Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
Anexo:
"O PT tem tido, nos últimos meses, posturas bastante sensatas, mas sua história
torna difícil acreditar nesse compromisso com a estabilidade fiscal. O partido
defendeu durante muito tempo o não-pagamento das dívidas públicas. Além disso,
tem uma base extremamente corporativa e politicamente ativa, que se soma a uma
tradição muito forte de defender a intervenção do Estado na economia, seja como
produtor ou investidor. Há também uma posição extremamente protecionista em
relação à indústria nacional. Tudo isso torna muito mais difícil obter a austeridade
fiscal, o que é fundamental para um bom governo. Existe, portanto, o risco de que
o governo Lula venha a se perder à medida que ceda a essas pressões. Há um
outro dado. Os economistas do partido têm pouca experiência no mercado
financeiro e em política monetária. Isso é ruim porque, num cenário de câmbio
flutuante, a política monetária é fundamental. Este é um momento de riscos muito
grandes e, por pura falta de experiência, pode-se colocar a perder todo o esforço
de estabilização dos últimos oito anos. Apesar de tudo isso, devo reconhecer que
me agrada muito a prioridade que o partido dá à questão social e o entendimento
de que esse é o problema mais grave do país no longo prazo. Esse poderá ser o
ponto forte do PT."
"O Lula tem tantas condições de governar o Brasil quanto qualquer um dos outros
três candidatos com os quais concorreu. Essa idéia de que o PT não tem quadros
me parece um daqueles mitos sobre o partido. O PT tem hoje representantes numa
boa parcela do segundo escalão do Banco Central, do Banco do Brasil, do
Itamaraty. Tem uma participação importante na Receita Federal e no BNDES. O PT
está na máquina do governo há muito tempo. Só quem não conhece o governo é
que acha que faltam quadros ao PT. Mas é preciso que trabalhe com inteligência. O
partido deve apresentar claramente as condições para o Brasil superar as
dificuldades existentes. Basicamente, isso inclui absoluto respeito à propriedade
privada, aos contratos e à política econômica acertada com o FMI. Esse é o
caminho mais curto para ganhar credibilidade e ir lentamente corrigindo a herança
recebida. As instituições estão funcionando normalmente e não há, portanto,
nenhum risco de que algo seja feito sem aprovação do Congresso. Espero que Lula
nos diga tão logo quanto possível que reforma tributária vai fazer e como vai
enfrentar o problema da Previdência Social. Ele deve dar esperanças ao povo
brasileiro. Isso significa demonstrar que seu programa, num prazo razoável,
absorverá a nova mão-de-obra que entra no mercado e começará a reduzir o
estoque de desempregados."
"Lula será o presidente eleito com maior carga de responsabilidade desde o fim do
regime militar. Criou muitas expectativas e alertou para poucos contratempos e
riscos. Deu declarações muito contraditórias ao longo da campanha. Criou
expectativa muito negativa no mercado financeiro e muito positiva naqueles setores
aos quais prometeu mudanças que não são viáveis tendo em vista o cenário
doméstico e internacional. Um outro desafio é o da coalizão de forças majoritárias.
Terá de fazer alianças com setores com os quais nunca se aliou. O PT também não
tem noção completa da quantidade de mudanças pelas quais o país passou. Há
uma classe média toda nova. Por causa dela o PT mudou, mas ainda de forma rasa.
As forças novas são muito mais ligadas à parte do país que avança econômica e
socialmente, e o PT mostrou que não tem muita noção da nova correlação de forças
ao buscar alianças com a parte mais atrasada, com as forças decadentes. Incluem-
se aí o pedaço mais nacionalista do patriciado industrial de São Paulo e a parte das
Forças Armadas mais ligada a conceitos atrasados de geopolítica. Lula vive hoje um
momento contraditório, porque o PT ainda não fez a transição para a visão da
sociedade brasileira que certamente terá no futuro."
"Vai haver uma continuidade da política econômica que está sendo seguida pelo
governo Fernando Henrique Cardoso. O empréstimo do FMI, que disponibiliza 24
bilhões de dólares para o Brasil, depende da capacidade de obter superávits
primários. Lula se comprometeu com o acordo. Espero também continuidade da
política monetária. Poderia apostar que será seguida a mesma política de metas de
inflação, com a qual será possível obter índices anuais baixos, talvez menores que
6%. Acho que Lula terá de fazer a reforma fiscal nos primeiros dias de seu governo.
Há uma cobrança de impostos em cascata e em duplicidade da ordem de 40% no
Brasil. Por isso, a reforma tributária é urgente. Outra área em que haverá reforma
será a Previdência Social. Como o PT não terá maioria dos deputados e dos
senadores na próxima legislatura, precisará firmar compromissos com outros
partidos. A base de apoio do PT deverá estar no PSDB e no PMDB. O PSDB deverá
ser também uma fonte de ministros. Não estou deduzindo que não haverá uma
mudança no governo. Haverá, sim, mas vejo muito mais a continuidade do que
uma revolução."
"Não acredito que Lula fará um governo radical. Serão mudanças graduais. Vai
prevalecer a cautela. Lula receberá uma herança macroeconômica e financeira
muito pesada. Não vou dizer que o governo estará todo amarrado, porque seria um
exagero. Mas existem restrições internas e um cenário internacional pesado. Os
riscos externos na área econômica e na área militar são grandes. Há outra razão
para supor que seja pragmático, cauteloso. É o fato de que não terá maioria. Vai
ter de negociar para governar. Outra coisa é que as alas mais extremadas dentro
do PT são hoje mais fracas do que foram no passado. Isso também influi de alguma
maneira. Lula tentará provavelmente fazer um ministério amplo, convocando outras
forças políticas que não só as da aliança. Ele não pode cometer o erro de trair o
eleitorado, o que significaria manter o modelo econômico atual. Por outro lado, não
pode renegar os compromissos, no sentido de que não fará transformações
abruptas, de que cumprirá contratos. Vai ter de mostrar que o leão é manso, senão
perde a credibilidade. Será um governo com muita dificuldade, e o primeiro ano
talvez seja o mais difícil."
"Lula não tem nenhuma experiência prévia que nos dê uma indicação do que vai
fazer. Tudo vai depender das restrições que encontrar. A maior delas é o acordo
com o FMI. Ao mesmo tempo que coloca 24 bilhões de dólares nas mãos do
próximo presidente, esse acordo vai exigir um superávit primário mínimo para que
se alcance uma redução da dívida pública em relação ao produto interno bruto. Vai
ser difícil, portanto, evitar uma redução de gastos, o que já seria um cenário difícil
para qualquer governo. A segunda restrição, que é parte da primeira, é que o
próximo governo de fato não vai contar com a principal ferramenta usada pelo
Fernando Henrique, que foi o aumento da receita. Sem as receitas extras pagas ao
governo em 2002 – que não se repetirão –, o governo Lula terá 16 bilhões de reais
a menos no caixa. Por isso, é mais importante manter o Everardo Maciel do que o
Armínio Fraga, como se falou num determinado momento. O secretário da Receita
Federal foi quem conseguiu gerar as condições que garantiram a estabilidade. Não
é qualquer um que vai chegar lá e fazer a mesma coisa. A função da pessoa
naquele lugar é arrecadar."
"O PT apresentou teses novas e, se elas forem implementadas, de fato pode-se ter
um bom governo. Fala em manutenção da estabilidade, equilíbrio fiscal, superávit
mínimo acertado com o FMI e inflação sob controle. Mas é claro que Lula tentará
imprimir a marca de um governo petista. A questão é saber até que ponto, na
implementação das políticas do governo, ele vai respeitar esses parâmetros da
responsabilidade fiscal e monetária. As bases do partido são formadas por setores
que querem uma mudança mais radical na política econômica. Esses setores
querem colher frutos mais imediatos, o que nem sempre é factível. A grande dúvida
é sobre a capacidade de resistir a essa impaciência tanto do partido quanto da
sociedade. De maneira geral, o PT não vai ter a boa vontade inicial do mercado e
dos investidores. Além disso, a situação externa neste momento é muito mais
grave do que no começo do governo Fernando Henrique, quando houve a crise do
México. O PT nunca foi testado nessas condições. A gestão nos Estados é muito
menos complexa do que no nível federal. O PT está dizendo que o pessoal da área
econômica poderá vir de fora do partido, o que é bom."
"O Brasil avançou muito no governo Fernando Henrique e está com suas
instituições preparadas para um governo Lula. O PT também se preparou para
chegar ao poder. Portanto, não espero um retrocesso, seja institucional, de quebra
de contratos, na condução política ou no relacionamento com os empresários.
Acredito na normalidade das relações entre o governo e a sociedade. Temo um
pouco a inexperiência nas questões nacionais, porque o PT nunca esteve no
governo federal. A equipe de Fernando Henrique é muito experiente e, no entanto,
derrapou. Ninguém é infalível. Ou seja, sempre há risco na condução dos
problemas. A gente não sabe quais serão as primeiras medidas de Lula. Deve haver
alguma turbulência, mas depois se acerta. No primeiro ano em que fui presidente
de empresa, também fiz besteira. Com a experiência, você vai melhor. O passado
não me assombra. Todo mundo evolui. Temos uma experiência muito boa com o
governo petista do Rio Grande do Sul. Quando se tem uma função definida na
sociedade, não há o que temer."
"Eu não tenho dúvida de que será mantida a estabilidade institucional e econômica
do país. No caso específico de Luís Inácio Lula da Silva, há um compromisso público
e formal nessa direção. O que se espera, e que ele prometeu em sua campanha, é
a reativação da atividade econômica como condição para poder melhorar a sorte
dos trabalhadores. A rigor, é isso que se tem de esperar de seu governo. As
instituições estão preparadas para enquadrar qualquer governo, não importa a
doutrina. O que acontece é que o Brasil está absolutamente consciente das
limitações que decorrem do cenário internacional e dos compromissos que o país
tem com seus credores. No plano interno, há muitas outras questões que podem
ser igualmente bem administradas. No que diz respeito à segurança, esse é um
problema de competência e liderança. Se o líder for competente, dá conta do
recado. O que se precisa é ter liderança sobre as polícias. Basta isso. No mais, é
com as instituições. Cada um dos poderes agirá dentro dos limites de sua
competência."
"As quatro provações do governo Lula serão as demandas de aumento salarial por
parte do funcionalismo público, as pressões para a renegociação das dívidas de
Estados e municípios, a pressão pela redução da taxa de juros e o aumento do
salário mínimo. Serão tentações presentes no dia seguinte à posse. Se cair em
qualquer uma delas, pode passar o resto do tempo correndo atrás do prejuízo. Ele
terá de mostrar, nesse contexto tão difícil, que é capaz de deter o crescimento da
dívida pública. E estará navegando em meio à crise de confiança e a um quadro
internacional muito deteriorado. Vai ter de operar com tolerância zero ao erro, sob
o risco de disparar uma onda de suspeição sobre seu governo. Também terá
oportunidades. O primeiro ponto positivo é que a economia está reprimidíssima.
Existe, por isso, um elevado potencial de crescimento. O segundo é que já houve
uma espetacular virada nas relações com o exterior. Saímos de um déficit de
transações correntes de 33 bilhões de dólares em 1998 para 14 bilhões de dólares
em 2002. O terceiro grande trunfo é que o PT tem políticos e administradores
experientes, que já passaram por situações difíceis e grandes frustrações e já
aprenderam a governar sem dinheiro."
"A primeira coisa que espero é que a equipe nomeada por Lula seja competente,
honesta e tenha credibilidade. E que essa equipe firme compromissos claros com a
Lei de Responsabilidade Fiscal e com a retomada do crescimento. Os grandes
problemas que pairam hoje sobre o país poderão ser resolvidos. Isso também
deverá melhorar bastante a perspectiva para os investidores, principalmente os
estrangeiros. Claro que o anúncio da equipe, em si, não será um passe de mágica
para dissipar as dúvidas e as preocupações que o investidor estrangeiro tem hoje,
porque o problema não está só no Brasil. É mundial. A incerteza com relação à
política a ser adotada no Brasil é só um complicador a mais. Vai haver um período
de observação no qual se examinará para que lado o governo vai. Será uma fase
difícil e preocupante. Os investidores estrangeiros foram chamados a investir, como
aconteceu, por exemplo, no setor elétrico. Fizeram isso em dólares. Agora precisam
de rentabilidade em dólar. E como ficam as tarifas? O segundo ponto fundamental é
que o novo governo estabeleça metas e um plano robusto para aumentar
fortemente as exportações. A exportação traz dólares, melhora a balança
comercial, diminui os juros e favorece a relação fiscal. É como um dominó que vai
cai