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FAIT – FACULDADE IGUAÇUANA DE TEOLOGIA

WILTON SANTANA

A IGREJA PERSEGUIDA

NOVA IGUAÇU
2013
WILTON SANTANA

A IGREJA PERSEGUIDA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


à Faculdade Iguaçuana de Teologia - FAIT, como
exigência parcial para bacharelado do curso de
Teologia.

NOVA IGUAÇU
2013
AGRADECIMENTOS

A Deus, Criador dos Céus e da Terra, razão do meu viver, por dar-me o
maior presente, o livre arbítrio, a liberdade de escolher amá-lo ou
não...
Aos Meus pais, meus amigos e irmãos amigos de turma pelos anos em que
tivemos juntos debatendo e discutindo (no melhor sentido da palavra) os assuntos
teológicos e pala amizade que construirmos.
Aos Professores da FAIT em Nova Iguaçu, os quais, em todos os momentos,
se mostraram dispostos nos ensinos, o apoio de vocês foi fundamental para que eu
chegasse até aqui.
A Reitoria da FAIT na pessoa do Pr. Denílson Lima e a todos os seus
funcionários, aos amigos Eliseu Dutra, Marcelo de Paula, Eduardo e Robson França
pela forte amizade e parceira nos assuntos teológicos cuja luta e força de vontade,
muito me inspirou.
Ao meu querido Pastor Jonas Santos e sua família pela hospitalidade que nos
recebeu em “sua” igreja dando, apoio no momento de luta e tribulação, sem vocês,
eu não estaria aqui hoje.
Aos amigos da Igreja Assembléia de Deus Boas Novas, que com suas
orações e palavras de encorajamento, fizeram com que a caminhada fosse menos
árdua.
Aos meus ex-alunos da EBD, com quem muito aprendi e pela tolerância, foi
especial ter convivido com vocês.
“Frequentemente os homens têm agido como
se tivéssemos de escolher entre reforma e
reavivamento. Alguns clamam por reforma,
outros por reavivamento, e ambos se olham
com suspeita. Mas reforma e reavivamento
não são contraditórios; de fato, ambas as
palavras estão relacionadas com o conceito de
restauração. Reforma fala de restauração a
uma doutrina pura; reavivamento clama pela
restauração na vida cristã. Reforma fala de um
retorno aos ensinamentos das Escrituras;
reavivamento diz sobre uma vida plena em um
relacionamento apropriado com o Espírito
Santo. Os grandes momentos na história da
igreja têm surgido quando estas duas
restaurações ocorrem simultaneamente.
Posamos ser aqueles que conhecem esta
realidade de reforma e reavivamento a fim de
que este pobre mundo em que vivemos possa
ter uma amostra de uma porção da igreja de
volta a uma doutrina pura e a uma vida plena
do Espírito.”

(Francis Schaeffer, Verdadeira Espiritualidade)


RESUMO

Verifica-se que para ser feita uma justa apreciação das conquistas da Igreja ao
longo dos séculos deve-se levar em conta que elas foram alcançadas em meio à
mais feroz perseguição. Essas grandes perseguições tiveram como resultado moldar
em grande parte o caráter moral da Igreja. Só pessoas fiéis e zelosas professariam a
fé em Cristo quando tal ato constituía hostilidade ao governo.
Nesses três primeiros séculos a atitude de pessoas que se dispôs a sofrer e
morrer para não negar a fé em Deus muito impressiona. Os mártires deixaram nos
registros da História exemplos. Diz-se que “nenhuma causa vai adiante sem os seus
mártires, sem aqueles que acreditam nela a ponto de dar a vida pelo que crêem”
(desconhecido). A fé comporta sempre certa violência. Jesus ensina que se chega à
vida plena através da morte carnal. Ele chegou à glória através da paixão.
Sabe-se que a Igreja foi no passado, é agora e até a volta de Cristo será
perseguida na Terra. Vivem-se hoje em muitos países verdadeiras perseguições aos
que pregam a Palavra da Verdade. Muitos mártires ainda morrem no anonimato.
Isso não é fato desconhecido para os cristãos. Desde quando Cristo foi colocado
numa cruz, teve início a história dos mártires cristãos, Ele disse: "Se perseguiram-
me, perseguirão também a vós".João 15:20.
É uma nota característica e perene da Igreja de Cristo: ela é Igreja de Mártires.
Cristo que sofreu através dos seus discípulos mártires, pois na Paixão pelo
Evangelho está presente o próprio Cristo. Por isso os sofrimentos apostólicos, como
perseguição, prisão, pobreza e fome, foram também sofrimentos de Cristo. Paulo diz
isto em 2 Cor.4:10 “Levando sempre no corpo o morrer de Jesus para que também
a sua vida se manifeste em nosso corpo. “
Paulo fala sobre a mensagem da cruz “Certamente a palavra da cruz é loucura
para os que se perdem,mas para nós,que somos salvos,poder de Deus.” Nos dias
atuais, a “palavra da cruz” parece continuar sendo “loucura” (1Cor.1:18) para alguns
cristãos. Mas certamente a cruz, continuará carregando em seu significado o
mistério e o segredo da vida. “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e
tome a sua cruz e siga-me. Porque qualquer que quiser salvar a sua vida perdê-la-á,
mas qualquer que perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, esse a
achará.” (Mc. 8:34,35).
ABSTRACT

It is found that to be a fair assessment of the achievements of the Church


throughout the centuries should take into account that they were achieved amid
fiercer perseguição.Essas great persecutions have resulted largely shape the moral
character of the Church . persons only faithful and zealous professariam faith in
Christ when such act constituted hostility to government.
In these first three centuries the attitude of people who are willing to suffer and
die rather than deny their faith in God very impressive. The martyrs have left the
records of history examples. It is said that "no cause go ahead without its martyrs,
not those who believe in it to the point of giving their lives for what they believe"
(unknown). Faith always involves some violence. Jesus teaches that reaches the full
life through death carnal. He came to glory through passion.
It is known that the Church was in the past, is now until the return of Christ will
be persecuted on earth. Live today in many countries real persecution that those who
preach the Word of Truth. Many martyrs still die in anonymity. This fact is not
unknown to Christians. Since when Christ was put on a cross, began the history of
the Christian martyrs, he said: "If they persecuted me, they will also persecute you."
John 15:20.
It is a characteristic and perennial note of the Church of Christ: it is Church of
Martyrs. Christ who suffered through his martyred disciples, because in the Passion
for the Gospel Christ himself is present. That is why the apostolic sufferings, such as
persecution, imprisonment, poverty and hunger, were also the sufferings of Christ.
Paul says this in 2 Cor.4: 10 "Always bearing in the body the dying of Jesus so that
his life may also be manifested in our body. "
Paul talks about the message of the cross "Surely the word of the cross is
foolishness to those who are perishing, but to us which are saved it is the power of
God." Nowadays, the "word of the cross" seems to continue being "crazy" (1Cor.1:
18) for some Christians. But surely the cross, continue pressing the mystery of its
meaning and the secret of life. "If anyone would come after me, let him deny himself,
and take up his cross and follow me. For whosoever will save his life will lose it, but
whoever loses his life for my sake and for the gospel will find it. "(Mark 8:34,35).
Monografia

A IGREJA PERSEGUIDA

FACULDADE IGUAÇUANA DE TEOLOGIA

NOVA IGUAÇU – 2013


SUMÁRIO

1-Titulo: A Igreja Perseguida .


2-Objetivo
3-Justificativa
4-Corte cronológico
5-Bibliografia básica
6-Dissertação
Introdução.................................................................................................................4
1-A preparação para o Cristianismo

1.1. O domínio mundial de Roma........................................................................5

1.2. Os judeus......................................................................................................6
1.3. Os gregos...........................................................................................................6

1.4. Outros fatores................................................................................................7

1.5. Jesus funda a Igreja......................................................................................8


2- A Igreja apostólica
2.1. O começo...........................................................................................................9
2.2. Martírio de Estevão e a extensão da Igreja.....................................................10
2.3. De perseguidor a persegiodo...........................................................................11
3- O primeiro Século do Cristianismo
3.1.A vida da Igreja................................................................................................12
3.2.Causas das perseguições.................................................................................13
3.3.Primeiras perseguições.....................................................................................14
3.4.Judaísmo x Cristianismo...................................................................................15
4- Sangue dos mártires
4.1 Martírio..............................................................................................................16
4.2 Mártires do I século...........................................................................................17
4.3 Atos dos Mártires..............................................................................................19
5- Período de maiores perseguições
5.1 Perseguições Imperiais.....................................................................................21
5.2 Os efeitos produzidos pela perseguição...........................................................23
5.3 Fim das perseguições imperiais.......................................................................24
5.4 Constantino e o declínio moral da Igreja..........................................................25
6- As heresias
6.1 A condição da Igreja..........................................................................................26
6.2 A reação da Igreja.............................................................................................27
7-Os pais da Igreja
7.1Em defesa da fé................................................................................................28
7-Conclusão.......................................................................................................30
8-Bibliografia....................................................................................................31
Titulo : A IGREJA PERSEGUIDA.

Objetivos

- Conhecer a situação política e religiosa que vivia o mundo romano quando


Cristo nasceu e de que forma isso contribuiu para a expansão do Evangelho.
- Conhecer fatos fundamentais da formação da Igreja como Instituição.
- Relacionar o crescimento da Igreja com a coragem ,audácia e obediência dos
“mártires do Cristianismo”
- Constatar que a perseguição aos cristãos não se restringe somente aos três
primeiros séculos.

Justificativa

Quando se estuda a disciplina História da Igreja, há um impacto ao verificar


fatos descritos nas fontes de pesquisa utilizada que impulsiona ao conhecimento
detalhado dos acontecimentos da época. Fazem assim buscar entender todo o
processo de formação da Igreja e os motivos que levaram os irmãos do passado a
perseverarem, mesmo em meio a tantas dificuldades, sofrimentos e impedimentos
encontrados no objetivo determinado de fazer Cristo conhecido em meio a uma
sociedade que o havia rejeitado e crucificado injustamente, onde predominava
costumes pagãos e idólatras, onde não havia templos ,como temos hoje.Os novos
cristãos não se intimidaram ou recuaram ,antes se doaram,não tinham tempo de
estarem dentro de belíssimas catedrais,pois estavam ocupados demais pregando
onde os pecadores estavam. Naquela época em que o cristianismo era considerado
uma seita do judaísmo (Atos 24:14) não havia liberdade de pregar abertamente o
nome de Jesus conforme mostra o episódio de Atos capitulo quatro.
Cada apóstolo citado, cada discípulo que se tornava seguidor, cada defensor
do cristianismo apresentado ou até mesmo cada personagem citado ou anônimo
não declarado pela história, mas que heroicamente junto aos conhecidos se
propuseram a cumprir o “Ide” de Jesus sem medo das conseqüências, que na
maioria das vezes levava a morte física; mas com ousadia, coragem, intrepidez e
determinação, é o motivo agora desse estudo, porque cada um deles faz parte do
propósito que Cristo veio estabelecer na Terra.
Corte cronológico

37 a.C a 313 d.C.

Bibliografia Básica:

 Bíblia Sagrada
 História da Igreja - Dos Primórdios à atualidade - Autor Raimundo
Ferreira de Oliveira
 Cristianismo Através dos Séculos - Uma História da Igreja Cristã. Autor
Earle E. Cairns
 História da Igreja Cristã – Autor Jessé Lyman Hurlbut
 História da Igreja Cristã – Robert Hastings Nichols
 A Era dos Mártires - Justo L. Gonzáles

Introdução

A História da Igreja é a história de uma missão especial. A Igreja nasce, não


quando o Senhor simplesmente chamam pecadores para que se tornem seguidores;
mas, quando os chama para torná-los pescadores de homens. A obra missionária é
parte fundamental do propósito da existência da Igreja desde os primórdios. Ao se
estudar História da Igreja, verifica-se como o Senhor usou pessoas as mais
diferentes para anunciar Jesus, pessoas essas que corajosamente enfrentaram todo
tipo de perseguição e humilhação, sem nunca negarem a fé. História escrita com
lágrimas e sangue, em sofrimentos, prisões, naufrágios; nos desertos, em meio à
fome e ao calor.
Desde o 1º século a religião cristã tornou-se rapidamente conhecida em Roma
e em todo o mundo, não só por sua originalidade e universalidade, mas pelo
testemunho de amor fraterno e caridade demonstrada pelos cristãos para com
todos. As autoridades civis e o povo antes indiferente demonstraram-se logo hostis à
nova religião. Por se recusarem a prestarem culto ao imperador e adoração às
divindades pagãs de Roma, os cristãos foram acusados de desleais para com a
pátria, de ateísmo, de ódio pelo gênero humano, de delitos ocultos, como incesto,
infanticídio, rituais de canibalismo e de serem responsáveis pelas causas das
calamidades naturais, como a peste, as inundações, a carestia etc.
Declarada estranha e ilícita (decreto senatorial de 35) a religião cristã foi
também taxada de perniciosa (Tácito), malvada e desenfreada (Plínio), nova e
maléfica (Suetônio), obscura e inimiga da luz (Octavius de Minucio), detestável
(Tácito); depois foi posta fora da lei e perseguida, sendo considerada como o mais
perigoso inimigo do poder de Roma, que se baseava na antiga religião nacional e no
culto do imperador, instrumento e símbolo da força e unidade do Império.
Os três primeiros séculos são a épocas dos mártires, que terminou em 313
a.C. com o Edito de Milão, os imperadores Constantino e Lícinio deram liberdade à
Igreja.A perseguição nem sempre foi contínua e geral, ou seja, estendida a todo o
Império e nem sempre igualmente cruel e sangrenta. Em meio a períodos de
perseguições houve períodos de relativa tranqüilidade.
Os cristãos, na maioria dos casos, enfrentaram com convicção, coragem e
grande heroísmo a prova das perseguições, mas não sofreram passivamente.
Defenderam-se com força, conotando tanto a falta de fundamento das acusações
que lhes eram dirigidas de delitos ocultos ou públicos, como apresentando o
conteúdo da própria fé (Aquilo em que se acredita) e descrevendo a própria
identidade (Quem era).
A defesa cristã, apresentada aos imperadores da época, em discursos pedia
que não fossem condenados injustamente, sem serem conhecidos e sem provas.
Muitas vezes, na maioria delas os pedidos eram negados e mártires foram surgindo,
alguns citados heroicamente por escritores, outros ilustres corajosos desconhecidos
que no anonimato da história não apareceram, mas, certamente reconhecidos pelo
Pai Celestial.
Pela singularidade desse estudo, será praticamente impossível alguém não
compreender o porquê de tantas Igrejas serem perseguidas, quer por governos ou
mesmo até por outras Igrejas.
O Cristianismo tem sempre enfrentado problemas internos e externos em todos
os períodos da sua história. No Império Romano, no decorrer da expansão do
cristianismo,assim como hoje em muitos lugares do mundo ,os cristãos têm
enfrentado ataques de pagãos intelectuais, governos satânicos, falsas doutrinas que
tentam impedir que a “Verdade” prevaleça. “Porque nada podemos contra a verdade,
senão pela verdade.” II Coríntios 13:8
A PREPARAÇÃO PARA O CRISTIANISMO

O domínio mundial de Roma

Quando o cristianismo surgiu e durante os primeiros séculos de sua existência,


os romanos eram os senhores do mundo em face das muitas conquistas realizadas
por esse Império. Ignorava-se ainda o que existia além das fronteiras. O mundo
romano incluía todas as terras que seriam alcançadas pelo Cristianismo durante os
três primeiros séculos da era cristã. Pelas alturas de 50 a.D. o Império Romano
abrangia a Europa ao sul do Reno e do Danúbio,a maior parte da Inglaterra, o Egito
e toda a costa ao norte da África,como também grande parte da Ásia,desde o
Mediterrâneo à Mesopotâmia.Não era somente pela força que os romanos
dominavam todas essas regiões;eles as governavam inteligentemente e
efetivamente,pois onde quer que estendessem seu domínio levavam uma civilização
incomparavelmente superior à anterior existente naquelas terras.O poder desse
Império foi mais eficiente nas terras adjacentes ao Mediterrâneo ,exatamente onde o
Cristianismo foi primeiramente implantado.Com o seu Império ,os romanos se
tornaram os mais úteis instrumentos de Deus no preparo do mundo para o advento
do Cristianismo.
Esse Império, que incluía grande parte do gênero humano, serviu para unificar
os homens sob uma mesma bandeira e sob um mesmo governo. Além disso, as
guerras foram abolidas, contribuindo assim para a disseminação da mensagem do
Evangelho. Nenhum império do antigo Oriente Próximo, nem mesmo o império de
Alexandre, tinha conseguido dar aos homens um sentido de unidade numa
organização política. A lei romana, com sua ênfase sobre a dignidade do individuo, e
no direito deste a justiça a cidadania romana, além de agrupar homens de raças
diferentes numa só organização política, antecipou um Evangelho que proclamava a
unidade da raça ao anunciar a pena do pecado e o Salvador do pecado. Uma
contribuição à idéia de unidade foi a garantia de cidadania romana aos não
romanos. O Império Romano reunia todo o mundo mediterrâneo; desse modo para
todos os propósitos práticos, todos os homens estavam debaixo de um sistema
jurídico como cidadãos de um só reino.
Os romanos criaram um ótimo sistema de estradas que uniam todas as regiões
do Império. As estradas passavam por montes e vales até chegarem aos pontos
mais distantes do Império. Pela sua administração sábia, forte e vigilante, as
autoridades romanas tornaram mais fáceis e seguras as viagens e comunicações
entre as diferentes partes do mundo, com as construções de estradas ligando
lugares sob o domínio romano. Sem querer e sem saber os romanos foram abrindo
caminho para que mais tarde cristãos corajosos e obedientes fossem espalhando a
mensagem de Cristo.
Além disso, o poder de Roma trouxe uma paz universal, a Pax Romana. As
guerras entre as nações tornaram-se quase impossíveis sob o escudo desse
poderoso Império. Esta paz entre os povos favoreceu extraordinariamente a
disseminação, entre as nações, da religião que pretendia um domínio espiritual
universal.
6

Os Judeus

A história distingue os judeus como aqueles que prepararam o berço do


Cristianismo. Fizeram os preparativos para o seu nascimento e o alimentaram na
sua primeira infância. Os judeus constituem um povo peculiar. Deus escolheu para
Ser seu povo santo, separado e exemplar. Seriam eles os transmissores da
revelação divina a respeito da pessoa de Deus e da Sua soberana vontade.
Em segundo lugar, os judeus prepararam o caminho para o Cristianismo
porque se constituíam uma raça que aguardava o que o Cristianismo oferecia: um
Salvador divino. A esperança de um Messias era acariciada por todos os judeus
como a mais preciosa das suas possessões. Alguns até alimentavam essa
esperança como uma concepção grosseira, materialista. Mas em todas as
concepções havia um elemento essencial: a ardente expectação de um enviado de
Deus para redimir o Seu povo. Essa esperança messiânica distingue os judeus dos
demais povos da terra. O que havia no mundo grego-romano era forte dose de
desespero, cansaço e desilusão. Desse modo o Cristianismo encontrou os primeiros
seguidores entre os judeus.
Em terceiro lugar, os livros sagrados dos judeus foram um auxílio inestimável.
O Antigo Testamento foi por eles entesourado como um relato da manifestação do
próprio Deus na sua vida nacional. Assim a nova religião foi suprida, no seu
nascimento, por uma literatura religiosa que ultrapassou, infinitamente, qualquer
outra desse gênero então existente, e que confirmou os ensinos cristãos,
prenunciando Cristo pelas profecias. As Escrituras judaicas eram lidas regularmente
nas reuniões de culto dos primitivos cristãos.
A Dispersão dos judeus por ocasião dos cativeiros que sofreram ao serem
espalhados em quase todas as cidades do antigo mundo grego-romano foi outro
instrumento de alcance que o Cristianismo utilizou, pois muitos judeus em contato
com gentios inspiraram-lhes a expectação da preparação para aceitação de Cristo
como aquele Salvador que havia de vir.

Os Gregos

Ao surgir o Cristianismo, povos que habitavam as regiões do Mar Mediterrâneo


tinham sido profundamente influenciados pelo espírito do povo grego. Colônias
gregas, algumas das quais com centenas de anos, foram amplamente difundidas ao
longo das costas de todo o Mediterrâneo. Com seu comércio, os gregos foram a
todas as partes. A sua influência espalhou-se e foram mais acentuadas nas cidades
e países que se constituíam os mais importantes centros do mundo de então. Tal era
essa influência que os historiadores chamam este mundo antigo de grego-romano.É
que Roma governava politicamente, enquanto que a mentalidade dos povos desse
Império tinha sido moldada fundamentalmente pelos gregos.Os gregos exerceram
tríplice influência sobre o mundo de então, através de seus filósofos, do brilhantismo
do seu pensamento, e da universalização da sua língua. Os filósofos gregos eram
tremendamente respeitados por terem explicações para dúvidas existentes no meio
do povo. O fascínio dos filósofos gregos sobre as atividades intelectuais, ensinou o
povo a pensar e a disseminação da língua grega que fora espalhada como uma
língua universal fez dos gregos um grande instrumento de preparação para o
Cristianismo.

Outros fatores
O Cristianismo foi favorecido pela região e pelo tempo em que surgiu. Originou-
se no mundo Mediterrâneo – o maior e mais completo centro de civilização de então.
Herdeiro que era da longa história judaica e tendo o seu início nos anos de maior
vigor do Império Romano, o Cristianismo gozava de todos os benefícios que o
Império oferecia aos seus cidadãos.
A velha religião dos deuses e deusas da Grécia e de Roma, tinha perdido parte
da sua vitalidade e influência, entretanto não se pode afirmar que esta época se
caracterizava pela irreligiosidade. Augusto, Imperador quando Cristo nasceu
estabeleceu a religião no Estado. Conforme o seu desenvolvimento posterior veio
ela a se constituir em veneração de imagens e estátuas dos imperadores que então
reinavam e dos que os antecederam, como símbolos do poder de Roma. Tomaram
vitalidade consideráveis certos cultos primitivos e a adoração de divindades
associadas a certas localidades, ocupações ou profissões, aspectos da vida, etc. Os
antigos mistérios helênicos exerciam grande atração nas massas. Em resumo a
situação religiosa de Roma eram misturas de religiões que embora se assemelhasse
ao Cristianismo, tinham práticas que muito as distanciavam do propósito de Cristo.
Habitualmente, o estado moral do mundo civilizado durante os primeiros
tempos do Cristianismo tem sido pintado com as mais negras cores, como se não
existissem qualquer coisa boa digna de menção. Os fatos não justificam, de todo,
esse julgamento. As classes mais altas, sem dúvida estavam tremendamente
corrompidas. Entre as classes média e baixa, todavia, muitos homens e mulheres
levavam uma vida virtuosa, com alguns gestos de nobreza e bondade. Quando,
porém, reuniram-se os elementos favoráveis e desfavoráveis o resultado passa a ser
outro. A época era decadente. Os homens tinham seus espíritos perturbados e
insatisfeitos. As religiões e filosofias então existentes exerciam pouca influência
sobre a vida. Como resultado o nível moral era baixo. Nada existia que pudesse
melhorar a situação. Havia um sentimento de cansaço e de vácuo entre muitos, até
nos considerados mais inteligentes.
O primeiro período de expansão do Cristianismo coincidiu com a transformação
política, social e religiosa do mundo que ficava às margens do Mar Mediterrâneo.
Libertos das antigas ancoragens, os homens buscavam segurança em meio a uma
agitação religiosa que despertava nos seus espíritos. Com o decorrer dos séculos, e
a decadência das antigas civilizações, e até do Império Romano, os homens se
esforçaram por alcançar salvação nos diferentes meios.
Foi a um mundo corrompido, sem esperança e muito decadente que os
primeiros missionários cristãos trouxeram suas boas novas da Salvação.

8
Jesus funda a Igreja

Nesse meio descrito que Cristo nasceu e iniciou seu Ministério. Jesus teve
“compaixão das multidões” e lutou por alcançar, com o Seu ministério, o maior
número possível de pessoas. Mas evidentemente sentiu que poderia fazer muito
mais a favor do mundo, tendo ao Seu lado alguns homens escolhidos e logo no
início de seu Ministério, Jesus convidou alguns para serem Seus companheiros e
participantes da Sua missão. A esses escolhidos ministrou ,ensinou, preparou e
permitiu que percebessem a importância da Sua vinda na Terra, mostrando a eles
uma vida irrepreensível. Chamando os homens ao arrependimento, inculcando neles
a fé em Deus e Nele próprio, tendo compaixão pelos necessitados. Não temeu
apresentar-se como Filho de Deus e como cumprimento da promessa. Treinou,
enquanto pregava cada um dos discípulos e provou que viera estabelecer o Reino
de Deus nos corações dos homens. Ele deixou clara a necessidade de haver uma
sociedade constituída por Seus seguidores a fim de oferecer ao mundo o Evangelho
e ministrar, em Seu espírito os ensinos que lhes dera. O objetivo era propagar o
Reino de Deus. Ele não modelou qualquer organização ou plano de governo para
essa sociedade. Não criou código de regras ou ordens e formas de culto. Apenas
instituiu ritos religiosos simples: batismo com água para simbolizar a purificação
espiritual e a Ceia do Senhor, na qual utilizou elementos comuns de alimentos, como
comemoração ou lembrança dele próprio, especialmente da Sua morte para a
redenção dos homens. Consequentemente, em nada do que Jesus fez pode-se
descobrir a organização da Igreja. Ele fez mais do que dar organização: deu vida à
Igreja. Ele fundou a Igreja, ou melhor, Ele mesmo a criou.
Jesus comunicou ao grupo de seguidores até onde era possível, Sua própria
vida, Seu espírito e propósito. Prometeu dar, através dos séculos vitalidade a esta
sociedade, Sua Igreja. Dizia Ele que viera buscar os perdidos e achar os
desgarrados da casa do Pai.Aceitando a origem divina e a veracidade dos
ensinamentos do Antigo Testamento,Ele edificou sobre o fundamento dos profetas.
Ainda que não condenasse abertamente a lei cerimonial ,proclamou com veemência
os princípios que haveriam de anula-la.Pela sua vocação e ministério proféticos
,predisse a Sua morte,ressurreição,ascensão e vitória quando da Sua segunda vinda
em glória com o propósito de julgar os vivos e os mortos.
Face da veemência com que denunciava a hipocrisia e o pecado, sofreu
acirrada perseguição que resultou na sua prisão, julgamento e morte na cruz. Ali na
cruz Jesus experimentou todas as dores possíveis: a dor física, a dor de carregar o
pecado (Ele não tinha pecados), a dor do abandono e a de suportar a ira de
Deus(não contra a pessoa D’Ele, mas a fúria que Deus tinha sobre o pecado).A
Igreja idealizada desde a escolha dos doze, começava ali na cruz, com o sangue do
Mártir maior a plantar a semente da Igreja.
Mais ao terceiro dia após sepultado,seu túmulo que havia sido selado pelas
autoridades e guardado por sentinelas romanas,estava vazio.Durante os quarenta
dias seguintes à Sua ressurreição ,andou com os Seus discípulos,comeu com eles e
lhe deu promessas e mandamentos.Finalmente viram-nO subir da Terra e
desaparecer entre as nuvens no céu;porém,deixou com Seus discípulos uma dupla
promessa:
a)que Ele voltaria outra vez;
b)que o Espírito Santo seria enviado para encher as suas vidas e para
capacita-los a testemunhar da morte e ressurreição do Messias.

A IGREJA APOSTÓLICA

O começo

Para alguns historiadores, a Igreja Cristã teve seu nascimento quando Jesus
chamou Seus primeiros discípulos. Comumente se diz que o início aconteceu no dia
de Pentecostes que se seguiu à ressurreição, pois foi quando teve começo a vida
ativa da Igreja. Após a ascensão de Jesus aos céus, os discípulos, não obstante
terem recebido ordens de anunciar o Evangelho ao mundo, permaneceram quietos,
tranqüilos em Jerusalém. Estava aguardando, segundo a ordem do Mestre, o poder
prometido que viria do alto. Dez dias depois no Pentecostes, o Espírito Santo
prometido veio sobre eles.
Na manhã do Dia de Pentecoste, enquanto os seguidores de Jesus, cento e
vinte ao todo, estavam reunidos, orando, o Espírito Santo veio sobre eles de forma
maravilhosa. Tão real foi aquela manifestação, que foram vistas descer do alto,
como que línguas de fogo as quais pousaram sobre a cabeça de cada um. O efeito
desse acontecimento foi tríplice: a)iluminou as mentes dos discípulos,dando-lhes um
novo conceito do Reino de Deus.b)compreenderam que esse reino não era um
império político mas um reino espiritual ,na pessoa de Jesus ressuscitado ,que
governava de modo invisível a todos aqueles que o aceitavam pela fé.c)Aquela
manifestação revigorou a todos ,repartindo com eles o fervor do Espírito ,e o poder
de expressão que fazia de cada testemunho um motivo de convicção naqueles que
os ouviam.Revestidos de autoridade e poder. Tornaram-se, após, testemunhas vivas
do Mestre, plenos de nobre atividade.
Verifica-se tal mudança no próprio discurso de Pedro no Pentecostes. O que
sucedeu a Pedro naquele dia expressa o espírito de todos os primeiros cristãos,
daquele dia em diante. O sermão de Pedro (At.2:14-36)é o primeiro sermão de um
apóstolo ;nele recorde-se,Pedro apelou aos profetas do Antigo Testamento que
haviam pré-anunciado o Messias sofredor.Ele propôs ,então que Cristo era este
Messias,porque Ele tinha sido levantado dentre os mortos por Deus.Logo ,Ele era
capaz de trazer a salvação para aqueles que o aceitassem pela fé. E desde então a
Igreja Cristã, como uma comunidade destinada a dar o testemunho de Cristo, vem
proclamando o Evangelho, edificando o Reino de Deus na terra. A primeira pregação
do Evangelho, no Pentecostes, foi dirigida unicamente aos judeus. Ainda não tinham
percebido a extensão do propósito divino. Como hebreus, reconheciam que Jesus
era o Messias esperado pelo seu povo. Portanto o consideravam como Salvador
somente ou principalmente dos judeus, apesar de Jesus não lhes terem ensinado
isso.
A leitura dos seis primeiros capítulos de Atos dos Apóstolos dá a entender que
durante esse período Simão Pedro era o dirigente oficial da Igreja. Em todas as
ocasiões era Pedro quem tomava a iniciativa de pregar, operar milagres e de
defender a Igreja que nascia. Ao lado de Pedro, o homem prático encontra-se João,
o homem contemplativo e espiritual, que raramente falava, porém tido em grande
estima pelos crentes.

O martírio de Estevão e a extensão da Igreja

Nesse período conhecido como “A era apostólica”, lê-se nos relatos de Lucas
descritos no livro de Atos que “prodígios e milagres” eram realizados pelos
apóstolos. De um modo geral a ainda pequena “comunidade de cristãos” não tinha
faltas, procurava cumprir ensinamentos de Jesus e era poderosa na fé e no
testemunho, pura em seu caráter, e abundante no amor. Entretanto, o seu singular
defeito era a falta de zelo missionário. Permaneceu em seu território, quando devia
ter saído para outras terras e outros povos. Foi necessário surgir perseguição
severa, para que se decidisse a ir a outras nações a desempenhar sua missão
mundial.
Muitos antes da violenta perseguição surgir inesperadamente contra os
cristãos, já existia o ostracismo social. Os judeus que aceitavam a Jesus como o
Messias eram excluídos de suas famílias. Como resultado os cristãos dependiam do
apoio uns dos outros. A atitude de compartilhar as casas, os alimentos e os recursos
financeiros e emocionais era uma prática e necessidade da Igreja Primitiva. Porém,
o aumento do número de cristãos acarretou a necessidade de organizar a divisão do
trabalho. Alguns estavam sendo negligenciados. Havia reclamações. A escolha das
pessoas para ajudar na administração era feita com base na integridade, sabedoria
e sensibilidade delas para com Deus. Estevão, além de ser um bom administrador,
foi também um poderoso orador. Quando confrontado no Templo por vários grupos
antagônicos ao Cristianismo, usou uma lógica convincente para refutá-los. Isto está
claro na defesa da fé que ele fez diante do Sinédrio .Estevão apresentou um resumo
da história dos judeus e fez poderosas aplicações das Escrituras ,o que atormentou
seus ouvintes .Durante seu discurso ,ele provavelmente percebeu que estava
redigindo sua sentença de morte.Os membros do Sinédrio não podiam suportar que
suas motivações fossem expostas .Apedrejaram Estevão até a morte enquanto ele
orava pedindo que o Senhor os perdoasse .
A morte de Estevão não foi em vão. Deu início a perseguição e foi o meio pelo
qual a Igreja nascente chegou a uma compreensão mais segura do Evangelho que
Jesus lhe dera a pregar e alcançou uma visão mais ampla da obra que Jesus lhe
propusera. As autoridades religiosas judaicas que tinham tentado embaraçar a
pregação evangélica levantaram-se por causa do desafio audaz e valente que foi o
discurso de Estevão e empreenderam uma campanha selvagem, violenta e
sistemática contra o Cristianismo. Com esse ataque, a comunidade cristã de
Jerusalém que já contava alguns milhares, foi dissolvida. Seus elementos
procuraram segurança, espalhando-se por toda a Palestina. Não obstante fugirem
para salvarem a vida e por causa da sua fé, levava o Evangelho aonde quer que
fossem. Alguns deles foram até a grande cidade de Antioquia, na Síria. Ali, os
seguidores de Cristo foram, pela primeira vez chamados “cristãos”, nome que,
verificou-se, lhes foi dado por zombaria. Nesta cidade, vivendo no meio de uma
população grega, esses exilados tornaram Jesus conhecido tanto de gregos como
de judeus.
O amor de Cristo ardia no coração daqueles homens e os constrangia a
mostrarem esse amor para com seus condiscípulos, a viver em unidade de espírito,
em gozo e comunhão, e, especialmente a demonstrar interesse e abnegação pelos
membros da Igreja que necessitavam de socorros materiais.

11

De perseguidor a perseguido

Entre aqueles que ouviram a defesa de Estevão, e que se encolerizaram com


suas palavras sinceras, mas incompatíveis com a mentalidade judaica daqueles
dias, estava um jovem de Tarso, cidade das costas da Ásia Menor, chamado Saulo.
Esse jovem havia sido educado sob a orientação do famoso Gamaliel,conhecido e
respeitado intérprete da lei judaica.Saulo participou do apedrejamento de Estevão,e
logo a seguir fez-se chefe de terrível e obstinada perseguição contra os discípulos
de Cristo,prendendo e açoitando homens e mulheres.A Igreja de Jerusalém
dissolveu-se nessa ocasião, e seus membros dispersaram-se por vários
lugares.Entretanto ,onde quer que chegassem ,a Samaria ou a Damasco ,ou mesmo
a longínqua Antioquia da Síria ,eles se constituíam em pregadores do evangelho e
estabeleciam Igrejas.Dessa forma o ódio feroz de Saulo era um fator favorável à
propagação do evangelho e da Igreja.
Para Paulo participar daquele martírio não lhe fora em vão.Paulo era muito
religioso. O treinamento que recebeu de Gamaliel era o melhor disponível. As
intenções e os esforços de Paulo eram sinceros. Ele era um bom fariseu, conhecia
as Escrituras e acreditava sinceramente que o movimento cristão era perigoso para
o judaísmo. Por isso, odiava a fé cristã e perseguia os cristãos sem misericórdia. Ele
conseguiu permissão para viajar a Damasco para prender os pregadores do
Evangelho e levá-los de volta a Jerusalém. Mas o Senhor o deteve em sua
apressada jornada pela estrada de Damasco. Paulo teve um encontro pessoal com
Jesus Cristo, e sua vida nunca mais foi a mesma.
Paulo começou, na sinagoga de Damasco, a dar testemunho de sua fé recém-
encontrada. O tema de sua mensagem concernente a Jesus era: “Este é o Filho de
Deus” (At 9:20). O chamado de Deus veio a Paulo de forma tão clara e específica
que não lhe foi possível confundi-lo, enquanto deitado no chão cego pela luz de
Deus. Ananias lhe comunicou à mensagem que havia recebido de Deus: "O Deus de
nossos pais de antemão te escolheu para conheceres a sua vontade, ver o Justo e
ouvir uma voz da sua própria boca, porque terás de ser sua testemunha diante de
todos os homens, das coisas que tens visto e ouvido" (Atos 22:14-15).
Assim, desde os primeiros dias de sua vida cristã, Paulo não somente sabia
que era um veículo escolhido por meio de quem Deus comunicaria sua revelação,
mas tinha uma idéia geral do que Deus havia planejado para seu futuro: a) Seu
ministério o levaria para longe do lar; b) Ele teria um ministério especial entre os
gentios; c) Esse ministério lhe traria grande sofrimento.
Paulo precisou aprender amargas lições antes que pudesse apresentar-se
como líder cristão confiável e eficiente.
Descobriu que as pessoas não esquecem com facilidade e que os erros do
homem podem persegui-lo por um longo tempo, mesmo depois que ele os tenha
abandonado. Paulo experimentou a desconfiança e as suspeitas dos discípulos, e
seus ex-companheiros de perseguições o odiavam e passaram a persegui-lo.
O PRIMEIRO SÉCULO DO CRISTIANISMO

A vida da Igreja

Começando, assim sua grande carreira missionária, o Cristianismo espalhou-


se. No ano 100 a.D. havia igrejas em inúmeras cidades da Ásia Menor e em muitos
lugares da Palestina, Síria, Macedônia e Grécia, em Roma, em Alexandria, e
provavelmente, na Espanha. Paulo foi o missionário que mais contribuiu para esse
resultado. O que a tradição relata sobre a pregação dos apóstolos levou-se a pensar
que todos eles deram testemunhos audaciosos, levando as terras mais longínquas
as Boas Novas, embora se relate com mais segurança apenas o trabalho de Pedro e
João. Todavia, muito da tarefa heróica de tão grande esforço evangelístico foi
realizado por discípulos e missionários cujos nomes são desconhecidos. Cada
crente era um missionário ansioso para oferecer a alegria de que gozava em Cristo,
às pessoas que encontravam.
Naquele tempo uma Igreja era um pequeno grupo de crentes vivendo numa
grande comunidade pagã. Quase todos eram pobres, embora houvesse cristãos nas
classes mais altas, especialmente na Igreja de Roma. Em toda a parte poderia se
reconhecer um cristão: eles se tratavam mutuamente como irmãos, cuidavam dos
órfãos, dos doentes, das viúvas, dos desamparados. As coletas e a administração
dos fundos de caridade constituíam uma das partes mais importantes da Igreja.
Dentro da Igreja todas as distinções foram abolidas. Escravos e senhores foram
nivelados. As mulheres alcançaram uma posição de honra e influência que jamais
conseguiram na sociedade profana. Além disso, a atitude dominante dos cristãos era
de contentamento e confiança admiráveis. Regozijavam-se no amor de Deus, o Pai,
na comunhão com Cristo, no perdão dos pecados, na certeza da imortalidade. Assim
desconheciam a tristeza e o desespero que oprimiam a vida de muitos que os
cercavam. Essas características dos cristãos primitivos constituíam uma poderosa
recomendação para o Cristianismo, promovendo o seu desenvolvimento.
Um ponto marcante na vida da Igreja Primitiva que distinguia os cristãos dos
pagãos era a comunhão que os unia. Desse modo eles estavam presos uns aos
outros pela mesma fé e pelo mesmo amor. Eram unidos em todos os aspectos da
vida cristã. Eles tratavam-se como “irmãos” e “irmãs” na fé em Cristo.
Os cristãos primitivos tinham gozo no amor de Deus; na comunhão do Cristo
ressurreto; no perdão total dos pecadores e na certeza da vida eterna.
Desconheciam, pois as tristezas e horrores de uma vida morna, vazia e sem sentido.
As Igrejas eram autônomas, com governo próprio, que decidiam os seus
negócios e resolviam os seus problemas. A Igreja primitiva não adotou declarações
formais de fé.

Causas das perseguições

Historiadores têm a idéia confusa acerca do número, duração, escopo e


intensidade das perseguições sofridas pelos cristãos e pela Igreja. Antes de 250
a.C., a perseguição foi predominantemente local, esporádica e geralmente mais um
produto da ação popular do que resultado de uma política definida.Após essa data ,
porém ,tornou-se inúmeras vezes estratégia consciente do governo imperial romano
e,por isso tornou-se ampla, sangrenta e violenta.Destacou-se como causas para a
perseguição motivos políticos,religiosos,sociais e econômicos.
A rejeição ao Cristianismo teve como principal centro a cidade onde a religião
cristã começou: Jerusalém. O crescimento foi tão rápido que incomodou os judeus.
As autoridades eclesiásticas logo perceberam que o Cristianismo representava uma
ameaça a suas prerrogativas como intérpretes e sacerdotes da Lei, reuniram então
forças para combater os cristãos. De início a perseguição foi político-eclesiástico;
veio do Sinédrio que com permissão romana, supervisionava a vida civil e religiosa
do estado, mais tarde tomou cunho mais político, mantendo assim o padrão
eclesiástico ou político para as perseguições.
A Igreja foi considerada uma “seita legal” dentro do judaísmo, mas com a
expansão da Igreja e número de seguidores que aumentava cada vez mais e
praticava suas reuniões secretamente foi logo taxada de “sociedade secreta”
fazendo o estado romano intervir, pois não se admitia rivais na obediência de seus
súditos. Considerada então pelo governo uma religião ilícita, ameaça à segurança. O
estado era o supremo bem em uma união dele com a religião. Quando era colocada
aos cristãos a escolha da lealdade a César ou lealdade a Cristo, os fiéis colocavam
César como segundo plano. Aí a Igreja passou por acusações severas tais como:
”fundação de um estado dentro do outro”, “traição ao imperador”, ”deslealdade às
práticas estabelecidas”.
Além da causa política, havia uma razão religiosa. A religião romana tinha toda
uma formação estabelecida que envolviam rituais idólatras, os cristãos se opunham
a essas práticas, fazendo suas reuniões secretamente, o que levantava comentários
levianos a respeito das práticas, considerando-os assim como ateus.
Os cristãos logo exerceram grande atrativo sobre as classes sociais pobres e
escravizadas e isso também se tornou um fator para serem perseguidos, os líderes
aristocráticos ignoravam a defesa feita pelos cristãos da igualdade entre todos os
homens. Para eles não haviam diferenças entre classes sociais perante Deus.
O fator econômico foi desencadeado porque os cristãos se negavam a adorar
ídolos e imagens. Isso enfraquecia o comércio de imagens fabricadas, gerando
insatisfação numa sociedade que lucrava com a fé alheia. Enfim, diante a tantas
acusações, no ano de 250, a Igreja foi acusada de ser o motivo que levou Roma a
uma época de fome e grande agitação civil. Os cristãos eram acusados de terem
feito muitos abandonarem seus deuses e como conseqüência o castigo ter chegado.
Todos esses fatores foram formando nas mentes das autoridades observações
negativas com relação ao cristianismo o que gerou repulsa e conseqüente
perseguição.

14

Primeiras perseguições

Antes do ano 64 a.D não se encontra nenhuma referência histórica indicando


as autoridades romanas como responsáveis por perseguição aos
cristãos.Geralmente essas perseguições eram provocadas pelos judeus fanáticos ,
pois durante os primórdios da Igreja em Jerusalém, os judeus foram os maiores
perseguidores do cristianismo,apesar de cada vez mais judeus estarem se
convertendo.
Nero, porém, viria quebrar essa linha de procedimento mantida pelos seus
antecessores. Embora nos primeiros anos de seu reinado, o evangelho gozasse de
relativa liberdade, possuindo até seguidores entre os altos funcionários do Império e
até mesmo entre os membros da própria casa imperial. Nero chegou ao poder em
54, todos os que se opunham à sua vontade, ou morriam ou recebiam ordens de se
suicidar.
Assim estavam as coisas quando em 64 a. D aconteceu o incêndio em Roma.
Diz-se que foi Nero, quem ateou fogo à cidade, contudo essa acusação ainda é
discutível. Entretanto a opinião pública responsabilizou Nero por esse crime. A fim
de escapar dessa responsabilidade, Nero apontou os cristãos como culpados do
incêndio de Roma, e moveu contra eles tremenda perseguição. O fogo durou seis
dias e sete noites e depois voltou a se acender em diversos lugares por mais três
dias. Assim milhares de cristãos foram torturados e mortos, muitos serviram de
iluminação para a cidade, amarrados em postes e ateado fogo e muitos ainda foram
vestidos com peles de animais e jogados para os cães.
Nero então começara a sua escalada de violência. Nesse período, por ocasião
de uma festa, Nero envenenou Britânico, seu irmão adotivo. No ano 60 mandou
matar Agripina sua própria mãe. Ordenou a morte de Otávia, sua esposa, para
casar-se com Pompéia.
O que os cristãos sofreram em decorrência da falsa acusação de terem
incendiado Roma, é narrado pelo célebre historiador Tácito:

Em primeiro lugar foram interrogados os que confessaram;


então, baseados nas suas informações, uma vasta multidão foi
condenada, não tanto pela culpa de incendiários, como pelo ódio
para com a raça humana. A sua morte foi tornada mais cruel pelo
escárnio que a acompanhou. Alguns foram vestidos de peles e
despedaçados pelos cães; outros morreram numa cruz ou nas
chamas; ainda outros foram queimados depois do pôr do Sol, para
iluminar as trevas. Nero mesmo cedeu os seus jardins para o
espetáculo; deu uma exibição no circo e vestiu-se de cocheiro; ora
associando-se com o povo, ora guiando o próprio carro. Assim, ainda
que culpados e merecendo a morte mais dura, tinha-se compaixão
deles, pois parecia que estavam sofrendo a morte não para
beneficiar o Estado, mas para satisfazer a crueldade de um individuo
. (Anais,XV,44).

Judaísmo x Cristianismo

De todas as províncias dominadas pelo governo de Roma, a única descontente


era a Judéia. Os judeus de acordo com a interpretação que davam as profecias
consideravam-se destinados a conquistar e a governar o mundo; baseados nessa
esperança, somente forçados pelas armas e pelas ameaças é que se submeteram
ao domínio dos imperadores romanos.
Por volta de 66,os judeus rebelaram-se ,abertamente ,apesar de não terem ,
desde o inicio ,condição de vencer,eram uma pequena província ,com homens que
desconheciam o adestramento militar contra um império de cento e vinte milhões de
habitantes com exército de duzentos e cinqüenta mil soldados disciplinados e
peritos na arte de guerra.Além disso os judeus estavam lutando uns contra os
outros,e matavam-se entre si,com tanta violência como se lutassem contra Roma .
Tudo era propício para o Império Romano que após prolongado cerco , agravado
pela fome e pela guerra civil dentro dos muros ,a cidade de Jerusalém foi tomada e
destruída pelos exércitos romanos.Milhares e milhares de judeus foram mortos ,e
outros milhares foram feitos prisioneiros , escravos, e alguns deles trabalharam até
morrer. A nação judaica ,depois de treze séculos de existência ,foi assim destruída .
A queda de Jerusalém no ano de 70 a.C impôs grande transformação nas
relações existentes entre cristãos e judeus. De todas as províncias dominadas pelo
governo de Roma, a única descontente e rebelde era a Judéia e por isso rebelaram-
se contra um exército perito em guerra. Os judeus de acordo com a interpretação
que davam às profecias consideravam-se destinados a conquistar e a governar o
mundo; baseados nessa esperança, somente forçados pelas armas e pelas
ameaças é que se submeteram ao domínio dos imperadores romanos. Verificou-se
também, que muitos procuradores e governadores romanos fracassaram
inteiramente na interpretação dos sentimentos e caráter judaicos, e, por essa razão,
tratavam os judeus com aspereza e arrogância.
Na queda de Jerusalém morreram poucos ou nenhum cristãos. Atentos às
declarações proféticas de Cristo, os cristãos foram admoestados e escaparam da
cidade ameaçada; refugiaram-se em Pela, no Vale do Jordão. Entretanto o efeito
produzido na Igreja, pela destruição da cidade foi que pôs fim, para sempre, nas
relações entre o Judaísmo e o Cristianismo. Até então, a Igreja era considerada pelo
governo romano e pelo povo, em geral, como um ramo da religião judaica. Mas dali
por diante judeus e cristãos separaram-se definitivamente. Um pequeno grupo de
judeus-cristãos ainda perseverou durante dois séculos, porém sempre em número
decrescente. Esse grupo eram os ebionitas ,somente reconhecidos pela Igreja no
sentido geral,porém desprezados e apontados como apóstatas ,pelos judeus,gente
de sua própria raça.
Interessante notar o estado do Cristianismo no fim do primeiro século, cerca de
setenta anos depois da ascensão de Cristo. Por essa época havia famílias que
durante três gerações vinham seguindo a Cristo.
No final do primeiro século, as doutrinas ensinadas pelo Apóstolo Paulo na
epístola aos Romanos eram aceitas por toda a Igreja, como regra de fé. Os ensinos
de Pedro e João, exarados nas respectivas epístolas, concordam com os de Paulo.
Surgiam nesse período idéias heréticas e formavam-se seitas, cujos germens foram
descobertos e expostos pelos apóstolos; contudo, o desenvolvimento dessas
heresias só aconteceu mais tarde.

SANGUE DOS MÁRTIRES

Martírio

A palavra grega mártir significa “testemunha” diante de um tribunal, mas, com o


passar do tempo, ganhou um sentido cristão e ficou reservada para “Todo aquele
que dá testemunho, mesmo ocasionalmente, mas sempre enfrentando ameaça de
morte”. Orígenes (séc. II),considerado um dos pais da Igreja descreve assim “A
comunidade de irmãos na fé reservou o nome de mártir para aqueles que deram
testemunho de fé em Cristo derramando seu sangue”.
O martírio expressa a mais alta identificação com Cristo e realiza a bem-
aventurança proclamada por Jesus: “Bem-aventurados sois vós quando vos
insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós por
causa de mim...De igual maneira perseguiram os profetas antes de vós” (Mt.5,11-
12) .
A primitiva comunidade cristã via nos irmãos que perdiam a vida com o martírio
um estímulo à perseverança e novos intercessores junto ao Senhor. Os mártires
eram orgulhos da fé cristã e seus túmulos se tornavam locais de oração e de
veneração.
Acontecia que alguns cristãos eram torturados, derramavam o sangue, mas
não morriam. A esses irmãos, com veneração, a comunidade dos cristãos deu-lhes o
nome de “confessor”. Eles possuíam um posto eminente na Igreja, impunham as
mãos e, em alguns lugares, tinham o poder sacerdotal sem necessitar de
ordenação: eram os mártires ainda vivos, um privilégio, uma graça de Deus para seu
povo.
Para a Igreja não interessa o passado do mártir, o importante é o momento
decisivo do martírio. Assim, um mártir não é aquele que viveu heroicamente a fé,
mas o que heroicamente derramou o sangue por Jesus. Pode até ter tido pecados,
ou ter em algum momento dado mau exemplo, mas se aceitou o martírio, mostrou
amor heróico e perfeito pelo Senhor.
Nesse primeiro período de perseguição sofrida pela Igreja, não poucos dos
seus líderes, desde Estevão, sofreram o mais cruel tipo de morte.
A última geração do primeiro século, a que vai do ano 60 aos 100 AD,
chamamos de "Era Sombria", em razão de as trevas da perseguição estar sobre a
Igreja, e a falha de muitas informações sobre este período. Sabe-se, no entanto que
os apóstolos foram martirizados nesse período.

Mártires do I século

Mateus desenvolveu grande parte de seu ministério pastoreando a Igreja de


Antioquia, onde também escreveu o seu evangelho. Dirigiu-se posteriormente para
a Etiópia, aonde veio a ser martirizado por causa da pregação. Sofreu martírio pela
espada, Marcos foi arrastado por um animal pelas ruas de Alexandria, até morrer,
Lucas foi enforcado em uma oliveira, na Grécia, João, diz a tradição que ele cuidou
da mãe de Jesus enquanto pastoreou a congregação em Éfeso, e que ela morreu
ali. preso, foi lançado numa caldeira de óleo fervente, sobreviveu e foi exilado na
Ilha de Patmos. Acredita-se que ele viveu até avançada idade, e seu corpo foi
devolvido a Éfeso para sepultamento, Tiago, este apóstolo desenvolveu um trabalho
missionário na Espanha, pregando na região da Galícia e Zaragoza. Seu êxito não
foi notável, pois os naturais desses lugares se negaram a aceitar o evangelho. Ao
regressar para Jerusalém, percorreu o caminho que deu origem ao lugar hoje
conhecido como “Caminho de San Tiago de Compostela”, na Espanha. Em
Jerusalém, veio a ser preso, sendo em seguida, decapitado por ordem de Herodes
Agripa I, no ano 44 (At. 12:1,2). A perseguição que tirou a vida de Tiago infundiu
novo fervor entre os cristãos (At. 12.5-25). Herodes Agripa esperava sufocar o
movimento cristão executando líderes como Tiago. "Entretanto a Palavra do Senhor
crescia e se multiplicava" (At. 12.24).
Tiago, o menor pregou o evangelho na Síria. Segundo o historiador antigo
Flávio Josefo, foi linchado e apedrejado até a morte, após ter sido lançado do
templo abaixo e verificarem que ainda vivia.
Filipe: Atribui-se a este apóstolo a fundação da Igreja de Bizâncio, cidade mais
tarde conhecida como Constantinopla. Posteriormente, pregou o evangelho na Ásia
Menor, na região de Hierápolis, onde se convertera a mulher de um cônsul romano
pela sua pregação. O cônsul, então furioso por este episódio, mandou prender a
Filipe e matá-lo de forma cruel, foi enforcado em Hierápolis,na Frigia.
De Bartolomeu diz a tradição que ele serviu como missionário na Índia,onde
lhe tiraram a pele por ordem de um rei bárbaro.
Tomé segundo a tradição, desenvolveu a sua atividade missionária inicialmente
na Índia. Dali dirigiu-se para o Egito, onde realizou importante trabalho entre os
habitantes de língua copta, ministério este que deu origem à comunidade até hoje lá
existente. A Igreja Cristã Copta, como é conhecida, está separada do catolicismo
romano desde o IV século, tendo patriarcas em sua liderança. Sobre a sua morte
consta que foi amarrado a uma cruz, e, ainda assim pregou o evangelho de Cristo
até morrer.
André, após a morte e ressurreição de Jesus, foi pregar o evangelho na região
do Mar Negro (hoje parte da Rússia); depois, segundo a tradição, pregou na Grécia,
em Acaia, onde foi martirizado numa cruz em forma de “X”. Daí, este instrumento de
tortura ter ficado conhecido como “cruz de Santo André”.
Simão o Zelote desenvolveu seu ministério de evangelização na Pérsia, onde o
culto ao deus Mithras (deus Sol) estava extremamente desenvolvido. Devido a
conflitos com seguidores de Mithras, acabou sendo morto por se negar a oferecer
sacrifício a esta divindade. Zelote,foi crucificado na Pérsia, Matias foi primeiramente
apedrejado e depois decapitado.
Pedro depois de exercer importante liderança na Igreja de Jerusalém, este
apóstolo transferiu-se para a cidade de Roma, capital do império Romano No ano
67 durante perseguição imposta por Nero, Pedro foi preso e condenado a morrer
crucificado. Relatos do segundo século afirmam que o apóstolo, antes de sua
execução, disse que não era digno de morrer como morrera Jesus, o seu Senhor, e
pediu para que fosse crucificado de cabeça para baixo, e assim ocorreu. A tradição
diz que a Basílica de São Pedro em Roma está edificada sobre o local onde ele foi
sepultado.
Judas foi a Abgar depois da ascensão de Jesus, e permaneceu para pregar em
várias cidades da Mesopotâmia. Diz outra tradição que esse discípulo foi
assassinado por mágicos na cidade de Suanir, na Pérsia. O mataram a pauladas e
pedradas.
Paulo, considerado um apóstolo “nascido fora de tempo” (I Cor. 15:8), tornara-
se o grande líder da Igreja entre os gentios e propagador da “mensagem da cruz” (I
Cor. 1:18-23). Uma carta de Clemente de Roma, no segundo século, testifica o que
ocorrera com este apóstolo:

“Paulo esteve preso sete vezes; foi chicoteado, apedrejado;


pregou tanto no Oriente quanto no Ocidente, deixando atrás de si a
gloriosa fama de sua fé; e assim, tendo ensinado justiça ao mundo
inteiro, e tendo para esse fim viajado até os mais longínquos confins
do Ocidente, sofreu por fim o martírio por ordens dos governadores,
e partiu deste mundo para ir ocupar o seu lugar”.

Quando da perseguição movida por Nero, Paulo foi preso e levado a Roma,
onde recebera o martírio. Pelo fato de possuir cidadania romana, este apóstolo não
poderia ser crucificado (algo por demais humilhante para o cidadão romano) e por
isso deram-lhe como sentença a decapitação (morte instantânea). A tradição
conservou de forma reverente o lugar da execução deste apóstolo, juntamente com
Pedro.Desde a mais alta antiguidade, a Igreja romana celebrou juntos os martírios
de Pedro e de Paulo no dia 29 de junho. Quando acorrentado em um cárcere
romano ,disse:

” Porque eu já estou sendo oferecido por aspersão de


sacrifício, e o tempo da minha partida está próximo. Combati o bom
combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da
justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará
naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que
amarem a sua vinda. ” (II Tm.4:6- 8).

Não muito depois de haver escrito estas palavras, foi decapitado por ordem
do imperador Nero.

Atos dos mártires

Eusébio de Cesaréia é a principal fonte dos Atos dos Mártires. Nascido em


Cesaréia da Palestina pelo ano 265, Eusébio recebeu uma sólida formação
intelectual, sobretudo histórica. Eleito bispo de sua cidade, foi o homem mais erudito
do seu tempo. Poupado pela perseguição de Diocleciano (303-311), Eusébio foi dela
uma testemunha de importância excepcional, porque viu pessoalmente a destruição
de Igrejas, as fogueiras de livros sagrados e muitas cenas selvagens de martírio na
Palestina, na Fenícia e até na distante Tebaida do Egito, deixando-nos de tudo, uma
comovente memória de grande valor histórico. De seus escritos podem-se extrair
relatos como citados a seguir:

Os mártires, portadores de Cristo, aspirando, pois, aos mais


elevados carismas, enfrentaram todo sofrimento e todo gênero de
torturas imaginados contra eles, e não só uma, mas até mesmo uma
segunda vez; diante das ameaças, com que os soldados competiam
entre si no lançar-se contra eles com palavras e atitudes, não
retrataram a própria convicção, porque "a caridade perfeita afasta o
terror" (1Jo 4,18). Que discurso seria suficiente para narrar suas
virtudes e sua coragem diante de cada prova?Entre os pagãos,
qualquer um podia insultar os mártires e, por isso, alguns batiam
neles com bastões de madeira, outros com vergas, outros com
chicotes, outros com cintos de couro, outros ainda com cordas. O
espetáculo dos tormentos era muito variado e extremamente
cruel. Alguns, com as mãos amarradas, eram pendurados numa
trave, enquanto instrumentos mecânicos puxavam seus membros em
todos os sentidos; os carnífices, seguindo a ordem do juiz aplicavam
no corpo todos os instrumentos de tortura, não só nas costas, como
era costume fazer com os assassinos, mas também no ventre, nas
pernas, nas faces. Outros, pendurados fora do pórtico, por uma só
mão, sofriam a mais atroz das dores pela tensão das articulações e
dos membros. Outros eram amarrados às colunas, com o rosto
voltado um para o outro, sem que os pés tocassem o chão, e pelo
peso do corpo as juntas eram necessariamente esticadas pela
tração. Suportava tudo isso não só enquanto o governador se
entretinha a falar com eles no interrogatório, mas por pouco menos
de uma jornada. Enquanto o governador passava para examinar os
demais, ordenava aos seus dependentes que olhassem atentamente
se por acaso, alguém, vencido pelos tormentos, acenasse ao
sofrimento, e impunha que se lhes estivesse inexoravelmente por
perto, também com as correntes e quando, depois disso, tivessem
morrido, puxassem-nos para baixo e arrastassem-nos pela terra.
Essa de fato, era a segundo tortura, pensada contra nós pelos
adversários: não ter nem sequer uma sombra de consideração por
nós, mas pensar e agir como se já não existíssemos. Houve também
aqueles que, depois de terem padecido outras violências, foram
colocados no cepo com os pés separados até ao quarto furo, de
modo que necessariamente ficavam de costas no cepo, pois não
podiam ficar em pé por causa das profundas feridas recebidas em
todo o corpo durante o espancamento. Outros, ainda, jogados por
terra, jaziam subjugados pelo peso das torturas oferecendo, de modo
bem mais cruel aos espectadores, a visão da violência feita contra
eles, porque traziam as marcas das torturas no corpo todo. Alguns,
nessa situação, morriam em meio aos tormentos, cobrindo de
vergonha o adversário com a própria constância; outros, semi
mortos, eram trancados na prisão onde expiravam poucos dias
depois, sucumbindo às dores; os que sobravam com a saúde
recuperada graças aos cuidados médicos, animavam-se de renovada
coragem com o tempo e o contato com os companheiros de
prisão.Dessa forma, então, quando o edito imperial concedeu a
faculdade de escolher entre aproximar-se dos sacrifícios ímpios e
não serem perturbados, obtendo uma liberdade então criminosa
das autoridades do mundo, ou não sacrificar, aceitando a
condenação capital, os cristãos corriam alegres para a morte, sem
nenhuma hesitação.Eles conheciam, de fato, o que fora predestinado
e anunciado pelas sagradas Escrituras: "Quem sacrificar aos deuses
estranhos - diz o Senhor - será exterminado" (Es 22,19) e "Não terás
outro Deus além de mim" (Ex 20,3)". São essas as palavras que o
mártir, realmente sábio e amigo de Deus, escrevia do cárcere aos
fiéis da sua Igreja, antes da sentença capital, descrevendo a situação
em que se encontrava, e exortando-os a permanecer firmes na fé em
Cristo, mesmo depois da sua morte, que estava próxima.

PERÍODO DE MAIORES PERSEGUIÇÕES

Perseguições imperiais

As grandes perseguições sofridas pelo Cristianismo nos três primeiros séculos


de sua História, principalmente a partir do ano de 64, foram movidas principalmente
pelas autoridades do Império Romano. A Igreja foi alvo de maiores perseguições no
período que vai de Nero (ano 64) até Diocleciano (ano 305).
Nero – No ano de 64 d.C, ocorreu o grande incêndio que destruiu parte da
cidade de Roma, milhares de cristãos foram mortos da maneira mais cruel.
Domiciano – (96 d.C.). Verdadeira explosão de delírio e ódio, sem outro motivo,
a não ser a ira de um tirano. Esse imperador foi o autor de uma das maiores
perseguições aos cristãos. Perseguiu e matou a muitos deles sob a acusação de
que eram ateus, por se recusarem a participar do culto ao imperador. Essa
perseguição foi breve, porém violenta em extremo. Cristãos aos milhares foram
mortos em Roma, na Itália, entre eles, Flávio Clemente, primo do próprio imperador.
A sua esposa Flavia Domitila foi exilada. No governo de Domiciano o apóstolo João
foi exilado na Ilha de Pátmos.
Trajano – (98-117 d.C.).Foi um dos melhores imperadores ,mas achou que
devia manter as leis do Império,mantendo o Cristianismo como religião ilegal.A Igreja
era tida como uma sociedade secreta ,o que as leis imperiais proibia.Não molestava
os cristãos ,porém,quando eram acusados,sofriam sérios castigos.Entre os que
morreram durante seu governo,estavam Simão,irmão de Jesus(Mc.6:3),sucessor de
Tiago ,bispo de Jerusalém,o qual foi crucificado no ano 107,e,Inácio, bispo de
Antioquia da Síria que parecia disposto a ser martirizado, pois durante sua prisão o
qual foi levado para Roma escreveu cartas às Igrejas manifestando o desejo de não
perder a honra de morrer pelo seu Senhor.Foi lançado às feras no anfiteatro romano.
Plínio – Enviado pelo Imperador à Ásia Menor para castigar os cristãos que se
recusassem a negar a fé em Cristo, escreveu ao Imperador Trajano:

Eles afirmaram que o seu crime e o seu erro resumem-se


nisto: costumam reunir-se num dia estabelecido, antes de raiar o
dia,e cantam,revezando-se um hino a Cristo, como a um deus:
obrigam-se a não roubar, nem furtar, nem adulterar; nunca faltar à
palavra, nunca ser desleal, ainda que solicitados. Depois de fazerem
isto, a praxe é separar-se e depois, reúnem-se novamente para uma
refeição comum.

Adriano – (117-138 d.C.). Perseguiu os cristãos, mas com moderação e


brandura. Entretanto, Telésforo, pastor da Igreja de Roma, e muitos outros cristãos,
sofreram martírio. Apesar das perseguições nesse tempo, o Cristianismo alcançou
marcante processo em número de membros, riqueza,saber e influência na
sociedade.
Antonino, o Pio – (138-161d.C.). De certa forma favoreceu o Cristianismo, mas
sentiu que deveria cumprir a lei que tratava da ilegalidade de um culto que não
reconhecia o valor dos deuses do Império. Aconteceram também muitos martírios
entre os quais Policarpo, o discípulo do apóstolo João e um dos mais famosos pais
da Igreja, bispo de Esmirna, na Ásia Menor morreu no ano 155. Ao ser levado
perante o governador e solicitado para renunciar a fé e negar o nome de Jesus,
assim respondeu: “Eu sirvo a Cristo há 86 anos e ele nunca me fez mal; como posso
blasfemar contra o rei que me salvou” Policarpo foi queimado vivo.
Marco Aurélio (161-180 d.C.). Como fez Adriano, Marco Aurélio considerava a
manutenção da religião oficial do Império uma necessidade política. Mas num ponto
diferente de Adriano estimulou a perseguição aos cristãos. Foi cruel e bárbaro,
depois de Nero, foi o mais sanguinário. Milhares de cristãos foram decapitados e
lançados ás feras, entre os quais Justino Mártir que era filósofo antes de se
converter, um dos mais famosos defensores da fé de seu tempo e o senador
Apolônio bem-humorado, que responde ao juiz que lhe pergunta se estava contente
por morrer e lhe responde que não, gostava de viver, mas que preferia a vida eterna.
E depois, concluiu: “Se morre também de febre e disenteria. Ao ser morto vou
imaginar que a causa foi uma dessas doenças”.
Sua ferocidade foi demasiada no sul da Gália. Diz-se que a tortura que os
cristãos sofriam sem darem qualquer demonstração de medo, era quase que
inacreditável aos olhos do povo e do próprio Marco Aurélio. Supliciada da manhã até
à noite, Blandina uma escrava crente, só fazia exclamar: “Sou cristã! Entre nós não
se pratica nenhum mal! ”
Depois da morte de Marco Aurélio, no ano 180, seguiu-se um período de
grande confusão. Os imperadores fracos e sem dignidade estavam demasiados
ocupados com as guerras civis e com seus próprios prazeres, de modo que não lhes
sobrava tempo para dar atenção aos cristãos. Foram treze anos de temporária paz.
Sétimo Severo – (193-211 d.C.). Foi muito pesada a perseguição sofrida pela
Igreja durante este governo. Cristãos do Egito e do Norte da África foram os que
mais sofreram. Em Alexandria muitos mártires eram diariamente queimados,
crucificados ou degolados, entre os quais Leônidas pai de Orígenes. Em Cartago, na
África, Pérpetua senhora nobre e sua filha escrava, Felicidade, foram mortas
estraçalhadas pelas feras. Tão cruel fora o espírito do Imperador Severo, que
chegou a ser considerado por muitos escritores cristãos como o anticristo.
No governo de numerosos imperadores que se seguiram em rápida sucessão,
a Igreja foi esquecida pelo período de quarenta anos. O Imperador Caracala (211-
217 d.C.) confirmou a cidadania a todas as pessoas que não fossem escravas, em
todo o Império. Essa medida foi um benefício indireto para os cristãos, pois não
poderiam ser crucificados nem lançados as feras a menos que fossem escravos.
Maximino – (235-238 d.C.). Nesse período muitos destacados líderes cristãos
morreram. Orígenes só conseguiu escapar por ter se escondido em tempo.
Décio – (249- 251d.C.). Esse imperador decidiu resolutamente, destruir o
Cristianismo. Décio observava com inveja o poder crescente dos cristãos, e
determinou reprimi-lo. Via as Igrejas cheias enquanto os templos pagãos ficavam
desertos. Por conseqüência, mandou que os cristãos se apresentassem ao
Imperador para comunicar a religião. Quem renunciava recebia um certificado, quem
não renunciasse era considerado criminoso e conduzidos às prisões e sujeitos às
mais horrorosas torturas. Sua perseguição estendeu-se por todo o Império e foi
muito violento. Multidões pereceram sob as mais cruéis torturas em Roma, Norte
da África, Egito e na Ásia Menor. Comentaristas escreveram a respeito desse
período: ”O mundo inteiro estava devastado”.
Valeriano – (253-260 d.C). Revelou-se mais severo do que Décio.Com o intuito
de acabar com o cristianismo completamente, executou muitos líderes cristãos
ilustres, entre eles Cipriano, bispo de Cartago e um dos maiores escritores e
dirigentes da Igreja desse período e bem assim o bispo romano Sexto.
Diocleciano e seus sucessores – (284-305d.C.). Nesse período aconteceu a
última, a mais sistemática e a mais terrível perseguição imperial e também a mais
severa. Durante dez anos por todo o Império os cristãos eram caçados como feras
pelas cavernas e florestas,eram queimados e lançados às feras ou mortos pelos
métodos mais cruéis.Um esforço diabólico determinado a abolir o Cristianismo.Em
uma série de editos determinou-se que todos os exemplares da Bíblia fossem
queimados.Ao mesmo tempo ordenou-se que todos os templos construídos em todo
o Império durante meio século de aparente calma,fossem destruídos .Além disso ,
exigiu-se que todos renunciassem ao Cristianismo e a fé .Aqueles que não o
fizessem,perderiam a cidadania romana,e ficariam sem a proteção da lei.Em alguns
lugares os cristãos eram encerrados nos templos,e depois ateavam-lhe fogo,com
todos os membros no seu interior.Consta que o Imperador Diocleciano erigiu um
monumento com esta inscrição :” Em honra ao extermínio da superstição cristã”.

Os efeitos produzidos pelas perseguições


As perseguições produziram uma Igreja pura, pois conservavam afastados
todos aqueles que não eram sinceros em sua confissão de fé. Ninguém se unia à
Igreja para obter lucros ou popularidade. Somente aqueles que estavam dispostos a
ser fiéis até a morte, se tornavam publicamente seguidores de Cristo. A Igreja
multiplicava-se. Apesar das perseguições ou talvez por causa delas, a Igreja crescia
com rapidez assombrosa. Ao findar-se o período de perseguição, a Igreja era
suficientemente numerosa para constituir a instituição mais poderosa do Império.O
sangue derramado pelos cristãos era tal qual semente lançada em terra
fértil.Quanto mais a Igreja era perseguida ,mais crescia e se fortalecia.De modo
geral,nessa época,o ensino da Igreja estava unificado.Tratava-se de uma
comunidade de muitos milhões de pessoas,espalhadas em muitos países,incluindo
muitas raças e falando vários idiomas.O crescimento e a expansão da Igreja foram
a causa da organização e da disciplina. A perseguição aproximou as Igrejas e
exerceu influência para que elas se unissem e se organizassem.
Juntamente com o desenvolvimento da doutrina teológica, desenvolviam-se
também as seitas, ou como lhes chamavam as heresias na Igreja cristã. Os cristãos
não só lutam contra as perseguições, mas contra as heresias e doutrinas
corrompidas. O aparecimento das heresias impôs, também, a necessidade de se
estabelecerem alguns artigos de fé, e, com eles, algumas autoridades para
executá-las. Outra característica que distingue esse período é o desenvolvimento
da doutrina. Na era apostólica a fé era do coração, uma entrega pessoal à vontade
de
Cristo. Entretanto no período que agora é focalizado a fé gradativamente passara a
ser mental, era uma fé do intelecto, fé que acreditava em um sistema rigoroso e
inflexível de doutrinas. O Credo Apostólico, a mais antiga e mais simples declaração
da crença cristã, foi escrito durante esse período.

Fim das perseguições imperiais

No ano 305, quando Diocleciano abdicou o trono imperial, a religião cristã era
terminantemente proibida, e aqueles que a professassem eram castigados com
torturas e morte. Logo após a abdicação de Diocleciano, quatro aspirantes à coroa
estavam em guerra. Os dois rivais mais poderosos eram Maxêncio e Constantino.
Constantino afirmou ter visto no céu uma cruz luminosa com os seguintes dizeres:
"Por este sinal vencerás". Constantino ordenou que seus soldados empregassem
para a batalha o símbolo que se conhece como " Labarum ", e que consistia na
superposição de duas letras gregas, X e P.
Em batalha travada sobre a ponte Mílvio, Constantino venceu o exército de
Maxêncio e este morreu afogado caindo nas águas do rio. Após esta vitória
Constantino fez aliança com Licínio e posteriormente com Maximino os outros dois
pretendentes a coroa. Por crer que o Deus dos cristãos foi seu aliado na luta contra
o imperador Maxêncio, após o que viria a se tornar senhor e soberano sobre o
império em 323 a.D, Constantino alcançou o posto supremo de Imperador, e o
Cristianismo foi então favorecido. Os templos das Igrejas foram restaurados e
novamente abertos em toda parte. Em muitos lugares os templos pagãos foram
dedicados ao culto Cristão.
A questão da conversão de Constantino ao Cristianismo é uma tema de
profundo debate entre os historiadores, mas em geral aceita-se que a sua conversão
ocorreu gradualmente. Em todo o Império os templos pagãos eram mantidos pelo
Estado, mas, com a conversão de Constantino, passaram a ser concedido às Igrejas
e ao clero cristão.
A ascensão do Imperador Romano Constantino representou um ponto de
viragem para o Cristianismo. Em 313 ele publica o Édito de Tolerância (ou Édito de
Milão) através do qual o Cristianismo é reconhecido como uma religião do Império e
que concede a liberdade religiosa aos cristãos. A Igreja pode possuir bens e receber
donativos e legados. É também reconhecida a jurisdição dos bispos.

Constantino e o declínio moral da igreja

A Igreja cresceu com grande rapidez sob a proteção de Constantino. Mais do


que isto: tão logo Constantino constituiu a si mesmo patrono do Cristianismo, passou
a fazer ofertas vultuosas para construção de templos, sustento de ministros
religiosos,inclusive isentando-os de impostos.Apesar de nada entender de teologia ,
influía decisivamente nos assuntos administrativos e doutrinários da Igreja.
Dir-se-ia que para o Cristianismo isto representava vitória. Entretanto, não era
uma vitória real, considerando que a Igreja cristã estava cheia de pessoas que não
possuíam o mínimo de conhecimento de Cristo, nem haviam experimentado o novo
nascimento bíblico - ponto de partida da verdadeira vida cristã.
Com o reconhecimento do Cristianismo como religião preferida surgiu alguns
bons resultados, tanto para o povo como para a Igreja:
- As perseguições acabaram
- A crucificação foi abolida
- Templos restaurados e muitos outros construídos
- O infanticídio foi reprimido
- As lutas de gladiadores foram proibidas.
A nova posição assumida pela Igreja, dependendo do Império, de modo algum
beneficiava a sua vida. A entrada de milhares de pessoas não-salvas em suas
fileiras, foi um impedimento à manutenção da vida verdadeiramente cristã, preparo e
desenvolvimento de novos discípulos de Cristo.
Apesar de os triunfos do Cristianismo haverem proporcionado boas coisas ao
povo, contudo a sua aliança com o Estado, inevitavelmente trouxe, maus resultados
para a Igreja:
- As Igrejas eram mantidas pelo Estado e seus ministros privilegiados, não
pagavam impostos, os julgamentos eram especiais.
- Iniciaram-se as perseguições aos pagãos, ocorrendo assim muitas
conversões falsas.
- Todos queriam ser membros da Igreja e quase todos eram aceitos. Homens
mundanos, ambiciosos e sem escrúpulos, todos desejavam postos na Igreja, para,
assim obterem influência social e política.
- Os cultos de adoração aumentaram em esplendor, porém eram menos
espirituais, e menos sinceros do que no passado.
- Aos poucos as festas pagãs tiveram seus lugares na Igreja, porém com outros
nomes. A adoração a Vênus e Diana foi substituída pela adoração a virgem Maria.
As imagens dos mártires começaram a aparecer nos templos, como objeto de
reverência.
AS HERESIAS

A condição da igreja

Ao lado das perseguições, o Cristianismo enfrentou um inimigo muito mais


terrível, posto que interno, através de heresias, algumas delas propostas por líderes
da própria Igreja.
As primeiras heresias enfrentadas pela Igreja vieram dos judeus convertidos,
problema já enfrentado por Paulo na Igreja da Galácia. Os ebionitas eram farisaicos
em sua natureza. Não reconheciam o apostolado de Paulo e exigiam que os cristãos
gentios se submetessem ao rito da circuncisão. No desejo de manterem o
monoteísmo do Antigo Testamento, os ebionitas negavam a divindade de Cristo e seu
nascimento virginal, afirmando que Ele só se distinguia dos outros homens por sua
estrita observância da lei, tendo sido escolhido como Messias por causa de sua
piedade legal.
Os elquesaítas, por sua vez, apresentavam um tipo de cristianismo judaico
assinalado por especulações teosóficas e ascetismo estrito. Rejeitavam o nascimento
virginal de Cristo, mas julgavam-no um espírito ou anjo superior. A circuncisão e o
sábado eram grandemente honrados; havia repetidas lavagens, sendo-lhes atribuídos
poderes mágicos de purificação e reconciliação; a mágica e a astrologia eram
praticadas entre eles.
O ambiente gentílico também forneceu sua cota de heresias que atingiram a
Igreja. O Gnosticismo, muito embora não possuísse uma liderança unificada e se
apresentasse como um corpo doutrinário amorfo foi terrível para a Igreja. Nesse
período, Celinto ensinava uma distinção entre o Jesus humano e o Cristo, que seria
um espírito superior que descera sobre Jesus no momento do batismo e tê-lo-ia
deixado antes da crucificação.
No segundo século, esses erros assumem uma forma mais desenvolvida, muito
embora continuassem como um corpo amorfo. Para os gnósticos, a salvação era
alcançada através do conhecimento esotérico de mistérios, os quais só eram
revelados aos iniciados. Na cosmovisão gnóstica, tudo que era material era
essencialmente mau, e o que era espiritual era essencialmente bom. Logo, o Deus do
Novo Testamento não poderia ser o Deus do Antigo Testamento. Sendo o corpo mau
e o espírito bom.
Outra heresia que mereceu o combate da Igreja foi a heresia de Márcion, filho
do bispo de Sinope, que parece ter tido duas grandes antipatias: Pelo Judaísmo e
pelo mundo material. Ensinava Márcion, à semelhança dos gnósticos, que Iavé, o
Deus do Antigo Testamento não era o Deus do Novo Testamento, este, o Deus
supremo. Iavé era um deus mau, ou pelo menos ignorante, vingativo, ciumento e
arbitrário. O mundo material e suas criaturas eram criação de Iavé e não do Deus
supremo. Este, entretanto, apiedou-se das criaturas de Iavé e enviou Jesus, que não
nasceu de uma mulher, posto que isso faria com que passasse a ser criatura do deus
inferior. Jesus surgiu como homem maduro no reinado de Tibério, na Galiléia.
Márcion chegou a formar uma Igreja independente e seu ensino foi de um perigo
terrível para a Igreja, que na época não possuía um corpo doutrinário estabelecido e
reconhecido por toda a cristandade.
Houve também as heresias dos Montanistas e dos Monarquistas. O montanismo
surgiu na Frígia, por volta do ano 150. Montano afirmava que o último e mais elevado
estágio da revelação já fora atingido. Chegara à era do Paracleto, que falava através
de Montano e que se caracterizava pelos dons espirituais, especialmente a profecia.
Montano e seus colaboradores eram tidos como os últimos profetas, trazendo novas
revelações. Eram ortodoxos no que diz respeito à regra de fé, mas afirmavam possuir
revelações mais profundas que as contidas nas Escrituras. Faziam estritas exigências
morais, tais como o celibato (quando muito, um único matrimônio), o jejum e uma
rígida disciplina moral.
Já o monarquianismo estava interessado na manutenção do monoteísmo do
Antigo Testamento. Seguiu duas vertentes: o monarquianismo dinâmico e o
monarquianismo modalista. O primeiro estava interessado em manter a unidade de
Deus, e estava alinhado com a heresia ebionita. Para eles, Jesus teria sido tomado
de maneira especial pelo Logos de Deus, passando a merecer honras divinas, mas
sendo inferior a Deus. O segundo, também chamado de sabelianismo, concebia as
três Pessoas da Trindade como os três modos pelos quais Deus se manifestava aos
homens.

Reação da Igreja
Face a essas ameaças, internas e externas, a Igreja respondeu de várias
formas. Os apologistas responderam às acusações. No plano interno, a Igreja
primeiro tratou de definir um Cânon, ou seja, uma lista dos livros considerados
inspirados. Nesse período, havia inúmeros evangelhos, cartas, apocalipses
circulando nas mais diversas igrejas. Alguns eram lidos em certas igrejas e não eram
lidos em outras. Com o desafio de Márcion e também da perseguição sob
Diocleciano, onde uma pessoa encontrada com livros cristãos era passível de morte,
era importante saber se o livro pelo qual o cristão estava passível de morte era
realmente inspirado. Não houve um concílio para definir quais os livros nem quantos
formariam o Novo Testamento. Tal escolha se deu por consenso, tendo alguns livros
sido reconhecidos com mais facilidade que outros.
Definiu também a Igreja regras de fé, sendo a mais antiga o chamado Credo
Apostólico, o qual resumia aqueles pontos de fé que o cristão genuíno deveria
absorver, e era claramente trinitariano

Creio em Deus Pai, todo poderoso, criador do céu e da terra.


Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, o qual foi
concebido por obra do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria,
padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e
sepultado; no terceiro dia ressurgiu dos mortos, subiu ao céu, e está
sentado à mão direita de Deus Pai, todo poderoso, de onde há de vir a
julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo, na santa igreja
católica; na comunhão dos santos; na remissão dos pecados, na
ressurreição do corpo e na vida eterna.
.

OS PAIS DA IGREJA

Em defesa da fé

Nos primeiros quatro séculos da Igreja, santos homens destacaram-se pela


piedade e devoção à Cristo, qualidades essas que se revelavam de maneira
especial em meio às tribulações e perseguições. Esses homens foram chamados
“Pais da Igreja”, pela vivência mais direta com as coisas da Igreja, e pelo
relacionamento que mantiveram com alguns discípulos e apóstolos que conheceram
e gozaram da companhia de Jesus Cristo. Entre os mais ilustres Pais da Igreja
destacam-se:
- Inácio (67-110).Piedoso discípulo do apóstolo João e bispo de
Antioquia,Inácio foi preso por ordem do imperador Trajano quando visitava essa
cidade.O próprio Trajano presidiu seu julgamento e sentenciou que Inácio fosse
lançado as feras em Roma.De viagem para esta cidade ,escreveu uma longa carta
aos cristãos romanos,pedindo-lhes que evitassem conseguir o seu perdão junto ao
imperador,pois ansiava ter a honra de morrer pelo seu Senhor.Nessa sua carta ,dizia
ele:” As feras atirem-se com avidez sobre mim .Se elas não se dispuserem a isto,eu
as provocarei.Vinde multidões de feras! Vinde! Dilacerai-me, estraçalhai-me,quebrai-
me os ossos ,triturai-me os membros! Vinde cruéis torturas do demônio! Deixai-me
apenas que eu me una a Cristo!. Sentiu grande gozo enquanto era martirizado.
- Policarpo (69-156). Foi outro piedoso discípulo do apóstolo João, e bispo de
Esmirna. Na perseguição ordenada pelo imperador Antonino, o Pio, foi preso e
levado à presença do governador. Ofereceram-lhe a liberdade se amaldiçoasse a
Cristo, mas ele respondeu: ”Oitenta e seis anos faz que só me tem feito bem. Como
poderei eu,agora, amaldiçoa-lo ,sendo ele meu Senhor e Salvador” .Não muito
tempo depois disto foi queimado vivo por ordem do Imperador .
- Papias (70-155). Outro discípulo do apóstolo João, e bispo de Hierápolis uns
160 quilômetros a leste de Éfeso. Papias e Inácio, formam o elo de ligação entre a
era apostólica e a seguinte.
- Justino (100-167).Nasceu em Neápolis, antiga Siquém, mais ou menos na
época da morte do apóstolo João .Estudou filosofia.Quando ainda era jovem ,
testemunhou muitas perseguições movidas contra os cristãos .Converteu-se.Viajou
como um dos primeiros missionários itinerantes do período pós-apostólico,na
conquista de almas para Cristo.Como um dos mais respeitados apologistas da
época,escreveu uma das suas apologias e a enviou ao Imperador Antonino ,o Pio e
a seus filhos adotivos .Foi um dos homens mais cultos e piedosos da sua
época.Morreu martirizado em Roma.Revelando o crescimento do Cristianismo,disse
ele que já no seu tempo não havia “raça de homens que não fizesse orações em
nome de Jesus”.
- Irineu (130-200). Viveu seus primeiros anos em Esmirna.Foi discípulo de
Policarpo e Papias. Viveu muito e veio a ser bispo da Igreja em Liao, na Gália. Foi
notável, principalmente por causa dos livros de apologia que escreveu contra o
Gnosticismo.Foi martirizado.
- Tertuliano (160-220).Nascido em Cartago,na África,Tertuliano é considerado o
“pai do cristianismo latino”.Era advogado romano;pagão.Converteu-se ao
Cristianismo.Era portador de dons extraordinários ,de pensamento fértil,de
linguagem vigorosa , elegante,vivido e satírico.Esses dons,aliados a um zelo
profundo por Cristo e profundo senso de moralidade,deram-lhe notável e poderosa
influência.Em muitos dos seus escritos refutou falsas acusações contra os cristãos e
o Cristianismo,salientando o poder da verdade cristã.
- Orígenes (185-254). O homem mais ilustre da Igreja antiga. Empreendeu
muitas viagens proclamando o Evangelho.Escreveu muitos livros com milhares de
cópias , empregando às vezes vinte copistas.Dois terços do Novo Testamento estão
citados em seus escritos.Viveu por muitos anos em Alexandria,onde seu pai
Leônidas ,sofreu martírio .Habitou depois na Palestina,onde foi preso e martirizado
por ordem do Imperados Décio.
- Eusébio (264-340). Conhecido como o “pai da história eclesiástica”. Eusébio
foi bispo de Cesaréia ao tempo de Constantino.Teve muita influência junto a esse
imperador. Escreveu uma “História Eclesiástica”, indo de Cristo ao Concílio de
Nicéia.
- Jerônimo (340-420). Considerado “o mais ilustre dos pais da Igreja”. Jerônimo
foi educado em Roma.Viveu muitos anos na cidade de Belém da Judéia. Traduziu a
Bíblia para o latim, chamada “Vulgata”, ainda hoje usada como texto oficial da Igreja
Católica Romana.
- João Crisóstomo (345-407). Ficou conhecido como “o boca de ouro”, por
haver se revelado um orador inigualável e o maior pregador do seu tempo. Suas
pregações eram expositivas. Nasceu na cidade de Antioquia e veio a ser patriarca
de Constantinopla. Pregou a grandes multidões na Igreja de Santa Sofia. Como
reformador, caiu no desagrado do rei, foi banido e faleceu no exílio.
- Agostinho (354-430). Foi bispo de Hipona, ao norte da África ao tempo que
em que começaram as invasões dos bárbaros.Ainda jovem ,já era considerado
brilhante erudito,porém mundano,ambicioso e amante de prazeres.Aos trinta e três
anos de idade tornou-se cristão ,por influência de sua mãe ,e pelos ensinos de
Ambrósio,bispo de Milão,após uma experiência onde ouviu uma voz que lhe
mandava ler Romanos 13 :13-14,obedecendo ,sentiu que deveria se afastar das
heresias e conhecer o Cristo .Foi apontado como o maior dos pais da Igreja.Deixou
mais de 100 livros ,500 sermões e 200 cartas.
Conclusão

Verifica-se que para ser feita uma justa apreciação das conquistas da Igreja ao
longo dos séculos deve-se levar em conta que elas foram alcançadas em meio à
mais feroz perseguição. Essas grandes perseguições tiveram como resultado moldar
em grande parte o caráter moral da Igreja.Só pessoas fiéis e zelosas professariam a
fé em Cristo quando tal ato constituía hostilidade ao governo.
Nesses três primeiros séculos a atitude de pessoas que se dispôs a sofrer e
morrer para não negar a fé em Deus muito impressiona. Os mártires deixaram nos
registros da História exemplos. Diz-se que “nenhuma causa vai adiante sem os seus
mártires, sem aqueles que acreditam nela a ponto de dar a vida pelo que crêem”
(desconhecido). A fé comporta sempre certa violência. Jesus ensina que se chega à
vida plena através da morte carnal. Ele chegou à glória através da paixão.
Sabe-se que a Igreja foi no passado, é agora e até a volta de Cristo será
perseguida na Terra. Vivem-se hoje em muitos países verdadeiras perseguições aos
que pregam a Palavra da Verdade. Muitos mártires ainda morrem no anonimato.
Isso não é fato desconhecido para os cristãos. Desde quando Cristo foi colocado
numa cruz, teve início a história dos mártires cristãos, Ele disse: "Se perseguiram-
me, perseguirão também a vós". João 15:20.
É uma nota característica e perene da Igreja de Cristo: ela é Igreja de Mártires.
Cristo que sofreu através dos seus discípulos mártires, pois na Paixão pelo
Evangelho está presente o próprio Cristo. Por isso os sofrimentos apostólicos, como
perseguição, prisão, pobreza e fome, foram também sofrimentos de Cristo. Paulo diz
isto em 2 Cor.4:10 “Levando sempre no corpo o morrer de Jesus para que também
a sua vida se manifeste em nosso corpo. “
Paulo fala sobre a mensagem da cruz “Certamente a palavra da cruz é
loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus.”
Nos dias atuais, a “palavra da cruz” parece continuar sendo “loucura” (1Cor.1:18)
para alguns cristãos. Mas certamente a cruz, continuará carregando em seu
significado o mistério e o segredo da vida. “Se alguém quer vir após mim, negue-se
a si mesmo, e tome a sua cruz e siga-me. Porque qualquer que quiser salvar a sua
vida perdê-la-á, mas qualquer que perder a sua vida por amor de mim e do
evangelho, esse a achará.” (Mc. 8:34,35).
BIBLIOGRAFIA:

Livros:

 BÍBLIA SAGRADA
 HISTÓRIA DA IGREJA - DOS PRIMÓRDIOS À ATUALIDADE -
AUTOR RAIMUNDO FERREIRA DE OLIVEIRA
 O CRISTIANISMO ATRAVÉS DOS SÉCULOS - UMA HISTÓRIA DA
IGREJA CRISTÃ. AUTOR EARLE E. CAIRNS
 HISTÓRIA DA IGREJA CRISTÃ – AUTOR JESSÉ LYMAN HURLBUT
 HISTÓRIA DA IGREJA CRISTÃ – ROBERT HASTINGS NICHOLS
 A ERA DOS MÁRTIRES - JUSTO L. GONZÁLES
 BÍBLIA DE ESTUDO DE APLICAÇÃO PESSOAL – CPAD
 A HISTÓRIA DO CRISTIANISMO. ANGLIN, W.; KNIGHT

Site :

 http://pt.wikipedia.org/wiki/Queda_do_Imp%C3%A9rio_Romano

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