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E PREVIDENCIÁRIA
autor do original
MARCELO A. DE TOLEDO LIMA
RAFAEL ALTAFIN GALLI
RICARDO G. C. CHINA
ZILDA CRISTINA DOS SANTOS
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2015
Conselho editorial marcelo a. de toledo lima, rafael altafin galli, ricardo g. c. china,
zilda cristina dos santos
Diagramação fabrico
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2015.
Prefácio 9
2. Empregado e Empregador 40
Conceito de empregado 40
Espécies de empregado 41
Conceito de empregador 49
Poder de direção do empregador 50
Terceirização das atividades da empresa 54
Grupo e sucessão de empresas 56
A atividade empresarial 58
Cooperativas de mão de obra (Lei 5.764/70 e art. 442 da CLT) 59
Trabalho autônomo 60
Contrato de trabalho 61
3. Prescrição dos Direitos Trabalhistas e
Jornada de Trabalho. 74
Prescrição 74
Transferência do empregado 75
Interrupção e suspensão do contrato de trabalho 76
Da jornada de trabalho 78
Repouso semanal remunerado 86
Salário e remuneração 90
Férias 104
Aviso prévio 108
FGTS – Fundo de garantia por tempo de serviço 109
Organização sindical 111
Direito de Greve 116
9
1
Introdução ao Direito
do Trabalho
1 Introdução ao Direito do Trabalho
Iniciando a disciplina Legislação Trabalhista e Previdenciária, necessário se faz
entender e compreender alguns conceitos de Direito como base para o apro-
fundamento no mundo da Legislação Trabalhista e Previdenciária. Portanto,
neste primeiro capítulo você conhecerá os principais conceitos de direito para
avançar no seu estudo.
Ainda nesse capítulo veremos toda a história de origem do Direito do Trabalho,
destacando suas fases.
OBJETIVOS
• Relembrar tópicos importantes sobre o Direito;
• Entender o desenvolvimento histórico do Direito do Trabalho;
• Apreender conceitos básicos relacionados à disciplina.
REFLEXÃO
Você está lembrado dos conceitos de partes contratuais que compõem uma relação jurídica?
Quando falamos em Direito, consequentemente, estamos falando em relações entre pesso-
as, para tanto, destacamos que o Direito do Trabalho normatiza as relações contratuais entre
empregado e empregador.
12 • capítulo 1
Além disso, o Direito vem sempre consolidar, por suas normas, as institui-
ções criadas pelo homem e vigentes em dado momento histórico. As institui-
ções mudam, evoluem. Cabe ao Direito fixá-las, para que a sociedade se sinta
segura e para que as regras sociais, uma vez estabelecidas, sejam seguidas, sem
sustos para os cidadãos em suas relações.
Desta forma, o Direito assume uma função verdadeiramente social, pois,
embora as ideologias variem e a sociedade se transforme, ele perdura consoli-
dando normas e protegendo interesses estabelecidos.
O Direito Positivo é, portanto, um sistema normativo, ou seja, um conjunto de
normas jurídicas visando à paz social, à ordem na sociedade. Sua finalidade pri-
mordial é o bem-estar da sociedade, o que vale dizer, seu fim principal é a ordem na
sociedade. (DOWER, 2005).
ATENÇÃO
Em que consiste a Teoria Tridimensional do Direito?
Segundo esta teoria, tem o Direito três dimensões: (a) os fatos que ocorrem na sociedade;
(b) a valoração que se dá a essas fatos; (c) a norma que pretende regular as condutas das
pessoas, de acordo com os fatos e valores. O resultado dos fatos que ocorrem na sociedade
é valorado, resultando em normas jurídicas. Há, portanto, uma interação entre fatos, valores
e normas, que se complementam. O Direito é uma ordem de fatos integrada numa ordem de
valores. Da integração de um fato em um valor surge a norma (MARTINS, 2008).
capítulo 1 • 13
Este é o caso dos chamados “Novos Direitos”, como os Direitos Difusos, Di-
reitos Coletivos, Direitos Sociais e Direitos Humanos.
Os Direitos Difusos são aqueles que, sendo indivisíveis e indisponíveis, po-
dem ser usufruídos por um número indeterminável de pessoas, por recaírem
sobre bens de toda a coletividade, como, por exemplo, o meio ambiente, o pa-
trimônio cultural etc.
Nessa categoria, os sujeitos têm um médio nível de organização, todos liga-
dos a uma relação-base. Esse vínculo tem carga nitidamente social e política,
que de certa forma “politiza” o próprio Direito, o mesmo que a razão liberal
tenta “despolitizar”, abstrair.
Já os Direitos Coletivos são compostos por interesses comuns a uma coleti-
vidade de pessoas – e a elas somente –, no momento em que existe um vínculo
jurídico entre os componentes do grupo, como, por exemplo: a sociedade mer-
cantil, a família, dentre outros. São, assim, interesses comuns, nascidos em
função de uma relação-base que une os membros das respectivas comunida-
des e que, não se confundindo com interesses estritamente individuais de cada
sujeito, merece sua identificação própria.
No âmbito dos Direitos Difusos, põe-se em destaque hoje a questão ambiental,
pois ela envolve o trato jurídico as próprias condições básicas da vida sobre a Terra.
O Direito Ambiental, pois, liga-se intimamente ao direito à vida. A realização plena
do direito de viver implica que seja assegurado a toda pessoa efetivamente dispor
dos meios apropriados de subsistência e de um padrão de vida decente.
CONEXÃO
Para maiores informações com relação ao meio ambiente, o estudante poderá acessar o site
<www.mma.gov.br>, em que encontram-se as legislações e as instruções normativas referentes
ao meio ambiente.
O termo singular Direito Social pode ser definido como sendo o conjunto
de normas que disciplinam o organismo social com o objetivo de obter o equi-
líbrio da vida em sociedade. É, portanto, aquele direito que brota de modo es-
pontâneo no grupo social, como, por exemplo, as normas consuetudinárias.
Em sentido mais estrito ou específico, pode ser considerado aquele direito que
rege as relações trabalhistas, resolvendo a questão social ao procurar restabele-
cer o equilíbrio social através da proteção do trabalhador e de seus dependen-
tes. São direitos típicos do século XX, da globalização, dos conflitos de massa.
14 • capítulo 1
Exemplos de Direitos Sociais são os que abrangem os direitos do trabalho,
incluindo: o próprio direito ao trabalho, o direito a uma remuneração justa, o
direito de sindicalização, o direito ao repouso e ao lazer, o direito ao bem estar
e à previdência social (que se desdobra em direito à seguridade social).
O termo Direitos Humanos pode
WIKIMEDIA
ser definido como sendo o conjunto de
normas substantivas contidas na De-
claração dos Direitos do Homem e do
Cidadão (lavrada na França, em 1789) e
na Declaração Universal dos Direitos do
Homem (Carta das Nações Unidas de
1948, em que o Brasil é um dos signatá-
rios), e não nas normas constitucionais,
arrolando os direitos elementares à dig-
nidade humana, sejam eles civis, sejam
políticos, econômicos, sociais ou cultu-
rais, aplicáveis aos homens individual-
mente ou como membros da sociedade.
Tais normas constitucionais restringem o poder estatal por constituírem uma
limitação ao Legislativo, ao Executivo e ao Judiciário que devem, por sua vez, res-
peitar os direitos humanos. Mais adiante voltaremos a falar sobre isso.
Para guardar
REPRODUÇÃO
ZOTHEN / DREAMSTIME.COM
WIKIMEDIA
ONU
capítulo 1 • 15
1.2 Escolas do pensamento jurídico
Ao longo dos anos, a evolução do pensamento jurídico foi acompanhada pelo sur-
gimento de diversas escolas de pensadores que buscaram, cada qual ao seu modo,
explicar o porquê do Direito, ou seja, de onde nasce e para onde evolui o Direito.
Evidentemente que são inúmeras as escolas do pensamento jurídico, de
modo que não há interesse aqui em ser feita uma abordagem de todas elas. Tra-
taremos das duas principais escolas: A Escola do Direito Natural ou Naturalista
e a Escola do Direito Positivo ou Positivista.
16 • capítulo 1
seu raciocínio, buscará um conceito de justo para o caso sob análise que nem
sempre estará inscrito em um preceito legal, mas em um princípio superior de
justiça (VENOSA, 2008).
capítulo 1 • 17
ATENÇÃO
A atual fase de desenvolvimento do Direito é chamada de Pós-positivista: uma superação da
Escola Positivista do Direito. Trata-se do reconhecimento de que o Direito não é – e nunca será! –
uma ciência matemática, pois a ideia de justiça está amplamente impregnada de fatores sociais,
peculiares de cada caso concreto, e que impossibilita tratar o Direito como uma ciência exata. Ele
passa, nesta nova fase, a ser interpretado à luz dos princípios – de força normativa reconhecida –
que contribuem para dar maior coerência ao ordenamento jurídico (SOUZA, 2009).
18 • capítulo 1
Abaixo da Constituição, existem as leis ordinárias, como: o Código Civil,
que trata de direitos e obrigações, de contratos, de regras sobre família e suces-
sões, sobre coisas; leis sobre organização de sociedades, como a Lei das Socie-
dades por Ações (Lei n.º 6.404/76); sobre benefícios da Previdência Social (Lei
n.º 8.213/91) etc. (MARTINS, 2008).
ATENÇÃO
Qual o conceito de lei?
Lei, em sentido formal, é a norma emanada do Estado e tem caráter imperativo. Lei em
sentido material é a disposição imperativa, que tem caráter geral, contendo regra de
Direito Positivo.
capítulo 1 • 19
A Jurisprudência consiste no modo pelo qual os tribunais se orientam na
solução das diferentes questões. Ela expressa-se por meio das sentenças e acór-
dãos proferidos nas demandas. Essas decisões, quando tomadas em determi-
nado sentido, passam a ser invocadas como precedentes a serem seguidos (PI-
NHO, NASCIMENTO, 2004).
Já a equidade é o processo por meio do qual o intérprete/juiz pode solucio-
nar o caso utilizando-se de seus valores de justiça.
Há na doutrina nacional quem adote a classificação de fonte material do
Direito, ou seja, representado pelas relações da própria sociedade, que fornece
alguns elementos como: materiais (psicológico, filosófico) e históricos (que re-
tratam a conduta do homem no tempo).
Enfim, a teoria das fontes do Direito é um instrumento de suma importância
para regular o aparecimento contínuo e plural das normas de comportamento.
Apenas para nos situarmos dentro no mundo do Direito, devemos partir das
principais vertentes que direcionam todas as especificidades positivadas pelas
normas, que são o Direito Público e o Direito Privado.
A partir dessa divisão, o Direito se organiza em face da legislação e princí-
pios básicos que norteiam cada ramo.
“Existem duas maneiras de fazer-se a distinção entre Direito Público e Privado, uma
atendendo ao conteúdo; a outra com base no elemento formal, conforme a seguir:
Quando ao conteúdo ou objeto da relação jurídica:
20 • capítulo 1
a) Quando é visado imediata e prevalecentemente o interesse geral, o Direito é público.
b) Quando for imediato e prevalecente o interesse particular, o Direito é privado.
Quanto à forma:
a) Se a relação é de coordenação, trata-se, geralmente, de Direito Privado.
b) Se a relação é de subordinação, trata-se, geralmente, de Direito Público”.
O mesmo autor ainda destaca “que toda relação jurídica é sempre um interes-
se, abrangendo tanto os bens de natureza material como os de ordem espiritual.”
Reale (2006 p. 341), continua esclarecendo que:
“Quando uma norma proíbe que alguém se aproprie de um bem alheio, não está cui-
dando apenas do interesse da vítima, mas, imediata e prevalecentemente, do interesse
social. É por esse motivo que o Direito Penal é um Direito Público, uma vez que visa a
assegurar bens essenciais à sociedade toda.
De outra forma, existem relações intersubjetivas, em virtude das quais, um dos sujeitos
tem a possibilidade de exigir de outro a prestação ou a abstenção de certo ato.Em ou-
tro momento, pode haver casos em que as duas partes interessadas se encontram no
mesmo plano, contratando ou tratando de igual para igual”.
capítulo 1 • 21
“Esse conjunto de leis jurídicas que compõem o Direito Público, por sua vez, se subdivi-
de em outros dois conjuntos de leis, surgindo, de um lado, o Direito Externo, e de outro,
o Direito Interno.
O Direito Externo trata da atividade dos países. É um conjunto de regras e, convenções
ou tratados que disciplinam as relações entre as Nações, figurando, sempre, em um de
seus pólos, o Brasil, como um país soberano, pessoa jurídica de direito público. Essas
convenções ou tratados, colocados em um livro, formam o Código Internacional Público,
que contém as normas de Direito Internacional Público.
No Direito Interno, que vigora somente dentro do país, encontra-se os diversos ramos
do Direito:
Em síntese:
1. Direito Constitucional – visa a regulamentar a estrutura básica do Estado e suas
metas, além de fixar os direitos fundamentais da pessoa humana;
2. Direito Administrativo – conjunto de regras destinadas ao funcionamento da admi-
nistração pública no que concerne às relações entre a Administração e administrados;
3. Direito Tributário – cuida da forma de instituição e arrecadação de tributos e tem por
escopo a obtenção da receita para o Estado;
4. Direito Processual – disciplina a atividades do Poder Judiciário e dos que a ele recorrem;
5. Direito Penal – visa à repressão dos delitos, é um conjunto de leis que define os
crimes e estabelece as penas.
Ainda, o Direito Privado se encontra subdividido em duas parcelas de leis: de um lado,
o Direito Comum e, de outro, o Direito Especial”.
A palavra trabalho vem do latim Tripliare, que significa martirizar com tripa-
dium, ou seja, martirizar com um chicote conhecido por possuir três pontas.
22 • capítulo 1
Assim, temos que a palavra trabalho foi conceituada, em um primeiro momen-
to, como um castigo.
Na Antiguidade Clássica, predominava o regime de escravidão, em que os
escravos realizavam seus trabalhos de uma forma árdua, como um verdadeiro
castigo. Nessa época, os escravos eram vistos como objetos de trabalho, e não
como sujeitos de direitos, não havendo quaisquer direitos trabalhistas a eles.
Os proprietários rurais não trabalhavam, não podiam trabalhar, pois eram vis-
tos como intelectuais, soberanos, enquanto que o trabalho era visto como um
castigo para os fracos, oprimidos e sem perspectiva de vida em sociedade.
Os serviços manuais exaustivos eram dados aos escravos, pois era conside-
rado impróprio e até desonroso para os homens livres. Assim, na época da es-
cravidão, não há que se falar em direito do trabalho.
Paralelamente ao trabalho do escravo havia,
sobretudo entre os romanos, aqueles que exer-
ciam uma atividade com autonomia, em regime
de liberdade, como os artesões. Suas associações
recebiam o nome de colégios romanos, provavel-
mente fundadas por Numa Pompílio, com finali-
dade religiosa e de socorro mútuo. Não se confun-
diam com os sindicatos, que são órgãos de defesa
dos interesses de determinada categoria econô-
mica, profissional, de trabalhadores avulsos, autô-
nomos e de servidores públicos (BARROS, 2009).
No Brasil, os portugueses, após o descobrimento, introduziram o regime da
escravidão: primeiro, a dos indígenas e, depois, a dos negros que eram trazidos
da África.
1.6.2 Servidão
Após a escravidão, veio a Idade Média e, juntamente com ela, o regime de servi-
dão. Porém, em se tratando de direito do trabalho, pouco se evoluiu quanto ao
regime de escravidão.
Isso porque, apesar de o servo, nessa época, ter sido reconhecido como su-
jeito, e não como objeto, a relação de trabalho do servo ainda era muito pareci-
da com a do escravo.
capítulo 1 • 23
Embora recebessem certa proteção militar e política prestada pelo senhor
feudal dono das terras, os trabalhadores também não tinham uma condição
livre. Eram obrigados a trabalhar nas terras pertencentes aos seus senhores.
Como camponeses presos às glebas que cultivavam, pesava-lhes a obrigação de
entregar parte da produção rural como preço pela fixação na terra e pela defesa
que recebiam (NASCIMENTO, 2009).
Tratava-se de tipo generalizado de trabalho, em que o indivíduo, sem ter a
condição jurídica de escravo, na realidade não dispunha de sua liberdade. Es-
tavam os servos sujeitos às mais severas restrições, inclusive de deslocamento.
Eles eram escravos alforriados ou homens livres que, diante da invasão de
suas terras pelo Estado e, posteriormente, pelos bárbaros, tiveram de recorrer
aos senhores feudais em busca de proteção. Em contrapartida, estavam obriga-
dos a pesadas cargas de trabalho e poderiam ser maltratados ou encarcerados
pelo senhor, que desfrutava até mesmo do chamado jus primae noctis, ou seja,
direito à noite de núpcias com a serva que se casasse na gleba (BARROS, 2009).
24 • capítulo 1
das corporações mais do que conferir qualquer proteção aos trabalhadores. As
corporações de ofício tinham como características: a) estabelecer uma estrutu-
ra hierárquica; b) regular a capacidade produtiva; c) regulamentar a técnica de
produção (MARTINS, 2010).
As corporações estabeleciam suas próprias leis profissionais e recebiam
privilégios concedidos pelos reis, que desejavam enfraquecer o poderio dos no-
bres senhores da terra.
Durante esse período, ainda não havia normas que regulamentassem essa
relação de trabalho, mas pode-se concluir que as corporações de ofício trou-
xeram uma maior liberdade de trabalho aos artesões, bem como algumas re-
gras trabalhistas estampadas em seus estatutos, já que esses trabalhadores
passaram também a se organizar a partir de estatutos, conforme algumas
normas referentes à organização dos trabalhos nas corporações.
capítulo 1 • 25
A Revolução Industrial ou técnico-
-econômica, transformava a liberdade
do homem em mera abstração, pois
os mais fortes depressa se tornavam
opressores por conta dos salários mui-
to baixos pagos à população operária,
que já estava esgotada pelo trabalho
brutal e pela subalimentação.
O emprego generalizado de mulheres e menores suplantou o trabalho dos
homens, pois a máquina reduziu o esforço físico e tornou possível a utilização
das “meias-forças dóceis”, não preparadas para reivindicar. Suportavam salá-
rios ínfimos, jornadas desumanas e condições de higiene degradantes, com
graves riscos de acidente (BARROS, 2009).
Nessa fase, o Estado era mero espectador – não se manifestava, pois enten-
dia que o contrato de trabalho era um acordo de vontades totalmente privado.
A lei de bronze, em vigor à época, considerava o trabalho uma mercadoria,
cujo preço era determinado pela concorrência, que tendia a fixá-lo no custo da
produção e a estabilizá-lo a um nível próximo ao mínimo de subsistência. Ana-
lisando a referida lei, Marx desenvolveu o polêmico princípio da depauperação
progressiva do proletariado, a qual apareceu ligada à acumulação do capital. Sua
doutrina contribuiu para que despertasse no trabalhador a consciência coletiva e
sua extraordinária força. As organizações de trabalhadores, adeptas da violência,
pressionaram o Poder Público exigindo uma solução para a questão social, com
a qual se preocupou também a doutrina social da Igreja, por meio da Encíclica
Rerum Novarum (1891), de Leão XIII, passando pela Quadragésimo Anno (1931) ou
pela Divini Redemptores (1931), ambas de Pio XI (BARROS, 2009).
26 • capítulo 1
te refletir no Brasil.A partir desse momento, o Estado passou a agir como órgão
de equilíbrio, destruindo diferenças entre classes e grupos, fazendo sobressair o
interesse coletivo. Passou a ser o Estado intervencionista que procurava a igual-
dade jurídica, além de assumir a figura do Estado polícia e do Estado providência.
A primeira Constituição que tratou do tema foi a do México, em 1917. O art.
123 da referida norma estabelecia jornada de oito horas, proibição de trabalho de
menores de 12 anos, limitação da jornada dos menores de 16 anos a seis horas,
jornada máxima noturna de sete horas, descanso semanal, proteção à materni-
dade, salário-mínimo, direito de sindicalização e de greve, indenização de dis-
pensa, seguro social e proteção contra acidentes de trabalho (MARTINS, 2010).
A segunda Constituição a versar sobre o assunto foi a de Weimar, de 1919.
Disciplinava a participação dos trabalhadores nas empresas, autorizando a li-
berdade de coalização dos trabalhadores; tratou, também, da representação
dos trabalhadores na empresa. Criou um sistema de seguros sociais e também
a possibilidade de os trabalhadores colaborarem com os empregadores na fixa-
ção de salários e demais condições de trabalho (MARTINS, 2010).
A partir dessas, as constituições do mundo inteiro passaram a trazer em seu
bojo normas referentes ao direito do trabalho.
CONEXÃO
O site da Organização Internacional do Trabalho (OIT) traz uma série de reportagens e artigos
sobre o direito do trabalho, em especial normas de proteção ao trabalho do menor, da mulher
e os demais avanços da legislação trabalhista. (www.oitbrasil.org.br)
capítulo 1 • 27
No período de 1893 até 1930, Getúlio Vargas criou o Ministério do Trabalho,
período este em que foram formuladas várias legislações esparsas referentes às ca-
tegorias específicas. Em 1934, foi criada a Justiça do Trabalho, devidamente insta-
lada em todo território nacional como órgão administrativo apenas em 1941.
ATENÇÃO
O que significa CLT?
A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) pode ser conceituada como uma compilação de
leis em que constam as principais normas referentes às relações individuais e coletivas entre
empregado e empregador.
É possível definir direito do trabalho como o ramo da ciência do direito que tem
por objeto as normas, as instituições jurídicas e os princípios que disciplinam as
relações de trabalho e determinam os seus sujeitos e as organizações destinadas
à proteção desse trabalho em sua estrutura e atividade (NASCIMENTO, 2009).
Na prática, podemos conceituar o direito do trabalho como um conjunto de
normas que rege e ordena as relações individuais e coletivas entre empregado
e empregador.
Ressalta-se que o direito do trabalho regulamenta somente as relações de em-
prego entre trabalhadores e empresários do setor privado, não ordenando as ou-
tras relações de trabalho, que serão objeto de estudo posteriormente.
O direito do trabalho divide-se em direito individual do trabalho, que pode
ser conceituado como um conjunto de normas referentes à relação entre em-
pregado e empregador, e direito coletivo do trabalho, que consiste no conjunto
de normas referentes às categorias de empregados e empregadores.
28 • capítulo 1
Assim, como adverte a doutrina italiana, o direito individual pressupõe uma
relação entre sujeitos de direito, considerando os interesses concretos de indi-
víduos determinados, contrariamente ao direito coletivo, que pressupõe uma
relação entre sujeitos de direito, em que a participação do indivíduo também
é considerada, mas como membro de determinada coletividade. Nesse último,
consideram-se os interesses abstratos do grupo (BARROS, 2009).
Tendo essa divisão, muito se discute entre os doutrinadores quanto à natu-
reza jurídica do direito do trabalho. Para alguns juristas, trata-se de um ramo
do direito privado, pois envolve a relação entre empregado e empregador. Para
outros, trata-se de um ramo do direito público, pois ordena a relação entre as
categorias profissionais (empregados) e econômicas (empregadores). Outros
ainda defendem uma natureza mista (híbrida), por envolver relações perten-
centes ao direito público e privado. E ainda existe uma última corrente, que
entende ser o direito do trabalho pertencente a um novo ramo do direito, cha-
mado de direito social.
Entre as características do direito do trabalho, a doutrina nacional aponta:
a) a tendência in fieri, isto é, à ampliação crescente; b) o fato de ser um direito
“tuitivo”, de reivindicação de classe; c) o cunho intervencionista; d) o caráter
cosmopolita; e) o fato de os seus institutos jurídicos mais típicos serem de or-
dem coletiva ou socializante; f) o fato de ser um direito em transição. A essas ca-
racterísticas a doutrina estrangeira acrescenta a circunstância de ser limitativo
da autonomia da vontade individual no contrato, ter como propósito principal
a tutela do trabalhador e do economicamente fraco e ordenar o mundo do tra-
balho de acordo com os princípios da dignidade humana, tendo em vista a paz
social (MORAES FILHO apud BARROS, 2009).
No entanto, prevalece o entendimento de que o direito do trabalho pertence
ao ramo do direito privado, pois regula, em sua essência, as relações entre par-
ticulares, ou seja, entre empregados e empregadores.
capítulo 1 • 29
preensão do direito. Assim, além dos princípios gerais do direito, temos princí-
pios específicos referentes ao direito do trabalho.
A própria Constituição Federal traz alguns princípios específicos do direito
do trabalho, sendo estes:
I. livre exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as
qualificações profissionais que a lei estabelecer (art. 5º, XIII);
II. liberdade sindical (art. 8º);
III. não interferência do Estado na organização sindical (art. 8º, I);
IV. direito de greve (art. 9º);
V. representação dos trabalhadores na empresa (art. 11);
VI. reconhecimento de convenções e acordos coletivos (art. 7º, XXVI);
VII. proteção em face da automação (art. 7º, XXVII);
VIII. proteção contra a dispensa arbitrária ou sem justa causa (art. 7º, I);
IX. irredutibilidade dos salários (art. 7º, VI);
X. igualdade nas relações de trabalho, decorrência do princípio geral da
igualdade; defesa do trabalhador, resultante do princípio geral da digni-
dade” (NASCIMENTO, 2009).
30 • capítulo 1
b) Princípio da norma mais favorável: havendo duas normas aplicáveis a
um caso concreto, o intérprete deve utilizar a norma mais favorável ao
empregado (teoria do conglobamento);
c) Princípio da condição mais benéfica: busca-se, na relação de emprego, a
criação de condições e regras mais benéficas ao trabalhador, como tam-
bém as vantagens já conquistadas, benéficas ao trabalhador, não podem
ser modificadas de modo a lhe trazer prejuízo.
A aplicação da norma mais favorável pode ser dividida de duas maneiras: (a)
elaboração da norma mais favorável, em que as novas leis devem dispor de ma-
neira mais benéfica ao trabalhador. Com isso, as novas leis devem tratar de criar
regras visando à melhoria da condição social do trabalhador; (b) hierarquia das
normas jurídicas: havendo várias normas a serem aplicadas numa escala hierár-
quica, deve-se observar a que for mais favorável ao trabalhador. Assim, se o adi-
cional de horas extras previsto em norma coletiva for superior ao previsto na lei
ou na Constituição, deve-se aplicar o adicional da primeira (MARTINS, 2010).
A condição mais benéfica ao trabalhador deve ser entendida como o fato de
que vantagens já conquistadas, que são mais benéficas ao trabalhador, não po-
dem ser modificadas para pior. É a aplicação da regra do direito adquirido (art.
5º, XXXVI, da Constituição ), do fato de o trabalhador já ter conquistado certo
direito, que não pode ser modificado, no sentido de se outorgar uma condição
desfavorável ao obreiro (MARTINS, 2010).
capítulo 1 • 31
1.9.3 Princípio da continuidade da relação de emprego
Segundo este princípio, o salário do empregado não pode ser reduzido, salvo
através de negociação coletiva de trabalho.
Para este princípio, o direito do trabalho prioriza a realidade fática vivida pelo
trabalhador.
No direito do trabalho, os fatos são muito mais importantes do que os docu-
mentos. Por exemplo, se um empregado é rotulado de autônomo pelo emprega-
dor, possuindo contrato escrito de representação comercial com o último, o que
deve ser observado realmente são as condições fáticas que demonstrem a existên-
cia do contrato de trabalho. Muitas vezes, o empregado assina documentos sem sa-
ber o que está assinando. Em sua admissão, pode assinar todos os papéis possíveis,
desde o contrato de trabalho até seu pedido de demissão, daí a possibilidade de
serem feitas provas para contrariar os documentos apresentados, que evidenciarão
realmente os fatos ocorridos na relação entre as partes (MARTINS, 2010).
Embora não seja específico do direito do trabalho, este princípio, por ter um ca-
ráter universal, também tem sido muito utilizado na atualidade, para a interpre-
tação das normas trabalhistas. A dignidade humana ocupa posição de destaque
32 • capítulo 1
no exercício dos direitos e deveres que se exteriorizam nas relações de trabalho e
aplica-se em várias situações, principalmente para evitar tratamento degradan-
te do trabalhador (BARROS, 2009).
O princípio do respeito à dignidade humana é hoje encontrado até mesmo
na Constituição (art. 1º, III), como um dos objetivos da República Federativa
do Brasil, um Estado Democrático de Direito. Há de se respeitar a persona-
lidade humana como um direito fundamental. O inciso X do art. 5º da Lei
Maior assegura a inviolabilidade à intimidade, à vida privada, à honra e à ima-
gem das pessoas, assegurando o direito à indenização pelo dano material ou
moral decorrente de sua violação (MARTINS, 2010).
ATIVIDADE
1. Estabeleça uma correlação entre as escolas do pensamento jurídico e as concepções
do Direito.
REFLEXÃO
Chegamos ao final do primeiro capítulo da disciplina. Com ele, você pôde entender um pouco
melhor o fenômeno do surgimento do Direito, as principais escolas que se propuseram a
explicar o pensamento jurídico, bem como a atual tendência que domina a ciência do Direito.
Na sequência, traçamos as inúmeras concepções do Direito, o que permitiu que vocês com-
preendessem que o seu surgimento pode encontrar explicação e fundamento em situações
distintas (como ciência, como justo, como norma, como faculdade e como fato social).
Em seguida, conceituamos a pessoa jurídica e citamos os exemplos das pessoas jurídicas de
direito privado e de direito público externo e interno.
Ainda, neste capítulo, analisamos a história do direito do trabalho no Brasil e no mundo. A
partir disso, pudemos entender o conceito de direito do trabalho, os princípios que regem a
relação entre empregado e empregador, bem como as principais relações de trabalho, suas
peculiaridades e características.
É importante ressaltar que nosso curso focalizará as relações de emprego e, portanto, faz-se im-
prescindível a fixação dos referidos elementos que as diferenciam das demais formas de trabalho.
capítulo 1 • 33
LEITURA
1) NADER, Paulo. Introdução ao estudo do Direito. 32 ed. Editora Forense, 2010.
O autor procura trazer nesta obra, de forma clara e precisa, os aspectos teóricos e práticos
que envolvem o Direito. Os temas relatados neste capítulo mostram-se presentes nesta obra,
de forma aprofundada, sendo ela de suma importância para um estudo complementar.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BONDIOLI, Luis Guilherme Aidar; NEGRÃO, Theotonio; GOUVÊA, José Roberto Ferreira.
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(Colaboradores). Constituição da República Federativa do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2009.
CINTRA, Antonio Carlos de Araújo, GRINOVER, Ada Pelegrini, DINAMARCO, Cândido Ran-
gel. Teoria geral do Processo. 24. ed. São Paulo: Malheiros, 2008.
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COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 1.
COMPARATO, Fábio Konder. O poder de controle na sociedade anônima. 2ª ed. São Paulo:
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lo: Saraiva, 22. ed., 2008.
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MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da Seguridade Social. São Paulo: Atlas, 2006.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 24. ed. São Paulo: Malheiros,
1999, p. 31 e 32
NASCIMENTO, Amauri Mascado do. Iniciação ao Direito do Trabalho. 35. ed. São Paulo: LTr,
2009.
NASCIMENTO, Amauri Mascado do. Iniciação ao Direito do Trabalho. 35. ed. São Paulo: LTr,
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PALAIA, Nelson. Noções essenciais de direito, 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2006.
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do. 24. ed. São Paulo: Atlas, 2004.
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REALE, Miguel. Lições preliminares de Direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
SÜSSEKIND, Arnaldo. Curso de Direito do Trabalho. 2. ed. São Paulo: Renovar, 2004.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Introdução ao estudo do Direito. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
NO PRÓXIMO CAPÍTULO
No próximo capítulo serão desenvolvidos conceitos de institutos do Direito do Trabalho,
como quem são as partes da relação de emprego, empregado e empregador, o contrato de
trabalho e o poder de direção do empregador.
Nesse momento você deve aprofundar seu conhecimento nesses tópicos que serão muito
importantes para a compreensão dos tópicos seguintes. Aproveite!
capítulo 1 • 37
38 • capítulo 1
2
Empregado e
Empregador
2 Empregado e Empregador
Neste capítulo você conhecerá as partes que negociam o contrato de trabalho e
que devem obrigações recíprocas, o empregado e o empregador.
A relação de emprego será destacada, juntamente com as características da re-
lação de emprego e do contrato de trabalho.
As demais relações de trabalho também serão mencionadas para destacar as
diferenças e possibilidades de se tornarem uma relação de emprego.
OBJETIVOS
• Conhecer as partes que compõem a relação de emprego celetista - o Empregado e o
Empregador;
• Entender quais são as características que concretizam a existência da relação de emprego;
• Verificar as espécies de empregados e de empregadores;
• Conhecer a estrutura de trabalho das cooperativas de mão de obra e o trabalho autônomo;
• Entender como se caracteriza o Contrato de Trabalho celetista;
• Conhecer a diferença de salário e remuneração, além das verbas que o compõem.
REFLEXÃO
Das caraterísticas que definem a relação de emprego?
Para que exista a vinculação empregatícia entre empregado e empregador é necessário que
sejam identificadas a subordinação, a pessoalidade, a não eventualidade e a pessoalidade
do empregado.
Caso contrário não teremos uma relação de emprego celetista.
Empregado pode ser conceituado como a pessoa física que presta serviço de na-
tureza não eventual a um empregador mediante salário e subordinação jurídica.
Esses serviços podem ser de natureza técnica, intelectual ou manual, integrantes
das mais diversas categorias profissionais ou diferenciadas (BARROS, 2009).
40 • capítulo 2
Segundo o artigo 3º da CLT, “considera-se empregado toda pessoa física
que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependên-
cia deste e mediante salário”.
Do conceito de empregado previsto na CLT, podemos especificar os requisi-
tos que caracterizam uma relação de emprego, sendo estes:
I. pessoa física;
II. subordinação jurídica;
III. continuidade;
IV. remuneração.
capítulo 2 • 41
estabelecendo-se cota de produção, determinando-se dia e hora para a entrega
do produto, qualidade da peça etc. (MARTINS, 2010).
Essa modalidade de trabalho pode oferecer algumas vantagens, como horá-
rios flexíveis e maior disponibilidade de tempo, uma vez que o trabalhador não
terá de perder tempo nas idas e voltas do trabalho, entre sua residência e o local
da prestação de serviços. Já a principal desvantagem consiste no fato de o empre-
gado encontrar-se muito isolado, o que dificulta a sindicalização, como também
a fiscalização de suas condições de trabalho pelo órgão próprio (BARROS, 2009).
Na regra, esse tipo de emprego não está sujeito ao controle de horário, tendo
em vista a dificuldade do empregador quanto à fixação deste horário.
O empregado doméstico pode ser conceituado como aquele funcionário que pres-
ta serviços não eventuais no âmbito de uma residência, sem finalidade lucrativa.
Compreendem-se no conceito de empregado doméstico não só a cozinhei-
ra, a copeira, a babá, a lavadeira, o mordomo, a governanta, mas também os
que prestam serviço nas dependências ou em prolongamentos da residência,
como jardineiro, vigia, motorista, piloto ou marinheiro particular, os caseiros
e zeladores de casas de veraneio ou sítios destinados ao recreio dos proprietá-
rios, sem qualquer caráter lucrativo (BARROS, 2009).
Na hipótese de explorar-se a atividade lucrativa tanto na residência urbana
(ex: hospedagem, consultório médico etc.) como no sítio, onde são comerciali-
zados os produtos ali produzidos (frutas, queijos etc.), o trabalhador perderá sua
condição de doméstico e será considerado empregado celetista (art. 3º da CLT)
ou rural (Lei n. 5.889/73), de acordo com a atividade desenvolvida (ABUD, 2006).
O empregado doméstico não é regido pela CLT, mas por uma lei especial,
Lei n. 5859/72. Apesar disso, ele possui os mesmos direitos trabalhistas dos em-
pregados em geral, com duas exceções: o empregado doméstico não tem sua
jornada de trabalho controlada, não fazendo jus ao pagamento de horas extras,
como também é facultativo ao empregador o depósito do FGTS do empregado.
Os direitos assegurados aos empregados domésticos (art. 7º, parágrafo úni-
co, da CF) são (ABUD, 2006):
• anotação do contrato em CTPS;
• salário-mínimo;
• irredutibilidade do salário;
42 • capítulo 2
• 13º salário;
• repouso semanal remunerado;
• gozo de férias anuais remuneradas com pelo menos um terço a mais do
que o salário normal;
• licença-maternidade e licença-paternidade;
• aposentadoria;
• vale-transporte (que deve ser fornecido em vale, e não em dinheiro, com
o desconto de 6%, que será custeado pelo empregado – Lei n. 7.619/87 e
Decreto n. 95.247/87).
CONEXÃO
Para maiores informações com relação aos direitos do empregado doméstico, o estudante
poderá acessar o site www.planalto.gov.br, onde, dentre várias legislações elencadas, encon-
tramos a Lei n. 11.324/06.
capítulo 2 • 43
Os empregados ocupantes de cargo de confiança não estão sujeitos a controle
de horário, de acordo com o contido no artigo 62, inciso II, da CLT.
44 • capítulo 2
pregado residir no mesmo local, sendo vedada, todavia, a moradia coletiva
de famílias; até 25% (vinte e cinco por cento) do salário-mínimo pelo forneci-
mento de alimentação sadia e farta, atendidos os preços vigentes na região;
f) Escola: propriedade rural com mais de 50 famílias de trabalhadores de
qualquer natureza é obrigada a manter escola primária gratuita, com
classes divididas em grupos de 40 crianças.
Diversamente do que ocorre com o estagiário (cf. art. 3º, da Lei n. 11.788 de
25.9.2008), o aprendiz é um empregado regido pelo direito do trabalho, sendo
destinatário de normas específicas da CLT.
Paralelamente à formação técnico-profissional ministrada segundo as diretri-
zes e bases da legislação em vigor, ele trabalha na empresa reunindo os pressupos-
tos do art. 3º da CLT, sendo-lhe assegurados todos os direitos de cunho trabalhis-
tas conferidos à modalidade especial de seu contrato a termo (BARROS, 2009).
Dessa forma, o menor aprendiz possui os mesmos direitos trabalhistas dos
empregados em geral, com algumas peculiaridades:
I. o contrato de trabalho deve ser por escrito e por prazo determinado;
II. o menor deve estar inscrito em programas de aprendizagem;
III. o prazo máximo do contrato de trabalho é de 2 anos, com exceção dos
menores deficientes físicos;
IV. a jornada de trabalho do menor aprendiz será de 6 horas diárias;
V. é proibido ao menor aprendiz trabalhar em ambientes insalubres e pe-
rigosos, bem como no período noturno;
VI. as férias do menor aprendiz devem coincidir com as férias escolares.
capítulo 2 • 45
CONEXÃO
Para maiores informações com relação aos programas de aprendizagem para menor aprendiz,
o estudante poderá acessar o site www.senac.br, onde encontramos vários cursos profissiona-
lizantes, a serem realizados em todo país.
46 • capítulo 2
Há, no entanto, algumas proibições ao trabalho do menor (NASCIMENTO,
2009):
a) trabalho noturno, assim considerado aquele a partir das 22 horas (CLT,
art. 404);
b) trabalho em ambiente insalubre, com periculosidade ou capaz de preju-
dicar a moralidade (CLT, art. 405);
c) trabalho em ruas, praças e logradouros públicos, salvo mediante prévia
autorização do juiz de menores (CLT, art. 405, parágrafo 2º);
d) trabalho que demande o emprego de força muscular superior a 20 qui-
los, se contínuo, ou 25 quilos, se ocasional (CLT art. 405, parágrafo 5º).
capítulo 2 • 47
2.2.8 Empregado idoso
CONEXÃO
Para maiores informações com relação às decisões ou instruções do Tribunal Superior do
Trabalho, o aluno poderá acessar o site www.tst.gov.br.
48 • capítulo 2
O Tribunal Superior do Trabalho já determinou, po meio da Súmula n. 269,
que “O empregado eleito para ocupar cargo de diretor tem o respectivo contrato
de trabalho suspenso, não se computando o tempo de serviço desse período, sal-
vo se permanecer a subordinação jurídica inerente à relação de emprego”.
O elemento fundamental para decidir se o diretor de uma sociedade é consi-
derado ou não empregado dela é a existência da subordinação. Subsistindo esse
fator, estamos diante de uma relação de emprego, e não de trabalho.
Estando o “diretor” obrigado a cumprir ordens de serviço dos superiores, so-
frendo fiscalização, penalidades e advertências, estará evidenciada a relação de
emprego. O diretor subordinado à presidência, ou à vice-presidência ou a diretor
superintendente da empresa, que praticamente decide tudo e a quem presta con-
tas, não lhe dando margem a qualquer decisão, é um verdadeiro empregado. O
mesmo ocorre se, para admitir ou dispensar funcionários, tenha o diretor de con-
sultar superiores, mostrando que não tem nenhuma autonomia (MARTINS, 2010).
capítulo 2 • 49
lidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patri-
monial, pode o juiz decidir a requerimento da parte, ou do Ministério Público
quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas
relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administra-
dores ou sócios da pessoa jurídica”.
Referida desconsideração da personalidade jurídica também ocorre com re-
lação aos débitos trabalhistas. Assim, em uma eventual reclamação trabalhista
contra uma empresa, se esta não honrar com o pagamento das verbas trabalhis-
tas, pode o juiz desconsiderar a personalidade jurídica dela, para avançar ao
patrimônio pessoal dos sócios da empresa, independente de sua razão social,
para o pagamento dos créditos trabalhistas.
Segundo a CLT, em seu artigo 449, os direitos oriundos da existência do
contrato de trabalho subsistirão em caso de falência, concordata ou dissolução
da empresa, sendo que, na falência, constituirão créditos privilegiados a totali-
dade dos salários devidos ao empregado e a totalidade das indenizações a que
tiver direito, até o limite de 150 salários mínimos.
50 • capítulo 2
pregado são a advertência e a suspensão disciplinar. Aos atletas profissionais
também é possível a aplicação de pena de multa.
Embora não previsto na CLT, é permitido à empresa punir o empregado
por meio de uma advertência. Trata-se de uma forma de punição branda, que
não acarreta ao empregado qualquer perda salarial, trazendo tão somente um
aspecto moral e uma forma de o empregador informar o empregado que este
praticou um ato de indisciplina.
Já a suspensão acarreta, além da impossibilidade de trabalhar durante de-
terminados dias, a perda salarial equivalente aos dias de suspensão e, ainda,
aos do repouso semanal. A CLT, em seu artigo 474, prevê a possibilidade de
suspensão do trabalho do empregado, em um prazo máximo de 30 dias.
Não é necessário, contudo, que haja gradação nas punições do empregado. O
empregado poderá ser dispensado diretamente, sem antes ter sido advertido ou
suspenso, desde que a falta por ele cometida seja realmente grave. O melhor seria
que, na primeira falta, o empregado fosse advertido verbalmente; na segunda, fos-
se advertido por escrito; na terceira, fosse suspenso; na quarta, fosse demitido. O
empregador só estará obrigado a primeiro advertir e depois suspender se houver
norma coletiva ou previsão do regulamento interno da empresa (MARTINS, 2010).
O empregador não pode punir o empregado com multa, salvo em se tratan-
do de atletas profissionais.
Vale ressaltar também que atos de indisciplina podem acarretar ainda a dis-
pensa do empregado por justa causa, de acordo com o artigo 482, alínea h, da CLT.
O poder diretivo da empresa, todavia, não é potestativo, nem pode ser exer-
cido de forma ilimitada; antes, está efetivamente adstrito aos limites do contra-
to, bilateral, e à dignidade humana. A finalidade basilar do direito do trabalho
é a de assegurar o respeito à dignidade do trabalhador, privilegiando a humani-
zação do trabalho, que não pode ser encarado como simples fator de produção
(SCHWARZ, 2007).
O estado de subordinação do empregado ao empregador, portanto, deve
restringir-se ao local de trabalho e às atividades contratadas ao empregado,
não se estendendo às demais esferas da sua vida. O empregado pode, diante
do abuso do poder diretivo patronal, exercer o legítimo direito de resistência,
recusando-se a cumprir ordens que extrapolem o conteúdo de suas atividades
normais. Mais do que isso, a gravidade da violação do direito do trabalhador,
perpetrada pelo empregador, poderá importar a extinção contratual por culpa
do empregador (SCHWARZ, 2007).
capítulo 2 • 51
2.4.1 Revista pessoal
2.4.2 Internet
52 • capítulo 2
2.4.3 Direitos da personalidade
ATENÇÃO
O que significa assédio moral?
Toda e qualquer conduta abusiva do empregador, através de palavras ou atos, que atentem a
dignidade, a honra, a boa fama e o caráter do empregado, com o intuito principal de prejudicar
suas atividades laborais ou ainda forçá-lo a pedir dispensa da empresa.
capítulo 2 • 53
A doutrina diferencia agressão moral de assédio moral. Agressão moral se-
ria um único ato contra a dignidade do empregado, enquanto que o assédio
moral seria a reiteração de agressões morais, ou seja, de atos contra a dignidade
do empregado.
Importante ressaltar que qualquer prática nesse sentido permite ao empre-
gado dar por reincidido o contrato de trabalho, por culpa do empregador, fa-
zendo jus a todas as verbas rescisórias equivalentes à dispensa sem justa causa,
bem como eventual indenização pelos dano morais ou materiais sofridos.
54 • capítulo 2
da relação processual e constem também do título executivo judicial
(art. 71 – da Lei n. 8.66, de 21.6.1993).
capítulo 2 • 55
2.6 Grupo e sucessão de empresas
Segundo a CLT, em seu artigo 2º, parágrafo 2º, “sempre que uma ou mais empresas,
tendo, embora, cada uma delas, personalidade jurídica própria, estiverem sob direção,
controle ou administração de outra, constituindo grupo industrial, comercial ou de qual-
quer outra atividade econômica, serão, para os efeitos da relação de emprego, solidaria-
mente responsáveis a empresa principal e cada uma das subordinadas”.
ATENÇÃO
Com relação à sucessão de empresas, segundo o artigo 10 da CLT, “qualquer alteração na
estrutura jurídica da empresa não afetará os direitos adquiridos por seus empregados”. E
ainda, o artigo 448 também da CLT, reforça que “a mudança na propriedade ou na estrutura
jurídica da empresa não afetará os contratos de trabalho dos respectivos empregados”.
56 • capítulo 2
Para caracterização da sucessão trabalhista, é necessária, portanto, a trans-
ferência total ou parcial da unidade econômico-jurídica, que continua a ser ex-
plorada pelo novo proprietário. A sucessão de empresas supõe, assim, a efetiva
substituição dos sujeitos de uma relação jurídica: a transferência do acervo,
como organização produtiva, impõe que o novo titular do empreendimento res-
ponda, em regra, pelos contratos de trabalho concluídos pelo antigo, a quem
sucede, sendo irrelevante que o empregado tenha prestado ou não serviços ao
sucessor, já que esse assume o passivo trabalhista do acervo (SCHWARZ, 2007).
A sucessão trabalhista provoca a automática transferência de direitos e obriga-
ções contratuais. O novo titular sub-roga-se nos direitos e nas obrigações do ante-
rior, passando a responder, imediatamente, pelas repercussões presentes, futuras
e passadas dos contratos de trabalho que lhe foram transferidos (ABUD, 2006).
Eventual acordo ou convenção realizado entre o sucessor e o sucedido, com
o objetivo de excluir direitos dos trabalhadores, não tem qualquer valor jurí-
dico. Nesse contexto, a cláusula que disponha que o antigo proprietário, suce-
dido, deverá arcar com os débitos trabalhistas existentes até a data da trans-
ferência do acervo não tem qualquer valor para o direito do trabalho, ficando
resguardado ao sucessor, demandado pelo pagamento de dívidas trabalhistas,
apenas o direito de regresso contra o antigo proprietário (SCHWARZ, 2007).
Há, todavia, pelo menos duas exceções à regra segundo a qual o novo titular
do empreendimento responde pelos contratos de trabalho concluídos pelo an-
tigo, a quem sucede (SCHWARZ, 2007):
a) Em caso de desmembramento de municípios, o novo município criado
responde pelos direitos trabalhistas dos respectivos empregados apenas
a partir do período em que figurar como real empregador; em relação aos
direitos trabalhistas adquiridos pelo empregado no período anterior ao
desmembramento, o antigo município mantém-se responsável;
capítulo 2 • 57
2.7 A atividade empresarial
Uma das grandes inovações trazidas pelo novo Código Civil Brasileiro é a ado-
ção da teoria da empresa, também conhecida como teoria subjetivista ou teo-
ria italiana, em homenagem ao Código Italiano de 1943, que, primeiramente,
adotou esta sistematização. A teoria da empresa é tida como uma evolução le-
gislativa, pois é sucessora da teoria francesa dos atos de comércio. Em nosso
ordenamento jurídico atual, a empresa encontra abrigo no texto legal do artigo
966 do Código Civil.
Como bem observado pelos doutrinadores, o legislador pátrio não definiu ex-
pressamente o termo empresa, optando em conceituar o empresário.
Porém, interpretando o referido texto legal, podemos extrair o significado
de atividade empresarial.
Deste modo, atividade empresarial é toda atividade econômica organizada
para a produção de bens, circulação de bens ou prestação de serviços.
ATENÇÃO
Lucro: É o ganho financeiro produzido pela diferença entre a somatória de recursos financei-
ros obtidos no mercado e as despesas oriundas da atividade.
58 • capítulo 2
portanto, o fato de desenvolver uma atividade econômica não enseja a uma pes-
soa jurídica o status de empresária.
Necessariamente, as sociedades devem se dedicar a uma atividade de cará-
ter organizacional dos fatores produtivos. Isto significa que é preciso reunir ca-
pital, bens, mão de obra e tecnologia e dar a estes elementos uma organização
para atingir a sua finalidade de mercado.
Por último, a sociedade empresária, através de sua atividade econômica or-
ganizada, servirá o mercado com a produção de bens (indústria), a circulação
de bens (comércio) ou a prestação de serviços.
capítulo 2 • 59
Na cooperativa, há uma sociedade entre os cooperados, os quais atuam em
prol de um objetivo comum. Inclusive o próprio Código Civil de 2002, em seu
artigo 1096, aplica às cooperativas as normas referentes à sociedade simples.
Nesse sentido, os associados, além de prestar serviços, devem ser beneficiados
pelos serviços prestados pela cooperativa.
2.8.1 Características
60 • capítulo 2
Se existir o elemento subordinação, surge a figura do empregado; caso contrário, será au-
tônomo o trabalhador. Este trabalhará por conta própria, enquanto o empregado trabalhará
por conta alheia (do empregador). O trabalhador autônomo é independente, enquanto o
empregado é dependente do empregador, subordinado. Se os riscos de sua atividade são
suportados pelo trabalhador, será autônomo; se os riscos são suportados por outra pessoa,
o empregador, será considerado empregado. Muitas vezes, verifica-se quem é o possuidor
das ferramentas de trabalho; se são do trabalhador, será considerado autônomo; se são da
empresa, será considerado empregado. Este último fato não resolve a questão, pois o traba-
lhador poderá trabalhar com sua colher de pedreiro, sua caneta, ou sua máquina, e mesmo
assim será considerado empregado, assim como o eletricista poderá usar as ferramentas da
empresa, por não as possuir, continuando a ser trabalhador autônomo (MARTINS, 2010).
Negócio jurídico expresso ou tácito mediante o qual uma pessoa natural obri-
ga-se, perante pessoa natural, jurídica ou ente despersonificado, a uma presta-
ção pessoal, não eventual, subordinada e onerosa de serviços.
A CLT, em seu artigo 442, define contrato de trabalho apenas como acordo
tácito ou expresso, correspondente à relação de emprego.
2.10.3 Características
capítulo 2 • 61
2.10.3.2 Contrato consensual
É aquele que, em regra, não se sujeita a formalidades imperativas, pode ajustar-
se tacitamente inclusive, sem necessidade de nenhuma manifestação expressa
das partes contratuais. Como exceções, podemos destacar os contratos do atle-
ta profissional de futebol e do artista profissional, que necessitam de formali-
dade prevista em lei para sua validade.
2.10.3.7 Alteridade
Refere-se ao risco inerente à prestação de serviços e a seu resultado, além dos
riscos do próprio empreendimento empresarial. Todos são estranhos à figura do
empregado, recaindo sobre o adquirente de tais serviços (empregador).
62 • capítulo 2
2.10.3.8 Contrato complexo
Pode acompanhar outros contratos acessórios a ele, por exemplo os contratos de
depósito de instrumentos de trabalho, os de comodato de imóveis residenciais,
os de mandato etc.
Importante destacar que, a concessão de curso de especialização ou bolsa
de estudo custeada pelo empregador poderá assegurar cláusula estabelecendo
obrigação de permanência do emprego na empresa, após o retorno e por deter-
minado período, sob pena de ressarcimento de dano, na forma do art. 444 da
CLT (MARTINS, 2010).
A exclusividade, porém, não é uma característica essencial do contrato de
trabalho, podendo assim o empregado possuir mais de um contrato de traba-
lho, desde que os horários sejam compatíveis entre si.
Como condição de validade do contrato de trabalho, nos termos do artigo
104 do Código Civil, tem: a existência de agente capaz, objeto lícito e forma
prescrita ou não defesa em lei.
capítulo 2 • 63
2.10.5 Classificação dos contratos de trabalho
64 • capítulo 2
ATENÇÃO
A CLT, em seu artigo 443, parágrafo 1º, considera como de prazo determinado o contrato de
trabalho cuja vigência dependa de termo prefixado ou da execução de serviços especificados
ou ainda da realização de certo acontecimento suscetível de previsão aproximada.
Características:
a) prazo máximo de 2 (dois) anos, com exceção do contrato de experiência,
que possui um prazo máximo de 90 (noventa) dias;
b) poderá ser prorrogado uma única vez, respeitando, porém, o seu prazo
máximo;
c) desrespeito quanto aos prazos será automaticamente convertido em
contrato por prazo indeterminado;
d) não é permitida a realização de um novo contrato de trabalho por pra-
zo determinado com o mesmo empregador em um período inferior a 6
(seis) meses, com relação ao contrato anterior.
e) as normas referentes à estabilidade no emprego, em regra, não são váli-
das para os contratos por prazo determinado.
Segundo o artigo 479 da CLT, nos contratos que tenham termo estipulado,
o empregador que, sem justa causa, despedir o empregado, será obrigado a pa-
gar-lhe, a título de indenização, e por metade, a remuneração a que teria direito
até o termo do contrato.
capítulo 2 • 65
São considerados contratos por prazo determinado, além do contrato de ex-
periência, o contrato de safra, de atleta profissional, de aprendizagem, de em-
pregados em geral, desde que em caráter provisório e de empregado admitido
acima do quadro fixo da empresa.
66 • capítulo 2
Na hipótese de ruptura pelo empregador, sem justa causa, antes do término
do contrato de safra, autoriza-se o levantamento do FGTS, acrescido de 40%,
nos termos do art. 14 do Decreto n. 99.684, de 1990, sem prejuízo do disposto
no art. 479 da CLT, isto é, asseguram-se, ainda, os salários do tempo restante do
contrato pela metade (BARROS, 2009).
capítulo 2 • 67
2.10.6.6 Contrato com base na Lei n. 9.601/98
A Lei n. 9.601/98 autorizou a criação, por meio de convenções ou acordos cole-
tivos de trabalho, de um novo tipo de contrato de trabalho por prazo determi-
nado para admissões que representem acréscimo no número de empregados
efetivos, sendo vedada, porém, a substituição dos funcionários regularmente
contratados por prazo indeterminado.
ATENÇÃO
O que significa trabalho temporário?
Segundo o artigo 2º da Lei n. 6019/74, trabalho temporário é aquele prestado por pessoa
física a uma empresa, para atender à necessidade transitória de substituição de seu pessoal
regular e permanente ou a acréscimo extraordinário de serviços.
O contrato de trabalho por prazo indeterminado é aquele em que não foi es-
tabelecido um prazo ou um termo final, prolongando-se no tempo de forma
contínua e indefinida. Trata-se da regra geral prevista na CLT.
68 • capítulo 2
2.10.8 Alteração nas condições de trabalho
ATIVIDADE
1. Descreva e explique as características que definem a existência de uma relação de emprego.
REFLEXÃO
Neste capítulo, estudamos os principais aspectos legais relacionados às partes que com-
põem a relação de emprego e ao contrato de trabalho.
Foram delineadas as características da relação de emprego e ainda todas as possíveis formas de
relação de trabalho que não se constituem em forma celetista, se respeitados os preceitos legais.
capítulo 2 • 69
LEITURA
Livro: Manual de salários e benefícios
Autor: Aristeu de Oliveira
Editora: Atlas
Essa obra visa elucidar ao profissional de Recursos Humanos, de departamento de pessoal ou
de gestão de pessoas, as principais normas trabalhistas referentes a salário e remuneração.
Todas as normas referentes a salário, tipos de salário, encargos, remuneração e adicionais são
visualizadas nessa obra, de uma forma didática e profissional, contribuindo para a formação dos
profissionais destas áreas. O autor apresenta também cálculos e modelos de termos de res-
ponsabilidade, referentes à escala de sobreaviso. Dispõe, ainda, sobre os principais benefícios
concedidos em uma relação de emprego, examinados à luz da legislação trabalhista.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABUD, Fabíola Marques Cláudia José. Direito do Trabalho. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2006.
BARROS, Alice Monteiro. Curso de Direito do Trabalho. 5. ed. São Paulo: LTr, 2009.
BONDIOLI, Luis Guilherme Aidar; NEGRÃO, Theotonio; GOUVÊA, José Roberto Ferreira.
Código de Processo Civil e legislação processual em vigor. 42. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
CÉSPEDES, Lívia, PINTO, Antonio Luiz de Toledo, WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos
(Colaboradores). Constituição da República Federativa do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2009.
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 7. ed. São Paulo: LTr, 2008.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Nova Fron-
teira: Rio de Janeiro, 1983.
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 26. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
70 • capítulo 2
NASCIMENTO, Amauri Mascado do. Iniciação ao Direito do Trabalho. 35. ed. São Paulo: LTr, 2009.
SÜSSEKIND, Arnaldo. Curso de Direito do Trabalho. 2. ed. São Paulo: Renovar, 2004.
NO PRÓXIMO CAPÍTULO
No próximo capítulo serão apresentados tópicos relevantes utilizadas na prática do Direito do
Trabalho como a alteração nas condições de trabalho, a transferência de empregado, a pres-
crição dos direitos trabalhistas e os conhecimentos sobre a jornada de trabalho previstos
pelas CLT. Também veremos a interrupção e a suspensão do contrato de trabalho.
Aprofundem-se nos temas e bom trabalho.
capítulo 2 • 71
3
Prescrição dos
Direitos
Trabalhistas e
Jornada de Trabalho
3 Prescrição dos Direitos Trabalhistas e
Jornada de Trabalho.
OBJETIVOS
• Entender a transferência do empregado e a interrupção e suspensão do contrato;
• Apreender a jornada de trabalho e o repouso semanal remunerado;
• Verificar o conceito e os prazos referentes à prescrição aplicada aos direitos trabalhistas;
REFLEXÃO
Você está lembrado do contrato de trabalho e suas características? Vale ressaltar que o conte-
údo que você estudará neste capítulo está adstrito apenas aos contratos de trabalho celetistas.
3.1 Prescrição
“Art. 7º... XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com
prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de
dois anos após a extinção do contrato de trabalho;...”
74 • capítulo 3
Funcionário trabalhou de 02/05/2000 até 02/05/2005.
Ajuizou a ação trabalhista em 02/04/2007 (um mês antes de terminar o prazo de 2
anos para a propositura da ação), seus direitos quanto aos pedidos serão dos cinco
anos anteriores ao ajuizamento da ação, ou seja, seus direitos serão analisados pelo
juízo apenas, a partir de 02/04/2002.
capítulo 3 • 75
Os exemplos mais comuns de empregados que têm cláusula implícita de
transferência em seus contratos de trabalho são: o aeronauta, o ferroviário, o
motorista rodoviário, o vendedor viajante, o marítimo, o atleta profissional, o
artista de teatro, de circo e até mesmo o trabalhador da construção civil, pois é
inerente à atividade empresarial, em decorrência da construção de várias obras
em locais diversos (MARTINS, 2010).
Cumpre ressaltar ainda que, em se tratando de transferência definitiva, não
há o pagamento do adicional de transferência de 25%.
76 • capítulo 3
O artigo 473 da CLT traz também outras hipóteses de interrupção do con-
trato de trabalho, em se tratando de faltas justificadas, tais como falta de até
2 (dois) dias consecutivos, em caso de falecimento de um familiar, ou de até 3
(três) dias consecutivos, em virtude de casamento, dentre outros.
Salienta-se mais uma vez que, nos casos de acidente de trabalho e prestação
do serviço militar, apesar de não haver pagamento de salário, o afastamento
será computado como tempo de serviço, bem como será devido o pagamento
do FGTS do empregado.
Importante ressaltar que, durante o período de suspensão ou interrupção
do contrato de trabalho, o empregado não poderá ser dispensado, salvo por jus-
ta causa ou encerramento da empresa.
capítulo 3 • 77
3.4 Da jornada de trabalho
ATENÇÃO
Qual o conceito de jornada de trabalho?
Jornada de trabalho pode ser conceituada como o tempo em que o empregado fica à dispo-
sição do empregador, trabalhando ou aguardando ordens.
78 • capítulo 3
3.4.1 Dos cartões de ponto
capítulo 3 • 79
ATENÇÃO
O que significa acordo de prorrogação de horas?
Ajuste de vontade feito pelas partes para que a jornada de trabalho possa ser elastecida
além do limite legal, mediante o pagamento de adicional de horas extras. O acordo pode ser
feito por prazo determinado ou indeterminado (MARTINS, 2010).
A Constituição de 1988 assegura jornada de seis horas aos empregados que tra-
balham em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociações coletivas,
que poderá fixá-la em número superior (art. 7º, XIV, da Constituição da Repú-
blica de 1988 – Orientação Jurisprudencial n. 169, da SDI-1 do TST).
80 • capítulo 3
Turno ininterrupto de revezamento é o que pressupõe trabalho em horários
com sucessivas modificações, em atividade empresarial contínua. A redução de
jornada, nesse caso, impõe-se porque a alternância de horário prejudica o me-
tabolismo humano (BARROS, 2009).
Nesse sentido, segundo a orientação do Tribunal Superior do Trabalho (OJ
n. 275, da SDI-1 do TST), inexistindo instrumento coletivo fixando jornada di-
versa, o empregado horista submetido a turno ininterrupto de revezamento faz
jus ao pagamento das horas extraordinárias laboradas além da 6ª, bem como
ao respectivo adicional.
ATENÇÃO
O que significa acordo de compensação da jornada de trabalho?
Acordo de compensação da jornada de trabalho pode ser conceituado como o acordo por
escrito, realizado entre empregado e empregador, com a finalidade de admitir a compensa-
ção do aumento da carga horária de 1 (um) dia, pela diminuição em outro dia, dispensando
o acréscimo de salário.
capítulo 3 • 81
Importante destacar também que a prestação de horas extras habituais des-
caracteriza o acordo de compensação de jornada. Nesta hipótese, as horas que
ultrapassarem a jornada semanal normal deverão ser pagas como horas extra-
ordinárias e, quanto àquelas destinadas à compensação, deverá ser pago a mais
apenas o adicional por trabalho extraordinário (Súmula n. 85, IV, do TST).
O acordo de compensação pode ser realizado por todos os empregados em
geral, com exceção dos contratos por tempo parcial e de aprendiz. Os emprega-
dos em atividades insalubres e perigosas poderão realizar acordo de compen-
sação de jornada, mediante autorização prévia do Ministério do Trabalho ou
previsão em convenção coletiva de trabalho.
Para término de serviços que devem ser concluídos na mesma jornada, a fim de evi-
tar prejuízos (complementação de voo para o aeronauta, L. 7.183/84, art. 27, § 3º):
• a soma das horas normais e da prorrogação não pode ultrapassar 12 ho-
ras (CLT, art. 61, § 2º, segunda parte);
82 • capítulo 3
• é desnecessário acordo, mas deve ser comunicado ao Ministério do Tra-
balho em 10 dias (CLT, art. 61, § 1º);
• é cabível a todos os empregados, exceto aos menores (CLT, art. 413) e aos
aprendizes (CLT, art. 432 caput).
capítulo 3 • 83
3.4.9 Horas in itinere
CONEXÃO
Para maiores informações com relação às decisões ou instruções do Tribunal Superior do Tra-
balho, em especial com relação às horas in itinere, o aluno poderá acessar o site www.tst.gov.br.
84 • capítulo 3
3.4.10 Horas de sobreaviso
capítulo 3 • 85
terá início a jornada seguinte. Encontrando-se o empregado em regime de ho-
ras extras, o intervalo de 11 horas só terá início após a última hora extraordiná-
ria acaso trabalhada (BARROS, 2009).
A CLT, em seu artigo 71, dispõe que, “em qualquer trabalho contínuo, cuja du-
ração exceda seis horas, é obrigatória a concessão de um intervalo para repouso
ou alimentação, o qual será, no mínimo, de uma hora e, salvo acordo escrito ou
contrato coletivo de trabalho, não poderá exceder duas horas”.
Quando a jornada de trabalho for superior a 4 (quatro) e inferior a 6 (seis) ho-
ras, será concedido um intervalo de 15 (quinze) minutos (art. 71, parágrafo 1º da
CLT), sendo que, nos serviços de mecanografia, a cada período de 90 (noventa)
minutos, será concedido um intervalo de 10 (dez) minutos (art. 72 da CLT).
Os intervalos intrajornadas não serão computados na jornada de trabalho,
sendo que, em caso de qualquer violação a eles, restará obrigado o pagamento
de horas extras com o seu respectivo adicional.
Cumpre ressaltar também que a Orientação Jurisprudencial n. 342 da SDI-1 do
TST dispõe ser “invalida cláusula de acordo ou convenção coletiva de trabalho con-
templando a supressão ou redução do intervalo intrajornada porque este constitui
medida de higiene, saúde e segurança do trabalho, garantido por norma de ordem
pública (art. 71 da CLT e art. 7º, XXII, da CF/88), infenso à negociação coletiva”.
86 • capítulo 3
concedido o repouso, fará jus o empregado ao seu pagamento em dobro (Sú-
mula n. 146 do TST).
O repouso semanal remunerado deverá ocorrer preferencialmente aos do-
mingos, mas não obrigatoriamente. Assim, as empresas legalmente autoriza-
das a funcionar aos domingos são obrigadas a organizar escalas de revezamen-
to, a fim de que cada empregado usufrua de pelo menos um domingo de folga
no mês, sendo as restantes em outros dias da semana (BARROS, 2009).
Nas atividades do comércio também está autorizado o trabalho aos domin-
gos, devendo o repouso semanal, pelo menos uma vez por mês, coincidir com o
domingo (art. 6º da Lei n. 10.101/00).
ATIVIDADE
3. O que ocorre com a empresa que não concede ao empregado o direito às férias adqui-
ridas após o período aquisitivo?
REFLEXÃO
Neste capítulo, estudamos os principais aspectos legais relacionados ao contrato de trabalho.
LEITURA
Livro: Jornada de trabalho e a compensação de horários
Autora: Claudia José Abud
Editora: Atlas
Essa obra procura descrever detalhadamente a legislação trabalhista quanto à jornada de
trabalho e ao acordo de compensação de horas. Traz um estudo sobre o instituto da duração
do trabalho e sua flexibilidade para, depois, analisar a validade ou não dos acordos de com-
pensação de horas, também chamado de banco de horas. No início da obra, a autora traz um
panorama da jornada de trabalho no Brasil e no mundo, e, na segunda parte, discorre sobre
a substituição das horas extras pelo acordo de compensação de horas.
capítulo 3 • 87
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABUD, Fabíola Marques Cláudia José. Direito do Trabalho. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2006.
BARROS, Alice Monteiro. Curso de Direito do Trabalho. 5. ed. São Paulo: LTr, 2009.
CÉSPEDES, Lívia, PINTO, Antonio Luiz de Toledo, WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos
(Colaboradores). Constituição da República Federativa do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2009.
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 7. ed. São Paulo: LTr, 2008.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Nova Fron-
teira: Rio de Janeiro, 1983.
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 26. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
NASCIMENTO, Amauri Mascado do. Iniciação ao Direito do Trabalho. 35. ed. São Paulo: LTr, 2009.
SÜSSEKIND, Arnaldo. Curso de Direito do Trabalho. 2. ed. São Paulo: Renovar, 2004.
NO PRÓXIMO CAPÍTULO
O próximo passo de estudos será o aprofundamento.
88 • capítulo 3
4
Remuneração, Férias
e Aviso Prévio
4 Remuneração, Férias e Aviso Prévio
Este é o momento de você analisar as verbas que fazem parte da remuneração
paga ao empregado, considerando a perspectiva da equiparação salarial.
Ainda, serão abordados os conteúdos relativos às Férias, instituto muito impor-
tante do Direito do Trabalhador.
OBJETIVOS
• Conhecer detalhes sobre as férias.
• Conhecer o instituto do Aviso Prévio e suas especificações.
• Conhecer detalhes sobre o FGTS.
REFLEXÃO
Você se lembra das Convenções Coletivas de Trabalho que são aplicadas às categorias de
trabalho específicas.
Exatamente, são documentos que valem como normas específicas para determinada categoria,
desde que negociadas, juntamente, pelos sindicatos dos empregados e dos empregadores.
Esses documentos são considerados normas legais para cada categoria que a negocia, in-
cluindo, principalmente, direitos relacionados a remuneração, férias e Aviso prévio.
90 • capítulo 4
O salário corresponde a toda prestação pecuniária, em dinheiro ou cujo valor nele se
possa exprimir, devida ao empregado pelo empregador, relativa à retribuição do traba-
lho prestado ou simplesmente à sua condição de empregado. É o conjunto de paga-
mentos feitos pelo empregador ao empregado, em decorrência do contrato de trabalho,
seja como contraprestação do serviço, seja em razão da disponibilidade do trabalhador,
das interrupções contratuais ou por força de lei (SCHWARZ, 2007).
O salário pode ser livremente estipulado (CLT, art. 444), respeitadas as regras de
proteção (o mínimo fixado por lei, acordo ou convenção coletivos, a irredutibili-
dade, a imodificabilidade etc). As formas mais comuns de fixação do salário são:
capítulo 4 • 91
4.1.3.2 Por unidade de produção
Calculado proporcionalmente à produção desenvolvida pelo empregado; é
muito comum na indústria de vestuário (salário por peça) e na lavoura (por uni-
dade de colheita).
Segundo o artigo 459 da CLT, o pagamento do salário, qualquer que seja a mo-
dalidade do trabalho, não deve ser estipulado por período superior a um mês,
salvo o que concerne a comissões, percentagens e gratificações.
O pagamento estipulado por mês deverá ser realizado até o 5ª dia útil subse-
quente ao trabalhado (parágrafo único do artigo 459 da CLT).
Além do pagamento do salário em utilidades, conforme descrito acima, a CLT
dispõe, também, quanto a outras formas de pagamento do salário, tais como:
92 • capítulo 4
Exceção: técnico estrangeiro (cujo salário pode ser estipulado em moe-
da estrangeira, mas deve ser pago em moeda nacional, DL 691/69, art. 1º e
3º) e empregado transferido para o exterior (cujo salário pode ser estipulado
em moeda nacional e pago total ou parcialmente em moeda estrangeira, L.
7.064/82, art. 5º).
Afora tais exceções, o pagamento em moeda estrangeira presume-se não re-
alizado (CLT, art. 463, par. único).
Pelo menos 30% do salário deve ser pago em dinheiro (CLT, art. 82, par. úni-
co; SDC 18).
O pagamento deve ser efetuado contra recibo (CLT, art. 464), em dia útil e no
local de trabalho, dentro do horário de serviço ou imediatamente após o encer-
ramento deste (CLT, art. 465).
4.1.4.3 Em cheque
Desde que o empregado concorde e o empregador situe-se no perímetro urba-
no, o pagamento pode ser efetuado em cheque emitido em favor do empregado
(salvo se este for analfabeto), devendo ser assegurados horário e meios de loco-
moção para o saque (Portaria TEM 3.281/84).
capítulo 4 • 93
A habitação e a alimentação fornecidas como salário-utilidades deverão
atender aos fins a que se destinam e não poderão exceder, respectivamente, a
25% (vinte e cinco por cento) e 20% (vinte por cento) do salário contratual (pará-
grafo 3º, do artigo 458 da CLT).
Também são consideradas salariais as utilidades fornecidas habitualmente e
gratuitamente ao empregado, e que possuem um valor econômico.
O vale-refeição, fornecido por força do contrato de trabalho e fornecido de
forma gratuita, tem caráter salarial, integrando a remuneração do empregado,
para todos os efeitos legais (Súmula n. 241 do TST).
Não serão considerados como salário os equipamentos ou vestimentas ce-
didos ao funcionário para a execução do seu trabalho, da mesma que não é per-
mitido o pagamento do salário com drogas nocivas ou bebidas alcoólicas
Segundo a CLT, em seu artigo 458, parágrafo 2º, não serão considerados como
salário as seguintes utilidades concedidas pelo empregador:
V. vestuários, equipamentos e outros acessórios fornecidos aos emprega-
dos e utilizados no local de trabalho, para a prestação do serviço;
VI. educação, em estabelecimento de ensino próprio ou de terceiros, com-
preendendo os valores relativos a matrícula, mensalidade, anuidade
livros e material didático;
VII. transporte destinado ao deslocamento para o trabalho e retorno, em
percurso servido ou não por transporte público;
VIII. assistência médica, hospitalar e odontológica, prestada diretamente
ou mediante seguro-saúde;
IX. seguros de vida e de acidentes pessoais;
X. previdência privada.
94 • capítulo 4
tação concedida em decorrência de prestação de horas extras tem natureza in-
denizatória e, por isso, não integra o salário do empregado bancário (Orienta-
ção Jurisprudencial n. 123 da SDI-1 do ST) (BARROS, 2009).
Habitação, energia elétrica e veículo fornecidos pelo empregador ao empre-
gado, quando indispensáveis para a realização do trabalho, não tem natureza
salarial, ainda que, no caso do veículo, seja ele utilizado pelo empregado tam-
bém em atividades particulares (Súmula n. 367, I, do TST).
4.1.7 Vale-transporte
O vale-transporte não tem natureza salarial, por força de lei. O empregado, para
receber o vale-transporte, deve comprovar a existência dos requisitos indispen-
sáveis ao recebimento dele.
CONEXÃO
Para maiores informações com relação ao vale-transporte, o estudante poderá acessar o
site www.planalto.gov.br, onde, dentre várias legislações elencadas, encontramos a Lei n.
7.418/85, que institui o vale-transporte e traz outras providências.
4.1.8.1 Salário-mínimo
O salário-mínimo é fixado por lei e garantido a todo trabalhador.
Quando o salário for ajustado por empreitada, ou convencionado por tarefa
ou peça, será garantida ao trabalhador uma remuneração diária nunca inferior
a do salário-mínimo por dia normal da região, zona ou subzona (CLT, art. 77).
capítulo 4 • 95
ATENÇÃO
Salário-mínimo é a contraprestação mínima devida e paga diretamente pelo empregador
a todo trabalhador, inclusive ao trabalhador rural, sem distinção de sexo, por dia normal de
serviço, e capaz de satisfazer, em determinada época e região do país, às suas necessidades
normais de alimentação, habitação, vestuário, higiene e transporte (CLT, art. 76).
96 • capítulo 4
4.1.8.4 Salário normativo
É o equivalente ao piso salarial fixado por sentença normativa proferida em dis-
sídio coletivo de natureza econômica, pelos Tribunais Regionais ou pelo Tribu-
nal Superior do Trabalho.
4.1.9.1 Abono
Constitui adiantamento em dinheiro ou antecipação salarial.
4.1.9.2 Adicional
É o acréscimo salarial que tem como causa o trabalho em condições mais gra-
ves. Os adicionais legais mais comuns são:
Segundo o parágrafo primeiro do artigo 457 da CLT, integram o salário não
só a importância fixa estipulada, como também comissões, percentagens, gra-
tificações ajustadas, diárias para viagem e abonos pagos pelo empregador.
No direito do trabalho, temos os adicionais de horas extras, de trabalho no-
turno, de trabalho em condições insalubres e perigosas e de transferência. Os
adicionais de horas extras, de trabalho noturno e de transferência serão obje-
to de estudo em outras unidades. Dessa forma, mostra-se imperioso explicitar
aqui os adicionais de insalubridade e periculosidade.
capítulo 4 • 97
A título de exemplo, a limpeza em residências e escritórios e a respectiva
coleta de lixo não podem ser consideradas atividades insalubres, ainda que
constatada a insalubridade por laudo pericial, porque não se encontram clas-
sificadas na Portaria do Ministério do Trabalho (Orientação Jurisprudencial n.
4, inciso I e II, da SDI-1 do TST). Igualmente, em face da ausência de previsão
legal, é indevido o adicional de insalubridade ao trabalhador em atividade a céu
aberto (art. 195 da CLT e NR-15 MTb, Anexo 7). É o que se infere da Orientação
Jurisprudencial n. 73 da SDI-1 do TST (BARROS, 2009).
Segundo a Súmula n. 80 do TST, o fornecimento do EPI aprovado pelo órgão
competente do Poder Executivo poderá eliminar o agente agressivo gerador do
adicional de insalubridade.
98 • capítulo 4
4.1.9.4 Adicional de periculosidade
O trabalho em condições de periculo-
sidade assegura ao empregado um adi-
cional de 30% (trinta por cento) sobre o
salário sem os acréscimos resultantes
de gratificações, prêmios ou participa-
ções nos lucros da empresa (parágrafo
1º, artigo 19 da CLT), com exceção dos
eletricitários, os quais incidem sobre a
totalidade das parcelas de natureza salarial (Súmula 191 do TST).
Segundo a Súmula n. 364 do TST, o contato eventual com agentes perigosos,
assim considerado o fortuito, ou o que, sendo habitual, dá-se por tempo extre-
mamente reduzido, não faz jus ao pagamento do adicional.
ATENÇÃO
Quais são as atividades consideradas perigosas?
São consideradas atividades ou operações perigosas, na forma da regulamentação aprovada
pelo Ministério do Trabalho, aquelas que, por sua natureza ou métodos de trabalho, impliquem
o contato permanente com inflamáveis ou explosivos em condições de risco acentuado (art.
193 da CLT).
O adicional deve ser pago de forma integral, sendo ilegal o pagamento pro-
porcional ao tempo de exposição para ingresso intermitente e habitual, previs-
to no Dec. 93.412/86, art. 2º, II (TST 361), exceto se pactuado em acordos ou
convenções coletivos de trabalho (CF, art. 7º, XXVI e TST 364); mas não é devido
durante as horas de sobreaviso, quando o empregado não se encontra em con-
dições de risco (TST 132).
Havendo condenação ao seu pagamento, deve ser inserido em folha de salá-
rios enquanto for executado trabalho nessas condições (SDI-1 172).
O adicional de periculosidade integra a base de cálculo do adicional notur-
no (SDI-1 259) e das horas extras (TST 132).
capítulo 4 • 99
4.1.9.5 Comissão ou porcentagem
É o salário calculado em montante fixo por cada negócio realizado (comis-
são) ou em percentual sobre os negócios efetuados pelo empregado (porcen-
tagem). É comum no comércio e não se confunde com a participação nos
lucros. Só é devido depois de ultimada a transação a que se refere. Nas tran-
sações por prestações sucessivas, o pagamento é exigível proporcionalmente
à respectiva liquidação. A cessação das relações de trabalho não prejudica a
percepção das comissões e porcentagens (CLT, art. 466 e parágrafos). Em se
tratando de vendedor viajante ou pracista, a transação é considerada ultima-
da se o empregador não a recusar por escrito em 10 dias a contar da proposta,
ou em 90 dias desta, caso a empresa esteja estabelecida em outro estado ou
no exterior (L. 3.207/57, art. 3º). É facultado às partes ajustarem o pagamento
em período de até 3 meses (L. 3.207/57, art. 4º, par. único).
Segundo a Súmula n. 340 do TST, o empregado sujeito a controle de horário,
remunerado à base de comissões, tem direito ao adicional de, no mínimo, 50%
(cinquenta por cento) pelo trabalho em horas extras, calculado sobre o valor-
-hora das comissões recebidas no mês, considerando-se como divisor o núme-
ro de horas efetivamente trabalhadas.
100 • capítulo 4
4.1.9.7 Gorjeta
Consiste na entrega de dinheiro pelo cliente
do empregador ao empregado que o serviu.
Também pode ser dada para rateio posterior,
assim como pode ser espontânea ou cobrada
pelo empregador do freguês como adicional
da conta (CLT, art. 457, caput e § 3º). Perce-
bida por ajuste expresso ou tácito, integra a
remuneração para todos os fins, exceto para
o cálculo de aviso prévio, adicional noturno,
horas extras e repouso semanal remunerado
(TST 354). Não pode servir de complemento para o salário-mínimo, uma vez
que este é pago “diretamente pelo empregador” (CLT, art. 76).
4.1.9.8 Gratificação
A gratificação autêntica é aquela paga eventualmente, por liberalidade, como
gratidão ao reconhecimento por parte do empregador pelo serviço prestado
a ele pelo empregado. Assim sendo, não é salário. Contrariamente, constitui
salário a gratificação ajustada (CLT, art. 457, § 1º), seja por meio de ajuste ex-
presso (gratificação de função, de balanço etc), seja por meio de ajuste tácito
(gratificação habitual, TST 152 e 253).
capítulo 4 • 101
4.1.9.10 Prêmio
É o pagamento vinculado a fator de ordem pessoal do empregado, como a pro-
dução, a eficiência etc. Não pode ser forma única de pagamento. Praticamente
não é referido pela legislação e pela jurisprudência sumulada, mas tem sido
tratado pela jurisprudência não sumulada tal como a gratificação: se habitual,
é salário; se eventual, não o é. São comuns os prêmios por:
• produção: pago ao empregado por atingir determinada meta de produ-
ção fixada;
• assiduidade: pago ao empregado por não faltar ou não se atrasar para o
serviço
• zelo: pago ao empregado por não danificar o patrimônio da empresa (ex.:
motorista que não causa colisão);
• resultado: pago ao empregado por atingir um resultado favorável (ex.:
prêmio ao atleta de futebol pela vitória em determinada partida ou
campeonato).
102 • capítulo 4
O instrumento de acordo celebrado será arquivado na entidade sindical dos
trabalhadores.
A participação nos lucros não substitui ou complementa a remuneração
devida a qualquer empregado, nem constitui base de incidência de qual-
quer encargo trabalhista, não se lhe aplicando o princípio da habitualidade.
É vedado o pagamento de qualquer antecipação ou distribuição de valores
a título de participação nos lucros ou resultados da empresa em periodicidade
inferior a um semestre civil, ou mais de duas vezes no mesmo ano civil.
Segundo o artigo 461 da CLT, sendo idêntica a função, a todo trabalho de igual va-
lor, prestado ao mesmo empregador, na mesma localidade, corresponderá igual
salário, sem distinção de sexo, nacionalidade ou idade.
capítulo 4 • 103
4.2 Férias
As férias são consideradas pelo direito do trabalho como uma forma de inter-
rupção do contrato de trabalho. No período de férias, o empregado tem direito
de receber o seu salário habitual, somado a uma indenização correspondente
a 1/3 do seu salário, contando ainda referido período como tempo de serviço.
A cada 12 (doze) meses de trabalho contínuo para um empregador, o em-
pregado entra no período de gozo das férias. Dentro deste período de gozo das
férias, o empregador poderá escolher a data que melhor lhe aprouver, para a
concessão das férias do empregado.
O empregador que deixar de conceder as férias nos 12 meses subsequentes
ao término do período aquisitivo deverá pagá-las em dobro e, além disso, o em-
pregado poderá ajuizar reclamação pedindo a fixação por sentença da época do
gozo delas. A sentença cominará pena diária de 5% do salário-mínimo, devida
ao empregado até que seja cumprida a decisão. Cópia da decisão transitada em
julgado será remetida ao órgão do Ministério do Trabalho para fins de aplica-
ção da multa de caráter administrativo (BARROS, 2009).
104 • capítulo 4
4.2.2 Da duração das férias
Segundo o artigo 133 da CLT, não terá direito a férias o empregado que, no cur-
so do período aquisitivo:
I. deixar o emprego e não for readmitido dentro dos 60 (sessenta) dias sub-
sequentes à sua saída;
II. permanecer em gozo de licença, com percepção de salário, por mais de
30 (trinta) dias;
III. deixar de trabalhar, com percepção do salário por mais de 30 (trinta)
dias em virtude de paralisação total ou parcial da empresa;
IV. tiver percebido da previdência social prestações de acidente de trabalho
ou de auxílio-doença por mais de 6 (seis) meses, embora descontínuo.
capítulo 4 • 105
Perde o direito às férias também o empregado que faltar injustificadamente
por mais de 32 dias.
106 • capítulo 4
Se, no momento das férias, o empregado não estiver recebendo o mesmo
adicional do período aquisitivo, ou quando o valor deste não tiver sido unifor-
me, será computada a média duodecimal recebida naquele período, após a atu-
alização das importâncias pagas, mediante incidência dos percentuais dos re-
ajustamentos salariais supervenientes (incluído pelo Decreto-Lei nº 1.535, de
13.4.1977) (artigo 142, parágrafo 6º da CLT).
Segundo o artigo 143 da CLT, é facultado ao empregado converter 1/3 (um terço)
do período de férias a que tiver direito em abono pecuniário, no valor da remune-
ração que lhe seria devida nos dias correspondentes.
Assim, o empregado poderá converter 1/3 das suas férias, em dinheiro, no va-
lor da remuneração que lhe seria devida nos dias correspondentes.
O abono deve ser requerido pelo empregado, no máximo, 15 (quinze) dias
antes do término das férias, sendo vedado o abono de férias para os contratos
de trabalho por tempo parcial.
capítulo 4 • 107
4.3 Aviso prévio
Segundo o artigo 487 da CLT, não havendo prazo estipulado, a parte que, sem
justo motivo, quiser rescindir o contrato, deverá avisar a outra da sua resolução
com a antecedência mínima de:
I. 8 dias, se o pagamento for efetuado por semana ou tempo inferior;
II. 30 dias, aos que receberem por quinzena ou mês, ou que tenham mais
de 12 meses de serviço na empresa.
ATENÇÃO
O que significa aviso prévio?
O aviso prévio pode ser conceituado como a comunicação que uma parte faz à outra, avisan-
do-lhe que pretende proceder à dissolução do contrato de trabalho por prazo indeterminado
(BARROS, 2009).
108 • capítulo 4
sendo que, na ausência da concessão do aviso, este deverá ser indenizado. Tam-
bém nesses casos, o contrato de trabalho do empregado será projetado até o
final do aviso prévio.
capítulo 4 • 109
Vale ressaltar que, na vigência do contrato de trabalho, o empregado também
poderá levantar o seu fundo de garantia nos seguintes casos (BARROS, 2009):
a) financiamento habitacional (SFH);
b) saldo devedor imobiliário, desde que não possua outro imóvel (2 anos);
c) permanecer três anos ininterruptos fora do regime do FGTS;
d) doença grave (trabalhador ou seus dependentes);
e) idade superior a 70 anos;
f) morte do trabalhador.
CONEXÃO
Para maiores informações referentes ao fundo de garantia por tempo de serviço, o estudante
poderá acessar o site www.caixa.gov.br, onde encontrará várias informações referentes à mo-
vimentação do FGTS.
110 • capítulo 4
4.5 Organização sindical
ABR
a associação para fins de estudo, defesa e
coordenação dos seus interesses econômi-
cos ou profissionais de todos os que, como
empregadores, empregados, agentes ou
trabalhadores autônomos, ou profissio-
nais liberais, exerçam, respectivamente, a
mesma atividade ou profissão ou ativida-
des ou profissões similares ou conexas.
A Convenção n. 87 da Organização In-
ternacional do Trabalho (OIT), declara o
princípio da liberdade sindical, afirman-
do que os trabalhadores e empregadores,
sem nenhuma distinção e sem autoriza-
ção prévia, têm o direito de constituir as
organizações que estimarem convenientes, bem como o direito de se filiarem a
essas organizações, tendo como única condição a observância dos respectivos
estatutos. (art. 2º).
Já o artigo 8º da Constituição Federal dispõe que é livre a associação profis-
sional ou sindical, observado o seguinte:
I. a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindica-
to, ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao Poder Público a
interferência e a intervenção na organização sindical (liberdade sindical);
capítulo 4 • 111
II. é vedada a criação de mais de uma organização sindical em qualquer grau,
representativa de categoria profissional ou econômica, na mesma base ter-
ritorial, que será definida pelos trabalhadores ou empregadores interessa-
dos, não podendo ser inferior à área de um município (unicidade sindical).
112 • capítulo 4
Aos sindicatos cabe, principalmente, a defesa dos direitos e interesses coleti-
vos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas.
Também é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de
trabalho, que poderá resultar em convenções ou acordos coletivos de trabalho.
Acordo coletivo de trabalho pode ser conceituado como o acordo realizado entre o
sindicato representativo de uma categoria profissional e uma ou mais empresas.
Nesse sentido, dispõe o parágrafo 1º, do artigo 611 da CLT, que é facul-
tado aos sindicatos representativos de categorias profissionais celebrarem
acordos coletivos com uma ou mais empresas da correspondente categoria
econômica, que estipulem condições de trabalho aplicáveis no âmbito da em-
presa ou das empresas acordantes às respectivas relações de trabalho.
capítulo 4 • 113
4.5.5 Categoria profissional diferenciada
114 • capítulo 4
4.5.6.2 Contribuição confederativa
A contribuição confederativa foi instituída pela Constituição Federal de 1988
(art. 8º, IV) como uma alternativa da contribuição sindical, com fisionomia em
parte mais democrática, deliberada em assembleia sindical que fixará o seu va-
lor. É também descontada em folha, nesse ponto identificando-se as duas con-
tribuições. Diferem num ponto fundamental: a contribuição sindical é disci-
plinada por lei e a contribuição confederativa não; suas regras são deliberadas
pela assembleia sindical (NASCIMENTO, 2009).
Segundo o artigo 8º, inciso IV da Constituição Federal, a assembleia geral
fixará a contribuição que, em se tratando de categoria profissional, será des-
contada em folha, para o custeio do sistema confederativo da representação
sindical respectiva, independentemente da contribuição prevista em lei.
Cumpre ressaltar que a contribuição confederativa, diferentemente da con-
tribuição sindical, não é obrigatória aos empregados não sindicalizados. Cabe
a esses empregados não filiados ao sindicato manifestar por escrito à empresa
a sua discordância ou opção pelo desconto da referida contribuição.
Nesse sentido, dispõe o precedente normativo n.º 119 do TST: “A Consti-
tuição da República, em seus artigos 5º, XX e 8º, V, assegura o direito de livre
associação e sindicalização. É ofensiva a essa modalidade de liberdade cláusula
constante de acordo, convenção coletiva ou sentença normativa estabelecendo
contribuição em favor de entidade sindical a título de taxa para custeio do sis-
tema confederativo, assistencial, revigoramento ou fortalecimento sindical e
outras da mesma espécie, obrigando trabalhadores não sindicalizados. Sendo
nulas as estipulações que inobservem tal restrição, tornam-se passíveis de de-
volução os valores irregularmente descontados”.
capítulo 4 • 115
SDI-1, que considerava incompetente a Justiça do Trabalho para examinar conflito
entre sindicato patronal e a respectiva categoria econômica em relação à contribui-
ção assistencial. Lembre-se de que os litígios entre sindicatos, ou entre sindicatos
de trabalhadores e empregador, referentes à contribuição assistencial e confede-
rativa, previstas em normas coletivas, já se encontravam na esfera normativa dessa
Justiça Especializada, por força da Lei n. 8.984, de 1995, e da parte final do art. 114
da Constituição, na sua redação original (BARROS, 2009).
116 • capítulo 4
4.6.1 Procedimento da greve
capítulo 4 • 117
tomada das atividades da empresa quando da cessação do movimento (art. 9º
da Lei n. 7783/89). Não havendo acordo nesse sentido, poderá o empregador
contratar empregados para a realização desses serviços.
É inquestionável que a respon-
WIKIMEDIA
sabilidade trabalhista e a penal são
de caráter individual e se limitam
aos autores, porém o sindicato,
como pessoa jurídica de direito pri-
vado que é, responderá pelo ilícito
civil que cometer, por intermédio
de sua diretoria, devendo pagar a
indenização correspondente, agora
perante a Justiça do Trabalho (art.
114, inciso II, da Constituição, introduzido pela Emenda Constitucional n. 45,
de 2004), independentemente de ter sido a reparação ajustada em convenção
coletiva, nos termos da Lei n. 8.984, de fevereiro de 1995. A responsabilidade
criminal fica excluída da competência trabalhista (BARROS, 2009).
A configuração da responsabilidade civil do sindicato pressupõe ato ilíci-
to, ou seja, ação ou omissão praticada dolosa ou culposamente, em desacordo
com a norma jurídica, causando dano, sem excludente de responsabilidade (in-
teligência dos arts. 186, 187 e 188 do Código Civil de 2002 e do art. 15 da Lei n.
7.783, de 1989) (BARROS, 2009).
118 • capítulo 4
IX. processamento de dados ligados a serviços essenciais;
X. . controle de tráfego aéreo;
XI. compensação bancária.
ATIVIDADE
1. Recapitule a forma de cálculo do salário estipulado por tarefa.
REFLEXÃO
Nesse capítulo, vocês tiveram a oportunidade de estudar a jornada de trabalho e suas princi-
pais peculiaridades com a descrição dos s acordos de prorrogação e compensação de horas
e os intervalos intrajornadas e interjornadas.
capítulo 4 • 119
LEITURA
Livro: Manual de salários e benefícios
Autor: Aristeu de Oliveira Editora: Atlas
Essa obra visa elucidar ao profissional de Recursos Humanos, de departamento de pessoal ou
de gestão de pessoas, as principais normas trabalhistas referentes a salário e remuneração.
Todas as normas referen- tes a salário, tipos de salário, encargos, remuneração e adicionais são
vi- sualizadas nessa obra, de uma forma didática e profissional, contribuindo para a formação
dos profissionais destas áreas. O autor apresenta também cálculos e modelos de termos de
responsabilidade, referentes à escala de sobreaviso. Dispõe, ainda, sobre os principais benefí-
cios concedidos em uma relação de emprego, examinados à luz da legislação trabalhista.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABUD, Fabíola Marques Cláudia José. Direito do Trabalho. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2006.
ARAÚJO, FRANCISCO Carlos da Silva. Seguridade Social. Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n.
1272, 25 dez. 2006. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9311>.
Acesso em: 23 jan. 2010.
BARROS, Alice Monteiro. Curso de Direito do Trabalho. 5. ed. São Paulo: LTr, 2009.
BONDIOLI, Luis Guilherme Aidar; NEGRÃO, Theotonio; GOUVÊA, José Roberto Ferreira.
Código de Processo Civil e legislação processual em vigor. 42. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
BRAGA, Léa; CABRAL, Maria do Socorro Reis (Orgs.). Serviço Social na Previdência: traje-
tória, projetos profissionais e saberes. São Paulo: Cortez, 2007.
120 • capítulo 4
CÉSPEDES, Lívia, PINTO, Antonio Luiz de Toledo, WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos
(Colaboradores). Constituição da República Federativa do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2009.
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 7. ed. São Paulo: LTr, 2008.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Nova Fron-
teira: Rio de Janeiro, 1983.
MARTINS, Juliana Azenha. Programa de Saúde da Família: um novo desafio para o Serviço
Social. Trabalho de Conclusão de Curso,Serviço Social, Unesp/Franca, 2000.
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da Seguridade Social. São Paulo: Atlas, 2006.
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 26. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
NASCIMENTO, Amauri Mascado do. Iniciação ao Direito do Trabalho. 35. ed. São Paulo: LTr, 2009.
Organização Mundial da Saúde. Envelhecimento ativo: uma política. Tradução Suzana Gontijo.
Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2005.
SILVA, Edileusa da; ROSSI, Ariana Siqueira. As diretrizes do Ministério da Saúde para a aten-
ção à saúde da mulher. In: BERTANI, Íris Fenner; REZENDE, Regina Maura (orgs.). Conver-
sas interessantes sobre saúde: Programa de Extensão QUAVISSS, Franca: Unesp-FHDSS,
2007, p. 39 – 46.
SÜSSEKIND, Arnaldo. Curso de Direito do Trabalho. 2. ed. São Paulo: Renovar, 2004.
capítulo 4 • 121
NO PRÓXIMO CAPÍTULO
No próximo tema você estudará em detalhes os benefícios da Previdência Social, as formas
de extinção contratuais, bem como, carência e formas de cálculos.
Aproveite esse amplo material para dissolver todas as suas dúvidas.
122 • capítulo 4
5
Extinção Contratual
e Legislação
Previdenciária
5 Extinção Contratual e Legislação
Previdenciária
OBJETIVOS
• Conhecer as formas de extinção do contrato de trabalho entre o empregado e o empregador;
• Iniciar estudo sobre a Legislação Previdenciária, analisando dados importantes para a
compreensão do tema;
• Entender o conceito de benefícios previdenciários, as carências e formas de cálculos de valores.
• Conhecer, em detalhes, todos os benefícios, específicos, obtidos por meio do INSS.
REFLEXÃO
Que vimos um conteúdo muito extenso sobre o Direito do Trabalho, contudo, é importante
destacar aos senhores que, apesar de serem áreas relacionadas a direitos de trabalhadores,
o Direito Previdenciário e o Direito do Trabalho são setores distintos do Direito.
A Justiça do Trabalho é especializada na dissolução de conflitos entre empregados e empre-
gadores, não possuindo competência para as discussões previdenciárias que ficam a cargo
da Justiça Federal.
124 • capítulo 5
No entanto, ocorrendo a dispensa arbitrária ou sem justa causa, ao emprega-
do, a princípio, caberá o pagamento das seguintes verbas rescisórias:
• saldo de salário;
• 13º salário proporcional;
• férias indenizadas (integrais ou proporcionais);
• autorização para o levantamento do FGTS + a multa de 40%;
• autorização para receber o seguro desemprego (atendidos os requisitos
da lei);
• aviso prévio (quando indenizado pelo empregador).
5.1.1.1 Estabilidade
Os empregados membros da CIPA ou dirigentes sindicais têm estabilidade
no emprego, desde o momento em que se candidatam ao cargo (ele e o suplen-
te) e, se eleitos, até um ano após o término do mandato.
A empregada gestante tem estabilidade no emprego desde o momento da
confirmação da gravidez até 5 (cinco) meses após o parto.
O empregado segurado, que sofreu acidente de trabalho, tem estabilidade
no emprego pelo prazo mínimo de 12 (doze) meses, após a cessação do auxílio
doença acidentário.
Referidos empregados não poderão ser dispensados da empresa, de for-
ma arbitrária ou sem justa causa, salvo por motivo de falta grave, devidamente
comprovada através de inquérito judicial.
capítulo 5 • 125
5.1.2.1 Elementos da justa causa
Subjetivo: é a culpa em sentido amplo (dolo e culpa); não há justa causa sem
culpa do empregado.
Objetivos:
• gravidade: a ação ou omissão do empregado deve ser razoavelmente grave;
• imediatidade: o intervalo de tempo entre a falta do empregado e sua dis-
pensa deve ser o mínimo suficiente para permitir a decisão do emprega-
dor, sob pena de se caracterizar o perdão;
• causalidade: deve haver um nexo de causa e efeito entre a falta imputada
ao empregado e a dispensa praticada pelo empregador;
• singularidade: o empregado não pode ser punido e pelo mesmo motivo
ser dispensado por justa causa.
126 • capítulo 5
• negociação habitual: é o ato de concorrência desleal ao empregador ou o
inadequado exercício paralelo do comércio;
• condenação criminal sem “sursis” (suspensão condicional da pena): em
virtude do cumprimento da pena privativa da sua liberdade de locomo-
ção, não poderá o empregado continuar no emprego. A empresa poderá
dispensá-lo por justa causa. Desnecessário será que os fatos que deter-
minaram a condenação criminal estejam relacionados com o serviço;
WIKIMEDIA
capítulo 5 • 127
• violação de segredo: divulgação não autorizada de patentes de invenção,
métodos de execução, fórmulas, escrita comercial e, enfim, de todo fato,
ato ou coisa que, de uso ou conhecimento exclusivo da empresa, não pos-
sa ou não deva ser tornado público, sob pena de causar prejuízo remoto,
provável ou imediato à empresa;
• indisciplina: descumprimento de ordens gerais de serviço. Portanto, é a
desobediência às determinações contidas em circulares, portarias, ins-
truções gerais da empresa, escritas ou verbais;
• insubordinação: descumprimento de ordens pessoais de serviço. Difere
da indisciplina porque a ordem infringida não tem o caráter de generali-
dade, mas sim de pessoalidade;
• abandono de emprego: configura-se mediante a ausência continuada do
empregado com o ânimo de não mais trabalhar. Dois requisitos o carac-
terizam: o decurso de um período determinado de ausência ao serviço
(elemento objetivo) e a intenção manifesta do empregado em romper o
contrato (elemento subjetivo). Ambos, em conjunto, mas não apenas um
deles isoladamente, dão vida à figura. Não há prazo fixado pela lei para
que o abandono se configure. A jurisprudência exige, às vezes, 30 dias.
Porém, mesmo em prazos menores, o abandono pode estar plenamente
configurado, quando não se configurar em prazo maior;
• ato lesivo à honra e à boa fama: é a ofensa à honra do empregador ou
terceiro, neste caso relacionada com o serviço, mediante injúria, calúnia
ou difamação;
• ofensa física: é a agressão, tentada ou consumada, contra o superior hie-
rárquico, empregadores, colegas ou terceiros no local do trabalho ou em
estreita relação com o serviço. O local da agressão será a empresa ou outro
qualquer, desde que a violência em si tenha relação direta com o serviço;
• prática constante de jogos de azar: são jogos de azar apenas aqueles as-
sim descritos pela legislação contravencional em vigor no país (ex.: jogo
de bicho, rifas não autorizadas, apostas de corridas de cavalo fora de lo-
cal autorizado etc.).
Para maiores informações com relação à CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), o
estudante poderá acessar o site <www.planalto.gov.br>, onde, dentre várias legislações
elencadas, encontramos o Decreto-Lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943, que dispõe
sobre a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
128 • capítulo 5
Ocorrendo a dispensa por justa causa, ao empregado caberá o pagamento
tão somente do saldo salarial e das férias indenizadas, quando já adquiridas e
não gozadas.
ATENÇÃO
O que significa dispensa indireta?
Extinção do contrato de trabalho por iniciativa do empregado, tendo em vista falta de nature-
za grave praticada pelo empregador.
capítulo 5 • 129
5.2.2.1 Hipóteses de dispensa indireta
Segundo o artigo 483 da CLT, o empregado poderá considerar rescindido o con-
trato e pleitear a devida indenização quando houver:
• exigência de serviços superiores às forças do empregado, exemplificando-
se com a imposição, à mulher, de pesos excessivos para carregar, acima
dos permissivos legais;
• exigência de serviços defesos por lei, como no caso do trabalho de meno-
res no período noturno;
• exigência de serviços contrários aos bons costumes, que são aqueles ofen-
sivos à moral do empregado;
• exigências de serviços alheios ao contrato, exemplificando-se com a alte-
ração das funções do trabalhador;
• rigor excessivo contra o empregado, configurando-se como no caso de or-
dens seguidas a um empregado não atribuídas aos demais e com o intui-
to de levá-lo a desistir do emprego;
• exposição do empregado a perigo manifesto de mal considerável, exempli-
ficando-se com as determinações para que o empregado pratique uma
ação capaz de pôr em risco a sua vida, saúde e integridade física, sem que
esses riscos pertençam às suas funções;
• descumprimento das obrigações contratuais, como o atraso no pagamen-
to do salário;
• ofensas à honra do empregado ou à sua família, exemplificando-se com a
calúnia, injúria ou difamação;
• ofensas físicas ao empregado, exemplificando-se com a agressão corporal,
salvo legítima defesa;
• redução do trabalho por peça ou tarefa de modo a afetar sensivelmente o
ganho do empregado.
CONEXÃO
Para consultar decisões e entendimentos majoritários (súmulas) do Tribunal Superior do Tra-
balho sobre casos de dispensa indireta, o estudante poderá acessar o site www.tst.gov.br.
130 • capítulo 5
5.2.3 A Seguridade Social na Constituição de 1988
O postulado fundamental da solidariedade social (art. 3º, I) transparece como baliza para
o sistema de seguridade social, rompendo definitivamente com a lógica econômica do
seguro privado, ou seja, a rígida correlação entre prêmio e benefício. (ARAÚJO, 2006).
capítulo 5 • 131
A Lei nº 8.213/91 trata dos benefícios previdenciários e regulamenta o caput do
art. 201 da Carta Magna, e na Lei nº 8.212/91, que dispõe sobre o custeio da segu-
ridade social. O Decreto nº 3.048/99 trata do Regulamento da Previdência Social.
A previdência privada, denominada de previdência complementar, previs-
ta no art. 202 da Carta de 1988, caracteriza-se por ser um sistema de seguro
complementar ao regime oficial, de caráter facultativo, de natureza contratual.
A Lei Complementar nº 109/2001 dispõe sobre o regime de previdência com-
plementar ao benefício pago pelo INSS. Já a Lei Complementar nº 108/2001
disciplina a previdência fechada da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios, inclusive suas autarquias, fundações, sociedades de economia
mista e outras entidades públicas.
132 • capítulo 5
5.2.3.3 Saúde
O artigo 196 da Constituição Federal de 1988 que a saúde é direito de todos e
dever do Estado:
A execução das ações de saúde pode ser realizada diretamente pelo Estado
ou por meio de terceiros, pessoa física ou jurídica de direito privado, de forma
complementar, conforme preconiza o art. 199 da Constituição.
O art. 198 da Lei dispõe sobre o Sistema Único de Saúde (SUS), que é um
conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições pú-
blicas federais, estaduais e municipais, da administração direta e indireta e das
fundações públicas, e instituições privadas de forma complementar, com as
seguintes diretrizes:
III. descentralização, com direção única em cada esfera de governo;
IV. atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas,
sem prejuízo dos serviços assistenciais;
V. participação da comunidade.
ATENÇÃO
Esta é a conceituação de empregado trazida pela art. 3º da CLT, a qual é condizente com
aquela trazida pela legislação previdenciária:
Art. 3º - Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não
eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário.
capítulo 5 • 133
5.3 Princípios Constitucionais da Seguridade Social
O § único do art. 194 da Carta Magna vigente determina ao Poder Público, nos
termos da lei, organizar a Seguridade Social com base em objetivos, que seriam
na realidade princípios, pois são proposições básicas, fundamentais ou alicer-
ces de um sistema. As leis 8.212/91 e 8.213/91 instituíram o Plano de Organiza-
ção e Custeio da Seguridade Social e o Plano de Benefícios da Previdência so-
cial, respectivamente. O § único do art. 1º da Lei 8.212/91 menciona os mesmos
princípios constitucionais descritos no § único do art. 194 da Constituição. Ve-
jamos a seguir os citados princípios:
• Universalidade da cobertura e atendimento ;
• Uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações ur-
banas e rurais;
• Seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;
• Irredutibilidade dos benefícios ;
• Equidade na forma da participação no custeio;
• Diversidade na base de financiamento ;
• Caráter democrático e descentralizado da administração.
De forma bastante resumida, podemos dizer que existem hoje, em nosso País,
três grandes sistemas de previdência social, dois deles públicos e um terceiro,
de caráter complementar, gerido e mantido pela iniciativa privada.
Citemos como o primeiro dos sistemas públicos aquele destinado aos ser-
vidores públicos efetivos da União, dos Estados e Municípios, assim incluindo
os órgãos de suas administrações indiretas, como as autarquias e fundações
públicas. Sua existência é prevista no art. 40 da Constituição Federal.
Que fique bem claro não existir um único grande sistema de previdência,
comum a todos os servidores efetivos dos vários entes federados (União, Esta-
dos, Distrito Federal e Municípios). Pelo contrário, como consequência natural
da autonomia destes entes federados, cada um deles deverá, por lei própria,
criar e manter um sistema de previdência próprio.
134 • capítulo 5
ATENÇÃO
O art. 40 da Constituição Federal está assim redigido:
Art. 40. Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime de previdência
de caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente público, dos ser-
vidores ativos e inativos e dos pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio
financeiro e atuarial e o disposto neste artigo.
Como já visto antes, existem hoje dois sistemas públicos de previdência: um destinado
aos servidores com vínculo efetivo com a Administração e mantido pelas entidades
federativas (União, Estados, Distrito Federal e Municípios), intitulado de regime pró-
prio de previdência social; e outro, instituído em benefício dos trabalhadores da inicia-
tiva privada, gerido por uma autarquia federal – o Instituto Nacional do Seguro Social
(INSS), denominado Regime Geral de Previdência Social. Ambos caracterizam-se por
ser administrados pelo Estado, pela natureza institucional do vínculo mantido com os
segurados, pela obrigatoriedade de filiação e pelo custeio obtido mediante cobrança de
contribuições sociais (TAVARES, 2010, p. 299).
capítulo 5 • 135
Para além destes dois sistemas básicos, o art. 202 da Constituição Federal
ainda previu a existência de um sistema privado e suplementar de previdência:
CONEXÃO
Para consultar a Constituição Federal em sua íntegra, consulte a página da Presidência da Re-
pública, no endereço: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...)
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;
136 • capítulo 5
No plano legislativo, além da Constituição Federal, o direito adquirido tam-
bém é tratado pelo art. 6º, § 2º da Lei de Introdução ao Código Civil.
É fácil perceber que o direito adquirido é um instituto jurídico destinado à
preservação da estabilidade da condição humana, a ser atingida por intermé-
dio da preservação da estabilidade das relações jurídicas ao longo do tempo.
Ele tira sua existência de fatos jurídicos já passados e definitivos (SILVA, 2010),
fatos estes que atribuem um direito ao cidadão. Dessa forma, se o futuro é por natu-
reza algo incerto e impreciso, o direito adquirido busca dar ao indivíduo uma certe-
za, quando menos, em relação ao seu passado. Dá-se ao cidadão a tranquilidade de
saber que pelo menos aquilo já conquistado no passado, em termos jurídicos, está
protegido e não será objeto de mudanças pela legislação superveniente.
Especialmente no plano do direito previdenciário, esse é um dos principais
desdobramentos do direito adquirido: a preservação do patrimônio jurídico do
cidadão, contra investidas do legislador, tendentes a alterar os requisitos para
a concessão dos benefícios da previdência social. A partir do momento em que
um dado benefício foi concedido ao segurado, eventual nova legislação que lhe
seja prejudicial não o afetará.
Percebe-se, portanto, que a legislação aplicável a um dado benefício deverá
ser, sempre, aquele vigente no momento em que o indivíduo adquiriu o direito a
este benefício. Mesmo que esta legislação seja, no futuro, alterada, tornando-se
prejudicial ao segurado, ele estará imune à mesma, graças à proteção constitu-
cional veiculada pelo instituto do direito adquirido.
Um exemplo clássico disto é o instituto da aposentadoria. A redação origi-
nal do art. 202, § 1º da Constituição Federal de 1988 assegurava ao segurado
da previdência social a aposentadoria, ainda que proporcional, aos trinta ou
vinte e cinco anos de serviço (para o homem e a mulher, respectivamente). Pos-
teriormente, esse artigo teve sua redação complemente alterada pela Emenda
Constitucional no. 20 de 1988, e a aposentadoria proporcional acabou extinta.
Mas graças ao instituto do direito adquirido, aquelas pessoas que já recebiam
suas aposentadorias naqueles moldes anteriores não foram afetadas pelas pos-
teriores mudanças legislativas.
Mas é importante ter em mente que direito adquirido não é somente aquele já
exercido em concreto pelo indivíduo. Adquire-se o direito no momento em que a
pessoa reúne as condições legais necessárias para seu exercício. Mas se, apesar de
estar legalmente capacitado para tanto, o cidadão resolve não fazê-lo de imediato,
seja por que motivo for, mesmo que por mera conveniência e oportunidade, ainda
assim ele estará protegido da legislação futura que venha a lhe ser desfavorável.
capítulo 5 • 137
Voltando ao exemplo já mencionado, suponhamos a hipótese de um traba-
lhador segurado que tenha iniciado sua vida profissional ainda jovem, e que
muito cedo, ainda na casa dos quarenta anos de idade, tenha completado os
trinta anos de serviço. Cumprido este único requisito exigido pela redação ori-
ginal do art. 202, § 1º da Constituição Federal de 1988 ele já estaria em con-
dições de obter sua aposentadoria. Mas por motivos pessoais seus, por mera
conveniência, ele não exerce esse direito, e opta por continuar a trabalhar, não
pedindo ao INSS sua aposentadoria.
Nesse caso, pouco importa que depois tenha advindo a Emenda Constitucional
no. 20 de 1998, porque este trabalhador já tinha reunido, antes dela, os requisitos
legais para a concessão da aposentadoria proporcional. Mesmo não exercendo em
concreto esse direito (não requerendo a aposentadoria), para tê-lo como adquirido,
bastou reunir as condições ou requisitos legais para tanto, para se colocar à sal-
vo da nova legislação que lhe era desfavorável. Assim, ainda que ele peça sua apo-
sentadoria no ano de 2002, quando já vigentes as alterações trazidas pela Emenda
Constitucional no. 20/98, seu benefício será concedido pelas normas anteriores,
aquelas existentes quando ele completou os trinta anos de serviço.
Uma última ressalva sobre o tema é necessária: ninguém adquire direitos
contra a lei. Dizendo de outra forma, não é porque alguém conseguiu, seja
por quais recursos forem, obter algum benefício de forma ilegal que este será
incorporado ao seu patrimônio jurídico. Ato ilegal não gera direito adquirido,
pouco importando por quanto tempo o agente desfrutou do mesmo.
5.5.2 Solidariedade
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e in-
direta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais [...]:
138 • capítulo 5
A ideia é de que toda a sociedade contribua com parte de seu potencial eco-
nômico para a formação de um fundo comum, destinado a garantir a subsis-
tência e a dignidade daqueles indivíduos que, porventura, venham a ser atingi-
dos por algum tipo de sinistro (no sentido securitário) social, como a doença, a
velhice, o desemprego ou a morte.
Aqueles providos de maiores recursos financeiros devem contribuir em
maior proporção, já os menos favorecidos o fazem em menor proporção. Essa é a
ideia básica do chamado princípio da Capacidade Contributiva.
Não se contribui para a seguridade social visando apenas o eventual bene-
fício próprio, e na medida deste. Contribui-se para a seguridade social visando
o custeio, a manutenção do sistema como um todo, ou seja, de e para toda a
sociedade. Daí o porque de um sistema solidário, cuja contribuição volta-se ao
bolo todo, e não apenas ao próprio contribuinte.
Nesse sentido, repita-se que os economicamente ativos contribuem para a
manutenção dos inativos, sejam estes atingidos pela velhice, pelo desemprego,
etc. As gerações mais jovens e em condições de trabalhar contribuem para a ma-
nutenção dos mais velhos, já sem condições fazê-lo para gerar o próprio sustento.
KEN HURST | DREAMSTIME.COM
capítulo 5 • 139
Assim também o benefício de assistência social, como a antiga renda men-
sal vitalícia, benefícios de um salário mínimo devido àqueles que não têm con-
dições de prover o próprio sustento, por razões de invalidez ou idade, e que
nunca foram filiados à previdência social. Mesmo que estes cidadãos nunca
tenham contribuído, o corpo social reconheceu a necessidade de prover-lhes
a subsistência mínima e, num gesto de solidaridade, instituiu-lhes o benefício
em questão (MARTINS, 2006).
5.5.3 Universalidade
140 • capítulo 5
5.5.4 Uniformidade
Este princípio está previsto no art. 194, inc. II de nossa Constituição Federal, que
reza ser um dos objetivos de nossa seguridade social a “uniformidade e equivalên-
cia dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais”.
O mesmo não deixa de ser um desdobramento mais específico do princípio
geral da igualdade, que garante a todos um tratamento igualitário pela legislação.
Seu enunciado em matéria previdenciária, e no bojo da Constituição Fede-
ral, é repleto de relevância para nossa sociedade, já que, em verdade, ele se con-
figura numa conquista bastante recente de nossa sociedade. Historicamente
falando, ao longo de toda a trajetória evolutiva de nosso sistema de seguridade
social, as populações urbana e rural receberam um tratamento desigual, rece-
bendo regimes jurídicos diferentes, com diferentes sistemas de previdência.
Desnecessário dizer que nesse quadro, as populações rurais sempre gozaram
de um leque de benefícios muito mais restrito que as urbanas.
Foi somente na Constituição Federal de 05 de outubro de 1988 que a uni-
formidade entre estas duas grandes categorias de trabalhadores, para fins de
previdência social, foi prevista. Mesmo assim, nossa jurisprudência titubeou
em atribuir ao inc. II do art. 194 da Constituição Federal uma imediata aplica-
bilidade, prevalecendo a tese de que o mesmo necessitava de legislação ordi-
nária complementar e regulamentadora, para ser de fato aplicável.
Desta forma, foi somente com a edição da Lei no. 8.213, de 24 de julho de
1991, que de fato extinguiram-se os ranços que separavam os dois sistemas de
previdência e assistência social, para deixar de dar ao trabalhador rural um
“status” que era, antes, nitidamente de segunda categoria, em face do urbano.
CONEXÃO
Para acessar o texto integral da Lei no. 8.213/91, consulte a página da Presidência da Re-
pública, em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8213compilado.htm>
capítulo 5 • 141
5.5.5 Seletividade e distributividade
142 • capítulo 5
Existem duas formas básicas de se interpretar a irredutibilidade do valor
dos benefícios:
e) uma meramente nominal, que se satisfaz com a preservação da quanti-
dade de unidades de moeda do benefício;
f) e outra substancial ou real, onde se pretende a reposição periódica do
poder de compra do benefício, de molde a anular os efeitos da inflação.
Art. 41-A. O valor dos benefícios em manutenção será reajustado, anualmente, na mesma
data do reajuste do salário mínimo, pro rata, de acordo com suas respectivas datas de
início ou do último reajustamento, com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor
– INPC, apurado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.
capítulo 5 • 143
5.5.7 Custeio: diversidade e equidade
ATENÇÃO
Diz o “caput” do art. 195 da Constituição Federal:
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta,
nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais [...]:
Vê-se, portanto, que várias são as fontes de recursos da seguridade social, daí
o porque de se falar em diversidade de sua base de financiamento.
Já a equidade na participação deste financiamento tem sua razão de ser li-
gada ao já mencionado princípio da capacidade contributiva. Esta contribuição
deverá ser proporcionalmente maior quanto maior for a estatura econômica
do contribuinte. Desta forma, é intuitivo que a empresa deve contribuir numa
proporção maior que o seu operário individualmente considerado, da mesma
forma que a grande empresa também precisa gerar um quinhão mais generoso
que a micro ou pequena empresa.
144 • capítulo 5
Lembremos ainda, nesse passo, que foi somente a partir da Constituição
Federal de 1988 que o trabalhador rural passou a ser contribuinte da previdên-
cia social, pois antes, apesar de segurado, ele não recolhia qualquer contribui-
ção (MARTINS, 2007).
É o art. 195 da Constituição Federal que trata das fontes de custeio da previdência social:
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e in-
direta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, inciden-
tes sobre: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer
título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício; (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
b) a receita ou o faturamento; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
c) o lucro; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo contri-
buição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência so-
cial de que trata o art. 201; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
III - sobre a receita de concursos de prognósticos.
IV - do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)
§ 1º - As receitas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios destinadas à seguri-
dade social constarão dos respectivos orçamentos, não integrando o orçamento da União.
§ 2º - A proposta de orçamento da seguridade social será elaborada de forma integrada
pelos órgãos responsáveis pela saúde, previdência social e assistência social, tendo em
vista as metas e prioridades estabelecidas na lei de diretrizes orçamentárias, assegurada
a cada área a gestão de seus recursos.
§ 3º - A pessoa jurídica em débito com o sistema da seguridade social, como estabele-
cido em lei, não poderá contratar com o Poder Público nem dele receber benefícios ou
incentivos fiscais ou creditícios. (Vide Medida Provisória nº 526, de 2011) (Vide Lei nº
12.453, de 2011)
§ 4º - A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a manutenção ou expansão
da seguridade social, obedecido o disposto no art. 154, I.
capítulo 5 • 145
§ 5º - Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado
ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total.
§ 6º - As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas após
decorridos noventa dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou modi-
ficado, não se lhes aplicando o disposto no art. 150, III, “b”.
§ 7º - São isentas de contribuição para a seguridade social as entidades beneficentes
de assistência social que atendam às exigências estabelecidas em lei.
§ 8º O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais e o pescador artesanal, bem
como os respectivos cônjuges, que exerçam suas atividades em regime de economia fa-
miliar, sem empregados permanentes, contribuirão para a seguridade social mediante a
aplicação de uma alíquota sobre o resultado da comercialização da produção e farão jus aos
benefícios nos termos da lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
§ 9º As contribuições sociais previstas no inciso I do caput deste artigo poderão ter
alíquotas ou bases de cálculo diferenciadas, em razão da atividade econômica, da uti-
lização intensiva de mão-deobra, do porte da empresa ou da condição estrutural do
mercado de trabalho. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 47, de 2005)
§ 10. A lei definirá os critérios de transferência de recursos para o sistema único de
saúde e ações de assistência social da União para os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios, e dos Estados para os Municípios, observada a respectiva contrapartida de
recursos. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
§ 11. É vedada a concessão de remissão ou anistia das contribuições sociais de que
tratam os incisos I, a, e II deste artigo, para débitos em montante superior ao fixado em
lei complementar. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
§ 12. A lei definirá os setores de atividade econômica para os quais as contribuições
incidentes na forma dos incisos I, b; e IV do caput, serão não-cumulativas. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)
§ 13. Aplica-se o disposto no § 12 inclusive na hipótese de substituição gradual, total ou
parcial, da contribuição incidente na forma do inciso I, a, pela incidente sobre a receita
ou o faturamento. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)
146 • capítulo 5
5.5.8 Gestão democrática e descentralizada
capítulo 5 • 147
§ 4º Poderá ser convocada reunião extraordinária por seu Presidente ou a requerimento
de um terço de seus membros, conforme dispuser o regimento interno do CNPS.
§ 5º (Revogado pela Lei nº 9.528, de 1997)
§ 6º As ausências ao trabalho dos representantes dos trabalhadores em atividade, de-
correntes das atividades do Conselho, serão abonadas, computando-se como jornada
efetivamente trabalhada para todos os fins e efeitos legais.
§ 7º Aos membros do CNPS, enquanto representantes dos trabalhadores em atividade,
titulares e suplentes, é assegurada a estabilidade no emprego, da nomeação até um
ano após o término do mandato de representação, somente podendo ser demitidos por
motivo de falta grave, regularmente comprovada através de processo judicial.
§ 8º Competirá ao Ministério do Trabalho e da Previdência Social proporcionar ao CNPS
os meios necessários ao exercício de suas competências, para o que contará com uma
Secretaria-Executiva do Conselho Nacional de Previdência Social.
§ 9º O CNPS deverá se instalar no prazo de 30 (trinta) dias a contar da publicação desta Lei.
148 • capítulo 5
Isso está na letra do art. 195, § 5º da Constituição Federal, assim redigido:
Nada impede que empregado e empregador firmem acordo para pôr fim à re-
lação de emprego, negociando a indenização do tempo de serviço anterior ao
FGTS, se houver, na proporção mínima de 60% e respeitando o pagamento das
verbas rescisórias na forma prevista na legislação.
capítulo 5 • 149
5.8 Extinção por desaparecimento dos sujeitos
Em regra, extingue o contrato (CLT, art. 497 e 498, TST 173), desde que não re-
sulte em sucessão trabalhista (CLT, art. 448) ou na continuidade de fato com
eventual entidade que dê seguimento à atividade empresarial.
150 • capítulo 5
5.11 Extinção por força maior
capítulo 5 • 151
Cumpre ressaltar que, aos contratos por prazo determinado, que contiverem
cláusula assecuratória do direito recíproco de rescisão antes de expirado o termo
ajustado, aplica-se, caso seja exercido tal direito por qualquer das partes, os princí-
pios que regem a rescisão dos contratos por prazo indeterminado (art. 481 da CLT).
152 • capítulo 5
O empregado menor de 18 anos, além dos requisitos anteriores, deve ser
assistido por seu responsável legal (CLT, art. 439).
O empregado estável, tratando-se de demissão voluntária, deve ser assistido
pelo sindicato da categoria profissional, pelo Ministério do Trabalho ou pela
Justiça do Trabalho (CLT, art. 500).
Cumpre ressaltar que a assistência do sindicato para a realização da homo-
logação deve ser realizada de forma gratuita (CLT, art. 477, § 7º).
5.14.5 Multas
Condição de Segurado
Filiação Significa um vínculo das pessoas com a Previdência por meio das con-
tribuições, das quais decorrerão em direitos e obrigações. A filiação possui duas
capítulo 5 • 153
modalidades: os obrigatórios, que decorrem da atividade remunerada, ou seja, do
registro formal de trabalho, e os facultativos, ou seja, os que decorrem da inscrição
pagamento da primeira contribuição realizada pelo contribuinte e não recolhida
diretamente por um empregador. Logo, não basta que o contribuinte esteja apenas
inscrito, mas que esteja filiado ao INSS.
De acordo Ministério da Previdência Social são assegurados os:
Segurado empregado
• Urbano ou rural
• Atividade remunerada
• Caráter não eventual
• Subordinação
• Remuneração
• pessoa física
Empregado doméstico
• Continuidade
• Com remuneração
• Prestado à pessoa ou à família
• Sem fins lucrativos
Contribuinte individual
• Urbano ou rural
• Caráter eventual
• Mais de um empregado
• Sem a relação de emprego
• Exerce por conta própria uma ativida de enconômica
• De fins lucrativos ou não
Segurado especia
• Pessoa física
• Trabalho individual ou em enconomia familiar
• Pode ter auxílio de terceiros.
• Inclui familiares
Contribuinte Facultativo
• Pessoas que voluntariamente se filiam ao RGPS.
154 • capítulo 5
• Maior ou igual a 16 anos
• Não exerce atividade remunerada
Manutenção e perda da qualidade de segurado
A perda da qualidade de segurado se dá quando o contribuinte deixa de
contribuir. Ainda assim, se o segurado deixar de contribuir, permanece na
qualidade de assegurado, no entanto o mesmo poderá continuar conforme
tempo de contribuição.
Especial
Por idade
APOSENTADORIAS
Por invalidez
Por tempo de contribuição
Acidente
AUXÍLIOS Doença
Reclusão
SALÁRIO-FAMÍLIA
SALÁRIO-MATERNIDADE
Aposentadoria especial
Benefício concedido ao segurado que tenha trabalhado em condições pre-
judiciais à saúde ou à integridade física. Segundo o Ministério, para ter direito
à aposentadoria especial, o trabalhador deverá comprovar, além do tempo de
trabalho, efetiva exposição aos agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou
associação de agentes prejudiciais pelo período exigido para a concessão do
benefício (15, 20 ou 25 anos).
O que é o Perfil Profissiográfico Previdenciário – PPP?
O PPP é o documento histórico-laboral do trabalhador que reúne dados
administrativos, registros ambientais e resultados de monitoração biológica,
entre outras informações, durante todo o período em que este exerceu suas ati-
vidades. A empresa é obrigada a fornecer cópia autêntica do PPP ao trabalhador
em caso de rescisão do contrato de trabalho ou de desfiliação da cooperativa,
sindicato ou Órgão Gestor de Mão de Obra.
capítulo 5 • 155
Aposentadoria por idade
Têm direito ao benefício os trabalhadores urbanos do sexo masculino a partir
dos 65 anos e do sexo feminino a partir dos 60 anos de idade. Os trabalhadores ru-
rais podem pedir aposentadoria por idade com cinco anos a menos: a partir dos
60 anos os homens e a partir dos 55 anos as mulheres. O Ministério orienta que
para solicitar o benefício, os trabalhadores urbanos inscritos na Previdência So-
cial a partir de 25 de julho de 1991 precisam comprovar 180 contribuições men-
sais. Os rurais têm de provar, com documentos, 180 meses de atividade rural.
Os segurados urbanos filiados até 24 de julho de 1991 devem comprovar o
número de contribuições exigidas de acordo com o ano em que implementaram
as condições para requerer o benefício. O trabalhador rural (empregado e contri-
buinte individual), enquadrado como segurado obrigatório do Regime-Geral de
Previdência Social (RGPS), pode requerer aposentadoria por idade, no valor de
um salário-mínimo, até 31 de dezembro de 2010, desde que comprove o efetivo
exercício da atividade rural, ainda que de forma descontínua, em número de me-
ses igual à carência exigida. Para o segurado especial não há limite de data.
Segundo a Lei 10.666 de 8 de maio de 2003, a perda da qualidade de segu-
rado não será considerada para a concessão de aposentadoria por idade, desde
que o trabalhador tenha cumprido o tempo mínimo de contribuição exigido.
Nesse caso, o valor do benefício será de um salário-mínimo, se não houver con-
tribuições depois de julho de 1994.
156 • capítulo 5
Auxílio-reclusão
O auxílio-reclusão é um benefício devido aos dependentes do segurado reco-
lhido à prisão, durante o período em que estiver preso sob regime fechado ou se-
miaberto. Não cabe concessão de auxílio-reclusão aos dependentes do segurado
que estiver em livramento condicional ou cumprindo pena em regime aberto. Para
a concessão do benefício, é necessário o cumprimento dos seguintes requisitos:
• o segurado que tiver sido preso não poderá estar recebendo salário da
empresa na qual trabalhava nem estar em gozo de auxílio-doença, apo-
sentadoria ou abono de permanência em serviço;
• a reclusão deverá ter ocorrido no prazo de manutenção da qualidade de
segurado;
• o último salário de contribuição do segurado (vigente na data do recolhi-
mento à prisão; ou na
• data do afastamento do trabalho ou cessação das contribuições), tomado
em seu valor mensal, deverá ser igual ou inferior aos seguintes valores, in-
dependentemente da quantidade de contratos e de atividades exercidas.
capítulo 5 • 157
Caso o segurado recluso exerça atividade remunerada como contribuinte
individual ou facultativo, tal fato não impedirá o recebimento de auxílio-reclu-
são por seus dependentes.
Salário-família
Benefício pago aos segurados empregados, exceto os domésticos, e aos tra-
balhadores avulsos com salário mensal de até R$ 798,30, para auxiliar no sus-
tento dos filhos de até 14 anos de idade ou inválidos de qualquer idade. (Obser-
vação – São equiparados aos filhos os enteados e os tutelados, desde que estes
não possuam bens suficientes para o próprio sustento, devendo a dependência
econômica de ambos ser comprovada.)
Segundo o Ministério, para a concessão do salário-família, a Previdência So-
cial não exige tempo mínimo de contribuição. De acordo com a Portaria Inter-
ministerial n. 350, de 30 de dezembro de 2009, o valor do salário-família será de
158 • capítulo 5
R$ 27,24 por filho de até 14 anos incompletos ou inválido, para quem ganhar
até R$ 531,12. Para o trabalhador que receber de R$ 531,13 até R$ 798,30, o va-
lor do salário-família por filho de até 14 anos de idade ou inválido de qualquer
idade será de R$ 19,19.
Salário-maternidade
O salário-maternidade é devido às seguradas empregadas, trabalhadoras avul-
sas, empregadas domésticas, contribuintes individuais, facultativas e seguradas
especiais, por ocasião do parto, inclusive em casos de natimorto, aborto não crimi-
noso, adoção ou guarda judicial para fins de adoção.
O benefício é pago durante 120 dias e poderá ter início até 28 dias antes do
parto. Se concedido antes do nascimento da criança, a comprovação será por
atestado médico; se posterior ao parto, a prova será a Certidão de Nascimento.
A duração do benefício será diferenciada nos casos especificados abaixo:
• Nos abortos espontâneos ou previstos em lei (estupro ou risco de vida
para a mãe), será pago o salário-maternidade por duas semanas.
• À segurada da Previdência Social que adotar ou obtiver guarda judicial
para fins de adoção de criança é devido salário-maternidade durante os
seguintes períodos:
• 120 dias, se a criança tiver até 1 ano completo de idade;
• 60 dias, se a criança tiver de 1 até 4 anos completos de idade;
• 30 dias, se a criança tiver de 4 até 8 completos anos de idade.
No caso de adoção de mais de uma criança simultaneamente, a segurada terá direito so-
mente ao pagamento de um salário-maternidade, observando-se o direito segundo a idade
da criança mais nova. Conforme orientações do Ministério, para a concessão do salário-
-maternidade, não é exigido tempo mínimo de contribuição das trabalhadoras empregadas,
empregadas domésticas e trabalhadoras avulsas, desde que comprovem filiação nesta con-
dição na data do afastamento para fins de salário-maternidade ou na data do parto.
A contribuinte individual, a segurada facultativa e a segurada especial (que optou por
contribuir) devem ter pelo menos dez contribuições para receber o benefício. A segura-
da especial que não paga contribuições receberá o salário-maternidade se comprovar
no mínimo dez meses de trabalho rural imediatamente anteriores à data do parto, mes-
mo que de forma descontínua. Se o nascimento for prematuro, a carência será reduzida
no mesmo total de meses em que o parto foi antecipado.
capítulo 5 • 159
Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social – BPC-LOAS – ao
idoso e à pessoa com deficiência
O Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social (BPC-LOAS) é
um benefício da assistência social, integrante do Sistema Único da Assistência
Social (SUAS), pago pelo Governo Federal, cuja operacionalização do reconhe-
cimento do direito é do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e assegurado
por lei, o que permite o acesso de idosos e de pessoas com deficiência às condi-
ções mínimas de uma vida digna.
O benefício assistencial pode ser pago a mais de um membro da família, desde que
comprovadas todas a condições exigidas. Nesse caso, o valor do benefício concedido
anteriormente será incluído no cálculo da renda familiar. O benefício deixará de ser
pago quando houver superação das condições que deram origem à concessão do be-
nefício ou pelo falecimento do beneficiário. O benefício assistencial é intransferível e,
portanto, não gera pensão aos dependentes.(BRASIL, 1993)
160 • capítulo 5
5.16 Beneficiários da previdência social
empregado
empregado doméstico
segurado especial
Facultativo
Beneficiários
I – cônjuge; companheiro; filho nao emacipado, de
qualquer condição, menor de 21 anos, ou inválido;
equiparado a filho (menor tutelado e enteado);
Dependentes
II – pais;
capítulo 5 • 161
5.16.1 Segurados
5.16.1.2 O empregado
A primeira categoria de segurados obrigatórios prevista em lei é a dos emprega-
dos. Por empregado, devemos entender aquela pessoa física, que presta servi-
ços à empresa, serviços estes que podem ser de natureza urbana ou rural. Para
que se caracterize a condição de empregado, tal serviço deve ser não eventu-
al, ou seja, contínuo; deve haver relação de subordinação entre empregador e
empregado, bem como uma remuneração periódica. Os requisitos elencados
acima precisam ser cumulativos, ou seja, ausente qualquer um deles, estará
descaracterizada a relação de emprego. Lembre-se que o diretor da empresa
também pode ser empregado.
ATENÇÃO
Esta é a conceituação de empregado trazida pela art. 3º da CLT, a qual é condizente com
aquela trazida pela legislação previdenciária:
162 • capítulo 5
Art. 3º - Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não
eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário.
capítulo 5 • 163
5.16.1.3 O empregado doméstico
O inciso II do mesmo art. 12 da Lei no. 8.212/91 trata da próxima grande categoria
de segurados obrigatórios da previdência social: os empregados domésticos.
O empregado doméstico é aquele indivíduo que presta serviços contínuos,
ou seja, não eventuais e não temporários, a outra pessoa física ou a um núcleo
familiar, sempre e exclusivamente no âmbito residencial destes, e em ativida-
des que não podem ter fins lucrativos. Os serviços domésticos também preci-
sam ser, sempre, mediante remuneração periódica.
É de grande relevância para a caracterização
LEONARDO CORRADINI | DREAMSTIME.COM
164 • capítulo 5
A existência desta intermediação é o ponto fundamental para a caracteriza-
ção do trabalhador avulso.
A atividade do avulso pode ser de natureza urbana ou rural. Os exemplos
mais comuns de trabalho avulso são aqueles encontrados nos portos, onde nor-
malmente as atividades de estiva, capatazia (ambas ligadas à movimentação de
mercadorias) e amarração de embarcações são realizados nesta modalidade.
• a pessoa física que exerce, por conta própria, atividade econômica de na-
tureza urbana, com fins lucrativos ou não;
capítulo 5 • 165
• a pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade agropecuária,
a qualquer título, em caráter permanente ou temporário, em área supe-
rior a 4 (quatro) módulos fiscais; ou, quando em área igual ou inferior a
4 (quatro) módulos fiscais ou atividade pesqueira, com auxílio de empre-
gados ou por intermédio de prepostos; ou ainda nas hipóteses dos §§ 10
e 11 deste artigo;
• a pessoa física que exerce, por conta própria, atividade econômica de na-
tureza urbana, com fins lucrativos ou não;
166 • capítulo 5
Art. 12. São segurados obrigatórios da Previdência Social as seguintes pessoas físicas:
[...]
VII – como segurado especial: a pessoa física residente no imóvel rural ou em aglo-
merado urbano ou rural próximo a ele que, individualmente ou em regime de economia
familiar, ainda que com o auxílio eventual de terceiros a título de mútua colaboração, na
condição de:
a) produtor, seja proprietário, usufrutuário, possuidor, assentado, parceiro ou meeiro
outorgados, comodatário ou arrendatário rurais, que explore atividade:
1. agropecuária em área de até 4 (quatro) módulos fiscais; ou
2. de seringueiro ou extrativista vegetal que exerça suas atividades nos termos do inciso
XII do caput do art. 2o da Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000, e faça dessas ativida-
des o principal meio de vida;
b) pescador artesanal ou a este assemelha-
LEONARDO CORRADINI | DREAMSTIME.COM
Recordemos que todas as figuras acima estudadas são de indivíduos que estão,
por força de lei, obrigados a se filiarem e contribuírem para a Previdência Social.
Mas além dessas situações onde a filiação é compulsória, a Lei no. 8.212/91
prevê, em seu art. 14, a figura do segurado facultativo.
capítulo 5 • 167
O dispositivo legal está assim redigido:
Art. 14. É segurado facultativo o maior de 14 (quatorze) anos de idade que se filiar ao
Regime Geral de Previdência Social, mediante contribuição, na forma do art. 21, desde
que não incluído nas disposições do art. 12.
CONEXÃO
Para acesso ao texto integral da legislação de regência do estágio estudantil (Lei no.
6.494/77), acessem: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/
L11788.htm#art22>
168 • capítulo 5
Uma ressalva precisa ser feita com relação ao art. 14 da Lei no. 8.212/91,
reproduzido acima. Sua redação fala que pode se filiar à previdência o maior
de 14 anos de idade. Mas este texto legal foi publicado quando ainda vigia a
redação original do art. 7º, inciso XXXIII (trinta e três) da Constituição Federal,
que também previa ser esta a idade mínima para o trabalho remunerado. Este
dispositivo foi, porém, alterado pela Emenda Constitucional no. 20, de 1998,
que aumentou esta idade laboral mínima para 16 (dezesseis) anos. Existe um
consenso entre os profissionais da área, no sentido de que a partir de então,
também a idade mínima para filiação à previdência social, como segurado fa-
cultativo, passou a ser de dezesseis anos.
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à
melhoria de sua condição social:
(...)
XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de
qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir
de quatorze anos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
A condição de segurado é um vínculo jurídico que uma pessoa mantém com a pre-
vidência social, vínculo este que o habilita a ser beneficiário de suas prestações,
havendo por óbvio a contrapartida do recolhimento das contribuições respectivas,
ou no mínimo, o exercício de atividade profissional que o vincule ao RGPS.
Mas existem hipóteses previstas em lei, nas quais, mesmo não ocorrendo
o recolhimento das contribuições devidas à previdência, ou mesmo atividade
profissional que a enquadre como segurada, a pessoa continua vinculada à pre-
vidência. Esse período é o chamado período de graça, e suas situações estão
tratadas no art. 15 da Lei no. 8.213/91.
De uma certa forma, podemos dizer que no período de graça ocorre o con-
trário do período de carência. Neste, o segurado já verteu contribuições à previ-
dência, mas ainda não tem direito a certos benefícios. Já no período de graça, o
segurado ainda mantém o direito às prestações da previdência, embora já não
mais contribua (MARTINEZ, 2003, p. 136).
capítulo 5 • 169
Assim, mantém a qualidade de segurado, sem qualquer limite de tempo,
aquele que está no gozo de benefícios, como quem recebe um auxílio-doença
por longo prazo. Nessa hipótese, o período de afastamento também é computa-
do como tempo de contribuição para quaisquer fins, incluindo para a aposen-
tadoria por tempo de contribuição.
Cessando o pagamento das contribuições, seja por desemprego ou mera sus-
pensão do contrato de trabalho, o segurado continua filiado à previdência pelo
prazo de 12 (doze) meses. Acaso o segurado já tenha vertido mais de 120 (cento e
vinte) contribuições à previdência, sem interrupções que acarretem sua condição
de segurado, este prazo será estendido para 24 (vinte e quatro) meses.
Também é de doze meses o período de graça para o segurado que estava aco-
metido de doença que impunha sua segregação compulsória, ou seja, daquelas
doenças que, por lei, o obrigaram a se submeter à quarentena. Nesse caso, o
período de graça começa a ser contado a partir do encerramento da segregação.
O segurado preso ou detido também pode manter seu vínculo com a pre-
vidência durante todo o período de sua privação de liberdade, e até 12 (doze)
meses após reaver sua liberdade.
Já o segurado conscrito, isto é, aquele convocado a prestar o serviço militar
obrigatório, tem um período de graça de três meses, a contar de seu desliga-
mento das forças armadas.
O segurado facultativo goza de três meses de graça, após parar de efetuar
seus recolhimentos mensais.
Situação peculiar e privilegiada é a do desempregado, pois configurado este
infortúnio, seu período de graça poderá se estender mais outros 12 (doze) me-
ses, a serem acrescidos aos 12 (doze) ou 24 (vinte e quatro) originais. Este be-
nefício depende, porém, de uma providência burocrática, que é sua inscrição
como desempregado perante o Ministério do Trabalho.
A perda da qualidade de segurado ocorrerá no décimo sexto dia do mês sub-
sequente aos prazos mencionados acima, porque este é o prazo para o paga-
mento da contribuição relativa ao mês de encerramento do período de graça.
Vale reproduzir, aqui, o texto integral do art. 15 da Lei no. 8.213/91:
170 • capítulo 5
III - até 12 (doze) meses após cessar a segregação, o segurado acometido de doença
de segregação compulsória;
IV - até 12 (doze) meses após o livramento, o segurado retido ou recluso;
V - até 3 (três) meses após o licenciamento, o segurado incorporado às Forças Arma-
das para prestar serviço militar;
VI - até 6 (seis) meses após a cessação das contribuições, o segurado facultativo.
§ 1º O prazo do inciso II será prorrogado para até 24 (vinte e quatro) meses se o segu-
rado já tiver pago mais de 120 (cento e vinte) contribuições mensais sem interrupção
que acarrete a perda da qualidade de segurado.
§ 2º Os prazos do inciso II ou do § 1º serão acrescidos de 12 (doze) meses para o
segurado desempregado, desde que comprovada essa situação pelo registro no órgão
próprio do Ministério do Trabalho e da Previdência Social.
§ 3º Durante os prazos deste artigo, o segurado conserva todos os seus direitos perante
a Previdência Social.
§ 4º A perda da qualidade de segurado ocorrerá no dia seguinte ao do término do prazo
fixado no Plano de Custeio da Seguridade Social para recolhimento da contribuição
referente ao mês imediatamente posterior ao do final dos prazos fixados neste artigo
e seus parágrafos.
5.16.4 Dependentes
capítulo 5 • 171
Diz a primeira parte do art. 16 da Lei no. 8.213/91:
Art. 16. São beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, na condição de de-
pendentes do segurado:
I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer con-
dição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou
mental que o torne absoluta ou relativamente incapaz, assim declarado judicialmente;
(Redação dada pela Lei nº 12.470, de 2011)
II - os pais;
III - o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou in-
válido ou que tenha deficiência intelectual ou mental que o torne absoluta ou relativamen-
te incapaz, assim declarado judicialmente; (Redação dada pela Lei nº 12.470, de 2011)
172 • capítulo 5
o segurado tiver um filho, seus pais e irmãos nada receberão. Não havendo
nenhum dependente na primeira categoria, mas tendo ele pais vivos, seus ir-
mãos nada receberão.
Dentro de uma mesma classe, o montante total do benefício será dividido
por tantas partes quantos forem os dependentes nela existentes. Por exemplo,
falecido o segurado e deixando ele mulher e dois filhos, será calculado o valor
mensal do benefício e depois, este se repartirá por três. Quando um dos filhos
atingir os vinte e um anos, seu quinhão acrescerá o da mulher e de seu irmão.
Quando este também atingir os vinte e um anos de idade, a mulher passará a
receber a totalidade da pensão por morte.
Lembre-se que os benefícios pagos pela
CONEXÃO
O Regulamento do Imposto de Renda (RIR) elenca quem são os dependentes do contribuin-
te em seu art. 77, cujo conteúdo pode ser acessado em:
<http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/RIR/Livro1.htm>
capítulo 5 • 173
CONEXÃO
O Código Civil Brasileiro pode ser acessado em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
Leis/2002/L10406.htm>
174 • capítulo 5
e da Previdência Social a cada três anos, de acordo com os critérios de es-
tigma, deformação, mutilação, deficiência, ou outro fator que lhe confi-
ra especificidade e gravidade que mereçam tratamento particularizado;
• serviço social;
• reabilitação profissional.
capítulo 5 • 175
O valor resultante da aplicação desta fórmula não poderá ser inferior ao sa-
lário mínimo, nem superior ao limite máximo do salário-de-contribuição para
o mês de concessão do benefício.
Segundo o art. 29-B da Lei no. 8.213/91,
os salários de contribuição empregados no
JAKUB KRECHOWICZ | DREAMSTIME.COM
Anexo
Cálculo do fator previdenciário
Tc x a ( Id + Tc x a )
=f x 1 +
Es 100
Onde:
f = fator previdenciário;
Es = expectativa de sobrevida no momento da aposentadoria;
Tc = tempo de contribuição até o momento da aposentadoria;
Id = idade no momento da aposentadoria;
a = alíquota de contribuição correspondente a 0,31.
176 • capítulo 5
Percebe-se, portanto, que o fator previdenciário é um instrumento vocacio-
nado ao aperfeiçoamento da manutenção do equilíbrio atuarial da previdência
social. Se antes o salário de benefício era tomado por base apenas os trinta e
seis últimos salários de contribuição do segurado, pouco importando suas con-
tribuições anteriores a este período, bem como a projeção de por quanto tempo
o benefício seria mantido, isto agora mudou.
Como visto, todo o período contributivo do segurado é agora tomado em
conta, bem como sua idade e a expectativa média de vida do brasileiro, tudo de
forma a fazer com que o prognóstico do tempo futuro de manutenção do bené-
fico também influa em seu valor.
CONEXÃO
Para visualizar a tábua de mortalidade da população brasileira, elaborada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), veja: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/
populacao/tabuadevida/2010/ambossexos.pdf>
O Prof. Sérgio Pinto Martins tece relevantes comentários sobre o fator previdenciário,
noticiando também alguns dados a respeito de seu impacto no sistema:
O fator previdenciário foi instituído pela Lei no. 9.876, de 26 de novembro de 1999.
Toma por base: expectativa de sobrevida no momento da aposentadoria, tempo de con-
tribuição até o momento da aposentadoria, idade no momento da aposentadoria.
Quem se aposentar mais cedo tem aposentadoria menor, pois a expectativa de vida da
pessoa é maior, recebendo benefício por mais tempo. Nesse caso, o fator previdenciário
objetiva estimular os segurados a retardar o pedido de aposentadoria.
capítulo 5 • 177
O fator reduziu 0,5% por mês no valor das aposentadorias entre dezembro de 1999 a
novembro de 2004, atingindo 30%.
A idade média geral da aposentadoria aumentou em decorrência da instituição do fator
previdenciário. Ao final de 1999, a idade de aposentadoria era em média 51,7 anos
(52,4 anos para homens e 50,1 anos para mulheres). Em 2005, a idade foi de 53,3
anos (54,4 anos para o homem e 51,3 anos para a mulher).
Tem fundamento no art. 201 da Constituição, que determina a observância de critérios
que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, nos termos da lei. Exatamente isso foi
observado pela Lei no. 9.876.
(...)
Equilíbrio atuarial e, por exemplo, expectativa de vida da pessoa, tempo de contribuição,
idade. Isso mostra que a Previdência Social não envolve só Direito, mas o aspecto eco-
nômico e também o atuarial, pois é um seguro social. (MARTINS, 2007, p. 308)
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter
contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio
financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a:
[...]
§ 7º É assegurada aposentadoria no regime geral de previdência social, nos termos da
lei, obedecidas as seguintes condições:
178 • capítulo 5
I - trinta e cinco anos de contribuição, se homem, e trinta anos de contribuição, se mulher;
[...]
§ 8º Os requisitos a que se refere o inciso I do parágrafo anterior serão reduzidos em
cinco anos, para o professor que comprove exclusivamente tempo de efetivo exercício
das funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio.
§ 9º Para efeito de aposentadoria, é assegurada a contagem recíproca do tempo de
contribuição na administração pública e na atividade privada, rural e urbana, hipótese
em que os diversos regimes de previdência social se compensarão financeiramente,
segundo critérios estabelecidos em lei.
5.19.1 Carência
capítulo 5 • 179
tor de cada um dos sistemas providenciar a compensação financeira daí decor-
rente, nos termos da lei.
ATENÇÃO
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberda-
de, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...)
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;
180 • capítulo 5
Para aqueles que já haviam se filiado ao sistema previdenciário quando da
Emenda Constitucional no. 20/98, mas ainda não tinham cumprido todos os
requisitos para a obtenção da aposentadoria, um sistema de regras de transição
foi criado em seu art. 9º, assim redigido:
RMARMION | DREAMSTIME.COM
de contribuição corresponderá a 100% (cem por cen-
to) do salário de benefício do segurado.
Mas os segurados que se enquadrarem na regra
de transição da Emenda Constitucional nº. 20/98
ainda poderão fazer jus à aposentadoria proporcio-
nal, aos 30 (trinta) anos de contribuição, se homem,
e 25 (vinte e cinco) anos de contribuição, se mulher.
Na aposentadoria proporcional, a renda mensal
do benefício será de 70% (setenta) do salário de be-
nefício do segurado, mais uma parcela de 5% deste por ano que exceder os limi-
tes mínimos para a concessão do benefício, podendo chegar a 100%.
Conforme visto nos tópicos acima, no ano de 1998 nossa legislação a respeito
da aposentadoria sofreu significativa mudança com a declarada finalidade de
se resguardar a viabilidade econômica e financeira de nosso regime geral da
previdência social.
O antigo sistema da aposentadoria por tempo de serviço ostentava, de fato,
muitas características passíveis de crítica. É fato que ao se desprezar o quesito
contribuição, prestigiando apenas o quesito trabalho, fica fragilizado o necessário
equilíbrio atuarial da previdência social. E isto sem falar que ele dava azo a muitas
distorções. Por exemplo, não é incomum na vida forense a apresentação de pedi-
dos de contagem de tempo de serviço que retroagem até a data em que o segurado
tinha quatorze ou mesmo doze anos de serviço. Isso ocorre principalmente no caso
de indivíduos com origem no meio rural, onde as relações de trabalho eram, déca-
das atrás (e em grande parte até hoje), marcadas pela informalidade.
CONCEITO
Calculo Atuarial: modalidade de cálculo típica das entidades seguradoras em geral, ai inclu-
ída a previdência social. Nele, procura-se antever a quantidade de recursos necessários para
a manutenção do sistema, realizando-se um prognóstico da proporção de ocorrência dos
182 • capítulo 5
eventos cobertos pelo seguro (sinistro) para, assim, calcular o seu preço (prêmio). Na previ-
dência, esse cálculo deve incluir a quantidade de trabalhadores ativos e inativos, o valor de
seus benefícios e contribuições, as respectivas expectativas de vida e de seus dependentes,
o número destes dependentes, etc.
capítulo 5 • 183
Mas também não se atribua à inovação da aposentadoria por tempo de con-
tribuição a qualidade de uma panaceia apta a fazer completa justiça social. Ora,
é sabido que o recolhimento das contribuições devidas à previdência é encargo
atribuído ao empregador, e não ao empregado. Este somente vê descontado em
seu salário o valor respectivo, mas não é ele quem providencia o recolhimento.
Fica, portanto, o empregado à mercê da lisura e honestidade do empregador.
Agora, é de pouca valia apresentar à previdência a carteira de trabalho com as
anotações devidas, se as contribuições não foram de fato pagas.
A proteção do trabalhador contra essa situação cabe, em princípio, aos órgãos
de fiscalização, agora afeta à Receita Federal do Brasil. Mas infelizmente, todos
sabemos da fragilidade desta fiscalização, em face da grandiosidade da tarefa.
184 • capítulo 5
CONEXÃO
Para conhecer o texto integral da rejeitada Medida Provisória no. 446/94, acesse:
<http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/108667/medida-provisoria-446-94>
A aposentadoria por idade tem seu perfil básico tratado pelo art. 201, § 7º, inc. II
da Constituição Federal, assim redigidos naquilo que é pertinente a esse benefício:
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter
contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio
financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a:
[..]
§ 7º É assegurada aposentadoria no regime geral de previdência social, nos termos da
lei, obedecidas as seguintes condições:
[..]
II - sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta anos de idade, se mulher,
reduzido em cinco anos o limite para os trabalhadores rurais de ambos os sexos e para
os que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, nestes incluídos o
produtor rural, o garimpeiro e o pescador artesanal.
capítulo 5 • 185
aposentadoria por idade convivem como institutos diversos e independentes.
Os requisitos previstos nos incisos I e II do art. 201 da Constituição Federal não
são, portanto, cumulativos, e cada um deles diz respeito a um benefício especí-
fico e diverso do outro.
A aposentadoria por idade é devida ao segurado que completar 65 (sessenta
e cinco) anos de idade, se for homem, ou sessenta anos de idade, se mulher.
Tal limite pode ser reduzido em cinco anos, para ambos os sexos, no caso do
trabalhador rural, ou daqueles a ele assemelhados por lei, como é o caso do
garimpeiro e do pescador artesanal.
5.20.1 Carência
Art. 143. O trabalhador rural ora enquadrado como segurado obrigatório no Regime
Geral de Previdência Social, na forma da alínea “a” do inciso I, ou do inciso IV ou VII
do art. 11 desta Lei, pode requerer aposentadoria por idade, no valor de um salário
mínimo, durante quinze anos, contados a partir da data de vigência desta Lei, desde
que comprove o exercício de atividade rural, ainda que descontínua, no período ime-
diatamente anterior ao requerimento do benefício, em número de meses idêntico à
carência do referido benefício.
O prazo em questão foi prorrogado até 31 de dezembro de 2010, pela Lei nº.
11.718/2008. Tal dispositivo de lei é norma de justiça social, porque reconhece
o caráter precário e informal com que se desenvolviam as relações de trabalho
no campo. Assim, antes de uma mudança abrupta e completa de sistemas pre-
videnciários, tratou-se de criar norma de transição, com eficácia temporária,
ao longo da qual os trabalhadores rurais ficaram dispensados de cumprir a ca-
rência legal para fins de obtenção da aposentadoria por idade. Desnecessário,
nesse caso, o recolhimento de contribuições, bastando comprovar o tempo de
serviço pelo mesmo número de meses da carência. Nessa hipótese, o valor do
benefício fica restringido a um salário mínimo.
186 • capítulo 5
CONEXÃO
Para o conteúdo integral da Lei no. 11.718/2008, acesse:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11718.htm>
capítulo 5 • 187
trabalho, e assim por diante. Ainda mais difícil é a situação da mulher, mesmo
porque embora ela normalmente também trabalhasse na lavoura, juntamente
com o marido e as crianças já de tenra idade, por questões de convenção social,
quase sempre ela vinha qualificada nos documentos oficiais como “do lar” (es-
pecialmente na certidão de casamento).
Esse dispositivo tem, por certo, criado bastante dificuldade para o trabalha-
dor rural obter benefícios perante a previdência social, mesmo porque, como
já ressaltamos, estamos aqui a tratar de um público com muito pouca cultura
e parco acesso à informação, cujas relações sociais e profissionais ocorrem de
maneira extremamente informal e, às vezes, meramente oral.
Este dispositivo legal permite que uma pessoa trabalhe e contribua para a
previdência pelos cento e oitenta meses previstos como carência mínima para a
concessão de uma aposentadoria por idade e, mesmo parando de trabalhar de-
pois disto, obtenha o benefício quando completar a idade mínima prevista para
a aposentadoria por idade (sessenta e cinco anos homem, sessenta mulher).
Suponhamos um homem que comece a trabalhar e contribuir para a previ-
dência aos 18 (dezoito) anos de idade. Ele completará os cento e oitenta meses
de carência aos 33 (trinta e três anos de idade). Mesmo se abandonar a vida pro-
dutiva, coisa que implicará a perda de sua qualidade de segurado, ele terá direi-
to a uma aposentadoria por idade quando completar os sessenta e cinco anos.
188 • capítulo 5
Essa norma é objeto de muita polêmica. Muitas a aprovam, como medida de
justiça social, voltada especialmente aos idosos, garantindo a eles mais um me-
canismo de preservação da dignidade numa idade onde dificilmente poderiam,
ainda, laborar para prover seu próprio sustento. Já outros identificam nela um
contra-senso, especialmente quando todas as reformas da previdência têm como
alvo quase prioritário a manutenção de seu equilíbrio atuarial e financeiro.
Art. 51. A aposentadoria por idade pode ser requerida pela empresa, desde que o segu-
rado empregado tenha cumprido o período de carência e completado 70 (setenta) anos
de idade, se do sexo masculino, ou 65 (sessenta e cinco) anos, se do sexo feminino,
sendo compulsória, caso em que será garantida ao empregado a indenização prevista
na legislação trabalhista, considerada como data da rescisão do contrato de trabalho a
imediatamente anterior à do início da aposentadoria.
capítulo 5 • 189
rique Cardoso exerceu a chefia do Poder Executivo da Nação até bem depois de
completar os setenta anos de idade.
Importante não confundir essa aposentadoria dita compulsória, prevista
no RGPS, com a aposentadoria compulsória dos servidores públicos que ocorre
aos setenta anos de idade, por força do art. 40, inciso II da Constituição Federal.
Art. 40. Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime
de previdência de caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo
ente público, dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas, observados critérios
que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo.
[...]
II - compulsoriamente, aos setenta anos de idade, com proventos proporcionais ao tem-
po de contribuição;
Art. 42. A aposentadoria por invalidez, uma vez cumprida, quando for o caso, a carência
exigida, será devida ao segurado que, estando ou não em gozo de auxílio-doença, for
considerado incapaz e insusceptível de reabilitação para o exercício de atividade que
lhe garanta a subsistência, e ser-lhe-á paga enquanto permanecer nesta condição.
190 • capítulo 5
§ 1º A concessão de aposentadoria por invalidez dependerá da verificação da condição
de incapacidade mediante exame médico-pericial a cargo da Previdência Social, poden-
do o segurado, às suas expensas, fazer-se acompanhar de médico de sua confiança.
§ 2º A doença ou lesão de que o segurado já era portador ao filiar-se ao Regime Geral de
Previdência Social não lhe conferirá direito à aposentadoria por invalidez, salvo quando a
incapacidade sobrevier por motivo de progressão ou agravamento dessa doença ou lesão.
capítulo 5 • 191
É por essas razões que a aposentadoria por invalidez é considerada um be-
nefício temporário, passível de revisão a qualquer tempo.
Para a concessão dessa aposentadoria, a invalidez laboral precisa ser atesta-
da por exame médico pericial, que será realizado pela previdência social, sem
nenhum custo para o segurado. Acaso deseje, este poderá se fazer acompanhar
por profissional médico de sua escolha, mas neste caso arcará com o custo res-
pectivo. E ainda assim, a conclusão técnica final será do médico afeto aos qua-
dros da previdência.
Se o segurado já for portador de alguma doença ou lesão quando se filiar à
previdência, a mesma não ensejará a concessão da aposentadoria por invalidez.
Diferente é a situação onde a doença ou lesão até existe no momento da filia-
ção, mas ela não era de tal gravidade a ponto de ser incapacitante. Com o passar
do tempo, esta mazela se agrava, evolui, e acaba gerando a incapacidade. Nessa
situação, impedimento algum existe à concessão do benefício em estudo.
ATENÇÃO
Art. 46. O aposentado por invalidez que retornar voluntariamente à atividade terá sua aposen-
tadoria automaticamente cancelada, a partir da data do retorno.
5.21.1 Carência
192 • capítulo 5
estigma, deformação, mutilação, deficiência, ou outro fator que lhe confira es-
pecificidade e gravidade que mereçam tratamento particularizado.
CONEXÃO
Para acessar o conteúdo completo do Decreto no. 3.048/99, incluindo suas tabelas anexas, veja:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3048.htm
capítulo 5 • 193
Art. 43. A aposentadoria por invalidez será devida a partir do dia imediato ao da cessa-
ção do auxílio-doença, ressalvado o disposto nos §§ 1º, 2º e 3º deste artigo.
§ 1º Concluindo a perícia médica inicial pela existência de incapacidade total e definitiva
para o trabalho, a aposentadoria por invalidez será devida:
a) ao segurado empregado, a contar do décimo sexto dia do afastamento da atividade
ou a partir da entrada do requerimento, se entre o afastamento e a entrada do requeri-
mento decorrerem mais de trinta dias;
b) ao segurado empregado doméstico, trabalhador avulso, contribuinte individual, espe-
cial e facultativo, a contar da data do início da incapacidade ou da data da entrada do
requerimento, se entre essas datas decorrerem mais de trinta dias.
§ 2º Durante os primeiros quinze dias de afastamento da atividade por motivo de invali-
dez, caberá à empresa pagar ao segurado empregado o salário.
Art. 45. O valor da aposentadoria por invalidez do segurado que necessitar da assis-
tência permanente de outra pessoa será acrescido de 25% (vinte e cinco por cento).
Parágrafo único. O acréscimo de que trata este artigo:
a) será devido ainda que o valor da aposentadoria atinja o limite máximo legal;
b) será recalculado quando o benefício que lhe deu origem for reajustado;
c) cessará com a morte do aposentado, não sendo incorporável ao valor da pensão.
194 • capítulo 5
1. Cegueira total.
2. Perda de nove dedos das mãos ou superior a esta.
3. Paralisia dos dois membros superiores ou inferiores.
4. Perda dos membros inferiores, acima dos pés, quando a prótese for im-
possível.
5. Perda de uma das mãos e de dois pés, ainda que a prótese seja possível.
6. Perda de um membro superior e outro inferior, quando a prótese for
impossível.
7. Alteração das faculdades mentais com grave perturbação da vida orgâ-
nica e social.
8. Doença que exija permanência contínua no leito.
9. Incapacidade permanente para as atividades da vida diária.
capítulo 5 • 195
Essa norma está no art. 47 da mencionada lei:
ATENÇÃO
Art. 475 - O empregado que for aposentado por invalidez terá suspenso o seu contrato de
trabalho durante o prazo fixado pelas leis de previdência social para a efetivação do benefício.
196 • capítulo 5
Caso o segurado não seja empregado, mas autônomo, avulso, etc., o benefí-
cio será mantido por tantos meses quantos forem os anos de sua manutenção.
Se o segurado autônomo recebeu a aposentadoria por quatro anos, constatada
sua recuperação, receberá o benefício por ainda mais quatro meses.
Quando a recuperação do aposentado não for total, ou seja, quando ele não
voltar a ter condições de trabalhar nas mesmas funções antes exercidas, ou
quando tal recuperação ocorrer decorridos mais de cinco anos da concessão do
benefício (ainda que total), seu pagamento será mantido por 18 (dezoito) me-
ses, sendo integral nos primeiros seis, com redução pela metade no semestre
seguinte e com redução a 75% nos últimos seis meses (art. 47, inciso I, alíneas
“a”, “b,” e “c” da Lei no. 8.213/91).
CONEXÃO
Para o texto integral da Lei no. 8.213/91, acesse:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8213cons.htm
Reafirme-se que esse sistema tem como finalidade garantir um retorno gra-
dual do aposentado ao mercado de trabalho, do qual esteve afastado em função
de uma aposentadoria que, agora, já não mais tem razão de ser.
capítulo 5 • 197
5.22 Aposentadoria especial
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter
contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio
financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a:
[...]
§ 1º É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de
aposentadoria aos beneficiários do regime geral de previdência social, ressalvados os
casos de atividades exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a
integridade física e quando se tratar de segurados portadores de deficiência, nos ter-
mos definidos em lei complementar.
Art. 57. A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência exigida nes-
ta Lei, ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que prejudiquem
a saúde ou a integridade física, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco)
anos, conforme dispuser a lei.
198 • capítulo 5
Vê-se, portanto, que o mecanismo legal tem a finalidade de preservar o bem
estar do segurado que trabalha exposto a condições particularmente agressi-
vas. Essa finalidade é perseguida pela redução do tempo de serviço necessário
para a concessão da aposentadoria. Conforme o caso, atendendo ao grau de
prejudicialidade da atividade profissional, a aposentadoria poderá ser concedi-
da aos 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos de trabalho.
ATENÇÃO
O parágrafo 4º do art. 57 da Lei no. 8.213/91 está assim redigido:
§ 4º O segurado deverá comprovar, além do tempo de trabalho, exposição aos agentes noci-
vos químicos, físicos, biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integri-
dade física, pelo período equivalente ao exigido para a concessão do benefício.
capítulo 5 • 199
tregar-lhe cópia autêntica do mesmo quando da rescisão do contrato de traba-
lho (art. 58, § 4º da Lei no. 8.213/91).
Para ensejar a concessão da aposentadoria especial, o trabalho particular-
mente agressivo precisa ser realizado de forma permanente, não ocasional nem
intermitente (art. 57, § 3º da Lei no. 8.213/91). Dizendo de outra forma, o traba-
lho especial precisa ser desempenhado todos os dias da semana, sem nenhum
tipo de rotatividade ou alternância; e em cada dia da semana, ao longo de toda a
jornada laboral, uma vez mais, sem nenhum tipo de rotatividade ou alternância.
Realizando-se esse tipo de trabalho apenas por alguns dias da semana, ou
apenas ao longo de uma parte da jornada diária de serviço, estará descaracteri-
zado o trabalho especial para os fins sob estudo.
O Decreto nº. 3.048/99 traz em seus anexos uma relação de atividades profis-
sionais tidas como especiais, bem como dos agentes químicos, físicos ou biológi-
cos aptos a configurar essa situação. No plano administrativo, o INSS tem aplica-
do à risca estas tabelas, não admitindo como especial nenhuma situação fora das
mesmas, bem como aplicando-lhes uma interpretação bastante restrita.
CONEXÃO
Para acessar o conteúdo completo do Decreto no. 3.048/99, incluindo suas tabelas anexas, veja:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3048.htm>
200 • capítulo 5
É certo não ter a pessoa acima reunido condições para a aposentadoria pu-
ramente especial. Mas também é certo que ele passou parte substancial de sua
vida profissional labutando em condições reconhecidamente prejudiciais ao
seu bem estar. Esses dez anos na casa de saúde devem ser contados de forma
simples, ou devem receber um acréscimo, mediante sua multiplicação por uma
alíquota que corresponda à sua equivalência dentro do prazo para a concessão
da aposentadoria especial?
ATENÇÃO
Súmula nº 9 - Aposentadoria Especial Equipamento de Proteção Individual.
Aposentadoria Especial – Equipamento de Proteção Individual
O uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI), ainda que elimine a insalubridade, no
caso de exposição a ruído, não descaracteriza o tempo de serviço
especial prestado. (DJ-05.11.2003)
A legislação a respeito desta questão tem sido extremamente fluída. Sua evo-
lução em tempos recentes mostra-se tão complexa que foge dos objetivos desta
obra. Mas é importante destacar que na esfera administrativa, ou seja, perante o
INSS, existe na vida prática uma recusa quase terminante a se fazer tal conversão.
Já na esfera judicial, a questão não é totalmente pacífica, existindo um debate
acalorado sobre o tema, com decisões conflitantes.
Parece, porém, que a tese favorável à conversão do tempo especial em co-
mum, mediante seu acréscimo proporcional ao prazo previsto para a concessão
da aposentadoria especial, é a tese dominante no Superior Tribunal de Justi-
ça (STJ). O principal argumento na defesa desta tese é a preservação do direito
adquirido, para fazer com que cada período de trabalho seja regulado pela lei
vigente no momento em que ele foi realizado.
Outra discussão ainda em aberto e sem solução definitiva é aquela perti-
nente ao uso de equipamentos de proteção individual (EPI). A postura do INSS
e mesmo de parte de nossa jurisprudência é no sentido de que o uso de tais
equipamentos pelo trabalhador pode afastar a caracterização de tempo de ser-
viço especial. Mas muitos estudiosos do tema, e outra parte de nossa jurispru-
dência, negam essa tese, apoiando-se em trabalhos científicos que dizem ser
impossível aos EPI’s, por melhores que seja, afastar por completo os riscos à
saúde do trabalhador. Eles seriam um paliativo, um diminuidor do risco, mas
capítulo 5 • 201
não seu eliminador. Nesse sentido existe, inclusive, a Súmula no. 09 da Turma
Nacional de Uniformização de Jurisprudência, dos Juizados Especiais Federais.
A renda mensal inicial da aposentadoria especial será sempre de cem por cento
do salário de benefício.
É importante não confundir, aqui, os prazos de 15, 20 ou 25 anos previstos
para a concessão do benefício, com o cálculo de seu valor. Seja lá qual for o pe-
ríodo de trabalho exigido por lei para a aposentação, o benefício será sempre de
cem por cento do salário de benefício.
5.23 Desaposentação
202 • capítulo 5
na sua vida produtiva, esse cidadão continua a trabalhar. Já vimos que essa situ-
ação é juridicamente possível e muitíssimo comum na vida cotidiana.
Prosseguindo sua vida laboral, ele progride profissionalmente, passando a
auferir um salário mais vantajoso (o que implica em maior salário de contribui-
ção). Para além disso, com o avançar da idade e os efeitos disso, decorrentes da
aplicação do fator previdenciário, este cidadão percebe que se não tivesse reque-
rido sua aposentadoria anos atrás, deixando para fazê-lo nesse momento poste-
rior, passaria a receber um benefício muito mais vantajoso. Repita-se: maiores
seriam seus salários de contribuição a se aproveitar no período básico de cálculo,
e sua idade agora melhor refletiria na aplicação do fator previdenciário.
Tendo essas questões em vista, esse cidadão pede o cancelamento do bene-
fício anterior, e a concessão de um novo que, repita-se, lhe será mais vantajoso.
Essa situação não tem previsão legal expressa, mas ainda assim muitos plei-
tos desse tipo foram levados à previdência social.
Na esfera administrativa, o INSS rejeita tais pedidos, sob o argumento bási-
co de que o benefício já antes concedido se constituiria em ato jurídico perfeito
e irrenunciável.
A discussão sobre o tema é, agora, bastante candente perante o Judiciário.
Mas o Superior Tribunal de Justiça já sinalizou pela aceitação da possibilidade
do uso da desaposentação. Mas ainda assim, outra controvérsia grassou, por-
que alguns julgados daquela Corte condicionaram a desaposentação à devolu-
ção dos valores antes recebidos pelo aposentado.
Mas também esta restrição parece estar sendo abandonada pela jurispru-
dência majoritária, pois tais valores, quando pagos, não eram ilegais e decor-
riam de um direito já adquirido pelo segurado. Vejamos julgado nesse sentido:
capítulo 5 • 203
O fato é que a questão foi agora levada ao Supremo Tribunal Federal, que
reconheceu a existência de repercussão geral no tema, ou seja, reconheceu ser
matéria de sua competência e que guarda interesse coletivo apto a ensejar sua
atuação. O julgamento da matéria ainda não foi, porém, concluído, donde não
se pode dizer que o uso do instituto já esteja pacífica e definitivamente aceito
pela nossa jurisprudência.
CONEXÃO
Para acessar a pagina de pesquisa de jurisprudência do Conselho da Justiça Federal, acesse:
<http://columbo2.cjf.jus.br/juris/unificada/?>
5.24 Auxílio-doença
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter
contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio
financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a:
I - cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada;
Art. 59. O auxílio-doença será devido ao segurado que, havendo cumprido, quando for o
caso, o período de carência exigido nesta Lei, ficar incapacitado para o seu trabalho ou
para a sua atividade habitual por mais de 15 (quinze) dias consecutivos.
204 • capítulo 5
transitória do benefício se evidencia, ainda que decorrente de um prognóstico mé-
dico inicial que pode, ao final, não se concretizar.
Em se tratando de segurado empregado, este encargo somente será carre-
ado à previdência social após o décimo sexto dia de afastamento do segurado,
devendo a empresa arcar com os quinze primeiros dias do afastamento, pagan-
do ao empregado seus salários integrais.
Se o empregado voltar a gozar um segundo auxílio-doença, decorrente da
mesma doença, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias do encerramento do an-
terior, a empresa fica desobrigada de arcar com os primeiros quinze dias. Nesta
hipótese, o segundo benefício é considerado uma prorrogação do anterior. Supo-
nhamos ainda que o empregado se afaste do trabalho, por doença, por um perío-
do de quinze dias, retornando ao trabalho no décimo sexto. Se for necessário um
novo afastamento, dentro de sessenta dias do encerramento do anterior, a em-
presa também não precisará arcar com outros quinze dias de salário, sendo devi-
do o benefício pela previdência social deste o primeiro dia do novo afastamento.
capítulo 5 • 205
se por qualquer motivo, o segurado deixar transcorrer um prazo maior do que
trinta dias entre o início de seu afastamento e a apresentação do pedido de au-
xílio-doença, a data inicial do benefício será a do requerimento administrativo.
Situação peculiar também é a do segurado que exerce mais de uma ativida-
de vinculada à previdência social. Tais atividades podem, ou não, serem idênti-
cas, isto é, num mesmo ofício ou profissão. Sendo idênticas as atividades, o
gozo do auxílio-doença se estenderá a todas elas. Mas se forem atividades diver-
sas, o auxílio-doença poderá ser deferido apenas para uma delas, não se esten-
dendo às demais. Suponhamos um segurado que trabalha como operário na
construção civil e também como vigia noturno. Poderá ele gozar o auxílio doen-
ça relativo à sua atividade na construção civil. Mas a mesma doença ou lesão
que foi tida, por perícia médica, como incapacitante para aquela atividade,
pode não sê-lo para a atividade de vigia. Isto ocorre porque atividades profissio-
nais diferentes exigem diferentes aptidões físicas e mentais do trabalhador.
Na situação acima, o auxílio-doença perdurará enquanto durar a incapa-
cidade para aquela atividade, ao mesmo tempo que o segurado trabalha nor-
malmente na outra. E ainda que se chegue a um prognóstico médico de que
o trabalhador nunca se recuperará para aquele trabalho (construção civil), o
auxílio-doença não poderá ser convertido em aposentadoria por invalidez, por-
que existe capacidade laborativa residual para a outra atividade profissional já
antes exercida pelo segurado (vigia noturno). Nesta situação, o auxílio-doença
será mantido enquanto o segurado viver, ou até ele conseguir alguma outra mo-
dalidade de aposentadoria (por idade ou tempo de contribuição).
206 • capítulo 5
§ 3º Constatada, durante o recebimento do auxílio-doença concedido nos termos deste
artigo, a incapacidade do segurado para cada uma das demais atividades, o valor do be-
nefício deverá ser revisto com base nos respectivos salários-de-contribuição, observado
o disposto nos incisos I a III do art. 72.
§ 4º Ocorrendo a hipótese do § 1º, o valor do auxílio-doença poderá ser inferior ao
salário mínimo desde que somado às demais remunerações recebidas resultar valor
superior a este.
capítulo 5 • 207
CONEXÃO
Para obter o inteiro teor do Decreto no. 3.048/99, incluindo suas tabelas anexas, acesse:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3048.htm>
Diz o art. 78, § 1º do Decreto no. 3.048/99, com a redação que lhe foi dada pelo De-
creto no. 5.844/2006:
Art. 78. O auxílio-doença cessa pela recuperação da capacidade para o trabalho, pela
transformação em aposentadoria por invalidez ou auxílio-acidente de qualquer natureza,
neste caso se resultar seqüela que implique redução da capacidade para o trabalho que
habitualmente exercia.
208 • capítulo 5
§ 1º O INSS poderá estabelecer, mediante avaliação médico-pericial, o prazo que enten-
der suficiente para a recuperação da capacidade para o trabalho do segurado, dispensa-
da nessa hipótese a realização de nova perícia. (Incluído pelo Decreto nº 5.844 de 2006)
§ 2º Caso o prazo concedido para a recuperação se revele insuficiente, o segurado po-
derá solicitar a realização de nova perícia médica, na forma estabelecida pelo Ministério
da Previdência Social. (Incluído pelo Decreto nº 5.844 de 2006)
§ 3º O documento de concessão do auxílio-doença conterá as informações necessárias
para o requerimento da nova avaliação médico-pericial.
capítulo 5 • 209
5.25 Auxílio-reclusão
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter
contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio
financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a:
(...)
IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda;
210 • capítulo 5
segurado ter praticado esta mazela à coletividade, ainda assim terá, esta mes-
ma coletividade, que arcar com o sustento de seus dependentes.
Muitos estudiosos invocam um paralelo com a indenização pelo acidente
de trabalho. Se comprovado que o trabalhador provocou o acidente proposi-
talmente, a indenização não é devida, por ser o ato ilegal. Já aqui, mesmo que
a contingência ensejadora do benefício seja um ato ilegal (e o é, por definição
mesma), ele será pago.
Não se trata, porém, de entregar algum tipo de indenização ou compensa-
ção ao delinquente, mas sim de preocupação com a situação social de seus de-
pendentes que, no final das contas, não são responsáveis pelo crime e acabam
privados dos meios de subsistência que o segurado, presumidamente, lhes pro-
porcionaria com seu trabalho.
O auxílio-reclusão não será pago em casos de prisão civil, mas somente na
privação de liberdade decorrente da prática de crime.
5.25.2 Carência
O auxílio-reclusão não depende de carência (art. 26, inc.I da Lei no. 8.213/91).
capítulo 5 • 211
5.26 Salário-família
CONEXÃO
As informações atualizadas pertinentes a este limite poderão ser obtidas na página da previdên-
cia social na Internet:
<http://www.inss.gov.br/>
212 • capítulo 5
Uma vez implantado, a manutenção do benefício está condicionada
à apresentação anual do atestado de vacinação obrigatória, bem como da
comprovação de frequência à escola do menor ou equiparado (art. 67 da Lei
no. 8.213/91).
ATENÇÃO
Diz o art. 67 da Lei no. 8.213/91:
Art. 67. O pagamento do salário-família é condicionado à apresentação da certidão de nasci-
mento do filho ou da documentação relativa ao equiparado ou ao inválido, e à apresentação
anual de atestado de vacinação obrigatória e de comprovação de freqüência à escola do filho
ou equiparado, nos termos do regulamento.
capítulo 5 • 213
CONEXÃO
O valor atualizado do salário família poderá ser obtido em:
<www.inss.gov.br>
5.26.2 Carência
5.27 Salário-maternidade
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à
melhoria de sua condição social:
(...)
XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de
cento e vinte dias;
214 • capítulo 5
Art. 71. O salário-maternidade é devido à segurada da Previdência Social, durante 120
(cento e vinte) dias, com início no período entre 28 (vinte e oito) dias antes do parto e a
data de ocorrência deste, observadas as situações e condições previstas na legislação
no que concerne à proteção à maternidade.
Além da lei básica do regime geral da previdência social (Lei no. 8.213/91),
também a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) traz alguns dispositivos re-
levantes pertinentes à licença gestante e ao salário maternidade. Por exemplo, o
art. 392 § 2º da CLT diz que havendo complicações no parto, o período de descan-
so da gestante poderá ser ampliado por até duas semanas, antes e depois do mes-
mo, desde que a necessidade excepcional seja comprovada por atestado médico.
capítulo 5 • 215
Diz o art. 392 da CLT, naquilo de mais pertinente ao tema:
Art. 392. A empregada gestante tem direito à licença-maternidade de 120 (cento e
vinte) dias, sem prejuízo do emprego e do salário. (Redação dada pela Lei nº 10.421,
15.4.2002)
(...)
§ 2º Os períodos de repouso, antes e depois do parto, poderão ser aumentados de
2 (duas) semanas cada um, mediante atestado médico.(Redação dada pela Lei nº
10.421, 15.4.2002)
§ 3º Em caso de parto antecipado, a mulher terá direito aos 120 (cento e vinte) dias
previstos neste artigo. (Redação dada pela Lei nº 10.421, 15.4.2002)
(...)
Art. 395 - Em caso de aborto não criminoso, comprovado por atestado médico oficial,
a mulher terá um repouso remunerado de 2 (duas) semanas, ficando-lhe assegurado o
direito de retornar à função que ocupava antes de seu afastamento.
216 • capítulo 5
Art. 72. O salário-maternidade para a segurada empregada ou trabalhadora avulsa con-
sistirá numa renda mensal igual a sua remuneração integra.
§ 1º Cabe à empresa pagar o salário-maternidade devido à respectiva empregada gestante,
efetivando-se a compensação, observado o disposto no art. 248 da Constituição Federal,
quando do recolhimento das contribuições incidentes sobre a folha de salários e demais
rendimentos pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço.
5.27.2 Carência
PODIUS | DREAMSTIME.COM
capítulo 5 • 217
5.27.3 Prorrogação da licença gestante
Uma novidade foi instituída neste tema pela Lei no. 11.770/2008. Este diploma le-
gal instituiu um programa que foi batizado “Empresa Cidadã”. Em termos gerais,
tal programa permite a extensão da licença-gestante em mais 60 (sessenta) dias.
Neste caso, o benefício não será pago pela previdência social, mas sim pela
própria empresa, que ao depois descontará a integralidade destes valores com
aquilo devido a título de imposto de renda, pessoa jurídica. Apenas as empre-
sas tributadas pelo lucro real poderão aderir a este programa. Ficam de fora,
portanto, aqueles tributadas pelo lucro presumido e pelo SIMPLES.
CONEXÃO
Para conhecer o inteiro teor da Lei no. 11.770/2008, acesse:
<www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11770.htm>
Verificamos, assim, que apesar da natureza social, não estamos aqui diante
de um benefício previdenciário propriamente dito, já que a previdência dele nem
participa, mas sim de um incentivo fiscal dado pela administração federal direta.
A trabalhadora deve requerer a prorrogação de sua licença até o final do pri-
meiro mês após o parto, e ao longo de sua duração, não poderá trabalhar em
nenhuma outra atividade e nem poderá manter a criança em creche.
Este benefício também é devido em caso de adoção.
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à
melhoria de sua condição social:
(...)
XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a
indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa;
218 • capítulo 5
Além da determinação acima, também o art. 201, § 10 da Constituição Fe-
deral determina que a lei ordinária reguladora da previdência social inclua, em
sua abrangência, a cobertura do risco de acidente do trabalho, cujos encargos
ficam repartidos entre a previdência social e a iniciativa privada.
Concretizando os mandamentos constitucionais, a Lei no. 8.213/91 trata do
acidente do trabalho em seus arts. 19 até 23. A definição básica da situação ca-
racterizadora do acidente de trabalho está no “caput” do art. 19, assim redigido:
Art. 19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da
empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11
desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a
perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.
ATENÇÃO
Doença Profissional: está ligada a fatores decorrentes de uma determinada profissão, sendo
inerente a ela, independentemente do local do trabalho.
capítulo 5 • 219
Doença do trabalho: está ligada não a fatores inerentes a uma dada profissão, mas sim às
condições de trabalho existentes naquele empregador ou local de trabalho específico.
Art. 21. Equiparam-se também ao acidente do trabalho, para efeitos desta Lei:
I - o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja contri-
buído diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da sua capacidade
para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua recuperação;
II - o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho, em conseqüência de:
a) ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou companheiro de
trabalho;
b) ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa relacionada ao
trabalho;
c) ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro ou de companheiro
de trabalho;
d) ato de pessoa privada do uso da razão;
e) desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou decorrentes de for-
ça maior;
III - a doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de
sua atividade;
IV - o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de trabalho:
a) na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da empresa;
b) na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar prejuízo ou
proporcionar proveito;
220 • capítulo 5
c) em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo quando financiada por esta
dentro de seus planos para melhor capacitação da mão-de-obra, independentemente
do meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade do segurado;
d) no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer que
seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado.
§ 1º Nos períodos destinados a refeição ou descanso, ou por ocasião da satisfação de
outras necessidades fisiológicas, no local do trabalho ou durante este, o empregado é
considerado no exercício do trabalho.
§ 2º Não é considerada agravação ou complicação de acidente do trabalho a lesão que,
resultante de acidente de outra origem, se associe ou se superponha às conseqüências
do anterior.
Art. 118. O segurado que sofreu acidente do trabalho tem garantida, pelo prazo mínimo
de doze meses, a manutenção do seu contrato de trabalho na empresa, após a cessação
do auxílio-doença acidentário, independentemente de percepção de auxílio-acidente.
capítulo 5 • 221
Já reproduzimos acima a letra no inc. XXVIII do art. 7º da Constituição Fe-
deral, onde está dito que o trabalhador tem direito a um seguro para sua pro-
teção no caso de acidente de trabalho. Mas ali também está dito, em sua parte
final, que este seguro não exclui a possibilidade do empregador ser condenado
ao pagamento de uma indenização, caso tenha agido com dolo ou culpa.
Assim, a existência dos benefícios devidos pela previdência não exclui o em-
pregador do dever de indenizar seu empregado que venha a sofrer acidente de
trabalho, se provado ter ele agido com dolo ou culpa. Dolo é a vontade livre e
consciente de praticar algum ato, ou como dizem as crianças, é o “fazer de pro-
pósito”. Já na culpa existe a negligência, a imprudência ou imperícia. Ela está
presente quando, mesmo sem ter a intenção consciente de provocar o aciden-
te, o empregador acaba lhe dando causa, ao deixar de tomar as cautelas neces-
sárias para evitar o evento danoso. É a hipótese da deficiente manutenção de
maquinário da empresa, do não fornecimento de equipamentos de proteção
individual ao trabalhador (óculos, protetores auriculares, botas, etc.), a não fis-
calização do bom uso destes equipamentos, e assim por diante.
Poderá o empregador se eximir do pagamento desta indenização demons-
trando que lhe era impossível evitar o acidente, sendo este decorrente de caso
fortuito ou força maior. É assim o fato decorrente de terceiro, como ocorre nos
acidentes de trânsito, estando o empregado a serviço, mas cuja culpa é de outro
motorista que dirigia imprudentemente, desobedecendo as regras de trânsito.
Também a culpa exclusiva do empregado isenta o empregador de pagar
qualquer indenização, como ocorre nas situações onde se comprova ter o obrei-
ro agido em frontal desobediência às ordens do empregador. Lamentavelmen-
te, a vida diária nos Fóruns também apresenta situações onde o acidente de
trabalho decorre de ato doloso do próprio empregado, que se fere e até mutila,
visando o recebimento de indenização em dinheiro. Obviamente, neste caso,
nada é devido ao empregado.
5.28.3 Carência
222 • capítulo 5
dendo mesmo ser aposentado por invalidez ou, em caso de morte, seus depen-
dentes perceberem a pensão por morte.
5.29 Auxílio-acidente
capítulo 5 • 223
suas hipóteses de incidência para todo e qualquer acidente, ao dizer expres-
samente que ele será devido quando ocorrer “acidente de qualquer natureza”.
5.29.1 Beneficiários
5.29.3 Carência
Não há carência para o auxílio-acidente. Ele pode ser pago já a partir do dia de
filiação à previdência, exigindo-se apenas a condição de filiado, isto é, segurado
da previdência social.
224 • capítulo 5
para o exercício de alguma atividade profissional que lhe garanta o sustento,
tão sérias foram as sequelas de seu acidente. Neste caso, converte-se o auxílio-
doença em aposentadoria por invalidez.
Já uma terceira hipótese intermediária se apresenta, ou seja, após um período
de tratamento, recebendo o auxílio-doença, os profissionais médicos concluem
que as lesões sofridas pelo segurado não desapareceram por completo (i.e. exis-
tem sequelas), mas já estão num ponto de evolução em que não mais sofrerão
alterações significativas, independentemente da terapêutica que lhes for aplica-
da (lesões consolidadas). Para além disso, estas lesões, não são de molde a trazer
uma incapacidade total para o trabalho, permitindo ao segurado voltar ao serviço
na mesma ou em outra função (embora com limitações). Neste caso é que, encer-
rado o auxílio-doença, inicia-se o pagamento do auxílio-acidente.
O benefício será pago de forma concomitante com os rendimentos do tra-
balho do segurado, até a data de sua morte ou até que obtenha uma aposenta-
doria. Aliás, a aposentadoria é o único benefício incompatível com o auxílio-a-
cidente, pois este pode ser pago concomitantemente com outros benefícios da
previdência, por exemplo, um outro auxílio-doença. Suponhamos que consoli-
dadas as lesões, o segurado retorne ao trabalho numa outra atividade. Alguns
anos depois, é perfeitamente possível que ele venha a adoecer e precise se afas-
tar temporariamente deste novo trabalho. Ele receberá então um auxílio-doen-
ça, que em nada interferirá com o auxílio-acidente em manutenção (art. 86, §
3º da Lei no. 8.213/91).
capítulo 5 • 225
RICHARD THOMAS | DREAMSTIME.COM
A pensão por morte também é benefício previsto no art. 201, inc. I da Constitui-
ção Federal. No plano da lei ordinária, ela está disciplinada nos arts. 74 até 79
da Lei no. 8.213/91.
Neste benefício, o evento segurado é a morte do trabalhador. Trata-se, portan-
to, de benefício destinado especificamente à manutenção de seus dependentes,
que ficaram privados dos frutos do trabalho do segurado, em função de sua morte.
No mais das vezes, quando o evento morte ocorre no seio da sociedade civil
organizada, ele é bem documentado. Para comprová-lo, basta a apresentação
da certidão de óbito, expedida pela serventia extra-judicial competente (cartó-
rio de registro civil). Mas nem sempre as coisas ocorreram desta maneira, fa-
zendo-se necessário lançar mão da chamada morte presumida.
CONEXÃO
Para acessar o conteúdo completo da Lei no. 8.213/91, visite:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8213compilado.htm>
226 • capítulo 5
Mas na hipótese do segurado estar presente no cenário de acidente, desas-
tre ou catástrofe, fica dispensado o comprimento do prazo de seis meses e a
declaração judicial acima referidas (art. 78, § 1º). Esse é o caso do segurado
que desaparece, por exemplo, em desastre de aviação ocorrido sobre o oce-
ano, onde a recuperação e identificação dos corpos nem sempre é possível.
Figura-se também a situação de grandes desastres naturais, com inundações,
deslizamentos de terra, furações e outros afins, onde a figura do desapareci-
mento de pessoas não só é bastante comum, como ocorre em grande número.
É necessário, neste caso, comprovar apenas que o trabalhador estava vincu-
lado ao local dos fatos e foi, num juízo de razoável probabilidade, atingido
pelos eventos, daí seu desaparecimento.
Mas em ambas as hipóteses, não existe a certeza material da morte, sem-
pre sendo possível o reaparecimento do segurado. Neste caso, o pagamento da
pensão cessa de imediato, e não havendo má-fé dos dependentes, ficam eles
dispensados da devolução dos valores recebidos.
Lei 8.213/91:
Art. 78. Por morte presumida do segurado, declarada pela autoridade judicial compe-
tente, depois de 6 (seis) meses de ausência, será concedida pensão provisória, na for-
ma desta Subseção.
§ 1º Mediante prova do desaparecimento do segurado em conseqüência de acidente,
desastre ou catástrofe, seus dependentes farão jus à pensão provisória independente-
mente da declaração e do prazo deste artigo.
§ 2º Verificado o reaparecimento do segurado, o pagamento da pensão cessará imedia-
tamente, desobrigados os dependentes da reposição dos valores recebidos, salvo má-fé.
5.30.1 Beneficiários
capítulo 5 • 227
Art. 16. São beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, na condição de depen-
dentes do segurado:
I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer con-
dição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou
mental que o torne absoluta ou relativamente incapaz, assim declarado judicialmente;
II - os pais;
III - o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou
inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental que o torne absoluta ou relativa-
mente incapaz, assim declarado judicialmente;
228 • capítulo 5
CONEXÃO
Para um exemplo de julgamento sobre o tema, visite:
<http://web.trf3.jus.br/acordaos/Acordao/BuscarDocumentoGedpro/1637358>
Assim, a despeito da redação dada ao art. 16, § 4º, da Lei no. 8.213/91, há de se conside-
rar a situação à luz do princípio norteador da seguridade social conhecido como principio
da solidariedade. Existindo o concubinato, ainda que adulterino, há que se prestigiar a
situação jurídica da companheira, ainda que a sua relação com o segurado fosse es-
tabelecida sem ruptura do vínculo conjugal. Aliás, em se tratando de ramo autônomo, o
direito previdenciário dever ser lido à luz dos seus princípios, não se possibilitando que o
direito civil, ou penal, por exemplo, imponham as suas regras no âmbito do primeiro – que
é dotado de institutos e princípios que lhe são inerentes e que devem nortear a sua inter-
pretação, como no caso presente (CORREIA, 2007 p. 294).
capítulo 5 • 229
Em apoio a sua tese, ele ainda menciona alguns julgados nesse sentido,
como um acórdão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, Apelação Cível
no. 57454, onde foi relatora a Desembargadora Federal Suzana Camargo.
Mas parece-nos que a jurisprudência mais recente, oriunda do Superior Tribu-
nal de Justiça, tem se orientado em direção diversa. Segundo esta tese, a união está-
vel protegida pela Constituição Federal e que deve merecer a proteção legal é aque-
la não adulterina, formadora de um núcleo familiar não só estável, mas também
único e passível de se converter no casamento. Nesse sentido é o seguinte julgado:
Também a união homoafetiva é, hoje, aceita como união estável pela juris-
prudência do Superior Tribunal de Justiça, ensejando, portanto, o pagamento
da pensão por morte. Veja-se julgado nesse sentido:
230 • capítulo 5
2 - No tocante à violação ao artigo 535 do Código de Processo Civil, uma vez admitida
a intervenção ministerial, quadra assinalar que o acórdão embargado não possui vício
algum a ser sanado por meio de embargos de declaração; os embargos interpostos, em
verdade, sutilmente se aprestam a rediscutir questões apreciadas no v. acórdão; não ca-
bendo, todavia, redecidir, nessa trilha, quando é da índole do recurso apenas reexprimir, no
dizer peculiar de PONTES DE MIRANDA, que a jurisprudência consagra, arredando, sis-
tematicamente, embargos declaratórios, com feição, mesmo dissimulada, de infringentes.
3 - A pensão por morte é : “o benefício previdenciário devido ao conjunto dos dependen-
tes do segurado falecido - a chamada família previdenciária - no exercício de sua atividade
ou não ( neste caso, desde que mantida a qualidade de segurado), ou, ainda, quando ele
já se encontrava em percepção de aposentadoria. O benefício é uma prestação previden-
ciária continuada, de caráter substitutivo, destinado a suprir, ou pelo menos, a minimizar a
falta daqueles que proviam as necessidades econômicas dos dependentes. “ (Rocha, Da-
niel Machado da, Comentários à lei de benefícios da previdência social/Daniel Machado
da Rocha, José Paulo Baltazar Júnior.
4. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora: Esmafe, 2004. p.251). 4 - Em que
pesem as alegações do recorrente quanto à violação do art. 226, §3º, da Constituição
Federal, convém mencionar que a ofensa a artigo da Constituição Federal não pode ser
analisada por este Sodalício, na medida em que tal mister é atribuição exclusiva do Pretó-
rio Excelso. Somente por amor ao debate, porém, de tal preceito não depende, obrigato-
riamente, o desate da lide, eis que não diz respeito ao âmbito previdenciário, inserindo-se
no capítulo ‘Da Família’. Face a essa visualização, a aplicação do direito à espécie se fará
à luz de diversos preceitos constitucionais, não apenas do art. 226, §3º da Constituição
Federal, levando a que, em seguida, se possa aplicar o direito ao caso em análise.
5 - Diante do § 3º do art. 16 da Lei n. 8.213/91, verifica-se que o que o legislador preten-
deu foi, em verdade, ali gizar o conceito de entidade familiar, a partir do modelo da união
estável, com vista ao direito previdenciário, sem exclusão, porém, da relação homoafetiva.
6- Por ser a pensão por morte um benefício previdenciário, que visa suprir as necessi-
dades básicas dos dependentes do segurado, no sentido de lhes assegurar a subsis-
tência, há que interpretar os respectivos preceitos partindo da própria Carta Política
de 1988 que, assim estabeleceu, em comando específico: “ Art. 201- Os planos de
previdência social, mediante contribuição, atenderão, nos termos da lei, a: [...] V - pensão
por morte de segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes,
obedecido o disposto no § 2 º. “
capítulo 5 • 231
7 - Não houve, pois, de parte do constituinte, exclusão dos relacionamentos homoafeti-
vos, com vista à produção de efeitos no campo do direito previdenciário, configurando-
se mera lacuna, que deverá ser preenchida a partir de outras fontes do direito.
8 - Outrossim, o próprio INSS, tratando da matéria, regulou, através da Instrução Nor-
mativa n. 25 de 07/06/2000, os procedimentos com vista à concessão de benefício
ao companheiro ou companheira homossexual, para atender a determinação judicial
expedida pela juíza Simone Barbasin Fortes, da Terceira Vara Previdenciária de Porto
Alegre, ao deferir medida liminar na Ação Civil Pública nº 2000.71.00.009347-0, com
eficácia erga omnes. Mais do que razoável, pois, estender-se tal orientação, para alcançar
situações idênticas, merecedoras do mesmo tratamento
9 - Recurso Especial não provido. (RESP 200101897422, HÉLIO QUAGLIA BARBO-
SA, STJ - SEXTA TURMA, DJ DATA:06/02/2006 PG:00365 RIOBTP VOL.:00203
PG:00138.)
5.30.2 Carência
Encerra-se a pensão por morte pela morte do pensionista. Para o menor, quan-
do ele atinge a maioridade, salvo se inválido. E para o inválido, se perícia médi-
ca constatar a recuperação da capacidade para o trabalho.
Com a cessação do pagamento de uma cota parte, por qualquer das razões
acima, ela será acrescida à cota dos demais pensionistas. Quando o último de-
les perder o direito ao benefício, este estará definitivamente encerrado.
232 • capítulo 5
5.31 Seguro-desemprego
CONEXÃO
Para acessar esta legislação, visite:
< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L7998.htm>
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8900.htm>
O seguro-desemprego tem
LISA F. YOUNG | DREAMSTIME.COM
Tal benefício consiste num número variável de três a cinco parcelas men-
sais que poderão ser contínuas ou alternadas a cada período aquisitivo de de-
zesseis meses, em função da duração da relação de emprego antes mantida
pelo trabalhador, nos trinta e seis meses anteriores à sua dispensa, conforme a
tabela abaixo (art. 2º da Lei no. 8.900/94):
capítulo 5 • 233
I. três parcelas, se o trabalhador comprovar vínculo empregatício com
pessoa jurídica ou pessoa física a ela equiparada, de no mínimo seis
meses e no máximo onze meses, no período de referência;
II. quatro parcelas, se o trabalhador comprovar vínculo empregatício com
pessoa jurídica ou pessoa física a ela equiparada, de no mínimo doze
meses e no máximo vinte e três meses, no período de referência;
III. cinco parcelas, se o trabalhador comprovar vínculo empregatício com
pessoa jurídica ou pessoa física a ela equiparada, de no mínimo vinte e
quatro meses, no período de referência.
234 • capítulo 5
órgão diretivo é o Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador
– CODEFAT. Esse conselho é integrado por representantes dos trabalhadores,
empregadores e entidades governamentais.
Conforme já visto, o seguro-desemprego poderá ser pago entre três e cinco par-
celas mensais. Mesmo antes de pago o número de parcelas legalmente admiti-
das, poderá o benefício ser encerrado havendo a recontratação do trabalhador
para novo emprego, ocorrendo sua morte, havendo recusa de outro emprego
condizente com o anteriormente mantido, ou pelo início do pagamento de ou-
tro benefício previdenciário com ele incompatível, por exemplo, pela aposenta-
doria (arts. 7º e 8º da Lei n. 7.998/90).
Também são causas de encerramento do benefício as hipóteses de falsida-
de e fraude nas informações prestadas pelo trabalhador, visando a ilegal obten-
ção do seguro-desemprego.
Nas hipóteses de recusa de emprego que seja compatível com sua qualificação
e de falsidade ou fraude, o benefício será suspenso por dois anos, prazo que dobra-
rá em caso de reincidência (art. 8º, § 1º da Lei no. 7.998/90).
capítulo 5 • 235
5.32 Assistência social
Instituto que integra o contexto de seguridade social, mas não se confunde com
a previdência , é a assistência social. Na previdência social, o caráter contributi-
vo é marcante, ou seja, somente se beneficia dela aquele indivíduo que contri-
buiu para o sistema.
Mas situações há onde a miserabilidade do indivíduo é tamanha, que ele
não reúne condições de participar do custeio da previdência social. Para am-
parar estas pessoas em situação de penúria material tamanha, que não foram
capazes de se inserir, sequer, no mercado de trabalho e, por conseguinte, no
sistema de previdência social, nossa Constituição Federal previu a existência
de um sistema de assistência social, assim tratado em seu art. 203:
Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemen-
te de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:
I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;
II - o amparo às crianças e adolescentes carentes;
III - a promoção da integração ao mercado de trabalho;
IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de
sua integração à vida comunitária;
V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de defici-
ência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou
de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.
236 • capítulo 5
O dispositivo de lei acima reprodu-
capítulo 5 • 237
5.33 Benefício de prestação continuada
238 • capítulo 5
§ 2º Para efeito de concessão deste benefício, considera-se pessoa com deficiência
aquela que tem impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou
sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participa-
ção plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.
Esta deficiência deverá ser comprovada em cada caso concreto, mediante a re-
alização de perícia médica a cargo do INSS, à semelhança daquilo que ocorre nos
benefícios previdenciários do auxílio-doença e da aposentadoria por invalidez.
CONEXÃO
Para acessar o conteúdo completo da Lei no. 8.742/93, visite:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8742.htm>
capítulo 5 • 239
Art. 34 da Lei nº. 10.741/03:
Art. 34. Aos idosos, a partir de 65 (sessenta e cinco) anos, que não possuam meios
para prover sua subsistência, nem de tê-la provida por sua família, é assegurado o
benefício mensal de 1 (um) salário-mínimo, nos termos da Lei Orgânica da Assistência
Social – Loas.
Parágrafo único. O benefício já concedido a qualquer membro da família nos termos do
caput não será computado para os fins do cálculo da renda familiar per capita a que se
refere a Loas.
Embora o texto puro da lei não traga nenhuma flexibilização quanto à exi-
gência desta renda, nossos Tribunais tem admitido, também, a comprovação
da situação de miserabilidade do núcleo familiar por outras situações fáticas,
que não a pura e simples apuração da renda “per capita”. Confira-se julgado do
Superior Tribunal de Justiça neste sentido:
240 • capítulo 5
4. Baseando-se o Tribunal de origem em outros elementos indicativos da situação so-
cioeconômica da requerente para indeferir o benefício, afora a limitação da renda per
capita, sua reversão, em sede especial, demandaria reapreciação do contexto fático-
-probatório, vedado pelo verbete sumular 7/STJ. Precedentes.
5. Agravo regimental improvido. (AGA 200802852322, ARNALDO ESTEVES LIMA,
STJ - QUINTA TURMA, DJE DATA:15/03/2010.)
capítulo 5 • 241
5.33.4 Valor do benefício
ATIVIDADE
1. Relembre quais são os elementos necessários para que possamos caracterizar a justa
causa ao empregado.
REFLEXÃO
Foram destacadas também as principais formas de extinção do contrato de trabalho. Foram
mencionados os aspectos legais referentes à dispensa com e sem justa causa, a rescisão
indireta, o pedido de demissão, e as demais formas de extinção do contrato de trabalho.
Desenvolvemos um amplo estudo sobre a Legislação Previdenciária, sobre os critérios
adotados pelo legislador para indicar quem são, afinal de contas, os destinatários dos benefí-
cios da previdência social. Pense sobre a figura do segurado, em suas variadas modalidades,
e reflita sobre as diferenças entre elas no aspecto profissional, e de que forma estas últimas
são ou não relevantes para fins previdenciários. Na mesma senda, a questão dos depen-
dentes, e a forma como a existência de pessoas numa categoria inviabiliza a percepção de
benefícios pelas demais. O período de graça também é instituto que qualquer profissional
operador do sistema de seguridade social deve manter em mente.
Ainda, a problemática do cálculo do valor dos benefícios pagos pela previdência social
ganhou relevância, aí incluindo o extremamente polêmico instituto do fato previdenciário. Ele
é alvo de muitas críticas dos estudiosos do tema, que o inquinam de vocacionado a, apenas
e tão somente, amesquinhar o valor das prestações devidas aos segurados da previdência.
E você, o que pensa disso?
Nesse capítulo, ainda, você foi introduzido ao estudo dos benefícios da previdência social
em espécie. Conheceu a aposentadoria por tempo de contribuição, e vislumbrou como essa
modalidade de benefício substituiu a antiga aposentadoria por tempo de serviço. Essa mu-
dança de legislativa está a merecer, por certo, um juízo crítico por parte de qualquer estudioso
do tema, graças à existência de sólidos fundamentos pró e contra a mesma.
Já o benefício aposentadoria por idade também convida a uma reflexão crítica, seja pela
242 • capítulo 5
adoção de um critério etário muito próximo à própria expectativa de vida do cidadão brasilei-
ro, seja por muitas outras questões polêmicas, como a questão da irrelevância da perda da
qualidade de segurado para este fim.
Na aposentadoria por invalidez, merece fixação a ideia de pressupor a ela uma incapa-
cidade laborativa de caráter total e permanente. Mas mesmo este permanente precisa ser
entendido como um mero prognóstico, pois os avanços da medicina, bem como as pecu-
liaridades de cada caso concreto não permitem um juízo de absoluta certeza no tocante à
impossibilidade de recuperação do segurado.
A aposentadoria especial pressupõe, por sua vez, o exercício de atividade profissional em
condições particularmente agressivas à saúde e/ou segurança do trabalhador. Pense sobre
quais agentes, e de que natureza, podem ensejar a configuração deste tipo de condição laboral.
A chamada desaposentação também foi tratada. Este instituto é repleto de polêmica,
tais como sua confrontação com o ato jurídico perfeito sua duvidosa compatibilidade com
o fator previdenciário.
Foram destacados também os benefícios auxílio-doença, auxílio-reclusão, salário-família
e salário-maternidade. No auxílio-doença, é acesa a polêmica a respeito da alta programada,
ou seja, a suspensão do benefício sem a realização de nova perícia para atestar a recupera-
ção do segurado. No salário-família, vale atentar para sua peculiar quantificação, sendo dos
poucos benefícios pagos em valor único a todos os segurados que preenchem seu requisito.
O salário-maternidade também guarda peculiaridade ligada a seu valor, sendo o único bene-
fício da previdência que pode ser superior ao teto do salário de benefício.
O acidente do trabalho é, ainda hoje, uma mazela que assola nosso País. Sua incidência
permanece inaceitavelmente alta em nosso quotidiano, colocando em destaque nossa falta
de cultura para sua prevenção. Mas sua caracterização nem sempre é fácil, fazendo-se ne-
cessário ter em mente seus requisitos.
Na pensão por morte, vale revisitar o estudo a respeito da figura dos dependentes do
segurado, sua classificação, preferência entre as classes e os casos de dependência econô-
mica presumida por lei.
Para finalizar esse capítulo foram abordados o seguro desemprego, a assistência social
e seu benefício de prestação continuada.
No seguro desemprego, é digno de nota que, apesar de sua natureza de benefício de
previdência social, ele não é administrado pelo INSS, mas sim pelo Ministério do Trabalho.
Já a assistência social, aparta-se da previdência, porque esta é de cunho contributivo,
enquanto a assistência independe de qualquer contribuição do necessitado. Vale questionar
a respeito do requisito legal de sua concessão, consubstanciado na renda “per capita” familiar
menor que um quarto do salário mínimo. Será tal requisito realista, na realidade nacional?
capítulo 5 • 243
LEITURA
Matriz Teórico-Metodológica do Serviço Social na Previdência Social, Brasília/DF: MPAS, 1994.
Ministério da Previdência Social. Disponível em: <http://www.previdenciasocial.gov.br/>
Tenha sempre em mente que a previdência social é instituição que se encontra debaixo de
imensas pressões do corpo social da nação. A diversidade de situações fáticas que se apre-
sentam na vida real transborda, por larga margem, a capacidade do legislador de prever as
situações de sinistro social a serem cobertas pelo seguro, motivo pelo qual a jurisprudência de
nossos Tribunais está sempre produzindo soluções casuísticas que merecem ser conhecidas
pelo estudioso do tema, normalmente porque trazem soluções a demandas concretas que,
aparentemente, não encontravam solução direta pela simples leitura do texto da lei.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO, FRANCISCO Carlos da Silva. Seguridade Social. Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n.
1272, 25 dez. 2006. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9311>.
Acesso em: 23 jan. 2010.
BRAGA, Léa; CABRAL, Maria do Socorro Reis (Orgs.). Serviço Social na Previdência:
trajetória, projetos profissionais e saberes. São Paulo: Cortez, 2007.
BRAGA, Léa; CABRAL, Maria do Socorro Reis. Serviço social na Previdência: trajetória,
projetos profissionais e saberes. São Paulo: Cortez, 2007.
CORREIA, Marcus Orione Gonçalves. Curso da Seguridade Social. São Paulo: Saraiva, 2007.
MARTINS, Juliana Azenha. Programa de Saúde da Família: um novo desafio para o Serviço
Social. Trabalho de Conclusão de Curso,Serviço Social, Unesp/Franca, 2000.
244 • capítulo 5
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da Seguridade Social. São Paulo: Atlas, 2006.
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Comentários à Lei Básica da Previdência Social. 6 ed. São
Paulo, LTR, 2003.
Organização Mundial da Saúde. Envelhecimento ativo: uma política. Tradução Suzana Gontijo.
Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2005.
SILVA, Edileusa da; ROSSI, Ariana Siqueira. As diretrizes do Ministério da Saúde para a
atenção à saúde da mulher. In: BERTANI, Íris Fenner; REZENDE, Regina Maura (orgs.).
Conversas interessantes sobre saúde: Programa de Extensão QUAVISSS, Franca: Unesp-
FHDSS, 2007, p. 39 – 46.
capítulo 5 • 245