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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE INFORMÁTICA

OntoCapacitas: uma ontologia da atribuição de capacidade às pessoas naturais no direito civil


brasileiro

ALUNO: Victor Lacerda Botelho


PROFESSOR: Fred Freitas

RECIFE - 2018
Uma ontologia jurídica para a capacidade civil no Direito Brasileiro

Resumo: Apresento uma ontologia para a capacidade civil atribuída às pessoas naturais no Código
Civil Brasileiro de 2002 feita em uma lógica de descrições ALC. Ao final, discuto algumas das
implicações de se utilizar uma lógica monotônica para formalizar enunciados jurídicos.

Introdução

Uma das formulações mais bem-aceitas de ontologia (Bench-Capon, 2012, p.1) foi
formulada pelo pesquisador americano Tom Gruber. Para o autor, uma ontologia é “uma
especificação explícita da conceitualização de um domínio” 1 (Gruber, 1993, p. 1). Cabe ressaltar
que, embora o termo ‘ontologia’ seja largamente utilizado na filosofia e tenha sido tomado
emprestado pela ciência da computação, o termo deve ser aqui entendido em sua acepção
tecnológica, derivada das ciências computacionais.

Voltando à definição de Gruber, temos em primeiro lugar que uma ontologia é “uma
especificação explícita”; este requisito se alcança através da utilização de uma linguagem formal
capaz de exprimir conhecimento de modo não-ambíguo, isto é, uma linguagem que tenha tanto uma
sintaxe quanto uma semântica matematicamente definidas. No presente trabalho, a linguagem
formal escolhida para definir a capacidade civil no direito brasileiro foi a Description Logic ALC
(Attributive Language with Complements) por ser um formalismo introdutório e de aprendizado
relativamente simples em comparação a outros. Em segundo lugar, a definição precisa e clara tem
como substrato a “conceitualização de um domínio”. No desenvolvimento de uma ontologia, o
pesquisador deve descrever as classes, relações, instâncias, axiomas de um certo domínio em uma
linguagem formal. Neste trabalho, proponho e discuto uma aplicação aos seis primeiros artigos do
Código Civil de 2002:

Art. 1o Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.


Art. 2o A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe
a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.
Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os
menores de 16 (dezesseis) anos.
Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer:
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II - os ébrios e os viciados em tóxico
III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua
vontade;
IV - os pródigos.
[...]
Art. 5o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada
à prática de todos os atos da vida civil.
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento
público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o
tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;
II - pelo casamento;
III - pelo exercício de emprego público efetivo;
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego,
desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia
própria.
A implementação foi feita no editor Protegé e dá o pontapé inicial de uma ontologização
do direito civil brasileiro, tomando como ponto de partida a pedra de toque da área.

OntoCapacitas

Em virtudes das limitações do Word e pela melhoria do entendimento, a notação usada


aqui é a mesma usada pelo Protegé. Explicarei as escolhas de classes e sub-classes feitas por mim e
como elas se coadunam com a legislação nacional.
O artigo primeiro afirma que “Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.”

Figura I

Deste modo, foi incluída a classe pessoa, que aqui deve ser entendida apenas como
pessoa natural, ou seja, estão excluídas as pessoas jurídicas e outros entes desprovidos de vida
(ainda que possam ser objeto de ação) tais quais espólio, sindicato, etc. Apesar de o artigo segundo
destacar a figura do nascituro e de se assegurar os seus direitos, vê-se que não há personalidade
atribuída já que não houve nascimento com vida. Deste modo, opta-se por não incluir uma sub-
classe para o nascituro.
Visto como se dá a aquisição de capacidade, passo para as três categorias de capacidade
expostas pelo legislador: a) incapacidade absoluta; b) capacidade relativa; e c) capacidade plena.
Cada uma dessas categorias foi formalizada em uma subclasse da classe genérica “Capacidade”,
como visto na Figura II.

Figura II
Já no artigo terceiro, o legislado afirma que “São absolutamente incapazes de exercer
pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos.” Em uma leitura não-
sistemática, seria possível afirmar que todos os menos de dezesseis anos são incapazes. No entanto,
há exceções à essa regra quando se trata da chamada maioridade adquirida, que pode se dar antes
dos dezoito anos completos. A descrição da classe da Incapacidade Absoluta vem na Figura III, e
faz uso da classe “Menos16” e “NãoEmancipado”.

Figura III
Aqui já nos deparamos com uma dificuldade: a DL ALC, monotônica que é, não está
preparada para lidar com exceções. Da maneira em que está escrita a lei nos artigos seguintes, deve-
se entender que o menor de dezesseis anos só é absolutamente incapaz quando não houver
adquirido a maioridade de outro modo. Ele pode, através da combinação de outros atributos
descritos pelo legislador, ter tanto a capacidade relativa quanto a plena! A próxima figura é bastante
complexa e a partir dela faço uma breve explicação de qual caminho foi utilizado para se chegar a
uma descrição precisa, ainda que limitada pelo poder expressivo da DL ALC.
Figura IV
Com o objetivo de tornar as exceções tratáveis, foram criadas as classes
“Comportamento” e “Emancipação”. A primeira delas divide o comportamento humano entre
normal (“CompNorm”) e comportamento diferente (“CompDif”). Nesta última classe se inserem as
hipóteses de capacidade relativa do artigo quarto: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito
anos; II - os ébrios e os viciados em tóxico III - aqueles que, por causa transitória ou permanente,
não puderem exprimir sua vontade; IV - os pródigos. Note que o inciso primeiro foi modelado na
classe idade. Essa classe foi tripartida já que a DL ALC não é capaz de expressar valores numéricos.
Desse modo, as possíveis idades das pessoas foi dividida em menores de 16 anos (“Menos16”), nos
indivíduos de 16 anos ou mais, e menores de 18 (“Entre1618”) e nos maiores de 18 anos
(“Mais18”), quando se dá a aquisição natural da maioridade.
Foi necessário explicitar, na definição de cada um dos tipos de capacidades, todas as
combinações possíveis de categorias e as relações entre si. Este tipo de tratamento é sub-óptimo,
pois qualquer alteração na lei implica uma necessidade de alteração geral na base de conhecimento.
A próxima figura demonstra bem a complexidade em tentar expressar exceções como disjunções de
quatro categorias básicas:
Figura V

O caso mais complicado foi, de longe, o da capacidade relativa, em que as três


subclasses de idade e as duas de comportamento e de emancipação precisaram ser observadas com
cuidado. A capacidade, desse modo, virou uma espécie de 4-upla, em que há sempre quatro
parâmetros acerca do indivíduo que devem ser explicitados pelo usuário para que o raciocinador nos
dê a sua capacidade: a) pessoalidade; b) idade; c) comportamento; e d) emancipação. Através dessas
quatro classes são derivadas todas as possibilidades combinatórias apresentadas pelo direito
brasileiro.

Figura VI

A figura seis corresponde às hipóteses de aquisição de maioridade elencadas no art.


quinto.

Figura VII
Já a Figura VII formaliza as restrições do artigo quarto em relação à capacidade dos
maiores. Ainda que o indivíduo tenha completo dezoito anos ou adquirido a maioridade de outro
modo, caso ele apresente em sua conduta um dos comportamentos descritos na Figura VII, ele passa
a incorrer na capacidade relativa. A criação das categorias “Comportamento” e “Emancipação”
simplifica o processo de formalização e diminui a quantidade de dados a ser inserida pelo usuário
final. Sem elas, e devido à suposição de mundo aberto (Open World Assumption), o usuário
precisaria especificar o valor de verdade de cada um desses atributos para que se chegasse a um
resultado. Com a criação das categorias o número cai e a base ganha em agilidade.

Conclusão

A construção de ontologias exige um esforço conjunto do editor da ontologia com


especialistas do domínio que se quer representar. No caso do domínio jurídico, embora este artigo
exemplifique a possibilidade dessa representação, há algumas dificuldades que ainda precisam ser
melhor consideradas:
(1) Casos concretos, legislação e decisões: Traduzir os dispositivos legais em
proposições lógicas segundo um formalismo pode ser insuficiente para lidar com casos relativos a
esse fragmento formalizado. Esse tipo de atitude, em que se parte de cima para baixo, é
especialmente perigosa quando se atua no direito: como os juízes possuem poder discricionário
(2) Instabilidade do domínio: A legislação muda de tempos em tempos, e seria útil
estimar quanto tempo certas poções do direito brasileiro costumam ser alteradas, a fim de avaliar a
viabilidade de sua representação por ontologias.

(4) Falta de estrutura da legislação: As leis brasileiras nem sempre estão compiladas em
um único documento por tema. Diferentes leis, editadas em épocas diferentes (às vezes separadas
por décadas de distância) podem versar sobre um único assunto. Por vezes contém exceções ou até
mesmo contradições umas às outras. A quantidade de leis, decretos, dispositivos constitucionais,
portarias e outras fontes legislativas dificulta a representação desse domínio e exige um esforço
fundamental do engenheiro de conhecimento.

Referências:

Bench-Capon, Trevor J. M.. “Ontologies in AI and Law.”, 2012.


Gruber, T.R.. Towards Principles for the Design of Ontologies Used for Knowledge Sharing. In:
Formal Ontology in Conceptual Analysis and Knowledge Representation. Kluwer Academic
Publishers, 1993.
PRAKKEN, Henry. Logical Tools for Modeling Legal Reasoning. Dordrecht: Springer, 1997.

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