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fab ye 45. UE HISTORIA DA CIDADANIA Jaime Pinsky Carla Bassanezi Pinsky Organizacio ONTEXT Copyright © 2003 dos autores Preparacdo de textos Mauricio Oliveira Diagramagao Denis Fracelossi Revisto Jane Cristina Mathias Cant Vera Quintanitha Projeto e montagem de capa Victor Burton Dados Intemacionais de Catalogagio na Publicaglo (CIP) il) Histéria da cidadania / Jaime Pinsky, Carla Bassanezi Pinsky, (orgs.). 2. ed. ~ $0 Paulo : Contexto, 2003, Varios autores. ISBN 85-7244-217-0 |. Cidadania 2, Cidadania ~ Histéria I. Pinsky, Jaime. I. Pinsky, Carla Bassanezi, 03.0735 cDD-323.609 Indices para catslogo sistemstico 1. Cidadania : Historia : Cigneia politica 323.609 Proibida a reprodugio total ou parcial. 0s infratores serio processados na forma de let Todos os direitos desta edigdo reservados & Enrrora Cowrexro (Editora Pinsky Ltda.) Diretor editorial Jaime Pinsky Rua Acopiara, 199 - Alto da Lapa (0083-1 10 ~ Sao Paulo ~ sp awn: (11) 3832 5838 ax: (11) 3832 1043 contexto@editoracontexto.com.br www editoracontexto.com.br A CIDADANIA PARA TODOS Pau! Singer Sabe-se que as sociedades capitalistas contemporineas se dividem em duas classes sociais: a primeira é a classe proprietaria ou capitalista, com posta por pessoas com posses econdmicas suficientes para assegurar a satisfagio de suas necessidades e das de seus dependentes, sem que te nham necessidade de exercer alguma atividade temunerada. A outra classe social é a trabalhadora, composta pelos demais, que por nio terem tais posses subsistem com os ganhos do exercicio de atividade remunerada S6 os membros da classe trabalhadora sio sujeitos dos direitos sociais. Esses direitos sé se aplicam Aqueles cuja situagio torna necessirio 0 seu uso, Sao, nesse sentido, direitos condicionais: vigem apenas para quem depende deles para ter acesso a parcela da renda social, condicio muitas vezes fundamental para sua sobrevivéncia fis e, portanto, para ica € social — © exercicio dos demais direitos humanos Convém, antes de prosseguir, esclarecer alguns pormenotes. Capitalis- tas nao sao em geral ociosos; a maioria provavelmente trabalha, exercendo a diregio de empreendimentos, representando investidores em conselhos de administragio de sociedades andnimas, exercendo mandatos de repre- sentagio politica, sindical ete. O que importa é que nao trabalham como assalatiados ou auténomos, Hé evidentemente pessoas que trabalham como assalariados € que possuem propriedades que thes permitiriam viver sem depender de salirio. Isso no impede que sejam, para efeitos legais, traba Ihadores ~ €, portanto, sujcitos dos direitos sociais. Estio nesta situagio os dirigentes profissionais de grandes empresas, que quase sempre podcriam Viver sem trabalhar, da renda das fortunas que amealharam ou herdarat aX, tiados, que nos paises capitalistas desenvolvidos constituiam até recente- \ ente para que possam satisfazer suas necessidades sem trabalhar. Seus: HISTORIA DA CIDADARIA A classe trabalhadora compde-se de duas grandes fragdes: assalariados ¢ auténomos. O8 primeiros vendem cio Est out da est sua capacidade de produgio a emprega- | dores ¢ esta condicio Ihes confere direitos que a legislagio do trabalho espe- cifica. Os outros produzem com seus proprios meios de produgao, de forma individual ou associada, como trabalhadores por conta propria, microprodutotes * ou sécios de empresas que nao tém assalariados (pois se tivessem seriam @ empregadotes, e, portanto, capitalistas). Estas iiltimas podem ser empresa familiares, sociedades comerciais de varios tipos ou cooperativas. Grande parte dos direitos do trabalho se aplica diretamente aos assalacif arr, mente a grande maioria dos trabalhadores. Os trabalhadores por conta’ Prdptia sio por definicio proprietarios, mas sua propriedade nao é sufici- direitos sociais os colocam em situagio intermediatia entre capitalistas ¢ assalariados, pois compartilham com os primeiros a condigio de empreen- dedotes ¢ com os tiltimos a condigao de viverem do proprio travalho. Ha que distinguir entre os trabalhadores que tém emptego ou negocio, Proprio © os que nao exercem atividade remunerada, seja porque nio x encontram quem queira empregé-los ou comprar os servigos ou bens que aa produzem, seja porque estio incapacitados para o trabalho por motivo de di idade, enfermidade, acidente de trabalho ete. Na sociedade capitalista, 0 al normal é que a cada momento uma parcela dos trabalhadores carega de x recursos para a sobrevivéncia por falta de trabalho. A situagio de pleno a emprego, em que todos os que precisam de trabalho remunerado o obtém x ¢ todos que trabalham por conta prépria encontram compradores para sua a producio, deve ser considerada excepcional é Evidentemente, a falta de trabalho cria situagdes de caréncia para suas vitimas, que ficam impossibilitadas de sustentar a si c suas familias, Para evitar « situagdes como esta, foram instituidos direitos para os cidadaos sem trabatho, _ que de outro modo estariam condenados & indigéncia ou 4 ilegalidade. Por. ; tanto, os diteitos suciais ram como sujeitos os trabalhadores; uma parte dos i ducitus tém como sujeitos os trabalhadores que tém trabalho remunerado a (assalatiado ou auiténomo) € outra parte os trabalhadores que dele carecem. OS DIREITOS SOCIAIS NOS PRIMORDIOS DO CAPITALISMO Nos trés séculos que antecederam a primeira Revolugdo Industrial hou- ve, na Europa ocidental, wi grande desenvolvimento do comércio interns | CIPADANIA PARA TODOS cional, da economia de mercado e, dentro desta, do capitalismo manufatureiro. Este proceso teve inicio na Italia e nos Paises Baixos e depois se alastrou a outros paises europeus. Caracterizou-se pelo contraste entre o crescimento da riqueza de certos paises ¢ cidades ¢, dentro dos seus limites, de certos estratos sociais — mercaderes, armadores, banqucitos, fabricantes de navies, armas, municdes ete, ~ € 0 empobrecimento de outros estratos. A desgraca é que as grandes forcas sociais ¢ econdmices que tornaram o sistema de assisténcia a0 pobre necessatio nae deixaram de funcionar, na realidade elas aumentaram sem cessar em poder ¢ complexidade. Guerras, derivando de con- flitos religiosos assim como politicos € econdmices € travadas por exércitos cada vez maiores, ocorriam quase incessantemente, devastando amplas regides, ¢ destruindo as atividades de camponeses ¢ citadinos. A tendéncia ao controle nufatura também continuou com seus efeitos desestruturadores. capitalista da m sobre a forga de trabalho: salatios baixos, falta de oportunidades de ascensio répidas oscilagdes no nivel de produgio, levando ao desemprego.! A falta de trabalho se generaliza na Europa ocidental a partir do século XVI, em parte por causa da instabilidade nos novos mercados que 4 coloni- aio das Américas, Africa e porgdes crescentes da Asia e da Oceania expan- dia, Os resultados cambiantes das numerosas guerras religiosas e dinasticas alteravam com freqiiéncia a configuracio dos monopélios coloniais, o aces- 30 a certos mercados, o abastecimento de mao-de-obra ¢ de metal precioso de metropoles ¢ coldnias. As massas deslocadas de suas ocupagdes rumavam as cidades. “... corsos para Marselha por exemplo, mouros expulsos de Gra- nada para Valladolid, moradores du campo dos Midlands ¢ dos condados do suleste para Londres, aldees vizinhos para Veneza.”? B claro que essa invasio de indigentes atemorizava os moradores das cidades, Os.reis comecaram a baixar leis proibindo a mendicancia ¢ a cha- mada “vagabundagem”, ou seja, a presenca de pessoas sem trabalho. As medidas oscilavam entre a repressio e a ajuda peccniaria. Mendigos eram marcados com ferro em brasa. Em 1601, sob Elizabeth I, na Inglaterra, foram adotadas as famosas Leis dos Pobres, que tornavam as pardquias responsa- veis pelo sustento de “seus” pobres, ou seja, dos residentes que perdiam seus meios de vida. A mesma lei também procurava dar trabalho aos destituidos, furnecendo-lhes um estoque de matérias-primas, como 1a, que poderiam fiar € tecer € colocar a venda, Mas outra lei inglesa de 1603 reprimia a vagabun- dagem mandando marcar com ferro em brasa um grande “R” nos malandros incorrigiveis e os condenando A morte em caso de “reincidéncia”.? 193 \ HISTORIA DA CIDADANIA Outra forma de tratar os sem-trabalho nas metrépoles era bani-los, envian do-os a forga para as coldnias de além-mat. O Brasil foi povoado por degieda- dos, assim como a Australia. Desde 1618, os monarcas ingleses providenciaram © povoamento de suas coldnias norte-americanas com gente jovem, ociosa, sem emprego. Também a Franga mandou homens ¢ em maior nimero mulhe. res sem-trabalho para as col6nias, onde as iiltimas eram mais bem-vindas, dada a prevaléncia numérica do elemento masculino nas 4reas coloniais+ Mas, com o desenvolvimento cada vez maior do capitalismo manufatureito, / surgiu uma oposig: Scented Fepres imentodos-sem-trabatho. Autores influentes como Thomas Mun, William Petty e John Locke’, entre outros, mostravam que se todos pedintes e indigentes ociosos fossem postos a trabalhas, eles produziriam sua propria subsisténcia ¢ contribuiriam para o enriquecimento do soberano ¢ do pais. A idéia era submeté-los a trabalho forgado ou mesmo escraviza-los caso nfo aceitassem Iabutar pelos salérios disponiveis, que seriam sem divida mais baixos do que os vigentes. Aqui ja temos a idéia, que teima em reapatecer sempre, de que o desemprego é voluntario, ou seja, que as pessoas que nao trabalham o fazem por opcio, no por que ninguém hes dé emprego, mas porque o salario oferecido nto Ihes parece suficiente para compensar a “desutilidade” do trabalho. Mesmo 0 historiador norte-americano John A. Gatraty no nega por inteiro essa hipotese, Artesios precisavam relativamente de pouco capital eo tempo necessario para produzir a maioria dos bens era bem curto. Eles tinham pouco ou nenhum incen- vo para fazer investimentos de longo prazo ou planejar 0 futuro tonginquo; eles tendiam a viver no dia-a-dia sem esperangas extravagantes. O incentivo para tra- balhar continuamente, portanto, também era pequeno.® O argumento se refere aos artesios que tinham trabalho, nav aos que 0 careciam, Uma coisa é “enforcar” a segunda-feira, quando se ganhou o suficiente para viver varios dias; outra coisa é cugitar que centenas de milhares de pessoas deslocadas de suas terras ou de seus oficios optavam por nao trabalhar porque seus horizontes temporais eram curtos, Nao obstante, Garraty cita com aprovagio Arthur Young, que escreveu no sécu- lo XVIL: “Qualquer um a nao ser que seja idiota sabe que as classes baixas precisam ser mantidas na pobreza ou nunca serio industrivsas” A solusao encontrada foi a Workhouse, a Casa do ‘Trabalho, em que mendigos © vagabundos cram internados € postus a trabalhar. Na Kranga, ACIDADANLA PARA TODOS era chamada de “hospital geral”, que abrigava enfermos, loucos, criangas abandonadas, velhos ¢ pessoas sem trabalho capazes de trabalhar. O tipo de trabalho, e em que medida ele era imposto, variava amplamente. Mas - 08 resultados econémicos foram insignificantes. F dificil saber exatamente J. 0 porqué. Entre as supostas razOes pode-se citar a falta de motivacio ¢ de eficiéncia dos trabalhadores; a depreciagao dos bens produzidos em fun- gio do aumento do volume ofertado; custos administrativos elevados, 0 que levou os diretores a entregar os trabalhadores a contratistas externos, avam-sem-do. que_os explo As Work houses foram objeto de grandes controvérsias. Para alguns auto- res, mesmo qué fossém ineficazes economicamente, serviam para forgar os pobres a aceitar trabalho para evitar serem internados nelas. Bm 1723, 0 Parlamento (britanico} permitiu (mas nao exigiu) que as paréquias sa do Traba negassem auxilio aos requerentes que se recusassem a ir a uma C: Iho. Nos anos -guintes, cerca de 150 pardquias inglesas construiram tais unida- des, no para dar aos desempregados uma oportunidade de trabalhar, mas para desencorajé-los a procurar assisténcia publica.’ Pata outros, elas s erviriam para regenerar moralmente os pobres, ensi nar oficios 48 criangas. Para Daniel Defoe, 0 famoso autor de Robinson Crasoé, as Workbouses deveriam ser fechadas. Em um panfleto de 1704, ele explicava que ja havia trabalho para quem quisesse ¢ que a manufatu- 12, sob patrocinio piblico, dos indigentes prejudicaria a iniciativa privada. Os pobres incapacitados por doengas ou velhice mereciam assisténcia do poder pitblico, mas os capazes deveriam ser colocados diante da escolha “entre o trabalho honesto ou a fome. O que todas essas tentativas de “resolver” 0 problema dos sem-trabalho 5 AKO ha lugar para eles na sociedade. Por so, devém ser depor- tados-Ou mareados com ferro eft-brasa, para que aio possm ‘ocultar Sua reinctdéncia se forem pegos m Tendigando : ou.simplesmente sem trakalho tide Como Honesto. O-que ode leva-los i lev4-los & escravidio ou ao cadafalso. Na melhor das hfpoteses sao internados nas Casas do ‘Trabalho, onde pagam seu sustento executando trabalhos que nio escolheram € em cujas condi- ses nfo podem iifluesiciar. Numa época ém que os attesios orginizados em guildas ainda usifruem o direito tradicianal de vender sua produgio ho mereadoTocal, protegidos da concorréncia externa, os socialmenteexelul / \ do por ex-artesios ¢ grande mimero de pessoas sem trabalho, ante HISTORIA DA CIDADANIA (por guerras, secas, inundagdes ou cris to existencta- - — dire Surge desta maneira uma nova classe social, 0 proletariado moderno, segundo Karl Marx duplamente livre: sem _meios proptios de produto ¢ sem_vinculos queo-obripuem @alienar sua capacidade de produzir a determifiado empregador. A primeira liberdade ihe TorTaposcomeaee gtagayComo separicio dos meios que o tornavam um produtor indepen- dente. A segunda liberdade, no inicio do século XIX, ele tetia ainda de conquistar, pois nos trés séculos que precedem o surgimento da industria § fabril, o proletariado era alye de perscguisdes ¢ optessi medo, © MOVIMENTO OPERARIO EM SEUS PRIMORDIOS A partir de meados do século XVIII, sucessivos inventos, na Gri-Bretanha, passaram a revolucionar a manufatura ¢ 0 traneporte. Maquinas automaticas de grande porte substitufam o trabalho de muitos artesios produzindo com ferramentas simples. Essas maquinas cram movidas inicialmente por rodas d’4gua, mas, no fim desse século e inicio do seguinte, a maquina a vapor foi sendo aperfeigoada a ponto de substituir a energia hidraulica, o que permitiu construir as fabricas longe dos rios, concentrando-as em cidades. ‘As cidades eram, no comego da era indus com a massa trabalhadora abrigada em tagirios, com esgotos a céu aberto € epidemias grassando com grande intensidade e freqiiéncia. Pouco a pouco, foram sendo dotadas de servigos urbanos (de saneamento, transporte, ilu- minacio, higiene, educagio e satide) cada vez melhores. Essas transforma- G0es ¢ seus efeitos econdmicos € sociais, politicos ¢ culturais constituem 0 que hoje chamamos de Primeira Revolugio Industrial. Um dos efeitos da Revolugio Industrial foi genefalizar a separacio do trabalhador da propriedade dos meios de produsio. Esta separagio se impés devido ao alto custo dos novos meios meciinicos de produgao e, sobretudu, do motor a vapor, o que os colocava fora do alcance econémico da grande maioria dos trabalhadores da época. Os artesiios, cada vez menos capazes de competir com a produgio maquinal, foram obrigados a procurar trabalho assalariado para sobreviver. Surge assim um vasto proletariado fabril, forma depen- dentes da assisténcia paroquial ou sujeitos aos tigores das Workhouses. Além disso, estava ocorrendo, na Gri-Bretanha a mesma época, uma es de mercado) nao tém sequer # rial, extremamente insalubres, © aaa en eames A CIDADANIA PARA TODOS ww Revolugio Agricola. Métodos aperfeigoados de plantio ¢ criagao de ani- mais@ formastiovas de combinar ambos aumentavam acentuadamente a produtividade do trabalho na terra. Mas a sua aplicagao exigia a dissolugio % da aldsia tradicional e das regras de cultivo coletivo entio vigentes, que| “= impediam o avango técnico pela iniciativa individual de latifundiérios aris-} tocraticos ¢ agricultores capitalistas. A dissolugao de aldeias era autorizadal por atos do Parlamento, as enclosures, que declaravam as tertas comuns propriedade individual dos nobr aldeias e sua redugio a proletirios agricolas, Os trabalhadores enfrentavam condigées de trabalho extremamente duras — longas jornadas, falta de higiene etc, — € salifios insuficientés para a subsisténcia de suas familias. Nessas condigdes, langavam-se a lutas por melhorias, aproveitando as formas tradicionais de organizagao corporativa para thes insuflar um novo conteido, transformando-as em sindicatos de trabalhadores fabris. J4 no século XVIII, sociedades recreativas e de ajuda miitua, organizadas por oficio, ocasionalmente intervinham para Tmipedir a redugio dos salarios ou exigir sua elevagio quando subia o custo de vida Essas atividades, que iam desde petigdes ao Parlamento para a fixacio de salatios 4f€@ Organizacio de greves, eram chamadas combinagdes. Quan- do ocorriam, os capitalistas atingidos reclamavam junto’ 20 Parlamento € em geral obtinham sua proibicdo em ramos profissionais especificos. No | fim do século, mais de quarenta leis desta espécie estavam em vigor.® Em 1799, o Parlamento britinico (em resposta a uma petico de mestres denunciatido uma combinacio) aprovou uma lei proibindo as combinagées | [ F de trabalhadores em geral — ou seja, em qualquer atividade. Os culpados primarios, que s@ combinassem para ganhar aumento de salario ou redugio “de hotas ou que solicitassem a alguém que deixasse o trabalho ou que objetassem,em trabalhar com outras pessoas, podiam set condenados a trés » meses de cadeia ou dois meses de trabalho forcado. Apelagées das senten- Gas estavam sujeitas ao pagamento de garantias de vinte libras, um valor =. exorbitante, fora do alcance do trabalhador comum. Além disso, a lei impu | nha multa de dez libras a quem contribuisse para a defesa de algum conde nado ¢ outra de cinco libras a quem tivesse recebido a subscrigio. A lei determinava que os acusados eram obrigados a testemunhar uns contra os outros, 0 que indignou os operatios. Também proibia nominalmente combi- nacées de empregadores, mas sem especificar provas nem penas de prisio A ferocidade dessa lei ainda era agravada pela dos juizes, via de regra membros das classes proprietarias, que a aplicavam. O que explica que, \( Tevando a expulsio dos habitantes das 198 HISTORIA DACIDADANIA durante o quarto de século em que esteve em vigor, a proibigéo das combi: nagées patronais nao foi aplicada sequer uma vez, embora fossem abertas € freqiientes. Mas os processos contra trabalhadores acusados de formar’ U combinagées e¢ as condenagées foram intmeros As leis [contra combinagdes} colocaram os trabalhadores 4 mercé de duas clas- ses, a dos cavalheitos ingleses e a dos empregadores ingleses. Eles dependiam, da imparcialidade dos primeiros para a aplicagio da lei e dos dois para que a lef fosse posta em movimento ~ pois os magistrados, usando espias ¢ informantess cram muitas vezes mais ativos do que os empregadores na iniciativa de perse-™ guigdes. Seu destino tornou-se o que se poderia esperar” As leis contra as combinagées, na pratica, colocaram as organizagdes operariaS fora da lei, Os-trabalhadores Ficaram legalmente proibidos de reiviadicar o que quer que fossé, enquanto-O5 5 stinham plena liberdade para combinar contrs-qualquer moVincntaciode seus emprega- dog, Para estes s6 sé abriam duas vias de acio: 0 uso da violéncia contra os Patroes que empregavam maquinarias ¢, assim, os privavantto trabalho ou pagavam salarios injustos, ou.a agitacio politica pela reforma do Estado J ques _manietava ¢ 0s impedia de se onganizar. Ambas as vias foram tentadas, com resultados variados. ae A primeira via ficou célebse como 0 movimento dos Ludditas", ou “quebradores de maquinas”. Constituiam um pequeno bando de trabalha- dores-ousados-€ desémperados, que contavam com o apoio passivo da massa opetatia. Sua agio se ditigiu inicialmente contra a falsificacio de meias por possuidores de maquinas largas, imprdprias pata tricotar meias; © produto cortado e costurado era vendido como se fosse auténtico, mas se desfazia logo, estragando 0 mercado dos possuidores de maquinas estrei- | 8, Os Ludditas apareciam nas aldeias ¢ quebravam as méquinas largas, | assim como as que eram manejadas por pessoas que nao tinham passado | pelo aprendizado legalmente exigido pata o exercicio da profissio. Neste | caso, sua aco violenta se destinava « defendec direitos que a incitia das ( aucotidades permitia que fossem violados. As tropas convocadas para re- primi-los cortiam impotentes de um lado a outro, frustradas pelo siléncio ¢ cumplicidade dos moradores. A falsificagio das meias cessou € 08 salarios subiram dois xelins por diizia de pecas,!! Em resposta, o Parlamento aprovou uma lei tornando a quebra de \__ maquinas ctime punivel com a pena capital. © que nio deteve os Ludditas, ACIDADANIA PARA TODOS cuja ago se voltou contra os teares mecAnicos € outras maquinas téxteis. Levantes provocados pela fome se multiplicavam em 1811 ¢ 1812, sendo muitas vezes associados com tentativas de destruir teares. Os proprietdrios trataram de defender seu maquinario com armas de fogo e acabaram ma- tando diversos quebradores. Como vinganga tiveram suas casas queimadas ¢ alguns foram assassinados. O movimento foi infiltrado por agentes provocadores, que agitavam as indo grupos para queimar tecelagens. Os fabricantes do norte da Inglaterra ficaram atertorizados, convictos de que um levante geral estava em preparagio Embora as demincias dos espias das autoridades se mostrassem fantasiosas, © braco da lei nio hesitou em distribuir punigées aos que se deixaram enganare se dispuseram a participar das pretensas empreitadas revolucio. de morte foram pronunciadas ¢ algumas executa- das, outros foram condenados ao degredo na Austrilia, que constituia uma pena quase de morte, pois a longa viagem em barco a vela, em condigdes desumanas, reduzia drasticamente as chances de sobrevivéncia. Deste modo, a repressio acabou com o mais notério movimento insurrecional dos tra- balhadores ingleses, durante a vigéncia das leis contra as combinagées."” A proibicio as combinacées dos trabalhadores ¢ a perseguisio aos seus sindicatos se reproduziam nos outros paises, 4 medida que se industria lizavam. As combinagées eram consideradas tentativas de monopolizar a metcadoria “forga de trabalho” no mercado, ¢ dessa forma condensveis. A contemporiinea de insercao talvez encontre af 0 fundamento do Infelizmente, a Constituicao republicana de 1793 nao estava destinada a vigorar. As condigdes de guerra contra as principais poténcias eutopéias agra- varam 0 sofrimento do povo trabalhador e exigiam medidas dristicas, in- compativeis com os dispositivos de uma constituigio democratica. Em lugar do equilibrio de poderes representativos, surgiu a ditadura do Comité de HISTORIA DA GADADANIA Salvagio Publica, encabecado por Robespierre. E 0 Tetror, que emergiu como manifestasio do desespeto ¢ do facciosismo reinantes. Enquanto as corren- tes que compunham a Montanha se devoravam, o Comité de Salvacio Pi blica mobilizava recursos para salvar a Revolucao da divisio interna e da agtessao externa. Em pouco mais de um ano atingia seus objetivos Em junho de 1793, 68 Ge oitenta departamentos estavam em revolta contra Paris; 08 exércitos dos principes germanicos invadiam a Franga do norte ¢ do leste; os britanicos atacavam do sul e do oeste: o pais estava ineeme ¢ falido, Catorze meses depois, toda a Franga estava sob firme controle, os invasores haviam sido expulsos, os exércitos franceses por sua vez ocupavam a Bélgica.*! Mas 0 que restava da Montanha sob 0 comando de Robespierte ¢ Saint- Just nao iria saborear os frutos de seu triunfo. Em julho de 1794 — 0 famoso 9 de Termidor pelo calendario da Revolugio -, a Convengio mandava pren- der Robespierre, Saint-Just e mais trés deputados, que se refugiaram na Comuna. Apés alguma resisténcia esbocada, foram presos, julgados e execu- tados quase em seguida e alguns dias depois 87 membros da Comuna de Paris tiveram o mesmo destino. Com a subida dos “termidorianos” ao poder, a revolugao social chegava ao fim ¢ a revolucio politica comecou a recuar A Constituigao do Ano I, apesar de praticamente nio ter tido vigéncia, exerceu duradoura influéncia sobre a evolugao dos direitos politicos e sociais dos séculos seguintes. Devemos a Hobsbawm® uma apreciacio que resume bem o seu impact De acordo com este documento nobre mas académico, ao povo se oferecia 0 sufragio universal, o dircito 4 insutreicao, trabalho ou manuiengio ¢ — mais significativo de tudo ~ a assercio oficial que a felicidade de todos era 0 objetivo do governo e que os direitos do povo nao deveriam metamente estar disponi- veis mas serem operacionais. Era a primeira constituicio genuinamente demo- cratice proclamada por um estado moderno. AS LUTAS PELOS DIREITOS DURANTE A PRIMEIRA, REVOLUGAO INDUSTRIAL No tempo em que os franceses limitavam as prerrogativas de seu rei, para em seguida depé-lo ¢ leva-lo 4 guilhotina, os ingleses davam continuidade Tuta de Wilkes sob a lideranga de intelectuais como o Dr. Richard Price, estudi- § & & % oso ¢ Josey Carty nhas dos, mod dénc inco A CIDADANIA PARA TODOS oso de populagio, tributagiio € outros temas econdmicos; 0 notavel quimico Joseph Priestley, descobridor do oxigénio ¢ outros gases; ¢ 0 major John Cartwright, que se recusou a lutar contra os rebeldes americanos. As campa- nhas pelos direitos humanos eram inspiradas pelo exemplo dos Estados Uni dos, a primeira republica liberal (apesar de escravocrata) a surgir na época moderna. Reivindicavam os direitos consagrados na Declaracao de Indepen- déncia e depois na Declaracao dos Direitos do Homem, aprovada em 1789 incorporada 4 primeira Constituigao produzida pela Revolugao Francesa. F interessante observar que a Gri-Bretanha era, nessa época, a nagio economicamente mais adiantada ¢ também, gracas as conquistas da Gloriosa Revolugio de 1688, a politicamente mais avangada da Europa, até ser superada pelos seus cidadaos das colénias norte-americanas rebcladas. Mas, no fim do século XVIII, ela travou uma longa guerra contra a inde- pendéncia das colénias € pouco tempo depois, em 1793, envolveu-se em uma série de guerras ainda mais longa contra a Revolugao Francesa eo seu sucessor, o império napolednico. A Gra-Bretanha se encontrava do lado “errado” das duas grandes revolugdes burguesas do século XVIII, por moti- vos geopoliticos ¢ defasagem historica. No caso da Revolugio Americana, porque ela era a metrdpole; contra a qual a causa dos rebeldes se dirigia; e, no caso da Revolugio Francesa, apesar da consideravel simpatia desperta- da entre os ingleses, porque a Franga era sua rival na luta pela hegemonia mundial, travada tanto na Europa como em terras americanas e asiativas. Mas, além dessas razGes, a Gra-Bretanha era governada por George III, que almejava anular as limitacdes de seu poder e que, como vimos, foi conti- do pela resisténcia de grandes aristocratas ¢ pela revolta da populucao londri- na e de muitas outras partes do pais, liderada por John Wilkes. B isso que chamamos de defasagem hist6rica. Enquanto na América e na Franca a luta pelas liberdades ¢ pela divisio dos poderes obtinha vitdrias consagradoras, na Gra-Bretanha os movimentos liberais ¢ populates lutavam pela preservagao do que haviam conquistado no século XVII. Ea circunstancia dos novos regimes liberais estarem em guerra contra a Gri-Bretanha facilitava a tarefa das forcas reacionarias, 4 medida que podiam acusar seus adversarios liberais de traigdo 4 patria. O que fizeram com grande entusiasmo e efetividade. A figura que mais $e destacou na luta pela liberdade foi a de Tom Paine (1737-1809), herdi de duas revolugdes. Paine era inglés mas emigrou para as coldnias j4 em processo de rebeldia, onde publicou no inicio de 1776 0 panfleto Common Sense, que se tornou o mais popular das colénias, ¢ editou © periddico The Crisis. Ele defendeu a causa da Independéncia em lingua HISTOREA DA CIDADANIA gem popular ¢ ousada, culminando com a tirada “tudo que é certo razo4- vel pede a separacio. O sangue dos trucidados, a voz chorosa da natureza clama ‘this time to part [desta vez € para partir].” O panfleto teve 25 edigdes 86 em 1776 ¢ vendeu centenas de milhares de exemplares.” Na América, Paine se engajou na Guerra de Independéncia ¢ chegou a ser membro do Congresso, e, nessa condicao, secretirio da Comissao de As- suntos Externos, status equivalente a um ministro do Exterior. Mas, em 1787, retornow A Inglaterra, onde se engajou imediatamente na luta, Em resposts & catilinaria de Burke Reflexdes sobre a Revolugéo Francesa (téplica por sua vez de O amor de nosso pats, de Price, que saudava a tevolugio na Franca), Paine publicou em 1791 Direitos do homem, em que defendeu a substituigéo da monarquia pela Repiblica na Inglaterra. Paine foi um dos mais avancados liberais de sua época, defensor da igualdade de direitos de homens e mulhe- tes e do sufragio universal. Mas, do ponto de vista que mais nos interessa aqui, Paine foi avangado também como proponente de direitos sociais. programa [exposto na segunda parte dos Direitod estava, de fato, consideravel- mente adiante do que os deputados teriam apoiado; suas provisdes nao se torna- riam politica pratica pot mais de cem anos, Ele propunha, entre outras coisas, abolit a Lei dos Pobres, estabelecer um imposto progressivo sobre todas as prop: edades que rendiam mais de cinco mil libras por ano, comegando com trés dinhei- 10s e subindo pata vinte xelins por libra para rendas acima de 22 mil libras por ano, eliminar todas as sinecuras (inclusive 0 gasto initil do Rei e da Corte) assegurar o desarmamento por meio de tratados de arbitragem, Estimando a popu- lagao em sete milhdes, argumentava que estas economias petmitiriam em pouco tempo abolir a tributagao indireta ¢ dar uma renda de quatro libras por ano para toda crianga de menos de 14 anos ¢ uma pensio de seis libras a todos com mais de cingienta anos, Um beneficio 4 maternidade de uma libra por filho também pode- tia ser instituido ¢ um grande valor residual poderia ser aplicado em um sistema nacional de educagio ¢ para prover trabalho aos desempregados pelo Estado" Paine propunha um sistema tributario radicalmente redistributivo, Con- vém notar que uma libra tinha vinte xelins, de modo que esse imposto de renda da terra confiscava toda renda acima de 22 mil libras por ano. Parte da receita seria dada a todos habitantes menores de 14 anos e maiores de cingiienta anos. Isso equivale a0 que hoje denominamos “renda cidada”, defendida por igualitirios radicais, mas ainda nao implantada em lugar al- gum. O que ja existe € a garantia de renda minima ou imposto de renda nega anos mas rend oq day esti con Iho ter sat tui os a aSaolomements ACIDADANIA PARA TODOS negativo, que varios paises, inclusive o Brasil, vem instituindo nos dltimos anos. E um complemento da renda aos mais pobres, que o Estado concede, mas apenas enquanto a renda propria esteja abaixo do limite minimo. A renda cidada ¢ para ser concedida a todos sem excegao, inclusive aos ticos, © que tem a vantagem de economizar 0 custo do acompanhamento regular da vida dos beneficiarios por funcionarios especializados ¢ de eliminar 0 estigma de ser incapaz de ganhar o proprio sustento, que acompanha & concessio do complemento de renda exclusivamente aos que dele carecem. Outra proposta controversa de Paine é a garantia do direito ao traba Iho, dada pelo Estado que se obriga a arranjar trabalho para quem nao o tem. Como ja vimos, a idéia ocupou os constituintes da Revolugio France- sa mais de uma v z. € a proposta de Paine s6 acabou constando da Consti tuigdo de 1793, que no chegou a vigorar. N o obstante, Direitos do bomem foi um panfleto que talvez tenha tido mais influéncia do que qualquer obra singular de sua espécie nos dltimos duzentos anos. Continuamente reimpresso, circulado iegalmente ¢ por contrabando, ele tem sido por anos a inspi- racio de reformadores ¢ 0 objeto principal de alarme ¢ inguiriga0 do governo. Por causa da obra, Paine foi obrigado a fugir da Gra-Bretanha para a Franga, onde foi cleito para a Convengio, e ~ apesar de nfo saber francés — participou ativamente da politica Idéias de Robert Owen Enquanto a Revolugao industrial multiplicava o proletariado fabril, a proibicao ¢ repressao de qualquer organizacao coletiva o manteve subme- tido. Nesse panorama, teve grande importancia o sutgimento de Robert Owen, um grande industrial ¢ discfpulo de Godwin, um dos mais notaveis tedricos liberais da época. Dele, Owen aprendeu que o carater dos homens formado pelo ambiente em que so criadvs, que vicios ¢ maus habitos causados por mis instituigdes e podem ser eliminados pela educagio das criangas ¢ pelo império da justiga social Owen aplicou tais ensinamentos no que era na época a maior fébrica algodocira, situada em New Lanark, a beira de um rio cujas éguas moviam as maquinas de fiar ¢ tecer. Bliminou o trabalho infantil € providenciou escolas para os filhos dos trabalhadores, moradias decentes para as famili- as dos mesmos ¢ lhes ofereceu condicdes de vida € de trabalho incompa ravelmente melhores que as que prevaleciam entdo na Inglaterra, Como, HISTORIA A CIDADANEA, apesar de sua generosidade, Owen continuava tendo lucros significativos, fornou-se famoso como filanttopo. O segredo de seu sucesso econdmico é ae 20 encurtar as jornadas de trabalho e cuidat para que sua mio-de. obra fosse bem alimentada ¢ bem alojada, a produtividade do trabalho deve ter sido muito maior do que nas usinas que extenuavam seas empre- gados. B 0 que hoje chamamos de “salétio eficiéncia”: € vantajoso para a Empresa pagar salarios ditetos e indiretos maiores para preservar o vigor dos que trabaiham ¢ de quebra ganhar sua lealdade e gratidao. es Fabril. A anterior, de 1802, aplicava-se apenas aos “ algodociras. Owen propunha que a Lei proibisse o trabalho de criangas de menos de dez anos de idade, limitasse a jornada de trabalho a des hocse e meia, incluindo 0 tempo das refeigdes, ¢ ctiasse cargos de inspetores remune- rados para assegurar a implementacio dessas reformas, Gracas a sua uta, Peel, © Velho, também grande industrial e pai do futuro primeiro-ministro, conse- Gulu aProvara Segunda Lei Fabuil em 1819, embora estivesse longe de atendet ) fixava a idade minima em nove anos e a jornada em 12 horas, ¢ se aplicava apenas aos que tinham até 16 anos de idade; a instituigio de inspetores profissionais foi deixada de lado. “Os trabalhadowes Banharam muito pouco da lei de Pecl; mas mesmo este pouco era diffeil de obter face & amarga hostilidade de maioria dos empregadores ¢ a apatia dos Juizes dos condados, que supostamente devetiam aplicar a lei, Com todas suas deficiéncias, s ptimeiras Leis Fabris foram os primeitos diteitos sociais legalmente conquistados na era do capitalismo industri. A limi- tagto de idade para o trabalho infantile da jornada de trabalho para as ctiangas ‘ adolescentes sao intervengdes significativas do Estado no funcionamento Inee dlo metcado de trabalho. Eissas leis declaram que a liberdade de contratne niio é tlimitada e que o limite € a pessoa humana, cuja integridade fisica e mencal tem de ser preservada, Elas sio precedentes preciosos de toda ampla e variada legislacio trabalhista que seré implementada no resto do séeulo XIX « principal- mente no século XX, em todos os paises que se industrializaram, Eram tempos de crise, apés o fim das guerras napolednicas, com a vitéria de Waterloo, em 1815. © desemprego tornou-se epidémieo os indigentes, de acordo com a Lei dos Pubres, tinham o direito de obter metos de subsis- ee ss projeto para resolver o problema e uma comissio foi apontada, na qual estava, entre outros, © grande economista David Ricardo, para examinar o plano e dat ‘aptendizes indigentes” nas usinas < parecer ta elimi nhoes,! exércit sacieda popula Er Owen, pudess gar os no me coope produ te de entre « reinar amor same a © gas fosse ~ me empr idéia pree Owe Cor Asse jace ccc ACIDADANIA PARA TODOS parecer sobre ele. Owen diagnosticava a crise como sendo getada pela stibi- ta climinagio da procura por meios de guerra — provisées, uniformes, ca- nhées, navios etc. ~, 0 que produziu superprodugio generalizada e um vasto exétcito de sem-trabalho. A insuficiéncia da demanda nao provinha de uma saciedade geral, mas da manutengio em ociosidade de grande parte da populagio cconomicamente ativa, impedida de produzir ¢ consumir. Em vez de manter toda essa gente com recursos pablicos, argumentava Owen, seria muito melhor comprar terra e meios de produgio para que pudesse produzir seu sustento ¢ possivelmente um excedente capaz de pa gar os juros sobre o capital que o poder publico teria de tomar emprestado ‘no mercado financeiro, O plano de Owen previa a construgio de aldeias cooperativas em que os ex-indigentes iriam morat ¢ trabalhar; cada aldeia produziria parte de sua subsisténcia e trocaria com outras aldeias 0 exceden- te de sua produgao. Mas nao haveria propriedade privada nem competicao entre as pessoas € to pouco entre as aldeias. Gragas 4 educagio, a fraternidade reinaria entre os cooperadores € os tributos pagos por eles permitiriam a amortizagio do capital e o pagamento dos juros. O plano calculava cuidado samente a economia para 0 erario publico que o pleno emprego ensejaria. O plano de Owen estava longe de ser fantasioso. Era razoavel supor que © gasto com a manutengio dos desempregados, por mais modesto que fosse, poderia ter um efeito muito superior se aplicado na provisio de capital = meios de produgio e de vida — a todos que nio tinham demanda de empresas privadas por sua capacidade de trabalho. Voltava desta forma a idéia de garantir 0 direito a0 trabalho mediante uma agio estatal bem em- preendida. Nao surpreende que, apesar de sua légica, o plano proposto por Owen nio fosse aprovado. Pode-se admitir que as tazdes da Camara dos Comuns fossem as mesmas do Comité pela Extingio da Mendicancia da Assembléia Constituinte da Revolucao Francesa, anteriormente referidas: que a garantia a0 operério de encontrar trabalho em quaisquer circunstancias seria contriria aos interesses dos empregadores ¢ do Estado, pois tornaria os trabalhadores exigentes em relacio ao trabalho que se Ihes propo O proprie- tario, 0 manufatureito ver-se-iam expostos & falta de operirios quando suas empresas demandassem um grande numero de bragos.” Owen teve 0 mérito de transformar a idéia de Paine € da Convengao jacobina em um plano cminentemente pritico, mustrando sua viabilidade econdmica ao menos em tcoria. Merece registro que v diagndstico da crise HISTORIA D4 CIDADANIA de Owen antecipa idéias que seriam retomadas por Keynes cerca de 120 anos depois. Embora a solugao encontrada por Keynes para o desemprego fosse diferente da de Owen, na esséncia ambos coincidem: é possivel usar © eririo publico para criar a demanda que falta para elevar a producio ao nivel em que todos os que precisam trabalhar encontram quem queira emprega-los ou possam se auto-empregar, individual ou coletivamente Teudo fracassado na tentativa de convencer o Parlamento de suas idéi- as por meio de argumentagao racional, Owen ¢ seus partidarios decidiram ganhar 0 apoio dos governos pelo exemplo, criaado uma aldeia cooperati va na pritica. Escolheram os Estados Unidos como sitio para o empreendi- mento €, em 1824, Owen a frente de um contingente de convertidos, entre 08 quais havia importantes personalidades ¢ homens de fortuna, partiram pata o Novo Mundo. Sindicatos No mesmo ano, na Inglaterra, a Cimara dos Comuns tevogava a legisla- $40 que proibia os sindicatos de trabalhadores. Essa importante conquista de um direito social — 0 direito de livre associagio ¢ de greve — foi devida & persistente campanha do deputado Francis Place, que ganhou a adesio de parlamentares radicais, encabecados por Joseph Hume. amaioria da Ca tavam longe de ter mara a favor de seu projeto, mas usaram os seus trunfos com maesttia, aproveitando a desatengao sobre a matétia tanto do governo como dos empregadores mais reacionarios, Convocaram para a audiéncia do mité Parlamencar, presidido por Hume, apenas depoentes — empregadores ¢ empregados — opostos a proibigio e, depois de ganharem a maiotia, conse- guiram aprovar a toque de caixa uma lei muito ampla que revogava toda proibicao das atividades sindicais, inclusive a interpretagio dos jufzes de que « Common Lamas considetava atentados contra o livre mercado. De uma $6 ver Lo- @ sem que houvesse grande envolvimento das cla: ses socials intcressa das, a lei aprovada garantia aos sindicatos imunidade contra as perseguigdes que haviam sofrido nos 25 anos anteriores. sta foi a conquista de um dos direitos sociais mais importantes, que também viola as regras da cumpetigio no mercado de trabalho. As “combi- nagoes” tanto entre empregados quanto entre empregadores produzem monopsénio (comprador tinico) e monopélio (vendedor tinico) em cada mercado setorial de trabalho e por isso destroem a livre concorréncia. Mas, como a historia mostra, a proibigio das combinagées 56 foi implementada con part age mer dos anic Gra Est lide reac seg sécr tre vie de Ai me ACIDADANIA PARA TODOS, contra os trabalhadores, de modo que esses mercados funcionavam a maior parte das vezes como monopsénios. A revogagio da proibicio das combi nagdes de fato igualou a situagio do trabalho a do capital, tornando os mercados setoriais de trabalho monopélios bilateral dos trabalhadores passou a barganhar ¢ eventualmente a lucar com uma Unica associagao dos empregadores. E digno de nota que isso se deu na Gra-Bretanha mvito antes que nos demais paises. No perfodo Jacksoniano (1828-1836), a onda de industrializagio atingiu os Estados Unidos, 0 que ensejou a formagio de muitos sindicatos, que “sob lideres como 0 fogoso William Leggett atacavam impetmosamente as cortes reacionrias que puniam greves sob as velhas leis contra conspiragdes”. A per- seguicao judicial contra sindicatos (combinagées) se estendeu até o fim do século XIX, Ainda em 1890, o Sherman Actestava servindo para esse propdsito um Unico sindicato S6 com respeito as organizacdes trabalhistas € greves revelou a lei possibilida- des insuspeitas, pois as cortes sustentavam que na medida em que os sindicatos resttingiam 0s negécios por meio de greves e outras praticas, eles a violavam. O pub brar monopélios industriais estava sendo usada para esmagar greves.” 0 compreendeu com amargura que uma lei visando ostensivamente que- O direito legal de organizacio operiria foi conquistado em 1864, na Franga, por lei “que autoriza as coaliz4es operarias, o que legaliza as gre- ves, e é de importincia decisiva para a tomada de consciéncia da realidade do coletivo operario diante das relagdes personalizadas do patrocinio pa- _ tronal”"; © mesmo aconteceu em 1869 na Priissia ¢ no mesmo ano, apé' uma demonstragio de massas em Viena, na Austria; em 1894, na Itélia, “a violéncia policial contra greve dos mineiros da Sicilia provocou uma greve . de massa no norte, liderado pela esquerda do partido e os sindicatos sob Arturo Labriola, Como resultado, 0 governo de Giolitti foi obrigado a re- nunciar todo uso de forga militar contra greves”.®' Voltando & Inglaterra, apés a revogac’o dos Combination Acts, 0 mo- vimento sindical, que j4 vinha crescendo na ilegalidade, veio a tona ¢ desencadeou uma onda de greves. Ela foi causada nao sé pela legalizagio dos sindicatos como pelo fato de a economia estar passando por um boom, que expandiu a demanda por fora de trabalho e elevou o custo de vida, ambos os fatos induzindo muitas categorias de trabalhadores a reivindicar melhoras salariais. Quando 0 boom se esgotou e foi seguido por crise, os industriais trataram de revogar as concessdes que haviam feito, 0 que pro- vocou uma segunda onda de greves HISTORIA DACIDADANIA Em reagio as greves, a Camara aprovou em 1825 lei que nao revogou ade Place mas estabeleceu limites 4 agio sindical combinasdes continuaram sendo legais, enquanto os sindicatos se limitassem 4 barganha pacifica de salarios e horas, cuidassem para nao serem acusados de induzir quebra de contrato e de modo algum “molestassem” ou “obstruissem” nem empregadores nem fura-greves. Essas restrigdes tinham por efeito tornar muito dificil conduzir qualquer greve ~ em todo caso qualquer greve consideri- vel — sem sério perigo de violar a lei. (...) Mas, embora muitos sindicalistas tenham sido condenados por delitos definidos pela Lei de 1825, o simples reco- nhecimento que ele deu ao direito de combinagio fez uma grande diferenca para o status do sindicalismo. ssas idas e vindas ocortidas no que se refere aos direitos de organiza sao € greve, na Inglaterra, iriam ser repetidas nos outros paises, tio logo a proibi¢ao pura ¢ simples das combinagdes (incluindo sindicatos e greves) tenha sido repelida. © fortalecimento dos sindicavos tornados legais ¢ 0 Fecurso a greves motivavam reagdes politicas que produziam regulamenta- ses restritivas do direito de greve. A conquista de diteitos sociais, em geral, nunca pode ser considerada definitiva, enquanto 0 antagonismo de classe permanecer e provocar reagées dos setores mais conservadores da socieda- de, que nunca se conformam com a concessio de direitos que, a seus olhos, sao privilégios injustificados. ee ee O sindicalismo cresceu fortemente apds a superagio da crise de 1825 ¢ tornou-se cada vez mais owenista, Gradativamente, a maior parte dos tra- balhadores em manufaturas se tornava operarios fabris, o que significava que deviam seus empregos a Revolugio Industrial ¢, portanto, nao a consi- deravam mais sua inimiga mortal, como fizeram seus antecessores artesanais. Nao obstante, percebiam-se explorados pelos capitalistas c, portanto, atrai- dos pelo socialismo de Robert Owen, Isso significava que o sindicato tinha por fim lutar nao s6 pela melhozia dos salérios e condicdes de trabalho, mas também para mudar a ordem econdmica, substituindo a empresa capi- talista por organizagées cooperativas em que nao haveria distingdes de + classe. Como resultado, ao lado dos sindicatos surgiram cooperativas, asso- ciagdes de trabalhadores que, em conjunto, possuiam os meios de produ sho com que realizavam sua atividade e, em conjunto, vendiam o que produziam, repartindo 0 panho entre todos Os sindicalistas, co a de ie , z f te ACIDADANIA PARA TODOS: como Owen, estavam revoltados contra os males da sociedade competitiva capit lista; eles, como ele, estavam a busca duma nova ordem social, baseada na idéia da fraternidade humana. Eles comegaram a reinterpretar 0 Owenismo em seus proprios termos, transformando sua proposta de “Aldeias de Cooperacio” de da- divas a serem oferecidas pelas classes governantes aos pobres em associagdes operitias autogeridas, a serem ctiadas pelos esforgos dos proprios operdrios.®* As cooperativas, estreitamente ligadas aos sindicatos, eram importantes como instrumentos para lutar contra o /ockou/, a greve patronal. Quando o conflito entre patrdes ¢ empregados se mostrava insoliivel, os primeiros combinavam para fechar todas as fébricas, deixando os operarios na rua da amargura. Tendo mais autonomia para ficar sem receber dinheito do que os trabalhadores, os capitalistas infligiam derrotas totais aos seus assa- lariados, s6 reubrindo as fabticas quando o sindicato tivesse sido liquidado pelo abandono de todos seus sécios. Nessas condigées, os trabalhadores sé tinham uma defesa: organizar-se em cooperativas ou associar-se tentes ¢ tentar tomar o mercado dos capitalistas. s exis- A luta de classes se acirra Um grande embate deu-se apés 0 episédio que recebeu 0 nome de mi Revolucio de 1832. Esta foi o auge de um vasto movimento de reforma que comegou apds Waterloo ¢ ganhou impulso na ctise de 1825. Ele visava pteformar o Parlamento e, sobretudo, ampliar o direito de votar e ser vota- pdo. Sobre essa questo vital, as diferentes classes que se faziam representar no movimento de reforma tinham posigdes distintas. A chamada classe média, formada pelo empresatiado industrial e comercial, em plena ascen- Esio econdmica, néo se conformava mais em ser governada pela aristocra- afia, cujos interesses agrarios a predispunham ao protecionismo (contra a ‘importagio de trigo da América ou da Ruissia), em contraposicio direta as demandas dos livre-cambistas, com que se identificavam os industriais ¢ os comerciantes. A classe operiria participava do movimento reformista com f 0 objetivo de conquistar para si o direito de votar € ser votado, 0 que na época equivalia ao sufrigio universal masculino. Aristocracia, classe média f. € operariado se dividiam ainda em diversas correntes ideolégicas. % _O movimento ameacou tomar feigées revolucionarias quando as revo- # lugdes de 1830 foram vitoriosas na Franca e Bélgica. Em 1831, a Camara Votou uma lei de reforma, que foi no entanto rejeitada pela Camara dos & HISTORIA DA CIDADANIA Lordes. Isso provocou uma convulsio politica que assustou a clas governante ¢ 0 rei Os tumultos de Bristol, durante os quais os trabalhadores dominaram a cidade? por varios dias, a queima do Castelo de Nottingham, o saque da prisio de Derby € 0 aparecimento de multidées futiosas nas ruas de Londres, onde a carruagem dof rei foi molestada, advertiram as classes governantes do animo do povo.* © tei dissolveu o Patlamento ¢ as novas eleigées resultaram numa Camara mais favorivel 4 Reforma. O projeto recusado pelos Lordes foj novamente aprovado com maioria bem maior ¢ a Camara Alta ceden, permitindo que ele se transformasse em lei. ; A Reforma de 1832 satisfez as expectativas da classe média, estendendo a cla o suftigio, mas mantendo a classe operdria de fora. Dai em diante, aristo- cracia ¢ burguesia governariam juntas ¢ cada vez mais contra a classe traba- Ibadora. Esta se sentiu lograda e traida. Foram os irabalhadores que se cmpe- nharam nos tumultos ¢ nas manifestagdes de rua, expondo-se aos rigores da repressao ¢ no final os tinicos beneficiados foram seus inimigos de classe, os industriais e comerciantes. A decepso com a reforma fortaleceu novamente 0 sindicalistas € socialistas e preparou um mais vasto ¢ longo movimento de luta anticapitalista protagonizado por sindicatos ¢ cooperativas. Mas, antes de tratar dele, importa registrar que o parlamento eleito de acordo com as regtas da reforma aprovou em 1833 nova Lei Fabril. Esta conti- trita industria téxtil (exceto a da seda), limitou a jornada das criancas até 13 anos a oito horas e dos jovens até 18 anos a 12 horas. Om € que pela primeira vez uma Lei Fabril criava quatro cargos de inspetures de fabrica, para garantir que os dispositivos da lei fossem implementados de fato Os relatorios desses inspetores foram em boa medida responsiveis para que Leis Fabris fossem posteriormente aprovadas. Os retratos dos horrores perpetrados contra ctiangas e mulheres pelos industriais inspiraram também Karl Marx, que os utilizou largamente para escrever O capital Nesta altura, Owen ja estava de volta dos Estados Unidos ¢, em contato com as numerosas cooperativas que haviam sido formadas em sua auséncia, resolveu criar em 1832 um Labour Exchange (Bolsa de Trabalho), em que as cooperativas poderiam intercambiar seus produtos. Na Bolsa s6 circulava uma moeda emitida pela prépria Bolsa, em que a unidade de valor era a “hora de trabalho”, Era o que hoje chamariamos de moeda social, criada especialmente para este fim ¢ que nuou importante nova ¢ destinava a permitir que as mercadorias ec dc ACIPADANIA PARA TODOS colocadas no Labour Exchange fossem trocadas pelo seu verdadeiro valor, equivalente as horas de trabalho gastas em produzi-las. Uma hora padrio foi definida e o nimero de horas, convertidas 4 hora padrio, necessario 4 pro- " dugao de cada mercadoria era avaliado por uma comissio de * Durante o primeiro ano de funcionamento, o Labour Exchange teve éxito, atraindo grande ntimero de cooperativas, que por meio dele se viabilizaram economicamente. Mas no segundo ano ele fechou, muito provavelmente por causa da derrota da ofensiva sindical-cooperativista de 1833 ¢ 1834. Esta comecou pela unido dos sindicatos locais em federagéxs regionais, que por sua vez se coligavam em confederagées nacionais. A tinica que atingiu esse estagio foi o sindicato dos trabalhadores de construsio, cuja confederagio alcangava toda Gri-Bretanha. Mas a poderosa federagio dos fiandeiros de algodao de John Doherty, que liderara 0 movimento sindical até o fim da década anterior, reviveu ao lado dos ceramistas, produtores de roupas’e federacdes regionais que se formaram em Northampton, Derby, Leicester e outras areas do Midland. Esta tendéncia a unificagio das forcas sindicais culminou, em outubro de 1833, na formagio da Grand National Consolidated Trade Union (Grande Unio Nacional Consolidada de Oficios), a primeira central operdria da historia, liderada por Robert Owen em pessoa. A Grande Unifio ganhou a adeséo da maioria dos sindicatos ingleses. De um total estimado de oitocentos mil trabalhadores sindicalizados, cerca de meio milo teriam feito parte da Grande Unido. Para ela, Owen tragou um 1 plano de luta que previa que em cinco anos os sindicatos transformariam a B sociedade em uma comunidade socialista, mediante a tomada de toda indis- f, tria, que passaria a ser operada de forma cooperativa. Numa conferéncia feita logo depois, Owen expds como funcionaria a economia sob o socialismo: ndicalistas. ‘Todos os oficios formariam “lojas paroquiais” que conteriam todos os membros de cada oficio ¢ controlariam este oficio; todas estas lojas enviariam delegados a dez lojas provinciais, que controlariam o oficio na provincia. Delegados das liltimas encontrariam em Londres com delegados de outras “‘companhiai” ou outros oficios ¢ ordenariam a vida econémica da nagio.® O plano de Owen entusiasmou a classe operria inglesa, que imediata- mente se langou a luta, organizando gigantesca onda de greves. Os grevistas se organizavam cm cooperativas para tomar a industria dos capitalistas. S6 Que estes também deram-se conta do que se plancjava ¢ se organizaram Para a contra-ofensiva, A cada greve respondiam com um lockowh para 210 HISTORIA DA CIDADANTA reabrir as fabricas exigiam que os trabalhadores assinassem “a promessa” de renunciar ao sindicato e de nao dar ajuda a outros membros do sindics. fo. A luta durou praticamente um ano. O entusiasmo dos operitios fez com que conquistassem alguns sucessos iniciais, mas a partir do comeso de 1834 0 poder financeito muito maior dos ¢: apitalistas pesou na balanca ¢ tudo terminou com a derrota total dos sindicatos. A Grande Unido se dis, solveu ¢ até a Bolsa de Trabalho teve de fechar as portas. Este primeiro episédio da moderna luta de classes matcou o encontro historico da classe operaria com o socialismo. Dai em diante, as lutas eco. némicas ¢ sociais serio tingidas cada vez mais com tintas burguesia industrial ¢ comercial levantando a bandeira do | enfrentar as hostes operirias sob o estandarte do socialismo. I tas jd vinham sendo elaboradas e confro média ¢ tinham pot alvo a triais. aplical ideolégicas, a iberalismo 20 déias socialis- ‘ntadas por intelectuais de classe s cabecas esclarecidas da nova classe de indus- Mas, entre 1832 ¢ 1834, essas idéias encontraram nao s6 guatida mas ® pratica na formacio de cooperativas, como implantes avangados da futura sociedade, por parte do jovem proletariado, Embora primeiro confronto aberto, o proletariado retornatia 4 luta nao Bretanha; mas em todos os paises que se industrializassem, Como Subprodutos dessas lutas, novos diteitos sociais foram conquistados. © episddio seguinte nessas Iutas foi a Revolugio de 1848, que na Franca teve carater nitidamente proletatio. vencido no sé na Gri- As peripécias sio conhecidas, 0 governo provisério proclama, po, a Republica, o sufragio universal ¢ 0 direito a0 trabalho: sério da Repiblica assume 0 compromisso de assegurat a existéncia do opera- Ho pelo trabalho. Assume 0 compromisso de garantir trabalho pa cidadaos. Reconhece que os operarios devem associat-se entre si para usufruir do produte de seu trabalho” (Decteto de 25 de fevereiro de 1848). 20 mesmo tem- “O governo provi- ira todos os A revolugao teve como uma de suas principais causas a crise de 1847, que ocasionou grande desemprego, agudizando o problema da falta de trabalho. Daf a resposta generosa, sem as habituais ambigiiidades, do go- verno provisério, comprometendo-se a garantit trabalho pata todos, Na pritica, a medida mais famosa do governo provisério foi a abertura das Oficinas Nacionais, em que desempregados podiam se inscrever para receber trabalho remunerado, “No fim de marco, 21 mil trabalhadores haviam sido inscritos, No fim de abril o nimero era de 94 mil. Entre o dia 5 ¢ meados de ——— da ne os tir ACIDADANIA PAR TODOS maio, as Oficinas Nacionais custaram mais de sete milides de francos.”” Infe- lizmente, muito pouco trabalho itil foi realizado nas Oficinas. Com toda pro- babilidade, organizar quase cem mil pessoas em equipes com tarefas definidas exigia um esforgo muito além da capacidade de um governo provisdrio re cém-formado, que ainda estava tateando os instrumentos que possibilitam governar. Seja como for, o espeticulo de uma multidio paga pelo eririo piblico jogando bilhar ou assistindo arengas revolucionarias desmoralizou a proposta. Em junho, as Oficinas Nacionais foram fechadas. O que provocou novo levante operario (0 anterior fora em fevereiro), desta vez severamente reprimido € levando 20 poder um governo muito mais conservador. Para a classe trabalhadora, a grande conquista da Revolugio de 1848 foi o sufragio universal, que deveria preparar sua redengio social, com base no direito ao trabalho. A democracia deveria deslocar a maioria poli- tica, representada no poder, para a esquerda, 0 que permitiria 0 cumpri- mento da promessa do Decreto de 25 de fevereiro. Mas nada disso aconte- ceu, pois 0 efeito politico da ampliagio do direito do voto nao seria imediato. “Uma emenda de Félix Pyat para incluir 0 direito ao trabalho no preambu- lo da Constituigio é recusada no dia 22 de novembro de 1848 por 638 votos contra 86: 0 caminho percorrido as avessas desde a aceitacio de seu principio em marco, pelo governo provisério, é imenso.” Conquistas e novas propostas Enquanto a Revolugio na Franca ensejou um ensaio breve ¢ fracassa- do de implementacio do direito ao trabalho, o cartismo, um dos maiores movimentos de massa da histéria britanica, fracassava também na tentati- va de conquistar o sufrégio universal masculino. Mas, quase como uma concessio compensatétia, a legislagao do trabalho avancou de modo sur- pteendente: em 1842, foi aprovada lei proibindo o trabalho subterraneo das mulheres nas minas criando inspetores de minas; em 1844, foi apro- vada a extensio da legislacio fabril 4 induistria da seda ¢ a limitacio da jornada de jovens ¢ mulheres a 12 horas; em 1847, nova Lei Fabril foi aprovada, a qual reduziu a jornada de jovens e mulheres a 11 horas ¢ a partir de 1° de maio de 1848 a dez horas. Mas o patronato conseguin, em 1850, que um juiz desse uma interpretagio a lei que permitiu torna-la inefetiva. Como a lei nao definiu o intervalo minimo entre jornadas, os industriais adotaram um sistema de turnos, 0 que possibilitava que o tra- balho fosse prolongado noite adentro. Foi necessitio passar uma lei emen 24 HISTORIA DA CIDADANIA dando a anterior para torn la efetiva, o que s6 foi possivel aumentando a jotnada para dez horas ¢ meia. O almejado dia de dez horas s6 foi con- quistado em 1874 As conquistas dos trabalhadores ingleses tiveram intensa repercus no continente. Os trabalhadores franceses conquistaram a jornada de 12 horas, “o mais importante resultado da Revolugio de 1848”. Durante off Segundo Império, diversas melhorias sociais foram concedidas aos traba-# Ihadores: arbitragem de conflitos na industria, organizacées beneficentes subsidiadas e cooperativas de consumo nao politicas. Além disso, os gover- nos alemao ¢ francés viram-se coagidos a teduzir o trabalho infantil e a assegurar aos trabalhadores alguma educacio, necessatia para que pudes- sem operar maquinas cada vez mais complexas. Finalmente, em 1864; trabalhadores socialistas da Franga e da Inglaterra convocaram os seus camaradas de todos os paises a formarem uma Associagio Internacional de ‘Trabalhadores, hoje conhecida como a Primeira Internacional. A Primeira Internacional ofereceu a primeira oportunidade ao nascente movimento operario nos paises da Europa continental de confrontar suas idéias € coordenar suas lutas. A figura intelectualmente dominante era Karl Marx, vivendo entéo no exilio em Londres, onde a Internacional fixou sua sede. Entre os debates sobre a sociedade almejada € sobre os meios a empregar para alcangé-la, o que mais nos interessa aqui é 0 que tratava da possibilidade ¢ desejabilidade de lutar por direitos sociais, garantidos por Ici € implementados pelo Estado. Este debate opunha Marx ¢ a maioria, apoiada principalmente nos grandes sindicatos britinicos, aos partidarios de Proudhon e mais tarde de Bakunin, ¢ que se tornatam conhecidos como anarquistas eee st Estes tiltimos tinham como prioridade a luta direta contra 0 Estado, visto como obstaculo a realizacao da liberdade e igualdade entre os ho- mens. Essa posigio os levava a rejeita: as lutas pot melhoras ~ e, portanto, pelos direitos sociais ~ inscritas na legislagio. Nao se interessavam pela ampliacao do suftagio ¢ se recusavam a apresentar candidatos que repre sentassem os interesses da classe trabalhadora nos patlamentos. A contro vérsia estourou no Congresso de Genebra da Internacional, cm 1866, ¢ eventualmente o Congreso votou unanimemente pela proposta de Marx de le antar rcivindicaydes por mudangas sociais ¢ politicas no status guo, para melhorar as condigées de mulheres € c) gas € para limitar a jornada de traba Iho 2 oito horas. Os proudonistas rejeitavam quaiscuer intervengdes do Estado inc es: ab fo do as in, da ac A CIDADANIA PARA-TODOS na elaboragao dos contratos de trabalho. Bles sustentavam que tais politicas estabilizariam 0 Estado € colocariam em perigo a liberdade social.” Essa divisio entre os que lutam dentro do status quo para modific4-lo, € 0s que se opdem a essa posigao em nome da conquista direta do poder para imediatamente abolir o E forte penetragio no movimento operario dos paises pouco industrializa- spanha ¢ inicialmente a Franca mais adiantados, 0 movimento operario, formado predomin: inclusive mediante a conquista de direitos socia tado, vai perdurar até hoje. Na época, os anarquistas tinham dos, como a Itélia, a , enquanto nos paises ntemente por assalariados em fabricas, tendia a favorecer a posicio majoritiria. Como a indistria crescia intensamente, dominando um pais apés 0 outro ao longo mais das décadas, a luta pelos direitos sociais foi conquistando cada v adeptos no movimento operario socialista. Vale a pena registrar a argumentacio de Marx: gerais deeretadas pelo poder de Estado (...) Ao conquistar tais leis, a classe operiria no fortalece as Nas atuais circunstincias, nossa tinica via passa por leis forcas governantes. Pelo contrario, ela as transforma de adversirias dos traba Ihadores em seus agentes. Ela obtém por leis gerais o que seria sem sentido tentar ganhar por qualquer montante de esforgo individual.” A historia deu razao a Marx. As lutas do movimento operatio por direi tos sociais ¢ politicos deu frutos ¢ estes fortaleceram a classe trabalhadora ¢ tornaram o Estado, em um ntimero cada vez maior de paises € finalmente no plano mundial (por meio de convencées da Organizagio Internacional do Trabalho), 0 responsavel pelo respeito a esses direitos I dificil exagerar a importancia do posicionamento pela lta por direitos sociais, adotado pelo movimento operirio europeu na Primeira Internacio- > nal, para sua evolucao até hcje. Como Marx previu, as fileiras do proletaria do foram aumentando gradativamente, pela continua expansao do capita- lismo, até abrangerem a grande maioria da Populagio E Ativa dos paises da Europa e mais tarde dos outros continentes. Com a expansio de sua base social, os partidos socialistas, os sindicatos operarios € as cooperativas passaram a ter cada ve: direitos sociais. E, como veremos, as conqnistas de direitos cada vez maiores modificaram a vida social no capitalismo, 4 medida que o Estado foi se transformando em agente, como disse Marx, da classe trabalhadora ‘onomicamente mais apoio em suas lutas pelos HISTORIA DA CHDADANEA O direito ao emprego acima do de propriedade Pertence a este petiodo ainda o episédio revolucionitio conhecide como Comuna de Paris. Em 1870, as tropas de Luis Bonaparte foram vencidas pelas da Prissia, 0 que ensejou a unificagio da Alemanha, Em 1871, a populagio de Paris foi armada pata resistir a0 assédio do exército prussiano e acabou se rebelando contra 0 novo governo republicano francés, sedinde eon Versalhes, Durante cerca de dois meses, uma alianga entre bi nquistas © proudonistas, ; apoiada nos trabalhadores em armas, governou a cidade, até ser vencid, pelas tropas do governo nacional. Do ponto de vista dos direitos sociais, a medida sao destas Fibticas pelos trabalhadores que tinham sido empregados nelas, que ‘leveriam ser organizados em sociedades cooperativas ¢ tambéns planos para a crganizagio destas cooperativas numa grande uniao,? Essa decisio ¢ uma contribuicZo significativa ao debate sobre 0 “dircito 20 trabalho”, ao mandar reabtir as fabsicas fechadas pelos donos o entrega !as aos ex-empregados, para que as ponham novamente em funcionamen- ‘o, A Comissao de Luxembutgo, constituida pela Revolucio de 1848, fe: algo semelhante, mas tratando cada estabelecimento separadamente. A Comuna foi mais longe ao determinar a organizagio cooperativa de todas eee gigantesca jOoperstiva de segundo grau (cujos membros setiam as cooperativas singu- lares). A entrega de empresas em crise aos ex-empregados é um fendmeno freqitente, que se registra desde os dias de Owen até hoje. Mas ela se faz Sempre dentro do arcabougo legal que prevé e prorege a propriedade priva- da, como uma medida lateral de preservacio de empregos ameagados. Como politica geral, a resolugao da Comuna estabelece que o trabalha dlor tem direito ao seu emprego © se a empresa cesss de funcionar os trubalhadores tém 0 direito de, coletivamente, organizatlus em cooperativa, fe aPossar da empresa para operi-Ia autogestioariamente. Esse tircito ce estende lngicamente aos meins de produgin deixados ociowse pelos do- nos. E esse dircito que fundamenta a expropriagao de terra nada oor pouco uilizada para ser entregue a trabalhadores turais sem tect, que queiram cultiva Ia, Assim come fundamenta a aptopriagao de tera urbana nao construida de edificios abandonados por parte de familias que nao tém nose ACIDADANIA PARA TOROS e direito, que ainda hoje esté longe de ser universalmente reconhe- cido, coloca, acima do direito de propriedade, a necessidade do homem de morar e de trabalhar e ganhar o seu sustento pelo trabalho honesto A GENERALIZACAO DOS DIREITOS SOCIAIS A instituigao do bem-estar como direito A Alemanha foi o palco da instituigao original de uma série de redes de seguro social, patrocinadas e eventualmente subsidiadas pelo Estado. Em 1875, os dois partidos operarios existentes no pais — 0 marxista ¢ 0 lassaliano — se unificaram e a partir dai comecaram uma longa ascensio eleitoral. Os sucessivos ganhos de cadeiras no Parlamento pelos socialistas atemorizaram 0 chanceler do Império, Otto von Bismarck, que resolveu tornat o partido ilegal em 1878 e, em seguida, quase como uma compensagao aos trabalha- dores, propor uma série de leis ao legislativo de protesio aos trabalhadores contra acidentes de trabalho, enfermidades ¢ velhice. Era, basicamente, uma vasta manobra estratégica para roubar a confianga dos trabalhadores na social-democracia e transferi-la a0 estado imperial alemao. Ainda antes dessas medidas, em 1871, uma lei instituiu 0 principio duma responsabilidade limitada dos industriais, em caso de culpa, nos acidentes de trabalho. Mesmo seus efeitos sendo limitados pela multiplicacio de processos inextricdveis, ela abriu uma brecha. Apenas em 1897 na Gri-Bretanha ¢ em 1898 na Franga, leis semelhantes vieram 4 luz.” Dez anos depois, 0 governo alemio mandou ao Parlamento projeto de lei que obrigava os patrdes a assegurar-se contra acidentes de trabalho de seus empregados numa Caixa imperial, a ser gerida ¢ subvencionada pelo Estado. O Parlamento aprovou 0 projeto menos 4 subvengao. Essa decisio preservou um dos principios do liberalismo, o de que o Estado nio deve sc imiscuir na economia em geral, nem na distribuigao da renda em particular. Em 1883, foi aprovada a lei do seguro-enfermidade, que 0 tornou obtigatério para os operarios de indtstria com rendimentos de até dois mil marcos por ano. Um tergo do prémio era pago pelos opera pelo cm cujos conselhos diretores dois tergos eram de representantes dos traba- ios e dois tergos s empregadores. O seguro era administrado por entidades auténomas, Ihadores ¢ um tergo de representantes dos industriais, sob a supervis 236 HISTORIA DA CIDADANT Estado. © sinistro pago em caso de doenga era proporcional ao ganho de cada trabalhador. Esta lei foi estendida em 1885 ¢ 1886 4 maiotia dos assalariados, inclusive os trabalhadores rurais Ey Uma let de seguro contra velhice ¢ invalidez, instituindo pela primeira | vex um sistema obrigatério de aposentadoria, foi aprovada em 1889. As contribuigdes as caixas de aposentadoria eram divididas por igual entre cmpregados ¢ empregadores. Em 1911, as ttés leis foram codificadas ee estendidas pelo Codigo de seguros sociais, © primeiro de seu género 't Hist6ria. Face ao mutualismo inglés da época, ligado 20 vicuo liberal em matétia de protegio social, o modelo alemio era 0 primeito a instituir sistemas de protegio obrigatérios, Ele tinha igualmente por fungio en- quadrar a populagio assalasiada, Mas, longe de extirpar a social democracia da classe operiria, ele iria ao contratio fornecer as bases de seu entaizamento,”* 2) deputados trabalhistas mais 14 representantes dos minciros ¢ uma duizia de #b-labs (deputados trabalhistas eleitos na chapa liberal) permitiu alcan- sat nos anos seguintes uma pletora de leis de bem-estar social. Em 1906, ainda foi aprovada lei que autorizava autoridades locais a fornecer meren. da aos escolares em distritos necessitados. No ano seguinte, foi aprovada lei instituindo exames médicos dos alunos nas escolas e, em 1908, outra lei regulava o emprego de alunos fora do horario de aulas, Essas leis visavam 4 proteger os escolares. Mas, ¥ Na Gra-Bretanha, a volta ao poder em 1906 dos liberais ea cleigao de i mais importante que tudo, pens6es por velhice sem contribuigdo (dos trabalha- . Exemplos notaveis incluem a Espanha de Franco, o Chile de Pinochet ¢ a Africa do Sul sob © apartheid. (...) sas pautas tém conseqiiéncias priticas. Por exemplo, multas impostas a petroleiros brasileiros por terem feito greve em 1995 foram cancel das depois que o Comité pediu av poverno brasileiro pa a intervir, Temos aqui uma agéncia intergovernamentual ligada a ONU que protagoniza lutas pela introducao e observancia de direitos sociais, A OIT tem mostrado empenho militante a favor dos trabalhadores, dos sindicatos ed vas, inclusive mediante estudos cientificos, embora incorpore representantes tanto de | Jas cooperati- seimindrios internacionais etc., patrdes quanto de empregados pat ais ga: err Fr pa a 6 so \CIDADANIA PARA TODOS Como sua missio é introduzir direitos sociais onde nao cstao vigorando, seus aliados naturais s4o os trabalhadores, 0 que deve ter produzido uma afinida- de cletiva entre o seu corpo técnico ea classe trabalhadora Além disso, a OIT também tem como parte interessada em sua missio o patronato dos paises mais adiantados, em que a conquista dos direitos soci ais mais avancou. Quando da criagio da OIT, em 1920, os paises que mais gastavam recursos piblicos com a prote,ao social em porcentagem do PIB eram Suécia (4,8%), Reino Unido (4,1%), Noruega (3,9%), Holanda (3,2%) e Franga (28%). Em 1935, a lista jA era mais longa, mesmo limitando-a aos paises que gastavam mais de 5%: Alemanha (10,4%), Suécia (7,9%), Franca (78%), Noruega (6,6%), Reino Unido (5,8%), Holanda (5.5%) € Bélgica (5,1%).87 Os dados mostram que a parcela do PIB gasta com seguridade social aumentou muito no periodo entre as guerras mundiais, 0 que elevou 0 prémio, para os paises pioneiros, da generalizacio dos direitos. Para paises como a Alemanha, Suécia e Franga, a importincia da generalizagio dos direitos sociais, promovida pela OIT para igualizar as capacidades nacionais de concorret nos mercados mundiais, era mais importante em 1935 do que em 1920 e se tornaria cada vez mais importante, 4 medida que os trabalha dores conquistassem mais direitos sociais nos paises mais adiantados. ‘A DECLARAGAO De FILADELFA — A Segunda Guerra Mundial, tanto quanto a Primeira, deu forte impulso a luta pelos ditcitos sociais, inclusive por ter sido antecedida pela Grande Depressiio. Somando o tempo de duragio desta ilti- ma com o da guerra, pode-se dizer que a classe trabalhadora, sobretudo européia, foi submetida a sofrimentos extremos por mais de uma década ¢ meia. Naturalmente, os anseios por mudangas e compensagdes s ram durante esse longo periodo e influenciaram o grande avango do estado de bem-estar nos trinta “anos dourados” que se seguiram a restauragio da pa: Um dos mais importantes programas de seguridade social foi elabora- do por um comité interministerial britinico presidido por William Beveridge em 1941 € 1942. acumula- A filosofia de base do Plano Beveridge era que o pleno emprego deveria ser o objetivo do Estado € que a populagio nao deveria mais sofrer indigéncia nem os “cinco génios matignos da historia: a enfermidade, a ignorincia, a dependéncia, a decadéncia ¢ a habitagio miseravel.” A ampliagio em relagio ao sistema de Bismarck se bascava em trés novos principius, denominadus os ués “U": 2 universalidade HISTORIA DS CIDAANIA (uma cobertura social que se estendia a0 conjunto da populagio € nao apenas aos Operirios), a unicidade (quer dizer que um s6 servigo administraria 0 conjunto) € a uniformidade (quer dizer, auxilios independentemente do nivel de renda). Além disso, ¢ isso € muito importante, o Estado-providéncia deveria ser financiado pelo imposto, controlado pelo Parlamento © administrado pelo Estado. O Plano Beveridge representava um rompimento completo com a tra- digo liberal de atender apenas a determinadas categorias de operarios, em geral os mais organizados, de montar para cada direito social novo um aparelho especifico para administra-lo ¢ de focar a assisténcia apenas nos necessitados, 0 que implicava burocracia, estigma e grandes gastos com atividades-meio, freqiientemente maiores do que com a atividade-fim. Desta maneira, ele procurava universalizar direitos sociais como direito de todo € qualquer cidadao, inclusive o diteito ao trabalho mediante a aplicaio do receituatio keynesiano de pleno emprego. Era uma novidade significativa que a responsabilidade pelo bem-estar social deveria ser inteiramente assu- mida pelo Estado, desobrigando instituigdes tradicionais como as obras religiosas ¢ a iniciativa privada, até mesmo a dos préprios interessados, Em muitos paises, os fundos mituos de pensao, aposentadoria e seguro contra doengas de categorias profissionais foram incorporados as redes oficiais, encarregadas de proporcionar esses beneficios a todos cidadaos © Plano Beveridge era, além disso, redistributivo (0 que revelava sua afinidade com o socialismo) a0 propor que 0 custo do estado de bem-estar fosse suportado pelos contribuintes ¢ no por pagamentos dos intetessados. Isso acabou sendo possibilitado pelo aumento cada vez maior dos impostos diretos, principalmente do imposto de rendo progressivo, que grava com mais intensidade a: rendas elevadas. Os ricos se beneficiaram pelo acesso a toda seguridade social, antes reservada aos pobtes, mas pagaram tributos maiores para que o Estado pudesse tinanciar a universalizagio da sepuridade social. Nav ha exagero em dizer que o Plano Beveridge inspirou a constru- so do moderno estado de bem estar em numerosos paises, tornande os direitos sociais verdadeiramente parte dos dircitos humuatos Ninda durante a Segunda Guerra, a OIT realizou importante conferén cia em 1944, quando foi adotada a “Declaracio de Filadé Constituigio da Organizacio. Ela reformula fia”, ancxada 3 08 fins © propésitos da Organizagio Internacional do ‘Trabalho e os principios que deveriam inspirar a politica de seus membros nac nos con nid rag cor ah ecc sac pre do pr AUIDADARIA PARA LODO 1, A Conferéncia reafirma os principios fundamentais em que se baseia a Organi- zacao e, em particular, que: (a) 0 trabalho nio é uma mercadoria; (b) as liberda des de expre: 10 ¢ de associagao sao essenciais ao progress sustentado; (c) pobreza cm qualquer lugar constitui um perigo 4 prosperidade em todos os lugares; (d) a guerra contra a caréncia tem de ser travada com inexorivel vigor dentro de cada nagio (...) Il. Na crenga de que a experiéncia demonstrou plenamente a veracidade da afirmagao da Constituicgio da Organizagio Internacional do Trabalho de que uma paz duradoura pode ser estabelecida apenas se ela estiver baseada na justica social, a Conferéncia afirma que: (a) todos os seres humanos, indepen dentes de raca, credo ou sexo, tém o dircito a perseguir tanto seu bem-estar material quanto seu desenvolvimento espiritual em condigées de liberdade e dignidade, de seguranga econdmica ¢ oportunidades iguais. A Declaragio de Filadélfia é outra manifestagao, talvez a primeira inter- nacional, que eleva os direitos sociais ao nivel dos demais direitos huma- nos, quando afirma que todos os seres humanos gozam do direito de viver com seguranca econémica ¢ oportunidades iguais. A igualdade de oportu- nidades é uma velha consigna liberal, que condena privilégios de origem, raga etc. Mas a seguranga econdmica é, em iltima analise, incompativel com a liberdade dos mercados de dividirem e redividirem constantemente a humanidade entre ganhadores e perdedores. Ao proclamar a seguranga econémica como um direito social de todos os seres humanos, a Declara- gio de Filadélfia proclama implicitamente que essa seguranga sé pode provir do Estado, de um estado de bem-estar que se amolda aos designios do Plano Beveridge (divulgado dois anos antes), priorizando o pleno em- prego ¢ instaurando um sistema de seguridade social, baseado nos trés “U”. E, de fato, a Declaragao afirma na parte III: ‘A Conferéneia reconhece a solene obrigacio da-Organizagio Internacional do Trabalho de promover entre as nagdes do mundo programas que deverao alean- car: (a) o pleno emprego ¢ a clevacao dos padrées de vida; (...) (f) a extensio das medidas de seguridade social para prover uma renda basica a todos que tenham necessidade de tal protegao € cuidado médico integral. B interessante notar que 0 proposto da parte III da Declaragio nio é “direito” no mesmo nivel do item “a” da parte II, mas sua promogio entre as nacoes constitui “solene obrigacio da OIT”. O encadeamento da parte II HISTORIA DA CIDADANIA com a IIT é que permite deduzir que a realizagio do diteito de cada um viver “em condigée de seguranga econdmica” exige o cumprimento das enumeradas na parte IIL Isso fica mais evidente com o item (f) extens solenes obrigagée: da parte IIL, que propde a 4o da seguridade social a ponto de prover uma renda basica a todos que dela precisam. Isso vai além da velha reivindicacio socialista de um dircito 20 trabalho, assegurado pelo Estado. Porque a renda basica nao exige contraprestayao para set concedida a todos que dela carecam. O que © item () proclama (implicitamente) é 0 direito universal de subsistin, sem condicionante, ou, como proclamam os atuais defensores da renda basica, € © diteito de cada cidadao de participar do consumo do produto social 7 por ser membro da comunidade nacional, As ttansgressGes da Declaragao de Filadélfia culminam com a afirmagio de que “o trabalho no é uma mercadoria”. Essa sentenca comporta varios sentidos. Um, estrito, que seria a negacio do trabalho assalariado, bandeira dus socialistas (inclusive de Karl Marx) desde © século XIX. Pois, havendo trabalho assalariado, a capacidade de trabalho é inevitavelmente alugada ou contratada pelo empregador, o que determina a existéncia de um mereado de trabalho, Para eliminar 0 trabalho assalariado nao cabe a coletivizagio dos meios de produgio, uma vez que esta, na verdade, generaliza o assalariamento Para que o trabalho deixe de set mercadoria, seria preciso que todos os trabalhadores tivessem acesso aos meios de pro dugio, de forma individual, de empreendimento familiar ou de algum tipo de associaca0 ou cooperativa, Dada a.evolugio do estado de bem-estar e das atividades da OIT, este certa, mente ndo era 0 sentido que os autores da afirmacio Ihe teriam atribuido. © outro sentido desse item da Declaragio de Filadélfia seria de que do Pagamento do trabalho depende o padrao de vida dos trabalhadores ¢ de seus dependentes, € por isso esse pagamento nio poderia cair abaixo de um miaimo; além disso, aio seria admissivel que as condigé: no mercado de trabalho fossem tais que boa parte dos trabalha encontrasse demanda efetiva por sua “ reinantes dores nao “mercadoria”, ficando, portanto, sem emprego. Neste sentido, 0 trabalho no seria uma mercadoria como as outras ¢ tampouco o mercado de trabalho seria um mercado como os outros. O que justificaria 0 continuo a perfeigoamento da legislagao do trabalho em defi do trabalhadar ¢ sua familia, assim como a aplicagio de politicas de pleno emprego. E é neste sentido que os direitos suciais evoluirao nos trinta anos seguintes a Declaracio de Filadélfia, nov. Plar lides mo, ante 15: fam con Hee 20: ous -° que cor elo qu: adi sej esc inc m ACIDADANIA PARA TOR|S, A culminagao dos direitos sociais nos trinta anos de onro As condigées politicas depois de 1945 cram favoraveis 4 concessiio de novos ¢ abrangentes diteitos sociais, de acordo com o desenho esbogado no Piano Beveridge ¢ ratificado na Declaracao de Filadélfia da OIT. O pais que lidetou, 4 época, essa transformagao foi o Reino Unido, onde, em 1945 mes mo, 0s trabalhistas ganharam com ampla maioria as eleigdes nacionais. Jé antes disso, o tempo de escolaridade obrigacéria foi estendido de cinco para 15 anos, 0 ensino secundirio foi reorganizado ¢ um sistema de subsidios familiares a partir do segunde filho foi adotado. tm 1946 foi criado o seguro contra acidentes e foi votado 0 projeto mais importante de todos, 0 National Health Service (Servigo Nacional de Saude), que garantia a todos, “do berco a0 tamulo”, assisténcia médica e hospitalar integral, financiada pelo erfrio.” O sistema inglés de saiide despertou admiragao no mundo inteito, pela ‘nacionalizat” e coletivizar toda uma vasta atividade econémica - os servicos de sa s dos enfermos que atruinavam a si e suas familias na ansia de obter tratamento. Era visto como a resposta do socialismo democratico as realizagées (a época muito elogiadas) do comunismo soviético. De fato, os médicos tiveram de se en- quadrar no servigo puiblico ¢ atender os pacientes de acordo. com critérios administrativos. Muitos se rebelaram contra a socializacio de sua pratica, seja porque sofreram perdas econdmicas, seja porque consideravam a livre escolha do médico pelo paciente um direito fundamental, além de condigio indispensavel para uma relagio de plena confianga entre médico ¢ paciente. Seja como for, o sistema de satide britanico setviu de modelo para muitos outros paises. “O modelo britinico foi adotado bem cedo pelos paises escandinavos (exceto a Suécia) e pela Itlanda. (...) © Canada foi o seguinte em 1970. Depois, ao redor dos anos 1980, foi a vez dos paises mediterrineos (Grécia, Itélia, Espanha e Portugal)”. Cettos direitos sociais também foram introduzidos por paises em desen- volvimento, cuja crescente industrializagio havia suscitado a formagao de um proletariado numeroso ¢ de um movimento operitio que em pouco tempo levantou a bandeira dos direitos sociais. O Brasil pode set conside- rado um bom exemplo. Salério minimo, sistema de previdéncia social para 0 trabalhadores urbanos regularmente assalariados ¢ diteito de organi so sindical ja estavam legalmente garantidos antes de 1945, mas durante a ditadura do Estado Novo (1937-1945) sua efetivagéo cra muito restrita Com a redemocratizacio, muitos desses direitos foram incluidos na Constituigao de 1946, inclusive o direito de greve. Mas logo em seguida os ousadia de tide — € eliminar de um golpe as tragédi HISTORIA DA CIDADANIA sal foi o fortalecimento do movimento operatio, inclusive dos movimentos de géneto ¢ raga, representando segmentos sociais discriminados. A vitoria do keynesianismo no plano ideol6gico legitimou por exten- Sao o estado redistribuidor delineado no Plano Beveridge, o que se tradi zlu no plano politico em menos resisténcia a elevagao do imposto de renda Progressivo, 20 aumento do auxilio aos desempregados, das subvengoes as familias numerosas e de forma geral aos necessitados, O resultado foi « reducio persissente da porcentagem da populacao pobre, o que se tornou visivel pelo desaparecimento dos pedintes das ruas das cidades. Provavel. mente pela primeira vez na histéria, em um ntimero ponderivel de paises quase ninguém dependia mais da caridade privada para sobreviver, O RETROCESSO DOS DIREITOS SOCIAIS Como € sabido, a partir dos anos 1980, a ortodoxia econdmica ¢ a ideologia dominante no mundo capitalista mudaram. O keynesianismo foi sendo cada vez mais tejeitado pelas classes dominantes e substituido pelo neoliberalismo, um liberalismo ressuscitado que inesperadamente retornon depois de permanecer dormente por quase meio século. Com a eleigio de Margareth Tatcher, em 1979, na Gri-Bretanha, e logo a seguis, em 1980, de Ronald Reagan, nos Estados Unidos, a nova ortodoxia, na época chamada de menetarismo, passou a ser aplicada sob a forma de politicas econdmi_ cas que reconheciam como objetivo nico combater a inflagio mediante cquilibrio orgamentitio politicas monetarias estritas. Posteriormente, go- vernos da majoria dos outros paises fizeram o mesmo. © ncoliberalismo é umbilicalmente contrario ao estado de bem-estar, Porque seus valores individualistas so incompativeis com a propria nocao de direitos sociais, ou seja, direitos que no sio do homem como cidadio, mas de categorias sociais, e que se destinam a desfazer o veredicto doz mercados, amparando os perdedores com recursos publicos, captados em Brande medida por impostos que gravam os ganhadotes. Este antagonismo pode ser visualizado melhor comparando o Keynesianismo ¢ 0 monetarismo no que se refere a0 desemprego. Keynes se esforcou para mostrar que grande parte dos desempregados o é involuntariamente, sobretudo em época de crise ou depre 0, estando disposta a trabalhar pelo salatio vigente ¢ até mesmo pot menos. Conse. aBentemente o desemprego é uma chaga social que deve ser evitada por po for mc sei ria qu ACIDADANIA PARA TODOS politicas que estimulam o crescimento e, portanto, elevam a demanda por forca de trabalho por parte das empresas. Milton Friedman, 0 tedrico do monetarismo, procurou refutar Keynes, tentando demonstrat que todo de- sempregado 0 € voluntariamente, porque a utilidade do salitio, que pode- ria obter no mercado, seria inferior a d sutilidade, ou seja, a0 sactificio a que se submeteria realizando o trabalho exigido em troca do salirio Para iedmaa, aplicam-se 20 mercado de trabalho as mesinas regras dos demais mercados (em oposigav, portanto, ao dito na Declaragio de Filadélfia da OFT). Em qualquer mercado ha mercadorias ofertadas que nio encontram compradores ¢ isso se daria porque o prego que estes querem € podem pagar é menor do que os vendedores quetem ou precisam receber. Neste caso, tanto vendedores quanto compradores saem frustrados, mas isso € inevitavel e qualquer interferéncia governamental no sentido de mu- dar 0 comportamento de compradores ¢/ou vendedores viola o direito de scolha de ambos. B isso se aplica ao mercado de trabalho, de modo que a manutencio do pleno emprego nao cabe a politica econémica do Estado, mas ao livre funcionamento dos mecanismos de mercado. Por esse racioci- nio, por maior que seja o montante de desempregados, a economia sempre se encontra em pleno emprego, ou seja, emprego e desemprego resultam do livre encontro de vontades dos agentes de mercado. Na era do neoliberalismo, as politicas econémicas reprimiram eficaz- mente as pressdes inflacioudrias ¢ os niveis de pregos subiram de forma apenas insignificante; em compensa¢: € 0 desemprego aumentou sistematicamente até atingir niveis comparaveis aos vigentes durante a Grande Depressio dos anos 30. Os fluxos de merca- dorias e de capitais foram liberados, o que permitiu ao capital multinacional transferir paulatinamente suas linhas de produgao a paises em que a ausén- cia ou inobservancia dos direitos sociais tornava 0 custo da mao-de-obra muito menor do que nos paises em que os direitos sociais tém vigéncia. O fracasso da OIT em generalizat completamente os direitos sociais foi devi damente aproveitado pelas firmas multinacionais para aumentar seus lucros € demitir, nos paises industrializados, 0 operatiado semiqualificado, que havia sido a espinha dorsal dos movimentos reivindicatérios. O movimento operario sentiu duramente 0 golpe ¢ tentou reagit, exi- gindo a volta das politicas keynesianas, mas o seu proprio enfraquecimen 0, o crescimento econdmico desacelerou “ays SERN iat NE to pelo desemprego contribuiu para que suas demandas nao fossem aten- didas. A hegemonia do pensamento neoliberal nos meios de comunicagio de massa permitiu “martelar” na opinido publica que déficit orgamentirio ¢ HISTORIA DA CIDADANIA juros baixos levam sempre a mais inflacio, Os governos de esquerda que, nao obstante, tentaram praticar politicas keynesianas se viram rapidamente 8 voltas com crises financeiras, causadas por reiteradas fugas de capitais Eles poderiam ter enfrentado 0 desafio voltando a controlar a movimenta. sao internacional dos capitais, mas aparentemente nio tiveram a coragem de afrontar a nova ortodoxia a este ponto, © predominio do neoliberalismo durante os anos 80 ¢ 90 nao conse. Buiu climinar os direitos sociais ja conquistados, mas impediu que novos fossem obtidos. A tabela de Bairoch” da para os paises adiantados o ano em que © gasto social em relacéo ao PIB atingiu o apogeu, sendo que a série de tempo dos dados vai até 1993. Para um pais (Alemanha), o ano de auge foi 1982, para outro (Belgica) foi 1986, para cinco paises foi 1992 e para os 13 restantes foi 1993. Isso significa que o gasto social/PIB continua em crescimento pata quase dois tergos da amostra dos vinte paises e que apenas em dois paises 0 pico ocorreu hé varios anos, iniciando uma ten- déncia de queda dessa relagao desde entdo. Na Alemanha, 0 gasto social/ PIB chegou a 26,2% em 1982, caiu para 23,8% em 1990 e subiu para 24,7% em_1993. Na Bélgica, essa relagio chegou a 28,5% em 1986, caiu para 26,7% em 1990 e subiu para 27,7% em 1993, Os dados da tabela de Baitoch mostram que, pelo menos até 1993, 0 gasto social em relacio a0 PIB tende a estabilizar-se em sete dos paises analisados e continua a aumentar nos 13 restantes, Esses dados em parte se explicam pelo grande aumento do desemprego, em todos esses paises, que deve ter ampliado significativamente o gasto com auxilio aos dos. desemprega- im muitos desses paises, a onda de desemprego tem sido enfrentada mediante a aposentadoria precoce de trabalhadotes idosos, ameagados de ficar desempregados, 0 que também deve ter aumentado o gasto previdenciario. Se os dados globais insinuam que o estado de bem-estar segue incélume, dados desagregados indicam 0 contratio Nos EUA, entre 1977 € 1990, a renda dos 20% mais pobres diminuiu 3%, enquanto a dos 20% mais ricos aumentou 9%. Em 1960, 0 rendimento liquido (ap6s os impostos) dos dirigentes de empresas era 12 vezes o dos operarios, ¢, em 1988, a mesma relagio havia pulado para setenta vezes Na Gra-Bretanha, entre 1979 ¢ 1992, os 20% mais ricos aumentaram sua Patticipagao na renda nacional de 35% para 43%, ao passo que a participa- a0 dos 60% mais pobres caiu de 42% para 34%. Nesses 13 anos, a renda média dos 10% mais pobres caiu 17%, ao passo que a dos 10% mais ricos aumentou 62%; a renda média de toda populacio aumentou 36%, O nie me em 19" de ma 62 ACIDADANHA PAIL TONES mero de britanicos abaixo da linha da pobre em 1979 para 13,9 milhdes em 1992." Na Franga, 0 niimero de desempregados passou de meio milhio em 1974 a. um milhao em 1977, a dois milhdes em 1982 ¢ a trés milhdes a partir de 1992, Devido as apusentadorias precoces, apenas 42% das pessoas com mais de cingiienta anos trabalham, em comparagio com 52% na Alemanha, 62% no Reino Unido ¢ 63% nos EUA. Dado o prolongamento da esperanga de vida, as aposentadorias precoces desequilibraram profundamente o siste- ma previdenciirio. Entre 1980 ¢ 1994, 0 aimero de trabalhadores em tempo parcial dobrou, passando de 1,6 milhao a 3,2 milhées, concentrados nas ocupagdes menos qualificadas — € 80% deles sio mulheres. As contratagoe de trabalho temporario, provisdrio, em tempo parcial e de empregos subven- cionados representam mais de dois tercos do toral das contratagoes anuais. passou de cinco milhoes Esta deterioracao da situagio de emprego contribui no aprofundamento das dife- rengas sociais. Como efeito das reformas destinadas a conter o déficit, a ajuda ao desemprego esté cindida entre seguro e assisténcia, penalizando os assalatiados que trabalharam em periodos mais curtos e os que oscilaram entre trabalho e desemprego. (...) No fim de 1993, 40% dos que procuravam emprego niio recebi- am qualquer auxilio de desemprego, dos quais 489 mil jovens que nao podiam pretender qualquer subvengio se nao tivessem criangas a seu cargo.* Dados como estes podem ser encontrados em todos 08 paises atingidos ) pelas politicas neoliberais (inclusive o Brasil). O desemprego em massa somado as formas precarizadas de trabalho contratado reduziu drastica~ mente a cobertura dos direitos sociais, desenhados muitas vezes para bene- ficiar assalariados regularmente contratados, ¢ que constituiam nos paises | do Primeiro Mundo, durante os “anos dourados”, quatro quintos ou mais dos ocupados. O que explica a forte sensagao de que o estado de bem- estar se encontra em profunda crise, embora o gasto social continue sendo uaa porcentagem alta e crescente do PIB: Em muitos paises, os direitos socia’s perderam apoio na opiniio pabli- ca por causa do peso dos impostos, atribuido a necessidade de financiar o gasto social. As criticas populares se dirigem muitas vezes contra o auxilio ao desemprego, pois muita gente conhece historias de falsos desemprega- dos, que auferem 0 auxilio ¢ trabalham clandestinamente, além de outros que querem permanecer na inatividade para viver com a dinheiro publico Como os dados citados demonstram, cresce 0 ntiimero de pobres e aumen- ta sua pobreza em relagio aos ganhos de toda a populacao. Nesta situa- HiSTORLY DA CIDADANIA $0, cresce a criminalidade ¢ a violéncia ctiminosa, 0 que aprofunda o | fosso social entre os bolsdes de pobre que sio muitas vezes fortins do crime organizado, e os que dispéem de trabalho regular bem remunerado O ASSOCI ATIVISMO E A ECONOMIA SOLIDARIA Diante do fracasso das tentativas de recuperar 0 “direito ao trabalho” mediante politicas de pleno emprego ¢ em preservar a universalidade dos direitos trabalhistas, verificou-se verdadeito florescimento de organizagdes comunitarias ¢ iniciativas autogestionatias como reacio 4 marginalizacio econémica € ao empobrecimento de amplos setores sociais. $40 bairros ¢ localidades que perderam grande parte ou a totalidade de suas atividades econdmicas ¢ que criam associagées de variada natureza para atender 3s necessidades da populagao ¢ reinserit parte dela na atividade produtiva Nos EUA ha mais de duas mil organizagées de desenvolvimento econmi. co comunititio, sendo dezenas de milhares na Gri-Bretanha, das quais mais de 1.500 sé para o transporte comunitario.> Associagées susgiram principalmente na Europa e América do Norte em resposta as criticas 4 burocratizagio dos servicos puiblicos. Para tanto, as novas iniciativas associativas tomam em geral a forma de coopetativas, tendo em vista a tradigio de participagio democritica do cooperativismo, No caso das creches, 0s pais passam a ter papel ativo na organizagao de novas e em sua gesto. Na Franga, por exemplo, surgiu a Associacio de Coletivos de Criancas- Pais-Profissionais. Em 1996, havia no pais 710 creches de pais, com capacida de para 11,294 criangas. Na Suécia, em 1994, havia 1.768 creches cooperativas, das quais 1.020 eram cooperativas de pais e 117 cooperativas de trabalhadores Na Alemanha, seis organizacdes gerais agrupam oitenta mil » com mais de um milhao de assalariados perm ssociagdes anentes € um milhio ¢ meio de substitutos. As associagées de ajuda munua se dividem ei grupos semi informais; grupos de auto-ajuda, forma blema; ¢ grupos de defesa de cau los por pessoas com o mesmo pro as de populagdes de que nao partici- pam. De cinco a dez mil associagdes prestam setvigos de sade e surgitam por causa da insatisfagio com os rvigos plblicos. A sua base é de volea- tarios, sendo 0 emprego de trabalho assalariado apenas complementat, Na Italia, nos anos de 1970, urgiram algumas dezenas de cooperativas sociais, que trabalham com excluidos do mercado de trabalho e prestam servicos pessoais. Em 1996, eram cerca de trés mil com aproximadamente cem mil associados, dos quais 75 mil assalatiados ¢ nove mil voluntatios, que pres tar do ef cic int Ur ce to nc fo ric to A EIDADANIA PAR TODOS tam servicos a centenas de milhares, Tanto trabalhadores como usuarios dos servigos participam das decisdes nessas cooperativas. As novas associagées na Italia, Suécia, Reino Unido, Alemanha, Franca € Bélgica se difcrenciam pela integragio dos consumidores dos servigos como cidadaos ¢ como membros de uma comunidade ¢ de uma familia no meio informal. Em 1990, associagdes sem fins lucrativos na Alemanha, Estados Unidos, Franca, Itélia, Japio, Gri-Bretanha, Suécia ¢ Hungtia empregavam cerca de 12 milhdes de pessoas, o que representava entio 5% do emprego total ou 3,4%, em termos de equivaléncia a tempo integral. Nos anos 80, nos Estados Unidos ¢ Alemanha, nada menos que 13% dos novos empregos foram criados nas associages sem fins de lucro. Nestas, 0 trabalho volunta- tio equivale a 4,7 milhoes de empregos em tempo integral. O orcamento total das associagdes, nestes oito paises, equivalia a 3,5% do PIB." No Brasil, a economia solidéria faz sua primeira aparigio na década de 80, com os PACs (Projetos Comunitérios Alternatives), patrocinados pela Cétitas, da Igreja Catdlica, com recursos doados por entidades andlogas da Europa Os PACs se destinavam a permitir que a populagdo pobre e marginalizada superasse sua condicao mediante seu prdprio esforco coletivo. O lema da Caritas era “a solidatiedade que liberta”. Milhares de PACs se espalhavam spor todo territstio nacional, sendo a metade cooperativas. Ainda nesta dé da, surgiu 0 MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terza), que Passou a ocupar terras de latifiindlios produtivos, visando sua desapropriagio Bipara fins de reforma agraria, O MST logrou conquistar varios assentamentos de reforma agratia, onde milhares de familias, de posse da terra, comegaram “a cultivé-la. Em 1989, encontro nacional do MST decidiu adotar o Mas foi com a abertura, no inicio dos anos 90, da economia a entrada de f, -mercadorias e capitais do exterior, que a crise social se aprofundou. A partir dai, 0 desemptego nao parou de crescer, até atingir cerca de 15% em 2000; a : Ptecarizacio das relacdes de trabalho se difundiu, com a multiplicagio de acténomos por firmas, ¢ da economia informal. Essas condigdcs ensejaram um « tapido aumento de iniciativas de economia solidaria: firmas que entraram em crise ou faliram foram transferidas a cooperativas autogestionarias de seus tra- balhadores que passaram a'geri-las, gracas aos esforgos da Anteag (Associagio Nacional dos Trabalhadores em Empresas Autogestionarias) ¢ da Unisol Coo- Perativas (Unido ¢ Solidariedade das Cooperativas do Estado de Sio Paulo). A partir do maior movimento de massas da histéria do Brasil, a Agio da . Cidadania contra a Fome ea Miséria de 1992, surgiram outras iniciativas de HISTORIA DA CIDAANIA fomento da economia solid jétia, como as Incubadoras Universitarias de Cooperativas Populares. A principal central sindical do pais ctiou a Agéncia de Desenvolvimento Solidario; a Fundagao Unitrabalho, que retine 85 uni- versidades brasileiras, tem desde 1998 um programa de pesquisa e incuba- Gio de cooperativas; foi criada uma articulagio nacional das cooperativas de recicladores de lixo, em sua ma ria membros da populagio de rua, que sobrevive com o que consegue garimpar do lixo das cidades. H4 uma grande profusao de entidades ativamente empenhadas em fomentar a eco- nomia solidéria, que esta crescendo intensamente. No Brasil, a economia solidaria difere algo da européia € norte-ameri- cana, 4 medida que se concentra na getagao de trabalho ¢ renda sob a forma de empreendimentos autogestionarios. O desenvolvimento de coo- perativas de servigos “relacionais” ~ nas areas de educagao, satide ¢ reinsetcio no mercado de trabalho, entre outras ~ é ainda incipiente, em- bora tenha grande potencial de desenvolvimento. A tuta pelos direitos sociais esté longe de encerrada, mas mudou de 0. Até o fim dos “anos dourados”, os direitos sociais estavam consig- nados na legislagio ¢ sua observancia estava a cargo do Estado, assim como a prestagao de servigos que deles decortiam, como a assisténcia & satide, a educagao e a previdéncia social. Agora é a propria sociedade civil que se torna a protagonista da solucio dos problemas que os dircitos sociais pretendiam prevenit. Associagdes € cooperativas organizam solidari- amente os socialmente excluidos com 0 apoio de uma rede cada vez mais ampla de agéncias de fomento. Assim, parte dos desempregados ¢ dos “inempregaveis” se r dire: insere na economia por sua propria iniciativa, A crise dos direitos sociais demonstra que a vigéncia deies depende do pleno emprego ¢ do crescimento da economia, portanto das receita financiam o gasto social. Com desemprego em massa € economia deprimida, parcela crescente das classes trabalhadoras é privada do gozo de varios direitos sociais e 0 gozo de outtos tende a encolher por causa dos cortes nos beneficios. O surto de economia solidiria, que se observa nos mais diferentes paises, por enquanto esta longe de atender a todas as vitimas da crise do trabalho ou mesmo sua maioria, pois exige mudanga de mentalidade, algo que leva tempo. Enquanto milhares sao assim reinseridos, dezenas de milhares sio expelidos da economia € outros tantos ficam a cspera de uma oportunidade diante da de manda insuficiente por forga de trabalho. Por \udo isso, a luta por diteitos sociais se resume hoje 4 luta pela retomada do crescimento, que equivale 4 luta contra a hegemonia neoliberal, imposta pelo capital financeiro a toda a sociedade, s fiscais que ABD p22 200 AG Ne Ha wi M pr f ACIDADANIA PARA TODOS A Monica Rique, pelo inestimével auxilio na pesquisa para este artigo, NOTAS (1) Jobo A. Garey. Unemployment in birtory: economic thenght and public policy, p. 32. Nova York Harper, 1978 (@) Garrayy (0p. cit), p. 32 € 33. @) Garray (op. cit) ps 33 6 3 ( Garraty (op. cit), p. 35 € 36 ©) Thomas Mun (1571-1641), comerclante inglés, foi um dos expoentes tedricos do. Mezcantilismo; William Petty (1623-1687), médico inglés, ctiou viries conceitos relevantes para a cigneia eeondmics, como o de pleno emprego: John Locke (1632-1704, flssofo ingles, é fundador to empitisme, que sugere (6) Gaveny (op et), ps 2 () Greens (op. cit), ps 47 © 48, @:G. D. Cole, Raymond Posgae, The common people 1746-1946, p. 17 Londes: Methuen, 1956 (0) Cote Postgte (op. cit), pe 173 © 177 (00) © movimenio pretend ser digido por um certo Ned Luda, eujo esritétio esata aa Floresta de Sherwood { mesma de Robin Hood). Nio se sabe se ssa pessoa fealmente exis, mas sem dvida (al) Cole e Postgate (op. cit, p. 184 € 185 (42) Cole © Postgate (op. cit), ps 185 2 189 (13) Wolfgang Abendsoth. A vbort history of the European Working Class. p. M1 e 12. Nova York Modern Reader 1972 (data da publicagio original: 1965). ($4) “Dar registtos que sobreviveram (deduz-se quel © movimento dos wilktas patece ter agitado profundamente os Heme Covatig © Sudosste, a maior parte de Ear! Anglia €-a maior parte dos Midlands, Yorkshire « Durham ¢ Northumberlond A Eset, 0 Pls de Gales, 0s condados a geste dos Pennings e 4 Irlanda foram pouco afetador: as colbnias amercanas Garam realmente cxcades” (Cole e Postgat, 1956, p. 104) HAS) Cole ¢ Postgate (op. eit, p 108, f(a) Cole © Posgate (op ct), 104 a 109 (17) Howard Zinn. A people's history of the United States 1492-present. . 72. Nova York: Harper Pecenial, 1995, 58) Zinn (op. ct), po 73 1 (19) judieh Hote, Ellen Levine, The frst feminists. In: Radice! Feminism. p. 4 € 5. Nova York *Quadrangle/The New York Times Book Co., 1973, Ree a0) Zinn (or. cit, p. 7, @1) Zinn (op. cit) (22) Allen Nevins, Henry Steele Commager. The Pecket Hise of the United States 109 € 110 Nova York: Pocket Books, 1942 (23) A primogeniturs tornava o primogénito herdcro dnico do patciménio familar € vinewlo dt inalcnabilidade impedia que as tceras fossem vendidas (24) Nevins e Commager (op. cit), p. 109 2 112, 5) Zinn (op. cit). p83. @26) Nevins ¢ Commager (op. cit), p. 124 2 126 @2) Zinn (op. cit). p- 187, 193 © 194 28) Nevins e Commager (op. cit) p. 185 ¢ 188 (29) Zinn (op. cit), pe 223 (80) Zinn (op. eit), p. 223 262 HISTORIA DACIDADAIA (31) Pedeo Kropotkine, A grande rerolasae. Vol. 1, p. 25. Lisbou: Guimaties ¢ Cia. Edltores, 1913 {(Publicada originalmente em 1949). (52) Jean Tolaed. Histiia da Revolurdo Francesa 1789-1799, p. 35, Rio de Jancieo: Par e Tetta, 1990 4 (publicado oFiginalmente em 1987) G3) Kropotkine (op. cit), vol. 1, p. 27 € 28, G4) Bric J. Hobsbawm. The age of revolution 1789-1848. p. 79 e 80. Nova York: Mentor Book, 1962. 35) Kropotkine (op. cit), vol 2, p. 175 G6) Hobsbawm (op. cit), p. 84 G7) Kropotkine (op. cit), vol. 1, p. 121 € 122. G8) Hobsbawm (op. cit). p. 86 © 87 G9) GD. H, Cole, Essays in social theory, The rights of man, p. 145 € 146, Londres: Oldbourae, 1950 (40) Robere Castel. As metemorfores da quesiia social: uma trbnica de sulirie. p. 243. Perépois: Vozes, 1998 (publicado originalmente em 1995) 4 (1) Castel (op. eit), p. 247 e 248, (42) Castel (op. cit), p. 248 e 249, ($3) Cole (op. cit), p. 146 « 147, (4) Talaed (op. cit), p. 108 (43) Kropotkine (op. cit), vol. 1, p. 244 a 246 (46) Tulard (op. cit), p. 145 6 146 (47) Kropotkine (op. cit), p. 100 (48) Kenpotkine (op. cit), p. 158 a 161 49) Castel (op. cit), p. 251 (60) Castel (op. cit), p. 253. (51) Hobsbawa (op, cit), p. 91 (62) Habsbawn (op. cit), p. 92 € 93. (3) Zinn (op. cit}, p. 69 4) Cole e Postgate (op. cit), p. 115 (85) Cole e Postpate (op. cit), p. 114 66) Cole € Postgate (op. cit), p. 194 & 195, G1) Castel (op. cit), p. 247 ($8) Cole ¢ Postgate (op. cit), p. 291 a 233 9) Nevins e Commager (op. cit), p. 186 ¢ 305 X60) Castel (op. cit), p. 354 (61) Abendeoth (op. cit), p. 43 4 46 (62) Cole ¢ Postgate (op. it), p. 234 2 235 (63) Cole e Posigate (op. city, p. 242. (64) Cole e Postgate (op. cic), p. 254 (63) Cole € Postgate (op. cit), p. 265. (66) Castel (op. cit), p. 347 (62) Duveau (op. cit), p. 67 (68) Castel (op. cit), p. 351 (69) Abendroth (op. it), p. 28 a 3). (70) Abendeoth (op. cit). p. 33 € 34 (71) cieado em Abendroth (op. cit), ps 34 (72) Eingels (op. cit), p. 453, (73) Rosanvalion (op. cit), p. 149 (74) Rosaavallon (op. cit), p. 150 (25) Cole © Postgate (op. cit), p. 462 (76) Cole « Postgate (op. cit), p. 462 (77) Rosanvallon (op. cit), p. 146 (8) Castel (0p. cit), p. 365 © 366. (9) Bairoch (op. cit), p. 483. (80) Baitoch (op. cit), p. 493 ACIDADANIAPARA TODOS (81) Baicoch (op, cit), p. 483. (82) Baicoch (op. cit), p. 476. (83) Nevins © Commager (op. cit), p. 477 © 478, (84) © gasto piblico social como percentagem do PIB, aos EUA, passau de 0,6% em 1929 a 4,3% em 1935, (Bairoch, op. cit, p. 483) (85) Nevins © Commager (op. cit), p. 475. (86) site www.ilosorg. (87) Baicoch (op. cic), p. 483. (88) Baicoch (op. cie), p. 498. (89) Baicock (op. cis), pe 498. (90) Baicoch (op. cit), p. 501. (91) Bairoch (op. cit), p. 502 © 503. (02) Beicach (op. cit.), p. $02 © 503. (93) Roustang © outros, 1996, p. 24 Box intitulada “O trabalho, uma mercadoria como qualquer outra?”. (04) Roustang © outros, 1996, p. 28-29). (95) Roustang (op. cit), p. 96. (96) Laville (op. cit), p. 94 4 99. BIBLIOGRAFIA ABENDROTH, Wolfgang. A short history of the European working class. Nova York: Modern Reader, 1972 (data da publicagio original: 1965) BAIROCH, Paul. Victoires ef déboires III. 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