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Aspectos fenomenológicos do psicodiagnóstico

RESUMO ABSTRACT

A presente resenha trata do livro: O ser The present review deals with the book;
da compreensão: fenomenologia da situa- O ser da compreensão: fenomenologia da
ção de psicodiagnóstico1, escrito pela pro- situação de psicodiagnóstico (The being of
fessora Monique Rose-Aimée Augras. A comprehension: phenomenology of psycho-
autora, sem dúvida alguma, apresenta uma diagnosis situation), by Monique Rose-Aimée
obra de excelente qualidade, levando em con- Augras. The authour presents a work of
sideração a abrangência do tema e o leitor a excellent quality taking into consideration
que se destina. Os iniciantes e os já inicia- the comprehensiness of the subject na the
dos na prática do psicodiagnóstico encon- reader. The beginners and the already
trarão uma obra de organização clara e initiated in the practice of psychodiagnosis
consistente apresentada em sete capítulos dis- will find a clear and consistent work divided
tintos (Por que não a fenomenologia?, A si- in seven chapter, allowing the reader to
tuação, O tempo, O espaço, O outro, A fala, aunderstand and analyze the proposal of the
A obra), permitindo-lhes compreender e ana- author.
lisar as propostas da autora.

Palavras-chave: fenomenologia, psicodiagnóstico, psicologia clínica.

Key-words: phenomenology, psychodiagnosis, clinical psychology.

A obra O ser da compreensão: feno- nal como pesquisadora do extinto Ins-


menologia da situação de psicoagnósti- tituto de Seleção e Orientação Profissi-
co da dra. Monique Rose-Aimée Augras onal (ISOP) da Fundação Getúlio
professora e pesquisadora da PUC-RJ, Vargas. Atualmente é professora titular
apresenta uma reformulação do enfoque do Programa de Pós-graduação em Psi-
tradicional da prática do psicodiagnós- cologia Clínica da Pontifícia Universi-
tico, a partir de sua trajetória profissio- dade Católica do Rio de Janeiro.

1
Augras, M. R. A. (2002). O ser da compreensão: fenomenologia da situação de psicodiagnóstico.
(10ª ed.). Petrópolis, RJ: Vozes.

Endereço para correspondência: Rua Adonis de Souza, 26 – Pina


CEP 51110-210 – Recife, PE – Tels.: (81) 3454-8145 / 3467-3190 – Fax (81) 3454-8142
nemesiodario@hotmail.com

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Nemésio Dario Vieira de Almeida
Psicólogo clínico, especialista em Psicologia do Trânsito, mestre em Psicologia Social
e da Personalidade PUC-RS, atua em Psicologia do Trânsito desde de 1994
no Departamento de Psicologia do DETRAN-PE

A pesquisadora Augras em sua obra tância reconceituar o que vem a ser saú-
procura abandonar a visão psicanalítica de e doença:
tradicional que se tem do processo do psi-
codiagnóstico, apoiando-se na antropo- uma definição em termos puramen-
logia de concepção fenomenológica te estatísticos, situando o normal na
existencial, na qual mostra que angústia faixa média, deve ser afastado, por
e conflitos são situações bem-vindas à desprezar os aspectos qualitativos
dialética do existir e que se processam do comportamento e prestar-se à ca-
numa constante superação das tensões ricatura do normal perqueno-burgu-
entre sujeito e objeto, homem e mundo, ês. A normalidade deverá ser
morte e liberdade. descrita, antes como a capacidade
Dessa forma procura abordar grandes adaptativa do indivíduo, frente às
temas da existência humana como A Si- diversas situações de sua vida. Isto
tuação, O Tempo, O Espaço, O Outro, A supõe um posicionamento filosófi-
Fala e A Obra, procurando deduzir mo- co, que estabeleça as dimensões do
dalidades de compreensão dessas diver- viver, e leve em conta o jogo dialé-
sas vivências, ou seja, tratando de dirigir tico da vida (Augras, 2002, p.11).
um novo olhar sobre os diversos vetores Numa visão existencial a vida proce-
que compõem a situação de diagnóstico de dialeticamente, ou seja,
numa perspectiva fenomenológica. “ordem e desordem” são processos
Logo no início do seu livro Augras contínuos no desenvolver do ho-
nos sugere um questionamento por de- mem e do mundo “nesse caso, a
mais pertinente: “Por que não a fenome- saúde do indivíduo será avaliada em
nologia?”. Para nos chamar atenção a sua habilidade para não só manter
respeito do vocabulário da psicologia o equilíbrio, mas também superar a
clínica, e de grande parte da psicologia crise do ambiente, utilizando então
ser tomada empresta da psicanálise, “não sua capacidade criadora para trans-
haverá outro modo de formular os pro- formar esse meio inadequado em
blemas individuais além deste?”, ou seja, mundo satisfatório. Vê-se que essa
além dos conceitos propostos pela psica- definição da saúde como processo de
nálise. Ao mesmo tempo ressalta que o criação constante do mundo e de si
problema da distinção entre normal e pa- integra também o conceito de doen-
tológico, “está no âmago da própria defi- ça: saúde e doença não representam
nição da psicologia clínica. Pode-se dizer opostos são etapas de um mesmo pro-
sem risco de exagero que atualmente [em cesso (Augras, 2002, p. 12).
1976] o conceito de normal está totalmen- E ainda,
te fora de moda” (augras, 2002, p.10).
Diante dessa relação doença mental o normal é aquele que supera os
e o conceito de normal é de suma impor- conflitos, criando-se dentro de sua

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liberdade, atendendo igualmente às manifestado. Nesse ponto de vista,
coações da realidade. Patológico é a “objetividade” dessa apreensão,
o momento em que o indivíduo per- finalmente configurada em diag-
manece preso à mesma estrutura, nóstico, apoiar-se-á em critérios de
sem mudança e sem criação. Nessa coerência, deduzidos daquilo que se
perspectiva, estabelecer o diagnós- ofereceu da história do indivíduo e
tico é identificar em que ponto des- das vivências presentes (Augras,
se processo se encontra o indivíduo, 2002, p. 13).
destacar as eventuais áreas de pa-
Logo em seguida a nomeada autora
rada ou de desordem, e avaliar as
apresenta uma proposta de colocação da
suas possibilidade de expansão e de
psicologia clínica e, especialmente da si-
criação [...]. O diagnóstico procu-
tuação de diagnóstico, na perspectiva da
rará dizer em que ponto de sua exis-
fenomenologia, isto é, o método feno-
tência o indivíduo se encontrava e
menológico
que feixe de significados ele cons-
trói em si e no mundo. Desta ma- parece atender exatamente a nossos
neira, para citar mais uma vez requisitos que postulam, de um lado,
Goldstein, “cada homem será a o reconhecimento da intersubjetivi-
medida de sua própria normalida- dade, e do outro, os meios de ela-
de” (Augras, 2002, p. 12). borar uma compreensão objetiva.
Nas palavras de Merleau-Ponty “a
No transcorrer de sua obra Augras
mais importante aquisição da feno-
propõe que a atuação do psicólogo clíni-
menologia é, sem dúvida, de ter as-
co se dê
sociado o extremo subjetivismo ao
mediante a explicitação filosófica extremo objetivismo em seu con-
da situação existencial, consideran- ceito do mundo e da racionalidade
do que o momento do exame, ou [...]. O mundo fenomenológico não
melhor, do encontro entre o psicó- é o ser puro, mas sim o significado
logo e o cliente, é a atualização de que transparece na interseção de
uma situação geral de encontro en- minhas experiências e das experiên-
tre o eu e outro. Os parâmetros de cias alheias, pela engrenagem de
compreensão deste encontro serão umas com as outras, e portanto in-
procurados dentro da filosofia exis- separável da subjetividade e da
tencialista, que se propõe examinar intersubjetividade que chegam à
o homem em sua situação (Augras, unidade pela retomada de minhas
2002, p. 13). experiências passadas em minhas
Dessa forma ressaltando que experiências presentes, da experiên-
cia alheia na minha” (Augras, 2002,
deverão ser repelidos quaisquer
p. 15).
procedimentos que visem interpre-
tar o comportamento do cliente,
Em A Situação ela observa que os três
apoiando-se num sistema elabora-
aspectos da realidade humana, natureza,
do, a priori, antes e fora do aconte-
história e existência
cimento presente. Da mesma
maneira que cada indivíduo for à podem ser deduzidos como etapas
medida de sua normalidade, em do processo de formação do ho-
cada situação, o significado será mem: animal, socius, sapiens. O
buscado dentro daquilo que for terceiro termo, porém é que carreia

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a especificidade da existência hu- outro), o seu fazer-se (a obra)” (Augras,
mana, atribuindo significação à na- 2002, p. 25).
tureza e à história e, por assim dizer, Sobre O Tempo destaca que têm ocor-
transfigurando-as. Desde já, a exis- rido equívocos em psicologia em relação
tência se propõe como um feixe in- aos estudos sobre o tempo:
tricado de interações e de tensões.
Suporte da natureza e autor da his- questiona-se a consciência do tem-
tória, o homem fundamenta-se na po vivido, duração, memória, ori-
consciência de si e do mundo (Au- entação no tempo social. Situa-se o
gras, 2002, pp. 20-21). homem em relação à sua historici-
dade. Mas, em todo caso, o tempo
Nesse sentido, o conflito não deve ser é concebido como algo exterior ao
concebido como algo ruim, nocivo homem, que nele atua, que ele pode
tentar manipular em proveito pró-
expressa, antes a luta necessária en- prio, mas que, mais cedo ou mais
tre tendências contrárias que, suces- tarde, afirma-se-á como o seu Se-
sivamente opostas e sintetizadas, nhor (Augras, 2002, p. 26).
compõe o próprio processo da vida.
Nos termos da psicologia indivi- E ainda, com esse enfoque o tempo
dual, a crença tão difundida, segun- não é algo exterior ao homem,
do a qual conflito seria sinônimo
de desajustamento, toma feições de o tempo é extensão e criação da re-
ideologia superficial e ingênua. alidade humana. É paradoxalmen-
Advindo das tensões, o conflito é te condição de sua existência e
gerador de equilíbrio. Na dialética garantia da sua impermanência.
do sujeito e do objeto, a cisão é fon- Porque o homem cria o tempo, mas
te do impulso para o conhecimento não o determina. Falar do tempo é
e motor para a construção mútua do descrever toda a insegurança onto-
homem e do mundo. Nesse senti- lógica do homem. Vê-se o quanto a
do, a realidade é conflito, intrinse- psicologia tradicional do tempo, li-
camente. [...] (Augras, 2002, pp. mitada a experimentos sobre a per-
20-21). cepção do mesmo ou perdida em
especulações acerca da oposição
Ou seja, “reconhecendo-se na in- entre vivência individual e dura-
tencionalidade da sua consciência, a ção “objetiva”, deixa de lado uma
existência humana emerge na cisão. problemática mais funda, que a fe-
Consciência de si e consciência do mun- nomenologia trouxe à luz: o tem-
do são dois enfoques do mesmo fenôme- po como construção. Conforme
no. A realidade humana exprime-se na Heidegger, a explicitação autênti-
sua dimensão de ser no mundo”. ca do tempo situa-o “como horizon-
Para a dimensão do diagnóstico, obje- te da compreensão do ser, a partir
to presente da preocupação de Augras, da temporalidade como componen-
“a fala do cliente, nas entrevistas e nas te do ser” (Augras, 2002, p. 27).
provas, é a manifestação de sua realida-
de, e como tal será investigada. Através Já em O Outro, na relação de diagnós-
dela é que serão trazidos a lume as suas tico numa perspectiva fenomenológica
vivências: a sua história (o tempo), o seu existencial “o mundo da coexistência não
corpo (o espaço), a sua estranheza (o se estrutura em termos de oposição – ou

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de complementaridade – entre um sujei- los, que lhe dêem significação hu-
to e os diversos os objetos que o rodei- mana, poder-se-ia dizer até vocação
am” (Augras, 2002, pp. 55-56). Ao se humana, dimensão humana [...]. A
interrogar a respeito da compreensão de função simbólica configura a pró-
si, Augras sugere que a situação do ser pria dimensão da integração ho-
no mundo é caracterizada pela “estranhe- mem-mundo. A fala, o discurso,
za”, isto é, enuncia a explicitação, formula a
revelação da realidade humana que
nesse sentido, a compreensão do postula, para existir, a assunção da
outro não descansa apenas na com- sua realidade. É aquilo que Aristó-
preensão de si, mas se justifica a teles chamava o discurso que reve-
partir da situação do homem como la aquilo de que se fala (Augras,
desconhecido de si para si mesmo. 2002, pp.75-76).
Ou seja: a coexistência é também
co-estranheza. O outro fornece um
Em seu livro, a professora Monique
modelo para a construção da ima-
Rose-Aimée Augras, embasada em expe-
gem de si. Por ser outro, contudo
riências e pesquisas por ela realizadas,
ele também revela que a imagem de
vem preencher uma das lacunas nos es-
si comporta uma parte igual de al-
tudos do psicodiagnóstico, suprindo o
teridade (Augras, 2002, p. 56).
estudante, o técnico, o especialista com
uma obra séria, profunda, a partir da qual
Ao se referir sobre A Fala, ainda
é possível desenvolver uma prática crí-
numa perspectiva fenomenológica da si-
tica mais adequada ao psicodiagnóstico,
tuação do psicodiagnóstico, a autora nos
no dizer da autora “apoiar no cliente a
explica que
procura da autenticidade requer do psi-
tanto a necessidade de colocar-se cólogo que saiba igualmente residir den-
perante o outro, de integrá-lo, de tro da própria verdade. Tal como a
superar a antinomia identidade-al- hermenêutica dos mitos, e a contempla-
teridade, quanto a conscientização ção estética, a obra aberta da compreen-
do sentimento de estranheza, levam são do existir humano necessita ser
ao afã de compreender, explicitar, participação, transmutação e exercício da
formular a situação do ser no mun- liberdade” (Augras, 2002, p. 96).
do [...]. Compreender o mundo é in-
terpreta-lo. Entendê-lo é elaborar Encaminhado em 13/03/03
um conjunto de signos, de símbo- Aceito em 23/06/03

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