Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
47
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
MECÂNICO DE PERFIS RETANGULARES
DE MADEIRA PLÁSTICA
(WOOD PLASTIC COMPOSITE)
Julio Cesar Molina
Marcelo Rodrigo Carreira
Carlito Calil Junior
Departamento de Engenharia de Estruturas, EESC-USP,
e-mails: juliocm@sc.usp.br, carreira@utfpr.edu.br, calil@sc.usp.br
Resumo
No Brasil, o uso de perfis de madeira plástica vem ganhando espaço no cenário da construção civil. Esse material é
formado basicamente pela mistura de madeira, materiais plásticos recicláveis e fibras vegetais, cujo produto final
apresenta características visuais semelhantes à madeira convencional. Neste artigo analisa-se o comportamento de
perfis de madeira plástica através de ensaios de caracterização. São determinados os valores do módulo de elasticidade
na flexão, das resistências à compressão, à tração e ao cisalhamento, além da densidade do material que compõe os
perfis. Os resultados apresentados mostram que a madeira plástica analisada é uma boa alternativa técnica, principalmente
com relação às solicitações de tração normal e cisalhamento, quando comparada com as madeiras sólidas de coníferas
e folhosas listadas na norma brasileira de madeiras NBR 7190/1997, podendo assim ser utilizada em diversas aplicações.
Palavras-chave: madeira plástica, ensaios de caracterização, resistência do material.
Os ensaios de caracterização apresentados neste Segundo a empresa Deutschsul Ecowood Indl Ltda.,
artigo foram realizados em perfis de madeira plástica fornecedora dos perfis de madeira plástica analisados
no Laboratório de Madeiras e de Estruturas de Madeiras neste artigo, os materiais utilizados na composição dos
da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade mesmos são serragem, polímeros de polietileno,
de São Paulo (EESC-USP). Os referidos perfis foram polipropileno, poliestireno e outros com características
fornecidos pela empresa Deutschsul Ecowood Indl Ltda. semelhantes na ordem de 60% a 70%, agregados a uma
A partir dos ensaios de caracterização realizados, foram carga vegetal (casca de arroz) na ordem de 30% a 40%,
determinados os valores médios das seguintes propriedades produzidos termoplasticamente por alta pressão. A massa
para o material analisado: módulo de elasticidade (MOE) oriunda do processo é comprimida com até 1000 kg/
na flexão na direção de menor inércia do perfil, resistência cm2 em um molde para dar a forma desejada ao perfil. O
média à compressão (fc0) na direção longitudinal do molde, uma vez preenchido, passa para a fase de
perfil, resistências à tração (ft0 e ft90) para as duas maiores resfriamento, na qual se obtém a termofixação das moléculas,
direções ortogonais do perfil, resistências ao cisalhamento tendo-se assim um perfil formado e estável.
(fv0, fv90 e fvh) nas três direções ortogonais do perfil e
densidade (ñ) do material. Os valores característicos Execução dos ensaios e equipamentos utilizados
de resistência também foram determinados para cada Para a condução dos ensaios de flexão estática, de
caso analisado. Os resultados apresentados neste artigo compressão, de tração na direção da largura “b” da seção
enriquecerão a literatura nacional sobre o assunto que, transversal (conforme indicado na Figura 4) e de
atualmente, no Brasil, encontra-se em fase de desen- cisalhamento nas três direções ortogonais do perfil, foi
volvimento. utilizada a máquina AMSLER, com capacidade de 25
kN (2500 kgf).
Materiais e Métodos As medidas das flechas, no meio dos vãos das
Todos os ensaios de caracterização do material foram amostras, nos ensaios de flexão estática, foram feitas
realizados em um total de seis amostras retiradas de seis com um transdutor de deslocamento (relógio comparador)
perfis de madeira plástica, de seção transversal retangular, com precisão de 0,01 mm e percurso máximo de 50 mm.
com dimensões de 25 mm × 100 mm e comprimento de Os ensaios de tração, na direção longitudinal dos
3000 mm. Os detalhes dos referidos perfis, com suas perfis, foram realizados na máquina METRIGUARD,
dimensões reais, estão apresentados na Figura 2. com capacidade de 80 kN (8000 kgf).
Para a determinação da densidade do material utilizou- os referidos ensaios, neste caso, foram realizados em
se uma balança eletrônica de precisão, da marca ACATEC, amostras com dimensões aproximadas de 25 x 100 x 60
com capacidade de 3x10-2 kN (3 kgf). As medidas das mm. Essas dimensões foram admitidas para as amostras
dimensões das amostras para cada um dos diferentes ensaios com a finalidade de eliminar o efeito da deformação por
realizados foram efetuadas com utilização de um paquímetro cisalhamento na parcela total do deslocamento vertical
digital, da marca MITUTOYO, com percurso máximo (flecha) no meio do vão da amostra. Neste caso, a distância
de 15 cm e também a partir da utilização de uma trena entre os apoios da amostra foi de aproximadamente vinte
métrica. vezes a altura do perfil. O carregamento, no ensaio de
Os valores de referência para as amostras dos ensaios flexão estática, concentrado no meio do vão, foi aplicado
de caracterização da madeira plástica foram determinados a uma taxa de 10 MPa/min, conforme indicações da NBR
previamente a partir de ensaios em amostras gêmeas, 7190/1997. O módulo de elasticidade (MOE), para o ensaio
como sugerido pela norma de madeiras NBR 7190/1997. de flexão estática, foi obtido a partir da equação (1).
(1)
Ensaios de flexão estática
Inicialmente, verificou-se a possibilidade de em que:
determinação do módulo de elasticidade (MOE) na flexão, ΔP = variação da carga concentrada aplicada no meio
a partir do ensaio não destrutivo de vibração transversal. do vão;
No entanto, observou-se, neste caso, que a frequência L = distância entre apoios;
de vibração do perfil de madeira plástica não atingiu o
Δf = variação da flecha no meio do vão;
valor mínimo necessário para a determinação do referido
módulo, inviabilizando o ensaio. A opção inicial pelo I = momento de inércia da seção transversal da amostra
ensaio de vibração transversal, na determinação do módulo (b × h3/12, ver Figura 4).
de elasticidade do material, teve por principal objetivo Um esquema geral do ensaio de flexão estática,
a estimativa preliminar do referido parâmetro, a partir realizado para determinação do módulo de elasticidade
da consideração das dimensões originais do perfil 25 x (MOE), está apresentado na Figura 4. A distância “L”
100 × 3000 mm e da grande flexibilidade do material (correspondente à direção longitudinal do perfil), entre
analisado. os apoios, considerada neste caso foi de 50 cm. A distância
O módulo de elasticidade (MOE) foi posteriormente entre cada apoio da amostra e sua respectiva extremidade
obtido por meio do ensaio de flexão estática, sendo que foi de aproximadamente 10 cm.
Figura 3 Detalhes do ensaio de vibração transversal do perfil com dimensões originais 25 × 100 × 3000.
h
b
Seção do perfil Transdutor de deslocamento
Figura 4 Esquema geral do ensaio de flexão estática com carga aplicada no centro do vão da amostra.
Durante os ensaios de flexão estática foram no meio do vão, foram medidos a cada 158,8 N (15,88
registradas nove diferentes medidas de deslocamento kgf). As amostras utilizadas para a determinação do
vertical no meio do vão “L”, para cada uma das amostras módulo de elasticidade, a partir dos ensaios de flexão
analisadas, sendo essas medidas correspondentes a cada estática, e as amostras utilizadas para a determinação
um dos níveis de força “P” aplicados no ensaio. A da densidade do material foram as mesmas. As dimensões
força “P” máxima, aplicada neste caso, correspondeu obtidas para as referidas amostras estão apresentadas
a 1429,60 N (142,9 kgf), e os deslocamentos verticais, na Tabela 1.
Figura 5 Detalhes das amostras utilizadas e da realização dos ensaios de flexão estática.
Tabela 2 Flechas obtidas nos ensaios de flexão estática para as forças “P” aplicadas.
Figura 8 Detalhes da amostra utilizada e da realização do ensaio de tração na direção da largura “b”
que é normal à direção longitudinal L do perfil.
Tabela 5 Áreas das amostras para os ensaios de tração na direção da largura “b”.
(a) Pesagem das amostras (b) Medida das dimensões das amostras
Figura 9 Quantificação dos parâmetros necessários à determinação da densidade do material.
Figura 11 Detalhes do ensaio de cisalhamento das amostras nas três direções ortogonais do perfil.
160
140
120 Amostra 01
Força aplicada (kgf)
100 Amostra 02
Amostra 03
80
Amostra 04
60
Amostra 05
40 Amostra 06
20
0
0 1 2 3
Flecha no meio do vão (cm)
Figura 12 Comportamentos das amostras dos perfis ensaiadas nos ensaios de flexão estática.
Figura 13 Detalhes das deformações das amostras obtidas a partir dos ensaios de flexão estática.
O valor médio, obtido para a densidade da madeira para o módulo de elasticidade na flexão da madeira
plástica, foi de aproximadamente 930 kgf/m3. plástica foi menor que o módulo de elasticidade médio
Os resultados de resistência obtidos a partir dos ensaios das coníferas e dicotiledôneas na direção das fibras das
de cisalhamento para as três direções ortogonais dos perfis madeiras.
de madeira plástica estão apresentados na Tabela 11.
Os valores médios das resistências ao cisalhamento Considerações Finais
(fv0, fv90 e fvh) nas direções longitudinais, na largura “b” Os perfis de madeira plástica analisados apresentaram
e na direção da altura “h” foram, respectivamente, de elevada deformabilidade na flexão. Portanto, o dimen-
19,58 MPa, 17,32 MPa e 16,76 MPa, sendo os valores sionamento dos perfis de madeira plástica na flexão deve
característicos (fv0k, fv90k e fvhk) correspondentes a cada ser condicionado a limitações da flecha. Para os estados
uma dessas resistências de 13,71MPa, 12,12 MPa e 11,73 limites de utilização, a flecha do perfil deve ser limitada
MPa, respectivamente. A madeira plástica apresentou em L/360.
ruptura dúctil para os três casos de cisalhamento analisados. Com relação à resistência à compressão, a madeira
A resistência característica ao cisalhamento da plástica analisada correspondeu à classe de resistência
madeira plástica foi praticamente homogênea para as C25, no caso das coníferas, e à classe C20, no caso das
três direções ortogonais do material, com valor médio dicotiledôneas. A madeira plástica apresentou, ainda,
característico aproximado de 12,52 MPa. resistência específica equivalente às dicotiledôneas de
A partir dos valores comparativos apresentados classe C20.
nas Tabelas 12 e 13, e tomando por base a classe de Com relação à resistência ao cisalhamento, a madeira
resistência C20, tanto para as coníferas quando para as plástica apresentou bom comportamento, com homoge-
dicotiledôneas, observou-se que os valores característicos neidade da resistência nas três direções ortogonais do
de resistência, obtidos para a madeira plástica, foram material e ruptura do tipo dúctil. Nas coníferas e
maiores na compressão e no cisalhamento. O valor médio dicotiledôneas, a ruptura, no caso da solicitação ao
obtido para a densidade da madeira plástica também cisalhamento, é do tipo frágil. A resistência do cisalhamento
foi maior quando comparado aos valores fornecidos da madeira plástica foi da ordem de três vezes maior
para as madeiras sólidas. Porém, o valor da densidade que a resistência das coníferas e dicotiledôneas de classe
está relacionado com a resistência específica (resistência/ C20, sendo, portanto, indicada em situações de solicitações
peso) do material. Além disso, o valor médio obtido críticas ao cisalhamento.