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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

A Perspectiva da Psicologia Social Discursiva

Disciplina: Teorias e História da Psicologia


Professoras: Maria Isabel Pedrosa
Maria de Fátima Santos
Mestrando: Pedro Paulo Viana Figueiredo

RECIFE
2008
2

Introdução

O presente trabalho buscará desenvolver, de forma breve, qual o cenário da Psicologia Social em que
surge a Psicologia Social Discursiva, quais são seus pressupostos e que críticas ela têm a outras
formas de se fazer Psicologia Social.

Os autores que utilizarei na discussão sobre a psicologia social discursiva serão principalmente
Jonathan Potter, Margareth Wetherell, Derek Edwards e Michael Billig. Para tal, este trabalho será
divido em três tópicos: fundamentos da psicologia social discursiva; algumas diferenças e
semelhanças com outras abordagens; considerações.

1. Fundamentos da Psicologia Social Discursiva

A Psicologia Social Discursiva, conforme desenvolvida por pesquisadores como Jonathan Potter,
Margareth Wetherell, Derek Edwards, Michael Billig, têm como foco em pesquisa enfatizar a
natureza retórica do discurso (como as pessoas argumentam sobre eventos e fenômenos), sua função
(ação e conseqüências do discurso) e variabilidade (OLIVEIRA FILHO, 2005). A psicologia social
discursiva tem uma linhagem teórica bastante complexa, utilizando-se de idéias da análise de
discurso, retórica, sociologia da ciência, etnometodologia, análise conversacional e pós-
estruturalismo (POTTER; EDWARDS, 2001).

Edwards (2005) parece utilizar o termo psicologia discursiva como modo de ressaltar que seus temas
de estudo vão além daqueles tipicamente estudados pelos psicólogos sociais como, por exemplo, os
conceitos de atitude, percepção social, dissonância cognitiva, acomodação de fala etc. (POTTER;
WETHERELL, 1987; TRAVERSO-YÉPEZ, 1999). O autor (EDWARDS, 2005) acredita que a
psicologia discursiva deve estudar como conceitos psicológicos do senso comum são utilizados no
cotidiano. Entende que o foco de análise da psicologia social discursiva é o modo como tais
conceitos são utilizados nas interações discursivas.

Para tal, utiliza-se da análise de discurso, que poderia ser resumida como sendo “[...] o estudo de
como falas e textos são utilizados para realizar ações 1” (POTTER, 2003b, p. 73), onde a psicologia
discursiva seria o uso das idéias da análise de discurso para tópicos de interesse da psicologia
(POTTER; EDWARDS, 2001). Esta é quem vai permitir a análise da linguagem em uso através de
textos, transcrições, matérias de jornal etc. Para Edwards (2005), a análise de discurso desenvolvida
na psicologia discursiva depende da análise conversacional, da retórica e da filosofia analítica.

1
No original: “[...] the study of how talks and texts are used to perform actions”.
3

A análise conversacional é um modelo desenvolvido pela etnometodologia que aplica as idéias de


indexicalidade – o significado de uma expressão ou palavra depende do contexto em que é usada – e
reflexividade – as pessoas não utilizam as descrições apenas por seu caráter descritivo, mas, estas
realizam ações que fazem parte de seqüências de interação mais amplas – ao estudo da interação
conversacional (POTTER, 1998).

Como dito, tal modelo foi desenvolvido pela etnometodologia, basicamente como um modo de
transcrever fitas de entrevista, e, preocupa-se em como a contribuição de diferentes pessoas em uma
conversa são mescladas juntas e o modo como diferentes ações – por exemplo: xingamentos,
reclamações, agradecimentos, desculpas – são produzidas e administradas (POTTER;
WETHERELL, 1987).

O discurso é situado em termos de retórica: o modo como uma descrição é colocada em uma fala e,
por exemplo, dita de um maneira ou de outra é levada em conta. A pesquisa, na psicologia discursiva
considerará o modo como as falas e textos são utilizados em seqüências de interação, são orientadas
para ambientes institucionais e identidades, e são postas juntas retoricamente (POTTER, 2004). O
autor que melhor desenvolveu a importância dos argumentos retóricos na psicologia social foi
Michael Billig, principalmente em seu livro Argumentando e Pensando (Billig, 2008), no qual,
chamando a si mesmo de psicólogo antiquário, revisita grandes autores da retórica e afirma a
importância dos estudos retóricos para a psicologia social moderna.

A filosofia analítica utilizada na psicologia discursiva vêm de autores da filosofia da linguagem,


principalmente Ludwig Wittgenstein, Gilbert Ryle e John Austin. Tais autores trouxeram
contribuições para a compreensão do uso da linguagem que servem de base para a análise de
discurso desenvolvida pela psicologia discursiva. Conceitos como o de “jogos de linguagem”, onde
uma palavra só tem sentido dentro do contexto no qual ela é usada (WITTGENSTEIN, 1996) e a
assunção de que ao se expressar uma oração já se está realizando uma ação, ou parte dela, quando
dentro de um contexto específico (AUSTIN, 1955), são importantes e cruciais.

Para Potter (2004), Potter e Edwards (2001), a análise de discurso como é utilizada na psicologia
social discursiva, baseia-se em três fundamentos principais: o discurso é orientado à ação, situado e
construído.
4

O discurso é orientado à ação, e sua análise compreende as ações e práticas que este desempenha.
Assume-se que o mundo está em constante movimento, um mundo onde o discurso faz com que
coisas aconteçam, se realizem. O discurso é então utilizado por nós de modo a realizar ações como
parte de práticas mais amplas, como, por exemplo, quando digo “Me dá o sorvete!” eu posso estar
respondendo a inúmeras possibilidades de perguntas que me precederam. O que torna importante
definir o contexto no qual meu discurso foi produzido.

Os analistas de discurso tratam o discurso como ocasionado na medida em que ocorreu numa
seqüência de interação. Ou seja, as ações não estão soltas no espaço, mas baseadas em um contexto
que a precede e que se segue. Continuando o exemplo anterior, minha resposta poderia ter sido
precedida de alguém que me ofereceu um lanche, e perguntou “Você prefere ganhar o sorvete ou o
picolé?¨, ou de uma briga entre crianças, na qual uma tomou ou sorvete da outra, ou ainda, foi uma
resposta enfurecida numa situação na qual eu apontava para um sorvete o qual eu estava
impossibilitado de alcançar pelo fato do sorveteiro tê-lo colocado fora do meu alcance.

Por fim, o discurso é construído na medida em que as pessoas usam a linguagem para construir
versões do mundo social. Os eventos são explicados através de uma variedade de recursos
lingüísticos pré-existentes, “quase como uma casa é feita de tijolos, vigas etc.” (POTTER;
WETHERELL, 1987, p. 33-34), o que implica no uso seletivo de termos no qual alguns aspectos são
levados em consideração e outros são omitidos. A noção de discurso enquanto construído considera
que as interações sociais são baseadas em negociações que envolvem eventos e pessoas que, através
da explicação de fenômenos, constroem a realidade. O que não é feito deliberada ou
intencionalmente, pois, pode ser que uma pessoa ao dar explicações de um fenômeno não esteja
consciente de estar construindo versões do mundo social, mas tal construção emerge enquanto ela
tenta dar sentido a este fenômeno, por exemplo.

2. Algumas diferenças e semelhanças com outras abordagens

Vou discutir sobre três modos de se fazer psicologia que podem contrastar com a abordagem da
psicologia social discursiva por suas semelhanças e diferenças, a saber, a Teoria das Representações
Sociais, o Behaviorismo e o Cognitivismo.
5

2.1. Teoria das Representações sociais

No discurso cotidiano temas psicológicos tais como percepções, memórias, entendimentos, emoções,
são relacionados à descrição de eventos e ações do mundo externo, por exemplo, como nos sentimos
ao ouvir um discurso do político X, o que achamos de um texto, de um evento polêmico. A
psicologia discursiva, assim, diferencia-se de outras psicologias que partem do pressuposto de que a
psicologia popular é errada, inexata, ilógica.

Podemos perceber certa aproximação com a Teoria das Representações Sociais desenvolvida por
Moscovici no que diz respeito a uma ênfase na psicologia “popular”, ou “do senso comum”. Porém,
diferencia-se desta por não acreditar nas representações como entidades mentais, formadas de
elementos concretos e abstratos, ou seja, como conceitos e imagens (POTTER; WETHERELL,
1987).

Potter e Wetherell (1987) reconhecem a importância da teoria das representações sociais para a
psicologia social européia, porém, vêem problemas em sua aplicação prática e para o foco de análise
que pretendem desenvolver na qual se enfatiza o discurso e a linguagem em uso. Potter e Litton
(1985), por exemplo, listam quatro problemas com a teoria das representações sociais ao ilustrar
pesquisas desenvolvidas por Herzlich (1973 apud op. cit.), Di Giacomo (1980 apud op. cit.) e
Hewstone at al. (1982 apud op. cit.). Estes seriam: (1) a relação entre grupos e as representações
sociais, (2) nível de consenso e graus de concordância em que as representações sociais são
compartilhadas, (3) a operação das representações sociais dentro de contextos particulares de uso e
(4) o papel da linguagem nas representações sociais. Estes pontos poderiam ser resumidos da
seguinte forma:

1. As categorias de grupo são tratadas como um fenômeno que ocorre naturalmente e pode ser
usado sem problemas como base para conclusões de pesquisa. Porém, as categorias de grupo
podem ser, elas mesmas, entendidas como representações sociais construídas pelos
participantes para dar sentido a seus mundos sociais. Potter e Litton (1985) acreditam que a
adesão a determinado grupo para a teoria das representações sociais é um fenômeno
psicológico, e não natural.

2. Os grupos são caracterizados como sendo representações sociais compartilhadas que levam a
um consenso. Seria a natureza consensual das representações sociais e sua adoção consensual
por grupos sociais que a distinguem de representações coletivas que são compartilhadas por
uma sociedade e de representações únicas de um ou poucos indivíduos. A crítica reside no
6

fato de que os estudos empíricos tendem a pressupor um consenso e a diversidade é


disfarçada pelo uso de certos procedimentos analíticos.

3. A identidade dos grupos e suas representações é freqüentemente pressuposta e não


demonstrada na qual há a assunção acrítica de que as representações sociais são consensuais
nesses grupos, tendo estes, geralmente, uma estrutura “em camadas” bastante complexa que
deve ser evitada:

Essa complexidade faz a conexão entre os grupos e as representações sociais ainda mais
problemáticas porque levanta a questão do nível de consenso que se espera que um grupo
mostre. Um grupo pode mostrar consenso em um nível e não em outro, um fato que necessita
critérios analíticos bastante claros para a identificação dos grupos se a ligação grupo-
representação social deve ser demonstrada ao invés de simplesmente assumida 2 (POTTER;
LITTON, 1985, p. 86)

Os problemas diriam respeito então ao fato de que a ligação grupo-representação social tem
seu contexto como assumido a priori e quando as representações sociais são
concomitantemente vistas como relativamente fixas e reforçando os atributos do grupo.

4. A linguagem é vista como mais do que um meio neutro de transmissão: “Palavras fazem mais
do que representar coisas; elas criam coisas e passam suas propriedades para ela 3”
(MOSCOVICI, 1981, p. 202 apud POTTER; LITTON, 1985, p. 87). Porém, Moscovici não
restringe as representações para o uso da linguagem. Potter e Litton acreditam que existem
diferentes nuances lingüísticas que são centrais para marcar a distinção entre diferentes
formas de compreensão e explicação e que estas deveriam ser um tópico essencial no estudo
das representações sociais.

Alguns autores na psicologia social discursiva (Cf. POTTER; LITTON, 1985; POTTER;
WETHERELL, 1987; POTTER; EDWARDS, 2001) preferem utilizar repertórios lingüísticos ao
invés das representações sociais. Estes podem ser definidos como sistemas de termos utilizados
recorrentemente para caracterizar ações, eventos, e outros fenômenos. Tem o mesmo tipo de função
explanatória que a representação social, isto é, ela “[...] tende a olhar sistematicamente a
organização do fenômeno em que os psicólogos sociais tem tradicionalmente entendido em termos
de atitudes, crenças e atribuições4” (POTTER; WETHERELL, 1987, p. 146).
2
No original: “This complexity makes the connection between groups and social representations even more
problematic for it raises the question of the level of consensus the group should be expected to display. A group may
display consensus at one level and not at another, a factor which necessitates very clear analytic criteria for the
identification of groups if the group-social representation link is to be demonstrated rather then presumed”.
3
No original: “Words do more than represent things; they create things and pass their properties to them”.
4
No original: “[...] attempts to look systematically at the organization of phenomena which social psychologists
have traditionally understood in terms of attitudes, beliefs and attributions”.
7

Tal conceito de repertório foi desenvolvido principalmente por Michael Mulkay e Nigel Gilbert no
livro Opening Pandora’s Box (GILBERT; MULKAY, 1984) e tinha como objetivo revelar os
procedimentos interpretativos usados por cientistas e sua relação entre a construção do discurso e os
fins a que se propunham suas descrições.

Outro ponto de divergência seria em relação ao cognitivismo presente na teoria das representações
sociais (BILLIG; POTTER, 1992; POTTER; EDWARDS, 1999; POTTER; LITTON, 1985). Potter e
Edwards (1999, p. 449) afirmam que:

Na Teoria das Representações sociais, as representações são, na maioria das vezes, tratadas
como estruturas cognitivas ou grades que fazem sentido de informação, particularmente
sobre objetos sociais não familiares. A Psicologia Discursiva rejeita o cognitivismo-
perceptual em favor de uma reformulação sistemática da cognição como uma característica
das práticas dos participantes, onde ela é construída, descrita e orientada no momento em que
as pessoas realizam atvidades5.

Os pontos citados sobre a proposição do que seria cognição para a psicologia discursiva serão melhor
discutidos na seção sobre o cognitivismo.

2.2. Behaviorismo

A ênfase no discurso como ação no mundo poderia parecer próximo com o conceito de
comportamento verbal do behaviorismo, que seria “[...] uma forma de comportamento operante
distintiva, que age indiretamente sobre o meio, ou seja, que age inicialmente sobre outros seres
humanos [...] e “[...] tem as conseqüências de suas ações providas por outros seres humanos”
(CANÇADO; CIRINO; SOARES, 2007, p. 185).

Tomando como parâmetro de comparação a consideração da psicologia social discursiva do discurso


enquanto situado em forma de retórica, ou seja, como “regulado” de acordo com o local de onde falo,
para quem falo, o que me foi dito antes, que efeitos quero provocar etc., teria semelhanças com os
resultados de Skinner em suas pesquisas, onde o comportamento dos organismos também seria
influenciado pelas suas conseqüências, e não apenas pelas alterações ambientais antecedentes
(CANÇADO; CIRINO; SOARES, 2007).

São semelhantes também uma vez que o behaviorismo, como o watsoniano, por exemplo, rejeita a
possibilidade de estudo da consciência e de estados mentais como sendo a introspecção uma forma
de acesso a esta (OLIVEIRA; PIRES, 2007) sem interferências do observador ou daquele que fala

5
No original: “In SRT, representations are, mostly, treated as cognitive structures or grids which make sense of
information, particularly about unfamiliar social objects. DP rejects perceptual-cognitivism in favour of a systematic
reformulation of cognition as a feature of participants’ practices, where it is constructed, described and oriented to
as people perform activities”.
8

sobre ela, ou ainda como um método de investigação apropriado para uma ciência psicológica
(VASCONCELLOS; VASCONCELLOS, 2007).

Porém, a consideração da linguagem para o behaviorismo é diferente daquela proposta pela


psicologia social discursiva. No behaviorismo, a linguagem seria uma forma de comportamento
humano sobre o meio/outro ser humano. Esta assume um caráter diferente para a psicologia social
discursiva, onde a linguagem (verbal ou não) em uso é quem vai permitir a construção de diferentes
mundos sociais e até mesmo realizar a determinação de que tal fato é um comportamento humano.

2.3. Cognitivismo

A chamada “primeira revolução cognitiva”, teve como aspecto comum a idéia de que os processos
cognitivos (mentais) poderiam ser analisados de forma experimental tal como eram analisados o
processamento das máquinas através de mecanismos de input e output: “No cerne desse amplo
conjunto de pesquisas [pesquisas experimentais sobre as funções cognitivas], estava presente a idéia
de que a mente poderia ser interpretada como um software específico rodando em um hardware
específico” (VASCONCELLOS; VASCONCELLOS, 2007, p. 387).

Já na dita “segunda revolução cognitiva”, um papel importante foi relegado ao discurso, que teria,
para Harré e Gillet (1999 apud VASCONCELLOS; VASCONCELLOS, 2007, p. 387-388), três
pressupostos essenciais:

1. Muitos fenômenos psicológicos podem ser interpretados como propriedades do discurso


privado (pensamento), bem como do discurso público (comportamento) 2) A utilização
privada dos sistemas simbólicos vincula-se a processos discursivos interpessoais 3) A
produção de fenômenos psicológicos tais como emoções, decisões e atitudes ou mesmo
características da personalidade envolve questões de posicionamento dos atores.

É a partir daí que a Psicologia Discursiva toma forma, acreditando que não se necessita de outras
formas além do discurso (e, portanto, a linguagem) para se investigar o pensamento, ou de fórmulas
tais como o processo de input e output cognitivo:

Ao invés de considerar ‘linguagem’ um objeto abstrato com propriedades sistêmicas, o foco


[da psicologia discursiva] está em textos e falas nas práticas sociais (discurso). Ao invés de
considerar ‘cognição’ como uma coleção de entidades interiores mais ou menos técnicas e
processos, o foco está em como o fenômeno mental é construído e orientado nas práticas das
pessoas6 (POTTER; EDWARDS, 2003, p. 95).

6
No original: “Instead of considering ‘language’ an abstract object with systemic properties, the focus is on texts
and talk in social practices (discourse). Instead of considering ‘cognition’ as a collection of more or less technical
inner entities and processes, the focus is on how mental phenomena are both constructed and oriented to in
people’s practices”.
9

Potter e Edwards (2003, p. 95) fazem uma crítica ao modo como a psicologia cognitiva costuma
tratar o discurso:

É impressionante, por exemplo, que muitas psicologias cognitivas usam materiais discursivo
(ambos ‘input’ e ‘output’) mas ignoram suas características especificamente discursivas.
Posto de outra forma, a psicologia cognitiva tem massivamente trabalhado com uma visão de
discurso não tocada por Wittgenstein (o último) e Sacks. O discurso é tratado como um
abstrato lógico e um sistema referencial – linguagem – ao invés de um recurso administrado
localmente, orientado à ação e co-construído7.

O modo como é considerado o discurso na psicologia social discursiva, segundo Potter (2004), a qual
denomina de construcionismo discursivo, diferencia-se de vários construcionismos cognitivos, que
considera o modo como as imagens que nos chegam do mundo são postas juntas, e diferencia-se
também de vários construcionismos sociais que tentam entender a produção de pessoas individuais
através da internalização de relações sociais.

Na análise de discurso – como este é utilizado na psicologia social discursiva –, o modo como
diferentes versões de mundo são construídas e estabilizadas como independentes do falante, é tratado
como algo a ser analisado na produção de discurso, “o foco dos construcionistas discursivos está na
prática das pessoas”8 (POTTER, 2004, p. 610). A abordagem centrada no discurso mudaria o foco
de uma busca das entidades subjacentes que produzem determinada fala ou comportamento para um
exame detalhado de como expressões valorativas são produzidas no discurso (POTTER;
WETHERELL, 1987).

3. Considerações

Através de uma breve pincelada no modo de fazer psicologia da psicologia social discursiva, pode-se
perceber que ela tem diversas afiliações teóricas e surge num momento de novas considerações à
psicologia social, crítica a outras formas de se fazer psicologia e contribuições de outras disciplinas
que lhe servem de base. Discuti também diferenças e semelhanças com algumas abordagens que
eram desenvolvidas na época de seu surgimento: teoria das representações sociais, behaviorismo e
cognitivismo.

Assim, a Psicologia Social Discursiva não vêm a ser uma escola, um método, uma teoria, mas sim –
como se propõem as psicologias construcionistas – um movimento, uma corrente, uma série de
7
No original: “It is striking, for example, that much cognitive psychology uses discursive materials (as both ‘input’
and ‘output’) but ignores their specifically discursive features. Put another way, cognitive psychology has
overwhelmingly worked with a view of discourse untouched by (the later) Wittgenstein and Sacks. Discourse is
treated as an abstract logical and referential system —language— rather than a locally managed, action oriented, co-
constructed resource”.
8
No original: “[...] discourse constructionists focus on people's pratics”
10

pressupostos dentro de uma coerência conceitual que propõe uma abordagem em constante discussão
e aberta a contribuições e críticas. Ou, nas palavras de Potter (2003b): “Ela [psicologia social
discursiva] não é um método como tal; ao invés, é uma perspectiva que inclui princípios meta-
teóricos, teóricos e analíticos9” (p. 73).

Referências

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em 10/05/08.
BILLIG, Michael. Argumentando e Pensando: uma abordagem retórica à psicologia social.
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CANÇADO, C. R. X.; SOARES, P. G.; CIRINO, S. D. O behaviorismo: uma proposta de estudo do


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POTTER, Jonathan; EDWARDS, Derek. Sociolinguistics, Cognitivism, and Discursive Psychology.


International Journal of English Studies. Vol. 3 (1), 2003, pp. 93-109.

9
No original: “It is not a method as such; rather it is a perspective that includes meta-theoretical, theoretical,
and analytical principles”.
11

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GILES, Howard (Eds.). The New Handbook of Language and Social Psychology. Chichester,
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