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PODER JUDICIáRIO

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO


GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL FRANCISCO WILDO

ACR 11472/CE
(V-85)

Por fim, revogo a condenação no que concerne ao ressarcimento individual no


valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) determinada na parte final da sentença, por considerar um bis in
idem, devendo o prédio da organização Paratodos e os valores encontrados nos cofres da organização
servirem como ressarcimento à reparação do dano decorrente dos delitos, ficando vedada a pena de
confisco.

DISPOSITIVO

Ante o exposto, não conheço do recurso de apelação do réu FRANCISCO


CARLOS ARAÚJO CRISÓSTOMO, por ausência de pressuposto processual –interesse recursal –,
haja vista a ocorrência da prescrição retroativa da pretensão punitiva do Estado, e dou parcial
provimento às apelações interpostas para:

a) reduzir a pena imposta a FRANCISCO MORORÓ e JOÃO CARLOS


MENDONÇA, reconhecendo a prescrição retroativa e extinguindo a
punibilidade em relação a eles, conforme determinado acima;

b) reduzir as penas impostas a FÁBIO LEITE DE CARVALHO


JÚNIOR, ARNALDO PAULA VIANA, JOSÉ GOMES DE OLIVEIRA
FILHO, HAMILTON PAULA VIANA FILHO, VILAUBA MARIA DE
PAIVA SALVADOR e JOÃO ARAÚJO CRISÓSTOMO, substituindo por
restritivas de direito, nos termos acima;

c) reduzir as penas FRANCISCO LIMA MORORÓ, HAMILTON


PAULA VIANA, FRANCISCO DE ASSIS RODRIGUES DE SOUZA e
JOÃO EVANGELISTA CAMELO REBOUÇAS, tal qual determinado
supra; e

d) afastar a pena de perdimento dos bens dos réus em favor da União,


devendo somente ser declarado o perdimento em relação ao prédio da
Paratodos e os valores encontrados nos cofres da organização, revogando a
decisão no que concerne ao ressarcimento individual no valor de R$
10.000,00 (dez mil reais), no prazo estipulado, por considerar um bis in idem.

É como voto.
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GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL FRANCISCO WILDO

APELAÇÃO CRIMINAL Nº 11472/CE (2001.81.00.025787-4)


APTE : FRANCISCO DE ASSIS RODRIGUES DE SOUZA
APTE : FRANCISCO MORORO
APTE : JOÃO EVANGELISTA CAMELO REBOUÇAS
APTE : FÁBIO LEITE DE CARVALHO JÚNIOR
APTE : ARNALDO PAULA VIANA
APTE : VILAUBA MARIA DE PAIVA SALVADOR
APTE : FRANCISCOLIMA MORORO
APTE : JOSÉ GOMES DE OLIVEIRA FILHO
ADV/PROC : ADEMAR RIGUEIRA NETO E OUTROS
APTE : HAMILTON PAULA VIANA FILHO
APTE : HAMILTON PAULA VIANA
ADV/PROC : FLÁVIO JACINTO DA SILVA E OUTROS
APTE : JOAO CARLOS DE MENDONCA
ADV/PROC : WALDIR XAVIER DE LIMA FILHO E OUTROS
APTE : JOÃO ARAÚJO CRISÓSTOMO
ADV/PROC : FRANCISCO LIVELTON LOPES MARCELINO
APTE : FRANCISCO CARLOS ARAUJO CRISOSTOMO
ADV/PROC : FRANCISCO LIVELTON LOPES MARCELINO
APDO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
ORIGEM : JUíZO FEDERAL DA 11ª VARA FEDERAL DO CEARá
RELATOR : DES. FED. FRANCISCO WILDO

EMENTA

PENAL. APELAÇÕES CRIMINAIS. CRIMES DE QUADRILHA E


LAVAGEM DE DINHEIRO. SENTENÇA CONDENATÓRIA.
RECORRENTE QUE FOI BENEFICIADO PELA EXTINÇÃO DA
PUNIBILIDADE. AUSÊNCIA DE INTERESSE RECURSAL. NÃO
CONHECIMENTO DO APELO. MATERIALIDADE E AUTORIA
DELITIVAS. DEMONSTRAÇÃO. DOSIMETRIA DAS PENAS. EXCESSO.
- É remansoso o entendimento do col. STJ no sentido de que carece de interesse
recursal o acusado quando reconhecida a prescrição da pretensão punitiva do
Estado. Isso porque, essa decisão declaratória possui amplos efeitos, eliminando
todos os consectários decorrentes da sentença penal condenatória e as
consequências desfavoráveis ao réu.
- Hipótese em que, após o col. STJ, no HC 150.608/CE, ter reconhecido a inépcia
da primeira denúncia apresentada, foi ofertada uma segunda, também objeto de
questionamento judicial. Desta vez, no entanto, a peça acusatória foi considerada
idônea, ao menos no que concerne aos delitos de lavagem de dinheiro e quadrilha,
sendo trancada a ação penal apenas quanto aos crimes de que cuidam os arts. 11 e
16 da Lei 7.492/86, conforme decidido por este TRF, nos autos do HC 4547/CE,
da relatoria do il. Des. Fed. Manoel Erhardt.
- Entendimento ratificado pela 6ª Turma do col. STJ, no HC 235.900/CE, cujo
relator foi o Min. Og Fernandes, o qual salientou, em seu voto, tratar-se de
denúncia que atende às exigências do art. 41 do CPP, ressaltando, ademais, que
"o crime de lavagem de dinheiro também é autônomo, conforme
reiteradamente tem proclamado a nossa jurisprudência, e, conquanto exija o
delineamento dos indícios de cometimento de uma infração penal antecedente,
com ela não guarda qualquer relação de dependência para efeito de
persecução penal, inclusive na hipótese de ocultação de valores oriundos de
sonegação tributária." (DJe 21.6.2013).
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ACR 11472/CE
(acórdão)_2

- É cediço que a sentença deve indicar os motivos de fato e de direito em que se


fundar o decisum. Todavia, não se faz necessário analisar exaustivamente todas
as teses defensivas, sendo satisfatório que se faça a valoração do conjunto
probatório e a fundamentação objetiva acerca dos argumentos levantados pelas
partes.
- Embora sucintos, os fundamentos expostos na decisão de primeiro grau são
suficientes para afastar as preliminares suscitadas pela defesa, pois a
fundamentação empregada pelo magistrado, ainda que concisa, mostrou-se
suficiente para motivar a sentença.
- Identificada, nos autos, uma organização criminosa, nos moldes do artigo 1º da
Lei 9.034/95, com a redação dada pela Lei 10.217/01, com a tipificação do artigo
288 do Código Penal, do Decreto nº 5.015, de 12 de março de 2004, do Decreto
Legislativo nº 231, de 29 de maio de 2003, que ratificou a Convenção das Nações
Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, bem como, ao que se vê,
provas de crimes por ela cometidos, considera-se presente o requisito da
existência do crime antecedente ao delito de lavagem ou ocultação de bens,
direitos e valores, aperfeiçoando-se, por conseguinte, a justa causa para a ação
penal.
- O fato de ter a escuta telefônica perdurado por maior período não acarreta a
nulidade do procedimento, nem torna imprestável a prova através dele colhida,
porque, embora estabelecendo o prazo de 15 dias, a lei não limita o número de
prorrogações possíveis, que podem se estender quantas vezes forem necessárias
ao bom andamento das investigações. Precedentes.
- Independentemente de se tratar de crimes permanentes ou de delitos instantâneos
de efeitos permanentes, resta evidente que, segundo a denúncia, a permanência
cessou no dia da prisão temporária dos acusados e fechamento do prédio da
Organização Paratodos em 2008, sendo que entre a deste do fato e o recebimento
da segunda denúncia e entre esta e a publicação da sentença não transcorreu o
prazo suficiente para ser decretada a prescrição, mesmo em se tratando de
acusado cuja idade é superior a 70 anos (cujo prazo prescricional é reduzido pela
metade, conforme art. 115, CP).
- Extrai-se dos autos que a chamada "Organização Paratodos" foi formalmente
constituída em 24 de agosto de 1998, contando com um quadro de 30 (trinta)
sócios, cuja atividade explicitada no contrato social era a criação e distribuição
de loterias, promoção de bingos eletrônicos e jogos similares.
- Segundo o inquérito policial (IPL n° 853/2001, que a Polícia Federal apelidou
de "operação Arca de Noé"), constatou-se que, na realidade, a sociedade
dedicava-se, há mais de trinta anos, ao "jogo do bicho". No curso da investigação,
houve a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico dos investigados, a
decretação da prisão preventiva deles e a concessão de medida cautelar de busca
e apreensão na residência dos sócios e na sede da organização, verificando-se
que: (a) a Organização Paratodos, nos anos-calendário 2002 a 2005, apresentou
à Secretaria da Receita Federal do Brasil (SRFB) Declaração Anual de Pessoa
Jurídica Simplificada Inativa, apesar do seu funcionamento ininterrupto desde
1976, apesar de não possuir conta corrente em instituição financeira ou bancária
nacional; (b) nenhum dos sócios da empresa informou a sociedade como fonte de
rendimentos em suas declarações do Imposto de Renda Pessoa Física (DIRPF);
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ACR 11472/CE
(acórdão)_3

(c) cruzando os dados obtidos pela quebra dos sigilos bancários e fiscais,
constatou-se que a situação econômica, patrimonial e a movimentação financeira
dos sócios, aqui acusados, são incompatíveis com os rendimentos declarados ao
Fisco (informação técnica no 147/2007-SR/DPF/CE); e (d) foi apreendida a
quantia de R$ 5.081.248,48 (cinco milhões oitenta e um mil, duzentos e quarenta
e oito reais e quarenta e oito centavos) na sede da organização no centro de
Fortaleza.
- O ânimo definitivo restou demonstrado pela estreita ligação entre os membros
do grupo, reunidos com o objetivo de explorar a atividade ilegal de jogo do bicho.
A estabilidade e permanência da associação criminosa também foram provadas
diante da dinâmica dos acontecimentos, caracterizados por uma predisposição
comum de meios para a prática de uma série indeterminada de crimes, com
condutas que convergiam para os mesmos fins.
- O col. STJ tem reconhecido, na exploração de jogos de azar, a presença de
quadrilhas organizadas, ou de organizações criminosas, sendo tal infração
abarcada pela Lei n° 9.034/95. Portanto, a abertura de casas de bingo, a
colocação de máquinas caça-níqueis em estabelecimentos comerciais e o jogo do
bicho, todos são enquadrados, inclusive, no rol dos crimes organizados.
- A Lei n° 9.034/95, que dispôs sobre a utilização de meios operacionais para a
prevenção e a repressão das ações praticadas por organizações criminosas,
deixou de conceituar a própria organização criminosa, podendo-se utilizar por
analogia a Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado, em
decorrência da adesão da Convenção de Palermo.
- Por seu turno, o Conselho Nacional de Justiça, na Recomendação n°. 3, de
30.05.2006, admitindo expressamente o conceito de crime organizado
estabelecido na convenção.
- No caso perfilado, pela análise da sentença, existe uma relação intrínseca
estabelecida entre os crimes de quadrilha e a lavagem de capitais: a lavagem de
dinheiro se apresenta como um dos objetivos da quadrilha (ou organização
criminosa), sendo que esta mesma organização consubstancia antecedente lógico
à lavagem de dinheiro.
- Segundo restou apurado nos autos, o grupo cuidava de ocultar a origem dos
valores obtidos com a jogatina, por meio da aquisição de imóveis, veículos, jóias
e aplicações financeiras.
- Verifica-se que, no tocante às penas, a r. sentença apresenta, em sua
fundamentação, incerteza denotativa ou vagueza, carecendo, na fixação da
resposta penal, de fundamentação objetiva imprescindível. No caso, é de se
ressaltar que, muito embora haja circunstâncias judiciais desfavoráveis
(culpabilidade e circunstâncias do crime), não são elas suficientes para majorar a
pena-base em seu máximo legal. Vale dizer, não existem argumentos suficientes a
justificar, no caso, a fixação da pena-base em 3 (três) anos para o crime de
quadrilha e 10 (dez) anos de reclusão para o crime de lavagem de capitais, sendo,
portanto, manifestamente desproporcional à fundamentação apresentada.
- A sentença decretou, com base nos arts. 7º da Lei 9.613, de 1998, e 91 do
Código Penal, o perdimento, em favor da União Federal, de todos os bens,
direitos e valores pertencentes a todos aos acusados que foram “ arrecadados,
apreendidos, sequestrados, ou colocados em indisponibilidade no presente
processo que não tiveram tais medidas revogadas” . Não se preocupou, no entanto,
em discriminar quais os bens que são produtos do crime ou que foram adquiridos
com recursos dele provenientes.
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(acórdão)_4

- Afastada, deste modo, a pena de perdimento. O Ministério Público poderá,


mediante medida própria, discriminar os bens que são produtos do crime ou que
foram adquiridos com recursos dele provenientes, devendo somente ser perdido
em favor da União o imóvel onde funcionava a organização Paratodos e seus
estacionamentos, bem como os valores encontrados em seus cofres.
- Revogação da condenação alusiva ao ressarcimento individual no valor de R$
10.000,00 (dez mil reais) determinada na parte final da sentença, evitando-se o
bis in idem, devendo o prédio da organização Paratodos e os valores encontrados
nos cofres da organização servirem como ressarcimento à reparação do dano
decorrente dos delitos, ficando vedada a pena de confisco.
- Não conhecimento do apelo interposto por FRANCISCO CARLOS ARAÚJO
CRISÓSTOMO, por ausência de pressuposto processual –interesse recursal –,
haja vista a prescrição retroativa da pretensão punitiva do Estado.
- Provimento, em parte, dos demais apelos para os seguintes fins:
a) reduzir-se a pena imposta a FRANCISCO MORORÓ e JOÃO CARLOS
MENDONÇA, reconhecendo-se a prescrição retroativa, com a consequente
extinção da punibilidade.
b) reduzir-se as penas impostas a FÁBIO LEITE DE CARVALHO JÚNIOR,
ARNALDO PAULA VIANA, JOSÉ GOMES DE OLIVEIRA FILHO,
HAMILTON PAULA VIANA FILHO, VILAUBA MARIA DE PAIVA
SALVADOR e JOÃO ARAÚJO CRISÓSTOMO, substituindo-as por restritivas
de direito;
c) reduzir-se as penas FRANCISCO LIMA MORORÓ, HAMILTON PAULA
VIANA, FRANCISCO DE ASSIS RODRIGUES DE SOUZA e JOÃO
EVANGELISTA CAMELO REBOUÇAS, nos termos do voto do relator; e
d) afastar-se a pena de perdimento dos bens dos réus em favor da União,
devendo somente ser declarado o perdimento em relação ao prédio da Paratodos
e os valores encontrados nos cofres da organização, revogando-se, ainda, a
decisão no que concerne ao ressarcimento individual no valor de R$ 10.000,00
(dez mil reais), no prazo estipulado, para evitar-se um bis in idem.

ACÓRDÃO

Vistos, etc.

Decide a Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por


unanimidade, não conhecer do apelo de Francisco Carlos Araújo Crisóstomo, dando provimento, em parte,
aos demais apelos, nos termos do Relatório, Voto e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam
fazendo parte integrante do presente julgado.

Recife, 25 de junho de 2015.


(Data de julgamento)

Des. Fed. FRANCISCO WILDO


Relator

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