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1. Apresentação
Compreendemos a Política Pública como uma forma por meio da qual o Estado
intervém na realidade com o intuito de preservá-la ou alterá-la. Contudo, para falarmos de
política pública é necessário considerar o problema público, pois os fins da política pública
são combater, diminuir ou até mesmo resolver o problema público. “O problema público é
um conceito intersubjetivo, ou seja, ele só existe se incomoda uma quantidade ou
qualidade considerável de atores” (SECCHI, 2016, p.5).
Porém, atrair posição de destaque para um tema não é tão simples, já que existem
diversas demandas sociais na poliarquia brasileira. Tendo em vista esta porção de
questões a serem solucionadas, é formada uma agenda política (agenda setting) pelos
governantes, de acordo com as suas prioridades ou constrangimentos. Kingdon (2006)
entende a agenda governamental como um complexo de assuntos e temas sobre os
quais o poder público e seus agentes dedicam sua atenção por um período determinado
de tempo.
De acordo com Secchi (2015, p.46) a agenda é um conjunto de problemas públicos
ou temáticas considerados importantes. Um problema público pode tornar-se uma agenda
governamental à medida que os atores envolvidos, especialmente os afetados pelo
problema conseguem se articular politicamente para pressionar os poderes públicos para
a consolidação de uma política pública, seja ela um programa, projeto, orçamento, ou
seja, uma intervenção direta do poder público para amenizar ou sanar o problema.
As políticas públicas são respostas que não ocorrerão a menos que haja uma
provocação. Em linguagem mais especializada, as políticas públicas se destinam a
solucionar problemas políticos, que são as demandas que lograram ser incluídas
na agenda governamental. Enquanto essa inclusão não ocorre, o que se tem são
‘estados de coisas’: situações mais ou menos prolongadas de incômodo, injustiça,
insatisfação ou perigo que atingem grupos mais ou menos amplos da sociedade
sem, todavia, chegar a compor a agenda governamental ou mobilizar as
autoridades políticas. (RUAS, 2008 apud BRASIL, 2014)
Uma vez que o problema foi incluído na agenda, são realizados estudos,
planejamentos e estratégias para realização da política pública de público de acordo com
seus objetivos e esfera federativa (Municipal, Estadual ou Federal) responsável pela
execução e acompanhamento. A constituição dos objetivos é um processo fundamental
para definição dos resultados esperados da política pública. Quanto mais precisos os
objetivos, mais segura será a verificação da eficácia da política pública.
Pensando nas abordagens para a construção de uma agenda de políticas públicas
neste tema, é possível indicar quatro perspectivas relacionadas às diferentes
compreensões sobre juventude, de acordo com Krauskopf (2003 apud BRASIL, 2014).
Estes quatro enfoques sugerem propostas distintas de políticas públicas com programas e
ações, direcionados aos jovens, delimitando as configurações e objetivos.
A primeira delas é a visão da juventude como etapa preparatória, ou seja, na
transição entre a infância e a idade adulta. O sentido é elaborar atividades verticalizadas,
dos adultos para os jovens, em que estes programam o seu futuro e suas ações tendo o
educador como referência principal. Porém, as limitações identificadas nesta abordagem
apontam que: a) atribuem-se experiências e comportamentos homogêneos entre os
jovens, não refletindo sobre as desigualdades entre eles; b) o jovem não é visto como
indivíduo social do presente, já que o ponto está em sua projeção no futuro.
O segundo entendimento para juventude é como etapa problemática, que evidencia
a vulnerabilidade desta parcela da sociedade. A partir de estatísticas e indicadores é
concebido que os jovens estão mais suscetíveis a envolvimento com “comportamentos de
risco” como violência, drogas e gravidez precoce, além de vivenciarem altos níveis de
desemprego e a falta de acesso à educação. Entende-se daí a necessidade de políticas
focalizadas e compensatórias nos campos de saúde e justiça. Esta visão é criticada por
estigmatizar os jovens, já que associa os problemas à juventude e assim, transforma o
sujeito jovem em um “problema” para a sociedade.
O jovem visto como um ator estratégico para o desenvolvimento é o terceiro
enfoque, que acredita no investimento na juventude como capital humano e social para o
desenvolvimento. Esta abordagem é principalmente disseminada pelos organismos
internacionais e agências de cooperação. Apesar de bem aceita como visão que
reconhece a juventude com potencialidade para atuar frente aos desafios e
transformações do mundo atual, há críticas a esta abordagem. Isso porque não se
aprofunda no modelo de desenvolvimento, sem discutir os aspectos que reproduzem
desigualdades e vulnerabilidades entre os jovens e assim, sem promover esta discussão,
transfere a responsabilidade de inclusão na própria juventude.
Finalmente, a quarta concepção enxerga os jovens como “sujeitos de direitos” na
perspectiva da cidadania. A ideia é admitir as especificidades e necessidades desta etapa
de vida, bem como identificar a potencialidade de participação e contribuição, e assim,
alinhar com outras políticas públicas. Procura-se incluir o jovem como sujeito de direitos
políticos, sociais, civis, econômicos e culturais, para que possam praticar a sua cidadania.
Com tal capacidade, permite-se à juventude defender os seus interesses e exercer a
consciência de seus deveres e direitos com um pensamento autônomo e crítico.
Esta última abordagem é evidenciada por vários movimentos e entidades da
sociedade civil, por pesquisadores acadêmicos e por ONGs durante os anos 1990 e 2000.
Também é a concepção enfatizada pelo Conselho Nacional de Juventude (CONJUVE),
que enxerga a juventude como categoria social, entre a faixa etária dos 15 aos 29 anos,
em suas várias vivências, identidades e representações.
4. Considerações Finais