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Introdução.
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Os autores acreditam que as riquezas produzidas nestas cercanias eram escoadas pelos diversos portos na
orla da Baía de Guanabara, como os portos de Neves, Lira, Ponte, Novo, Velho, da Madama, da Luz,
Gradim, da Pedra, do Rosa, Boassu, São Gonçalo e Guaxindiba. Desta forma a Estrada Real tinha como
objetivo a circulação de pessoas e só secundariamente a circulação de riqueza.
principais meios de circulação e agora de riqueza, juntamente com a BR-101 (Rodovia
Mario Covas) e a RJ-104 (Rodovia Amaral Peixoto), que liga Niterói ao interior do
estado.
Em 1819, a condição de freguesia é suspensa, e São Gonçalo torna-se distrito da
Vila de Niterói.Acredita-se que um dos motivos da cidade se tornar distrito de sua
vizinha é que a facilidade de locomoção entre Niterói e São Gonçalo justificava a tese
de que a vida de uma localidade girava em torno da órbita da outra.Contudo, em 1890,
São Gonçalo, juntamente com as freguesias de N. S. da Conceição de Cordeiros e São
Sebastião de Itaipu, é novamente desmembrada de Niterói para formar um
município.Essa elevação à condição de cidade e reincorporação a Niterói, ocorre
novamente em outros momentos de sua história. Finalmente em 1929, São Gonçalo se
consolida como cidade.
Posteriormente, em 1943,o Distrito de Itaipu, após diversas reivindicações por
parte de Niterói, que possibilitaria um considerável aumento territorial e era considerado
de extrema importância para atender as possibilidades de desenvolvimento da cidade
devido a sua saída litorânea; é desmembrado de São Gonçalo e reincorporado a Niterói.
Neste mesmo período, segundo Braga (1998), ocorre o momento de maior
ascensão industrial em São Gonçalo, entre os anos de 1940 e 1960, com a instalação de
grandes indústrias exportadoras de mercadoria. Esse período é descrito com muita
exaltação por Luiz Palmier, figura ilustre da história da cidade, no livro “São Gonçalo
Cinquentenário”. O autor chega a apelidar a cidade de “Manchester Fluminense”, em
referência a cidade inglesa que por muitas décadas foi um grande centro industrial e
econômico do Reino Unido. Esse momento de desenvolvimento industrial da cidade
ainda é motivo de muitos debates, pois enquanto Palmier tenta altear São Gonçalo como
a “Manchester Fluminense”, na década de 1950, o geógrafo Pedro Geiger na Revista
Brasileira de Geografia, descreve como um subúrbio da cidade do Rio de Janeiro:
“São Gonçalo é na prática, um subúrbio do Rio de Janeiro, no qual
fazendas e pomares foram e estão sendo loteados em benefício do
crescimento urbano e da industrialização. A produção de cimento,
papel, vidro, sardinhas, produtos químicos e matérias de construção
são alguns dos ramos industriais deste importante município. Também
aí, as empresas de ônibus têm se multiplicado, mantendo longas linhas
de comunicação; o bonde e os trens suburbanos nas horas do ‘rush’
são outros veículos coletivos que servem à população. A área
urbanizada é muito extensa, pois é grande a dispersão do casario pelas
antigas fazendas loteadas. Neves é conurbada ao bairro de Barretos
em Niterói.” (GEIGER, 1956, p. 47-70)
Souza & Silva (1995), baseadas em Henri Lefbvre, conceituam o termo moderno
como sendo derivado da ideia de renovação e uma regularidade na renovação. O termo
moderno surgido ainda na idade média trazia em si a oposição ao que estava fora de
moda. (SOUZA & SILVA, 1995, p. 39).
Num primeiro momento, a ideia de modernidade vincula-se a “novas técnicas,
novas relações sociais, grandes projetos, etc” (COSTA & GOMES, 1989, p. 47). Neste
período estabelece-se um movimento permanente de rápidas substituições e interações
do espaço antigo, já cristalizado na paisagem, com o novo, fruto de uma criação recente
ou uma (re)significaçãode antigos espaços agora dotados de novas funções sociais. Esse
constante conflito entre espaços modernos e tradicionais dão origem a transformações
sócio-espaciais imprevisíveis, uma vez que são comandadas por diversos fatores,
proporcionando a convivência do novo “o moderno” com o tradicional “o velho” que só
pode ser assim denominado em comparação com esse novo espaço com o qual passou a
dividir a paisagem (COSTA & GOMES, 1989, p. 48).
A obsolescência programada inerente ao sistema capitalista também consegue
atingir a questão espacial, no qual são forjadas novas necessidades que garantem a
permanente reconstrução dos espaços, garantindo que os donos dos meios de produção
sejam os maiores beneficiados através da reconstrução desses espaços. Assim são as
camadas superiores da sociedade os principais responsáveis pelo discurso da
modernidade que traz a necessidade do novo, do moderno, da constante modernização
espacial.
É no espaço urbano onde podemos observar de forma mais clara o fenômeno da
modernização, porém não contempla a todo este espaço ao mesmo tempo, e sim em
áreas de determinados agentes que comandam esse processo. Assim Costa & Gomes
assinala que:
“Não existe lógica neste fenômeno. Muitas vezes a área a ser
modernizada no período anterior foi símbolo da modernização. Assim
áreas são constantemente renovadas e outras são deixadas de lado
talvez esperando a oportunidade para ser “modernizada”, vai depender
dos agentes econômicos mais do que dos agentes sociais” (COSTA &
GOMES, p. 55).
São Gonçalo apresenta atualmente características que indicam que este, apesar
de possuir uma população quase que totalmente urbana, tem apresentado um
desenvolvimento socioeconômico muito aquém do necessário para garantir uma boa
qualidade de vida sua população.
O município possui problemas tais como má distribuição de renda3, e deficiência
nas infraestruturas da saúde, educação e o monopólio dos transportes coletivos, o que
leva este a ocupar apenas a23° colocação entre os municípios do Estado4. Os dados
corroboram a nossa hipótese de que o crescimento econômico observado atualmente
não tem sido acompanhado por um desenvolvimento social, uma vez que 24% de sua
população são compostas por pobres, ou seja, pessoas que recebem menos de ½ salário
mínimo por mês.
Em meio a todos esses problemas, pelo menos na última década e meia, o
município tem apresentado inúmeros novos empreendimentos imobiliários que, ao se
instalarem, acredita-se, têm modificado o espaço urbano. Esses empreendimentos,
aliados ao discurso dos administradores públicos tem contribuído para criar uma
atmosfera de euforia referente ao que seria uma nova fase de desenvolvimento industrial
que traz em si uma clara referência ao tempo passado em que o município era
considerado a “Manchester Fluminense”.
3
Ver (SEBRAE, 2011, p. 12).
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O IDH permite medir o desenvolvimento de uma população além da dimensão econômica. É calculado
com base na: a) renda familiar per capita (soma dos rendimentos divididos pelo número de habitantes); b)
expectativa de vida dos moradores (esperança de vida ao nascer); c) taxa de alfabetização de maiores de
15 anos (número médio de anos de estudos da população local).
Calvosa (2013) esclarece que esse imaginário de desenvolvimento trata-se de um
artifício utilizado já há algum tempo, cujo principal objetivo é atrair investimentos.
Trata-se de um dispositivo que precisa contar com apoio da população que é chamada a
integrar-se neste processo dedesenvolvimento, sendo envolvida de tal forma que passa a
crer que o sucesso ou insucesso desta evolução do município faz parte também dos seus
esforços. Ainda segundo o autor, a cidade passa a ser administrada como uma empresa
que para ser bem sucedida deve ser exposta na “vitrine” como um produto e o que é
vendido; neste caso são oportunidades de lucros em investimentos em seu território.
Desta forma, criam-se verdadeiras campanhas que visam convencer tanto investidores,
assim como a própria população da necessidade da renovação espacial que passa a ser
um símbolo de desenvolvimento (CALVOSA, 2013, p. 29).
Assim, administradores e agentes capitalistas “vendem” a população à ideia de
que não existe outro caminho a ser seguido senão aquele no qual os espaços da cidade
devem ser constantemente reconstruídos em busca de um desenvolvimento como o
observado em outros lugares.
Por enquanto, decisões têm sido tomadas e espaços continuam sendo
modificados. Contudo, sem que a população seja consultada sobre tais decisões e
mudanças. Esta parece condicionada a aceitar o constante processo de reordenação
espacial em curso no território gonçalense.
Apresentando uma população milionária5, sendo, portanto um grande mercado
consumidor, além de contar com terrenos amplos disponíveis e uma legislação bem
tolerante no que concerne ao uso do solo, São Gonçalo tornou-se terreno fértil para
investidores que tem atuado em pontos específicos e em muitos casos contando com a
colaboração da administração pública, que hora atua como criadora de infraestruturas
que servem a tais empreendimentos6e hora age como um verdadeiro agente imobiliário,
como no caso do Icon Business&Mall, referindo-se a um centro empresarial com treze
andares e mais de quatrocentos e cinquenta salas comerciais, localizado próximo ao
centro do município.Contribui ainda para o aumento da euforia e no número de
5
Conforme estimativa 2013 do IBGE.
6
Ver (MENDONÇA, 2007, p. 145) onde o autor cita toda a infraestrutura criada para facilitar o
deslocamento até o Shopping São Gonçalo, inaugurado em 2004.
empreendimentos na cidade o fato da escolha do município de Itaboraí para receber a
instalação do COMPERJ7, próximo espacialmente ao município de São Gonçalo.
Segundo Calvosa (2013):
Como dito anteriormente, o centro empresarial Icon Business &Mall é mais uma
prótese urbana, cujo no imaginário coletivo da população gonçalense é apresentada
como sinal de “desenvolvimento”. Nesse contexto, juntamente com a especulação
imobiliária, o poder público administrativo de São Gonçalo entra em parceria com o
capital privado com o intuito de “modernizar” parte do espaço urbano do município.
RESULTADOS PRELIMINARES
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Segundo dados da Petrobras, o COMPERJ (complexo petroquímico do Rio de Janeiro) é o principal
empreendimento industrial da empresa no Brasil com investimento previsto em 8,3 bilhões de dólares
(MENDONÇA, 2007, p.51). O início da sua operação atrairá novos investimentos e estimulará a criação
de empregos diretos e por efeito renda, modificando o perfil socioeconômico da região do Leste
fluminense (PETROBRAS, 2011, p. 18).
o incentivo dado pelos novos empreendimentos, os espaços próximos sejam
preenchidos com o mesmo processo ganhando novas funções sócio-espaciais. Porém,
essa modernização do espaço é pautada na falta de planejamento. Com isso,
inicialmente já foi possível visualizar diversas áreas segregadas coexistindo com antigos
espaços fabris; novos espaços de comércios (inserção de shopping centers em meio a
espaços tradicionais), novas torres de 20 e 25 andares sendo implantadas para negócios
e habitacionais; mobilidade urbana com muitos problemas (algumas vias beiram a um
século e meio de existência).
Assim, observamos que esta modernização tem atuado dando saltos entre os
espaços, o que significa dizer que a modernização não se dará de forma linear, o que a
torna imprevisível. Não conseguimos a princípio determinar que sentido esta tome, uma
vez que esta se encontra intrinsecamente ligada aos interesses do capital.
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