Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
Agradecimentos
Introdução
Capítulo1 - Os sonhos e a Bíblia
Capítulo 2 - Os Sonhos, a Ciência e a Teologia
Capítulo 3 - O Derramamento do Espírito Santo e os Sonhos
Capítulo 4 - Aprendendo com os "sonhadores" da Bíblia
Capítulo 5 - A Interpretação de Sonhos
Capítulo 6 - Vivendo com os Sonhos
Conclusão
Notas sobre o Autor
Agradecimentos
Com o passar do tempo pude observar que alguns sonhos durante minha vida
vieram a se concretizar em algum momento da minha história.
Numa noite, sonhei que estava entrando em uma casa onde teria de
viver por algum tempo. Vi que aquele ambiente era ruim para mim pois havia
barulho, muitos carros passando na frente e uma grande agitação. Hoje posso
entender que era uma tribulação que me esperava.
Ao entrar na casa notei algumas coisas estranhas, até que, debaixo do
sofá onde estivera escondido, saiu um “amigo”, uma pessoa muito especial
para mim e que eu acreditava e investira muito da minha vida nele.
Ele olhava para mim e dava gargalhadas – do tipo diabólico que
aparece nos filmes de terror. Parecia que no sonho estava diante de um
traidor.
Ainda no sonho, chorava muito e batia com as mãos no chão,
lamentando o mal que aquela pessoa estava me fazendo e me faria por muito
tempo na minha permanência naquela casa.
Ao acordar, comentei com minha esposa como tinha sido “absurdo”
aquele sonho e principalmente pelo fato de ser aquela pessoa. Como poderia
duvidar desse “amigo”, uma pessoa que era de minha confiança? Como
poderia ser ele um inimigo ou estar sendo usado pelos espíritos das trevas?
Achei graça de tudo aquilo e procurei superar o aparente pesadelo.
A palavra absurdo usada acima vem do latim surdus, que significa
surdo. Na verdade, fui surdo à voz de Deus.
Passados pouco mais de um mês, de uma forma inacreditável, aquela
pessoa estava concluindo uma suja e terrível cilada que só as profundezas do
inferno poderiam arquitetar. Aliás, não poderia imaginar que mesmo o
inferno pudesse ser tão atroz e monstruoso como ele foi.
Não poderia imaginar que tanta crueldade junta fosse possível. Só
resisti porque experimentei na sua essência o que chamamos de Graça de
Nosso Senhor Jesus Cristo, uma força que vem de Deus e nos sustenta de
uma maneira milagrosa. Por um tempo atravessei um dos piores desertos da
minha vida.
Entendo que Deus me avisara antes que tudo acontecesse. Comecei a
juntar partes de outros sonhos e vi que todo o quadro se delineava. Concluí
que tudo fora mostrado antes, até com muitos detalhes.
Então, comecei a me perguntar que “magia” extraordinária era essa de
sonhar:
a) Será que Deus me avisou antes para mostrar a Sua soberania sobre os
acontecimentos da vida, como uma provisão de força para vencer aquele
deserto?
b) Ou será que Ele me revelara uma tremenda armadilha sendo
preparada contra mim e minha família e que eu poderia, com a Sua ajuda
(que se tornava evidente pelo fato de me mostrar em sonhos) romper aquela
rede de crueldade que estava sendo construída minuciosamente?
c) Ou será, ainda, que o próprio Satanás tinha acesso aos meus sonhos
evidenciando o seu desejo de destruir a minha vida?
Parece que a segunda pergunta (b) é a que melhor se encaixou na
história. Entendo, hoje, que Deus queria que eu usasse todos os recursos que
Ele próprio estava me ensinando para vencer o diabo e poupar as nossas vidas
das emboscadas cruéis e sem piedade do inimigo. Jesus perguntou aos seus
discípulos: "Ó geração incrédula! Até quando estarei convosco? Até quando
vos sofrerei ainda?" (Marcos 9:19)
Embora, anos depois, essa pessoa tivesse um profundo arrependimento,
uma mudança de vida perceptível, sei que muito sofrimento seria poupado se
eu tivesse dado ouvidos àquele sonho. Neste caso ainda, pela misericórdia de
Deus, houve perdão incondicional depois de muitos anos.
Tenho observado que, para muitos, só depois de acontecer um fato
marcante revelado antecipadamente por um sonho, como foi o meu caso, são
despertados para a importância dos sonhos.
É o caso de um amigo meu que valoriza e considera constantemente os
seus sonhos. Isso aconteceu quando ele sonhou, no final de fevereiro de 1986,
que conversava com uma das mais importantes autoridades na economia
brasileira que dizia: “Não sei por quê os brasileiros estão preocupados com a
inflação no país. Não deveriam se preocupar, pois vamos ter uma grande
deflação.”
No dia seguinte, até com um tom jocoso, contou o sonho para alguns
amigos. Para surpresa de todos, um dia depois foi decretado o Plano Cruzado
com o congelamento de preços e, em seguida, uma queda geral nos preços
(deflação).
Para ele, uma pessoa apolítica e até indiferente às decisões econômicas,
foi um grande choque (não o pacote, mas a antecipação dos detalhes um dia
antes). A partir daí passou, com muito mais critério e cuidado, a analisar seus
sonhos e descobrir que há tremendas informações através deles.
Por meio deste modesto livro gostaria de, no mínimo, despertar os
leitores para as grandes riquezas que estão contidas nos sonhos enquanto
dormimos.
Todavia, quero deixar bem claro que não sou expert no assunto, nem
em Psiquiatria, Psicologia ou Parapsicologia. Também não sou um teólogo na
acepção da palavra.
Sou alguém que crê em Jesus Cristo como Senhor e Salvador da minha
vida. Creio em Deus Pai que, conforme o rogo de Jesus, enviou o Espírito
Santo para estar conosco. Creio que Deus se comunica conosco e que uma
dessas formas de comunicação é através dos sonhos.
A minha experiência cristã me mostra que Deus fala através de sonhos
e é sobre isso que pretendo deixar uma pequena contribuição.
Tenho perguntado nas minhas preleções em algumas igrejas cristãs se
as pessoas acreditam em sonhos. Na verdade, uma minoria se utiliza deste
instrumento de revelação.
Todavia, no passado não foi assim. Kelsey[i] afirma que todos os "pais"
da igreja primitiva criam que sonhos eram um meio de revelação e que,
durante quinze séculos, muitos criam nos mesmos. Por que então boa parte
dos cristãos de nossos dias não levam a sério seus sonhos como instrumentos
de revelação?
Uma das melhores repostas que encontrei foi a de Foster[ii]:
“Durante quinze séculos os cristãos, em esmagadora maioria,
consideraram os sonhos como o meio natural pelo qual o mundo do
espírito irrompia em nossas vidas... Com o racionalíssimo da
Renascença veio certo cepticismo a respeito dos sonhos. Então, nos
dias formativos do desenvolvimento da Psicologia, Freud acentuou
principalmente o aspecto negativo dos sonhos, visto que ele
trabalhou quase inteiramente com doenças mentais. Daí, homens e
mulheres modernos revelam tendência para ignorar totalmente os
sonhos, ou recear que o interesse por eles redunde em neurose. Não
há necessidade de ser assim, e, de fato, se atentarmos bem, os
sonhos podem ajudar-nos a encontrar mais maturidade e saúde.”
Como já disse, creio que Deus fala em nossos dias, assim como sempre
falou, através de sonhos. Que Deus me ajude a mostrar a você, querido leitor,
aquilo que é realidade para a minha vida.
Capítulo1
Os sonhos e a Bíblia
“Quando Deus quer falar comigo, Ele me põe a dormir, por que em sonhos Ele me tem
falado”
(Mike Sullivant, Igreja Metro Vineyard Fellowship, Kansas city, Missouri, EUA/1992)
A nossa mente pode ser tratada em duas partes ou duas funções: o consciente
e o inconsciente. Não existem duas mentes distintas, mas duas esferas de
atividades numa única mente.
O poder do subconsciente
Há diversos pesquisadores nesta área que afirmam que todo homem
tem uma casa de tesouro incomensurável dentro de si: o subconsciente (ou
inconsciente). Afirmam que há no mesmo uma sabedoria infinita, um toque
limitado de tudo o que é necessário para uma vida perfeita.
Conforme Murphy,[vii] a mente subjetiva (subconsciente) realiza suas
funções mais importantes quando os sentidos objetivos estão
momentaneamente paralisados. O inconsciente é a inteligência e a acuidade,
que se tornam manifestas quando a mente objetiva está parada ou em estado
de sonolência.
A mente subjetiva enxerga sem a utilização dos órgãos naturais da
visão. Possui capacidade de clarividência e clariaudiência. Pode deixar o
corpo viajar para terras distantes e trazer de volta informações geralmente
exatas. É capaz de coisas extraordinárias como aprender pensamentos dos
outros, ler o conteúdo de um envelope fechado etc.
Para Murphy,[viii] grandes cientistas encontraram a solução de
problemas complexos enquanto dormiam. A solução lhes veio em sonhos.
Este autor defende a ideia que se confessarmos as nossas necessidades um
pouco antes de dormir o nosso subconsciente irá propiciar a solução,
normalmente através dos sonhos.
Ainda no livro de Murphy,[ix] o Dr. Rhine, diretor do departamento de
Psicologia da Universidade de Duke (EUA), reuniu uma vasta quantidade de
provas mostrando que um grande número de pessoas do mundo inteiro vê
acontecimentos antes de ocorrerem e, por isso, são capazes, em muitos casos,
de evitar acontecimentos trágicos vistos com nitidez em um sonho.
Pesadelos
O pesadelo é o lado negativo dos sonhos. Há aqueles que não querem
cair no sono, pois parece-lhes que estarão num túnel sem fim; ficam
horrorizados, transpiram, sentem falta de ar, etc.
Muitas pesquisas científicas têm sido realizadas sobre pesadelos, mais
sem nenhum resultado ainda. De acordo com uma teoria, o pesadelo é reflexo
da carga de problemas diários, estresse, situação financeira apertada etc.
Entretanto, nem sempre isto é verdade, como pode ser visto em declarações
de pessoas que têm pesadelos frequentes independentemente do seu fardo de
problemas. Ou, ainda, uma criança que visivelmente tem pesadelos sem ainda
absorver os problemas diários.
Em termos de algumas pesquisas realizadas,[x] constata-se que a mulher
tem mais pesadelos que o homem; que em cada três pessoas, uma é acordada
por pesadelos a cada noite; que muitas pessoas têm pesadelos repetitivos (até
mesmo durante anos); que há aqueles que sonham com a sua própria morte e
normalmente são acometidos de muito medo.
Na reportagem do Fantástico sobre pesadelos, a estudante Giselda dos
Santos, buscando solução para os seus inúmeros pesadelos, declara:
“Pesadelo é o oposto de paz; a pior coisa que pode me acontecer é o
pesadelo, pois eu não consigo resolver. O meu sonho é não ter pesadelo.”
Sonhos inspirados?
Como vimos no item anterior, na dimensão espiritual há três forças
de atuação: o espírito do homem (subconsciente), o Espírito de Deus e os
espíritos malignos.
Além da possibilidade da atuação do subconsciente de maneira
independente, isolada (um poder limitado), há as combinações possíveis:
subconsciente mais o Espírito Santo ou subconsciente mais um espírito
maligno.
A princípio, portanto, podemos entender que nos sonhos a ação do
subconsciente (do nosso espírito) pode manifestar-se em três formas:
a) Independentemente, sem influência de outros espíritos;
b) Em conjunto com um espírito maligno; ou
c) Em conjunto com o Espírito Santo.
Há algum tempo conversei com uma pessoa cristã muito consagrada.
Achei que ela estava abatida, desanimada, e então perguntei-lhe a causa. Ela
me contou que tivera um sonho algum tempo atrás e que “Deus” lhe havia
dito no sonho, em tom ameaçador, que ela morreria dentro de 60 dias. Disse-
me ainda que ficou apavorada com o sonho; sentiu medo durante e após o
sonho; que deveria ter pecados ocultos. Aquela irmã estava arrasada.
Perguntei se ela conhecia como o Espírito Santo age. A Bíblia diz que
Ele nos convence do pecado e diz também que Satanás nos acusa do pecado.
O método que Deus usa com Seus filhos não é a acusação, não é a ameaça,
não é a intimidação. Jesus diz que ele é manso, humilde, meigo. Assim é o
Espírito Santo.
Então ela perguntou: “Você está dizendo que não foi Deus que me falou
neste sonho?” “Exatamente”, respondi. Sua fisionomia começou a mudar
imediatamente. Seu desânimo se transformou em alegria e em louvor a Deus.
Vi essa irmã ser usada tremendamente por Deus através da adoração.
Passaram-se os 60 dias e nada de ruim aconteceu.
Vamos admitir que você encontrou um amigo que há muitos anos não
via. À noite você sonha que voltou à sua infância, aos locais onde costumava
brincar com aquele amigo, revendo cenários que já não existem e dos quais
não se lembrava mais.
Parece que, nesse caso, é exclusivamente o poder do subconsciente
avivando coisas já esquecidas no consciente, sem outras interferências.
Cremos que o poder (limitado, como foi visto) do subconsciente pode
contribuir em diversas áreas através dos sonhos.
Caio Fábio[xiii] afirma:
"Cremos em milagres! Cremos em sonhos inspirados! Cremos no
sobrenatural! No entanto, só cremos em milagres, sonhos e ações
extraordinárias que estejam acompanhando a sã doutrina; ou seja,
que estejam de acordo com a Palavra de Deus” (grifos nossos).
A ideia, portanto, é que existem sonhos inspirados por Deus e os que
não são inspirados por Ele. Entendo que, dos não inspirados por Deus, há
aqueles que podem ter a ação maligna e aqueles com apenas a manifestação
pura do subconsciente.
Foster[xiv] diz que as pessoas deveriam começar a registrar seus sonhos:
“As pessoas não se lembram dos seus sonhos porque não lhes
prestam atenção. Manter um diário dos nossos sonhos é uma forma
de levá-los a sério. É, naturalmente, tolice considerar todo sonho
como profundamente significativo ou como alguma revelação de
Deus. Maior tolice ainda é considerar os sonhos como apenas
caóticos e irracionais. No registro dos sonhos começam a surgir
certos padrões e discernimentos. Em pouco tempo é fácil para nós
distinguir entre sonhos significativos e os que resultam de ter visto o
último espetáculo da noite anterior.”
Muitas lições nos são ensinadas aqui: primeiro, que deveríamos levar a
sério os nossos sonhos registrando-os num diário; segundo, que há sonhos
inspirados (significativos) e não inspirados (sem significados, frutos da nossa
imaginação e de fatos ocorridos); e terceiro, que a interpretação dos sonhos
vai surgindo de experiências contínuas em que vamos formando padrões e
discernimentos.
Falaremos sobre todos estes assuntos no decorrer deste livro. Por hora,
fica a ideia que há sonhos inspirados e não inspirados.
Os ardis do Diabo
É lógico que, quando há muros quebrados, os demônios entram e
saem da pessoa livremente, como se ela fosse uma propriedade pública.
Nossas faltas dão lugar ao diabo nas nossas vidas (Efésios 4:26,27).
Todavia, ainda que estejamos firmes com Jesus, o diabo está ao nosso
derredor, como um leão que ruge procurando nos devorar (1 Pedro 5:8); ele
impediu o apóstolo Paulo de cumprir o seu grande desejo de voltar a
Tessalônica para rever os irmãos (1 Tessalonicenses 2:18); um mensageiro
dele esbofeteou Paulo a afim de que ele (o apóstolo) não se exaltasse (2
Coríntios 12:7); ele lançou alguns irmãos da igreja de Éfeso na prisão para
serem tentados e sofrerem tribulações (1 Pedro 1:6).
Ele é o pai da mentira (João 8:44) e, ao mesmo tempo, se exibe como
anjo de luz para enganar os irmãos (2 Coríntios 11:14); inspira maravilhas
mentirosas com todo poder e prodígios (2 Tessalonicenses 2:9); se coloca à
mão direita do anjo do Senhor para se opor aos justos (Zacarias 3:1).
Será que o maior inimigo do homem tem alguma influência sobre a
mente deste homem enquanto ele dorme? Pode existir esta influência sobre
aquele que nasceu de novo e está tendo uma vida santa diante do Senhor?
Ainda que seja apenas com a permissão de Deus, podemos observar
pelos textos citados que Satanás tem prejudicado os verdadeiros servos do
Deus Altíssimo.
Minha experiência nessa área é que o inimigo pode atingir minha mente
enquanto durmo. Mas é bem verdade que quando dedico algum tempo à
oração autêntica antes de dormir isso dificilmente acontece.
Já houve casos na minha vida em que o inimigo aparentemente quis me
influenciar no início do sono, quando meu subconsciente começava a agir,
como que querendo me pegar de surpresa. Mas uma força maior veio e deu
como se fosse um “solavanco” naquele intruso que queria penetrar e me
influenciar. A luta, às vezes, era tão forte que eu era despertado
imediatamente e acordava assustado. Não era um pesadelo, mas uma luta
entre dois fortes. Vencia o mais forte, através do Anjo do Senhor, impedindo
que Satanás usasse desse canal para me falar. Se Ele não vencesse, tudo leva
a crer que eu continuaria dormindo e o inimigo poderia atingir seu intento.
Por outro lado, defrontei-me com situações em que, por cansaço ou por
descuido, não tendo investido o suficiente na oração pré-sono, fui
surpreendido por uma presença estranha que, principalmente nos primeiros
minutos da concatenação do sono, aparentemente tentava influenciar a minha
mente, o meu consciente, com informações mentirosas e destrutivas.
Houve um período, curto felizmente, em que por algumas vezes,
seguidamente, isso aconteceu. Eram fatos repetitivos, a mesma estória, a
mesma mentira que ficava martelando a minha mente adormecida (ou no
processo de adormecimento) tentando me desestabilizar. Quando percebia,
parecia que sentia medo de dormir, como aquela estudante citada neste
capítulo que temia os pesadelos.
Foi nesse momento que reagi contra esse quadro com muita
determinação e expulsei os demônios, esses seres espirituais do inferno, em
nome de Jesus Cristo. Para minha paz, tudo ficava calmo no sono gostoso que
vinha em seguida. Comecei, a partir disso, a clamar ao Senhor para que um
anjo seu acampasse ao meu redor (e da minha casa) ministrando ao meu favor
(Hebreus 1:14; 1 Pedro 5:9).
Oferecer resistência significa não ceder, opor-se, fazer face, fazer
frente, normalmente a um poder superior. Esta resistência é mais exequível
quando estamos sujeitos a Deus, quando há perdão para aqueles que nos
ofendem, quando não permitimos amarguras na nossa vida, quando temos
uma vida equilibrada (sobriedade). Todavia, em momentos de fraqueza física,
de cansaços, de sonolência, essa resistência torna-se difícil. Quantas vezes,
no próprio sonho, enfrentamos o diabo?
É certo que todas as vezes que oro com determinação, clamo a presença
dos anjos do Senhor e tenho uma autêntica comunhão com Ele, não há
pesadelos e não sinto a presença de algo estranho ao meu redor. A oração tem
poder!
É claro que, conforme a Bíblia, o inimigo sempre estará ao nosso redor,
estudando e investigando a nossa vida para armar as suas astutas ciladas. Mas
sabemos que Jesus derrotou Satanás e todos os demônios, grandes e
pequenos, escorpiões, serpentes e demais manifestações infernais
definitivamente no Calvário (Colossenses 2:15). E, em nome desse Jesus,
temos autoridade não só para resisti-los como também para expulsá-los.
A conclusão é que, embora não tenha uma base bíblica específica, pelas
minhas experiências entendo que Satanás e seu exército podem influenciar
nossa mente enquanto dormimos. Portanto, precisamos estar firmes com o
Senhor e evidenciar constantemente a nossa rejeição contra sua presença,
pedindo a Deus que nos livre das ciladas, das setas inflamadas e de todo o
mal: "Livrai-nos do mal" (Mateus 6:13).
Foster[xvii] confirma isto, dizendo o seguinte:
“Devemos dizer a Deus de nossa disposição de permitir que Ele nos
fale em sonhos. Ao mesmo tempo, é prudente orar pedindo proteção,
uma vez que o abrir-nos à influência espiritual pode ser perigoso
assim como proveitoso. Simplesmente pedimos a Deus que nos
cerque com a luz de Sua proteção à medida que Ele assiste nosso
espírito.”
Veja que a colocação acima é que devemos orar a Deus para nos
proteger durante o sono pois estamos sujeitos à influência espiritual. Essa
influência espiritual tanto pode ser do inimigo como do Espírito Santo.
Precisamos deixar bem claro que o que queremos é o Espírito Santo e que
rejeitamos em nome de Jesus qualquer outra influência.
Lembro-me de um caso real que um pastor amigo me contou a respeito
de uma mulher. Ela sonhava que um personagem se dirigia a ela com
galanteios e ela começou a se agradar desse visitante que vinha quase todas
as noites em seus sonhos. Sentia medo de falar sobre ele ao seu marido, mas
desejava contatar com esse personagem, pois era visitada como se fosse uma
onda de prazer. Ela achava mesmo que tudo isso era de Deus, pois era muito
bonito.
O relacionamento avançou até que o visitante solicitou ter relação com
ela. Ela estava pronta para dizer sim no sonho daquela noite. Entretanto, antes
disso, resolveu consultar o seu pastor. Ao ouvir o relato da mulher, o pastor
arregalou os olhos e disse: “Senhora, isso é o diabo. Expulse em nome de
Jesus, rejeite, renuncie. Deus nunca faria isto.”
Podemos dizer que esses sonhos têm influências espirituais para
destruir uma pessoa. Cabe a nós rejeitá-los e expulsá-los em nome de Jesus.
Muito mais que isso, cabe a nós orarmos para impedir que essas influências
nos ameacem enquanto dormimos.
Capítulo 3
O Derramamento do Espírito Santo e os
Sonhos
Nas últimas instruções que Jesus deu aos seus discípulos antes da sua
ascensão aos céus, ele declarou:
"E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai: Ficai, porém, na
cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder."
(Lucas 24:49)
Poder do Alto
Era necessário que aqueles homens fossem revestidos de um poder
extraordinário para serem testemunhas de Jesus até aos confins da terra.
Assim, quase cento e vinte discípulos aplicaram-se à oração e súplicas
aguardando, reunidos em Jerusalém, a promessa do seu mestre.
Essa promessa de Jesus cumpriu-se exatamente no dia em que os
judeus comemoravam a festa de Pentecostes, sete semanas após ele ter subido
aos céus:
"E, de repente, veio do céu um som, como de um vento veemente e
impetuoso e encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram
vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais
pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito
Santo e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito
Santo lhes concedia que falassem." (Atos 2:2-4)
Muitos visitantes estrangeiros que estavam em Jerusalém ficaram
maravilhados em ouvir daqueles homens simples os seus próprios idiomas.
Porém, outros da multidão caçoavam: “Eles estão bêbados, isto sim!”
Nisso, Pedro deu um passo à frente com os onze apóstolos e gritou à
multidão explicando que era impossível os discípulos estarem bêbados às
nove horas da manhã. Então explicou que naquela manhã estava se
cumprindo o que tinha sido profetizado há séculos pelo profeta Joel:
"E nos últimos dias acontecerá, diz Deus, que do meu Espírito
derramarei sobre toda a carne; e os vossos filhos e as vossas filhas
profetizarão, os vossos jovens terão visões, e os vossos velhos
sonharão sonhos". (Atos 2:17) (grifos nossos)
Os três exemplos
Pedro informou aos seus ouvintes que os últimos dias estavam
começando e que, por isso, a promessa que Deus havia feito através do
profeta Joel há séculos estava se cumprindo e o poder do Espírito Santo
estava sendo derramado sobre aqueles cristãos.
Assim, a Palavra de Deus nos dá três exemplos de “frutos” do
derramamento do Espírito Santo, do poder do alto: profecia, visões e sonhos.
Portanto, os sonhos passam a ter uma conotação espiritual para aqueles que
recebem o Espírito Santo do Deus vivo. Eles (os sonhos) passam a ter um
valor tão grande quanto os instrumentos de profecia e visões usados por Deus
para orientar os cristãos.
Diante desses três exemplos sobrenaturais que Deus usa para falar com
o homem, parece-nos que o mais acessível é o sonho, já que praticamente
quase todos sonham (mas nem todos têm visões ou profetizam). Para
iniciarmos esse assunto, vamos fazer uma rápida análise do versículo citado
acima.
Só os velhos sonharão?
O versículo em análise diz que "os vossos filhos e as vossas filhas
profetizarão, os vossos jovens terão visões e os vossos velhos sonharão."
Será que a profecia é privilégio somente dos filhos (no sentido de crianças),
que as visões são apenas para os jovens e que só os velhos terão sonhos?
Claro que não!
Veja que no verso seguinte (Atos 2:18), o texto diz que “até sobre os
meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles
dias, e profetizarão”. Ou seja, profetizarão todos os que, na condição de
servos de Deus, forem visitados pelo derramamento do Espírito Santo e não
somente os “filhos” e as “filhas” descritos no verso anterior.
A linguagem poética de Joel abrange as crianças (adolescentes/moços),
os jovens e os idosos dizendo que todas as idades, com o derramamento do
Espírito Santo, teriam manifestações espirituais de profecias, visões e sonhos.
É lógico que Deus não está dividindo Seu povo por idade para
diferenciar determinada manifestações. Quem conhece a Bíblia, ainda que
muito pouco, sabe que isso não tem sentido nas Escrituras. Quando, por
exemplo, os dons espirituais são tratados, a Palavra de Deus diz que eles são
repartidos particularmente a cada um como Ele (o Espírito) deseja (1
Coríntios 12:11). Jamais poderíamos imaginar Deus operando por faixa de
idade.
Assim, não há dúvida que a profecia é para qualquer idade (aliás, temos
visto muitas pessoas idosas profetizarem). As visões que Deus dá para o Seu
povo não se restringem aos jovens (como é o caso de Paulo na sua segunda
viagem missionária, em Atos 16:9) e, certamente, os sonhos com a unção do
Espírito Santo não são peculiares a pessoas idosas, mas a “toda a carne” que
confia sua vida a Jesus como único e suficiente Salvador.
Espírito da revelação
A Bíblia ensina que Deus revela coisas ocultas pelo Seu Espírito,
mesmo porque o Espírito perscruta (penetra) todas as coisas, até as
profundezas de Deus (1 Coríntios 2:10).
Jesus falou sobre isto dizendo: "Mas aquele Consolador, o Espírito
Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse ‘vos ensinará todas as coisas’ e
vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito" (João 14:26). Disse ainda que
esse Espírito da verdade nos guiaria a toda a verdade, nos anunciaria o que há
de vir (João 16:13) e que ouviria de Jesus e anunciaria a nós (João 16:13-15).
Pentecostes é o marco, o início da caminhada, quando Deus começou a
transmitir revelação aos Seus filhos, trazendo informações preciosíssimas
através do Seu Espírito. O Espírito Santo continuaria revelando o que Jesus já
iniciara. É como se Jesus estivesse assoprando nos ouvidos do Espírito Santo
e Ele, por sua vez, nos revelando o que ouviu, detalhe por detalhe.
Mas, de que forma o Espírito Santo nos revela as coisas? Joel cita três
exemplos no texto que acabamos de analisar (Atos 2):
1) Profecia
Há diversos dons do Espírito citados na Bíblia (1Coríntos 12:1-11;
Romanos 12:3-8; Efésios 4:7-16). O dom da profecia é uma habilidade
especial que Deus dá para certos membros do corpo de Cristo para receber e
comunicar uma mensagem de Deus para Seu povo através da fala, da
expressão verbal. É considerado o principal dom, conforme 1 Coríntios 14.
O dom é repartido parcialmente pelo Espírito Santo a cada um como
Ele quer (1 Coríntios 12:11). Todavia, “toda a carne” pode receber esses
dons. O apóstolo Pedro explica isso em Atos 2:38 e mostra as condições
necessárias para recebe-los: "Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado
em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados; e recebereis o dom
Espírito Santo."
É importante ressaltar que na Bíblia há o dom de profecia e o ministério
do profeta, que são distintos entre si. O fato de uma pessoa profetizar não faz
dela um profeta. O dom de profecia é falar aos homens edificando, exortando
e consolando (1 Coríntios 14:3); é o falar sobrenatural numa língua
conhecida. Além disso, qualquer pessoa pode receber esse dom, até mesmo
um novo convertido, porque independe do caráter ou da capacidade humana,
sendo concedido unicamente pela graça de Deus (1 Coríntios 14:31; 1
Coríntios12:8-11).
Por outro lado, nem todos podem ser profetas. Profetas são pessoas
separadas por Deus desde o ventre de suas mães para conhecer a Deus e
andar com Ele de tal forma que, muitas vezes, não precisam de uma
revelação para saber o que Deus está querendo.
A primeira vez que a palavra “profeta” aparece na Bíblia refere-se a
Abraão que, segundo consta, nunca proferiu uma palavra sequer de profecia
(Gênesis 20:7). Abraão era profeta porque a sua vida manifestava sua
obediência e fé em Deus de tal forma que ele não precisava falar nada.
Portanto, o profeta é uma pessoa que pode falar como porta-voz de Deus, não
devido a um dom de profecia, mas por causa de um relacionamento íntimo e
constante com Deus que lhe proporciona um conhecimento da natureza
divina.
Embora tanto o ofício de profeta quanto o dom de profecia sejam
denominados dons, um é dom de Cristo para a igreja (Efésios 4:8-12),
enquanto o outro é dom do Espírito Santo para um membro individual do
corpo (1 Coríntios 12:10). Em Efésios 4 diz que Cristo concedeu uns para
profetas, mas, em 1 Coríntios 14:31, todos podem profetizar.
2) Visão
A revelação pode ocorrer também através da visão. A visão, ao
contrário da profecia, não é relacionada como um dom do Espírito Santo. Há
vários exemplos de visão na Bíblia. No Novo Testamento, por exemplo,
podemos encontrar:
"E havia em Damasco um certo discípulo chamado Ananias; e disse-
lhe o Senhor em visão: Ananias! E ele respondeu: Eis-me aqui
Senhor." (Atos 9:10)
"Este, quase à hora nona do dia, viu claramente numa visão um anjo
de Deus, que se dirigia para ele e dizia: Cornélio!" (Atos 10:3)
"E Pedro viu o céu aberto, e que descia um vaso, como se fosse um
grande lençol atado pelas quatro pontas, e vindo para a terra."
(Atos 10:11)
Em Atos estão descritas várias visões de Paulo (16:9; 18:9; 22:18;
23:11). Ele fala ainda de suas visões em 2 Coríntios12:1. O apóstolo João
relata sua visão em Apocalipse 1:12. No Velho Testamento há muitas visões,
principalmente nos livros de Ezequiel, Isaías e Daniel.
Entendemos que as visões, após o derramamento do Espírito Santo,
seriam intensificadas como uma forma de revelação através do Espírito Santo
para os últimos tempos. Tudo isso é possível constatar até hoje,
principalmente nas igrejas cristãs.
3) Sonhos
A diferença básica entre sonho e visão, normalmente, é que o primeiro
ocorre durante o sono e a segunda enquanto se está acordado. Parece que a
forma mais comum de revelação seria o sonho, que também não é um dom
espiritual como a profecia, mas um dom natural que Deus deu aos homens.
Nesse terceiro exemplo, parece claro que o Espírito Santo fala através
de sonhos. Ainda que Ele possa falar em sonhos com qualquer pessoa, é
lógico que o sonho que revela as coisas de Deus está mais disponível para os
que têm o Espírito Santo.
Entretanto, para ter o Espírito Santo é necessário ter um encontro
pessoal com Jesus: "Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o
Filho de Deus não tem a vida" (1 João 5:12). Nós nos tornamos cristãos
confessando a Jesus, pedindo a ele que entre em nossas vidas como Senhor e
Salvador e crendo que Ele pode entrar em nós pelo Seu Espírito Santo.
Assim, processa-se um milagre, embora tudo isso possa ocorrer sem
nenhuma demonstração ou emoção exterior. Isso é o que a Bíblia chama de
novo nascimento (João 3:3), um nascimento espiritual, para Deus, com o
toque do Espírito Santo e a entrada Dele para sempre nas nossas vidas.
Todavia, o novo nascimento só é real com o batismo nas águas, como
descrito em João 3:5 (“nasceu da água”) e em Atos 2:38 (“batizado em nome
de Jesus para o perdão dos pecados”).
Dessa forma, entendemos que o Espírito Santo poderá nos dar
revelações dos eventos futuros (“vos anunciará as coisas que hão de vir”),
nos dirigir e orientar as nossas vidas (“ele vos guiará a toda a verdade”) e,
ainda, relatar informações preciosíssimas do Pai (“dirá tudo o que tiver
ouvido”)... usando os sonhos.
É importante entender que o Espírito Santo não está em um lugar lá
fora, no vazio, mas está no nosso íntimo, de onde fala conosco. Daí, Ele nos
ensinará todas as coisas e nos fará lembrar de tudo o que Jesus disse (João
16:26).
Conclusão
De certa forma, quem tem o Espírito Santo se assemelha aos profetas
no passado, quando certamente Deus falava em sonhos e visões. O requisito
básico daqueles profetas (ter comunhão com o Espírito Santo) é privilégio de
todos os cristãos autênticos após o Pentecostes.
Assim, se no capítulo 1, referindo-nos ao Velho Testamento, dissemos
que Deus falava em sonhos a homens e principalmente a profetas, podemos
assegurar que, após o derramamento do Espírito Santo, Deus fala muito mais
agora para Seus servos na aliança em Jesus Cristo através desse recurso
(sonho), considerando que, de certa forma, nos assemelhamos àqueles
profetas (por termos comunhão com o Espírito do Deus vivo). Entendemos
que Deus continua falando aos homens em sonhos, principalmente no sentido
de revelar a eles Seus propósitos.
Compreendemos que, para os cristãos fiéis, os sonhos passam a ser um
canal de comunicação para o Espírito Santo dirigir, revelar fatos futuros,
passar instruções de Jesus, ensinar, fazer lembrar.
Todavia, não podemos “enquadrar” Deus na Sua forma de
comunicação. Deus pode falar quando Ele quiser para pessoas que não têm o
Espírito Santo, como aconteceu no passado, até mesmo com ímpios. Por
outro lado, mesmo aqueles que têm o Espírito devem discernir com muito
cuidado se é realmente Deus quem está falando com eles.
Há cristãos que precisam fechar muros caídos nas suas vidas para
impedir o livre trânsito de Satanás, pois, mesmo com uma vida íntegra diante
de Deus, Satanás não desiste de querer nos enganar; essa é a função dele. É
preciso constantemente estar declarando em oração que não aceitamos a
interferência dele nas nossas vidas, nas nossas mentes; que ele é indesejado
em todos os momentos, inclusive e principalmente quando estamos
dormindo.
É importante, ainda, entender que há sonhos que podem ser
desprovidos de qualquer mensagem, sendo apenas frutos da nossa mente, do
nosso dia a dia, da nossa imaginação.
Nos capítulos seguintes procuramos mostrar situações reais em que
Deus Se comunica com seres humanos através dos sonhos. É verdade que é
muito difícil fazer uma doutrina sobre esse assunto. Não se pode enquadrar
Aquele que é infinito. Assim, nos propomos a colocar considerações para que
cada um, à luz do Espírito Santo, possa tirar suas próprias conclusões.
Por fim, podemos dizer que há alguns indícios que mostram quando é
Deus que fala conosco. Por exemplo, em Gênesis 41:8 e Daniel 2:1, aqueles
que tiveram os sonhos ficaram perturbados. O termo “perturbado” tem
conotação de “um tanto atemorizado”.
Gênesis 40:7 diz que os sonhadores ficaram turbados, no sentido de
estarem tristes e até mesmo perplexos. Em Daniel 4:5 o sonho causou
espanto. Enfim, é um fato que “mexe” com a nossa tranquilidade e nos leva à
meditação.
As repetições de sonhos podem ser um sinal de que é Deus quem está
falando. Um sonho como resposta a uma oração, um sonho que nos convence
de estarmos tomando decisões ou atitudes erradas, um sonho que nos leva a
muito sofrimento (dentro do sonho) como em Mateus 27:19 - esses são
alguns exemplos de sinais de que Deus pode estar falando.
Às vezes, temos uma resposta para uma questão crucial. Por exemplo,
em Mateus 27:19, Pilatos não queria decretar a pena de morte para Jesus pois
sabia que ele estava sendo julgado por causa da inveja dos sacerdotes. No
verso seguinte, a sua esposa revela que havia tido um sonho com Jesus e
pediu para Pilatos não entrar em nessa questão, chamando-o de Justo. Para
sua própria infelicidade, Pilatos não deu crédito a esse sonho inspirado.
Já vi algumas pessoas afirmarem que Deus fala em sonhos com elas,
normalmente no último sono, um pouco antes de despertar. Há quem, ao
acordar de manhã, dorme novamente um leve sono e afirma que aí Deus fala
com ela. Não temos bases bíblicas para isso, mas são experiências pessoais.
Creio que cada um de nós, que anda com o Espírito Santo, tem alguns
indícios para detectar se Deus realmente está falando conosco em nossos
sonhos.
Capítulo 4
Aprendendo com os "sonhadores" da Bíblia
As primeiras experiências
Jacó, ameaçado de morte pelo seu irmão Esaú por ter roubado a sua
bênção da primogenitura, fugiu, conforme conselho de sua mãe, para a
Mesopotâmia, para a casa do seu tio Labão, onde pretendia se casar com uma
das suas primas.
No caminho, ao anoitecer, sentindo-se cansado e interrompeu sua
viagem. Tomando uma das pedras que ali estava como travesseiro, dormiu
naquele mesmo lugar e sonhou:
"E eis uma escada estava posta na terra, cujo topo tocava nos céus:
e eis que os anjos de Deus subiam e desciam por ela. E eis que o
Senhor estava em cima dela, e disse: Eu sou o Senhor, o Deus de
Abraão teu pai, e o Deus de Isaque: esta terra, em que estás deitado,
te darei a ti e a tua semente: e a tua semente será como o pó da
terra, e estender-se-á ao ocidente, e ao oriente, e ao norte e ao sul, e
em ti e na tua semente serão benditas todas as famílias da terra. E
eis que estou contigo e te guardarei por onde quer que fores, e farei
tornar a esta terra: porque te não deixarei, até que te haja feito o
que te tenho dito. Acordando, pois, Jacó do seu sono disse: Na
verdade o Senhor está neste lugar e eu não sabia. E temeu, e disse:
Quão terrível é este lugar! Este não é outro lugar senão a casa de
Deus e esta é a porta dos céus." (Gênesis 28:12-17)
Jacó continuou sendo abençoado por Deus através dos sonhos.
Trabalhando com o seu sogro Labão, que o ludibriava sempre que podia, ele
foi instruído por Deus e passou a ser um homem bem-sucedido nos negócios.
Ele conta a razão do seu sucesso para as suas duas esposas, filhas de Labão:
"Assim Deus tirou o gado de vosso pai e deu-o a mim. E sucedeu
que, ao tempo em que os rebanhos ‘concebia’, eu levantei os meus
olhos, e vi em ‘sonhos’, e eis que os machos que cobriam as fêmeas,
era listrado, salpicados e malhados. E disse-me o anjo de Deus em
‘sonhos’: Jacó, levanta agora os teus olhos e vê que todos os
machos que cobrem as fêmeas são listrados, salpicados e malhados.
Porque tenho visto tudo o que Lobão te fez. Eu sou o Deus de Betel,
onde tu ungiste a pedra e me fizeste um voto." (Gênesis 31:9-13)
Conhecendo através de sonhos o rebanho que iria multiplicar mais,
Jacó tinha condições de manipular as coisas, fazendo seu rebanho crescer
extraordinariamente, mais que o de Labão, tornando-se rico em rebanhos,
escravos e escravas, camelos e jumentos.
Jacó teve outra experiência após ter deixado a terra de seu sogro com
sua família e riqueza, sendo perseguido por Labão e seus irmãos. Ao alcançá-
los, Labão disse:
"Estava na minha mão fazer-te mal; porém o Deus de seu pai falou-
me ontem à noite ‘em sonhos’ dizendo: Guarda-te de falar com
aspereza contra Jacó..." (Gênesis 31:29)
Certamente Jacó transmitiu todas essas experiências ao seu filho José,
mostrando como Deus fala em sonhos para prometer, transmitir sabedoria,
proteger e dar direção.
O sonhador-mor
José sonhando
José era o filho preferido de Jacó, porque era filho da sua velhice. Por
outro lado, os irmãos de José não gostavam dele. Primeiro, pela preferência
que Jacó tinha por esse filho, dando-lhe presentes especiais, como uma túnica
de manga comprida de várias cores; segundo, porque ele contava ao seu pai
as más notícias dos irmãos.
Não bastasse tudo isto, ainda com 17 anos de idade, José convocou seus
irmãos para relatar um importante acontecimento: um sonho. Todos os
irmãos olhavam atentamente para ele, que dizia: "Eis que nós estaremos
atando feixes no campo e o meu feixe se levantou e ficou em pé. Os feixes de
vocês rodeavam o meu feixe e se inclinavam perante ele." (Gênesis 37:7)
José, assim como Jacó, teve sonhos em formas de figuras ou alegorias
que requeriam interpretação. Só que esse sonho não foi nada difícil para seus
irmãos interpretarem, pois eles disseram: "Você está querendo dizer que vai
reinar sobre nós? Você está querendo dizer que dominará as nossas vidas?"
(Gênesis 37:8)
Mas José, na sua inocência, não parou por aí e contou um novo sonho,
também em parábolas, agora incluindo seu pai como ouvinte: "Sonhei
também que o sol, a lua e onze estrelas se inclinavam perante mim." (Gênesis
37:9)
Seu pai, Jacó, entendido nesse assunto, fez a interpretação do sonho
imediatamente e advertiu o filho dizendo: "Que sonho é esse que tiveste?
Acaso viremos, eu e tua mãe e teus irmãos, a inclinarmos perante ti em
terra?" (Gênesis 37:10)
Tudo isto custou muito caro para o “sonhador-mor”, pois ele foi
vendido pelos seus irmãos como escravo para o Egito. Para o pai de José foi
dito que ele foi morto por um animal selvagem.
O sonho de Faraó
Passados dois anos, Faraó teve um sonho em duas etapas. Ninguém
conseguia interpretar seu sonho em figuras, até que o copeiro que estivera
preso se lembrou de José e Faraó mandou chamá-lo. Faraó narrou o sonho
para José:
"Eis que em meu sonho estava eu em pé na praia do rio, e eis que
subiram do rio sete vacas gordas e formosas, e pastavam no prado;
e eis que outras sete vacas subiam após estas, muito feias e magras,
tão feias como nunca se viu no Egito. E as vacas magras e feias
comiam as sete vacas gordas... então acordei. Depois voltei a sonhar
e eis que dum mesmo pé subiam sete espigas cheias e boas. Sete
espigas secas, miúdas e queimadas do vento oriental, brotavam após
elas. E as sete espigas miúdas devoravam as sete espigas boas."
(Gênesis 41:17-21)
José enfatizou que não era um intérprete profissional e que Deus daria a
resposta a Faraó:
"O sonho de Faraó é um só; o que Deus há de fazer notificou a
Faraó. As sete vacas formosas são sete anos; as sete espigas
formosas também são sete anos; o sonho é um só. E as sete vacas
magras e feias que subiam depois delas são sete anos, como as sete
espigas miúdas e queimadas do vento oriental, serão sete anos de
fome... E eis que vêm sete anos e haverá grande fartura em toda
terra do Egito. E depois deles levantar-se-ão sete anos de fome, e de
toda aquela fartura será esquecida na terra do Egito. E a fome
consumirá a terra... E que o sonho foi duplicado duas vezes a Faraó,
é porque essa coisa é determinada de Deus e Deus se apressa a fazê-
la." (Gênesis 41:25-32) (grifos nossos)
José orientando-nos
Uma lição importante que José nos ensina está em Gênesis 41:32: que o
sonho foi duplicado a Faraó porque “isso é determinado por Deus, e Ele se
apressava a fazê-lo”. José tinha a experiência de sonhos duplicados, ou seja,
sonhos diferentes, mas com a mesma mensagem. Seus sonhos narrados em
Gênesis 37 evidenciam isto: ele disse que sonhara que seu feixe se levantara
em pé e que os feixes dos irmãos o rodeavam e se inclinavam para o dele
(verso 7); disse também que o sol, a lua e onze estrelas se inclinavam para ele
(verso 9).
Esse sonho duplo mostrava que tanto os irmãos como seus pais seriam
dominados por ele. José sabia que um dia reinaria sobre sua família. Era um
sonho duplicado e, quando isso acontecia, realmente era de Deus (veja o
cumprimento desses sonhos em Gênesis 47). Veja que a afirmação é
categórica no versículo 32: se foi duplicado é porque “essa coisa era
determinada por Deus”. A repetição do sonho visa estabelecer a certeza
quanto ao cumprimento do mesmo.
Cremos ser esse um indicador fundamental para identificar, em certas
circunstâncias, que Deus realmente tem algo a nos comunicar. Observe que
não é uma mera repetição de sonhos ou sonhos idênticos, mas sonhos
diferentes com a mesma mensagem. Portanto, é válido pedir e aguardar a
confirmação do Senhor em casos de duplicidade de sonhos.
É interessante analisarmos o profeta Balaão, em Números 22. Ainda
que ele fosse um profeta mercenário, procurando apenas fazer comércio com
seu dom, Balaão tinha sabedoria suficiente para conhecer a vontade de Deus
e ouvi-Lo. Assim, diante de uma situação difícil, ele buscou Deus à noite
(possivelmente através dos sonhos) e o Senhor falou com ele (versos 8 e 9).
Na dúvida ainda, Balaão novamente espera a próxima noite para “saber mais
do Senhor” (verso 19). E, em Números 23:19, ele diz: “Deus não é homem,
para que minta; nem filho do homem para que se arrependa. Porventura
diria ele e não o faria? Ou falaria e não confirmaria?” (grifos nossos). A
busca repetitiva do Senhor e a confirmação através de um outro contexto é
recomendável para se obter a segurança de que é o Senhor que está falando.
Sonhos mentirosos
Pela Bíblia podemos observar que era comum o Senhor falar aos
profetas pelos sonhos. Na época de Jeremias, principalmente, surgiram os
falsos profetas que, para enganar o povo, diziam que tinham sonhado.
"Tenho ouvido o que dizem aqueles profetas, profetizando mentiras
em meu nome, dizendo: Sonhei, sonhei. Até quando sucederá isso no
coração dos profetas que profetizam mentiras e que são só profetas
do engano do seu próprio coração? Os quais cuidam que farão que
o meu povo se esqueça do meu nome pelos seus sonhos que cada um
conta ao seu companheiro, assim como seus pais se esqueceram do
meu nome por causa de Baal." (Jeremias 23:25-27)
É evidente que Deus é contra a pessoa que inventa sonhos para mostrar
que é um homem ou mulher de Deus. É possível encontrar hoje essa atitude
nas igrejas onde há visões, profecias etc. Há aqueles que acabam inventando
ou imaginando visões para contar aos outros e se sentirem importantes na
igreja. Isso é muito sério. No próprio livro de Jeremias o Senhor diz:
"Eis que eu sou contra os que profetizam sonhos mentirosos, diz o
Senhor, e os contam, e fazem errar o meu povo com as suas mentiras
e com as suas leviandades; pois eu não os enviei, nem lhes dei
ordens; e não trouxeram proveito nenhum a este povo, diz o
Senhor." (Jeremias 29:32)
E ainda, Deus alerta sobre o cuidado que devemos ter com esse tipo de
pessoa:
"Porque assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Não vos
enganem os vossos profetas que estão no meio de vós, nem os vossos
adivinhos, nem deis ouvidos aos vossos sonhos, que sonhais, porque
eles vos profetizam falsamente em meu nome, não os enviei, diz o
Senhor." (Jeremias 29:8-9) (grifos nossos)
Uma maneira de fazer prova dos sonhos e visões é avaliar se aquilo que
está sendo dito está de acordo com a Palavra de Deus, como o Senhor no
ensina em Deuteronômio 13:1-3:
"Quando o profeta ou sonhador de sonhos se levantar no meio de ti
e te der um sinal ou prodígio, e suceder o tal sinal ou prodígio, de
que te houver falado, dizendo: vamos após outros deuses, que não
conhecestes, e sirvamo-los, não ouvirás as palavras daquele profeta
ou sonhador de sonhos; porquanto o Senhor vosso Deus vos prova,
para saber se amais o Senhor vosso Deus com todo o vosso coração
e com toda a vossa alma." (grifos nossos)
O exemplo que a Bíblia nos dá é que um profeta ou um sonhador, em
cima de um prodígio (semelhante a um milagre), tentará nos enganar para que
acreditemos numa instrução que é contrária à Palavra de Deus. Talvez
fiquemos impressionados com o sinal e sigamos tal ensinamento. Aí, então,
será uma prova de Deus para as nossas vidas: se realmente estamos firmes na
Palavra de Deus ou se nos deixamos levar pelo primeiro vento com aparência
de poder. Quando você tem dúvida, consulte o seu líder espiritual, que é mais
experiente nas Escrituras.
Ainda que haja uma revelação que coincida com detalhes na sua vida,
não se deixe levar por tal revelação se ela não estiver no centro da Bíblia.
Confronte tudo com a Palavra de Deus e lembre-se da astúcia do inimigo em
operar sinais e prodígios para nos enganar (2 Tessalonicenses 2:8-10).
Todavia, o Senhor garante que o profeta ou sonhador que se rebela contra Ele
morrerá (Deuteronômio 13:5). O importante é que não morramos juntos, não
caiamos nessa armadilha.
Conte o sonho
Entretanto, esse lado negativo dos sonhos não deve nos levar a
ocultar os mesmos. Em Jeremias, o Senhor nos ensina:
"O profeta que tem um sonho, conte o sonho; e aquele em quem está
a minha palavra, fale a minha palavra com verdade. Que tem a
palha com o trigo? Não é a minha palavra como o fogo, diz o
Senhor, e como um martelo que esmiúça a penha? (Jeremias 23:28-
29)
A Palavra de Deus, às vezes, é fogo que queima, ou martelo que
esmiúça a rocha, ou espada que perfura. São, muitas vezes, palavras que
machucam e que não são boas de serem ouvidas, mas necessárias para o
nosso aperfeiçoamento e crescimento.
Erramos algumas vezes por ocultar sonhos que possam machucar
pessoas e aparentemente deixar-nos em situações embaraçosas. É bom
contarmos as vitórias, as promessas, mas o nosso Pai também disciplina e não
podemos nos esquivar dessa parte do cristianismo.
Uma das características do sonhador falso é querer consolar pessoas
aflitas (Zacarias 10:2). O homem que é usado por Deus tem consolo também,
mas há momentos em que suas palavras podem ser duras, ter características
de fogo que queima ou martelo que esmiúça.
Este versículo (Jeremias 23:28) pode nos ajudar muito a entender
melhor o que Deus quer dizer. A Bíblia Vida Nova dá a seguinte versão para
este verso: "O profeta que tem sonho conte-o como apenas sonho; mas
aquele em quem está a minha palavra, fale a minha palavra com verdade...".
Nada impede que contemos os nossos sonhos para as pessoas. Porém, para
dizermos que é do Senhor precisamos ter certeza disto.
Talvez esse seja um dos pontos fundamentais nesse estudo. Você pode
contar seus sonhos de uma maneira descomprometida e deixar isso bem claro
para o ouvinte. Porém, você pode sentir que o sonho é de Deus e então contar
o sonho. Se é de Deus, tem de estar de acordo com a Sua Palavra. É algo que
nos incomoda se for de forma diferente. Normalmente, ele impacta as nossas
vidas. Quando o sonho é de Deus, ainda que não lembremos dele, algo nos
deixará inquietos por dentro.
De maneira geral, nós sempre somos os personagens principais dos
nossos sonhos. Se sentirmos que há uma mensagem para outra pessoa em
nossos sonhos, devemos contar para ela simplesmente como um sonho. Se
esse for de Deus, irá incomodar nosso ouvinte pela coincidência dos fatos
estarem realmente ocorrendo em sua vida.
“Que tem a palha com o trigo?” Palha significa os sonhos falsos, algo
sem consistência, facilmente destrutível, que se queima. Trigo é a Palavra de
Deus, o conteúdo sólido de Deus que é alimento, fortalece, dá vida.
O importante é não forçar nada para querer ajudar as pessoas aflitas ou
estimular as mesmas. O nosso Deus é Soberano, tem o controle de todas as
coisas e é o verdadeiro socorro no tempo de angústia. Ele se revela para as
pessoas no tempo Dele. Cabe a nós, muitas vezes, simplesmente orar e
aguardar.
Capítulo 5
A Interpretação de Sonhos
"E eles lhes disseram: Temos sonhado um sonho, e ninguém há que o interprete. E José
disse-lhes: Não são de Deus as interpretações? Contai-mo, peço-vos." (Gênesis 40:8)
Entender o contexto
O primeiro passo para interpretar um sonho é compreender o contexto,
o histórico em que ele está inserido. Isso é, situar o sonho diante dos fatos
que circunscrevem o personagem ou os personagens do sonho. Na verdade,
cada sonho tem um “pano de fundo” na vida real que precisa ser identificado.
Ele está ligado a fatos, a estilo de vida, a atitudes, a decisões, a épocas... e
tudo isso tem muita importância para a interpretação.
Witness Lee[xx] diz:
“Embora estejamos familiarizados com a história do sonho de Jacó,
duvido que conheçamos o seu verdadeiro sentido. Se quisermos
conhecer o significado deste sonho, precisamos compreender por
que Jacó o teve, onde e quando. Por que não o teve enquanto estava
em casa de seus pais? Uma vez encontrada resposta para essa
pergunta, veremos o que ele significa para todos nós.”
Vamos pegar algumas ideias desse autor para melhor interpretar o
sonho de Jacó. Ele vivia bem com sua família (Isaque, seu pai, Rebeca, sua
mãe e Esaú, seu irmão gêmeo). Todavia, ele sabia que mais cedo ou mais
tarde teria de enfrentar um difícil problema que, certamente, causaria uma
ruptura em sua família.
Jacó havia sido escolhido para ser um príncipe de Deus, mas ele nasceu
como um suplantador (aproveitador, trapaceador) e tinha de ser transformado.
A Bíblia diz que ele já lutava com Esaú no ventre da sua mãe, pois queria
nascer primeiro, ter os direitos da primogenitura (filho mais velho). Mas foi
Esaú quem nasceu primeiro. Jacó, ao nascer, agarrou o calcanhar de Esaú
indicando que se recusava a admitir a derrota.
Todavia, Deus havia prometido a “bênção da primogenitura” a Jacó.
Ele estava predestinado a ter essa bênção que inclui três coisas: expressar
Deus, representá-Lo e participar do Seu reino. Essa bênção surgiu da aliança
que Deus fez com Abraão. Em seguida passou para Isaque e, agora, para
Jacó.
A soberania de Deus permitiu que Jacó comprasse essa bênção de seu
irmão por um prato de assado e lentilha, num momento impensado de Esaú,
quando ele estava com muita fome. Permitiu ainda que Jacó, com a ajuda da
sua mãe, enganasse seu pai cego na velhice e abençoasse a ele pensando que
fosse Esaú. Dessa forma, não havia mais ambiente para Jacó ficar com seus
pais, pois Esaú queria matá-lo. Assim, Jacó fugiu para a casa do seu tio
Labão, em terra distante. E foi no início dessa viagem que ocorreu o sonho da
escada.
Hoje, todos nós temos essa bênção pelo segundo (ou novo) nascimento,
de modo que podemos expressar Deus à Sua imagem, representá-Lo com
domínio e participar do Seu reino, tanto na igreja, hoje, quanto no reino
futuro. Toda essa regeneração é fruto da obra de Jesus na cruz do Calvário.
Entendendo o sonho
A primeira coisa vista por Jacó foi a escada posta na terra cujo topo
atingia o céu. Quem liga os céus com a terra? Quem é a “ponte”, a escada, o
caminho que nos leva a Deus? É Jesus Cristo. Portanto, a escada tipifica
Cristo.
É claro que, se Jacó precisava se converter, ter um encontro com Deus
para ser transformado, ele precisava de Jesus. Mesmo que o Filho de Deus
ainda não tivesse encarnado, Jacó, assim como Abraão, a quem primeiro foi
anunciado o evangelho, é o único recurso de salvação e transformação
(Gálatas 3:6-9).
Veja que a escada, o centro do sonho, já estava posta na terra; ela não
descia do céu, mas já estava colocada. No coração de Deus, Jesus já era o
Cordeiro Salvador antes da fundação do mundo (Apocalipse 13:8). Ainda que
Jacó não tivesse visto antes a escada ela já existia, já estava lá. Jesus está
disponível para salvar muitas vidas que ainda não sabem, que ainda não
viram esse recurso maravilhoso.
O sonho mostra anjos que subiam e desciam. O texto não diz que eles
desciam e subiam, mas que primeiro subiam e depois desciam. Ora, se eles
subiam, significa que, assim como a escada, eles já estavam na terra.
Witness Lee[xxi] diz que se Jacó tivesse dito: “Ó Deus, eu estou só e
quero ter uma visão celestial” e uma escada baixasse do céu com os anjos
descendo por ela, isso seria uma resposta à sua oração. Mas não foi
exatamente assim. Mesmo sem orar ele viu, de repente, uma escada posta na
terra cujo topo atingia o céu. O fato dos anjos subirem e descerem por ela
indica que o sonho não era uma resposta à oração de Jacó, mas que tudo fora
planejado previamente por Deus.
O que Witness Lee quer acentuar nos seus comentários sobre essa
passagem é que a nossa salvação não é resposta das nossas orações, mas ela
estava preparada antes, tudo prontinho, esperando por nós. O que precisamos,
sim, é deixar nossa dependência do homem e confiar em Deus, nos lançar nos
braços de Jesus.
Você poderia perguntar: "Mas como se pode afirmar que Cristo é a
escada?" O próprio Jesus respondeu para Natanael: "Em verdade, em
verdade vos digo que vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e
descendo sobre o Filho do Homem." (João 1:51)
Certamente, quando alguém se converte, os anjos sobem para dar a
notícia aos céus e festejarem mais uma vida para Deus (Lucas 15:7,10). Mas
esses mesmos anjos descem para ministrar boas coisas ao crente (Hebreus
1:13-14).
O sonho de Jacó mostra que ele estava tendo um encontro com Deus.
Mostra que os recursos da salvação foram criados por Deus. Mostra que ele
estava predestinado a ser de Deus e que, num exato momento de agonia e
sofrimento (deixando sua família, a proteção humana), Deus estava presente
na vida dele. E, assim, Deus lhe diz:
"Eu sou o Senhor, o Deus de Abraão teu pai e o Deus de Isaque;
esta terra em que estás deitado te darei a ti e à tua semente. E a tua
semente será como o pó da terra e estender-se-á ao ocidente e ao
oriente, ao norte e ao sul, e em ti e na tua semente serão benditas
todas as famílias da terra. E eis que estou contigo e te guardarei por
onde quer que fores e te farei tornar a esta terra, porque não te
deixarei, até que te haja feito o que te tenho dito." (Gênesis 28:13-
15)
A revelação do sonho
Em Mateus 16:15, Jesus pergunta aos seus discípulos:
"E vós, quem dizeis que eu sou? Simão Pedro, respondeu: Tu és o
Cristo, o Filho do Deus vivo. Jesus respondendo, disse-lhe: Bem-
aventurado é tu, Simão Barjonas, porque não foi a carne e o sangue
quem te revelou, mas meu Pai, que está nos céus."
Jesus ainda não havia declarado em profundidade sua identidade, mas
Deus a revelou ao coração de Pedro.
No sonho de Jacó, houve algumas revelações sobrenaturais de Deus
que nunca haviam sido abordadas até o capítulo 28 de Gênesis:
a) Casa de Deus (em hebraico, Betel) – Deus queria uma casa para Si
(vs.17-19). Em 1 Timóteo 3:15, a Bíblia nos ensina que a igreja é a casa do
Deus vivo. Não uma igreja "templo", mas a igreja “povo de Deus reunido”.
b) Porta do céu – Jacó também chamou aquele lugar onde tivera o
encontro com Deus de Porta do céu, pois era um lugar que ligava a terra ao
céu (vs.17).
c) Fez do travesseiro de pedra uma coluna – Conforme Jesus orienta
Pedro (Mateus 16:18), pedra significa um homem transformado pelos planos
de Deus. Significa deixar de ser meramente um vaso de barro para ser uma
pedra. O óleo tipifica o Espírito Santo, o poder de Deus (versículo 28).
Assim, Jacó, que mais tarde seria chamado de Israel (o povo de Deus –
a igreja), era uma coluna ungida pelo Espírito Santo.
Como vimos, tudo isso são coisas novas, nunca citadas até então na
Bíblia, mas que em sonho haviam sido reveladas a Jacó. Isso significa que
Deus pode nos revelar coisas novas e sobrenaturais que vão além da própria
Bíblia. É lógico que as revelações de Deus sempre estão em harmonia com a
Bíblia e não pode haver contradição.
Queremos enfatizar com isso que, quando Deus revela algo em sonho,
estamos entrando numa dimensão até então nunca experimentada.
Outros símbolos
É difícil, como já dissemos, estabelecer regras para interpretar
símbolos. O melhor meio de descobrir o significado dos sonhos é orar
pedindo. "Nada tendes, porque não pedis" (Tiago 4:2). Todavia, à medida
que exercemos a prática da interpretação, vão surgindo certos padrões
individuais que facilitam a interpretação dos sonhos futuros.
Essas regras pessoais não podem ser generalizadas para outras pessoas.
Porém, pode acontecer que algumas interpretações coincidam de pessoa para
pessoa. Um desses casos são as serpentes (cobras) que quase sempre
simbolizam o mal, o diabo.
Certa vez, uma irmã contou um sonho em que vira uma serpente na
porta da igreja, de aparência muito bonita, atraente, mas pronta para dar o
bote. Minha interpretação é que havia alguém que traria problemas para a
igreja. Aparentemente uma pessoa bonita, charmosa (como a serpente é
vista), mas astuta e pronta para agir.
Naquela semana a esposa de um irmão do ministério contou-me que ela
estava desconfiada do seu marido em relação a uma irmã viúva, de meia-
idade, mas muito bonita e atraente. Ainda que eu não desse muita
importância para aquela informação, acabei também desconfiando, pois essas
duas pessoas estavam sempre juntas após o término do culto. Numa
oportunidade seguinte questionei o irmão, que acabou confessando que
estava tudo pronto para eles fugirem para outro estado. Estavam
“perdidamente” apaixonados.
À luz da Palavra de Deus, mostrei a esse irmão que ele estava jogando
fora a sua salvação e que, se fizesse isto, praticamente não haveria retorno.
Houve arrependimento, houve disciplina e ambos foram restaurados
espiritualmente, embora aquela irmã viúva tivesse que se retirar da igreja.
Creio que era um espírito maligno (a serpente) agindo na vida dela
com uma roupagem quase irresistível de atração e sensualidade (não estou
tirando a responsabilidade também do irmão que caiu na armadilha). Aliás,
esta é uma das maneiras que Satanás tem usado para operar nas igrejas. As
pessoas ficam tão apaixonadas que até pensam que é bênção de Deus, e
alegam isto. Esse argumento é terrivelmente diabólico.
Numa ocasião, sonhei que estava andando entre uma serpente enorme
que se ramificava em muitas divisões e muitas cabeças. Era terrível estender
as pernas para pular seu corpo e outro corpo e outro corpo. Só que essa
serpente não me podia fazer mal, não tinha poder para me atacar. Alguém me
disse que ela tinha trezentos metros de cumprimento. Fiquei assustado.
Percebi, após esse sonho, que estava passando por dias difíceis e algumas
coisas não estavam dando certo para mim. Estava como aquele gatinho que se
enrolou em um novelo de lã e tinha dificuldade de se libertar. Aquele novelo
de lã não podia fazer mal algum ao animalzinho, mas o impedia de se
movimentar livremente.
Creio que Deus me mostrou uma hoste de inimigos que estava me
atrapalhando, embora eles não pudessem fazer mal algum à minha vida.
Porém, a Bíblia ensina que Jesus me deu autoridade para expulsar demônios
no seu nome (Marcos 16:17). Embora aqueles demônios estivessem proibidos
de me atacar, era difícil mandá-los embora (300 metros). Teria que usar de
ousadia e estar em comunhão com Jesus para destruir aquela hoste. Mas,
"maior é Aquele que está em nós (o Espírito Santo) do que aquele que está no
mundo (Satanás e suas hostes)" (1 João 4:4).
Houve um período em que as coisas não se deslanchavam, não
progrediam, como se eu estivesse amarrado. Mas, em pouco tempo, a graça
de Jesus novamente me fortaleceu e eu fui liberto daquele ‘ninho de cobras’.
Capítulo 6
Vivendo com os Sonhos
“Deus fala através de Sua Palavra... por meio de uma voz audível... por meio de sonhos e
visões...”
(Loren Cunningham)[xxii]
Prevendo tragédia
Quando iniciamos a “Igreja Evangélica X”, algumas famílias inteiras
se converteram. Uma dessas famílias cedeu, após os primeiros cinco meses
de igreja, um galpão, onde, por três anos, iríamos nos reunir.
Logo após passarmos para o sítio da família Fritz, percebemos algumas
lutas que eles estavam passando. Entendemos que o inimigo estava deveras
insatisfeito com essa família que se entregara para Jesus e cedera um bom
local para as reuniões. Uma dessas lutas foi com uma filha dessa família,
Aparecida Fritz, seu esposo, que nós chamamos carinhosamente de Jijo, e
seus três filhos.
Uma semana antes do acidente, Jijo sonhou que a igreja estava fazendo
um grande clamor por um irmão, levantando as mãos e buscando
insistentemente ao Senhor por aquele homem. Ele se perguntava para quem
era o clamor, mas não tinha resposta.
Na sexta-feira daquela semana, esteve na vigília até a meia-noite e,
então, se retirou para dormir na sua casa, muito próxima do templo. Às duas
horas da manhã foi a vez de Aparecida deixar a vigília e se retirar para sua
casa. Ao chegar, Jijo acordou dizendo que novamente sonhara com um
grande clamor que a igreja estava levantando. Todos da família participavam
do clamor. Começaram a perceber que Deus estava querendo falar alguma
coisa.
De domingo para segunda, ambos sonharam. Jijo chamou logo cedo sua
esposa para contar e estava muito impressionado ao narrar seu sonho:
“Eu vi dois grupos de pessoas: Um grupo era de pessoas parecidas
com clérigos e outro, de leigos. Ambos os grupos estavam separados
e eu estava no grupo de leigos, até que um daqueles parecidos com
clérigos se dirigiu a mim e disse: "Você não é cristão!”
Eu disse que era cristão, que havia entregado a minha vida para
Jesus. Então ele me disse: "Está bem, só que agora você vai negar
que é cristão."
Eu disse que não, que não poderia fazer aquilo. Todavia, por várias
vezes, ele insistia: "Você vai negar." E eu dizia: "Não, não e não."
Nisto, aquele que parecia com um clérigo se dirigiu para outras
pessoas reivindicando que cada uma delas negasse que eram
cristãos. Um a um foi negando Jesus. Então ele voltou-se para mim
novamente e mostrou que todos haviam negado. Mas eu disse que
não negaria.
"Você tem certeza disso?", replicou ele. Eu disse que sim, que eu
não negaria Jesus. Então ele me encarou e me disse com voz forte:
"Por causa disso você vai morrer, vai morrer, vai morrer!" E assim
eu acordei assustado.”
Aquela frase não saía da cabeça do Jijo. Ao ouvir o sonho de seu
marido, Aparecida foi-se lembrando de um sonho que tivera naquela noite.
Estavam ela, Jijo e os três filhos num compartimento com água até aos
pés. Aquela água fazia ondas e subia cada vez mais, ao ponto de pegarem as
crianças no colo. Como a água não parava de subir, sua filha Andrea disse:
“Mãe, vamos morrer”. Sua mãe disse para ninguém ter medo, pois “todos
somos do Senhor”. Nisto eles começaram a louvar o Senhor com os cânticos
da igreja.
No meio do louvor, as águas agitadas continuavam a subir até que, no
desespero, eles se separaram. Aparecida resgatou seus filhos e viu Jijo,
desesperado, lutando contra a água. Novamente Andrea gritou: “Mãe, o pai
não está aqui conosco”. Sua mãe respondeu: “Essa separação é por pouco
tempo”. Nisso ela acordou.
Ao narrar esses sonhos, ambos ficaram perplexos, assustados. Abriram
a Bíblia e caiu exatamente em 1 João 4:3,4 que diz:
"E todo espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne
não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já
ouvistes que há de vir, e eis que está já no mundo. Filhos, sois de
Deus, e já os tendes vencido; porque maior é o que está em vós do
que o que está no mundo."
Eles entenderam que aquele homem do sonho parecido com um clérigo
simbolizava o anticristo que queria destruí-los. Jijo era recém-convertido e
conhecia muito pouco sobre Jesus e, às vezes, hesitava um pouco. Era o
momento certo do inimigo ceifá-lo, por conta dessas hesitações. Sabiam que
algo estava para acontecer, mas não sabiam como lutar contra. Estavam
atônitos.
Naquela segunda-feira, Jijo foi de moto à casa de seu irmão. Ao voltar
para casa, na rodovia, um carro que vinha no sentido oposto saiu de sua mão
e veio em direção à moto de Jijo, lançando-o para longe da estrada. Um outro
carro o socorreu e o levaram em coma profundo para o hospital.
Como ele começara a se atrasar, sua esposa estava certa de que algo
acontecera. Uma voz vinha à sua mente: “Ligue para o hospital.” Após
intensas buscas resolveram ligar para a polícia rodoviária, que disse que ele
sofrera um acidente e estava em coma.
O médico disse que não havia esperança. Nossa recém-iniciada igreja
entrava na sua primeira grande batalha espiritual. Reuníamo-nos
constantemente para jejum e oração a favor de Jijo.
Mal ele poderia entender que o clamor da igreja visto em sonhos era
por ele mesmo. Foram 17 dias de lutas. As orações eram intermináveis. No
décimo oitavo dia, milagrosamente, para surpresa geral do hospital e de
todos, ele abriu os olhos e saiu do coma.
Esse irmão, que o inimigo queria ceifar, tornou-se um dos grandes
obreiros da igreja. Ele serviu a igreja por muito tempo como motorista de
ônibus para buscar pessoas de muito longe e levá-las aos cultos.
Deus avisou essa família antecipadamente, mostrando a razão do
acidente. Ele revelou que haveria lutas (águas agitadas), mas que uma igreja
estaria clamando. Mostrou que ele ficaria separado por um pouco de tempo
da família, mas voltaria.
A soberania, o domínio, o controle de Deus sobre todas as coisas ficou
evidente para essa família, que jamais vacilou novamente diante das lutas.
Reconstruindo um casamento
As coisas não estavam boas para um determinado pastor: seu
casamento estava falido. O motivo da quase separação era muito forte e a
reconciliação parecia praticamente impossível. Deus o afastara do seu
ministério. Era um tempo do Senhor trabalhar naqueles corações. Havia um
esforço mútuo de perdão, mas não estava sendo suficiente.
Numa noite ele sonhou que estava sendo preparada uma festa de
casamento. Os convidados começaram a chegar. Notou que eram pessoas
muito especiais para ele, para sua esposa e para seus filhos. Eram pessoas tão
queridas como sua mãe, uma de suas irmãs que os amava muito, um tio muito
amado de sua esposa e outras pessoas não menos especiais. Algumas dessas
pessoas se preocupavam com os comes e bebes.
De repente, ele entendeu que era ele mesmo e a sua esposa que iriam se
casar, mas não estranhou que eles eram o centro daquela festa. O que trouxe
profundo impacto é que não havia pastor para celebrar aquele casamento.
Quem poderia fazê-lo?
Depois de refletir sobre o assunto, percebeu que se não houvesse
casamento aquelas pessoas queridas ficariam profundamente frustradas.
Alguns vieram de longe especialmente para o evento. Assim, ele começou a
contemplar aquelas pessoas uma a uma e, para que elas não sofressem aquela
frustração, ele mesmo resolveu fazer seu casamento.
“Mas como pode ser isso?”, ele se perguntava. “Como posso eu mesmo
simultaneamente ser o noivo e o pastor que está celebrando o casamento?”
Todavia, a decisão estava tomada: aquela festa de casamento iria acontecer e
o pastor celebrante seria o próprio noivo.
Ao acordar não teve dificuldade em interpretar o sonho. Não era só o
esforço de perdão que Deus queria, mas a realização de um novo casamento
entre aquelas vidas. Vidas novas debaixo de novos padrões.
O que iria impulsionar aquele novo casamento que estava no coração
de Deus? Além do esforço do perdão que já estava existindo (pois houve a
iniciativa dos noivos, no sonho, de marcar a celebração do casamento), o
marido pôde entender que iria magoar profundamente pessoas tão amadas da
família, amigos e irmãos na fé se aquela união não se consolidasse.
Ele, que havia sido instrumento de Deus para ministrar a Palavra para
muitos que através dele se converteram; ele, que havia sido um vaso precioso
na reconstrução de muitos casamentos, famílias e vidas; ele, que era visto
como um modelo de servo de Jesus... Quantos iriam se queimar
espiritualmente se aquele casamento fosse destruído? Quantos da família
(principalmente sua mãe, já com idade; sua irmã, seus tios) teriam suas
estruturas abaladas e certamente uma raiz de profunda tristeza? Valeria a
pena lutar para que essas tragédias não se tornassem realidade!
A nova base desse casamento seria que ele se tornasse o marido e o
pastor daquela união. Deus estava dizendo, e ele podia entender bem isto, que
ele pastoreou muitas ovelhas, mas relegou a um segundo plano a principal e a
mais preciosa ovelha: a sua esposa.
Ao mesmo tempo em que ele era chamado para pastorear sua esposa,
Deus ensinava que a reconstrução daquele casamento estava na sua mão. Ele
conhecia a Palavra e o poder de Deus e agora era necessário aplicar tudo
aquilo em conjunto com o perdão. Ser marido e administrar aquele casamento
como embaixador de Jesus era o que Deus lhe mostrava por meio daquele
sonho.
Além disso, Deus lhe dava a certeza de que a separação não seria uma
tragédia apenas para ambos e os filhos, mas para um grupo de pessoas muito
especiais que iriam se desestruturar completamente e que jamais poderiam
entender o que acontecera.
O mesmo Jesus, que numa festa de casamento (bodas de Caná)
transformara água (que simboliza morte – água batismal) em vinho (que
simboliza sabor agradável, festa, alegria), estava lá, na celebração daquele
casamento, para transformar as raízes de morte e amargura em profunda
alegria e festa. Por tudo isso, aquele pastor tomou a decisão de refazer seu
casamento, dando a cobertura necessária para sua esposa.
Quando a Palavra de Deus fala em "véu", isso significa "cobertura". Em
1 Coríntios 11:3-16 a Bíblia mostra que, assim como Deus é a cabeça de
Cristo (cobertura de Cristo), Cristo é a cabeça (cobertura) do homem e o
marido é a cabeça (cobertura) da esposa. Primeiro o marido se coloca debaixo
da cobertura de Cristo, para, em seguida, dar a cobertura e pastorear seu
maior bem na terra: sua esposa.
Esse casamento foi refeito em novas bases e o Senhor do céu e da terra
tem abençoado esse pastor, sua esposa e sua família.
O consolo de Deus
Uma igreja (templo) do interior tinha na sua parte de trás (uma
espécie de quintal) duas mangueiras (árvores) enormes e fortes. Pensavam
derrubar as mangueiras para a construção de uma cantina.
Um dos membros mais conhecidos daquela igreja era o irmão Nilton,
presbítero, dentista muito amado na cidade, pois todos que precisavam
tinham seus dentes restaurados mesmo que não tivessem dinheiro. Ele acolhia
em sua casa aqueles irmãos de longe que vinham tratar os dentes e
precisavam ficar hospedados, às vezes, até quinze dias para o tratamento.
Além de, algumas vezes, nada receber, ainda hospedava aquelas pessoas.
Uma amizade muito profunda nasceu entre esse irmão, que por dezenas
de anos estava naquela igreja, e um dos pastores que ministrou por um tempo
nessa mesma igreja. Estavam sempre juntos nas reuniões, nas convenções,
nos encontros, nas visitas.
Quando o pastor partiu para outra cidade não muito longe de lá, em
nada aquela amizade cristã foi prejudicada. Bastava o presbítero ficar doente
ou ter um problema, lá estava o pastor expressando seu amor. Não importava
o horário, a distância, as condições, mas, sim, estar junto no momento que
um precisava do outro.
Mas, algum tempo antes dele se mudar para aquela cidade e conhecer o
irmão Nilton, ele teve um sonho: Ele pastoreava uma igreja e, no pátio dessa,
havia duas mangueiras frondosas, mas precisaram cortar uma delas para uma
construção necessária. Ao cortarem uma das mangueiras a outra secou e logo
morreu.
Esse sonho foi contado pelo pastor ao se mudar para aquela cidade e
ver as duas mangueiras no terreno da igreja. Ele mesmo procurara a
interpretação várias vezes sem resposta. Contara o sonho a várias pessoas
sem, contudo, encontrar uma interpretação satisfatória. O pastor sabia que o
sonho tinha um significado figurativo e não real. O importante é que o sonho
foi contado, simplesmente contado: o profeta que tem um sonho, conte o
sonho. (Jeremias 23:28)
Com o passar do tempo, o irmão Nilton, que se preocupava muito com
a saúde dos outros, mas não com a sua, foi acometido por uma doença que
lhe provocava hemorragia. Poderia viver muito tempo se tomasse alguns
cuidados recomendados pelo médico. Como realmente não dava atenção para
o seu estado de saúde, sua esposa teve que policiá-lo de dia e de noite para
que ele cumprisse as determinações médicas.
Todavia, ele conseguia burlar a vigilância da esposa, levantando, às
vezes, além da meia-noite, quando ela estava dormindo, para quebrar o
regime. Outras vezes pegava pesos, o que era terminantemente proibido pelo
médico. Quando ele percebia, o travesseiro estava cheio de sangue. Isso
aconteceu por várias vezes e sempre o pastor amigo aparecia para orar e levar
consolo.
Na terceira vez, estando ele muito mal, para que sua esposa não
soubesse, pediu que ela fosse à cidade resolver um problema para ele. Ele
sempre tinha esperança que a hemorragia acabasse sem intervenção médica.
Horas depois ele foi encontrado no banheiro, inconsciente, após ter
perdido muito sangue. Foi imediatamente levado para o hospital e transferido
para uma cidade maior. Como insistisse em ficar sentado (o que era muito
perigoso para o estado dele), ao chegar ao hospital sentou-se e imediatamente
entrou em estado de coma. À noite recobrou os sentidos e contou toda a
história para um sobrinho médico, dizendo que carregara muito peso (saco de
milho) e que havia escondido de sua esposa mais uma vez.
Ele não resistiu, morreu ao amanhecer do dia. Uma dor profunda
começou a tomar conta da sua esposa: Teria sido ela relapsa na sua
vigilância? Poderia ter evitado aquela morte tão precoce? Por que Deus
recolhera Seu filho tão cedo? Era vontade de Deus ou tinha sido falha
principalmente dela? Parece que não existia palavra que consolasse aquela
mulher.
Seu amigo pastor estava lá junto, dando apoio, trazendo consolo. Uma
hora e meia após a morte do irmão Nilton, o pastor, completamente tranquilo,
saiu com o seu carro. Logo sentiu-se mal e saiu para o acostamento; nunca
mais iria dirigir aquele carro: estava morto, sem praticamente ter qualquer
tipo de problema de saúde que o levasse àquele fim.
Foi naquele velório que, de repente, alguém se lembrou do sonho:
“Cortada a mangueira, a outra morreria em seguida”. Realmente, o irmão
Nilton era uma daquelas mangueiras fortes e frutíferas. Quando ele expirou,
em questão de horas, a outra mangueira (o pastor) murchou e morreu.
Aquela palavra foi como bálsamo para aquela esposa. Deus estava no
controle de tudo. O Criador do universo era soberano sobre todas as coisas e
interfere nas pessoas como Ele quer. Não, não havia sido descuido a morte do
irmão Nilton; nem descuido da esposa, nem descuido de Deus. O Soberano já
havia anunciado Seu domínio sobre o passado, presente e futuro para que a
dor daquele momento fosse amenizada e houvesse consolo. A vontade de
Deus foi cumprida conforme Ele havia anunciado.
Ao escrever esse sonho, fiquei emocionado. Chorei, porque já não se
encontra esse tipo de amor entre irmãos. Muitas igrejas estão longe da
essência do Cristianismo (que é o amor) e se tornaram verdadeiras religiões,
com usos e costumes, apresentações (shows) e tudo aquilo que podemos
chamar de religião.
Identificando o ministério
Entendemos que Deus fala em sonhos para mostrar planos que Ele
tem para nossas vidas, principalmente em relação ao ministério. Um exemplo
disso foi o que aconteceu com uma irmã nossa chamada Maria Inês que teve
muitas experiências com sonhos, principalmente após sua conversão a Jesus
Cristo.
Seus sonhos ocorrem com mais frequência quando ela está
despreocupada e descansada. Tem interpretado os símbolos somente com a
ajuda de Deus. Ela pede e o Senhor esclarece. Normalmente, quando há
dúvida se o sonho é de Deus e se a interpretação é certa, ela ora e, em
seguida, abre a Bíblia para observar se o texto bíblico confirma o sonho. Ela
entende que quando os sonhos vêm de Deus, esses são mais reais e
perceptíveis. As cenas se repetem em sua mente e tudo vai ficando claro, sem
confusão.
Numa campanha para prefeito em Jundiaí, ela participou ajudando um
candidato, principalmente para divulgar a Palavra de Deus. Alguns dias antes,
sonhou que estava subindo uma ladeira em uma caminhonete onde todos se
acumulavam em apenas um lado da carroceria e o veículo estava tombando
para aquele lado. Nisso, Maria Inês estendeu sua mão para tentar pegar a
outra guarda da carroceria, o que parecia impossível através do seu próprio
esforço. Então, ela exclamou que seria possível em nome de Jesus Cristo e
conseguiu alcançar a guarda do outro lado, dando equilíbrio à caminhonete. E
ela dizia: “Somos vencedores em nome de Jesus Cristo”.
Na verdade, seu candidato, que estava subindo nas pesquisas desde o
início, começou a ter problemas na última semana, trazendo um certo medo à
equipe da campanha (que eram as pessoas que estavam na carroceria do
veículo). Assim, no último dia da campanha, de posse do conhecimento do
sonho, todos os integrantes da campanha diziam: "Somos vencedores em
nome de Jesus Cristo”. Na apuração dos votos todos estavam tranquilos e as
urnas confirmaram a vitória daquele candidato.
Dos inúmeros sonhos que ela teve, o que mais impressionou foi em
relação ao seu ministério. Sonhou com o seu pai. Sempre que sonha com o
pai ela sente que tem relação com a palavra “obediência”, pois sempre foi
obediente ao pai e isso lhe trouxe muitas vitórias. No sonho, seu pai
(simbolizando Deus) mostrava um jardim com muitas mudas. Ele pedia para
ela tirar as mudas enraizadas e plantá-las numa terra fértil. Eram mais ou
menos quarenta mudas que seriam transportadas para uma terra fértil. Para
tanto, foi a uma floricultura buscar terra. Encontrou lá um pastor que
perguntou o que ela estava fazendo. Ela não lhe contou os detalhes, pois ele
não poderia entender.
De posse da terra, perguntou a Deus: “Senhor, onde é esse jardim?”
(nos seus sonhos, Maria Inês faz perguntas a Deus e Ele sempre responde).
Deus (simbolizado pelo seu pai) mostrou no alto uma igreja com uma cruz na
torre e disse: “Atrás daquela igreja é o jardim”. Ela ficou assustada, pois é
evangélica e aquela era uma igreja católica. Reagiu, mas resolveu obedecer,
pois era seu pai mandando.
Passou-se algum tempo após o sonho quando, então, ela foi convidada
a participar de uma reunião católica carismática. Achou absurdo o convite,
mas recebeu direção do Senhor que fosse. Ao chegar na igreja e ser dirigida
para a sala de reunião, atrás da mesma, identificou que era exatamente o lugar
mostrado no sonho.
Eram em torno de quarenta mulheres carismáticas católicas, que
queriam deixar aquele lugar.[xxvi] Neste momento, então, Maria Inês se
lembrou de outra parte do sonho em que ela perguntara ao Senhor: “Para
onde levarei essas plantas?” e o Senhor lhe respondera: “Isso é comigo, não
se preocupe.”
Alguns dias se passaram e as mulheres oficialmente deixaram aquela
igreja e o Senhor usou Maria Inês para ajudar aquelas vidas a encontrar um
novo jardim, com uma nova terra, muito fértil, para produzirem muitos
frutos.
Através de novos sonhos ela ia sendo útil àquele grupo. Sonhou com o
triângulo simbolizando a Trindade e, assim, ajudou as irmãs a entenderem
que esta era a ênfase que deveriam dar. Sonhou com pessoas que estavam
confusas e ajudou aquele grupo a ser um lindo jardim para Jesus.
É interessante observar o encontro que ela teve no sonho com o pastor e
no qual ela não lhe deu explicações. Deus mostrava que se ela explicasse ao
seu pastor que iria atender a um convite de uma reunião na Igreja Católica,
certamente ele não entenderia. Por isso o Senhor a orientou nos mínimos
detalhes.
Deus tem usado tremendamente essa sua serva em sonhos, inclusive
para dar recados a pastores, recados às vezes bons e, outras vezes, ruins. Para
exemplificar um “bom”, ela sonhou que estava orando com um pastor
desconhecido, de bigode, dizendo: “É por vontade do Senhor que você está
aqui e o Senhor é contigo.”
Passados dois meses, veio um novo pastor para sua igreja. Ao vê-lo
pela primeira vez, reconheceu-o como sendo o pastor do sonho. Só que havia
uma diferença: Esse não tinha bigode. Um pouco hesitante, ela foi orar com
ele e disse as mesmas palavras do sonho.
O pastor, muito emocionado, disse: “Irmã, há dois meses pedi ao
Senhor uma confirmação para ter certeza se era para vir trabalhar nessa
igreja. E, exatamente agora, através de você, Deus está confirmando.”
Então, um pouco tímida, ela lhe contou do sonho e do “bigode”. Aí ele
riu e disse: “Irmã, eu sempre tive bigode; só o cortei para vir para essa
igreja com um novo visual”. Ela sorriu e agradeceu a Deus pela Sua
fidelidade.
O julgamento
Sonhei estar em nossa igreja onde havia uma sala com uma janela
bem grande com desenhos rústicos. A janela estava aberta, mas não
havia nenhum móvel na sala. Ao meu lado, como sempre acontece
nos meus sonhos, estava alguém (um personagem) que me mostrava
e falava tudo o que ia se passando.
Em meio àquela quietude, de repente aquela personagem me disse:
“Olhe!” Olhei e vi o nosso pastor com uma irmã que exercia
algumas atividades importantes para o corpo de Cristo na área de
louvor e ensino da Palavra para crianças.
Essa irmã estava noiva de um irmão da igreja que também era
abençoado em seu ministério. Aí o anjo me disse: “Olhe para os
filhos de misericórdia que ele tem e fixe o olhar nele” (referindo-se
ao meu pastor). Dos seus olhos corriam lágrimas que não cessavam;
com sua mão direita sobre o peito estava a sua Bíblia e ao seu lado
a amada irmã!
Perguntei: “Por que ele chora? E por que ela está ali? “Disse-me
então: “Olhe!” Quando olhei havia uma fila de irmãos; eu os
conhecia, eram os meus irmãos do dia a dia. Faltavam alguns, mas
havia muitos. Para a minha surpresa, eles passavam um a um por
eles (pelo pastor e pela irmã) e olhavam como se estivessem
julgando-a. Eu não conseguia entender nada. Porém, de uma coisa
eu tinha certeza: eu podia sentir a dor que ia dentro do coração do
meu pastor (era enorme).
De repente, apareceu um ser muito estranho e feio que senti não
fazer parte do nosso meio. No templo onde nos reuníamos havia uma
escadaria muito grande e bonita que dava acesso aos demais
aposentos. Logo pensei: “Será esse o maligno? Ele é muito veloz e
estranho”. Então a voz me disse:
“Veja do que ele é capaz”. Era incrível: ele subia as escadas
velozmente e voltava na forma de uma criança; ria para mim e para
o anjo de Deus (que creio ter sido o personagem que me
acompanhava), que dizia: “Olhe agora.” O ser estranho voava
pelas escadas novamente e descia agora em forma de um
adolescente; depois em forma de um idoso; eu não conseguia
acreditar no que os meus olhos viam.
O ser estranho se dirigiu à fila e começou então a apontar para
cada um que ali estava, dizendo: “Você não me assusta, sei do seu
pecado”. E, então, um por um foi revelado; por fim ele parou e
olhou para o meu pastor que ainda se encontrava em pé, com
lágrimas nos olhos e disse: “Desse eu tenho medo. Ele tem no seu
olhar o olhar de quem me criou; somente dele tenho medo aqui.”
Acordei na madrugada em choro e novamente clamei a Deus. Pedi
para Deus que guardasse essa irmã; compartilhei com meu esposo
(muitas vezes era difícil para ele entender e crer) pois eu queria que
ele entendesse que Deus realmente me visita muitas vezes nos
sonhos.
Passaram-se um pouco menos de dois meses quando eu e o meu
esposo chegamos em casa cansados após um final de semana de
trabalhos na igreja. Eu com o ministério de crianças (há 14 anos) e
ele com adolescentes. No domingo à noite, quando chegamos, ele me
chamou no quarto para que nossas filhas não participassem da
conversa e me disse: “Enquanto você ministrava para suas crianças
ocorreu uma reunião na igreja. Foi declarado para os irmãos que a
irmã... (que estava no sonho) está grávida de aproximadamente três
meses. O pior é que seu noivo (nosso amado irmão) não vai se
casar, mesmo após cinco anos de namoro e com quase tudo pronto
para o casamento. Ele não vai assumir nem ela, nem a criança.”
Meu esposo confirmou que meu sonho se realizou. Disse que nunca
mais duvidaria deles. Em seguida orei e disse: “Senhor, tu és digno
do meu louvor; quem sou eu para que estejas ao meu lado tão de
perto e me reveles tantas coisas?”
Foi feito uma assembleia e pedido para os irmãos que os amassem,
que os perdoassem. Em fila, como no sonho, vi cada irmão indo até
eles e mais uma vez foi cumprido o que Deus me mostrara. Após dois
meses, essa irmã veio a perder seu filho e vi, tal como havia visto no
sonho, os olhos de misericórdia e o pranto do meu pastor.
Creio que esse sonho me levou a orar antecipadamente por aquela
irmã e principalmente pela igreja, para que não houvesse
julgamento, mas perdão e amor. Também pude orar pelo meu pastor
e conhecer quanto amor Deus havia colocado naquele coração.
O missionário em apuros
Em 1990 este sonho foi dado em favor de um missionário que se
encontrava na Amazônia, deixando bens materiais e tudo o mais que
seus pais podiam-lhe proporcionar, trabalhando com uma tribo
onde o índice de mortandade era muito alto. O curioso dessa tribo é
que esses índios se suicidavam por tristeza e depressão. Era
monstruoso o número de mortes diárias e a tribo já estava em perigo
de extinção.
Há mais ou menos oito anos não tínhamos notícias desse amigo
missionário. Em sonho, vi o Senhor que me mostrava uma cena e
falava aos meus ouvidos: “Veja o meu servo”. Vi o Reinaldo (o
missionário) sendo arrastado pelo Rio Amazonas e seu corpo
enroscado entre algumas pedras. O tempo passava, já era noite e lá
estava o corpo como morto.
Ouvia uma voz que me dizia claramente: “Interceda, clame por ele”.
Eu disse: “Mas, Senhor, por quê?” E novamente a voz me disse:
“Chore, clame, pois ele é meu servo”. Pedi ao Senhor para que ao
abrir os meus olhos fosse confirmado na Sua Palavra tudo o que eu
presenciara. No mesmo instante acordei e, ao abrir a Palavra,
deparei-me com Jeremias 37:20 (“Agora, pois, ouve, ó rei, meu
senhor: que a minha humilde súplica seja bem acolhida por ti...”).
Em prantos, pedi ao Senhor para que fizesse algo pelo Reinaldo.
Pedi para que seus anjos fossem até lá e desembainhassem suas
espadas e o ajudassem. Durante todo aquele dia estive enferma de
alma e espírito. Chorava muito; havia uma dor muito grande dentro
em meu coração.
Novamente o texto de Jeremias veio ao meu coração e me deparei
com os versículos 17, 18, 19 e 20.[xxvii] Então concluí que o Senhor
realmente esteve tão perto de mim naquela madrugada e eu não O
percebi, da mesma forma que os dois discípulos no caminho de
Emaús!
Então, peguei o telefone e liguei para a avó dele. Disse-lhe que
gostaria de compartilhar com ela o meu sonho. Pedi que orasse
junto com sua igreja por isso. Perguntei-lhe sobre Reinaldo e ela me
afirmou com toda precisão: “Ele está muito bem”.
Passados alguns dias, ela me telefonou e disse: “Maria Emília,
quero lhe agradecer muito, pois alguns dias depois do nosso
contato, meu neto me telefonou. Realmente seu sonho aconteceu, na
mesma noite, da forma como você me explicou!” Seu barco havia
virado e a correnteza o havia lançado em meio às pedras. Pelo
grande tempo que permaneceu ali foi picado por vários mosquitos
transmissores da malária; quando ele já não suportava mais, não se
sabe de onde, apareceu um barquinho, com um pescador, que o
recolheu! Aleluia! Aleluia, Senhor!"
Mais tarde ele nos contou que naquela noite pensou em abandonar o
campo missionário. Mas, quando soube do sonho e tudo mais,
entendeu o zelo e o amor de Deus sobre a sua vida, sentindo-se
amado e animado para seguir em frente!
Conclusão
Maria Inês saiu em férias com seu marido ainda não convertido e toda sua
família. Já na primeira noite, teve um sonho horrível. Apareceu para ela uma
mulher com aparência de santa. No sonho, Maria Inês perguntou à mulher
quem ela era. A mulher, com uma imagem de pureza, disse: "Eu sou a santa
.......". Em seguida, após alguns questionamentos feitos por Maria Inês, a
santa começou a dar gargalhadas diabólicas, revelando seu verdadeiro
objetivo: "Eu fui chamada para destruir seu casamento e vou fazê-lo". Maria
Inês ficou apavorada, dizendo que, em nome de Jesus, ela não iria destruir
sua família. Nesse desespero ela acordou apavorada e passou um dia terrível,
entendendo que Satanás se disfarçou em uma santa.
Seu marido, já naquela manhã, saiu para pescar. Voltou logo em
seguida com um anzol enroscado no seu dedo. Não era um ferimento grave,
mas como estivesse muito nervoso, resolveu ir até um hospital da região. Fez
os curativos e voltou para sua família ainda mais nervoso. Agrediu
verbalmente sua esposa, dizendo aos demais familiares que não via outra
saída senão a separação.
Maria Inês estava surpresa com tudo aquilo. Não havia razão objetiva
para a atitude de seu marido. Estava impossível dialogar. Ninguém se
entendia. O marido decidiu renunciar às férias e voltar sozinho para casa.
Recomendou que sua esposa e a família permanecessem de férias. No
entanto, Maria Inês sentiu direção do Espírito Santo para voltar com o
marido. As férias estavam canceladas.
A volta da viagem foi horrível. Ninguém conversava. Às vezes se ouvia
soluços do marido. Todos estavam arrasados. Quando chegaram, após a
“poeira assentar”, ela tomou a iniciativa de puxar o assunto e perguntou a
razão de tudo aquilo. O marido estava confuso, não sabia explicar o
acontecido.
Foi então que ela resolveu contar o sonho da noite anterior. Seu marido
arregalou os olhos e disse duas coisas: A primeira é que o hospital em que ele
fora tinha o mesmo nome da santa que ela havia sonhado. A segunda é que
ele estava lendo um livro sobre a referida santa e, entusiasmado pela leitura,
rezou à mesa pedindo: “Ou minha mulher deixa de ser crente ou então quero
me separar dela; por favor, ajude-me a resolver esse problema!”
Em seguida, o marido reconheceu que o Deus que a esposa servia era
mais forte que aquela suposta “santa”. Foi um passo para ele crer mais
naquilo que ela dizia, no evangelho. A esposa, com o coração grato a Deus,
expulsou em nome de Jesus aquele demônio por trás daquela "santa".
Deus falou com ela, avisou-a que Satanás queria destruir seu
casamento. Mostrou o método que ele usaria, atendendo os pedidos que os
desavisados fazem a determinados "santos". Os pedidos feitos às imagens
podem não ser tão inócuos como pensam muitos cristãos.
Assim como esse sonho impediu o fim dessa família, certamente
podemos estender esse princípio para muitos outros filhos de Deus em
situações semelhantes. Deus avisa-nos, instrui-nos e orienta-nos através de
sonhos.
O ex-governador de Goiás, Iris Resende, cristão desde criança, fez um
depoimento bastante interessante:[xxviii]
Na minha infância, aos cinco, seis anos, tive um sonho. Eu e meus
colegas de vez em quando passávamos os sábados e os domingos na
cidade, onde moravam minha avó e meus tios. No sonho, eles
lutavam para subir numa palmeira e pegar um cacho de coco
maduro (muito apreciado pelos garotos). Ninguém conseguia. Subi,
peguei o cacho e distribuí entre eles.
Em Cristianópolis havia um carpinteiro que interpretava sonhos.
Como menino disposto e ousado, fui lá levar-lhe o meu. Ele me
disse: "É que você vai conquistar posição elevada na vida e ser
muito importante para seu povo e seus colegas daqui."
Lembro que também minha mãe teve um sonho e depois procurou o
Antônio Machado: "A senhora não tem que se preocupar! Vocês
irão construir um grande patrimônio razoável para os filhos: talvez
uns dois milhões de dólares para cada um!"
Esses sonhos mostram Deus dando esperança, abrindo o futuro para
seus filhos. Sabemos que isso não é privilégio de ninguém; que Deus quer
fazer o mesmo para com todos Seus filhos. Todavia, não há mais necessidade
de você procurar um “carpinteiro” que interpreta sonhos. Você mesmo pode
fazê-lo, buscando a sabedoria de Deus.
Eu e minha esposa conhecemos a Jesus dentro do Catolicismo. Quando
a Palavra de Deus se abriu para nós, vimos que algumas coisas não estavam
tão certas onde frequentávamos. Entretanto, sentimos de Deus que não era
para sairmos de lá. Ficamos ainda quatro anos ali falando das verdades
bíblicas para aquelas pessoas muito especiais para nós.
Na mesma semana, eu e minha esposa tivemos revelação que era o
momento de deixar aquela igreja. A revelação para mim foi através de um
sonho. Eu estava entrando na Avenida Paulista em São Paulo com um bom
carro. Na minha frente estavam algumas senhoras com roupas de freiras
manobrando algumas Kombis e eu não podia andar. Com muita dificuldade
entrei na “larga” Avenida Paulista, porém não conseguia deslanchar, pois lá
estavam as senhoras impedindo.
Com esse sonho entendi que eu não estava conseguindo crescer
espiritual e ministerialmente ali. Era o momento de partir para um campo
ministerial novo, onde Deus Pai poderia nos usar com mais liberdade. Essa
decisão deu-nos muita paz. Com o passar do tempo pudemos ver que a
orientação era realmente de Deus e, portanto, não houve erros, embora, a
partir de 2009, este mesmo Deus nos levava a ter comunhão com católicos
cheios do Espírito Santo, tendo como centro a pessoa de Jesus Cristo.
Esses são alguns exemplos de como Deus fala em sonhos. Cabe a cada
um de nós crer nisso e, baseado em alguns princípios aqui traçados, ter uma
vida muito mais dirigida pela sabedoria divina.
Notas sobre o Autor
José Carlos Marion, professor titular da FEA/USP onde fez o seu mestrado
e doutorado. Como docente e pesquisador da Universidade de São Paulo,
escreveu mais de 30 livros na área contábil (alguns em coautoria).
Atualmente é professor na PUC/SP.
Na vida espiritual fez opção por Jesus Cristo como seu Senhor e
Salvador no final da década de 70. Sentiu-se fortemente atraído pelo
ministério pastoral e em 1987 seu chamado foi confirmado. Teve uma
direção de Deus para, junto com a sua esposa, começar uma igreja em
Jundiaí.
Em 1990, já com aquela igreja consolidada, foi para Kansas, nos
Estados Unidos, fazer pós-doutorado em Contabilidade, através do projeto
BID/USP – especificamente para professores da USP. Durante dois anos
Deus propiciou, naquele país, novas experiências nas áreas espiritual e
ministerial. Foi aí que começou a ser escrito esse livro.
Em 1993, junto com Harold Walker, um novo desafio lhe foi confiado:
começar uma obra que foi denominada de "Centro Comunitário Cristão".
Neste período, diante das dificuldades deste desafio, principalmente no que
trata da diversidade de origens denominacionais, surgiu outro livro (no início
de 1995), “A Marca dos Filhos”, que, em 2013, teve a 2ª Edição Ampliada
(em coautoria com o Pr. Luiz Roberto Cascaldi).
Na primeira década deste século lançou os livros "Grandes Tesouros
Tirados do Maior Livro do Mundo"; "Para Onde Iremos Daqui" (livro sobre
o final dos tempos, relançado em 2013 com o título "Para Onde Iremos
Depois da Morte"); "Ontem, Hoje e Amanhã com Jesus" (em coautoria com
Márcia Marion, ao comemorar 20 anos de pastorado); e "Reconciliação - O
Segundo Toque. A Unidade do Corpo de Cristo e a Nova Evangelização" (em
2012, também em coautoria com Márcia Marion). Em 2016 lançou um novo
livro, também tratando da unidade entre os cristãos, com o título “Um só
Corpo, Um só Espírito, Um só Senhor”.
Atualmente tem o chamado para trabalhar (contribuir), junto com sua
esposa, na reconciliação do Corpo de Cristo, na busca da unidade da Igreja
Cristã.
NOTAS
[i]
KELSEY, Morton T. Dreams: the dark epeck of the spirit. The other side of silence:
Guide to Christian Meditation (Nova Iorque: Paulist Press, 1976).
[ii]
FOSTER, Richard J. Celebração da disciplina 2. Ed. São Paulo: Vida. Cap. 2.
[iii]
D’ARAÚJO FILHO, Caio Fábio. Síndrome de Lúcifer. 1 ed. – Minas Gerais Betânia.
[iv]
SOMETTI, J, Você é aquilo que pensa. São Paulo: Cidade Nova
[v]
JUNG, C. G. Memórias, sonhos, reflexos
[vi]
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda, Novo Dicionário Aurélio. 2 ed. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, l986
[vii]
MURPHY, Joseph. O poder do subconsciente., 30 ed. Rio de Janeiro: Record
[viii]
Op cit., p.54
[ix]
Idem, p. 166.
[x]
Fantástico. Pesadelos, Rio de Janeiro: Rede Globo, ed. 08/11/92
[xi]
CHO, P. Yonggi. A Quarta dimensão. 13 ed. São Paulo: Vida
[xii]
CHO, Paul Yonggi, Op. Cit.
[xiii]
D’ARAÚJO FILHO, Caio Fábio. Op. Cit. p. 31.
[xiv]
Foster, Richard J. Op. Cit.
[xv]
SWINDOLL, Charles R. Como viver acima da mediocridade. São Paulo: Vida, 1992.
[xvi]
MUMFORD, Bob. A Patrola de Deus. Jundiaí, John Walker.
[xvii]
FOSTER, Rchard J. Op. cit.
[xviii]
FOSTER, Richard, Op. cit.
[xix]
KELSEY, Morton T. Op.cti.
[xx]
LEE, Witness. Estudo – Vida do livro de gênesis. Árvore da Vida. São Paulo, v.3.
[xxi]
LEE, Witness. Op.cit.
[xxii]
CUNNINGHAM, Loren. Pode falar, Senhor... estou ouvindo. São Paulo: Betânia.
[xxiii]
Embora a idolatria condenada nas Escrituras muitas vezes não tenha muita relação
com certos usos modernos de imagens, pinturas e representações religiosas, pode haver
uma ligação entre a atribuição que as pessoas dão a símbolos ou objetos e poderes
sobrenaturais do mal, conforme Paulo explica em 1 Coríntios 10.19,20.
[xxiv]
Hoje a "Igreja Evangélica X" está em Itupeva-SP, muito abençoada e próspera, com
milhares de membros. Para isto Deus deu uma nova visão (diferente da minha), que a
levaria a ser uma mega igreja.
[xxv]
CUNNINHGHAM, Loren. Op.cit.
[xxvi]
No início da Renovação Carismática Católica, muitos padres e bispos eram
contrários. Assim, houve grupos católicos batizados no Espírito Santo que deixavam
aquela Igreja. Todavia, com o tempo, a Renovação Carismática Católica foi aceita pela
liderança e estas saídas deixaram de existir.
[xxvii]
“Mandou o rei Zedequias trazê-lo para sua casa e, em secreto, lhe perguntou: Há
alguma palavra do SENHOR? Respondeu Jeremias: Há. Disse ainda: Nas mãos do rei da
Babilônia serás entregue. Disse mais Jeremias ao rei Zedequias: Em que pequei contra ti,
ou contra os teus servos, ou contra este povo, para que me pusesses na prisão? Onde estão
agora os vossos profetas, que vos profetizavam, dizendo: O rei da Babilônia não virá
contra vós outros, nem contra esta terra? Agora, pois, ouve, ó rei, meu senhor: Que a
minha humilde súplica seja bem acolhida por ti, e não me deixes tornar à casa de Jônatas,
o escrivão, para que eu não venha a morrer ali.”
[xxviii]
Revista Avos. nº 53, 1993.