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Rio de Janeiro
2013
FABAT – FACULDADE BATISTA DO RIO DE JANEIRO
Rio de Janeiro
2013
Souza, Felipe Diniz Pires de
O Ministério Pastoral e a Metanóia Ministerial. / Felipe
Diniz Pires de Souza. Rio de Janeiro: FABAT, 2013.
40f.
CDU: 274
_______________________________________________
Coordenador: Profª. Drª. Teresa Akil
_______________________________________________
Orientador: Prof. Ms. Fábio Py Murta de Almeida
A Deus por ser minha maior fonte de inspiração e razão do meu ministério.
A minha esposa pelo incentivo nos momentos de desânimo e desafios que pareciam
intransponíveis.
Aos meus amigos e irmãos em Cristo que oraram por mim neste período. Suas
orações foram coluna de sustentação em minha vida.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................ 08
CONCLUSÃO .......................................................................................... 38
Muito se vê nos dias de hoje pastores com várias atribuições em suas igrejas,
são muitas vezes mais administradores ou empresários do que propriamente
sacerdotes evangélicos, fruto de um mundo em constante mudança e que exige
através de vários meios que tudo se adapte às mudanças e exigências que elas
trazem. São benéficas tais mudanças para igreja e os sacerdotes? Em que implicam
tais mudanças? É o pastor realmente uma figura bíblica? O que ocasionou as
mudanças vistas atualmente? Quais as atitudes que devem ser tomadas para uma
possível mudança de postura?
Palavras chave
Compromisso, igreja, metanóia, pastor, transformação, vocação.
ABSTRACT
Much seen these days with various assignments pastors in their churches, are
often more managers or entrepreneurs than properly Evangelical priests, the result of
a changing world and demands through various means everything to adapt to
changing requirements and they bring. Such changes are beneficial to the church
and the priests? They involve such changes? It's really a pastor biblical figure? What
caused the changes seen today? What are the attitudes that must be taken for a
possible change of heart?
Key words
Commitment, church, metanoia, pastor, processing, vocation.
INTRODUÇÃO
1
MACARTHUR, JR., John. Ministério Pastoral, Alcançando a excelência no ministério cristão. trad.
Lucy Yamakami. Rio de Janeiro. 4ª ed.CPAD, 2004, p. 54.
2
MACARTHUR, JR., (2004 apud TIDBALL, skillful shepherd’s: An introduction to pastoral theology,
1986, p.54).
Outros textos do Antigo Testamento como Gênesis 49.24, Isaías 53.6, Salmos 78.52,
53 e 80.1 fazem menção à necessidade que a ovelha tem de um pastor.
Toda a definição que MacArthur cita remete ao sentimento de amor. Sacrifício,
coragem e cuidado são posturas de quem ama e quer demonstrar esse amor de
maneira prática, sendo assim, Deus em seu infinito amor se coloca como um pastor
que tem em sua função prover as necessidades do rebanho. Quando o salmista
escreve o Salmo 23 ele escreve e descreve o conhecimento que tem sobre o ofício
de apascentar as ovelhas. A tradição judaica atribui a autoria deste salmo a Davi e
como o texto Bíblico em Samuel narra, ele era pastor de ovelhas, pois na ocasião de
sua unção como o escolhido de Deus para governar o povo estava no campo
cuidando das ovelhas de seu pai (1 Sm 16.1-13). O ofício de pastor era
extremamente comum entre o povo de Israel e muitas famílias mantinham rebanhos
para seu sustento.
A afirmação que a ideia do pastor de ovelhas é comum para o povo de Israel
é sustentada pela afirmação de alguns autores como, por exemplo, Rainer Kessler
que em sua obra História Social do Antigo Israel 3 defende o pensamento de que o
povo, conhecido primeiramente como Hebreu era formado por diversos povos.
Kessler diz em sua obra:
5
Ibid. Rainer, 2009. p.53
6
MURPHY-O`CONNOR, J. Jesus e Paulo: Vidas paralelas. São Paulo: Paulinas. 2008.pp. 84, 85
Jesus chama a atenção pelo exemplo que tomou. Que existissem pastores
honestos não devia ser impossível, mas muitos com certeza poderiam se aproveitar
da situação que sua profissão lhes garantia. A distância garantia o álibi, mesmo que
debaixo de desconfiança sobre a história contada. Com este exemplo, Jesus Cristo
se coloca como um diferencial, e é revelado como o Pastor principal no Novo
Testamento assim como o SENHOR o foi no Antigo Testamento, e neste sentido
como os pastores que o sucederiam deveriam se colocar, como um pastor bom que
leva sua missão a sério defendendo o rebanho com sua própria vida das investidas
dos lobos e outras intempéries que poderiam ocorrer.
MacArthur declara o seguinte a este respeito
O pastor tem uma grande responsabilidade sobre seus ombros, o cuidado das
ovelhas do SENHOR. Uma reponsabilidade imensa, pois precisa dedicar sua vida ao
cuidado de ovelhas que não são suas. A diferença entre o mercenário que se
aproveita de sua profissão para tirar proveito próprio mesmo sem o dono ter a
certeza, e entre os pastores de hoje é a de que mesmo que as ovelhas não saibam
ou percebam que estão lidando com um mercenário o dono do rebanho sabe e
conhece as atitudes deste que tira proveito próprio das ovelhas que não são suas.
Observando esta perspectiva de Jesus como o Bom Pastor, sendo ele o maior
exemplo aos pastores modernos, é importante deixar claro que através das páginas
do Novo Testamento é apresentado a estes chamados ao ministério o papel e as
responsabilidades do pastor. Dentro do Novo Testamento está toda a base para o
Ministério Pastoral.7
8
Ibid. MACARTHUR, 2004, p.56
9
Ibid. MACARTHUR, 2004, p.62
10
MACARTHUR, op. cit., loc. cit.
pastores são tentados no seu orgulho como aconteceu em 1 Coríntios 3 quando
grupos exaltavam a Paulo, Apolo e até mesmo Cristo, mesmo que tal exaltação
fosse por sectarismo e por contendas entre eles de quem era mais importante. A
reivindicação de pertença a certo líder poderia mexer com o ego e com isso este
reivindicar a lealdade das ovelhas para si como senhor destas. Esta atitude é
extremamente perigosa, pois, destrói a igreja do Senhor tirando o foco do que
realmente é central.
13
ALMEIDA corrigida, revisada e fiel. SBB. Rio de Janeiro, 2005.
14
ASCOL, Tom. Amado Timóteo, Uma coletânea de cartas ao pastor. Trad. Maurício Fonseca S.
Júnior. São José dos Campos, SP: Fiel, 2005 pp.24, 25.
ou ignorância destes pré-requisitos traz alguns problemas sérios. Tais problemas
serão abordados em outro capítulo desta pesquisa. No entanto é importante
salientar que muito do que gera dúvidas hoje a respeito da figura do pastor é por
causa de algum destes pontos não observados.
Com certeza algumas destas prioridades são difíceis de sempre serem
cumpridas. O próprio dever pastoral às vezes faz com que algum destes pontos seja
negligenciado. Por exemplo, saber governar bem a casa. Se o pastor se sobre
carrega e acaba com seu tempo, provavelmente irá utilizar outro momento para
conseguir organizar o que não conseguiu antes e esse tempo pode ser o da família.
Tudo está ligado à sua natureza humana. Dominar a natureza humana, ou seja, ter
domínio próprio em todas as áreas é tarefa difícil e demanda toda a jornada cristã e
submissão ao Espírito. Mas talvez nada seja pior do que a dificuldade do pastor em
dizer não.
Como o pastor é o encarregado de cuidar das ovelhas de Cristo, e como as
mudanças culturais não param e as demandas sempre crescem fica a tentação de
querer fazer tudo sozinho e com isso vem a sobrecarga e consequentemente a lista
de 1 Timóteo fica negligenciada. Neste caso, o pastor precisa ficar atento às
prioridades que estão sendo postas em segundo plano e isto com certeza acarreta
na dúvida atual da figura do pastor.
ASCOL afirma em seu livro:
Nem sempre consigo manter as prioridades em seu devido lugar, mas isto
se tornou um claro objetivo em minha vida. Recordando frequentemente
estas prioridades, serei mais capaz de estabelecer e, manter um equilíbrio
em minhas obrigações. Talvez a atitude de disciplina que facilita este
equilíbrio é aprender a dizer não. Spurgeon declarou que, para um pastor,
aprender a dizer não é muito mais importante do que aprender o Latim! Ele
tinha razão. Não importa quantas coisas o pastor tente fazer, sempre haverá
mais a ser feito. Algumas coisas boas que tentam exigir a atenção do pastor
não devem ser feitas, de modo que ele possa fazer aquilo que é melhor e
mais excelente. Quando o pastor tem de fazer estas escolhas difíceis, deve
fazê-lo baseado nas prioridades de seu chamado. Então, ele pode
descansar seu coração sabendo que agiu com fé, fundamentado nas
exigências que Deus tem feito para sua vida.15
Desde tempos muito remotos, a igreja afirma, com razão, que não é correto
dizer: “Isto Jesus faz como Deus; e isto como humano.” (...) Se o evangelho
é a mensagem do Deus feito carne de tal modo que, ao ver esse galileu
concreto vemos o Deus eterno, e não podemos separá-los um do outro, isto
também quer dizer que não podemos distinguir entre um evangelho eterno e
o evangelho histórico, concreto, específico. Em sua cultura galileia do
século 1 de nossa era, Jesus Cristo era e é o evangelho eterno, mas nem
por isso ele deixa de ser particular, concreto, de falar em uma língua
particular e de refletir um cultura particular. E isto quer dizer também que
não podemos pregar nem ensinar o evangelho à parte de uma cultura. Não
podemos dizer: “Isto é evangelho, e esta outra coisa é cultura.” O evangelho
é uma mensagem que engloba toda a existência humana, e não há,
portanto, elemento cultural que possa ignorá-lo, seja por estar a seu serviço,
seja por se lhe opor.16
Se a base para pregação aos povos passou e foi influenciada pelas culturas,
seria muita pretensão ou ingenuidade crer que a igreja atual também não passaria
por isto. No entanto a influência cultural não é o ponto de questionamento em si,
mas o submeter o evangelho e o comportamento pastoral à cultura como sendo a
segunda, superior ao primeiro. Transformações na igreja e nos pastores hão de
acontecer, mas nunca poderão usurpar o lugar daquilo que é nossa confissão de fé.
Cultura e evangelho se misturam, mas um é complementar ao outro, todavia, as
mudanças assumidas pelos líderes das igrejas têm sido mudanças que se sobrepõe
ao evangelho em detrimento de suas metas pessoais.
Por conta destas pressões o pastor tem passado, ainda que sem querer, pela
metanóia de SENGE no âmbito organizacional. Na verdade está havendo uma
mudança de pensamentos, uma absorção de novos valores, em fim uma conversão
dos pastores em administradores, contadores, presidentes de empresas, etc.
Todavia tais mudanças acarretam novos comportamentos e em acréscimos de
responsabilidade. O maior problema nisto, é que o pastor tem sua função agregando
mais atribuições do que deveria e o pior é o que acontece na vida dos membros da
18
SENGE, Peter M. The Fifith Discipline: The Art & Practice of The Learning Organization. was
originally published in hardcover by Currency Doubleday, a division of Bantam Doubleday Dell
Publishing Group, Inc., in 1990. pp. 23, 24.
igreja cujo pastor assume tal postura de mudança, pois a metanóia em termos
organizacionais não é acompanhada pelos colaboradores (membros), mas apenas
pelo gestor (pastor). Logo, toda luta travada pelo pastor através do acúmulo de
novas funções se torna um fracasso. Quanto à referência ao fracasso, não é pelo
que o pastor fez ou faz de novo em si, mas sim pelo que deixa de fazer quando se
envolve nesta transformação.
Com relação à organização da igreja como pessoa jurídica ou como
instituição provavelmente terá um grande sucesso, pois tudo o que estas novas
ações acarretam são diretamente ligadas à questões de sucesso empresarial. Uma
grande empresa alcança sucesso por uma boa administração, uma visão bem
definida de suas metas, pessoal capacitado, unidade de todos para alcançar o bem
comum e um excelente marketing. Estes detalhes são básicos para o sucesso de
uma organização e nestes termos o pastor tem a cada dia se parecido mais com um
empresário que visa os lucros concernentes ao seu desempenho. Quando
comparada à referência citada acima do que é necessário para ser uma empresa
bem sucedida, é possível se observar que hoje a grande luta, o grande desejo é ser
uma igreja que é praticamente uma empresa.
Esta visão da igreja ser uma empresa vem sendo disseminada já há algum
tempo. E recentemente podem-se observar claramente algumas estratégias de
administração de empresas sendo utilizadas como visão de Deus para os cristãos.
Como exemplo atual mais influente é possível perceber a Saddleback Valley
Community Church, igreja onde o renomado pastor Rick Warren é presidente. Esta é
uma das muitas igrejas surgidas recentemente com o claro enfoque administrativo,
tanto que o seu pastor antes de obter tamanha influência se aliou a Peter Drucker
que foi consultor da General Motors e outras grandes corporações além de ter
lançado os fundamentos das técnicas modernas de gerenciamento.
Claramente este enfoque empresarial veio de fora das igrejas para dentro,
trazido pelos pastores pela ânsia de autoafirmação e de obtenção de êxito diante
das exigências da pós-modernidade. O Bispo Walter McAlister em seu livro “O Fim
de Uma Era” afirma que tudo começou através da “comoditização”
Porém, além disto, existiram outros fatores que contribuíram para este
acontecimento na vida dos pastores em si. McAlister segue com sua colocação
23
PIPER, John. Irmãos, nós não somos profissionais: Um apelo aos pastores para ter um ministério
radical. trad. Lilian Palhares. São Paulo: Shedd Publicações, 2009. p.49
24
ALMEIDA, João Ferreia. Bíblia.Corrigida e Revista – Fiel ao Texto Original. Trad. Noemi Valéria
Altoé da silva. Editora Atos, 2002.
obrigação de se na vida real aquilo que é no púlpito, pois transmite algo que
é o casamento entre o Espírito de Deus e quem ele é como pessoa. 25
25
Ibid. MCALISTER, 2009, p.139
26
LOPES, Hernandes Dias. De pastor a pastor: Princípios para ser um pastor segundo o coração de
Deus. São Paulo: Hagnos, 2008. p.12
27
Ibid. LOPES, 2008, p.17
visão organizacional, muitos se envolvem com práticas que levam a destruição
daquilo que deveriam cuidar. Hernandes Dias Lopes em seu livro Pregação
Expositiva (2008, pp. 13, 14) salienta
Logo, o pastor precisa se manter focado em sua vocação. Ele não tem o
direito de se colocar como alguém que possa deliberar sua mudança de postura por
necessidades próprias ou de outrem, sua vida pertence a Deus e é Deus quem tem
que direcionar para possíveis mudanças. O fenômeno que se segue atualmente de
mega igrejas que são administradas e tratadas como empresas, mostram como os
seus pastores se comportam, e em que implicam tais mudanças.
Quando o pastor se torna empresário da fé, passa a se preocupar
extremamente com a maneira como irá gerir a sua igreja, passando a deixar um
pouco mais de lado a questão de dedicar-se à oração e à pregação da Palavra,
cuidar das vidas que Deus lhe deu como responsabilidade, viver para servir a Deus
e fazer sua obra, pois fica tão ocupado que é inviável agir como agia antes. Quando
investem tempo em algo que seria o alimento solido, pela falta de dedicação à
vocação passam a se utilizar de ferramentas que na verdade são administrativas
que vem de fontes humanas e não de fonte divina. Perdem o contato mais próximo
com suas ovelhas em detrimento de um número maior delas, não as conhece pelo
nome e abre brechas para que lobos se aproximem e se apossem do rebanho.
Conclui-se então que tais transformações geram consequências muito mais
maléficas do que benéficas, que o pastor necessita investir o seu tempo e sua vida
nas coisas de Deus, nas coisas que realmente importam e não se moldar ao padrão
que a sociedade exige pela necessidade de se auto afirmar. A Igreja de Cristo é
28
LOPES, Hernandes Dias. Pregação expositiva: Sua importância para o crescimento da igreja. São
Paulo: Hagnos, 2008. pp. 13, 14
contemporânea sempre que o pastor tem o compromisso de pregar o evangelho
verdadeiro.
Diante desta realidade cabe então a busca por uma solução, se é que ela
existe. Não há a pretensão de absolutizar nenhum posicionamento que possa
sugerir um remédio para esta realidade, mas com certeza algumas posturas podem
ajudar no combate a esta realidade crítica. O próximo capítulo visa trazer algumas
atitudes para colaborar com a mudança de quadro citada até agora e alguns pontos
que ainda não foram citados para serem trabalhados paralelamente.
Com certeza esta mudança de postura dos pastores que é constatada hoje
tem muito a ver com a cosmovisão adquirida que está enraizada profundamente na
essência evangélica, salvo poucas exceções. Mas que cosmovisão seria essa
herdada dos católicos? Ainda que o modo cristão evangélico de culto ou em outras
características seja diferente do catolicismo o apego a certas práticas é exatamente
o mesmo dos católicos, salvo, de igual forma, poucas exceções.
LOPES continua seu artigo esclarecendo que os valores apresentados por ele
fazem parte da natureza humana. Tudo o que é pontuado faz parte da natureza
humana, não sendo privilégio de A ou B. Todavia tais características atrapalham o
desenvolvimento cristão e influenciam negativamente prejudicando inclusive o
comportamento pastoral.
(...) creio que grande parte dos evangélicos no Brasil tem a alma católica.
Antes de passar às argumentações, preciso esclarecer um ponto. Todas as
tendências que eu identifico entre os evangélicos como sendo herança
católica, no fundo, antes de serem católicas, são realmente tendências da
nossa natureza humana decaída, corrompida e manchada pelo pecado, que
29
LOPES, Augustus Nicodemus. O que estão fazendo com a Igreja? Ascenção e queda do
movimento evangélico brasileiro. São Paulo: Mundo Cristão, 2008 p. 25
se manifestam em todos os lugares, em todos os sistemas e não somente no
Catolicismo. Como disse o reformado R. Hooykas, famoso historiador da
ciência, “no fundo, somos todos romanos” (Philosophia Liberta, 1957).
Todavia, alguns sistemas são mais vulneráveis a essas tendências e as
absorveram mais que outros, como penso que é o caso com o Catolicismo
no Brasil.30
Mais uma vez fica clara a influência cultural que é exercida sobre a Igreja e
sua liderança. Cada característica citada por LOPES será apresentada com uma
possível solução em diálogo com os problemas apresentados por ele e que com
certeza tem muito a ver com a realidade citada no capítulo anterior.
LOPES segue em seu artigo apontando as tendências que ainda influenciam
os evangélicos brasileiros.
LOPES encerra este trecho falando sobre a cosmovisão não aprendida ainda
sobre o sacerdócio universal dos crentes que derruba a distinção entre clérigos e
leigos. Algumas das mudanças que a metanóia organizacional traz é do presidente,
daquele que não admite ser questionado, onde sua palavra é lei, pois é o ungido do
Senhor. Outro autor fala sobre este mesmo tema salientando a necessidade da
vigilância a respeito da tentação de se colocar como o crente suprassumo. SHEDD
declara
Os pastores devem tomar o cuidado de evitar o abuso do poder, “nem como
dominadores (katakupieuontes, “mandando”, “agindo como um tirano” [veja
Mc 10.42, em que a mesma palavra demonstra o modo como os
governantes gentios dominavam seus subordinados]) dos que vos foram
confiados” (klēron, “lote”, “porção”, v.3). Muitos cristãos elevam os pastores
a um alto pedestal. Alguns chegam quase a adorar os homens que Deus
tem usado poderosamente para transformar vidas. A adulação indevida
encoraja o líder a manipular os membros da igreja, abusando de sua
autoridade. Tais pastores são como os “falsos apóstolos” que perturbavam a
igreja de Corinto (2Co 11.13). Jesus advertiu seus discípulos quanto à
tentação de “reinar” (Lc 22.25, 26). A famosa maneira pela qual os
30
Ibid. LOPES, 2008. p. 26
31
Ibid. LOPES, 2008. p. 26
governantes romanos intimidavam e forçavam os subordinados a submeter-
se a exigências opressivas era um mau exemplo. (...) os pastores
subordinados que trabalham com entusiasmo e integridade logo se
encontrarão com Jesus, o Pastor Supremo, que os chamará para prestarem
contas e os recompensará por serviço fiel.32
SHEDD salienta o cuidado que os pastores devem ter. A sugestão para combater
este problema encontra-se nas declarações de João, o Batista “É necessário que ele
cresça e que eu diminua” em João 3:30 e do apóstolo Paulo em Coríntios 3.4-11
32
SHEDD, Russel P. Nos passos de Jesus, uma exposição de 1 Pedro. Trad. Valéria Fontana. São
Paulo: Vida Nova, 1993. p. 93
33
ALMEIDA, João Ferreia. Bíblia.Corrigida e Revista – Fiel ao Texto Original. Trad. Noemi Valéria
Altoé da silva. Editora Atos, 2002.
uma mente dados à dissenção e ao legalismo. A reação a todos os
comentários e questionamentos feitos é que tal pessoa é honesta em seus
pontos de vista. A sinceridade é o teste supremo; e o que se requer de todos
não é que defendam opiniões corretas, mas que tenham, de algum modo,
uma opinião sincera. (...) Naturalmente, há nessa posição muita coisa com
que todos precisamos concordar. A sinceridade é um elemento essencial;
sem ela, ninguém pode esperar chegar à verdade. A pessoa insincera não
pode ser defendida. Porém, dizer que a sinceridade e a verdade são
idênticas é cair em um erro quase tão perigoso como defender a verdade de
modo insincero.34
Ainda que a maioria dos pastores inicie algo com uma boa intenção sincera,
jamais podem abrir mão de se submeterem a Cristo para que permitam que somente
Ele cresça.
LOPES em seu artigo ainda levanta outra atitude pastoral equivocada e que é
fruto deste posicionamento católico e da necessidade humana de reconhecimento
34
LLOYD-JONES, D. Martin. Sincero mas errado, qual o grande problema do homem?. 2ªEd. São
Paulo: Fiel, 2011. pp. 62, 63
35
Ibid. LOPES, 2008, pp. 27, 28
Um líder pastoral competente recruta pessoas para participarem do
processo de atingir a causa que ele escolheu apoiar. Jesus convenceu os
homens que chamou a juntar-se a ele na construção de sua igreja (Mt
16.18) e de que o Reino valia mais do que qualquer tesouro poderia custar
para alcançá-lo (Mt 6.33; 13.44-46; 16.24-27; Jo 12.25). M. Rush expressou-
o bem: “Apagar as velas de seus seguidores não tornará a sua mais
brilhante. Mas, quando você usa a sua para acender as deles, você não só
lhes fornece luz como também multiplica o brilho de sua própria vela.”. 36
36
Ibid. SHEDD, 1993, p.85
maior propriedade, nome famoso, entre outras coisas), conspira contra os valores do
Evangelho do reino.”.37 Sendo assim a medida de sucesso do mundo é pela
comparação do ter. Ter significa status, colocação diante dos homens e estas coisas
geram ambição.
BARRO segue em seu livro dizendo
A grande parte das definições fala que sucesso é pessoal e individual. Cada
um tem a liberdade para definir o que entende por sucesso. O grande
problema disso é que, quando eu defino o que é sucesso, faço-o de acordo
com meus êxitos, e isso se torna o centro das atenções. Quem iria definir
sucesso a partir das experiências de fracasso? Ninguém! Por exemplo: se
meus filhos nunca me deram grandes problemas, passo a definir a
educação de filhos a partir dessa experiência. Se tenho uma igreja grande,
será a partir dela que definirei sucesso de crescimento de igreja. Por outro
lado, as pessoas de modo geral também procuram valorizar aquilo que teve
sucesso. Você leria um livro sobre crescimento de igreja de um pastor cuja
igreja nunca passou de 100 pessoas? Certamente não, pois está pensando
nas categorias de sucesso com a lógica do mercado – números. Desta
forma, meu sucesso é condição para o sucesso do outro. Por quê? Por
causa da ambição!38
A ambição é gerada pelo desejo de alcançar glória diante dos homens, mas
se visto desta forma tem algo de errado, pois, os pastores precisam buscar a glória
de Deus. Ter glória diante dos homens utilizando as coisas de Deus como trampolim
é querer dividir a glória que devida apenas a Deus.
Jesus no evangelho de Mateus no capitulo 6 nos versos 2, 5 e 16 fala sobre
aqueles que desejam chamar a atenção para si de acordo com seus atos. Jesus
afirma que estes já receberam o seu galardão, sua recompensa, ou seja, sua
recompensa era o reconhecimento dos homens, a insuflação de seu ego. Aqueles
que buscam a glória terrena terão apenas esta glória.
A sugestão de solução é a de Jesus no mesmo capítulo 6 nos versos 33 e 34.
Embora o contexto seja sobre a preocupação com as coisas básicas deste mundo,
pode-se utilizar o mesmo princípio de buscar as coisa do alto ao invés da glória do
sucesso do mundo.
Jesus a exemplo do que ensinou no texto acima citado, buscou não sua
vontade, mas a do Pai que o enviou. Mesmo quando foi tentado por satanás no
deserto, para ter aquilo que muitos pastores hoje procuram, preferiu a glória que
Deus daria a ele. Ele é o maior exemplo a ser seguido. BARROS diz o seguinte a
este respeito “Se Jesus estivesse à procura de fama, esplendor e poder político
(reinos deste mundo), certamente teríamos uma base para fazermos o mesmo.” 39
37
BARRO, Jorge H. Pastores Livres, Libertando os pastores dos cativeiros ministeriais, Londrina:
Editora Descoberta, 2013. p.43
38
Ibid. BARRO, 2013, p.44
39
Ibid., BARRO, 2013, p.47
A respeito de missão de Jesus, pode-se a firmar que Jesus veio para servir.
Ele ensinou seus discípulos a importância do serviço. Jesus disse “Tomais sobre vós
o meu jugo, e aprendei de mim que sou manso e humilde de coração; e encontrareis
descanso para as vossas almas” (Mateus 11.29)40.
Com relação a esta palavra de Jesus existiu um homem na bíblia que
declarou aos seus filhos na fé que o imitassem como ele imitava a Cristo (1Cor
11.1). Este homem é Paulo. MURPHY-O`CONNOR declara o seguinte a este
respeito sobre Paulo
Paulo foi de fato imitador de Cristo, caso contrário não reivindicaria esta
postura e não se colocaria como exemplo àqueles que liderava. Desta forma pode-
se afirmar que Paulo, assim como Jesus, foi exemplo de serviço. BARRO afirma que
“O apóstolo Paulo percebe seu ministério, como também dos seus colegas e das
igrejas, como sendo um serviço.”42
O apóstolo chama seu ministério de
(1) Serviço a Deus, (2) serviço aos santos, (3) serviço ministerial e (4)
serviço do Senhor. Poderíamos nos apropriar dessa compreensão de Paulo
e dizer que o serviço ministerial (pastoral) é, em primeiro lugar, um serviço a
Deus (e ao Senhor) e, consequentemente, um serviço aos santos. Nosso
serviço aos santos é fruto do nosso serviço a Deus. O nosso serviço a Deus
não nasce do nosso serviço aos santos. A ordem bíblica é: amar a Deus e
ao próximo. (...) Podemos facilmente nos iludir achando que se amamos a
igreja automaticamente estaremos amando a Deus. Isso não é verdade.
Inverter essa ordem é um oportunismo para justificar e espiritualizar nossa
relação com Deus. (...) Acima de todas as coisas, os pastores devem amar
o Deus-Pastor.43
Diante dos desafios destas novas posturas pastorais que elevam o ego dos
mesmos iludindo tais pastores e deixando confusos todos que tem uma concepção
do que deveria ser o pastor é necessário que estes busquem novamente o foco do
amor ao Senhor e entendam que seus ministérios são de serviço e não de status. O
40
ALMEIDA, João Ferreia. Bíblia.Corrigida e Revista – Fiel ao Texto Original. Trad. Noemi Valéria
Altoé da silva. Editora Atos, 2002.
41
MURPHY-O`CONNOR, J. Jesus e Paulo: Vidas paralelas. São Paulo: Paulinas. 2008. p. 129
42
Ibid. BARRO, 2013, p.48
43
Ibid. BARRO, 2013, p.49
apóstolo Paulo entendia isto e orientava suas ovelhas ao serviço. Quando o pastor
perde o foco do serviço e do amor a Deus, ele busca em métodos o sucesso que
precisa ser dado por Deus. De uma forma ou de outra, ele acaba conseguindo
algum sucesso, mas não o regado pelo serviço gerado pelo amor a Deus.
BARRO declara que
“Você me ama?” é a pergunta que pastor deve responder dia após dia.
Pedro ficou magoado pela insistência de Jesus. O que talvez Pedro não
estivesse entendendo, e nem sempre entendemos também, é a ordem das
coisas para pastorear, apascentar e cuidar. (...) Em lugar de sucesso, os
pastores são chamados e convocados para amar. Quem busca o sucesso
pela via pastoral revela que ama mais a si mesmo do que a Deus. Isso tem
nome: pastorcentrismo! Mas o eixo da pastoral é outro: “É necessário que
ele cresça e que eu diminua” (Jo 3.30). isso também tem nome:
Cristocentrismo.44
44
Ibid. BARRO, 2013, p.50
45
Ibid. BARRO, 2013, p.51
O texto aos Efésios não incentiva ou dá a entender que existe uma
competição ou uma posição de importância com relação aos dons, mas deixa claro
que cada um tem sua importância se complementando para o amadurecimento do
corpo de Cristo. Cada um destes dons tem uma função específica no corpo de
Cristo, eles edificam, fortalecem e amadurecem a Igreja do Senhor. Segundo
BARRO “Apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres não são títulos, mas
funções! Muitos hoje querem o título, mas se esquecem de exercer a função.” 46.
Cada dom tem sua funcionalidade e propósito. Título sem ação é a mesma coisa
que discurso sem gestos coerentes com o que está sendo dito.
Dentro desta realidade onde o foco tem sido no peso que a nomenclatura
pode dar fica observado a questão do culto à personalidade. Culto este que
centraliza na figura de um título a importância central que este não deveria ter.
Quando a nomenclatura pastor, bispo, mestre, apóstolo, etc se torna o fim, então aí
há o esvaziamento da cruz de Cristo, logo a próxima sugestão para cada pastor é
buscar a cruz de Cristo.
BARRO declara em sua obra que
Quando existe culto a personalidade, quer seja a Paulo, Apolo, Pedro e aos
chamados apóstolos e bispos modernos, a consequência é óbvia e trágica:
esvaziamento da cruz de Cristo! (v.17). por quê? Muito simples! Porque as
pessoas tiram Cristo da cruz e colocam ali aqueles que não morreram nela,
mas ganham a fama. Quem faz questão de título, não faz questão da cruz!
Quem faz questão de título; faz questão também da glória, mas o recado já
foi dado: “Quem se gloriar, glorie-se no Senhor” (v.31). Assim o que muitos
pastores buscam hoje é o sucesso sem cruz, o status de um título e a sede
pelo poder.47
Quando o pastor busca seu sucesso fora da cruz de Cristo, ele tende a
encontrar no máximo uma aparente vitória, mas que no fim se mostrará com o seu
verdadeiro rosto de derrota, dor, mágoa e aflição. Sempre que um pastor busca êxito
longe da cruz de Cristo ele busca a pastoral do sucesso e não a pastoral do serviço.
O desafio é o pastor perceber e retornar aos caminhos que agradam ao coração de
Deus.
Dietrich Bonhoeffer durante sua vida teve um encontro com Cristo e
obteve uma percepção diferenciada a respeito do Sermão do Monte de Jesus.
Tal encontro gerou neste homem de Deus uma consciência que fez toda a
diferença em sua vida. Craig Slane em seu livro sobre Bonhoeffer narra o
seguinte sobre este fato
46
Ibid. BARRO, 2013, p.52
47
Ibid. BARRO, 2013, p.54
Teologicamente falando, o tom desses textos indica o tipo de encontro que
Bonhoeffer teve com Jesus. Em relação à sua vida anterior, ele é descrito,
curiosamente, como “libertação”. Quem poderia levar o Sermão do Monte a
sério e, ao mesmo tempo, considera-lo libertador? De que maneira a
confrontação com a difícil ética de Jesus daria lugar à liberdade? O fato é
que se pode esperar exatamente o oposto. A resposta reside na percepção
que Bonhoeffer teve, em três partes, de que o Sermão do Monte de Jesus
se coloca em forte contradição aos impulsos naturais do humano, que a
cruz marca a culminância lógica dessa contradição, e que os seguidores de
Jesus são obrigados a vivê-la em sua vida. Quando Bonhoeffer chama o
sermão de Jesus de uma “libertação”, creio que ele está oferecendo ao
leitor uma chave por meio da qual possa entender a natureza de sua
conversão. Ao expor a verdade que o movimento da vida decaída segue, de
maneira bastante literal, junto aos propósitos da cruz com os objetivos de
Deus, a cruz toma as criaturas de Deus e as impele a tomar uma decisão do
tipo sim ou não: uma decisão a favor de Deus, que exige a própria morte, ou
a morte a favor do eu, que exige a morte de Deus. A cruz destrói todo o
campo Neutro. É preciso estar de um ou de outro lado. 48
CONCLUSÃO
48
SLANE, Craig. Bonhoeffer, o mártir, Responsabilidade social e compromisso cristão moderno. Trad.
Emirson Justino. São Paulo: Vida, 2004. p. 256
3- Tais mudanças de um modo geral são mais nocivas que benignas, pois levam
o foco do vocacionado para outras áreas, podendo inclusive tirar o mesmo do
caminho em que Deus o colocou.
4- Para um retorno e equilíbrio das funções pastorais é necessário submissão à
vontade de Deus e sua palavra, ao senhorio de Cristo, resgatar o amor pelo
Senhor, ter como exemplo Cristo, retorno à cruz de Cristo, abandono do culto
à personalidade e à pastoral do sucesso e resgate da visão da pastoral de
serviço.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Fonseca S. Júnior. São José dos Campos, SP: Fiel, 2005.
LOPES, Hernandes Dias. De pastor a pastor: Princípios para ser um pastor segundo
o coração de Deus. São Paulo: Hagnos, 2008.
MCALISTER, Walter. O Fim de Uma Era: Um diálogo crítico, franco e aberto sobre a
igreja e o mundo dos dias de hoje. Rio de Janeiro: Anno Domini, 2009.
PIPER, John. Irmãos, nós não somos profissionais: Um apelo aos pastores para ter
um ministério radical. trad. Lilian Palhares. São Paulo: Shedd Publicações, 2009.
SENGER, Peter M. The Fifith Discipline: The Art & Practice of The Learning
Organization. was originally published in hardcover by Currency Doubleday, a
division of Bantam Doubleday Dell Publishing Group, Inc., in 1990.
SHEDD, Russel P. Nos passos de Jesus, uma exposição de 1 Pedro. Trad. Valéria
Fontana. São Paulo: Vida Nova, 1993.