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Faculdades de Campinas

Curso de Relações Internacionais

Black Bloc: As idéias por trás da tática e suas

contradições

CATARINA RODRIGUES DULEBA

Campinas, 13 de novembro de 2013.


Conteúdo

Introdução....................................................................................................................................... 1
A gênese da tática ........................................................................................................................... 2
Fetichização do termo .................................................................................................................... 3
Da Europa para Seattle ................................................................................................................... 4
O Caso de Gênova ........................................................................................................................... 5
Contradição nas mobilizações ........................................................................................................ 6
Considerações Finais ....................................................................................................................... 8
Bibliografia ...................................................................................................................................... 9
Introdução

A origem da tática black bloc está em uma vertente da esquerda europeia do


começo dos anos 1980. Como forma de ação, manifestou-se primeiro na Alemanha
Ocidental defendendo ocupações urbanas e squats1 e lutando contra a energia nuclear
e os neonazistas. Por ser facilmente reproduzível, se propagou rapidamente no
Ocidente ainda nos anos 1980. Porém manteve-se quase desconhecida até o final do
século XX. A tática só chamou atenção do mundo nos protestos contra a OMC em
1999, em Seattle. Por tal razão a maioria das pessoas pensam que a ideia dos black
blocs só surgiu com o "movimento antiglobalização" se pautando na destruição de
grandes símbolos do capitalismo. Na verdade, o que causa espanto é a ausência de
disposição de buscar entender a questão no mundo todo.2

Os adeptos à tática black bloc são distintos em suas mobilizações, mas


geralmente quem mais participa são grupos de esquerda radical, anarquistas,
anticapitalistas, feministas e ecologistas3. No entanto há, sem dúvidas, um enorme
distanciamento entre os que participam do black bloc dos outros manifestantes. Ainda
falta um diálogo claro entre organizações de pensamento crítico tradicionais e
militantes black blocs. No presente artigo, será realizada uma análise da tática,
apresentando sua origem, sua repercussão e suas manifestações nos últimos anos.
Para entender a estratégia, é importante conhecer o contexto em que é inserido nas
mobilizações e suas contradições.

1
Casas ou prédios abandonados transformados em espaços sociais e culturais e locais de moradia.
2
FIUZA, Bruno. "Black Blocs: A origem da tática que causa polêmica na esquerda", 2013.
3
DUPUIS-DÉRI, Francis. 2013

1
A gênese da tática

Foi no começo dos anos 1980, na então Alemanha Ocidental que manifestantes
se organizaram como black blocs pela primeira vez, no movimento autonomista
alemão. O autonomismo se difundiu pela Europa durante os anos 1970 e 1980 após o
movimento de autonomia operária na Itália na década de 1970. A Alemanha então se
tornou o país em que o movimento mais evoluiu com uma conjuntura de experiências
sociais em que certos grupos passaram a viver de uma maneira oposta ao modo de
vida imposto pelo sistema capitalista, desenvolvendo uma forma alternativa de
sociabilidade em meio à própria sociedade capitalista, porém renegando os valores
dominantes impostos.

O movimento "Autonomen" da Alemanha Ocidental se formou no final da década


de 1970 com grupos que se organizaram contra a construção de usinas nucleares,
criando acampamentos nos locais onde as centrais seriam feitas.4 Quando estes
acampamentos surgiram em grandes cidades do país, jovens que sentiam
marginalizados passaram a ocupar espaços vazios transformando-os em moradias
coletivas. Essas ocupações urbanas e os movimentos antinucleares se tornaram
fatores fundamentais do movimento autonomista alemão. O desenvolvimento destas
ocupações autônomas, no seio da própria sociedade capitalista, questionava a ordem
dominante na prática, vivendo em uma sociabilidade contrária a que predomina ao seu
redor.

O governo da Alemanha resolveu logo tomar providências quando os


acampamentos começaram a se propagar pelo país. Então, criaram uma forte ofensiva
policial contra as ocupações urbanas em 1980, em várias áreas do país. Os principais
centros autonomistas passaram a sofrer constantes ataques policiais. Manifestantes

4
DUPUIS-DÉRI, Francis. 2013
passaram a se organizar contra a repressão desta ofensiva para proteger as
ocupações. Diante deste empenho, surgiu o black bloc.

Um grupo de manifestantes se juntou nos protestos de Primeiro de Maio em


Frankfurt, em 1980, usando roupas pretas e rostos cobertos com capacetes ou outros
equipamentos para se proteger da ofensiva policial. Por conta deste visual, a mídia os
chamou de "Schwarzer Block" ("Bloco Negro", em alemão). A partir daí, blocos negros
se tornaram comuns nos movimentos autonomistas alemães, servindo de escudo e
resistência aos ataques policiais.5 Estes manifestantes conseguiram desenvolver um
sistema mais aprimorado de autodefesa. É importante entender que essa formação não
se tratava da criação de uma organização formal, ela simplesmente agiu como um
grupo coeso com um objetivo imediato de criar uma força de luta de rua temporária.
(MASSOT, Xavier 2010:10)

Fetichização do termo

A ignorância sobre o tema é percebida logo na maneira da imprensa tradicional


e da opinião pública descreverem a tática black block. É comum ver em reportagens e
artigos a definição como "grupo", "organização fortemente articulada", que "tem uma
liderança desconhecida". Por isso, precisamos nos livrar da fetichização do termo.

A tática black bloc (bloco negro, em português) consiste apenas em militantes


que resolvem se vestir com roupas pretas, com os rostos cobertos para que não sejam
identificados e perseguidos por forças opressivas. Essa maneira de se manifestar nada
tem a ver com participar de algum movimento organizado, é somente uma tática de
luta. Suas particularidades em relação ao enfrentamento direto com a polícia e o
anonimato são pontos que estabelecem diferenças entre o black bloc e outras formas
de expressão, mas ainda assim, não podemos confundi-los com uma organização.

5
FIUZA, Bruno. "Black Blocs: A origem da tática que causa polêmica na esquerda", 2013.
Temos, então, que entender os métodos do bloco negro, e para tanto é preciso saber
de seu contexto social, histórico e político.6

Da Europa para Seattle

A estratégia black bloc se propagou pela Europa e no final dos anos 1980,
surgiu nos Estados Unidos, mais precisamente em 1988, quando um grupo adotando a
tática protestou contra o financiamento norte-americano de esquadrões da morte em El
Salvador. (MASSOT, Xavier 2010:34) A tática foi bastante difundida por meio de grupos
antirracismo e da música anarcopunk. Correntes anarquistas espalharam a ideia do
bloco negro, convidando as pessoas a participarem da "destruição de um sistema
mundial injusto e desnecessário". (MASSOT, Xavier 2010:1)

Entretanto, o bloco negro se manteve desconhecido da maioria das pessoas,


mesmo com sua presença em manifestações durante os anos 1990. Foi em 1999 que
um black bloc repercutiu nos jornais de todo o mundo por sua ação nos protestos
contra a OMC, em Seattle. Isso aconteceu porque a partir deste episódio, outros black
blocs se organizaram para destruir símbolos do capitalismo global.

A transformação da tática pode ser entendida pelo momento vivido nos anos
1990 em que grandes marcas globais espalhavam seus logos pelo mundo inteiro,
determinando os símbolos da globalização. Assim, um ataque a uma marca global
representava um enorme apelo simbólico, denunciando o que está por trás da
publicidade poderosa, como a exploração. Portanto, foi esse momento do black bloc
que marcou profundamente a noção de que a tática adota a violência simbólica.7

6
Idem.
7
FIUZA, Bruno. "Black Blocs: A origem da tática que causa polêmica na esquerda", 2013.
Os black blocs que inicialmente se organizavam apenas para a defesa diante da
repressão policial, dali pra frente passaram a adotar uma forma de ataque, porém um
ataque contra os principais símbolos do capitalismo globalizado. Mais do que agir como
uma unidade defensiva, o bloco passou a assumir um papel ofensivo consciente de sua
atividade claramente dirigida aos alvos capitalistas. Apesar das afirmações imprecisas
da mídia corporativa, o vandalismo arbitrário nunca foi, nem é o objetivo ou prática dos
black blocs. (MASSOT, Xavier 2010:11) Para quem usa da tática, a destruição de
propriedade não é violência a menos que acabe com vidas ou cause dor em seu
processo. O pensamento é de que: violentas são as propriedades privadas
corporativistas. (NEDD, LUD 2002:56)

O Caso de Gênova

A mídia passou a utilizar o termo "black bloc" ao cobrir manifestações,


especialmente na Europa e nos Estados Unidos. A tática ganhou ainda maior
visibilidade nas manifestações contra a reunião do G8, em julho de 2001, em Gênova,
na Itália. O dia 20 de julho de 2001 foi escolhido para o Dia de Ação Global, uma
grande mobilização que tomou as ruas de Gênova com mais de 300 mil pessoas, e que
contou com o maior grupo de pessoas como black bloc até então.8 Assim como ocorreu
recentemente nas manifestações em solos brasileiros (o caso do "P2"), em Gênova,
policiais se infiltraram no protesto simulando o que seria um black bloc, além de grupos
"hooligans", participando de quebra-quebras já combinados com a polícia
anteriormente. (LUDD, NED 2002:152)

A repressão da polícia gerou grande violência que culminou na morte de um


jovem italiano, Carlo Giuliani, morador de um squat italiano, que fazia parte do black
bloc. O assassinato do ativista tornou-se um símbolo da repressão da polícia italiana,
do governo Berlusconi, do G8 e dos interesses capitalistas que eles representam.
(LUDD, NED 2002:153). Foram marcados atos de protesto em mais de duzentas

8
FIUZA, Bruno. "Black Blocs: A origem da tática que causa polêmica na esquerda", 2013.
cidades pelo mundo (inclusive algumas no Brasil) contra a repressão ocorrida em
Gênova e a morte de Giuliani.

O acontecido em Gênova marcou de vez a tática black bloc inserido no


"movimento antiglobalização". Também foi um momento especial de criminalização do
black bloc por parte das autoridades. Além disso, parte dos manifestantes liberais e da
esquerda institucionalizada (como sindicatos, ONGs e partidos) passaram a intensificar
suas críticas ao bloco negro. As discussões sobre o uso de ataques em manifestações
tomaram forma. De um lado, os manifestantes "pacíficos" e do outro, os "violentos",
criando uma desmobilização política no movimento. Ao fim dos grandes protestos
antiglobalização, a discussão perdeu o foco da mídia, no entanto, a tática foi mantida
em outros protestos pela Europa e Estados Unidos posteriormente.9

Contradição nas mobilizações

Para Francis Dupuis-Déri, cientista político que estuda o black bloc, são diversos
os fatores que explicam a revolta dos manifestantes. Muitos ativistas culpam o
neoliberalismo como responsável pela desigualdade no mundo. Soma-se a isso à
noção transmitida pelas grandes cúpulas internacionais de que somente uma pequena
parcela da elite domina os negócios globais e que, portanto, há um problema de falta
de democracia no mundo. Além disso, nos últimos anos só tem crescido a repressão
aos movimentos sociais no mundo inteiro10. A revolta popular é, então, uma resposta
às injustiças e à repressão. A estratégia da violência é interpretada como uma reação
mais direta, daqueles que acreditam que protestos pacíficos e calmos não são capazes
de alterar a ordem vigente.

9
FIUZA, Bruno. "Black Blocs: A origem da tática que causa polêmica na esquerda", 2013.
10
DUPUIS-DÉRI, Francis. 2013
Slavoj Zizek chama o momento atual de "estado de urgência econômica
permanente", em que instituições financeiras e poderes públicos buscam resolver os
problemas do sistema capitalista a partir de seus próprios interesses. Nessas
condições, Zizek pergunta: como não propor uma contraofensiva? Para ele, com o
desarranjo do estado de bem-estar social nas economias desenvolvidas, surge a hora
da verdade para os intelectuais radicais de propor uma grande mudança.11

Atualmente, podemos observar de perto, no Brasil, o debate da participação de


black blocs em protestos. Eles são frequentes alvos da mídia e da opinião pública,
principalmente após os protestos de junho. No resto do mundo, essa falta de apoio não
é diferente. Muitas formas de organização progressistas pelo mundo denunciam a
participação de black blocs como "infiltrados" no movimento com o objetivo de "quebra-
quebra". Nos protestos de junho, no Brasil, o bloco negro foi logo repreendido pelas
forças policiais de maneira violenta. Não diferente no resto do mundo, que também
contou com forte repressão, prisões não justificáveis e leis que proíbem o uso de
máscaras. Muitos setores da esquerda condenam a "violência" buscando garantir uma
imagem respeitável, justificando a repressão da dissidência.

Dupuis-Déri aponta que isso foi perceptível em mobilizações desde 1999, em


Seattle, até 2010, no encontro do G20 em Toronto, Canadá. Todavia, o cientista
político observa que as forças progressistas não obtiveram ganhos nos últimos anos e,
enquanto isso, a direita se manteve na ofensiva, desarticulando movimentos sociais
críticos à ordem atual. Para ele, algumas vezes a esquerda institucional necessita do
radicalismo da extrema-esquerda para atuar com maior vigor no âmbito político. Ele
destaca um episódio em Turim, na Itália, em que um grupo de manifestantes aplaudiu
um porta-voz que disse "somos todos black blocs". Dupuis-Déri acrescenta ainda que é
comum testemunhos de militantes que não adotam o black bloc, mas que são
favoráveis a tática, inclusive por já terem sido protegidos por eles diante da violência
policial.12

11
ZIZEK, Slavoj. 2010
12
DUPUIS-DÉRI, Francis. 2013
Considerações Finais

Analisando os recentes ocorridos no Brasil diante da participação de black blocs,


notamos que há muito em comum com o que já foi passado na Europa. Seja no Brasil
ou no resto do mundo, notamos uma incompreensão mútua entre esferas da esquerda
e participantes do black bloc que impossibilitam sua aproximação. Há uma
desconfiança entre as partes militantes que, apesar de compartilhar de muitos ideais,
não conseguem aproveitar as oportunidades de ação a partir da grande mobilização
gerada nos protestos, que poderiam abrir um debate político inédito. O diálogo aberto
entre ambos os lados poderia promover uma cooperação para o trabalho em prol de
causas que os unem.13 De acordo com Zizek, vivemos um momento histórico em que
precisamos nos unir e agir sem demora, antes que nossa inércia promova
consequências terríveis.14

13
FIUZA, Bruno. "Black Blocs: A origem da tática que causa polêmica na esquerda", 2013.
14
ZIZEK, Slavoj. 2010
Bibliografia:

DUPUIS-DÉRI, Francis. Entrevista com a Rede Brasil Atual. "Black blocs são
politizados expressam revolta contra injustiças sociais". Rede Brasil Atual, 28 de
outubro de 2013. Disponível
em: http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2013/10/black-blocs-sao-politizados-e-
expressam-revolta-contra-injusticas-sociais-1922.html Acesso em: 30/10/2013

FIUZA, Bruno. "Black Blocs: A origem da tática que causa polêmica na esquerda".
Viomundo. 8 de outubro de 2013. Disponível
em: http://www.viomundo.com.br/politica/black-blocs-a-origem-da-tatica-que-causa-
polemica-na-esquerda.html Acesso em: 30/10/2013

LUDD, Ned (org.). "Urgência das Ruas, Black Bloc, Reclaim The Streets e os Dias
de Ação Global". Coletivo Baderna, 2002. Disponível
em: http://www.slideshare.net/IgorDuarte2/urgncia-da-ruasnedludd Acesso em:
30/10/2013

VAN DEUSEN, David; MASSOT, Xavier. (Eds.) “The Black Bloc Papers”. Shawnee
Mission, Kansas. Breaking Glass Press, 2010. Disponível
em: http://www.infoshop.org/amp/bgp/BlackBlockPapers2.pdf Acesso em: 30/10/2013

ZIZEK, Slavoj. “Un Permanente Estado de Excepción Economica” in New Left


Review, nº64, 2010, pp.80-89. Disponível
em: http://newleftreview.es/search/hybrid?query=zizek Acesso em: 17/07/2013.

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