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Hanseníase
Boletim
Epidemiológico Volume 49
N° 4 - 2018
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ISSN 2358-9450
novos diagnosticados no período de 2012 a 2016, anterior ao da avaliação, e de contatos dos casos
adotando-se como denominador a população novos multibacilares, diagnosticados dois anos
estimada para 2014, o ano central do período antes da avaliação. Assim, para este boletim, foram
analisado. Foram obtidas taxas médias de detecção considerados os casos multibacilares diagnosticados
geral (por 100 mil habitantes) segundo sexo, por entre 2010 e 2014, e quanto aos paucibacilares, os
faixas etárias e taxas de grau 2 de incapacidade diagnosticados entre 2011 e 2015.
física no diagnóstico (por 1 milhão de habitantes). Para análise dos casos de acordo com a raça/
Além das taxas de detecção, calculou-se a cor da pele, foram seguidas as especificações do
proporção de casos novos por sexo, de acordo Estatuto da Igualdade Racial (Lei no 12.288/2010),
com as seguintes variáveis do Sinan: (i) raça/cor que define a população negra como “o conjunto
da pele (branca, preta, amarela, parda, indígena); de pessoas que se autodeclaram pretas e pardas,
(ii) classificação operacional (paucibacilar e conforme o quesito cor ou raça usado pelo
multibacilar); (iii) forma clínica (indeterminada, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
tuberculoide, dimorfa, virchowiana e ignorado/ (IBGE)”. Tendo em vista que as categorias de raça/
branco); (iv) modo de detecção (encaminhamento, cor utilizadas pelo IBGE são as mesmas utilizadas
demanda espontânea, exame coletividade, no Sinan, neste trabalho os casos considerados
exame contatos e outros modos); e (v) exame de como negros são aqueles notificados em
contatos. Para a análise da variável escolaridade, indivíduos que se autodeclararam pretos somados
as categorias do Sinan foram agregadas conforme àqueles que se autodeclararam pardos.
parâmetros do Censo de 2010 do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Resultados e discussão
saber: analfabeto+ensino fundamental incompleto No período de 2012 a 2016, foram
(1a a 8a série incompleta); ensino fundamental diagnosticados 151.764 casos novos de hanseníase
completo+ensino médio incompleto; ensino no Brasil, o que equivale a uma taxa média de
médio completo+educação superior incompleta; detecção de 14,97 casos novos para cada 100
educação superior completa e “não se aplica”.7 mil habitantes. Entre estes, 84.447 casos novos
A construção dos indicadores utilizados para ocorreram no sexo masculino, o que corresponde
análise deste boletim está elencada no Quadro 1. a 55,6% do total.
Para o gerenciamento e o processamento dos Nesse período, observou-se que a taxa de detecção
dados, foram utilizados os programas Microsoft por 100 mil habitantes na população masculina
Office Excel 2013 e TabWin versão 4.1.4 de 2017. foi maior que na população feminina em todas as
As coortes são compostas de contatos dos casos faixas etárias, sobretudo a partir dos 15 anos de
novos paucibacilares (PB), diagnosticados no ano idade. Além disso, essa proporção é crescente com o
© 1969. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que
citada a fonte e que não seja para venda ou qualquer fim comercial.
Comitê Editorial
Adeilson Loureiro Cavalcante, Sônia Maria Feitosa Brito, Adele Schwartz Benzaken, Daniela Buosi Rohlfs, Elisete Duarte, Geraldo
da Silva Ferreira, Márcia Beatriz Dieckmann Turcato, Márcio Henrique de Oliveira Garcia, Maria de Fátima Marinho de Souza, Maria
Terezinha Villela de Almeida.
Equipe Editorial
Coordenação Geral de Hanseníase e Doenças em Eliminação/SVS/MS: Carmelita Ribeiro Filha (Editora Científica).
Coordenação Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviços/SVS/MS: Lúcia Rolim Santana de Freitas (Editora Assistente).
Colaboradores
Coordenação Geral de Hanseníase e Doenças em Eliminação/DEVIT/SVS/MS: Elaine da Rós Oliveira, Elaine Silva Nascimento Andrade,
Jurema Guerrieri Brandão, Mábia Milhomem Bastos, Margarida Cristiana Napoleão Rocha.
Hospital Giselda Trigueiro/Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Norte: Maurício Lisboa Nobre.
Normalização
Ana Flávia Lucas de Faria Kama (CGDEP/SVS)
Projeto gráfico e distribuição eletrônica
Núcleo de Comunicação/SVS
Revisão de texto
Maria Irene Lima Mariano (CGDEP/SVS)
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NumeradorWRWDOGHFDVRVQRYRVGHKDQVHQtDVHPXOWLEDFLODUGLDJQRVWLFDGRVQR
Proporção de casos SHUtRGRGHD
PXOWLEDFLODUHVHQWUHRWRWDOGH
casos novos Denominador: total de casos novos de hanseníase diagnosticados no período de
D
NumeradorWRWDOGHFRQWDWRVH[DPLQDGRVGRVFDVRVQRYRVGHKDQVHQtDVHQR D
Proporção de contatos %UDVLOGLDJQRVWLFDGRVQRVDQRVGDVFRRUWHVWRPDQGRVHRSHUtRGRHQWUHH
examinados de casos novos SDUDRVPXOWLEDFLODUHVHRSHUtRGRHQWUHHSDUDRVSDXFLEDFLODUHV
de hanseníase diagnosticados DenominadorWRWDOGHFRQWDWRVUHJLVWUDGRVGRVFDVRVQRYRVGHKDQVHQtDVHQR
nos anos das coortes %UDVLOGLDJQRVWLFDGRVQRVDQRVGDVFRRUWHVWRPDQGRVHRSHUtRGRHQWUHH
SDUDRVPXOWLEDFLODUHVHRSHUtRGRHQWUHHSDUDRVSDXFLEDFLODUHV
NumeradorWRWDOGHFDVRVQRYRVGHKDQVHQtDVHSRUPRGRGHGHWHFomR
Proporção do modo de GLDJQRVWLFDGRVQRSHUtRGRGHD
detecção entre o total de
casos novos Denominador: total de casos novos de hanseníase diagnosticados no período de
D
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Figura 1 – Taxa média de detecção de casos novos de hanseníase (por 100 mil habitantes) segundo sexo, e faixa etária, Brasil,
2012 a 2016
Figura 2 – Taxa média de detecção geral de casos novos de hanseníase (por 1 milhão de habitantes) com grau 2 de incapaci-
dade física, segundo sexo e faixa etária, Brasil, 2012 a 2016
nos estados de Mato Grosso, Maranhão, Tocantins Nos cinco anos de análise (2012-2016),
e Rondônia, enquanto nos estados do Rio Grande 95,7% dos casos novos diagnosticados no
do Sul, Santa Catarina e Alagoas as taxas médias país declararam sua raça/cor no momento da
de detecção foram mais próximas entre os sexos. notificação. Destes, 58,9% corresponderam à raça/
Em relação à taxa média de detecção dos casos cor parda, 26,8% à branca, 12,8% à preta, 0,9% à
novos com grau 2 de incapacidade física por amarela e 0,4% à indígena. Assim, considerando-
UF, observou-se que todas as UFs apresentaram se a definição de população negra como o
maiores taxa no sexo masculino, e que seis estados conjunto de pretos e pardos (ver Métodos),
apresentaram razões de sexo iguais ou maiores que observa-se uma detecção mais elevada (71,7%) da
1,5, destacando-se o Acre (1,9), o Amazonas (1,5) doença neste grupo populacional em comparação
e Roraima (1,8) (Tabela 1). aos outros. Esse predomínio reproduz o contexto
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Tabela 1 – Taxa média de detecção de casos novos de hanseníase (por 100 mil habitantes) e taxa média de detecção geral de
casos novos de hanseníase com grau 2 de incapacidade física (por 1milhão de habitantes), segundo sexo, região e
UF, Brasil, 2012 a 2016
histórico da população negra no Brasil, pois este em todas as raças, registrando-se a maior diferença
segmento, além de representar a maior parte da entre os sexos na população indígena (Figura 3).
população do país, é o que mais padece com as O nível de escolaridade mais frequente entre
desigualdades em diversos aspectos da vida social, os casos novos foi o segmento analfabeto+ensino
inclusive na saúde.10,11 fundamental incompleto, observado em 55,0%
Avaliando-se a raça/cor autodeclarada por sexo das notificações realizadas entre 2012 a 2016.
no período de 2012 a 2016, novamente observa-se Ao analisar-se a diferença entre os sexos de
uma maior proporção de casos no sexo masculino acordo com a escolaridade, observou-se maior
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proporção dos casos novos em homens no grupo principais causas de surgimento de incapacidades
supracitado (58,1%), seguido pelo grupo de casos físicas em hanseníase.3
com ensino fundamental completo e médio Além das questões operacionais que promovem
incompleto (54,0%). Entre os casos com ensino o diagnóstico mais tardio nos homens, é possível
superior, houve predomínio do sexo feminino, que fatores biológicos estejam envolvidos na
com percentual de 59,1%. No grupo de casos com associação entre a hanseníase multibacilar e o
ensino médio completo e superior incompleto, sexo masculino. Um estudo desenvolvido no
praticamente não houve diferenças entre os sexos, Brasil, sobre a hanseníase multibacilar em grupos
tendo sido 51,6% dos casos registrados entre populacionais, com análise de 541.090 casos novos
mulheres (Figura 4). de hanseníase diagnosticados no período de 2001
A predominância de hanseníase em homens a 2013, demonstrou que as formas multibacilares
com baixa escolaridade pode sugerir a influência foram predominantes nos homens, inclusive
dos determinantes sociais, que assumem papel entre casos detectados mais precocemente (com
importante no processo de adoecimento da grau 0 de incapacidade física). O mesmo estudo
população. Vale ressaltar a importância dessa comparou o índice baciloscópico do diagnóstico
informação para o planejamento das atividades, em 2.253 casos de hanseníase detectados na
principalmente nos aspectos relacionados à educação Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)/RJ, revelando
em saúde, sobretudo na abordagem de autocuidado.12 que os homens apresentam cargas bacilares mais
No período 2012-2016, a proporção dos casos elevadas que as mulheres em todas as faixas
novos com classificação operacional multibacilar etárias, mesmo entre os casos detectados com grau
foi prevalente no sexo masculino (62,7%), enquanto 0 de incapacidade física.4
a classificação paucibacilar prevaleceu no sexo A descoberta do caso de hanseníase é feita
feminino (58,6%) (Tabela 2). Esses dados refletem por meio da detecção ativa, por investigação
a alta proporção das formas clínicas virchowiana e epidemiológica de contatos e exame de
dimorfa observada na população masculina. coletividade, como inquéritos e campanhas,
A hanseníase virchowiana ocorre nos e passiva, por demanda espontânea e
indivíduos que apresentam imunidade celular encaminhamento.13 Na análise do modo de
menos eficaz contra o Mycobacterium leprae e detecção dos casos novos de hanseníase detectados
representa importante foco infeccioso nos casos no país no período de 2012 a 2016, observou-se
não tratados. A forma dimorfa acomete pessoas que o principal foi o encaminhamento (45,7%),
com instabilidade imunológica contra o bacilo, seguido de demanda espontânea (41,0%). Vale
constituindo tais indivíduos um grupo mais ressaltar que apenas 7,0% dos casos novos foram
sujeito às reações hansênicas, que são uma das detectados pelo exame de contatos.
Figura 3 – Proporção de casos novos de hanseníase segundo sexo e raça/cor da pele, Brasil, 2012 a 2016
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Quando comparamos a mesma variável entre entre as mulheres; entre elas, a maior detecção foi
os sexos, observamos que os homens foram pelo exame de contatos (54,0%), seguido do exame
detectados principalmente por modos de detecção de coletividade (50,7%)(Tabela 2).13
passivo, com encaminhamento em 56,3% dos Esses dados são relevantes, pois mostram
casos, demanda espontânea em 57,0%, e exame de que, apesar da hanseníase ser um problema
contatos em 46,0%. Situação inversa foi observada relativamente maior entre os homens, esse
Figura 4 – Proporção de casos novos de hanseníase segundo sexo e escolaridade, Brasil, 2012 a 2016
Tabela 2 – Número absoluto e percentual de casos novos de hanseníase, segundo sexo, classificação operacional, forma
clínica e modo de detecção, Brasil, 2012 a 2016
Classificação operacional
3DXFLEDFLODU
0XOWLEDFLODU
Formas clínicas
Indeterminada
7XEHUFXORLGH
Dimorfa
Virchowiana
,JQRUDGREUDQFR
Modo de detecção
Encaminhamento
Demanda espontânea
Exame coletividade
Exame contatos
Outros modos
,JQRUDGREUDQFR
Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).
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grupo populacional provavelmente comparece No período de 2012 a 2016, 77% dos contatos
menos às unidades de saúde para o controle dos casos novos de hanseníase diagnosticados
de comunicantes. Destaca-se que a vigilância no país foram avaliados, e, entre as regiões, o
de contatos é a principal estratégia de detecção Nordeste obteve percentual mais baixo (71,8%).
ativa para a descoberta de casos, uma vez que Na comparação entre os sexos, não se observaram
facilita o diagnóstico precoce, contribuindo para grandes diferenças entre os contatos examinados:
a queda da cadeia de transmissão e reduzindo, foram examinados 77,7% dos contatos dos casos
consequentemente, as deficiências que surgem em de hanseníase registrados em homens e 76,2% dos
decorrência do atraso no diagnóstico.14 casos registrados em mulheres (Tabela 3).
Tabela 3 – Percentual de exames de contatos e do modo de detecção por exame de contatos da média dos casos novos,
segundo sexo, Brasil, 2012 a 2016
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php?dados=12
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