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ARTICULAÇÃO ENTRE DEMOCRACIA REPRESENTATIVA E PARTICIPATIVA À LUZ DA DEMOCRACIA VENEZUELANA

Valdenésio Aduci Mendes

ARTICULAÇÃO ENTRE DEMOCRACIA REPRESENTATIVA E PARTICIPATIVA


À LUZ DA DEMOCRACIA VENEZUELANA

Valdenésio Aduci Mendes*

Sumário
Introdução, Democracia restrita, Democracia inclusiva e emancipação social, Punto Fijo: ponto de partida para a
transição democrática na Venezuela, Caracazo: prelúdio do aprofundamento democrático, Democracia
protagônica: de que se está falando?, Considerações finais, Referências.

RESUMO
O trabalho propõe uma aproximação aos problemas da democracia contemporânea, para, à luz da realidade
política contemporânea da Venezuela, entender os limites da democracia representativa, e por sua vez, esboçar
idéias sobre a democracia participativa. Partir-se-á do pressuposto de que a democracia na atualidade é
definida em duas grandes tendências teóricas: democracia representativa e participativa. Tomaremos a
Venezuela como objeto de análise, tendo em vista dois objetivos: em primeiro lugar mostrar que a democracia
representativa, que abarca a década de 60 do século passado e se estende até meados dos anos 90, apresentou
mais limites do que alcances, esgotados no sistema bipartidário, delineado no Pacto de Punto Fijo. Num
segundo plano, procuraremos descrever as possíveis saídas políticas que a Venezuela está buscando para a
crise provinda do sistema democrático representativo. Aqui procuraremos não só entendermos os marcos legais
da democracia protagônica, tal como a define o Preâmbulo da Constituição da V República Bolivariana de
1999, mas procuraremos nos perguntar também pela efetivação do marco jurídico na realidade do país.
Conclui-se que o modelo restrito de democracia já não é mais suficiente para dar respostas à crise de
representatividade política que se instaurara na Venezuela desde a década de oitenta do século XX. Nesse
sentido, a resposta aos graves problemas que se acumularam na vigência do modelo democrático restrito só
poderão ser resolvidos, quem sabe, ampliando os canais de participação da população nos destinos da vida
política do país.

Palavras-Chave: Democracia representativa e participativa, Venezuela, Conselhos Locais de Planejamento.

* Aluno do Doutorado em Sociologia Política da UFSC. e-mail: valdenesio@yahoo.com.br

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Valdenésio Aduci Mendes

1. INTRODUÇÃO

Na conclusão da obra Participação e teoria política democrática, Pateman (1992: 145-146)


afirma que se o indivíduo tiver a oportunidade de participar de modo direto no processo de decisão e
na escolha de representantes nas áreas alternativas, “nas modernas circunstâncias, ele pode esperar ter
qualquer controle real sobre o curso de sua vida ou sobre o desenvolvimento do ambiente em que ele
vive”. O Argumento da autora é o de que o exercício da cidadania em esferas políticas mais amplas
estaria diretamente associado à capacidade do mesmo cidadão poder participar da vida política local,
pois nas esferas alternativas haveria a possibilidade de que o indivíduo possa se capacitar e nesse
sentido, possa “avaliar melhor a conexão entre as esferas pública e privada”. Mas, este é um ideal,
prossegue a autora, que conta com uma longa história no pensamento político, que se perdeu de vista
na teoria da democracia contemporânea.
Aquilo que se conhece como democracia representativa tem sido um enorme esforço
na tentativa moderna de enfrentar a crise da democracia restrita. E parece que não está dando
conta dos enormes desafios políticos contemporâneos colocados pela pós-modernidade. Nesse
caso, representação vale como “uma vacina para proteger dos perigos da democracia absoluta:
ela fornece ao corpo social uma pequena dose controlada de governo popular, com isto
inculcando-o contra os temíveis excessos da multidão” (HARDT & NEGRI, 2005: 306). Mas
restaria saber também se o “rochedo” da democracia participativa tem conseguido ganhar
terreno nessa batalha com o “mar” da democracia restrita.

2. DEMOCRACIA RESTRITA

A democracia na concepção de Schumpeter, para citarmos alguém contemporâneo a


nós, seguirá sendo o modelo predominante de política contemporânea ou estaria com os dias
contados em função das pressões que vem das multidões? Schumpeter, no prestigiado livro
Capitalismo, socialismo e democracia (1943), parte da perspectiva de que a teoria
democrática clássica deva ser revisada. Por isso a define como “o arranjo institucional para se
chegar a decisões políticas que realiza o bem comum fazendo o próprio povo decidir as
questões através da eleição de indivíduos que devem reunir-se para realizar a vontade desse
povo”. A democracia não pode ser fim em si mesmo, e com base na crítica desferida ao
modelo clássico, Schumpeter propõe que a democracia seja “um método político”, ou seja,
“um determinado tipo de arranjo institucional para se chegar a decisões políticas – legislativas
e administrativas” (SCHUMPETER: 304-313). No contexto político de sua época Schumpeter
se insurge contra o modelo clássico de democracia.

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No modelo de Schumpeter o papel central no processo político gira em torno dos líderes que
lutam competitivamente pelos votos da população. A esse novo modelo, Schumpeter o define como
realista e à maneira dos consumidores, “os eleitores colhem entre as políticas (produtos) oferecidas por
empresários políticos rivais, e os partidos regulam a competição do mesmo modo que as associações
de comércio na esfera econômica” (PATEMAN, 1992: 13). Portanto, figuras carismáticas e partidos
políticos tomam a cena política, e são eles os atores aptos a responder pela massa eleitoral “incapaz de
qualquer ação que não seja o ‘estouro da boiada’”. Resumidamente, democracia significa para o autor
analisado, a possibilidade que o povo tem de “aceitar ou não as pessoas designadas para governá-lo”
(SCHUMPETER: 353-355).
A questão que se coloca aqui é se uma posição dessas não estaria próximo daquilo que
o próprio Schumpeter criticou, ou seja, as posições antidemocráticas. Eliminado o elemento
ético marcante do modelo clássico de democracia, o modelo de Schumpeter trata os cidadãos
como simples consumidores políticos, e a sociedade política simplesmente como uma relação
do tipo mercado entre eles e os fornecedores de mercadorias políticas (MACPHERSON,
1978: 84). A concorrência entre as partes produziria um equilíbrio social.
Segundo Macpherson, tudo o que segue das premissas do modelo elitista de democracia é que
esse modelo é ótima coisa para o mercado. Mas um mercado não é necessariamente democrático
(1978: 90). A considerável desigualdade de riqueza e chances de adquirir riqueza em sociedades
desiguais como as sociedades capitalistas coloca em cheque o equilíbrio democrático. Logo, a apatia
política não é um fenômeno deslocado das relações econômicas, tal como defende o modelo
democrático elitista, ao contrário, a desigualdade social criaria apatia política, além do que o modelo
tem poucos vendedores e peca pela falta de concorrência, ou seja, esse mercado político traduz-se em
oligopólio (poucos partidos políticos) e num mercado oligopolista. Portanto, a iniciativa política é
sempre das elites. A existência de um sistema de elites em competição com um baixo nível de
participação pelos cidadãos é uma exigência de uma sociedade em que há desigualdades.
Conseqüência: menos participação popular na condução da coisa pública, mais técnicos e elites, mais
democracia restritiva.

3. DEMOCRACIA INCLUSIVA E EMANCIPAÇÃO SOCIAL

O modelo democrático representativo será fortemente questionado a partir das décadas


de 60 e 70, a partir da rediscussão da presença dos movimentos sociais e estudantis no cenário
político, da crise do Estado de Bem Estar Social e do movimento dos trabalhadores
reivindicando autogestão no processo produtivo. Acrescente-se a todos esses fenômenos, o
fim da guerra fria e a intensificação dos processos da globalização. Mas, Macpherson aponta
um ciclo vicioso quando refle sobre a possibilidade do modelo democrático participativo:

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“não podemos conseguir mais participação democrática sem uma mudança prévia da
desigualdade social e sua consciência, mas não podemos conseguir as mudanças da
desigualdade social e na consciência sem um aumento antes de participação democrática”
(1978: 103). Em outros termos, a gritantes desigualdades econômicas geram déficits de
participação política e este déficit gera, por sua vez, mais desigualdade econômica. Algo de
mais participativo que o nosso sistema atual é desejável? E se é desejável, é possível romper o
ciclo apontado por Macpherson? Isso é possível nas sociedades contemporâneas diante de um
quadro de globalização e de cidadania confundida com consumismo?
Os participacionistas defendem que sim e o fazem com base nos seguintes argumentos: a
participação na vida política gera educação cidadã ou Paidéia democrática, controle e distribuição do
poder e socialização. Na perspectiva da democracia participativa a própria definição do que seja a
política deveria ser colocada em questão, deveria “superar as fronteiras convencionais e gerar, desta
maneira, legitimidade para a luta por relações mais justas, humanas e igualitárias em esferas
tradicionalmente consideradas não políticas” (VITULO, 1999: 4). Portanto, na perspectiva
participativa, as práticas democráticas se estendem a campos sociais inimagináveis como escolas,
hospitais, conselhos gestores, economia, agencias de serviços sociais, universidades, centros de
pesquisas, ONGs, associações, movimentos sociais, etc., extrapolando dessa forma, os umbrais das
esferas de participação tradicionalmente estabelecidas pela democracia elitista.
De certa forma, a concepção democrática participativa se insurge contra idéia de tomar
as decisões políticas verdadeiramente importantes em segredo e nos bastidores do governo, do
parlamento, dos aparelhos dos partidos (CASTORIADIS, 1996: 05). Nesta concepção, a
democracia é descrita como uma comunidade política participativa “cujos cidadãos têm um
compromisso com o interesse público que transcende os interesses privados e egoístas” O
cidadão é aquele que, voluntariamente, “se une aos demais para formarem uma comunidade
de co-associados livres e iguais cujo objetivo é a busca do bem comum” (FARIA, 1996: 27).
Para Marilena Chauí, foi exatamente o pensamento de esquerda, porque fundado na
compreensão do social como divisão interna das classes a partir da exploração econômica e,
portanto, como luta de classes que “redefiniu a democracia recusando considerá-la apenas um
regime político, afirmando, então, a idéia de sociedade democrática”. Em outras palavras,
segue a autora, as lutas dos trabalhadores no correr dos XIX e XX ampliaram a concepção dos
direitos que o liberalismo definia como civis ou políticos, “introduzindo a idéia de direitos
econômicos e sociais”. Na concepção de esquerda, “a ênfase recai sobre a idéia e a prática da
participação, ora entendida como intervenção direta nas ações políticas, ora como

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interlocução social que determina, orienta e controla a ação dos representantes” (CHAUÍ,
2005: 23-24).
Esta concepção republicana de democracia, cuja referencia na teoria clássica está associada à
Rousseau, “caracteriza-se por conferir à sociedade o poder ou a autoridade originária e legítima da
formação da opinião e da vontade comum de maneira geral”, da mesma forma assenta-se em uma
concepção de política “apresentada como um fim em si mesmo, na medida em que está preocupada
com a generalização e aprofundamento da cidadania enquanto autodeterminação da população na
definição e construção da vida e do interesse comum” (LÜCHMANN, 2002: 20).
Para esta posição, o cidadão se constitui no espaço da participação política, quer dizer,

[...] no reconhecimento recíproco que exige tomar a perspectiva de participante na comunidade em


função de um ‘nós’, o indivíduo se desenvolve na comunidade. O cidadão se configura no plano da
relação com o outro, nas possibilidades de integração social, em um dialogo aberto no espaço político
(MONTECINOS, 2004: 03-04).

Nesse sentido, aqueles que defendem mais participação nos destinos da vida política
na qual estão inseridos, certamente reconhecem os limites tantas vezes defendidos pelos
democratas liberais de que a distancia e extensão dos países são fatores impeditivos de
realização de uma democracia direta, mas como corrigir esses problemas se não se aposta na
própria democracia como mecanismo de mudança? Isso significa que só a democracia pode
corrigir e aprofundar a própria democracia, sem que isso descambe para as temíveis vias
totalitárias, tal como costumam argumentar os liberais na defesa da democracia restrita.
Afinal, “a democracia representativa nasceu do pressuposto”, equivocado, diz Bobbio (1986:
139), de que “os indivíduos, uma vez investidos da função pública de escolher os seus
representantes, escolheriam os ‘melhores’”. Diante da política tornada espetáculo, sabe-se que
equívocos nas escolhas ocorrem e quase sempre os representantes agem em nome de
interesses particulares em detrimento da defesa dos interesses públicos, função para a qual
foram eleitos.

4. PUNTO FIJO: PONTO DE PARTIDA PARA A TRANSIÇÃO DEMOCRÁTICA NA


VENEZUELA

Para um grande número de países da América Latina e do Caribe1, o final da década de 80 do


século passado representou o fim de um longo período de regimes ditatoriais. Busca-se, a partir de
então, transitar para uma possível consolidação democrática na região. Mas, essa não foi a trajetória
política da Venezuela. A história do país aponta que a ditadura militar dava seus últimos suspiros em

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Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, El Salvador, Hnduras, Panamá, Paraguay, Perú e Uruguay.

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1958, representada pela figura de Marcos Perez Jimenez, o qual governou o país desde 1948. Há outro
componente importante que devemos levar em conta quando analisamos a democracia venezuelana. O
período de 1958 a 1989 é um período de busca de consolidação da democracia representativa, a qual
será, paradoxalmente, colocada em xeque em função da baixa capacidade de resposta aos problemas
sociais e políticos vigentes no país a partir de 1989. Isso significa dizer, por outro lado, que enquanto
muitos países da América Latina e do Caribe estão lutando pela implantação da democracia
representativa até o final da década de 80 do século passado, amplos setores da sociedade venezuelana
estaria questionando esse mesmo modelo de democracia restrita, reivindicando, dessa forma, o
aprofundamento da democracia.
Com o intuito de dar um basta à situação da ditadura militar prevalecente, o pacto de
Pacto de Punto Fijo representa um marco divisor na história política da Venezuela, pois
representou a possibilidade das elites políticas, mediante pactos, seguirem governando o país
nos limites das regras da democracia representativa, inviabilizando a participação de partidos
de esquerda e de amplas camadas populares. O acordo vigorou até 1960, momento em que o
partido Unión Republicana decidiu romper o estabelecido, instalando-se a partir daí o
bipartidarismo, traduzido pelo domínio das elites políticas de AD (Ação Democrática) e
COPEI (Comitê de Organização Político Eleitoral Independente) até o final da década de 90
do século passado.
Muitos autores concordam que o Pacto de Punto Fijo foi positivo, necessário e até
imprescindível para estabilizar a jovem e nascente democracia venezuelana e que o mesmo teria
jogado um papel preponderante na estabilização da vida política do país, interrompida a partir de
1948. Procuram, dessa forma, ver no puntofijismo um fenômeno com mais qualidades do que defeitos.
Entretanto há uma pergunta que não se pode deixar de fazer: se este era um sistema tão estável, por
que ruíram suas bases? A estabilidade do sistema democrático estaria fundamentada, em tese, no
sistema político bipartidário, mas não estaria aí, ao mesmo tempo, sua debilidade? O Pacto de Punto
Fijo não teria funcionado senão com base na perpetuação das elites políticas, apoiadas, por sua vez,
numa política de base centralizadora e na regra do jogo eleitoral. Isso trouxe como resultado a
exclusão de grande parte da população da vida política, ficando os partidos incapazes de incorporarem
os novos atores sociais que despontam no cenário político na década de 90.
Resultado desse processo democrático “por cima” foi a instauração de um sistema
sóciopolítico a serviço da corrupção administrativa, clientelismo político e tráfico de
influências. Resumidamente, o modelo democrático que se instaurara a partir do Pacto de
Punto Fijo gerou um déficit de participação na vida política por parte dos cidadãos, ou seja,
gerou apatia política e desconfiança não só em relação a instituições assim como em relação à
política de modo geral. As estatísticas do Conselho Nacional Eleitoral, por exemplo,

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demonstram o auto nível de abstenção nas eleições regionais da Venezuela compreendidas


entre os períodos dos anos 80 e 90, fenômeno que só começa a mudar a partir dos anos 1998,
2004, quando é realizada a eleição presidencial e o referendo revocatório presidencial,
respectivamente.
Tornou-se evidente, com o passar dos anos que o sistema democrático representativo na
Venezuela não conseguiu “traduzir os desejos mais profundos das maiorias em políticas públicas
direcionadas no sentido de resolver os problemas centrais da sociedade”. A cultura popular
venezuelana estava “fortemente impregnada por uma tradição de paternalismo estatal, uma estrutura
corporativa de representação e um clientelismo fortemente enraizado” (PARKER, 2006: 91-93). Esta
situação gerou uma evidente falta de controle dos governados sobre governantes (USECHE, 2004:
06).

5. O CARACAZO: PRELÚDIO DO APROFUNDAMENTO DEMOCRÁTICO

Poder-se-ia afirmar que tanto o dinamismo como a estabilidade do sistema político


venezolano, deflagrado pelo puntofijismo, conforme descrito acima esteve determinado pela
“capacidade do Estado Nacional de distribuir a riqueza através dos investimentos sociais do
petróleo” (JIMÉNEZ, 2003: 15). Essa situação projetou a imagem da Venezuela no cenário
internacional como um país que não gerava protestos populares, pelo menos até meados da
década de 80 do século passado. No início dos anos 90 os índices econômicos na Venezuela
sofreram uma modificação substancial: “aumento da inflação, desemprego, diminuição do
investimento de capital” (JIMENEZ, 2003: 15), fatores que levam o Estado a uma situação de
ineficácia.
É claro que essa situação econômica vivenciada pela Venezuela não se distinguiria em muito
da situação vivenciada pela maioria dos países da América Latina, e esta situação não pode ser
compreendida se a deslocamos do cenário da economia global. Sob a égide do último mandato do
governo Carlos Andrés (1989-1993), todos os esforços foram feitos para atender as exigências dos
órgãos financeiros mundiais e a imensa maioria da população venezuelana não entendia o porquê de
tanta pobreza se debaixo de seus pés corria “o ouro preto”. Simplesmente a riqueza do país não fora
distribuída democraticamente, tal com se pensara fazer com o poder político. Ao contrário, economia e
política trilhariam caminhos distintos. Assim, tomou força em solo venezolano, a idéia de que um
Estado eficiente seria um Estado mínimo possível. As metas estabelecidas pelos órgãos financiadores
internacionais viriam junto com o enxugamento da máquina estatal, penalizando dessa forma, as áreas
da educação e social, mas a reação não tardou muito e veio dos substratos populares, desceu dos
morros de Caracas.

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O Caracazo é o fenômeno político que descreve a reação do povo venezuelano frente à


situação de pauperização, de corrupção, de não representatividade política, do descrédito do sistema
político e de impunidade reinantes no país. Também foi a resposta às “faltas de saídas institucionais, a
crise de representatividade dos partidos tradicionais, o esgotamento do modelo de rendas e o
debilitamento dos organismos do Estado” (JIMENEZ, 2003: 18). As diretrizes políticas estabelecidas
no Pacto de Punto Fijo teriam funcionado durante anos como uma pá de chumbo, colocada encima
dos conflitos e desigualdades sociais gritantes, impedindo que uma grande maioria de cidadãos
pudesse acessar os canais de participação política do país.
Se até meados dos anos 80 a Venezuela foi visto como um país de pouca mobilização
da América Latina, este não parece ser o caso a partir da segunda metade da mesma década.
Segundo Maya e Lander (2006: 13), entra em cena a “política de rua”, interação produzida na
rua, entendida como espaço público, entre diversos atores sociais e políticos, incluindo as
multidões. 2 Se por um lado, podemos afirmar que o Pacto de Punto Fijo significou um marco
importante no cenário político venezolano por ter delineado e colocado em prática o modelo
democrático representativo, por outro, poderíamos afirmar que o Caracazo e a insurreição
militar promovida por Chávez em 1992 representam duas coisas: a sintomatologia da crise
social e o questionamento dos fundamentos da democracia representativa (delineados na
constituição da IV República de 1961), que paradoxalmente conviveu sem eleições diretas
para governadores nem para prefeitos até o final do século XX.
Ao analisar o futuro da democracia e fazer a defesa de suas regras, Bobbio quer
examinar o contraste entre o que fora prometido e o que foi efetivamente realizado. Para o
autor, a democracia realmente existente, essa “matéria bruta”, não cumprira ainda seis
promessas supostamente defendidas pela democracia participativa: a) a idéia de um estado
sem corpos intermediários fora substituída por sujeitos políticos coletivos; b) a idéia de
representação política se contrapõe ao princípio da liberdade como autonomia; c) não
conseguiu derrotar o poder oligárquico, baseado na idéia de elites políticas em disputa pelos
votos dos eleitores; d) não conseguiu ocupar todos os espaços onde se exercita a tomada de
posições; e) não eliminou o poder invisível, o que se define como poder paralelo ou duplo
estado; f) a sexta promessa diz respeito à impossibilidade de educar para a cidadania ativa.
Mas, a que se deve o não cumprimento de tais promessas? Bobbio (1986: 33-36) cita três
tipos de obstáculos que teriam contribuído para o fenômeno: surgimento do governo dos

2
Segundo dados apresentados por Maya e Lander, os anos compreendidos entre 1989 e 2005, se produziram um
total de 15.611 manifestações no país, classificadas nas seguintes categorias: convencionais, de confrontações e
violentas (2006: 16- 19), realizadas pelos seguintes motivos: natureza sócio-econômicos e direitos de natureza
civil e políticos.

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técnicos; contínuo crescimento do aparato burocrático, vertido de cima para baixo e baixo
rendimento do sistema democrático, cujas demandas são fáceis e suas respostas difíceis.
As reflexões de Bobbio certamente contribuem também para refletirmos sobre a realidade
política venezuelana, vigente até do século passado, já que as promessas não cumpridas na Venezuela
são as promessas da democracia representativa. Em outros termos, os mesmos fatores que antes eram
tidos como importantes para o sucesso e a estabilidade do sistema democrático venezuelano, tais como
“o excessivo centralismo e paternalismo estatal, os pactos partidários originados a partir do Estado, a
excessiva institucionalização do bipartidismo, a economia exportadora baseada no petróleo, e até
mesmo o sistema eleitoral baseado na representação proporcional”, eram agora identificados como
“causas da própria instabilidade democrática” (VILLA, 2005: 157).
A entrada de Chávez na cena política venezuelana tem uma estreita relação com todos
esses fenômenos descritos até aqui. Para a sua inserção nesse cenário, contribuíram “tanto os
erros de alguns de seus adversários, como o profundo sentimento de rejeição aos partidos
tradicionais que manifestavam os venezuelanos” (VILLA, 2005: 159). Diga-se de passagem,
que a entrada de Chávez no cenário político se deu por duas portas: a primeira tentativa foi
pela porta estreita da intervenção militar realizada em 1992. No segundo momento entra pela
porta das urnas, transformando-se num fenômeno eleitoral, com 56,2% das intenções de votos
nas eleições de 1998, em julho de 2000 obtém 59,7% no processo de relegitimação, e no
referendo revogatório de agosto de 2004, obtém 59,1%.
Após assumir a presidência em 1998, o governo Chávez deflagra um referendum de caráter
nacional em 1999 para consultar os cidadãos sobre a instauração de um processo constituinte. A
proposta teve acolhida da ampla maioria e no final de 1999 a Venezuela ganha uma nova constituição.
Esse processo de formatação de uma nova constituição representou, segundo Guadilla (2005:01), uma
das mais significativas mudanças da sociedade civil venezuelana nos fins dos anos noventa,
representada pela “emergência de organizações sociais cidadãs que enriqueceram o cenário
sóciopolítico com novas identidades, concepções de cidadania e projetos de sociedade”. Dita
sociedade civil “se transformou de ator social em ator sociopolítico” e em interlocutor legítimo e
direto do Estado sem passar necessariamente pela mediação dos partidos políticos. A nova Carta
passará a ser chamada de Constituição da República Bolivariana da Venezuela, a qual mudará não só o
nome da República, mas a coloca no patamar de V República, evidenciando um novo marco legal para
a IV República estabelecida em 1961. As linhas mestras da nova Carta estabelecem além dos poderes
clássicos já descritos por Montesquieu, os poderes Cidadão e Eleitoral; concede o voto aos militares e
transforma o poder legislativo (que era bicameral) em poder unicameral.
A nova constituição também permitiu ao presidente o poder de legislar por meio da lei
habilitante. No final do ano 2000, a Assembléia Nacional aprovou um pacote de 49 leis

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habilitantes, dentre elas, a Lei de Hidrocarbonetos e a Lei de Terras, cuja efetivação das
mesmas, traria para o seio da sociedade, o que os analistas definem como “polarização
social”. A última Lei citada teve muita repercussão no país, mas a Lei de Hidrocarbonetos
tocará na espinha dorsal do oligopólio petroleiro da república, vigente desde a década de 50
do século passado. Ao propor a Lei, Chávez sabia que estava tocando no ponto
antidemocrático da economia estatal e seu governo sairia fortalecido se ganhasse a batalha
pela publicização do maior bem público do país. O que veio pela frente foi um verdadeiro
drama político: a polarização social tendeu a acirrar-se na medida em que a elite política e
empresarial venezuelana viu seus interesses particulares escorrerem pelos dedos.
Simplesmente, “o que havia sido um movimento subversivo subterrâneo”, começou a adquirir
“indícios de insurreição aberta” (LANDER, 2005: 10). Desse drama parece não ter escapado
nenhum segmento social, realizado em três atos importantes: a greve dos petroleiros de
2002/2003; o golpe midiático impulsionado por Pedro Carmona em 2002; o referendum de
2004, no qual o governo Chávez saiu fortalecido, obtendo 59,1% dos votos válidos.

6. DEMOCRACIA PROTAGÔNICA: DE QUE SE ESTÁ FALANDO?

Em aberta oposição à Constituição de 1961, a Constituição da República Bolivariana visa logo


no Preâmbulo sua linha mestra, refundar a República venezuelana com base numa sociedade
democrática, participativa e protagônica, multi-étnica e pluricultural em um Estado de justiça, federal
e descentralizado. Nesse sentido, a revitalização da democracia exposta no preâmbulo da Constituição
da V República se contrapõe à concepção democrática esboçada na Constituição da IV República
(1958) venezuelana, que entrou em declínio a partir de 1980. Parece não haver dúvidas de que o novo
perfil da Constituição venezuelana retrata a força da participação popular em seu
delineamento, ao mesmo tempo lança o desafio do aprofundamento democrático, de forma
descentralizada, inclusive revogando mandatos, quando assim for solicitado pelos cidadãos.
Se não, vejamos o art. 62, o qual enuncia:
Todos los ciudadanos y ciudadanas tienen el drecho de participar libremente en los asuntos públicos,
directamente o por médio de sus representantes elegidos o elegidas [...]. La participación del pueblo en
la formación, ejecución y control de la gestión pública es el médio necesario para lograr el
protagonismo que garantice su completo desarollo, tanto individual como colectivo. Es obligación del
Estado y deber de la sociedad facilitar la generación de las condiciones más favorables para su práctica.

Da mesma maneira, a Constituição de 1999 sinaliza no seu art. 70 os seguintes meios


de participação para conseguir o protagonismo do povo no exercício de sua soberania:

[...] en lo político: la elección de cargos públicos, el referendo, la consulta popular, la revocatoria del
mandato, la iniciativa legislativa, constitucional y constituyente, el cabildo abierto y la asamblea de

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ciudadanos y ciudadanas cuyas decisiones serán de carácter vinculante, entre otros; y en lo social y
económico, las instancias de atención ciudadana, la autogestión, la cogestión, las cooperativas en todas
sus formas incluyendo las de carácter financiero, las cajas de ahorro, la empresa comunitaria y demás
formas asociativas guiadas por los valores de la mutua cooperación y la solidaridad (grifo nosso).

Ainda, visando o objetivo da participação política popular, o art.182 preconiza a criação do


Conselho Local de Planificação Pública, presidido pelo “Alcalde o Alcaldesa e integrado por los
concejales y concejalas, los Presidentes o Presidentas de la Juntas Parroquiales y representantes de
organizaciones vecinales y otras de la sociedad organizada, de conformidad con las disposiciones que
establezca la ley”. E visando o aprofundamento jurídico para este novo mecanismo de participação das
comunidades, a Assembléia Nacional, por mandato constitucional aprovou a lei dos Conselhos Locais
de Planificação Pública (CLPP), promulgada em junho de 2002. Ao menos até aqui, podemos
perceber que o novo processo político venezuelano deflagrado a partir da década de 90, impulsionou o
desenvolvimento de um novo ordenamento jurídico orientado pela ação direta do cidadão nas
mudanças políticas e sociais que conduzam ao processo de transformação da sociedade. Nesse caso, o
Estado sob a insígnia de uma nova concepção “assume a participação como um direito e não como
uma concessão como no passado” (SUÁREZ et alli., 2003: 589). O Estado assume, mediante uma
plataforma jurídica, a criação e ampliação de mecanismos formais de participação, desde o âmbito
comunitário até as instancias federais.
Em tese, a implantação dos Conselhos Locais de Planificação Pública seria o corolário deste
novo mecanismo de participação protagônica, conforme delineado no preâmbulo da constituição e
seus artigos correspondentes. Segundo tais preceitos, os cidadãos teriam a possibilidade não só de
formular e executar programas e projetos, mas teriam a precípua tarefa também de controlar tais
políticas públicas em prol da gestão pública e comum.
Os novos atores sociais e políticos, surgidos no cenário político venezuelano estariam
ampliando a noção de democracia para além do sentido liberal, questionando os valores do
individualismo competitivo, e, buscando, por sua vez, concretizar o nexo entre liberdade e
igualdade. Nessa perspectiva, a democracia procedimental não seria um ponto de chegada
para grande parcela da população venezuelana na atualidade, ao contrário, a democracia
formal apresentar-se-ía como ponto de partida, abrindo o cenário político para o debate e a
vivência de outras propostas políticas. Uma democracia que, “ao mesmo tempo, conserva e
eleva a nível superior as conquistas da democracia puramente liberal ou formal”
(COUTINHO,1984: 48).
Portanto, desde a ótica do novo legislador venezuelano, a nova perspectiva sobre a
participação política local e municipal visaria romper com uma visão herdada do passado que
pensa a comunidade de forma estática, apolítica e heterônoma. A nova legislação estaria
apontando, portanto, para um modelo de democracia onde a autonomia seja o princípio condutor

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da vida em sociedade. Mas ao mesmo tempo, alguns analistas concordam que a mesma sociedade
civil que soubera fazer acordos para chegar e deflagrar o processo constituinte de 1999 está
profundamente em desacordo hoje, no que tange a um projeto de sociedade.
Na prática há uma disputa acirrada em torno da definição de um modelo de
democracia, a ponto de afirmarem que o país estaria dividido em torno dos dois modelos que
fora apresentado inicialmente. Uma parcela da população reivindica a democracia num
contexto de pluralismo cultural e exercício da cidadania para além do aspecto puramente
eleitoral e procedimental, ou seja, pensa a democracia em termos de ruptura com o modelo
anterior, estabelecida no acordo de Punto Fijo. Esta parcela vê na democracia participativa a
possibilidade de justiça social e de igualdade. Ao mesmo tempo esta concepção de
democracia possibilitaria o nexo entre economia e política, Estado e sociedade, público e
privado.
De outro lado, a outra parcela da população reivindica a democracia ainda no sentido
restrito ou procedimental, liberal. Esta parcela da população deseja a democracia
representativa como ponto de partida e chegada, como possibilidade de liberdade econômica,
e, de certa forma, como manutenção de status quo. Essa parcela reivindica o liberalismo como
o sistema que harmonizaria as diferenças entre as coletividades, concebendo a política como
técnica, alijada dos processos participativos e decisórios.
A situação política venezuelana atual, tal como esboçado rapidamente, parece mostrar
pelo menos, três fenômenos ao mesmo tempo: a) a democracia formal que vigorara de 1958
até 1990 não fora capaz de vislumbrar saídas para a grave política e econômica que assola o
país; b) a sociedade civil vem buscando uma nova relação com o Estado dando mostras de
que a democracia pode ser aprofundada, abrindo o cenário político para o debate e a vivência
de outras propostas políticas; c) o Estado venezolano vem se ampliando nos últimos 10 anos
no sentido de buscar justiça social e distribuir riquezas a partir do patrimônio público.

7. ÚLTIMAS CONSIDERAÇÕES

Procuramos mostrar, dentro de certos limites, o debate político contemporâneo sobre a


teoria democrática restrita e a teoria participativa. Evidenciamos as linhas mestras da primeira
perspectiva, segundo as idéias de Schumpeter, seu expoente maior. Expusemos de igual maneira
as limitações de tal modelo democrático, sobretudo o déficit de participação dos cidadãos na vida
política na medida em que a política nessa perspectiva passa a ser atributo de elites especializadas
na gerencia da coisa pública e na medida em que a política passa a ser vivenciada de tempos em
tempos, quando os representados elegem seus representantes.

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Vimos que a crítica a essa perspectiva democrática parte daqueles que concebem a
participação como atributo essencial da democracia, daí a reivindicação de seu
aprofundamento em todas as esferas da sociedade, seja esta esfera pertinente à família, escola,
associações, movimentos sociais, ONGs, ou poder judiciário, legislativo, econômico, etc. Se
não se pode eliminar de vez a idéia de representação política, a democracia participativa
reivindica a idéia de que se possa não só participar na elaboração de políticas públicas assim
como também se possa controlar suas execuções.
As reflexões sobre os modelos democráticos delineados acima tinha o objetivo de
adentramos na história política venezuelana a partir da década de 50 do século passado,
perguntando-nos se a história da democracia daquele país não evidencia a presença dos dois
modelos discutidos acima. Percebemos que sim. Percebemos a preponderância das
características do modelo democrático representativo na Venezuela, vigorou da década de 60
até a década de 90 do século passado, bem como o esgotamento desse modelo, o qual
significou a presença do bipartidismo, elites políticas se alterando no poder, abstenção nas
votações, falta de legitimidade política, apatia política e corrupção.
Vimos também que a entrada de novos atores sociais na cena política, em função das graves
crises desencadeadas pelas políticas neoliberais e da ausência do Estado nas políticas públicas, trouxe
como conseqüência a participação política desde baixo, desde os bairros populares do país. Nesse
sentido, as novas conjunturas sociais e a entrada de Chávez no cenário político culminaram na
elaboração de uma nova constituição em 1999, transparecendo na mesma uma linguagem democrática
participativa. De igual maneira, novos mecanismos de participação popular foram criados para que a
nova carta não passasse de letra morta. Dentre estes mecanismos, estão previstos os Conselhos Locais
de Planificação, cujas estruturas visam a participação de cada cidadão, na localidade onde vive,
formatando dessa forma um novo desenho institucional de participação política no país.
Nossa analise do fenômeno, que ainda é superficial em função da falta de pesquisa in locus,
não nos permite fazer maiores afirmações nem tirar conclusões mais consolidadas. A partir do aporte
teórico consultado, pode-se afirmar que o modelo restrito de democracia já não é mais suficiente para
dar respostas à crise de representatividade política que se instaurara na Venezuela desde a década de
oitenta do século XX. Nesse sentido, a resposta aos graves problemas que se acumularam na vigência
do modelo democrático restrito só poderão ser resolvidos, quem sabe, ampliando os canais de
participação da população nos destinos da vida política do país. E se levarmos em conta, a sugestão de
Bobbio de que para um regime democrático, o estar em transformação é seu estado natural, no sentido
de que ela indica dinamicidade, ao contrário da estaticidade indicada pelo despotismo, então se pode
concluir que a democracia representativa na Venezuela vem sendo combatida com o dinamismo
inerente à própria democracia, nesse caso ela estaria sendo aprofundada.

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