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II - Noções básicas de teoria dos


conjuntos
A teoria dos conjuntos é hoje, pode-se dizer, mais do que
uma teoria, ela é uma disciplina da matemática, assim como a
geometria ou a análise. Existem várias teorias e sistemas
diferentes. Trabalha-se, atualmente, com sistemas axiomati-
zados, os quais se distinguem da antiga teoria dos conjuntos,
hoje denominada, não sem menosprezo, teoria ingênua dos
conjuntos. As teorias axiomatizadas mais famosas são: os
sistemas de Zermelo-Fränkel, de Neumann-Bernays-Gödel,
de Kelley-Morse e o New Foundations de Quine. Será forne-
cida, agora, apenas uma apresentação de certas noções
básicas, posto que a familiaridade com estas é importante
para a melhor compreensão de alguns temas da lógica que
serão tratados em breve.
Se a teoria dos conjuntos pertence à lógica ou não, isto é
uma questão controversa. Segundo Quine, a teoria dos
conjuntos não pertence à lógica, pois não possui a clareza e
o nível de certeza dela. Para Gödel (1971 e 1975): “Lógica é
a teoria dos puros conceitos, ela inclui a teoria de conjuntos
como parte própria”.
Mesmo grandes matemáticos como Dedekind e Cantor
foram incapazes de oferecer uma boa definição do termo
“conjunto” ou “classe”. De maneira quase simplória, pode-
se dizer que um conjunto é um agrupamento de coisas
chamadas elementos. Hoje, em geral, se toma o termo
“conjunto” bem como “classe” como primitivo (ou seja, não
definível). Conjunto e classe são, dependendo do sistema
adotado, conceitos diferentes1, mas a sua diferença não
importa neste primeiro momento. Também são conside-
rados indefiníveis o termo “elemento” e o conceito de
pertinência de um elemento em relação a um conjunto.
Alguns exemplos de conjuntos são:
1Em geral, p.ex. no sistema de Kelley-Morse, a diferença consiste nisso:
conjuntos podem ser elementos de outros conjuntos ou classes,
enquanto classes não podem.
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A - conjunto das vogais: {a, e, i, o, u}


B - conjunto das consoantes: {b, c, d, f, g, ...z}
C - conjunto das letras: {a, b, c, d, e, ..., z}
D - conjunto dos números naturais: {0, 1, 2, 3, ...}
E - conjunto dos estados brasileiros: {CE, SP, RJ, SC,...}
F - conjunto de times de futebol: {Ceará, Cruzeiro,
Palmeiras, Avaí, Flamengo, Fortaleza}

Há vários tipos de conjuntos e vários tipos de elementos.


Alguns elementos podem ser conjuntos também, como é o
caso dos elementos do conjunto F. Quando todos os
elementos de um conjunto são conjuntos ele é chamado de
conjunto puro. Quando nenhum dos elementos de um
conjunto é conjunto, ele será chamado de conjunto simples. De
uma forma ou de outra, a relação entre o elemento e seu
conjunto é sempre a mesma: a relação de pertinência.

1. A relação ∈ (pertinência)
A letra “a” é um elemento do conjunto A. Esta relação
entre um elemento e o conjunto ao qual ele pertence é
expressa pelo símbolo “∈”. São expressões verdadeiras,
portanto:

a ∈ A (lê-se “a é elemento de A” ou “a pertence a A”)


1∈D
CE ∈ E

Falsas são as expressões:

a∈D
1∈B

Segundo o chamado princípio de identidade extensional, dois


conjuntos que incluem exatamente os mesmos elementos
são idênticos. A ordem dos elementos de um conjunto é
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irrelevante, ou seja, o conjunto {a, e, i, o, u} é idêntico ao


conjunto {u, o, i, e, a}. A negação da relação de pertencer a
um conjunto é representada pelo símbolo “∉”. São,
portanto, verdadeiras as expressões:

a∉D (lê-se “a não é elemento de D” ou “a não


pertence a D”)
1∉B
CE ∉ D

O símbolo “∈” foi tomado da primeira letra da palavra


grega “εστιν”, que significa ser. Nisto se reflete a convicção
defendida pela tradição desde Aristóteles de que conjuntos e
predicados têm uma íntima relação, mais exatamente, de que
cada predicado define um determinado conjunto. O
predicado “vermelho”, por exemplo, determina o conjunto
de todos os objetos vermelhos, o predicado “moreno” o
conjunto de todas pessoas morenas, e assim por diante. Por
isso, a relação de elemento e conjunto foi interpretada
classicamente como uma simples estrutura predicativa “S é
um P”:

a∈A “a é uma vogal”


1∈D “1 é um número natural”
CE ∈ E “CE é um estado do Brasil”

Por isso, além da possibilidade extensional de se repre-


sentar um conjunto enumerando os seus elementos entre as
chaves, como nos exemplos acima, pode-se representá-lo
intensionalmente por meio de uma variável (quantificada
universalmente) seguida de um traço vertical e depois pelo
predicado que determina a classe:

A: { x  x é uma vogal}
B: { x  x é uma consoante}
C: { x  x é uma letra}
D: { x  x é um número natural}
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E: { x  x é um estado brasileiro}

O princípio de que todo predicado define um conjunto é


chamado hoje de princípio ingênuo de compreensão e é
considerado incorreto. A sua aceitação incondicional foi
responsável pelo surgimento da antinomia descoberta por
Bertrand Russell (1872-1970). Além disso, nem todo
conjunto precisa ter um predicado determinante corres-
pondente:

F: {este bule de chá, 3, Sócrates}

Muitos conjuntos diferem quanto ao número de


elementos. Nos nossos exemplos acima: O conjunto B é
maior que o conjunto A, o conjunto C maior que o B, e o
conjunto D maior que o conjunto E (e que A, B e C). Os
conjuntos A, B, C, E, são finitos - eles têm um número
finito de elementos - e o conjunto D é infinito - ele tem um
número infinito de elementos. Dois conjuntos têm a mesma
cardinalidade quando eles têm o mesmo número de elemen-
tos. Assim, o conjunto dos jogadores de futebol da seleção
brasileira em campo no início do jogo final da copa de 2002
e o conjunto dos jogadores de futebol da seleção alemã em
campo no início deste jogo são equinuméricos - eles têm a
mesma cardinalidade: ambos têm 11 elementos.

2. A relação ⊂ (continência)
Os conjuntos podem estar em diferentes relações entre si.
Um conjunto X contém um outro conjunto Y quando todos
os elementos de Y são também elementos de X. Neste caso,
o conjunto Y é um subconjunto de X, isto é, Y está contido
em X. Esta relação entre conjuntos é expressa da seguinte
maneira:

Y⊂X
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Representaremos o fato de um conjunto qualquer Z não


estar contido em um conjunto qualquer X assim:

Z⊄X

Para representar os conjuntos e suas relações costumam


ser usadas figuras chamadas de “diagramas de Venn”. O seu
modo de interpretação é evidente por si só.

X
Y
a b c d e f g h i j

Deve-se observar três fatos importantes: (1) X=Y se e


somente se Y ⊂ X e ao mesmo tempo X ⊂ Y (devido ao
princípio de identidade extensional). (2) Todo conjunto é um
subconjunto de si mesmo. Para entender isto, basta
considerar que, como para todo X, vale que X=X, devido a
(1), X ⊂ X. Argumentando de outra maneira: um conjunto
X não é subconjunto de Y se e somente se X contém um
elemento que não pertence a Y. Como todo elemento de X
pertence a X, todo conjunto é subconjunto de si mesmo. (3)
O conjunto vazio (símbolo: ∅, definição segue abaixo) é
subconjunto de todos os conjuntos. Este fato pode ser
demonstrado pelo seguinte raciocínio: suponhamos que ∅ ⊄
X, para algum conjunto X. Neste caso, ∅ possui algum
elemento que não é elemento de X. Mas isso é uma
contradição, já que ∅ não possui elemento algum, logo ∅ ⊂
X, para todo X (inclusive no próprio ∅).
Dois conjuntos são ditos disjuntos quando eles não têm
nenhum elemento em comum.
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X Y
a e i o u b c d f g h

Dois conjuntos são ditos não-disjuntos quando eles têm


pelo menos um elemento em comum:

X Y
a b cd e f g h i j

3. Conjuntos especiais
3.1 Conjuntos unitários: são os conjuntos com apenas um
elemento. Exemplos são:

{a}, {b}, {o atual presidente do Brasil}, {1}, {2}, {3}, ...

Uma das considerações da teoria dos conjuntos mais


importantes para a filosofia da matemática, e com
repercussões para a filosofia da linguagem contemporânea, é
a diferenciação entre um conjunto unitário e o elemento
deste conjunto. Ou seja, o conjunto {1} não deve ser
confundido com o número 1.

3.2 O conjunto vazio: é o conjunto que não possui nenhum


elemento. O singular usado aqui (“o conjunto” e não “os
conjuntos”) é proposital: enquanto existem infinitos
conjuntos com um, com dois ou com infinitos elementos,
existe apenas um conjunto vazio (o motivo para isto logo
ficará claro). O conjunto vazio é simbolizado por ∅ ou { }.

3.3 O conjunto universo: Pode-se falar de conjunto


universo de forma absoluta ou relativa. O universo absoluto
é o conjunto que contém todos os conjuntos: não há nada
que não pertença a ele. Esta noção de conjunto universo
encerra uma série de questões filosóficas, dentre as quais esta
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é a central: faz sentido falar de uma totalidade absoluta, num


sentido metafísico, ou deve-se sempre delimitar o âmbito do
universo? Segundo alguns autores, a este universo deveriam
pertencer todas as entidades, reais ou possíveis, tudo o que
pode ser pensado e imaginado, tudo sobre o que se pode
falar. Para outros, esta noção de uma totalidade omniabran-
gente é uma fonte inesgotável de paradoxos. Assim, hoje é
mais comum referir-se ao conjunto universo de uma forma
relativa. O universo é simplesmente um conjunto que
contém os conjuntos com os quais temos de operar em dada
ocasião. De Morgan introduziu esta noção de universo
através do conceito de universe of discourse (universo do
discurso), hoje fundamental para a discussão de vários temas
da filosofia. O conjunto universo é simbolizado por U.

3.4 Conjuntos numéricos: são conjuntos cujos elementos


são números. É necessário distinguir entre número e
numeral. Número é uma entidade puramente matemática,
sem realidade física, e numeral é o símbolo que representa o
número, é o nome do número. A primeira função dos
números é a de possibilitar a contagem. Quando os homens
começaram a contar, eles relacionavam os elementos de dois
conjuntos, por exemplo, um conjunto de ovelhas e um
conjunto de pedrinhas; para cada ovelha que saía do aprisco,
havia uma pedrinha que saía de uma bolsa. No fim do dia, as
ovelhas voltavam para o aprisco e as pedrinhas voltavam
para a bolsa. Se sobravam pedrinhas, alguma ovelha havia se
perdido. Com o tempo, em muitas situações (não todas), os
numerais substituíram as pedrinhas. Assim, quando entrava a
primeira ovelha o pastor dizia “uma”, quando entrava a
segunda ele dizia “duas” e assim por diante, até contar todos
os seus carneirinhos. Desta forma, para contar mil ovelhas, o
pastor não precisava mais ter um saco com mil pedrinhas,
era suficiente ter um nome (numeral) para substituir cada
pedrinha que era colocada no saco, até mil. Assim, o
numeral “1000” designava tanto a quantidade total de
pedrinhas, como a quantidade total de ovelhas.
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É a quantidade puramente abstrata que chamamos de


número. Em outras palavras, um número é o que há de
comum entre todos os conjuntos que têm a mesma
cardinalidade. Alguns conjuntos de números têm nomes e
notações específicos. Vejamos alguns:

Ν = Naturais
Ζ = Inteiros
Θ = Racionais
Ι = Irracionais
Ρ = Reais
Χ = Complexos

Dado um conjunto X qualquer, temos:

X
*
= o conjunto X menos o 0
X+ = os elementos não negativos de X
X− = os elementos não positivos de X
X+
*
= os elementos positivos de X
X−
*
= os elementos negativos de X

Uma diferença intrigante é a que existe entre os números


computáveis e os números não computáveis. De modo geral,
pode-se dizer que um número computável é um número que
tem um símbolo ou uma seqüência de símbolos que o
representa. Um número não computável é um número que
não pode ser simbolizado. Como dependemos de símbolos
para especificar números, os únicos números que
conhecemos são os computáveis, embora encontremos
razões para sustentar que os números não-computáveis
existem e que são infinitamente mais numerosos que os
computáveis.

3.5 Conjuntos infinitos: são conjuntos cuja cardinalidade


não pode ser expressa por um natural.
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São exemplos de conjuntos infinitos:

A = {0, 1, 2, 3, ...} (conjunto dos números naturais)


B= {0, 2, 4, 6, 8, ...} (conjunto dos números pares)
C= {0, 4, 8, 12, 16, ...} (conjunto dos múltiplos de 4)
D= {2, 3, 5, 7, 11, 13, ...} (conjunto dos números primos)
E= {a, b, c, ..., aa, ab, ..., aaa, aab, ...} (conj. de seqüências
finitas de letras)

Embora C esteja contido em B e B contido em A, os três


conjuntos têm a mesma cardinalidade. Existem, porém,
conjuntos infinitos “maiores” que estes. Os conjuntos
infinitos apresentados são ditos enumeráveis – isso quer dizer,
eles têm a mesma cardinalidade que o conjunto dos números
naturais. Ou, dito de uma forma mais geral, um conjunto é
enumerável se e somente se seus elementos podem ser
listados, ou seja, podem ser elaboradas listas nas quais
figurem todos os seus elementos (mas nem sempre é possível
fazer listas que contenham apenas seus elementos).
Também se admite em geral que existem conjuntos
infinitos não enumeráveis, como o conjunto dos números
reais e o conjunto potência (definido mais abaixo) do
conjunto dos números naturais. Estes conjuntos são de uma
cardinalidade maior que a dos naturais. De fato, admite-se
em geral que existem conjuntos infinitos de todas as
cardinalidades, as quais são representadas pela primeira letra
do alfabeto hebraico ℵ (“álefe”) combinada a um índice
numérico. Tais cardinalidades são o que chamamos de
cardinais transfinitos. O menor cardinal transfinito, ℵ0, é a
cardinalidade dos naturais. Cogita-se que ℵ1 é a
cardinalidade dos reais, o que é suposto pela hipótese do
contínuo de Cantor, o responsável pela elaboração da teoria
dos transfinitos. Alguns conjuntos que “parecem” maiores
que o conjunto infinito dos naturais são, apesar disso,
enumeráveis, por exemplo, o conjunto dos inteiros (que
inclui positivos e negativos), e o conjunto dos números
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racionais. A série dos números inteiros é aberta para “os dois


lados”, parecendo por isso “duplamente infinita”:

... –5, -4, -3, -2, -1, 0, 1, 2, 3, 4, 5, ...

Basta, no entanto, reorganizar esta série segundo o valor


modular de cada número, listando primeiro o negativo
depois o positivo (ou vice-versa) que se obtém uma série
simples infinita enumerável:

0, -1, 1, -2, 2, -3, 3, ...

A enumerabilidade do conjunto dos números racionais


pode ser provada por meio do seguinte esquema:

1 2 3 4 ...

1 1/1 2/1 3/1 4/1

2 1/2 2/2 3/2 4/2

3 1/3 2/3 3/3 4/3

4 1/4 2/4 3/4 4/4

...

Sabendo que todo número racional é da forma p/q, onde


p e q ∈ Ν, temos que a seqüência indicada no esquema (1/1,
2/1, 1/2, 3/1, 2/2, 1/3, 4/1, 3/2, ...) representa os racionais
positivos. Logo, a seqüência (0, 1/1, -1/1, 2/1, -2/1, 1/2, -
1/2, 3/1, -3/1, 2/2, -2/2, 1/3, -1/3, 4/1, -4/1, 3/2, -3/2,
2/3, -2/3, 1/4, -1/4, ...) representará os racionais. Não tem
importância que na seqüência vários números se repitam, o
que importa é que não falte nenhum dos racionais.
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O surpreendente desta descoberta é o fato de que a série


dos racionais parecia ser muito maior que a série dos
naturais, pois enquanto esta é discreta (entre dois números
naturais imediatos, como 3 e 4, não existe nenhum outro
número natural), a série dos racionais é, dita compacta ou densa
(entre quaisquer dois números racionais m e n, sempre existe
outro entre eles, p.ex. (m+n)/2).
Por sua vez, uma série não enumerável é “infinitamente
incontável”, o que é o caso dos números reais. A prova da
não enumerabilidade de Ρ, ou até de qualquer intervalo de Ρ,
foi dada pela famosa diagonalização de Cantor, segundo a
qual é possível construir um número real, o chamado
antidiagonal, de qualquer listagem supostamente completa de
todos os números reais. Tomando-se o intervalo entre 0 e 1,
por exemplo, uma possível listagem seria:

0,659836...
0,112233...
0,123458...
0,343936...
0,987652...
0,445567...

O número antidiagonal é, então, definido como

0,x1x2x3x4x5x6... , sendo

x1 = uma cifra diferente da 1ª cifra decimal do 1º nº da lista


x2 = uma cifra diferente da 2ª cifra decimal do 2º nº da lista
x3 = uma cifra diferente da 3ª cifra decimal do 3º nº da lista
x4 = uma cifra diferente da 4ª cifra decimal do 4º nº da lista
x5 = uma cifra diferente da 5ª cifra decimal do 5º nº da lista
x6 = uma cifra diferente da 6ª cifra decimal do 6º nº da lista

e assim por diante.


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No exemplo acima, o número diagonal é 0,613957.. e um


possível antidiagonal 0,724068 (sempre a cifra consecutiva
de cada decimal do número diagonal, sendo 0 considerado o
consecutivo de 9). Poder-se-ia construir um argumento
semelhante usando o sistema binário formado por 1 e 0. É
importante perceber que o número antidiagonal tem de ser
diferente de cada um dos números da lista por motivo
simplesmente analítico (per definitionem), pois ele difere do
primeiro número no tocante à primeira cifra decimal, do
segundo no tocante à segunda cifra decimal, e assim por
diante. Isto significa que o número antidiagonal não pode
aparecer na lista por motivos lógicos. Conclusão: a lista é
incompleta, e qualquer pretensa lista dos reais será
incompleta pelo mesmo motivo, logo os números reais não
são enumeráveis2. Um outro exemplo de infinito não
enumerável é o conjunto dos subconjuntos dos naturais.

3.6 Relações e funções

Para definirmos relação, precisamos primeiro definir o


que seja um par ordenado. Dizemos que (x, y) é um par
ordenado se e somente se, dado que (x, y) = (z, w), então
x=z e y=w. Dessa forma, pode-se dizer que um par
ordenado é um conjunto binário onde a ordem dos
elementos é relevante. É comum definirmos, desde Wiener-
Kuratowsky: (x, y) = {{x}, {x, y}}. Com isso, garantimos
que a ordem é relevante, pois teremos:

(x, y) = {{x}, {x, y}}


(z, w) = {{z}, {z, w}}
Se (x, y) = (z, w),
Então {{x}, {x, y}} = {{z}, {z, w}}.
Logo, {x}={z} e {x, y}={z, w},
Donde {y}={w}.
2 Matemáticos finitistas, porém, que rejeitam o infinito atual, negam
também a distinção entre infinitos enumeráveis e não enumeráveis.
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Uma relação é um conjunto de pares ordenados, como,


por exemplo, o conjunto dos pares (x, y) tais que x é casado
com y, ou que x é maior que y. Isso não quer dizer que só
existam relações binárias. Existem relações ternárias, (e.g., o
conjunto dos ternos (x, y, z) tais que x fica entre y e z),
quaternárias (e.g., o conjunto das quadras (x, y, z, w) tais que
x ama y mais do que z ama w) etc. Genenericamente, quando
falarmos de uma relação n-ária, estaremos falando de uma
relação de aridade n, ou seja, de um conjunto de n-uplas,
sendo que uma n-upla (leia-se “ênupla”) é uma coleção
ordenada que agrupa n elementos.
Podemos estipular um procedimento geral para transfor-
mar n-uplas em pares ordenados, de acordo com o seguinte
esquema:

(x1, x2, x3) =((x1, x2), x3)


(x1, x2, x3, x4) = (((x1, x2), x3), x4)
(x1, x2, x3, x4, x5) = ((((x1, x2), x3), x4), x5)
(x1, x2, x3, x4, x5, x6) = (((((x1, x2), x3), x4), x5), x6)
(x1, x2, x3, x4, x5, x6, x7) = ((((((x1, x2), x3), x4), x5), x6), x7)

(x1, x2,… xn-1, xn) = (…(x1, x2),…, xn-1), xn)

Doravante, a n-upla (x, y, z) será sempre interpretada


como equivalente ao par ordenado ((x, y), z). Note que ((x,
y), z) ≠ (x, (y, z)), e que identificar as n-uplas com a série de
pares ordenados acima é apenas fazer uma estipulação
arbitrária.
Um fato de extrema importância sobre relações é o
seguinte: R é uma relação n-ária se e somente se existe C1,
C2, ..., Cn tais que R ⊂ C1C2...Cn, onde cada Ci é um
conjunto simples e a operação XY (leia-se “produto
cartesiano de X e Y” ou, simplesmente, “X cartesiano Y”)
gera o conjunto de todos os pares ordenados possíveis de ser
formados tomando-se de X o primeiro elemento e de Y o
segundo. Veja um exemplo de produto cartesiano:
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X = {a, b, c}
Y = {1, 2, 3, 4}
XY = {(z1, z2)  z1 ∈ X e z2 ∈ Y} ou,

de forma extensional:

XY = {(a,1), (a,2), (a,3), (a,4), (b,1), (b,2), (b,3), (b,4),


(c,1), (c,2), (c,3), (c,4)}

(Repare que Y2=YY)

Uma conseqüência do fato que declaramos acima é a de


que um conjunto não ordenado A qualquer pode ser
considerado uma relação unária, pois o produto cartesiano
aplicado 0 vezes sobre A é igual a A. Por exemplo, x adora
chocolate, x é dançarina, x planta macaxeira são relações unárias;
aqui, observa-se como os predicados podem ser
considerados relações. Além disso, o conjunto vazio pode
ser considerado de qualquer aridade, uma vez que:

∅ = ∅...∅ (para qualquer n>0)

n vazios

São exemplos de relações:

(1) {(Romeu, Julieta), (Roxana, Cristiano), (Roxana,


Cirano), (Tristão, Isolda), ...}
(2) {(0, 0), (1, 1), (2, 8), (3, 27), (4, 64), ...}
(3) {(0, 5), (1, 3), (2, 4), (2, 5), (3, 5), (3, 1001), ...}
(4) {(1, 1, 1), (2, 3, 5), (2, 4, 4), (3, 9, 9), ...}

Podemos chamar a relação (1) de “x ama y”, a (2) de


“x3=y”, a (3) de “x menor que y” e a (4) de “2x2-y=z”. De
fato, quando usamos uma expressão como alguma destas,
estamos apresentando uma opção alternativa de especificar a
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relação. Algumas relações podem ser apresentadas tanto


extensionalmente, ou seja, listando-se os pares ordenados
que a compõem, como intensionalmente, ou seja, dando
uma expressão que traduza a lei de formação que gera aquela
seqüência de pares ordenados.
Note que todos os elementos que compõem as n-uplas
das relações (2), (3) e (4) são naturais, ou seja, (2) ⊂ Ν2, (3) ⊂
Ν2 e (4) ⊂ Ν3; dizemos por isso que essas relações tomam
valores nos naturais. É claro que os valores poderiam vir de
conjuntos diferentes, por exemplo, na relação “x2=y”, se x ∈
Ζ, então y ∈ Ν. O conjunto que inclui todos os valores
tomados em uma relação R chamaremos de domínio de R.
As relações (2) e (4) também recebem o nome especial de
função. Definimos uma função F como uma relação tal que,
se (x, y) e (x, z) ∈ F, então y=z, onde x, y e z podem ser
elementos simples ou pares ordenados. Dizemos que x
pertence ao domínio de F e que y pertence ao contradomínio de
F, e chamamos de imagem de F o conjunto que inclui todos
os y’s e apenas eles. Convencionou-se considerar a aridade
de uma função como a aridade de seu domínio, assim, por
exemplo, consideraremos que a função (2) é unária e a
função (4) é binária (lembre-se que (x, y, z)=((x, y), z) ). Se
todos os elementos do domínio de F têm uma imagem, a
função é chamada de total, caso contrário ela é chamada de
parcial. Se chamarmos o domínio de F de A e o seu
contradomínio de B, podemos representar a função assim: F:
A → B (lê-se, “F é uma função de A em B”). Especificamos
uma função dando seu domínio, seu contradomínio e a lei
(de forma extensional ou intensional) que os relaciona. Isso
significa que a lei deve mostrar como obter um valor no
contradomínio para cada valor no domínio. Dado que F(x)
representa o valor obtido no contradomínio para o elemento
x do domínio, passamos a especificar a lei de formação da
relação (2) assim: F(x)=x3. Note que não basta dar a lei de
formação de uma função para especificá-la, por exemplo, se
temos que G(x)= x , G não será uma função se seu
domínio e contradomínio forem os reais. Se A é ao mesmo
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tempo o domínio e o contradomínio de F, dizemos que F é


uma operação, ou, o que é equivalente, dizemos que F é uma
função definida em A. Interessa-nos distinguir alguns tipos de
funções. São eles:
Função injetora: uma função F: A→B é injetora se e
somente se, dado que (x, y) ∈ F, não existe z tal que (z, y) ∈
F e z≠x. Simplificadamente, F é injetora se e somente se não
há dois elementos do domínio de F com a mesma imagem.

• •

• •

• •

Função sobrejetora: uma função F: A→B é sobrejetora se


e somente se não existe y tal que y ∈ B e, para todo x, (x, y)
∉ F. Simplificadamente, F é sobrejetora se e somente se a
imagem de F coincide com o contradomínio de F, ou seja, se
não sobra nenhum elemento em B que não esteja
relacionado com algum elemento em A.

• •

• •

• •

Função bijetora: uma função F: A→B é bijetora se e


somente se F é injetora e sobrejetora.

• •
• •
• •
• •
49

3.7 Estruturas

Uma estrutura é um conjunto que contém um domínio D


e inclui (como elementos) relações de qualquer aridade
tomando valores em D. Se todas as relações de uma
estrutura são funções, ela é chamada de álgebra.
Representaremos estruturas como segue:

A = 〈domínio, R1, R2, R3,...〉

relações

Nomes de estruturas serão letras góticas maiúsculas,


como o “a” gótico acima (outros exemplos são B e C)
Um fato importante sobre estruturas é o de que todas elas
possuem pelo menos uma relação em comum: a relação de
identidade, geralmente representada pelo símbolo “=”. De
fato, dada qualquer estrutura A e um elemento x dessa
estrutura, é o caso que x=x.
Estruturas são de suma importância para o estudo da
lógica, porque a linguagem da lógica deverá ser provida de
símbolos capazes de, combinados, expressarem verdades
sobre estruturas. Em outras palavras, as sentenças da
linguagem formalizada da lógica serão verdadeiras ou falsas
conforme afirmem ou neguem algo em relação a uma dada
estrutura. A noção de estrutura será a base da parte da lógica
que chamamos de semântica, onde encontraremos as regras e
as definições que nos permitirão estabelecer o significado e o
valor veritativo das proposições.

3.8 Conjuntos indutivos

Diz-se que um conjunto é indutivo se os seus elementos


são todos os que podem ser gerados a partir de um de seus
subconjuntos próprios (exceto o ∅), chamado base, através
de aplicações reiteradas de um grupo de funções.
Consideramos aqui que os elementos da base de um
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conjunto indutivo são gerados por zero aplicações das


funções sobre a base. Isso deve ser mais bem entendido
através de um exemplo. Tomemos para esse fim o conjunto
dos naturais. Os elementos de Ν são todos os que podem
ser gerados a partir da base {0} através da aplicação reiterada
de uma função s dada pela equação s(x)=x+1. Quando
falamos em aplicação reiterada, não queremos dizer que a
função será aplicada repetidas vezes à base, mas que ela será
aplicada a resultados de aplicações anteriores. É assim que é
gerado o conjunto Ν. Veja:

0.......... resultado de 0 aplicações de s sobre 0


1.......... resultado da aplicação de s sobre a aplicação anterior
2.......... resultado da aplicação de s sobre a aplicação anterior
3.......... resultado da aplicação de s sobre a aplicação anterior
4.......... resultado da aplicação de s sobre a aplicação anterior

Neste exemplo, fica claro que o ponto de partida é o
conjunto {0}, a base, e que todos os outros elementos do
conjunto são gerados a partir dele por reiteradas aplicações
de s (o incremento de 1). Isto demonstra que o conjunto dos
naturais é um conjunto indutivo.
Apesar de facilitar a compreensão da indutividade, o
exemplo acima é um pouco simplificador. Para compro-
varmos o quanto a combinatória das funções com os
elementos da base pode se tornar complexa, basta que
analisemos um caso em que o conjunto indutivo resulta da
aplicação de duas funções, f (binária) e g (unária), sobre uma
base de dois elementos, digamos {a, b}. Tal conjunto
indutivo incluirá os seguintes elementos:

a, b, g(a), g(b), f(a,a), f(a, b), f(b, a), f(b, b), g(g(a)), g(g(b)),
g(f(a, a)), ..., f(a, f(a, b)), ...
51

Vemos aqui elementos que resultam de zero aplicações


das funções sobre as bases, de uma aplicação de função, de
duas aplicações, enfim, de n aplicações das funções sobre a
base. Neste caso, o conjunto dos elementos não é linear, isto
é, não há um único elemento sucedendo um dado elemento,
o que há são diferentes gerações de elementos se sucedendo.
Uma geração de elementos de n-ésimo grau é o conjunto de
elementos gerados a partir da base por n aplicações
reiteradas de funções. Note que na seqüência de elementos
acima aparecem apenas elementos de geração 0, 1 e 2, mas a
seqüência prossegue infinitamente com gerações de todos os
graus. Está claro que tal seqüência constitui um conjunto
indutivo, pois todos os seus elementos são atingíveis a partir
da base através de aplicações reiteradas das funções e, além
disso, não há nenhum elemento atingível a partir da base
através das funções que não esteja incluído nele (a diferença
entre estas duas afirmações deve ser percebida facilmente
pelo leitor). Assim, sempre que quisermos mostrar que um
conjunto é indutivo, deveremos mostrar que ele inclui todos
os elementos gerados a partir de uma base através da
aplicação reiterada de certas funções.
Um princípio importantíssimo relativo aos conjuntos
indutivos é o princípio da indução. Simplificadamente, ele
diz que se a base de um conjunto indutivo possui certa
propriedade e se a tal propriedade se transfere de geração
para geração, todos os elementos do conjunto terão esta
propriedade. Este princípio foi aplicado por Peano ao
conjunto dos naturais, resultando no seu famoso quinto
axioma que expressa o seguinte: se o 0 tem uma propriedade
e essa propriedade se transfere de um número natural para
seu sucessor, todos os naturais têm a propriedade. Como se
vê, o princípio da indução é muito intuitivo e será
largamente usado neste livro para desenvolvermos provas
referentes a propriedades das lógicas que apresentaremos.
Tais provas, em razão do princípio, serão chamadas de
provas por indução.
52

4. Operações com conjuntos


Operações com conjuntos geram novos conjuntos, assim
como as operações com números geram novos números:

4.1 União: A união de dois conjuntos Y e Z é um conjunto


X, sendo X={x | x ∈ Y ou x ∈ Z}. Em símbolos:

X = Y∪Z (X é a união de Y e Z)

Se temos, por exemplo:

Y=vogais
Z=consoantes

então,

X=letras

Se dois conjuntos são definidos por meio de predicados,


o conjunto união é definido conectando-se estes dois
predicados pelo conectivo “ou”:

Y: { x  x é uma vogal}
Z: { x  x é uma consoante}
X: { x  x é uma vogal ou x é uma consoante}

4.2 Interseção: A interseção de dois conjuntos Y e Z é um


conjunto X, sendo X={x | x ∈ Y e x ∈ Z}. Em símbolos:

X = Y∩Z (X é a interseção de Y e Z)

Por exemplo, o conjunto F={d, e} é o resultado da


interseção dos conjuntos G={a, b, c, d, e} e H={d, e, f, g,
h}. Se dois conjuntos são definidos por meio de predicados,
o conjunto interseção é definido conectando-se estes
predicados pelo conectivo “e”:
53

Y: { x  x é um objetos redondo}
Z: { x  x é um objeto vermelho}
X: { x  x é um objeto redondo e vermelho}

Se dois conjuntos forem disjuntos, a interseção deles será


o conjunto vazio.

4.3 Complemento: O complemento de um conjunto Y é


um conjunto X, sendo X={x | x ∈ U e x ∉ Y}.

Para indicar em símbolos um conjunto complemento,


usa-se, em geral, um apóstrofo ao lado ou um traço sobre a
letra que representa o conjunto do qual se forma o
complemento:

X’ ou X (conjunto complemento de X)

Repare que a união de um conjunto com seu


complemento é sempre igual ao conjunto universo

X∪X’ = U

e que o conjunto interseção de um conjunto com seu


complemento é sempre igual ao conjunto vazio:

X∩X’ = ∅.

Se um conjunto é determinado por um predicado, o


conjunto complemento é formado com auxílio da negação:

X: {x  x é um objeto redondo}
X’: {x  x não é um objeto redondo}

4.4 Diferença: A diferença de um conjunto Y em relação a


um conjunto Z é um conjunto X, sendo X={x | x ∈ Y e x
∉ Z}. Em símbolos:
54

X = Y~Z ou X = Y\Z (X é a diferença de Y em


relação a Z)

Se dois conjuntos são definidos por meio de predicados,


o conjunto diferença é definido conectando-se o primeiro
predicado com a negação do segundo por meio do “e”:

Y: { x  x é um objeto redondo}
Z: { x  x é um objeto vermelho}
X: { x  x é um objeto redondo e não vermelho}

A diferença pode ser definida com auxílio da interseção e


do conjunto complemento:

Y ~ Z =def. Y ∩ Z’

4.5 Composição: Dadas duas funções F e G com seus


respectivos domínios e contradomínios, quando o contra-
domínio de F está contido no domínio de G, pode-se formar
a função composta de F e G (escreve-se F °G) da seguinte
forma: (x, z) ∈ F °G se e somente se, para algum y, (x, y) ∈
F e (y, z) ∈ G. Dados, por exemplo, os conjuntos

A = {Antônio, Beto, Carlos}


B = {Ana, Beatriz, Caroline}
C = {Dora, Elvira}

e as funções F: A→B (“ser marido de”) e G: B→C (“ser


filha de”), temos que

F = {(Antônio, Ana), (Beto, Beatriz), (Carlos, Caroline)}


G = {(Ana, Dora), (Beatriz, Elvira), (Caroline, Elvira)}
F °G = {(Antônio, Dora), (Beto, Elvira), (Carlos, Elvira)}

Note que, na função composta, o primeiro elemento é o


genro do segundo e o segundo é a sogra do primeiro (ser
55

genro e ser sogra são relações inversas). F °G corresponde à


relação “x tem como sogra y”, com o domínio dos homens
casados e contradomínio das mulheres que têm filhas.
Repare, porém, que “ser sogra de” e “ser mãe de” não são
funções, pois uma mulher pode ser sogra de vários homens
ou ser mãe de várias filhas e filhos. Assim, fica comprovado
que nem na lógica há uma função em “ser sogra”. Já a
relação “ser marido de” (no domínio dos homens casados) e
“ser filha de” são funções, já que cada homem só tem uma
mulher (pelo menos nas sociedades monogâmicas) e cada ser
humano só tem uma mãe. Um exemplo da aritmética seria:

F : Ν→Ν, definido com 2x = y


G : Ν→Ν, definido com y2 = z

A função composta de F e G seria:

F °G = {(0, 0), (1, 4), (2, 16), (3, 36), (4, 64),...}

4.6 Conjunto Potência: O conjunto potência de um


determinado conjunto Y é o conjunto P(Y), sendo P(Y)={X
| X ⊂ Y}. Por exemplo:

A = {a, b, c}
P(A)= {∅, {a}, {b}, {c}, {a, b}, {a, c}, {b, c}, {a, b, c}}

Repare-se que o conjunto vazio e o próprio conjunto A


pertencem ao conjunto potência de A. O segundo teorema
de Cantor afirma que o conjunto potência de um conjunto X
qualquer tem maior cardinalidade que X. O conjunto
potência do conjunto vazio contém como único elemento
ele mesmo. O conjunto potência de um conjunto infinito
enumerável é, assim, infinito não enumerável. Tome-se,
porém, o conjunto P(U): A cardinalidade deste conjunto
deve ser maior que a de U. Existe, então, um conjunto maior
que U? Este é, de fato, um problema controverso na
literatura especializada. Diferentes sistemas axiomatizados
56

apresentam diferentes soluções – o leitor deve se sentir à


vontade para escolher uma delas ou propor uma nova
solução.
Repare-se também que o conjunto potência sempre é um
conjunto puro, ou seja, ele é um conjunto que possui apenas
conjuntos como elementos.

4.7 Grande união: Dado um conjunto puro, pode-se


formar um novo conjunto através da operação da grande
união. A grande união de um conjunto puro X (em
símbolos, ∪X) é a união dos elementos de X. Se temos, por
exemplo:

A={{a,b}, {c, d}, {e, f}},

então

∪A = {a, b, c, d, e, f}

É fácil ver que, para qualquer conjunto X, ∪P(X) = X

4.8 Grande interseção: De modo semelhante, dado um


conjunto puro, pode-se formar um novo conjunto através da
operação da grande interseção. A grande interseção de um
conjunto puro X (em símbolos, ∩X) é a interseção dos
elementos de X. Por exemplo, dado que:

A = {1, 2, 3, 4, 5}
B = {2, 4, 6}
C = {4, 5, 6, 7}
D = {A, B, C} = {{1, 2, 3, 4, 5}, {2, 4, 6}, {4, 5, 6, 7}},

temos que

∩D = {4}
57

A grande interseção, semelhante à grande união, forma


um conjunto de ordem inferior (reduz o número de chaves).

5. Teoremas da teoria dos conjuntos


Alguns dos teoremas mais importantes da teoria dos
conjuntos são:

A∪B = B∪A
A∩B = B∩A
A ⊂ A∪B
A∩B ⊂ A
U’ = ∅
∅’ = U
A∪∅ = A
A∪U = U
A∩∅ = ∅
A∩U = A
A∪A = A
A∩A = A
A∪A’ = U
A∩A’ = ∅
A ’’ = A
A∪(B∪C) = (A∪B)∪C
A∩(B∩C) = (A∩B)∩C
A∪(B∩C) = (A∪B)∩(A∪C)
A∩(B∪C) = (A∩B)∪(A∩C)
A∪(A∩B) = A
A∩(A∪B) = A
(A∪B)’ = A’∩B’
(A∩B)’ = A’∪B’
A ⊂ B se e somente se A∪B = B
Se A = B’, então B = A’
Se A ⊂ C e B ⊂ C, então (A∪B) ⊂ C
Se C ⊂ A e C ⊂ B, então C ⊂ (A∩B)
Se B ⊂ C, então (A∪B) ⊂ (A∪C)
Se B ⊂ C, então (A∩B) ⊂ (A∩C)
58

6. A antinomia de Russell
Na apresentação da teoria dos conjuntos, foram
mencionadas duas relações fundamentais: a relação entre um
elemento e o conjunto ao qual este pertence (a relação ∈) e a
relação de inclusão entre dois conjuntos (a relação ⊂). A
rigor, a primeira é mais fundamental que a segunda, pois a
segunda pode ser definida logicamente em termos da
primeira :

A ⊂ B =def se algo ∈ A, então também ∈ B

Um erro muito comum entre os principiantes em lógica é


a confusão entre estas duas relações. Esta confusão ocorre
especialmente quando se tomam conjuntos como elementos
de conjuntos. É perfeitamente legítimo e correto formar
conjuntos de conjuntos, como por exemplo o conjunto K de
todos os conjuntos mencionados no início deste capítulo, ou
seja:

K = {A, B, C, D, E}

Conjuntos são ditos “puros” quando todos seus


elementos são novamente conjuntos. Elementos que não são
conjuntos são chamados “elementos primitivos” (muitas
vezes se usa o termo técnico alemão Urelemente). No exemplo
acima, o conjunto A é um elemento do conjunto K, o que não
significa que A está contido em K. O conjunto K tem 5
elementos, e embora as vogais a, e, i, o, u sejam elementos
de A, elas não são elementos de K. Em símbolos:

A∈K (verdadeiro)

não é o mesmo que

A⊂K (falso)
59

Sem esta distinção a teoria dos conjuntos teria uma


enorme dificuldade. Posto que o conjunto vazio ∅ está
contido em todos os conjuntos, inclusive em si mesmo, se ∅
⊂ ∅ fosse o mesmo que ∅ ∈ ∅, então ∅ não seria mais
vazio, pois teria um elemento: o próprio conjunto vazio. Ou
seja, neste caso ∅ = {∅}. Por isso é importante salientar
que um conjunto unitário não é igual ao único elemento
deste conjunto :

1 ≠ {1}
2 ≠ {2}
a ≠ {a }
Aristóteles ≠ {Aristóteles}

Quando um conjunto X é tomado como elemento de um


outro conjunto Y, os elementos de X não são, a princípio,
elementos de Y, embora isso possa ocorrer, por exemplo:

X = {1, 2, 3}
Y = {X , 1, 2, 3}

A confusão entre ∈ e ⊂ foi característica para a filosofia


antes de Frege e Peano. O nascimento da filosofia analítica
se deve, em grande parte, ao aprendizado da distinção clara
entre estas relações. Vejamos os exemplos

(a) Sócrates é mortal.


(b) A baleia é um mamífero.
(c) Gregos são mortais.

Embora do ponto de vista lingüístico todas tenham a


mesma forma gramatical (sujeito + predicado) a forma lógica
de (b) é similar a de (c) e diferente da de (a): Enquanto (a)
afirma que um objeto (Sócrates) pertence (∈) a um conjunto
(dos mortais), tanto (b) como (c) tratam da relação de
inclusão (⊂) de um conjunto (das baleias ou dos gregos)
num outro (dos mamíferos ou dos mortais). Segundo a
60

teoria das descrições de Russell (On Denoting, 1905), até


mesmo uma proposição como

(d) O mestre de Platão é mortal

expressa uma relação entre conjuntos: X ⊂ Y - o conjunto


dos mestres de Platão, que contingentemente só tem um
elemento, está contido no conjunto dos mortais. Esta teoria
é, no entanto, controversa e pertence mais ao âmbito da
filosofia da linguagem do que propriamente à teoria dos
conjuntos.
Russell descobriu, todavia, uma inconsistência na teoria
dos conjuntos ingênua, a chamada “antinomia de Russell”, a
qual fez abalar todo o fundamento da matemática e
determinou o seu desenvolvimento na primeira metade do
século 20. Resumidamente o problema reside nisso:
Foi dito que cada predicado corresponde a uma classe:
“vermelho” corresponde à classe de todos os objetos
vermelhos. Predicados contraditórios como “círculo quadra-
do” não apresentam dificuldades: eles indicam a classe vazia,
sem elementos. Existem também conjuntos de conjuntos,
como por exemplo:

O conjunto de todos os conjuntos unitários


O conjunto de todos os conjuntos binários
O conjunto de todos os conjuntos de letras

Além disso, existe o conjunto de todos os conjuntos. A


este pertence o conjunto universo, o conjunto vazio, e todos
os outros conjuntos entre estes extremos. Designando o
conjunto de todos os conjuntos H, e sendo H mesmo um
conjunto, temos de dizer que H ∈ H. Aparentemente, não há
problema em supor que alguns conjuntos são elementos de
si mesmo3, como p.ex.:
3 Já aqui existe uma intrigante questão filosófica. Uma idéia muito
razoável é a de que todo conjunto deve ser analisável ao ponto de
sermos capazes de identificarmos os elementos primitivos que entram na
61

M = {a, b, c, M}
N = {1, 2, 3, N}
O = {2, 4, 6, O}

Outros conjuntos não são elementos de si mesmos, como


todos os conjuntos tratados neste livro antes desta página.
Existem, por assim dizer, duas classes de conjuntos: os que
pertencem a si mesmos e os que não pertencem a si
mesmos. Um é o complemento do outro. O problema surge
explicitamente quando se tem o predicado, aparentemente
claro, que deveria formar a segunda classe destes conjuntos:

R = {X | X não é elemento de X}

Este predicado forma o conjunto R (de Russell): o


conjunto de todos os conjuntos que não são elementos de si
mesmos. Então R não pertence a si mesmo. Mas se ele não
pertence a si mesmo, então ele satisfaz a condição de
formação do conjunto, e, por conseguinte, tem de pertencer
a R, ou seja, a si mesmo. Mas se ele pertence a si mesmo, ele
não satisfaz a condição de formação do conjunto, e assim
pertence a R. Ou seja:

R ∈ R implica que R ∉ R e R ∉ R implica que R ∈ R

um pouco mais formal:

R∈R↔R∉R (R ∈ R se e somente se R ∉ R)

sua formação, caso contrário teríamos um conjunto que não foi


construído a partir de elementos primitivos. Tal conjunto se assemelharia
ao sujeito que se ergueu pelos próprios cabelos e já não precisa pôr os
pés no chão. Este seria o caso de um conjunto que pertencesse a si
mesmo. Com efeito, a solução de Russell para o seu paradoxo, por meio
da teoria dos tipos lógicos, exige justamente uma restrição neste ponto:
nenhum conjunto pode ser elemento dele mesmo.
62

Isto é uma contradição! Russell estudou várias antinomias


e percebeu que elas continham uma circularidade viciosa: “o
cretense disse que todos os cretenses são mentirosos” (ele
disse a verdade?), “o barbeiro de uma aldeia que barbeia
todos que não se barbeiam a si mesmos” (ele mesmo se
barbeia?). Ramsey, depois, distinguiu as antinomias pura-
mente lógicas (que incluem apenas noções lógicas, como a
antinomia da teoria dos conjuntos) das semânticas (que
incluem elementos extra-lógicos). A solução definitiva de
Russell foi a Teoria dos Tipos Lógicos, apresentada na obra
Principia Mathematica (publicada conjuntamente com White-
head em três volumes nos anos de 1910, 1912 e 1913),
considerada um grande marco da lógica contemporânea. A
idéia básica desta teoria é a necessidade de se introduzir uma
hierarquia de tipos lógicos, onde um item de cada nível só
pode ser aplicado a um item do nível inferior e nunca a um
outro elemento do mesmo nível. Assim, um conjunto nunca
pode ser elemento dele mesmo. Os sistemas axiomáticos da
teoria de conjuntos mencionados no início do capítulo
eliminam tal contradição. Estes sistemas são, no entanto,
mais complexos e não podem ser tratados sem conhecimen-
to da lógica formal, à qual nos voltamos agora.

Exercícios (Ex1)
1. Dados os conjuntos:

A = {4, 6}
B = {1, 3, 5, 7, 9}
C = {x  x é número primo}
D = {1, 2+2, 2+1, 7}
E = {2, 8}
F = { x  x é número natural menor que 10}
G = {4}
H = {1}
I = {8}
63

Indicar o valor de verdade (V/F) de cada enunciado:

01) G ⊂ A 12) I~H ⊂ B’


02) G∪H ⊂ D 13) (G∩H)’ ⊂ F
03) (A∪B)∪E = F 14) I’∩E ⊂ C
04) (F∩C)∩I= B 15) D’∩D ⊂ ∅
05) B ⊂ C 16) ∅ ∈ (A∩B)
06) A∩D ⊂ G∪H 17) 0 ∈ F
07) B ⊂ F 18) 3 ∈ (D∩B)
08) A∩B = ∅ 19) G ∈ A
09) A ⊂ C ’ 20) I ∈ G’
10) D ⊂ H’ 21) ∅ ’ ⊂ U
11) H’ ⊂ ∅’

Obter:

01) A∪B 05) A∩(B∪C)


02) A∩B 06) H∩(B∪C)
03) A∩C’ 07) D∪∅
04) B∩C 08) D∩E

2. Dados quaisquer conjuntos A, B e C, diga se é verdadeiro:

01) A~B = B~A


02) (A~B)~C = A~(B~C)
03) A~∅ = A
04) A ~ U = ∅
05) A~(B∩C) = (A~B)∪C
06) A~(B∩C) = (A~B)∪(A~C)
07) (∅~U) ⊂ ∅
08) Se A ⊂ B e B ⊂ A, então A=B
09) Se A∩B = ∅, então A ⊂ B’
10) Se A∩B = ∅, então B ⊂ A’
64

11) Se A∪B = A∩B, então ou A=∅ ou B=∅


12) Se A ⊂ B, então se x ∈ B, pode-se concluir que x ∈ A
13) Se A ⊂ B e A ⊂ B’, então A=∅
14) Se A ⊂ C e B ⊂ C, então ou A ⊂ B ou B ⊂ A

3. Operadores de conjuntos são interdefiníveis. Defina cada


um dos operadores {∪, ∩, ~, ’} usando apenas os
respectivamente restantes. Se necessário, use também o
conjunto U.
Exemplo: A~B =def. A∩B’

a) Definir A∪B b) Definir A∩B c) Definir A’

4. Reflita sobre os conjuntos indutivos:

a) Como se gera o conjunto dos pares indutivamente (diga a


base e a operação)? Explicite uma propriedade indutiva deste
conjunto.
b) Dado o conjunto {0, 2, 8, 26, 80,....}, identifique qual foi a
base e qual a operação usada?
c) Suponhamos que o conjunto de todos os seres humanos
forma um conjunto indutivo gerado a partir da operação de
reprodução no cruzamento de um homem e uma mulher.
Do ponto de vista da teoria da evolução, qual problema
surgiria?

5. Observe a seguinte estrutura de blocos e com base nela


responda o que se pede:

A E
G
B C F
D H
I
65

a) Quais pares ordenados pertencem à relação R=“x


está imediatamente sobre y”?
b) R é uma função? Justifique.
c) Quais pares ordenados pertencem à relação S=“x
está imediatamente sob y”?
d) S é uma função? Justifique.

6. Encontre um domínio e um contradomínio para os quais


as relações abaixo são funções:

a) x é pai de y
b) x é filho de y
c) x é namorado de y
d) x foi escrito por y
e) x é aluno(a) de y
f) x é múltiplo de y
g) x é o quadrado de y
h) x é maior do que y
i) x é menor do que y
j) x pertence ao mesmo conjunto que y

7. Muitas vezes, a exemplo de outros conjuntos, as funções


podem ser representadas de forma intensional. Por exemplo,
a função {(0,1), (1,3), (2,5), (3,7), ...} pode ser representada
através da fórmula y=2x+1. Acontece que este tipo de
representação nem sempre é possível. Por que isso acontece?
Você pode imaginar uma função que não pode ser
representada intensionalmente? Você pode representar
extensionalmente uma função que não pode representar
intensionalmente? Argumente.

8. Especifique as funções F e G, sendo F ≠ G, de modo que:

a) F∪G é uma função (exemplo)


66

Solução:

F: pares→Ν e F(x)=x/2
G: ímpares→Ν e G(x)=(x-1)/2

b) F é uma operação
c) F⊂G
d) F ⊂ Ν{x|x é par}
e) Não existe F°G, mas existe G°F
f) F°F=G
g) F°G = G°F
h) F°G ⊂ F
i) F ⊂ ΝG

9. Pense sobre o amor, ou mais exatamente, sobre a relação


“x ama y”. Para facilitar, pense somente no amor de um
homem por uma mulher, ou seja, o domínio seria o conjunto
de todos os homens e o contradomínio o conjunto de todas
as mulheres. Se essa relação fosse uma função injetora, não
haveria disputa, talvez nem ciúme, se ela fosse sobrejetora,
não haveria ninguém solitário, se ela fosse bijetora, o mundo
seria maravilhoso. Mas, infelizmente, talvez essa relação nem
seja uma função. Explique.

10. O conjunto de todos os conjuntos unitários é enumerá-


vel? Argumente.

11. Imagine uma razão que possa justificar a afirmação de


que os números não computáveis são infinitamente mais
numerosos que os computáveis.

12. Seja um conjunto A o único elemento de si mesmo.


Calcule ∪A e diga o que há de “estranho” nesse resultado.
67

13. Dado que m<n, um conjunto de cardinalidade ℵn pode


estar contido em um conjunto de cardinalidade ℵm?
Justifique.

14. Qual a cardinalidade do conjunto universo?

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