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DESAGREGAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO SOCIAL E PRODUTIVA

DO ASSENTAMENTO CARLOS MARIGHELA-RS: UM ESTUDO DE CASO


Acad. Sérgio Botton Barcellos - Mestrando CPDA/UFRRJ
Orientador - Prof. Dr. Raimundo N. Santos

INTRODUÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO mediadores, como no caso, pelo MST.


Objeto e Objetivos No entanto, a própria dinâmica interna dos assentamentos é, em si mesmo, um
desafio para a materialização de propostas, como as coletivizadoras, considerando
Esse trabalho tem como proposta central analisar de que forma ocorreu o proces- se tratar de um espaço social onde os agentes e grupos são definidos pelas suas po-
so de desintegração nos aspectos relativos à gestão do trabalho e vida social, em um sições relativas, sendo que os interesses que daí resultam podem ser contraditórios
assentamento organizado de forma coletiva, considerado “modelo” pelo Movimento e conflituosos (Bourdieu, 1989, p. 134).
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), na Região Central do Rio Grande do Sul Corroborando nessa perspectiva, Zimmermann (1994, p. 205), descreve que os
(RS), o assentamento Carlos Marighela. Localizado no município de Santa Maria, trata assentamentos rurais em relação à suas dinâmicas sociais são considerados “(...)
-se de um assentamento implantado oficialmente no ano de 2000 por um conjunto de um espaço de relações sociais onde as características heterogêneas individuais, ho-
25 famílias provenientes de variados locais do RS. Desde o seu início, esse assenta- mogeneizadas no processo de luta pela terra, ressurgem em novas bases. No cotidi-
mento foi pensado como um espaço para a realização de uma experiência de trabalho ano desses espaços, diferentes formas organizativas de produção agropecuária e
e vida coletiva, por meio da formação de uma cooperativa de produção agropecuária social são criadas e recriadas, numa dinâmica rica de situações, impasses e enfren-
(CPA) e tendo suas atividades produtivas baseadas nos princípios da agroecologia. tamentos”. Da mesma maneira, Ferrante (1994) parece identificar processos pareci-
Contudo, mesmo tendo certo sucesso em seus primeiros anos, no ano de 2006, dos, quando afirma que, no processo de luta pela terra “todos os demandantes” se
depois de ter passado por algum tempo de crise, esse assentamento passou por uma põem como iguais, mas isso não implicaria em “ver na terra o mesmo projeto”.
reestruturação profunda, no qual, inclusive, foi desintegrado seu sistema de organiza-
ção social e de produção agropecuária coletiva. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo não tem como proposta esgotar a análise dos aspectos que desencade- Resultados obtidos
aram o processo de implantação e desagregação do sistema produtivo do assenta-
Após a análise acima, pode-se afirmar que a desagregação da gestão coletiva de
mento estudado, mas procura elucidar questões fundamentais a esse processo em es-
no assentamento Carlos Marighela foi influenciada em grande medida pelas decep-
pecífico.
ções com os resultados econômicos , os quais fragilizaram a organização social cole-
tiva local. A crise do modelo cooperativista e de coletivização social no MST, a partir
METODOLOGIA dos anos de 1990, em consonância com um conjunto fatores de ordem externa
(conjuntura política e econômica) e interna (sociabilidades e vivências das famílias),
A metodologia que norteou essa pesquisa foi a análise qualitativa e descritiva, em a esse assentamento, que chegam ao ápice no ano de 2006, predisporam a desa-
virtude do objeto de pesquisa ser histórico, contraditório e marcado por conflitos soci- gregação do sistema coletivo nesse caso. Esse processo caracterizou-se pela divi-
ais, buscando compreender como se deu a desagregação da organização social e da são dos lotes em unidades familiares, a opção pelo trabalho familiar-individual e pelo
produção coletiva no assentamento Carlos Marighela. Procurou-se desenvolver uma uso não mais rotineiro da área de convívio comunitário do assentamento.
análise que rompa com uma perspectiva: fracasso X sucesso (Demo, 1995). Outro fator que vale ser destacado também remete à ausência de mediadores téc-
Os procedimentos de pesquisa utilizados para estruturar essa análise foram a ob- nicos e políticos que auxiliassem na compreensão e administração das dificuldades
servação participante (Becker, 1999) e entrevistas semi-estruturadas (Marradi, 2007) sócio-técnicas inerentes ao processo de constituição dos assentamentos e respecti-
no período de 2005 a 2007, o que permitiu levantar algumas questões peculiares a es- vamente uma matriz produtiva, ainda por cima de base agroecológica e de organiza-
se caso e outras comuns a experiências pesquisadas em diversos estudos acadêmi- ção coletiva. Esses mediadores aqui referidos seriam tanto as entidades governa-
cos elaborados anteriormente . mentais (EMATER e INCRA, por exemplo), que deveriam atuar junto ao assentamen-
to estudado, quanto à direção estadual do MST-RS (naquela época).
PROBLEMATIZAÇÃO Destaco que de forma alguma foi buscado encerrar uma compreensão acerca
dessa problemática em relação a esse caso. Pois, acredito que a desagregação da
Em conversas e visitas realizadas junto aos assentados eram corriqueiras manifes-
organização coletiva no assentamento Carlos Marighela não significa o fracasso de
tações demonstrando um sentimento de desmotivação e descrédito em relação à via-
uma experiência inovadora que pretendia efetivar a gestão coletiva e a aplicação dos
bilização das atividades coletivas no assentamento no período de emergência dos de-
princípios da agroecologia como eixos balizadores de um novo modelo de assenta-
sentendimentos e conflitos. Alguns dos principais fatores alegados para explicar este
mento. Apenas, significa que não houveram as condições econômicas, técnicas
“desânimo” eram relativos às dificuldades do coletivo em: saldar dívidas referentes a
(relativas ao sistema agropecuário) e políticas objetivas necessárias e capazes de
financiamentos obtidos para compra de equipamentos e construção de benfeitorias;
administrar os desafios impostos à gestão coletiva nessa situação.
baixa rentabilidade financeira por família; pouca mão-de-obra para realização de ativi-
dades cotidianas de organização, trabalho na produção agropecuária e construção de REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
instalações; exposição midiática de forma “negativa” do assentamento nos meios de
BECKER, Howard S. Métodos de Pesquisa em Ciências Sociais. Trad.: Marco Estevão, Renato Agui-
comunicação do município e divergências na forma como eram administradas, em es- ar. 4o ed. São Paulo: Hucitec, 1999.
pecial, as finanças coletivas do assentamento. BOURDIEU, P. O Poder Simbólico. Trad.: Tomas, Fernando. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.
DEMO, Pedro. (1995). Metodologia em Ciências Sociais. 30 ed. São Paulo: Atlas.
Com esse foco de análise, parte-se do princípio de que o estudo da organização so- FERRANTE, Vera Lúcia B. (1994). Diretrizes Políticas dos Mediadores: Reflexões de Pesquisas. In:
cial e produtiva nos assentamentos, além de considerar a dimensão e viabilização e- Medeiros, L. S. et al. (org.) Assentamentos Rurais: Uma visão Multidisciplinar. São Paulo: Editora Univer-
sidade Estadual Paulista.
conômica, deve assinalar as relações sócio-políticas entre os agentes sociais envolvi- MARRADI, Alberto. Metodologia de las ciências sociales – Alberto Marradi, Nélida Archenti, Juan Iná-
dos. Devido a complexidade das dinâmicas sociais nesses espaços que várias pro- cio Piovani – 1.ª Ed. – Buemos Aires: Emecé Editores, 2007.
ZIMMERMANN, Neusa de Castro. Os Desafios da Organização interna de um Assentamento Rural.
postas de viabilização dos assentamentos são elaboradas, principalmente pelos In: MEDEIROS, L. S. et al. (org.) Assentamentos Rurais: Uma visão Multidisciplinar. São Paulo: Editora
Universidade Estadual Paulista, 1994.

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