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Ciência e pseudociência

Sven Ove Hansson


Tradução de Israel Vilas Bôas

A demarcação entre ciência e pseudociência faz parte da tarefa mais abrangente de


determinar quais são as crenças epistemicamente justificadas. Este verbete esclarece a
natureza específica da pseudociência em relação a outras categorias de doutrinas e de
práticas não-científicas, inclusive a recusa da ciência e a resistência aos fatos. Os
critérios de demarcação mais importantes são discutidos e algumas das suas fraquezas
são expostas. Por último, enfatiza-se que há muito mais consenso sobre questões
particulares de demarcação do que sobre os critérios gerais em que esses juízos devem
se basear. Isso é um indício de que há muito trabalho filosófico importante por fazer
sobre a demarcação entre ciência e pseudociência.

1. O propósito das demarcações

Pode-se separar a ciência da pseudociência por razões teóricas e por razões práticas
(Mahner 2007, 516). De um ponto de vista teórico, a questão da demarcação é uma
perspectiva esclarecedora que contribui para a filosofia da ciência da mesma maneira
que o estudo das falácias contribui para o estudo da lógica informal e da argumentação
racional. De um ponto de vista prático, a distinção é importante para orientar decisões,
tanto na vida privada quanto na pública. Uma vez que a ciência é a nossa fonte de
conhecimento mais confiável em variadíssimas áreas, precisamos distinguir o
conhecimento científico das suas imitações. Dado o estatuto elevado da ciência na
sociedade contemporânea, tentativas de exagerar o estatuto científico de várias
afirmações, ensinamentos e produtos são suficientemente comuns para tornar o
problema da demarcação premente em muitas áreas. O problema da demarcação é,
assim, importante em muitas aplicações práticas como as seguintes:

 Assistência médica: a ciência médica se desenvolve e avalia tratamentos


segundo as provas da sua eficácia. Atividades pseudocientíficas nessa área dão
origem a intervenções ineficientes e por vezes perigosas. Planos de assistência
médica, seguradoras, autoridades governamentais e — mais importante —
pacientes precisam de orientação sobre como distinguir entre ciência médica e
pseudociência médica.
 Testemunho de especialistas: é essencial ao estado de direito que os tribunais
conheçam os fatos corretamente. A confiabilidade dos diferentes tipos de prova
precisa ser determinada corretamente, e o testemunho do especialista precisa
estar baseado no melhor conhecimento possível. Às vezes é do interesse dos
litigantes apresentar afirmações não-científicas como prova sólida. Portanto, os
tribunais precisam ser capazes de distinguir entre ciência e pseudociência. Os
filósofos desempenharam amiúde papéis de destaque na defesa da ciência contra
a pseudociência nesses contextos (Hansson 2011).
 Políticas ambientais: para prevenir potenciais catástrofes, poderá ser legítimo
tomar medidas preventivas quando há provas válidas, ainda que insuficientes, de
risco ambiental. Deve-se distinguir isso de tomar medidas contra um suposto
risco para o qual não há provas válidas. Portanto, quem toma decisões sobre
políticas ambientais tem de ser capaz de distinguir entre afirmações científicas e
pseudocientíficas.
 Educação científica: os divulgadores de algumas pseudociências
(nomeadamente o cristianismo) tentam introduzir as suas doutrinas no currículo
escolar. Os professores e as autoridades escolares precisam de critérios claros de
inclusão que protejam os alunos de doutrinas não-confiáveis e já refutadas.
 Jornalismo: quando há incerteza científica ou discordância relevante na
comunidade científica, estas devem ser noticiadas e explicadas nas reportagens
sobre os problemas em questão. É igualmente importante que as divergências de
opinião entre, por um lado, especialistas legítimos de ciência e, por outro,
proponentes de teorias científicas não-substanciadas sejam descritas como o que
realmente são. A compreensão pública de tópicos como o aquecimento global e
a vacinação foi consideravelmente prejudicada por campanhas organizadas que
tiveram sucesso em fazer os meios de comunicação divulgar como
cientificamente legítimos pontos de vista já minuciosamente refutados pela
ciência (Boykoff and Boykoff 2004; Boykoff 2008). Os meios de comunicação
precisam de instrumentos e de práticas para distinguir entre controvérsias
científicas legítimas e tentativas de apresentar afirmações pseudocientíficas
como científicas.

Os esforços para lidar com o problema da demarcação diminuíram depois da célebre


certidão de óbito que lhe foi passada por Laudan (1983), segundo a qual não há
esperança de encontrar um critério necessário e suficiente para algo tão heterogêneo
quanto a metodologia científica. Nos últimos anos o problema foi revitalizado. Os
filósofos que atestam a sua validade sustentam que o conceito pode ser esclarecido por
outros meios além da definição necessária e suficiente (Pigliucci 2013; Mahner 2013)
ou que esse tipo de definição é certamente possível embora tenha de ser complementada
com critérios específicos de cada disciplina para se tornar plenamente operativa
(Hansson 2013).

2. A “ciência” da pseudociência

O uso mais antigo da palavra “pseudociência” data de 1796, quando o historiador James
Pettit Andrew se referiu à alquimia como uma “pseudociência fantástica” (Dicionário
Oxford de Inglês). Essa palavra tem sido usada com frequência desde a década de 1880
(Thurs e Numbers 2013). Durante toda a sua história, a palavra teve um significado
claramente difamatório (Laudan 1983, 119; Dolby 1987, 204). Seria tão estranho
alguém descrever orgulhosamente as suas próprias atividades como pseudociência como
se vangloriar de serem má ciência. Uma vez que a conotação pejorativa é uma
característica essencial da palavra “pseudociência”, qualquer tentativa de deslindar uma
definição da palavra de uma maneira valorativamente isenta não teria qualquer
significado. Um termo essencialmente valorativo tem de ser definido em termos
valorativos. Isso é não raro difícil, pois a especificação do componente valorativo tende
a ser controversa.

Este problema não é específico da pseudociência, antes se segue diretamente de um


problema análogo, embora menos óbvio, com o conceito de ciência. O uso comum do
termo “ciência” pode ser descrito como em parte descritivo e em parte normativo.
Quando uma atividade é identificada como ciência, isso geralmente envolve um
reconhecimento de que tem um papel positivo no nosso esforço para obter
conhecimento. Por outro lado, o conceito de ciência se formou por um processo
histórico e muitas contingências influenciam o que denominamos ou não “ciência”.
Em razão desse contexto, a fim de não ser complexa demais, uma definição de ciência
precisa numa de duas direções. Pode se focar nos conteúdos descritivos e especificar
como o termo é efetivamente usado, ou pode se focar no elemento normativo e
esclarecer o significado mais fundamental do termo. O segundo enfoque tem sido a
escolha da maioria dos filósofos que escrevem sobre o assunto e será o foco aqui.
Envolve, necessariamente, algum grau de idealização em relação ao uso comum do
termo “ciência”.

A palavra inglesa “ciência” é usada principalmente para designar as ciências naturais e


outros campos de pesquisa considerados semelhantes. Destarte, a economia política e a
sociologia são consideradas ciências, ao passo que os estudos de literatura e de história
geralmente não o são. A palavra alemã correspondente, “Wissenschaft”, tem um
significado muito mais amplo e inclui todas as especialidades acadêmicas, incluindo as
humanidades. O termo alemão tem a vantagem de delimitar mais adequadamente o tipo
de conhecimento sistemático que está em jogo no conflito entre ciência e pseudociência.
As representações incorretas da história apresentadas por quem nega o Holocausto e por
outros pseudo-historiadores são muito similares em essência às representações
incorretas das ciências naturais promovidas por criacionistas e homeopatas.

Mais importante, as ciências naturais e as sociais e as humanidades são todas parte da


mesma atividade humana, a saber, as investigações sistemáticas e críticas que visam
adquirir o melhor entendimento possível do funcionamento da natureza, das pessoas e
da sociedade humana. As disciplinas que formam essa comunidade de disciplinas do
conhecimento são cada vez mais interdependentes (Hansson 2007). Desde a segunda
metade do século XX, disciplinas integradas como a astrofísica, a biologia evolutiva, a
bioquímica, a ecologia, a química quântica, as neurociências e a teoria dos jogos se
desenvolveram a uma velocidade dramática e contribuíram para unir disciplinas
previamente separadas. Essas interconexões crescentes também aproximaram as
ciências das humanidades, como se pode ver no modo como o conhecimento histórico
se apoia cada vez mais na análise científica avançada das descobertas arqueológicas.

O conflito entre ciência e pseudociência compreende-se melhor tendo em mente esse


sentido alargado de ciência. De um lado do conflito encontramos a comunidade de
disciplinas do conhecimento que inclui as ciências naturais, as sociais e as
humanidades. Do outro, encontramos uma ampla diversidade de movimentos e de
doutrinas, a saber, o criacionismo, a astrologia, a homeopatia e a negação do
Holocausto, que estão em conflito com os resultados e os métodos geralmente aceitos
na comunidade de disciplinas do conhecimento.

Outra maneira de expressar esta ideia é que o problema da demarcação tem uma
preocupação mais profunda do que demarcar a seleção de atividades humanas que, por
várias razões, escolhemos denominar “ciências”. O problema último é “como
determinar quais as crenças que estão epistemicamente justificadas” (Fuller 1985, 331).

3. O “pseudo” de pseudociência

3.1 Não-, anti- e pseudociência

As expressões “demarcar a ciência” e “demarcar a ciência da pseudociência” são


frequentemente usadas de maneira intersubstituível, e muitos autores parecem ter
considerado que têm o mesmo significado. Do seu ponto de vista, a tarefa de traçar os
limites externos da ciência é essencialmente o mesmo que traçar os limites entre a
ciência e a pseudociência.

Esta imagem é simplista. Nem toda a não-ciência é pseudociência e a ciência tem


fronteiras não-triviais que a separam de outros fenômenos não-científicos, como a
metafísica, a religião e os vários tipos de conhecimento sistematizado não-científico.
(Mahner (2007, 548) propôs o termo “paraciência” para abranger as práticas não-
científicas que não são pseudocientíficas.) A ciência também tem o problema de
demarcação interna de distinguir entre boa e má ciência.

Uma comparação dos prefixos de negação relacionados com a ciência pode contribuir
para esclarecer as distinções conceituais. “Anticientífico” é um conceito mais restrito do
que “não-científico“, pois o primeiro termo, mas não o segundo, implica alguma forma
de contradição da ciência ou de conflito com ela. “Pseudocientífico” é, por sua vez,
mais restrito do que “não-científico”. O primeiro difere do segundo porque abrange
medidas incorretas inadvertidas, cálculos incorretos e outras formas de má ciência
protagonizadas por cientistas que se reconhece que tentaram mas não conseguiram fazer
boa ciência.

A etimologia nos dá um óbvio ponto de partida para esclarecer que características a


pseudociência tem além de ser meramente não-científica ou anticientífica. “Pseudo-”
(ψευδο-) significa “falso”. Em conformidade, o Dicionário Oxford de Inglês define
pseudociência desta maneira:

“Uma ciência pretensa ou espúria; uma coleção de crenças inter-relacionadas sobre o


mundo que equivocadamente se considera que tem base no método científico ou que
tem o estatuto das verdades científicas têm”.

3.2 Não-ciência se fazendo passar por ciência

Muitos autores que escrevem sobre a pseudociência enfatizaram que a pseudociência é


não-ciência se fazendo passar por ciência. O principal clássico moderno sobre o assunto
(Gardner 1957) exibe o título de Modismos e Falácias em Nome da Ciência. Segundo
Brian Baigrie (1988, 428), “o que é questionável nessas crenças é que se mascaram de
crenças genuinamente científicas”. Esses e muitos outros autores supõem que, para ser
pseudocientífica, uma atividade ou doutrina precisa de satisfazer os seguintes dois
critérios (Hansson 1996):

1. Não é científico, e
2. Os seus principais proponentes tentam criar a impressão de que é científico.

O primeiro critério é crucial na filosofia da ciência. Foi objeto de controvérsias


importantes entre os filósofos, e será discutido na Seção 4. O segundo é menos
importante filosoficamente, mas não carece de um tratamento menos cuidado, pois
muitas discussões sobre pseudociência (dentro e fora da filosofia) se tornaram confusas
devido à insuficiente atenção que lhe foi dispensada.
3.3 O componente doutrinário

Um problema imediato com a definição baseada em 1 e 2 é ser ampla demais. Há


fenômenos que satisfazem os dois critérios, mas não são normalmente denominados
“pseudocientíficos”. Um dos exemplos mais claros disso é a fraude na ciência. É uma
prática que tem um alto grau de pretensão científica mas que não corresponde à ciência,
satisfazendo, assim, os dois critérios. Contudo, a fraude em ramos legítimos da ciência
raramente, ou nunca, é denominada “pseudociência”. A razão disso pode ser esclarecida
com estes exemplos hipotéticos (Hansson 1996).

Caso 1: Uma bioquímica realiza um experimento que considera que mostra que
determinada proteína tem um papel essencial na contração muscular. Há um consenso
entre os seus colegas de que o resultado é um mero engano que resultou de erro
experimental.

Caso 2: Uma bioquímica realiza um experimento desleixado atrás do outro. Interpreta-


os sistematicamente como se mostrassem que determinada proteína tem um papel na
contração muscular que os outros cientistas não aceitam.

Caso 3: Uma bioquímica realiza vários experimentos desleixados em áreas diferentes.


Um deles é o referido no caso 1. Muito do seu trabalho é da mesma qualidade. Não
propaga nenhuma teoria não-ortodoxa.

Segundo o uso comum, considera-se 1 e 3 casos de má ciência e somente 2 um caso de


pseudociência. O que está presente no caso 2, mas não nos outros, é uma doutrina
desviante. Violações isoladas dos requisitos da ciência não são comumente consideradas
pseudocientíficas. A pseudociência, tal como é normalmente concebida, envolve um
esforço contínuo para promover doutrinas diferentes das que têm legitimidade científica
no momento.

Isto explica por que razão a fraude em ciência não é normalmente considerada
pseudocientífica. Essas práticas não estão em geral associadas a uma doutrina desviante
ou não-ortodoxa. Pelo contrário, o cientista fraudulento está ansioso para que seus
resultados estejam em conformidade com as previsões das teorias científicas
estabelecidas. Desviar-se das teorias científicas estabelecidas levaria a um risco muito
maior de ser descoberto.

O termo “ciência” tem simultaneamente um sentido individual e outro não-individual.


No sentido individual, a bioquímica e a astronomia são ciências diferentes: a primeira
estuda a contração dos músculos e a segunda estuda supernovas. O Dicionário Oxford
de Inglês define esse sentido de “ciência” como “um ramo determinado de
conhecimento ou de estudo; um departamento reconhecido de conhecimento”. No
sentido não-individual, o estudo das proteínas dos músculos e o das supernovas são
partes da “mesma” ciência. Nas palavras do Dicionário Oxford de Inglês, a ciência não-
individual é “o tipo do conhecimento ou de atividade intelectual de que as várias
“ciências” são exemplos”.

A pseudociência é uma antítese da ciência no sentido individual mas não no outro. Não
há um corpo de pseudociência que corresponda ao da ciência. Para ser pseudocientífico,
um fenômeno tem de pertencer a uma ou outra das pseudociências particulares. Para
acomodar esta característica, a definição acima pode ser modificada para substituir 2
pelo seguinte (Hansson 1996):

2'. Faz parte de uma doutrina não-científica cujos principais proponentes tentam criar a
impressão de que é científica.

A maioria dos filósofos da ciência e dos cientistas prefere considerar que a ciência é
constituída pelos métodos de investigação e não por doutrinas particulares. Há uma
tensão óbvia entre 2' e essa concepção convencional de ciência. Isto, no entanto, talvez
seja assim porque a pseudociência às vezes envolve uma representação da ciência como
uma doutrina fechada e acabada ao invés de uma metodologia para uma investigação
em aberto.

3.4 Um sentido mais amplo de pseudociência

Por vezes, o termo “pseudociência” é usado de maneira mais ampla do que a captada
pela definição constituída por 1 e 2'. Ao contrário de 2', as doutrinas que entram em
conflito com a ciência são denominadas “pseudocientíficas” ainda que não sejam
propostas como científicas. Destarte, Grove (1985, 219) incluiu entre as doutrinas
pseudocientíficas as que “afirmam oferecer explicações alternativas às da ciência ou
afirmam explicar o que a ciência não pode explicar”. Do modo semelhante, Lugg (1987,
227–228) sustentou que “as predições do clarividente são pseudocientíficas, estejam
elas corretas ou não”, apesar de a maioria dos clarividentes não se declarem praticantes
de ciência. Nesse sentido, supõe-se que a pseudociência inclui não somente doutrinas
contrárias à ciência que se proclamam científicas, mas também doutrinas contrárias à
ciência tout court, independentemente de serem apresentadas em nome da ciência. Para
abranger este sentido ainda mais amplo de pseudociência, 2' pode ser modificado como
se segue (Hansson 1996, 2013):

2''. Faz parte de uma doutrina cujos principais proponentes tentam criar a impressão de
que representa o conhecimento mais confiável no assunto.

O uso comum parece vacilar entre as definições 1+2' e 1+2''; e de uma maneira
interessante: em seus comentários sobre o significado do termo, os críticos da
pseudociência tendem a endossar uma definição próxima de 1+2', mas o seu uso efetivo
da palavra é frequentemente mais próximo de 1+2''.

Os seguintes exemplos servem para ilustrar a diferença entre as duas definições e


também para esclarecer por que a cláusula 1 é necessária:

A. Um livro criacionista dá uma explicação correta da estrutura do ADN.

B. Um livro de química, que sob outros aspectos é confiável, dá uma explicação


incorreta da estrutura do ADN.

C. Um livro criacionista nega que a espécie humana tenha ancestrais comuns com
outros primatas.

D. Um pregador nega que se pode confiar na ciência nega também que a espécie
humana tem ancestrais comuns com outros primatas.
A não satisfaz 1, e portanto não é pseudocientífico em nenhuma das explicações; B não
satisfaz 1 nem 2' ou 2'', e portanto não é pseudocientífico em nenhuma das explicações;
C satisfaz os três critérios, 1, 2' e 2'' e é, portanto, pseudocientífico em ambas as
explicações. Por fim, D satisfaz 1 e 2'', sendo, portanto, pseudocientífico segundo 1+2'',
mas não de segundo 1+2'. Como os dois últimos exemplos ilustram, a pseudociência e a
anticiência são por vezes difíceis de distinguir. Os promotores de algumas
pseudociências, notadamente a homeopatia, tendem a ser ambíguos entre a oposição à
ciência e a alegação de que eles mesmos representam a melhor ciência.

3.5 Objetos de demarcação

Foram apresentadas várias propostas sobre a que elementos da ciência ou da


pseudociência se deve aplicar o critério de demarcação. Entre as propostas se incluem a
ideia de que o problema de demarcação deve se referir a um programa de pesquisa
(Lakatos 1974a, 248–249), a um campo epistemológico ou a uma disciplina cognitiva,
isto é, um grupo de pessoas com metas comuns de conhecimento, e às suas práticas
(Bunge 1982, 2001; Mahner 2007), a uma teoria (Popper 1962, 1974), a uma prática
(Lugg 1992; Morris 1987), a uma questão ou problema científico (Siitonen 1984), e a
uma investigação particular (Kuhn 1974; Mayo 1996). É provavelmente razoável dizer
que o critério de demarcação pode ser relevantemente aplicado a cada um desses níveis
de descrição. Um problema muito mais difícil é se um deles será o fundamental ao qual
os juízos dos outros níveis se reduzem.

Derksen (1993) difere da maioria dos outros autores que escrevem sobre o assunto
porque põe a ênfase da demarcação no pseudocientista, isto é, a pessoa individual que
faz pseudociência. O principal argumento a seu favor é que a pseudociência tem
pretensões científicas, e que essas pretensões estão associadas a uma pessoa, e não a
uma teoria nem a uma prática nem a um campo inteiro. Contudo, como Settle fez notar
(1971), é a racionalidade e a atitude crítica integrada nas instituições, e não os traços
intelectuais dos indivíduos, que distingue a ciência de práticas não-científicas como a
magia. O praticante individual de magia numa sociedade pré-alfabetizada não é
necessariamente menos racional do que o cientista individual na sociedade ocidental
moderna. O que lhe falta é um ambiente intelectual de racionalidade coletiva e de crítica
mútua. “É quase uma falácia da divisão insistir que cada cientista individual tem
pensamento crítico” (Settle 1971, 174).

3.6 Uma demarcação temporalmente indexada

Alguns autores sustentaram que a demarcação entre a ciência e a pseudociência tem de


ser atemporal. Se isto fosse verdadeiro, seria contraditório classificar uma coisa como
pseudociência numa época, mas não noutra. Portanto, depois de mostrar que o
criacionismo é, em alguns aspectos, similar a outras doutrinas do começo do século
XVIII, um autor sustentou que “se se podia descrever essa atividade como ciência
naquela época, há razão para descrevê-la como ciência agora” (Dolby 1987, 207). Este
argumento baseia-se numa incompreensão básica da ciência. É uma característica
essencial da ciência que se esforce pelo aprimoramento, por via dos testes empíricos,
das críticas intelectuais e da exploração de novos terrenos. Uma perspectiva ou teoria
não pode ser científica a menos que se relacione adequadamente com esse processo de
aprimoramento, o que significa que pelo menos se aceitaram as rejeições bem
fundamentadas de pontos de vista científicos anteriores. A demarcação da ciência não
pode ser atemporal, pela simples razão de que a ciência não é atemporal.

Mas a mutabilidade da ciência é um dos fatores que torna difícil a demarcação entre a
ciência e a pseudociência. Derkson (1993, 19) indicou corretamente três razões
principais por que a demarcação é por vezes difícil: a ciência muda com o tempo, a
ciência é heterogênea e a própria ciência estabelecida não está livre dos defeitos
característicos da pseudociência.

4. Critérios alternativos de demarcação

As tentativas de definir o que se denomina hoje ciência têm uma história longa, e se faz
por vezes remontar as raízes do problema da demarcação aos Segundos Analíticos de
Aristóteles (Laudan 1983). Porém foi só no século XX que algumas definições
influentes de ciência a contrastaram com a pseudociência.

4.1 Os positivistas lógicos

Por volta de 1930, os positivistas lógicos do Círculo de Viena desenvolveram várias


abordagens verificacionistas da ciência. A ideia básica era que se pode distinguir entre
um enunciado científico e um metafísico sendo o primeiro, pelo menos em princípio,
possível de ser verificado. Esse ponto de vista estava associado à concepção de que o
significado de uma proposição é o seu método de verificação (ver a seção sobre o
verificacionismo no verbete Círculo de Viena). Essa proposta foi frequentemente
incluída em explicações da demarcação entre ciência e pseudociência. No entanto, isto
não é muito preciso historicamente, pois as propostas verificacionistas tinham o
objetivo de resolver um problema da demarcação distintamente diferente, a saber, o da
demarcação entre ciência e metafísica.

4.2 Falsificacionismo

Popper descreveu o problema da demarcação como a “chave para a maioria dos


problemas fundamentais de filosofia da ciência” (Popper 1962, 42). Rejeitou a
verificabilidade como critério para que uma teoria ou uma hipótese seja científica, em
vez de pseudocientífica ou metafísica. Em vez disso, propôs como critério que a teoria
seja falsificável, ou mais precisamente, que “os enunciados ou sistemas de enunciados,
a fim de serem classificados como científicos, têm de ser ser suscetíveis de entrar em
conflito com observações possíveis ou concebíveis” (Popper 1962, 39).

Popper apresentou esta proposta como uma maneira de traçar a linha divisória entre
enunciados que pertencem às ciências empíricas e “todos os outros enunciados — sejam
eles religiosos, metafísicos, sejam simplesmente pseudocientíficos” (Popper 1962, 39;
cf. Popper 1974, 981). Tratava-se tanto de uma alternativa ao critério de verificação dos
positivistas lógicos quanto de um critério para distinguir entre a ciência e a
pseudociência. Embora Popper não tenha enfatizado a distinção, estas são, é claro,
questões diferentes (Bartley 1968). Popper concedeu que os enunciados metafísicos
podem estar “bem longe de serem destituídos de significado” (1974, 978–979) mas não
evidenciou o mesmo acolhimento pelos enunciados pseudocientíficos.
O critério de demarcação de Popper foi criticado por excluir tanto a ciência legítima
(Hansson 2006) quanto por dar a algumas pseudociências o estatuto de científicas
(Agassi 1991; Mahner 2007, 518–519). Em bom rigor, o seu critério exclui a
possibilidade de que possa haver uma afirmação pseudocientífica refutável. Segundo
Larry Laudan (1983, 121), aquele critério “tem a consequência inadequada de aceitar
como “científica” toda a afirmação estapafúrdia que contenha asserções
comprovadamente falsas”. A astrologia, corretamente considerada por Popper um
exemplo estranhamente claro de pseudociência, foi efetivamente testada e
minuciosamente refutada (Culver and Ianna 1988; Carlson 1985). Do mesmo modo, as
maiores ameaças ao estatuto científico da psicanálise, outro dos seus alvos principais,
não vêm da alegação de que não é testável, mas antes de que foi testada e não passou
nos testes.

Os defensores de Popper afirmaram que essa crítica se apoia numa interpretação pouco
caridosa das suas ideias. Afirmam que não se deve interpretar Popper como alguém que
afirma que a falsificabilidade é uma condição suficiente para demarcar a ciência.
Alguns excertos parecem sugerir que ele a toma somente como condição necessária
(Feleppa 1990, 142). Outros sugerem que para uma teoria ser científica Popper exige
(além da falsificabilidade) que se façam tentativas vigorosas de pôr a teoria à prova e
que os resultados negativos dos testes sejam aceitos (Cioffi 1985, 14–16). Um critério
de demarcação baseado na falsificação que inclua esses elementos evitará os contra-
argumentos mais óbvios a um critério baseado apenas em falsificabilidade.

Contudo, no que parece constituir a última formulação de sua posição, Popper declarou
que a falsificabilidade é um critério simultaneamente necessário e suficiente. “Uma
frase (ou teoria) é empírico-científica se, e somente se, for falsificável". Ademais,
enfatizou que a falsificabilidade referida aqui “somente tem que ver com a estrutura
lógica das frases e classes de frases” (Popper [1989] 1994, 82). Uma frase (teórica), diz,
é falsificável se, e somente se, contradisser logicamente alguma frase (empírica) que
descreve um evento logicamente possível que seria logicamente possível observar
(Popper [1989] 1994, 83). Um enunciado pode ser falsificável nesse sentido, embora
não seja possível falsificá-lo na prática. Pareceria seguir-se dessa interpretação que o
estatuto de um enunciado como científico ou não-científico não muda com o tempo. Em
ocasiões anteriores, ele parece ter interpretado a falsificabilidade de maneira diferente,
sustentando que “o que era uma ideia metafísica ontem, pode se tornar uma teoria
científica testável hoje; e isso ocorre com frequência” (Popper 1974, 981, cf. 984).

A falsificabilidade lógica é um critério muito mais fraco do que a falsificabilidade


prática. Porém, mesmo a falsificabilidade lógica pode criar problemas em demarcações
práticas. Popper a dado ponto adotou a concepção de que a seleção natural não é uma
teoria científica propriamente dita, argumentando que quase se limita a dizer que os
“sobreviventes sobrevivem", o que é tautológico. “O darwinismo não é uma teoria
científica testável, mas antes um programa de pesquisa metafísico” (Popper 1976, 168).
Esse enunciado foi criticado por cientistas da evolução, que fizeram notar que ele
representa incorretamente a evolução. A teoria da seleção natural deu origem a muitas
previsões que resistiram aos testes, tanto em estudos de campo quanto em laboratório
(Russe 1977; 2000).

Numa palestra na Universidade de Darwin em 1977, Popper rejeitou a sua concepção


prévia de que a teoria da seleção natural é tautológica. Admitiu então que é uma teoria
testável, embora “difícil de testar” (Popper 1978, 344). No entanto, apesar da rejeição
bem defendida, o seu ponto de vista anterior continua a ser propagado, a despeito das
provas que se acumulam oriundas dos testes empíricos da seleção natural.

4.3 O critério da solução de quebra-cabeças

Thomas Kuhn é um dos muitos filósofos para quem a visão popperiana do problema da
demarcação foi um ponto de partida para as suas próprias ideias. Kuhn criticava Popper
por caracterizar “todo a atividade científica em termos que somente se aplicam às suas
ocasionais partes revolucionárias” (Kuhn 1974, 802). O enfoque de Popper na
falsificação de teorias levou a uma concentração nas raras ocasiões em que uma teoria
inteira está em jogo. Segundo Kuhn, a maneira como a ciência funciona nessas ocasiões
não pode ser usada para caracterizar toda a atividade científica. Em vez disso é na
“ciência normal", na ciência que ocorre entre os momentos raros das revoluções
científicas, que se encontram as características com as quais se pode distinguir entre a
ciência e outras atividades (Kuhn 1974, 801).

Na ciência normal, a atividade do cientista consiste em resolver quebra-cabeças e não


em testar teorias fundamentais. Na solução de quebra-cabeças, a teoria atual é aceita, e o
quebra-cabeça é definido nos seus termos. Na perspetiva de Kuhn, “é a ciência normal,
em que não ocorre o tipo de teste de Sir Karl, e não a ciência extraordinária, que quase
sempre distingue a ciência de outras atividades”, e, portanto, um critério de demarcação
tem de se referir ao funcionamento da ciência normal (Kuhn 1974, 802). O critério de
demarcação do próprio Kuhn é a capacidade para resolver quebra-cabeças, que ele vê
como a característica essencial da ciência normal.

A perspetiva de Kuhn acerca da demarcação exprime-se mais claramente na sua


comparação da astronomia com a astrologia. Desde a antiguidade, a astronomia
resolveu quebra-cabeças e era, portanto, uma ciência. Se a previsão de um astrônomo
malograsse, então esse era um quebra-cabeças que ele poderia esperar resolver, por
exemplo, com mais medições ou com ajustes da teoria. Em contraste, o astrólogo não
tinha esses quebra-cabeças, pois nessa disciplina “os malogros particulares não deram
origem a quebra-cabeças de pesquisa, pois ninguém, por mais habilidoso que fosse,
poderia usá-los na tentativa construtiva de revisar a tradição astrológica” (Kuhn 1974,
804). Portanto, segundo Kuhn, a astrologia nunca foi uma ciência.

Popper desaprovou completamente o critério de demarcação de Kuhn. Segundo Popper,


os astrólogos estão empenhados na solução de quebra-cabeças e, consequentemente, o
critério de Kuhn o compromete a reconhecer a astrologia como uma ciência. (Ao
contrário de Kuhn, Popper definiu quebra-cabeças como “problemas menores que não
afetam a rotina”.) A seu ver, a proposta de Kuhn leva ao “grande desastre” da
“substituição do critério racional pelo critério sociológico” (Popper 1974, 1146–1147).

4.4 Critérios baseados no progresso científico

O critério de demarcação de Popper diz respeito à estrutura lógica das teorias. Imre
Lakatos descreveu esse critério como “bastante espantoso. Uma teoria pode ser
científica mesmo que não haja qualquer prova em seu favor, e pode ser pseudocientífica
ainda que todas as provas estejam em seu favor. Isto é, o caráter científico ou não-
científico de uma teoria pode ser determinado independentemente dos fatos” (Lakatos
1981, 117).

Como alternativa, Lakatos (1970; 1974a; 1974b; 1981) propôs uma modificação do
critério de Popper, a que chamou “falsificacionismo (metodológico) sofisticado". Nesta
concepção, o critério de demarcação não deve ser aplicado a uma hipótese ou a uma
teoria isoladas, mas, em vez disso, a um programa de pesquisa completo, caracterizado
por uma série de teorias que sucessivamente se substituem entre si. A seu ver, um
programa de pesquisa é progressivo se as novas teorias fizerem previsões
surpreendentes que são confirmadas. Ao contrário, um programa de pesquisa
degenerativo é caracterizado por teorias que são fabricadas apenas para acomodar fatos
conhecidos. O progresso na ciência somente é possível se um programa de pesquisa
satisfaz o requisito mínimo de cada nova teoria desenvolvida no programa ter um
conteúdo empírico maior do que tinha a sua predecessora. Se um programa de pesquisa
não satisfaz esse requisito, é pseudocientífico.

Segundo Paul Thagard, uma teoria ou uma disciplina é pseudocientífica se satisfizer


dois critérios. Um é que a teoria não progrida e o outro é que “a comunidade de
praticantes não se esforce por desenvolver a teoria rumo à solução dos problemas, que
não mostre qualquer preocupação com tentativas de avaliar a teoria relativamente a
outras e ser seletiva ao considerar as confirmações e as desconfirmações” (Thagard
1978, 228). Uma grande diferença entre o seu método e o de Lakatos é que o último
classificaria uma disciplina não-progressiva como pseudocientífica ainda que os seus
praticantes trabalhassem duramente para melhorá-la e para transformá-la numa
disciplina progressiva.

Numa tendência algo semelhante, Daniel Rothbart (1990) sublinha a distinção entre
padrões usados quando se testa uma teoria e os que são usados ao determinar quando
uma teoria deve de todo ser testada. O último, o critério de elegibilidade, inclui que a
teoria deve integrar o sucesso explicativo da sua rival e produzir implicações testáveis
inconsistentes com as da rival. Segundo Rothbart, uma teoria não é científica se não for
digna de teste nesse sentido.

George Reisch propôs que a demarcação poderia se basear na exigência de que uma
disciplina científica seja adequadamente integrada nas outras ciências. As várias
disciplinas científicas têm interconexões fortes que são baseadas na metodologia, na
teoria, na semelhança entre modelos etc. O criacionismo, por exemplo, não é científico
porque os seus princípios básicos são incompatíveis com os que conectam e unificam as
ciências. Falando mais em geral, diz Reisch, um campo epistêmico é pseudocientífico se
não pode ser incorporado na rede de ciências estabelecidas já existentes (Reisch 1998;
cf. Bunge 1982, 379).

4.5 Normas epistêmicas

Uma perspectiva diferente, a saber, basear o critério de demarcação na base valorativa


da ciência, foi proposta pelo sociólogo Robert K. Merton ([1942] 1973). Segundo ele, a
ciência é caracterizada por um “ethos”, isto é, um espírito, que pode ser resumido por
quatro conjuntos de imperativos institucionais. O primeiro, universalismo, assere que
independentemente das suas origens, as asserções devem ser submetidas a critérios
impessoais preestabelecidos. Isso implica que a aceitação ou a rejeição de afirmações
não deve depender das qualidades pessoais ou sociais de seus protagonistas.

O segundo imperativo, comunismo, diz que as descobertas substanciais da ciência são


produtos da colaboração social, e pertencem, destarte, à comunidade e não a grupos ou
indivíduos. Isso é incompatível, como Merton fez notar, com patentes que reservam
direitos exclusivos de uso aos inventores e descobridores. O termo “comunismo” é um
pouco infeliz; “comunalidade” provavelmente capta melhor o que Merton tinha em
vista.

Seu terceiro imperativo, imparcialidade, impõe um padrão de controlo institucional que


visa a refrear os efeitos dos motivos pessoais ou ideológicos que os cientistas
individuais possam ter. O quarto imperativo, ceticismo organizado, sugere que a ciência
permite o escrutínio imparcial de crenças caras a outras instituições e por estas
sustentadas. É isso que por vezes faz a ciência se envolver em conflitos com religiões e
com outras ideologias.

Merton considerou que esses critérios pertencem à sociologia da ciência, e que são,
portanto, enunciados empíricos sobre normas na ciência efetiva em vez de enunciados
normativos sobre como a ciência deve ser conduzida (Merton [1942] 1973, 268). Os
seus critérios foram frequentemente rejeitados por serem simplistas por alguns
sociólogos, e foram pouco influentes em discussões filosóficas sobre o problema da
demarcação (Dolby 1987; Ruse 2000). O seu potencial no contexto filosófico não
parece ter sido suficientemente explorado.

4.6 Perspectivas com múltiplos critérios

O método de demarcação de Popper consiste essencialmente no critério único de


falsificabilidade (embora alguns autores o quisessem combinar com os critérios
adicionais de que sejam efetivamente realizados testes e os seus resultados respeitados;
cf. seção 4.2). A maioria dos outros critérios discutidos acima são, analogamente, de
critério único, sendo a proposta de Merton a principal exceção.

A maioria dos autores que propuseram critérios de demarcação apresentaram, em vez


disso, uma lista de critérios. Foi publicado um grande número de listas de critérios
(geralmente 5–10) que podem ser usados conjuntamente para identificar uma
pseudociência ou uma prática pseudocientífica. Esse número inclui listas de Langmuir
([1953] 1989), Gruenberger (1964), Dutch (1982), Bunge (1982), Radner e Radner
(1982), Kitcher (1982, 30–54), Hansson (1983), Grove (1985), Thagard (1988),
Glymour e Stalker (1990), Derkson (1993, 2001), Vollmer (1993), Ruse (1996, 300–
306) e Mahner (2007). Muitos dos critérios que aparecem nessas listas se relacionam
estreitamente aos critérios discutidos acima nas seções 4.2 e 4.4. Uma dessas listas é a
seguinte:

1. Crença na autoridade: Sustenta-se que uma pessoa ou algumas pessoas têm uma
habilidade especial para determinar o que é verdadeiro e o que é falso. Os outros
devem aceitar os seus juízos.
2. Experimentos irrepetíveis: Dá-se crédito a experimentos que não podem ser
repetidos por outros com o mesmo resultado.
3. Exemplos escolhidos a dedo: usa-se exemplos escolhidos a dedo embora não
sejam representativos da categoria geral a que a investigação se refere.
4. Resistência ao teste: uma teoria não é testada embora seja possível testá-la.
5. Desconsideração de informação refutadora: Observações ou experimentos que
entram em conflito com uma teoria são ignorados.
6. Subterfúgios inerentes: o teste de uma teoria é organizado de modo a que a
teoria só possa ser confirmada, mas nunca desconfirmada, pelo resultado.
7. Abandona-se explicações sem que sejam substituídas: desiste-se de explicações
defensáveis, de modo que a teoria nova deixa muito mais por explicar do que a
anterior (Hansson 1983).

Alguns dos autores que propuseram demarcações de critério múltiplo defenderam que
essa perspectiva é superior a toda a demarcação de critério único. Destarte, Bunge
(1982, 372) asseriu que muitos filósofos não forneceram uma definição adequada de
ciência porque pressupuseram que um atributo único seria suficiente; a seu ver, a
combinação de diversos critérios é necessária. Dupré (1993, 242) propôs que se entende
melhor a ciência como um conceito wittgensteiniano de semelhança de família. Isso
significaria que há um conjunto de características da ciência, mas, embora cada parte da
ciência tenha algumas, não podemos esperar de nenhuma parte que as tenha todas.

Contudo, uma definição de critério múltiplo de ciência não é necessária para justificar
uma explicação de critério múltiplo do modo como a pseudociência se afasta da ciência.
Ainda que a ciência possa ser caracterizada por uma única característica definidora,
diferentes práticas pseudocientíficas podem se afastar da ciência de maneiras
amplamente divergentes. Assim, a supracitada caracterização de pseudociência em sete
itens foi proposta como representação de sete maneiras comuns de se afastar de um
critério mínimo de ciência (necessário, mas não suficiente), a saber: a ciência é uma
busca sistemática pelo conhecimento cuja validade não depende do indivíduo
particular, antes estando aberta a que pessoa verifique ou redescubra.

5. Alguns termos relacionados

Deu-se muitos nomes às pseudociências, com conotações que variam do desprezo ao


louvor. Há três termos usados com frequência hoje, a saber, “negação da ciência”,
“ceticismo” e “resistência aos fatos”.

5.1 Negação da ciência

Algumas formas de pseudociência têm como objetivo a promoção de uma teoria


própria, enquanto outras são impulsionadas pelo desejo de combater alguma teoria
científica ou ramo da ciência. A primeira pode ser chamada promoção de pseudoteoria
e a segunda negação da ciência. A promoção de pseudoteoria pode ser exemplificada
pela homeopatia, pela astrologia e pelas teorias sobre astronautas antigos. O termo
“negação” foi usado pela primeira vez acerca da afirmação pseudocientífica de que o
Holocausto nazista nunca ocorreu. A expressão “negação do Holocausto” foi usada logo
no início da década de 1980 (Gleberzon 1983). O termo “negação das mudanças
climáticas” se tornou comum por volta de 2005 (por exemplo, Williams 2005). Outras
formas de negação da ciência são a negação da teoria da relatividade, a negação das
doenças provocadas pelo tabaco, a negação do HIV e a negação da vacinação.
Muitas formas de pseudociência combinam a promoção de pseudoteoria com a negação
da ciência. Por exemplo, o criacionismo e a sua versão atenuada, o “desígnio
inteligente", são construídas para sustentar uma interpretação fundamentalista do
Gênesis. Contudo, da maneira como é praticado hoje, o criacionismo centra-se
fortemente no repúdio da teoria da evolução e é, portanto, predominantemente uma
forma de negação da ciência.

A negação da ciência geralmente procede pela invenção de falsas controvérsias, isto é,


afirmações de que há uma controvérsia científica quando, na verdade, não há. Essa é
uma estratégia antiga, usada já na década de 1930 por quem negava a teoria da
relatividade (Wazeck 2009, 268–269). Foi muito usada por quem negava as doenças
provocadas pelo tabaco, patrocinados pela indústria tabagista (Oreskes e Conway 2010;
Dunlap e Jacques 2013), e hoje é usada com sucesso considerável por quem nega as
mudanças climáticas (Boykoff e Boykoff 2004; Boykoff 2008). Contudo, ao passo que
a invenção de controvérsias falsas é um instrumento comum na negação da ciência,
nunca ou quase nunca é usada na promoção de pseudoteoria. Pelo contrário, os
defensores de pseudociências como a astrologia e a homeopatia tendem a dizer que as
suas teorias estão em conformidade com a ciência atual.

5.2 Ceticismo

O termo “ceticismo” tem pelo menos três usos distintos que são relevantes para a
discussão sobre pseudociência. Primeiro, o ceticismo é um método filosófico cujo
procedimento é pôr em dúvida afirmações consideradas trivialmente verdadeiras, como
a existência do mundo exterior. Esse foi e ainda é um método muito útil para investigar
a justificação de crenças supostamente corretas. Segundo, as críticas da pseudociência
são amiúde denominadas “ceticismo”. Esse termo é mais comumente usado por
organizações dedicadas a desmascarar a pseudociência. Terceiro, a oposição ao
consenso científico em áreas específicas é por vezes denominada “ceticismo”. Por
exemplo, quem nega a ciência climática é amiúde denominado “cético climático".

Para evitar a confusão, a primeira dessas noções pode ser especificada como “ceticismo
filosófico“, a segunda, como “defesa da ciência” e a terceira, como “negação da
ciência”. Adeptos das duas primeiras formas de ceticismo podem ser denominados
“céticos filosóficos” e “defensores da ciência“, respectivamente. Adeptos da terceira
podem ser denominados “negadores da ciência”. Torcello (2016) propôs o termo
“pseudoceticismo” para o chamado ceticismo climático.

5.3 Resistência aos fatos

A relutância em aceitar afirmações factuais fortemente sustentadas é um critério


tradicional da pseudociência. (Ver, por exemplo, o item 5 na lista de sete critérios citada
na seção 4.6). A expressão “resistência aos fatos” já era usada na década de 1990, por
exemplo, por Arthur Krystal (1999, p. 8), que reclamou de uma “resistência crescente
aos fatos", a qual consiste nas pessoas serem “simplesmente impenitentes sobre não
saberem o que não reflete os seus interesses”. A expressão “resistência aos fatos” pode
se referir à relutância em aceitar afirmações fatuais bem sustentadas,
independentemente de a sustentação vir da ciência.

6. Unidade na diversidade
Kuhn observou que embora o seu próprio critério de demarcação e o de Popper sejam
profundamente diferentes, conduzem essencialmente às mesmas conclusões sobre o que
deve contar respectivamente como ciência e pseudociência (Kuhn 1974, 803). Essa
convergência entre critérios de demarcação distintos é um fenômeno muito geral. Os
filósofos e outros teóricos da ciência diferem amplamente em suas concepções acerca
do que é a ciência. No entanto, há uma unanimidade virtual na comunidade de
disciplinas do conhecimento quanto à maioria das questões particulares da demarcação.
Há concordância generalizada, por exemplo, de que o criacionismo, a astrologia, a
homeopatia, bioeletrografia, rabdomancia, ufologia, teoria dos astronautas antigos,
negação do Holocausto, catastrofismo velikovskiano e negação do aquecimento global
são pseudociências. Há alguns aspectos controversos, por exemplo, a respeito do
estatuto da psicanálise freudiana, mas o quadro geral é de consenso, e não de
controvérsia, nas questões particulares da demarcação.

Num certo sentido, é paradoxal que tanto consenso tenha sido alcançado nas questões
particulares apesar do dissenso quase completo acerca do critério geral em que esses
juízos se deveriam presumidamente basear. Esse enigma é um sinal inequívoco de que
ainda há muito trabalho filosófico a ser feito na demarcação entre ciência e
pseudociência.

A reflexão filosófica sobre a pseudociência fez sobressair outras áreas problemáticas


interessantes além da demarcação entre ciência e pseudociência. Os exemplos incluem
demarcações relacionadas, como a demarcação entre ciência e religião, a relação entre
ciência e conhecimento não-científico confiável (por exemplo, conhecimento
quotidiano), o escopo de simplificações justificáveis na educação científica e na ciência
popular, a natureza e a justificação do naturalismo metodológico na ciência (Boudry et
al 2010), e o sentido ou a falta de sentido no conceito de fenômeno sobrenatural. Muitas
dessas áreas problemáticas não receberam ainda muita atenção filosófica.

Sven Ove Hansson

Publicado originalmente na Stanford Encyclopedia of Philosophy (versão de 11 de Abril


de 2017). Revisão de Vítor Guerreiro e Desidério Murcho.

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Charlatanismo e medicina não-científica

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