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1) Gostaria que a sra falasse um pouco sobre o processo de concepção do curta-

metragem. Como surgiu a ideia e o interesse em abordar o cotidiano e as relações


humanas na Saara?

Desde criança gosto de caminhar pelo Centro da cidade e sentir o movimento das
pessoas. Quem me introduziu nesse prazer e me apresentou a Saara foi minha avó,
Natalina. Ela era freguesa de várias lojas como a Turuna, onde passávamos horas
escolhendo nossas fantasias para o Carnaval, e a Casas Pedro. Circulávamos também
pelas imediações da Saara. Nossos passeios aconteciam depois das consultas ao Dr.
Mariano, um sábio homeopata que atendia ali pela Rua da Carioca. Às vezes,
almoçávamos no Bar Luiz e comprávamos sapatilhas de balé na Rosa Branca, na
Ramalho Ortigão. Pensando agora no documentário, os principais temas do filme são
elementos que sempre me chamaram a atenção: a interação entre as pessoas, a rádio
Saara, os pregoeiros e a decoração das lojas que vai mudando de acordo com as datas
festivas do calendário. É um filme sobre recordação e amizade.

2) O documentário tem como fio condutor a amizade entre o judeu Henrique Nigri
e o árabe Demétrio Habib. Poderia falar um pouco sobre os dois? Como a
produção do curta chegou nesses dois personagens? O que na amizade deles
justificou a escolha de ambos como protagonistas?

Em 2001 trabalhei como pesquisadora de conteúdo em uma produtora de TV no


Flamengo, RJ. Numa conversa com a designer Maria Clara Moraes, na hora do
cafezinho, surgiu a ideia de falar sobre a boa relação entre os comerciantes árabes e
judeus da Saara. Mais tarde descobri que são descendentes de libaneses, com religiões
diferentes. Nessa época, estava casada com Rodrigo Costa, que também dirigiu e
produziu o documentário. Ele já havia feito dois curtas-metragens e trabalhava como
assistente de direção de cinema. Foi ele quem me incentivou a escrever um projeto para
tentar algum patrocínio. Comecei a frequentar com mais assiduidade a Saara. Tive sorte,
logo conheci Henrique Nigri, que adora escrever e contar histórias. Ele me ajudou muito
na etapa da elaboração onírica do roteiro e também me indicou possíveis entrevistados,
entre eles, Demétrio Habib. Fiquei entusiasmada com a história da amizade entre eles,
como me contou Henrique. Até chegamos a pensar em direcionar o roteiro por aí, gravá-
los em passeios pelo Rio, no Maracanã etc. Mas felizmente voltei ao meu foco: fazer
um filme sobre a Saara, falando de amizade, recordação e sensações. A ideia era levar o
espectador para um passeio na Saara. Assim consegui escrever o roteiro que foi
premiado com o Petrobras Cultural em 2006. Foi um processo intenso até a conclusão
do filme. As gravações aconteceram no decorrer de um ano, já que tínhamos por fio
condutor as datas festivas, que movimentam o comércio. Gravamos na festa de São
Jorge, em abril, numa alvorada emocionante. A festa surpresa dos 80 anos do Sr.
Demétrio, Natal, Carnaval. E um grande almoço onde reunimos todos os participantes
num domingo chuvoso, em plena Rua da Alfândega, numa filmagem memorável, digna
de filme de ficção. O filme só ficou pronto em 2009, estreou no FAM, em Florianópolis
onde pude sentir a calorosa recepção da plateia, ganhamos o prêmio aquisição do Canal
Brasil e depois o júri popular no Cinesul, em 2010.
O longo processo de realização desse documentário foi um aprendizado que levarei
comigo para toda vida. Uma aventura que só foi possível pela parceria com Luiz
Guimarães de Castro, produtor e montador do filme, Alex Araripe, fotógrafo, Alfonso
Coser, assistente de fotografia e Rodrigo Costa. Importante também foi a confiança que
todos os participantes depositaram na nossa história, e os diálogos com Angélica Tironi,
cujo apoio foi fundamental para o meu entendimento da complexidade das relações
humanas.

3) Vemos diariamente notícias sobre conflitos causados pela intolerância entre o


povo árabe e judeu. O que uma amizade como a de Nigri e Habib diz sobre a Saara,
esse "oásis de convivência pacífica" no Centro do Rio? A que a sra acha que se
deve essa "mágica" da Saara, onde tantos povos conseguem conviver
harmoniosamente?

Acho que o mais importantes que aprendi é que a gente pode fazer a vida ficar mais
bonita, e que a “mágica” está em manter o movimento, realizar, apesar de tudo.

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