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FACULDADE DE TEOLOGIA
ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM TEOLOGIA
Agnese Costalunga.
Roberto Almeida da Paz.
São Paulo
Novembro de 2012.
1
SUMÁRIO
SUMÁRIO.............................................................................................................................................2
Introdução..........................................................................................................................................3
1. Novas dimensões da soteriologia da cruz.......................................................................................3
a) Estrutura e efeitos da soteriologia da cruz.................................................................................4
b) Mistificação da passio, difamação da actio...............................................................................5
2. Práxis escatológica e messiânica de Jesus......................................................................................6
a) A vida de Jesus não é apenas o prelúdio da sua paixão.............................................................6
b) Práxis vital dentro do horizonte do senhorio de Deus................................................................6
c) Jesus como pessoa messiânica...................................................................................................7
d) Paixão latente e manifesta.........................................................................................................8
3. Caráter político do agir de Jesus.....................................................................................................8
a) A diferença hermenêutica: salvação “política” no NT?.............................................................8
b) O lugar político de Jesus............................................................................................................9
4. A morte na cruz como radicalização da práxis de vida de Jesus...................................................10
a) A paixão como consequência do modo de vida de Jesus..........................................................10
b) Um novo modo de interpretar a “obediência” e o “amor”......................................................11
5. A morte de Jesus como solidariedade e representação..................................................................11
a) Solidariedade mitológica e representação religiosa.................................................................12
b) Solidariedade integral no sofrimento.......................................................................................12
c) Memória da paixão...................................................................................................................13
d) A história de paixão de Deus....................................................................................................14
6. A ressurreição de Jesus como antecipação atual da vitória sobre a morte.....................................15
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................................17
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WIEDERKEHR, Dietrich. O evento da salvação à luz da experiência da
salvação1.
Introdução.
Observação: A sequência desta síntese está em sintonia com a sequência dos diferentes
artigos e autores do livro citado.
“O tipo oriental interessa-se mais pela encarnação, pela divinização ontológica que a
caduca natureza humana conhece por mérito da natureza divina e encarnada do
Lógos”.
1
In. Karl NEUFELD (Org.). Problemas e perspectivas de Teologia Dogmática; tradução José Maria de Almeida.
São Paulo: Loyola, 1993, p. 141-160 (Título original: Problemi e prospettive di Teologia Dogmática. Brescia:
Editrice Queriniana, 1983).
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a) Estrutura e efeitos da soteriologia da cruz.
“Essa última impostação sempre foi menos influente, na medida em que a infinita
dignidade da morte na cruz funda-se certamente na dignidade divina de Cristo – esta,
porém, entendida num sentido não tanto ontológico-natural quanto jurídico. Ao
evidenciar as recentes posições soteriológicas pode-se, portanto, prescindir desse
segundo tipo, embora isso não signifique também prescindir do problema cristológico
que ele encerra”.
Nesta teologia, a actio e a passio da morte não derivam, de um movimento dramático da vida
de Jesus, da sua pregação e da hostilidade com que foi rejeitado. Trata-se de ação e paixão
(actio e passio) desligadas das relações e acontecimentos, vistos na profunda doação histórica
de Jesus.
As circunstâncias externas da rejeição e da hostilidade que Jesus sofreu assumem
quase que um caráter ocasional em relação ao fato dominante da sua obediência e da sua
doação sacrificial.
Nota-se que:
Onde mais frequentemente a divindade de Cristo era a tal ponto acentuada, a morte na
cruz perdia toda misteriosidade e obscuridade, não exigindo qualquer justificação. Esse modo
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de considerar a morte na cruz produziu seus efeitos também no modo de entender o nexo que
liga a pessoa de Jesus à história do Gênero humana em sua complexidade social e histórica.
À categoria jurídica da satisfação bastava uma união jurídica entre todos os homens;
os débitos que o homem havia contraído com o casal original só podiam vir a ser saldados
com a morte na cruz, a única em condição de reparar as ofensas à honra infinita de Deus. Esse
“endividamento” do gênero humano se estendia como uma segunda rede, como uma abstrata
meta-história sobre a efetiva e complexa trama da história individual e social de liberdade e
culpa.
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2. Práxis escatológica e messiânica de Jesus.
Embora a grande tradição tenha sempre conservado a lembrança dos mistérios da vida
de Jesus, os manuais de dogmática não os captaram no amplo arco que vai da encarnação à
morte na cruz.
Sempre se falou dos milagres de Jesus, das suas tentações e preces (muito raramente
das suas tentações e preces), porém, sobretudo como provas – isoladas do contexto concreto –
da sua dignidade e poder humano-divinos, e menos como gestos extremamente concretos a
serem interpretados em seu caráter de aproximação amável e libertadora de Deus em Jesus
Cristo, de realização ativa dos seus propósitos de redenção, como sinais do reino de Deus que
está por vir.
O mistério messiânico da pessoa de Jesus não é tematicamente manifesto como tal,
mas se torna pelo fato de que Jesus anuncia com plena autoridade e realiza no presente
(através de sinais) o senhorio escatológico de Deus que vem. E é precisamente nesses sinais
que ele se revela no seu ministério messiânico e cristológico.
Desta maneira se invertem também as posições da soteriologia tradicional: esta ilustrava a
ação redentora de Jesus após ter ilustrado sua natureza e pessoa humano-divino; agora é a
ação escatológica da salvação que nos revela a pessoa de Jesus. O dado cristológico não é
mais pressuposto, ele está implicado na soteriologia e prática de Jesus.
O resultado efetivo da vida de Jesus influenciou de tal modo a tradição que levou à
progressiva reinterpretação de outras categorias mais positivas. Um aceno nesse sentido nos
vem da própria tradição dos evangelhos, que insere em muitas falas e fatos da vida de Jesus
um tom dramático e conflitivo não existentes originalmente. “Histórias de paixão com longa
introdução”: era um princípio que inspirava não apenas a obra redacional da tradição de Jesus,
mas também a perspectiva cristológica e soteriológica dentro da qual se captava a vida de
Jesus.
- Devemos, ao invés, descobrir os atos vitais que Jesus realizou, despojando-os de suas
incrustações, mas não os interpretando logo à luz da morte nem sacrificando o significado que
deriva de uma situação imanente à vida histórica. Em tal interpretação, as diversas e simples
unidades da tradição de Jesus mantêm a própria autonomia pré-redacional, não são inseridas
ainda num quadro que (como nos sinóticos) nos delineia o conjunto da vida de Jesus. Desse
modo, desenvolveremos também uma nova interpretação soteriológica.
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d) Paixão latente e manifesta.
O nexo entre vida e morte de Jesus torna-se também uma consequência lógica de um
certo itinerário histórico: falando e agindo (com máxima autoridade) a serviço da salvação
que se realiza no presente. Jesus revela o mistério que envolve a sua pessoa realizando a sua
atividade de salvação, e, portanto a rejeição e a crucificação final dirigem-se a ambas: à sua
obra e à sua pessoa.
Esse motivo unitário permite e exige que a partir da práxis ativa de Jesus se
compreenda também a paixão e morte na cruz de maneira diferente da então doutrina da
satisfação não comprometida com a história.
Para os adversários de Jesus, como para Jesus mesmo, o motivo da morte na cruz não
podia ser outro senão a práxis desenvolvida à luz do anúncio e ativamente concretizada na
cura dos homens: o motivo, antes latente, agora se torna manifesto.
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quando se compreende a colocação política efetiva de Jesus, dos seus discípulos e da primeira
comunidade cristã, recorrendo-se a outros conceitos, em geral mais concretos do que os que
hoje nos são oferecidos pelos conceitos gerais e abstratos da ética política dos tempos
modernos”.
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de uma nova sociedade, de maneira prática e concreta. É uma contestação de fundo à
velha ordem e de proposta de uma nova.
Dado que tais gestos significativos provocam e coagulam também o dissenso em
relação a Jesus, e dado que a perseverança demonstrada por ele em seguir esse
caminho o levará à cruz, devemos estender a mesma dimensão política também à
interpretação da morte na cruz, intimamente ligada à práxis de vida de Jesus.
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Persistir nessa direção significa manter-se obediente a Deus e garantir o seu amor
pelos seres humanos. Ele não muda seus sentimentos nem quando se aproxima a sombra da
cruz: Jesus é crucificado (passio) justamente por esse modo persistente de pensar e agir, que
constitui também o motivo da sua aceitação (actio) da morte na cruz.
O que justifica sua ação de vida é radicalmente afirmado também na paixão e morte.
E esse é o conteúdo do seu livre morrer, como vice-versa, sua morte na cruz exprime um
modo de sentir e de viver que não conhece cessões.
De fato, Jesus morre pelo mesmo motivo pelo qual viveu.
A partir dessa compreensão elimina-se o equívoco de que a cruz permitiria, ou antes,
imporia aos seres humanos de suportar passivamente o sofrimento. Ela é, no entanto, o sinal
de um novo significado a ser assumido pela paixão. Igualmente, essa cruz não pode justificar
nossa inatividade atual, em favor de uma redenção futura, pois Jesus foi crucificado
justamente por sua ativa “impaciência”, visto ter querido eliminar hoje (no dia de sábado e
não nos outros dias da semana) o sofrimento que poderia ser eliminado amanhã.
Essa atividade salvífica de Jesus deve ser buscada na vontade divina que agora se
afirma no mundo com o reino de Deus e diante da qual Ele se situa e vive, no espírito da sua
vocação e em obediência. “Obediência” (ob-audire), aqui, não tem o significado de atitude
passiva, tampouco é uma categoria predominantemente cultual, mas deduz (tirar) seu
conteúdo do modo de agir de Jesus, o qual se insere no movimento desse amor divino, que lhe
permite atingir todos os seres humanos com seu poder salvífico. Infere-se disso, que a
atividade de Jesus brota “do amor” e se “destina a todos os humanos”.
Faz-se azado – aliás, imprescindível – que as interpretações abreviadas do Novo
Testamento e da Tradição fossem analisadas considerando seu contexto originário, e que seu
perigoso vazio de significado fosse preenchido com a situação salvífica concreta.
E isso tem valor não só para as situações individuais e perceptíveis sob o signo da
salvação e da não-salvação. Ora, se também a situação neotestamentária está, amiúde,
impregnada de políticas, devemos estender a esse contexto também os sentimentos de Jesus
em relação à vida e à morte. Curiosamente é nos conflitos que se vê que o modo
aparentemente privado e apolítico de Jesus se aproximar dos homens e dá origem a uma
oposição nada “privada”, por parte da instituição da “lei”. Porém, se é nos conflitos – que
depois alcançam seu ápice na morte de cruz e na disponibilidade de Jesus de aceitá-la –
devemos também convir que o motivo da obediência e do amor transcende sempre essas
complexas dimensões. A própria teologia neotestamentária da cruz, e não apenas a análise
sociológica moderna, enquadra-se num contexto político.
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libertação2. A esse respeito um horizonte histórico e humano mais amplo, assume um papel
importante, porque é o único capaz de garantir, de maneira sempre renovada, a necessária
coextensão entre fé e experiência do mundo. Porém, o que significaria “solidariedade” e
“representação”?
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Cf. Massimo GRILLI. Croce e discepolato in Marco (Apostila). Roma: PUG, 2004-2005.
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gerações do povo hebreu. A história da arte mostra claramente o nexo existente entre a
imagem da paixão e as experiências de sofrimento dos cristãos.
As novas categorias utilizadas para exprimir a salvação e a desventura humana levam
em conta essa solidariedade. Como a paixão de Jesus não é produzida e sofrida apenas como
paixão individual ou ato moral isolado, mas vista sempre no interior dos conflitos estruturais
e institucionais do tempo, mutatis mutandi, aqueles que hoje sofrem não são mais
considerados simplesmente como destinos individuais, nem só como vítimas da injustiça de
um sistema econômico, social ou militar. A “teologia política” possibilita hoje, uma melhor
compreensão de figuras mitológicas tradicionais: da escravidão, da morte, da sujeição às
potências demoníacas etc., que espelham a complexidade do mal, do sofrimento e da culpa
muito melhor do que uma redução de tipo individualista e demitizante.
Mister se faz uma teologia da cruz hodierna diferente daquela que alhures se
propunha uma solidariedade passiva no sofrimento. A tentativa de debelar o sofrimento dos
oprimidos repropôs e favoreceu uma espiritualidade centrada na cruz em que o Crucificado
não é somente aquele que sofreu e que devia sucumbir à violência.
A solidariedade proposta hoje é uma solidariedade na experiência da paixão e no
esforço incessante para identificar as causas do sofrimento e vencê-las, para desmascarar as
estruturas injustas e eliminá-las: nessa solidariedade dilatada, hoje, sob “o sinal-da-cruz”,
não apenas se sofre, mas também se luta contra a dor.
Com certa clareza também a dimensão religiosa é mais tematizada, mesmo quando a
paixão de Cristo e a dos homens não são postas em explícita relação com Deus. Nem sempre
é possível que essa relação com Deus tenha a mesma clareza que tem nas categorias
encontradas na tradição (Filho de Deus, doação sacrifical a Deus etc.). Pode expressar-se
também no fato de que Deus se identifica com o Cristo crucificado e com os homens
sofredores, no fato de que ele se apropria da causa destes, que não se esquece deles, não os
abandona às potências arbitrárias da história.
Outrossim, uma solidariedade concreta que se manifesta no fato de que a opção pelos
pobres, pelos oprimidos e pelas vítimas, não exclui os opressores e exploradores. Porém,
significa que a responsabilidade e o dever de eliminar as injustiças estruturais, não se limita a
um discurso de reconciliação, de culpa generalizada e da necessidade de perdoar
simplesmente, mas que ao se referir à paixão de Cristo não se pode olvidar da abertura que
ela demonstra em relação aos pecadores e opressores.
Contudo essa atitude exige uma grande coragem política, uma enorme paciência,
como muitas vezes se viu, ultimamente, nos variegados contextos políticos, quando
movimentos que lutaram pela liberdade e pela independência empenharam-se na busca de
acordo e reconciliação, após ter vencido e derrotado a ordem anterior baseada na injustiça
(cf. Nelson Mandela: apartheid etc.).
c) Memória da paixão.
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A correção teológica da teologia pascal da esperança com a temática da cruz se fazia
necessária. Surgiram-se, no interior da sociedade secularizada, vozes discordantes do
otimismo quanto ao futuro, vaticinando seu fim.
A permanente negatividade da vida humana, da culpa, do fracasso e da morte,
impunha que esse imenso arco projetado para o futuro fosse corrigido. Para desenvolver essa
obra chegou-se a uma nova teologia da cruz, que agora delineava não somente a figura da
cruz de Cristo, mas a de cada ser humano, como sinal de seus fracassos, impotências etc.
No campo cristológico a teologia da ressurreição e da esperança não mais prescindiu
da cruz de Jesus, de sua morte e da conclusão de seu itinerário de vida. Também a história da
humanidade deverá ser escrita com a mais amplitude de seu alcance, e não a apenas
considerando seus sucessos e vitórias.
A memória da paixão e do sofrimento de Cristo na cruz, como os sofrimentos de
tantos homens e grupos desconhecidos solidificam-se na memória litúrgica da morte e
ressurreição, do sofrimento e de glória. Com efeito, a paixão de Cristo assume seu caráter de
representação, eleva-se como protesto contra o sofrimento de todos os que não participam do
progresso, ou que sucumbem na tentativa de melhorar o mundo e a sociedade (ou a Igreja).
Somente considerando essas histórias desconhecidas – ainda não narradas – é que se
contará corretamente a história da paixão de Cristo e a memória litúrgica deixará de ser um
vazio ritual.
Desta sorte, a fé e a esperança cristãs mantém vivas as expectativas, os direitos e
anseios dos seres humanos, em relação a todos os que almejam ser responsáveis pela história
passada e que pretendem construir a futura.
Não se pode extrair simplesmente, o espinho do sofrimento passado, devendo ficar
plantado na carne de uma sociedade aberta ao progresso e no triunfo dos vencedores; se
necessário for, ele deve penetrar ainda mais profundamente. Ademais, até onde chega essa
memória universal dos sofrimentos deve-se estender também o testemunho que nasce da
promessa pascal, visto que essa esperança liberta o cristão e lhe impõe o dever de manter vivo
e visível esse sofrimento, nas suas articulações. Aqui se manifesta uma realidade carregada de
símbolos tradicionais, da solidariedade, representação e memória.
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Deus que concretamente se manifestou em Jesus, na sua vulnerabilidade e paixão (cf. AT), em
que porém a imagem bíblica de Deus assume progressivamente traços típicos da teodicéia
estóica, de um Deus protótipo do homem sábio e maduro, que permanece imutável,
impassível (a “apatia”) diante de todos os movimentos e transformações verificadas na esfera
do modo humano de sentir.
Longamente essa transposição de um Deus indiferente para a doutrina dogmática da
união hipostática da natureza humana e natureza divina em Jesus condicionará também o
modo de interpretar a paixão de Cristo. Entretanto, a passagem de uma teodicéia bem precisa
para uma cristologia e soteriologia apenas toleradas só em parte permitiu certas correções que
o testemunho bíblico concreto está em condição de sustentar, dada a presença constante do
filtro dos preconceitos religiosos, teológicos e filosóficos.
As vetustas posições viram-se superadas à medida que se acentuava a distância da
teologia recente da tradição dogmática. Via-se a impossibilidade de mascarar as consquências
derivadas para uma efetiva solidariedade de Jesus com os seres humanos, interpretada pela
piedosa atenuação do sofrimento em Cristo e em Deus. Veio a lume o risco de considerar a
paixão de Jesus apenas como fato externo, escondendo sua profunda incomunicabilidade
interior com os humanos. O mais importante é que também muda-se a ordem de reflexão: não
é apenas um determinado conceito de Deus que determinará o que se deve manter do
testemunho bíblico sobre a paixão; mas a imagem do Deus cristão e a teodicéia cristã deverão
tomar como ponto de partida o modo como Jesus conheceu sua paixão. E igualmente, não é a
natureza divina que determina o grau de solidariedade humana de Jesus, mas é Deus mesmo a
nos impor um novo modo de pensar e de sofrer, um Deus agora entendido como o Deus da
paixão de Jesus e como o Deus na paixão do Filho.
Assim, os teólogos (católicos e protestantes) ao refletir sobre a realidade da cruz,
ultrapassam a antiga soleira da “apatia” de Deus. Eles O veem decididamente envolvido no
sofrimento de Cristo e, portanto, mais próximo dos homens que sofrem.
Consequentemente, as teologias da cruz e trinitária superam e transpõem o rígido
mutismo em que se encontravam e se abrem uma para a outra. O amor intradivino de Deus
pelo Filho eterno desce até o degrau final da humilhação da morte, numa alienação que
envolve Deus mesmo: Nele é preenchida a distância que d’Ele nos separa, na morte.
Várias tensões são superadas, referentes à analogia que reconhecia entre perfeição
divina e humana. Não somente onde subsiste uma semelhança entre realidades finita e
infinita, mas também onde não se reconhece qualquer aproximação desse tipo, mesmo aí
pode-se esperar no “Deus crucificado” (Jürgen Moltmann), que não pode permanecer
aprisionado.
Essa é a única figura de Deus capaz de sobrepor-se às negações da história da
humanidade de vencê-las.
Fica claro, que “theologia crucis” – mesmo que “mitigada”, se comparada à teologia
dialética de Karl Barth – conserva sua própria legitimação e encontra uma nova e concreta
confirmação quando reflete sobre o tema “Deus”. Então, a teodicéia teológica principia a se
tornar cristã.
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configuração da parte de Deus. A reabilitação do Crucificado dilata-se até onde se estende
a sua própria atividade, até assumir um significado não mais exclusivamente privado ou
religioso, mas também mundano, histórico e político.
Na soteriologia pascal se põe em forte evidência o momento negativo do começo: só
uma soteriologia fundada na ressurreição está em condições de conservar, tanto em
Jesus como no homem, o ponto negativo do começo, de conservar a própria
credibilidade e de manter-se aberta ao futuro.
Analogamente a outras situações da vida de Jesus, abertas à “soteria” do mundo,
também a ressurreição é interpretada não apenas como evento cristologicamente
significativo, mas inserida nas aplicações e efeitos dinâmicos e práticos.
ALGUMAS CONCLUSÕES:
As novas tentativas de aprofundar e interpretar a obra de redenção partem das
dimensões comuns e intimamente ligadas da fé, esperança e caridade.
As experiências humanas de salvação e de desgraça revestem toda a nossa realidade
psico-física e não permitem uma cisão dualista entre corpo e alma, e nem uma redução
unilateral à salvação física ou espiritual.
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Ao aprofundar esta realidade, a nova soteriologia acentua a dimensão social, que não
se acrescenta num segundo tempo às experiências e práxis individuais e
socioprimárias, mas que acompanha sempre a realidade humana.
Outra característica dessa soteriologia é o fato de que tanto na pessoa de Jesus como
no atual testemunho de salvação se insiste nas possibilidades intra-históricas de chegar
a um cumprimento escatológico e transcendente, sem que com isso se restrinja o
horizonte da salvação escatológica: o Reino de Deus permanece, também para Jesus,
sendo uma realidade que ainda espera a sua plenitude.
Neste tempo histórico somos chamados e responsabilizados em inserir e viver em
nossa própria vida de fé, de esperança e de caridade as atividades, a práxis e as
exortações ético-salvíficas de Jesus.
O que nos permite captar sempre e novos aspectos a redenção operada por Deus em
Jesus Cristo são as experiências de infelicidade e as expectativas e tentativas de
salvação que de vez em quando fazemos; mas é também verdade que o mistério da
redenção em Jesus Cristo critica e modifica essas nossas expectativas e tentativas
humanas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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