Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
br
CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
Entre outras alterações, o referido Decreto cria duas formas de a Previdência regular a
incidência de doenças profissionais, a saber, o Nexo Técnico Epidemiológico (NTE) e
o Fator Acidentário Previdenciário (FAP). Basicamente, estes dois institutos visam
adequar as alíquotas do seguro acidente de trabalho (SAT) à quantidade de casos
envolvendo doença profissional nas empresas e não mais apenas de acordo com o seu
ramo econômico.
Entretanto, o presente estudo tem por escopo analisar questões práticas para a adoção
das novidades previstas pela legislação e, sobretudo, o alcance que tais medidas terão
nas relações de emprego. Além disso, se pretende descortinar as formas de
irresignação cabíveis e outros meios de controle da ordem jurídica para que se evite
abusos até o natural acomodamento da matéria.
Por fim, cabe registrar que o tema a ser desenvolvido, como antedito, é resultado de
uma alteração legislativa extremamente recente e, portanto, ainda não existe uma
noção completa dos efeitos que teremos no Direito do Trabalho, motivo pelo qual é
impossível uma análise terminativa da matéria. A par disso, se tentará exercitar ao
máximo as possibilidades de influência do NTE e FAP no cotidiano trabalhista.
--------------------------------------------------------------------------------
Até o advento do Decreto nº. 6042/07, o modelo brasileiro para utilizado para a
comunicação de acidente do trabalho era baseado na CAT (Comunicação de Acidente
do Trabalho) que os empregadores deveriam encaminhar ao INSS, como forma de
noticiar o infortúnio ao órgão previdenciário.
Nesse passo, o art. 336 do Regulamento da Previdência Social (RPS), prevê que a
empresa deverá comunicar à Previdência Social do acidente de trabalho ocorrido com
o segurado empregado, exceto o doméstico, e o trabalhador avulso, até o primeiro dia
útil seguinte ao da ocorrência, e, em caso de morte, de imediato, à autoridade
competente, sob pena de multa.
E que não se fale na falta de disposições legais tutelares das condições de trabalho,
pois se poderia citar boa parte do art. 7° da Constituição Federal, além de várias outras
previsões celetistas e afins. O que se verifica na prática é a pouca efetividade do
ordenamento jurídico no trato da matéria e a possibilidade real de aumento de
infortúnios ligados ao trabalho, fruto de um modelo econômico em crescimento, mas,
sobretudo, resultante do desrespeito às normas de segurança vigentes.
Vale dizer que o modelo utilizado anteriormente à alteração legislativa referida nesse
estudo já contemplava algumas medidas para combater este crescente número de
acidentes. Entretanto, a crítica dos especialistas reside no fato de os riscos de acidentes
e doenças profissionais estarem unicamente ligados ao tipo de atividade desenvolvida
pelas empresas, de forma superficial.
Diante desse cenário injusto para os empresários preocupados com seu quadro de
empregados, nefasto para os segurados que seguidamente ficavam alijados de seus
direitos previdenciários e cujo aumento de acidentes ocorria em progressão indesejada,
surgiu o Fator Acidentário de Prevenção e o Nexo Técnico Epidemiológico.
--------------------------------------------------------------------------------
Antes do Decreto n.º 6042/07, houve várias movimentações dos legisladores para
conferir maior efetividade às normas de medicina e segurança do trabalho.
"Art. 10. A alíquota de contribuição de um, dois ou três por cento, destinada ao
financiamento do benefício de aposentadoria especial ou daqueles concedidos em
razão do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos
ambientais do trabalho, poderá ser reduzida, em até cinqüenta por cento, ou
aumentada, em até cem por cento, conforme dispuser o regulamento, em razão do
desempenho da empresa em relação à respectiva atividade econômica, apurado em
conformidade com os resultados obtidos a partir dos índices de freqüência, gravidade e
custo, calculados segundo metodologia aprovada pelo Conselho Nacional de
Previdência Social."
É de se notar que tal flexibilização de alíquotas dependeria de "metodologia aprovada
pelo Conselho Nacional da Previdência Social", a fim de se respeitar os índices de
freqüência, de gravidade e de custo dos acidentes.
"Art. 202-A. As alíquotas constantes nos incisos I a III do art. 202 serão reduzidas em
até cinqüenta por cento ou aumentadas em até cem por cento, em razão do
desempenho da empresa em relação à sua respectiva atividade, aferido pelo Fator
Acidentário de Prevenção - FAP. (Incluído pelo Decreto nº 6.042, de 2007).
§ 8o Para as empresas constituídas após maio de 2004, o FAP será calculado a partir
de 1o de janeiro do ano seguinte ao que completar dois anos de constituição, com base
nos dados anuais existentes a contar do primeiro ano de sua constituição.
(...)
"Art. 337. O acidente do trabalho será caracterizado tecnicamente pela perícia médica
do INSS, mediante a identificação do nexo entre o trabalho e o agravo.
(...)
§ 4o Para os fins deste artigo, considera-se agravo a lesão, doença, transtorno de saúde,
distúrbio, disfunção ou síndrome de evolução aguda, subaguda ou crônica, de natureza
clínica ou subclínica, inclusive morte, independentemente do tempo de latência.
§ 5o Reconhecidos pela perícia médica do INSS a incapacidade para o trabalho e o
nexo entre o trabalho e o agravo, na forma do § 3o, serão devidas as prestações
acidentárias a que o beneficiário tenha direito.
Nas palavras da jurista Líris Silvia Zoega Tognoli do Amaral, o nexo técnico
epidemiológico passou a vigorar a partir de abril de 2007, isto é, a presunção do
beneficio acidentário dele decorrente pode ser caracterizado desde aquela data. Com a
publicação da Instrução Normativa nº 16/2007 em março, ficou definido os
procedimentos que deverão ser seguidos pela Perícia Médica do INSS para estabelecer
o nexo técnico epidemiológico. Assim, a empresa com um desempenho ruim em
comparação a outras da mesma atividade econômica, irá pagar mais para o INSS,
diferente daquela que reduzir significativamente os afastamentos ocasionados pelos
acidentes e pelas doenças profissionais. [02]
Ocorre, todavia, que o elevado índice de acidentes laborais nos mostra que o
investimento em prevenção de acidentes não é uma tônica seguida pelo empresariado
brasileiro, sendo forçoso concluir que a grande maioria das empresas sofrerá um
aumento nos valores recolhidos para o INSS.
--------------------------------------------------------------------------------
Ademais, muitos empregadores temem que as impugnações não aceitas pelo INSS
sirvam de base para trabalhadores pleitearem indenizações judiciais e também para
ações regressivas movidas pelo INSS contra empregadores considerados responsáveis
por acidentes do trabalho. Tal temor se justifica pelas recentes orientações do
Conselho Nacional da Previdência Social determinando que o INSS incremente o
ingresso de ações regressivas em casos de negligencia no cumprimento de normas de
segurança por parte da empresas. [04]
Há, ainda, o risco de ações por parte do empregados buscando indenização por dano
moral em virtude de a empresa expor o seu prontuário médico na tentativa de oferecer
defesa quanto ao enquadramento profissional de determinada doença. Já existe pelo
menos um caso desse tipo e o empregado acusa a empresa de ter feito uma exposição
desmesurada de seu prontuário afetando o sigilo médico. [05]
Dentre as inúmeras críticas ao novo modelo utilizado pelo INSS, talvez a que tenha
maior fundamento técnico-jurídico seja a inversão do ônus da prova, no que se refere
ao nexo causal da enfermidade e o trabalho desenvolvido.
Esta realidade, para muitos, enseja a falta de um tratamento eqüitativo, específico para
a prova das doenças ocupacionais tem levado à dramática situação de toda uma legião
de vitimados pelo trabalho que, justamente por dificuldades de prova, não têm acesso
ao seguro dos acidentes de trabalho e, como conseqüência, não conseguem
responsabilizar os seus em pregadores pelos danos suportados. [07]
Pois, com a edição da Lei nº 11.430/06, foi introduzido o art. 21-A no texto na Lei nº
8213/91, com a seguinte redação:
Com efeito, a teor das inovações legais, a empresa poderá requerer a não aplicação do
Nexo Técnico Epidemiológico (NTE) ao caso concreto, mediante a demonstração de
inexistência de nexo causal entre o trabalho e o agravo (no prazo de 15 dias). É
justamente nesse ponto que se demonstra a inversão o ônus da prova que, outrora,
caberia ao segurado.
Em última instância, poderão (e talvez este seja um caminho inevitável) as partes que
se sentirem prejudicadas recorrer à Justiça do Trabalho para demonstrar possível erro
na decisão administrativa, tal qual ocorre em casos de ações anulatórias de autos de
infração das Delegacias Regionais do Trabalho.
--------------------------------------------------------------------------------
CONCLUSÃO
Portanto, a essência das medidas tomadas pelo governo não merece censura.
Em outro aspecto, com o advento desses dois institutos (NTE e FAP), a tendência é o
aumento significativo de reclamatórias trabalhistas discutindo vários aspectos ligados
ao tema (estabilidade, danos materiais, danos morais, etc.).
--------------------------------------------------------------------------------
Notas
02 AMARAL, Líris Sílvia Zoega Tognoli do. FAP - Fator Acidentário de Prevenção.
Comentário - Previdenciário/Trabalhista - 2007/0665. Informativo FISCOSOFT, 03
dez. 2007. Disponível em:
http://www.fiscosoft.com.br/index.php?PID=161481&key=3283460. Acesso em: 05
jan. 2008
03 Embora não tenha estreita relação com o tema desenvolvido no presente estudo,
cabe registrar outra medida do mesmo governo federal tendente ao incremento de
renda para o INSS, qual seja, a edição da lei 11.457/07 que viabiliza a execução
previdenciária irrestrita nas reclamatórias trabalhistas.
05 idem..
07 idem.
08 Art. 212. Salvo o negócio a que se impõe forma especial, o fato jurídico pode ser
provado mediante: