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SENEN REIS RAMOS

O FRACASSO ESCOLAR SEGUNDO A PSICANÁLISE

Rio de Janeiro
2005
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE

O FRACASSO ESCOLAR SEGUNDO A PSICANÁLISE

OBJETIVOS:
Abordar o fracasso escolar e suas
manifestações atuais e fazer uma
leitura diferenciada e reflexiva segundo
a psicanálise.
3
AGRADECIMENTOS

Agradeço do mais profundo do meu ser as


todas as pessoas que contribuíram para a
realização desse trabalho e em especial a
Professora Diva Nereida pela orientação
nesse trabalho acadêmico.
4
DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho a minha mãe Thelma


Reis Ramos Rodrigues por todos os seus
ensinamentos e a minha esposa Iara
Celestino Santana por ter sido a maior
incentivadora na minha formação.
5
RESUMO

“A educação não acontece num vácuo cultural, nem


tampouco fora do contexto político. Nesse sentido
resgatar o cotidiano a partir da noção histórica, possibilita
um clima de discussão e diálogo nas dimensões política
como educativa e isto vale tanto para o sujeito como para
o coletivo.” (GADOTTI; 1993.63)

O fracasso escolar é um tema que interessa a Psicanálise e suas


conexões com a Educação, que tiveram início desde Freud.

Abordar o fracasso escolar e suas manifestações atuais como sintoma


da contemporaneidade, procurando particularizar o mesmo e buscar na
bibliografia pesquisada elementos que possibilitem uma leitura diferenciada e
reflexiva é o trajeto deste trabalho.

Percorri a história da educação, a abordagem médico-pedagógica do


fracasso escolar, a estruturação do sujeito e a relação entre o fracasso escolar
e a saúde mental, reportando à história da loucura.

Quanto mais intensa for a vivência do sujeito no processo produtivo,


mais se revelará para o mesmo, sua condição de sujeito que responde pelos
seus atos, suas escolhas, sua vida. Assim como sua importância como sujeito
social e sua eficiência como sujeito que transforma e atravessa o mundo e seu
contexto.
6
METODOLOGIA

Na fundamentação desse trabalho, a partir da psicanálise, enfatizou-se a


articulação entre tensões que se impõem ao sujeito do inconsciente através
dos processos de recalcamento e outros destinos pulsionais em conseqüência
dos processos educativos.

Através do corpo teórico da psicanálise, oferecido por Freud e Lacan,


trabalhou-se algumas questões da subjetividade da criança utilizando-se,
também, alguns autores, da educação e da filosofia, como forma de aprofundar
conhecimentos sobre o tema e poder sustentar teoricamente a hipótese da
pesquisa.

No campo da educação, buscou-se subsídio nas atuais políticas


educacionais que incluem o fracasso escolar em seus parâmetros curriculares.
7
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPITULO I 10
RETRONPECTIVA DO MUNDO ESCOLAR 10

CAPÍTULO II 13
FRACASSO ESCOLAR 13
2.1- Fracasso Escolar abordagem médico-pedagógica 13
2.2- Algo mais 17

CAPÍTULO III 20
A ESTRUTURAÇÃO DO SUJEITO 20
3.1- O sujeito 20
3.2- Sujeito Fracasso Escolar. Quem é este sujeito? 25

CAPÍTULO IV 28
FRACASSO ESCOLAR E SAÚDE MENTAL 28

CONCLUSÃO 33

BIBLIOGRAFIA 36

ÍNDICE 37
8
INTRODUÇÃO

O fracasso escolar se impõe de forma crescente, persistente,


caracterizando-se por repetências sucessivas, evasão escolar e dificuldade de
aprendizagem de diferentes ordens.

O presente trabalho busca repensar o fracasso escolar em sua relação


com o mundo contemporâneo e com a Psicanálise, enquanto mediadora na
busca da compreensão deste fenômeno a partir da via do sujeito.

Para melhor entendimento deste fenômeno na contemporaneidade faz-


se necessário rever a história da educação, como se originou e estruturou.
Compreender o fracasso escolar neste contexto histórico-pedagógico.

O fenômeno fracasso escolar tem configurado, ao longo da história


recente da educação como um grave problema e pauta de diversos estudos.

Numa sociedade contemporânea, capitalista, pós-industrial e


globalizada; onde se valorizam trabalhos ao nível de competência cada vez
mais elevada e o ideal do ser melhor reina , que lugar ocupa o sujeito do
fracasso escolar?

Na sociedade contemporânea a escola ocupa lugar no eixo


mercadológico. Isto remete à necessidade de conhecer cientificamente o sujeito
aprendiz na sua relação com sua história pessoal, com o saber, seu contexto
familiar e social, além da sua relação com o universo escolar.

O fracasso escolar enquanto sintoma representa uma forma de ser


visceralmente dependente da cultura. E por ser sintoma se torna uma
manifestação humana, com significados a serem interpretados em todas as
suas dimensões.
9
A Psicanálise possibilita ao sujeito se representar pela via da palavra,
alcançar a causa do sintoma e o nomear, que por falta de simbolização retorna
desse impossível de nomear que é o real.

A necessidade de entendimento do fenômeno fracasso escolar enquanto


sintoma, remete-nos a refletir sobre as funções que este sintoma cumpre para
além do universo pedagógico. Trata-se pois do universo do sujeito.

Este estudo que resultou nesta monografia pretende articular a


educação à psicanálise, numa busca de compreensão do fracasso escolar como
uma construção do sujeito no contexto histórico-pedagógico e entender a
educação enquanto campo onde se estabelece a relação do sujeito com o seu
saber.

A educação pode, a partir da escuta da psicanálise, encontrar possíveis


respostas para o sintoma fracasso escolar e possível mediação.

Considerar o fracasso escolar como sintoma social e escolar, como


resposta do sujeito às pressões do mundo contemporâneo e como produto de
sua história. Compreender o fracasso escolar no singular e no contexto sócio
político econômico.

Será este trabalho resultado da pesquisa bibliográfica utilizada, onde


será revisada a literatura histórico-pedagógica. Abordando o fracasso escolar
neste contexto, e a sua interface com a psicanálise enquanto clínica do sujeito;
buscando melhor compreensão do fenômeno: Sintoma Fracasso Escolar .
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CAPÍTULO I

RETROSPECTIVA DO MUNDO ESCOLAR

A história é um complexo de ordem, desordem e


organização. Obedece ao mesmo tempo ao determinismo
e ao acaso em que surgem incessantemente o “barulho e
o furor”. Ela tem sempre duas faces opostas: civilização e
barbárie, criação e destruição, gênese e
morte.(MORIN:2000)

Bases Históricas da Educação

Recorrer ao pensamento pedagógico não é um ato abstrato e abstraído


da realidade, porque a realidade nos aponta o quanto à história é cíclica , e o
que se vive hoje na educação é reflexo do seu envolvimento ao longo da
história.

A educação é uma prática essencialmente humana, considerando a


profundidade e amplitude de sua influência na existência dos homens.

Na idade média, aprendia-se o que fazer ajudando os adultos a fazê-lo,


o aprendizado se dava pela convivência social, entre pais e filhos e adultos e
crianças. Havia transmissão de conhecimento da vida e para a vida.

No século XVI e XVII, aparece a preocupação com a educação, com o


objetivo de produzir adultos convenientes aos ideais da sociedade.

Nesse sentido a educação era diferenciada, sendo a educação adotada


para as classes populares, mais práticas e voltada para o trabalho enquanto
meio de sobrevivência.
11
Por outro lado, uma educação nova era ministrada às crianças de classe
burguesa, que implicava em vigilância , disciplina e segregação, o que era feito
através do colégio.

As doutrina pedagógica se estrutura e desenvolve em função da


emergência da sociedade de classe. A escola como instituição formal, surgiu
como resposta à divisão social do trabalho e ao nascimento institucional do
estado, da família e da propriedade privada. Portanto a escola nasce junto com
a hierarquização e a desigualdade.

De acordo com GADOTTI, (1986:16),

“O pensamento moderno caracteriza-se pelo


realismo, afirmando a superioridade do domínio do
mundo exterior sobre o domínio do mundo interior, a
supremacia das coisas sobre as palavras e a paixão
pela razão.”

Na concepção de Locke, a criança, ao nascer, era como uma tabula


rasa, um papel em branco sobre o qual o professor podia tudo escrever.

Segundo COMÊNIO (1957:153), a educação deveria ser permanente,


pois a educação do homem nunca termina já que nós sempre estamos sendo
homens e, portanto, estamos sempre nos formando.

O Iluminismo Educacional representou o fundamento da pedagogia


burguesa que até hoje insiste predominantemente na transmissão de
conteúdos e na forma social individualista . Kant acreditava que o homem é o
que a educação faz dele , através da disciplina , da didática , da formação
moral e da cultura.
12
Para atingir a perfeição, o homem precisa da disciplina que também
permite dominar as tendências instintivas da formação cultural

Contudo a educação proposta não era a mesma para todos , pois se


admitia a desigualdade natural entre os homens da moralização, que forma a
consciência do dever e da civilização como segurança social.

Hoje, temos a educação contemporânea entendida como corrente que


trata de mudar o rumo da educação tradicional, intelectualizada e livresca,
dando-lhe um sentido vivo e ativo.

Muito se tem pensado e teorizado a respeito da escola; proposta de


ensino, projetos e programas , mais se sabem que as idéias básicas ainda
permanecem as mesmas .

Se por um lado à educação permite a continuidade funcional do homem


histórico, garante também a sobrevivência específica de um sistema que rege
uma sociedade, constituindo um instrumento de controle com o objetivo de
conservar e reproduzir as limitações que o poder destina a cada classe e grupo
sociais. A escola ainda é seletiva e segregativa.

Como nomear ou classificar isso que escapa às propostas normativas da


instituição escola ? No contexto pedagógico é nomeado fracasso escolar.
Fracasso remete à luta, e ao período grego e ao Ideal Homérico onde o melhor
é conservar-se superior aos outros, e este ideal ainda se faz presente e
arraigado em nossa sociedade contemporânea: a valorização da perfeição e do
ideal de ser o melhor.
13
CAPÍTULO II

FRACASSO ESCOLAR

No século XXI, a educação deverá transmitir, massiva e eficacíssima,


um volume cada vez maior de conhecimento teórico e técnicos evolutivos,
adaptativos à civilização cognitiva, porque são as bases das competências do
futuro encontrar e definir orientações para conservar, e definir projetos
individuais e coletivos. (UNESCO – Relatório da Comissão Internacional sobre
a educação para o Séc. XXI.)

2.1 - Fracasso Escolar abordagem médico Pedagógica

Foi possível observar que a partir desta breve revisão da história e


concepções pedagógicas que a escola ocupa lugar primordial, como mediadora
entre o sujeito e a demanda social referente a cada época.

Sua vocação está para além da transmissão de saber, pois sempre é


chamado à função político social voltada a atender classes dominantes.

A escola teria a função mantenedora que seria


reproduzir em cada indivíduo o conjunto de normas
que regem a ação possível, a instância ensino
aprendizagem, permite a cada indivíduo, pela
transmissão das aquisições culturais de uma
civilização, a vigência histórica da mesma.
(PAIN; 1985:37)

Trata-se pois de uma instituição normativa e formadora de indivíduos


socialmente adaptados ao meio.
14
Segundo (PAIN; 1985:27), em função do seu caráter complexo de sua
função educativa, a aprendizagem se dá simultaneamente como instância
alienante e como possibilidade libertadora.

A cultura é necessária a todos, e ninguém pode duvidar que os


estúpidos tenham necessidade de instrução para se libertarem da sua
estupidez natural, mas quem mais precisa de educação são os inteligentes
porque a mente não deve ser ocupada por coisas estúpidas, e por fim propõe
como forma de organização das escolas que toda a juventude seja formada,
exceto as pessoas a quem Deus negou inteligência.

Nessa sociedade hierarquizada que sobreviveu até o final do século XIX


e o início do século XX, cada um tinha seu lugar definido. O analfabetismo não
era visto necessariamente como uma deficiência. Os que não tinham instrução
podiam ter acesso a ofícios que permitiam a eles e às suas famílias viverem;
tinham seu lugar na sociedade.

O termo fracasso escolar até este momento não tinha conotação e não
implicava em comprometimento significativo a vida do sujeito, existia outras
possibilidades socialmente aceitas que não fosse tão somente o sucesso
acadêmico.

O termo fracasso escolar surgiu com a instauração da escola obrigatória


no final do século XIX , e o fracasso escolar aparece com status social como
temos hoje.

No século XIX busca se a explicação para os problemas de


aprendizagem nos conhecimentos advindos das ciências biológicas e da
medicina . Ou seja, procura se em alguma anomalia orgânica a justificativa
para o fracasso das crianças com dificuldades escolares.
15
É preciso não esquecer que o maior interesse em distinguir o normal,
advém da necessidade de esclarecer a prática. Podendo ser entendido como
os fatos que apresentam as formas mais gerais e daremos ao outro a
designação de mórbido ou patológico. Poderia afirmar que o tipo normal é o
que está na média e que qualquer desvio em relação a este padrão de saúde é
fenômeno mórbido.

Há vários conceitos de normalidade; estatístico, normativo, genético,


constitucional, psicossocial, entre outros.

As mudanças sociais levaram a educação a ser considerado um


investimento e o fracasso escolar se tornou um problema social que foge ao
padrão de normalidade.

Nos primeiros tempos do século seguinte observa se que as dificuldades


escolares continuam sendo abordadas como conseqüências de deficiências
mentais.de problemas de ordem neurológica e psiquiátrica .

O fracasso do aluno produz embaraço para a escola. Os incômodos


causados sempre levam a recorrência sistemática à retaguarda médica e
psicológica para justificar este problema.

Consultando literatura sobre fracasso escolar, constata-se sempre um


privilégio da questão médico-psicológica, desconsiderando a complexidade que
a questão impõe, como o sujeito, contexto sociocultural e pedagógico sócio-
cultural.

Os primeiros trabalhos sobre dificuldade de aprendizagem centravam-se


na noção de hereditariedade e congenitabilidade.

Como já foi citado no séc. XIX surge o interesse em estudar e


compreender tal fenômeno.
16
Temos aí, trabalhos de Simon com a psicométrica e BINET (1904) com
testes de inteligência.

O império da psicométrica dificultou, durante muitos anos, um


aprofundamento da relação entre estudo da personalidade e dificuldades de
aprendizagem.

Grande parte dos chamados problemas de aprendizagem são condutas


decadentes que se expressam somente porque o contexto no qual está
inserido o sujeito dele exige desempenhos que, muitas vezes, não seriam
considerados importantes num outro contexto. É ainda essencial que se analise
o vínculo que o sujeito faz com a aprendizagem. Ora encontramos o fracasso
escolar relacionado a um déficit, ora como produção.

No caso da criança com dificuldade de aprendizagem verifica-se em


algumas, um perfil motor adequado, inteligência média, uma adequada visão e
audição, mas de uma forma geral são observados alguns sintomas clínicos
como:

•Problema psicomotores: hiper-atividade ou hipo-atividade, ateralização,


equilíbrio e outros;

•Problemas emocionais: instabilidade, dificuldade de ajustamento grupal,


irritação, nervosismo, labilidade emocional, distimia entre outros;
•Problema perceptivo: dificuldade espacial, propriocepção, esteriognosia;

•Problema de simbolização: dificuldade de compreensão da comunicação


verbal e não verbal;

•Problema de atenção: focar e fixar atenção;

• Problema de memória: assimilação e acomodação da informação.


17
2.2 - Algo a mais

Se antes a desigualdade era da ordem de divisão de classes e da visão


organicista e técnica do fracassado escolar, no século XX aparecem os testes
e a crença numa inteligência mensurável, inata, estável. Isso gera a idéia de
indivíduos geneticamente superiores a outros. Muitas vozes, no entanto se
levantaram contra esta idéia reducionista de encarar as diferenças na
aprendizagem. Estudos científicos começaram a ser aprofundado, assim como
houve a contribuição de outros campos teóricos que abordam o homem como
um ser de desejo e portanto sujeito. A subjetividade é então considerada na
abordagem do fracasso escolar. O contexto sócio familiar e histórico passa a
ser acolhido contribuindo para a concepção do processo de ensino
aprendizagem e a respeito da concepção do homem .

No atual contexto sócio cultural é tarefa primordial do aluno ainda


aprender o que é dado pela escola. O não aprender o que lhe é ofertado pela
escola traz sérias conseqüências ao mesmo.

Em virtude dessa visão, a escola limita-se a desenvolver qualidades


cognitivas, identificadas através da cognição humana. Esta concepção resulta
num limitado ponto de vista sobre o potencial humano, considerando apenas
alguns aspectos importantes como a inteligência lógico-matemática e
lingüística; conseqüentemente valorizando somente aqueles que possuem tais
virtudes, enquanto os demais são desvalorizados e considerados fracassados.

Isto remete a um personagem da mitologia grega, Procusto. Em algumas


versões um fidalgo, em outras, um ladrão ou marginal.

Fato é que Procusto exigia que os viajantes se adequassem exatamente


ao tamanho de um determinado leito, para só assim poder prosseguir viagem.
Como isso raramente acontecia, o hóspede era amputado ou ampliado para
encaixar na forma.(BULFINCH; 2002:184)
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Claro que poucos sobreviviam a essa hospitalidade. Será que não é feito
o mesmo com o aluno?

A partir do momento em que o mal estar causado pela exclusão escolar


do aluno que denuncia um sistema dominador através de um não aprender
nome dado fracasso escolar e que os diversos campos teóricos se ocupam de
entender tal problema; do prejuízo para o Estado e para a sociedade, há uma
mobilização no sentido de compreender a denúncia que existe por trás do
fracasso escolar. A dimensão produtora do fracasso é abordada ou ignorada de
acordo com os interesses institucionais e do estado.

Seja produção do sujeito ao se constituir como tal ou produção de


“medidas” que o estado toma por ter seu orçamento atingido pelo fracasso
escolar. Seja produção de inquietação dos profissionais da educação e da
escola.

Supõe-se que o interesse do estado no fracasso escolar não se reduz


nesse fracasso. O estado investe recursos financeiros nas conseqüências que
o fracasso acarreta.

O sentido do fracasso escolar para o estado e a sociedade parece


diferente. Se para o estado está ligado ao gasto, para a sociedade à exclusão
ou à denúncia de um sistema fechado e alienante.

Estas mudanças radicais na sociedade levaram pessoas envolvidas com


a educação a se ocuparem desta questão, pois é demandado à escola estar
instrumentalizando o aluno para as necessidades sociais vigentes, capacitando
o mesmo para o mercado de trabalho, para “se destacar”, ser o melhor.

Por acreditar no sujeito ser de desejo que emerge desse caos


contemporâneo contrariando o que se espera dele e se faz representar é que
19
muitos estudos e muitas ações têm sido positivos e abertos um novo caminho,
um outro olhar frente ao fracasso escolar.

O tema fracasso escolar, a partir do material bibliográfico pesquisado


nos aponta o fracasso escolar como uma “patologia recente”, como um sintoma
social, um sintoma do sujeito, que está para além de uma manifestação
médico-psicológica.

Não há um consenso entre os autores sobre a definição de fracasso


escolar. Observamos que a bibliografia sobre o mesmo é marcada por
concepções que privilegiam um aspecto do ser humano, desconsiderando a
complexidade que a questão impõe. Campo de tensão, zona de confronto entre
a situação do aprendiz e a posição subjetiva.

Um fator comum a todos os diferentes grupos de explicações causais da


queixa escolar, isto é, qualquer que seja a causa do sintoma escolar, ele está
correlacionado a um déficit específico que se busca identificar melhor, isto é,
uma negatividade, uma carência, um a menos qualquer. Curiosidade, nenhum
dessas explicações considera a possibilidade de que a queixa escolar possa
ser vista como uma produção, isto é, um modo singular de resposta da criança,
ainda que essa esteja fora dos critérios de adaptabilidade.

A produção surge como o advir do sujeito. Momento em que o ser


humano se torna sujeito, através de sua construção. Essa paralela à
construção de conhecimento sistematizado na instituição escolar, familiar,
social.

É primordial uma análise que ultrapasse os diagnósticos reducionistas


que identificam o sucesso e o fracasso como supostas incapacidades dos
alunos e dos professores, bem como resultantes de motivos familiares, pois o
fenômeno fracasso escolar não se apresenta como algo isolado do contexto
social e político mais amplo.
20
CAPÍTULO III

A ESTRUTURAÇÃO DO SUJEITO

3.1 - O sujeito
Quando a criança, pela construção do complexo edipiano, se torna
sujeito e não mais atende “pelo outro” emerge seu próprio discurso e ela se
torna sujeito ser de desejo.

Para a Psicanálise, afirma Miller:


“O sujeito não é um dado, mas uma descontinuidade
nos dados. O sujeito é a própria perda. O sujeito é
constituído somente, ao nível ético. Trata-se de
decidir. É uma questão de decisão.”
(MILLER., 1988)

Sujeito é aquele que responde de maneira singular a uma situação, a um


outro. É possível que o sujeito não se identifique inteiramente na classe que o
representa. As maneiras que o sujeito tem de inclassificável são o que
presentificam a sua singularidade.

A Psicanálise fala do sujeito ser de desejo: Sujeito do inconsciente.


Sendo o inconsciente da ordem da estrutura estabelecida através da
linguagem, lugar de saber constituído por um material literal desprovido em si
mesmo de significação.

Sujeito: ser humano, submetido às leis da linguagem que o constituem, e


que se manifesta de forma privilegiada nas formações do inconsciente.

O sujeito em Psicanálise é o sujeito do desejo, que S. Freud descobriu


no inconsciente. Esse sujeito do desejo é o efeito da imersão do filho do
homem na linguagem. É preciso, pois, distingui-lo tanto do indivíduo biológico
quanto do sujeito da compreensão. Não é, portanto, o eu Freudiano (oposto ao
21
isso e ao supereu). Nem tampouco é o eu da gramática. Efeito da linguagem,
não é o elemento dela: ele “ex-siste” (mantém-se fora), ao preço de uma perda,
a castração.”(Dicionário de Psicanálise/Roland Chemama 1995.)”.

O peso que damos à linguagem como causa do sujeito nos leva a


precisar que o inconsciente é estruturado como linguagem, na medida em que
o sujeito em questão é uma função do significante. O sujeito é quilo que um
significante (S1) representa para um outro significante (S2).

No século XVI teve lugar o desmoronamento de toda uma cosmologia de


dois milênios solidamente erguida pelo pensamento aristotélico (representada
pelo desmoronamento dos três grandes sustentáculos da verdade para o
homem: o pensar filosófico, o pensar científico e o pensar religioso).

No século XVII, a construção revolucionária de uma nova física e de


uma nova ontologia provoca uma perda radical de referências.

Houve uma destituição dos ideais. No mundo fechado da física


aristotélica; na terra como centro do universo; no lugar central do homem no
universo.

Diante deste golpe no egocentrismo do homem, golpe narcísico onde lhe


é refutada a certeza de ser o centro do universo, temos a passagem para o
mundo pensado como exatidão, pela tentativa de quantificação do real.

Essa idéia de apresentar o universo através de símbolos matemáticos se


instaura com Descartes e Galileu. Perdurando no período que corresponde à
ciência moderna, em que se tem um tipo de relação própria do homem com o
saber.

Diante das incertezas que abalaram o mundo coube uma “garantia” para
a verdade. Nessa procura constatou-se que a verdade não podia ser colocada
22
em valores exteriores ao homem, mas ser o produto de um método pensado
como procedimento teórico e subjetivo.

No esforço de MONTAIGNE, ao iniciar o movimento do


desmoronamento do cosmo aristotélico, surge o que podemos falar de
subjetividade. A partir deste momento a subjetividade ocupa o lugar da verdade
que aparece no cenário do que denominamos pensamento moderno.

Neste solo aparece a racionalidade Cartesiana. A filosofia “deixa de ser


contemplativa para ser reflexiva” (HERZOG, 1996: 07)

“O eu penso e o eu sou se uniam à luz da evidência e a


representação fundava o próprio ser do homem”.
(WINOGRAD; 1998:34.)

O sujeito cartesiano é feito de uma operação de esvaziamento do saber.


Todo o ser é colocado em questão e o que resta é, pura e simplesmente, o Eu
penso como única certeza. Disso, fica o sujeito completamente vazio. O sujeito
cartesiano nasce com a exclusão de todo conhecimento histórico, filosófico,
literário, científico e religioso. Depois da enunciação do Eu, nenhuma crença e
somente uma certeza: eu penso.

KANT, introduz a instalação do sujeito moderno. Fazendo retornar do


sujeito o que antes girava em torno do objeto. Esse sujeito KANTINIANO é
concebido a partir do objeto. Da experiência do mundo, aquela que faz do
mundo a razão finita que é a nossa, que se alcança na transcendência vivida
na experiência nos limites da sensibilidade e do entendimento.

O sujeito transcendental é o sujeito da faculdade do conhecimento


(suposto pela natureza), é o sujeito da faculdade de desejar (moralidade), é o
sujeito do prazer e desprazer (arte e pensamento).
23
No pensamento KANTINIANO, o sujeito é aquele a que o tempo e o
espaço são dados como experiência e como condição à priori do
conhecimento. Afinal o que é o homem?

A construção teórica conhecida como pensamento Freudiano tem como


ponto principal à concepção de subjetividade como uma subjetividade elevada
em função de uma operação radical, o recalque, que funda o inconsciente. O
que marca o sujeito da psicanálise é a sua divisão em sujeito todo enunciado
(sujeito do consciente análogo do eu penso Cartesiano) e sujeito da
enunciação (sujeito do inconsciente que só pode ser entendido como sujeito do
desejo). Isso nos leva a pensar que o eu não revela nenhuma verdade sobre o
sujeito e que a relação com o outro é de fundamental importância para sua
constituição. O que o eu manifesta é a imagem do outro no processo
identificatório, no qual o sujeito se reconhece.

A partir de Freud é que surge o sujeito do inconsciente como sujeito do


desejo, como aquele que insiste na e pela cadeia significante, visto que Freud
situa o desejo e ainda a impossibilidade de confundir aquele que enuncia que
deseja.

3.2 – Sujeito do Fracasso Escolar. Quem é este sujeito?


Sujeito do inconsciente, sujeito cindido. Sujeito ser de desejo. Dividido
entre consciente e inconsciente, o que faz com que ele não consiga saber
direta e imediatamente porque age de determinada forma. Sujeito a priori
inserido e atravessado pela linguagem investido pelo desejo do outro. Em sua
relação com as exigências do outro o sujeito assume posições diferenciais em
relação a uma elaboração de pensamento. O outro internalizado gera posições
determinadas para o sujeito outro simbólico que se sobrepõe aos outros
concretos.

O sujeito localiza e reconhece originalmente o desejo por intermédio


não só da sua própria imagem, mas também do corpo do seu semelhante. É na
24
medida em que é no corpo do outro que ele reconhece o seu desejo que a
troca se faz. É na medida em que o seu desejo passou para o outro lado, que
ele assimila o corpo do outro e se reconhece como corpo.

No processo da constituição do sujeito está a primazia do desejo. É


preciso que o sujeito seja desejado para que ele possa se constituir enquanto
sujeito.

O outro também é incompleto. Ele também deseja algo. O Outro não tem
a resposta do sujeito. Não tem porque nós não podemos saber o que
realmente o Outro necessita. É preciso que o sujeito vá à direção do que ele
deseja. É preciso que o sujeito resgate os ideais que colocou no Outro. Sermos
responsáveis pelo que fazemos. Convivermos com as diferenças, com os
demais sujeitos.

O sujeito do Fracasso Escolar é produto de sua história, é o sujeito da


linguagem e atravessado por ela. A partir da leitura da estruturação do sujeito,
podem-se encontrar algumas hipóteses para o significado do Fracasso Escolar.
O sujeito enquanto ser de desejo e de linguagem responde singularmente ao
Outro. Produção subjetiva.

Os fantasmas de superar o pai de destruí-lo, de suplantá-lo junto à mãe,


pode representar um perigo para o sujeito. O sujeito produz uma defesa
narcísica. O que o impede de se interessar por algo que não seja ele. Aprender
é lidar com o erro, com o não-saber, com a falta. Renunciar ao pensamento
onipotente angustia e o sujeito “escolhe” não aprender.

Ter sucesso na escola é ter a perspectiva do ter acesso ao consumo de


bens. O sujeito que fracassa na escola pode estar renunciando a tudo isso. O
Fracasso Escolar do sujeito pode ser uma resposta ao desejo do Outro.
25
O sujeito não sustenta o desejo de conhecimento quando se torna preso
ao comando dos desejos dos pais. Se sente esmagado e fracassa como forma
de denunciar o comando.

O sujeito se identifica com o seu sofrimento trazido no traço-rótulo de


mau aluno. Passivo, goza de seu “status” de fracassado. O sujeito que percebe
a decepção dos pais com seu Fracasso Escolar desenvolve manifestações
somáticas. Produzindo preocupação e inquietação nos pais “garante” o amor
deles.

O sujeito que para sentir-se amado pelos pais (que não se interessam
pela escola) fracassam tentando assegurar do amor deles. No confronto do
sujeito com seu próprio desejo ele produz uma resposta .No caso estudado a
produção é o Fracasso Escolar. O sujeito que fracassa na escola é sujeito de
desejo. O fracasso revela o sujeito ou ele se revela através do Fracasso
Escolar. Para que o sujeito se estruture enquanto tal ele não suporta mais
satisfazer o desejo do Outro, sob pena de se tornar objeto e não se construir
como ser de desejo. A passividade dá lugar a uma posição ativa e autônoma.
Ter sucesso na escola implica em um desejo, um projeto, uma perspectiva do
sujeito.

Como nunca há uma única causa para o Fracasso Escolar, pode


observar que o sujeito que fracassa na escola é o sujeito do inconsciente, ser
de linguagem e de desejo. Observa-se no Fracasso Escolar o sujeito dividido
por forças inconscientes que agem sem seu conhecimento. O sujeito do
Fracasso Escolar. Quem é este sujeito? Uma produção discursiva que envolve
uma significação cultural? Sujeitos produzidos nas relações de poder? Sujeitos
assujeitados ao apelo contemporâneo, ou sujeitos que o denunciam? São
sujeitos que se constituem como tais enquanto constrói conhecimento sobre o
saber não todo.
26
CAPÍTULO IV

FRACASSO ESCOLAR E SAÚDE MENTAL

A história do fracasso escolar se encontra atrelada à história da loucura.


“A loucura é muito mais histórica do que se acredita geralmente, mas muito
mais jovem também”, como o fracasso escolar.

No século XVII o mundo da loucura vai se tornar o mundo da exclusão,


criam se instituições voltadas à internação dos loucos, mas toda uma série de
indivíduos bastante diferentes e nesta categoria se enquadra também os
deficientes mentais. São internados todos aqueles que em relação à ordem da
razão, da moral e da sociedade, dão mostras de alteração.

A categoria comum que agrupam todos aqueles que residem nas casas
de internação, é a capacidade em que se encontram de tomar parte da
produção, na circulação ou no acúmulo das riquezas.

A exclusão a que são condenados está na razão direta desta


incapacidade e indica o aparecimento no mundo moderno de um corte que não
existia antes. O internamento foi então ligado nas suas origens, e no seu
sentido primordial a reestruturação do espaço social.

Temos com Pinel o tratamento moral, onde priorizava controle social e


repreensão a qualquer desvio em relação a uma conduta moral.

Nos séculos XVI e XVII ocorrem julgamentos morais, perseguições


encarceramento, etc. Em suma meios claramente demonstrativos de valores de
ordem social e controle.

Aos estúpidos eram destinados trabalhos pesados laborativos, com


objetivo de controlar e educar instintos primitivos, eis aí o tratamento moral.
27
A ciência educacional imaginava uma educação cientifica que
transformaria o capital humano; essa é a visão iluminista de Kant.

Desde A história da Loucura, Foucault (1979), Deleuze (1992) e Guattari


(1985), demonstram o poder político nas ciências humanas o modo como este
saber está intimamente implicado aos problemas sociais. “O discurso expressa
a forma como os homens governam a si próprios e os outros por meio da
produção de verdades”

No início da sociedade industrial, instaurou-se um paralelo primitivo, um


dispositivo de seleção entre normais e os anormais. e na construção da
arqueologia das ciências humanas, e um grande esforço de disciplinarização e
normatização.

O discurso da ciência no que concerne à loucura procura neutralizar a


questão moral de pensabilidade construída. Mas é importante pensar que todo
conhecimento se constrói no tempo e na história e está impregnado dos
mesmos. Assim, como dos interesses da classe dominante, do estado, do
sistema público.

O louco não era excluído cientificamente, mas havia uma exclusão


moral.A causa comum da exclusão era a incapacidade de produzir.

Assim como o fracasso escolar à loucura a partir do século XIX vai


receber status, estrutura e significação médico-psicológica.

Em sua obra, História da loucura na idade clássica FOUCAULT (1961),


sustenta a tese de que a constituição da psiquiatria como ciência no séc.XIX,
se deve antes ao acúmulo de saber adquirido através das práticas
institucionais do que um saber médico sobre a loucura. É evidenciada a
transformação da loucura em doença mental, bem como o deslocamento dos
poderes que atuam sobre os loucos e seu lugar ocupado na sociedade.
28
Da renascença onde o louco é lançado à deriva nas naus dos
insensatos, ao período clássico marcado pelo confinamento, em nome da
razão em hospitais gerais e a posteriormente com o advento da modernidade,
em hospitais psiquiátricos. Mas ambas, loucura e fracasso, são atravessados
por discursos morais, punitivos e segregativos .

O pensamento de Foucault (1961), tem sido um dos mais importantes


para a compreensão de saberes que orientam a atualização dos mecanismos
históricos de sujeição dos indivíduos nas transformações que a sociedade vive,
ele utiliza a expressão poder/saber para deixar claro a relação entre ambos,
pensando o saber que atua enquanto forma de controle e poder.

O fracasso, longe de causar abalos ao discurso pedagógico, pontuando


lacunas denunciadoras da insuficiência desse saber, foi descolado para a
exterioridade do campo, pela via da nomeação de impossibilidades
constitucionais desses alunos. Independente de serem de ordem orgânica ou
psíquica, a desresponsabilização da escola se efetiva na medida em que a
resistência à aprendizagem era considerada sinal de doença. Portanto, fora da
alçada escolar.

A visão da educação como sujeição a coloca, junto com a produção de


saber e exercício do poder. De acordo com Foucault, exercer o poder é
estruturar o campo possível de outros ou governar é disciplinar.

São as sociedades de controle que estão substituindo as sociedades


disciplinares. Foucault também sabia da brevidade desse modelo. As
disciplinas, também por sua vez conheceriam uma crise, em função de novas
forças que se instalam lentamente e que se precipitaram depois da Segunda
guerra mundial: sociedade disciplinar é o que já não éramos mais, o que
deixávamos de ser.são as sociedades de controle que estão substituindo a
sociedade disciplinar.
29
Na crise atual como hospital como meio de confinamento, a setorização,
os hospitais-dia, o atendimento a domicilio puderam marcar o início de novas
liberdades, mas passaram a integrar mecanismos de controle que rivalizam
com os mais duros confinamentos.

Nas escolas a noção de estudo continuado, avaliação continuada, as


empresas já participando de todos os níveis de escolaridade, um controle
contínuo.

Segundo Félix Guattari , o modo de produção capitalista alcançou tal


grau de universalidade, colonizando o conjunto do planeta, tendendo a fazer
com que nenhum setor de produção nenhuma atividade humana e nenhum
modo de existência fiquem fora de seu controle, porque atua na própria
matéria-prima do homem: a subjetividade.

Baseado na noção de poder-saber de Foucalt, vai nos desalojar a todos


dessa posição privilegiada, a partir da qual se pode analisar e criticar o poder
sem estar envolvido com ele se não existe o exterior do poder, se não existe
uma verdade que seja o outro lado do poder, todas as relações são arriscadas

Pode-se pensar a partir dessa leitura que o ponto em comum entre


fracasso escolar e saúde mental, ao longo da história até os dias de hoje seria
uma produção marcada por rupturas e movimentos de singularização. A vida
que escapa aos modos de controle no enredo capitalista, onde a seriação e a
modelização atuam como expoentes. Mas que se tem na segregação e
punição possível interdição, o preço alto a pagar por estar a margem numa nau
dos insensatos.
30
CONCLUSÃO

Segundo Freud, os sujeitos não se encontram na cultura. Há sempre um


mal estar, algo que não anda, e o sintoma enquanto manifestação funcional do
sujeito acompanha e muda um modo de estar na sociedade.

O inconsciente institui sua própria forma de lidar com o que é


socialmente esperado. Sintoma enquanto modalidade de gozo, o Fracasso
Escolar está a serviço de quê?

O ponto limite do sujeito, ponto em que ele nomeia impossibilidade.


Submetidos aos contextos sociais políticos, econômicos e culturais.
Atravessados pela linguagem contemporânea. Os sujeitos estão capturados
pela cultura atual. Restando-lhes a travessia.

Falar de travessia é falar de fantasma. O Fracasso Escolar pode ser


entendido como fantasma que permeia, questiona a escola, a sociedade, o
sujeito e as ciências muito embora possa ser exatamente esse o efeito
inconsciente buscado, a imagem inferiorizada de se, que provoca o não
aprender, redunda dialeticamente na deteriorização do sujeito que deve
assumi-la. A clínica que o sintoma escolar é a verdade do sujeito que surge da
falha do saber, por isso, não desconsiderar a gravidade de seus efeitos para a
criança, vista que ela fica a mercê das punições de uma sociedade cujo maior
conflito reside na antinomia irredutível entre pulsões de vida e pulsões de
morte, na tentativa de sufocar suas forças de destruição.

Diante de uma falha surge um mal estar. O mal estar conduz ou produz
o sintoma. A psicanálise compreende o sintoma como uma defesa necessária
em função da angústia decorrente de conflitos. Ao trabalhar com o foco na
angústia, a defesa deixa de ser necessária e o sintoma desaparece. E isso
demanda tempo.
31
Devemos, por mais cruel que isso seja, cuidar que o sofrimento do
doente não encontre, em um grau mais ou menos efetivo, um fim antes do
tempo; se ele for reduzido através da decomposição e desvalorização do
sintoma, deveríamos, de novo erigi-lo em outro lugar, como uma carência
sensível, senão correríamos o perigo de nunca conseguir mais do que
melhoras modestas e não duradouras. (FREUD, 1917 - Conferência XXVII
1980, v.16).

Na sociedade contemporânea capitalista a cultura aposta na


subjetividade apropriada, onde a busca da identidade está alienada ao modelo
econômico vigente. O modelo de sociedade que impera é baseado na
compulsão ao prazer imediato. É imperativo considerar o sintoma escolar no
contexto atual, contemporâneo. Já que não podemos isolar o aluno do mundo e
desconsiderar seu sintoma. Os danos que dele causa são irreversíveis.

A psicanálise fala de um sujeito que marca presença, responde de forma


imprevista a uma situação imprevista e singular. O sujeito que fracassa na
escola é o sujeito, sujeito à cultura contemporânea. Cultura que valoriza a
compulsão ao imediato e privilegia o gozo.

A singularidade do sintoma escolar é que o mesmo está inserido na terra


de uma história marcada pelo desejo inconsciente do sujeito.

O centro das experiências psicanalíticas é o sintoma. Freud deu atenção


especial à história de suas pacientes histéricas e, a partir desse deslocamento,
ele interessava-se pelos mecanismos que o provocavam.

No discurso de Freud a psicanálise tem a função de libertar o paciente


de seus padecimentos. O sintoma escolar vem exigir da psicanálise sua
contribuição, fazendo laço com a mesma e a interpelando no sentido de
retomar a discussão do sintoma, de sua demanda.
32
Faz-se urgente articular os campos teóricos e práticos psicnálise-
educação. Como no final da análise, também na construção de conhecimento,
é preciso que o sujeito modifique seu modo de gozo, levando-o a saber o que
fazer com seu sintoma. Sintoma é sempre carregado de significado e
contextualizado.

As mudanças sociais, um momento novo na história da humanidade e


da sociedade da informação e globalização. O mundo atual impõe um agir e
um pensar igual em todos os contextos sociais. A sociedade atual transforma
tudo em produto, padroniza emoções e sentimentos porém, exclui a
singularidade.

Acolher o discurso do novo capitalismo mundial integrado, que interroga


o sujeito para um consumidor, que serve como instrumento de gozo do outro.
Sujeito é ser de desejo. O desejo do sujeito só se materializa longe do desejo
do outro. É desse sujeito que deseja. Do deslocamento do desejo ou do seu
fracasso que a educação procura normatizar, formatar, padronizar.
Observamos no percorrer a história da educação sua função alienante e
dominadora.

No mundo contemporâneo as mudanças radicais e rápidas exigem do


sujeito novas competências e habilidades. À Educação e à Psicanálise é
exigida uma articulação uma conexão. Caminhar, ainda que o caminho seja
íngreme só é possível caminhando.
33
BIBLIOGRAFIA

CHEMAMA, Roland. Dicionário de Psicanálise. Porto Alegre: Artes Médicas


Sul, 1995.

DURKHEIM, Emile. As regras do método Sociológico. São Paulo: Abril Cultura,


1979.

FONSECA, Vitor. Introdução às dificuldades de aprendizagem. São Paulo:


2000.

FOUCAULT, M. A Constituição histórica da doença mental. In: Doença Mental


e psicologia. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1975.

HERZOG, R. Da falta ausência de referência: o vazio na psicanálise . Rio de


Janeiro: Revinter, 1996.

LACAN; Jaques. Os escritos técnicos de Freud. Rio de Janeiro: Jorge Zahar


Editor, 1979.

LUZURIAGA, Lorenzo. História da Educação e da Pedagogia. São Paulo :


Companhia Nacional, 1979.

KAUFAMANN; Pierre. (Org) Dicionário Enciclopédico de Psicanálise – O


legado de Freud e Lacan. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1996.

MORIN, Edgar. Os Sete Saberes necessários à Educação do Futuro. São


Paulo: Cortez, 2000.

PAIN, Sara. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. Porto


Alegre: Artes Médicas, 1985.
34
ÍNDICE

INTRODUÇÃO 08

CAPITULO I 10
RETRONPECTIVA DO MUNDO ESCOLAR 10

CAPÍTULO II 13
FRACASSO ESCOLAR 13
2.1- Fracasso Escolar abordagem médico-pedagógica 13
2.2- Algo mais 17

CAPÍTULO III 20
A ESTRUTURAÇÃO DO SUJEITO 20
3.1- O sujeito 20
3.2- Sujeito Fracasso Escolar. Quem é este sujeito? 25

CAPÍTULO IV 28
FRACASSO ESCOLAR E SAÚDE MENTAL 28

CONCLUSÃO 33

BIBLIOGRAFIA 36

ÍNDICE 37
35
FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES


PROJETO A VEZ DO MESTRE
Pós-Graduação “Lato Sensu”

Título do livro: O FRACASSO ESCOLAR SEGUNDO A PSICANÁLISE

Autor: SENEN REIS RAMOS

Orientador: Diva Nereida

Data da Entrega: 25/06/05

Auto Avaliação:
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Avaliado por: ________________________________________Grau ______________

___________________________________, _________ de _____________de 2005.

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