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um abalo nesse equilíbrio, eis que se tratou de uma rebelião em apontando que, em tantas outras rebeliões e motins, quando os reféns são os
proporções que há algum tempo não se via no sistema paulista. É próprios agentes prisionais e/ou pessoas presas, a resposta padrão do Estado
um indicativo de esgotamento, eis que a intensificação irrefreada do consiste na autorização para a entrada da Tropa de Choque ou do próprio GIR,
inevitavelmente colocando em risco a vida de amotinados e reféns.
encarceramento em massa vem criando condições de aprisionamento
(3) Vale mencionar que, assim como a inocuidade da atividade de inspeção judicial
tão bárbaras a ponto de afetar a vigência de um armistício a que das prisões, a não resposta do Poder Judiciário ao Massacre do Carandiru é um
se assistiu na última década. Nesse sentido, a opção do Estado por dos mais vergonhosos exemplos de blindagem judicial da barbárie carcerária em
intensificar ainda mais o fechamento do cárcere, agora obstaculizando São Paulo. O julgamento do massacre do Carandiru, que vitimou 111 pessoas em
o exercício da assistência jurídica e suspendendo a atividade de outubro de 1992, ainda não possui uma decisão definitiva. Em decisão de abril de
inspeção pela Defensoria Pública e por órgãos de controle externo, é 2018, o Superior Tribunal de Justiça determinou a renovação do julgamento da
claramente equivocada, além de ilegal. A política caracterizada pela apelação pelo TJSP, que havia declarado a nulidade do processo.
invisibilidade do cárcere e pela simbiose entre o Estado e facções (4) Nesse sentido, p. ex.: “Qualquer que seja o nome dado às tratativas envolvendo
prisionais afigura-se como a receita do desastre. Lucélia é a evidência. autoridades e presos com o objetivo de colocar fim aos ataques, o fato é que
percebemos que elas foram essenciais não apenas para fazer arrefecer cada
um desses 4 momentos da crise – essencialmente, o evento de maio –, mas,
Notas principalmente, para estabelecer novos contornos às relações entre presos e
(1) Grupo de agentes penitenciários criado em 2004 em São Paulo, incumbido de administração prisional (DIAS, 2013). Nesse sentido, tem-se a conformação de
incursões em unidades prisionais em contextos de algum descontrole identificado uma situação de estabilidade sem precedentes na história das prisões paulistas”
pela direção do presídio, sobre o que recaem inúmeras denúncias de presos e (ADORNO, Sérgio; DIAS, Camila Nunes. Cronologia dos “ataques de 2006” e a
familiares acerca de tortura e maus tratos. nova configuração de poder nas prisões na última década. Revista Brasileira de
(2) Houve críticas por parte de agentes penitenciários, em grupos e fóruns digitais, Segurança Pública, v. 10, n. 2, p. 126, ago./set., 2016.).