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1. O que é 0 apostolado? see Deus é a bondade infinita. A bondade anseia difundir-se e comunicar generosamente os bens que possui. A vida terrena de Nosso Senhor Jesus Cristo foi uma continua manifestacio dessa inesgotavel liberalidade. O Evangelho mostra-nos o Redentor a semear pelos caminhos da terra os tesouros de amor de um Coragao desejoso de atrair os homens para a verdade e para a vida. Jesus comunicou a sua Esposa mistica esta chama de apostolado. Ani- mada por esse fogo, a Igreja — que € dadiva do seu amor, difusdo da sua vida, manifestagdo da sua verdade, fulgor da sua santidade — continua, no decurso dos séculos, a obra de apostolado do seu divino Modelo. Designio admiravel, lei universal estabelecida pela Providéncia! “E por meio do homem que 0 homem deve conhecer 0 caminho da salvacio”.! Somente Jesus Cristo derramou 0 sangue que resgata 0 mundo, Ele teria podido, se quisesse, aplicar a virtude desse sangue e agir imediatamente sobre as almas, como faz na Eucaristia. Quis, porém, servir-se de colaboradores para distribuir os seus beneficios. Porqué? Porque a majestade divina assim 0 exige. Mas nao s6: move-o também © seu infinito amor por nds. Se os grandes monarcas governam por in- termédio dos seus ministros, que condescendéncia a de Deus, em associar pobres criaturas as suas lutas € a sua gloria! 2 * Nascida sobre o patibulo da cruz, saida do lado trespa Salvador, a Igreja perpetua, por meio do ministério aj 0 Homem-Deus. sa e redentora do orate.» 2jado por Jesus Cristo, torna-se es' 0 gacdio dessa Igreja pelas nagdes e o mais habii das suas conquistas. 4 Na primeira linha o clero, que constitui a hierarquia de Cristo. Clero ilustrado por tantos bispos e sacerdotes sant gloriosamente honrado pela elevacao do santo Cura de Ars as dos altares. Ao lado deste clero oficial, surgiram, desde as origens do cristi numerosas companhias de voluntarios, verdadeiras milicias de escol, sao um dos fenomenos mais evidentes da vitalidade da Igreja. Logo nos primeiros séculos, aparecem as Ordens contemplati 3 que tanto contribuiram, com oragées fervorosas e duras peniténcias, — para a conversao dos gentios. Na Idade Média, surgem as Ordens dos pregadores, as Ordens mendicantes, as Ordens militares, as Ordens votadas a herdica missdo de resgatar os cativos em poder dos infiéis. Enfim, os tempos modernos véem nascer uma enorme quantidade de congrega¢6es e institutos dedicados as missdes, as obras de caridade € ao ensino, cuja missao ¢ espalhar o bem espiritual e corporal sob as mais diversas formas. Por outro lado, em todas as épocas da sua histéria, a Igreja recebeu a preciosa colabora¢ao dos simples fi¢is, que, unindo-se em grupos de trabalho, sacrificam com entusiasmo 0 seu tempo, capacidades, fortuna, liberdade e, quantas vezes, o proprio sangue, para servir a nossa Mae comum. Como é admiravel e consolador o florescimento providencial de todas essas obras, que nascem no momento preciso e se adaptam maravilhosamente as circunstancias! Nas necessidades novas, 01 dade certa, / Para responder aos grandes males que afligem a nossa é mos surgir uma multidao de obras, que, ontem, ainda mal aad de preparagdo para a primeira pei. © catecismo para as criangas a : reuniGes e retiros para adultos ejover ‘ Panto, ansioselporidifundiniem oda _do sangue de Cristo: “Quanto a mim, de muito boa vo meu ¢ dar-me-ei a mim mesmo pelas vossas almas” (2 Cor 4 Possam estas humildes paginas ajudar os heréicos con se expoem, pelo préprio exercicio da sua nobre missao, ao perig : perderem a sua vida interior, e que, por isso mesmo, podem serenade — perante os consequentes fracassos, aparentemente inexplicaveis, ou perante graves crises espirituais — a abandonarem a luta! tea Os pensamentos contidos neste livro tém ajudado o autor destas linhas a preservar a sua vida interior no meio das obras. Queira Deus que eles possam ajudar esses apéstolos, poupando-lhes grandes des- gostos, e orientando o seu zelo, de modo a compreenderem que o Deus das obras nao deve ser abandonado pelas obras de Deus; e que o brado de Sao Paulo, “Ai de mim se nao evangelizar!” (1 Cor 9, 16), nao nos concede o direito de esquecer a inquietante pergunta de Jesus: “Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua alma?” (Mt 16, 26). Os pais e maes de familia, para quem a “Introdugao a vida devota” de Sao Francisco de Sales nao é um livro antiquado; os esposos cristaos, j que se consideram obrigados — entre si e com os filhos — a um apos- i tolado que cultive o amor e a imitagao do Salvador, podem, igualmen- te, aplicar os ensinamentos destas modestas paginas. Poderao, assim, compreender que uma auténtica vida de piedade tornara mais eficazes 0s seus esforgos e perfumara o seu lar com o espirito de Jesus pete com essa paz inalteravel que, apesar das provagées, ha-de ser s apandgio das familias profundamente cristas. q 4 ‘2. Deus quer que Jesus seja a vida das obras - Aciéncia proclama, e com razao, os seus im ‘ coisa que nunca conseguira: ccriar -vivos, que colaboram, e podem interferir, no crescimen go das espécies, embora a sua fecundidade se realize, das condigdes estabelecidas por Deus. Porém, quanto a criagi racional, Ele reserva-a, unicamente, para Si. Ora, existe um dominio no qual o Criador é ainda mais cios dominio da vida sobrenatural. A Encarnagio e a Redengao constituiram — Jesus como fonte —e fonte tnica — dessa vida divina, na qual todos os, homens sao chamados a participar. A acgdo essencial da Igreja consiste em difundir essa vida por meio dos sacramentos, da oragao, da pregagaio e de todas as suas obras. Deus tudo faz por meio do seu Filho. “Todas as coisas foram feitas por Ele; e nada do que foi feito, foi feito sem Ele” (Jo 1, 3). Se isto é assim na ordem natural, quanto mais na ordem sobrenatural, pela qual Ele comunica aos homens a sua propria natureza, e os torna Filhos de Deus. “Eu vim para que tenham Vida, e a tenham em abundancia” (Jo 10, 10). “N’Ele estava a Vida, e a Vida era a luz dos homens” (Jo 1, 4). “Eu sou a Vida” (Jo 14, 6). Que preciso nestas palavras! Que luz na parabo- la da videira e dos sarmentos, onde o Mestre desenvolve esta verdade! Com que insisténcia procura Ele gravar no espirito dos seus Apéstolos este principio fundamental: s6 Jesus é a vida; e esta consequéncia: para participar nessa Vida e comunica-la aos outros, devemos ser enxertados no Homem-Deus! Os homens chamados para transmitir as almas a vida divina devem, portanto, considerar-se como simples canais, por onde ha-de circular essa vida, que eles s6 poderao receber da tinica fonte, que é Jesus. Grosseiro erro teolégico deixaria transparecer 0 apéstolo que igno- ~ rasse estes principios, e julgasse poder produzir 0 mais pequeno vestigio de vida sobrenatural, sem a haurir, unicamente, em Jesus. Desordem menor, mas também grave aos olhos de Deus, é a daquele, que, embora reconhega o Redentor como fonte da vida divina, esquece, _-a prtica, esta verdade e sé conta com as suas préprias forgas. Falamos aqui, somente, da desordem intelectual, que implica’ gagao de um principio, ao qual devemos aderir em espirito e @ nossa conduta; e nfo da desordem moral do homem de teconhece 0 Salvador como fonte tinica da graga e do apéstolo que, por esquecer © seu papel secu do seu apostolado, unicamente da st -e dos seus talentos. oe ait _ “Heresia das obras”! A acgao de Deus substituida pela — humana, orgulhosa e febril; a vida sobrenatural, 0 _ economia da Redengao desprezadas ou esquecidas! Neste i naturalismo € frequente encontrarmos pessoas de obras que procedem: como se 0 éxito dependesse, principalmente, das suas engenhosas orga- nizages. Na sua insensatez, parecem dizer: “Meu Deus, nao levanteis obstaculos 4 minha empresa, nao prejudiqueis o seu funcionamento, que __ eu encarrego-me de a levar a bom termo.” Deus confunde esses falsos apéstolos — que julgam poder cor nicar a fé, a vida sobrenatural, a virtude, ou fazer cessar 0 pecado, sem iS atribuir esses efeitos, unicamente, ao sangue preciosissimo de Cristo CO as suas obras de orgulho acabam por fracassar ou apenas provocam—_ miragens efémeras. Ressalvando tudo o que se opera nas almas ex opere operato, Deus { nega/ao apéstolo arrogante as suas melhores béngaos, para reserva-las ‘ao ramo que, humildemente, reconhece sé poder haurir a sua seiva no tronco divino. 3. O que é a vida interior? & Quando empregamos as palavras vida de oragao, contemplagao, vida contemplativa — termos que se encontram nos Padres da |; a -escolasticos — a nossa intengdo é sempre designar a vida in acessivel a todos, e nado os estados pouco comuns di 4 pesics estuda, e a fortiori os visdes, em mim, pela fé, pela esperanga e pela caridade. A presenga de Nosso Senhor, por meio desta sida s( nao éa presenga real, propria da sagrada comunhdo, mas uma de acgio vital, como pode ser, no corpo humano, a ac¢ao da cabe do coragao sobre os membros; ac¢ao intima, que Deus, quase me oculta, tornando-a insensivel 4s minhas faculdades naturais, aumentar 0 mérito da minha fé; acco divina que deixa subsistir o meu livre arbitrio e utiliza as causas segundas — acontecimentos, pessoas € coisas — para me fazer conhecer a vontade de Deus e aumentar a minha participagao na vida divina. % Esta vida, iniciada no Baptismo, pelo estado de graga; aperfeigoada pela Confirmagao; conservada e enriquecida pela Eucaristia, é a minha vida crista. 2" verdade. Jesus Cristo comunica-me 0 seu Espirito por meio desta vida, e torna-se, assim, o principio superior que me leva — caso nao Lhe ponha obstaculos — a pensar, julgar, amar, querer, sofrer e trabalhar com Ele, por Ele e n’Ele. As minhas acgdes exteriores tornam-se ma- nifestagdes desta vida de Jesus em mim, e come¢o a realizar 0 ideal de vida interior formulado por S. Paulo: “Ja no sou eu que vivo, € Cristo que vive em mim’ (Gal 2, 20). A vida crista, a piedade, a vida interior, a santidade nao diferem. essencialmente entre si; so os diversos graus de um sé e mesmo amor; sao a aurora, a luz e o esplendor do mesmo sol. A minha vida interior ha-de ser, pois, a minha vida crista aperfei- goada. O essencial da vida crista limita-se aos esforgos necessarios para conservar a graga santificante. A vida interior vai mais além. Visa 0 desenvolvimento desta graga, procura atrair gragas actuais abundantese — corresponder a elas. Posso, assim, defini-la como 0 estado de actividade da alma que regula as suas inclinages naturais, e se esforga por © habito de julgar e de se dirigir em tudo pela luz do Ev. exemplos de Nosso Senhor. /°) i... 07 ___ Portanto, dois movimentos. Em virtude do _ trai-se a tudo quanto as criaturas possam ter ~ natural, e procura estar incessantemente rset _acreaturis. Em virtude do segundo, a alma tende para De ‘se une: Conversio ad Deum. Assim é que a alma quer ser fiel 4 graga que Noss0 oferece a cada momento. Em suma, vive unida a Jesus e realizaasua vontade: “O que permanece em Mim, e Eu nele, esse da muito fruto; ” porque sem Mim nada podeis fazer” (Jo 15, 5). 3" verdade. Privar-me-ia de um dos mais poderosos meios de ad- quirir esta vida interior, se me nao esforgasse por ter fé precisa ¢ slida . nesta presenga activa de Jesus em mim, e, sobretudo, por aleangar que essa presenga se torne em mim uma realidade viva, vivissima até, que va penetrando, cada vez mais, a atmosfera das minhas faculdades. Jesus tornar-se-d, assim, a minha luz, o meu ideal, o meu conselho, o meu apoio, o meu recurso, a minha forea, o meu médico, a minha consola¢ao, a minha alegria, o meu amor, numa palavra a minha vida. Adquirirei, deste modo, todas as virtudes. Somente ent&o poderei dizer, com toda a sinceridade, a admiravel oracdo de S. Boaventura, que a Igreja acon- selha como accio de gracgas depois da missa: “Feri, dulcissimo Jesus, o mais intimo e profundo do meu ser com 0 dardo suavissimo e salutar do vosso amor...” 4* verdade. A minha vida sobrenatural pode crescer, a cada instan- te, em propor¢ao com a intensidade do meu amor a Deus, por meio de nova infusdo da graca da presenga activa de Jesus em mim, Tal infusdo & produzida através dos actos meritérios (virtude, trabalho, sofrimentos, ora¢ao, Missa, etc.) ¢ pelos sacramentos, sobretudo a Eucaristia. E pois certo —e esta consequéncia esmaga-me coma sua grandeza, mas também me enche de jubilo — que por meio de cada pessoa ou acontecimento, Jesus manifesta-se a mim, ocultando, sob essas aparén- Cias, a sua sabedoria e amor. & E sempre Jesus que se apresenta 4 minha alma, por meio da graga do momento presente — Missa, oragao, leitura, actos dec: -tentincia, de luta, de confianga — solicitando sempre a para aumentar em mim a sua vida. Ousarei esconder-me? niio Ihe causarao.qualqu i i . de.combate cael para ee ciseew Mania forte 6 yerdade. Sem o emprego fiel de certos meios, a intelig obscurece-se e a vontade torna-se fraca para cooperar com Jes aumento e conservaco da sua vida em mim. A diminuigao des: produz a tibieza da vontade.? A dissipagao, a cobardia, a ilusao, me cair nos pecados veniais. E estes poem em risco a minha sa porque dispde a minha alma para 0 pecado mortal. om 4 JSe tiver a infelicidade de cair nesta tibieza (e a fortiori se ainda — cair mais baixo), devo tentar tudo para dela sair, reavivando o meu te- mor de Deus, pondo-me em presenga do meu fim, dam 4 | de Deus, do inferno, da eternidade, do pecado, ete., ‘meu amor a Jesus, pela considerag’o das suas chagas, da/sua paixao ey ‘morte na cruz. Irei em espirito ao Calvario, onde me prostrareiaos pés Sacratissimos do Redentor, a fim de que 0 seu sangue'vivoycorrendo pane minha cabeca e pelo meu coragio, dissipe a cegueira e o gelo da” alma e galvanize a minha vontade. ¢imediatamente detestados, apenas cometidos, também nao manit vontade, Aalma tibia tem duas vontades diversas, boa uma ema _ €aoutra fria, Por um lado, quer a salvagao e por isso evita os p outro lado, no quer as exigéncias do amor de Deus ¢ prefes )pecados veniais deliberados. i Ser mostra que na alma existe ma € porque naio.pos: de vida interioy exige demu sede ha-de dar-me 0 desejo de Lhe agradar em tudo e o temor de Lhe desagradar. Também ¢ indispensdvel o minimo de recolhimento, que me permita, no decurso das ocupag6es, conservar 0 cora¢ao numa pureza e generosidade suficientemente grandes para nao ser abafada a voz de Jesus. Ora, essa sede diminuird, certamente, se nado puser em pratica certos meios: oragéio da manhi, vida litargica, sacramentos, comunhdes espirituais, exame de consciéncia, leitura espiritual, etc., ou se, por culpa minha, esses meios jd nada me dizem. Sem vida interior e recolhimento, os pecados veniais hao-de mul- tiplicar-se na minha vida, e chegarei a nao fazer caso deles. Para os ocultar e enganar-me a mim mesmo, servirdo as aparéncias de piedade, 0 zelo pelas obras, etc.. 8" verdade. A minha vida interior ser4 o que for a minha guarda do coragio: “Aplica-te com todo 0 cuidado possivel 4 guarda do teu coragao, porque dele é que procede a vida’ (Prov 4, 23). — Esta guarda do coragao é a solicitude em preservar todos os meus _ actos, de tudo o que pode viciar a sua causa motriz ou a sua pratica, ~~ Solicitude tranquila, natural, mas também enérgica, pois baseia-se no SS recurso filial a Deus. £ trabalho mais do coragao ¢ da vontade que do espirito, 0 qual deve ficar livre para a pratica dos seus deveres. Longe de embaragar a acgaio, a guarda do coracao aperfeicoa-a, regulando-a pelo espirito de Deus e acomodando-a aos deveres de estado. Este exercicio pratica-se a todo o momento. E uma observagao, por meio do coragio, das acgdes presentes € das diversas partes de cada “acgao, a medida em que elas se realizam. E aobservancia exacta do age quod agis. Como sentinela vigilante, a alma observa, atentamente, os movimentos do seu coragao, e vigia as suas inclinagdes, as paixGes, as palavras ¢ as acgdes. P A guarda do coragio exige certo recolhimento; uma alma. nao consegue realiza-la. Mas com a sua pratica frequente “ohabito. si 2 2: Para onde vou? Que faria Jesus -Iharia? Que exige Ele de mim neste creninad que, espontaneamente, se apresentam a alma a Para a alma que vai a Jesus, por meio de Maria, a reveste-se de um caracter ainda mais afectivo, e 0 rect Mae torna-se verdadeira necessidade para 0 seu coracao. 9" verdade. Quando uma alma procura imitar Jesus, em tu com todo o afecto, Ele reina nela. Nesta imitagdo ha dois gra alma esforca-se por se tornar indiferente as criaturas, cons! si mesmas, quer sejam conformes quer contrarias aos seus gostos. A exemplo de Jesus, apenas procura a vontade de Deus: “Eu desci do céu, nao para fazer a minha vontade, mas a d’Aquele que Me enviou” (Jo 6, 38). 2° “Jesus Cristo nao procurou o que lhe era agradavel” (Rom 15, 3). Aalma inclina-se de melhor vontade para o que a contraria e repugna a natureza. Realiza entdo o agere contra (agir contra) de que fala Santo Inacio na sua célebre meditagdo do Reino de Cristo. Ea acgao contraa natureza, a fim de se preferir o que imita a pobreza do Salvador e 0 seu amor pelos sofrimentos ¢ pelas humilhagdes. Segundo a expressao de S. Paulo, é, entdo, que a alma conhece, verdadeiramente, a Cristo (Ef 4, 20). 10* verdade. Seja qual for o meu estado, Jesus oferece-me, caso queira rezar e corresponder a sua graca, todos os meios de regressar a vida interior. Entdo, a minha alma nao cessara de possuir a alegria, mes- mo até no seio das provagées, ¢ nela se realizarao as palavras de Isaias: “Entdo a tua luz surgira como a aurora, ¢ as tuas feridas nao tardarao a cicatrizar-se; a tua justica ira adiante de ti, e a gloria do Senhor a de ti. Entao invocards o Senhor ¢ Ele te atendera; clamaras e Ele Eis-me aqui! (...) O Senhor te guiara constantemente, saciara a no arido deserto, dara vigor aos teus ossos e seras como um. regado, como uma fonte de aguas inesgotaveis” (Is 58, 8 11" verdade. Deus quer que eu me santifi sie Devo, pois, gravar n ser a vida dessas obras. Os meus. -sfio: “Sem Mim, nada podeis fazer” (Jo 15, 5). So abencoados por Deus, quando, por meio da vi estiverem unidos a ac¢io vivificadora de Jesus. Tornar-s omnipotentes: “Tudo posso n’Aquele que me conforta” (Fil 4, proviessem da confianga orgulhosa nos meus talentos, seriam rejeitados: por Deus. Porventura nao seria sacrilega loucura da minha parte querer arrebatar a Deus, para com ela me adornar, uma porgdo da sua gloria? Longe de gerar em mim a pusilanimidade, tal convicgao sera a minha forga. Sentirei a necessidade da oragao para obter a humildade, que € um tesouro para a minha alma, a certeza do auxilio de Deus e 0 penhor do éxito para as minhas obras! Compenetrado da importancia deste principio, farei, durante Os meus retiros, um sério exame de consciéncia para saber: se estou convicto da nulidade da minha accdo, e da sua forga, quando unida a acgao de Jesus; se excluo, implacavelmente, qualquer vaidade, qualquer’ auto-contemplacao, na minha vida de apéstolo; se me mantenho numa’ desconfianga absoluta de mim mesmo; ¢ se pego a Deus que dé vida as minhas obras e me preserve do orgulho, primeiro e principal obstaculo para receber o seu auxilio. Este credo da vida interior, tornado a base da existéncia para a alma, assegura-lhe, j4 neste mundo, uma participagao da felicidade celeste. Vida interior, vida dos predestinados. Corresponde ao fim que Deus se propés ao criar-nos.* Corresponde ao fim da Encarnagao: “Deus enviou 0 seu Filho uni- génito ao mundo, para que nds vivamos por Ele” (1 Jo 4, 9). “O fim da criatura humana — diz S. Tomas — é unir-se a Deus: toda a sua felicidade consiste nisso”. Ao contrario das alegrias do mun- do, se nessa vida ha espinhos exteriores, dentro ha rosas. “Devemos Jamentar os pobres mundanos — dizia o santo cura d’Ars — pesa- Sobre os ombros um manto forrado de espinhos; ndo podem fazer movimento sem se picarem; ao passo que os verdadeiros cristéos tem 3) “Certamente, o homem foi criado para contemplar o seu ia curar sempre o seu rosto ¢ habitar na solidez desse amor” (S ~ Moralia, c. X1). ‘ um manto forrado de arminho”. “Véem a cruz, mas nao dizia Sao Bernardo. Estado celeste! A alma torna-se um céu vivo.* 7 Como Santa Margarida Maria, ela canta: wie “Possuo constantemente, Acompanhando os passos meus, O Deus do meu coragao E 0 coragao do meu Deus”. E 0 comego da bem-aventuranga’, A graga é o céu na terra. 4. Esta vida interior é muito pouco conhecida Sao Gregorio Magno, tao habil administrador e ardoroso apéstolo como grande contemplativo, falando de Sio Bento —que, em Subiaco, langava os fundamentos da sua Regra, tornada uma das mais poderosas alavancas de apostolado de que Deus se tem servido na terra— carac- teriza, em trés palavras, o estado de alma do patriarca dos monges do Ocidente: “vivia consigo mesmo”. Da maioria dos nossos contemporaneos, podemos dizer, precisa- mente, 0 contrario. Viver consigo mesmo; nao se deixar governar pelas coisas exterio- res; reduzir a imaginagao, a sensibilidade, a inteligéncia e a memoria ao papel de servas da vontade. Conformar, constantemente, esta vontade com a vontade de Deus, é um programa que se vai aceitando cada vez menos, neste século de agitag4o, que viu nascer um ideal novo: o amor da acco pela accao. Para frustrar a disciplina das faculdades, serve qualquer pretexto: negocios, familia, satde, fama, amor da patria, prestigio da corporagao, pretensa gloria de Deus; tudo nos fascina e nos impede de viver em nés mesmos. , 1 4) “Sempre te his-de lembrar de Deus. Assim, a tua mente chega ao Céu” (Sé Efrém), “A mente ¢ 0 paraiso da alma. Enquanto medita as coisas celestes, dele Paraiso de felicidade” (Hugo de Sio Victor, a ‘Tomas de Aquino, Suma Teolégica, 2 2e, q, 180, 0.4, pois, que a vida interior seja conhecida, é ainda dizer pouco; essa vida é am Beri ciricnths até por aqueles mesmos que mais deveriam | Veja-se a memoravel carta dirigida por Leao XIII ao Cardeal Gib arcebispo de Baltimore, em que adverte os partidarios do americana " para o perigo da admira¢aio excessiva pelas obras. Para furtar-se aos trabalhos da vida interior, certos homens da Troe chegam a menosprezar a vida eucaristica. Relegam para segundo plano © essencial. Para eles, a igreja nao é ainda um templo protestante; 0 sacrario no esta ainda vazio. Mas a vida eucaristica, na sua opiniao, quase nao pode adaptar-se, nem sobretudo bastar, as exigéncias da ci- vilizagao moderna; e a vida interior que, necessariamente, promana da vida eucaristica, j4 passou da moda. Para as numerosas pessoas imbuidas dessas teorias, a comunhao perdeu o sentido que teve para os primeiros cristaos. Acreditammna Bu- caristia, mas nao a consideram o centro da sua vida e‘das'suas obras; Consideram a vida interior uma pratica medieval ultrapassada. Realmente, ao ouvi-los falar das suas obras, seriamos levados a pensar que o Omnipotente — que criou os mundos sem esforgo algum € perante quem 0 universo inteiro se reduz a poeira e nada — nao pode prescindir da sua colaboragio! Ao prestarem tanto culto @acgao, chegam (@fazer dela uma espécie de dogma, que os leva a entregarem-se, desenfre- adamente, a uma vida fora de si mesmos: A Igreja, a diocese, a paréquia, a congregacao, a obra, carecem dos meus servigos... Gostariam até de dizer: Deus precisa de mim! E, se nao ousam dizé-lo, a sua presuncaio ¢ falta de fé, leva-os a pensar assim. 4 Os médicos prescrevem, por vezes, aos depressivos que se abste- nham de todos os trabalhos, por algum tempo. Remédio duro, porque ‘essa doenga provoca precisamente uma excitagio febril, que impelea pessoa a gastar forgas e procurar comogées, que sé lhe agravam on Assim sucede, precisamente, a certos homens de obras em A vida interior. Sentem eee por ela, embora ela seja o ret oa JEAN- Baptiste CHAUTARD 7—_—_ OO cidade da marcha. Para Deus, no entanto, esse navio, por falta de um comandante prudente, corre a deriva e corre o perigo de naufragar. Adoradores em espirito e verdade, eis 0 que Nosso Senhor exige, antes de mais. Iludem-se os que pensam que contribuem para a maior gloria de Deus, tendo em vista, principalmente, os resultados exteriores. Este estado de espirito explica o facto de, hoje, ainda serem aceites as escolas, os dispensarios, as missdes, os hospitais, e, pelo contrario, se compreender cada vez menos 0s mosteiros contemplativos. Muitos nao se contentam apenas em chamar covardes e iluminados os que se consagram 4 oragao e peniténcia na solidao dos claustros, mas até ridi- culizam aqueles que roubam alguns instantes as suas ocupagoes, para purificar e inflamar o seu zelo junto do sacrario, e obter do Héspede divino maiores e melhores resultados para os seus trabalhos. 5. Resposta a uma primeira objec¢ao: E ociosa a vida interior? , Este livro dirige-se, apenas, aos apéstolos que trabalham pela sal- vagio das almas, mas que correm o risco de negligenciar a vida interior e prejudicar, assim, os frutos das suas obras. Estimular os apéstolos que prestam culto ao repouso; ou os que confundem ociosidade com meio de favorecer a piedade; sacudir a indiferenga dos indolentes e egoistas, que s6 aceitam as obras se estas nao Ihes perturbarem a tranquilidade: tal nao é 0 nosso fito. Essa tarefa exigiria uma obra especial. Deixamos a outros 0 cuidado de chamarem a responsabilidade as almas apaticas, que Deus queria activas, mas que 0 deménio e a natureza tornam infecundas, por falta de zelo e de actividade. Voltemos, pois, aqueles para quem, especialmente, escrevemos. Nenhuma compara¢ao pode exprimir bem a intensidade infinita de _, actividade que existe no seio de Deus. A vida interior do Pai ¢ tal, que “7% ela gera uma Pessoa divina. Da vida interior do Pai e do Filho procede ay 0 Espirito Santo. A vida interior comunicada aos Apéstolos no Cenaculo inflamou o seu zelo. A vida de oragao é sempre, em si mesma, uma incomparavel fonte de actividade. Nada mais falso do que ver nela uma espécie de odsis, 22 A ALMA DE TODO 0 APOSTOLADO aservir de refiigio para os preguigosos. Basta ser 0 caminho que, mais directamente, conduz ao reino dos céus, para que 0 texto: “O reino dos céus sofre violéncia, e os que fazem violéncia sao os que o arrebatam” (Mt 9, 12), Ihe deva ser especialmente aplicado. D. Sebastifio Wyart — que conheceu bem os trabalhos do asceta e as canseiras da vida militar, 0 estudo esgotante e as duras responsabili- dades de superior — costumava dizer que ha trés espécies de trabalhos: 1° O trabalho, quase exclusivamente fisico, daqueles que exercem uma profisso manual: lavrador, operario, artista, soldado, etc. Este trabalho, afirmava ele, é o menos rude dos trés; 2° O trabalho do intelectual e do sabio, procurando, por vezes tao arduamente, a verdade; 0 trabalho do escritor e do professor, que en- vidam todos os esforcos para fazer penetrar noutras inteligéncias essa mesma verdade; 0 trabalho do diplomata, do negociante, do engenheiro, etc.; 0 esforco intelectual do general, para prever os combates, dirigir e decidir, Estes trabalhos, diz ele, so muito mais penosos que o primeiro 3° Enfim, o trabalho da vida interior. E, sem divida, o mais duro dos trés, quando tomado a sério.® Mas é, também, 0 que nos oferece maior numero de consolagées neste mundo. E, igualmente, o mais importante. Constitui nao ja a profissaio do homem, mas o préprio homem. Quantos se afanam, nos dois primeiros géneros de trabalhos, para alcangarem a fortuna e o éxito, mas nado passam de uns preguigosos e covardes, quando se trata do trabalho para a virtude! Quem quiser obter a vida interior deve esforgar-se por adquirir do- minio completo sobre si proprio, para que todas as suas acgdes redundem em gloria de Deus. Procurard conservar-se sempre unido a Jesus Cristo, com 0s olhos fitos na meta a atingir e pesando tudo a luz do Evangelho. “Para onde e a quem irei?”, repete, com Santo Inacio. Tudo nele — “inteligéncia, vontade, memOria, sensibilidade, imaginagao e sentidos — dependerd de um principio. Mas quanto trabalho custa chegar a este resultado! Quer se mortifique ou se entregue a um recreio licito, quer reflicta ou actue, quer trabalhe ou descanse, quer ame 0 bem ou rejeite 6) “Ha maior trabalho em resistir aos vieios € paixdes do que suar nos trabalhos cor- porais” (S40 Gregorio). 23 Jean-Baptiste CHAUTARD —————_— eer —e— eee o mal, deseje ou tema, esteja alegre ou triste, com esperanca ou temor, indignado ou tranquilo, mantém sempre o leme na direcgao da plena vontade divina. Na oracio, sobretudo junto da Eucaristia, isola-se dos objectos visiveis, a fim de chegar a falar com Deus invisivel como se O estivesse a ver.’ No decurso dos seus trabalhos apostélicos, procura realizar este ideal, que Sao Paulo admirava em Moisés. Adversidades da vida, tormentas suscitadas pelas paixdes, nada lo- gra desvia-lo da linha de conduta que se impés. Se, porventura, fraqueja um momento, depressa recobra 4nimo e continua, com mais vigor, 0 seu caminho ascensional. Nao € dificil compreender que Deus recompense, j4 neste mundo, com alegrias especiais, quem nao recua perante este esforgo. As vezes, preferimos passar longas horas numa ocupagao fatigante do que meia hora a fazer uma oracdo bem feita, a assistir 4 Missa, ou a rezar 0 oficio.’ O Padre Faber verifica, com tristeza, que, para alguns, “o quarto de hora que se segue 4 Comunhio € o quarto de hora mais enfadonho do dia”. Tratando-se de um breve retiro de trés dias, quanta relutancia para outros! Separar-se por trés dias da vida facil, embora ocupadissima, para viver uma vida plenamente sobrenatural; contem- plar tudo, durante esse periodo, somente a luz da fé; esquecer tudo, para somente aspirar a Jesus ¢ a sua vida; analisar, implacavelmente, a nossa alma, para descobrir todas as suas fraquezas e doengas: eis uma perspectiva que faz recuar grande ntimero de pessoas, prontas, todavia, para grandes fadigas em trabalhos puramente naturais. E se trés dias, assim ocupados, j4 parecem tdo penosos, que pensar de uma vida inteira gradualmente submetida ao regime da vida interior? E ainda ha quem tenha a coragem de dizer que os religiosos de vida contemplativa sao ociosos! 7) “Mostrando-se firme como se contemplasse o Invisivel” (Heb 11, 27). 8) Palavras de D. Festugiére 0.S.B.: “Sejam quais forem as dificuldades da vida ac- tiva, s6 os inexperientes € que ousam negar as provagdes da vida interior, Muitos activos, apesar de sinceramente piedosos, confessam que, muitas vezes, 0 que mais thes custa na vida, ndo € a aco, mas a parte obrigatéria da oragdo. Quando chega © momento da acco sentem-se como que aliviados.” 24 A ALMA DE ToDo © APOSTOLADO E bem certo que, neste trabalho de desprendimento, a graga torna o jugo suave € 0 fardo leve. Mas quantos esforgos so necessarios para aalma! E sempre penoso o regresso ao caminho recto e a volta ao ideal de Siio Paulo: “A nossa conversagio estd no céu” (Fil 3, 20). Sao Tomas explica isto perfeitamente: “O homem — diz ele — est colocado entre as coisas deste mundo e os bens espirituais, nos quais reside a felicidade eterna. Quanto mais adere a uns, tanto mais se afasta dos outros, e vice versa”.° Numa balanga, se um dos pratos desce, 0 outro eleva-se na mes- ma medida. O pecado original, tendo transtornado a economia do nosso ser, tornou penoso este duplo movimento de adesio e afastamento. Desde entdo, para restabelecer e conservar a ordem neste “pequeno mundo” que € o homem, é indispensavel a vida interior, obtida com trabalho e sacrificio. E como um edificio desmoronado que se trata de reconstruir e, em seguida, preservar de nova ruina. Arrancar aos pensamentos da terra, pela vigilancia, renincia e mortificagio, este “corag’io endurecido” (SI 4, 3) com todo o peso da natureza corrompida; tornar 0 nosso caracter semelhante ao de Nosso Senhor, pelo combate a dissipagao, ao arrebatamento, 4 auto-compla- céncia, as manifestagdes de orgulho, ao naturalismo, ao egoismo, a falta de bondade, etc.; renunciar aos prazeres sensiveis com a esperanga da felicidade espiritual, que somente se desfrutara apés longa expectativa; desapegar-se de tudo quanto é susceptivel de lhe fazer amar o mundo e fazer de tudo isso um holocausto sem reserva..., que tarefa! E isto é sé a parte negativa da vida interior. Depois deste combate sem tréguas contra um inimigo sempre prestes a renascer — combate que fazia gemer Sao Paulo!’ e que o Padre De Ravignan exprimia assim: “Procurais o que fiz durante o meu noviciado? Eramos dois, atirei um pela janela fora e fiquei eu sozinho” — € necessario proteger, contra as minimas quedas, um coragao ja purificado pela peniténcia, que deseja 9) Sao Tomas de Aquino, Suma Teoldgica, 1a 2ae, q. 108, a. 4. 10) “Sinto prazer na lei de Deus, de acordo com 0 homem interior, Mas vejo outra Jei nos meus membros a lutar contra a lei da minha razo ¢ a reter-me cativo na lei do pecado, que se encontra nos meus membros, Que desditoso homem que eu sou! Quem me ha-de libertar deste corpo de morte?” (Rom 7, 22-24). 25 Jean-Baptiste CHAUTARD ——_—_— agora, ardentemente, reparar os ultrajes feitos a Deus, imitar as Virtudes de Jesus Cristo, e adquirir confianga absoluta na Providéncia; é este o lado positivo da vida interior. Quem nao advinha o campo ilimitado de trabalho que aqui se patenteia!!! Trabalho intimo, assiduo, constante. E, no entanto, precisamente por meio deste trabalho, a alma adquire maravilhosa facilidade e sur- preendente rapidez de execucdo nos trabalhos apostdlicos. $6 a vida interior possui este segredo. As obras imensas levadas a cabo por Santo Agostinho, Sao Joao Crisdstomo, Sao Bernardo, Sao Tomas de Aquino, Sao Vicente de Pau- lo, € tantos outros santos, causam-nos assombro. Este assombro cresce quando vemos esses homens, apesar dos trabalhos incessantes, das pre- ocupagées, ou da falta de satide, manterem-se na mais constante unido com Deus. Apagando a sua séde na Fonte da Vida, pela contemplagao, esses santos hauriam nela a sua inesgotavel capacidade de trabalho. Um dos nossos grandes bispos, sobrecarregado de afazeres, acon- selhou certa vez um estadista, também ele muito atarefado, que lhe perguntara o segredo da sua serenidade e dos resultados admiraveis das suas obras: “A todas as suas ocupagdes, meu caro amigo, acrescente meia hora de meditacao todas as manhas. Conseguira despachar todos Os assuntos e encontrara tempo para realizar ainda mais.” Enfim, o santo rei Luis [X encontrava, nas oito ou nove horas que habitualmente consagrava aos exercicios da vida interior, o segredo ea forga para se dedicar aos negécios de Estado e ao bem dos seus stibditos, com tanta solicitude que — conforme chegou a confessar um orador socialista — nunca em Franga se fez tanto a favor das classes operdrias como sob o reinado daquele principe. 6. Resposta a uma segunda objecgao: E egoista a vida interior? E falsa a piedade daqueles que fazem consistir a vida interior numa 11)"(O homem pode viver) de outro modo, quando se une totalmente s coisas divinas. Desta forma, coloca-se acima do homem” (Sdo Tomas de Aquino, Suma Teoldgica, 2a 2ae, q. 188, a. 8. ad. 5). 26 - ociosidade agradavel e preguicosa, e que procuram as cons Deus, mais do que o Deus das consolagées. Contudo, esté, i errado quem considera egoista a vida interior. a. fea Ja dissemos que esta vida é a fonte pura das mais generosas obras de caridade, que visa 0 alivio dos sofrimentos deste mundo e o bem das almas. Examinemos a utilidade desta vida sob outro ponto de vista. Seria verdadeira blasfémia chamar egoista e estéril a vida interior de Nossa Senhora e de Sao José! Contudo, nenhuma obra exterior lhes € atribuida. A irradiagao sobre o mundo da sua intensissima vida interior, os frutos das suas oragées ¢ sacrificios bastaram para constituir Maria, Rainha dos Apéstolos, e José, Padroeiro da Igreja Catélica. “A minha irma deixa-me sozinha a servir” (Le 10, 40), diz, servindo- se das palavras de Marta, 0 apdstolo vaidoso com 0 resultado das suas obras exteriores. A sua fatuidade nao chega ao extremo de julgar que Deus precisa, absolutamente, dele. Todavia, incapaz de apreciar a exce- léncia da contemplagao de Madalena, repete ainda com Marta: “Diz-lhe, pois, que me venha ajudar!” (Le 10, 40) e chega até a exclamar: “Para que foi este desperdicio?” (Mt 26, 8), considerando, como tal, o tempo que outros apéstolos reservam a vida interior na presenga de Deus. “Bu santifico-me por eles, a fim de que eles sejam também santifi- cados na verdade” (Jo 17, 19), responde a alma que compreendeu todo o alcance deste “a fim de”, do Mestre: e, conhecendo o valor da oragao edo sacrificio, une as lagrimas e ao sangue do Redentor as lagrimas dos: seus olhos e 0 sangue de um coragiio que cada dia se vai purificando mais. Com Jesus, a alma interior ouve o alarido dos crimes do mundo subir até ao céu e atrair sobre os seus autores 0 castigo, mas suspende esse castigo, pela omnipoténcia da sua suplica, capaz de deter a propria mao de Deus. Aqueles que rezam, dizia, depois da sua converso, 0 eminente estadista Donoso Cortés, fazem mais pelo mundo do que aqueles que combatem, e, se o mundo esta cada vez pior, ¢ porque ha mais batalhas Ges. miaos erguidas — diz Bossuet — desbaratam erem.” E, no meio e

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