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FOLTZ, Richard. C. Does Nature Have Historical Agency?

World History, Enviromental History,


and How Historians Can Help Save the Planet. The History Teacher, v. 37, n. 1, p. 9-28, 2003.

O artigo coloca uma questão que à primeira vista parece esdrúxula: um ente não-
humano (da natureza) possui algum tipo de agência histórica? Na verdade, a própria maneira
de colocar a questão deve ser melhor avaliada para uma consideração teórica mais sólida. Não
apenas no que se refere à categoria de agência histórica, como aliás o autor se exime de fazer.
A própria ideia de agência é problemática, e a filosofia não oferece uma definição clara e
pacífica. Afinal, a questão diretora do problema da agência ser o que?, ou o quem? A Agência é
algo que se possui, ou algo que se atribui a um “sujeito”? O problema seria então na possessão
da agência, ou na maneira como se atribui agência? Atribuir uma ação a um ente não-humano
significa realmente a mesma coisa quando se atribui a um humano? Agência é um
atribuito/propriedade, ou um modo de ser?

Foltz não chega a avançar nessas considerações de cunho filosófico. Seu propósito é
simplesmente defender que entes não-humanos desempenham um papel que vai muito além
de mero cenário ou de objetos passivos na realização da história dos homens. O autor afirma
mais de uma vez que entes como o algodão ou uma vaca fazem história não apenas quando
estão subordinadas à ação humana, mas também seriam seus “competidores” na utilização
dos recursos naturais, sem os quais nenhuma cultura pode existir.

O autor inicia sua sustentação enquadrando a sua reflexão nos termos da world
history, que teria como fundamento a ideia de interação. Sua proposta é radicalizar essa ideia
de interação também para os entes não-humanos ou naturais. Assim, as fronteiras entre
história humana e natural são embaralhadas por Foltz: “All human actions take place within
the context of ecossystems, and are affected by them in ways that differ enormously over time
and space” (p.10).

Para Foltz, essa abordagem fundada na ideia de interação-interconexão seria uma


resposta adequada ao problema da fragmentação do conhecimento dominante na tradição
moderna ocidental. O autor identifica esse problema já na própria dualidade entre natureza e
cultura, e entre matéria e espírito. Dualidade que se replicou de maneira clara no sistema
universitário moderno, que em larga medida se mantém até hoje. Só aos poucos vêm se
tomando mais ciência da necessidade de buscar alternativas a esse modelo, diante da
catástrofe ambiental iminente. Assim, a world history, com sua abordagem holística, não é boa
apenas em termos acadêmicos-historiográficos, "it may be vital to saving the planet!" (p.11).
Mais à frente, Foltz afirma que essa mesma abordagem holística serve como antídoto à
“religião do mercado”, que prospera nas sociedades contemporâneas ocidentais-
ocidentalizadas amplamente fundamentadas na concepção fragmentada do mundo. A
ocidentalização dos modos de produção e consumo, com as suas indústrias do “one-sized-fits-
all”, é um exemplo claro disso, que ignora as especificidades ambientais de cada região e reduz
a água ou o solo como meros “recursos renováveis”, e portanto à disposição para a
acumulação de capital. (Lembremos do caso de São Lourenço, Caxambu e a Nestlé).
Segundo Foltz, a natureza na historiografia tem sido tradicionalmente reduzida a
meros cenários passivos onde ocorre a histórica política, social ou cultural. Só recentemente os
historiadores têm se esforçado para integrar a sua narrativa de histórias humanas em
contextos ecológicos. É preciso saber, no entanto, até que ponto tal afirmação se sustenta. Há
inúmeros exemplos na historiografia brasileira que afirmava a confluência das questões
geográficas-ecológicas na formação da cultura. Tome-se como exemplo o ensaio O homem e a
montanha, (1944), de João Camillo de Oliveira Torres. A montanha aparece como uma agente
determinante na formação do “espírito mineiro”, evidenciando uma forma de determinsmo
geográfico alinhado com uma visão essencialista sobre a cultura. Uma questão fundamental
seria saber se atribuir agência a um ente natural seria possível fora desse determinismo –
problema que Foltz não chega a mencionar. O autor se limita a trazer alguns exemplos da
historiografia mais recente de forma positiva, e dá especial destaque a Alon Tal, Pollution In a
Promised Land: Na Enviromental history of Israel, considerado um exemplo para quem quer
escrever história ambiental.

Apesar de deixar em aberto muitas questões importantes, o texto procura se sustentar


em assertivas carregadas de teor ético e moral. Por isso o autor recorre a expressões fortes,
como a de que os historiadores podem ajudar a “salvar o planeta”, desde que adotem uma
nova postura quanto ao lugar e papel dos entes naturais na sua narrativa. O autor retoma mais
à frente: “Historians need to stand up and challenge the techno-logical optimists of today
who blithely assert that humans have always triumphed over adversity in the past and will
therefore rise to the challenges of our present and future. Historians are well positioned to
note that the faith of French Enlightenment thinkers in the power of reason to solve
problems, which laid the groundwork for today's optimistic dismissals of impending
catastrophe, ultimately culminated in the "bloody excesses of the French Revolution," not in
a rationalist's utopia” (p.20). É de se perguntar se afirmações como essas realmente são
plausíveis, na medida em que se passa por cima de algumas questões fundamentais. Esse peso
no desafio ético não estaria na verdade colocando uma exigência que os historiadores não
podem cumprir?

O autor prossegue, afirmando que a crise climática deverá ser o evento histórico de
nossa era, que futuros historiadores podem ver como a matriz de tudo o mais que ocorrer.
(Não está aqui também uma espécie de determinismo natural disfarçado?).

Aproximando do final, o autor retorna à questão da agência. E aqui, quando se espera


uma posição mais definida sobre o problema colocado, o autor ainda parece bastante
hesitante. Remete a um artigo de Ted Steinberg, que havia tratado desse mesmo problema da
agência, e menciona duas objeções feitas a ele feitas por William Sewell: a) agência pressupõe
consciência e intencionalidade; b) agência é exclusivamente dos humanos. O autor responde:
“I am not sure that I accept the first component of Sewell´s assertion, and I’m sure I don’t
accept the second, though I can’t prove Sewell wrong. Para ele, os “instintos” de Sewell dizem
uma coisa, enquanto os instintos dele dizem outra. Mas será mesmo apenas uma questão de
instinto. Valeria ver mais de perto o que diz Sewell, mas pelo menos à primeira vista, o autor
está sustentado numa tradição filosófica sólida, incluindo aí a fenomenologia de Husserl. Não
está fundado num “instinto qualquer”. O ônus da contradição caberia a Foltz, mas ele desvia
dessa tarefa recorrendo a essa noção de “instinto”.
Esta talvez seja a parte mais frágil do artigo. Mas o autor tenta avançar questionando
se a “vontade” (will) seria realmente a parte essencial da ideia de agência. Aliás, é bom notar
esse deslizar de termos que, embora próximos, não possuem exatamente o mesmo significado
filosófico (consciência, intencionalidade, vontade, agência). Seja como for, o autor cita como
exemplo a evolução das espécies, que independe de qualquer vontade para se realizar. O
autor reconhecer não ter uma posição clara sobre o problema da vontade humana. “I will
suggest, however, that overall it is history's ‘unintended consequences’ that have been the
primary sources for historical change, so the question of willed versus unwilled actions may
be of diminished importance, especially if we expand our sense of what defines
‘consequences.’ In the end I am less concerned with elevating non-human actors on the
historical stage than I am with advocating the view that humans occupy a broader (and more
crowded) stage than is commonly considered. Feminist and subaltern critics have made
great strides in enlarging our notions of historical dynamics, and I believe it is important to
allow environmentalist critiques to contribute to this process” (p.23).

Isabelle Stenders. – A era das catástrofes

Sustentabilidade e fundação compreensiva

Chakrabarty – Tempo do Antropoceno

 A natureza possui uma agência ou esta é um problema de atribuição? A agência é algo


que se “possui” ou que se “atribui”? A questão central do problema da agência é saber
o que ela é, ou a quem se atribui e como se dá tal atribuição? Essa é apenas uma das
questões que podem ser levantadas para uma definição mais clara do que seja
agência. No entanto, o autor passa por cima dessa reflexão, tratando de agência como
se fosse um conceito claro e não-problemático.
 Na História da Historiografia, existem vários exemplos de trabalhos que, de acord com
a noção de agência que o autor pressupõe, atribuem aos entes naturais uma agência.
O exemplo lembrado foi de João Camillo de Oliveira Torres, com o seu O homem e a
montanha (1944), um ensaio em que se reflete sobre o papel ativo que o território
montanhoso de Minas Gerais desempenhou na formação da cultura regional (também
chamdo de “espírito mineiro”). A questão é que esse ensaio recai num determinismo
naturalista bastante evidente, que se coaduna com a concepção essencialista de
cultura mineira. A questão importante aqui seria saber se atribuir agência aos entens
naturais pode ser feita fora dos quadros de um tal determinismo. Essa questão
também não chega a ser tocada por Foltz, mas pode ser pensada a partir dessa leitura.
 O texto de Foltz apresenta falhas na questão propositiva e de consistência teórica,
porém lança um alerta e um chamado ético fundamental, problematizando conceitos
consolidados na tradição historiográfica – como o tempo, a agência, e a própria ideia
de crescimento econômico como algo necessário sem ter em vista a relação homem-
natureza. Essa nova ética passa por investir numa abordagem holística do
conhecimento, superando a tendência de fragmentação que marca a tradição
moderna ocidental. É adotando essa abordagem holística que os historiadores podem
investir seus esforços, pois o paradigma da desconexão que fundamenta a
fragmentação impede a visão sobre o problema da crise ambiental
 A importância maior do texto reside no chamado ético que ele apresenta, a despeito
de deixar intocado muitos aspectos que poderiam fornecer uma maior sustentação
teórica. Cabe ao leitor avaliar e dar prosseguimento à sua proposta, fazendo caminhar
juntos a ética, epistemologia e ontologia.
 O que resta à historiografia? Apenas alerta contra os otimistas da religião do mercado?
Ou esse clamor ético é um fardo pesado demais e inadequado? São algumas quesões
que ficam em aberto a partir da discussão.
 Produzir essa “nova história ambiental” suscita problemas que se tem a ver com o
próprio sistema universitário, além dos pressupostos que ainda estão baseiam a nossa
disciplina em grande medida – como a organização disciplinar, os impedimentos
práticos para uma abordagem inter e transdisciplinar. Além de uma certa recusa por
parte de alguns historiadores (muitos advindos da história social) em considerar de
maneira mais séria questões de natureza teórica em seus trabalhos.
 O impulso estagnador da historiografia: querer trazer um conjunto de objetos novos
dentro de um enquadramento engessado, uma moldura que não dá conta desses
novos objetos. A proposta de Foltz passa por fazer uma crítica a essa inadqueação.

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