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Escola Estadual de

Educação Profissional - EEEP


Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

Curso Técnico em Secretariado

Técnicas de Redação
Governador
Cid Ferreira Gomes

Vice Governador
Francisco José Pinheiro

Secretária da Educação
Maria Izolda Cela de Arruda Coelho

Secretário Adjunto
Maurício Holanda Maia

Secretário Executivo
Antônio Idilvan de Lima Alencar

Assessora Institucional do Gabinete da Seduc


Cristiane Carvalho Holanda

Coordenadora de Desenvolvimento da Escola


Maria da Conceição Ávila de Misquita Vinãs

Coordenadora da Educação Profissional – SEDUC


Thereza Maria de Castro Paes Barreto
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SUMÁRIO

Interpretação e produção de texto – Elementos de leitura e escrita............................................................ 02


A Leitura como fonte de conhecimento e participação na sociedade.......................................................... 05
Preconceito linguístico, o português no mundo e o novo acordo ortográfico ............................................... 11
As diferentes linguagens: Verbal e Não-verbal ............................................................................................ 21
Noções de texto: unidade de sentido ........................................................................................................... 26
Estilos e Gêneros discursivos ...................................................................................................................... 34
Estratégias de articulação do texto: coesão lexical e gramatical................................................................. 44

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INTERPRETAÇÃO E PRODUÇÃO DE TEXTO

UNIDADE 1: ELEMENTOS DE LEITURA E ESCRITA

O REI E O SAPATEIRO
Um rei muito bom, dotado de excelente coração, costumava sair sozinho e
disfarçado, pelas ruas da cidade, a fim de poder bem apreciar as necessidades
de seu povo.
Uma vez, ao passar por uma rua, ouviu alguém cantando:
Ribeiros correm pro rio,
Os rios correm pro mar.
Quem nasceu para ser pobre
Não lhe vale trabalhar.
O rei parou, observou a casa e indagou quem nela residia.
Era um pobre sapateiro, honesto e trabalhador, cheio de filhos, que vivia na
maior miséria possível.
Sua majestade tomou nota do número e da rua.
No dia seguinte, mandou preparar pelo seu cozinheiro, um saboroso bolo, que
encheu de moedas de ouro e fez leva-lo ao sapateiro.
Na outra tarde, passando pela mesma rua, escutou a mesma cantiga:
Ribeiros correm pro rio,
Os rios correm pro mar.
Quem nasceu para ser pobre
Não lhe vale trabalhar.
O rei entrou e fritou para o sapateiro:
- Esta cantiga é mentirosa, ou tu não dizes o que pensas! Onde está o bolo que
te mandei ontem cheio de moedas?
- Oh! Real Senhor, eu não sabia! Devendo muitos favores a um amigo, enviei-
lhe de presente.
Então o rei fê-lo acompanhar ao palácio.

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Aí, mandou encher um saco com ouro e despedi-o.


O sapateiro voltava alegremente para a casa, quando, de súbito, caiu morto,
fulminado pela comoção.
Transportaram-no para o necrotério e acharam-lhe um papel na mão.
O delegado de polícia abriu-o e leu:
Eu para pobre o criei
Tu rico fazê-lo queres
Agora aí o tens morto
Dá-lha a vida se puderes.
(PIMENTEL, Figueiredo. Histórias da Baratinha. Rio de Janeiro, Livraria
Garnier, 1994).
AS VÁRIAS FORMAS DE LER:
 LER NAS LINHAS: Identificação e recuperação de informações:
questões que envolvem reconhecimento literal.
 LER ENTRE AS LINHAS: Interpretação: questões que envolvem
inferência e integração dos segmentos do texto.
 LER POR TRÁS DAS LINHAS: Reflexão: questões que envolvem
avaliação e julgamento.

AS POSSÍVEIS PERGUNTAS SEGUNDO AS FORMAS DIFERENTES DE


LEITURA:
 LER NAS LINHAS: Reconhecimento literal:

1. Para onde correm os ribeiros?


2. Para onde correm os rios?
3. O que acontece a quem nasceu para ser pobre?

 LER ENTRE AS LINHAS: Inferência e integração dos segmentos do


texto:

1. Que paralelismo é possível estabelecer entre os primeiros versos?


2. Indique a gradação presente na primeira parte da trova.
3. Como relacionar os dois primeiros versos da trova com os dois últimos?

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 LER POR TRÁS DAS LINHAS: AVALIAÇÃO E JULGAMENTO

1. O texto relaciona fenômenos da natureza a fenômenos de ordem social.


Que visão de mundo essa associação revela?
2. Você concorda com essa visão de mundo? Justifique sua opinião.
3. Mário de Andrade afirmou em um de seus artigos que não havia nada
mais estagnado que os provérbios. Comente a afirmação do autor.

EXEMPLOS DE PROVÉRBIOS:
“A quem sabe esperar, o tempo abre as portas”.
“Bondade em balde é devolvida em barril”.
“Quem quer colher rosas, deve suportar espinhos”
“Nada se assenta melhor ao corpo que o crescimento do espírito”.
“Quem a si próprio elogia não merece crédito”.

TÉCNICAS DE LEITURA E ESCRITA:


No processo de construção de sentido do texto é preciso considerar:
- o contexto em que o texto foi produzido;
- quem o escreveu;
- para quê;
- por quê;
- qual a discussão estabelecida pelo texto;
- o que está por trás do texto, incluindo os aspectos ideológicos;
- qual o tipo do texto;
- para que serve;
- como se estrutura;
- quais elementos lha dão coesão;
- como se estabelece a coerência;
- por que um determinado tempo verbal;

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- por que uma pontuação específica;


- por uma e não outra palavra.
ALGUMAS HABILIDADES NECESSÁRIAS PARA A LEITURA
- Habilidade de decodificar;
- Habilidade de captar significados;
- Capacidade de interpretar sequência de ideias ou eventos;
- Fazer analogias e relações complexas, estabelecer comparações, reconhecer
linguagem figurada, anáforas, catáforas etc;
- Habilidade de fazer previsões iniciais quando necessário;
- Habilidade de Inferir;
ALGUMAS HABILIDADES NECESSÁRIAS PARA A ESCRITA:
- Habilidade de transcrever a fala via ditado;
- Habilidades cognitivas e metacognitivas;
- Habilidade motora;
- Habilidade de fazer uso adequado da ortografia, pontuação e da gramática;
- Habilidade de selecionar informações sobre um determinado assunto;
- Habilidades de estabelecer metas para a escrita:
- Habilidades de organizar as ideias utilizando elementos de coesão e
coerência;
- Habilidades de utilizar diferentes gêneros textuais;
- Habilidade de checar a própria produção.
UNIDADE 2: A LEITURA COMO FONTE DE CONHECIMENTO E
PARTICIPAÇÃO NA SOCIEDADE
O texto e sua relação com a história
Pré-questionamento:
1- O texto a seguir pronuncia elementos que tenham relação com a realidade?
Por quê?
Todos conhecem as aventuras de Super-homem. Ele não é um terráqueo, mas
chegou à Terra, ainda criança, numa nave espacial, vindo de Crípton, planeta
que estava para ser destruído por uma grande catástrofe. É dotado de poderes
sobre-humanos; seus olhos de raio X permite ver através de quaisquer corpos,
a uma distância infinita; sua força é ilimitada, possibilitando-lhe escorar pontos
prestes a desabar e levantar transatlânticos; a pressão de suas mãos submete

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o carbono a temperaturas tão altas que o transforma em diamante; sua


apurada audição permite-lhe escutar o que se fala em qualquer ponto. Pode
voar a uma velocidade igual à da luz e, quando ultrapassa essa velocidade,
atravessa a barreira do tempo e transfere-se para outras épocas; pode perfurar
montanhas com o próprio corpo; pode fundir metais com o olhar. Além disso,
tem uma série de qualidades: beleza, bondade e humildade. Sua vida é
dedicada à causa do bem.
O Super-homem vive entre os homens sob a aparência de Clark Kent, que é
um tipo medroso, tímido, pouco inteligente, míope. Clark Kent namora Miriam
Lane, sua colega, que, na verdade, o despreza e ama loucamente o Super-
homem.

A relação do texto com a história/realidade


Todo texto é um pronunciamento sobre uma dada realidade. Ao fazer esse
pronunciamento, o produtor do texto trabalha com as ideias de seu tempo e da
sociedade em que vive. Com efeito, as concepções, as ideias, as crenças, os
valores não são tirados do nada, mas surgem das condições da existência. As
concepções racistas, por exemplo, aparecem em uma época em que certos
países, necessitando de mão-de-obra, iniciam a escravidão dos negros. A ideia
de que certas raças são inferiores e outras não é uma maldade dos brancos,
mas uma justificativa apaziguadora da consciência dos senhores de escravos.
Essas concepções ganham um impulso maior quando os países europeus,
precisando de matérias-primas, iniciam o processo de colonização da África e
da Ásia. A colonização é, assim, justificada por um belo ideal: expandir a
civilização.
Todo texto assimila as ideias da sociedade e da época em que foi produzido.
Neste momento, você poderia estar dizendo que o texto do Super-homem
prova exatamente o contrário, pois nada tem ele a ver com a realidade
histórica, onde não existem super-homens. Quando se afirma que os textos se
relacionam com a história, não se quer dizer que eles narram fatos históricos
de um país, mas que revelam os ideais, as concepções, os anseios e os
temores de um povo numa determinada época. Nesse sentido, a narrativa do
Super-homem mostra os anseios dos homens das camadas médias da
sociedades industrializadas do século XX, massacrados por um trabalho
monótono e por uma vida sem qualquer heroísmo. Esse homem mediocrizado
e inferiorizado, nutre a esperança de tornar-se um ser todo poderoso assim
como Clark Kent, que se transforma em Super-homem. As condições de
impotência do homem diante das pressões sociais geram um ideal de
onipotência refletido na narrativa do Super-homem.
Além disso, as concepções da sociedade em que esse texto foi produzido
estão presentes na ideia de Bem.
Como nota Umberto Eco, autor italiano, um indivíduo dotado dos poderes do
Super-homem poderia acabar com a fome, a miséria e as injustiças do mundo.
No entanto ele não faz nada disso. Ao contrário, o bem que pratica é a

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caridade, e o mal que combate é o atentado à propriedade privada. Lutar


contra o mal é assim combater os ladrões. Dedica sua vida a isso.
Cabe lembrar que a sociedade não produz uma única forma de ver a realidade.
Como ela é dividida por interesses antagônicos dos diferentes grupos sociais,
produz ideias contrárias entre si. A mesma sociedade que gera ideias racistas
produz ideias anti-racistas. Por isso constroem-se nessa sociedade textos que
fazem pronunciamentos antagônicos com relação aos mesmos dados da
realidade.
Há algumas ideias que predominam sobre suas contrárias numa determinada
espoca. Elas refletem os interesses dos grupos sociais dominantes. Fazer uma
reflexão pessoal é analisar essas ideias de maneira crítica, verificando até que
ponto elas têm apoio na realidade.
Analisar as ideias presentes num texto é estudar o diálogo entre textos, em que
um assimila ou registra as ideias presentes nos outros.
ATIVIDADES:
Faça uma análise dos ideais e concepções presentes nos textos a seguir
relacionando-o com a história.

Texto 1:
APESAR DE VOCÊ – Chico Buarque

Hoje você é quem manda, falou, tá falado, não tem discussão, não

A minha gente hoje anda falando de lado e olhando pro chão, viu

Você que inventou esse estado e inventou de inventar toda a escuridão

Você que inventou o pecado esqueceu-se de inventar o perdão

Apesar de você, amanhã há de ser outro dia

Eu pergunto a você onde vai se esconder da enorme euforia?

Como vai proibir quando o galo insistir em cantar?

Água nova brotando e a gente se amando sem parar

Quando chegar o momento, esse meu sofrimento vou cobrar com juros, juro

Todo esse amor reprimido, esse grito contido, esse samba no escuro

Você que inventou a tristeza, ora, tenha a fineza de desinventar

Você vai pagar e é dobrado cada lágrima rolada nesse meu penar

Apesar de você, amanhã há de ser outro dia

'Inda pago pra ver o jardim florescer qual você não queria

Você vai se amargar vendo o dia raiar sem lhe pedir licença

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E eu vou morrer de rir, que esse dia há de vir antes do que você pensa

Apesar de você

Apesar de você, amanhã há de ser outro dia

Você vai ter que ver a manhã renascer e esbanjar poesia

Como vai se explicar vendo o céu clarear de repente, impunemente?

Como vai abafar nosso coro a cantar na sua frente?

Apesar de você

Apesar de você, amanhã há de ser outro dia Você vai se dar mal, et cetera e tal, laraia, laraia.

Fonte: http://chicobuarque.uol.com.br/letras/notas/n_apesarde.htm

Texto 2: (França, após 1789 – Revolução Francesa)


O funcionário público, acima de tudo, deve desfazer-se da roupagem antiga e
abandonar a polidez forçada, tão inconsistente com a postura de homens
livres, e que é uma relíquia do tempo em que alguns homens eram ministros e
outros, seus escravos. Sabemos que as velhas formas de governo já
desapareceram: devemos até esquecer como eram. As maneiras simples e
naturais devem substituir a dignidade artificial que frequentemente constituía a
única virtude de um chefe de departamento ou outro funcionário graduado.
Decência e genuína seriedade são os requisitos exigidos de homens dedicados
à coisa pública. A qualidade essencial do Homem na Natureza consiste em
ficar de pé. O jargão ininteligível dos velhos ministérios deve dar lugar ao estilo
claro, conciso, isento de expressões de servilismo, de formas obsequiosas,
indiretas e pedantes, ou de qualquer insinuação no sentido que existe
autoridade superior à razão e à ordem estabelecida pelas leis - um estilo que
adote atitude natural em relação às autoridades subalternas. Não deve haver
frases convencionais, nem desperdício de palavras.
Apud Lassewell. Harold & Kaplan, Abrahm. A linguagem da política. Brasília,
EUB, 1979. P. 43.
Níveis de leitura de um texto
Ao primeiro contato com um texto qualquer, por mais simples que ele pareça,
normalmente o leitor se defronta com a dificuldade de encontrar unidade por
trás de tantos significados que ocorrem na sua superfície.
Quando temos um bom texto, por trás do aparente caos, há ordem. Quando
após várias leituras, encontra-se o foi condutor, a primeira impressão de
desorganização cede lugar à percepção de que o texto tem harmonia e
coerência.
Vejamos os níveis de leitura no seguinte texto:
O galo que logrou a raposa
Um texto da nova série aprendendo com os bichos:

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Um velho galo matreiro, percebendo a aproximação da raposa, empoleirou-se


numa árvore. A raposa, desapontada, murmurou consigo: "Deixe estar, seu
malandro, que já te curo!..." E em voz alta:

- Amigo, venho contar uma grande novidade: acabou-se a guerra entre os


animais. Lobo e cordeiro, gavião e pinto, onça e veado, raposa e galinhas,
todos os bichos andam agora aos beijos, como namorados. Desça desse
poleiro e venha receber o meu abraço de paz e amor.

- Muito bem! - exclama o galo. Não imagina como tal notícia me alegra! Que
beleza vai ficar o mundo, limpo de guerras, crueldades e traições! Vou já
descer para abraçar a amiga raposa, mas... como lá vem vindo três cachorros,
acho bom esperá-los, para que também eles tomem parte na confraternização!

Ao ouvir falar em cachorro, Dona Raposa não quis saber de histórias, e tratou
de pôr-se ao fresco, dizendo:

- Infelizmente, amigo co-co-ri-có, tenho pressa e não posso esperar pelos


amigos cães. Fica para outra vez a festa, sim? Até logo.
E raspou-se.
Contra esperteza, esperteza e meia.
(Lobato, Monteiro. Fábulas. 19 ed. São Paulo, Brasiliense, s. d. p. 47)
Num primeiro nível de leitura podemos depreender os seguintes significados:
- Um galo espertalhão, consciente de que a raposa é inimiga, coloca-se sob
proteção, fora do alcance de suas garras;
- a raposa tenta convencer o galo de que não há mais guerra entre os animais
e que se instaurou a paz;
- o galo finge ter acreditado na fala da raposa, mostra-se alegre e convida-a a
esperar três cães para que também eles participem da confraternização;
- a raposa sem negar o que dissera ao galo, alega ter pressa e vai embora.
Num segundo nível de leitura:
- um dos animais do texto (galo) dá mostra de ter consciência de que os
animais estão em guerra;
- outra personagem dá mostras de que os animais estão em estado de paz;
- no nível do fingimento, isto é, da aparência, ambos percebem ter entrado em
acordo, mas no nível da realidade, isto é, da essência os dois continuam em
desacordo.
Num terceiro nível:

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- afirmação da guerra – negação da guerra;


- afirmação da pacificação.
Tudo isso como se viu no nível do fingimento, do faz de conta. A esperteza do
galo manifestou-se exatamente no fato de ter dado a impressão de estar de
acordo com a raposa, quando na realidade continuou em desacordo e com isso
preservou sua vida.
Os três níveis como se pode notar distinguem-se um do outro pelo grau de
abstração: o primeiro nível depreende os significados mais complexos e mais
complexos; o terceiro depreende os significados mais simples e abstratos.
Desse modo podemos dizer que o texto admite três planos distintos de
estrutura:
1. Estrutura superficial: estrutura discursiva. Afloram os
significados mais concretos e diversificados. É nesse nível que se
instalam o narrador, personagem, cenário, tempo e as ações.
2. Estrutura intermediária: estrutura narrativa. É aqui onde se
defendem os valores com que os diferentes sujeitos entram em
acordo ou desacordo.
3. Estrutura mais profunda: onde ocorrem os significados mais
abstratos e simples. É nesse nível que pode se depreender dois
significados que se opõem e que garantem a unidade do texto.

ATIVIDADE: Analise os três níveis de leitura do seguinte texto:


Recado ao senhor 903
“Vizinho-
Quem fala aqui é o homem do 1003. Recebi outro dia, consternado a visita do
zelador, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava contra o barulho
em meu apartamento. Recebi depois a sua própria visita pessoal - devia ser
meia-noite – e a sua veemente reclamação verbal. Devo dizer que estou
desolado com tudo isso, e lhe dou inteira razão. O regulamento do prédio é
explícito e, se não o fosse, o senhor ainda teria ao seu lado a Lei e a Polícia.
Quem trabalha o dia inteiro tem direito ao repouso noturno e é impossível ao
903 dormir quando há vozes, passos e músicas no 1003. Ou melhor: é
impossível ao 903 dormir quando o 1003 se agita: pois, como não sei o seu
nome nem o senhor sabe o meu, ficamos reduzidos a ser dois números
empilhados entre dezenas de outros. Eu, 1003, me limito a Leste pelo 1005, a
Oeste pelo 1001, ao Sul pelo Oceano Atlântico, ao Norte pelo 1004, ao alto
pelo 1103 e embaixo pelo 903- que é o senhor. Todos esses números são
comportados e silenciosos; apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos algum
ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois apenas nos agitamos e
bramimos ao sabor da maré, de ventos e da lua. Prometo sinceramente adotar,
depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago
azul. Prometo.
Quem vier à minha casa (perdão, ao meu número) será convidado a se retirar

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às 21:45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7 pois às 8:15 deve


deixar o 783 para tomar o 109, que o levará até o 527 de outra rua, onde ele
trabalha na sala 305. Nossa vida, vizinho, está toda numerada: e reconheço
que ela só pode ser tolerável quando um número não incomoda o outro
número, mas o respeita, ficando dentro dos limites de seus algarismos. Peço-
lhe desculpas – e prometo silêncio.
...Mas que seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um
homem batesse à porta do outro e dissesse: “Vizinho, são três horas da manhã
e ouvi música em sua casa. Aqui estou.” E o outro respondesse: “Entra,
vizinho, e come de meu pão e bebe de meu vinho. Aqui estamos todos a bailar
e cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela.”
E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos do
vizinho entoando para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da
brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e
a paz.
(Rubem Braga)
UNIDADE 3: PRECONCEITO LINGUÍSTICO, O PORTUGUÊS NO MUNDO E
O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO

Teste: Certo ou Errado?


1. Para mim estudar foi difícil. (_____________________________)
2. Ela já teve duas gravidezes. (_____________________________)
3. Quando ela vir aqui darei o recado. (_______________________)
4. Os alunos têm medo de não passar de ano. (_________________)
5. Em 1955 surgiu a TV a cores. (___________________________)
6. As eleições ocorrerão a nível de município. (________________)
Pré - questionamento:
1. O que é mais importante: comunicar-se ou não cometer erros
linguísticos?
Texto para discussão:
Gerente de vendas recebeu o seguinte fax de um dos seus novos
vendedores:

“Seo Gomis o criente de Belzonte pidiu mais cuatrucenta pessa. Faz


favor toma as providenssa, Abrasso, Nirso.”
Aproximadamente uma hora depois, recebeu outro:
“Seo Gomis, os relatório di venda vai xega atrazado proque to fexando
umas venda. Temo que manda treis miu pessa. Amanhã tô xegando.

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Abrasso,
Nirso.”

No dia seguinte:
“Seo Gomis, num xeguei pucausa de que vendi maiz deis miu em Beraba. To
indo pra Brazilha. Abrasso, Nirso.”
No outro:
“Seo Gomis, Brazilha fexo 20 miu. Vo pra Frolinoplis e de lá pra Sum Paulo no
vinhão das cete hora. Abrasso, Nirso”.
E assim foi o mês inteiro. O gerente, muito preocupado com a imagem da
empresa, levou ao presidente as mensagens que recebeu do vendedor. O
presidente escutou atentamente o gerente e disse:
“Deixa comigo, que eu tomarei as providências necessárias”.
E tomou.
Redigiu de próprio punho um aviso e o afixou no mural da empresa, juntamente
com as mensagens de fax do vendedor:
“A parti de oje nois tudo vamo fazê feito o Nirso. Si priocupá menos em iscrevê
serto, mod vendê maiz. Acinado, O Prizidenti.”
Texto para análise:

Lula e a língua do povo


Josué Machado
O português falado pelo presidente do Brasil levanta debate sobre a influência
da oralidade no idioma culto e no ensino de gramática nas escolas
Na última campanha eleitoral, parece que nenhum candidato criticou outro pela
indigência formal do discurso ou por supostos erros gramaticais, embora
tivesse havido abundantes escorregões nas falas de improviso de todos eles.
Escorregões em relação à língua culta, claro. Nas gravações dos programas
eleitorais, no entanto, havia equipes filtrando bobagens agudas. Mas nos
debates brotaram "enganos" frequentes. Não houve quem não escorregasse
de vez em quando.
A maioria dos olhares e ouvidos, no entanto, estava voltada para Lula. Ele até
que se saiu bem, embora às vezes devorasse o "s" de um ou outro plural ou
escorregasse na concordância de algum verbo que aparecia antes do sujeito.
Ou pluralizasse verbos indevidamente ("Haviam problemas sérios."). Todos os
outros candidatos, aliás (como todos nós), cometeram as mesmas distrações.
Lula não repetiu coisas obscenas como as registradas em sua primeira
candidatura à presidência, em l989. Nunca mais se ouviu dele um só "menas" e
raras vezes os antes frequentes "acho de que", "penso de que", "acredito de

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que". Nem se ouviu mais o desastroso "perca" - forma verbal usada em lugar
do substantivo "perda" - pronunciado no debate com aquele senhor de olhos
esbugalhados, eleito presidente e expulso de Brasília por pilantragens
variadas. Nunca mais Lula sofreu "percas".
Na última campanha, demonstrou ter aprendido muito. E não só na forma de
expressar-se, mas também no tom contido e no domínio dos assuntos. Não se
sabe se leu muito ou se usou sua aparentemente excepcional capacidade de
aprender de ouvido. Não importa. Uma coisa desagradável em sua fala ele não
perdeu: o timbre rascante da voz agreste, apenas suavizado pelo sorriso
frequente e pela amabilidade que, pelo menos até as primeiras semanas do
governo, parecem ter aumentado sua popularidade.
As poucas críticas públicas ao suposto despreparo de Lula para governar se
concentraram no fato de ele não ter aproveitado s! eu tempo de candidato para
estudar formalmente. Por temor de que críticas diretas se voltassem contra os
próprios críticos, só nos corredores da vida e pela internet seus adversários,
sempre anônimos, faziam comentários jocosos sobre o "despreparo" dele e
divulgavam graçolas que representariam sua ignorância, principalmente
idiomática.
( Veja, 28 de fevereiro de 2004)
O português no mundo
A língua portuguesa é uma das línguas mais usadas em todo o mundo. Como
língua materna é a sexta em número de falantes, depois do chinês (mandarim),
do espanhol, do inglês, do bengali e do hindi. Sua dispersão ocorre
principalmente na região atlântica, nos países Portugal, Brasil, Angola, São
Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Guiné-Bissau; e na costa leste da África, em
Moçambique. No extremo oriente, é falada no Timor Leste e na Região
Administrativa Especial de Macau no Território Chinês. Essa dispersão teve
início no século XVI com a expansão marítima portuguesa.
Atualmente, é falada por quase 200 milhões de pessoas em todo o mundo,
como língua oficial. Apesar dessa abrangência, a língua portuguesa mantém
suas características básicas em todas as regiões.
Algumas poucas variações manifestam-se de uma forma mais evidente.
Podem ocorrer no léxico, por exemplo:
Angola Portugal Brasil
rebuçado rebuçado bala
maximbombo autocarro ônibus
chuinga pastilha elástica chiclete
muceque bairro de lata favela

É o léxico, normalmente, que é mais sujeito às diferenças perceptíveis entre as


variações das línguas. Suas origens denunciam as tendências de seus

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falantes. Entre Brasil e Portugal, as diferenças lexicais são as que melhor


caracterizam essas tendências, por exemplo, no campo da informática. No
Brasil, usamos os termos ingleses mouse e site (leia-se “mause” e “saite”,
respectivamente) e em Portugal usam-se suas traduçãos literais rato e sítio;
aportuguesamos a grafia e a pronúncia inglesa em clique, em Portugal, optou-
se por uma palavra já existente no português: premir. Foram feitas opções
diferentes para o que era screen em inglês: em Portugal optou-se por ecrã, que
teve sua origem no francês écran, e no Brasil optamos por tela.

Mas não é somente no léxico que as variações mais salientes se manifestam.


Há também aquelas que dificultam a compreensão imediata do que ouvimos:
são as variações prosódicas, que ocorrem, por exemplo, na velocidade ou no
ritmo da fala, ou variações fonéticas, que ocorrem quando os sons que
ouvimos são diferentes daqueles que esperávamos ouvir em determinadas
palavras. Em Portugal, fala-se muito mais rapidamente do que no Brasil, tendo-
se não raras vezes a nítida impressão de que as palavras não foram
pronunciadas inteiras: uma palavra como universidade, muito facilmente será
ouvida como “nibrisidad”. Também palavras como socorro, solução e tencionar,
ouviremos “sucorro”, “sulução” e “tenciunar”. Mais estranho para os falantes
brasileiros é entender que mãe e além, como na quadrinha abaixo, podem
fazer uma rima.
Minha terra não é aqui
Minha terra é mais além
Minha terra é Teixeira
Onde mora minha mãe1

Há variações menos perceptíveis que, nem sempre, dificultam a compreensão


entre os falantes. Por exemplo, no português falado no Brasil, usamos com
muita frequência expressões como estou falando, estão ouvindo; em Portugal,
isso seria dito como estou a falar e estão a ouvir. No Brasil, diríamos ninguém
protestou contra a iniciativa; em Moçambique diriam ninguém protestou a
iniciativa.1 São variações que envolvem aspectos linguísticos que não têm a
mesma saliência do léxico e da fonética. No entanto atingem, na maior parte
das vezes, aspectos fundamentais da estrutura das línguas. Não há como fazer
prognósticos e definir que daqui a alguns séculos a língua portuguesa terá se
dividido em outras tantas línguas. Podemos apenas afirmar que, atualmente,
há variação no uso da língua portuguesa nos diversos países em que ela é
falada, mas que ela é a mesma língua para todos.
O português no Brasil
No século XVI, quando chegaram ao Brasil, os portugueses encontraram
muitas comunidades indígenas falantes de línguas muito diferentes da língua
portuguesa. Na maior parte do litoral, essas comunidades falavam línguas que
pertenciam à família linguística tupi-guarani. Principalmente eram faladas as
línguas tupinambá e carijó. Nos primeiros séculos da história do Brasil, o
número de falantes dessas línguas indígenas nas regiões ocupadas pelos
portugueses era muito maior do que o de falantes do português. Assim, a

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opção dos portugueses fora a de usar as línguas majoritariamente faladas


nessas regiões.
Também os nascidos na colônia — mamelucos, filhos de portugueses com
índias — falavam a língua de suas mães.
Apesar dessa característica, no correr dos séculos, a influência portuguesa,
bem como a manutenção de portugueses em posições-chave da
administração, provocou a primazia do uso da língua portuguesa em
praticamente todos os centros administrativos da colônia. Isso não significa que
a língua portuguesa tenha ficado incólume desse período de bilinguismo, nem
que a presença maciça de negros-africanos com suas línguas particulares não
tenha deixado marcas frequentes na língua portuguesa. Ao contrário, o
português que hoje se fala no Brasil é o resultado do português falado em
Portugal, principalmente com as contribuições indígenas e africanas do período
colonial.
Novamente é no léxico que a contribuição das línguas indígenas e das línguas
africanas pode ser mais facilmente notada.
Palavras de origem indígena Palavras de origem africana
coroca cachimbo
cutucar candango
jururu moleque
peteca muxoxo
pipoca quiabo

No Brasil, não estão muito claras quais foram as contribuições das línguas
indígenas, especialmente da família linguística tupi-guarani, e das línguas
africanas, especialmente do grupo banto e do iorubá.
As vias de entrada e de domínio dos portugueses na colônia foram as
principais fontes da diversidade da língua. É de se salientar que durante todo o
período colonial havia pouca comunicação entre os centros administrativos.
Assim, nem sempre o que ocorria no norte, Macapá, Belém ou São Luís, era
conhecido no Recife, em Salvador e, menos ainda, no Rio de Janeiro, em São
Vicente ou em São Paulo. Via de regra, todas as rotas de viagem passavam
por Lisboa. Mesmo a partir do século XVIII, no período do ouro, a situação não
é muito diferente, quando ocorre a migração açoriana para a região sul. A
diversidade regional do português no Brasil, dessa maneira, condiciona-se à
história demográfica da presença portuguesa no Brasil: as falas catarinense,
caipira, nordestina, gaúcha, nortista, todas elas são resultado da política da
metrópole que enfatizava uma ou outra região na colônia.
Atividades
1) Leia o texto abaixo e respondas às questões que vão a seguir.

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O Padre e o menino esperto


Um padre viajava, certa vez, pelas aldeias, escarranchado numa velha besta
ruça. À margem de um rio largo, encontrou um moleque brincando.
— Menino! Perguntou ele, querendo passar para o outro lado. — Esse rio é
fundo?
— O gado do meu pai atravessa aí, com a água pelo peito. — respondeu o
menino com uma carinha de anjo.
O padre, em vista dessa informação, tocou a besta para a água, mas o rio era
de uma fundura sem fim, e a besta perdeu o pé. Ela e o padre desapareceram
rio adentro, rodaram arrastados pela correnteza e somente a muito custo
conseguiram se salvar.
Quando o padre atingiu a margem onde estava o menino, perguntou:
— Onde você mora?
— Perto daqui.
— Quero ir lá.
Foram, mas não encontraram ninguém em casa.
— Onde está seu pai, menino?
— Papai foi plantar o que não nasce.
— E sua mãe?
— Foi trabalhar para comer ontem.
— Esperarei que eles cheguem – declarou o padre, fechando a carranca.
Os pais do menino se demoraram muito; porém, quando apareceram, lá estava
o padre sentado, esperando, e aí não mais de carranca fechada e sim todo
sorridente.
— Que menino esperto esse seu filho! — disse ele ao casal. — É muito
inteligente.
Quando eu vinha para cá, ele me disse que o gado do seu pai atravessava o
rio com água pelo peito.
— É verdade — falou o pai —, nós criamos patos.
O padre disfarçou uma careta.
— Pois é – disse ele, sorrindo amarelo. — Ele disse que a senhora tinha ido
trabalhar para a família comer ontem.
— Está certo — disse a mãe. — Fui fazer pães para pagar uns que tomei de
empréstimo.

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— Ele disse também que o senhor foi plantar o que não nasce.
— É isso mesmo — disse o pai. — Fui ao enterro de um dos meus amigos. (...)
(GUIMARÃES, Ruth (org.). Lendas e fábulas do Brasil. São Paulo: Círculo do
Livro, s.d.)
Tendo em vista a diversidade no uso da língua portuguesa, identifique os
problemas de comunicação que ocorreram entre o menino e o padre.
Reescreva a expressão “escarranchado numa velha besta ruça”, usando de
termos próprios de sua região.
2) Leia o texto a seguir e responda a questão.
O Vestido
– Preste atenção um bocado!
Quar vistido hei de ponhá
Pra í na função que tem lá
Na praça, nhô Artú Virado?
Visto aquele verde-má
Ô este, de renda e babado?
Aquele eu já tenho usado
E este, inda tô pur usá
– Vista aquele véio, Crara
De noitem num se arrepara
Prúis, cumo diz o brocardo
Que o dianho do Zeca Açoite
Sempre arrepete – de noite
tudo os gato são leopardo
(COSTA, Fontoura. Matutices. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1931.)
O poema acima foi escrito em uma variedade do português que difere em
muitos pontos da que se preconiza na norma culta. Aponte algumas dessas
diferenças, caracterizando-as como variações fonéticas, morfológicas ou
lexicais.

O novo acordo
HÍFEN

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Não se usará mais:


1. quando o segundo elemento começa com s ou r, devendo estas consoantes
ser duplicadas, como em "antirreligioso", "antissemita", "contrarregra",
"infrassom". Exceção: será mantido o hífen quando os prefixos terminam com r
-ou seja, "hiper-", "inter-" e "super-"- como em "hiper-requintado", "inter-
resistente" e "super-revista"
2. quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com uma
vogal diferente. Exemplos: "extraescolar", "aeroespacial", "autoestrada"
Hífen – veja como ficam as principais regras do hífen com prefixos:
Prefixos Usa hífen Não usa hífen
Agro, ante, anti, Quando a palavra Em todos os demais casos:
arqui, auto, contra, seguinte começa com h autorretrato, autossustentável,
extra, infra, intra, ou com vogal igual à autoanálise, autocontrole,
macro, mega, última do prefixo: auto- antirracista, antissocial,
micro, maxi, mini, hipnose, auto-observação, antivírus, minidicionário,
semi, sobre, anti-herói, anti-imperalista, minissaia, minirreforma,
supra, tele, ultra... micro-ondas, mini-hotel ultrassom
Hiper, inter, super Quando a palavra Em todos os demais casos:
seguinte começa com h hiperinflação, supersônico
ou com r: super-homem,
inter-regional
Sub Quando a palavra Em todos os demais casos:
seguinte começa com b, subsecretário, subeditor
h ou r: sub-base, sub-
reino, sub-humano
Vice Sempre:
vice-rei, vice-presidente
Pan, circum Quando a palavra Em todos os demais casos:
seguinte começa com h, pansexual, circuncisão
m, n ou vogais: pan-
americano, circum-
hospitalar
Mais exemplos: agroindustrial, autoafirmação, autoaprendizagem,
autoestrada, contraindicação, extraoficial, infraestrutura, intraocular,
intrauterino, neoexpressionista, neoimperialista, semiaberto, semiárido,
semiautomático, supraocular, ultraelevado, etc.
Mais exemplos: antessala, antirreligioso, antissemita, autorretrato, antissocial,
arquirromântico, autorregulamentação, contrarregra, contrassenso,
extrarregimento, extrasseco, infrassom, neorrealismo, ultrarresistente,
ultrassonografia, semirreta, suprarrenal.
Mais exemplos: mandachuva, paralama, parabrisa, parachoque, paraquedista,
paravento

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TREMA
Deixará de existir, a não ser em nomes próprios e seus derivados
Antes Depois
Frequente, linguiça, aguentar Frequente, linguiça, aguentar
Fica o acento em nomes como Müller
ACENTO DIFERENCIAL
Não se usará mais para diferenciar:
1. "pára" (flexão do verbo parar) de "para" (preposição)
2. "péla" (flexão do verbo pelar) de "pela" (combinação da preposição com o
artigo)
3. "pólo" (substantivo) de "polo" (combinação antiga e popular de "por" e "lo")
4. "pélo" (flexão do verbo pelar), "pêlo" (substantivo) e "pelo" (combinação da
reposição com o artigo)
5. "pêra" (substantivo - fruta), "péra" (substantivo arcaico - pedra) e "pera"
(preposição arcaica)
* Não some o acento diferencial em pôr (verbo) / por (preposição) e pôde
(pretérito) / pode (presente). Fôrma, para diferenciar de forma, pode receber
acento circunflexo

ALFABETO
Passará a ter 26 letras, ao incorporar as letras "k", "w" e "y"
ACENTO CIRCUNFLEXO
Não se usará mais:
1. nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo
dos verbos "crer", "dar", "ler", "ver" e seus derivados. A grafia correta será
"creem", "deem", "leem" e "veem"
2. em palavras terminados em hiato "oo", como "enjôo" ou "vôo" -que se tornam
"enjoo" e "voo"
Antes Depois
Crêem, dêem, lêem, vêem, prevêem, Creem, deem, leem, veem, preveem,
vôo, enjôos voo, enjôos
Os verbos ter e vir (e seus derivados) continuam sendo acentuados na terceira
pessoa do plural.
Eles têm três filhos.
Eles detêm o poder.
Eles vêm para a festa de
sábado.

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Eles intervêm na economia


ACENTO AGUDO
Não se usará mais:
1. nos ditongos abertos "ei" e "oi" de palavras paroxítonas, como "assembléia",
"idéia", "heróica" e "jibóia"
Antes Depois
Européia, idéia, heróico, apóio, bóia, Europeia, ideia, heroico, apoio, boia,
asteróide, Coréia, estréia, jóia, platéia, asteroide, Coreia, estreia, joia, plateia,
paranóia, jibóia, assembléia paranoia, jiboia, assembléia
* Herói, papéis, troféu mantêm o acento (porque têm a última sílaba mais
forte)
2. nas palavras paroxítonas, com "i" e "u" tônicos, quando precedidos de
ditongo. Exemplos: "feiúra" e "baiúca" passam a ser grafadas "feiura" e
"baiuca"
Antes Depois
Baiúca, bocaiúva, feiúra Baiuca, bocaiuva, feiúra
* Se o i e o u estiverem na última sílaba, o acento continua como em: tuiuiú ou
Piauí

3. nas formas verbais que têm o acento tônico na raiz, com "u" tônico precedido
de "g" ou "q" e seguido de "e" ou "i". Com isso, algumas poucas formas de
verbos, como averigúe (averiguar), apazigúe (apaziguar) e argúem (arg(ü/u)ir),
passam a ser grafadas averigue, apazigue, arguem
Antes Depois
Averigúe, apazigúe, ele argúi, enxagúe Averigue, apazigue, ele argui, enxague
você você
GRAFIA
No português lusitano:
1. desaparecerão o "c" e o "p" de palavras em que essas letras não são
pronunciadas, como "acção", "acto", "adopção", "óptimo" -que se tornam
"ação", "ato", "adoção" e "ótimo"
ATENÇÃO!!!! AS REGRAS DO HÍFEN... E EXCEÇÕES À REGRA
A nova regra geral do hífen diz que não se deve usá-lo quando o primeiro
elemento da palavra termina com letra diferente da que inicia o segundo.
Por exemplo: autoestrada, infraestrutura. O hífen deve ser usado quando
o primeiro elemento termina com vogal ou consoante igual à letra que
inicia o segundo: micro-ônibus, arqui-inimigo
Exceções: Segundo o acadêmico Evanildo Bechara, os prefixos co, re, pre e
pro dispensam o hífen quando o segundo elemento inicia por e ou o como em
cooperar e reeditar

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Não usar o hífen quando o primeiro elemento termina com vogal e o segundo
começa com consoante, exceto o h. Exemplos: anteprojeto, anti-herói
Quando o segundo elemento começa com r ou s, essas letras deverão ser
dobradas: suprassumo, antirrugas
Não usar o hífen quando o primeiro elemento termina com consoante e o
segundo se inicia com vogal (há exceção, como mal-estar): hiperacidez,
interestadual
Outras exceções: os prefixos ex, bem, sem, além, aquém, recém, pós, pré
e vice sempre exigem hífen. Exemplos: ex-patrão, bem-estar, sem-terra,
além-mar, pós-graduação, recém-casado, pré-história, vice-presidente. O
prefixo sub deve ser usado com hífen diante de b, h e r: sub-base, sub-
região, sub-humano. Já com circum e pan, o hífen será usado diante de
m, n, h e vogal: circum-navegação, pan-americano.

UNIDADE 4: AS DIFERENTES LINGUAGENS: VERBAL E NÃO-VERBAL


O texto verbal e não verbal
4. Que diferença podemos notar entre os textos a seguir?
5. De que tratam os textos?
Texto 1:

Texto 2:
A segunda-feira negra de Guernica

Era uma 2ªfeira, dia de feira-livre na pequena cidade da Biscaia. Das


redondezas chegavam as suas estreitas ruas os camponeses do vale de
Guernica, no país dos bascos, trazendo seus produtos para o grande encontro
semanal. A praça ainda estava bem movimentada quando, antes das cinco da
tarde, os sinos começaram os seus badalos. Tratava-se de mais uma incursão
aérea. Até aquele dia fatídico - 26 de abril de 1937 - Guernica só havia visto os
aviões nazistas da Legião Condor passarem sobre ela em direção a alvos mais
importantes, situados mais além, em Bilbao. Mas aquela 2ª feira foi diferente. A
primeira leva de Heinkels-11 despejou suas bombas sobre a cidadezinha
precisamente às 16h45min horas. Durante as 2 horas e 45 minutos seguintes
os moradores viram o inferno desabar sobre eles. Estonteados e desesperados
saíram para aos arredores do lugarejo onde mortíferas rajadas de metralhadora
disparada pelos caças os mataram aos magotes. No fim da jornada contaram-
se 1.654 mortos e 889 feridos, numa população não superior a sete mil
habitantes. Quase 40% haviam sido mortos ou atingidos. A repercussão
negativa foi tão grande que os nacionalistas espanhóis trataram logo de atribuí-
la aos "vermelhos".

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Texto não-verbal
Quando se fala em texto ou linguagem, normalmente se pensa em texto e
linguagem verbais, ou seja, naquela capacidade humana ligada ao pensamento
que se concretiza numa determinada língua e se manifesta por palavras.
Mas, além dessa, há outras formas de linguagem, como a pintura, a mímica, a
dança, a música e outras mais. Com efeito, por meio dessas atividades o
homem também representa o mundo, exprime seus pensamentos, comunica-
se e influencia os outros. Tanto a linguagem verbal quanto a não verbal
expressam sentidos, e, para isso, utilizam-se de signos, com a diferença de
que, na primeira, os signos são constituídos de sons da língua, ao passo que
nas outras se exploram outros signos, como as formas, a cor, os gestos, os
sons musicais etc.
Em todos os tipos de linguagem os signos são combinados entre si, de acordo
com certas leis, obedecendo a mecanismos de organização.
Semelhanças e diferenças
 A linguagem verbal é linear. Isto significa que seus signos e os sons que
a constituem não se superpõem, mas se sucedem destacadamente um
depois do outro no tempo da fala ou no espaço da linha escrita. Em
outras palavras, cada signo e cada som são usados num momento
distinto do outro. Veja esse verso de Drummond: T/e/u/som/b/r/o/s
s/u/p/o/r/t/a m o/m/um/d/o.
 Na linguagem não-verbal, ao contrário, vários signos podem ocorrer
simultaneamente. Se na linguagem verbal é impossível conceber
palavras encavaladas umas nas outras, na pintura, por exemplo,
ocorrem várias figuras ao mesmo tempo. Ex: o quadro e a totalidade de
seus elementos.
 O texto não-verbal pode a princípio ser considerado predominantemente
descritivo, pois representa uma realidade singular e concreta, num ponto
estático do tempo. Uma foto pode ser descritiva, mas a sucessão de
fotos pode ser uma narrativa. Ex:

 Com relação à fotografia, cinema, televisão, pode-se pensar que o texto


não-verbal seja uma cópia fiel da realidade. Também essa impressão
não é verdadeira. Para citar exemplo da fotografia, o fotógrafo dispõe de
muitos expedientes para alterar a realidade: o jogo de luz, o ângulo, o
enquadramento etc.

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 Os textos verbais podem ser figurativos (aqueles que reproduzem


elementos concretos, produzindo um efeito de realidade) e não-
figurativos (aqueles que exploram temas abstratos). Também os textos
não-verbais podem ser dominantemente figurativos (as fotos, a escultura
clássica) ou não-figurativos e abstratos. Neste caso não pretendem
simular elementos do mundo real.

Especificidades da leitura de texto verbal e não-verbal.


Texto verbal: a palavra e suas figuras: aliteração rima ritmo, assonância, a
escolha lexical etc.
Veja a poesia que concretiza uma Maria fumaça.

Trem de ferro (fragmento)

(Tom Jobim e Manuel Bandeira)


Café com pão
Café com pão
Café com pão

Virgem Maria que foi isto maquinista?

Agora sim
Café com pão
Agora sim
Café com pão

Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força.

Texto não-verbal: como os signos são de outra natureza, vamos analisar a


oposição de cores, formas (linhas retas, curvas, horizontais, verticais),

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oposição de luz e sombra, etc.

Linguagem formal e informal


Nossa língua apresenta uma imensa possibilidade de variantes linguísticas,
tanto na linguagem formal (padrão) quanto na linguagem informal (coloquial).
Elas não são, assim, homogêneas. Especialmente no que se refere ao
coloquial, as variações não se esgotam. Alguns fatores determinam essa
variedade. São eles:
• diferenças regionais: há características fonéticas próprias de cada região,
um sotaque próprio que dá traços distintivos ao falante nativo. Por exemplo, a
fala espontânea de um caipira difere da fala de um gaúcho em pronúncia e
vocabulário;
• nível social do falante e sua relação com a escrita: um operário, de modo
geral, não fala da mesma maneira que um médico, por exemplo;
• diferenças individuais: É importante salientar que cada variedade tem seu
conjunto de situações específicas para seu uso e, de modo geral, não pode ser
substituída por outra sem provocar, ao menos, estranheza durante a
comunicação. O texto de Luís Fernando Veríssimo ilustra uma dessas
situações inusitadas:
Aí, Galera
Jogadores de futebol podem ser vítimas de estereotipação. Por exemplo, você
pode imaginar um jogador de futebol dizendo “estereotipação”? E, no entanto,
por que não?
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra galera.
- Minha saudação aos aficionados do clube e aos demais esportistas, aqui
presentes ou no recesso dos seus lares.
- Como é?
- Aí, galera.
- Quais são as instruções do técnico?
- Nosso treinador vaticinou que, com um trabalho de contenção coordenada,
com energia otimizada, na zona de preparação, aumentam as probabilidades
de, recuperado o esférico, concatenarmos um contra-golpe agudo com
parcimônia de meios e extrema objetividade, valendo-nos da desestruturação
momentânea do sistema oposto, surpreendido pela reversão inesperada do
fluxo da ação.
- Ahn?
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra pegá eles sem calça.
- Certo. Você quer dizer mais alguma coisa?

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- Posso dirigir uma mensagem de caráter sentimental, algo banal, talvez


mesmo previsível e piegas, a uma pessoa à qual sou ligado por razões,
inclusive, genéticas?
- Pode.
- Uma saudação para a minha progenitora.
- Como é?
- Alô, mamãe!
- Estou vendo que você é um, um...
- Um jogador que confunde o entrevistador, pois não corresponder à
expectativa de que o atleta seja um ser algo primitivo com dificuldade de
expressão e assim sabota a estereotipação?
- Estereoquê?
- Um chato?
- Isso.
Correio Braziliense, 13/05/1998.
Podemos concluir daí que cada variedade tem seus domínios próprios e que
não existe a variedade “certa” ou “errada”. Para cada situação comunicativa
existe a variante “mais” ou “menos” adequada. É certo, no entanto, que é
atribuída à variante padrão um valor social e histórico maior do que à coloquial.
Cabe, assim, ao indivíduo – competente linguisticamente - optar por uma ou
outra variante em função da situação comunicativa da qual participa no
momento.
Por fim, citando Bechara (1999), a linguagem é sempre um estar no mundo
com os outros, não como um indivíduo em particular, mas como parte do
todo social, de uma comunidade.
ATIVIDADES: Faça uma leitura dos textos não-verbais citados como
exemplos.

UNIDADE 5: NOÇÕES DE TEXTO: UNIDADE DE SENTIDO


A palavra “texto” é bastante familiar no âmbito escolar e fora dele, embora, de
modo geral, não o reconheçamos em diversas de suas ocorrências.
Os estudos mais avançados na área da Linguística Textual, a partir da década
de 60, detiveram-se em explicar as características próprias da linguagem

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escrita concretizada em forma de texto e não em forma de um mero amontoado


de palavras e frases.
Para a Linguística Textual, a linguagem é o principal meio de comunicação
social do ser humano e, portanto, seu produto concreto – o texto – também se
reveste dessa importante característica, já que é por intermédio dele que um
emissor transmite algo a um receptor, obedecendo a um sistema de
signos/regras codificado. O texto constitui-se, assim, na unidade linguística
comunicativa básica.
Inicialmente, faz-se necessário expor o conceito de “texto”, por ser ele o
elemento fundamental de comunicação. Vejamos o conceito proposto por
Bernárdez (1982):
“Texto é a unidade linguística comunicativa fundamental, produto da
atividade verbal humana, que possui sempre caráter social: está
caracterizado por seu estrato semântico e comunicativo, assim como por
sua coerência profunda e superficial, devida à intenção (comunicativa) do
falante de criar um texto íntegro, e à sua estruturação mediante dois
conjuntos de regras: as próprias do nível textual e as do sistema da
língua”.
Considerações sobre texto.
A revista Veja de 1º de junho de 1988, em matéria publicada nas páginas 90 e
91, traz uma reportagem sobre um caso de corrupção que envolvia, como
suspeitos, membros ligados à administração do governo do Estado de São
Paulo e dois cidadãos portugueses dispostos a lançar um novo tipo de jogo
lotérico, designado pelo nome de “Raspadinha”. Entre os suspeitos figurava o
nome de Otávio Ceccato, que, no momento, ocupava o cargo de Secretário de
Indústria e Comércio e que negava a sua participação na negociata.
O fragmento que vem a seguir, extraído da parte final da referida reportagem,
relata a resposta de Ceccato aos jornalistas nos seguintes termos:
Na sua posse como secretário de Indústria e Comércio, Ceccato, nervoso foi
infeliz ao rebater as denúncias. “Como São Pedro, nego, nego, nego”, disse a
um grupo de repórteres, referindo-se à conhecida passagem em que São
Pedro negou conhecer Jesus Cristo três vezes na mesma noite. Esqueceu-se
de que São Pedro naquele episódio, disse talvez a única mentira de sua vida.
(Ano 20, 22:91.)
Como se pode notar, a defesa do secretário foi infeliz e desastrosa, produzindo
efeito contrário ao que tinha em mente.
A citação, no caso, ao invés de inocentá-lo, acabou por comprometê-lo. Ao citar
a passagem bíblica, o acusado esqueceu-se de que ela fez parte de um texto
e, em qualquer texto, o significado das frases não é autônomo.
Desse modo, não se pode isolar frase alguma do texto e tentar-lhe conferir o
significado que se deseja.

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Primeira consideração: O texto não é um aglomerado de frases


Agora, observe: Podemos considerar essa produção um texto?
Circuito Fechado
Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água,
espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete,
água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo; pente. Cueca, camisa,
abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, niqueis,
documentos, caneta, chaves, lenço, relógio, maços de cigarros, caixa de
fósforos. Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres,
guardanapos. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona,
cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo com lápis, canetas, blocos de
notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso com plantas,
quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo.
Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos,
bilhetes, telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços
de anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetos de filmes,
xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia,
água. Táxi. Mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa,
guardanapo, xícara. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de dentes,
pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, cigarro,
fósforo, telefone interno, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel,
relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel,
telefone, papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro.
Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista.
Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras,
cigarro e fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro e
fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, espuma,
água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro.
(Ricardo Ramos)
Em Circuito Fechado não há apenas uma série de palavras soltas; temos aqui
um texto. E por quê? Apesar de haver palavras, aparentemente, sem relação
umas com as outras, é possível reconhecer, depois de uma leitura atenta, que
há uma articulação entre elas. A escolha dos substantivos e a sequência em
que são empregados revelam um significado implícito, algo que une e relaciona
essas palavras, formando um texto.
Podemos, assim, dizer que esse texto se refere a um dia na vida de um homem
comum. Note que no início do texto há substantivos relacionados a hábitos
rotineiros, como levantar, ir ao banheiro, lavar o rosto, escovar dentes, fazer
barba tomar banho, vestir-se e tomar café da manhã.
Descobrimos que a personagem é um homem também pela escolha dos
substantivos. Parece que sua profissão pode estar relacionada à publicidade e
o personagem é, também, um fumante, pois, por quatorze vezes, o narrador
retoma a sequência “cigarro, fósforo”.

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Enfim, o texto Circuito Fechado é uma crônica - um texto narrativo curto -, cujo
tema é o cotidiano e leva o leitor a refletir sobre a vida. Usando somente
substantivos, o autor produziu um texto que termina onde começou. Essa
estrutura circular tem relação com o título e com a rotina que aprisiona o
homem nos dias atuais.
a. O texto tem coerência de sentido e o sentido de qualquer passagem de um
texto é dado pelo contexto. Se não levarmos em conta as relações entre as
partes do texto, corremos o risco de atribuir a ele um sentido oposto àquele que
efetivamente tem.
b. Todo texto tem um caráter histórico, não no sentido de narrar fatos históricos,
mas no de revelar as concepções e a cultura de um grupo social numa
determinada época.
Observe agora o seguinte texto:
No começo de 1981, um jovem de 25 anos chamado John Hinckey Jr. Entrou
numa loja de armas de Dallas, no Texas, preencheu um formulário do governo
com endereço falso e, poucos minutos depois, saiu com a Saturday Night
Special – nome criado na década de 60 para chamar um tipo de revólver
pequeno, barato e de baixa qualidade. Foi com essa arma que Hinckley, no dia
30 de março daquele ano, acertou uma bala no pulmão do presidente Ronald
Reagan e outra na cabeça de seu porta-voz, James Brady. Reagan recuperou-
se totalmente, mas Brady desde então está preso a uma cadeira de rodas. (...)
Seguramente, por trás da notícia, existe, como pressuposto, um
pronunciamento contra o risco de vender arma para qualquer pessoa
indiscriminadamente. Para comprovar essa constatação, basta pensar que os
fabricantes de revólveres, se pudessem, não permitiriam a veiculação dessa
notícia. O exemplo escolhido deixa claro que qualquer texto, por mais objetivo
e neutro que pareça, manifesta sempre um posicionamento frente a uma
questão qualquer posta em debate.
Segunda consideração: todo texto contém um pronunciamento dentro de
um debate de escala mais ampla. Conclusão:
a. Uma boa leitura nunca pode basear-se em fragmentos
isolados do texto, já que o significado das partes sempre é
determinado pelo contexto dentro do qual se encaixam.
b. Uma boa leitura nunca pode deixar de apreender o
pronunciamento contido por trás do texto, já que sempre se
produz um texto para marcar posição frente a uma questão
qualquer.

TEXTOS ORAIS E TEXTOS ESCRITOS


A interação pela linguagem materializa-se por meio de textos, sejam eles orais
ou escritos. É relevante, no entanto, reconhecer que fala e escrita são duas
modalidades de uso da língua que, embora se utilizem do mesmo sistema

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linguístico, possuem características próprias. As duas não têm as mesmas


formas, a mesma gramática, nem os mesmos recursos expressivos. Para a
compreensão dos problemas da expressão e da comunicação verbais, é
necessário evidenciar essa distinção.
Para dar início às suas reflexões, leia o texto de Millôr Fernandes, a seguir:
A vaguidão específica
“As mulheres têm uma maneira de falar que eu chamo de vagoespecífica.”
(Richard Gehman)
- Maria, ponha isso lá fora em qualquer parte.
- Junto com as outras?
- Não ponha junto com as outras, não. Senão pode vir alguém e querer fazer
coisa com elas. Ponha no lugar do outro dia.
- Sim senhora. Olha, o homem está aí.
- Aquele de quando choveu?
- Não, o que a senhora foi lá e falou com ele no domingo.
- Que é que você disse a ele?
- Eu disse pra ele continuar.
- Ele já começou?
- Acho que já. Eu disse que podia principiar por onde quisesse.
- É bom?
- Mais ou menos. O outro parece mais capaz.
- Você trouxe tudo pra cima?
- Não senhora, só trouxe as coisas. O resto não trouxe porque a senhora
recomendou para deixar até a véspera.
- Mas traga, traga. Na ocasião nós descemos tudo de novo. É melhor, senão
atravanca a entrada e ele reclama como na outra noite.
- Está bem, vou ver como.
(FERNANDES, Millôr. Trinta anos de mim mesmo. São Paulo, Círculo do Livro,
1976, p.77.)
No texto, o autor revela ironia ao atribuir às mulheres o falar de modo vago e
por meio de elipses. No entanto, tais características são próprias do texto oral,
em que a interação face-a-face permite que os interlocutores, situados no
mesmo tempo e espaço, preencham as lacunas ali existentes, já que ambos,

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ancorados em dados do contexto e no conhecimento partilhado que possuem,


são capazes de compreender e produzir sentido ao que se diz.
Em nossa sociedade, fundamentalmente oral, convivemos muito mais com
textos orais do que com textos escritos. Todos os povos, indistintamente, têm
ou tiveram uma tradição oral e relativamente poucos tiveram ou têm uma
tradição escrita.
No entanto, isso não torna a oralidade mais importante que a escrita. Mesmo
que a oralidade tenha uma primazia cronológica sobre a escrita, esta, por sua
vez, adquire um valor social superior à oralidade.

A escrita não pode ser tida como representação da fala. Em parte, porque a
escrita não consegue reproduzir muitos dos fenômenos da oralidade, tais como
a prosódia, a gestualidade, os movimentos do corpo e dos olhos, entre outros.
Ela apresenta, ainda, elementos significativos próprios, ausentes na fala, tais
como o tamanho e o tipo de letras, cores e formatos, sinais de pontuação e
elementos pictóricos, que operam como gestos, mímica e prosódia
graficamente representados. Observe a transcrição de um texto falado, retirado
de uma aula de História Contemporânea, ministrada no Rio de Janeiro, no final
de década de 70.
Procure ler o texto seguinte como se você estivesse “ouvindo” a aula.
... nós vimos que ela assinala... como disse o colega aí,,, a elevação da
sociedade burguesa... e capitalista... ora... pode se já ver nisso... o que é uma
revolução... uma revolução significa o quê? Uma mudança... de classe... em
assumindo o poder... você vê por exemplo... a Revolução Francesa... o que ela
significa? Nós vimos... você tem uma classe que sobe... e outra classe que
desce... não é isso? A burguesia cresceu... ela
ti/a burguesia possuía... o poder... econômico... mas ela não tem prestígio
social... nem poder político... então... através desse poder econômico da
burguesia... que controlava o comércio... que tinha nas mãos a economia da
França... tava nas mãos da classe burguesa... que crescera... desde o século
quinze... com a Revolução Comercial... nós temos o crescimento da classe
burguesa... essa burguesia quer... quer... o poder...ela quer o poder político...
ela que o prestígio social... ela quer entrar em Versalhes... então nós vamos ver
que através... de uma Revolução...ela vai... de forma violenta... ela vai
conseguir o poder... isso é uma revolução porque significa a ascensão de uma
classe e a queda de outra... mas qual é a classe que cai? É a aristocracia...
tanto que... o Rei teve a cabeça cortada... não é isso?
(Dinah Callou (org.). A linguagem falada culta na cidade do Rio de Janeiro –
materiais para seu estudo. Elocuções formais. Rio de Janeiro, Fujb, 1991, p.
104-105)
É possível notar que o texto é bastante entrecortado e repetitivo, apresenta
expressivas marcas de oralidade e progride apoiando-se em questões
lançadas aos interlocutores, no caso, aos alunos. Isso não significa que o texto
falado é, por sua natureza, absolutamente caótico e desestruturado. Ao

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contrário, ele tem uma estruturação que lhe é própria, ditada pelas
circunstâncias sócio-cognitivas de sua produção.
No entanto, tais características, próprias do texto oral, são consideradas
inapropriadas para o texto escrito. E por quê? Para entender essa questão,
inicialmente, faz-se necessário observar a distinção entre essas duas
modalidades de uso da língua, proposta por Marcuschi (2001:25):
• A fala seria uma forma de produção textual-discursiva para fins comunicativos
na modalidade oral. Caracteriza-se pelo uso da língua na sua forma de sons
sistematicamente articulados e significativos, bem como os aspectos
prosódicos e recursos expressivos como a gestualidade, os movimentos do
corpo e a mímica.
• A escrita, por sua vez, seria um modo de produção textual-discursiva para fins
comunicativos com certas especificidades materiais e se caracterizaria por sua
constituição gráfica, embora envolva também recursos de ordem pictórica e
outros. Pode manifestar-se, do ponto de vista de sua tecnologia, por unidades
alfabéticas (escrita alfabética), ideogramas (escrita ideográfica) ou unidades
iconográficas. Trata-se de uma modalidade de uso da língua complementar à
fala.
De modo geral, discute-se que ambas apresentam distinções porque diferem
nos seus modos de aquisição, nas suas condições de produção, na
transmissão e recepção, nos meios através dos quais os elementos de
estrutura são organizados.
Para Koch (1992), entre as características distintivas mais frequentemente
apontadas entre as modalidades falada e escrita estão as seguintes:
Fala Escrita

1. Contextualizada. 1. Descontextualizada.

2. Não-planejada. 2. Planejada.

3. Redundante. 3. Condensada.

4. Fragmentada. 4. Não-fragmentada.

5. Incompleta. 5. Completa.

6. Pouco elaborada. 6. Elaborada.

7. Predominância de frases curtas, 7. Predominância de frases complexas,

simples ou coordenadas. com subordinação abundante.

8. Pouco uso de passivas. 8. Emprego frequente de passivas.

9. Pouca densidade informacional. 9. Densidade informacional.

10. Poucas nominalizações. 10. Abundância de nominalizações.

11. Menor densidade lexical. 11. Maior densidade lexical.

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Ocorre, porém, que essas diferenças nem sempre distinguem as duas


modalidades. Isso porque se verifica, por exemplo, que há textos escritos muito
próximos ao da fala conversacional (bilhetes, recados, cartas familiares, por
exemplo), e textos falados que mais se aproximam da escrita formal
(conferências, entrevistas profissionais, entre outros). Além disso, atualmente,
pode-se conceber o texto oral e o escrito como atividades interativas e
complementares no contexto das práticas culturais e sociais.
Oralidade e escrita, assim, são práticas e usos da língua com características
próprias, mas não suficientemente opostas para caracterizar dois sistemas
linguísticos distintos. Ambas permitem
a construção de textos coesos e coerentes, ambas permitem a elaboração de
raciocínios abstratos e exposições formais e informais, variações estilísticas,
sociais e dialetais.
Cabe lembrar, finalmente, que em situações de interação face a face, o locutor
que detém a palavra não é o único responsável pelo seu discurso. Trata-se,
como bem mostra Marcuschi (1986), de uma atividade de co-produção
discursiva, visto que os interlocutores estão juntamente empenhados na
produção do texto.

Leia o texto a seguir da profa. Ivani Vecina Abib e discuta a que gênero
pertence:
UMA HISTÓRIA DE LEITURA
- Maria, apaga essa luz!
Mas era difícil fechar o livro! Apagava a luz e acendia o lampião, pouco se
importando se esse cúmplice da noite seria o delator da manhã. O rosto
sonolento, sujo de fuligem denunciaria que apagara a luz, mas continuara
lendo.
Essa história de minha mãe sempre me encantou. E, mesmo sem a
cumplicidade do lampião, eu também lia à noite. Muitas vezes, confesso, eram
livros que Dona Célia, bibliotecária do colégio proibia: “ainda não é hora!”, dizia
ela. E Júlio Ribeiro, Adelaide Carraro eram substituídos por José de Alencar,
Machado e tantos outros. A tudo isso se acrescente o Evangelho Segundo o
Espiritismo, de Alan Kardec que lia todas as noites, depois do jantar, para meus
avós. E eu lia, cheia de importância, afinal “ela sabe ler tão bonito”, diziam eles
orgulhosos da neta.
Entretanto, foram tempos difíceis os da minha infância, não fui criada entre
intelectuais, nem bibliotecas, mas descendente de imigrantes espanhóis que
valorizavam acima de tudo o trabalho. O estudo nos era dado como um
presente, aquilo que eles não puderam ter e por isso afirmavam orgulhosos:
“fazemos questão de formar nossos filhos”.
A época da minha infância coincidiu com a construção de Brasília, foram anos
difíceis. Meu pai, empreiteiro de obras, perdeu tudo o que possuía, pois o

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material de construção desapareceu do mercado e o que estava disponível era


absurdamente caro e dessa forma, não conseguiu cumprir com os contratos
assinados.
Nossa vida mudou radicalmente, da casa própria onde morávamos, confortável
e bonita, mudamos para uma casa velha que alugamos de um parente distante.
Um dia, à noite, ouvi meus pais conversando e minha mãe falou com uma voz
que eu nunca ouvira antes. Mostrava preocupação e lágrimas contidas:
- Amanhã, não temos dinheiro nem para a mistura!
Meu irmão e eu ouvimos tudo aquilo, do quarto ao lado, apesar da pouca
idade, sentimos o peso da responsabilidade. Ele tomou a decisão e para isso
precisava da minha ajuda. Abriria uma banca de revistas e livros usados.
Foi nesse momento que a leitura entrou na minha vida. Enquanto meu irmão
saía para comprar livros e revistas, eu tomava conta da banca e lia... lia e
escondia aqueles que eu não tinha lido ainda, recusando-me a vendê-los.
Perguntavam os fregueses:
- Chegou novidade? Algum livro? Alguma revista nova?
- Não, hoje nada, ainda...
E, a irmãzinha mais nova sentada no caixote-esconderijo era a cúmplice que
me ajudava a ocultar aquelas preciosidades, pois à noite, ao som da minha
voz, dramatizava aquelas histórias, ela adormecia sonhando com o Pimpinela
Escarlate, sua personagem favorita.
Assim eram nossos dias, quando à tarde, contávamos o dinheiro das vendas, e
este não era suficiente para as despesas, todos os olhos se voltavam para
mim.
- Desse jeito não dá! Primeiro você vende, depois, se der você lê.
E eu respondia, indignada:
- Mas, hoje, você vendeu aquele, e eu já tinha passado da metade, estava
quase no final.
- A mistura é mais importante, diziam todos.
E revoltada eu ia para o meu quarto, criava um final para as minhas histórias,
princesas, heróis, bruxas, cujo destino eu determinava. Eles povoavam os
meus sonhos e eu sempre lhes dava um final feliz, casava moças solitárias,
premiava os bons e regenerava os maus.
Um dia, à mesa do café, antes de irmos para a escola, minha mãe sorriu,
estendeu sua mão e tocou a de meu pai com carinho e firmeza. Então falou:
- Esta situação que estamos vivendo logo vai passar. Tenham paciência... ela
gosta de ler, ela vai ser professora...
- Menina, não apague essa luz!

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UNIDADE 6: ESTILOS E GÊNEROS DISCURSIVOS


Todos os dias, deparamo-nos com diferentes textos durante as mais diversas
situações comunicativas das quais participamos socialmente: anúncios,
relatórios, notícias, palestras, piadas, receitas etc. Veja, por exemplo, o que
podemos fazer quando queremos:
• escolher um filme para assistir no cinema.
Podemos consultar a seção cultural de um dos jornais da cidade ou uma
revista especializada, ler num outdoor sobre o lançamento de um filme que nos
agrada ou, ainda, pedir a opinião de um amigo.
• saber como chegar a um local desconhecido por nós.
Podemos consultar um guia de ruas da cidade ou, ainda, perguntar a alguém
que conheça o trajeto. Quem sabe até pedir que essa pessoa desenhe o
caminho?
• convidar um amigo para sua festa de aniversário.
Podemos mandar um e-mail, um convite pelo correio, telefonar ao colega,
enviar um “torpedo” pelo celular.
• entreter uma criança.
Aqui as possibilidades são várias! Podemos ler histórias de fadas, lançar
adivinhas, lembrar antigas canções, recitar quadrinhas e parlendas, propor
jogos diversos, assistir a um desenho etc.
Em todas as situações descritas acima, utilizamos textos em diferentes
gêneros, isto é, para situações e/ou finalidades diversas, lançamos mão de um
repertório diverso de gêneros textuais que circulam socialmente e se adaptam
às diferentes situações de comunicação. Cada um desses gêneros exige, para
sua compreensão ou produção, diferentes conhecimentos e capacidades.
De modo geral, todos os gêneros textuais têm em comum, basicamente, três
características:
• o assunto: o que pode ser dito através daquele gênero;
• o estilo: as palavras, expressões, frases selecionadas e o modo de organizá-
las;
• o formato: a estrutura em que cada agrupamento textual é apresentado.
Os gêneros surgem, situam-se e integram-se funcionalmente nas culturas em
que se desenvolvem. O conjunto dos gêneros é potencialmente infinito e
mutável, materializado tanto na oralidade quanto na escrita. Eles são
vinculados à vida cultural e social e contribuem para ordenar e estabilizar as
atividades comunicativas do seu dia-a-dia. Assim, são exemplos de gêneros
textuais: telefonema, carta, romance, bilhete, reportagem, lista de compras,
piadas, receita culinária, contos de fadas etc.

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Para Bronckart (1999), a apropriação dos gêneros é um mecanismo


fundamental de socialização, de inserção prática nas atividades
comunicativas humanas.
GÊNEROS LITERÁRIOS:
Texto A:
Para Que Ninguém A Quisesse.
Porque os homens olhavam demais para a sua mulher, mandou que descesse
a bainha dos vestidos e parasse de se pintar. Apesar disso, sua beleza
chamava a atenção, e ele foi obrigado a exigir que eliminasse os decotes,
jogasse fora os sapatos de saltos altos. Dos armários tirou as roupas de seda,
da gaveta tirou todas as joias. E vendo que, ainda assim, um ou outro olhar viril
se acendia à passagem dela, pegou a tesoura e tosquiou-lhe os longos
cabelos.
Agora podia viver descansado. Ninguém a olhava duas vezes, homem nenhum
se interessava por ela. Esquiva como um gato, não mais atravessava praças. E
evitava sair.
Tão esquiva se fez, que ele foi deixando de ocupar-se dela, permitindo que
fluísse em silêncio pelos cômodos, mimetizada com os móveis e as sombras.
Uma fina saudade, porém, começou a alinhavar-se em seus dias. Não saudade
da mulher. Mas do desejo inflamado que tivera por ela.
Então lhe trouxe um batom. No outro dia um corte de seda. À noite tirou do
bolso uma rosa de cetim para enfeitar-lhe o que restava dos cabelos.
Mas ela tinha desaprendido a gostar dessas coisas, nem pensava mais em lhe
agradar. Largou o tecido em uma gaveta, esqueceu o batom. E continuou
andando pela casa de vestido de chita, enquanto a rosa desbotava sobre a
cômoda.
(Colasanti, Marina. Para que ninguém a quisesse. In: Contos de Amor
Rasgados, Rio de Janeiro, Rocco, 1986. p. 111-2.)

Texto B:

Farsa de Inês Pereira

Mais vale asno que me leve que cavalo que me derrube.


No auge de sua carreira dramática, sobre este tema, Gil Vicente criou A Farsa
de Inês Pereira, respondendo assim àqueles que o acusavam de plágio. A peça
foi apresentada pela primeira vez para o rei D. João III, em 1523.
A Farsa de Inês Pereira é considerada a peça mais divertida, complexa e
humanista de Gil Vicente. O aspecto humanístico da obra vê-se pelo fato de
que a protagonista trai o marido e não recebe por isso nenhuma punição ou
censura, diferentemente de personagens de O Auto da Barca do Inferno e O
Velho da Horta, que são castigadas por fatos moralmente parecidos.

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A Farsa de Inês Pereira é composta de três partes:


1. Inês fantasiosa
2. mal-maridada
3. Inês quite e desforrada
Personagens:
Inês Pereira: jovem esperta que se aborrece com o trabalho doméstico. Deseja
ter liberdade e se divertir. Sonha casar-se com um marido que queira também
aproveitar a vida.
Mãe de Inês: mulher de boa condição econômica, que sonha casar Inês com
um homem de posses.
Leonor Vaz: fofoqueira, encarregava-se normalmente em arranjar casamentos
e encontros amorosos.
Pero Marques: primeiro pretendente de Inês rejeitado por ser grosseiro e
simplório, apesar da boa condição financeira. Foi seu segundo marido.
Latão e Vidal: judeus casamenteiros, assim como Leonor.
Brás da Mata: escudeiro, índole má, primeiro marido de Inês.
Moço: criado de Brás.
Ermitão: antigo pretendente de Inês e amante depois de seu casamento com
Pero.
Fernando e Luzia: amigos e vizinhos da mãe de Inês.

Resumo:
Inês Pereira é uma jovem solteira que sofre a pressão constante do
casamento, e reclama da sorte por estar presa em casa, aos serviços
domésticos, cansando-se deles. Imagina Inês casar-se com um homem que ao
mesmo tempo seja alegre, bem-humorado, galante e que goste de dançar e
cantar, o que já se percebe na primeira conversa que estabelece com sua mãe
e Leonor Vaz. Essas duas têm uma visão mais prática do matrimônio: o que
importa é que o marido cumpra suas obrigações financeiras, enquanto que Inês
está apenas preocupada com o lado prazeroso, cortesão.
O primeiro candidato, apresentado por Leonor Vaz, é Pero Marques, camponês
de posses, o que satisfazia a ideia de marido na visão de sua mãe, mas era
extremamente simplório, grosseirão, desajeitado, fatos que desagradam Inês.
Por isso Pero Marques é descartado pela moça.
Aceita então a proposta de dois judeus casamenteiros divertidíssimos, Latão e
Vidal, que somente se interessam no dinheiro que o casamento arranjado pode
lhes render, não dando importância ao bem-estar da moça. Então lhe

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apresentam Brás da Mata, um escudeiro, que se mostra exatamente do jeito


que Inês esperava, apesar das desconfianças de sua mãe.
Eles se casam. No entanto, consumado o casamento, Brás, seu marido, mostra
ser tirano, proibindo-a de tudo, até de ir à janela. Chegava a pregar as janelas
para que Inês não olhasse para a rua. Proibia Inês de cantar dentro de casa,
pois queria uma mulher obediente e discreta.
Encarcerada em sua própria casa, Inês encontra sua desgraça. Mas a
desventura dura pouco, pois Brás torna-se cavaleiro e é chamado para a
guerra, onde morre nas mãos de um mouro quando fugia de forma covarde.
Viúva e mais experiente, fingindo tristeza pela morte do marido tirano, Inês
aceita casar-se com Pero Marques, seu antigo pretendente. Aproveitando-se
da ingenuidade de Pero, o trai descaradamente quando é procurada por um
ermitão que tinha sido um antigo apaixonado seu. Marcam um encontro na
ermida e Inês exige que Pero, seu marido, a leve ao encontro do ermitão. Ele
obedece colocando-a montada em suas costas e levando Inês ao encontro do
amante.
Consuma-se assim o tema, que era um ditado popular de que "é melhor um
asno que nos carregue do que um cavalo que nos derrube".
Trecho:
Vem a Mãe e diz:
MÃE
Pêro Marques foi-se já?
INÊS
E pera que era ele aqui?
MÃE
E não t'agrada ele a ti?
INÊS
Vá-se muitieramá! Que sempre disse e direi: Mãe, eu me não casarei Senão
com homem discreto, E assi vo-lo prometo Ou antes o deixarei.
Que seja homem mal feito, Feio, pobre, sem feição, Como tiver discrição, Não
lhe quero mais proveito. E saiba tanger viola, E coma eu pão e cebola. Siquer
uma cantiguinha! Discreto, feito em farinha, Porque isto me degola.
MÃE
Sempre tu hás-de bailar E sempre ele há-de tanger? Se não tiveres que comer
O tanger te há-de fartar?
INÊS
Cada louco com sua teima. Com uma borda de boleima E uma vez d'água fria,
Não quero mais cada dia.
MÃE
Como às vezes isso queima!

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E que é desses escudeiros?


INÊS
Eu falei ontem ali Que passaram por aqui Os judeus casamenteiros E hão-de
vir agora aqui.
Texto C:
Soneto do amor total
Amo-te tanto meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.
Amo-te enfim, num calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
(Vinícius de Moraes)

GÊNERO NARRATIVO
Gênero Épico ou Narrativo: Neste gênero há um enredo encadeado em fatos
organizados de acordo com a vontade do escritor.
- em prosa: romance; novela; conto; crônica
em verso: -narrativas de assuntos diversos
Epopeia: poema narrativo que trata de fatos notáveis de um povo. Ex: Os
Lusíadas.

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Novela: na literatura em língua portuguesa, a principal distinção entre novela e


romance é quantitativa: vale a extensão ou o número de páginas. Entretanto,
podemos perceber características qualitativas: na novela, temos a valorização
de um evento, um corte mais limitado da vida, a passagem do tempo é mais
rápida, e o que é mais importante, na novela o narrador assume uma maior
importância como contador de um fato passado.
Conto: é a mais breve e simples narrativa centrada em um episódio da
vida. O crítico Alfredo Bosi, em seu livro O conto brasileiro
contemporâneo, afirma que o caráter múltiplo do conto "já desnorteou
mais de um teórico da literatura ansioso por encaixar a forma conto no
interior de um quadro fixo de gêneros. Na verdade, se comparada à
novela e ao romance, a narrativa curta condensa e potencia no seu
espaço todas as possibilidades da ficção.
Fábula: narrativa inverossímil, com fundo didático, que tem como
objetivo transmitir uma lição moral. Normalmente a fábula trabalha com
animais como personagens. Quando os personagens são seres
inanimados, objetos, a fábula recebe a denominação de apólogo.
A fábula é das mais antigas narrativas, coincidindo seu aparecimento, segundo
alguns estudiosos, com o da própria linguagem. No mundo ocidental, o primeiro
grande nome da fábula foi Esopo, um escravo grego que teria vivido no século
VI a.C. Modernamente, muitas das fábulas de Esopo foram retomadas por La
Fontaine, poeta francês que viveu de 1621 a 1695. O grande mérito de La
Fontaine reside no apurado trabalho realizado com a linguagem, ao recriar os
temas tradicionais da fábula. No Brasil, Monteiro Lobato realizou tarefa
semelhante, acrescentando, às fábulas tradicionais, curiosos e certeiros
comentários dos personagens que viviam no Sítio do Pica pau Amarelo.

GÊNERO LÍRICO
1. Gênero Lírico: quando um "eu" nos passa uma emoção, um estado;
centra-se no mundo interior do Poeta apresentando forte carga
subjetiva. A subjetividade surge, assim, como característica marcante do
lírico.
 em verso: o poema
 em prosa: prosa poética

GÊNERO DRAMÁTICO
2. Gênero Dramático: quando os "atores, num espaço especial,
apresentam, por meio de palavras e gestos, um acontecimento". Retrata,
fundamentalmente, os conflitos humanos.
Tragédia, Comédia, Tragicomédia, Auto , Farsa.
Drama, em grego, significa "ação". Ao gênero dramático pertencem os textos,
em poesia ou prosa, feitos para serem representados. Isso significa que entre

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autor e público desempenha papel fundamental o elenco (incluindo diretor,


cenógrafo e atores) que representará o texto.
O gênero dramático compreende as seguintes modalidades:
Tragédia: é a representação de um fato trágico, suscetível de provocar
compaixão e terror. Aristóteles afirmava que a tragédia era "uma representação
duma ação grave, de alguma extensão e completa, em linguagem figurada,
com atores agindo, não narrando, inspirando dó e terror".
Comédia: é a representação de um fato inspirado na vida e no sentimento
comum, de riso fácil, em geral criticando os costumes. Sua origem grega está
ligada às festas populares, celebrando a fecundidade da natureza.
Tragicomédia: modalidade em que se misturam elementos trágicos e cômicos.
Originalmente, significava a mistura do real com o imaginário.
Farsa: pequena peça teatral, de caráter ridículo e caricatural, que crítica a
sociedade e seus costumes; baseia-se no lema latino Ridendo castigat mores
(Rindo, castigam-se os costumes).
Auto: São peças teatrais de assunto predominantemente religiosos, tratado de
modo sério ou cômico. Visam divertir, moralizar ou difundir a fé cristã.

ATIVIDADES DE INTERPRETAÇÃO TEXTUAL


Texto 1: Meu engraxate
É por causa do meu engraxate que ando agora em plena desolação. Meu
engraxate me deixou.
Passei duas vezes pela porta onde ele trabalhava e nada. Então me inquietei,
não sei que doenças mortíferas, que mudança pra outras portas se passaram
em mim, resolvi perguntar ao menino que trabalhava na outra cadeira. O
menino é um retalho de hungarês, cara de infeliz, não dá simpatia alguma. E
tímido, o que torna instintivamente a gente muito combinado com o universo no
propósito de desgraçar esses desgraçados de nascença. “Está vendendo
bilhete de loteria”, respondeu antipático, me deixando numa perplexidade
penosíssima: pronto! Estava sem engraxate! Os olhos do menino chispeavam
ávidos, porque sou um dos que ficam fregueses e dão gorjeta. Levei
seguramente um minuto pra definir que tinha de continuar engraxando sapatos
toda a vida minha e ali estava um menino que, a gente ensinando, podia ficar
engraxate bom.
(Mário de Andrade, Os Filhos da Candinha.)

Para provar que em um texto o significado de uma parte depende de sua


relação com a outra, tente interpretar o primeiro parágrafo isoladamente.
1. A desolação por que passa o narrador resulta:

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(A) do sumiço do engraxate, por quem o narrador, ao valer-se dos serviços,


criara certa afeição.
(B) da ausência do engraxate, de cujos serviços, mesmo precários, aquele se
valia.
(C) da presença do menino hungarês, pouco aberto ao diálogo, em substituição
obrigatória ao antigo engraxate.
(D) do sumiço do engraxate com quem ele evitava a todo custo criar laços
afetivos.
(E) da necessidade dos serviços do tímido menino hungarês, que certamente
não chegaria a ser bom engraxate.
2 A timidez do engraxate despertava no narrador um sentimento de:
(A) pena dele e daqueles que, como ele, também viviam mal.
(B) repulsa por ele e pelos de sua condição de mal-nascido.
(C) enternecimento por ele e pelos mal-nascidos, por sua natural infelicidade.
(D) distanciamento dele e daqueles que o viam com interesse.
(E) indignação com ele e com aqueles que pouco faziam para progredir.
3. É correto afirmar que:
(A) o narrador ficou sem engraxate, mas queria encontrar o menino para
agradecer pelos bons serviços que recebera.
(B) o menino hungarês é antipático, pois se refere, com ironia, ao outro que,
um dia, já esteve trabalhando ao seu lado como engraxate, prestando serviços
ao narrador.
(C) a possibilidade de ficar definitivamente sem seu engraxate, que poderia
lograr êxito no novo emprego, perturbava demais o narrador.
(D) o espírito generoso do narrador com o engraxate, ficando freguês e dando
gorjetas, não foi suficiente para evitar ser maltratado pelo menino.
(E) a forma dissimulada como o menino hungarês trata o narrador naquele
momento difícil mostra-o como se estivesse se divertindo com a situação.
4. Assinale a alternativa correta.
(A) Respeitando-se os sentidos do texto, a primeira frase pode ser
parafraseada por: Embora meu engraxate tenha me deixado, ando agora em
plena desolação.
(B) Em — Os olhos do menino chispeavam ávidos... — a forma verbal significa
observavam placidamente.
(C) Na norma padrão, a frase — Meu engraxate me deixou. — também pode
assumir a forma: Me deixou meu engraxate.

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(D) A frase — “Está vendendo bilhete de loteria”, respondeu antipático... —, em


discurso indireto, assume a forma: Respondeu antipático que estaria vendendo
bilhete de loteria.
(E) A frase — ... ali estava um menino que, a gente ensinando, podia ficar
engraxate bom. — na norma padrão, na primeira pessoa do plural, assume a
seguinte forma: ... ali estava um menino que, se nós ensinássemos, poderia
tornar-se bom engraxate
Texto 2:
Polícia investiga troca de bebê por casa
A polícia do Paraná está investigando três casos de doação ilegal de bebês no
Estado, que teriam sido trocados pelos pais por material de construção, cestas
básicas e por uma casa. (Folha de S. Paulo, 10.06.1999.)
1. Comparando o primeiro texto, De criança para criança, com o texto da
notícia, é correto afirmar que a atitude dos pais:
(A) viola o exposto naquele texto, já que eles não obtiveram vantagens
pessoais com a doação.
(B) confirma o que vem exposto naquele texto, já que os bebês foram doados
para que tivessem uma vida melhor.
(C) contradiz o que vem exposto naquele texto, já que os bebês não foram
devidamente respeitados.
(D) nega o que vem exposto naquele texto, já que a adoção não violou o direito
dos bebês.
(E) confirma o que vem exposto naquele texto quanto à doação, que é ilegal,
mas necessária.
2. Tendo em vista que a investigação policial não estava concluída na época da
publicação da notícia, o emprego da forma verbal teriam sugere que os casos
investigados eram
(A) fantasiosos.
(B) possíveis.
(C) confirmados.
(D) contraditórios.
(E) idealizados.
Texto 3: Considere trecho da Bíblia para responder às questões de números 1
e 2.
E disse [Deus]: Certamente tornarei a ti por este tempo da vida; e eis que Sara
tua mulher terá um filho. E Sara escutava à porta da tenda, que estava atrás

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dele. E eram Abraão e Sara já velhos, e adiantados em idade; já a Sara havia


cessado o costume das mulheres.
Assim, pois, riu-se Sara consigo, dizendo: Terei ainda deleite depois de haver
envelhecido, sendo também o meu senhor já velho? (...) E concebeu Sara, e
deu a Abraão um filho na sua velhice, ao tempo determinado, que Deus lhe
tinha falado.
(www.bibliaonline.com.br, Gn 18, 10-12; 21, 2.)
1. No trecho, afirma-se que Abraão e Sara já estavam adiantados em idade e
que a Sara já havia cessado o costume das mulheres. Essas expressões são:

(A) eufemismos, que remetem, respectivamente, à velhice e ao ciclo menstrual.


(B) metáforas, que remetem, respectivamente, à idade adulta e ao vigor sexual.
(C) hipérboles, que remetem, respectivamente, à velhice e à paixão feminina.
(D) sinestesias, que remetem, respectivamente, à decrepitude e à
sensualidade.
(E) sinédoques, que remetem, respectivamente, à idade adulta e ao amor.
2. Em:
Assim, pois, riu-se Sara consigo... que Deus lhe tinha falado. A conjunção pois
tem valor ........... e o pronome lhe refere-se ao termo ............
Os espaços devem ser preenchidos, respectivamente, com:
(A) conclusivo e Abraão.
(B) explicativo e Sara.
(C) causal e Sara.
(D) explicativo e Abraão.
(E) condicional e Abraão.

Texto 4: Leia a charge. A polícia revista criança em favela do Rio.

-Achou alguma coisa? - Nenhum futuro.


1. Assinale a alternativa em que a frase mantém o sentido da resposta do
policial.
(A) Achei algo.
(B) Achei alguma coisa.
(C) Achei algum futuro.

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(D) Não achei futuro algum.


(E) Não achei muita coisa.
UNIDADE 7: ESTRATÉGIAS DE ARTICULAÇÃO DO TEXTO: COESÃO
LEXICAL E GRAMATICAL
Leia, comente e reescreva essas frases se necessário:
a. O livro é muito interessante porque tem 570 páginas.
b. Carmem mora no Rio há cinco anos, portanto não conhece ainda o
Corcovado.
c. Acordei às 7 horas, uma vez que tinha ido deitar às 2 horas, dormi
pouco mais de cinco horas.
d. O livro que a professora de literatura mandou comprar já está esgotado,
já que foi publicado há menos de três semanas.
e. João, o pintor, foi despedido, mesmo que tenha se negado a pintar a
casa, apesar de estar chovendo.
“Num texto, certos elementos comparam-se
aos fios que costuram entre si as partes de
uma vestimenta. Cortados esses fios, o que
sobra são simples pedaços de pano”.
(Fiorin e Savioli, 1996: 367).
Ao analisarmos essa afirmação dos autores, verificamos que um texto bem
construído é aquele que permite ao leitor compreender o que está sendo dito,
sem que este se perca entre os enunciados que o constituem, nem perca a
noção de conjunto. É possível, portanto, perceber a conexão existente entre os
vários segmentos textuais e compreender que todos estão interligados, criando
um todo coeso e coerente.
Para exemplificar o que foi dito, observemos o texto a seguir:
Para os humanistas renascentistas e os filósofos iluministas do século XVIII, a
Idade Média foi um período soturno, coberto pela longa noite da superstição,
governado pelo obscurantismo de senhores e párocos, marcado pelo fanatismo
religioso, povoado por camponeses famintos e vulneráveis aos acidentes da
vida. Enfim, a Idade das Trevas.
Ao longo do século XIX e até a segunda metade do século passado, essa visão
negativa da Idade Média passou de geração em geração, abandonada pelos
livros didáticos. Até que historiadores do século XX, os medievalistas na
vanguarda, começaram a desmontar esse mito historiográfico.
Estudos recentes revelaram as profundas transformações ocorridas nos
séculos XIV e XV. Os casamentos frequentemente eram arranjados pelos pais,

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mas o rapto por mútuo consentimento era o expediente empregado pelas


moças para escolher seus maridos. Os bordéis acolhiam alegremente os
celibatários, com as bênçãos da municipalidade, preocupada em preservar a
virtude das donzelas. Estas tomavam parte nas festas, em que o flerte era a
atividade principal. A homossexualidade era tolerada, desde que respeitasse
conveniente discrição. Os desvalidos contavam com um meio urbano solidário,
que engendrou diversos mecanismos de proteção social. Já no século XII, uma
sociedade desejosa de saber criou a universidade e o poder estudantil, e
estimulou o uso da escrita. Logo, a escola se tornou estratagema de ascensão
social, e jovens de ambos os sexos, mulheres em menor número, buscaram
nos livros um lugar na sociedade. Definitivamente, foram dissipadas as trevas
que deformaram a nossa visão de Idade Média.
(Novas luzes revelam outra Idade Média. In: História Viva. São Paulo: Editorial
Duetto, ano I, nº 5, março de 2004, p; 28).
Como você pode verificar, os enunciados desse texto não estão aglomerados
caoticamente, mas estritamente interligados, permitindo que se perceba a
conexão entre as partes. A essa conexão interna entre os vários segmentos
presentes no texto dá-se o nome de coesão. Portanto, um texto coeso é
aquele que apresenta enunciados “organicamente articulados entre si”
(Fiorin e Savioli, 1990: 271), ou seja, quando há concatenação entre as
ideias apresentadas por meio da articulação das palavras e frases.
A coesão de um texto não é fruto do acaso. Na verdade, é o resultado das
relações de sentido estabelecidas entre os enunciados. Essas relações são
manifestadas por determinadas categorias de palavras, as quais são
denominadas elementos de conexão ou conectivos. A função destes
elementos é a de colocar em evidência as várias relações de sentido que
existem entre os enunciados.
Voltando ao texto (1), podemos observar a função de alguns desses
elementos de coesão.
No primeiro parágrafo, após encadear (por meio do uso de adjetivos,
particípios e pontuação) uma série de caracterizações feitas pelos humanistas
renascentistas e os filósofos iluministas sobre a época medieval (“foi um
período soturno, coberto pela longa noite da superstição, governado pelo
obscurantismo de senhores e párocos, marcado pelo fanatismo religioso,
povoado por camponeses famintos e vulneráveis aos acidentes da vida”), o
autor do texto sintetiza a ideia básica que deseja transmitir ao seu leitor.
Para isso, faz uso do advérbio enfim indicando que passará a introduzir o
último enunciado desse parágrafo que define o período histórico analisado sob
tal ótica: “Enfim, a Idade das Trevas”.
Já no segundo parágrafo, o autor precisa apresentar as ideias relativas à
perspectiva dos historiadores do século XX que se contrapõem àquela dos
estudiosos mencionados anteriormente. Contudo, antes de anunciar essas
novas ideias, ele retoma o ponto de vista desenvolvido no primeiro parágrafo
por meio de “essa visão negativa da Idade Média passou de geração em
geração...”.

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Aqui a conexão é estabelecida por meio da expressão nominal (“visão


negativa”) que define como os estudiosos anteriores à segunda metade do
século XX viam a Idade Média. Como essa explicação já havia sido feita, o
autor faz uso do pronome demonstrativo essa que, por ser um pronome
anafórico – isto é, serve para fazer uma retomada –, exige a atenção do leitor
para buscar o sentido no elemento antecedente (nesta ocorrência, diz
respeito a todo o primeiro parágrafo).
Ainda neste parágrafo, temos o uso da preposição até, sendo empregada para
estabelecer uma relação semântica de tempo. Vejam-se os trechos:
a. “Ao longo do século XIX e até a segunda metade do século passado....”, em
que a preposição até estabelece uma relação semântica de momento no tempo
a que se chega uma ação/processo/estado, e o termo século passado
expressa o limite final temporal.
b. “Até que historiadores do século XX (...) começaram a desmontar esse mito
historiográfico”, em que a preposição até+que+oração com verbo finito indica
limite temporal.
No último parágrafo, encontramos, por exemplo, um trecho em que o
autor fala a respeito dos casamentos na Idade Média: “Os casamentos
frequentemente eram arranjados pelos pais”; no segmento seguinte, expressa
uma informação contrária à primeira e, para introduzir essa segunda oração,
precisa empregar um elemento de coesão que estabeleça a relação
pretendida, no caso o conectivo mas (conjunção coordenativa adversativa).
Continuando a observar os recursos coesivos empregados na construção
deste parágrafo, encontramos outros importantes, como:
a. pronome demonstrativo estas: no trecho “Estas tomavam parte nas
festas”, em que o pronome retoma o termo imediatamente anterior
(“...donzelas”), por meio de uma anáfora, isto é, para preencher a forma
pronominal que é esvaziada de sentido, o leitor precisa voltar ao segmento
anterior e estabelecer a relação entre os dois segmentos.
b. pronome relativo em que: no trecho “nas festas... em que o flerte era a
atividade principal”, serve para retomar o termo nas festas, introduzindo a
oração subordinada adjetiva.
c. locução conjuntiva desde que: no trecho “A homossexualidade era
tolerada, desde que respeitasse conveniente discrição”, a locução introduz uma
oração que implica condição para que a oração anterior se realize. A oração
subordinada é denominada pela gramática normativa de oração subordinada
adverbial condicional.
d. advérbio definitivamente: ocorre no segmento final “Definitivamente, foram
dissipadas as trevas que deformaram a nossa visão de Idade Média”.
Nesse trecho, o advérbio que é classificado pela gramática normativa como
advérbio de modo (adjetivo definitivo + sufixo -mente) serve para apresentar a
avaliação final do autor a respeito da Idade Média, exercendo a função de um
advérbio modalizador que introduz a conclusão do texto; ou seja, o conteúdo

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do que se afirma por meio desse advérbio é dado como um fato partilhado
entre autor e leitor, e que é reforçado pelo advérbio.
Por meio dos elementos levantados no texto (1), você pôde ver que são
várias as palavras que, num texto, assumem a função de conectivo ou
elemento de coesão:

 as preposições: a, até, de, para, com , por etc;


• as conjunções: e, mas, ou, embora, que, para que, quando etc;
• os advérbios: aqui, aí, lá, agora, já, enfim, logo etc;
• os pronomes: ele, ela, seu sua, este, esta, isto, esse, essa, isso, aquele,
que, o qual etc.

Há, portanto, dois tipos básicos de coesão:


1- A retomada de termos, expressões ou frases já ditas ou a sua
antecipação:
a. por uma palavra gramatical (pronomes, verbos ser e fazer – Paulo estuda e
José faz o mesmo –, numerais, advérbios);
b. retomada por palavra lexical (substantivos, verbos, adjetivos).
2- O encadeamento de segmentos do texto:
a. conexão: é realizada por conectores ou operadores discursivos (também
denominados conectivos ou conjunções pela gramática normativa), que devem
ser vistos como elementos que trazem para o texto uma orientação
argumentativa, e não como meros elementos relacionais. São exemplos de
conectores: e, mas, porém, embora, portanto, já que, pois etc. Desse modo,
este item engloba muitos outros termos que fazem parte de vocábulos que,
segundo a Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB), não se enquadram nas
dez classes gramaticais. Bechara, por exemplo, denomina essas palavras de:
denotadores de inclusão (até, mesmo, também); de exclusão (só, apenas,
senão); de retificação (aliás, ou melhor); de situação
(então, afinal). Estas são palavras ou expressões responsáveis pela
concatenação ou encadeamento de relações entre os segmentos textuais.
b. justaposição: faz-se pelo estabelecimento da sequenciação com ou sem o
uso de conectores. Quando o texto se organiza sem sequenciadores, cabe ao
leitor reconstruir, com base na sequência apresentada, os operadores
discursivos que não estão presentes na superfície textual. Nesse caso, o lugar
do conector é marcado, na escrita, por sinais de pontuação (vírgula, ponto e
vírgula, dois pontos, ponto) e, na fala, pelas pausas. A justaposição com
conectores estabelece um encadeamento coesivo entre porções maiores ou
menores da superfície textual e pode ser marcada por: sequência temporal
(dois meses, uma semana, ontem); ordenação espacial (à esquerda, atrás,
abaixo); especificação da ordem dos assuntos (primeiro, a seguir, finalmente);

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introdução de um dado tema ou para mudar de assunto (por falar nisso, a


propósito, mas voltando ao assunto, fazendo um parêntese).
O uso apropriado desses elementos de coesão garante unidade ao texto e
contribui de modo considerável, para que as ideias sejam expressas com
clareza e adequação.
Vejamos o texto (2), publicado no jornal Folha de S. Paulo, em 27 de
agosto de 2004 – caderno A, p.6:
Ele sempre nos leva a lugares novos, interessantes. Ele vai e apresenta onde
vamos viver. Defende e briga por nós. Consegue o melhor para a gente. Ele
nos providencia uma moradia. Ele se preocupa com a gente. Depois de um
tempo, aparece com uma proposta incrível. Uma casa na praia ou no campo.
Ele se importa com o lugar onde vamos passar as férias com a nossa família.
Ele não tem obrigação de pensar nisso, mas, mesmo assim, pensa. Nossa
satisfação, nosso sorriso no rosto de estar bem abrigado é a sua alegria. Ele
vive pra isso. Até quando o assunto é trabalho, ele está lá para nos orientar.
“Aqui sua empresa vai decolar”, diz orgulhoso, do alto de toda a sua
experiência.
Ele sabe das coisas. Ele sabe que nós precisamos dele. E ainda bem que ele
sempre está lá, à nossa disposição.
Uma homenagem do Grupo Cyrela ao Dia do Consultor Imobiliário
Av. Brigadeiro Faria Lima, 3400 – 10o andar
Itaim Bibi SP
http://www.cyrela.com.br/

Ao iniciar a leitura, podemos estranhar que o texto comece com um pronome


ele que só vai ser preenchido se chegarmos ao final. O uso dessa estratégia
coesiva de antecipação, denominada catáfora, indica que devemos procurar
nos elementos que se seguem onde está o sentido textual (ele = consultor
imobiliário, que somente será percebido se o leitor observar os elementos
contextualizadores da propaganda, ou seja, os elementos que ancoram o texto:
“título”, quem produziu, onde foi publicado, data). Essa estratégia cria certa
curiosidade e expectativa, fazendo com que o leitor avance e busque o sentido.
Antes de chegar a preencher o sentido do pronome ele, o leitor pode constatar
que o enunciador usa repetições do item lexical (ele) ou em outros momentos
usa o recurso da elipse (a forma verbal em 3a pessoa sem uso do pronome
explícito).

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ATIVIDADES
1. Releia a propaganda da Folha de São Paulo e levante outros elementos
coesivos estudados nesta unidade, além da repetição do pronome ele e de sua
elipse.
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2. Analise, nos textos colocados a seguir, os processos coesivos de construção
do referente (atente para as escolhas lexicais e sintáticas) e explique como a
coerência (organização de sentido) é construída. Observe também a pontuação
de cada um dos textos e comente.
Texto A
Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi pra os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
(Andrade, Carlos Drummond de. Poesia completa. Rio de Janeiro:
Nova Aguilar, 2002, p. 26)
Texto B
Cidadezinha qualquer
Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.
Um homem vai devagar.

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Um cachorro vai devagar.


Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham...
Eta vida besta, meu Deus.
(Andrade, Carlos Drummond de. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova
Aguilar, 2002, p. 23)
Texto C
Relatório ao governador
(texto redigido pelo então prefeito de Palmeira dos Índios – Graciliano Ramos –
no estado de Alagoas, em 10/11/1929)
O principal (...) foi estabelecer alguma ordem na administração. Havia em
Palmeira dos Índios inúmeros prefeitos: os cobradores de impostos, o
Comandante do Destacamento, os soldados, outros que desejassem
administrar. Cada pedaço do Município tinha a sua administração particular,
com Prefeitos coronéis e Prefeitos inspetores de quarteirão.
Os fiscais, esses resolviam questões de polícia e advogavam. Para que
semelhante anomalia desaparecesse, lutei com tenacidade e encontrei
obstáculos dentro da Prefeitura e fora dela – dentro, uma resistência mole,
suave, de algodão em rama; fora, uma campanha sorna, oblíqua,
carregada de bílis. Pensavam uns que tudo ia bem nas mãos do Nosso Senhor,
que administrava melhor do que todos nós; outros me davam três meses para
levar um tiro. Dos funcionários que encontrei em janeiro passado restam
poucos. Saíram os que faziam política e os que não faziam coisa nenhuma. Os
atuais não se metem onde não são necessários, cumprem as suas obrigações
e, sobretudo, não se enganam nas contas. Devo muito a eles. Não sei se a
administração do Município é boa ou ruim. Talvez pudesse ser pior. (...)
Cuidei bastante da limpeza pública. As ruas estão varridas, retirei da cidade o
lixo acumulado pelas gerações que por aqui passaram; incinerei monturos
imensos, que a Prefeitura não tinha recursos suficientes para remover. Houve
lamúrias e reclamações por se haver mexido no cisco preciosamente guardado
nos fundos dos quintais; lamúrias, reclamações, ameaças, guinchos, berros e
coices dos fazendeiros que viram bichos nas praças. Durante meses mataram-
me o bicho do ouvido com reclamações de toda a ordem contra o abandono
em que se deixava a melhor entrada para a cidade. Chegaram lá pedreiros –
outras reclamações surgiram, porque as obras irão custar um horror de contos
de réis, dizem. Custarão alguns, provavelmente. Não tanto quanto as pirâmides
do Egito, contudo. O que a Prefeitura arrecada basta para que nos não
resignemos às modestas tarefas de varrer as ruas e matar cachorros. (...)
Procurei sempre os caminhos mais curtos. Nas estradas que se abriram só há
curvas onde as retas foram inteiramente impossíveis. Evitei emaranhar-me em
teias de aranha. Certos indivíduos, não sei por que, imaginam que devem ser

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consultados; outros que se julgam autoridade bastante para dizer aos


contribuintes que não paguem impostos. Não me entendi com esses.
Há quem ache tudo ruim, e ria constrangidamente, e escreva cartas anônimas,
e adoeça, e se morda por não ver a infalível maroteirazinha, a abençoada
canalhice, preciosa para quem a pratica, mais preciosa ainda para os que dela
se servem como assunto invariável; há quem não compreenda que um ato
administrativo seja isento de lucro pessoal; há até quem pretenda embaraçar-
me em coisa tão simples como mandar quebrar as pedras dos caminhos.
Fechei os ouvidos, deixei gritarem, arrecadei 1:325$500 de multas.
Não favoreci ninguém. Devo ter cometido numerosos disparates. Todos os
meus erros, porém, foram da inteligência, que é fraca. Perdi vários amigos, ou
indivíduos que possam ter semelhante nome. Não me fizeram falta. Há
descontentamento. Se a minha estada na Prefeitura por estes dois anos
dependesse de um plebiscito, talvez eu não obtivesse dez votos.
(“Um certo prefeito de Alagoas”, matéria publicada na revista História viva,
março de 2004, p. 88-94, por Ruy Tapioca).
Texto D
De unhas pintadas, mas muito machos
Eles usam cremes para o rosto e corpo, praticam ginástica, cuidam do
cabelo, fazem as unhas, depilam as sobrancelhas, estão sempre vestindo
roupas da moda (e de grife) e – acredite – não são gays. Metrossexual foi o
termo criado pelo jornalista inglês Mark Simpson para classificar o homem
heterossexual que tem dinheiro, vive na ou próximo da metrópole e que se
preocupa com a aparência.
O escolhido para simbolizar esse novo homem, que continua gostando de
mulheres, mas não dispensa uma tarde no cabeleireiro, foi o capitão da
seleção inglesa de futebol David Beckham – cujos atributos físicos foram
(justamente) homenageados em um vídeo, exibido em uma galeria de arte de
Londres, denominado ‘David’, referência à escultura de Michelangelo sobre a
perfeição masculina.
Para quem acha que homem vaidoso não é macho, Miriam Goldemberg,
antropóloga da UFRJ, explica que antes da Revolução Francesa, os homens
se enfeitavam tanto ou mais do que as mulheres. Depois foram proibidos de
ter um tipo de vaidade associada à aparência. Sinal dos tempos, agora
quanto mais arrumado, melhor.
(Texto retirado da Revista Galileu, junho de 2004, nº.155 – também disponível
no site http://www.galileu.globo.com/)

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3. Leia a declaração de Giorgio Armani (estilista italiano de 70 anos, dono da


grife que leva seu nome, com 250 lojas espalhadas pelo mundo, incluindo
quatro no Brasil) dada à jornalista Bel Moherdaui, em entrevista à Veja e
publicada em 6 de outubro de 2004, nas páginas amarelas. A seguir, comente a
respeito do processo de articulação textual; ou seja, quais estratégias de
coesão foram empregadas? Levante cada uma delas e explique.
Pergunta feita pela Veja – Ultimamente o senhor tem trabalhado bastante com
esportistas. Veste o time inglês de futebol, agora também a seleção italiana de
basquete e chamou o brasileiro Kaká para estrelar uma de suas campanhas.
Por quê?
Armani – O esporte, como a música, atrai muitos jovens. Não tem fronteiras,
não tem diferenças. E esse tipo de público cosmopolita é meu público-alvo.
Além disso, tem a vantagem de que, em geral, os esportistas são muito
bonitos. São quase modelos e, ao mesmo tempo, são ídolos. Se vestem
Armani, melhor ainda. (p. 15).
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4. Faça o que for necessário para evitar a ambiguidade e/ou incoerência
dos períodos abaixo.
a. Durante o noivado, Joana pediu que Eduardo se casasse com ela várias
vezes.

b. Andando pela calçada, o ônibus derrapou e pegou o funcionário quando


entrava na livraria.

5. As frases seguintes devem ser transformadas em um só período. Utilize-


se dos mecanismos de coesão adequados para fazê-los.
a. Os alunos dispunham de pouco tempo. Não foi possível concluir a prova
de Matemática. O pouco tempo disponível provocou protestos junto à
direção da escola.
b. Moramos no mesmo andar. Vemo-nos com frequência. Mal nos falamos.
c. O show estava excelente. Eles saíram antes de terminar. Tinha um
aniversário para ir.

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d. Beatriz mudou de apartamento. Ela fez uma viagem ao exterior. Também


comprou um carro novo. Ficou completamente endividada.

6. Escreva um período, juntando as frases abaixo, utilizando um conectivo


de cada vez: embora, apesar de, mesmo, mas. Faça as modificações
necessárias.
Estava com febre. Não faltava às aulas.
6. Utilizando um conectivo de cada vez: embora, apesar de, mas, escreva
um período, juntando as frases abaixo. Faça as modificações
(adaptações) necessárias.
O mercado de fraldas descartáveis é dominado por empresas de grande
porte.
Pequenos fabricantes estão começando a disputar o mercado.
7. Empregando conectivos (exceto: mas, porque, por causa de), ligue os
enunciados, estabelecendo entre eles, respectivamente, relações de
oposição (concessão) e causa.
a. Prometi a mim mesmo não ir àquela comemoração. Acabei indo.
b. O Brasil tem dificuldades para se alinhar aos países de primeiro mundo.
Saúde e educação acabem sendo pouco valorizadas.

8. Proceda da mesma forma com as frases abaixo. Utilize agora os


conectivos: pelo fato de, porque.
Alguns jovens estudaram menos do que era preciso.
Esses jovens ficaram fora das boas universidades.
9. Reescreva as orações, unindo-as por meio de pronomes relativos e
fazendo as adaptações necessárias.
a. A miséria é uma triste realidade.
É preciso lutar contra a miséria.
b. Aquele rapaz é boa gente.
O pai daquele rapaz já chegou.

Para conhecer mais sobre coesão e coerência textuais, consulte os


seguintes livros:
FÁVERO, Leonor Lopes. Coesão e coerência textuais. 3.ed. São Paulo: Ática
(série princípios), 1995.

SECRETARIADO - Técnicas de Redação 53


Escola Estadual de Educação Profissional Ensino Médio Integrado à Educação Profissional
[EEEP]

FIORIN, José Luiz e SAVIOLI, Francisco Platão. Para entender o texto: leitura e
redação. São Paulo: Ática, 1990.
FIORIN, José Luiz e SAVIOLI, Francisco Platão. Lições de texto: leitura e
redação. São Paulo: Ática, 1996.
KOCH, Ingedore G. V. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 1989.
KOCH, Ingedore G. V. A coerência textual. São Paulo: Contexto, 1990.

SECRETARIADO - Técnicas de Redação 54


Hino Nacional Hino do Estado do Ceará

Ouviram do Ipiranga as margens plácidas Poesia de Thomaz Lopes


De um povo heróico o brado retumbante, Música de Alberto Nepomuceno
E o sol da liberdade, em raios fúlgidos, Terra do sol, do amor, terra da luz!
Brilhou no céu da pátria nesse instante. Soa o clarim que tua glória conta!
Terra, o teu nome a fama aos céus remonta
Se o penhor dessa igualdade Em clarão que seduz!
Conseguimos conquistar com braço forte, Nome que brilha esplêndido luzeiro
Em teu seio, ó liberdade, Nos fulvos braços de ouro do cruzeiro!
Desafia o nosso peito a própria morte!
Mudem-se em flor as pedras dos caminhos!
Ó Pátria amada, Chuvas de prata rolem das estrelas...
Idolatrada, E despertando, deslumbrada, ao vê-las
Salve! Salve! Ressoa a voz dos ninhos...
Há de florar nas rosas e nos cravos
Brasil, um sonho intenso, um raio vívido Rubros o sangue ardente dos escravos.
De amor e de esperança à terra desce, Seja teu verbo a voz do coração,
Se em teu formoso céu, risonho e límpido, Verbo de paz e amor do Sul ao Norte!
A imagem do Cruzeiro resplandece. Ruja teu peito em luta contra a morte,
Acordando a amplidão.
Gigante pela própria natureza, Peito que deu alívio a quem sofria
És belo, és forte, impávido colosso, E foi o sol iluminando o dia!
E o teu futuro espelha essa grandeza.
Tua jangada afoita enfune o pano!
Terra adorada, Vento feliz conduza a vela ousada!
Entre outras mil, Que importa que no seu barco seja um nada
És tu, Brasil, Na vastidão do oceano,
Ó Pátria amada! Se à proa vão heróis e marinheiros
Dos filhos deste solo és mãe gentil, E vão no peito corações guerreiros?
Pátria amada,Brasil!
Se, nós te amamos, em aventuras e mágoas!
Porque esse chão que embebe a água dos rios
Deitado eternamente em berço esplêndido, Há de florar em meses, nos estios
Ao som do mar e à luz do céu profundo, E bosques, pelas águas!
Fulguras, ó Brasil, florão da América, Selvas e rios, serras e florestas
Iluminado ao sol do Novo Mundo! Brotem no solo em rumorosas festas!
Abra-se ao vento o teu pendão natal
Do que a terra, mais garrida, Sobre as revoltas águas dos teus mares!
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores; E desfraldado diga aos céus e aos mares
"Nossos bosques têm mais vida", A vitória imortal!
"Nossa vida" no teu seio "mais amores." Que foi de sangue, em guerras leais e francas,
E foi na paz da cor das hóstias brancas!
Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!

Brasil, de amor eterno seja símbolo


O lábaro que ostentas estrelado,
E diga o verde-louro dessa flâmula
- "Paz no futuro e glória no passado."

Mas, se ergues da justiça a clava forte,


Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte.

Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada, Brasil!

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