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Apelação Cível n. 2007.

001297-2, de Balneário Camboriú


Relatora: Desembargadora Substituta Sônia Maria Schmitz

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AMBIENTAL. FISCALIZAÇÃO.


PODER DE POLÍCIA. INDEPENDÊNCIA DE PODERES.
Nos termos do art. 225 da CRFB/88, é dever do Estado,
na condição de detentor do poder de polícia, intervir no
exercício das atividades suscetíveis de prejudicar o bem
estar coletivo e o meio ambiente, fiscalizando, prevenindo e
reprimindo a prática irregular de atos causadores de dano,
ainda que, por omissão do ente público, seja possível a
intervenção judicial, haja vista tratar-se de atividade
administrativa vinculada, sem que isso implique em violação
ao princípio da separação dos poderes.
SENTENÇA. CONDENAÇÃO. TERCEIRO PREJUDICADO.
FATMA. FUNÇÕES ESTATUTÁRIAS.
A autoridade da sentença não alcança a parte que não
fora integrada à lide. Porém, no caso, tratando de fundação
destinada à proteção do meio ambiente, a fiscalização,
acompanhamento e controle dos níveis de poluição, por
constituírem suas finalidades básicas, hão de ser
implementadas independentemente de ordem judicial.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível n.


2007.001297-2, da comarca de Balneário Camboriú (Vara da F. Púb., E. Fisc., A.
do Trab. e Reg. Púb.), em que são apelantes Município de Balneário Camboriú e
outros, e apelado Representante do Ministério Público:

ACORDAM, em Terceira Câmara de Direito Público, por votação


unânime, conhecer dos recursos, desprovendo do Município de Balneário
Camboriú, dar provimento ao apelo do Município de Camboriú e prover o recurso
da FATMA. Custas na forma da lei.

RELATÓRIO
O Representante do Ministério Público ajuizou ação civil pública em
face do Município de Balneário Camboriú, objetivando compelir a Administração a
encetar medidas de prevenção, conservação e recuperação da orla marítima
atingida pela poluição. Sustentando legitimidade ativa, comprometimento da
balneabilidade, degradação ambiental e omissão do poder público, postulou a
concessão de liminar e, a final, a procedência do pedido (fls. 02-08).
Citado, o Município apresentou manifestação acerca dos pedidos
liminares, argüindo, preliminarmente,a falta de citação e, no mérito inexistência
de dados aptos à comprovação dos fatos narrados na inicial (fls. 28-37).
Indeferida a liminar (fls. 43-45), o Representante do Parquet pugnou
pela reconsideração (fls. 48-52), juntando cópia do agravo de instrumento
interposto (fls. 54-60), provido por esta Corte (fls. 476-484)..
Na contestação, o réu aduziu a necessidade de formação de
litisconsórcio passivo necessário, com inclusão da CASAN e do Município de
Camboriú e ausência de prova da poluição no local (fls. 62-72).
Após a réplica (fls. 162-164), os litisconsortes foram citados, tendo a
CASAN apresentado resposta, suscitando falta de atribuição para fiscalização do
lançamento de esgoto diretamente na rede pluvial (fls. 198-203). Já o Município
de Camboriú sustentou que a degradação dos rios que desembocam no mar
ocorrem fora do limite municipal, inexistindo concorrência para o fato danoso (fls.
239-244).
Saneado o feito e designada audiência (fls. 256-257), na solenidade
foi deferido prazo ao Ministério Público para elaboração de Termo de Ajuste de
Conduta (fl. 276).
Aprazada audiência de instrução e julgamento (fl. 502), diante da
notícia de ação idêntica que tramitou na Justiça Federal, inclusive já sentenciada,
foi suspensa a solenidade (fl. 518).

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Após manifestação das partes sobre o processo que tramitou na
Justiça Federal, sobreveio a r. sentença que julgou parcialmente procedente a
pretensão (fls. 620-628).
Inconformado, o Município de Balneário Camboriú apelou
sustentando ofensa ao princípio da separação dos poderes (fls. 633-637).
Contrarrazoado (fls. 539-545), o Município de Camboriú e a FATMA também
recorreram, aquele alegando falta de concorrência para o dano ambiental (fls.
647-650), e este a impossibilidade de condenação de terceiro prejudicado que
não integrou a lide (fls. 652-658).
Com as contrarrazões (fls. 667-673 e 675-682), os autos
ascenderam a esta Corte, tendo a Procuradoria-Geral de Justiça opinado pelo
conhecimento e desprovimento do apelo do Município de Balneário Camboriú,
provimento do recurso da Município de Camboriú e parcial provimento à súplica
da FATMA (fls. 248/251).
É o relatório.

VOTO

A matéria referente a intervenção do Poder Judiciário nas políticas


públicas e violação do princípio da separação e independência dos poderes,
responsabilidade do Município de Camboriú pelo dano ambiental e adequação
das finalidades da Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina – FATMA, foi
abordada com abrangência no parecer da Procuradoria-Geral de Justiça, que por
significativo, se adota no particular:
[...]
No tocante ao recurso interposto pelo município de Balneário Camboriú,
sob a alegação de que a sentença apelada incide em interferência indevida na
competência exclusiva do município, cumpre lembrar que o princípio da
independência do poderes, na concepção clássica, está superado ante as
exigências do constitucionalismo moderno que, encampando a doutrina dos
direitos humanos, consagrou direitos e garantias fundamentais cuja eficácia se

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quedaria anulada ao não se admitir que o Poder Judiciário tem a competência
de exercer o controle das políticas públicas.
Nesse mister, como diz Sergio Cruz Arenhardt:
(...) não compete ao juiz, sob a suposição de controlar a política
governamental, avocar a competência discricionária dos demais Poderes,
para decidir da conveniência e oportunidade para a solução ótima aplicável
ao caso. Exorbitará o magistrado suas funções, por outras palavras, sempre
que, sem fundamento jurídico que demonstre que a opção legislativa ou da
administração pública não é a melhor para o caso, anulá-la para ordenar a
adoção de outra política. Mas, tirante essa hipótese, sempre cumprirá ao
Judiciário perscrutir o ato administrativo, para examinar sua legalidade
(em toda sua extensão, inclusive no que respeita à moralidade, à
proporcionalidade, à razoabilidade, à eficiência, à realização do bem
comum etc.)” (O grifo não é do original)
No caso, tendo resultado assentado que o município de Balneário
Camboriú vem se omitindo do cumprimento do dever constitucional de proteger
o meio ambiente e controlar a poluição, em qualquer das suas formas e que
dessa omissão decorrem riscos para a saúde e a qualidade de vida de toda a
coletividade, que, a teor da Constituição Federal de 1988, tem direito
fundamental “ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações” (caput do art. 225), cumpre ao Poder Judiciário impor-lhe não
uma política pública destinada à proteção do meio ambiente, que já existe, mas
o simples exercício de um poder de polícia que o município já detém mas que,
com risco de danos irreparáveis, omite-se em exercer.
A jurisprudência dessa Corte de Justiça registra precedentes que seguem
a orientação seguida pela sentença apelada. Veja-se:
AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - EDIFICAÇÃO EM
ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE - PARQUE ESTADUAL "SERRA
DO TABULEIRO" - LIMINAR QUE DETERMINOU AO MUNICÍPIO E À
FUNDAÇÃO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE (FATMA) PROVIDÊNCIAS
DE FISCALIZAÇÃO DA DEGRADAÇÃO AMBIENTAL - ALEGADA AFRONTA
AO PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS PODERES - INOCORRÊNCIA -
DEVER DE PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE - RECURSO DESPROVIDO.
Não há como falar em violação ao princípio da separação dos poderes,
nem em indevida interferência de um Poder nas funções de outro, se o
Judiciário intervém a requerimento do interessado titular do direito de ação
civil pública, a fim de compelir o Poder Público a cumprir os seus deveres
constitucionais de proteção e fiscalização do meio ambiente inerentes ao
poder de polícia, que não foram espontaneamente cumpridos. (Apelação
Cível n. 2008.050308-1, de Palhoça, rel. Des. Jaime Ramos, Quarta Câmara
de Direito Público, data: 10/11/2009).
[...] AÇÃO CIVIL PÚBLICA. OBRAS DE SANEAMENTO BÁSICO E
ESGOTO. RESPONSABILIDADE DO MUNICÍPIO DE ITÁ E DA CASAN.

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SITUAÇÃO DEFICITÁRIA DEVIDAMENTE COMPROVADA E QUE
PROPICIA INCLUSIVE A OCORRÊNCIA DE DANOS AMBIENTAIS.
A celebração de convênio entre o município de Itá e a Companhia
Catarinenses de Água e Saneamento - Casan, pelo qual foi outorgada a esta
última a concessão para exploração, ampliação e implantação dos serviços
públicos de abastecimento e coleta e disposição de esgotos sanitários,
implica em sua legitimidade para residir no pólo passivo da ação na qual se
busca a regularização do sistema de esgoto e abastecimento. Pouco importa
se o Convênio veio a vencer no decorrer do feito; no momento de sua
propositura, ele estava em plena vigência, ao que se soma a circunstância
de, num segundo Convênio, ter-se comprometido a executar por sua conta a
operação e a manutenção do novo sistema, com cláusula expressa de que
tal ato normativo vigoraria enquanto subsistissem as obrigações das partes.
Demonstrada à saciedade a situação calamitosa do sistema de esgoto e
saneamento básico municipal, com a notícia de contaminação nos corpos d
´água, e, por conseguinte, da degradação dos recursos hídricos, é de rigor o
reconhecimento da responsabilidade da concessionária e do Município pela
tomada das providências necessárias à regularização, sob risco de
agravamento dos danos ao meio ambiente e à saúde dos munícipes.
A omissão do Poder Executivo, nesse contexto, legitima a interferência do
Poder Judiciário para dispor sobre a prioridade da realização de obra pública
voltada para a reparação do meio ambiente.
"No passado, estava o Judiciário atrelado ao princípio da legalidade,
expressão maior do Estado de Direito, entendendo-se como tal a submissão
de todos os poderes à lei. "A visão exacerbada e literal do princípio
transformou o Legislativo em um super poder, com supremacia absoluta,
fazendo-o bom parceiro do Executivo, que dele merecia conteúdo normativo
abrangente e vazio de comando, deixando-se por conta da Administração o
facere ou non facere, ao que se chamou de mérito administrativo, longe do
alcance do Judiciário.
"A partir da última década do Século XX, o Brasil, com grande atraso,
promoveu a sua revisão crítica do direito, que consistiu em retirar do
Legislador a supremacia de super poder, ao dar nova interpretação ao
princípio da legalidade.
"Em verdade, é inconcebível que se submeta a Administração, de forma
absoluta e total, à lei. Muitas vezes, o vínculo de legalidade significa só a
atribuição de competência, deixando zonas de ampla liberdade ao
administrador, com o cuidado de não fomentar o arbítrio. Para tanto, deu-se
ao Poder Judiciário maior atribuição para imiscuir-se no âmago do ato
administrativo, a fim de, mesmo nesse íntimo campo, exercer o juízo de
legalidade, coibindo abusos ou vulneração aos princípios constitucionais, na
dimensão globalizada do orçamento.
"A tendência, portanto, é a de manter fiscalizado o espaço livre de
entendimento da Administração, espaço este gerado pela discricionariedade,

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chamado de 'Cavalo de Tróia' pelo alemão Huber, transcrito em ‘Direito
Administrativo em Evolução', de Odete Medauar.
"Dentro desse novo paradigma, não se pode simplesmente dizer que, em
matéria de conveniência e oportunidade, não pode o Judiciário examiná-las.
Aos poucos, o caráter de liberdade total do administrador vai se apagando da
cultura brasileira e, no lugar, coloca-se na análise da motivação do ato
administrativo a área de controle. E, diga-se, porque pertinente, não apenas
o controle em sua acepção mais ampla, mas também o político e a opinião
pública" (STJ, rela. Mina. Eliana Calmon). (Apelação Cível n. 2008.044694-9,
de Ita, rel. Des. Vanderlei Romer, Primeira Câmara de Direito Público, data:
17/03/2009).
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO AMBIENTAL. EDIFICAÇÃO DE
RESIDÊNCIA ÀS MARGENS DO RIO CUBATÃO. LIMINAR QUE, DENTRE
OUTRAS PROVIDÊNCIAS, DETERMINOU AO MUNICÍPIO A PROMOÇÃO
DOS ATOS DE FISCALIZAÇÃO DA DEGRADAÇÃO AMBIENTAL EM ÁREA
DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. DEVER DE PROTEÇÃO AO MEIO
AMBIENTE CONSAGRADO NA CARTA MAGNA E DO QUAL O PODER
PÚBLICO NÃO PODE FURTAR-SE. ARTS. 23 E 225, AMBOS DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. AUSÊNCIA DE DISCRICIONARIDADE NO
EXERCÍCIO DO PODER DE POLÍCIA NO TOCANTE AO DIREITO
AMBIENTAL. ORDEM JUDICIAL QUE NÃO ATENTA CONTRA O PRINCÍPIO
DA SEPARAÇÃO DOS PODERES. IMPOSIÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE
FAZER, COM COMINAÇÃO DE MULTA DIÁRIA, QUE ENCONTRA
RESPALDO NO ART. 3º DA LEI N. 7.347/85. RECURSO DESPROVIDO.
Não bastasse o art. 23 da Constituição Federal atribuir à União, Estados,
Municípios e Distrito Federal a competência de proteger o meio ambiente, o
art. 225 afirmou tratar-se de um dever, do qual os poderes públicos não
podem eximir-se. neste rumo, em virtude da previsão constitucional, o
exercício do poder de polícia, em relação ao meio ambiente, consiste em
atividade administrativa vinculada, cuja omissão submete-se ao controle
jurisdicional, podendo o ente público ser destinatário de ordens judiciais
destinadas a compeli-lo aos atos fiscalizatórios, sem que isto implique na
violação do princípio da separação dos poderes. (Agravo de Instrumento n.
2007.02374-2, de Palhoça, Rel. Des. Jânio Machado, Quarta Câmara de
Direito Público, data: 27/02/2008).
O município de Camboriú, de seu lado, pretende a reforma da sentença
para ser julgada improcedente a ação ao argumento de que, nos limites de seu
território, não ocorreriam atividades poluidoras, de modo que a apontada
omissão não se verifica.
O município apelante é reconhecidamente cortado pelo rio Camboriú (fl.
246), um dos canais de condução de dejetos e esgoto para a praia, localizada
no vizinho município de Balneário Camboriú, onde referido curso d’água
desagua no Oceano Atlântico. O questionamento que o recurso traz só pode ser
solvido mediante o exame da prova.

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Nesse ponto, há que realizar uma breve e parcial retrospectiva da
tramitação que o feito teve no primeiro grau.
Registra-se, então, que, proposta que foi a ação, inicialmente, contra o
município de Balneário Camboriú, foram chamados a integrar a lide,
posteriormente, a CASAN e o município de Camboriú.
Acontece que, concomitantemente com o trâmite da ação civil pública na
Justiça Estadual, foi proposta, pelo Ministério Público Federal, perante a Justiça
Federal, 3ª Vara Federal de Blumenau, outra ação civil pública, fundada nas
mesmas razões de fato em que se baseou a presente e esgotando, na quase
totalidade, os pedidos aqui formulados. Tendo em vista que na ação que
tramitou na Justiça Federal foi proferida decisão de procedência parcial da
demanda (fls. 529 a 584), confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª
Região (TRF-4), “com temperamentos” (fls. 608 a 612), através de decisão
interlocutória, após referência à juntada de cópia da sentença referida, assim foi
deliberado:
Salvo melhor juízo, tenho para mim que os objetivos perseguidos nesta
ação já foram alcançados na ação que tramita na Justiça Federal, não se
justificando a manutenção da sua tramitação, não só porque os parcos
recursos humanos e materiais desta unidade jurisdicional podem ser melhor
utilizados na resolução de alguma das demais 45 mil ações que por aqui
tramitam, mas também porque, ao fim, eventual execução nesta ação
poderia tumultuar a execução que já está em curso na ação que tramita na
Justiça Federal, o que, é evidente, terminaria por ir de encontro à intenção do
ilustre Promotor de Justiça subscritor da petição inicial.
Diante disso, retornem os autos ao Ministério Público para manifestação
sobre a documentação juntada. [...] (fl. 607).
Após a manifestação ministerial exclusivamente quanto aos pedidos
remanescentes à decisão da Justiça Federal (fl. 612v.) e do Município de
Balneário Camboriú, instado que foi (fls. 613), noticiando as providências por ele
adotadas desde a propositura da ação, no tocante à vistoria/perícia na praia
central e nos rios Camboriú e Marambaia (fls. 618 a 619), pelo juiz a quo foi
exarada a decisão ora recorrida. Esta, tendo como pendentes apenas os
pedidos constantes dos itens c e d, da inicial, condenou o município de
Camboriú a realizar vistorias no rio Marambaia, “detectando e lacrando, através
de perícia realizada pela FATMA, as ligações clandestinas existentes para
escoamento de dejetos de esgotos e demais materiais que agridam o meio
ambiente” (fl. 628).
Diante desse desfecho, a prova requerida pelas partes, com exceção da
documental que já fora produzida, restou tacitamente dispensada e com isso
elas aquiesceram, porquanto não há notícia de insurgência a respeito e nem as
razões recursais a isso fazem referência.
No material probante anexado aos autos, porém, não se acha
demonstrado que a poluição do rio Camboriú ocorre também nos limites do
município de Camboriú. De outra parte, referido apelante jamais admitiu que tal

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fato se verifica em seu território e nem que venha se omitindo em adotar as
medidas a seu cargo para coibir atividades poluidoras.
A sentença proferida na Justiça Federal, no tocante ao município de
Camboriú, deixou consignado o seguinte:
Conforme afirmado diversas vezes no curso do processo, o município
vizinho de Camboriú também gera a contaminação do rito de mesmo nome e,
por isso, do mar. A população desse município, segundo previsão do IBGE
para 1999 noticiada no site da municipalidade na Internet, é de 37.531
habitantes, sendo que, conforme o já citado estudo da Epagri, essa
população encontra-se 47% situada na área rural. Já Balneário Camboriú
pode chegar a mais de 800.000 habitantes na alta temporada, conforme o
site do Governo do Estado. Em resumo, a contribuição dada por Camboriú à
poluição do rio e da praia precisa, de fato, ser medida, mas desde já se pode
saber que a mera ausência de rede coletora naquela cidade jamais poderia
ser considerado que torna inócua a extensão da coleta a todos os distritos
sanitários (DS 1 a 8) de Balneário Camboriú, especialmente por se encontrar
este última urbe mais próxima da foz do rio. Ademais, conforme informado
pela própria municipalidade de Camboriú, à fl. 1810, a CASAN também
celebrou convênio naquela cidade, encontrando-se ausente na prestação do
serviço.
Por fim, embora o município de Camboriú tenha sido chamado a integrar a
lide federal, na condição de litisconsorte passivo, a decisão em comento, na
parte dispositiva, sem fazer expressa menção a ele, julgou parcialmente
procedente a ação e dentre as obrigações de fazer e não fazer que fixou
nenhuma se dirige ao município de Camboriú.
De resto, leitura do acórdão n. 706283, do TRF-4, que deu provimento
parcial aos recursos de apelação por ele conhecidos, mostra que, dentre as
modificações procedidas na sentença do juiz federal nenhuma delas diz
respeito ao município de Camboriú (fls. 608 a 612).
Diante disso, a ocorrência da poluição no rio Camboriú, nos limites do
município de Camboriú, e a omissão do ente público municipal em coibi-la
resultaram duvidosas.
Isso não quer dizer que, não tendo cabimento a condenação, o município
de Camboriú deva ser eximido do cumprimento de sua atribuição constitucional
de “proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas
formas”, nos termos do art. 23, inciso VI, da Constituição Federal, já
mencionado. Significa, tão só, que, para os fins da presente ação e no período
de tempo a que ela ser refere, não resultou provada a omissão da
municipalidade no exercício de tal encargo, sempre passível de controle judicial.
A insurgência da FATMA está apoiada na alegação de lhe terem sido
impostas obrigações de fazer incompatíveis com suas atividades institucionais,
sem que tivesse sido parte na demanda.
A FATMA, criada que foi pelo Poder Público estadual, teve seus estatutos
aprovados pelo Decreto estadual n. 3.572, de 18 de dezembro de 1998.

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Aludido estatuto prevê, sem seu art. 3º, as finalidades da fundação, in
verbis:
Art. 3º - São finalidades básicas da Fundação:
I - executar projetos específicos, incluídos os de pesquisa científica e
tecnológica, de defesa e preservação ecológica;
II - fiscalizar, acompanhar e controlar os níveis de poluição urbana e rural;
III - participar na análise das potencialidades dos recursos naturais com
vistas ao seu aproveitamento racional;
IV - promover a execução de programas visando a criação e
administração de parques e reservas florestais;
V - executar as atividades de fiscalização da pesca, por delegação do
Governo Federal. (Grifou-se)
Como bem disse a fundação apelante, acha-se ela integrada ao Sistema
Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA, de modo que lhe cabe, de acordo com
o disposto no inciso V, do art. 6º, da Lei n. 6.938/81, incluída que se acha entre
os “Órgãos Seccionais”, a “execução de programas, projetos e pelo controle e
fiscalização de atividades capazes de provocar a degradação ambiental”.
Desse modo, pode-se afirmar que cabe à FATMA, diversamente do
alegado, além da fiscalização das atividades capazes de provocar a degradação
ambiental, o acompanhamento dos níveis de poluição urbana e rural, sem
distinção quanto a tratar-se de poluição atmosférica, marítima ou fluvial.
Além disso, o dispositivo legal da Lei Ambiental acima indicado também
estabelece, em seu parágrafo 3º, o seguinte: “Os órgãos central, setoriais,
seccionais e locais mencionados neste artigo deverão fornecer os resultados
das análises efetuadas e sua fundamentação, quando solicitados por pessoa
legitimamente interessada”.
É de ser admitir, ainda, que a expressão “perícia técnica, realizada pela
FATMA”, utilizada na decisão em reexame, teve aplicação equivocada.
Perícia, segundo Nunes, apud Lílian Alves de Araújo, pode ser definida
como:
Exame realizado por técnico, ou pessoa de comprovada aptidão e
idoneidade profissional, para verificar e esclarecer um fato, estado ou a
estimação da coisa que é objeto de litígio ou processo, que com um deles tenha
relação ou dependência, a fim de concretizar uma prova ou oferecer o elemento
de que necessita a justiça para poder julgar. No crime, a perícia obedece às
normas estabelecidas pelo Código de Processo Penal (arts. 158 e seguintes),
devendo ser efetuada o mais breve possível, antes que desapareçam os
vestígios. No cível compreende a vistoria, a avaliação, o arbitramento,
obedecendo às normas procedimentais do Código de Processo Civil.
Da doutrina se colhe, ainda:
Existem diversas modalidades de perícia, que se definem pelas
especificidades do objeto a ser periciado e pela área de conhecimento que as
fundamentam.
[...]

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A perícia ambiental é também um meio de prova utilizado em processos
judiciais, sujeita à mesma regulamentação prevista pelo CPC, com a mesma
prática forense, mas que irá atender a demandas específicas advindas das
questões ambientais, onde o principal objeto é o dano ambiental ocorrido, ou
o risco de sua ocorrência.
Tratando-se, pois, de meio de prova, a perícia técnica, in casu, não pode
mesmo ser realizada pela FATMA, por dois motivos: (1) não está incluída em
suas finalidades institucionais e (2) já se acha ultrapassado, no feito, o
momento para a realização de prova pericial.
Diante disso, a atribuição a ser conferida à FATMA, na sentença, não
poderia ser de realização de perícia técnica, mas de atividades de fiscalização,
acompanhamento e controle dos níveis de poluição dos Rios Marambaia e
Camboriú como, independentemente de ordem judicial, lhe compete.
De resto, embora a decisão apelada não tenha imposto condenação
alguma à fundação pública apelante, atribuiu-lhe encargo que foge às suas
finalidades institucionais e determinou a produção de prova em momento
processual inoportuno.
Não se deve olvidar, todavia, que a FATMA, como órgão seccional de
defesa ambiental incumbido da fiscalização das atividades capazes de provocar
a degradação ambiental e o acompanhamento dos níveis de poluição urbana e
rural, não poderá se furtar de cumprir sua obrigação de fornecimento dos
resultados das análises por ela efetuadas às autoridades também encarregadas
do cuidado com o meio ambiente, “legítimas interessadas” que são no
conhecimento de tais dados, se forem necessários para tornar efetivo o
comando da sentença (Procuradora de Justiça Vera Lúcia Ferreira Copetti – fls.
688-701).
Como está visto, o Município de Balneário Camboriú não exerceu a
contento o munus público, assegurando aos munícipes meio ambiente
ecologicamente equilibrado, sem risco à saúde. Daí decorre, em conseqüência, a
condenação imposta.
Diversamente se mostra a situação do Município de Camboriú cuja
contribuição para a degradação ambiental, como posta é duvidosa, embora não
esteja eximida de sua missão constitucional (CRFB/88, art. 23, VI).
Da mesma forma à FATMA, porque não alçada a condição de parte
na demanda e porque detém dentre suas finalidades justamente o que encerra a
condenação, deve dela ser eximida. Afinal, a Lei que a rege já lhe impõe tais
atribuições.

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Nessa compreensão, vota-se pelo conhecimento dos recursos,
para, desprovendo do Município de Balneário Camboriú, dar provimento ao apelo
do Município de Camboriú e da FATMA.

DECISÃO

Nos termos do voto da Relatora, a Terceira Câmara de Direito


Público, por unanimidade, decidiu conhecer dos recursos, desprovendo o do
Município de Balneário Camboriú, para dar provimento ao apelo do Município de
Camboriú e da FATMA.
O julgamento, realizado no dia 27 de abril de 2010, foi presidido
pelo Desembargador Pedro Manoel Abreu, com voto, e dele participou o
Desembargador Luiz Cézar Medeiros.
Lavrou parecer a Procuradora de Justiça Vera Lúcia Ferreira
Copetti.
Florianópolis, 21 de maio de 2010.
Sônia Maria Schmitz
RELATORA

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