, metralhadora, escopeta, etc.). As armas não
portáveis seriam aquelas que necessitam de um meio de transporte para serem
levadas de um lugar para o outro. Aí temos o canhão, alguns tipos de metralhadora, a
bazuca.
Essa é uma visão geral da classificação das armas. Quanto à munição, aquilo
que contém todos os elementos da munição é chamado de cápsula ou estojo. Essa
cápsula normalmente é feita de uma liga metálica. Em alguns tipos de munição, como
o calibre 12, ela é feita de papelão.
Na parte posterior, existe a espoleta, feita de um material de nitrocelulose.
Quando o precursor bate na espoleta gera uma fagulha, fazendo com que a cápsula
entre em explosão. Essa parte interna do projétil é chamada de câmara. Dentro dela
temos um explosivo, e uma membrana que separa o projeto do explosivo, chamada de
bucha. Essa bucha é feita de uma película de plástico, ou até mesmo de papel.
Na frente, temos o projétil. Existem projéteis de várias características:
normalmente é feito de uma liga metálica contendo chumbo, por ter um peso
específico grande. Existem projéteis em que a parte chamada de ogiva é côncava,
tendo na ponta uma película um metal como o mercúrio. Esses projéteis são
chamados de projéteis de alta energia, pois quando batem no alvo eles se deformam.
Esse mercúrio é disseminado através do alvo, aumentando a capacidade lesiva do
projétil. Existem projéteis que são chanfrados, aumentando a capacidade lesiva.
Quando o projétil sai da arma, ele sai com um momento para frente, e girando no
próprio corpo, como se fosse uma furadeira.
Existem alguns tipos de munição que tem sua comercialização e fabricação
proibida, via tratados internacionais. Apesar de determinadas munições serem
expressamente proibidas, ou algumas de uso exclusivo dos militares, continuam
circulando ilegalmente. O explosivo, quando entra em combustão, aumenta
subitamente o seu volume. Produz-se uma força lá dentro que é transmitida para o
projétil, que sai da cápsula.
Quando um disparo de arma de fogo é efetuado, entra em cena o profissional
denominado técnico de balística. Eles trabalham no estudo de criminalística. Trata-se
de um pessoal extremamente especializado. O indivíduo precisa conhecer armas e
munições, bem como o efeito que elas produzem no alvo, normalmente um corpo
humano, que tem importância judicial-policial. Quando o disparo é efetuado, algumas
coisas tem que ser determinadas, que será objeto da análise pericial.
O que deve ser determinado? O perito falará da distância do disparo, qual foi a
distância que essa arma estava do alvo. Além disso, a direção desse disparo. O trajeto
e sua trajetória, que são coisas diferentes. Quem foi o autor do disparo. Identificar a
munição que foi utilizada. E por fim, identificar a arma.
O que sai da boca da arma quando um projétil é disparado? Evidentemente
que sai o projétil, mas saem outras coisas também: i) se é uma arma de fogo, sai uma
chama; ii) saem grânulos de pólvora, que não entraram em combustão; iii) sai
também fumaça ou fuligem; iv) saem gases e vapores; v) pode também sair resíduos
de bucha. Na maioria das vezes, ela se deteriora pelo calor, por ser uma película de
plástico/papel, então ela simplesmente desaparece.
Pela boca da arma, saem todos esses elementos. Eles formam uma figura
geométrica que parece um cone de base invertida. Isso tem uma denominação: cone
de deflagração. Ou seja, todos os elementos que saem da boca da arma quando um
disparo é efetuado.
4. QUANTIFICAÇÃO DO DANO
As lesões de natureza grave (art. 129, §1º, CP) seriam aquelas que
causassem: incapacidade para ocupação, debilidade permanente de membro, perigo
de vida e aceleração do parto. No primeiro item, temos dois problemas: o primeiro é: o
que significa ocupação habitual? Ela é relativa a cada indivíduo, pois a ocupação
habitual para uma criança é brincar e ir para a escola. A ocupação habitual de um
jovem é trabalhar, estudar, sair. O trabalho é considerado de forma unânime como
sendo uma ocupação habitual. Ocupações que tenham características fúteis não são
consideradas ocupações habituais, tampouco ocupações que não sejam legais:
apontador do jogo do bicho.
O que é debilidade? É uma diminuição da capacidade, uma sequela. Esta
sequela deve ser permanente, ou seja, aquela lesão que apesar de ter sido curada,
deixou algum tipo de restrição. Ela pode afetar membro (braços e pernas), sentidos
(meio que nós nos comunicamos e percebemos o meio ambiente) e funções (modo de
funcionamento de um aparelho, este enquanto um conjunto de órgãos que executam a
mesma função).
Vamos supor que o indivíduo sofra uma fratura de cotovelo. Como é uma
fratura articular, ficou com uma debilidade permanente, no sentido de que não
consegue mais fazer a extensão até 180º.
Se um dos sentidos são afetados de modo parcial ou total, há uma debilidade:
perder a audição em um dos ouvidos, perder a visão em um dos olhos. Quando temos
órgãos duplos, que executam a mesma função, temos que avaliar o órgão
remanescente, para saber se ele foi afetado ou não. Se ele for afetado, o que seria a
princípio uma debilidade, pode constituir uma perda de sentido, e perda é critério de
lesão gravíssima, e não de lesão grave.
Um exemplo de debilidade de função: um indivíduo leva uma facada, e na
intervenção cirúrgica percebe-se que houve perfuração no intestino delgado. Esse
cara, daqui por diante, ficou com uma debilidade no aparelho digestivo. Na função
renal, por exemplo, temos dois rins. Se um foi perdido, e o outro está bom, trata-se de
uma debilidade. Se um já estava com problema, e o outro perdeu sua função, trata-se
de perda, que configura lesão gravíssima.
Quanto ao perigo de vida, aqui o legislador colocou esse critério sabiamente. O
que acontecia anteriormente? O indivíduo sofria uma lesão, e essa lesão colocava sua
saúde realmente em estado crítico, ameaçando a sua vida. Mas antes de 30 dias, sem
caracterizar nenhum desses critérios, o indivíduo se recupera, mas passou por uma
situação crítica. Sua lesão era considerada leve. Por exemplo: um indivíduo leva uma
pancada e fica com traumatismo craniano, perdendo a consciência. No 3º ou 4º dia
recuperava a consciência. A vida dessa pessoa ficou sob ameaça, então o legislador
colocou esse critério para corrigir esse tipo de distorção. Mas isso ainda fica a critério
do perito, acerca do conceito de perigo de vida, tratando-se de uma situação presente
ou que já ocorreu; nunca é uma situação futura, uma situação que possa ser prevista.
Como se comprova uma situação passada? Através de laudos, de documentos
médicos. Exemplos: estados de coma, choques de qualquer natureza (por hemorragia,
anafilático, insuficiência renal, infecção generalizada).
As pessoas fazem muita confusão quanto a aceleração de parto. É quando
ocorre uma antecipação do parto. Para caracterizar como critério de lesão grave, tem
que haver uma gestão corporal: uma gestante em qualquer fase de gestação, sofre
uma lesão corporal, e em virtude desta tem uma antecipação de seu parto. Deve
existir um nexo de causalidade entre a lesão corporal e a antecipação do parto. O
recém nascido nasce vivo e permanece vivo, não importando a idade gestacional. O
“macete” aqui é a vida.
A pergunta final que devemos fazer é: o recém nascido está vivo? Se está vivo,
trata-se de aceleração de parto. Agora, se ele morrer em virtude da prematuridade ou
das lesões que sofreu, deixa de ser aceleração de parto, e passa a ser aborto. E
aborto é critério de lesão gravíssima, e não critério de lesão grave. O perigo aqui da
interpretação é a questão da prematuridade e das lesões que o recém nascido sofreu.
O conceito médico legal de aborto é aplicado ao art. 129 do Código Penal, ou
seja, a interrupção da gestação, com morte do produto da concepção, em qualquer
fase que a gestação se encontre. Esse conceito se aplica tanto ao art. 129 como ao
art. 124 (que é o crime de aborto). Então, quando falamos no crime de lesão corporal,
não estamos falando no crime de aborto, porque aqui usamos o seu conceito médico
legal para ser aplicado no art. 129, na lesão corporal gravíssima. Existe um conceito
“guarda chuva”, utilizado para tipificar crimes distintos.
Uma mulher gestante, por exemplo, sofre uma lesão corporal, e antecipa seu
parto. Nasce um recém nato vivo, mas anencéfalo; 72h depois, ele morre. Do que
estamos tratando aqui? Qual o conceito de vida, segundo o Código Civil? Trata-se de
um paradigma antigo, pois um ser pode estar respirando, mas isto não é essencial,
porque o que manda é a circulação. Se há circulação está vivo, caso contrário está
morto. Mas esse paradigma também caiu, pois o que interessa é o sistema nervoso
central: a vida está baseada nisso, quando houver atividade cerebral. Se estamos
falando de um anencéfalo, que não tem sistema nervoso central, então ele não tem
vida.
Para que fique caracterizada a lesão corporal seguida de morte, o autor não
pode ter tido a intenção de matar a vítima. Como a medicina legal vai auxiliar o direito
nessa questão? A medicina legal vai auxiliar no sentido de descrever as lesões: o seu
número, a sua localização, a sua gravidade.
Vamos supor uma seguinte situação: um policial de 15 anos de carreira. Esse
policial, nas competições de tiro ao alvo, sempre se sobressaiu. Num determinado dia,
vai abordar um suspeito, este reage, ele (policial) saca sua arma e desfere um disparo
numa distância de uns 5m. Este projétil penetra na região da virilha da vítima, e
perfura uma artéria. Este indivíduo acaba morrendo por hemorragia.
O que nós temos? Um policial experiente em curta distância, um só disparo,
uma só lesão num local que não é um local vital. Fica caracterizado que este policial
não queria provocar a morte do indivíduo, tendo em vista o número de lesões, bem
como a localização desta. Aqui teríamos uma lesão corporal seguida de morte. No
entanto, nenhum perito insere isto no laudo, pois não cabe ao perito fazer esse tipo de
afirmação.
No direito cível, o dano tem que ser personalizado. Aqui, diferente do direito
penal, cada indivíduo tem as suas particularidades, de forma que uma vez o dano
sofrido, ele pode atingir o indivíduo de forma diferente em seus interesses. Isto vai se
traduzir numa indenização. Este quantum indenizatório tem que ser proporcional ao
quantum do dano. Se no direito penal existem determinados critérios para balizar a
quantificação do dano, no direito cível não existe isso. Sendo assim, a quantificação
vai depender da qualidade do perito. Se não há padronização, imaginem a
possibilidade de discussão e de conflito entre as partes a respeito da quantificação
desse dano. Tudo acaba ficando a critério do perito. A qualidade do laudo pericial vai
depender da qualidade do perito: quanto mais detalhista for, e quanto mais critérios
tiver para avaliar o dano, melhor será o laudo pericial, e mais exata será a
proporcionalidade entre dano e indenização. Os critérios utilizados pelo perito devem
estar bem claros para o juiz.
Outro ponto avaliado é a capacidade laboral do indivíduo. Mas diferente do
direito penal, aqui leva-se em conta a profissão do indivíduo, o trabalho específico, e
não o trabalho genérico.
A dor também é avaliada: o indivíduo terá maior ou menor sofrimento físico e
mental, a depender do dano que sofre. Se ele fica por longo tempo dependendo do
socorro de terceiros para poder realizar atividades do cotidiano (locomover-se, tomar
banho, vestir-se). Ou ainda, tenha que fazer fisioterapia durante muito tempo, uso de
muleta, cadeira de rodas. Aqui devemos levar em conta não só o sofrimento físico,
mas também psíquico pois o dano traz angústia, medo para o indivíduo.
5. ASFIXIOLOGIA FORENSE
a) Sufocação
Ela pode ocorrer pela aplicação da mão do agente sobre o nariz e a boca da
vítima. Normalmente, o agente vem pelas costas (aqui temos a traição) e quando vem
pela frente temos a questão da superioridade de forças. Isto ocorre frequentemente
em crimes sexuais. Enquanto sinais específicos, podemos encontrar escoriações
produzidas na face, lesões internas na mucosa bucal (produzidas pelos dentes da
própria vítima). Pode ocorrer por colocação de objeto moldável (toalha, travesseiro,
fronha). Que sinal encontraríamos? As pregas do tecido, por exemplo. Nesta
circunstância o que é mais frequente são acidentes com recém natos, crime de
infanticídio e o homicídio. Temos também o encapuçamento: colocar um saco plástico
na cabeça do indivíduo. Aqui, a ocorrência mais frequente é o homicídio.
a) Engasgadura
b) Soterramento
Quanto às partículas sólidas (soterramento), estas não serão obrigatoriamente
terra. O que vamos encontrar de sinais? O mais característico é encontrar nas vias
respiratórias do indivíduo as partículas sólidas. Os eventos mais frequentes são nos
acidentes de trabalho, além das situações de desabamento e catástrofes naturais.
c) Afogamento
5.5.1 Modalidades
a) Enforcamento
b) Estrangulamento
Trata-se da constrição do pescoço por laço, sendo que o que o aciona são
forças agindo em sentidos opostos. Aqui, a causa mais frequente são acidentes,
principalmente acidentes de trabalho. Também são frequentes aqui os homicídios,
sendo que o comum é que o indivíduo venha pelas costas, configurando a agravante
da traição. Normalmente onde cruza o laço indica a posição do agente em relação à
vítima. Além dos acidentes e do homicídio, temos o infanticídio, ou seja, a mãe
estrangulando o filho com o próprio cordão umbilical.
c) Esganadura
É a constrição do pescoço por membros do agente, entendendo-se como
membros a mão, o braço (membros superiores), assim como os membros inferiores
(como uma chave de perna). Aqui, evidentemente, temos o homicídio, especialmente
em crimes de conotação sexual. Para minar a resistência da vítima, faz a constrição
do pescoço. E aqui também temos traição, pois o agente vem pelas costas, a não ser
que haja uma superioridade de forças grande entre agente e vítima.
6. TOXICOLOGIA
6.1 Classificação
6.2 Toxicomania
O álcool etílico é uma substância que está em várias bebidas. É uma das
substâncias mais consumidas no mundo. Está associada a questões de segurança e
de saúde pública. Então, existe uma questão médico legal bastante importante. Por
que o álcool etílico é uma substância perigosa? Sob o ponto de vista médico legal, é
uma droga despersonalizante, alterando a personalidade. Em relação à condução de
veículos automotores, estamos falando da associação dos efeitos neurológicos aos
efeitos psíquicos.
No caso de um indivíduo que se despersonaliza na condução do automóvel, o
álcool deprime as ações do sistema nervoso central. Isso tem uma série de
consequências: i) diminuição dos reflexos (tempo que leva de reação do indivíduo, ao
perceber o estímulo e reagir a ele); ii) altera a coordenação motora; iii) alteração de
consciência (diminui a capacidade de atenção e concentração das pessoas).
O álcool é uma substância que gera dependência física e psíquica. Nesta
questão, temos aqui também o aumento progressivo da dose, e da relação do
indivíduo com a substância. Então, o indivíduo se torna dependente físico e psíquico
da substância, torna-se tolerante às doses, e faz qualquer coisa para conseguir ter
acesso a ela. Desse modo, isso preenche aqueles quesitos de toxicomania, que vimos
anteriormente.
Qual é o conceito de dependência? Fica caracterizado quando você, para se
sentir mais à vontade, para obter um determinado efeito, procura a substância
química. É o que acontece quando chegamos em uma festa: você se sente um peixe
fora da água se você não estiver consumindo bebida alcoólica. Isto faz entender que
de uma certa forma todos nós somos um pouco dependentes de substâncias
químicas.
Os chineses dividem as formas de intoxicação em algumas fases: fase do
macaco (da alegria, da descontração), fase do leão (despersonalização mais evidente
acompanhada de questões neurológicas) e fase do porco (onde há um
comprometimento importante do nível de inconsciência do indivíduo, que já está
cambaleando).
O organismo tem uma capacidade limitada de se ver livre das substâncias
químicas. A mesma coisa acontece com o álcool. É limitada, mas é uma substância
que tem fácil metabolização (tem uma composição pouco complexa), desde que o
indivíduo tenha seu fígado e seu rim em pleno funcionamento. Não é o caso de um
cara que tenha uma cirrose, por exemplo.
Sob o ponto de vista de dosagem do álcool, ela pode ser feita de duas
maneiras: pelo sangue e pelo ar respirado. Sob o ponto de vista médico legal, qual o
grande problema do diagnóstico de embriaguez pelo ar respirado? São as questões
envolvendo a contraprova, pois o teste o bafômetro não possibilita a realização de
contraprova. Sendo assim, esse teste se torna vulnerável juridicamente para o
diagnóstico de embriaguez. O teste sanguíneo é muito mais preciso, permitindo a
realização de exame de contraprova.
Sob o ponto de vista médico, quais são as consequências do uso do álcool? A
dependência química e a questão das doenças físicas e mentais: psicose alcoólica
(nem todo alcoólatra desenvolve essa psicose). Em grandes doses, o álcool chega a
ser neuro tóxico. Temos também aqui o problema da condução de veículos
automotores, as questões policiais envolvidas com substâncias químicas (grande
número de casos de homicídios e lesões corporais).
Quanto ao efeito das substâncias químicas em geral, toda a questão de
toxicomania em relação à responsabilidade penal do indivíduo está ligada ao grau de
dependência. Quem é que vai aferir isso? É a perícia psiquiátrica. Isso em relação a
toda a toxicomania, seja por álcool, crack, cocaína. O indivíduo que for considerado
grave toxicômano é considerado como inimputável. Aquele considerado leve é
imputável. E aquele que for moderado é semi-imputável. Sendo uma doença, ela se
enquadra dentro do raciocínio de todas as doenças de origem mental. Isto quer dizer
que a responsabilidade penal de um indivíduo que seja portador de uma doença
mental, ela é dependente de uma perícia psiquiátrica. Onde o perito vai tentar
responder a uma pergunta: o indivíduo tem capacidade de entender e compreender o
caráter delituoso de seus atos? E agora vem o seguinte: e comportar-se conforme este
entendimento? Então, toda a doença mental tem como base, no que diz respeito à
responsabilidade penal, a avaliação do indivíduo, sob esse aspecto. Se mesmo o
indivíduo portador de qualquer doença mental (inclusive uma dependência química,
seja qual for), a resposta a essa pergunta deve ser dada.
Quando se fala de embriaguez (não é só o álcool que causa estado de
embriaguez, mas todas as outras substâncias depressoras do sistema nervoso
central), ela pode ser aguda (indivíduo que não é considerado dependente químico,
mas consumiu grande quantidade de álcool, se intoxicando) ou crônica
(constantemente o indivíduo está sob o efeito de bebida alcoólica). Assim, o
Código Penal tem dois termos: embriaguez completa (quando o indivíduo se encontra
totalmente sob o efeito de bebida alcoólica, sofrendo todas as consequências
neurológicas e psicológicas) embriaguez incompleta (estado em que o indivíduo está
parcialmente comprometido).
Vejam a dificuldade de aferir isso com as práticas atuais: porque para constatar
isso, pois devo saber isso não só pelo exame laboratorial, mas também pelo exame
físico do consumo da bebida. Aí conseguiria dizer se a embriaguez é completa ou
incompleta. Como não se pode realizar o exame clínico, isso se faz unicamente por
exame laboratorial. Então, existe uma tabela onde se classifica a embriaguez
conforme os níveis de álcool. Dependemos, para esse diagnóstico dos dados
laboratoriais.
No caso do indivíduo que se encontra no estado de embriaguez, temos que ver
qual for a causa. Se for caracterizado por caso fortuito ou força maior (quando a
vontade é vencida), há que ter uma interpretação diferente na aplicação da lei. Nestes
casos, o indivíduo é considerado inimputável. Quando for embriaguez incompleta por
caso fortuito ou força maior, o indivíduo é semi-inimputável. Se não for caracterizado
esse aspecto, responderá por seus atos.
O que é a embriaguez patológica? É o indivíduo que tem contato com o álcool
etílico numa dose muito pequena, mas produz-se uma alteração substancial a nível de
comportamento. Existem formas clínicas dessa embriaguez, descrito com bastante
amplitude. Por exemplo, pessoas que se tornam extremamente agressivas, ou
depressivas.
7. SEXOLOGIA FORENSE
7.1 Infanticídio
Para que se esse crime se configure, é preciso que se prove que existia vida.
Basicamente, quando se fala em vida, o paradigma antigo era o da respiração. Mas
sabemos que o critério de vida, hoje, é o circulatório, porque pode o feto nascer vivo, e
antes que respire, receba alguma ação materna. Quando o tórax se desprende do
organismo materno, há a primeira respiração. As primeiras provas são chamadas de
provas respiratórias. Existem fenômenos que só acontecem no indivíduo vivo. São
chamadas reações vitais, isto é, determinados fenômenos do corpo humano que só
aparecem no vivo. Por exemplo, a coagulação do sangue, a migração de macrófagos,
o processo de cicatrização. Existem algumas provas de vida circulatórias que não
precisam de microscópio para serem verificadas. Por exemplo, o edema que se forma
na cabeça do nenê em virtude das lesões causadas no parto. As equimoses também
só acontecem no indivíduo vivo. Então, a observação desses fenômenos circulatórios
nos fazem pensar que havia vida.
Essas provas de vida dividem-se em dois grupos: respiratórias e circulatórias.
As respiratórias podem ser pulmonares e não-pulmonares. As pulmonares procuram
ver se houve a respiração baseada na presença de ar no pulmão. A prova respiratória
mais clássica é a docimasia hidrostática. Pega-se uma cuba de vidro, enche-se de
água, mergulha-se na cuba, e se boiar, tinha ar, se afundar, passamos para a segunda
fase, separando os pulmões das vias respiratórias, e se faz a mesma coisa que antes,
sendo que a terceira e quarta fases divide-se o pulmão em pedaços. A quinta fase é
pegar os fragmentos de pulmão e espreme-los contra uma lâmina de vidro, sendo que
se borbulhar, havia ar.
Quanto as não pulmonares: pega a cabeça do recém nato, coloca numa cuba
de vidro, perfura o tímpano com um lancete. Dentro da cabeça temos as tubas
auditivas, que desembocam na faringe. Quando o feto está dentro do útero, está tudo
sem ar. Quando o feto respira, entra ar pela laringe, e vão fazer com que o tímpano
mude em virtude da presença de ar. Se houve respiração, perfurando-se o tímpano,
haverá borbulho. Esse é um exemplo de uma docimásia respiratória não pulmonar,
chamada de auricular.
Nas circulatórias, temos as reações vitais: edema, equimoses, migração de
macrófagos, coagulação e cicatrização. Com essas provas, responderemos a
pergunta se havia vida, durante ou logo após o parto. Antigamente, havia o crime de
feticídio. Antes da reforma do Código Penal, havia esse crime, da ação da mãe sobre
o feto. A cabeça aflora a vulva e a mãe age sobre ele, matando o filho. Então, ele não
chegou ainda a nascer, por isso era chamado de feto nascente, ou crime de feticídio.
Tirou-se esse crime, e manteve-se o infanticídio, só que introduziu-se a palavra
“durante o parto”, que significa dizer que o feto ainda está nascendo, ainda não se
desprendeu totalmente do organismo materno. Quando começa o parto? Começa com
o início das contrações uterinas. O parto termina quando o feto desprende-se
totalmente do organismo materno e quando a placenta também é eliminada do
organismo materno. A duração do parto é muito variada.
O problema é o termo “ou logo após o parto”. Quando se fala isso, entende-se
hoje que isso tenha que ocorrer imediatamente após o parto. Não é minutos, horas, ou
dias, de modo que se nós respondemos a pergunta acerca da vida, temos que
responder: quanto tempo viveu? E não existe prova científica, ainda, que determine
com exatidão o tempo de vida de um recém nato. Faz-se isso por estimativa. Qualquer
cuidado materno sob o recém nato descaracteriza do crime de infanticídio. Se o
cadáver estiver limpo das secreções do parto, se o cadáver estiver alimentado,
significa que a mãe teve algum cuidado com ele, e descaracterizando o “logo após o
parto”, não há crime de infanticídio. Então, a questão do cuidado materno aqui é
importante.
Para que ocorra o crime de infanticídio a ação tem que ter ocorrido sob
influência do estado puerperal. Aí, novamente há problemas em relação a isso. O que
ocorre na cabeça da mãe que contraria todo o instinto natural das espécies, que é a
proteção da cria? Que alteração mental seria capaz de causar esse tipo de situação.
Ainda não há uma explicação convincente para isso. Com o passar dos tempos,
tivemos várias teorias sobre o que fosse essa influência psíquica. Puerpério é o
período de 40 dias após o parto. É um período de involução das modificações
corporais que a gestação imprime no corpo da mulher.
Em primeiro lugar, veio a questão da honoris causa. Ou seja, a defesa da
honra. Entendia-se que a infanticida teve uma gestação não desejada, ou fruto de
adultério, ou fruto de um relacionamento não estável, ou fruto de um relacionamento
que ela pensava ser estável, não era. A gestação da infanticida é uma gestação que
ocorreria às escondidas, procurando disfarça-la. Então, fala-se de honra, porque
existia muito preconceito em relação à mulheres que fossem mães solteiras. O parto
costumava ser feito às escondidas.
Essa teoria perdurou por muitos anos. Com o tempo, observou-se que muitas
mulheres não tinham interesse nenhum em salvaguardar a sua honra. Assim, caiu a
teoria da honoris causa. Aí a ciência e os juristas ficaram sem uma causa
determinada. Veio a história da chamada “depressão pós parto”, uma alteração mental
que ocorre em aproximadamente 20% das mulheres que dão a luz. Para algumas
mulheres, esse período de depressão é intenso e duradouro. Então, quis-se atribuir a
depressão pós parto essa alteração mental associada ao stress e às dores do parto.
No entanto, viu-se que essa teoria era insuficiente.
Veio então um cara chamado Marsé, desenvolvendo uma psicose exclusiva
das mulheres em estado puerperal. Essa psicose seria responsável pelo estado
mental da infanticida. Hoje, o entendimento atual que se dá ao estado mental da
mulher que comete esse crime é: em primeiro lugar, considera-se a gestação
indesejada, porque ninguém vai agir assim se é algo desejado, esperado. É uma
gestação que ocorre escondida, dissimulada. É um parto que ocorre também às
escondidas, pois não se vê infanticidas na maternidade, nem mulheres que dão a luz
na maternidade e foram para casa matar os filhos. Então, o parto também ocorre às
escondidas. Associa-se isso à questão social, pois essas mulheres são de condição
precária. Além da questão psíquica e social, haveria um fator físico: dores e stress
decorrentes do parto. São esses três pilares que sustentam a tese da alteração do
comportamento materno. Aqui também temos uma questão subjetiva, pois esse é um
estado pelo qual a mulher passa rapidamente. Como constatar esse estado mental, se
os cadáveres são encontrados muito tempo depois? Então, fica à mercê do juiz a
caracterização desse crime. Há tanto subjetivismo e a medicina legal auxilia tão pouco
que não há o que fazer. Talvez fosse o caso de eliminar esse crime do código penal e
coloca-lo como um homicídio com atenuante.
O objeto de perícia neste crime é a mãe. Temos que saber se ela teve
gestação, se ela teve parto, e quando foi esse parto (se foi recente ou não). Também é
necessário uma perícia psiquiátrica, para sabermos a influência do estado puerperal. E
o recém nato, pois temos que saber se ele viveu, quanto tempo viveu, e a causa de
sua morte. Vejam aí que é uma perícia extremamente complexa. Quais são os meios
de infanticídio mais frequentes? De modo geral, asfixia mecânica: sufocação e
estrangulamento com o próprio cordão umbilical. Em segundo, ações traumáticas,
principalmente com o crânio.