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(Quando) Antes de me enforcar, necessitava de samba para enterrar a

penumbra, (feito voltas a serem dadas sobre o mesmo ponto, para aprender
a mar aquele terra). Ser brasileiro era vasculhar eclipsados temores. Quão
funda é a força, escapando ao poço da terra, para acampar sob a luz do sol.
O Brasil não para. É realidade móvel com identidade morta.

A pobreza é sempre a mesma, povo passeia na rua contente, são gente


amistosa. Eu amo principalmente a cultura simples, em que fui criado, esse
futebol e teras de tardezinha, as casas com portões abertos, ou as grades onde
você vê os velhinhos estirados, pensando sobre uma vida inteira deixada para
trás.
No núcleo esquecido de Campo Grande, o tacanho e envelhecido, pacato, se
cruzavam na rua e tiravam um para outro o chapéu, não havia mais o que
pensar.

A cidade é um emaranhado de buzinas, feito uma consciência humana. Feliz


em suas fachadas, lojas de utensílios, em sua ciência, miserável em sua
desigualdade, em sua violência, em sua ignorância, como um vale a parte de
sombria alucinações: sonhos e pesadelos lado a lado. Por trás do homem, a
solidão e a catatoníce.

Às vezes eu penso que o preciso é uma solução lógica simples para resolver
a aporia do realismo, mas logo inclino-me a um pensamento mais completo:
é a essência própria do que é humano. Tudo que me cabe então é caminhar.
Não chega a ser triste.......... (Então é me arrastar. Não importa o quão
triste...)

Naquela esquina o carro buzina para outro homem, sem ver meu fantasma
de escanteio.

- Anda, ô filho da puta! Cê acha que tenho todo o tempo do mundo?

- Cala a boca, animal!

Apenas dirijo a eles um olhar de piedade, querendo, profundamente, apiedar-


me, mas no fundo surge-me o riso. Brasil, Brasil! Terra onde branco mata
índio, branco mata preto, branco mata pardo, e ainda reclama de ser branco.
O bicho desce do carro e se empina no asfalto, se achando todo todo, e o
outro vem fremente, ainda mais puto porque está armado (se não talvez o
medo lhe tirasse até mesmo a tripa da ignorância) e desce-lhe um tiro antes
de sair voando pela pista. O outro agoniza os momentos finais, tremelica,
suando frio, põe a mão no peito sangrando e pensa na família, nos filhos, na
igreja católica, pensa se vai para o céu, se foi um bom católico, e por fim,
com a pulga atrás da orelha, se Deus realmente existe. O método do homem
bom, que esquece, pelo medo do vazio, as orgias, as traições e a
tendênciosidade. Não morre antes de despejar uma lágrima para sua humana
tragédia. O brasileiro após o último suspiro: surpresa não seria se, enganando
a morte, essas pessoas fossem direto para o céu. (meninice de negar o óbvio,
para escapar da punição)

É então que penso que, num céu onde voassem porcos, estou eu bem aqui na
terra, no exato lugar que merece o homem: a lucidez dos condenados.

Mas não vou desgastar o leitor com elocubrações excessivas.

Antes deitava debruçado sobre o homem alvejado, tirava-lhe o pulso


enquanto apinhava gente ao nosso derredor, e o povo murmurava e gritava,
chamavam a ambulância, queriam saber quem era quem e o que tinha
acontecido.
Eu sou vazio. Por dentro, eu sou vazio como o homem morto no asfalto, e o
samba que toca em minha terra é obscuro.
Explico que foi uma briga de trânsito, que atiraram nele, vou até a delegacia
fazer um B.O. comunicando o homicídio de autor desconhecido, para que
mais uma morte seja enterrada nas estatísticas de investigações infrutíferas,
ou tenham um réu confesso, abalado com as próprias atitudes, dando vigor a
todo barroco extremado de nossa civilização.
De resto, quando saio, já é tarde, mas a rua é ainda ensolarada, e as pessoas
passeiam na rua e são felizes.

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