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O que é a Filosofia?
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Começaremos a examinar o cotidiano como nos propõe Marilena Chauí, em seu livro
“Convite à Filosofia”: Em nossa vida cotidiana, afirmamos, negamos, aceitamos ou
recusamos coisas, pessoas ou situações. Fazemos perguntas como” que horas são ou
que dia é hoje?“.
Esta pergunta sustenta uma crença: a crença que o tempo existe e pode ser medido.Assim
como afirmações do tipo “A professora foi injusta” traz em si a crença em nossa idéia de
justiça. No entanto, nunca paramos para indagar o que entendemos por “tempo” ou
“justiça”. Acostumados com o cotidiano, deixamos nossas idéias e crenças sem
fundamentação e vamos aceitando o mundo como se ele fosse óbvio em si mesmo.
A Filosofia começa quando nos propomos a investigar o mundo, o homem e seus valores.
Assim, afirma Marilena Chauí, a primeira resposta à pergunta “O que é Filosofia?”, poderia
ser: A decisão de não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as idéias, os fatos, os
valores de nossa existência cotidiana; jamais aceitá-las sem antes haver investigado.
Essa é uma pergunta bastante comum quando a Filosofia aparece na escola. Mas não
vemos ninguém perguntar para que Matemática, Biologia ou Educação Física! A não ser
quando não atingimos o conceito desejado nestas disciplinas. Mas todo mundo acha
natural perguntar para que Filosofia!
Talvez porque achamos o Filósofo um ser estranho, com a cabeça no mundo da lua,
dizendo coisas que ninguém entende. “Papo cabeça” demais que não serve para nada.
“Não servir para nada” é uma afirmação que merece ser analisada.
O que serve em nossa sociedade é aquilo que tem uma utilidade imediata, visível e muito
prática. Quando nos pedem para ler ou pesquisar, logo perguntamos: o que vamos ganhar
com isso? Por isso ninguém duvida da utilidade das Ciências, pois aí estão os
computadores, os medicamentos, etc.
Você estaria se perguntando: Que coisa doida é essa? Isso significa que a culpa de eu ter
que estudar o Teorema de Pitágoras é da tal Filosofia? Calma aí... Você não é tão normal
quanto parece...
Que tal viajar na aula de Filosofia e se imaginar diante de uma bela cachoeira ou ainda
estar sentado em seu sofá assistindo um desses programas de ecologia. De repente, você
se pergunta: como pode tudo estar tão encaixado em seu devido lugar? Como tudo
começou? O que mantém as coisas em ordem e ao mesmo tempo em mudança?
Essa era a pergunta que Pitágoras e outros filósofos fizeram e obtiveram diferentes
respostas. Algumas inusitadas, como a de Demócrito que supunha uma partícula
indivisível como princípio de todas as coisas. A afirmação de Demócrito provocou a
curiosidade de muitas pessoas e estimulou pesquisas. Embora saibamos, hoje, que o
átomo é divisível, o que seria da energia atômica sem Demócrito?
Algumas pessoas afirmam que a Filosofia é a Ciência com a qual e sem a qual o mundo
permanece tal e qual. Bobagem! A Filosofia não é Ciência, pelo menos não como
entendemos a Ciência hoje. Mas, por exemplo, a Química, essa coisa fabulosa que
permitiu produzir sandalinhas de plástico e outras coisas mais, surge da tentativa dos
Filósofos Renascentistas de relacionar as partes ao todo, utilizando-se da Astrologia e da
Alquimia. E a Física, responsável pelos motores potentes e pela aerodinâmica dos carros,
surge da busca de uma explicação para a phisis - palavra grega que compreende a
natureza em movimento e permanência.
Ora, você pode agora estar em um dilema pensando se quer ficar na festa com o cara ou a
garota mais bonita da escola ou com aquela que nem é tão bonita, mas é uma ótima
companhia. Você terá que voltar o pensamento para si mesmo, perguntando o que
significa mais para você: uma boa companhia ou a beleza?
Não importa qual a sua resposta. O que importa é o processo de reflexão que o conduziu a
esta pergunta. É provável que você nem chegue a uma resposta e fique na festa com
quem aparecer primeiro. Existe também a possibilidade de você se lamentar por um bom
tempinho pela sua atitude. O desfecho desses dilemas é variado, mas o processo de
reflexão é bastante comum em várias situações.
Mas, cuidado! Não se julgue um Filósofo porque alguma vez na vida, você já fez essas
perguntas. A Reflexão Filosófica não é qualquer reflexão, ela tem suas exigências.
Dermeval Saviani aponta três exigências para que possamos caracterizar uma reflexão
como filosófica.
Isso significa que o trabalho do Filósofo é sempre atrasado? Não! Essa é a concepção de
um Filósofo sobre a Filosofia. A busca da radicalidade, da sistematicidade e da
abrangência nos coloca diante de uma multiplicidade de teorias e visões. Teorias que não
são apenas opiniões que aparecem em programas de auditório no estilo “você decide”,
mas que podem nos auxiliar a pensar na forma de como pensamos.
Nos pergunta, finalmente, Marilena Chauí: A Filosofia é útil ou inútil? Sua resposta é bom
início para uma reflexão filosófica: O primeiro passo para respondermos esta pergunta
seria considerarmos o que é útil ou inútil. Se útil for obter fama ou dinheiro, a Filosofia
reivindica o direito de ser inútil, mas se útil for descobrir o sentido de nossa existência, de
nossos valores, de nossa cultura não há e nem pode haver saber mais útil que a Filosofia.