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A pseudo-modernização do espaço urbano gonçalense: uma análise de novos

empreendimentos imobiliários do 1º Distrito de São Gonçalo.

Diogo Chaves Leiras dos Santos


DiogoSchottHeizerAlencar
HebertGuimarãesCalvosa
Andrelino Campos1

Introdução.

O espaço urbano gonçalense vem passando por intensas transformações em sua


dinâmica, vistas, sobretudo a partir dos recentes empreendimentos no setor imobiliário.
Esse processo criou, nos últimos anos, uma grande expectativa de reativação das
atividades econômicas da cidade e uma nova inserção no cenário estadual, a partir de
um discurso desenvolvimentista, especialmente por parte da administração pública
municipal. Além disso, toda a expectativa formada envolta das instalações do
COMPERJ ajudou a criar na população a esperança de uma cidade melhor para todos.
Em decorrência destas novas expectativas em torno da modernização, a área central, o
1º distrito – São Gonçalo, representa a região que mais atrai estes novos investimentos.
Contudo, estes aportes de recursos não escondem os problemas crônicos de
infraestruturas em uma das áreas mais urbanizadas da cidade. A situação do 1º Distrito
só tem comparação com o bairro de Alcântara, parte do 3º distrito, pela importância
geoestratégica: concentração de transporte coletivo, bancos, mercados e lojas, entre
outros serviços. O bairro passa concentrar uma vasta rede de negócios e tal situação
contrasta com resto do distrito. Tudo isso leva a uma nova reflexão sobre o espaço
urbano gonçalense, tendo a área que corresponde ao 1º distrito - São Gonçalo (nossa
área foco), como o principal receptáculo deste contrastante fenômeno. Desta forma, o
presente trabalho tem como objetivo principal analisar as alterações no 1º distrito
(distrito-sede) que corresponde ao importante núcleo econômico de São Gonçalo e que
1
Sobre os autores: DiogoChaves Leiras dos Santos -aluno de graduação em Geografia da FFP/UERJ;
DiogoSchottHeizerAlencar- aluno de graduação em Geografia da FFP/UERJ; HebertGuimarãesCalvosa -
Licenciado em Geografia pela FFP/UERJ, cursando bacharel em Geografia Instituto de Geografia da
UERJ; Prof. Dr. Andrelino Campos – Programa de Pós-Graduação em Geografia (FFP/UERJ).
atualmente vem passando por grandes transformações com a modernização vista a partir
de novos empreendimentos imobiliários alterando as feições do espaço urbano
gonçalense. Essas novas formas inseridas na paisagem urbana colocam o debate sobre
um novo momento da cidade em evidência, dando a impressão que o novo é sinônimo
de moderno, representando o “desenvolvimento”. Os exemplos deste sentimento
parecem ser correspondidos nas novas próteses urbanas: edifícios com destacadas torres
voltadas ao business e à moradia de uma nova classe média; os três shoppings centers
de grande porte que impulsionam novos consumos; entre outros fatores que parecem
condutores de modernidade. Mas será verdade? Esta pode ser uma falsa perspectiva do
movimento da cidade. Para colocar em debate o atual momento do município, o
trabalho tem como objetivos específicos: 1) compreender do ponto de vista teórico-
metodológico a produção do espaço urbano, a segregação socioespacial e a organização
interna da cidade; 2) espacializar, o principal eixo de negócios do distrito, bem como as
áreas de segregação representadas, sobretudo pela ocorrência do fenômeno favela e
pelas moradias as margens de rios; 3) identificar os equipamentos públicos, bem como
os novos empreendimentos (de negócios, imobiliários e comerciais) e as rugosidades
representadas no espaço urbano do distrito de São Gonçalo. Para tal análise, tem-se
realizado trabalhos de campo periódicos ao longo de todo município de São Gonçalo,
identificado através de fotografias os principais polos de modernização; clipping de
jornais que contenham informações pertinentes às temáticas aqui demonstradas; bem
como a leitura de autores que debatam, principalmente o espaço urbano metropolitano.

História e desenvolvimento urbano gonçalense.

É interessante como a área onde se encontra a cidade de São Gonçalo, antes de


ser considerada como tal, passou a ser conhecida: Banda d’Além. A pergunta inicial
que se faz é: além de que? Pressupõem, de forma muito especulativa, que o nome foi
dado para a parte que se encontrava muito distante do ponto de referência, o que viria
ser a corte, a cidade do Rio de Janeiro. Esta região, parte leste da Baia, passou a contar
com a sesmaria de São Gonçalo, só em 1579, fundada pelo colonizador Gonçalo
Gonçalves.
Além do desbravamento da terra, tinha os sesmeiros à obrigação de construir em
suas sesmarias uma capela dedicada ao orago de sua devoção. Com a junção de todas as
capitanias do território fluminense em 1619, é criada a capitania do Rio de Janeiro da
qual São Gonçalo passa a fazer parte. (BRAGA, 1998, p.24 e25)
Oficialmente a ocupação europeia no município se deu através do rio
Guaxindiba, com a construção da primeira capela às suas margens e do porto construído
e utilizado durante todo o período exploratório português. A edificação de capelas
facilitava a formação de freguesias já que a circunscrição eclesiástica servia também
para a administração civil.
Posteriormente, a sede da paróquia fora transferida para as margens do Rio
Imboassu, o que para alguns historiadores, facilitou a implantação da freguesia de São
Gonçalo e hoje representa a sede do município. Entendemos que a ação de ocupação,
apesar das resistências dos nativos, se deu pelo processo de convencimento da religião
pelos jesuítas no final do século XVI, que construíram portos e fazendas, como a
fazenda Colubandê, para atender o nascente processo capitalista, já no começo do
século XVII, às margens da atual rodovia RJ-104. No processo de desterritorialização a
partir da espacialização dos “próprios” religiosos, as capelas desempenharam papéis
fundamentais, esta também foi uma política adotada para a cidade em questão.
A capela dedicada a São Gonçalo do Amarante passou a ser paróquia em 1643,
enquanto a sesmaria passa a condição de freguesia em 1649.
Em 1749, foi criada a Estrada Real2 em São Gonçalo, atualmente com vários
nomes em seu percurso, como rua Moreira César no bairro Zé Garoto, rua Feliciano
Sodré no Centro e Rua Dr. Nilo Peçanha no bairro Estrela do Norte. O trajeto da estrada
ligava Niterói à Alcântara, passando por bairros importantes da cidade. A antiga Estrada
Real, atualmente segmentada nos vários trechos citados, constitui ainda hoje um dos

2
Os autores acreditam que as riquezas produzidas nestas cercanias eram escoadas pelos diversos portos na
orla da Baía de Guanabara, como os portos de Neves, Lira, Ponte, Novo, Velho, da Madama, da Luz,
Gradim, da Pedra, do Rosa, Boassu, São Gonçalo e Guaxindiba. Desta forma a Estrada Real tinha como
objetivo a circulação de pessoas e só secundariamente a circulação de riqueza.
principais meios de circulação e agora de riqueza, juntamente com a BR-101 (Rodovia
Mario Covas) e a RJ-104 (Rodovia Amaral Peixoto), que liga Niterói ao interior do
estado.
Em 1819, a condição de freguesia é suspensa, e São Gonçalo torna-se distrito da
Vila de Niterói.Acredita-se que um dos motivos da cidade se tornar distrito de sua
vizinha é que a facilidade de locomoção entre Niterói e São Gonçalo justificava a tese
de que a vida de uma localidade girava em torno da órbita da outra.Contudo, em 1890,
São Gonçalo, juntamente com as freguesias de N. S. da Conceição de Cordeiros e São
Sebastião de Itaipu, é novamente desmembrada de Niterói para formar um
município.Essa elevação à condição de cidade e reincorporação a Niterói, ocorre
novamente em outros momentos de sua história. Finalmente em 1929, São Gonçalo se
consolida como cidade.
Posteriormente, em 1943,o Distrito de Itaipu, após diversas reivindicações por
parte de Niterói, que possibilitaria um considerável aumento territorial e era considerado
de extrema importância para atender as possibilidades de desenvolvimento da cidade
devido a sua saída litorânea; é desmembrado de São Gonçalo e reincorporado a Niterói.
Neste mesmo período, segundo Braga (1998), ocorre o momento de maior
ascensão industrial em São Gonçalo, entre os anos de 1940 e 1960, com a instalação de
grandes indústrias exportadoras de mercadoria. Esse período é descrito com muita
exaltação por Luiz Palmier, figura ilustre da história da cidade, no livro “São Gonçalo
Cinquentenário”. O autor chega a apelidar a cidade de “Manchester Fluminense”, em
referência a cidade inglesa que por muitas décadas foi um grande centro industrial e
econômico do Reino Unido. Esse momento de desenvolvimento industrial da cidade
ainda é motivo de muitos debates, pois enquanto Palmier tenta altear São Gonçalo como
a “Manchester Fluminense”, na década de 1950, o geógrafo Pedro Geiger na Revista
Brasileira de Geografia, descreve como um subúrbio da cidade do Rio de Janeiro:
“São Gonçalo é na prática, um subúrbio do Rio de Janeiro, no qual
fazendas e pomares foram e estão sendo loteados em benefício do
crescimento urbano e da industrialização. A produção de cimento,
papel, vidro, sardinhas, produtos químicos e matérias de construção
são alguns dos ramos industriais deste importante município. Também
aí, as empresas de ônibus têm se multiplicado, mantendo longas linhas
de comunicação; o bonde e os trens suburbanos nas horas do ‘rush’
são outros veículos coletivos que servem à população. A área
urbanizada é muito extensa, pois é grande a dispersão do casario pelas
antigas fazendas loteadas. Neves é conurbada ao bairro de Barretos
em Niterói.” (GEIGER, 1956, p. 47-70)

Porém, nas décadas seguintes, sobretudo a partir da inauguração da Ponte Rio-


Niterói e, em seguida, do trecho Niterói-Manilha da BR-101, a cidade perde o título de
“Manchester Fluminense”, tendo sua população economicamente ativa se deslocado
para outros municípios (principalmente Niterói e Rio de Janeiro).
Segundo Rosa (2010), São Gonçalo, se caracteriza como um lugar que até a
década de 1980 era predominantemente industrial, a partir deste período sofreu com um
processo de desindustrialização e, consequentemente, de criação de ruínas e vazios
industriais seguido de um momento de desenvolvimento do comércio e dos serviços,
sobretudo na região de Alcântara. A cidade, por muito tempo, não representou para o
capital a atratividade que sustentasse grandes investimentos em função do perfil da
população cotejada por forte pobreza urbana.
O estigma de cidade periférica criou ao longo do tempo depreciação no tratamento
ao lugar. Expressões como: “cidade dormitório” (pecha herdada dos estudos sobre
segregação sócio-espacial da Escola de Chicago, início do século XX) e “Terra de
Malboro” (metáfora de ser o lugar sem lei), de certa forma, conformaram com o título
inicial de Bandas D’Além.
Atualmente, a cidade conta com forte desenvolvimento no setor industrial, com o
reaquecimento da construção naval, com o reaparecimento de centenas de novos postos
de trabalhos. Para além, criaram a expectativa, que vem mexendo com o imaginário do
poder público e da população em geral do surto de um novo desenvolvimento
econômico com a implantação de uma refinaria de petróleo e gás (COMPERJ), no
município vizinho de Itaboraí, sendo que São Gonçalo recebe em troca a instalação do
Centro de Inteligência para pensar a nova planta industrial. Acredita-se que ao entrar em
operação, muitas outras atividades aportaram na região, dinamizando ainda mais a
economia do leste metropolitano do Rio de Janeiro.
Modernidade, modernização e as cidades.

A Geografia é a ciência que estuda o espaço e a interação do homem enquanto


sociedade com este, modificando-o de acordo com as necessidades impostas em
diferentes épocas.
O mundo atual de rápidas e intensas modificações tem sido chamado por parte
de seus idealizadores como “modernidade” que tem como principal objetivo convencer
a toda sociedade que não há outro caminho a ser seguido a não ser aquele que leva a
modernização dos espaços. De acordo com Faoro:
“A modernidade compromete, no seu processo, toda a sociedade,
ampliando o raio da expansão de todas as classes, revitalizando e
removendo seus papéis sociais, enquanto que a modernização, pelo
seu toque voluntário, se voluntariza, chega à sociedade por meio de
um grupo condutor, que privilegiando-se, privilegia os setores
dominantes. Na modernização não se segue o trilho da “lei natural”,
mas se procura moldar, sobre o país, pela ideologia ou pela coação,
uma certa política de mudança. Traduz um esquema político para uma
ação, fundamentalmente política, mas economicamente orientada”
(FAORO, 1992, p. 8).

Souza & Silva (1995), baseadas em Henri Lefbvre, conceituam o termo moderno
como sendo derivado da ideia de renovação e uma regularidade na renovação. O termo
moderno surgido ainda na idade média trazia em si a oposição ao que estava fora de
moda. (SOUZA & SILVA, 1995, p. 39).
Num primeiro momento, a ideia de modernidade vincula-se a “novas técnicas,
novas relações sociais, grandes projetos, etc” (COSTA & GOMES, 1989, p. 47). Neste
período estabelece-se um movimento permanente de rápidas substituições e interações
do espaço antigo, já cristalizado na paisagem, com o novo, fruto de uma criação recente
ou uma (re)significaçãode antigos espaços agora dotados de novas funções sociais. Esse
constante conflito entre espaços modernos e tradicionais dão origem a transformações
sócio-espaciais imprevisíveis, uma vez que são comandadas por diversos fatores,
proporcionando a convivência do novo “o moderno” com o tradicional “o velho” que só
pode ser assim denominado em comparação com esse novo espaço com o qual passou a
dividir a paisagem (COSTA & GOMES, 1989, p. 48).
A obsolescência programada inerente ao sistema capitalista também consegue
atingir a questão espacial, no qual são forjadas novas necessidades que garantem a
permanente reconstrução dos espaços, garantindo que os donos dos meios de produção
sejam os maiores beneficiados através da reconstrução desses espaços. Assim são as
camadas superiores da sociedade os principais responsáveis pelo discurso da
modernidade que traz a necessidade do novo, do moderno, da constante modernização
espacial.
É no espaço urbano onde podemos observar de forma mais clara o fenômeno da
modernização, porém não contempla a todo este espaço ao mesmo tempo, e sim em
áreas de determinados agentes que comandam esse processo. Assim Costa & Gomes
assinala que:
“Não existe lógica neste fenômeno. Muitas vezes a área a ser
modernizada no período anterior foi símbolo da modernização. Assim
áreas são constantemente renovadas e outras são deixadas de lado
talvez esperando a oportunidade para ser “modernizada”, vai depender
dos agentes econômicos mais do que dos agentes sociais” (COSTA &
GOMES, p. 55).

Nos processos de “modernização urbana”, os objetos resultantes desta renovação


espacial, são entremeados com objetos antigos que podem manter as funções de outrora
ou passarem a exercer novas funções mediante adaptações estruturais que dão nova
utilidade a esses espaços que foram (re)significados.
O primeiro grande exemplo da modernização do espaço urbano no Brasil pode
ser identificado como sendo a reforma Pereira Passos entre os anos de 1902 e 1906 na
cidade do Rio de Janeiro, onde munidos de um discurso baseado na necessidade da
limpeza da cidade, na melhora de circulação de carros e pedestres e na sua melhora
estética, avenidas foram abertas, casas foram demolidas e um grande número de pobres
urbanos acabou expulso daquele espaço. Criou-se ali um paradigma que rapidamente foi
seguido por diversas outras cidades brasileiras onde o antigo passou a ser visto como
sinal de atraso.
Este paradigma parece servir até os dias atuais para aqueles que buscam forjar a
necessidade constante de renovações do espaço nas cidades e no espaço urbano, onde o
novo é sinônimo de moderno e de desenvolvimento.

Modernização recente, novos empreendimentos e o imaginário de desenvolvimento


em São Gonçalo.

São Gonçalo apresenta atualmente características que indicam que este, apesar
de possuir uma população quase que totalmente urbana, tem apresentado um
desenvolvimento socioeconômico muito aquém do necessário para garantir uma boa
qualidade de vida sua população.
O município possui problemas tais como má distribuição de renda3, e deficiência
nas infraestruturas da saúde, educação e o monopólio dos transportes coletivos, o que
leva este a ocupar apenas a23° colocação entre os municípios do Estado4. Os dados
corroboram a nossa hipótese de que o crescimento econômico observado atualmente
não tem sido acompanhado por um desenvolvimento social, uma vez que 24% de sua
população são compostas por pobres, ou seja, pessoas que recebem menos de ½ salário
mínimo por mês.
Em meio a todos esses problemas, pelo menos na última década e meia, o
município tem apresentado inúmeros novos empreendimentos imobiliários que, ao se
instalarem, acredita-se, têm modificado o espaço urbano. Esses empreendimentos,
aliados ao discurso dos administradores públicos tem contribuído para criar uma
atmosfera de euforia referente ao que seria uma nova fase de desenvolvimento industrial
que traz em si uma clara referência ao tempo passado em que o município era
considerado a “Manchester Fluminense”.

3
Ver (SEBRAE, 2011, p. 12).
4
O IDH permite medir o desenvolvimento de uma população além da dimensão econômica. É calculado
com base na: a) renda familiar per capita (soma dos rendimentos divididos pelo número de habitantes); b)
expectativa de vida dos moradores (esperança de vida ao nascer); c) taxa de alfabetização de maiores de
15 anos (número médio de anos de estudos da população local).
Calvosa (2013) esclarece que esse imaginário de desenvolvimento trata-se de um
artifício utilizado já há algum tempo, cujo principal objetivo é atrair investimentos.
Trata-se de um dispositivo que precisa contar com apoio da população que é chamada a
integrar-se neste processo dedesenvolvimento, sendo envolvida de tal forma que passa a
crer que o sucesso ou insucesso desta evolução do município faz parte também dos seus
esforços. Ainda segundo o autor, a cidade passa a ser administrada como uma empresa
que para ser bem sucedida deve ser exposta na “vitrine” como um produto e o que é
vendido; neste caso são oportunidades de lucros em investimentos em seu território.
Desta forma, criam-se verdadeiras campanhas que visam convencer tanto investidores,
assim como a própria população da necessidade da renovação espacial que passa a ser
um símbolo de desenvolvimento (CALVOSA, 2013, p. 29).
Assim, administradores e agentes capitalistas “vendem” a população à ideia de
que não existe outro caminho a ser seguido senão aquele no qual os espaços da cidade
devem ser constantemente reconstruídos em busca de um desenvolvimento como o
observado em outros lugares.
Por enquanto, decisões têm sido tomadas e espaços continuam sendo
modificados. Contudo, sem que a população seja consultada sobre tais decisões e
mudanças. Esta parece condicionada a aceitar o constante processo de reordenação
espacial em curso no território gonçalense.
Apresentando uma população milionária5, sendo, portanto um grande mercado
consumidor, além de contar com terrenos amplos disponíveis e uma legislação bem
tolerante no que concerne ao uso do solo, São Gonçalo tornou-se terreno fértil para
investidores que tem atuado em pontos específicos e em muitos casos contando com a
colaboração da administração pública, que hora atua como criadora de infraestruturas
que servem a tais empreendimentos6e hora age como um verdadeiro agente imobiliário,
como no caso do Icon Business&Mall, referindo-se a um centro empresarial com treze
andares e mais de quatrocentos e cinquenta salas comerciais, localizado próximo ao
centro do município.Contribui ainda para o aumento da euforia e no número de
5
Conforme estimativa 2013 do IBGE.
6
Ver (MENDONÇA, 2007, p. 145) onde o autor cita toda a infraestrutura criada para facilitar o
deslocamento até o Shopping São Gonçalo, inaugurado em 2004.
empreendimentos na cidade o fato da escolha do município de Itaboraí para receber a
instalação do COMPERJ7, próximo espacialmente ao município de São Gonçalo.
Segundo Calvosa (2013):

“Com a confirmação do empreendimento, São Gonçalo passou a ter


novas perspectivas de crescimento econômico, espelhado
principalmente nos municípios de Macaé, Campos e Rio das Ostras,
que passaram por imensas mudanças devido às receitas diretas e
indiretas geradas pela economia do petróleo” (CALVOSA, 2013, p.
70).

A ideologia que fundamenta o discurso da modernização implica na criação de


demandas pela construção de novos espaços (de lazer, consumo, moradia...). Contudo,
em São Gonçalo:
“esses novos empreendimentos não significam, diretamente, a
melhoria da qualidade de vida dos habitantes como indica recente
pesquisa do IBGE, onde São Gonçalo aparece como tendo o segundo
pior desempenho do Estado em relação à participação no PIB per
capita do país” (MENDONÇA, 2007, p. 95).

Como dito anteriormente, o centro empresarial Icon Business &Mall é mais uma
prótese urbana, cujo no imaginário coletivo da população gonçalense é apresentada
como sinal de “desenvolvimento”. Nesse contexto, juntamente com a especulação
imobiliária, o poder público administrativo de São Gonçalo entra em parceria com o
capital privado com o intuito de “modernizar” parte do espaço urbano do município.

RESULTADOS PRELIMINARES

Ao longo desta pesquisa vem sendo possível perceber que os novos


empreendimentos podem ser compreendidos como polos irradiadores de
desenvolvimento que destoam completamente do espaço contíguo. Acredita-se que com

7
Segundo dados da Petrobras, o COMPERJ (complexo petroquímico do Rio de Janeiro) é o principal
empreendimento industrial da empresa no Brasil com investimento previsto em 8,3 bilhões de dólares
(MENDONÇA, 2007, p.51). O início da sua operação atrairá novos investimentos e estimulará a criação
de empregos diretos e por efeito renda, modificando o perfil socioeconômico da região do Leste
fluminense (PETROBRAS, 2011, p. 18).
o incentivo dado pelos novos empreendimentos, os espaços próximos sejam
preenchidos com o mesmo processo ganhando novas funções sócio-espaciais. Porém,
essa modernização do espaço é pautada na falta de planejamento. Com isso,
inicialmente já foi possível visualizar diversas áreas segregadas coexistindo com antigos
espaços fabris; novos espaços de comércios (inserção de shopping centers em meio a
espaços tradicionais), novas torres de 20 e 25 andares sendo implantadas para negócios
e habitacionais; mobilidade urbana com muitos problemas (algumas vias beiram a um
século e meio de existência).
Assim, observamos que esta modernização tem atuado dando saltos entre os
espaços, o que significa dizer que a modernização não se dará de forma linear, o que a
torna imprevisível. Não conseguimos a princípio determinar que sentido esta tome, uma
vez que esta se encontra intrinsecamente ligada aos interesses do capital.

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