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CONCURSO DE CRIMES OU CONCURSO EFECTIVO E

CONCURSO APARENTE, LEGAL OU DE NORMAS


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AUXILIARES DE ESTUDO

Ana Paula Pinto Lourenço


alourenco@autonoma.pt

Bibliografia base:

DIAS, Jorge de Figueiredo – Direito Penal, Parte Geral, 2.ª edição. Coimbra: Coimbra Editora,
2007.

CONCURSO DE INFRACÇÕES, DE CRIMES OU EFECTIVO

CONCURSO APARENTE, LEGAL OU DE NORMAS

Situações que devem ser abordadas no âmbito da teoria do concurso e que permitem distinguir
os casos em que a responsabilização do agente exige a aplicação conjunta de normas/tipos,
daqueloutros em que, por força de uma determinada relação entre normas, apenas será
responsabilizado por uma delas.

CONCURSO EFECTIVO OU DE CRIMES 1

SÃO AS SITUAÇÕES A QUE SE REFERE O ART. 30.º DO CP


(o regime da punição vem enquadrado no art. 77.º do CP)

O agente, através de uma ou várias acções/omissões, preenche várias vezes o mesmo tipo de
crime ou tipos de crimes distintos e vai ser responsabilizado por todos eles.

1 Também por vezes designado de concurso real, - aparece muito frequentemente nos acórdãos assim

designado)
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• Ou porque se lesa bens jurídicos pessoais (e praticará tantos crimes quantas as vezes
que violar um bem jurídico pessoal),
• Ou porque lesa ou coloca em perigo bens jurídicos distintos.

Pressupostos do concurso efectivo ou de crimes (ou real de normas)

1. Existência de vários factos penalmente relevantes


2. Ou de um facto cindível, fracturável em várias partes com relevância penal  o agente,
com a sua conduta preenche várias vezes uma determinada norma, ou várias normas
distintas.
a. Várias normas são aplicáveis em simultâneo
b. Ou várias vezes a mesma norma.

HÁ AUTORES QUE DISTINGUEM ENTRE

1. Quanto ao bem jurídico tutelado pela norma violada: homogéneo ou heterogéneo -


atendendo ao bem jurídico violado, que o mesmo é dizer, atendendo ao n.º de vezes
que o tipo legal foi preenchido
o Homogéneo - se o agente com a(s) sua(s) conduta viola o mesmo bem jurídico
(ex.º mata 3 pessoas), isto é, o número de vezes que o mesmo tipo legal foi
prenchido
o Heterogéneo – coloca uma bomba que detona (dano), fere 3 pessoas
(integridade física) e mata uma(vida), isto é, o número de tipos legais que o
agente preencheu com a/s sua/s conduta/s

2. Quanto ao número de acções empreendidas pelo agente: Concurso ideal ou real –


consoante o n.º de condutas empreendidas pelo agente

o Concurso real: o agente empreende várias condutas individualizáveis:


o (agride A, depois agride B e depois mata C) * é por esta razão que chamar
concurso real ao concurso efectivo não me seduz muito, mas os tribunais fazem-
no amiúde)
o Vários factos violam vários bens jurídicos ou várias vezes o mesmo bem jurídico
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• Concurso ideal: O agente, com uma única conduta, preenche vários tipos e é
responsabilizado por todos eles
o (coloca uma bomba e com esta única conduta, preenche vários tipos : dano,
ofensas à integridade física, homicídio; ou coloca várias pessoas em fila indiana
e com um petardo atinge-as. O petardo trespassa as várias pessoas, praticando
vários homicídios apenas com uma conduta)
o Um mesmo facto viola vários bens jurídicos, ou várias vezes bem jurídico
idêntico
o A distrai-se, despista-se e mata todos os passageiros

Exemplos:
• Concurso efectivo entre o crime de falsificação (art. 257.º) e o crime de falsidade de
depoimento ou testemunho quando as declarações tenham relevo especial por terem
sido incluídas em documento Helena Moniz apud Paulo Pinto de Albuquerque (art.
256.º, n.º1)
• Concurso efectivo entre crime de roubo (art. 210.º) e o crime de homicídio (art. 132.º,
n.º 1, alínea f)) quando o homicídio é praticado para «facilitar, executar ou encobrir
outro crime» que, neste caso, é o roubo.
o Nota: se o agente roubar e a morte sobrevier por negligência, estaremos no
âmbito d crime de roubo agravado pelo resultado morte (art. 210.º, n.º 3 + art.
18.º)
o Se o agente matar e depois de matar surgir a resolução criminosa de subtrair os
bens à vítima, haverá concurso efectivo.

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Situação em que a conduta do agente apenas formalmente preenche vários tipos de crimes, se
subsume formalmente a várias normas, mas em virtude de uma determinada relação existente
entre esses tipos, o agente apenas é responsabilizado por um deles, porque uma das normas
afasta a aplicação das demais. Neste caso não se trata de verdadeiro concurso, mas de aparência
de concurso
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PRESSUPOSTOS DO CONCURSO APARENTE OU DE NORMAS

1. A unidade do facto
2. Existência de uma pluralidade de normas potencialmente aplicáveis
3. Sendo que apenas uma delas é aplicável, por força de uma determinada relação
existente entre essas normas, que faz com que, na realidade, apenas uma delas veja a
responsabilizar o agente

QUE TIPOS DE RELAÇÕES PODEM EXISTIR ENTRE NORMAS?

1. Especialidade
2. Subsidiariedade
3. Consumpção

RELAÇÃO DE ESPECIALIDADE: “Lei especial derroga lei geral”

- Existe uma norma (especial)


- Que possui todos os elementos típicos da lei geral
- Acrescentando outros elementos que a torna mais grave (crime qualificado)
- Ou menos grave (crime privilegiado)
- Sem alterar o tipo base/ simples
o Existe identidade de género e espécie nas palavras de Paulo Pinto de
Albuquerque2
Ou seja:

Existe relação de especialidade entre normas quando exista um crime base/geral ou simples
(ex. º homicídio simples) e uma outra que a modifica, mas sem alterar a sua substância
(especial).

2Comentário ao Código Penal à luz da Constituição e da Convenção Europeia dos


Direitos do Homem.
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Exemplos:
• Homicídio qualificado - quem matar outra pessoa (art. 131.º) + com especial
censurabilidade ou perversidade)  acrescenta mais culpa

• Homicídio privilegiado - quem matar outra pessoa (art. 131.º) + com compreensível
emoção violenta  acrescenta circunstâncias que conduzem a menor culpa

Nestes casos pode a norma especial ter uma moldura penal mais elevada como menos
elevada

• Homicídio simples – 8 a 16 anos


• Homicídio qualificado – 12 a 25 anos
• Homicídio privilegiado – até 5 anos

Crime de rapto (art. 161.º) – crime especial face ao sequestro (art. 158.º)

RELAÇÃO DE SUBSIDIARIEDADE: “lei primária derroga lei secundária”

- É norma subsidiária aquela em que o facto é simultaneamente enquadrável noutra


norma
- Mas de âmbito de aplicação diferenciado
- Tendo, embora, um núcleo comum
- A norma subsidiária apenas se aplica quando a norma principal não possa aplicar-se
o Paulo Pinto de Albuquerque afirma que, aqui, a relação é uma relação de grau
(?)

Esta pode ser:


Formal ou Expressa – quando a própria letra da lei indica a subsidiariedade
• Ex. º art. 152.º, n. º1, in fine – em relação aos outros crimes cuja moldura penal seja
mais elevada
o A conduta do agente subsume-se ao crime de violência doméstica, mas num
determinado momento, pratica um facto doloso enquadrável no art. 144.º ou
outro, cuja moldura penal seja mais elevada: será punido pelo crime do art.
144.º uma vez que o crime do artigo 152.º é subsidiário face a estes.
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• Relação entre o crime do artigo 291.º e o crime do artigo 292.º (crime de condução em
estado de embriaguez ou sob a influência de estupefacientes ou de substâncias
psicotrópicas;
• Art. 293.º - lançamento de projéctil contra veículo «se outra pena ais grave lhe não
couber por força de outra disposição legal» é norma subsidiária, por exemplo, face aos
crimes de homicídio e o crime de atentado à segurança de transporte [art. 288.º, n.º 1d)
+ art. 290.º, n.º 1 d)].

Material, Implícita ou tácita – sempre que o facto incriminado por outra norma entra como
elemento constitutivo de um facto incriminado por outra e este exclui a aplicabilidade da
anterior
• Relação entre actos preparatórios puníveis ou tentados e a consumação  só se pune
pelos actos preparatórios ou pela tentativa, se não for possível punir pelo crime
consumado
• Relação entre o crime por omissão e acção  Só se pune pela omissão, se não for
possível punir pela acção
• Relação entre participação e autoria  Só se responsabiliza pela participação (grau
menos grave de comparticipação), se não for possível punir por autoria (crime mais
grave)
• Relação entre o crime de perigo e o crime de dano  só se pune pelo crime de perigo
se não for possível punir pelo crime de dano (embora, no que respeita ao crime de
participação em rixa – perigo abstracto-concreto), haja o entendimento que se trata de
consumpção
• Nos crimes omissivos impuros e puros – só se pune pelo crime de omissão pura (a norma
impõe uma actuação a qualquer pessoa (ex.º art. 200.º), se não for possível punir pela
omissão pura (ex.º art. 131.º + 10.º autor tem dever de garante)

RELAÇÃO DE CONSUMPÇÃO

- A existência de uma determinada norma esgota / consome / absorve a protecção


conferida por outra a determinado bem jurídico – o mesmo bem jurídico
- Um dos factos típicos inclui a factualidade típica de outro tipo
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- O facto legal é idêntico, mas naturalisticamente é distinto

Exemplos:
o O crime de coacção (crime fim) consome o crime de ameaça (crime meio)
o Art. 152.º (crime de violência doméstica) e art. 143.º (ofensas à integridade física) -
não é possível praticar violência numa das suas vertentes, sem se lesar a integridade
física (alguns autores entendem ser uma relação de especialidade);
o Art. 131.º(homicídio) e art.ºs 143.º e 144.º (ofensas simples e ofensas graves à
integridade física, respectivamente) - não é possível matar sem lesar a integridade
física (um crime é instrumental face ao outro)
o Art. 140.º (aborto) e 143.º(ofensas à integridade física) - não é possível praticar
crime de aborto não consentido sem lesar a integridade física da mulher grávida (um
crime é instrumental face ao outro)
o o crime de roubo (art. 210.º) consome os crimes de:
▪ Ofensas à integridade física cometidos na pessoa roubada (art. 143.º)
▪ Ameaças (art. 153.º)
▪ Coacção (art. 154.º)
• porque integram a factualidade típica destes
▪ alguns autores entendem que existe uma relação de consumpção entre
o crime de roubo e o crime de dano quando o agente destrói o bem que
subtraiu. No entanto deverá ter-se em consideração o caso concreto 3.

3 Nem sempre este será um concurso aparente. Ver: ACSTJ de 12-01-2006 - Dano Furto Concurso de
infracções http://www.pgdlisboa.pt/jurel/stj_mostra_doc.php?nid=21602&codarea=2
I - Mesmo que o dano seja meio de atingir a consumação do furto simples (resultante da desqualificação,
dada a insignificância do valor em causa), não é aceitável entendimento no sentido de que o dano se
encontra consumido pelo furto.
II - Tal como escreve Costa Andrade, «também há concurso efectivo em caso de dano seguido de furto
(ou, sendo caso disso, abuso de confiança), salvo se do primeiro resultar a destruição total da coisa.
Inversamente, já haverá concurso aparente nos casos de furto qualificado nos termos do art. 204.º, n.ºs
1, al. e), e 2, al. e). Só não será assim se, por força do disposto no n.º 4 do art. 204.º não houver lugar à
qualificação do furto, hipótese em que a solução será, mais uma vez, o concurso efectivo (...)» -
Comentário Conimbricense do Código Penal, II, págs. 234 e 235.
http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/29bbee5ca962585b802573780052cc
32?OpenDocument
Ainda: «… o significado do “crime meio” desaparece nos casos em que é tido por secundário em relação
ao “crime fim” e desde que semostre associado a este através de uma forma de apari ção regular,ou
forçosamente necessári a, mas se a gravidade do “crime meio” não for mínima, do excesso resultar um
concurso efectivo com o “crime fim”.
IV – Se, por força do disposto no n.º 4 do artigo 204.º do CP, não houver lugar à qualificação do crime de
furto, então existirá concurso efectivo entre o crime de dano e o crime de furto (simples)»
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▪ Mas está em concurso efectivo com o crime de detenção de arma


proibida4
▪ O crime de coacção (art. 154.º) consome o crime de ameaças (art.
153.º) 5
o O crime de falsificação6 e fraude fiscal;
o Crime de falsificação de cheque (art. 256.º, n.º 3) e o crime de contrafacção de
cheque (art. 267.º, n.º 1, alínea a), conjugado com o artigo 262.º
o O crime de rapto (art. 161.º) consome as ofensas à integridade física (art. 143.º)
«quem, por meio de violência …» e consome o crime de ameaça «quem, por meio
de … ameaça» (relação de um crime meio) ameaça, ofensas à integridade física),
com um crime fim (crime de rapto).

A consumpção pode ser

• Pura – o crime mais grave consome o crime menos grave, ou seja, o agente é punido
pelo crime mais grave
• Impura – o crime menos grave consome o crime mais grave, ou seja, o agente seria
punido pelo crime de menor gravidade. Quando assim for, o agente é punido com a
moldura penal do crime consumido, mais grave.

Ver, ainda:
http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/29bbee5ca962585b802573780052cc
32?OpenDocument
4
Crime de detenção de arma proibida (crime de perigo abstracto) e crime de roubo (crime de lesão ou
dano) –concurso de crimes e de normas – fins das penas -
http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/ba8ffed362818a7080257758002dc
052?OpenDocument
5 http://www.dgsi.pt/jtrc.nsf/8fe0e606d8f56b22802576c0005637dc/fc50ce427643e498802574f9003e85

8c?OpenDocument
6 Quanto à situação de concurso entre falsificação e burla ver, entre outros https://dre.pt/pesquisa/-

/search/497861/details/maximized?p_p_auth=kSGKaH86/en;
Quanto ao Concurso entre Passagem de moeda falsa, falsificação de documentos e burla?
http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/f4cbe2ecdeea9311802571bc003d0d
06?OpenDocument

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