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POTENCIAIS DA ÁGUA NO SOLO

P.L. Libardi

1. POTENCIAL TOTAL DA ÁGUA NO SOLO

A forma de energia de interesse para nossos propósitos é a energia potencial a


qual pode ser definida como uma energia latente que um objeto em repouso (em
equilíbrio) possui, devido à sua posição em relação ao Universo. Dependendo do objeto
que está sendo estudado, poderão estar atuando concomitantemente um ou mais tipos de
energia potencial, daí a utilização do termo energia potencial total, para indicar a soma
dos diversos tipos ou componentes atuantes, ser mais adequada. O conhecimento dessa
energia é de extrema importância porque com ela se pode determinar o potencial de
movimento de um corpo num determinado meio. No caso da água ou solução no solo, a
tendência do seu movimento no espaço poroso do solo, em situações isotérmicas, é de
onde sua energia potencial total é maior para onde ela é menor. No entanto, não é
necessário, para estabelecer a direção do processo, conhecer os valores individuais da
energia potencial total, senão a diferença entre eles. Para facilitar o cálculo dessa diferença,
é que se introduziu o conceito de potencial total o qual, no caso da água no solo, é definido
com base no conhecimento de uma água com um valor conhecido de energia potencial
total denominada água padrão. Assim, sendo E a energia potencial total da água (em
equilíbrio) no ponto considerado no solo e Eo a energia potencial total da água (em
equilíbrio) padrão, a diferença E - Eo, por unidade de volume de água Va, é, por definição,
o potencial total da água no solo φt, isto é,

E − E0
φt = → [energia / volume de água] (1)
Va

Considerando, agora, dois pontos A e B no perfil do solo, nos quais, evidentemente,

E A − E0
φ t ( A) =
Va
Potenciais da água - P.L. Libardi 2

EB − E0
φ t ( B) =
Va

então,

⎛ E − E0 ⎞ ⎛ EB − E0 ⎞ E A − EB
φ t ( A) − φ t ( B) = ⎜ A ⎟ −⎜ ⎟= . (2)
⎝ Va ⎠ ⎝ Va ⎠ Va

Ou seja, como a energia potencial total da água padrão deve ser a mesma para os dois
pontos, medindo-se o potencial total nesses dois pontos obtém-se o valor da diferença
EA - EB por meio da diferença φt (A) - φt (B), sem a necessidade de se conhecer
individualmente EA e EB. Desse modo, se num determinado momento φt(A) > φt(B), o
movimento da água (se o meio permitir) é de A para B porque E A > E B e se φt(B) > φt(A),
de B para A porque E B > E A . Quando φt (A) = φt (B), tem-se, evidentemente, uma
condição de equilíbrio, porque E A = E B .

Evidentemente, cada tipo (ou componente) de energia potencial que estiver


atuando na água existente no solo, dá origem a um potencial componente do potencial total
da água no solo.

Por outro lado, sendo potencial (o total ou qualquer componente) uma


diferença de energia potencial por unidade de volume de água, sua unidade é idêntica à
unidade de pressão porque, dimensionalmente,

J N .m N
= = = Pa (Pascal)
m3 m3 m2

Portanto, todos os potenciais da água no solo, tanto o total como qualquer um


dos seus componentes, podem ser considerados como equivalentes a uma “diferença de
pressão”, isto é, diferença entre a “pressão” da água no ponto considerado do solo,
equivalente a E/Va e a “pressão” da água padrão, equivalente a Eo/Va.

2. A ÁGUA PADRÃO

Para a resolução de nossos problemas, onde estaremos estudando a solução no


solo, sob condição isotérmica, a água padrão pode ser definida como uma solução livre,
Potenciais da água - P.L. Libardi 3

de mesma concentração e temperatura que a solução no solo e cuja superfície plana é


considerada como referência gravitacional e sujeita à pressão atmosférica do local onde a
medida é feita.

Esta definição será melhor entendida, à medida que formos estudando os


componentes do potencial total da água no solo que para nós, por estarmos considerando
solos de estrutura rígida, os que interessam são o potencial gravitacional, o potencial de
pressão e o potencial mátrico.

3. POTENCIAL GRAVITACIONAL
Todos sabemos, da Mecânica, que qualquer corpo num campo gravitacional
possui uma energia potencial gravitacional (Eg). Nossa água no solo, estando dentro do
campo gravitacional terrestre possui, evidentemente, esta energia, cuja equação, dado a
necessidade de incluir neste contexto a água padrão anteriormente definida, pode ser
escrita como:

∆E g = ma g(r1 − ro ) (3)

onde ma = massa da água no solo; g = aceleração da gravidade; r1 = distância do centro da


Terra ao ponto considerado no perfil do solo e ro = distância do centro da Terra a um ponto
arbitrário onde se deve imaginar localizada a superfície plana da água padrão e que
denominaremos simplesmente de referência gravitacional. ∆Eg, evidentemente, é o
incremento de energia potencial gravitacional que a água adquire quando de seu
deslocamento da posição r1 para a posição ro contra ou a favor a força da gravidade.

Pela definição de potencial (equação 1), no caso, o potencial gravitacional φg


seria dado, a partir da equação acima, por

∆E g
φg = = ρ a g ( r1 − r0 ) (4)
Va

onde ρa = ma/Va = densidade da água do solo, considerada constante.

Chamando, então, o valor da distância vertical do ponto considerado à posição


da referência gravitacional, de Z, isto é,

Z = r1 − ro (5)

reescrevemos a equação (4) como:


Potenciais da água - P.L. Libardi 4

φ g = ρ a gZ → [energia / volume] (6)

sendo que o sinal de Z e, portanto, de φg dependerá da posição do ponto considerado em


relação à referência gravitacional, isto é, o sinal será positivo se o ponto estiver acima da
referência gravitacional (r1 > r0), negativo se estiver abaixo (r1 < r0) e nulo se for
coincidente com ela (r1 = r0).

Com base no que afirmamos no último parágrafo do item 1, no caso do


componente gravitacional é muito conveniente considerar a energia/volume como
equivalente à pressão de uma coluna de água causada pelo campo gravitacional. Tal
pressão é dada por:

P = ρ a gh

onde P = pressão (N/m2, Pa), ρa = densidade da água (kg/m3), g = aceleração da gravidade


(m/s2) e h = altura da coluna de água (m).

Desta maneira, a partir das equações (4) a (6):

φ g = ρ a g(r1 − r0 ) ≡ ρ a g(h1 − h0 )

ou

φ g = ρ a gZ ≡ ρ a gh → [energia / volume] (7)

onde h = h1 − h0 ,de modo que ρ a gh1 = pressão no ponto considerado, equivalente à E/Va e
ρ a gh0 = pressão na água padrão, equivalente à E 0 / Va .

Dividindo ambos os membros da equação (7) por ρa g:

φ g = Z ≡ h → [altura de água] (8)

isto é, se dividirmos o valor de φg, expresso na unidade energia/volume, calculado a partir


da equação (6), pela quantidade ρa . g , obtemos o valor de φg na unidade altura de água ou
carga hidráulica.
Portanto, para obtermos o valor de φg num determinado ponto, precisamos
apenas de uma régua para medirmos a distância vertical deste ponto à posição tomada
como referência gravitacional, que a unidade do resultado obtido será em altura de água,
ou seja, se a distância medida for, por exemplo, 1 m, o valor de φg será 1 m de água se o
ponto estiver acima da referência gravitacional e -1 m de água, se o ponto estiver abaixo da
referência gravitacional.
Potenciais da água - P.L. Libardi 5

4. POTENCIAL DE PRESSÃO

Num solo com estrutura rígida, este componente do potencial total só se


manifesta sob uma condição de saturação. Para defini-lo, consideremos o esquema da
Figura 1.
Po

Po
h

RG
Va Va
Água no ponto considerado
com energia potencial total E

Água padrão com


energia potencial total Eo

Figura 1 - Definição do potencial de pressão

O pequeno volume de água Va em equilíbrio no recipiente do lado direito desta


figura é a água padrão (com energia potencial total Eo) porque sobre sua interface plana
está atuando a pressão atmosférica (Po) e seu centro de massa é coincidente com a
referência gravitacional (RG). Por outro lado, igual volume de água Va, em equilíbrio, no
recipiente do lado esquerdo da figura, é diferente do primeiro apenas por nele atuar
também a pressão da altura de água h. Note, então, que a única diferença entre os dois
volumes é a pressão de água P = ρa gh que atua no da esquerda. Conseqüentemente, é esta
pressão P que torna a energia potencial total E do volume de água Va à esquerda (no ponto
considerado) maior do que a energia potencial total Eo do volume de água Va à direita
(água padrão): se for permitida uma comunicação entre os dois volumes, a água, por ação
desta pressão, flui em direção à agua padrão indicando que E > Eo.
Pela definição de potencial (equação 1) e, no caso, pelo fato de a única
diferença entre a água padrão e a água no ponto considerado ser a pressão de líquido no
ponto considerado, tem-se, com base no último parágrafo do item 1, que:
Potenciais da água - P.L. Libardi 6

E − E0
φp = = ρ a gh → [energia / volume] (9)
Va

onde φ p = potencial de pressão

De modo idêntico ao que vimos no caso do potencial gravitacional, em termos


de carga hidráulica,

φ p = h [altura de água] (10)

Note, no entanto, que, no caso deste potencial de pressão, h é uma carga hidráulica real que
atua no ponto considerado.
Como se pode ver pela equação (10), φp pode ser determinado medindo o
comprimento h da coluna de líquido que atua acima do ponto de medida. No campo, isto é
feito inserindo um piezômetro no solo, adjacente ao ponto onde se deseja conhecer φp e
mede-se a profundidade h do ponto abaixo da superfície livre de água no piezômetro
(Figura 2). Portanto, o valor do potencial de pressão é sempre positivo ou no mínimo igual
a zero. Esta última situação (φp= 0) ocorre quando o ponto se localiza na superfície livre de
água.
piezômetro
superfície do solo

lençol freático

ponto em
questão

Figura 2 - Ilustração da medida de φp num determinado ponto no solo abaixo de um


lençol de água, por meio de um piezômetro.
Potenciais da água - P.L. Libardi 7

5. POTENCIAL MÁTRICO

Consideremos um determinado volume de solo não saturado. É fácil verificar


que para retirar a quantidade de água em equilíbrio nele existente é necessário um
dispêndio de energia, o qual é tanto maior quanto mais seco estiver o solo. Isso nos leva a
concluir que o solo retém a água no seu espaço poroso com forças cujas intensidades
aumentam conforme a quantidade de água diminui. Essas forças, por se manifestarem
devido à presença da matriz do solo, são denominadas de forças mátricas
Distinguem-se dois tipos de força mátrica: a) as forças capilares, responsáveis
pela retenção da água nos microporos dos agregados e b) as forças de adsorção,
responsáveis pela retenção da água nas superfícies das partículas do solo. Quantificar a
contribuição de cada um desses tipos de força no potencial mátrico é praticamente
impossível na faixa do conteúdo de água no solo que as plantas normalmente se
desenvolvem. O que se pode dizer, em termos qualitativos, é que logo após a drenagem
livre de um solo saturado no campo, as forças capilares são dominantes e que, à medida
que o solo seca a partir daí, a adsorção vai adquirindo maior importância.
Estes dois mecanismos de retenção da água no solo pelas forças capilares e de
adsorção reduzem a energia potencial total da água livre. A veracidade desta afirmação
pode ser demostrada tanto pelo fato de se ter que realizar trabalho para retirar a água de um
solo não-saturado, como também pelo fato de que ao se colocar água livre em contato com
um solo não saturado, num mesmo plano horizontal, ela flui espontaneamente para ele,
comprovando, como em todas as situações, a tendência da água em mover-se de onde sua
energia potencial total é maior para onde ela é menor. Portanto, ao se realizar um trabalho
para liberar a água da influência das forças mátricas tornando-a livre, o que se faz é, nada
mais nada menos, do que elevar o valor da energia potencial total da água no solo ao valor
daquela da água livre.
Como potencial, por definição, é a diferença entre a energia potencial total da
água num ponto considerado e a energia potencial total da água padrão (=água livre) por
unidade de volume de água, quando a única causa da diferença de energia potencial total
da água padrão e a do ponto considerado forem as forças mátricas que atuam na água do
ponto considerado, o potencial recebe o nome de potencial mátrico φm.
Chamando, então, de Eo a energia potencial total da água padrão e de E a
energia potencial total da água no ponto considerado, de tal maneira que a única diferença
entre elas seja a existência das forças mátricas no ponto considerado, tem-se, para um
volume Va de água (Figura 3):
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E − Eo
φm = → [ energia / volume de água ] (11)
Va

Portanto, como E nesta situação (solo não-saturado), é sempre menor do que Eo


(a não ser no caso particular de uma interface ar-água como num lençol freático na qual
E = Eo e então φm = 0), o valor do potencial mátrico é sempre negativo. Daí dizer-se
também que o potencial mátrico é igual ao trabalho, por unidade de volume de água, gasto
para liberar a água da influência das forças mátricas, isto é, φm = -W/Va (Figura 3). Este
trabalho pode ser conseguido aplicando-se, por exemplo, uma pressão de ar P* à água no
solo: toda água retida nos poros com uma energia/volume menor do que a pressão P*, é
liberada da influência das forças mátricas e torna-se livre. Portanto, a pressão P* eleva o
valor da energia/volume da água no solo àquele da água padrão, pelo que φm = -P* e
P* = (Eo - E)/Va.
Po Po
W

RG
Va Va

Água no ponto considerado (água Água padrão (água livre) com


retida pelas forças mátricas) com energia potencial total Eo
energia potencial total E

Figura 3 - Definição do potencial mátrico.

5.1. Medida do Potencial Mátrico

Os métodos de medida direta do potencial mátrico baseiam-se na teoria


clássica da capilaridade.
Um aspecto que está subentendido nesta teoria e que vamos, agora, torná-lo
aparente, por ser básico ao entendimento dos métodos acima mencionados, é o de que, pela
fórmula de Kelvin “a altura da ascensão capilar é inversamente proporcional ao raio do
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tubo na região onde se forma o menisco”. Isto quer dizer que, enquanto no tubo capilar A
da Figura 4 o desnível h se forma espontaneamente, nos tubos B e C isso não é possível por
causa das suas partes não capilares. No entanto, se preenchermos as partes não capilares
destes tubos, elevando o nível da superfície da água na cuba até a altura h', isto é, até que a
porção capilar seja atinjida, o menisco é formado e a coluna é mantida em h, sem a
necessidade de que o nível permaneça em h' o qual pode, então, ser rebaixado à posição
original esgotando-se a água através da torneira T (Figura 4).
Outro ponto que merece destaque é o seguinte. Imagine que o nível da
superfície da água na cuba da Figura 4 seja mantido a altura h' . Pela equação de Kelvin o
valor da ascensão é h, mas, como há um comprimento de tubo igual a H-h', menor do que
h, acima da superfície da água na cuba, evidentemente, a água sobe até o fim deste
comprimento e adquire um menisco mais plano, cujo raio de curvatura deve ser exatamente
igual a h/(H-h') vezes aquele que ela adquiriria normalmente, isto é, se houvesse um
comprimento mínimo h de capilar acima da superfície plana. Por exemplo, se H-h'=h/2, o
valor do raio de curvatura do menisco na extremidade do tubo A será o dobro do valor
normal. Este fato é depreendido facilmente da equação de Kelvin pela qual, uma vez
que 2σ/ρag é constante, o fator de diminuição de h é igual ao fator de aumento de R.
Analisando o tubo C da Figura 4, observa-se que há cinco pequenos tubos
capilares. Ao invés de cinco, poderiam haver dez, vinte, cem, ou muito mais. Uma maneira
prática de obter o maior número possível de capilares como no tubo C, consiste em utilizar
uma placa porosa (de cerâmica, por exemplo) conforme o tubo D da Figura 4.
Evidentemente, no caso da placa porosa os diâmetros dos seus capilares não são todos
iguais e nem uniformes como no tubo C, mas sendo pequena a espessura da placa (da
ordem de 5 mm) pode-se considerar que os seus meniscos se localizam, em média, no seu
centro, pelo que se pode dizer que a altura da ascenção capilar do tubo D é h como mostra
a Figura 4.

5.1.1. Funil de Placa Porosa

O tubo D da Figura 4 pode ser confeccionado de tal maneira a se tornar um


funil de haste prolongada e flexível através da qual se pode aumentar ou diminuir h pelo
abaixamento ou elevação do nível de água mantido constante em sua extremidade por meio
de um dispositivo simples (Figura 5).
Por ser um funil munido de uma placa porosa na parte inferior do seu corpo,
recebe a denominação de funil de placa porosa.
Potenciais da água - P.L. Libardi 10

Placa porosa

h h
h' H

A B C D

Figura 4 - Tubos capilares com diferentes volumes de água.

Como já vimos, o aumento de h faz com que os raios de curvatura dos


meniscos dos capilares da placa porosa decresçam, isto é, suas interfaces sejam “puxadas”
para baixo. Isto, entretanto, acontece até o limite máximo quando o raio de curvatura do
menisco do maior poro da placa se torna igual ao raio r deste poro. Portanto, a equação de
Kelvin se torna:

hmax = (11)
ρa gr

Um valor maior do que o hmax da placa, resultará em rompimento do menisco e


passagem de ar através da placa. Portanto, quanto menor r maior hmax. Entretanto,
praticamente, o valor máximo de h que se consegue é ≅ 8,5 m, mesmo que o valor de r
permita um hmax maior, devido ao fenômeno da cavitação. Resumidamente, este fenômeno
consiste no seguinte: à medida que se aumenta a altura h, a pressão interna sob o menisco
diminui (lembre-se que a pressão interna sob o menisco é P’ - p e p = ρagh = incremento
da pressão interna devido à curvatura da superfície); esta diminuição da pressão interna faz
com que o ar e vapor de água saia do líquido ou das paredes da tubulação usada, quebrando
a continuidade da coluna de água que se rompe e se desprende de sob a placa,
normalmente quando h ≅ 8,5 m.
Potenciais da água - P.L. Libardi 11

Po Po Po

placa porosa
funil de
placa
porosa

Po h

tubo
flexível

dispositivo para
manter o nível de
(a) (b) água constante

Figura 5 - Funil de placa porosa adaptado com uma haste flexível: (a) placa porosa com
a superfície dos meniscos dos seus poros, plana e (b) placa porosa com a
superfície dos meniscos do seus poros, côncava, com p = ρagh.

Se considerarmos qualquer um dos poros da placa porosa do funil da Figura 5


tem-se, como ilustra a Figura 6, (a) à esquerda (correspondente a situação da Figura 5a) a
água padrão com sua interface plana e (b) à direita (correspondente a situação da
Figura 5b) a água no mesmo poro capilar com sua interface côncava (ponto considerado).
Note que a única diferença entre as duas situações é a curvatura da interface ar-
água no ponto considerado causada pela matriz (= placa porosa) ao se abaixar, de h, o
dispositivo de manutenção do nível da água. Observe que essa curvatura, devida à matriz,
diminui a energia potencial total da água no ponto considerado em relação a energia
potencial total da água padrão porque a pressão interna sob a superfície côncava (ponto
considerado) é P' - p e sob a superfície plana (água padrão) P' (Figura 6). Logo, a
semelhança do que vimos para φg e φp:

E − Eo
φm = = − p → [ energia / volume ] (12)
Va

ou, tendo em conta o valor de p = ρagh:


Potenciais da água - P.L. Libardi 12

φm = − ρa g h → [energia / volume] (13)

ou ainda

φ m = − h → [altura de água] (14)

Observe, portanto, que, fundamentalmente, o potencial mátrico representa a


diferença entre a pressão sob o menisco (P’ - p) e a pressão sob a superfície plana (P’) do
líquido a qual é igual a -p. Por ser negativa, chamamos esta diferença de pressão de tensão
τ e daí dizer-se que a água sob o menisco está sob uma tensão de p kPa ou h m de água.
Portanto, quando se diz, por exemplo, que φm = -3 m de água, é o mesmo que dizer que
τ = 3 m de água.
Coloquemos, agora, uma amostra de solo na superfície da placa porosa do
funil, saturêmo-la elevando o nível de água do tubo flexível e, em seguida, abaixemos este
nível a uma altura h (Figura 7). Evidentemente, ao se fazer isso, os poros da amostra de
solo cujos raios forem maiores do que o valor do raio de curvatura correspondente à altura
h aplicada, são esvaziados, o que pode ser observado pelo gotejamento de água através da
pequena saída do dispositivo que mantém o nível de água constante na extremidade do
tubo flexível. Atingido o equilíbrio, isto é, assim que o gotejamento parar, a situação da
Figura 7 é idêntica à da Figura 5, com a diferença de que se tem uma amostra de solo em
perfeito contato com a placa porosa (observe o prolongamento do capilar da placa através
da amostra do solo). Consequentemente, as mesmas equações (12, 13 e 14) se aplicam.
Po Po

RG
Va Va
(a) (b)

P'-p
P'

Figura 6 - Medida do potencial mátrico


Potenciais da água - P.L. Libardi 13

Po Po Po

amostra de solo
amostra de com uma tensão h
solo saturado

h
Po

(a) (b)

Figura 7 - Procedimento para medida de φm com o funil de placa porosa: (a) saturação
do solo, (b) aplicação da tensão h, com consequente dessaturação da amostra
de solo.

O funil de placa porosa é utilizado para a elaboração da curva de retenção da


água no solo que é típica para cada horizonte do solo: é um gráfico do conteúdo de água
no solo em função do potencial mátrico da água no solo. Assim, para valores de φm na
faixa de ≅ -8,5 a 0 m de água, repete-se para diversos valores de h, o procedimento
indicado na Figura 7 determinando-se, depois de atingido o equilíbrio com cada valor de h
selecionado, o valor do conteúdo de água no solo correspondente. Evidentemente, quanto
maior h (ou menor φm), menor o conteúdo de água no solo depois do equilíbrio.

5.1.2. O Tensiômetro

Como acabamos de ver, a combinação de um manômetro com uma placa


porosa possibilita medir o potencial mátrico φm ou a tensão τ da água no solo. Assim, o
funil de placa porosa não deixa de ser um tensiômetro (= medidor de tensão). Este termo,
entretanto se tornou consagrado para um equipamento de campo de medida de φm, que
veremos a seguir.
Potenciais da água - P.L. Libardi 14

O princípio de funcionamento do tensiômetro é muito semelhante ao do funil


de placa porosa, residindo a diferença fundamental no fato de que, no caso do tensiômetro,
ao invés de se trazer a amostra de solo para junto da placa porosa, leva-se a placa porosa
para junto da amostra, uma vez que o objetivo principal do tensiômetro, ao contrário do
funil, não é a elaboração da curva de retenção e, sim, a medida de φm no local de interesse.
Por esse motivo, isto é, como o material poroso deve ser introduzido no solo, é
confeccionado numa forma cilíndrica, conhecida como cápsula porosa.
O procedimento do funil de placa porosa de se trazer o solo á saturação e
depois colocá-lo à tensão de interesse não se faz no caso do tensiômetro. O importante, no
caso do tensiômetro, é que o solo esteja o mais úmido possível, quando da sua instalação, a
fim de que haja o bom contato necessário entre a cápsula porosa e o solo ou, em outras
palavras, para que, através dos poros da parede da cápsula, a água do tensiômetro entre em
contato hidráulico e se equilibre com a água do solo. Após o estabelecimento deste
equilíbrio, atinge-se, teoricamente, a mesma situação da Figura 7b, como se pode ver na
Figura 8, que mostra um tensiômetro com manômetro de água instalado no campo
medindo a tensão τ = h m de água ou potencial mátrico φ m = -h m de água no ponto
adjacente á capsula (note a semelhança entre as Figuras 7b e 8). Evidentemente, numa
condição de saturação, com o nível de um lençol de água passando pelo ponto C, a água no
manômetro, coincidente com o nível do lençol, localizar-se á em A (Figura 8), pelo que φ
m = 0 m de água, como na Figura 7a. Se o lençol subir para cima do ponto C, o tensiômetro

passará a funcionar como um piezômetro de modo que, como na Figura 2, a altura de água
acima de A representará o potencial de pressão no ponto C.
Superfície do solo

A
C

h cápsula
porosa

água

Figura 8 - Tensiômetro com manômetro de água instalado no campo.


Potenciais da água - P.L. Libardi 15

Devido à impraticabilidade da utilização do tensiômetro mostrado na Figura 8


no campo, pelo fato de se ter que abrir uma trincheira para que a leitura possa ser feita,
substitui-se o manômetro de água por um manômetro de mercúrio, colocado acima do
nível do solo, conforme a Figura 9.
Analisemos, primeiramente, a situação da Figura 9a na qual φm = -h = 0 m de
água: condição idêntica a da Figura 7a. Observe, entretanto, que, nesta condição, o
manômetro de mercúrio indica uma leitura H' e não zero; ele marcaria zero se o nível de
mercúrio na cuba estivesse abaixo, coincidente com o centro da cápsula onde se encontra o
lençol freático. Imaginando esta última situação, ao se elevar a cuba de mercúrio acima da
superfície do solo, isto é, hc + z m acima do centro da cápsula, cria-se um sifão o qual, ao
escoar a água, “puxa” o mercúrio da cuba até o reestabelecimento do equilíbrio com H'.
Evidentemente, quanto maior hc + z, maior é H' porque maior se torna a diferença h1 - h2
que rege o funcionamento do sifão. Portanto, a pressão causada pela coluna de mercúrio H'
é igual a pressão causada pela coluna de água h1 - h2 = H' + hc +z, porque a pressão líquida
que atua sobre a água no tubo, no sentido ABC é P0 - ρa g h1 e no sentido do CBA,
Po - (ρa g h2 + ρHg g H')*. Como o sistema está em equilíbrio, então

(
Po − ρ a gh1 = Po − ρ a gh2 + ρ Hg gH ' )

Rearranjando,

ρ Hg gH ' = ρ a g(h1 − h2 )

ou

ρ Hg gH ' = ρ a g ( H '+hc + z) (15)

ou ainda

(ρ Hg )
− ρ a H ' = ρ a ( hc + z ) (16)

donde

* As pressões internas que atuam no interior dos líquidos no tubo, isto é, sob as interfaces água-ar, mercúrio-
ar e água-mercúrio se cancelam reciprocamente.
Potenciais da água - P.L. Libardi 16

ρa
H' = (hc + z) (17)
ρ Hg − ρ a

B B

h2 h2
Po Po
zero H''
H' H'
h1
C h1
C
Hg hc Hg hc
superfície do solo

z z
Po ⎛ ρ Hg ⎞
A ⎜⎜ ⎟⎟H
A lençol freático A ⎝ ρa ⎠

Po
A
(a) (b)

Figura 9 - Tensiômetro com manômetro de mercúrio instalado no campo: (a) solo


saturado (φm = φp = 0); (b) solo não saturado (φm = -h = - 12,6 H + hc + z).
Portanto, independentemente do conteúdo de água no solo, o tensiômetro com
manômetro de mercúrio apresenta uma leitura constante H' cuja magnitude é dada pela
equação (17) a qual, como se vê, é diretamente proporcional a hc + z.
A partir desse valor (H') o aumento da coluna de mercúrio é devido ao
secamento do solo ou aumento da tensão h (Figura 9b). Portanto, na condição de equilíbrio
da Figura 9b, que é idêntica à da Figura 7b, tem-se, por raciocínio semelhante, que as
pressões líquidas nos sentidos ABC e CBA são iguais, isto é:

10 444 24443 144444424444443


(
P − ( ρ a gh + ρ a gh1 ) = P0 − ρ Hg gH ' + ρ Hg gH '' + ρ a gh2 ) (18)
∆PA ∆PC

e, então,

ρ a h + ρ a (h1 − h2 ) = ρ Hg H '+ ρ Hg H ' '


Potenciais da água - P.L. Libardi 17

ou (ver Figura 9b)

ρ a h + ρ a ( H ' '+ H '+ hc + z ) = ρ Hg H '+ ρ Hg H ' '

Explicitando ρah:

( ) ( )
ρ a h = ρ Hg − ρ a H '+ ρ Hg − ρ a H ' '− ρ a ( hc + z ) (19)

Como, de acordo com a equação (16), (ρHg - ρa) H' = ρa (hc + z), resulta que:

⎛ ρ Hg − ρ a ⎞
h=⎜ ⎟ H ' ' → [m de água] (20)
⎝ ρa ⎠

Portanto, a partir desta equação (20) obtem-se o valor de h pela simples leitura
H'' do tensiômetro feita a partir do topo de H'.
Por outro lado, chamando H' + H'' de H, isto é, a leitura do tensiômetro feita a
partir da superfície do mercúrio na cuba, tem-se, a partir da equação (19) que

⎛ ρ Hg − ρ a ⎞
h=⎜ ⎟ H − hc − z (21)
⎝ ρa ⎠

Como, normalmente, se considera que ρHg = 13600 kg.m-3 e ρa = 1000 kg.m-3,


então, a substituição destes valores nas equações (20) e (21) transforma h (m de água) para

h = 12, 6 H ' ' (22)

h = 12,6 H − (hc + z ) (23)

respectivamente.
Observe que depreende imediatamente da equação (21) que H + hc + z + h =
(ρHg/ρa) H (Figura 9b) ou, substituindo os valores de ρHg e ρa, que H + hc + z + h = 13,6
H. Observe também que (hc + z) é a distância que vai do nível de mercúrio na cuba ao
centro da cápsula porosa, no momento da leitura. Chamamos a atenção a esse fato porque,
Potenciais da água - P.L. Libardi 18

notadamente quando se trabalha com colunas de solo no laboratório, a cuba de mercúrio


nem sempre fica acima da superfície do solo como no campo. E é fácil perceber que a
equação (23) é válida somente quando o nível de mercúrio na cuba, no momento da leitura,
se localizar acima do centro da cápsula porosa; caso este nível se localize abaixo do centro
da cápsula, evidentemente, a equação (23) se transforma em h = 12,6 H + (hc + z); e, caso
coincida com o centro da cápsula, em h = 12,6 H.
Como φm = -h, então, com o valor zero da leitura H'' no topo de H'

φ m = −12 , 6 H ' ' (24)

ou, com valor zero da leitura H na superfície do mercúrio na cuba:

φ m = −12 , 6 H + hc + z (25)

onde:
φm = potencial mátrico, em m de água;
H'' = leitura do tensiômetro “zerado”, em m de mercúrio;
H = leitura do tensiômetro, em m de mercúrio;
hc = distância do nível de mercúrio na cuba à superfície do solo no momento da leitura,
em m de água
z = profundidade de instalação da cápsula, em m de água.
Finalmente, é importante esclarecer que, de acordo com a equação (18),
conforme a tensão h aumenta, ∆PA (a pressão líquida que atua na água do solo no sentido
de empurrá-la para dentro do tensiômetro) diminui, fazendo com que ∆PC (a pressão
líquida que atua na superfície de mercúrio na cuba no sentido de empurrá-lo para dentro do
tubo de leitura) tornando-se maior do que ∆PA, empurre, de fato, o mercúrio da cuba para
cima no tubo, com conseqüente aumento de H'', diminuição de h2 e estabelecimento de
novo equilíbrio. Evidentemente isso ocorre enquanto a quantidade (ρHggH’ + ρHggH’’
+ρagh2) for menor do que Po porque quando ela se tornar igual a Po, então ∆PC se anula e
não há mais possibilidade de aumento de H'': um aumento de h a partir desse ponto faz
com que a coluna de líquido se rompa. Portanto, a menos que o fenômeno de cavitação
explicado anteriormente ocorra antes, o tensiômetro com manômetro de mercúrio como o
da Figura 9 funciona até um máximo de leitura H = H' + H'' de (Ho - h2) m de mercúrio,
sendo Ho a altura de mercúrio correspondente à pressão atmosférica Po. Por exemplo, num
local onde o valor da pressão atmosférica é 10 m de água, um tensiômetro com manômetro
Potenciais da água - P.L. Libardi 19

de mercúrio no qual hc = 0,2 m, z = 1 m e h1-z = 1 m funciona até um máximo de H ≅ 0,73


m de mercúrio que corresponde a umφm ≅ -8 m de água.

5.1.3. Câmaras de Pressão


Para valores de φm menores do que ≅ -2,0 m de água até o limite de -150 m,
pode-se completar a curva de retenção no laboratório, utilizando câmaras de ar munidas de
placa porosa (Figura 11). Como se pode ver por esta figura, a placa porosa separa a água
no ponto considerado (solo não-saturado sob a pressão P + Po) da água padrão (água sob a
placa sob a pressão atmosférica Po), de tal maneira que, como vimos, anteriormente, φm=-
P.
Basicamente, o procedimento de utilização da câmara consiste em saturar a
amostra de solo, aplicar a pressão de interesse e, após o equilíbrio, quando o tubo de saída
parar de gotejar, medir o valor do conteúdo de água com que ficou a amostra; repete-se
para vários valores de P e elabora-se a curva.
Note que, neste caso, o que limita o valor de P a ser aplicado é a porosidade da
placa. Placas com poros pequenos, evidentemente, suportam uma pressão maior P sem
rompimento de meniscos de seus poros capilares. O valor máximo de pressão que a placa
suporta é denominada de pressão de borbulhamento.
medidor de
pressão
câmara de pressão de ar P

Po + P
Po + P
amostra compressor
Po de solo de ar

placa porosa

água
tubo de saída
de água

Figura 11 - Câmara de pressão para elaboração da curva de retenção.


Potenciais da água - P.L. Libardi 20

6. EXERCÍCIOS
1) Por que com as câmaras de pressão se pode medir tensões de 1500 kPa ou mais e com o
funil de placa porosa e o tensiômetro até um máximo de aproximadamente 85 kPa?
2) Dois solos A e B têm a mesma porosidade total. Suas curvas de retenção (θ x φm) estão
representadas na figura abaixo. Pergunta-se (dê razões para suas respostas):
(a) que solo apresenta maior macroporosidade?
(b) que solo tem maior microporosidade?
(c) que solo retém mais água na capacidade de campo?
θ (%)

30

B
20

A
10

0 0,1 0,2 0,3

3) No esquema da figura a seguir não está havendo movimento de água entre os pontos A
e B. Qual é o valor de H se o medidor de vácuo está lendo 30 kPa?

medidor
H
de vácuo
0,3 m
0,2 m
superfície do solo

0,5 m

A B
Potenciais da água - P.L. Libardi 21

4) Três tensiômetros com manômetro de mercúrio são instalados num perfil de solo
homogêneo, como mostra a figura abaixo. Pergunta-se:
(a) qual o valor do potencial mátrico em A, B e C?
(b) qual o valor do potencial total da água em A, B e C?
(c) onde a umidade é menor: em A, B, ou C?
(d) entre B e C, a água está se movendo para cima ou para baixo?

0,10 m

0,07 m
0,09 m 0,30 m
0,15 m 0,10 m

superfície do solo

0,40 m
A

0,30 m
B

0,30 m
C

7. LEITURAS COMPLEMENTARES

LIBARDI, P.L. 1995 - Dinâmica da água no solo. ESALQ/USP, Piracicaba (SP), 497 p.
KIRKHAM, D. & W.L. POWERS. 1972 - Advanced Soil Physics. John Wiley & Sons,
Inc, N.Y., 534 p.
TAYLOR, S.A. & G.L. ASHCROFT. 1972 - Physical Edaphology: The Physics of
Irrigated and Nonirrigated Soils. W.H. Freeman and Company, S. Francisco, 533 p.

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