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07 a 09 de Maio de 2012
Introdução
Este texto tem como objetivo apresentar as reflexões de Umberto Eco sobre a
possibilidade de encontrarmos um pensamento sobre Estética em Tomás de Aquino. A
realização desse estudo na área da História da Educação justifica-se por entendermos a
Educação como um processo de formação do homem para o convívio em sociedade.
Nessa perspectiva, autores clássicos como Tomás de Aquino são importantes para nos
aproximarmos do contexto social e refletirmos sobre os valores que participavam da
educação daqueles homens.
Adotamos como fonte de nossos estudos os objetos que sobreviveram ao tempo
e que atualmente são entendidos como obras de arte. Entretanto, o conceito
contemporâneo de arte não pode ser aplicado quando tratamos de Idade Média, por isso
muitos historiadores preferem usar o termo imagem, quando abordam esse período, ao
invés de arte. Nessa mesma instância, também, se insere o conceito de Estética, o qual
pode ser definido como subárea da filosofia que se dedica as questões do belo. Portanto,
com o intuito de construirmos um conhecimento mais preciso sobre Estética no período
histórico que concentramos nossas pesquisas – Idade Média - propomos a elaboração
deste texto.
Iniciamos nossa abordagem apresentando questões centrais para a aceitação, ou
não, da Estética em Tomas de Aquino. Todavia, as reflexões acerca dessas questões
requerem esclarecimento, a nosso ver, das diferentes formas de pensar a Estética na
História. Assim, ilustramos a divergência de compreensão das questões sobre Estética
nos dois maiores filósofos da Antiguidade, Platão e Aristóteles, pelo fato de terem
fundamentado o pensamento medieval patrístico e escolástico. Por fim, conduzimos
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nossa atenção as questões apresentadas por Eco sobre Estética e Tomás de Aquino em
seu livro Arte e Beleza na Estética Medieval.
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Estética
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Assim, diante de uma falta de consenso sobre a estética, atualmente usa-se esse
termo para designar os estudos centrados na arte e no belo. Entretanto, essa relação é
decorrente das reflexões sobre o ‘gosto’ desenvolvidas pela filosofia moderna e
contemporânea. Na Antiguidade e na Idade Média as reflexões sobre arte (atividade do
artífice) e sobre o belo eram realizadas em instancias distintas. Podemos ilustrar essa
separação nos reportando à Platão que em A Republica, Livro X, nos apresenta seu
conceito sobre como aquele que imita (artista) a natureza leva à uma falsa verdade. Para
o filosofo:
Assim como qualquer artesão, o poeta também é compreendido por Platão como
causador do distanciamento da verdade, por isso não pode viver na cidade que ele
idealiza. Dessa forma, na cidade justa de Platão não há lugar para os imitadores, como
podemos verificar na seguinte passagem:
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regido por leis sábias, já que acorda, nutre e fortalece o mau elemento
da alma, e arruína, destarte, o elemento razoável, como acontece
numa cidade que é entregue aos malvados, ao se lhes permitir que
fiquem fortes e ao fazer que pereçam os homens mais estimáveis; do
mesmo modo, do poeta imitador, diremos que introduz mau govêrno
na alma de cada indivíduo, lisonjeando o que há nela de irrazoável,
que é incapaz de distinguir o maior do menor, que, ao contrário,
encara os mesmos objetos, ora como grandes ora como pequenos, que
produz apenas fantasmas, e está a uma infinita distância do
verdadeiro. (PLATÃO, A Republica, L X, 605 a – e).
O ser de ficção não esta comprometido com a verdade, com o que realmente
aconteceu, mas sim com o verossímil, o possível. Para entender essa questão, trazemos
a passagem da Poética em que Aristóteles estabelece a diferença do verossímil e
verdade por meio do exemplo entre o historiador e o poeta.
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Entretanto ‘o que poderia ter acontecido’ deve ser verossímil para que os
espectadores acreditem na imitação. O verossímil é explicado por Cauquelin (2005,
p.64) como algo que “[...] está submetido ao conjunto de nossas crenças; os limites do
acreditável são os limites dessas crenças. Mas essas são as crenças da opinião comum: a
doxa”. Em suma podemos entender que é a doxa que possibilita o verossímil, que por
sua vez é o cerne do prazer da imitação.
Assim, como os conceitos sobre a imitação são diferentes em Platão e
Aristóteles, também são quando a questão é o belo, ou beleza. Bayer explica que para
Platão,
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Aristóteles representou a pesquisa causal nos seus quatro elementos: a causa material (aquilo de que é feito o
objecto); a causa motora ou eficiente (o que deu lugar a esse objecto); a causa formal (o que deu a forma do objecto);
a causa final ou teológica (aquilo em vista de que, aquilo que um objecto visa): por aqui poderia introduzir-se a
estética (BAYER, 1993, p. 47 )
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Eco (1988) inicia seu livro Aesthetics of Tomás Aquinas explicando que a
publicação de Benedetto Croce em 1931 reforçou o desinteresse já existente em estudar
a estética medieval. Isso porque o artigo evidenciava que as idéias de Tomás de Aquino
sobre a arte e a beleza não eram falsas, mas extremamente gerais, por isso eram sempre
aceitas de forma correta. Essas idéias, segundo Croce, eram fastidiosas por apenas
repetirem o que os antigos já haviam pensado e a teologia sufocava o seu avanço. Eco
(1988) explica que enquanto o ponto de vista de Croce exercia grande influencia na
Itália esse julgamento foi suficiente para desencorajar as investigações sobre estética
medieval.
O pensamento de Croce sobre a influencia da teologia nas reflexões estéticas
pode ser entendido por meio das indicações de Bayer (1993), o qual afirma ser
consenso, entre os medievalistas, a grande influencia que o neoplatonismo exerceu na
origem da concepção cristã. O autor explica que essa fundamentação filosófica
direcionava a eliminação do sensível e sensual no homem. Dessa forma foi criado um
ideal cristão que:
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século IX, com a constituição da escolástica, o abismo entre fé e razão teria sido
destituído e ‘crer e compreender’ passou a ser o cerne das reflexões filosóficas. Em
conseqüência ocorre a racionalização da religião, sendo seu maior expoente Santo
Tomás de Aquino (1225-1274). Bayer explica como essa mudança no pensamento
medieval influenciou a estética:
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afirmando que “Os escolásticos vêem na arte uma virtude formada por raciocínios
especulativos levando a ideia de atividade operatória que suscita atos ou objetos cuja
utilidade consiste em tornar a vida melhor” (BAYER, 1993, p. 92). Essa passagem nos
direciona a outra questão importante quando o objeto é a arte: sua utilidade.
Contrariamente, ao pensamento contemporâneo acerca da utilidade da arte, para os
medievais o importante é sua eficiência. Bayer (1993), ressalta que a competência do
artista era avaliada se criasse uma obra que operasse bem. Para que a obra nascesse e
fosse eficiente o artista necessitaria de uma boa disposição racional, moral e operativa.
Esse conjunto de elementos e sua perfeita mistura possibilita uma obra ser assim
denominada, pois como nos explica Bayer (1993, p. 92) “[...] se a obra dum artista
falhou, é, segundo S. Tomás, contrária à arte; não é uma obra; só merece o nome de
obra se for perfeita”, a nosso ver, essa é a base para entendermos a estética em Tomás
de Aquino. Nesse sentido, o belo para o monge é a adequação perfeita da obra a sua
finalidade. Assim, a realidade concreta é a base de seu pensamento, mas o concreto só
existiria em função do abstrato. Constitui-se, dessa forma, um ‘circulo vicioso’ em que
para a efetivação do concreto é necessário a formulação abstrata e a abstração, por sua
vez, só ocorre partindo do concreto. Eco (2010) nos leva a fazer essa inferência ao
explicar que para abordar Tomás de Aquino prefere utilizar a denominação de ‘Estética
do Organismo’ e não da forma, como faz quando se trata de outros pensadores, pois a
idéia de organismo deve-se ao todo e não apenas da idéia abstrata. O autor explica que
forma pode ser entendida por três vias:
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pensar as coisas dessa forma é característico da metafísica de Santo Tomás. Essa noção
é explicada da seguinte maneira:
O autor menciona que a relação entre forma e substancia é tão forte que uma não
existe sem a outra, para “[...] Santo Tomás, nomear a primeira implica a segunda, a não
ser que se faça uma distinção lógica” (ECO 2010, p. 173). Essa forma de concepção
metafísica exerceu grande importância na compreensão da arte. Para Hauser (apud ECO
2010, p.173-174),
Assim, a compreensão da arte enquanto uma ação racional e não mais um dom
começa a ser edificada.
Quando direcionamos nosso olhar às reflexões acerca do belo, também podemos
visualizar a noção de organismo defendida por Eco. Sobre o belo, Bayer (1993, p. 90)
afirma que “Encontramos em S. Tomás diferentes definições do belo. Para que haja
beleza, são precisos três caracteres essenciais: a integridade ou perfeição, a justa
proporção ou harmonia e a claridade”. Assim como Bayer, Eco também ressalta a
existência dos três critérios essenciais para pensarmos a estética em Tomás de Aquino e
o autor ressalta que é a análise desses elementos que nos possibilita entender como a
estética do organismo se efetiva no pensamento do monge.
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Sobre essas qualidades que devem compor a obra de arte, Bayer explica que
integritas e claritas são provenientes da fundamentação que Tomás de Aquino teve em
Aristóteles, pois esses conceitos estavam presentes nas reflexões do filosofo grego.
Bayer esclarece que:
Entendemos que Bayer também está evidenciando a relação que existe entre os
três elementos, a qual se estabelece por meio do conceito e o fim do objeto que é
atingido pela sua eficiência. Dessa forma, podemos entender que o conceito é a
abstração e o fim depende de sua materialização, ou seja, a abstração e a materialização
são questões que tem a existência condicionada uma a outra mediadas pela faculdade
intelectiva. Para que a interdependência dos elementos, que fazem parte da estética de
Tomás de Aquino, fiquem claras e o conceito de organismo seja compreendido, vamos
seguir a indicação de Eco e nos reportamos a cada elemento separadamente. Iniciamos
por entender a proporção.
O estudo das proporções artísticas são relacionados as equações matemáticas que
foram usadas pelos artistas desde a Antiguidade, como é o caso do Plolicleto (460 – 410
a.C), o mais celebre escultor da Grécia Antiga. Eco menciona que a proporção é:
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sua adequação ao seu devido fim, temos em conseqüência a perfectio secunda. Eco
(2010, p.179) explica que somente a “[...] perfeição formal da coisa permite operar
segundo a própria finalidade; mas igualmente é verdade que a perfectio secunda é regra
para a perfectio prima, porque uma coisa, para ser perfeita, deve organizar-se
precisamente segundo as exigências de sua função [...]”. Essas afirmações de Eco nos
possibilitam entender que a obra é bela se exerce sua função com eficiência, pois o autor
ilustra esse pensamento dando o exemplo de uma serra de cristal que, mesmo tendo sido
criada com muito esmero, não consegue desempenhar sua função de cortar e, portanto,
não é bela e sim feia.
O belo de uma obra que possui proporção entre sua forma e seu fim é possível de
ser percebido por meio do terceiro elemento: a claritas. Eco (2010, p.185) entende
claritas como a “[...] verdadeira capacidade expressiva do organismo; é – como foi dito
– a radioatividade do elemento formal. Um organismo percebido e compreendido
declara-se como tal e a inteligência o goza pela beleza de sua legalidade”. A
inteligência, dessa forma, é a faculdade que possibilita o reconhecimento do belo por
meio da luz harmoniosa que resplandece da obra, nesse sentido Bayer (1993, p.91 )
entende claritas como “[...] a vista, no seu sentido intelectual por excelência, não
relevando da sensibilidade, mas da inteligência”. Podemos verificar, neste momento,
mais um ponto de distanciamento entre a estética de Tomás de Aquino e dos
neoplatonicos. Como explica Eco para os neoplatonicos2 a luz
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Para aprofundar as reflexões sobre o belo em Platão e no neoplatonismo ver Bayer, o qual dedica o 5º
capitulo de seu livro História da Estética para aborda as especificidades do pensamento de Plotino sobre
a Estética.
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a realizar um julgamento cujo veredicto poderá ser a prazer do belo. Assim, o belo em
Tomás de Aquino pode ser entendido como:
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leve o pesquisador a desviar-se de seu objeto é o grande desafio do trato com essa
especie de fonte. Lembramos Tomás de Aquino que o prazer proporcionado pelo belo é
resultado de um processo racional, portanto manter o equilibrio harmonioso entre o
racional e o emocional é o ponto fundamental da pesquisa com fonte artistica.
Referência
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