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SUMÁRIO
Na região de Sesimbra encontram-se algumas ocorrências de diatomito que foram objecto de exploração
mineira, sendo que o depósito mais intensamente explorado se localiza nas proximidades de Amieira; associado
ao jazigo mineral, encontra-se também uma unidade transformadora. Esta mina está abandonada desde 1984 mas
apresenta um conjunto de características que lhe conferem um elevado interesse patrimonial geológico-mineiro e
que justificam a tomada de medidas que promovam a sua preservação.
Palavras-chave: mina de diatomito, património geológico-mineiro, Sesimbra
SUMMARY
Several occurrences of diatomite are found in the region of Sesimbra, some of which were exploited by mining
industries; the largest of these mines is located near Amieira. Although abandoned since 1984, the Amieira
diatomite mine presents many interesting characteristics that grant it a high value as a geological-mining
heritage site that should be preserved.
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Enquadramento geológico A extracção era efectuada de modo artesanal, com
Os depósitos de diatomito da região da Península de recurso somente a enxada e picareta, e o material
Setúbal encontram-se intercalados na parte superior extraído transportado, em carrinho-de-mão, até à
da unidade “P3Q – complexo superior de areias unidade transformadora (conhecida localmente por
finas, bem calibradas, com intercalações “fábrica de giz”) que se situava a cerca de 100 m de
conglomeráticas, diatomitos e lignitos”, datado do distância (Fig. 3). Aqui o material era descarregado
Plio-Plistocénico [3], assinalada na cartografia no anexo do edifício que funcionava como armazém
geológica como unidade “PTC - Areias Feldspáticas (Fig. 4).
de Fonte da Telha e de Coina” [4] ou, na edição
mais recente, como unidade “PSM – Formação de
Santa Marta” [5]. O ambiente deposicional parece
corresponder a sedimentação subaquática fluvio-
lacustre, com alimentação de areias eólicas
provenientes de oeste [3].
O jazigo de diatomito de Amieira
Em Amieira, cerca de 1 km para NNE de Alfarim,
encontra-se o jazigo de diatomito que mais
intensamente foi explorado entre todos os da região
de Sesimbra; a exploração está assinalada na carta
geológica de Setúbal [4] como “exploração mineira
suspensa ou abandonada”.
O jazigo é de pequena dimensão sendo que, no Fig. 3: Aspecto geral da unidade transformadora
máximo, o depósito explorado não excede os 3 m de (“fábrica de giz”) da mina de Amieira.
espessura; o diatomito é de cor esbranquiçado e
apresenta leitos arenosos intercalados (Figs. 1 e 2).
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Fig. 5: Veio sem-fim para desagregação e transporte
de diatomito. Fig. 8: Embalagens de diatomito moído ainda
armazenados no interior da unidade transformadora.
Considerações finais
Do ponto de vista científico, o jazigo de diatomito
de Amieira constitui um dos melhores afloramentos
para observação das intercalações de diatomito do
topo da unidade plio-plistocénica “Formação de
Santa Marta”. Por outro lado, a correlação entre este
Fig. 7: Chapas para inscrição do nome da empresa e
depósito e outros similares encontrados a Norte do
do produto “diatomite Alfar”.
Tejo, permite efectuar reconstituições
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paleogeográficas a nível de toda a Bacia do Baixo [3] Carvalho, A. M. G. (1968) Contribuição para o
Tejo. conhecimento geológico da Bacia Terciária do Tejo. Mem.
Do ponto de vista didáctico e cultural, o local Serv. Geol. Portugal, nº 15 (nova série), Lisboa, 210 p. +
apresenta um excelente exemplo da importância da 20 estampas.
Geologia para a Sociedade através da demonstração [4] Manuppella, G., Antunes, M. T., Pais, J., Ramalho, M.
do aproveitamento de materiais geológicos, e M. & Rey, J. (1999) Carta Geológica da Portugal na escala
constitui simultaneamente um local com elevado 1/50 000. Notícia explicativa da folha 38-B (Setúbal). Inst.
Geol. Min., Lisboa, 143 p.
interesse em termos de Arqueologia Industrial.
A mina de diatomito de Alfarim apresenta, assim, [5] Costa, C. (coord. geral) et al. (2005) Carta Geológica
um elevado interesse patrimonial sob vários aspectos da Área Metropolitana de Lisboa na escala 1/50 000,
Folha 38B-Setúbal. JML/FFCTUNL/INETI, Lisboa.
e justifica claramente a tomada de medidas que
possam permitir a sua preservação, manutenção e
posterior divulgação através, por exemplo, da sua
musealização.
No entanto, alguns dos principais obstáculos à
protecção do local prendem-se com questões de
propriedade, tanto do terreno como da concessão
mineira, e com outras relacionadas com projectos de
utilização previstas para a área (classificada em carta
de ordenamento do plano director municipal como
“espaço para equipamentos”). Deste modo, só a
intervenção conjunta de várias entidades, desde a
autarquia local ao ICN, passando pelo ex-IGM
(INETI) e, certamente, pela colaboração dos
próprios proprietários do terreno e da exploração,
tornará viável a salvaguarda deste rico património
geológico-mineiro.
Uma nota final para o registo da acelerada
degradação da Mina de Amieira, com a queda de
parte do telhado durante o último Inverno, o que
torna cada vez mais premente a realização de acções
de recuperação e manutenção do edifício.
Agradecimentos
São devidos agradecimentos: ao Dr. Cristóvão
Rodrigues por nos ter chamado a atenção para a
existência da “fábrica de giz” em Alfarim; ao Sr.
António Xavier de Lima que pessoalmente nos
autorizou a visitar e estudar o local; ao Sr. Acácio,
antigo trabalhador na mina, que nos guiou nas visitas
efectuadas, que nos descreveu todo o processo de
laboração da mina e que nos relatou vários episódios
interessantes da vivência da empresa; finalmente,
aos nossos alunos que nos acompanharam no campo
e colaboraram neste trabalho.
Uma palavra de agradecimento vai ainda para o
colega Carlos Marques da Silva pelos pertinentes
comentários e sugestões que melhoraram o texto
final desta comunicação.
Referências Bibliográficas
[1] Silva, A. A. (1946) Diatomáceas fósseis de Portugal –
jazigos de Rio-Maior, Óbidos e Alpiarça. Bol. Soc. Geol.
Port., Lisboa, Vol. VI, fasc. I e II, pp. 5-160.
[2] Zbyzewski, G., Veiga Ferreira, O., Manuppella, G. &
Torre de Assunção, C. (1965) Carta Geológica da Portugal
na escala 1/50 000. Notícia explicativa da folha 38-B
(Setúbal). Serv. Geol. Portugal, Lisboa, 134 p.
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