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C. W. Leadbeater
Publicado originalmente em
*
A informação dada na literatura Teosófica sobre o tema da Mônada é
necessariamente escassa. Não estamos presentemente em posição de
suplementá-la em grande extensão; mas uma referência ao assunto, até onde ele
é compreendido hoje em dia entre nós, pode poupar o estudante de alguns mal-
entendidos, tais como os que são com freqüência manifestos nas questões que
nos são enviadas.
Que muitos mal-entendidos devam existir em tal assunto é algo inevitável, porque
estamos tentando entender com o cérebro físico o que não pode de nenhum modo
ser expresso em termos inteligíveis a este cérebro. A Mônada habita o segundo
plano de nosso conjunto de planos – aquele que costumamos às vezes chamar de
paranirvânico ou anupadaka. Não é fácil associar na mente qualquer significado
definitivo ao termo plano ou mundo em uma altitude como esta, porque qualquer
tentativa mesmo para simbolizar a relação dos planos e mundos entre si demanda
um estupendo esforço de imaginação em uma direção em que estamos
completamente desfamiliarizados.
Um modo de tentar simbolizar que tem-se revelado útil é tentarmos pensar nela
em conexão com o que chamamos de dimensões do espaço. Se pudermos supor
um número infinito destas dimensões, pode ser sugerido que cada descida de um
nível superior para um nível inferior remove da consciência uma destas
dimensões, até que, quando alcançamos o plano ou mundo mental, terá restado
para nós apenas o poder de observar cinco delas. A descida ao plano astral retira
mais uma, e a ulterior descida ao nível físico nos deixa com as três a que estamos
acostumados. A fim de captarmos ao menos uma idéia do que representa essa
perda de dimensões adicionais, temos de supor a existência de uma criatura cujos
sentidos sejam capazes de compreender apenas duas dimensões, então imaginar
no que a consciência desta criatura diferiria da nossa, e assim tentarmos ter uma
idéia do que significaria perder uma dimensão de nossa consciência. Tal exercício
de imaginação rapidamente nos convencerá de que a criatura bidimensional
jamais poderia obter uma adequada compreensão de nossa vida; ela poderia ser
consciente dela apenas em partes, e sua idéia mesmo destas partes seria
inteiramente enganosa. Isso nos possibilita ver o quão inadequada deve ser nossa
concepção mesmo do plano ou mundo imediatamente acima de nós; e
compreenderíamos imediatamente a desesperança em pretender pleno
entendimento da Mônada, que está separada por muitos desses planos ou
mundos acima do ponto de onde estamos tentando considerá-la.
Pode nos ajudar se evocarmos em nossas mentes o método pelo qual a Deidade
originalmente construiu estes planos. Falamos com toda a reverência a respeito
de Seu método, percebendo plenamente que podemos no máximo compreender
só o mais diminuto fragmento de Seu trabalho, e que mesmo este fragmento é
visto por nós de baixo, enquanto que Ela o vê de cima. Assim, justifica-se
dizermos que Ela envia de Si mesma uma onda de poder de influência de algum
tipo, que molda a matéria primitiva pré-existente em certas formas às quais damos
o nome de átomos.
A este plano ou nível, assim construído, chega uma segunda onda vital de divina
energia, e para ela aqueles átomos já existentes são objetivos, estão fora de si
mesma, e ela os modela em formas nas quais habita. Enquanto isso a primeira
onda descendente chega novamente, penetrando através daquele plano ou nível
recém-formado, e constrói pois um novo plano, inferior, com átomos um pouco
maiores e matéria deste modo um pouco mais densa – mesmo que sua densidade
ainda possa ser de longe mais sutil que nossa mais diáfana concepção de
matéria. Então neste segundo mundo chega a segunda onda, e também nele
encontra matéria que para ela é objetiva, e dela constrói suas formas. E assim o
processo é repetido e a matéria torna-se cada vez mais e mais densa em cada
mundo, até que finalmente chegamos a este nível físico; mas será útil mantermos
em mente que em cada um desses níveis a animadora vida da segunda
emanação encontra matéria já vivificada pela primeira emanação, que ela
considera como objetiva, e da qual constrói as formas em que habita.
Este processo de animação das formas construídas de matéria já vivificada é
continuado através dos reinos mineral, vegetal e animal, mas quando chegamos
ao momento da individualização que separa a mais elevada manifestação animal
da mais baixa humana, uma curiosa alteração tem lugar; aquilo que até então
tinha sido a vida animadora se torna por sua vez ela própria animada, pois ela
modela a si própria numa forma na qual o Ego entra, e da qual toma posse. Ele
absorve em si todas as experiências que a matéria de seu corpo causal tenha tido,
de modo que nada absolutamente é perdido, e ele as carrega consigo através das
eras de sua existência. Ele continua o processo de formação de corpos nos planos
inferiores a partir do material animado pela primeira emanação do Terceiro
Aspecto da Deidade; mas finalmente ele chega a um estágio na evolução no qual
o corpo causal é o mais inferior dos quais necessita, e quando isso acontece
vemos o espetáculo da Mônada, que representa a terceira emanação do Primeiro
Aspecto da Deidade, habitando um corpo composto de matéria animada pela
segunda emanação.
Num estágio ainda mais tardio o evento anterior se repete uma vez mais, e o Ego,
que havia animado tantas formas durante o período de uma cadeia inteira, se
torna ele mesmo o veículo, e é animado por sua vez pela Mônada agora
plenamente ativa e desperta. E aqui, como antes, nada jamais é perdido na
economia da natureza. Todas as múltiplas experiências do Ego, todas as
esplêndidas qualidades desenvolvidas em si, tudo isso passa à própria Mônada e
acham nela uma realização imensamente mais vasta do que mesmo o Ego lhes
poderia ter dado.
Parece que a Centelha como tal não pode em sua inteireza velar-se além de certa
medida; ela não pode descer além do que chamamos segundo plano, e continuar
preservando sua unidade. Uma dificuldade com que somos confrontados na
tentativa de formarmos quaisquer idéias sobre esse assunto é que, até agora,
nenhum de nós que investigamos é capaz de alçar sua consciência até este
segundo plano; na nomenclatura recentemente adotada lhe damos o nome de
Monádico porque é a morada da Mônada; mas nenhum de nós já foi capaz de
perceber aquela Mônada em sua própria morada, mas somente de vê-la quando
desceu um estágio para o plano ou nível ou mundo abaixo do seu próprio, no qual
ela se manifesta como o Espírito trino, que em nossos primeiros livros chamamos
de o Atma no homem. Mesmo assim ela é incompreensível, pois têm três aspectos
que são muito distintos e aparentemente separados, mesmo sendo
fundamentalmente uma e a mesma.
Tem sido descrito em outros livros como um destes três aspectos (ou seria mais
acertado dizer a Mônada em seu primeiro aspecto) não pode descer ou não desce
abaixo daquele nível espiritual; enquanto que em seu segundo aspecto realmente
desce na matéria do mundo imediatamente abaixo (o intuicional), e quando este
aspecto rodeou-se de matéria daquele nível o chamamos de divina sabedoria no
homem, ou intuição. Enquanto isso, o terceiro aspecto (ou antes a Mônada em
seu terceiro aspecto) desce também àquele plano intuicional e se reveste de sua
matéria, e adota uma forma à qual ainda não foi atribuído nenhum nome em nossa
literatura; mas ele também se move para adiante ou para baixo um estágio mais, e
se reveste da matéria do mundo mental superior, e então o conhecemos como
intelecto no homem. Quando esta manifestação tríplice nos três níveis assim tiver
se desenvolvido, e manifestar-se como Espírito, intuição e intelecto, nós lhe
damos o nome de Ego, e este Ego toma sobre si mesmo um veículo construído de
matéria do mais alto plano mental, ao qual damos o nome de corpo causal. Este
Ego assim funcionando em seu corpo causal tem sido freqüentemente chamado
em nossa literatura anterior de Eu Superior, e às vezes de Alma.
Nós vemos o Ego então como uma manifestação da Mônada no plano mental
superior; mas devemos entender que ele está infinitamente longe de ser uma
manifestação perfeita. Cada descida de plano para plano representa muito mais
que uma mera veladura do Espírito; significa além disso uma verdadeira
diminuição na proporção de Espírito que é expressa. Usar termos denotando
quantidade ao falarmos desses assuntos é inteiramente incorreto e ilusório;
mesmo se uma tentativa for feita de expressar estes elevados assuntos em
palavras humanas, estas incongruências de qualquer modo não podem ser
inteiramente evitadas; e o mais perto a que podemos chegar, no cérebro físico, de
uma concepção do que acontece quando a Mônada envolve a si mesma na
matéria do plano espiritual, é dizer que somente parte dela possivelmente será
vista lá, e que mesmo esta parte deve ser percebida sob três aspectos distintos,
em vez da gloriosa totalidade que ela é realmente em seu próprio mundo. Assim
quando o segundo aspecto do Espírito tríplice desce um estágio e se manifesta
como intuição, não é a inteireza daquele aspecto que ela assim manifesta, mas só
uma fração dele. E desse modo quando o terceiro aspecto desce dois planos e se
manifesta como intelecto, é apenas uma fração de uma fração do que o aspecto
intelecto da Mônada realmente é. Portanto o Ego não é uma manifestação velada
da Mônada, mas uma representação velada de uma diminuta parcela da Mônada.
Como acima, assim embaixo. Como o Ego está para a Mônada, assim a
personalidade está para o Ego. Assim, pela altura em que tivermos chegado na
personalidade com a qual temos de lidar no mundo físico, o fracionamento já
avançou tanto que a parte que somos capazes de ver não guarda nenhuma
proporção apreciável em relação à realidade que ela tão inadequadamente
representa. Pois é deste e com este fragmento ridiculamente inadequado que nós
estamos tentando compreender o todo! Nossa dificuldade em tentarmos entender
a Mônada é a mesma em espécie, mas muito maior em grau, do que aquela que
encontramos quando tentamos realmente captar a idéia do Ego. Nos primeiros
anos da Sociedade Teosófica houve muitas discussões sobre as relações entre o
eu inferior e o Eu Superior. Naqueles dias não entendíamos a doutrina tão bem
como a entendemos agora; não tínhamos a noção dela que prolongados estudos
nos deram. Estou falando de um grupo de estudantes na Europa, que tinham atrás
de si as tradições Cristãs, e as vagas idéias que o Cristianismo associa à palavra
‘alma’.
Tomando o Ego por enquanto como o homem real, e olhando para ele em seu
próprio plano, nós o vemos como um ser verdadeiramente glorioso; o único modo
pelo qual podemos aqui embaixo formar uma concepção do que ele realmente é –
é pensar nele como algum tipo de anjo esplêndido. Mas a expressão deste
formoso ser no plano físico pode ficar muito aquém disso; na verdade, é
obrigatório – primeiro, porque é apenas um minúsculo fragmento; e segundo,
porque assim ele é desesperadamente tolhido por suas circunstâncias. Suponha-
se que um homem coloque seu dedo dentro de um buraco na parede ou dentro de
um dedal, de modo que não pudesse sequer dobrá-lo; quanto de si mesmo como
um todo o homem poderia expressar através deste dedo em tais condições? Muito
semelhante é o destino deste fragmento de Ego que está mergulhado no corpo
denso. É um fragmento tão reduzido que não pode representar o todo; está tão
atado e impedido que não pode mesmo expressar o que é. A imagem é tosca, mas
pode dar algum tipo de idéia das relações da personalidade para com o Ego.
Vamos supor que o dedo tenha uma considerável proporção de consciência em si,
e então, sendo separado do corpo, temporariamente esqueça que é parte daquele
corpo; então ele esquece também a liberdade da vida mais ampla, e tenta
adaptar-se ao buraco, dourar suas paredes e fazê-lo um buraco agradável pela
aquisição de dinheiro, propriedades, fama e coisas assim – não percebendo que
só vai realmente começar a viver quando sair todo do buraco, e reconhecer-se
como parte do corpo. Quando, à noite, nos retiramos deste buraco pessoal e
vivemos em nossos corpos astrais, estamos muito menos limitados e muito mais
perto de nossos Eus verdadeiros, ainda que tenhamos ainda mais dois véus –
nossos corpos astral e mental - que nos impedem de sermos nós mesmos
plenamente e assim plenamente nos expressarmos. Ainda, sob essas condições
somos muito mais livres, e é muito mais fácil compreender as realidades; pois o
corpo físico é o mais embaraçador e confinante de todos, e impõe sobre nós as
maiores limitações.
Nos ajudaria muito se pudéssemos conceber nossas limitações uma por uma; mas
não é fácil. Perceba como no corpo astral podemos nos mover rapidamente
através do espaço – não instantaneamente, mas ainda rápido; pois em dois ou
três minutos poderíamos nos mover em torno do mundo. Mas mesmo então não
podemos chegar a lugar algum sem passar pelo espaço intermédio. Podemos
entrar em contato naquele nível com outros homens em seus corpos astrais.
Todos os seus sentimentos estão descobertos a nós, de modo que não podem nos
enganar sobre eles, ainda que o possam fazer a respeito de seus pensamentos.
Vemos naquele mundo muitos habitantes mais que na Terra – aqueles que
dizemos mortos, os espíritos da natureza mais evoluídos, os anjos do desejo, e
muitos outros. A visão daquele plano nos habilita a ver o interior de cada objeto, e
perscrutar o interior da Terra; assim de muitas maneiras nossa consciência é
grandemente expandida.
Os estudantes por vezes se admiram por que motivo, se isso é assim, as más
qualidades que um homem demonstra em uma vida devam tão freqüentemente
persistem em vidas posteriores. A razão é não só que porque a qualidade oposta
ainda não foi desenvolvida abre-se a oportunidade para más influências agirem
sobre o homem naquela direção particular, mas também que o homem carrega
consigo de vida para vida os átomos permanentes de seus veículos inferiores, e
estes tendem a reproduzir as qualidades expressas nas últimas encarnações.
Então, poderia ser perguntado: ‘Por que carregar estes átomos permanentes?’
Porque é necessário para a evolução; porque o homem desenvolvido deve ser
mestre de todos os planos. Se fosse concebível que pudesse desenvolver-se sem
esses átomos permanentes, ele poderia possivelmente se tornar um arcanjo
glorioso nos planos superiores, mas seria absolutamente inútil nestes mundos
inferiores, pois ele teria amputado de si o poder de sentir e de pensar. Assim não
devemos excluir os átomos permanentes, mas purificá-los.
A tarefa diante da maioria de nós no presente é perceber o Ego como o homem
verdadeiro, para que possamos deixá-lo trabalhar, em vez deste falso eu pessoal
com que tão prontamente nos identificamos. É tão fácil para nós sentir: ‘Estou
faminto; estou com ciúme’; quando a verdade é que o que nos empurra para a
fome e para o ciúme é meramente o elemental do desejo, que anseia por
vibrações rudes e fortes, que o ajudam em seu caminho descendente em direção
à matéria mais densa. Devemos perceber que o homem real jamais pode ser tão
tolo para desejar vibrações tais como essas – que ele jamais pode desejar
qualquer coisa além daquilo que seja bom para sua própria evolução, e de auxílio
para outros. Um homem diz que sente-se impelido pela paixão. Que pare e pense:
‘Isso sou eu realmente?’ E descobrirá que isso de modo algum é ele, mas alguma
outra coisa que está tentando dominá-lo e fazê-lo sentir-se assim. Ele tem o direito
e o dever de afirmar sua independência dessa coisa, e proclamar-se um homem
livre, tomando a rota da evolução que Deus assinalou para ele.
Ela jamais pode apartar-se de Deus, pois a própria matéria na qual vela a si
mesma também é uma manifestação do Divino. Para nós algumas vezes a
matéria parece ser má, porque nos carrega para baixo, embota nossas
faculdades, parece arrastar-nos para trás em nosso caminho; mas lembremo-nos
que é só porque ainda não aprendemos a controlá-la, porque ainda não
percebemos que ela também é divina em sua essência, porque não existe nada
exceto Deus. Um sábio Sufi uma vez me disse que a interpretação do grito que
diariamente ecoa no chamado do muezzin do alto do minarete sobre todo o
mundo de Maomé é esta: ‘Não há nenhum Deus além de Deus, e Maomé é o
profeta de Deus’. Ele me disse que em sua opinião o verdadeiro significado
místico da primeira parte deste brado é: ‘Não existe nada senão Deus’. E isso é
verdade eternamente; sabemos que todas as coisas vêm d’Ele, e que para Ele
todas um dia voltarão, mas achamos difícil perceber que tudo está n’Ele mesmo
agora, e que n’Ele permanece para sempre. Tudo é Deus – mesmo o elemental do
desejo, e as coisas que consideramos más, pois muitas ondas de vida emanam
d’Ele, e nem todas elas se movem na mesma direção.
Nós, sendo Mônadas, pertencendo a uma onda anterior, somos de certo modo
expressões mais completas d’Ele, um pouco mais perto d’Ele em nossas
consciências do que a essência da qual é feito o elemental do desejo. No curso de
nossa evolução há sempre o perigo de que o homem se identifique com o ponto
onde é mais plenamente consciente. A maior parte dos homens hoje está mais
consciente em seus sentimentos e paixões do que em qualquer outra coisa, e
disso o elemental do desejo engenhosamente tira partido, e tenta induzir o homem
a se identificar com esses desejos e emoções.
Assim quando o homem se eleva para um nível um pouco superior, e sua principal
atividade se torna mental, há o perigo de que possa identificar-se com a mente, e
é somente percebendo-se como Ego, e fazendo dele o ponto mais forte de sua
consciência, que pode identificar-se completamente com ele. Quando tiver feito
isso, terá atingido a meta de seus presentes esforços; mas imediatamente ele
deve começar a esforçar-se de novo naquele nível mais alto, e tentar
gradualmente perceber a verdade da asserção que fizemos no início, de que
assim como a personalidade está para o Ego, do mesmo modo o Ego está para a
Mônada. É inútil em nosso atual estágio tentarmos indicar os passos que ele
deverá dar a fim de realizar isso, ou os estados de consciência através dos quais
passará. Conceitos tais como os que podem ser formados sobre isso poderão ser
compreendidos aplicando-se a antiga regra de que o que jaz abaixo é apenas um
reflexo daquilo que existe nos mundos superiores, de maneira que os degraus e
estágios devem nalguma extensão ser uma repetição num nível mais alto
daqueles já experimentados em nossos esforços em níveis inferiores.
Podemos presumir reverentemente (ainda que aqui estejamos indo muito além de
nosso conhecimento real) que quando final e plenamente tivermos percebido que
a Mônada é o verdadeiro homem, encontremos atrás disso mais uma vez um
território mais avançado, mais pleno e mais glorioso; descobriremos que a
Centelha jamais esteve separada do Fogo, mas assim como o Ego permanece por
trás da personalidade, assim como a Mônada permanece por trás do Ego, assim a
própria Deidade Solar permanece por trás da Mônada. Talvez, ainda mais adiante,
possa acontecer que de um modo infinitamente mais excelso, no presente de todo
incompreensível, uma Deidade maior permaneça atrás da Deidade Solar, e além
mesmo daquela, através de muitos estágios, lá deva permanecer o Supremo
acima de tudo. Mas aqui até mesmo o pensamento nos falha, e o silêncio é a
única verdadeira reverência.
Por enquanto, pelo menos, a Mônada é nosso Deus pessoal, o Deus interno em
nós, aquele que nos põe aqui embaixo como manifestações dele em todos estes
níveis, infinitamente inferiores. O que seja sua consciência em seu próprio plano
não pretendemos dizer, nem O podemos entender plenamente quando colocou
sobre si o primeiro véu e se tornou o trino Espírito. O único modo de entender
estas coisas é alçando-nos a seus níveis e unificando-nos a elas. Quando
fizermos isso compreenderemos, mas mesmo então seremos totalmente inábeis
para explicar para quem quer que seja o que sabemos. É neste estágio, o estágio
de Espírito tríplice, que pela primeira vez podemos ver a Mônada, e ela será aqui
uma luz tripla de glória ofuscante, mas possuindo mesmo naquele estágio certas
qualidades pelas quais uma Mônada difere um tanto da outra.
Pois a Voz do Silêncio não é sempre a mesma, mas muda à medida que nos
desenvolvemos; ou talvez seria melhor dizermos que de fato é sempre a mesma,
a voz de Deus, mas ela nos vem em diferentes níveis à medida que nos elevamos.
Para nós hoje é a voz do Ego, falando à personalidade; logo será a voz da
Mônada, falando ao Ego; mais tarde ainda será a voz da Deidade, falando à
Mônada. Provavelmente entre estes dois últimos estágios possa existir um
intermediário, na qual a voz de um dos sete grandes Ministros da Deidade possa
falar à Mônada, e então por sua vez a própria Deidade possa falar a Seu Ministro;
mas sempre a Voz do Silêncio é essencialmente divina.
É bom que aprendamos a distinguir esta voz – esta voz que fala de cima e mesmo
assim de dentro; pois algumas vezes outras vozes falam, e seu conselho nem
sempre é sábio. Um médium descobre isso, pois se não treinou-se para distinguir,
amiúde pensa que toda voz vinda do plano astral deve necessariamente ser
divina, e portanto ser seguida sem questionamentos. Portanto, a discriminação é
necessária, tanto como a prontidão e a obediência.
No caso do homem comum, a Mônada faz alguma vez qualquer coisa que afete
ou possa afetar sua personalidade aqui embaixo? Penso que podemos dizer que
tal interferência é muitíssimo incomum. O Ego está tentando, em nome da
Mônada, obter perfeito controle da personalidade e usá-la como um instrumento; e
porque este objetivo ainda não foi plenamente conseguido, a Mônada pode bem
sentir que não é chegado o tempo de ela interferir a partir de seu próprio nível, e
trazer toda a sua força para baixo, quando a força que já está em ação é mais do
que suficiente para os propósitos desejados. Mas quando o Ego já está
começando a ser bem sucedido em seu esforço de administrar seus veículos
inferiores, o homem real por trás às vezes intervém.
No curso de várias investigações calhou-nos examinar alguns milhares de seres
humanos; e encontramos traços dessa interferência apenas em uns poucos. O
exemplo mais impressionante foi encontrado na vigésima nona vida de Alcyone,
quando ele comprometeu-se perante o Senhor Gautama a devotar-se em futuras
vidas à obtenção do Budado a fim de auxiliar a humanidade. Aquilo pareceu-nos
então ser uma questão de tal importância, e também de tal interesse, que nós nos
demos ao trabalho de investigá-la. Esta foi uma promessa para o futuro longínquo,
pois obviamente a personalidade através da qual foi feita não poderia de modo
algum mantê-la; e quando averiguamos a parte que o Ego tomara nisso,
descobrimos que ele mesmo, ainda que cheio de entusiasmo pela idéia, estava
sendo impelido a isso por uma força mais poderosa vinda de dentro, à qual ele
não poderia ter resistido, mesmo que o tivesse desejado. Seguindo esta pista mais
adiante, descobrimos que a força propulsora proveio indubitavelmente da Mônada.
Ela havia decidido, e o Ego havia registrado sua decisão; sua vontade, agindo
através do Ego, claramente não terá dificuldade de fazer todas as personalidades
futuras se adequarem.
Que ninguém pense, por isso ser assim, que é compelido de fora a fazer isso ou
aquilo; a força impulsionante é o seu Eu verdadeiro; ninguém além de você
mesmo pode retê-lo em qualquer estágio de seu crescimento. E quando a Mônada
decide, a coisa será feita; seria bom para a personalidade se ela submeter-se
pronta e graciosamente, se reconhecer a voz de cima, e cooperar alegremente;
pois se assim não fizer, atrairá sobre si muito sofrimento inútil. É sempre o próprio
homem que está fazendo isso; e ele, na personalidade, tem de perceber que o
Ego é ele mesmo, e ele tem agora de tomar como garantido que a Mônada é mais
ainda ele mesmo – a expressão final e maior de si mesmo.