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REFLEXÕES SOBRE A ELABORAÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA

Caio Cesar Gomes,1


Sílvia Maria de Oliveira Pavão,2

RESUMO

Entende-se por pesquisa todo processo de produção e divulgação do saber, estando por
essa razão vinculada a formação continuada. Este estudo foi realizado sob a delimitação das
metodologias bibliográficas e de análise teórica, tendo como objetivo ponderar sobre alguns
critérios a serem considerados para construção de um problema de pesquisa, visando o seu
bom desenvolvimento. A construção do problema desta pesquisa está relacionada ao
sofrimento e exclusão social e, portanto, versa sobre aspectos que compõem a subjetividade
humana decorrentes do contexto vivencial. Considera como tema de pesquisa a possibilidade
de estudar o sofrimento como motivo de manifestação de ações com tendência a superar as
dificuldades que se apresentam. Alerta para as possíveis conseqüências advindas por não se
seguir os processos relevantes para a construção adequadas durante a construção do problema
de uma pesquisa. Conclui que, a elaboração de um problema de pesquisa deve passar
necessariamente pelo crivo do método científico, pois permite ao pesquisador contribuir de
forma efetiva com o conhecimento, especialmente, quando seu objeto de estudo vincula-se a
questões subjetivas,

PALAVRAS-CHAVE: Método. Subjetividade. Pesquisa.

INTRODUÇÃO

Estudo sobre a construção de um problema de pesquisa. Aborda referenciais


teóricos, utilizados para compreender sobre como proceder para elaborar a construção de um
problema de pesquisa. Considerando algumas regras, entendidas como sendo necessária a
serem seguidas, mas ao mesmo tempo em que os autores alertam sobre a metodologia
científica da pesquisa, também enfatizam sobre a inexistência de regras precisas, para a
orientação ao processo de elaboração do problema de pesquisa, no entanto sugerem que seguir
os procedimentos metodológicos propostos, facilita esta construção. É destacada a
importância de existir um assunto definido a ser pesquisado, ou seja, um tema a ser
delimitado, para que possa ser acessado pelos métodos de pesquisas existentes.
Os problemas considerados como sendo viáveis para o desenvolvimento de
pesquisa, são aqueles que possuem conteúdos palpáveis, quer dizer, possíveis de serem feitas
1
Psicólogo do trabalho na Universidade Federal de Santa Maria-UFSM e Clínico na rede privada. Doutorando em Ciências Sociais.
Unisinos. RS. gpl@terra.com.br
2
Professora Adjunto do Centro Universitário Franciscano. Santa Maria, RS. silviaop@terra.com.br . Vinculada ao grupo de pesquisa
Formação de Professores e Docência - FORPRODOC, Linha de pesquisa: Espaços de Formação, Saberes e Práticas Docentes
correlações entre as suas variáveis ou analisáveis pela construção de conceitos que revelem
com sentido lógico e realmente sustentável as facetas do objeto em estudo. Sob os cuidados
destas orientações foram aplicadas ao tema sofrimento nas relações de trabalho e no temor à
exclusão, as etapas de construção de um problema de pesquisa, para averiguar a possibilidade
de investigar o sofrimento como um sentimento capaz de promover ações no sujeito, ou como
um agente subjetivo motivador de esforços para superar as exigências existentes no âmbito do
trabalho e, desta forma, corresponder às existentes no contexto social do trabalho.
Especificamente, o problema construído se refere à possibilidade de entender os aspectos
existentes no trabalho que agem como promotores de sofrimento psíquico e relacioná-los com
a organização do trabalho e considerar que se este sofrimento não for superado, poderá
incorrer em exclusão social pela perda do emprego?
O objetivo deste artigo consiste em ponderar sobre alguns critérios a serem
considerados para construção de um problema de pesquisa, visando o seu bom
desenvolvimento e estabelecendo correlações entre as suas variáveis por meio das etapas do
método científico na elaboração do problema.
O estudo de natureza teórica é relevante ao considerar que a pesquisa emerge a partir
de um problema, de uma necessidade. A evolução do pensamento e das sociedades é possível
a partir do desenvolvimento de pesquisas. É possível que a maior dificuldade em evoluir,
nesses casos seja pela dificuldade em identificar o problema a ser investigado. Nem todos os
problemas existentes são de natureza exata. Embora a ciência toda se organize em
pressupostos positivistas, existe uma ampla gama de problemas que se situam em lugares ou
possuem formas que não podem ser analisados ou investigados diretamente como é o caso da
subjetividade humana.

ASPECTOS METODOLÓGICOS DA DEFINIÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA

O passo primeiro para o desenvolvimento de uma pesquisa é a definição de um


problema a ser pesquisado a partir de um determinado assunto. A respeito da necessidade de
ser construído um problema, antes do desenvolvimento de qualquer outra etapa de pesquisa
científica, os pesquisadores em metodologia da pesquisa são unânimes. Não admitem que
uma pesquisa possa atingir seus objetivos, sem antes de qualquer passo a ser dado, ser
estabelecido um rumo, para nortear as investigações e, é este direcionamento, que é definido
como sendo o problema identificado e a ser esclarecido, durante os processos das
investigações científicas. O problema deve ser construído, preferencialmente “em forma
interrogativa [...] a respeito das relações entre fenômenos ou variáveis”, enquanto que a
“resposta à questão é procurada na pesquisa” (KERLINGER, 1980, p. 36).
Salvador (1978) também enfatiza estas mesmas diretrizes, ao afirmar que todo o
problema de pesquisa está inserido em uma tópica, ou seja, em um tema e é este tema, que
deve ser formulado em forma de um problema. “Escolhido o assunto (tema), delimitado seu
campo e definidos seus termos, a fase seguinte é a transformação do tema em problemas”.
Esse mesmo autor chama a atenção, para as vantagens obtidas com a adequada formulação de
problemas, enquanto requisito, para o desenvolvimento de pesquisas, dentre elas a maior
facilidade para ser atingido com “precisão absoluta à raiz da questão”, a facilitação da
reflexão sobre o tema escolhido, pois, desta maneira evita-se a dispersão, pois, assim
determina-se com precisão sobre “os apontamentos a ser tomados” e sobre os quais
tangenciam os interesses da pesquisa, mas que não fazem parte dela (p.55).
Para facilitar a transformação de um tema em um problema de pesquisa são
necessários alguns requisitos, embora, não exista “uma regra infalível para orientar o
pesquisador na formulação de questões significativas em determinada área de pesquisa”
(SELLTIZ et al., 1965, p. 38). Kerlinger (1980, p.36) elaborou um procedimento, para
sistematizar o processo de construção do problema de pesquisa, definindo três critérios
básicos que permitem ajudar nesta construção, como avaliar a sua viabilidade. No caso destes
procedimentos não serem obedecidos, ou no caso do problema não se encaixar nestas
indicações, evidencia a possibilidade do problema não estar bem definido, incorrendo na
possibilidade da pesquisa não ter o sucesso esperado. Os critérios utilizados por ele, para a
construção de um problema científico apontam em primeiro lugar, para a exigência de que “o
problema deve expressar uma relação entre duas ou mais variáveis” (p.36), ou seja, a variável
A deve estar relacionada com a variável B, o que implica em saber como A e B estão
relacionadas com C? O segundo critério, complementando o que já foi indicado acima,
salienta para que o problema deva ser apresentado em forma de uma interrogativa e, como
terceiro e último requisito, requer que “o problema seja tal que implique possibilidades de
testagem empírica”. Em outras palavras “que seja obtida evidência real sobre a relação (entre
as variáveis) apresentada no problema” (KERLINGER, 1980, p. 37).
Estes passos metodológicos foram utilizados para o exercício, a seguir, de definição
de um problema de pesquisa e posteriormente indicam como proceder à fundamentação
teórica.
CONTEXTUALIZAÇÃO DA METODOLOGIA NO PROBLEMA

O assunto identificado, a partir de tê-lo transformado em uma interrogativa, capaz de


torná-lo possível de ser metodologicamente pesquisado é o sofrimento. Trata-se de um tema
complexo, pois devido a sua natureza, não pode ser observado diretamente. No entanto, por
meio das reações comportamentais do sujeito em que ele se manifestar, é possível de ser
inferido. É caracterizado como um sentimento de desprazer, portanto subjetivo e está
relacionado com o perigo, sendo este originário tanto de fonte externa, como de fonte interna.
Para mais bem compreender este sentimento e torná-lo apto a ser pesquisado, vão ser
utilizadas as contribuições de três autores: Freud (1983), Minkowski (1999), Lama (2000).
Freud (1983) estabelece uma série de relações dinâmicas, entre o sofrimento e as reações, que
dele decorrem. Para ele o sofrimento está relacionado com o perigo, donde gera ansiedade
entendida como sendo a espera e a preparação para lidar com o perigo, mesmo que
desconhecido. Diferenciando-se do temor, pois este exige um objeto definido do qual se tenha
receio. Para este autor, o sofrimento se configura como uma reação à manifestação da
insistência em viver sob circunstancias que, na maioria das vezes, não são favoráveis. A
complexidade de estudo deste tema, se faz presente, em um primeiro olhar por se tratar de
uma reação subjetiva e, como foi referido acima, não pode ser diretamente observada, no
entanto as suas fontes originárias (o perigo) podem ser identificadas.
Freud (1997) compreende que o sofrimento ameaça os humanos a partir de três
fontes. A primeira tem a ver com a decrepitude do corpo, o envelhecimento, as doenças,
portanto, é inevitável. A segunda vem do mundo externo, das destruições advindas da
natureza, também inevitável. Por fim, o sofrimento surge em função das relações entre os
homens ao afirmar que o sofrimento originário do conjunto das relações entre os sujeitos,
talvez seja mais penoso do que qualquer outro. Para a finalidade deste estudo, esta última
fonte de sofrimento parece ser a mais adequada para investigar como as relações de trabalho
podem provocar o sofrimento, assim como também torna viável o estudo das fontes sociais de
sofrimento, como o desemprego e a (des) assistência à saúde, por se tratar de fatos objetivos e
ao mesmo tempo por não serem originários da natureza e, portanto susceptíveis de serem
controlados e manipulados, com a finalidade de estudos.
Para Lama (2000), o sofrimento está dividido em duas categorias: as formas
evitáveis e as não-evitáveis de sofrimento. As formas evitáveis surgem em conseqüência das
mazelas construídas pelo homem: são as guerras, a violência, a fome, a pobreza, determinados
tipos de doenças, o analfabetismo. As formas inevitáveis dizem respeito à velhice, à morte,
aos acidentes, às doenças de modo geral e às adversidades da vida cotidiana. Este autor
procura fazer uma abordagem do sofrimento destacando o modo como se age em relação a
ele. Para o autor, a atitude em relação ao sofrimento faz uma grande diferença na maneira
como é experimentado. Assim, o impacto do sofrimento na vida de uma pessoa vai depender
de como essa pessoa o vivencia. Quando o sofrimento se apresenta por meio de um problema,
é necessário enfrentá-lo, olhar a situação de vários ângulos. Deve-se examinar, analisar e
determinar-lhe as causas e, sobretudo, descobrir como lidar com a situação.
Entre estes dois primeiros autores podem ser identificados pontos comuns para o
entendimento do sofrimento, pois este segundo autor ao classificar o sofrimento em duas
categorias e sendo uma delas capaz de ser evitável, enquadra (esta categoria) na possibilidade
de ser controlada e manipulada tanto em suas origens como nas suas conseqüências. Desta
mesma maneira, podem ser encontradas semelhanças deste raciocínio em Freud, quando ele
não discute a evitabilidade ou inevitabilidade do sofrimento, mas procura centrar-se nas
estratégias de defesa, que os indivíduos constroem, para se afastar do sofrimento referente às
relações entre os homens, ou seja, nas tentativas de lidar com ele. Enquanto Freud aponta para
a possibilidade de lidar com o sofrimento, indicando que algumas das suas causas podem ser
identificadas, Lama (2000) aponta para a forma como se pode lidar com ele, salientando que é
necessário examina-lo, enquanto problemática, analisar os seus determinantes e causas, e
desenvolver estratégias para poder lidar com ele.
Para Minkowski (1999), o sofrimento faz parte da existência humana. “É do
domínio do pathos humano e nele o homem reconhece o seu aspecto humano” (p. 156).
Sendo assim, o sofrimento não pode ser evitado, está no humano. O sofrer, para Minkowski
faz o homem ter contato com ele mesmo, com a sua existência.
O indivíduo pode passar a sua existência sem ter tido uma doença; mas, sem sofrer é
impossível, afirma Minkowski, ao defender que o sofrimento pode não ser um bem, mas
também não é um mal. A concepção de Minkowski acerca do sofrimento apresenta “um
sentido pático e não patológico da existência humana” (1999, p.159). Portanto, o sofrimento
pode ter um caráter positivo, sobretudo por ser fundante da existência. Também enfatiza,
embora num tom mais filosófico existencial, a reação frente ao sofrimento, mesmo este sendo
o sofrimento considerado por ele uma condição a qual o ser humano está submetido, pela sua
própria natureza. No entanto ele salienta a interiorização e neste processo introspectivo a
possibilidade da construção de alternativas, para superar a situação de desconforto, provocado
pelo sofrimento, por meio das suas funções cognitivas e afetivas.
Sob estas argumentações é realizada uma tentativa de delimitar o estudo sobre o
sofrimento, considerando ter sido compreendida a sua extensão. Para a finalidade deste estudo
a delimitação do tema sobre o sofrimento ocorrerá a partir das suas fontes externas, mais
especificamente das fontes originárias das relações entre os homens na linguagem de Freud
(1983, 1997) e nas fontes possíveis de serem evitadas na linguagem de Lama (2000).
Considerando que ambas são produzidas pelo homem, seja por meio da sua cultura, da ciência
ou da tecnologia, portanto, em princípio, viáveis ao controle e a manipulação.
Estas fontes externas serão mais bem delimitadas concentrando-as nas relações de
trabalho na compreensão de Dejours (1994, p. 29), quando caracteriza o sofrimento como
sendo “a energia pulsional que não acha descarga no exercício do trabalho e se acumula no
aparelho psíquico, ocasionando um sentimento de desprazer e tensão”, no entanto, este estado
ocorre a partir de uma situação observável, de “quando a relação do trabalhador com a
organização do trabalho é bloqueada” (idem, p.29). O autor supracitado considera “a relação
do homem com a organização do trabalho” como sendo a fonte originária da “carga psíquica
do trabalho” (p. 29) e a partir da forma como esta carga é tratada pelo sujeito, desencadeará
ou não o sofrimento.
Nas relações, do sujeito com o desemprego – agora fazendo uma tentativa de
identificar a fonte do sofrimento como de origem social –, enquanto ameaça para a exclusão,
Paugam (1999, p. 50), refere-se a esta considerando os seus aspectos e enfatizando,

[...] às especificidades atuais das desigualdades, dentre elas as situações de


instabilidade quer sejam de ordem profissional (precariedade do emprego,
desemprego), familiar (separação do casal, recomposição das famílias) ou social
(dificuldades de acesso à moradia).

Para Paugam (1999) a exclusão é uma “espécie de engrenagem de perdas” (p. 55),
não considera, “simplesmente, uma questão de desigualdade das condições sociais, mas de
mudanças (nas condições e na qualidade de vida) [...], que vão significando um acréscimo
progressivo de dificuldades” (ibid, p. 55). Indicando uma série de inacessibilidades que vão
tomando conta do sujeito e com estas o impedimento das suas realizações, ocasionando
acúmulo de energia e tensão, praticamente da mesma maneira como ocorre nas relações com a
organização do trabalho. Observa Paugam (1999, p. 56), que o tempo de desemprego tem
ampliado, principalmente na sociedade francesa, e como este fato tem sido um “indicador” de
“preocupação coletiva (dos franceses) [...] apontado por pesquisas [...] realizadas no fim dos
anos 80 e início dos anos 90, mostrando que um francês em cada dois, tem medo de vir a ser
excluído”. Ultimamente 57% dos franceses chegaram apresentar este medo. Estas condições
de vida exemplificam como a tendência social a viver em situação de desconforto tem
gradualmente ampliado e com isso a permanência, por mais tempo em situação de privacidade
e sofrimento. A sociedade brasileira, embora ainda não tenha dados suficientes, sobre os seus
indicativos sociais, estes parecem configurar condição social semelhante a esta de promover o
medo à exclusão, ou seja, temor, nas palavras de Freud (1980), sentimento em que o objeto
temido é identificado, neste caso provocado pelo desemprego e com ele a ameaça de ser
excluído.
Estas são as duas fontes promotoras do sentimento de sofrimento, que pretendem se
tornar um problema, capaz de ser investigado por meio da metodologia científica, um
sofrimento oriundo das relações de trabalho (variável A), conforme denomina Dejours (1994)
a incapacidade de dar vazão a tensão mental e a outra o sofrimento originário da condição de
perder o emprego e conviver com a exclusão (Variável B), conforme apresentado por Paugam
(1999). Ambas interligadas pelo sentimento de sofrimento, o qual se manifesta no trabalhador
(variável C).
Não serão consideradas, para a finalidade deste estudo, as fontes subjetivas, como as
advindas dos conflitos pessoais e nem as originárias da natureza, pois estas fogem a
possibilidade de controle e da manipulação necessária, para a realização de uma pesquisa
científica. Em outras palavras, porque estas instâncias não permitem observar as relações
entre as variáveis – sofrimento e a sua fonte –, implicando na impossibilidade da testagem
empírica, como se refere Kerlinger (1980), não correspondendo aos critérios necessários, para
tornar uma pesquisa viável.
Uma das necessidades para melhor lidar com o fenômeno do sofrimento é procurar
definir a maneira como melhor situá-lo, dentro do contexto em que vai ser analisado,
enquanto fonte de influência subjetiva, quer dizer, ele é oriundo da sociedade, no sentido
amplo ou restrito as relações de trabalho e se impõe ao sujeito, como uma realidade
construída e pronta por si mesma, decorrente de agentes que se impõem por si próprios,
componentes de um conjunto de fatores estruturantes de um fato social na linguagem de
Durkheim (1983) ou será este – sofrimento – decorrente da reação do indivíduo perante as
contingências da organização do trabalho que o afetam e sobre as quais reage na tentativa de
procurar meios de desenvolver melhores maneiras para superá-las, na forma com Weber
(1980) se refere, sobre a relação do indivíduo com a sociedade do trabalho? No entanto, no
momento, ainda não são estas as indagações mais proeminentes da problematização da
pesquisa, mas as suas respostas deverão incorrer no desenvolvimento desta.
CONCLUSÃO

O tema definido como sendo o sofrimento e a identificação das suas variáveis


[trabalhador (C) onde se manifesta o sofrimento oriundo das relações de trabalho (A) e do
temor à exclusão – carga mental – (B)], resta, como próxima etapa, à elaboração de um
problema, para que o sofrimento (compreensão sobre como se manifesta o sofrimento) possa
adquirir condições de ser cientificamente investigado.
A construção da problematização final desta pesquisa encontra dificuldade em
decorrência da complexidade do tema. Entre os pólos de interesse: sofrimento nas relações de
trabalho e carga mental decorrente das demandas do trabalho, que se manifesta em forma de
sofrimento são as variáveis a serem utilizadas durante os procedimentos que serão utilizados
para compreender como o sofrimento irá se manifestar. Condição de pesquisa que não deixa
de ser um problema em si mesmo, por envolver como objeto de estudo um de natureza
subjetiva e, portanto não observável, definindo o problema da pesquisa. A elaboração da
problematização do tema, para cogitar a sua investigação científica, inicialmente estava
restrita ao âmbito do trabalho e se limitava a investigar como os aspectos ambientais da
sociedade do trabalho interferem no comportamento do trabalhador, enquanto agente
produtivo e voltado para a finalidade da organização do trabalho e enquanto cidadão de uma
cultura, na qual a sua instituição está integrada e para a qual a sua finalidade está direcionada.
A partir desta compreensão inicial, houve acréscimos conceituais, tornando a
temática mais complexa, a partir das reflexões dos autores pesquisados. Enquanto Freud
aponta para a possibilidade de lidar com o sofrimento, por meio de algumas das suas causas,
quando estas podem ser identificadas, Lama sugere que para lidar com ele é necessário
examiná-lo, enquanto problemática, analisar os seus determinantes e desenvolver estratégias
adequadas a sua compreensão. Minkowski salienta a interiorização, provocada pelo
sofrimento, enquanto processo inerente à condição da existência humana e neste processo
introspectivo está implícito o contato do sujeito com ele mesmo, na tentativa da construção
subjetiva de possíveis alternativas, seja novos conhecimentos, mecanismos de defesas ou
ainda estratégias comportamentais, para superar a situação de desconforto, do sofrimento, por
meio de elucubrações cognitivas, sociais e afetivas, pois a condição causadora do sofrimento
deve ser resolvida, de alguma maneira.
Explicadas as maneiras como o sofrimento se manifesta na pessoa, ele passa a ser
olhado como um agente exigente, que provoca o sujeito a se manifestar. Estas exigências se
fazem presentes nas relações de trabalho, pelo fato da pessoa ser constantemente desafiada a
adaptar-se e a responder adequadamente as novas e constantes situações, assim como se
fazem presentes nas suas relações com a sociedade frente às ameaças de estar desempregado e
a conseqüente exclusão social. Finalmente pergunta-se: é possível entender o sofrimento
como um fator capaz de promover as ações no sujeito, enquanto agente motivador de
esforços, para superar as exigências existentes no âmbito do trabalho? E a partir deste
problema central poderão advir outros questionamentos complementares, tais como: Para
superar as dificuldades existentes no contexto social o sofrimento tende as mesmas
manifestações? O sofrimento pode ser entendido como fonte motivadora para que o
trabalhador se empenhe em procurar formas de superar as necessidades e assim se manter
atualizado frente às constantes e diferentes demandas do trabalho? E, sendo desta forma que
se manifesta o sofrimento é possível entender quais são os seus aspectos psíquicos
relacionados com os processos de exclusão social, entendendo este como mais uma fonte de
sofrimento capaz de mobilizar esforços de superar-se para se manter no emprego por medo da
exclusão?
O problema da pesquisa torna-se assim explicitado por meio da análise das variáveis
que intervêm sobre ele. Desse modo, a avaliação de um problema de pesquisa seguindo as
etapas do método, as correlações entre as variáveis e sua fundamentação teórica, pode
permitir ao pesquisador o desenvolvimento da pesquisa de modo seguro. Especialmente
quando o objeto primeiro de sua análise caracteriza-se por construtos teóricos acerca de
objetos de estudos não objetivos como é o caso da subjetividade humana. Esgotar a análise
teórica do problema da pesquisa, antes de iniciar seu desenvolvimento é um método
imprescindível a pesquisa científica.

REFERÊNCIAS

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