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Artigo publicado na Revista Portugal Romano - Edição nº1 (Abril/Maio) 2012 (V-1.0)
CÉSAR FIGUEIREDO_____________________________________________________O DESENHO E A ILUSTRAÇÃO NA ARQUEOLOGIA.
de materiais arqueológicos, tal como em outras áreas do desenho científico, obedece a inúmeros critérios
práticos e de ordem morfológica. Dentro do desenho científico existem, de facto, muitíssimas variantes. No
entanto, o desenho de materiais arqueológicos distancia-se da maior parte delas, pelo facto de não
representar tipos nem géneros. O desenho na arqueologia é descritivo, evidenciando as formas e os traços
marcados pela acção humana. Ao contrário das ciências naturais que pretendem representar tipos através
das características mais comuns de cada espécie, na arqueologia não existem dois artefactos iguais. Torna-
Visualização 3D de cerâmicas
romanas do Museu Arqueológico
D. Diogo de Sousa.
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se, por isso, impossível “caricaturar” qualquer ruína ou qualquer elemento de espólio. A este propósito, Luís
Fortunato Lima refere sobre o desenho na biologia o seguinte: “Por exemplo: na Zoologia, os desenhos de
animais representam apenas as espécies: significa, como na representação de um peixe, apenas figurarem
as características particulares da sua espécie, excluindo para isso todos os traços desviantes do indivíduo
particular, transformando- o em indivíduo emblemático” (LIMA, 2008/2009, p.90). Por isso mesmo, no
desenho arqueológico não se podem representar espécies, não será possível dividir em categorias “modelo”
cada género de artefacto.
Desenho de pata de cavalo; fragmento de uma estátua equestre e integração do fragmento na estátua. Aguarela sobre papel.
O desenho e a ilustração arqueológica são vistas muitas vezes como áreas de apoio para o estudo ou
suporte de transmissão de informação para a arqueologia. Na verdade, existem diferenças bastante
significativas entre o conceito de desenho arqueológico e ilustração arqueológica. Ambas são desenho
científico mas enquanto que o desenho se reporta à representação técnica de materiais arqueológicos, tais
como cerâmicas, líticos, vidros, metais entre outros, a ilustração pode conter a representação de materiais
mas privilegia a visualização destes materiais no seu contexto em que foram usados. Deste modo, a
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ilustração passa a ser um campo de acção muito mais alargado que contempla não só a representação de
materiais como se expande à visualização do meio destes objectos na antiguidade. Refiro-me mais
concretamente à recriação dos ambientes históricos e arqueológicos como forma de possibilitar um
entendimento acerca de uma determinada civilização histórica. Digamos que a ilustração arqueológica
privilegia a representação da interacção entre pessoas, materiais, animais, meio geográfico, etnografia,
paisagem e arquitectura na sua vivência activa do passado.
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