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DIREITO CONSTITUCIONAL 09/08/17

Professor Ricardo Macau

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

I. O Controle de Constitucionalidade tem 2 pressupostos para ser realizado:

1) PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO

- A Constituição é o fundamento de VALIDADE e de EXISTÊNCIA das leis e demais atos


normativos do ordenamento jurídico.

Logo, uma lei ou ato normativo inconstitucional será NULO e, por consequência, não terá
validade e existência jurídica.

CUIDADO: não se admite a declaração de inconstitucionalidade de normas constitucionais


originárias*, em virtude de 2 fundamentos:

(i) O Poder Constituinte Originário não tem limites jurídicos;

(ii) O Brasil não adota a Teoria Alemã chamada de “Normas Constitucionais


Inconstitucionais”, idealizada por Otto Bachof;

*ou seja, as normas constitucionais originárias são imunes ao Controle de Constitucionalidade.

ATENÇÃO: no Brasil, a CF tem supremacia FORMAL, pois todas as normas constitucionais,


independentemente do conteúdo, têm a mesma hierarquia (Princípio da Unidade da Constituição).

Caso a CF tivesse supremacia material, apenas as normas materialmente constitucionais


teriam máxima hierarquia (organização do Estado e limitação do poder estatal).

Todas as normas da CF têm máxima hierarquia (hierarquia forma) – ou seja, mesmo que
dada norma da CF seja considerada mais relevante em razão de sua matéria (ex: norma que fala do
direito à vida e norma que fala do Colégio Pedro II), ambas estão no mesmo patamar.

2) PRINCÍPIO DA RIGIDEZ CONSTITUCIONAL

- Na CF rígida, lei infraconstitucional não pode alterar o texto da Constituição. Exige-se um


processo dificultoso e solene, que é a Emenda Constitucional.

EC à regra da aprovação: 2,2,3/5

Logo, eventual lei que altera a CF será nula, em virtude de sofrer de vício de
inconstitucionalidade.

CONCLUSÃO: a Constituição flexível não permite a realização de Controle de


Constitucionalidade, haja vista que a lei pode alterar este tipo de Constituição.

• Constituição rígida: sistema piramidal. A CF está acima da lei. Existe hierarquia constitucional;
logo, há controle de constitucionalidade.

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• Constituição flexível: CF e leis estão no mesmo patamar. Não há hierarquia constitucional; logo,
não há controle de constitucionalidade.

II. EFEITOS TEMPORAIS DA SENTENÇA DECLARATÓRIA DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

- A sentença do Controle de Constitucionalidade têm natureza DECLARATÓRIA, pois


certificam a inconstitucionalidade da lei ou ato normativo.

Obs: lembrar do caso da filha do Pelé – foi uma sentença declaratória de paternidade. Logo,
ela é filha desde que nasceu (não só a partir da sentença).

Quanto aos efeitos temporais dessa sentença, deve-se observar o seguinte:

REGRA GERAL: a sentença que declara a INCONSTITUCIONALIDADE tem efeitos “EX TUNC”,
isto é, efeitos RETROATIVOS.

Na prática, essa sentença apaga os eventuais efeitos produzidos pela lei inconstitucional.

EXCEÇÃO: O art. 27 da Lei nº 9868/99 prevê a chamada “Modulação Temporal de Efeitos” da


sentença do Controle de Constitucionalidade.

A Modulação Temporal de Efeitos pode ser aplicada com o objetivo de resguardar dois
valores jurídicos: segurança jurídica ou excepcional interesse social.

A Modulação Temporal de Efeitos permite atribuir dois efeitos excepcionais às sentenças do


Controle de Constitucionalidade:

a) Efeitos “Ex Nunc”

- São efeitos não retroativos, ou seja, a sentença produzirá efeitos após o trânsito em julgado (não é
a partir da publicação no Diário Oficial)

(bate na nuca; de agora em diante)

b) Efeitos “Pró-Futuro” ou “Prospectivos”

- A sentença do Controle de Constitucionalidade fixa uma data futura para produzir efeitos.

OBS: A doutrina portuguesa determina os efeitos “Pró-Futuro” de “Apelo aos legisladores”, pois
esses efeitos são empregados em casos em que será preciso criar uma nova lei ou ato normativo
para substituir o ato normativo ou lei inconstitucional.

OBSERVAÇÕES FINAIS:

OBS1: O art. 27 da Lei 9868/99 prevê que a Modulação Temporal de Efeitos no Controle de
Constitucionalidade exige decisão de 2/3 dos Ministros do STF (ou seja, 8 dos 11 Ministros).

Entretanto, o STF já decidiu que qualquer órgão do Poder Judiciário, ao declarar a


inconstitucionalidade, pode realizar a Modulação Temporal de Efeitos, sendo que o juiz de 1º grau
declara a inconstitucionalidade e modula os efeitos da decisão democraticamente.

P: Por que o juiz de 1º grau pode modular efeitos e o Ministro do STF não?

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R:. Porque a decisão do Juiz de 1º grau ainda pode ser enfrentada em diversas esferas
(apelação, agravo, etc). Por outro lado, a decisão do STF não deixa aberta a possibilidade de recurso.

OBS2: embora o art. 27 da Lei 9868/99 mencione a Modulação de Efeitos apenas nas
sentenças que declaram a inconstitucionalidade, o STF admite o emprego de Modulação Temporal
de Efeitos também nas sentenças declaratórias de CONSTITUCIONALIDADE.

A principal justificativa para modular efeitos em qualquer decisão do Controle de


Constitucionalidade é evitar a aplicação da Teoria da Relativização da Coisa Julgada, isto porque as
sentenças declaratórias de inconstitucionalidade ou declaratórias de constitucionalidade, do STF, na
via abstrata, ocasionam a abertura de novo prazo de Ação Rescisória em relação à casos concretos,
julgados na via difusa e já transitados em julgado.

14/08/17

Supremacia formal da CF. Quorum de 2/3 do STF para modulação de efeitos. Mas juiz de
primeiro grau também pode declarar inconstitucionalidade e modular efeitos, portanto.

Admite-se modulação de efeitos para declarar a CONSTITUCIONALIDADE, também.

Função contramajoritária do Poder Judiciário no controle de constitucionalidade

Segundo José Afonso da Silva, o controle de constitucionalidade é considerado um elemento


de estabilização constitucional, haja vista que as normas constitucionais sobre esse tema foram
previstas para serem aplicadas em uma situação excepcional: a edição de lei ou ato normativo que
contrarie a CF.

Em um aspecto estrutural, o controle de constitucionalidade é considerado uma função


contramajoritária desempenhada pelo Poder Judiciário na medida em que uma sentença que
declara a inconstitucionalidade consegue, por si só, afastar a incidência de uma lei inconstitucional
que foi votada e aprovada pela maioria do parlamento.

Ao atuar como poder contramajoritário, o Poder Judiciário emprega o controle de


constitucionalidade para proteger minorias que, embora protegidas pela CF, não conseguem ter
uma representação política expressiva no Poder Legislativo. Assim, leis e atos normativos criados
pelas maiorias representadas no Legislativo serão nulos caso ofendam e desconsiderem a proteção
jurídica das minorias.

Conclusão: o controle de constitucionalidade reveste-se de uma função política, que é a


função de tutelar os interesses jurídicos das minorias, que não se encontram expressivamente
representadas no Poder Legislativo.

Controle de Constitucionalidade do Direito Pré-Constitucional

O chamado direito pré-constitucional refere-se às leis e atos normativos criados antes do


advento da CF/88. O direito pré-constitucional pode ser objeto de não-recepção ou de declaração de
inconstitucionalidade, a depender do parâmetro de controle adotado.

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1. Contrariedade do direito pré-constitucional em face da CF/88 -> não recepção. É uma mera
revogação. Neste caso, o direito pré-constitucional pode ser recepcionado ou não recepcionado
pela CF/88. Ocorrerá a não recepção se a legislação infra-constitucional criada antes do advento
da CF/88 contrariar essa Constituição apenas em seu aspecto material, ou seja, em seu
conteúdo.

Obs.: A não recepção constitucional não é uma declaração de nulidade. Trata-se do reconhecimento
de uma mera revogação tácita. Não é declaração de inconstitucionalidade. Revogação tem efeitos ex
nunc. A ADPF que é utilizada para reconhecer a não recepção.

Obs. 2: para o reconhecimento de não recepção constitucional deve-se analisar apenas o aspecto
material (conteúdo). Eventuais divergências formais entre o direito pré-constitucional e a CF/88 não
interferem na recepção constitucional. Exemplo: CTN foi criado em 1966 como lei ordinária, mas foi
recepcionado pela CF/88 como lei complementar, pois trata de normas gerais de direito tributário, e
só a lei complementar pode versar sobre isso. Ex. 2: o CP e a CLT foram criados como decreto-lei,
mas recepcionados pela CF como leis ordinárias.

2. Contrariedade do direito pré-constitucional em relação à Constituição vigente no momento de


sua criação.

Nesta hipótese, reconhece-se a possibilidade de declaração de inconstitucionalidade do


direito pré-constitucional. Caso uma lei seja criada contrariando a Constituição vigente no momento
de sua elaboração, caberá empregar o controle de constitucionalidade.

**Atenção: o STF não realiza controle de constitucionalidade abstrato de lei pré-


constitucional com o objetivo de declarar sua inconstitucionalidade. Apenas é possível ajuizar no STF
ADPF para certificar a não recepção constitucional de lei anterior à CF/88. As leis pré-constitucionais
são declaradas inconstitucionais com base na Constituição vigente no momento de sua elaboração
apenas na via difusa, ou seja, no julgamento de casos concretos.

Exemplo: a CLT é de 1943. Será reconhecida como não-recepcionada se violar o conteúdo da


CF/88. Entretanto, será declarada inconstitucional caso viole a forma e/ou o conteúdo da
Constituição de 1937.

Tipologia das inconstitucionalidades

A doutrina majoritária adota dois critérios principais para classificar as


inconstitucionalidades:

1. Quanto ao vício. Com base neste critério, existem dois tipos de inconstitucionalidades:

(i) Material - lei ou ato normativo violam o conteúdo da CF.

Exemplo: emenda constitucional tendente a abolir cláusula pétrea. Viola os limites materiais ao
poder de emenda constitucional previstos no art. 60, parágrafo 4. CUIDADO: emenda constitucional
pode alterar cláusulas pétreas, desde que amplie a proteção nestas matérias!

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Exemplo 2: lei que institua a pena de morte em tempo de paz. O art. 5º, inciso XLVII da CF admite
apenas pena de morte em tempo de guerra;

(ii) Formal - ocorre na hipótese de elaboração de lei ou ato normativo que ofenda as regras do
processo legislativo previstas na CF/88. Exemplos: emenda constitucional que não observou a regra
2235 (duas votações, nas duas casas do congresso, com quorum de 3/5) para aprovação.
PEGADINHA: não será formalmente inconstitucional eventual emenda à CF/88 votada em dois
turnos nas duas casas do Congresso e aprovada por 3/4 dos respectivos membros, pois 3/4 > 3/5.
Exemplo 3: lei complementar aprovada por maioria simples ou relativa (exige-se maioria absoluta,
de acordo com o art. 69 da CF/88, ou seja, metade dos membros).

24/08/17

A doutrina apresenta três tipos de inconstitucionalidade formal.

a) Inconstitucionalidade Formal Por Vício De Iniciativa

Há legitimados específicos para deflagrar o processo legislativo. A inconstitucionalidade


formal por vício de iniciativa é configurada na hipótese de um projeto de lei ser apresentado por
quem não tem legitimidade para tanto.

No tocante ao vício formal de iniciativa, deve-se registrar a importância do art. 61, par. 1º da
CF/88, que traz um rol de matérias cuja iniciativa legislativa é privativa do Presidente da República.

Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou
Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da
República, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República
e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição.

§ 1º São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que:

I - fixem ou modifiquem os efetivos das Forças Armadas;

II - disponham sobre:

a) criação de cargos, funções ou empregos públicos na administração direta e autárquica ou


aumento de sua remuneração;

b) organização administrativa e judiciária, matéria tributária e orçamentária, serviços públicos


e pessoal da administração dos Territórios;

c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico, provimento de cargos,


estabilidade e aposentadoria; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998)

d) organização do Ministério Público e da Defensoria Pública da União, bem como normas


gerais para a organização do Ministério Público e da Defensoria Pública dos Estados, do
Distrito Federal e dos Territórios;

e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública, observado o disposto


no art. 84, VI; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)

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f) militares das Forças Armadas, seu regime jurídico, provimento de cargos, promoções,
estabilidade, remuneração, reforma e transferência para a reserva. (Incluída pela Emenda
Constitucional nº 18, de 1998)

A ideia deste parágrafo é que qualquer projeto de lei que resulte em despesa pra
Administração Pública seja de legitimidade do Chefe do Executivo.

Ao interpretar o art. 61, par. 1º, o STF firmou a seguinte orientação: projetos de lei onerosos
aos cofres do Poder Executivo, apenas poderão ser propostos pelo chefe deste poder. Em outras
palavras, apenas poderá "abrir o cofre quem tem a chave".

Essa orientação também se aplica para projetos de lei onerosos aos cofres do Poder Judiciário
e do Poder Legislativo. Apenas os chefes dos respectivos poderes poderão apresentar projetos de lei
que onerem os orçamentos destes poderes.

Atenção: se um parlamentar apresentar projeto de lei sobre tema de iniciativa legislativa


privativa do Presidente da República (art. 61, par. 1º, CF/88), eventual sanção presidencial
(concordância) NÃO convalida o vício formal de iniciativa. Isso porque inconstitucionalidade é
nulidade, e nulidade não convalida. Assim, mesmo com a sanção presidencial posterior, esta não
convalida o vício formal de iniciativa.

Súmula 5 do STF: A sanção do projeto supre o vício de iniciativa. Essa súmula está superada,
foi criada na década de 1960. A súmula n. 5 do STF previa que a sanção no projeto de lei supria o
vício de iniciativa. Ocorre que essa súmula encontra-se superada pela atual jurisprudência do
Supremo.

Obs.: o STF entende que projetos de lei de direito tributário são de iniciativa legislativa
concorrente (não é só o presidente que propõe) - mais de um legitimado pode propor. Qualquer
autoridade do art. 61, "caput", pode propor projetos de lei de matéria tributária, inclusive versando
sobre anistia, remissão, isenção e parcelamento de tributos. Exceção: segundo o STF, por força do
artigo 61, par.1º, inciso II, alínea "b" da CF/88, projetos de lei tributária apenas serão de iniciativa
privativa do Presidente da República se tratarem de Direito Tributário dos Territórios (territórios são
autarquias federais).

b) Vício Formal Objetivo

É configurado o vício formal objetivo na hipótese de inobservância de regras do processo


legislativo previstas na CF/88, tais como quorum, etapas do processo legislativo, descumprimento
de prazos, etc.

c) Vício ou Inconstitucionalidade Formal Orgânica

O vício formal orgânico é verificado no caso de um ato normativo ser elaborado por um órgão
que não tem competência para legislar sobre o tema. Trata-se de vício formal, pois
independentemente do conteúdo do ato normativo produzido, o processo legislativo não ocorreu
na Casa Legislativa prevista na CF/88 como competente para atuar. Exemplos: lei municipal que
verse sobre Direito Penal; lei estadual e municipal que tratem de empregados públicos do próprio

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Estado ou Município. Os empregados públicos estaduais e municipais têm seu regime jurídico
definido pela CLT e compete à União legislar privativamente sobre Direito do Trabalho (art. 22,
inciso I, CF).

Continuando com a classificação das inconstitucionalidades:

2. Quanto ao momento de configuração - a doutrina aponta dois tipos de


inconstitucionalidade:

a. Inconstitucionalidade por ação: é configurada na hipótese de o legislador criar uma lei ou ato
normativo que viola a CF seja na forma, seja no conteúdo. Os exemplos de inconstitucionalidade
por ação são os mesmos de inconstitucionalidade material e formal.

b. Inconstitucionalidade por omissão: é configurada pela inércia do legislador em criar leis


regulamentadoras de normas constitucionais de eficácia limitada. Atenção: não se pode
confundir a inconstitucionalidade por omissão com a mera lacuna. Lacuna é a ausência de lei e
é superada pelo emprego dos meios de integração (art. 4º da LINDB): analogia, princípios gerais
do direito e costumes. Inconstitucionalidade por omissão é a ausência de lei regulamentadora
de norma constitucional de eficácia limitada.

A inconstitucionalidade por omissão pode ser tutelada por meio de duas ações judiciais: (i)
mandado de injunção (art. 5º, inciso LXXI, CF) - controle concreto e a decisão tem efeitos apenas
inter partes; (ii) ADO (Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão) - art. 103, par. 2º, CF/88. É
controle abstrato.

Subespécies de inconstitucionalidade por omissão: a doutrina e a jurisprudência do Supremo


adotam duas subespécies de omissão inconstitucional.

• Inconstitucionalidade por omissão parcial. É verificada na hipótese de existir lei


regulamentadora que não trata de modo suficiente da matéria regulamentada. Ou seja, a lei
existe, mas não está completa, está mal feita.

• Inconstitucionalidade por omissão total: não existe nenhuma lei regulamentadora da matéria.

Classificação das normais constitucionais:

• Norma constitucional de eficácia plena: se vira sozinha.

• Norma constitucional de eficácia contida: conter é restringir. Há lei que reduz seus efeitos. Se
o estado demorar para fazer a lei restritiva, não há inconstitucionalidade por omissão. Ex.: lei
que exige estar inscrito na OAB para ser advogado restringe a liberdade de trabalho. Mas
enquanto ela não era criada, qualquer bacharel em Direito podia ser advogado. A ausência da
lei restritiva não dificulta o exercício deste direito.

• Norma constitucional de eficácia limitada: não conseguem se virar sozinha, precisam de uma
lei regulamentadora. Enquanto não faz a lei regulamentadora, é difícil exercer este direito.

06/09/17

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**** Inconstitucionalidade formal por vício de iniciativa

A nova orientação do STF indica que parlamentares poderão propor projetos de lei que
impliquem despesa pública na Prestação de Serviços Públicos, desde que não ocorra a criação de
órgão público, criação de cargo público e aumento de remuneração.

Para a nova orientação do STF, o rol do art. 61, §1º da CF/88 tornou-se taxativo (esse rol prevê
os projetos de lei de iniciativa privada do Presidente da República).

Controle Preventivo de Constitucionalidade

O controle preventivo de constitucionalidade é definido pelo seu objeto, que se trata do


controle que tem por objeto o projeto de lei ou o projeto de emenda constitucional.

Em outras palavras, ocorre nas etapas do processo legislativo que antecedem a promulgação
da lei ou mundo constitucional.

Princípio da presunção de constitucionalidade vem da realização do controle preventivo.

É a realização do controle preventivo de constitucionalidade que justifica, no ordenamento


brasileiro, o princípio de presunção de constitucionalidade das leis, segundo o qual, enquanto não
houver controle de inconstitucionalidade, a lei deverá ser observada.

No Brasil, os três poderes do Estado realizam o controle preventivo de constitucionalidade.

1) Poder Executivo – realiza o controle preventivo de constitucionalidade mediante veto de


projeto de lei. Só se dá em projeto de lei (art. 66, §1º, CF).

Atenção! Projeto de emenda constitucional não sofre sanção e veto. Logo, projeto de Emenda
Constitucional é submetido a controle preventivo de constitucionalidade apenas nos poderes
Legislativo e Judiciário.

2) Poder Legislativo – o Poder Legislativo realiza controle preventivo de constitucionalidade


de projeto de lei e de projeto de emenda constitucional de dois modos:

2.1) Parecer da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) – o parecer da CCJ pode levar ao
arquivamento do projeto de ato normativo. Todavia, o projeto arquivado poderá ser submetido
a votação do plenário mediante recurso de 1/10 dos Parlamentares da Casa (art. 58, §2º, I, da
CF).

2.2) Votação em Plenário – Teoricamente, o plenário da Casa Legislativa rejeitará projetos de


atos normativos contrários à Constituição/88.

3) Poder Judiciário – realiza o controle preventivo jurisdicional por meio de uma única ação
judicial ajuizada por um único legitimado.

- A ação em questão é o Mandado de Segurança impetreado apenas pelo parlamentar que


participa do Processo Legislativo;

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- O direito líquido e certo defendido é o direito ao processo legislativo hígido. A sentença de
provimento do mandado de segurança determina o provimento do projeto de lei ou projeto
de emenda constitucional.

Cuidado! A amplitude do Mandado de Segurança do Controle Preventivo Jurisdicional (feito


pelo Judiciário) é variável, conforme o objeto questionado:

i. Projeto de Lei – O mandado de seguranca apenas poderá questionar vícios formais de


inconstitucionalidade. Não pode questionar vícios formais (é esse o argumento fixado,
apesar de na realidade a ideia foi a de coibir o elevado número de mandados de
segurança incidentes sobre projetos de lei).

ii. Projeto de emenda constitucional – o Mandado de Segurança poderá questionar vícios


materiais e vícios formais de inconstitucionalidade.

Esse entendimento do STF tem fundamento no art. 60, §4º da CF/88, cujo teor impede a
deliberação do projeto de Emenda Constitucional tendente a abolir cláusulas pétreas.

Controle Repressivo de Constitucionalidade

O controle repressivo de constitucionalidade alcança a lei ou o ato normativo já promulgado. É


realizado pelos três poderes do Estado.

1) Poder Executivo – o chefe do Poder Executivo pode realizar o controle repressivo de


constitucionalidade por meio da chamada autotutela, que ocorre na hipótese de o Chefe do
Executivo expedir uma ordem administrativa para que os órgãos subalternos da
Administração não cumpram lei ou ato normativo manifestamente inconstitucional.

2) Poder Legislativo: a revogação de uma lei não é instrumento de controle de


constitucionalidade. Isso porque apenas leis válidas e existentes - mas que deixaram de ser
convenientes e oportunas - podem ser revogadas. A lei inconstitucional não pode ser
revogada porque é nula. A doutrina defende que a lei revogada perderá a sua vigência, ao
passo que a lei inconstitucional nunca teve validade e existência Logo, a revogação atua no
plano da vigência, enquanto que a inconstitucionalidade atua nos planos da validade e da
existência. Há dois instrumentos que permitem ao Poder Legislativo atuar no controle
repressivo:

 Votaçao ̃ de conversão da Medida Provisó ria: a medida provisó ria é um ato normativo já
promulgado desde a sua publicação. Ao apreciar e votar a medida provisó ria com vistas a
convetê-la em lei, o Poder Legislativo realiza controle repressivo de constitucionalidade, uma vez
que eventual rejeição por inconstitucionalidade irá retirar do ordenamento juri ́dico um ato
normativo já promulgado.

 Súmula 347 do STF: prevê que os Tribunais de Contas podem, ao executar suas atribuições,
declarar a inconstitucionalidade de leis e atos normativos. Na prática, o Tribunal de Contas irá
realizar controle concreto ou difuso de constitucionalidade ao analisar contas públicas e despesas

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administrativas das autoridades estatais. Poderá considerar uma despesa como impró pria ao
certificar que essa despes foi baseada em uma lei inconstitucional.

OBS: o artigo 52, X, CF, prevê que o Senado Federal pode sustar a execução de lei declarada
inconstitucional pelo STF no âmbito do controle difuso ou concreto. A resolução do Senado
Federal que susta a execução da lei inconstitucional é considerada por parte da doutrina atuação
do Legislativo no controle de constitucionalidade repressivo.

3) Poder Judiciário: o Poder Judiciário atua com destaque no controle repressivo de


constitucionalidade. Tamanha a importância do Poder Judiciário no controle repressivo que
existem dois sistemas de controle repressivo jurisdicional:

a) Sistema Concreto ou Difuso de Constitucionalidade: o Poder Judiciário é provocado pelas


partes de um caso concreto e como qualquer juiz, em qualquer grau de jurisdição, julga caso
concreto, a competência para realizar essa modalidade de controle está difundida em todos os
ó rgãos do Poder Judiciário.

b) Sistema Abstrato ou Concentrado de Constitucionalidade: não há casos concretos levados


ao Poder Judiciário. A lei ou ato normativo é questionado em tese, isto é, abstratamente.
Trata- se de uma competência altamente especializada do Judiciário, por isso encontra-se
concentrada em apenas dois ó rgãos do Poder Judicário: STF e TJ estadual.

21/09/17

No Brasil, o controle jurisdicional repressivo é misto, haja vista que se aplicam os dois sistemas de
modo combinado.

Sistema de Controle Difuso ou Concreto de Constitucionalidade

Para entender o sistema difuso ou concreto de Constitucionalidade deve se definir as seis


caracteristicas que orientam o funcionamento desta modalidade de controle repressivo, a
doutrina emprega essas seis características como sinônimos desta modalidade de controle:

1) Controle Norte-Americano ou Estadunidense – o controle difuso ou concreto de


constitucionalidade surgiu nos Estados Unidos em 1803, com o julgamento do caso Marbury
Vs. Madison.

O Controle difuso ou concreto foi definido pela Suprema Corte dos Estados Unidos, em especial
pelo juiz John Marshall, que embora não encontrou menção expressa à Constituição de 1787 do
Estados Unidos, criou o entendimento de que a autoridade da Constituição (Suprema Corte)
vincula todos os poderes do Estado, não só para o Legislativo e o Executivo.

2) Controle Concreto de Constitucionalidade – no sistema concreto ou difuso de


Constitucionalidade, as partes de um caso concreto devem provocar o Poder Judiciário, com
o objetivo de resolver um litígio sobre um bem da vida. Nesse litígio, submetido ao Poder
Judiciário, discute-se questões constitucionais.

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Atenção! No controle concreto de constitucionalidade, o juiz pode declarar a
inconstitucionalidade de ofício, isto é, sem a provocação específica das partes.

3) Controle Difuso – como todos os órgãos do Poder Judiciário julgam casos concretos, a
competência para realizar o controle concreto de constitucionalidade pertence a todos os
órgãos do Poder Judiciário, sem qualquer grau de jurisdição. Logo, trata-se de um controle
que é realizado de modo difuso ou difundido entre todos os órgãos do Poder Judiciário.

4) Controle com Efeitos “Inter Partes” – a sentença que declara a inconstitucionalidade alcança
apenas as partes do caso concreto: autor e réu.

Na prática, a lei declarada inconstitucional na via difusa ou concreta permanece no


ordenamento jurídico e deve ser aplicada pelas demais pessoas.

Em sua matriz pura, o controle difuso ou concreto de constitucionalidade retrata a essência do


Estado Liberal (Estado mínimo, que não atua se não for provocado).

5) Controle Incidental, Indireto ou Prejudicial – No controle difuso ou concreto de


constitucionalidade, a matéria constitucional não é a questão principal levada pelas partes
ao Poder Judiciário. A questão principal (pedido) diz respeito ao bem da vida objeto do
litígio.

A matéria constitucional apresenta-se como questão incidental ou indireta, ou seja, a causa de


pedir.

Assim, a matéria constitucional no controle difuso ou concreto apresenta-se como a questão


prejudicial, isto é, uma questão de ordem processual, que interfere ou prejudica o mérito da
ação principal.

Antes de julgar o pedido forumulado pelas partes, o juiz deverá decidir a questão incidental:

i. Se o juiz entender que a lei é inconstitucional – não irá aplicá-la ao caso concreto.

ii. Se o juiz entender que a lei é constitucional – irá aplicá-la no caso concreto.

6) Controle por Via de Defesa ou de Exceção – Como a matéria constitucional é levantada para
defender o interesse jurídico das partes do caso concreto, qualquer ação judicial pode ser
empregada pelas partes, desde que a ação seja adequada ao caso concreto. Em outras
palavras, o controle de constitucionalidade concreto ou difuso não tem ações judiciais
típicas.

* Exceção: na inconstitucionalidade por omissão, deve se empregar o Mandado de Injunção


para a realização do controle difuso ou concreto.

Dica! Na prova, se a questão mencionar uma das 5 ações típicas do controle de


constitucionalidade (ADI, ADC, ADPF, ADO ou IF – ação interventiva), a questão estará
abordando o controle de constitucionalidade abstrato ou em tese (controle em que não há caso
concreto).

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Controle Concreto – quando há qualquer ação.

Controle Abstrato – há 5 ações típicas.

Observação – A Súmula 266 do STF prevê que não cabe Mandado de Segurança contra lei em
tese, pois contra lei em tese deve-se ajuizar as ações típicas do controle abstrato ou
concentrado.

Ampliação dos Efeitos Subjetivos da Sentença do Controle Difuso ou Concreto de


Constitucionalidade

A Constituição de 1988 tem dois instrumentos que permitem ampliar os efeitos da sentença do
controle difuso ou concreto de constitucionalidade, isto é, permitem que os efeitos “inter
partes” passem a ser “erga omnes” ou vinculantes:

1. Art. 52, X, CF/88 – Resolução do Senado Federal que suspende a execução de lei declarada
inconstitucional pelo STF.

A
Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:
o
X - suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por
j decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal;
u
lgar um caso concreto e declarar a inconstitucionalidade de lei, o STF emite uma decisão que
tem efeitos “inter partes”.

A fim de evitar ações repetidas, o STF pode solicitar que o Senado Federal edite uma
RESOLUÇÃO (não é decreto legislativo) SUSPENDENDO a execução da lei declarada
inconstitucional pelo STF.

Entende-se que a Resolução do Senado Federal que suspende a execução da lei


inconstitucional tem efeitos “erga omnes”.

A jurisprudência do STF e a doutrina apresentam os seguintes aspectos acerca dessa resolução


senatorial:

a) O Senado Federal tem competência discricionária para acatar ou não a solicitação do


Supremo Tribunal Federal.

b) A Resolução do Senado pode suspender a execução de leis federais, estaduais, municipais e


distritais (teoria do silêncio eloquente – art. 52, X, da CF não especifica qual é a lei que
pode ser suspensa).

c) A Resolução do Senado que suspende a execução de lei inconstitucional possui efeitos “ex
nunc”, não retroativos.

28/09/17

2. Art. 103-A, CF/88 – Súmulas Vinculantes

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Apenas o STF pode editar Súmulas Vinculantes, após reiteradas decisões sobre matéria
constitucional.

A Súmula Vinculante foi introduzida no ordenamento jurídico brasileiro pela Emenda


Constitucional 45/2004 (Reforma do Judiciário).

Embora exista divergência doutrinária, prevalece o entendimento de que Súmulas Vinculantes


são atos “sui generis”, ou seja, não são atos administrativos nem atos legislativos nem atos
jurisdicionais.

A propósito, o STF não admitiu a ADPF ajuizada para questionar a constitucionalidade de


Súmula Vinculante.

O art. 103-A da CF/88 traz as regras procedimentais relacionadas à Súmula Vinculante:

(I) Apenas o STF cria Súmulas Vinculantes após reiteradas decisões sobre matéria
constitucional;

(II) O STF pode criar, rever ou cancelar Súmulas Vinculantes de ofício ou mediante provocação
por meio de decisão de 2/3 dos seus ministros (8 dos 11 ministros do STF);

Observação: A Lei nº 11.417/06 (Lei das Súmulas Vinculantes) prevê, em seu artigo 3º, os
legitimados que podem provocar o STF para a criação, revisão e cancelamento das Súmulas
Vinculantes. Esses legitimados são:

A) Os mesmos legitimados da ADI e ADC (previstos no art. 103 da CF/88);

B) Defensor Público Geral da União; *

C) Tribunais brasileiros; *

D) Município, desde que o pedido seja formulado incidentalmente em processo no qual seja
parte; *

* Não propõem ADI, mas podem propor Súmula Vinculante.

(III) A Súmula Vinculante é obrigatória para:

A) Os demais órgãos do Poder Judiciário (exclui-se o STF, que pode rever e cancelar Súmulas
Vinculantes);

B) A Administração Direta e Indireta, nas esferas Federal, Estadual e Municipal (exclui-se o


Poder Legislativo, no exercício de Função Legislativa).

Ao decidir que a Súmula Vinculante não obriga o Poder Legislativo, o STF entendeu que, caso o
legislador fosse obrigado a respeitar o teor das Súmulas Vinculantes, haveria a “fossilização” do
ordenamento jurídico.

 Pegadinha: Se o Poder Executivo editar medidas provisórias, leis delegadas e decretos


autônomos e o Poder Judiciário editar Regimentos Internos, não terão de observar o teor de

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Súmulas Vinculantes porque se trata de função legislativa (funções atípicas desempenhadas por
esses dois Poderes).

(IV) O art. 103-A, §3º da CF/88, ao prever a Reclamação Constitucional no caso de


descumprimento ou aplicação indevida de Súmula Vinculante, é expresso ao deferir que
apenas atos administrativos e atos jurisdicionais podem ser questionados por meio desta
ação judicial *, ajuizada ordinariamente no STF.

* Reclamação não é recurso, e sim ação autônoma.

Logo, não cabe Reclamação Constitucional contra ato legislativo contrário às Súmulas
Vinculantes. Somente quando existir violação a Súmula Vinculante.

Cláusula de Reserva de Plenário

- Art. 97, CF/88

- Súmula Vinculante nº 10.

- Art. 948 a 950 do CPC/2015.

A Cláusula de Reserva de Plenário é uma regra procedimental de declaração de


inconstitucionalidade realizada por Tribunais (ou seja, 2ª instância, Tribunais Superiores e STF).

De acordo com o art. 97 da CF/88, nos Tribunais a declaração de inconstitucionalidade requer


decisão de maioria absoluta dos membros do Plenário ou Órgão Especial.

Órgão de Cúpula:
Plenário ou Órgão Especial
Controle de
Inconstitucionalidade
*

Órgãos Fracionários – Turmas ou Câmaras

* Obs. – este controle de Constitucionalidade é difuso, pois a competência para julgar o


controle abstrato já é do próprio Plenário ou Órgão Especial (competência originária).

A Súmula Vinculante nº 10 prevê que viola a cláusula de reserva de plenário a decisão de


órgão fracionário que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade, afasta a
incidência no todo ou em parte de lei ou ato normativo.

Súmula Vinculante nº 10: Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, artigo 97) a decisão de
Oórgão fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente a
r inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público, afasta sua incidência, no todo
ou em parte.
14
Os arts. 948 a 950 do CPC prevê as regras processuais sobre o incidente de
inconstitucionalidade suscitada pelos órgãos fracionários ao órgão de cúpula do Tribunal.

Em especial, o art. 949, parágrafo único, do CPC prevê que não haverá necessidade de
submeter uma questão constitucional ao Plenário ou Órgão Especial, no controle difuso, se já
houver decisão anterior do Plenário ou do Órgão Especial do Tribunal ou do Plenário do STF.

Exceções à cláusula de reserva de Plenário no Controle Difuso ou Concreto

As Turmas ou Câmaras dos Tribunais (órgãos fracionários) não devem observar o art. 97 da
CF/88 (cláusula de reserva de Plenário) nas seguintes hipóteses:

(I) Para a Declaração de Constitucionalidade (art. 949, I, do CPC, ou seja, a rejeição da


arguição de inconstitucionalidade);

(II) Para o reconhecimento da não recepção constitucional, pois a não recepção


constitucional é uma mera revogação (não há declaração de inconstitucionalidade);

(III) Para que as Turmas do STF, ao julgar Recursos Extraordinários, com base no Regimento
Interno do Supremo, declare a inconstitucionalidade (não tem que respeitar a reserva do
plenário).

E uma ADPF que não reconhece a Constitucionalidade? É uma ação do controle abstrato e,
portanto, já se inicia no próprio Plenário.

Repercussão Geral no Recurso Extraordinário

Art. 102, §3º da CF/88:

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição,


cabendo-lhe:
§ 3º No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral das
questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal examine
a admissão do recurso, somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus
Amembros.

A repercussão geral é requisito de admissibilidade do Recurso Extraordinário. Em outras


palavras, o recurso extraordinário apenas será admitido se ficar provada a repercussão geral
das matérias constitucionais de que trata.

Pegadinha: O art. 102, §3º da CF/88 é expresso ao prever que a repercussão geral será
recusada por decisão do 2/3 dos Ministros do STF (08 dos 11 ministros do STF). A “contrario
sensu”, a admissão de repercussão geral exige decisão por mais de 1/3 dos Ministros do STF
(04 dos 11 ministros do STF).

15
11/10/2017

CONTROLE CONCENTRADO OU ABSTRATO

Para compreender o controle concentrado ou abstrato, deve-se definir as seis características


que explicam a realização dessa modalidade de controle repressivo jurisdicional:

Controle europeu, austríaco ou kelseniano. O controle abstrato de constitucionalidade foi


idealizado por Hans Kelsen, que o implantou por meio da Constituição Austríaca de 1920. O principal
fator que inspirou Kelsen foi a adoção de aspectos relacionados à vertente do Estado Social
Democrático no controle de constitucionalidade.

Em termos práticos, a operacionalização do controle concentrado ou abstrato garante que


todos os indivíduos sejam igualmente atingidos pela sentença desse sistema de controle de
constitucionalidade. Obs: no Brasil, o controle concentrado ou abstrato passou a ser adotado com a
Constituição de 1934, ocasião em que foi prevista a ação interventiva. A ADI surgiu apenas com o
advento da emenda constitucional 16/1965, que alterou a Constituição de 1946.

Controle abstrato. No controle abstrato ou concentrado de constitucionalidade, não existem


casos concretos ajuizados por autores e réus. Nesta modalidade de controle, há legitimados (não é
parte!) que podem questionar a constitucionalidade da lei ou ato normativo em tese ou
abstratamente. Em termos práticos, no controle abstrato ou concentrado de constitucionalidade a
lei ou ato normativo impugnado é analisado em tese, com o objetivo de receber uma sentença da
Corte Constitucional que, por si só, irá mantê-lo no ordenamento se for declarado constitucional ou
de retirá-lo do ordenamento jurídico (se for declarado inconstitucional). Para Kelsen, o controle
abstrato tinha como finalidade principal assegurar a higidez do ordenamento jurídico. Isso porque
não decide caso concreto, mas limpa o ordenamento jurídico.

Controle concentrado. Como a competência para realizar o controle abstrato é altamente


especializada, apenas alguns poucos órgãos do Poder Judiciário concentram tal competência. Na
teoria de Kelsen, o controle abstrato seria monopólio da Corte ou Tribunal Constitucional, o qual
seria órgão independente do Poder Judiciário e que teria membros indicados pelos Poderes do
Estado e aprovados pelo Poder Legislativo.

A aprovação pelo Legislativo dos integrantes da Corte Constitucional era ponto central da
teoria de Kelsen sobre o controle abstrato, porque a sentença dessa modalidade de controle
equivaleria a uma "lei negativa" (porque se a ADI for declarada procedente, a lei é retirada do
ordenamento jurídico). Muitas pessoas usavam este argumento para afirmar ser o controle
concentrado ou abstrato forma de controle contra-majoritária (juízes não eleitos, com uma
sentença, tiraria do ordenamento uma lei aprovada por centenas de parlamentares elegidos pelo
povo). Com o argumento de que o Legislativo aprova a indicação, Kelsen refutou tal argumento.

No Brasil, o controle abstrato ou concentrado é realizado por dois Tribunais: (a) STF - realiza o
controle abstrato se o parâmetro adotado for a Constituição Federal (art. 102, inciso I, alínea "a" da

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CF); (b) TJ Estadual - realiza o controle abstrato se o parâmetro adotado for a Constituição do Estado
(art. 125, par. 2º, da CF/88). Exceção: o STF admite que o TJ Estadual realize controle abstrato e
aplique a Constituição Federal como parâmetro apenas se a norma constitucional empregada para
fundamentar a decisão for de reprodução obrigatória na Constituição Estadual. Nos demais casos,
de fundamentar a decisão na CF, a decisão será nula (está usurpando a competência do Supremo).

Controle com efeitos "erga omnes" e vinculantes: o art. 102, par. 2º da CF/88 prevê que as
sentenças do controle abstrato produzirão efeitos contra todos ("erga omnes") e vinculantes em
relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à Administração Direta e Indireta das esferas
federal, estadual e municipal. Obs.: a sentença do controle abstrato não vincula o próprio STF e nem
o poder legislador. Após a retirada da lei declarada inconstitucional do ordenamento, o Poder
Legislativo pode criar nova lei versando sobre o mesmo tema, que pode voltar ao STF e este pode,
desta vez, em razão de entendimento alterado, entender ser a lei constitucional.

Controle principal ou direto: no controle abstrato ou concentrado de constitucionalidade, a


matéria constitucional é a questão única colocada para ser apreciada pela Corte Constitucional.
Assim, a constitucionalidade é o pedido feito pelo legitimado que ajuizou a ação. Em outras
palavras, as ações do controle abstrato são ajuizadas apenas com uma única finalidade: certificar a
constitucionalidade ou certificar a inconstitucionalidade da lei ou ato normativo impugnado.

Controle por via de ação: o STF pode ser provocado por legitimados previstos na CF/88 para
realizar o controle abstrato ou concentrado de constitucionalidade mediante 5 ações típicas:

ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade);

ADC (Ação Declaratória de Constitucionalidade);

ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental);

ADO (Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão);

IF (Ação ou Representação Interventiva).

Histórico do controle abstrato ou concentrado de constitucionalidade no Brasil consagrou, em


ordem cronológica, as seguintes ações:

1934: foi adotada a IF (ação ou representação interventiva) com o advento da Constituição de


1934;

1965: a EC 16/1965, que alterou a Constituição de 1946, introduziu a ADI ao direito brasileiro
(até a CF/88 a ADI tinha um único legitimado para a propositura, o PGR, que era um cargo de livre
nomeação do Presidente da República).

1988: a CF/88 previu a ADO;

1993: a EC 03/93 introduziu no direito brasileiro a ADC e a ADPF.

17
16/11/2017

Aspectos Processuais do Controle Abstrato ou Concentrado

A doutrina e a jurisprudência apontam os seguintes aspectos processuais comuns às ações de


controle abstrato ou concentrado:

1) Indisponibilidade

As ações de controle abstrato ou concentrado não admitem desistência, pois a finalidade


deste controle, segundo Kelsen, é a de manter a higidez do ordenamento jurídico. Logo, as ações do
controle concentrado ou abstrato cuidam do interesse da coletividade, por isso não admitem
desistência.

2) Fungibilidade

A jurisprudência do STF reconhece a fungibilidade entre as ações do controle abstrato ou


concentrado. Nesse sentido, eventual ADI ajuizada pode ser convertida em ADPF e vice-versa.

3) Modulação Temporal de Efeitos

Com base no art. 27 da Lei 9868/99, entende-se que é possível aplicar a técnica decisória da
modulação temporal dos efeitos às ações de controle concentrado ou abstrato. Essa técnica exige:

A) Decisão por 2/3 do STF (08 dos 11 ministros do STF);

B) Necessidade de resguardar a segurança jurídica ou excepcional interesse social.

A modulação temporal de efeitos permite atribuir efeitos “ex nunc” ou “pró futuro” à decisão
(via de regra, os efeitos são “ex tunc”).

4) Inadmissibilidade de Recursos

Não há recursos que podem ser interpostos contra decisões do STF no controle abstrato ou
concentrado.
Também não é possível ajuizar ação rescisória contra as decisões do STF no controle abstrato
ou concentrado.
Exceção: O STF admite Embargos de Declaração em relação às ações desta modalidade de
controle de constitucionalidade.

Importante!

Em regra, a ADI estadual julgada pelo TJ do Estado, que adota como parâmetro a Constituição
Estadual, não comporta recursos.

Caberá, entretanto, Embargos de Declaração ao TJ estadual e Recurso Extraordinário ao STF. O


cabimento do Recurso Extraordinário contra a sentença da ADI estadual ocorrerá se o TJ estadual

18
fundamentou o acórdão da ADI em norma da Constituição do Estado que é de reprodução
obrigatória em relação à Constituição Federal.

O fundamento deste recurso extraordinário é o artigo 102, III, “a” da CF/88:

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição,


cabendo-lhe:
III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância,
quando a decisão recorrida:
a) contrariar dispositivo desta Constituição ;

Isto, pois, ao aplicar uma norma da CF/88 de reprodução obrigatória na Constituição do


Estado, o TJ estadual está aplicando a CF/88 em única instância.

5) “Amicus Curiae”

O art. 7º, caput, da Lei 9.868/99 prevê expressamente que não haverá intervenção de
terceiros na ADI. Essa proibição se justifica porque, no controle abstrato, não há interesses jurídicos
de terceiros a serem defendidos. Nesta modalidade de controle, defende-se o interesse da
coletividade.

O art. 7º, §2º, da Lei 9.868/99 prevê que o relator da ADI poderá, mediante despacho
irrecorrível admitir a participação de órgãos ou entidades no julgamento, com o objetivo de aclarar
questões técnicas e científicas. Trata-se do chamado “amicus curiae”.

Observação: O Novo CPC prevê que o “amicus curiae” é uma modalidade de intervenção de
terceiros e permite, inclusive, que pessoas naturais ou físicas atuem como “amicus curiae”. Essa
disposição é norma geral que se aplica em processos judiciais concretos (controle difuso ou
concreto). No controle abstrato ou concentrado de constitucionalidade, aplica-se lei especial (a Lei
9.868/99), segundo a qual o “amicus curiae” não é intervenção de terceiros e somente pode ser
habilitado se for órgão ou entidade.

6) Tutelas de Urgência

As ações do controle abstrato ou concentrado admitem tutela de urgência (medida cautelar


ou liminar).

O art. 10 da Lei 9.868/99 prevê que a medida cautelar na ADI será concedida pela maioria
absoluta dos membros do STF (06 dos 11 ministros). No período de recesso do STF, a medida
cautelar é concedida pelo Presidente do STF.

O art. 11, §1º e 2º da Lei 9.868/99 prevê os dois pontos da medida cautelar da ADI mais
cobradas em provas:

A) A regra geral é que a medida cautelar terá efeitos “Ex nunc”;

B) A medida cautelar, em regra, torna aplicável a legislação antes existente (efeito


represtinatório).

19
04/12/2017

LEGITIMADOS DO CONTROLE CONCENTRADO E ABSTRATO

 Art. 36, III e art. 103 da CF/88.

Os legitimados do controle abstrato ou concentrado são autoridades públicas e entidades


representativas que ajuízam as ações que integram o controle abstrato ou concentrado no interesse
da coletividade à higidez do ordenamento jurídico.

Das 5 ações do controle abstrato ou concentrado, 04 delas têm os mesmos legitimados e 01


delas tem legitimado diferente.

A ação do controle concentrado ou abstrato que tem legitimado diferente é a ação


interventiva (Intervenção Federal).

O art. 36, III da CF/88 prevê que somente o Procurador Geral da República poderá ajuizar no
STF a ação ou representação interventiva.

Os legitimados da ADI, ADC, ADPF e ADO são os mesmos e estão previstos no art. 103 da CF
(há lei especifica da ADPF e da ADO que preveem os mesmos legitimados para ADI e ADC).

Ao interpretar o art. 103 da CF, o STF reconheceu a existência de dois tipos de legitimados
para o ajuizamento de ADI, ADC, ADPF e ADO (mutação constitucional)

1) Legitimados Universais – não precisam provar pertinência temática para ajuizar ações. São eles:

1.1) Presidente da República;

1.2) Mesa da Câmara dos Deputados;

1.3) Mesa do Senado Federal;

1.4) PGR;

1.5) Conselho Federal da OAB;

1.6) Partido político com representação no Congresso Nacional (a perda superveniente de


representação no Congresso não interfere no julgamento da ação juizado por partido
político).

2) Legitimados Especiais – devem provar pertinência temática para que ajuízem as ações do
controle abstrato ou concentrado, isto é, devem provar uma relação de aderência entre o tema
discutido na ação e a área de atuação do legitimado especial. São eles:

2.1) Governador do Estado e DF;

2.2) Mesa da Assembleia Estadual e da Câmara Distrital;

2.3) Confederação Sindical e entidade de classe de âmbito nacional.

Observação: A União Nacional dos Estudantes não é considerada uma entidade de classe.

20
Pegadinha: O Governador do Estado pode questionar lei de outro Estado desde que prove
pertinência temática (exemplo: guerra fiscal de ICMS).

OBJETOS DAS AÇÕES DO CONTROLE ABSTRATO OU CONCENTRADO NO STF

Os objetos das ações do controle abstrato ou concentrado permitem identificar em quais


hipóteses cada uma dessas ações poderá ser ajuizada no STF.

1) ADI – O art. 102, I, “a” da CF/88 prevê que o STF julga Ação Direta de Inconstitucionalidade em
relação à Lei ou Ato normativo federal e estadual.

* Pegadinha: o DF pode legislar sobre matéria do Estado e do Município (art. 32, §1º da
CF/88). Este dado repercute decisivamente na competência para julgar ADI em relação à Lei
distrital:

A) Lei Distrital sobre matéria Estadual (ex: ICMS e IPVA) – sofre ADI no STF;

B) Lei Distrital sobre matéria municipal – sofre ADI no TJDF.

2) ADC – O art. 102, I, “a” da CF/88 prevê que o STF julga a Ação Declaratória de
Constitucionalidade apenas em relação à Lei ou Ato Normativo Federal.

A finalidade da ADC é a de colocar fim às decisões divergentes que podem surgir no tocante à
constitucionalidade do ato normativo,

Por isso, o ajuizamento de ADC no STF exige o atendimento de um requisito de


admissibilidade. O requisito é a prova de que existe divergência entre julgados de Tribunais
diferentes acerca da Constitucionalidade da Lei ou Ato Normativo Federal.

Atenção: a sentença da ADC e da ADI tem efeitos erga omnes e vinculantes tanto na hipótese
de procedência quanto na hipótese de improcedência (que significa que a lei inconstitucional sai do
ordenamento). A doutrina entende que as sentenças da ADI e da ADC têm efeitos dúplices ou
ambivalentes.

ADI procedente equivale a uma ADC improcedente (a lei é inconstitucional) e vice-e-versa.

3) ADPF – O art. 1º da Lei 9.882/99 prevê as hipóteses de cabimento de Arguição de


Descumprimento de Preceito Fundamental.

Antes de analisar o objeto da ADPF é importante registrar os dois requisitos específicos que
devem ser atendidos pelo legitimado que ajuizar ADPF:

I) Princípio da Subsidiariedade – apenas caberá ADPF quando não couberem as demais ações
do Controle Abstrato ou Concentrado (ADI, ADC, ADO e IF). A subsidiariedade da ADPF está
prevista no art. 4º, §1º da Lei 9.882/99.

II) Prova de lesão a preceito fundamental da Constituição – o termo “preceito fundamental


da CF” é um conceito jurídico indeterminado e é definido gradativamente por meio da
jurisprudência do STF, na medida em que ADPF são admitidas.

21
A Jurisprudência do STF admite ADPF nas seguintes hipóteses:

(a) Lei ou ato normativo municipal;

(b) Lei ou ato normativo anterior à CF/88 (neste caso, a ADPF certificará a recepção ou a não
recepção constitucional);

(c) Lei revogada ou lei temporária expirada (neste caso, a ADPF serve para controlar
eventuais efeitos produzidos durante a vigência da Lei revogada ou expirada).

4) ADO – Caberá ADI por Omissão nos termos do art. 103, §2º da CF/88, isto é, para declarar, na via
abstrata a falta de Lei regulamentadora de Norma Constitucional de Eficácia Limitada.

Observação – A inconstitucionalidade por omissão é declarada, no Controle Difuso ou Concreto,


pelo Mandado de Injunção.

5) Intervenção Federal (IF) – O art. 36, III, da CF/88 prevê que caberá Ação Interventiva ou
Representação Interventiva em 02 hipóteses:

A) Negativa de vigência de Lei Federal;

B) Violação dos Princípios Constitucionais Sensíveis previstos no art. 34, VII da CF/88.

* ADI ADC ADPF – mais importantes.

A intervenção federal é uma medida excepcional empregada para manter a coesão do pacto
federativo (prova da excepcionalidade é o fato de que somente o PGR pode ajuizar a intervenção
federal).

A partir do art. 34 e 35 da CF/88, pode-se extrair as seguintes conclusões:

Intervenção Federal

A União pode intervir em: (i) Estados; (ii) DF; e (iii) Municípios localizados em territórios.

Intervenção Estadual

Os Estados podem intervir em seus municípios.

 Espécies de Intervenção Federal

A Constituição prevê duas espécies de intervenção federal:

1. Intervenção Jurídica

A chamada intervenção jurídica é realizada por meio de ação ou representação interventiva (IF)
ajuizada no STF pelo PGR.

2. Intervenção Política

22
A chamada intervenção federal política é realizada por meio de decisão discricionária do
Presidente da República que é submetida à apreciação do Congresso Nacional. A doutrina denomina
a intervenção federal política de intervenção autônoma ou espontânea.

Observação: o art. 36, §1º da CF estabeleceu que é o decreto presidencial que inaugura a
Intervenção Federal, seja ela política ou jurídica, que definirá a amplitude, o prazo e as condições de
execução e, se couber, nomeará interventor. Em regra, o Decreto interventivo deverá ser submetido
à análise do Congresso Nacional.

Exceção: Há uma hipótese em que o Decreto não será submetido ao Congresso Nacional:

O art. 36, §3º da CF/88 prevê que na intervenção jurídica o decreto presidencial que inaugura
e define a execução da intervenção federal não será submetido ao Congresso Nacional se apenas
determinar a suspensão da execução do ato impugnado.

Por simetria, intervenção estadual jurídica em que o Decreto do Governador apenas suspenda
a execução do ato municipal impugnado não é apreciado pela Assembleia Legislativa respectiva.

Ação ou Representação Interventiva

A ação ou representação interventiva foi a primeira ação do controle concentrado brasileiro.


Surgiu com a Constituição de 1934.

Pegadinha: a intervenção federal foi prevista inicialmente com a adoção da Federação em


1891. Todavia, durante a República Velha, havia apenas a intervenção federal política (intervenção
espontânea ou autônoma).

Cuidado! Parte da doutrina defende que a ação interventiva configura hipótese de controle
concentrado (a ação é julgada apenas pelo STF) e concreto. As hipóteses que justificam a ação
interventiva exigem a análise de situações concretas.

A intervenção jurídica exige a observância de três etapas:

1. O PGR ajuíza a ação ou representação interventiva no STF;

2. O STF julga procedente a ação ou representação interventiva;

3. O Presidente da República expede o Decreto Interventivo e inaugura a Intervenção


Federal.

O ajuizamento de ação ou representação interventiva no STF ocorre diante de duas hipóteses,


previstas no art. 36, inciso III da CF/88:

1. Negativa de vigência da Lei Federal (ex: Governador nega vigência à aplicação das horas
extras nas relações de trabalho, previstas na lei federal da CLT);

2. Violação dos princípios constitucionais sensíveis previstos no art. 34, VII da CF/88.

Importante!

23
É preciso decorar o rol taxativo de princípios constitucionais sensíveis previstos no art. 34, VII,
da CF/88:

“Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para:

VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais:

a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;

b) direitos da pessoa humana;

c) autonomia municipal (tal hipotese não alcança o DF pois este não possui município);

d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta.

e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a


proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino (educação) e nas ações
e serviços públicos de saúde”.

Intervenção espontânea ou autônoma

A intervenção espontânea ou autônoma, também chamada de intervenção política, surgiu


com a Constituição de 1891.

Para que ocorra esta modalidade de intervenção federal, deve-se observar três etapas:

1. O Presidente da República expede o Decreto Interventivo e inaugura a intervenção


federal;

2. O Decreto Interventivo deve ser submetido ao Congresso Nacional no prazo de 24 horas.

3. O Congresso Nacional poderá sustar ou manter, total ou parcialmente, a intervenção


federal já em curso.

As hipóteses de intervenção espontânea ou autônoma podem ser identificadas por exclusão.


Trata-se das demais hipóteses de intervenção federal previstas no art. 34 da CF/88, com exceção das
duas hipóteses de ação interventiva.

Intervenção Federal Mediante Solicitação e Mediante Requisição (art. 36, I e II da CF/88)

As chamadas intervenções federais mediante solicitação e mediante requisição são


hipóteses excepcionalíssimas de intervenção federal, previstas no art. 36, incisos I e II da CF/88.

1. Intervenção Federal Mediante Solicitação

Prevista no art. 36, inciso I, primeira parte, da CF/88, cabe na hipótese de conflitos entre
Poderes (art. 34, inciso IV da CF/88).

Se houver conflitos entre os Poderes, a intervenção federal dependerá de solicitação


apresentada ao Presidente da República na hipótese de ocorrer coação que prejudique o Poder
Executivo ou o Poder Legislativo.

24
A solicitação deverá ser apresentada pelo Poder coacto (do Estado) e o Presidente da
República não é obrigado a acatá-la.

2. Intervenção Federal Mediante Requisição

Prevista no art. 36, inciso I, segunda parte, e inciso II da CF/88, a intervenção por meio de
requisição deve ocorrer nos seguintes casos:

(I) Requisição do STF;

Caberá requisição do STF ao Presidente da República se a coação for exercida em relação ao


Poder Judiciário (art. 34, inciso IV da CF).

(II) Requisição do STF, STJ ou TSE

Caberá requisição do STF, STJ ou TSE ao Presidente da República no caso de desobediência de


ordem ou de decisão judiciária.

Na intervenção federal mediante requisição, o Presidente da República é obrigado a atender a


ordem formulada pelo STF, STJ ou TSE (os demais Tribunais Superiores não podem apresentar
requisição interventiva ao Presidente da República).

OBS.: Não confundir solicitação com requisição!

Está faltando: estado de defesa e estado de sítio.

29/01/2018

Bibliografia sugerida:

- Curso de Direito Constitucional, Prof. Flavio Martins;

- Direito Constitucional Descomplicado, Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino.

Bibliografia obrigatória:

- Edital;

- Questões anteriores da banca.

ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO ESTADO BRASILEIRO

≠ Organização administrativa do Estado (administração direta e indireta).

O tema em destaque refere-se à Forma Federativa de Estado, consagrado no art. 18, “caput”
da CF.

A essência do federalismo ou da federação é a de promover a descentralização política do


poder do Estado em prol dos entes federados autônomos.

25
Essa descentralização política do poder estatal é orientada pelo princípio da preponderância
de interesses, segundo o qual os interesses nacional, regional e local são representados por entes
federados distintos.

Observações Iniciais:

Não se pode confundir quatro conceitos elementares do Direito Constitucional brasileiro:

1) Forma de Estado - A CF/88 adota a Federação como forma de Estado.

2) Forma de Governo - A CF/88 adota a República como forma de Governo.

3) Sistema de Governo - A CF/88 adota o Presidencialismo como Sistema de Governo.

4) Regime de Governo – A CF/88 adota a Democracia como Regime de Governo.

* A CF/88 prevê que a Democracia Brasileira é a do tipo Semidireta, pois tem instrumentos de
Democracia Direta (plebiscito, referendo, iniciativa popular de projeto de lei e ação popular) e de
Democracia Indireta (eleições periódicas e mandato político).

* O Art. 60, §3º da CF/88 prevê que a Forma de Estado é uma das cláusulas pétreas explícitas da
CF/88, o que significa que Emenda Constitucional não pode abolir a federação no Brasil.

Para o STF, as cláusulas pétreas podem ser alteradas desde que se preserve o seu núcleo
intangível. Desse modo, eventual emenda constitucional poderia tratar da Federação, desde que
aperfeiçoasse a Descentralização Política do poder entre os entes federativos.

Cuidado! Uma Emenda Constitucional não pode alterar a Federação de modo a substituí-la
por outras formas de Estado existentes (Estado Regional e Estado Unitário), porque, na prática,
estará abolindo a Federação.

Conceito de Federação

A Federação é uma Forma de Estado que promove a pulverização do poder político. No Brasil,
a Federação Brasileira é composta por 04 tipos de entes federados:

1) União;

2) Estado;

3) DF;

4) Municípios.

O art. 18, “caput”, da CF/88 prevê que todos são autônomos, nos termos da Constituição.

Observação: a CF/88 é a única Constituição no mundo e a primeira do Brasil que reconheceu


expressamente a autonomia dos Municípios.

A colonização portuguesa foi estruturada no Municipalismo, porém a Constituição do Brasil de


1891 , ao transformar o Estado Unitário do Império em uma Federação, inspirou-se na Constituição
Americana de 1787, que inaugurou a Federação no mundo, baseada apenas em 02 instâncias de

26
governo (o governo nacional – União -, e o governo regional – Estados). Foi a CF/88 que colocou fim
a essa distorção histórica, ao reconhecer a condição de ente federado autônomo do Município.

Conclusão: A CF/88 consagrou a Federação Brasileira como sendo uma Federação Trinária (até
1988 era binária), haja vista que existem três instâncias de governo:

(i) Governo Nacional (representado pela União);

(ii) Governo Regional (representado pelos Estados e DF);

(iii) Governo Local (representado pelos Municípios e DF).

DIFERENÇAS ENTRE FEDERAÇÃO E CONFEDERAÇÃO

A Federação, como forma de Estado, foi criada com o advento da Constituição Americana de
1787. No período entre a independência das 13 colônias inglesas (1776) até a promulgação da
Constituição Norte-Americana, os Estados Unidos foram uma Confederação.

Confederação Federação

Partes Integrantes É formada por Estados soberanos. É formada por entes federados
autônomos.

Base jurídica A base jurídica é um tratado A base da Federação é uma


internacional. Constituição escrita, que descentraliza
o poder estatal, ao fixar competências
para os entes federados.

Direito de Existe o direito de retirada dos Não há direito de retirada ou direito de


Retirada ou Estados Soberanos. secessão.
Secessão

Existência de Não há Corte Internacional Existe uma Corte Constitucional


Tribunal competente para solucionar competente para interpretar a
conflitos jurídicos relacionados ao Constituição e colocar fim aos conflitos
tratado constitutivo. federativos.

Nacionalidade Cada Estado Soberano mantém a Existe uma nacionalidade única. Não há
sua própria nacionalidade. “estadualidades”.

Órgão Não há, na Confederação, um Existe um órgão legislativo Federativo,


Legislativo órgão legislativo que legisla sobre ou seja, uma Casa Legislativa que
Federativo temas comuns e que representa as representa os entes federados (Senado
partes confederadas. Federal)

27
PROCESSOS HISTÓRICOS DE FORMAÇÃO DAS FEDERAÇÕES

Há dois processos históricos que explicam a gênese das Federações.

1) Federalismo por Agregação ou Centrípeto

Exemplo: EUA, 1787. Vários Estados soberanos renunciam à soberania para se tornarem entes
autônomos.

2) Federalismo por Segregação ou Centrífugo

Exemplo: Brasil, 1891. Um Estado Unitário é dividido em várias partes autônomas.

07/02/2018

Revisão

Ponto chave da Federação é a descentralização política.

Federalismo por agregação ou centrípeto (EUA)

Federalismo por segregação ou centrífugo (Brasil) – 1891 – era o único Estado (Império) que
se fragmentou em vários estados.

Por poder constituinte derivado decorrente (varios Estados e eles não sabiam fazer nada; logo,
este poder no federalismo centrífugo era muito mais importante; pois estes não sabiam fazer nada,
diferentemente do centrípeto, no qual eles eram soberanos).

Conceito de Autonomia

- Art. 18, “caput”, CF/88;

O conceito de autonomia federativa é apresentado pela doutrina a partir da interpretação


sistemática da Constituição Federal. A doutrina converge em definir autonomia por meio da
verificação de quatro capacidades políticas:

1) Auto-organização – A União elabora a Constituição Federal, os Estados elaboram as


Constituições Estaduais e os Municípios e o DF elaboram suas Leis Orgânicas;

2) Autogoverno – Cada ente federado tem eleições próprias;

3) Autolegislação ou Autonormatização – Cada ente federado cria as suas próprias leis, observadas
as respectivas competências federativas.

Pegadinha > A elaboração de lei orgânica pelos Municípios e DF não configura autolegislação. Trata-
se de auto-organização. As demais leis municipais, por sua vez, entram no conceito de
autolegislação.

4) Autoadministração – Cada ente federado possui um quadro próprio de servidores públicos e


presta seus serviços públicos próprios.

28
Inexistência de Hierarquia Entre os Entes Federados

A jurisprudência do STF entende que não há hierarquia entre União, Estados, DF e


Municípios, porque todos os entes federados gozam do mesmo atributo: a autonomia.

Por consequência lógica, não há hierarquia também entre Lei Federal, Lei Estadual, Lei
Distrital e Lei Municipal.

Embora não exista hierarquia entre os entes federados, vigora, no Brasil, o chamado
princípio da preponderância de interesses, segundo o qual o interesse nacional (representado pela
União) prepondera em relação ao interesse regional (representado pelos Estados e DF) e sobre o
interesse local (representado pelos Municípios e DF). No mesmo sentido, o interesse regional
prepondera sobre o interesse local.

A exemplo disso, temos a possibilidade de desapropriação, por parte da União, de bens dos
Estados e Municípios. Já Estados e Municípios não podem desapropriar bens da União.

DIFERENÇA ENTRE AUTONOMIA E SOBERANIA

Não se pode confundir esses dois conceitos em destaque:

AUTONOMIA SOBERANIA

 Previsto no art. 18, “caput”, CF/88;  Previsto no art. 1º, I, da CF/88;

Atributo que pertence à União, Estados, DF e Atributo que pertence à República Federativa do
Municípios; Brasil;
Confere personalidade jurídica de direito público Confere personalidade jurídica de Direito Público
Interno ou Nacional; Externo ou Internacional;

Com base nesta distinção, é possível interpretar o disposto no art. 21, I, da CF/88, cujo teor
prevê que compete à União (governo federal) manter relações com estados estrangeiros e participar
de organizações internacionais.

Ao desempenhar esta competência, a União atua como representante da República


Federativa do Brasil.

Obs.: O Direito internacional só atribui personalidade ao Estado Soberano. Não atribui


personalidade a entes federados.

Condição Jurídica do Território – Art. 18, §2º da CF/88

“Os Territórios Federais integram a União, e sua criação, transformação em Estado ou


reintegração ao Estado de origem serão reguladas em lei complementar”.

Os territórios não são entes federados, não têm autonomia, não integram a organização
político-administrativa da República Federativa do Brasil (não constam no art. 18, “caput”, da
CF/88).

29
O art. 18, §2º da CF/88 prevê que os Territórios integram a União.

Os territórios podem ser criados por Lei Complementar Federal para assegurar a prestação
de serviços públicos em locais em que não exista viabilidade de se ter um Estado autônomo.

Os territórios, se criados, terão a forma jurídica de autarquias federais. O art. 52, III, “c”, da
CF/88 prevê que compete ao Senado Federal aprovar, por votação secreta, após arguição pública, o
Governador de Território indicado pelo Presidente da República.

Condição Jurídica do Distrito Federal – Art. 32 da CF

A doutrina afirma que o DF é um ente federado “sui generis”, e que tem sua autonomia
parcialmente tutelada pela União.

O DF é considerado um ente federado “sui generis” em razão de dois motivos:

1) Art. 32, §1º, CF: “Ao Distrito Federal são atribuídas competências legislativas reservadas aos
Estados e Municípios”. Está previsto que o DF tem competências legislativas próprias dos
Estados e dos Municípios.

2) Art. 32, “caput”, CF: “O Distrito Federal, vedada sua divisão em Municípios, reger-se-á por lei
orgânica, votada em dois turnos com interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois
terços da Câmara Legislativa, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta
Constituição”. Está previsto que o DF não pode ser dividido em Municípios.

Conclusão: Brasília e as cidades-satélites não são Municípios. Trata-se de meras divisões


administrativas do governo do Distrito Federal.

* Pegadinha: O Distrito Federal não tem capital. O art. 18, §1º da CF/88 prevê expressamente
que Brasília é a Capital Federal. Isso significa que Brasília é a área geográfica do Distrito Federal
que está reservada para ser ocupada prioritariamente pelo Governo Federal (União).

O Distrito Federal é parcialmente tutelado pela União em virtude do previsto no art. 21,
incisos XIII e XIV da CF/88.

O art. 21, incisos XIII e XIV, prevê que compete à União manter e organizar duas categorias de
serviços públicos do Distrito Federal, ou seja, o Distrito Federal presta estes serviços públicos, porém
é a União que irá custeá-los:

1) Serviços Judiciários Tribunal de Justiça do DF

Ministério Público do DF

2) Serviços Policiais Polícia Civil


Polícia Militar
Corpo de Bombeiros Militar

Em razão da União tutelar parcialmente a autonomia do Distrito Federal, a Súmula Vinculante


nº 39 do STF prevê que compete privativamente à União legislar sobre vencimentos da polícia civil,
polícia militar e corpo de bombeiros militar do DF.

30
Condição Jurídica das Regiões Metropolitanas – Art. 25, §3º da CF

As regiões metropolitanas não são entes federados. Não possuem autonomia.

Art. 25, §3º da CF: “Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões
metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de
Municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e execução de funções públicas
de interesse comum”.

O art. 25, §3º da CF prevê que as regiões metropolitanas podem ser instituídas pelos Estados
mediante Lei Complementar, com a finalidade de garantir a prestação de serviços públicos comuns
entre Municípios Limítrofes (exemplo: transporte público, coleta de lixo, saneamento básico, etc).

A região metropolitana poderá integrar a Administração Direta (Secretaria Estadual) ou a


Administração Indireta (Autarquia Estadual), conforme previsão na Lei Complementar Estadual que
a instituir.

26/02/2018

Indissolubilidade e Divisibilidade da Federação Brasileira

 Art. 1º, “caput”, e art. 18, §§s 3º e 4º da CF/88.

A Federação brasileira é indissolúvel e divisível. A indissolubilidade da Federação está prevista


no art. 1º, “caput”, da CF e significa que não existe o direito de secessão ou de retirada dos entes
federados.

Desse modo, eventual tentativa de separação do país por parte de um ente federado será
sufocada por intervenção federal ou intervenção estadual.

Por outro lado, a Federação brasileira é divisível por força do art. 18, §3º e §4º da CF/88, que
prevê a possibilidade de criação de novos estados e de novos municípios.

Duas Etapas Para a Criação dos Estados

A criação de estados exige a observância de duas etapas:

1) Plebiscito com a população diretamente interessada;

Observação: entende-se que no desmembramento de um Estado (divisão de um Estado em


dois ou mais Estados), o conceito de população diretamente interessada abrange a população da
área remanescente e a população da área desmembrada.

2) Lei Complementar do Congresso Nacional

Importante! A criação de territórios exige a observância dessas duas etapas procedimentais


aplicáveis à criação de Estados.

Quatro Etapas Para a Criação de Municípios

 Art. 18, §4º da CF/88

31
Deve-se observar quatro etapas para a criação de municípios no Brasil.

1. A União edita uma Lei Complementar que fixa o período em que os Estados poderão criar
novos Municípios.

2. Estudo de Viabilidade Municipal.

3. Plebiscito com a população interessada.

Engloba a população da área remanescente e a população da área desmembrada.

4. Lei Estadual que cria efetivamente o novo Município.

Sistema Constitucional de Repartição de Competências

O Sistema Constitucional de Repartição de Competências Federativas da CF/88 foi estruturado


com base em três diretrizes principais:

1. A União possui rol taxativo de competência;

2. O Município tem competência para cuidar de interesse local (varia de Município para
Município);

3. O Estado tem competências remanescentes ou residuais;

Tipos de Competências Federativas

A CF/88 consagra dois grandes tipos de Competências Federativas:

1. Competências materiais ou administrativas;

Trata-se da competência para prestar serviços públicos.

As competências materiais ou administrativas podem ser de duas espécies:

A) Competências exclusivas (apenas um ente federado presta o serviço público);

B) Competências comuns (mais de um ente federado presta o serviço público);

2. Competências legislativas

Trata-se da competência para legislar sobre temas determinados. As competências legislativas


podem ser de duas espécies:

A) Competências privativas (apenas um ente federado legisla sobre o tema);

B) Competências concorrentes (mais de um ente federado legisla sobre o tema).

Competências Federativas

Competências Materiais ou Administrativas Competências Legislativas (competência para


(Competência para prestar serviços públicos) legislar sobre temas)

32
- Competências Exclusivas (apenas um ente - Privativas – apenas um ente federado legisla
federado presta o serviço público); sobre o tema;

- Competências Comuns – mais de um ente - Concorrentes – mais de um ente federado


federado presta o serviço público. legisla sobre o tema.

Competências Materiais ou Administrativas

As competências materiais ou administrativas podem ser:

1. Competências exclusivas

Apenas um ente federado presta o serviço público.

A) União: as competências exclusivas da União estão previstas no rol taxativo do art. 21 da


CF/88;

Atenção: não há a possibilidade de a União delegar aos Estados parte das suas competências
exclusivas.

B) O Art. 30, V, da CF/88 prevê que o Município tem competência para cuidar dos serviços
públicos de “interesse local”, incluído o transporte coletivo, que é essencial (entende-se que
é aquele que não pode ter paralisação total na greve).

Observação: Ao interpretar o art. 30, V, da CF/88, a doutrina entendeu que o município possui
competência exclusiva expressa (“interesse local”), porém não taxativa. A competência expressa do
Município é exemplificativa (“transporte coletivo”).

Esse serviço é essencial, o que significa que não é possível a sua paralisação total na greve.

C) Estado – Possui duas competências exclusivas:

(i) Art. 25, §2º da CF/88 – Explorar o serviço local de gás canalizado;

(ii) Art. 25, §1º da CF/88 – Prevê que os Estados possuem as competências remanescentes ou
residuais.

D) Distrito Federal – A partir da interpretação do art. 32, §1º da CF/88, é possível concluir que o
Distrito Federal tem competência para prestar os serviços públicos estaduais e municipais,
uma vez que possui competência para legislar sobre esses dois temas.

2. Competências Comuns

São as competências para prestar serviços públicos de modo compartilhado por mais de um
ente federado.

33
As competências comuns prevem que o Brasil é adepto do chamado FEDERALISMO
COOPERATIVO.

As competências comuns da União, Estados, Distrito Federal e Municípios estão previstas no


art. 23 da CF/88.

 Pegadinha! O art. 13, parágrafo único, da CF/88 prevê que leis complementares irão tratar
da cooperação entre entes federados em matéria de competência comum. Não pode ser
editada uma única lei complementar porque a cooperação entre entes federados varia
conforme a natureza do serviço público comum.

01/03/2018
Competência Legislativa (criação de lei)

As competências legislativas podem ser:

1. Competências privativas – apenas um ente federado legisla sobre o tema.

A) União
As competências privativas da União estão previstas no rol taxativo do art. 22 da CF/88.

Atenção: o art. 22, parágrafo único, da CF/88 prevê que a União poderá, mediante lei
complementar, delegar aos Estados (e ao DF) parte de suas competências legislativas privativas.

Cuidado: A delegação de competência legislativa privativa da União não pode beneficiar um único
Estado. Entende-se que deve beneficiar todos os estados da Federação Brasileira, sob pena de violar o
pacto federativo.

Diferenças entre competência privativa e exclusiva – a privativa é pra editar lei e exclusiva é pra
prestar serviços. Há, todavia, um tipo de competência privativa delegável, que é a União, delegável aos
Estados e DF.
Existe uma hipótese que autoriza a legislação sobre direito penal, que é quando houver delegação
de competência privativa da União.

B) Município
O art. 30, I, da CF/88 prevê que o município tem competência para legislar sobre “interesse local”.

Importante: ao interpretar o art. 30, I, da CF/88, o STF entendeu que o município tem interesse
local para legislar sobre o horário de funcionamento do comércio. Porém, não pode legislar sobre o
horário de funcionamento das agências bancárias. Este tema é de competência privativa da União.

C) Estado

34
O art. 25, inciso I da CF/88 prevê que o Estado tem competências privativas remanescentes ou
residuais.
Desse modo, caso eventual emenda constitucional suprima uma das competências privativas no
art. 22 da CF/88, automaticamente o Estado passará a legislar sobre o tema antes da União em virtude
de possuir as competências remanescentes ou residuais.

D) Distrito Federal

O art. 32, §1º da CF/88 prevê que o Distrito Federal tem as competências legislativas dos Estados e
Municípios.

Obs.: DF não possui competência para legislar sobre a remuneração dos policiais e sobre criação
de Municípios (entendimento sumulado).

2) Competências Legislativas Concorrentes

As competências legislativas concorrentes, segundo Raul Machado Horta, corresponde a um


condomínio concorrencial.
Para compreender as competências legislativas concorrentes, deve-se combinar dois dispositivos
da CF/88:

A) Art. 24, “caput”, da CF/88: “Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre: [...]”. O dispositivo prevê competências concorrentes à União, Estados e DF;
B) Art. 30, II, da CF/88: prevê que o Município poderá suplementar a legislação federal ou estadual no
que couber.

Conclusão:
Embora o município não tenha competência legislativa concorrente, poderá legislar sobre alguns
temas do art. 24, da CF/88 sempre que houver interesse local, e apenas para suplementar, especificar,
detalhar leis federais ou estaduais já existentes.

QUATRO REGRAS PARA O EXERCÍCIO DE COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS CONCORRENTES


 Art. 24, §1º ao 4º da CF/88;

O art. 24, §1º ao §4º da CF/88 estabelece quatro regras sobre o exercício de competências
legislativas concorrentes, pela União, Estados e DF.

1) A União edita Lei Geral;


2) Os Estados têm competência para suplementar a Lei Geral Federal;
3) Inexistindo lei geral federal, o Estado pode legislar de modo pleno para atender suas particularidades;
4) A superveniência de Lei Geral Federal SUSPENDE a execução (e não revoga) da Lei Estadual no que
houver contrariedade.

35
Por força do art. 24, §4º (4º - A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a
eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário), irá contrariar a lógica da lei específica, aplicando-se a
lei geral. Não há que se falar em hierarquia entre uma lei federal e uma lei estadual. Se superveniente
uma Lei Geral Federal, há a suspensão da Lei Estadual que seja contrária, não sendo revogada.

 Observação

Não se pode confundir os seguintes conceitos:

Direito Penal; Direito Penitenciário;

Direito Processual; Procedimento em matéria


Processual; e

Seguridade Social; Previdência Social

 Art. 22, I, I e XXIII da CF/88;  Art. 24, I, XI e XII da CF/88;


Competências Privativas da Competências Concorrentes
União. da União, Estados e DF

Atenção:

A doutrina denomina as competências exercidas por um único ente federado (competências


exclusivas ou privativas) de competências horizontais.

Já as competências exercidas por mais de um ente federado (competências comuns ou


concorrentes) são chamadas de competências verticais. É um mesmo tema, porém com círculos
diferentes de abrangência.

Como se faz para delegar competência concorrente da União? Somente a competência privativa
da União pode ser delegada.

ORGANIZAÇÃO DOS PODERES


O tema organização dos poderes refere-se ao princípio da separação dos poderes, que foi
idealizado por Montesquieu.

O art. 60, §4º da CF/88 prevê que o princípio da separação dos poderes é uma das cláusulas
pétreas explícitas da CF/88. O núcleo essencial deste princípio é o chamado mecanismo de freios e
contrapesos (“checks and balances”).

Isto é, há um controle recíproco entre os poderes do Estado. Desse modo, é possível que eventual
Emenda Constitucional crie um quarto Poder no Estado brasileiro.

Todavia, não seria possível resgatar o Poder Moderador previsto na Constituição do Império, de
1824, porque esse poder era exercido pelo Imperador de modo ilimitado.

36
O controle recíproco entre os Poderes do Estado brasileiro (mecanismo de freios e contrapesos) é
exercido em virtude do fato de os três Poderes do Estado (Executivo, Legislativo e Judiciário) exercerem
concomitantemente as funções legislativa, administrativa e jurisdicional, ora atuando de modo típico,
ora atuando de modo atípico.

Poder Executivo

O Poder Executivo exerce duas grandes funções:

1. Função Típica – é a função exercida de modo preponderante por um Poder. Trata-se da função
administrativa, cujos exemplos são:

 Prestação de serviços públicos;

 Regime Jurídico dos servidores públicos (férias, gratificações, licenças e processos


administrativos disciplinares).

2. Função Atípica – é a função desempenhada de modo secundário por este Poder. São elas:

 Função Legislativa – edição de decreto autônomo, medidas provisórias e leis delegadas pelo
chefe do Poder Executivo;

 Função Jurisdicional – julgamento de processos administrativos que envolvem administrados.


Exemplo: recurso ao Conselho de Contribuintes da Receita Federal), no exercício da autotutela
(a Administração anula seus atos ilegais).
19/03/2018

SISTEMA PRESIDENCIALISTA DE GOVERNO

Para entender a organização do Poder Executivo da União, é importante compreender o


funcionamento do sistema presidencialista de governo.

A essência do presidencialismo é concentrar no Presidente da República duas atribuições.

1) Chefe de Estado

O Presidente da República atua externamente, na condição de chefe da República Federativa do


Brasil. Exerce soberania. Ex: art. 84, VII, VIII, XIX e XX da CF/88 (matéria que envolve o Estado Soberano).

2) Chefe de Governo

O Presidente da República atua internamente, na condição de chefe da União (Governo Federal).


Exerce autonomia. Ex: art. 84, I, II, III e IV da CF/88.

Observação: no sistema parlamentarista de governo, a chefia do Poder Executivo é partilhada por 2


autoridades:

(I) Chefe de Estado – pode ser um rei (parlamentarismo monárquico) ou um Presidente da República
eleito (parlamentarismo republicano).

(II) Chefe de Governo – sempre será o Primeiro Ministro, eleito indiretamente pelo Parlamento. Os
deputados e senadores do partido eleito elegem o primeiro Ministro.

37
No parlamentarismo, embora o Primeiro Ministro tenha um mandato, em qualquer momento um
mandato pode ser encerrado se o Parlamento votar e adotar o chamado “Moção de Desconfiança”.

Decretos Expedidos pelo Presidente da República

 Art. 84, IV e VI da CF/88.

O Presidente da República pode expedir dois tipos de decretos presidenciais.

1) Decreto regulamentar, Decreto regulamentador ou Regulamento Administrativo

 Art. 84, IV da CF/88.

”Compete privativamente ao Presidente da República: IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as


leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução”;

É o decreto expedido pelo Presidente da República para assegurar a fiel execução da lei.

Para o STF, o decreto regulamentar é um ato normativo secundário, haja vista que o seu
fundamento de validade e de existência decorre diretamente da lei a ser regulamentada, e não da
Constituição Federal.

CF

Lei – Ato normativo primário

Decreto Regulamentar – Ato normativo secundário

Em virtude de o decreto regulamentar ser um ato normativo secundário, pôde-se extrair as


seguintes conclusões:

A) Não pode inovar na ordem jurídica (deve ser fiel à lei);

B) Não pode ser objeto de controle de constitucionalidade (não sofre ADI);

C) Sofre dois controles:

(i) Controle de Legalidade – o controle de legalidade pode ser realizado pelo Poder Judiciário
(principio da inafastabilidade da jurisdição) ou pela Administração Pública (princípio da
autotutela).

(ii) Controle político repressivo – previsto no art. 49, V, da CF/88 – permite que o Congresso
Nacional suste a execução de Decreto regulamentar que exorbite a função regulamentadora.

2) Decreto Autônomo, “Decreto”ou Regulamento Autônomo

 Art. 84, VI, da CF/88

38
O dispositivo em questão prevê o emprego do decreto autônomo apenas em duas hipóteses:

(I) Extinção de Cargos e Funções Públicas VAGOS

(II) Organização da Administração Pública, desde que não ocorra aumento de despesa pública
nem ocorra criação ou extinção de órgãos públicos.

 Pegadinha – órgão público VAGO não pode ser extinto por meio de Decreto. Exige lei para
sua extinção.

O STF entende que o Decreto autônomo tem natureza de ato normativo primário, ou seja,
tem força de lei e decorre diretamente da Constituição.

Logo, o Decreto autônomo pode:

(I) Inovar na ordem jurídica;

(II) Ser objeto de controle de constitucionalidade.

COMPETÊNCIAS PRIVATIVAS DELEGÁVEIS DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA

 Art. 84, parágrafo único da CF/88.

O dispositivo em questão prevê que o Presidente da República tem três competências


privativas delegáveis para três autoridades públicas.

“Art. 84, Parágrafo único. O Presidente da República poderá delegar as atribuições


mencionadas nos incisos VI, XII e XXV, primeira parte, aos Ministros de Estado, ao
Procurador-Geral da República ou ao Advogado-Geral da União, que observarão os
limites traçados nas respectivas delegações”.

As três autoridades públicas que podem receber delegação de competência privativa da


União são:

(I) Ministros de Estado;

(II) Procurador-Geral da República; ou

(III) Advogado-Geral da União.

As três competências privativas delegáveis do Presidente da República são:

1. Art. 84, VI, da CF/88 – competência para expandir decreto autônomo.

2. Art. 84, XII, da CF/88 – competencia para comutar penas e para conceder indulto.

3. Art. 84, XXV, da CF/88, primeira parte – “XXV - prover [...] os cargos públicos federais,
na forma da lei”; Competência apenas para prover cargos públicos federais.

39
Observação: para o STF, o conceito de “provimento” de cargos públicos abrange a
nomeação e a demissão do servidor.

IMPEDMENTO E VACÂNCIA NO PODER EXECUTIVO

 Arts. 79, 80 e 81 da CF/88.

Conceito:

O impedimento é obstáculo temporário ao exercício do mandato. Exemplos: viagens ao


exterior, licença, férias. A autoridade impedida será substituída.

A vacância é um obstáculo definitivo ao exercício do mandato (exemplo: morte,


“impeachment”, renúncia).

No caso de vacância, a autoridade que deixou o cargo vago será sucedida.

O art. 79 da CF/88 prevê que, no caso de impedimento ou vacância, apenas do Presidnte


da República ocorrerá, respectivamente, substituição ou sucessão pelo Vice-Presidente.

O art. 80 e o art. 81 da VCF/88 tratam do duplo impedimento e da dupla vacância


(Presidente + Vice-presidente da república).

O art. 80 da CF/88 estabelece que, no caso de duplo impedimento, haverá a convocação


das autoridades na seguinte ordem:

1) Presidente da Câmara dos Deputador;

2) Presidente do Senado Federal;

3) Presidente do Supremo Tribunal Federal

O art. 81 da CF/88 trata da dupla vacância e prevê a necessidade de realização de novas


eleições, as quais observarão as seguintes regras.

A) Dupla vacância (Presidente + Vice) nos dois primeiros anos do mandato – eleições
diretas em 90 dias.

B) Dupla vacância (Presidente + Vice) nos dois últimos anos do mandato – eleições
indiretas, no Congresso Nacional, em 30 dias, “na forma da lei”.

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