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Aquela atitude compreende a visão obscurecida pela estúpida crença de que umas
eleições que se seguem, onde os feitos do governo se cruzam com as promessas
cantadas pela oposição, trarão alguma coisa de substantivo para as nossas vidas.
É nessa mentira, nessa obscuridade que nos querem manter. Ainda recentemente, na
paróquia lusa houve nutrida grita em torno do aumento em alguns cêntimos dos
preços dos combustíveis; porém, essa grita, com os animadores partidários em
êxtase, não deu origem a uma atitude coletiva contra a imensa carga fiscal que recai
sobre os combustíveis; como não deu origem a campanhas de desobediência face ao
ignóbil pagamento de portagens sempre que se pretende circular em estradas mais
rápidas; ou perante a ausência de transportes; ou por um SNS cada vez mais pasto de
adjudicações a empresas, contratações de trabalhadores através dos negreiros atuais
(as ETT), para além da pachorrenta aceitação do pagamento anual de € 800 per
capita, em nome de uma dívida pública tão eterna quanto, em larga medida, ilegítima,
constituída para compensar as perdas de capitalistas e banqueiros.
Claro que a mistificação do caráter da dívida pública irmana toda a classe política,
sejam os gestores do partido-estado PS/PSD com o apoio de um seu produto derivado
de reserva, o CDS; como inclui a “esquerda” do regime pós-fascista que aceita sem
pestanejar a dívida pública como legítima, clamando, numa atitude complacente com o
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capital financeiro, por uma reestruturação1 que, se alguma vez se fizesse, teria um
impacto mínimo.
As alterações estruturais são tão mais visíveis quanto maior for o lapso de tempo
observado. É interessante comparar a evolução dos rendimentos do trabalho como os
do capital, em Portugal, depois de 1953, a partir de quando se encontram séries
estatísticas regulares. Por rendimentos do trabalho consideram-se os pagamentos
efetuados aos trabalhadores e ainda as contribuições patronais para a Segurança
Social. Por rendimentos de capital compreende-se o excedente bruto da produção dos
serviços de habitação e ainda os lucros distribuídos ou, os ganhos em rendas e juros,
por parte de quem tem propriedades ou capitais. Essa comparação é acompanhada
por uma outra, habitual, com o PIB, aferidor do rendimento anualmente gerado, na
parte em que é conhecido; sabendo-se que há rendimentos efetivos que escapam ao
cômputo, como aliás foi inicialmente referido pelo próprio criador do conceito do PIB,
Kuznets. Em Portugal, essa compósita gama de rendimentos não contidos na
contabilidade nacional, corresponde a cerca de 25% do referido PIB.
Dividimos aquele primeiro período de 40 anos em dois gráficos; um, tomando como
base o ano de 1953 e que termina em 1977, contendo os últimos 21 anos do regime
fascista e os anos de transição para o actual regime pós-fascista, dito de…
democracia, só porque não há pide; o que é pouco para que se possa falar de
democracia2. E o segundo, com o lapso de tempo decorrido entre 1977 e 1995, dentro
da série estatística anterior.
1
Como o sistema financeiro captura a Humanidade através da dívida (1, 2 e 3)
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2016/12/como-o-sistema-financeiro-captura.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2017/01/como-o-sistema-financeiro-captura.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2017/01/como-o-sistema-financeiro-captura_14.html
2
Sobre democracia
https://grazia-tanta.blogspot.pt/2017/09/democracia-eleicoes-democraticas-onde.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2017/06/social-democracia-afunda-se-ou-renova.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2017/06/social-democracia-afunda-se-ou-renova_17.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2013/05/quando-divida-aumenta-democracia.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2013/06/quando-divida-aumenta-democracia.html
http://www.slideshare.net/durgarrai/para-um-novo-paradigma-poltico-a-re-criao-da-democracia
http://www.slideshare.net/durgarrai/sobre-a-democracia-a-democracia-e-a-sua-usurpao-1a-parte
http://www.slideshare.net/durgarrai/a-democracia-de-mercado-e-a-actuao-da-esquerda
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O gráfico abaixo (graf. 1) representa a evolução daqueles dois tipos de rendimento
para o período 1953/77 (preços correntes). Neste, como nos gráficos que se seguirão,
daremos relevância essencialmente à convergência ou à divergência entre as
variáveis, como reflexo das diferenças na afetação dos rendimentos globais gerados
pelos dois grupos sociais distintos – os trabalhadores e os capitalistas – durante os
últimos 21 anos do regime fascista e os quatro primeiros anos do actual regime, cujo
caráter reacionário e cleptocrático nos permite dar-lhe o epíteto de pós-fascista.
Procuraremos adiante uma explicação para um maior dinamismo dos rendimentos do
trabalho, comparativamente ao PIB e aos rendimentos do capital, neste período.
graf. 1
graf. 2
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Fonte primária: Banco de Portugal
Como se revela na tabela abaixo, até 1959 os rendimentos do capital têm uma
ascensão superior à marcha do PIB, bem como das remunerações do trabalho,
com poucas excepções. A partir daquele ano, o crescimento das remunerações do
trabalho, em regra, supera a evolução dos rendimentos do capital, até ao início do
actual regime político, que reverteu a situação, subalternizando a evolução dos
rendimentos do trabalho aos sacrossantos rendimentos do capital.
1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977
Remun. do trabalho 15,8 8,5 11,0 15,8 15,2 17,2 18,2 31,3 29,9 16,1 17,5
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Rend. do capital 8,9 11,4 5,9 9,1 13,0 17,5 16,8 -6,8 15,8 16,8 33,8
PIB 12,0 8,1 7,3 12,8 15,7 18,0 18,2 18,4 15,8 19,6 28,5
Inflação 6,6 4,5 5,8 8,6 4,4 10,9 11,2 13,0 26,1 17,4 19,9
Chave de interpretação
Remun. do trabalho Remun. do Rend. do capital Remun. do trabalho
> Rend. do capital trabalho > PIB > PIB > Inflação
Em 1961 inicia-se a guerra colonial em Angola e, pouco depois, sucede a perda das
possessões coloniais na Índia; em 1963 a sublevação acontece na Guiné-Bissau e
em 1965, em Moçambique. Isso constituiu um bom motivo para a emigração e fuga
dos mais jovens e dos mais politizados, pouco interessados em participar num
contingente que chegou aos 250000 homens em armas e numa guerra que não
sentiam como sua. Curiosamente, o PCP não aconselhava essa fuga, defendendo
a integração nos contingentes militares e uma eventual deserção no teatro de
guerra (um verdadeiro suicídio!), numa expressão muito curiosa de
internacionalismo; que aliás mantém com a sua “política patriótica de esquerda”…
Por outro lado, a emigração legal referida por Joel Serrão em “A Emigração
Portuguesa”, é estável em 1955/62, entre 21300 e 27600 pessoas mas, dispara, a
partir de 1963, sabendo-se que o total dos emigrantes é de 15 a 30% superior aos
valores indicados como legais. Assim, em 1966 o número contabilizado de
emigrantes chega a 120239 e mantém-se sempre acima dos 50000 até 1973. Até à
crise que marcou o fim dos chamados 30 gloriosos anos de vigência do paradigma
keynesiano, os países da Europa Ocidental, sobretudo França, Bélgica e
Alemanha, recorreram massiva e sucessivamente à imigração de norte-africanos,
italianos, espanhóis e portugueses.
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(%)
1953 1960 1965 1970 1971 1972 1973 1974 1977
2,5 4,1 4,4 8,2 9,2 9,7 9,4 8,3 7,6
Os últimos anos do fascismo revelam elementos que apontavam para uma inexorável
mudança; a guerra colonial era o maior obstáculo, quer a nível interno, quer externo.
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1960 1970 1980
Espanha 30455 33814 37491
Portugal 8858 8680 9766
Na altura, ainda muito ligado à Grã-Bretanha, Portugal viu-se obrigado a negociar com
a CEE um acordo em 1972. E entretanto, procurava aproveitar a sua posição
estratégica, criando o porto de Sines para a atracação de navios-tanque com mais de
500000 t., uma reparação naval para os acolher e ainda um complexo petroquímico
para a venda de refinados na Europa. A reabertura do canal do Suez, em 1973,
reduziu radicalmente a dimensão necessária dos navios e o largo investimento
inerente a esta estratégia perdeu-se em grande parte, transitando os prejuízos para o
povo português, após a conveniente nacionalização das infraestruturas (Petroquímica,
Lisnave, Setenave, nomeadamente).
A crise ocidental no princípio dos anos 70, iniciada com a desvalorização da libra em
1968, o fim da convertibilidade do dólar em 1971, a enorme subida dos preços do
petróleo em 1973 e, politicamente, o golpe fascista no Chile, apadrinhado pelos EUA,
significam a passagem do modelo keynesiano para o paradigma neoliberal; embora os
grandes emblemas da aplicação do neoliberalismo – Thatcher e Reagan - só tenham
chegado ao poder em 1979 e 1981, respetivamente. E essa passagem, que coloca um
fim aos “30 gloriosos anos” de crescimento do pós-guerra, reduz substancialmente a
procura de trabalhadores imigrados na Europa Ocidental.
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