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Capitulo 1

Espaço, Regiões e Economia Regional

Carlos Maurício de C. Ferreira

FERREIRA, Carlos Maurício de C. Espaço, Regiões e Economia Regional. IN: HADDAD, PauIo
Roberto. (Org.). Economia regional: teorias e métodos de análise. Fortaleza, BNB - ETENE, 1989.
694p. (Estudos Econômicos e Sociais). Cap. 1, pp. 45-65

1.1 INTRODUÇÃO
Para se compreenderem os propósitos e o lugar ocupado pela Economia Regional nos estudos
econômicos e no âmbito da teoria econômica geral, é necessária uma introdução conceitual que
esclareça o conteúdo das categorias básicas de análise desse ramo da economia, tais como espaço,
economia espacial e economia regional. Esses conceitos se consolidaram, particularmente, na década
de 1950.
Alguns aspectos da análise espacial merecem destaque para que possamos melhor entender
sua importância e suas limitações. Por isso discutir-se-á, posteriormente, o descaso dos economistas
clássicos pelas contribuições dos teóricos da Economia Espacial Clássica, já que para eles a
temporalidade mostrou ser muito mais básica que a categoria espaço.
A História contaria mais que a Geografia. Mas, a ênfase na temporalidade girava em torno do
pressuposto da universalidade das leis econômicas clássicas, o que viria a ser negada pela Escola
Histórica Alemã, contestando a incondicionalidade das leis econômicas, quer no espaço, quer no
tempo, elevando o condicionamento geográfico ao nível de importância do condicionamento histórico.
Em suma, as leis econômicas gerais têm de ser vistas criticamente e suas aplicações adaptadas à
realidade de cada país e às fases históricas em que se encontram.
No exercício desse esforço de avaliação crítica das teorias econômicas gerais, Wilhelm
Roscher e A. Schaffle (PONSARD 26:23), membros da Escola Histórica Alemã da segunda metade
do século XIX, se dedicaram à enumeração dos fatores locacionais peculiares a cada país, em cada
época, e que explicariam as vantagens comparativas de um país ou região para que ali se
localizassem atividades produtivas. 45
Em fins do século XIX e início do século XX consolidam-se a tradição e liderança germânicas
nas teorias da economia espacial, cuias ideias seminais já haviam sido, firmemente, lançadas por Von
Thünen. Vale enfatizar que, ao lado da discussão da relevância das categorias analíticas espaço e
tempo, surge uma outra que no plano científico, assume a maior importância, ou seja, o conteúdo
doutrinário e ideológico das teorias econômicas em geral, inclusive as teorias da Economia Espacial.
Essa discussão se estende os dias atuais em um processo constante de modificações e redefinições
nas categorias espaço e região, em direção a uma ciência regional de cunho holístico e interdisciplinar.
A História das Doutrinas Econômicas revela que a preeminência inglesa, no início do século
XIX, levou seus principais teóricos da Economia a formulação de leis econômicas que, enfim,
consubstanciavam as condições sociais, políticas e institucionais da Inglaterra, bem como refletiam
os interesses, desse país no campo econômico. É a partir da percepção desses condicionamentos
que os autores alemães da Escola Histórica contestam os fundamentos teóricos dos clássicos
ingleses. A posição de várias classes autores alemães refletia as reações da Alemanha dependente,
subdesenvolvida, agrária e feudal, bem conto política, social e economicamente dividida, do século
XIX. Remontando-se à época de Von Thünen, nos fins do século XVIII e início do século XIX, não se
podem desconsiderar, também, as influências que as ideias dos cameralistas e dos socialistas
utópicos exerceram sobre ele ao lado das de Adam Smith'
O aprofundamento da análise crítica das teorias econômicas gerais e daquelas que enfatizam
as consequências das distâncias, do custo de transporte, da localização geográfica e da concentração
e aglomeração das atividades no espaço geográfico, como as teorias econômicas espaciais e
regionais, converge na atualidade, para as questões estruturais e inerentes à organização capitalista
de produção: a concentração industrial, a centralização do capital nas mãos de um número reduzido
de capitalistas, a concentração e aglomeração geográficas das. atividades econômicas, as
desigualdades na distribuição pessoal e regional da renda e da riqueza, a divisão social e a
discriminação da classe trabalhadora e estamentos sociais marginalizados do capitalismo, a
concorrência intercapitalista e o progresso tecnológico como forma de dominação etc.
O descaso com os aspectos espaciais das teorias econômicas, com o planejamento regional e
com as consequências regionais das políticas macroeconômicas é ainda mais grave, devido ao fato
de se colocarem em segundo plano as questões doutrinárias e ideológicas da Teoria Econômica
Espacial. 46 A teoria econômica espacial adiciona às discussões de cunho eminentemente
locacionais, outras que Raymond Barre chama de estruturas de enquadramento e François Perroux
de instituições: regras do jogo político, hábitos e gostos dos consumidores, comportamento das elites
intelectuais e financeira, padrões de governo, atitudes da comunidade, consumes, religião, legislação,
organização comunitária e operária etc.
A Economia Espacial e a Economia Regional fornecem elementos substanciais para o
entendimento dos processos de consolidação das atividades nas regiões. A concentração do capital
industrial e a aglomeração das atividades econômicas em poucas localizações geográficas
distribuídas irregularmente representam, de fato, os problemas centrais da Economia Espacial e
Regional, de tal forma que os problemas de desenvolvimento socioeconômico regional são também
problemas de localização.
Neste sentido existem conceitos básicos, fundamentais para a análise, avaliação e discussão
das teorias e métodos da Economia Regional e dos processos de planejamento discutidos na próxima
seção.
1.2. CONCEITOS
1.2.1. Economia Espacial
Na concepção de HOOVER (14:3-13) a Economia Espacial se refere à análise da questão o
que está onde e por quê. Cumpre à análise espacial estudar os tipos específicos de atividades
econômicas, suas localizações em relação a outras atividades econômicas, ou seja, questionar os
problemas relativos à proximidade, concentração e dispersão das atividades e às semelhanças ou
diferenças dos padrões de distribuição geográfica dessas atividades. Para se realizar a análise
espacial é necessário convencionar unidades básicas de observação adequadas: a um nível maior de
agregação dos pontos do espaço geográfico-político-administrativo de um país, essas unidades
constituem, por exemplo, regiões ou áreas metropolitanas; a nível microgeográfico constituem zonas,
áreas e locais específicos.
Na análise espacial são feitas duas distinções essenciais: a análise locacional e a análise
regional (FRIEDMAN 8:77). A análise regional - ou seja, quando a preocupação é com os
agrupamentos ou aglomerações de atividades econômicas, sociais, políticas e administrativas inter-
relacionados e próximos, dentro de áreas geográficas que constituem subespaços contínuos do
espaço nacional - utiliza recursos analíticos macroeconômicos e métodos e modelos agregativos
como, por exemplo, 47 os multiplicadores de Kahn e Keynesianos de emprego e renda, as
contribuições das teorias de desenvolvimento de Lewis, Myrdal, Furtado, Kaldor, entre várias outras
contribuições da Economia. As áreas geográficas ou subespaços nacionais que constituem o objeto
de preocupação da análise regional são: as regiões econômicas. As regiões ou subespaços nacionais
contínuos são considerados subsistemas inter-relacionados; assim, admire-se que as regiões não são
isoladas umas das outras, influenciando-se reciprocamente. Neste sentido, a análise econômica inter-
regional pressupõe fluxos comerciais, financeiros, transferências de mão-de-obra, de capital e
tecnológicas entre as regiões.
A análise regional, por conseguinte, trata de relações estruturais complexas dentro das regiões
e entre as regiões. Tendo como unidade básica um conjunto contínuo e contíguo de pontos do espaço
geográfico que se denomina região. Como veremos, o conceito de região é controvertido e variado.
Se a análise regional investiga padrões locacionais ou a organização das estruturas espaciais,
a análise locacional.se refere à decisão de onde localizar-se, dos agentes econômicos (empresas,
famílias e decisores governamentais das diversas esferas de governo), relativa a uma unidade
econômica pública ou privada em um espaço geográfico contínuo. Seu objetivo é pesquisar
localizações alternativas em pontos quaisquer do espaço, visando à eficiência econômica (custos
mínimos, ou lucros, ou vantagens máximas) da unidade em questão. A análise locacional é
microeconômica e se utiliza das contribuições teóricas marginalistas convencionais, embora disponha,
também, de contribuições próprias como na análise weberiana clássica da localização industrial,
herdada de Wilhem Launhardt (PONSARD 26:27) e baseada no equilíbrio físico de um sistema de
forças e nos preços relativos das tarifas de transportes, denominada localização da firma individual
orientada pelo transporte (triângulo Iocacional).
1.2.2. Economia Regional
A Economia Regional, do ponto de vista da Economia e, segundo DUBEY (6:3-8), é o estudo
da diferenciação e inter-relação de áreas em um universo, onde os recursos estão distribuídos
desigualmente e são imperfeitamente móveis, com ênfase Particular na aplicação ao planejamento
dos investimentos em capitai social básico, para mitigar os problemas sociais criados por essas
circunstâncias.
Esta definição ressalta que a Economia Regional deve analisar o fenômeno espacial como um
processo que visa à alocação eficiente de recursos com fins alternativos, de forma convencional. A
definição de Vinod Dubey 48 é, contudo, contestada por autores como PERLOFF (23:37-62) que, em
ensaios anteriores aos escritos por Vinod Dubey, já insistia na impossibilidade de isolar a análise
regional devido ao seu profundo caráter interdisciplinar. Ainda mais, cabe ao analista regional opinar
sobre os fins alternativos a serem atingidos pela economia regional e que afetam a disponibilidade
relativa dos recursos e o nível de bem-estar econômico e sociai da população da região. Uma tarefa
de tamanha magnitude exige a cooperação interdisciplinar.
1.2.3. Região
O elemento básico da análise regional é, obviamente, o conceito de região. Convém analisá-lo
com maiores detalhes.
Segundo Benjamin Higgins poucos esforços em toda a história dos empreendimentos
científicos mostraram ser tão estéreis como a tentativa de encontrar uma definição universal aceitável
de região. O fracasso reflete o simples fato de que nenhum conceito de região pode satisfazer ao
mesmo tempo, a geógrafos, cientistas políticos, economistas, antropólogos etc (HIGGINS 12:37-62).
Walter Stöhr argumenta que o delineamento de região é algo como a discussão sobre o
significado de palavras. O delineamento não passa de um exercício acadêmico, a menos que uma
função, ou propósito especifico, seja determinado. O espaço é um elemento contínuo e qualquer
espaço parcial é uma simplificação seletiva, implicando um propósito ao incluir algumas coisas e
excluir outras (STÖHR 33:63-82).
Muitos estudiosos aceitam que o conceito de região, a escolha de um conjunto de regiões, de
seus limites, de sua estrutura interna e hierarquização etc., dependem do problema particular a ser
examinado (ISARD 17). Isard, por outro lado, chama a atenção para o fato de que a região pode ser
tanto um conceito abstrato quanto uma realidade concreta. De fato, Claude Ponsard afirma que todo
conceito de espaço (e, por via de consequência todo conceito de região) é, necessariamente, o
resultado de um processo de abstração, independentemente desse processo ter seus procedimentos
originados na matemática, na psicologia, na biologia ou em qualquer outra disciplina. Mas em certos
enfoques, a região, seja como conceito ou como realidade concreta, desaparece num passe de
mágica e deixa como resíduo um conjunto contínuo de pontos no espaço.
Esse enfoque tem alto grau de abstração, mas, contudo, é bastante promissor para o
desenvolvimento do conceito de região (ISARD 17). Este último tratamento do problema da
conceituação de região parece estar em oposição ao tratamento pragmático dos autores, anteriores,
Higgins 49 e Stöhr, sendo advogado por vários estudiosos de análise regional.
Outro enfoque sobre o conceito de região dá, então, ênfase na descoberta de um conjunto
ótimo, “imutável”, o melhor conjunto possível para várias finalidades de regiões, que seja relevante
para todos os problemas espaciais e regionais.
Estas duas posições não são, de fato, antagônicas, mas se completam. Uma visa a ser
operacional e prática, a outra visa à especulação pura daqueles que se preocupam com o bem-estar
geral da sociedade e, por conseguinte, raciocinam em termos de uma ciência social geral, integrada,
única, indivisível e interdisciplinar.
Um aspecto importante a ressaltar é que o conceito de região deve ser dinâmico, pois as
estruturas internas das regiões, que condicionam às extensões de suas áreas, se modificam com o
decorrer do tempo. Do mesmo modo, se altera o sistema ou conjunto de regiões interdependentes de
um dado espaço e, em consequência, suas configurações no espaço geográfico.
Um dos conceitos bem elaborados de espaço econômico e região econômica é o desenvolvido
pelos professores François Perroux e Jacques Boudeville. PERROUX (25:21-36) a desenvolve um
conceito de espaço econômico, visando a estudar as relações e interdependências em um sentido
genérico e abstrato, utilizando-se do instrumental matemático de espaço de n dimensões. De acordo
com Perroux, há uma diferença essencial entre os espaços econômicos e os espaços geonômicos,
ou espaços geográficos banais. Os espaços econômicos são espaços abstratos, constituídos por
conjunto de relações que se referem aos diversos fenômenos econômicos, sociais, institucionais e
políticos interdependentes sem envolver, contudo, a localização em eixos cartesianos ortogonais (que
fazem noventa graus entre si) de um ponto de uma figura ou de um sólido qualquer, como na geometria
analítica euclidiana, por meio de duas ou três coordenadas. São espaços de n dimensões, sendo n
maior do que três, de tal forma que os Pontos nesse espaço não podem ser localizados
geograficamente. Neste sentido, as atividades econômicas, sociais e políticas são deslocalizadas,
tendo apenas uma dimensão econômica, social ou política. Os diversos espaços econômicos
abstratos se superpõem, e os pontos nesses espaços de n dimensões representam, em geral, certas
combinações de fluxos de mercadorias e serviços.
Perroux classifica os espaços econômicos em três categorias:
a) espaço econômico definido por um plano ou programa de ação;
b) espaço econômico como um campo de forças; e
c) espaço econômico como um agregado homogêneo. 50
O espaço homogêneo é constituído por elementos que apresentam características
semelhantes. O espaço polarizado é constituído por focos onde se concentram as atividades
econômicas, sociais, políticas e administrativas, inter-relacionados com outros pontos do espaço em
uma relação de dominação - ou seja, os pontos dominantes de maior concentração de atividades
impõem regras e extraem benefícios dos demais. Assim, o espaço polarizado é heterogêneo e as
diversas parres que o compõem são complementares, mantêm troca entre si e, especialmente, com
o polo dominante (ou foco de desenvolvimento) de uma maneira mais intensa do que com outros
pontos, que, como veremos adiante, são representações abstratas de centros ou cidades de diversos
tamanhos.
O espaço definido por um plano ou programa corresponde às áreas nas quais suas várias
partes são dependentes de uma decisão central. Refere-se às unidades do espaço econômico que
visam ao mesmo objetivo, que têm o mesmo plano e estão subordinadas à mesma coordenação.
Nesses espaços abstratos, as regiões constituem pontos contínuos e contíguos. O espaço, por
outro lado, se compõe de conjuntos de regiões. A classificação das regiões segue a mesma adotada
para os espaços. Assim, os três tipos de regiões são: regiões homogêneas, regiões polarizadas e
regiões-plano ou programa.
Como observa MEYER (22:315), e como veremos posteriormente com maiores detalhes, as
três definições tradicionais e tipos de regiões não são mutuamente exclusivas. De fato, as diversas
formas de classificação de regiões ou os diversos tipos de regiões, não passam de simples variações
do critério de homogeneidade. A questão é, realmente, estabelecer que tipo de homogeneização se
deseja obter. Em suma, quando se identifica e se delimita uma região, ressaltam-se suas
características essenciais marcantes, que a diferem de outras regiões e a igualam a um outro conjunto
de regiões. A delimitação das regiões e a identificação de suas características fundamentais, por meio
dos métodos de regionalização, como os contidos no Capítulo 10, é essencial para analisar suas
potencialidades e as disparidades econômicas entre elas.
Qual o objetivo e a importância primordial dessa conceituação abstrata de espaço econômico
e região econômica?
A importância primordial é chamar a atenção para o seguinte: os fatos e os fenômenos
econômicos, sociais, políticos e institucionais, que ocorrem em uma área geográfica, são o resultado
de fenômenos econômicos, sociais, políticos e institucionais que transcendem essa área geográfica,
e com os quais estão intimamente correlacionados e quase sempre subordinados. Em uma
organização capitalista de produção, as desigualdades inter-regionais de renda e de riqueza e as
desigualdades pessoais 51 intra-regionais (isto é, dentro das próprias regiões) são, em grande parte,
uma consequência inerente e estrutural dessa forma de organização da produção. Em suma, uma
região não pode ser compreendida, analisada e transformada em seus aspectos econômicos, sociais,
políticos e institucionais separadamente do contexto nacional (BECKER 2:43-62).
Jacques Boudeville insiste, contudo, que, na diferenciação entre espaço geográficos e espaços
econômicos é sempre recomendável sermos cautelosos, pois é indispensável considerar-se a
característica geográfica, ou seja, a localização bem definida da região dentro dos limites político-
administrativos da nação; argumenta que o espaço econômico é o resultado da aplicação de um
espaço matemático abstrato em um espaço geográfico concreto (BOUDEVILLE 4:1).
Segundo Perroux, classificam-se os espaços econômicos em:
a) espaços homogêneos;
b) espaços polarizados;
c) espaços definidos por um plano, ou espaços-programa
Boudeville, assim, insiste na necessidade do ponto de vista operacional e prático de situar
geograficamente as regiões, de tal modo que as análises socioeconômicas e o planejamento regional
dessas áreas se refiram de modo efetivo aos habitantes dessas regiões. O conceito de região tem de
atender a três requisitos básicos de definição de um objeto: um princípio finalístico ou teleológico, a
descrição material do objeto e as relações do objeto com os demais.
O princípio finalístico ou teleológico sugere que o conceito de região adotado tem como pré-
requisito um objetivo anteriormente estabelecido. Desse modo, quando se regionaliza o espaço
geográfico, ou seja, se divide um país ou uma unidade .de uma federação, em subespaços ou
subáreas, torna-se indispensável precisar-se o objetivo ou a finalidade que se deseja atingir com essa
divisão. O que se infere desse princípio é que um conjunto de regiões (e cada região) tem sua
existência vinculada à uma finalidade predeterminada, particularmente no caso das regiões para fins
de planejamento. Ressaltando ainda mais este aspecto, antes de se iniciar a divisão do espaço
geográfico em regiões, é fundamental a determinação da utilização pratica que se pretende com essa
divisão. Como vimos, tal procedimento é coerente com a recomendação dos autores pragmáticos, que
não se apegam à busca do melhor conjunto de regiões para várias finalidades.
A descrição material do objeto é uma recomendação para caracterizar os aspectos sociais e
econômicos de cada região, e compará-los com as demais. As regiões homogêneas cumprem essa
recomendação, através do procedimento de comparação de características marcantes que distinguem
um conjunto de regiões. 52
Finalmente, cumpre ressaltar as inter-relações e interdependências sociais, econômicas,
políticas, institucionais, administrativas etc., entre as regiões e, eventualmente, tais fatos dentro das
próprias regiões. Esses são os enfoques inter-regionais e intra-regionais, que resultam na divisão do
espaço geográfico em regiões polarizadas, constituídas de “focos de desenvolvimento” e suas formas
de relacionamento com suas áreas periféricas adjacentes, formando um "sistema de equilíbrio de
forças", como sugerem teorias e modelos das ciências exatas, como a física e a matemática.
Dessa forma, também, as regiões podem ser classificadas em três tipos essenciais, aos quais
podem ser convertidos outros tipos de regiões, que são.
a) regiões homogêneas;
b) regiões polarizadas;
c) regiões de planejamento.
Em seguida primeiros conceitos básicos da ciência regional, vamos retornar ao tema do
descaso pelos aspectos espaciais, ou seja, pelos aspectos advindos da introdução das consequências
das distâncias e dos custos de transportes na análise econômica, em particular, outrora e na
atualidade.
1.3. O DESCASO PELO FENÔMENO ESPACIAL
No início do século XIX Johann Heinrich von Thünen, o primeiro dos teóricos da localização,
escreve sua obra mestra “Der Isolierte Staat in Bezienhung au Landwirstchaft un Nationalökomie” - (o
Estado Isolado em Relação à Agricultura e à Economia Nacional). Seus seguidores, Wilhelm Roscher
e A. Schäffle, adeptos da Escola Histórica Alemã, pesquisam a existência de leis naturais na evolução
espacial das estruturas econômicas. Outros autores como Ure, E. A. Ross e Frederik S. Hall, realizam
listagens exaustivas dos fatores locacionais, que sugerem as vantagens e desvantagens de uma
região para receber atividades industriais, agropecuárias e outras.
Entretanto, os economistas da Escola clássica negligenciaram a dimensão espaço, em seus
estudos econômicos, e se refugiaram num mundo maravilhoso sem dimensões espaciais, nas
palavras de ISARD (15).
Parece-nos necessário esclarecer que estamos entendendo por economistas clássicos. Karl
Marx delimitou, cuidadosamente, a escola de pensamento econômico que denominou da clássica, de
sir William Petty (1623-g7) a Ricardo (1772-1823) na Inglaterra, e de Boisguillebert (1646-1714) a
Sismondi (1773-1942) na França (MEEK 21232). A Escola clássica a que estamos nos referindo inclui,
também, particularmente, a delimitação proposta por Keynes, ou seja, o período após Ricardo, 53 e
inclui, por exemplo, as contribuições de John S. Mill (1806-23), Walras (1834- 1910), Marshall (1842-
1924), Edgeworth (1845- 1.926), Pareto (1848-1923), Cassel (L866-1,945) e Pigou (1877-1959).
A Economia Clássica focalizou suas preocupações no processo de evolução das atividades
econômicas e da distribuição do produto gerado. Muitas de suas proposições foram entronizadas
como leis imutáveis e eternas, de validade universal (RICHARDSON 27:15). O descaso com a
distribuição das atividades econômicas no espaço geográfico se origina, também, da suposição de
que deve ocorrer uma equalização dos preços dos fatores, advinda do regime de concorrência perfeita
e da perfeita mobilidade dos fatores, admitindo-se custos nulos de transportes. Desse modo, as
desigualdades dos níveis de produção “per capita” entre as regiões seriam eliminadas
automaticamente. Marshall, na linha da tradição anglo-saxônica, reafirmava a maior importância da
dimensão temporal em detrimento da dimensão espacial (ISARD 1,7:24). Os autores clássicos
tendiam a considerar os fatores não-econômicos como predominantes na explicação do padrão
espacial das atividades econômicas. A localização dos recursos naturais é dada, enquanto as
considerações não-econômicas eram ponderadas, determinando, assim, as decisões onde viver,
trabalhar e mesmo produzir, como observa Richardson (RICHARDSON 27:16).
Um importante obstáculo ao interesse dos economistas da Escola Clássica pelos problemas
econômicos espaciais deriva do fato de que a contribuição da Escola Marginalista se torna de difícil
aplicação aos fenômenos econômicos espaciais e, além do mais, a hipótese da concorrência perfeita
se mostra insustentável. Primeiro, os deslocamentos no espaço geográfico se realizam por
movimentos descontínuos e variações discretas, de tal forma que a determinação da localização
“ótima” e, enfim, da distribuição “ótima” das atividades econômicas é difícil de ser analisada por meio
do princípio de substituição, que é o aparato que leva à maximização condicionada do lucro na teoria
da alocação de recursos na análise econômica marginalista. Segundo a Economia Espacial se
caracteriza por diversas imperfeiçoes de mercado, devido ao fato de que a própria “fricção da
distância” confere uma proteção monopolística às firmas próximas dos consumidores.
Os teóricos da concorrência monopolística constituem uma exceção entre os economistas
clássicos. Particularmente E. H. Chamberlain em “The Theory of Monopolistic Competition” trata,
explicitamente, da análise espacial, mas como um elemento importante nos estudos da “diferenciação
dos produtos”. Contudo, seu trabalho ressalta a necessidade de se recorrer à análise espacial cia
concorrência monopolística no estudo da Economia Espacial (ISARD 16:27). 54
Uma das reações às ideias dos economistas da Escola Clássica surgiria com a Escola Histórica
Alemã. Esta reação pode nos levar a entender o predomínio da contribuição germânica nas teorias da
Economia Espacial do século XIX e início do século XX.
A Escola Histórica Alemã atingiu seu auge na segunda metade do século XIX. Ela advogava
que a economia como fenômeno social não se desvincula do organismo político-social-institucional e
somente pode ser entendida e analisada se for pesquisada como elemento da ordem social, inter-
relacionada com os costumes, a lei, a educação, a política e a religião. A economia sofre mutações à
medida que os fenômenos, com os quais ela se inter-relaciona intimamente, também evoluem
historicamente. Com esse enfoque, ela contesta a validade universal que se pretende atribuir ao
postulado da Economia Clássica e preconiza a validade relativa das leis econômicas, no tempo e no
espaço.
Ainda mais, as distorções no processo de distribuição das atividades, que se constituem os
grandes problemas regionais, se acumulam lentamente, a longo prazo, de modo que tendem a ser
subestimados. Borts e Stein se referem àquelas distorções, que afetam o desenvolvimento econômico
regional, como um processo semelhante aos deslocamentos de geleiras (glacier-like movements)
(RICHARDSON 27:18). Por outro lado, Beckmann em seu “Location Theory” (BECKMANN 3:3-7)
conclui dizendo que estamos ainda começando a entender o impacto econômico do crescimento sobre
a localização. Isto nada mais é que o reflexo do descaso com os problemas de localização espacial
das atividades.
Finalmente, uma questão importante é que os economistas clássicos, como seus colegas da
atualidade, se interessavam pelos problemas fundamentais de sua época. Devemos recordar que a
Economia trata de escolhas que levam ao melhor uso de recursos escassos, sendo que o tempo e a
energia humanos são fatores escassos (FETTER 7). Assim, devemos esperar que os economistas
focalizem suas atenções nos principais problemas da época em que vivem.
Na agenda dos economistas clássicos estavam problemas cruciais como: “salários adequados
para os empregados, rejeição da “lei dos cereais” (Corn Law), a regulamentação das condições de
trabalho de mulheres e crianças, a abolição dos dízimos (tributo que consistia na décima parte do
produto da terra ou de negócios, pagos para manter a igreja), o controle dos abusos do sistema
bancário, o aumento das oportunidades educacionais, a abolição das sinecuras de um governo da
aristocracia, a ampliação do direito do voto" (FETTER 7:139). Nesta ótica, é possível entender-se 55
que os problemas relativos à distribuição das atividades econômicas não ocupariam um lugar de
destaque entre os economistas clássicos1.
Sobre tema correlato ao tratado neste capítulo e atribuindo a alguns autores clássicos
preocupação com a dimensão espacial, veja: SMOLKA. JOHNSON (18:30-40) defende a tese de que
a Inglaterra, desde 1500, já possuía uma bem estruturada distribuição espacial de mercados urbanos
para seus produtos agrícolas. Esta organização do espaço econômico da Inglaterra nos idos de 1500
foi uma das pré-condições que explicam por que esse país liderou o desenvolvimento econômico
mundial nos séculos XVIII e XIX.
Se os problemas decorrentes da organização do espaço econômico não se constituíram, de
fato, em um empecilho ao desenvolvimento econômico daquele país, este, também, poderia ter sido
um outro motivo para o descaso dos economistas clássicos ingleses pelo fenômeno espacial. Os
motivos do desinteresse dos economistas clássicos não são perfeitamente claros. Há muito campo,
ainda, de investigação histórica para se precisar a negligência dos autores clássicos com a dimensão
espacial. Porém, o problema das desigualdades da distribuição espacial das atividades se tornou
grave nos dias atuais.
Apesar do desenvolvimento da ciência regional, as disparidades sociais e econômicas inter-
regionais e intra-regionais não têm despertado, todavia, uma atenção especial e conduzido a políticas
econômicas capazes de superar tal desafio.
As várias razões que explicam o descaso, tanto pela economia espacial como pelos fenômenos
espaciais, o qual vem se estendendo ao longo dos anos, sugerem que as desigualdades regionais de
renda e de riqueza 56 não resultam do descaso teórico com a economia espacial, mas é o resultado
da tendência à concentração, à centralização e à aglomeração geográfica da própria organização
capitalista de produção (HOLANDA FILHO 13:10-20). As teorias que almejam explicar as causas e
consequências do desenvolvimento regional, por exemplo, podem ser divididas em dois grandes
grupos: teorias que demonstram a tendência natural à forte concentração geográfica das atividades
econômicas e teorias que demonstram as condições e tendências de reversão da concentração ou de
desconcentração das atividades econômicas.
As flutuações cíclicas, as crises conjunturais e as circunstâncias ocasionadas pelas
necessidades de estabilização econômica - em particular das economias menos desenvolvidas - têm
imposto e condicionado a ênfase nas políticas macroeconômicas em detrimento do planejamento
setorial e regional. Como nos séculos passados, as agendas de políticas econômicas são dominadas
por problemas gerais macroeconômicos da economia política e, por outro lado, nas fases de rápida
acumulação de capital, os investimentos em infraestrutura se concentram nas regiões mais dinâmicas
por critérios de eficiência, e nas fases de regressão econômica surgem os argumentos e fortes
demandas de apoio às atividades e às áreas mais desenvolvidas.
As realidades sociais e econômicas das economias mundiais e em particular as do terceiro
mundo, ratificam as conclusões das teorias concentracionistas, o que não impede a ocorrência de
uma relativa dispersão do desenvolvimento. O desenvolvimento econômico de uma nação capitalista
ora se difunde geograficamente, ora se concentra, parecendo constituir um padrão de desigualdade
regional que pode ser representado por curvas em S deitado, contendo no eixo das abcissas o tempo
e no eixo das ordenadas (o eixo vertical) uma medida qualquer ou indicador do grau de concentração
das atividades econômicas. Nessas circunstâncias, as disparidades regionais de renda e riqueza se
agravam e se amenizam em ciclos e fases históricas que se sucedem concentrando e dispersando o
desenvolvimento sem, contudo, garantir uma tendência inquestionável da reversão da concentração
das atividades econômicas no espaço geográfico, ou provar a inexorabilidade das desigualdades.

1 SCOVILLE.(10), em discussão no painel sobre a “Contribuição da História do Pensamento Econômico para a Compreensão da Teoria Econômica, da
História Econômica e a História da Política Econômica”, ampliando a exemplificação da influência dos problemas relevantes da época sobre os
economistas, diz serem os problemas cruciais para os mercantilistas, o papel do Governo na vida econômica dos Estados em desenvolvimento e a
expansão do comercio exterior após as grandes viagens de descobrimentos; para Jean Bodin a inflação que acompanhou o influxo dos tesouros
americanos na Europa; para Boisguillebert e Vaublan a reforma agrícola e fiscal do “ancien régime” da França; para John Law, o desemprego
generalizado e a estagnação que envenenaram a economia francesa no fim do longo reinado de Luís XIV; para os fisiocratas, a liberação do comércio e
atividades manufatureiras das caducas imposições legais do sistema pós-Colbertiano e com as reformas agrárias. Continuando, afirma que, para
entender o interesse de Adam Smith, pelo liberalismo econômico, deve-se conhecer a Inglaterra e a Europa de seus dias; a ênfase de Ricardo na
distribuição reflete o grande conflito de interesses entre as classes rurais e as novas classes industriais e assalariadas; Malthus estava profundamente
impressionado com o aumento da população na Inglaterra e o desequilíbrio que acompanhava as mudanças ocupacionais e geográficas em sua
população, e que eram exigidas pelo fechamento das terras (land enclosures) e o surgimento das suas cidades industriais. Finalmente, a Escola Histórica
Alemão reflete o aparecimento dos Estados Alemães e a industrialização tardia da Alemanha.
WILLIAMSON (34:63-116) desenvolveu um estudo teórico e empírico, que se tornou clássico,
tentando demonstrar que existe um padrão comum no comportamento das desigualdades regionais
em todos os países.
Inspirado, possivelmente, na Parábola de Kuznets (BACHA 1:79-11.5), que postula a existência
de uma relação na forma de um U invertido entre a desigualdade econômica e o PNB "per capita", de
tal forma que a distribuição pessoal da renda melhora com o desenvolvimento econômico, 57
Williamson requer, também, a redução das desigualdades regionais internas nacionais com o
desenvolvimento econômico. O padrão descrito é de um U invertido, ou seja, as desigualdades
aumentam nos primórdios processo desenvolvimento econômico, atingem um máximo e começa a
reduzir. Este padrão ideal, contudo, não parece surgir espontaneamente nas economias capitalistas
e com as profundas e rápidas transformações tecnológicas da atualidade que perpetuam as vantagens
das regiões ricas.
Neste contexto, não é difícil imaginar a relativa ineficácia das políticas e do planejamento
regionais e o desafio da ciência regional, em encontrar caminhos para contornar os desequilíbrios ou
disparidades regionais de desenvolvimento econômico. Também, o cenário acima descrito revela que
o descaso com os problemas espaciais é, em parte, aparente porque incidência desigual do
desenvolvimento socioeconômico é estrutural e não pode ser solucionada, apenas, com políticas e
medidas estritamente econômicas.
Finalmente, vale a Pena enfatizar que a conceituação de região e o exercício de delimitação de
uma região são controversos, também, pelo fato de influírem nas conclusões empíricas sobre a
redução das desigualdades de desenvolvimento socioeconômico entre as regiões. Dependendo da
divisão do espaço nacional em regiões, os indicadores estatísticos do grau de desigualdades e
disparidade regionais de desenvolvimento se alteram, mostrando desequilíbrios maiores ou menores.
1.4. AS DESIGUALDADES DA DISTRIBUIÇÃO DAS ATIVIDADES
1.4.1. O Fenômeno da Concentração
A concentração das atividades em pontos do espaço geográfico-político-administrativo de uma
nação se torna uma preocupação crescente dos políticos e planejadores. O Brasil se constitui um
exemplo da ocorrência de sérios desequilíbrios regionais, Haddad e Thompson comentam que:
(HADDAD & ANDRADE 10:9-54).
“O fenômeno da existência de regiões dentro de um mesmo país que mostram diferentes níveis
de desenvolvimento econômico, é bastante conhecido em todo o mundo. O Brasil é um dos países
que, frequentemente, 58 é mencionado como exemplo nos estudos de desigualdades regionais e
como um caso de dualismo extremamente grave, onde as diferenças econômicas e sociais entre o
Norte, Nordeste e o Centro-Sul são bem amplas, seja em termos absolutos, seja em termos relativos,
por comparação à situação em outros países”.
Um fato evidente, mas nem sempre considerado em todas as suas consequências, é que as
atividades econômico-sociais ocupam um dado lugar no espaço geográfico e aparecem concentradas
em alguns pontos desse espaço. Conhecer as causas e as repercussões dessas ocorrências vem se
tornando indispensável para o planejamento econômico e social.
As disparidades dos níveis de desenvolvimento e os crescentes problemas urbanos advindos
do crescimento acelerado das populações das cidades, devido ao intenso processo de migrações
rurais-urbanas, colocam-se entre os principais problemas do desenvolvimento socioeconômico.
As teorias que procuram explicar as localizações das atividades sociais e econômicas e suas
concentrações em pontos discretos do espaço geográfico, pesquisam os fatores da atração e repulsão
daquelas atividades, com ênfase na fricção que a distância (o custo e o sacrifício em se deslocar no
espaço) imprime à distribuição das atividades. A interação entre esses fatores, atraindo ou repelindo
as atividades socioeconômicas, as distribui sobre o espaço geográfico em análise, indicando as
causas que as levam a concentrar-se ou dispersar-se. Tal interpretação dos fenômenos econômicos
espaciais leva à aplicação do tipo “mecanicista”, característica de alguns modelos da Economia
Espacial Clássica. Esses modelos eram submetidos a criteriosas provas matemáticas e usualmente
se apoiavam em construções geométricas, como acontece na obra seminal de August Lösch (1906-
1945) “Die Räumliche Ordnung de Wirtschaft” “A Organização Espacial da Economia” (vide Capítulo
2).
Além do mais, uma vez que as teorias clássicas da economia espacial davam ênfase às
explicações das causas que conduzem as atividades produtivas, em geral a localizarem-se
concentradamente em alguns sítios privilegiados, era comum a prática de enumeração, classificação,
taxonomias e tipologias dos chamados fatores locacionais. Essa prática se fundamenta na busca de
fatores econômicos e extra-econômicos que atraem as atividades socioeconômicas.
As questões referentes à concentração e dispersão das atividades assumem, na sua projeção
histórica do presente, uma posição de destaque, na medida em que elas chamam a atenção para a
tendência à aglomeração das atividades produtivas. Este fenômeno estrutural assume papel de
grande relevância na compreensão das disparidades de desenvolvimento econômico entre regiões.
As teorias recentes da economia regional acrescentam 59 conceitos novos e uma visão interdisciplinar
para analisar as desigualdades regionais de renda, riqueza e crescimento econômico. O conhecido
conceito de “polos de crescimento”, por exemplo, – que na terminologia de François Perroux2, principal
divulgador das teorias do desenvolvimento regional polarizado a partir da década de 1950, se torna
“pôle de development” e “pôle de croissance” – encontra suas origens nos estudos da tendência à
aglomeração das teorias clássicas da economia espacial, em processo de aprimoramento ao longo
da história da ciência regional.
Enfim, a realidade é que a distribuição dos benefícios do desenvolvimento econômico entre os
subespaços ou regiões de uma nação não equitativa e muitas vezes se deteriora com a passagem do
tempo ou, então, mantém um significativo distanciamento no nível de desenvolvimento entre as
regiões dominantes e as periféricas (SANTOS 29:104-27).
Essa evolução desfavorável da incidência do desenvolvimento econômico sobre o espaço
geográfico e político-administrativo resultou, atualmente, em um dos grandes desafios em muitos
países em desenvolvimento como o Brasil, tanto do ponto de vista da equidade e justiça social como
das possibilidades de desenvolvimento a longo prazo.
Finalmente, é também interessante observar que, do ponto de vista de algumas contribuições
teóricas recentes, inspirado no enfoque marxista, o espaço deve ser entendido como um tipo de
mercadoria capitalista incluída no processo de acumulação e valorização do capital. Neste sentido, o
espaço e a região não são objetos empíricos observados e geograficamente determinados,
independentemente dos interesses das classes sociais, e não podem substituir a análise de dois
atores econômicos fundamentais: o capital e o trabalho. MARKUSEN (20:33-55) enfatiza que a
discussão do tema “sugere várias conclusões para a análise da economia política do desenvolvimento
regional. Primeiro, o argumento que para os economistas políticos as regiões não existem como uma
categoria abstrata, implica que o desenvolvimento regional não pode ser discutido ou estudado
abstratamente. As regiões não se desenvolvem; as relações sociais dentro das regiões e entre as
regiões é que se desenvolvem. Teorizar sobre os caminhos do desenvolvimento capitalista em uma
região requer uma análise empírica que identifique as estruturas cultural, política e econômica que
evoluíram historicamente, tanto dentro da região como em relação a outras regiões; segundo, os
economistas políticos regionais devem tentar fazer 60 a sua análise com maior rigor, evitando o
fetichismo do espaço – isto é, considerar as regiões como se elas fossem sinônimo de classes
econômicas, da própria economia ou de grupos culturais. A literatura da economia política sobre
desenvolvimento, regionalismo e mesmo urbanismo está repleta com esses enganos”.
Além do mais, as regiões apenas passam a constituir uma entidade analítica e de planejamento
relevante quando existe o regionalismo que é uma reivindicação política de um grupo social e que
ressalta os conflitos sociais de uma área geográfica, que constituem a preocupação central da
economia política regional e o elemento crucial para mobilizar o potencial de transformações e
desenvolvimento regional.
Os métodos de regionalização clássicos, que são exercícios de delimitação das regiões
econômicas, são apresentados no capítulo 10, como métodos de análise regional de utilização prática
variada, compatíveis com muitos dos conceitos de espaço e discutidos neste capítulo. 61

62

2 As ideias iniciais de Perroux sobre a teoria dos Polos de Crescimento, que sucedem a sua Teoria da Economia
Dominante, estão expostas na edição em língua portuguesa da coletânea de seus artigos traduzida da 2ª edição em língua
francesa, Paris, 1964. Os principais artigos são: "Os espaços econômicos", "O conceito de Polo de Crescimento" e "A
empresa motriz na região e a região motriz".
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