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ÉTICA E MORAL PARA ENGENHEIROS O Pensamento de Sócrates.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ


ÉTICA E MORAL PARA ENGENHEIROS
UFPR - ST - DEQ / DEBB

Primeira redação em setembro de 2013.

O Pensamento de Sócrates

Sócrates (470/469 a. C.- 399 a.C.) nasceu em Atenas. Teve como pai um escultor (Sofronisco) e como mãe uma lavadeira e
parteira (Fenarete). Foi casado com Xantipa que entrou na história como sendo feia, neurótica, irascível, insatisfeita e em
permanente desarmonia consigo mesmo, com tudo e com todos. Sócrates com ela teve filhos e junto a ela permaneceu até o
final da vida. Xantipa quando de sua morte era a mais desesperada e inconsolável...
Era um grego de aparência grosseira que não tinha cuidados com as roupas. Costumava ficar parado por horas, pensando em
silêncio. Seu interesse é voltado, sobretudo, a questões éticas: como deveríamos viver e o que é uma vida boa para o homem.
Dentre seus professores está Arquelau, por sua vez aluno de Anaxárogas.
Sócrates pode ser considerado em parte um filósofo sofista. Mais popularmente é visto com um crítico deste movimento. Nada
escreveu. Dedicou-se exclusivamente ao ensino oral. Seu pensamento é conhecido por meio de Platão, Xenofonte e
Aristófanes. Este último o satirizou como sofista, amoral, interesseiro e andrajoso. Um naturalista, na linha de Diógenes de
Apolônia. Aristófanes observa suas ideias por volta da idade de 40 anos de Sócrates.
Platão o contempla na idade de cerca de 60 anos, como precursor das sementes que ele posteriormente desenvolveu. O vê
como um mestre ético, moderado, sábio e justo. Considera-se impossível separar claramente o que é de autoria de Sócrates do
que é de autoria do próprio Platão. Xenofonte o retrata ao final da vida enquanto Aristóteles apesar de lhe fazer alusão, não lhe
é contemporâneo.

Para Sócrates o bom político é o que cuida da alma dos outros (cf. Górgias, Platão). Tinha forte aversão pela política militante.
Não gostava do modo como a coisa pública era administrada e não ingressou na vida política no sentido comum do termo.
Entretanto tendia à formação de homens que bem pudessem gerir a coletividade. O ensinamento socrático tinha uma natureza
política, no sentido de influir na sociedade. Pode ser considerado um revolucionário pela via da não violência, empregando a
arte da persuasão e este é um dos pontos de similitude com a sofística.

Era intensamente religioso, porém rejeitava a visão antropomórfica das divindades com paixões físicas e costumes humanos.
Considerava Deus Uno, múltiplo em sua manifestações e chave geral, cosmológica e ética.
O Deus sapiente disporia das coisas como Lhe agrada e seria capaz de ocupar-se ao mesmo tempo de tudo. Os deuses
invisíveis se revelariam por suas obras visíveis. Tais obras recomendariam veneração e respeito. O mesmo Deus que ordenaria
e manteria todo o Universo, sede de toda a Beleza e todo o Bem, sempre ofereceria a nós as coisas intactas, sãs, imunes ao
perecimento, prontas a servir com agilidade e sem falha. Deus manifestar-se-ia na produção de obras grandiosas, mas não se
deixaria observar governando-as. A alma humana teria ligação, mais de tudo o que é humano, com o divino. Segundo ele,
refletindo-se sobre tudo, não se pode desprezar o invisível, mas reconhecer seu poder através de seus efeitos e honrar a
divindade. (cf. Memoráveis, Xenofonte).
A Providência Divina aspiraria sempre o bem do homem. O Bem é a Suprema Realidade Universal. Deus é Amor e se
manifesta por esta via.
Sócrates considerava-se um missionário. Considerava um desígnio divino sua missão de exortar os atenienses a cuidar da alma
e da virtude.

Declarava ter tido experiências místicas na forma de elevações extáticas, uma delas ao longo de todo um dia e uma noite.
Para os gregos de modo geral e Sócrates em particular, a intermediação entre Deus e o homem é efetuada por meio de entes
denominados daimones. As lideranças cristãs posteriores, avessas a manifestações religiosas diferentes, fizeram surgir o termo
demônio, com a sua conotação negativa atual. Sócrates afirmava que um daimónion o aconselhava quanto ao que devia ou não
fazer. Considerava tal voz de origem divinal e poder contar com ela, um privilégio totalmente excepcional. Tal voz certa
ocasião lhe sugeriu não acolher um candidato a aluno. Em outra não exercer política militante e assim sucessivamente,
manifestando-se em diversas ocasiões. Seguir tal orientação segundo ele se mostrava posteriormente algo muito adequado.
Seus sonhos esporadicamente também lhe orientavam na vida cotidiana.

A célebre frase: 'A única coisa que sei é que nada sei', é um importante vínculo seu com o sofismo, pois é este movimento o
que na época reconhecia ser impossível ao homem ter qualquer conhecimento quanto à realidade em si. O mais sábio seria
aquele que sabe que nada sabe.
Também pode ser considerada uma postura estratégica. Como seu objetivo era o de melhorar o entendimento ético de seus
contemporâneos, ao não defender qualquer conceito, evitava que o orgulho forçasse seu interlocutor a defender como questão
de honra uma determinada concepção mais imperfeita de que fosse portador. Entretanto, os relatos demonstram e é também
óbvio que Sócrates detinha conhecimento e o considerava adequado para conduzir o aprimoramento de seus alunos.
Podemos dizer que os sofistas clássicos da primeira geração, consideravam qualquer opinião benéfica como aceitável e
ensinavam técnicas de convencimento para fazê-la prevalecer, visando o bem das coletividades. Sócrates visava a melhoria das
concepções individuais, em primeira instância, para o bem do próprio interlocutor.
Dai a diferença entre os sofistas clássicos e Sócrates: os sofistas por sua noção de relatividade ensinavam como convencer
outros de qualquer opinião que o orador julgasse oportuno defender. Facilitavam o estabelecimento de opiniões consensuais.
I
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Com base na ação de indivíduos, convencendo a outros quanto às suas boas opiniões, pretendiam a melhoria do coletivo.
Sócrates procurava fazer com que cada um aperfeiçoasse a sua própria opinião. Promovia o aperfeiçoamento das opiniões
individuais. E esta opinião seria cada vez mais aperfeiçoada, a cada vez que fosse analisada.

Seu modo de proceder, parece deixar claro dois conceitos básicos. A realidade não pode ser compreendida pelo homem, pois
seus discursos são sempre inconclusivos. Sobre a realidade tal como ela é, total e profunda, por Kant e por outros pensadores,
nada sabemos. Entretanto podemos gradualmente nos aproximar desta realidade e esta realidade - desculpem a redundância - é
real. Dai seu método e todo o seu trabalho neste sentido.

Para Sócrates o meio de aprimorar o comportamento é o da obtenção de conhecimento. Tal aprimoramento só seria possível se
o sujeito estivesse consciente e insatisfeito com a sua ignorância. Quanto mais ciente da ignorância, maior seria a abertura para
procurar aproximar-se mais da verdade. Aqueles que conseguissem reconhecer a própria ignorância seriam por isto mesmo, os
que estariam mais próximos da sabedoria.
O reconhecimento da ignorância seria o princípio da sabedoria. Só aquele que reconhece que seu saber é inexistente ou
incompleto se abre para o saber. Somente quando nos damos conta que não sabemos o que supúnhamos saber é que iniciamos
a busca por descobri-lo. O processo de aprendizagem e aperfeiçoamento do conhecimento passa pela humildade e a aceitação
de novas possibilidades. O reconhecer da própria ignorância. Por outro lado o conhecimento é do nosso maior interesse e deve
ser objetivo essencial.
O centro da concepção socrática está no eixo conhecimento e ignorância. O motivo é simples: seu objetivo e sua missão é o
bem do homem; é a melhoria de seu comportamento na direção do mais adequado e o comportamento mais adequado é o
comportamento que envolve maior bem. Para ele todas as boas ações são fruto do conhecimento. Todas as más ações são
ocasionadas pela ignorância. O mais valioso ao ser humano seria portar conhecimento. É esta posse autêntica que faria a alma
ser do modo como deve ser e por isto realizaria o homem que seria essencialmente alma. Sua alma é sua consciência, sua
inteligência. O que atualiza esta consciência é o conhecimento, o apreender.

Minha experiência neste curso tem tornado evidente a resistência à concepção de que toda conduta questionável eticamente se
deve unicamente à ignorância. Cabe assim investigar o significado mais profundo dos termos que costumeiramente
empregamos e que estão diretamente relacionados a esta conclusão:

Ignorância provém do latim 'ignorantia'. Ignorar significa desconhecer; ser incapaz de; não usar de; não praticar. Ou seja, o
termo carrega em si a noção de uma incapacidade para fazer uso de algo bem como a incapacidade de executar e praticar uma
determinada coisa. Desta forma, afirmar a ignorância de algo bom é por definição reconhecer que não a praticamos.

A palavra ciência provém do latim 'scientia'. Numa busca de suas origens o termo significa 'o caminho em si'. Faz alusão a
própria jornada do ser humano e encontra paralelo, mencionando a título de complementação, com a visão do cristianismo
gnóstico, perseguido após a estatização da religião cristã, pelo Imperador Constantino, por volta de 300 d.C. Segundo tal
concepção, o homem, após casar-se simbolicamente com o Amor (Christos em latim), culmina por casar-se também
simbolicamente com a Sabedoria (Sophia).

Ciência de modo mais usual, a se refere ao conjunto de conhecimentos socialmente adquiridos ou produzidos, que visam
compreender e orientar o homem. Neste sentido, quem é portador de ciência se conhece e é capaz de se orientar na existência.
A recíproca seria verdadeira. Quem não é portador de ciência não se conhece e não está apto a conduzir-se por
comportamentos que lhe sejam adequados.

A palavra conhecimento é formada pela junção de conhecer + mento. Se refere à apropriação de um objeto pelo pensamento
como definição, como percepção clara. Uma apreensão completa. Algo completamente analisado e sintetizado. Conhecimento
não é, portanto, a mera 'notícia' de que algo é mau. Envolve a interiorização; a plena convicção fundamentada na razão, de que
algo é bom ou mau.

O radical mente, provem do latim 'mente'; 'mens'; 'mentis'. Refere-se à alma ou espírito e também ao modo de ser.
Conhecimento é desta forma o ser em conformidade com a informação que este mesmo ser detém.

O termo conhecer tem origem no latim 'cognoscere'. Significa ter previsto, experimentado e avaliado. O vínculo de conhecer
com a capacidade de previsão é igualmente importante. Ajuda analisar tal importância, a observação do significado de outro
termo usual em nossa cultura que é pecado. Pecar em latim significa simplesmente tropeçar. E quais seriam as causas de
nossos tropeços em nosso caminho? Não enxergarmos os obstáculos que é essencialmente ignorância e não prevermos que
iremos cair e nos machucar que também o é. Daí a outra ideia associada ao conhecer que é a de experimentar. Só nos tornamos
aptos a resolver um determinado problema quando nos propomos a solucioná-lo, nos expondo à possibilidade de encontrarmos
soluções inadequadas antes de chegarmos àquelas mais apropriadas.

Apreender origina-se do latim 'apprehendere'. Significa apropriar-se, pegar, agarrar, assimilar, incorporar mentalmente,
entender, compreender. Aprendizado é deste modo, tomar posse de uma informação. Estar plenamente convencido dela e dela
fazer uso.

II
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Por fim, a palavra sapiente refere-se aquele que é conhecedor; sábio. A sabedoria é a qualidade do sábio. O sábio é o que tem o
conhecimento; a ciência. ' Sábio é aquele que conhecendo as coisas boas e belas, sabe usá-las'.

Quem faz o mal o faz só por ignorância e não porque queira o mal sabendo que é mal. Quando um indivíduo pensa, por
exemplo: eu sei que tomar tal atitude é errado, mas irei tomá-la assim mesmo, na verdade estaria considerando que tal ação é
benéfica a ele. Por Sócrates, é justamente a ignorância que faz supor ao indivíduo, que uma dada atitude errada lhe será
benéfica. 'Creio que todos os homens escolhem com todos os meios possíveis o que é mais vantajoso aos seus interesses e isso
realizam. E penso que os seguem um caminho errado não são nem portadores de conhecimento (sapientes) nem sábios.'

Todas as virtudes seriam a posse verdadeira de conhecimento. Não um conhecimento exterior, mas um conhecimento já
interiorizado; que já faz parte do próprio ser. Para promover tal interiorização Aristóteles nos mostra que as virtudes tem
origem em raciocínios. Cada indivíduo necessita explicar e justificar a si mesmo e ao seu modo cada uma delas para delas se
apossar.

Para Sócrates o bem ou a virtude não é a adequação aos costumes, aos hábitos e convicções de uma coletividade. É algo
motivado, justificado e fundado no conhecer individual. Conhecer o que é o homem e o que é bom e útil a ele.
Qualquer indivíduo sempre almejaria o que considera ser um bem e nunca um mal. O homem frequentemente diz fazer e faz
um mal, malgrado seja um mal. O homem faz o mal porque espera erroneamente tirar dele um bem. Na medida que o homem
estivesse convencido, tanto como está convencido de que existe, que um bem lhe é útil e bom; que ao contrário, um mal é
prejudicial e mau; neste caso jamais cometeria um erro. Fazer o mal repousa sempre sobre uma falsa avaliação do que são
bens. Como todo o ser pretende o bem de si mesmo, não se pode conhecer o bem e deixar de fazê-lo. Não se pode fazer o bem
sem propriamente, no sentido preciso do termo, conhecê-lo.
O que gera; o que move, portanto, a vontade humana? O que converte a má vontade em boa vontade? Segundo Sócrates a
resposta a esta questão é conhecimento.
Para Sócrates, o bem é útil e vantajoso a quem o pratica (cf. Xenofonte, Platão). A ética de Sócrates visa o bem e a utilidade
para o indivíduo.

A areté ou virtude é uma capacidade ou habilidade que posteriormente Aristóteles demonstra ser obtida pela repetição; pelo
hábito. A maior capacidade humana não pode ser senão a que permite a sua alma ser boa, isto é, ser aquilo que pela sua
natureza ela deve ser. Cultivar a virtude significa tornar a alma ótima. Realizar o ser, alcançar o fim próprio do homem interior
e com isto também a felicidade.

Para Sócrates só há uma virtude: conhecimento. Todas as subclassificações incluídas neste mesmo termo, isto é, como
virtudes, seriam modalidades de conhecimento ou em outras palavras, comportamentos oriundos do conhecer. De acordo com
Sócrates, é impossível conhecer em profundidade uma virtude, sem com isto, conhecer as demais. O máximo bem que abarca
todos os bens parciais é a ciência. Da mesma forma os vícios seriam manifestações de ignorância. O pior dos males e que
abarca-os todos é a ignorância.

O que leva o homem a agir bem é ponderar os resultados que advirão das suas ações. A este saber - conhecimento - Sócrates o
denomina por arte do comedimento (Prudência). Ponderar os resultados que advirão das ações, é o conhecimento do bem. Sem
conhecimento não é possível a realização da “vida boa”. Viver bem obviamente é bom. Desta forma progredir em
conhecimento; progredir em comportamentos virtuosos é bom e útil ao homem. Progredir em conhecimento e virtude é o
resultado esperado de qualquer aprendizagem.

Segundo Sócrates a Virtude (aretê) não pode ser ensinada de modo formal. A virtude tem que ser descoberta e encontrada na
mente de cada um. Para ilustrar tal conceito socrático, imaginemos que o próprio Einstein deduzisse para nós em classe, no
quadro negro, sua teoria da relatividade. Se você quiser dar uma olhada, olhe o artigo que ele publicou. Eu por certo não
entenderia nada da dedução. Provavelmente você também não. O que captaríamos seria talvez apenas uma 'notícia' de uma ou
outra de suas conclusões, que só seriam consideradas por nós porque Einstein é Einstein. Isto é, devido a sua credibilidade.
Desta forma nossa mente pode ser encarada simbolicamente como um copo, que só pode ser preenchido com líquido até atingir
sua capacidade máxima correspondente àquela que tem em um determinado momento da existência. E qual seria a técnica mais
eficiente de preencher tal copo? Incentivando e orientando o indivíduo a que ele mesmo construa o entendimento de um
determinado tema até onde ele seja capaz de chegar. Embora não seja possível transmitir de modo eficaz a verdade, através do
uso de uma técnica expositiva tradicional, é possível e desejável dizer aos homens que é benéfico a eles procurar encontrá-la.

A vida é uma série infindável de experiências. Tais experiências geram conhecimento caso sejam analisadas e estudas. Para
Sócrates, a existência necessita ser examinada e questionada. 'Para o homem o bem maior é refletir todo o dia sobre a virtude e
sobre os argumentos sobre os quais me haveis ouvido disputar sobre mim mesmo e sobre os outros e que uma vida sem tais
pesquisas não é digna de ser vivida.' (cf. Apologia, Platão).
Neste sentido, o auto exame diário proposto por Pitágoras é potencialmente útil. 'Que não se passe um dia, amigo, sem
buscares saber: que fiz eu hoje e hoje que olvidei? Se foi o bem persevera, se foi o mal, abstém-te. Meus conselhos; preza,
medita e pratica e te conduzirão às virtudes divinas...' (cf. Versos de Ouro, Pitágoras).

Ao analisarmos nossas experiências, a rigor estaremos analisando, como nós mesmos consideramos, percebemos e
processamos um determinado estímulo oriundo de nosso mundo exterior. Ou seja, a relação entre o nosso ser interior e um

III
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acontecimento qualquer. Desta forma passamos a compreender gradualmente melhor a nós mesmos: o que nos fez sofrer e o
que nos deixou feliz e por que. Observamos que felicidade e sofrimento são coisas internas a nós mesmos. Como nós mesmos
encaramos um determinado acontecimento. E assim paulatinamente chegamos ao “Conhece-te a ti mesmo e conhecerá a Deus
e o Universo”, gravado no Templo de Delfos. A exortação à forma de conhecimento essencial e o caminho eficaz que conduz à
virtude.

Toda doutrina socrática se resume em conhecer a si mesmo e cuidar de si mesmo. Ensinar os homens a conhecer e a cuidar de
si mesmo é a tarefa suprema da qual Sócrates considera ter sido investido como um missionário de Deus. 'Teríamos conhecido
qual é a arte que torna melhor os calçados, se não conhecêssemos o calçado?...A arte que torna melhor os anéis, caso
ignorássemos o anel?... Então... jamais poderemos saber qual é a arte de tornar melhores a nós mesmos, se ignorarmos o que
nós mesmos somos...'

Para Sócrates o que mais importa é o próprio homem e os problemas do homem. 'Ele por sua vez, discorria sempre sobre os
valores humanos... e as outras coisas cujo conhecimento, segundo ele, tornava os homens excelentes e cuja ignorância, ao
contrário, fazia merecer, justamente, o nome de escravos' (cf. Ditos..., Xenofonte).
Para Sócrates o homem é sua alma, identificada com a mente e o mundo emocional do indivíduo, bem como com suas opções
comportamentais (ética). A boa vida estaria relacionada à pureza da alma. A integridade ética seria a própria recompensa de
quem a tem. Para ele sempre é preferível sofrer o mal, do que praticá-lo. Fazer o mal prejudicaria muito mais o perpetrador do
que aqueles a quem o mal é feito.

O bem não é o abandono ao prazer e não é isto o que leva a felicidade profunda e verdadeira. O bem é a mensuração do prazer
adequado, devidamente discriminado e dosado. Tal arte de escolher prazeres faz parte do que se entende por apreender e
conhecimento. Quanto ao domínio de si, Sócrates sugere que sentimos prazer em beber, comer, fazer sexo, após termos
suportado sede, fome e os desejos sexuais. Isto é, é o controle dos instintos que permite ter-se prazer memorável em satisfazê-
los. Quem se ocupa com a satisfação de prazeres fugazes e momentâneos, se afasta da possibilidade de satisfazer prazeres
maiores e duradouros. Os prazeres do corpo e exteriores não são nem um bem em si nem um mal em si. A felicidade não
depende deles. São bens desde que submetidos ao auto domínio e ao conhecimento.

Autodomínio é 'o bem mais excelente para os homens' (cf. Ditos..., Xenofonte). Autodomínio (eukratéia) é termo e conceito
criado por Sócrates. É considerado por ele o poder de dispor de si mesmo, no prazer ou na dor, no cansaço ou na disposição,
por impulso ou sob pressão.

A liberdade para Sócrates é o mais precioso dos bens. O autodomínio lhe seria equivalente. Os privados do domínio sobre si ,
em particular em relação aos seu comportamentos, seriam aqueles submetidos a pior das servidões.

Desenvolveu o conceito de autarquia. Significa autonomia, independência. A capacidade de saber ou poder fazer por si tudo
que for necessário. Aquele que supõe depender de coisas e pessoas para se plenificar e alcançar a felicidade, está iludido. Não
é livre; não alcança nem a paz nem a felicidade. A alma é a condicionadora exclusiva da felicidade. Cabe à alma governar as
necessidades e impulsos físicos.

Cabe a cada um governar e vencer os monstros que residem em seu interior. Tal como Héracles, só aquele que após uma
longuíssima jornada venceu seus monstros interiores é verdadeiramente suficiente a si mesmo e senhor de si mesmo.
Aproxima-se da divindade, no sentido de nada necessitar.

O próprio Sócrates buscava alcançar a felicidade. (eudaimonia). Seu filosofar pretendia ensinar os homens a serem
verdadeiramente felizes. É nitidamente eudaimonista, como por sinal, os filósofos gregos em geral. A felicidade não é dada
pelos bens do corpo e exteriores, mas sim pelos bens da alma. Pelo seu aperfeiçoamento pelo conhecimento. A felicidade
depende exclusivamente do interior do homem, consignada ao seu pleno domínio. A bondade gera felicidade. A maldade gera
infelicidade (cf. Górgias, Platão). A infelicidade real não vem de fora nem de outros. Somente nós mesmos podemos nos fazer
grandes males. (cf. Apologia, Platão). Mesmo matar é um grande mal a quem mata e pode não sê-lo a quem morre.

A condição primeira para conquistar amigos bons é a de nos tornarmos bons nós mesmos. Só quem é bom pode ser amigo de
quem é bom. Não pode surgir amizade entre o bom e o mau. Sócrates se vangloriava de ser particularmente dotado da arte do
amor. Seu amor se expressava através da arte de cuidar das almas daqueles que se expunham a sua influência. Não considerava
seus alunos como seguidores, mas sim amigos.

O método socrático é o do diálogo dirigido. Os que estão abertos a um conhecimento melhorado, através da conversação,
podem encontrar significados mais profundos para a virtude, temperança, coragem, justiça, piedade, etc. Com a sucessão de
perguntas adequadas e dirigidas, a reflexão pessoal para encontrar as respostas, e o uso de exemplos concretos, as controvérsias
se suavizam e se chega a ideias mais verdadeiras. Os interlocutores reexaminam as suas próprias convicções; questionam os
seus dogmas (pretensas verdades não comprovadas) e são levados a abandonar as suas crenças e opiniões inconsistentes. Os
que se permitem transformar, espontaneamente substituem as ideias e opiniões inadequadas por novas ideias; opiniões e
conceitos mais claros e mais próximos da verdade. A verdade absoluta final; a realidade, no entanto, não pode ser atingida. A
realidade tal com ela é não está acessível às percepções e mente humanas, devido aos seus próprios limites e imperfeições.

IV
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A maior parte daqueles que se julgam sábios, nem sequer se apercebem da sua ignorância. Pelo contrário, Sócrates dizia saber
que não sabia nada e, por isso, estava em melhores condições para procurar o conhecimento. O método socrático leva a
profundas reflexões pessoais e a uma crescente descoberta de verdades interiores. É também um método de auto conhecimento.

Sócrates empregava o método da análise conceitual. Começava o diálogo com seus alunos pela célebre forma de pergunta: o
que é? (o amor, a coragem, a amizade,...). A partir daí praticava a maiêutica (palavra que significa fazer dar a luz; fazer o
parto). Isto é, tal como uma parteira, auxiliava-os a dar à luz um conhecimento melhorado. Arrancava do interior dos seus
interlocutores as suas monstruosidades e os fazia parir ideias sadias. Parir novos conceitos. Pressupõe o entendimento de que
há uma melhor compreensão ou uma capacidade de obter uma melhor compreensão, na forma fetal, no interior de cada um de
nós. Uma investigação do que cada um já tem em germe em seu interior.
Escolhia como alunos os angustiados por respostas e gerava inquietação. Angústia e inquietação eram consideradas análogas às
dores de um parto. Os não inquietos não estariam ainda prontos para dar a luz. Para os candidatos que não demonstravam
julgar importante aprender mais, indicava outros professores.
A maiêutica pode ser considerada a aceitação da existência de um patrimônio apriorístico de conhecimentos latentes na alma
humana. A existência de conhecimentos inatos.

Pela sucessão de perguntas e respostas entende-se o emprego do método da dialética; reunir para discutir e distinguir. A cada
resposta mostrava ao interlocutor as inconsistências ou imperfeições das respostas, eventualmente fazendo uso de exemplos do
cotidiano e propunha novas perguntas, conduzindo assim o modo de pensar do estudante.
A discussão era conduzida sempre a partir das bases conceituais do próprio aluno. Com as experiências e forma de pensar do
próprio estudante, um melhor conhecer era gradualmente alcançado. Levava o inquirido a tomar ciência de que ele não sabia o
que pensava saber e a colocar conceitos melhorados em seu lugar. Discutia e questionava os valores e atitudes da sociedade da
época. Mostrava que muitas das concepções comuns levam ao paradoxo e ao absurdo. Mostrava os perigos da abertura e
aceitação acrítica da ortodoxia. Ao semear dúvidas, dois comportamentos padrão encontrava. De uns o aperfeiçoamento de
concepções. De outros o orgulho ferido, o que resultava em ressentimentos e antipatia.

O método envolve desta forma o questionamento da opinião (doxa) e das crenças. Expõe suas imprecisões, parcialidades,
incompletudes e nebulosidades. E se descobria que com frequência não sabíamos aquilo que pensávamos saber. Partindo
sempre de um entendimento já existente, levava o interlocutor a ir além dele, em busca de algo mais perfeito e completo. E a
grande capacidade de transformação está centrada no fato de que o resultado da reflexão é obtido pelo próprio indivíduo, que
descobre, a partir de sua experiência, o sentido que busca. Sócrates não respondia conclusivamente as questões que fazia.
Apenas mostrava se porventura a resposta encontrada era insatisfatória e por que. Seus diálogos eram aporéticos, isto é,
inconclusivos. 'Não aprenderam nada de mim mas unicamente por si mesmos geraram muitas e belas coisas. Porém o mérito
de tê-los ajudado cabe a Deus e a mim.' (cf. Teeteto, Platão). Indicava o caminho a ser percorrido pelo próprio indivíduo. A
própria palavra método significa através de um caminho.

A cada vez que retornamos a um dado conhecimento, nossa capacidade de aprofundá-lo aumenta. A cada vez que ouvimos
novamente uma mesma música, percebemos maiores detalhes nela. A cada vez que relemos um livro, a leitura é diferente e
melhor. A capacidade de nosso copo mental tende a aumentar à medida que este aumento é solicitado. 'Mas se você voltar a
conceber, estará mais preparado após esta investigação, ou ao menos terá uma atitude mais sóbria, humilde e tolerante em
relação aos outros homens, e será suficientemente modesto para não supor que sabe aquilo que não sabe.'

O objetivo geral do método é o de conduzir o interlocutor ao conhecimento. À convicção interior de temas relacionados ao
comportamento adequado: ética e virtudes. A consequência visada era o maior bem do homem por uma vida mais ética e um
maior cuidado de sua própria alma. Libertá-la de concepções errôneas, aproximando-a de concepções mais verdadeiras.
Investigava as experiências do interlocutor, angariadas ao longo de sua vida passada. Analisava como este estaria vivendo no
presente e finalmente como poderia viver melhor no futuro. Promovia o desnudamento da alma e a contemplação de si mesmo,
interrogando, provando, refutando e incentivando seu aluno a esforçar-se para ser melhor.

Em síntese, Sócrates através de seu método, pretendia aumentar o conhecimento das pessoas e consequentemente melhorá-las
eticamente. Visava a promoção de comportamentos gradualmente mais adequados, através do aprofundamento das concepções
quanto às virtudes.

A existência de Sócrates encontrou seu término quando da acusação senatorial de estar corrompendo a mente da juventude
ateniense com ideias revolucionárias e não ortodoxas. O caráter corrosivo e subversivo do seu método que faz pensar de modo
independente e não aceitar informações tradicionais e impostas como verdades, foi o que conduziu Sócrates à condenação e a
morte. A sua fuga, apesar de possível, contestaria não somente os poderosos governantes juízes, mas sim as leis, a estrutura e a
ordem da cidade. Comprometeria também de certa forma, a credibilidade na veracidade de seus ensinos. Sendo sua ação
através de seus ensinos para a juventude, a sua própria razão de ser, seria uma negação à sua própria vida numa perspectiva
maior. Desta forma, submetendo-se à penalidade fatal imposta, permaneceu conversando e ensinando até seus últimos
momentos.

A título de conclusão, o fato de conseguirmos verdadeiramente reconhecer a nossa profunda ignorância, é o primeiro passo
para nos tornarmos mais sábios. Através da reflexão e da exploração de nosso universo interior, das nossas opiniões e crenças e

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de nossas experiência cotidianas, nos tornamos mais cientes; mais sábios. Tais descobertas tem caráter essencialmente
individual. Podem ser tutoriadas, mas dependem na verdade, do buscador e da sua abertura a novos pensamentos.
Todas as virtudes e toda a possibilidade de uma vida boa e de bem tem como base o conhecimento, que não é apenas ter a
'notícia de algo', mas sim ter este algo interiorizado profunda e verdadeiramente em si como verdadeiro e útil. Conhecendo-se
em profundidade uma dada virtude particular e sua essência, automaticamente se passaria a conhecer o essencial de todas as
demais. A virtude é o conhecimento daquilo que é bom para o homem. A virtude é útil ao homem. Uma vida virtuosa torna o
homem feliz. O mal resulta em não saber avaliar os resultados das ações e é sempre fruto da ignorância.

Para o mundo ocidental até o presente, Sócrates é um dos grandes expoentes e talvez o maior a enfatizar a importância do
Saber e do Auto - Conhecimento para o homem. Jesus enfatiza o Amor como forma extraordinária de transformação do
indivíduo, dentre outros aspectos, para sua felicidade e realização. O verdadeiro Saber leva ao Amor. O verdadeiro Amor leva
ao Saber. Tais abordagens, portanto se complementam na construção do homem e da humanidade.

Paul Fernand Milcent


Um seu amigo

Bibliografia:
FERREIRA, AURÉLIO BUARQUE DE HOLANDA. Novo Aurélio, Século XXI. O Dicionário da Língua Portuguesa.
Editora Nova Fronteira. 3 ed. 1999. ISBN 85.209.1010.6.
GHIRALDELLI, PAULO JR. Introdução à Filosofia. Editora Manole Ltda. São Paulo. 1 ed. 2003. 183p. ISBN
85.204.1680.2
LAW, STEPHEN. Filosofia. Guia ilustrado Zahar. Zahar. 2 ed. 2009. ISBN 978.85.378.0070.6
REALE, GIOVANNI. História da Filosofia Antiga. Vol. 1. Edições Loyola. São Paulo. 2 ed. 1993. 419p. ISBN
85.15.00846.7 (vol. 1) (Título original: Storia della filosofia antica, in cinque lolumi, 1975)
Wikipedia. Enciclopédia Livre Virtual. Consulta em 2012.

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