Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
Apresentar os principais pontos abordados pelo Sumo Pontífice Bento XVI em sua
carta encíclica Caritas in Veritate consiste o objetivo deste resumo; isso implica em explicitar
as suas propostas com relação ao desenvolvimento humano e a questão do progresso frente à
crise atual. Entre vários aspectos presente na encíclica apresentaremos os critérios delineados
pelo Pontífice para a eficiência do aperfeiçoamento total das pessoas e, também, a
importância de se estabelecer os meios e os fins de uma atividade humana para orientar a
humanidade rumo ao caminho do seu autêntico e natural processo de personalização.
A Igreja Católica Apostólica Romana tem por missão apresentar ao mundo a face de
Cristo e, nada mais oportuno do que apresentá-lo neste período em que a humanidade em
diversas dimensões que a constitui se encontram em crise. Neste contexto o Santo Padre
escreveu a “todos os homens de boa vontade” sobre o desenvolvimento humano integral a
partir da caridade na verdade. Este tema vem ao encontro dos anseios mais profundos do ser
do homem e o leva a perguntar sobre a sua condição humana, sobre si mesmo e sobre o seu
agir. O papa tendo como fundamento, a Sagrada Escritura, a Tradição e o Magistério revela
ao homem moderno aquilo que garante o seu bem e a sua plena realização, pois é “aderindo
ao projeto que Deus tem para ele a fim de o realizar plenamente: com efeito, é em tal projeto
que encontra a verdade sobre si mesmo e, aderindo a ela, torna-se livre (2009, Caritas in
Veritate, n.1).” O homem só atingirá o ápice do seu desenvolvimento quando estiver todo em
Deus e para Deus, só atingirá a sua integralidade quando for capaz de traduzir na vida a
expressão Totus Tuus2.
Perante a crise atual o ser humano volta o olhar não, apenas para fora, mas para dentro
de si e percebe que quanto mais afastado de Deus mais distante de si ficará. Podemos dizer
que a crise de per si é a possibilidade de rever os caminhos e discernir sobre quais verdadeiros
princípios coincidem com o projeto de Deus e, é claro com os anseios humanos, com a
vocação humana. Quando nos deparamos, na encíclica, com a expressão desenvolvimento
humano integral baseado na caridade na verdade temos a proposta do Santo Padre que, por
sua vez, prega os ensinamentos de Cristo. Ela soa aos nossos ouvidos como que um convite,
ou melhor, um apelo urgente para que o homem assuma a sua verdadeira e autêntica
1
Por: Fernando Lorenz, graduado em Filosofia pela Universidade Católica Dom Bosco e acadêmico do 2º.
semestre de Teologia do Instituto Teológico João Paulo II. E-mail: fernandolorenz@hotmail.com
2
Em português: Todo Teu (tradução própria).
2
identidade que é a “imagem e semelhança de Deus” (Gn 1, 27). Deste modo, sabemos que em
Deus temos a forma de amor mais pura e autêntica, ou seja, o amor ágape. Este sendo a
própria gratuidade, ama sem esperar ser amado, a tal ponto de constituir em seu ser a
condição de doação. Cabe, então, lembrar que na encíclica Deus caritas est, o papa nos
apresenta o amor em seus três níveis: o Eros, o filia e o Ágape. E com isso nos mostrou, de
maneira engenhosa, que caminhamos em direção ao amor ágape, à gratuidade; revela, então,
que “o amor visa à eternidade” (2005, n. 6). Na sua recente encíclica Caritas in Veritate
utiliza como aspecto essencial e necessário para o desenvolvimento econômico, social e
político o princípio da gratuidade “como expressão de fraternidade” (2009, n. 34). Dito isso, é
evidente a profunda relação existente nos seus escritos. A expressão caritas traz consigo este
desejo inato do ser humano em atingir a sua realização total, ou para ressaltar a atual
encíclica, o seu desenvolvimento integral. Em todo caso, a caritas está ligada a veritate que é
considerada “a luz que dá sentido e valor à caridade” (2009, n.3). Agora, quando temos a
ausência da verdade na caridade, esta “cai no sentimentalismo” (2009, n.3). Por isso podemos
dizer que desenvolvimento humano integral só será possível se nossa experiência vivencial
for fundamentada pela caridade na verdade. Esta faz os homens saírem das opiniões para
adentrar na avaliação do valor e da substância das coisas (2009, n.3). De todo modo, o homem
ao viver na verdade uni “as inteligências no logos do amor” e, garante a autenticidade do seu
desenvolvimento, ou seja, “contribui para a edificação daquela cidade universal de Deus que é
a meta para onde caminha a história da família humana” (2009, n. 7), a eternidade.
A primordial tarefa da atual encíclica caritas in veritate é mostrar que a Igreja está a
serviço da verdade, tendo em vista que “a fidelidade ao homem exige a fidelidade à verdade”
(2009, n. 9). E, também, está a favor de uma sociedade à medida do homem que corresponda
à dignidade humana, com isso, ela não pretende oferecer soluções técnicas, mas orientar os
homens a serem fiéis à verdade que garante a liberdade e a possibilidade de um autêntico
desenvolvimento humano integral.
Uma das questões percebidas por Bento XVI na carta encíclica Populorum Progressio
de Paulo VI é que desenvolvimento humano, o progresso é uma vocação, um chamado do
criador e que exige liberdade, solidariedade e responsabilidade por parte de todos os homens.
Aqui encontramos a justificativa para a intervenção da Igreja nas problemáticas do
desenvolvimento, ela ilumina as questões sociais com a luz do Evangelho. Isso revela que o
desenvolvimento não é apenas uma questão humana, mas também uma questão que nos
remete ao divino e, por isso, exige uma visão transcendente da pessoa humana. O
desenvolvimento autêntico exige o encontro das pessoas com Deus, pois é a partir daí que
reconhecemos no outro a imagem divina e nos tornamos próximos uns dos outros. A
alteridade se revela como possibilidade de encontro e descobrimento do ser de cada pessoa.
(apud Bento XVI, n. 19). Ele se dá conta que a razão consegue estabelecer normas cívicas
entre os homens, mas não consegue fundar a fraternidade, esta que, segundo ele, tem a sua
origem em Deus que nos ama por primeiro e, que ensina a nós por meio de Jesus Cristo o que
é a caridade fraterna. De todo modo, a Populorum Progressio com as suas perspectivas sobre
a urgência da reforma revela a necessidade da realização de uma autêntica fraternidade para
que avance os processos econômicos e sociais com finalidades prioritariamente humanas.
No primeiro Capítulo da Carta Encíclica, apresentado acima, o papa fez uma releitura
da Carta Encíclica, escrita no ano de 1967, Populorum Progressio de Paulo VI e a partir daí
percebeu a sua importância para a nossa atualidade em nível de mensagem cristã frente à
construção de um desenvolvimento humano baseado na caridade na verdade, uma vez que,
somente assim será capaz de atingir a integralidade. Em seguida, no segundo capítulo de sua
carta, o papa apresenta o desenvolvimento humano de nossa atualidade que apesar de em
muitos países ter tirado várias pessoas da miséria, ainda, continua a apresentar anomalias e
problemas dramáticos, exemplo disso, é a crise atual. O que se percebe é uma atividade
financeira mal utilizada e na sua maior parte é especulativa, a exploração desregrada dos
recursos da terra, nos leva, de acordo com o Santo Padre, a refletir sobre quais medidas
necessárias para solucionar os problemas. No fundo as reflexões deveram apresentar uma
“nova síntese humanista” (BENTO XVI, 2009, n. 21). O contexto atual é propício para que
aconteça uma redescoberta de valores fundamentais para a construção de um futuro melhor,
afinal é para isso que a crise nos remete. Diante do quadro policêntrico em que se encontra o
desenvolvimento é necessário que abandonemos as ideologias que reduzem e simplificam a
realidade e examinemos com seriedade e, principalmente, objetividade a problemática
mundial.
Na medida em que o mercado se tornou global a doutrina social da Igreja nos convida
a criar associações de trabalhadores em defesa de seus direitos. Em todos os casos “o primeiro
capital a preservar e valorizar é o homem, a pessoa, na sua integralidade” (BENTO XVI,
2009, n. 25). Devemos levar em consideração, no plano cultural, a necessidade de um diálogo
intercultural, porém, para que isso aconteça é necessário que saibamos a identidade de nossos
interlocutores. Certo ecletismo e nivelamento cultural separam a cultura da natureza humana,
desse modo, reduzem o homem apenas em dado meramente cultural, em conseqüência disso,
a humanidade se vê aberta aos perigos da servidão e da manipulação.
O papa sugere o caminho da solidariedade como projeto de solução para a crise global,
e também, o respeito pela vida não pode ser visto de maneira separado do desenvolvimento
dos povos, já que em muitos países a “mentalidade antinatalista” é transmitida como se fosse
um progresso cultural. Com isso o papa quer afirmar que “a abertura à vida está no centro do
verdadeiro desenvolvimento”. Outra questão abordada pelo papa e que está ligada ao
desenvolvimento é a negação do direito à liberdade religiosa, tendo em vista que a violência
retarda a evolução dos povos para um bem estar sócio-econômico e espiritual. Esta atitude
fecha as portas do diálogo entre as nações (2009, n. 27). É importante dizer que Deus garante
o verdadeiro desenvolvimento do homem, pois ele mesmo inseriu no coração do homem o
desejo de ser infinitamente mais aquilo que é.
A temática sobre as empresas que tem por finalidade o lucro e organizações que não
buscam o lucro é citada pelo papa e, também, o surgimento de empresas que não excluem o
lucro, mas o considera como meio, instrumento para realizar finalidades humanas e sociais.
8
Este modelo de sistema deve ser incentivado, pois possibilita uma evolução acerca dos
deveres por parte dos sujeitos econômicos. (2009, n. 46). Um sistema que não visa à pessoa
como valor absoluto está destinado ao fracasso. Para a eficiência de determinado sistema é
necessário uma cooperação internacional em que a solidariedade, o acompanhamento, a
formação, o respeito, a transparência e o compromisso estejam presentes em todos os projetos
humanitários.
A maneira como o homem se relaciona com o ambiente natural está ligado com o
tema do desenvolvimento que, por sua vez, não é possível quando se perde a noção de
responsabilidade. A natureza deve ser vista como um “dom do criador que traçou seus
ordenamentos intrínsecos, dos quais o homem deve tirar as devidas orientações para ‘guardar
e cultivar’ (Gn 2, 15)” (2009, n. 48). Existem concepções que atrasam o desenvolvimento um
deles é o fato de considerar a natureza mais superior do que o ser humana; a outra que se deve
rejeitar é a completa tecnicização da natureza. De todo modo, a integralidade do progresso
depende da solidariedade e da importância do reconhecimento dos aspectos ecológicos,
jurídicos, econômicos, políticos e culturais.
O ser humano quando prejudica o meio ambiente traz danos a si mesmo, com isso, não
basta apenas preservar a natureza com penalidades ou a instrução, mas “o problema decisivo é
a solidez moral da sociedade em geral” (2009, n. 51), isto é, quando se tem uma moral que
não condiz com as leis naturais ela acaba por destruir a própria naturalidade das coisas. Isso é
constatado no momento em que se pede para respeitar o meio ambiente natural, porém, não se
respeita o direito à vida e à morte natural, sacrificam embriões humanos e tornam a
concepção, a gestação e o nascimento do homem de modo artificial. Quando se perde o
conceito de ecologia humana se perde, junto com ele, o conceito de ecologia ambiental. De
todo modo, é uma contradição quando se pede as pessoas o respeito ao ambiente natural,
porém, as leis não as ajudam a respeitar a si mesmas. Portanto, o homem passa por uma crise
moral. Isso se dá porque muitas vezes as suas escolhas não são baseadas na lei natural e, em
decorrência disso, o homem fere a si e o ambiente natural em que vive.
alienado, pois renuncia em acreditar num fundamento, porém a humanidade se perde quando
atribui a sua existência um sentido puramente humano. A ausência de convicções leva o
homem ao declínio.
O ser pessoa é um ser relacional por natureza e quando nega esta dimensão nega a si
mesmo, a partir desta perspectiva o mundo oferece uma maior interatividade e, isso, deve
transformar-se em verdadeira comunhão, ou seja, o homem está para a comunhão. A
finalidade pela qual existe é a comunhão, ou melhor, só existe na comunhão. Desse modo o
reconhecimento de que somos uma só família é condição necessária para o desenvolvimento.
Portanto, O individualismo leva o homem à decadência, pois este se volta para si, e
desta forma, torna-se isolado. Suspenso por si e em si e para si, não participa do outro, pois só
participa de si, não se ocupa com o outro, pois está ocupado consigo. A partir disso tem-se um
mundo da indiferença, da dispersão, da despersonalização, da irresponsabilidade com o
próximo, da ausência de renúncia, da desapropriação, enfim, do vazio existencial. O que fazer
quando o homem corre o risco de perder-se em seu próprio ser? Esta questão revela a
problemática que envolve os tempos contemporâneos e, diante disso, tem-se como proposta
para a recuperação da pessoa humana o personalismo comunitário.
Os homens precisam uns dos outros para se realizar, isso significa que as relações
interpessoais quanto mais autênticas promovem o amadurecimento da identidade de cada
pessoa. Então o seu desenvolvimento depende de uma visão metafísica da relação entre as
pessoas. Neste sentido “a razão encontra inspiração e orientação na revelação cristã” (2009,
n. 53), pois esta pressupõe uma interpretação metafísica do humano, uma vez que, é na
realidade de um Deus pessoal que se funda a pessoalidade de cada indivíduo. Temos como
exemplo “...a relação entre as Pessoas da Trindade na única substância divina. A Trindade é
absoluta unidade, enquanto três pessoas divinas são pura relação. A transparência recíproca
entre as Pessoas divinas é plena, e a ligação de uma com a outra é total, porque constituem
uma unidade e unicidade absoluta. Deus quer nos associar também a esta realidade de
comunhão...” (2009, n. 54). A relação existente entre as três Pessoas divinas é o modelo pelo
qual as relações humanas devem ser pautadas.
Em contrapartida existem certas religiões e culturas (castas sociais) que não
empenham o homem na comunhão, mas o isola na busca do bem-estar individual, limitando-
se a satisfazer seus anseios psicológicos. Neste sentido o sincretismo religioso, a proliferação
de pequenos grupos religiosos são fatores de dispersão e de apatia. Aqui nos deparamos com
um aspecto negativo da globalização que é favorecer o sincretismo e formas de religiões que
afastam as pessoas uma das outras e, conseqüentemente de si mesmas. Nestes contextos o
10
A má utilização das finanças prejudicou a economia, diante disso, é preciso que elas
voltem a ser um instrumento que tenha em vista a melhor produção de riqueza e o
desenvolvimento. Devem ser utilizadas de modo ético a fim de criar as condições adequadas
para o desenvolvimento da humanidade. Frente às iniciativas financeiras é necessária a
existência da primazia de uma dimensão humanitária. É preciso que os operadores das
finanças redescubram o fundamento ético próprio da sua atividade. (2009, n. 65).
de comprar é sempre um ato moral e, que está além do econômico, deste modo, é preciso uma
responsabilidade social do consumidor. A educação se faz necessária.
soberania sobre o homem. Por isso, é urgente a formação para uma responsabilidade ética no
uso da técnica. O papa ressalta que o desenvolvimento não é garantido completamente por
forças automáticas e impessoais, mas só será possível a partir da retidão das consciências
voltadas para o bem comum. Para isso são necessárias tanto a preparação profissional como a
coerência moral (2009, n. 71).
A bioética nos dias atuais se encontra numa luta cultural entre o absolutismo da
técnica e a responsabilidade moral do homem. Trata-se de um âmbito em que irrompe a
questão fundamental de saber se o homem produziu pó si mesmo ou se depende de Deus. As
descobertas científicas neste campo e as possibilidades técnicas parecem tão avançadas que
impõem a escolha entre duas concepções: a da razão aberta à transcendência ou a da
razão fechada na imanência. Diante destes problemas dramáticos a razão e a fé ajudam-se
mutuamente; e só conjuntamente salvarão o homem: fascinada pela pura tecnologia, a razão
14