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introdução à engenharia
e ciência dos materiais
(Cortesia da NASA)
MetaS de aprendizageM
Ao final deste capítulo, o aluno será capaz de:
1. Entender a engenharia e ciência dos materiais 4. Citar um material de cada grupo e relacionar algumas
como uma área do conhecimento científico. aplicações dos diferentes tipos de materiais.
2. Enumerar a classificação básica dos materiais sólidos. 5. Avaliar o quanto sabe e o quanto não sabe sobre materiais.
3. Relacionar as características essenciais 6. Estabelecer a importância da engenharia e ciência dos
de cada grupo de materiais. materiais na seleção de materiais para várias aplicações.
O Phoenix Mars Lander é o “robô-cientista” por trás da O Lander é equipado com uma série de ferramentas de
mais recente empreitada científica da NASA, o Programa engenharia e de instrumentos científicos. Os principais ins-
de Exploração de Marte. Os dois principais objetivos cien- trumentos a bordo são: (1) um braço de robô dotado de uma
tíficos da missão Phoenix são determinar se de fato nun- filmadora (construído pelo Jet Propulsion Laboratory [JPL],
ca houve vida em Marte, e entender o clima marciano. A University of Arizona, e Max Planck Institute, na Alemanha),
aeronave é uma obra-prima da engenharia, representando (2) instrumentos para análise microscópica, eletroquímica e
o desejo humano de obter conhecimento. Imaginem os de- de condutividade (JPL), (3) um analisador de gazes liberados
safios em engenharia e ciência dos materiais ao se projetar por aquecimento da amostra (University of Arizona e Univer-
uma nave para resistir e operar de maneira eficaz sob uma
sity of Texas, em Dallas), (4) vários sistemas de obtenção de
variedade de condições extremas. Durante o lançamento,
imagens, e (5) uma estação meteorológica (Canadian Space
por exemplo, a aeronave e seus sensíveis instrumentos são
Agency). As principais categorias de materiais (metais, polí-
submetidos a cargas colossais; já ao longo da etapa de cru-
zeiro, a aeronave deve resistir a tempestades solares e ao meros, cerâmicas, compósitos e materiais eletrônicos) foram
impacto de micrometeoros; na fase de reentrada, descida e utilizadas na estrutura do Lander e em seus instrumentos.
aterrissagem, por sua vez, a temperatura sobe milhares de A missão Phoenix Mars Lander usa as mais avança-
graus, e a aeronave é sujeita ainda a uma tremenda força das tecnologias, conhecimentos e experiências na área de
de desaceleração quando o paraquedas é aberto; finalmen- engenharia e ciência dos materiais para gerar novos co-
te, durante a operação em Marte, a aeronave deve suportar nhecimentos sobre Marte, os quais podem abrir caminho
as temperaturas extremamente baixas do ártico marciano, para a exploração humana do espaço e o povoamento de
além das tempestades de areia. outros planetas.
2 Fundamentos de Engenharia e Ciência dos Materiais
de materiais para engenharia. Devido à enorme quantidade de informações disponíveis sobre este as-
sunto e, em vista das limitações deste livro, procedeu-se a uma seleção do conteúdo a ser apresentado.
elementos metálicos são o ferro, o cobre, o alumínio, o níquel e o titânio. Elementos não metálicos,
como carbono, nitrogênio e oxigênio, também podem estar presentes em materiais metálicos. Os metais
possuem uma estrutura cristalina na qual os átomos estão dispostos de maneira ordenada. São em geral
bons condutores térmicos e elétricos. Muitos deles são relativamente resistentes e dúcteis à temperatura
ambiente, sendo que vários se mantêm bastante resistentes mesmo a altas temperaturas.
Os metais e as ligas2 são comumente divididos em duas classes: as ligas e metais ferrosos, que con-
têm uma grande porcentagem de ferro, como, por exemplo, aços e ferros fundidos, e as ligas e metais
não ferrosos, que não contêm ferro ou que o contêm apenas em pequena quantidade. Alguns exemplos
de metais não ferrosos são o alumínio, o cobre, o zinco, o titânio e o níquel. A distinção entre ligas fer-
rosas e não ferrosas deve-se ao fato de que aços e ferros fundidos são produzidos em quantidades muito
maiores e são muito mais usados do que outras ligas.
Os metais, em sua forma pura ou em ligas, são usados em vários ramos da indústria, incluindo-se
aeroespacial, biomédica, semicondutores, eletrônica, energia, construção civil e transportes. Nos Esta-
dos Unidos, a produção dos principais metais, tais como alumínio, cobre, zinco e magnésio, acompanha
de perto o crescimento da economia. Entretanto, a produção de ferro e aço tem sido menor do que a
esperada devido à competição no mercado global e a razões econômicas, sempre prementes. Os enge-
nheiros e pesquisadores em materiais estão continuamente tentando aprimorar as propriedades de ligas
já existentes ou projetar e produzir novas ligas mais resistentes, inclusive a altas temperaturas, e com
melhores propriedades de fluência (ver Seção 7.4) e fadiga (ver Seção 7.2). As ligas existentes podem
ser aperfeiçoadas pelo aprimoramento de sua química, pelo controle da composição e por técnicas de
processamento. Por volta de 1961, por exemplo, superligas novas ou aprimoradas à base de níquel ou
de ferro-níquel-cobalto estavam já disponíveis para uso nas palhetas de alta pressão de turbinas a gás
de aeronaves. O termo superliga foi cunhado em vista do desempenho superior destas ligas a tempera-
turas elevadas, aproximadamente 540 ºC (1.000 ºF), e sob altos níveis de tensão. As Figuras 1.5 e 1.6
mostram uma turbina a gás PW4000 construída principalmente com ligas e superligas metálicas. Os
metais usados nas partes internas da turbina devem ser capazes de suportar altas temperaturas e pressões
durante a sua operação. Por volta de 1980, técnicas de fundição aprimoradas permitiram produzir grãos
colunares solidificados direcionalmente (ver Seção 4.2) e ligas fundidas à base de níquel de cristal único
(ver Seção 4.2). No início dos anos 1990, ligas fundidas de cristal único solidificadas direcionalmente
tornaram-se padrão em muitas aplicações de turbinas a gás em aeronaves. O desempenho superior de
superligas a temperaturas de operação elevadas levou a uma melhora significativa no rendimento
de turbinas de aeronaves.
Muitas ligas metálicas, como ligas de titânio, aço inoxidável e ligas à base de cobalto, são também
usadas em aplicações biomédicas, como em implantes ortopédicos, em válvulas para o coração, ou em dis-
positivos de fixação e parafusos. Esses materiais possuem maior resistência, rigidez e biocompatibilidade;
esta última é uma consideração importante, porque o ambiente no interior do corpo humano é extrema-
mente corrosivo e, portanto, os materiais usados nessas aplicações devem ser insensíveis a esse ambiente.
Além do aprimoramento químico e do controle da composição, pesquisadores e engenheiros tam-
bém se concentram no melhoramento de novas técnicas de processamento desses materiais. Processos
como compactação isostática a quente (ver Seção 11.4) e forjamento isotérmico permitiram um aumen-
to da resistência à fadiga de muitas ligas. Mais ainda, as técnicas da metalurgia do pó (ver Seção 11.4)
continuarão sendo importantes, porque permitem a melhoria das propriedades de algumas ligas com um
custo reduzido do produto final.
A maioria dos materiais poliméricos consiste em longas cadeias ou redes moleculares que normalmente
têm como base materiais orgânicos (precursores que contêm carbono). Estruturalmente, a maior parte dos
materiais poliméricos é não cristalina, mas alguns apresentam uma mistura de regiões cristalinas e não
cristalinas. A resistência e a ductilidade dos materiais poliméricos variam muito. Devido à natureza de
sua estrutura interna, estes materiais são, predominantemente, maus condutores de eletricidade. Alguns
deles são bons isolantes, usados em aplicações de isolamento elétrico. Uma das aplicações mais recentes
2Uma liga metálica é uma combinação de dois ou mais metais, ou de um metal (ou metais) e um não metal (ou não metais).
6 Fundamentos de Engenharia e Ciência dos Materiais
desvio do ventilador
dos materiais poliméricos é na produção de discos de vídeo digitais (DVDs) (Figura 1.7). Em geral, estes
materiais têm baixa densidade e se decompõem ou amolecem a temperaturas relativamente baixas.
Historicamente, nos Estados Unidos, os materiais plásticos têm apresentado o maior crescimento entre
os materiais básicos, com uma taxa anual de 9% em peso (Figura 1.14). Todavia, a taxa de crescimento
dos plásticos em 1995 caiu para menos de 5%, uma diminuição significativa. Tal queda era, entretanto,
esperada, pois os plásticos já haviam substituído os metais, o vidro e o papel na maioria dos mercados de
grande volume em que atualmente encontram aplicação, como o de embalagens e o da construção.
Segundo algumas previsões, os plásticos para uso em engenharia, como
o nylon, devem se manter competitivos em face dos metais. A Figura 1.8
mostra os custos previstos para as resinas plásticas de uso em engenharia
em comparação com alguns metais comuns. As indústrias fornecedoras de
polímeros concentram-se cada vez mais no desenvolvimento de misturas
polímero-polímero, também denominadas ligas poliméricas ou misturas,
visando aplicações específicas para as quais nenhum polímero único é apro-
priado. Na medida em que as misturas são produzidas a partir de polímeros
já existentes, cujas propriedades são bem conhecidas, o seu desenvolvimento
é mais barato e mais confiável do que a síntese de um novo e único polímero
para uma aplicação específica. Tomemos como exemplo os elastômeros (um
tipo de polímero altamente deformável), que são normalmente misturados
a outros plásticos a fim de se melhorar a resistência ao impacto do material
resultante. Essas misturas são muito usadas em para-choques de automó-
Figura 1.7 veis, no acondicionamento de ferramentas de corte, em materiais esportivos
Fabricantes de resinas plásticas estão
desenvolvendo plásticos de policarbonato e nos componentes sintéticos de muitas instalações cobertas de atletismo, que
comerciais ultrapuros e de alta fluidez para são geralmente feitas de uma combinação de borracha e poliuretano. Revesti-
fabricação de DVDs. mentos de acrílico em cores brilhantes, aos quais se adicionam várias fibras
(© Getty/RF.)
e materiais de enchimento, são usados para revestir o piso de quadras de
*N. de T.: O “Sistema Digital de Controle do Motor datado de Autoridade Plena” (Full Authority Digital Engine Control –
FADEC) refere-se ao controle completo, ou autônomo, dos parâmetros da operação da turbina pelo computador, sem a
intervenção humana. O objetivo é atingir o rendimento máximo da turbina para cada condição de voo.
Capítulo 1 Introdução à Engenharia e Ciência dos Materiais 7
Entrada de ar
Descarga
Rotor do
turbocompressor
Braço do
Carcaça balancim
Ponta
das
varetas
Revestimento Exaustão
do tubo de
descarga Válvulas
Câmara de
combustão
Placa de válvulas
Coroa do pistão
Revestimento do cilindro
Tuchos Cames
(a) (b)
Figura 1.9
(a) Exemplos de uma nova geração recentemente desenvolvida de materiais cerâmicos para aplicações avançadas em motores. Os componen-
tes de cor escura são válvulas de motores, assentos de válvulas e pinos do pistão fabricados em nitreto de silício. O componente de cor clara é
um material de revestimento de tubulação fabricado em um material cerâmico à base de alumina.
(Cortesia de Kyocera Industrial Ceramics Corp.)
(b) Possíveis aplicações de componentes cerâmicos em um motor turbo-diesel.
(Segundo Metals and Materials December, 1988.)
uma baixa resistência à fratura em comparação aos metais. Se as técnicas para o desenvolvimento de
materiais cerâmicos de alta dureza forem aperfeiçoadas, sua utilização em aplicações da engenharia
poderia ter um crescimento exponencial.
ser um metal como o alumínio, ou uma cerâmica como a alumina, ou ainda um polímero como o epóxi.
Dependendo do tipo de matriz usado, os compósitos podem ser classificados em compósitos de base metálica
(metal matriz composite – MMC), compósitos de base cerâmica (ceramic matriz composite – CMC) e com-
pósitos de base polimérica (polymer matrix composite – PMC). Os materiais fibrosos ou particulados tam-
bém podem ser selecionados de qualquer uma destas três categorias principais de materiais, cujos exemplos
são carbono, vidro, aramida, carbeto de silício e outros. As combinações de materiais utilizados no projeto de
compósitos dependem principalmente do tipo de aplicação e do ambiente no qual o material será utilizado.
Os materiais compósitos substituíram componentes metálicos principalmente na indústria aeroespa-
cial, aviônica, na indústria automotiva, na construção civil e na indústria de material esportivo. Prevê-se
um aumento médio anual de aproximadamente 5% na utilização futura destes materiais. Uma das razões
para tal é a sua alta resistência e o seu quociente rigidez/peso. Alguns compósitos avançados têm rigidez
e resistência semelhantes a de alguns metais, porém com densidade significativamente menor e, por
conseguinte, com peso resultante mais baixo. Essas características os tornam extremamente atraentes
em situações nas quais o peso do produto é um fator crucial. De maneira geral, e semelhantemente aos
materiais cerâmicos, a desvantagem principal da maioria dos compósitos é a sua fragilidade e a sua bai-
xa resistência à fratura. Algumas destas deficiências podem ser mitigadas, em determinadas situações,
pela escolha adequada do material da matriz.
Dois tipos proeminentes de materiais compósitos modernos usados em aplicações de engenharia
são reforços em fibra de vidro em uma matriz de poliéster ou epóxi e fibras de carbono em uma matriz
de epóxi. A Figura 1.11 mostra de maneira esquemática como materiais compósitos de fibra de carbono
em epóxi foram usados nas asas e motores do avião de passageiros C-17. Desde o início da construção
destes aviões, novos procedimentos e modificações destinados a reduzir custos têm sido implementados
(ver Aviation Week & Space Technology, 9 de junho de 1997, p. 30).
Os materiais eletrônicos não constituem uma grande categoria de materiais pelo volume de produção,
todavia são um tipo de material extremamente importante nas tecnologias de engenharia avançadas. O
material eletrônico mais importante é o silício puro, modificado de várias maneiras a fim de se alterar
suas características elétricas. Uma infinidade de complexos circuitos eletrônicos pode ser miniaturizada
em uma pastilha de silício de cerca de ¾ de polegadas quadradas (1,90 cm2) (Figura 1.12). Dispositivos
microeletrônicos tornaram possíveis novos produtos como satélites de comunicação, calculadoras, re-
lógios digitais e robôs (Figura 1.13).
A utilização do silício e de outros materiais semicondutores no estado sólido e a própria microe-
letrônica vêm exibindo um crescimento extraordinário desde 1970, o qual deve continuar no futuro.
O impacto dos computadores e de outros equipamentos industriais que utilizam circuitos integrados
fabricados com pastilhas de silício tem sido espetacular. A
extensão do impacto de robôs computadorizados na manu-
Componentes não estruturais,
fatura moderna ainda não foi totalmente entendida. Os ma- revestimentos e assentos
teriais eletrônicos certamente desempenharão um papel vital de tropas
nas “fábricas do futuro”, nas quais quase todos os processos
de manufatura poderão ser realizados por robôs auxiliados
por máquinas-ferramentas controladas por computador.
Carbono
Ao longo dos anos, os circuitos integrados vêm sendo Carbono/aramida
fabricados com uma densidade crescente de transistores Aramida
dispostos em uma única pastilha de silício, com um tama- Vidro
materiais em automóveis parece ser mais alumínio e aço e menos ferro fundido. A quantidade de plásticos
(em porcentagem) em automóveis parece ser aproximadamente a mesma (Figura 1.16).
Em algumas aplicações, somente alguns materiais cumprem os requisitos do projeto de engenha-
ria, ainda que possam ser relativamente caros. A turbina para modernos aviões a jato (Figura 1.5), por
exemplo, requer para sua perfeita operação superligas para alta temperatura à base de níquel, materiais
caros, para os quais nenhum substituto mais barato foi encontrado até o momento. Por conseguinte,
embora o custo seja um fator importante em projetos de engenharia, os materiais utilizados devem
também cumprir especificações de desempenho. De qualquer modo, a substituição de um material por
outro acontecerá sempre na medida em que novos materiais são continuamente descobertos e novos
processos, desenvolvidos.
Embora já existam há vários anos, alguns dos materiais inteligentes vêm encontrando novas aplicações.
Esses materiais são sensíveis a estímulos do ambiente externo (temperatura, tensão, luz, umidade e cam-
pos elétrico e magnético) e respondem a tais estímulos variando suas propriedades (mecânicas, elétricas
ou de sua aparência), sua estrutura ou suas funções. Estes materiais são genericamente denominados
materiais inteligentes. Sensores e atuadores são exemplos de dispositivos que fazem uso desse tipo de
materiais. O componente sensorial detecta uma mudança no ambiente e o atuador efetua uma função
ou resposta específica. Assim, alguns materiais inteligentes mudam de cor ou adquirem determinada
coloração quando expostos a variações de temperatura, de intensidade luminosa ou de corrente elétrica.
Entre os materiais inteligentes mais importantes tecnologicamente e que podem operar como atuado-
res, encontramos as ligas com memória de forma e as cerâmicas piezelétricas. As ligas com memória
de forma são ligas metálicas que sob tensão revertem à sua forma original caso a temperatura aumente
acima de uma determinada temperatura de transformação crítica. A mudança à forma original se deve a
uma mudança na estrutura cristalina quando a temperatura ultrapassa a temperatura de transformação.
2.000
Emprego de materiais (libras/carro)
Aço Plástico
Ferro Alumínio
1.500
Plásticos
10-20%
Alumínio Outros Ferrosos 50-60%
5-10% 1.000
(15-20% HSLA)*
500
3.248 libras 0
1985 1992 1997
1997 real
Ano analisado
Uma aplicação biomédica destas ligas é utilizá-las como reforço expansível (stent) de paredes arteriais
enfraquecidas ou para a expansão de artérias contraídas (Figura 1.17). A malha expansível é colocada
primeiramente na posição correta por meio de uma sonda, conforme mostrado na Figura 1.17a. A malha
então se expande até o seu tamanho e formas originais assim que sua temperatura atingir a temperatura
do corpo (Figura 1.17b). Para fins de comparação, o método convencional para se expandir ou refor-
çar uma artéria é por meio do uso de tubos de aço inoxidável, os quais são expandidos por um balão.
Exemplos de ligas com memória de forma são as ligas de níquel-titânio e as de cobre-zinco-alumínio.
Os atuadores também podem ser feitos de materiais piezelétricos, ou seja, materiais que geram um
campo elétrico quando expostos a uma força mecânica. Inversamente, uma mudança em um campo
elétrico externo causará uma resposta mecânica no mesmo material. Estes materiais podem ser usados
para detectar e reduzir vibrações indesejadas de um dispositivo por meio da resposta de um atuador.
Dessa forma, ao ser detectada uma vibração, uma corrente elétrica é aplicada com a finalidade de gerar
uma resposta mecânica que se contraponha ao efeito da vibração.
Consideremos agora o projeto e o desenvolvimento de sistemas em escala micrométrica que usam
dispositivos e materiais inteligentes para detectar, comunicar-se e atuar: este é o mundo dos sistemas
microeletromecânicos (MEMs). Originalmente, o termo MEM se referia a dispositivos que integra-
vam tecnologia, materiais eletrônicos e materiais inteligentes em uma pastilha semicondutora para pro-
duzir o que comumente conhecemos como micromáquina. Os dispositivos MEMs originais possuíam
elementos mecânicos microscópicos fabricados em pastilhas de silício com a tecnologia dos circuitos
integrados, e eram usados como sensores ou atuadores. Entretanto, o termo “MEMs” atualmente foi
ampliado para abarcar qualquer dispositivo miniaturizado. As aplicações de MEMs são inúmeras, como
nas microbombas, nos sistemas de travamento, ou ainda em motores, espelhos e sensores. Como exem-
plo mais específico, tomemos o caso da utilização dos MEMs em airbags de automóveis, para detectar
tanto a desaceleração como o peso da pessoa sentada no carro, de modo a abrir o airbag à velocidade
correta.
1.5.2 nanomateriais
Os nanomateriais são genericamente definidos como aqueles materiais com escala de comprimento
característica (isto é, diâmetro da partícula, tamanho do grão, espessura da camada etc.) menor do que
100 nm (1 nm = 10–9 m). Os nanomateriais podem ser metálicos, poliméricos, cerâmicos, eletrônicos ou
compósitos. Neste sentido, os agregados de pó cerâmico de menos de 100 nm de tamanho da partícula,
(a) (b)
Figura 1.17
Ligas com formato de memória usadas em malhas expansíveis (stents) para o alargamento de artérias obstruídas
ou enfraquecidas: (a) malha expansível montada em uma sonda e (b) malha introduzida em uma artéria
danificada para reforçá-la.
(Fonte: http://www.designinsite.dk/htmsider/inspmat.htm.)
(Cortesia de Nitinol Devices & Components ©Sovereign/Phototake NYC.)
Capítulo 1 Introdução à Engenharia e Ciência dos Materiais 13
os metais com tamanho de grão de menos de 100 nm, os filmes poliméricos com espessura menor do
que 100 nm e os fios eletrônicos com diâmetro menor do que 100 nm são todos considerados nanoma-
teriais ou materiais nanoestruturados. Em escala nanométrica, as propriedades do material não são nem
as propriedades características do nível atômico ou molecular nem as de uma escala macroscópica.
Embora atividades de pesquisa e desenvolvimento muito intensas tenham sido dedicadas a este assunto
na última década, as primeiras pesquisas em nanomateriais datam dos anos 1960, quando fornalhas de
chama química foram usadas para produzir partículas com tamanho menor do que um mícron (1 mí-
cron = 10–6 m = 103 nm). As aplicações iniciais dos nanomateriais eram como catalisadores químicos e
pigmentos. Os metalurgistas sempre souberam que, pelo refinamento da estrutura do grão de um metal
em níveis ultrafinos (submícron), é possível aumentar substancialmente sua resistência e sua dureza em
comparação com o metal de grãos maiores (escala de mícrons). O cobre puro nanoestruturado, por
exemplo, tem um limite de escoamento seis vezes maior do que aquele do cobre de grãos maiores.
As razões para a atenção extraordinária que estes materiais vêm recebendo recentemente estão liga-
das ao desenvolvimento de (1) novas ferramentas que tornaram possíveis a observação e a caracteriza-
ção destes materiais, e de (2) novos métodos de processamento e síntese de materiais nanoestruturados
que permitiram aos pesquisadores produzi-los mais facilmente e com mais eficiência.
As futuras aplicações dos nanomateriais estão limitadas somente pela imaginação e um dos maio-
res obstáculos à concretização deste potencial é a capacidade para produzir estes materiais de maneira
eficiente e econômica. Consideremos a manufatura de implantes dentários e ortopédicos a partir de na-
nomateriais com melhores características de biocompatibilidade, melhor resistência mecânica e maior
resistência ao desgaste quando comparados aos metais. Um exemplo é a zircônia nanocristalina (óxido
de zircônio), um material cerâmico duro e resistente ao desgaste, quimicamente estável e biocompatí-
vel, que pode ser produzido em forma porosa e que, quando usado como material de implante, permite
que o osso cresça entre seus poros, resultando em uma fixação mais estável. As ligas metálicas atual-
mente usadas para esta aplicação não permitem esta interação e frequentemente se tornam frouxas com
o tempo, exigindo assim cirurgias adicionais. Os nanomateriais também podem ser usados na produção
de tintas ou materiais de revestimento muito mais resistentes às intempéries e a ranhuras. Mais ainda,
dispositivos eletrônicos como transistores, diodos e mesmo lasers podem ser produzidos em um nano-
fio. Esses avanços da ciência dos materiais terão impacto tecnológico e econômico em todos os ramos
da indústria e em todas as áreas da engenharia.
Bem-vindo ao mundo fascinante e extremamente interessante da engenharia e ciência dos materiais!
ser a escolha mais adequada. Os materiais restantes, todos ligas metálicas, são adequados e relativamen-
te fáceis de serem produzidos no formato desejado. Assim, se o custo for um critério importante, o aço
emerge como a escolha mais adequada. Por outro lado, se o peso da bicicleta for importante, as ligas de
alumínio despontam como os materiais mais convenientes. As ligas de titânio e de magnésio são mais
caras do que as ligas de alumínio e aço, embora sejam mais leves do que este último. Contudo, as ligas
de titânio e magnésio não oferecem vantagens substanciais com relação ao alumínio.
A ciência dos materiais e a engenharia dos materiais (ou, sim- esses tipos de materiais. Os materiais inteligentes e os dis-
plesmente, engenharia e ciência dos materiais) constituem positivos em escala micrométrica, bem como os nanomate-
uma ponte de conhecimento sobre materiais entre as ciências riais, são apresentados como novas classes de materiais, com
básicas (e a matemática) e as várias áreas da engenharia. A aplicações importantes e inovadoras em muitos setores da
ciência dos materiais busca principalmente conhecimentos indústria.
básicos sobre materiais, enquanto a engenharia dos materiais Os materiais competem entre si por novos mercados ou
se volta, sobretudo, para a utilização de conhecimentos práti- por mercados já existentes, possibilitando a substituição de
cos sobre materiais. um material por outro em algumas aplicações. A disponibi-
Os três tipos principais de materiais são os metálicos, os lidade de matéria-prima, o custo de produção e o desenvol-
poliméricos e os cerâmicos. Outros dois tipos de materiais vimento de novos materiais e processos para novos produtos
muito importantes para a engenharia moderna são os com- são fatores primordiais que levam a mudanças na utilização
pósitos e os materiais eletrônicos. Este livro tratará de todos de materiais.
Problemas de conhecimento e compreensão 1.11 Faça uma lista dos componentes principais da quadra
de basquete de sua universidade. Para cada componente,
1.1 O que são materiais? Liste oito materiais para enge- determine a classe de materiais utilizados em sua estru-
nharia comumente encontrados. tura (identifique materiais específicos, se possível).
1.2 Quais são as categorias principais dos materiais para 1.12 Faça uma lista dos componentes principais do seu au-
engenharia? tomóvel (pelo menos 15 componentes). Para cada um
1.3 Quais são algumas das propriedades importantes de deles, determine a classe de materiais em sua estrutura
cada uma das cinco categorias de materiais para enge- (identifique materiais específicos, se possível).
nharia? 1.13 Faça uma lista dos componentes principais do seu com-
1.4 Defina materiais compósitos e dê um exemplo de um putador (pelo menos dez componentes). Para cada um,
material dessa categoria. determine a classe de materiais utilizados em sua estru-
1.5 Faça uma lista das características de materiais estrutu- tura (identifique materiais específicos, se possível).
rais para aplicações espaciais.
1.14 Faça uma lista dos componentes principais na sua sala
1.6 Defina materiais inteligentes, dando um exemplo de um
de aula, incluindo elementos construtivos (pelo menos
material desse tipo e de uma de suas aplicações.
dez componentes). Para cada um, determine a classe
1.7 O que são MEMs? Dê um exemplo de sua aplicação.
de materiais em sua estrutura (identifique materiais es-
1.8 O que são nanomateriais? Quais são algumas das ale-
pecíficos, se possível).
gadas vantagens de se usar nanomateriais em vez de
materiais análogos convencionais?
1.9 Superligas à base de níquel são usadas em componen- Problemas de aplicação e análise
tes estruturais de turbinas para aeronaves. Quais são
as propriedades principais deste metal que o tornam 1.15 Liste algumas mudanças no uso de materiais que você
adequado a esta aplicação? tenha observado ao longo do tempo em alguns produ-
1.10 Faça uma lista de itens em sua cozinha (pelo menos tos manufaturados. Quais razões você acredita ter ha-
cinco). Para cada item, determine a classe de materiais vido para essas mudanças?
(identifique materiais específicos, se possível) usados 1.16 (a) Que tipo de material é o cobre OFHC (isento de oxi-
na fabricação do item. gênio e de alta condutividade)? (b) Quais são as proprie-
Capítulo 1 Introdução à Engenharia e Ciência dos Materiais 15
dades desejadas para o cobre OFHC? (c) Quais são as cruciais desse item; (b) determine o material seleciona-
aplicações do cobre OFHC na indústria de energia? do para cada um desses componentes; (c) esquematize
1.17 (a) A qual classe de materiais pertence o PTFE? (b) um processo para montagem da lâmpada.
Quais são suas propriedades principais? (c) Quais são 1.27 (a) Relacione os fatores pertinentes à seleção do qua-
suas aplicações na manufatura de utensílios de cozinha? dro de uma bicicleta esportiva do tipo mountain bike;
1.18 Por que razão os engenheiros civis devem ter familia- (b) Aço, alumínio e ligas de titânio já foram emprega-
ridade com a composição, as propriedades e o proces- dos como metais básicos na estrutura de uma bicicleta;
samento de materiais? dê os principais pontos fracos e fortes de cada um; (c)
1.19 Por que razão os engenheiros mecânicos devem ter As bicicletas mais modernas são fabricadas em com-
familiaridade com a composição, as propriedades e o pósitos avançados. Explique as razões para esta esco-
processamento de materiais? lha e cite um compósito específico usado na estrutura
1.20 Por que razão os engenheiros químicos devem ter fa- de uma bicicleta.
miliaridade com a composição, as propriedades e o 1.28 (a) Enumere os critérios principais para a seleção de
processamento de materiais? materiais para a fabricação do capacete esportivo de
1.21 Por que razão os engenheiros industriais devem ter segurança; (b) Identifique materiais que satisfaçam es-
familiaridade com a composição, as propriedades e o
tes critérios; (c) Por que um capacete de metal maciço
processamento de materiais?
não seria uma boa escolha?
1.22 Por que razão os engenheiros de petróleo devem ter
1.29 Por que é importante ou útil classificar os materiais em
familiaridade com a composição, as propriedades e o
diferentes grupos, como foi feito neste capítulo?
processamento de materiais?
1.30 Uma dada aplicação requer um material que deve ser
1.23 Por que razão os engenheiros elétricos devem ter fami-
liaridade com a composição, as propriedades e o pro- bastante duro e resistente à corrosão, às condições am-
cessamento de materiais? bientes de temperatura e pressão. Além disso, seria van-
1.24 Por que razão os engenheiros biomédicos devem ter tajoso, mas não absolutamente necessário, se o material
familiaridade com a composição, as propriedades e o escolhido também fosse resistente ao impacto. (a) Se
processamento de materiais? você considerar somente os requisitos principais, quais
classes de materiais você examinaria para esta aplica-
Problemas de síntese e avaliação ção? (b) Por outro lado, se considerar tanto os requisitos
principais como os secundários, quais classes de mate-
1.25 Quais fatores podem levar a uma previsão incorreta da riais você examinaria?
utilização de materiais na indústria? 1.31 Dê tantos exemplos quanto puder de como a engenha-
1.26 Considere os componentes de uma lâmpada comum. ria e ciência dos materiais são importantes para o alpi-
Pede-se que você: (a) identifique alguns componentes nista na fotografia da capa.