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O artigo coloca uma questão que à primeira vista parece esdrúxula: um ente não-
humano (da natureza) possui algum tipo de agência histórica? Na verdade, a própria maneira
de colocar a questão deve ser melhor avaliada para uma consideração teórica mais sólida. Não
apenas no que se refere à categoria de agência histórica, como aliás o autor se exime de fazer.
A própria ideia de agência é problemática, e a filosofia não oferece uma definição clara e
pacífica. Afinal, a questão diretora do problema da agência ser o que?, ou o quem? A Agência é
algo que se possui, ou algo que se atribui a um “sujeito”? O problema seria então na possessão
da agência, ou na maneira como se atribui agência? Atribuir uma ação a um ente não-humano
significa realmente a mesma coisa quando se atribui a um humano? Agência é um
atribuito/propriedade, ou um modo de ser?
Foltz não chega a avançar nessas considerações de cunho filosófico. Seu propósito é
simplesmente defender que entes não-humanos desempenham um papel que vai muito além
de mero cenário ou de objetos passivos na realização da história dos homens. O autor afirma
mais de uma vez que entes como o algodão ou uma vaca fazem história não apenas quando
estão subordinadas à ação humana, mas também seriam seus “competidores” na utilização
dos recursos naturais, sem os quais nenhuma cultura pode existir.
O autor inicia sua sustentação enquadrando a sua reflexão nos termos da world
history, que teria como fundamento a ideia de interação. Sua proposta é radicalizar essa ideia
de interação também para os entes não-humanos ou naturais. Assim, as fronteiras entre
história humana e natural são embaralhadas por Foltz: “All human actions take place within
the context of ecossystems, and are affected by them in ways that differ enormously over time
and space” (p.10).
O autor prossegue, afirmando que a crise climática deverá ser o evento histórico de
nossa era, que futuros historiadores podem ver como a matriz de tudo o mais que ocorrer.
(Não está aqui também uma espécie de determinismo natural disfarçado?).