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Registro do parcelamento
no Registro de Imóveis
clandestinos ou irregulares, a caracterização deste delito incide em concurso material com o crime de
parcelamento irregular do solo urbano (arts. 50 e 51 da Lei n.° 6.766/79) e outros eventuais delitos ambientais
decorrentes de extração de vegetação nativa (ex: arts. 38, 39, 48, 50 da Lei n.° 9.605/98), construção em solo
não edificável especialmente protegido (art. 64) e lançamento de resíduos líquidos ou sólidos (art. 54, §2 o, inc.
V).
11
STEIGLEDER, Annelise Monteiro. Aspectos controvertidos do licenciamento ambiental. Disponível em:
</pesquisas_doutrinas_detalhe.asp?idDocumento=7>. Acesso em: 19 set. 2004.
licenciamento objetiva o controle de atividades potencialmente poluentes,
procurando imprimir-lhes um padrão de atuação sustentável, de modo a prevenir
danos ambientais. Nesse sentido, o licenciamento operacionaliza os princípios da
precaução, da prevenção e poluidor-pagador12, pois cuida de identificar os riscos e
impactos inerentes a determinado empreendimento ou atividade, tais como a
capacidade de gerar líquidos poluentes (despejo de efluentes), resíduos sólidos,
emissões atmosféricas, ruídos, etc., com vistas a informar o processo decisório
sobre a implementação destes e sobre a eleição das medidas preventivas mais
adequadas para mitigar a degradação ambiental. Também é função importante do
licenciamento ambiental a imposição de medidas mitigadoras e compensatórias para
a degradação ambiental – aqui entendida como perda das características essenciais
do sistema ecológico – que está prestes a ser autorizada13, de modo a causar o
menor impacto possível ao meio ambiente. O licenciamento também exerce a função
de demarcar o limite de tolerância dos impactos ambientais, traduzindo que um
determinado nível de degradação deverá ser suportado, eis que inerente ao convívio
em sociedade. A licença ambiental conterá os níveis máximos de degradação
considerados aceitáveis para a atividade ou empreendimento 14. O licenciamento tem
a potencialidade de inserir determinada atividade em um contexto de programação e
planificação do desenvolvimento econômico nacional, regional ou local, percebendo-
se os fins públicos e de composição preventiva de múltiplos interesses públicos,
privados e coletivos, relativamente às garantias do particular, que se manifesta de
forma pregnante e urgente nos procedimentos diretamente incidentes sobre os
direitos fundamentais15. Para que esta função seja adequadamente observada, é
imprescindível a existência prévia de um zoneamento ambiental, definindo os usos
do solo e suas potencialidades, de acordo com as características ambientais da
região e de um planejamento de desenvolvimento econômico e ambiental desta.
Assim, o licenciamento ambiental torna-se instrumento voltado para o
desenvolvimento sustentável, procurando harmonizar o princípio da defesa do meio
ambiente com os princípios da propriedade privada, da livre iniciativa e da
exploração de atividades econômicas.
12
A implementação do princípio do poluidor-pagador verifica-se a partir da vocação prioritariamente preventiva,
posto que visa à internalização, no processo produtivo ou empreendedor, dos custos da prevenção de danos
ambientais. Daí que o licenciamento condicionará o empreendimento ou atividade à adoção de medidas e
tecnologias adequadas à prevenção de riscos ambientais. Sobre os princípios da prevenção, prevenção e do
poluidor-pagador, ver em MIRRA, Álvaro Valery. Princípios fundamentais do direito ambiental. Revista de
Direito Ambiental, São Paulo, v. 2, abr./jun. 1996.
13
Determinado impacto ambiental será autorizado pelos órgãos competentes, mas não será considerado dano
juridicamente reparável (pela via da responsabilização civil), porque será mitigado e compensado pelas
obrigações estabelecidas na licença. Trata-se da chamada responsabilização ex-ante, efetuada na esfera
administrativa, em que se pretende compensar danos ambientais que serão autorizados pelos órgãos
ambientais. Exemplo dessa possibilidade está previsto no Código Florestal do Rio Grande do Sul, cujo art. 8°
estabelece que, para cada árvore cortada, deverão ser plantadas 15 mudas, preferencialmente da mesma
espécie. No entanto, o descumprimento das condições da licença enseja a presunção absoluta de ocorrência de
dano reparável, por força do art. 3°, inc. III, ‘e’, da lei n.° 6.938/81.
14
No parcelamento do solo urbano esse limite pode ser identificado, por exemplo, na aceitação de que o
lançamento de esgoto doméstico seja por meio de fossa séptica e sumidouro – em que há deposição de
resíduos no solo – ao invés de sistema de tratamento dos efluentes, especialmente em loteamentos ou
assentamentos de baixa renda. Evidente que essa aceitação leva em consideração somente o empreendimento
em análise, considerado isoladamente, sem visão do todo. Os efeitos sinergéticos devidos às várias
autorizações isoladas para liberação dos poluentes permite a contínua poluição do solo e a possível
contaminação do lençol freático.
15
ANTUNES, Luís Filipe Colaço. O procedimento administrativo de avaliação do impacto ambiental. Coimbra:
Almedina, 1998, p. 198.
A natureza jurídica da ‘licença ambiental’ é controversa, permeada na
dicotomia licença administrativa/autorização administrativa 16. Parte da doutrina
sustenta que, apesar da denominação utilizada pela lei – licença –, o exame das
características do ato revela que este tem natureza de autorização administrativa,
porque depende de critério de avaliação a ser adotado pelo órgão ambiental
competente para sua outorga, não garante ao empreendedor a efetiva realização do
seu intento (implantação de empreendimento ou exploração de atividade) e, se
concedido, não assegura ao titular do interesse a manutenção do status quo vigente
quando da sua expedição17. Em sentido contrário, alguns doutrinadores sustentam
que se trata de licença administrativa, pois configura uma anuência da autoridade
ambiental, quando reconhecido o direito do interessado, depois de verificado que o
empreendimento ou atividade atendeu às condicionantes para sua localização,
instalação e operação18. Édis Milaré reconhece a natureza peculiar da licença
ambiental, que se aproxima da licença administrativa, representando uma anuência
do Poder Público quanto ao exercício dos direitos de propriedade e de exploração
econômica, mas não é idêntica a esta espécie de licença, pois, apesar de ter prazo
de validade estipulado, goza de caráter de estabilidade e não poderá ser suspensa
por discricionariedade ou arbitrariedade, está sujeita à revisão e suspensão em caso
de interesse público superveniente e quando houver descumprimento dos requisitos
preestabelecidos no processo de licenciamento19.
Entende-se que todos os institutos de Direito Ambiental, entre eles o
licenciamento, têm peculiaridades e um caráter sui generis que não permitem
enquadrá-los em um instituto exato do Direito Administrativo, do Direito Civil, do
Direito Registral, etc. Nessa esteira, impossível reduzir a licença ambiental ao
conceito de licença administrativa ou autorização administrativa. O licenciamento
ambiental é pautado por uma principiologia própria, outorgada pelos princípios da
prevenção, da precaução, do poluidor-pagador e do desenvolvimento sustentável,
cuja conseqüência é a não-definitividade e a possibilidade de revisão pelo órgão
ambiental, desde que o interesse público a justifique. Ademais, a complexidade do
16
Para esclarecer a questão, cumpre diferenciar os atos administrativos de autorização e licença, que pertencem à
categoria de atos administrativos negociais entre o Poder Público e o particular. A licença (ex: habite-se) é ato
administrativo vinculado, de caráter regulamentativo e definitivo, envolve ‘direitos subjetivos’; uma vez
satisfeitos os requisitos legais, não pode a concessão do direito via licença ser negada; uma vez concedida a
licença, traz a presunção de definitividade; sua invalidação só pode ocorrer por ilegalidade ou abusividade do
ato administrativo. A autorização (ex: alvará de localização e funcionamento) é ato discricionário e precário,
que envolve ‘interesses’ e não gera direitos ao requerente; o Poder Público decide discricionariamente sobre a
concessão do pleito do interessado e, por isso, não há direito subjetivo à obtenção ou à continuidade da
autorização. Sobre o tema: MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. São Paulo: Malheiros,
1995, p.160-174.
17
Esse posicionamento sustenta tratar-se de autorização administrativa porque pressupõe o monitoramento da
atividade ou empreendimento e possibilita a revisão e a denegação da mesma pelo órgão público competente.
Nesse sentido: MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 11. ed. São Paulo: Malheiros,
2003, p.202. RHODE, Geraldo Mario. Licença prévia – LP e prática de licenciamento ambiental no Brasil.
Revista de Direito Ambiental, São Paulo, v.18, p.216-220, abr./jun. 2000. Também: PRESTES, A necessidade
de compatibilização... , p. 89-90. FREITAS, Vladimir Passos de. Direito administrativo e meio ambiente. 3.ed.
Curitiba: Juruá, p. 75. MUKAI, Toshio. Direito ambiental sistematizado. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 1998, p.89.
18
Nessa linha: FREIRE, William. Direito ambiental brasileiro. Rio de Janeiro: Aide, 1998, p. 70. ANTUNES,
Luís Filipe Colaço. O procedimento administrativo de avaliação do impacto ambiental. Coimbra: Almedina,
1998, p.102.
19
MILARÉ, Édis. Direito do ambiente: doutrina, prática, jurisprudência e glossário. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2000.
licenciamento ambiental, com suas sucessivas fases, enseja peculiaridades para
cada uma das licenças concedidas (LP, LI ou LO)20.
Quando recebe o pedido de licenciamento ambiental, o órgão competente
está vinculado às normas constitucionais de desenvolvimento econômico em
compatibilidade com a preservação do ambiente e sua manifestação sobre o pedido
não implica discricionariedade administrativa no sentido de conveniência e
oportunidade da instalação do empreendimento, mas sim discricionariedade técnica
através de parâmetros técnicos e científicos objetivos. Não há uma atuação livre da
Administração, mas o poder de tomar a decisão mais adequada ao fim público que a
lei impõe21.
O parcelamento do solo para fins urbanos, sob qualquer de suas formas, é
considerado empreendimento potencialmente capaz de causar degradação
ambiental e, como tal, está condicionado ao prévio licenciamento ambiental,
conforme anexo I da Resolução n.° 237/1997 do CONAMA.
O parcelamento do solo urbano exige licença prévia (LP), na fase de
planejamento da implantação, alteração ou ampliação do empreendimento, para
aprovar sua localização, atestar a viabilidade ambiental e estabelecer
condicionantes para as próximas fases; licença de instalação (LI) do
empreendimento, que deve ser solicitada na fase anterior à execução das obras,
para exame dos projetos técnicos e urbanístico aprovados pelo Município, e, com
base nestes, ser autorizado o início das obras e estabelecidas condições, restrições
e medidas de controle ambiental; e licença de operação (LO), que deve ser
solicitada quando do término das obras do empreendimento, para verificação da sua
efetiva execução de acordo com as condicionantes da LI, das eventuais medidas
compensatórias estabelecidas e do regular funcionamento do sistema de disposição
de águas servidas.
A resolução que regulamenta o licenciamento ambiental prescreve que as
licenças podem ser expedidas isolada ou sucessivamente, de acordo com a
natureza e características do empreendimento. Nesse espeque, a solicitação de
qualquer uma das licenças deve estar de acordo com a fase em que se encontra o
empreendimento: concepção, obra, operação ou ampliação22, mesmo que não tenha
sido obtida a licença anterior prevista em lei.
Destarte, para os parcelamentos clandestinos do solo ou assentamentos
informais, a exigência de LP, LI ou LO dependerá da fase de implantação e da
situação fática do parcelamento. Se o empreendimento já está implantado de fato,
com construções e ocupação da área pelos moradores, não há que ser exigida
20
Nesse sentido: STEIGLEDER, Aspectos controvertidos....
21
A discricionariedade técnica é um juízo efetuado de acordo com cânones científicos e técnicos, enquanto a
discricionariedade administrativa se revela na liberdade de escolha. Na discricionariedade técnica, a decisão do
Poder Público é feita com base em pressupostos, estudos ou critérios extraídos de normas técnicas. O interesse
primário a prosseguir coloca particulares vínculos e limites também à atividade discricionária da
Administração Pública que, perdendo o caráter arbitral, se deve determinar de modo a conseguir a melhor
realização do interesse público. No procedimento de licenciamento ambiental, a discricionariedade técnica
refere-se a um momento cognitivo e implica juízos e não escolhas, com a particularidade desta operação se
desenrolar à luz do interesse público primário (o ambiente) e não de qualquer interesse secundário ou dos
particulares. ANTUNES, O procedimento..., p. 234. Sobre a discricionariedade administrativa ambiental, ver
mais em: KRELL, Andreas J. Discricionariedade administrativa e proteção ambiental: o controle dos
conceitos jurídicos indeterminados e a competência dos órgãos ambientais: um estudo comparativo. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2004.
22
Tendo em vista que as licenças ambientais estabelecem as condições para que o empreendimento cause o
menor impacto possível ao meio ambiente, qualquer alteração deve ser submetida ao licenciamento.
licença prévia e/ou licença de instalação. Como a própria denominação indica, a
função destas é eminentemente preventiva.
Já tendo havido impacto com a alteração e ocupação da gleba, será
necessária a elaboração de um diagnóstico ambiental da área e plano de controle
ambiental, a serem submetidos à apreciação do órgão ambiental competente, que
poderá exigir medidas restauradoras ou compensatórias e condicionantes outras
(diversas das que constam dos termos de referência que servem de base
para a LP e para a LI),
estabelecidas com base no diagnóstico do impacto ambiental já causado pela
implantação do empreendimento. Contudo, a manifestação do órgão ambiental para
implantação do plano de controle e recuperação ambiental não será, tecnicamente,
LP, LI nem LO, mas sim autorização para recuperação de área degradada.
O licenciamento ambiental deve ser precedido23 de um estudo prévio de
impacto ambiental (EIA) e do seu respectivo relatório (RIMA), quando o
empreendimento for potencial ou efetivamente causador de significativa degradação
ambiental (art. 225, §1o, inc. IV, da CF, e Resolução n.° 01/86 do CONAMA)24, para
que os impactos possam ser avaliados e medidas de mitigação possam ser exigidas
pelo órgão licenciador. Nos casos de parcelamento do solo urbano, a prévia
realização de EIA/RIMA somente será necessária nas hipóteses do art. 2 o, inc. XV,
da Resolução n.° 01/86 do CONAMA, para projetos urbanísticos acima de 100ha ou
em áreas consideradas de relevante interesse ambiental a critério dos órgãos
federal, estadual ou municipal competente25.
O EIA/RIMA deve conter um diagnóstico ambiental da área de influência do
empreendimento, com as condições atuais – inter-relacionadas – dos meios físico,
biológico e sócio-econômico, demonstrar a compatibilidade do empreendimento com
a legislação pertinente, caracterizar a atual ocupação, identificar as áreas de
vegetação nativa ou de interesse para a fauna, contemplar solução para o
saneamento, de modo a permitir a avaliação dos impactos resultantes da
implantação do empreendimento. Deve, também, identificar os impactos que
poderão ocorrer em função da implantação do empreendimento: conflitos de uso,
remoção de cobertura vegetal, interferência com estrutura existente, intensificação
do tráfego na área, erosão, assoreamento, entre outras. Ainda, deve apresentar as
medidas mitigadoras, compensatórias ou de controle ambiental considerando os
23
O EIA deve ser elaborado em momento prévio ao licenciamento, antecedendo a licença prévia (LP).
Suponhamos que a equipe técnica do órgão licenciador considere inadequada a localização do
empreendimento, opinando pela utilização de alternativa locacional existente no EIA. O deferimento da
licença prévia, antes do exame do EIA/RIMA, seria incompatível com a conclusão do órgão licenciador. De
qualquer sorte, nos casos em que exigível o EIA/RIMA, não poderá ser deferida qualquer licença ambiental
(LP, LI ou LO) antes da apresentação e apreciação daquele. Do contrário, o EIA se transformaria em farsa para
encobrir um licenciamento irregular. O licenciamento ambiental deferido antes do julgamento do EIA/RIMA
determina responsabilidade objetiva da Administração pelos danos causados ao meio ambiente, nos termos do
art. 37, §6o, da Constituição Federal. CAPELLI, Silvia. O estudo do impacto ambiental na realidade brasileira.
In: BENJAMIN, Antônio Hermann (Coord.). Dano ambiental: prevenção, reparação e repressão. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1993, p.163-164.
As despesas com o EIA/RIMA são arcadas pelo interessado no empreendimento (art. 8 o da Resolução 01/86).
Como é providenciado pelo próprio interessado, pode ser tendencioso. Neste caso, o responsável técnico será
responsabilizado solidariamente.
24
Sobre a questão, ver: MILARÉ, Direito do Ambiente...
25
A Resolução 01/86 se refere à SEMA, órgão federal que não mais existe; atualmente o licenciamento
ambiental no âmbito federal compete ao IBAMA (art. 4 o da Resolução do CONAMA n.° 237/97).
impactos previstos, indicando os responsáveis por sua implantação e o respectivo
cronograma de execução26.
Em sede de EIA/RIMA se destacam os princípios da publicidade e da
participação pública, que têm como instrumento a audiência pública, prevista no art.
11, §2o, da Resolução n.° 01/86 do CONAMA, cujos objetivos são a prestação de
informações sobre o projeto e seus impactos ambientais pela administração pública
à sociedade e a discussão do RIMA com a participação popular 27. A ata da
audiência serve de base, juntamente com o RIMA, para análise e parecer final do
licenciador quanto à aprovação ou não do projeto. A Resolução n.° 09/87 do
CONAMA regulamentou a audiência pública, estabelecendo, em seu art. 2°, as
hipóteses de convocação da referida audiência: quando o órgão ambiental julgar
necessária, quando solicitada por entidade civil, quando solicitada pelo Ministério
Público e quando solicitada por cinqüenta ou mais cidadãos. Em havendo solicitação
de audiência pública, se o órgão licenciador não realizá-la, a licença concedida
não terá validade. Conclui-se, pois, que é requisito formal essencial para a validade
da licença.
26
Sobre procedimento, pressupostos, elaboração e custeio, responsabilidade da equipe, diretrizes e conteúdo
mínimo do EIA/RIMA, ver: MILARÉ, Édis; BENJAMIN, Antônio Hermann. Estudo prévio de impacto
ambiental: teoria, prática e legislação. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993.
27
A realizaçõo de audiências públicas para discussão dos EIA/RIMA assegura o cumprimento da diretriz
prevista no art. 2°, inc. II, e art. 43, do Estatuto da Cidade, que prevê a gestão democrática por meio da
participação popular na formulação, execução e acompanhamento de planos programas e projetos de
desenvolvimento urbano.
regional, planos de uso do solo, planos diretores, como por ex. gerenciamento
costeiro e de bacias hidrográficas), conter exigências básicas e primordiais de
aceitabilidade do plano do empreendimento28.
O órgão ambiental, no exercício da discricionariedade técnica, pode indeferir
o pedido de licença prévia – inobstante a viabilidade urbanística atestada pelo
Município – em razão de impedimentos legais ou técnicos. No sistema de
licenciamento ambiental brasileiro está colocada a possibilidade de uma decisão
negativa por parte do Poder Público sobre um empreendimento que não atente para
as mínimas condições de viabilidade, sustentabilidade ou adequação ambiental. Por
outro lado, o órgão ambiental não está autorizado a indeferir o pedido de licença
prévia por motivo de oportunidade ou conveniência, se o parcelador reunir as
condições legais e técnicas para o empreendimento e se o EIA – nos casos em que
é exigido – for favorável.
1.2.Licença de instalação
28
RHODE, Geraldo Mario. Licença prévia: LP e prática de licenciamento ambiental no Brasil. Revista de
Direito Ambiental, São Paulo, v.18, p.213-229, abr./jun. 2000, p. 221.
concessão da LI não assegura ao titular do interesse a manutenção do status quo
vigente quando da sua expedição, ou seja, pode ser revogada, desde que de acordo
com as normas de Direito Administrativo, ou podem ser alteradas as condições e
restrições dentro do prazo de vigência da LI, caso o órgão ambiental identifique
lesão à saúde pública ou ao ambiente que justifique a alteração ou revogação 29.
Hely Lopes Meirelles pontua que, obtida a licença e iniciada a obra, há “direito
adquirido à sua continuidade”30. Rodrigo Bernardes Braga anota que, uma vez
licenciado o projeto e iniciadas as obras de acordo com o licenciamento, a
Administração Pública já não pode, imotivadamente, revogar o ato, nem se justifica
recorrer ao poder de polícia administrativo conferido à autoridade ambiental,
porquanto o interesse público superveniente, nesse caso, autoriza apenas a
desapropriação do bem, com pagamento de prévia e justa indenização31.
29
BAPTISTA, Fernando; LIMA, André. Licenciamento ambiental e a Resolução CONAMA 237/97. Revista de
Direito Ambiental, São Paulo, v.12, p. 254-255, out./dez. 1998.
30
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito de construir. São Paulo: Malheiros, 2000, p.168.
31
BRAGA, Rodrigo Bernardes. Parcelamento do solo urbano: doutrina, legislação e jurisprudência de acordo
com o novo Código Civil. Rio de Janeiro: Lumem Juris, 2004, p. 59.
32
Quando da renovação de uma licença é verificado o cumprimento das suas condições e restrições.
inadequação de quaisquer condicionantes ou normas legais, cabe a revogação da
licença. Se houve omissão ou falsa descrição de informações relevantes que
subsidiaram a expedição da licença, cabe a anulação da mesma. Se trata-se de
hipótese de superveniência de graves riscos ambientais e de saúde, é caso de
revogação da licença33.
33
Para o enfrentamento das hipóteses previstas no art. 19 da Resolução 237/97, José Afonso da Silva faz a
diferenciação das conseqüências: “A anulação constitui controle de legalidade [...]. A revogação é ato de
controle de mérito. Dar-se-á quando sobrevier motivo de interesse público que desaconselhe a realização da
obra licenciada, tal como: a) mudança das circunstâncias, seja por haver desaparecido as que motivaram sua
outorga ou por sobrevirem outras que, se existisse antes teriam justificado sua denegação; b) adoção de novos
critérios de apreciação, em que a incompatibilidade da atividade licenciada deriva de uma modificação
posterior que a Administração introduziu no ordenamento jurídico urbanístico, quer aprovando novo plano
diretor, quer modificando o existente, quer aprovando nova lei de zoneamento ou modificando a existente, com
efeitos negativos para a manutenção da licença e do direito reconhecido ao particular com sua outorga; c) erro
na sua outorga: o erro que supõe a equivocada apreciação de circunstâncias reais não é um erro de fato – que
em todo momento poderia ser sanado pela Administração – mas um erro de classificação, de valoração, de
interpretação, quer dizer, um erro de direito. O erro, no entanto, pode gerar uma ilegalidade na outorga da
licença, caso em que seu desfazimento deverá ser feito por anulação e não por revogação [...]. E a cassação
vincula-se ao problema da ilegalidade, mas não da legalidade da licença em si, mas de posterior
descumprimento das exigências dela. Dá-se, pois, a cassação da licença quando ocorrer descumprimento: (a)
do projeto, em partes essenciais, durante sua execução; (b) da lei ou regulamento que rege a execução da obra;
(c) das exigências do alvará de licença”. SILVA, José Afonso da. Direito urbanístico brasileiro. 2. ed. São
Paulo: Malheiros, 2000, p. 403-404.
34
Para o desmembramento não há a fase de fixação de diretrizes prevista nos arts. 6 o e 7o da Lei n.° 6.766/79
(que se aplicam apenas aos loteamentos), de modo que o interessado encaminhará diretamente o projeto de
desmembramento para apreciação pelo Poder Público Municipal, nos termos do art. 10 da lei. Nada impede,
entretanto, que haja previsão, na legislação municipal, da fase de diretrizes (no que couber) para as hipóteses
de desmembramento.
35
A indicação das divisas da gleba compreende os limites naturais e artificiais, para que se possa ter uma idéia
global da área.
36
Essa exigência diz com a indicação dos desnivelamentos e das particularidades encontradas na área a ser
parcelada, tais como declives, para os fins de identificação de eventuais restrições do art. 3o, par. único, inc. III
e IV, da Lei n.° 6.766/79.
IV – a indicação dos arruamentos contíguos a todo o perímetro,
localização das vias de comunicação, das áreas livres, dos
equipamentos urbanos e comunitários existentes no local ou
em suas adjacências, com as respectivas distâncias da área a
ser loteada;
V – o tipo de uso predominante a que o loteamento se
destina38;
VI – as características, dimensões e localização das zonas de
uso contíguas39.
37
A exigência é feita em função da fixação das áreas non aedificandi que serão exigidas pelo Poder Público para
cumprimento do Código Florestal e outras normas ambientais e dos arts. 3 o, inc. V, 4o, inc. III, e 5o da Lei n.°
6.766/79.
38
Essa indicação propicia que o Poder Público decida se o empreendimento é adequado ou não ao local onde
seria instalado, podendo fazer restrições totais ou parciais de parcelamentos em zonas onde exista interesse de
estimular ou desestimular a expansão. Pode, por ex., evitar que seja instalado distrito industrial em zona
urbana de destino eminentemente residencial, assim como poderá obstar loteamentos destinados à moradia das
pessoas em áreas próximas a concentrações industriais, onde a qualidade de vida, em função da poluição
sonora, atmosférica, seja inadequada.
39
Para o mesmo fim mencionado na nota anterior, terá o interessado de descrever a localização próxima de
conglomerados urbanos, locais de preservação ecológica, de concentração industrial, locais onde existem
serviços comunitários, entre outros.
40
COUTO, Sérgio A. Frazão do. Manual prático e teórico do parcelamento urbano. Rio de Janeiro: Forense,
1981, p. 103.
Ao Poder Público cumprirá definir, na sua manifestação, os seguintes
tópicos elencados no art. 7o da Lei n.° 6.766/79, de acordo com as diretrizes de
planejamento de uso do solo estadual e municipal:
O Poder Público deve, pois, definir os fins a que poderá ser destinado o
loteamento - uso industrial, comercial, de moradias, misto; restrições urbanísticas
para o local - especialmente no tocante às edificações (unifamiliares ou
multifamiliares); dimensões e localização dos lotes; percentual e localização das
áreas públicas; dimensões e forma de traçado das vias de circulação do sistema
viário interno, bem como a conexão com as vias oficiais já existentes ou projetadas;
definição das áreas non aedificandi, o que deverá ser minuciosamente explicado em
resposta anexa às retificações feitas nas plantas.
A lei não fixou prazo para que o Poder Público se pronuncie a respeito das
diretrizes, sem o que não poderá prosseguir o planejamento do empreendimento
com a elaboração dos projetos. Impende à legislação municipal fixar prazo para
tanto. E se não houver previsão legislativa ou, inobstante a previsão legal, o Poder
Público quedar inerte sem manifestação? Entende-se que o parcelador poderá
utilizar-se analogicamente do prazo de 90 dias previsto no art. 15, §2 o, da Lei n.°
6.766/9 e, expirado in albis, poderá impetrar mandado de segurança visando ao
pronunciamento do Poder Público41.
Em alguns Municípios, o plano diretor prevê um desdobramento dessa
etapa do processo, de modo que o parcelador apresenta o requerimento instruído
com a planta da situação do imóvel, solicitando ao Município declaração que diga as
condições para ocupação do solo (regime de ocupação, forma do traçado viário,
localização dos equipamentos urbanos e comunitários, restrições administrativas e
áreas não edificáveis). Após a obtenção desta declaração, deve ser realizado o
estudo preliminar de viabilidade urbanística, elaborado sobre o levantamento
planialtimétrico, que então é encaminhado para aprovação pelo Município. Somente
após esta aprovação o parcelador encaminha a licença ambiental prévia e a
elaboração dos projetos propriamente ditos.
41
A ‘teoria do silêncio administrativo’ surgiu face à necessidade de se combater certos abusos da Administração,
sobretudo nas ocasiões da total inação a propósito das solicitações dos particulares. O desempenho da função
administrativa não é compatível com posições de desdém para com os administrados, posto ser legítimo o
direito destes terem suas demandas e recursos efetivamente apreciados. Opera-se o silêncio administrativo nas
hipóteses em que o Poder Público tem o dever legal de agir e, simplesmente, não age. A inércia da
Administração, retardando ato ou fato que deva praticar, é abuso de poder, que enseja correção judicial. Nesse
sentido: MEIRELLES, Direito administrativo..., p. 98. COSTA, José Marcelo Ferreira. Licenças urbanísticas.
Belo Horizonte: Forum, 2004, p. 138.
Nos Municípios com menos de 50.000 habitantes, essa fase de consulta e
fixação de diretrizes poderá ser dispensada por lei (art. 8 o da Lei n.° 6.766/79), de
modo que o parcelador apresentará, diretamente, os projetos propriamente ditos.
As diretrizes indicadas pelo Poder Público, que deverão ser seguidas
quando da elaboração dos projetos técnicos e urbanístico, vigorarão pelo prazo
máximo de 4 anos (art. 7o, par. único, da Lei n.° 6.766/79), o que significa dizer que
o parcelador teria esse prazo para elaborar o projeto do loteamento propriamente
dito, de acordo com as diretrizes fixadas. E se houver alteração na legislação
municipal (do zoneamento, por
exemplo) no curso desse prazo? Haveria direito adquirido do loteador em ver
aprovado o projeto de loteamento elaborado de acordo com as diretrizes fixadas?
Ou o Município pode exigir, na fase de exame e aprovação do projeto a observância
da nova legislação, eventualmente surgida? Entende-se que o ato administrativo do
Poder Público que fixa diretrizes tem caráter discricionário, que envolve ‘interesses’
e não ‘direitos’, inexistindo engajamento definitivo com o pedido do interessado, não
gerando direitos ao parcelador42. Assim, perfilhamo-nos ao entendimento de Toshio
Mukai e outros43, que sustenta não haver direito adquirido do parcelador. Se, entre a
data da expedição das diretrizes e a da aprovação do projeto do loteamento houver
alteração da legislação que venha a influir nas diretrizes, estas terão de ser
alteradas para adequarem-se à lei nova. Entretanto, após a aprovação do projeto
definitivo, concessão da licença urbanística e o início da execução das obras44, se
houver alteração da legislação que tenha reflexos nas diretrizes de uso do solo, não
poderá atingir a licença já concedida porque já gerou ao interessado o direito
adquirido de construir.
Com base nos traçados na planta e nas diretrizes fixadas pelos órgãos
competentes, o parcelador terá os dados necessários para elaboração do projeto de
loteamento propriamente dito, que se constitui de um complexo técnico-jurídico que
será apresentado ao Município para aprovação.
A parte técnica do projeto urbanístico é integrada por plantas, mapas e
memorial descritivo, indicando a subdivisão das quadras em lotes, o traçado dos
lotes, o sistema de vias internas de circulação, logradouros públicos, faixas non
aedificandi, áreas de preservação permanente, áreas de livre uso comum, áreas de
equipamentos urbanos45 e comunitários (art. 9o, §1o e §2o, da Lei n.° 6.766/79)46.
42
Licença é ato administrativo vinculado, de caráter regulamentativo e definitivo, envolve ‘direitos subjetivos’,
que, se preenchidos, não podem ser negados. Uma vez concedida, tem presunção de definitividade.
Autorização é ato discricionário e precário, que envolve ‘interesses’, que podem ser negados pelo Poder
Público e, por isso, não geram direitos ao requerente.
43
MUKAI, Toshio; ALVES, Alaor Caffé; LOMAR, Paulo José Vilella. Loteamentos e desmembramentos
urbanos. 2. ed. São Paulo: Sugestões Literárias, 1987, p. 39.
44
Anota-se que o Supremo Tribunal Federal entende que, em caso de superveniência de lei nova, só há
manutenção do direito de construir nas condições previstas na licença expedida de acordo com a lei anterior se
a construção tiver sido iniciada.
45
A definição da infra-estrutura a ser projetada será sempre aquela exigida pelos Poderes Públicos e as que
forem do interesse do empreendedor.
46
Sobre detalhes na elaboração do projeto urbanístico: AMADEI, Vicente Celeste; AMADEI, Vicente de Abreu.
Como lotear uma gleba: o parcelamento do solo urbano em seus aspectos essenciais (loteamento e
desmembramento). Campinas: Millenium, 2002, p. 95-107. Também COUTO; Manual teórico..., p. 121-137.
O projeto do loteamento deve prever também a infra-estrutura que fará parte
do empreendimento (rede de distribuição de água47, rede de coleta de esgoto48, rede
de distribuição de energia elétrica49, sistema de drenagem superficial, sistema de
coleta e destinação de lixo e periodicidade), identificando os responsáveis por sua
implementação e operação, acompanhado dos respectivos projetos técnicos.
O projeto do loteamento deve conter, ainda, o cronograma de execução de
obras, com duração máxima de quatro anos50.
A parte jurídica constituir-se-á de documentos e certidões que comprovam a
cadeia dominial e a propriedade da gleba a ser parcelada e a inexistência de ônus
reais e fiscais sobre ela (art. 9o, caput, da Lei n.° 6.766/79).
Pela via regular, o parcelamento do solo só pode ser promovido por quem
detenha a titularidade da gleba, ou por quem tenha poderes outorgados pelo
proprietário do imóvel para fazê-lo, daí a exigência do título de propriedade (certidão
atualizada da matrícula)51. Se o pretenso parcelador não possui o domínio do
imóvel, deverá, antes de tudo, buscar essa providência administrativa ou
judicialmente, para registrá-lo em seu nome52.
47
Existem três alternativas para o sistema de abastecimento de água potável: por rede pública (devendo projeto
identificar o ponto de ligação na rede pública e explicitar a responsabilidade pela implantação da rede interna e
sua interligação, se pelo empreendedor, pelo Poder Público ou concessionária); por sistema isolado (captação
de poços artesianos, adução, tratamento, reserva e distribuição da água); ou por poços individuais perfurados
em cada lote. Em caso de perfuração de poços, deve o empreendedor elaborar estudo hidro-geológico para
avaliação da possibilidade de captação e qualidade da água e obter a respectiva autorização ou outorga junto
ao órgão competente. O abastecimento através de poços individuais somente é permitido se não houver
possibilidade de abastecimento por rede pública e se o tamanho dos lotes permitir a localização do poço a uma
distância mínima de 30m de qualquer sumidouro.
48
Para o equacionamento da questão do esgoto sanitário também existem três alternativas: interligação na rede
pública; sistema isolado (constituído por rede coletora, estação de tratamento e unidades de afastamento e
disposição final dos efluentes); sistema individual para cada lote (fossa séptica, filtro anaeróbio e unidade de
infiltração/sumidouros ou valas de infiltração para lançamento dos efluentes).
49
Os elementos essenciais para a elaboração do projeto técnico de abastecimento de energia elétrica são
elaborados pelas empresas de distribuição de energia.
50
Em se tratando de desmembramento, o processo é simplificado. O projeto deverá conter apenas a indicação
das vias existentes e dos loteamentos próximos, o uso predominante do local e a divisão dos lotes pretendida
na área (art. 10 da Lei n.° 6.766/79), salvo outras exigências constantes em lei municipal. Quanto aos
documentos jurídicos, basta a apresentação do título de propriedade, dispensadas as certidões negativas.
51
A existência de ônus reais gravados sobre o imóvel não impede o parcelamento do solo pelo proprietário, desde
que no memorial descritivo seja mencionada esta circunstância e o credor do direito real, por instrumento
público, estabeleça a liberação do gravame para os trechos que constituirão as áreas públicas e estipule as
condições para liberação dos lotes, na medida em que seus preços forem quitados pelos adquirentes.
52
A providência judicial, dependendo do caso concreto, poderá ser ação de usucapião, adjudicação compulsória,
extinção de condomínio, entre outras.
parcelamentos naqueles casos específicos previstos no caput do art. 13. O
parágrafo único do art. 13, contudo, manteve a anuência prévia da autoridade
metropolitana para os parcelamentos localizados em Município integrante de região
metropolitana.
Atualmente, a manifestação do Estado ou da autoridade metropolitana é
diversa em cada Estado-membro da federação.53
53
No Estado do Rio Grande do Sul, o art. 27 da Lei Estadual n.° 10.116/94 dispõe que o Estado examinará,
obrigatoriamente, antes da aprovação pelos Municípios, os projetos de parcelamento do solo destinados a fins
urbanos, anuindo ou não com sua execução, nas mesmas hipóteses mencionadas no art. 13 da Lei n.° 6.766/79,
acrescentando, ainda, os empreendimentos que se destinarem a distrito industrial.
No Município de Porto Alegre, que é licenciador pleno, o órgão metropolitano-METROPLAN participa do
Conselho Municipal de Planejamento Urbano e aprovação do projeto de parcelamento por esse órgão
colegiado presume a anuência prévia da autoridade metropolitana.
No Estado de São Paulo, todos os projetos habitacionais são analisados pelo GRAPROHAB-Grupo de Análise
e Aprovação de Projetos Habitacionais (Decreto Estadual n.° 33.499/91), que reúne todas as secretarias
estaduais (de habitação, meio ambiente, da saúde), órgãos e empresas concessionárias de serviços públicos que
atuam na aprovação e licenciamento de loteamentos, com o objetivo de centralizar e agilizar o trâmite dos
projetos habitacionais apresentados para apreciação no âmbito do Estado.
54
O gênero ‘licenças urbanísticas’ comporta várias espécies, entre elas licença para parcelar o solo, licença
edilícia (para edificar ou demolir), licença para habitar e licença para funcionamento e localização.
55
SILVA, Direito urbanístico..., p.390-391.
56
A licença administrativa permeia uma relação jurídica estável, uma situação de caráter definitivo e não
precário, onde ulteriores considerações sobre alterabilidade da relação jurídica firmada não se põem em
debate. Sobre o tema: COSTA, Licenças urbanísticas, p. 69. FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Disciplina
urbanística da propriedade. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1980, p. 58. SILVA, Direito urbanístico...,
p.391. GASPARINI, Diógenes. O município e o parcelamento do solo. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1988, p. 78-
87. Hely Lopes Meirelles anota que a recusa da licença para lotear, quando o projeto ou plano estiver em
ordem, é ilegal e abusiva. O direito de construir. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 163.
documentos apresentados (título de propriedade, memorial descritivo, peças
gráficas, plantas, etc.).
A instrução é a etapa em que são averiguados todos os atos e fatos
jurídicos condutores à decisão. Nesta fase, caso os documentos apresentados pelo
particular sejam insuficientes ou incorretos, ou quando o Poder Público constatar a
imprescindibilidade de alguma diligência ou complementação de documentação
exigida por lei ou esclarecimentos, deverão ser objeto de comunicados (‘comunique-
se’) para que as falhas sejam sanadas.57
Encerrada a instrução, o Poder Público manifesta-se sobre a possibilidade
de levar a cabo o parcelamento (ou regularização deste), exarando a decisão de
aprovação ou rejeição dos projetos e, em caso de aprovação, expede a competente
licença urbanística, através de alvará.
O art. 15 da Lei n.° 6.766/79 remete à lei municipal a definição do prazo
para que um projeto de parcelamento seja aprovado ou rejeitado. O §2° estabelece
que, nos Municípios cuja legislação seja omissa, o prazo é de 90 dias para a
aprovação ou rejeição do projeto. O §1° do mesmo artigo diz que, transcorrido o
prazo (da legislação municipal ou, na falta deste, do §2° retromencionado) sem a
manifestação do Poder Público, o projeto será considerado rejeitado, assegurada a
indenização por eventuais danos derivados da omissão. Na esteira da ‘teoria do
silêncio administrativo’, entende-se que o desempenho da função administrativa não
é compatível com essa omissão – já que o Poder Público tem o dever de se
pronunciar –, posto ser legítimo o direito do interessado de ter seu requerimento
efetivamente apreciado e, se for o caso, apontadas as razões da rejeição 58. Essa
omissão do Poder Público enseja mandado de segurança, para corrigir a falha
abusiva da Administração.59
A licença urbanística para parcelar não pode ser concedida sem que o
parcelador assine o termo de compromisso, em que constará o prazo total para
execução das obras (abertura de vias, demarcação e divisão de lotes e execução da
infra-estrutura), que não poderá ser superior a quatro anos (art. 9° da Lei n.°
6.766/79). Como garantia das obrigações assumidas, no termo de compromisso, o
parcelador prestará caução de bens ou fiança junto a estabelecimento de crédito
que a juízo do Município sejam suficientes para cobrir os custos do
empreendimento60. Somente depois de assinado o termo de compromisso e a
escritura de caução, o Município expedirá o alvará.
Do deferimento da licença urbanística emerge, em tese, o direito de
construir conforme o projeto aprovado61. Ocorre o desencadeamento de dois atos
57
COSTA, Licenças urbanísticas, p. 135-136.
58
Sendo o ato administrativo de aprovação ou rejeição do projeto uma ‘licença’ e, como tal, ato vinculado, a
rejeição só pode ocorrer por não cumprimento das determinações legais pertinentes ou das diretrizes fixadas
pelo Poder Público.
59
Essa teoria tem o escopo de combater certos abusos da Administração, sobretudo nas ocasiões da total inação a
propósito das solicitações dos particulares. A inércia da Administração, quando deveria agir, é abuso de poder,
que enseja correção judicial. Também a rejeição do projeto quando este está de acordo com a legislação e as
diretrizes é passível de correção via mandado de segurança. Nesse sentido: MEIRELLES, Direito
administrativo..., p. 98. COSTA, Licenças Urbanísticas, p. 138. BRAGA, Parcelamento do solo urbano, p.
48.
60
Quando da não-implementação das obrigações assumidas pelo parcelador, o Município está obrigado, por lei,
a implementá-las, podendo promover a ação competente para adjudicar ao seu patrimônio os bens caucionados
ou receber a quantia afiançada. Se o parcelador executa integralmente o empreendimento, o Município libera
os bens caucionados ou a fiança prestada após o termo de verificação que atesta a implementação das obras.
61
Nesse sentido: PRESTES, A necessidade de compatibilização..., p. 88. FIGUEIREDO, Disciplina
urbanística..., p. 58.
administrativos consecutivos: a aprovação do projeto e a licença propriamente dita,
que é o gerador do direito subjetivo à execução do parcelamento, nos moldes do
projeto. Contudo, em se tratando do parcelamento do solo urbano, esse direito
subjetivo não emerge com a licença urbanística por si só, pois é necessária a
compatibilização com a licença ambiental de instalação (LI). Para emergir o direito
de implantar o parcelamento, devem ser obtidas ambas as licenças: urbanística e
ambiental.
Aprovado o projeto de parcelamento (ou regularização deste) pelo
Município, deve ser submetido pelo interessado ao Registro de Imóveis, no prazo
decadencial de 180 (cento e oitenta) dias, para registro na matrícula imobiliária
respectiva.62
Desde a aprovação dos projetos, vige a inalterabilidade de destinação das
áreas institucionais pelo parcelador63, salvo a hipótese de caducidade da licença (se
não registrado o parcelamento no prazo legal) ou desistência do interessado em
efetivar o empreendimento (art. 17 da Lei n.° 6.766/79)64.
6. Conclusões articuladas
62
Não se pretende esgotar as questões de registros públicos, que não dizem com o objetivo deste trabalho, que a
é a integração das normas urbanísticas e ambientais que regulam o parcelamento do solo urbano. As questões
registrárias estão exaustivamente abordadas em outras obras, entre elas: COUTO, Manual teórico..., p. 174-
249. BRAGA, Parcelamento..., p. 61-67. SILVA, Parcelamento..., p. 63-71. AMADEI; AMADEI, Como
lotear uma gleba, p. 129-239. MUKAI, et al, Loteamentos..., p. 81-125.
63
Desde a destinação dos espaços livres pelo loteador estes tornam-se públicos (concurso voluntário).
64 Em casos de loteamentos irregulares executados sem prévia aprovação, a destinação das áreas públicas não poderá
ser alterada sem aplicação das sanções cíveis, administrativas e criminais. Neste caso, o loteador deverá ressarcir o
Município em valor pecuniário ou em área equivalente, no dobro da diferença entre o total das áreas públicas
exigidas e as efetivamente destinadas (art. 43 da lei n.° 6.766/79).
5. Nos parcelamentos regulares, para o registro imobiliário do parcelamento
do solo urbano deve ser exigida a licença ambiental de instalação, e não a simples
licença prévia.
Referências bibliográficas
AMADEI, Vicente Celeste; AMADEI, Vicente de Abreu. Como lotear uma gleba: o
parcelamento do solo urbano em seus aspectos essenciais (loteamento e
desmembramento). Campinas: Millenium, 2002.
COSTA, José Marcelo Ferreira. Licenças urbanísticas. Belo Horizonte: Forum, 2004.
COUTO, Sérgio A. Frazão do. Manual prático e teórico do parcelamento urbano. Rio
de Janeiro: Forense, 1981.
FREITAS, Vladimir Passos de. Direito administrativo e meio ambiente. 3.ed. Curitiba:
Juruá.
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 11. ed. São Paulo:
Malheiros, 2003.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. São Paulo:
Malheiros, 1996.
MUKAI, Toshio; ALVES, Alaor Caffé; LOMAR, Paulo José Vilella. Loteamentos e
desmembramentos urbanos. 2. ed. São Paulo: Sugestões Literárias, 1987.
SILVA, José Afonso da. Direito urbanístico brasileiro. 2. ed. São Paulo: Malheiros,
2000.