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ANÁLISE

Nº 35/2017

O controle de terras
por estrangeiros no Brasil:
Panorama geopolítico, aspectos
legais e macro-tendências

Alceu Luis Castilho, Bruno Stankevicius Bassi


e Fábio Vendrame

OUTUBRO DE 2017

O avanço da concentração fundiária desde a crise financeira de 2007-


2008 tem suscitado intenso debate sobre a aquisição de terras por inves-
tidores estrangeiros como fenômeno mundial (global land grab). Apesar
de representar um papel importante, o Brasil apresenta fatores distinti-
vos marcantes em relação a outros territórios-alvo deste processo.

Historicamente, o processo de expropriação de terras no Brasil se dá


por meio da grilagem. No entanto, a financeirização da produção agrí-
cola e o amplo estoque de áreas agriculturáveis a um custo relativamente
baixo tornam o Brasil um mercado-chave para o capital especulativo
transacional.

As medidas legislativas impostas no Congresso Nacional pela ban-


cada ruralista, dentre elas o PL 4.059/2012 sobre liberação da compra
de terras por estrangeiros, visam facilitar o fluxo do capital transnacio-
nal. Contudo, mesmo com a proibição imposta pelo Parecer AGU LA-
01/2010, diversos grupos estrangeiros têm driblado tais restrições utili-
zando intermediários brasileiros.

Apesar de não ser fator primário no processo de concentração fundiá-


ria no Brasil, a ampliação da aquisição de terras por indivíduos e empre-
sas estrangeiras tende a manter o mercado especulativo aquecido mesmo
em momentos de crise do capital doméstico, levando à intensificação
do desmatamento para disponibilizar novas áreas para incorporação ao
mercado de terras e ao confinamento de comunidades camponesas e
tradicionais, tendo como consequência o recrudescimento dos conflitos
agrários no país.
Sumário

Introdução 3

O fenômeno do land grabbing e o controle de terras por estrangeiros 4

O controle de terras no Brasil 6

Territorialização por grupos estrangeiros no Brasil 7

Mecanismos de atuação do capital transnacional 10

Aspectos políticos e legais 18

Impactos socioambientais e concentração fundiária 20

Perspectivas e macrotendências 21

Especialistas entrevistados 23

Referências bibliográficas 25
Alceu Luis Castilho, Bruno S. Bassi, Fábio Vendrame | O CONTROLE DE TERRAS POR ESTRANGEIROS NO BRASIL

Introdução nante no mercado de terras, contrariando o


fluxo tradicional de países “pobres em terra/
A crise financeira internacional de 2007- ricos em capital” investindo em nações “po-
2008, precipitada pela implosão da bolha bres em capital/ricas em terra” (OLIVEIRA,
imobiliária estadunidense, direcionou o ca- 2011). Mas também pelo papel inverso que
pital especulativo transnacional a um maior exerce em relação aos países sob seu manto
pragmatismo, buscando previsibilidade e de influência, destacando-se a atuação de la-
lastreamento físico. Nesse sentido, intensifi- tifundiários e investidores brasileiros no Pa-
cou-se o fluxo iniciado com o boom das com- raguai (PEREIRA, 2015) e o programa para
modities no início dos anos 2000 em direção o desenvolvimento da agricultura nas savanas
à aquisição de terras, uma vez que a financei- tropicais em Moçambique - ProSAVANA
rização da produção agrícola, somada à incor- (CLEMENTS e FERNANDES, 2013).
poração massiva de novos estoques de áreas
agriculturáveis ao mercado global de terras, O conceito de estrangeirização, portanto, não
limita as possibilidades de depreciação. Isso é suficiente frente a um cenário complexo
ocorre mesmo diante das reduções drásticas que envolve uma gama de agentes e formas
no preço internacional de commodities, con- de apropriação que não se restringem exclu-
solidando assim a lógica da terra como ativo sivamente a estrangeiros adquirindo terras. A
financeiro. estrangeirização é, antes de tudo, um de seus
elementos.
A intensificação do processo de apropriação
de vastas extensões de terra no Sul global por Tampouco land grabbing pode ser entendido
corporações e investidores transnacionais, co- como grilagem de terras, pois carrega outro
mumente descrito como land grabbing ou, no
significado distinto daquele entendido pelos
espanhol, acaparamiento de tierras, engloba
brasileiros como um processo histórico de
diversas lógicas que, apesar de sobrepostas,
apropriação ilegal de terras a partir de frau-
apresentam diferenças marcantes. Seguiu-se,
de e falsificação de títulos de propriedade,
então, uma corrida na produção acadêmica
muitas vezes sob ameaça ou coerção violenta.
(SAUER e BORRAS JR, 2016) na tentativa
Conforme veremos, a grilagem está muitas
de entender quem são e como operam esses
vezes associada ao land grabbing como uma
atores, bem como seus impactos sobre comu-
etapa introdutória à disponibilização dessas
nidades camponesas e tradicionais.
áreas no mercado global de terras.
Não existe na língua portuguesa, a rigor, uma
tradução precisa para land grabbing, levando Como então denominar esse fenômeno? Op-
alguns pesquisadores e grande parte da mídia tamos no presente trabalho pela utilização
a utilizar o termo “estrangeirização” como si- do termo “controle de terras”, uma vez que
nônimo. Contudo, o Brasil diferencia-se ex- indica não apenas a compra de unidades ter-
pressivamente de outros países-alvo do capital ritoriais de forma direta por cidadãos ou em-
transnacional. Em primeiro lugar, por possuir presas estrangeiras, mas também seu controle
um setor agropecuário nacional consolidado indireto por meio de intermediários brasilei-
e forte – ainda que plenamente integrado às ros ou mesmo da cadeia de processamento e
cadeias globais – com participação predomi- distribuição.

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O Brasil é o país com maior área agricultu- tos sociais, ambientais e fundiários do con-
rável do mundo, estimada em 61 milhões de trole de terras por estrangeiros; e (6) quais as
hectares passíveis de receber o desenvolvi- tendências apontadas por especialistas para a
mento de agricultura irrigada, o equivalente próxima década.
a dez vezes a atual área cultivada (ESALQ/
USP, 2015). A atual expansão da frontei- O fenômeno do land grabbing
ra agrícola rumo à zona de transição entre e o controle de terras por
Cerrado e Amazônia – área comumente co- estrangeiros
nhecida como Arco do Desmatamento – e
ao enclave geográfico que engloba o sul do Desde o início dos anos 2000, em meio ao
Piauí e do Maranhão, o norte do Tocantins e crescimento frenético no consumo de pro-
o Oeste da Bahia (MATOPIBA) reafirmam dutos primários pela China e à sombra de
a posição do Brasil como figura central no consecutivas crises alimentares em países
fenômeno mundial do land grabbing. Neste subdesenvolvidos, o debate em torno da
sentido, torna-se primordial analisar como disponibilidade de recursos naturais para
as decisões políticas tomadas pelo Estado atender a uma população mundial crescente
brasileiro, sobretudo após o impeachment – terras agriculturáveis, água, energia e mi-
da presidente Dilma Rousseff, em 2016, afe- nérios – tornou-se tema prioritário na agen-
tam a inserção do país no mercado mundial da internacional (FLEXOR e LEITE, 2017).
de terras; e identificar os impactos sociais e
ambientais sobre nosso território. Ao mesmo tempo, a elevação galopante nos
preços das commodities agrícolas entre 2004
Tendo em vista a diversidade de abordagens e 2011 possibilitou a consolidação de um
e a profusão de trabalhos acadêmicos sobre o mercado a preços futuros, garantindo lucros
fenômeno do controle de terras por estran- imediatos na cadeia de comercialização das
geiros no Brasil, a metodologia adotada foi a safras, o que levou os países produtores a
de entrevistar alguns dos principais especia- ampliar significativamente suas áreas de mo-
listas no tema para o cruzamento de infor- nocultivos.
mações e perspectivas sobre a faceta brasilei-
ra do fenômeno. A Figura 1 demonstra como o cultivo de
soja no Brasil, que até 1990 concentrava-se
O material gerado pelas entrevistas – depoi- na porção sul do país, expandiu-se para o
mentos, citações, infográficos e mapas – foi norte em direção à zona de transição entre
sistematizado para responder a seis pergun- Cerrado e Amazônia e, a partir da década de
tas essenciais, refletidas ao longo dos seis ca- 2010, consolidou sua presença na região do
pítulos seguintes: (1) o que é land grabbing, MATOPIBA.
(2) quais são as áreas prioritárias de territo-
rialização do capital transnacional no Brasil, Também em relação à cana-de-açúcar hou-
(3) quem são e de onde vêm as corporações ve significativa expansão na área produtiva,
estrangeiras que adquirem terras no país, (4) estendendo-se do noroeste de São Paulo ao
quais as restrições impostas pela legislação Mato Grosso do Sul, englobando Minas Ge-
brasileira e quais medidas referentes ao tema rais, sul de Goiás e norte do Paraná, conforme
tramitam no Congresso; (5) quais os impac- mostra a Figura 2.

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Figura 1 Figura 2
Expansão da produção de soja no Brasil Expansão da produção de cana-de-açúcar no
1973-2014 Brasil 1973-2014

Fonte: FLEXOR e LEITE, 2017. Fonte: FLEXOR e LEITE, 2017.

Semelhante expansão se reproduziu em todo se configurou como uma alternativa rentável,


o Sul global e ganhou contornos ainda maio- inaugurando um novo agente nas apropria-
res no esteio da crise financeira internacional ções de terras em larga escala: os fundos de
de 2007-2008, cujos impactos sobre os mer- investimento.
cados financeiros levaram o capital transna-
cional a enxergar a necessidade de diversificar Observam-se assim, dois grupos principais: o
seu portfólio de investimentos visando ativos primeiro, de países sob alta pressão popula-
fisicamente lastreados – e, portanto, de me- cional e com recursos naturais limitados tais
nor risco relativo – que apresentassem curva como China, Coréia do Sul, Japão, Índia,
de apreciação no médio e longo prazo (FRE- Arábia Saudita e Qatar que, por meio de pro-
DERICO, 2016). Considerando a tendência jetos de cooperação ou da aquisição de terras
de aumento do consumo de alimentos e agro- por estatais e fundos soberanos, buscam ga-
combustíveis, e sendo a terra um recurso fini- rantir o suprimento de insumos tendo em vis-
to, ameaçado pela mudança climática e pela ta a segurança alimentar de sua população; e
expansão urbana, o mercado global de terras um segundo grupo composto por indivíduos

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de alta renda, fundos de pensão, private equity te ao processo de acumulação do capital e tem
e hedge funds, cujo objetivo primário é espe- se desdobrado de diversas formas de acordo
cular com o valor da terra e lucrar com seu com as especificidades regionais e históricas.
arrendamento ou venda posterior. Contudo, esses processos se intensificam em
um cenário de convergência de crises: alimen-
Estima-se que, entre 2006 e 2011, no auge da tar, ambiental, climática, energética e, tam-
crise financeira internacional, ambos os gru- bém, financeira.
pos tenham adquirido mais de 200 milhões
de hectares de terra, predominantemente na O controle de terras no Brasil
África, mas também de forma extensiva na
Ásia e América Latina (SASSEN, 2016). No Brasil, o processo de controle de terras
pelo capital estrangeiro ou transnacional se
Assim, o land grabbing se realiza no controle inicia formalmente com a Lei de Terras de
de terras financeirizadas (do inglês territorial 1850, que pela primeira vez institui a terra
funding), tornando-se cada vez mais difícil como mercadoria. O primeiro debate am-
distinguir claramente se a apropriação de plo sobre o tema ocorre na década de 1960,
terras se dá para fins produtivos ou especu- em plena ditadura militar, face ao escândalo
lativos. causado pela descoberta da exploração ilegal
de recursos na Amazônia por multinacio-
Cabe também destacar que o controle de ter- nais estadunidenses e europeias, o que levou
ras, bem como seu elemento de estrangeiriza- à abertura de uma Comissão Parlamentar de
ção, não é um processo recente. A apropria- Inquérito (CPI) que resultaria na publicação,
ção da terra e seus recursos (água, nutrientes, em 1968, do Relatório Velloso, onde se cons-
biodiversidade, minerais) com o objetivo de tatou que 20 milhões de hectares estariam em
transferi-los a determinados agentes é ineren- posse ilegal de estrangeiros.

Tabela 1
Brasil - Participação relativa de registros e áreas por décadas
Décadas % Registros % Acumulado dos % Áreas %Acumulado
registros de área
1900 0.012 0.012 0.0004 0.0004
1910 0.047 0.058 0.064 0.065
1920 0.143 0.202 0.170 0.235
1930 0.415 0.617 0.309 0.544
1940 1.207 1.824 0.971 1.514
1950 4.015 5.839 2.551 4.065
1960 8.773 14.612 6.194 10.259
1970 17.421 32.033 15.040 25.298
1980 29.888 61.921 27.940 53.2338
1990 18.201 30.122 25.995 79.153
2000 18.783 98.904 20.152 99.315
Sem registro de data 1.096 100.000 0.685 100.000
Totais 100.000 100.000
Fonte: Pretto, 2009 (apud SAUER e LEITE, 2012, p. 513).

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Contudo, foi a partir dos anos 1970, com mensurar de forma precisa a real extensão do
o Programa de Cooperação Nipo‑Brasileiro controle de terras por estrangeiros no Brasil.
para o Desenvolvimento dos Cerrados (Pro- Outras bases de informação, como o registro
ceder), que se intensificou a aquisição de ter- de Investimentos Estrangeiros Diretos (IED)
ras por estrangeiros, conforme demonstra a do Banco Central, não contam com o deta-
Tabela 1, extraída do estudo de Pretto (2009) lhamento do local da inversão. Essa quanti-
e reproduzida por Sérgio Sauer e Sérgio Pe- ficação torna-se ainda mais complexa tendo
reira Leite (2012, p. 513). Nela observamos em vista a agilidade com que novos estoques
que as décadas de 1980, 1990 e 2000 con- de terra têm sido incorporados ao mercado
centram, respectivamente, 29,9%, 18,2% e global, sobretudo por meio da atuação de cor-
18,8% do número total de imóveis sob regis- porações especialmente dedicadas à gestão de
tro de indivíduos ou empresas estrangeiras, ativos agrários, os pools de siembra, conforme
respondendo por 27,9%, 25,9% e 20,1% da veremos a seguir.
área total cadastrada.
Territorialização por grupos
De acordo com a base cadastral do Instituto estrangeiros no Brasil
Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(INCRA), no ano de 2010 existiam 34.371 Uma das repercussões mais notórias da cor-
imóveis rurais sob a propriedade de estrangei- rida mundial pelo controle de terras é o au-
ros, abarcando um total de 4.349.074 hecta- mento contínuo do preço da terra. No Brasil,
res, equivalentes a 0,79% das terras cultivadas mesmo com o fim do ciclo das commodities a
no Brasil ou, em outras palavras, a uma área partir de 2011, que derrubou os preços futu-
do tamanho da Dinamarca (WILKINSON, ros e levou à quebra de diversas empresas no
REYDON e DI SABBATO, 2012). setor sucroalcooleiro e à redução drástica nos
índices de produtividade da soja, o preço da
No que se refere à quantidade, os imóveis terra não parou de crescer.
pertencentes a estrangeiros concentram-se
nos estados de São Paulo (35,7% do total), De acordo com a consultoria Economics
Paraná (14,9%), Minas Gerais (7,7%) e Bah- FNP, o preço médio da terra no Brasil saltou
ia (6,4%), havendo, portanto, um maior nú- de R$ 4.756,00 por hectare, em 2010, para
mero de propriedades em zonas de produção R$ 10.083,00 em 2015, um crescimento de
de cana-de-açúcar. Em relação ao volume por 112%. Como base de comparação, no mes-
hectares, quem lidera a lista é o Mato Grosso, mo período o aumento no Índice de Preços
com 19,4% da área total, seguido por Minas ao Consumidor-IPCA foi de 48,9% (FLE-
Gerais e São Paulo, com 11,3% cada, e Mato XOR e LEITE, 2017).
Grosso do Sul, com 10,9% (SAUER e LEI-
TE, 2012). Isso significa, em primeiro lugar, o achaca-
mento de pequenos proprietários pelo agro-
Há de se observar tais dados com cautela, negócio face a uma maior dificuldade em
uma vez que os registros do INCRA são au- manter os custos operacionais de produção.
todeclaratórios e não identificam a data de Paralelamente, o aumento no valor da terra
aquisição desses imóveis, tornando impossível estimula a incorporação de novas áreas ao

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mercado que, geralmente por falta de in- colza e sorgo), a cana-de-açúcar, o monocul-
fraestrutura prévia de irrigação e escoamen- tivo de árvores (eucalipto e pinus), a palma-
to, ainda tenham uma correlação vantajosa -azeiteira e o algodão.
no preço por hectare.
Em 2016, o DATALUTA-Banco de Dados
Esse movimento é particularmente visível na da Luta pela Terra, projeto coordenado pelo
região compreendida ao sul dos estados do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de
Piauí e Maranhão e no norte do Tocantins, Reforma Agrária (NERA/UNESP), divul-
onde os preços ainda são relativamente bai- gou um levantamento inédito sobre o con-
xos quando comparados a outros centros de trole de terras por estrangeiros, identifican-
produção e cujo lobby encabeçado pela ex- do 108 empresas e fundos de investimento
-Ministra da Agricultura no governo Dilma transnacionais atuantes no Brasil. Os resul-
Rousseff, senadora Kátia Abreu (PMDB- tados evidenciam a predileção dos investido-
-TO), estimulou a entrada de novos grupos res internacionais pelos flex crops, conforme
empresariais, nacionais e internacionais, podemos ver na Figura 3.
muitas vezes em associação com notórios
grileiros da região, como demonstra o caso No que se refere ao número de empresas,
do fundo de pensão dos professores norte-a- o setor de grãos é o principal vetor de atra-
mericanos TIAA-CREF, do qual trataremos ção do capital estrangeiro, com 35 das em-
mais adiante. presas analisadas no relatório, seguido pela
cana (29), monocultura de árvores (20), café
Além disso, a desvalorização cambial sofrida
(16) e algodão (14). No entanto, ao consi-
pela moeda brasileira a partir de 2014 tem
derarmos o número de imóveis adquiridos,
gerado uma reconfiguração expressiva do
o setor mais importante passa a ser o mo-
agronegócio brasileiro, ao conferir uma sig-
nocultivo de árvores, com 1.392 proprie-
nificativa vantagem às corporações interna-
dades registradas. Isso se dá em função do
cionais tanto na compra de terras quanto na
controle da indústria de celulose por grupos
aquisição de unidades produtoras de commo-
internacionais, tais como Fibria Celulose
dities, como exemplifica a compra integral
da Noble Agri pela estatal chinesa COFCO S.A./Stora Enso (capital sueco-finlandês),
International Ltd, que passou a ter em seu Klabin/Arauco (capital chileno), Internatio-
portfólio 145 mil hectares de produção de nal Paper (capital estadunidense), Celulose
cana-de-açúcar na região de São José do Rio Nipo-Brasileira S.A. (capital japonês), entre
Preto/SP (GRAIN, 2016). outros.

Ao analisar a territorialização por grupos O estudo também indica que, contrariando


estrangeiros no Brasil, é também importan- os receios de uma entrada massiva do capital
te destacar o foco de tais investimentos nos chinês na aquisição de terras no Brasil (OLI-
chamados flex crops, culturas flexíveis que VEIRA e SCHNEIDER, 2015), são ainda
permitem aproveitamento múltiplo para Estados Unidos (com 33 empresas), Japão
consumo direto, ração animal, combustível (14), Reino Unido (10) e França (6) que
ou geração de energia. São culturas flexíveis concentram grande parte dos investimentos
os grãos em rotação (soja, milho, canola, estrangeiros em nosso setor agrário.

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Figura 3
Empresas do agronegócio com capital internacional de acordo com a atividade agrícola

Grãos (em rotação) Algodão

Monocultivo
de árvores Café

Outras
Cana-de-açúcar commodities

Fonte: DATALUTA - Banco de Dados da Luta Pela Terra, 2016. www.fct.unesp.br/nera

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Nas página a seguir, reproduzimos uma canalizar investimentos internacionais para a


versão reduzida dos dados compilados pela especulação de terras no Brasil.
equipe do NERA/UNESP no relatório DA-
TALUTA 2015. A versão original com da- Desenvolvidos na década de 1980 por corpora-
dos completos das 108 empresas levantadas ções argentinas como forma de verticalizar sua
está disponível em: <http://www2.fct.unesp. produção de soja, os pools de siembra são corpo-
br/nera/projetos/dataluta_relatorio_bra- rações que coletam seu capital de uma grande
sil_2015_publicado2016.pdf> variedade de investidores em todo o mundo (de
indivíduos a private equity, hedge funds, fundos
Mecanismos de atuação do capital soberanos, fundos de pensão, bancos privados e
transnacional demais agentes financeiros), com o objetivo de
financiar a operacionalização da fazenda. Eles
Apesar das limitações impostas pela Lei nº chegam a contratar técnicos agrônomos, insu-
5.709/71 e ratificadas no Parecer LA-01/2010 mos, maquinaria e mão-de-obra para o plan-
da Advocacia Geral da União (AGU), grupos tio. Essas fazendas podem ser tanto arrendadas
e indivíduos estrangeiros têm conseguido com quanto em unidades próprias. Os lucros com
sucesso, por meio de elaborados esquemas fi- a venda da safra – ou mesmo da propriedade
nanceiros, encobrir a origem internacional do – são distribuídos entre os membros do pool
capital utilizado na aquisição de terras. (OLIVEIRA e HACHT, 2016). Entre os prin-
cipais exemplos de pools de siembra em opera-
Ao longo das últimas décadas, a função exer- ção no Brasil estão1:
cida pelo Estado e por bancos nacionais no
financiamento da produção de commodities Cresud/Brasilagro
agrícolas tem sido progressivamente aboca-
nhada pelas joint ventures formadas entre as Fundo argentino comprado em 1994 pelo
comercializadoras de grãos e as fabricantes Dolphin Fund e operado por Eduardo Els-
de sementes e insumos químicos, que pas- ztain. Possui 866.215 hectares divididos en-
sam a fornecer os recursos para o plantio em tre Argentina, Brasil, Paraguai e Bolívia. Em
troca do compromisso contratual, por parte 2006, para expandir sua atuação em terras
do produtor beneficiado, de destinar uma brasileiras, fundou a BrasilAgro.
parte da safra como pagamento pelos insu-
mos. Muitas vezes, os produtores podem ter Ele conta com participação acionária dos
até 75% de sua safra comprometida junto bancos JP Morgan Whitefriars (Estados Uni-
às transnacionais do agronegócio, que vêm dos) e Credit Suisse Hedging-Griffo (Suíça),
sofisticando seus mecanismos de financia- do fundo britânico Autonomy Capital e da
mento, como na inédita emissão de Certifi- Cape Town LLC, empresa dirigida por Elie
cados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) Horn, fundador da construtora Cyrela. O
lançada pelas empresas Octante, Syngenta fundo BrasilAgro detém 177 mil hectares em
e Bunge Brasil, atualmente em processo de propriedades no Maranhão, Tocantins, Piauí,
regulamentação pela Comissão de Valores Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e
Mobiliários (VALOR, 2017). Minas Gerais.
Contudo, outros mecanismos ainda mais in-
1. Dados cruzados a partir de OLIVEIRA & HACHT (2016);
trincados têm sido criados com o objetivo de FREDERICO (2016), GRAIN (2016) e TUBINO (2016).

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Tabela 2
Territorialização de empresas do agronegócio com capital internacional - 2015

Localização das terras


Razão social Origem do capital
(Unidades da Federação)

ABENGOA BIOENERGIA TRADING BRASIL LTDA. Espanha SP


ADEACOAGRO BRASIL PARTICIPAÇÕES S. A. EUA BA | MG | MS | TO
(Angélica Agroenergia; George Soros)
ADM DO BRASIL LTDA. EUA BA | GO | MG | MS | MT | PA | PR |
RS | SC | TO

AGREX DO BRASIL S.A. Argentina; Japão BA | GO | MS | MT | PR | RS | SP | TO


(Ceagro; Los Grobo; Mitsubishi)
AGRÍCOLA XINGU Japão BA | GO | MG
(Multigrain; Mitsui; SLC Agrícola)
AGROPECUÁRIA ARAKATU LTDA. Japão BA
(Group Arakatu)
AGRORESERVAS DO BRASIL LTDA. EUA MG
ALCOTRA BIO ENERGY DO BRASIL S.A. Bélgica PB
ARAUCO FLORESTAL ARAPOTI S.A. Chile PR
(Centaurus Holdings; Klabin)
AZENGLEVER AGROPECUÁRIA LTDA - ME Finlandia; Suécia PR | RS
(Stora Enso, entre outros)
BAHIA SPECIALITY CELLUSOSE S.A. China; Singapura BA
BELEM BIONERGIA BRASIL S.A. Portugal PA
(Galp Energia; Petrobras)
BIOSEV BIONERGIA S.A. França MG | MS | PB | RN | SP
(Louis Dreyfus Company)
BIOURJA DO BRASIL AGROINDUSTRIA LTDA. EUA MS
BRASILAGRO - CIA BRASILEIRA DE PROPRIEDADES Argentina; EUA BA | GO | MG | MT | PI
AGRÍCOLAS
(Cresud; JP Morgan; Credit Suisse Heldging-Griffo;
Elie Horn; Kopernik Global Investors)
BRAZIL IOWA FARMS LTDA.- ME EUA BA
BRITISH PETROLEUM BIOFUELS Reino Unido GO | MG
(Tropical Bioenergia)
BUNGE ALIMENTOS S.A. EUA BA | GO | MG | MS | MT | PI | PR |
(DuPont; The Solae Company) RS | SC | SP | TO
CALYX AGROPECUÁRIA LTDA. França BA | GO | MG
(Louis Dreyfus Company/Calyx Agro)
CANTAGALO GENERAL GRAINS S.A. Brasil; EUA; Japão; GO | MG | MT | PI
(Coteminas; Grupo Wembley; Agrícola Estreito S.A.; Reino Unido
Mitsui&Co; GFN Agrícola e Participações S.A; Sojitz)
CARGILL AGRÍCOLA S.A. EUA BA | GO | MA | MG | MS | MT | PA |
(Black River Asset Management; Grupo Ruette) PR | SP | TO
CELESTIAN GREEN VENTURE Irlanda AM

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Localização das terras


Razão social Origem do capital
(Unidades da Federação)

CELULOSE NIPO-BRASILEIRA S.A. CENIBRA Japão MG


(Japan-Brazil Paper and Pulp Resources
Development Co.; Oji Paper)
CENTAURUS HOLDINGS Chile; Reino Unido PR
(Klabin; Arauco)
CENTRAL ENERGÉTICA VICENTINA LTDA. Brasil; EUA MS
CERONA - COMPANHIA DE ENERGIA RENOVÁVEL S.A. Alemanha; Brasil MS
CHINATEX GRÃOS E ÓLEOS IMP. & EXP. CO. LTD. China Indisponível
(Chinatex Corporation; Fiagril)
CHONGQING GRAINS GRUP China BA | RS
CHS COM.SERV.E SOLUÇÕES AGRICOLAS LTDA EUA TO
(NovaAgri; Multigrain; Mitsui)
CIA AGRÍCOLA ESTÂNCIA SONORA Itália MS
(Grupo Cigla)
CMPC CELULOSE RIOGRANDENSE LTDA. Chile RS
(Klabin)
COFCO AGRI China SP
(Antiga Noble Brasil S.A.; Chinatex)
COMANCHE PARTICIPAÇÕES DO BRASIL S.A. EUA; Reino Unido BA | SP
(Comanche Clean Energy)
DEL MONT FRESH PRODUCE EUA RN
DERFLIN AGROPECUÁRIA LTDA. Finlandia; Suécia PR | RS
(Stora Enso; Azenglever)
DUPONT PIONNER S.A. EUA GO | MT | RS | TO
ED&F BRASIL S.A. Países Baixos BA | MG | SP
(ED&F Man Netherlands BV.; Grupo Volcafé;
Marcellino Martins & Johnston Exportadores Ltda)
EISA - EMPRESA INTERAGRÍCOLA S.A. Espanha BA | MG | PR
(Cargill; Ecom Agroindustrial Corp. Ltd.)
EL TEJAR S.A Argentina; MT
Reino Unido
FARM MANAGEMENT COMPANY EUA SP
(Agroreservas do Brasil Ltda.)
FIBRIA CELULOSE S.A. Brasil; Finlandia; BA | ES | MG | MS | RS | SP
(Veracel Celulose; Votorantim Industrial; Grupo Suécia
Lorens; Stora Enso; J. Safra Asset Management)
FLORESTECA HOLDING NV. Países Baixos MT | PA
GENAGRO PRODUTOS E SERVIÇOS AGROPECUÁRIOS Reino Unido BA
LTDA.
(Agrifirma Bahia Agropecuária; Lorde Rosthchild; Jim
Slater; Hugh Sloane; BRZ Investimentos)
GLENCORE XTRATA PLC. Reino Unido; MT
(Glencore do Brasil Exportadora e Importadora S.A; Suíça
Andorsi do Brasil Ldta.; Predileto Investimentos S.A.)

12
Alceu Luis Castilho, Bruno S. Bassi, Fábio Vendrame | O CONTROLE DE TERRAS POR ESTRANGEIROS NO BRASIL

Localização das terras


Razão social Origem do capital
(Unidades da Federação)

GRUPO ESPÍRITO SANTO Portugal; SP | TO


(Deutsche Investitions-DEG) Alemanha
GRUPO POET EUA MS
(Biourja; DSM)
GRUPO RANGEL Portugal MS
(Biurja; Grupo Poet)
GUARANI TEREOS AÇÚCAR & ENERGIA BRASIL Brasil; França SP
(Petrobras; Tereos International S.A.)
HILLSHIRE BRANS CORPORATION EUA MG
(Café do Ponto; Seleto; Pilão; entre outros)
INFINITY BIO-ENERGY BRASIL PARTICIPAÇÕES S.A. EUA BA | ES | MG | MS
(Grupo Bertin; Infinity Participações)
INSOLO AGROINDUSTRIAL S.A. Brasil; EUA PI
(Harvard University; Família Ioschpe; IPA
Investimento Agrícola)
INTERNATIONAL PAPER DO BRASIL LTDA. EUA MS | PR | RJ | SP | TO
IPANEMA COFFEES Brasil; Japão MG
(Mitsubishi Corporation; MC Coffee do Brasil; Tchibo
Holding Gmbh; Friele Brazil)
JTI PROCESSADORA DE TABACO DO BRASIL LTDA. EUA; Japão PR | RS | SC
KLABIN Brasil; Chile BA | MG | PE | PR | RJ | RS | SC | SP
(Arauco)
KOBRA AGRÍCOLA Países Baixos BA
LJN PARTICIPAÇÕES S.A. Brasil; Japão GO | SP
LOUIS DREYFUS COMPANY BRASIL S.A. França BA | ES | GO | MG | MT | PR | SC | SP
(Biosev S.A.)
LUIGI LAVAZZA SPA Itália PR | RJ
MAEDA S.A. AGROINDUSTRIAL Japão BA | GO | MG | MT | SP
(Vanguarda Agro)
MASISA DO BRASIL LTDA. Chile PR | RS | SC
MASSIMO ZANETTI BEVERAGE GROUP Itália MG | SP
(Segafredo Zanetto)
MELLITA GROUP Alemanha RS | SP
(Café Bom Jesus)
MITSUI Japão BA | GO | MA | MS | MT | PI
(Multigrain; SLC Agrícola)
MONSANTO DO BRASIL LTDA. Alemanha; GO | SP
(Bayer) EUA
MSU BRASIL AGROPECUÁRIA LTDA. Argentina BA | MS
MULTIGRAIN S.A. EUA; Japão BA | GO | MA | MG | MT | PR | SP |
(Agro Xingu; SLC Agrícola; Mitsui; CHS) TO
NATURALLE AGRO Brasil; Japão MG
(Itochu)

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Localização das terras


Razão social Origem do capital
(Unidades da Federação)

NKG FAZENDAS BRASILEIRAS LIMITADA Alemanha MG


ODEBRECHT AGROINDUSTRIAL S.A. Brasil; EUA; GO | MA | MT | MS | SP
(Amirys; BNDES-Par) Japão; Reino Unido
OLAM INTERNATIONAL Nigéria BA | MT | RN
(Grupo Chanrai Kawairam)
PAPELES BIO BIO Chile PR
(BO Paper; Stora Enso)
PARADISE AGROPECUARIA LTDA. Reino Unido SP
PARKIA PARTICIPAÇÕES S.A. Brasil; Finlandia; MS
(Fibria Celulose S.A.) Suécia
PETROGAL BRASIL S.A. Portugal PA
(Galp Energia; GDP S.A.)
PETRÓLEO BRASILEIRO S.A. PETROBRAS Brasil; França GO | MG
(Grupo São Martinho; Tereos Internacional S.A.; Total
Agroindústria Canavieira; Turdos Participações)
PROVIFIN PRODUTORA DE VINHOS FINOS LTDA. França RS
(CHANDON)
QUIFEL ENERGY BRASIL PARTICIPAÇÕES LTDA. Portugal BA
(Renova Energia)
RADAR S.A. Brasil; EUA; Países MA | MT | SP
(Cosan; TIIA-Cref; Mansilla Participações S.A.; Royal Baixos
Dutch Shell; Tellus S.A.)
RAÍZEN COMBUSTÍVEIS S.A. Brasil; EUA; Países GO | MG | MS | PR | RJ | SP
(Cosan; Royal Dutch Shell; Radar; TIIA-Cref ) Baixos
RENUKA DO BRASIL LTDA. Índia PR | SP
(Brookfield Asset Management)
RICETEC SEMENTES LTDA. EUA RS | SC
RIGESA CELULOSE PAPEL E EMBALAGENS LTDA. Canadá BA | CE | PE | PR | SC | SP
(RockTenn; WestRock)
ROYAL DUTCH SHELL Países Baixos MG | SP
(Cosan; Raízen)
SAFI BRASIL ENERGIA S.A. Itália MS
SANHE HOPEFULL China Indisponível
SÃO JOÃO DO PIRAJÁ EMPREENDIMENTOS E EUA BA | PI | MT
PARTICIPAÇÕES LTDA.
SÃO MARTINHO S.A. Japão SP | GO
(Petrobras; Amyris; Mitsubishi Corporation
do Brasil S.A.)
SB AGRÍCOLA LTDA. EUA MT
SLC AGRÍCOLA S.A. Brasil; EUA; Suíça; BA | GO | MA | MS | MT | PI | RS |
(Mitsui,Black Rock; Credit Suisse; Neuberger Alemanha SP
Berman; Deutsche Bank)

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Localização das terras


Razão social Origem do capital
(Unidades da Federação)

SOLAZYME EUA SP
(Bunge; Chevron Technology; National Bureau of
Standards)
SOLLUS CAPITAL Argentina BA | MA | PI | TO
(Los Grobo; Touradji Capital Management; Vinci
Partners)
STORA ENSO BRASIL LTDA. Finlandia; Suécia RS
(Derflin Agropecuária LTDA; Agroflorestal Verde Sul
S.A.; Azenglever Agropecuária)
STRAUSS GROUP LTD. Israel MG
(Santa Clara; Três Corações)
SUCAFINA S.A. Suíça MG
(Finacafé Comércio de Alimentos Ltda.)
SYNGENTA Suíça CE
THE FOREST COMPANY TFC Ilhas Guernsey Indisponível
(Frondosa Participações Ltda.)
THE LANCASHIRE GENERAL INVESTMENT COMPANY Reino Unido MS | SP
LIMITED
(Frigorifico Anglo)
THE SOLAE COMPANY EUA RS
(Bunge; DuPont)
TIBA AGRO S.A. EUA BA | MT | PI
(Grupo Golin; Vision Brazil Investments; Irmãos
Francioni)
TOMEN CORPORATION Japão SP
(Oléo Menu; Toyota Tshuho Coporation; Nova Agri)
UMOE BIOENERGY S.A. Noruega SP
TERRA SANTA AGRO França MT
(Vanguarda Agro; Buriti Agrícola; Maeda
Agroindustrial; Zartman Services; Boardlock
Holdings LLC; Gávea Investimentos; EWZ
Investments LLC; Eco Green Solutions LLC; entre
outros)
VERACEL CELULOSE S.A. Brasil; Finlândia; BA | MG
(Stora Enso; Fibria) Suécia
VITAL RENEWABLE ENERGY CO. EUA GO
(Bom Sucesso Agroindústria-BSA; Clean ¬¬Energy
& Tecnology Fund; Leaf Clean Energy Co.; Paladin
Capital Group; Petercam)

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Alceu Luis Castilho, Bruno S. Bassi, Fábio Vendrame | O CONTROLE DE TERRAS POR ESTRANGEIROS NO BRASIL

ADECOAGRO controlada pelo fundo britânico Altima Part-


ners, juntamente com Capital Group (Esta-
Criada pelo megaespeculador George Soros dos Unidos) e com a Corporação Financei-
por meio da Soros Fund Management LLC, ra Internacional (IFC), braço financeiro do
a Adecoagro é dona de três usinas de etanol e Banco Mundial.
437 mil hectares distribuídos entre Argenti-
na, Brasil e Uruguai. TIAA-CREF GLOBAL
AGRICULTURE
Entre seus acionistas estão o fundo soberano
do Qatar, o fundo de pensão holandês Stit- Um dos casos mais emblemáticos no que se
ching Pensionfonds e as empresas estaduni- refere ao controle de terras por estrangeiros, o
denses Ospraie Management, Jennison Asso- fundo de pensão dos professores norte-ameri-
ciates e Brandes Investment Partners. canos Teachers Insurance and Annuity Asso-
ciation – College Retirement Equities Fund
SLC AGRÍCOLA (TIAA-CREF) foi um dos primeiros grupos
internacionais a converter volumes massivos
Fundada em 1945 como Schneider, Longe- de terras em ativos financeiros, o que o levou
mann & Co., começou a produção de soja a abarcar outros fundos de pensão como AP2
em 1977 em joint venture com a fabrican- (Suécia), Caisse de Depot et Placement du
te de máquinas John Deere. Possui 384 mil Quebec, British Columbia Investment Ma-
hectares nos estados de Maranhão, Piauí, nagement (Canadá), Cummins UK Pension
Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Plan Trustee (Reino Unido), New Mexico
Goiás, em parceria com o Deutsche Bank da State Investment Council e o Environment
Alemanha, Credit Suisse Hedging-Griffo e Protection Agency Pension Fund (ambos dos
com os fundos estadunidenses Black Rock, Estados Unidos). Em parceria com a brasileira
Neuberger Berman, entre outros. Possui COSAN, opera uma intrincada rede de sub-
ações listadas na BM&F Bovespa desde sidiárias locais como mecanismo para burlar
2007. a legislação brasileira que restringe a compra
de terras por estrangeiros. Por meio da Radar
Em 2013, a SLC firmou acordo com a multi- Propriedades Agrícolas S/A adquiriu mais de
nacional japonesa Mitsui para criação de uma 230 mil hectares no Brasil, incluindo proprie-
nova empresa, a SLC-MIT Empreendimen- dades com indícios de grilagem cometidas
tos Agrícolas S.A., que hoje comanda 87 mil por Euclides de Carli, notoriamente conheci-
hectares em plantios de soja e algodão. do como o maior grileiro do Piauí, conforme
denúncia realizada pela Rede Social de Justiça
EL TEJAR e Direitos Humanos (PITTA e MENDON-
ÇA, 2015).
Criada pela família Alvarado como um dos
primeiros pools de siembra da Argentina, em VANGUARDA AGRO
2013 transferiu sua sede para o Brasil, onde
detém 300 mil hectares no Mato Grosso des- Inicialmente denominada Brazil EcoDiesel
tinados à produção de grãos. É atualmente (BED), mudou de nome em 2011 após fusão

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Alceu Luis Castilho, Bruno S. Bassi, Fábio Vendrame | O CONTROLE DE TERRAS POR ESTRANGEIROS NO BRASIL

com as empresas Vanguarda e Maeda Agrone- tendo firmado em 2012 parceria com a segu-
gócios. Na época da fusão, a BED era a maior radora estadunidense Met Life para captação
produtora de biodiesel do Brasil com capaci- de recursos.
dade de produção superior a 700.000 m³ por
ano. A empresa, porém, removeu todos os in- Em 2012, o Grupo Golin foi acusado de
vestimentos da área de combustíveis e passou cooptar policiais militares e pistoleiros para
a controlar 224 mil hectares de soja no Piauí, impedir que oficiais de Justiça cumprissem
Bahia e Mato Grosso. reintegração de posse em terras griladas pelo
grupo nos municípios de Gilbués e Bom Je-
Inicialmente financiada por BMG (Arábia sus/PI (PORTAL AZ, 2012). Suspeita-se que
Saudita) e Deutsche Bank (Alemanha), a essas terras seriam incorporadas ao portfólio
Vanguarda Agro conta hoje entre seus acio- da Tiba Agro.
nistas com Otaviano Pivetta, ex-prefeito de
Lucas do Rio Verde/MT, Gávea Investimen- GENAGRO
tos, EWZ Holding LLC, Bonsucex Holding
e Salo Davi Seibel, presidente da rede Leroy Anteriormente denominada Agrifirma Bahia
Merlin. Agropecuária, a GENAGRO possui 60 mil
hectares no oeste de Bahia, fruto dos investi-
AGREX DO BRASIL/MITSUBISHI mentos da brasileira BRZ Investimentos com
a RIT Capital Partners, pertencente ao Lor-
Inicialmente operando no Brasil pelo pool ar- de Jacob Rothschild e seus amigos de Hong
gentino Los Grobo em parceria com a em- Kong, Jim Slater e Adrian Fu. A empresa
presa Vinci Partners, a empresa teve 80% de também já contou com aportes da GP Inves-
suas ações repassadas em 2013 para o grupo timentos, do bilionário brasileiro Jorge Paulo
Mitsubishi (Japão), a um valor de US$ 450 Lemann (TUBINO, 2016).
milhões. Os 20% restantes pertencem ao bra-
sileiro Paulo Fachin. Hoje a empresa admi- ***
nistra 70 mil hectares de terras na região do
MATOPIBA através da Sollus Capital. Existem outros grupos citados na base de da-
dos do DATALUTA que não necessariamen-
TIBA AGRO te adotam o formato de pools de siembra, mas
que também vêm servindo de veículo para o
Pouco conhecida em comparação com as de- fluxo de capital transnacional no campo bra-
mais empresas, a Tiba Agro surgiu a partir sileiro, como a multinacional Cargill, que
da união entre a gestora de recursos Vision converteu seu fundo de cobertura Black Ri-
Brazil Investments, fundada por dois ex-exe- ver Asset Management para a compra de duas
cutivos do Bank of America, Fabio Greco e usinas sucroalcooleiras anteriormente perten-
Amauri Fonseca Junior, e oligarquias fami- centes ao Grupo Ruette do Brasil.
liares da Bahia e Piauí, respectivamente, os
irmãos Francioni e o Grupo Golin. A Tiba Temos também o fundo canadense Brook-
Agro comercializou mais de 300 mil hecta- field Asset Management, com 97.127 hecta-
res de terras no MATOPIBA e Mato Grosso, res para produção de soja e cana de açúcar; a

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Alceu Luis Castilho, Bruno S. Bassi, Fábio Vendrame | O CONTROLE DE TERRAS POR ESTRANGEIROS NO BRASIL

trading francesa Louis Dreyfus Commodities, nacionalista ainda arranhada pelo escândalo
com 430 mil hectares próprios e outros 500 da exploração ilegal de terras por transnacio-
mil arrendados em 12 estados brasileiros; e a nais na Amazônia, sancionou a Lei nº 5.709,
indiana Shree Renuka Sugars que, em parce- que visava regular a aquisição de imóveis
ria com o grupo Equipav, possui 139 mil hec- rurais por estrangeiros. Com o objetivo de
tares de cana-de-açúcar. garantir a soberania nacional, a lei estabe-
lecia, entre outras medidas: o limite para a
Apesar de não estar diretamente vinculado ao compra de terras por indivíduos ou empresas
controle de terras por estrangeiros, mencio- estrangeiros em 50 módulos fiscais, em áreas
namos o Grupo Amaggi/Bom Futuro, per- contíguas ou não; o impedimento de que
tencente ao ex-governador do Mato Grosso e um município tenha mais de 25% de sua
atual Ministro da Agricultura, senador Blairo área rural como propriedade de indivíduos
Maggi (PP-MT). Maior produtor privado de
ou entidades estrangeiras; a obrigatoriedade
soja no mundo, o grupo tem expandido sua
de que sociedades anônimas formadas por
atuação para a produção de sementes e fer-
capital estrangeiro registrassem ações nomi-
tilizantes, armazenamento e comercialização,
nais para a compra de terras; e a proibição
em joint ventures com Bunge e Louis Dreyfus,
para aquisições em zona de fronteira sem a
além de possuir operações na Argentina, Pa-
anuência prévia do governo (WILKINSON,
raguai, Noruega, Suíça e Holanda.
REYDON e DI SABBATO, 2010).
Outro caso icônico é o da empresa Univer-
Essa lógica restritiva mudaria somente em
so Verde Agronegócios, operador brasileiro
da maior estatal chinesa do setor de grãos: 1995, com a promulgação da Emenda Cons-
Chongqing Grain Group. Em 2010, o con- titucional nº 06, que revogou o artigo 171 da
glomerado chinês anunciou investimentos Constituição Federal de 1988, abolindo qual-
de US$ 300 milhões na criação de um com- quer benefício ou tratamento preferencial
plexo sojeiro na Bahia. À época, as autorida- concedido a “empresas brasileiras” ou “em-
des brasileiras negaram publicamente que o presas brasileiras de capital nacional”. Esse
projeto resultaria na transferência de terras à novo entendimento deu origem ao Parecer
estatal, mas foram desmentidas pela própria AGU GQ – 181/1998, que considerou in-
empresa: ela anunciou que as terras já haviam constitucional o artigo 1º da Lei nº 5.709/71,
sido entregues. Após atrasos consecutivos, o pelo fato de a lei ordinária não ser capaz de
projeto da planta processadora foi paralisa- distinguir entre empresa brasileira de capital
do, restando à Chongqing administrar suas estrangeiro e empresa brasileira de capital na-
três fazendas brasileiras, que somam 100 mil cional.
hectares. Em 2015, uma dessas proprieda-
des, localizada em Porto Alegre, foi ocupada Em 2007, contudo, já em meio à efervescên-
pelo MST, que a considerou improdutiva cia no debate sobre o processo de land grab-
(GRAIN, 2016). bing e controle de terras pelo capital finan-
ceiro, deu-se início a uma série de audiências
Aspectos políticos e legais públicas que resultaram na aprovação do Pa-
recer AGU LA-01/2010, que reinstaurou a
Em 1971, o governo militar, com sua imagem constitucionalidade da Lei nº 5.709/71.

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Houve quatro grandes agentes que concorre- PMDB a necessidade de fazer concessões a se-
ram para este desfecho. O primeiro, e mais tores particularmente ligados aos governos do
óbvio, foi a mobilização encabeçada por mo- PT, como a indústria sucroalcooleira. E eco-
vimentos sociais do campo, sobretudo MST nomicamente, com o prolongamento da crise
e Via Campesina, apoiados por diversos espe- econômica que se arrasta desde 2014, setores
cialistas na temática agrária. Um segundo ve- que antes se beneficiaram com as restrições
tor de pressão pela aprovação do parecer, mais hoje passam a ver com outros olhos a libe-
inesperado, veio de federações industriais que ração da compra de terras por estrangeiros.
buscavam barrar a entrada de novos compe- Dessa forma, há um certo grau de consenso
tidores no mercado. Também sob a lógica de no governo de Michel Temer sobre a necessi-
impor restrições a novos grupos concorrentes, dade política de se remover as restrições.
representantes do próprio agronegócio inter-
nacional reforçaram o lobby pela restauração No momento, existem oito projetos de lei na
da Lei nº 5.709/71, destacando-se a Cargill. Câmara dos Deputados e quatro no Senado
Por fim, o quarto agente que se alinhou a Federal que tratam da liberalização interna-
essa frente pouco ortodoxa foi o próprio se- cional do mercado doméstico de terras, apre-
tor latifundiário. Ele considerava que o atual sentando diferentes graus de permissividade
quadro jurídico, ao restringir a entrada direta ao capital estrangeiro. Aquele com tramitação
de grupos estrangeiros, forçava-os a se alinhar mais avançada é o PL 4.059/2012, que man-
com empresas brasileiras para poder operar tém alguns dos dispositivos restritivos presen-
no país, reforçando assim o poder econômico tes na Lei nº 5.709/71, como o impedimento
das principais oligarquias nacionais. para que estrangeiros não detenham, juntos,
mais que 25% do território de um municí-
Dessa forma, a restauração das restrições ao pio e a proibição de que empresas brasileiras
capital estrangeiro, após um hiato de 12 anos de capital estrangeiro adquiram propriedades
entre os dois pareceres, pouco alterou a dinâ- rurais na Amazônia ou em áreas com 80% ou
mica de apropriação de terras, uma vez que mais de Reserva Legal. O registro no Sistema
ela se baseia em uma aliança mais ampla entre Nacional de Cadastro Rural continua sendo
os agentes do agronegócio, independente do autodeclaratório, permitindo, portanto, a
país de origem. omissão de dados. O PL 4.059/2012 recebeu
apoio nominal do Ministro da Agricultura,
As contradições internas existem. Em 2010, os Blairo Maggi (PP-MT), com a condição de
grandes perdedores com a aprovação do parecer que se restrinja o investimento internacional
foram os setores sucroalcooleiro e de celulose: o para o setor de grãos em rotação, sob a justi-
primeiro, extremamente dependente de novos ficativa de evitar volatilidades na cadeia pro-
fluxos de investimento estrangeiro direto para dutiva, ainda que claramente atendendo aos
resgatar a combalida indústria da cana; o se- próprios interesses do Grupo Amaggi/Bom
gundo, altamente internacionalizado, impedi- Futuro (PEREIRA, 2017).
do de realizar novos investimentos produtivos.
O longo tempo de tramitação dos projetos
A convergência que houve em 2010 já não é que buscam liberar a aquisição de terras por
tão clara em 2017. Politicamente, fica para o estrangeiros no Brasil mostra que ainda não

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Alceu Luis Castilho, Bruno S. Bassi, Fábio Vendrame | O CONTROLE DE TERRAS POR ESTRANGEIROS NO BRASIL

há um consenso entre o bloco ruralista sobre te as consequências de sua expansão sobre os


os pontos a serem tratados. territórios.

Considerando a grande quantidade de proje- Nesse sentido, as expulsões forçadas consti-


tos de lei e medidas provisórias em tramita- tuem uma das facetas mais perversas da in-
ção que afetam pontos sensíveis para a ques- corporação de novos territórios pelo agrone-
tão agrária, é de se esperar que a discussão em gócio.
torno da eliminação das restrições ao fluxo
de capital transnacional na compra de terras Na região do MATOPIBA, uma das mais
brasileiras seja encaminhada cautelosamente afetadas pelo ciclo de desterritorialização,
pela Frente Parlamentar da Agropecuária an- apropriação e controle da terra e de seus
tes que o projeto avance no Congresso. recursos por agentes econômicos, as popu-
lações agroextrativistas tradicionalmente vi-
Enquanto isso, torna-se necessário que as for- viam e cultivavam seus alimentos nos bai-
ças de oposição à liberação irrestrita do con- xões – vales úmidos entrecruzados por rios
trole de terras pelo capital financeiro unam que entremeiam os platôs montanhosos
forças para articular uma possível, ainda que – enquanto utilizavam os chapadões para a
improvável, resistência. criação bovina.

Impactos socioambientais e Com a chegada de novos agentes atraídos


concentração fundiária pela promessa de uma nova fronteira agríco-
la se consolidando sobre os vastos platôs do
O Brasil possui um dos mais altos índices de Cerrado nordestino, essas populações passa-
concentração de terras no mundo. De acor- ram gradativamente a ser expulsas das áreas
do com o censo agropecuário de 2006, as de chapadões onde historicamente mantive-
propriedades de área inferior a dez hectares ram sua criação pecuária, fonte essencial para
representam mais de 47% do total de esta- a segurança alimentar da região.
belecimentos, ocupando apenas 2,7% da área
total – o equivalente a 7,8 milhões de hecta- Não bastasse o desmantelamento de seu siste-
res. Por outro lado, as propriedades com área ma produtivo comunitário, a partir da apro-
superior a mil hectares equivalem a 0,91% vação do novo Código Florestal, em 2012,
dos estabelecimentos e detêm 43% da área as comunidades passaram a conviver com a
total. São 146,6 milhões de hectares nas mãos ameaça de expulsão dos baixões, apropriados
de uma fração ínfima dos proprietários rurais por latifundiários e empresas, tanto nacionais
(SAUER e LEITE, 2012). quanto estrangeiros, para servir como área de
Reserva Legal. A ausência de títulos dessas
Não é o interesse de estrangeiros por terras comunidades, em sua maioria de posseiros, e
brasileiras, porém, que caracteriza o proces- a incapacidade de comprovar judicialmente a
so de concentração fundiária no Brasil. Se posse das terras frente ao arsenal documen-
há alguma contraposição, ela não está entre tal produzido pelos grileiros fez os conflitos
o capital nacional e estrangeiro, mas sim de agrários eclodirem em toda a região do MA-
ambos contra aqueles que sofrem diretamen- TOPIBA.

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Alceu Luis Castilho, Bruno S. Bassi, Fábio Vendrame | O CONTROLE DE TERRAS POR ESTRANGEIROS NO BRASIL

Tabela 3 que vão desde o comprometimento dos recur-


Conflitos no Campo Região MATOPIBA
sos hídricos, biológicos e produtivos (water
Pos. UF Conflitos Pessoas
no campo atingidas
grabbing; green grabbing e production grabbing)
1º Maranhão 196 100.219 até novos processos de subordinação dos cam-
3º Bahia 164 103.963 poneses expulsos de seus territórios.
6º Tocantins 105 24.973
13º Piauí 40 7.317 Sendo assim, não há como coibir os impactos
Total Matopiba 505 236.472 causados pelo processo de controle de terras
Fonte: COMISSÃO PASTORAL DA TERRA, 2016, p. 32-74. pelo capital financeiro sem denunciar a lógica
de acumulação e violência no campo brasi-
Conforme demonstram os dados do CPT, a leiro.
região compreendida pelos estados do MA-
TOPIBA registrou 505 conflitos no campo, Perspectivas e macrotendências
que impactaram 236.472 pessoas, destacan-
do-se o estado do Maranhão na inglória li- A narrativa aqui apresentada trata de um fe-
derança no ranking nacional de conflitos nômeno ainda pouco compreendido pelo
no campo pelos últimos 6 anos. Em 2016, grande público.
o campo maranhense registrou 196 conflitos
em 75 cidades, com 13 mortes e mais de 31 Ainda que não seja um processo primário
mil famílias afetadas. para a compreensão da concentração fundiá-
ria brasileira, a territorialização de indivíduos
O exemplo do MATOPIBA é bastante sinté- e grupos empresariais estrangeiros no Brasil
tico para demonstrar o impacto humano da é, sem dúvida, relevante para visualizarmos o
expansão territorial do agronegócio. A mesma contexto mais amplo de apropriação e con-
lógica de apresamento e desterritorialização trole pelo capital financeiro de recursos que
pode ser observada no Sudeste do Pará, nas vão muito além da terra: englobam recursos
comunidades indígenas do Mato Grosso do hídricos, biodiversidade, trabalho e infraes-
Sul, na divisa Acre-Rondônia e em diversas trutura.
outras regiões onde o controle material sobre
o território valha mais que a vida e a dignida- Nesse contexto, identidades nacionais tor-
de humanas. nam-se mais fluidas: fundos e pools passam
a agrupar investidores individuais e institu-
Do confinamento de camponeses e povos cionais de diversos países, que podem ou não
tradicionais em parcelas de terra insuficien- representar interesses nacionais. Restringir a
tes para a sobrevivência de todos não pode análise ao fluxo Norte-Sul, de países “pobres
resultar outra coisa que não a barbárie gene- em terra/ricos em capital” investindo naque-
ralizada. les “pobres em capital/ricos em terra”, já não
é mais possível no atual cenário.
Sendo a grilagem e as expulsões a face mais vio-
lenta e evidente do fenômeno do land grabbing, Além disso, a análise dos mecanismos de ope-
é preciso também estar atento aos impactos ração do capital transnacional na compra de
causados pelas demais lógicas que permeiam terras brasileiras nos permite superar a dialé-
o controle de terras pelo capital transnacional, tica nacional-estrangeiro presente no con-

21
Alceu Luis Castilho, Bruno S. Bassi, Fábio Vendrame | O CONTROLE DE TERRAS POR ESTRANGEIROS NO BRASIL

ceito de “estrangeirização”. Embora existam Os atores prioritários na aquisição de ter-


diversas contradições no posicionamento de ras seguirão sendo fundos e empresas prove-
agentes do agronegócio brasileiro em relação nientes de Estados Unidos, Japão e Europa.
à liberalização da venda de terras a entes in- Em que pese o receio causado pelas recentes
ternacionais – em grande parte vinculadas a compras de terra realizadas por estatais chi-
um cálculo real de perdas e ganhos financei- nesas, os investimentos da China estão ma-
ros –, não podemos incorrer no erro de enxer- joritariamente destinados à infraestrutura de
gar oposição entre um e outro. O nacional e transporte e comercialização, uma vez que seu
o estrangeiro vão se aliar ou se contrapor de interesse primordial é garantir o fornecimen-
acordo com circunstância, sendo exigido do to de commodities agrícolas para o próprio
observador um olhar atento para compreen- abastecimento. A inserção de outros países
der como operam essas relações em cada caso como Qatar, Índia e Rússia é ainda pouco ex-
específico. pressiva no cenário brasileiro.

A partir destas perspectivas, podemos apon- Ainda que grupos transnacionais montem
tar algumas macrotendências para o fenôme- intrincadas operações financeiras para burlar
no do controle de terras por estrangeiros no as restrições impostas pela Lei nº 5.709/71,
Brasil: ainda vigora um entendimento de que deve
haver algum grau de controle sobre a entra-
Os registros de imóveis rurais de proprie- da de capital internacional no país. Em meio
dade de indivíduos ou entidades estrangeiras a uma agenda generalizada de retrocessos, as
são subdimensionados. Ainda que os 4,3 mi- medidas para liberalização irrestrita da aquisi-
lhões de hectares contabilizados pelo INCRA ção de terras por estrangeiros em tramitação
em 2010 já constituam um volume expres- no Congresso devem ser acompanhadas por
sivo de terras, uma quantidade considerável movimentos sociais, comunidades afetadas,
de dados pode ter sido omitida, uma vez que partidos e acadêmicos, de modo a articular
os registros são autodeclaratórios. A redução resistências.
no orçamento para fiscalização de registros e
propriedades dificultará ainda mais saber com O principal risco existente na intensifi-
precisão qual a real dimensão do fenômeno cação do processo de controle de terras por
no Brasil. estrangeiros está na criação de uma lógica an-
ti-cíclica capaz de compensar os momentos
O controle de recursos se dá primordial- de estagnação do agronegócio brasileiro, por
mente pela terra, mas não se limita a ela. No meio de investimentos diretos. Um mercado
caso das flex crops, um volume considerável de de terras constantemente aquecido represen-
investimentos estrangeiros não se encontra no ta um aumento perene no preço da terra, in-
campo fundiário, mas sim na infraestrutura tensificando a pressão pela incorporação de
pré e pós-colheita, no escoamento, distribui- novas áreas e alimentando o processo de gri-
ção e na comercialização em mercados a pre- lagem e de expulsão de camponeses e povos
ços futuros. Ainda assim, há um movimen- tradicionais de seus lares.
to expressivo de transnacionais de sementes,
agroquímicos e comercializadoras de grãos
para a compra de terras e seu arrendamento.

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Alceu Luis Castilho, Bruno S. Bassi, Fábio Vendrame | O CONTROLE DE TERRAS POR ESTRANGEIROS NO BRASIL

Especialistas entrevistados

Bruno Rezende Spadotto Califórnia–Berkeley. Pós-doutorado em


estudos ambientais em Swarthmore
Doutorando em Geografia Humana pela College. Membro do secretariado interna-
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências cional da BRICS Initiative for Critical Agra-
Humanas da Universidade de São Paulo rian Studies. Especialista em ecologia política
(FFLCH-USP). Desenvolve pesquisa sobre o e geopolítica dos BRICS.
fenômeno de land grabbing no sul dos esta-
dos brasileiros do Maranhão e Piauí. Haroldo Souza

Clifford Andrew Welch Mestre em Planejamento do Desenvolvimen-


to pelo NAEA/UFPA. Doutorando do Ins-
Professor de História na UNIFESP - Univer- tituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e
sidade Federal de São Paulo e no Programa de Regional da Universidade Federal do Rio de
Pós-Graduação em Desenvolvimento Territo- Janeiro (IPPUR/UFRJ). Professor da Univer-
rial na América Latina e Caribe da UNESP sidade Federal do Sul e Sudeste do Pará UNI-
- Universidade Estadual Paulista “Julio Mes- FESSPA (Campus Marabá).
quita Filho”.
José Gilberto de Souza
Debora Lima
Geógrafo, Professor-Doutor do Departamen-
Doutoranda em Geografia pela Universidade to de Geografia da Unesp – Campus de Rio
Estadual de Campinas. Pesquisa temas rela- Claro. Presidente Nacional da Associação dos
cionados a acumulação de capitais no centro- Geógrafos Brasileiros (AGB/Nacional).
-norte do Brasil, land grabbing, commodities,
relações de trabalho na cadeia de produção da Lorena Izá Pereira
soja e conflitos agrários entre grandes empre-
sas e comunidades tradicionais. Atualmente Geógrafa pela Faculdade de Ciências e Tec-
participa do Observatório de Conflitos Ru- nologia (FCT/UNESP). Doutoranda do Pro-
rais do estado de São Paulo. grama de Pós-Graduação em Geografia da
Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT/
Fabio Teixeira Pitta UNESP). Pesquisadora do Núcleo de Estu-
dos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária
Coordenador da Rede Social de Justiça e Di- (NERA).
reitos Humanos. Pós-doutorando do Depar-
tamento de Geografia, USP. Doutor em Geo- Sérgio Pereira Leite
grafia Econômica pela Universidade de São
Paulo (USP). Professor do Programa de Pós-Graduação de
Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agri-
Gustavo de L. T. Oliveira cultura e Sociedade da Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro (CPDA/UFRRJ).
Doutor em geografia pela Universidade da Coordenador do Grupo de Estudos em Mu-

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Alceu Luis Castilho, Bruno S. Bassi, Fábio Vendrame | O CONTROLE DE TERRAS POR ESTRANGEIROS NO BRASIL

danças Socias, Agronegócio e Políticas Públi-


cas (GEMAP) e do Observatório de Políticas
Públicas para a Agricultura (OPPA). Doutor
em Economia pela UNICAMP e Visiting
Scholar junto ao Programa de Sociologia da
City University of New York (CUNY).

Vicente Alves

Doutor em geografia pela Universidade de


São Paulo (USP). Professor no Instituto de
Geociências (IG) – Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp). Trajetória de pesquisa
sobre a expansão da fronteira agrícola na re-
gião centro-norte do Brasil e seus impactos
para as populações agroextrativistas e os espa-
ços naturais.

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Alceu Luis Castilho, Bruno S. Bassi, Fábio Vendrame | O CONTROLE DE TERRAS POR ESTRANGEIROS NO BRASIL

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Autores Responsável

Alceu Luís Castiho é coordenador do observa- Friedrich-Ebert-Stiftung (FES) Brasil


tório De Olho nos Ruralistas. Jornalista, pós-gra- Av. Paulista, 2001 - 13° andar, conj. 1313
duando em Geografia Humana na Universidade de 01311-931  I  São Paulo  I  SP  I  Brasil
São Paulo (USP), é autor do livro “Partido da Terra www.fes.org.br
- como os políticos conquistam o território brasileiro”
(Contexto, 2012).

Bruno Stankevicius Bassi é internacionalista e


um dos coordenadores de projetos especiais no De
Olho nos Ruralistas, onde pesquisa temas como
land grabbing e apropriação de terras no Brasil e
exterior.

Fábio Vendrame é jornalista. Trabalhou por 18


anos no jornal O Estado de S. Paulo e foi voluntário,
em Dublin, do Latin America Solidarity Centre. Par-
ticipa do Centro de Estudos Mesoamericanos e An-
dinos, da USP, onde pesquisa temas relacionados a
culturas ameríndias.

Friedrich-Ebert-Stiftung (FES)
A Fundação Friedrich Ebert é uma instituição alemã sem fins lucrativos, fundada em 1925. Leva o
nome de Friedrich Ebert, primeiro presidente democraticamente eleito da Alemanha, e está com-
prometida com o ideário da Democracia Social. No Brasil a FES atua desde 1976. Os objetivos de
sua atuação são a consolidação e o aprofundamento da democracia, o fomento de uma economia
ambientalmente e socialmente sustentável, o fortalecimento de políticas orientadas na inclusão e
justiça social e o apoio de políticas de paz e segurança democrática.

As opiniões expressas nesta publicação


não necessariamente refletem as da
Friedrich-Ebert-Stiftung.

O uso comercial de material publicado


pela Friedrich-Ebert-Stiftung não é per-
mitido sem a autorização por escrito.

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