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A reinvenção Capitulo 1

da igreja
Wolfgang Simson. Casas que transformam o Mundo, Igreja nos lares.Curitiba: Esperança, 2014.
Será que Deus não imaginou a
igreja deform a bem diferente?

É um fenômeno interessante: nunca houve na História uma época em que igrejas


cristãs em todo o mundo cresceram de forma numericamente tão intensa. As es­
tatísticas de missiólogos atestam que atualmente se formam 2.000 a 3.000 novas
igrejas por semana. Conforme dados da Aliança Evangélica Mundial, os cristãos
evangelicais1 passaram de cerca de 150 milhões no ano de 1974 para cerca de
650 milhões no ano de 1998. Desse modo, afirmam especialistas em Missão
como C. Peter Wagner ou Ralph Winter, os cristãos evangelicais se tornaram a
minoria que mais rapidamente cresce no mundo.
Não obstante, numa época em que é grande a alegria ou até o triunfo sobre
o crescimento de muitas igrejas, ficou ainda maior o grau de insatisfação com a
“igreja como a conhecemos”. Ouvimos a respeito de muitos que “aceitam a Je­
sus” e nos alegramos. No entanto, normalmente
não somos informados quantos deles, afinal, se
tornam e permanecem membros comprometi­ Ouvimos a respeito de
dos de igrejas cristãs. Muito menos ficamos muitas pessoas que "aceitam
sabendo acerca do silencioso êxodo de pesso­ a Jesus". No entanto, não
as que entraram com lágrimas de alegria pela somos informados quantos
porta da frente das igrejas e que desaparecem deles, afinal, se tornam
novamente pela porta dos fundos com lágrimas e permanecem membros
de decepção. Na verdade foram conquistadas, comprometidos com
mas não integradas. Tornaram-se interessadas, igrejas cristãs.
mas nunca assumiram um compromisso. Em
termos figurados, foram “ceifadas” mas nunca

i N.E.: Termo criado no Congresso de Lausanne (Suíça) para descrever as pessoas que nas di­
versas denominações estão comprometidas em viver autenticamente o Evangelho e com a
evangelização mundial, levando em consideração também as pessoas menosprezadas e en­
fermas para socorrê-las na sua miséria.
28 CASAS QUE TR ANSFORM AM O MUNDO: IGREJA NOS LARES A RE INVENÇÃO DA IGREJA 2<

realmente “trazidas ao celeiro". Foram tocadas, mas não transformadas. Lan­ sem retornarem mais. Encontrei inúmeros cristãos que me relataram que, depois dt
çaram apenas um breve olhar sobre o cristianismo e, depois de um primeiro experimentarem esse ou aquele novo modelo de igreja, avivamento, experiência:
olhar atrás dos bastidores, afastaram-se novamente decepcionados. espirituais da primeira, segunda ou terceira espécie, depois de frequentarem aquele
“seminário que transformará sua vida” ou aquela “conferência ungida”, sua vidr
em última análise ainda continua tão cinzenta e triste como antes. E o mesmo valt
DEUS SIM - IGREJA NÃO para suas igrejas. Estão diante da alternativa de interiormente declarar a rejeição i
Em entrevistas realizadas no início dos anos 90 em Amsterdã, colocou-se a jovens esse processo ou de continuar dentro dele - motivados por uma esperança quase
a pergunta se estavam interessados em Deus. Cem por cento deles responderam injustificada ou pela falta de uma alternativa.
com “ sim” . Depois perguntou-se se estavam interessados na igreja, e 99 por cento
responderam com “ não” . Recordo-me de que a maioria dos pastores que ouviu a
respeito dessa pesquisa deu a entender que alguma coisa não podia estar certa com A CRISE DA MISSÃO É UMA CRISE DA IGREJA
os jovens de Amsterdã. Pois se os jovens de fato buscassem a Deus, eles, afinal, “Não gosto de livros sobre missão”, diz Stephen Gaukroger, presidente da Baptisi
viriam às nossas igrejas. Union ofEng/andand Wales [União Batista da Inglaterra e de Gales], ao prefaciar
Hoje, talvez com hesitação, eu consideraria uma possibilidade diferente. Talvez o livro de Patrick Johnstone The Church is Bigger ihan You Think[A igreja é maior
os jovens em Amsterdã tenham algumas coisas importantes a dizer à igreja e nós que você imagina], “Neles via de regra eu leio o que de qualquer maneira já sei, e
simplesmente não estávamos dispostos a dar-lhes ouvidos. E possível que este­ depois me sinto tanto mais culpado porque não faço mais pela missão”. A missão
jamos tão apaixonados por nossas próprias tradições que quase não temos mais a tradicional visa estimular pessoas a “dar (dinheiro), ir (eles próprios) ou enviar (a
capacidade de, a partir de nossa distância segura, realmente sentir e compreender outros)”. Com frequência, porém, esses apelos deixam em nós certo desconforto,
o pulso do mundo. porque nunca sabemos se agora de fato já fomos, enviamos ou pelo menos demos
o suficiente. Patrick Johnstone expressa-o do seguinte modo:

CRISTÃOS NÃO BATIZADOS "Vivemos mima época em que nosso entendimento das estruturas da igre­
Outra pesquisa, realizada há uma década por Herbert E. Hoefer, ex-diretor do Gu- ja é marcado por uma teologia insuficiente e por padrões de comporta­
rukul Theological College (Madras [índia]), mostrou que em Madras, uma cidade mento distorcidos, que herdamos do passado. Poucos têm clareza do gra­
com cerca de oito milhões de habitantes, vivem secretamente mais de 200.000 ve peso que significam as decorrências dessa percepção distorcida sobre
“crentes em Cristo não batizados”, como Hoefer os designa. Esse número crescente a vida da igreja cristã. Rapidamente descobrimos que não leva a quase
de pessoas por um lado se autodenomina cristão, mas por uma série de motivos não mula quando pregamos com voz de trovão às igrejas acerca da ordem da
frequenta uma igreja. Uma das razões dessa objeção à igreja é a seguinte: argu­ missão ou tentamos apelar à consciência das pessoas em palestras públi­
mentam que se sentem atraídos por Jesus, mas sentem repulsa por parte das igrejas. cas. Temos de constatar que as igrejas adotaram um modo de pensar e
Você pode fazer um teste. Pergunte a uma pessoa qualquer que ainda não é uma visão de mundo que excluiu totalmente a missão. ”
cristã do que ela se lembra ao ouvir a expressão “igreja cristã”. São esmagado­
ramente grandes as chances de que você não goste do que lhe chegará aos ouvidos.
Para mim, no entanto, não causa surpresa que igrejas não alicerçadas sobre o
É admirável com que maestria muitos cristãos conseguem encobrir ou dissimular
lundamento apostólico-profético não desenvolvam uma mentalidade apostólica
sua própria frustração com a igreja cristã. Dizem: “Olhe para Jesus, não para a
ou profética (Ef 2.20). Isso era de se esperar. A crise da missão tradicional é uma
igreja!” E logo percebemos que algo não está certo com essa declaração sonora­
rnse da igreja. Se a missão representa o batimento cardíaco natural da igreja de
mente piedosa.
pensamento apostólico, então a questão não é, p. ex„ que se participe de alguns
Nas igrejas e obras missionárias de muitos lugares acontece urna atividade
programas missionários, mas sim, que a graça de Deus sempre faz com que por
febril como nunca houve. Mas também o número de pastores que migram desa­
pimeípio pessoas pensem e ajam da mesma forma como o próprio Deus pensa e
nimados de comunidade em comunidade, que se candidatam a um ano sabático
age, a saber, apostolicamente. Do contrário corremos o perigo de experimentar a
(de descanso) ou saem definitivamente do ministério é tão alto como nunca. Sem
missão como um dever preestabelecido, como um certo legalismo, apaziguando
falar dos numerosos “cristãos bem normais” que voltam as costas às suas igrejas,
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nossa consciência por meio de doações e participação minimalista na vida de foram talhados para um público que ainda está em busca de Deus, havia muita
alguns missionários. consciência do abismo eclesial. Pessoas ficavam fascinadas por Jesus, mas esta­
O problema central da missão, porém, é o entendimento ainda vigente de igreja. vam decepcionadas com a igreja. Havia a percepção de que se deveria instalar um
Se a igreja não nos entusiasma aqui “em casa”, que anunciarão os pobres missioná­ recinto livre de tensões e menos constrangedor para pessoas que ainda não eram
rios “lá fora”? Um ideal sonhado? Quando as igrejas carecem de uma determinada cristãs, mas que estavam interessadas no Evangelho, um “lugar seguro para uma
dosezinha de graça, infiltra-se imediatamente uma pequena superdose de legalismo. mensagem perigosa”. Naquele tempo, coin uma certa dose de humor, mas com
Muitas vezes isso acontece exatamente onde faltam os elementos apostólicos e conotações absolutamente sérias, Willow Crew discutiu um plano de evangelização
proféticos e as igrejas desenvolveram, em série, doenças causadas por carências de sete etapas:
espirituais, que não poderão ser sanadas nem pelos professores de teologia mais
conscienciosos, pelos pastores mais maravilhosos e evangelistas mais audaciosos. O Gaste horas qualitativam ente boas com pessoas ainda não cristãs.
Mostrarei mais adiante que, na medida em que a igreja se compreende e se en­
0 Proteja-as diante da igreja.
contra de maneira nova, essa circunstância levará a um reavivamento total da missão.
“Quando a igreja despreza sua missão, ela deixa de ser igreja”, afirma Donald Miller. © Explique a esses novos amigos o Evangelho de Jesus Cristo.
Porém, quando a igreja volta a ser igreja, por compreender sua natureza apostólica
e profética, então ela também tornará a ser o instrumento de Deus para transformar O Proteja-os diante da igreja.
bairros inteiros e nações em discípulos. Também igrejas isoladas podem ser usadas
por Deus no espírito da parceria global para derramarem seu combustível sobre o 0 Conduza-os a um relacionam ento pessoal com Jesus.
fogo de outras pessoas, de modo que a luz aumente e o mundo possa ver aquele a
© Proteja-os diante da igreja.
quem deixou de ver por tempo demais: Jesus Cristo, a luz do mundo.
O Quando estiverem um pouco am adurecidos e suficientem ente estáveis
para suportar até um choque cultural, então leve-os pela prim eira vez a
O “ABISMO ECLESIAL” um culto cristão.
Muitos pastores sabem, alguns até o dizem abertamente: “A igreja sobre a qual
prego é muito diferente da igreja à qual prego. Afinal, é por isso que prego.” Se os
próprios pastores sentem com tanta clareza a tensão entre o que as igrejas devem QUEM VAI ATRÁS DE QUEM?
ser e o que são - o abismo eclesial -, que dirão, então, cristãos recém-convertidos Um missionário norte-americano contou-me certa
com sua sensibilidade tão nova e seus sentidos despertos e esperançosos? (cita que uma igreja na Europa central com cerca
Será que, depois de 1.700
de 200 participantes nos cultos queria convidar não
anos de cristianismo
“Nos dias dos salões de chá evangélicos ” , diz o inglês Terry Virgo cristãos para uma ocasião evangelística especial
pós-constantiniano
fundador de igrejas, “havia conferência sobre o tema ‘como superar com um tema especial. Com auxílio de muita
o terrível abismo entre o salão de chá e a igreja cristã ’. Visava-se realmente ainda nos
propaganda de fato 50 pessoas compareceram
ajudar cristãos recém-convertidos a lidar com cultos mortos, formais podemos dar o luxo
pela primeira vez ao recinto da igreja. “Natural­
e irrelevantes. Havia-se tentado deixar claro para eles que essa mo­ de discutir como
mente bem poucos deles retornaram no domingo
notonia fria, eternamente igual, na realidade era expressão da trans- transformaremos o mundo
seguinte para o culto”, disse-me o missionário.
bordante alegria de viver do povo de Deus. Alguns até sugeriram que se nós mesmos continuamos
“Mas iremos atrás deles”.
fossem estabelecidas assim chamadas casas de transição ou incorpo­ sendo sempre os mesmos7
Fiquei surpreso. Se 50 pessoas ainda não cristãs
ração, que deveríam situar-se no meio do caminho entre salão de chá comparecem a um evento cristão e depois saem
e igreja, afim de preparar as pessoas para a igreja. ” praticamente sem ficar impressionadas e não se
mostram nem um pouco eletrizadas com esse encontro, por que a igreja não assume
No tempo em que surgiu a Willow Creek Community Church em Chicago, uma as consequências? Será que ela não deveria cair de joelhos e tentar descobrir qual
igreja que oferece “cultos voltados para pessoas em busca”, ou seja, cultos que foi o terrível erro que llagranlemente aconteceu para tantas pessoas entrarem em
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contato com ela e saírem de cena praticamente sem serem atingidas? Será que a igreja do Antigo Testamento, e cujas consequências inicialmente são imprevisíveis para
não deveria muito antes ir atrás de si mesma, realizar a checagem em si mesma e muitos. Isso poderia significar que temos de começar mais uma vez pelo princípio
consertar as próprias deficiências, ao invés de continuar importunando primeiros cm muitos aspectos ou que precisamos seguir coerentemente o caminho iniciado
visitantes pouco impressionados e indiferentes com técnicas espirituais de vendas? iilc o fim. Reforma nunca foi artigo barato. Tentarei explicitar isso com base em
Será que, depois de 1.700 anos de cristianismo pós-constantiniano realmente ainda nlgumas ilustrações:
nos podemos dar o luxo de discutir como transformaremos o mundo se nós mesmos
continuamos sendo sempre os mesmos? (Iralides carvões durante a crise do petróleo
Talvez devéssemos dar ouvidos ao conselho do pastor Rick Warren. Em sua obra I >mante a crise do petróleo dos anos 70 era muito diflcil comprar automóveis de alta
Uma Igreja com Propósitos ele recomenda que “paremos de pedir incessantemente cilindrada, porque os carrões de elevado consumo de combustível rapidamente enca-
a Deus que abençoe o que fazemos, e comecemos a fazer aquilo que Deus abençoa”. iceiam o orçamento. Fabricantes de automóveis coçavam a cabeça e contemplavam
nervosamente os muitos carros invendáveis que sc acumulavam em seus depósitos.
Isso inc leva a recordar a situação das igrejas numa série de países. Será que o modelo
A TERCEIRA REFORMA de igreja que oferecemos no mercado simplesmente é grande e dispendioso demais?
Christian A. Schwarz, pesquisador alemão sobre o desenvolvimento da igreja, Será que por um lado temos a igreja “mais certa possível”, mas por outro um mundo
chamou atenção para o fato dc que hoje nos encontramos na fase de uma terceira errado? Ou será que “o mercado” de fato precisa de um produto diferente?
Reforma. A primeira Reforma aconteceu no século 16, quando Martinho Lutero
redescobriu o cerne do Evangelho: salvação mediante a fé, somente por graça,
unicamente a Bíblia. Foi uma reforma da teologia. l.steira entupida
A segunda Reforma sucedeu no fim do século 17 e início do século 18, quando
Ás vezes comparo a situação da fundação de igrejas em outras nações com uma
movimentos influenciados pelo Pietismo rcdescobriram a possibilidade de um re­ esleira entupida. Parece que o produto (novas igrejas) está extremamente difícil de
lacionamento pessoal, de uma intimidade espiritual com Cristo. Isso levou a uma
ser vendido e está literalmente encalhado na saída da esteira, entupindo-a, porque
reforma da espiritualidade, nascida sobre os joelhos dobrados com fervor diante simplesmente não há clientes suficientemente entusiasmados ou misericordiosos
de um "Salvador” amoroso e pessoal, e que representou o impulso para uma era para adquirir a mercadoria encalhada. A consequência: o sistema fica travado, o
missionária completamente nova. Irabalho apenas progride centímetro por centímetro e tanto clientes quanto cola­
No entanto, também naquele tempo continuou-se intensivamente - nas pa­ boradores se tornam cada vez mais frustrados. Acaso não seria verdade que nos
lavras da conhecida parábola de Jesus - a colocar vinho novo em odres velhos lornamos especialistas em fabricar novas esteiras, mas não investimos suficiente
e remendos novos em roupas velhas. O sistema eclesiástico e cultuai da Igreja atenção e cuidado para examinar nosso produto e desenvolver protótipos eficientes?
Católica Romana havia permanecido muito fiel ao Templo do Antigo Testamento I Im comportamento assim significaria a morte de qualquer empresa. Será verdade
e mais tarde às formas de culto judaicas centradas na sinagoga, conservando até que na igreja as coisas são tão diferentes?
mesmo a sequência, incluindo incenso, sacerdote, repartições especiais para lai-
cato e clero, bem como um altar. A Reforma de Lutero referiu-se ao conteúdo do
Evangelho, mas não modificou a estrutura básica dos "cultos a Deus”. Os "cultos
Solucionar o quebra-cabeça
a Deus” continuam a ser essencialmente exibições para visitantes, eventos formais
Imaginemos um menino de seis anos que desempacota seu novo quebra-cabeça
e litúrgicos tipicamente religiosos, nos quais muitos espectadores e consumidores
c imediatamente tenta juntar as peças. Da caixa ele retira o quadro original que
predominantemente passivos formam os figurantes de um cenário necessário para
representa um carro de corrida vermelho. “Que maravilha”, pensa ele, “adoro
o programa de alguns poucos especialistas muito ativos. Contudo, é precisamente
carros de corrida vermelhos!” Com muita agitação ele começa a encaixar as peças
isso que parece que está mudando nos dias hoje.
do quebra-cabeça de acordo com o original. Mas por um motivo qualquer as peças
A terceira e última parte da Reforma é, por isso, uma reforma da estrutura. Não
não combinam do modo como deveríam, segundo a opinião dele. Tenta aplicar
se trata de fazer algumas alterações cosméticas e pinturas naquilo que existe, mas
um pequeno reforço com pressões convincentes, quebra um canto ou encobre uma
de um novo mas antigo enfoque global de igreja, cujo cerne vem do Novo e não
irregularidade, mas alguma coisa não está certa nessa história toda. Finalmente
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chega a salvação na pessoa do pai. Ele imediatamente reconhece o problema, tradição é a correta? O evangelista argentino Juan Carlos Ortiz certa vez formuloi
toma o quadro do belíssimo carro de corrida - e vira-o! E eis que do outro lado a questão da seguinte maneira: “Há mais de 22.000 denominações no mundo
está impressa uma macieira. “Esse é o original correto”, esclarece ele ao filho. “O Quanta felicidade deve ser atribuída a você se você for membro justamente m
carro de corrida vermelho é somente a propaganda para outro quebra-cabeças.” O correta?!” Desde então o número de denominações não apenas cresceu pari
menino respira aliviado, lamenta ainda por alguns segundos por causa do carro de uma cifra entre 24.000 e 30.000, mas muitos cristãos começam a entender qui
corrida e depois tenta juntar as peças de acordo com a “nova” figura original - e a maioria dos problemas reais das igrejas não é causada de fora, mas dentre
realmente, depois de poucos minutos, está pronto. O que não estava correto antes? do próprio sistema, isto é na forma e no modo tradicional e predileto de come
Na verdade ele tinha todas as peças certas, mas o modelo errado. entendemos e praticamos igreja.

APARELHOS DE FOTOCÓPIA ESPIRITUAL A QUEM DEVEMOS CULPAR?


Será que essa ilustração descreve a situação de grandes parcelas do cristianismo “Nossas prateleiras estão cheias de livros e vídeos cristãos. Temos igrejas em
de hoje? Temos todas as peças certas: a palavra de Deus, pessoas, casas, oração, cada rua importante e o maior número de colaboradores da história, grandes de­
motivação, dinheiro. Porém, será que não aconteceu o inimaginável e todos nós partamentos de escola dominical, sistemas de células e seminários sobre mega c
estamos montando essas peças isoladas em série de acordo com um original errado transigrejas. Temos adesivos cristãos para o carro, grupos de ação política, grandes
de igreja? De acordo com o modelo de um carro de corrida vermelho, ardente­ obras missionárias - e no meio de tudo isso perdemos praticamente toda a influên­
mente amado por todos? Será que algum malandro sem escrúpulos nos empurrou cia em cada cidade maior dos eua” , diz Ted Haggard, pastor da New Life Church
um original para cópias que não é praticável? E agora estamos diante de nossos em Colorado Springs, no livro Primary Purpose - Making It H ardfor People Io
aparelhos de fotocópia espiritual (isto é, centros de formação teológica, escolas Go to Hellfrom Your City [Objetivo primário - impedindo as pessoas de irem ac
bíblicas, seminários, editoras, programas de formação etc.), pressionando fasci­ inferno a partir da sua cidade]. Ele prossegue dizendo: “Ao invés de examinai
nados o botão verde para as cópias e esperando que na gaveta das cópias surjam nossos próprios métodos e colocar em dúvida nossa eficiência, tentamos eximir­
reproduções daquilo que consideramos como original seguramente bíblico, canô­ mos da responsabilidade pela condenação eterna das pessoas em nosso redor,
nico, sancionado, historicamente legítimo, de primeira mão? responsabilizando outros por nossa própria ineficiência espiritual”.
Posso imaginar que Satanás, o inimigo do cristianismo, não tem nenhum pro­
blema com os esforços frenéticos de evangelização e missão dos nossos dias,
enquanto continuarmos pacatamente fazendo cópias de nosso “carro de corrida UM MODELO OCIDENTAL DE IGREJA PARA O MUNDO INTEIRO?
vermelho” - nosso modelo tradicional de igreja - , de um sistema eclesiástico I inbora existam cerca de 240 países no mundo, presenciamos nos últimos séculos
que não questiona as reivindicações satânicas sobre a humanidade com a devida que basicamente apenas quatro países exportaram seus respectivos modelos dc
seriedade. Talvez por isso seja chegada a hora de parar de arranhar tão-somente igreja ao mundo todo, com esforço incrível e grande investimento: a Alemanha, a
a superfície do mundo, e de dar o espaço para que Deus mais uma vez forme de ( irã-Bretanha, os eua e a Itália. A maioria das igrejas e dos movimentos cristãos
modo novo a igreja - que literalmente a reinvente, se for preciso. O começo disso ainda hoje continua tendo sua sede em um desses quatro países ou, pelo menos
pode ser que confiramos nossos próprios modelos de cópias e invertamos nossos ainda é fortemente ligada a eles (e influenciada por eles).
supostos originais. De forma alguma coloco em dúvida a bênção da era missionária, cunhada por
esses quatro países. Apesar disso desejo mencionar que isso levou a uma das maiores
monopolizações de igreja ao redor do globo terrestre. Um modelo de igreja - a saber,
PARAR DE COMEÇAR PELA IGREJA um modelo ocidental - tornou-se a versão eclesiástica globalmente padronizada c
A maioria dos leitores do presente livro terá crescido numa determinada igreja desse modo imprimiu sua marca ao cristianismo de extensão mundial. O conhecido
ou decidido mais tarde aderir a uma ou outra “igreja” no sentido de denomina­ autor norte-americano Gene Edwards lamenta-o com eloquência num livro intitulado
ção. Isso traz consigo que inconscientemente enxerguemos e interpretemos o The Americanization o f Christianily [A americanização do cristianismo].
cristianismo —como também a Bíblia - pelos óculos herdados de nossa tribo Meu intuito não é acusar o ()cidenle, mas destacar o fato dc que Jesus era asi­
espiritual e que os meçamos conforme a “nossa maneira de crer”. Contudo, que ático. Igualmente deveria nos dar o que pensar a circunstância de que juslamenlc
W. i 'ASAS (.111|' TRANSI <IKMAM O M UNDO IGREJA NOS I.ARHS A REINVENÇAO DA IGREJA 37

as (|inilm potências nmmliiiis do missão sc engalfinharam nas guerras mundiais, isso o caminho mais rápido para atingir aqueles que não têm marca de igreja pode
ici 11uiu amcnle lii/iliuulo seus lilhos diante dos olhos do mundo. Não podemos consistir em “tirar a marca eclesiástica da igreja”.
lo/oi de t oiila 1111e a credibilidade universal dos “países cristãos” não tenha sofrido O pastor Bob Hopkins, um dos iniciadores da Anglican Church Planting Initia-
com isso. A isso se acrescenta um terceiro aspecto: tive [Iniciativa Anglicana de Plantação de Igrejas] na Inglaterra, recomendou “que
dinheiro, retórica, materiais e até uma bem lubri- paremos de começar sempre pela igreja”. O problema é que aceitamos a igreja
/ tnhora c\istam cerca ficada máquina missionária jamais poderão ser um e sua forma atualmente estabelecida como algo absoluto, razão pela qual somos
i/u J-ltlpaises na mundo, substituto para o fato de que somente Deus - e preconceituosos contra qualquer ideia nova que aparentemente não se enquadra no
presenciamos nos últimos nenhuma tradição, por mais eclesial que seja - é sistema. Talvez não devamos mais aceitar o sistema eclesiástico atual e as formas
séculos (/ne basicamente capaz de convocar e conferir poder a um povo tradicionais de culto como algo estabelecido em todos os casos. Não podemos
apenas quatro países para executar uma determinada incumbência no nem devemos voltar atrás na História, mas ninguém poderá repreender seriamente
exportaram seus respectivos mundo. uma pessoa que dá meia-volta no carro quando constata que entrou num beco sem
modelos de igreja Estou convicto de que há muito não estamos saída. Não seria possível que Deus esperou por muito tempo ao longo da história,
ao mundo todo com mais na “fase colonial” da missão, mas na fase sempre disposto a dar as respostas certas, desde que alguém tivesse a coragem
esforço incrível e grande da “missão nacional”, ou seja, numa era em que suficiente para formular as perguntas certas? E não seria possível que igrejas nos
investimento: a Alemanha, cada nação tem a liberdade para desenvolver seus lares são o elo que falta na corrente entre espiritualidade e sociedade, entre Jesus
a Grã-Bretanha, os eua e próprios modelos e formas de igreja, ao invés e seu corpo, entre céu e terra?
a Itália. de culturalmente abarrotar o país por meio de
modelos importados, levemente adaptados, e que
muitas vezes ainda são financiados de fora. Essa PEDRA DE TROPEÇO OU ARCA DO TESOURO?
reencarnação, esse novo fazer-se carne por parte da igreja, acontece com bastante Certa vez Jesus comparou o Reino de Deus com um homem que encontra um te­
frequência por meio dos joelhos dobrados de pessoas que estão prostrados diante souro ao arar um campo (Mt 13.44). Em seguida ele vai, vende tudo o que possui
de Deus em seu país, derramando suas lágrimas e lutando para que Cristo seja e compra a área, inclusive o tesouro. O que primeiro se apresentava como uma
estabelecido na sua época e cultura, em formas de igreja que foram inventadas incômoda pedra de tropeço, um verdadeiro bloco de pedra no local errado, que
localmente e que por isso não apresentam dificuldades de adaptação. E nesse tão-somente parecia interromper a aração harmoniosa, a costumeira rotina do dia
instante até cabe ao “Ocidente cristão” um novo papel: por meio do espírito de a dia, foi revelado como um tesouro imensurável.
um “colonialismo crucificado”, o oposto direto do imperialismo espiritual, de- Não poderia acontecer o mesmo com a rotina de uma igreja cristã, apegada à
nominacionalismo e mentalidade de exportação messiânica e ingênua, ele pode ordem litúrgica e à programação? Talvez Deus também tenha colocado uma suposta
tentar derramar cautelosamente um pouco de combustível na fogueira das nações. pedra de tropeço para você, que, ao ser observada mais de perto, evidencia-se como
o maior achado de sua vida? Não quero deixar de preveni-lo um pouco: é isso que
certamente poderá acontecer com você se Deus lhe falar a seu modo sobre igrejas
A IGREJA TRADICIONAL - O MAIOR EMPECILHO PARA A FÉ? nos lares. Talvez as respostas às nossas mais secretas e profundas indagações nem
Numa pesquisa realizada em 1994 na Escócia com o título Empecilhos para a estejam tão distantes. Apenas esperam que tropecemos nelas. Talvez estejam ocultas
fé, John Campbell, assessor de evangelismo da Igreja da Escócia, diz: “Muitas atrás de uma porta, na qual na verdade ninguém acredita que ela exista. É possível
pessoas assinalaram que uma das maiores barreiras para crer em Deus é a própria que encontremos essas respostas como resultado de um sofrimento quase insupor­
igreja”. Quando o problema é o sistema, então nossa melhor solução sempre será tável diante do status quo ou porque procuramos séria e sistematicamente c agora as
parte do problema. Nesse caso, o cristão mais devotado, mais cheio de energia, descobrimos. Talvez para você a ideia de igrejas nos lares ainda seja “inimaginável”,
mais visionário, mais fervoroso e avivado será cativo de um sistema que suga jamais ouvida e por isso inconcebível, algo que no começo soa quase herético, mas
impiedosamente suas energias e finalmente o subjuga. Por isso a saída para frente que se torna cada vez mais claro quando nos movemos para frente na névoa da
não consiste em providenciar pequenas mudanças e adaptações modernas na igreja história e da tradição, contemplando nossas Bíblias sob uma luz totalmente nova.
como a conhecemos, mas numa redescoberta muito mais radical da verdadeira Não importa qual seja sua história pessoal, leve consigo um bom conselho
natureza, da essência originária daquilo que a igreja significou no começo. Por da parábola do tesouro no campo: se você descobrir o tesouro, não vá à praça da
38 CASAS QUE TR ANSFORM AM O MUNDO: IGREJA NOS LARES A REINVENÇÃO da IGREJA 39

cidade proclamando o achado. Esconda-o no campo, vá até a praça e venda tudo PRINCÍPIOS BIOTICOS
o que possui. Depois compre o campo e faça tudo o que Deus lhe mostrar. Quase todas as formas de vida se baseiam na multiplicação de células orgânicas. O
crescimento aditivo ou linear ilimitado transgride princípios da criação, ao passo
que a multiplicação é um princípio da criação. Meu amigo Christian A. Schwarz
A “REENCARNAÇÃO” DA IGREJA estudou o que ele caracterizou como “princípios da natureza”, processos e moldes
Muitas igrejas que anseiam por renovação e por um despertar - ou pelo menos um que podem ser encontrados no âmbito da criação de Deus e de acordo com os
pouco de vento fresco e mudança - tendem a desconsiderar que não se pode chegar quais se desenrola a vida orgânica. Isso o levou a
a uma nova qualidade na igreja meramente mudando as formas. Tom Peters, guru conceber um princípio de trabalho que ele designa jâ. ..................................
dos executivos, formula o princípio da seguinte forma: de "desenvolvimento natural da igreja”. Muitas Quando reconhecemos que
constatações provêm da biologia ou da agricul­ a igreja cristã é uma criação
“Renovação e reforma já eram, é a revolução que está na moda. tura, onde o crescimento se processa de acordo de Deus e que o corpo de
Uma empresa não precisa realmente de um ceo - C hief Executive com padrões originais e criativos, não de acordo Cristo é um organismo
Officer [Diretor Presidente], mas de um coo - um C hief Destruc- com mecanismos de produção inventados pelos “biótico ”, temos de nos
tion Officer [Destruidor Presidente], alguém que regularmente des­ humanos. Esses princípios da natureza formam acautelar para não querer
mascare e desmanche as tradições que oferecem entraves, porque é um nítido contraste com métodos “tecnocráticos”, dirigir ou manipular esse
muito mais fácil trabalhar dê acordo com um novo modelo do que segundo os quais as máquinas funcionam. A di­ ser vivo com receitas
refazer e renovar um modelo ultrapassado. ”
ferença entre ambos os princípios é tão grande técnicas de sucesso.
quanto a diferença entre um robô e um ser huma­
Pretender transformar uma igreja alterando suas formas exteriores é uma atitude
no. Um é uma máquina, o outro um organismo
tão pouco inteligente quanto querer produzir em si mesmo uma mudança de men­
vivo. O modelo das máquinas ou dos robôs pode
talidade trajando uma nova peça de roupa, ou tentar nào entrar no cinema dali em
funcionar muito bem no mundo da técnica, porém fracassará cabalmente no mundo
diante caminhando apenas de ré. Uma nova declaração de visão, belos alvos, for­
do crescimento biótico, orgânico.
mulações maravilhosas ou outras alterações cosméticas sem uma reforma radical
Quando reconhecemos que a igreja cristã é uma criação de Deus e que o corpo
do código genético interno somente levarão a uma frustração maior.
dc Cristo é um organismo “biótico”, temos de nos acautelar para não querer diri­
Quem costura um pedaço de tecido novo num pano velho está em maus lençóis, gir ou manipular esse ser vivo com receitas técnicas de sucesso. Pelo contrário,
diz Jesus. Muitas vezes o avivamento e a Reforma começam com uma radical re-
deveriamos ficar atentos aos princípios naturais e orgânicos que Deus inseriu em
descoberta da natureza, da substância central da igreja, do dna do Novo Testamento,
sua própria criação. Quando analisarmos esses princípios orgânicos e naturais,
do código genético sobrenatural, do Evangelho que Deus introduziu na igreja. Esse
poderemos observar que muitas vezes se alcança um máximo de resultados com
código genético, esse padrão hereditário, precisa ser novamente encarnado, tornar- um mínimo de energia - de conformidade com um automatismo de crescimento
-se carne. Isso fará com que o potencial de crescimento colocado nela por Deus
que foi instalado por Deus também na sua igreja enquanto criação dele. Isso aju­
(Mc 4.26) possa ser liberado. Como todo grão de trigo, essa semente espiritual está
dará a evitar que fabriquemos igreja - isto é, que a produzamos tecnicamente - e
equipada e é capaz de desenvolver sua própria estrutura e forma definitiva a partir
abrirá caminhos para que a igreja se configure pelo Espírito de Deus, de acordo
de dentro, sem constantes palestras doutrinárias a partir de fora. Ela se desenvolve com os princípios de Deus. Construiremos a igreja em vão se seguirmos somente
de conformidade com um molde interior instalado por Deus, desempacota-se a si
modelos e fórmulas humanos, ainda que eles tenham sido confiados a nós como
própria, como um programa de computador compactado. E precisamente dessa forma
fiéis depositários de tradições boas e supostamente sagradas em sua forma. Alguns
que a igreja é literalmente reencarnada, volta novamente a ser carne.
exemplos de princípios da natureza são:
O terreno fértil para esse acontecimento é o chão das nações e dos grupos étnicos
deste mundo. O resultado da primeira encarnação da igreja nos tempos do Novo
• Interdependência : significa que a m aneira como as diferentes partes de
Testamento foi o movimento das igrejas nos lares, que conquistou Jerusalém em
um organism o estão interligadas é mais importante que as próprias par­
talvez menos de dois anos, como um vírus incontrolável. Que impacto produzirá
tes, pois todas as células orgânicas saudáveis não se ajeitam de acordo
uma reencarnação de igrejas nos lares em nossa época?
com um princípio de caos, pelo acaso, mas via de regra de acordo com
40 CASAS QUE TRANSFORM AM O MUNDO: IGREJA NOS LARES A RE INVENÇÃO DA IGREJA 41

um padrão instalado, em consonância com a criação, no qual todas as A EINHA INVISÍVEL ENTRE
células se encontram num a relação recíproca definida. Com vistas ao 0 CRISTIANISMO ORGANIZADO E ORGÂNICO
crescim ento ou à m ultiplicação da igreja, isso significa que nenhum 1 odo encontro de família nos ensina que certamente é viável manter comunhão
aspecto singular deveria ser visto isoladamente de outros aspectos. estreita sem ser excessivamente estruturado. Famílias têm condições de passar
juntas períodos qualitativamente bons mesmo sem um mestre de cerimônias, sem
• Multiplicação: um crescimento ilimitado para cima não constitui um ideal uma palavra de saudação, um hino especial, uma palestra do pai e uma palavra
da natureza - mas sim a multiplicação. O verdadeiro fruto de uma macieira de agradecimento da mãe. Essas coisas são necessárias em casamentos e outras
não é uma maçã, mas outra macieira. O verdadeiro fruto de uma igreja não é solenidades, mas no dia a dia elas causam uma impressão um tanto bizarra. Pois
pessoas convertidas, mas outras igrejas, que por sua vez geram outras igrejas. a igreja não é uma apresentação artificial, ela faz parte do cotidiano, justamente
por ser “o caminho da vida”, um estilo de vida.
• Transformação cie energia: esse princípio expressa que forças já exis­ Ocorre que em todas as culturas há um limite numérico muito interessante, no
tentes - tam bém negativas - podem ser usadas positivam ente em di­ qual um encontro deixa de ser informal e começa a se tornar formal; um limite em
reção de um alvo visado. Esse é, p. ex., o m ecanism o a que o médico
que um grupo pára de ser orgânico e começa a requerer organização. Nesse ponto
recorre nas vacinas preventivas: por meio do processo da vacina forças
ultrapassa-se o limiar entre o transcurso espontâneo de um encontro e o litúrgico,
am eaçadoras da saúde podem ser transform adas em benéficas. M uitas
planejado, regulamentado por itens da ordem do dia. Designo essa linha importante
igrejas cristãs, no entanto, preferem antes usar o “m étodo do boxea­
de “barreira dos 20”, porque em muitos círculos culturais esse limite é atingido em
dor”, segundo o qual as energias próprias são prim eiram ente usadas
grupos de aproximadamente 20 pessoas. Abaixo dela as pessoas ainda se sentem
para defender um ataque de fora e anulá-lo e depois, num segundo gol­
em família e se comportam de modo informal, não artificial, mas normal, sem ver
pe, renovado com mais energia, levar a própria m ensagem ao alvo.
a necessidade de organizar e planejar tudo.
Também um organismo possui uma certa estrutura. De forma alguma estou
pleiteando a anulação da ordem como tal. Porém, diferentemente de eventos or­
COMO SE ROMPE A BARREIRA DOS 20
ganizados, que são tipicamente planejados e estruturadas “de fora para dentro” e
O pesquisador de desenvolvimento de igreja Bill M. Sullivan escreveu um livro
de antemão, um organismo é estruturado de dentro para fora. O comportamento de
com o título Ten Steps to Breaking the 200 Barrier [Dez passos para romper a
um organismo forma-se pela constituição interior
barreira dos 200]. O ponto de partida muito compreensível de Sullivan encaixa-se
e pela respectiva reação ao contexto em mutação,
ideologicamente com precisão na corrente principal do movimento de crescimento
enquanto nos eventos organizados o curso já é Se a igreja fo r algo
de igreja dos anos 70 e 80: boas igrejas se tornam grandes, muito boas se tornam
lixado anteriormente. orgânico, então a
muito grandes. Tudo o que vier a impedir o crescimento de uma igreja “saudável”
é identificado como barreira, que consequentemente precisa ser superada. Essa observação é muito importante para nossa obstruímos com o excesso
A ideia da barreira dos 200 é simples. Em termos estatísticos a maioria das igrejas pergunta sobre o que é igreja. Se a igreja for algo de organização. A cada
cristãs pára de crescer quando atingiu um número de 100 a 300 pessoas que a frequen­ orgânico, então a obstruímos com o excesso de domingo, ao planejarmos a
tam, ou seja, uma média em torno de 200. Existem razões culturais, sociológicas e até organização. A cada domingo, ao planejarmos sequência do culto, estamos
arquitetônicas para isso. Muito mais importante, porém, é um problema estrutural, a sequência do culto, estamos regularmente regularmente organizando
que está praticamente embutido em igrejas tradicionais de um só pastor: o pastor organizando a obstrução da igreja. A natureza a obstrução da igreja.
típico somente consegue dedicar-se de fato pessoalmente a um número limitado de de um encontro define e restringe seu tamanho
pessoas. Embora possa ter muito lugar em sua agenda, o lugar em seu coração é numérico. Quando ultrapassamos a “barreira dos
limitado - e os primeiros que notam isso são as ovelhas na periferia da igreja. 20”, o grupo deixa de funcionar organicamente e começa a requerer que se torne
Em decorrência disso, a igreja via de regra atinge a estagnação quando atingiu lormal e organizado. Ele troca radicalmente de identidade. A medida que cresce
esse limite invisível, justamente por ter alcançado a “barreira dos 200”. No entanto, em tamanho reduz-se dramaticamente a eficiência dos relacionamentos e da co­
gostaria de assinalar neste ponto que existe ainda uma barreira muito mais importan­ municação mútua, e intensifica-se a necessidade de fazer com que o grupo seja
te, que as igrejas cristãs deveriam superar: a “barreira dos 20”. Como a vencemos? dirigido e direcionado por alguém.
42 CASAS QUE TRANSI ORMAM O MUNDO: IGREJA NOS I ARI S A REINVENÇ ÃO DA IGREJA 43

Em decorrência, uma igreja no lar que passa de cerca de 20 pessoas perde sua ele subdividirá a igreja no lar em dois ou três subgrupos, multiplicando-se lateral­
atração original, muda seu sistema de valores e subitamente funciona de acordo mente, o que poderá e deveria levar a um movimento. Nesse caminho é possível
com leis completamente diferentes. Perde sua vida própria, que era espontânea que a “barreira dos 200” nem seja notada. Ela foi evitada desde o princípio.
e informal e na qual tudo transcorria quase automaticamente conforme padrões
de comportamento invisíveis. Subitamente ela requer liderança, uma mão forte.
Desse momento em diante a “igreja no lar” precisa ser organizada, demanda uma UM CASAMENTO POR SEMANA?
direção visível e é levada para uma forma de existência completamente diferente, Em todos os contextos culturais a vida tem dois aspectos, uma esfera privada e
um novo estado de agregação, um “organismo organizado” - deixando de ser outra pública, o cotidiano e as celebrações especiais, como, p. ex., casamentos,
basicamente uma igreja no lar. jubileus, sepultamentos e ocasiões especiais. Ambas as esferas da vida desenvol­
E interessante observar que a maioria das igrejas foi fundada como igrejas veram suas próprias formas. Normalmente o cotidiano desenrola-se no âmbito
nos lares - e resultou em casas com forma de igreja. Às vezes as pessoas ainda se da família, a pedra fundamental de toda sociedade e cultura saudáveis. Famílias
recordam dos “velhos bons tempos, quando ainda nos encontravamos nas casas” geralmente funcionam organicamente, baseiam-se sobre relacionamentos e se
- e depois planejam a hipoteca para ampliar a área de estacionamento “diante da posicionam diante da vida “assim como ela acontece”. Casamentos e outros
igreja”. O organismo originário tornou-se coisa do passado. Ele na verdade ainda eventos são acontecimentos extraordinários, para os quais todos se preparam de
vive, mas está aprisionado numa constrangedora modo conveniente. Tais solenidades normalmente são formais, carecem de um
camisa de força estrutural. A nova estrutura, ditada alto grau de organização e, se tudo correr bem, processam-se de acordo com uma
É interessante observar que pela nova grandeza, possivelmente impedirá rela­ programação ou roteiro para o dia.
a maioria das igrejas fo i cionamentos profundos e comunhão espontânea Imagine que você vá todos os fins de semana a um casamento. As cerimônias
fundada como igrejas nos - e isso em nome da comunhão! sempre transcorrem de acordo com o mesmo esquema, o noivo é sempre o mesmo,
lares - e resultaram em A koinonia bíblica significa com unhão, casando com a mesma noiva e talvez até a refeição festiva seja a mesma. Após
casas em forma de igreja. conceder e ter participação mútua. Uma das algumas semanas o primeiro entusiasmo diminuirá sensivelmente. Nesse ínterim
decorrências fatais do fato de ultrapassarmos já se aprende claramente o que pode ser esperado e o qual é o próximo assunto.
essa linha invisível entre cristianismo orgânico ( ontinuaria sendo um belo costume, uma tradição
e organizado é que se perde o potencial original agradável, mas de certa forma seria algo estranho
de multiplicação orgânica. No final estamos diante de uma forma de organização lazer com que cada semana uma tradição assim As igrejas nos lares estão
que não possui mais força interior e que por isso precisa ser praticamente clonada, fosse revitalizada. em casa onde os seres
copiada e literalmente adaptada para as massas a partir de fora dela. O investimento Temos de tomar o cuidado para que não humanos estão em casa.
a ser feito nesses casos é tão grande porque nesse esforço não apenas deixamos aconteça exatamente isso com a igreja. Jesus
de considerar o potencial de crescimento explosivo embutido nas igrejas nos lares nos mostrou o caminho de como se vive e não
orgânicas, mas talvez até o inviabilizemos inconscientemente. Se existe algo que apenas de como se celebra. Ambos os aspectos são necessários e ambos são bons.
a história da igreja explicita, é o seguinte: o caminho da religião organizada até o ( 'ontudo, o cotidiano não é sempre como o dia das núpcias, como qualquer casal
institucionalismo - e de lá para a esclerose da fé - é muito curto. poderá atestar. Se permitirmos que a igreja somente se apresente em trajes de do­
mingo, ou seja, ofereça somente programas extraordinários, então começaremos a
festejar semanalmente um casamento - e dessa maneira nos festejamos para fora
A PESSOA NÚMERO 21 do cotidiano. Começamos a causar uma impressão um pouco bizarra aos olhos de
Por consequência, uma das decisões mais importantes que temos de tomar para o quem está de fora, e passamos a ser pessoas que, por uma razão estranha qualquer,
futuro da igreja é a seguinte: que fazemos quando a pessoa número 21 entra pela aparentemente repetem, sempre no mesmo esquema, uma reedição de solenidades
porta? Em termos meramente estruturais, com essa pessoa a igreja está ultrapas­ passadas há muito tempo. Nossos cultos se tornariam um espetáculo artístico em
sando seu limite de crescimento, “o ponteiro entra na faixa vermelha”. É nesse que sempre se mostra a mesma peça e a única novidade consiste em que de vez
momento que se toma a decisão se o grupo continuará crescendo “para cima” e em quando um outro decorador ou diretor tem permissão de atuar diante ou atrás
começa a se organizar com o que perderá as dinâmicas da igreja no lar! ou se dos bastidores.

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