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Macroeconomia
5ªED1ÇÃO

N. Gregory Mankiw
Harvard University

Tradutor

A. B. Pinheiro de Lemos

Revisor Técnico
Leonardo Weller
Mestre em Economia pelo
Instituto de Economia da UFRJ

FGV-SP / BIBLIOTECA
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csi 1200600675

LTC
EDITORA
No interesse de difusão da cultura e do conhecimento. os autores e os editores envidaram o
máximo esforço para localizar os detentores dos direitos autorais de qualquer material
utilizado, dispondo-se a possíveis acertos posteriores caso. inadvertidamente, a identificação
de algum deles tenha sido omitida.

Capa: Lissí Sigíllo/Barbara Reingold. -·-·-----------


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Reproduzida com permissão da Worth Pub!isher.
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MACROECONOMICS. Fifth Edition itl:i1Uc.i (


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First published in the United States


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by

WORTH PUBUSHERS, New York and Basigstoke

Copyright© 2003, 2000. 1997. 1994, 1992 by Worth Publishers

All Rights Reserved

Publicado originalmente nos Estados Unidos

por

WORTH PUBUSHERS, New York and Basigstoke

Copyright© 2003. 2000, 1997. 1994. 1992 by Worth Publishers

Todos os Direitos Reservados

Direitos exclusivos para a língua portuguesa


Copyright © 2004 by
LTC - Livros Técnicos e Científicos Editora S.A.
Travessa do Ouvidor, l l
Rio de Janeiro, RJ - CEP 20040-040
Tel.: 21-2221-9621
Fax: 21-2221-3202

Reservados todos os direitos. É proibida a duplicação


ou reprodução deste volume. no todo ou em parte,
sob quaisquer formas ou por quaisquer meios
(eletrônico. mecânico. gravação. fotocópia,
distribuição na Web ou outros),
sem permissão expressa da Editora.
sumario
,, .

Prefacio xvii O Preço de uma Cesta de Bens 21


O IPC versu,s o Oeflator do PIB 21
parte 1 .,. ESTUDO DE CASO O IPC Sobrestima a Inflação! 23
INTRODUÇÃO 2,3 Medindo a Falta de Emprego: A Taxa de
Desemprego 23
Capítulo 1 A MACROECONOMIA COMO CltNCIA 3 ... ESTUDO DE CASO Desemprego, PIB e Lei de Okun 24

1-1 O que os Macroeconomista.s Estudam 3 2-4 Conclusão: De Estatísticas Econômicas a Modelos


• ESTUDO DE CASO O Desempenho Hisrôrico da Economia Econômicos 25
dos Escadas Unidos 4
1-2 Como os Economistas Pensam 6 parte 2
Teoria como Construção de Modelo 6
TEORIA CLÁSSICA: A ECONOMIA NO
.,. SAIBA MAIS O Uso de Funções para Expressar Relações
entre Variá()eis 9 LONGO PRAZO
Uma Multitude de Modelos 7 Capítulo 3 RENDA NACIONAL: DE ONDE VEM E
Preços Flexíveis ()eTSU.S Preços Rígidos 8 /<' PARA ONDE V AI 31
Pensamento Microeconômico e Modelos
3,1 O que Determina a Produção Total de Bens e
Macroeconômicos 9
Serviços? 32
1.J Como este Livro É De5envolvido 10
Os Fatores de Produção 32
Capítulo Z Os DADOS DA MACROECONOMIA 12 A Função de Produção 32
A Ofena de Bens e Serviços 33
2-1 Medindo o Valor da Atividade Econômica: Produto
'1 Interno Bruto 12 3,2 Como a Renda Nacional É Distribuída entre os Fatores
Renda, Gasto e o Fluxo Circular B de Produção? 33
.,. SAIBA MAIS Estoques e F!UXDs 14
Preços de Fator 33
Regras para o Cálculo do PIB 14 As Decisões da Empresa Competitiva 33
A Soma de Maçãs e Laranjas 14 A Demanda por Fatores da Empresa 34
Bens Usados 18 O Produto Marginal do Trabalho 35
O Tratamento de Estoques 15 Do Produto Marginal do Trabalho â Demanda por
Trabalho 35
Bens Intermediários e Valor Adicionado IS
Serviços Habitacionais e Outras Imputações 15 O Produto Marginal ror Capital e a Demanda por
PIB Real l•ersus PIB Nominal 16 Capital 36
O Deflator do PIB 16 A Divisão da Renda Nacional 37
Medidas Ponderadas em Cadeia do PIB Real 17 ... ESTIJOO DE CASO A Peste Negra e os Preços de Fatores 37

,.. SAIBA MAIS Dois Recursos Aritméticos para Lidar com J.J O que Determina a Demanda por Bens e Semços? 38
Mudanças Percentuais 17 Consumo38
Os Componentes da Despesa 18 Investimento 38
,.. SAIBA MAIS O que .É Investimento? 1.8 Compras do Governo 39
,.. ESTUDO DE CASO PIB e Seus Componentes 19 ... SAIBA MAIS As Diversas T axa.s de Juros 40
Outras Medidas de Renda 19 3-4 O que Leva a Oferta e a Demanda por Bens e Serviços
... ESTUDO DE CASO O CidoSazonal e Ajuste Sazonal 20 ao Equih'brio? 41
2-2 Medindo o Custo de Vida: O Índice de Preços ao Equilíbrio no Mercado de Bens e S~rviços: A Oferta e a
Consumidor 21 Demanda da Produção da Economia 41
ifº

X SUMÁRIO

Equilíbrio nos Mercados Fínanceíros: A Oferta e a Demanda ,.. ESTUDO DE CASO O Movimento da Pmw Liwe, a Eleição
de Fundos Emprestáveis 41 de 1896 e o Mágico de Oz 68
Mudanças na Poupança: Os Efeitos da Política Fiscal 43 Um Benefício da Inflação 68
Um Aumento das Compras do Governo 43 ,.. SAIBA MAIS Keynes (e Lênin) sobre o Custo da Inflação 69
,.. ESTUDO DE CASO Guerrru e Taxas de Juros na Inglaterra, 4• 7 Híperinílação 69
1730-1920 43 Os Custos da Hiperinílação 69
Uma Redução nos Impostos 45 ,.. ESTUDO DE CASO A Vida durante a Hiperinflação
Mudanças na Demanda por Investimento 45 Boliviana 70
,.. 'SAIBA MAlS O Problema da IdentificOfào 46 As Causas da Hiperintlação 71
3-S Conclusão 47 ... ESTUDO DE CASO Hiperinf/ação na Alemanha do
Apêndice: A Função de Produção Cobb-Douglas 50 Entre-Guerrru 71
4•8 Conclusão: A Dicotomia Clássica 7 2
Capitulo 4 MOEDA E INFLAÇÃO 53 Apêndice: O Modelo Cagan: Como a Moeda Corrente
4,1 O que É Moeda? 53 e Futura Afeta o Nível de Preços 75
As Funções da Moeda 54
Capítulo 5 A EcONOMIA ABERTA 77
Os Tipos de Moeda 54
,.. ESTUDO DE CASO Moeda em um Campo de Prisioneiros de
5,1 Os Fluxos IntemaciQnais de Capital e Bem 77
Guerra 54 O Papel das Exportações Líquidas 77
Como a Moeda Fiduciária Evolui 55 Fluxos de Capim\ Internacionais e a Balança Comercial 78
,.. ESTUDO DE CASO Moeda e Convenções Sociais na ilha de Fluxos Internacionais de Bens e Capital: Um
,.. SAIBA MAIS
Yap55 Exemp!o 80
Como a Quantidade de Moeda É Controlada 55 5,Z Poupança e Investimento em uma Economia Aberta
Pequena 80
Como a Quantidade de Moeda É Medida 56
Mobilidade de Capim! e a Taxa de Juros Mundial 80
4,2 A Teoria Quantitativa da Moeda 57
O Modelo 81
Transações e a Equação Quantitativa 57
Como as Políticas Econômicas Influenciam a Balança
Das Transações à Renda 57 Comercial 81
A Função de Demanda por Moeda e a Eq,ração Política Fiscal Interna 82
Quancitativa 57 Política Fiscal Externa 82
O Pressuposto de Velocidade Constante, 58 Mudanças na Demanda por Investimento 83
Moeda. Preços e Inflação 58 Avaliando a Política Econômica 83
,.. ESTUDO DE CASO lnflOfão e Expansão Monetária 59 ,.. ESTIJDO DE CASO O Défieii Comercial dos Estados
4,3 Senhoriagem: A Receita da Emissão de Moeda 60 Unidos 84
• ESTUDO DE CASO Pagando a Remlução Americana 61 5,3 Taxas de Câmbio 86
4,4 Inflação e Taxas de Juros 61 Taxas de Câmbio Nominal e Real 86
Duas Taxas de Juros: Real e Nominal 61 A Taxas de Câmbio Nominal 86
O Efeito Fisher 61 .. SAIBA MAIS Como os Jornais Informam a Taxa de
,.. ESTUDO DE CASO Taxa de Infl.ação e Taxa de Juros Câmbio 87
Nomina/62 A Taxa de Câmbio Real 86
Duas Taxas de Juros Reais: E.x Ante e Ex Post 63 A Taxa de Câmbio Real e a Balança Comercial 86
,.. ESTUDO DE CASO Taxa de Juros Nominat no Séwlo XIX 63 Os Determinantes Ja Taxa de Câmbio Real 88
4,S A Taxa de Juros Nominal e a Demanda por Como as Políticas Econômicas lnílut>nciam a Taxa de
Moeda 64 Câmbio Reiil 88
O Custo de Rerer Moeda 64 Política Fiscal Interna 88
Moeda Futura e Preços Correntes 64 Política Fiscal Externa 89
4-6 Os Custos Sociais da Inflação 65 Mudanças da Demanda por Investimento 90
A Visão do Leigo e a Reação Clássica 65 Os Efeitos das Políticas Comerciais 91
,.. ESTUDO DE CASO O que os Economistas e o Público Dizem Os Determinantes da Taxa de Câmbio Nominal 92
sobre a Inflação 66 ,.. ESTUDO DE CASO In~ão e Taxas de C&nbio Nominais 92
Os Custos da Inflação Esperada 66 O Caso Especial da Paridade do Pcxler de Compra 93
Os Custos da Inflação Não-esperada 67 .. ESTUDO DE CASO O Big Mac ao Redor do Mundo 94

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SUMÁRIO XÍ

5-4 Conclusão: Os Estados Unidos como uma Economia A Oferta de Bens e a Função de Produção 124
Aberta Grande 96 A Demanda de Bens e a Função de Consumo IZ4
Apêndice: A Economia Aberta Grande 99 Crescimento do Estoque de Capital e o Estado
Fluxo Líquido de Capital para o Exterior 99 Estacionário 125
O Modelo 100 Aproximando-se ao Estado Estacionário: Um Exemplo
O Mercado de Fundos Emprestáveis 100 Numérico 126
O Mercado de Câmbio Externo 100 ... ESTUDO DE CASO Crescimento do Japão e da Alemanha no
Políticas Econômicas na Economia Aberta Grande 101 Pós-guerra 128
Política Fiscal Interna 102 Como a Poupança Afeta o Crescimento 129
Mudanças da Demanda por Investimento 102 ... ESTUDO DE CASO Poupança e investimento ao Redor do
Políticas Comerciais 103
Mundo 130
Mudanças do Fluxo Líquido de Capital para o
7 -2 Nível de Capital da Regra de Ouro 131
Comparação de Estados Estacionários 131
Exterior 103
Encontrando ô Estado Estacionário da Regra de Ouro: Um
Conclusão l 03
Exemplo Numérico 133
Capítulo 6 DESEMPREGO 106 A Transição para o Estado Estacionário da Regra de
Ouro 134
6-1 Perda do Emprego, Obtenção de Emprego e Taxa
Começando com Muito Capital 134
Natural de Desemprego 107
Começando com Pouco Capital 135
6-2 Busca de Emprego e Desemprego Friccionai 108
7.3 Crescimento Populacional 136
Política Econômica e Desemprego Friccionai 109
O Estado Estacionário com Crescimento
... ESTUDO DE CASO Seguro-Desemprega e a Taxa de
Obtenção de Emprego 109 Populacional 136
6-3 Rigidez do Salário Real e Desemprego Estrutural 110 Os Efeitos do Crescimenco Populacional 137
Leis do Salário Mínimo 110 .,. ESTUDO DE CASO Crescimento Populacional ao Redor do
Mundo 138
... ESTUDO DE CASO Uma Visão Revisionista do Salário
M(nimo 111 7,4 Conclusão 139
Sindicatos Trabalhistas e Negociação Coletiva 112
Capítulo 8 CRESCIMENTO EcONÔMICO II 142
Salários de Eficiência 113
... ESTUDO DE CASO O Dia de Traba!ho de $5 de Henry 8-1 Progresso Tecnológico no Modelo de Solow 142
Ford 113 A Eficiência do Trabalho 142
6-4 Padrões de Desemprego 114 O Estado Estacionário com Progresso Tecnológico 143
A Duração do Desemprego 114 Os Efeitos do Progresso Tecnológico 144
Variação na Taxa de Desemprego entre Gnipos 8,2 Políâcas Econômicas para Promover o
Demográficos 114 Crescimento 144
Tendências do Desemprego nos Estados Unidos 115 Avaliação da Taxa de Poupança 144
Demografia 115 Alterando a Taxa de Poupança 145
Mudanças Setoriais 115 .,.ESTUDO DE CASO O Sistema de Seguridade Social Deve Ser

Produtividade 115 Reformado? 145


Entradas e Saídas da Força de Trabalho 116 Alocando o Investimento na Economia 146
O Aumento do Desemprego Europeu 116 Estimulando o Progresso Tecnológico 14 7
Os Segredos da Felicidade 118
... ESTUDO DE CASO ~ ESTUDO DE CASO A Redução do Crescimento Econômico
6-S Conclusão 118 em todo o Mundo 14 7
Problemas de Mensuração 148
Preços do Petróleo 148
parte 3 Qualidade do Trabalhador 148
TEORIA DO CRESCIMENTO: O Esgotamento de Idéias 148
A ECONOMIA A LONGUÍSSIMO PRAZO ... ESTUDO DE CASOTecnologia da Informação e a Nova
Economia 149
Capítulo 7 CRESCIMENTO EcONÔMICO 1123 8-3 Da Teoria do Crescimento ao Crescimento na
7•1 A Acumulação de Capital 123 Prática 150
A Oferta e a Demanda de Bens 124 Crescimento Equilibrado 150
r xii SUMÁRIO
...

Convergência 150 \ Capítulo 10 DEMANDA AGREGADA 1 177


Acumulação de Fator versus Eficiência da Produção l 51 ' 10,1 O Mercado de Bens e a Curva IS 178
8-4 Além do Modelo de Solow: Teoria do Crescimento A Cruz Keynesiana 178
Endógeno 151
Gasto Planejado 178
O Modelo Básico 152 A Economia em Equilíbrio 179
Um Modelo com Dois Setores 152
Política Fiscal e o Multiplicador: Compras do
A Microeconomia de Pesquisa e Desenvolvimento 153 Governo 180
8-5 Conclusão 154 Política Fiscal e o Multiplicador: Imposto, 182
Apêndice: Contabilidade das Fontes de Crescimento ... ESTUDO DE CASO Redução de Impostos para Estimular a
Econômico 156 Economia 183
Aumentos dos Fatores de Produção 156 A Taxa de Juros, Investimento e a Curva IS 183
Aumentos do Capital 156 Como a Política Fiscal Altera a Curva IS 184
Aumentos do Trabalho 156 Urna Interpretação da Curva IS a Partir dos Fundos
Aumentos do Capital e do Trabalho 156 Emprestáveis 184
Progresso Tecnológico 157 10,2 O Mercado Monetário e a Curva LM 186
A Teoria da Preferência pela Liquidez 186
As Fontes de Crescimento nos Estados Unidos 158
... ESTIJDO DE CASO O Aperto Monetário de Paul Volker
... ESTUDO DE CASO O Crescimento dos Tigres Asiáticos 158
Aumentou ou Diminuiu as Taxas de Ju.ros? 188
Renda, Demanda por Moeda e a Curva LM 188
parte 4 Corno a Política Monetária Desloca a Curva LM 189
TEORIA DO CICLO ECONÔMICO: Uma Interpretação da Curva LM Através da Equação
Quantitativa 189
A ECONOMIA NO CURTO PRAZO 10,3 Conclusão: O Equih'brio no Curto Pra:zo 190
Capítulo 9 INTRODUÇÃO AS OSCILAÇÕES
, Capítulo 11 DEMANDA AGREGADA II 194
ECONÔMICAS 163 1/
11,1 Explicação das Oscilações com o Modelo IS-LM 194
9-1 Horizontes de Tempo na Macroeconomia 164 Como a Politica Fiscal Desloca a Curva IS e Muda o
Em que o Curto Prazo e o Longo Prazo Diferem 164 Equilíbrio de Curto Prazo 194
... ESTUDO DE CASO O Enigma dos Preços Rígidm dm Variações das Compras do Governo 194
Ret1istas 164 Variações dos Impostos 195
O Modelo 1.-la Oferta Agregada e da Demanda Agregada 165 Corno a Política Monetária Desloca a Curva LM e Muda o
9-2 Demanda Agregada 165 Equilíbrio de Cuno Prazo 19 5
A Equação Quantitativa como Demanda Agregada 166 A Interação entre Política Monetária e Política Fiscal 196
... ESTUDO DE CASO Análise de Política Econômirn com
Por que a CLtrva de Demanda Agregada É Negativamente
Modelos Ma.CToeconômicru 198
Inclinada 166
Choques no Modelo JS-LM 199
Deslocamentos da Curva de Demanda Agregada 167
... ESTUDO DE CASO A Contração Económica dos Estados
9.3 Oferta Agregada 168
Unidos em 2001 199
O Longo Prazo: A Curva de Oferta Agregada Vertical 168 Qual É o lnscrumemo de Política do Banco Central: A
O Curto Prazo: A C urva de Oferta Agregada Oferta Monetária ou a Taxa de Juros? 200
Horizontal 169 11·2 IS-LM como uma Teoria de Demanda
Do Curto Prazo para o Longo Prazo 170 Agregada 200
... ESTUDO DE CASO Ouro, Greenbacks e a Contração da Do Modelo IS-LM à Curva de Demanda Agregada 200
Década de 1870 171 O Modelo IS-LM no Curto Prazo e no Longo Prazo 201
9.4 Política de Estabifuação 1 72 11-3 A Grande Depressão 203
Choques na Demanda Agregada 172 A Hipótese do Gasto: Choques na Curva IS 203
Choques na Oferta Agregada 173 A Hipótese Monetária: Um Choque na Curva LM 205
... ESTUDO DE CASO Como a OPEP Ajudou a Causar a A Hipótese Monetária de Novo: Os Efeitos de Preços em
Estag{lação na Década de 1970 e a Euforia na Década de Queda 205
1980174 Os Efeitos Estabilizadores da Deflação 206
9,5 Conclusão 175 Os Efeitos Desestabilizadores da Deflação 206
SUMÁRIO xiü

A Depressão Pode Acontecer de Novo? 207 Ataques Especulativos, Conselhos Monetários e


... ESTUDO DE CASO O Declínio Japonês 207 Dolarização 230
11·4 Conclusão 208 12-6 O Modelo Mundell-Fleming com um Nível de Preços
... SAIBA MAIS A Armadilha da Liquidez 209 Instável 231
Apêndice: A Álgebra Simples do Modelo lS-LM e a 12.7 Um Lembrete de Conclusão 233
Curva de Demanda Agregada 212 Apêndice: Um Modelo da Economia Aberta Grande
A Curva IS 212 no Curto Prazo 235
A Curva LM 213 Política Fiscal 23.5

A Curva de Demanda Agregada 213 Política Monetária 236


Uma Regra Prática 236
... ESTUDO DE CASO A Eficácia das PoUcicas MQ71erária e
Fiscal 214
Çapítulo 13 ÜFERTA AGREGADA 239
~
Capítulo 12 DEMANDA AGREGADA NA EcONOM1A , 13·1 Três Modelos de Oferta Agregada 239
ABERTA Zl5 O Modeló de Rigidez Salarial 240
.- ESTUDO DE CASO O Comporw.memo Cíclico do Salário
12-1 O Modelo Mundell-Fleming 215
Real 241
O Pressuposw Básico: Economia Abena Pequena com
O Modelo de Informação lmperfeica 242
Perfeita Mobilidade de Capital 216
O Modelo de Preços Rígid05 243
O Mercado de Bens e a Curva IS* 216
.,. ESTIJDO DE CASO Diferenças Internacionais na Curva da
O Mercado Monetário e a Curva LM* 216
Oferta Agregada 244
Juntando as Peças 217
Resumo e Implicações 245
12,Z A Economia Aberta Pequena sob Taxas de Câmbio 13•2 Inflação, Desemprego e a Curva de Phillips 246
Flutuantes 217
Obtenção da Curva de Phíllips a Partir da Curva de Oferta
Política Fiscal 218
Agregada 246
Política Monetária 219 ... SAIBA MAIS A História da Curva de Phillips
Política Comercia! 220 Moderna 247
12.3 A Economia Aberta Pequena sob Taxas de Câmbio Expectativas Adaptativas e Inércia Inflacionária 248
Fixas 221
Duas Causas de Alta e Queda <la Inflação 248
Como Funciona um Sistema de Taxa de Câmbio
.,. ESTUDO DE CASO Inflação e Desemprego nus Estados
Fixa 221 Unidos 248
.. ESTIJDO DE CASO O Patfrão-Ouro Internacional 222 A Troca entre Inflação e Desemprego no Curto Prazo 250
Política Fiscal 222 Desinflação e Taxa de Sacrifício 250
Polícica Monetária 223 ,.. SAIBA MAIS Até que Ponto SãoPrecisas as Esrimatim.s da
.- ESTUDO DE CASO Desvalorizaçiio e a Recuper~ão da Taxa Natural de Desemprego' 251
Grande Depressão 224 Expectativas Racionais e a Possibilidade de Desinflação
Política C omercial 224 Indolor 252
Política Económica no Modelo Mundell-Fleming: Um .. ESTIJDO DE CASO A Taxa de Sacrifício na Prática 25 3
Resumo 224 Histerese e a Contestação da Hipótese da Taxa
12.4 Diferenciais de Taxas de Juros 225 Nacural 254
Risco-País e Expectativas de Taxa de Câmbio 225 13.3 Conclusão 254
Diferenciais de Juros no Modelo Mundel\-Fleming 226 Apêndice: Um Modelo Grande e Abrangente 257
.,. ESTUDO DE CASO Crise Financeira lntemacional , México , Caso Especial 1: A Economia Fechada Clássica 25 7
1994-1995 227 Caso Especial 2: A Economia Aberta Pequena
.,. ESTIJDO DE CASO Crise
Financeira lncernadonal: Ásia, Clássica 25 7
1997-1998 228
Caso Especial 3: O Modelo Básico de Demanda Agregada e
12-5 As Taxas de Câmbio Devem Ser Flutuantes ou Oferta Agregada 257
Fixas? 229 Caso Especial 4: O Modelo JS-LM 257
Prós e Contras de Diferences Sistemas de Taxa de Caso Especial 5: O Modelo Mundell-Aeming com uma Taxa
Câmbio229 de Câmbio Flutuante 258
.,. ESTUDO DE CASO Uníao Monetári,;i nos Estados Unidos e Caso Especial 6: O Modelo Mundell-Fleming com uma Taxa
na Europa 229 de Câmbio Fixa 258
xiv SUMÁRIO

15,3 A Visão Tradicional da Dívida do Governo 284


parte 5
15-4 A Visão Ricardiana da Dívida do Governo 285
DEBATES DA POLÍTICA
A Lógica Básica da Equivalência Ricardiana 285
MACROECONÔMICA
Consumidores e Impostos Futuros 286
Capítulo 14 POLÍTICA DE ESTABILIZAÇÃO 261 Miopia286
Restrições de Empréstimo 286
14,l A Política Deve Ser Ativa ou Passiva? 261
... ESTUDO DE CASO Q Experimento de Retenção na Fonte, de
Defasagem entre Implementação e Efeitos da Política
George Bush 286
Econômica 26Z
Gerações Futuras 287
.,. SAIBA MAIS O que Há no fndice de Indicw:lares Econômicos
Básicos? 263 • ESTUDO DE CASO Por que os Pais Deixam Herança! 287
A Difícil Tarefa da Previsão Econômica 263 Fazendo uma Opção 288
... ESTUDO DE CASO Erros de Pre11isão 263 .,. SAIBA MAIS Ricardo sobre a Equivalência Ricardiana 288

Ignorância, Expectativas, e a Crítica de Lucas 265 15,5 Outras Perspectivas sobre a Dívida do Governo 289
1
O Regiscro Histórico 265 Orçamemos Equilibrados versus Política Fistal Ideal 289
... ESTUDO DE CASO A Eswbilização da Economia É uma Estabilização 289
Invenção dos Dadm! 166 Nivelação Fiscal 289
11,, ESTUDO DE CASO A Extraordinária. Estabilidade da Década Redistribuição lntergeracional 289
de 1990 Z66 Efeitos Fiscais na Política Monetária 290
14,2 A Política Deve Ser Cond11%ida por Regras ou Ser Dívida e o Processo Político 290
Discricionária? 267
Dimensões Internacionais 290
Desconfiança dos Formuladores de Política Econômica e o
11,, ESTUDO DE CASO Os Benef(cios de Títulos Indexados 291
Processo Político 267
... ESTUDO DE CASO A Economia dos EUA sob Presidentes
15·6 Conclusão 292
Republica.nos e Democrata.s 268
A Inconsistência Temporal da Política Econômica parte 6
Discricionária 269 MAIS SOBRE A MICROECONOMIA POR
.,. ESTUDO DE CASO Alexander Hamilton versus Inconsistênôa.
TRÁS DA MACROECONOMIA
Temporal 270
Regras para a Política Monetária 270 Capítulo 16 CONSUMO 297
11,, ESTUDO DE CASO Meta de Inflação: Política. Econômica. por J
' 16-1 John Maynard Keynes e a Função Consumo 297
Norma ou Discrid OJWia. Resrritn. 1 2 71
Conjecturas de Keynes 297
• ESTUDO DE CASO A Regra de Política. Monetária de John
Taylor ( e de Alan Greenspan /) 272 Os Sucessos Empíricos Iniciais 298
A Independência do Banco Central 2 73
.,._ ESTUDO DE CASO Estagnação Secular, Simon Kuznets e o Enigma do
14,3 Conclusão: Fllendo Política Econômica ent um Consumo 299
Mundo Incerto Z7 4 16,2 Irving Fisher e a Escolha lntertemporal 300
Apêndice: Inconsistência Temporal e a Troca entre A Restrição Orçamentária lntertemporal 300
Inflação e Desemprego Z76 .,. SAlBA MAIS Valor Presente, ou por que um Prêmio de
$ J.000.000 Vale Apenas $623.000 301
Capítulo 15 DÍVIDA DO GOVERNO 278 Preferências do Coruumidor 302
15,l O Tamanho da Dívida do Governo 279 Otimização 302
.,._ ESTUDO DE CASO O Futuro Fiscal: Boas e Más Como as Variações da Renda Afetam o Consumo 303
Notícias 280 Como as Variações da Taxa de Juros Real Afetam o
15•2 Problemas de Medição 281 Consumo 304

Primeiro Problema de Medição: Inflação 281 Restrições à Tornada de Empréstimo 305


Segundo Problema de Medição: Ativos de Capital 282 11,, ESTUDO DE CASO A E/eva.da Taxa de Poupança do
Terceiro Problema de Medição: Passivos ]a.pão 306
Não-contabilizados 282 16,3 Franco Modigliani e a Hipótese do Ciclo de Vida 306
Quarto Problema de Medição: O Ciclo Econômico 283 A Hipótese 307
Resumindo 283 Implicações 307
.,. ESTUDO DE CASO Conrabilida.de lntergeradonal 283 ~ FSIUDO DE CASO O Consumo e a Poupança. dos Idosos 309
SUMÁRIO XV

16•4 Milton Friedman e a Hipótese da Renda 18,2 Demanda por Moeda 334
Permanente 309 Teorias de P(!Tefó!io de Demanda por Moeda 335
A Hipótese 309 ~ ESTUDO DE CASO Papel-moeda e a Economia lnfornlill 335
lmplicações310 Teorias Transacionais da Demanda por Moeda 336
.._ ESTUDO DE CASO O Corr.e Fiscal de I964 e a Sobrecaxa O Modelo Baumol-Tobin de Administração de Caixa 336
Fiscal de 1968 310 Ji", ESTIJDO DE CASO Estudos Empfricos sobre a Demanda por
16-5 Robert Hall e a Hipótese do Passeio Aleatório J 11 Moeda 338
A Hipótese 311 Inovação Financeira, Quase-moeda e o Fim dos Agregados
Implicações 311 Monetários 339
Ji", As Variações PTevisíveis da Renda Le,.,am
ESTUDO DE CASO 18-3 Conclusão 339
a Variações Previs(wis do Consumo? 312
16-6 David Laibson e a Pressão por Gratificação Capítulo 19 AVANÇOS DA TEORIA DO CICLO DE
Imediata 312 NEGÓCIOS 342
16-7 Conclusão 313 19-1 A Teoria dos Ciclos Reais de Negócios 343
A Economia de Robinson Cru50e 343
Capítulo 1 7 INVESTIMENTO 316
." i -
A Interpretação do Mercado de Trabalho 344
17 • l Investimento em Capital Fixo Privado 31 7 Ji", ESTUDO DE CASO O Estudo da Substituição
O Preço de Aluguel do Capital 31 7 Inrertempm-al 344
O Custo do Capital 318 A Importância dos Choques Tecnológicos 345
Os Determinantes do Investimento .319 Ji", ESTUDO DE CASO O Resíduo de Solow e o Ciclo
Impostos e Investimento 320 Econômico 505
O Mercado de Ações e o Q de Tobin 320 A Neutra! idade da Moeda 34 7
.- ESTUDO DE CASO O Mercado de Ações como um Indicador ._ ESTUDO DE CASO T esre d.a Neutm!idru:íe da Moeda 34 7
Econômico 3 21 A Flexibilidade de Salários e Preços 348
Restrições ao Financiamento 322 19-2 A Economia Neokeynesiana 348
ESTUDO DE CASO Crises Bancárias e ApeTtos de
Ji",
Os Pequenos Cust05 de Menu e as Extemalidades da
Crédito 323 Demanda Agregada 348
17,2 Investimento em Residências 323 Recessões como Falha de Coordenação 349
O Equilíbrio do Estoque e o Fluxo de Ofertá 323 ~ ESTUDO DE CASO Evidências Experimentais em Jogos de
Variação da Demanda por Imóveis 324 Coordenação 350
._ SAIBA MAIS Com que Preço de !mooel Você Pode A Irregularidade de Salários e Preços 350
Arcar? 325 ~ ESTUDO DE CASO Se Você Quer Saber por que as Empresas
As Leis Tributárias e ós Imóveis 325 Têm Preços Rígidos, Pergunte a Elas 351

1 7 ,3 Investimento em Estoques 326 19-3 Condusão 352


Porque É Necessário Manter Est.oque 326
Epílogo O QUE SABEMOS, O QUE NÃO
O Mwelo de Estnques Acelerador 326
SABEMOS 355
Ji", ESTUDO DE CASO A Compromçao do Mode!o
Acdenulur 3Z7 As Quatro Lições Mais Importantes da Macroeconomia 355

Estoque e a Taxa de Jur0s Real 327 Liçâo I: N 0 l0ngo prazo, a caracidade de um país de produzir
bens e serviços determina o padrão de vida de seus
1 7 -4 Conclusão 3 28
cidadãos. 355
Capítulo 18 ÜFERTA MONETÁRIA E DEMANDA Lição 2: No curto prazo, a demanda agregada influí na
quantidade de bens e serviços que um país produz. 356
,\1 POR MOEDA 330
Lição 3: No longo prazo, a taxa de crescimento da
18·1 Oferta Monetária 330 quantidade de moeda determina a taxa de inflação, mas
Reserva Bancária de 100% 330 não afeta a taxa de desemprego. 356
Reserva Bancária Fracionária 331 Lição 4: No curto prazo, os fonnuladores das políticas
Um Modelo da Oferta Monetária 332 monetária e fiscal enfrentam uma troca entre inflação e
desemprego. 356
Os Três Instrumentos da Política Monetária 333
.., ESnJDO DE CASO Falências de Bancos e a Oferra Monetária As Quatro Questões Não-Resolvidas Mais Importantes da
na Década de 1930 333 Macroeconomia 357
,--

xvi SUMÁRIO

Questão I : Como os formuladores de política econômica Questão 4: Até que ponto a dívida do governo é um grave
devem tentar aumentar a taxa natural do produto da problema? 358
economia? 357
Questão 2: Os formuladores de política econômica devem
Conclusão 359
tentar escabilizar a economia? 357 Glossário 360
Questão 3: Até que pomo a inflação é custosa, e até que
ponto a redução da inflação é custosa? 358 Índice 370
prefácio

Um economista deve ser "matemático, historiador, estadista, oscilações econômicas, é importante lembrar que a economia
filósofo, em algum grau.( ... ] tão apartado e tão incorruptível clássica provê as respostas certas para multas questões funda-
quanto um artista, ai.as às vezes tão próximo da terra quanto mentais. Neste livro, incorporo muitas contribuições dos eco-
um político". Foi o que comentou John Maynard Keynes, o nomistas clássicos que antecederam Keynes, e dos novos eco-
grande economista britânico que, mais do que qualquer outro, nomistas clássicos, das duas últimas décadas. Dedico, por exem-
pode ser çhamado de pai da macroeconomia. Nenhuma outra plo, uma cobertura considerável à teoria dos fundos de emprés-
declaração resume melhor o que significa ser economista. timo da taxa de juros, à teoria quantitativa da moeda e ao pro-
Como a avaliação de Keynes sugere, os estudantes que de- blema da inconsistência temporal. Ao mesmo tempo, reconhe-
sejam aprender economia têm de usar muitos talentos diferen- ço que muitas idéias de Keynes e dos neokeynesianos são ne-
tes. O trabalho de ajudar os estudantes a encontrar e desenvol- cessárias para a compreensão das oscilações económicas. Uma
ver esses talentos cabe aos professores e aos autores de livros cobertura substancial é dispensada também ao modelo lS-LM
didáticos. Quando escrevi este hvro para os cursos de nível da demanda agregada, à troca de curto prazo entte inflação e
intermediário .de macroeconomia, meu objetivo era tomar a desemprego e às modernas teorias da rigidez de salários e pre-
macroeconomia compreensível, relevante, e (acreditem ou ços.
não) divertida. Os que optaram por ser macroeconomistas pro- Em terceiro lugar, apresento a macroeconomia com uma va-
fissionais assim fizeram porque são fascinados por essa área. Mais riedade de modelos simples. Em vez de pretender que exista um
importante ainda, achamos que o estudo da macroeconomia único modelo, que seria completo o bastante para explicar to,
pode esclarecer muita coisa sobre o mundo, e que as lições a- dos os aspectos da economia, estimulo bs estudantes a apren,
prendidas, se forem devidamente aplicadas, podem tornar o derem como usar e comparar um conjunto de modelos proe,
mundo um lugar melhor. Espero que este livro transmita não minentes. Esse esquema tem o valor pedagógico de permitir que
apenas os conhecimentos acumulados de nossa profissão, mas cada modelo seja apresentado de modo relativamente simples
também entusiasmo e senso de propósito. em um ou dois capítulos. Mais ainda, esse esquema exige que
os estudantes pensem como economistas, que sempre tenham
o Foco DESTE LIVRO em mente vários modelos ao analisarem eventos econômicos
ou políticas econômicas.
Embora os macroeconomistas partilhem uma massa comum de Em quarto lugar, enfatizo que a macroeconomia é uma dis-
conhecimentos, nem todos têm a mesma perspectiva sobre a ciplina empírica, mótlvada e orientada por uma ampla gama
maneira de melhor ensinar esses conhecimentos. Permitam-me de experiência:. Este livro contém numerosos estudos de caso,
começar esta nova edição pela recapitulação de quatro dos meus que aplicam a teoria macroeconómica para esclarecer dados ou
objetivos, que juntos definem melhor o foco deste livro. fatos do mundo real. Para destacar a extensa aplicabilidade da
Em primeiro lugar, tento mostrar um equilíbrio entre as ques- teoria básica, elaborei os estudos de caso de problemas atuais
tões de curto e de longo prazo na macroeconomia. Todos os eco- com que se defrontam as economias do mundo e de episódios
nomistas estão de acordo em que as políticas púhlicas e outros históricos estilizados. Os estudos de caso analisam as políticas
eventos influenciam a economia em diferentes horizontes de econômicas de Alexander Hamilton, Henry Ford, Alan Gre-
tempo. Vivemos em nosso curto prazo, mas tamhém vivemos enspan e George Bush (ambos!). Ensinam o leitor a aplicar
no longo prazo que nossos pais nos legaram. Em conseqüência, princípios econômicos a questões da Europa do século XIV, da
os cursos de macroeconomia precisam cobrir tanto os proble- ilha de Yap, da terra de Oz e do jornal de hoje.
mas de curto prazo, cal como o ciclo econômico e a política de
estabilização, quanto as questões de longo prazo, como o cres-
cimento econômico, a taxa natural de desemprego, a inflação
o QUE HA DE Novo NA QUINTA EDIÇÃO?
persistente e os efeitos da dívida do governo. Nenhum hori- Melhorei este livro em sua quinta edição sob vários aspectos.
zonte de tempo prevalece sobre o outro. O mais óbvio: o livro foi atualizado. Desde que a quarta edição
Em segundo lugar, integro as percepções da teoria keynesiana foi publicada, o mercado de ações dos Estados Unidos experi-
e da teoria clássica. Embora a Teoria Geral de Keynes propor- mentou um declínio considerável, o país elegeu um novo pre-
cione a base para grande parte da nossa compreensão atual das sidente, o Congresso norte-americano aprovou um corte de im,
r r
xviii PREFÁCIO

postos, e ataques terroristas lançaram uma mortalha sobre uma > O Cap. 16 traz uma nova seção sobre o que as novas pes-
economia já Lema. Ao mesmo tempo, houve progressos no quisas de psicologia e economia nos ensinam a respeito
campo da macroeconomia, à medida que novas pesquísas apu- do comportamento do consumidor.
ram nossa compreensão do crescimento econômico e de suas
oscilações. Embora os elementos básicos da macroeconomia Além disso, vários capítulos trazem, ao final, novas perguntas,
sejam os mesmos de poucos anos atrás, muitas coisas mudaram sugerindo aos estudantes que façam uso da Internet como um
nos detalhes e na prática da macroeconomia, o suficiente para instrumento de pesquisa.
justificar uma nova edição. Todas as mudanças que efetuei, assim como as muitas ou-
A maior mudança nesta quinta edição é a organização. Os tras que considerei, foram avaliadas sob o aspecto dos benefí-
capítulos sobre crescimento econômico estão agora separados cios da brevidade. Por minha própria experiência como estu-
em sua parte exclusiva, tanto para realçar a importância desse dante, sei que os livr05 longos têm menor probabilidade de se~
tópico quanto para impedir que o material complique o desen- rem lidos. Meu objetivo neste livro é oferecer o curso mais cla-
volvimento do modelo clássico. A nova organização apresen- ro, mais atualizado e mais acessível de macroeconomia com o
ta primeiro a teoria clássica de renda, preços, comércio e de- mínimo de palavras possível.
semprego. Ô modelo clássico é o pomo de partida para a teoria
do crescimento e a teoria do ciclo econômico que se seguem. A DISPOSIÇÃO DOS TóPICOS
Além da reorganização, o livro foi atualizado, para incorpo-
rar novos eventos, novos dados e novas idéias. Aqui estão al- Minha estratégia para o ensino de macroeconomia é primeiro
gumas das principais mudanças: examinar o longo prazo, quando os preços são flexíveis, e de-
pois examinar o curto prazo, quando os preços são rígidos. Esse
> O Cap. 4 inclui uma nova seção sobre a maneira como a esquema oferece várias vantagens. Primeiro, uma vez a dicoto-
inflação pode ajudar a lubrificar as engrenagens do mer- mia clássica possibilita a separação de questões reais e questões
cado de trabalho. monetárias, o material do longo prazo pode ser compreendido
> O Cap. S tem um novo boxe Saiba Mais, ilustrando are- com mais facilidade pelo estudante. Segundo, quando come-
lação entre o fluxo internacional de bens e o fluxo inter- çam a estudar as oscilações que ocorrerão a curto prazo, os es-
nacional de capital. tudantes compreendem plenamente o equilíbrio a longo pra-
> O Cap. 5 inclui um estudo de caso meticulosamente re- zo, em tomo do qual a economia oscila. Terceiro, começar pelos
visado sobre o déficit comercial dos Estados Unidos. modelos de compensação do mercado torna mais clara a rela-
> O Cap. 6 tem um novo estudo de caso sobre a maneira ção entre macroeconomia e microeconomia. Quarto, os estu-
como a percepção de felicidade das pessoas depende da dantes aprendem primeiro a matéria que é menos controversa
inflação e da taxa de desemprego. entre os macroeconomistas. Por todos esses motivos, a estraté-
>- O Cap. 8 traz um novo estudo de caso sobre a maneira gia de começar pelo modelo clássico de longo prazo slmplifica
como a tecnologia da infonnaçâo aumentou o crescimen- o ensino da macroeconomia.
to da produtividade durante a década de 1990. Passemos agora da estratégia à tática. O que vem a seguir
> O Cap. 8 tem uma nova seção sobre os papéis da acurou· uma rápida excursão pelo livro.
lação de capital e da eficiência da produção na explica-
ção das diferenças internacionais de padrões de vida. Parte 1: Introdução
> O Cap. LO apresenta um estudo de caso atualizado, que O material de introdução na Parte 1 é breve, para que os estu-
analisa o corte fiscal aprovado em 2001 nos EUA. dantes possam chegar logo à essência dos tópicos. O Cap. 1
> O Cap. 11 traz um novo boxe Saiba Mais, em que se exa- estuda as questões amplas tratadas pelos macroeconomistas e a
mina a possibilidade de uma armadilha da liquidez. maneira como os economistas constroem modelos para expli-
> O Cap. 11 traz um novo estudo de caso sobre o declínio car o mundo. O Cap. 2 apresenta os dados fundamentais da
econômico dos EUA em 2001. macroeconomia, enfatizando o produto interno bruto, o índi-
> O Cap. 12 inclui uma nova seção sobre os ataques ce de preços ao consumidor e a taxa de desemprego.
especulativos, conselhos monetários e dolarização.
> O Cap. 13 tem um novo boxe Saiba Mais sobre a confi-
Parte 2: Teoria Clássica : A Economia no Longo Prazo
abilidade das estimativas da taxa natural de desempre·
go. A Parte 2 estuda o longo prazo, em que os preços são flexíveis.
>- O Cap. 13 tem um novo apêndice, que aborda de ma· O Cap. 3 apresenta o modelo clássico básico de renda nacio-
neira mais analítica como alguns dos modelos desenvol- nal. Nesse modelo, os fatores de produção e a tecnologia de
vidos neste Livro relacionam-se uns com os outros. produção determinam o nível de renda, e os produtos margi-
>- O Cap. 14 traz um novo estudo de caso sobre a extraor- naís dos fatores determinam sua distribuição para as famílias.
dinária estabilidade macroeconômica da década de 1990. Além disso, o modelo mostra como a política fiscal influencia
>- O Cap. 15 inclui um estudo de caso meticulosamente re- a distribuição dos recursos da economia entre consumo, inves-
visado sobre a perspectiva da polftíca fiscal. timento e compras do governo. Também destaca como a taxa
PREFÁCIO xix

de juros real equilíbra a oferta e a demanda por bens e servi- O estudo das oscilações que ocorrerão a curto prazo prosse-
ços. gue no Cap. 12, que focaliza a demanda agregada em uma eco-
A moeda e o nível de preços são apresentados no Cap. 4. nomia aberta. O capítulo apresenta o modelo Mundell-Fleming,
Como se pressupõe que os preços são plenamente flexíveis, o e mostra como as políticas monetária e fiscal afetam a econo-
capítulo apresenta as idéías proemínentes da teoria monetária mia sob sistemas de taxa de câmbio fixa e sistemas de taxa de
clássica: a teoría quantitativa da moeda, o imposto de inflação, câmbio flutuante. Também examina o debate sobre a decisão
o efeito Fisher, os custos sociais da inflação, e as causas e os cus- de adotar taxa de câmbio fixa ou flutuante.
tos da hiperinflação. O Cap. 13 examlna mais atentamente a oferta agregada. O
O estudo macroeconômico da economia aberta começa no capítulo examina várias abordagens para explicar a curva de de-
Cap. 5. Mantendo o pressuposto de pleno emprego, o capítulo manda agregada de curto prazo, e fala sobre a troca de curto
apresenta modelos para explicar a balança comercial e a taxa prazo entre inflação e desemprego.
de câmbio. Várías questões de polf tíca econômica são tratadas:
a relação entre o déficit orçamentário e o déficit comercial, o Parte 5: Debates de Política Macroeconómica
impacto macroeconômico de políticas comerciais protecionis-
tas, e o efeito da política monetária no valor de uma moeda no Depois que o estudante conhece os modelos padrões da eco-
nomia de longo prazo e de curto prazo, o livro aplica esses
mercado de câmbío externo.
modelos como base para apresentar alguns dos debates funda-
O Cap. 6 altera o pressuposto de pleno emprego ao analisar
mentais sobre a política econ6mlca. O Cap. 14 trata da ma-
a dinâmica do mercado de trabalho e a taxa natural de desem-
neira como os formuladores de política econômica devem rea-
prego. O capítulo examina várias causas do desemprego, inclu-
gir às oscilações econômicas que ocorrerão a curto prazo. Oca -
sive a busca de emprego, as leis do salário mínimo, o poder dos
pítulo enfatiza duas questões amplas. A política monetária e a
sindicatos e os salários de eficiência. Também apresenta alguns
política fiscal devem ser atlvas ou passivas? A política econô-
fatos importantes sobre os padrões de desemprego. ·
mica deve ser conduzida por regra ou deve ser discricionária?
O capítulo apresenta argumentos dos dois lados nessas questões.
Parte 3: Teoria do Crescimento: A Economia a O Cap. 15 trata dos vários debates sobre a dívida do gover-
Longuíssimo Prazo no. O capítulo dá certo sentido à magnitude do endividamento
do governo, analisa por que a mensuração dos déficits orçamen-
A Parte 3 mostra a análise clássica da dinâmica da economia, tários nem sempre é objetiva, recapitula a visão tradicional dos
ao desenvolver os instrumentos da moderna teoria do cresci- efeitos da dívida do governo, apresenta a equivalência ricardi-
mento. O Cap. 7 apresenta o modelo de crescimento de Solow ana como uma visão alternativa e examina várias outras pers-
como uma descrição da maneira como a economia evolui ao pectivas sobre a dívida do governo. Tal como no capítulo an-
longo do tempo. O capítulo enfatiza ós papéis da acumulação terior, os estudantes não recebem respostas prontas, mas sim
de capital e do crescimento populacional. Depois, o Cap. 8 a- os instrumentos para avaliarem por corita própria as alternati-
crescenta o progresso tecnológico ao modelo de Solow. Oca- vas de pontos de vista.
pítulo aplica o modelo para analisar experiências de crescimen-
to ao redor do mundo, assim como as políticas públicas que
influenciam o nível e o crescimento do padrão de vida. Final- Parte 6: Mais sobre a Microeconomia por
mente, o Cap. 8 apresenta aos estudantes a moderna teoria do Trás d.a Macroeconomia
crescimento endógeno. Depois de desenvolver teorias para explicar a economia a lon-
go praw e a curto prazo, aplicando em seguida essas teorias aos
Parte 4: Teoria do Ciclo Econômico: A Economia no debates de política macroeconômica, o livro passa para vários
Curto Prazo tópicos que apuram nossa compreensão da economia. Os úlri-
mos quatro capítulos analisam mais plenamente a microeco-
A Parte 4 examina o curto prazo, quando os preços são rígidos. nomia que há por trás da macroeconomia. Esses capítulos po-
Começa no Cap. 9, pela apresentação do modelo de oferta agre- dem ser apresentados ao final de um curso, ou podem ser trata-
gada e de demanda agregada, assim como pelo papel da políti- dos antes, dependendo da preferência do professor.
ca de estabilização. Os capítulos subseqüentes apuram as idéi- O Cap. 16 apresenta as diversas teorias sobre comportamen-
as aqui apresentadas. to do consumidor, inclusive a função de consumo keynesiana,
Os Caps. 10 e 11 examinam mais atentamente a demanda o modelo de escolha intertemporal de Fisher, a hipótese do ciclo
agregada. O Cap. 1Oapresenta a cruz keynesiana e a teoria da de vida de Modigliani, a hipótese da renda permanente de
preferência pela liquidez, aplicando esses modelos como fun- Fríedman, a hipótese do passeio aleatório de Hall e o modelo
damentos para o desenvolvimento do modelo IS-LM. O Cap. de gratificação imediata de Laibson. O Cap. l 7 examina a te-
11 adota o modelo JS-LM para explicar as oscilações económi- oria subjacente à função investimento. O Cap. 18 oferece
cas e a curva da demanda agregada. O capítulo conclui com um material adicional sobre o mercado monetárlo, inclusive opa-
extenso estudo de caso da Grande Depressão. pel do sistema bancário na determinação da oferta monetária
XX PREFÁCIO

e o modelo Baumol-Tobin de demanda por moeda. O Cap. 19 tas apresentam um argumento mais rigoroso ou uma prova de
estuda os avanços na teoria das oscilações econômicas, inclu- um resultado matemático. Os esrudantes que não aprenderam
sive a teoria dos clclos econômicos reais e as teorias os instrumentos matemáticos necessários podem ignorar essas
neokeynesianas de preços rígidos; essas teorias recentes adotam notas sem maiores problemas.
uma análise microeconômica, numa tentativa de compreender
melhor as oscilações econômicas a curto prazo. Resumos de Capítulos
Ep(logo Cada capítulo se encerra com um breve resumo, não-técnico,
das principais lições do texto. Os estudantes podem usar esses
O livro termina com um breve epílogo, que recapitula as lições resumos pilra situar o material em perspectiva e revisá-lo para
amplas acerca das quals a maioria dos macroeconomistas está as provas.
de acordo e discute algumas das mais importantes questões em
aberto. Independentemente dos capítulos que um professor Conceitos-Chave
elege para tratar, esse epílogo pode ser usado para lembrar aos
estudantes como os muitos modelos e temas macroeconômi- Aprender a nomenclatura de uma disciplina é uma parte im-
cos se relacionam entre si. Aqui e em todo o livro enfatizo que, portante de qualquer curso. Dentro do capítulo, cada concei-
apesar das divergências entre os macroeconomistas, sabemos to-chave é impresso em negrito, quando aparece pela primeira
muita coisa sobre _a maneira como a economia funciona. vez. Ao final do capítulo, os conceitos-chave são novamente
apresentados, para uma revisão.
INSTRUMENTOS DE APRENDIZAGEM
Questões para Revisão
Sinto-me satisfeito por terem os estudantes achado acessível a
edição anterior deste livro. Tentei fazer com que esta quinta Depois de estudar um capítulo, o estudante pode testar imedi-
edição seja ainda mais acessível. atamente se compreendeu as lições básicas, respondendo às
Questões para Revisão.
Estudos de Caso
Problemas e Aplicil{ões
A economia adquire vida quando é aplicada em prol da com-
preensão de eventos que de fato ocorreram. Portanto, os nu- Cada capítulo inclui Problemas e Aplicações projetados para
merosos estudos de caso (muitos novos ou revisados nesta edi- os deveres de casa. Alguns são aplicações numéricas da teoria
ção) constituem um importante instrumento de aprendizagem. contida no cnpítulo. Outros estimulam o estudante a ir além
A freqüência desses estudos de caso garante que o estudante do material tratado no capítulo, apresentando novas questões
nao terá de absorver uma dose excessiva de teoria antes de vê- estreitamente relacionadas com os tópicos do capítulo.
la aplicada. Os estudantes relatam que os estudos de caso são a
sua parte predileta do livro. Apêndices de Capítulo
Vários capítulos contêm apêndices que oferecem material adi-
Boxes Saiba Mais
cional, às vezes em um nível superior de sofisticação matemá-
Esses boxes apresentam material auxiliar para que você "saiba tica. Esses apêndíce~ foram projetados para que os professores
mais". Costumo usá-los para esclarecer conceitos difíceis, pro- possam cobrir determinados tópicos com maior profundidade,
pare ionar informação·adicional sobre instrumentos da econo- se assim desejarem. Mas pode-se ignorar por completo os apên-
mia e mostrar como a economia se relaciona com a nossa vida dices sem perda de continuidade,
cotidiana. Vários boxes desta edição são novos ou revisados.
Glossário
Gráficos
Para ajudar o estudante a se familiarizar mais com a linguagem
Compreender a análise gráfica é uma parte fundamenralda apren- da macroeconomia, no final do livro há um glossárlo com mais
dizagem da macroeconomia. Esforcei-me por fazer com que as de 250 termos.
figuras fossem entendidas com facilidade. Uso com freqüência
boxes de comentário dentro das figuras, chamando a atenção para TRADUÇÕES
pontos importantes que a figura ilustra. Esses gráficos devem aju-
dar os estudantes tanto a aprender como a revisar a matéria. A versão em língua inglesa deste livro tem sido usada em deze-
nas de países. Para tornar o livro mais acessível a estudantes ao·
redor do mundo, há (ou haverá em breve) edições disponíveis
Notas Matemáticas em quinze outraslínguas: alemão, annênio, chinês, tore ano, es-
De vez em quando, uso rodapés em linguagem matemática para panhol, francês, grego, húngaro, indonésio, italiano, japonês,
manter fora do texto principal o material mais difícil. Essas no- português; romeno, russo e ucraniano. Além disso, há também

n - -. .4 .-.R,Htii
PREFÁCIO X.Xi

uma adaptação canadense, com a co-autoría de William Scarth Christopher Comell


(McMaster Universicy ). Os professores que desejarem informa- (Ohio Suue Uniwrsity)
ções sobre essas versões do livro podem entrar em contato com Vanessa Crafc
a W orth Publishers. (Bendey Co!/.ege)
Ron Cmnovich
AGRADECIMENTOS (Universidade de Nevada., Lm Vegas)
Ao escrever e revisar este livro, beneficiei-me das contribuições A. Edward Day
de muitos revisores e colegas na profissão de economista. Quero ( Universidade do Texas, Dallas)
agradecer a cada um que, nesta edição ou em edições anteriores,
David DeJong
abriu mão de parte do seu escasso tempo para me ajudar a me- ( Uniwrsidade de Pictslm.rgh)
lhorar os aspectos econômicos ou pedagógicos do texto:
Charles Delorme, Jr.
Daron Acemoglu { Universidade da Geórgia)
(Massachusetts lnstitute o[ Techno/og),) Paula DeMasi
Francis Ahking (Fundo Monetário lntemocional)
(Uni1'ersidade de Connecticur) William Dickem
StevenAllen (Unit'ersidade da Califórnia, Berkeley)
(Nonh Carolina State Uniwrsiry)
John Driscoll
D:wiJ Aschauer (Brown Unit,ersity)
( Bates College)
Donald Dutkowsky
Laurence Ball (Syracuse Unfoersity)
(Johns Hopkins l'nit·miry)
Mark Dwyer
Susanto Basu ( Un1t•ersidade da Calif6mia, Los Angeles)
( Unit•ersidade de Michigan)
Karen Dynan
Chrisropher Baum (Federal Resen,e Board)
( Bosion College)
Jan Eberl\-'
Rohert Barry (Northwestem Universit'I)
(Collep:e of William and Mary)
Douglas Elmendorf
Robert Barsky (Federal Resen,e Board)
(Uniwrsidade de Michigan)
GerJIJ Epstein
Charles Bean
( Uniwrsidade de Massachusetts)
(Banco da lnglaterm)
Charles Bischuff Mark Evans
(SUNY, Binghamwn)
(Califórnia State Unit•ersicy, Bakersfield)

Duncan Black Michael Everett


(L'ni, ,ersillade da Califórnia, ln~ne) (Quinnipiac Unii•ersity)

Dwight M . Blut)J Liang-Shing Fan


(Brigham Ymmg Unii-nsit:l'l (Colorado .Sacate Unii,ersity)

Ronald BoJkin FuaJ FariJi


(Unit·eTsidade de Octawa) (Han•ard Unit•ersity)
Karhleen Brook Antonio Fatas
(Neu• Me:cicu Statt.' L1nii•ersit)') (INSEAD)
Alisun Butler John Fernald
(Florida Internacional Unit•mity) (Federal Resenie Board)
John Campbell Chris Fooce
(Har11ard Unit--ersit:I'} (Han,ard Universicy)
NikoCanner Peter Frevert
(McKinsey & Company) (Unit,ersidade do Kansas)
Christopher D. Carroll Rachel Friedberg
(Johns Hopkins University) (Brown University)
xxii PREFÃcro

David Gapinski John Lapp


(Florida Smte University) (North CaroUna Suu.e Uni11ersity)
Michelle R . Garfinkel Emily C. Lawrence
(Universidade da Califórnia, lrt/ÍTie) (Denison University)
HarveyGram John Leahy
(Queern College) (Boston Universicy)
Edward Gramlich Daniel Levy
(UniveTSidade de Michigan) (Emory Uni11ersity)
Usa Gwbar Bill Maloney
(California Stace Universiiy, Long Beach) ( Universidade de r!linois em Urbana-Champaign)
Richard Grossman Deborah Mankiw
(Wesleyan University) (NBER)
Chris Hanes W. Douglas McMillan
(Unít,ersidade da Pensilt•ânía) (Louisiana Stare University)
Da\'id Himarios Starr McMul!en
(Unii,ersidade do T e.ws em Arlington) ( Oregon State University)
Steven Holland David Meinster
(Universidade do Kentucky) (antiga T emple University)
Peter ln~land Diego Mendez-Carbajo
(Boston College) (Illinois Wesl.eyan Universiry)
Dennis Jansen Andrew Meuick
(Texas A & M Unii,ersiry) (Universidade da Pensilvânia)
Nancy Jianakoplos Jeffrey Miron
(Colorado Swte Unit,crsity) (Boston University)
Andrew John Bruce Mizrach
(Universidade da Virgínia) (Rutgers University)
Anil Kashyap O!ivier Morand
( Universidade de Chicago) (Universidade de Connecticut)
Roger Kaufman Douglas Morgan
(Smith College) (Universidade da Califórnia, Santa Barbara)
Klaus Oierer John Robert Murphy
( Universidade de Tecnologia Chemnitz) (Boston College)
Peter Klenow Egon Neuberger
(Federal Res~rw Bank de Minneapolis) (Universidade Escadunl de Now. Ycrrk em Swny Brook)
David Jnhnson Neil Niman
( Harvard Uni,,eTSit'i) (Uniuersidadede New Hampshire)
Richard Johnson Lee Ohanian
(Han•ard Unit•ersit'I} (Federa! Reserve Bank de Minneapolis)
Mnnfred Keil Michael Oldfather
(Claremont McKenna College) (Kansas State University)
Robert W. Kilpacrick Stefan Oppers
(Office of Management and Budget) (Fundo Monetário Internacional)
David C. Klingaman David Parsley
( Ohio University) (Vanderbilt University)
Kennech Koelln Parag Pathak
( Unit1ersidade do Norte do Texas) (Harvard University)
John Laitner Thomas Pague
(Universidade de Michigan) ( Unit1ersídade d.e Iowa)
PREFÁCIO XXiii

Uri M. Possen David Tabak


(ComeU Univmir.y) (NERA)
Michael Rashes Lowell Taylor
(Harvard Universiry) (Camegie-MeUon University)
Salim Rashid Richard T rethewey
(Universidade de fllínois em Urbana-Champaign) (Kenyon College)
David Rearden Brian M. Trinque
(Universidade do Kansru) (Uníversidade do Texas)
Kevin Reffett John Veitch
(Universidade do Arizona) (Universidade d.e San Francisco)
Karen Reid Anne P. Villamil
(Universidade do Tennessee, Knoxville) (Uniwrsidade de Illinois em Urbana-Champaign)
Changyong Rhee PingWang
( Universidade Nacional d.e Seul) (Penrnylvania Swte Unit,ersity)
Joseph Rítter David Weil
(F.-deral Reserw Bank de St. Lmi,i) (Brown University)
David Romer Charles Whiteman
( Uniwrsidade da Califórnia, Berkeley) (Uniwrsidade de Iowa)
Andrew K. Rose Justin Wolfers
( Unitmidade da Califórnia. Berkeley) ( Harmrd Univmity)
Marjorie Rose Jeffrey Zax
(Dartmouth College) ( Unit,ersidade do Colorado em Boul.der)
Bennecr Rushkoff
(Federal Tra.de Commission) O pessoal da Worth Publishers, que cuidou da edição ame-
ricana, sempre foi muito amável e dedicado. Sou grato a Alan
Amy Salsbury
McClare, editor de economia, que coordenou o processo de
(Haward Unitoenit,·)
revisão para esta edição; Barbara Reingold, diretora de arte;
Michael Samson Margarer Comaskey, editora de projetos; Barbara Seixas, ge-
(Williams College)
rente de produção; Eve Moeller, editora de suplementos; e
Laurence S. Seidmah Sr:icey Alexander, gerente de suplementos.
(Universidade de Delaware) Muitas outras pessoas também deram contribuição valiosa,
Macchew Shar,iro principalmente Jane T ufts, editora independente de desenvol-
(Unit•midnde de Michigan) vimento de projetos, que mais uma vez empre~tou sua magia a
este livro, confirmando que é a melhor no ramo. Alexandra
Alden Shiers
Nickerson fez um grande trabalho na preparação do índice.
(California Polytechnic Universit:v)
Yvonne Zinfon, minha assistente em HarYard, demonstrou fi-
Roberc Shimer dedignidade, paciência e boa di5posição ao me ajudar a ler as
(Princerun Unit•ersity) provas de todo o livro.
Brían Si! vermme Não posso esquecer de citar Ricardo Reis. Ricardo não aju-
(Uni,,ersidad.e de \\:'aikaw) dou nem um pouco nesta edição nem em qualquer outra, mas
Boris Simhwich sua mãe queria ver seu nome mencionado no livro.
( Ham.1rd Unit·mity) Finalmente, eu gostaria de agradecer à minha filha de dez anos,
Catherine, meu filho de sete anos, Nicholas, e meu filho de três
Seamus Smyth
(Har.,ard Uni11ersity) anos, Peter. Eles ajudaram imensamente nesta revisão-tanto ao
me proporcionarem uma agradável distração quanto ao melem-
David Spencer brarem que os livros didáticos são escritos para a próxima geração.
( Brigham Yottng Uni,,ersity)
Edward Steinberg
(New York Uni1,•ersity) f/. ~ //J1-..L
Abdulhamíd Sukar Cambridge, Massachusetts
(Cameron Universícy) Janeiro de 2002
sobre o autor

N. Gregory Mankiw é professor de Economia na Harvard Uni- balhos sobre ajuste de preços, comportamento do consumidor,
versity. Começou a estudar Economia na Princeton Universi- mercados financeiros, políticas monetária e fiscal, e crescimento
ty, onde, em l 980, recebeu um diploma de bacharel summa cum econômico. Além de suas funções em Harvard, ele é pesqµisa-
laude. Após a conclusão do doutorado em Economia no MIT dor associado do Natíonal Bureau of Economic Research, mem-
( Massachusetts lnsti tute of Technology), começou a ensinar bro do Brooking~ Panei sobre Atividade Econômica, e assessor
em Harvard em 1985. Foi promovido a professar de dedicação do Federal Reserve Bank de Boston e do Centro de Orçamen-
exclusí va em 198 7. Hoje, dá cursos regulares de macroecono- to do Congresso. É também autor de um livro bastante conhe-
mia, inclusive para alunos de pós-graduação. cido de introdução à Economia, Principies of Economics (South-
O professor Mankiw é um escritor prolífico e participante W escem/Thomson) .
ativo em debates acadêmicos e de política econômica. Sua pes- O professor Mankiw reside em Wellesley, Massachusetts, com
quisa estende-se por muitas áreas da Economia, incluindo tra- a esposa, Dehorah, e os filhos Catherine, Nicholas e Peter.
,.

PARA DEBORAH
Os ramos da política, ou das leis que regem a vida social, nos pulo, se ela esquecer em algum momento de lhe dispensar a
quais existe uma variedade de fatos bastante selecionados e que devida atenção. Os ventos e as ondas também são insensíveis.
foram organizados metodicamente .p ara formarem o princípio Você aconselha ria quem sai ao mar a negar os· ventos e as on-
de uma ciência, devem ser ensinados com conhecimento de das ... ou recomendaria aproveitá-los, e encontrar os meios de
causa. Entre os principais figura a Economia Política, as fontes se precaver contra seus perigos? Meu conselho é estudar os gran-
e as condições da riqueza e da prosperidade material para os con- des autores da Economia Política, e se apegar com firmeza ao
juntas agregados de seres humanos. [. , .) que considera verdadeiro em seus textos; e ter a certeza de que,
Quem menospreza a Lógica também vai advertir o leitor, de se você não é egôísta nem desumano, não será a Economia
modo geral, contra a Economia Política. É insensível, dirão. Re- Política que o tomará assim.
conhece fatos desagradáveis. De minha parte, considero que a
- John Stuart Mill
coisa mais insensível que conheço é a lei da gravidade: quebra 1867
o pescoço da melhor e mais amável pessoa, sem o menor escrú-
r
sumário geral

Prefácio xvii Capítulo 11 Demanda Agregada II 194


Capítulo 12 Demanda Agregada na Economia
parte 1 Aberta 215
INTRODUÇÃO Capítulo 13 Oferta Agregada 239
Capítulo l A Macroeconomüi como Ciência 3
Capítulo 2 o~ Dados d,1 Macrueconomia 12 parte 5
DEBATES DA POLÍTICA
MACROECONÔMICA
parte 2
TEORIA CLÁSSICA: A ECONOMIA NO Capítulo 14 Política de Estabilíiação 261
LONGO PRAZO Capítulo 15 Dívida do Governo 278

Capítulo 3 Renda Nacional: De Onde Vem e para Onde


Vai 31 parte 6
Capítulo 4 Moeda e lnfbção 53 MAIS SOBRE A MICROECONOMIA POR
Capítulo 5 A Economia Aherta 77 TRÁS DA MACROECONOMIA
Capítulo 6 Desemprego L06 Capítulo 16 Consumo 297
Capítulo 17 Jnvestimenco 316
parte 3 Capítulo 18 Oferta Monetária e Demanda por
TEORIA DO CRESCIMENTO: A ECONOMIA Moeda 330
A LONGUÍSSIMO PRAZO Capítulo 19 Avanços da Teoria do Ciclo de
Negócios 342
Capítulo 7 Crescimentú Econômico I 123
Capítulo 8 Crescimento Econômico II 142 Epílogo: O que Sabemos, o que Não Sabemos 355

Glossário 360
parte 4
TEORIA DO CICLO ECONÔMICO: Índice 370
A ECONOMIA NO CURTO PRAZO
Capítulo 9 Introdução às Oscilações Ecnnômicas 16_,
Capítulo 1O Demanda Agregada I L77
F , ·.·

Parte 1

INTRODUÇÃO
Capítulo 1

A MACROECONOMIA COMO CIÊNCIA

O totlo du. ciênciu nada mai.~ é q.ue o refinamento do pensamento cotidiano.


- Albert Ein:;tdn

1-1 O QUE OS MACROECONOMISTAS ESTUDAM


Por que alguns países experhnentaram um rápido crescimento Embora a função de formular a política econômica caiba aos
das rendas ao longo do úlrimo século, enquanto outros atolaram líderes mundiais, a função de explicar como funciona a econo-
na pobreza? Por que alguns países têm altas taxas de inflação, mia como um todo cabe aos economistas. Com esse objetivo,
enquanto outros conseguem manter os preços estáveis! Por que os macroeconomistas recolhem dados sobre rendas, preços,
todos os países experimentam recessões e depressões - perío- desemprego e muitas outras variáveis de diferentes períodos e
dos recorrentes d.e declínio das rendas e desemprego em alta países. Depois, tentam formular teorias gerais quê ajudem a
- e como a política governamental pode reduzir a freqüência explicar esses dados. T ai como astrônomos estudando a evolu-
e a gravidade desses episódios? A macroeconomia, o estudo da ção das estrelas, ou biólogos estudando a evolução das espéci-
economia como um todo, tenrn responder a essas e a muitas es, os macroeconomiscas não podem realizar experimentos con-
outras perguntas relacionadas. trolados. Em \'ez disso, devem fazer uso dos dados que a histó-
Para compreender a importância da macroeconomia, você ria lhes oferece. Os macroeconomisras observam que as econo-
só precisa ler o jornal ou escuraro noticiário da televisão ou do mias diferem entre si e mudam ao longo do tempo. Essas obser-
rádio. Todos os dias você vai encontrar manchetes como CRE..S- vações prnporciom1m tanto a motivação para o desenvolvimen-
CIMENTO DA RENDA DIMINUI, BANCO CENTRAL to de teorias macroeconômicas quanto os dados para testá-las.
ADOTA MEDIDAS CONTRA INFLAÇÃO ou QUEDA Com toda certeza, a macroeconomia é uma ciência recente
NA BOLSA POR MEDO [)E RECESSÃO. Embora possam e imperfeirn. A capacidade do macroeconomista de prever o
parecer abstratos, esses eventos macroeconômicos afetam a vida curso futuro dos eventos econômicos não é melhor do que ,1
de todos nós. Os execuri\·os de empresas, prevendo a demanda capacidade do meteorologista de prever o tempo no próximo
para seus produtos, têm que adivinhar até que ponto vai cres- mês. Mas, como você vai constatar, os macroeconomistas sa-
cer a renda dos consumidores. Os idosos, vivendo de rendimen- bem muita coisa sobre a maneira como a economia funciona.
tos fixos, especulam a que rapidez os preços vão subir. Os re- Esse conhecimento é útil parn explicar os fatos econômicos, e
cém-fonnados na universidade, que estão à procura de empre- também para formular a política econ6mica.
go, esperam que a economia prospere e as empresas contratem Cada época rem seus problemas econômicos peculiares. N a
novos empregados. década de 1970, os presidentes americanos Richard N ixon,
Como o estado da economia afeta todo mundo, as questões Gernld Ford e Jimmy Carter lutaram em vão contra uma taxa
macroeconômicas desempenham papel central no debate po- crescente de inflação. Na década de 1980, a inflação diminuiu,
lítico. Os eleitores têm noção do desempenho da economia, e mas os presidentes Ronald Reagan e George Bush governaram
sabem que a política econômica do governo pode afetar a eco- com enormes déficics orçamentários. Na década de 1990, com
nomia por meios poderosos. Em conseqüência, a popularidade o presidente Bill Clinton na presidência, o déficit orçamentá-
do presidente no cargo aumenta quando a economia vai hem, rio encolheu, e até se transformou em superávit. Mas os impos-
e diminui quando vai mal. tos federais como uma parcela da renda nacional, alcançaram
As questões macroeconômicas também estão no centro da um recorde histórico. Por isso, não foi surpresa que o presiden·
política internacional. Nos últimos anos, a Europa avançou para te George W . Bush, ao entrar na Casa Branca em 2001, inclu-
uma moeda comum, muitos países asiáticos experimentaram ísse cortes nos impostos como um ponto importante do seu pro-
crises econômicas e fuga de capitais, e os Estados Unidos finan- grama de governo. Os princípios básicos da macroeconomia não
ciaram vultosos déficits comerciais com empréstimos do exte· mudam de uma década para outra, mas o macroeconomista deve
rior. Quando os Hderes mundiais se reúnem, esses assuntos cos- aplicar esses princípios com flexibilidade e criatividade, a fim
tumam ocupar lugar de destaque em suas agendas. de enfrentar as circunstâncias em constante transformação.
4 CAPITULO 1

ESTUDO DE CASO
0 DESEMPENHO HISTÓRICO DA ECONOMIA DOS de renda declinante estejam associados a substanciais dificul-
ESTADOS UNIDOS dades econômicas.
Os economistas utilizam muitos tipos de dados para medir o A Fig. 1-2 mostra a taxa de inflação dos Estados Unidos.
desempenho de uma economia. Três variáveis macroeconô- Pode-se verificar que a inflação varia consideravelmente. Na
micas são especialmente importantes: o produto interno bru- primeira metade do século XX, a taxa de inflação manteve-se,
to (PIB) real, a taxa de inflação e a taxa de desemprego. O em média, .um pouco acima de zero. Os períodos de preços em
PIB real mede a renda total de todo mundo na economia queda, o que se chama de deflação, foram quase tão comuns
(ajustado para o nível de preços) . A taxa de inflação mede a quanto os períodos de preços em alta. No último meio século,
rapidez com que os preços sobem. A taxa de desemprego mede a inflação tem sido a norma. O problema da inflação tomou-se
a fração da força de trabalho que está sem trabalho. Os mais grave durante o final da década de 1970, quando os pre-
macroeconomistas estudam como essas variáveis são determi- ços sublram a uma taxa de quase 10% ao ano. Nos últimos anos,
nadas, por que mudam ao longo do tempo e como interagem a taxa de inflação tem sido de cerca de 2 a 3% ao ano, indican-
entre si . do que os preços vêm se mantendo relativamente estáveis.
A Fig. 1-1 mostra o PIB real per capita nos Estados Unidos. A Fig. 1-3 mostra a taxa de desemprego nos Estados Uni-
Dois aspectos dessa figurn devem ser destacados. Prtmeiro, o PIB dos. Observe que sempre há desemprego na economia ameri-
real cresce ao longo do tempo. O PIB real per capita é hoje cerca cana. Além disso, embora não haja uma tendência a longo pra-
de seis vezes maior do que em 1900. Esse crescimento na renda zo, o nível de desemprego varia de ano para ano. As recessões
média permite-nos desfrutar um padrão de vida mai.s elevado e depressões estão associadas a um desemprego excepcional-
do que nossos bisavós desfrutaram. Segundo, embora o PIB real mente alto. As maiores taxas de desemprego foram alcançadas
cresça na maioria dos anos, esse crescimento não é constante. durante a Grande Depre~são da década de 1930.
Há repetidos períodos em que o PIB real cai, sendo o exemplo Ess1:1s três figuras oferecem um vislumbre da história dos
mais drástico o que ocorreu no início da década de 1930. Esses Estados Unidos. Nos próximos capítulos, vamos examinar pri-
períodos são chamados de recessões, se são brandos, e depres- meiro como essas variáveis são medidas, e depois desenvolver
sões, _se sao mais severos. Não é de surpreender que períodos teorias para exp!ic1:1r tomo elas se comportam.

PIB real per capita Primeira Segunda Guerra Primeiro choque do petróleo
(dólares de 1996) Guerra Grande Guerra da Guerra , Segundo choque do petróleo
35.000 Mundial Depressiio Mundial Coréia do Vietnà; / 1
30.000

20.000

10000

5.000

3.000 ~ _ _,__ _...__ __.__ __.__ ___.._ _.......___ __,__ __.__ __J.___ __.__

1900 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000
Ano

Fig. 1·1 PIB Real Per Capita na Economia dos Estados Unidos O PIB real mede a renda total de todos os agentes econômicos, enquanto o PIB
real per capita mede a renda de um agente econômico médio. Esta figura mostra que o PIB real per capita tende a crescer ao longo do tempo, e que
esse crescimento normal é às vez.es interrompido por períodos de declínio da renda, chamados de recessões ou depressões.
Nota: O PIB real é traçadci aqui.em uma escala logaritmica. Nessa escala, uina dada distância no eixo vertical repcesenta uina mudança igual <lm percemagem . Assim, a distância entre $5.000
e $10.000 (uma mudança de 100%) é a mesma entre $10.000 e $20.000 (uma mudança de 100%).
Fonte: U.S. Bureau of the Census (Historical Stadsr:ics oi ihe Uniced Sr.atas: CoJon/11/ Times co 1970) a U.S. Department of Commerce.

L
--
A MACROECONOMIA COMO CiflNCIA 5

Percentual
Primeira Segunda Guerra Guerra
30 Guerra Grande Guerra da do Primeiro choque do petróleo
Mundial Depressão Mundial Coréia Vietna / Sepndo choque do petróleo
25

20

lnAação 15

10

s
o
-5

Deflação -10

-15

-20
1900 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000
Ano

Fig. 1-2 Taxa de Inflação na Economia dos Estados Unidos A taxa de inflação mede a mudança percentual no nível médio de preços em
relação ao ano anterior. Quando a taxa de inflação situa-se acima de zero, os preços estão subindo. Quando está abaixo de zero, os preços estão
caindo. Se a taxa de inflação declina. mas permanece positiva, os preços estão subindo, mas a um ritmo mais lento.
Nora: A taxa de inflação é medida aqui pelo uso do deftator do PIB.
fant8: U. S. Bureau of the Cen~us /Hisconcai S!atistics of the United States: Coloma! Times to 1970) e U. S. Department oi Comme,ce.

Percentual Primeira Seg11nda Guerra Guerra Primeiro ehoque do petró,eo


,
desempregado Guerra Grande Guerra da do
Vietnã / fegundo choque do petróleo
Mundial Depressão Mtmdial Coréia
25

20

15

10

o .____.____ ..___........___ ...L..._ ____._ _ _....__ __ _ , . __ __.__ __ ...__ __.__

1900 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000
Ano

Fig. 1-3 Taxa de Desemprego na Economia dos Estados Unidos A taxa de desemprego mede o percentual de pe$$oas da força de.trabalho
que não têm emprego. A figura mostra que a economia sempre tem algum desemprego e que a quantidade oscila de um ano para outro.
Fonte.· U S. Bureau of the Censu.s IHiston·ca/ S/.atistics oi the United States: Colonial Times to 1970) e U. S. Depa1tment or Commerce.
r 6 CAPITULO 1

1-2 COMO OS ECONOMISTAS PENSAM


Embora estudem com freqüência questões de extrema impor- teração no mercado de pizza. Por exemplo, o economista su-
tância política, os economistas tentam avaliar tais questões com põe que a quantidade de pizza demandada pelos consumido-
a obíetividade de um cientista. Como em qualquer ciência, os res Q<l depende do preço da pizza P e da renda agregada Y. Essa
economistas dispõem de seu próprio conjunto de instrumen- relação é expressa na equação
tos - terminologia, dados e uma maneira de pensar - que ao
leigo pode parecer estranho e enigmático. A melhor maneira
Q1 = D(P,Y),
de se familiarizar com esses instrumentos é usá-los, e este livro onde D( ) representa a função de demanda. Da mesma ma-
proporciona amplas oportunidades para isso. Para tomar esses neira, o economista supõe que a quantidade de pizza fornecida
instrumentos menos assustadores, no entanto, vamos analisar pelas pizzarias Q' depende do preço da pizza P e dó preço dos
aqui alguns deles. insumos Pm• como queijo, tomate, farinha de trigo e enchovas.
Essa relação é expressa como
TEORJA COMO CONSTRUÇÃO DE MODELO
As crianças pequenas aprendem muita cois~ sobre o mundo à onde S( ) representa a função de oferta. Finalmente, o econo-
sua vólta ao \:,rincarem com versões de brinquedo de o\:,jetos mista presume que o preço da pizza ajusta-se para colocar a
reais. Costumam, por exemplo, montar miniaturas de carros, quantidade ofertada e a quantidade demandada em equilíbrio:
trens ou aviões. Esses modelos estão longe de ser realistas, mas
mesmo assim aprende-se muito ao construí-los. O modelo ilus- Q' = Q1.
tra a essência do objeto real que ele visa representar. Essas três equações compõem um modelo do mercado de pizza.
Os economistas também usam modelos para compreender O economista ilustra o modelo com um gráfico de oferta e
o mundo, embora seja mais provável que o modelo de um eco- demanda, corno na Fig. 1-5. A curva da demanda mostra are-
nomista seja feito de símbolos e equações do que de plástico e lação entre a quantidade demandada de pizza e o preço da pizza,
cola. Os economistas constroem suas "economias de brinque- mantendo a renda agregada constante. A curva de demanda
do" para ajudar a explicar as variáveis econômicas, como PIB, inclina-se para. baixo porque um preço mais alro da piz:a esti-
inflação e desemprego. Os modelos econômicos ilustram, com mula os consumidores a trocarem-na por outros alimentos e
freqüência em termos matemáticos, as relações entre as variá- comprar menos pizza. A cun·a da oferta mostra a relação entre
veis. São úteis porque nos ajudam a descartar detalhes irrele- a qmmtidade de pizza ofertada e o preço Ja pizza, mantendo o
vantes e nos concentrar nas conexões importantes. preço Jos insumos constante. A curvada úferta inclina-se para
Os modelos têm dois tipos de variáveis: as variáveis endó- cima porque um preço maior da pizza faz com que vender pizza
genas e as variáveis exógenas. As variáveis endógenas são aque- se torne mais lucrativo, o que estimula as pizzarias a produzi-
las que um modelo tenta explicar. As variáveis exógenas são rem mais. O equilíbrio do mercado reúne o preço e a quantida-
aquelas que um modelo aceita como dadas. O propósito de um de aos quais as curvas da oferta e demanda se cruzam. Ao preço
modelo é mostrar como as variáveis exógenas afetam as variá- de equilíbrio, os consumidores llptam por comprar a quantida-
veis endógenas. Em outras palavras, como ilustra a Fig. 1-4, as de de pizzas que as pizzarias optam por produzir.
variá veis exógenas vêm de fora do modelo, e servem como seus Esse modelo do mercado de pizza tem duas variáveis
insumos, enquanto as vari.,íveis endógenas são definidas den- exógenas e duas variáveis endógenas. As variáveis exógenas são
tro do modelo, constituindo n seu prnduto. a renda agregada e o preço dos insumos. O modelo n;i.o tenta
Para tomar essas idéias mais concretas, vamos analisar o explicá -las, mas as considera dadas (talvez para serem explicadas
mais famoso de wdos os modelos econômicos: o modelo de por outro modelo.) As variáveis endógenas são o preço da pizza
oferta e demanda . Imagine que um economista estivesse in- e a quantidade de pizza vendida. São essas as variáveis que o
teressado em verificar quais fatores influenciam o preço da modelo tenta explicar.
pizza e a quantidade de pizza vendida. Ele desenvolveria um O modelo pode ser usado para mostrar como uma mudança
modelo que descrevesse o compórtamento dos compradores de uma das variáveis exógenas afeta as duas varhiveis endóge-
de pizza, o comportament0 dos vendedores de pizza e sua in- nas. Por exemplo, se a renda agregada aumenta, a demanda por

Modelo

Fig. 1-4 Como os Modelos Funcionam Os modelos são teorias .simplilicadas que mostram as relações fundamentais entre as variáveis económi-
cas. As.variáveis exógenas são aquelas que.vêm de fora do modelo. As variáveis endógenas são aquelas que o modelo explica. O modelo mostra
como as mudanças nas variáveis exógenas afetam as variáveis endógenas.
--
A MACROECONOMIA COMO CIÊNCIA 7

Preço da pizza, P

Preço de
equilfbrio

Quantidade
de equillbrio

Quantidade de pizza, Q

Fig. 1-5 O Modelo de Oferta e Demanda O mais famoso modelo econômico é o da oferta e demanda de um bem ou serviço - neste caso. pizza.
A curva da demanda é inclinada para baixo, relacionando o preço da pizza com a quantidade de pizza que os consumidores demandam. A curva da
oferta é mclinada para cima, relacionando o preço.da pizza com a quantidade de pizza que as pizzarias ofertam . O preço da pizza ajusta-se até que
a quantidade ofertada iguale a quantidade demandada. O ponto ao qual as duas curvas se cruzam é o equil!brio do mercado. que mostra o preço de
equilíbrio e a quantidade de equilíbrio de pizza.

pizza também aumenta, como no painel (a) da Fig. 1-6. O A arte da economia é julgar quando um pressuposto é
modelo mostra que tanto o preço de equilíbrio quanto a quan- esclarecedor e quando é enganoso. Qualquer modelo constru-
tidade de equilíbrio de pizza sobem. Assim também, se o preço ído para ser completamente realista seria complicado demais
dos insumos aumenta, a oferta de pizza diminui, como no pai- para se compreender. A simplificação é necessária na constru-
nel (b) da Fig. 1-6. O modelo mostra que, nesse caso, o preço ção de um modelo útil. Os modelos, no entanto, levam a con-
de equilíbrio da pizza sobe e a quantidade de equilíbrio de pizza clusões incorretas se ignorarem características da economia
cai. Assim, o modelo mostra como as mudanças da renda agre- cruciais para as questões em estudo. O modelo econômico,
gada ou do preço dos materiais afetam o preço e a quantidade portanto, exige cuidado e bom senso.
no mercado de pizza.
Tal como todos os modelos, este modelo do mercado de pizza
conta com pressupostos simpliflcadores. O modelo não leva em
UMA MULTITUDE DE MODELOS
consideração, por exemplo, o fato de que cada pizzaria .se en- Os macroeconomistas estudam muitos aspectos da economia.
contra em um local diferente. Para cada cliente, uma pizzaria é Por exemplo, examinam o papel da poupança no crescimento
mais conveniente do que as outras. Assim, as pizzarias têm al- econômico, o impacto dos sindicatos trabalhistas no desempre-
guma capacidade de fixar seus própríos preços. Embora o mo- go, o efeito da inflação nas taxas de juros, e a influência da
delo assuma que há um único preço para a pizza, na verdade política comercial na balança comercial e nas taxas de câm-
pode haver um preço diferente em cada pizzaria. bio. A macroeconomia é tão diversificada quanto a economia.
Como devemos reagir à falta de realismo do modelo? De- Embora os economistas utilizem modelos para tratar de to-
vemos descartar o modelo simples de oferta e demanda de das essas questões, não há um modelo único que possa respon-
pizza? Devemos tentar construir um modelo mais complexo, der a todas as perguntas. Assim como os carpinteiros usam di-
que permita diversos preços de pizza? As respostas para essas ferentes ferramentas para diferentes tarefas, os economistas
indagações dependem dos nossos propósitos. Se o objetivo é usam diferentes modelos para explicar diferentes fenômenos
explicar como o preço do queijo afeta o preço médio da pizza econômicos. Os estudantes de macroeconomia, portanto, de-
e a quantidade vendida de pizza, a diversidade dos preços de vem lembrar que não ·existe um modelo único "correto" útil para
pizza provavelmente não é importante. O modelo simplifica- todos os propósitos. Em vez disso, há muitos modelos, cada um
do do mercado de pizza realiza um bom trabalho no tratamento dos quais é útil para esclarecer um aspecto diferente da econo-
dessa questão . Mas, se o nosso objetivo é explicar por que nas mia. O campo da macroeconomia é como um canivete do exér-
cidades onde há três pizzarias os preços da pizza são mais bai- cito suíço: um conjunto de instrumentos complementares mas
xos do que nas cidades onde só há uma pizzaria, o modelo sim- distintos, que podem ser aplicados de maneiras diferentes, em
ples é menos útll. circunstâncias diferentes.
8 CAPITULO I
"
(a) Um Deslocamento da Demanda
Preço da pizza, P

Q,--. . Q2 Quantidade de pizza, Q

(b) Um Deslocamento da Oferta


Preço da pizza, P

Q1 Quantidade de pizza, Q

Fig. 1-6 Mudanças no Equilíbrio No painel {à). um aumento na renda agregada faz com que a demanda por pizza cresça: a um dado preço
qualquer, os consumidores querem agora comprar mais pizzas. Isso é representado por um deslocamento para a direita da curva de demanda,
de D, para D, O mercado se desloca para a nova interseção da oferta e demanda. O preço de equilíbrio sobe de P, para P;., e a quantidade de
pizza de equilíbrio sobe de O, para O,. No painel (b), um aumento no preço dos insumos diminui a oferta de pizza: a um dado preço qualquer,
as pizzarias descobrem que a venda de pizza é menos lucrativa, e por isso optam por produzir menos pizzas . Isso é representado por um des-
locamento para a esquerda da curva de oferta, de S, para S,· O mercado se desloca para a nova interseção da oferta e demanda. O preço de
equilíbrio passa de P 1 para P, , e a quantidade de equilíbrio cai de O: para O,.

Este livro apresenta muitos modelos diferentes, que tratam PREÇOS FLEXÍVEIS VERSUS PREÇOS RÍGIDOS
de questões diferentes e estabelecem pressupostos diferentes.
Lembre-se de que um modelo é apenas tão bom quanto seus Ao longo deste livro, um conjunto de pressupostos se mostrará
pressupostos, e que um pressuposto útil para alguns propósitos especialmente importante: é o que trata da rapidez com que sa-
pode ser enganoso para outros. Ao utilizar um modelo para tra- lários e preços se ajustam. Os economistas nonnalmence pres-
tar de uma questão, o economista não pode ignorar os pressu- supõem que o preço de um bem ou serviço se altera depressa
pogtos básicos, devendo julgá,los para determinar se são razoá- para promover um equilíbrio entre a quantidade ofertada e a
veis para o problema em foco. quantidade demandada. Em outras palavras, pressupõem que o
A MACROECONOMIA COMO ClÊNClA 9

MAis
SAIBA
O Uso de Funções para Expressar Relações entre Variáveis·
Todos os modelos econômicos expressam relações entre va- Qd = 60 - lOP + ZY.
ri,áveis econômicas. Com bastante freqüência, essas relações
Neste caso, a função de demanda é
são expressas como funções. Uma função é um conceito ma-
temático que mostra como uma variável depende de um D(P,Y) = 60 - IOP + ZY.
conjunto de outras variáveis. Por exemplo, no modelo de
mercado de pizza dizemos que a quantidade de pizza deman- Para qualquer preço de pizza e qualquer renda agregada, esta
dada depende do preço da pizza e da renda agregada. Para função apresenta a quantidade correspondente de pizza de-
expressar isso, usamos a notação funcional para escrever mandada. Por exemplo, se a renda agregada é $1 Oe o preço
da pizza é $2, a quantidade de pizza demandada é 60 unida-
Qd = D(P,Y). des; se o preço da pizza sobe para $3, a quantidade deman-
Esta equação diz que a quantidade de pizza demandada Qd é dada cai para 50.
uma função do preço da pizza Peda renda agregada Y. Na A notação funcional permite-nos expressar uma relação
notação funcional, a variável que precede o parêntese de- entre vaúáveis mesmo quando a relação numérica precisa é
nota a função. Neste caso, D( ) é a função que expressa desconhecida. Por exemplo, podemos saber que a quanti-
como as variáveis entre parênteses determinam a quantida- dade de pizza demandada cai quando o preço sobe de $2 para
de de pizza demandada. $3; mas não podemos saber quanto cai. Nesse caso, a nota-
Se soubéssemos mais sobre o mercado de pizza, podería- ção funcional é útil: enquanto soubermos que há uma rela-
mos atribuir uma fórmula numérica à quantidade de pizza ção entre variáveis, podemos nos lembrar dessa relação ao
demandada. Poderíamos escrever usar a notação funcional.

mercado tende ,10 e4u íIíbrio entre (1ferta e demanda. fase pres- posto de flexihilidade dos preços é menos plausível. Ao longo
suposto é chamado de equilíbrio de mercado, sendo fundamen- de períodos curtos, muitos preços sào flxados em níveis prede-
tal no modelo do me rcíldo de pirn1 discutido ,mterionnente. terminado5. Por isso, a maioria dos macroeconomisras acha que
Para responder à m,lioriíl das questües, os economistas usam a rigidez dos preços é um pressuposto melhor para se estudar o
modelos de equilíhrio de merc.ldo. comportamento da economia no curto prazo.
Mas o pressuposto de equilíhrio do mercado contínuo não é
totalmente realista. Para que os mercadus tenham um equilí-
brio incessante, os preços devem se ajustar de mudo insramâ~ PENSAMENTO MICROECONÔMICO E
neo à.~ mudanças na oferta e na demanda. Na verdade, porém, MODELOS MACROECONÔMICOS
muitos salários e preços ajustam-se lentamente. Com hasrnnte
freqüência. os contratos de trnhalho fixam salários para a dura-
A microeconomia é ú esrudtl da maneira como as famílias e as
empresas tomam decisões, e como esses tomadores de decisões
ção de três anos. Muitas empresas mantêm os preços de seus
interagem no mercado. Um princípio fundamental da microe-
produtos por longos períodos -por exemplo, as editoras de re-
conomia é que as famílias e as empresas otimizam, ou seja, fa.
Yiscas geralmente demoram de três a quatro ~11111s para mudar
seus preços de \·enda em hanca. Emhora ns modelos de ajuste zem o melhor que podem por si mesmas, dados os seus ohíeti-
\'OS e as restrições que enfrentam. Nos modelos microecont"1-
do mercado pressuponham que todos os sahirios e preços são
flexíveis , no mundo real alguns salários e preços são rígidos. micos, as famílüi s escolhem as comrras que maximizam seu
A aparente rigidez de preços não faz com que os modelos de nível de satisfação, o que os economistas chamam de utilidade.
equilíbrio do mercado sejam inúteis. Afinal. os preços não fi- As empresas, por sua yez, tomam decisões de produção para
cam imóveis para sempre; mais cedo ou mais tc1rde, acaham se maximizar seus lucros.
ajustando às mudanças na oferta e na demanda. Os modelos Como os eventos na economia em geral derivam da inte-
de ajuste do mercado podem não descrever a economia a todo ração de muitas famílias e muitas empresas, a macroeconomia
instante, mas descrevem o eqtiilíhrio para o qual a economia e a microeconomia estão ligadas de maneira inextricável.
gravita. Por isso, a maioria dos macroeconomistas acha que a Quando estudamos a economia como um todo, devemos le-
flexibilidade dos preços é um bom pressuposto para o estudo var em consideração as decisões dos agentes econômicos in-
dos problemas a longo prazo, como o crescimento no PIB real dividuais . Por exemplo, para compreender o que determina o
que observa\nos de uma década para outra. gasto cocal com consumo, devemos pensar em uma família de-
Pará o estudo das questões de curto prazo, como as oscila- cidindo quanto vai gastar hoje e quanto vai poupar para o
ções de ano para ano no PIB real e no desemprego, o pressu- futuro. Para compreender o que determina o gasto total em
]0 CAPITUW l

investimento, devemos pensar em uma empresa decidindo se


constrói uma nova fábrica. Como as variáveis agregadas são
quantidade de pizzas a serem compradas estão por trás da de-
manda por pizza; e as decisões das pizzarias sobre a quantida-
'
!

a soma das variáve is que descrevem muitas decisões indivi- de de pizzas a serem produzidas se encontram por trás da ofer-
duais, a teoria macroeconômica baseia-se em um fundamen- ta de pizza. Presumivelmente, as famílias tomam suas decisões
to microeconômico. para maximizar a utilidade, enquanto as pizzarias tomam as
Embora as decisões microeconômicas sempre estejam por decisões para maximizar o lucro. O modelo, no entanto, não
trás dos modelos econômicos, em muitos modelos o compor- enfoca as decisões microeconômicas deixando-as em segun-
tamento otimizador das famílias e empresas é implícito, em do plano. Da mesma maneira, em grande parte da macroeco-
vez de expl fci to. O modelo do mercado de pizza, anteriormen- nomia, o comportamento otimizador das famílias e empresas
te discutido, é um exemplo. As decisões das famílias sobre a está implícito.

,.
1-3 COMO ESTE LIVRO E DESENVOLVIDO
Este livro tem seis partes. Este capítulo e o pr6ximo constitu- os preços sã.o rígidos. O modelo de equilíbrio fora do mercado,
em a Parte I, a introdução. O Cap. 2 examina como os econo- desenvokido aqui, tem como objetivo a análise de problemas
mistas medem as variáveis econômicas, tais como a renda agre- no curto prazo, tais como os motivos das flutuações econômicas
gada, a taxa de inflação e a taxa de desemprego. e a influência da política econômica do governo sobre essas
A Parte li, "Teoria Clássica: A Economia no Longo Prazo", flutuações. É mais apropriado para se analisarem as mudanças na
apresenta o modelo clássico da maneira como a economia fun- economia que observamos mês a mês ou ano a ano.
ciona. O pressuposto fundamental do modelo clássico é que os A Pane V, "Debates da Política Macroeconômica", parte da
preços são flexíveis. Ou seja, com raras exceções, o modelo clás- análise anterior para considerar o . papel que .o governo deve
sico pressupõe o equi 111:,rio de mercado. Como o pressuposto de assumir na economia. Estuda como o governo deve reagir -
tlexihilidade do preço descre\·e a economia apenas no longl1 se é que deve - às oscilações de curto prazo no PIB real e no
pram, a teoria clá~sica é mais apropriada para se analisar um desemprego. Também examina as várias opiniões sobre os efei-
espaço de tempo de pelo menos vários anos. tos da dívida pública.
A Parte lll , "Teoria do Crescimento: A Economia a A Parte VI, "Mais sobre a Microeconomia por Trás da Ma-
Longuís~ímo Prazo", haseia-se no modelo clássico. Mantém o croeconomia", apresenta alguns dos modelos microeconômi-
pressuposto de equilíhrio do mercado, mas dá nova ênfase ao cos que são úteis na análise das questões macroeconômicas. Essa
crescimenw no estoque de capital, na força de trahalho e no parte ex;unina, por.exemplo, as decisões das famílias sobre quan-
conhecimento tecnológico. A teoria do crescimento \'isa ex- to consumir e quanto poupar, e as decisões da empresa sobre
plicar c~imo a economia e\'olui ao longo de um período de vá- quanto investir. Juntas, essas decisões individuais formam o
rias décadas. quadro maior da macroeconomia. O objetivo do estudo deta-
A Parte IV. "Teoria do Ciclo Econômico: A Economia no lhado dessas decisões microeconômícas é aprimorar nossa com-
Curro Prazo", examina o comportamento da economia quando preensào da economia agregada.

RESUMO
1. A macroeconomia é o estudt) da economia como um todo, 3. Um aspecto fundamental de um modelo macroecontnni-
incluindo ll crescimento das rendas. as mudanças dos pre- co é o fat0 de pressupor que os preços são flex íveis ou rí-
ços e a taxa de desemprego. A macroeconomia tenta expli- gidos. Segundo a maioria dos macroeconomistas, os mo-
car os eYentos econômicos e. ao mesmo tempo, projetar delos com preços flex íveis descrevem a economia no lon-
políticas para melhorar o de~empenho da economia. go prazo, enquanto os modelos com preços rígidos ofe-
recem uma descrição melhúr da economia no curro pra-
2. Para compreender a economia, os economistas usam mode-
zo .
los, teorias que simplificam a realidade para revelar como
as variáveis exógenas influenciam as variáveis endógenas. 4. A microeconomia é o estudo de como as empresas e os in-
A arte da ciência econômica é julgar se um modelo capta as divíduos tomam decisões, e como ess.es tomadores de deci-
relações econômicas relevantes na questão em estudo. Como sões interagem. Como os eventos macroeconômicos deri-
nenhum modelo isolado pode responder a todas as questões, vam de muitas interações microeconômicas, os macroeco-
os macroeconomistas utilizam diferentes modelos para es- nomistas utilizam. muitos dos instrumentos da microecono-
tudar diferentes questões. mia.
A MACROECONOMIA COMO CU'.~NCJA 11

CONCEITOS-CHAVE
Macroeconomia Depressão Equilíbrio do mercado
PIB real Deflação Preços flexíveis e preços rígidos
Taxa de inflação Moddos Microeconomia
Taxa de desemprego Variáveis endógenas
Recessão Variáveis exógenas

QUESTÕES PARA REVISÃO


I. Explique as diferenças entre macroeconomia e microeconomia. 3. Qual é o modelo de equilíbrio do mercado! Quando o pressuposto
Como as duas áreas se relacionam/ de equilíbrio do mercado é apropris.do?
z. Por que os economisras consuoem modelos 1

PROBLEMAS E APLICAÇÕES
I. Que quesrões macroeconômicas estiveram no notici,írio ultima- quantidade de sorvete vendida. Em sua explirnçiin, identifique as
mente! vari,íveis exógenas e endógenas.
2. Que características você acha que definem uma ciência? O estudo 4. A que freqüência muda o rreço que você paga por Ulll corte de
da economia- tem essas características! Vucê acha que .i macroe- cn he lo? O que sua resrosra sugere sohre a milidade dos modelos
conomia deve ser cunsiderada uma ciência? Por que sim, ou pm de ~quilíbrio du mercado p,1rn ,malis,lf o mercado ele cone de
que não? c.1hdo?
3. Utilize o modelo de oferca e demanda par,1 explirnr cumo um,1
queda no pn:ço do fro:en '(Ogun afetari.i 1, preço do sorvete e :1
Capítulo 2

Os DAoos DA MAcROECONOMIA

E wn cr m n1pit,d tcorí,w· untes dos dmlo.s. Com extrema insensihilidaclc,


i:oHl<.\'.u . . ..;<.' a dis t,H·cer o ., fc..tos J,ard se udaf,l'ar Lls teorias.
cm i·c-:: de se ajustar as teorias a().s fato s .
-- ~lwd ..,1 H, ,Im,·,

Os cientistas, os economistas e os deteti\·es têm muita coisa em ção óhvia: como diz o ditado antigo, o plural de "experiências
comum: todos querem descobrir o que está acontecendo no pessoais" é "dados".
mundo à sua volta. Para isso, contam com a teoria e a observa- Hoje, os dados econômicos oferecem uma fonte de informa-
ção. Constroem teorias na tentativa de dar sentido ao que vêem ções sistemáticas e objetivas. Quase todos os dias, os jornais
acontecer. Depois, passam a fazer uma observação mais sistemá- publicam uma reportagem sobre alguma estatística nova, que
tica, a fim de avaliar a validade das teorias. Só quando a teoria e acaba de ser divulgada. A maior parte dessas estatísticas é pro-
as evidências combinam é que eles acham que compreendem a duzida pelo governo. Vários órgãos governamentais pesquisam
situação. Este capítulo analisa os tipos de observação que os eco- famílias e empresas, a fim de saber da sua atividade econômi-
nomistas utilizam para desenvolver e testar suas teorias. ca: quanto ganham, o que compram, que preços cobram, se têm
A observação casual é uma fonte de informação sobre o que emprego ou procuram por trabalho, e assim por diante. Com
está acontecendo na economia. Quando você faz compras, base nessas pesquisas, são calculadas várias estatísticas, resumin-
observa a velocidade à qual os preços aumentam . Quando pro, do o estado da economia. Os economistas usam essas estatísti-
cura um emprego, descobre se as empresas estão contratando. cas para estudar a economia; os formuladores de política eco-
Como somos todos participantes da economia, temos uma idéia nômica usam-nas para monitorar os acontecimentos e formu-
das condições econômicas ao conduzirmos nossas vidas. lar suas políticas.
Um século atrás, os economistas que monitoravam a eco- Este capítulo enfoca as três estatísticas que os economistas
nomia não tinham muito mais em que se basear do que essas e formuladores de política econômica usam com mais freqüên-
observações casuais. Tais informações fragmentadas tornavam cia. O produto interno bruto, ou PIB, informa qual é a renda
mais difícil a construção de política econômica. Um incidente total do país e o gasto total com sua produção de bens e servi-
com uma pessoa sugeria que a economia se deslocava em uma ços. O índice de preços ao consumidor, ou IPC, mede o nível
direção, enquanto um incidente com urna pessoa diferente su- de preços. A taxa de desemprego informa qual é a fração de
geria que o movimento era no sentido contrário. Os economis- trabalhadores desempregados. Nas próximas páginas, vamos
tas precisavam, de alguma maneira, de combinar as muitas ex- mostrar como são calculadas essas estatísticas, e o que elas nos
periências individuais em um todo coerente. Havia uma solu- dizem sobre a economia.

2-1 MEDINDO O VALOR DA ATIVIDADE ECONÔMICA:


PRODUTO INTERNO BRUTO
O produto interno bruto é considerado por muitos a melhor Há duas maneiras de se considerar essa estatística. Uma ma-
medida do desempenho da economia. Nos Estados Unidos, neira de ver o PIB é como a renda total de todos na economia.
essa estatística é calculada a cada três meses pelo Centro de Outra maneira de pensar no PIB é como o gasto total com a pro-
Análise Econômica (Bureau of Economics Analysis, uma dução de bens e serviços da economia. De todos os pontos de vis-
parte do Departamento do Comércio dos Estados Unidos), a ta, é evidente por que o PIB é uma medida do desempenho
partir de uma grande quantidade de fomes de dados primári- econômico. O PIB mede algo com que as pessoas se importam:
os. O objetivo do PIB é resumir em um únicçi número o valor suas rendas. Além disso, uma economia com uma grande pro-
em dólares da atividade econômica em um determinado pe- dução de bens e serviços pode satisfazer melhor às demandas
ríodo. de famílias, empresas e governo.
ÜS DADOS DA MACROECONOMIA 13

Como o PIB pode medir ao mesmo tempo a renda da eco- flui das famílias para as empresas, e o pão flui das empresas para
nomia e o gasto com sua produção? O motivo é que essas duas as famílias.
quantidades são na verdade a mesma coisa: para a economia O circuito externo na Fig. 2-1 representa o fluxo correspon-
como um todo, a renda deve ser igual ao gasto. Esse fato, por dente de dólares. As famílias compram pão das empresas. As
sua vez, é decorrente de outro, ainda mais fundamental: como empresas usam uma parte da receita dessas vendas para pagar
cada transação tem ao mesmo tempo um vendedor e um com- os salários de seus trabalhadores. O restante é o lucro, que per-
prador, cada dólar de gasto de um comprador deve se tornar tence aos donos das empresas (que, por sua vez, também inte-
um dólar de renda para um vendedor. Quando Joe pinta a casa gram o setor de famílias). Portanto, o gasto com pão flui das
de Jane por $1.000, essa quantia é renda para Joe e gasto para famílias para as empresas, e a renda em forma de salários e lu-
Jane. A transação contribui com $1.000 para o PIB, indepen - cros flui das empresas para as famílias.
dentemente de estarmos somando todas as rendas ou todos os O PIB mede o fluxo de dólares na economia. Podemos
gastos. calculá-lo de duas maneiras. O PIB é a renda total da pro-
Para compreender mais plenamente o significado do PIB, dução de pão, que é igual à soma de salários e lucro - a me-
vamos recorrer à contabilidade da renda nacional, o sistema tade superior do fluxo circular de dólares. O PIB é também
contábil usado para medir o PIB e muitas estatísticas relacio- o gasto total com compras de pão - a metade inferior do
nadas. fluxo circular de dólares. Para calcular o PIB, podemos olhar
para o fluxo de dólares das empresas para as unidades fami-
liares, 0u o flu xo de dólares das unidades familiares para as
RENDA, GASTO E O FLUXO CIRCULAR empresas.
Imagine uma economia que produza um único bem, pão, de um Essas duas maneiras de calcular o PIB devem ser iguais,
único insumo, o trabalho. A Fig. 2-1 ilustra todas as transações porque o gasto dos compradores com os produtos é, pelas
econômicas que ocorrem entre as famílias e as empresas dessa regras da contabilidade, a renda dos vendedores desses pro-
economia. dutos. Cada transação que afeta o gasto deve afetar a renda,
O circuito interno na Fig. 2-1 representa os fluxos de pão e e cada transação que afeta a renda deve afetar o gasto. Va-
trabalho. As famílias vendem seu trabalho para as empresas. A s mos supor, por exemplo, que uma empresa produza e venda
empresas usam o trabalho de seus empregados para produzir pão, mais um pão para uma família. É evidente que essa transa-
o qual vendem em seguida para as famílias. Ou seja, o trabalho ção afeta o gasto total com pão, mas também tem um efeito

Renda($)

Trabalho

Famllias Empresas

Bens (pào)

Gasto($)

Fig. 2-1 O Fluxo Circular Esta figura ilustra os fluxos entre empresas e famílias em uma economia que produz um único bem. pão, de um único
insumo, trabalho. O circuito interno representa os fluxos de trabalho e pão: as famílias vendem seu trabalho às empresas, e as empresas vendem o
pão que produzem às famílias. O circuito externo representa os fluxos correspondentes de dólares: as famílias pagam às empresas pelo pão, e as
empresas pagam salários e lucros às famílias. Nesta economia, o PIB é o gasto total com pão e a renda total da produção de pão.
14 CAPÍTULO 2

SAIBA MAis
Estoques e Fluxos
Muitas variáveis econômicas mensuram uma quantidade de ferentes. Dizemos que a banheira contém 200 litros de água,
alguma coisa: uma quantidade de dinheiro, uma quantida- mas que a água está saindo da torneira a 20 litros por minuto.
de de bens, e assim por diante. Os economistas distinguem O PIB é provavelmente a mais importante variável de
dois tipos de variáveis quantitativas: estoques e fluxos. Um fluxo na economia: informa quantos dólares estão fluindo
estoque é uma quantidade medida em um determinado pelo fluxo circular da economia por unidade de tempo.
momento, enquanto fluxo é uma quantidade medida por Quando você ouve alguém dizer que o PIB dos Estados
unidade de tempo. Unidos é de $10 trilhões, deve compreender que isso signi-
A banheira mostrada na Fig. 2,2 é o exemplo clássico fica que é de $10 trilhões por ano. (De modo equivalente,
usado para ilustrar estoques e fluxos. A quantidade de água podemos dizer que o PIB dos Estados Unidos é de $317 .000
na banheira é um estoque: é a quantidade de água contida por segundo.)
na banheira em determinado momento. A quantidade de Muitas vezes, estoques e fluxos têm relação entre si. No
água que sai da torneira é um fluxo: é a quantidade de água exemplo da banheira, essas relações são evidentes. O esto-
que está sendo acrescentada à banheira por unidade de tem- que de água na banheira representa a acumulação do fluxo
po. Observe que medimos estoques e fluxos em unidades di- da torneira, e o fluxo de água representa a mudança no es-
toque. Quando construímos teorias para explicar as variá-
veis econômicas, com bastante freqüência é útil determinar
se as variáveis são estoques ou fluxos, e se há relações entre
elas.
Aqui estão alguns exemplos de estoques e fluxos relacio-
nados, que estudaremos em capítulos subseqüentes:
> A riqueza de uma pessoa é um estoque; renda e gasto são
fluxos.
>- O número de pessoas desempregadas é um estoque; o nú-
mero de pessoas que estão perdendo o emprego é um fluxo.
Fig. 2-2 Estoques e Fluxos A quantidade de água na banheira é > A quantidade de capital na economia é um estoque; a
um estoque, uma quantidade medida em um determinado momen- quantidade de investimento é um fluxo.
to. A quantidade de água que sai da torneira é um fluxo , uma quan- >- A dívida do governo é um estoque; o déficit orçamentá-
tidade medida por unidade de tempo. rio do governo é um fluxo.

igual na renda coral. Se a empresa produz um pão extra sem A Soma de Maçãs e Laranjas A economia dos Estados Uni-
contratar mais trabalho (por exemplo , tornando o processo dos produz muitos bens e serviços diferentes: hambúrgueres,
de produção mais eficiente), o lucro aumenta. Se a empresa cortes de cabelo, carros, computadores e assim por diante. O
produz o pão extra pela contratação de mais trabalho, os sa- PIB combina o valor desses bens e serviços em uma única me-
lários aumentam. Nos dois casos, gasto e renda aumentam dida. A diversidade de produtos na economia complica o cál-
igualmente. culo do PIB, porque diferentes produtos podem ter diferentes
valores.
Suponhamos, por exemplo, que a economia produz quatro
REGRAS PARA O CÁLCULO DO PIB maçãs e três laranjas. Como calculamos o PIB? Podemos sim-
Em uma economia que produz apenas pão, podemos calcular o plesmente somar maçãs e laranjas , e concluir que o PIB é igual
PIB pela soma do gasto total com pão. As economias reais, no a sete frutas. Mas isso só faz sentido se pensarmos em maçãs e
entanto, incluem a produção e venda de uma vasta quantida- laranjas com um valor igual, o que em geral não acontece. (Isso
de de bens e serviços. Para calcular o PIB de uma economia tão ficaria ainda mais claro se a economia produzisse quatro me-
complexa, será útil ter uma definição mais precisa: o produto lancias e três uvas.)
interno bruto (PIB) é o valor de mercado de todos os bens e serviços Para calcular o valor total de bens e serviços, a contabilida-
finais produzidos dentro de uma economia, em determinado perío~ de da renda nacional usa os preços de mercado, porque esses
do . Para verificar como essa definição é aplicada, vamos exa- preços refletem quanto as pessoas estão dispostas a pagar por
mirtar algumas das normas que os economistas seguem para um bem ou serviço. Assim, se uma maçã custasse $0,50 e uma
construir essa estatística. laranja custasse $1,00, o PIB seria
-
Os DADOS DA MACROECONOMIA 15

PIB = (Preço das Maçãs X Quantidade de Maçãs) Bens Intermediários e Valor Adicionado Muitos bens são
+ (Preço das Laranjas X Quantidade de Laranjas) produzidos em estágios: as matérias-primas são processadas em
= ($0,50 X 4) + ($1,00 X 3) bens intermediários por uma empresa, e depois vendidas a ou-
= $5,00. tra empresa para o processamento final. Como devemos tratar
esses produtos ao calcularmos o PIB? Vamos supor, por exem-
O PIB é igual a $5,00- o valor de todas as maçãs, $2,00, mais
plo, que um criador de gado venda 100 gramas de carne ao
o valor de todas as laranjas, $3,00.
McDonald's por $0,50, e depois o McDonald's vende a você
um hambúrguer por $1,50. O PIB deve incluir a carne e o ham-
Bens Usados Quando a Topps Company faz um pacote de
búrguer (um total de $2,00), ou apenas o hambúrguer ($1,50)?
figurinhas de jogadores de beisebol e vende por 50 centavos,
A resposta é que o PIB inclui apenas o valor dos bens finais.
essa quantia é acrescentada ao PIB do país. Mas o que aconte-
Ou seja, o hambúrguer está incluído no PIB, mas não a carne:
ce quando um colecionador vende uma figurinha rara de
o PIB aumenta em $1 ,50, não em $2,00. O motivo é que ova-
Mickey Mande para outro colecionador por $500? Esses $500
lor dos bens intermediários já está incluído como parte do pre-
não são parte do PIB. O PIB mede o valor dos bens e serviços
ço de mercado dos bens finais em que são usados. Acrescentar
produzidos agora. A venda da figurinha de Mickey Mantle re-
os bens intermediários aos bens finais seria dobrar a contagem
flete a transferência de um ativo, não um acréscimo à renda da
- ou seja, a carne seria contada duas vezes. Por isso, o PIB é o
economia. Assim, a venda de bens usados não é incluída como
valor total de bens e serviços finais produzidos.
parte do PIB.
Uma maneira de se calcular o valor de todos os bens e ser-
viços finais é somar o valor agregado em cada estágio da pro-
O Tratamento de Estoques Imagine que uma padaria con-
dução. O valor agregado de uma empresa é igual ao valor da
trata trabalhadores para produzirem mais pão, paga seus salári-
produção da empresa menos o valor dos bens intermediários
os, e depois não consegue vender o pão adicional. Como essa
que a empresa compra. No caso do hambúrguer, o valor agre-
transação afeta ó PIB?
gado do pecuarista é $0,50 (presumindo que ele não comprou
A resposta depende do que acontece com o pão que não é
bens intermediários), enquanto o valor agregado do McDonal-
vendido. Vamos primeiro supor que o pão estraga. Nesse caso,
d's é $1,50 - $,50, o que dá $1,00. O valor agregado total é
a empresa pagou mais em salários, mas não recebeu qualquer
$0,50 + $1,00, oquedá$1,50. Para a economia como um todo,
receita adicional. Logo, o lucro da empresa é reduzido pelo mon-
a soma de cada valor agregado deve ser igual ao valor de todos
tante ao qual os salários aumentaram. O gasto total na econo-
os bens e serviços finais. Por isso, o PIB é também o valor agre-
mia não mudou, porque ninguém comprou o pão. A renda to-
gado total de todas as empresas que operam na economia.
tal também não mudou - embora mais seja distribuído como
salários e menos como lucro. Como não afeta nem a despesa
Serviços Habitacionais e Outras Imputações Embora a
nem a receita, a transação não altera o PIB.
maioria dos bens e serviços seja avaliado pelo preço de merca-
Agora, vamos supor, em vez disso, que o pão seja posto no
do quando se calcula o PIB, alguns não são vendidos no mer-
estoque, para ser vendido mais tarde. Neste caso, a transação é cado, e por isso não têm preço de mercado. Se o PIB inclui o
tratada de maneira diferente. Presume-se que os donos da em-
valor desses bens e serviços, temos que usar uma estimativa do
presa "compraram" o pão para fazer estoque. O lucro da firma seu valor. Essa estimativa é chamada de valor imputado.
não é reduzido pelos salários adicionais que ela pagou. Como As imputações são especialmente importantes para se de-
os salários mais altos aumentam a renda total, e como o gasto terminar o valor da moradia. Uma pessoa que aluga uma casa
maior com o estoque aumenta a despesa total, o PIB da econo- está comprando serviços de moradia, e proporcionando renda
mia cresce. para o locador; a locação é parte do PIB, como despesa do lo-
O que acontece mais tarde, quando a empresa vende o pão catário e renda do locador. Muitas pessoas, no entanto, vivem
que tinha em estoque? Esse caso é muito parecido com a venda em imóveis próprios. Embora não paguem aluguel a um loca-
de um bem usado. Há um gasto dos consumidores de pão, mas dor, desfrutam de serviços habitacionais similares aos que são
há um desinvestimento de estoque da empresa. Esse gasto ne- comprados por locatários. Para levar em consideração os servi-
gativo da empresa contrabalança o gasto positivo dos consu- ços habitacionais dos que são proprietários de imó'_'.eis, o PIB
midores; portanto, a venda do estoque não afeta o PIB. inclui o "aluguel" que eles "pagam" para si mesmos. E claro que
A regra geral é que, quando uma empresa aumenta seu es- os proprietários não pagam esse aluguel para si mesmos. O De-
toque de bens, esse investimento em estoque é contabilizado partamento do Comércio estima qual seria o valor de mercado
como gasto dos donos da empresa. Assim, a produção para es- da locação de uma casa, se fosse alugada, e inclui esse aluguel
toque aumenta o PIB tanto quanto a produção para venda fi- imputado como parte do PIB. Esse valor é incluído tanto na
nal. Uma venda de estoque, no entanto, é uma combinação de despesa quanto na renda do proprietário.
gasto positivo (a compra) e gasto negativo (o desinvestimento As imputações também são usadas na avaliação dos servi-
do estoque). Portanto, não afeta o PIB. Esse tratamento does- ços do governo. Por exemplo, os policiais, bombeiros e sena-
toque garante que o PIB seja um reflexo da produção corrente dores prestam serviços à população. Atribuir um valor a esses
de bens e serviços da economia. serviços é difícil, porque eles não são vendidos no mercado, e
r 16 CAPITULO 2

por issonão têm preço de mercado. A contabilidade da renda mistas chamam o valor de bens e serviços medidos pelos pre-
nacional inclui esses serviços no PIB ao avaliá-los por seu cus- ços correntes de PIB nominal.
to. Ou seja, os salários desses servidores públicos são usados Uma medida melhor do bem-estar econômico seria contar a
como uma medida do valor da sua produção. produção de bens e serviços da economia sem qualquer influên-
Em muitos casos, uma imputação deveria ser dada por prin- cia das mudanças de preços. Para esse propósito, os economistas
cípio, mas não o é à guisa de simplicidade. Como o PIB inclui usam o PIB real, que é o valor dos bens e serviços medidos por
o aluguel imputado de casas ocupadas pelos proprietários, era um conjunto de preços constante. Ou seja, o PIB real mostra o
de se esperar que incluísse também o aluguel imputado de car- que teria acontecido com o gasto em produção se as quantidades
ros, cortadores de grama, jóias e outros bens duráveis, de pro- mudassem, com os preços permanecendo constantes.
priedade das famílias. Mas o valor desses serviços de locação Para entender como o PIB real é calculado, imagine que
fica fora do PIB. Além disso , uma parte da produção da econo- queríamos comparar a produção de 2002 com a produção de
mia é produzida e consumida em casa, e nunca entra no mer- 2003, em nossa economia de maçãs e laranjas. Poderíamos
cado. Por exemplo, as refeições preparadas em casa são simila- começar pela escolha de um conjunto de preços, chamados de
res às refeições oferecidas em um restaurante, mas o valor agre- preços do ano-base, tal como os preços que prevaleciam em 2002.
gado das refeições em casa não entra no PIB. Os bens e serviços são depois somados, utilizando-se esses pre-
Por fim, nenhuma imputação é feita para o valor dos bens e ços do ano-base para avaliar os diferentes bens nos dois anos.
serviços vendidos na economia infonnal. É a parte da economia O PIB real em 2002 seria
que as pessoas escondem do governo, porque desejam se esqui-
var da tributação, ou porque a atividade é ilegal. Os emprega-
PIB real = (Preço das Maçãs 2002 X Quantidade de
Maçãs 2002)
dos domésticos, que recebem sem qualquer registro, constitu-
em um exemplo. O tráfico de drogas é outro.
+ (Preço das Laranjas 2002 X Quantidade
de Laranjas 2002)
Como as imputações necessárias para se calcular o PIB são
apenas aproximadas, e como o valor de muitos bens e serviços De modo semelhante, o PIB real em 2003 seria
é deixado de fora, o PIB é uma medida imperfeita da atividade
PIB real = (Preço das Maçãs 2002 X Quantidade de
econômica. Essas imperfeições são mais problemáticas quando
Maçãs 2003)
se comparam os padrões de vida de diferences países. As dimen-
+ (Preço das Laranjas 2002 X Quantidade
sões da economia informal, por exemplo, variam de um país para
de Laranjas 2003)
outro. Contudo, na medida em que essas imperfeições perma-
necem relativamente constantes ao longo do tempo, o PIB é E o PIB real em 2004 seria
útil para se comparar a atividade econômica de um ano para PIB real = (Preço das Maçãs 2002 X Quantidade de
outro. Maçãs 2004)
+ (Preço das Laranjas 2002 X Quantidade
PIB REAL VERSUS PIB NOMINAL de Laranjas 2004)
Os economistas usam as regras que acabamos de descrever para Observe que os preços de 2002 são usados para se calcular o PIB
calcular o PIB, que avalia a produção total de bens e serviços real durante todos os três anos. Como os preços se mantêm
da economia. Mas o PIB é uma boa medida do hem-estar eco- constantes, o PIB real só varia de um ano para outro se as quan-
nômico? Pense, mais uma vez, na economia que produz apenas tidades produzidas variarem. Como a capacidade de uma soci-
maçãs e laranjas. Nessa economia, o PIB é a soma do valor de edade de proporcionar satisfação econômica a seus integrantes
todas as maçãs produzidas e do valor de todas as laranjas pro- depende, em última instância, das quantidades de bens e ser-
duzidas. Ou seja, viços produzidos, o PIB real oferece uma medida melhor do
bem-estar econômico do que o PIB nominal.
PIB = (Preço das Maçãs X Quantidade de Maçãs)
+ (Preço das Laranjas X Quantidade de Laranjas)
0 DEFIATOR DO PIB
Observe que o PIB pode aumentar por causa de uma elevação
nos preços ou de uma elevação na quantidade . A partir do PIB nominal e do PIB real podemos calcular uma
Éfácil perceber que o PIB calculado dessa maneira não é uma terceira estatística: o deflator do PIB. O deflator do PIB, tam-
boa medida do bem-estar econômico. Ou seja, essa medida não bém chamado de deflator implícito de preços do PIB, é defini -
reflete de maneira acurada quão bem a economia pode satisfa- do como a razão entre o PIB nominal e o PIB real:
zer as demandas de famílias, empresas e governo. Se todos os PIB nominal
preços dobrassem sem qualquer mudança nas quantidades, o PIB Defl ator d o PIB =- -- - -
PIB real
dobraria. Mas seria enganador dizer que dobrou a capacidade
da economia de satisfazer as demandas, porque a quantidade O deflator do PIB reflete o que está acontecendo com o nível
de todos os bens produzidos permaneceu a mesma. Os econo- geral de preços na economia.
pz

Os DADOS DA MACROECONOMIA 17

Para compreender isso melhor, imagine outra vez uma eco- Nesta forma, pode-se constatar que o deflator faz jus ao seu
nomia com apenas um bem, o pão. Se P é o preço do pão e Q a nome: é usado para deflacionar (ou seja, tirar a inflação de) o
quantidade vendida, o PIB nominal é o total de dólares gasto PIB nominal e calcular o PIB real.
com pão naquele ano, P X Q. O PIB real é o número de pães
produzidos no ano vezes o preço do pão em algum ano-base,
MEDIDAS PONDERADAS EM CADEIA DO
P"""' X Q. O deflator do PIB é o preço do pão no ano relativo
ao preço do pão no ano-base, P/P0, ,. . PIB REAL
A definição do deflator do PIB permite-nos separar o PIB Temos falado do PIB real como se os preços usados para calcu-
nominal em duas partes: uma parte mede as quantidades (PIB lar essa medida nunca mudassem em relação aos valores no ano-
real) e a outra mede os preços (o deflator do PIB) . Ou seja, base. Se isso acontecesse de fato, os preços se tornariam cada
vez mais ultrapassados. Por exemplo, o preço dos computado-
PIB nominal = PIB real X Deflator do PIB. res caiu de modo substancial nos últimos anos, enquanto o preço
da anuidade na universidade subiu. Ao se avaliar a produção
O PIB nominal mede o valor corrente em dólares da produção da eco- de computadores e educação, seria enganador utilizar os pre-
nomia. O PIB real mede a produção avaliada em preços constantes. ços. que prevaleciam dez ou vinte anos atrás.
O deflator do PIB mede o preço da produção relativo ao seu preço Para resolver esse problema, o Centro de Análise Econômica
desta no ano-base. Podemos também escrever a equação como dos EUA atualizava periodicamente os preços usados para cal-
cular o PIB real. Em intervalos aproximados de cinco anos, um
PIB real = PIB nominal novo ano-base era escolhido. Os preços eram mantidos fixos,
Deflator do PIB utilizados para se medir a mudança de ano para ano na produ-

Para manipular muitas relações econômicas, há um recurso mento do deflator do PIB (5%) e do crescimento do PIB
aritmético que é útil conhecer: a variação percentual de um real (3%). 1
produto de duas variáveis é aproximadamente a soma das varia- Um segundo recurso aritmético segue como um corolário
ções percentuais em cada uma das variáveis. do primeiro: a variação percentual de uma proporção é apro-
Para entender como isso funciona, pense em um exem- ximadamente a variação percentual do numerador menos a
plo. Seja P o deflator do PIB e Y o PIB real. O PIB nominal variação percentual do denominador. Mais uma vez, consi-
é P X Y. A regra enuncia que dere um exemplo. Seja Y o PIB e La população. Assim, Y/L
é o PIB per capita. O segundo método enuncia
Variação Percentual de (P X Y)
= (Variação Percentual de P) Variação Percentual de (Y/L)
+ (Variação Percentual de Y). = (Variação Percentual de Y)
- (Variação Percentual de L).
Por exemplo, suponha que em um ano o PIB real seja 100
e o deflator do PIB seja 2; no ano seguinte, o PIB real é Por exemplo, suponha que no primeiro ano Y seja 100.000
103 e o deflator do PIB é 2,1. Podemos calcular que o PIB e L seja 100. Portanto, Y/L é 1.000; no segundo ano, Y é
real subiu 3% e que o deflator do PIB subiu 5%. O PIB no- 110.000 e L é 103; portanto, Y/L é 1.068. Observe que o
minal passou de 200 no primeiro ano para 216,3 no segun- crescimento do PIB per capita (6,8%) é aproximadamente
do, um aumento de 8,15%. Observe que o crescimento no o crescimento da renda (10%) menos o crescimento na
PIB nominal (8,15%) é mais ou menos a soma do cresci- população (3%).

'Nota matemática: A prova de que esse recurso dá certo começa pela seqüência de cálculos:
d(PY) = Y dP + P dY.
Agora, divida os dois lados da equação por PY para obter
d(PY)/(PY) = dP/P + dY/Y.
Observe que todos os três termos nesta equação são variações percentuais.
18 CAPÍTULO 2

ção de bens e serviços, até que o ano-base fosse outra vez atu- da economia. Também se interessam pela distribuição da pro-
alizado. dução entre os usos alternativos. A contabilidade da renda
Em 1995, o Centro anunciou uma nova política para o tra- nacional divide o PIB em quatro amplas categorias de gasto:
tamento de mudanças do ano-base. Em particular, agora se
enfatizam as medidas ponderadas em cadeia do PIB real. Comes- > Consumo (C)
sas novas medidas, o ano-base muda continuamente ao longo > Investimento (I)
do tempo. Em essência, os preços médios em 2001 e 2002 são > Compras do governo ( G)
utilizados para medir o crescimento real de 2001 para 2002; os > Exportações líquidas (NX)
preços médios em 2002 e 2003 são usados para medir o cresci-
mento real de 2002 para 2003; e assim por diante. Todas essas Assim, representando o PIB por Y
taxas de crescimento de ano para ano, são reunidas para for-
mar urna "cadeia", que se pode utilizar para comparar a produ- Y=C + I + G + NX.
ção de bens e serviços entre duas datas quaisquer.
Essa nova medida do PIB real em cadeia é melhor do que a O PIB é a soma de consumo, investimento, compras do gover-
medida mais tradicional, pois assegura que os preços utilizados no e exportações líquidas. Cada dólar do PIB está incluído em
para calcular o PIB real nunca estejam defasados. Para a maio- uma dessas categorias. Essa equação é uma identidade - uma
ria dos propósitos, no entanto, as diferenças não são importan- equação que permanecerá válida por causa da maneira como
tes. As duas medidas do PIB real têm uma estreita correlação. as variáveis são definidas. Ela é chamada de identidade da con-
O motivo desta estreita relação é o fato de que a maioria dos tabilidade da renda nacional.
preços relativos muda lentamente ao longo do tempo. Ou seja, O consumo consiste nos bens e serviços comprados pelas fa-
as duas medidas do PIB real refletem a mesma coisa: as mudan - mílias. É dividido em três subcategorias: bens não-duráveis, bens
ças na produção de bens e serviços gerais na economia. duráveis e serviços. Os bens não-duráveis são aqueles que du-
ram pouco, como alimentos e roupas. Os bens duráveis são aque-
les que duram mais, como carros e aparelhos de televisão. Os
ÜS COMPONENTES DA DESPESA serviços incluem o trabalho efetuado por indivíduos e empre-
Os economistas e os formuladores de políticas econômicas não sas aos consumidores, como cortes de cabelos e consultas mé-
se preocupam apenas com a produção total de bens e serviços dicas.

SAIBAMAfs
O que Ê Investimento!
Os novatos em macroeconomia ficam às vezes confusos pela ção de Smith não criou uma nova moradia para a econo-
maneira corno os macroeconomistas usam palavras conhe- mia; apenas transferiu a propriedade de uma moradia que já
cidas de maneiras novas e específicas. Um exemplo é o ter- existia. A compra de Smith é investimento para ele, mas é
mo "investimento". A confusão ocorre porque o que parece desinvestimento para a pessoa que vendeu a casa. Em con-
investimento para urna pessoa pode não ser investimento traste, Jones acrescentou uma nova moradia à economia; sua
para a economia como um todo. A regra geral é que o in- casa nova é contada como investimento.
vestimento da economia não inclui as compras que apenas Pense também nestes dois eventos:
redistribuem ativos já existentes entre diferentes pessoas.
> Bill Gates compra $5 milhões em ações da IBM de
Pela maneira como os macroeconornistas usam o termo, in-
Buffett, na Bolsa de Valores de Nova York.
vestimento é aquilo que cria capital novo.
> A General Motors vende $10 milhões em ações para o
Vamos considerar alguns exemplos. Suponha que obser-
público, e usa a receita para construir uma nova fábrica
vamos dois eventos:
de carros.
> Smith compra para si urna casa em estilo vitoriano de 100
Aqui, o investimento é de $10 milhões. Na primeira tran-
anos.
sação, Gates está investindo em ações da IBM, enquanto
> Jones constrói uma casa moderna para ser sua moradia.
Buffett está desinvestindo; para a economia, não há inves-
Qual é o investimento total aqui? Duas casas, uma casa, ou timento. Em contraste, a General Motors está usando parte
zero? da produção de bens e serviços da economia para aumentar
Um macroeconomista, diante dessas duas transações, seu volume de capital; por isso, sua nova fábrica é contada
conta apenas a casa dejones como investimento. A transa- como um investimento.
Os DADOS DA MACROECONOMIA 19

O investimento consiste em bens comprados para uso futu- tados por funcionários públicos. Não inclui pagamentos de
ro. O investimento também se divide em três subcategorias: in- transferências para pessoas, como previdência e assistência so-
vestimento fixo da empresas, investimento fixo imobiliário e cial. Como redistribuem a renda existente, e não são efetuados
investimento em estoque. O investimento fixo das empresas é em troca de bens e serviços, os pagamentos de transferência não
a aquisição de novas fábricas e equipamentos. O investimento fazem parte do PIB.
imobiliário é a compra de novos imóveis pelas famílias e Loca- A última categoria, exportações líquidas, leva em considera-
dores. Investimento em estoque é o aumento do estoque de bens ção o comércio com outros países. As exportações líquidas são
das empresas (se os estoques estão caindo, o investimento em os valores de bens e serviços exportados para outros países
estoque é negativo) . menos o valor dos bens e serviços que recebemos do exterior.
Compras do governo são os bens e serviços adquiridos pe- A exportações líquidas representam o gasto líquido do exteri-
los governos federal, estadual e municipal. A categoria inclui or com nossos bens e serviços, provendo renda para os produ-
itens como equipamentos militares, estradas e os serviços pres- tores nacionais.

ESTUDO DE CASO
0 PIB E SEUS COMPONENTES
Em 2000, o PIB dos Estados Unidos totalizou cerca de $10
trilhões. É um número tão grande que toma-se quase impossí- Total (bilhões Per capita
vel compreendê-lo. Podemos facilitar sua compreensão dividin- de dólares) (dólares)
do-o pela população dos Estados Unidos no ano de 2000, de Produto Interno Bruto 9.963,1 36.174
275 milhões de habitantes. Dessa maneira, obtemos o PIB per
Conswno 6.757,3 24.534
capita - a quantidade de gasto por americano médio-, que Bens não-duráveis 2.010,0 7.298
foi de $36.1 74 em 2000. Bens duráveis 820,3 2.978
Como esse PIB foi usado? A Tabela 2-1 mostra que cerca de Serviços 3.927,0 14.258
dois terços, ou $24.534 per capita, foram gastos em consumo. Investimento 1.832,7 6.654
O investimento foi de $6.654 per capita. As compras do go- Investimento fixo não-habitacional 1.362,2 4.946
verno foram de $6.331 per capita, dos quais $1.369 foram gas- Investimento fixo habitacional 416,0 1.510
tos pelo governo federal em defesa nacional. Investimento em estoque 54,5 198
O americano médio comprou $5.330 em bens importados Compras do Governo 1.743,7 6.331
do exterior, e produziu $3.984 em bens exportados para outros Federal 595,2 2.161
Defesa 377,0 1369
países. Como o americano médio importou mais do que expor- Não-defesa 218,2 792
tou, as exportações líquidas foram negativas. Além disso, como Estadual e municipal 1.148,6 4.170
o americano médio ganhou menos com a venda aos estrangei- Exportações Líquidas -370,7 -1.346
ros do que gastou com bens estrangeiros, a diferença teve que Exportações 1.097,3 3.984
ser financiada pela tomada de empréstimos de estrangeiros (ou, Importações 1.468,0 5.330
o que é equivalente, pela venda de alguns ativos). Assim, o ame-
Fonte: U. S. Department of Commerce.
ricano médio tomou emprestado $1.346 do exterior em 2000.

ÜUTRAS MEDIDAS DE RENDA PNB = PIB + Pagamentos do Fator do Exterior -


- Pagamentos do Fator para o Exterior.
A contab ilidade da renda nacional inclui outras medidas de ren-
da, que diferem um pouco da definição do PIB. É importante Enquanto o PIB mede a renda total da produção interna, o PNB
ter noção das várias medidas, porque os economistas e a im- mede a renda total ganha pelos nacionais (residentes de um
prensa se ~eferem a elas com freqüência. país). Por exemplo, se um residente japonês possui um prédio
Para compreender como as medidas alternativas de renda de apartamentos em Nova York, a renda das locações torna-se
relacionam-se umas com as outras, vamos começar pelo PIB e parte do PIB americano, porque foi ganha nos Estados Unidos,
acrescentar ou subtrair várias quantidades. Para obter o produ~ Mas, como essa renda de locação é um fator de pagamento para
to nacional bruto ( PNB), acrescentamos as receitas do fator renda o exterior, não é parte do PNB norte-americano. Nos Estados
(salários, lucros e locações) do resto do mundo, e subtraímos Unidos, os pagamentos de fator do exterior e os pagamentos
os pagamentos do fator renda para o resto do mundo: de fator para o exterior são de tamanho similar - cada qual
20 CAPÍTULO 2

representando cerca de 3% do PIB- e por isso o PIB e o PNB Uma série de ajustes leva-nos da renda nacional para a ren-
são bastante próximos. da pessoal, o montante da quantidade de renda recebida pelas
Para obter o produto nacional líquido (PNL) subtraímos a depre- famflías e pelos empreendimentos que não são pessoas jurídi-
ciação do capital - a quantidade de fábricas, equipamentos e es- cas. Três desses ajustes são os mais importantes. Primeiro, re-
truturas residenciais da economia que se desgastam durante o ano: duzimos a renda nacional pelo montante que as empresas ga-
nham mas não distribuem, seja por estarem retendo ganhos,
PNL = PIB - Depreciação.
seja por pagarem impostos. Esse ajuste é efetuado pela sub-
Nas contas da renda nacional, a depreciação é chamada de con- tração dos lucros da empresa (que é igual à soma dos impos-
sumo de capital fixo. Equivale a cerca de 10% do PNB. Como a tos que ela paga, os dividendos e os ganhos retidos) e pelo
depreciação do capital é um custo de produção da economia, sua reacréscimo dos dividendos. Segundo, aumentamos a renda
subtração mostra o resultado líquido da atividade econômica. nacional pelo montante líquido que o governo desembolsa em
O próximo ajuste nas contas da renda nacional é pelos im- pagamentos de transferência. Esse ajuste é igual às transferên-
postos indiretos das empresas, tal como os impostos sobre ven- cias do governo para pessoas menos as contribuições de
das. Esses impostos, que constituem cerca de 10% do PNL, im- seguridade social pagas ao governo. Terceiro, ajustamos a ren-
põem uma diferença entre o preço que os consumidores pagam da nacional para incluir os juros que as famílias ganham, em
por um bem e o preço que as empresas recebem. Como as em- vez dos juros que as empresas pagam. Esse ajuste é feito pelo
presas nunca recebem esse imposto, ele não é parte da sua ren- acréscimo da renda pessoal de juros e pela subtração dos ju-
da. Depois que subtraímos os impostos indiretos das empresas do ros líquidos. (A diferença entre juros pessoais e juros lfquidos
PNL, obtemos uma medida que é chamada de renda nacional: deriva, em parte, dos juros sobre a dívida do governo.) As-
sim, a renda pessoal é
Renda Nacional = PNL - Impostos Indiretos sobre Empresas.
A renda nacional mede quanto todas as pessoas na economia
Renda Pessoal = Renda Nacional
- Lucros das Empresas
ganharam.
A contabilidade da renda nacional divide a renda nacional - Contribuições à Seguridade Social
em cinco componentes, dependendo da maneira como a ren- - Juros Líquidos
da é aferida. As cinco categorias, junto com os percentuais da + Dividendos
renda nacional pagos a cada uma, são as seguintes:
+ Transferências do Governo para
Indivíduos
> Remuneração dos empregados (70%). Os salários e benefíci- + Renda Pessoal de Juros.
os adicionais ganhos pelos trabalhadores.
> Renda dos proprietários (9%). Os rendimentos de empreen- Em seguida, se subtraímos os pagamentos de impostos pessoais
dimentos que não são pessoas jurídicas, como uma pequena e certos pagamentos não-tributários para o governo (como mul-
fazenda, uma loja de família, um escritório de advocacia. tas de trânsito), obtemos a renda pessoal disponível.
> Renda de locações (2%). A renda que os locadores recebem, inclu- Renda Pessoal Disponível
sive o aluguel imputado que os proprietários de suas residências = Renda Pessoal - Impostos Pessoais e
"pagam" a si próprios, menos as despesas, tal como a depreciação. Pagamentos Não-Tributários.
> Lucros das empresas (12%). A renda das empresas após o
pagamento aos empregados e aos credores. Estamos interessados na renda pessoal disponível porque é o
> Juros líquidos (7%). Os juros pagos pelas empresas nacionais montante do qual as famílias e os empreendimentos que não
menos os juros por elas aferidos, mais os juros aferidos de são pessoas jurídicas dispõem para gastar, depois de cumprirem
estrangeiros. suas obrigações fiscais com o governo.

ESTUDO DE CASO
0 CICLO SAZONAL E AJUSTE SAZONAL sazonal regular. A produção da economia aumenta durante o
Uma vez que o PIB real e as outras medidas da renda refletem ano, alcançando o pico no quarto trimestre (outubro, novem-
como está sendo o desempenho da economia, os economistas bro e dezembro) e depois caindo no primeiro trimestre (janei-
se interessam por estudar as oscilações trimestrais dessas variá- ro, fevereiro e março) do ano seguinte. Essas mudanças sazo-
veis. Quando começamos a fazê-lo, no entanto, um fato logo nais regulares são substanciais. Do quarto para o primeiro tri-
se destaca: todas essas medidas da renda apresentam um padrão mestre, o PIB real cai em média cerca de 8%. 2

2Robert B. Barsky e Jeffrey A. Miron, "The Seasonal Cycle and the Business Cycle", }oumal of Political Econom)' 97 (junho de 1989): 503-534.
p

Os DADOS DA MACROECONOMIA 21

Não surpreende o fato de que o PIB real siga um ciclo sazo- veis. Você constatará que a maioria das estatísticas econômi-
nal. Algumas dessas mudanças são atribuíveis a alterações em cas apresentadas nos jornais tem um ajuste sazonal. Isso signifi-
nossa capacidade de produzir: por exemplo, nos países de cli- ca que os dados foram ajustados para remover as oscilações sa-
ma frio, construir casas é mais difícil durante o inverno do que zonais regulares. (Os procedimentos estatísticos precisos usa-
durante as outras estações. Além disso, as pessoas têm gostos dos para isso são elaborados demais para serem abordados aqui,
sazonais, com ocasiões preferenciais para determinadas ativi- mas em essência implicam a subtração das alterações na renda
dades, como fazer compras nas férias e nos feriados. que são previsíveis apenas pela época do ano.) Portanto, quando
Quando os economistas estudam as oscilações no PIB real e você observa um crescimento ou queda do PIB real ou qual-
outras variáveis econômicas, muitas vezes querem eliminar a quer outra série de dados, deve olhar além do ciclo sazonal para
parcela de oscilações causadas por mudanças sazonais previsí- chegar a uma explicação.

2-2 MEDINDO O CUSTO DE VIDA:


O ÍNDICE DE PREÇOS AO CONSUMIDOR
Um dólar hoje não compra tanta coisa quanto comprava 20 Suponha, por exemplo, que o consumidor típico compre 5
anos atrás. O custo de quase tudo subiu. Esse aumento do nível maçãs e 2 Laranjas todos os meses. Portanto, a cesta de merca-
geral de preços é chamado de inflação, umas das preocupações dorias consiste em 5 maçãs e 2 laranjas, e o IPC é
básicas dos economistas e dos formuladores de políticas eco-
nômicas. Em capítulos posteriores, examinaremos em detalhes (5 X Preço Corrente das Maçãs)+
as causas e os efeitos da inflação. Aqui, trataremos apenas da IPC = (2 X Preço Corrente das Laranjas)
maneira como os economistas mensuram as mudanças no cus- (5 X Preço das Maçãs em 2002) +
to de vida.
(2 X Preço das Laranjas em 2002)

0 PREÇO DE UMA CESTA DE BENS Neste IPC, 2002 é o ano-base. O índice mostra quanto custa-
va comprar 5 maçãs e 2 laranjas em relação a quanto custa com-
A medida mais comumente usada para se determinar o custo
prar a mesma cesta de frutas em 2002.
de vida é o índice de preços ao consumidor (IPC). Nos Estados
O índice de preços ao consumidor é o que recebe mais aten-
Unidos, é do Departamento de Estatísticas do Trabalho ( Bureau
ção, mas não é o único índice de preços. Outro é o índice de
of Labor Statistics), que faz parte do Ministério do Trabalho
preços ao produtor, que mede o preço de uma cesta típica de bens
dos EUA (U. S. Department ofLabor), a incumbência de cal-
e serviços comprados pelas empresas, em vez de pelos consumi-
cular o IPC.* A tarefa começa pela coleta dos preços de mi-
dores. Além desses índices gerais de preços, o Departamento de
lhares de bens e serviços. Assim como o PIB transforma o mon-
Estatística do Trabalho calcula índices de preços para tipos es-
tante de muitos bens e serviços em um único número, medin-
pecíficos de produtos, como alimentos, habitação e energia.
do o valor da produção, o IPC converte os preços de múitos
bens e serviços em um único índice, medindo o nível geral de
preços. 0 IPC VERSUS O DEFIATOR DO PIB
Como os economistas devem agregar os inúmeros preços na
economia em um único índice, medindo de maneira confiável No início deste capítulo, tratamos de outra medida de preços:
o nível de preços? Eles podem simplesmente calcular uma mé- o deflator implícito de preços do PIB, que é a razão entre o PIB
dia de todos os preços. Esse método, no entanto, trataria todos nominal e o PIB real. O deflator do PIB e o IPC dão informa-
os bens e serviços de maneira igual. Como as pessoas compram ções um pouco diferentes sobre o que está acontecendo com o
mais galinha do que caviar, o preço da galinha deve ter um peso nível geral de preços na economia. Há três diferenças funda-
maior no IPC do que o preço do caviar. O Departamento de mentais entre as duas medidas.
Estatísticas do Trabalho atribui pesos a itens diferentes ao cal- A primeira é que o deflator do PIB mede os preços de todos
cular o preço de uma cesta de bens e serviços comprados por os bens e serviços produzidos, enquanto o IPC mede os preços
um consumidor típico. O IPC é o preço dessa cesta de bens e apenas dos bens e serviços comprados pelos consumidores. As-
serviços em relação ao preço da mesma cesta em algum ano- sim, um aumento no preço de bens comprados por empresas ou
base. pelo governo vai aparecer no deflator do PIB, mas não no IPC.

*No Brasil, o IPC e outros índices de preços são calculados pela Fundação Getulio Vargas (FGV - RJ). (N. Rev. Téc.)
22 CAPÍTULO 2

A segunda diferença é que o deflator do PIB inclui apenas melhor medida do custo de vida. A resposta, em última ins-
os bens produzidos domesticameme. Os bens importados não tância , é a de que nenhum é claramente superior. Quando os
fazem parte do PIB, e por isso não aparecem no deflator do PIB. preços de diferentes bens variam em quantidades diferentes,
Assim, o aumento do preço de um Toyota fabricado no Japão o índice Laspeyres (cesta fixa) tende a sobrestimar o aumen-
e vendido nesse país afeta o IPC, porque é comprado por con- to no custo de vida, porque não leva em conta que os consu-
sumidores, mas não afeta o deflator do PIB. midores têm oportunidade de substituir os bens mais caros por
A terceira diferença, mais sutil, resulta da maneira como as outros mais baratos. Em contraste, o índice Paasche (cesta va-
duas medidas agregam os muitos preços na economia. O IPC riável) tende a atenuar o aumento do custo de vida. Embora
atribui pesos fixos aos preços de diferentes bens, enquanto o admita a substituição de bens alternativos, não reflete a re -
deflator do PIB atribui pesos variáveis. Em outras palavras, o dução no bem-estar dos consumidores que pode resultar des-
IPC é calculado pelo uso de uma cesta fixa de bens, enquanto sas substituições.
o deflator do PIB permite que a cesta de bens varie ao longo do O exemplo da colheita de laranja destruída mostra os pro-
tempo, à medida que muda a composição do PIB. O exemplo a blemas dos índices de preços Laspeyres e Paasche. Como o IPC
seguir mostra como essas abordagens diferem entre si. Suponha é um índice Laspeyres, exagera o impacto do aumento dos pre-
que grandes geadas destruam a colheita nacional de laranjas. ços da laranja sobre os consumidores: ao usar uma cesta fixa de
A quantidade de laranjas produzidas cai a zero. O preço das bens, ignora a capacidade dos consumidores de substituir as
poucas laranjas que restam nos supermercados dispara. Como laranjas por maçãs. Em contraste, o deflator do PIB, por ser um
as laranjas não são mais parte do PIB, o aumento do preço das índice Paasche, atenua o impacto sobre os consumidores: o
laranjas não aparece no deflator do PIB. Mas, como o IPC é deflator do PIB não apresenta aumento dos preços, mas sem
calculado com uma cesta fixa de bens que inclui laranjas, o dúvida o preço maior das laranjas piora a situação dos consu-
aumento no preço das laranjas causa um aumento substancial midores.
no IPC. Por sorte, na prática a diferença entre o deflator do PIB e
Os economistas chamam o índice de preços com uma ces- o IPC não costuma ser muito grande. A Fig. 2-3 mostra a mu -
ta fixa de bens de índice Laspeyres, enquanto um índice de dança percentual do deflator do PIB e a mudança percentual
preços com uma cesta variável é um índice Paasche. Os teóri- do PIB a cada ano, a partir de 1948. As duas medidas em ge -
cos da economia têm estudado as propriedades desses diferen- ral relatam a mesma história sobre a velocidade da subida dos
tes tipos de índices de preços, a fim de determinarem qual é a preços.

Mudança
percentual 1 6

14 IPC

12

10

6
Oeflator do PIB
4

- 2 '--~~.L-~~-'-~~--'-~~-'-~~-"-~~----'~ ~~ ~ ~ ~ . L - ~ ~ - ' -~ ~- ' - ~ ~ - '


1948 1953 1958 1963 1968 1973 1978 1983 1988 1993 1998 2003
Ano

Fig. 2-3 O Deflator do PIB e o IPC A figura mostra a mudança percentual do deflator do PIB e do IPC em cada ano desde 1948. Embora divirjam
às vezes, as duas medidas de preços em geral nos contam a mesma história sobre a velocidade à qual os preços sobem. Tanto o IPC .q uanto.o deflator
do PIB mostram que os preços subiram lentamente na maior parte das décadas de 1950 e 1960, elevararn~se mais depressa na década de 1970, e
tomaram a subir devagar nas décadas de 1980 e 1990.
Fonte: U. S. Department of Commerce, U.S. Department of Labor.
ÜS DADOS DA MACROECONOMIA 23

ESTUDO DE CASO - - - - - - - - - - - ~
0 IPC SOBRESTIMA A INFLAÇÃO? que ela vende, nem toda a mudança no preço do bem reflete
O índice de preços ao consumidor é uma medida da inflação uma mudança no custo de vida. Nos Estados Unidos, o Bureau
que recebe o máximo de atenção. Os formuladores de política of Labor Statistics faz o melhor que pode para levar em consi-
econômica do Federal Reserve ( o Banco Central dos Estados deração as mudanças na qualidade dos bens ao longo do tem-
Unidos) monitoram o IPC ao elaborarem a política monetá- po. Por exemplo, se a Ford aumenta a potência de um determi-
ri<.l. Além disso, muitas leis e contratos privados têm cláusulas nado modelo de carro de um ano para outro, o IPC refletirá a
que levam em consideração o custo de vida ( em inglês, COLA, mudança: o preço do carro ajustado à qualidade não subirá tão
cost-of-living allowance), utilizando-se o IPC para reajustes no depressa quanto o preço não-ajustado. Mas há muitas mudan-
nível de preços. Por exemplo, os benefícios da seguridade soci- ças na qualidade, como conforto e qualidade, que são difíceis
al são ajustados automaticamente a cada ano, para que a infla- de medir. Se a melhora da qualidade não-medida (em vez da
ção não prejudique o padrão de vida dos idosos. deterioração da qualidade não-medida) é típica, então o IPC
Como tanta coisa depende do IPC , é importante assegurar medido sobe mais depressa do que deveria.
que essa medida do nível de preços seja acurada. Muitos eco- Por causa desses problemas de mensuração, alguns econo-
nomistas, por diversas razões , acham que o IPC tende a mistas têm sugerido uma revisão nas leis, a fim de se reduzir o
sobrestimar a inflação. grau de indexação. Por exemplo, os benefícios da seguridade
Um problema é o desvio causado pela substituição, de que social poderiam ser indexados ao IPC menos 1%. A mudança
já falamos. Uma vez que mede os preços de uma cesta fixa de proporcionaria uma maneira aproximada de contrabalançar os
bens, o IPC não reflete a capacidade dos consumidores de subs- problemas de mensuração. Ao mesmo tempo, tomaria automa-
tituir, escolhendo os bens cujos preços relativos caíram. Assim, ticamente mais lento o crescimento dos gastos do governo.
quando os preços relativos mudam, o verdadeiro custo de vida Em 1995 , o Comitê de Finanças do Senado norte-america-
sobe menos depressa do que o IPC. no designou uma comissão de cinco eminentes economistas -
Um segundo problema é a introdução de novos bens. Quan- Michael Boskin, Ellen Dulberger, Robert Gordon, Zvi Griliches
do um novo bem é introduzido n o mercado, os consumidores e Dale Jo rgenso n - para estudar a magnitude do erro de
ficam em situação melhor, porque dispõem de mais produtos mensuração no IPC. A comissão concluiu que o IPC era
entre os quais escolher. N a verdade, a introdução de novos bens distorcido para cima em 0,8 a 1,6% ao ano, com a sua "melhor
aumenta o valor real do dólar. Esse aumento no poder de com- estimativa" sendo 1, 1%. O relatório levou a algumas mudan-
pra do dólar, no entanto, não é refletido em um IPC mais baixo. ças na maneira como o IPC é calculado. Por isso, considera-se
Um terceiro problema está nas mudanças não-medidas na que o desvio seja um pouco menor de que 1°/..,. O IPC ainda
qualidade. Quando uma empresa muda a qualidade de um bem sohrestima a inflação, mas não tanto quanto antes. 1

2-3 MEDINDO A FALTA DE EMPREGO:


A TAXA DE DESEMPREGO
Um aspecto do desempenho econômico é a eficiência com que Com hase nas respostas às perguntas da pesquisa, cada adulto
uma economia utiliza seus recursos. Como os trabalhadores são ( 16 anos ou mais) em cada família é situado em uma de três
o melhor recurso de uma economia, mantê-los empregados é categorias: empregado, desempregado, ou fora da força de tra-
uma preocupação fundamental das autoridades econômicas. A balho. A pessoa está empregada se passou algum tempo da
taxa de desemprego é a estatística que mede o percentual de semana anterior trabalhando em um emprego remunerado. Ela
pessoas que querem trabalhar mas não encontram emprego. está desempregada se n ão tem um emprego, embora procure,
T odos os meses, o Departamento de Estatística do Traba- ou encontra-se em dispen sa temporária. Uma pessoa que não
lho dos Estados Unidos calcula a taxa de desemprego , além se enquadre em nenhuma das duas categorias anteriores, como
de várias outras estatísticas que os economistas e os um estudante em tempo integral ou um aposentado, está fora
formuladores de políticas econômicas utilizam para monito- d a força de tra balho. Uma pessoa que quer um emprego mas
rar o desenvolvimento no mercado de trabalho. Essas estatís- desistiu de procurar - um trabalhador desalentado - está fora
ticas derivam de uina pesquisa com cerca de 60.000 famílias. da força de trabalho .

;Para um exame adicional dessas questões, veja Marrhew Shapiro e David Wilcox, "Mismeasurement in the Cot1.sumer Prices lndex: An Evaluacion", NBER
Macroeconomics Annual, 1996, e o simpósio "Measuring the CP!", na edição do inverno de 1998 de The Joumal of Economic Perspeciives .
24 CAPITULO 2

A força de trabalho é definida como a sorna dos empregados Taxa de Participação na Força de Trabalho=
e desempregados. A taxa de desemprego é medida pelo percentual = (140,9/209,7) X 100 = 67,2%.
da força de trabalho que não está empregado. Ou seja,
Portanto, cerca de dois terços da população adulta integravam
a força de trabalho, e cerca de 4% das pessoas na força de tra-
Força de Trabalho =
balho não tinham um emprego.
= Número de Empregados+ Número de Desempregados
e
População: 209,7 milhões
Número de Desempregados X lOO (16 anos e mais)
T axa d e Desemprego = d T b Ih ..
Força e ra a o

Uma estatística relacionada é a taxa de participação na força


de trabalho, o percentual da população adulta que integra a
força de trabalho: Fora da força
de trabalho:
68,8 milhões
Força de
Taxa de T b Ih O
· ·
P art1c1pação na Força d e T rabaIh o = ra .a X 1·0 0 .
População
Adulta
O Departamento de Estatística do Trabalho calcula essa esta-
tística para a população em geral e para grupos dentro da po-
pulação: homens e mulheres, brancos e negros, trabalhadores
adolescentes e jovens. Fig. 2-4 Os Três Grupos da População Quando o Departamento de
A Fig. 2-4 mostra a divisão da população pelas três catego- Estatística do Trabalho dos EUA pesquisa a população, situa todos os
rias em 2000. As estatísticas indicam o seguinte: adultos em uma das três categorias: empregados. desempregados, ou fora
da força de trabalho. A figura mostra o número de pessoas em cada cate-
Força de Trabalho= 135,2 + 5,7 = 140,9 milhões. goria em 2000.
Taxa de Desemprego = (5,7/140,9) X 100 = 4,0%. Fonte: U. S. Department of Labor.

ESTUDO D E CASO
DESEMPREGO, PIB E LEI DE ÜKUN de desemprego mantêm estreita relação com as mudanças do
Qual a relação que devemos esperar encontrar entre desempre - PIB real.
go e PIB real? Como os trabalhadores empregados ajudam a Podemos ser mais precisos quanto à magnitude da relação
produzir bens e serviços, o que não acontece com os desempre- da lei de Okun. A linha traçada através da dispersão de pontos
gados, os aumentas da taxa de desemprego devem estar assoc i- (calculada com um procedimento estatístico chamado de mí-
ados a quedas do PIB real. Essa relação negativa entre desem- nimos quadrados ordinários) nos diz que
prego e PIB é chamada de lei de Okun , em homenagem a
Mudança Percentual n o PIB Real
Arthur Okun, o economista que prime iro estudou o assunto. 4
= 3% - 2 X Mudança na T axa de Desemprego
A Fig. 2-5 faz uso dos dados anuais dos Estados Unidos para
ilustrar a lei de Ohm. A figura é um gráfico de dispersão, em Se a taxa de desemprego permanece a mesma, o PIB real cres-
que cada ponto representa uma observação (neste caso, os da- ce em cerca de 3%; esse crescimento n ormal da produção de
dos para um ano determinado ). O eixo horizontal representa bens e serviços é resultado do crescimento da força de traba-
a mudança na taxa de desemprego do ano anterior, enquanto lho, da acumulação de capital e do progresso tecnológico. Além
o eixo vertical representa a mudança percentual no PIB. A disso, para cada ponto percentual em que a taxa de desempre-
figura mostra claramente que as mudanças ano a ano da taxa go aumenta, o crescimento do PIB real geralmente cai 2%. Por

4
Arthur M. Okun , "Pocential ONP: lts Measurement and Significance", em Proceedings of the Business mui Economics Statiscics Section, American Sracisrical Association
(W dShington, D.C. : American Statiscical Association , 1962) , 98-103; reproduzido em Archur M. Okun, Economics for Policymaking (Cambridge, Massachusetts:
M!T Press, 1983) , 145-158.
Os DADOS DA MACROECONOMIA 25

Variação percentual
no PIB real
10

8 li

-3 -2 -1 o 2 3 4
Variação da taxa de desemprego

Fig. 2-5 Lei de Okun Esta figura é um gráfico de dispersão com a variação da mudança da taxa de desemprego no eixo horizontal e a variação
percentual do PIB real no eixo vertical, tornando dados da economia dos Estados Unidos. Cada ponto representa um ano. A correlação negativa entre
essas variáveis mostra que aumentos no desemprego tendem a estar associados a um crescimento abaixo do normal no PIB real.
Fonte: U. S. Department of Commerce. U. S. Departrnent of Labor.

isso, se a taxa de desemprego subisse de 6 para 8%, o cresci- Neste caso, a lei de Okun diz que o PIB cairia 1%, indicando
mento do PIB real seria que a economia está em recessão.
Mudança Percentual no PIB Real = 3% - 2 X (8% - 6%)
= -1%.

2-4 CONCLUSÃO: DE ESTATÍSTICAS ECONÔMICAS A


MODELOS ECONÔMICOS
As três estatísticas discutidas neste capítulo - produto inter- Nos próximos capítulos, estudaremos algumas dessas te-
no bruto, índice de preços ao consumidor e raxa de desempre- orias. Ou seja, construiremos modelos que explicam como
go - quantificam o desempenho da economia. Os tomadores essas variáveis .são determinadas e como a política econô-
de decisões da iniciativa pública e privada utilizam essas esta- mica as afeta. Tendo aprendido a mensurar o desempenho
tísticas para monitorar as mudanças da economia e formular as econômico, estamos agora preparados para aprender como
políticas econômicas apropriadas. Os economistas fazem uso explicá-lo.
dessas estatísticas para desenvolver e testar teorias sobre a
maneira como a economia funciona.

RESUMO
1. O produto interno bruto (PIB) mede tanto a renda de to- 2. Os valores dos bens e serviços do PIB nominal são os preços
dos os indivíduos na economia quanto o gasto total na pro- correntes. Os valores dos bens e serviços do PIB real são os
dução de bens e serviços da economia. preços constantes. O PIB real só sobe quando a quantidade
r-
26 CAPfTULO 2

de bens e serviços aumenta, enquanto o PIB nominal pode dor típico. Tal como o deflator do PIB, que é a razão entre o
subir porque a produção aumentou ou porque os preços au- PIB nominal e o PIB real, o IPC mede o nível geral de pre-
mentaram. ços.
3. O PIB é a soma de quatro categorias de gastos: consumo, in- 5. A taxa de desemprego mostra qual fração daqueles que gos-
vestimento, compras do governo e exportações líquidas. tariam de trabalhar não encontram emprego. Quando a taxa
4. O índice de preços ao consumidor (IPC) mede o preço de de desemprego sobe, o PIB real geralmente cresce mais de-
uma cesta fixa de bens e serviços adquiridos por um consumi- vagar do que sua taxa normal, e pode até cair.

CONCEITOS-CHAVE
Produto interno bruto (PIB) Valor imputado Investimento
Índice de rreços ao consumidor (IPC) PIB nominal versus PIB real Compras do governo
Taxa de desemrrego Deflator do PIB Exportações líquidas
Contabilidade da renda nacional Identidade da contabilidade da renda Força de trabalho
Estoques e flux os nacional Taxa de participação na forç a de trabalho
Valor agregado Consumo Lei deükun

QUESTÕES PARA REVISÃO


1. Relac ione as duas coisas que o PIB mede. Como o PlB mede essas 3. Relacione as três categorias usadas pelo Departamento de Estatís-
duas coisas ao mesmo tempo? tica do Trabalho dos EUA para class ificar todos os indivíduos na
economia. Como o centro calcula a taxa de desemprego?
2. O que o índice de preços ao consumidor mede?
4. Explique a lei de Ohm.

PROBLEMAS E APLICAÇÕES
1. Ve rifique os jornais dos ülrimos dias. Que novas estatísticas econô- b. Investimento doméstico privado bruto
micas fora m divulgadas? Como você interpreta essas estatísticas 7 c. Compras do governo
2. Um agricultor colhe um alqueire de trigo e vende a um moleiro por d. Exportações líquidas
$ 1,00. O molei ro transforma o trigo em farinha , e depois vend e a e. Compras da defesa naciona l
farinha a um p[!deiro por $3 ,00. O padeiro usa a farinha rara fazer f. Compras de governos estaduais e mun icipais
pão, e vende o pão a um engenheiro por $6,00. O engenheiro come g. Importações
o pão. Qual é o valor agregado por cada pessoa? Qual é o PIB? Você percebe quaisquer relações estáveis entre os dados? Percebe
3. Suponhamos que uma mulher se case com seu mordomo. Depois doca- quaisquer tendências? (Dica: Um bom lugar para procurar os dados é
samento, o marido continua a servi-la, como antes, e ela continua a o apêndice estatístico do Economic Report of the Presidem, publicado
sustentá-lo, como antes (só que agora como marido, não mais como em- todos os anos pelo Council of Economic Advisers. Alternativamen-
pregddo). Como o casamento afeta o PIB 1 Como ele deve afetar o PIB? te, você pode também procurar em http://www.bea.doc.gov, que é o
site na Internet do Bureau ofEconomic Analysis. )
4. S icue cada uma das seguintes transações em um dos quatro com-
ponentes de gasto: consumo, investimento, compras do governo e 6. Considere uma economia que produz e consome pão e automóveis.
exportações líquidas. A tabela a seguir contém dados de dois anos diferentes.
a. A Boeing vende um avião para a Força Aérea.
b. A Boeing vende um avião para a American Airlines. Ano Ano
c. A Boeing vende um avião para a Air France. 2000 2010
d. A Boeing vende um av ião para Amelia Earhart.
e. A Boe ing constrói um avião para ser vendido no próximo ano.
Preço de um automóvel $50.000 $60.000
5. Descubra os dados sobre o PIB e seus componentes, e calcule o Preço de um pão $10 $20
percentual do PIB para os seguintes componentes, em 19 50, 197 5 Número de automóveis produzidos 100 120
e 2000.
Número de pães produzidos 500.000 400.000
a. Gastos de consumo pessoal
p

ÜS DADOS DA MACROECONOMIA 27

a. Tomando 2000 como ano-base, calcule as seguintes estatísticas a. Um furacão na Flórida obriga a Disney World a fechar por um
para cada ano: PIB nominal, PIB real, o deflator de preço implí- mês.
cito para o PIB, e um índice de preços de peso fixo, como o IPC. b. A descoberta de uma nova variedade de trigo, fácil de cultivar,
b. Quanto os preços subiram entre 2000 e 2010? Compare as res- aumenta as colheitas.
postas dadas pelos índices de preços Laspeyres e Paasche. Ex- c. A crescente hostilidade entre sindicatos trabalhistas e empre-
plique a diferença. gadores desencadeia uma onda de greves.
c. Suponha que você seja um senador elaborando uma lei para o d. Empresas por toda a economia experimentam uma queda na
índíc:e das pensões federais e seguridade social. Ou seja, sua lei demanda, o que leva-as a dispensar empregados.
ajustará esses benefícios para compensar as mudanças no custo e. O Congresso aprova novas leis ambientais, proibindo as em-
de vida. Você usará o deflaror do PIB ou o IPC? Por quê?
presas de utilizarem métodos de produção que emitam muita
7. Abby consome apenas maçãs. No ano 1, as maçãs vermelhas cus- poluição.
tam $1 cada e as maçãs verdes custam $2 cada. Abby compra 10 f. Mais estudantes do curso médio abandonam os estudos para
maçãs vermelhas. No ano 2, as maçãs vermelhas custam $2, as aceirar emprego como aparadores de gramados.
maçãs verdes custam $1 e Abby compra 1Omaçãs verdes. g. Os pais em todo o país reduzem a sua semana de trabalho, a fim
a. Calcule um índice de preços ao consumidor das maçãs para cada de passarem mais tempo com os filhos.
ano. Suponha que u ano l seja o ano-base, em que a cesta do con-
sumidl)r é fixada. C, )mo o índice muda do ano 1 para o ano 2 ? 9. Em um discurso que fez em 1968, quando era candidato a presi-
h. Calcule o gast,) nominal de A hhy cmn m:1çJs a cada ;mn. Como dente dos Estados Unidos, o senador Rohert Kennedy disse o se-
mucb do ano l parn ,1 ann 2: /!Liintc sohrc o PIB:
e. Tomando<) ,mn I c,11m) ,mo-h,1se, cakule o gasto real de Abby [O PIB] niio leva em cunrn a saúde de nossos filhos, a qualida-
com maçãs em cada an,). Com,) muda dn ,m,1 1 para o ano 2 '. de de sua educação, nem a alegria de suas diversões. Não inclui
d. Definindo o deflaror implícito de preço como gast,) nnminal a helc:a da nossa poesia, nem a força do nosso casamento, a in-
dividido pelll gastu rei!, calcule n detbrm de cada ann. Como teligência de nossos dehates púhlicos, nem a integridade de
o deflator muda dn ano l para L) an,) 2 1 nossas autoridades públicas. Não mede nossa coragem, nem a
e. Suponha que Ahhy se sinta igu·.1lmente feli: etJmendo maçãs nossa sabedoria, nem a nossa dedicação ao país. Mede tudo, em
vermelhas Llu verdes. Quanto n custo de vida verdadeiro aumen- suma, exceto o que faz com que a vida valha a pena. Pode nos
tnu para Ahby? Compare com as respnsrns parn as questôes (a)
Ji:er tudo sobre a América, exceto por que nos orgulhamos de
e (d). O que este exemrln lhe di: snhre os índices de preços
ser mnericanos.
Laspeyres e Paasche:
Rnbert Kennedy estava certo? Se estava, por que nos importamos
8. C,)nsidere a prohahiliLladl' de cada um dos eventns a seguir afl'r,1r
t,mto com<) PIB?
o PIB real. Você acha qul' a mudança nn PIB rt:'al refleti:' um,1 mu-
dlmç,1 semelh,mte n,1 hem-estar ccnnômtco 1
~
~····.
Parte 2

TEORIA CLÁSSICA: A ECONOMIA NO


LONGO PRAZO
Capítulo 3

RENDA NACIONAL: DE ÜNDE VEM E


PARA ÜNDE VAI

Uma g,·ande renda é a melhor receita /iarn a felicidade de que já ouvi falar.
-··· J,me· Au.,ten

A variável macroeconômica mais importante é o produto in- como funcionam as economias reais. Mostra a ligação entre os
terno bruto (PIB) . Como já ressaltamos, o PIB mede a produ- agentes econômicos - famí lias, empresas e o governo - e
ção total de bens e serviços e a renda total de um país. Para como os dólares fluem entre eles, através dos vários mercados
avaliar o significado do PIB, basta dar uma rápida olhada nos da economia.
dados internacionais: em comparação com seus equivalentes Vamos examinar o fluxo de dólares do ponto de vista desses
mais pohres, os países com PIB per capita elevado têm tudo, agentes econômicos. As famílias auferem uma renda e usam-
desde melhor nutrição infantil até mais apare lhos de tevê por na para pagar impostos ao governo, consumir bens e serviços,
família. Um grande PIB não garante que todos os cidadãos de e poupar por meio dos mercados financeiros. As empresas ob-
um país serão felizes, mas pode ser a melhor receita para a feli - têm uma receita da venda de bens e serviços, e usam-na para
cidade que os macroeconomistas têm a oferecer. pagar os fatores de produção. Tanto as famílias quanto as em-
Este capítulo trata de quatro grupos de questões sohre as fon- presas tomam emprestado nos mercados financeiros para com-
tes e usos do PIB de um país: prar bens de investimento, como casas e fábricas. O governo
recebe receita dos impostos, e utiliza-a para pagar as compras
> Quanto as empresas da economia produzem? O que de-
do governo. Qualquer excesso de receita fiscal sobre o gasto do
termina a renda total de um país?
governo é chamado de pqupança pública, que pode ser positi-
> Quem recebe a renda da produção? Quanto destina-se à
va (um superávit orçamentário) ou negativa (um déficit orça-
remuneração dos trabalhadores, e quanto destina-se à re-
mentário).
muneração dos donos do capita l?
Neste capítulo, desenvolvemos um modelo clássico básico
> Quem compra a produção da economia? Quanto as fa-
para explicar as interações econômicas descritas na Fig. 3-1.
mílias compram para consumo, quanto as famílias e as
Começamos pelas empresas e examinamos o que determina seu
empresas compram para investimento, e quanto o gover-
nível de produção (e, com isso, o nível de renda nacional).
no compra para propósitos públicos?
Depois, examinamos como os mercados dos fatores de produ-
> O que equilibra a demanda e a oferta de bens e serviços?O
ção disuihuem essa renda para as famílias. Em seguida, consi-
que garante que o gasto desejado com consumo, investi-
deramos quanto dessa renda as famílias consomem e quanto
mento, e compras do governo iguale o nível de produção?
poupam. Além disso, para tratar da demanda por bens e servi-
Para responder a essas perguntas, devemos examinar como as ços decorrente do consumo das famílias, estudamos a deman-
várias partes da economia interagem. da que vem do investimento e das compras do governo. Por fim,
Um bom lugar para se começar é o diagrama de fluxo circu- fechamos o círculo e verificamos como a demanda por bens e
lar. No Cap. 2, traçamos o fluxo circular de dólares em uma serviços (a soma do consumo, investimento e compras do go-
economia hipotética que produzia apen as um produto, pão, a verno) e a oferta desses bens e serviços (o nível de produção)
partir de trabalho. A Fig. 3-1 reflete de maneira mais acurada encontram o equilíbrio.
32 CAPITULO 3
'
Renda Pagamentos de fatores
~$ ie f-attJre:s
. . ~Piiod.ú;ãO

Poupança privada
,~rl(!f
· Ffr.il!nq,.k9~:..

Poupança
pública
Impostos
Famllias Governo Empresas

Compras Investimento
do governo

Consumo Mercados de Receita da empresa


Bens e Serviços

Fig. 3-1 O Fluxo Circular de Dólares Através da Economia Esta fi gura é uma versão mais realista do diagrama de fluxo circular apresentado
no Cap. 2. Cada caixa: em cinza-claro representa um agente econômico: famílias, empresas e o governo. Cada caixa em cinza-escuro representa um
tipo de mercado: os mercados de bens e serviços. os mercados de fatores de produção e os mercados financeiros. As setas mostram o fluxo de dó·
lares entre os agentes econômicos, através dos três tipos de mercados.

3-1 O QUE DETERMINA A PRODUÇÃO TOTAL DE


BENS E SERVIÇOS?
A produção de bens e serviços de uma econ omia - seu PIB - L = L.
depende ( 1) da quantidade de insumos, chamados de fa tores
A barra superior significa que cada variável é fixa em algum
de produção, e (2) da capacidade de transformar insumos em
níve l. N o Cap. 7, vamos examinar o que acontece quando os
produção, confo rme é representado pela fu nção de produção.
fa tores de produç ão mudam ao longo do tempo, como ocorre
Vamos examinar uma coisa de cada vez.
no mundo real. Por enquanto, manteremos a an álise simpl ifi-
cada, pressupondo quantidades fixas d e capital e trabalho.
Os FATORES DE PRoouçÃo T ambém pressupomos aqui qu e os fa tores de produção são
Os fatores de produção são os insumos utilizados para produ- plenamente utilizados - ou seja, que não há recursos desper-
zir bens e serviços. Os dois fatores de produção mais importan- diçados. Mais uma vez, no mundo rea l, parte da força de tra-
tes são o capital e o trabalho. Capital é o conjunto de instru - balho es tá desempregada, e algum capital permanece ocioso.
mentos que os trabalhadores utilizam: o guindaste do operário No Cap. 6, vamos examinar os motivos do desemprego; por
da construção civ il, a calculadora do contador e o microcom- ora, pressupomos que capital e trabalho são plenam ente apro-
putador deste autor. Trabalho é o tempo que as pessoas gastam veitados.
trabalhando. Usamos o símbolo K para indicar a quantidade
de capital e o símbolo L para indicar a quantidade de trabalho. A FUNÇÃO DE PRODUÇÃO
Neste capítulo, consideramos os fatores de produção dados.
Em outras palavras, pressupomos que a economia tem um mon- A tecnologia de produção disponível determina quanto se pro-
tante fixo de capital e uma q1.1antidade fixa de trabalho. Escre- duz de uma dada quantidade de capital e trabalho. Os econo-
vemos mistas expressam a tecnologia disponível por meio de uma fun-
ção de produção. Denotando a quantidade produzida por Y,
K= K. escreve mos a função de produção como
RENl)A NACIONAL: DE ONDE VEM E PARA ÜNDE VAI 33

Y = F(K, L). Como um exemplo de função de produção, pense na pro-


dução de uma padaria. A cozinha e seu equipamento constitu-
Esta equação enuncia que a produção é uma função da quanti-
em o capital da padaria, os trabalhadores contratados para fa-
dade de capital e da quantidade de trabalho.
zer o pão são o trabalho e os pães são a produção. A função de
A função de produção reflete a tecnologia disponível para
produção da padaria mostra que o número de pães produzidos
transformar capital e trabalho em produção. Se alguém in-
depende da quantidade de equipamento e do número de tra-
venta uma maneira melhor de produzir um bem, o resultado
balhadores. Se a função de produção tem retornos constantes
é mais produção com as mesmas quantidades de capital e tra-
de escala, dobrar a quantidade de equipamento e a quantidade
balho. Logo, uma mudança tecnológica altera a função de
de trabalhadores também dobra a produção de pão.
produção.
Muitas funções de produção apresentam uma propriedade
chamada retornos constantes de escala. Uma função de pro- A ÜFERTA DE BENS E SERVIÇOS
dução tem retornos constantes de escala se um aumento Podemos agora compreender que, juntos, os fatores de produ-
percentual igual em todos os fatores de produção causa um ção e a função de produção determinam a quantidade de bens
aumento da produção no mesmo percentual. Se a função de e serviços ofertada, que por sua vez é igual à produção da eco-
produção apresenta retornos constantes de escala, então obte- nomia. Para expressar isso em termos matemáticos, escrevemos
mos 10% a mais de produção quando aumentamos capital e
trabalho em 1O'X,. Em termos matemáticos, uma função de pro- Y = F( K, L)
dução apresenta retornos constantes de escala se = Y.
zY = F( zK, zL) Neste capítulo, como pressupomos que as ofertas de capital e
para qualquer número positivo z. Esta equação mostra que, se de trabalho e a tecnologia são fixas, a produção também é fixa
multiplicarmos a quantidade de capital e a quantidade de tra- (a um nível indicado aqui como Y ). Quando discorrermos
balho por um número z, a produção também é multiplicada por sobre o crescimento econômico, nos Caps. 7 e 8, vamos exa-
z. Na prl'>xima ,eção, \·erificaremos que o pressuposto de retor- minar como os aumentos no capital e no trabalho, assim como
nos constantes de escala tem uma importante implicação na as melhoras da tecnologia de produção, levam ao crescimento
maneira Clllno é distrihuída a renda da produção. da produção da economia.

3-2 COMO A RENDA NACIONAL É DISTRIBUÍDA


ENTRE OS FATORES DE PRODUÇAO?
Como ressaltamo, nu Cap. 2, a produção total de uma econo- produção: o salário que os trabalhadores recebem e a renda que
mia é igual ~ sua renJ,1 total. Como os fatores de produção e a os proprietários do capital auferem. Como a Fig. 3-2 ilustra, o
funçàll de prnduç,1l , juntos determinam a produção total de bens preço que cada fator de produção recebe por seus serviços é
e sen·içll,. tamhém detenninam a renda nacional. O diagrama determinado, por sua vez, pela oferta e demanda desse fator.
de fluxu circular Ja Fig. "3-1 mostra que essa renda nacional flui Como pressupomos que os fatores de produção da economia são
,1,
de empre,,1, pani fomílias atra\'és dos mercados para os fato- fixos, a curva da oferta de fator da Fig. 3-2 é vertical. A inter-
res de pwduç,i<.1. seção da cur\'a de demanda pelo fator, negativamente inclina-
Ne,t,1,eçiio, cDntinuamos a desen\'oker nosso modelo eco- da, e a curva vertical de oferta determinam o equilíbrio do pre-
nômico, examinando ctimo funcionam esses mercados de fa- ço do fator.
tores. H,'í muitll 4ue us economistas estudam os mercados de Para compreender os preços de fator e a distribuição da ren-
fatore, a fim ele ct,mpreenderem a distribuição da renda. (Por da, devemos examinar a demanda pelos fatores de produção.
exempk1, Karl 1vlarx, o famoso economista do século XIX, con-
Como a demanda por fator deriva de milhares de empresas que
sumiu muiro remrn remando explicar as rendas de capital e
utilizam capital e trabalho, vamos examinar agora as decisões
trabalho. A filosnfü1 plllítica do comunismo baseou-se em par-
enfrentadas por uma empresa típica sobre quantos desses fato-
te na teoria Je Marx, hoje desacreditada.) Aqui, apresentare-
res empregar.
mos a moderna teoria da divisão da renda nacional entre os
fatores de prnduçãn. Essa teoria, chamada de teoria neoclássica
da distribuição, é hoje aceita pela maioria dos economistas. As DEc1sõEs DA EMPRESA COMPETITIVA
O pressuposto mais simples a ser estabelecido sobre uma em-
PREÇOS DE FATOR presa típica é o fato de ser competitiva. Uma empresa compe-
A distribuição da renda nacional é determinada pelos preços titiva é pequena em relação aos mercados em que opera, e por
de fator. Preços de fator são os montantes pagos aos fatores de isso tem pouca influência sobre os preços de mercado. Por exem-
34 CAPÍTULO 3

Preço do fator
'
Oferta do
fator

~ · · · · · ····· ···· ·· ·· ··
Preço de
equillbrio
do fator
Quantidade do fator

Fig . 3-2 Como um Fator de Produção É Remunerado O preço pago por qualquer fator de produção depende da oferta e da <iemanda dos ser-
viços desse fator. Como pressupomos que a oferta é fixa. a curva da oferta é vertical. A curva da demanda é negativamente inclinada. A interseção
.da oferta e demanda determina o preço de equilíbrio dos fatores.

pio, nossa empresa produz um bem e o vende ao preço de mer- vendem seu trabalho. As empresas obtêm os dois fatores de pro-
cado. Como muitas empresas produzem esse bem, nossa empresa dução das famílias que os possuem.'
pode vender tanto quanto quiser sem causar uma queda no A meta da empresa é maximizar o lucro. Lucro é a receita
preço, ou pode parar de vender por completo sem causar um menos o custo: é o que sobra para os donos da empresa após te-
aumento no preço. Da mesma maneira, nossa empresa não pode rem pago os custos de produção. A receita é igual a P X Y, o preço
influenciar os salários dos trabalhadores que emprega, porque de venda do bem P multiplicado pela quantidade Y do bem que
muitas outras empresas locais também empregam trabalhado- a empresa produz. Os custos incluem os custos do trabalho e os
res. A empresa não tem motivo para pagar mais do que o salá- custos do capital. Os custos do trabalho são iguais a W X L, o
rio de mercado; e, se tentasse pagar menos, seus trabalhadores salário W multiplicado pela quantidade de trabalho L. Os custos
arrumariam emprego em outras empresas. Portanto, a empresa de capital são iguais a R X K, o preço do aluguel do capital R
competitiva toma os preços de sua produção e de seus insumós multiplicado pela quantidade de capital K. Podemos escrever
como dados. Lucro = Receita - Custos de Trabalho - Custos de Capital
Para produzir seu produto, a empresa precisa de dois fatores = PY - WL - RK.
de produção, capital e trabalho. T ai como fizemos na econo-
Para compreendermos como o lucro depende dos fatores de
mia agregada, representamos a tecnologia de produção da em-
produção, usamos a função de produção Y = F(K, L) para subs-
presa pela função de produção tituir Y e obter
Y = F(K, L), Lucro = PF(K, L) - WL - RK.
na qual Y é o número de unidades prodmidas (a produção da Esta equação mostra que o lucro depende de P, o preço do pro-
empresa), K o número de máquinas utilizadas (a quantidade de duto, de W e R os preços de fator e de L e K, as quantidades de
capital) e Lo número de horas trabalhadas pelos empregados fator. A empresa competitiva toma o preço do produto e os
da empresa (a quantidade de trabalho). A empresa tem maior preços de fator como dados e escolhe as quantidades de traba-
produção se conta com mais máquinas, ou se os empregados lho e capital que maximizam o lucro.
trabalham mais horas.
A empresa vende sua produção a um preço P, contrata tra-
balhadores por um salário W, e aluga o capital a uma taxa R. A DEMANDA POR FATORES DA EMPRESA
Ao falarmos que as empresas alugam capital, estamos pressu- Sabemos agora que nossa empresa vai contratar trabalho e ar-
pondo que as famílias possuem o capital da economia. Nessa rendar capital nas quantidades que maximizam o lucro. Mas que
análise, as famílias alugam seu capital. da mesma forma que elas quantidades são essas? Para responder a essa pergunta, devemos

' Isso é uma simplificação. No mundo real. a propriedade do capital é indireta, porque as empresas possuem o capital e as famílias possuem as empresas. Ou seja,
as empresas reais têm duas funções: possuir capital e produzir bens. Como auxílio para compreendermos como os fatores de produção são remunerados, no
entanto, partimos do princípio de que as empresas só produzem seus beru e que as famílias possuem o capital diretamente.
RENDA NACIONAL: DE ONDE VEM E PARA ONDE VAI 35

considerar primeiro a quantidade de trabalho e, depois, a quan- do a urna quantidade fixa de capital, no entanto, o PMgL cai.
tidade de capital. Menos pães adicionais são produzidos porque os trabalhadores
são menos produtivos quando a cozinha está mais cheia. Em
O Produto Marginal do Trabalho Quanto mais trabalho outras palavras, mantendo-se fixo o tamanho da cozinha, cada
a empresa emprega, mais produção tem. O produto marginal trabalhador adicional acrescenta menos e menos pães à produ-
do trabalho (P.MgL) é a quantidade extra de produção que a ção da padaria.
empresa obtém de urna unidade extra de trabalho, mantendo A Fig. 3-3 representa a função de produção. Ilustra o que
fixa a quantidade de capital. Podemos expressar isso por meio acontece com a quantidade produzida quando mantemos o
da função de produção: capital constante e variamos a quantidade de trabalho. A figu-
ra mostra que o produto marginal do trabalho é a inclinação
PMgL = F(K, L + 1) - F{K, L).
da função de produção. À medida que a quantidade de traba-
O primeiro termo, no lado direito, é a quantidade de produção lho aumenta, a função de produção torna-se mais horizontal,
com K unidades de capital e L + 1 unidades de trabalho; o se- indicando uma diminuição do produto marginal.
gundo termo é a quantidade de produção obtida com K unida-
des de capital e L unidades de trabalho. Esta equação enuncia Do Produto Marginal do Trabalho à Demanda por Trabalho
que o produto marginal do trabalho é a diferença entre a quan- Quando está decidindo se contrata uma unidade adicional de
tidade de produção obtida com L + 1 unidades de trabalho e a trabalho, a empresa competitiva, maximizadora de lucro, leva
quantidade obtida com apenas L unidades de trabalho. em conta como a decisão poderia afetar seu lucro. Ou seja,
A maioria das funções de produção apresenta a propriedade compara a receita extra do aumento da produção, que decorre
do produto marginal decrescente: mantendo-se fixa a quanti- do trabalho adicional, com o custo extra do gasto maior com
dade de capital, o produto marginal do trabalho diminui à salários. O aumento na receita de uma unidade adicional de
medida que a quantidade de trabalho aumenta. Pense outra vez trabalho depende de duas variáveis, o produto marginal do tra-
na produção de pão em uma padaria. À medida que contrata balho e o preço da produção. Como uma unidade extra de tra-
mais trabalho, a padaria produz mais pão. O PMgL é a quanti- balho produz PMgL unidades de produção, e cada unidade de
dade extra de pão produzida quando uma unidade extra de tra- produção é vendida por P dólares, a receita extra é P X PMgL.
balho é contratada. À medida que mais trabalho é acrescenta- O custo extra de contratar mais uma unidade do trabalho é o

Produção, Y

r
2. A medida que
mais trabalho é
acrescentado,. o
produto marginal
do trabalho
diminui.

1. A inclinação
da função de
PMgL-- produção iguala
o produto
margina/do
trabalho.

Trabalho, L

Fig. 3-3 A Função de Produção Esta curva mostra como a produção depende do insumo trabalho, a quantidade de capital permanecendo cons-
tante. O produto marginal do trabalho PMgL é a mudança da produção quando o insumo trabalho é aumentado em 1 unidade. À medida que a
quantidade de trabalho aumenta, a função de produção toma-se menos inclinada, indicando um produto marginal decrescente.
r
36 CAPÍTIJLO 3

salário W. Assim, a mudança do lucro pela contratação de uma A Fig. 3-4 mostra como o produto marginal do trabalho
unidade adicional de trabalho é depende da quantidade de trabalho empregada (mantendo-
se constante o capital da empresa). Isto é, a figura apresenta
 Lucro =  Receita -  Custo a curva do PMgL. Como o PMgL diminui à medida que a quan-
= (P X PMgL) - W. tidade de trabalho aumenta, a curva é negativamente incli-
O símbolo  (chamado delta) indica a mudança de uma vari- n ada. Dado qualquer salário real, a empresa contrata até o
ponto em que o PMgL é igual ao salário real. Por isso, a curva
ável.
Podemos agora responder à indagação que formulamos no do PMgL é também a curva de demanda por trabalho da em-
início desta seção: quanto trabalho a empresa contrata? O ge- presa.
rente da empresa sabe que, se a receita extra P X PMgL supe-
rar o salário W, uma unidade extra de trabalho aumenta o lu-
O Produto Marginal do Capital e a Demanda por Ca-
pital A empresa decide quanto capital alugar, da mesma ma-
cro. Portanto, o gerente continua a contratar trabalho até que
neira como decide quanto trabalho contratar. O produto mar,
a próxima unidade não seja mais lucrativa - ou seja, até que o
ginal do capital (PMgK) é a quantidade de produção extra que
PMgL alcance o ponto em que a receita extra é igual ao salá-
a firma obtém de uma unidade extra de capital, mantendo-se
rio . A demanda por trabalho da empresa é determinada por
constante a quantidade de trabalho:
P X PMgL = W. PMgK = F(K + 1, L) - F(K , L).
Podemos também escrever isso como
Logo, o produto marginal do capital é a diferença entre a quan-
PMgL = W/P. tidade produzida com K + 1 unidades de capital e a quantida-
de produzida com apenas K unidades de trabalho. Assim como
W/P é o salário real, o pagamento do trabalho medido em uni- o trabalho, o capital está sujeito ao produto marginal decres-
dades de produção, em vez de dólares. Para maximizar o lucro,
cente.
a empresa contrata até o ponto em que o produto marginal do O aumento do lucro proveniente do aluguel de uma máqui-
trabalho é igual ao salário real. na adicional é a receita extra de vender a produção dessa má-
Por exemplo, considere outra vez uma padaria. Suponha quina menos o preço do aluguel da máquina:
que o preçú do pão P seja $2, e que um trabalhador receba
um salário W de $20 por hora. O salário real W/P é de 1Opães 6-Lucro = 6-Receita - ACusto
por hora. Neste exemplo, a empresa continua a contratar tra- = (P X PMgK) - R.
balhadores enquanto cada empregado adicional produzir pelo Para maximizar o lucro, a empresa continua a alugar mais ca-
menos 1Opães púr hora. Quando o PMgL cai para 1Opães por pital, até que o PMgK iguale o preço real do aluguel:
h ora ou menos, contratar trabalhadores adicionais não é mais
lucrativo. PMgK = R/P.

Unidades de produção

Salário
real

PMgL, Demanda
por trabalho
Unidades de trabalho, L
Quantidade de
trabalho demandada

Fig. 3-4 O Produto Marginal da Curva de Trabalho O produto marginal do trabalho PMgL depende da quantidade de trabalho. A curva PMgL
inclina-se para baixo parque o PMgL declina à medida que L aumenta. A empresa contrata trabalho ;:1té o ponto em que o salário real WIP iguala o
PMgL Por isso, essa curva é a mesma curva de demanda por trabalho da empresa.
RENDA NACíONAL: DE ONDE VEM E PARA ONDE V AI 37

O preço real do aluguel de capital é o preço do aluguel medi- resultado matemático chamado teorema de Euler ,z que enuncia
do em unidades de bens em vez de dólares. que, sea função de produção tem retornos constantes de esca-
Para resumir, a empresa competitiva, maximizadora de lucro, la, então
segue uma regra simples sobre quanto trabalho contratar e
quanto capital alugar. A empresa demanda cada fator de produ-
F(K, L) = (PMgK X K) + (PMgL x L).
ção até que seus produtos marginais igualem-se aos seus preços reais . Se cada fator de produção recebe o equivalente ao.seu produto
marginal, a soma desses pagamentos de fatores é igual à produ-
ção total. Em outras palavras, os retornos constantes de escala,
A DIVISÃO DA RENDA NACIONAL
a maximização do lucro e a concorrência determinam, juntos,
Tendo analisado como uma empresa decide quanto de cada que o lucro econômico seja zero.
fator empregar, podemos agora explicar como os mercados para Se o lucro econômico é zero, como podemos explicar a exis-
os fatores de produção distribuem a renda total da economia. tência de "lucro" na economia? A resposta é que o termo "lu-
Se todas as empresas da economia são competitivas e cro", tal como usado normalmente, é diferente de lucro eco-
maximizam o lucro, cada fator de produção é pago por sua con- nômico. Partimos do pressuposto de que há três tipos de agen-
tribuição marginal ao processo de produção. O salário real pago tes: os trabalhadores, os donos do capital e os donos das em-
a cada trabalhador é igual ao PMgL, e o preço real do aluguel presas. A renda total é dividida entre salários, retorno do capi-
pago a cada proprietário de capital é igual ao PMgK. Os salári- tal e lucro econômico. No mundo real, no entanto, a maioria
os reais totais pagos aos trabalhadores, portanto, são PMgL X das empresas possui, em vez de alugar, o capital que utilizam.
L, enquanto o aluguel real total pago aos proprietários doca- Como os donos de empresa e os donos de capital são as mes-
pital é PMgK x K. mas pessoas, o lucro econômico e o retomo do capital são muitas
A renda que sobra depois que as empresas pagaram os fato- vezes agregados. Se chamarmos essa definição alternativa de
res de produção é o lucro econômico dos donos das empresas. lucro contábil, podemos dizer que
O lucro econômico real é
Lucro Contábil= Lucro Econômico+ (PMgK X K).
Lucro Econômico = Y - (PMgL X L) - (PMgK x K).
Sob nossos pressupostos - retornos constantes de escala, ma-
Como queremos examinar a distribuição da renda nacional, ximização do lucro, concorrência - o lucro econômico é zero.
rearrumamos os termos da seguinte maneira: Se esses pressupostos descrevem o mundo de maneira aproxi-
mada, o "lucro" computado nas contas da renda nacional deve
Y = (PMgL X L) + (PMgK x K) + Lucro Econômico.
ser, acima de tudo, a receita do capital.
A renda total é dividida entre a remuneração do trabalho, a Podemos agora responder à pergunta apresentada no início
remuneração do capital e o lucro econômico. deste capítulo sobre a maneira como a renda da economia é dis-
Qual é o tamanho do lucro econômico? A resposta é sur- tribuída das empresas para as famílias. Cada fator de produção
preendente: se a função de produção tiver retornos constantes é pago por seu produto marginal, e esses pagamentos de fatores
de escala, o que é considerado com freqüência, o lucro econô- representam a produção total. A produção total é dividida entre
mico deve ser zero. Ou seja, nada sobra depois que ôs fatores os pagamentos ao capital e os pagamentos ao trcibalho, dependendo
de produção são pagos. Essa conclusão decorre de um famoso de suas produtividades marginais.

ESTUDO DE CASO
A PESTE NEGRA E os PREÇOS DE FATORES res. A epidemia de peste bubônica - a Peste Negra - em 1348
Como acabamos de ressaltar, na teoria da distribuição reduúu a população da Europa em cerca de um terço num período
neoclássica os preços dos fatores igualam os produtos marginais de poucos anos. Como o produto marginal do trabalho aumenta à
dos fatores de produção. Comei os produtos marginais depen- medida que a quantidade de trabalho diminui, essa redução maci-
dem das quantidades dos fatores, uma mudança da quantidade ça na força de trabalho aumentou o produto marginal do trabalho.
de qualquer fator altera os produtos marginais de todos os fato- (A economia deslocou-se para a esquerda ao longo das curvas das
res. Portanto, uma mudança da oferta de um fator altera o equilí- Figs. 3-3 e 3-4.) Os salários reais aumentaram de maneira subs-
brio dos preços dos fatores. tancial durante os anos da peste - chegando a dobrar, segundo
A Europa do século XIV proporcibna um exemplo nítido da algumas estimativas. Os camponeses que foram afortunados o bas-
maneira como as quantidades dos fatores afetam os preços dos fato- tante para sobreviver desfrutaram de prosperidade econômica.

'Nota matemática: para provar o teorema de Euler, comece com a definição de retornos constantes de escala: zY = F(zK, zl..). Agora, diierencie com relação a
z·e depois a valie em z = 1.
r
38 CAPITULO 3

A redução da força de trabalho causada pela peste também produção adicional. Essa queda no produto marginal da terra
afetou a renda da terra, o outro grande fator de produção na levou a um declínio nos aluguéis reais, de 50% ou mais. Assim,
Europa medieval. Com menos trabalhadores disponíveis para enquanto os camponeses prosperavam, as classes fundiárias
cultivar a terra, uma unidade de terra adicional tinha menos sofriam reduções na renda.3

3-3 O QUE DETERMINA A DEMANDA POR BENS E SERVIÇOS?


Já estudamos o que determina o nível de produção e como a 3, 2, a renda que as famílias recebem é igual à produção da eco-
renda da produção é distribuída entre trabalhadores e proprie, nomia Y. O governo, portanto, tributa as famílias em um mon-
tários de capital. Agora, continuaremos nossa volta pelo dia- tante T. (Embora o governo imponha muitos tipos de impos-
grama do fluxo circular, a Fig. 3-1, e examinaremos como é tos, como o imposto de renda de pessoa física e de pessoa jurí-
utilizada a produção. dica, o imposto sobre circulação de mercadorias e outros, para
No Cap. 2, identificamos os quatro componentes do PIB: nossos propósitos podemos agrupar todos.) Defina a renda de-
pois do pagamento de todos os impostos, Y - T , como renda
> Consumo (C)
disponível. As famílias dividem sua renda disponível entre
>- lnvestimento (I)
consumo e poupança.
> Compras do governo (G)
Suponha que o nível de consumo depende diretamente do
> Exportações líquidas (NX).
nível de renda disponível. Quanto maior a renda disponível,
O diagrama do fluxo circular contém apenas os três primeiros maior o consumo. Logo,
componentes. Por ora, para simplificar a análise, vamos pres-
supor uma economia fechada: um país que não comercializa com
C = C(Y - T).
outros países. A ssim, as exportações líquidas são sempre zero. Esta equação enuncia que ó consumo é uma função da renda
(Examinamos a macroeconomia das economias abertas no Cap. disponível. A relação entre consumo e renda disponível é cha-
5.) mada de função consumo.
Uma economia fechada utiliza os bens e serviçós que pro- A propensão marginal a consumir (Cmg) é a quantidade
duz de três formas. Esses três componentes do PIB são expres- pela qual o consumo muda quando a renda disponível aumen-
sos na identidade de contas da renda nacional: ta em um dólar. A Cmg situa-se entre zero e um: um dólar ex-
tra de renda aumenta o consumo, mas em menos de um dólar.
Y= C + I + G. Logo, se as famílias obtêm um dólar extra de renda, poupam
As famílias consomem uma parte da produção da economia; as uma parte. Por exemplo, se a Cmg é O, 7, as famílias gastam 70
empresas e as famílias utilizam uma parte da produção para centavos de cada dólar adicional de renda disponível em bens
investimento; e o governo compra uma parte da produção para de consumo e serviços, poupando 30 centavos.
propósitos públicos. Queremos verificar como o PIB é distri- A Fig. 3-5 ilustra a função consumo. A inclinação da fun-
buído entre esses três usos. ção consumo nos diz em quanto o consumo aumenta quando a
renda disponível aumenta em um dólar. Ou seja, a inclinação
da função consumo é a Cmg.
CONSUMO
Quando comemos, usamos roupas ou vamos ao cinema, estamos
INVESTIMENTO
consumindo alguma coisa da produção da economia. Todas as
formas de consumo, juntas, constituem dois terços do PIB. Tanto empresas quanto famílias comprarn bens de investimen-
Como o consumo é tão grande, os macroeconomistas têm em- to. As empresas compram bens de investimento para aumen-
penhado muita energia em estudar a maneira como as famílias tar seu volume de capital e para substituir o capital existente à
decidem quanto consumir. O Cap. 16 examina isso em deta- medida que ele se desgasta. As famílias compram casas novas,
lhes. Aqui, vamos considerar a história mais simples do com- que também são parte do investimento. Nos Estados Unidos,
portamento do consumidor. o investimento total alcança a média de 15% do PIB.
As famílias recebem renda por seu trabalho e por sua pro- A quantidade de bens de investimento demandada depen-
priedade de capital, pagam impostos ao governo, e depois de- de da taxa de juros, que mede o custo dos recursos usadós para
cidem quanto consumir e quanto poupar de sua renda após financiar ó investimento. Para um projeto de investimento ser
cumprirem suas obrigações fiscais. Como ressaltamos na Seção lucrativo, seu retomo (a receita da produção futura aumenta-

'Cario M. Cipolla, Befo,e the Industrial Revolut:ion: European Society and Economy , 1000-1700, 2.ª ed. (N ova York: Norton, 1980), 200-202.
p

RENDA NACIONAL: DE ONDE VEM E PARA ÜNDE V AI 39

Consumo, C

Função

Renda disponível, Y'-T

Fig. 3.5 A Função Consumo A fu nção consumo relaciona o consumo C com a renda disponível Y - T. A propensão marginal a consumir Cmg é
a quantidade pela qual o consumo aumenta quando a renda disponível aumenta em um dólar.

da de bens e serviços) deve superar o custo (os pagamentos pelos nal é de 8% e a taxa de inflação é de 3%, a taxa de juros real é
fundos financeiros emprestados). Se a taxa de juros sobe, me- de 5%. No Cap. 4, examinaremos em detalhes a relação entre
nos projetos de investimento são lucrativos, e a quantidade de taxa de juros nominal e real. Aqui, basta ressaltar que a taxa
bens de investimento demandada diminui. de juros real mensura o verdadeiro custo de se tomar empresta-
Suponha, por exemplo, que uma empresa esteja ponderan- do; logo, determina a quantidade do investimento.
do se deve construir uma fábrica de $1 milhão, que proporcio- Podemos sintetizar essa discussão com uma equação que re-
naria um retomo de $100.000 por ano, ou 10%. A empresa laciona o investimento I à taxa de juros real r:
compara esse retorno com o custo de tomar emprestado $1
milhão. Se a taxa de juros está abaixo de 10%, a empresa pega
I = I(r).
o dinheiro nos mercados financeiros e faz o investimento. Se a A Fig. 3-6 mostra essa função de investimento. Tal função é
taxa de juros está acima de 10%, a empresa desiste da oportu- negativamente inclinada, porque, à medida que a taxa de ju-
nidade de investimento e não constrói a fábrica. ros aumenta, a quantidade de investimento demandada cai.
A empresa toma a mesma decisão de investimento mesmo
quando não precisa romar $1 milhão emprestado, podendo
empregar seus próprios recursos. A empresa sempre pode de- COMPRAS DO GOVERNO
positar esse dinheiro em um banco, ou em um fundo de inves- As compras do governo são o terceiro componente da deman-
timentos do mercado financeiro, ganhando os juros. Construir da por bens e serviços. O governo federal compra armas, mís-
a fábrica é mais lucrativo do que a aplicação se, e somente se, a seis e os serviços dos funcionários públicos. Os governos muni,
taxa de juros for inferior aos 10% de retomo sobre a fábrica. cipaís compram livros para as bibliotecas, constroem escolas e
Uma pessoa que queira comprar uma casa nova enfrenta uma contratam professores. Os governos em todas as instâncias cons-
decisão parecida. Quanto mais alta a taxa de juros, maior o custo troem estradas e realizam outras obras públicas.Todas essas tran-
de uma hipoteca. Uma hipoteca de $100.000 custa $8.000 por sações constituem as compras do governo de bens e serviços,
ano se a taxa de juros for de 8% e $10.000 por ano se a taxa de que, nos Estados Unidos, representam cerca de 20% do PIB.*
juros for de 10%. À medida que a taxa de juros sobe, o custo de Essas compras são apenas um tipo de gasto do governo . O
ser o proprietário de uma casa aumenta e a demanda por novas outro tipo é o pagamento de transferências para famílias, como
casas diminui. assistência social para os pobres e pagamento de pensões para
Ao estudar o papel da taxa de juros na economia, os econo- os idosos. Ao Contrário das compras do governo, os pagamen-
mistas distinguem a taxa de juros real da taxa de juros n omi- tos de transferências não são efetuados em troca da produção
nal. Essa distinção é relevante quando o nível geral de preços de bens e serviços da economia. Portanto, não são incluídos na
está mudando. A taxa de juros nominal é a taxa de juros cal variável G.
como geralmente expressa: o que os investidores pagam para Os pagamentos de transferências afetam a demanda por bens e
tomar dinheiro emprestado. A taxa de juros real é a taxa de serviços indiretamente. São o oposto dos impostos: aumentam a
juros nominal corrigida pela inflação. Se a taxa de juros nomi- renda disponível das famílias, assim como os impostos a reduzem.

*No Brasil, a razão entre compras do governo e PIB também é cerca de 20% . (N.T.)
,.--

40 CAPÍTULO 3

Taxa de juros real, r

Quantidade de investimento, /

Fig. 3-6 A Função Investimento A função investimento relaciona a quantidade de investimento I à taxa de juros real r. O investimento depende
da taxa de juros real porque é o custo de se tomar dinheiro emprestado. A fu nção de investimento é relativamente incli nada: quando a taxa de juros
sobe, menos proJetos de investimento são lucrativos.

Logo, um aumento dos pagamentos de transferências financiado Se as compras do governo são iguai s a impostos menos
por um aumento nos impostos deixa a renda disponível inalterada. transferências, então G = T, e o governo tem um orçamento
Podemos agora redefinir nossa definição de T como igual a impos- equilibrado. Se G supera T, o governo tem um déficit orçamen-
tos menos pagamentos de transferências. A renda disponível, Y - tário, o qual ele financia com a emissão de títulos da dí\'ida
T, inclui ao mesmo tempo o impacto negativo dos impostos e o pública, ou seja, tomando emprestado nos mercados financei-
impacto positivo dos pagamentos de transferências. ros. Se G é menor que T, o governo tem um superái•it orça-

SAIBA MAIS
As Diversas Taxas de Juros
Se você procurar na seção de economia de um jornal, vai a taxa de juros. O crédito de menor risco é o dado ao
encontrar referências a diversas taxas de juros. Em contras- governo, e por isso os títulos do governo tendem a ter
te, ao longo deste livro, falaremos sobre "a'' taxa de juros, uma taxa de juros mais baixa. No outro extremo, as em-
como se houvesse apenas uma única taxa de juros na eco- presas em situação financeira diffcil só conseguem le-
nomia. A única distinção que faremos é entre a taxa de ju- vantar recursos com a emissão dos chamados junk
ros nominal (que não é corrigida pela inflação) e a taxa de bonds, que pagam juros bastante elevados para compen-
juros real (que é corrigida pela inflação). Quase todas as taxas sar o risco elevado.
de juros informadas no jornal são nominais. > Regime fiscal. Os juros sobre diferentes tipos de títulos são
Por que o jornal refere-se a tantas taxas de juros? As di- tributados de maneiras diferentes. O mais importante:
versas taxas de juros diferem em três aspectos: quando governos estaduais e municipais emitem títulos,
chamados títulos municipais, os compradores não pagam
> Prazo . Alguns empréstimos na economia são de curto
o imposto de renda federal sobre os rendimentos dos ju-
prazo, até mesmo de um dia para outro. Outros emprés-
ros. Por causa dessa vantagem fiscal, os títulos munici-
timos são por 30 anos, ou até mais. A taxa de juros sobre
pais pagam juros mais baixos.
um empréstimo depende do seu prazo. As taxas de juros
de longo prazo em geral são - mas nem sempre - mais Quando você vê duas taxas de juros diferentes no jornal,
elevadas que as taxas de juros de curto prazo. quase sempre pode explicar a diferença pelo prazo, pelo ris-
> Risco de crédito. Ao decidir se concede um emprésti- co de crédito e pelo regime fiscal do empréstimo.
mo, o emprestador deve levar em consideração a pro- Embora haja muitas taxas de juros diferentes na econo-
babilidade de o tomador pagar. Nos Estados Unidos, a mia, os macroeconomistas em geral podem ignorar tais di-
lei permite que os tomadores tornem-se inadimplentes ferenças . As várias taxas de juros tendem a subir e descer
por meio da declaração de falência. Quanto mais alta juntas. O pressuposto de que há apenas uma taxa de juros é
a probabilidade percebida de inadimplência, mais alta uma simplificação útil para nossos propósitos.
RENDA NACIONAL: DE ÜNDE VEM E PARA ÜNDE VAI 41

mentário, ao qual ele pode recorrer para saldar uma parte de Mas queremos examinar o impacto da política fiscal sobre as
sua dívida pendente. variáveis determinadas dentro do modelo, as variáveis endó-
Não tentaremos explicar aqui o processo político que leva a uma genas. As variáveis endógenas aqui são o consumo, o investi-
determinada política fiscal, ou seja, ao nível de compras do gover- mento e a taxa de juros.
no e impostos. Em vez disso, tomamos as compras do governo e os Para compreender como as variáveis exógenas afetam as
impostos como variáveis exógenas. Para indicar que essas variáveis variáveis endógenas, devemos completar o modelo. Esse é o as-
são fixadas fora do nosso modelo de renda nacional, escrevemos sunto da próxima seção.
G = G.
T = f.

3-4 O QUE LEVA A OFERTA E A DEMANDA DE


BENS E SERVIÇOS AO EQUILÍBRIO?
Completamos o círculo no diagrama de fluxo ciKular, a Fig. 3-1. Agora, combinaremos essas equações, descrevendo a oferta
Começamos pela oferta de bens e serviços, e terminamos pela e a demanda da produção. Se substituirmos a função consumo
demanda. Como podemos ter certeza de que todos esses fluxos e a função investimento pela identidade das contas da renda
se equilibram? Em outras palavras, o que garante que a soma nacional, obteremos
de comumo, investimento e compras do governo é igual à quan-
Y = C(Y - T) + I(r) + G.
tidade produzida? Veremos que, neste modelo clássico, a taxa
de juros tem o papel crucial de equi librar oferta e demanda. Como as variáveis G e T são fixadas pela política governamen-
Há duas maneirás de pensar sobre o papel da taxa de juros tal, e o nível de produção Y é fixado pelos fatores de produção
na economia. Podemos considerar como a taxa de juros afeta a e pela função de produção, podemos escrever
oferta e a demanda de bens e serviços. Ou podemos refletir so-
bre como a taxa de juros afeta a oferta e a demanda de fundos Y = C( Y - T) + l(r) + G.
financeiros emprestá,·eis. Como verificaremos, esses dois aspec- Esta equação enuncia que a oferta de produção é igual à sua de-
tos sãn ,·erso e reverso da mesma moeda. manda, que é a soma de consumo, investimento e compras do
governo.
Observe que a taxa de juros ré a única variável que ainda
EQUILÍBRIO NO M ERCADO DE BENS E
não foi determinada na última equação. Isso acontece porque
SERVIÇOS: A ÜFERTA E A DEMANDA DA a taxa de juros ainda tem um papel fundamental a desempe-
PRODUÇÃO DA ECONOMIA nhar: deve se ajustar para garantir que a demanda por bens e
se rviços seja igual à oferta. Quanto maior a taxa de juros, me-
As equaçôes a seguir resumem a análise da demanda por bens nor o nível de investimento e, portanto, menor a demanda
e serviços na Seção 3-3:
por 1'ens e serviços, C + I + G. Se a taxa de juros é muito
Y = C + 1 + G. alta, o investimento é muito baixo, e a demanda pela produ-
C = C(Y - T) . ção fica aquém da oferta. Se a taxa de juros é muito baixa, ci
1 = l(r) . investimento é muito elevado, e a demanda supera a oferta.
À taxa de juros de equilíbrio, a demanda por bens e seniíços é igual
G= G . à oferta .
T = T. Essa conclusão pode parecer um tanto misteriosa. Pode-se
A demanda pela rrnduçãn da economia vem do consumo, do especu lar como a taxa de juros alcança o nível em que equili-
investimento e das compras do gtwerno. O consumo depende bra oferta e demanda de bens e serviços. A melhor maneira de
da renda disponível; o investimento depende da taxa de juros responder a essa pergunta é considerar como os mercados fi-
real; e as compras e impostos do governo são as variáveis exógenas nanceiros se enquadram na história.
determinadas pelos formuladores de política econômica.
Para esta análise, acrescentaremos o que aprendemos sobre EQUILÍBRIO NOS MERCADOS FINANCEIROS:
a oferta de bens e serviços na Seção 3-1 . Verificamos ali que os
fatores de produção e a função de produção determinam a quan-
A ÜFERTA E A DEMANDA DE FUNDOS
tidade de produção ofertada à economia: EMPRESTÁVEIS
Como a taxa de juros é o custo de tomar emprestado e a receita
Y = F (K, I) de emprestar nos mercados financeiros, podemos compreender
= Y. melhor seu papel na economia se pensarmos sobre os merca-
42 CAPITULO 3

dos financeiros. Para isso, reescrevemos a identidade das con- Y- C(Y T) - G = I(r)
tas da renda nacional como S = I(r).
Y-C-G=I. O lado esquerdo dessa equação mostra que a poupança nacio-
O termo Y - C - G é a produção que permanece depois que nal depende da renda Y e das variáveis de política fiscal G e T .
as demandas dos consumidores e do governo foram atendidas; Para valores fixos de Y, G e T, a poupança nacional S também
é chamada de poupança nacional, ou simplesmente de poupan- é fixa. O lado direito da equação mostra que o investimento
ça (S, do inglês saving). Nessa forma, a identidade das contas depende da taxa de juros.
da renda nacional mostra que a poupança é igual ao investi- A Fig. 3-7 mostra a poupança e o investimento como uma
mento. função da taxa de juros. A função poupança é uma reta vertical,
Para compreender mais plenamente essa identidade, pode- porque neste modelo a poupança não depende da taxa de juros
mos dividir a poupança nacional em duas partes, uma repre- (embora esse pressuposto deva ser abandonado mais adiante). A
sentando a poupança do setor privado e a outra representando função investimento é negativamente inclinada: quanto maior
a poupança do governo: a taxa de juros, menos projetos de investimentos são lucrativos.
A um rápido olhar para a Fig. 3-7, pode-se pensar que se trata
(Y - T - C) + (T - G) = l. de um gráfico de oferta e demanda de um bem determinado.
O termo (Y - T - C) é a renda disponível menos o consumo, N a verdade, poupança e investimento podem ser interpreta-
que é a poupança privada . O termo (T - G) é a receita do dos em termos de oferta e demanda. Neste caso, os "bens" são
governo menos a despesa do governo, que é a poupança públi- os fundos emprestáveis, e o "preço" é a taxa de juros. A pou-
ca. (Se o gasto do governo supera sua receita, o governo tem pança é a oferta de fundos emprestáveis: as famílias emprestam
um déficit orçamentário, e a poupança pública é negativa.) A sua poupança para investidores, ou depositam em um banco,
poupança nacional é a soma da poupança privada e da poupança que depois empresta os fundos. O investimento é a demanda
pública. O diagrama de fluxo circular da Fig. 3-1 revela uma por fundos emprestáveis: os investidores tomam emprestado di-
interpretação dessa equação, que enuncia que os fluxos para os retamente do público, através da venda de títulos, ou indire -
mercados financeiros (poupança privada e poupança pública) tamente, através dos bancos. Como o investimento depende
devem equilibrar os fluxos que saem dos mercados financeiros da taxa de juros, a quantidade de recursos emprestáveis deman-
(investimento) . dada também depende da taxa de juros.
Para compreender como a taxa de juros promove o equilíbrio A taxa de juros ajusta-se até que a quantidade que as empresas
nos mercados financeiros, substitua a função consumo e a fun- querem investir seja igual à quantidade que as famílias querem pou-
ção investimento pela identidade das contas da renda nacional: par. Se a taxa de juros é muito baixa, eis investidores querem mais
da produção da economia do que as famílias querem poupar. Em
Y - C(Y - T) - G = I(r). termos equivalentes, a quantidade de fundos emprestáveis deman-
Em seguida, observe que G e T são fixados por decisão política, e dada supera a quantidade ofertada. Quando isso ocorre, a taxa de
Y é fixado pelos fa tores de produção e pela função de produção: juros sobe. Inversamente, se a taxa de juros é muito elevada, as fa-

Taxa de juros real, r


Poupança, S

Taxa de
juros de
equilíbrio
Investimento desejado, J(r)
5 Investimento, Poupança,/, S

Fig. 3-7 Poupança, ln vestimento e a Taxa de Juros A taxa de juros ajusta-se de maneira a equilibrar poupança. e investimento. A curva vertical
representa a poupança: a oferta de fundos emprestáveis. A curva positivamente inclinada representa o investimento: a demanda por fundos
emprestáveis. A interseção dessas duas curvas determina a taxa de juros de equilíbrio.
R ENDA NACIONAL: DE ÜNDE VEM E PARA ONDE VAI 43

mílias querem poupar mais do que as empresas querem investir; e outra categoria de demanda. Como a renda disponível Y - T
porque a quantidade de fundos emprestáveis é maior que a quanti- se mantém inalterada, o consumo C também permanece
dade demandada, a taxa de juros cai. A taxa de juros de equilíbrio inalterado. O aumento das compras do governo deve ser
é encontrada no ponto em que as duas curvas se cruzam. À taxa de acompanhado de uma redução igual no investimento.
juros de equilíhrio, o desejo de poupar das fanu1ias é igual ao desejo de Para induzir o investimento a cair, a taxa de juros deve su-
investir das empresas, e a quantidade de fundos emprestáveis ofertada é bir. Assim, o aumento das compras do governo faz a taxa de
igual à quantidade demandada. juros aumentar e o investimento diminuir. Diz-se que as com-
pras do governo deslocam* o investimento.
A fim de compreender melhor os efeitos de um aumento das
MUDANÇAS NA POUPANÇA:
compras do governo, pense no impacto no mercado de fundos
Os EFErros DA PoLíTicA F1scAL emprestáveis. Como o aumento das compras do governo não é
Podemos adorar nosso modelo para mostrar como a política acompanhado de um aumento de impostos, o governo finan-
fiscal afeta a economia. Quando o governo muda seu gasto ou cia o gasto adicional tomando emprestado - ou seja, reduzin-
o nível de impostos, afeta a demanda pela produção de bens e do a poupança pública. Com a poupança privada inalterada,
serv iços da economia; e também altera a poupança nac ional, o essa tomada de empréstimo do governo reduz a poupança na-
investimento e a taxa de juros de equilíbrio. cional. Como a Fig. 3-8 mostra, uma redução na poupança
nacional é representada por um deslocamento para a esquerda
Um Aumento das Compras do Governo Pense primeiro da oferta de fundos emprestáveis disponíveis para investimen-
nos efeitos de um aumento nas compras do go\·erno em um to. À taxa de juros inicial, a demanda por fundos emprestáveis
montante ~G. O impacto imediato é o aumento da demanda supera a oferta. A taxa de juros de equilíbrio aumenta até o
por bens e serviços em ~G . Mas como a produção total é fixa- ponto em que a curva do invest imento cruza a nova curva da
da pelos fatores de produção, o aumento das compras do go- poupança. Logo, um aumento das compras do governo faz com
verno de ve ser ac01'npanhado de um decréscimo em alguma que a taxa de juros aumente de r 1 para r 1•

Taxa de juros real , r

l(r)
Investimento, Poupança, /, S

Fig. 3-8 Uma Redução da Poupança Uma redução da poupança, às vezes em conseqüência de uma mudança da política fiscal, desloca a curva de
poupança para a esquerda . O novo equilíbrio é o ponto em que a nova curva de poupança cruza a curva de investimento. Uma redução da poupança
diminui a quantidade de investimento e aumenta a taxa de juros. As medidas de política fiscal que reduzem a poupança deslocam o investimento.

ESTUDO DE CASO
GUERRAS E TAXAS DE JUROS NA INGIATERRA, ras proporcionam um experimento natural em que os econo-
1730-1920 mistas podem testar suas teorias. Podemos aprender sobre a
As guerras são traumáticas, tanto para aqueles que lutam quan- economia ao estudar como, em tempo de guerra, as variáveis
to para a economia de um país. Como as mudanças econômi- endógenas reagem às grandes mudanças nas variáveis
cas que as acompanham são muitas vezes profundas, as guer- exógenas.

*Esta relação também é conhecida, em português, pelo termo em inglês cro«!dingouc. (N. Rev. Téc.)
1'
44 CAPÍTULO 3

Uma variável exógena que muda substancialmente em tem- Um problema do uso de guerras para testar teorias é o fato
po de guerra é o nível de compras do governo. A Fig. 3-9 mos- de que muitas mudanças econômicas podem ocorrer ao mes-
tra o gasto militar como um percentual do PIB na Inglaterra, mo tempo. Por exemplo, na Segunda Guerra Mundial, enquan-
de 1730 a 1919. O gráfico mostra, como era de se esperar, que to as compras do governo aumentavam de maneira drástica, o
as compras do governo subiram de maneira súbita e dramática racionamento também restringia o consumo de muitos bens.
durante as oito guerras desse período. Além disso, o risco de derrota na guerra e a presumível
Nosso modelo prevê que essa elevação das compras do gover- inadimplência do governo, deixando de pagar a dívida, aumen-
no em tempo de guerra - e o aumento na tomada de emprésti- tam a taxa de juros que o governo deve pagar. Os modelos eco-
mos pelo governo para financiar as guerras - deveria ter eleva- nômicos prevêem o que acontece quando uma variável exóge-
do a demanda por bens e serviços, reduzido a oferta de fundos na muda e todas as outras variáveis exógenas permanecem cons-
emprestáveis e aumentado a taxa de juros. A fim de testar essa tantes. No mundo real, no entanto, muitas variáveis exógenas
previsão, a Fig. 3-9 também mostra a taxa de juros de longo prazo podem mudar ao mesmo tempo. Ao contrário de experimen-
de títµlos do governo, chamados de consols no Reino Unido.*
tos controlados em laboratório, os experimentos do mundo real
Uma relação positiva entre compras militares e taxa de juros é
em que os economistas devem se basear nem sempre são fáceis
evidente na figura. Esses dados cofirmam a previsnao do modelo:
de interpretar.
a taxa de juros tende a subir quando as compras do governo au-
mentam.4

Percentual Taxa de juros


do PIB (percentual)
50 6
Primeira
45 Guerra
Taxas de juros Mundial
(escala direita) 5
40

35 / 4
30

25 3

20
Guerra da Guerra da f
Sucessão Independência 1
Austrfaca AmerJCana Gasto militar 2
15 Guerra dos /Guerras Napoleónicas (escala esquerda) G~;;'ª I
10 Sete Anos }, J~ Bôeres
\ /\ n1 l ''w' \ Guerra da Crimé,a A !
5 / /\ /
;.../·, /' '.te.~~
\ /
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.... ,.....-.,...,._~ , ; . )
/ \J
o~- -'-- -"--- ~ - -~-- ~--~--....__ _ ....__ _ ~-~o
1730 1750 1770 1790 1810 1830 1850 1870 1890 1910
Ano

Fig. 3·9 Gasto Militar e a Taxa de Juros no Reino Unido A figura mostra o gasto militar corno percentual do PIB no Reino Unido, de 1730 a
1919. Não surpreende que o gasto militar tenha aumentado de modo substancial durante cada uma das oito guerras nesse período. A figura também
mostra que a taxa de juros tendeu a subir quando o gasto militar aumentou .
Fonte. sé rie.extraida de várias fontes. descritas em Robert J. Ba rro. "Government Spending, lnterest Rates, Prices. and Budget Deftc1t.s ln the United Kingdom. 1701 -1918". Joumal of Monetary
Economics 20 (setembro de 1987}: 221· 248.

*No Brasil, a Selic tem papel semelhante. (N.T.)


'Daniel K. Benjamin e Levis A. Kochin, "War, Prices, and lnterest Rates: A Martial Solution to Gibson's Paradox", em M.D. Bordo e A.J. Schwartz, eds., A
Rerrospeccive on the Classical Gold Standard , 1821-1931 (Chicago: Universicy of Chicago Press, 1984), 587-612; Robert J. Barro, "Govemment Spending, lnterest
Rates, Príces, and Budger Deficits in rhe Unired Kingdom, 1701 -19 18",Joumal of Monerary Economics ZO (setembro de 1987): 22 1-248.
RENDA NACIONAL: DE ONDE VEM E PARA ÜNDE V AI 45

Uma Redução nos Impostos Considere agora uma redu- Uma razão para que a demanda por investimento possa au,
ção em â T dos impostos. O impacto imediato do corte fiscal é mentar é a inovação tecnológica. Suponha, por exemplo, que
o aumento da renda disponível e, portanto, o aumento do con- alguém invente uma nova tecnologia, tal como a ferrovia ou o
sumo. A renda disponível sobe em â T; o consumo aumenta a computador. Antes que uma empresa ou família possa aprovei-
quantidade igual a â T vezes a propensão marginal a consumir tar a inovação, deve comprar bens de investimento. A inven-
Cmg. Quanto maior a Cmg, maior o impacto do corte fiscal no ção da ferrovia não teve qualquer valor até que fossem produ-
consumo. zidos os vagões e instalados os trilhos. A idéia do computador
Como a produção da economia é fixada pelos fatores de pro- não foi produtiva até que eles fossem fabricados. Logo, a ino-
dução e o nível de compras do governo é fixado pelo próprio vação tecnológica leva a um aumento da demanda por inves-
governo, o aumento do consumo deve ser acompanhado de uma timento.
diminuição do investimento. Para o investimento cair, a taxa A demanda por investimento também pode mudar porque
de juros deve subir. Assim, uma redução dos impostos, como o governo estimula ou desestimula o investimento por meio de
um aumento das compras do governo, desloca o investimento leis fiscais. Suponha, por exemplo, que o governo aumente o
e aumenta a taxa de juros. imposto de renda sobre pessoa física e utilize a receita extra para
Podemos também analisar o efeito de um corte fiscal olhando financiar cortes fiscais àqueles que investem em capital novo.
para a poupança e o investimento. Como o corte fiscal aumenta Essa mudança jurídica faz com que mais projetos de iiwestimen-
a renda disponível em â T , o consumo sobe em Cmg X â T. A to sejam lucrativos; assim, tal como ocorre com a inovação
poupança nacional S, que é igual a Y - C - G, cai na mesma tecnológica, há um aumento da demanda por bens de investi-
quantidade do aumento do consumo. Como na Fig. 3-8, are- mento.
dução na poupança desloca a oferta de fundos emprestáveis para A Fig. 3-10 mostra os efeitos de um aumento na demanda
a esquerda, o que aumenta a taxa de juros de equilíbrio e deslo- por investimento. A qualquer taxa de juros dada, a demanda
ca o investimento. por bens de investimento (e também por fundos emprestáveis)
é maior. Esse aumento na demanda é representado por um des-
locamento para a direita da curva na linha de investimento. A
MUDANÇAS NA DEMANDA POR economia passa do equilíbrio antigo, ponto A, para o novo
INVESTIMENTO equilíbrio, ponto B.
A surpreendente implicação da Fig. 3-1 O é que a quantida,
Até aqui, analisamos como a política fiscal pode mudar a pou- de de investimento de equilíbrio permanece inalterada. Sob
pança nacional. Podemos também utilizar nosso modelo para nossos pressupostos, o nível fixo de poupança determina a quan-
examinar o outro lado do mercado: a demanda por investimen- tidade de investimento; em outras palavras, há uma oferta fixa
to. Nesta seção, estudaremos as causas e os efeitos das mudan- de fundos emprestáveis. Um aumento na demanda por inves-
ças da demanda por investimento. timento só aumenta a taxa de juros de equilíbrio.

Taxa de juros real, r


s

1. Um aumento

2 . ... aumenta
a taxa de
juros.

Investimento, Poupança,/, S

Fig . 3-1 OUm Aumento da Demanda por ln vestimen to Um aumento da demanda por bens de in vestimenta desloca a curva de investimen-
to para a direita . A uma dada taxa de juros qualquer , o investimento é maior. O equilíbrio passa do ponto A para o ponto B. Como a quantidade
da poupança é fixa, o crescimento da demanda por investimento aumenta a taxa de juros, enquanto deixa inalterada a quantidade de investi-
mento de equilíbrio.
46 CAPÍTULO 3

Taxa de juros real, r

3 . ... e eleva o
investimento e a
,,
poupança de equilíbrio.

---+ Investimento, Poupança,/, 5

Fig. 3-11 Um Aumento da Demanda por Investimento Quando a Poupança É Função da Taxa de Juros Quando a poupança é po-
sitivamente reiacionada com a taxa de juros. um deslocamento para a dir eita da curva de investimento aumenta a taxa de juros e a quantida-
de de investimento . A taxa de 1uros mais alta mduz as pessoas a aumentarem a poupança, o que permite, por sua vez. que o investimento
aumente .

SAIBA MAIS
O Problema da Identificação
Em nosso modelo, o investimento depende da taxa de ju- é mostrado no lado esquerdo do painel (a) da Fig. 3-12, todas
ros. Quanto mais alta a taxa de juros, menos projetos de in- as mudanças representariam movimento ao longo de uma
vestimento são lucrativos. A curva de investimento, portan- curva fixa de investimento. Como mostra o lado direito do
to, é negativamente inclinada. painel (a), os dados traçariam essa curva de investimento.
Os economistas que examinam os dados macroeconômi- Assim, observaríamos uma relação negativa entre investi-
cos, no entanto, em geral não encontraram uma relação mento e taxas de juros.
óbvia entre investimento e taxa de juros. Em anos em que Suponha, por outro lado, que todas as mudanças da taxa
as taxas de juros são elevadas, o investimento nem sempre é de juros resultaram de inovações tecnológicas - ou seja, de
baixo. Em anos em que as taxas de juros são baixas, o inves- deslocamento da curva de investimento. Nesse caso, como
timento nem sempre é elevado. mostra o painel (b), todas as mudanças representariam des-
Como interpretamos essa constatação? Ela significa que o locamento da curva de investimento ao longo de uma cur-
investimento não depende da taxa de juros? Sugere que nos- va de poupança fixa. Como o lado direito do painel (b)
so modelo de poupança, investimento e a taxa de juros é in- mostra, os dados refletiriam essa curva de poupança. Logo,
compatível com a maneira como a economia funciona de fato? observaríamos uma relação positiva entre investimento e
Por sorte, não precisamos descartar nosso modelo. A in- taxas de juros.
capacidade de encontrar uma relação empírica entre inves- No mundo real, as taxas de juros mudam às vezes por
timento e taxas de juros é um exemplo do probl.ema de iden- causa de deslocamentos da curva da poupança, e às vezes
tificação. O problema de identificação surge quando as vari- por causa de deslocamento da curva do investimento. Nes-
áveis são relacionadas de mais de uma maneira. Quando veri- se caso misto, como é mostrado no painel (e), um levan-
ficamos os dados, observamos uma combinação dessas dife- tamento dos dados não revelaria relação reconhecível en-
rentes relações, e é difícil "identificar" qualquer uma delas. tre taxas de juros e a quantidade de investimento, como
Para compreender o problema de maneira mais concre- os economistas observam nos dados concretos. A moral da
ta, pense nas relações entre poupança; investimento e a taxa história é simples e pode ser aplicada a muitas outras situ-
de juros. Suponha, por um lado, que todas as mudanças da ações: a relação empírica que esperamos observar depen-
taxa de juros resultaram de mudanças da poupança - ou de de maneira crucial das variáveis exógenas que pensa-
seja, de deslocamento da curva de poupança. Nesse caso, como mos que estão mudando.
F

RENDA NACIONAL : DE ONDE VEM E PARA O NDE VAI 47

Chegaríamos a uma conclusão diferente, no entanto, se mo- Com uma curva de poupança positivamente inclinada, um
dificássemos nossa função consumo simples e permitíssemos que aumento da demanda por investimento aumentaria tanto a taxa
0 consumo (e seu reverso, a poupança) dependesse da taxa de de juros de equilíbrio quanto a quantidade de investimento de
juros. Como a taxa de juros é a receita da poupança (assim como equilíbrio. A Fig. 3-11 mostra essa mudança. O aumento da taxa
0 custo do empréstimo), uma taxa de juros maior pode reduzir o de juros faz com que as famílias consumam menos e poupem
consumo e aumentar a poupança. Se assim for, a curva de pou- mais. A diminuição do consumo libera recursos para investi-
pança seria positivamente inclinada, em vez de vertical. mento.

3-5 CONCLUSAO
Neste capítulo, desenvolvemos um modelo que explica a pro- Ao longo do capítulo, discorremos sobre várias aplicações
dução, a distribuição e a alocação d a produção de bens e servi- do modelo. O modelo pode explicar como a renda é dividida
ços da economia. Como incorpora todas as interações ilustra- entre os fatores de produção, e como os preços dos fatores de-
das no diagrama de fluxo circular, n a Fig. 3-1, o modelo é às pendem da oferta dos fatores. T ambém utilizamos o modelo
vezes chamado de modelo de equilíbrio geral. O modelo enfatiza para mostrar como a política fiscal altera a alocação da pro-
como os preços se ajustam para equilibrar a oferta e a deman- dução entre seus usos alternativos - consumo, investimen -
da. Os preços de fato res equilibram os mercados de fatores. A to e compras do governo - e como afeta a taxa de juros de
taxa de juros equilibra a oferta e a demanda de bens e serviços equilíbrio.
(ou, de modo equiva lente, a oferta e demanda de fundos A esta a ltu ra, é útil revisa r a lguns dos pressupostos
emprestáveis). simplificadores que estabelecemos neste capítulo. Nos capítu-

(a) Deslocamento das Curvas de Poupança (b) Deslocamento das Curvas de Investimento
O que Está Acontecendo O que Observamos O que Está Acontecendo O que Observamos
r r r r
s,

• •
• •
• •

/, s /, s l, S /, s
(e) Deslocamento das Curvas de Poupança e de Investimento
O que Está Acontecendo O que Observamos
r r

/
>: ,,
I
2
5,:

,, s







I, S

Fig. 3-12 Identificando a Função Investimento Quando examinamos os dados sobre a taxa de juros r e o investimento I . o que encontramos
depende de quais variáveis exógenas estão mudando. No painel (a), a curva de poupança está se deslocando, talvez por causa de mudanças da
política fisc al; observaríamos uma correlação negativa entre r e I. No painel (b), a curva de investimento está se deslocando, talvez por causa de
inovações tecnológicas; observaríamos uma correlação positiva entre r e J. Na situação mais realista mostrada no painel (e), as duas curvas estão se
e
deslocando. Nos dados, não observaríamos qualquer correlação entre r e I, o que de fato o que os pesquisadores geralmente encontram .
r
48 CAPÍTULO 3

los subseqüentes, retomaremos alguns desses pressupostos, a fim > Partimos do princípio de que o capital, a força de trabalho e a
de tratar de uma gama mais ampla de questões. tecnologia de produção são fixos. Nos Caps. 7 e 8, mostraremos
como as mudanças no longo do tempo, em cada um, levam ao
> Ignoramos o papel da moeda, o ativo com que bens e ser-
crescimento da produção de bens e serviços da economia.
viços são comprados e vendidos. No Cap. 4, explicare-
>- Ignoramos o papel dos preços rígidos no curto prazo. Nos Caps.
mos como a moeda afeta a economia e a influência da
9 a 13, desenvolveremos um modelo de oscilações de curto
política monetária.
prazo, que inclui os preços rígidos. Depois, indicaremos como
>- Partimos do pressuposto de que n ão há comércio com ou-
o modelo de oscilações no curto prazo relaciona-se com o
tros países. No Cap. 5, mostraremos como as interações
modelo de renda nacional desenvolvido neste capítulo.
internacionais afetam nossa conclusão.
> Pressupomos que a força de trabalho está em pleno em- Antes de passarmos aos próximos capítulos, voltemos ao iní-
prego. No Cap. 6, examinaremos os motivos do desem- cio deste, para n os certificarmos de que você está apto a res-
prego, e mostraremos como a política pública influencia ponder aos quatro grupos de questões sobre a renda nacional
o nível de desemprego. que dá início ao capítulo.

RESUMO
1. Os fatores de produção e a tecnologia de produção determi- pras do governo e os impmtos são variáveis exógenas da po-
n am a produção de bens e serviços da eccmomia. Um au- lítica fiscal.
mento em um dos fatores de produção ou um avanço tec-
4. A taxa de juros real aj usta-se para equilibrar a oferta e a
n ológ ico aumenta a produção.
demanda da produção da economia; ou, em termos equh·a-
2. As empresas competitivas, maximizadoras de lucro, contra- lentes, para equilihrar a oferta de fundos emprestáveis (pou-
tam empregados até que o produto marginal do trabalho seja pança) e a demanda por fundos emprestá\'eis (irwestimen -
igual ao salário real. De modo semelhante, essas empresas to). Um declínio da poupança nacional, seja por causa de
alugam capital até que o produto marginal do capital iguale um aumento das compras do governo ou de uma diminui-
o preço real do aluguel. Portanto, cada fator de produção é ção dos impostos, reduz a quanrid,'ide de investimento de
pago pelo seu produto marginal. Se a furi.ção de produção equilíbrio e aumenta a taxa de juros. Um aumento da de-
tem retornos con stantes de escala, toda a produção é utili- manda por investimento, seja por causa de uma inovaçii,o
zada para remunerar os insumos. tecno lóg ica ou de um incenri\'o fisca l para o im·estimento,
também aumenta a taxa de juros. Uma elevação da deman-
3. A produção da economia é utilizada em consumo, inves(i-
da por investimento só aumenta a quantidade de im·esri-
men co e compras do governo. O consumo é positivamente
mento se uma taxa de juros mais alta estimular a poupança
relacionado com a renda disponível. O investimento é ne-
adicional.
gativamente relacionado com a taxa de juros real. As com-

CONCEITOS-CHAVE
Fatores de produção S,11.ír io real T axa de jurns nllminal
Função de rrodução Produto marginal Jo capital (PMgK) T axa de juros real
Retornos constante, de escah1 Preço real do aluguel de capital Poupança n ac ional (rourança)
Preços de fator Lucro econômico ('ers11s lucro cmm1bil PL)upança rriv;id::i
Concorrência Renda d isponível Pourança pública
Produto marginal do trabalho (PMgL) Funç5o consumo Fundos emrrestá,·cis
Produto marginal decrescente Prorensão margina l a consumir (Cmg) Efei to deslocàmenro ( crowding our)

QUESTÕES PARA REVISÃO


1. O que determina a quantidade de produção de uma economia? 3. Qual é o papel dos retornos constantes de escala na distribuição
2. Explique como uma empresa competitiva, maximizadora de lucro, da renda?
decide qual a sua demanda por cada fator de produção. 4. O que determina o consumo e o investimento/
F
RENDA NACIONAL: DE ÜNDE VEM E PARA ÜNDE V AI 49

5. Explique as diferenças entre compras do governo e pagamentos de 7. Explique o que acontece com o consumo, o investimento e a taxa
transferências. Dê dois exemplos de cada. de juros quando o governo aumenta os impostos.
6. O que faz a demanda pelos de bens e serviços produzidos na eco-
nomia igualar a oferta?

PROBLEMAS E APLICAÇOES
I. Aplique a teoria neoclássica de distribuição para prever o impacto 5. Suponha que um aumento da confiança do consumidor eleve as
sobre o salário real e o preço real de aluguel do capital de cada um expectativas de renda futura e, conseqüentemente, a quantidade
dos seguintes eventos: que ele quer consumir hoje. Isso pode ser interpretado como um
a. Uma onda de imigração aumenta a força de trabalho. deslocamento para cima da função consumo. Como essa mudança
b. Um terremoto destrói parte do capital instalado. afeta o investimento e a taxa de juros?
c. Um a\'anço tecnológico melhora a função de produção. 6. Considere uma economia descrita pelas seguintes equações:
2. Se um aiunenw d1: 10% du capital e do trnhalho faz a produção
aumentar ,'m menn;; de l 0%, diz-se que a função de produção tem
Y C+l+G,
Y 5.000,
retomo, tlecr<'scemcs de escala . Se fa: com que a produção aumente
em mais de 10'}o, di:-se que a função de rrod ução arresenta retor-
G = 1.000,
T 1.000,
nos cre,cent<'s de escala. Por que uma função de produção pode apre-
sentar retornos crescentes ou decrescentes de escala?
C = 250 + 0,75 (Y - T)
1 1.000 - 50r.
3. Segundu a temia neudássica de distribuição, o salário real recebi-
du por qu:1lquer rrnh1lhaclor é igual à produtividade marginal do a. N essa economia, calcule a poupança privada, a roupança pú-
rrahalh,1c!nr. \',1m,,s 1, arrir dessa idéia para examinar as rendas de hlica e a poupança nacional.
d<lis grur,1, ck rrnhalhadl1res: lavradores e barbeiros. h. Encontre a taxa de juros de equilíbrio.
,1. Ao lnngo dn ülrimu século, a rrodutividade dos lavradores au- c. Suponha agora que G aumente para 1.250. Calcule a poupan •
mentou de 111<,do suhscancial por causa do progresso tecnológi- ça rrivada, a roupança rüblica e a poupança nacional.
co. Segumlll a temi,1 neoclássica, <) que deveria ter acontecido d. Encontre a nova caxa de juros de equilíbrio.
com ,, :;,1hírin re,11 dos lavradores? 7. Suponha que o governo aument1: os imrostos e as compras d<l go-
b. Em que tmidade, u ,nl,írio real indicado n a parte (a) é verno em quantidades iguais. O que acontece com a taxa de juros
mensurad,,' e,., investimento em re;ição a essa mudança no or.ç amento equili -
e. A,, hmg,, lk, mt'S111<, rerí<:>d<:>, a produtividade dos barheiros rer- brado1 Sua resposta depende da propensão marginal a consumir?
m,mc·t:cu c,m,r:mtc·. O que deverü1 ter acontecido com<) s,1!.1-
rio real ,.l<>, h,1rhcirlls? 8. Quando 0 governo subsidia o investimentll, comq fa. com um cré-
cl. Em que uni ,Lidcs n sa L1ri o rea l indicado na parte (c) é dito fiscal de investimentn, muitas ve!es o subsídio só se arlica a
tnl't1Sllnlllll'. alguns tipos de investimento. Esta qu1:st~o pede que você consi-
e. Sur,, ,nha que, is tr:1h;1lhad,,res têm liherdade de se deslocar sem dere n efeirn de tal mudança. Suronha que há dois tiros de inves-
,liflculdadc, cnrre a:; atividades de lavrador e barbeiro. O que timento na economia: o investimento empresarial e o investimento
e,sa 111\lhilid:lllc acarreta parans salários de lavradores e har- residencial. E suponh,1 que u governo institui um crédito fiscal de
bcirns·~ investimento arenc1s rara o investimento empresarial.
f. LJ lll' suas resp<1.,ras anterinres sugerem rara o preço do cnne
l) a. Como essa política atern a curva de demanda por investimen-
de c1bc•l" cm rd.1çJ,, ao preç,, d,.>s alimenrns? to empresarial' E a curva .Je demanda por investi mento
g. Quem Sl' heneticia Jn pmgressu tecnológico na agricultura: os residencial 1
Lt,Tach>rc,, 111 e,, ha rhe ims ? b. Projete a uferta e a de1rn1nd,1 de fundllS emprestáveis da econo-
mia. Como essa política afern a oterta e a demanda de fund os
4. O g,l\·c·rn" aument:1 "·' imposws em $100 bilhões. Se a propensão
emprestáveis? O que acontece com a taxa Je juros de equilíbrio ?
m:irgin,1! :i consumir é 0,6, o que ;icontece com os agregados reb-
c. Compare o antigo e o novo equilíbrio. Como essa política afeta
cic,nadl,, a segu ir: s,1hem ou descem? Em que quantidade '
a quantidade rotai de investimento? a quantidade de investimen-
ri. Pnurança l'úh!ica.
to empresarial? e a quantidade de investimen tú residencial'
h. Puur:mça rrh·ada.
e. Pour,mça nacinn,11. 9. Se n consumn dep1:ndesse da taxa de juros. como isso afetaria as con-
d. ln \'t!stimen to. clusões alcançadas neste capítulo sobre os efeitns da política fiscal'
Apêndice

A FUNÇÃO DE PRODUÇÃO
CoBB-DouGIAS

Que função de produção descreve como as economias de fato na qual a é uma constante entre zero e 1, medindo a participa-
transformam capital e trabalho em PIB? A resposta a essa per- ção do capital na renda. Ou seja, a determina qual parcela da
gunta vem de uma histórica colaboração entre um senador dos renda vai para o capital e qual parcela vai para o trabalho. Cobb
Estados Unidos e um matemático. mostrou que a função com essa propriedade é
Paul Douglas foi senador pelo estado de Illinois de 1949 a
Y = F(K , L) = AK" v-o.,
1966. Em 19 27. no entanto, quando ainda professor de econo-
mia, notou um fato surpreendente: a divisão da renda nacio- na qual A é um parâmetro maior do que zero que mede a pro-
nal entre capital e trabalho mantivera-se mais ou menos cons- dutividade da tecnologia disponível. Essa função tomou-seco-
tante por um longo período. Em outras palavras, à medida que nhecida como função de produção Cobb-Douglas.
a economia se tomava mais próspera, com o passar do tempo a Examinaremos mais a fundo algumas das propriedades des-
renda total dos trabalhadores e a renda total dos proprietários sa função de produção. Primeiro, a função de produção Cobb-
de capital crescia quase exatamente à mesma taxa. Essa obser- Douglas tem retornos constantes de escala. Ou seja, se capital
vação levou Douglas a especular quais condições garantiam par- e trabalho aumentam na mesma proporção, então a produção
ticipações constantes dos fatores na renda. também aumenta nessa proporção. 1
Douglas perguntou ao matemático Charles Cobb se have- Em seguida, considere os produtos marginais da função de
ria alguma função de produção capaz de garantir participações produção Cobb-Douglas. O produto marginal do trabalho é 6
constantes dos fatores na renda, uma vez que os fatores sempre
são remunerados pelos seus produtos marginais. A função de PMgL = (1 - a) AK«L-ª,
produção precisaria ter a propriedade de
e o produto marginal do capital é
Renda do Capital= PMgK X K = aY

e
Dessas equações, lembrando que a se situa entre zero e l, po-
Renda do Trabalho= PMgL X L = (1 - a)Y, demos perceber o que fez com que os produtos marginais dos

;Nora nwtemâtirn: para pnwar yue a ttmçãn Cohh-Dnugla, rem rcrnmn, cnnscanre, de escala, examine n que acnnrece 4uanJo multiplicamos capital e traralho
por uma comrant<' ::

Expandindo ,,s termos à direita,

Rearranjando parn agrupar os termos similares, temns

Corno z"z 1-(\ = z, nossa fu.nçfü1 t0rna ~se


F(zK, zL) = ,AK"L'-".
Mas AK"L 1-º = F(K, L). Logo,

F(zK, zL) = zF(K, L) = zY.


Em conseqüência, a quantidade de produção Y aumenta pelo mesmo fat or z, o que indica que essa função de produção tem retornos constantes de escala.
'Nora matemática: para se obter as fórmulas dos produtos marginais da função de produção é necessário um pouco de cálculo. Para encontrar o PMgL, diferencie
a função de produção em relação a L. Isso é feito com a multiplicação pelo exponente (1 - a), e depois pela subtração de 1 do antigo exponente, para se obter
o novo exponente, -a. De modo semelhante, para obter o PMgK, diferencie a função de produção em relação a K.
RENDA NACIONAL : DE ONDE VEM E PARA ONDE VAI 51

dois fatores mudassem. Um aumento na quantidade de capi- Podemos agora verificar outra coisa: se os fatores ganham seus
tal aumenta o PMgL e reduz o PMgK. De modo semelhante, produtos marginais, o parâmetro a nos diz quanto de renda vai para
um .aumento da quantidade de trabalho reduz o PMgL e au- o trabalho e quanto vai para o capital. A soma total dos salários,
menta o PMgK. Um avanço tecnológico que aumenta o pa- que já vimos ser PMgL X L, é simplesmente ( 1 - a)Y. Portanto,
râmetro A eleva o produto marginal dos dois fatores propor- ( 1 - a) é a participação do trabalho na produção. Assim também,
cionalmente. a receita total do capital, PMgK X K, é a Y, e a é a participação do
Os produtos marginais da função de produção Cobb-Douglas capital na produção. A razão entre a renda do trabalho e a renda
também podem ser escritos como 7 do capital é uma constante, (1 - a)/et, tal como Douglas obser-
vou. As participações dos fatores dependem apenas do parâmetro
PMgL = (1 - et)Y/L. a, e não das quantidades de capital ou de trabalho, ou do estado da
PMgK = et YJK. tecnologia, tal como mensurado pelo parâmetro A.
Dados mais recentes dos Estados Unidos também são coerentes
O PMgL é proporcional à produção por trabalhador, e o PMgK com a função de produção Cobb, Douglas. A Fig. 3-13 mostra a razão
é proporcional à produção por unidade de capital. Y/L é cha- entre a renda do trabalho e a renda total nos Estados Unidos, de
mado de produtividade média do trabalho, e Y/K é chamado de 1960 a 2000. Apesar das muitas mudanças da economia, ao longo
produtividade média do capital. Se a função de produção é Cobb- das quatro últimas décadas essa razão permaneceu em cerca de O, 7.
Douglas, a produtividade marginal de um fator é proporcional A divisão de renda é facilmente explicada por uma função de pro-
à sua produti v idade média. dução Cobb-Douglas, em que o parâmetro o: é cerca de 0,3.

Razão entre renda do


trabalho e renda total
1,0

0 ,8

0,6

0 ,4

0 ,2

0--------------------~-
1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000
Ano

Fig. 3-13 A Razão entre Renda do Trabalho e Renda Total A renda do trabalho tem permanecido cerca de 0.7 da renda total durante um longo
períôdo. Essa constância aproximada das participações dos fatores na renda é a evidência da fun ção de produção Cobb-Douglas. (Esta figura foi
produzida com dados das contas da renda nacional dos Estados Unidos. A renda do trabalho é a remuneração dos trabalhadores. A renda total é a
soma de renda do trabalho, lucros da empresa, juros líquidos, renda de aluguéis e depreciação A renda dos proprietários está excluída destes cálcu-
los, porque é uma combinação de renda do trabalho e renda do capital. )
fome: U S. Department oi Commerce

;Nota matemática: a fim de verificar essas expressões com relação aos produtos marginais, substitua a função de produção por Y, para mostrar que as expressões
são equivalentes às fórmulas anteriores com relação aos produtos marginais.
52 CAPÍTULO 3

• .:.-• • • ~ -~ - ~ - .; .. ··::- ,,L. --·.·

MAIS PROBLEMAS E APLICAÇÕES


1. Suponha uma função de produção Cobb-Douglas com parâmetro b. Derive uma expressão para o produto marginal do capital hu-
oc = 0,3. mano. Como um aumento da quantidade de capital humano
a. Que frações da renda o capital e o trabalho recebem? afeta o produto marginal do capital humano?
b. Suponhamos que a imigração aumente a força de trabalho em 10%. c. Qual é a fração da renda paga ao trabalho? Qual é a fração da
O que acontece com a produção total (em porcentagem)? O que renda paga ao capital humano / Nas contas da renda nacional
ocorre com o preço de aluguel do capital? e com o salário real? dessa economia, que fração da renda total você acha que os tra-
c. Suponha que um presente do exterior aumente o capital instala- balhadores pareceriam receber? (Dica: leve em consideração
do em 10%. O que acontece com a produção total (em porcen- onde aparece a receita do capital humano.)
tagem)? e com o preço de aluguel do capital? e com o salário real? d. Um trabalhador não-qualificado ganha o produto marginal do
d. Suponha que um avanço tecnológico aumente o ·valor do pa- trabalho, enquanto um trabalhador qualificado ganha o produto
râmetro A em 10%. O que acontece com a produção total (em marginal do trabalho mais o produto marginal do capital hu-
porcentagem)? O que ocorre com o preço de aluguel do capi- mano. Utilizando as respostas que você deu para (a) e (b), en-
tal? e com o salário real? contre a razão entre salário qualificado e salário não-qualifica-
2. (Este problema exige o uso de cálculo.) Considere uma função de do. Como um aumento da quantidade de capital humano afeta
produção Cobb-Douglas com três insumos. K é o capital (o núme- essa proporção 1 Explique.
ro de máquinas), L é o trnbalho (o número de trabalhadores) e H e. Algumas pessoas defendem que o governo deve financiar bol-
é o capital humano (o númer.o de pessoas com curso superior en- sas de estudo, a fim de criar uma sociedade mais igualitária.
tre os trabalhadores). A função de produção é Outros argumentam que as bolsas de estudo ajudam apenas
\' = K1''L' "H"'· aqueles que têm condições de ingressar na universidade. Suas
respostas às questões anteriores trazem algum esclarecimento a
a. Derive uma expressão para o produto marginal do trabalho. esse debate?
Como um aumento na quantidade de capital humano afeta o
produto marginal do trabalho 1
Capítulo 4

MOEDA E INFLAÇÃO

Não há meio mais sutil e mais seguro de subverter a base existente da sociedade do que a deterioração da moeda.
O processo agrega todas as forças ocultas da lei econômica no lado da destruição,
e o faz de uma maneira que nem um homem em um milhão é cajmz de diagnosticar.
--- ,li ,hn lvbyn.ud Kt·vne~

Em 1970, o New York Times custava 15 centavos, o preço mé- As "forças ocultas da lei econômica" que levam à inflação
dio de uma residência familiar nos Estados Unidos era 23.400 não são tão misteriosas quanto Keynes alega na citação que abre
dólares, e o salário médio na indústria era 3,36 dólares por hora. este capítulo. A inflação é simplesmente um aumento no ní-
Em 2000, o Times custava 75 centavos, o preço médio de uma vel médio de preços, e um preço é a taxa à qual o dinheiro é
casa subira para 166 mil dólares, e o salário médio era de 14,26 trocado por um bem ou serviço. Para compreender a inflação,
dólares por hora. Esse aumento geral dos preços é chamado de portanto, devemos compreender a moeda: o que é, o que afeta
inflação, e é o assunto deste capítulo. sua oferta e demanda, e que influência tem sobre a economia.
A taxa de inflação - o percentual de mudança no nível Assim, a Seção 4-1 inicia a análise da inflação pela discussão
geral de preços - varia bastante ao longo do tempo e através do conceito de "moeda" para o economista, e como o governo,
dos países. Nos Estados Unidos, segundo o índice de preços ao na maioria das economias modernas, controla a quantidade de
consumidor, houve um aumento médio de 2,4% ao ano na moeda em poder do público. A Seção 4-2 mostra que a quan-
década de 1960, 7, 1% ao ano na década de 1970, 5 ,5 % ao ano tidade de moeda determina o nível de preço. e que a taxa de
na década de 1980, e 3,0% na década de 1990. Mesmo quando crescimento da quantidade de moeda determina a taxa de in-
o problema da inflação americana tornou-se severo, na década flação.
de 1970, não era nada em comparação com os episódios de A inflação, por sua vez, tem numerosos efeitos próprios so-
inflação extraordinariamente alta, chamada de hiperinflação, bre a economia. A Seção 4-3 analisa a receita que os governos
que outros países experimentam de vez em quando. Um exem- obtêm pela emissão de moeda, às vezes chamada de imposto
plo clássico é a Alemanha em 1923, quando os preços subiam inflacionário. A Seção 4-4 examina como a taxa de juros nomi-
em média 500% ao mês. nal afeta a quantidade de moeda que as pessoas desejam reter,
Neste capítulo, examinaremos a teoria clássica das causas, e com isso o nível de preço.
dos efeitos e dos custos sociais da inflação. A teoria é "clássi- Depois de concluir a análise das causas e efeitos da inflação,
ca" no sentido de que pressupõe que os preços são flexíveis . trataremos na Seção 4-6 da questão que talvez seja a mais im-
Como ressaltamos no Cap. 1, a maioria dos economistas acre- portante nessa discussão: a inflação é um grande problema so-
dita que esse pressuposto descreve o comportamento da eco- cial? A inflação equivale a "subverter a base existente da soci-
nomia a longo prazo. Em contraste, muitos preços são consi- edade", como sugere a citação na abertura do capítulo?
derados rígidos no curto prazo, e a partir do Cap. 9, incorpo- Finalmente, na Seção 4- 7, examinaremos o caso extremo
ramos esse fato em nossa análise. Contudo, por enquanto, da hiperinílação. É sempre interessante estudar os casos de hi-
ignoraremos a rigidez dos preços no curto prazo. Como vere- perinflação, porque mostram claramente as causas, os efeitos e
mos, a teoria clássica da inflação não apenas proporciona uma os custos da inflação. Assim como os sismólogos aprendem
boa descrição do longo prazo, mas também oferece um fun- muito com o escudo dos terremotos, os economistas também
damento útil para a análise de curto prazo que será desenvol- aprendem muito ao estudarem como a hiperinflação começa e
vida mais adiante. como acaba.

4-1 O QUE É MOEDA?


Quando dizemos que uma pessoa tem muito dinheiro, em ge- um economista, moeda não se refere a toda a riqueza, mas ape-
ral queremos dizer que ela é rica. Em contraste, os economistas nas a um tipo específico: moeda é um estoque de ativos qu1: po-ª.e
usam o termo moeda de uma maneira mais especializada. Para ser prontamente usado para etetuar transações. Em ·termos ge-
54 CAPfTUW4

rais, os dólares em poder do público constituem o estoque de um mundo assim, o comércio exige a dupla coincidência de
moeda do país. anseios - a eventualidade improvável de duas pessoas, cada
uma com um bem que a outra quer, se encontrarem no mo-
mento certo, no lugar certo, para efetuarem uma troca. Uma
As FuNçõEs DA MOEDA economia de escambo permite apenas as transações mais sim-
A moeda tem trê.s propósitos. É uma reserva de valor, uma ples.
unidade de contâ~ eummeio de troca. -~- - -------- . ------------ A moeda torna possível transações mais indiretas. Uma
Como reserva de valor, a moeda é um meio de transferir o professora usa seu salário para comprar livros; o editor usa a
poder aquisitivo do presente para o futuro. Se eu trabalho hoje receita da venda dos livros para comprar papel; o fabricante
e ganho $100, posso guardaresse-valor pãra gastar amanhã, na de papel usa a receita da venda de papel para pagar o lenha-
próxima semana ou no próximo mês. É claro que a moeda é uma dor; o lenhador usa a sua renda para mandar o filho para o
reserva de valor importante: se os preços estão subindo, a quan- colégio; e o colégio usa o dinheiro que recebe do aluno para
tidade que você pode comprar com qualquer quantidade dada pagar o salário da professora. Em uma economia moderna,
de moeda está caindo. Mesmo assim, as pessoas guardam moe- complexa, o comércio é muitas vezes indireto e exige o uso
da, porque podem trocá-la por bens e serviços em algum mo- da moeda.
mento no futuro.
Como unidade de conta, a moeda estabelece os termos pe-
os
los quais preços são.cte~erminados e ~s-dívidas registradas. Os Tiros DE MoEDA
A microeconom_ia-nos ensina que os recursos são alocados de A moeda assume muitas formas. Na economia dos Estados
acordo com os preços relativos - ~s p~eços de bens em rela- Unidos, efetua-se transações com um item cuja função exclu-
ção a outros bens - mas as lojas fixam seus preços em dóla- siva é servir como moeda: as notas de dólar. Esses pedaços de
res e centavos. Um vendedor de carros diz que um veículo papel verde, com pequenos retratos de norte-americanos famo-
custa $20.000, não 400 camisas (embora possam valer ames- sos, teriam pouco valor se não fosse por sua aceitação ampla
ma coisa). De modo semelhante, a maioria das dívidas exige como moeda. O dinheiro que não tem valor intrínseco é cha -
que o devedor entregue um número especificado de dólares mado de moeda fiduciária, porque é instituído como dinheiro
no futuro, não uma quantidade especificada de alguma mer- por determinação do governo.
cadoria. A moeda é o padrão pelo qual medimos as transações Embora a moeda fiduciária seja a norma em quase todas as
econômicas. economias atuais, a maioria das sociedades no passado usava
Como meio de troca, a moeda é o que usamos para comprar como dinheiro alguma mercadoria com um va lor intrínseco. O
bens e serviços. "Esta nota tem valor legal para todas as dívi- dinheiro desse tipo é chamado de moeda-mercadoria. O exem-
das, públicas e privadas" é a frase impressa no dólar americano. plo mais disseminado de moeda-mercadoria é o ouro. Quando
Quando entramos nas lojas, estamos confiantes de que os lo- as pessoas usam o ouro como moeda (ou usam o papel-moeda
jistas aceitarão nossa moeda em troca dos itens que estão à que pode ser trocado por ouro), diz-se que a economia usa o
venda. A facilidade com que o dinheiro é convertido em ou- padrão ouro. O ouro é uma forma de moeda-mercadoria por-
tras coisas - bens e serviços - é às vezes chamada de liquidez que pode ser usado para vários propósitos - em jóias, restau-
da moeda. rações dentárias e assim por diante - além de transações. O
Para compreender melhor as funções da moeda, tente ima- padrão ouro foi comum no mundo inteiro durante o final do
ginar uma economia sem ela: uma economia de escambo. Em sécu lo XIX.

ESTUDO DE CASO - - - - - - - - - - - - - .
MOEDA EM CAMPO DE PRISIONEIROS DE GUERRA O escambo, no entanto, provou ser uma maneira inconve-
Uma forma incomum de moeda-mercadoria foi instituída em niente de distribuir esses recursos, porque exigia a dupla coin-
alguns campos nazistas de prisioneiros de guerra, durante a cidência de anseios. Em outras palavras, um sistema de escambo
Segunda Guerra Mundial. A Cruz Vermelha fornecia diver- não era a maneira mais fácil de garantir que cada prisioneiro
sas mercadorias aos prisioneiros, como alimentos, roupas, ci- recebesse os bens que mais apreciava. Até mesmo a economia
garros e assim por diante. Essas rações, no entanto, eram dis- restrita do campo de prisioneiros precisava de alguma forma de
tribuídas sem qualquer atenção às preferências pessoais. Por moeda para facilitar as transações.
isso, eram com freqüência ineficientes. Um prisioneiro po- Eventualmente, os cigarros tornaram-se a "moeda corren-
dia preferir chocolate, enquanto outro preferia queijo e um te" estabelecida, em que os preços eram fixados e as trocas
terceiro queria uma camisa nova. Os gostos e dotações dife- efetuadas. Uma camisa, por exemplo, custava cerca de 80 ci-
rentes dos prisioneiros levaram-nos a negociar uns com os garros. Os serviços também eram cotados em cigarros: alguns
outros. prisioneiros ofereciam-se para lavar as roupas de outros pelo
MOEDA E INFLAÇÃO 55

custo de dois cigarros por peça. Até mesmo os não-fumantes ciassem. Dentro do campo de prisioneiros de guerra, o cigar-
ficavam felizes em aceitar cigarros como pagamento, saben- ro tornou-se a reserva de valor, a unidade de conta, e o meio
do que poderiam trocá-los no futuro por algum bem que apre- de troca. 1

COMO A MOEDA FIDUCIÁRIA EVOLUI das são mais fáceis de usar do que lingotes de ouro, porque seu
valor é amplamente reconhecido.
Não surpreende que alguma forma de moeda-mercadoria surja O passo seguinte é o governo aceitar ouro da população em tro-
para facilitar o intercâmbio: as pessoas estão dispostas a aceitar ca de certificados de ouro: pedaços de papel que podem ser resgata-
uma moeda-mercadoria, como o ouro, porque esta tem um valor dos por uma determinada quantidade de ouro. Se as pessoas acre-
intrínseco. O desenvolvimento da moeda fiduciária, no entan- ditam na promes.sa do governo de resgatar o papel, entregando ouro
to, é mais desconcertante. O que levaria as pessoas a prezarem ao portador, as notas são tão valiosas quanto o próprio ouro. Além
uma coisa que é intrinsecamente inútil? disso, como as notas são mais leves do que o ouro (e do que as moedas
Para compreender como ocorre a evolução da moeda-mer- de ouro), são mais fáceis de usar em transações. Eventualmente,
cadoria para a moeda fiduciária, imagine uma economia em que ninguém mais carrega ouro, e esses certificados do governo, com
as pessoas carregam sacos com ouro por toda parte. Quando uma lastro no ouro, tomam-se o padrão monetário.
compra é efetuada, o comprador calcula a quantidade apropri- Por fim, o lastro em ouro torna-se irrelevante. Se ninguém
ada de ouro. Se o vendedor está convencido de que o peso e a jamais se dá ao trabalho de resgatar as notas, trocando -as por
pureza do ouro estão certos, a troca é efetuada. ouro, ninguém se importa se o lastro é abandonado. Enquanto
O governo pode primeiro envolver-se no sistema monetá- todos continuarem a aceitar as moedas de papel nas trocas, elas
rio para ajudar as pessoas a reduzirem o custo de transação. Usar terão valor e servirão como moeda. Assim, o sistema de moe-
o ouro bruto como moeda é dispendioso, porque sempre se leva da-mercadoria evolui para uma forma de moeda fiduciária.
algum tempo para verificar a pureza do ouro e mensurar a quan- Observe que, no final, o uso da moeda no intercâmbio é uma
tidade cerca. A fim de reduzir esses custos, o governo pode cu- convenção social: todos aceitam a moeda fiduciária porque
nhar moedas de ouro, com pureza e peso conhecidos. As moe- esperam que todos os outros também aceitem.

ESTUDO DE CASO
MOEDA E CONVENÇÕES SOCIAIS NA ILHA DE YAP Eventualmente, tomou -se prática comum que o novo dono do
A economia de Yap, uma pequena ilha no Pacífico, tinha um fei não se desse ao trabalho de assumir a posse física da pedra. Em
tipo de moeda que era intermediária entre moeda-mercadoria vez disso, aceitava um título de posse do fei, sem removê-lo do lu-
e moeda fiduciária. O meio tradicional de troca em Yap era o gar em que se encontrava. Em futuras transações, ele negociava esse
fei , uma roda de pedra de até três metros de diâmetro. As pe- título pelos bens que desejava. Tomar posse física da pedra tor-
dras tinham buracos no centro, para que pudessem ser carrega - nou-se menos importante do que ter o direito legal sobre ela.
das com estacas e usadas para troca. Essa prática foi submetida a teste quando se perdeu uma pedra
As pedras grandes não eram uma forma apropriada de di- valiosa no mar, durante uma tempestade. Como o dono perdera
nheiro. Como eram pesadas, o novo dono precisava fazer um o dinheiro por acidente, não por negligência, todos concordaram
esforço considerável para levar seu fei para casa, depois de efe- em que seu título de posse do fei continuava válido. Mesmo gera-
tuada a transação. Embora o sistema monetário facilitasse a ções depois, quando não havia mais ninguém vivo que tivesse
troca, também acarretava um grande custo. visto a pedra, o título sobre esse fei ainda era aceito em trocas. 2

COMO A QUANTIDADE DE MOEDA É oferta de moeda é a quantidade dessa mercadoria. Em uma eco-
nomia que utiliza moeda fiduciária, como a maioria das econo-
CONTROLADA mias atuais, o governo controla a oferta monetária: restrições
A quantidade de moeda disponível é chamada de oferta mo; legais concedem ao governo o monopólio de impressão da
netária. Em uma economia que utiliza moeda-mercadoria, a moeda. Assim como o nível de tributação e o nível de compras

'R.A. Radford, "The Economic Organisacion of a P.0.W. Camp", Economica (novembro de 1945): 189-201. O uso de cigarros como moeda não se limitou a esse exemplo. Na
União Soviética, ao final da década de l 980, maços de Marlboro eram preferidos aos rublos na vasta economia informal.
' Nonnan Angell, The Story ofMoney (Nova York: FrederickA. Srokes Company, 1929), 88-89.
56 CAPÍTULO 4

do governo são instrumentos de política do governo, o mesmo O ativo mais óbvio a se incluir na quantidade de moeda é o
acontece com a oferta monetária. O controle sobre a oferta papel-moeda, a soma de papel-moeda e moedas metálicas. A
monetária é chamado de política monetária. maioria das transações do dia-a-dia usa dinheiro como meio de
Nos Estados Unidos e em muitos outros países, a política troca.
monetária é delegada a uma instituição parcialmente indepen- Um segundo tipo de ativo utilizado para transações são os
dente, chamada banco central. O banco central dos Estados depósitos à vista em bancos, os recursos que as pessoas man-
Unidos é o Federal Reserve, muitas vezes chamado apenas de têm em contas correntes. Se a maioria dos vendedores aceita
Fed. Se você examinar uma nota de dólar americano, vai cons- cheques pessoais, os ativos em uma conta corrente são quase
tatar que é chamada de Federal Reserve Note. As decisões sobre tão convenientes quanto o papel-moeda. Nos dois casos, os ati-
política monetária são tomadas pelo Federal Open Market vos estão em uma forma pronta para facilitar a transação. Os
Committee. Esse comitê é constituído de membros da direção depósitos à vista em bancos, portanto, são acrescentados ao
do Federal Reserve, indicados pelo Presidente e confirmados papel-moeda em circulação quando se mede a quantidade de
pelo Congresso, junto com os presidentes dos bancos regionais moeda.
do Federal Reserve. O Federal Üpen Market Committee reú- Depois que admitimos a lógica de se incluírem os depósitos
ne-se a cada seis semanas para discutir e estabelecer a política à vista no estoque monetário medido, muitos outros ativos tor-
monetária. nam-se candidatos à inclusão. Os recursos em contas de pou-
A principal maneira pela qual o Fed controla a oferta mo- pança, por exemplo, podem ser facilmente transferidos para
netária é por meio de operações de mercado aberto,* a com- contas correntes; esses ativos são quase tão convenientes para
pra e venda de títulos do governo. Quando o Fed quer aumen- as transações quanto os depósitos à vista. As contas de fundos
tar a oferta monetária, usa alguns dos dólares de que dispõe para mútuos possibilitam que os investidores emitam cheques, em-
comprar do público títulos do governo. Como esses dólares bora às vezes haja restrições em relação ao valor do cheque ou
deixam o Fede passam para as mãos do público, a compra au- ao número de cheques emitidos. Como podem ser facilmente
menta a quantidade de moeda em circulação. Inversamente, utilizados em transações, esses ativos devem ser incluídos na
quando quer diminuir a oferta monetária, o Fed vende alguns quantidade de dinheiro.
títLilos do governo de sua carteira. Essa venda de títulos no mer- Como é difícil julgar quais ativos devem ser incluídos no
cado aberto tira alguns dólares das mãos do púhlico, e assim di- estoque monetfüio, há vários conceitos disponíveis. A Tabela
minui a quantidade de moeda em circulação. 4-1 mostra os quatro conceitos do estoque de dinheiro que o
No Cap. 18, discutiremos em detalhes como o Fed controla Federal Reserve calcula para a economia dos Estados Unidos,
a oferta monetária. Para a nossa análise atual, esses detalhes não
são cruciais. Basta, por ora, pressupor que o Fed (ou qualquer
outro banco central) controla diretamente a oferta monetária.
TABELA 4-1 AE, Medidas do Dinheiro
Quantidade em
COMO A QUANTIDADE DE MOEDA É Março de 2001
MEDIDA Símbolo Ativos Incluídos (bilhões de dólares)

Um objetivo deste capítulo é determinar como a oferta C Papel- moeda $ 539


monetári afeta a economia; trataremos desse prohlema na pró- Ml Papel-moeda mais 1.111
xima seção. Como base pata esta análise, estudaremos primei- depósitos à vista. traveler's
ro como os economistas medem a quantidade de moeda. checks e outros depósitos
descontáveis
Como múeda é o estoque de ativos utilizados para transa- M2 Ml mais saldos de fundo 5.100
ções, a quantidade de moeda é a quantidade desses ativos. Em mútuo do mercado
economias simples, é fácil medir essa quantidade. No campo financeiro, depósitos de
de prisioneiros de guerra, a quantidade de moeda era a quanti- poupança (inclusive contas
dade de cigarros que ha\'ia ali. Mas, como podemos medir a correntes) e
depósitos de curto prazo
quantidade de moeda em economias mais complexas como a
M3 M2 mais depósitos de longo 7.326
nossa? A resposta não é óbvia, porque não há um ativo único prazo, acordos de recompra.
utilizado em todas as transações. As pessoas podem usar vários euradólares, e saldos de
ativos, como papel moeda ou cheque, para efetuar transações, fundos mútuos de
embora alguns ativos sejam mais convenientes do que outros. aplicadores institucionais
Essa ambigüidade leva a numerosas medidas da quantidade de
Fonte: Federal Reserve.
moeda.

*Em textos em pnrtuguês, é comum o uso do termo em inglês "open-market" para se referir ao mercado aberto. (N.T.)
MOEDA E INFLAÇÃO 57

éa junto com uma lista dos ativos que são incluídos em cada me- senso, no entanto, sobre qual conceito de estoque monetário é
.. A dida. Dos maiores para os menores, são designados como C, M l, o melhor. Divergências sobre política monetária às vezes sur-
) de M2, e M3. Os conceitos mais comuns para se estudarem os gem, porque diferentes conceitos de moeda estão se movimen-
efeitos da moeda na economia são o Ml e o M2. Não há con- tando em diferentes direções.
) os
an-
::'.ita
1ase 4-2 A TEORIA QUANTITATIVA DA MOEDA
ati-
Tendo definido o que é a moeda e descrito como ela é contro- Ou seja, para que $30 de transações por ano ocorram, com $10
Os
lada e medida, podemos agora examinar como a quantidade de de moeda, cada dólar deve mudar de mãos três vezes por ano.
; ao
moeda afeta a economia. Para fazer isso, devemos verificar como A equação quantitativa é uma identidade: as definições das
· de
a quantidade de moeda está relacionada com outras variáveis quatro variáveis fazem com que ela seja verdadeira. A equação
econômicas, como preços e rendas. é útil porque mostra que, se uma das variáveis muda, uma ou
itos
mais das outras também devem mudar para manter a igualda-
tor-
,ou- de. Por exemplo, se a quantidade de moeda aumenta e a velo-
TRANSAÇÕES E A EQUAÇÃO QUANTITATIVA
iara cidade de circulação da moeda permanece inalterada, o preço
As pessoas guardam moeda para comprar hens e serYiços. Quan- ou o número de transações deve suhir.
iara
to maior a quantidade de moeda precisam para essas transações,
.dos
mais moeda guardam. Assim, a quantidade de moeda da eco-
~m- DAS TRANSAÇÕES À RENDA
nomia está relacionada com a quantidade de dólares trocados
: ou
·nte em transações. Quando estudam o papel da moeda na economia, os economis-
; na O elo entre transações e dinheiro é expresso na seguinte tas em geral utilizam uma versão da equação quantitativa um
equação, chamada de equação quantitativa: pouco diferente do que esta que acaha de ser apresentada. O
problema da primeira equação é o fato de ser difícil medir o
no Moeda X Velocidade = Preço X Transações
n{nnero de transações. Para resolver esse problema, o número de
,ela M X V p X T.
1e o transações T é suhstituído pelo produto total da economia Y.
fos, Examinaremos cada uma das quatro \'arüiveis dessa equação. Transações e produto estão relacionados, porque quanto mais
O lado direito da equação quantitatÍ\'él refere-se às transa- a economia produz, mais bens são comprados e vendidos.Não são
ções. T representa a quantidade torai de transações durante um a mesma coisa, no entanto. Quando uma pessoa vende um carro
determinadu períudo, como, por exemplo, um ano. Em outras usado para outra, por exemplo, arnhos efetuam uma transação
palavras, T é o númerú de \'ezes em um ano em que hens ou utilizando moeda, mesmo que o carro usado não seja parte da
serviços são trocados por moeda. P é o preço de urna transação produção atual. Mesmo assim, o valor em dólares das transações
típica: o número de dólares trocados. O produto do preço de é mais ou menos proporcional ao valor em dólares do produto.
3S)
uma transação e o número de transações, PT, é igual à quanti- Se Y indica a quantidade do produto e P o preço de urna
dade de dólares trocados em um ano. unidade de produção, então o valor em dólares do produto é
O lado esquerdo da equação quantitativa refere-se à moeda PY. Encontramos medidas para essas variáveis quando falamos
utilizada para se efetuarem as transações. M é a quantidade de sohre as contas da renda nacional, no Cap. 2: Y é o PIB real, P
moeda . V é chamado de velocidade de circulação da moeda, é o deflator do PIB e PY é o PIB nominal. A equação quantita-
medindo \) ritlnt) ao qual a moeda circula na economia. Em tiva torna-se
outras pala nas, a velocidade indica o número de vezes em que
uma norn de um dólar troca de mãos em um período dado. Moeda X Velocidade Preço X Produto
Suponh,1, por exemplo, que 60 pães são vendidos em detenni- M X V = p X Y.
nado ano, a $0,50 por pão. Portanto, T é igual a 60 pães por ano, e Como Y é tamhérn a renda total, V nesta versão da equação da
Pé igual a $0,50 por pão. A quantidade total de dólares trocados é quantidade é chamado de velocidade renda da moeda. A ve-
PT = $0,50/pão X 60 pães/ano = $30/ano. locidade renda da moeda indica o número de vezes que uma
nota de um dólar soma-se à renda de alguém em um determi-
O lado direito da equação da quantidade é de $30 por ano, que nado período. Esta versão da equação quantitativa é a mais
é o valor em dólares de todas as transações. comum, e a que utilizaremos daqui por diante.
Suponha ainda que a quantidade de moeda na economia seja
de $10. Reformulando a equação quantitativa, podemos cal-
cular a velocidade como A FUNÇÃO DE DEMANDA POR MOEDA E A
EQUAÇÃO QUANTITATIVA
V= PT/M
= ($30/ano)/($10) Quando analisamos como a moeda afeta a economia, com fre-
= 3 vezes por ano. qüência é útil expressar a quantidade de moeda em termos das
58 CAPÍTULO 4

quantidade de bens e serviços que ela pode comprar. Esse mon- pressuposto adicional de que a velocidade da moeda é constan-
tante, M/P, é chamado de encaixes monetários reais. te, a equação quantitativa toma-se uma teoria útil dos efeitos
Os encaixes monetários reais medem o poder aquisitivo do da moeda, chamada de teoria quantitativa da moeda.
estoque monetário. Considere, por exemplo, uma economia que Como acontece com muitos pressupostos na economia, o
produza apenas pão. Se a quantidade de moeda é $10 e o preço pressuposto da velocidade constante é apenas uma aproxima-
de um pão é $0,50, então o encaixe monetário real é de 20 pães. ção da realidade. A velocidade não muda se a função de de-
Ou seja, a preços atuais, o estoque de moeda da economia é manda por moeda mudar. Por exemplo, quando foram intro-
capaz de comprar 20 pães. duzidos caixas automáticos, as pessoas puderam reduzir a quantia
Uma função de demanda por moeda é uma equação que média de moeda que mantinham, o que significava uma queda
mostra o que determina a quantidade de encaixes monetários do parâmetro k da demanda por moeda e um aumento da velo-
reais que as pessoas desejam ter. Uma função de demanda por cidade V. Não obstante, a experiência mostra que o pressupos-
moeda simples é to de velocidade constante proporciona uma boa aproximação
(M/P)d = kY, em muitas situações. Portanto, vamos supor que a velocidade
seja constante e verificar quais são as implicações desse pressu -
em que k é uma constante que nos diz quanto de moeda as pes- posto nos efeitos da oferta de moeda da economia.
soas querem manter para cada dólar de renda. Essa equação Uma vez que supomos que ave locidade é constante, a equa-
enuncia que a quantidade de encaixe monetário real deman- ção quantitativa pode ser vista como uma teoria do que deter-
dada é proporcional à renda real. mina o PIB nominal. A equação quantitativa enuncia
A função de demanda por moeda é como a função de de -
manda por um bem específico. Aqui, o "bem" é a conveniên- MV = PY,
cia de manter encaixes monetários reais. Assim como possuir
um carro torna mais fácil viajar para uma pessoa, manter moe - em que a barra sobre o V significa que a velocidade é constan-
da toma mais fácil efetuar transações. Portanto, da mesma te. Portanto, uma mudança na quantidade de moeda (M) deve
maneira que a renda maior leva a uma demanda maior por car- causar uma mudança proporcional no PIB nominal (PY). Ou
ros, a renda mais alta também leva a uma demanda maior por seja, se a velocidade é constante, a quantidade de moeda de-
encaixes monetários reais. termina o valor em dólares do produto da economia.
Essa função de demanda por moeda oferece outra maneira
de considerar a equação quantitativa. Para constatar isso, acres- MOEDA, PREÇOS E INFIAÇÃO
cente à função de demanda por moeda a condição de que a
demanda por encaixes monetários reais (M/P)·1 deve ser igual Temos agora uma teoria para explicar o que determina o nível
à oferta M/P. Portanto, geral de preços da economia. A teoria tem três fundamentos:
M/P = kY. 1. Os fatores de produção e a função de produção determinam
o nível do produto Y. Tiramos essa conclusão do Cap. 3.
Uma simples reformulação dos termos muda essa equação para
2. A oferta monetária determina o valor nominal do produto,
M(l /k) = PY, PY. Essa conclusão decorre da equação quantitativa e do
pressuposto de que a velocidade da moeda é constante.
que pode ser escrita como
3. O nível de preço Pé então a razão entre valor nominal do
MV = PY, produto, PY, e o nível de produto Y.
em que V = 1/k. Essa matemática simples mostra a relação entre Em outras palavras, a capacidade produtiva da economia de-
a demanda por moeda e a velocidade de circulação da moeda. termina o PIB real, a quantidade de moeda determina o PIB
Quando as pessoas querem reter muito de cada dólar de renda nominal e o deflator do PIB é a razão entre o PIB nominal e o
(k é grande), a moeda muda de mãos com pouca freqüência (V PIB real.
é pequeno) . Inversamente, quando as pessoas querem reter Essa teoria explica o que acontece quando o Fed muda a
pouca moeda (k é pequeno), a moeda muda de mãos com fre - oferta monetária. Como a velocidade é constante, qualquer
qüência (V é grande). Em outras palavras, o parâmetro k da mudança da oferta monetária leva a uma mudança proporcio-
demanda por moeda e a velocidade de circulação da moeda V nal no PIB nominal. Como os fatores de produção e a função
são lados opostos da mesma equação. de produção já determinaram o PIB real, a mudança no PIB
nominal deve representar uma mudança no nível de preço. Por
Ü PRESSUPOSTO DE VELOCIDADE isso, a teoria quantitativa implica que o nível de preço é pro-
porcional à oferta monetária.
CONSTANTE Como a taxa de inflação é a mudança percentual no nível
A equação quantitativa pode ser considerada uma definição: de preço, essa teoria do nível de preço é também uma teoria da
define a velocidade V como a proporção do PIB nominal, PY, taxa de inflação. A equação quantitativa, escrita em forma de
para a quantidade de moeda M. Contudo, se estabelecermos o variação percentual, é
MOEDA E INFLAÇÃO 59

éconstan- % Variação de M +%Variação de V = % Variação de P + de variação do produto Y depende do crescimento dos fatores
dos efeitos % Variação de Y. de produção e do progresso tecnológico, o que podem ser con-
da. siderados dados para os nossos atuais propósitos. Esta análise
:onomia, o Tome cada um desses quatro termos. Primeiro, o percentual de nos diz que (exceto por uma constante que depende do cresci-
aproxima- variação da quantidade de moeda M está sob controle do ban- mento exógeno do produto) o crescimento da oferta monetá-
ção de de- co central. Segundo, o percentual de variação na velocidade V ria determina a taxa de inflação.
,ram intro- reflete as alterações da demanda por moeda; partimos do Assim, a teoria quantiwtiva da moeda enuncia que o banco cen-
ir a quantia proncípio de que a velocidade é constante, e por isso o tral, que controla a oferta de dinheiro , tem o controle supremo sobre a
uma queda percentual de variação é zero. Terceiro, o percentual de varia- taxa de inflação. Se o banco central mantém estável a oferta monetá-
to da velo- ção do nível de preço Pé a taxa de inflação; esta é a variável ria, o nível de preço será estável. Se o banco central aumenta rapida-
p.ressupós- da equação que gostaríamos de explicar. Quarto , o percentual mente a oferra monetária, o nível de preço subirá rapidamente.
roximação
velocidade
!Sse pressu- ESTUDO DE CASO
tte, a equa- INFLAÇÃO E EXPANSÃO MONETÁRIA Friedman, junto com sua colega economista Anna Schwartz,
que deter- "A inflação é sempre e em toda parte um fenômeno monetá- escreveu dois tratados sobre a história monetária, documentando
Leia rio." Foi o que escreveu Milton Friedman, o grande econo- as fontes e os efeitos de variações da quantidade de moeda ao lon-
mista que ganhou o Prêmio Nobel de Economia em 1976. A go do último século. 1 A Fig. 4-1 toma alguns de seus dados e traça
teoria quantitativa da moeda leva-nos a concordar em que o a taxa média de expansão monetária e a taxa média de inflação
crescimento na quantidade de moeda é o principal determi- dos Estados Unidos, ao longo de cada década desde a década de
é constan- nante da taxa de inflação. Mas a alegação de Friedman é 1870. Os dados confirmam a relação entre inflação e crescimen-
~ (M) deve empírica, não teórica . Para avaliar sua alegação, e julgar a to da quantidade de moeda. As décadas com grande expansão mo-
l (PY) . Ou utilidade da nossa teoria, precisamos examinar os dados so- netária tendem a ter inflação alta, enquanto as décadas com pe-
moeda de- bre moeda e preços. quena expansão monetária tendem a ter inflação baixa.
a.

Taxa de 8
lntlação 7910
ina o nível (percentual) · 1910
6 1940
lamentos:
1980
~terminam
4
) Cap. 3.
lo produto, 1950
1960
:ativa e do 2 1990 1900
tstante.
1ominal do
o 18
,nomia de- 1880
-2 1930 1810
:lina o PIB · 1920
ominal e o
-4
ed muda a o 2 4 6 8 10 12
:, qualquer Expansão monetária (percentual)
proporcio- Fig. 4-1 Dados Históricos sobre Inflação e Expansão Monetária nos Estados Unidos Neste gráfico de expansão monetária e inflação, cada
e a função ponto representa uma década. O eixo horizontal mostra a expansão monetária.média (tal como medido por M2) ao longo da década, enquanto o eixo
tça no PIB vertical mostra a taxa média de inflação (conforme medida pelo deflator do PIB). A correlação positiva entre crescimento do dinheiro e inflação é uma
preço. Por confirmação da previsão da teoria quantitativa de que uma expansão monetária elevada leva a uma inflação alta.
reço é pro- Fonte: para os dados até a década de 1960: Milton Friedman e Anna J. Schwartz, Monetary Trends in rhe United States and the United Kingdom: Their Relaaon to Income. Prices. and Interest
Rates. 1867-1975 (Chicago: Unlversity oi Chicago Presa, 1982). Para os dados recentes: U. S. Department oi Commerce, Federal Reserve.
il no nível
,a teoria da
n forma de 'Milron Friedman e Anna J. Schwam, A Monetary History of rhe Unired States , 1867-1960 (Princeton, New Jersey: Princeton Univmiry Pres.s, 1963 ); Milcon Friedman e Anna J·
Séhwam, Monetary Trends in the United States and rhe United Kingdom: Their Relation to Incarne , Prices, and lnrerest Rates, 1867-1975 (Chicago; Universiry of Chicago Press, 1982).
60 CAPÍTULO 4

Taxa de 10.000
República Democrática
inAação
(percentual,
Nicarágua N do Congo

escala
1.000 li!< ~ Angola
logarítmica) Geórgia
li! ,. "' Brasil

100
..
..
10
~,, ; Alemanha
Kuwait-<
/ 5-":.'
.~--~

Estados Unidos i\
Canadá
Orna Japão

o, 1 ' - - - - - - - . l . - - - - - - - ' - - - - - - - - ' - -- - - - - - ' - - - - - -- - ' - - - -


0, 1 10 100 1.000 10.000
Expansão monetária (percentual, escala logarítmica)

Fig. 4-2 Dados Internacionais sobre Inflação e Expansão Monetária Neste gráfico , cada ponto representa um país. O eixo horizontal mostra
a expansão monetária média (conforme medido pelo papel-moeda mais os depósitos à vista) durante a década de 1990, enquanto o eixo vertical
mostra a taxa de inflação médra (tal como medida pelo deflator do PIB). Mais urna vez, a correlação positiva é confirmação da previsão da teoria
quantitativa de que uma expansão monetária elevada leva a uma inflação alta.
Fonte· JnternationaJ Financial Statis tics.

A Fig. 4-2 examina a mesma questão com dados internaci- Se examinarmos os dados mensais sobre expansão monetá-
onais. Mostra a taxa média de inflação e a taxa média de ex- ria e inflação, em vez de verificarmos os períodos de 10 anos,
pansão monetária em mais de 100 países durante a década de não veremos uma relação tão estreita entre essas duas variáveis.
1990. Mais uma vez, é evidente a ligação entre expansão mo- Esta teoria da inflação funciona melhor no longo prazo, não
netária e inflação. Os países com grande expansão monetária no curto prazo. Examinaremos o impac to no curto prazo de
tendem a ter inflação alta, enquanto os países com pouc a ex- variações da quantidade de moeda quando estudarmos as
pansão monetária tendem a ter inflação baixa. flutuações econômicas, na Parte IV deste livro.

4-3 SENHORIAGEM: A RECEITA DA EMISSAO DE MOEDA


Até aqui, vimos como o crescimento da ofe rta monetária gera direito pertence ao governo central, constituindo uma fonte de
inflação. Mas o que pode induzir o governo a aumentar a ofer- receita.
ta monetária? Examinaremos agora uina resposta para essa ques- Quando o governo emite moeda para financiar gasto, au-
tão. menta a oferta monetária. O aumento na oferta monetária, por
C o mecemos por um fato incontestável: todos os governos sua vez, causa inflação. Emitir moeda para aumentar a receita
têm gastos. Uma parte desses gastos é para comprar bens e ser- é como impor um imposto inflacionário.
viços (como estradas e polícia ), e uma parte é para proporcio- A princípio, talvez não seja óbvio que a inflação pode ser
nar pagamentos de transferência (para os pobres e idosos, por encarada como um imposto. Afinal, ninguém recebe a conta
exemplo). Um governo pode financiar seus gastos de três ma- por esse imposto; o governo apenas emite moeda, se precisa.
neiras. Primeiro, pode aumentar a receita por meio de impos- Quem, então, paga o imposto inflacionário? A resposta é sim-
tos, como o imposto de renda sobre pessoa física e jurídica. ples: os detentores de moeda. À medida que os preços sobem,
Segundo, pode tomar emprestado do público, vendendo títu- o valor real da moeda em sua carteira cai. Quando o governo
los do governo. Terceiro, pode emitir moeda. emite moeda nova para seu uso, faz com que a moeda antiga
A receita obtida por meio da emissão de moeda é chamada nas mãos do público seja menos valiosa. Assim, a inflação é
de senhoriagem. O termo vem de seigneur, a palavra francesa como um imposto sobre a posse de moeda.
para "senhor feudal". Na Idade Média, o senhor feudal tinha o O total arrecadado pela emissão de moeda varia de um país
direito exclusivo de cunhar moeda em suas terras. Hoje, esse para outro. Nos Estados Unidos, o montante tem sido pequeno:
F

MOEDA E INFLAÇÃO 61

a senhoriagem em geral representa menos de 3% da receita do perinflação, a senhoriagem é com freqüência a principal fonte
governo. Na Itália e na Grécia, a senhoriagem tem sido mais de de receita do governo: na verdade, a necessidade de emitir mo-
to% da receita do govemo. 4 Em países que experimentam a hi- eda para financiar gastos é uma causa principal da hiperinflação.

ESTUDO DE C A S O - - - - - - - - - - - ~
PAGANDO A REvüLUÇÃO AMERICANA tia aumentou para $19 milhões em 1776, $13 milhões em 1777,
Embora a senhoriagem não tenha sido uma grande fonte de re- $63 milhões em 1778 e 125 milhões em 1779.
ceita para o governo dos Estados Unidos na história recente, a Não foi surpresa que esse rápido crescimento da oferta mone-
situação era muito diferente dois séculos atrás. Começando em tária levasse a uma inflação generalizada. Ao final da guerra, o
1775, o Congresso Continental precisava encontrar um meio de preço do ouro medido em dólares continentais era 100 vezes
financiar a Revolução americana, mas tinha uma capacidade li- maior que seu nível apenas alguns anos antes. A grande quan-
mitada de levantar recursos por meio da tributação. Por isso, tidade da moeda continental fez com que o dólar continental
dependia da emissão de moeda fiduciária para pagar a guerra. se tomasse quase sem valor. Essa experiência também deu ori-
A dependência do Omgresso Continental à senhoriagem gem a uma expressão outrora popular: as pessoas costumavam
aumentou com o passar do tempo. Em 1775, as novas emissões dizer que alguma coisa "não valia um continental", significan-
de moeda continental foram de cerca de $6 milhões. A quan- do que o item tinha pouco valor real.

4-4 INFLAÇAO E TAXAS DE JUROS


Como ressaltamos no Cap. 3, as taxas de juros figuram entre as A taxa de juros real é a diferença entre a taxa de juros nominal
mais importantes variáveis macroeconômicas. Em essência, são e a taxa de inflação. 5
os preços que ligam o presente e o futuro. Aqui, vamos exami-
nar a relação entre inflação e taxas de juros.
o EFEITO FISHER
Rearrumando os termos em nossa equação para a taxa de juros
DUAS TAXAS DE JUROS: REAL E NOMINAL
real, podemos mostrar que a taxa de juros nominal é a soma da
Suponha que você deposite suas economias em uma conta no taxa de juros real e a taxa de inflação:
banco que paga 8% de juros ao ano. No ano seguinte, você retira
sua poupança e os juros acumulados. Você está 8% mais rico i = r + TI.
do que na ocasião em que fez o depósito, um ano antes? A equação escrita dessa maneira é chamada de equação Fisher,
A resposta depende do que significa "mais rico". Sem dúvi- em homenagem ao economista Irving Fisher (1867 - 1947).
da você tem 8% de dólares a mais do que antes. Mas se os pre- Mostra que a taxa de juros nominal pode mudar por duas ra-
ços subiram de tal modo que cada dólar compra menos, seu zões: porque a taxa de juros real muda, ou porque a taxa de
poder de compra não aumentou em 8%. Se a taxa de inflação inflação muda.
foi de 5%, a quantidade de bens que você pode comprar au- Depois que separamos a taxa de juros nominal nesses dois
mentou em apenas 3%. E se a taxa de inflação foi de 10%, seu componentes, podemos aplicar essa equação para dese nvol-
poder de compra teve uma queda de 2%. ver uma teoria que explica a taxa de juros nominal. O Cap. 3
o~ economistas chamam a taxa de juros que o banco paga mostrou que a taxa de juros real ajusta-se para equilibrar pou-
de taxa de juros nominal, enquanto o aumento em seu poder pança e investimento. A teoria quantitativa da moeda mos-
de compra é a taxa de juros real. Se i indica a taxa de juros
tra que a taxa de expansão monetária determina a taxa de
nominal, r a taxa de juros real e TI a taxa de inflação, are lação
inflação. A equação Fisher nos diz então para somar a taxa
entre essas três variáveis pode ser escrita como
de juros real e a taxa de inflação para determinar a taxa de
r =i- TI. juros nominal.

'Stanley Fischer, "Seigniorage and the Case for a National Money", Journal of Political Economy 90 (abril de 1982): 295-313.
;Noca maremática: esta equação, .relacionando a taxa de juros real, a taxa de juros nominal e a taxa de inflação, é apenas uma aproximação. A fórmula exata é ( l + r) = (1 + i)/
( 1 + 1r). A aproximação do texto é mais ou menos acurada, desde quer, i e 1t sejam relativamente pequenos (digamos, menos de 20% ao ano).
r
62 CAPÍTULO 4

A teoria quantitativa e a equação Fisher juntas estabelecem gundo a equação Fisher, um aumento de 1% na taxa de inflação,
como a expansão monetária afeta a taxa de juros nominal. Se- por sua vez, causa um aumento de 1% na taxa de juros nominal.
gimdo a teoria quantitativa, um aumento de 1% da taxa de expan- A relação um-para-um entre a taxa de inflação e a taxa de ju-
são monetária causa um aumento de 1% na taxa de inflação . Se- ros nominal é chamada de efeito Fisher.

ESTUDO DE CASO
TAXA DE INFIAÇÃO E TAXA DE JUROS NOMINAL tra, a taxa de inflação e as taxas de juros nominais de um país
Até que ponto o efeito Fisher é útil para explicar as taxas de estão inter-relacionadas. Os países com inflação alta tendem
juros! Para responder a essa pergunta, examinaremos dois ti- a ter taxas de juros nominais elevados, enquanto os países
pos de dados sobre as taxas de inflação e de juros nominal. com inflação baixa tendem a ter taxas de juros nominais
A Fig. 4-3 mostra a variação ao longo do tempo da taxa de baixas.
juros nominal e da taxa de inflação nos Estados Unidos. Pode- A relação entre inflação e taxas de juros é bastante conhe-
se constatar que o efeito Fisher explica bem as flutuações da cida entre os investidores de Wall Street. Como os preços dos
taxa de juros nominal ao longo do último meio século. Quan- títulos se movimentam na direção inversa das taxas de juros,
do a inflação é alta, as raxas de juros nominais geralmente são uma pessoa pode enriquecer por prever corretamente a direção
elevadas; e quando a inflação é baixa, as taxas de juros nomi- das taxas de juros. Muitas empresas de Wall Street contratam
nais também costumam ser baixas. observadores do Fed para monitorar a política monetária e as
Um argumento similar que corrobora o efeito Fisher vem notícias sobre a inflação, a fim de antecipar-se às mudanças das
da análise de diferenças entre países. Como a Fig. 4-4 mos - taxas de juros.

Percentual
16

14

12

10

8 Taxa de
juros nominal
6

4
\
2

- 2 '--~~.L-~ ~ ' - -~ - ' - ~ ~----'--~~-'--~~-'--~~ " - ~_JL_~---L~~----'--~


1950 1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000
Ano

Fig. 4-3 Inflação e Taxa de Juros Nominal ao Longo do Tempo Esta figura apresenta a taxa de juros nominal (de títulos de três meses do
Tesouro dos EUA) e a taxa de inflação (tal como medida pelo IPC) nos Estados Unidos, desde 1954. Mostra o efeito Fisher: a inflação mais alta leva
a uma taxa de juros nominal mais elevada.
Fonte: Federal Reserve e U. S. Department of Labor.
MOEDA E INFLAÇÃO 63

100
Taxa de juros
nominal
(percentual, Quénia
. " Casaquistão
!Ili
escala Armênia
logarítmica) :I' Uruguai
..a:, , _\.at
Itália
\ . ~ 1'!

O Fran\ç• ' \ • ' ,~ \ •


1

'} -;:~ Nigéria

, \~
' . ~.. Reino Unido

· Estados Unidos
Japão
Alemanha

Cingapura
1 '------ - - - - - - ' -- - - - - -- - - ' - - - - - - ----'---
1 10 100 1000
Taxa de inflação (percentual, escala logarítmica)

Fig. 4.4 Inflação e Taxas de Juros Nominais em Vários Países Este gráfico exibe a taxa de juros nominal média de títulos do Tesouro de curto
prazo e a taxa de inflação médii! em 77 países durante a década de 1990. A correlação positiva entre a taxa de inflação e a taxa de juros nominal é a
confirmação do efeito Fisher.
Fonte: ln tematinnaJ Financial Scatistlcs.

DuAs TAXAS DE JuRos REA1s: Ex ANTE E Ex As duas taxas de juros reais diferem quando a inflação de fato
1T é diferente da inflação esperada 1r•·.
PosT Como essa distinção entre inflação de faro e inflação espe-
Quando um tomador e um emprestador estão de acordo quan- rada modifica o efe ito Fisher? É evidente que a taxa de juros
to a uma taxa de juros nominal, eles não sabem qual será a ta,<a nominal não pode se ajustar à inflação de fato, porque a infla-
de inflação de longo prazo do empréstimo. Portanto, devemos ção de fato não é conhecida quando a taxa de juros nominal é
estabelecer dois conceitos de taxa de juros real: a taxa de juros fixada. A taxa de juros nominal pode ser ajustada apenas à in-
real que o tomador e o emprestador esperam quando o emprés- flação esperada. O efeito Fisher é escrito mais precisamente
timo é feito, chamada de taxa de juros real ex ante, e a taxa de como
juros real realizada de faro , a taxa de juros real ex post.
Embora não possam prever com certeza a inflação futura,
tomadores e emprestadores têm alguma expectativa s~bre a taxa A taxa de juros real ex ante ré determinada pelo equilíbrio no
de inflação. Vamos supor que 1T indique a inflação futura de mercado para bens e serviços, como descreve o modelo do Cap.
fato e TI º a expectativa de inflação futura. A taxa de juros real 3. A taxa de juros nominal i movimenta-se um-para- um com
ex ante é i - 1r<, enquanto a taxa de juros real ex post é i - 1T . as mudanças da inflação esperada 1rº .

ES'I1JDO DE CASO
TAXA DE JUROS NOMINAL NO SÉCULO XIX durante esse período deixou Irving Fisher perplexo. Ele suge-
Embora dados recentes apresentem uma relação positiva entre riu que a inflação "pegou os negociantes cochilando".
taxas de juros nominais e taxas de inflação, essa descoberta não Como devemos interpretar a ausência de um efeito Fisher
é universal. Em dados do final do século XIX e início do século aparente nos dados do século XIX? Esse período da história
XX, as taxas de juros nominais elevadas não acompanham a proporciona evidência contra o ajuste das taxas de juros nomi-
inflação alta. A aparente ausência de qualquer efeito Fisher nais à inflação? Uma pesquisa recente sugere que esse período
64 CAPITUL04

tem pouco a nos dizer sobre a validade do efeito Fisher. A ex- é razoável que esperem para o futuro uma inflação também alta.
plicação é que o efeito Fisher relaciona a taxa de juros nomi- Em contraste, durante o século XIX, quando o padrão ouro
nal com a inflação esperada, e a inflação nessa época, segundo estava em vigor, a inflação tinha pouca persistência. A infla-
a pesquisa, não era em grande parte esperada. ção alta em um ano podia ser acompanhada no ano seguinte
Embora as expectativas não sejam observáveis, podemos tanto por inflação baixa quanto por inflação alta. Portanto, a
extrair inferências sobre elas pelo exame da persistência da inflação alta não indicava uma inflação esperada elevada e não
inflação. Recentemente, a inflação tem sido muito persisten- levava a taxas de juros nominais altas. Ou seja, em certo senti-
te: quando é alta em um ano, tende a ser alta também no ano do, Fisher estava certo ao dizer que a inflação "pegou os nego-
seguinte. Portanto, quando as pessoas observam a inflação alta, ciantes cochilando". 6

4-5 A TAXA DE JUROS NOMINAL E A DEMANDA POR MOEDA


A teoria quantitativa baseia-se em uma função de demanda por enuncia que a demanda pela liquidez dos encaixes monetários
moeda simples: pressupõe que a demanda por encaixes mone- é uma função da renda e da taxa de juros nominal. Quanto mais
tários é proporcional à renda. Emhora seja um hom começo, alto o nível de renda Y, maior a demanda por encaixes mone-
quando se analisa os efeitos da moeda sobre a economia, a te- tários reais. Quanto maior a taxa de juros n ominal i, mais bai-
oria quantitativa não explica toda a história. Acrescentamos xa a demanda por encaixes monetários reais.
aqui outro determinante da quantidade de moeda demandada:
a taxa de juros nominal.
MOEDA FUTURA E PREÇOS CORRENTES
Moeda, preços e taxas de juros estão agt1 ra inter-relacionados
o CUSTO DE RETER MOEDA de vrírias tmmeiras. A Fig. 4-5 ilustra as relaçôes que examina-
Os dólares que você retém em sua carteira não rende juros. mos. Como a teoria quantitatiYa da moeda explica, a oferta
Se, em vez de ficar com o dinheiro, você o usasse para com- monet,iria e a demanda por moeda, juntas, determinam o ní-
prar títulos do governo ou depositar em uma conta de pnu- \'e l de preço de equilíbrio. As mudanças do ní\'el de preço, por
pança, ganharia a taxa de juros nnminal. A taxa de juros no- definição, constituem a taxa de inflação. A inflação, por sua
minal é o custnde oportunidade de ficar com a moeda: é aquilo \'ez, afeta a taxa de juros nominal através do efeito Fisher. Mas
a que você renuncia ao reter moeda em vez de adquirir títu- agora, como a raxa de juros nominal é o custo de se reter moe-
los mobiliários. da, a caxa de juros nominal afetará a demanda por moeda.
Outro meio de constatar que o custo de reter moed<i é igual Pense em como a introdução dessa última relação afeta nnssa
à taxa de juros nominal é pela comparação de rett)mos reais de teoria do níYel de preço. Primeirn, iguale a ofem\ de encaixe s
ativos alternatin1s. Os ativos que não a moeda, corno títulos reais M/P à demanda L(i,Y):
do governo, rendem o retorno real r. O dinheiro rende um re-
tomo real esperado de -,r\ porque seu valor real declina à taxa
M!P = L(i,Y)
de inflaçfü>. Quando retém moeda, você renuncia à diferenç,i Depois, aplique a equação Fisher para escre\'er a taxa lie juros
entre esses dois retornos. Assim, o cusw de reter moeda é r - nominal como a srnna da taxa de juros real e a inflação espera-
( -1r''), o que a equação Fisher nns diz ser a taxa de juws non,i- da:
nal i.
M/P = L(r + 1r' , Y).
Assim como a quantidade de pão demandada depende do
preço do pão, a quantidade de moeda demandada depende do Esta equação enuncia que tl nÍ\'el de saldos mnnet,hios reais
preço de reter moeda. Por isso, a demanda por encaixes mone- depende da raxa de inflação esperada.
tários depende tanto do nível de renda quanto da taxa de jurns A última equação coma uma história mais st1fisricada do que
nominal. Escrevemos a função geral de demanda por moeda a teoria quantitativa sohre a determinação do nível de preços.
como A teoria quantirnti\'a da moeda sustenta que a oferta moneni-
ria hoje determina o nível de preços hoje. Esra conclusão per-
(M/P)d = L(i,Y).
manece em parte verdadeira: se a taxa de juros nominal e o nível
A letra L é usada para indicar a demanda por moeda, porque a do produto se mantêm constantes, o nfrel de preços se altera
moeda é o ativo mais líquido da economia (o ativo usado com proporcionalmente à oferta monetária. Contudo, a taxa de ju-
mais facilidade para se efetuarem transações). Essa equação ros nominal não é constante; depende da inflação esperada, que,

' Robert B. Barsky. "The Fisher Effect and rhe Forecasrar>ility and Persiscence of lnflarion",Journal ofMonelLlry Economics 19 (janeiro de 1987): 3: 24.
F
MOEDA E INFLAÇÃO 65

Oferta
Monetária

Nível de Taxa de
Taxa de
Preços fnf/oção Juros
Nominal

Demanda
por Moeda
1
t J
Fig. 4-5 As Relações entre Moeda, Preços e Taxas de Juros Esta figura ilustra as.relações entre moeda, preços e taxas de juros. A oferta e a
demanda de moeda determinam o nível de preço. As mudanças no nível de preço determinam a taxa de inflação. A taxa de inflação influencia a taxa
de juros nominal Como a taxa de juros nominal é o custo de reter moeda, ela pode afetar a demanda por moeda. Esta última relação (apresentada
como a linha preta) é omitida pela teoria quantitativa da moeda básica.

por sua vez, depende do cresc imento da oferta monetária. A nominal. Uma taxa de juros nominal mais elevada reduz a de-
presença da taxa de juros nominal na função da demanda por manda por encaixes monetários reais. Como a quantidade de
moeda gera um canal ad icional, através do qual a oferta mane, moeda não mudou, a menor demanda por encaixes monetári-
niria afeta o níYel de preços. os reais leva a um nível de preços mais alto. Assim, a maior
Essa equação gera l da demanda por moeda indica que o ní- expansão monetária espetada no futuro leva a um nível de pre-
\·el de preços depende não apenas da oferta monetária hoje , mas ços mais alto h oje.
também da oferra monetária esperada no futuro. Para enten- O efeito da moeda sobre os preços é complexo. O apêndice
der por que, suponh<1 que o Fed anuncie que aumentará a ofer- deste capítulo descreve a matemática que relacion a o nível de
ta monetária no futuro, mas não muda a oferta monetária h oje. preço com a moeda corrente e futura. A conclusão da análise é
Esse m,úncio faz com que as pessoas esperem uma expansão que o nível de preços depende de uma média ponderada da
moner,fria maior e uma inflação mais alta. Através do efeito oferta monetária corrente e da oferta monetária que se espera
Fisher, esse aumenrn da inflação esperada eleva a taxa de juros que prevaleça no futuro.

4-6 OS CUSTOS SOCIAIS DA INFLAÇAO


Nossadiscussfüi sobre as causas e os efe itos da inflação não nos cendo mais depressa. Em vez disso, quando a inflação diminu,
diz muito S,lhre os problemas sociais que resultam da inflação. ísse, as empresas aumentariam menos os preços de seus produ ,
Vamos tratar desses problemas agora. tos a cada ano; e, em conseqüência, dariam aumentos menores
a seus empregados.
Segundo a teoria cláss ica da moeda, uma mudança do ní-
A VISÃO DO LEIGO E A REAÇÃO CIÁSSICA vel gera l de preços é como uma mudança nas unidades de
Se você perguntar a uma pessoa comum por que a inflação é medida. É como se trocássemos as medidas de distância de
um pruhlema social, é hem provável que ela responda que a metros para centímetros: os números tornam-se maiores, mas
inflação a deixa mais pobre. "T odos os anos o patrão me dá um na verdade n ada muda. Imagine que amanhã de manhã você
aumenw, mas os preços sobem e isso acaba com o aumento." acorda e descobre que, por algum motivo, todas as cifras em
O pressupostn implícito n essa declaração é que, se não houvesse dólares da economia foram multiplicadas por dez. O preço de
inflação, a pessoa teria o mesmo aumento e poderia comprar tudo que você compra aumentou dez vezes, mas o mesmo
mais bens. aconteceu com o seu salário e o valor de sua poupança. Que
Essa queixa sohre a inflação é uma falácia comum. Como diferença isso faz? T odos os números teriam um zero a mais
sabemos, pelo Cap. 3, o poder de compra do trabalho - o sa- no final, mas nenhuma outra coisa mudaria. Seu bem-estar
~ário real - depende da produtividade marginal do trabalho, econômico depende dos preços relativos, não do nível geral
não da quantidade de moeda que o governo decide emitir. Se de preços.
o governo reduzisse a inflação diminuindo a taxa de expansão Por que então um aumento persistente do nível geral é um
monetária, os trabalhadores não veriam seu salário real cres- problema social ? Acontece que os custos da inflação são sutis.
66 CAPÍTULO 4
r
Para surpresa de muitos Leigos, alguns economistas. argumen- as. taxas de inflação moderadas que a maioria dos países vem
tam que os custos da inflação são pequenos - pelo menos para experimentando nos últimos anos. 7

ESTUDO DE C A S O - - - - - - - - - - - - - - .
Ü QUE OS ECONOMISTAS E O PúBLICO DIZEM SOBRE A Pediu-se aos pesquisados que julgassem a gravidade da in-
INFLAÇÃO flação como um problema de política do governo: "Você con-
Como já ressaltamos, os leigos e os economistas têm visões di- corda em que evitar a inflação alta é uma prioridade nacional
ferentes sobre o custo da inflação. O economista Robert Shiller importante, tão importante quanto evitar o consumo de dro-
documentou essa diferença de opinião em um levantamento gas, ou evitar a deterioração da qualidade de nossas escolas?"
dos dois grupos. Os resultados do levantamento são extraordi- Entre os leigos, 52% concordaram tom essa posição, em com-
nários, porque mostram como o estudo da economia muda as paração com apenas 18% dos economistas. Ao que tudo indi-
atitudes de uma pessoa. ca, a inflação preocupa o público muito mais do que aos profis-
Em uma questão , Shiller indagou às pessoas se "a maior sionais de economia.
queixa contra a inflação" era o fato de que "a inflação prejudi- A aversão do público à inflação pode ser psicológica. Shiller
ca meu poder de compra real, deixando-me mais pobre". Enrre perguntou aos pesquisados se concordavam com a seguinte
o público em geral, 77°/o concordaram com essa declaração, em declaração: "Acho que eu sentiria mais satisfação no trabalho
comparação com apenas 12 % dos economistas. Shiller também se meu salário fosse aumentado, mesmo que os preços subissem
perguntou às pessoas se concordavam com a seguinte declara- n a mesma proporção." Entre o público em geral, 49% concor-
ção: "Quando vejo projeções sobre quantas vezes mais custará daram plena ou parcialmente tom essa declaração, em compa-
um curso universitário, ou quantas vezes mais alto será o custo ração com 8% dos economistas.
de vida nas próximas décadas, não posso evitar um sentimento Esses resultados de levantamento significam que os leigos
de apreensão; essas projeções de inflação realmente me preo- estão errados e os economistas estão certos quanto aos custos
cupam, fazendo-me pensar que meu salário não aumentará tanto da inflação! Não necessariamente. Mas os economistas têm a
quanto o custo de vida". Entre o público em geral, 66% respon- vantage m de dispensarem mais consideração ao problema.
deram que concordavam plenamente com a declaração, en- Portanto, vamos examinar agora quais poderiam ser alguns dos
quanto apenas 5% dos economistas concordaram. custos da inflação.~

Os CusTos DA INFLAÇÃO ESPERADA Um segundo custo da inflação surge porque a inflação ele-
vada leva as empresas a mudarem seus preços fixados com mais
Pense primeiro no caso da inflação esperada. Suponha que to- freqüência. A mudança de preços é algo dispendioso: por exem-
dos os meses o nível de preço aumenta em 1%. Quais seriam os plo, pode exigir a impressão e distribuição de um novo catálo-
custos sociais desse aumento estável e previsível da inflação de go. Esses custos são chamados de custos de menu, porque quan-
12% ao ano! to mais alta a taxa de inflação, mais freqüentemente será a ne-
Um custo é a distorção da taxa de inflação na quantidade cessidade de os restaurantes imprimirem novos menus.
de moeda que as pessoas retêm. Como já ressaltamos, uma taxa Um terceiro custo da inflação ocorre porque as empresas,
de inflaç ão maior leva a uma taxa de juros nominal mais alta, diante dos custos de menu , mudam os preços com menos fre-
o que, por sua vez, leva a uma queda dos encaixes monetários qüência; portanto, quanto mais alta a taxa de inflação, maior
reais. Se as pessoas retêm em média encaixes monetários me- a variabilidade dos preços relativos. Suponha, por exemplo,
nores, devem fazer visitas mais freqüentes ao banco para reti- que uma empresa lance um novo catálogo todo mês de janei-
rar dinheiro; por exemplo, podem retirar $50 duas vezes por ro. Se não há inflação, os preços da empresa, relativos ao ní-
semana, em vez de $100 uma vez por semana. A inconveniên- vel geral de preços, permanecem constantes ao longo do ano.
cia de reduzir a quantidade de dinheiro na mão é chamada, em Mas se a inflação é de 1% ao mês, do início até o fim do ano
termos metafóricos, de custo da sola de sapato da inflação, os preços relativos da empresa caem em 12 %. As vendas des-
porque andar até o banco com mais freqüência faz com que os se catálogo tenderão a ser mais baixas no início do ano (quan-
sapatos se desgastem mais depressa. do os preços são relativamente altos) e mais elevadas no pe-

'Ver, por exemplo, o Cap. 2 de Alan Blinder, Hard Heads , Safe Hearts : Tough-Minded Economics for a]ust Society (Reading, Massachusetts: Addisón Wesley, 1987).
'Robert J. Shiller, ''Why Do People Oíslike lnflation "', em Christina O. Romer e David H. Romer, eds., Reducing fn/lation: Motivation and Stracegy (Chicago: Universiry of Chi-
cago Press, 1997).
f
MOEDA E INFLAÇÃO 67

íodo posterior do ano (quando os preços são relativamente arbitrariamente a riqueza entre as pessoas. Pode-se observar
~aixos). Assim, quando induz a variabilidade nos preços re- como isso funciona pelo exame dos empréstimos a longo pra-
lativos, a inflação acarreta ineficiências microeconômicas na zo. A maioria dos acordos de empréstimo especifica uma taxa
alocação de recursos. de juros nominal, baseada na taxa de inflação esperada na oca-
Um quarto custo da inflação resulta das leis fiscais. Muitos sião do acordo. Se a inflação é diferente do que se esperava, o
dispositivos do código fiscal não levam em consideração os efei- retorno real ex post que o devedor paga ao credor difere do que
tos da inflação. A inflação pode alterar o passivo fiscal dos in- ambas as partes previam. Por um lado, se a inflação se toma
divíduos de uma maneira que os legisladores não pretendiam. mais alta do que o esperado, o devedor ganha e o credor perde,
Um exemplo da falha do código tributário com relação à in- porque o devedor paga o empréstimo com dólares menos vali-
flação é o tratamento dispensado aos ganhos de capitais. Su- osos. Por outro, se a inflação é mais baixa do que o esperado, o
ponha que você compre algumas ações hoje e venda-as daqui a credor ganha e o devedor perde, porque o pagamento vale mais
um ano, ao mesmo preço real. Pareceria razoável que o gover- do que as duas partes previam.
no não cobrasse um imposto, porque você não obteve renda Imagine, por exemplo, uma pessoa que fez uma hipoteca em
real com o investimento. Na verdade, se não há inflação, um 1960. Na ocasião, uma hipoteca de 30 anos tinha uma taxa de
débito fiscal de zero seria o resultado. Suponha, porém, que a juros de cerca de 6% ao ano. Essa taxa baseava-se em uma taxa
taxa de inflação seja de 12 % ao ano, e você pagou inicialmen- de inflação esperada baixa: durante a década anterior, a infla-
te $100 por ação; para que o preço real sej a o mesmo um ano ção média fora de apenas 2,5%. O credor provavelmente espe-
depois, você deve vender cada ação a $112. Nesse caso, o có- rava ter um retorno real de cerca de 3,5%, e o devedor espera -
digo fiscal. que ignora os efeitos da inflação, diz que você teve va pagar esse retorno real. Mas a taxa de inflação, durante o
um rendimento de $12 por ação, e o governo o tributa sobre prazo da hipoteca, foi em média de 5%. Assim, o retorno real
esse ganho de capital. O problema, é claro, é que o código fis- ex post foi de apenas 1o/o. Essa inflação imprevista beneficiou o
cal mede o rendimento como ganho de capital nominal, em devedor, à custa do credor.
vez de real. Neste exemplo - e em muitos outros - a inflação A inflação imprevista também prejudica as pessoas que vi-
distorce a maneira como os tributos são cobrados. vem de pensão fixa. Os trabalhadores e as empresas muitas vezes
Um quinto custo da inflação é a inconveniência de viver acertam uma pensão nominal fixa quando o trabalhador se
em um mundo em que o nível de preço muda constantemente. aposenta (ou mesmo antes). Como a pensão é baseada em ga-
O dinheiro é o padrão pelo qual medimos as transações econô- nhos adiados, o trabalhador está essencialmente fazendo um
micas. Quando há inflação, a régua a qual nos referimos muda empréstimo para a empresa: presta serviços de trabalho à em-
de tamanho. Para continuar na analogia, suponha que o Con- presa enquanto jovem, mas não tem uma remuneração plena
gresso aprovasse uma lei especificando que um metro teria 98 até a velhice. Como qualquer credor, o trabalhador é prejudi-
centímetros em 2002, 96 centímetros em 2003, 94 centíme- cado quando a inflação é mais elevada do que a prevista. Como
tros em 2004 e assim por diante. Não haveria qualquer ambi- qualquer devedor, a empresa é prejudicada quando a inflação é
güidade na lei, mas seria bastante inconveniente. Quando al- mais baixa do que a prevista.
guém medisse uma distância em metros, seria necessário espe- Essas situações oferecem um argumento claro contra a in-
cificar se a medida foi no metro de 2002 ou no metro de 2003; flação variável. Quanto mais variável a taxa de inflação, mai-
para comparar distâncias medidas em anos diferentes, seria or a incerteza enfrentada por devedores e credores. Como a
preciso efetuar uma correção de "inflação". Da mesma manei- maioria das pessoas é avessa ao risco -detesta as incertezas-, a
ra, o dólar é uma medida menos útil quando seu valor está sem- imprevisibilidade causada por uma inflação altamente variável
pre mudando. prejudica quase todo mundo.
Por exemplo, um nível de preços em constante mudança Diante dos efeitos da inflação incerta, é desconcertante que
complica o planejamento financeiro pessoal. Uma decisão os contratos nominais sejam tão predominantes. Era de se es-
importante, enfrentada por todas as famílias, é quanto da ren- perar que devedores e credores se protegessem dessa incerteza,
da consumir e quanto poupar para a aposentadoria. Um dólar elaborando contratos em termos reais; ou seja, indexando por
poupado hoje e investido a uma taxa de juros nominal fixa ren- alguma medida de nível de preço. Em algumas economias com
derá uma quantia fixa em dólar no futuro. Contudo, o valor real inflação alta e variável, a indexação é com freqüência dissemi-
dessa quantia em dólar - que vai determinar o padrão de vida nada; às vezes, essa indexação assume a forma de contratos es-
do aposentado - depende do futuro nível de preços. Decidir critos com base em uma moeda estrangeira mais estável. Em
quanto poupar seria muito mais simples se as pessoas pudessem economias com inflação moderada, como a dos Estados Uni-
contar que o nível de preços dentro de 30 anos seria igual ao dos, a indexação é menos comum. Contudo, mesmo nos Esta-
nível de hoje. dos Unidos, algumas obrigações de longo prazo são indexadas.
Por exemplo, os benefícios da previdência social para os idosos
são reajustados anualmente em reação a mudanças no índice
Os CusTos DA INFLAÇÃO NÃO-ESPERADA de preços ao consumidor. E em 1997 o governo federal norte-
A inflação não-esperada tem um efeito mais pernicioso do que americano, pela primeira vez, emitiu títulos indexados pela
qualquer dos custos da inflação estável e prevista: redistribui inflação.
68 CAPITULO 4

Finalmente, ao se pensar nos custos da inflação, é importan- se um país decidir adotar uma política monetária de inflação alta,
te realçar um fato bastante documentado, mas pouco compre- é bem provável que aceite também a inflação altamente variá-
endido: inflação alta é inflação variável. Ou seja, os países com vel. Como acabamos de mostrar, a inflação altamente variável
inflação média elevada também tendem a ter taxas de inflação aumenta a incerteza para credores e devedores, sujeitando-os a
que mudam bastante de um ano para outro. A implicação é que, redistribuições de riqueza arbitrárias e potencialmente grandes.

ESTUDO DE CASO - - - - - - - - - - - - - - .
Ü MOVIMENTO DA PRATA LIVRE, A ELEIÇÃO DE 1896 NOS Esse debate sobre a prata encontrou sua expressão mais
EsTADos UNmos E o MÁGICO DE Oz memorável em um livro para crianças, O Mágico de Oz. Escrito
As redistribuições da riqueza causadas por mudanças inespera- por um jornalista do Meio-Oeste , L. Frank Baum, logo depois
das do nível de preço são com freqüência uma fonte de distúr- da eleição de 1896, o livro conta a história de Dorothy, uma
bio político, como ficou evidenciado pelo movimento da Pra- menina perdida numa terra estranha, longe de sua casa no
ta Livre, ao final do século XIX nos Estados Unidos. De 1880 a Kansas. Dororhy (representando os valores tradicionais ame-
1896, o nível de preços no país caiu 23%. Essa deflação foi boa ricanos) faz três amigos: um espantalho (o agricultor), um ho-
para ns credores, em particular os banqueiros da região Nor- mem de lata (o trabalhador industrial) e um leão, cujo rugido
deste, mas foi ruim para os devedores, em particular os fazen- excede seu poder (William Jennings Bryan). J1,mtos, os quatro
deiros das regiões Sul e Oeste do país. Uma solução proposta percorrem uma perigosa estrada de tijolos amarelos (o padrão
para esse problema foi a substituição do padrão ouro por um ouro), esperando encontrar o Mágico que ajudará Dorothy a
padrão bimetálico, pelo qual tanto o ouro quanto a prata po- voltar para casa. Acabam chegando a Oz (Washington), onde
deriam ser cunhados em moedas. A mudança para um padrão todos vêem o mundo através de óculos verdes (o dinheiro) . O
bimetálico aumentaria a oferta de dinheiro e acabaria com a Mágico (William McKinley) tenta ser todas as coisas para to-
deflação . das as pessoas, mas se revela uma fraude. O prohlema de Dorothy
A questão da prata prevaleceu a eleição presidencial de 1896. só é resolvido quando ela toma conhecimento do poder mági-
William McKinley, o candidato republicano, fez campanha co de suas sandálias de prata. 9
com uma plataforma de preservação do padrão ouro. William Embora os repuhlicanos tenham ganho a eleição de 1896 e
Jennings Bryan, o candidato democrata, era favorável ao pa- os Estados Unidos renham permanecido no padrão ouro, os de-
drão himetálico. Em um discurso famoso, Bryan proclamou: fensores da Prata Livre conseguiram a inflação que queriam. Na
"Não empmrarão na caheça do trabalho essa coroa de espinhos, é,x1ca da eleição, descohriu-se ouro no Alasca, na Austrália e na
não vão crucificar a humanidade numa cruz de ouro". Não sur- Africa do Sul. Além disso, os refinadores de ouro criaram o pro-
preende que McKinley fosse o candidato do establishment con- cesso de cianeto, que facilita a separação do ouro do minério. Esses
se n·ador do Leste, enquanto Bryan era o candidato dos acontecimentos levaram a aumentos da oferta monetária e dos
popu listas do Sul e do Oeste. preços. De 1896 a 1910, o nível de preços subiu 35%.

UM BENEFÍCIO DA INFLAÇÃO ma coisa que um aumento de 3% com uma inflação de 5% em


termos reais; mas os trahalhadores nem sempre têm essa per-
Até aqui. tratamos dos muitos custos da inflação. Esses custos cepção. O corte de 2% no salário pode parecer um insulto, en-
levam muitos economistas a concluir que as autoridades mo- quanto o aumento de 3% ainda é, no final das contas, um au-
netárias de\'eriam ter em mira a inflação zero. Contudo, hti mento. Estudos empíricos confirmam que os salários n ominais
outro lado na histôria. Alguns economistas acreditam que um raramente caem.
pouco de inflação-digamos, 2 ou 3% ao ano- pode ser uma Esse faro sugere que alguma inflação pode fazer com que
hoa coisa. os mercados de trabalho funcionem melhor. A oferta e a de-
O argumento em prol da inflação moderada começa com a manda de diferentes tipos de trabalho estão sempre mudan-
ohserYação de que os cortes nos salários nominais são raros: as do. Às vezes um aumento da oferta ou uma diminuição da
empresas relutam em cortar os salários nominais de seus traba- demanda levam a uma queda do equilíhrio do salário real para
lhadores, e os trabalhadores relutam em aceitar tais cortes. Um um grupo de trabalhadores. Se os salários nominais não po-
corte de 2 % n o salário, em um mundo de inflação zero, é ames- dem ser cortados, a única maneira de reduzir os salários reais

'O filme realizado 40 anos depois escondeu grande parte da alegoriá, ao mudar as sandálias de Dorothy de prata para rubi. Para saber mais sobre esse assunto, veja Henry M.
Littlefield, "The Wizard of Oz: Parable on Populism", American Qt4llrcerly 16 (primavera de 1964): 47-58; e Hugh Rockoff, "The Wizard of 0z as a Monetary Allegory", Joumal
of Political Economy 98 {agosto de 1990): 739-760.
f
MOEDA E INFLAÇÃO 69

a
s. O grande economista John Maynard Keynes não gostava tornam-se os "exploradores", que são o alvo do ódio da bur-
nem um pouco da inflação, como indica a citação na aber- guesia, enfraquecida pelo inflacionismo, e também do prole-
tura deste capítulo. Aqui está o trecho mais completo do seu tariado. À medida que a inflação avança e o valor real da
moeda oscila desenfreado de um mês para outro, todas as re-
famoso livro, As Conseqüências Econômicas da Paz, em que
1 lações permanentes entre devedores e credores, que formam
Keynes previu (corretamente) que o tratado imposto à Ale-
o alicerce principal do capitalismo, tornam-se tão desordena-
is manha depois da Primeira Guerra Mundial levaria a dificul- dos que chega a perder seu sentido; e o processo de obtenção
o dades econômicas e à retomada das tensões internacionais: de riqueza degenera num jogo e numa loteria.
is Lênin sem dúvida tinha razão. Não há meio mais sutil e
Lênin teria declarado que a melhor maneira de destruir o Sis-
a seguro de subverter a base existente da sociedade do que avil-
tema Capitalista era aviltar a moeda corrente. Por um contí-
o tar a moeda. O processo empenha todas as forças ocultas da lei
nuo processo de inflação, os governos podem confiscar, de uma
econômica no lado da destruição, de uma maneira que nenhum
maneira secreta e não observada, uma parte importante da ri-
homem em um milhão é capaz de diagnosticar.•c
1- queza de seus cidadãos. Por esse método, eles não só confis-
o cam, como também confiscam arbitrariamente; e o processo,
A história tem oferecido amplo suporte a essa avaliação. Um
o enquanto empobrece muitos, enriquece alguns. Essa
redisposição arbitrária de riqueza é um golpe não apenas con-
exemplo recente ocorreu na Rússia, em 1998, quando mui-
o tos cidadãos viram as taxas de inflação elevadas acabarem
a tra a segurança, mas também contra a confiança na distribui-
ção eqüitativa da riqueza nacional. Aqueles para os quais o com suas poupanças em rublos. E, como Lênin teria previs-
e
sistema proporciona ganhos inesperados, muito além do que to, essa inflação expôs a um sério risco o sistema capitalista
)
mereciam, até mesmo além de suas expectativas ou desejos, florescente do país.

e é permitir que a inflação o faça. Sem inflação, o salário real nas um pouco de inflação é necessário: uma taxa de inflação
ficará empacado acima do nível de equi líbrio, resultando em de 2% faz com que os salários reais caiam em zil{i ao ano, ou
a desemprego maior. 20% por década , sem cortes nos salários nominais. Essas redu -
a
Por esse motivo, alguns economistas argumentam que a in- ções automáticas nos salários reais são impossíveis com infla-
flação "azeita as engrenagens" dos mercados de trabalho. Ape- ção zero.11
s
s
4- 7 HIPERINFLAÇÃO
J
A hiperinflação é muitas vezes definida como a inflação que litativamente os mesmos que foram analisados antes. Quando
ultrapassa 50% ao mês, um pouco acima de 1% ao dia. Persis- a inflação alcança níveis extremos, no entanto, esses custos são
tente ao longo de muitos meses, essa taxa de inflação leva a mais evidentes, porque são mais severos.
aumentos muito grandes do nível de preços. Uma taxa de in- Os custos de sola de sapato associados à posse de menos di-
flação de 50% ao mês acarreta um aumento de mais de 100 vezes nheiro, por exemplo, são sérios na hiperinflação. Os executi-
no nível de preços ao longo de um ano e um aumento de mais vos das empresas dedicam muito tempo e energia à adminis-
de 2 milhões de vezes em três anos. Vamos considerar aqui os tração do dinheiro quando ele perde o valor depressa. Ao des-
custos e as causas dessa inflação extrema. viar esse tempo e essa energia de atividades socialmente mais
valiosas, como as decisões de produção e investimento, a hipe-
rinflação faz com que a economia seja administrada com me-
Os CusTos DA HIPERINFLAÇÃO
nos eficiência.
Embora os economistas discutam se os custos da inflação mo- Os custos de menu também se tornam maiores na hiperin-
derada são grandes ou pequenos, ninguém duvida que a hipe- flação. As empresas têm de mudar os preços com tanta freqüên-
rinflação cobra um alto tributo à sociedade. Os custos são qua- cia que as práticas normais de negócios, como imprimir e dis-

'"John Maynard Keynes, The Economic Coruequences of the Peace (Londres: Macmillan, 1920): 219-220.
llPara um recente ensaio que examina esse benefício da inflação, veja George A. Akerlof, William T. Dickens e George L. Perry, "The Macroeconomics of Low lnflarion",
Brookings Papers on Economic Acriviry, 1996: ] , pp. ] . 76.
70 CAPITULO 4

tribuir catálogos com preços fixos, tornam-se impossíveis. Em gamemos de imposto sobre a renda estimada a cada três meses.
um restaurante alemão, durante a hiperinflação da década de Esse prazo curto não tem muita importância na inflação baixa.
1920, um garçom subia em uma mesa a cada 30 minutos para Em contraste, durante a hiperinflação, até mesmo um prazo
anunciar os novos preços. bastante curto reduz a receita fiscal. Quando o governo recebe
De modo semelhante, os preços relativos não refletem bem o que lhe é devido, o valor da moeda já caiu. Em conseqüên-
a verdadeira escassez durante a hiperinflação. Quando os pre- cia, depois que a hiperinflação começa, a receita fiscal real do
ços mudam com freqüência, em valores altos, é difícil para os governo muitas vezes sofre uma queda substancial.
clientes procurarem os melhores preços. Os preços instáveis e Finalmente, ninguém deve subestimar a pura inconveniên-
em rápido crescimento podem alterar o comportamento sob cia de viver com a hiperinflação. Quando levar moeda para o
muitos aspectos. Segundo um relato, quando os clientes entra- armazém torna-se tão difícil quanto carregar as compras de volta
vam em uma cervejaria durante a hiperinflação alemã, costu- para casa, o sistema monetário não está fazendo o melhor que
mavam comprar logo duas canecas de cerveja. A segunda ca- pode para facilitar a troca. O governo tenta superar esse pro-
neca perderia valor ao esquentar com o passar do tempo, mas a blema ao acrescentar mais e mais zeros ao papel-moeda, mas
perda seria menor do que o dinheiro que deixaria a carteira do muitas vezes não consegue acompanhar a explosão do nível de
cliente se ele esperasse para comprar depois. preços.
Os sistemas tributários também são distorcidos pela hiperin- Eventualmente, os custos da hiperinflação tomam-se dolo-
flaç ão, mas em aspectos que são muito diferentes dos que ocor- rosos. Com o passar do tempo, a moeda perde seu papel como
rem sob a inflação moderada. Na maioria dos sistemas tributá- reserva de valor, unidade de conta e meio de troca. O escambo
rios, há um prazo entre o momento em que um imposto é taxa - torna-se mais comum. E moedas extra-oficiais mais estáveis -
do e o momento em que é pago ao governo. Nos Estados Uni- cigarros, ou dólares americanos - começam a substituir a
dos, por exemplo, os contribuintes são obrigados a efetuar pa- moeda oficial.

ESTUDO DE CASO
A VmA DURANTE A HrrERINFIAÇÃo B0uv1ANA mente por dó lares. N o dia em que recebeu 25 milhões de pesos,
A reportagem reproduzida a seguir do Wall Street ]oumal , mos- um dólar custava 500 mil pesos. Porranro, ele recebeu U$50.
tra como era a vida durante a hiperinflação boliviana de 1985. 11 Apenas dias depois, com o dó lar a 900 mil pesos, ele reria recebi-
do U$Z7.
Que custos da inflação o texto enfatiza?
"Pensamos apenas no dia de hoje e na conversão de cada peso
em dó lar", diz Ronald MacLean, gerente de uma empresa de mi-
O Peso Precário: Com uma Inflação Descontrolada, neração de ouro. "Nós nos tornamos míopes."
Bolivianos Concentram-se na Troca de Moeda E empenhados na sobrevivência. Os funcionários públicos não
LA PAZ, Bolívia - Quando Edgar Miranda recebe seu salário preenchem um formulário sem um suborno. Ad vogados, contado-
mensal de professor, de 25 milhões de pesos, não tem um minuto res, barbeiros, até mesmo prostitutas, quase todos desistiram de
a perder. A cada hora, os pesos perdem valor. Por isso, enquanto a exercer se u ofício para se tornarem doleiros nas ruas. Os trabalha-
esposa corre para o supermercado, a fim de comprar o suprimento dores fazem greves sucessivas e roubam dos patrões. Os patrões
para um mês de arroz e macarrão, ele leva o restu dus pesos para contrabandeiam sua produção para o exterior, tumarn falsos em-
trocar nu mercado negro de dólares. préstimos, sonegam impostos ... lJUalquer coisa para conseguir dó-
O sr. Miranda está praticando a Primeira Regra da Subrevi- lares, que são usados na especu lação.
vência em meio à inflação mais descon trolada do mundo. A A produção nas minas estaduais, por exemplo, caiu de 18 mil
Bolívia é um estudo de caso sobre como uma inflação galopante para 12 mil toneladas no ano passado. Os mineiros complemen-
pode corroer uma sociedade. Os aume ntos de preços são tão gran - tam seu salário contrabandeando o minério mais rico em suas
des que as cifras tornam-se quase além da compreensão. Em um marmitas. Esse minério vai para o vizinho Peru, através de uma
período de seis meses, por exemp lo, os preços subiram a uma raxa extensa rede de contrabando. Sem uma grande mina de estanho,
anual de 38.000%. Pelos cálculos oficiais, no entanto, a inflação o Peru hoje exporta cerca de 4.000 toneladas métricas desse mine-
do ano passado ficou em 2.000%, e espera que a inflação des te ral por ano.
ano seja de 8.000%, embora outras estimativas indiquem núme- "Não produzimos nada. Somos todos especuladores de moeda",
ros muito ma is elevados. Seja como for, a taxa da Bolívia ofusca diz um revendedor de equipamentos pesados de La Paz. "As pesso-
os 370% de Israel e os 1.100% da Argentina -dois outros casos as não sabem mais o que é bom e o que é ruim. Nós nos tornamos
de inflação severa. uma.sociedade amoral.[ ... ]"
É mais fácil compreender o que acontece com o salário do sr. É um segredo aberto que quase todos os dólares do mercado
Miranda, um homem de 38 anos, se ele não trocá-lo imediata- negro vêm do tráfico de cocaína para os Estados Unidos. A esti-

"Reproduzido com permissão do Walt Streer Joumm, © 13 de agosto de 1985, p. J, Dow Jones & Company, lnc. Todos os direitos reservados em todo o mundo.
f
MOEDA E INFLAÇÃO 71

:s. mativa é de que os traficantes ganham cerca de 1 bilhão de dóla- o déficit aumentando para quase 25% da produção anual total do
a. res por ano. [... ) país. As receitas são prejudicadas pelo atraso no pagamento dos
!O
Enquanto isso, o país sofre com a inflação, em grande parte por- impostos, e os impostos não são cobrados em grande parte por causa
Je
que as receitas do governo cobrem apenas 15% dos seus gastos, com do roubo e do suborno disseminados.
1-
lo

1- As CAUSAS DA HIPERINFLAÇÃO governo um credor de grande risco. Para cobrir o déficit, o go-
0 verno recorre ao único mecanismo de que dispõe: a máquina
Por que as hiperintlações começam, e como acabam? Essa ques-
ta de impressão de moeda. O resultado é a rápida expansão mo-
tão pode ser respondida em diferentes níveis.
1e netária e a hiperinflação.
A resposta mais óbvia é que as hiperinflações são causadas
)- Depois que a hiperinflação começa, os problemas fiscais
por aumento excessivo da oferta monetária. Quando o banco
3.S tomam-se ainda mais severos. Por causa do atraso nos pagamen-
central emite moeda, o nível de preços aumenta. Quando emite
le tos de impostos, a receita fiscal real cai à medida que a inflação
moeda com bastante rapidez, o resultado é a hiperinflação. Para
deter a hiperinflação, o banco central deve reduzir a taxa de avança. Assim, a necessidade do governo de usar a senhoriagem
)-
expansão monetária. é um reforço para si mesma. A criação rápida de moeda leva à
LO
Essa resposta, no entanto, é incompleta, pois deixa em aberto hiperinflação, que leva a um déficit orçamentário maior, que
10
o motivo pelo qual os bancos centrais, nas economias em hi- leva a uma emissão de moeda ainda mais rápida.
perinflação, optam por emitir tanta moeda. Para tratar dessa Os finais das hiperinflações quase sempre coincidem com
a questão mais profunda, devemos desviar nossa atenção da po- reformas fiscais. Assim que a magnitude do problema torna-se
lítica monetária para a política fiscal. A maioria das patente, o governo reúne a vontade política para reduzir os
hiperinflações começa quando o governo tem uma receita fis- gastos públicos e aumentar os impostos. Essas reformas fiscais
cal inadequada para cobrir seus gastos. Embora possa preferir reduzem a necessidade de senhoriagem, o que permite uma re-
financiar esse déficit orçamentário pela emissão de títulos da dução da expansão monetária. Por isso, mesmo que a inflação
"1 dívida pública, o governo pode se descobrir incapaz de romar seja sempre e em toda parte um fenômeno monetário, o fim da
IS, emprestado, talvez porque os emprestadores considerem o hiperinflação é, com freqüência, também um fenômeno fiscal. 1i
o.
ti-

ESTUDO DE CASO
HrPERINFIAÇÀO NA ALEMANHA DO ENTRE-GUERRAS milhões de marcos em 17 de novembro. Em dezembro de 1923,
io
Depois da Primeira Guerra Mundial, a Alemanha experimen- a oferta monetária e os preços tiveram uma estabilização
.)- tou um dos mais espetaculares exemplos de hiperinflação da abrupta. 14
.le história. Ao final da guerra, os Aliados exigiram que os ale- Assim como problemas fiscais causaram a hiperinflação ale-
a- mães pagassem reparações substanciais. Esses pagamentos le- mã, uma reforma fiscal encerrou-à. Ao final de 1923, o núme-
es varam a déficíts fiscais na Alemanha, que o governú alemão ro de funcionários públicos foi reduzido em um terço. Os paga-
[\-
acabou reforçando, através da emissão de grandes quantida- mentos das reparações foram suspensos em caráter temporário,
:,- des de moeda. e eventualmente reduzidos. Ao mesmo tempo, um novo ban-
O painel (a) da Fig. 4-6 mostra a quantidade de moeda e o co central, o Rentenbank, substituiu o antigo banco central, o
1il
nível geral de preços na Alemanha de janeiro de 1922 a de- Reichsbank. O Rencenbank estava decidido a não financiar o
1-
,lS
zembro de 1924. Durante esse período, ranto a moeda quan- governo por meio da emissão de moeda.
1a to os preços subiram a um ritmo espantoso. Por exemplo, o Segundo nossa análise teórica da demanda por moeda, o
lJ, preço de um jornal passou de 0,30 marco em janeiro de 1921 fim de uma hiperinflação deve levar a um aumento dos en-
e- para 1 marco em maio de 1922, 8 marcos em outubro de 1922, caixes monetários reais, já que o custo de reter moeda cai. O
100 marcos em fevereiro de 1923 e 1.000 marcos em setem- painel (b) da Fig. 4-6 mostra que os encaixes monetários re-
bro de 1923. Depois, no outono de 1923, os preços decola- ais na Alemanha caíram à medida que a inflação aumentava,
)-
ram: o jornal era vendido a 2.000 marcos em 1º de outubro, e depois aumentaram à medida que a inflação caía. Mas o
)S
20.000 marcos em 15 de outubro, 1 milhão de marcos em 29 aumento dos encaixes monetários reais não foi imediato.
de outubro, 15 milhões de marcos em 9 de novembro, e 70 Talvez o ajuste dos encaixes monetários reais ao custo de re-
lo

"Para saber mais sobre essas questões, veja Thomas J. Sargent, "The End of Four Big lnflarions", em Robert Hall, ed., Tnflacion (Chicago: University cif Chicago Press, 1983 ), 41-
98; e Rudiger Dombusch e Stanley Fischer, "Stopping Hyperinflations: Past and Present", Welrwirschafrliches Archiv 122 (abril de 1986): 1-47.
1
'0s dados sobre os preços de jornal são de Michael Mussa, "Sticky Individual Prices and the Oynamics of rhe General Price Levei", Camegie-Rochester Conference on Public Polícy
15 (outono de 1981): 261-296.
-- r
72 CAPÍTULO 4

ter moeda seja um processo gradativo. Ou talvez levasse tem- flação acabara. Por isso, a inflação esperada caiu mais deva-
po para que as pessoas na Alemanha acreditassem que a in- gar do que a inflação de faro.

(a) Moeda e Preços


Oferta monetária 22 , 6 Nível de preços
10 10
(marcos em ....---····, .... ,..- .- ... (índice de 1913 = 100)
papel-moeda)
1020 1 o••
Nível de preços
1 o'ª 10"
(escala direita)

10 16 10 10

1
10 " Oferta monetária 1 º"
( escala esq1,1erda)
10 12 ~ 10º

10 1 º L-_ __. lOJ

1 oª '--~~~~~~~~-"-~~~~~~~~--'-~~~~~~~~--' 10'
1922 1923 1924 1925
Ano

(b) Inflação e Encaixes Monetários Reais


Índice
. de . 120 100 .000 Taxa de
encaixes reais Taxa de inflação mensal
Encaixes reais
Uaneiro de inflação mensal ( escala logarítmica)
1922 = 100) 1 DO / (escala esquerda)
/ (escala direita) 10.000

80
1.000
60
100
40

10
20

OL--~ ~~ ~ ~~~__J_~ ~ ~~ ~~ ~ _ _ J L - ~ ~ - - ~ ~ ~____J o


1922 1923 1924 1925
Ano

Fig. 4-6 Moeda e Preços na Alemanha do Entre-guerras A figura (a) mostra a oferta monetária e o nível de preços na Alemanha de janeiro de
1922 a dezembro de 1924. Os imensos aumentos da oferta monetária e do nível de preços representam uma ilustração dramática dos efeitos da
emissão de grandes quantidades de moeda A fi gura (b) mostra a inflação e os encaixes monetários reais. À medida que a inflação subia , os encaixes
monetários reais caíam. Quando a inflação acabou. ao final de 1923, os encaixes monetários reais aumentaram.
F'onte: Adaptado de Thomas J. Sargent. "'The End of Four Big lnflations·. em Robert Hall. ed .. /nllation {Chicago: University of Chicago Press. 1983): 41-98

4-8 CONCLUSÃO: A DICOTOMIA CLÁSSICA


Concluímos nosso estudo sobre moeda e inflação. Vamos ago- N o Cap. 3, explicamos muitas variáveis macroeconômicas.
ra dar um passo atrás e estudar um pressuposto fundamental, Algumas dessas variáveis eram quantidades, como o PIB real e
que se tomou implícito em nossa análise. o estoque de capital; outras eram preços relativos, como o salá-
F
MOEDA E INFLAÇÃO 73

rio real e a taxa de juros real. Mas todas essas variáveis tinham mercado de trabalho explicou o salário real sem explicar o sa-
uma coisa em comum: mediam uma quantidade física (em vez lário nominal.
de monetária). O PIB real é a quantidade de bens e serviços Os economistas chamam essa separação teórica de variáveis
produzidos em um determinado ano, e o estoque de capital é a reais e nominais de dicotomia clássica. Essa dicotomia é a base
quantidade de máquinas e estruturas disponíveis num determi- da teoria macroeconômica clássica. A dicotomia clássica é uma
nado momento. O salário real é a quantidade do produto que percepção da maior importância, porque simplifica a teoria eco-
um trabalhador ganha por cada hora de trabalho. A taxa de nômica. Em particular, possibilita que examinemos as variáveis
juros real é a quantidade do produto que uma pessoa ganha no reais, como fizemos, enquanto ignoramos as variáveis nominais.
futuro ao emprestar uma unidade de produção hoje. Todas as A dicotomia clássica ocorre porque, na teoria econômica clássi-
variáveis medidas em unidades físicas, como quantidades e pre- ca, as mudanças da oferta monetária não influenciam as variá-
ços relativos, são chamadas de variáveis reais. veis reais. Essa irrelevância da moeda para as variáveis reais é
Neste capítulo, examinamos as variáveis nominais , aque- chamada de neutralidade monetária. Para muitos propósitos -
las que são expressas em termos de moeda. A economia tem em particular para estudar as questões a longo prazo - , a neu-
muitas variáveis nominais, como o ní,·el de preços, a taxa de tralidade monetária é aproximadamente correta.
inflação e o ,alário em dólares que uma pessoa ganha. A neutralidade monetária, no entanto, não descreve plena-
De início, pode parecer surpreendente que fôssemos capa- mente o mundo em que vivemos. A partir do Cap. 9, escudare-
zes de explicar as ,·ariÔ.\'eis reais sem intrndL:zir as ,·arüh·eis mos os desvios do modelo clássico e da neutralidade monetá-
nominais o u a existência de moeda. Nú Cap. 3, estudamos o ria. Esses des vios são fundamentais para a compreensão de
nível e a disrribuiçãn da prudução da economia sem mencio- muitos fenômenos macroeconômicos, como as oscilações eco-
nar o nível de preços ou a taxa de inflação. Nossa teoria do nômicas no curto prazo.

RESUMO
1. A moeda é o e,tnque de ati,·os usados par,1 transações. Fun- depe nda da taxa de juros nominal. Se é o que acontece,
ciona comn uma reser\'a de , ·alor, uma unidade de conta e então o nível de preços depende ao mesmo tempo da quan -
um meio de troca. Diferentes tipos de ativns são usados como tidade corrente de moeda e das quantidades de moeda espe -
moeda: os sistemas de moeda-mercadoria usam um ativo com radas no futuro.
valor intrín:,;eco, enquanto os sistemas de moeda fiduc i.hia
6. Os custos da inflação esperada incluem O custo da sola de
usam um ativo cuja única função é servir CO!Till moeda. Nas
sapato, o custo do menu, o custo da variabilidade dos pre-
economias modernas , um banco central, como n Federa l
ços relativos, as distorções fiscais e a inconveniência de se
Reser,·e, dos Estados Unidl1S, é respon;;,í\·el pelo controle da
efetuarem correções inflacionárias. Além disso, a inflação
oferta mnnen1ria.
inesperada causa redistribuições arhitrárias da riqueza entre
2. A teuri.1 quantiratin1 da moeda presume que a velocidade devedores e oednres. Um possível benefício da inflação é a
da moed<1 é estável e conclui que o PIB nnminal é proporci- melhora do funcionamento dos mercados de trabalho, ao
onal an estoque monet,friL). CotTill os fatmes de prndução e permitir que os salários reais alcancem níveis de equi líbrio
a função de pwduçào determinam o PIB real. a temia quan- sem cortes nos salários norilinais.
titati,·a indica que n nível de preços é propmci(inal à quan-
7. Durante os períodos de hiperinflação, a maioria dos custos
tidade de moeda. Portanto, a rnxa de crescimento da quan-
tiJade de mueda determina a taxa de inflação. da inflação torna-se bastante severa. As hiperinflações ge-
ralmente começam quando os governos financiam gr;:mdes
e 3. A senhoriagem é a receita que o gm·erno obtém pela emis- déficits orçamenrários pela emissão de moeda . Acabam
.a são de moeda. É um impo sto sobre a re tenção da moeJ,,. quando as reformas fiscais eliminam a necessidade de
is Embora seja quantitativamente pe4.uena na maioria das senhoriagem.
economias, a senhoriagem é com freqüência uma grande
fonte de receita do governo em economias que experimen- 8. Segundo a teoria e.conômica clássica, a moeda é neutra: a
J tam hiperinflaçào. oferta monetária não afeta as variáveis reais. Portanto, a
teoria clássica permite -nos estudar como as variáveis reais
4. A taxa de juros n ominal é a soma da taxa de juros real e da são determinadas sem qualquer referência à oferta monetá-
taxa de inflação. O efeito Fisher diz que a taxa de juros no- ria. O equilíbrio no mercado monetário determina o nível
minal acompanha paripassu a inflação esperada. de preço e, em conseqüência, todas as outras variáveis no-
5. A taxa de juros nominal é o custo de oportunidade de se reter minais. Essa separação teórica das variáveis reais e nominais
s. moeda. Assim, pode-se esperar que a demanda por moeda é chamada de dicotomia clássica.
e
i-
74 CAPfTULO 4

CONCEITOS-CHAVE
Inflação Banco central Senhoriagem
Hiperinflação Federal Reserve Taxas de juros reais e nominais
Moeda Operações de mercado aberco Equação Fisher e efeito Fisher
Reserva de valor Papel-moeda Taxas de juros reais ex ante e ex post
Unidade de conta Depósitos à vista em bancos Custo da sola de sapato
Meio de troca Equação quantitativa Custo de menu
Moeda fiduciária Velocidade de circulação da moeda Variáveis reais e nominais
Moeda-mercadoria Velocidade renda da moeda Dicotomia clássica
Padrão ouro Encaixes monetários reais Neutralidade monetária
Oferta monetária Função de demanda por moeda
Política monetária Teoria quantitativa da moeda

-
QUESTOES PARA REVISAO
-
1. Descreva as funções da moeda. 8. Relacione rodos os custos de inflação em que puder pensar, e
2. O que é moeda fiduciária? O que é moeda-mercadoria? classifique-os de acordo com a importância que você acha que
3. Quem controla a oferta monetária, e como? eles têm.
4, Escreva a equação quantitativa e explique. 9. Explique os papéis das políticas monetária e fiscal na causa e no
5. O que implica o pressuposto da velocidade constante/ término da hiperinflação.
6. Quem paga o imposto de inflação 1 10. Defina os termos "variável real" e "variável nominal", e dê um
7. Se a inflação sobe de 6 para 8%, o que acontece com as taxas de exemplo de cada.
juros reais e nominais, segundo o efeito Fisher?

PROBLEMAS E APLICAÇOES
1. Quais são as três funções da moeda? Quais das funções os itens a '
desquantidades de avião. Por que isso poderia ter sido uma arma
seguir satisfazem/ eficaz?
a. Um cartão de crédito 6. Calvin Coolidge disse certa vez que "inflação é repúdio". O que ele
b. Um quadro de Rembrandt quis dizer com isso? Você concorda? Por que sim, ou por que não?
e. Um bilhete do merrô Faz alguma diferença se a inflação é esperada ou não-esperada?
2. No país de Wiknam, a velocidade da moeda é constante. O PIB 7. Alguns historiadores econômicos observaram que, durante a época do
real cresce 5% ao ano, o estoque monetário cresce 14% ao ano, e padrão ouro, as descobertas de minas de ouro tinham mais probabili-
a taxa de juros nominal é de 11 %. Qual é a taxa de juros real? dade de ocorrer depois de um longo período de deflação. (As desco-
3. Uma matéria de jornal distribuída pela Assúciated Press, em 1994, bertas de 1896 são um exemplo.) Por que isso pode ser verdade?
informou que a economia dos Estados Unidos estava experimen- 8. Suponha que o consumo depende do nível dos encaixes monetá-
tando uma taxa de inflação baixa. Acrescentou que "a inflação rios reais (sob o fundamento de que os encaixes monetários reais
baixa tem o seu aspecto negativo: 45 milhões de beneficiários da são parte da riqueza). Mostre que, se os encaixes monetários reais
Previdência Social e de outros benefícios verão o valor de seus dependem da taxa de juros nominal, então um aumento da expan-
cheques subir apenas 2,8% no próximo ano". são monetária afeta o consumo, o investimento e a taxa de juros
a. Porque a inflação afeta a Previdência Social e outros benefícios 7 real. A taxa de juros nominal ajusta-se mais do que um-para-um
b. Esse efeito é um custo da inflação, como o artigo sugere? Por ou menos do que um-para-um à inflação esperada?
que sim, ou por que não? Esse desviada dicotomia clássica é chamado de "efeito Mundell-
4. Suponha que você esteja aconselhando um pequeno país (como T obin". Como você pode determinar se o efeito Munde\1-Tobin é
Bermudas) sobre se deve emitir sua própria moeda ou usar a moe- importante na prática?
da de um vizinho maior (como os Estados Unidos). Quais são os 9. Utilize a Internet para identificar um país que tenha sofrido uma
custos e os benefícios de uma moeda nacional? A estabilidade po- inflação elevada no último ano, e outro país que tenha tido uma
lítica relativa dos dois países tem algum papel nessa decisão? inflação reduzida. ( Dica: Um site útil é www :economist.com.) Para
5. Durante a Segunda Guerra Mundial, tanto a Alemanha quanto esses dois países, encontre a taxa de expansão monetária e o nível
a Inglaterra tinham planos para uma arma de papel: cada país im- corrente da taxa de juros nominal. Relacione suas descobertas com
primiu o papel-moeda do outro, com a intenção de lançar gran- as teorias apresentadas neste capítulo.
Apêndice

o MODELO CAGAN:
COMO A MOEDA CORRENTE E
FUTURA AFETA o NíVEL DE PREÇOS

Neste capítulo, mostramos que, se a quantidade de en- Esta equação enuncia que o nível de preços corrente p, é uma
caixes monetários reais demandada depende do custo de se média ponderada da oferta monetária atual m,e o nível de pre-
reter moeda, o nível de preços depende ao mesmo tempo da ços do próximo período P,+i · O nível de preços do próximo
oferta monetária corrente e futura . Este apêndice desenvol- período será determinado da mesma maneira que o nível de
ve o modelo Cagan, para mostrar explicitamente como isso preços no período atual:
e funciona. 15
e Para manter a matemática o mais simples possível, pressu-
pomos uma função de demanda por moeda que é linear nos
J logaritmos naturais de todas as variáveis. A função de deman-
da por moeda é
:l Agora, substitua a Equação A3 por P,+ 1 na Equação A2 para obter
m, - P, = -'Y(P,+1 - P,), (Al)

em quem, é o log da quantidade de moeda no período t, p, é o


log do nível de preços no período e 'Y é um parâmetro que de-
termina a sensibilidade da demanda por moeda à taxa de infla-
A Equação A4 enuncia que o nível de preços atual é uma mé-
ção. Pela propriedade dos logaritmos, m, - p, é o log dos encai-
dia ponderada da oferta monetária atual, a oferta monetária do
xes monetários reais e P,+1 - p,é a taxa de inflação entre o pe-
a próximo período e o nível de preços do período seguinte. Mais
ríodo t e o período t + 1. Essa equação enuncia que se a infla-
uma vez, o nível de preços em t + 2 é determinado como na
ção sobe 1%, os encaixes monetários reais caem 'Yº/o.
e Equação A2:
Estabelecemos vários pressupostos ao escrever a função de
demanda por moeda dessa maneira. Primeiro, ao excluir o ní-
vel de produto como um determinante da demanda por moe-
?=- 1 -)m 1+( I-
J da , presumimos implicitamente que o produto é constante. Pr +" ( I + 'Y 1+" +'Y -
'Y ) P1+3· (AS)
Segundo, ao incluir a taxa de inflação, em vez da taxa de juros
nominal, estamos pressupondo que a taxa de juros real seja
Agora, substitua a Equação AS na Equação A4 para obter
constante. Terceiro, ao incluir a inflação verificada, em vez da
inflação esperada, presumimos uma previsão perfeita. Todas
esses pressupostos são para manter a análise o mais simples 1 1 'Y 2
P, =- -m +
l+"y' I
1
(l+-y) "
m,+1 + (l+"y') 3
m, +2 +
possível.
s Queremos resolver a Equação Al para expressar o nível de
'Y 3
:l preços como uma função de moeda corrente e futura. Para fazê- + (] + 'Y)3 P1+3· (A6)
lo, observe que a Equação Al pode ser reescrita como

A esta altura, você percebe o padrão. Podemos continuar a usar

a
p1 = (-
l+'Y
1
) m1 + (-'Y)
l+"y'
P1 +l ·
(A2) a Equação A2 para substituir o nível de preços futuro. Se faze-
mos isso por utn número infinito de vezes, encontramos
a
3

1 ';Este modelo é extraído de Phillip Cagan, "The Monetary Dynamics of Hyperinflation", in Milton Friedrnan, ed., Srudies inche Quanliry Theory of Money (Chicago: University
of Chicago Press, 1956).
76 CAPÍTULO 4

Pi = e: e: 'Y) [mr + 'Y) mr+I + (-'Y ) Em1+1


I + 'Y

+ (-'Y-)2
1+-y
m,+2 + (-'Y-)3
1+-y
m,+3 + ···], (A7) + Y-)2 Emi+z + (-'l+-y
(-'l+'Y Y-)3 Emt +3 + ...]. (A9)
l
,,

em que ... indica um número infinito de termos análogos. De


acordo com a Equação A 7, o nível de preços corrente é uma A Equação A9 enuncia que o nível de preços depende da ofer-
média ponderada da oferta monetária atual e de todas as ofer- ta monetária corrente e das ofertas monetárias futuras espera-
tas monetárias futuras. das.
Observe a importância de"/, o parâmetro que determina a Alguns economistas utilizam esse modelo para argumentar
sensibilidade dos encaixes monetários reais à inflação. Os pe- que a credibilidade é importante para acabar com a hiperinfla-
sos das ofertas monetárias futuras declinam geometricamente, ção. Como o nível de preços depende da oferta monetária cor-
à taxa de -y/(1 + 'Y ). Se 'Y é pequeno, então -y/(1 + é peque-'Y) rente e futura esperada, a inflação depende da expansão mo-
no, e os pesos declinam rapidamente. Nesse caso, a oferta mo- netária corrente e futura esperada. Portanto, para acabar com
netária atual é o principal determinante do nível de preços. a inflação alta, tanto a expansão monetária corrente quanto a
(Com efeito, se 'Y é igual a zero, então obtemos a teoria quan- expansão monetária esperada devem cair. As expectativas, por
titativa da moeda: o nível de preços é proporcional à oferta sua vez, dependem da credibilidade - a percepção de que o
monetária corrente, e as ofertas monetárias futuras não têm a
'Y
menor importância.) Se é grande, então -y/(1 + -y) está pró-
hanco central está empenhado em uma política nova e mais
estável.
ximo de 1, e os pesos declinam lentamente. Nesse caso, as ofer-
Como um hanco central pode alcançar credibilidade no
tas monetárias futuras desempenham papel fundamental na
meio de uma híperinflação? A credibilidade é muitas vezes
determinação do nível de preços de hoje.
obtida pela remoção da causa básica da hiperinflação: a neces-
Finalmente, vamos relaxar o pressuposto da previsão perfei-
sidade da senhoriagem. Assim, com freqüência é necessária uma
ta. Se o futuro não é conhecido com certeza, então devemos
reforma fiscal digna de crédito para uma mudança da política
escrever a função de demanda por moeda como
monetária digna de crédito. A reforma fiscal pode assumir a
m, - P, = -"l(Ep, + 1 - p,), (A8) forma de redução dos gastos governamentais e de tomar o banco
central mais independente do governo. A despesa reduzida
em que EP,+ 1 é o nível de preços esperado. A Equação A8 enuncia diminui a necessidade de senhoriagem, enquanto o aumento
que os encaixes rn.onetários reais dependem da inflação esperada. da independência permite que o banco central resista às exi-
Seguindo passos similares aos precedentes, podemos mostrar que gências de senhoriagem do governo.

MAIS PROBLEMAS E APLICAÇÕES


l. No modelo de Cagan, se esperamos que a oferta monetária cresça d. Se um banco central está prestes a reduzir a taxa de expansão
a uma taxa consta meµ (para que Em,_. = m, + sµ), então a Equa- monetáriaµ mas quer manter constante o nível de preços p,, o
ção A9 pode ser mostrada para indiGH que p, = m, + -yµ. que ele deve fa:er com m,? Você percebe problemas práticos que
<1. lnterrrete o resultado. podem surgir pela adoção dessa política'
b. O que acontece com o nível de preços p,quando a oferta mo- e. Como suas respostas anteriores mudam no caso especial em
netária m, muda, mantendo-se consrnnte a taxa de expansão que a demanda por moeda não depende da taxa de inflação
monetária µ? esperada (ou seja, 'Y = ( )) ?
e. O que acontece com o ní\'el de preços p,quando a taxa de ex-
pansão monetária µ muda, mantendo-se constante a oferta de
dinheiro m,'
, -,~ " . ,, ;r ..- ~- ·r:.:

Capítulo 5

A ECONOMIA ABERTA

Nenhuma nação jamais foi arruinada pelo coméi-cio.


·-· Bt:njarnin Franklin

Mesmo que nunca deixe sua cidade natal, você é um partici- Este capítulo inicia nosso estudo sobre a macr(1economia
pante ativo de uma economia global. Quando vai ao super- com economia aberta. Começamos na Seção 5-1 com questões
mercado, por exemplo, você pode escolher entre maçãs culti- de mensuração. Para compreender como a economia aberta
vadas no seu próprio país ou uvas cultivadas no Chile. Quan- funciona, temos de entender as variáveis macroeconômicas fun-
do você faz um depós ito no banco local, o dinheiro pode ser damentais que medem as interações entre os países. As identi-
emprestado para seu vizinho, ou para uma empresa japonesa que dades de conta revelam uma percepção básica: o fluxo de bens
está construindo uma nova fábrica de automóveis nos arredo- e serviços através das fronteiras nacionais é sempre acompanha-
res de Tóquio. Como nossa economia é integrada a muitas ou- do de um fluxo equivalente de fundos financeiros para finan-
tras em todo o mundo, os consumidores têm mais bens e servi- ciar a acumulação de capital.
ços de que escolher, e os poupadores têm mais oportunidades Na Seção 5-2, examinamos os determinantes desses fluxos
de investir sua riqueza. internacionais. Desenvolvemos um modelo da economia pe-
Em capítulos anteriores, simplificamos a análise pressupon- quena aberta que corresponde ao nosso modelo de economia
do uma economia fechada. Na verdade, porém, quase todas as fechada no C ap. 3. O modelo mostra os fatores que determi-
economias são abertas: exportam bens e serviços para o exteri- nam se um país é devedor ou credor nos mercados mundiais, e
or, importam bens e serviços do exterior, tomam emprestado e como as políticas econômicas internas e externas afetam os flu-
emprestam nos mercados financeiros internacionais. A Fig. 5- xos de capital e bens.
1dá uma idéia dessas interações internacionais, ao mostrar im- Na Seção 5-3, ampliamos o modelo para examinar os pre-
portações e exportações como um percentual do PIB para sete ços aos quais um país efetua trocas nos mercados mundiais.
grandes países industriais. Como a figura mostra, as importa - Examinamos o que determina o preço dos bens internos em
ções e exportações nos Estados Unidos representam mais de relação aos bens externos. T ambém examinamos o que de-
10% do PIB. O comércio é ainda mais importante para muitos termina a taxa à qual a moeda nacional corrente é trocada
outros países: no Canadá e no Reino Unido, por exemplo, as por moedas estrangeiras. Nosso modelo mos tra como as polí-
importações e exportações constituem cerca de um terço do ticas comerciais proteci onistas - políticas destinadas a pro-
PIB. Nesses países, o comércio internacional é fundamental teger as indústrias internas da concorrência estrangeira -
para a análise dos desenvolvimentns econômicos e para a for- influenciam no montante de comércio internacional e na taxa
mulação de pol íticas econômicas. de câmbio.

5-1 OS FLUXOS INTERNACIONAIS DE CAPITAL E BENS


A diferença macroeconômica fund amental entre economia 0 PAPEL DAS EXPORTAÇÕES LÍQUIDAS
aberta e economia fechada é que, em uma economia aberta, os
gastos de um país em qualquer ano determinado não precisam Considere o gasto com o produto de bens e serviços de uma econo-
igualar sua produção de bens e serviços. Um país pode gastar mia. Em uma economia fechada, todo o produto é vendido inter-
mais do que produz ao tomar emprestado do exterior, ou pode namente. O gasto é dividido em crês componentes: consumo, in-
gastar menos do que produz e emprestar a diferença a estran- vestimento e compras do governo. Em uma economia aberta, uma
geiros. Para compreender isso mais plenamente, analisaremos parte do produto é vendido internamente, e outra parte é exporta-
de novo a conta da renda nacional, de que tratamos primeiro da, para ser vendida no exterior. Podemos dividir o gasto de um
no Cap. 2. produto Y de uma economia aberta em quatro componentes:
78 CAPITULO 5

Percentual 40
do PIB
35

30

25

20

15

10

o
Canadá França Alemanha Itália Japão Reino EUA
1m portações Exportações Unido

Fig. 5-1 Importações e Exportações como Percentual do Produto: 2000 Embora o comércio internacional seja importante para os Estados
Unidos, é ainda mais vital para os outros países .
Fonte. OCDE .

> C·l, o consumo de bens e serviços internos, Y = C + I + G + EX - IM.


> I•\ o investimento em bens e serviços internos,
Como o gasto em importações está incluído no gasto interno
> G ·', as compras do governo de bens e serviços internos,
( C + I + G), e corno os bens e serviços importados do exterior
> EX , as exportações de bens e serviços internos.
não são parte do produto de um país, essa equação subtrai os
A divisão do gasto nesses componentes é expressa na identidade gastos em importações. Definindo-se exportações líquidas
y = C 1 + I" + G·1 + EX. como exportações menos importações (NX = EX - IM), a
identidade torna-se
A soma dos três primeiros termos, C 1 + I" + G", é o gasto in-
terno em bens e serviços internos. O quarto termo, EX, é o gasto Y =C + l + G - NX.
externo em bens e serviços internos. Esta equação enuncia que o gasto em produção interna é a soma
Queremos agora tomar essa identidade mais útil. Para fazê-lo, de consumo, investimento, compras do governo e exportações
observe que o gasto interno em todos os bens e serviços é a soma líquidas. É a forma mais comum da identidade da conta nacio-
do gasto interno em bens e serviços internos e do gasto interno nal; deve ser bem conhec ida, do Cap. 2.
em bens e serviços externos. Assim, o consumo total C é igual ao A identidade da conta da renda nacional mostra como a
consumo dos bens e serviços in temos C'1mais o consumo de bens produção interna, o gasto interno e as exportações líquidas es-
e serviços externos C'; o investimento torai I é igual ao investi- tão relacionadas. Em particular,
mento em bens e serviços internos I" mais o investimento em bens
e serviços externos Jt; e as compras totais do governo G são iguais NX= y - (C + I + G)
às compras do governo de hens e serviços internos G" mais as com- Exportações Líquidas = Produto - Gasto Interno.
pras do governo de bens e serviços externos G' . Assim, Esta equação mostra que, em uma economia aberta, o gasto in-
C = CI + C', terno não precisa ser igual à produção de bens e serviços. Se o
I = JJ + I1, produto excede o gasto interno, exportamos a diferença: as exporta-
G= G .t + G 1• ções líquidas são positivas. Se o produto fica aquém do gasto interno,
importamos a diferença: as exportações líquidas são negativas.
Substituímos essas três equações na identidade acima:
Y = (C - C') + (1 - I') + (G - G 1) + EX.
FLUXOS DE CAPITAL INTERNACIONAL E A
Podemos rearrumar para obter BAIANÇA COMERCIAL
Y= C + I + G + EX - (C" + fi + G 1).
Em uma economia aberta, tal como na economia fechada que
A soma do gasto interno em bens e serviços externos (Cf + examinamos no Cap. 3, os mercados financeiros e os mercados
I' + Gf) é o gasto em importações (IM). Podemos assim escre- de bens estão estreitamente relacionados. Para entender essa
ver a identidade das contas nacionais como relação, devemos reescrever a identidade da conta de renda
A ECONOMIA ABERTA 79

nacional em termos de poupança e investimento. Comece com Fluxo Líquido


a identidade de Capital para o Exterior = Balança Comercial
Y = C + I + G + NX.
S- I = NX.
Se S - I e NX são positivos, temos um superávit comercial.
Subtraia C e G dos dois lados para obter
Nesse caso, somos credores líquidos nos mercados financeiros
Y- C - G = I + NX. mundiais, e estamos exportando mais bens do que importamos.
Se S - l e NX são negativos, temos um déficit comercial. Nesse
Lembre-se, do Cap. 3, que Y - C - G é a poupança nacional
caso, somos devedores líquidos nos mercados financeiros mun-
S, a soma da poupança privada, Y - T - C, e da poupança diais, e estamos importando mais bens do que exportamos. Se
pública, T - G. Portanto,
S - I e NX são exatamente zero, temos um comércio equili-
S = I + NX. brado, porque o valor das importações é igual ao valor das ex-
portações.
Subtraindo I dos dois lados da equação, podemos escrever a A identidade das contas da renda nacional mostra que o fluxo
identidade da conta da renda nacional como internacional de fundos para financiar a acumulação de capital e o
S - I = NX. fluxo internacional de bens e serviços são os dois lados da mesma
moeda. Por um lado, se a poupança supera o investimento, a
Essa forma da identidade da conta da renda nacional mostra poupança que não é investida internamente passa a ser usada
fos que as exportações líquidas de uma economia devem sempre para efetuar empréstimos a estrangeiros. O s estrangeiros reivin-
igualar a diferença entre sua poupança e seu investimento. dicam esses empréstimos porque estamos lhes proporcionando
Examinaremos mais atentamente cada parte dessa identi- mais bens e serviços do que eles nos proporcionam. Ou seja,
dade. A parte fácil é o lado direito, NX, que é nossa exporta- estamos tendo um superá vir comercial. Por outro lado, se o in-
ção líquida de bens e serviços. Outro nome para exportações vestimento supera a poupança, é preciso financiar o investimen-
líquidas é balança comercial, porque nos diz como o comércio to extra tomando emprestado do exterior. Esses empréstimos
de bens e serviços se afasta do ponto de referência de importa- externos nos permitem importar mais bens e serviços do que
no ções e exportações iguais. exportamos. Ou seja, estamos com um déficit comercial. A
tor O lado esquerdo da identidade é a diferença entre poupança Tabela 5-1 sintetiza essas idéias.
os interna e investimento interno, S - I, que chamaremos de flu- Cabe ressaltar que o fluxo internacional de capital pode
.as xo líquido de capital para o exterior. (Este é às vezes chamado assumir muitas formas. É mais fáci l presumir - como fizemos
·ª de investimento externo l(quido.) Se o fluxo líquido de capital é até aqui - que os estrangeiros nos fazem empréstimos quan-
positivo, a poupança excede o investimento, e emprestamos o do temos um déficit comercial. Isso acontece, por exemplo ,
superávit para estrangeiros. Se o fluxo líquido de capital é nega- quando os japoneses compram as dívidas de empresas dos
tivo, o investimento excede a poupança, e financiamos esse in- Estados Unidos ou do governo norte-americano. Mas o fluxo
na vestimento extra tomando emprestado do exterior. Assim, o fluxo de capital pode também assumir a forma de estrangeiros com-
,es
de saída de capital líquido é igual ao montante que os residentes prando ativos internos, como ocorre quando um cidadão da
o- internos estão emprestando no exterior menos o montante que Alemanha compra ações de um americano na Bolsa de Valo-
os estrangeiros estão nos emprestando. Isso reflete o fluxo inter- res de Nova York. Estejam comprando dívida de emissão in-
,a
nacional de recursos para financiar a acumulação de capital. terna ou ativos de propriedade interna, os estrangeiros estão
!S•
A identidade da conta da renda nacional mostra que o flu - obtendo um direito aos retornos futuros de capital interno.
xo líquido de capital para o exte rior é sempre igual à balança Nos dois casos, os estrangeiros acabam possuindo uma parte
comercial. Ou seja, do capital realizado interno.

n-
o
a-
O, TABELA 5-1 Fluxos Intemacioruús de Bens·e Capital: Resumo
Esta tabela mostra os três resultados que uma economia aberta pode expertmentar.
Superávit Comercial Comércio Equilibrado Déficit Comercial
Exportações > Importações Exportações =:e Importações Exportações< Importações
Export.ações Líquidas > O Exportações Líquidas =:e O Exportações Líquidas < O
ie Y>C+I+G Y-C+I+G Y<C+I+G
)S
Poupança > Investimento Poupança = Investimento Poupança < Investimento
Fluxo Líquido de Capital Fluxo Liquido de Capital Fluxo Líquido de Capital
;a para o Exterior > O para o Exterior =:e O para o Exterior < O
la
80 CAPÍTULO 5
r
SA15,AMA,[S
Flnxos-Intemadonais de Bens e Capital: Um Exemplo
A igualdade de exportações líquidas e fluxo líquido de capital Situação oposta ocorre no Japão. Quando o consumidor
para o exterior é uma identidade: deve manter-se pela maneira japonês compra uma cópia do sistema operacional Windows,
como os números são somados. Mas é fácil deixar de registrar a as compras de bens e serviços ( C + I + G) do Japão sobem,
intuição que há por trás dessa importante relação. A melhor mas não há mudança no que o Japão produziu (Y). A tran-
maneira de compreendê-la é por meio de um exemplo. sação reduz a poupança do Japão (S = Y - C - O) por um
Imagine que Bill Gates venda uma cópia do sistema determinado nível de investimento (I). Enquanto os Esta-
operacional Windows a um consumidor japonês por 5.000 dos Unidos experimentam um fluxo líquido de capital para
ienes. Como sr. Gates é residente nos Estados Unidos, a o exterior, oJapão experimenta um fluxo líquido de capital
venda representa uma exportação dos Estados Unidos. Tudo do exterior.
o mais constante, as exportações líquidas norte-americanas Agora, vamos mudar o exemplo. Suponhamos que, em
sobem. O que mais acontece para sustentar a identidade? De - vez de investir 5.000 ienes em um ativo japonês, sr. Gates
pende do que sr. Gates faz com os 5.000 ienes. usa a quantia para comprar alguma coisa fabricada no Ja-
Suponha que sr. Gates decida guardar os 5.000 ienes pão, como um walkman da Sony. Nesse caso, as importa-
debaixo do colchão. Nesse caso, ele reservou uma parte de ções dos Estados Unidos sobem. Juntas, a exportação do
sua poupança para um investimento na economia japonesa Windows e a importação do walkman representam um
(em forma de moeda japonesa), em vez de um investimen- comércio equilibrado entre Japão e Estados Unidos. Como
to na economia norte-americana. Assim, a poupança nor- as exportações e as importações aumentam igualmente, as
te-americana excede o investimento norte-americano. O au- exportações líquidas e o fluxo líquido de capital se man-
mento das exportações líquidas dos Estados Unidos é acom- têm inalterados.
panhado de um aumento no fluxo líquido de capital para o Uma possibilidade final é que sr. Gates troque seus 5.000
exterior dos Estados Unidos. ienes por dólares americanos em um banco local. Mas isso
Se o sr. Gates quer investir no Japão, no entanto, é im- não muda a situação: o banco agora tem de fazer alguma coisa
provável que faça da moeda japonesa seu ativo escolhido. com os 5.000 ienes. Pode comprar ativos japoneses (um flu-
Ele pode usar os 5.000 ienes para comprar algumas ações da xo de saída de capital líquido dos Estados Unidos); pode
Sony Corporation, por exemplo, ou pode comprar um títu- comprar um bem japonês (uma importação americana); ou
lo emitido pelo governo japonês. Em qualquer caso, uma pode vender os ienes para outro norte-americano que quei-
parte da poupança norte-americàna está fluindo para o ex- ra efetuar essa transação. Se você acompanha a moeda, pode
terior. Mais uma vez, o fluxo líquido de capital para o exte- constatar que, no final, as exportações líquidas norte-ame-
rior dos Estados Unidos é exatamente igual às exportações ricanas devem igualar o fluxo líquido de capital para o ex-
líquidas norte-americanas. terior dos Estados Unidos.

5-2 POUPANÇA E INVESTIMENTO EM UMA


ECONOMIA ABERTA PEQUENA
Até aqui, em nosso exame dos fluxo s internacionais de bens MOBILIDADE DE CAPITAL E A
e capital, apenas reformulamos identidades de conta . Ou
seja, definimos algumas variáveis que mensuram transações
TAXA DE JUROS INTERNACIONAL
em uma economia aberta, e demonstramos as relações en- Lúgo apresentaremos um modelo dos fluxos internacionais de
tre essas variáveis decorrentes de suas definições . Nosso pró- bens e capital. Como a balança comercial é igual ao fluxo lí-
ximo passo é desenvolver um modelo que explique o com- quido de capital, que por sua vez é igual a poupança menos in-
portamento dessas variáveis. Poderemos então utilizar o vestimento, o modelo enfoca a poupança e o investimento. Para
modelo para responder a perguntas tais como a maneira pela desenvolver esse modelo, tomamos alguns elementos que de-
qual a balança comercial reage a mudanças da política eco- vem ser bem conhecidos, do Cap. 3; mas, em contraste com o
nômica. modelo do Cap. 3, não pressupomos que a taxa de juros real
f
A ECONOMJ A ABERTA 81

equilibre poupança e investimento. Em vez disso, permitimos > O investimento I é negativamente relacionado com a taxa
que a economia tenha um déficit comercial e tome empresta- de juros real r. Escrevemos a função investimento como
do de outros países, ou que tenha um superávit comercial e I = I(r).
empreste a outros países.
Se a taxa de juros real não se ajusta para equilibrar poupan- Essas são as três partes fundamentais do nosso modelo. Se você
ça e investimento nesse modelo, o que a determina? Respon- não compreende essas relações, revise o Cap. 3 antes de pros-
demos a esta pergunta, aqui, pela consideração do caso simples seguir.
de uma economia aberta pequena, com perfeita mobilidade de Podemos agora voltar à identidade das contas nacionais e
capital. Com "pequena" estamos querendo dizer que a econo- escrevê -la como
mia é uma pequena parte do mercado mundial. Ou seja, por si NX = (Y - C - G) - I
mesma, só pode ter um efeito insignificante n a taxa de juros NX=S-I.
mundial. Com "perfeita mobilidade de capital" estamos que-
rendo dizer que os residentes do país têm pleno acesso aos mer- Suhstituindo os três pressupostos do Cap. 3 e a condição de que
cados financeiros mundiais. Em particular, o governo não im- a taxa de juros iguale a taxa de juros internacional, obtemos
pede a tomada nem a concessão de empréstimos internacionais.
Por causa desse pressuposto de perfeita mobilidade de capi- NX = [Y - C( Y- T) - GJ - I(r *)
tal. a taxa de juro, em nossa economia aherra pequena, r, deve s - f(r*).
igualar a taxa de juros internacional r*, a taxa de juros real Esta equação mostra o que determina a po upança Se o inves-
preva lecente nús mercados financeiros mundiais: timento 1- e, assim, a balança comercial NX. Lembre-se de
r = r*. que a poupança depende da política fiscal: as compras do go-
verno G mais baixas ou impostos T mais altos aumentam a
Os re5ident es da economia aberta pequena nunca precisam poupança nacional. O investimento depende da taxa de ju-
rumar emprestado a uma taxa de juros acima der*, porque sem- ros real internacional r*: taxas de juros elevadas fazem com
pre podem ohter um empréstimo a r* do exterior. Da mesma que alguns projetos de investimentos não sejam lucrativos.
maneira. o~ residentes dessa economia nunca precisam empres- Portanto, a balança comercial depende também dessas variá -
tar a qu,lk1uer taxa abaixo der*, porque sempre podem ganhar veis.
r* emprestando para o exterior. Ass im, a taxa de juros interna- No Cap. 3, representamos graficamente poupança e inves-
cional determina a rnxn de juros em nossa economia aberta pe- timento como na Fig. 5-2. Na economia fechada estudada na-
quena. quele capítulo, a taxa de juros real ajusta-se para equilibrar
Examinaremos por um momento o que determina a taxa de poupança e investimento - ou seja, a taxa de juros real é
jums real intemacional. Em uma economia fechada, o equilíbrio encontrada no ponto em que as curvas de poupança e investi-
entre poupança intema e investimento interno detennina a taxa mento se cruzam. Na economia aberta pequena, no entanto, a
de juros. Excetu,mdu o comércio interplanetário, a economia taxa de juros real iguala a taxa de juros real internacional. A
mundia l é um,i ecnnomia fechada. Portanto, o equilíbrio entre balança comercial é determinada pela diferença entre poupança e
poupança internacinnal e ilwestimento intem.acional determi - investimento à taxa d.e juros internacional.
na a taxa de juros internac ional. N ossa economia aherta peque- A essa altura, você pode especular sobre o mecanismo que
na tem um efeirn imignificante na taxa de juros internacional, faz com que a balança comercial iguale o fluxo líquido de capi-
porque, ,endu .1penas uma parte mínima do mundo, tem um efei- tal. Os determinantes dos flu xos de capital são fáceis de com-
to insignificmte na poupança e no investimento internacionais. preender. Quando a poupança fica aquém do investimento, os
Portanto, nussa ecot1l)J11ia aberta pequena assume a taxa de ju- investidores tomam emprestado do exterior; quando a poupança
ros intern~1cinnal cnmo um dado exógeno. excede o investimento, o superávit é emprestado a outros paí-
ses. Mas o que faz com que as pessoas que importam e expor-
tam se comportem de uma maneira que garanta que o fluxo
0 MODELO internac ional de bens tenha um equilíbrio exato com o fluxo
Para construir o modelo da economia aberta pequena, assumi- internacional de capital? Por ora, deixaremos essa indagação
mos três pressupostos dn Cap. 3: sem resposta. Mas voltaremos a tratar do assunto na Seção 5-
3, quando estudarmos a determinação das taxas de câmbio.
> O produto da economia Y é fixado pelos fatores de pro-
dução e pela função de produção. Escrevemos isso como
COMO AS POLÍTICAS ECONÔMICAS
Y= V = F( K, I). INFLUENCIAM A BALANÇA COMERCIAL
> O consumo C é positivamente relacionado com a renda Suponha que a economia comece em uma posição de comér-
disponível Y = T. Escrevemos a função consumo como cio equilibrado. Ou seja, à taxa de juros internacional, o inves -
C = C(Y- T). timento I iguala a poupança S, e as exportações líquidas NX
82 CAPITULO 5
r
Taxa de juro
real, r Superdvit 5
comercial

r* ........ . . . .
"'
NX

Taxa de
juros
internacional

Taxa de
juros se a
economia
fo sse fechada
Investimento, Poupança, /, S

Fig. 5-2 Poupança e Investimento em uma Economia Aberta Pequena Numa economia fe chada, a taxa de juros real ajusta-se para equili-
brar poupança e investimento. Em uma economia aberta pequena, a taxa de juros é determinada nos mercados financeiros mund iais. A diferença
entre poupança e investimento determina a balança comercial. Aqui, hâ um superávit comercial. porque a poupança excede o investimento à taxa
de juros internacional.

são iguais a zero. U tilizaremos nosso modelo para prever os efei- te fisca l vai para a poupança privada, mas a poupança pública
tos de políticas do governo no país e no exterior. cai na quantidade correspondente ao corte fiscal; no total, a
poupança diminui.) Como NX = S - I, a redução da poupan-
Política Fiscal Interna Consideremos primeiro o que acon- ça nac ional, por sua vez, diminui NX.
tece com a economia aberta pequena se o governo expande os A Fig. 5-., ilustra esses efeitos. Uma mudança da política
gastos internos pe lo aumento das compras do governo. O au- fiscal que aumenta o consumo pri vado C ou o consumo públi-
mento de G reduz a poupança nacional, porque S = Y - C - co G reduz a poupança nacional (Y - C - G); assim , desloca
G. Com uma taxa de juros real internacional constante, o in- a curva vertical que representa a poupança de S1 para S2• Como
vestimento permanece o mesmo. Portanto, a poupança cai NX é a distância entre a curva de poupança e a curva de inves -
abaixo do investimento. Algum investimento deve agora ser timento, à taxa de juros internacional, esse deslocamento re-
financiado pela t omada de empréstimos no exterior. Como duz NX. Por isso, partindo do comércio equilibrado, uma mudança
NX = S - I, a diminuição de S acarreta uma queda de NX. A da política fiscal que reduz a poupança nacional leva a um déficit
economia passa a ter um déficit comercial. comercial.
A mesma lógica aplica-se a uma redução nos impostos. Um
corte fiscal diminui T, aumenta a renda disponível Y - T , es- Política Fiscal Externa Consideremos agora o que aconte-
timula o consumo e reduz a poupança nacional. (Parte do cnr- ce com uma economia aberta pequena quando governos es-

Taxa de juros 2 . ... mas quando


real, r s, uma expansão
fiscal reduz a
poupança ...

1. Esta economia
parte do comércio
equilibrado, ...
,.... ..... ... .... -~,- - / . . ' .. . . .. ..... .. .. .. . . .

3 . ... o resultado
é um déficit
comercia./.
Investimento, Poupança, //S

Fig. 5-3 Uma Expansão Fiscal Interna em uma Economia Aberta Pequena Um aumento das .compras do governo ou uma redução dos im-
postos diminui a poupança nacional, e com isso desloca a curva de poupança para a esquerda, de S 1 para S,. O resultado é um déficit comercial.
r
A ECONOMIA ABERTA 83

trangeiros aumentam suas compras de governo. Se esses paí- tos, proporcionando créditos fiscais a todo investimento. A
ses são uma parte pequena da economia mundial, então sua Fig. 5-5 ilustra o impacto de um deslocamento da curva de
mudança fiscal tem um impacto insignificante em outros pa- investimento. A uma dada taxa de juros internacional, o
íses. Mas, se os outros países representam uma parte grande investimento é agora maior. Como a poupança permanece
da economia mundial, o aumento das compras de governo constante, parte do investimento deve ser financiado por
reduz a poupança internacional e faz com que a taxa de juros empréstimos do exterior, o que significa que o fluxo líquido
internacional suba. de capital é negativo. Em termos diferentes, como NX = S
O aumento na taxa de juros internacional eleva o custo de - I, o aumento de I implica uma redução em NX. Por isso,
contrair empréstimo. Assim, reduz o investimento em nossa um deslocamento da curva de investimento para a direita causa
economia aberta pequena. Como não houve alteração na pou- um déficit comercial.
pança interna, a poupança S agora supera o investimento I; e
urna parte da nossa poupança começa a ir para o exterior. Como AVALIANDO A POLÍTICA ECONÔMICA
NX = S - I, a redução em 1 deve também aumentar NX. As-
sim, a redução da poupança externa leva a um superávit comer- Nosso modelo da economia aberta mostra que o fluxo de bens
cial interno. e serviços, medido pela balança comercial, está ligado de modo
A Fig. 5-4 ilustra como uma economia aberta pequena, par- inextricável ao fluxo internacional de fundos para a acumula-
tindo do comércio equilibrado, reage a uma expansão fiscal ção de capital. O fluxo líquido de capital para o exterior é a
externa. Como a mudança de política econômica está ocorren- diferença entre a poupança interna e o investimento interno.
do no exterior, as curvas de poupança interna e investimento Assim, o impacto das políticas econômicas na balança comer-
interno permanecem as mesmas. A única mudança é um au- cial pode sempre ser encontrado pelo estudo do impacto na
poupança interna e no investimento interno. Políticas que
mento na taxa de juros internacional, de Ti• para r2• • A balan-
aumentam o investimento ou diminuem a poupança tendem a
ça comercial é a diferença entre as curvas de poupança e in-
causar um déficit comercial, e políticas que diminuem o inves-
vestimento; como a poupança supera o investimento em r.' , timento ou aumentam a poupança tendem a causar um supe-
há um superávit comercial. Por isso, um aumento da taxa de j~- rávi t comercial.
ros internacional , em decorrência de uma expansão fiscal no exteri- Nossa análise da economia aberta tem sido positiva, não
or, leva a um superávit comercial. normativa . Ou seja, a análise da maneira como as políticas
econômicas influenciam os fluxos internacionais de bens e
Mudanças na Demanda por Investimento Considere - capital não nos disse se essas políticas são desejáveis. A avali-
mos o que acontece com nossa economia aberta pequena se ação das políticas econômicas e seu impacto na economia aberta
a curva de investimento se desloca para a direita, ou seja, se é assunto de freqüentes debates entre economistas e formula-
a demanda por bens de investimento aumenta, a qualquer dores de política econômica.
taxa de juros. Essa mudança ocorreria, por exemplo, se o Quando um país tem um déficit comercial, os formuladores
governo mudasse as leis fiscais para estimular os investimen- de política econômica devem enfrentar uma questão: se isso re-

Taxa de juros
real, r s
2 . ... reduzo
investimento e
leva a um
superdvit
comercial.
1. Um
r*
aumento 2
da taxa ---t
de juros r"
1
interna-
dona/...

Investimento, Poupança, 11 S
Fig. 5-4 Uma Expansão Fiscal no Exterior em uma Economia Aberta Pequena Uma expansão fiscal em uma economia externa bastante.
grande para influenciar a poupança e o investimento internacionais eleva a taxa de juros internacional de r; para r;. A taxa de juros internacional
mais alta reduz o investimento nessa economia aberta pequena. causando um superávit comercial.
84 CAPÍTULO 5
r
Taxa de juros
real, r s

1. Um aumento
na demanda
por investimento .. .

2 . ... leva a um
déficit comercial.

r*

Investimento, Poupança,/, 5

Fig. 5.5 Um Deslocamento da Curva de Investimento em uma Economia Aberta Pequena Um deslocamento para a direita da curva de
investimento, de I(r) , para J(r);, aumenta a quantidade de investimento à taxa de juros internacional r*. Em conseqüência. o investimento agora
excede a poupança, o que significa que a economia está tomando emprestado do exterior e tendo um déficit comercial.

presenta um problema nacional. A maioria dos economistas Os déficits comerciais, no entanto, nem sempre são um refle-
considera que um déficit comercial não é um problema em si, xo de enfermidade econômica. Quando economias rurais pobres
mas talvez o sintoma de um problema. Um déficit comercial se desenvolvem, tomando-se modernas economias industriais,
pode ser um reflexo de uma poupança baixa. Em uma econo, às vezes financiam seus altos níveis de investimento com emprés-
mia fechada, a poupança baixa leva a baixo investimento e a timos externos. Nesses casos, os déficits comerciais são um sinal
um estoque de capital futuro menor. Em uma economia aber- de desenvolvimento econômico. Por exemplo, a Coréia do Sul
ta, a poupança baixa leva a um déficit comercial e uma cres- teve vultosos déficits comerciais ao longo da década de 1970, e
cente dívida externa, que eventualmente terá de ser paga. Nos tomou-se uma das histórias de sucesso de crescimento econômi-
dois casos, o elevado consumo corrente leva a um consumo co. A lição é que não se pode julgar o desempenho econômico
futuro menor, fazendo com que as gerações futuras arquem com apenas pela balança comercial. Em vez disso, devem-se procurar
o fardo da poupança nacional baixa. as causas básicas dos fluxos internacionais.

ESTUDO DE CASO ~ - - - - - - - - - - - - - - .
0 DÉFICIT COMERCIAL DOS ESTADOS UNIDOS podemos esquecer que o déficit comercial é a diferença entre
Durante as décadas de 1980 e 1990, os Estados Unidos tive - poupança e investimento.
ram enormes déficits comerciais. O gráfico (a) da Fig. 5-6 do- O começo do déficit comercial coincidiu com uma queda
cumenta essa experiência, mostrando as exportações líquidas da poupança nacional. Essa ocorrência pode ser explicada pela
como um percentual do PIB. O tamanho exato do déficit co- política fiscal expansionista da década de 1980. Com o apoio
mercial oscilou ao longo do tempo, mas foi considerável du- do presidente Reagan, o Congresso dos Estados Unidos apro-
rante essas duas décadas. Em 2000, o déficit comercial era de vou, em 1981, uma legislação que reduzia substancialmente o
$371 bilhões, ou 3,7% do PIB. Como as identidades das con- imposto de renda de pessoas físicas, ao longo dos três anos se-
tas nacionais exigem, esse déficit comercial tem de ser financi, guintes. Como esses cortes fiscais não foram acompanhados de
ado por empréstimos do exterior (ou, de modo equivalente, pela cortes correspondentes nos gastos do governo, o orçamento
venda de ativos dos Estados Unidos no exterior) . Durante esse federal tornou-se deficitário. Esses déficits orçamentários figu,
período, o país passou de maior credor do mundo para o maior raram entre os maiores já experimentados em período de paz e
devedor do mundo . prosperidade, e continuaram muito depois que Reagan deixou
O que causou o déficit comercial dos Estados Unidos? Não a presidência. De acordo com o nosso modelo, essa política
há uma explicação isolada. Mas, para compreender algumas das econômica deve reduzir a poupança nacional, causando assim
forças em ação, ajuda examinarmos a poupança e o investimen- um déficit comercial. E, na verdade, foi exatamente o que acon-
to internos, como é mostrado no gráfico (b) da figura. Não teceu. Como o orçamento do governo e a balança comercial
A ECONOMIA ABERTA 85

(a) Balança Comercial dos EUA


Percentual 2
do PIB
Superávít

-1 l)\
-2
\./ / \
Déficit Balança comercial ~
-3

-4

-5 '-~~----'---~~~.L.._~~-----'-~~~-'-~~----L~~~...,_~~--'~~~--'--
e 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000
a Ano

(b) Poupança e Investimento nos EUA


Percentual 20
s do PIB
19
18
;;
/':
~ ;
17 l
t
16
15
)

r 14
Poupança /
13

12
11
1
10
19 60 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000
Ano

Fig 5.6 Balança Comercial, Poupança e Investimento: A Experiência dos Estados Unidos O gráfico (a) mostra a balança comercial como
um percentual do PIB Os números positivos representam um superávit, e os números negativos representam um déficit. O gráfico (b) mostra a
poupança e o investimento nacionais como um percentual do PIB desde 1960, A balança comercial é igual a poupança menos investimento.
Fome: U. S. Department of Commerce.

tomaram-se deficitários, mais ou menos na mesma ocasião, esses nal da década de 1990, elevou as rendas, aumentando ainda
problemas foram chamados de défiws gêmeos. mais a receita fiscal. Essas mudanças transformaram o orçamen-
As coisas começaram a mudar na década de 1990, quando o to federal norte-americano de deficitário em superavitário, o
governo federal dos Estados Unidos tratou de reparar o proble- que, por sua vez, elevou a poupança nacional.
ma fiscal. O primeiro presidente Bush e o presidente Clinton Em contraste com o que o nosso modelo prevê, o aumento
assinaram leis de aumento de impostos, ao mesmo tempo em da poupança nacional não coincidiu com uma redução do dé-
que o Congresso tratava de conter os gastos. Além dessas mu- ficit comercial, porque o investimento interno subiu ao mes-
danças políticas, um rápido aumento da produtividade, ao fi- mo tempo. A explicação provável é que a súbita difusão da
---
86 CAPITULO 5
l'
tecnologia da comunicação causou uma mudança expansionista A história do déficit comercial dos Estados Unidos mostra
na função investimento dos Estados Unidos. Embora a políti- que essa estatística, por si só, não nos diz muito sobre o que está
ca fiscal já estivesse pressionando o déficit comercial para o su- acontecendo na economia. Temos de examinar mais a fundo a
perávit, o crescimento do investimento foi uma força ainda poupança, o investimento e as políticas econômicas e eventos
maior, pressionando a balança comercial para o déficit. que fazem com que ambos mudem ao longo do tempo.

5-3 TAXAS DE CÂMBIO


Depois de examinar os fluxos internacionais de capital e de ( 120 ienes /dólar) X
bens e serviços, vamos agora ampliar a análise, considerando Taxa de Câmbio (10.000 dólares/Carro Americano)
os preços aplicados a essas transações. A taxa de câmbio entre Real (2.400.000 ienes/Carro Japonês)
dois países é o preço ao qual os residentes desses dois países
efetuam transações uns com os outros. Nesta seção, exami-
=0 5
Carro japonês
naremos primeiro o que exatamente a taxa de câmbio mede, ' Carro Americano
e depois verificaremos como as taxas de câmbio são determi-
A esse preço e essa taxa de câmbio, obtemos metade de um carro
nadas.
japonês por carro americano. Em termos mais gerais, podemos
escrever esse cálculo como
TAXAS DE CÂMBIO NOMINAL E REAL
Taxa de Câmbio Nominal X
Os economistas distinguem entre duas taxas de câmbio: a taxa
Taxa de Câmbio Preço do Bem Doméstico
de câmbio nominal e a taxa de câmbio real. Analisaremos uma
de cada vez e verificaremos como se relacionam entre si. Real Preço do Bem Estrangeiro
A taxa à qual trocamos os bens estrangeiros e nacionais depende
A Taxa de Câmbio Nominal A taxa de câmbio nominal é o dos preços nas moedas locais e da taxa a que essas moedas são
preço relativo das moedas de dois países. Por exemplo, se a taxa trocadas.
de câmbio entre o dólar americano e o iene japonês é de 120 Esse cálculo da taxa de câmbio real por um único bem suge-
ienes por dólar, você pode trocar um dólar por 120 ienes nos re como devemos definir a tax.a de câmbio real para uma cesta
mercados mundiais de câmbio. Um japonês que quisesse obter de bens mais ampla. Sejam e a taxa de câmbio nominal (o nú-
dólares pagaria 120 ienes para cada dólar que comprasse. Um mero de ienes por dólar), P o nível de preços dos Estados Uni-
americano que quisesse obter ienes receberia 120 ienes para dos (medido em dólares) e P* o nível de preços do Japão (me-
cada dólar. Quando as pessoas se referem à "taxa de câmbio" dido em ienes). Então, a taxa de câmbio real E é
entre dois países, em geral estão falando da taxa de câmbio no-
minal. Taxa de Taxa de Proporção de
Câmbio = Câmbio X Níveis
Real Nominal de Preço
A Taxa de Câmbio Real A taxa de câmbio real é o preço
relativo dos bens de dois países. Ou seja, a taxa de câmbio real
E = e X (P/P* ).
indica a taxa à qual podemos trocar bens de um país por bens A taxa de câmbio real entre dois países é calculada a partir da
de outro. A taxa de câmbio real é às vezes chamada de termos taxa de câmbio nominal e dos níveis de preços dos dois países.
de troca. Se a taxa de câmbio real é elevada, os bens estrangeiros são relari-
Para compreender a relação entre as taxas de câmbio real e vamente baratos, e os bens domésticos são relativamente caros. Se
nominal, considere um único bem produzido em muitos paí- a taxa de câmbio real é baixa, os bens estrangeiros são relatit•amen-
ses: carros. Suponha que um carro americano custe $10.000, te caros, e os bens domésticos são relativamente baratos.
enquanto um carro japonês similar custe 2.400.000 ienes. Para
comparar os preços dos dois carros, devemos convertê-Los em
A TAXA DE CÂMBIO REAL E A BALANÇA
uma moeda comum. Se um dólar vale 120 ienes, então o carro
americano custa 1.200.00 ienes. Comparando ó preço do car- COMERCIAL
ro americano (1.200.000 ienes) e o preço do carro japonês Qual a influência macroeconômica da taxa de câmbio real? Para
(2.400.000 ienes), concluímos que o carro americano custa responder a essa pergunta, lembre-se de que a taxa de câmbio
metade do que custa o carro japonês. Em outras palavras, aos real nada mais é que um preço relativo. Assim como o preço
preços correntes, podemos trocar dois carros americanos por um relativo de hambúrgueres e pizzas determina o que você esco-
japonês. lhe para almoçar, o preço relativo dos bens internos e externos
Podemos resumir nosso cálculo da seguinte maneira: afeta a demanda desses bens.
A ECONOMIA ABERTA 87

·a

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-~--,-/,;;,t. :;:,.,'.;".·;·,
:~~ :~ ~'.:l ~~~:• ~:~
.1 .. "•i", •'"!· r • ·. ·•, i.
.: 4e·~bl~·-
lS f. •

Você pode encontrar informações sobre as taxas de câmbio sempre expressa a taxa de câmbio em unidades de moeda
_J nominais todos os dias em muitos jornais. Aqui está como corrente estrangeira por dólar.
essas taxas são apresentadas no Wall Street]oumal. A taxa de câmbio nessa quinta-feira, de 116,29 ienes por
Observe que cada taxa de câmbio é informada de duas dólar, estava abaixo da taxa de 117 ,67 ienes por dólar do dia
maneiras. Na quinta-feira do anúncio, um dólar comprava anterior. Essa queda na taxa de câmbio é chamada de desva-
116,29 ienes, e um iene comprava 0,008599 dólar. Podemos lorização do dólar; um aumento na taxa de câmbio é chama-
dizer que a taxa de câmbio é de 116,29 ienes por dólar, ou do de valorização. Quando a moeda doméstica se desvalori-
podemos dizer que a taxa de câmbio é 0,008599 dólar por za, compra menos da moeda estrangeira; e quando se valo-
iene. Como 0,008599 é igual a 1/116,29, as duas maneiras riza, compra mais.
de expressar a taxa de câmbio são equivalentes. Este livro

CURRENCYTRADING
o Thursday, September 20, 2001 U.S. $ EOIIIV. CURREMCY 1'1:R U.S. $
)S Thu Wad Thu Wed
EXCHANGE RATES Count~
The. foreign exchange mid-range rates be.low apply to trading Japan ) .008599 .008498 116.29 117.57
amoi,g ba11ks ln amounts of $1 mil!iori and more , as quoted at 1-mon1h forward .008618 .008517 116.04 117.41
4 p.m. Ei1Stern time by Rueters ;and Other sources. Retail 3-months lorward .008655 .008553 115.53 \16.92
transactions provide fewer unics of foreign· curn:ncy per dollar. 6-months lorward .008707 .008603 114,85 11 6.23
Rans for the 12 Euro cul'r'l!:ncy countries are derived from the Jordan (Dinar) 1.4069 1.4069 .7108 .7108
latest ·dollar-eum rate using the exchange ratim; set 1 / 1 /99. Kuwait (Dinar) 3.2830 3.2841 .3046 .3045
U.S. S EQUIV. CURRENCY PER U.S. $ Lebanon (Pound) .0006604 .0006604 1514.25 1514.25
Country Thu Wed Thu Wed Malaysi& (Ringgi\)-b .2632 .2632 3.8000 3.8000
Argentina (Peso) 1.0002 1.0003 .9998 .9997 Malta(Lira) 2.ns 2.2774 .4390 .4391
Australla (Dollar) .4932 4931 2.0274 2.0278 MHico (Peso)
Austrla (Schilling) .06740 .06735 14.837 14.848 Floating rate .1 055 .\060 9.4825 9.4325
e Bahraln (Dinar) 2.6525 2.6518 .3770 .3771 Netheilands (Guilder) .4209 .4205 2.3761 2.3779
Belglum (Franc) .0230 .0230 43.4955 43.5284 New leeland 1Dollar) .4128 .4122 2.4225 2.4260
o Braztl (Real) .3612 .3699 2.7685 2.7035 No,way (Krone) .1169 .1169 8.5530 B.5551
Brttain (Pound) 1.4671 1.4684 .6816 .6810 Pekisten (Rupee) .01559 .01 559 64.150 64.150
1-monlh forward 1.4648 1.4658 .6827 .6822 Peru {new So1J .2857 .2857 3.5005 3.5003
3-monlhs forward 1.46(13 1.4615 .6848 .6842 Phiílppines ( eso) .01949 .01946 51.300 51.375
6-months lorward 1.4540 1.4549 .6878 .6873 Poland {Zloty)-o .2404 .2382 4.1600 4.1 975
a Canada (Dollar) .6364 .6376 1.571 3 1.5683 Portugal (Escudo) .004626 .004623 216.16 216.33
1-monlh forward .6359 .6371 1.5725 1.5696 Russla (Rllble)-a .03399 .03397 29.422 29.442
1- Saudl Arabla (R~al) .2il&l .2666 3.7508 3.7505
3-monlhs lorward .6354 .6365 1.5739 1.5712
L- 6-mon1hs forward .6348 .6359 1.5752 1.5725 Slngaporé (Dollar) .5758 .5749 1.7368 1.7395
Chile (Peso) .001440 .001449 694.55 690.15 Slovak Rep. (Koruna) .02116 .02118 47.253 47.219
China (Renminbi) .1208 1208 8.2766 8.2766 Soulh Afrlca (Aand) .1149 .1 156 8.6998 8.6478
Co!ombta (Peso) .0004269 .0004264 2342.50 2345.00 South Korea (Won) .ooom4 0007740 1293.00 1292.00
Czech. Rep. (Korunaj Spain (Peseta) .005574 .005570 179.40 179.54
Commercial rate .02704 .02716 36.985 36.822 Sweden (Krona) 0942 .0952 10.6178 10.5030
.1246 .1245 8.0260 8.0315 Swltzerland (Franc) 6303 .6260 1.5865 1.5974
Denmart trone) .6302 .6259 1.5Bll7 1.5977
Ecuador ( S Oollar)-e 1.0000 1.0000 1.0000 1.0000 l-morlh lorward
Flnland [Marllka) .1 560 ,1559 6.4108 6.4157 3-morlhs loiward .6301 .6258 1.5870 1.5980
France (Franc) .1414 .1413 7.0727 7.0780 6-monlhs f01Ward .6303 .6259 1.5866 1.5977
1-morlh forward ,1413 ,1412 7.0794 7.0846 Taiwan (Dollar) .02894 .02895 34.560 34.540
3-monlhs lorward .1410 ,1409 7.0921 7.0970 Thalland [Bahl} .02266 .02265 44.1 40 44.150
6-morlhs lorward .1407 .1406 7.1 088 7.1 146 Turkey (Lira)-! .00000066 .00000066 1520000 1504000
Gennany (Mark) .4742 .4738 2.1 088 2.11 04 United Arab (Dimam) .2723 .2723 3.6730 3.6728
a 1-morlhforward .4738 .4734 2.1108 2.1124 Uruguay (New Pl;so)
3-morlhs lorward .4729 .4726 2.1 146 2.11 61 Financial .07278 .07278 13.740 13.740
;, 6-morlhs lorward .4718 .4714 2.1196 2.121 4 Venezuela (Bolivar) ,001345 .001345 743.25 743.25
Gree<:e (Drachma) .002722 .002720 367.41 367.70 SDR 1.2945 1.2950 .7725 .7722.
Hong KontDollar) .1282 ,1282 7.7995 7.7992 Euro .9275 ,9268 1.0782 1.0790
e Hungary ( 1111)
lndla (Aupee)
.003589
.02084
.003592
.02083
278.67
47.980
278.40
48.010
Special Drawing Rights (SDR) are based on excha.nge rates for
the U.S., German, British. French, and Japanese currencies .
lndonesia (Rupiah) .0001059 .0001041 9445 9605 Source: lntemational Monecary F1.md.
lreland (Punt) l.1776 1.1767 .8492 8498 a-Russian Central Bank rate. b-Govemment rate. d-Floating
Israel (Shekel) .2297 .2304 4.3541 4.3400 rate.; trading bar,d suspe11ded on 4/11/00. e-Adopted U.S .
llaly(Ura) .0004790 .0004786 2087.74 2089.31 dollar as of 9/11 / 00. f-Floacing rate, eff. Feb. 22.

Sowcec Wa/1 Streetjo11rnal, Friday, September 21, 2001. Reprinred by permission ofthe Wa/1 Streetjournal,
© 2001 Dow Jones & Company, lnc. Ali Righcs Reserved Worldwide.

a
Q

Q Suponha primeiro que a taxa de câmbio real seja baixa. Nes- Heineken, e passarão as férias na Flórida em vez de na Europa.
se caso, como os bens domésticos são relativamente baratos, os Pelo mesmo motivo, os estrangeiros vão querer comprar muitos
,s residentes do país vão querer comprar poucos bens importados: dos nossos bens. Em conseqüência dessas escolhas, a demanda
comprarão Fords em vez de Toyotas, beberão Coors em vez de pelas nossas exportações líquidas será elevada.
88 CAPÍTULO 5
r
Ocorre o oposto se a taxa de câmbio real for alta. Como os A Fig. 5-8 ilustra essas duas condições. A curva que mostra a
bens domésticos são caros em relação aos bens estrangeiros, os relação entre exportações líquidas e taxa de câmbio real é ne-
residentes do país comprarão muitos bens ii:nportados, enquanto gativamente inclinada, porque uma taxa de câmbio real baixa
os estrangeiros comprarão poucos produtos nossos. Portanto, a faz com que os bens domésticos tornem-se relativamente bara-
demanda por nossas exportações líquidas será menor. tos . A curva que representa o excesso de poupança sobre in-
Escrevemos essa relação entre a taxa de câmbio real e as vestimento, S - I, é vertical porque nem a poupança nem o
exportações líquidas como investimento dependem da taxa de câmbio real. A intercessão
NX = NX(e.). dessas duas linhas determina a taxa de câmbio de equilíbrio.
A Fig. 5-8 parece um gráfico comum de oferta e demanda.
Esta equação enuncia que as exportações líquidas são uma fun- Na verdade, pode-se pensar nele como representando a oferta
ção da taxa de câmbio real. A Fig. 5-7 ilustra essa relação ne- e a demanda de moeda estrangeira. A curva vertical, S - 1, re-
gativa entre a balança comercial e a taxa de câmbio real. presenta o fluxo líquido de capital; ou seja, a oferta de dólares
a ser trocada por moeda estrangeira e investida no exterior. A
ÜS DETERMINANTES DA TAXA DE CÂMBIO curva negativamente inclinada, NX, representa a demanda lí-
quida por dólares, vinda de estrangeiros que querem dólares para
REAL comprar bens norte-americanos. À taxa de câmbio real de equi-
Temos agora todas as peças necessárias para construir um mo- lílrrio , a oferta de dólares dispon{vel do fiuxo líquido de capital equi-
delo que explica quais fatores determinam a taxa de câmbio libra a demanda por dólares de estrangeiros para comprar exporta-
real. Em particular, combinamos a relação entre exportações ções líquidas dos EUA.
líquidas e a taxa de câmbio real, que acabamos de analisar,
com o modelo da balança comercial, que desenvolvemos an-
tes neste capítulo. Podemos resumir a análise da seguinte
COMO AS POLÍTICAS ECONÔMICAS
maneira: INFLUENCIAM A TAXA DE CÂMBIO REAL
>- A taxa de câmbio real é relacionada com as exportações Podemos adotar esse modelo para mostrar como as mudanças
líquidas. Quando a taxa de câmbio real é mais baixa, os da política econômica discutidas antes afetam a taxa de câm-
bens domésticos são menos caros em relação aos bens es- bio real.
trangeiros, e as exportações líquidas são maiores.
>- A balança comercial (exportações líquidas) deve igua- Política Fiscal Interna O que acontece com a taxa de câm-
lar o fluxo líquido de capital para o exterior, que por sua bio real se o governo reduz a poupança nacional pelo aumento
vez é igual a poupança menos investimento. A poupan- das compras do governo ou pelo corte de impostos? Comores-
ça é determinada pela função consumo e pela política saltamos antes, essa redução da poupança diminui S - l e, em
fisca l; o investimento é determinado pela função inves- conseqüência, NX. Ou seja, a redução da poupança causa um
timento e pela taxa de juros internacional. déficit comercial.

Taxa de câmbio
real, e

NX(E)

O Exportações líquidas, NX

Fig. 5-7 Exportações Líquidas e a Taxa de Câmbio Real O gráfico mostra a relação entre a taxa de câmbio real e as exportações líquidas:
quanto mais baixa a taxa de câmbio real. menos caros são os bens internos em relação aos bens externos, e assim as exportações líquidas são mai-
ores. Observe que uma parte do eixo horizontal mede valores negativos de NX como as importações podem exceder as exportações, as exportações
líquidas podem ser menores do que zero.
r A ECONOMIA ABERTA 89

a Taxa de câmbio
real, E
a
1-

o
o

l.
a Taxa de
câmbio real
de equillbrio
·s
NX(e)
\
Exportações líquidas, NX
a
Fig. 5-8 Como a Taxa de Câmbio Real É Determinada A taxa de câmbio real é determinada pela interseção da curva vertical, que.representa
poupança menos investimemo, e a curva negativamente inclinada das exportações liquidas. Nessa interseção, a quantidade de dólares oferecida
para o fluxo de capital externo iguala a quantidade de dólares demandada para a exportação líquida de bens e serviços.

A Fig. 5-9 mostra como a taxa de câmbio real de equilíbrio Política Fiscal Externa O que acontece com a taxa de câm-
ajusta-se para fazer com que NX caia. A mudança da política bio real se os outros governos aumentarem as compras de go-
fiscal desloca a curva vertical S - 1 para a esquerda, diminuin- verno ou cortarem impostos? Essa mudança da política fiscal
s do a oferta de dólares a serem investidos no exterior. A oferta reduz a poupança internacional e aumenta a taxa de juros in-
mais baixa faz com que a taxa de câmbio real de equilíbrio suba ternacional. O aumento da taxa de juros internacional reduz o
de e 1 para Ec, ou sej a, o dólar torna-se mais valios,}. Por causa ilwestimenro interno I, o que aumenta S - 1 e, logo, NX. Ou
do aumento do valor do dólar, os bens domésticos tornam-se seja, o aumento da taxa de juros internacional causa um supe-
mais caros em relação aos bens estrangeiros, o que faz com que rávit comercial.
,)
as exportações caiam e as importações subam. As variações das A Fig. 5-10 mostra que essa mudança da política fiscal des-
exportações e das importações atuam para reduzir as exporta- loca a curva vertical S - 1para a direita, aumentando a oferta
l
ções 1íq u idas. de dólares a serem investidos no exterior. A taxa de câmbio real
l

Taxa de câmbio
real, E 1. Uma redução da
poupança reduz a
oferta de dólares, .. .

2 . ... o E
2
que
aumenta _j
a taxa de 1
câmbio E 1
real...

NX2 T NX, Exportações líquidas, NX


3 . ... e causa uma
quedadas
exportações /(quidas.

Fig. 5-9 O Impacto da Política Fiscal Expansionista Interna na Taxa de Câmbio Real A política fiscal expansionista interna, tal como um
aumento das compras do governo ou um corte dos impostos, reduz a poupança nacional. A queda da poupança reduz a oferta de dólares a serem
trocados por moeda estrangeira, de S: - I para S2 - I. Essa mudança aumenta a taxa de câmbio real de equilíbrio de 1:, para Ez.
90 CAPITULO 5
T
Taxa de câmbio
real, E 1. Um aumento das taxas
de juros internacionais
reduz o investimento,
o que aumenta a
oferta de dólares, ...

2 . ... causa
a queda da
taxa de
câmbio
real...
NX, -r+ NX2 Exportações líquidas, NX
3 . ... e aumenta
as exportações
lfquidas.

Fig. 5-10 O Impacto da Política Fiscal Expansionista Externa na Taxa de Câmbio Real A politica fis cal expansionista externa reduz a
poupança internacional e aumenta a taxa de juros internacional de r; para r~. O aumento da taxa de juros internacional reduz o investimento no
país, o que, por sua vez, aumenta a oferta de dólares a serem trocados por moedas estrangeiras. Em conseqüência, a taxa real de juros de equilíbrio
cai de E: para E; ,

de equilíbrio cai. Ou seja, o dólar toma-se menos valioso, e os crédito fiscal para o invest imento? A uma dada taxa de juros
ben s internos to m am-se menos caros em relação aos bens ex- internacional, o aumento da demanda por investimento leva
ternos. a um investimen to maior. Um valor superior de I significava-
lores mais baixos de S - I e NX. O u seja, o aumento da de-
Mudanças da Demanda por Investimento O que acon - manda por investimento causa um déficit comercial.
tece com a taxa de câmbio real se a demanda interna por in - A Fig. 5-11 mostra que o aumento da demanda por investi-
vestimento aumenta, digamos , porque o Con gresso aprova um mento desloca a curva vertical S - 1 para a esquerda, reduzín-

Taxa de câmbio
real, E 5- /1
1. Um aumento do
~ -+-- investimento reduz
a oferta de dólares, .. .

2 . ... O E
2
que
aumenta
a taxa -t
de câmbio.. . E1

NX2 T NX1 Exportações líquidas, NX

3. .. .e reduzas
exportações lfquidas.

Fig. 5-11 O Impacto de um Aumento da Demanda por Investimento sobre a Taxa de Câmbio Real Um aumento da demanda por inves-
timento eleva a quantidade de investimento interno de I1 para I2• Em conseqüência, a oferta de dólares a serem trocados por moedas estrangeiras cai
de S - I1 para S - 12. Essa diminuição da oferta aumenta a taxa de câmbio real de equilibrio de E 1 para E2.
r
A EcONOMIA ABERTA 91

do a oferta de dólares a serem investidos no exterior. A taxa de No novo equilíbrio, a taxa de câmbio real é mais elevada, o nível
câmbio real de equilíbrio sobe. Assim, quando o crédito fiscal de equilíbrio das exportações líquidas permanece o mesmo, a
ao investimento toma mais atraente investir nos Estados Uni- taxa de câmbio real é maior, e as exportações líquidas perma-
dos, também aumenta o valor dos dólares americanos necessá- necem constantes. Apesar do deslocamento da curva de expor-
rios para se fazer esses investimentos. Quando o dólar se valo- tações líquidas, seu nível de equilíbrio permanece o mesmo,
riza, os bens domésticos tomam-se mais caros em relação aos porque a política protecionista não altera a poupança nem o
bens estrangeiros, e as exportações líquidas caem. investimento.
Esta análise mostra que as políticas comerciais protecionis-
tas não afetam a balança comercial. Está surpreendente con-
Os EFEITOS DAS POLÍTICAS COMERCIAIS clusão é com freqüência ignorada no debate público sobre po-
Agora que temos um modelo que explica a balança comercial líticas comerciais. Como um déficit comercial reflete um ex-
e a taxa de câmbio real, contamos com os instrumentos para cesso de importações sobre exportações, pode-se imaginar que
examinar os efeitos macroeconômicos de políticas comerciais. uma redução das importações - como ocorre com a proibição
Definidas em termos gerais, as políticas comerciais são da importação de carros estrangeiros - reduziria o déficit co-
projetadas para influir diretamente n a quantidade de bens e mercial. Contudo, nosso modelo mostra que as políticas prote-
serviços exportados ou importados. Com baseante freqüência, cionistas levam apenas a uma valorização da taxa de câmbio
as políticas comerciais assumem a forma de proteção às indús- real. O aumento no preço dos bens internos em relação aos bens
trias internas contra a concorrência externa, ao se aplicar um externos tende a diminuir as exportações líquidas ao estimular
imposto sobre as importações estrangeiras ( uma tarifa), oures- as importações e desestimular as exportações. Assim, a valori-
a
tringir a quantidade de bens e serviços que se pode importar zação contrabalança o aumento das exportações líquidas que
(uma quota). se pode atribuir diretamente à restrição comercial.
Como um exemplo de política comercial protecionista, Embora não alterem a balança comercial, as políticas comer-
imagine o que aconteceria se o governo proibisse a importação ciais protecionistas afetam o volume de comércio. Conforme
de carros estrangeiros. A qualquer taxa de câmbio real dada , as já ressaltamos, como a taxa de câmbio real se valoriza, os bens
importações seriam agora menores, indicando que as exporta- e serviços que produzimos tornam-se mais caros em relação aos
s ções líquidas (exportações menos importações) seriam maio- bens e serviços estrangeiros. Portanto, exportamos menos no
:l res. Assim, a curva de exportações líquidas desloca-se para a novo equilíbrio. Como as exportações líquidas permanecem
direita, como na Fig. 5-12. Para verificar os efeitos da política inalteradas, devemos também importar menos. (A valorização
comercial, comparamos o antigo equilíbrio e o novo equilíbrio. da taxa de câmbio estimula as importações até certo ponto, mas

Taxa de câmbio
real, E
S- /

1. Polfticas protecionistas
aumentam a demanda
por exportações lfquidas ...
2 . ... e ~E2 •........•......

aumentam
a taxa de
camb10... E
1

3 . ... , mas deixam


inalteradas as
exportações liquidas.

Fig. 5-12 O Impacto de Políticas Comerciais Protecionistas na Taxa de Câmbio Real Uma política comercial protecionista, como uma
barreira à importação de carros, desloca a curva de exportações líquidas de NX(E) 1 para NX(e) 2, o que aumenta a taxa de câmbio real de E 1 para E2.
Observe que, apesar do deslocamento da curva de exportações líquidas, o nível de equilíbrio das exportações líquidas permanece inalterado.
--
92 CAPÍTULO 5

isso apenas contrabalança em parte a queda nas importações preço japonês P* subir, a taxa de câmbio nominal aumentará:
causada pela restrição comercial.) Assim, as políticas proteci- como um iene vale menos, um dólar comprará mais ienes.
onistas reduzem tanto a quantidade de importações quanto a É instrutivo considerar as variações da taxa de câmbio ao
quantidade de exportações. longo do tempo. A equação da taxa de câmbio pode ser escrita
Essa queda do volume total de comércio é o motivo pelo qual como
os economistas quase sempre se opõem a políticas protecionis-
% Variação de e= % Variação de e.+ % Variação de P* -
tas. O comércio internacional beneficia todos os países, possi-
- % Variação de P.
bilitando que cada um se especialize no que produz melhor e
proporcionando a cada país uma variedade maior de bens e A variação percentual de e. é a variação da taxa de câmbio real.
serviços. As políticas protecionistas diminuem esses ganhos do A variação percentual de P é a taxa de inflação interna 1T, e a
comércio. Embora essas políticas beneficiem determinados gru- mudança de porcentagem em P* é a taxa de inflação no outro
pos dentro da sociedade - por exemplo, uma proibição da im- país 1r* . Assim, a variação percentual da taxa de câmbio nomi-
portação de carros ajuda os produtores de carros internos-, nal é
em média a sociedade fica pior quando as políticas reduzem o
% Variação de e=% Variação de E+ (1r* - 1T)
volume de comércio internacional.
Variação Variação
ÜS DETERMINANTES DA TAXA DE CÂMBIO
P~rcentual da = Percentual da + Diferenças das
Taxa de Câmbio Taxa de Câmbio Taxas de
NOMINAL Nominal Real inflação.
Depois de verificar o que determina a taxa de câmbio real, va-
mos agora concentrar nossa atenção na taxa de câmbio nomi- Esta equação enuncia que a variação da taxa de câmbio n.o-
nal, a taxa à qual as moedas correntes de dois países são trocadas. mina l entre as moedas de dois países é igual à variação
Lembre-se da relação entre taxa de câmbio real e taxa de câm- percentual da taxa de câmbio real mais a diferença das taxas
bio nominal: de inflação. Se um país tem uma alta taxa de inflação em relação
aos Estados Unidos, um dólar comprará uma quantidade cada vez
Taxa de Taxa de Proporção de maior da moeda estrangeira ao longo do tempo. Se o outro país
Câmbio Câmbio X Níveis tem uma taxa de inj1.ação baixa em relação aos Estados Unidos,
Real Nominal de Preços um dólar comprará uma quantidade cada vez menor de sua moe-
E e X (P/P*). da ao longo do tempo.
Podemos escrever a taxa de câmbio nominal como Essa análise mostra como a política monetária afeta a taxa
de câmbio nominal. Sabemos, do Cap. 4, que uma expansão
e =E X (P*/P). monetária elevada leva a uma inflação elevada. Aqui, acaba-
Esta equação mostra que a taxa de câmbio nominal depende da mos de verificar que uma conseqüência da inflação elevada é
taxa de câmbio real e dos níveis de preços dos dois países. Dado uma moeda corrente em depreciação: alto 1T indica queda em
o valor da taxa de câmbio real, se o nível de preços interno P e. Em outras palavras, assim como o crescimento da quantida-
sobe, a taxa de câmbio nominal e cairá: como um dólar vale de de moeda afeta o preço de bens medido em termos monetá-
menos, um dólar comprará menos ienes. Contudo, se o nível de rios, também tende a aumentar o preço de moedas estrangei-
ras , medido em termos da moeda interna.

ESTUDO DE CASO - - - - - - - - - - - - -
INFLAÇÃO E TAXAS DE CÂMBIO NOMINAIS dia de cada país e a taxa de inflação média dos Estados Uni-
Se examinarmos os dados sobre taxa de câmbio e níveis de preço dos (,rr* - 1T). No eixo vertical está a variação percentual
de diferentes países, logo compreenderemos a importância da média da taxa de câmbio entre a moeda corrente de cada país
inflação para explicar mudanças na taxa de câmbio nominal. e o dólar norte-americano ( variação precentual de e). A re-
Os exemplos mais eloqüentes vêm de períodos de inflação muito lação positiva entre essas duas variáveis é clara nessa figura.
alta. Por exemplo, o nível de preços do México subiu em Os países com inflação relativamente alta tendem a ter moe-
2.300% de 1983 a 1988. Por causa da inflação, o número de das desvalorizadas (um norte-americano pode comprar mais
pesos que urna pessoa podia comprar com um dólar norte-ame - com seus dólares, ao longo do tempo), enquanto os países com
ricano passou de 144 em 1983 para 2.281 em 1988. inflação relativamente baixa tendem a ter moedas valoriza-
A mesma relação se aplica a países com inflação mais mo- das (um norte-americano pode comprar menos com seus dó-
derada. A Fig. 5-13 é um gráfico de dispersão que mostra a lares, aó longo do tempo).
relação entre inflação e a taxa de câmbio em 15 países. No Como um exemplo, considere a taxa de câmbto entre mar-
eixo horizontal está a diferença entre a taxa de inflação mé- cos alemães e dólares norte-americanos. Tanto a Alemanha
A ECONOMIA ABERTA 93

Variação 10
percentual 9
da taxa 'li•
A(rica do Sul
de câmbio 8
nominal 7
6 Desvalorização
Itália
5 :t, em relação ao
Nova Zelândia ;, dólar norte-americano
4
Austrália f' Espanha
3 Suécia
'''Irlanda
2 Canadd
~
Reino Unido
1 França
Bélgica
o ~ -1-------------- - - - ------<
- 1 Alemanha :. Valorização
Holanda
-2 em relação ao
Su1ço
dólar norte-americano
- 3 Japão
- 4
-3 -2 -1 o 2 3 4 s 6 7 8
Diferencial de inflação

Fig. 5-13 Diferenciais de Inflação e a Taxa de Câmbio Este gráfico mostra a relação entre inflação e a taxa de câmbio nominal. O eixo horizon -
tal mostra a taxa de inflação média do país menos a taxa de inflação média dos Estados Unidos durante o período de 1972 a 2000. O eixo vertical é
)
a mudança percentual média da taxa de câmbio do país (por dólar norte-americano). durante esse período. A figura mostra que países com inflação
s relativa.mente alta tendem a ter moedas desvalorizadas, e que países com inflação relativa.mente baixa tendem a ter moedas valorizadas.
)
Fonte: International Financial Statistics.
<.
s
como os Estados Unidos experimentaram inflação ao longo dos dos Estados Unidos. Isso significa que o valor do marco caiu
últimos vinte anos. Portanto, tanto o marco quanto o dólar menos do que o valor do dólar. Portanto, o número de marcos
compram menos bens do que antes. Mas, como a Fig. 5-13 mos- alemães que você pode comprar com um dólar norte-america-
l
)
tra, a inflação da Alemanha foi mais baixa do que a inflação no vem caindo ao longo do tempo.

Ü CASO ESPECIAL DA PARIDADE DO PODER mentàriam o preço interno do trigo em relação ao preço exter-
no. Assim também, se um dólar pudesse comprar mais trigo no
DE COMPRA exterior do que internamente, os negociantes comprariam no
Uma hipótese famosa em economia, chamada de lei do preço exterior e venderiam internamente, forçando a baixa do preço
único, estabelece que o mesmo bem não pode ser \·endido por interno em relação ao preço externo. Ou seja, os negociantes
preços diferentes, em lugares diferentes, ao mesmo tempo. Se internacionais em busca de lucro fazem com que os preços do
1 um alqueire de trigo é vendido em Nova York por menos do trigo sejam os mesmos em rodos os países.
que em Chicago, seria lucrativo comprar trigo em Nova York Podemos interpretar a teoria da paridade do poder de com-
e depois vender em Chicago. Negociantes espertos aproveita- pra romando nosso modelo da taxa de câmbio real. A ação rá-
riam essa oportunidade; com isso, aumentaria a demanda por pida desses negociantes internacionais indica que as exporta-
s trigo em Nova York e aumentaria a oferta de trigo em Chica- ções líquidas são bastante sensíveis a pequenos movimentos na
go. Isso faria o preço suhir em Nova York e baixar em Chicago, taxa de câmbio real. Uma pequena diminuição do preço de bens
o que garante a equalização dos preços nos dois mercados. internos em relação aos bens externos - ou seja, uma peque-
A lei do preço único aplicada ao mercado internacional é na diminuição da taxa dé câmbio re al - faz com que os nego-
s chamada de paridade do poder de compra. Segundo essa lei, ciantes comprem bens internamente e vendam no exterior. De
1 se é possível a arbitragem internacional, então um dólar (ou modo semelhante, um pequeno aumento do preço relativo dos
qualquer outra moeda corrente) deve ter o mesmo poder de bens internos faz com que os negociantes importem bens do
compra em qualquer país. O argumento é o seguinte. Se um dó- exterior. Portanto, como a Fig. 5-14 mostra, a curva de expor-
lar pudesse comprar mais trigo internamente do que no exteri- tações líquidas muito pouco inclinada à taxa de câmbio real,
or, haveria oportunidades de lucrar pela compra do trigo inter- que iguala o poder de compra entre os países: qualquer peque-
3 no e sua venda externa. Os negociantes em busca de lucro au- na variação da taxa de câmbio real leva a uma grande mudan-
,
94 CAPÍTULO 5

Taxa de câmbio
real, E S-1

NX(e)

Exportações líquidas, NX

Fig. 5-14 Paridade do Poder de Compra A lei do preço único aplicado ao mercado internacional sugere que as exportações liquidas são bastante
sensíveis a pequenas variações da taxa de câmbio real. Essa sensibilidade elevada é refletida aqui por urna curva de exportações líquidas quase
horizontal.

ça das exportações líquidas. Essa extrema sensibilidade das ex- vel transportar cortes de cabelo. Segundo, até mesmo os bens
portações líquidas garante que o equilíbrio da taxa de câmhio comerciáveis nem sempre são substitutos perfeitos. Alguns
real esteja sempre próximo do nível que garante a paridade do consumidores preferem T oyotas, enquanto outros preferem
poder de compra. Fords. Assim, o preço relativo de Toyotas e Fords pode variar
A paridade do poder de coinpra tem duas implicações im- até certo ponto, sem deixar qualquer oportunidade de lucro na
portantes. Primeira, como a curva de exportações líquidas é arbitragem. Por esses motivos, a taxa de câmbio real realmen-
pouco inclinada, as mudanças da poupança ou do investimen- te varia ao longo do tempo.
to não influenciam a taxa de câmhio real ou nominal. Segun- Embora a teoria da paridade do poder de compra não des-
da, como a taxa de câmhio real é constante, rodas as mudanças creva o mundo com perfeição, pelo menos proporciona uma
da taxa de câmhio nominal resultam de mudanças dos níveis razão para que a variação da taxa de câmbio real seja limitada.
de preços. Há muita validade nessa lógica subjacente: quanto mais a taxa
Essa teoria de paridade de poder de compra é realista? A de câmbio real se afasta do nível previsto pela paridade dopo-
maioria dos economistas acredita que, apesar da sua lógica atra- der de compra, maior o incentivo para as pessoas se empenha-
ente, a paridade do poder de compra não proporciona uma rem na arbitragem internacional de bens. Emhora não possa-
descrição completamente acurada do mundo. Primeiro, mui- mos confiar na paridade do poder de compra para eliminar to-
tos bens não são trocados com facilidade. Um corte de cabelo das as variações da taxa de câmbio real, essa doutrina oferece
pode ser mais caro em Tóquio do que em Nova York, mas não um motivo para se esperar que as oscilações da taxa de câmhio
há espaço para a arbitragem internacional, porque é impossí- real sejam geralmente pequenas ou temporárias. 1

ESTUDO DE CASO
0 BIG MAC AO REDOR DO MUNDO guer Big Mac, do McDonald's. Segundo a paridade do poder
A teoria da paridade do poder de compra enuncia que deve- de compra, o preço de um Big Mac deve estar estreitamente
mos constatar, depois que ajustamos as taxas de câmbio, que relacionado com a taxa de câmbio nominal do país. Quanto
.os bens são vendidos pelo mesmo preço em toda parte. Inver- maior o preço de um Big Mac na moeda local, maior deve ser a
samente, diz que a taxa de câmbio entre duas moedas deve taxa de câmbio (medida em unidades da moeda local por dólar
depender dos níveis de preço nos dois países. americano).
Para verificar como essa teoria funciona, The Economist, uma A Tabela 5-2 apresenta os preços internacionais em 2000,
revista noticiosa internacional, coleta regularmente dados so- quando um Big Macera vendido a $2,51 nos Estados Unidos.
bre o preço de um bem vendido em muitos países: o hambúr- Com esses dados, podemos nos servir da teoria da paridade

1Para aprender mais sobre a paridade do poder de compra, veja Kenneth A. Froot e Kennech Rogoff, "Perspectives on PPP and Long-Run Real Exchange Rates",

em Gene M. Grossman e Kenneth Rogoff, eds., Handbook of Tmernational Economics , vol. 3 (Amsterdam: North-Holland, 1995 ).
A ECONOMIA ABERTA 95

Taxa de Câmbio
(por dólar norte-americano)

Preço de
País Moeda umBigMac Prevista Efetiva

Indonésia Rupia 14.500 5.777 7.945


It.ália Lira 4.500 1.793 2.088
Coréia do Sul Won 3.000 1.195 1.108
Chile Peso 1.260 502 514
Espanha Peseta 375 149 179
Hungria Forint 339 135 279
Japão Iene 294 117 106
Taiwan Dólar 70,0 27,9 30,6
Tailândia Baht 55,0 21,9 38,0
República Tcheca Coroa 54,37 21,7 39,1
Rússia Rublo 39,50 15,7 28,5
Dinamarca Coroa 24,75 9,86 8,04
Suécia Coroa 24,0 9,56 8,84
México Peso 20,9 8,33 9;41
França Franco 18,5 7,37 7,07
Israel Shekel 14,5 5,78 4,05
China Iuane 9,90 3,94 8,28
África do Sul Rand 9,0 3,59 6,72
Suíça Franco 5,90 2,35 1,70
Polônia Zloti 5,50 2,19 4,30
Alemanha Marco 4,99 1,99 2,11
Malásia Dólar 4,52 1,80 3,80
Nova Zelândia Dólar 3,40 1,35 2,01
Cingapura Dólar 3.20 1,27 1.70
Brasil Real 2,95 1,18 1,79
Canadá Dólar 2,85 1,14 1,47
Austrália Dólar 2,59 1.03 1,38
Estados Unidos Dólar 2,51 1,00 1.00
Argentina Peso 2,50 1,00 1,00
Grã-Bretanha Libra 1,90 0,76 0,63
Observação: A taxa de câmbio prevista é a taxa de câmbio que faria o preço de um Big Mac naquele país ser igual ao
preço nos Estados Unidos .
Fonte: TheEconomist, 29 de abril de 2000, 75.

do poder de compra para prever as taxas de câmbio nominais. previs ta estão mais ou menos no mesmo nível. Nossa teoria
Por exemplo, como um Big Mac custava 294 ienes no Japão, prevê, por exemplo, que um dólar americano deve comprar
podíamos prever que a taxa de câmbio entre o dólar e o iene o maior número de rupias indonésias e menos libras britâ-
era de 294/2, 51, ou 117 ienes por dôlar. A essa taxa de câm- nicas, o que é verdadeiro . No caso do Japão, a taxa de câm-
bio, um Big Mac custaria a mesma coisa no Japão e nos Esta- bio prevista de 11 7 ien es por dó lar está próxima da taxa efe -
dos Unidos. tiva, que é de 106 ienes. Contudo, as predições da teoria
A T abe la 5-2 mostra as taxas de câmb io previstas e efeti- estão longe de serem exatas e, em muitos casos, a diferença
vas para 30 países, classificados na ordem da taxa de câm- é de 30% ou mais. Por isso, embora proporcione um guia
bio prevista. Pode-se verificar que a ev idên cia da paridade aprox imado para o níve l das taxas de câmbio, a teoria da
do poder de compra é ambígua. Como as duas últimas colu- paridade do poder de compra não exp lica plenamente as
nas mostram, a taxa de câmbio efetiva e a taxa de câmbio taxas de câmbio.
--
96 CAPfTIJLO 5

5-4 CONCLUSAO: OS ESTADOS UNIDOS COMO UMA


ECONOMIA ABERTA GRANDE
Neste capítulo, vimos como funciona uma economia aberta pe- pio, os grandes déficits orçamentários norte-americanos fo-
quena. Já examinamos os determinantes do fluxo internacio- ram culpados pelas taxas de juros reais elevadas que prevale-
nal de fundos para acumulação de capital e o fluxo internacio- ceram no mundo inteiro durante a década de 1980. Segundo,
nal de bens e serviços. Também examinamos os determinan- o capital pode não ter uma mobilidade perfeita entre os paí-
tes das taxas de câmbio nominal e real de um país. Nossa aná- ses. Se as pessoas preferem manter sua riqueza em ativos in-
lise mostra como várias políticas econômicas - políticas mo- ternos em vez de ativos externos, os recursos para a acumula-
netárias, políticas fiscais e políticas comerciais - afetam a ção de capital não vão fluir livremente para igualar as taxas
balança comercial e a taxa de câmbio. de juros em todos os países. Por esses dois motivos, não pode-
A economia que estudamos é "pequena" no sentido de que mos aplicar diretamente o modelo da economia aberta peque-
sua taxa de câmbio é fixada pelos mercados financeiros mun- na aos Estados Unidos.
diais. Ou seja, presumimos que essa economia não afeta a taxa Ao analisar a política econômica de um país como os Esta-
de juros mundial, e que pode tomar emprestado e emprestar, à dos Unidos, precisamos combinar a lógica da economia fecha-
taxa de juros mundial. em montantes ilimitados. Esse pressu- da do Cap. 3 com a lógica da economia aberta pequena do
posto contrasta com o pressuposw que estabelecemos quando presente capítulo. O apêndice deste capítulo constrói um mo-
estudamos a economia fechada, no Cap. 3. Na economia fe- delo de uma economia entre esses dois extremús. Neste caso
chada, a taxa de juros interna equilibra a poupança interna e o intermediário, há empréstimos e tomadas de empréstimos in-
investimento interno, indicando que as políticas econômicas ternacionais, mas a taxa de juros não é fixada pelos mercados
que influem na poupança ou no investimento alteram a taxa financeiros interrnKionais. Em vez disso, quanto mais a eco-
de juros de equilíbrio. nomia toma emprestado do exterior, maior a taxa de juros que
Qual dessas análises deve ser aplicada a uma economia como deve oferecer aos investidores externos. Os resulr,1dos, nada
a dos Estados Unidos? A resposta é: um pouco das duas. Os Es- surpreendentes, são uma mistura dos dois casos extremos que
tados Unidos não são tão grandes nem tão isolados que sejam já examinamos.
imunes aos eventos que ocorrem no exterior. O s grandes défi- Considere, por exemplo, uma redução da poupança nacio-
cits comerciais das décadas de 1980 e 1990 mostram a impor- nal causada por uma expansão fiscal. Como na economia fe -
tância dos mercados financeiros internacionais para financia- chada, essa política econômica eleva a taxa de juros real e des-
rem o investimento nos Estados Unidos. Por isso, a análise de loca o investimento interno. Tal como na economia aherta
economia fechada do Cap. 3 não pode, por si mesma, explicar pequena, ramhém reduz o fluxo líquido de capital para o exte-
por completo o impacto de políticas econômicas na economia rior, le\'ando a um déficit comercial e valorização da taxa de
norte-americana. câmhio. Por isso, embora não descreva precisamente uma eco-
Contudo, a economia norte-americana não é tão pequena nomia como a dos Estados Unidos, o modelo da economia aher-
e tão aberta que a análise deste capítulo possa se aplicar com ta pequena examinado aqui proporciona a resposta certa aprn-
perfeição. Primeiro, os Estados Unidos são tão grandes que po- ximada para a maneira comú as políticas econômicas afetam ,1
dem influenciar os mercados financeiros mundiais. Por exem- halança comercial e a taxa de câmbio.

RESUMO
1. As exportações líquidas s5.t1 a diferença entre exportações e pacto na poupança e no in\' estimento. Políticas que au-
importações. São iguais à diferença entre o que produzimos mentam a poupança ou reduzem o in\'estimenro le\'am a
e o que demandamos para consumo, in\'eStimento e com- um superávit comercial, e políticas que reduzem a poupan-
pras do governo. ça ou aumentam o investimento Levam a um déficit cúmer-
cial.
2. O fluxo líquido de capital para o exterior é o excesso de
poupança interna em relação ao investimento interno. 4, A taxa de câmbio nominal é a taxa à qual as pessoas trocam
A balança comercial é a quantidade recebida por nossas a moeda de um país pela moeda de outro. A taxa de câmbio
exportações líquidas de bens e serviços. A identidade da reàl é a taxa à qual as pessoas trocam os bens produzidos nos
conta da renda nacional mostra que o fluxo líquido de dois países. A taxa de câmbio real é igual à taxa de câmbio
capital para o exterior sempre é igual à balança comer- nominal multiplicada pela proporção dos níveis de preços
cial. nos dois países.
3. O impacto de qualquer política econômica sobre a balan- 5. Como a taxa de câmbio real é o preço dos bens internos em
ça comercial pode ser determinado pelo exame do seu im- relação aos bens externos, uma valorização da taxa de câm-
A EcONOMIA ABERTA 97

bio real tende a reduzir as exportações líquidas. A taxa de 6. A taxa de câmbio nominal é determinada pela taxa de câm-
câmbio real de equilíbrio é a taxa à quual a quantidade das bio real e pelos níveis de preços nos dois países. Tudo mai~
exportações líquidas demandadas é igual ao fluxo líquido de constante, uma taxa de inflação alta leva a uma desvalori-
capital para o exterior. zação da moeda corrente.

CONCEITOS-CHAVE
Exportações líquidas Comércio equilibrado T axa de câmbio nominal
s Balança comercial Economia aberta pequena Taxa de câmbio real
Fluxo líquido de capital para o exterior T axa de juros internacional Paridade do poder de compra
Superávit e déficit comerciais

.1 QUESTOES PARA REVISAO


) l. O que sihi fluxu líquido de capital para o exterior e balança co- 4. Se uma economia abe rt a peque n a proíbe a importação de
merci,1 l' Explique c,Jrno se relacionam entre si. videocassetes japoneses, o que acon tece com a poupança. o inves-
2. Defin;i ,1rnxa de d mhi Ll nominal e a taxa de câmbio real. timento, a balança comercial, a taxa de juros e a taxa de câmbio ?
3. Se uma ec,momia aberra pequena corta gastos com defesa, o que 5. Se a Alemanha tem uma inflação alta e a Itália tem uma inflação
aconrece com a poupança, o investimento, a balança comercial, a baixa, o que acontece rá com a taxa de câmbio entre o marco ale-
raxa de ju ros e a taxa de câmbio? mão e a lira italiana?

PROBLEMAS E APLICAÇOES
1. Uti li:e ,.1 mlldeln da economia aberta pequena para prever o que 3. O país de Leverett é uma economia aberta pequena. Subitamen-
au,nreceria c,,m a hnlanç.i comercial, a taxa de câmbio real e a taxa te, uma mudança das preferê ncias internacionais faz com que as
d<' c:'hnh in nnminal em reaçàti a cada um dos seguintes eventos: exportações de Leverett tomem-se impopulares.
e ,1. Uma queda d,1 confi ança dos consumidores quanto ao futuro a. O que acontece em Leverett com a poupança, o investimento,
indu: os cnnsumidores a gasearem menos e pouparem mais. as exportações líquidas, a taxa de juros e a taxa de câmbio ?
b. O lança me nro de uma linha de modernos T oyocas faz com que b. Os cidadãos de Leverecc gostam de viajar para o exterior. Corno
alguns consumidor<:!s prefiram ca rros estrangeiros em vez dos essa mudança na taxa de câmbio os afetará?
c~uros nac ionais. c. Os responsáveis pela po lítica fiscal de Leverett querem aj ustar
e. O l.mçamenr,, de caixas aurornát icos dos bancns reduz a deman- os impostos para mantere m a taxa de câmbio em seu nível an-
dei pllr dinheim. terior. O que devem fazer? Se fi zerem isso, quais são os efe itos
2. C,msiJere uma econnm ia desc rita pelas seguintes equações: ger;iis sobre a poupança, o investimento, as exportações líqui -
das e a raxa de juros!
Y =C+ /+G+N'X., 4. O que acontecerá com a balança co mercial e a taxa de câmbio
Y = 5.000,
real de um a econo mi a aberta pequena qu ando as compras do
U = l.000,
gove rno au mentarem, como ocorre durante uma guerra? Suares-
a T = 1.000,
posta depende de determinar se é uma guerra local ou uma gue r·
C = 250 + 0,75(Y - T),
ra mundial?
l = 1.000 - 50r,
NX = 500 - SOOE, 5. Em 1995, o presidente Clinton considerou a imposição de uma
r = r* = 5. tarifa de 100% sobre a importação de carros japoneses de luxo. Ana·
[l
lise os aspectos econômicos e po líticos de tal decisão. Em particu-
a. Nessa economia, indique a poupança, o investimento, a balança
lar, como essa política econômica afetaria o déficit comercial dos
J comerc ial e a taxa de câmbio nacionais de equilíbrio.
Estados Unidos? Como afetaria a taxa de câmbio? Quem seria pre-
•5 b. Suponha agora que G suba para 1.250. Indique a poupança, o
judicado por essa política? Quem se beneficiaria dela ?
:) investimento, a balança comercial e a taxa de câmbio nacio-
,s nais de equilíbrio. Explique o que descobrir. 6. Suponha que outros países comecem a subsidiar o investimento,
e. Suponha agora que a taxa de juros mundial suba de 5 para 10%. instituindo um crédito fiscal para investi mento.
(G é de novo 1.000 ). Indique a poupança nacional, o investi- a. O que acontece com a demanda por investimento mundial
n mento, a balança comercial e a taxa de câmbio nacionais de como uma função da taxa de juros internacional?
equilíbrio. Explique o que descobrir. b. O que acontece com a taxa de juros internacional?
,.,..

98 CAPITULO 5

c. O que acontece com o investimento em nossa economia aber- 8. Você lê no jornal que a taxa de juros nominal é de 1Z% ao ano no
ta pequena? Canadá e de 8% ao ano nos Estados Unidos. Suponhamos que as
d. O que acontece com a balança comercial? taxas de juros reais sejam igualadas nos dois países e que se mante-
e. O que acontece com a taxa de câmbio real? nha a paridade do poder de compra.
7, "Viajar pela Itália é muito mais barato hoje do que era há dez anos", a. Aplicando a equação Fisher ( examinada no Cap. 4), o que você
diz um amigo. "Dezanos atrás, um dólar comprava 1.000 liras; este pode inferir sobre a inflação esperada no Canadá e nos Estados
ano, um dólar compra 1.500 liras." Unidos?
Seu amigo está cerco ou errado? Considerando que a inflação b. O que você pode inferir sobre a mudança esperada na taxa de
total durante esse período foi de 25% nos Estados Unidos e 100% câmbio entre dólar canadense e dólar americano?
na Itália, tomou-se mais ou menos dispendioso viajar pela Itália? c. Um amigo propõe um esquema para enriquecer depressa: tome
Escreva sua resposta utilizando um exemplo concreto - como uma emprestado de um banco dos Estados Unidos a 8%, deposite o
xícara de café americano contra uma xícara de espresso italiano - dinheiro em um banco canadense a 12%, e obtenha um lucro
que possa convencer seu amigo. de 4%. O que está errado nesse esquema?
Apêndice

A ECONOMIA ABERTA GRANDE

Ao analisar a política econômica em um país como os Esta- Taxa de juros


dos Unidos, precisamos combinar a lógica da economia fecha- real, r
da do Cap. 3 com a lógica da economia aberta pequena no
presente capítulo. Este apêndice apresenta um modelo de uma
economia entre esses dois extremos, chamada de economia
aberta grande.

FLUXO LÍQUIDO DE CAPITAL PARA O ~ }


Fluxo líquido
EX'fERIOR Toma emprestado Empresta para de capital
A diferença fundamental entre as economias abertas pequena do exterior o exterior para o
(CF< O) ( CF > O) exterior, CF
e grande é o comportamento do fluxo líquido de capital para o
exterior. No modelo da economia aberta pequena, o capital flui
Fig. 5-15 Como o Fluxo Líquido de Capital para o Exterior De-
livremente para dentro ou para fora da economia, a uma taxa
pende da Taxa de Juros Uma tax a de juros interna mais alta
de juros mundial constante r*. O modelo da economia aberta desestimula os investidores domésticos a emprestarem dinheiro para o
grande propõe um pressuposto diferente sobre fluxos interna- extenor. e estimula os investidores estrangeiros a emprestarem aqui
cionais de capital. Para compreender esse pressuposto, lembre- Portanto. o fluxo liquido de capital para o exterior CF é negativamente
se de que o fluxo líquido de capital para o exterior é o montan- relacionado com a taxa de juros.
te que os inve~tidores internos emprestam no exterior, menos
o montante que os investidores externos emprestam aqui.
Imagine que você seia um investidor interno - como o vo, dependendo do fato de a economia ser devedora ou credo-
administrador do fundo de investimentos de uma universida- ra nos mercados financeiros mundiais.
de - decidindo onde investir seus recursos. Você pode inves- Para verificar como essa função de CF se relaciona com os
tir internamente (por exemplo, fazendo empréstimos a empre- modelos anteriores, considere a Fig. 5-16. Essa figura mostra dois
sas dos Estados Unidos), ou pode investir no exterior (fazendo casos especiais: uma função de CF vertical e uma função de CF
empréstimos a empresas estrangeiras). Muitos fatores podem horizontal.
afetar sua decisão, mas um deles, com certeza, é a taxa de juros A economia fechada é o caso especial apresentado no pai-
que você pode obter. Quanto mais alta a taxa de juros que você nel (a) da Fig. 5-16. Na economia fechada, não há tornada de
puder obter internamente, menos atraente sera o investimen- empréstimo nem empréstimo internacional, e a taxa de juros
to no exterior. ajusta-se para equilibrar a poupança e o investimento interno.
Os investidores no exterior enfrentam uma decisão seme- Isso significa que CF = Oem todas as taxas de juros. Essa situ-
lhante. Têm uma opção entre investir em seu próprio país ou ação ocorreria se os investidores aqui e no exterior relutassem
emprestar para alguém nos Estados Unidos. Quanto mais alta em ter ativos externos, independentemente do retorno. Tam-
a taxa de juros nos Esrados Unidos, mais os estrangeiros esta- bém pode ocorrer se o governo proibisse seus cidadãos de efe-
rão dispostos a emprestar a empresas norte-americanas e a com- tuar transações em mercados financeiros externos, como fazem
prar ativos norte-americanos. alguns governos.
Assim, por causa do comportamento dos investidores inter- A economia aberta pequena, com perfeita mobilidade de
nos e externos, o fluxo líquido de capital para outros países, que capital, é o caso especial apresentado no painel (b) da Fig. 5-
indicaremos como CF, é negativamente relacionada com a taxa 16. Neste caso, o capital flui livremente para dentro e para fora
de juros real interna, r. À medida que a taxa de juros aumenta, do país, a uma taxa de juros mundial constante r*. Essa situa-
menos da nossa poupança flui para o exterior, e mais fundos ção ocorreria se investidores aqui e no exterior comprassem
para a acumulação de capital fluem de outros países. Escreve- qualquer ativo oferecido pelo retorno mais alto, e se essa eco-
mos isso como nomia fosse pequena demais para influenciar a taxa de juros
internacional. A taxa de juros da economia seria fixada pela
CF = CF(r). taxa de juros predominante nos mercados financeiros interna-
Esta equação enuncia que o fluxo líquido de capital para o ex- cionais.
terior é uma função da taxa de juros interna. A Fig. 5-15 ilus- Por que a taxa de juros de uma economia aberta grande,
tra essa relação. Observe que CF pode ser positivo ou negati- como a dos Estados Unidos, não é fixada pela taxa de juros in-
100 CAPITULO 5

(b) A Economia Aberta Pequena com


(a) A Economia Fechada Perfeita Mobilidade de Capital
Taxa de juros Taxa de juros
real, r real, r

o Fluxo líquido o Fluxo líquido


de capital de capital
para o exterior, para o exterior,
CF CF

Fig. 5-16 Dois Casos Especiais Na economia fechada, mostrada no gráfico (a), o fluxo líquido de capital para o exterior é zero para todas as taxas
de juros. Na economia aberta pequena. com perfeita mobilidade de capital, mostrada no gráfico (b), o fluxo líquido de capital para o exterior é perfei-
tamente elástico à taxa de juros mundial r*.

ternacion al! Há duas razões. A primeira é o fato de os Estados o modelo da economia aberta pequena. Vamos juntar todas as
Unidos conscituírem um país grande o bastante para influen- peças n a próxima seção.
ciar os mercados financeiros internacionais. Quanto mais os Es-
tados Unidos emprestam no exterior, maior a oferta de emprés-
timos na economia mundial, e mais baixa a taxa de juros ao
0 MODELO
redor do mundo. Quanto mais os Estados Unidos tomam em- Para compreender como a economia aberta grande funciona,
prestado do exterior (ou seja, quanto mais negativo CF setor- precisamos considerar dois mercados fundamentais: o merca-
na), mais altas as taxas de juros internacionais. Usamos o rótu- do de fundos emprestáveis (em que a taxa de juros é determi-
lo "economia aherta grandeº porque esse modelo aplica-se a nada) e o mercado de câmbio externo (em que a taxa de câm-
uma economia grande o bastante para influenciar as taxas de bio é determinada). A taxa de juros e a taxa de câmbio são os
juros internacionais. dois preços que orientam a alocação de recursos.
Há, no entanto, uma segunda razão para que a taxa de juros
em uma economia não seja fixada pela taxa de juros internaci- O Mercado de Fundos Emprestáveis A poupança S de uma
cmal: o capital pode não ser perfeitamente móvel. Ou seja, os economia aberta é utilizada de duas maneiras: para financiar o
investidores aqui e no exterior podem preferir manter sua ri- investimento interno I e para financiar o fluxo líquido de ca-
queza em ativos internos em vez de externos. Essa preferência pital para o exterior CF. Podemos escrever
por ativos internos pode decorrer de informações imperfeitas S = I + CF.
sobre os ativos externos, ou por causa de obstáculos do gover-
no aos empréstimos internacionais. Em quàlquer caso, os fun- Considere como essas três va riáveis são determinadas. A pou-
dos para a acumulação de capital não fluirão livremente para pança nacional é fixada pelo níve l do produto, pela política
igualar as taxas de juros em todos os países. Em vez disso, o flu- fiscal e pela função consumo. O investimento e o fluxo líquido
xo líquido de capital dependerá das taxas de juros internas em de capital para o exterior dependem da taxa de juros real inter-
relação às taxas de juros externas. O s investidores americanos na. Podemos escrever
só emprestarão n o exterior se as taxas de juros nos Estados
Unidos forem relativamente baixas, e os investidores externos S = I(r) + C F(r) .
só investirão nos Estados Unidos se as taxas de juros forem com- A Fig. 5-17 mostra o mercado de fundos emprestáveis. A ofer-
parativamente elevadas. O modelo da economia aberta gran - ta de fundos emprestáveis é a poupança nacional. A demanda
de, portanto, pode ser aplicado até mesmo a uma economia pe- por fundos emprestáveis é a soma da demanda por investimen-
quena, se o capital não flui livremente para dentro e para fora to interno e da demanda por investimento externo (fluxo lí-
da economia. quido de capital para o exterior) . A taxa de juros ajusta-se para
A ssim, seja porque a economia aberta grande afeta as taxas equilibrar oferta e demanda.
de juros internacionais, seja porque o capital não é perfeitamen-
te móvel, senão pelas duas razões, a função CF é negativamen- O Mercado de Câmbio Externo Em seguida, considere a
te inclinada. Exceto por essa nova função CF negativamente relação entre o fluxo líquido de capital para o exterior e a balan-
inclinada, o modelo da economia aberta grande é parecido com ça comercial. A identidade da conta da renda nacional nos diz

fj,.
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A EcONOMIA ABERTA 101

Taxa de juros Taxa de câmbio


real, r real, E

Taxa de Taxa de
juros real câmbio real
de equillbrio de equi/fbrio
l(r) + CF(r)
Exportações líquidas, NX
Fundos emprestáveis, S, I + CF
Fig. 5-18 O Mercado de Câmbio de Moedas Estrangeiras na Eco-
Fig. 5-17 O Mercado de Fundos Emprestáveis na Economia Aber- nomia Aberta Grande À taxa de câmbio de equilíbrio, a oferta de dó-
ta Grande À taxa de juros de equilíbrio, a oferta de fundos emprestáveis lares do Ouxo líquido de capital para o exterior, CF, equilibra a demanda
da poupança S equilibra a demanda por fundos emprestáveis do investi- por dólares de nossas exportações líquidas de bens e serviços, NX.
mento interno I e os investimentos de capital do exterior CF.

l.S NX =S-I. e=e X (P*/P).


,i-
Por ser NX uma função da taxa de câmbio real, e porque CV = A taxa de câmbio real é determinada como na Fig. 5-18, e os
S - I, podemos escrever níveis de preços são determinados pelas políticas monetárias,
aqui e n o exterior, como mostramos no Cap. 4. As forças que
NX(E) = CF. mov imentam a taxa de câmbio real ou os níveis de preços tam-
1S
A Fig. 5-18 mostra o equilíbrio no mercado de câmbio exter- bém mov imentam a taxa de câmbio n ominal.
no. Mais uma vez, a taxa de câmbio real é o preço que equili-
bra a balança comercial e o fluxo líquido de capital para o ex-
POLÍTICAS ECONÔMICAS NA ECONOMIA
terior.
3., A última var iável que devemos levar em conta é a taxa de ABERTA GRANDE
l- câmbio nominal. Como antes, a taxa de câmbio nominal é a Podemos agora considerar como as políticas econômicas influ-
i- taxa de câmbio real vezes a proporção dos níveis de preço: enciam a economia aberta grande. A Fig. 5- 19 mostra os três
l•
)S

(a) O Mercado de Fundos Emprestáveis (b) Fluxo Líquido de Capital para o Exterior
la Taxa de juros r
o real, r
l-

1-

:a I + CF
CF( r)
·º Fundos emprestáveis, S, 1 + CF Fluxo líquido de capital
r-
para o exterior, CF

(e) O Merca~o de Câmbio Externo


r- Taxa de
Fig. 5-19 O Equilíbrio na Economia Aberta câmbio
ia Grande O gráfico (a) mostra que o mercado de real, E
1-
fundos emprestáveis determina a taxa de juros
í- de equilíbrio. O gráfico (b) mostra que a taxa de
:a juros determina o fluxo liquido de capital para o
exterior, que por sua vez determina a oferta de
dólares a serem trocados por moedas estrangei-
a ras. O gráfico (e) mostra que a taxa de câmbio real NX(E)
l•
ajusta-se para equilibrar essa oferta de dólares à
demanda proveniente das exportações líquidas . Exportações líquidas, NX
.z
102 CAPITULO 5 1'
gráficos que precisamos para a análise. O painel {a) mostra o Uma maneira de ver como os três tipos de economia estão
equilíbrio no mercado de fundos emprestáveis; o painel (b) relacionados é considerar a identidade
mostra a relação entre a taxa de juros de equilíbrio e o fluxo
líquido de capital para o exterior; e o painel (c) mostra o equi- S = I + NX.
líbrio no mercado de câmbio externo. Nos três.casos, a política fiscal expansionista reduz a poupança
nacional S. Na economia fechada, a queda de S coincide com
Política Fiscal Interna Considere os efeitos de uma políti- uma queda igual em I, enquanto NX permanece constante em
ca fiscal expansionista: um aumento das compras do governo
zero. Na economia aberta pequena, a queda de S coincide com
ou uma diminuição dos impostos. A Fig. 5-20 mostra o que
uma queda igual em NX, enquanto I permanece constante no
acontece. A política fiscal reduz a poupança nacional S, re-
nível fixado pela taxa de juros internacional. A economia aber-
duzindo assim a oferta de fundos emprestáveis e aumentando
ta grande é o caso intermediário: tanto I como NX caem, cada
a taxa de juros r de equilíbrio. A taxa de juros mais alta reduz
o investimento interno I e o fluxo líquido de capital para o qual em menos do que a diminuição em S.
exterior CF. A queda do fluxo líquido de capital para o exte-
rior reduz a oferta de dólares a serem trocados por moeda es- Mudanças da Demanda por Investimento Suponha que
trangeira. A taxa de câmbio é valorizada e as exportações lí- a curva de demanda por investimento se desloque para a di-
quidas caem. reita, talvez porque o Congresso aprova um crédito fiscal para
Observe que o impacto da política fiscal nesse modelo com- investimento. A Fig. 5-21 mostra o efeito. A demanda por fun-
bina seu impacto na economia fechada e seu impacto na eco- dos emprestáveis aumenta, elevando a taxa de juros de equi-
nomia aberra pequena. Como na economia fechada, uma ex- líbrio. A taxa de juros mais alca reduz o fluxo líquido de capi -
pansão fiscal em uma economia aberta grande aumenta a taxa tal para o exterior: os norte-americanos emprestam menos ao
de juros e afasta o investimento. Tal como na economia aber- exterior, e os estrangeiros concedem mais empréstimos aos
ta pequena, uma expansão fiscal causa um déficit comercial e norte-americanos. A queda do fluxo líquido de capital para o
uma valorização da taxa de câmbio. exterior reduz a oferta de dólares no mercado de câmbio ex-

(a) O Mercado de Fundos Emprestáveis (b) Fluxo Líquido de Capital para o Exterior
Taxa de juros r
real, r s
' 2 ......... . . . . . . . . . . . •. . . . . •. . . . . . . . . . . . . . . . r2

A
1.Uma
diminuição
· da pou- · r, . ... . . ·:· . . .
2. ... pança ... 3 . ... o que
aumenta !+ CF baixa o
a taxa de fluxo lfquido CF(r)
juros, ...
Fundos emprestáveis, 5, 1 + CF de capital Fluxo líquido
para o de capital para
exterior, ... o exterior, CF

(e) O Merc~do de Câmbio Externo


Taxa de
câmbio
real, e e
2
Fig. 5-20 Uma Redução da Poupança Nacional na Eco-
nomia Aberta Grande O gráfico (a) mostra que uma re~ ~
d ução da poupança nacional diminui a oferta de fundos 4. ... e1
emprestáveis A taxa de juros de equilíbrio sobe. O gráfico aumenta
(b) mostra que a taxa de juros mais alta diminui o fluxo lí- a taxa de
quido de capital para o exterior. O gráfico (e) mostra que o câmbio...
fluxo líquido reduzido de capital para o exterior significa NX(E)
uma oferta reduzida de dólares no mercado de câmbio de 5. ... e
reduzas Exportações
moedas estrangeiras. A oferta reduzida de dólares faz com líquidas, NX
que a taxa de câmbio real se valorize e as exportações lí- exportações
quidas caiam.
liquidas.
A EcONOMIA ABERTA 103

io (a) O Mercado de Recursos Emprestáveis (b) Fluxo Líquido de Capital para o Exterior
Taxa de juros r
real, r s
............................. r2

~
;a
:n
:n 1. Um ..... . r1
t
n 2 . ... aumento da
eleva a demanda por 3 . ... o que
LO
taxa de investimento ... I+ CF reduzo
r- CF(r)
juros, ... fluxo ffquido
ia Fundos emprestáveis, S, I + CF de capital : CF1 Fluxo líquido de
para o capital para o
exterior, ... exterior, CF
,e (e) O Mer~ado ~e Câmbio Externo
i- Taxa de
:a câmbio
l- real, E
E2
i-
i-
.0
r-f
4. ... e,
Fig. 5-21 Um Aumento da Demanda por Investimen- eleva a
>S
to na Economia Aberta Grande O gráfico (a) mostra que taxa de
o um aumento da demanda por investimento eleva a taxa de câmbio, ...
{•
juros. O gráfico (b) mostra que a taxa de juros mais alta reduz
o fluxo líquido de capital para o exterior. O gráfico (c) mostra 5 . ... e
que um fluxo liquido de capital para o exterior menor causa reduz as Exportações
a valorização da taxa de câmbio real e a queda das exporta- exportações lfguidas, NX
ções líq uidas líquidas.

terno. A taxa de câmbio se valoriza e as exportações líquidas Unidos. A qualquer taxa de juros norte-americana dada, o flu-
caem. xo líquido de capital dos Estados Unidos cai.
Outro motivo do deslocamento da curva CF é a instabili-
Políticas Comerciais A Fig. 5-22 mostra o efeito de uma dade política no exterior. Suponha que ocorra uma guerra ou
barreira comercial, como uma quota de importação. A deman- revolução em outro país. Os investidores ao redor do mundo
da reduzida por importações desloca a curva de exportações tentarão retirar seus ativos daquele país e procurar um "porto
líquidas para a direita no painel (c). Como nada mudou no mer- seguro" em um país estável, como os Estados Unidos. O resul-
cado de fundos emprestáveis, a taxa de juros permanece cons- tado é uma redução do fluxo líquido de capital para o exterior
tante, o que, por sua, vez indica que o fluxo líquido de capital dos Estados Unidos.
para o exterior permanece o mesmo. O deslocamento da curva A Fig. 5-23 mostra o impacto de um deslocamento da curva
de exportações líquidas faz com que a taxa de câmbio se valo- CF. A demanda reduzida por fundos emprestáveis diminui a
rize . O aumento da taxa de câmbio faz com que os bens dos taxa de juros de equilíbrio. A taxa de juros mais baixa tende a
Estados Unidos se tomem caros em relação aos bens externos, aumentar o fluxo líquido de capital para o exterior, mas, como
o que reduz as exportações e estimula as importações. Ao final, isso atenua apenas em parte o deslocamento da curva CF, CF
a barreira comercial não afeta a balança comercial. contínua a cair. O nível reduzido do fluxo líquido de capital
para o exterior reduz a oferta de dólares no mercado de câmbio
Mudanças do Fluxo Líquido de Capital para o Exteri- externo. A taxa de câmbio sofre valorização, e as exportações
or Há vários motivos para que a curva CF se desloque. Um de - líquidas caem.
les é a política fiscal no exterior. Por exemplo, suponhamos que
a Alemanha adote uma política fiscal que aumente a poupan-
ça alemã. Essa política reduz a taxa de juros daquele país. A taxa CONCLUSÃO
de juros alemã mais baixa desestimula os investidores norte- Em que são diferentes a economia aberta pequena e a econo-
americanos a emprestar na Alemanha, ao mesmo tempo em que mia aberta grande? Não resta a menor dúvida de que as políti-
estimula os investidores alemães a emprestarem nos Estados cas econômicas afetam a taxa de juros em uma economia aber-
(a) O Mercado de Fundos Emprestáveis (b) Fluxo líquido de Capital para o Exterior
r
Taxa de juros
real, r s

I + CF CF(r)

Fundos emprestáveis, S, 1 + CF Fluxo líquido


de capital para
o exterior, CF

(c) O Mercado _de Câmbio Externo


Taxa de 1. As políticas
câmbio protecionistas

n.
real,~ e 2 aumentam a
demanda por
exportações líquidas, ...

2 . ... o que
aumenta a
Fig. 5·22 Uma Restrição às Importações na Econo- taxa de
câmbio, ... NX(E)
mia Aberta Grande Uma restnção às importações au-
menta a demanda por exportações líquidas, como é mos- Exportações líquidas, NX
trado no gráfico (c). A taxa de cámbio real se valoriza, en- 3 . ...
quanto a balança comercial de equilíbrio permanece igual. deixando
inalteradas
Nada acontece no mercado de fundos emprestáveis, no
as exportações
gráfico (a). ou com o fluxo liquido de capital para o exteri- líquidas.
or. no gráfico (b).

(a) O Mercado de Fundos Emprestáveis (b) Fluxo líquido de Capital para o Exterior
r
Taxa de juros
real, r s
1. Uma queda do
'-----",;.-----------+- - fluxo liquido de
capital para o exterior...
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . r,
.. . . • . . . . . . . •... r2
2 . ... faz CF(r)
a taxa
de juros
Fundos emprestáveis, S, I + CF CF1 Fluxo líquido de
cair, ...
capital para o
exterior, CF

(c) O Mercad.o d1; Câmbio Externo


Taxa de
câmbio
real, E CF
3 . ... a
taxa de
Fig. 5-23 Uma Queda do Fluxo Líquido de Capital para câmbio
o Exterior na Economia Aberta Grande O gráfico (a) subir.. .
mostra que um deslocamento para a esquerda da curva CF
reduz a demanda por empréstimos e, portanto, a reduz a taxa
de juros de equilíbrio. O gráfico (b) mostra que cai o nível 4 . ... eas
de fluxo líquido de capital para o exterior. O gráfico (c) mos- exportações
lfquidas Exportações
tra que a taxa de cámbio real se valoriza, e as exportações
cafrem líquidas, NX
líquidas caem.
r A ECONOMIA ABERTA 105

ta grande, ao contrário do que ocorre em uma economia aber- levam a déficits comerciais. Nas duas economias, as políticas
ta pequena. Mas, sob outros aspectos, os dois modelos propor- comerciais protecionistas fazem com que a taxa de câmbio so-
cionam conclusões semelhantes. Tanto na economia aberta pe- fra valorização e não influenciam a balança comercial. Como
quena quanto na grande, as políticas econômicas que aumen- os resultados são tão semelhantes, para a maioria das questões
tam a poupança ou diminuem o investimento levam a pode-se utilizar o modelo mais simples da economia aberta
superávits comerciais. Da mesma maneira, políticas econômi- pequena, mesmo que a economia que está sendo examinada não
cas que diminuem a poupança ou aumentam o investimento seja realmente pequena.

MAIS PROBLEMAS E APLICAÇÕES


1. Se uma guerra irrnmpesse no ex terior, afetaria a economia dos e. Os norte-americanos tomam-se apreensivos quanto a viajar
E.5tados Unidos sob muitos aspectos. Utili:e o modelo da econo- para o exterior. A maioria prefere passar as férias nos Estados
mi a aberta grande para avaliar cada um dos efeitos dessa guerra Unidos.
realcionados a seguir. O que acontece nµs Estados Unidos com a f. Os invest idores estrangeiros procuram um porto seguro para suas
poupança, o investimento, a balança comercial, a rnxa de juros e a ap licJções nos Estados U nidos.
raxa de câmbio ? (Para simplificar, considere cada um dlls efeitos
em separado.) 2. A 21 de setembro de 1995, "o presidente da Câmara dos Re-
a. O governo dos Estados Unidos, temendo a necessidade de entrar prese ntantes, Newt Gingrich, ameaçou declarar os Estados
na guerra, aumenta SL1<1s compras de equipamentos militares. Unidos inadimplenres em sua dívida, pela primeira vez na his-
b. Outros países aumenwm suas demandas por armas de alta tec- tória do país, a fün de forçar a Administração Clinton a equili-
nologia, uma das principais exportações dos Estados Unidos. brar o orçamento, em termos republi canos" (Neu, York Times,
c. A guerrn deixa as empresas dos Estados Unidos indecisas quanto 22 de setembro de 1995, A l ). N o mesmo dia , a taxa de juros de
ao fururo, e muiras adia m alguns projetos de investimento. títulos de 30 anos do governo norte-americano subiu de 6,46
d. A guerra faz com que os consumidores norte-americanos se tt)r- para 6,55%, e 0 dólar caiu em valor de 102, 7 para 99,0 ienes.
nem inseguros quanto ao futurn; em conse 4 üênc ia, l)S consu- Utili ze o mod elo da economia nberra grande para explicar esse
midores passam a pl>up,1r mais. eve nto.
p

Capítulo 6

DESEMPREGO

l'm lwmc:> m dis[msu, ,1 trahalhar. mas i11rn/>il~ de c11co11trnr trabalho ,


w/1·.::, .1cj<1 t1 C<:rw mai.1 rrfa te ,1ue a dcsig11,ildade da fim1111ll cxi/,e ,nh" snL
- T lwm,1, c:arlyle

O desemprego é o problema macroeconômico que afeta as pes- por exemplo, em geral costumam aumentar o desemprego en-
soas de modo mais direto e cruel. Para a maioria das pessoas, a tre os membros menos qualificados e menos experientes da força
perda do emprego significa um padrão de vida reduzido e uma de trabalho. Ao mostrarem os efeitos das várias políticas eco-
angústia psicológica. Não surpreende que o desemprego seja um nômicas, os economistas ajudam os formadores de política eco-
tema freqüente no debate político, e que os políticos muitas nômica a avaliarem suas opções.
vezes aleguem que suas propostas econômicas ajudariam a cri- Até aqui, nossas análises do mercado de trabalho ignoraram
ar empregos. o desemprego. Em particular, o modelo de renda nacional do
Os economistas estudam o desemprego para identificar suas Cap. 3 baseou-se no pressuposto de que a economia mantinha-
causas e ajudar a melhorar as políticas econômicas que afetam se sempre a pleno emprego. Na realidade, é claro, nem todos
os desempregados. Algumas dessas políticas, como os progra- os indivíduos na força de trabalho têm emprego durante todo
mas de treinamento, ajudam as pessoas a encontrarem empre- o tempo: todas as economias de livre mercado experimentam
go. Outras, como o seguro-desemprego, aliviam algumas das algum desemprego.
dificuldades que os desempregados encontram. Outras políti- A Fig. 6-1 mostra a taxa de desemprego - ó percentual da
cas ainda afetam inadvertidamente a prevalência do desempre- força de trabalho desempregado - nos Estados Unidos desde
go. Leis que tornam compulsório um salário mínimo elevado, 1948. Embora a taxa de desemprego oscile de um ano para

Percentual de
desempregados

10
Taxa de desemprego ~
.,
8

Taxa natural
4 de desemprego

º'------'---- ~---~---'-- ---''---- ~----'----'-----'-- ---'---........-


1945 1950 1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000
Ano

Fig. 6-1 A Taxa de Desemprego e a Taxa Natural de Desemprego nos Estados Unidos Sempre há algum desemprego. A taxa natural de
desemprego é o n ível médio em torno do qual oscila a.taxa de desemprego. (A taxa natural de desemprego, para qualquer ano específico, é estimada
aqui pela média de todas as taxas de desemprego. de dez anos antes a dez anos depois. As taxas de desemprego futuras estão fixadas em 5,5%.)
DESEMPREGO 107

outro, nunca chega sequer perto de zero. A média fica entre 5 a Parte IV deste livro, onde examinamos as oscilações econô-
e 6%, significando que 1 em cada 18 pessoas na força de traba- micas de curto prazo. Aqui, estudaremos os determinantes da
lho não tem emprego. taxa natural de desemprego: a taxa média de desemprego em
Neste capítulo, iniciaremos o estudo do desemprego expli- tomo da qual a economia oscila. A taxa natural é a taxa de de-
cando por que há sempre algum desemprego, e o que determi- semprego em tomo da qual a economia gravita no longo prazo,
na o nível de desemprego. Não estudaremos o que determina com todas as imperfeições do mercado de trabalho que impedem
35 oscilações de um ano para outro da taxa de desemprego até os trabalhadores de encontrarem emprego imediatamente.

},
6-1 PERDA DO EMPREGO, OBTENÇAO DE EMPREGO E
l. A TAXA NATURAL DE DESEMPREGO
lc
Todos os dias, alguns trabalhadores perdem ou deixam o em- emprego todos os meses. Juntas, a taxa de separação se a taxa
prego, enquanto alguns trabalhadores desempregados são con- de obtenção de emprego f determinam a taxa de desemprego.
l· tratados. Nesta seção, desenvolveremos um modelo da dinâ- Se a taxa de desemprego não está subindo nem descendo -
:a mica da força de trabalho que mostra o que determina a taxa ou seja, se o mercado de trabalho se mantém num estado esta-
)• natural de desemprego.' cionário-o número de pessoas que está obtendo emprego deve
)• Comecemos com alguma notação. L vai indicar a força de igualar o número de pessoas que está perdendo o emprego. O
trabalho, E o número de trabalhadores empregados e U o nú- número de pessoas que obtém emprego é fU, e o número de
n mero de trabalhadores desempregados. Visto que todo traba- pessoas que perde o emprego é sE. Portanto, podemos escrever
o lhador está empr:egado ou desempregado, a força de trabalho é a condição de estado estacionário como sendo
I· a soma de empregados e desempregados:
>S
fU = sE.
L =E+ U.
o Podemos usar essa equação para encontrar a taxa de desempre-
n Nesta notação, a taxa de desemprego é UJL. go de estado estacionário. De uma equação anterior, sabemos que
Para verificar o que determina a taxa de desemprego, pres- E = L - U; ou seja, o número de empregados é igual à força de
a supomos que a força de trabalho Lseja fixa, e focalizamos a tran- trabalho menos o número de desempregados. Se substituímos
e sição das pessoas na força de trabalho entre emprego e desem- (L - U) por E na condição de estado estacionário, encontramos
a prego. Isso está ilustrado na Fig. 6-2 . Vamos definir que s indi-
ca a taxa de perda do emprego, a fração de empregados que perde
fU = s(L - U).
o emprego todos os meses. Defina que f indica a taxa de obten- Para chegar mais perto da solução da taxa de desemprego, di-
ção de emprego, a fração de desempregados que consegue um vidimos os dois lados dessa equação por L, para obter

f"""_ _ _ _ _ _ Perda de emprego (s) _ _ _ _ _ _ ....,1

Empregàdo

t ohtençac, .de
~fu~lfJ'
J
Fig. 6-2 As Transições entre Emprego e Desemprego Em cada período, uma fr açãos dos empregados perde o emprego, e uma fração f dos
desempregados consegue emprego. As taxas de perda de emprego e obtenção de emprego determinam a taxa de desemprego .

.e
a
'Robert E. Hall, "A Theory of the Natural Rate of Unemploymenr and the Duration of Unemployment", Jouma! of Monerary Economics 5 (abril de 1979): 153-169.
108 CAPITULO 6

u
f- = s (1- -).
u U 0,01
L L L 0,01 + 0,20
= 0,0476
Agora, podemos resolver para U/L, encontrando
A taxa de desemprego neste exemplo é de cerca de 5%.
u s Este modelo de taxa natural de desemprego tem uma impli-
cação óbvia e importante para a política econômica. Qualquer
L s+ f política que vise a diminuir a taxa natural de desemprego deve redu-
zir a taxa de separação de emprego, ou aumentar a taxa de obten-
Essa equação mostra que a taxa de desemprego do estado es- ção de emprego . Assim também, qualquer política que afete a taxa
tacionário U/L depende das taxas de separação de empregos de separação de emprego ou de obtenção de emprego também muda
e de obtenção de emprego f. Quanto mais alta a taxa de sepa- a taxa natural de desemprego.
ração de emprego, maior a taxa de desemprego . Quanto mais Embora seja útil para relacionar a taxa de desemprego à taxa
alta a taxa de obtenção de emprego, menor a taxa de desem- de separação e à taxa de obtenção de emprego, esse modelo
prego. deixa de responder a uma questão fundamental: Por que há
Aqui está um exemplo numérico. Suponhamos que 1% dos desemprego em primeiro lugar? Se uma pessoa pudesse sempre
empregados perca o emprego a cada mês (s = 0,01 ). Isso signi- encontrar emprego rapidamente, a taxa de obtenção de empre-
fica que em média o emprego dura 100 meses, ou cerca de 8 go seria muito elevada e a taxa de desemprego seria quase zero.
anos. Suponhamos ainda que cerca de 20% dos desemprega- Esse modelo da taxa de desemprego pressupõe que a obtenção
dos consigam emprego a cada mês (f = 0,20), o que significa de emprego não é instantânea, mas deixa de explicar por quê.
que o prazo de desemprego dura em média 5 meses. Assim, a N as duas próximas seções, examinaremos duas razões básicas
taxa de desemprego do estado estacionário é para o desemprego: a busca de emprego e a rigidez salarial.

6-2 BUSCA DE EMPREGO E DESEMPREGO FRICCIONAL


Uma explicação para o desemprego é o fato de que leva tempo a demanda pelo trabalho que produz esses bens. A invenção
para combinar trabalhadores e empregos. O modelo de equilí- do microcomputador, por exemplo, reduziu a demanda por
brio de mercado de trabalho agregado, apresentado no Cap. 3, máquinas de escrever e, em conseqüência, a demanda por tra-
pressupõe que rodos os trabalhadores e todos os empregos são balho pelos fabricantes de máquinas de escrever. Ao mesmo
ídêntic os. Portanto, todos os trabalhadores são igualmente tempo, aumentou a demanda por trabalho na indústria eletrô-
apropriados para ocupar todos os empregos. Se isso fosse ver- nica. De modo semelhante, visto que regiões diferentes produ-
dade e o mercado de trabalho estivesse em equilíbrio, a perda zem mercadorias diferentes, a demanda por trabalho pode es-
de um emprego não causaria desemprego: um trabalhador dis - tar aumentando em uma parte do país, mas caindo em outra.
pensado encontraria imediatamente um novo emprego ao sa- Um declínio do preço do petróleo pode fazer com que a deman-
lário do mercado. da por trabalho caia nos estados produtores de petróleo, como
Na verdade, porém, os trahalhadores têm diferentes prefe- o estado norte-americano do Texas; mas como o petróleo ba-
rências e capacidades, enquanto os empregos ex igem diferen- rato faz com que andar de carro seja menos caro, aumenta a de-
tes atrihucos. Além disso, o fluxo de informações sobre candi- manda por trabalho em estados produtores de automóveis, como
datos a trabalhadores e postos de trabalho é imperfeito. Tam- Michigan. Os economistas chamam uma mudança na compo-
bém devemos levar em consideração que a mobilidade geográ - sição da demanda entre indústrias ou regiões de variações
fica dos trahalhadóres não é instantânea. Por todos esses moti- setoriais. Uma vez que as mudanças setoriais estão sempre ocor-
vos, a busca por um emprego apropriado ex ige tempo e esfor- rendo, e porque leva tempo para que os trabalhadores mudem
ço, o que tende a reduzir a taxa de obtenção de emprego. Na de setor, há sempre um desemprego friccionai.
verdade, como diferentes empregos exigem diferentes habili- As variações setoriais não são a única causa de separação do
dades e pagam diferentes salários, os trabalhadores desempre- emprego e do desemprego friccionai. Além disso, os trabalha-
gados podem não aceitar a primeira oferta de emprego que re- dores se descobrem inesperadamente sem emprego quando as
cebem. O desemprego causado pelo tempo que os trabalhado- empresas que lhes dão emprego falem, quando seu desempenho
res levam para procurar emprego é chamado de desemprego no trabalho é considerado inaceitável, ou quando suas habili-
friccionai. dades específicas não são mais necessárias. Os trabalhadores
Algum desemprego friccionai é inevitável numa economia também podem deixar o emprego para mudar de carreira, ou
em transformação. Por muitas razões, os tipos de bens exigidos para se transferir para diferentes partes do país. Enquanto a
pelas empresas e pelas famílias variam através do tempo. À oferta e a demanda de trabalho entre as empresas estiverem
medida que a demanda por bens muda, o mesmo acontece com mudando, o desemprego friccionai será inevitável.
DESEMPREGO 109

POLÍTICA ECONÔMICA E DESEMPREGO parcialmente protegidos pelo seguro-desemprego, os trabalha-


dores têm menos probabilidade de procurar emprego com pers-
FRICCIONAL pectivas de estabilidade, e menos probabilidade de negociar
Muitas políticas econômicas procuram baixar a taxa natural de garantias de segurança no emprego. Essas mudanças compor-
desemprego pela redução do desemprego friccional. As agên- tamentais aumentam a taxa de separação do emprego.
cias de emprego do governo divulgam informações sobre va- O faro de que o seguro-desemprego aumenta a taxa natural
gas, a fim de combinar trabalhadores e empregos com mais efi- de desemprego não significa necessariamente que seja uma
ciência. Programas de treinamento com financiamento públi- política desaconselhável. O programa tem o benefício de re-
co são projetados para facilitar a transição de trabalhadores de duzir a incerteza dos trabalhadores quanto a seus rendimentos.
indústrias em declínio para indústrias em expansão. Se conse- Além disso, induzir os trabalhadores a rejeitarem empregos
guem aumentar a taxa de obtenção de emprego, esses progra- pouco atraentes pode levar a uma combinação melhor de tra-
mas diminuem a taxa natural de desemprego. balhadores e empregos. Avaliar os custos e os benefícios de
Outros programas do governo, inadvertidamente, aumen- diferentes sistemas de seguro-desemprego é uma tarefa difícil,
tam a quantidade de desemprego friccional. Um desses progra- que continua a ser tema de muita pesquisa.
mas é o seguro-desemprego. Por esse programa, os trabalha- Os economistas que estudam o seguro-desemprego mui-
dores desempregados podem continuar recebendo uma fração tas vezes propõem reformas que reduziriam o desemprego.
de seu salário por um determinado período depois de perderem Uma proposta comum é exigir que a empresa que dispense
0 emprego. Embora os termos precisos do programa difiram de um trabalhador arque com todo o custo dos benefícios do
ano para ano e de estado para estado, um trabalhador típico desempregado. Esse sistema é chamado de taxa de experiên-
coberto pelo seguro-desemprego nos Estados Unidos recebe cia de 100 por cento, porque a taxa que cada empresa paga ao
50% do seu antigo salário durante 26 semanas. Em muitos pa- sistema de seguro-desemprego reflete a experiência de de-
íses europeus, os programas de seguro-desemprego são ainda semprego de seus trabalhadores. A maioria dos sistemas atu-
mais generosos. ais é de taxa de experiência parcial. Por esse sistema, quando
Ao atenuar as dificuldades económicas do desemprego, o uma empresa dispensa um trabalhador, cobra-se apenas uma
seguro-desemprego aumenta a quantidade de desemprego parte dos benefícios pagos ao desempregado; o restante vem
friccionai e a taxa natural. O desempregado que recebe os be- da receita geral do programa. Como uma empresa paga ape-
nefícios do seguro-desemprego é menos pressionado a procu- nas uma fração do custo do desemprego que causa, tem um
rar um novo emprego, e tem mais probabilidade de rejeitar ofer- incentivo para dispensar trabalhadores quando a demanda
tas de emprego que não sejam muito atraentes. Essas duas mu- por trabalho é temporariamente baixa. Ao reduzir esse in-
danças de comportamento reduzem a taxa de obtenção de centivo, a reforma proposta pode reduzir a incidência de
emprego. Além disso, como sabem que seus rendimentos estão dispensas temporárias.

ESTUDO DE CASO
SEGURO-DESEMPREGO E A TAXA DE OBTENÇÃO DE henefício aumenta o esforço de busca dos desempregados. Ou-
EMPREGO tra possibilidade é que os trabalhadores sem o benefício têm
Muitos estudos examinaram o efeito do seguro-desemprego na maior probabilidade de aceitar ofertas de emprego que, em
obtenção de emprego. Os estudos mais persuasivos utilizam outras circunstâncias, rejeitariam por alegar sahírio baixo ,)li
dados sobre as experiências de desempregados , em vez das ta- péssimas condições de trabalho. 2
xas de desemprego da economia em geral. O s dados individu- Outras evidências sobre a maneira como incentivos eco-
ais muitas vezes proporcionam resulrados profundos , passíveis nômicos afetam a busca por emprego vêm de um experimen-
de poucas explicações alternativas. to realizado pelo estado de Illinois em 1985. Novos requeren-
Um estudo acompanhou a experiência de trabalhadores tes do seguro-desemprego, selecionados de modo aleatório, re-
individuais ao perderem o direit0 aos benefícios do seguro-de- ceberam a oferta de uma bonificação de $500 se conseguis-
semprego. Constatou que , para os desempregados que não mais sem um emprego no prazo de 11 semanas. A experiência sub-
têm direito aos benefícios, é maior a prohabilidade de encon- seqüente desse grupo foi comparada à de um grupo de con-
trar novo emprego. Em particular, a probabilidade de a pessoa trole , ao qual não se ofereceu o incentivo. A duração média
conseguir um novo emprego mais do que dobra quando os be- do desemprego entre o grupo que recebeu a oferta da
nefícios acabam. Uma possível explicação é que a ausência do bonificação de $500 foi de 17 ,O semanas, em comparação com

'Lawrence F. Karz e Bruce D. Meyer, "Unemploymenr lnsurance, Recall Expectations, and Unemploymenc Ourcomes", Qwrcerl~ Joumnl of Economics 105 (novembro de 1990):
973-1002.
110 CAPfTULO 6

18,3 semanas para o grupo de controle. Ou seja, a bonificação mento mostra claramente que os incentivos proporcionados
reduziu o tempo médio de desemprego em 7%, sugerindo que pelo sistema de seguro-desemprego afetam a taxa de obten-
foi dedicado maior esforço à busca por emprego. Esse experi- ção de emprego.3

6-3 RIGIDEZ DO SALÁRIO REAL E DESEMPREGO ESTRUTURAL


Uma segunda explicação para o desemprego é a rigidez salari- dores estão simplesmente esperando que empregos se tornem
al, a impossibilidade do salário de se ajustar até que a oferta de disponíveis.
trabalho iguale a demanda por trabalho. No modelo de equilí- Para compreender a rigidez salarial e o desemprego estrutu-
brio do mercado de trabalho, conforme descrito no Cap. 3, o ral, devemos examinar por que o mercado de trabalho não efe-
salário real ajusta-se para equilibrar oferta e demanda. Só que tua o ajuste. Quando o salário real ultrapassa o nível de equilí-
os salários nem sempre são flexíveis. Às vezes o salário real tor- brio e a oferta de trabalhadores supera a demanda, podemos
na-se rígido acima do nível de ajuste do mercado. esperar que as empresas baixem os salários que pagam. O de-
A Fig. 6-3 mostra por que a rigidez salarial leva ao desem- semprego estrutural ocorre porque as empresas deixam de re-
prego. Quando o salário real está acima do nível que equilibra duzir os salários, apesar do excesso de oferta de trabalho. Pas-
oferta e demanda, a quantidade de trabalho ofertada excede a semos agora às três causas dessa rigidez salarial: as leis do salá-
quantidade demandada. As empresas devem de alguma maneira rio mínimo, o poder de monopólio dos sindicatos trabalhistas
racionar os empregos escassos entre trabalhadores. A rigidez do e os salários de eficiência.
salário rea l reduz a taxa de obtenção de emprego e aumenta o
nível de desemprego.
O desemprego resultante da rigidez sa larial e do raciona-
LEIS DO SALÁRIO MÍNIMO
mento de emprego é chamado de desemprego estrutural. Os O governo causa rigidez salarial quando impede que os salá-
trabalhadores estão desempregados não porque estejam pro- rios caiam a níveis de equilíbrio. As leis do salário mínimo
curando ativamente por empregos que melhor se ajustem às determinam um mínimo legal para os salários que as empre-
suas habilidades individuais, mas sim porque, ao salário exis- sas pagam a seus empregados. Desde a aprovação da Fair La-
tente, a oferta de trabalho supera a demanda . Esses trabalha - bor Standard Act (Lei dos Padrões de Trabalho Justos ), em

Salário real
Oferta

Salário Quantidade
real de desemprego
rígido

Quantidade
de trabalho Demanda
contratado

Trabalho
Quantidade de
mão-de-obra
disposta q trabalhar

Fig. 6-3 Rigidez de Salário Real Leva a Racionamento de Emprego Se o salário real torna-se rígido acima do nível de equilíbrio, a oferta de
trabalho supera a demanda. O resultado é desemprego .

'Stephen A. Woodbury e Robert G. Spiegelman, "Bonuses to Workers and Employers to Reduce Unemploymenc: Randomized T rials in Illinois", American Economic Review 77
(setembro de 1987): 513-530.
r
1

DESEMPREGO 111

1938, o governo federal dos Estados Unidos tem imposto um semprego para alguns trabalhadores, os defensores do salário
salário mínimo que, em geral, situa-se entre 30 e 50% do sa- mínimo também argumentam que vale a pena suportar esse
lário médio na indústria. Para a maioria dos trabalhadores, o custo para tirar outros da pobreza.
salário mínimo não é compulsório, porque eles ganham mui- Os que se opõem a um salário mínimo maior alegam que essa
to acima. Para alguns trabalhadores, no entanto, especialmen- não é a melhor maneira de ajudar os trabalhadores pobres.
te os não-qualificados e os inexperientes, o salário mínimo au- Argumentam que não apenas os custos elevados do trabalho
menta o ganho acima do nível de equilíbrio. Portanto, reduz aumentam o desemprego , mas também que o salário mínimo
a quantidade de trabalho dessas pessoas que as empresas de- tem um alvo distorcido. Muitos dos que ganham salário míni-
mandam. mo são adolescentes de classe média, que trabalham por dinhei-
Os economistas acreditam que o salário mínimo causa um ro para despesas extras. De cerca de 3 milhões de trabalhado-
impacto maior no desemprego de adolescentes. Os salários de res que ganham salário mínimo, mais de um terço são adoles-
equilíbrio dos adolescentes tendem a ser baixos por dois moti- centes.
vos. Primeiro, por estarem entre os membros menos qualifica- Para atenuar os efeitos do desemprego de adolescentes, al-
dos e menos experientes da força de trabalho, os adolescentes guns economistas e formuladores de política econômica há
tendem a ter uma produtividade marginal baixa. Segundo, os muito defendem isentar os jovens do recebimento do salário
adolescentes muitas vezes assumem parte da sua "remuneração" mínimo regular. Isso possibilitaria um sa lário mais baixo para
em forma de treinamento no emprego, em vez de um pagamento os adolescentes, reduzindo assim o desemprego nessa faixa etá-
direto. O aprendizado é um exemplo clássico de oferta de trei- ria e permitindo que adquirissem treinamento e experiência no
namento em vez de salário. Por esses dois motivos, o salário ao trabalho. O s que se opõem a essa isenção argumentam que ela
qual a oferta de força de trabalho adolescente iguala a deman- proporciona às empresas um incentivo à substituição de adul-
da é baixo. O salário mínimo, portanto, é com mais freqüência tos não-qualificados por adolescentes, aumentando assim a taxa
compulsório para os adolescentes do que para as outras pessoas de desemprego naquele grupo. Uma isenção limitada desse tipo
na força de trabalho. foi experimentada de 1991 a 1993. Por causa das muitas restri-
Muitos economistas têm estudado o impacto do salário mí- ções ao seu uso, no entanto, teve apenas um efeito limitado, e
nimo no emprego de adolescentes. Esses pesquisadores compa- por isso não foi renovada pelo Congresso.
ram a variação do salário mínimo ao longo do tempo com a Muitos economistas e formuladores de política econômica
variação do número de adolescentes que estão empregados. ach am que créditos fiscais constituem a melhor maneira de au-
Esses estudos constatam que um aumento de 10% do salário mentar os rendimentos dos trabalhadores pobres. O crédito fis-
mínimo reduz o emprego adolescente em 1 a 3%. 4 cal por rendimento recebido é uma quantia que as famílias de tra-
O salário mínimo é uma fonte perene de debate sobre polí- balhadores pobres têm permissão para deduzir dos impostos que
tica econômica. Os defensores do salário mínimo maior consi- devem pagar. Para uma família de rendimentos muito baixos,
deram-no um meio de aumentar a renda do trabalhador pobre. o crédito ultrapassa os impostos, e a família recebe um paga-
Mas o salário mínimo proporciona apenas um padrão de vida mento do governo. Diferentemente do salário mínimo, o cré-
austero: nos Estados Unidos, dois adu ltos que trabalhassem em dito fiscal por rendimento recebido não cria custos de traba-
tempo integral pelo salário mínimo mal conseguiriam manter lho para as empresas; portanto, n ão reduz a quantidade de tra-
uma família de quatro pessoas acima do nível oficial de pobre- balho que as empresas demandam. T em a desvantagem, n o
za. Embora admitam muitas vezes que essa política causa de- entanto, de reduzir a receita fiscal do governo.

ESTUDO DE CASO - - - - - - - - - - - - - - ,
UMA VISÃO REVISIONISTA DO SAIÁRIO MÍNIMO Um estudo examinou a contratação por restaurantes de fast-
Embora a maioria dos economistas ach e que aumentos do sa- food em Nova Jersey quando o salário mínimo estad1.1al foi au-
lário mínimo reduzem o emprego de trabalhadores com baixa mentado. Os restaurantes de fast-food são empresas típicas para
qualificação e experiência, estudos recentes questionam essa se examinar no caso, porque empregam muitos trabalhadores
conclusão.Três respeitados economistas especializados em tra- de baixa renda. Para manter sob controle outros efeitos, como
balho - David Card, Lawrence Katz e Alan Kruege r - exa- as condições econômicas gerais, os restaurantes de Nova Jersey
minaram vários exemplos de variações do salário mínimo a fim foram comparados a restaurantes similares na Pensilvânia, es-
de determinar a magnitude do efeito sobre o emprego. Foi sur- tado contíguo a N ova Jersey. A Pensilvânia não aumentou o
preendente o que eles descobriram. salário mínimo na mesma ocas ião. Segundo a teoria padrão, o

'Charles Brown, "Minimum Wage Laws: Are They Overrated?", Journal of Economic Perspectives 2 (verão de I988): 133-146.
112 CAPÍTULO 6

emprego nos restaurantes de Nova Jersey deveria ter caído em Esta nova visão do salário mínimo é controversa. Os críti-
relação ao emprego nos restaurantes da Pensilvânia. Contrari- cos têm questionado a confiabilidade dos dados utilizados no
ando essa hipótese, os dados mostraram que o emprego aumen- estudo em Nova Jersey. Alguns estudos usando outras fontes
tou nos restaurantes de Nova Jersey. de dados chegarem à conclusão tradicional, de que o salário mí-
Como é possível esse resultado aparentemente contraditó- nimo diminui o emprego. Além disso, a maioria dos economis-
rio? Uma explicação é que as empresas têm algum poder de tas é cética com relação à explicação monopsônica, porque a
negociação no mercado de trabalho. Como você deve ter apren- maioria das empresas compete com muitas outras pelos traba-
dido em cursos de microeconomia, uma empresa monopsôníca lhadores. Contudo, essa nova visão afetou diretamente o de-
compra menos trabalho a um salário menor do que faria uma bate de política econômica. Lawrence Katz foi o primeiro eco-
empresa competitiva. Em suma, a empresa reduz o emprego para nomista-chefe do Departamento do Trabalho durante a admi-
diminuir o salário que tem de pagar. Um salário mínimo impe - nistração Clinton. Foi seguido nesse cargo por Alan Krueger.
de a empresa monopsônica de seguir essa estratégia, e com isso Portanto, não surpreende que o presidente Clinton apoiasse au-
é possível (até certo ponto) aumentar o emprego. mentos do salário mínimo nacional,;

SINDICATOS TRABALHISTAS E NEGOCIAÇÃO poderiam ser contratados se os salários fossem mais baixos.
Esses dois grupos têm, inevitavelmente, interesses conflitan-
COLETIVA tes. O efeito de qualquer processo de negociação sobre salári-
Uma segunda causa da rigidez salarial é o poder monopolista os e emprego depende em grande parte da influência relativa
dos sindicatos trabalhistas. A Tabela 6-1 mostra a importân- de cada grupo.
cia dos sindicatos trabalhistas em 12 grandes países. Nos Esta- O conflito entre empregados e desempregados é resolvido
dos Unidos, apenas 16% dos trabalhadores pertencem a sindi- de maneiras diferentes em diferentes países. Em alguns, como
catos. Na maioria dos países europeus, os sindicatos dese mpe- os Estados Unidos, a negociação salaria l ocorre no nível da
nham um papel muito mais amplo. empresa ou da fábrica. Em outros, como a Suécia, a negocia-
Os salários dos trabalhadores sindicalizados não são deter- ção salarial ocorre em nível nacional, com o governo desem-
minados pelo equilíbrio entre oferta e demanda, mas pela ne- penhando muitas vezes um papel fundamental. Apesar de ter
gociação coletiva entre líderes sind icais e empregadores. Mui- uma força de trabalho bastante sindicalizada, a Suécia não ex-
tas vezes o acordo final aumenta o salário acima do nível de perimentou desemprego muito alto ao longo de SlHl história.
equilíhrio, e permite que a empres,1 decida quantos trabalha- Uma possível explicação é a de que a centralização da negoci-
dores empregar. O resultado é uma redução no número de tra- ação sa larial e o papel do governo no processo de barganha
halhadores contratados, uma taxa de obtenção de emprego proporcionam maior influência aos desempregados, o que man -
menor e aumento do desemprego estrutural. tém os salários mais próximos do nível de equilíbrio.
Os sindicatos também podem influenciar os sahírios pagos
pelas empresas cuja fo rça de trabalho não é sindicalizada, por-
que a ameaça de sindicalização pode manter os salários aci-
ma do nível de equilíhrio. A maioria das empresas nãli vê com TABELA 6-1 Associação Sindical como Percentual de
bons olhos os sindicatos trahalhistas. Os sindicatos nãn ape- Emprego
nas aumentam o sa lário. mas tamhém podem aumentar o Percentual de Percentual de
poder de negociação da força de trabalho em muitas outras Trabalhadores Trabalhadores
questões, como jornada de trabalho e as condições de traba- País Sindicalizados País Sindicalizados
lho. Uma empresa pode optar por pagar salários mais altos a
seus trabalhadores, a fim de dissuadi-los da idéia de formar um Suécia 84 Alemanha 33
Dinamarca 75 Holanda 28
sindicato. Itália 47 Suíça 28
O desemprego causado por sindicatos e pela ameaça de Reino Unido 41 Japão 26
sindicalização é um exemplo de conflito entre diferentes gru- Austrália 34 Estados Unidos 16
pos de trabalhadores: empregados e desempregados. Ostra- Canadá 33 França 11
balhadores já empregados por uma empresa, geralmente ten-
Fonte: Clara Chang e Constance Sorrentino. "Union Membership Statistics ín
tam manter os salários em níveis elevados. Os desemprega- 12 Countries" , Monthly Labor Review (dezembro de 1991) 46-53.
dos arcam com parte do custo dos salários mais altos, porque

;Para saber mais sobre essa nova visão do salário mínimo, veja David Carde Alan Krueger, Mytl, and Measurement : The Neu•Economics of the Minimum Wage (Princecon, New
Jersey: Princeton University Press, 1995 ); e Lawrence Katz e Alan Krueger, "The Effects of the Minimum Wage on the Fast-Food lndustty", Industrial and Labo-r Relarions Re11iew
46 (outubro de 1992): 6-21.
r DESEMPREGO 113

i- SALÁRIOS DE EFICIÊNCIA lário pago a seus empregados. Se a empresa reduz os salários, os


lO melhores empregados podem aceitar outros empregos. Assim,
As teorias do salário de eficiência propõem uma terceira cau- a empresa fica com empregados inferiores, que têm menos opor-
es
sa da rigidez salarial, além das leis do salário mínimo e da tunidades alternativas. Os economistas reconhecem essa op-
.í-
sindicalização. Essas teorias sustentam que os salários altos tor- ção desfavorável como um exemplo de seleçao adversa - ten-
s-
nam os trabalhadores mais produtivos. A influência do salário dência de pessoas com mais informação (neste caso, os traba-
a
na eficiência do trabalhador pode explicar o fato de algumas lhadores que conhecem as oportunidades externas) a auto-se-
a-
empresas deixarem de cortar salários, apesar do excesso de oferta lecionarem, de uma maneira que deixa em desvantagem as
e-
)-
de trabalho. Embora possa diminuir a folha de pagamento da pessoas com menos informação (a empresa). Ao pagar um sa-
empresa, a redução salarial poderia também - se essas teorias lário acima do nível de equilíbrio, a empresa pode reduzir a
.i-
estão corretas - baixar a produtividade do trabalhador e os seleção adversa, melhorar a qualidade média de sua força de
:r.
lucros da empresa. trabalho e, com isso, aumentar a produtividade.
J-
Os economistas têm proposto várias teorias para explicar
Uma quarta teoria do salário de eficiência sustenta que um
_J como os salários afetam a produtividade do trabalhador. Uma
salário alco melhora o esforço do trabalhador. Segundo essa
teoria do salário de eficiência, aplicada principalmente nos
teoria, as empresas não podem monitorar com perfeição o es-
países mais pobres, sustenta que os salários têm influência na
forço de trabalho de seus empregados, e os empregados devem
nutrição. Os trabalhadores mais bem remunerados podem se
,s. decidir com quanto empenho trabalham. Os trabalhadores
proporcionar uma dieta mais nutritiva, e trahalhadores mais
1- podem optar pelo trabalho árduo, ou preferir se esquivar do
saudáveis são mais produtivos. Uma empresa pode decidir pa-
·i- esforço, correndo o risco de serem descobertos e demitidos.
gar um salário acima do nível de equilíbrio para manter uma
Os economistas reconhecem essa possibilidade como um
'ª força de trabalho saudável. Ohviamente, essa consideração n ão
exemplo de risco moral~ a tendência das pessoas se compor-
é importante para países ricos, como os Estados Unidos e a
lo maioria dos p,IÍses europeus, porque o salário de equilíbrio está tarem de maneira imprópria quando seu comportamento não
10 muito acima do nível necessário para se manter uma boa saúde. é monitorado com rigor. A empresa pode reduzir o problema
1a Uma segunda teoria do salário de eficiência, mais relevante do risco moral pagando salários altos. Quanto mais elevado o
a- para os países desenvolvidos, é que salários altos reduzem a salário, maior o custo para o trabalhador se for demitido. Ao
n- rotatividade no emprego. Os trabalhadores deixam o emprego pagar um salário maior, a empresa induz mais de seus empre-
er por muitos motivos: aceitar pos ições melhores em outras em- gados a não se absterem do esforço, o que leva ao aumento da
x:- presas, mudar de carreira, ou ir morar em outras partes do país. produtividade.
a. Quanto melhor uma empresa paga a seus trabalhadores, maior Embora divirjam em detalhes, essas quatro teorias do salá-
:i- o incentiw1 para que eles permaneçam no emprego. Ao pagar rio de eficiência partilham um tema comum: visto que opera
ia um salário alto, uma empresa reduz a freqüência de demissões, com mais eficiência se paga um salário alto a seus trabalhado-
:l- diminuindll as~im o tempo gasto em contratação e treinamen- res, a empresa pode julgar lucrativo manter os salários acima
to de no\·os trnhalhadores. do nível que equilibra oferta e demanda. O resultado desse sa-
Uma terce ir,t teoria do salário de eficiência é que a qualida- lário superior ao salário de equilíbrio é uma taxa mais baixa de
de média da força Je trabalho de uma empresa depende dosa- obtenção de emprego e maior desemprego. 6

ESTUDO DE CASO
O DIA DE TRABALHO DE $5 DE HENRY FORD empresa que paga salários baixos é sempre insegura. [... ] Opa-
Em I 9 I 4, a Ford Motor Company começou a pagar $5 por dia gamento de cinco dólares por dia, por uma jornada de oito horas
a seus trabalhaJores. O sa lário predominante na época era en- de trabalho, foi uma das melhores economias de custos que já
tre $2 e $1 por dia. Assim sendo, o salário de Ford estava bem fizemos."
acima do nível de e4uílíbrio. Não foi surpresa o fato de que Do ponto de vista da teoria econômica tradicional, a expli-
longas filas de pessoas à procura de emprego se formassem na cação de Ford parece estranha. Ele sugeria que salários altos
frente dos po rtões da fábrica da Ford, na esperança de uma acarretavam custos baixos. Talvez Ford tivesse descoberto a
oportunidade de ganhar esse salário mais alto. teoria do salário de eficiência. T ai vez estivesse usando o salá-
Qual era o motivo da Ford? Mais tarde, Henry Ford escre- rio alto para aumentar a produtividade do trabalhador.
veu: "Queremos pagar esses salários para que a empresa tenha As evidências sugerem que pagar salários tão altos be-
uma base duradoura. Estamos construindo para o futuro. Uma neficiou a empresa. Segundo um relatório de engenharia es-

ew
ew ' Para uma análise mais ampla dos salários de eficiência, veja Janet Yellen, "Efficiency Wage Models ofUnemployment", Amerimn Economic Review Papers arui Proceedings (maio
de 1984): 200-205; e Lawrence Katz, "Effíciency Wages: A Partia! Evaluation", NBER Macroeconomics Annual (1986): 235·276.
114 CAPITULO 6 1'
crito na ocasião, "o salário alto da Ford acaba com toda inér- início da Ford Motor Company, escreveu: "Ford e seus as-
cia e resistência ao trabalho. [... ] Os trabalhadores são ab- sociados declararam com franqueza, em muitas ocasiões, que
solutamente disciplinados, e é seguro dizer que todos os dias, a política de salário alto acabou se tornando um bom negó-
desde o último dia de 1913, têm ocorrido grandes reduções cio. Com isso, estavam querendo dizer que melhorara adis-
nos custos de trabalho nas fábricas da Ford". O absenteísmo ciplina dos trabalhadores, que passaram a ter um interesse
caiu em 75%, sugerindo um considerável aumento no es- mais leal pela instituição, e aumentaram sua eficiência pes-
forço de trabalho. Allan N evins, historiador que estudou o soal. "7

6-4 PADROES DE DESEMPREGO


Até aqui desenvolvemos a teoria que há por trás da taxa natu- semprego foi de 5,6%. Naquele ano, 60% dos períodos de de-
ral de desemprego. Começamos por demonstrar que a taxa de semprego acabaram em um mês, mas 69% das semanas de de-
desemprego da economia no estado estacionário depende das semprego ocorreram em períodos que duraram dois ou mais
taxas de perda e de obtenção de emprego. Depois, analisamos meses.R
duas razões para que a obtenção de emprego não seja instantâ- Para entender como esses dois fatos podem ser verdadei-
nea: o processo de busca por emprego (que leva ao desemprego ros, considere o exemplo a seguir. Suponha que 10 pessoas
friccionai) e a rigidez salarial (que leva ao desemprego estrutu- estão desempregadas durante parte de um ano dado. Dessas
ral). A rigidez salarial, por sua vez, deriva das leis do salário 1O pessoas, 8 estão desempregadas há 1 mês e 2 estão desem-
mínimo, da sindicalização e dos salários de eficiência. pregadas há 1Z meses, totaliiando 3 2 meses de desemprego.
Tendo essas teorias como base, examinaremos agora alguns Neste exemplo, a maioria dos períodos de desemprego é cur-
fatos adicionais sobre o desemprego. Esses fatos nos ajudarão a ta: 8 dos 1Operíodos de desemprego, ou 80%, terminam em 1
avaliar nossas teorias e analisar as políticas econômicas que mês. Contudo, a maior parte dos meses de desemprego é atri-
visam à redução do desemprego. buível às pessoas desempregadas no longo prazo: 24 dos 32
meses de desemprego, ou 75%, são experimentados por 2 tra-
balhadores que estão desempregados há 12 meses. Dependen-
A DURAÇÃO DO DESEMPREGO do da observação por períodos de desemprego ou meses de
Quando uma pessoa fica desempregada, o período de desem- desemprego, a maior parte do desemprego pode parecer de
prego tem maior probabilidade de ser curto ou longo? Ares- curto ou de longo prazo.
posta a essa questão é importante, porque indica as razões para Essa evidência sobre a duração do desemprego tem uma
o desemprego e qual a resposta adequada da política econô- implicação importante na política econômica. Se a meta é re-
mica. Por um lado, se a maior parte do desemprego é de curto duzir substancialmente a taxa natural de desemprego, as polí-
prazo, pode-se argumentar que é friccionai e talvez inevitá- ticas devem visar ao desempregado de longo prazo, porque es-
vel. Os trabalhadores desempregados podem precisar de algum sas pessoas representam uma grande quantidade do desempre-
tempo para procurar o emprego que seja mais adequado às suas go. Mas as políticas devem ser formuladas com o maior cuida-
habilidades e seus gostos. Por outro lado, o desemprego de do, porque os desempregados de longo prazo constituem uma
longo prazo não pode ser facilmente atribuído ao tempo ne- pequena minoria entre os que ficam desempregados. A maio-
cessário para combinar empregos e trabalhadores: não espe- ria dos desempregados encontra trabalho no curto prazo.
raríamos que esse processo levasse muitos meses. O desempre-
go de longo prazo tem maior probabilidade de se tornar um VARIAÇÃO NA TAXA DE DESEMPREGO
desemprego estrutural. Assim, os dados sobre a duração do
período de desemprego podem afetar nossa posição quanto às ENTRE GRUPOS DEMOGRÁFICOS
causas do desemprego. A taxa de desemprego varia bastante entre grupos diferentes
A resposta à nossa questão é bastante sutil. Os dados mos- da população. A Tabela 6-2 apresenta as taxas de desemprego
tram que a maioria dos períodos de desemprego é curta, mas nos Estados Unidos de diferentes grupos populacionais em 2000,
que a maioria das semanas de desemprego é atribuível ao de- quando a taxa geral de desemprego foi 4,0%.
sempregado de longo prazo. Considere os dados norte-ameri - Essa tabela mostra que, para os trabalhadores mais jovens,
canos de um ano típico, 1974, durante o qual a taxa de de- as taxas de desemprego são muito mais altas do que para os

:Jeremy 1. Bulow e Lawrence H. Surilmers, "A Theory of Dual Labor Markecs With Application to Industrial Policy, Discriminacion, and Keynesian Unemployment", Journal
of Labor Economics 4 (julho de 1986): 376-414; e Daniel M. G. Raff e Lawrence H. Summers, "Did Henry Ford Pay Efficiency Wages ?",Journal of Labor Economics 5 (outubro de
1987, Parte 2): S57-S86.
'Kim B. Clark e Lawrence H. Summers. "Labor Market Dynamics and Unemployment: A Reconsideration", Brooking Papers on Economic Acciviry (1979: 1): 13-72.
r DESEMPREGO 115

rar abaixo de 5% nos anos 1990. Embora não tenham uma


e explicação conclusiva para essas mudanças, os economistas têm
proposto várias hipóteses.
Homem Mulher Homem Mulher
Idade Branco Branca Negro Negra Demografia Uma explicação ressalta a mudança na compo-
sição da força de trabalho nos Estados Unidos. Depois da Se-
16-19 12,3 10,4 26,4 23,0
gunda Guerra Mundial, as taxas de natalidade tiveram um au-
J 20 e mais 2,8 3,1 7,0 6,3
mento acentuado: o número de nascimentos subiu de 2,9 mi-
Fonte: U. S. Department of Labor. lhões em 1945 para um pique de 4,3 milhões em 1957, antes
de cair para 3,1 milhões em 1973. Esse aumento de nascimen-
tos na década de 1950 levou a um aumento do número de jo-
vens trabalhadores na década de 1970. Os trabalhadores mais
mais velhos. Para explicar essa diferença, lembre-se do nosso jovens têm taxas de desemprego mais altas, no entanto; por isso,
modelo da taxa natural de desemprego. O modelo isola duas quando a geração do baby-boom (grande surto de nascimentos
causas possíveis para uma elevada taxa de desemprego: baixa após a Segunda Guerra) entrou na força de trabalho, o nível
taxa de obtenção de emprego e alta taxa de perda de empre- médio de desemprego subiu. Depois, quando os trabalhadores
go. Quando os economistas estudam os dados sobre a transi- do baby-boom se romaram mais velhos, a idade média da força
ção das pessoas entre emprego e desemprego, descobrem que de trabalho aumentou, diminuindo a taxa média de desempre-
os grupos com alto desemprego tendem a ter altas taxas de go na década de 1990.
perda do emprego. Encontram menos variações entre os gru- Essa mudança demográfica, porém, não explica plenamen-
pos na taxa de obtenção de emprego. Por exemplo, os homens te as tendências do desemprego, porque tendências similares
brancos empregados têm probabilidade quatro vezes maior de são patentes em grupos demográficos fixos. Por exemplo, para
ficar desempregados se forem adolescentes do que se estive- os homens entre 25 e 54 anos, a taxa média de desemprego
rem na meia-idade; depois que alguém fica desempregado, a subiu de 3,0% na década de 1960 para 6,1 % nos anos 1980.
taxa de obtenção de emprego não tem relação estreita com a Assim, embora as mudanças demográficas possam ser parte da
idade. história de elevação do desemprego durante esse período, deve
Esses resultados ajudam a explicar as taxas de desemprego haver também outras explicações para a tendência no longo
mais altas para os trabalhadores mais jovens. Os trabalhadores prazo.
mais jovens entraram há pouco templ) no mercado de traba-
lho, e muitas vezes ainda se sentem indecisos quanto aos pla- Mudanças Setoriais Uma segunda explicação baseia-se nas
nos de carreira. Pode ser melhor para eles experimentar diver- alterações na prevalência de mudanças setoriais. Quanto mai-
sos tipos de trabalho antes de assumirem um compromisso a or a quantidade de realocação setorial, maior a taxa de perda
longo prazo com uma ocupação específica. Se assim for, deve- de emprego, e mais alto o nível de desemprego friccionai. Uma
mos esperar uma taxa maior de perda de emprego e uma taxa fonte de mudanças setoriais durante as décadas de 1970 e iní-
maior de desemprego friccionai para esse grupo. cio da década de 1980 foi a grande instabilidade nos preços do
Outro fato que sobressai na Tabela 6-2 é que as taxas de petróleo causada pela OPEP, o cartel intemacional do petró-
desemprego são muito mais altas entre os negros do que en- leo. Essas grandes mudanças dos preços do petróleo podem ter
tre os brancos. Esse fenômeno não é hem compreendido. Os forçado a realocação do trabalho entre setores com consumo
dados sobre transições entre emprego e desemprego mostram mais intensivo e setores de consumo menos intensivo de ener-
que as taxas mais altas de desemprego dos negros, especial- gia. Neste caso, a instabilidade do preço do petróleo pode ter
mente dos adolescentes negros, ocorrem por causa das taxas aumentado o desemprego durante esse período. Embora seja di-
mais altas de perda de emprego e das taxas mais baixas de fícil de avaliar, essa explicação é coerente com acontecimentos
obtenção de emprego. As possíveis razões para as taxas mais recentes: a queda do desemprego durante a década de 1990 co-
baixas de obtenção de emprego incluem menos acesso às re- incidiu com uma crescente estabilidade nos preços do petróleo.
des informais de busca de emprego e discriminação de parte
dos empregadores. Produtividade Uma terceira explicação para as tendências
do desemprego enfatiza a ligação entre desemprego e produti-
TENDÊNCIAS DO DESEMPREGO NOS vidade. Como o Cap. 8 analisa mais plenamente, a década de
1970 registrou uma redução do aumento da produtividade,
ESTADOS UNIDOS enquanto a década de 1990 teve uma aceleração do crescimento
Ao longo do último meio século, a taxa natural de desemprego da produtividade. Essas variações da produtivida~e coincidem
nos Estados Unidos não tem se mantido estável. Se você veri- mais ou menos com mudanças no desemprego. E possível que
ficar a Fig. 6-1, vai constatar que a taxa média de desemprego a redução da produtividade durante a década de 1970 tenha
situou-se abaixo de 5% nas décadas de 1950 e 1960, subiu para aumentado a taxa natural de desemprego, enquanto a acelera-
mais de 6% nas décadas de 1970 e 1980, e depois voltou a pai- ção da produtividade na década de 1990 baixou-a.
116 CAPÍTULO 6

Por que ocorreria esse feito, no entanto, não é óbvio. Em outro lado, algumas pessoas podem querer um emprego, mas
teorias padrões do mercado de trabalho, produtividade maior acabam desistindo depois de buscas infrutíferas. Esses trabalha-
significa mais demanda por trabalho, e com isso salários reais dores desencorajados são contados como fora da força de tra-
mais altos, embora o desemprego permaneça inalterado. Essa balho, e não aparecem nas estatísticas de desemprego. Embora
predição é coerente com os dados no longo prazo, que mostram não seja medida, essa falta de emprego pode, mesmo assim,
tendências consistentes de crescimento da produtividade e dos constituir um problema social.
salários reais, mas sem impacto no desemprego. Mas suponha Por causa dessas e de muitas outras questões que complicam
que os trabalhadores demorem a captar a notícia sobre a pro- a interpretação dos dados sobre desemprego, o Bureau of La-
dutividade. Quando a produtividade muda, os trabalhadores bor Statistics (Departamento de Estatísticas do Trabalho) cal-
podem alterar apenas gradativamente os salários reais que rei- cula várias medidas de subutilização do trabalho. A Tabela 6-
vindicam dos empregadores, fazendo com que os salários reais 3 dá a definição e seus valores, em março de 2001. As medidas
sejam mais lentos na reação à demanda por trabalho. Uma variam de 1,2 a 7,6%, dependendo das características que se
aceleração do crescimento da produtividade, como a que ocor- tomam para classificar um trabalhador como não plenamente
reu durante a década de 1990, aumentará a demanda por tra- empregado.
balho, e, com o salário real variando lentamente, reduzirá o
desemprego. 0 AUMENTO DO DESEMPREGO EUROPEU
No final. as tendências da taxa de desemprego permanecem
um mistério. As explicações propostas são plausíveis, mas ne- Embora nossa análise tenha focalizado em grande parte os Es-
nhuma parece ser conclusiva por si só. Talvez não haja uma tados Unidos, uma questão desconcertante relativa ao desem-
resposta única. A oscilação para cima na taxa de desemprego prego envolve os recentes acontecimentos na Europa. A Fig.
nas décadas de 1970 e 1980 e a oscilação para haixo na década 6-4 mostra a taxa de desemprego nos países que constituem a
de 1990 podem ser o resultado de vários eventos não -relacio- Comunidade Européia: Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamar-
nados.9 ca, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, It ália,
Luxemburgo, Holanda, Portugal, Reino Unido e Suécia. Como
ENTRADAS E SAÍDAS DA FORÇA DE se peide constatar, a taxa de desemprego nesses países subiu de
maneira considerável: a média era menos de 3% na década de
TRABALHO 1960 e passou a ser mais de 10% em anos recentes.
Até aqui, ignoramos um aspecto importante da dinâmica do Qual é a causa do crescente desemprego europeu? Não se
mercado de trabalho: o movimento de pessoas entrando e sa- sabe ao certo, mas uma teoria se destaca. Muitos economistas
indo da força de trabalho. Nosso modelo da taxa natural de acham que o problema pode ser atribuído aos generosos bene-
desemprego pressupõe que o tamanho da força de trabalho seja fícios concedidos aos trabalhadores desempregados, somando-
constante. Nesse caso, o motivo exclusivo do desemprego é a se a mudanças tecnológicas que condicionaram a queda da de-
perda de emprego, e o motivo exclusivo para sair do desempre- manda por trabalhadores não-qualificados em relação aos
go é a obtenção de emprego. trabalhadores qualificados.
Na verdade, as variações da força de trabalho são importan- Não resta a menor dúvida de que a maioria dos países eu-
tes. Cerca de um terço dos desempregados só entrou na força ropeus tem programas generosos para aqueles que estão sem
de trabalho recentemente. Alguns desses iniciantes são jovens emprego. Esses programas assumem diversos nomes: seguro so-
trabalhadores ainda à procura do primeiro emprego; outros já cial, estado de bem-estar social, ou simplesmente "henefício".
trabalharam antes, mas deixaram temporariamente a força de Muitos países permitem que os desempregados recebam be -
trabalho. Além disso, nem todo desemprego acaba com a ob- nefícios indefinidamente, em vez de limitar o benefício a um
tençâú de emprego; quase metade de todos os períodos de de- breve período, como acontece nos Estados Unidos. Estudos
semprego acaba com a saída da pessoa desempregada do mer- mostraram que os países com benefícios mais generosos ten-
cado de trabalho. dem a ter taxas de desemprego mais ele vadas. Em certo senti-
As pessoas entrando e saindo no mercado de trabalho tor- do, as pessoas que vivem do "benefício" estão realmente fora
nam mais difícil a interpretação das estatísticas de desempre- da força de trabalho: diante das oportunidades de emprego
go. Por um lado, algumas pessoas que se declaram desemprega- disponíveis, aceitar um emprego é menos atraente do que
das podem não estar procurando um emprego a sério, e talvez permanecer sem trabalho. Contudo, essas pessoas são freqüen-
devam ser consideradas como fora da força de trabalho. Seu temente contadas como desempregadas nas estatísticas do
"desemprego" pode não representar um problema social. Por governo.

'Sobre o papel dos aspectos demográficos, veja Robert Shimer, "Why Is che U.S. Unemployment Rate Só Much Lower?", NBER Macraecanomiçs Annual 13 (!998}. Sobre o
papel das mudanças setoriais, veja David M. Lilien, "Seccora1Shifcs and Cyclical Unemploymem",Journal of Political Economy 90 (agosto de 1982): 777-793. Sobre o papel da
produtividade, veja Laurence Bali e Robert Moffitt, "Productivity Growth and the Phillips Curve", NBER Working Paper No. 8421, agosto de 2001.
r DESEMPREGO 117

Percentual em
Definição Março de 2001
U-1 Pessoas desempregadas há 15 semanas ou mais, como um percentual da força de 1,2%
trabalho civil (inclui apenas o desempregado de longuíssimo prazo )
U-2 Perdedores de empregos e pessoas que concluíram empregos temporários, como 2,4
percentual da força de trabalho civil (exclui os que deixaram o emprego)
U-3 Total de desempregados, como percentual da força de trabalho civil (taxa oficial de 4,6
desemprego)
U-4 Total de desempregados, mais trabalhadores desencorajados, como percentual da força 4,8
de trabalho civil mais trabalhadores desencorajados
U-5 Total de desempregados ma:is todos os trabalhadores marginais, como percentual da 5,3
força de trabalho civil mais todos os trabalhadores marginais
U-6 Total de desempregados, mais todos os trabalhadores marginais, mais total de empregados 7,6
em tempo parcial por razões econõmicas, como percentual da força de trabalho civil mais
todos os trabalhadores marginais

Observação: Trabalhadores marginais são aqueles que no momento não estão trabalhando nem procurando trabalho, mas indicam que querem e estão disponíveis,
e que procuraram emprego em algum momento do passado recente. Os trabalhadores desencorajados, um subgrupo dos trabalhadores marginais, têm uma razão
relacionada com o mercado para não estarem procurando trabalho no momento. Os empregados em tempo parcial por razões econômicas são aqueles que querem
e estão disponíveis a um emprego em horário integral, mas tiveram de se contentar com um expediente parcial.
Fonte: U. S. Department of Labor.

Também não resta a menor dúvida de que a demanda por salários em vez do desemprego: ao longo das duas últimas dé-
trabalhadores não-qualificados caiu em relação aos trabalha- cadas, os salários dos trabalhadores não-qualificados caíram
dores qualificados . Essa mudança da demanda provavelmente substancialmente em relação aos salários dos trabalhadores
se deve a mudanças da tecnologia: os computadores, por exem- qualificados. Na Europa, no entanto, o estado de bem-estar
plo, aumentam a demanda por trabalhadores que são capazes social proporciona aos trabalhadores não-qualificados uma al-
de usá-los, e reduzem a demanda pelos que não são. Nos Esta- ternativa ao trabalho por baixos salários. À medida que caem
dos Unidos, essa mudança da demanda tem se refletido nos os sahí.rios dos trabalhadores não-qualificados, mais trabalha-

Percentual
desempregado
12

10

O'----~ - - - -' - - - -~ - - - - ' - - - - ~ - - - ~ ' - -- - ~ - - - ~


1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000
Ano

Fig. 6-4 Desemprego na Comunidade Européia Esta figura mostra a taxa de desemprego nos 15 países que integram a Comunidade Européia.
Fica evidente que a taxa de desemprego na Europa aumentou consideravelmente desde 1980.
Ponte: OCDE.
--
118 CAPITULO 6
1'
;

dores encaram o "benefício" como sua melhor opção disponí- no para os desempregados estimularia os trabalhadores a abrirem
vel. O resultado é um desemprego mais elevado. mão deles, aceitando empregos de baixos salários. Mas também
Esse diagnóstico do elevado desemprego europeu não sugere exacerbaria a desigualdade econômica - o problema pelo qual
uma solução fácil. Reduzir a magnitude dos benefícios do gover- foram projetadas as políticas do estado de bem-estar social. 10

ESTUDO DE CASO - - - - - - - - - - - -
ÜS SEGREDOS DA FELICIDADE tos, em vez das causas, da felicidade: por exemplo, uma pessoa
Por que algumas pessoas se sentem mais satisfeitas com sua vida feliz pode descobrir que é mais fácil manter o emprego e o côn-
do que outras? É uma questão profunda e difícil, deixada com juge do que pode uma pessoa infeliz.)
mais freqüência para os filósofos e os psicólogos. Mas parte da Além dessas características individuais, as taxas gerais de
resposta é dada pela macroeconomia. Pesquisas recentes mos- desemprego e de inflação da economia também desempenham
traram que as pessoas são mais felizes quando vivem em um país papel significativo na explicação da felicidade relatada. Um
com inflação baixa e desemprego baixo. aumento da taxa de desemprego de 4 pontos percentuais é bas-
De 1975 a 1991, uma pesquisa chamada Euro-Barometer tante grande para transferir 11 % da população de uma catego-
Survey Series entrevistou 264. 71 Opessoas, que viviam em 12 ria de satisfação com a vida para outra. A taxa geral de desem-
países europeus, sobre sua felicidade e satisfação geral com a prego reduz a satisfação, mesmo depois de controlada pela po-
vida. Uma questão indagava: "De modo geral, você se sente sição de emprego da pessoa. Ou seja, o empregado em um país
satisfeito, muito satisfeito, não muito satisfeito, ou nem um com desemprego elevado é menos feliz do que seus equivalen-
pouco satisfeito com a vida que leva?" Para se verificar o que tes em um país com baixo desemprego, talvez porque esteja mais
determina a felicidade, as respostas a essas perguntas foram preocupado com a perda do emprego, ou talvez por compaixão
correlacionadas com variáveis individuais e macroeconômicas. por seus concidadãos.
Permanecendo tudo mais constante as pessoas se sentem mais A inflação alta também está associada a menos satisfação
satisfeitas com sua vida se são ricas, têm bom grau de escolari- na vida, embora o efeito não seja tão grande. Um aumento
dade, se são ou estão casadas, na escola, donas do seu próprio percentual de 1, 7 na inflação reduz a felicidade tanto quanto
negócio, aposentadas, mulheres, e jovens ou idosas (em com- um aumento de 1 ponto percentual no desemprego. O
paração com meia-idade). Sentem-se menos satisfeitas se são propalado "índice de miséria", que é a soma das taxas de infla-
ou estão desempregadas, divorciadas ou vivendo com filhos ado- ção e desemprego, aparentemente dá peso demais à inflação em
lescentes. (Algumas dessas correlações podem refletir os efei- relação ao desemprego. 11

6-5 CONCLUSÃO
O desemprego representa recursos desperdiçados. Os trabalha- também não pode facilmente fazer com que os salários fiquem
dores desempregados têm o potencial de contribuir para a ren- mais próximos do nível de equilíbrio. O desemprego zero não é
da nacional, mas não o estão fazendo. Aqueles que procuram um objetivo plausível para as economias de livre mercado.
emprego condizente com suas habilidades ficam felizes quan- A política econômica, no entanto, não é impotente na luta
do a busca acaba, e aqueles que esperam emprego em empresas para reduzir o desemprego. Os programas de obtenção de em-
que pagam acima do sahfrio de equilíbrio ficam felizes quando prego, o sistema de seguro-desemprego, o salário mínimo e as
as vagas surgem. leis que regem a negociação coletiva são com freqüência tópi-
Infelizmente, nem o desemprego friccionai nem o desempre- cos de debate político. As políticas econômicas que escolhe-
go estrutural podem ser reduzidos com facilidade. O governo não mos podem ter efeitos importantes sobre a taxa de desemprego
pode fazer com que a obtenção de emprego seja instantânea, e natural da economia.

"'Para mais estudos sobre .essas questões, veja Paul Krugman, "Past and Prospective Causes of High Unemployment", em Reducing UTU'mpllJ)·menc: Currem lssues and PoliC)· Op-
tioru, Federal Reserve Bankde Karuas City, agosto de 1994.
ll Rafael Oi Tella, Robert J. MacCulloch e Andrew J. Oswald, "Preferences Over lnflation and Unemployment: Evidence from Surveys of Happiness", American Economic Review
91 (março de 2001): 335-341.
r DESEMPREGO 119

RESUMO
1, A taxa natural de desemprego é a taxa de desemprego de desemprego pode ser atribuída ao pequeno número de de-
estado estacionário. Depende da taxa de perda de emprego sempregados de longo prazo.
e da taxa de obtenção de emprego.
5. As taxas de desemprego entre grupos demográficos difere de
z. Visto que leva tempo para os trabalhadores procurarem modo considerável. Em particular, as taxas de desemprego
1 o emprego que melhor condiz com suas habilidades e entre trabalhadores mais jovens sâo muito mais altas do que
seus gostos individuais, algum desemprego friccionai é entre trabalhadores mais velhos. Isso resulta de uma dife-
a
inevitável. Várias políticas governamentais, como se- rença da taxa de perda de emprego, em vez de uma diferen-
guro-desemprego, alteram o nível de desemprego ça da taxa de obtenção de emprego.
friccionai.
e 6. A taxa natural de desemprego nos Estados Unidos tem exi-
1 3, O desemprego estrutural ocorre quando o salário real per- bido tendências no longo prazo. Em particular, subiu da
1 manece acima do nível que equilibra a oferta e a demanda década de 1950 para a de 1970, e depois recomeçou a cair
de trabalho. A legislação do salário mínimo é uma causa de na década de 1990. Várias explicações foram propostas, in-
rigidez salarial. Os sindicatos e a ameaça de sindicalização clusive a mudança demográfica da composição da força de
também são. Finalmente, as teorias do salário de eficiência trabalho, alterações na prevalência de mudanças setoriais e
sugerem que, por várias razões, as empresas podem achar lu- mudanças da taxa de crescimento da produtividade.
crativo manter salários altos, apesar do excesso de oferta de
7. As pessoas que ingressaram recentemente na força de tra-
trabalho.
balho, incluindo tanto novos entrantes quanto reentrantes,
4, Depende da maneira como se avaliam os dados se o desem- constituem cerca de um terço dos desempregados. As en-
)
prego será de curto ou longo prazo. A maioria dos períodos tradas e sardas na força de trabalho tornam mais difícil a
de desemprego é curta. Contudo, a maioria das .s emanas de interpretação das estatísticas de desemprego.
)

)
CONCEITOS-CHAVE
1
T axa natural de desemprego Seguro-desemprego Empregados versus desempregados
J Desemprego friccionai Rigidez salarial Salário de eficiência
Variação setorial Desemprego estrutural Trabalhadores desencorajados

QUESTOES PARA REVISAO


1. O que determina a rnxa natural de desemprego? 4. A maior parte do desemprego é de longo prazo ou de curto prazo 1
2. Descreva a diferença entre desemprego friccionai e desemprego Explique sua resposra.
estrutural. 5. Como os economistas explicam a elevada taxa natural de dese m-
3. Dê três explicações para que o salário real possa permanecer ac i- prego nas décadas de 1970 e 1980 1 Como explicam a queda da ta xa
ma do níve l que equilibra a oferta e a demanda de trabalho. natural na década de 1990?

PROBLEMAS E APLICAÇOES
1. Responda às seguintes questões sobre sua própria experiência na se fé a taxa de obtenção de emprego, então o período médio
força de trabalho: de desemprego é 1/f.)
a. Quando você ou um de seus amigos está procurando um em- e. Qual é a taxa natural de desemprego da população que você
prego de meio expediente, quantas semanas costumam levar representa 7
para encontrar 7 Depois que encontram, quantas semanas cos- 2, Neste capítulo, vimos que a taxa de desemprego de estado estaci-
tuma durar? onário é U/L = s/(s + f) . Suponha que a taxa de desemprego não
b. Por suas estimativas, calcule (a uma taxa semanal) sua taxa de comece nesse nível. Mostre que o desemprego vai evoluir ao lon-
obtenção de emprego f e sua taxa de perda de empregos. (Dica: go do tempo e alcançar esse estado estacionário. (Dica: expresse a
120 CAPITULO 6

mudança do número de desempregados como uma função de s, f e são o emprego, a produção e a remuneração total dos traba-
U. Depois, demonstre que, se está acima da taxa natural, o desem- lhadores?
prego cai; e se está abaixo da taxa natural, o desemprego sobe.) c. Suponha agora que o Congresso, preocupado com o bem-estar
3. Os residentes de um dormitório na universidade coletaram os se- das classes trabalhadoras, aprove uma lei exigindo que as em-
guintes dados: as pessoas que residem no dormitório podem ser presas paguem aos trabalhadores um salário real de 1 unidade
classificadas como envolvidas em um relacionamento ou não- de produção. Como esse salário se compara com o salário de
envolvidas. Entre as pessoas envolvidas, 10% experimentam um rom- equilíbrio?
pimento do relacionamento a cada mês. Entre as pessoas não-en- d. O Congresso não pode determinar quantos trabalhadores as
volvidas, 5% entrarão em um relac ionamento por mês. Qual é a fra - empresas contratam ao salário obrigatório. Diante desse faco,
quais são os efeitos de uma lei assim? Em termos mais específi-
ção de estado estacionário de residentes que não estão envolvidos!
cos, o que acontece com o emprego, a produção e a remunera-
4, Suponha que o Congresso aprove uma legislação tornando mais ção total dos trabalhadores?
difícil para as empresas despedir empregados. (Um exemplo é uma e. O Congresso alcançará seu objetivo de ajudar as classes traba-
lei que imponha pagamento de indenização a trabalhadores demi- lhadoras? Explique.
tidos.) Se essa legislação reduz a taxa de perda de emprego sem f. Você acha que essa análise proporciona uma boa maneira de
afetar a táxa de obtenção de emprego, como a taxa natural de de - pensar sobre uma lei do s,1lário mínimo 7 Por que sim, ou por
semprego mudaria? Você acha que é plausíve l pressupor que ale- que não ?
gislação não afetaria a taxa de obtenção de empregú? Por que sim,
ou por que não 1 6. Suponha que um país experimente uma redução na produtividade
- ou seja, um choque adverso na funç ão de produção.
5. Considere uma economia com a seguinte função de produção a. O que acontece com a curva de demanda por trabalho?
Cobb-Douglas: b. Como essa mudança na produtividade afetaria o mercado de
Y= K1. 1L' 11 • trabalho - ou seja, emprego, desemprego e salários re<1is- se
o mercado de trabalho estivesse sempre em equilíbrio?
A economia tem l.000 unidades de capital e uma força de traba-
c. Como essa mudança afetaria o mercado de trabalho se os sin-
lho de 1.000 trabalhadores.
dicatos impedissem a queda dos salários reais?
a. Derive a equação descrevendo a demanda por trabalho nessa
economia como uma função do salário real e do capital insta- 7. Em qualquer cidade, a qualquer momento , uma parte do estoque
lado. (Dica: revise o apêndice do Cap. 3.) de espaço de esc ritório aproveitável está vaga. Esse espaço de es-
b. Se o salário real pode ajustar-se para equilibrar oferta e de - critório vago é c<1piral desempregado. Como você explica esse te-
mand,1 de trnbalhn, qual é o salário real? Nesse equilíbrio, quaü, nômeno ? Trata-se de um problema sociaP
...
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Parte3

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de TEORIA DO CRESCIMENTO:
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A ECONOMIA A LONGUÍSSIMO
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Capítulo 7

CRESCIMENTO ECONÔMICO 1

A questão do crescimento não é uma novidade , mas um novo disfarce para um problema antigo,
que sempre intrigou e preocupou a economia: o presente contra o futuro.
- James Td,in

Se alguma vez você conversou com seus avós sobre como era a do momento. A análise era estática: uma fotografia instantâ-
vida no tempo em que eles eram íovens, é bem provável que nea da economia. Para explicar por que nossa renda nacional
tenha aprendido uma importante lição sobre economia: os cresce, e por que algumas economias crescem mais depressa
padrões materiais de vida melhoraram de maneira considerá- do que outras, devemos expandir nossa análise a fim de des-
vel, para a maioria das famílias, na maioria dos países. Esse crever as mudanças econômicas ao longo do tempo. Ao de -
avanço deve-se a rendas crescentes, que têm permitido que as senvolver esse modelo, tornamos nossa análise dinâmica, mais
pessoas consumam maiores quantidades de bens e serviços. como um filme do que como uma foto. O modelo de
Para medir o crescimento econômico, os economistas utili- crescimento de Solow mostra como a poupança, o crescimento
zam dados sobre o produto interno bruto, que mede a renda tocai populacional e o progresso tecnológico afetam o nível de pro,
de todos na economia. O PIB real dos Estados Unidos é hoje dução de uma economia e seu crescimento ao longo do tem-
mais de três vezes superior ao nível de 1950, e o PIB real per po. Neste capítulo, analisamos os papéis da poupança e do
capita é mais do que o dobro do nível de 1950. Em qualquer crescimento da população. No próximo, introduziremos o
ano dado, podemos também observar grandes diferenças no progresso tecnológico. 1
padrão de vida entre os países. A T abela 7-1 mostra a renda
per capita em 1999 dos 12 países mais populosos do mundo. Os
Estados Unidos encabeçam a lista, como uma renda per capita
de $31.910. A Nigéria tem uma renda per capita de apenas $770
- menos de 3% da cifra dos Estados Unidos.
Nossa meta nesta parte do livro é compreender o que causa Renda Per Renda Per
essas diferenças na renda ao longo do tempo e através dos pa- Capita (em Capita(em
dólares norte- dólares norte-
íses. No Cap. 3, identificamos os fatores de produção - capi-
País americanos) País americanos)
tal e trabalho - e a tecnologia de produção como as fontes de
produção da economia e, portanto, da sua renda total. Ou seja, Estados Unidos $31.910 China 3.550
as diferenças de renda devem ter origem nas diferenças no ca- Japão 25.170 Indonésia 2.660
pital, no trabalho e na tecnologia. Alemanha 23.510 lndia 2.230
México 8.070 Paquistão 1.860
Nossa principal tarefa é desenvolver uma teoria do
Rússia 6.990 Bangladesh 1.530
crescimento econômico, chamada de modelo de crescimento Brasil 6.840 Nigéria 770
de Solow. A análise do Cap. 3 permitiu-nos descrever como
Fonte: Banco Mundial.
a economia produz e utiliza sua produção em um determina-

7-1 A ACUMULAÇÃO DE CAPITAL


O modelo de crescimento de Solow é construído para mostrar força de trabalho e os avanços tecnológicos interagem em uma
como o crescimento do estoque do capital, o crescimento da economia, e como afetam a produção total de bens e serviços

'O modelo de crescimento de Solow tem o nome do economista Robert Solow. Foi desenvolvido nas décadas de 1950 e 1960. Em 1987, Solow ganhou o Prêmio Nobel de
economia por seu trabalho em crescimento econômico. O modelo foi apresentado em Robert M. Solow, "A Conrribution to che Theory ofEconomic Growth", QUL1nerly ]oumal
of Economics (fevereiro de 1956): 65,94.
124 CAPÍTULO 7

de um país. Construímos esse modelo em várias etapas. A pri- emquedefinimosf(k) = F(k, 1).AFig. 7-1 ilustraessafunção
meira é examinar como a oferta e a demanda de bens determi- de produção.
nam a acumulação de capital. Nessa primeira etapa, partimos A inclinação dessa função de produção mostra o produto
do pressuposto de que a força de trabalho e a tecnologia são extra que um trabalhador produz quando há uma unidade ex.
fixas. Depois, relaxamos esses pressuposto introduzindo varia- tra de capital. Essa quantidade é a produtividade marginal do
ções da força de trabalho, ainda neste capítulo, e mudanças capital PMgK. Em termos matemáticos, escrevemos
tecnológicas, no próximo.
PMgK = f(k + 1) - f(k).

Observe que, na Fig. 7-1, à medida que o capital aumenta, a


A ÜFERTA E A DEMANDA DE BENS função de produção toma-se menos inclinada, indicando que
A oferta e a demanda de bens desempenharam papel funda- a função de produção apresenta uma produtividade marginal
mental em nosso modelo estático da economia fechada, no do capital decrescente. Quando k é baixo, o trabalhador mé-
Cap. 3. O mesmo acontece com o modelo de Solow. Ao con- dio tem pouco capital com que trabalhar; assim, uma unidade
siderar a oferta e a demanda de bens, podemos verificar o que extra de capital é muito útil e gera um produto adicional gran-
determina a quantidade do produto disponível em qualquer de. Quando k é alto, o trabalhador médio cem muito capital;
momento dado, e como esse produto é alocado em usos alter- assim, uma unidade extra aumenta o produto apenas ligeira-
nativos. mente.

A Oferta de Bens e a Função de Produção A oferta de A Demanda por Bens e a Função de Consumo A de-
bens no modelo de Solow baseia-se na função de produção, manda por bens no modelo de Solow deriva do consumo e do
agora já conhecida, que enuncia que a produção depende do investimento. Em outras palavras, o produto por trabalhador y
estoque de capital e da força de trabalho: é dividido entre consumo por trabalhador e e investimento por
trabalhador i:
Y = F(K, L).
y =e+ i.
O modelo de crescimento de Solow pressupõe que a função de
produção tem retornos constantes de escala. Esse pressuposto Esta equação é a versão por trabalhador da identidade de con-
é muitas vezes considerado realista; e, como veremos em bre- ta da renda nacional de uma economia. Observe que nela se
ve, ajuda a simplificar a análise. Lembre-se de que uma função omitem as compras do governo (as quais podemos ignorar para
de produção tem retornos constantes de escala se os propósitos atuais) e as exportações líquidas (porque estamos
pressupondo uma economia fechada).
zY= F(zK, zL) O modelo de Solow presupõe que a cada ano as pessoas pou-
para qualquer número positivo z. Ou seja, se multiplicamos pam uma fração s de sua renda e consomem uma fração (1 -
tanto capital quanto trabalho por z, também multiplicamos o s). Podemos expressar essa idéia com uma função consumo de
produto por z. forma simples
As funções de produção com retornos constantes de escala e= (1 - s)y,
permitem-nos analisar todas as quantidades da economia rela-
tivas ao tamanho da força de trabalho. Para confirmar que isso em que s, a taxa de poupança, é um número entre zero e um.
é verdade, determinamos que z = 1/L na equação precedente Lembre-se de que várias políticas econômicas têm o potencial
para obter de influenciar a taxa de poupança de um país. Assim, um dos
nossos objetivos é descobrir qual taxa de poupança é desejá-
Y!L = F(K/L, 1). vel. Por ora, porém, tomamos a taxa de poupanças como dada.
Esta equação mostra que o produto por trabalhador Y/L é uma Para verificar o que essa função consumo acarreta para o
função do capital por trabalhador K/L. (O número "l ", claro, é investimento, substitua (1 - s)y por e na identidade de conta
constante, e por isso pode ser ignorado.) O pressuposto de re- da renda nacional:
tornos constantes de escala indica que o tamanho da econo- y = (1 - s)y + i.
mia - tal como medido pelo número de trabalhadores - não
afeta a relação entre produto por trabalhador e capital por Rearrume os termos para obter
trabalhador. i = sy.
Visto que o tamanho da economia não importa, será con-
veniente indicar todas as quantidades por trabalhador. Designa- Esta equação mostra que o investimento é igual à poupança,
mos essas Letras em caixa baixa (minúsculas); ou seja, y = Y/L é como vimos no Cap. 3. Assim, a taxa de poupanças é também
o produto por trabalhador e k = K/L é o capital por trabalhador. a fração da produção destinada ao investimento.
Já introduzimos os dois principais ingredientes do modelo
Podemos então escrever a função de produção como
de Solow - a função de produção e a função consumo - que
y = f(k), descrevem a economia em qualquer momento no tempo. Para
r
1

CRESCIMENTO EcoNÔ.MICO I 125

.o Produto por
trabalhador,y
:o
{-

.o

a
Le ,·
ü

le
1-
l;
1-
Capital por
trabalhador, k

!- Fig 7·1 A Função de Produção A função de produção mostra como o capital por trabalhador k determina o produto por trabalhador y = f(k). A
.o inclinação da função de produção é a produtividade marginal do capital: se k aumenta em 1 unidade, y aumenta em PMgK unidades. A função de
produção toma-se menos inclinada à medida que k aumenta, indicando uma produtividade marginal do capital decrescente.
y
lT

qualquer estoque de capital k dado, a função de produção y = de depreciação. Por exemplo, se o capital dura uma média de 25
f(k) determina quanto produto a economia gera, e a taxa de anos, a taxa de depreciação é de 4% ao ano (ô = 0,04 ). A quan-
1- poupanças determina a distribuição desse produto entre con- tidade de capital que deprecia a cada ano é 3k . A Fig. 7-3 mos-
;e sumo e investimento. tra como a depreciação depende do estoque de capital.
·a Podemos expressar o impacto do investimento e da depre-
JS ciação sobre o estoque de capital com a seguinte equação:
CRESCIMENTO DO ESTOQUE DE CAPITAL E
1- O ESTADO ESTACIONÁRIO Variação do
Estoque de Capital Investimento Depreciação
Em qualquer momento, o estoque de capital é um determinan- ó.k 3k,
\e te fundamental do produto da economia. Mas o estoque de
capital pode variar ao longo do tempo, e essas variações podem em que ó.k é a variação do estoque de capital entre um ano e o
levar ao crescimento econômico. Em particular, duas forças ano segu inte. Como o investimento i é igual a s/(k), podemos
influem o estoque de capital: investimento e depreciação. O escre\'er isso como
investimento refere-se ao gasto com uma nova fábrica e novos
equipamentos, aumentando o estoque de capital. A deprecia-
ó.k = sf(k) - ôk.
JS
ção refere-se ao desgaste do capital antigo, e acarreta a queda A Fig. 7-4 apresenta em gráfico os termos dessa equação -
í-
do estoque de capital. Estudaremos um de cada vez. investimento e depreciação - para diferentes níveis doesto-
}.
Como j,1 res~altamos, o investimento por trabalhadori é igual que de capital k. Quanto mais alto o estoque de capital, maio-
o
a sy. Pela substituição da função de produção por y, podemos res o produto e o investimento. Contudo, quanto maior o es-
:a
expressar o investimento por trabalhador como uma função do toque de capital, maior também a depreciação.
estoque de capital por trabalhador: Como a Fig. 7-4 mostra, há um único estoque de capital k*
em que o investimento iguala a depreciação. Se a economia
i = sf(k) .
alguma vez se encontrar nesse nível de estoque de capital, o
Esta equação relaciona o capital existente k à acumulação de estoque de capital não variará, porque as duas forças atuando
novo capital i. A Fig. 7-2 mostra essa relação. A figura ilustra sobre ele - investimento e depreciação - se equilibram. Ou
~.
n
como, para qualquer valor de k, o produto é determinado pela
função de produção f(k), e a distribuição desse produto entre
seja, em k*, ó.k = O; portanto, o estoque de capital k e o produ-
to f(k) são constantes ao longo do tempo (em vez de crescerem
consumo e poupança é determinada pela taxa de poupança s. ou diminuírem). Chamamos k* de nível de capital de estado
.O
Para incorporar a depreciação no modelo, pressupomos que estacionário .
Le uma certa fração 8 do estoque de capital se desgasta a cada ano. O estado estacionário é significativo por duas razões.
·a Aqui, 3 (a letra grega delta em caixa baixa) é chamada de taxa Como acabamos de ressaltar, uma economia no estado es-
F

126 CAPITULO 7

Produto por
trabalhador, y

Produto por
trabalhador

e_ Consumo por
trabalhador

Investimento, sf{k)

,. - por
Investimento
trabalhador

Capital por
trabalhador, k

Fig. 7-2 Produto, Consumo e Investimento A taxa de poupanças determina a distribuição da produção entre com;umo e investimento Para
qualquer nível de capital k, o produto é f/,k), b investimento é sf(k) e o consumo é f(k) - si(k).

tacionário nele permanecerá. Além disso, o que tem ames- Do mesmo modo, suponha que a economia comece com
ma importância, uma economia que não se encontra no es- mais do que o nível de capital de estado estacionário, como o
tado estacionário caminha em sua direção. Ou seja, indepen- nível k1• Nesse caso, o investimento é menor que a deprecia-
dentemente do nível de capital com que comece, a econo- ção: o capital se desgasta mais depressa do que é substituído. O
mia acaba com o nível de capital de estado estacionário. estoque de capital cairá, outra vez se aproxi mando do nível de
Nesse sentido, o estado es tacionário representa o equilíbrio da estado estacionário. Depois que o estoque de capital alcança o
economia no longo prazo . estado estacionário, o investimento iguala a depreciação e não
Para entender por que uma economia sempre acaba no es- há pressão para o estoque de capital aumentar ou diminuir.
tado estacionário, suponha que a economia comece com me-
nos do que o nível de capital de estado estacionário, como o APROXIMANDO-SE AO ESTADO
nível k1, na Fig. 7-4. Nesse caso, o nível de investimento supe-
ra a depreciação. Ao longo do tempo, o estoque de capital au- ESTACIONÁRIO: UM EXEMPLO NUMÉRICO
mentará e continuará aumentando - junto com o produto f(k) Vamos tomar um exemplo numérico para verificar como o
- até se aproximar do estado estac ionário k*. modelo de Solow funciona, e como a economia se aproxima

Depreciação por
Depreciação, ôk
trabalhador, ôk

Capital por
trabalhador, k

Fig 7-3 Depreciação Uma fração constante 8 do estoque de capital desgasta-se todo ano. A depreciação, portanto, é proporcional ao estoque de
capital.
r CRESCIMENTO EcONÔMICO I 127

Investimento e
depreciação Depreciação, 6k

8k2
i2
i*= ôk*
i,
ôk,

k1 / k* ~ k 2 Capital por
/ "'"'" 1 .,,;,~, \ trabalhador, k
O estoque de capital Nfvel de capital O estoque de capital
aumenta porque o de estado diminui porque a
investimento supera estacionário por depreciaçao supera
a depreciação. trabalhador. o investimento.

Fig. 7-4 Investimento, Depreciação e o Estado Estacionário O nível de capital de estado estacionário k* é o nível em que o investimento
iguala a depreciação, indicando que o capital não variará .ao longo do tempo. Abaixo de k * , o investimento supera a depreciação, e por isso o estoque
de capital aumenta . Acima de k*, o investimento é menor do que a depreciação, e por isso o estoque de capital diminui.
n
o
l- do estado estacionário. Para esse exemplo, pressupomos que a números, podemos agora examinar o que acontece com essa
)
função de produção seja" economia ao longo do tempo.
e Começamos pelo estudo do produto e de sua distribuição no
o y = K"1v11.
primeiro ano. Segundo a função de produção, as 4 unidades de
o Para obter a função de produção por trabalhador f(k), dividimos capital por trabalhador geram 2 unidades de produto por
os dois lados da função de produção pela força de trabalho L: trabalhador. Como 30% do produto são poupados e investidos,
e 70% são consumidos, í = 0,6 e e= 1,4. Além disso, visto que
y 10% do estoque de capital se depreciam, ôk = 0,4. Com inves-
L timento de 0,6 e depreciação de 0,4 , a variação do estoque de
capital é ô.k = 0,2. O segundo ano começa com 4,2 unidades
o Rearrume para obter de capital por trabalhador.
a A Tabela 7-2 mostra como a economia progride ano a ano. A
~ = (1f 2
cada ano, um capital novo é acrescentado e o produto cresce. Ao
longo de muitos anos, a economia se aproxima de um estado esta-
cionário, com 9 unidades de capital por trabalhador. Nesse estado
Visto que -y· = Y/L e k = K/L, isso se toma
estacionário, o investimento de 0,9 compensa a depreciação de 0,9.
y = k l/2. Portanto, o estoque de capital e o produto não estão mais crescendo.
Acompanhar o progresso da economia por muitos anos é
Esta equação também pode ser escrita corno
uma maneira de descobrir o estoque de capital de estado esta-
cionário. Mas há outra maneira, que exige menos cálculos.
y =$ . Lembre-se de que
Essa forma de função de produção enuncia que a produção por
trabalhador é igual à raiz quadrada do capital por trabalhador. 6.k = sf(k) - õk.
Para completar o exemplo, suponha que 30% do produto são
poupados (s = 0,3 ), que 10% do estoque de capital realizado Esta equação mostra como k evoluí ao longo do tempo. Como
depreciam todo ano (õ = O, 1) e que a economia começa com o estado estacionário é (por definição) o valor de k em que
4 unidades de capital por trabalhador (k = 4 ). Dados esses ô.k = O, sabemos que

.e
'Se você leu o apêndice do Cap. J, reconhecerá isso como a função de produção Cobb-Douglas, com o parâmetro o. igual a 1/2.
128 CAPITULO 7
r
!

'I'~~7f ~ ~®~~~$tàdo_Estacionário:UmE~~j~;t ,i~RO


Pressupostos: y=.Jir; s=0,3; ?3==0,1; inicíalk=4,0
Ano k y e i 8k ~

1 4,000 2,000 1,400 0,600 0,400 0,200


2 4,200 2,049 1,435 0,615 0,420 0,195
3 4,395 2,096 1,467 0,629 0,440 0,189
4 4,584 2,141 1,499 0,642 0,458 0,184
5 4,768 2,184 1,529 0,655 0,477 0,178

10 5,602 2,367 1,657 0,710 0,560 0,1 50

25 7,321 2,706 1,894 0,812 0,732 0,080

100 8,962 2,994 2,096 0,898 0,896 0,002

oc 9,000 3,000 2,100 0,900 0,900 0,000

O= sf(k*) - õk*, k* 0,3


\k* 0, 1
ou, em termos equivalentes,
Agora, eleve ao quadrado os dois lados dessa equação para ob-
* - -s
-k - ter
f(k*) õ
k* =9
Esra equação nos proporciona uma maneira de obter o ní-
ve l de cap ital de estado estacionário por trahalhador, k* . O estoque de capital de estado estackmárío é de 9 unidades pm
Suhstituindo os números e a função de produção do nosso trah1lhador. Esse resultado confirma n cálculo do estado esta-
exemplo, ohtemos cion ário da T abela 7-2.

ESTUDO DE C A S O - - - - - - - - - - - - - ~
Ü CRESCIMENrO DO JAPÃO E DA .AlFMANJ-IA NO Pós-GUERRA As experiências do pós-guerra de Japão e Alemanha são tão
Japão e Alemanha são duas histórias de sucesso em termos de surpreendentes, do ponto de vista do modelo de crescimento de
crescimento econômico. Embora sej am h oje superpotências Solow? Imagine uma economia em estado estacionário. Agora,
econômicas, as econ omias dos dois países estavam arrasadas em suponha que uma guerra destrua parte do estoque de capital. (Ou
1945. A Segunda Guerra Mundial destruíra grande parte do seja, imagine que o estoque de capital caia de k* para k 1, na Fig.
estoque de capital. Nas décadas subseqüentes à guerra, n o en- 7-4.) Não surpreende que o nível do produto caia imediatamen-
tanto, esses dois países experimentaram algumas das taxas de te. Mas se a taxa de poupança - a fração do produto destinada
crescimento mais ace leradas já registradas. Entre 1948 e 1972, à poupança e ao investimento - permanece inalterada, a eco-
a produção per capita cresceu 8,2% ao ano no Japão e 5, 7% ao nomia experimentará um período de intenso crescimento. O
ano na Alemanha, em comparação com apenas 2,2% ao ano produto cresce porque, com o estoque de capital menor, mais
nos Estados Unidos. capital é acrescentado pelo investimento do que é removido pela

r
r
1
CRESCIMENTO ECONÔMICO I 129

depreciação. Esse elevado crescimento continua até que a eco- O crescimento acelerado no Japão e da Alemanha no pós-guer-
nomia se aproxime do seu estado estacionário anterior. Assim, ra, muitas vezes descrito na imprensa econômica como um "mi-
embora a destruição de parte do estoque de capital reduza de lagre", é o que o modelo de Solow prevê para países em que ocor-
imediato o produto, segue-se um crescimento acima do normal. reu uma grande redução do estoque de capital.

COMO A POUPANÇA AFETA O CRESCIMENTO poupança é baixa , a economia terá um pequeno estoque de capital
e um nível de produto reduzido. Essa conclusão ajuda a esclare-
A explicação do crescimento japonês e alemão depois da Se- cer muitas discussões sobre política fiscal. Como vimos no Cap.
gunda Guerra Mundial não é tão simples como se sugeriu no 3, um déficit orçamentário do governo pode reduzir a poupan-
estudo de caso. Outro fato relevante é que Japão e Alemanha ça nacional e deslocar o investimento. Agora, podemos cons-
poupam e investem uma fração maior da sua produção do que tatar que as conseqüências de longo prazo de uma taxa de pou-
os Estados Unidos. Para compreender mais plenamente as di- pança reduzida são um estoque de capital menor e uma renda
ferenças internacionais do desenvolvimento econômico, deve- nacional menor. É por isso que muitos economistas criticam
mos considerar os efeitos das diferentes taxas de poupança. os déficits orçamentários persistentes.
Considere o que acontece com uma economia quando sua O que diz o modelo de Solow sohre a relação entre poupan-
taxa de pnupança aumenta. A Fig. 7-5 mostra essa mudança. ça e crescimento econômico? A poupança maior leva a um
Pressupõe-se que a economia começa em um estado estacioná- crescimento mais rápido no modelo de Solow, mas apenas tem-
rio, com a taxa de poupança s1 e o estoque de capital k;. Quando porariamente. Um aumento na taxa de poupança só aumenta
a taxa de poupa~ça aumenta de s 1 para s2 , a curva sf(k) se des- o crescimento até que a economia alcance o novo estado esta-
loca para cima. A taxa de poupança inicial s 1 e ao estoque de cionário. Se a economia mantém uma alta taxa de poupança,
capital inicial k;, o investimento apenas compensa a depreci- manterá um grande estoque de capital e um alto nível de pro-
ação. Imediatamente após o aumento da taxa de poupança o dução, mas não será capaz de manter uma elevada taxa de
investimento torna-se maior, mas o estoque de capital e a de - crescimento para sempre.
preciação permanecem inalterados. Portanto, o investimento Agora que compreendemos como a poupança afeta o
excede a depreciação. O estoque de capital aumentará crescimento, podemos explicar melhor os impressionantes de-
gradativamente, até que a economia alcance o novo estado sempenhos econômicos de Japão e Alemanha depois da Se-
escaciom'írin 1<;, que tem um estoque de capital maior e um nível gunda Guerra Mundial. Não apenas os dois países tinham um
de produto superior ao estado estacionário anterior. capital inicial baixo por causa da guerra, mas também seus es-
O modelo de Solüw mostra que a taxa de poupança é um toques de capitais de estado estacionário eram altos por cau-
determinante fundamental do estoque de capital de estado es- sa das elevadas taxas de poupança. Esses dois fatos ajudam a
taciornirio. Se a taxa de poupança é alta, a economia terá um grande explicar o rápido crescimento dos dois países nas décadas de
estoque de ca/iiral e um nível de produto elevado. Se a taxa de 1950 e 1960.

Investimento
e depreciação 8k
s/(k)

~(~) """"-"''
taxa de poupança
.. . fazendo com
eleva o
: que o estoque de
;nvestimento, ...
: capital cresça
: para um novo
: estado
: estacionário.

k*1 k*2 Capital por


trabalhador, k
Fig. 7-5 Um Aumento da Taxa de Poupança Um aumento da taxa de poupanças indica que o investimento para qualquer estoque de capital
dado é mais alto. Portanto, desloca a função de produção para cima. No estado estacionário inicial k;, o investimento agora supera a depreciação.
O estoque de capital aumenta até que a economia alcance um novo estado estacionário k;, com mais capital e produto.
130 CAPÍTULO 7
T
ESTUDO DE CASO
POUPANÇA E INVESTIMENTO AO REDOR DO MUNDO investimento é um determinante fundamental para um país ser
Iniciamos este capítulo com uma indagação importante: por que rico ou pobre.
alguns países são tão ricos, enquanto outros se mantêm atolados A forte correlação mostrada nessa figura é um fato importan-
na pobreza? Nossa análise levou-nos para mais perto da respos- te, mas acarreta tantas perguntas quantas esclarece. Naturalmen-
ta. Segundo o modelo de Solow, se um país destina uma gran- te, pode-se perguntar: por que as taxas de poupança e investi-
de fração de sua renda à poupança e ao investimento, terá um mento variam tanto de um país para outro? Há muitas respostas
alto estoque de capital de estado estacionário e um elevado potenciais, como política fiscal, padrões de aposentadoria, o
nível de renda. Se uma nação poupa e investe apenas uma pe- desenvolvimento de mercados financeiros e diferenças culturais.
quena fração da sua renda, o capital de estado estacionário e a Além disso, a estabilidade política pode desempenhar um papel:
renda serão baixos. não surpreende que as taxas de poupança e investimento ten-
Estudaremos agora alguns dados para verificar se esse resul- dam a ser baixas em países com freqüentes guerras, revoluções e
tado teórico de fato ajuda a explicar a grande variação inter- golpes de estado. A poupança e o investimento também tendem
nacional em padrões de vida. A Fig. 7-6 apresenta dados de 84 a ser baixos em países com instituições políticas precárias, de
países. (A figura inclui a maioria das economias do mundo. acordo com as estimativas de corrupção oficial. Uma interpre-
Exclui os países que são grandes produtores de petróleo e os tação final das evidências na Fig. 7-6 é de uma causalidade in-
países que foram comunistas durante a maior parte desse perí- versa: talvez elevadas taxas de renda estimulem de alguma ma-
odo, porque suas experiências são explicadas por circunstânci- neira elevadas taxas de poupança e investimento. Infelizmente,
as especiais.) Os dados indicam uma relação positiva entre a não há consenso entre os economistas sobre qual é a mais im-
fração de produção destinada a investimento e o nível de ren- portante entre as muitas explicações possíveis.
da per capita. Ou seja, países com elevadas taxas de investimen- A associação entre taxas de investimento e de renda per
to, como os Estados Unidos e o Japão, em geral têm rendas al- capita é bastante forte. Pode ser uma importante indicação
tas, enquanto países com baixas taxas de investimento, como sobre o motivo pelo qual alguns países são ricos e outros po-
Uganda e Chade, têm rendas baixas. Assim, os dados são coe- bres, mas não é toda a história. A correlação entre essas duas
rentes com a previsão do modelo de Solow de que a taxa de variáveis está longe de ser perfeita. México e Zirnbábue, por

Renda per
capita em 1992
(escala logarítmica)
100.000

Canadd
EUA \.Dinamarc~:emanha / Japdo
"' ,,{ ·~'J;., • ·. . •
.., · .;..
T ;t ' '·, ,
R :·':,.,_ · Finlândia
~
10.000 México ein~ "-
Brasil
" --
•·
Israel L/nido
França Jtal,a
Cingapura

., ! .''"'·
Egito

.,
~P•:
'~ donésia
1.000
\ •. Zimbdbue
... Quenía
'
Chade Uganda Camarões

100 ~ -- ~ - - - ~- - -~ - - - ~- - ~ - - -~ -- - ~- - -~ - -
10 15 20 25 30 35
º 5 40
Investimento como percentual do
produto (média 1960-1992)

Fig. 7-6 Evidências Internacionais sobre Taxas de Investimento e Renda Per Capita Este gráfico de dispersão mostra a experiência de 84
países, cada qual representado por um único ponto. O eixo horizontal mostra a taxa de investimento do país , enquanto o eixo vertical mostra sua
renda per capita. O investimento elevado está associado a uma renda per capita alta, como prevê o modelo de Solow.
Fonte: Robert Sumrners e Alan Heston. Suplemento (Mark 5.6) a "Toe Penn World Table (Mark 5): An Expanded Set oi International Comparisons 1950-1988", Ouarterly Joumal of Economias
(maio de 1991): 327-368.
r
1
CRESCIMENTO ECONÔMICO I 131

exemplo, têm taxas de investimento semelhantes, mas a renda pança e do investimento. Por isso, voltaremos às diferenças
per capita no México é mais do que três vezes superior. Deve intem;:icionais mais adiante, ainda neste capítulo, para verifi-
haver outros determinantes dos padrões de vida além da pou- car quais outras variáveis entram em cena.

7-2 NÍVEL DE CAPITAL DA REGRA DE OURO


Até aqui, empregamos o modelo de Solow para examinar como e= y - i.
a taxa de poupança e de investimento de uma economia deter-
O consumo é simplesmente o produto menos investimento.
mina seus níveis de capital e de renda no estado estacionário.
Como queremos encontrar o consumo no estado estacionário,
Essa análise pode levar você a pensar que a poupança mais ele-
substituímos o produto e o investimento por seus valores no
vada é sempre uma boa coisa, pois sempre leva a uma renda
estado estacionário. O produto por trabalhador no estado es-
maior. Mas suponha um país que tenha uma taxa de poupança
tacionário é f{k*), em que k* é o estoque de capital por
de 100%. Isso levaria ao maior estoque de capital possível e à
trabalhador no estado estacionário. Além disso, como o esto-
maior renda possível. Mas se toda essa renda é poupada e ne-
que de capital não varia no estado estacionário, o investimen-
nhuma jamais é consumida, de que adianta?
to é igual à depreciação ók*. Substituindo f(k*) por y e ok* por
Esta seção toma o modelo de Solow para discutir que quan-
i, podemos escrever o consumo por trabalhador no estado es-
tidade de acumulação de capital é ideal do ponto de vista do
tacionário como
bem-estar econômico. No próximo capítulo, analisaremos como
as políticas governamentais influem na taxa de poupança de e*= f(k*) - ók*.
um país. Mas, nesta seção, primeiro apresentamos a teoria que
norteia essas decisões de política econômica. De acordo com esta equação, o consumo no estado estacioná-
rio é o que resta do produto depois de paga a depreciação. A
equação mostra que um aumento do capital no estado estacio-
COMPARAÇÃO DE ESTADOS ESTACIONÁRIOS nário cem dois efeitos opostos sobre o consumo no estado esta-
A fim de manter nossa análise simples, suponha que o cionário. Por um lado, mais capital significa maior produto. Por
formulador de política econômica possa fixar uma taxa de pou- outro, mais capital também significa que mais produto deve ser
pança da economia em qualquer nível. Que estado estacioná- usado para substituir o capital que está se desgastando.
rio esse formulador de política econômica deveria escolher? A Fig. 7- 7 apresenta em gráfico o produto no estado estaci-
Ao escolher um estado estacionário, o objetivo do formulador onário e a depreciação no estado estacionário como uma fun-
de política econômica é maximizar o hem-estar dos indivíduos ção do estoque de capital no estado estacionário. O consumo
que constituem a sociedade. Os indivíduos em si não se impor- no estado estacionário é a distância entre o produto e a depre-
tam com a quantidade de capital da economia, nem mesmo com ciação. A figura mostra que há um nível do estoque de capital
o nível do produto. Importam-se com a quantidade de bens e - o nível da Regra de Ouro k~"'" - que maximiza o consumo.
serviços que eles podem consumir. Assim sendo, um fonnulador Ao comparar estados estacionários, devemos lembrar que
de política econômica benevolente haveria de escolher o estado níveis maiores de capital afetam tanto o produto quanto a de-
estacionário com o mais alto nível de consumo. O valor de k no preciação. Se o estoque de capital está abaixo do nível da Regra
estado estacionário que maximiza o consumo é chamado de ní- de Ouro, um aumento do estoque de capital eleva o produto mais
vel de capital da Regra de Ouro, sendo indicado por k~"',,.1 do que a depreciação; e, com isso, o consumo aumenta. Nesse
Como podemos verificar se uma economia está no nível da caso, a função de produção é mais inclinada do que a reta ôk*.
Regra de Ouro? Para responder a essa pergunta, devemos pri- Assim, a distância entre essas duas curvas - que igualam o con-
meiro determinar o consumo por trabalhador no estado estaci- sumo - cresce à medida que k* aumenta. Por contraste, se o
onário. Depois, podemos verificar qual estado estacionário pro- estoque de capital está acima do nível da Regra de Ouro, um
porciona o máximo de consumo. aumento do estoque de capital reduz o consumo, já que o aumen-
Para encontrar o consumo por trabalhador no estado esta- to do produto é menor do que o aumento da depreciação. Nesse
cionário, começamos pela identidade de conta da renda naci- caso, a função de produção é menos inclinada do que a reta ôk*,
onal e com isso a distância entre as curvas - consumo - diminui à
medida que k* aumenta. No nível de capital da Regra de Ouro,
y=c+i
a função de produção e a reta ók* têm a mesma inclinação, e o
e rearranjamos como consumo está em seu nível mais alto.

'Edmund Phelps, "The Golden Rule of Accumulation: A Fable for Orowrhmen", American Economic Review 51 (setembro de 1961 ): 638-43.
132 CAPÍTULO 7
i
Produto e Depreciação (e investimento)
depreciação no no estado estaciondrio, 'Bk*
estado estacionário

Capital por
trabalhador no
Acima do estado estado estacionário , k*
estacionário da estaciondrio da
Regra de Ouro, Regra de Ouro,
os aumentos do os aumentos do
capital no estado capital no est.ado
estacionário elevam estacionário reduzem
o consumo no estado o consumo no estado
estaciondrio. estaciondrio.

Fig. 7-7 Consumo no Estado Estacionário O produto da economia é utilizado para consumo ou investimento. No estado estacionário, o inves-
timento iguala a depreciação . Portanto, o consumo no estado estacionário é a diferença entre produto i(k*) e depreciação õk* . O consumo no estado
es tacionário é maximizado no estado estacionário da Regra de Ouro. O estoque de capital da Regra de Ouro é indicado como k;,.,,,,. e o consumo da
Regra de Ouro é indicado corno e:'"""

Podemos agora deduzir uma condição simples que caracte- os aumentos do capital aumentam o consumo, de modo que k*
riza o nível de capital da Regra de Ouro. Lembre-se de que a deve estar abaixo do nível da Regra de Ouro. Se PMgK - õ <
inclinação da função de produção é a produtividade marginal O, então os aumentos do capital diminuem o consumo; logo,
do capital PMgK. A inclinação da reta õk* é õ. Como essas duas k* deve estar ac ima do nível da Regra de Ouro. Portanto, a
inclinações são iguais em k.~'"''' a Regra de Ouro é descrita pela seguinte condição descreve a Regra de Ouro:
equação
PMgK - õ = O.
PMgK= õ.
N o nível de capital da Regra de Ouro, a produtividade margi-
No níve l de capital da Regra de Ouro, a produtividade margi- nal do capital líquida da depreciação (PMgK - õ) é igual a zero.
nal do capital é igual à taxa de depreciação. Como veremos, um formulador de política econômica pode usar
Para tornar o argumento um pouco diferente, suponhamos essa condição para encontrar o estoque de capital da Regra de
que a economia começa com algum estoque de capital de esta- Ouro para uma economia .4
do es.racionário k*, e que o formulador de política econômica É preciso ter em mente que a economia não gravita auto-
está pensando em aumentar o estoque de capital para k* + 1. maticamente para o estado estacionário da Regra de Ouro. Se
O produto extra desse aumento de capital seria f(k* + 1) - queremos um estoque de capital de estado estacionário, como
f(k*), que é a produtividade marginal do capital PMgK. A de- o da Regra de Ouro, precisamos de uma taxa de poupança es-
preciação extra de ter mais 1 unidade de capital é a taxa de de- pecífica para sustentá-lo. A Fig. 7-8 mostra o estado estacio-
preciação õ. Assim, o efeito líquido dessa unidade extra de ca- nário se a taxa de poupança for fixada para gerar o nível de
pital sobre o consumo é PMgK - õ. Se PMgK - õ > O, então capital da Regra de Ouro. Se a taxa de poupança é mais alta do

'Noca matemática: outra maneira de deduzir a condição da Regra de Ouro emprega um pouco de cálculo. Recorde que e* = f(k*) - 6k*. Para encontrar o k* que maximiza e• ,
diferencie para encontrar dc*/dk* =f'(k*) - 6 e iguale essa derivada a zero. Notando quef'(k*) é a produtividade marginal do capital, obtemos a condição da Regrade Ouro do
texto.
í CRESCIMENTO EcONÔMICO l 133

Produto, depreciação
e investimento por
trabalhador no ok*
estado estacionário f(k*)

k*OUr"O Capital por trabalhador


no estado estacionário, k*
1. Para alcançar 2 . .. . a economia
o estado precisa da taxa de
estacionário da poupança certa.
Regra de Ouro ...

Fig. 7-8 A Taxa de Poupança e a Regra de Ouro Há apenas uma única taxa de poupança que gera o nível de capital da Regra de Ouro k.:."'"'
Qualquer mudança na taxa de poupança mudana a curva sf(k) e deslocaria a economia para um estado estacionário com um nível inferior de
consumo.

que a utilizada nessa figura, o capital realizado de estado esta-


~s-
do cionário será alto demais. Se a taxa de poupança é mais baixa,
da o estoque de capital de estado estacionário será baixo demais.
Em qualquer caso, o consumo de estado estacionário será mais Elevando ao quadrado os dois lados dessa equação obtemos uma
baixo do que é no estado estacionário da Regra de Ouro. solução para o estoque de capital de estado estacionário. En-
contramos
ENCONTRANDO O ESTADO ESTACIONÁRIO k* = 100s 2•
k*
< DA REGRA DE ÜURO: UM EXEMPLO Usando esse resultado, podemos calcular o estoque de capital
NUMÉRICO de estado estacionário para qualquer taxa de poupança.
.a A Tabela 7-3 apresenta cálculos mostrando os estados esta-
Pense na decisão de um formulador de política econômica que cionários que resultam de várias taxas de poupança dessa eco-
esteja escolhendo um estado estacionário na economia mos- nomia. Verificamos que a poupança maior leva a um estoque
trada a seguir. A função de produção é a mesma, como no exem- de capital maior, que, por sua vez, leva a um produto maior e a
plo anterior:
uma depreciação maior. O consumo no estado estacionário, a
diferença entre produto e depreciàção, primeiro sobe com as
·o. y = ,'k. taxas maiores de poupança, mas depois declina. O consumo é
;ar
3e O produto por trabalhador é a raiz quadrada do capital por maior quando a taxa de poupança é 0,5. Portanto, a taxa de
trabalhador. A depreciação õ é outra vez 10% do capital. Des- poupança de 0,5 gera o estado estacionário da Regra de Ouro.
o- sa vez, o formulador de política econômica escolhe a taxa de Lembre-se de que outra maneira de identificar o estado esta-
poupança s, e com isso o estado estacionário da economia. cionário da Regra de Ouro é encontrar o estoque de capital em
3e
· Para entender os resultados disponíveis ao formulador de que a produtividade marginal do capital líquido (PMgK - õ) seja
10
política econômica, lembre-se de que esta equação é válida no igual a zero. Para essa função de produção, o produto marginal é 5
:s-
estado estacionário:
o- 1
1e k* PMgK=-.
fo ----
5
z-Jk
f(k*) ô
Aplicando-se essa fórmula, as duas últimas colunas da Ta-
Nessa economia, a equação se toma bela 7 -3 apresentam os valores de PMgK e PMgK - õ nos dife-

..
do
;Nora matemática: para obter essa fórmula, observe que a produtividade marginal do capital é a derivada da função de produção em relação a k.
134 CAPITULO 7

Pressupostos: Y= ~ 6 = 0,1
B k* y* 6k* e* PMgIC PMgK- 6

0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 ao ao


0,1 1,0 1,0 0,1 0,9 0,500 0,400
0,2 4,0 2,0 0,4 1,6 0,250 0,150
0,3 9,0 3,0 0,9 2,1 0,167 0,067
0,4 16,0 4,0 1,6 2,4 0,125 0,025
0,5 25,0 5,0 2,5 .2,5 0,100 0,000
0,6 36,0 6,0 3,6 2,4 0,083 -0,017
0,7 49,0 7,0 4,9 2,1 0,071 -0,029
0,8 64,0 8,0 6,4 1,6 0,062 -O,Q38
0,9 81,0 9,0 8;1 0,9 0,056 -0,044
1,0 100,0 10,0 10,0 0,0 0,050 -0,050

rentes estados estacionários. Observe que a produtividade mar- da transição pode dissuadir o formulador de política econômi-
ginal do capital líquido é exatamente zero quando a taxa de ca da tentativa de alcançar a Regra de Ouro?
poupança assume o valor de 0,5 da Regra de Ouro. Por causa Devemos considerar dois casos: a economia pode começar
da produtividade marginal decrescente, a produtividade mar- com mais capital do que no estado estacionário da Regra de
ginal do capital líquido é maior do que zero sempre que a eco- Ouro, ou com menos. O s dois casos oferecem problemas muito
nomia poupa menos do que essa quantidade, e é menor que zero diferentes para os formuladores de política econômica. ( Como
sempre que a economia poupa mais. veremos no próximo capítulo, o segundo caso - menos capi-
Esse exemplo numérico confirma que as duas maneiras de tal - descreve a maioria das economias do mundo real, inclu-
encontrar o estado estacionário da Regra de Ouro - olhando sive a economia dos Estados Unidos.)
para o consumo no estado estacionário, ou olhando para a pro-
dutividade marginal do capital - dão a mesma resposta. Se Começando com Muito Capital Primeiro, considere o caso
queremos saber se uma economia de fato está no momento em que a economia começa em um estado estacionário com
acima ou abaixo do estoque de capital da Regra de Ouro, o mais capital do que teria no estado estacionário da Regra de
segundo método costuma ser mais conveniente, porque ases- Ouro. Nesse caso, o formulador de política econômica deve
timativas da produtividade marginal do capital são mais fáceis adotar políticas que visem a reduzir a taxa de poupança, a fim
de se calcular. Em contraste, avaliar uma economia pelo pri- de reduzir o estoque de capital. Suponhamos que essas políti-
meiro método exige estimativas do consumo no estado estaci- cas tenham êxito e que em algum momento - vamos chamá-
onário a muitas taxas diferentes de poupança; e é difícil obter lo de t,, - a taxa de poupança caia para o nível que eventual-
essa informação. Assim, quando aplicarmos esse tipo de análi- mente levará ao estado estacionário da Regra de Ouro.
se à economia dos Estados Unidos , no próximo capítulo, des- A Fig. 7 -9 mostra o que acontece com o produto, o consu-
cobriremos que é útil examinar as estimativas da produtivida- mo e o investimento quando a taxa de poupança. cai. A redu-
de marginal do capital. ção da taxa de poupança causa aumento imediato do consumo
e diminuição do investimento. Como o investimento e a de-
A TRANSIÇÃO PARA O ESTADO preciação eram iguais no estado estacionário inicial, o investi-
mento será agora menor do que a depreciação, o que significa
ESTACIONÁRIO DA REGRA DE ÜURO que a economia não se encontra mais em um estado estacioná-
Vamos agora tornar mais realista o problema do nosso rio. Gradativamente, o estoque de capital cai, levando a redu-
formulador de política econômica. Até aqui, partimos do pres- ções do produto, do consumo e do investimento. Essas variá-
suposto de que o formulador de política econômica pode sim- veis continuam a diminuir, até que a economia alcança seu
plesmente escolher o estado estacionário da economia e saltar novo estado estacionário. Como estamos pressupondo que o
para lá no mesmo instante. Nesse caso, ele optaria pelo estado novo estado estacionário é o da Regra de Ouro, o consumo deve
estacionário de maior consumo: o estado estacionário da Re- ser maior do que era antes da mudança da taxa de poupança,
gra de Ouro. Mas agora suponha que a economia alcançou um embora produto e investimento estejam mais baixos.
estado estacionário que não é o da Regra de Ouro. O que acon- Observe que, em comparação com o antigo estado estacio-
tece com o consumo, o investimento e o capital quando a eco- nário, o consumo é mais alto não apenas no novo estado esta-
nomia efetua a transição entre estados estacionários? O impacto cionário, mas também ao longo de todo o caminho para se
í CRESCIMENTO ECONÓMICO l 135

Produto,y i - - --"-=-· · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · ·

. •'
Produto,y "f(W • ••••• • • • •• • ••••••• •• ••• 1 ••••

Consumo, e
Consumo, e

Investimento, i 1---...,;· · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · ·

Investimento, i

to Tempo to Tempo
~ ~
A taxa de A taxa de
poupança poupança
é reduzida. é aumentada.

Fig. 7-9 Redução da Poupança quando se Começa com Mais Ca· Fig. 7-10 Aumento da Poupança quando se Começa com Menos
pital do que no Estado Estacionário da Regra de Ouro A figura Capital do que no Estado Estacionário da Regra de Ouro A figura
r
mostra o que acontece ao longo do tempo com o produto, o consumo e o mostra o que acontece ao longo do tempo com o produto, o consumo e o
investimento quando a economia começa com mais capital do que o ní- investimento quando a economia começa com menos capital do que na
)
vel da Regra de Ouro e a taxa de poupança é reduzida. A redução da taxa Regra de Ouro e a taxa de poupança é aumentada. O aumento da taxa
)
da poupança (no tempo t) causa um aumento imediato do consumo e de poupança (no tempo t,) causa uma queda imediata do consumo.e um
uma diminuição igual do investimento. Ao longo do tempo, à medida que aumento igual do investimento. Ao longo do tempo, à medida que o es·
o estoque de capital cai, o produto, o consumo e o investimento diminu- toque de capital cresce, produto, consumo e investimento aumentam jun-
em juntos. Visto que a economia começou com capital demais, o novo tos. Como a e.conomia começou com menos capital do que na Regra de
estado estacionário tem um nível de consumo mais elevado do que o Ouro, o novo estado estacionário tem um nível de consumo mais eleva-
estado estacionário inicial. do do que no estado estacionário inicial.

alcançá-lo. Quando o estoque de capital supera o nível da Re- exige um período inicial de consumo reduzido. Observe o con-
gra de Ouro, a redução da poupança é obviamente uma boa traste com o caso em que a economia começa acima da Regra
política econômica, pois aumenta o consumo em todas as uni- de Ouro. Quando a economia começa acima da Regra d.e Ouro ,
dades de tempo. alcançar a Regra de Ouro acarreta um consumo maior em todos os
momentos . Quando a economia começa abaixo da Regra de Ouro ,
Começando com Pouco Capital Quando a economia co- alcançar a Regra d.e Ouro exige inicialmente uma redução do con-
meça com menos capital do que n o estado estacionário da Regra sumo, para aumentá-lo no futuro .
de Ouro, o formulador de política econômica deve aumentar a A o decidirem se devem tentar alcançar o estado estacioná-
taxa de poupança para alcançar a Regra de Ouro. A Fig. 7-1 O rio da Regra de Ouro, os formuladores de política econômica
mostra o que acontece. O aumento da taxa de poupança no devem levar em consideração que os consumidores atuais e os
tempo t 0 causa uma queda imediata do consumo e um consumidores futuros nem sempre são as mesmas pessoas. Al-
crescimento do invest imento. Ao longo do tempo, o investi- cançar a Regra de Ouro propicia o mais elevado nível de con -
mento maior acarreta o aumento do estoque de capital. À sumo de estado estacionário, e com isso beneficia as gerações
medida que o capital se acumula, o produto, o consumo e o futuras. Mas , quando a economia se encontra inicialmente
investimento aumentam gradativamente, até se aproximarem abaixo da Regra de Ouro, alcançá-la exige investimento, di-
dos níveis do novo estado estacionário. Como o estado estaci- minuindo o consumo das gerações atuais. Assim, ao optar se
onário inicial estava abaixo da Regra de Ouro, o aumento da aumenta a acumulação de capital, o formulador de política
poupança acaba levando a um nível mais alto de consumo do econômica defronta-se com uma troca de bem-estar de gera-
que prevalecia no início. ções diferentes. Um formulador de política econômica que se
O aumento da poupança que leva ao estado estacionário da importa mais com as gerações atuais do que com as gerações
Regra de Ouro melhora o bem-estar econômico? É o que ocor- futuras pode decidir que não deve adotar políticas para alcan-
re eventualmente, porque o nível de consumo do estado esta- çar o estado estacionário da Regra de Ouro. Em contraste, um
cionário é maior. Mas alcançar esse novo estado estacionário formulador de política econôm:ica que se importa igualmente
136 CAPÍTULO 7

com todas as gerações optará por alcançar a Regra de Ouro. As atuais e futuras. A Regra de Ouro bíblica n os diz para "fazer
gerações atuais podem consumir menos, mas um número infi- com os outros aquilo que gostaríamos que fizessem conosco".
nito de gerações futuras vai se beneficiar da transição para a Se acatamos esse conselho, concedemos um peso igual a to-
Regra de Ouro. das as gerações. Nesse caso, o ideal é alcançar o nível de ca-
Portanto, a acumulação de capital ideal depende basica- pital da Regra de Ouro - que por isso mesmo é chamada de
mente da maneira como avaliamos os interesses das gerações Regra de Ouro.

7 .. 3 CRESCIMENTO POPULACIONAL
O modelo de Solow básico mostra que, por si só, a acumulação
Esta equação mostra como o investimento, a depreciação e o
de capital n ão pode explicar o crescimento econômico susten-
crescimento populacional influem n o estoque de capital por
tado: taxas elevadas de poupança levam a um grande cresci-
trabalhador. O investimento aumenta k, enquanto a deprecia-
mento temporário, mas a economia acaba se aproximando de
ção e o crescimento populacional diminuem k. Vimos essa
um estado estacionário, em que capital e produto são constan-
equação antes, neste capítulo, para o caso especial de uma po-
tes. Para explicar o crescimento econômico sustentado que
pulação constante (n = O).
ohse rvamos na maior parte do mundo, dev emos expandir o
Podemos pensar no termo (8 + n)k como definindo o in-
mode lo de Solow para inco rporar as outras duas fontes de
ves timento de equilíbrio, que é a quantidade necessária de inves-
crescimento econômico: o crescimento populacional e o pro-
timento para se manter constante o estoque de capital por
gresso tecnológico. Nesta seção, ac rescentamos o crescimento
trabalhador. O investimento de equilíbrio inclui a depreciação
populacional ao modelo.
do capital existente, que é igual a 8k. T ambém inclui o inves-
Em vez de supor que a população é fix a, como fizemos nas
timento necessário para proporcionar capital a novos trabalha-
Seções 7- 1 e 7-2, vamos agora imaginar que a população e a
dores . O investimento necessário para esse propósito é nk, por-
força de trabalho crescem a uma taxa constante n. Por exem-
q ue há n novos trabalhadores para cada trabalhador existente,
plo, a população dos Estados Unidos cresce cerca de 1% ao ano;
e porque k é o capital para cada trabalhador. A equação mos-
ass im, n = O.O 1. Isso significa que, se 150 milhões de pessoas
tra que o crescimento populacional reduz a acumulação de ca-
es tão trabalhando em um ano, 151,5 milhões (1. 01 X 150 )
pital por trahalhador, como também n faz a depreciação. A
estarão trahalhando no ano seguinte , 153,0 15 milhões (1.0 1 X
depreciação reduz k pelo desgaste do estoque de capital, enquan-
151,5) no outro ano, e assi m por diante.
to o cresc imento populacion al reduz k por uma distrihuição mais
ampla do estoque de capital por uma população maior de tra -
0 ESTADO ESTACIONÁRIO COM balhadores.(,
CRESCIMENTO POPULACIONAL Nossa amílise com ú crescimento populacional prossegue
agora como antes. Primeiro, substituímos sf(k) por i. A equa-
Como o crescimento da população afeta o estado e~tacionário? ção pode então ser escrita como
Para responder a essa pergunta, devemos analisar como o
cresc imento populacional, junto com o investimento e a de - ák = sf(k) - (8 + n)k.
preciação, influi na acumulação de capital por trabalhador. Para entender o que determina o níve l de capital por trabalha-
Como ressaltamos antes , o investimento aumenta o estoque de dor em estado estac ionário, usamos a Fig. 7-11. que estende a
capital. enquanto a depreciação o reduz. Mas agora há uma análise da Fig. 7-4 para incluir os efe itos do crescimento
terceira força acuando para mudar a quantidade de capital por populac ion al. Uma economia está em um estado estacionário
trabalhador: o crescimento no número de trabalhadores faz com
se o capital por trabalhador k permanece inalterado. Como an-
que o capital por trabalhador diminua.
tes, designamos o valor no estado estacionário de k como k*.
Continuaremos a utilizar letras em caixa baixa para repre-
Se k é menor do que k*, o inves timento é maior do que o in-
sentar as quantidades por trabalhador. Assim, k = K/L é o ca-
vestimento de equilíhrio; portanto, k aumenta. Se k é maior que
pital por trahalhador e y = YIL é o produto por trabalhador. É
k*, o investimento é inferior ao investimento de equilíhrio; por-
preciso lembrar, n o entanto, que o número de trabalhadores
tanto, k diminui .
está crescendo ao longo do tempo.
No estado estacionário, o efeito posi tivo do investimento
A variação do estoque de capital por trabalhador é
sobre o estoque de capital por trabalhador equilibra exatamente
ák =i- (8 + n)k. os efeitos negativos da depreciação e do crescimento popula-

' Nora maremádca: em termos formais, derivar a equação da variação de k exige o uso de cálculo. Observe que a variação de k por unidade de tempo é dlJdr = d(K/L)/dr. Depois
de aplicar a regra da cade ia, podemos escrever isso como dk/dr = (1/L)(dK/dr) - (K/L:)(dL/dr). Agora, usamos os seguintes fatos para subsriiuir na equação: dK/dt = l - ôK e
(dL/dr)/L = n. Depois de alguma manipulação, isso gera a equação presente no tex to.
CRESCIMENTO EcONÔMJCO I 137

zer Investimento, Investimento de


investimento
:::>'·. equiltbrio, (õ + n)k
de eguilíbrio
:o-
:a-
de

! o
)Or
ia-
k* Capital por
;sa
,----A--------- trabalhador, k
)()•
0 estado
estacionário
in-
Fig. 7-11 Crescimento Populacional no Modelo de Solow Tal corno a depreciação. o crescimento populacional é um motivo para que o esto-
~s-
que de capital por trabalhador diminua. Se n é a taxa de crescimento populacional e ô é a taxa de depreciação, enw.o (ô + n)k é o investimento de
>Or equi1Jbrio - o investimento necessário para se manter constante o estoque de capital por trabalhador k. Para que a economia esteja em estado
ão estacionário, o investimento st(k) deve contrabalançar os efeitos da depreciação e do crescimento populacional (ô + n )k . Isso é representado pela
~S- interseção das duas curvas.
ta·
Jr-
te,
)S· cional. Ou seja, em k*, tik = Oe i* = ok* + nk*. Depois que k* é mais baixo, e uma vez que y* = f(k*), o nível do produto
:a- a economia está em estado estacionário, o investimento tem por trabalhador y* é tamhém mais baixo. Assim sendo, o mo-
A dois propósitos. Uma parte (ok*) substitui o capital deprecia- de lo de Solow prevê que países com maior crescimento
,n- do, e o restante (nk*) proporciona aos novos trabalhadores o populacional terão níveis menores de PIB per capita.
aís capital de estado estacionário. Finalmente, o crescimento populacional afeta nosso crité-
rio para determinar o nível de capital da Regra de Ouro (ma-
ximização do consumo). Para entender como esse critério muda,
ue
Os EFEITOS DO CRESCIMENTO
ohserve· que o consumo por trabalhador é
1a- POPULACIONAL
e= y - i.
O crescimento populacional altera o modelo de Solow básico
de três maneiras. Primeiro, nos ajuda a explicar o crescimento Visto que o produto de estado estacionário é f(k*) e o investi-
econômico sustentado. No estado estacionário com cresci- mento de estado estacionário é (o + n)k*, podemos expressar
mento populacional, o capital por trabalhador e o produto por o consumo de estado estacionário como
~ a trabalhador são constantes. Como o número de trabalhadores
e*= f(k*) - (õ + n)k*.
to está aumentando à taxii n, no entanto, o capital total e o pro-
·io duto total devem também crescer à taxa n. Por isso, embora não Adotando um argumento em grande parte parecido com o de
n- possa explicar a melhora sustentada do padrão de vida (porque antes, concluímos que o nível de k* que maximiza o consumo
·* o produto por trabalhador é constante no estado estacionário), é aquele em que
n- o cresc imento populacional pode ajudar a explicar o cresci-
PMgK = õ + n,
ue mento sustentado do produto total.
1r- Segundo, o crescimento populacional nos dá outra explica- ou, de modo equivalente,
ção para o motivo pelo qual alguns países são ricos e outros são
.to pobres. Considere os efeitos de um aumento do crescimento PMgK - o= n.
Lte populacional. A Fig. 7-12 mostra que um aumento da taxa de No estado estacionário da Regra de Ouro, a produtividade
!a- crescimento populacional de n 1 para n 2 reduz o nível de capital marginal do capital líquido da depreciação é igual à taxa de
por trabalhador no estado estacionário de k; para k;. Como crescimento populacional.

,ois
!( e
138 CAPITULO 7

Investimento,
investimento (ô+ ni)k
de equilíbrio
1. Um aumento
da taxa de
crescimento
populacional...

Capital por
trabalhador, k
2 . .. . red11zo
estoque de
capital no
estado
estacionário.

Fig. 7-12 O Impacto do Crescimento Populacional Um aumento da taxa de crescimento populacional de n 1 para n2 desloca para cima a curva
que representa o crescimento populacional e a depreciação. O novo estado estacionário k; tem um nível de capital por trabalhador inferior ao esta-
do estacionário inicial k;. Assim , o modelo de Solow prevê que as economias com maiores taxas de crescimento populacional terão níveis inferiores
de capital por trabalhador e , por conseguinte, renda menor.

ESTUDO DE CASO - - - - - - - - - - - - - - - .
CRESCIMENTO POPULACIONAL AO REDOR DO MUNDO mais pobres do mundo, como os assessores enviados aos países
Retomemos agora aos motivos pelos quais os padrões de vida em desenvolvimento pelo Banco Mundial, muitas vezes defen-
variam tanto ao redor do mundo . A análise que acabamos de dem a redução da fertilidade pelo aumento da divulgação de
concluir sugere que o crescimento populacional pode ser uma métodos de controle da natalidade e pela ampliação das opor-
resposta. Segundo o modelo de Solow, um país com uma taxa tunidades de emprego para as mulheres. Com a mesma finali-
elevada de crescimento populacional terá um baixo estoque dade, a China adotou a política totalitária de permitir apenas
de capital por trabalhador em estado estacionário; com isso, um filho por casal. Essas políticas de redução do crescimento
terá também um baixo nível de renda por trabalhador. Em populacional devem, se o modelo de Solow estiver certo, au-
outras palavras, o elevado crescimento populacional tende a mentar a renda per capita no longo prazo.
empobrecer um país, porque é difícil manter um nível de ca- Ao interpretar os dados de todos os países, é importante
pital por trabalhador elevado quando o número de trabalha- termos em mente que correlação não significa causalidade.
dores cresce muito depressa. Para entender se as evidências Os dados mostram que o baixo crescimento populacional ge-
corroboram essas conclusões, examinemos outra vez dados de ralmente está associado a altos níveis de renda per capita.
vários países. O modelo de Solow oferece uma possível explicação para
A Fig. 7-13 é um gráfico de dispersão dos dados para os 84 esse fato. Mas outras explicações também são possíveis. É
países examinados no estudo de caso anterior (e na Fig. 7-6). concebível que urna renda alta estimule o baixo crescimento
A figura mostra que os países com altas taxas de crescimento populacional, talvez porque as técnicas de controle da na-
populacional tendem a ter baixos níveis de renda per capita. talidade sejam mais acessíveis em países mais ricos. Os da-
As evidências internacionais são coerentes com a previsão do dos internacionais podem nos ajudar a avaliar uma teoria do
nosso modelo de que a taxa de crescimento populacional é um crescimento, como o modelo de Solow, porque mostram se
determinante do padrão de vida de um país. as previsões da teoria são confirmadas no mundo real. Mas,
Essa conclusão não passa despercebida dos formuladores de com bastante freqüência, mais de uma teoria pode explicar
política econômica. Os que tentam tirar da pobreza os países os mesmos fatos.
r
1
Renda per
CRESCIMENTO ECONÔMICO l 139

capita em 1992
( escala logarítmica)
100.000

Alemanha EUA

10 .000 Reino
Dinom~rca

,,, Ili

~
.. •1-,. 11
::,
I Canadá

)opào
lll li
~
Cmgapura
li

México
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Unido
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II
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rronça 11
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Egito III IY Brasil
.r \111 :lii .. ª· Ili
IS / \ Ili._• #Ili Paquistão Costa do

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11
'* e /\tJ. ..( Marfim
1.000 lndonés10 . . , \ '~*' P:U
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~
d 11 fndio w..
;.c
ili
ill itlli'\
,. Quênia
Z,mbcibue
Chadt Uganda

100~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~-

o 2 3 4
Crescimento populacional (percentual anual)
(média 1960-1992)
va
Fig. 7-13 Evidências Internacionais sobre Crescimento Populacional e Renda Per Capita A figura é um gráfico de dispersão que apresen-
:a-
ta os dados de 84 países. Mostra que os países com altas taxas de crescimento populacional tendem a ter baixos níveis de renda per capita, como
es
prevê o modelo de Solow.
Fonte.· Robert Surilmern e Alan Heston, Suplemento (Mark 5.6) a "The Penn World Table (Mark 5): An Expanded Set of lntemational Comparisons 1950-1988". Ouarterly Jouma/ oi Economics
(maio de 1991): 327-368.

1
7-4 CONCLUSAO
es
n- Este capítulo começou pelo processo de construção do modelo uma fração menor, e por que países com altas taxas de cresci-
ie de crescimento de Solow. O modelo, tal como foi desenvolvi- mento populacional são mais pobres do que países com baixas
>r- do até aqui , mostra como a poupança e o crescimento taxas de crescimento populacional.
li- populacional determinam o estoque de capital da economia no O que o modelo não pode fazer, no entanto, é explicar o
as estado estacionário, assim como o nível de renda per capita no crescimento sustentado dos padrões de vida que observamos
to
estado estacionário. Como ressaltamos, esse modelo contdbui na maioria dos países. No modelo que temos agora, quando
u-
para explicar muitas características de experiências reais de a economia alcança seu estado estacionário, o produto por
crescimento: por que a Alemanha e o Japão cresceram tão de- trabalhador pára de crescer. Para explicar o crescimento sus-
pressa depois de devastados na Segunda Guerra Mundial, por tentado, precisamos introduzir no modelo o progresso tec-
te
que países que poupam e investem uma elevada fração do seu nológico. Será esta a nossa primeira tarefa no próximo ca-
.e.
produto são mais ricos do que países que poupam e investem pítulo.
e-
:a.
ra
É RESUMO
to
a- 1. O modelo de crescimento de Solow mostra que, no longo esse crescimento diminuí à medida que se alcança o novo estado
a- prazo, a taxa de poupança de uma economia determina o estacionário. Assim, embora uma alta taxa de poupança proporci-
fo tamanho do seu estoque de capital, e com isso seu produto. one um produto elevado em estado estacionário, a poupança por
se Quanto maior a taxa de poupança, maior o capital realiza- si só não pode gerar o crescimento econômico sustentado.
do, e mais alto o produto.
IS, 3. O nível de capital que maximiza o consumo no estado esta-
ar 2. No modelo de Solow, um aumento da taxa de poupança propor- cionário é chamado de nível da Regra de Ouro. Se uma eco-
ciona um período de rápido crescimento, mas eventualmente nomia tem mais capital do que no estado estacionário da
140 CAPÍTULO 7

Regra de Ouro, a redução da poupança aumentará o consu- 4. O modelo de Solow mostra que a taxa de crescimento
mo ao longo do tempo. Em contraste, se a economia tem populacional de uma economia é outro determinante do
menos capital no estado estacionário da Regra de Ouro, al- padrão de vida no longo prazo. Quanto maior a taxa de
cançar a Regra de Ouro exige aumento de investimento, o crescimento populacional, menor o produto por traba-
que vai reduzir o consumo das gerações atuais. lhador.

. '>. --~ ) ·.' !:: .:;.:.r ··•<.J!··~·· • -•f"f.• "'··""'"

CONCEITOS-CHAVE
Modelo de crescimento de Solow Estado estacionário Nível de capital da Regra de Ouro

QUESTOES PARA REVISAO


1. No modelu de Solow, cotmJ a ta xa de poupança afeta o nível de grade Ouro? Ou com menos capital do que no estado estacionário
renda no estado estacionário? Como afeta a raxa de crescimento da Regra de Ouro? Explique suas respostas.
no estado estacionário 7 4. No modelo de Solow, como a taxa de crescimento populacional
2. Por que um formulador de política econômica pode optar pelo nível afeta o nível de renda no estado estacionário? Como afeta a taxa
de capital da Regra de Ouro 7 de crescimento econômico no estado estacionário?
3. Um formulador de política econômica pode optar por um estado
estacionário com mais capital do que no estado estacionário da Re-

PROBLEMAS E APLICAÇOES
1. O país A e o país B têm a mesma função de produção guerra não afete diretamente o capital realizado, mas as baixas re -
duzam a força de trabalho.
a. Qual é o impacto imediato sobre o produto total e sobre o pro-
a. Essa função de produção tem retornos constantes de escala? duto per capita?
Explique. b. Suponha que a taxa de poupança permaneça inalterada e que
b. O que é a funçã o de produção por trabalhador, y = f(k)? a economia se encontre em um estado estacionário antes da
e. Suponha que nenhum dos dois países experimente crescimento guerra, o que acontece com o produto por trabalhador da eco-
populacional ou progresso tecnológico, e que 5% do capital se nomia do pós-guerra? A taxa de crescimento do produto por
depreciam todo ano. Suponha ainda que o país A poupe 10% trabalhador depois da gue rra é menor ou maior que o normal?
do produto a cada ano, e que o país B poupe 20% do produto a 3. Considere uma economia descrita pela função de produção Y ::=
cada ano. Tomando a resposta que você deu à parte (b) é a F(K, L) = K''-'U- 7•
condição de estado estac ionário em que o investimento é igual a. Qual é a função de produção por trabalhador?
à depreciação, encontre Q nível de capital por trabalhador no b. Supondo que não há crescimento populacional nem progresso
estado estacionário de cada país. Depois, encontre os níveis de tecnológico, obtenha o estoque de capital por trabalhador, o
renda por trabalhador e o consumo por trabalhador no estado produto por trabalhador e o consumo por trabalhador, tudo em
estacionário. estado estacionário, como funções da taxa de poupança e da taxa
d. Suponha que os dois países começam com um estoque de capi- de depreciação.
tal por trabalhado r de 2. Q uais são os níveis de renda por c. Suponha que a taxa de depreciação seja de 10% ao ano. Faça
trabalhador e de consumo por trabalhador? Lembrando que a uma tabela mostrando, em estado estacionário, o capital por
variação do estoque de capital é investimento menos depreci- trabalhador, o produto por trabalhador e o consumo por
ação, utilize uma calculadora para mostrar como o estoque de trabalhador, para taxas de poupança de 0%, 10%, 20%, 30% , e
capital por trabalhador evoluirá ao longo do tempo nos dois assim por diante. (Para isso, você precisará de uma calculadora
países. Para cada ano, calcule a renda por trabalhador e o consu- com função exponencial.) Qual taxa de poupança maximiza o
mo por trabalhador. Quantos anos se passarão antes que o con- produto por trabalhador?
sumo do país B se tome maior do que o consumo do país A ? d. (Mais difícil) Use cálculos para encontrar a produtividade
2. Na análise do crescimento da Alemanha e do Japão no pós-guer- marginal do capital. Acrescente à sua tabela a produtividade
ra, o texto descreve o que acontece quando parte do estoque de marginal do capital líquido da depreciação de cada uma das
capital é destruído em uma guerra. Em contraste, suponha que uma taxas de poupança. O que a sua tabela mostra?
r
,
CRESCIMENTO ECONÓMICO I 141

4. O Relatório Econômico do Presidente dos Estados Unidos de 1983 duto per capita. Você acha que isso ainda seria verdade se a fun-
continha a seguinte declaração: "Destinar uma parcela maior do ção de produção apresentasse retornos crescentes ou decrescentes
produto nacional a investimento ajudaria a restaurar o rápido de escala? Explique. (Para as definições de rerornos crescentes e
crescimento da produtividade e o aumento dos padrões de vida." decrescentes de escala veja, no Cap. 3, "Problemas e Aplicações",
Você concorda com essa alegação? Explique. Problema Z.)
5. Uma abordagem da função consumo é que os trabalhadores têm 8. Pense em como o desemprego afetaria o modelo de crescimento
alta propensão a consumir, eng uanto os capitalistas têm baixa pro- de Solow. Suponha que o produto segue a função de produção
pensão a consumir. Para analisar as implicações dessa abordagem , Y = K~[( 1 - u)LJ 1- em que K é o capital, La força de trabalho e
0
,

suponha que uma economia consuma toda a renda de salários e u a taxa de desemprego. A taxa nacional de poupança és, a força
poupe toda a renda de capital. Mostre que, se os fatores de produ- de trabalho cresce à taxa n e o capital se deprecia à taxa 8.
ção ganham seu produto marginal, essa economia alcança o nível a. Expresse o produto por trabalhador (y = Y/L) como uma fun-
de capital da Regra de Ouro. (Dica: comece pela identidade em ção do capital por trabalhador (k = K/L) e da taxa natural de
que a poupança é igual ao investimento. Depois, use a condição desemprego. Descreva o estado estacionário dessa economia.
de estado estacionário em que o investimento é suficiente apenas
b. Suponha que alguma mudança da política governamental re-
para acompanhar a depreciação e o crescimento populacio-nal, e
duza a caxa natural de desemprego. Descreva como essa mudan-
o fato de que a poupança iguala a renda do capital nessa econo-
ça afeta o produto, tanto imediaramente quanto ao longo do
mia.)
tempo. O efeito no estado estacionário sobre o produto é mai-
6. M~litos demógrafos pre vêem que os Es tados Unidos terão or ou menor que o efeico imediato? Explique .
crescimento populacional zero no século XXI, em contraste com
9. Escolha dois países que lhe interessem, um rico e um pobre. Qual
o crescimento populacional médio de 1% no século XX. Aplique o
é a renda per capita em cada país? Procme alguns dados sobre as
modelo de Solow para prever o efeito dessa redução do crescimento
características do país que possam ajudar a explicàr as diferenças
populacional sobre o crescimento do produto total e o crescimento
na renda: taxas de investimento, taxas de crescimento populacio-
do produto per capita. Comidere os efeitos tanto no estado estacio-
nal, níve l educacional, e assim por diante. (Dica: No site do Ban-
nário quanto na transição entre estados estacionários.
co Mundial na Internet, www.worldbank.org, você encontrará esses
7. No modelo de Solow , o crescimento populaciona l leva ao cresci- dados.) Como você pode determinar qual desses fatores é mais
mento da produção total no estado estacionário, mas não no pro- responsável pela diferença da renda observada 1
Capítulo 8

CRESCIMENTO ECONÔMICO II

Há alguma ação que o governo da Índia possa adotar que levaria a economia indiana a C!escer como a economia da
Indonésia ou a do Egito? Se há, qual é exatamente? Se não, o que há na "natureza ck1 India" que a faz ser assim?
As comeqiiências para o bem-estar hunumo que quest,ies como essas implicam são simplesmente espantosas:
dej,ois que se começa a pensar a 1·espcito, é difícil pensar em qualquer outra coisa.
- R<lberr E. Luci,, k

Este capítulo dá prosseguimento à análise das forças que regem aumentar a taxa de progresso tecnológico? O modelo de
o crescimento econômico no longo prazo. Tendo a versão bá- crescimento de Solow proporciona o arcabouço teórico den-
sica do modelo de crescimento de Solow como nosso ponto de tro do qual consideramos cada uma dessas questões de políti-
partida, vamos assumir quatro novas tarefas. ca econômica.
A primeira é fazer com que o modelo de Solow seja mais geral A terceira tarefa é passar da teoria à prática. Ou seja, consi-
e mais realista. No Cap. 3, vimos que capital, trabalho e tec- deramos até que ponto o modelo de Solow ajusta-se aos fatos.
nologia são os determinantes fundamentais da produção de bens Durante a década de 1990, uma vasta literatura estudou as pre-
e serviços de um país. No Cap. 7, desenvolvemos o modelo de dições do modelo Solow e de outros modelos de crescimento
Solow para mostrar como as mudanças do capital (poupança e econômico. E constatou-se que o copo está ao mesmo tempo
investimento) e as mudanças da força de trabalho (crescimento meio cheio e meio vazio. O modelo de Solow pode explicar
populacional) afetam o produto da economia. Estamos agora muita coisa nas experiências internacionais de crescimento, mas
prontos para acrescentar a terceira fonte de crescimento - mu- está longe de ser a última palavra sobre o assunto.
danças na tecnologia - na mistura. A quarta e última tarefa é analisar o que o modelo de Solow
A segunda tarefa é examinar como as políticas públicas de deixa de fora. Como já ressaltamos antes, os modelos ajudam-
um país podem influir no nível e no crescimento do seu pa- nos a compreender o mundo ao simplificá-lo. Após concluir a
drão de vida. Em particular, tratamos de quatro indagações: análise de um modelo, portanto, é importante considerar se sim-
Nossa sociedade deve poupar mais ou poupar menos? Como plificamos demais os problemas. Na última seção, examinamos
a política econômica pode influir na taxa de poupança? Há um novo conjunto de teorias, chamadas de teorias do crescimento
alguns tipos de investimento que a política econômica deve endógeno, que esperam explicar o progresso tecnológico que o
estimular especialmente? Como a política econômica pode modelo de Solow pressupõe ser exógeno.

8-1 PROGRESSO TECNOLÓGICO NO MODELO DE SOLOW


Até aqui, nossa apresentação do modelo de Solow pressupôs Escrevemos agora a função de produção como
uma relação inalterável entre os insumos capital e trabalho e a
produção de bens e serviços. Contudo, o modelo pode ser mo-
Y = F(K, L X E),
dificado para incluir o progresso tecnológico exógeno, que ao em que E é uma nova (e um tanto abstrata) variável chamada
longo do tempo expande a capacidade produtiva da sociedade. de eficiência do trabalho. A eficiência do trabalho deve refle-
tir o conhecimento da sociedade sobre os métodos de produ-
ção; à medida que a tecnologia disponível melhora, a eficiên,
A EFICIÊNCIA DO TRABALHO cia do trabalho aumenta. Por exemplo, a eficiência do traba-
Para incorporar o progresso tecnológico, devemos retornar à lho aumentou quando a produção em linha de montagem trans-
função de produção, que relaciona o capital total K e o traba- formou a indústria no início do século XX. Tornou a aumentar
lho total L com o produto total Y. Até aqui, a função de produ- quando a computadorização foi introduzida, no final do século
ção tem sido XX. A eficiência do trabalho também aumenta quando há
melhoras na saúde, na educação ou nas habilidades da força de
Y = F(K, L). trabalho.
CRESCIMENTO ECONÔMICO II 143

O termo L X E é a força de trabalho medida em unidades de Para isso, precisamos reconsiderar nossa notação. Agora
eficiência. Leva em consideração o número de trabalhadores L deixamos que k = K/(L X E) represente o capital por unidade
e a eficiência de cada trabalhador E. Essa nova função de pro- de eficiência, enquanto y = Y/(L X E) representa o produto
dução enuncia que o produto total Y depende do número de por unidade de eficiência. Com essas definições, podemos es-
unidades de capital K e do número de trabalhadores efetivos crever de novo y = f(k).
L X E. Os aumentos da eficiência do trabalho E são, na verda- Essa notação não é realmente tão nova quanto parece. Se
de, como aumentos da força de trabalho L considerarmos a eficiência do trabalho E constante ao valor
A suposição mais simples sobre o progresso tecnológico é que arbitrário de 1, como temos feito implicitamente até aqui, es-
ele faz com que a eficiência do trabalho E cresça a uma taxa sas novas definições de k e y se reduzem às definições antigas.
constante g. Por exemplo, se g = 0,02, cada unidade de traba- Quando a eficiência do trabalho está crescendo, no entanto,
da lho torna-se 2% mais eficiente a cada ano: o produto aumenta devemos ter em mente que k e y agora se referem a quantida-
m? como se a força de trabalho tivesse um aumento adicional de des por unidades de eficiência (não por trabalhador, simples-
:is :
2%. Essa forma de progresso tecnológico é chamada de incor- mente) .
poradora de trabalho, e g é a taxa de progresso tecnológico Nossa análise da economia prossegue da mesma maneira que
incorporador de trabalho. Como a força de trabalho L está ocorria quando examinávamos o crescimento populacional. A
crescendo à taxa n e a eficiência de cada unidade de trabalho equação mostrando a evolução de k ao longo do tempo agora
E cresce à taxa g, o número de unidades de eficiência L X E muda para ·
de
cresce à taxa n + g. 6.k = sf(k) - (ô + n + g)k.
n-
ti- Como antes, a mudança do estoque de capital 6.k é igual ao
0 ESTADO ESTACIONÁRIO COM PROGRESSO investimento sf(k) menos o investimento de equilíbrio (ô +
si-
TECNOLÓGICO n + g)k. Agora, no entanto, visto que k = K!EL , o investimento
JS. de equilíbrio inclui três termos: para manter k constante, ôk é
:e- Expressar o progresso tecnológico tomo incorporador de tra- necessário para substituir o capital que está se depreciando, nk
LtO balho faz com que ele seja análogo ao crescimento populacional. é necessário para proporcionar capital a novos trabalhadores e
po No Cap. 7, analisamos a economia em termos de quantidades gk é necessário para proporcionar capital para n ovas "unidades
:ar por trabalhador, e permitimos que o número de trabalhadores de eficiência", criadas pelo progresso tecnológico.
tas aumentasse ao longo do tempo. Agora, analisamos a economia Como mostra a Fig. 8-1, a inclusão do progresso tecnológi-
em termos de quantidades por unidades de eficiência do traba- co não altera substancialmente nossa análise do estado estaci-
)W lho, e permitimos que aumente o número de unidades de efici- onário. Há um nível de k, indicado por k*, em que o capital
:n- ência. por unidade de eficiência e o produto por unidade de eficiên-
ra
:n-
LOS
Investimento,
lto
investimento Investimento de equillbrio, (ô + n + g)k
'. o de equilíbrio

da
le-
lu-
n- k* Capital por unidade de eficiência, k
O estado
,a- estacionário
lS-
:ar Fig. 8-1 Progresso Tecnológico e o Modelo de Crescimento de Solow O progresso tecnológico incorporador de trabalho à taxa g afeta o
110 modelo de crescimento de Solow da mesma maneira que o crescimento populacional à taxa n. Agora que k está definido como o capital por unidade
há de eficiência do trabalho, os aumentos do número de unidades de eficiência em decorrência do progresso tecnológico tendem a diminuir k . No
de estado estacionário, o investimento sf(k) contrabalança exatamente as reduções em k atribuíveis à depreciação, ao crescimento populacional e ao
progresso tecnológico.
144 CAPtruLO 8

eia são constantes. Como antes, esse estado estacionário repre- e*= f(k*) - (8 + n + g)k*.
senta o equilíbrio da economia no longo prazo.
O consumo no estado estacionário é maximizado se

Os EFEITOS DO PROGRESSO TECNOLÓGICO


PMgK = 8 + n + g,
A Tabela 8-1 mostra como quatro variáveis fundamentais se ou
comportam no estado estacionário com progresso tecnológico. PMgK - o = n + g,
Corno acabamos de ressaltar, o capital por unidade de eficiên-
cia k é constante no estado estacionário. Como y = f(k), o Ou seja, no nível de capital da Regra de Ouro, a produtividade
produto por unidade de eficiência também é constante. Lem- marginal do capital líquido, PMgK - o,
é igual à taxa de
bre-se, no entanto, de que a eficiência de cada trabalhador está crescimento do produto total, n + g. Como as economias de
crescendo à taxa g. Em conseqüência, o produto por trabalhador fato experimentam tanto o crescimento populacional quanto
(Y/L = y X E) também cresce à taxa g. O produto total [Y = o progresso tecnológico, devemos adotar esse critério para ava-
y X (E X L)l cresce à taxa n + g. liar se elas têm mais ou menos capital do que no estado estaci-
Com o acréscimo do progresso tecnológico, nosso modelo onário da Regra de Ouro.
pode finalmente explicar os aumentos sustentados dos padrões
de vida que observamos. Ou seja, mostramos que o progresso
tecnológico pode levar a crescimento sustentado do produto TABELA 8-1 Taxas de Crescimento de Estado Estacionário
por trabalhador. Em contraste, uma elevada taxa de poupança
no Modelo de Solow com Progresso
só leva a uma alta taxa de crescimento até que se alcança o
Tecnológico
estado estacionário. Uma vez que a economia se encontre no
estado estacionário, a tc;1xa de crescimento do produto por Taxa de
trabalhador depende apenas da taxa de progresso tecnológico. Crescimento
de Estado
Segundo o modelo de Solow , somente o progresso tecnológico pode
Variável Símbolo Estacionário
explicar o crescimento sustentado dos padrões de vida.
A introdução do progresso tecnológico também modifica o Capital por unidade k = Kl(E X L) o
critério da Regra de Ouro. O nível de capital da Regra de Ouro de eficiência
é agora definido comú o estado estacionário que maximiza o Produto por unidade y = Yl(E X L) = tl,k) o
consumo por unidade de eficiência. Seguindo os mesmos argu- de eficiência
mentos que adotamos antes, podemos mostrar que o consumo Produto por trabalhador YIL= y XE g
Produto total Y == y X (E X L) n+g
no estado estacionário por unidade de eficiência é

8-2 POLÍTICAS ECONÔMICAS PARA PROMOVER O CRESCIMENTO


Tendo aplicado o modelo de Solow para descobrir as relações Para determinar se a economia norte -americana está no,
entre as diferentes fontes de crescimento econômico, podemos acima do, ou abaixo do estado estacionário da Regra de
agora tomar a teoria para ajudar a orientar rn:isso pensamento Ouro, precisamos comparar a produti\·idade marginal do
sobre política econômica. capital líquido da depreciação (PMgK - o) com a taxa de
crescimento do produto torai (n + g). Como acabamos
de estabelecer, no estadu estacionário da Regra de Ouro
AVALIAÇÃO DA TAXA DE POUPANÇA
PMgK - õ = n + g. Se a economia está operando com menos
Segundo o modelo de crescimento de Solow, quanto um pa ís capital do que o estado estacionário da Regra de Ouro, en -
poupa e investe é um determinante fundamental do padrão de tão a produtividade marginal decrescente nos diz que PMgK
vida de seus cidadãos. Portanto, vamos iniciar nossa análise de - o > n + g. Nesse caso, aumentar a taxa de poupança le-
política econômica com uma indagação natural: a taxa de pou- vará eventua lmente a um estado estacionário com um con-
pança da economia dos Estados Unidos é muito alta, muito sumo maior. Mas, se a economia está operando com capital
baixa, ou está no nível certo? demais, PMgK - ê < n + g, e a taxa de poupança deve ser
Como vimos, a taxa de poupança determina os níveis de reduzida.
estado estacionário do capital e do produto. Uma taxa de pou- Para fazer essa comparação em uma economia real, como a
pança específica gera o estado estacionário da Regra de Ouro, economia dos Estados Unidos, precisamos de uma estimativa
que maximiza o consumo e, com isso, o bem-estar econômico. da taxa de crescimento (n + g) e de uma estimativa da pro-
A Regra de Ouro proporciona o ponto de referência contra o dutividade marginal do capital líquido (PMgK - 5). O PIB real
qual podemos comparar a economia dos Estados Unidos. dos Estados Unidos cresce a uma média de 3% ao ano; portan-
CRESCIMENTO ECONÔMICO li }45

co, n + g = 0,03. Podemos estimar a produtividade marginal ça nacional. Mas, como podem fazer isso? Vimos no Cap. 3 que,
do capital líquido pelos três fatos seguintes: como uma pura questão de contabilidade, uma poupança na-
cional maior significa poupança pública maior, poupança pri-
L O estoque de capital é cerca de 2,5 vezes o PIB de um ano.
vada maior, ou uma combinação das duas. Grande parte do
2. A depreciação do capital é de cerca de 10% do PIB.
debate sobre política econômica para aumentar o crescimento
J. A renda do capital é de cerca de 30% do PIB.
concentra-se em qual dessas opções tem maior probabilidade
Utilizando a notação do nosso modelo (e o resultado do Cap. de ser eficaz.
3, em que os donos do capital ganham a renda da PMgK para A maneira mais direta pela qual o governo afeta a poupan-
dade cada unidade de capital), podemos escrever esses fatos como ça nacional é por meio da poupança pública - , a diferença
a de entre o que o governo recebe, como receita fiscal, e o que gas-
iS de 1. k = 2,Sy.
ta. Quando o gasto do governo supera a receita, diz-se que há
anto 2. 6k = O,ly.
um déficit orçamentário, que representa uma poupança pública
ava- J. PMgK X k = 0,3y. negativa. Como ressaltamos no Cap. 3, um déficit orçamentá-
taci- rio aumenta as taxas de juros e desloca o investimento; a redu-
Obtemos a taxa de depreciação 6 ao dividir a equação 2 pela
equação l: ção importante do estoque de capital é parte do fardo da dívi-
da nacional com as futuras gerações. Inversamente, se o gover-
6k/k = (0 ,l y)/(2,Sy) no gasta menos do que arrecada, diz-se que tem um superávir
õ = 0,04. orçamentário. Pode então eliminar uma parte da dívida nacio-
rio
E ohtemns a produtividade marginal do capital PMgK ao divi- nal e estimular o investimento.
dir a equação , pela equação 1: O governo também afeta a poupança nacional ao influen-
ciar a poupança privada, aquela que é feita pelas famílias e pe-
le (PMgK x k)/k = (0,3y)/(2,5y) las empresas. Em particular, quanto as pessoas decidem poupar
,nto PMgK = 0,12 depende dos incentivos oferecidos; e esses incentivos são alte-
do
Assim, cerrn de 4% do estoque de capital depreciam a cada ano, rados por uma variedade de políticas públicas. Muitos econo-
ária
e a proJuriYidade margina l Jo capital é de cerca de 12 % por mistas argumentam que altas taxas de juros sobre o capital -
ann. A prndutividade marginal do capital líquido, PMgK - õ, inclusive o imposto de renda da pessoa jurídica, o imposto de
é de cerca de 8% ,lll ano. renda federal, o imposto estadual, e muitos outros impostos
Podemos agora constatar que o retomo do capital (PMgK - estaduais sobre renda e imóveis - desestimulam a poupança
o = 8'XJ ,m H11t)) est.í além da taxa média de crescimento da privada, reduzindo a taxa de retomo ganha pelos poupadores.
g ecnnomia (11 + g = 3'X, an ano). Esse fato, junto com nossa Contudo, as conras de aposentadoria com isenção fiscal, em
aná lbe prévb. i11Lli ca que o estoque de capital da economia dos especial a IRA, nos Estados Unidos, visam a estimular a pou-
Estados Unid,)s est,í muito abaixo do nível da Regra de Ouro. pança privada, oferecendo um tratamento preferencial para a
Em outras pnla\'Tas, se os Estados Unidos poupassem e inves- renda poupada nessas contas.
tissem uma fo1ç,10 mais alta da sua renda. cresceriam mais de- Muitas divergências entre economistas sobre políticas pú-
o pressa e acaha rimn akançandcJ um estado estacionário com blicas estão enraizadas em diferentes opiniões sobre quanto a
consumo surerinr. Essa conclusão sugere que os formuladores poupança privada reage a incentivos. Por exemplo, suponha que
í no, o governo expandisse o montante que as pessoas podem apli-
de pnlítica ecunCJmica devem querer aumentar a taxa de pou-
a Je p,inça e de itwesrirnenrn. Com efeito, há muitos anos que o car em contas de aposentadoria com isenção fiscal. As pessoas
il dn aumento da f,1rmaçãu Je capital tem sido uma prioridade im- reagiriam a esse incentivo ampliado para poupar com a deci-
:a de pnrrante da pnlír ic.1 econômica norte-americana. são de poupar mais ? Ou as pessoas apenas transfeririam a pou-
1mns pança feita de outras maneiras para essas contas - reduzindo
)uro a rece ita fiscal e, com isso, a poupança pública, sem qualquer
enos ALTERANDO A TAXA DE POUPANÇA estímulo à poupança privada? É evidente que a conveniência
, en- Os cülcu lns anteriore~ mostram que, para levar a economia dos da política econômica depende das respostas a essas perguntas.
MgK Estados Unidos ao estado estacionário da Regra de Ouro, os Infelizmente, apesar de muita pesquisa a esse respeito, ainda não
a le - formu ladores de política econômica devem aumentar a poupan- h á qualquer consenso.
con-
pirai
e ser ESTUDO DE CASO - - - - - - - - - - - - - - ,
moa o SISTEMA DE SEGURIDADE SOCIAL DEVE SER uma política econômica importante é muitas vezes considera-
ltiva REFORMADO? da um meio de reduzir a poupança: o sistema de Seguridade
pro- Embora muitas políticas do governo sejam projetadas para es- Social. Trata-se de um sistema de transferência, que visa a
\ real timular a poupança, como o tratamento fiscal preferencial dis- manter a renda das pessoas quando se tomam idosas. Essas trans-
rtan - pensado a planos de pensão e outras contas de aposentadoria, ferências são financiadas com uma taxa sobre o salário da po-
146 CAPÍTULO 8

pulação economicamente ativa. Considera-se que o sistema esse sistema acabaria retendo uma grande parte da riqueza do
reduz a poupança privada, porque diminui a necessidade das país, o que aumentaria o papel do governo na distribuição de
pessoas de prover para a sua própria aposentadoria. capital. Além disso, temem que um grande fundo sob controle
Para contrabalançar a redução da poupança nacional atri- público tentaria os políticos a cortar impostos ou aumentar
buída à Seguridade Social, muitos economistas têm proposto gastos, o que poderia esvaziar o fundo, e fazer o sistema rever-
reformas do sistema. No momento, o sistema é quase todo no ter à situação de desembolso imediato. A história oferece um
esquema de desembolso imediato: a maior parte das receitas fis- certo apoio a esse receio: os planejadores iniciais da Seguridade
cais atuais vai para o pagamento da população idosa atual. Uma Social queriam que o sistema acumulasse um fundo de investi-
sugestão é que a Seguridade Social tenha financiamento total. mentos muito maior do que jamais conseguiu.
Por esse plano, o governo aplicaria em um fundo de investi- Essas questões destacaram-se no final da década de 1990,
mentos os pagamentos que uma geração efetua quando é jovem quando os formuladores de política econômica tomaram-se
e está em atividade; o governo depois pagaria o principal e os conscientes de que o atual sistema de Seguridade Social era
juros acumulados a essa mesma geração, quando estiver mais insustentável. Ou seja, a quantidade de receita arrecadada pela
velha e aposentada. Sob um sistema de Seguridade Social com taxa sobre a folha de pagamento parecia insuficiente para pa-
financiamento total, o aumento da poupança pública contra- gar todos os benefícios prometidos. Segundo a maioria das pro-
balançaria a redução da poupança privada. jeções, o problema se tomaria mais intenso quando a enorme
Uma proposta estreitamente relacionada é a privatização, o geração do baby-boom se aposentasse, nas primeiras décadas do
4.ue significa a transferência desse programa do governo para século XXI. Várias soluções foram propostas. Uma possibilida-
os idosos em um sistema de contas de poupança privadas com- de era manter o atual sistema com alguma combinação de be-
pulsórias, muito parecido com os planos de pensão privados. nefícios menores e taxas mais altas. Outras possibilidades in-
Em princípio, as questões de financiamento e privatização são cluíam transferências para um sistema de financiamento total,
distintas. Um sistema com financiamento total pode ser públi- calvez incluindo também contas privadas. Essa questão foi pro-
co (caso em que o governo detém os recursos) ou privado (caso eminente na campanha presidencial americana de 2000, com
em que instituições financeiras particulares controlam os re- o candidato George W. Bush defendendo uma reforma que
cursos). Na prática, no entanto, as questões são vinculadas com incluísse contas privadas. Quando este livro estava pronto para
freqüência. Alguns economistas argumentam que um sistema ser impresso, ainda não se sabia se a reforma seria aprovada ou
público de financiamento total é problemático. Ressaltam que não. 1

ALOCANDO O INVESTIMENTO NA bliocecas e tempo para estudar. Pesquisa recente sobre o


crescimento econômico enfatizou que o capital humano é pelo
ECONOMIA menos tão importante quanto o capital físico para explicar as
O modelo de Solow parte do pressuposto simplificador de que diferenças internacionais em padrões de vida. 2
só há um tipo de capital. No mundo, é claro, há muitos tipos. Os formuladores de política econômica que tentam estimu-
As empresas privadas investem em tipos tradicionais de capi- lar o crescimento econômico devem confrontar a seguinte ques-
tal. como tratores e usinas siderúrgicas, e nos tipos mais novos tão: de que tipos de capital a economia mais precisa? Em ou-
de capital, como computadores e robôs. O governo investe em tras palavras, que tipos de capital proporcionam as produtivi-
várias formas de capital público, chamadas de infra-estrutura, dades marginais mais altas? Em grande parte, os formuladores
como estradas, pontes e sistemas de saneamento. de política econômica podem confiar no mercado para alocar
Além disso, há o capital humano - os conhecimentos e a poupança agregada nos tipos alternativos de investimento.
habilidades que os trabalhadores adquirem por meio da educa- As indústrias com produtividades marginais do capital mais
ção, desde os programas no início da infância, como o Head elevadas serão naturalmente as mais dispostas a tomar empres-
Start, até o treinamento no emprego para adultos na força de tado à taxas de juros de mercado para financiar novos investi-
trabalho. Embora o modelo de Solow básico inclua apenas o mentos. Muitos economistas propõem que o governo deve sim-
capital físico e não tente explicar a eficiência do trabalho, sob plesmente criar "um campo de jogo nivelado" para diferentes
muitos aspectos o capital humano é análogo ao capital físico. tipos de capital - por exemplo, garantindo que o sistema fis-
Tal como o capital físico, o capital humano aumenta nossa cal dispensará um tratamento igual a todas as formas de capi-
capacidade de produzir bens e serviços. Elevar o nível do capi- tal. O governo pode então confiar no mercado para alocar o
tal humano exige investimento, em forma de professores, bi- capital com eficiência.

ana
'Para aprender mais a respeito do debate sobre Seguridade Social. veja Social Security Reform: Links to Savinl{, lnvestment, Growth , Sreven A. Sass e Roberr K. Triesr, eds.,
Séries de Conferência N • 41, Federal Reserve Bank de Boston, junho de 1997.
'N. Gregory Mankiw, David Romer e David N. Weil, "A Conrriburion to rhe Empirics of Economic Orôwth", Quarrerly ]oumal of Economics (maio de 1992): 407 -437.
r CRESCIMENTO EcONÔMICO II 147

do Outros economistas sugerem que o governo deve estimular federal estão sempre decidindo se devem tomar emprestado
de ativamente formas específicas de capital. Suponha, por exem- para financiar novas estradas, pontes e sistemas de trânsito.
ale plo, que o avanço tecnológico ocorra como um subproduto de Durante sua primeira campanha presidencial, Bill Clinton ar-
.tar determinadas atividades econômicas. Isso aconteceria se no- gumentou que os Estados Unidos têm investido muito pouco
·er- vos e melhores processos de produção forem inventados durante em infra estrutura. Alegou que um nível superior de investi-
0

um 0 processo de construção de capital (fenômeno chamado de mento em infra-estrutura tornaria a economia substancial-
i.de aprender fazerulo), * e se essas idéias se tomam parte do conj un- mente mais produtiva. Entre os economistas, essa alegação
sti- to de conhecimentos da sociedade. Esse subproduto é chama- tem ao mesmo tempo críticos e defensores. Todos estão de
do de externalidade tecnológica (ou fluxo de conhecimento). Na acordo, no entanto, em que é difíci l a mensuração da produ-
90, presença dessas externalidades, os retornos sociais do capital tividade marginal do capital público. O capital privado gera
.-se ultrapassam os retornos privados, e os benefícios para a socie - uma taxa de lucro para a empresa que o possui, podendo ser
era dade da acumulação de capital elevada são maiores do que su- medida com facilidade, enquanto os benefícios do capital
ela gere o modelo de Solow. 1 Além disso, alguns tipos de acumu- público são mais difusos.
pa- lação de capital podem proporcionar maiores externalidades do
ro- que outros. Se, por exemplo, a instalação de robôs proporcio-
me na maiores externalidades tecnológicas do que a construção de ESTIMU1ANDO O PROGRESSO
do uma nova usina siderúrgica, talvez o governo de va dar incenti- TECNOLÓGICO
da- vos fiscais ao investimento em robôs. O sucesso dessa política
be- industrial, como é às vezes chamada, exige que o governo seja O modelo de Solow mostra que o crescimento sustentado da
in- capaz de medir as externalidades de diferentes atividades eco- renda por trabalhador deve vir do progresso tecnológico. O
ral, nômicas a fim de poder conceder os incentivos certos a cada modelo de Solow, no entanto, pressupõe o progresso tecnoló-
ro- atividade . gico como exógeno; não o explica. Infelizmente, os determi-
am A maioria dos economistas é cética em relação às políti- nantes do progresso tecnológico não são bem compreendidos.
1ue cas industriais por dois motivos. Primeiro, a mensuração das Apesar da compreensão restrita, há muitas políticas públi-
ara externai idades de diferentes setores é tão difícil que se torna cas para estimular o progresso tecnológico. A maioria dessas
ou praticamente impossíve l. Se a política 1-iaseia-se em mensu- políticas estimula o setor privado a destinar recursos à inova-
rações precári as, seus efeitos podem ser aleatórios; e, nesse ção tecnológica. Por exemp lo, o sistema de patentes concede
_J caso, talvez sejam piores do que se não hou vesse qualquer um monopólio temporário a inventores de novos produtos; o
política industrial. Segund1.1, o processo político está longe de código fiscal oferece isenções a empresas que se empenham em
ser perfe ito. A partir do momento em que o governo passa a pesquisa e dese nvolvimento ; e órgãos do governo, como a
~ o recompensar indústrias específicas com subsídios e isenções Nacional Science Foundation, subsidiam diretamente a pesqui-
elo fisc ais , é bem provável que as recompensas sejam baseadas na sa hásica em universidades. Além disso, como foi ressaltado, os
: as influência política em vez de hasear-se n a magn itude das defensores da política industrial argumentam que o governo
externa l idades. deve assumir um papel mais ativo n a promoção de indústria,
ílU- Um tipo de capital que necessariamente envol ve o gover- específicas, que são fundamentais para o rápido progresso tec -
LeS• no é o capital púhlico. Os governos municipai s, estaduais e nológico.
JU•
.vi-
,res ESTUDO DE CASO - - - - - - - - - - - - - .
car
,to. A REDUÇÃO DO CRESCIMENTO ECONÔMICO EM TODO o crescimento tem um grande efeito sobre o bem-estar econômi-
,ais MUNDO co. A renda real nos Estados Unidos hoje é cerca de 20% me-
·es- A partir do início da década de 1970, os formu ladores de polí- nor do que seria se o cresciment0 tivesse permanecido em seu
sti- tica econômica do mundo inteiro se defrontaram com um pro- nível anterior.
.m- blema desconcertante: uma desaceleração global do crescimen- Por que essa redução ocorreu? Estudos mostraram que ela
.ces to econô mico. A Tabe la 8-2 apresenta os dados sobre o pode ser atribuída a uma queda da taxa pela qual a função de
fis- crescimento do PIB real per capita das sete maiores economias produção estava melhorando ao longo do tempo. O apêndice
.pi- mundiais. O crescimento dos Estados Unidos caiu de 2,2% para deste capítulo explica como os economistas medem as mudan-
.r o 1,5 %, enquanro outros países experimentaram declínios seme- ças da função de produção, com uma variável chamada produ-
lhantes ou ainda mais acentuados. Acumulada ao longo de tividade total dos fatores, que está estreitamente relacionada com
muitos anos, até mesmo uma pequena mudança da taxa de a eficiência do trabalho no modelo de Solow. Há, no entanto,

~s.,
~ comum encontrar em rextos em português esse rermo em inglês: "leaming by doing". (N .T.)
Paul Romer, "Crazy Explanarions for the Productiv ity Slowdown", NBER Macroeconomics Annual 2 (1987): 163- 201.
148 CAPITULO 8

muitas hipóteses para explicar essa queda do crescimento da


produtividade. Aqui estão quatro delas.
CRESCIMENTO DO PRODUTO
Problemas de Mensuração Uma possibilidade é que are- PER CAPITA
dução da produtividade não teria ocorrido realmente, e que (PERCENTUAL POR ANO)
ela aparece nos dados porque os dados são falhos. Como você País 1948-1972 1972-1995 1995-2000
pode recordar do Cap. 2, um problema na mensuração da in-
flação é a correção das variações da qualidade dos bens e ser- Canadá 2.9 i.a 2,7
viços. A mesma questão surge quando se mede o produto e a França 4,3 1,6 2,2
produtividade. Por exemplo, se o progresso tecnológico leva Alemanha Ocidental 5,7 2,0
Alemanha 1,7
à construção de mais computadores, é fácil medir o aumento
Itália 4,9 2,3 4,7
do produto e da produtividade. Mas, se o avanço tecnológico Japão 8,2 2,6 1,1
leva à construção de computadores mais rápidos , o produto e Reino Unido 2,4 1,8 2,5
a produtiYidade aumentam, mas esse aumento é mais sutil e Estados Unidos 2,2 1.5 2,9
mais difícil de medir. Os estatísticos do governo tentam cor-
Fonte: Angus Maddison. Phases of Capitalist Development (Oxford: Oxford
rigir as mudanças na qualidade. Apesar de seus melhores es-
University Press, 1982); e Contas Nacionais e Estatísticas Financeiras
forços, no entanw, ns dados resultantes esrão longe de ser Internacionais da OCDE.
perfeitos. Observação: os dados anteriores a 1995 da Alemanha referem-se à Alemanha
As melhoras de qualidade não medidas significam que nos- Ocidental; depois de 1995, à Alemanha unilicada.
so padrão de vida sobe mais rápido do que os dados oficiais
indicam. A questão deve nos deixar desconfiados quanto aos
dados, mas por si mesma não pode explicar a reduç ão do
crescimento da produtividade. Para explicar essa desaceleração ciais em transformação estimularam muitas mulheres a deixar
Llo crescimento, deve-se argume ntar que os problemas de o trabalho doméstico em tempo integral e ingressar na força
memuração pioraram. Há algumas indicações de que isso pode de trabalho. Esses dois fatos baixaram o nível médio de experi-
ter acontecido. A história nos diz que menos pessoas traba- ência entre os trabalhadores, o que, por sua vez, diminuiu a
lham em atiYidades mm produção tangível e facilmente me- produtividade média.
dida, como a agricultura, e mais pessoas trabalham em ativi- Outros economistas apontam para as mudanças da qualida-
dades com prnduçãn nãn-tangível e medida cnm menns faci- de do trabalhador tal como avaliada pelo capital humano.
lidade, Cll!Til) os serviçl)s médicos. Contudo, poucos economis- Emhma a educação da força de trabalho durante esse período
ras acham que os prohlemas de mensuração dão conta de toda continuasse a aumentar, já não crescia tão depressa quanto no
a história. passado. Além disso, o declínio do desempenho em alguns tes-
tes padronizados sugere que a qualidade da educação está se
Preços do Petróleo Quando a redução da produtividade co- deteriorando. Se assim é, isso poderia explicar a desaceleração
meçou, por volta de 1973 , ,1 hipótese óbvia para explicar foi o do crescimento da produtividade.
grande aumenw do~ preços do petróleo, causado pelas ações da
OPEP, o cartel do petróleo. A principal evidênci.i foi o mo- O Esgotamento de Idéias Ourrns economistas ainda suge-
mento: o crescimento da produtividade diminuiu na mesma rem que o mundo comeÇl)U a ficar sem novas idéias sobre a ma-
ocasião em que os preÇllS do petróleo dispararam. Ao longo do n eira de produzir no início da década de 1970, levando a eco-
tempo, no entanto, essa explicação foi parecendo menos pro- nomia a uma era de progresso tecnológico mais lento. Esses eco-
vável. Um mnti vo é l) fato de que a queda da produtividade nomistas costumam argumentar que a anomalia não se restrin-
parece grande demais para ser explicada pçir um aumento dos ge ao período desde 1970, pois j,i ocorria nas duas décadas an-
preços do petróleo. Afinal, o petróleo não é uma fração tão teriores. Ao final da década de 1940, a economia norte -ameri -
grande dos custos de uma firma típica. Além disso, se essa ex- cana tinha um acúmulo de idéias que não haviam sido plena-
plicação fosse certa, a produtividade deveria ter aumentado de mente implementadas por causa da Grande Depressão da dé -
novo quando um turbilhão político na OPEP provocou uma cada de 1930 e da Segunda Guerra Mundial, na primeira me-
queda dos preços do petróleo em 1986. Infelizmente, isso não tade da década de 1940. Depois que a economia absorvesse esse
aconteceu. acúmulo, segundo a argumentação, era provável que ocorresse
uma desaceleração do ritmo de crescimento da produtividade.
Qualidade do Trabalhador Alguns economistas sugerem Com efeito, embora as taxas de crescimento das décadas de
que a redução da produtividade pode ter sido causada por mu- 1970 e 1980 e início dos anos 1990 fossem desapontadoras, em
danças na força de trabalho. No início da década de 1970, a comparação com as taxas das décadas de 1950 e 1960, não fo-
grande geração do baby-boom começou a deixar a escola e en- ram mais baixas do que as taxas médias de crescimento de 1870
trar no mercado de trabalho. Ao mesmo tempo, as normas so- a 1950.
CRESCIMENTO ECONÔMICO II 149

Qual desses suspeitos é o culpado? Todos são plausíveis, mas cimento econômico que começou em meados da década de
é difícil provar além de qualquer dúvida razoável que algum 1970 permanece um mistério até hoje. 4
deles é o culpado. A desaceleração mundial do ritmo de cres-

ESTUDO DE CASO
A TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E A NOVA ECONOMIA existentes. A produtividade medida pode cair por algum tem-
Como qualquer bom médico dirá, às vezes a doença de um pacien- po, antes que a economia colha os benefícios. Com efeito, al-
te desaparece por si, mesmo que o médico não tenha encontrado guns economistas até sugerem que a proliferação de computa-
um diagnóstico convincente e o tratamento adequado. É o que dores pode ajudar a explicar a redução do crescimento da pro-
parece ter acontecido com a redução da produtividade examinada dutividade, que começou na década de 1970.
no estudo de caso anterior. Os economistas ainda não entenderam, A história econômica corrobora a idéia de que novas tec-
mas o problema desapareceu a partir de meados da década de nologias influenciam o crescimento com um longo atraso. A
1990. O crescimento econômico decolou, como fica patente na lâmpada elétrica foi inventada em 1879. Mas várias décadas
terceira coluna da Tabela 8-2. Nos Estados Unidos, o produto transcorreram antes que a eletricidade tivesse um grande im-
per capita acelerou de 1,5 para 2,9% ao ano. Os comentaristas pacto econômico. Para aproveitarem os grandes ganhos de pro-
proclamam que estamos vivendo em uma "nova economia". dutividade, as empresas tiveram de fazer mais do que simples-
Como ocorreu com a redução do crescimento econômico mente substituir máquinas a vapor por motores elétricos; tive -
na década de 1970, é difícil explicar, em termos definitivos, a ram de repensar toda a organização das fábricas. Da mesma
aceleração da década de 1990. Mas parte do crédito vai para os maneira, a substituição das máquinas de escrever nas escriva-
avanços da tecnologia da informática e de comunicação, in- ninhas por computadores e processadores de textos, que foi
ar
clusive a Internet. comum na década de 1980, pode ter tido pequenos efeitos so-
;a
Observadores da indústria de informática citam com freqüên- hre a produtividade. Só mais tarde, quando a Internet e outras
·i-
cia a lei de Moore, segundo a qual o preço da potência computa- aplicações importantes foram inventadas, é que a informática
a cional cai à metade a cada 18 meses. Não é uma lei inevitável da passou a proporcionar grandes ganhos econômicos.
natureza, mas uma regularidade empírica, que descreve o rápido Eventualmente, os avanços tecnológicos devem reflerir no
a- progresso tecnológico que essa indústria tem desfmtado. Na dé-
o. crescimento econômico, como aconteceu na segunda metade
cada de 1980 e início dos anos 1990, os economistas ficaram sur-
lo da década de 1990. Esse crescimento extra ocorre pnr meio de
presos porque o dpido progresso da informática não tinha um
lO rrês canais. Primeiro, como a indústria da informática é parte
efeito maior na economia em geral. O economista Robert Solow
s- da economia, o crescimento da produtividade dessa indústria
chegou a gracejar que "podemos ver a era do computador por toda
,;e afeta diretamente o crescimento da produtividade em geral.
parte, menos nas estatísticas Je produtividade".
ío Segundo, como os computadores são um tipo de hem de capi-
Há duas explicações para o fato Je que os efeitos macroeco-
tal, a queda dos preços dos computadores possihilita que as
nômicos da revolução da informática não tenham aparecido até
meados da década de 1990. Uma é o fato de que a indústria da empresas acumulem mais capital computadorizado para cada
e- informática era antes apenas uma pequena parte da economia. dólar de gasto em investimento; o aumento resultante na acu-
a- Em 1990, o hardware e o software de computador representa- mulação de capital promove ,) crescimento em todos os seto-
J- vam apenas 0,9% do PIB real; púr volta de 1999, a participa- res que utilizam a informática como um fator de produção.
J- ção subira para 4,2 %. Na medida em que a informática passou Terceiro, as inovações na indústria da informática podem in-
1- a constituir uma parte maior da economia norte-americana, o duzir outras indústrias a reconsiderarem seus próprios métodos
1- avanço tecnológico do setor teve um efeito geral maior. de produção, o que, por sua vez, leva ao crescimento da produ-
i- A segunda explicação para que os benefícios da informática tividade nessas indústrias.
l- sobre a produtividade tenham sido retardados é o fato de que A grande questão em aberto é se a indústria da informática
levou algum tempo para que as empresas encontrassem a me- continuará a ser um motor do crescimento. A lei de Moore
lhor maneira de usar a tecnologia. Sempre que mudam seus descreverá o futuro tão bem quanto descreveu o passado? Os
,e sistemas de produção e treinam trabalhadores para usar uma avanços tecnológicos da próxima década serão tão profundos
,e tecnologia, as empresas desorganizam os meios de produção quanto foi a Internet na década de 1990? Permaneça ligado.;
e.
le
:n
) - 'Para vários pomos de vista sobre a redução do crescimento, veja "Symposium: The Slowdown in Producriviry Gmwrh", The Joumal of Econamii: Perspectives Z (outono de 1988): 3-98.
' Para saber mais sobre esse assunto, veja o simpósio sobre "Computers and Productiviry". na edição de oumno de ZOOO de The Joumal of Econamic Perspectives . Sobre o paralelo
'O entre eletricidade e informática, veja Paul A. David, "The Dynamo and che Compucer: A Historical Perspective on the Modem Productivicy Paradox". American Economic
Review 80, nº 2 (maio de 1990): 355-361.
150 CAPITULO 8

8-3 DA TEORIA DO CRESCIMENTO AO ;

CRESCIMENTO NA PRATICA
Até aqui, neste capítulo, introduzimos o progresso tecnológi- número de aparelhos de televisão e de telefones por domicílio
co exógeno no modelo de Solow para explicar o crescimento até as taxas de mortalidade infantil e a expectativa de vida.
sustentado dos padrões de vida. Depois, tomamos a estrutura Muita pesquisa tem sido dedicada à questão de determinar
teórica como uma lente através da qual podemos analisar al- se as economias convergem ao longo do tempo. Em particular,
guns problemas fundamentais com que se defrontam os as economias que começam pobres crescem depois mais depres-
formuladores de política econômica. Examinaremos agora o que sa do que as economias que começam ricas? Se isso acontece,
acontece quando a teoria é chamada a confrontar os fatos. então as economias pobres do mundo tenderão a alcançar as
economias ricas . Essa propriedade de avançar mais depressa é
chamada de convérgência.
CRESCIMENTO EQUILIBRADO
Para compreender o estudo da convergência, considere uma
Segundo o modelo de Solow, o progresso tecnológico faz com analogia. Imagine que você deve coletar os dados sobre estu-
que os valores de muitas variáveis se elevem juntos no estado dantes universitários. Ao final do primeiro ano, alguns estu-
estacionário. Essa propriedade, chamada de crescimento equili- dantes tiveram média A, enquanto outros tiveram média C.
brado, serve para descrever os dados da economia dos Estados Você esperaria que os estudantes de A e C convergissem ao
Unidos no longo prazo. longo dos anos restantes da faculdade? A resposta depende do
Consideremos primeiro o produto por trabalhador Y/L e o motivo pelo qual as notas no primeiro ano diferem. Se a dife-
estoque de capital por trabalhador K/L. Segundo o modelo de rença deriva do fato de alguns estudantes virem de escolas de
Solow, essas duas variáveis crescem, no estado estacionário, ao segundo grau melhores do que outras, é de se esperar que os
ritmo do progresso tecnológico. Os dados dos Estados Unidos, alunos em desvantagem inicial comecem a alcançar os colegas
de meio século, mostram que o produto por trabalhador e o mais bem preparados. Mas, se as diferenças se devem ao fato de
estoque de capital por trabalhador de fato cresceram mais ou que alguns alunos escudam mais do que outros, pode- se esperar
menos ao mesmo ritmo, cerca de 2% ao ano. Em outras pala- a persistência dessas diferenças nas notas.
vras, a proporção capital-produto permaneceu aproximadamen- O modelo de Solow prediz que esse raciocínio também é
te constante, ao longo do tempo. válido para os países; a convergência das economias depende
O progresso tecnológico também afeta os preços dos fato- do motivo pelo qual elas diferiam a princípio. Por um lado, se
res. O Problema 3(d), ao final do capítulo, pede que você de- duas economias com o mesmo estado estacionário começaram,
monstre que, no estado estacionário, o salário real cresce à por acidente histórico, com estoques de capitais diferentes, de-
mesma proporção do progresso tecnológico. O custo real do vemos esperar uma convergência. A economia com o menor
capital, no entanto, é constante ao longo do tempo. Mais uma estoque de capital crescerá naturalmente mais depressa. (Em
vez, essas predições se aplicam aos Estados Unidos. Ao longo um estudo de caso no Cap. 7, aplicamos essa lógica para estu-
dos últimos 50 anos, o salário real aumentou em cerca de 2% dar o rápido crescimento da Alemanha e do Japão depois da
ao ano; e aumentou na mesma proporção do PIB re al por Segunda Guerra Mundial.) Por outro lado, se duas economias
trabalhador. Contudo, o custo real de aluguel do capital (me - têm diferentes estados estacionários, talvez porque tenham di-
dido como o rendimento real do capital dividido pelo capital ferentes taxas de poupança, não devemos esperar a convergên-
realizado) permaneceu mais ou menos igual. cia. Em vez disso, cada economia s'e aproximará do seu próprio
A predição do modelo de Solow sobre preços de fatores - estado estacionário.
e o sucesso dessa previsão - é especialmente notável quando A experiência é coerente com essa análise. Em amostragens
comparada com a teoria de Karl Marx sobre o desenvolvimen- de economias com culturas e políticas parecidas, os estudos
to das economias capitalistas. Marx previu que o retorno do descobrem que as economias convergem a uma taxa aproximada
capital declinaria ao longo do tempo, e que isso levaria a crises de 2 o/o ao ano. Ou seja, a distância entre economias ricas e eco-
econômicas e políticas. A história econômica não tem confir- nomias pobres diminui em cerca de 2% a cada ano. Um exem-
mado a predição de Marx, o que explica em parte por que estu- plo está nas economias dos estados norte-americanos. Por ra-
damos agora a teoria do crescimento de Solow, não a de Marx. zões históricas, como a Guerra Civil na década de 1860, os
níveis de renda variavam considerave lmente entre os estados
um século atrás. Essas diferenças, no entanto, desapareceram
CONVERGÊNCIA
lentamente, ao longo do tempo.
Se você viajar pelo mundo, encontrará enormes variações dos Um quadro mais complexo surge nos dados internacionais.
padrões de vida. Os países pobres do mundo têm níveis médios Quando os pesquisadores examinam apenas os dados sobre a
de renda per capita que são menos de um décimo dos níveis renda per capita, descobrem poucas evidências de convergên-
médios nos países ricos. Essas diferenças da renda refletem-se cia: os países que começam pobres não crescem, em média, mais
em quase todas as medidas de qualidade de vida - desde o depressa do que os países que começam ricos. Essa descoberta
CRESCIMENTO ECONÔMICO II 151

sugere que diferentes países têm diferentes estados estacioná- fator quanto a eficiência da produção parecem importantes.
rios. Se são utilizadas técnicas estatísticas de controle de alguns Além disso, uma descoberta comum é que há uma correlação
determinantes do estado estacionário, como taxa de poupan- positiva: os países com altos níveis de capital físico e humano
ça, taxa de crescimento populacional e educação, mais uma vez também tendem a usar esses fatores com eficiência. 7
lio os dados mostram uma convergência à taxa média de 2% ao Há várias maneiras de interpretar essa correlação positiva.
ano. Em outras palavras, as economias do mundo apresentam Uma hipótese é a de que uma economia eficiente pode esti-
uma convergência condicional: parecem estar convergindo para mular a acumulação de capital. Por exemplo, uma pessoa em
ar, seus próprios estados estacionários, os quais, por sua vez, são uma economia em bom funcionamento pode ter mais recursos
es- determinados pela poupança, pelo crescimento populacional e mais incentivo para permanecer na escola e acumular capi-
~e, e pela educação. 6 tal humano. Outra hipótese é que a acumulação de capital pode
as induzir uma eficiência maior. Se há externalidades positivas no
3. é capital físico e humano, uma possibilidade mencionada antes
ACUMULAÇÃO DE FATOR VERSUS EFICIÊNCIA no capítulo, então os países que poupam e investem mais de-
na DA PRODUÇÃO verão ter melhores funções de produção (a menos que a pes-
tu- quisa explique essas externalidades, o que é difícil de ocorrer).
Como uma questão de contabilidade, as diferenças internaci-
tu- Assim, a eficiência maior na produção pode causar mais acu-
onais em termos de renda per capita podem ser atribuídas a ( 1)
e. diferenças nos fatores de produção, como as quantidades de mulação de capital, ou o contrário.
ao Uma hipótese final é que tanto a acumulação de fator como
capital físico e humano, ou (2) diferenças na eficiência com
do a eficiência da produção são impulsionadas por uma terceira
que as economias utilizam seus fatores de produção. Ou seja,
fe- variável. Talvez a terceira variável comum seja a qualidade
um trabalhador em um país pobre pode ser pobre porque care-
de das instituições do país, inclusive o processo de formulação
ce de instrumentos e habilidades, ou porque os instrumentos e
os de política econômica pelo governo. Como expressou um eco-
habilidades não estão sendo aproveitados da melhor maneira.
5as Para descrever esse problema em termos do modelo de Solow, nomista, quando os governos cometem erros, são erros em
de
a questão é determinar se a enorme distância entre ricos e po- grande escala. Políticas econômicas perniciosas, como infla-
rar
bres é explicada pelas diferenças na acumulação de capital (in- ção alta, excessivos déficits orçamentários, interferência am-
clusive capital humano), ou por diferenças na função de pro- pla no mercado, e corrupção desenfreada muitas vezes ocor-
1 é
dução. rem de mãos dadas. Não devemos nos surpreender com o fato
tde
Muitas pesquisas vêm tentando calcular a importância re- de que essas economias acumulem menos capital e deixem de
, se
lativa dessas duas fontes de disparidades de renda. A resposta usar o capital de que dispõem com a eficiência com que po-
.m,
exata varia de estudo para estudo, mas tanto a acumulação de deriam fazê-lo.
:l.e-
1or
~m
tu- 8-4 ALÉM DO MODELO DE SOLOW:
da
.ias
TEORIA DO CRESCIMENTO ENDÓGENO
di- Um químico, um físico e um economista estão reridos em uma ilha da dos padrões de vida que observamos na maioria das partes
~n- deserta, tentando encontrar uma maneira de abrir uma lata de comida.
do mundo. O modelo de crescimento de Solow mostra que esse
rio - Vamt1s esquentar a lata ao fogo até que a tampB se solte - prn-
põe o químico. crescimento persistente deve vir do progresso tecnológico. Mas
- Nada disso - protesta ci físicn. - Vamos deixar a lata cair nas de onde vem o progresso tecnológico? No modelo de Solow, é
~ns pedras do alce, de uma árvore. simplesmente presumido !
fos - Tenho uma idé ia - di: o ec,1rn1misw . - Primeiro, pressupo-
mos que um abridor de latas ...
Para compreender plenamente o processo de crescimento
ida econômico, precisamos ir além do modelo de Solow, desenvol-
;:o-
Essa piada antiga visa a mostrar como os economistas utili- vendo modelos que expliquem o progresso tecnológico. Os
m- modelos que fazem isso recebem com freqüência o nome de
zam as suposições para simplificar - às vezes até demais - os
ra- problemas com que se defrontam. É pamcularmente apropria- teoria do crescimento endógeno, porque rejeitam a suposição
os do quando se avalia a teoria do crescimento econômico. Um de mudança tecnológica exógena do modelo de Solow. Embo-
fos objetivo da teoria do crescimento é explicar a elevação sustenta- ra o campo da teoria do crescimento endógeno seja vasto e às
am

ais.
ea
ên, 'Robert Barro e Xavier Sala+Martin, "Convergence Across States and Regions", Brookings Papers on Economic Accivicy, n• 1 ( 1991 ): 107- 182; e N. Gregory Mankiw, David
Romer e David N. Weil. "A Concribution to the Empirics ofEconomic Growth", Quarcerly Journal of Economics (maio de 1992): 407-437.
1ais 7Robert E. Hall e Charles!. Jones, "Why Do Some Countries Produce So Much More Output per Worker Than Others?", Quarcerly Journal of Economici 114 (fevereiro de 1999):
:rta 8).116; e Peter J. Klenow e Andres Rodriguez,Clare, "The Neoclassical Reviva! in Growrh Economics: Has Ir Gone Too Fat?", NBER Macroeconomics Annual (1997): 73-103.
}52 CAPÍTULO 8

vezes complexo, apresentamos aqui uma amostra rápida dessa e os equipamentos da economia, é natural pressupor retornos
pesquisa modema.x decrescentes. Dar 1Ocomputadores a cada trabalhador não faz
com que ele se tome mais produtivo do que trabalhando corn
um só computador.
0 MODELO BÁSICO Os defensores da teoria do crescimento endógeno, no en-
Para ilustrar a idéia que norteia a teoria do crescimento endó- tanto, argumentam que o pressuposto de retornos constantes
geno, vamos começar por uma função de produção bastante (em vez de decrescentes) do capital é mais aceitável se K é in-
simples: terpretado de maneira mais ampla. Talvez o melhor argumen-
to para o modelo de crescimento endógeno seja considerar o
Y= AK,
conhecimento um tipo de capital. É evidente que o conheci-
em que Y é o produto, K é o estoque de capital e A é uma cons- mento é um insumo importante na produção da economia,
tante medindo o produto gerado para cada unidade de capi- tanto na produção de bens e serviços quanto na produção de
tal. Observe que essa função de produção não apresenta a novos conhecimentos. Em comparação com outras formas de
propriedade de retornos decrescentes do capital. Uma unida- capital, no entanto, é menos natural pressupor que o conheci-
de extra de capital produz A unidades extras de produto, in- mento apresenta a propriedade de retornos decrescentes. (Com
dependentemente da quantidade de capital. Essa ausência de efeito, o ritmo crescente da inovação científica e tecnológica
retornos decrescentes do capital é a diferença fundamental durante os últimos sécu los tem levado alguns economistas a
entre esse modelo de crescimento endógeno e o modelo de argumentarem que há crescentes retornos do conhecimento.)
Solow. Se aceitamos a posição de que o conhecimento é um tipo de
Vamos agora entender como a função de produção se rela- capital, esse modelo de crescimento endógeno, com seu pres-
ciona com o crescimento econômico. Tal como antes, pressu- suposto de retornos constantes do capital, torna-se uma des-
pomos que uma fração s da renda é poupada e investida. Por- crição mais plausível do crescimento econômico no longo pra-
tanto, descrevemos a acumulação de capital com uma equação zo.
semelhante às outras que aplicamos antes:
ti.K = sY - oK. UM MODELO COM DOIS SETORES
Essa equação enuncia que a variação do estoque de capital (t,.K) Embora o modelo Y = AK seja o exemplo mab simples de
é igual ao investimento (sY) menos a depreciação (oK). Com- crescimento endógeno, a teoria foi muito além disso. Uma li -
binando essa equação com a função de produção Y = AK, ob- nha de pesquisa tem tentado desenvolver múdelos com mais
temos, depois de alguma manipulação, de um setor de produção , a fim de oferecer uma descrição me-
lhor das forças que regem o progresso tecnológico. A fim de
t,.YJY = llK/K = sA - o. verificar o que podemos aprender com esses modelos, eshoça-
Essa equação mostra o que determina o crescimento da taxa de remos um exemplo.
produto t,. Y/Y. Obser\'e que, enquanto sA > o, a renda da eco- A economia rem dois setores, que podemos chamar de em-
nomia cresce sempre, mesmo sem o pressuposto de progresso presas manufatureiras e universidades de pesquisa. As empre-
tecnológico exógeno. sas produzem bens e serviços, que são usados para ú con~umo e
Assim, uma simples mudança da função de produção pode o investimento em capital físico . As universidades produzem
alterar de maneira drástica as previsões sobre crescimento eco- um fator de produção chamado "conhecimento", que é depois
nômico. No modelo de Solow, a poupança leva ao crescimento usado amplamente nos dois setores. A economia é descrita pela
temporário, mas os retornos decrescentes do capital acaham função de produção das firmas, pela função de produção das
forçando a economia a se aproximar de um estado estacioná- universidades e pela equação de acumulação de capital:
rio, em que o crescimento depende apenas do progresso tecno-
lógico exógeno. Em contraste, neste modelo de crescimento
Y = F[K,(1 - u)EL] (função de produção das firmas
manufatureiras),
endógenó a poupança e o investimento podem le\'ar ao
crescimento sustentado.
L).E = g(u)E (função de produção das
universidades de pesquisa),
Mas é razoável abandonar o pressuposto de retornos decres-
t,.k = sY - oK (acumulação de capital),
centes do capital? A resposta depende da maneira como inter-
pretamos a variável K na função de produção Y = AK. Se to- em que ué a fração da força de trahalho em universidades (e
mamos a posição tradicional de que K inclui apenas as fábricas 1 - ué a fração na manufatura), E é o estoque de conhecimento

' Esta seção oferece uma introdução à graode e fascinante literatura sobre a teoria do crescimento endógeno. As primeiras e importantes contribuições a essa literatura incluem
Paul M. Romer, "lncreasing Rerurns and Long-Run Growth", Joumal of Political Economy 94 (outubro de 1986): 1002 -1037; e Robert E. Lucas, Jr., "On che Mechanics of Eco-
nomic Development", ]oumal o[Monecary Economics 22 (1988): 3-42. Oleitor pode aprender mais sobre esse rema no livro didático de Charles 1. Jones, hmoducrion io Economic
Growth (Nova Yock: Norton , 1998).
r CRESCIMENTO ECONÔMICO [I 153

mos (que, por sua vez, determina a eficiência do trabalho) e gé uma público (ou seja, disponível gratuitamente para todos), muitas
o faz função que mostra como o crescimento do conhecimento de- pesquisas são realizadas em empresas motivadas pelo lucro.
com pende da fração da força de trabalho nas universidades. O res- Segundo, a pesquisa é lucrativa porque as inovações proporci-
to da notação é a padronizada. Como sempre, pressupõe-se que onam às empresas monopólios temporários, por causa do siste-
en- a função de produção das firmas manufatureiras tem retornos ma de patentes ou porque há uma vantagem em ser a primeira
ntes constantes de escala: se dobramos a quantidade de capital físi- empresa no mercado com um novo produto. Terceiro, quando
~ in- co (K) e o número de trabalhadores efetivos n a manufatura urna empresa inova, outras empresas baseiam-se nessa inova-
1en- [(l - u)EL], dobramos a produção de bens e serviços (Y). ção para produzir a próxima geração de inovações. Esses fatos
·ar o Esse modelo é primo do modelo Y = AK. M ais importante ( essencialmente microeconômicos) não se ligam com facilidade
,eci- ainda, essa economia apresenta retornos constantes de escala aos modelos de crescimento (essencialmente macroeconômi-
mia, (em vez de decrescentes), enquanto o capital tiver uma defini- cos) que analisamos até aqui.
:-ide ção ampla para incluir o conhecimento. Em particular, se do- Alguns modelos de crescimento endógeno tentam incorpo-
s de bramos o capital físico K e o conhecimento E, dobramos o pro- rar esses fatos sobre pesquisa e desenvolvimento. Fazer isso exige
,eci- duto dos dois setores da economia. Em conseqüência, tal como a modelagem das decisões das empresas que se empenham em
..,
~om o modelo Y = AK, esse modelo pode gerar crescimento susten- pesquisa, assim como a modelagem das interaç ões entre as
gica tado , se m a suposição de mudanças exógenas n a função de pro- empresas que têm algum poder de monopó lio sobre as inova-
as a dução. Aqui, o crescimento sustentado tem origem endógena, ções. Entrar em mais detalhes sobre esses modelos está além do
,to. ) porque a criação de conhecimento nas universidades nunca alcance deste livro. Mas já deve estar claro que uma das virtu-
J de diminui. des desses modelos de crescimento endógeno é o fato de que
,res- Ao mesmo tempo, porém, esse modelo é também primo do oferecem uma descrição mais completa do processo de inova-
des- mode lo de crescimento de Solow. Se u, a fraç ão da força de ção tecnológica.
pra- trabalho nas universidades, se mantém constante, a eficiência Uma questão que esses modelos devem tratar é determinar
do trabalho E cresce à taxa constante g( u) . Esse resultado de se, do ponto de vista da sociedade como um todo, as empresas
crescimento constante da eficiência do trabalho, à taxa g, é privadas que maximizam o lucro tendem a se empenhar em
justamente a suposição feita no modelo de Solow com progresso pouca ou muita pesquisa. Em outras palavras, o retorno social
tecnológico. Além disso , o resto do modelo - a função de pro- da pesquisa (que é o fator com que a sociedade se importa) é
, de dução manufatureira e a equação de ac umulação de capital - maior ou menor do que o retomo privado (que é o fator que
a li- também se parece com o resto do modelo de Solow. Em conse- motiva as empresas individua is)? Como uma questão teórica,
nais qüência, para qualquer valor determinado deu , esse modelo de h á efeitos nas duas direções. Por um lado , quando uma empre -
me- crescimento endógeno funciona como o modelo de Solow. sa cria uma nova tecnologia, proporciona melhores condições
1 de
Há duas variáve is de decisão nesse modelo. T al como no às outras empresas, ao conceder uma base de conhecimento para
modelo de Solow, a fração de produção usada para poupança e o desenvolvimento de pesquisa futura. Como Isaac Newton
investimento, s, determina o vo lume de capital físico em esta- ressaltou em um comentário famoso: "Se vi mais longe do que
em- do estacionário. Além disso, a fração de trabalho em universi- os outros, foi porque subi nos ombros de gigantes." Por outro
dades, u, determina o crescimento do estoque de conhecimen- lado. quando uma empresa investe em pesquisa, pode também
:ire-
to . T antos quanto u afetam o nível de renda, embora apenas u piorar a situação de outras empresas, pelo simples fato de se
10 e
afete a taxa de crescimento da renda em estado estacionário. tornar a primeira a descobrir uma tecnologia que outra empre-
,em
Assim, esse modelo de crescimento endógeno dá um pequeno sa teria inventado. Essa duplicação do esforço de pesquisa tem
)Ois
passo para demonstrar como as decisões sociais determinam a sido chamada de efeito de "pisar nos calos". Se as empresas fa-
)ela
taxa de mudança tecnológica. zem pouca ou muita pesquisa depende da prevalência da ex-
das
ternalidade positiva de "subir nos ombros", ou da extemalida-
A MICROECONOMIA DE PESQUISA E de negativa de "pisar nos calos".
Embora a teoria por si só seja ambígua quanto ao esforço de
DESENVOLVIMENTO
pesquisa ideal, o trabalho empírico nessa área geralmente é
O modelo com dois setores de crescimento endógeno que aca- menor. Muitos estudos sugeriram que a extemalidade de "su-
bamos de apresentar leva-nos mais perto da compreensão do bir nos ombros" é importante; em conseqüência, o retomo so-
progresso tecnológico, mas ainda assim nos conta apenas uma cial da pesquisa é grande, em torno de 40% ao ano. É uma taxa
s (e história rudimentar sobre a criação do conhecimento. Se você considerável de retorno, ainda mais na comparação com o re-
nto
pensar por um momento no processo de pesquisa e desenvol- tomo do capital físico, que antes calculamos ser cerca de 8%
vimento , constatará que três fatos tornam-se logo patentes. ao ano. No julgamento de alguns economistas, essa descoberta
Primeiro, embora o conhecimento seja em grande parte um bem justifica subsídios substanciais do governo à pesquisa. 9

luem
Eco-
omic ' Para uma visão geral da literatura empírica sobre os efeitos da pesquisa, vej a Zvi Griliches, "The Search for R&D Spillovers", Scandiruwian ]oumal of Economici 94 ( 1991}:
29-47. .
154 CAPITULO 8

8-5 CONCLUSÃO
O crescimento econômico no longo prazo é o determinante cimento endógeno mostram como a poupança, o cres-
mais importante do bem-estar econômico dos cidadãos de um cimento populacional e o progresso tecnológico interagem
país. Tudo o mais que a macroeconomia estuda - desempre- para determinar o nível e o crescimento do padrão de vida
go, inflação, déficits comerciais e assim por diante - perde em de uma nação. Embora não ofereçam qualquer pílula mági-
importância. ca para garantir que uma economia tenha um cresci-menta
Felizmente, os economistas sabem muita coisa sobre as rápido, essas teorias oferecem muitas conclusões e propor-
forças que regem o crescimento econômico. O modelo de cionam uma base intelectual para o debate sobre política
crescimento de Solow e os mais recentes modelos de cres- pública.

RESUMO
1. No estado estacionário do modelo de crescimento de Solow, 4. No início da década de 1970, a taxa de crescimento caiu de
a taxa de crescimento da renda per capita é determinada ex- modo substancial na maioria dos países industrializados. A
clusivamente pela taxa exógena de progresso tecnológico. causa dessa redução do crescimento não é bem compreen-
dida. Em meados da década de 1990, a taxa de crescimento
2. No modelo de Solow com crescimento populacional e pro-
aumentou, provavelmente por causa dos avanços da tecno-
gresso tecnológico, o estado estacionário da Regra de Ouro
logia de informação.
(maximização do consumo) é caracterizado pela igualdade
entre a produtividade marginal do capital líquido (PMgK - 5. Muitos escudos empíricos têm examinado até que ponto o
8) e a taxa de crescimento em estado estacionário (n + g). modelo de Solow pode ajudar a explicar o crescimento eco-
Em contraste, a produtividade marginal do capital líquido nômico no longo prazo. O modelo pode explicar muito do
da economia dos Estados Unidos está muito acima da taxa que vemos nos dados, como o crescimento equilibrado e a
de crescimento, indicando que a economia americana tem convergência condicional. Estudos recentes também mos-
muito menos capital do que teria no estado estacionário da traram que a variação dos padrões de vida é atribuível a uma
Regra de Ouro. combinação de acumulação de capital e a eficiência com que
o capital é empregado.
3. Os formuladores de política econômica dos Estados Unidos
e de outros países alegam com freqüência que seus países 6. As modernas teorias do crescimento endógeno tentam ex-
devem destinar uma parcela maior do produto à poupança plicar a taxa de progresso tecnológico, que o modelo de
e ao investimento. O aumento da poupança pública e dos Solow considera exógeno. Esses modelos tentam explicar as
incentivos fiscais para a poupança privada são duas manei- decisões que determinam a criação de conhecimento por
ras de estimular a acumulação de capital. meio da pesquisa e do desenvolvimento.

CONCEITOS-CHAVE
Eficiência do trahalho Progresso tecnológico incorporador de trabalho Teoria do crescimento endógeno

-
QUESTOES PARA REVISAO
-
l. No modelo de Solow, o que determina a taxa de cresc imento da 5. No estado estacionário do modelo de Solow, a que taxa cresce o
renda por trabalhador em estado estacionário? produto per capita? A que taxa cresce o capital per capita? Como
2. De que dados você precisaria para determinar se uma economia tem isso se compara com a experiência dos Estados Unidos?
mais ou menos capital do que no estado estacionário da Regra de Ouro? 6. Como a teoria do crescimento endógeno explica o crescimento
3. Como os formuladores de política econômica podem influir na taxa sustentado sem a suposição de progresso tecnológico exógeno?
de poupança de um país? Como isso difere do modelo. de Solow?
4. O que aconteceu com a caxa de crescimento da produtividade ao lon-
go dos últimos 40 anos? Como você pode explicar esse fenômeno?
CRESCIMENTO ECONÔMICO II 155

PROBLEMAS E APLICAÇÕES
1. Uma economia descrita pelo modelo de crescimento de Solow tem c. A renda total do capital e a renda total do trabalho crescem à
a seguinte função de produção: taxa de crescimento populacional mais a taxa de progresso tec-
nológico, n + g.
y=Jk. d. O custo real de aluguel do capital é constante, e o salário real
cresce à taxa de progresso tecnológico g. (Dica: o custo real de
a. Resolva para o valor de estado estacionário de y como uma
aluguel do capital é igual à renda total do capita[ dividida pelo
função de s, n, g e õ.
estoque de capital, e o salário real é igual à renda total do tra-
b. Um país desenvolvido tem uma taxa de poupança de 28% e uma
balho dividida pela força de trabalho.)
taxa de crescimento populacional de 1o/o ao ano. Um país me-
nos desenvolvido tem uma taxa de poupança de 10% e uma taxa 4. A educação que a pessoa típica recebe varia consideravelmente
de crescimento populacional de 4% ao ano. Nos dois países, entre um país e outro. Suponha que você fosse comparar um país
g = 0,02 e õ = 0,04. Descubra o valor de estado estacionário com uma força de trabalho com alta escolaridade e um país com
de y em ambos os países. uma força de trabalho com baixa escolaridade. Pressuponha que a
c. Que política econômica os países menos desenvolvidos podem educação afete apenas o nível da eficiência do trabalho. Também
adotar para aumentar o nível de renda ? presuma que os países, afora isso, são iguais: têm a mesma taxa de
z. Nos Estados Unidos, a parcela do capital no PIB é de cerca de 30%; poupança, a mesma taxa de depreciação, a mesma taxa de
o crescimento médio do produto é de cerca de 3% ao ano; a raxa crescimento populacional e a mesma taxa de progresso tecnológi-
de depredação é de cerca de 4% ao ano; e a proporção capital- co. Os dois países são descritos pélo modelo de Solow e se encon-
produto é de cerca de 2,5. Suponha que a função de produção seja tram em estados estacionários. O que você prognosticaria para as
a Cobb-Douglas, e assim a parcela do capital no produto é cons- seguintes variáveis?
tante, e que os Estados Unidos estão em um estado estacionário. a. A taxa de crescímento da renda total.
(Para uma análisé da função de produção Cobb-Douglas, veja o b. O nível de renda por trabalhador.
apêndice do Cap. 3.) c. O custo real de locação do capital.
a. Qual deve ser a taxa de poupança no estado estacionário inici- d. O salário real.
al? [Dica: use a relação de estado estacionário, sy = (o + n + 5. Esta questão pede uma análise em mais detalhes do modelo de
g)k.J crescimento endógeno em dois setores apresentado no texto.
b. Qual é a produtividade marginal do capital no estado estacio- a. Reescreva a função de produção de bens manufaturados em
nário inicial? termos de produção por unidade de eficiência do trabalho e de
c. Suponha que a política pública aumente a taxa de poupança, a capital por unidade de eficiência do trabalho.
fon de que a economia alcance o nível de capital da Regra de b. Nesta economia, o que é investimento de equilíbrio (o inves-
Ouro. Qual será a produtividade marginal do capital no estado timento necessário para se manter constante o capital por uni-
estacionário da Regra de Ouro? Compare a produtividade mar- dade de eficiência do trabalho)?
ginal no estado estacionário da Regra de Ouro com a produti- c. Escreva a equação de variação de k, que mostra .ô.k como
vidade marginal no estado estacionário inicial. Explique. poupança menos investimento de equilíbrio. Use essa equação
d. Qual será a proporção capital-produto no estado estacionário para traçar um gráfico mostrando a determinação de k de esta-
da Regra de Ouro? (Dica : para a função Cobb-Douglas, a pro-
do estacionário. (Dica: o gráfico será muito parecido com aque-
porção capital-produto está relacionada com a produtividade
les que utilizamos para analisar o modelo de Solow.)
marginal do capital.)
d. Nesta economia, qual é a taxa de crescimento do produto por
e. Qual deve ser a taxa de poupança para se alcançar o estado
trabalhador Y/L em estado estacionário? Como a taxa de pou-
est,1cionário da Regra de Ouro?
panças e a fração da força de trabalho em universidade u afe-
3. Prove cada uma das declarações a seguir sobre o estado estacioná- tam essa taxa de crescimento de estado estacionário?
rio com crescimento populacional e progresso tecnológico. e. Utilizando seu gráfico, mostre o impacto de um aumento em
a. A proporção capital-produto é constante. u . (Dica: a mudança afeta as duas curvas.) Descreva tanto os
b. Capital e trabalho recebem, cada qual, uma parcela constante efeitos imediatos quanto os efeitos de estado estacionário.
da renda da economia. (Dica: lembre-se da definição PMgK = f. Com base em sua análise, um aumento deu é com certeza uma
f(k + I) - f(k).] boa coisa para a economia? Explique.
Apêndice

CONTABILIDADE DAS FONTES DE


CRESCIMENTO ECONÔMICO

O PIB real dos Estados Unidos cresceu uma média de 3% ao iiY = PMgK x iiK
an o durante os últimos 40 a n os. O que exp lic a esse . l
crescimento? N o Cap. 3, ligamos o produto da economia aos = 1/ 5 Unidades de Produto X lO U nt.d ad es de· C apita
Unidade de Capi tal
fatores de produção - capita l e trabalho - e à tecnologia = 2 Unidades de Produto.
de produção. Neste capítu lo, desenvolvemos uma técnica
chamada de contabilidade de crescimento, que divide o Pelo aumento do capital em 10 unidades , obtemos mais 2 uni-
crescimento do produto em três diferentes fontes: aumen- dades de produto. Assim, usamos a produti\'idade marginal do
tos do capital, aum entos do trabalho e avanço tecnológico. cap ital para converter variações do cap ital em variações do
Essa divisão nos proporciona uma medida da taxa de mudan- produto.
ça tecnológica.
Aumentos do Trabalho Agora, consideremos as variações
do trabalho. Se o trabalho aumenta em iiL unidades, quanto o
AUMENTOS DOS FATORES DE PRODUÇÃO produto aumenta? Respondemos a essa pergunta da maneira
Ex aminaremos primeiro como os aumentos dos fatores de como respondemos à questão sobre o cap ital. A produtividade
produção contribuem para os aumen tos do produto. Para marginal do trabalho PMgL nos diz quanto o produto varia
fazê- lo, começamos por pressupor que não há mud ança quando o trabalho aumenta em 1 unidade. Ou seja,
tecnológica . Assim, a função de produção relacionando o
PMgL = F(K, L + l) - F(K, L).
produto Y com o capital K e o trabalho L é constante ao
lon go do tempo: Portanto, quando o trabalho aumenta ÃL unidades, o produto
aumenta aproximadamente em PMgL X iiL.
Y = F(K, L).
Por exemplo, suponh a que a produtiv idade marginal do tra-
N esse caso, o produtn só varia porque o capital ou o trabalho balho seja 2; ou seja, uma unidade adic ional de trabalho au-
variam. menta o produto em 2 unidades. Se aumentamos o trahalho em
10 unidades, podemos calcular o produto adicional da seguin-
Aumentos do Capital Consideremos primeiro as variações te maneira:
do capital. Se o capital aumenta em ô.K unidades, quanto o
produto aumenta! Para responder a essa pergunta, precisamos iiY = PMgL X iiL
recordar a definição de produtividade marginal do capital =2 Unidades de Produto
PMgK: X 10 Un idades de Trabalho
Unidade de Trabalho
PMgK = F(K + 1, L) - F(K, L). = 20 Unidades de Produto
A produtiv idade marginal do capital n os diz quanto o produto Pelo aumento do trabalho em 1O unidades, obtemos mais 20
aumenta quando o capital aumenta l unidade . Portanto, quan- unidades de produto. Assim, usamos a produtividade marginal
do o capital aumenta iiK unidades, o produto aumenta aproxi- do trabalho para converter as variações do trabalho em varia-
madamente PMgK X iiK.10 ções do produto.
Por exemplo , suponha que a produtividade marginal do
cap ital seja 1/5; ou seja, uma unidade adicional de capital au- Aumentos do Capital e do Trabalho Finalmente, cons i-
menta o produto em um quinto de unidade. Se aumentamos o deremos o caso mais realista em que os dois fatores de produ-
capital em 10 unidades, podemos calcular o produto adicional ção variam. Suponh a que o capital aumenta iiK e o trabalho
da seguinte maneira: aumenta iiL. O aumento do produto vem então de duas fon-

''Observe aqui a palavra "aproximadamente". Essa resposta é apenas uma aproximação, porque a produtividade marginal do capital varia: cai à medida que o capital aumenta.
Uma resposta exata levaria em consideração o faro de que cada unidade de capital tem urna produtividade marginal diferente. Se a mudança em K não é muito grande, no
entanto, a aproximação de uma produtividade marginal constante é muito acurada.
CRESCIMENTO ECONÔMICO II 157

tes: mais capital e mais trabalho. Podemos dividir esse aumen- PROGRESSO TECNOLÓGICO
to das duas fontes usando as produtividades marginais dos dois
insumos: Até aqui, em nossa análise das fontes de crescimento, partimos
do pressuposto que a função de produção não muda ao longo
6. Y = (PMgK X .6.K) + (PMgL x ÃL). do tempo. Na prática, é claro, o progresso tecnológico melho-
O primeiro termo entre parênteses é o aumento do produto ra a função de produção. Para qualquer quantidade dada de
resultante do aumento do capital, e o segundo termo entre insumos, temos mais produto hoje do que havia no passado.
parênteses é o aumento do produto resultante do aumento do Agora, estendemos a análise para permitir o progresso tecno-
trabalho. Essa equação mostra-nos como atribuir o crescimento lógico.
a cada fator de produção. Incluímos os efeitos da tecnologia em mudança ao escrever
Queremos agora converter a última equação em uma forma a função de produção como
que seja mais fácil de interpretar e aplicar aos dados disponí- Y = AF(K, L),
veis. Primeiro, com uma recomposição algébrica, a equação se
corna 11 em que A é uma medida do atual nível de tecnologia, chama-
do de produtividade total dos fatores . O produto agora aumenta
li Y
Y
= ( PMgK
Y
X K ) .6.K
K
+ ( PMgL x
Y
L) t:.LL . não apenas por causa dos aumentos do capital e do trabalho,
mas também por causa dos aumentos da produtividade total
dos fatores. Se a produtividade total dos fatores aumenta 1%
Essa forma de equação relaciona a taxa de crescimento do pro- e se os insumos permanecem inalterados, o produto aumenta
duto, Â Y/Y, com a taxa de crescimento do capital, iiK/K, e a 1%.
taxa de crescimento do trabalho, .6.L/L. Admitir uma mudança na tecnologia acrescenta outro ter-
Em seguida, precisamos encontrar alguma maneira de me- mo à nossa equação do crescimento econômico:
dir os termos entre parênteses da última equação. No Cap. 3,
mostramos que a produtividade marginal do capital é igual ao ilY !i.K 'L 'A
a - + (1-a)~ + '-1
custo de alocação do capital. Portanto, PMgK X K é o retomo y K L A
total do capital e (PMgK X K)/Y é a parcela do produto do Crescimento = Cnntrihuição + Contri\-,uiçfü1 + Crescimento da
capital. Da mesma maneira, a produtividade marginal do tra- d,, Pwduto dn Capirnl do T rahalhn Pwdutiv idadc Total
dos Fatores
balho é igual ao salário real. Portanto, PMgL X L é a compen-
sação total que o trabalho recebe, e (PMgL X L}/Y é a parte do Essa é a equação fundamental da contabilidade do crescimento.
trabalho no produto. Sob a suposição de que a função de pro- Identifica e permite-nos medir as três fontes de crescimento:
dução tem retornos constantes de escala, o teorema de Euler variações do capital, variações do trabalho e rnriações da pro-
(que discutimos no Cap. 3) nos diz que essas duas parcelas so- dutividade total dos fatores.
mam 1. Nesse caso, podemos escrever Visto que a produtividade total dos fatores não é observ,'Ível
diretamente, temos de medi-la de maneira indireta. Temos
-t:.Y = a.6.K
- + (1 - a)-.
.6.L dados sobre o crescimento do produw, do capital e do traba-
Y K L lho; também temos dados sobre a parcela do capital no produ-
em que a é a parcela du capital e ( l - a) é a parcela do traba- to. Com base nesses dados e na equação de contabilidade do
lho. crescimento, podemos calcular o crescimento da produtivida-
Esta última equação nos dá uma fórmula simples para mos- de total dos fatores, para ter certeza de que tudo está coerente:
trar como as \',UÜ1ções dos insumos levam a variações do pro-
l:1A àY LlK l:1L
duto. Em particular, devemos ,waliar as taxas de crescimento - = - - a- -(1-a)-.
dos insumos pelas parcelas dos fatores. Como ressaltamos no A Y K L
Cap. 3, a parte Jo capital nos Estados Unidos é de cerca de l:1A/A é a variação do produto que não pode ser explicada por
30%, ou seja, a = 0,30. Portanto, um aumento de 10% do variação dos insumos. Assim, o crescimento da produtividade
capital (6.K/K = O, 10) leva a um aumento de 3% do produto total dos fatores é calculado como um resíduo - ou seja, como
(.ó.Y/Y = 0,03). Assim também, um aumento de LO% do tra- o crescimento do produto que permanece depois que calcula-
balho (.ó.L/L = 0,10) leva a um aumento de 7% do produto mos os determinantes do crescimento que podemos medir. Com
(ó.Y/Y = 0,07). efeito, l:1A/A é às vezes chamado de resíduo de Solow, em ho-

"Nota matemática : para verificar que isso é equivalente à equação anterior, observe que podemüó multiplicar os dois lados dessa equação por Y, e assim cancelar Y dos três lugares
em que aparece. Podemos cancelar o K em cima e embaixo do primeiro termo, no lado direito, e o L em cima e embaixo no segundo termo, no lado direito. Essas manipulações
algébricas transformam esta equaçãó na anterior.
-
158 CAPÍTIJLO 8

menagem a Robert Solow, que foi o primeiro a mostrar como As FONTES DE CRESCIMENTO NOS
calculá-lo. 12
A produtividade total dos fatores pode variar por muitas
ESTADOS UNIDOS
razões. Com mais freqüência, as variações ocorrem por causa Depois de aprender como medir as fontes de crescimento eco-
do aumento do conhecimento sobre métodos de produção. O nômico, examinaremos agora os dados. A Tabela 8-3 utiliza
resíduo de Solow é muitas vezes usado como uma medida do dados dos Estados Unidos para medir as contribuições das três
progresso tecnológico. Contudo, outros fatores, como educa- grandes fontes de crescimento, entre 1950 e 1999.
ção e regulamentos do governo, também podem afetar a pro- A tabela mostra que o PIB real cresceu uma média de 3,6%
dutividade total dos fatores. Por exemplo, se gastos públicos ao ano desde 1950. Desses 3,6%, 1,2% é atribuível a aumentos
maiores aumentam a educação, os trabalhadores podem setor- do estoque de capital, 1.3% a aumentos do insumo trabalho e
nar mais produtivos e o produto pode aumentar, o que indica 1, 1% a aumentos da produtividade total dos fatores. Esses da-
uma produtividade total dos fatores maior. Como outro exem- dos mostram que aumentos do capital, do trabalho e da produ-
plo, se os regulamentos do governo exigem que as empresas tividade têm contribuído de modo quase igual para o cresci-
adquiram capital para reduzir a poluição ou para aumentar a mento econõmico dos Estados Unidos.
segurança do trabalhador, o capital pode subir sem qualquer A Tabela 8-3 também mostra que o crescimento da produ-
aumento do produto medido, o que indica uma produtividade tividade total dos fatores diminuiu de maneira substancial por
total dos fatores menor. A produtividade total dos fatores registra volta de 1970. Em um estudo de caso anterior, neste capítulo,
qualquer coisa que mude as relações entre insumos medidos e pro- discorremos sobre algumas hipóteses para explicar essa redu-
duto medido . ção da produtividade.

T.AllELA 8-3 Contabilidade do Crescimento Econômico nos Estados Unidos


FONTE DE CRESCIMENTO

Produtividade
Crescimento Total dos
do Produto Capital Trabalho Fatores
Anos tiY/Y a.liKJK + (1 - a.) flLIL + MIA
(aumento percentual médio anual)

1950-1999 3,6 1,2 1,3 1,1

1950-1960 3,3 1,0 1,0 1,3


1960-1970 4,4 1,4 1,2 1,8
1970-1980 3,6 1,4 1,2 1,0
1980-1990 3,4 1,2 1,6 0,6
1990-1999 3,7 1,2 1,6 0,9
Fonte: U. S. Departrnent of Cornmerce . U. S. Department of Labor e cálculos do autor. O parâmetro a
está fixado para ser igual a 0.3.

ESTUDO DE C A S O - - - - - - - - - - - - . . .
O CRESCIMENTO oos TIGRES As1Á ncos zes, levando os Tigres Asiáticos da posição dos países mais pobres
As experiências de crescimento mais espetaculares na história re- do mundo para a posição dos mais ricos. (No final da década de
cente talvez tenham sido os casos dos Tigres Asiáticos: Hong Kong, 1990, um período de acentuado turbilhão financeiro maculou a
Cingapura, Coréia do Sul e Taiwan. De 1966 a 1990, enquanto a reputação de algumas dessas economias. Mas esse problema de curto
renda real per capita crescia cerca de 2% ao ano nos Estados Uni- prazo, que examinaremos em um estudo de caso no Cap. 12, não
dos, subia mais de 7% ao ano em cada um desses países. No curso chega perto de reverter o desempenho espetacular de crescimento
de uma única geração, a renda real per capita aumentou cinco ve- no longo prazo que os Tigres Asiáticos têm experimentado.)

"Robert M. Solow, "Technical Change and che Aggregate Production Function", Re11iew of Economics and Statistics 39 (1957): 312-320. É natural indagar como o crescimento
da eficiência do trabalho E relaciona-se como crescimento da produtividade total dos fatores. Pode-se mostrar que !::.A/A = (1 - a)AE/E, em que a é a parcela do capital. Assim,
a mudança tecnológica, tal como medida pelo crescimento na eficiência do trabalho, é proporcional à mudança recnológica tal como medida pelo resíduo de Solow.
CRESCIMENTO EcONÔMICO II 159

O que explica esses milagres de crescimento? Alguns comen- res medidos: aumentos da participação da força de trabalho,
taristas argumentam que é difícil conciliar o sucesso desses aumentos do estoque de capital e aumentos do nível de escola-
quatro países com a teoria básica do crescimento, como o mo- ridade. Na Coréia do Sul, por exemplo, a proporção investi-
delo de crescimento de Solow, em que a tecnologia cresce a uma mento-PIB aumentou de cerca de 5% na década de 1950 para
taxa exógena constante. Eles têm sugerido que o rápido cerca de 30% na década de 1980; o percentual da população
crescimento desses países se explica pela sua capacidade de economicamente ativa que tinha pelo menos o segundo grau
imitar as tecnologias estrangeiras. Ao adotarem a tecnologia passou de 26% em 1966 para 75 % em 1991.
desenvolvida no exterior, continua o argumento, esses países Depois que consideramos .o crescimento do trabalho , do
conseguiram melhorar suas funções de produção de maneira capital e do capital humano, resta pouco a explicar no cres-
substancial, num período relativamente curto. Se o argumen- cimento do produto. Nenhum desses quatro países experimen-
to é correto, esses países devem ter experimentado um período tou um crescimento excepcionalmente rápido da produtivida-
de excepcional rap idez de crescimento da produtividade total de total dos fatores. Na verdade, o crescimento médio da pro-
dos fatores. dutividade total dos fatores dos Tigres Asiáticos foi quase igual
Um estudo recente contribuiu bastante para esclarecer a ao que se registrou nos Estados Unidos. Assim, embora o rápi-
questão, examinando em detalhes os dados desses quatro paí- do crescimento desses países tenha sido impressionante, é fácil
ses. O estudo mostrou que o crescimento excepcional desses explic á- lo pelo uso dos instrumentos da te oria básica do
países pode ser ligado a grandes aumentos dos insumos de fato- crescimento.11

MAIS PROBLEMAS E APLICAÇÕES


1. Na econo mia de Solovia, os donos do capital recebem dois ter- dos fatores e do cresci mento da proporção capital-trabalho. Em
ços da renda nacional, enquanto os trabalhadores fi cam com um particular, mostre que
terço.
a. Os homens de Solovia permanecem em casa, cuidando dos afa- .:i(Y /L) = .:iA + o. ti(K /L)
zeres domésticos, enquanto as mulheres trabalham nas fábricas. Y/L A KIL
Se alguns homens co meçasse m a trabalhar fora, aumentando a (Dica : você pode achar útil o seguinte truque matemático: Se z =
fo rça de tr;ibalho em 5%, o que aconteceria com o produto wx, a taxa de c resc imento de z é aproxi mada mente a taxa de
medido da economia? A produtividade do trabalho - defini- crestimento de w mais a taxa de cresc imen to de x. Ou seja
da como produtn por trabalhador - aumenta, diminui ou se
mantém igual ? A produtividacle total dos fatores aumenta, di - !:lz/z = !:lw/w + !:lx/x.)
minui ou se mantém iguaP
3. Suponha que uma economia descrita no modelo de Solow esteja em
b. No ano 1, o capital instalado era 6, o insumo traba lho era 3 e o
um estado estac ionário, com crescimento populacional n de 1,0%
produto era 12. No ano 2, o estoque de capital era 7, o insumo
ao ano e progresso tecnológico g de 2,0% ao ano. O produto total e
trabalho era 4 e o pródutn era 14. O que aconteceu com a pro-
o capital total crescem 3,0% ao ano. Suponha ainda que a parcela
dutividade total dos fato res entre esses do is anos/
do capital do produto seja de 0,3. Se você usou a equação de conta-
2, A produtividade do trabalho é definid a como Y/L, o produto divi - bilidade de crescimento para dividir o crescimento do produto em
dido pelo insu mo trabalho. Comece com a equação da contabili- três fontes - capital, trabalho e produtividade cocal dos fatores-,
dade de crescimento e demonstre que o crescimento da produtivi- quanto atribuiria a cada fonte ? Compare seus resultados com os da-
dade do trabalho depende do cresc imento da produtividade tota l dos que encontramos dos Estados Unidos, na T abela 8-3.

11
Alwyn Young, "The Tyranny of Numbers: Confronting rne Statistical Real icies of rne Easr Asian Growrh Experience", Quarr,,rlJ ]oumal of Economics 101 (agosto de 1995 ):
641-680.
'l

Parte 4

TEORIA DO CICLO ECONÔMICO:


A ECONOMIA NO CURTO PRAZO

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1
Capítulo 9

INTRODUÇÃO ÀS ÜSCILAÇÕES
ECONÔMICAS

O niund!I mockrno cnmidera os cic/0.1 ecnnrímicos q11ase corno os amigos egí/x ios w nsideranm1 n transborditrnenw das águas do Nilb.
O j',,n(,meno ucorre a intermlos . .5 dt' i:,rrande im/x1rtància /1<1ra wdns, e as causas naturais não estão ô vista .
- John Bates C lark, 1898

fu oscilações econômicas representam um problema recorrente 7, 7%. Durante as recessões, não só há mais pessoas desempre-
para economistas e formuladores de política econômica. O pro- gadas, mas também as que estão empregadas têm uma jornada
blema é ilustrado na Fig. 9-1, que mostra o crescimento do PIB de trabalho mais curta, mais trabalhadores têm de aceitar em-
real da economia dos Estados Unidos. Como se pode verificar, pregos em expediente parcial, e menos trabalhadores têm a
embora a economia experimente um crescimento no longo oportunidade de fazer horas extras. Quando as recessões aca-
prazo a uma média anual de 3,5%, esse crescimento nem sem- bam e a economia entra em um boom, esses efeitos funcionam
pre é constante. As recessões - períodos de rendas decrescen- ao contrário: as rendas sobem, o desemprego cai, e as jornadas
tes e desemprego crescente - são freqüentes. Na recessão de de trabalho aumentam.
1990, por exemplo, o PIB real caiu 2,2% do ponto mais alto Os economistas chamam essas oscilações no curto prazo do
para o mais baixo, enquanto a taxa de desemprego subia para produto e do emprego de ciclos econômicos. Embora essa denomi-

Percentual de
variação de 10
Taxa de crescimento do PIB real
quatro décadas
8

Taxa de crescimento médio


6

o r-111'-----------'"-t--- -+-t------lrf--l--lJ------+-I- -------

-2

- 4...__ _ __,__ _ _ ~ - - - - - - ''--- - - - ' - - - --L- -----'----..,__ _ _ _,____


1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000
Ano

Fig. 9-1 Crescimento do PIB Real nos Estados Unidos O crescimento do PIB real é em média de 3,5% ao ano, como indica a linha mais clara.
Mas há oscilações substanciais em torno dessa média. As recessões , períodos em que a produção de bens e serviços está em declínio, são represen-
tadas aqui pelo crescimento negativo do PIB.
Fonte: U. S. Department of Commerce.
164 CAPITULO 9

nação sugira que as oscilações econômicas são regulares e pre- Aqui, na Parte IV, verificaremos como os economistas ex-
visíveis, não é o que acontece. As recessões são tão irregulares plicam essas oscilações no curto prazo. Este capítulo dá início
quanto são comuns. Às vezes são bem próximas, como as à nossa análise pelo exame das diferenças fundamentais entre
recessões de 1980 e 1982. Às vezes são bem distantes, como as o longo prazo e o curto prazo, com a introdução do modelo de
recessões de 1982 e 1990. oferta agregada e demanda agregada. Com esse modelo, pode-
Nas Partes II e III deste livro, desenvolvemos teorias para mos mostrar como os choques na economia levam a oscilações
explicar como a economia se comporta no longo prazo. Essas no curto prazo do produto e do emprego.
teorias baseavam-se na dicotomia clássica: a premissa de que Assim como o Egito hoje controla os fluxos no vale do Nilo,
variáveis reais, como produto e emprego, não são afetadas pelo com a barragem de Assuan, a sociedade moderna tenta con-
que acontece com as variáveis nominais, como a oferta monetá- trolar o ciclo econômico com políticas econômicas apropria-
ria e o nível de preços. Embora as teorias clássicas sejam úteis das. O modelo que desenvolveremos ao longo dos próximos
para explicar as tendências no longo prazo, inclusive o capítulos mostra como as políticas monetárias e fiscais influ-
crescimento econômico que observamos de década para déca- enciam o ciclo econômico. Veremos que essas políticas têm o
da, a maioria dos economistas acha que a dicotomia clássica não potencial de estabilizar a economia, ou então, se forem mal
se aplica no curto prazo. Portanto, essas teorias não podem ex- conduzidas, tornar ainda piores os problemas da instabilidade
plicar as oscilações de ano para ano do produto e do emprego. econômica.

9-1 HORIZONTES DE TEMPO NA MACROECONOMIA


Antes de começarmos a construir um modelo de oscilações áveis medidas em termos monetários - , mas não as variáveis
econômicas no curto prazo, voltaremos atrás e faremos uma per- reais. No longo prazo, uma redução de 5% da oferta monetária
gunta fundamental: por que os economistas precisam de mo- baixa todos os preços (inclusive os salários nominais) em 5%,
delos diferentes para diferentes horizontes de tempo? Por que enquanto todas as variáveis reais permanecem as mesmas. As-
não podemos interromper o curso aqui, contentando-nos com sim, no longo prazo, as variações da oferta monetária não cau-
os modelos clássicos desenvolvidos nos Caps. 3 a 8? A respos- sam oscilações no produto nem no emprego.
ta, como este livro tem sistematicamente lembrado ao leitor, é No curto prazo, porém, muitos preços não reagem a mu-
que a macroeconomia clássica aplica-se no longo prazo, mas não danças na política monetária. Uma redução da oferta mo-
no curto prazo. Mas por que isso acontece? netária não faz imediatamente com que todas as empresas
cortem os salários que pagam, todas as lojas mudem as eti·
quetas de preço nas mercadorias, todas as empresas de re·
COMO o CURTO PRAZO E o LONGO PRAZO
embolso postal lancem novos catálogos, e todos os restau·
DIFEREM rantes imprimam novos cardápios. Em vez disso, há pouca
A maioria dos macroeconomistas acha que a diferença funda- mudança imediata em muitos preços; ou seja, muitos preços
mental entre curto prazo e longo prazo é o comportamento dos "grudam" numa posição, são rígidos . Essa rigidez dos preços
preços. No longo prazo, os preços são flexíveis e podem reagir a no curto prazo indica que o impacto no curto prazo de uma
mudanças da oferta ou da demanda. No curto prazo, muitos pre- variação da oferta monetária não é o mesmo impacto no
ços são "grudados" a algum nível predeterminado. Como os pre- longo prazo.
ços se comportam de maneira diferente no curto e no longo Um modelo de oscilações econômicas deve levar em consi-
prazos, as políticas econômicas têm efeitos diferentes em dife- deração essa rigidez dos preços no curto prazo. Veremos que a
rentes horizontes de tempo. deficiência dos preços em se ajustarem depressa e por comple-
Para verificar como o curto e o longo prazos se diferem, con- to significa que, no curto prazo, o produto e o emprego devem
sidere os efeitos de uma mudança da política monetária. Supo- assumir uma parte do ajuste. Em outras palavras, durante o
nha que o Banco Central subitamente reduza a oferta monetá- período em que os preços se mantêm rígidos, a dicotomia clás-
ria em 5%. Segundo o modelo clássico, que descreve a econo- sica não se aplica mais: as variáveis nominais podem influen-
mia no longo prazo, como quase todos os economistas estão de ciar as variáveis reais, e a economia pode se desviar do equilí-
acordo, a oferta monetária afeta as variáveis nominais - vari- brio previsto pelo modelo clássico.

ESTUDO DE CASO - - - - - - - - - - - - - ,
Ü ENIGMA DOS PREÇOS RíGIDOS DAS REVISTAS soja, e carne de porco, são negociados em bolsas organizadas,
Como os preços são rígidos? A resposta a essa pergunta de- com preços mudando a cada minuto. Ninguém diria que es-
pende do preço que consideramos. Alguns bens, como trigo, ses preços são rígidos. Contudo, os preços da maioria dos bens
INTRODUÇÃO ÀS ÜSCILAÇÕES ECONÔMICAS }65

e serviços variam com muito menos freqüência. Um levanta- um restaurante precisa imprimir um novo cardápio. Mas a edi-
o mento constatou que 39% das empresas mudam seus preços tora de uma revista pode simplesmente imprimir um novo pre-
e uma vez por ano, e outros l 0% mudam os preços menos de ço na capa no próximo número. Talvez o custo para a editora
e uma vez por ano.1 de cobrar o preço errado também seja pequeno. Ou talvez os
As razões para a rigidez dos preços nem sempre são eviden- leitores considerem inconveniente a mudança de preço da sua
tes. Considere, por exemplo, o mercado de revistas. Um estu- revista predileta todo mês.
do comprovou que as revistas raramente mudam o preço de Como o exemplo das revistas mostra, às vezes é difícil ex-
>, venda em banca. A revista típica permite que a inflação cor- plicar por que os preços são rígidos em nível mícroeconômico.
L' roa seu preço real em cerca de 25%, antes de aumentar o preço A causa da rigidez de preços, portanto, é uma área ativa de
l• nominal. Quando a inflação é de 4% ao ano, a revista típica pesquisas, da qual trataremos mais plenamente no Cap. 19.
IS muda o preço a intervalos aproximados de seis anos.z Neste capítulo, no encanto, simplesmente pressupomos que os
l- Por que as revistas mantêm seu preço por tanto tempo? Os preços sejam rígidos, a fim de podermos começar a desenvol-
o economistas não têm uma resposta definitiva. A questão é ver a ligação entre preços rígidos e ciclo econômico. Embora
ti desconcertante, porque o custo da mudança de preço para as ainda não haja uma explicação plena, a rigidez dos preços no
e revistas é muito pequeno. Para mudar os preços, uma empresa curto prazo é amplamente considerada crucial para a compre-
de reembolso postal deve lançar um novo catálogo, enquanto ensão das oscilações econômicas no curto prazo.

o MODELO DA ÜFERTA AGREGADA E DA DE- porciona uma razão para a utilidade dessas políticas na estabi-
.S
lização da economia no curto prazo.
MANDA AGREGADA No restante deste capítulo, desenvolveremos um modelo que
a
Como a introdução de preços rígidos muda nossa visão de como coma essas idéias mais precisas. O modelo de oferta e deman-
a economia funciona? Podemos responder a essa questão con- da, que utilizamos no Cap. l para analisar o mercado de pizza,
siderando as duas palavras preferidas dos economistas - ofer- oferece algumas das percepções mais fundamentais em econo-
ta e demanda. mia. Esse modelo mostra como a oferta e a demanda de qual-
Na teoria macroeconômica clássica, o produto depende da quer bem determinam em conjunto o seu preço e a quantidade
capacidade da economia de ofertar bens e serviços, o que, por vendida, e como variações da oferta e da demanda afetam o
.S
sua vez, depende das ofertas de capital e trabalho e da tecnolo- preço e a quantidade. Apresentaremos também a versão "ta-
gia de produção disponível. Esta é a essência do modelo clássi- manho família" desse modelo: o modelo da oferra agregada e da
co básico estudado no Cap. 3, assim como do modelo de demanda agregada. Esse modelo macroeconômico possibilita-nos
crescimento de Solow, que vimos nos Caps. 7 e 8. Os preços estudar como são determinados o nível de preços agregado e o
flexíveis constituem um pressuposto crucial da teoria clássica. produto agregado. Também proporciona uma maneira de se
a
,s A teoria propõe, às vezes de modo implícito, que os preços ajus- comparar como a economia se comporta no longo prazo e como
tam-se para garantir que a quantidade de produto demandada se comporta no curto prazo.
•S
seja igual à quantidade ofertada. Embora o modelo da oferta agregada e demanda agregada
a
A economia funciona de uma maneira diferente quando os pareça com o modelo de oferta e demanda de um único bem, a
o
preços são rígidos. Nesse caso, como veremos, o produto tam- analogia não é exata. O modelo de oferta e demanda de um
bém depende da demanda de bens e serviços. A demanda, por único bem considera apenas um bem dentro de uma economia
sua vez, é influenciada pela política monetária, pela política grande. Em contraste, como veremos nos próximos capítulos,
a
fiscal e por vários outros fatores. Como a política monetária e o modelo da oferta agregada e da demanda agregada é um mo-
a política fiscal podem influenciar o produto da economia ao delo sofisticado, que incorpora as interações entre muitos mer-
longo do tempo quando os preços são rígidos, essa rigidez pro- cados.

9-2 DEMANDA AGREGADA


Demanda agregada (DA) é a relação entre a quantidade de pro- vras, a curva da demanda agregada mostra a quantidade de bens
duto demandada e o nível de preços agregado. Em outras pala- e serviços que as pessoas querem comprar a qualquer nível de
,
,, 'Alan S. Blinder, "On Sticky Prices: Academic Theories Meet the Real World", em N. O. Mankiw, ed., Monecary Policy (Chicago: University of Chicago
Press, 1994): 117-154. Um estudo de caso no Cap. 19 examina essa pesquisa em mais detalhes.
2
Stephen O. Ceccherri, "The Frequency of Price Adjustment: A Study of the Newsstand Prices of Magazines",Joumal of Economics 31 (1986): 255-274.
166 CAPÍTULO 9

preços dado. Examinaremos a teoria da demanda agregada em tendo M e V constantes. Essa curva negativamente inclinada
detalhes nos Caps. 10 a 12. Aqui, adotamos a teoria quantita- é chamada de curva de demanda agregada.
tiva da moeda para obter uma derivação simples, embora in-
completa, da curva de demanda agregada.
POR QUE A CURVA DE DEMANDA
AGREGADA É N EGATNAMENTE
A EQUAÇÃO QUANTITATNA COMO
INCLINADA
DEMANDA AGREGADA
Como uma questão rigorosamente matemática, a equação quan-
Lembre-se, do Cap. 4, que a teoria quantitativa diz que titativa explica a inclinação negativa da curva de demanda agre-
MV = PY, gada com bastante simplicidade. A oferta monetária Me a velo-
cidade da moeda V determinam o valor nominal do produto PY.
em que M é a oferta monetária, V é a velocidade da moeda, P Uma vez que PY é constante, se P sobe, Y deve descer.
é o nível de preços e Y é o produto. Se a velocidade da moeda Qual é o sentido econômico por trás dessa relação matemá-
é constante, então essa equação enuncia que a oferta monetá- tica? Para uma resposta completa, teremos de esperar por mai.<;
ria determina o valor nominal do produto, que, por sua vez, é o alguns capítulos. Por ora, porém, considere a seguinte lógica:
resultado da multiplicação do nível de preços e do produto. Como pressupomos que a velocidade da moeda é constante, a
Você talvez se lembre de que a equação de quantidade pode oferta monetária determina o valor em dólares de todas as tran-
ser reescrita em termos da oferta e da demanda de equilíbrio de sações na economia. (Essa conclusão deve ser já conhecida, do
1 . encaixes reais: Cap. 4.) Se o nível de preços sobe, cada transação exige mais
dólares; assim, devem cair o número de transações e a quanti-
M/P = (M/P)d = kY, dade de bens e serviços adquiridos.
em que k = l/V é um parâmetro que determina quanto em Podemos também explicar a inclinação negativa da curva
moeda as pessoas querem guardar para cada unidade monetá- de demanda agregada ao pensar sobre a oferta e a demanda de
ria da renda. Dessa maneira, a equação quantitativa enuncia equilíbrio de encaixes reais. Se o produto é mais alto, as pesso-
que a oferta de equilíbrio de encaixes reais M/P é igual à de- as empenham-se em mais transações e precisam de um encai-
manda (M/P)d, e que a demanda é proporcional ao produto Y. xe real M/P mais alto. Para uma oferta monetária constante M,
A velocidade da moeda V é o "outro lado" do parâmetro da um encaixe real mais alto acarreta um nível de preços mais
demanda por moeda k. baixo. Inversamente, se o nível de preços é mais baixo, o equi-
Para qualquer oferta e velocidade fixas de moeda, a equa- líbrio de encaixes reais é mais alto; o nível mais alto de equilí-
ção quantitativa apresenta uma relação negativa entre o nível brio de encaixes reais possibilita um volume maior de transa-
de preços P e o produto Y. A Fig. 9-2 mostra em gráfico as com- ções, o que significa que uma quantidade maior de produto é
binações de P e Y que satisfazem a equação quantitativa man- demandada.

Nível de preço, P

Demanda
agregada,
~--oA
Renda, produto, Y

Fig. 9-2 A Curva da Demanda Agregada A curva de demanda agregada DA mostra a relação entre o nível de preços P e quantidade demandada
de bens e serviços Y. É extraída de um valor dado da oferta monetária M. A curva de demanda agregada é negativamente inclinada: quanto mais
alto o nível de preços P, menor ó nível de encaixes reais MIP, e menor a quantidade demandada de bens e serviços.
INTRODUÇÃO ÀS OSCILAÇÕES ECONÔMICAS 167

tda DESLOCAMENTOS DA CURVA DE dução da oferta monetária leva a uma redução proporcional no
valor nominal do produto PY. Para qualquer nível de preços dado,
DEMANDA AGREGADA
a produção é menor; e para qualquer produto dado, o nível de
A curva da demanda agregada é desenhada para um valor fixo preços é mais baixo. Tal como na Fig. 9-3(a), a curva da deman-
da oferta monetária. Em outras palavras, diz-nos as possíveis da agregada relacionando P e Y desloca-se para dentro.
combinações de P e Y para um dado valor de M. Se o Fed O oposto ocorre se o Fed aumenta a oferta monetária. A
muda a oferta monetária, as possíveis combinações de P e Y equação quantitativa diz-nos que um aumento de M leva a um
mudam, o que significa que a curva de demanda agregada se aumento de PY. Para qualquer nível de preço dado, o montan-
m- desloca. te de produção é maior; e para qualquer montante de produ-
:re.. Por exemplo, considere o que acontece se o Fed reduz a oferta . ção dado, o nível de preço é mais alto. Como mostra a Fig. 9-
:lo- monetária. A equação quantitativa, MV = PY, diz-nos que a re- 3(b ), a curva da demanda agregada desloca-se para fora.
PY.
(a) Deslocamentos para Dentro na Curva de Demanda Agregada
ná-
1ais Nível de preços, P
LCa:
~, a
ao- Reduções da oferta
.do monetdrio deslocam
iais o curvo de demando
lti- agregado poro o
esquerdo.
rva
ide
;so-
:ai-
DA 1
M,
1ais
1ui-
lÍlí-
isa- Renda, produto, Y
:o é (b) Deslocamento para Fora na Curva de Demanda Agregada
Nível de preços, P

Aumentos da oferta
monetdrio deslocam
o curvo de demanda
agregada paro o direita.

Renda, produto, Y
Fig. 9-3 Deslocamento da Curva de Demanda Agregada As alterações da oferta monetária desloca a curva de oferta agregada. No painel (a),
uma redução da oferta monetária M reduz o valor nominal do produto PY. Para qualquer nível de preços P dado, o produto Y é menor. Assim, urna
jada diminuição da oferta monetária desloca a curva de demanda agregada para dentro, de DA1 para DA2. No painel (b}, um aumento da oferta monetária
nais M. eleva o valor nominal do produto PY. Para qualquer nível de preços P dado, o produto Y é mais alto. Assim, um aumento da oferta monetária
desloca a curva de demanda agregada para fora, de DA1 para DA2•
168 CAPITULO 9

As oscilações da oferta monetária não são a única fonte de se algum evento causa uma mudança da velocidade da moeda.
oscilações da demanda agregada. Mesmo que a oferta monetária Ao longo dos três próximos. capítulos, analisaremos muitas razões
se mantenha constante, a curva de demanda agregada se desloca possíveis para deslocamentos da curva de demanda agregada.

9-3 OFERTA AGREGADA


Por si mesma, a curva de demanda agregada não nos diz o nível capital e trabalho e da tecnologia disponível. Para mostrar
de preços nem o produto; apenas dá uma relação entre essas duas isso, escrevemos
variáveis. Para acompanhar a curva de demanda agregada, pre- Y= F(K, L)
cisamos de outra relação entre P e Y que cruze a curva de de-
manda agregada: uma curva de oferta agregada. Juntas, as cur-
=Y.
vas de demanda agregada e de oferta agregada indicam o nível Segundo o modelo clássico, o produto não depende do nível
de preços e o de produto da economia. de preços. Para mostrar que o produto é o mesmo para todos os
A oferta agregada (OA) é a relação entre a quantidade de níveis de preços, traçamos uma curva de oferta agregada verti-
bens e serviços ofertada e o nível de preços. Como as empre- cal, tal como na Fig. 9-4. A interseção da curva de demanda
sas que ofertam bens e serviços têm preços flexíveis no longo agregada com essa curva de oferta agregada vertical determina
prazo, mas preços rígidos no curto prazo, a relação de oferta o nível de preços.
agregada depende do horizonte de tempo. Precisamos exami- Se a curva de oferta agregada é vertical, então as variações
nar duas diferentes curvas de demanda agregada: a curva de da demanda agregada afetam os preços, mas não o produto. Por
oferta agregada no longo prazo, OALP, e a curva de oferta exemplo, se a oferta monetária diminui, a curva de demanda
agregada no curto prazo, OACP. Também precisamos estu- agregada desloca-se para baixo, como na Fig. 9-5. A economia
dar como a economia faz a transição do curto prazo para o passa da antiga interseção de oferta agregada e demanda agre-
longo prazo. gada, ponto A, para a nova interseção, ponto B. O deslocamen-
to da demanda agregada afeta apenas os preços .
.A curva de oferta agregada vertical satisfaz a dicotomia clás-
o LONGO PRAZO: A CURVA DE ÜFERTA AGRE-
sica, porque indica que o nível de produto indepen,4e da oferta
GADA VERTICAL monetária, Esse nível de produto no longo prazo, Y, é chama-
Visto que o modelo clássico descreve como a economia se do de pleno emprego, ou nível natural de produto. É o nível de
comporta no longo prazo, derivamos a curva de oferta agre- produto em que os recursos da economia estão plenamente em-
gada de longo prazo do modelo clássico. Lembre-se, do Cap. pregados, ou então, de modo mais realista, em que o desemprego
3, de que o produto depende das quantidades constantes de situa-se em sua taxa natural.

Nível de preços, P
Oferta agregada de longo prazo, OALP

y Renda, produto, Y

Fig. 9-4 A Curva da Oferta Agregada de Longo Prazo No longo prazo, o nível de produto é determinado pelo capital e pelo trabalho, assim
como pela tecnologia disponível; não depende do nível de p1eços. A curva d.e oferta agregada de longo prazo, OALP, é vertical.
INTRODUÇÃO ÀS OSCILAÇÕES ECONÔMICAS 169

Nível de preços, P
OALP

1. Uma queda da

2 . .. . baixa
o nfvel de
preços no
1 demanda agregada...

longo prazo ... ,

3 . ... mas não


altera o produto.

y Renda, produto, Y

Fig. 9-5 Deslocamentos da Demanda Agregada no Longo Prazo Urna redução da oferta monetária desloca a curva de demanda agregada
para baixo, de DA 1 para DA 2. O equilíbrio da economia passa do ponto A para o ponto B. Como a curva da oferta agregada é vertical no longo prazo,
a redução da demanda agregada afeta o nível de preços, mas não o nível de produção.

o CURTO PRAZO: A CURVA DE ÜFERTA O equilíbrio no curto prazo da economia é a interseção da


curva de demanda agregada com essa curva de oferta agregada
AGREGADA HORIZONTAL horizontal de curto prazo. Nesse caso, variações da demanda
O modelo clássico e a curva de oferta agregada vertical apli- agregada afetam o nível do produto. Por exemplo, se o Fed re-
cam-se apenas no longo prazo. No curto prazo, alguns preços duz subitamente a oferta monetária, a curva de demanda agre-
são rígidos; portanto, não se ajustam a variações na demanda. gada desloca-se para dentro, como na Fig. 9-7. A economia
Por causa da persistência dos preços, a curva de oferta agrega- passa da antiga interseção da demanda agregada e oferta agre-
da a curto prazo não é vertícal. gada, ponto A, para a nova interseção, ponto B. O deslocamen-
Como um exemplo extremo, suponha que todas as empre- to do ponto A para o ponto B representa um declínio do pro-
sas editaram catálogos de preços, e que é dispendioso para elas duto a um nível de preços constantes.
providenciar novos . Assim, todos os preços ficam rígidos em Assim, uma queda da demanda agregada reduz o produto no
níveis predeterminados. A esses preços, as empresas estão dis- curto prazo , porque os preços não se ajustam instantaneamen-
postas a vender o quanto os clientes estiverem dispostos a com- te. Depois da queda súbita da demanda agregada, as empresas
prar, e contratam mão-de-obra suficiente para produzir a quan- ficam paralisadas em preços que são altos demais. Com demanda
tidade demandada. Como o nível de preços é rígido, represen- baixa e preços altos, as empresas vendem menos da sua produ-
tamos essa situação na Fig. 9-6 com uma curva de oferta agre- ção; por isso, reduzem a produção e dispensam trabalhadores.
gada horizontal. A economia experimenta uma recessão.

Nível de preços, P

Oferta agregada de curto prazo, OACP

Renda, produto, Y

Fig. 9-6 A Curva de Oferta Agregada de Curto Prazo Neste exemplo extremo, todos os preços são constantes no curto prazo. Portanto, a curva
da oferta agregada de curto prazo, OACP, é horizontal.
170 CAPÍTULO 9

Nível de preços, P

2 . .. . uma
queda da
demanda
agregada ...

OACP

1. No curto
prazo, DA,
quando os
preçossao
rffjdos1 •••

..,- Renda, produto, Y


3 . .. . baixa o
nível do produto.

Fig. 9-7 Deslocamento da Demanda Agregada no Curto Prazo Uma redução na oferta monetária desloca a curva de demanda agregada para
baixo, de DA, para DA2. O equilibrio da economia passa do ponto A para o ponto B. Como a curva de oferta agregada é horizontal no curto prazo, a
redução da demanda agregada reduz o nível do produto.

Do CuRTO PRAZO PARA o LONGO uma queda da demanda agregada. Suponha que a economia
estivesse inicialmente no equilíbrio de longo prazo, como mos-
PRAZO tra a Fig. 9-8. Há três curvas nessa figura: a curva de demanda
Podemos resumir nossa análise até aqui da seguinte maneira: agregada, a curva de oferta agregada de longo prazo e a curva
Em períodos longos, os preços são f1exíveis, a curva de oferta agre- de oferta agregada de curto prazo. O equilíbrio de longo prazo
gada é vertical e as mudanças da demanda agregada afetam o nível é o ponto em que a demanda agregada cruza com a curva de
de preços, mas não o produto . Em períodos curtos, os preços são oferta agregada de longo prazo. Os preços ajustaram-se para
rígidos, a curva de oferta agregada é horizontal e as variações da alcançar esse equilíbrio. Portanto, quando a economia está em
demanda agregada afetam a produção de bens e serviços da econo- equilíbrio de longo prazo, a curva de oferta agregada de curto
mia . prazo deve cruzar também esse ponto.
Como a economia faz a transição do curto prazo para o lon- Suponha agora que o Fed reduza a oferta monetária e a cur-
go prazo? Acompanharemos os efeitos ao longo do tempo de va de demanda agregada se desloque para baixo, como na Fig.

Nível de preços, P

DA

Y Renda, produto, Y
Fig. 9-8 Equilíbrio de Longo Prazo No longo prazo, a economia se encontra na interseção da curva de oferta agregada de longo prazo e da curva
de.demanda agregada. Como os preços se acomodaram a esse nível, a curva de oferta agregada de curto prazo também cruza esse ponto.

·l... __
INTRODUÇÃO ÀS OSCILAÇÕES EcONÔMICAS 171

Nível de preços, P
OALP

1. Uma
redução da
demanda
agregada ...
OACP

2 . ... baixa DA 1
o produto 3. ... mas no longo
no curto prazo afêta apenas
prazo... , o nfvel de preços.

Y Renda, produto, Y

Fig. 9-9 Uma Redução da Demanda Agregada A economia corrieça em equilíbrio de longo prazo no ponto A. Uma redução da demanda agre-
gada, çausada talvez por uma diminuição da oferta monetária, passa a economia do ponto A para o ponto B, em que o produto está abaixo do seu
nível natural. À medida que os preços caem, a economia gradativamente recupera-se da recessão, passando do ponto B para o ponto C.

a
a
9-9. No curto prazo, os preços são rígidos, e por isso a econo- o novo equilíbrio de longo prazo. No novo equilíbrio de lon-
mia vai do ponto A para o ponto B. O produto e o emprego go prazo (ponto C), o produto e o emprego voltam a seus ní-
caem abaixo dos seus níveis naturais, o que significa que a veis naturais, mas os preços estão mais baixos do que no anti-
1a economia está em recessão. Com o passar do tempo, em rea- go equilíbrio de longo prazo (ponto A) . Assim, uma mudan-
s- ção à baixa demanda, os salários e os preços caem. A redução ça da demanda agregada afeta o produto no curto prazo, mas
la gradativa do nível de preços desloca a economia para baixo, esse efeito desaparece ao longo do tempo, à medida que as
ao longo da curva de demanda agregada, até o ponto C, que é empresas ajustam seus preços.
'ªm
le
ra
ESTUDO DE CASO - - - - ~ - - - - - - - - - ,
m
to ÜURO, GREENBACKS E A CONTRAÇÃO DA ÜÉCADA
Quando a guerra acabou, houve muito debate sobre a ques-
DE 1870
tão do retomo ao padrão-ouro. O Partido Greenback foi cria-
1r- do com o principal objetivo de manter o sistema de papel-
O período posterior à Guerra Civil nos Estados Unidos ofe-
ig. moeda sem lastro. Mas o Partido Greenback acabou perdendo
rece um vívido exemplo da maneira como a política monetá-
o debate. As autoridades políticas decidiram substituir as
ria contracionária afeta a economia. Antes da guerra, os Es-
tados Unidos adoravam o padrão-ouro. Os dólares de papel
greenbacks, ao longo do tempo, a fim de restabelecer o padrão-
ouro à taxa de câmbio entre dólares e ouro que prevalecia an-
eram prontamente conversíveis em ouro. Por essa política, a
quantidade de ouro determinava a oferta monetária e o nível tes da guerra. O objetivo era levar o valor do dólar a seu nível
de preços. anterior.
Em 1862, depois que a Guerra Civil teve início, o Tesouro O restabelecimento do padrão-ouro dessa maneira exigia a
anunciou que não mais converteria dólares em ouro. Em essên- reversão do aumento de preços durante a guerra, o que signifi-
cia, esse ato substituía o padrão-ouro por um sistema de papel- cava que a demanda agregada tinha de cair. (Para ser mais pre-
moeda sem lastro. Ao longo de poucos anos subseqüentes, o ciso, o crescimento da demanda agregada precisava diminuir a
governo emitiu grandes quantidades de papel-moeda - cha- um patamar inferior à taxa natural do crescimento do produ-
mada de greenback, por ter fundo verde - e usou a senhoriagem to.) À medida que o nível de preços caía, a economia experi-
Para financiar os gastos com a guerra. Por causa desse aumento mentava uma recessão, de 1873 a 1879, o período mais longo
da oferta monetária, o nível de preços aproximadamente do- já registrado. Por volta de 1879, o nível de preços voltara ao
brou durante a guerra. que era antes da guerra, e o padrão-ouro foi restabelecido.

urva
172 CAPÍTULO 9

9-4 POLÍTICA DE ESTABILIZAÇÃO


As oscilações da economia como um todo vêm de variações da cartões de crédito são com freqüência mais convenientes do que
oferta agregada ou da demanda agregada. Os economistas cha- compras com papel-moeda, os cartões de crédito reduzem a
mam as mudanças exógenas dessas curvas de choques econô- quantidade de moeda que as pessoas costumam reter. Essa re-
micos. Um choque que altera a curva de demanda agregada é dução da demanda por moeda equivale a um aumento da velo-
chamado de choque de demanda, enquanto um choque que cidade da moeda. Quando cada pessoa retém menos moeda, 0
altera a curva de oferta agregada é chamado de choque de ofer- parâmetro da demanda por moeda k diminui. Isso significa que
ta. Esses choques desorganizam o bem-estar econômico ao afas- cada dólar é transferido de mão em mão mais depressa; assim,
tarem o produto e o emprego de suas taxas naturais. Um obje- a velocidade V ( = 1/k) aumenta.
tivo do modelo de oferta agregada e demanda agregada é mos- Se a oferta monetária se mantém constante, o aumento da
trar como os choques causam oscilações na economia. velocidade faz com que o gasto nominal suba e a curva de de-
Outro objetivo do modelo é avaliar como a política macro- manda agregada se desloque para fora, como na Fig. 9-10. No
econômica pode reagir a esses choques. Os economistas usam curto prazo, o aumento da demanda eleva o produto da econo-
a designação política de estabilização para se referirem às ações mia: causa um boom econômico. Aos preços antigos, as empre-
políticas que visam a reduzir a gravidade das oscilações econô- sas vendem agora mais produção. Por isso, contratam mais tra-
micas no curto prazo. Como o produto e o emprego oscilam em balhadores, pedem aos trabalhadores contratados que trabalhem
torno de suas taxas naturais de longo prazo, a política de esta- por mais horas, e usam mais suas fábricas e seus equipamentos.
bilização atenua o ciclo econômico ao manter o produto e o Ao longo do tempo, o alto nível da demanda agregada puxa
emprego tão perto das taxas naturais quanto possível. para cima os saláriós e os preços. À medida que o nível de pre-
Nos próximos capítulos, examinaremos em detalhes cotno ços sobe, a quantidade de produto demandada declina, e a eco-
a política de estabilização opera e que problemas práticos sur- nomia pouco a pouco se aproxima da taxa natural do produto.
gem em seu uso. Aqui, começamos nossa análise da política de Mas, durante a transição para o nível de preços mais alto, o
estabilização pelo exame da maneira como a política monetá- produto da economia é maior do que à taxa natural.
ria pode responder a choques. A política monetária é um im- O que o Fed pode fazer para conter esse boom, mantendo o
portante componente da política de estabilização, porque a produto mais próximo da taxa natural? Pode reduzir a oferta
oferta monetária, como já ressaltamos, tem um impacto signi- monetária para contrabalançar o aumento da velocidade. Com-
ficativo na demanda agregada. pensar a mudança da velocidade estabilizaria a demanda agre-
gada. Assim, o Fed pode reduzir ou até mesmo eliminar o im-
pacto de choques de demanda sobre o produto e o emprego, se
CHOQUES NA DEMANDA AGREGADA
controlar com habilidade a oferta monetária. Se o Fed tem de
Considere um exemplo de choque de demanda: a introdução e fato a habilidade necessária é uma questão mais difícil, que
a expansão do uso de cartões de crédito. Como compras com examinaremos no Cap. 14.

Nível de preços, P
OALP
3 . ... mas no longo
prazo afeta apenas
o nível de preços.

2 . ... aumenta o
1. Um produto no curto
aumento
da demanda
agregada ... OACP

y Renda, produto, Y
Fig. 9-10 Um Aumento da Demanda Agregada A economia começa em equilíbrio de longo prazo no ponto A. Um aumento da demanda agre-
gada, em decorrência de um aumento da velocidade da moeda, leva a economia do ponto A para o ponto B, em que o produto está acima do seu nível
natural. À medida que os preços sobem, a produção gradativamente.retorna à sua taxa natural, e a economia passa do ponto B para o ponto C.
]
INTRODUÇÃO ÂS OSCILAÇÕES ECONÔMICAS 173 1

CHOQUES NA ÜFERTA AGREGADA ca-se para cima. (O choque de oferta pode também baixar o
nível natural de produto, e assim deslocar para a esquerda a
Os choques na oferta agregfda, assim como na demanda agre- curva de oferta agregada de longo prazo, mas por ora ignora-
gada, podem causar oscilações na economia. Um choque de remos esse efeito.) Se a demanda agregada é mantida cons-
oferta é um choque na economia que altera o custo da produ- tante, a economia se move do ponto A para o ponto B: o ní-
ção de bens e serviços; em conseqüência, mudam também os vel de preços sobe e o produto cai abaixo do nível natural.
preços que as empresas cobram. Como têm um impacto direto Uma experiência como essa é chamada de estagflação, porque
no nível de preços, os choques de oferta são às vezes chamados combina estagnação (queda do produto) com inflação (pre-
de choques de preços. Aqui estão alguns exemplos: ços altos).
> Uma seca que destrói as colheitas. A redução da oferta Diante de um choque de oferta adverso, um formulador de
aumenta o preço dos alimentos. política econômica que controla a demanda agregada, como
> Uma nova lei ambiental que exige que as empresas re- o Fed, tem uma escolha difícil entre duas opções. A primeira
duzam a emissão de poluentes. As empresas repassam os opção, implícita na Fig. 9-11, é manter constante a demanda
custos adicionais para os consumidores, em forma de pre- agregada. Nesse caso, produto e emprego são mais baixos do
ços mais altos. que a taxa natural. Eventualmente, os preços cairão parares-
> Um aumento na agressividade dos sindicatos. Isso eleva tabelecer o pleno emprego ao nível de preços amigo (ponto
os salários e os preços dos bens produzidos pelos traba- A). Mas o custo desse processo de ajuste é uma dolorosa
lhadores sindicalizados. recessão.
> A organização de um cartel de petróleo internacional. Ao A segunda opção, ilustrada na Fig. 9-12, é expandir a de-
restringir a concorrência, os grandes produtores de pe- manda agregada, a fim de levar a economia para o nível natu-
tróleo podem aumentar o preço do petróleo no mundo ral mais depressa. Se o aumento da demanda agregada coinci-
inteiro. de com o choque na oferta agregada, a economia passa imedi-
) atamente do ponto A para o ponto C. Nesse caso, diz-se que o
Todos esses exemplos são choques de oferta adversos. Um Fed acomodou o choque de oferta. Uma desvantagem nessa
J choque de oferta favorável, como o rompimento de um cartel opção, sem dúvida, é o fato de que o nível de preços toma-se
a de petróleo internacional, reduz os custos e os preços. permanentemente mais alto. Não há maneira de ajustar a de-
,- A Fig. 9-11 mostra como um choque de oferta adverso afeta manda agregada para manter o pleno emprego e manter ô ní-
a economia. A curva de oferta agregada de curto prazo deslo- vel de preços estável.

--
,e
.e
1e

Nível de preços, P
OALP
1. Um choque de oferta
adverso desloeti para cima
a curva de demanda

2 . ... o que
{azo nível
de preços
subir...

Renda, produto, Y
3 ... e o
produto cair.

1re- Fig. 9-11 Um Choque de Oferta Adverso Um choque de oferta adverso empurra para cima os custos e, por cons13guinte, os preços. Se a demanda
ível agregada é mantida constante, a economia passa do ponto A para o ponto B, o que leva à estagflação, uma combinação de preços crescentes e
produto decrescente. Eventualmente , à medida que os preços caem, a economia retorna ao nível natural, o ponto A.
174 CAPITULO 9

Nível de preços, P
2 . ... mas o Fed acomodo o OALP
choque aumentando a demanda
avegodo ... ,
1. Um choque de oferto
adverso desloca paro
cima o curva de oferto
agregada de curto prazo ... ,
OACP2

3 . ... o que
4. .. . mas
resulto em um
nível de preços sem
permanente- mudança
mente mais do produto.
oito.. ., y Renda, produto, Y

Fig. 9-12 Acomodação de um Choque de Oferta Adverso Em resposta a um choque de oferta adverso, o Fed pode aumentar a demanda agre-
gada para prevenir uma redução do produto. A economia passa do ponto A para o ponto C. O custo dessa política é um nível de preços permanen-
temente mais alto.

ESTUDO DE CASO - - - - - - - - - - - - .
COMO A OPEP AJUDOU A CAUSAR ESTAGFIAÇÀO NA
Mudanças
DÉCADA DE 1970 E EUFORIA NA DÉCADA DE 1980 dos Preços Taxa de Taxa de
Os choques de oferta mais perturbadores da história recente Ano do Petróleo Inflação (IPC) Desemprego
foram causados pela OPEP, a Organização dos Países Exporta-
1978 9.4% 7,7 6,1%
dores de Petróleo. No início da década de 1970, a redução co-
1979 25.4 11,3 5,8
ordenada pela OPEP da oferta de petróleo quase dobrou o pre- 1980 47,8 13,5 7,0
ço do produto no mundo inteiro. Esse aumento dos preços do 1981 44,4 10,3 7,5
petróleo causou estagflação na maioria dos países industriali- 1982 -8,7 6.1 9,5
zados. As estatísticas mostram o que aconteceu nos Estados
Unidos:
Os aumentos dos preços do petróleo em 1979, 1980 e 1981
levaram outra vez a uma inflação de dois dígitos e alto desem-
Mudanças prego.
dos Preços Taxa de Taxa de Em meados da década de 1980, os problemas políticos en-
Ano do Petróleo Inflação (IPC) Desemprego tre os países árabes enfraqueceram a capacidade da OPEP de
1973 11,0% 6,2% 4,9% restringir as ofertas de petróleo. Os preços do petróleo caíram,
1974 68,0 11 ,0 5,6 revertendo a estagflação da década de 1970 e início dos anos
1975 16,0 9,1 8,5 1980. Aqui está o que aconteceu:
1976 3,3 5,8 7,7
1977 8,1 6,5 7,1
Mudanças
dos Preços Taxa de Taxa de
Ano do Petróleo Inflação (IPC) Desemprego
O aumento de 68% do preço do petróleo em 197 4 foi um cho-
que de oferta adverso de enormes proporções. Como era de 1983 -7,1% 3,2% 9,5%
se esperar, levou a uma inflação mais alta e um desemprego 1984 -1,7 4,3 7,4
maior. 1985 -7,5 3,6 7,1
Poucos anos mais tarde, quando a economia mundial quase 1986 -44,5 1,9 6,9
1987 18,3 3,6 6.1
se recuperara da primeira recessão causada pela OPEP, ames-
ma coisa quase aconteceu de novo. A OPEP aumentou os pre-
ços do petróleo, causando ainda mais estagflação. Aqui estão Em 1986, os preços do petróleo caíram quase a metade. Esse
as estatísticas dos Estados Unidos: choque de oferta favorável levou a uma das mais baixas taxas
INTRODUÇÃO ÀS OSCILAÇÕES ECONÔMICAS 17 5

de inflação experimentadas na história recente dos Estados Uni- 1980. Além disso, os esforços de conservação e as mudanças
dos; o desemprego também caiu. tecnológicas tomaram a economia menos suscetível a choques
Nos últimos tempos, a OPEP não tem sido uma causa de
·i
do petróleo. A quantidade de petróleo consumido por unidade
oscilações econômicas. Isso acontece em parte porque a OPEP do PIB real caiu em cerca de 40% ao longo das últimas três
tem sido menos bem-sucedida na elevação do preço do petró- décadas.
leo. Embora os preços mundiais do produto tenham oscilado, Mas não devemos ser otimistas demais. As experiências das
as mudanças não foram tão grandes quanto as experimentadas décadas de 1970 e 1980 sempre podem se repetir. Os eventos
durante a década de 1970. Os preços reais do petróleo nunca no Oriente Médio são uma fonte potencial de choques para as
mais voltaram aos preços de pique alcançados no início dos anos economias. do mundo inteiro. 3

9-5 CONCLUSÃO
Este capítulo forneceu uma estrutura para o estudo das osci- choques econômicos. Uma política monetária bem administra-
lações econômicas: o modelo de oferta agregada e demanda da pode reagir a choques e estabilizar a economia.
agregada. O modelo baseia-se na suposição de que os preços Nos próximos capítulos, refinaremos a compreensão desse mode-
te- são rígidos no curto prazo e flexíveis no longo prazo. Mostra lo e a análise da política de estabilização. Os Caps. 1Oa 12 vão além
m- como os choques econômicos fazem com que o produto se da equação quantitativa para aprimorar no.ssa teoria da demanda agre-
desvie temporariamente do nfvel indicado pelo modelo clás- gada. Esse aprimoramento mostra que a demanda agregada depende
sico. também da política fiscal, não apenas da política monetária. O Cap.
O modelo também destaca o papel da política monetária. 13 examina a oferta agregada em mais detalhes. O Cap. 14 analisa o
Uma política monetária insatisfatória pode ser uma fonte de debate entre virtudes e limites da política de estabilização.

RESUMO
1. A diferença crucial entre o longo prazo e o curto prazo é o tecnologia disponível, mas não pelo nível de preços. Por-
fato de que os preços são flexíveis no longo prazo, mas rí- tanto, as variações da demanda agregada afetam o nível de
gidos no curto prazo. O modelo de oferta agregada e de- preços, mas não o produto nem o emprego.
manda agregada proporciona uma estrutura para analisar-
4. No curto prazo, a curva de demanda agregada é horizontal,
mos as oscilações na economia e verificarmos como o im-
porque salários e preços são rígidos em níveis predetermi-
pacto das políticas econômicas variam em diferentes ho -
nados. Portanto, as variações da demanda agregada afetam
rizontes de tempo.
81 o produto e o emprego.
m- 2. A curva de demanda agregada é negativamente inclinada.
5. Os choques na demanda agregada e na oferta agregada cau-
Diz-nos que, quanto menor o nível de preços, maior a quan-
sam oscilações na economia. Uma vez que pode deslocar a
,n- tidade agregada de bens e serviços demandada.
curva da demanda agregada, o Banco Central pode tentar
de 3. No longo prazo, a curva de oferta agregada é vertical, por- contrabalançar esses choques a fim de manter o produto e o
m, que o produto é determinado pelo capital e trabalho e pela emprego em seus níveis naturais.
LOS

CONCEITOS-CHAVE
o Demanda agregada Choques econômicos Choques de oferta
Oferta agregada Choques de demanda Política de estabilização

sse 1
Alguns economistas sugeriram que as mudanças dos preços do petróleo desempenharam papel importante nas oscilações econômicas mesmo antes da década
rns de 1970. Veja James D. Hamilton, "Oil and the Macroeconomy Since World War ll", Joumal of Polirical Economy 91 (abril de 1983 ): 228-248.
p

176 CAPÍTULO 9

.. _- ..... ; .·, .., .........


QUESTÕES PARA REVISÃO
1. Dê um exemplo de preço que seja rígido no curto prazo e flexível 3. Explique o impacto de um aumento da oferta monetária no curto
no longo prazo. prazo e no longo prazo.
2. Por que a curva de demanda agregada é negativamente inclinada? 4. Por que é mais fácil para o Banco Central lidar com choques de
demanda do que com choques de oferta ?

,e'_..... . - • :•:- •:·:tt,

PROBLEMAS E APLICAÇOES
1. Suponha que uma mudança nos regulamentos do governo permita d. O que acontece com a taxa de juros real no curto prazo e no
que os bancos comecem a pagar juros sobre contas correntes. Lem- longo prazo? (Dica: tome o modelo da taxa de juros real, que
bre-se de que o estoque monetário é a sorna do papel-moeda e dos estudamos no Cap. 3, para verificar o que acontece quando o
depósitos à vista, inclusive as contas correntes. Assim, a mtidança produto muda.)
nos regulamentos faz com que reter moeda seja mais atraente. 3. Vamos examinar como os objetivos do Fed influenciam sua rea-
a. Corno essa mudança afeta a demanda por moeda ? ção aos choques. Suponha que o Banco Central A importe-se ape-
b. O que acontece com a velocidade da moeda? nas em manter estável o nível de preços, enquanto o Banco Cen-
·1 . c. Se o Banco Central mantém constante a oferta monetária, o tral B só se importa em manter produto e emprego em suas taxas
que acontecerá com o produto e os preços no curto prazo e no naturais. Explique como cada Banco Central reagiria a
longo prazo ? a. Uma diminuição exógena da velocidade da moeda.
d. O Banco Central deve manter constante a oferta monetária em b. Um aumento exógeno do preço do petróleo.
reação a essa mudança nos regulamentos? Por que sim, ou por
4. O árbitro oficial de qu ando as recessões começam e terminam
que não?
é o Nacional Bureau of Econornic Research (Centro Nacional
2. Suponha que o Fed reduza a oferta monetária em 5%. de Pesquisa Econômica), um grupo de pesquisa econômica sem
a. O que acontece com a curva de demanda agregada? fins lucrativos. Vá ao site do NBER na Internet (www .nber.org)
b. O que acontece com o nível de produto e o nível de preços no e descubra o último momento crtcico no ciclo econômico .
curto prazo e no longo prazo? Quando ocorreu? Foi uma mudança de expansão para contra-
c. Segundo a lei de Oktm, o que acontece com o desemprego no ção, ou o contrário? Enumere todas as recessões (contrações)
curto prazo e no longo prazo? (Dica : a lei de Okun é a relação que ocorreram durante sua vida e as datas em que começaram e
entre produto e desemprego, estudada no Cap. 2.) terminaram.

./
Capítulo 10

rto
DEMANDA AGREGADA 1
de

Argumentarei que os /wstulaclos da teoria clássica podem ser aplicado.< a um cmo es/1ecial afJ enas, e rnio ao caso geral. [ . .. ] Além
disso, mi caracte,úticas du caso geral que u teoria dch sica /1n.•ss1t/>Õe ,u'io são as que encontramos na sociedade econrimicu em que de
fmo 1:iwmos. Em con.<eqitên.:iu , .~eu ensino é engunoso e desastroso, se tentarmos aplicá-la aos fatos da. experiência.
no -- J"hn '.vl.1 yn:1rd Kc1·ne,, A. TL',nid Gl'rtiÍ
ue
)0

:a- Entre todas as oscilações econômicas na história do mundo, a que Neste capítulo e nn próximo, continuaremos o estudo das
,e- se destaca como particulannente grande e dolorosa, com maior sig- oscilações econômicas, examinando mais atentamente a de-
n- nificado intelectual, é a Grande Depressão da década de 1930. Du- manda agregada. O objetivo é identificar as variáveis que des-
:as rante essa época, os Estados Unidos e muitos outros países experi- locam a curva da demanda agregada, causando oscilações na
mentaram desemprego maciço e renda hastante reduzida. No pior renda nacional. T amhém examinaremos mais a fundo os ins-
ano, 1933, um quarto da força de tmhalho americana estava de- trumentos que os formuladores de política econômica podem
sempregado, e o PlBreal era 30% ahaixo do seu nível de 1929. utilizar para influenciar a demanda agregada. No Cap. 9, deri -
:m Esse episódio devastador levou muitos economistas a ques- vamos a curva da demanda agregada da teoria quantitati\'a da
,ai tionarem a validade da teoria econômica clássica, que foi exa- moeda , e mostramos que a política monetária pode deslocar a
'ffi
minada nos Caps. 3 a 6. A teoria chissica parecia incapaz de curva da demanda agregada. Neste capítulo, mostraremos que
g)
explicar a Depressão. Segundo essa teoria, a renda nacional de- o governo pode influenciar a demanda agregada com a políti-
o.
a- pende das ofertas de fatores e da tecnologia disponível, nenhum ca monet,'íria e a políticn fiscal.
·s) dos quais teve mudanças suhstanciais de 1929 a 1931. Depois O modelo de demanda agregada desenvolvido neste capí-
1e do início da Depressão, muitos economistas achavam que ha- tulo, chamado de modelo IS-LM, é a principal interpretação
via necessidade de um novo modelo que explicasse um declí- da teoria de Keynes . O ohjet ivo do modelo é mostrar o que
nio econômico tão grande e repentino , e para sugerir políticas determina a renda nacional a qualquer nÍ\'el de preço dado. H,1
governamentais que pudessem reduzir as dificuldades econômi- duas maneiras de encarar esse exercício. Podemos considerar
cas que tantas pessoas enfrentavam. que o modelo IS-LM 1n-1srrn l) que faz a renda mudar no curto
Em 19.36, o economista hritânico John Maynard Keynes revo- prazo, quando ,1 nível de preço é fixo. Ou podemos considerar
lucionou a economia com seu livro A Teoria Geral do Emprego, do que o modelo mostra o que cau~,1 deslocamento da curva de
Juro e da Moeda. Keynes prnpôs uma nova maneira de analisar a demanda agregada. Essas duas visões do modelo são equivalen-
economia, que ele apresentou como uma altemativ,1 à temia clás- tes: como a Fig. l 0-1 mostra, no curto prazo, quando o nível l'Yl
sica. Sua visão da maneir,1 com() a ectinomia funciona lugu setor- preço é fix,1, os deslocamentos da cun·a de demanda agregada
nou um centro de controvérsia. Contudo, à medida que os econo- leYam a mudanças da renda nacional.
mistas dehatiam A Teoria Geral, ~una norn compreensão das osci- As duas partes do modelo IS-LM são - o que nada tem de
lações econômica.- fni pouco a pouco se Jesenvoh-endn. surpreendente - a curva IS e a curva LM. IS refere-se a "inves-
Keynes propôs que uma demanda agregada baixa é respon- timenru" e "poupança" e a curva IS representa o que acontece no
sável pela renda haixa e pelo alto desempreg,) elevado que ca- mercado de bens e serviços ( o que examinamos pela primeira vez
racterizam os declínios econômicos. Criticou a teoria clássica no C,1p. 3 ). LM refere-se a "liquidez" e "moeda", e a curva LM
por pressupor que sô a oferta agregada - capital, trahalho e representa o que acontece com a oferta e a demanda por moeda
tecnologia - determina a renda nacional. Os economistas (o que examinamos pela primeira vez no Cap. 4). VisW que in-
conciliam hoje essas duas posições com o modelo de demanda fluencia tanto o investímento quanto a demanda por moeda, a
agregada e oferta agregada introduzido no Cap. 9. No longo taxa de juros é a variável que liga as duas metades do modelo IS-
prazo, os preços são flexíveis, e a oferta agregada determina a LM. O modelo mostra como as interações entre esses mercados
renda. No curto prazo, porém, os preços são rígidos e por isso determinam a posição e a inclinação da curva de demanda agre-
as variações da demanda agregada influem na renda. gada; e, portanto, o nível da renda nacional no curto prazo.1

1
0 modelo !S-LM foi apresenrn,fo em um artigo cl,íssirn dn economista Jnhn R. Hicks, ganhador dn Prêmio Nobel: "Mr. Keynes and the Classics: A Suggested lnterprecation",
Economemrn 5 {1937): 147-159.
p

178 CAPÍTULO 10

Nível de preço, P
DA,

......
Nfvel de
preço
constante
DACP

Renda, produto, Y

Fig. 10-1 Mudanças da Demanda Agregada A um dado nível de preço, a renda nacional oscila por causa das variações da curva de demanda
agregada . O modelo IS-LMtoma o nível de preço como dado e mostra o que faz a renda variar. O modelo, portanto, mostra o que faz a demanda
agregada variar.

10-1 O MERCADO DE BENS E A CURVA IS


A curYa lS assi nala a relação entre a taxa de juros e o nível de menos produtos do que planejavam, o estoque automaticamen-
renda que ocorrem no mercado de bens e serv iços. Para desen- te aumenta; inversamente, quando as empresas vendem mais
\'olYer essa relação, começamos com um modelo básico, cha- do que o planejado, o estoque cai. Como essas mudanças n ão-
mado de cruz keynesiana. Esse modelo é a interpretação mais planejadas do estoque são contadas como gasto em investimen-
simples da teoria d a renda nacional de Keynes, sendo um de - to pelas emprésas, o gasto efetivo pode estar acima ou abaixo
grau b,bico para o modelo lS-LM, mais complexo e realista. do gasto planejado.
Considere agora os determinantes do gasto planejado. Par-
A CRUZ KEYNESIANA tindo do princípio de que a economia é fechada, o que faz com
que as exportações líquidas sejam zero, escrevemos o gasto pla-
Em A Teoria Geral, Keynes propôs que a renda total de uma nejado E como a soma de consumo C, investimento planejado
economia era, no curto prazo, determinada em grande parte pelo I e compras do governo G:
desejo de gastar das fa mílias, das empresas e do governo. Quan-
to mais as pessoas querem gastar, mais bens e serviços as empre- E= C + I + G.
,as podem \'ender. Quanto mais as empresas vendem, maior o
A esta equação acrescentamos a função de consumo
níYel de produção que escolherão, e mais trabalhadores optarão
ror contratar. Prntanto, o problema durante as recessões e as de- C = C (Y- T ).
pre,sfies era, seg und ~1 Keynes, gasto inadequado. A cruz
keynesia na é uma tentativa de modelar essa percepção. Esta equação enuncia que o consumo depende da renda dispo-
níve l (Y - T), que é a renda torai Y menos os impostos T. Para
Gasto Planejado Cpmeça mns a verificação da cruz simplificar, conside agora que o investimento planejado é de-
keynesiana traçando uma distinção entre gasto efeti\'o e gasto terminado de maneira exógena:
planeiado. O gasto efetivo é o montante que fa mílias, empresas
e governo gastam em bens e serviços; e, como vimos no Cap. I = T.
2, é igual ao produto interno bruto (PIB) da economia. O gasto
planejado é o montante que famílias, empresas e governo gos- E, tal como no Cap. 3, pressupomos que a política fiscal - os
tariam de gastar em bens e serviços. níveis de compras do governo e impost os - seja:
Por que o gasto efetivo sempre difere do gasto planej ado? A
resr osta é que as empresas podem se empenhar em um investi- G=G,
m en to de estoque n ão-plan e jado porque as vendas n ão T=T .
correspondem às expectativas. Quando as empresas vendem Combinando essas cinco equações, obtemos
l
DEMANDA AGREGADA! }79

Gasto
planejado, E

Renda, produto, Y

Fig. 10·2 Gasto Planejado como uma Função da Renda O gasto planejado depende da renda porque renda maior leva a consumo maior, o que
é parte do gasto planejado A inclinação função de gasto planejado é a propensão marginal a consumir, PMgC.

E= C(Y- T) + Y+ G. Essa suposição baseia-se na idéia de que, quando os planos das


pessoas são realizados, elas não têm motivo para mudar o que
Esta equação mostra que o gasto planejado é uma função da ren-
estão fazendo. Recordando que Y como PIB é igual não apenas
da Y, do nível de investimento planejado I e das variáveis de à renda total, mas também ao gasto total em bens e serviços,
política fiscal G e 'f .. podemos escrever essa condição de equilíbrio como
A Fig. 10-2 apresenta o gráfico de gasto planejado como uma
Gasto Efetivo = Gasto Planejado
função do nível de renda. É positivamente inclinada porque
Y= E.
uma renda mais alta leva a um consumo maior e a um gasto
planejado maior. A inclinação dessa reta é a propensão margi- A reta a 45 graus na Fig. 10-3 traça os pontos em que essa con-
nal a consumir, PMgC: mostra quanto o gasto planejado au- dição é válida. Com o acréscimo da funç~o de gasto planejado,
menta quando a renda sobe $1. Essa função do gasto planejado esse gráfico toma-se a cruz keynesiana. O equilíhrio dessa eco-
é a primeira peça do modelo que chamamos de cruz keynesiana. nomia está no ponto A, em que a função de gasto planejado
cruza a reta a 4 5 graus.
A Economia em Equilíbrio A próxima peça da cruz Como a economia alcança o equilíhrio? Neste modelo, os
keynesiana é a suposição de que a economia se encontra em estoques desempenham papel importante no processo de ajus-
equilíbrio quando o gasto efetivo é igual ao gasto planejado. te. Sempre que a economia não está em equilíhrio, as empresas

Gasto
planejado, E

Renda, produção, Y
Renda de
equilíbrio

Fig. 10-3 A Cruz Keynesiana O equilíbrio da cruz keynesiana está no ponto A em que a renda (gasto efetivo) é igual ao gasto planejado.
Ili"""'"'
'

180 CAPÍTULO I 0

experimentam mudanças não-planejadas em estoques, o que as planejado maior, para qualquer nível de renda dado. Se as com-
induz a mudar os níveis de produção. As mudanças da produ- pras do governo sobem áG, a curva de gasto planejado deslo-
ção, por sua vez, influenciam o gasto e a renda total, levando a ca-se para cima áG, como na Fig. 10-5. O equilíbrio da eco-
economia ao equilíbrio. nomia passa do ponto A para o ponto B.
Por exemplo, suponha que a economia se descobrisse um dia Esse gráfico mostra que um aumento das compras do gover-
com o PIB em um nível superior ao nível de equ ilíbrio, como o no leva a um aumento ainda maior da renda. Ou seja, llY é
nível Y1 na Fig. 10-4. Neste caso, o gasto planejado E 1 é menor maior que llG. A proporção 11 Y/ L1G é chamada de multiplica-
que o produto Y1; ou seja, as empresas estão vendendo menos dor de compras do governo; indica quanto a renda aumenta
do que produzem. As empresas acrescentam os bens não-ven- em resposta ao aumento de $1 das compras do governo. Uma
didos aos estoques. Esse aumento não-planejado nos estoques implicação da cruz keynesiana é que o multiplicador das com-
induz as empresas a dispensar trabalhadores e reduzir o produ- pras do governo é maior que 1.
to. Essas medidas, por sua vez, reduzem o PIB. Esse processo de Por que a política fiscal tem um efeito multiplicado na ren-
acumulação de estoque não-planejado e a queda de renda con- da? O motivo, segundo a função de consumo C = C(Y -T), é
tinuam até que a renda Y caia ao nível de equilíbrio.
que a renda maior acarreta consumo.maior. Quando um aumen-
De modo semelhante, suponha que o PIB esteja em um ní-
to das compras do governo faz a renda subir, também eleva o
vel inferior ao nível de equilíbrio, como o nível Y: na Fig. 10-
consumo, o que aumenta ainda mais a renda, o que aumenta
4. Nesse caso, o gasto planejado E, é maior que o produto Y,.
ainda mais ú consumo, e assim pnr diante . Portanto, nesse
As empresas atendem ao elevado nível de vendas pelo uso de
modelo, um aumentO nas compras do governo causa um aumen-
seus estoques. Mas, quando constatam que seus estoques estão
diminuindo, as empresas contratam mais trabalhadores e au- ro maior na renda.
mentam o produto. O PIB sobe e a economia se aproxima do Quão grande é o multiplicador? Para responder a essa per-
equilíbrio. gunta, acompanhe cada passo da mudança da renda. O proces-
Em suma, a cruz keynesiana mostra como a renda Y é de- so começa quando o gasto aumenta t.1G, o que faz com que a
terminada por níveis constantes de investimento J e pela po- renda também aumente ó.G. Esse aumento da renda, por sua
lítica fiscal G e T. Podemos aplicar esse modelo para mostrar vez, também eleva o consumo em PMgC X llG, em que PMgC
como a renda varia com a alteração de uma dessas variáveis é a propensão marginal ao consumo. Esse aumento do consu-
exógenas. mo eleva o gasto e a renda mais uma vez. Esse segundo aumen -
to da renda em PMgC X áG outra vez eleva o consumo, desta
Política Fiscal e o Multiplicador: Compras do Gover- vez em PMgC X (PMgC X áG), o que mais uma vez aumenta
no Considere como mudanças das compras do governo afetam o gasto e a renda, e assim por diante. Esse feedback de consumo
a economia. Como as compras do governo são um componen- para renda para consumo continua indefinidamente. O efeito
te do gasto, compras do governo maiores resultam em gasto ro tai sobre a renda é

Gasto, E Casto efetivo

Queda
Y, não-planejada
do estoque
E1 · · · faz renda
subir.

Acumulação
não-planejada
de estoque
faz a renda
cair.

Y1 Renda, produto, Y
Renda de
equilíbrio

Fig . 10-4 O Ajuste ao Equilíbrio na Cruz Keynesiana Se as empresas estivessem produzindo no nivel Y,, o gasto planejado E: ficaria aquém dó
produto e as empresas acumulariam estoques. Essa acumulação de estoques induziria as empresas a reduzirem o produto. De modo semelhante, se
as empresas estivessem produzindo no nível Y2 , o gasto planejado E 2 superaria o produ to e as empresas esgotariam seus estoques. Essa queda dos
estoques induziria as empresas a aumentarem o produto. Nos dois casos, as decisões das empresas levam a economia ao equilíbrio.
DEMANDA AGREGADA l 181

)m- Gasto, E
slo- ·,\
~co-

ver-
,Y é 1. Um aumento
ica- E, = y1 .. das compras do
~nta governo desloca /
Jma ogasto planejado
para cima ...
____:-,
I
..
om-
I .,
ren-
r), é
1en- Renda, produto, Y
ó.Y
va o
1
;>nta
E1 = Y1 2 . ... o que aumenta E =y
.esse a renda de equilíbrio . 2 2

ílen-
Fig. 10-5 Um Aumento das Compras do Governo na Cruz Keynesiana Um aumento das compras do governo em !:i.G aumenta no mesmo
per- montante o gasto planejado, para qualquer nível de preço dado. O equilíbrio passa do ponto A para o ponto B. e a renda sobe de Y. para Y:.
Kes- Cabe ressaltar que o aumento da renda !:i.Ysupera o aumento das compras do governo DG. Assim, a política fiscal tem um efeito multiplicado
1ue a na renda.
r sua

,nsu-
nen- Mudança inicial das Compras do Governo = ó.G Essa expressão do multiplicador é um exemplo de uma série
fosta Primeira Mudança do Consumo = PMgC x ó.G geométrica infinita. Uma regra algébrica permite-nos escrever o
.enrn Segunda Mudança do Consumo = PMgC'X ó.G multiplicador como'
;u1no = PMgC 'X ó.G
Terceira Mudança do Consumo ó.Y/ó.G = 1/(1 - PMgC) .
feito
Por exemplo, se a propensão marginal a consumir é 0,6, o
multiplicador é
ó.Y/ó.G = 1 + 0,6 + 0,6 2 + 0,6 1 + ...
ó.Y = (1 + PMgC + PMgC + PMgC + ... )ó.G. = 1/ (1 - 0,6)
O multiplicadnr das contas do governo é
= 2,5.

ó. Y/ó.G = 1 + PMgC + PMgC 2 - PMgC 1 + ...

~Now mmemdrira: rro\·;unp:,; e~se re~ulrndn ;.1lg:ébiricn Ja seguinre mm1eiTi.l. Sej,1


z= l+x+x'+ ....
Multiplique ns Jnis b,lo, dessa t>q,,açãn por x:
x,=x+~º +x'+
Subtraia a seguncfa cquaçàu Ja rrimeira:

Rearrume esra última equação para obter


,(1 - xl = L
1émdo o que acarreta
nte, se
z = 1/(1 - x).
dados
Isso completa a pnwa.
182 CAPÍTULO 10

Nesse caso, um aumento de $1,00 das compras do governo ele- diminuição dos impostos. T ai como antes, a mudança inicial
va a renda de equilíbrio em $2,50. 1 de gasto, agora PMgC X t:i. T, é multiplicada porl/(1 - PMgc).
O efeito geral na renda da mudança dos impostos é
Política Fiscal e o Multiplicador: Impostos Considere
agora como as variações de impostos afetam a renda de equilí-
t:i.Y/t:i.T = -PMgC(l - PMgC) .
brio. Uma redução dos impostos em t:i.T aumenta imediatamen- Essa expressão é o multiplicador tributário, o total das mudan-
te a renda disponível Y -Tem t:i. T ; e, portanto, aumenta o ças da renda em resposta a uma mudança de $1 em impostos.
consumo em PMgC X fl T . Para qualquer nível de renda Y dado, Por exemplo, se a propensão marginal a consumir é 0,6, o
0 gasto planej ado é agora maior. Como a Fig. 10-6 mostra, a multiplicador tributário é
reta de gasto planejado desloca-se para cima em PMgC X t:i.T.
O equilíbrio da economia passa do ponto A para o ponto B.
t:i.Y/t:i.T = -0,6/(1 - 0,6) = -1,5.
Assim como um aumento das compras do governo tem um Neste exemplo, um corte de $1 em impostos aumenta a renda
efeito multiplicador na renda, o mesmo acontece com uma de equilíbrio em $1,50. 4

Gasto, E

1. Um corte dos
E1 = Y1 impostos desloca o
gasto planejado
para cima ...

Renda,
6Y
produ to, Y
1
2 . .. . o que aumenta
a renda de equilíbrio.

Fig . 10-6 Uma Redução de Impostos na Cruz Keynesiana Urna redução dos impostos em 1 Taumenta o gasto planejado, em PMgC X ~ T. para
qualquer nível de renda dado. O equilíbrio passa do ponto A para o ponto B. e a renda sobe de Y: para Y.: Outra vez, a política fiscal tem um efe ito
multiplicado na renda.

'Nora mcire1ntí riet1: ,, rnlalriplicadnr dn c,,mprn, de ~nwm,, é ,·,hridn rn1n mais faci lida,le qu,m,l,, Sé llSa um p,,ucn de dkuln. Comece cnm" equação
Y = C(t" - TJ + J + G.
1-hntendn T e J fix,is. diferencie para nhter

dY = C'dY + dG.

dY/dG = 1/( 1 - C').


É igual à equaçãn nn textn.
'Nora matemácica: w mn antes. n mul tiplica,lnr é nbtidn com mais facilidade pelo uso de um pouetl de cálculo. Comece pela equação
Y = C(Y - T) + J + G.
Mantendo I e G consrnrnes, diferenc ie parn nbter
dY = C'(dY - dT ),
e depois rearrume para encontrar
dY/dT = -C '/(l - C' ).
É a mesma coisa que a equação no texto.
DEMANDA AGREGADA T 183

icial ESTUDO DE CASO


~).
REDUÇÃO DE IMPOSTOS PARA ESTIMUIAR A ECONOMIA substancialmente mais trabalho e aumentam a oferta agregada
Quando John F. Kennedy tomou-se presidente dos Estados Uni- de bens e serviços. Os keynesianos, no entanto, enfatizam o
dos, em 1961, levou para Washington alguns dos mais brilhantes impacto dos cortes fiscais na demanda agregada. É bem prová-
lan. jovens economistas da época, para trabalharem no Conselho de vel que as duas posições tenham uma base de verdade: os cortes
,tos. Assessores Econômicos. Esses economistas, que haviam sido de impostos estimulam a oferta agregada ao melhorarem os incenti-
6, o instruídos na economia de Keynes, levaram idéias keynesianas vos aos trabalhadores, e expandem a demanda agregada ao aumen-
para as discussões de política econômica no mais alto nível. tarem a renda disponível da famz1ia.
Uma das primeiras propostas do conselho foi a expansão da Quando George W. Bush foi eleito presidente, em 2001, um
renda n acional por meio da redução dos impostos. Isso acabou importante elemento da sua plataforma era uma redução no
:nda levando a um corte substancial no imposto de renda de pesso- imposto de renda. Bush e seus assessores se apoiaram tanto na
as físicas e jurídicas, em 1964. O corte de imposto visava a esti· retórica dos economistas do lado da oferta quanto na dos
mular o gasto em consumo e investimento, levando assim a keynesianos para justificar sua política econômica. Durante a
níveis superiores de renda e emprego. Quando um repórter lhe campanha, quando a economia tinha um bom desempenho,
perguntou por que defendia um corte fiscal, Kennedy respon- eles argumentaram que taxas inferiores melhorariam os incen-
deu: "Para estimular a economia. N ão se lembra do seu curso tivos ao trabalho. Mas depois o crescimento econômico se
básico de economia!" desacelerou: o desemprego passou de 3,9% em outubro de 2000
Como os assessores econômicos de Kennedy previram, à para 4,5% em abril de 2001. O argumento mudou para a ênfa-
aprovação da redução de impostos seguiu-se um boom econô- se de que o corte fiscal estimularia o gasto e reduziria o risco de
mico. O crescimento no PIB real foi de 5,3 % em 1964 e de 6,0% recessão.
em 1965. A taxa de desemprego caiu de 5, 7% em 1963 para O Congresso aprovou o corte de impostos em maio de 200 l .
5,2% em 1964, e depois para 4,5% em 1965.; Em comparação com a proposta original de Bush, as taxas de
Os economistas continuam a debater a fonte desse rápido redução duraram menos no longo prazo. Mas acrescentou um
crescimento no início da década de 1960. Um grupo chamado abatimento de impostos imediato de $600 por família ($300
de economista do lado da oferta argumenta que o boom econô- para contribuintes solteiros), com a devolução ocorrendo no
mico resultou dos efeitos do incentivo ao corte nas taxas de verão de 2001. Coerente com a teoria keynesiana, o objetivo
imposto de renda. Segundo eles, quando os trabalhadores po- do abatimento era proporcionar um estímulo imediato à deman -
dem ficar com uma fração maior dos seus ganhos, fornecem da agregada.

para
A TAXA DE JUROS, O INVESTIMENTO E A financiar projetos de investimentos, um aumento da taxa de
juros reduz o investimento planejado. Em conseqüência, a fun-
·feito CURVA IS ção de investimento é negati\'amente inclinada.
A cruz keynesiana é apenas um degrau em n osso caminho para Para determinar como a renda muda quando a raxa de juros
o modelo lS-LM. É útil porque mostra como os planos de gas- muda, podemos combinar a função de investimento cmn o grá-
tos das famílias, das empresas e do governo determinam a ren- fico da cruz keynesiana. Como o investimento é inversament e
da da economia. Contudo, parte do pressuposto simplificador relacionado com a taxa de juros, um aumento na taxa de juws
de que o nível de investimento planejado l é constante. Como de r 1 parar: redu z a quantidade de investimenro de I(r 1) para
ressaltamos no Cap. 3, uma importante relação macroeconô- I(rJ. A redução do investimento planejado, por sua \'ez, des-
mica é que o investimento plan ejado depende da taxa de ju- loca a função de gasto planejado para baixo, como no painel
ros r. (h) da Fig. 10-7. A mudança da função de gasto planej ado faz
Para acrescentar ao nosso modelo essa relação entre taxa de com que o nível de renda caia de Y1 para Y2• Portanto, um au-
juros e investimento, escrevemos o nível de investimento pla- mento da taxa de juros reduz a renda.
nejado como A curva IS, apresentadà no painel (c) da Fig. 1O-7, sinte -
tiza essa relação entra a taxa de juros e o nível de renda. Em
1 = l(r).
essência, a curva IS combina a interação entre r e I , expressa
Essa função de investimento é apresentada no painel (a) da Fig. pela função de investimento, e a interação entre l e Y, demons-
10- 7. Como a taxa de juros é o custo de tomar emprestado para trada pela cruz keynesiana. Como um aumento da taxa de

'Para uma análise do corte de impostos de 1964 por um d()S economistas de Kennedy, veja Arthur Okun, "Measuring thl' lmpact of che 1964 Tax Reduction", em W. W. Heller,
ed., Perspectives on Economic Growth (Nova York: Random House, 1968); reproduzido em Arthur M. Okun, Economic.1for Polic~making (Cambridge, MassachusettS: MIT Press.
1983), 405-423
184 CAPÍTULO 10

Fig. 10-7 Derivando a Curva IS O gráfico (a) mostra a (b) A Cruz Keynesiana
função investimento: um aumento da taxa dejuros der, para Gasto, E
ri reduz o investimento planejado de I(r1) para I(rz). O painel
(b) mostra a cruz keynesiana: uma redução do investimen- 3. ... o que Gasto
to planejado de I(r 1) para I{r,) desloca para baixo a função de desloca para efetivo
gasto planeJado. e assim reduz a renda de Y, para Y,. O grá- baixo o gasto
fico (c) mostra a curva IS sintetizando essa relação entre a planfjado...
taxa de juros e a renda quanto maior a taxa de juros. menor
o nível de renda.
planfjado

Y2.,-Y, Renda , produto, Y


\ 4. ... e reduz
a renda.
(e) A Curva JS
(a) A Função Investimento
Taxa de
Taxa de
juros, r
ju1-os, r
1. Um aumento
da taxa 5. A curva IS
/ dejuros ... sintetiza essas

~;e;;;:%i................... f. .
variações do
r.,. equilíbrio do
mercado de bens .
1
r 1 ... . ... . ...-... ... .... ... r,
p/anfjado, ...

: J./... IS
l(r)
Investimento, / Y +--Y1 Renda, produto, Y
1

juros acarreta queda ,lu inve stimento planejado, que, por sua Podemos utilizar a cruz keynesiana para verificar como ou-
vez, acarreta queda da renda, a curva IS é negativamente in- rras mudanças da política fiscal alteram a curva IS . Visto que uma
clinada. redução nos impostos também expande o gasto e a renda, tam-
bém desloca a curva IS para fora . Uma redução das compras do
gnvemo ou um aumento dos impostos reduzem a renda; portanto,
COMO A POLÍTICA FISCAL ALTERA A essa mudança da política fiscal desloca a curva IS para dentro.
CURVA IS Em suma, a curtia IS mostra as combinaçõe.s da taxa de juros e
do nível de renda que são coerentes com o equiUbrio no mercado de
A curva lS mostra-nos, para qualquer taxa de jurns dada, l1 ní- bens e serviços. A curva IS é desenhada a uma política fiscal dada.
\'el de renda que pi'"ie e m equilíbrio o mercado de bens. Com\l Mudanças da política fiscal que aumentam a demanda por bens e
aprendemos da cru;: keynesiana, n nÍ\·el de renda tamhém de- serviços deslocam a curva IS para a direita. Mudanças da política
pende da política fiscal. A curya [Sé rraçada para uma política fiscal que reduzem a demanda por bens e serviços deslocam a curva
fiscal dada; ou seja, quando construímos a cun'a IS, mantemos
IS para a esquerda.
G e T constantes. Quando a política fiscal muda, a curva IS é
deslocada.
Na Fig. 10-8 utilizamos a cruz keynesiana para mústrar como UMA INTERPRETAÇÃO DA CURVA IS A
um aumento das compras do goven10 de tl.G desloca a curva PARTIR DOS FUNDOS EMPRESTÁVEIS
IS. A figura é projetada para uma taxa de juros dada r, e, por
conseguinte, para um nível de investimento planejado dado. Quando estudamos pela primeira vez o mercado de bens e ser-
A cruz keynesiana mostra que essa mudança da política fiscal viços, no Cap. 3, destacamos uma equivalência entre oferta e
aumenta o gasto planejado, o que aumenta de Y1 para Y2 a ren- demanda de bens e serviços e oferta e demanda de fundos
da de equilíbrio. Portanto, um aumento das compras do gover- emprestáveis. Essa equivalência proporciona outro meio de in,
no desloca a curva IS para fora. terpretação da curva IS .

.............
DEMANDA AGREGADA 1 185

(a) A Cruz Keynesiana


Gasto, E
1. Um aumento das compras
do governo desloca o gasto
planejado para cima em 6-G, ...

2 . .. . o que
aumenta a 6-G
renda em
1 - PMgC

Renda, produto, Y

(b) A Curva IS
Taxa de juros, r

3 . ... e desloca
a curva IS para
a direita em
~G
1- PMgC

ou-
ltna
am-
s do
Y,----Y 2 Renda, produto, Y

nto, Fig. 10-8 Um Aumento das Compras do Governo Desloca a Curva IS para Fora O painel (a) mostra que um aumento das compras do go-
verno eleva o gasto planejado. Para qualquer taxa de Juros dada. o deslocamento para cima do gasto planejado em ;lG leva a um aumento da renda
·ose Yem l.lG/(1 - PMgC). Assim, no gráfico (b). a curva IS desloca-se esse montante para a direita.
ode
ufa.
ns e
ítica
mia
Lembre-se de que a identidade de coma da renda nacional Y - C(Y - T) - G = I(r).
pode ser escrita como
O lado esquerdo desta equação mostra que a oferta de fundos
Y-C-G=I emprestáveis depende da renda e da política fiscal. O lado di-
S = I. reito mostra que a demanda por fundos emprestáveis depende
O lado esquerdo desta equação é a poupança nacional S e o lado da taxa de juros. A taxa de juros ajusta-se para equilibrar a oferta
direito é o investimento 1. A poupança nacional representa a e a demanda desses fundos.
ser- oferta de fundos emprestáveis, e o investimento representa a Como a Fig. 10-9 ilustra, podemos interpretar a curva IS
ta e demanda por esses recursos. como mostrando a taxa de juros que equilibra o mercado de
,dos Para entender como .o mercado de fundos emprestáveis gera fundos emprestáveis, para qualquer nível de renda dado. Quan-
'. in- ª. curva IS, substitua a função consumo por C e a função inves- do a renda aumenta de Y 1 para Y2, eleva a poupança nacional,
timento por I: que é igual a Y- C - G. (O consumo aumenta menos que a

186 CAPÍTIJLO 1O

(a) O Mercado de Fundos Emprestáveis (b) A Curva IS


Tax;t de juros, r Taxa de
juros, r 3. A curva IS
sintetiza essas
mudanças.
1. Um aumento na
renda eleva a
r, poupança, .. .
r,
~ . . .. . .. . .. .

2 . ... fazendo l(r) IS


caira taxa Investimento, Renda,
de juros. poupança, 1, S produto, Y

Fig. 10-9 Uma Interpretação da Curva IS Através dos Fundos Emprestáveis O painel (a) mostra que um aumento ca renda de Y: para Y2
aumenta a poupança, e com isso diminu i a taxa de juros que equilibra a oferta e a demanda de fundos emprestáveis. A curva IS do gráfico (b) expres-
sa essa relação negativa entre renda e taxa de juros.

renda, porque a propensão marginal a consumir é inferior a 1.) dado. A oferta reduzida de recursos emprestáveis aumenta a taxa
Como o painel (a) mostra, o aumento da oferta de fundos de juros que equilibra o mercado. Como a taxa de juros é agora
emprestáveis baixa de r 1 para r 2 a taxa de juros. A curva IS do mais alta para qualquer nível de renda dado, a curva IS deslo-
painel (b) sintetiza essa relação: renda maior acarreta poupan- ca-se para cima em resposta à mudança expansionista da polí-
ça maior, que, por sua vez, acarreta uma taxa de juros de equi- tica fiscal.
líbrio mais baixa. Por essa razão, a curva IS é negativamente Finalmente, cabe ressaltar que a curva IS não determina a renda
inclinada. Y nem a taxa de juros r. Em vez disso, a curva IS é uma relação
Essa interpretação alternativa da curva IS também explica entre Y e r que ocorre no mercado de bens e serviços; ou, de modo
por que uma mudança da política fi scal altera a curva IS . Um equivalente, no mercado de fundos emprestáveis. Para determi-
aumento nas compras do governo ou uma redução dos impos- nar o equilíbrio da economia, precisamos de outra relação entre
tos diminui a poupança nacional, para qualquer nível de renda essas duas variáveis de que passamos a tratar agora.

10-2 O MERCADO MONETÁRIO E A CURVA LM


A curva LM representa a relação en:tre a taxa de juros e o nível xes monetários reais. A teoria da preferência pela liquidez pres-
de renda que l)Corre no mercado monetário. Para compreen- supõe que há uma oferta fixa de encaixes monetários reais. Ou
der essa relação, começaremos pelo exame de uma teoria da taxa seja,
de juros, chamada de teoria da preferência pela liquidez.
(MI P)' = M IP.
A TEORIA DA PREFERÊNCIA PEIA LIQUIDEZ A oferta monetária M é uma variável exógena de política eco-
nômica, escolhida por um banco central, como o Federal Re,
Em sua obra clássica A Teoria Geral, Keynes apresentou sua serve dos Estados Unidos. O nível de preços P também é uma
visão da maneira como a taxa de juros é determinada no curto variável exógena nesse modelo. (Tornamos como dado o nível
prazo. Essa explanação é chamada de teoria da preferência pela de preços porque o modelo IS-LM - nosso principal objetivo
liquidez, porque postula que a taxa de juros ajusta-se para equi- neste capítulo - explica o curto prazo, quando o nível de pre-
librar a oferta e demanda do ativo mais líquido da economia: a ços é fixo.) Esses pressupostos indicam que a oferta de encai-
moeda. Assim como a cruz keynesiana é uma base para a cons- xes monetários reais é fixa e, de modo geral, não depende da
trução da curva IS, a teoria da preferêneia pela liquidez é uma taxa de juros. Assim, quando traçamos a oferta de encaixes mo-
base para a construção da curva LM. netários reais contra a taxa de juros, na Fig. 10-10, obtemos uma
Para desenvolver essa teoria, comecemos pela oferta de en- curva de oferta vertical.
caixes monetários reais. Se M representa a oferta monetária e A seguir, considere a demanda por encaixes monetários re-
P representa o nível de preços, então M/P é a oferta de encai- ais. A teoria da preferência pela liquidez postula que a taxa
DEMANDA AGREGADA I 187

Taxa de juros, r

Taxa de
juros de
equillhrio

Demanda, L(r)
M/P Encaixes monetários reais, M/P

Fig. 10-10 A Teoria pela Preferência de Liquidez A oferta e a demanda de encaixes monetários reais determina a taxa de juros. A curva de
oferta de encaixes monetários reais é vertical, porque a oferta não depende da taxa de Juros. A curva de demanda é negativamente inclinada, porque
uma taxa de juros maior aumenta o custo de se reter moeda, e assim reduz a quantidade demandada. À taxa de juros de equilíbrio, a quantidade de
encaixes monetários reais demandada é igual à quantidade ofertada.

3.
de juros é um determinante de quanta moeda as pessoas op- manda. As pessoas que retêm o excesso de oferta monetária
3.
tam por reter. O motivo é que a taxa de juros é o custo de opor- tentam converter uma parte da sua moeda, que não rende ju-
tunidade de reter moeda: é aquilo a que você renuncia ao ros, em aplicações com rendimentos. Os bancos e os emissores
manter uma parte de seus ativos corno moeda, o que não ren- de títulos, que preferem pagar taxas de juros mais baixas, rea-
de juros, em vez de colocá-los em depósitos bancários ou fun- gem a esse excesso de oferta monetária com a redução das ta-
~
dos, que rendem juros, Quando a taxa de juros aumenta, as xas de juros que oferecem. Inversamente, se a taxa de juros está
)

)
pessoas querem manter menos da sua riqueza em forma de abaixo do nível de equilíbrio, de modo tal que a demanda por
moeda. Podemos escrever a demanda por encaixes monetári- moeda supera a oferta, as pessoas tentam obter moeda pela
os reais como venda de títulos ou retirando o que têm no banco. Para atrair
recursos, agora mais escassos, os bancos e os emissores de títu-
(M/P).i = L(r),
los reagem com o aumento das taxas de juros que oferecem.
em que a função L( ) mostra que a quantidade de moeda de- Eventualmente, a taxa de juros alcança o nível de equilíbrio,
mandada depende da taxa de Juros. Assim, a curva de deman- ao qual as pessoas estão satisfeitas com suas carteiras de ativos
da da Fig. 10-10 é negativamente inclinada porque a taxa de monetários e não-monetários.
juros maior reduz a quantidade demandada de encaixes mone- Agora que já vimos como a taxa de juros é determinada,
tários reais. 6 podemos recorrer à teoria da preferência pela liquidez para
l Segundo a teoria da preferência pela liquidez, a oferta e a mostrar como a taxa de juros reage a mudanças da oferta mo-
demanda de encaixes monetários reais determinam qual taxa netária. Suponha, por exemplo, que o Banco Central subita-
de juros prevalece na economia. Ou seja, a taxa de juros ajus- mente diminua a oferta monetária. Uma queda de M reduz M/
ta-se para equilibrar o mercado monetário. Como a figura mos- P, porque P é constante no modelo. A oferta de encaixes mo-
tra, à taxa de juros de equilíbrio, a quantidade de encaixes netários reais desloca-se para a esquerda, como na Fig. 10-11.
monetários reais demandada é igual à quantidade ofertada. A taxa de juros de equilíbrio aumenta de r 1 para r2 , e a taxa de
l Como a taxa de juros alcança esse equilíbrio de oferta e juros maior faz com que as pessoas rerenham menos encaixes
demanda de moeda? O ajuste ocorre porque as pessoas, sempre monetários reais. O oposto ocorreria se o Banco Central subi-
que o mercado monetário não está em equilíbrio, tentam ajus- tamente aumentasse a oferta monetária, Assim, segundo a te-
tar suas carteiras de ativos e, no processo, alteram as taxas de oria da preferência pela liquidez, uma redução da oferta mone-
juros. Por exemplo, se a taxa de juros está acima do nível de tária aumenta a taxa de juros, e um aumento da oferta mone-
l equilíbrio, a oferta de encaixes monetários reais supera a de- tária baixa a taxa de juros.

' Observe que r está sendo usado para indicar a raxa de juros aqui, como também ocorreu no exame anterior da curva IS. Mais precisamente, é a taxa de juros nominal que
determina a demanda por moeda, e a taxa de juros real que determina o investimento. Para simplificar as coisas, estamos ignorando a inflação esperada, que cria a diferença entre
as taxas de juros real e nominal. O papel da inflação esperada no modelo 1S-LM é estudado no Cap. 11.
p

188 CAPITULO lO

Taxa de juros, r

1. Uma
queda da
oferta
monetdria ...

ri ... , ....... ... . ....... . .

rl
2.... aumenta
a taxa de juros.
1

M / P +--M,!P Encaixes
monetários
reais, M/ P

Fig . 10-11 Uma Redução da Oferta Monetária na Teoria da Preferência pela Liquidez Se o nível de preço é constante, uma reduçào da
oferta monetária de M para M reduz a oferta de encaixes monetários real. A taxa de juros de equilíbrio. portanto, sobe der parar .

ESTUDO DE CASO
0 APERTO MONETÁRIO DE PAUL VOLCKER AUMENTOU ca monet;iria haixaría a inflação , o que, por sua \'ez, leYaria a
OU REDUZIU A TAXA DE JUROS? uma redução das taxas de juros nominais. Contudo, a teoria da
N o início da década de 1980 verificou-se a maior e mais dpida preferênc ia pela liquidez pre\·ê que, n o curto prazo, quando os
redução da inflação na história recente dns Estados Unidos. Ao preços sfü1 rígidos, a política monetúria ant iinflac iomiria leva-
fi n al da década de 1970, a inflação alcançara a casa dos dois ria a uma qL1eda dos encaixes mon etfüios rea is e a taxas de ju-
dígitos; em 1979, os preços ao cnnsumidnr estaYam aumentan- ros nominais mais elevadas.
do a uma taxa de 11 ,YX, ao ano. Em outuhrn de 1979, apen as As duas cnnclL1sões são coe rentes com ns fatos. As taxas de
do is meses depois de se tornar presidente Jn Federal Reser\'e, jllrns no minais caíram na décaJa J e 1980, à medida que a in-
Paul V olcker anunciou que a política 1n.metária norte -ameri- thção diminuía . Mas, comp,1rando o ano anteril>r ao anúncio
can a visaria a reduzir a rnxa de inflação. Esse anúncio inic io u de uurubro de 1979 e nano poste rim, de,cohrimos que llS en-
um pe ríodo de aperto monet,írio que , por \'olta de 1983, redu- caixes mon et,frios reais (M l di\'idido pelo IPC) caíram 8,3% e
ziu a rnxa de inflação parn cerca de 3'Xi. a rnxa de juros no minal (empréstimos comerciais de curto pra-
Como um aperto monet,hio influencia as taxas Je juros? Se- zo) aumentaram de l O, l 'X1 para 11 ,9%. Portanto , um aperto
gundo as teori as que te mos desen"oh-ido, a resposta depenJe mon erúrio leva a taxas de jurn, nominais ma is ha ixas no longo
do horizonte de tempo. Nnssa análise do efeito Fisher, n o Cap. prazo, mas tamhém acarrern taxas de juros n om inais m ais a ltas
4, sugere q ue, no longo pram, a mud,1nça de Volcker na po líti - nn cu rto prazn.
L___ _ __ _ _

RENDA, DEMANDA POR MOEDA E A CURVA LM (M/P)'1 = L(r, Y).

Tendo desenvolvido a teoria da preferência pela liquidez como A demanda por encaixes monetários reais é negati vamente
uma explicação para o que determina a taxa de juros, podemos relacionada com a taxa de juros e posit irnme nte relacionada
agora aplicar a teoria para obter a curva LM . Comecemos por com a renda.
considerar a seguinte questão: como uma mudança do nível de Usando a teoria da preferência pela liquidez, podemos cal-
renda Y da economia afeta o mercado de encaixes monet ários cular o que acontece com a taxa de juros de equilíbrio quando
reais? A resposta (que já deve ser conhecida , do Cap. 4) é que o nível de renda muda . Pense, por exemplo, no que acontece
o nível de renda afe ta a demanda por m oeda. Quando a renda na Fig. 10-12 quando a renda aumenta de Y1 para Y2• Como o
é alta, o gasto é alto; por isso, as pessoas efetuam mais tran sa- gráfico (a) ilustra, esse aumento da renda desloca a curva de
ções que exigem o uso de moeda. Assim, uma renda maior acar- demanda por moeda para a direita. Com a oferta de en caixes
reta uma demanda por moeda maior. Podemos expressar essas monetários reais inalterada, a taxa de juros deve subir de r 1 para
idéias escrevendo a função de demanda por moeda como r 2, a fim de equilibrar o mercado mon etário. Portanto, segun-
DEMANDA AGREGADA l 189

do a teoriá da preferência pela liquidez, renda maior leva a uma UMA INTERPRETAÇÃO DA CURVA LM
taxa de juros maior.
A curva LM traça essa relação entre o nível de renda e a ATRAVÉS DA EQUAÇÃO QUANTITATIVA
taxa de juros. Quanto maior o nível de renda, maior a deman- Quando estudamos pela primeira vez a demanda agregada e a
da por encaixes monetários reais, e maior a taxa de juros de determinação da renda no curto prazo, no Cap. 9, obtivemos a
equilíbrio. Por esse motivo, a curva LM é positivamente incli- curva de demanda agregada da teoria quantitativa da moeda.
nada, como no gráfico (b) da Fig. 10-12. Descrevemos o mercado monetário com a equação quantitati-
va,

COMO A POLÍTICA MONETÁRIA DESLOCA A MV = PY,


CURVALM e pressupomos que a velocidade V seja constante. Essa suposi-
A curva LM nos mostra a taxa de juros que equilibra o merca- ção implica que, para qualquer nível dado de preço P a oferta
do monetário a qualquer nível de renda. Contudo, como vi- monetária M, por si mesma, determina o nível de renda Y. Visto
mos antes, a taxa de juros de equilíbno também depende da que o nível de renda não depende da taxa de juros, a teoria
oferta encaixes monetários reais, M/P. Isso significa que a cur- quantitativa é equivalente a uma cur\'a LM vertical.
va LM é traçada para uma dada oferta de encaixes moner.irios Podemos derivar a cur\'a LM mais realista, positivamente
reais. Se h .'í uma ,·ariaçiiu dm saldos de dinheiro real - por inclinada. da equação quantitativa ao relaxarmos a suposição
a exemplo, se ,) E.meu Central altera a oferta munetária - , ,l de que a velocidade é constante. A suposição de velocidade
curva LM se desluca. constante haseia-se na conjectura de que a demanda por en-
Podemos usar ,1 teoria ,.fa preferênci,1 pela liquidez pm,1 co m- caixes monet,hios reais sô depende do nível de renda. Contu-
preender como a políricn monetMia afeta a cur\·a LM. Supo- do, como j,í. ressa ltamos no estudo do modeln da preferência
nha 4ue o Bancu Central diminua a, ifert,1 monetúria de M1/P rela liquidez, a demanda por encaixes monetários reais wm-
1
para M)P. A Fig. 10-11 mostra o que ac,1ntece. M,mtendn a hém depende da taxa de juros: uma taxa de juros maior <iumenta
a renda constante e, pnrtanrn, ,l cun·a de demanda por encaixes o custo d,1 retenção da moeda e reduz a demanda por moeda.
la monec.frios reais, vemos que uma redução da oferta de encai- Quando as pessoas reagem a uma taxa de juros maior retendo
)5
xes monet,hios reais aumenta a ta xa de j ums que equilihrn o menos mueda, cada d,ílar retido deve ser usado cqm mais fre-
1- mercado moner,frin. Pnrrnnt,1, uma redução da oferta monetá- qüência para sustentar um determinado volume de transações;
1- ria desloca para cima n cun·a LM. o u seja, a velocidade da moeda deve aumentar. Podemos es-
Em suma, a curm LM mostra as combinações de taxa de juros cre\·er isso comn
le e nível dl! renda que .sao coerenres com o eqiúlrhrio do mercado de
l-
encaixes monetários rcai.1. A cun,a LM é traçad.Li para uma deter-
MV(r) = PY.
io minada oferta de encaixes monetários reais. As reduç<1es da oferta A funçfü i de \·elncidade V(r) indica que a velocidade é positi-
1-
de encaixe:; monetários reais deslocam a curl'a LM para cima. Os vmnente rebcinnada com a taxa de juros.
e aumemos da ofena de encaixes monetário., 1ú1Ís deslocam a currn fas,1 forma d,1 equaçãt1 4uantitariva gera uma curva LM posi-
a- LM para haixu. tí\·amente inclinada. Cnmn um aumento da taxa de juros eleva
to
~o
as
(a) O Mercado de Encaixes Monetários Reais (b) A Curva LM
_J Taxa de juros, r Taxa de
juros, r lM
1. Um aumento da
renda eleva a
demanda por moeda, ...
. . . . . , , . , , . . . . • . . . . . . . . r2 ....
3. A curva LM
,te sintetiza essas
da variações do
.. r, .. equilíbrio do
al- mercado monetário.
2 . ...
do
aumentando
,ce a taxa de M/P Encaixes Y2 Renda, produto, Y
)o juros. monetários
de reais, M/P
{eS
Fig, 10-12 Derivando a Curva LM O gráfico (a) mostra o mercado de encaixes monetários reais: um aumento da renda de Y. para Y2 eleva a de-
ira manda por moeda, e com isso aumenta der parar, a taxa de juros. O gráfico (b) mostra a curva LM sintetizando essa relação ~ntre a taxa de juros
1n- e a renda: quanto maior o nível de renda, maior a taxa de juros.
- 190 CAPÍTULO 10

(a) O Mercado de Encaixes Monetários Reais (b) A Curva LM


Taxa de juros, r Taxa de
juros, r

1. O Banco
Central reduz r2 ..•..•...
a oferta 3 . ... e
2 . ... deslocando a
aumentando r, curva LM
a taxa para cima.
de juros ... L(r, Y)
M/ P M 1/ P Encaixes y Renda, produto, Y
monetários
reais, M/ P

Fig. 10-13 Uma Redução da Oferta Monetária Desloca a Curva LMpara Cima O gráfico (a) mostra que, para qualquer nível de renda y dado,
uma redução da oferta monetária aumenta.a taxa de juros que equilibra o mercado monetário. Por isso, a curva LM do painel (b) desloca-se para
cima.

a velocidade da moeda, também aumenta o nível de renda para interpretação da curva LM através da teoria quantitativa é a
qualquer oferta monetária e nível de preço dados. A curva LM mesma, em termos substantivos, apresentada pela teoria da
expressa essa relação positiva entre a taxa de juros e a renda. preferência pela liquidez. Nos dois casos, a curva LM represen-
Esta equação também mostra por que as variações da oferta ta uma relação positiva entre renda e taxa de juros que tem
monetária alteram a curva LM. Para quaisquer taxa de juros e origem no mercado monetário.
nível de preço dados , a oferta monetária e o nível de renda de- Finalmente, devemos ter em mente que a curva LM, por
vem se mover juntos. Assim, os a~tmentos da oferta monetária si só, n ão determina a renda Y nem a taxa de juros r que
deslocam a curva LM para a direita, e as reduções da oferta mo - vão prevalecer na economia. Tal como a curva IS, a curva
netária deslocam a curva LM para a esquerda. LM é apenas uma relação entre essas duas variáveis endóge-
É preciso lembrar que a equação quantitativa é apenas ou- nas. Juntas, as curvas IS e LM determinam o equilíbrio da
tro meio de expressar a teoria que há por trás da curva LM. Essa economia.

10-3 CONCLUSÃO: O EQUILÍBRIO NO CURTO PRAZO


Temos agora todas as peças do modelo IS-LM. As duas equa- interseção, o gasto efetivo é igual ao gasto planejado, e a de-
ções desse modelo são manda por encaixes monetários reais é igual à oferta.
A o concluirmos este capítulo, recordaremos que nosso
Y = C(Y - T) + l(r) + G IS,
principal objetivo no desenvolvimento do modelo IS-LM é
M/P = L(r, Y) LM.
analisar as osci lações da atividade econômica no curto pra-
O modelo toma como exógenos a política fiscal, G e T , a polí- zo. A Fig. 10-15 ilustra como as diferentes peças da nossa
tica monetária M , e o nível de preços P. Com essas variáveis teoria se aj ustam. Neste capítulo, desenvolvemos a cruz
exógenas, a curva IS apresenta as combinações der e Y que keynesiana e a teoria da preferência pela liquidez como
satisfazem a equação que representa o mercado de bens, enquan- fundamentos para o modelo IS-LM. Como veremos mais
to a curva LM apresenta as combinações de r e Y que satisfa- plenamente no próximo capítulo, o modelo IS-LM ajuda a
zem a equação que representa o mercado monetário. Essas duas explicar a posição e a inclinação da curva de demanda agre-
curvas são apresentadas juntas n a Fig. 10-14. gada . Essa curva de demanda agregada, por sua vez, é uma
O equilíbrio da economia é o ponto em que a curva IS e a peça do modelo de oferta agregada e demanda agregada, que
curva LM se cruzam. Esse ponto dá a taxa de juros r e o nível os economistas utilizam para explicar os efeitos no curto
de renda Y que satisfazem as condições para o equilíbrio no mer- prazo de mudanças da política econômica e outros eventos
cado de bens e no mercado monetário. Em outras palavras, nessa sobre a renda nacional.
T DEMANDA AGREGADA 1 191

Taxa de juros, r

Taxa de
juros de
equi/{brio

IS

Nfvel de renda Renda, produto, Y


), de equilibrio
a
Fig. 10-14 Equilíbrio do Modelo IS-LM A interseção das curvas IS e LM representa o equilíbrio sirnultãneo no mercado de bens e serviços e no
mercado de encaixes monetários reais. para valores dados de gasto dq governo. impostos . oferta monetária e nível de preços.

a RESUMO
a
1. A cruz keynesiana é um modelo básico de determinação de juros maior reduz o investimento planejado, o que, por sua vez,
(l renda. Toma a política fiscal e o investimento planejado reduz a renda nacional. A inclinação negativa da curva IS sin-
como exógenos, e depois mostra que há um nível de renda tetiza essa relação negativa entre a taxa de juros e a renda.
r nacional em que o gasto efetivo é igual ao gasto planejado.
3. A teoria da preferência pela liquidez é um modelo básico da
e Mostra também que as mudanças da política fiscal têm um
determinação da taxa de juros. Considera exógenos a oferta
a impacto multiplicado sobre a renda.
monetária e o nível de preços, e pressupõe que a taxa de ju-
a 2. Uma vez tenhamos admitido que o investimento planejado ros ajusta-se para equilibrar a oferta e a demanda de encai-
dependa da taxa de juros, a cruz keynesiana apresenta uma xes monetários reais. A teoria indica que os aumentos da
relação entre a taxa de juros e a renda nacional. Uma taxa de oferta monetária reduzem a taxa de juros.

o Curva de
é Mcideló Demanda
,- IS-LNf . Agre~da Modelo de
a Oferta
.Z Agregada e
o Demanda
Curva de Agregada
.S
a Oferta
Agregada
a
e Fig. 10-15 A Teoria de Oscilações no Curto Prazo Este diagrama esquemático mostra como se ajustam as diferentes peças da teoria de osci-
o lações no curto prazo. A cruz keynesiana explica a curva IS e a teoria da preferência pela liquidez explica a curva LM. Juntas as curvas IS e LM
IS proporcionam o modelo IS·LM, que explica a curva da demanda agregada, A curva da demanda agregada é parte do modelo de oferta agregada e
demanda agregada, que os economistas utilizam para explicar as oscilações da atividade econômica no curto prazo.
}92 CAPÍTULO 10

4, Tendo-se admitido que a demanda por encaixes monetári- 5. O modelo IS-LM combina os elementos da cruz keynesiana
os reais depende da renda nacional, a teoria da preferência e os elementos da teoria da preferência pela liquidez. A cur-
pela liquidez apresenta uma relação entre renda e a taxa de va IS mostra os pontos que satisfazem o equilíbrio do mer.
juros. Um nível de renda mais alto aumenta a demanda por cado de bens, enquanto a curva LM mostra os pontos que
encaixes monetários reais, o que, por sua vez, aumenta a taxa satisfazem o equilíbrio do mercado monetário. A interseção
de juros. A curva LM positivamente inclinada sintetiza essa das curvas IS e LM mostra a taxa de juros e a renda que sa-
relação positiva entre a renda e a taxa de juros. tisfazem o equilíbrio dos dois mercados.

". :·~-.

CONCEITOS-CHAVE
Modelo IS-LM Cmz keynesiana Multiplicador tributário
Curva IS lvlultiplicador de compras do governo Teoria da preferência pela liquidez
Curva LM

QUESTOES PARA REVISÃO


1. Utilize a cruz keynesiana para explicar por que a política ros. O que essa explicação pressupõe sobre o nível de pre-
fiscal tem um efeito multiplicado na renda nacional. ços?
2. Aplique a teoria da preferência pela liquidez para explicar 3. Por que a curva IS é negativamente inclinada?
por que um aumento dn oferta monetfaia reduz a taxa de ju· 4. Por que a curva LM é positivamente inclinada?

PROBLEMAS E APLICAÇÕES
1. Use a cruz keynesiana para prever o impacto de em que T e t são parâmetros do c6digo tributário. O parâme-
a. Um aumento das cmnrras do governo. tro r é a alíquota marginal; se a renda aumenta $1, os im-
h. Um aumenrn dos impost.ns. postos aumentam em t X $1.
c. Um aumento das cmnpras do governo e dos impostos. a. Como esse sistema tributário muda a maneira como o con·
2. Na cru: keynesiana, pressuponha que a função consumo é sumo reage a va riações do PIB?
dada por h. N a cruz keynesiana, como esse sistema fiscal altera o
multiplicador de compras do governo?
C = 200 + 0,75 (Y - T) e. No modelo IS~LM, como esse sistema fiscal altera a in-
O investiment1) planejado é 100; as cmnpr,1s de governo e clinação da curva IS?
os imrostus são l 00 cada. 4. Considere o impacto de um aumento da parcimônia na cruz
a. Mostre em grMico 1) gasto planejado como uma função keynesiana. Suponha que a função consumo seja
da renda.
h. Qual é o nível de renda de equilíbrio ? C =C +c(Y-T),
c. Se as compras do governo aumentam para 125, qual é a
nova renda de equilíhrio? em que C é um parâmetro chamado consumo autônomo e e
é a propensão marginal a consumir.
d. Que nível de compras do governo é necessário para se al-
a. O que acontece com a renda de equilíbrio quando a so-
cançar uma renda de 1.600?
ciedade se toma mais parcimoniosa, como representa um
3. Embora 'losso desenvolvimento da cruz keynesiana neste ca-
pít'..t~o pressuponha que os impostos sejam um montante fixo, declínio em e ?
em muitos países os impostos dependem da renda. Repre- b. O que acontece com a poupança de equilíbrio?
sentaremos o sistema tributário escrevendo a receita fiscal c. Por que você acha que esse resultado é chamado de para-
como doxo da parcimônia?
d. Esse paradoxo ocorre no modelo clássico descrito no Cap.
T= T + tY, 3? Por que sim, ou por que não?
DEMANDA AGREGADA I 193

ana 5, Suponha que a função de demanda por moeda seja b. Qual é a taxa de juros de equilíbrio?
:::ur- (M/P)d = 1.000 - lOOr, c. Pressuponha que o nível de preço seja fixo. O que acon-
ner- tece com a taxa de juros de equilíbrio se a oferta mone-
que em que r é a taxa de juros em porcentagem. A oferta mone- tária aumentar de 1.000 para 1.200?
~ção tária M é 1.000 e o nível de preços Pé 2. d. Se o Banco Central deseja aumentar a taxa de juros para
: sa- a. Mostre em gráfico a oferta e a demanda de encaixes mo- 7%, qual oferta monetária deve estabelecer?
netários reais.

pre-

ime-
; im-

con-

:ra o

.1 in-

cruz

to e e

aso-
a um

tiara-

Cap.
Capítulo 11

DEMANDA AGREGADA li

A ciencia é um parasita: quanto mai01· a população de paciente.~, melhor o avanço na fisiologia e na patologia; e da patologia
surge u terapia. O ano de 1932 foi o fundo do poço da grande depressão, e de seu solo apodrecido foi
tardiamente gerada uma 1wva disciplina, que hoje chamamos de macroeconomia.
- Paul Samuelson

No Cap. 1O, montamos as peças do modelo IS-LM. Vimos que a mos no Cap. 9. Em particular, examinaremos como o modelo
curva IS representa o equilíbrio do mercado de bens e serviços, IS-LM gera uma teoria sobre a inclinação e a posição da cur-
que a curva LM representa o equilíbrio do mercado de encaixes va de demanda agregada. Nesse ponto, relaxamos o pressu-
monetários reais e que, Juntas, as curvas JS e LM determinam a posto de que o nível de preços é constante, mostrando que o
taxa de juros e a renda nacional no curto prazo, quando o nível modelo IS-LM implica uma relação negativa entre o nível de
de preços é constante. Concentraremos agora nossa atenção na preços e a renda nacional. O modelo também pode nos dizer
aplicação do modelo JS-LM para analisar três questões. quais eventos deslocam a curva de demanda agregada, e em
Primeiro, examinaremos as causas potenciais das osc ilações que direção.
na renda nacional. Utilizaremos o modelo IS-LM para verifi- Terceiro, examinaremos a Grande Depressão da década de
car como as variáveis exógenas (compras do governo, impos- 1930. Como a citação inicial do capítulo indica, este episódio
tos e a oferta monetária) influenciam as variáveis endógenas gerou a teoria macroeconômica de curto prazo, pois levou
(a taxa de juros e a renda nacional) . Também estudaremos de Keynes e seus muitos seguidores a pensarem que a demanda
que maneira vários choques nos mercados de hens (a curva IS)
agregada era a chave para a compreensão das oscilações da renda
e no mercado monetário (a curva LM) afetam a taxa de juros e
nacional. Com o benefício da percepção posterior, podemos
a renda nacional no curto prazo.
adotar o modelo IS-LM para discutir as várias explicações des-
Segundo, debateremos como o modelo IS -LM ajusta-se ao
se traumático declínio econômico.
modelo de oferta agregada e demanda agregada que apresenta-

11-1 EXPLICAÇÃO DAS OSCIIAÇÕES COM O MODELO IS-LM


A interseção da curva IS e da curva LM determina o nível de Variações das Compras do Governo Considere um au-
renda nacional. Quando uma dessas curvas se desloca, o equi- mento das compras do governo de 6.G. O multiplicador de
líhrio de curto prazo da economia muda, e a renda nacional contas do governo da cruz keynesiana diz que, a qualquer taxa
oscila. Nesta seção, examinaremos de que maneira as mudan- de juros dada, essa mudança da política fiscal aumenta o nível
ças na política econômica e os choques na economia podem de renda em ó.G/(1 - PMgC). Portanto, como a Fig. 11-1
causar deslocamentos dessas curvas. mostra, a curva IS desloca-se essa quantidade para a direita. O
equilíbrio da economia passa do ponto A para o ponto B. O
aumento em compras do governo eleva tanto a renda quanto a
COMO A POLÍTICA FISCAL DESLOCA A taxa de juros.
CURVA JS E MUDA O EQUILÍBRIO DE Para compreender plenamente o que está acontecendo na
CURTO PRAZO Fig. 11-1, ajuda lembrar os fundamentos do modelo IS-LM,
apresentados no capítulo anterior, a cruz keynesiana e a teoria
Começamos pelo exame da maneira como as mudanças da da preferência pela liquidez. Aqui está a história. Quando o
política fiscal (compras do governo e impostos) alteram o equi- governo aumenta a aquisição de bens e serviços, o gasto plane-
líbrio de curto prazo da economia. Lembre-se de que as mudan- jado da economia sobe. O aumento do gasto planejado estimula
ças da política fiscal influenciam o gasto planejado, e com isso a produção de bens e serviços, o que faz subir a renda total Y.
deslocam a curva IS . O modelo IS-LM mostra como esses des- Esses efeitos já devem ser conhecidos, a partir da cruz
locamentos na curva IS afetam a renda e a taxa de juros. keynesiana.
DEMANDA AGREGADA II 195

Taxa de juros, r

ogia
o foi
nia.
lson
a taxa
ri
3 . ... e

de juros.
1. A curva IS desloca-se
para a direita em
il.G/(1 - PMgC) ...
2 . ..., o que
aumenta a _ _,__,.___ _ __ _ __
folo
renda ...
cur- Renda, produto, Y
ssu-
Fig. 11-1 Um Aumento das Compras do Governo no Modelo IS-LMUm aumento das compras do governo desloca a curva JS para a direita .
ue o
O equilíbrio passa do ponto A para o p onto B. A renda sobe de Y1 para Y; e a taxa de juros sobe de r 1 para r2.
:l de
lizer
: em
Pense agora no mercado monetário, tal como descrito pela direita nesse montante. O equilíbrio da economia passa do pon-
a de teoria da preferência pela liquidez. Como a demanda por moe- to A para o ponto B. O corte fiscal aumenta a renda e a taxa de
5dio da da economia depende da renda, o aumento da renda total juros. Mais uma vez, como a taxa de juros maior reduz o inves-
:vou eleva a quantidade de moeda demandada a cada taxa de juros. timento, o aumento da renda é menor no modelo IS-LM do que
mda A oferta monetária, no entanto, não mudou, e por isso a de- na cruz keynesiana.
~nda manda maior por moeda faz com que a taxa de juros de equilí-
,mos brio r suba.
Por sua vez, a taxa de juros mais alta que prevalece no mer- COMO A POLÍTICA MONETÁRIA DESLOCA A
des-
cado de dinheiro tem conseqüências no mercado de bens. CURVA LM E MUDA O EQUILÍBRIO DE
Quando as taxas de juros aumentam, as empresas fazem corres
CURTO PRAZO
em seus planos de investimento. Essa queda do investimento
compensa em parte o efeito expansionista do aumento das com- Examinemos agora os efeitos da política monetária. Lembre-
pras do governo. Assim, o aumento na renda, em reação a uma se de que uma variação na oferta monetária altera a taxa de juros
expansão fiscal, é menor no modelo IS -LM do que na cruz que equilibra o mercado de dinheiro, para qualquer nível de
l au- keynesiana (em que se pressupõe que o investimento seja fixo) . renda dado; e, com isso, desloca a curva LM. O modelo IS-LM
,r de Pode-se ver isso na Fig. 11 -1. O deslocamento horizontal da mostra como um deslocamento da curva LM afeta a renda e a
taxa curva IS é igual ao aumento da renda de equilíbrio na cruz taxa de juros.
1ível keynesiana. Esse montante é maior que o aumento da renda Considere um aumento da oferta monetária. Um aumento
11-1 de equilíbrio aqui, no modelo IS-LM. A diferença é explicada de M leva a um aumento dos encaixes monetários reais M/P ,
:a. O pela redução do investimento, causada por uma taxa de juros porque o nível de preços P é constante no curto prazo. A teo-
B.0 mais alta. ria da preferência pela liquidez mostra que, para qualquer ní-
:1toa vel de renda dado, um aumento dos encaixes monetários reais
Variações dos Impostos No modelo IS-LM , as variações leva a uma taxa de juros mais baixa. Assim, a curva LM deslo-
.o na dos impostos afetam a economia tanto quanto as variações das ca-se para baixo, como na Fig. 11-3. O equilíbrio passa do ponto
LM, compras do governo, exceto pelo fato de que os impostos afe- A para o ponto B. O aumento da oferta monetária reduz a taxa
~oria tam o gasto por meio do consumo. Considere, por exemplo, uma de juros e eleva o nível de renda.
do o diminuição dos impostos em 6.T. O corte fiscal estimula os Mais uma vez, para contar a história que explica o ajuste da
.ane- consumidores a gastarem mais, e com isso aumenta o gasto pla- economia do ponto A para o ponto B, nos basearemos nos fun-
mula nejado. O multiplicador fiscal da cruz keynesiana nos diz que, damentos do modelo IS-LM - a cruz keynesiana e a teoria da
al Y. ern qualquer taxa de juros dada, essa mudança da política fis- preferência pela liquidez. Desta vez, começamos pelo mercado
cruz cal aumenta o nível de renda em 6. T X PMgC/( 1 - PMgC). monetário, em que ocorre a ação da política monetária. Quan-
Portanto, como a Fig. 11-2 ilustra, a curva IS desloca-se para a do o Banco Central aumenta a oferta monetária, as pessoas têm
,. 196 CAPITULO ) 1

Taxa de juros, r

3 . ... ea
taxa de
juros.

/51
2 . ... , o que
aumenta
a renda ... Renda, produto, Y

Fig. 11-2 Uma Redução dos Impostos no Modelo IS-LMUma redução dos impostos desloca a curva IS para a direita. O equilíbrio passa do
ponto A para o ponto B. A renda sobe de Y1 para Y2 , e a taxa de juros sobe de r1 para r2.

mais moeda do que desejam reter à taxa de juros predominan- do os preços são rígidos, uma expansão na oferta monetária
te. Em conseqüência, elas passam a depositar essa moeda extra aumenta a renda. Mas não examinamos como uma expansão
em bancos, ou empregam-na na compra de títulos mobiliários. monetária induz um gasto maior em bens e serviços - proces-
so chamado de mecanismo de transmissão monetária. O mo-
A taxa de juros r cai, até que as pessoas estejam dispostas a re-
delo IS-LM mostra que um aumento da oferta monetária dimi-
ter toda a m oeda extra que o Banco Central criou; isso leva o
nui a taxa de juros, o que estimula o investimento e, com isso,
mercado monetário a um novo equilíbrio. A taxa de juros mais
expande a demanda de bens e serviços.
baixa, por sua vez, tem conseqüências no mercado de bens. Uma
taxa de juros mais baixa estimula o investimento planejado, o
que aumenta o gasto planejado, o produto e a renda Y. A INTERAÇÃO ENTRE POLÍTICA MONETÁRIA
Assim, o modelo IS-LM mostra que a política monetár ia
E POLÍTICA FISCAL
influencia a renda ao mudar a taxa de juros. Essa conclusão
esclarece alguma coisa da nossa análise da política monetária Quando se analisa qualquer mudança da política monetária ou
do Cap. 9. Nesse capítulo, mostramos que, no curto prazo, quan- fiscal , é preciso lembrar que os formuladores de política eco-

Taxa de juros, r

1. Um aumento da oferta
monetária desloca a
curva LM para baixo...
3 . ... e
reduza
taxa de juros.
JS
2 . ... , o que
aumenta a
renda ...
Renda, produto, Y

Fig. 11 ·3 Um Aumento da Oferta Monetária no Modelo IS-LMUm aumento da oferta monetária desloca a curva LM para baixo. O equillbrio
passa do ponto A para o ponto B. A renda sobe de Y, para Y2 e a taxa de. juros cai de r 1 para r2.
~
1

D EMANDA AGREGADA II 197

nômica que controlam esses instrumentos estão corucientes do gasto dos consumidores), assim como a taxa de juros (porque a
que fazem os outros formuladores de política econômica. Uma renda menor reduz a demanda por moeda). A queda da renda
mudança em uma política, portanto, pode influenciar outra, e indica que o aumento dos impostos causa uma recessão.
essa interdependência pode alterar o impacto de uma mudan- No painel (b), o Banco Central quer manter constante a
ça de política econômica. taxa de juros. Nesse caso, quando o aumento dos impostos
Suponha, por exemplo, que o Congresso decida aumentar desloca a curva IS para a esquerda, o Banco Central deve di-
impostos. Que efeito essa política terá na economia? Segundo minuir a oferta monetária, a fím de manter a taxa de juros no
o modelo IS-LM, a resposta depende da maneira como o Ban- nível original. Essa queda da oferta monetária desloca a cur-
co Central reage a esse aumento dos impostos. va LM para cima. A taxa de juros não cai, mas a renda cai um
A Fig. 11-4 mostra três dos muitos resultados possíveis. No montante maior do que ocorreria se o Banco Central manti-
gráfico (a), o Banco Central mantém constante a oferta mo- vesse constante a oferta monetária. Enquanto no gráfico (a)
netária. O aumento dos impostos desloca a curva IS para a es- a taxa de juros mais baixa estimulou o investimento e con-
querda. A renda cai (porque os impostos mais altos reduzem o trabalançou em parte o efeito contracionista do aumento dos

(a) O Banco Central Mantém a Oferta Monetária Constante (b) O Banco Central Mantém a Taxa de Juros Constante
Taxa de juros, r 2 . .. . mas, uma vez que o Taxa de juros, r 2 . ... e, para manter
do Banco Central mantém constante a taxa de

1. Um
aumento 1. Um
dos impostos aumento
desloca a dos impostos
.ria desloca a
curva IS ...
,ão curva IS. ..
es-
10-
ni- J
,so, 151

ou
:o-
- Renda, produto, Y

(c) O Banco Central Mantém a Renda Constante


------Renda, produto, Y

Taxa de juros, r 2 . ... e, para manter


a renda constante, o
1. Um Banco Central expande
aumento a oferta monetária.
dos impostos
altera a
curva IS ...

Renda, produto, Y

Fig. 11-4 A Reação da Economia a um Awnento dos Imposto A maneira como a economia reage.a um aumento dos impostos depende do
modo como a autoridade monetária reage. No gráfico (a), o Banco Central mantém a oferta monetária constante. No gráfico (b), o Banco Central
xio mantém a taxa de juros constante pela redução da oferta monetária. No gráfico (c), o Banco Central mantém o nível de renda constante pelo aumento
da oferta monetária.
198 CAPITULO 11

impostos, no gráfico (b) o Banco Central aprofunda a recessão, taxa de juros mais baixa estimula o investimento. A renda não
ao manter alta a taxa de juros. é afetada, porque esses dois efeitos se compensam exatamente.
No gráfico (c), o Banco Central quer evitar que o aumento Por esse exemplo, podemos compreender que o impacto de
dos impostos reduza a renda. Para isso, deve aumentar a oferta uma mudança da política fiscal depende da política que o Ban-
monetária, e deslocar a curva LM para baixo o suficiente para co Central procura- ou seja: se quer manter constante a oferta
contrabalançar o deslocamento da curva IS. Nesse caso, o au- monetária, a taxa de juros ou o nível de renda. Em termos mais
mento dos impostos não causa uma recessão, mas acarreta uma gerais, sempre que analisamos uma mudança em uma política
grande queda da taxa de juros. Embora o nível de renda não econômica, devemos fazer uma suposição sobre seu efeito na
mude, a combinação de um aumento dos impostos e uma ex- outra política econômica. A suposição mais apropriada depende
pansão monetária altera a distribuição de recursos da econo- do caso específico e das muitas considerações políticas que há
mia. Os impostos mais altos diminuem o consumo, enquanto a por trás da formulação de uma política econômica.

ESTUDO DE CASO - - - - - - - - - - - - - - .
ANÁLISE DE POLÍTICA ECONÔMICA COM MODELOS
MACROECONÔMICOS
~1i.it~~:~1:~,=~~~t~ââPoÍiiliça·~~~nó:M#fj
O modelo IS-LM mostra como a política monetária e a políti-
ca fiscal influenciam o nível de renda de equilíbrio. As predi- VALOR DOS
ções do modelo, no entanto, são qualitativas, não quantitati- MULTIPLICADORES
vas. O modelo IS-LM mostra que aumentos das compras do Pressuposto sobre Política Monetária ó.Ylt::.G ó.Yló.T
governo elevam o PlB, e que aumentos dos impostos diminu-
em o PlB. Mas, quando analisam propostas específicas de polí- Taxa de juros nominal mantida constante 1,93 - 1,19
tica econômica, os economistas precisam conhecer não apenas Oferta monetária mantida constante 0,60 -0,26
a direção do efeito, mas também o tamanho. Por exemplo, se o Observação: esta tabela dá os multiplicadores de política fiscal de uma
Congresso aumenta os impostos em $100 bilhões, e se a políti- mudança prolongada das compras do governo ou do imposto de renda sobre
ca monetária não for alterada, em quanto o PIB cairá? Para pessoa física. Esses multiplicadores referem-se ao quarto trimestre depois que
é efetuada a mudança da politica econômica.
responder a essa pergunta, os economistas precisam ir além da Fonte: Otto Eckstein, The DR! Model of the US. Economy (Nova York:
representação gráfica do modelo JS-LM . McGraw·Hill. 1983), 169.
Os modelos macroeconométricos da economia proporcio-
nam uma maneira de se avaliarem as propostas de política eco-
nômica. Um modelo macroeconométrico é um modelo que des-
creve a economia em termos quantitativos, em vez de apenas ção de investimento ein decorrência de uma taxa de juros que
qualitativos. Muitos desses modelos são essencialmente versões está mudando, os multiplicadores de política fiscal são simi la-
mais complicadas e mais realistas do n osso modelo IS-LM. Os res aos que se encontram na cruz keynesiana. O modelo DRI
economistas que constroem modelos macroeconométricos uti- indica que, nesse caso, o multiplicador de compras do governo
lizam dados históricos para estimar parâmetros, como a propen- é 1, 93, e o multiplicador fiscal é - 1, 19. Ou seja, um aumento
são marginal ao consumir, a sensibilidade de investimentos à de $100 bilhões das compras do governo eleva o PIB em $193
taxa de juros e a sensibilidade da demanda por moeda à taxa bilhões, e um aumento de $100 bilhões dos impostos baixa o
de juros. Uma vez construído um modelo, os economistas po- PlB em $119 bilhões.
dem simular os efeitos de políticas econômicas alternativas com O segundo pressuposto sobre a política monetária é que o
o auxílio de um computador. Banco Central mantém constante a oferta monetária para que
A Tabela 11-1 mostra os multiplicadores de política fiscal a curva LM não se desloque. Nesse caso, a taxa de juros sobe,
indicados por um modelo macroeconométrico amplamente enquanto o investimento diminui; com isso, os multiplicadores
utilizado, o modelo Dara Resources Incorporated (DRI), que são muito menores. O multiplicador de compras do governo é
tem o nome da empresa de previsões econômicas que o desen- apenas 0,60, e o multiplicador fiscal é apenas -0,26. Ou seja,
volveu. Os multiphcadores são dados por dois pressupostos so- um aumento de $100 bilhões das compras do governo eleva o
bre a maneira como o Banco Central pode reagir a mudanças PlB em $60 bilhões, e um aumento de $100 bilhões dos impos-
da política fiscal. tos reduz o PlB em $26 bilhões.
Um pressuposto sobre a política monetária é que o Banco A T abela 11-1 mostra que os multiplicadores de política
Central mantém constante a taxa de juros nominal. Ou seja, fiscal são muito diferentes sob os dois pressupostos de política
quando a política fiscal desloca a curva IS para a direita ou para monetária. O impacto de qualquer mudança da política fiscal
a esquerda, o Banco Central ajusta a oferta monetária para depende crucialmente da maneira como o Banco Central rea-
deslocar a curva LM na mesma direção. Como não h á conten- ge a essa mudança.
DEMANDA AGREGADA II 199

3.0 CHOQUES NO MODELO IS-LM consumidor na economia. Isso induz os consumidores a pou-
:e. parem menos para o futuro e consumirem mais hoje. Podemos
Uma vez que o modelo JS-LM mostra como a renda nacional é interpretar essa mudança como um deslocamento para cima da
:le
determinada no curto prazo, podemos utilizá-lo para examinar função de consumo. Essa alteração na função de consumo au-
n-
como várias perturbações econômicas afetam a renda. Até aqui, menta o gasto planejado e desloca a curva JS para a direita, o
ta
vimos como as mudanças da política fiscal alteram a curva IS, que aumenta a renda.
üs
e como as mudanças da política monetária alteram a curva LM.
ca Os choques na curva LM derivam de mudanças exógenas
De modo semelhante, podemos agrupar outras perturbações em na demanda por moeda. Suponha, por exemplo, que novas res-
:ta
duas categorias: choques na curva JS e choques na curva LM.
:le trições à disponibilidade de cartões de crédito aumentem a
Os choques na curva IS são mudanças exógenas da deman-
:tá quantidade de moeda que as pessoas optam por reter. Segundo
da por bens e serviços. Alguns economistas, inclusive Keynes,
a teoria da preferência pela liquidez, quando a demanda por
têm enfatizado que essas variações da demanda podem derivar
moeda aumenta, a taxa de juros necessária para equilibrar o
do instinto animal dos investidores - ondas exógenas e às ve-
mercado monetário toma-se maior (para qualquer nível dado
zes profecias auto-realizadas otimistas e pessimistas. Suponha,
por exemplo, que as empresas se tomem pessimistas quanto ao de renda e oferta monetária). Por isso, um aumento da deman-
1
futuro da economia, e que esse pessimismo as leve a construir da por moeda desloca a curva LM para cima, o que tende a
aumentar a taxa de juros e diminuir a renda.
,. menos fábricas novas. Essa redução na demanda de bens de
Em suma, vários tipos de eventos podem causar oscilações
investimento causa uma mudança contracionista da função
investimento: a cada taxa de juros, as empresas querem inves- econômicas ao alterar a curva IS ou a curva LM. Lembre-se,
tir menos. A queda do investimento reduz o gasto planejado e no enranro, que essas oscilações não são inevitáveis. Os
desloca a curva IS para a esquerda, reduzindo a renda e o em- formuladores de política econômica podem remar usar os ins-
prego. Essa queda da renda de equilíbrio valida em parte o pes- trumentos de política monetária e fiscal para compensar os
simismo inicial da empresa. choques exógenos. Se os formuladores de política econômica
Os choques na curva IS podem também derivar de variações forem bastante rápidos e hábeis (sem dúvida um enorme "se"),
da demanda por bens de consumo. Suponha, por exemplo, que os choques para as curvas JS ou LM não precisam causar a osci-
a eleição de um presidente popular aumente a confiança do lações da renda nem do emprego.

ESTUDO DE CASO
A CONTRAÇÃO ECONÔMICA DOS ESTADOS UNIDOS EM na subseqüente aos atentados, o mercado de ações caiu mais
2001 12%, a maior queda semanal desde a Grande Depressão na
Em 2001, a economia dos Estados Unidos experimentou uma década de 19 30. Além disso, os atentados aumentaram a in-
Je
acentuada redução da atividade econômica. A taxa de desem- certeza quanto ao futuro. A incerteza pode reduzir o gasto, por-
a- que as famílias e as empresas adiam alguns de seus planos até
{I
prego subiu de 3,9% em outubro de 2000 para 4,9% em agosto
de 200 l, e depois para 5,8% em dezembro de 2001. Sob muitos que a incerteza seja superada. Assim, os atentados terroristas
10
aspectos, a redução da atividade econômica parecia uma deslocaram a curva IS ainda mais para a esquerda.
to Os formuladores de política fiscal e monetária apressaram-
)3 recessão típica, impulsionada por uma queda da demanda agre-
gada. se em reagir a esses eventos. O Congresso aprovou um corte
o tributário em 2001, inclusive um abatimento tributário ime-
Dois notáveis choques podem ajudar a explicar esse even-
to. O primeiro foi um declínio do mercado de ações. Durante a diato. Um objetivo do corte fiscal era estimular o gasto dos
o consumidores. Depois dos atentados terroristas, o Congres-
década de 1990, o mercado de ações experimentou um boom
1e
de proporções históricas, à medida que os investidores se tor- so aumentou o gasto do governo, se apropriando dos recur-
e,
navam mais e mais otimistas quanto às perspectivas da nova sos para reconstruir Nova York e salvar as compnhias aére -
es
tecnologia de informação. Alguns economistas consideraram as. Essas duas medidas fiscais deslocaram a curva JS para a
é
a, na ocasião que o otimismo era excessivo. Era verdade. Quan- direita.
do o otimismo se desvaneceu, os preços médios das ações caí- Ao mesmo tempo, o Banco Central pôs em prática uma
o
s- ram em cerca de 25%, de agosto de 2000 a agosto de 2001. A política monetária expansionista, deslocando a curva LM para
queda do mercado de ações reduziu a riqueza das famílias, e com a direita. O crescimento dos meios de pagamento foi acelerado
:a isso o gasto dos consumidores. Além disso, as percepções e as taxas de juros caíram. A taxa de juros de títulos do Tesou-
:a declinantes da lucratividade das novas tecnologias levaram a ro de três meses caiu de 6,4% em novembro de 2000 para 3,3%
al uma queda do gasto de investimento. Na linguagem do mode- em agosto de 2001, e depois para 2,1 % em setembro de 2001,
a- lo IS-LM, a curva IS deslocou-se para a esquerda. na esteira imediata dos atentados terroristas.
O segundo choque foi causado pelos ataques terroristas em A magnitude da redução da atividade econômica em 2001
_J Nova York e Washington a 11 de setembro de 2001. Na sema- ainda não havia sido determinada quando este livro foi para
200 CAPÍTULO 11

impressão. A grande questão era saber se as medidas políticas fridos pela economia. No momento em que lê este livro, talvez
adotadas eram suficientes para contrabalançar os choques so- você já saiba a resposta.

QUAL É O INSTRUMENTO DE POLÍTICA mudanças da oferta monetária. Um jornal pode noticiar, por
exemplo, que "o Fed baixou as taxas de juros". Para ser mais
ECONÔMICA DO BANCO CENTRAL: A preciso, podemos traduzir essa declaração como significando que
ÜFERTA MONETÁRIA OU A TAXA DE JUROS? "o Federal Open Market Committee instruiu os operadores de
títulos do Fed a comprar títulos em operações de open-market,
Nossa análise da política monetária tem-se baseado no pressu-
a fim de aumentar a oferta monetária, deslocando a curva LM,
posto de que o Banco Central influencia a economia por meio
e reduzir a taxa de juros de equilíbrio para se alcançar um alvo
do controle da oferta monetária. Em contraste, quando a mídia
noticia mudanças da política do Banco Central, limita-se a dizer novo, mais baixo".
que essa instituição aumentou ou baixou as taxas de juros. O Por que o Banco Central opta por adotar uma taxa de juros
que é certo? Embora essas duas visões possam parecer diferen- em vez da oferta monetária como seu instrumento de política
tes, ambas são corretas, e é importante compreender por quê. de curto prazo? Uma resposta possível é que os choques na cur-
Em anos recentes, o Fed, Banco Central dos EUA, usou a va LM são mais prevalentes do que os choques na curva IS.
taxa de fundos federais - a taxa de juros que os bancos cobram Quando o Banco Central visa as taxas de juros, automatica-
uns dos outros para empréstimos da noite para o dia - como mente contrabalança os choques na LM pela alteração da oferta
instrumento de política de curto prazo. Quando o Federal Open monetária, mas a política exacerba os choques na IS. Se os
Market Committee se reúne, a cada seis semanas, para fixar a choques de LM constituem o tipo mais prevalente, uma políti-
política monetária, vota um alvo para essa taxa de juros, que ca econômica visando a taxa de juros leva a uma estabilidade
será aplicada até a próxima reunião. Depois que a reunião ter- econômica maior do que uma política que vise à oferta mone-
mina, os operadores de títulos do Fedem Nova York são ins- tária. (O Problema 7, ao final deste capítulo, pede para você
truídos a conduzir as operações de mercado aberto necessárias analisar essa questão mais a fundo.)
para se alcançar esse objetivo. Essas operações de mercado aberto Outra razão possível para o uso da taxa de juros como ins-
mudam a oferta monetária e alteram a curva LM, para que a trumento de política econômica no curto prazo é o fato de que
taxa de juros de equilíbrio (determinada pela intercessão das as taxas de juros são mais fáceis de medir do que a oferta mone-
curvas IS e LM) seja igual à taxa de juros-alvo escolhida pelo tária. Como vimos no Cap. 4, o Banco Central tem várias
Federal Open Market Committee. medidas diferentes de dinheiro - M 1, M2 e assim por diante
Em conseqüência desse procedimento operacional, a polí- - , que às vezes variam em direções diferentes. Em vez de de-
tica econômica do Fed é muitas vezes discutida em termos de cidir qual medida é melhor, o Banco Central evita a questão
variações da taxas de juros. É preciso lembrar, no entanto, que pelo uso da taxa de fundos federais como seu instrumento de
por trás dessas mudanças nas taxas de juros estão as necessárias política.

11-2 IS-LM COMO UMA TEORIA DE DEMANDA AGREGADA


Utilizamos o modelo IS-LM para explicar a renda nacional no tativa da moeda. A análise mostrou que para uma dada oferta
curto prazo quando o nível de preços é constante. Para verifi- monetária, um nível de preços mais alto implica um nível de
car como o modelo IS-LM ajusta-se ao modelo de oferta agre- renda mais baixo. Os aumentos da oferta monetária deslocam
gada e demanda agregada, apresentado no Cap. 9, examinare- a curva de demanda agregada para a direita, enquanto as redu-
mos agora o que acontece no modelo IS-LM quando se admite ções na oferta de dinheiro deslocam a curva de demanda agre-
a variação do nível de preços. Tal como foi prometido quando gada para a esquerda.
iniciamos o estudo deste modelo, o modelo IS -LM oferece uma A fim de compreender mais a fundo os determinantes da
teoria para explicar a posição e a inclinação da curva de de- demanda agregada, adotamos agora o modelo IS -LM, em vez
manda agregada. da teoria quantitativa, para obter a curva de demanda agrega-
da. Primeiro, usamos o modelo IS-LM para mostrar por que a
renda nacional cai à medida que o nível de preços sobe - ou
Do MODELO IS-LM
À CURVA DE seja, por que a curva de demanda agregada é negativamente
inclinada. Segundo, examinamos o que causa o deslocamento
DEMANDA AGREGADA
da curva de demanda agregada.
Lembre-se, do Cap. 9, que a curva de demanda agregada des- Para explicar por que a curva de demanda agregada é nega-
creve uma relação entre o nível de preços e o nível de renda tivamente inclinada, examinamos o que acontece n o modelo
nacional. No Cap. 9, essa relação foi obtida da teoria quanti- IS-LM quando o nível de preços varia. Isso é feito na Fig. 11-5.
DEMANDA. AGREGADA. II 201

ez (a) O Modelo IS-LM (b) A Curva de Demanda Agregada


Taxa de juros, r Nível de preços, P
.J 1. Um nível de preços P LM(P 2 )
maior desloca a curva
LM para cima ...
3. A curva DA
:>r sintetiza a relação
entre P e Y.
is
p2
1e
le
it,
1,
l
P, .. . .. ... ... ... .

'O

)S
DA
:a Renda,
r- produto, Y
S.
3-
ta Fíg. 11-5 Derivando a Curva de Demanda Agregada com o Modelo IS-LM O gráfico (a) mostra o modelo IS-LM: um aumento no nível de
)S preços de P, para P.: reduz os encaixes monetários reais, e assim desloca a curva LM para cima. O deslocamento da curva LM baixa a renda de Y.
i- para Y2. O gráfico (b) mostra a curva de demanda agregada resumindo essa relação entre o nivel de preços e a renda: quanto mais alto o nível d~
le preços, mais baixo o nível de renda.

s- Para qualquer oferta monetária M dada, um nível de preços P do nível de preços , representa um movimento ao longo da curva de
1e mais alto reduz a oferta de encaixes monetários reais M/P. Uma demarnla agregada. Uma mudança da renda modelo IS-LM, para
oferta menor de encaixes monetários reais desloca a curva LM um nível de preços constante, representa um deslocamento da cur-
lS para cima, o que aumenta a taxa de juros de equilíbrio e reduz va de demanda agregada.
:e o nível de renda de equilíbrio, como mostra o painel (a). Aí, o
nível de preços sobe de P1 para P2 e a renda cai de Y1 para Y2• A
lO curva de demanda agregada no gráfico (b) traça essa relação 0 MODELO 1S-LM NO CURTO PRAZO E NO
le negativa entre renda n acional e nível de preços. Em outras LONGO PRAZO
palavras, a curva de demanda agregada mos tra o conjunto de
pontos de equilíbrio que surge no modelo IS-LM à medida que O modelo IS-LM visa a explicar a economia no curto prazo,
variamos o nível de preços e verificamos o que acontece com a quando o nível de preços é fixo. Contudo, agora que vimos
renda. como uma mudança do nível de preços influencia o equilíbrio
O que causa o deslocamento da curva de demanda agrega- n o modelo JS-LM, podemos também utilizar o modelo para
da? Como é apenas um sumário de resultados do modelo IS- descrever a economia no longo prazo, quando o nível de pre-
:a
LM, os eventos que deslocam a curva IS ou a curva LM (para ços ajusta-se para garantir que a economia produza à sua taxa
le
um dado nível de preços) provocam deslocamentos da curva natural. Pelo uso do modelo IS -LM para descrever o longo prazo,
n
1- de demanda agregada. Por exemplo, um aumento da oferta podemos mostrar claramente como o modelo keynesiano de
monetária eleva a renda no modelo IS -LM para qualquer nível determinação da renda difere do modelo clássico do Cap. 3.
de preços dado; assim, desloca a curva de demanda agregada O gráfico (a) da Fig. 11-7 mostra as três curvas que são ne-
la para a direita, como é mostrado no gráfico (a) da Fig. 11 -6. Da cessárias para compreendermos os equilíbrios de curto prazo e
mesma forma, um aumento das compras de governo ou uma de longo prazo: a curva IS, a curva LM e a reta vertical repre-
l- redução dos impostos eleva a renda no modelo IS-LM, para um sentando a taxa natural de produção Y. A curva LM, como
a determinado nível de preços dado; também desloca a curva de sempre, é traçada para um nível de preços constante, P 1• O
u demanda agregada para a direita, como mostra o gráfico (b) da equilíbrio de curto prazo da economia é o ponto K, em que a
:e Fig. 11 -6. Inversamente, uma redução da oferta monetária, uma curva IS cruza a curva LM. Observe que, nesse equilíbrio de
o diminuição das compras do governo, ou um aumento dos im- curto prazo, a renda da economia é inferior à sua taxa natural.
postos baixa a renda no modelo IS-LM e desloca a curva de O gráfico (b) da Fig. 11-7 mostra a mesma situação no dia-
1- demanda agregada para a esquerda. grama de oferta agregada e demanda agregada. Ao nível de
0 Podemos sintetizar esses resultados da seguinte maneira: uma preços P 1, o produto demandado está abaixo da taxa natural.
), Variação da remia no modelo IS-LM, resultante de uma variação Em outras palavras, no nível de preços existente, há demanda
202 CAPÍTULO ) )

(a) Política Monetária Expansionista


Taxa de Nível de
juros, r 1. Uma expansão preços, P
monetária desloca 2 . .. . aumentando a
a curva LM, ... demanda agregada
a qualquer n(ve/
de preços dado.
p . ...
1

Renda, Renda, produto, Y


produto, Y

(b) Política Fiscal Expansionista


Taxa de Nível de
juros, r preços, P

2 . ... aumentando a
demanda agregada a
qualquer nfvel de
preços dado.

Y, Y2 Renda, Y, Y2 Renda, produto, Y


produto, Y

Fig. 11-6 Como as Políticas Monetária e Fiscal Alteram a Curva de Demanda Agregada O gráfico (a) mostra uma expansão monetária.
Para qualquer nível de preços dado, um aumento da oferta monetária eleva os encaixes monetários reais, desloca a curva LM para baixo e eleva a
renda. Por isso, um aumento da oferta monetária desloca a curva de demanda agregada para a direita. O gráfico (b) mostra uma expansão fiscal, tal
como um aumento das compras do governo ou uma redução dos impostos. A expansão fiscal desloca a curva IS para a direita e aumenta a renda,
para qualquer nível de preços dado. Por isso. uma expansão fiscal desloca a curva de demanda agregada para a direita.

por bens e serviços insuficiente para se manter a economia pro- preços aumenta os encaixes monetários reais e, portanto, des-
duzindo em seu potencial. loca a curva LM para a direita.
Podemos examinar, nesses dois diagramas, o equilíbrio de Podemos agora perceber a diferença fundamental entre as
curto prazo em que a economia se encontra, e o equilíbrio de abordagens keynesiana e clássica na determinação da renda
longo prazo para o qual a economia gravita. O ponto K descre- nacional. O pressuposto keynesiano (representado pelo pon-
ve o equilíbrio de curto prazo, porque pressupõe que o nível de to K) é que o nível de preços é rígido. Dependendo da políti-
preços esteja fixo em P1• Eventualmente, a baixa demanda por ca monetária, da política fiscal e dos outros determinantes da
bens e serviços faz os preços caírem, e a economia volta à sua demanda agregada, o produto pode se desviar da taxa natu-
taxa natural. Quando o nível de preços alcança P2, a economia ral. O pressuposto clássico (representado pelo ponto C) é que
está no ponto C, o equilíbrio de longo prazo. O diagrama de o nível de preços é totalmente flexível. O nível de preços ajus-
oferta agregada e demanda agregada mostra que, no ponto C, a ta-se para garantir que a renda nacional esteja sempre à taxa
demanda por bens e serviços é igual à taxa natural de produ- natural.
ção. Esse equilíbrio de longo prazo é alcançado no diagrama IS- Para apresentar esse ponto de maneira um tanto dife-
LM por um deslocamento da curva LM: a queda do nível de rente, podemos pensar na economia como sendo descrita
DEMANDA AGREGADA II 203

(b) O Modelo de Oferta Agregada e


(a) O Modelo /S-LM Demanda Agregada
Taxa de Nível de
OALP OALP
juros, r preços, P

P, 1-------.-+-------
P2 1-----.....;~------.. . . . .
DA

Renda, produto, Y Y Renda, produto, Y

Fig. 11-7 Os Equilíbrios de Curto Pra:i:o e de Longo Prazo Podemos comparar os equilíbrios de curto prazo e de longo prazo utilizando o dia-
grama IS-LMno gráfico (a), ou o diagrama de oferta agregada-demanda agregada no gráfico (b). No curto prazo, o nível de preços fica parado emP1•
O equilíbrio de curto prazo da economia. portanto, está no ponto K. No longo prazo, o nível de preços ajusta-se, e com isso a economia fica na taxa
natural. O equilíbrio de longo prazo, portanto, está no ponto C.

por três equações. As duas primeiras são as equações IS e modelo com o pressuposto de que o produto alcança a taxa
LM: natural; por isso, a terceira equação clássica é
Y = C(Y - T) + l(r) + G IS, Y= y_
MJP = L(r,Y) LM.
Esse pressuposto acarreta que r e P devem se ajustar para satis-
A equação IS descreve o mercado de bens, enquanto a equa- fazer as equações IS e LM.
ção LM descreve o mercado monetário. Essas duas equações Qual pressuposto é mais apropriado? A resposta depende do
contêm três variáveis endógenas: Y, Per. O método keynesiano horizonte de tempo. O pressuposto clássico descreve melhor o
é completar o modelo com o pressuposto de preços rígidos; as- prazo longo. Por isso, nossa análise da renda nacional no longo
sim, a terceira equação keynesiana é prazo, no Cap. 3, e dos preços no longo prazo, no Cap. 4. pres-
supõe que o produto iguala a taxa natural. O pressuposto
keynesiano descreve melhor o prazo curto. Portanto, nossa
itária. Esse pressuposto acarreta que r e Y devem se ajustar para satis- análise das oscilações econômicas baseia-se no pressuposto de
leva a fazer as equações IS e LM. A abordagem clássica é completar o um nível de preços rígido.
:ai, tal
enda,

11-3 A GRANDE DEPRESSÃO


Agora que desenvolvemos o modelo de demanda agregada, relativas à Depressão. Essas estatísticas são o campo de batalha
, des- vamos aplicá-lo para tratar da questão que originalmente mo- em que ocorre o debate sobre a Depressão. O que você acha
tivou Keynes: o que causou a Grande Depressão? Mesmo hoje, que aconteceu? Uma alteração IS? Uma alteração LM? Ou al-
:re as mais de meio século depois do evento, os economistas conti- guma outra coisa?
enda nuam a debater a causa desse grande declínio econômico. A
pon- Grande Depressão oferece um amplo estudo de caso para mos- A HIPÓTESE DO GASTO: CHOQUES NA
olíti- trar como os economistas empregam o modelo IS-LM para
esda analisar as oscilações econômicas. 1 CURVAIS
1aru- Ames de passar às explicações que os economistas têm pro- A Tabela 11-2 mostra que o declínio da renda no início da
éque posto, veja a Tabela 11-2, que apresenta algumas estatísticas década de 1930 coincidiu com a queda nas taxas de juros. Esse
ajus•
taxa
1
Para uma noção maior do debate, veja Milton Friedman e Anna J. Schwam, A Monetary Hiswry of the United Staies, 1867-1960 (Princecon, Nova Jersey: Princeton Universicy
dife- Press, 1963); Pecer Temin, Did Monel<lry Forces Cause ihe Great Depression? (Nova York: W. W. Norton, 1976); os ensaios em Karl Brunner, ed., The Great Depressicm Revisited
crita (Boston: Marcínus Nijhoff, 1981); e o simpósio sobre a Grande Depressão na edição de primavera de 1993 do ]oumal of Eccmomic Perspectives.
p

204 CAPITULO 11

Taxa de PIB Compras


Ano Desemprego (1) Real (2) Consumo(2) Investimento (2) do Governo (2)

1929 3,2 203,6 139,6 40,4 22,0


1930 8,9 183,5 130,4 27,4 24,3
1931 16,3 169,5 126,1 16,8 25,4
1932 24,1 144,2 114,8 4,7 24,2
1933 25,2 141,5 112,8 5,3 23,3
1934 22,0 154,3 118,1 9,4 26,6
1935 20,3 169,5 125,5 18,0 27,0
1936 17,0 193,2 138,4 24,0 31,8
1937 14,3 203,2 143,1 29,9 30,8
1938 19,1 192,9 140,2 17,0 33,9
1939 17,2 209,4 148,2 24,7 35,2
1940 14,6 227,2 155,7 33,0 36,4
Fonte: Historica1Statistics of the United States, Colonial Times to 1970, Parts I and 11 (Washington, D.C.: Department of Commerce, Bureau of the Census, 1975).
Observação: (1) A taxa de desemprego é a série D9. (2) PIB real, consumo, investimento e compras do governo são séries F3, F48, F52 e F66, e são medidos em
bilhões de dólares de 1958. (3) A taxa de juros é a prime Commercial Paper rate, 4·6 meses, série X445. (4) A oferta monetária é a série X414, papel-moeda mais

fato levou alguns economistas a sugerirem que a causa do de- por causa de regulamentações inadequadas; a quebra desses ban-
clínio pode ter sido um deslocamento contracionista da curva cos pode ter agravado a queda do investimento. Os bancos de-
IS. Essa concepção é às vezes chamada de hipótese do gasto, por- sempenham o papel crucial de oferecer os fundos disponíveis
que atribui a principal culpa pela Depressão a uma queda exó- para investimento às famílias e empresas que podem fazer me-
gena do gasto com bens e serviços. lhor uso deles. O fechamento de muitos bancos no início da
Os economistas vêm tentando explicar esse declínio do gas- década de 1930 pode ter evitado que algumas empresas tives-
to de várias maneiras. Alguns argumentam que uma mudan- sem acesso aos fundos de que precisavam para investimento de
ça descendente da função consumo causou a alteração con- capital; e, portanto, pode ter causado uma alteração contraci-
tracionista da curva IS. O craque do mercado de ações em onista adicional da função investimento. 2
1929 pode ter sido responsável em parte por essa alteração: Além disso, a política fiscal da década de 1930 causou uma
ao reduzir a riqueza e aumentar a incerteza quanto às perspec- alteração contracionista da curva IS. Na ocasião, os políticos
tivas futuras da economia dos Estados Unidos, o craque pode estavam mais preocupados em equilibrar o orçamento do que
ter induzido os consumidores a poupar mais de sua renda, em em usar a política fiscal para manter o produto e o emprego em
vez de gastá-la. suas taxas naturais. O Revenue Act (Lei da Receita), de 1932,
Outros explicam o declínio no gasto pela indicação da gran- aumentou vários impostos, em particular aqueles que incidiam
de queda do investimento em habitação. Alguns economistas sobre os consumidores de classes baixa e média. 1 A platafonna
acham que o boom do investimento habitacional na década de do Partido Democrata daquele ano expressava preocupação
1920 foi excessivo. Quando esse "exagero de construção" se com o déficit orçamentário, e defendia uma "redução imediata
tomou patente, a demanda por investimento habitacional de- e drástica dos gastos governamentais". Em meio a um desem·
clinou de maneira drástica. Outra possível explicação para a prego historicamente alto, os formuladores de política econô·
queda do investimento habitacional é a redução da imigração mica procuraram meios de aumentar os impostos e reduzir os
na década de 1930: uma população crescendo mais lentamen- gastos do governo.
te demanda menos habitações novas. Há, portanto, várias maneiras de explicar um deslocamen-
Depois que a Depressão começou, ocorreram vários even- to contracionista da curva JS. É preciso lembrar que rodas es-
tos que podem ter reduzido ainda mais o gasto. Primeiro, mui- sas diferentes visões podem ser verdadeiras. Pode não haver uma
tos bancos quebraram no início da década de 1930, em parte explicação única para o declínio dos gastos. É possível que to-

'Ben Bernanke, "Non•Monetary Effects of the Financial Crisis in the Propagation of rhe Great Depression", American Economic Review 73 (junho de 1983): 257·276.
'E. Cary Brown, "Fiscal Policy ín the 'Thírties: A Reappraísal", American Economic Revieu• 45 (dezembro de 1956): 857-879.
T DEMANDA AGREGADA li 205

Taxa de Oferta Nível de Encaixes


Ano Juros Nominal (3) Monetária (4} Preços (5) Inflação (6) Monetários Reais (7)

1929 5,9 26,6 50,6 52,6


1930 3,6 25,8 49,3 -2,6 52,3
1931 2,6 24,1 44,8 -10,1 54,5
1932 2,7 21,1 40,2 -9,3 52,5
1933 1,7 19,9 39,3 -2,2 50,7
1934 1,0 21,9 42,2 7,4 51,8
1935 0,8 25,9 42,6 0,9 60,8
1936 0,8 29,6 42,7 0,2 62,9
1937 0,9 30,9 44,5 4,2 69,5
1938 0,8 30,5 43,9 - 1,3 69,5
1939 0,6 34,2 43,2 -1,6 79,1
1940 0,6 39,7 43,9 1,6 90,3

depósitos à vista, medidos em bilhões de dólares. (5} O nivel de preços é o deflator do PIB (1958 = 100), série El . (6) A taxa de inflação é a mudança percentual
das séries de nível de preços. (71 Os encaixes monetários reais, calculados pela divisão da oferta monetária pelo nível de preços e pela multiplicação por 100, são
em bilhões de dólares de 1958.

das essas mudanças coincidissem, e que juntas levassem a uma ram ligeiramente, porque a queda da oferta monetária foi acom-
redução maciça dos gastos. panhada de uma queda ainda maior do nível de preços. Embo-
ra possa ser responsável pelo aumento do desemprego de 1931
a 1933, quando os ecaixes monetários reais caíram, a contra-
A HIPÓTESE MONETÁRIA: ção monetária não pode explicar facilmente o declínio inicial,
UM CHOQUE NA CURVA LM de 1929 a 1931.
O segundo problema da hipótese monetária é o comporta-
A Tabela I 1-2 mostra que a oferta monetária caiu 25% de 1929
mento das taxas de juros. Se um deslocamento contracionista
a 1933; durante esse período, a taxa de desemprego subiu de
da curva LM desencadeou a Depressão, deveríamos ter obser-
3,2% para 25,2%. Esse fato proporciona a motivação e o su-
vado taxas de juros maiores. Contudo, as taxas de juros nomi-
porte para o que é chamado de hipótese monetária, que atribui a
nais caíram continuamente de 1929 a 1933.
principal culpa pela Depressão ao Federal Reserve, por permi-
tir que a oferta monetária caísse um montante tão grande.~ Os Essas duas razões parecem suficientes para rejeitar a propo-
sição de que a Depressão foi provocada por um deslocamento
mais conhecidos defensores dessa interpretação são Milton
Friedman e Anna Schwartz, que a defendem em seu tratado contracionista da curva LM. Mas a queda do estoque monetá-
rio foi relevante? Agora, trataremos de outro mecanismo por
sobre a história monetária dos Estados Unidos. Friedman e
meio do qual a política monetária pode ter sido responsável pela
Schwartz argumentam que as contrações da oferta monetária
têm causado a maioria dos declínios econômicos, e que a Gran- gravidade da Depressão: a deflação da década de 1930.
de Depressão é um exemplo particularmente vívido.
Usando o modelo IS-LM, podemos interpretar a hipótese A HIPÓTESE MONETÁRIA DE Novo:
monetária como explicação da Depressão por um deslocamen-
to contracionista da curva LM. Vista sob esse aspecto, no en- ÜS EFEITOS DE PREÇOS EM QUEDA
tanto, a hipótese monetária esbarra em dois problemas. De 1929 a 1933, o nível de preços caiu 25%. Muitos econo-
O primeiro é o comportamento dos encaixes monetários mistas culpam essa deflação pela gravidade da Grande Depres-
reais. A política monetária só leva a um deslocamento contra- são. Argumentam que a deflação pode ter transformado o que
cionista da curva LM se os encaixes monetários reais caírem. era, em 1931, um típico declínio econômico em um período
Contudo, de 1929 a 1931, os ecaixes monetários reais aumenta- sem precedentes de desemprego elevado e renda reduzida. Se

•Examinaremos as razões para essa grande redução da oferta monetária no Cap. 18, no qual trataremos em mais detalhes do processo de oferta monetária. Em particular, veja o
estudo de caso "Falências de Bancos e a Oferta de Dinheiro na Década de 1930".
206 CAPfTIJW 11

isso estiver correto, esse argumento dá vida nova à hipótese os efeitos de quedas inesperadas do nível de preços. A segunda
monetária. Como a queda da oferta monetária teve uma res- explica os efeitos da deflação esperada.
ponsabilidade plausível na queda do nível de preços, é possível A teoria da deflação de dívida começa com uma observa.
que tenha uma responsabilidade na severidade da Depressão. ção do Cap. 4: variações não-antecipadas do nível de preços
Para avaliar esse argumento, devemos examinar como mudan- redistribuem a riqueza entre devedores e credores. Se um de-
ças do nível de preços afetam a renda no modelo IS-LM . vedor deve $1.000 a um credor, o montante real dessa dívida é
$1.000/P, em que Pé o nível de preços. Uma queda do nível
Os Efeitos Estabilizadores da Deflação No modelo IS- de preços aumenta o montante real dessa dívida - o montan-
LM que desenvolvemos até aqui, os preços em queda aumen- te de poder de compra que o devedor deve pagar ao credor.
tam a renda. Para qualquer oferta monetária M dada, um nível Portanto, uma deflação não esperada enriquece credores e em-
de preços mais baixo acarreta saldos monetários reais M/P pobrece devedores.
maiores. Um aumento dos saldos monetários reais causa um A teoria da deflação de dívida, portanto, postula que essa
deslocamento expansionista da curva LM, o que leva a uma redistribuição de riqueza afeta o gasto em bens e serviços. Em
renda maior. reação à redistribuição de devedores para credores, os devedo-
Outro meio pelo qual os preços em queda expandem a renda res gastam menos e os credores gastam mais. Se esses dois gru-
é chamado de efeito Pigou. Arthur Pigou, um proeminente eco- pos têm propensões de gasto iguais, não há impacto agregado.
nomista clássico na década de 1930, ressaltou que os encaixes Mas parece razoável pressupor que os devedores têm propen-
monetários reais são parte da riqueza das famílias. À medida que sões mais altas para gastar do que os credores: talvez seja por
os preços caem e os encaixes monetários reais aumentam, os isso que os devedores estão em dívida, em primeiro lugar. Nes-
consumidores devem se sentir mais ricos e gastar mais. Esse au- se caso, os devedores reduzem seus gastos mais do que os cre-
mento em gastos do consumidor deve causar um deslocamento dores aumentam os seus. O efeito líquido é uma redução dos
expansionista da curva IS , também levando a uma renda maior. gastos, um deslocamento contracionista da curva IS e uma renda
Essas duas razões fizeram com que alguns economistas acre- nacional menor.
ditassem, na década de 1930, que a queda nos preços ajudaria Para compreender como as variações esperadas dos preços
a estabilizar a economia. Ou seja, eles achavam que um declí- podem afetar a renda, precisamos acrescentar uma nova variá-
nio do nível de preços automaticamente empurraria a econo- vel ao modelo IS-LM. Até aqui, nosso exame do modelo não
mia de volta ao pleno emprego. Outros economistas, no entan- distinguiu entre as taxas de juros nominal e real. Contudo, sa-
to, mostravam-se menos confiantes na capacidade da econo-
bemos, de capítulos anteriores, que o investimento depende da
mia de se corrigir sozinha. Apontavam outros efeitos dos pre-
taxa de juros real e que a demanda por moeda depende da taxa
ços em queda, que passaremos a examinar a seguir.
de juros nominal. Se i é a taxa de juros nominal e TI• é a infla-
ção esperada, a taxa de juros real ex ante é i - TI' . Podemos agora
Os Efeitos Desestabilizadores da Deflação Os economis-
escrever o modelo IS-LM como
tas propuseram duas teorias para explicar como os preços em
queda podem ter reduzido a renda, em vez de aumentá- la. A y = C(Y - T) + I(i - TI' ) +G IS,
primeira, chamada de teoria da deflação das dívidas, descreve MIP = L(i, Y) LM .

Taxa de juros, i

IS,

Y2 +-- Y1 Renda, produto, Y

Fig. 11-8 Deflação Esperada no Modelo IS-LMUma deflação esperada (um valor negativo de 1r•) aumenta a taxa de juros real a qualquer taxa
de juros nominal dada, o que reduz o gasto em investimento. A redução do investimento desloca a curva IS para baixo. O nível de renda cai de Y,
para Y2. A taxa de juros nominal cai de i 1 para i 2, e a taxa de juros real sobe de r1 para r2•
DEMANDA AGREGADA II 207

A inflação esperada entra como uma variável da curva IS. nuição dos encaixes monetários reais, ou um aumento das ta-
Assim, as variações da inflação esperada alteram a curva IS. xas de juros nominais.
a- Aplicaremos esse modelo IS-LM estendido para estudar
os como as variações da inflação esperada influenciam o nível de
e- renda. Começamos por pressupor que todos esperam que o ní- A DEPRESSÃO PODE ACONTECER DE Novo?
vel de preços permaneça o mesmo. Nesse caso, não há inflação Os economistas estudam a Depressão tanto por seu interes-

el esperada ('TT• = O), e essas duas equações produzem o conheci· se intrínseco, como um grande evento econômico, quanto
ll-
do modelo IS-LM. A Fig. 11-8 descreve essa situação inicial, para proporcionar orientação aos formuladores de política
>r. com a curva LM e a curva IS rotulada de IS 1• A interseção des- econômica para que não aconteça de novo. Para afirmar com
n- sas duas curvas determina as taxas de juros nominal e real, que segurança se o evento pode ocorrer outra vez, precisaríamos
por enquanto são as mesmas. saber por que ele aconteceu. Como ainda não há concordân-
,sa Suponha agora que todos esperam subitamente que o nível cia quanto às causas da Grande Depressão, é impossível ex-
.m de preços cairá no futuro, de tal modo que 'TT' se tomará nega- cluir com certeza a possibilidade de outra depressão dessa
O•
tivo. A taxa de juros real é agora mais alta a qualquer taxa de magnitude.

juros nominal dada. Esse aumento da taxa de juros real reduz o A maioria dos economistas, no entanto, acredita que é im-
lo. gasto em investimento planejado, deslocando a curva IS de IS, provável que se repita o erro que levou à Grande Depressão.
n- para IS 1• Assim, uma deflação esperada leva a uma redução da Parece improvável que o Banco Central permita que a oferta
·or renda nacional, de Y1 para Y2 • A taxa de juros nominal cai de i1 monetária caia em um quarto. Muitos economistas acham que
~s- para í2, enquanto à taxa de juros real sobe de r 1 para r 2• a deflação do início da década de 1930 foi responsável pela
:e- Saiba qual é a história que há por trás desse cálculo. Quan- profundidade e pela extensão da Depressão. E parece provável
os do as empresas passam a esperar a deflação, relutam em tomar que uma deflação tão prolongada só tenha sido possível na pre-
da emprestado para comprar bens de investimento, porque acham sença de uma queda da oferta monetária.
que terão de pagar esses empréstimos, mais tarde, em dólares Também é improvável que se repitam os erros de política
:os mais valiosos. A queda do investimento reduz o gasto planeja- fiscal da Depressão. A política fiscal da década de 1930 não
iá- do, o que, por sua vez, reduz a renda. A queda da renda reduz a apenas deixou de ajudar, mas também reduziu ainda mais a
ão demanda por moeda, e isso reduz a taxa de Juros nominal, que demanda agregada. Poucos economistas defenderiam hoje uma
;a- equilibra o mercado monetário. A taxa de juros nominal cai adesão tão rígida a um orçamento equilibrado diante de um
da menos que a deflação esperada, o que faz com que a taxa de juros desemprego maciço.
xa real suba. Além disso, há hoje muitas instituições que ajudariam a
la- Observe que há um fio comum nessas duas histórias de de- prevenir uma recorrência dos eventos da década de 1930. O
>ra
flação desestabilizadora. Em ambas, os preços em queda redu- Compulsório Bancário toma menos provável a quebra de vári-
zem a renda nacional, causando um deslocamento contracio- os bancos ao mesmo tempo. O imposto de renda causa uma re•
nista da curva IS. Por ser improvável uma deflação da dimen- dução automática em impostos quando a renda cai, o que esta-
são observada de 1929 a 1933, exceto na presença de uma gran- biliza a economia. Finalmente, os economistas sabem mais hoje
de contração da oferta monetária, essas duas explicações atri- do que sabiam na década de 1930. Nosso conhecimento da
buem cerca responsabilidade pela Depressão - especialmente maneira como a economia funciona, por mais limitado que
sua gravidade - ao Fed. Em outras palavras: se os preços em ainda seja, deve ajudar os formuladores de política econômica
queda são desestabilizadores, então uma contração da oferta mo- a definirem políticas melhores para combater o desemprego
netária pode levar a uma queda da renda, sem uma dimi- disseminado.

ESTUDO DE CASO - - - - - - - - - - - - - - .
0 DECLÍNIO JAPONÊS os episódios são semelhantes em vários aspectos. Primeiro, am-
Durante a década de 1990, depois de muitos anos de rápido bos remontam em parte a uma grande queda dos preços das ações.
crescimento e invejável prosperidade, a economia japonesa ex- No Japão, as cotações das ações, ao final da década de 1990, esta·
perimentou um prolongado declínio. O PIB real cresceu a uma vam em menos de metade do nível máximo alcançado cerca de
média de apenas 1,3 % ao ano durante a década, em comparação dez anos antes. T ai como o mercado de ações, os preços dos imó-
com a média de 4,3% nos vinte anos anteriores. A taxa de de- veis também dispararam na década de 1980, antes do craque nos
semprego, que historicamente sempre foi muito baixa no Japão, anos 1990. (No auge da supervalorização imobiliária, dizia-se que
subiu de 2,1 % em 1990para4,7% em 1999. Em agosto de 2001, o terreno sob o Palácio Imperial valia mais do que todo o estado
o desemprego alcançou 5,0%, a taxa mais alta desde que o go- da Califórnia.) Quando os preços das ações e dos imóveis despen-
verno começou a compilar a estatística, em 1953. caram, os cidadãos japoneses viram sua riqueza cair verticalmen-
Embora o declínio japonês da década de 1990 sequer chegue te. Esse declínio da riqueza, tal como o que ocorreu durante a
perto, em magnitude, da Grande Depressão da década de 1930, Grande Depressão, reduziu o gasto dos consumidores.
208 CAPITULO 11

Segundo, durante os dois episódios, os bancos tiveram difi- tas recomendaram que o governo japonês aprovasse grandes
culdades, o que aumentou ainda mais o declínio da atividade cortes de impostos, a fim de estimular mais gasto em consumo.
econômica japonesa. Os bancos japoneses haviam efetuado, na Embora esse conselho fosse seguido até certo ponto, os
década de 1980, empréstimos com garantias de ações ou imó- formuladores de política econômica japoneses relutaram ern
veis. Quando o valor dessas garantias caiu, os tomadores co- promover cortes muito grandes, porque queriam, como acon-
meçaram a se tomar inadimplentes em seus pagamentos. Essas teceu com os formuladores de política econômica dos Estados
inadimplências relativas aos empréstimos antigos reduziram a Unidos na década de 1930, evitar déficits orçamentários. No
capacidade dos bancos de efetuar novos empréstimos. O "aperto Japão, essa relutância em aumentar a dívida do governo surgiu
de crédito" resultante tomou mais difícil para as empresas o fi- em parte porque o governo enfrentava um passivo previdenci-
nanciamento de projetos de investimento; assim, reduziu-se o ário insolvente, além de uma população que envelhecia rapi-
gasto em investimento. damente.
Terceiro, nos dois episódios a queda da atividade econômica Outros economistas recomendaram que o Banco do Japão
coincidiu com taxas de juros muito baixas. No Japão, na década expandisse a oferta monetária mais depressa. Mesmo que as
de 1990, assim como nos Estados Unidos, na década de 1930, as taxas de juros nominais não pudessem diminuir muito, talvez a
taxas de juros nominais de curro prazo eram inferiores a 1%. Esse rápida expansão dos meios de pagamento pudesse aumentar a
fato sugere que a causa do declínio foi principalmente um deslo- inflação esperada, baixar a taxa de juros real e estimular osgas-
camento contracionista da curva IS, porque esse deslocamento tos sem investimento. Assim, embora os economistas divergis-
reduz ao mesmo tempo a renda e a taxa de juros. Os suspeitos sem, sem chegar a um consenso se a política fiscal ou a política
óbvios para explicar o deslocamento da IS são os preços das ações monetária seria a mais eficaz, houve ampla concordância em
e imóveis em queda, além de problemas no sistema bancário. que a solução para o declínio do Japão, tal como a solução para
Finalmente, o debate sobre a política econômica no Japão a Grande Depressão, baseava-se em uma expansão mais agres-
refletiu o debate sobre a Grande Depressão. Alguns economis - siva da demanda agregada. 5

11-4 CONCLUSAO
O propósito deste capítulo e do anterior foi aprofundar nossa é toda a história. Em capítulos posteriores, examinaremos
compreensão sobre a demanda agregada. Temos agora os ins- em mais detalhes os elementos desse modelo, e assim apu,
trumentos para analisar os efeitos das políticas monetária e fis- raremos nossa compreensão sobre a demanda agregada . No
cal no longo prazo e no curto prazo. No longo prazo, os preços Cap. 16, por exemplo, estudaremos teorias so bre o consu-
são flexíveis, e adoramos a análise clássica das Partes II e III mo. Por ser a função consumo uma peça crucial do modelo
deste livro. No curto prazo, os preços são rígidos, e usamos o IS-LM , uma análise mais profunda do consumo pode modi-
modelo IS-LM para examinar de que maneira as mudanças da fic ar nossa opinião sobre o impac to das políticas fiscal e
política econômica influenciam a economia. monetária na economii!. O modelo IS-LM simples, apresen-
Embora proporcione a estrutura básica para analisar a de- tado nos Caps. 1Oe 11, proporciona o ponto de partida para
manda agregada, o modelo apresentado neste capítulo não essa análise adicional.

RESUMO
1. O modelo IS-LM é uma teoria geral da demanda agregada IS -LM - a interseção das curvas IS e LM - representa o
por bens e serviços. As variáveis exógenas do modelo são a equilíbrio simultâneo do mercado de bens e serviços e do
política fiscal, a política monetária e o nível de preços. O mercado de encaixes monetários reais.
modelo explica duas variáveis endógenas: a taxa de juros e
3. A curva da demanda agregada sintetiza os resultados do
o nível de renda nacional.
modelo IS-LM, ao mostrar a renda de equilíbrio, a qualquer
2. A curva IS representa a relação negativa entre a taxa de juros nível de preços dado . A curva de demanda agregada é nega,
e o nível de renda que deriva do mercado de bens e servi- tivamente inclinada, porque um nível de preço mais baixo
ços. A curva LM representa uma relação positiva entre a taxa aumenta os encaixes monetários reais, reduz a taxa de ju-
de juros e o nível de renda que deriva do equilíbrio no mer- ros, estimula o gasto em investimento, e com isso aumenta
cado de encaixes monetários reais. O equilíbrio do modelo a renda de equilíbrio.

'Para aprender mais sobre esse episódio, veja Adam S. Posen, Restoring]apan's Economic Growth (Washington, D.C.: lnstitute for lntemational Economics. 1998).
DEMANDA AGREGADA lI 209

MA1s
SAIBA
A Armadilha da Liquidez
No Japão, na década de 1990, e nos Estados Unidos 1 nos anos mais, a inflação esperada maior pode baixar as taxas de ju-
1930, as taxas de juros alcançaram níveis muito baixos. ros, tornando-as negativas, o que estimularia o gasto em in-
Como a Tabela 11-2 mostra, as taxas de juros dos Estados vestimento. Uma segunda resposta é que a expansão mone-
Unidos estiveram muito abaixo de 1% ao longo da segunda tária faria com que a moeda perdesse o valor no mercado de
metade da década de 1930. O mesmo aconteceu no Japão câmbio. Essa depreciação tornaria os bens do país mais ba-
durante a segunda metade da década de 1990. Em 1999, as ratos no exterior, estimulando a demanda por exportação.
taxas de juros de curto prazo japonesas caíram para cerca de Esse segundo argumento vai além do modelo IS-LM de eco-
) um décimo de 1%. nomia fechada que empregaremos neste capítulo, mas tem
s Alguns economistas descrevem essa situação como uma mérito na versão de economia aberta do modelo, desenvol-
l armadilha da liquidez. Segundo o modelo JS-LM, a política vido no próximo capítulo.
3. monetária expansionista opera pela redução das taxas de A armadilha da liquidez é uma coisa com que os
juros e pelo estímulo ao gasto em investimento. Mas, se as formuladores de política monetária precisam se preocupar?
taxas de juros já caíram a quase zero, talvez a política mo- Os instrumentos de política monetária podem às vezes per-
netária não seja mais eficaz. A taxa de juros nominal não der seu poder de influenciar a economia? Não há consenso
l pode cair abaixo de zero: em vez de efetuar um emprésti- sobre as respostas. Os céticos dizem que não devemos nos
3. mo a uma taxa de juros nominal negativa, a pessoa sim- preocupar com a armadilha da liquidez. Mas outros susten-
plesmente reteria a moeda. Nessas circunstâncias, a polí- tam que a possibilidade de uma armadilha de liquidez é um
tica monetária expansionista aumenta a oferta monetária, argumento em favor de um alvo de taxa de inflação maior
j
proporcionando mais liquidez ao público; mas, uma vez que do que zero. Sob inflação zero, a taxa de juros real, tal como
as taxas de juros não podem cair ainda mais, a liquidez extra a taxa de juros nominal, nunca pode cair abaixo de zero. Mas,
talvez não tenha qualquer efeito. A demanda agregada, o se a taxa normal de inflação é, por exemplo, 3%, então o
produto e o emprego podem estar "acuados" em níveis banco central pode facilmente levar a taxa de juros real para
baixos. 3% negativos, ao baixar a taxa de juros nominal a zero.
s Outros economistas mostram-se céticos em relação a esse Assim, a inflação moderada concede aos formuladores de
argumento. Uma resposta é que a política monetária expan- política monetária mais espaço para estimular a economia
sionista pode aumentar as expectativas da taxa de inflação. quando necessário, reduzindo o risco de cair em uma arma-
Mesmo que a taxa de juros nominal não possa cair ainda dilha da liquidez. 6
)

"Parn saher mai~,nhre .i armadilha da liquide:, veja Paul R. Krugman, "lt's Baaack: Japan's Slump and the Retum of rhe Liqu idity Trap", Brooking Panei
l on Economic Accit'Ít)' ( 1998): 137-205.

4. A rolítica fiscal cxp,msionisrn - um aument,i da~ cnmpras 5. A política monetária expansionista desllica a curva LM
dn gon~rnn, ,iu uma redução dos imrostos - desloca n cur- rara haixo. Esse deslocamento da curva LM reduz a taxa
\ ºª JS para a dirt:it,1. fase deslocamento da cur\·a IS aumenta de juros e aumenta a renda. O aumento da renda rerresenta
a taxa de juros e a renda. O aumento da rern.b representa um deslocamento rara a direita da curva da demanda agre -
um desh>Camentn para a direita da curva de demanda agre- gada. De modo semelhante, a política monetária contra-
gada. Assim wmbém, a r olítica fisc al contracionista deslo- cionista desloca a curva LM para cima, eleva a caxa de
ca a cur\'a IS rarn a esquerda, baixa a taxa de juros e a ren- juros, reduz a renda e desloca a curva de demanda agrega -
da, e desloca a curva de demanda agregada para a esquerda. da par.a a esquerda.

CONCEITOS-CHAVE
Mecanismo de transmissão monetária Efeito Pigou Teoria da deflação das dívidas
210 CAPÍTULO 11

QUESTÕES PARA REVISÃO


1. Explique por que a curva de demanda agregada é negativamente 3. Qual é o impactó de uma redução da oferta monetária sobre a taxa
inclinada. de juros, a renda, o consumo e o investimento?
z. Qual é o impacto de um aumento dos impostos sobre a taxa de juros, 4. Descreva os possíveis efeitos de preços em queda sobre a renda de
a renda, o consumo e o investimento? equilíbrio.

PROBLEMAS E APLICAÇÕES
1. Segundo o modelo IS-LM. assinale o que acontece com a taxa de f. Com os valores iniciais da política monetária e da política fis.
juros, a renda, o consumo e o investimento nas seguintes circuns- cal, suponha que o nível de preços suba de 2 para 4. O que acon-
tâncias: tece? Quais são a nova taxa de juros de equilíbrio e o novo ní-
a. O banco central aumenta a oferta monetária. vel de renda de equilíbrio?
b. O govemo aumenta as suas cmnpras. g. Obtenha um gráfico e faça uma equação da curva de demanda
c. O govemo aumenta os impostos. agregada. O que acontece com essa curva de demanda agrega-
d. O governo aumenta as suas compras e os impostos em montan- da se a política fiscal ou a política monetária mudam, como nos
l : tes iguais. itens (d) e (e)?
2. Aplique o modelo IS-LM para prever os efeitos de cada um dos 4. Explique por que cada uma das declarações a seguir é verdadeira.
.,, seguintes choques sobre a renda, a taxa de juros, o consumo e o Analise o impacto das políticas monetária e fiscal em cada um
J investimento. Em cada caso, explique o que o Banco Central deve desses casos especiais.
fazer para manter a renda em seu nível inicial. a. Se o investimento não depende da taxa de juros, a curva IS é
a. Depôis da invenção de um novo chip de computador de alta ve- vertical.
locidade, muitas empresas decidem melhorar seus sistemas de b. Se a demanda por moeda não depende da taxa de juros, a cur-
computador. va LM é vertical.
b. Umn onda de frnudes com cartões de crédito aumenta a freqüên- c. Se a demanda por moeda não depende da renda, a curva LM é
cia com que as pessoas efetuam transações com papel-moeda. horizontal.
c. Um livro de sucesso intitulado Aposente-se Rico convence o pú- d. Se a demanda por moeda é extremamente sensível à taxa de
blico a aumentar o porcentual de sua renda destinado à pou- juros, a curva LM é horizontal.
pança. 5. Suponha que o governo queira aumentar o investimento, mas
manter o produto constante. No modelo IS-LM, que mistura de
3. Considere a economia Je Hick.sônia.
a. A função cnnsumo é Jada por política monetária e fiscal alcançará esse objetivo? No início da
década de 1980, o governo dos Estados Unidos cortou impostos e
C = 200 + 0,75(Y - T). manteve um déficit orçamentário, enquanro o Banco Central ado-
rava uma política monetária restritiva. Que efeito essa mistura de
A função investimento é
políticas econômicas pode ter?
I = 200 - 25r. 6. Use o diagrama IS-LM para descrever os eieitos no curto e no lon-
As comrras dü governo e ns imrostlls corre;;pnnJem caJa qual gü prazos das seguintes variações da renda nacional na taxa de ju-
a 100. Para essa economi;i, faça um gn\fico Ja curva IS cmn r ros, no nível de preços, no consumo, no investimento e nos encai-
variandc) de O a 8. xes monetários reais.
b. A funçfü1 de JcmanJa por mlleda em HicksCmia é a. Um aumento da nferta monetária.
h. Um aumento das compras do governo.
(M/P) 1 = Y - lOOr. c. Um aumento dos impostos.
A oferrn monetária M é 1.000 e o nível de preços Pé 2. Para 7. O Banco Central está analisando duas políticas monetárias alter-
essa economia, faça o gráfico da curva LM com r variando de O nativas:
a 8. > manter a oferta monetária constante e deixar que a taxa de juros
c. Encontre a taxa Je juros r de equilíbno e o nível de renda Y de
se ajuste, ou
equilíbrio. > ajustar a oferta monetária para manter a taxa de juros constante.
d. Suponha que as compras do govemo sejam elevadas de 100 para
150. Quanto a curva IS se desloca? Quais são a nova taxa de No modelo IS,LM, qual política melhor estabilizará o produto, nas
juros de equilíbrio e o novo nível de renda de equilíbrio? condições a seguir?
e. Suponha que, em vez disso, a oferta monetária aumente de a. Todos os choques na economia têm origem em variações
1.000 para 1.200. Quanto a curva LM se desloca? Quais são a exógenas da demanda por bens e serviços.
nova taxa de juros de equilíbrio e o novo nível de renda de equi- b. Todos os choques na economia derivam de variações exógenas
líbrio? da demanda por moeda.
DEMANDA AGREGADA II 211

g. Suponha que a demanda por encaixes monetários reais depen- Usando o modelo IS-LM, analise se essa mudança da função de
da da renda disponível. Ou seja, a função de demanda por mo- demanda por moeda altera o seguinte:
eda é a. A análise de mudanças das compras do governo.
M/P = L(r, Y- T). b. A análise de mudanças dos impostos.
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Apêndice
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A ALGEBRA SIMPLES DO MODELO


JS-LM E A CURVA DE DEMANDA
AGREGADA

O capítulo analisa o modelo lS-LM com gráficos das curvas IS Observe que Y aparece nos dois lados da equação. Podemos
e LM. Aqui, analisamos o modelo em termos algébricos , em simplificar essa equação ao levar todos os termos Y para o lado
vez de gráficos. Essa apresentação alternativa oferece urna per- esquerdo e rearrumar os termos do lado direito:
cepçãn adicional sobre a maneira como a política mGnetária e Y - bY = (a + e) + (G - bT) - dr.
a política fiscal influenciam a demanda agregada.
Resolvemos para Y para obter
·1.

ACURVAIS (1 + e: 1 ' -h -d
Y =--+ - - l i + - - T + -- r.
1- b 1-b 1-h 1-b
Uma maneira de pensar a curva IS é que ela descreve as combi-
nações de renda Y e taxa de juros r que satisfazem uma equação Esta equação expressa a curva IS em termos algébricos. Diz-nos
que vimos pela primeira vez no Cap. 3: o nível de renda Y para qm1lquer taxa de juros r e política fiscal
G e T dadas. Mantendo a política focal constante, a equação
Y = C(Y - T) + I(r) + G. nds dá uma relação entre a taxa de juros e o nível de renda:
Esta equ.~ção combina a identidade de contas da renda nacio- quanto maior a taxa de juros, mais baixo o nível de renda. A
nal, a função consumo e a função inYestimento. Enuncia que a curva IS faz o gráfico dessa equação para diferentes n1lores de
quantidade de bens produzida, Y, deve ser igual à quantidade Y e r, com valores constantes de G e T.
de bens demanda, C + I + G. Usando a última equação, podemos confirmar nossas con-
Podernus aprender mais sobre a curva IS ao considerarmos clusões anteriores sl\bre a curva IS. Primeiro. por ser o coefici-
o caso especial em que a função consumo e a função investi- ente da raxa de juros negativo, a curva IS é negativamente in-
mento são line<1res. Cmneçamos pela identidade de contas da clinada: a taxa de juros maior reduz a renda. Segundo, como
o cneficiente de compras du governo é positivo, um aumento
renda nacinnal
das compras do governo desloca a cun·a IS para a direita. Ter-
Y = C + I + G. ceiro, por ser o coeficiente de impostos negativo, um aumento
<: dns impostus desloca ü cur\'a IS p,ml a esquerda.
Suponha agora que a funç i.o consumo seja
O coeficiente da taxa de jurns, -d/( 1 - b). di: o que deter-
C = a + b(Y - T) , mina se a cur\'a IS é inclinada ou h,wizonrnl. Se n investimen-
to é bastante sensíYel à taxa de juros, d é grande, e a renda tam-
em que a e b sãLl númerus maiores do que :em. e a função de
hém é bastante sensí\'el à taxa de juros. Nesse caso, requenas
investimento é variações da raxa de juros levam a grandes Yariaçoes da renda:
I = e - dr, a cur,·a IS é relativamente pouco inclin,1da. Inversamente, se
o investimento não é muito sensível à taxa de juros, d é peque-
em que e e d também são números maiores que zero. O parâ- no, e a renda também não é muito sensível à taxa de jun:is. Nesse
metro b é a propensão marginal a consumir, e por isso espera- caso, grandes variações da taxa de jums levam a pequenas va-
mos que b esteja entre zero e um. O parâmetrn d determina riações da renda: a curva IS é relativamente inclinada.
quanto investimento reage à taxa de juros; como o investimento Assim também, a inclinação da curva IS depende da pro-
aumenta quando a taxa de juros cai, há um sinal de menos pensão marginal a consumir b. Quanto maior a propensão
antecedendo d. marginal a consumir, maior a variação da renda resultante de
Dessas três equações, podemos obter uma expressão algébrica uma dada variação da taxa de juros. A explicação é que uma
da curva IS e verificar o que influencia a posição e a inclinação grande propensão marginal a consumir leva a um grande mul-
da curva IS. Se substituímos as funções de consumo e investi- tiplicador de variações do investimento. Quanto maior o
mento pela identidade de contas da renda nacional, obtemos multiplicador, maior o impacto de uma variação do investimen-
Y = [a + b(Y - T)] + (e - dr) + G. to na renda, e menos inclinada é a curva IS.
DEM ANDA AGREGADA II 213

A propensão marginal a consumir b também determina também, se a demanda por moeda não é muito sensível à taxa
quanto as variações da política fiscal deslocam a curva IS. O de juros, então fé pequeno. Nesse caso, uma alteração da de-
coeficiente de G, 1/(1 - b), é o multiplicador de compras do manda por moeda causada por uma variação da renda leva a
governo na cruz keynesiana. De modo semelhante, o coefici- uma variação grande da taxa de juros de equilíbrio: a curva LM
ente de T, -b(l - b), é o multiplicador fiscal na cruz é relativamente muito inclinada.
keynesiana. Quanto maior a propensão marginal a consumir,
maior o multiplicador, e por isso maior o deslocamento da cur-
va IS que deriva de uma variação da política fiscal. A CURVA DE DEMANDA AGREGADA
Para encontrar a equação de demanda agregada, devemos de,
terminar o nível de renda que satisfaz tanto a equação IS quanto
ACURVALM
a equação LM. Para isso, substitua a equação LM pela taxa de
A curva LM descreve as combinações da renda Y e a taxa de juros r na equação IS para obter
juros r que satisfazem a condição de equilíbrio do mercado
mos
monetário y _ a + e + 1 G + -b T + -d ( e y _ 1 M J
ado 1-h 1-b 1-b 1-h f f P.
M!P = L(r, Y).
Com alguma manipulação algéhrica, podemos resolver para Y.
Esta equação simplesmente equaciona a oferta monetária e a A equação final para Y é
demanda por moeda.
Podemos aprender mais sohre a curva LM ao considerarmos y = z(a +e)+ _z_ G + -zh T +
o caso em que a funçãu de demanda por moeda é linear; ou seja, l-h 1-b 1-b
L(r, Y) = eY - fr,
+ d M
·nos
em que e e f são números maimes que zero. O valor de e deter- (I - b)[f + dc/(1 - h)] P '
scal
mina quanto a demanda por moeda sohe quando a renda sohe.
LÇãO
O valor de f determina quanto a demanda por moeda cai quando em que z = f/[f + de/( 1 - b)] é uma composição de alguns dos
1da: parâmetros, situando-se entre zero e um.
a taxa de juros snhe. Há um sinal de menos antecedendo o ter-
t.A Essa última equação expressa a curva de demanda agregada
mo da taxa de juros porque a demanda por moeda é inversa-
s de em termos algéhricos. Ela mostra que a renda depende da polí-
mente relacionada com a taxa de juros.
O equilíhrio do mercadt) mnnenfrio é agora descrito por tica fiscal G e T, da política monetária M e do nível de preços
:on- P. A curva de demanda agregada mostra essa equaçfü1 para di-
fici- M/P = eY - fr. ferentes valores de Y e P, com valores constantes de G, Te M.
· in- Podemos explicar a inclinação e a posição da curva de de,
imo Parn verificar n que essa equação implica, vamns rearrumar os
termos, para que r fique no lado esquerdo. Obtemos manda agregada com essa equação. Primeiro, a curva de deman-
·nto da agregada é negativamente inclinada, porque um aumento
rer- r = (e/f)Y - (1/f)M/P. de P haixa M/P, e com isso diminui Y. Segundo, os aumentos
·nto
Essa equação nos d(l a taxa de juros que equilihra o mercado da oferta monetária elevam a renda e deslocam a curva de de-
monet,irio para quaisquer valores de renda e encaixes monetá- manda agregada para a direita. Terceiro, aumentos das com-
ter-
rios reais. A curva LM mostra essa equação para diferentes pras do go\'erno, ou reduções dos imposrns. tamhém elevam a
1en-
valores de Y e r, com um valor constante de M/P. renda e deslocam a curva de demanda agregada para a direita .
am-
A partir dessa última equação, podemos confirmar algumas Ohserve que, como z é mennr que um, ns multiplicadores da
'.nas
das nossas conclusões sohre a curva LM. Primeiro, por ser n política fiscal são menores no modelo IS-LM do que na cruz
1da:
~1 se coeficiente de renda posiri,·n, a cun-a LM é positivamente in, keynesiana. Por isso, o parâmetro z reflete a redução do inves,
clinada: a renda maior exige uma raxa de juros mais alta para rimento examinada antes.
1ue-
esse equilihrar o mercado monenírio. Segundo, por se r o coeficien- Finalmente, essa equação mostra a relação entre a curva de
va- te de ecaixes monet,frios reais negativo, a redução dos saldos demanda agregada obtida neste capítulo do modelo IS-LM e a
reais desloca a curv,1 LM para cima, enquanto o aumento dos curva de demanda agregada ohtida no Cap. 9 da teoria quan-
Jro- encaixes monetários reais desloca a curva LM para haixo. titativa da moeda. A teoria quantitativa pressupõe que a taxa
1são Pelo coeficiente de renda, e/f, podemos entender o que de - de juros não influencia a demanda por encaixes monetários
~ de termina se a curva LM é muito ou pouco inclinada. Se a de, reais. Em termos diferentes, a teoria quantitativa presume que
1ma manda por moeda não é muito sensível ao nível de renda, en- o parâmetro f seja igual a zero. Se fé igual a zero, então o parâ-
'.\Ul- tão e é pequeno. Nesse caso, apenas uma pequena variação da metro composto z também é igual a zero; assim, a política fis-
Jr o taxa de juros é necessária para contrabalançar o pequeno au, cal não influencia a demanda agregada. Portanto, a curva de
1en- mento da demanda por moeda causado por uma variação da demanda agregada obtida no Cap. 9 é um caso especial da cur-
renda: a curva LM é relativamente pouco inclinada. Assim va de demanda agregada aqui ohtida.
214 CAPITULO 11

ES1UDO DE C A S O - - - - - - - - - - - -
A EFICÁCIA DAS POLÍTICAS MONETÁRIA E FISCAL Além disso, um pequeno valor de d implica um grande valor
Há muito os economistas debatem se a política monetária ou de z, o que, por sua vez, implica que a política fiscal tem um
fiscal exerce uma influência mais intensa na demanda agrega- grande efeito na renda. O motivo desse grande efeito é que,
da. Segundo o modelo JS-LM, a resposta a essa pergunta de- quando o investimento não reage muito à taxa de juros, há
pende dos parâmetros das curvas IS e LM. Por isso, os econo- pouca redução do investimento.
mistas têm despendido muita energia na argumentação sobre Os economistas que acham que a política monetária é mais
0 tamanho desses parâmetros. Os parâmetros contestados com
potente que a política fiscal argumentam que a reação da de-
mais veemência são aqueles que descrevem a influência da taxa manda por moeda à taxa de juros - medida pelo parâmetro f
de juros nas decisões econômicas. - é pequena. Quando fé pequeno, z é pequeno, e a política
Os economistas que acreditam que a política fiscal é mais fiscal tem um efeito pequeno na renda; nesse caso, a curva LM
potente que a política monetária argumentam que a reação do é quase vertical. Além disso, quando fé pequeno, as variações
investimento à taxa de juros - medida pelo parâmetro d- é da oferta monetária têm um grande efeito na renda.
pequena. Se examinarmos a equação algébrica da demanda Poucos economistas hoje endossam qualquer dessas posições
agregada, verificaremos que um pequeno valor de d implica um extremadas. As evidências indicam que a taxa de juros afeta
pequeno efeito da oferta monetária na renda. A explicação é tanto o investimento quanto a demanda por moeda. Essa desco-
que, quando d é pequeno, a curva IS é quase vertical, e os des- berta implica que tanto a política monetária quanto a política
locamentos da curva LM não causam muita variação da renda. fiscal são determinantes importantes da demanda agregada .

. ,,
J

MAIS PROBLEMAS E APLICAÇÕES


1. Dê uma resposra algébrica para cada uma das questões a seguir. b. Como a sensibilidade da demanda por moeda à taxa de juros
Depois, explique em palavras o raciocínio econômico que está por afeta a inclinação da curva de demanda agregada?
trás de sua resposta. c. Como a propensão marginal a consumir afeta a reação da de-
a. Como a sensibilidade do investimento à taxa de juros afetá a manda agregada a variações das compras do governo?
inclinação da curva de demanda agregada?
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(~pítulo 12
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ECONOMIA ABERTA
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Na condução da política monetária e fiscal, os formuladores de emprestar tanto quanto quiser nos mercados financeiros inter-
5es pclítica econômica muitas vezes olham além das fronteiras de nacionais; em conseqüência, a taxa de juros da economia é de-
eta seu próprio país. Mesmo que a prosperidade interna seja seu único terminada pela taxa de juros mundial. Um mérito desse pressu-
CO· objetivo, é necessário que levem em conta o resto do mundo. O posto é que ele simplifica a análise: depois que a taxa de juros é
ka fluxo internacional de bens e serviços e o fluxo internacional de detenninada, podemos concentrar nossa atenção no papel da taxa
capital podem afetar profundamente uma economia. Ignorar esses de câmbio. Além disso, para algumas economias, como ocorre
....J efeitos é um risco para os formuladores de política econômica. na Bélgica ou na Holanda, a suposição de uma economia aberta
Neste capítulo, ampliaremos nossa análise da demanda agre- pequena com perfeita mobilidade de capital é procedente. Con-
gada para incluir o comércio e as finanças internacionais. O tudo, essa suposição- e, da mesma maneira, o modelo Mundell-
modelo desenvolvido aqui, chamado de modelo Mundell- Fleming - não se aplica exatamente a uma economia aberta
Fleming, é uma versão do mode lo IS-LM numa economia aber- grande como a dos Estados Unidos. Na conclusão desse capítulo
ta. Esses dois modelos ressaltam a interação entre o mercado (e, mais plenamente, no apêndice), analisamos o que acontece
1ros de bens e o mercado de serviços. Ambos pressupõem que o ní- no caso mais complexo em que a mobilidade do capital interna-
vel de preço é constante, e depois mostram o que causa as osci- cional é imperfeita , ou um país é tão grande que pode influenci-
de-
lações da renda agregada (ou, de modo equivalente, o quedes- ar os mercados financeiros mundiais.
loca na curva de demanda agregada) no curto prazo. A dife- Uma lição do modelo Mundell-Fleming é que o comportamen-
rença fundamental é que o modelo IS-LM pressupõe uma eco- to de uma economia depende do sistema de taxa de câmbio que
nomia fechada, enquanro o modelo Mundell-Fleming toma ela adotou. Começamos por pressupor que a economia opera com
como pressuposta uma economia aberta. O modelo Mundell- uma taxa de câmbio flutuante. Ou seja, pressupomos que o ban-
Fleming é uma extensão do modelo de renda nacional de cur- co central permite que a taxa de câmbio se ajuste às variações das
to prazo dos Caps. 10 e 11, com a inclusão dos efeitos do co- condições econômicas. Depois, examinamos como a economia
mércio e das finanças internacionais do Cap. 5. opera com uma taxa de câmbio fixa, e analisamos o que é me-
O modelo Mundell-Fleming estabelece um pressuposto ex- lhor, se uma taxa de câmbio fixa ou uma taxa de câmbio flutuan-
tremo e importante: pressupõe que a economia que está sendo te. Essa questão vem se comando cada vez mais importante nos
estudada é uma economia aberta pequena com perfeita mobili- ültimos arn1s, na medida em que muitos países por todo o mundo
dade de capital. Ou seja, a economia pode tomar emprestado ou dehatem qual sistema de ta xa de câmbio deve adotar.

12-1 O MODELO MUNDELL-FLEMING


Nesta seção, desenvolveremos o modelo Mundell-Fleming. Nas Mundell-Fleming baseia-se em componentes que usamos em
próximas seções, aplicaremos o modelo para examinar o impac- capítulos anteriores. Mas essas peças são reunidas de uma ma-
to de várias políticas econômicas. Como você verá, o modelo neira nova para tratar de um novo conjunto de questões.'

1
O modelo MundelJ.Fteming foi desenvolvido no início da década de 1960. As· contribuições de Mundell estão reunidas em Robert A. Mundell, Intemational
Economics (Nova York: Macmillan, 1968). Para a contribuição de Fleming, veja J. Marcus Fleming, "Domestic Financial Policies Under Fixed and Under Floating
Exchange Rates", JMF Staff Papers 9 (novembro de 1962): 369-379. Em 1999, Robert Mundell ganhou o Prêmio Nobel por sua obra sobre macroeconomia de
economia aberra.
216 CAPÍTULO 12

o PRESSUPOTO BÁSICO: ECONOMIA tivo das moedas interna e externa). Se e é a taxa de câmbio
nominal, a taxa de câmbio real E é igual a eP/P*, em que P é
.ABERTA PEQUENA COM PERFEITA o nível de preços internos e P* o nível de preços externos. O
MOBILIDADE DE CAPITAL modelo Mundell-Fleming, no entanto, pressupõe que os ní-
veis de preços interno e externo são constantes; portanto, a
Começaremos pelo pressuposto de uma economia aberta pe-
taxa de câmbio real é proporcional à taxa de câmbio nomi-
quena com perfeita mobilidade de capital. Como vimos no Cap.
5, esse pressuposto significa que a taxa de juros nessa econo- nal. Ou seja, quando a taxa de câmbio nominal sofre valori-
mia ré determinada pela taxa de juros mundial r·. Em termos zação (digamos, de 100 para 120 ienes por dólar) , os bens
matemáticos, podemos escrever esse pressuposto como externos tomam-se mais baratos em comparação com os bens
internos, o que faz com que as exportações caiam e as impor-
r = r* . tações aumentem.
Presume-se que a taxa de juros mundial é determinada Podemos ilustrar essa equação do equilíbrio do mercado de
exogenamente, porque a economia é relativamente pequena bem em um gráfico em que a renda situa-se no eixo horizontal
em relação à economia mundial, o que lhe permite tomar em- e a taxa de câmbio no eixo vertical. Essa curva é apresentada
prestado ou emprestar quanto quiser nos mercados financeiros no gráfico (c) da Fig. 12-1, sendo chamada de curva IS*. A nova
internacionais sem afetar a taxa de juros mundial. indicação lembra -nos que a cur\'a mantém a taxa de juros cons-
Embora a idéia de perfeita mobilidade de capital esteja ex - tante à raxa de juros mundial r*.
pressa com uma equaçãn simples, é importante não esquecer o A curva IS* é negativamente inclinada porque uma taxa de
., ' sofisticado processo que essa equação representa. Imagine que juros mais alta redu z as exportações líquidas, o que por sua vez
ocorresse algum efeito que normalmente aumentaria a taxa de haixa a renda agregada. Para mostrar corno isso funciona, os
juros (como o declínio da po up,mça interna). Em uma econo- outros gráficos da Fig. 12-1 combinam a curva de exportações
mia aberta pequena, a taxa de juros interna poderia subir um líquidas e a cruz keynesiana para obter a curva IS*. No gráfico
pouco no curto pra!o; mas, assim que isso acontecesse, os es- (a) , um aumento da taxa de câmbio de e 1 para e, baixa as ex-
tran geiros ,·eriarn a taxa de juros mai s alta e começariam a portações líquidas de NX(e 1) para NX(e, ). No gráfico (b), a
emprestar a esse país (por exemplo, comprando títulos públi- reduçãi1 das exportações líquidas desloca para baixo a curva de
cos do país). O flu xo líquido de entrada de capim] faria com gasto planejado e , com isso, baixa a renda de Y1 para Y,. A cur-
que a taxa de juros interna recuasse parar*. Da mesma manei- va IS* sintetiza esse relacionamento entre a taxa de câmbio e e
ra, se a lgum evento fizesse com que a taxa de juros interna co- a renda Y.
meçasse a cair, n capital sairia do país para ,1hter umn taxa de
juros mais alta no ex terior. Esse fluxo líquido de saída de capi-
tal faria com que a taxa Je juros tornasse a subir p,ua r*. As-
o MERCADO MONETÁRIO E A CURVA LM *
sim, a equação r = r* representa o pressuposto de que o fluxn O modelo M undell-Fleming represent,1 o mercado monetário
internacional de capital é r,ípido o bastante para manter a taxa com uma equ,1ção que já deve ser conhecida do 1rn)delo IS-LM,
de juros intern a igual ri taxa Je jurns mundial. com a suposição adicional de que a taxa de juros interna é igual
à taxa de jurns mundial:

o MERCADO DE BENS E A CURVA IS* M/P = L(r*.Y) .

O 1nL)delo Mundell-Fleming desc reve o me rrnLlo de hens e ,er- Esrn equação enuncia que a l)ferta de encaixes monet,hios re-
\'iços da mesma maneira que n modelo IS-LM , mas acrescenta ais, M/P, é igual à demanda, L(r ,Y). A demanda de encaixes
um nt)\'O termo para as exportações líqu ida,. Em parricular . o rea is depende nega t i\·amente da taxa de juros, agora fixada
mercado de bens é representado pe la seguinte equaçãn: como igual à taxa de juros mundial r* . e pl)SitiYatnente da ren-
da Y. A oferta monetária M é uma \·,iriáve l exógena contro-
Y = C(Y - T) + l(r*) + G + NX(e) . lada pelo hancn central. Como o modeln Mundell-Fleming é
Esta equação enuncia que a renda agregada Y é a soma d,1 con- projetado parn analisar as oscilações de curto prazo, também
sumo C, do investimento l, das compras do go\'erno G e das se presume que o ní vel de preço Pé exngenamente determi-
exportações líquidas NX. O consumo depende positivamente nado.
da renda disponível Y -T. O investimento depende negativa- Podemos representar graficamente esta equação com uma
mente da raxa de juros, que é igual à taxa de juros mundial r*. curva LM* \'errical. como no gráfico (b) da Fig. 12-2. Acurva
As exportações líquidas dependem negativamente da taxa de LM * é vertical porque a taxa de câmbio não entra na equação
câmbio e. Tal como antes, definimos a taxa de câmbio e como LM* . Diante da taxa de juros mundial , a equação LM* deter-
a quantidade de moeda estrangeira por unidade de moeda in- mina a renda agregada, independentemente da taxa de câm-
terna - por exemplo, e pode ser 100 ienes por dólar. bio. A Fig. 12-2 mostra como a curva LM* é derivada da taxa
Talvez você se lembre de que no Cap. 5 relacionamos as de juros mundial e da curva LM, que relaciona a taxa de juros
exportações líquidas com a taxa de câmbio real (o preço rela- e a renda.
l
DEMANDA AGREGADA NA ECONOMIA ABERTA 217

Fig. 12-1 A Curva IS* A curva IS* é obtida da curva de ex- ( b) A Cruz Keynesiana
portações líquidas e da cruz keynesiana. O gráfico (a) mostra a
Gasto, E
curva de exportações líquidas: um aumento da taxa de câmbio Gasto
.3. ... o que real
de e 1 para e2 baixa as exportações líquidas de NX(e) para NX(e2).
desloca para
O gráfico (b) mostra a cruz keynesiana: uma diminuição das baixa a gasta
exportações líquidas de NX(e 1) para NX(e 2) desloca a curva de planejada ...
gasto planejado para baixo e reduz a renda de Y1 para Y2. O grá-
fico (c) mostra a curva IS' sintetizando essa relação entre a taxa
de câmbio e a renda: quanto mais alta a taxa de câmbio, menor
o nível de renda.

4. ... e
baixa
a renda.
Renda,
produto, Y

(a) Linha de Exportações Líquidas (e) A Curva /5* :


Taxa de câmbio, e Taxa de
câmbio, e
5. A curva IS"
sintetiza essas
mudanças do
....•... ' .. ... . .... &i equilibrio do
1. Um e2
mercado de bens.
aumento da
taxa de
câmbio ...
--t
e, . .. .. . . . . , ..... . . , . ........ . .. -e, .
1
2 . ... reduz as
exportações . ANX . IS*
líquidas... ~
NX( e2 ) - NX( e,) Exportações Renda,
liquidas, produto, Y
NX

JUNTANDO AS PEÇAS rica monetária M, o nível de preços P, e a taxa de juros mun-


dial r*. As variáveis endógenas são a renda Y e a taxa de câm-
Segundo o modelo Mundell-Fleming, uma economia aherta bio e.
pequena com perfeita mohilidade de capital pode ser descrita A Fig. 12-3 ilustra essas duas relações. O equilíbrio da eco-
por duas equações: nomia é encontrado onde a curva IS* e a curva LM* se inter-
Y = C(Y - T) + I(r*) + G + NX(e) IS *, ceptam. Essa interseção mostra a taxa de câmbio e o nível de
M/P = L(r*, Y) LM*. renda em que tanto o mercado de bens quanto o mercado
monetário estão em equilíbrio. Com esse diagrama, podemos
A primeira equação descreve o equilíbrio no mercado de bens, tomar o modelo Mundell-Fleming para mostrar como a renda
e a segunda equação descreve o equilíbrio no mercado mone- agregada Y e a taxa de câmbio e reagem a mudanças da política
tário. As variáveis exógenas são a política fiscal G e T, a polí- econômica.

12-2 A ECONOMIA ABERTA PEQUENA SOB


TAXAS DE CÂMBIO FLUTUANTES
Antes de analisar o impacto de políticas econômica em uma eco- relevante para a maioria das economias de hoje: as taxas de câm,
nomia aberta, devemos especificar o sistema monetário interna- bio flutuantes. Sob taxas de câmbio flutuantes, a taxa de câmbio
cional em que o país decidiu operar. Comecemos pelo sistema pode oscilar em reação às variações das condições econômicas.
218 CAPÍTULO 12

(a) A Curva LM Taxa de


câmbio, e LM*
Taxa de juros, r
LM
1. A condição
de equillbrio
do mercado
monetário ...
Taxa de cambio
de equilfbrio
r = r*
2 . ... ea
taxa de juros
mundial...
Renda de
equil,'brio IS*

Renda, produto, Y
:Renda, produto, Y
Fig. 12-3 O Modelo Mundell-Fleming Este gráfico do modelo Mundell-
Fleming representa a condição de equilíbrio IS* do mercado de bens e a
(b) A Curva ~M* condição de equilíbrio LM· do mercado monetário As duas curvas são
Taxa de elaboradas mantendo-se constante a taxa de juros, à taxa de juros mun-
câmbio, e
LM* dial. A interseção das duas curvas mostra o nível de renda e a taxa de
câmb io que satisfazem o equilíbrio. tanto no mercado de bens quanto no
mercado monetário.

3 . ... determinam
o n(vel de ferença? Quando a renda aumenta em uma economia fechada,
renda. a taxa de juros sobe, porque a renda maior aumenta a demanda
por moeda. lsso não é possível em uma economia aberta pe-
quena: assim que a raxa de juros tenta subir ac ima da taxa de
juros mundial r*, o capital flui do exterior. Esse fluxo líquido
de entrada de capital aumenta a demanda pela moeda interna
Renda, produto, Y no mercado de câmbio. Com isso, aumenta o valor da moeda
interna. A elevação da taxa de câmbi0 toma os bens internos
Fig. 12-2 A Curva LM" O gráfico (a) mostra a curva LM padrão [que caros em relação aos bens externos, o que reduz as exportações
representa graficamente a equação MIP =L(r,YlL junto com urna curva líquidas. A queda das exportações líquidas contrabalança os
horizontal representando a taxa de juros mundial r* A interseção dessas efeitos da política fiscal expansionista na renda.
duas curvas determina o nível de renda. independentemente da taxa de Por que a queda das exportações líquidas é tão grande que
câmbio Portanto. como o gráfico (b) mostra. a curva LM* é vertical. torna a política fiscal impotente para influenciar a renda? Para
responder a essa pergunta, considere a equação que descreve o
mercado monetário:
M!P = L(r,Y).
POLÍTICA FISCAL
Tanto n a economia fechada quanto na aberta, a oferta de en-
Suponha que o governo estimule o gasto interno, aumentando
caixes monterários reais M/P é constante, enquanto a deman·
as compras de governo ou cortando impostos . Uma vez que dada (determinada porre Y) deve ser igual a essa oferta fixa.
aumenta o gasto planejado, essa política fiscal expansionista
Em uma economia fechada, uma expansão fiscal faz com que
desloca a curva IS* para a direita, como na Fig. 12 -4. Em con- aumente a taxa de juros de equilíbrio. Esse aumento da taxa de
seqüência, a taxa de câmbio se valoriza, enquanto o nível de
juros (que reduz a demanda por moeda) faz com que a renda de
renda permanece o mesmo. equilíbrio também aumente (o que aumenta a demanda por
Cabe ressaltar que a política fiscal tem efeitos muito dife-
moeda). Em contraste, em uma pequena aberta economia, ré
rentes em uma economia aberta pequena do que ocorre em uma
fixa ar*, e por isso há apenas um nível de renda que possasa·
economia fechada. No modelo IS -LM de economia fechada,
tisfazer essa equação; e esse nível de renda não varia quando a
uma expansão fiscal aumenta a renda, enquanto em uma eco-
política fiscal muda. Assim, quando o governo aumenta seus
nomia aberta pequena, com uma taxa de câmbio flutuante, uma
gastos ou corta impostos, a valorização da taxa de câmbio e a
expansão fiscal deixa a renda no mesmo nível. Por que a di-
T
1
DEMANDA AGREGADA NA ECONOMIA ABERTA
219

Taxa de câmbio, e
LM*

1. Uma polftíca fiscal


expansionista desloca a
Cu Na IS* para a direita, ...

2~
aume~;1
a taxa de
câmbio ... 3 . ... e
deixa inalterada
a renda.

Renda, produto, Y

Fig. 12-4 Uma Expansão Fiscal sob Taxas de Juros Flutuantes Um aumento das compras do governo ou uma redução dos impostos desloca
a curva IS* para a direita. Isso aumenta a taxa de câmbio. mas não tem efeito na renda.

queda das exportações líquidas devem ser grandes o bastante Embora a política monetária influencie a renda em uma
para contrabalançarem plenamente o efeito expansionista nor- economia aberra, como acontece em uma economia fechada,
mal da política fiscal sobre a renda. o mecanismo de transmissão monetária é diferente. Lembre-se
de que, em uma economia fechada, um aumento da oferta
POLÍTICA MONETÁRIA monetária eleva o gasto, porque reduz a taxa de juros e estimu-
la o investimento. Numa economia aberta pequena, a taxa de
Suponha agora que o banco central aumente a oferta mone - juros é fixada pela taxa de juros mundial. Assim que um au-
tária. Como se pressupõe que o nível de preços seja constan- mento da oferta monetária diminui a pressão sobre a taxa de
te, o aumento da oferta monetária significa um aumento dos juros interna, o capital flui para fora da economia à medida que
encaixes reais. O aumento dos encaixes reais desloca a curva os investidores procurem um retomo maior em outros lugares.
LM* para a direita, como na Fig. 12-5. Portanto, um aumen- Esse fluxo líquido de saída de capital impede a queda da taxa
to da oferta monetária eleva a renda e reduz a taxa de câm- de juros interna. Além disso, como o fluxo de saída de capital
bio. aumenta a oferta monetária interna no mercado de câmbio, a

Taxa de câmbio, e

1. Uma expansão
monetária desloca a
curva LM* para a
dir-eita, ...
2 . ... o que
baixa a
taxa de
câmbio ...

3 . ... e
aumenta a /5*
renda.
Renda, produto, Y

Fig. 12-5 Uma Expansão Monetária sob Taxas de Câmbio Flutuantes Um aumento da oferta monetária desloca a curvaLM* para a direita,
baixando a taxa de câmbio e aumentando a renda.
220 CAPÍTULO 12

taxa de câmbio se deprecia. A queda da taxa de câmbio faz com Como as exportações líquidas são as exportações menos as
que os bens internos tornem-se baratos em relação aos bens importações, uma redução das importações significa aumento
externos e, com isso, estimula as exportações líquidas. Assim, das exportações líquidas. Ou seja, a curva de exportações líqui-
em uma pequena aberta economia, a política monetária influ- das desloca-se para a direita, como na Fig. 12-6. Esse desloca-
encia a renda por meio da alteração da taxa de câmbio, em vez mento da curva de exportações líquidas aumenta o gasto pla-
da taxa de juros. nejado, e com isso desloca a curva IS* para a direita. Como a
curva LM* é vertical, a restrição comercial aumenta a taxa de
câmbio, mas não afeta a renda.
POLÍTICA COMERCIAL Um objetivo freqüente das políticas económicas para res-
Suponhamos que o governo reduza a demanda por bens impor- tringir o comércio é alterar a balança comercial NX. Contudo,
tados ao impor uma tarifa ou quota sobre importação. O que como ressaltamos no Cap. 5, tais políticas não têm necessaria-
acontece com a renda agregada e a taxa de câmbio? mente esse efeito. A mesma conclusão é válida no modelo

(a) O Deslocamento da Curva de Exportações Líquidas


Taxa de câmbio, e

_j ·,l:
1. Uma restrição
·• , ' ·1
comercial desloca
.J a curva NX para fora, ...
"''

. ,.
1:.

Exportações líqu idas, NX

(b) A Mudança do Equilíbrio da Economia


Taxa de câmbio, e
LM"

3 . ... aumentando
2 . ... o que desloca a
a taxa de
curva IS* para fora, ...
câmbio ...

4 . ... e deixando 1s;


inalterada
a renda.

Renda, produto, Y

Fig. 12-6 Uma Restrição Comercial sob Taxas de Câmbio Flutuantes Uma tarifa ou uma quota sobre importações desloca a curva de expor-
tações líquidas do gráfico (a) para a direita. Em conseqüência, a curva JS• do gráfico (b) desloca-se para a direita, aumentando a taxa de càmbio e
deixando inalterada a renda.
DEMANDA AGREGADA NA EcONOMIA ABERTA 22}

Mundell-Fleming sob taxas de câmbio flutuantes. Lembre-se lança comercial. Embora o deslocamento da curva de exporta-
de que ções líquidas tenda a aumentar NX, o aumento da taxa de câm-
bio reduz NX no mesmo montante.
NX(e) = Y - C(Y - T) - I(r*) - G.
Como uma restrição comercial não afeta a renda, o consumo,
o investimento, nem as compras do governo, não afeta a ba-

12-3 A ECONOMIA PEQUENA ABERTA SOB


TAXAS DE CÂMBIO FIXAS
Passemos agora ao segundo tipo de sistema de taxa de câm- Para entender como a fixação da taxa de câmbio determina
bio: as taxas de câmbio fixas. Nas décadas de 1950 e 1960, a oferta monetária, reflita sobre o exemplo a seguir. Suponha
a maioria das grandes economias do mundo, inclusive a dos que o Fed anuncie que fixará a taxa de câmbio em 100 ienes
Estados Unidos, opera\'a dentro do sistema de Bretron por dólar; mas, no equilíbrio atual, com a oferta monetária atual,
Wolids, um sistema mnnenírio internacional pelo qual a a taxa de câmbio é de 150 ienes por dólar. Essa situação está
maioria dos governos concordava em fixar taxas de câmbiL). ilustrada no gráfico (a) da Fig. 12- 7. Observe que há uma opor-
O mundo abandonou esse sistema no início da década de tunidade de lucro: um operador pode comprar 300 ienes no
1970, com as taxas de câmbio tendo permissão para flutua- mercado por $2, e depois vender os ienes ao Fed por $3, obten-
rem. Mais tarde, alguns países europeus restabeleceram um do um lucro de $1. Quando o Fed compra esses ienes do opera-
sistema de taxas de câmbio fi xas entre eles. Além disso, al- dor, os dólares que paga nessa operação aumentam automati-
guns eco nnmistas defenderam um retorno a um sistema in- camente a oferta monetária. O aumento da oferta monetária
ternacional de taxas de câmbio fix as . Nesta seção, analisa- desloca a curva LM* para a direita, baixando a taxa de câmbio
remos como l) siste ma funciona. T amhém examinarenws o de equilíbrio. Dessa maneira, a oferta monetária continua a au-
impacto das po lít icas econômicas em uma economia com mentar até que a taxa de câmhio de equilíhrio caia ao nível
taxa de címl,i,) fixa. anunciado.
Inversamente, suponha que, na ocasião em que o Fed anun-
cia que fixará a taxa de câmbio em 100 ienes por dólar, o equi-
COMO FUNCIONA UM SISTEMA DE TAXA DE
líbrio esteja em 50 ienes por dólar. O gráfico (b) da Fig. 12-7
CÂMBIO FIXA mostrn essa situação. Nesse caso, um operador pode ter um lu-
Pelo sistema de taxas de câmhio fixa s, um banco central cro ao comprar 100 ienes do Fed por $1 e depois vendê-los no
está sempre pronto para comprar ou vender a mueda in- mercado por $2. Quando o Fed vende esses ienes, o $1 que ele
terna por moedas extern,1s a um preço predeterminad n. Púr recebe automaticamente reduz a oferta monetária. A queda da
exempl(), suponha que o Fed, o Banc o Central dos EUA, oferta monenhia desloca a curva LM* para a esquerda, aumen-
anunci ou que vai fixar a taxa de câmbio em 100 ie n es por tando a taxa de câmbio de equilíbrio. A oferta monetária con -
dólar. Ou sej,1, estnria prmltl) para dar $1 em troca de 100 tinua a cair, até que a taxa de câmbio de equilíbrio aumente
ienes, uu dar l 00 ienes em troca de $1. Para exec utar ess,1 para o níYel anunciado.
política, o Fed precisaria de uma reserva de dólares (que u É importante compreender que esse sistema de taxa de câm-
Fed pode emitir) e uma reserva de ienes (que o Fed deve bio fixa a taxa de câmbio nominal. Se também fixa a taxa de
ter compr,1dn ,mtes). câmbio real depende do horizonte de tempo que se tem em vista.
U1m1 taxa de d\rnl,iu fixa dedica a p,1lítica monetúria de um Se os preços s,i.o flexíveis, como ocorre no longo prazo, a taxa
país ao ohjetinl únic() de man rer a taxa de cfünhio no ní\'el de cfünbio real pode variar, até mesmo enquanto a taxa de câm-
anunciado. Em nutras pala\Tas, a essência de um siste1m1 de taxa bio nominal permanece constante. Portanto, no longo prazo,
de câmhiu fixa é Ll compromisso do banco central de permitir como é descrito no Cap. 5, uma política para fixar a taxa de
que a oferta monetária se ajuste a qualquer nível que assegure câmhio nominal não influenciaria qualquer variável real, in-
que a tax.i. de câmbio de equilíl,rio seja igual à taxa de câmbio clusive a taxa de câmbio real. Uma taxa de câmbio nominal
anunciada. Além disso, enquanto o hanco central esti\'er dis- fixa influenciaria apenas a oferta monetária e o nível de pre-
posto â comprar ou vender moeda estrangeira à taxa de câm- ços. Contudo, no curto prazo, descrito pelo modelo Mundell-
bio fixa, a oferta monetária aiusta-se automaticamente ao ní- Fleming, os preços são rígidos; assim, uma taxa de câmbio no-
vel necessário. minal fixa implica uma taxa de câmbio real também fixa.
222 CAPITULO 12

(a) A Taxa de Câmbio de Equilíbrio É Maior (b) A Taxa de Câmbio de Equilíbrio É Menor
que a Taxa de Câmbio Fixada que a Taxa de Câmbio Fixada
Taxa de câmbio, e Taxa de câmbio, e LMf
Taxa de
cambio de
equilibrio J Taxa de
J------+--1a---- câmbio
fixada
Taxa de câmbio
IS*
fixada
Taxa de
câmbio de
1
equillbrio
15*
Renda, produto, Y Renda, produto, Y

Fig. 12-7 Como uma Taxa de Câmbio Fixa Determina a Oferta Monetária No gráfico (a), a taxa de câmbio de equilíbrio inicialmente supera
o nível fixado. Os operadores comprarão moeda externa em mercados de câmbio externos e venderão ao banco central doméstico com lucro. Esse
processo automaticamente aumenta a oferta monetária, deslocando a curva LM* para a direita e baixando a taxa de câmbio. No gráfico (b), a taxa
de cãmbio de equilíbrio está inicialmente abaixo do nível fixado. Os operadores comprarão dólares nos mercados de câmbio externos e os usarão
para comprar moeda externa do banco central doméstico. Esse processo automaticamente reduz a oferta monetária, deslocando a curva LM* para
. j
a esquerda e aumentando a taxa de câmbio .

j .

ESTUDO DE CASO - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - .
0 PADRÃO-OURO INTERNACIONAL libras por $100, usar as libras para comprar 2 onças de ouro
Durante o final do século XIX e início do século XX, a maioria do Banco da Inglaterra, levar o ouro para os Estados Unidos
das grandes economias do mundo operava sob o padrão-ouro. e vendê-lo ao Tesouro norte-americano por $200, obtendo um
Cada país mantinha urna reserva de ouro, e concordava em lucro de $100. Além disso, ao levar o ouro da Inglaterra para
trocar urna unidade de sua moeda por uma quantidade especi- os Estados Unidos, o operador aumentaria a oferta monetária
ficada de ouro. Por meio do padrão-ouro, as economias do dos Estados Unidos e diminuiria a oferta monetária da Ingla-
mundo mantinham um ~istema de taxas de câmbio fixas. terra.
Para compreender como um padrão-ouro internacional fixa Assim, durante a era do padrão-ouro, o transporte interna-
as taxas de câmbio, suponha que o Tesouro dos Estados Uni- cional de ouro pelos operadores era um mecanismo automáti-
dos esteja disposto a comprar 1 onça de ouro por $100, enquanto co de ajuste da oferta monetária e de estabilização das taxas de
o Banco da Inglaterra está disposto a comprar uma onça de ouro câmbio. Esse sistema não fixava totalmente as taxas de câm-
,·'·
por 100 libras. Juntas, essas políticas fixam a raxa de câmbio bio, porque o transporte de ouro pelo Atlântico era dispendio-
entre dólares e libras: $1 deve ser trocado por 1 libra. Se nãú so. Contudo, o padrão -ouro internacional mantinha a taxa de
for assim, a lei do preço único seria violada, e se tornaria lucra- câmbio dentro de um âmbito determinado pelos custos de trans-
tivo comprar ouro em um país para vender no outro. porte. Assim, evitava grandes e persistentes variações das ta-
Por exemplo, suponha que a taxa de câmbio fosse de 2 li- xas de câmbio. 1
bras por dólar. Nesse caso, um operador poderia comprar 200

POLÍTICA FISCAL curva IS* para a direita, como na Fig. 12-8, pressionando a taxa
de câmbio para cima. Mas, como o banco central permanece
Vamos agora examinar como as políticas econômicas afetam uma disposto a trocar moeda externa e interna à taxa de câmbio fixa,
economia aberta pequena com uma taxa de câmbio fixa. Supo- os operadores rapidamente reagem à taxa de câmbio crescente
nha que o governo estimule o gasto interno aumentando as com- vendendo moeda externa ao banco central, o que leva a uma
pras do governo ou cortando impostos. Essa política desloca a expansão monetária automática. O aumento da oferta monetá-

1
Para saber mais sobre a maneira como funcionava o padrão-ouro, veja o ensa ios em Barry Eichengreen, ed., The Gold Standard in Theor y and History (Nova
York: Methuen, 1985).
DEMANDA AGREGADA NA ECONOMIA ABERTA 223

Taxa de câmbio, e
2 . ... uma expansão LM*2
3 . ... o que
fiscal desloca induz um
a curva IS" deslocamento
para a direita, . da curva LM"...

1. Com uma
taxa de câmbio
fixa ...
ra
,e 4 . ... e aumenta - + - -- -- - - -- --1---
<a a renda.
fo Y, Y2 Renda, produto, Y
ra
Fig. 12-8 Uma Expansão Fiscal sob Taxas de Câmbio Fixas Uma expansão fiscal desloca a curva IS* para a direita. Para manter fixa a taxa de
câmbio, o banco central doméstico deve aumentar a oferta monetária, com isso deslocando a curva LM* para a direita. Por isso, em contraste com
o caso das taxas de câmbio flutuantes, uma expansão fiscal aumenta a renda sob taxas de câmbio fixas.

-,
:o
ria desloca a curva LM* para a direita. Assim, sob uma taxa de exemplo, comprando títulos do público. O que aconteceria? O
)S
câmbio fixa, uma expansão fiscal aumenta a renda agregada. impacto inicial dessa política é deslocar a curva LM* para a
m
direita, baixando a taxa de câmbio, como na Fig. 12-9. Mas,
ra
como o banco central está empenhado em trocar moeda inter-
ia POLÍTICA MONETÁRIA
na e externa a urna taxa de câmbio fixa, os operadores reagem
a-
Imagine que um banco central que operasse com uma taxa de rapidamente à queda da taxa de câmbio com a venda de moe-
câmbio fixa fosse tentar aumentar a oferta monetária - por da interna ao banco central, fazendo com que a oferta mone-
a-
:i-
le
íl- Taxa de câmbio, e
LM"
J-
]e
.'i-
a-
Taxa
_J de câmbio
fixa

:a,
te
)3

á- IS"

Renda, produto, Y

Fig. 12-9 Uma Expansão Monetária sob Taxas de Câmbio Fixas Se o banco central tenta aumentar a oferta monetária - por exemplo, com-
va prando títulos do público - aplicará uma pressão para baixo sobre a taxa de câmbio. Para manter fixa a taxa de câmbio, a oferta monetária e a curva
LM• devem retornar a suas posições iniciais. Por isso, sob taxas de câmbio fixas, a política monetária normal é ineficaz.
224 CAPITULO 12

tária e a curva LM* retomem a suas posições iniciais. Por isso, da moeda é uma desvalorização e um aumento em seu valor é
a política monetária, da maneira como geralmente é conduzi- chamado de revaloriiação. No modelo Mundell-Fleming, uma
da, é ineficaz sob uma taxa de câmbio fixa. Ao concordar em desvalorização desloca a curva LM* para a direita, e funciona
fixar a taxa de câmbio, o banco central abre mão do controle como um aumento da oferta monetária sob uma taxa de câm-
sobre a oferta monetária. bio flutuante. Assim, uma desvalorização expande as exporta-
Um país com uma taxa de câmbio fixa, no entanto, pode ções líquidas e aumenta a renda agregada. Inversamente, uma
realizar um tipo de política monetária: pode decidir mudar o revalorização desloca a curva LM* para a esquerda, reduz as
nível em que a taxa de câmbio é fixada. Uma redução do valor exportações líquidas e diminui a renda agregada.

ESTUDO DE CASO - - - - - - - - - - - -
DESVALORIZAÇÃO E A RECUPERAÇÃO DA GRANDE ca, Finlândia, Noruega, Suécia e Reino Unido, reduziram 0
DEPRESSÃO montante de ouro que pagariam por cada unidade monetária
A Grande Depressão da década de 1930 foi um problema glo- em cerca de 50%. Com a diminuição do valor em ouro de suas
bal. Embora os e\'entos nos Esrados Unidos possam ter preci- moedas, esses governos desvalorizaram suas moedas em relação
pitado o declínio, todas as principais econúmias do mundo às moedas de outros países.
experimentaram uma tremenda diminuição do produto e em- A experiência subseqüente desses dois grupos de países está
prego. Mas nem todos os governos reagiram a essa calamidade de acordo com a predição do modelo Mundell-Fleming. Os
da mesma maneira. países que adotaram uma política de desvalorização recupera-

' J
.. '
Uma diferença fundamental entre os governos foi ó quantú
estavam empenhados em manter a taxa de câmbio fixa deter-
ram-se mais depressa da Depressão. O valor mais baixo da
moeda aumentou a oferta monetária, estimulou as exportações
minada pelo padrão-ouro internacional. Alguns países, como e expandiu o produto. Em contraste, os países que mantiveram
França, Alemanha, Itália e Holanda, mantiveram a antiga taxa a taxa de câmbio antiga sofreram por mais tempo de um nível
de câmbio entre ouro e moeda. Outros países, como Dinamar- reduzido da atividade econômica. '

POLÍTICA COMERCIAL POLÍTICA ECONÔMICA NO


Suponha que o governo reduza as importações impondo uma MODELO MUNDELL-FLEMING:
quota ou tarifa sobre as importação. Essa política desloca a li-
UM RESUMO
nha de exportações líquidas para a direita, e assim desloca a
curva JS* para a direita, como na Fig. 12-10. O deslncamenrn O modelo Mundell-Fleming mostra que o efeito de qualquer
da curva IS * tende a aumentar a taxa de câmhio. Para manter políticn econômica em uma economia aherta pequena depen-
a taxa de câmhio fixa, a oferta monetária deve aumentar, des- de se a taxa de câmbio é flutuante ou fixa. A T abela 12-1 sin-
<..: locando a curva LM* para a direita. tetiza nossa análise dos efeitos das políticas fiscal, monetária
O resultado de uma barreira comercial snh uma taxa de câm- e comercial sobre a renda, a taxa de câmhio e a halança co-
bio fixa é muito diferente do que ocorre com uma taxa de câm- mercial no curto pra.o. O mais impressionante é que todos os
hio flutuante. Nos dois casos, uma barreira comercial desloca a resultados são diferentes sob as taxas de câmhio fixa e flutu-
curva de exportações líquidas para a direita, mas apenas sob uma ante.
taxa de câmbio fixa é que uma barreira comercial aumenta as Para ser mais específico, u modelo Mundell-Fleming mos-
exportações líquidas NX. O motivo é que uma barreira comer- tra que o poder da política monetária e fiscal de influenciar a
cial sob uma taxa de câmbio fixa induz a expansão monetária, renda agregada depende do regime de taxa de câmbio. Sob ta-
em vez de acarretar uma valorização da taxa de câmbio. A ex- xas de câmbio flutuantes, apenas a política monetária pode
pansão monetária, por sua vez, aumenta a renda agregada. Lem- afetar a renda. O impacto expansionista usual da política fiscal
bre-se da identidade de conta é contrabalançado por um aumento do valor da moeda. Sob
taxas de câmbio fixas, apenas a política fiscal pode afetar a ren-
NX = S - I. da. O poder normal da política monetária se dilui porque a ofer-
Quando a renda aumenta, a poupança também aumenta, o que ta monetária visa a manter a taxa de câmbio no nível anunci-
acarreta um aumento das exportações líquidas. ado.

3
Barry Eichengreen e Jeffrey Sachs, "Exchange Rates and Economic Recovery in rhe 1930s", Joumal of Economic Hiswry 45 (dezembro de 1985): 925 -946.
é
T Taxa de câmbio, e
2 . ... uma restrição
DEMANDA AGREGADA NA ECONOMIA ABERTA 225

La comercial desloca
La a curva IS*
1-
para a direita, ...
3 . ... o que induz
l· um deslocamento
1a da curva LM*...
lS

1. Com
uma taxa
..., de cãmbio
fixa, ...
o
ia
lS
4 . ... e
io
aumenta a renda. Y1- - - - • Y2 Renda, produto, Y
tá Fig. 12- 10 Uma Restrição Comercial sob Taxas de Câmbio Fixas Uma tarifa ou uma quota sobre importações desloca a curva IS* para a
)s
direita. Isso induz um aumento da ofe rta monetária para manter a taxa de câmbio fixa . Por isso, a renda agregada au menta.
a-
la
es
m 12-4 DIFERENCIAIS DE TAXAS DE JUROS
el
Até aqui, nossa am'i lise partiu do princípio de que a taxa de juros mundial, estávamos aplicando a lei do preço único. Racioci-
.J em uma ecnnomia ahe rta pequena é igual à taxa de juros mun- n amos que, se a taxa de juros interna estivesse acima da taxa
dial: r = r* . Até certo ponto, no entanto, as taxas de juros di- de juros mundial, as pessoas do exterior emprestariam para esse
ferem em diferentes regiões do mundo. A mpliaremos agora país, acarretando uma redução da taxa de juros interna. E se
nossa arnllise, considernndo as causas e os efeitos dos diferen- a taxa de juros interna estivesse abaixo da taxa de juros mun-
ciais internacionais de taxas de juros. dial, os res identes internos emprestariam para o exterior, a fim
de te r um retorno maior; e, com isso, a taxa d e juros interna
Risco-PAíS E EXPECTATIVAS DE TAXA DE subiria. Ao fina l, a taxa de juros interna se ria igual à taxa de
juros mundial.
CÂMBIO Por que essa lógica nem sempre se aplica? Há duas razões.
er
1- Quandn pressupo mos antes que a taxa de juros em nossa eco- Uma razão é o risco-país. Quando investidores compram
1- nomia ahcrra pequena é determinada pela taxa de juros títulos do governo dos Estados Unidos ou fazem emprés timos a
ia
J•
JS
u- TABELA 12-1 O Modelo Mundell-Fleming: Resumo dos Efeitos da Política
Econômica
,s·
REGIME DE TAXA DE CÂMBIO
a
a- FLUTUANTE FIXA
le IMPACTO SOBRE:
ai
ih Política y e NX y e NX
:1·
Expansão fiscal o i ! t o o
,r- Expansão monetária t ! 1 o D o
:i- Restrição à importação o t o t o 1
Observação: Esta tabela mostra a direção do impacto de várias políticas econômicas sobre a renda Y, a
taxa de câmbio e, e a balança comercial NX. Uma " t " indica que a variável aumenta; uma ,; ! " indica
que diminui; um "O" indica que não há qualquer efeito. Lembre-se de que a taxa de câmbio é definida
como o montante de moeda externa por unidade de moeda interna (por exemplo, 100 ienes por dólar).
226 CAPÍTULO 12

empresas americanas, estão confiantes de que receberão o que O prêmio de risco é determinado pelo risco político percebido
emprestaram com juros. Em contraste, em países menos desen- de se efetuarem empréstimos para um país e pela mudança es-
volvidos, é plausível recear que uma revolução ou outra con- perada da taxa de câmbio real. Para os nossos propósitos aqui,
vulsão política possa levar a uma inadimplência no pagamen- podemos considerar o prêmio de risco como exógeno, a fim de
to dos impostos. Os devedores desses países muitas vezes têm examinar como as variações do prêmio de risco afetam a eco.
de pagar juros mais altos para compensar os credores por esse nomia.
risco. O modelo é, em grande parte, o mesmo que antes. As duas
Outra razão para as taxas de juros diferirem entre um país e equações são
outro é a expectativa de variações da taxa de câmbio. Supo-
Y = C(Y - T) + I(r* + 8) + G + NX(e) IS*,
nha, por exemplo, que as pessoas esperem que o valor do fran-
co francês caia em relação ao do dólar americano. Nesse caso,
MIP = L(r* + 8, Y) LM*.
os empréstimos feitos em francos serão pagos em uma moeda Para qualquer política fiscal, política monetária, nível de pre-
menos valiosa do que os empréstimos feitos em dólares. Para ços e prêmio de risco, essas duas equações determinam o nível
compensar essa queda esperada do valor da moeda francesa, a de renda e a taxa de câmbio que equilibram o mercado de bens
taxa de juros da França será mais alta do que a taxa de juros e o mercado monetário. Para manter constante o prêmio de ris-
dos Estados Unidos. co, os instrumentos de política monetária, fiscal e comercial
Assim, por causa do risco-país e da expectativa de mudan- funcionam como já ressaltamos.
ças futuras da taxa de câmbio, a taxa de juros de uma econo- Suponha agora que uma convulsão política faça com que
mia aberta pequena pode diferir das taxas de juros em outras aumente o prêmio de risco O. O efeito mais direto é o aumento
'j : economias ao redor do mundo. Verificaremos agora como esse da taxa de juros internar. A taxa de juros mais alta, por sua
fato afeta nossa análise. vez, tem dois efeitos. Primeiro, a curva IS* desloca-se para a
esquerda, porque a taxa de juros maior reduz o investimento.
" .
J. Segundo, a curva LM* desloca-se para a direita, porque uma
DIFERENCIAIS DE JUROS NO MODELO taxa de juros mais elevada reduz a demanda por moeda, o que
MUNDELL-fLEMING permite um nível maior de renda para qualquer oferta mone-
tária dada. [Lembre-se de que Y deve satisfazer a equação
Para incorporar os diferenciais de taxa de juros ao modelo M/P=L(r* + 8,Y).] Como a Fig. 21-11 mostra, essas duas mu-
Mundell-Fleming, partimos do princípio de que a taxa de juros danças fazem a renda aumentar e a moeda se deprecia.
em nossa pequena economia aberta é determinada pela taxa de Esta análise cem uma implicação importante: as expectati-
juros mundial mais um prêmio de risco O: vas referentes à taxa de câmbio são, em parte, profecias auto-
T = r* + fl. realizáveis. Suponha, por exemplo, que as pessoas passem a

1. Quando um
Taxa de câmbio, e aumento do prêmio
de risca eleva a taxa LMf
de juros, a curva IS"
desloca-se para a
esquerda ...
2 . ... e a curva
LM* desloca-se
-~ para a direita, ...

!Sf

3. .. . resultando
em uma
depreciação.
Renda, produto, Y

Fig. 12·11 Um Aumento do Prêmio de Riséo Um aumento do prêmio de risco associado a um país causa uma elevação da sua taxa de juros.
Como a taxa de juros maiot reduz ó investimento, a curva IS* desloca-se para a esquerda. Como também reduz a demanda por moeda, a curva LM*
desloca-se para a direita. A renda aumenta e a taxa de câmbio sofre desvalori zação.
T DEMANDA AGREGADA NA EcONOMIA ABERTA 227

acreditar que o franco francês não será valioso no futuro. Os reduzindo a oferta monetária M. Segundo, a depreciação da
investidores atribuirão um prêmio de risco maior aos ativos fran- moeda interna pode subitamente aumentar o preço dos bens
ceses: evai aumentar na França. Essa expectativa elevará a taxa importados, causando um aumento do nível de preços P. Ter-
de juros francesa e, como acabamos de mostrar, reduzirá o va- ceiro, quando algum evento aumenta o prêmio de risco edo
lor da moeda francesa. Assim, a expectativa de que uma moeda país, os residentes do país podem reagir da mesma maneira,
perderá valor no futuro faz com que essa moeda perca valor hoje. aumentando sua demanda por moeda (para qualquer renda e
Uma previsão surpreendente - e talvez inacurada - desta taxa de juros dadas), porque a moeda é, com freqüência, o ati-
análise é que um aumento do risco-país, tal como medido por vo mais seguro disponível. Todas essas três mudanças tenderi-
(), fará com que a renda da economia também aumente. Isso am a deslocar a curva LM* para a esquerda, o que atenua a
ocorre na Fig. 12-11, por causa do deslocamento para a direita queda da taxa de juros, mas também tende a diminuir a renda.
da curva LM*. Embora as taxas de juros mais elevadas redu- Portanto, os aumentos do risco-país não são desejáveis. No
zam o investimento, a depreciação da moeda estimula as ex- curto prazo, geralmente levam a uma moeda depreciada e, por
portações líquidas por um montante ainda maior. Em conse- meio dos três canais que acabamos de descrever, a uma redu-
qüência, a renda agregada sobe. ção da renda agregada. Além disso, como uma taxa de juros
Há três razões para que, na prática, esse incremento da ren- maior reduz o investimento, a implicação no longo prazo é a
da não ocorra. Primeiro, o banco central pode querer e virar uma redução da acumulação de capital e um crescimento econômi-
grande desval()rização da moeda interna; para isso , pode reagir co menor.

ESTUDO DE CASO - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - .
CRISE FINANCEIRA INTERNACIONAL: Só que as reservas de moeda externa do México eram mui-
MÉXICO, 1994-1995 to pequenas para manter a taxa de câmbio fixa. Quando esgo-
Em agosto de 1994, um peso mexicano valia 30 centavos de taram-se os dólares do México, ao final de 1994, o governo
dólar. Um ano depois, valia apenas 16 centavos. O que expli- mexicano anunciou uma desvalorização do peso. Mas essa de-
ca essa queda maciça do valor da moeda mexicana? O risco- cisão teve repercussões, porque o governo prometera repetida-
país é em grande parte responsável. mente que não faria uma desvalorização. Os investidores tor-
No início de 1994, o México era um país em ascensão. A naram-se ainda mais desconfiados dos formuladores de políti-
recente aprovação do Acordo de Livre Comércio Norte-Ame- ca econômica mexicanos. Passaram a temer novas desvaloriza-
ricano (NAFTA- North American Free Trade Agreement), ções do peso.
que reduziu as barreiras comerciais entre México, Estados Uni- Investidores do mundo inteiro (inclusive do México) evi -
dos e Canadá, deixou muitas pessoas confiantes no futuro da tavam comprar ativos mexicanos. O prêmio do risco-país su-
economia mexicana. Investidores do mundo inteiro estavam biu de novo, aumentando para cima a pressão sobre as taxas de
juros e para baixo a pressão sobre o peso. O mercado de açõe,
ansiosos por fazer empréstimos ao governo mexicano e a em-
mexicano despencou. Quando o governo mexicano precisava
presas mexicanas.
rolar algumas dívidas que estavam prestes a vencer, os investi-
Os desdohramentos políticos logo mudaram essa percepção.
dores relutavam em comprar as novas dívidas. A inadimplência
Um violento levante na região mexicana de Chiapas fez com
parecia ser a única opção do governo. Em apenas uns poucos
que a situação política no país parecesse precária. Depois, Luis
meses, o México passou de uma promissora economia emergen -
Donaldo Colosio, o principal candidato à Presidência, foi as- te para uma economia de risco , com um governo à beira da
sassinado. O futuro político parecia menos certo, e muitos in- falência.
vestidnres começaram a atribuir um prêmio de risco maior aos Foi então que os Estados Unidos intervieram. O governo
at.ivos mexicanos. norte-americano tinha três motivos: ajudar o vizinho do sul,
De início, o crescente prêmio de risco não afetou o valor prevenir a maciça imigração ilegal que podería se seguir à
do peso, porque ú México operava com uma taxa de câmbio inadimplência do governo e ao colapso econômico, e evitar que
fixa . Comei já explicamos, sob uma taxa de câmbio fixa, o o pessimismo do investidor em relação ao México se espalhas-
banco central concorda em trocar a moeda interna (pesos) se para outros países em desenvolvimento. O governo ameri-
por uma moeda externa (dólares) a uma taxa predeterminada. cano, junto com o Fundo Monetário Internacional (FMI), li-
Assim, quando um aumento do prêmio do risco -país pressi- derou um esforço internacional para salvar o governo mexica-
onou para baixo o valor do peso, o banco central mexicano no. Em particular, os Estados Unidos ofereceram garantias de
teve de aceitar peseis e pagar dólares. Essa interven- empréstimo para a dívida do governo mexicano. Isso possibili-
ção automática no mercado de câmbio contraiu a oferta monetá- tou que o governo mexicano refinanciasse a dívida prestes a
ria mexicana (deslocando a curva LM* para a esquerda), vencer. Essas garantias de empréstimo ajudaram a restabelecer
quando a moeda poderia de outra maneira ter se deprecia- a confiança na economia mexicana, reduzindo assim, até certo
do. ponto, o prêmio do risco-país.
228 CAPÍTULO 12

Embora tenham impedido que uma situação ruim se tomasse 1990, a renda agregada estava crescendo de novo, e o pior pare.
ainda pior, as garantias de empréstimo dos Estados Unidos não eia ter passado. Mas a lição dessa experiência é clara, e pode muito
evitaram que o colapso de 1994-1995 tenha sido uma experiên- bem se aplicar de novo no futuro: as mudanças da percepção do
cia dolorosa para o povo mexicano. Não apenas a moeda mexi- risco-país, muitas vezes atribuíveis à instabilidade política, cons.
cana perdeu muito do seu valor, mas também o México passou tituem um determinante importante das taxas de juros e das ta.
por uma profunda recessão. Felizmente, ao final da década de xas de câmbio nas economias abertas pequenas.

ESTUDO DE CASO
CRISE FINANCEIRA INTERNACIONAL: ÁsIA, 1997-1998 As crises internacionais de confiança muitas vezes envol-
Em 1997, enquanto a economi a mexicana se recuperava de vem um círculo vicioso, que pode ampliar o, problema. Aqui
sua crise financeira, uma história parecida começ ou a ocór· está uma história sobre o que aconteceu na Asia:
rer em várias economias asiáticas, inclusive na Tail ândia , na 1. Problemas no sistema bancário corroeram a confiança in-
Coréia do Sul e especia lmente na Indonésia. Os sintomas ternacional dessas economias.
eram já conhecidos: t axas de jums elevadas, queda n os va- 2. A perda de confiança aumentou os prêmios de risco e as taxas
lutes dos ativos e moeda em depreciação. N a Indonésia, por de juros.
exemp lo, a taxa de juros no minal de curto prazo subiu aci- 3. As taxas de juros crescentes, junto com a perda de confian-
ma d e 50%, e~ mercado de ações pe rdeu cerca de 90% do seu ça, diminuíram os preços das ações e de outros ativos.
.l valor (medido em dó lares americanos) e a rupi a caiu mais 4. A queda dos preços dos ativos reduziu o valor das garantias
•11,

.. J
de 80'X) em relaç ão ao dólar. A crise levou a um a inflação que estavam sendo usadas para empréstimos bancários .
crescente nesses países (porque a desva lorização da moeda 5. A redução das garantias aumentou as taxas de inadimplência
tornou mais caras as importações) e à queda do PIB (porque sobre os empréstimos bancários.
as taxas de juros elerndas e a redução da confiança diminu- 6. O aumento da inadimplência agravou os prohlemas do sis-
íram o gasto). O PIB real da Indonésia caiu cerca de 13 % tema bancário. Agora, volte ao item 1 para fechar e conti-
em 1998, fazendo com que o declínio fosse ma ior do qu e nuar o círculo vicioso.
qualquer recessão dos Est ados Unidos desde a Grande De-
pressão na década d e 1930. Alguns economistas têm usado esse argumento do círculo vi·
O que desencadeou essa tempestade? O prohlema começou cioso para sugerir que a crise asiática fo i uma profecia auto-re-
nos sistemas hancários asiáticos. Durante muitos anos, os go- alizada: coisas ruins sô aconteceram porque as pessoas espera-
vernos dos países asiáticos estiveram mais envolvidos em ad- vam que coisas ruins acontecessem. A maioria dos economis-
ministrn r a distribuição de recursos - em particular, os recur- tas, no entanto, ach ou que a corrupç ãn política do sistema ban-
sos financeiros - do que ocorre nos Estados Unidos e em ou- cário era um problema real. agravado por esse c írculn \'icioso
tros países desenvoh- idos. Alguns comentaristas aplaudiram essa de redução da confiança.
"parceria" entre gm·e rno e iniciativa privada, e até sugeriram À medida que a crise asi,ítica se desenvolvia, o FMI e os
que os Estados U nidlJs seguissem o exemplo. A o longo do tem· Estados Unidos tentavam restaurar a confiança, assim como
··::.:
po, no entantú, tornou -se evidente que muitos bancos as iáti· haviam feito com o México poucos anos antes. Em particular,
cos vinham fazendo empréstimos a quem tinha mais influên - o FMI fez empréstimos aos países asiáticos para ajudá-los a su-
cia política, em vez de hen efic iar quem apresentava projetos perar a crise; em troca por esses empréstimos, exigiu promessas
de investimentos mais lucrativos. Depois que as crescentes ta- de que os governos reformariam o sistema bandrio e elimina-
xas de inadimplência começaram a re velar esse "capitalismo riam o capitalismo amigável. A esperança do FMI era que os
amigável", como foi chamado, os investidores internacionais empréstimos de curto prazo e as reformas de prazo mais longo
passaram a perder a confiança no futuro dessas economias. Os pudessem restaurar a confiança, haixar o prêmio de risco e trans-
prêmios de risco dos at ivos asiáticos aumentaram, fazendo com formar o círculo vicioso em um círculo virtuoso. Essa política
que as taxas d e juros disparassem e as moedas entrassem em parece ter dado certo: as economias asiáticas logo se recupera·
colapso. ram da crise.
DEMANDA AGREGADA NA ECONOMIA ABERTA 229

12-5 AS TAXAS DE CÂMBIO DEVEM SER FLUTUANTES OU FIXAS?


Depois de analisar como uma economia funciona sob taxas de bilídade da taxa de câmbio, no entanto, o montante de comér-
câmbio flutuante e fixa, analisaremos qual é o melhor regime cio internacional continuou a aumentar sob taxas de dimbio
de taxa de câmbio. flutuantes.
Os defensores das taxas de câmbio fixas às vezes argumen-
tam que um compromisso com uma taxa de câmbio fixa é uma
PRÓS E CONTRAS DE DIFERENTES SISTEMAS DE maneira de disciplinar a autoridade monetária de um país e
TAXA DE CÂMBIO prevenir o crescimento excessivo na oferta monetária. Mas há
O principal argumento para uma taxa de câmbio flutuante é muitas outras normas de política com que o banco central pode
que ela permite que a política monetária seja adotada para se comprometer. No Cap. 14, por exemplo, discutiremos ou-
outros propósitos. Sob taxas fixas, a política monetária assume tras normas de política, como alvos para o PIB nominal ou para
o compromisso único de manter a taxa de câmbio em seu nível a taxa de inflação. A fixação da taxa de câmbio tem a vanta-
anunciado. Contudo, a taxa de câmbio é apenas uma das mui- gem de ser mais simples para ser implementada do que essas
tas variáveis macroeconômicas que a política monetária pode outras normas de política, porque a oferta monetária ajusta-se
influenciar. Um sistema de taxas de câmbio flutuantes deixa automaticamente. Mas essa política pode levar a uma instabi-
os formuladores da política monetária livres para se empenha- lidade maior da renda e do emprego.
rem em outros ohjetivos, como a estabilização do emprego ou Ao final, a opção entre taxa de câmbio flutuante e taxa
dos preços. de câmbio fixa não é tão rígida quanto possa parecer de iní-
Os defensores das taxas de câmbio fixas argumentam que a cio. Durante os períodos de taxas de câmbio fixas, os países
incerteza relativa à taxa de câmbio torna mais difícil o comér- podem mudar o valor de sua moeda, se a manutenção da taxa
cio inte1nacional. Depois que o mundo abandonou o sistema de câmbio conflita demais com outros objetivos. Durante os
de Bretton Woods de taxas de câmbio fixas, no início da déca- períodos de taxas de câmbio flutuantes, os países estabele-
da de 1970, as taxas de câmbio reais e nominais tomaram-se (e cem com freqüência objetivos formais ou informais para a
permanecem) muito mais instáveis do que qualquer um espe- taxa de câmbio, ao decidirem se expandem ou reduzem a
rava. Alguns economistas atribuem essa instabilidade à espe- oferta monetária. Quase nunca observamos taxas de câmbio
culação irracional e desestabilizadora dos investidores interna- que sejam completamente fixas ou completamente flutuan-
cionais. Os executivos de empresas com freqüência alegam que tes. Em vez disso, soh ambos os sistemas, a estabilidade da
essa instabilidade é pre1udicial, porque aumenta a incerteza que taxa de câmbio é em geral apenas um dos muitos ohjetivos
acompanha as transações internacionais. Apesar dessa insta- do hanco central.

ESTUDO D E CASO
UNIÃO MONETÁRIA NOS ESTADOS UNIDOS E de precisar trocar seus francos franceses por marcos alemães,
NA EUROPA florins holandeses, pesetas espanholas ou liras italianas. O gran-
Se você alguma vez percorreu de carro os 5.000 quilômetros de número de moedas européias fazia com que viajar fosse me-
entre a cidade de Nova York e San Francbco, pode recordar nos pràtico e mais dispendioso. Cada vez que você atravessava
que nunca precisou trocar dinheiro de uma forma de moeda para uma fronteira, era preciso. esperar na fila em um banco para
outra. Em todos ~1s cinqüenta estados americanos, os habitan- ohter a moeda local. Ainda por cima, tinha de pagar uma pe-
tes locais têm o maior prazer em aceitar o dólar norte-america - quena taxa ao banco pelo serviço.
no pelos artigos que você quer comprar. Essa união monetária é Recentemente, no entanto, isso começou a mudar. Muitos
a forma mais extrema de uma taxa de câmbio fixa. A taxa de países da Europa decidiram formar sua própria união monetá-
câmhio entre dólares de Nova York e dólares de San Francisco ria, passando a usar uma moeda comum, chamada euro, intro-
é tão inalteravelmente fixa que você talvez nem saiba que há duzida em janeiro de 1999. A adoção do euro é uma extensão
uma diferença entre as duas. (Qual é a diferença? Cada nota do Sistema Monetário Europeu, que durante as duas décadas
de dólar é emitida por um de uma dezena de Federal Reserve anteriores tentara restringir as flutuações da taxa de câmbio
Banks locais. Embora o banco de origem possa ser identificado entre os países participantes. Quando o euro for plenamente
pelas marcas nas notas, você não se importa com que tipo de adorado, esse objetivo será alcançado: a taxa de câmbio entre
dólar possui, porque todo mundo, inclusive o sistema do Fede- França e Alemanha será tão fixa quanto a taxa de câmbio en-
ral Reserve, está disposto a trocá-los um por um.) tre Nova York e San Francisco.
Se você alguma vez fez uma viagem semelhante de 5.000 A introdução de uma moeda comum tem seus custos. O mais
quilômetros pela Europa, no entanto, sua experiência talvez importante é que os países da Europa não serão mais capazes
tenha sido muito diferente. Você não teve de viajar muito, antes de conduzir suas próprias políticas monetárias. Em vez disso,
230 CAPITULO 12

um banco central europeu, com participação de todos os paí- ção de mudar. Portanto, quando ocorre uma recessão regio.
ses membros, determinará uma política monetária única para na!, os trabalhadores americanos têm maior probabilidade de
toda a Europa. Os bancos centrais de cada país desempenha- se mudarem de estados de alto desemprego para estados de
rão papel semelhante ao dos Federal Reserve Banks regionais: baixo desemprego. Segundo, os Estados Unidos contam com
vão monitorar as condições locais, mas não terão controle so- um governo central forte, que pode lançar mão da política
bre a oferta monetária nem sobre as taxas de juros. Os críticos fiscal- como o imposto de renda federal- para redistribuir
do movimento em prol de uma moeda comum argumentam que recursos entre regiões. Como a Europa não tem essas duas
0 custo da perda da política monetária nacional é enorme. Se vantagens, vai sofrer mais quando se limitar a uma única po-
uma recessão atinge um país, mas não outros na Europa, esse lítica monetária.
país pode desejar ter o instrumento da política monetária para Os defensores de uma moeda comum acham que a perda da
combater o declínio. política monetária nacional é mais do que compensada por
Por que, segundo esses economistas, a união monetária é outros ganhos. Com uma única moeda em toda a Europa, os
uma péssima idéia para a Europa, se funciona tão bem nos viajantes e as empresas não precisarão mais se preocupar com
Estados Unidos? Esses economistas argumentam que os Esta- taxas de câmbio. Isso deve estimular mais o comércio interna-
dos Unidos são diferentes da Europa em dois aspectos impor- cional. Além disso, uma moeda comum pode oferecer a vanta-
tantes. Primeiro, há uma mobilidade maior do trabalho entre gem política de fazer com que os europeus se sintam mais liga-
os estados norte-americanos do que entre os países europeus. dos uns aos outros. O século XX foi marcado por duas guerras
Isso acontece em parte porque os Estados Unidos têm uma mundiais, ambas desencadeadas pela discórdia européia. Se uma
língua comum e em parte porque a maioria dos norte-ameri- moeda comum torna as nações da Europa mais harmoniosas,
1 ! • canos descende de imigrantes, que demonstraram a disposi- beneficiará o mundo inteiro.
• .' !
· ,r .
.l
."''

ATAQUES ESPECULATIVOS, CONSELHOS as reservas do banco central e poderia forçá-lo a abandonar o


regime. Nesse caso, o rumor se tornaria uma profecia auto-re-
MONETÁRIOS E DOLARIZAÇÃO alizada.
Imagine que você é o diretor do banco central de um pequeno Para evitar essa possibilidade, alguns economistas argumen-
• 1 país. Você e seus colegas formuladores de política econômica tam que uma taxa de câmbio fixa deve ser apoiada por uma
decidem fixar sua moeda - vamos chamá-la de peso - con- currency board, ral como a que a Argentina usou na década de
tra o dólar norte-americano. Daqui por diante, um peso será 1990. Uma currency board é uma disposição pela qual o banco
vendido por um dólar. central possui moeda estrangeira suficiente para astrear cada
Como já ressaltamos antes, agora você deve estar prepara- unidade da moeda interna. Em nosso exemplo, o banco cen-
do para comprar e vender pesos a um dólar cada. A oferta tral teria um dólar americano (ou um dólar investido em títu-
monetária se ajustará automaticamente para tornar a taxa de los do governo dos Estados Unidos) para cada peso. Não im-
câmbio de equilíbrio igual ao seu objetivo. Há, no entanto, um porta quantos pesos sejam levados ao banco central para serem
problema potencial com esse plano: você pode ficar sem dóla- trocados, o banco central nunca ficará sem dólares.
res. Se as pessoas procuram o banco central para vender gran- Tendo adotado um currency board, o banco central pode
des quantidades de pesos, as reservas de dólares do banco cen- considerar o passo natural seguinte: abandonar por completo
tral podem minguar até zero. Nesse caso, o banco central não o peso e deixar que seu país use o dólar norte-americano. Esse
tem opção senão abandonar a taxa de câmbio fixa e deixar que plano é chamado de dolarização. Acontece espontaneamente
o peso seja depreciado. nas economias de inflação elevada, em que as moedas estran-
Esse fato suscita a possibilidade de um ataque especulativo: geiras oferecem uma reserva de valor mais confiável do que a
uma mudança das percepções dos investidores que toma insus- moeda interna. Mas também pode ocorrer como uma questão
tentável a taxa de câmbio fixa. Suponha que, sem qualquer bom de política pública: o Panamá é um exemplo. Se um país quer
motivo, espalhe-se um rumor de que o banco central vai aban- que sua moeda seja irrevogavelmente fixada ao dólar, o méto-
donar o sistema de taxa de câmbio. As pessoas reagiriam pro- do mais seguro é fazer com que sua moeda seja o dólar. A única
movendo uma corrida ao banco central para converter pesos perda da dolarização é a pequena receita de senhoriagem, que
em dólares antes que o peso perca valor. Essa corrida esgotaria vai para o governo dos Estados Unidos. 4

'A dolarização também pode levar a urna perda do.orgulho nacional, devido a retratos de vultos norte-americanos estampados nas notas de dólar. Se for desejado,
o governo dos Estados Unidos pode resolv.er esse problema, deixando em branco o espaço central que agora tem o retrato de George Washington. Cada país que
usa o dólar norte-americano poderia inserir o rnsto de heróis locais. ·
*O termo "currency board", muito usado em textos em português, também pode ser encontrado como caixa de compensação. (N. Rev. Téc.)
DEMANDA AGREGADA NA ECONOMIA ABERTA 231

egio. 12-6 O MODELO MUNDELL-FLEMING COM UM


iede
)S de NÍVEL DE PREÇOS INSTÁVEL
com
Até aqui, comamos o modelo Mundell-Fleming para estudar a A Fig. 12-12 mostra o que acontece quando o nível de pre-
lítica
economia aberta pequena no curto prazo, quando o nível de ços Cai. Como um nível de preços mais. baixo eleva o nível de
ibuir
preços é fixo. Para verificar como esse modelo se relaciona com encaixes monetários reais, a curva LM* desloca-se para adi-
duas
05 modelos que examinamos antes, estudaremos o que aconte- reita, como no gráfico (a) da Fig. 12-12. A taxa de câmbio real
aPO·
ce quando o nível de preços varia. é desvalorizada e o nível de renda de equilíbrio sobe. A curva
Para examinar o ajuste de preços em uma economia aberta, de demanda agregada sintetiza essa relação negativa entre 0
:!ada
devemos distinguir entre a taxa de câmbio nominal e e a taxa nível de preços e o nível de renda, como mostra o gráfico (b)
3. por
de câmbio real e, que é igual a eP/P*. Podemos escrever o mo- da Fig. 12-12.
ia, os
delo Mundell-Fleming como Assim, da mesma maneira que o modelo IS-LM explica a
com
Y = C(Y - T) + I(r*) + G + NX(e) curva de demanda agregada de uma economia fechada, o mode-
erna- IS*,
M/P = L(r*, Y) lo Mundell-Fleming explica a curva da demanda agregada de uma
3.nta- LM*.
economia aberta pequena. Nos dois casos, a curva de demanda
liga- A esta altura, essas equações já devem ser bem conhecidas. A agregada mostra o conjunto de equilíbrios que surge à medida
1erras primeira equação descreve a curva lS*, e a segunda descreve a que o nível de preços varia. E, em ambos os casos, qualquer coisa
:uma curva LM*. Cabe ressaltar que as exportações líquidas depen- que mude o equilíbrio para um determinado nível de preços des-
losas, dem da taxa de câmbio real. loca a curva de demanda agregada. As políticas econômicas que
__J

(a) O Modelo Mundell-Fleming


Taxa de cambio
nar o real, f 1. Uma queda do ntvef
o-re- LM'(P,) de preços P desloca a
curva LM* para a

men-
uma
1a de
,anca
cada
2 . ...
baixando
a taxa de
cambio
real ...
1
1:,

cen-
tíru-
J im-
erem 3 . ... e
aumentando
,s~
pode a renda Y. Y, Renda, produto, Y
pleto 1

. .
Esse (b) A Curva de Demanda Agregada
1ente
tran- Nivel de
preços, P
:iue a
estão P, 4. Acurva DA
quer sintetiza a
néto- relar;tlo entre
ínica Pe Y.
., que P2 .....•... . . .. .... • .. • ... ..

DA
Y, Renda, produto, Y
;ejado,
1ís que Fig. 12-12 Mundell-Fleming como uma Teoria da Demanda Agregada O gráfico (a) mostra que, quando o nível de preço cai, a curvaLM*
desloca-se pata a direita. O nível de renda de equilíbrio sobe. O gráfico (b) mostra que essa relação negativa entre P e Y é sintetizada pela curva da
demanda agregada.
232 CAPÍTULO 12

aumentam a renda deslocam a curva de demanda agregada para câmbio real se deprecia, e com isso as exportações líquidas sobe
a direita; as políticas econômicas que baixam a renda deslocam Eventualmente, a economia alcança o ponto C, o equilíbrio:·
a curva de demanda agregada para a esquerda. longo prazo. A velocidade da transição entre os equilíbrios de cune
0
Podemos usar esse diagrama para mostrar como o modelo de e de longo prazos depende da rapidez com que o nível de preç
curto prazo deste capítulo está relacionado com o modelo de lon- se ajusta para restaurar a economia ao seu ritmo natural. os
go prazo do Cap. 5. A Fig. 12-13 mostra os equilíbrios de curto e Os níveis de renda do ponto K e do ponto C são de grande
de longo prazos. Nos dois gráficos da figura, o ponto K descreve o interesse. A preocupação central neste capítulo é a maneira
equilíbrio de curto prazo, porque pressupõe um nível de preços como a política econômica influencia o ponto K, o equilíbrio
constante. Nesse equilíbrio, a demanda por bens e serviços é bai- de curto prazo. No Cap. 5, examinamos os determinantes do
xa demais para manter a economia produzindo à sua taxa natu- ponto C, o equilíbrio de longo prazo. Sempre que as autorida.
ral. Ao longo do tempo, a baixa demanda faz com que o nível de des pensam em introduzir qualquer mudança da política eco,
preços caia. A queda do nível de preços aumenta os encaixes mo- nômica, precisam levar em conta tanto os efeitos de curto pra-
netários reais, deslocando a curva LM* para a direita. A taxa de zo quanto os efeitos de longo prazo de suas decisões.

(a) O Modelo Mundell-Fleming


Taxa de câmbio
real,€ LM"(P1 )

1 •

J .
..,

,, .
·"'• €2 . .. .. • . . . . . .

IS*

Y,------ Y Renda, produto, Y

( b) O Modelo de Oferta Agregada e


Demanda Agregada
Nível de preços, P
LRAS

Y Renda, produto, Y

Fig. 12-13 Os Equilíbrios de Curto Prazo e de Longo Prazo em uma Economia Aberta Pequena O ponto K nos dois gráficos mostra o
equilíbrio sob o pressuposto keynesiano de que o rúvel de preços é fixado em P 1. O ponto C nos dois gráficos mostra o equilíbrio sob o pressuposto
clássico de que o nível de preços ajusta-se para manter a renda em sua taxa natural Y
T DEMANDA AGREGADA NA ECONOMIA ABERTA
233

l.
12-7 UM LEMBRETE DE CONCLUSÃO
e
D N este capítulo, examinamos como uma economia aberta pe- cando essas percepções aos Estados Unidos, pense em como uma
,s quena funciona no curto prazo quando os preços são rígidos. contração monetária afeta a economia no curto prazo. Em uma
Vimos como a política monetária e a política fiscal influenci- economia fechada, uma contração monetária eleva a taxa de
e am a renda e a taxa de câmbio, e como o comportamento da câmbio, baixa o investimento e, com isso, reduz a renda agre-
a economia depende se a taxa de câmbio é flutuante ou fixa. N o gada. Em uma economia aberta pequena com uma taxa de câm-
D encerramenro, vale a pena repetir uma lição do Cap. 5. Mui- bio flutuante, uma contração monetária eleva a taxa de câm-
D tos países , inclusive os Estados Unidos, não são economias fe- bio, baixa as exportações líquidas e, assim, reduz a renda agre-
l- chadas, nem economias abertas pequenas: situam-se em algum gada. A taxa de juros, no entanto, não é afetada, porque é de-
i- ponto intermediário. terminada pelos mercados financeiros internacionais.
l- Uma economia aberta grande, como a dos Estados Un idos, A economia dos Estados Unidos contém elementos dos dois
combina o comportamento de uma economia fechada e o com- casos. Como os Estados Unidos são grande o bastante para afe-
portamento de uma economia aberta pequena. Quando anali- tar a taxa de juros mundial, e como o capital não tem uma
samos as políticas econômicas de uma economia aberta gran- mobilidade petfeita através dos países, uma contração mone-
de, precisamos levar em con ta tanto a lógica da economia fe- t,íria aumenta a taxa de juros e reduz o investimento. Ao mes-
chada. apresentada 11\ ) Cap. 11. como a lôgk,1 da economia mn tempo, uma contração monetária também eleva o valor do
aberta , desenn)l\'ida neste capítulo. O apêndice deste capítu- dólar, diminuindo assim as exportações líquidas. Por isso, em-
lo apresenta um modelo de 1.11na economia aberta grande. Os bora não descreva precisamente uma economia como a dos
resu ltados desse modelo, como se pode prever, são uma mistu- Estados Unidos, o modelo Mundell-Fleming prevê de maneira
ra dos dois casos extremos que já examinamos. correta o que acontece com variáveis internacionais como a
Para entender como podemos nos basear na lógica da eco- taxa de câmbio, e mostra como as interações internacionais
nomia fechada e na lógica da economia aberta pequena apli- alteram os efeitos das políticas monetária e fiscal.

RESUMO
1. O mndeln Mundell-Fleming é o modelo IS-LM de uma eco- que a taxa de câmbio permaneça em seu nível anunciado.
nomia aberta pequena. Toma como dado o nível de preços, A política monet,fria influencia a renda agregada sob taxas
e depois mostra o que causa llscilações da rend,1 e dn taxa de de câmbio flutuantes.
câmbio. 4. Se os investidores estão cautelosos em manter ativos em um
2. O modelo Mundell-Fleming mostra que a política fisca l não pc1ís, a taxa de juros desse país pode ultrapassar a taxa de juros
influencia a renda agregada sob taxas de cfünhio flutuante~. mundial em um prêmio de risco qualquer. Segundo o mo-
Uma expansão fiscal faz com que a moeda se aprecie, redu- delo Mundell-Fleming, um aumento no prêmio de risco faz
zindo as exrortações líquidas e compensando o impacto com que a taxa de juros suba e a moeda do país se deprecie.
exransionista usual sobre a renda agregada. A política fis-
5. Há vantagens nas taxas de câmbio flutuantes e nas taxas de
cal influencia a renda agregada sob taxas de câmbio fixas.
câmbio fixas . As taxas de câmbio flutuantes deixam as au-
3. O modelo Mundell-Fleming mostrn que a política monet,\- toridades monetárias livres para se empenharem em outros
ria não influencia a renda agregada snh taxas de câmhio fi- objetivos que não a estabilidade da taxa de câmbio. As ta-
xas. Qualquer tentativa de expandir a oferta monet,fria é xas de câmbio fixas reduzem uma parte da incerteza nas tran-
inútil , rorque a oferta monetihia deve se ajustar para garantir sações internacionais.

CONCEITOS-CHAVE
Modelo Mundell-Fleming T axas de câmhio fixas Revalorização
Taxas de câml:iio flutuantes Desvalorização

o
;o
~ '! .'

234 CAPITULO 12

-
QUESTOES PARA REVISAO
-
L No modelo Mundell-Fleming com taxas de câmbio flutuantes, 3. No modelo Mundell-Fleming com taxas de câmbio flutuantes
explique o que acontece com a renda agregada, a taxa de câmbio e explique o que acontece com a renda agregada, a taxa de câmbio~
a balança comercial quando há aumento de impostos. O que acon- a balança comercial quando uma quota sobre a importação de car-
teceria se as taxas de câmbio fossem fixas em vez de flutuantes? ros é removida. O que aconteceria se as taxas de câmbio fossem
fixas em vez de flutuantes?
z. No modelo Mundell-Fleming com taxas de câmbio flutuantes, ex-
plique o que acontece com a renda agregada, a taxa de câmbio e a 4. Quais são as vantagens das taxas de câmbios flutuantes e das taxas
balança comercial quando a oferta monetária é reduzida. O que acon- de câmbio fixas?
teceria se as taxas de câmbio fossem fixas em vez de flutuantes/

PROBLEMAS E APLICAÇÕES
1. Aplique l> muJelo Mundell-Fleming parn pre,·er o que acontece- 5. Suponha que a demanda por moeda dependa da renda disponível.
ria com ,1 renda agregada, a taxa de câmbio e a balança comercial Assim, a equação do mercado monetário torna-se
sob taxas de câmbio flutuantes e fixas, em reação a cada um dos
M!P = L(r ,Y - T).
I"''' seguintes choques :
' 4 '
a. Uma qued;;i da confiança do consumidnr em relação ao futuro Anal ise o impacto de um corte de impostos em uma economia
; cl induz os consumidores a gastarem menos e pouparem mais. aberta pequena sobre a taxa de câmbio e a renda, sob taxas de câm-
j . b. O lançamento de uma linha moderna de Toyotas fa: com que bios flutuantes e fixas.
alguns consumidores prefiram carros estrangeiros em vez de
6. S uponha que o nível de preços relevante para a demanda por moeda
carros nacionais.
inclui o preço de bens importados, e que o preço de bens importa-
e. A introdução de caixas automáticas nos bancos redu: a deman-
dos depende da rax<1 de câmbio. Ou seja, o mercado monetário é
da por moeda.
descrito por
,. ,.:1 •• 2. O modelo Mundell-Fleming roma a rnxa de juros r* como uma
variável exógena . Cnnsidere o que acontece quando essa variável M/P = L(r ,Y),
muda. em que
a. O 4ue pode fazer com que a taxa de juros mundial suba?
b. No modelo Mundell-Fleming com uma taxa de câmbio flutu- P = ÀP_, + (l - À)P,/e.
ante, o 4ue acontece com a renda agregada, a taxa de câmbio e
O parâmetro À é a rarticipação de bens internos no índice de
a balança comercial qu,mdo a taxa de juros mundial sobe!
preços P. Suponha 4ue sejam constantes o preço de bens inter-
e. No modelo Mundell-Fleming com uma taxn de câmbio fixa, o
nos P., e o preço de bens externos P,. , medidos em moeda estran-
que acontece com a renda agreg,1da, a raxa de câmbio e a ba-
geira.
lança comercial quando -a taxa de juros mundial sobe?
a. Suponha que tracemos um gráfico da curva LM* para valores
.' 3. Os execurivos das grandes empresas e os formuladores de políticas determinados de P., e P, (em vez de P usual). Explique por que
1::.: econômicas dos EUA preocupam-se com freqüência com a "com- nesse modelo a curva LM* é positiva mente inclinada, em vez
petitividade" da indústria nom:-,m1ericana (a capacidade das in- de ser vertical.
dústrias daquele pais de vender seus bens com lucro nos mercados b. Qual é o efeito dn política fiscal expansionista súh taxas de
internacionais). càmbio flutuantes nesse modelo/ Explique. Compare com o
a. Como uma mudança dtl taxa de câmbio afetaria a competitivi- modelo Mundell-Fleming padrão.
dade? c . Suponha que a instabilidade política aumente o prêmio de ris-
b. Suponha que você quisesse tornar as indústrias nacionais mais co-raís e, com isso, a taxa de juros. Qual é, nesse modelo, o efeito
cnmpetitivas, mas se m alterar a renda agregada. Segundo o na taxa de câmbio, no nível de preços e na renda agregada?
modelo Mundell-Fleming, que combinação de política 1mme- Compare com o modelo Mundell-Fleming padrão.
tária e pulíticn fiscal você deveria adotar 7
7. Use o modelo Mundell-Fleming para responder às questões a se-
4. Suponha que a renda maior implique importações maiores e ex- guir sobre o estado da Califórnia (uma economia aberta peque-
portações líquidas menores. Ou seja, a função de exportações lí- na).
quidas é a. Se a Califórnia sofre uma recessão, o governei estadual deve
adotar uma política monetária ou fiscal para estimular o em-
NX =NX(e,Y)
prego? Explique. (Observação : Para essa questão, suponha que
Examine os efeitos em uma economia aberta pequena de uma ex- o estado pode emitir notas de dólar.)
pansão fiscal na renda e na balança comercial sob b. Se a Califórnia proibisse a importação de vinhos do estado de
a. Taxa de câmbio flutuante. Washington, o que aconteceria com a renda, com a taxa de
b. Taxa de câmbio fixa. câmbio e com a balança comercial? Pense nos impactos a cur-
Como sua resposta se compara com os resultados da Tabela 12-1? to e a longo prazos.

~ -
Apêndice

UM MODELO DA ECONOMIA
>e
1r-
ABERTA GRANDE NO CURTO PRAZO
,m

:as

Quando analisamos políticas em uma economia como a dos Para analisar esse modelo, podemos tomar os três gráficos
Estados Unidos, precisamos combinar a lógica da economia da Fig. 12-14. O gráfico (a) mostra o diagrama IS-LM. Tal como
fechada do modelo IS-LM e a lógica da economia aberta pe- no modelo de economia fechada dos Caps. 1O e 11, a taxa de
quena do modelo Mundell-Fleming. Este apêndice apresenta juros ré o eixo vertical. e a renda Y é o eixo horizontal. Juntas,
um modelo para o caso intermediário de uma economia aberta as curvas IS e LM determinam o nível de renda de equilíbrio e
grande. a taxa de juros de equilíbrio.
Como ressaltamos no apêndice do Cap. 5, uma economia O novo termo do fluxo líquido de sa ída do capital da
aberta grande difere de uma economia aberta pequena porque equação IS, CF(r), torna essa curva IS menos inclinada do
sua taxa de juros não é fixada pelos mercados financeiros in- que seria em uma economia fechada. Quanto mais os fluxos
da ternacionais. Em uma economia aberta grande, devemos con- de capital internacional reagem à taxa de juros, mais incli-
n- siderar a relação entre taxa de juros e o fluxo de capital exter- nada é a curva IS. Você pode lembrar, do apêndice do Cap.
no. O fluxo líquido de saída de capital é o montante que os 5, que a economia aberta pequena representa o caso extre-
3a investidores internos emprestam no exterior menos o montante mo em que o fluxo líquido de saída de capital é infinitamente
a- que os investidores externos emprestam aqui. À medida que a elástic o à taxa de juros mundial. Nesse caso extremo, a cur-
,é taxa de juros interna cai, os investidores internos descobrem va IS é completamente nivelada. Por isso, uma economia
que emprestar no exterior é mais atraente, e os investidores aberta pequena seria descrita nessa figura como uma curva
externos descobrem que emprestar aqui é menos atraente. Por- IS horizontal.
tanto, o fluxo líquido de saída de capital é inversamente rela- Os gráficos (b) e (c) mostram como o equilíbrio do modelo
cionado com a taxa de juros. A esta altura, acrescentamos essa IS-LM determina o fluxo líquido de saída de capital. Essa cur-
relação ao nosso modelo de curto prazo da renda nacional. va é negativamente inclinada porque uma taxa de juros mais
As três equações do modelo são: alta desestimula os investidores internos a emprestarem no
exterior e estimula os investidores externos a emprestarem aqui.
·r- Y = C(Y - T) + I(r) + G + NX(e),
No gráfico (c), vemos que a taxa de câmbio ajusta-se para ga-
n- M/P = L(r, Y), rantir que as exportações líquidas de bens e serviços sejam iguais
NX(e) = CF(r) .
es ao fluxo líquido de saída de capital.
.ie As duas primeiras equações são as mesmas empregadas no Aplicaremos agora esse modelo para examinar o impacto de
ez modelo Mundell-Fleming neste capítulo. A terceira equação, várias políticas. Partimos do princípio de que a economia tem
tirada do apêndice do Cap. 5, estabelece que a balança comer- uma taxa de câmbio flutuante , porque essa suposição é correta
cial NX é igual ao fluxo líquido de saída de capital CF, que, para a maiuria das economias abertas grandes, como a dos Es-
o por sua vez, depende da taxa de juros interna. tados Unidos.
Para entender o que esse modelo implica , substitua a terceira
.s-
equação pela primeira. Assim, o modelo se torna
to POLÍTICA FISCAL
a? Y = C(Y - T) + I(r) + G + CF(r) IS,
A Fig. 12-5 examina o impacto de uma expansão fiscal. Um
M/P = L(r, Y) LM.
aumento das compras de governo ou um corte dos impostos
e-
Essas duas equações são muito mais parecidas com as duas desloca a curva IS para a direita. Como o gráfico (a) ilustra, esse
e-
equações do modelo IS-LM de economia fechada. A única di- deslocamento da curva IS leva a um aumento no nível de ren-
,e ferença é que o gasto depende agora da taxa de juros, por dois da e a um aumento da taxa de juros. Esses dois efeitos são se-
n- motivos. Como antes, uma taxa de juros mais alta reduz o in- melhantes aos que ocorrem em uma economia fechada.
Je vestimento. Agora, porém, uma taxa de juros mais alta tam- Na economia aberta grande, no entanto, a taxa de juros
bém reduz o fluxo líquido de saída de capital e, com isso, as maior reduz o fluxo líquido de saída do capital, como no gráfi-
fo exportações líquidas. co (b). A queda do fluxo líquido de saída de capital reduz a
le
r-
236 CAPÍTULO 12

(a) O Modelo IS-LM (b) Fluxo Líquido de Saída de Capital


r
Taxa de juros LM
real, r

r, ... .. .... .
IS CF(r)

Y1 Renda, produto, Y Fluxo líguido de


saída de capital, CF

(e) O Mercado de Câmbio Externo


Taxa de câmbio, e
I CF
1
e . ..
1
~ ··~:
Fig . 12-14 Modelo de uma Economia Aberta Grande no
·; . ·I Curto Prazo O gráfico (a) mostra que as curvas IS e LM deter-
.. ,, . minam a taxa de Juros r e a renda Y . O g,áfico (b) mostra quer
.J NX(e )
.. ., detsirmina o fluxo líquido de saída de capital CF . O gráfico (c)
mostra que CF e a curva ele exportações 'iquidas determinam Exportações
a taxa de câmbio e . líq uidas, NX

. :,•'
1: .

oferta de dó lares no mercadp de cfünhn. A t,ixa de dmho se Contudn, como o gráfico (h) mostra , a taxa de juros mais
aprecia, como no gráfico (c). Comn ns hens internl)S turnnm- haixa le,·a a um aumento dn flu xl1 líquido de sa ída de capital.
:·,,. . se mais custosos em relação aos hens externos, as exporrnções () aumenrn de C F eleYa a oferta de dólares no mercado de câm-
.-···•:. · líquidas caem . hiu. A r.ixa de cúmbio deprecia, como no grMico (e) . À medi-
A Fig. l 2-15 mostra que uma ex pansãn fisca l aumenta a da que os hens internos tornam-se mais baratos em relação aos
renda da economia aherta grande, ao c~H1tdriu do que ticorre hens ex ternos , as exportações líquidas sobem.
em uma economia aherta pequena soh uma taxa de cfünhio flu - Podemos agl1ra constatar que o mecanismo de transmissão
tuan te. O impactn n a renda , porém, é men,1r d n que em uma monet,íria tein duas partes em uma ecunnmia aherta grande.
economia fechada. Numa econumia fechada, n impacto expan - Tal como numa economia fechada, uma expansão monetária
sionista da polírica fiscal é conrrahnlançadn em p,ine pelo des- reduz a taxa de juros. Como numa econ omia aberta pequena , a
locamento do irl\' estimentD: à medid,1 que a taxa de jurns snhe, exp.insão monet,fria faz cnm que a moeda se deprecie no mer-
o investimento cai, redu zindu os multiplicadores de pnlític,1 cado de câmhio. A taxa de juros ma is haixa estimula n im·esti-
fiscal. Em u1m1 econl)tnia ,1hert,1 grande, h ,i ainda outro fatnr mentu, e a raxa de câmbió mais haixa estimula as expmn1ções
de compensaçãú: à medida que a ta xa de juros sube, o fl uxo lí- líqui das.
quido de saída de capital cai, a taxa de câmhio se aprecia e as
exportações líquidas caem. Juntos, esses efeitos nfü> são gran-
des o bastante para tornarem a polític.1 fiscal imputenre, cnmo UMA REGRA PRÁTICA
acontece em uma economia fechada pequena, mas redu:em o Esse modelo da economia aherca grande descreve hem a eco-
impacto da política fiscal. nomia amai dos Estados Unidos. De certo modo, porém, é mais
complicado e canhestro do que o modelo de economia fecha-
da que estudamos nos Caps. 10 e 11 e do que o mode lo da eco-
POLÍTICA MONETÁRIA
nomia aherta pequena, que desenvolvemos neste capítulo. Fe-
A Fig. 12-16 examina o efeito de uma expansão monetária. U m lizmente , há uma regra prática útil que vai ajudar você a deter-
aumento da oferta monetária desloca a curva LM para a direi- minar como as políticas influenc iam uma economia aberta
ta, como no gráfico (a). O nível de renda sobe, e a taxa de ju- grande, sem ter de se lembrar de todos os detalhes do modelo:
ros cai. Mais uma vez, esses efeitos são semelhantes aos que A economia aberta grande é uma média da economia fechada e da
ocorrem em uma economia fechada. economia aberta pequena . Para descobrir como qualquer política
T DEMANDA AGR.EGADA NA ECONOMIA ABER.TA 237

(a) O Modelo IS-LM (b} Fluxo Líquido de Saída de Capital


Taxa de juros r
1. Uma
real, r
expansão fiscal...
.. .. . . . . . . . r2 . . . . .

l
2 . ... aumenta 3 . ... o que CF(r)
a taxa de diminui o
juros, ... Renda, fluxo liquido Fluxo líquido
produto, Y de saída de saída de
de capital, ... capital, CF

(e) O Mercado de Cãmbio Externo


Taxa de
câmbio, e

Fig. 12-15 Expansão Fiscal ein wna Economia Aber-


ta Grande O gráfico (a) mostra que uma expansão fiscal
desloca a curva IS para a direita. A renda sobe de Y: para 4. ... aumenta
Y . e a taxa de Juros sobe der. para r2. O gráfico (b) mos- a taxa de
tra que o aumento da taxa de Juros faz com que o fluxo câmbio, ...
liquido de saída de capital caia de CF para CF . O gráfi-
co (c) mostrn que a queda do fluxo liquido de saída de ca-
5.... e reduz
pital reduz a oferta líquida ele dólares . fazendo com que a Exportações
as exportações
taxa de câmbio se valorize de e para e . líquidas,
líquidas.
NX

afetará ,1wiltJW!r t'ariâtd, <?ncuntre a res/Josta dw Juis casos extre- flu:üi líyuidu Lle saílLi de c1piral atenua a alta da taxa de juros e
mos e tire a mJdill. ,1 queda do in\'estimentn, que ucnrreriam em uma economia fe-
Por exemplt1, cnmn uma n mrração mnner.irü1 afer,1 ;i rax,1 de clwd,1. )vias, ao cunmíriu duque UCllITe em uma economia aber-
jurns e o in\Tstime nto no curtu prazu? Em uma econlnnia fech,1- ra pequem1, o tluxn inrem,iciunal de capital não é tãu forte a
da. a taxa de juros sohe enquanto ll investimento cai. Numa pontn ele anular cumpleramenre esses efeitos.
economia ,1herta requnm, ,1wx,1 Je 1urns eu üwestimenru não bs,1 ref;m 1'r,íric1 torna <lS nmdelus simples ainda mais vali-
se alteram. O efeirn na economia ,1hert,1 grande é uma médüi ns<1s. Ernbllr,1 nü,1 descrevam cum perfeição iJ mundo em que
desses dois c.1,0,: urna contraçfio tnlmerâria aumenta a rnx,t de 1·il·emus, prnpurciunam um guia úti l para os efeitos da política
juros e reduz() in\·e,timenro, mas apenas um pm1co. A queda do econi'1mic1.

MAIS PROBLEMAS E APLICAÇOES


l. lm.1ginl' que 1·,,cC· clirigl' o b:mco central ck um:i enn1um i,i abert,J paí~t·s. Por causa lless~1 crcsccnt(' ;-;nfi:;ric1\·,1n, ,1s econ<Jmias estão
grande. Seu ,1hjl'fil'll é e.,rahili:,ir a renlb, e par,1 1ss,1 aju,r:1 a nfer - m,1i,; :1hL·rras hlljt• clt> que n,1 passado. Retl ir:1 subre como esse de-
ra de moecla. S,1h su,1 r nlír ica ecnnCnnica, o que .icunrece c,nn :1 ,;enl'<1h-imenrL1 afora a caraciLbde da política monetária de influ-
ufe rta mnn er,íria, a taxa ck jurn,, ,1 t;1x ,1 de cilinhil) e ,1 balanç,1 enciar a ccnn,,mia.
comercial, cm re,1çfü1 a c1da um dns seguintes choques?
a. Se ,is inl'estidores se tornam mais Jisrostos a substituir ativos
a. O presidente aumenta us im~sustos para reduzir o déficit orça- cxtemt>s e intcrnos, u que acontece com a inclinação da fun-
mentário. ç,1,, CF~
b. O presidente res tringe a importaçãu de carros japoneses. b. Se a funç ão CF muda dessa maneira, o que acontece com a
inclinação da curva IS?
2. Ao longo das ültimas décadas, investidores do mundo inteiro tor- e. Como essa mudança da curva IS afeta a capacidade do Banco
naram-se mais dispostos a aproveitar oportunidades em o utros Central de controlar a taxa de juros?
~ ,.
238 CAPITULO 12

(a) O Modelo /S-LM (b) Fluxo Líquido de Saída de Capital


r
Taxa de juros LM 1
real, r
1. Uma expansão
monetdria ...

r, .
. . . . • . . . . . . rl ... . . . . .. . .
:
~! . . . . . . . . . . . . . . . . r 2· ..... . . ... -: ..
CF(r)
2 . ... reduz 3 . ... o que
a taxa de aumenta o Fluxo líquido
juros, ...
Y1 ----.Y2 Renda, fluxo líquido _ _ ___c_F_,,rcF2
produto, Y de saída de
de saída de capital, CF
capital, ...

(c) O Mercado de Câmbio Externo


Taxa de
câmbio, e

Fig. 12-16 Expansão Monetária em uma Economia


,l,
Aberta Grande O gráfico (a) mostra que uma expansào
4 . ... baixa
monetária desloca a curva LM para a direita. A renda sobe
a taxa de
de Y para Y., e a taxa de juros cai der. para r 0 . O gráfico câmbio ...
(b) mostra que a redução da taxa de juros faz com que o
NX(e)
fluxo líquido de saída de capital aumente de CV para CF_.
O gráfico (c) mostra que o aumento do fluxo líquido de S. .. . e NX rNX Exportações
saída de capital eleva a.oferta líquida de dólares, o que faz
aumenta as 1 2
líquidas, NX
exportações _________._
.,.
,tll' com que a taxa de câmbio se deprecia de e. para e_,.
líquidas.

d. Como essa mud,1nça na curva IS afeta a cap:,c idade do BancLJ e. H::í algum,1 combinação de política monetária e política fiscal
r •• , ~ ,

Central para contmlar a renda nacional? interna e ex terna que permita n alcance desse úbjetivo?

3. Suponha 4ue as autorid,1des em uma economia aherra grande quei- 4. Suponhamos que urna economia aberta grande tem uma taxa de
rnm aumenr,u o nível de investimenro sem mudar a renda agrega - câmbio fixa.
da nem a caxa de câmbio. a. Descreva ,> que acontece em reação a uma contração fiscal. tal
a. Há algrnna combinação de política monetária e política fiscal cnmo um aumenrn de imposto . Compare sua resposta com o
interna que possihilite o alcance desse objetivo 1 caso de uma economia aherca pe4uena.
b. Há alguma combinação de política monetária, pnlítica fis cal e b. Descreva o que acontece se o banco ce ntral expande a oferta
política comerc ial interna que poss ibilite o abmce desse \lhje- mone tária adquirindo títulos do público. Compare sua respos-
tivo? ta com o caso de uma economia aberta pequena.
Capítulo 13

ÜFERTA AGREGADA

Há sempre uma troca temporária entre inflação e desemp.rego; não há uma troca permanente. A troca temporária não vem da
inflação em si, mas sim da inflação imprevista, o que em geral significa que é conseqüência de uma taxa de inflação crescente.
- i\·1ilton Friedman

A maioria dos economistas analisa as oscilações da renda agre- Infelizmente, um fato torna mais difícil essa tarefa: os eco-
gada e do nível de preço no curto prazo usando o modelo da nomistas divergem quanto à melhor maneira de explicar a
demanda agregada e da oferta agregada. Nos três capítulos an- oferta agregada. Em conseqüência, este capítulo começa pela
teriores, examinamos a demanda agregada em alguns detalhes. apresentação de três modelos proeminentes da curva da ofer-
O modelo IS-LM - junto com seu primo de economia aberta, ta agregada de curto prazo. Entre os economistas, cada um
o modelo Mundell-Fleming - mostra como as mudanças da desses modelos tem adeptos importantes (assim como alguns
política monetária e da política fiscal, assim como os choques críticos que se destacam). Você pode decidir por si mesmo o
no mercado monetário e de bens, deslocam a curva da deman- que considera mais plausível. Embora difiram em alguns de-
da agregada. Neste capítulo, concentramos nossa atenção na talhes significativos, esses modelos também são relacionados
oferta agregada, e desenvolvemos teorias que explicam a posi- de uma maneira importante: eles partilham um tema comum
ção e a inclinação da curva de oferta agregada. sobre o que faz com que as curvas de oferta agregada de curto
Quando introduzimos a curva de oferta agregada, no Cap. prazo e de longo prazo sejam diferentes, além da conclusão
9, estabelecemos que, no curto prazo, a oferta agregada se com- comum de que a curva de oferta agregada de curto prazo é po-
porta de uma maneira diferente do que no longo prazo. N o sitivamente inclinada. ·
longo prazo, os preços são flexíveis, e a curva de demanda agre- Depois de estudar os modelos, examinaremos uma implica-
gada é vertical. Quando a curva de oferta agregada é vertical, ção de curva de oferta agregada de curto prazo. Mostramos que
os deslocamentos da curva de demanda agregada afetam o ní- essa curva implica uma troca entre duas medidas de desempe-
vel de preços, mas o produto da economia permanece em sua nho econômico: inflação e desemprego. Segundo essa troca,
taxa natural. Em contraste, no curto prazo, os preços são rígi- para reduzir a taxa de inflação, os formuladores de política eco-
dos, e a curva de demanda agregada não é vertical. Neste caso, nômica devem temporariamente aumentar o desemprego; e,
os deslocamentos da demanda agregada causam oscilações no para reduzir o desemprego, devem aceitar uma inflação mais
produro. N o Cap. 9, apresentamos uma visão simplificada da alta. Como sugere a citação no início do capítulo, a troca en-
rigidez dos preços, traçando a curva de oferta agregada de cur- tre inflação e desemprego é apenas temporária. Um objetivo
to prazo como um reta horizontal, representando a situação em deste capítulo é explicar por que os formuladores de política
que todos os preços são constantes. Nossa tarefa agora é apurar econômica admitem essa troca no curto prazo, e por que -
essa noção da oferta agregada de curto prazo. igualmente importante - não a admitem no longo prazo.

13-1 TRÊS MODELOS DE OFERTA AGREGADA


Quando, em uma aula de física, estudamos polias rolando em pla- Fazemos isso pelo estudo de três modelos proeminentes de
nos inclinados, muitas vezes começam05 por pressupor a inexistência oferta agregada, apresentados mais ou menos na ordem de seu
de atrito. Esse pressuposto toma o problema mais simples, e é útil desenvolvimento. Em todos os modelos, alguma imperfeição de
em muitas circunstâncias; mas nenhum engenheiro competente ja- mercado (ou seja, algum tipo de atrito) faz com que o produto
mais consideraria esse pressuposto como uma descrição literal da da economia se desvie do ponto de referência clássico. Em con-
maneira como o mundo funciona. Assim também, este livro co- seqüência, a curva da oferta agregada de curto prazo é negati-
meçou com a teoria macroeconômica clássica, mas seria um erro vamente inclinada, em vez de vertical, e os deslocamentos da
supor que esse modelo seja sempre verdadeiro. Nosso trabalho agora curva de demanda agregada fazem com que o nível de produto
é examinar mais a fundo os "atritos" da macroeconomia. se desvie temporariamente da taxa natural. Esses desvios tem-
240 CAPÍTULO 13

porários representam os avanços e os retrocessos do ciclo eco- que equilibra a oferta e a demanda de trabalho. Mais provavel-
nômico. mente, o salário real visado é mais alto do que o salário real de
Embora cada um desses três modelos nos leve por um caminho equilíbrio: como vimos no Cap. 6, os sindicatos e as considera.
teórico diferente, cada caminho termina no mesmo lugar. Esse desti- ções de salário-eficiência tendem a manter os salários reais
no final é uma equação da forma da oferta agregada de curto prazo acima do nível que equilibram a oferta e a demanda.
Os trabalhadores e as empresas fixam o salário nominal W
Y = V + a:(P - P•), a:> O com base no alvo de salário real w e na sua expectativa do ní-
em que Y é produto, V é a taxa natural do produto, Pé o nível vel de preços P< . O salário nominal fixado é
de preços e P• é o nível de preços esperado. Esta equação enun- w ú) X pe
cia que o produto desvia-se da sua taxa natural quando o nível
de preços se desvia do nível de preços esperado. O parâmetro Salário Nominal = Salário Real-Alvo X Nível de Preços
a: indica quanto o produto reage a variações inesperadas do Esperado.
nível de preços; 1/ a é a inclinação da curva de oferta agregada. Depois que o salário nominal foi fixado e antes que o trabalho
Cada um dos três modelos conta uma história diferente so- seja contratado, as firmas tomam conhecimento do nível de
bre o que está por trás dessa equação de oferta agregada de cur- preços real P. O salário real passa a ser
to prazo. Em outras palavras, cada qual destaca uma razão es -
WIP ú) X (P"/P)
pecífica para que as variações inesperadas do nível de preços
estejam associados a oscilações do produto agregado.
, . R ea l
Sa lano = Sal'ano. RealAl Nível de Preços Esperado
- vo. X
' j :
Nível de Preço Real
Ü MODELO DE RIGIDEZ SALARIAL Esta equação mostra que o salário real desvia-se do seu alvo se
,i.1 •
o nível de preços real difere do nível de preços esperado. Quan-
... ' Para explicar por que a curva de oferta agregada de curto prazo
do o nível de preços real é maior do que o esperado, o salário
.. J
é negativamente inclinada, muitos economistas salientam o
real é menor que o alvo; quando o nível de preços real é menor
lento ajuste dos salários nominais. Em muitos países, os salári-
que o esperado, o salário real é maior que o alvo.
os nominais são fixados por contratos de longo prazo; por isso,
O pressuposto final do modelo de rigidez salarial é que o em-
os salários não podem se ajustar depressa quando mudam as
prego é determinado pela quantidade de trabalho que as firmas
condições econômicas. Mesmo nas áreas não cobertas por con-
-" ' '
; 1. demandam. Em outras palavras, a negociação entre trabalhado-
tratos formais, acordos implícitos entre trabalhadores e empre-
res e firmas não determina o nível de emprego de antemão; em
sas podem limitar as mudanças salariais. "Os salários também
vez disso, os trabalhadores concordam em oferecer tanto traba-
podem depender de normas sociais e noções de justiça que evo-
lho quanto as empresas quiserem comprar por um salário prede-
luem lentamente." Por essas razões, muitos economistas acham
terminado. Descrevemos as decisões de contratação das empre-
que os salários nominais são rígidos no curto prazo.
sas pela função de demanda por trabalho
O modelo de rigidez salarial mostra o que um salário nomi-
nal rígido acarreta para a oferta agregada. Para ter uma noção L = L'1(W/P),
prévia do modelo, considere o que acontece com o produto que enuncia que, quanto menor o salário real, mais trabalho as
quando o nível de preços aumenta: empresas contratam. A curva de demanda por trabalho é apre-
1. Quando o salário nominal permanece o mesmo, um aumento sentada no gráfico (a) da Fig. 13-1. O produto é determinado
do nível de preços baixa o salário real, fazendo com que o pela função de produção
trabalho se torne mais barato.
2. O salário real menor induz as empresas a contratarem mais
Y = F(L),
trabalho. que estabelece que , quanto mais trabalho é contratado, maior
3. O trabalho adicional contratado aumenta o produto. é o produto. Isto é apresentado no gráfico (b) da Fig. U-1.
Essa relação positiva entre o nível de preços e o produto signifi- O gráfico (c) da Fig. 13-1 mostra a curva de oferta agregada re-
ca que a curva de oferta agregada é positivamente inclinada du- sultante. Como o salário nmninal é rígido, uma mudança inespe-
rante o período em que o salário nominal não pode se ajustar. rada do nível de preços afasta o salário real do salário real-alvo. Essa
Para desenvol\'er essa história sobre a oferta agregada em mudança do salário real influencia a quantidade de trabalho con-
termos mais formais, suponha que trabalhadores e firmas ne- tratado e o produto. A curva de oferta agregada pode ser escrita como
gociem e concordem sobre o salário nominal antes de saberem
qual será o nível de preços quando o acordo estiver em vigor.
Y= V + a(P- P·l
As partes em negociação - os trabalhadores e as firmas - têm O produto desvia-se do seu nível natural quando o nível de
em mente um salário real-alvo. Esse alvo pode ser o salário real preços se desvia do nível de preços esperado. 1

1 Para mais informação sobre o modelo de rigidez salarial, vejaJo Anna Gray, "Wage lndexation: A Macroeconomic Approach".Joumaf ofMonetar:v Economics 2 (abril de 1976):

221 -235; e Stanley Fischer, "Long·Term Contracts, Racional Expectations, and the Oprima! Money Supply Rule",Jouma! of Po!itical Econorn:v 85 (fevereiro de 1977): 191-205.
T (a) Demanda por Trabalho (b) Função de Produção
ÜFERTA AGREGADA 241

Salário real, Renda, produto, Y


W/P

Y = F(L)
Y,

2 . ... reduz Trabalho, L


r
4 . ... o produto, ...
Trabalho, L
o salário real
3 . ... o que aumenta
de um salário
o emprego, .. .
nominal dado, ...
(e) Oferta Agregada
Nível de preços, P Y= Y+ o:(P- p•)
Fig. 13-1 O Modelo de rigidez salarial O gráfico (a)
mostra a curva de demanda por trabalho . Comoo salário
nominal W está parado, um aumento do nível de preços
de P: para P_ reduz o salário real de WIP: para WIP~. O 6. A curva de
salário real menor aumenta de L: para L~a demanda por oferta agregada
sintetiza essas
trabalho. O gráfico (b) mostra a função de produção Um
mudanças.
aumento da quantidade de trabalho de L: para L2 aumen- 1. Um aumento
ta de Y: para J/._o produto. O gráfico {c) mostra a curva
de oferta agregada sintetizando essa relação entre o ní-
do nível de
preços ... Y,rY2 Renda, produto, Y
vel de preços e o produto. Um auml:1nto do nível de pre-
5 .... ea renda.
ços de P: para P_aumenta o produto de Y, para Y,

ESTUDO DE CASO
O CoMPORTAMENTO Cícuco no SAlÃRIO REAL nas uma tênue correlação entre o salário real e o produto, e é o
Em qualquer modelo com uma curva de demanda por trabalho oposto do que Keynes previu. Ou seja, se o salário real é cíclico
inalterada, como o modelo que acabamos de examinar, o em- de alguma maneira, então ele é ligeiramente procíclico: o salário
prego sobe quando o salário real cai. No modelo de rigidez sa- real tende a aumentar quando o produto aumenta. Os custos do
larial, um aumento inesperado do nível de preços baixa o salá- trabalho anormalmente altos não podem explicar a redução do
rio real; com isso, aumenta a quantidade de trabalho contrata- emprego e do produto que se observa nas recessões.
do e o produto. Assim, o salário real deve ser contracídico: deve Como devemos interpretar essa evidência? A maioria dos
oscilar na direção t)posta do emprego e do produto. O próprio economistas conclui que o modelo de rigidez salarial não pode
Keynes escreveu , em A Teoria Geral, que "um aumento do explicar plenamente a oferta agregada. Eles defendem mode-
emprego só pode ocorrer no acompanhamento de um declínio los em que a curva de demanda por trabalho se desloca de acor-
da taxa de salários reais". do com os ciclos econômicos. Essas mudanças podem ocorrer
Os primeiros ataques à Teoria Geral partiram de economistas porque as empresas têm preços rígidos e não conseguem ven-
que contestavam a predição de Keynes. A Fig. 13-2 é um gráfico der tudo o que querem a esses preços; analisaremos essa possi-
de dispersão que representa a variação percentual da compensa- bilidade mais adiante. Por outro lado, a curva de demanda por
ção real por hora de trabalho e a variação percentual do PIB real, trabalho pode se deslocar por causa de choques tecnológicos,
utilizando os dados anuais da economia dos Estados Unidos de que alteram a produtividade do trabalho. A teoria de que tra-
1960 a 2000. Se a predição de Keynes fosse correta, os pontos taremos no Cap. 19, chamada de teoria dos ciclos econômicos
nessa figura mostrariam um padrão de inclinação negativa, in- reais, concede um papel proeminente aos choques tecnológi-
dicando uma relação inversa. A figura, no entanto, mostra ape- cos como uma fonte de oscilações econõmicas. 1

: Para conhecer algumas obras recentes sobre o comportamento cíclico do salário real, veja Scott Sumner e Stephen Silver, "Real Wages, Employmem, and che Phillips Curve",
]oumal of Polirical Economy 97 (junho de 1989): 706-720; e Gary Solon, Robert Barsky e ]onathan A. Parker, "Measuring rhe Cydicaliry of Real Wages: How lmporrant Is
Composition Bias~', Quarterl·y]oumal ofEconomics 109 (fevereiro de 1994): 1-25.
242 CAPITULO 13

Variação
1972 io
percentual do 4
salário real
3
. 1998 " .
2
. •
" 1965

.
1960 fj
,.
1997 ,.
1999 !ll)! 11 ... li

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1996 "" 2000 '-'
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1970
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1979 .,.
- 3 1974 •

- 4
1980
-SL___ _,__ _1---_ _.___ __j1---_ __j1---_--J' - -- - ' - - - - ' ------'----'------'
-3 -2 - 1 o 2 3 4 5 6 7 8
Variação percentual da PIB real

Fig. 13-2 O Comportamento Cíclico do Salário Real Este gráfico de dispersão mostra a variação percentual do PIB real e a variação percentual
do salário real (medido aqui como ganhos privados reais por hora). À medida que o produto oscila, o salário real geralmente se desloca na mesma
..J . direção. Ou seja, o salário real é um tanto procícbco. Essa observação é incompatível como o modelo de rigidez salarial.
Fonte: U. S. Department of Commerce e U. S. Department o! Labor.

d'.''. , 0 MODELO DE INFORMAÇÃO IMPERFEITA Infelizmente, quando toma sua decisão de produção, o pro-
dutor não conhece o preço relativo do trigo. Como produtor
,., ,• A segunda explicação para a inclinação positiva da curva de de trigo, ele acompanha atentamente o mercado de trigo, e
oferta agregada de curto prazo é chamada de modelo de infor- sempre conhece o preço nominal do trigo. Mas n ão conhece
mação imperfeita. Ao contrário do modelo de rigidez salarial, os preços de todos os outros bens da economia. Portanto, deve
f ... . ~ este modelo pressupõe que os mercados se equilibram- ou seja, estimar o preço relativo do trigo usando o preço nominal do
todos os salários e preços estão livres para se ajustarem ao equi- trigo e sua expectativa do nível de preços geral.
líbrio entre oferta e demanda. Neste modelo, as curvas de ofer- Pense em como reage o produror se aumentam todos os pre-
ta agregada de curto e de longo prazos diferem por causa das ços da economia, inclusive o preço do trigo. Uma possibilida-
percepções equivocadas temporárias sobre preços. de é que ele esperava essa mudança dos preços. Quando obser-
O modelo de informação imperfeita pressupõe que cada va um aumento do preço do trigo, sua estimativa de preço re-
ofertante da economia produz um único bem e consome mui- lativo permanece inalterada. Ele não trabalha mais.
tos bens. Como o número de bens é muito grande, os ofertantes A outra possibilidade é que o produtor não esperava que o
não podem observar todos os preços durante todo o tempo. nível de preços aumentasse (ou que não aumentasse tanto) .
Monitoram atentamente os preços do que produzem, mas me- Quando observa o aumento do preço do trigo, ele não tem cer-
nos atentamente os preços de todos os bens que consomem. Por teza se os outros preços aumentaram (nesse caso, o preço rela-
causa da informação imperfeita, eles confundem às vezes vari- tivo do trigo permanece inalterado), ou se apenas o preço do
ações do nível geral de preços com variações dos preços relati- trigo subiu (nesse caso, o preço relativo é mais alto). A
vos. Essa confusão influencia decisões sobré quanto fornecer, e inferência racional é que aconteceu um pouco de cada coisa.
leva a uma relação positiva entre o nível de preços e o produto Em outras palavras, o produtor infere do aumento no preço
no curto prazo. nominal do trigo que seu preço relativo subiu um pouco. Passa
Pense na decisão com que se defronta um único ofertante - a trabalhar mais e produzir mais.
um produtor de trigo, por exemplo. Como o produtor obtém sua Nosso produtor de trigo não é um caso isolado. Quando o
renda da venda do trigo, usando essa renda para comprar bens e nível de preços sobe inesperadamente, todos os ofertantes da
serviços, a quantidade de trigo que ele opta por produzir depen- economia promovem aumentos dos preços dos bens que pro-
de do preço do trigo em relação aos preços de outros bens e ser- duzem. Inferem racionalmente, mas de maneira equivocada,
viços da economia. Se o preço relativo do trigo é alto, o produ- que aumentaram os preços relativos dos bens que eles produ·
tor é motivado a trabalhar mais e produzir mais trigo, porque a zem. Passam a trabalhar mais e produzir mais.
recompensa será maior. Se o preço relativo do trigo é baixo, ele Para resumir, o modelo de informação imperfeita enuncia
prefere desfrutar mais lazer e produzir menos trigo. que, quando os preços reais superam os preços esperados, os
T
!
1
OFERTA AGREGADA 243
1

ofertantes aumentam sua produção. O modelo implica uma p = P + a(Y - V) .


curva de oferta agregada que é agora conhecida:
Esta equação diz que o preço desejado p depende do nível de
Y = V + a(P - P•). preços geral P e do nível de produto agregado relativo à taxa
natural Y - Y. O parâmetro a (que é maior que zero) mede
O produto desvia-se da taxa natural quando o nível de preços
quanto o preço desejado da empresa reage ao nível de produto
desvia-se do nível de preços esperado. 3
agregado. 4
Suponha agora que há dois tipos de firmas. Algumas têm
Ü MODELO DE PREÇOS RÍGIDOS preços flexíveis : elas sempre fixam seus preços de acordo com
essa equação. Outras têm preços rígidos: anunciam seus preços
A terceira explicação para a inclinação negativa da curva de
com antecipação, com base nas condições econômicas que elas
oferta agregada de curto prazo é chamada de modelo de preços
esperam. As firmas com preços rígidos fixam preços de acordo
rígidos. Esse modelo enfatiza que as empresas não ajustam ime-
com
diatamente os preços que cobram em reação a variações da
demanda. Às vezes os preços são fixados em contratos de lon- P = P• + a(Y• - Y• ),
go prazo entre empresas e clientes. Mesmo sem acordos formais,
as empresas podem manter os preços constantes, a fim de não em que, tal como antes, um "e" sobrescrito representa o valor
irritarem os clientes regulares com freqüentes mudanças de esperado de uma variável. Para simplificar, partimos do pres-
preços. Alguns preços são rígidos por causa da maneira como suposto de que essas firmas esperam que o produto esteja em
os mercados são estruturados: depo is que uma firma imprimiu sua taxa natural, e por isso o último termo, a(Y• - Y•), é z-ero.
e distribuiu seu catálogo ou sua lista de preços, é dispendioso Portanto, essas empresas fixam o preço
alterar os preços. p = pe,
Para entender como os preços rígidos podem ajudar a expli-
car a curva de oferta agregada positivamente inclinada, consi- Ou seja, as firmas com preços rígidos fixam seus preços com base
deraremos primeiro as decisões de determinação de preço de no que elas esperam que as outras empresas cobrem.
empresas individuais, para depois somar as decisões de muitas Podemos usar as regras de determinação de preço dos dois
empresas para explicar o comportamento de uma economia grupos de firmas para derivar a equação de oferta agregada. Para
como um todo. Cabe ressaltar que esse modelo nos estimula a isso, obtemos o nível geral de preços da economia, que é a média
desviar do pressuposto da concorrência perfeita, que temos ponderada dos preços fixados pelos dois grupos. Se s é a fração
usado desde o Cap. 3. As empresas que operam em concorrên- de empresas com preços rígidos e 1 - s a fração com preços fle-
cia perfeita são tomadoras de preços em vez de fixadoras de xíveis, então o nível geral de preço é
preços. Se quisermos considerar como as empresas fixam pre- P = spe + (1 - s)[P + a(Y - Y)].
ços, é natural pressupormos que essas firmas têm pelo menos
algum controle de monopólio sobre os preços que cobram. O primeiro termo é o preço das firmas de preço rígido ponde-
Considere a decisão de determinação de preços com que se rado por sua fração na economia, enquanto o segundo termo é
defronta uma empresa típica. O preço desejado p da empresa o preço das firmas de preço flexível ponderado por sua fração.
depende de duas variáveis macroeconômicas: Agora, subtraia (1 - s)P dos dois lados da equação, para obter

> O nível geral de preços P. Um nível de preço mais alto sP = sP' + (1 - s)[a(Y- Y)].
implica que os custos da firma são mais elevados. Assim,
quanto mais alto o nível de preço, mais a empresa gosta- Divida os dois lados por s para solucionar o nível geral de preços:
ria de cobrar por seu produto.
P = P• + [(1 - s)a/s](Y - Y)].
> O nível de renda agregada Y. Um nível de renda mais
alto aumenta a demanda pelo produto da firma. Porque Os dois cerrnos dessa equação são explicados da seguinte ma-
o custo marginal aumenta em níveis mais elevados de neira:
produção, quanto maior a demanda, maior o preço de-
> Quando as firmas esperam um nível de preços alto, espe-
sejado da empresa.
ram custos altos. As firmas que fixam os preços com an-
Escrevemos o preço desejado da empresa como tecipação optam por preços elevados. Esses preços altos

'Dois economistas que enfatizaram o papel da info rmação impetfeita para se compreenderem os efeitos de curro prazo da política monetária são os ganhadores do Prêmio Nobel
Milton Friedman e Robert Lucas. Vej a Milton Friedman, "The Role of Monerary Policy", American Economic Review 58 (março de 1968): 1-17; e Robert E. Lucas, Jr., "Under-
standing Business Cycles", Srabili zation of rhe Domesiic and Internacional Economy, vol. 5 da Conferênc ia Camegie-Rochester de Política Pública (Amsrerdam: Norte da Holanda
1977) . '
'Nora matemática: A empresa se importa mais com o preço relativo, que é a razão .entre o de preço nominal e o nível de preços original. Se interpretamospe P como os logaritmos
do preço da empresa e do nível de preço, então essa equação enuncia que o preços relativo desej ado depende do desvio do produto de sua taxa natural.
244 CAPÍTULO 13

fazem com que outras empresas também fixem preços natural é positivamente relacionado ao desvio do nível de pre-
altos. Assim, uma alta do nível de preços esperado Pº leva ços do nível de preços esperado.
a um elevado nível de preço real P. Embora o modelo de preços rígidos enfatize o mercado de
>- Quando o produto é alto, a demanda por bens é elevada. fu bens, considere por um momento o que ocorre no mercado
firmas com preços flexíveis fixam seus preços altos, o que leva de trabalho. Se o preço de uma empresa se mantém o mes-
a um nível de preços alto. O efeito do produto no nível de pre- mo no curto prazo, então uma redução da demanda agrega-
ços depende da proporção das empresas com preços flexíveis. da reduz o montante que a firma é capaz de vender. A firma
reage a essa queda das vendas reduzindo seu produto e sua
Por isso, o nível geral de preços deptmde do nível de preços demanda por trabalho. Observe o contraste com o modelo
esperado e do nível de produto. de rigidez salarial: a empresa aqui não segue uma curva de
O rearranjo algébrico põe essa equação de determinação de demanda por trabalho fixa. Em vez disso, as oscilações do
preço agregada em uma forma mais familiar: produto estão associadas a deslocamentos da curva de de-
manda ponrabalho. Por causa desses deslocamentos da de-
Y = Y + a(P - P.), manda por trabalho, o emprego, o produto e o salário real
em que a = s/[ ( 1 - s )a] . Tal como os outros modelos, o mode- podem seguir n a mesma direção. Portanto, o salário real pode
lo de preços rígidos enuncia que o desvio do produto de sua taxa ser procíclico. 5

·Í: ESTUDO DE C A S O - - - - - - - - - - - -
,1 • .
. 1.1 •
DIFERENÇAS INTERNACIONAIS NA CURVA DA ÜFERTA Lucas testou essa predição examinando dados internacionais
... / sobre produto e preços. Descobriu que as variações da deman-
..
,,
AGREGADA
da agregada exercem o efeito maior sobre o produto nos países
Embora todos os países experimentem oscilações econômicas, es-
sas oscilações não são exatamente iguais por todo o mundo. As di- em que a demanda agregada e os preços são mais estáveis. Lucas
ferenças internacionais são, por si sós, enigmas intrigantes, e mui- concluiu que as evidências confirmam o modelo de informa-
tas vezes proporcionam uma maneira de se testarem teorias econô- ção imperfeita.6
micas alternativa~. O exame das diferenças internacionais tem sido O modelo de preços rígidos também faz predições sobre a
• 1 • especialmente proveitoso na pesquisa sobre a oferta agregada. inclinação da curva de oferta agregada de curto prazo. "Em
Quando o economista Robert Lucas propôs o modelo de particular, prevê que a taxa média de inflação deve influenciar
informação imperfeita, obteve uma surpreendente interação a inclinação da curva de oferta agregada de curto prazo." Quan-
entre demanda agregada e oferra agregada: segundo seu mode- do a taxa média de inflação é alta, é muito dispendioso para as
lo, a inclinação da curva da oferta agregada deve depender da empresas manterem preços fixos por longos períodos. Assim,
instabilidade da demanda agregada. Em países em que a deman- as firmas ajustam os preços com mais freqüência. O ajuste mais
da agregada oscila bastante, o nível de preços agregados tam- freqüente dos preços, por sua vez, possibilita que o nível geral
bém oscila bastante. Como a maioria das variações de preços de preços reaja mais depressa aos choques na demanda agrega-
..
. •I,
; .
desses países não representa variações de preços relativos, os da. Por isso, uma taxa de inflação alta deve fazer com que a curva
ofertantes devem ter aprendido a não reagir demais a variações de oferta agregada de curto prazo se torne mais inclinada.
inesperadas do nível de preços. Portanto, a curva de demanda Os dados internacionais confirmam essa predição do modelo
agregada deve ser relativamente muito inclinada (ou seja, a será de preços rígidos. Em países com média de inflação baixa, a cur-
pequeno). Inversamente, em países em que a demanda agrega- va de demanda agregada de curto prazo é relativamente menos
da é mais ou menos estável, os ofertantes devem ter aprendido inclinada: as oscilações da demanda agregada têm grandes efei-
que a maioria das variações de preços são variações de preços tos no produto e são refletidas lentamente n os preços. Os países
relativos. Assim, nesses países, os ofertantes devem reagir mais de inflação alta têm curvas de oferta agregada de curto prazo
a variações de preços inesperadas, tomando a curva de oferta bastante inclinadas. Em outras palavras, a inflação alta parece
agregada menos inclinada (ou seja, a será grande). erodir os atritos que fazem com que os preços sejam rígidos.;

' Para um desenvolvimento mais avançado do modelo de preços rígidos, veja Julio Rotemberg, "Monopolistíc Price Adjustement and Aggregate Output", Review o[ Economic
Srudies 49 (1982 ): 517-531.
'Robert E. Lucas, Jr., "Some lnternational Evidence on Output• lnflation T radeoffs", American Economic Review 63 (junho de 1973 ): 326-334.
;Laurence Bali, N. Gregory Mankiw e David Romer, "The New Keynesian Economics and rhe Output-lnflation Tradeoff'', Brookings Papers on Economic Accivicy ( 1988:l): 1-65.
T ÜFERTA AGREGADA 245 l
Observe que o modelo de preços rígidos também pode ex- nível de preços é bastante variável, poucas firmas se compro-
plicar a descoberta de Lucas de que países com demanda agre- meterão com preços por antecipação (s será pequeno). Por isso,
gada variável têm curvas da oferta agregada inclinadas. Se o a curva de demanda agregada será inclinada (a será pequeno).

RESUMO E IMPLICAÇÕES 13-4 usa nossa equação de oferta agregada para mostrar como a
economia reage a um aumento inesperado da demanda agrega-
Examinamos três modelos de oferta agregada e a imperfeição da, atribuível, digamos, a uma inesperada expansão monetária.
de mercado que cada qual utiliza para explicar por que a curva
No curto prazo, o equilíbrio passa do ponto A para o ponto B. O
de oferta agregada de curto prazo é positivamente inclinada.
aumento da demanda agregada eleva o nível de preços efetivo
Um modelo pressupõe que os salários nominais são rígidos; o
de P 1 para Pz, Como as pessoas não esperavam esse aumento do
segundo presume que a informação sobre preços é imperfeita;
nível de preços, o nível de preços esperado permanece em Pí, e
e o terceiro parte do pressuposto de que os preços são rígidos. É
preciso lembrar que esses modelos não são incompatíveis uns a produção sobe de Y1 para Y2 , que fica acima da taxa natural f.
Assim, a inesperada expansão da demanda agregada faz com que
com os outros. Não precisamos aceitar um modelo e rejeitar os
outros. O mundo pode conter todas essas três imperfeições de a economia passe por um "boom".
mercado, e todas podem contribuir para o comportamento da Esse "boom", no entanto, não dura para sempre. No longo
oferta agregada no curto prazo. prazo, o nível de preços sobe para alcançar a realidade, fazendo
Embora os três modelos de oferta agregada difiram em seus com que a <:_urva de oferta agregada de curto prazo se desloque
pressupostos e suas ênfases, as implicações para o produto agre- para cima. A medida que o nível de preços esperado sobe de P;
gado são semelhantes.Todas podem ser resumidas pela seguinte para Pí, o equilíbrio da economia passa do ponto B para o pon:
equação: to C. O nível de preços efetivo sobe de P 1 para P 3, e o produto
cai de Y2 para Yi · Em outras palavras, a economia volta ao ní-
Y = Y + a(P - P•). vel natural de produto de longo prazo, mas a um nível de pre-
Esta equação enuncia que os desvios do produto da taxa natu- ços muito mais alto.
ral estão relacionados com os desvios do nível de preços efeti- Esta análise mostra um princípio importante, que se man-
vos do nível de preços esperado. Se o nível de preços é mais alto tém para todos os três modelos de oferta agregada: a neutrali-
que o nível de preços esperado, o produto supera sua taxa natural. dade monetária no longo prazo e a não-neutralidade monetá-
Se o nível de preços é mais baixo do que o nít•el de preços esperado, ria no curto prazo são perfeitamente compatíveis. A não-neu-
o produto fica aquém da sua taxa natural. A Fig. 13-3 mostra essa tralidade monetária no curto prazo é representada aqui pelo
equação. Observe que a curva de oferta agregada de curto pra- movimento do ponto A para o ponto B, enquanto a neutrali-
zo é traçada para uma determinada expectativa Pº, e que uma dade monetária no longo prazo é representada pelo movimen-
mudança de fJe deslocaria a curva. to do ponto A para o ponto C. Conciliamos os efeitos de curto
Agora que temos uma noção melhor da oferta agregada, tor- e de longo prazos da moeda ao enfatizar o ajuste das expectati-
naremos a juntar a oferta agregada e a demanda agregada. A Fig. vas sobre o nível de preços.
3

Nível de preços, P
Oferta Y = Y + a(P - P•)
agregada
s P> p• de longo
prazo
J Oferta agregada
e de curto prazo

P< p•

y Renda, produto, Y
ic

Fig. 13-3 A Curva de Oferta Agregada de Curto Prazo O produto desvia-se da taxa natural Y se o nível de preços P desvia-se do nível de
5. preços esperado P'.
246 CAPITULO 13

Nível de preços, P

P3 =P3
Aumentodo ]
nível de preços P2

"T"' p1 p,,,;o
= Pf =, p~

Aumento do
nível de preços
no curto prazo

Renda,
Oscilação do produto produto, Y
no curto prazo

Fig. 13·4 Como Mudanças da Demanda Agregada Levam a Oscilações de Curto Prazo Aqui, a economia começa em um equilíbrio de
,:.1 • longo prazo, o ponto A. Quando a demanda agregada aumenta inesperadamente, o nível de preços sobe de P 1 para P2. Como o nível de preços P2 está
,, '
acima do nível de preços esperado ~. o produto aumenta temporariamente acima da taxa natural, à medida que a economia passa pela curva de
i
oferta agregada de curto prazo, do ponto A para o ponto B. No longo prazo, o nível de preços esperado sobe para ?j, fazendo com que a curva de
oferta agregada de curto prazo se desloque para cima . A economia retorna a um novo equilíbrio de longo prazo, o ponto C, em que o produto volta à
sua taxa natural.

,·;:··

13-2 INFIAÇAO, DESEMPREGO E A CURVA DE PHILLIPS


Dois objetivos dos formuladores de política econômica são in- prego e a inflação se deslocam em direções opostas. A curva de
flação baixa e desemprego baixo. Com bastante freqüência, Phillips é uma maneira útil de expressar a oferta agregada, por-
porém, há um conflito entre esses dois objetivos. Suponha, por que inflação e desemprego são medidas da maior importância
exemplo, que os formuladores de política econômica adotas- do desempenho econômico.
sem uma política monetária ou fiscal para expandir a demanda
agregada. Essa política moveria a economia pela curva da oferta
OBTENÇÃO DA CURVA DE PHILLIPS A PARTIR
,,•· , agregada de curto prazo até um ponto de produto superior e
nível de preço mais alto. (A Fig. 13-4 mostra isso como a mu- DA CURVA DE ÜFERTA AGREGADA
dança do ponto A para o ponto B.) Produto superior significa A curva de Phillips em sua forma moderna enuncia que a taxa
desemprego menor, porque as empresas precisam de mais tra- de inflação depende de três forças:
balhadores quando produzem mais. Um nível de preços mais
alto, em relação ao nível de preços do ano anterior, significa > Inflação esperada;
inflação mais alta. Assim, quando os formuladores de política > O desvio do desemprego da taxa natural, chamada de de-
econômica conduzem a economia para cima pela curva de oferta semprego cíclico;
agregada de curto prazo, reduzem a taxa de desemprego e au- > Choques de oferta.
mentam a taxa de inflação. Inversamente, quando contraem a Essas três forças estão expressas na seguinte equação:
demanda agregada e conduzem a economia para baixo pela
curva de oferta agregada de curto prazo, o desemprego aumen- 1T ef + V

ta e a inflação cai.
Essa troca entre inflação e desemprego, chamada de curva _ = Inflação _
1n fl açao ((.}.X Desemprego) + Choque de
Esperada tJ Cíclico Oferta '
de Phillips, é o tema desta seção. Como já destacamos (e vamos
obter, mais adiante, de maneira mais formal), a curva de Phillips em que /3 é um parâmetro que mede a reação da inflação ao desem-
é um reflexo da curva da oferta agregada de curto prazo: à me- prego cíclico. Observe que há um sinal de menos antes do tenno
dida que os formuladores de política econômica movem a eco- de desemprego cíclico: desemprego elevado tende a reduzir a infla-
nomia pela curva de oferta agregada de curto prazo, o <lesem- ção. Essa equação sintetiza a relação entre inflação e desemprego.
ÜFERTA AGREGADA 247

De onde vem essa equação da curva de Phillips? Embora ela 1r = 'Tf + (I/a)(Y - Y) + v.
possa não parecer familiar, podemos derivá-la da equação da
Terceiro, para ir do produto ao desemprego, recorde, do Cap.
oferta agregada. Para entender de que maneira, escreva a equa-
2, que a lei de Okun dá uma relação entre essas duas variáveis.
ção da oferta agregada como
Uma versão da lei de Okun enuncia que o desvio do produto
P = P• + (1/a)(Y - Y). de sua taxa natural é inversamente relacionado com o desvio
do desemprego de sua taxa natural; ou seja, quando o produto
Com uma adição, uma subtração e uma substituição, pode- é maior que a taxa natural de produto, o desemprego é mais
mos manipular essa equação para relacionar inflação e desem- baixo do que a taxa natural de desemprego. Podemos escrever
prego. isso como
Aqui estão os três passos. Primeiro, acrescente ao lado di-
reito da equação um choque de oferta vpara representar even- (1/a){Y - Y) =- f3(u - uº).
tos exógenos (como uma mudança dos preços internacionais
Tornando essa relação da lei de Okun, podemos substituir
do petróleo) que alteram o nível de preços e deslocam a curva - {3(u - u") por ( 1/a)(Y - Y) na equação anterior para obter
de oferta agregada de curto prazo:
7T = 71" - f3(u - u") + v.
P = P• + (1/a)(Y - Y) + v.
Assim, podemos obter a equação da curva de Phillips a partir
Em seguida, para ir do nível de preços para as taxas de infla- da equação da curva de oferta agregada.
ção, subtraia o nível de preços do ano anterior P _1 dos dois la- Toda essa álgebra visa a demonstrar uma coisa: a equação
dos da equação, para obter da curva de Phillips e a equação da curva de oferta ag;égada de
curto Rrazo r!E_resmtam~messência ?s mesmas idéias macro-
econômicas. Em particular, as duas equações apresentam uma
O termo do lado esquerdo, P - P_1, é a diferença entre o nível ligação entre variáveis reais e variáveis nominais, que faz co~
de preços atual e o nível de preços do ano anterior, que é a ~~. a._~icowmia clássica (a§~pa~aç_ã~)__te9ri_ca_de va_rj~veis re~s
inflação 7T. ~ O termo no lado direito, P• - P _11 é a diferença e nominais) falhe no cu_~to prazo._Segundo a equação da curva
entre o nível de preços esperado e o nível de preços do ano áeoferta agregada de curto prazo, o produto é relacionado com
anterior, que é a inflação esperada 77". Portanto, podemos subs- variações-Tnespérãdáscto nível_~e pn:ços. Segundo a equaç~o
tituir P - P_1 por 7T e P< - P _1 por 71": jl_ã~~~r:'~de, Phitlí~s: ()}ese1:!}2_r_eg() __~ r.~!?S.Ü~~ª-49 _c o_l1l_vari;3-~

SA1BAMAIS
A História da .enrva ·de Phillips Moderna
A curva de Phillips tem esse nome em homenagem ao eco- Segundo, a curva de Phillips moderna inclui a inflação
nomista A . W. Phillips, nascido na Nova Zelândia. Em esperada. Esse acréscimo é decorrente do trabalho de Mil-
1958, Phillips observou uma relação negativa entre a taxa ton Friedman e Edmund Phelps. Ao desenvolverem as pri-
de desemprego e a taxa de inflação salarial, em dados do meiras versões do modelo de informação imperfeita, esses
Reino Unido. 9 A curva de Phillips que os economistas uti- dois economistas enfatizaram a importância das expectati-
lizam hoje difere sob três aspectos da relação que Phíllips vas para a oferta agregada.
examinou. Terceiro, a moderna curva de Phillips inclui os choques de
Primeiro, a curva de Phillips moderna substitui a infla- oferta. O mérito desse acréscimo é da OPEP, a Organização
ção salarial pela inflação de preço. Essa diferença não é cru- dos Países Exportadores de Petróleo. Na década de 1970, a
cial, porque a inflação de preço e a inflação salarial estão es- OPEP promoveu grandes aumentos do preço internacional do
treitamente ligadas. Em períodos em que os salários sobem petróleo, o que fez com que os economistas se tomassem mais
depressa, os preços também sobem depressa. atentos à importância dos choques para a oferta agregada.

' Nota matemática: esse enunciado não é preciso, porque a inflação ê realmente a variaçãó percentual do nível de preços. Para tomar o enunciado mais preciso, interprete P como
o logaritmo do nível de preços. Pelas propriedades dos logaritmos, a variação de Pé a taxa de inflação aproximada. O motivo ê que dP =d(logaritmo de nível de preços) = d(nível
de preços )/nível de preços.
' A. W. Phillips, "The Re!ationship Between Unemployment and the Rate of Change of Money Wages in the United Kingdom, 1861-1957", Economica 25 (novembro de 1958):
283 -299.
248 CAPÍTULO 13

ç~es inesperadas da taxa de inflação. A curva de oferta agreg~~- No modelo de oferta agregada e demanda agregada, a infla-
da é mais conveniente quando estudamos o produto e o nível ção inercial é interpretada como deslocamentos ascendentes
de preços, enquanto a curva Phillips é mais conveniente quando persistentes da curva de oferta agregada e da curva de deman-
estudamos o desemprego e a inflação. Mas não deve~os ~~que- da agregada. Considere primeiro a oferta agregada. Se os pre-
~er o fato d~ q11e_3: çur':.~_de1ss.~mps~
e._·~:~~r-vãd~~re~tã -agreg~ ços têm subido depressa, as pessoas esperarão que continuem a
da são dois lados da mesma moeda. subir depressa. Como a posição da curva de oferta agregada de
curto prazo depende do nfvel de preços esperado, a curva de
oferta agregada de curto prazo vai se deslocar para cima ao lon-
EXPECTATIVAS ADAPTATIVAS E INÉRCIA go do tempo. E continuará a se deslocar para cima até que al-
INFIACIONÁRIA gum evento, tal como uma recessão ou um choque de oferta,
mude a inflação, e com isso mude também as expectativas de
Para tornar a curva de Phillips útil para analisarmos as opções inflação.
com que se defrontam os formuladores de política econômica, A curva de demanda agregada deve também deslocar-se para
precisamos dizer o que determina a inflação esperada. Uma cima para confirmar as expectativas de inflação. N a maioria das
suposição simples e muitas vezes plausível é que as pessoas cri- vezes, a subida contínua da demanda agregada é causada pelo
am suas expectativas de inflação com base na inflação recen- crescimento persistente da oferta monetária. Se o Banco Cen-
temente observada. Essa suposição é chamada de expectativas tral suspendesse de repente a expansão monetária , a demanda
adaptativas. Por exemplo, suponh amos que as pessoas esperem agregada se estabilizaria e o deslocamento para cima da oferta
que os preços aumentem este ano à mesma taxa que aumenta- agregada causaria uma recessão. O alto desemprego na recessão
~ •. i ; ram no ano passado. Assim, a inflação esperada 'lT'. é igual à reduziria a inflação e a inflação esperada, acaba"ndo com.a inér-
.: ' inflação do ano passado 7T _ 1: cia inflac ionária .
... . ef = 'IT- 1·
. J

Nesse caso, podemos escrever a curva de Phillips como DUAS CAUSAS DE ALTA E QUEDA DA
1T= 7T_ 1 - {3(u - u") + 11, INFIAÇÃO

que enuncia que a inflação depende da inflação passada, do O segundo e o terceiro termos da equação da curva de Phillips
, ,.
desemprego cíclico e de um choque de oferta. Quando a curva mostram as duas forças que podem mudar a taxa de inflação.
., de Phillips é escrita dessa maneira, a taxa ~awral de desemprego O segundo termo, {3(u - u"), mostra que o des~mprego cí·
é às vezes chamada de Tàxa de Desemprego Não-Inflacioná- clico - o desvio d~, dese mprego da sua taxa natural - exerce
::·,...
ria, ou NAIRU (non-accelerating inflation rate of unemploy- uma pressão ascendente ou descendente sobre a inflação. 9
ment). desemprego baixo eleva a taxa de inflação. Esta é chamada cl_e
O primeiro termo nessa forma da curva Phillips, 'lT _ 1, indic~ inflação de demanda, porque a alta demanda agregada é res-
que a inflação é inercial. Ou seja, tal como um objeto se mo- ponsável por esse tipo de inflação. O desemprego elevado puxa
vendo pelo espaço, a inflação contin:ua, a menos que algo ocorra a inflação para baixo. O parâmetro /3 m:ede o quanto a inflação
para sustá-la. Em particular, se o desemprego está em TONI e_ é sensível ao desemprego cíclico. ·
se não h á choques de oferta, o aumento continuado do nível O terceiro termo, 11, mostra que a inflação também sobe.~
de preços não acelera nem desacelera. Essa inércia ocorre por~ desce por causa de choques de oferta. Um choque de ofer~a
que a inflação passada influencia as expectativas de inflação adverso, como a alta dos preços internacionais do petróleo na
futura, e porque essas expectativas influenciam os salários e os década de 1970, indica um valor positivo de v, o que acarreta
preços que as pessoas fixam. Robe rt Solow captou niuito bem uma subida da inflação . É o que se chama de inflação de c~~-
o conceic.o de inflação inercial quando escreveu, durante a in- tos, porque os choques de oferta adversos ·em geral são eventos
flação alta da década de 1970: "Por que nossa moeda é sempre que aumentam os custos de produção. Um choque de oferta
menos valiosa ? Talvez seja simplesmente pelo fato de que te- benéfico, como a abundância de petróleo produzido que levou
mos inflação porque esperamos inflação, e esperamos inflação a uma queda dos preços na década de 1980, torna II negativQ.e
porque a tivemos." causa a queda da inflação.

ESTUDO DE CASO - - - - - - - - - - - - - - - ,
INFIAÇÃO E DESEMPREGO NOS ESTADOS UNIDOS semprego nos Estados Unidos desde 1961. Os dados dessas qua-
Como a inflação e o desemprego são medidas tão importantes tro décadas ilustram algumas das causas da subida ou da queda
do desempenho econômito, os desenvolvimentos macroeco- da inflação.
nômicos são muitas vezes vistos através da lente da curva de A década de 1960 mostrou como os formuladores de políti-
Phillips. A Fig. 13-5 apresenta a história da inflação e do de- ca econômica podem, no curto prazo, baixar o desemprego ao
ÓFERTA AGREGADA 249

fla- Inflação
ttes (percentual) 1 O
an - 75

ire-
79
na 8
Lde
78 '
de 11
82
on- 6 , 16
al- 73 -~~=~-
10 . 71
rta, 69 ., ·
; de 'e. 68 72
4 91 84 83
89 90 85
67 88 87
iara , 66
93
das 95 92
65 97 96
,elo 2 00 94 86
62
en- 99 98 64 67
63
nda
~rta o~---~---~---~-
2 4
--~----~-
6 8 10
;são
Desemprego (percentual)
1ér-
Fig. 13-5 Inflação e Desemprego nos Estados Unidos desde 1961 Esta figura usa os dados anuais sobre taxa de desemprego e taxa de infla-
ção (variação e percentual do deflator do PIB) para ilustrar os desenvolvimentos macroeconômicos ao longo dos últimos quarenta anos.
Fome· U. S Department of Commerce e U. S. Department of Labor .

custo de uma inflação maior. O corte fiscal de 1964, junto com A década de 1980 começou com inflação alta e expectati-
lips
uma política monetária expansionista, aumentou a demanda vas de inflação elevada. Sob a liderança de seu presidente, Paul
'io.
agregada e empurrou a taxa de desemprego para baixo em cer- Volcker, o Federal Reserve manteve com obstinação suas po-
) cí-
ca de 5%. Essa expansão da demanda agregada prolongou-se líticas monetárias, visando a reduzir a inflação. Em 1982 e
~rce pelo final da década de 1960, em grande parte como um 1983, a taxa de desemprego atingiu seu nível mais alto em 40
~-º
1d~
subproduro do gasto do governo com a Guerra do Vietnã. O
desemprego caiu ainda mais e a inflação subiu ainda mais do
anos. Desemprego alto e uma queda dos preços do petróleo
em 1986 provocaram uma diminuição da taxa de inflação, de
res- que os formuladores de política econômica pretendiam. cerca de 10% para cerca de 3%. Em 1987, a taxa de desem-
,uxa A década de 1970 foi um período de turbilhão econômico. prego, de cerca de 6%, estava próxima da maioria das estima-
LÇãO
A década começou com os formuladores de política econômi- tivas da taxa natural. No entanto, o desemprego continuou a
ca tentando baixar a inflação herdada dos anos 1960. O presi- cair durante a década de 1980, atingindo o ponto mais baixo
b.e.J: dente Nixon impôs contro les temporários sobre salários e pre- de 5,2 % em 1989, iniciando uma nova rodada de inflação de
erça ços, e o Federal Reserve, o banco central dos EUA, promoveu demanda.
} na uma recessão por meio de uma política monetária contracio- Em comparação com os 30 anos anteriores, a década de 1990
reta nista. Mas a raxa de inflação caiu apenas ligeiramente. Os efei- foi relativamente tranqüila. A década começou com uma
:us- tos dos controles de salários e preços acabaram quando os con- recessão causada por vários choques contracionistas na deman-
:1toS troles foram suspensos, e a recessão era muito pequena para da agregada: política monetária restritiva, crise dos fundos de
ena neutralizar o impacto inflacionário do boom que a precedera. pensão e uma queda da confiança do consumidor, coincidindo
·y!)U Em 1972 , a taxa de desemprego era a mesma que dez anos an- com a Guerra do Golfo. A taxa de desemprego subiu para 7,3%
v.Q..e tes, enquanto a inflação era 3 pontos percentuais mais alta. em 1992. A inflação caiu, mas apenas ligeiramente. Ao con-
A partir de 1973, os formuladores de política econômica trário da recessão de 1982, o desemprego na recessão de 1990
tiveram de lidar com os grandes choques de oferta causados pela nunca esteve muito acima da taxa natural, e por isso o efeito
Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP). Pri- na inflação foi mínimo.
--, meiro, a OPEP aumentou os preços do petróleo em meados da Ao final da década de 1990, a inflação e o desemprego al-
década de 1970, empurrando a taxa de inflação para cerca de cançaram seus níveis mais baixos em muitos anos. Alguns eco-
::iua- 10%. Esse choque de oferta adverso, junto com uma política nomistas explicam esse desenvolvimento afortunado pela ale-
1eda monetária temporariamente restritiva, levou a uma recessão em gação de que a taxa natural de desemprego da economia caiu
1975. O alto desemprego durante a recessão reduziu um pouco (por razões examinadas no Cap. 6). Outros argumentam que
>líti- a inflação, mas novos aumentos determinados pela OPEP vol- vários fatores temporários (como o dólar americano forte, atri-
o ao taram a fazer a inflação subir, ao final da década de 1970. buível a uma crise financeira na Ásia) acarretaram choques de
- 250 CAPÍTULO 13

oferta favoráveis. Mais provavelmente uma combinação de apresentam os dois lados da inflação de demanda: na década
eventos ajudou a manter a inflação sob controle, apesar do de- de 1960, o desemprego baixo pressionou a inflação para cima,
semprego baixo. Em 2000, contudo, a inflação voltou a subir. e na década de 1980 o desemprego alto pressionou a inflação
Assim, a história macroeconômica dos Estados Unidos apre- para baixo. A década de 1970, com as altas do preço do petró-
senta muitas causas de inflação. As décadas de 1960 e 1980 leo, mostra os efeitos da inflação de custos.

A TROCA ENTRE INFIAÇÂO E DESEMPREGO NO aumenta, a curva desloca-se para cima, e a troca do formulador
de política econômica toma-se menos favorável: a inflação é
CURTO PRAZO mais alta para qualquer nível de desemprego. A Fig. 13-7 mos-
Pense nas opções que a curva de Phillips oferece a um tra como a troca depende da inflação esperada.
formulador de política econômica que pode influenciai: a de- Como as pessoas ajustam suas expectativas de inflação ao
manda agregada com políticas monetária ou fiscal. A qualquer longo do tempo, a troca entre inflação e desemprego só se
momento, a inflação esperada e os choques de oferta estão além mantém no curto prazo. O formulador de políticas econômi-
do controle imediato do formulador de política econômica. Ao ca não pode manter a inflação acima da inflação esperada (e,
mudar a demanda agregada, no entanto, o formulador de polí- com isso, o desemprego abaixo da sua taxa na curai) para sem-
tica econômica pode alterar a produção, o desemprego e a in- pre. Eventualmente, as expectativas adaptam-se a qualquer
flação. O formulador de política econômica pode expandir a taxa de inflação que o formulador de política econômica es-
demanda agregada para aumentar o desemprego e baixar a in- colheu. No longo prazo, a dicotomia clássica prevalece, o
fl ação. "Ou o formulador de política econômica pode dimi- desemprego volta à sua taxa natural e não h á troca entre in-
nuir a demanda agregada para elevar o desemprego e reduz a flação e desemprego.
inflação."
A Fig. 13-6 delineia a equação da curva de Phillips e mos-
tra a troca entre inflação e desemprego no curto prazo. Quan- ÜESINFIAÇÂO E TAXA DE SACRIFÍCIO
do o desemprego está em sua taxa natural (u = u"), a inflação Imagine uma economia em que o desemprego situa-se em sua
depende da inflação esperada e do choque de oferta ( 7T = 7T' taxa natural e a inflação gira em tomo de 6%. O que acontece-
+ v) . O parâmetro /3 determina a inclinação da troca entre ria com o desemprego e o produto se o banco central adotasse
inflação e desemprego. No curto prazo, para um dado nível de uma política monetária para reduzir a inflação de 6 para 2%?
inflação esperada, os formuladores de política econômica po- A curva de Phillips mostra que, na ausência de um choque
dem manipular a demanda agregada para escolher uma combi- de oferta benéfico, baixar a inflação exige um período de alto
nação de inflação e desemprego nessa curva, chamada de cur- desemprego e produto reduzida. Mas em quanto e durante quan-
va de Phíllips de curto prazo. to tempo seria necessário que o desemprego subisse acima da
Observe que a posição da curva de Phillips de curto prazo taxa natural ? Antes de decidir se reduzem ou não a inflação, os
depende da taxa de inflação esperada. Se a inflação esperada formuladores de política econômica devem saber quanto pro-

lnAação, 7r

1T'+v .. .. ...... .

Desemprego, u

Fig. 13-6 A Troca entre Inflação e Desemprego no Curto Prazo No curto prazo, inflação e desemprego têm uma correlação negativa. A qual·
quer momento, um formulador de política econômica que controla a demanda agregada pode optar por uma combinação de inflação e desemprego
nesta curva de Phillips de curto prazo.
..,

T OFERTA AGREGADA 251

a Inflação, 7r

l,
o
)•

lI Inflação
é esperada
;- elevada
Inflação
esperada
o baixa
.e

.
i-
-,
u" Desemprego, u

l-
~r
Fig. 13-7 Deslocamento da Troca de Curto Prazo A troca de curto prazo entre inflação e desemprego depende da infla ção esperada. A curva é
;-
mais elevada quando a inflação esperada é maior.
o
l•

duto seria perdido durante a transição para baixar a inflação. Muitas pesquisas usaram os dados disponíve.is para exami-
Esse custo pode então ser comparado com os benefícios da in- nar a curva de Phillips em termos quantitativos. Os resultados
flação mais baixa. desses estudos são com freqüência resumidos em um número
1a

;e

1e SAIBAMAIS
'O Até que Ponto Sié Prêdsas as- ~...ativas 4a Tqa w:atural de l)~preg()f
\•

la Se você perguntar a um astrônomo qual é a distância entre uma nimo) e as mudanças institucionais (como o poder decrescente dos
)S determinada estrela e o nosso Sol, ele lhe dará um número, mas sindicatos), tudo influencia o nível normal de desemprego da eco-
)-
não será um número exato. A capacidade do homem de medir as nomia. Estimar a taxa natural é como acertar um alvo em movi-
distâncias astronômicas ainda é limitada. Um astrônomo pode efe- mento.
tuar melhores medições, e concluir que uma estrela está duas ve- Os economistas lidam com esses problemas empregando técni-
zes mais distante ou na metade da distância que ele antes supunha. cas estatísticas que possibilitam um melhor palpite sobre a taxa na-
As estimativas da taxa natural de desemprego, ou TDNI, tam- tural e permitem que eles avaliem a incerteza associada às suas esti-
bém estão longe de ser precisas. Um problema está nos choques de mativas. Em um desses estudos, Douglas Staiger, James Stock e Mark
oferta. Os choques de petróleo, de colheitas agrícolas ou de pro- Watson estimaram que a taxa natural era de 6,2% em 1990, com
gresso tecnológico podem fazer com que a inflação suba ou desça um intervalo de confiança de 95% entre 5,1 e 7,7 %. Um intervalo
no éurto prazo. Quando observamos a inflação subindo, portanto, de confiança de 95% indica que o estatístico está 95% confiante de
não podemos ter certeza se é evidência de que a taxa de desempre- que o valor verdadeiro situa-se no intervalo apontado. O grande
go está abaixo da taxa natural, ou evidência de que a economia intervalo de confiança aqui, de 2,6% percentuais, mostra que ases~
experimenta um choque de oferta adverso. timativas da taxa natural não são absolutamente precisas.
Um segundo problema é o fato de que a taxa natural muda ao Essa conclusão tem profundas implicações. Os formuladores de
longo do tempo. As mudanças demográficas (como o envelheci- política econômica podem querer manter o desemprego próximo
mento da geração do baby-boom nascida logo após a segunda guer- de sua taxa natural, mas a sua capacidade de fazê-lo é limitada pelo
ra), as mudanças de política econômica (como as leis do salário mí- fato de que não podemos ter certeza de qual é a taxa natural. 10

tl- 'ºDouglas Staiger, James H. Stock e Mark W. Watson, "How Precise Are Estimares of the Natural Rate ofUnemployroenr", em Christina D. Romer e David H. Romer,
JO eds., Reducing Inflation: Motivar.icm and Strateg:, (Olícago: Universiry of Chicago Press, 1997).
252 CAPÍTULO 13

chamado de taxa de sacrifício, o percentual de um ano do PIB Aqui está como Thomas Sargent, um proeminente defen.
real a que se deve renunciar para reduzir a inflação em 1 ponto sor das expectativas racionais, descreve suas implicações para
percentual. Embora as estimativas da taxa de sacrifício variem a curva de Phillips:
de modo considerável, uma estimativa típica é de cerca de 5:
para cada ponto percentual de queda da inflação, 5% do PIB Uma visão alternativa de "expectativas racionais" nega que haja
de um ano devem ser sacrificados. 11 qualquer impulso inerente ao atual processo de inflação. Essa vi-
Podemos também expressar a taxa de sacrifício em termos são sustenta que empresas e trabalhadores passam agora a esperar
altas taxas de inflação no futuro , e que eles efetuam negociações
de desemprego . A lei de Okun enuncia que uma mudança de 1
inflacionárias com base nessas expectativas. Contudo, argumen-
ponto percentual na taxa de desemprego se traduz em uma ta-se que as pessoas esperam altas taxas de inflação no futuro jus-
mudança de 2 pontos percentuais no PIB. Portanto, reduzir a tamente porque as políticas monetária e fiscal do governo, as atu-
inflação em 1 ponto percentual exige cerca de 2,5 pontos ais e as esperadas, justificam cais expectativas. [.. .] Assim, a infla-
percentuais de desemprego cíclico. ção parece ter impulso próprio; na verdade, é a política de longo
Podemos tomar a taxa de sacrifício para calcular em quanto prazo do governo, mantendo déiicits grandes e persistentes, além
e por quanto tempo o dese mprego deve subir para reduzir a de emitir moeda a taxas altas, que transmite o impulso para a taxa
inflação. Se reduzir a inflação em 1 ponto percentual exige um de inflação. Uma implicação dessa visão é que a inflação pode ser
sacrifício de 5% do PIB de um ano, reduzir a inflação em 4 contida muito mais depressa do que apregoam os defensores da visão
d l) "impulso", e que são equivocadas as suas estimativas de deter a
pontos percentuais exige um sacrifício de 20'}(, do PIB de um
intlaçãL) em termos de perda de produto. [... ] [Deter a inflação]
ano. De modo equivalente, essa redução da inflação exige um
exigiria uma mudança do regime de política econômica: deve ha-
,Í :
sacrifício de 1O pontos percentuais do desemprego cíclico. ver uma mudança abrupta da insistente política econômica, ou
Essa desinflação pode assumir várias formas, cada qual estratégia do governo, de fixar déficits agora e no futuro, uma
totalizando o mesmo sacrifício de 20% do PIB de um ano. Por mudança bastante compuls6ria para que tenha ampla credibilidade.
exemplo, uma deflação rápida reduziria o produto em 10% em [... ] Até que ponto essa providência seria custosa, em termos de
2 anos: isto é às \·ezes chamado de tratamento de choque da produto a que se renuncia, e por ,wanco tempo ela teria de vigorar
inflação. Uma deflação moderada baixaria o produto em 5% dependeria em parte da constatação da determinação do govemo. 11
ao longo de 4 anos. Urna desinflação ainda mais gradativa re-
duziria o produto em 2% durante uma década. Assim, os defensores das expectativas racionais argumentam
que a curva de Phillips de curto prazo não representa acurac:Ji-
mente as opções que os formuladores de política econômica têm
EXPECTATIVAS RACIONAIS E A POSSIBILIDADE DE à sua disposição. Eles acham que, se os formuladores de políti-
DESINFLAÇÃO INDOLOR ca econômica assumem o compromisso crível de reduzir a in,
flação, as pessoas racionais compreenderãp .e logo baixarão su~
Uma vez que a expectativa de inflação influencia a troca entre expectativas de inflação. A inflação pode então ser reduzida se~
inflação e desemprego n o curto prazo, é crucial compreender aumento do desemprego e sem queda do produto. Segundo a
como as pessoas formam as suas expectativas. Até aqui, parti- teoria das expectativas racionais, as estimativas tradicionais de
mos do pressuposto de que a inflação esperada depende da in- proporção do sacrifício não são dteis para avaliar o impacto cfe
,. flação observada re.c entemente. Emhora sej a plausível, esse políticas econômicas alternativas. Sob uma política digna -~
.' pressuposto de expectativas adaptativas provavelmente é sim- crédito, o custo da redução da inflação pode ser muito mais
ples demais para se aplicar em todas as circunstâncias. baixo do que sugere a taxa de sacrifí~iO.· ·· · ·· ·· -
Uma abordagem alternativ~ é pressupor que as pessoas têm No caso mais extremo, pode-se imaginar a redução da infla-
expectativas raciona.is. Ou seiª'.podemo§. pre?umir que as p_es~o~ ção sem causar qualquer recessão. Uma desinflação indolor tem
as, em termos ideais, usam tod.as as infonna_ções_d.i~.91.J..!V_!'._is,. in- do is requisitos. Primeiro, o plano para redução da inflação deve
clusive informações sobre as atuais políticas do governo, para ser anunciado antes que os trahalhadores e as empresas que fixam
prever o futuro . Como as políticas monetária ·e fiscal influenciam salários e preços tenham criado suas expectativas. Segundo, os
a inflação, a inflação esperad~ deve tamh~m depender das políti- trabalhadores e as empresas devem acreditar no anúncio; caso
cas .m9.!:1etária e fiscal que estão em vigor. Segundei a teoria das contrário, não reduzirão suas expectativas de inflação. Se os dois
expectativas racionais, uma mudança da política monetária ou requisitos são atendidos, o anúncio imediatamente deslocará para
fiscal mud~rá ·as expeç:tativas, e uma avaliaç_iiQ de qualquer mu.- baixo a troca entre inflação e desemprego no curto prazo, permi-
dança política d~ye incorporar esse efeito sobre as expectativas. tindo uma taxa menor de inflação sem um desemprego maior.
Se as pessoas criam suas expectativas de maneira racional, então Embora o esquema das expectativas racionais permaneç~
a infü1ção pod~ ter menos inércia do que parece a princípio. controverso, quase rodos os economistas estão de acordo em que

''Archur M. Okun, "Efficient Disinflationary Policies", American Economic Revieu168 (maio de 1978): 348-352; e Roben J. Gordon e Stephen R. King, "The Output Cose of
'?isinflation in Traditional and Veccor Autoregressive Models", Brookíngs Papers on Economic Acriviry (1982: 1): 205-245.
1.Thomas J. Sargenc, "The Ends ofFour Big lnflations", em Robert E. Hall, ed. , !nflacion: Causes and Effects (Chicago: Univmicy ofChicago Press, 1982).
T
!
OFERTA AGREGADA 253

as expectativas de inflação influenciam a troca entre inflação e __é difícil prever se a opinião pública considerará digno de crédito
âesemprego no curto prazo. A credibilidade de uma política ~co- o anúncio de uma nova política econômica. O papel central das
-nôiniéã de redução da inflação .é, portanto, um determÍnante de ·expec"tátivas toma muito mais difícíl°:3 previsão dos ~esultados
quão custosa será a pofítica econômica. Infelizmente, muitas vezes ~e po_líticas econômicas alternativas.

ESTUDO DE CASO
A TAXA DE SACRIFÍCIO NA PRÁTICA
TABELA 13-1 Desemprego durante a Desinflação de
A curva de Phillips com expectativas adaptativas indica que a
Volcker
redução da inflação exige um período de alto desemprego e
baixo produto. Em contraste, o esquema das expectativas raci- Taxa de Taxa Desemprego
onais sugere que a redução da inflação pode ser muito menos Ano desemprego, u natural, uº cíclico, u - un
custosa. O que acontece durante as desinflações de fato! 1982 9,5% 6,0% 3,5%
Vamos considerar a desinflação dos Estados Unidos no iní- 1983 9,5 6,0 3,5
cio da década de 1980. A década começou com algumas das 1984 7,4 6,0 1,4
taxas de inflação mais altas da história dos Estados Unidos. 1985 7,1 6,0 1,1
Contudo, por causa das políticas de aperto monetário adotadas Total 9,5%
pelo Fed, soh o presidente Paul Volcker, a taxa de inflação caiu
suhstancialmente nos primeiros anos da década. Esse episódio
representa um experimento do mundo real com o qual se pode
estimar quanto de produto se perde Jurante o processo de Fed.. Em outras palavras, Volcker reduziu a inflação a um cus -
desinflação. to muito menor do que muitos economistas previram. Uma
A primeira questão é a seguinte: quant,.1 a inflação caiu! T al exp licação é que a posição firme de Volcker teve credihilidade
como medida peln deflator do PIB, a inflação alcançou um auge suficiente para influenciar diretamente as expectativas de in-
de 9,7'Kl em 1981. É natural encerrar o episódio em 1985, por- flação. Contudo, as mudanças das expectativas não foram
que os preços do petrôlen despencaram em 1986 - um cho- grandes o hastante parn tornar indolnr a desinflação: em 1982,
que de oferta grande e l->enéfico, sem qualquer relação com a o desemprego atingiu seu nível mais altl) desde a Grande De-
política do Fed. Em 1985, a inflação foi de 3,0%. Assim, pode- pressão.
mos estimar que o Fed promoveu uma redução da inflação em Embora a desinflação de Volcker seja apenas um epi só-
6,7 % ao longo de quatro anos . dio histórico, esse tipo de ,m,ilise pode ser aplicado a outras
A segunda questão é a seguinte: quanto de pmduto foi per- desinflaçi'\es. Um estudo recente documentou os resultados
dido durante esse período? A T ahela 13 -1 mostra a taxa de de 65 desinflaçües em 19 países. Em quase todos os casos, a
desempregu de 1982 a 1985. Supondo que a taxa natural de reduçãl) da inflaçãn ocorreu ao custo da diminuiçàl) tempn-
desemprego era de 6%, pl)demos calcular o montante de de- rári,, do produto. O tamanho da perda do produtQ, no en-
semprego cíclico em cada ano. No total do período, hou\'e 9,S'Jlo tanto, \'ariou de um episódio para outro. As desinflações
de desemprego cíclico. A lei de Okun sustenta que l 'Y..) de de- rápidas, de modo geral, tiveram taxas de sacrifício mais hai-
semprego se traduz em 2% do PIB. Portanto, 19,0% de PIB xas do que as mais lentas. Ou seja, em contra~te com o que
anual foram perdidos durante a desinflação. sugere a cun·a de Phi llips com expectati\'as adaptativas, uma
Agora, ~,odetnt)~ calcular a taxa de sacrifício para o episó- ahordagem de choque parece menos custosa do que uma téc-
dio. Sahemos que 19,0% do PIB foram perdidos e que a infla- nica gradativa. Além disso, os países com instituições de fi-
ção caiu 6, 7%. Assim, 19,0/6, 7, ou 2,8% do PIB, foram perdi- xação de sa lários mais flexíveis, como contrntos de traba-
dos para c.1da redução Je 1% da inflação. A estimativa da taxa lho mais curtos, tiveram taxas de sacrifício mais haixas. Es-
de sacrifício da desinflação de Volcker é de 2,8. sas descobertas indicam que reduzir a inflação sempre acar-
Essa estimativa da taxa de sacrifício é mais haixa que as es- reta algum custo, mas que a~ políticas econômicas e as ins-
timativas feitas antes de Volcker ser designado presidente do tituições podem afetar sua magnitude. 11

1
'Laurence Bali, "Whac Determines che Sacrifice Racio'", em N. Gregory Mankiw, ed., Monetary Policy (Chicago: Chicago Uníversity Press, 1994).
254 CAPÍTULO 13

HISTERESE E A CONTESTAÇÃO DA HIPÓTESE DA manente o processo de busca de emprego e aumenta desemprego


friccionai.
TAXA NATURAL Outro meio pelo qual uma recessão pode afetar em caráter
Nossa discussão do custo da desinflação - e, mais do que isso, permanente a economia é pela mudança do processo que de-
toda a nossa análise das oscilações econômicas nos últimos termina os salários. Aqueles que se tomam desempregados
quatro capítulos - baseou-se em um pressuposto chamado de podem perder sua influência sobre o processo de fixação de
hipótese da taxa natural. Essa hipótese é resumida na seguinte salários. Os trabalhadores desempregados podem perder sua
declaração: posição como membros do sindicato, por exemplo. Em termos
mais gerais, alguns dos que estavam dentro no processo de fi-
As oscilações da demanda agregada só afetam o produtp e o emprego
xação de salários passam a estar fora do processo. Se o grupo
no curto praza . No longo prazo , a economia volta aos níveis de produ-
to, emprego e desemprego descritos pelo modelo clássico . menor daqueles que estão dentro do processo preocupa-se mais
com salários reais altos e menos com o alto desemprego, a
A hipótese da taxa natural possibilita que os macroeconomis- recessão pode, em caráter permanente, empurrar os salários para
tas estudem em separado os desenvolvimentos no curto prazo um ponto acima do nível de equilíbrio, ao mesmo tempo em
e no longo prazo na economia. Ela é uma expressão da que eleva o desemprego estrutural.
dicotomia clássica. A histerese continua a ser uma teoria controversa. Alguns
Recentemente, alguns economistas contestaram a hipótese economistas acreditam que a teoria ajuda a explicar o desem-
da taxa natural, sugerindo que a demanda agregada pode afe- prego persistentemente alto na Europa, porque o aumento do
tar o produto e o desemprego mesmo no longo prazo. Eles des- desemprego europeu, começando no início da década de 1980,
•. t 1
tacaram alguns mecanismos pelos quais as recessões podem coincidiu com a desinflação, mas continuou depois que a in-
.'I • deixar cicatrizes permanentes na economia, alterando a taxa flação se estabilizou. Além disso, o aumento do desemprego
natural de desemprego. Histerese é o termo usado para des- tendia a ser maior nos países que experimentaram as maiores
,,"' crever a influência de longa duração da história sobre a taxa n:duções de inflação, como Irlanda, Itália e Espanha. Contu-
natural. do, ainda não há consenso se o fenômeno da histerese é signi-
Uma recessão pode ter efeitos permanentes se mudar as pes- ficativo, ou por que ele pode ser mais acentuado em alguns
soas que ficaram desempregadas. Por exemplo, os trabalhado- países do que em outros. (Outras explicações do alto desem-
,,,,. ,. res podem perder valiosas habilidades de trabalho quando de- prego na Europa, examinadas no Cap. 6, atribuem um papel
sempregados, o que diminui sua capacidade de arrumar empre- menor à desinflação.) Se é verdadeira, no entanto, a teoria é
·., go mesmo depois que a recessão acaba. Por outro lado, um lon- importante, porque a histerese aumenta bastante o custo das
go período de desemprego pode mudar a atitude de uma pessoa recessões. Em outras palavras, a histerese aumenta a taxa de
em relação ao trabalho e reduzir seu desejo de encontrar um sacrifício, porque o produto é perdido mesmo depois que acaba
emprego. Em qualquer caso, a recessão inibe em caráter per- o período de desinflação. 14

,. . , 1
13-3 CONCLUSAO
Começamos este capítulo discutindo três modelos de oferta É preciso lembrar que nem todos os economistas endossam
agregada, cada qual enfocando um diferente motivo para que a todas as idéias apresentadas aqui. Há ampla divergência, por
curva de oferta agregada de curto prazo seja positivamente in- exemplo, quanto à importância prática das expectativas racio-
clinada. Os três modelos tem predições semelhantes para a eco- nais e à relevância da histerese. Se você encontrar dificulda-
nomia agregada, e rodos admitem uma troca entre inflação e des para ajustar todas as peças, saiba que não está sozinho. O
desemprego no curto prazo. Uma maneira conveniente de se estudo da oferta agregada continua a ser uma das áreas de pes-
expressar e analisar essa troca é por meio da equação da curva quisa mais desconcertantes - e, portanto, mais excitantes -
de Phillips, segundo a qual a inflação depende da inflação es- em macroeconomia.
perada, do desemprego cíclico e dos choques de oferta.

" Olivier J. Btanchard e Lawrence H. Summers, "Beyond the Natural Rate Hypothesis", American Economic Re11iew 78 (maio de 1988): 182-187; Laurence Ba li, "Disinflatibn and
rhe NAIRU", em Chriscina D. Romer e David H. Romer: eds., Reducing ln/lation: Motiwtion and Strategy (Chicago: Chicago Universiry Press, 1997): 167-185.
T
1

ÜFERTA AGREGADA 255

~go RESUMO
Lter 1, As três teorias da oferta agregada - os modelos de rigidez 3. Se a inflação esperada depende da inflação observada re-
de- salarial, informação imperfeita e preços rígidos - atribuem centemente, então a inflação é inercial, o que significa que
:los desvios de produto e emprego da taxa natural a várias im- reduzir a inflação exige um choque de oferta benéfico ou
de perfeições do mercado. Segundo todas as três teorias, o pro- um período de desemprego alto e produto reduzido. Se as
sua duto aumenta acima da taxa natural quando o nível de pre- pessoas têm expectativas racionais, no entanto, um anún-
ll0S ços ultrapassa o nível de preços esperado, e o produto cai cio digno de crédito de uma mudança da política econô-
fi- abaixo da taxa natural quando o nível de preços é mais bai- mica pode ser capaz de influenciar as expectativas direta-
tpo xo do que o nível de preços esperado. mente, e com isso reduzir a inflação sem causar uma
tais recessão.
l, a
z. Os economistas expressam com freqüência a oferta agrega-
da em uma relação chamada de curva de Phillips. A curva 4. A maioria dos economistas aceita a hipótese da taxa natu-
ara
de Phillips sustenta que a inflação depende da inflação es- ral, segundo a qual as oscilações da demanda agregada só
em
perada, do desvio do desemprego da sua taxa natural, e de têm efeitos sobre a produção e o desemprego no curto pra-
choques de oferta. Segundo a curva de Phillips, os formula- zo. Alguns economistas, no entanto, têm sugerido meios
1ns
dores de política econômica que controlam a demanda agre- pelos quais as recessões podem deixar cicatrizes permanen-
'ffi·
gada defrontam-se com uma troca entre inflação e desem- tes na economia pelo aumento da taxa natural de desem-
do
prego no curto prazo. prego.
80,
in-
~go
·res
tU• CONCEITOS-CHAVE
ni-
1ns Modelo de rigidez salarial Expectativas adaptativas Expectativas racionais
Modelo de informação imperfeita Inflação de demanda Hipótese da taxa natural
m-
Modelo de preços rígidos Inflação de custos Histerese
pel Curva de Phillips Taxa de sacrifício

:ias
de
1ba
QUESTOES PARA REVISAO
1. Explique as três teorias da oferta agregada. Em que imperfeição do 5. Em que circunstâncias pode ser possível reduzir a inflação sem
mercado cada teoria se baseia? O que as teorias têm em comum? causar recessão?
2. Em que a curva de Phillips se relaciona com a oferta agregada? 6. Explique dois meios pelos quais uma recessão pode aumentar a taxa
natural de desemprego.
3. Por que a inflação pode ser inercial?
3ffi
)Or 4. Explique as diferenças entre inflação de demanda e inflação de custos.
io-
fa.
o
es- PROBLEMAS E APLICAÇOES
1. Pense nas mudanças relacionadas a seguir no modelo de rigidez 2. No modelo de preços rígidos, descreva a curva de oferta agrega-
salarial. da nos seguintes casos especiais . Como esses casos se comparam
com a curva de oferta agregada de curto prazo que examinamos
a. Suponha que os contratos de trabalho especifiquem que o sa-
no Cap. 9?
lário nominal deve ser plenamente indexado à inflação. Ou
a. Nenhuma empresa tem preços flexíveis (s = 1) .
seja, o salário nominal deve ser ajustado para compensar ple-
b. O preço desejado não depende do produto agregado (a = O) .
namente as variações do índice de preços ao consumidor.
Como a indexação plena altera a curva de oferta agregada 3. Suponha que uma economia tenha a curva Phillips
nesse modelo?
Tr = ?T _ 1 - 0,5 (u - 0,06).
b. Suponha agora que a indexação seja apenas parcial. Ou seja,
para cada aumento do IPC, o salário nominal sobe, mas a um a. Qual é a taxa natural de desemprego?
and percentual menor. Como a indexação parcial altera a curva de b. Mostre em gráfico as relações entre inflação e desemprego no
oferta agregada nesse modelo? curto prazo e no longo prazo.
256 CAPÍTULO 13

Que efeito essa política econômica terá sobre a taxa de desem-


e. Quanto desemprego cíclico é necessário para se reduzir a infla-
prego no longo do tempo?
ção em 5%?
d. A inflação gira em torno de 10%. O Banco Central quer redu- c. Qual é a taxa de sacrifício dessa economia? Explique .
zi-la para 5%. Dê dois roteiros para se alcançar esse objetivo. d. O que essas equações indicam sobre as trocas entre inflação e
4. De acordo com a abordagem de expectativas racionais, se todos desemprego no curto e no longo prazos?
acreditam que os formuladores de política econômica estão empe- 7. Alguns economistas acham que os impostos têm um efeito impor-
nhados em reduzir a inflação, o custo dessa redução - a taxa de tante na oferta de trabalho. Argumentam que impostos mais altos
sacrifício - será mais baixo do que se a opinião pública for cética fazem com que as pessoas queiram trabalhar menos, e que impos-
em relação às intenções dos formuladores de política econômica. tos mais baixos fazem com que as pessoas queiram trabalhar mais.
Por que isso pode ser verdadeiro? Como é possível obter Pense em como esse efeito altera a análise macroeconômica das
credibilidade? mudanças de impostos.
a. Se essa visão é correta, como um corte de imposto afeta a taxa
5. Suponha que as pessoas têm expectativas racionais, e que a eco-
nomia é descrita pelo modelo de rigidez salarial ou de preços rígi- natural do produto?
b. Como um corte de imposto afeta a curva de demanda agrega-
dos. Explique por que cada uma das seguintes proposições é verda-
da? E a curva de oferta agregada de longo prazo? E a curva de
deira:
a. Só as variações imprevistas da oferta monetária afetam o PlB
oferta agregada de curto prazo?
c. Qual é o impacto no curto prazo de um corte de imposto sobre
real. As vmi,1ções da oferta monet,fria que foram previstas qu·,m-
o produto e ,l nível de preços? Como sua resposta difere do caso
d<J salários e preços f,mun füi:ad us não têm quaisquer eíeicus
sem o eieiru da oferta de trabalho?
reais. d. Qual é o impacto no longn prazo de um corte de imposto sobre
b. Se o Bnnco Central estabelece ,1 oferta monetária na mesma
o produto e o nível de preço? Em que a sua resposta difere do
ucas ião em que a, pessoas estão fix,1ndD salários e preços, de ral
caso em que não há o efeiro da oferta de trabalho?
1nudu que todns têm a mesma infonrn1ção snhre o estado da
ecnnmnia, ent3<} a pc)lítica mone tária n5o pode ser adotada de 8. O economista Alan Blinder, designado por Bill Clinton vice-pre-
'' maneira siste1mitiG1 para se esrnhili:ar Ll produto. Por isso, uma sidente do Federal Reserve, escreveu certa ocasião:
1.
polírica para se manter constante ·,1 oferta monetária terá os Os custos que acompanham as taxas de inflaçrío haixas e mo-
mesmos efr it,1, reais de uma polícic::t econômica de ajuste da Lleradas experimentadas nos Estados Unidos e em outros países
oferta mnnedria em reaçfü.i ao escadu da economia. (Isso é inLlustrializados parecem ser baseante modestos - mais como
cham,1do Je proposição de irrelevância de política econômica.) um resfriado do que como um câncer para a sociedade. [... ]
e. Se ,i B,mcu Central clerermina a oferta munecária muito depo is Como pessoas racionais, não nos oferecemos como vo\untári-
,.
"'' que as péssnas fixarnm sahlrios e preçns, de cal maneira que ,1 ,)S para umn lohotomia a fün de curar uma dor de cabeça. Con-
Banc<J Central coletou mais infnrmaçõe,; sohre u esrncfo d,1 eco- tudo, etimo coletividade, rotineiramente rece itamos u equiva-
n, nnia, ent:io a polítiG1 moner,1ric1 pllde ser adornda de mo,fo lente econômico da lohotmnia (alto desemprego) como uma
] ,,
sistemático para esrabiliz,ir o produto. cura para o resfriado infüicionário. 1;
6. Suponha qut' uma ec,,rn,mia renha a curva de Phillips
O que você acha que Blinder quis dizer com isso? Quais são as
1T = 1T 1 - 0,5(!t - lt"), implicações de pnlírica econômica do pontu de vista defendido por
Blinder' Você concorda? Por que sim, ou p,ir que n~o'
e que a taxa n,,tural de ch:semprego é daJ,1 rm uma médh1 L1<1 Lle-
sempregu rn,s Jnis ültitm is anns: 9. Enrre no website dn Bure,1u ofLabor Staristics (www.bls.gov). Para
cada um dos últimos cinco anos, encontre a rax,1 de intbção me-
lt" = 0.5(11 1 + 11 : ). diLla pelll índice de preç us ,m consumidor (todns os itens) e medi-
a. P,,r que ,l raxa nmur·,, l de desempregp pndi; depender d,l desem- da pelo IPC, exduindü alimentos e energi,l. Compare tssas duas
prego recen te (Clllllll se pressu1'õt' na equ,1çãL1 rrecede nre)' medidas de inflação. Por que elas podem ser diferentes' O que a
h. Supunha que u Banco Cenrrn l ad,,re uma pDlícica econômica diferença pode lhe dizer s,)bre as mudanças da cmm de nferrn agre-
para redu:ir em car,írer pennanenre a wxa de intlaçfü.i em 1%. gada e na currn de Phi\lips de curto prazo?

" Alan Blinder, Hard Hea,,/s , Soft Hearts: Tough-Minded Economics for a]ust Saciei-:; (Reading, Massachusetts: Addison-Wesley, 1987), 51.
Apêndice

UM MODELO GRANDE E
ABRANGENTE

Nos capítulos anteriores, examinamos muitos modelos sohre a vro. Apesar disso, esse modelo grande ainda é útil, porque po-
maneira como a economia opera. Quando se estudam esses demos usá-lo para verificar como os modelos menores que exa-
modelos, p~)de ser difícil perceher como eles se relacionam uns minamos estão relacionados uns com os outros. Em particular,
com ~is outms. Agora que acahaml)s de desenvolver o modelo muitos dos modelos que remos estudado são casos especiais desse
de demanda agregada e de oferta agregada, esta é uma hoa oca- modelo grande. Considere seis casos especiais.
sião para recordar o que aprendemos. Este apêndice delineia
um modelo amplo que incorpora muito da teoria que já estu- Caso Especial 1: A Economia Fechada Clássica Suponha que
damos, inclusi\·e a teoria clássica, apresentada na Parte II, e a p,· = P,L(i,Y) =(1/V)Y e CF(r - r*) =O.Em palavras, isso
teoria Jo ciclo econômico, apresentada na Parte IV. As nota- significa que as expectativas do nível de preços ajustam-se para
ções e equações Jeyem ser conhecidas dos capítulos anteriores. que sejam corretas, que a demanda por moeda é proporcional
O modelo tem sete equações: à renda e que não há fluxos internacionais de capital. Nesse
caso, o produto está sempre em sua taxa natural, a taxa de ju-
Y = C(Y - T) + I(r) + IS: Equilíhrio do Mercado de ros real ajusta-se para equilihrar o mercado de bens, o nível de
+ G + NX(E) Bens preços mo\'e-se paralelo à oferta monetária, e a taxa de juros
M/P = L(i.Y) LM: Equilíhrio do Mercado nominal ajusta-se um-para-um à inflação esperada. Este caso
Monetário especial corresponde à economia analisada nos Caps. 3 e 4.
NX(E) = CF(r - r*) Equilíhrio do Mercado de
Câmbio Caso Especial 2: A Economia Pequena Aberta Clássica Su-
=r + 71'. Relação entre Taxas de Juros ponha que p, = P, L(i,Y) = (l/V)Y e CF(r - r*) seja infinita-
Real e Nominal mente elástico. Estamos examinando agora o caso especial em
E = eP/P* Relação entre Taxas de que os fluxos internacionais de capital reagem consideravel-
Câmbio Real e Nominal mente a quaisquer diferenças entre as taxas de juros interna e
Y =f + a(P - P•) Oferta Agregada mundial. Isso significa que r = r* e que a halança comercial
Y = F(K, L) Taxa Natural do Produto NX é igual à diferença entre poupança e investimento à taxa
Je juros mundial. Este caso especial corresponde à economia
Essas sete equações clererminam os valores de equilíhrio de sete analisada no Cap. 5.
\'atüh·eis endógenas: produto Y. taxa natural do produto Y, taxa
de juros real r. rnxa de Juros nominal i, taxa de câmhio real€, e Caso Especial 3: O Modelo Básico de Demanda Agregada e
nínJ ele preços P. Oferta Agregada Suponha que a seja infinito e L(i,Y) = (1/
Há muitas \'ariá,·eis exógenas que influenciam essas variá- V)Y. Nesse caso, a curva de oferta agregada de curto prazo é
\'eis endógena,. Ela, incluem a oferta monetária M, compras horizontal, e a curva de demanda agregada é determinada ape-
do goverm) G. impostos T, o estoque de capital K, a força de nas pela equação quantitativa. Este caso especial corresponde
trahalho L, o nÍ\·el de preços mundial P* e a taxa de juros mun- à economia analisada no Cap. 9.
dial r*. Além disso, h,í duas variá\·eis expectacionais: a expec-
tativa de inflação futura TI', e a expectativa do nível atual de Caso Especial 4: O Modelo IS-LM Suponha que a seja infi-
preços formado no passado P*. T ai como foi traçado, o modelo nito e CF(r - r*) =O.Neste caso, a curva da oferta agregada
assume essas variá\'eis expectacionais como exógenas, embora de curto prazo é horizontal, e não há fluxos internacionais de
se pudessem acrescentar outras equações para tomá-las endó- capital. Para qualquer nível dado de inflação esperada 1r<, o
genas. nível de renda e a taxa de juros devem se ajustar para equili-
Há técnicas matemáticas disponíveis para analisar esse brar o mercado de bens e o mercado monetário. Este caso es-
modelo de sete equações, mas estão além do escopo deste li- pecial corresponde à economia analisada nos Caps. 10 e 11.

h
258 CAPÍTULO 13

Caso Especial 5: O Modelo Mundell-Fleming com uma Taxa monetária M é uma variável endógena, que deve se ajustar para
de Câmbio Flutuante Suponha que a seja infinito e CF(r - garantir que a taxa de câmbio alcance o nível fixado. Este caso
r*) seja infinitamente elástico. Neste caso, a curva da oferta especial corresponde à segunda economia analisada no Cap. 12.
agregada de curto prazo é horizontal, e os fluxos internacionais
de capital são grandes o bastante para garantir quer = r*. A Você deve perceber agora o valor desse modelo grande.
taxa de câmbio flutua livremente para alcançar seu nível de Embora seja grande demais para ser útil no desenvolvimento
equilíbrio. Este caso especial corresponde à primeira economia de uma compreensão intuitiva da maneira como a economia
analisada no Cap. 12. funciona, esse modelo mostra que os diferentes modelos que
temos estudados estão relacionados de maneira estreita. Cada
Caso Especial 6: O Modelo Mundell-Fleming com uma Taxa modelo apresenta um aspecto diferente do modelo maior e mais
de Câmbio Fixa Suponha que a é infinito, CF( r - r*) seja infi- realista exposto aqui. Em cada capítulo, estabelecemos alguns
nitamente elástico, e e seja constante. Neste caso, a curva da pressupostos simplificadores a fim de tomar o modelo grande
oferta agregada de curto prazo é horizontal, imensos fluxos in- menor e mais fácil de compreender. Mas, quando se pensa no
ternacionais de capital garantem quer = r*, mas a taxa de câm- mundo real, é importante ter em mente os pressupostos
bio é determinada pelo Banco Central. A taxa de câmbio é ago- simplificadores e basear-se nas percepções adquiridas em cada
ra uma variável exógena, de política econômica mas a oferta um dos capítulos.

MAIS PROBLEMAS E APLICAÇÕES


1. Considere mais alguns casos especiais desse modelo grande. b. A cruz keynesiana na primeira metade do Cap. 10.
Começando pelo modelo grande, que pressupostos extras você c. O modelo lS-LM da economia grande aberta no apêndi-
precisaria estabelecer para cada um dos seguintes modelos: ce do Cap. 12.
a. O modelo da economia grande aherta clássica do apên-
dice do Cap. 5.
Parte 5

DEBATES DA POLÍTICA
MACROECONÔMICA
~~-

r
i1 w

Capítulo 14
:

POLÍTICA DE ESTABILIZAÇÃO

A funçüo do Federal Resen1e é retirar a p1mcheira no momento em que a festa começa a se animar.
- W illiam McChesney Martin

O que precisamfü não é de um competente piloto monetário do veiculo econômico, sempre virando o volante para se ajustar às
irregularidades inespf'radas do percurso, mas sim de um meio de e1Jitar </lie o passageiro monetário, que vai no banco de trás como
lastro , incline-se e dê um puxüo brusco no volante, ameaçando fazer o carro sair da estrada.
-- !v!ilto n Frie,lrrnm

Como os formuladores de política econômica do governo de- políticas econômicas pelas oscilações grandes e ineficientes que
vem reagir ao ciclo econômico? As duas citações acima - a às vezes experimentamos. Argumentam que a política econô-
primeira de um ex-presidente do Federal Reserve, a segunda de mica não deve tentar fazer a "sintonia fina" da economia. Em
um proeminente crítico do Fed, o banco central dos EUA - vez disso, os formuladores de política econômica devem admi-
mostram a diversidade de opiniões sobre a maneira como essa tir sua capacidade limitada, e ficar satisfeitos se não causarem
questão é mais bem respondida. qualquer mal.
Alguns economistas, como William McChesney Martin, Esse debate persiste há décadas, com numerosos protago-
consideram que a economia tem uma instabilidade inerente. nistas apresentando vários argumentos em defesa de suas po-
Argumentam que a economia experimenta freqüentes choques sições. A questão fundamental é a maneira como os forma-
de demanda agregada e de oferta agregada. A menos que os dores de política econômica devem usar a teoria das oscila-
formuladores de política econômica adotem a política mone- ções econômicas de curto prazo, desenvolvida nos capítulos
tária e fiscal para estabilizar a economia, esses choques levarão anteriores. Neste capítulo, formularemos duas questões que
a oscilações desnecessárias e ineficientes no produto, no desem- surgem nesse debate. Primeira: a política monetária e fiscal
prego e na inflação. Segundo o ditado popular, a política ma- deve assumir um papel ativo na tentativa de estabilizar a eco-
croeconômica deve "inclinar-se contra o vento", estimulando nomia, ou a política deve permanecer passiva? Segunda: os
a economia quando ela é deprimida e reduzindo o ritmo da formuladores de política econômica devem ser livres para
economia quando se encontra superaquecida. adotar seus critérios em resposta a variações das condições
Outros economistas, como Milton Friedman, consideram econômicas, ou devem estar comprometidos com uma nor-
que a economia tem uma estabilidade natural. Culpam as más ma de política econômica fixa?

14-1 A POLÍTICA DEVE SER ATIVA OU PASSIVA?


Os formuladores de política econômica do governo federal dos Embora o governo venha há muito conduzindo a política mo-
EUA consideram que a estabilização econômica é uma de suas netária e fiscal, a posição de que o governo deve lançar mão desses
principais responsabilidades. A análise da política macroeco- instrumentos de política econômica para tentar estabilizar a econo-
nômica é uma função regular do Council of Economic mia é mais recente. O Employment Act, de 1946, foi uma legisla-
Advisers, do Congressional Budget Office, do Federal Reser- ção fundamental, em que o governo assumiu pela primeira vez ares-
ve e de outros órgãos governamentais. Quando o Congresso ponsabilidade pelo desempenho macroeconômico. A lei estabele-
ou o presidente deliberam sobre uma grande mudança da ce que "é a orientação contínua e a responsabilidade do gover-
política fiscal, ou quando o Federal Reserve pondera sobre uma no federal[ ...] promover o pleno emprego e a produção". Essa lei foi
grande mudança da política monetária, o principal ponto da elaborada quando ainda era bem viva a lembrança da Grande De-
discussão é a maneira como a mudança vai influir na inflação pressão. Os legisladores acreditavam, tal como muitos economistas,
e no desemprego, e se a demanda agregada precisa ser estimu- que, na ausência de um papel ativo do governo na economia, even-
lada ou restringida. tos como a Grande Depressão poderiam ocorrer regularmente.
262 CAPÍTULO 14

Para muitos economistas, a necessidade de uma política tempo entre uma ação de política econômica e sua influênc·
econômica ativa do governo é clara e simples. Recessões são na economia. Essa defasagem ocorre porque as políticas ec~~
períodos de alto desemprego, baixa renda e dificuldades eco- nômicas nem sempre influenciam imediatamente o gasto,a
nômicas acentuadas. O modelo da demanda agregada e oferta renda e o emprego.
agregada mostra como os choques na economia podem causar Uma longa defasagem interna é o problema fundamental
recessão. Também mostra como a política monetária e fiscal do uso da política fiscal para a estabilização econômica. Isso
pode prevenir recessões, reagindo a esses choques. Tais econo- acontece em particular nos Estados Unidos, onde as mudan.
mistas acham que é um desperdício não usar esses instrumen- ças dos gastos ou dos impostos exigem a aprovação do presi-
tos de política para estabilizar a economia. dente e das duas casas do Congresso. O processo legislativo
Outros economistas assumem uma posição crítica em re- lento e complicado muitas vezes leva a protelações, que con-
lação às tentativas do governo de estabilizar a economia. Es- vertem a política fiscal em um instrumento impreciso para a
ses críticos argumentam que o governo deve ter uma posição estabilização da economia. Essa defasagem interna é menor
de não-interferência na política macroeconômica. De início, em países com sistema parlamentarista, como o Reino Uni-
esse ponto de vista pode parecer surpreendente. Se o nosso do, porque o partido no poder é capaz, com bastante freqüên-
modelo mostra como prevenir ou reduzir a gravidade das cia, de obter mais depressa a aprovação de mudanças de polí-
recessões, por que esses críticos querem que o governo se abs- tica econômica.
tenha de usar a política monetária e fiscal para a estabiliza- A política monetária tem uma defasagem interna muito
ção econômica? Para descobrir o motivo, analisaremos alguns mais curta do que a defasagem da política fiscal, porque um
de seus argumentos. banco central pode decidir e aplicar a mudança de política
econômica em menos de um dia. Por outro lado, no encanto,
j • a política monetária tem uma substancial defasagem externa.
'. DEFASAGEM ENTRE IMPLEMENTAÇÃO E A política monetária opera através da mudança da oferta
j

EFEITOS DA POLÍTICA ECONÔMICA monetária, o que tem conseqüências nas taxas de juros, que
por sua vez influenciam o investimento. Mas muitas empre-
A estabilização econômica seria fácil se os efe itos da política sas fazem planos de investimento com bastante antecedên-
econômica fossem imediatos. Formular uma política econô- cia. Por isso, considera-se que uma mudança da política mo-
,,,,,,
mica seria como guiar um carro: os condutores simplesmente netária só afeta a atividade econômica cerca de seis meses após
ajustariam os instrumentos para manter a economia no curso ter sido adotada.
desejado. As defasagens longas e variáveis associadas à política mo-
A formulação da política econômica, no entanto, é me- netária e à política fiscal tornam mais difícil a estabilização da
nos parecida com gu iar um carro e mais semelhante a pilotar economia. Os defensores da política econômica passiva argu-
um enorme navio. Um carro muda de direção quase imedia- mentam que, por causa dessas defasagens, a política de estabi-
tamente depois que o motorista vira o volante. Em contraste, lização bem-sucedida é quase impossível. Na verdade, as ten-
um navio só muda de curso muito depois que o piloto ajusta tativas de estabilizar a economia podem ser desestabilizadoras.
o leme; e depois que o navio começa a virar, assim continua Suponha que a condição da economia mude entre o início de
por muito tempo, mesmo depois que o leme volta ao normal. uma ação de política econômica e seu impacto na economia.
' ' Um piloto novato pode mudar demais o curso; e, tendo per- Nesse caso, a política ativa pode acabar estimulando a econo-
cebido o erro, pode exagerar na reação , girando o leme em mia quando se encontra superaquecida, ou restringindo a eco-
demasia na direção oposta. O curso do navio pode se tornar nomia que está em processo de esfriamento. Os defensores da
instável, já que o novato reage aos erros anteriores com cor- política econômica ativa admitem que essas defasagens exigem
reções cada vez maiores. que as autoridades sejam cautelosas. Mas, argumentam, as de-
T ai como o piloto de um navio, os formuladores de política fasagens não significam necessariamente que a política deva ser
econômica enfrentam o problema das longas defasagens. Na passiva, ainda mais quando ocorre um declínio econômico se-
verdade, o problema desses formuladores é até mais difícil, vero e prolongado.
porque não é fácil prever a extensão das defasagens. Essas de- Algumas políticas, chamadas de estabilizadores automáti-
fasagens longas e variáveis complicam bastante a condução das cos, são projetadas para reduzir as defasagens associadas à polí-
políticas monetária e fiscal. tica de estabilização. Os estabilizadores automáticos são políti-
Os economistas distinguem dois tipos de defasagem na con- cas que estimulam ou contraem a economia quando necessá-
dução da política de estabilização: a defasagem interna e a de- rio, sem qualquer mudança deliberada da política econômica.
fasagem externa. A defasagem interna é o tempo entre um Por exemplo, o sistema de imposto de renda automaticamente
choque na economia e a ação de política em resposta a esse reduz os impostos quando a economia entra em recessão, sem
choque. Essa defasagem ocorre porque é preciso tempo para que qualquer mudança das leis fiscais, porque as pessoas e as em-
os formuladores de política econômica reconheçam, em primei- presas pagam menos impostos quando seus rendimentos dimi-
ro lugar, que ocorreu um choque, e depois ponham em vigor nuem. Da mesma maneira, os sistemas de seguro-desemprego e
políticas econômicas apropriadas. A defasagem externa é o assistência social aumentam os pagamentos de transferência
POLITlCA DE ESTABILIZAÇÃO 263

a
,_
a

ti Todos os meses, o Conference Board, um grupo privado de 4. Desempenho do vendedor. É uma medida do número
o pesquisa econômica, anuncia o índice dos principais indicado- de empresas que estão recebendo as entregas mais de-
l• res econômicos. Esse índice é constituído de 10 séries de da- vagar dos fornecedores.
i- dos, que são utilizados com freqüência para prever variações 5. Novas encomendas de bens de capital que não sejam
0 da atividade econômica com cerca de seis a nove meses de para defesa.
l- antecedência. Aqui está a relação das séries. Você conse- 6. Concessão de novas autorizações de construção.
a gue explicar por que cada uma pode ajudar a prever varia- 7. Índice de preços de títulos mobiliários.
>r ções do PIB real? 8. Oferta monetária (M2), ajustada à inflação.
l•
1. A semana de trabalho média dos operários da indústria. 9. Diferencial da taxa de juros: o diferencial entre os títulos
l· 2. A média dos pedidos iniciais semanais de seguro-desem- do Tesouro de 1O anos e os títulos do Tesouro de 3
Í· prego. Essa série é invertida no cálculo do índice. Por- meses.
tanto, uma diminuição na série aumenta o índice. 10. Índice de expectativas do consumidor.
:o 3. Novas encomendas de bens e materiais de consumo,
:n ajustados à inflação.
;a
J,
a.
ta
ie quando a economia aproxima-se de uma recessão, porque mais Uma das maneiras pelas quais se tenta prever o futuro em
e- pessoas se candidatam aos benefícios. Pode-se considerar esses economia é por meio dos indicadores básicos. Um indicador
.1- estabilizadores automáticos um tipo de política fiscal sem qual- básico é uma série de dados que oscilam à frente da economia.
J• quer defasagem interna. Uma grande queda em um indicador básico sinaliza que é mai-
5s or a probabilidade de uma recessão.
Outro método empregado pelos previsores é o dos mode-
o- A DIFÍCIL TAREFA DA PREVISÃO
los macroeconOmétricos, que foram desenvolvidos por órgãos
:la ECONÔMICA do governo e por empresas privadas para previsão e análise
u-
Como a política econômica só influencia a economia depois de política econômica. Como estudamos no Cap. 11, esses mo-
)i•
de uma longa defasagem, a política de estabilização bem-suce- delos computacionais em larga escala são constituídos de
n-
dida exige a capacidade de prever com precisão as condições muitas equações, cada qual representando uma parte da eco -
1s.
econômicas no futuro. Se não podemos prever se a economia nomia. Depois de estabelecerem pressupostos sobre o curso das
3e
estará em recessão ou crescendo daqui a seis meses ou um ano, variáveis exógenas, como política monetária, política fiscal e
la.
não podemos avaliar se a política monetária e fiscal deve agora preços do petróleo, esses modelos oferecem predições sobre
o-
tentar expandir ou contrair a demanda agregada. Infelizmen- desemprego, inflação e outras variáveis endógenas. Cabe res-

te, os. desenvolvimentos econômicos são muitas vezes saltar, no entanto, que a validade dessas predições é tão boa
da
imprevisíveis, pelo menos em nosso conhecimento acuai da quanto os pressupostos do modelo e dos previsores sobre as
:m
le- economia. variáveis exógenas.
;er
;e-
ESTUDO DE CASO - - - - - - - - - - - - - - .
ti-
.Jí- ERROS DE PREVISÃO <luzir e quanto investir em fábricas e equipamentos. Os formula-
ti- "Chuvas ligeiras, Sol aparecendo nos intervalos e ventos mo- dores de política econômica do governo também se baseiam
;á- derados." Esta foi a previsão do tempo apresentada pelo nelas quando desenvolvem as políticas econômicas. Contudo,
:a. renomado serviço de meteorologia britânico a 14 de outubro também como as previsões do tempo, as previsões econômicas
ite de 1987. No dia seguinte, a Grã-Bretanha foi atingida pela pior estão longe de serem precisas.
!IU tempestade em mais de dois séculos. O mais severo declínio econômico da história dos Estados
m- Assim como as previsões do tempo, as previsões econômi- Unidos, a Grande Depressão da década de 1930, foi uma sur-
ai- cas constituem um insumo fundamental na tomada de decisões presa total para os previsores econômicos. Mesmo depois do
::,e de agentes privados e públicos. Os executivos de empresas ba- craque do mercado de ações, em 1929, eles permaneceram con-
:ia seiam-se nas previsões econômicas ao decidirem quanto pro- fiantes de que a economia não sofreria um retrocesso substan-
p

264 CAPITULO 14

cial. Ao final de 1931, quando a economia se encontrava ob- ria pouca variação da taxa de desemprego ao longo dos cinco tri-
viamente em péssimas condições, o eminente economista mestres subseqüentes; contudo, apenas dois trimestres depois, 0
Irving Fisher previu que haveria uma rápida recuperação. Os desemprego começou a aumentar de maneira acentuada. A ele-
eventos subseqüentes mostraram que tais previsões eram oti- vação do desemprego, para quase 11 %, no quarto trimestre de
mistas demais. 1 1982, pegou os previsores de surpresa. Depois que a profundida-
A Fig. 14-1 mostra o desempenho dos previsores econômicos de da recessão se tomou patente, os prevísores não foram capazes
durante a recessão de 1982, o mais acentuado declínio econômi- de compreender como seria rápida a subseqüente diminuição do
co nos Estados Unidos desde a Grande Depressão. A figura apre- desemprego.
senta a taxa de desemprego efetivo (curva escura) e seis tentati- Esses dois episódios - a Grande Depressão e a recessão de
vas de prevê-la para os cinco trimestres subseqüentes (curva cla- 1982 - mostram que muitos dos eventos econômicos mais
ra). Pode-se constatar que os previsores conseguiram prever o de- drásticos são imprevisíveis. Embora tenham pouca opção a não
semprego com um trimestre de antecedência. As previsões mais ser confiar nas previsões econômicas, os tomadores de decisão
distantes, porém, foram com freqüência inacuradas. Por exemplo, privados e públicos devem sempre lembrar que essas previsões
no segundo trimestre de 198 1, os previsores achavam que have- comportam uma margem de erro.

Taxa de 11 ,0
desemprego
(percentual)
10,5

.·i • 10,0
•,I •
~
9,5

9,0

8,5

' ! ·' 8,0

7,5

7,0

6,5
., '
60
'1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986
Ano

Fig. 14-1 Previsão da Recessão de 1982 A curva escura mostra a taxa de desemprego efetivo. do primeiro trimestre de 1980 ao primeiro trimes-
tre de 1986. As curvas claras mostram a taxa de desemprego prevista em seis períodos da ocasião: o segundo trimestre de 1981. o quarto trimestre
de 1981 , o segundo trimestre de 1982 e assim por diante. Para cada previsão, os sim bolos marcam a taxa de desemprego efetiva e a previsão para os
cinco trimestres subseqüentes Observe que os previsores não conseguiram prever o rápido aumento da taxa de desemprego, nem o subseqüente
declinio rápido.
Fonte:· A taxa de desemprego é do Department nf .Commerce. A taxa de desemp1eg0 prevista ,:, a média da previsão de cerca de 20 relatórjos de previsão do American Statisuca, Association
e do National Bureau of Economic Research.

'Kathryn M. Domingue:, Ray C. Fair e Matthew D. Sharim, "Forecasting rhe Oepression: Harvard Versus Yale", American Economic Ret•ieu• 78 (setembro de 1988): 595-612. O
artigo mostra como os previsores econ<'lmicos se saíram mal durante a Grande Depressão, e sustenta que eles não conseguiriam mesmo nada melhor com as modernas técnicas de
previsão hoje disponíveis.
POLÍTICA OE ESTABILIZAÇÃO 265

IGNORÂNCIA, EXPECTATIVAS, E A CRÍTICA DE presas que fixam salários e preços reagirão de maneira racional,
ajustando as expectativas de inflação de acordo. Essa mudança
LUCAS das expectativas de inflação alterará rapidamente a troca entre
O proeminente economista Robert Lucas escreveu certa oca- inflação e desemprego no curto prazo. Em conseqüência, a redu-
sião: "Como uma profissão que dá conselhos, costumamos ir ção da inflação pode ser muito menos custosa do que sugerem as
além da n ossa capacidade". Até mesmo muitos dos que asses- estimativas tradicionais da taxa de sacrifício.
soram os formuladores de política econômica concordariam A crítica de Lucas deixa-nos duas lições. A lição estrita é
com essa avaliação. A economia é uma ciência recente, e ain- que, ao avaliarem políticas econômicas alternativas, os econo-
da há muita coisa que não sabemos. Os economistas não po- mista precisam considerar como a política econômica afeta as
dem ser totalmente confiantes quando avaliam os efeitos de expectativas e, portanto, o comportamento dos agentes. A li-
políticas alternativas. Essa ignorância sugere que os economis- ção ampla é que a avaliação da política econômica é difícil, e
tas devem ser cautelosos quando oferecem conselhos de políti- por isso os economistas empenhados nessa tarefa devem mos-
ca econômica. trar a humildade indispensável.
Embora o conhecimento dos economistas seja limitado em
muitos tópicos, Lucas enfatizou a questão da maneira como as
pessoas criam expectativas quanto ao futuro. As expectativas
Ü REGISTRO HISTÓRICO
desempenham papel crucial na economia, porque influenciam Ao julgar se a política do governo deve desempenhar papel
todos os tipos de comportamento econômico. Por exemplo, as ativo ou passivo na economia, devemos atribuir algum peso ao
famílias decidem quanto devem consumir com base nas expec- registro histórico. Se a economia experimentou muitos choques
tativas de renda futura; e as empresas, por sua vez, decidem consideráveis na oferta agregada e na demanda agregada, e se
quanto investir com base nas expectativas de lucratividade a política econômica teve êxito ao isolar a economia desses
futura. Essas expectativas dependem de muitas coisas, inclusi- choques, o argumento em favor da política econômica at iva é
ve das políticas econômicas adotadas pelo governo. Assim, evidente. Por outro lado, se a economia experimentou poucos
quando os formuladores de política econômica calculam o efeito choques consideráveis, e se as osc ilações observadas podem ser
de qualquer mudança de polític;i econômica precisam saber relacionadas com uma pl'llítica econômica inepta, o argumen-
como as expectativas das pessoas reagirão à refenda mudança . to em favor da política econômica passiva é ôbvio. Em outras
Lucas argumentou que os métodos tradicionais de avaliação de palavras , nossa \'isão da política de estabilização deve ser in-
política econômica - como os que se baseiam em modelos fluenciada pelo fato d e ela ter sido, em termos históricos,
macmeconométricos padronizados - não levam em conside- estabilizadora ou desestabilizadora. Por esse motivo, o debate
ração, de maneira adequada, esse impacto da política econô- sobre a política macroeconômica transforma-se, com freqüên -
mica nas expectativas. Essa restrição à avaliação tradicional de cia, em um debate sobre a histôria macmeconômica.
política é conhecida como a crítica de Lucas. 2 A história, no entanto, não define o debate sobre a po lítica de
Um exemplo importante da crítica de Lucas surge na análi- estahilização. As divergências sobre a história ocorrem porque não
se da desinflação. Como você deve recordar do Cap. 1.3, o cus- é fácil identificar as fontes das oscilações econômicas. Muitas
to de reduzir a inflação é muitas vezes medido pela taxa desa- vezes, o registro histórico possibilita mais de uma interpretação.
crifício, que é o número de pontos percentuais do PIB a que se A Grande Depressão é um desses casos. As posições dos
deve renunciar para reduzir a inflação em 1%. Como algumas economistas sobre a política macroeconômica costumam ser
dessas estimativas da taxa de sacrifício são bem grandes, alguns relacionadas com suas opiniões sobre a causa da Depressão.
ecünomi~ta~ argumentam que os formuladores de política eco- Alguns economistas acreditam que um grande choque contra-
nômica de\·em aprender a conviver com a inflação, em vez de cionista no gasto privado causou a Depressão. Eles argumen-
incorrer no custo elevado de reduzi -la. tam que os formuladores de política econômica deveriam em
Segundo os defensores da abordagem das expectativas racio- resposta ter estimulado a demanda agregada. Outros economis-
nais, n o entanto, essas estimativas da taxa de sacrifício não são tas acreditam o que causou a Depressão foi a grande queda da
confiáveis, por estarem sujeitas à crítica de Lucas. As estimati- oferta monetária. Eles asseveram que a Depressão teria sido
vas tradicionais da taxa de sacrifício baseiam-se nas expectati- ev itada se o Fed adotasse uma política monetária passiva ao
vas adaptativas, ou seja, na suposição de que a inflação esperada aumentar a oferta monetária a um ritmo constante. Por isso,
depende da inflação passada. As expectativas adaptativas podem dependendo das convicções sobre o que a teria causado, a Gran-
ser uma premissa razoável em algumas circunstâncias, mas se os de Depressão pode ser considerada um exemplo do motivo pelo
formuladores de política econômica efetuam uma mudança dig- qual políticas monetária e fiscal ativas são necessárias, ou como
na de crédito na política econômica, os trabalhadores e as em- um exemplo do motivo pelo qual elas são perigosas.

;Robert E. Lucas, Jr., "Econometric Policy haluarion: A Critique", Carnegie Rochester Conference on Public Polic~· 1 (Amsterdam: Nonh-Holland, 1976): 19-46.
266 CAPÍTULO 14

ESTUDO DE CASO - - - - - - - - - - - -
A ESTABILIZAÇÃO DA ECONOMIA É UMA INVENÇÃO DOS desemprego e do PIB real registrada antes da Primeira Guerra
DADOS? Mundial é na verdade, em grande parte, uma invenção dos
Keynes escreveu A Teoria Geral na década de 1930. Na estei- dados.
ra da revolução keynesiana, governos do mundo inteiro pas- Rorner utiliza várias técnicas para formular sua argumenta-
saram a considerar a estabilização econômica uma responsa- ção. Urna é construir dados mais acurados para o período ante-
bilidade básica. Alguns economistas acreditam que o desen- rior. É uma tarefa difícil, porque as fontes de dados não são
volvimento da teoria keynesiana teve profunda influência no prontamente disponíveis. Uma segunda maneira é construir
comportamento da economia. Comparando dados anteriores dados menos acurados para o período recente - ou seja, dados
à Primeira Guerra Mundial e posteriores à Segunda Guerra comparáveis aos dados mais antigos e que, por isso, compor-
Mundial, eles constatam que o PIB real e o desemprego se tem as mesmas imperfeições. Depois de construir novos dados
tornaram muito mais estáveis. Isso, alegam alguns keynesia- "ruins", Romer constata que o período recente parece quase tão
nos, é o melhor argumento em favor da política de estabiliza- instáve l quanto o período anterior, sugerindo que a instabili-
ção ativa: deu certo. dade do período anterior pode ser, em grande parte, produto
Em uma série de ensaios provocantes e influentes, a econo- da construção dos dados.
mista Christina Romer contestou essa avaliação do registro O trabalho de Romer é parte do debate incessante para de.
histórico. Ela argumenta que a redução medida da instabilida- terminar se a política macroeconômica melhorou o desempe-
de reflete não uma melhora da política econômica e do desem- nho da economia. Embora seu trabalho permaneça controver-
penho da economia, mas sim uma melhora dos dados econô- so, a maioria dos economistas hoje acredita que a economia,
micos. Os dados mais antigos são menos acurados do que os na esteira da revolução keynesiana, tornou-se apenas um pou-
dados mais recentes. Romer alega que a instabilidade maior do co mais estáve l do que era antes. 1

ESTUDO D E CASO
A EXTRAORDINÁRIA ESTABILIDADE DA D ÉCADA DE tempo, há menos controvérsia sobre a experiência mais recen·
1990 te. Todos estão de acordo em que a década de 1990 destaca-se
Embora os economistas que têm uma visão histórica de longo como um período de extraordinária estabilidade para a econo-
prazo discutam o quanto a economia se estabilizou ao longo do mia dos Estados Unidos.

TABELA 14-1 A Experiência Macroeconômica dos EUA, Década a Década


1950s 1960s 1970s 1980s 1990s

Crescimento do PIB Real


Média 4, 18 4,43 3,28 3,02 3,03
Desvio padrão 3,89 2,13 2,80 2,68 1,56
Inflação
Média 2,07 2,33 7,09 5,66 3,00
Desvio padrão 2.44 1.48 2,72 3,53 1,12
Desemprego
Média 4,51 4,78 6,22 7,27 5,76
Desvio padrão 1,29 1,07 1,16 1,48 1,05
Obseivação: o crescimento real do PIB é a taxa de crescimento do produto mtemo bruto ajustada à inflação dos quatro
trimestres anteriores . A inflação é a taxa de variação do lodice de preços ao consumidor durante os 12 meses anteriores. O
desemprego é o percentual mensal, com ajustamento periódico, da força de trabalho sem emprego.
Fonte: U. S . Department of Commerce, U. S. Department of Labor , e cálculos do autor.

'Christina D. Romer, "Spurious Volatility in Historical Unemployment Data'", Joumal of Poli1ical Economy 94 (fevereiro de 1986 ): \. 37; e Christina D. Rom.er, "Is the Stabili·
:ation of rhe Postwar Economy a Figment of rhe Dara!", American Economic Review 76 (junho de 1986): 314-334.
T
'
PoLITICA DE ESTABILIZAÇÃO 267

A Tabela 14-1 apresenta algumas estatísticas sobre o desem- exemplo, o desvio padrão da inflação foi 24% mais baixo na
penho econômico dos EUA durante as cinco últimas décadas década de 1990 do que na década de 1960, a segunda mais
do século XX. As três variáveis são aquelas que foram ressalta- estável.
das no Cap. 2: crescimento do PIB real, inflação e desempre- O que explica a estabilidade da década de 1990? Parte da
go. Para cada variável, a tabela apresenta a média durante cada resposta é a sorte. A economia dos Estados Unidos não teve de
década e o desvio padrão. O desvio padrão mede a instabilida- lidar com qualquer grande choque de oferta adverso, como os
de de uma variável: quanto mais alto o desvio padrão, mais choques do preço do petróleo na década de 1970. Parte dares-
instável é a variável. posta é também uma política econômica competente. Muitos
Um resultado surpreendente dessa tabela é a baixa insta- economistas atribuem o mérito a Alan Greenspan, que foi pre-
bilidade da década de 1990. As médias de crescimento real, sidente do Federal Reserve ao longo da década de 1990. Suas
inflação, ou desemprego não são excepcionais pelos padrões decisões sobre taxas de juros e oferta monetária mantiveram a
históricos, mas os desvios padrões dessas variáveis são os me- economia no curso certo, evitando ao mesmo tempo uma de-
nores já registrados. Além disso, as variações são grandes. Por pressão profunda e uma escalada descontrolada.

14-2 A POLÍTICA DEVE SER CONDUZIDA POR


REGRAS OU SER DISCRICIONÁRIA?
Um segundo tema de debate entre os economistas é se a polí- DESCONFIANÇA DOS FORMUIADORES
tica econômica deve ser conduzida por regras ou ser discricio-
nária. A política econômica é conduzida por regras se seus for-
DE POLÍTICA ECONÔMICA E
muladores anunciam com antecedência como a política reagi- O PROCESSO POLÍTICO
rá a várias situações e se comprometem a atuar de acordo com Alguns economistas acham que a política econômica é importante
o que foi enunciado. A política econômica é discricionária se demais para ser deixada a critério dos formuladores de política econô-
seus formuladores são livres para avaliar os eventos à medida mica. Embora essa posição seja mais política do que econômica, a
que ocorrem, optando pela política que parecer mais apropria- avaliação é fundamental para a maneira como julgamos o papel da
da na ocasião. política econômica. Se os políticos são incompetentes ou oportunis-
O debate entre a política econômica discricionária e a por tas, é possível que não queiramos conceder-lhes o arbítrio de usar os
regras é diferente do debate entre política econômica ativa e instrumentos poderosos das políticas monetária e fiscal.
passiva. A política econômica pode ser conduzida por regras e, A incompetência na política econômica ocorre por vários
mesmo assim, ser passiva ou ativa. Por exemplo, uma regra de motivos. Alguns economistas consideram o processo político
política econômica passiva pode especificar o crescimento es- errático, talvez porque reflita a instabilidade do poder de gru-
tável da oferta monetária em 3% ao ano. Uma regra de políti- pos de interesses especiais. Além disso, a macroeconomia é
ca econômica ativa pode especificar que complicada, e os políticos muitas vezes não têm conhecimen-
to suficiente para efetuar julgamentos informados. Essa igno-
Expansão Monetária= 3% + (Taxa de Desemprego - 6%). rância possibilita que charlatães proponham soluções incorre-
tas, mas superficialmente atraentes, para problemas complexos.
Por essa regra, a oferta monetária cresce em 3% se a taxa de Muitas vezes, o processo político não pode distinguir os palpi-
desemprego for de 6%; mas, para cada ponto percentual que a tes dos charlatães das propostas de economistas competentes.
taxa de desemprego exceder 6%, a expansão monetária aumen- O oportunismo na política econômica ocorre quando os
ta 1% extra. Essa regra tenta estabilizar a economia pelo au- objetivos dos seus formuladores conílitam com o bem-estar do
mento da expansão monetária quando a economia está em público. Alguns economistas receiam que os políticos usem a
recessão. política macroeconômica para promover seus propósitos elei-
Começamos esta seção estudando o motivo pelo qual a po- torais. Se os cidadãos votam com base nas condições econômi-
lítica econômica pode ser melhorada por meio de um compro- cas predominantes na ocasião da eleição, os políticos têm um
misso com uma regra. Examinemos agora várias regras de polí- incentivo para adotar políticas econômicas que farão com que
tica econômica possíveis. a economia pareça ótima durante os anos de eleição. Um pre-
268 CAPtruLO 14

sidente pode causar uma recessão logo após assumir o cargo, para A desconfiança em relação ao processo político leva alguns
baixar a inflação, e depois estimular a economia, à medida que economistas a proporem que a política econômica se situe fora
se aproxima a eleição seguinte, para baixar o desemprego. A do âmbito da política. Alguns têm apresentado emendas cons-
manipulação da economia com fins eleitorais, chamada de ci, titucionais, como a emenda do orçamento equilibrado, que
elo econômico político, tem sido o alvo de amplas pesquisas ataria as mãos dos legisladores, isolando a economia da incom.
de economistas e cientistas políticos. 4 petência e do oportunismo.

ESTUDO DE CASO - - - - - - - - - - - - - - . . . .
A ECONOMIA DOS EUA SOB PRESrDENTES anos de uma administração republicana. Em contraste, a eco-
REPUBLICANOS E DEMOCRATAS nomia geralmente cresce no segundo e no terceiro anos das
Como o partido político que está no poder afeta a economia? administrações democratas.
T rahalhando na fronteira entre economia e ciência política, Uma interpretação dessa constatação é que os dois partidos
algum pesquisadores têm estudado a questão. Urna descoberta têm preferências diferentes em relação a inflação e desempre-
intrigante é que n~ dois partidos políticos dos Estados Unidos go. Ou seja, em vez de ohservar os políticos como oportunis-
parecem conduúrpolíticas macroeconômicas sistematicamente tas, talvez devêssemos considerá-los apenas partidários. Os re-
diferentes. publicanos parecem detestar a inflação mais do que os demo-
A Ta bela 14-2 apresenta o crescimento n o PIB real em cada cratas. Por isso, os republicanos adotam políticas contracionistas
•'• . um dos quatro anos de mandato presidencial, desde 1948. logo depois de assumirem o comando, e estão dispostos a su-
./ Observe que o crescimento é geralmente baixo, muitas vezes portar uma recessão para reduzir a inflação. Os democratas
negativo, no segundo ano das administrações republicanas. Seis adotam políticas mais expansionistas para reduzir o desempre-
dos oito anos em que o PIB real caiu são o segundo ou terceiro go, e se dispõem a suportar a inflação mais alta resultante. O

TABELA 14-2 Crescimento Real do PIB Durante Administrações Republicanas e Democratas nos EUA
:·, .. ANO DO MANDATO

Presidente Primeiro Segundo Terceiro Quarto

Admimstrações Democratas
Truman - 0,6 8,9 7,6 3,7
Kennedy/Johnson 2,3 6,0 4,3 5,8
,, Johnson 6,4 6,6 2,5 4,8
,,
Carter 4,6 .5,5 3,2 - 0,2
Clinton I 2,7 4,0 2,7 3,6
Clinton II 4,4 4,4 4,2 5,0
- -
Média 3,3 5,9 4,1 3,8
Administrações Republicanas
Eisenhower I 4,6 -0,7 7,1 2,0
Eisenhower II 2,0 -1,0 7,2 2,5
Nixon 3,0 0,2 3,3 5,4
Nixon/Ford 5,8 - 0,6 - 0,4 5,6
Reagan I 2,5 - 2,0 4,3 7,3
Reagan II 3,8 3,4 3,4 4,2
Bush (pai) 3,5 1,8 -0,5 3,0
Média 3,6 0,2 3,5 4,3

Fonte: U. S. Department of Commerce.

'William Nnrdhaus, "The Policlcal Business Cycle", Revieu, of Economic Srndies 42 ( 1975): 169-190; e Edward T ufre, Polirical Conrrol of the Econamy (Princeton, Nova Jersey:
Princecon University Press, 1978).
T
POLÍTICA DE ESTABILIZAÇÃO 269

exame do crescimento da oferta monetária mostra que a polí- mica fixas. Por um lado, uma regra de política econômica iso-
tica monetária é, na verdade, menos inflacionária durante as laria a economia desses choques políticos. Sob uma regra fixa,
administrações republicanas . Assim, parece que os dois parti- o banco central seria incapaz de alterar a política monetária em
dos políticos seguem políticas econômicas drasticamente dife- resposta à mudança da conjuntura política. A economia pode
rentes, e que o processo político é uma fonte de oscilações eco- ser mais estável, e o desempenho econômico pode melhorar no
nômicas. longo prazo. Por outro lado, uma regra de política econômica
Mesmo que aceitemos essa interpretação das evidências, não fixa reduziria a capacidade de influência do eleitorado na polí-
está claro se ela é a favor ou contra as regras de política econô- tica macroeconômica. 5

A INCONSISTÊNCIA TEMPORAL DA POLÍTICA rema libertação. A única maneira de dissuadir os seqüestrado-


res sensatos é retirar o arbítrio das autoridades, submetendo-as
ECONÔMICA DISCRICIONÁRIA à regra de nunca negociar. Se os formuladores de políticas fo -
Se pressupormos que podemos confiar nos formuladores de ram de fato incapazes de fazer concessões, o incentivo aos se-
política econômica, a política econômica discricionária pa- qüestradores para capturar reféns seria em grande parte elimi-
rece, à primeira vista, rnperior a uma regra de política econô- nado.
mica fixa. A política econômica discricionária, por sua pró- O mesmo prohlema ocorre , de maneira menos drástica, na
pria natureza, é flexível. Desde que seus formuladores sejam condução da política monetária. Reflita sobre o dilema de um
inteligentes e heneyo}entes, pode-se pensar que há poucas hanco central que se importe ao mesmo tempo com a inflação
razões para lhes negar flexihilidade ao reagir às mudanças de e o desemprego. Segundo a curva de Phillips, a troca entre in-
condições. flação e desemprego depende da inflação esperada. O hanco
Contudo, um argumento em favor das regras surge do pro- central preferiria que todos esperassem uma inflação haixa para
hlema da inconsistência temporal da política econômica. Em que haja uma troca favorável. Para reduzir a inflação esperada,
algumas situações, os formuladores de política econômica po- o hanco central pode anunciar que a inflação baixa é o objeti-
dem querer anuri.ciar com antecedência a política que segui- vo fundamental da política monetária.
rão, a fim de influenciar as expectativas dos agentes econômi- Mas o anúncio de uma política econômica de inflação haí-
cos da iniciativa privada. Mais tarde, depois que os agentes xa não é, por si só, digno de crédito. Depois que as famílias e as
privados agiram com hase em suas expectativas, os formulado- empresas formaram suas expectativas de inflação, fixando sa-
res de política econômica podem se sentir tentados a voltar amís lários e preços de acordo, o hanco central tem um incentiYo
em .seu anúncio. Por compreenderem que tais formuladores para vLJltar atrás em seu anúncio e pôr em prática uma política
podem ser inconsistentes ao longo do tempo, os agentes priva- mnneníria expansionista a fon de reduzir o desemprego. As
dos são levados a desconfiar dos anúncios de política econô- pessoas compreendem o incentivo do hanco central para vol-
mica. Nessa situação, para wrnar dignos de crédito os seus co- tar atrás, e por isso não acreditam no anúncio em primeiro lu-
municados, os formuladores de política econômica podem que- gar . Assim como um presidente diante de um seqüestro se sen-
rer assumir um compromisso .com uma regra fixa. te bastante tentado a negociar a liherração, um banco central
A inconsistência tempmal é ilustrada com extrema simpli- discricionista se sente tentado a adotar políticas inflacionistas
cidade em um exemplo político, mais do que econômico: em a fon de reduzir o desemprego. E assim corno os seqüestradores
termos mais específicos, a política pública sohre negociação com não le,·am a séril) as po líticas anunciadas de nunca negociar,
seqüestrndores parn a libertação de reféns. A política anuncia- as famílias e as empresas descartam as políticas econômicas
da de muitos países é que não negociarão sohe reféns. Esse anunciadas de inflação haixa.
anúncio \'isa a dissuadir os seqüestradores: se não há o 4ue ga- O resultado surpreendente dessa aná lise é que os formula-
nhar com o se4üestrn de reféns, os seqi.iestrndores sensatos não dores de política econômica podem às vezes alcançar melhor
vão seqüestrar ninguém. Em ciutras palavras, n propósito do suas meras se lhes for tirada a possibilidade de ser discricionista.
anúncio é influenciar as expectativas dos seqüestradores e, com No caso de seqüestradores de hom senso, menos reféns serão
isso, seu comportamento. seqüestrados e mortos se os formuladores de políticas estiverem
Na verdade , porém, a menos que os formuladores de políti- comprometidos com seguir a norma aparentemente rigorosa de
ca econômica tenham um compromisso digno de confiança se recusar a negociar pela libertação dos reféns. No caso da
com essa política, o anúncio tem pouco efeito. Os seqüestra - política monetária, haverá uma inflação menor sem desemprego
dores sahem que, depois de capturados os reféns, enfrentam uma maior, se o hanco central estiver comprometido com uma po-
tremenda tentação de fazer alguma concessão, a fim de obte- lítica econômica de inflação zero. (Esta conclusão sobre a po-

;Albert(> Alesina, "Macweconomics and Policies". NBER Macroeconomics Annual 3 (1988) : 13-SZ.
#

270 CAPITULO 14

lítica monetária é modelada de mané ira mais explícita no apên- > Para incentivar o bom comportamento, um pai ou uma mãe
dice deste capítulo.) anuncia que vai punir o filho sempre que ele infringir uma
A inconsistência temporal da política econômica ocorre em norma. Mas depois que o filho se comportou mal, os pais
muitos outros contextos. Aqui estão alguns exemplos: sentem-se tentados a perdoar a transgressão, porque a Ptmi.
ção é desagradável tanto para os pais quanto para os filhos.
> Para estimular o investimento, o governo anuncia que
> Para estimular o estudo intenso, seu professor anuncia que
não cobrará imposto de renda sobre o capital. Mas, de-
este curso será encerrado com um exame. Mas depois que
pois que as fábricas foram construídas, o governo sente-
você estudou e aprendeu toda a matéria, o professor sen-
se tentado a voltar atrás em sua promessa, a de fim obter
tem-se tentados a cancelar o exame, para não ter o tra-
maior receita fiscal das empresas.
balho de corrigi-lo e dar notas.
> Para promover a pesquisa, o governo anuncia que con-
cederá um monopólio temporário às empresas que des- Em cada caso, agentes racionais compreendem o incentivo
cobrirem novos medicamentos. Mas depois que um me- para o formulador de política mudar de idéia. Essa expectativa
dicamento foi desenvolvido, o governo sente-se tentado afeta o comportamento. E, em cada caso, a solução é retirar a
a revogar a patente, ou regulamentar o preço, para que o capacidade discricionária do formulador de políticas, com um
medicamento se torne mais acessível. compromisso digno de crédito com uma regra política fix;3.

ESTUDO DE CASO
.! • .
ALEXANDER HAMILTON VERSUS INCONSISTÊNCIA Relatório sobre o Crédito Público, que apresentou ao Congresso
'I •
,, . TEMPORAL em 1790, ele escreveu:
.J
,, Há muito que a inconsistência temporal tem sido um proble-
' ma relacionado à política econômica discricionária. Na verda- Se a manutenção do crédito público, portanto, é tão importante,
de, foi um dos primeiros problemas com que se defrontou a próxima indagação inevitável é a seguinte: por que meios ele deve
ser efetuado? A resposta fácil e imediata para essa questão é: por
Alexander Hamilton, quando o presidente George Washing- meio da boa-fé; por um cumprimento pontual dos contratos. Os
ton designou-o, em 1789, para ser o primeiro secretário do Estados, tal como as pessoas, que cumprem seus compromissos são
Tesouro dos Estados Unidos. respeitados e merecem confiança, enquanto o inverso é o destino
Hamilton enfrentava a questão de como tratar as dívidas que dos que praticam uma conduta oposta.
o país recém.formado acumulara enquanto lutava para setor-
" l •,
nar independente da Grã-Bretanha. Quando o governo revo- Assim, Hamilton propôs que o país assumisse o compromisso
lucionário contraiu as dívidas, prometeu que as respeitaria de- com a norma política de honrar suas dívidas.
pois que a guerra acabasse. Depois da guerra, no entanto, mui, A norma política proposta por Hamilton persiste há mais
tos norte-americanos defendiam a inadimplência da dívida , de dois séculos. Hoje, ao contrário do que ocorria na época de
porque o pagamento dos credores exigiria tributação, o que é Hamilton, quando o Congresso debate as prioridades de gas-
"• .
• ·• L
sempre custoso e impopular. tos, ninguém mais propõe a sério o não-pagamento de dívidas
Hamilton opôs-se à política de inconsistência temporal de como meio de reduzir os impostos. No caso da dívida pública,
repudiar a dívida. Sabia que o país precisaria tomar empresta- todos concordam em que o governo deve estar comprometido
do de novo, em algum momento do futuro. Em seu Primeiro com uma regra de política econômica fixa .

REGRAS PARA A POLÍTICA MONETÁRIA posição de política monetária. Os monetaristas acham que as
Mesmo que estejamos convencidos de que as políticas por re- oscilações da oferta monetária são responsáveis pela maioria das
gras são superiores às políticas discricionárias, o debate sobre a grandes oscilações da economia. Argumentam que o cresci-
política macroeconômica ainda não se esgotou. Se o Banco mento lento e constante da oferta monetária acarretaria pro-
Central tivesse de se comprometer com uma regra de política duto, emprego e preços estáveis.
monetária, que regra deveria escolher? Examinaremos de ma- Embora tenha sido uma regra política monetarista que evi-
neira sucinta três regras de política econômica que muitos eco- tou muitas das oscilações econômicas que poderíamos experi·
nomistas defendem. menear em termos históricos, a maioria dos economistas acre·
Alguns economistas, chamados de monetaristas, propõem dita que essa não é a melhor regra de política econômica pos·
que o Banco Central mantenha a oferta monetária crescendo sível. O crescimento constante da oferta monetária só estabi-
a um ritmo constante. A citação de Milton Friedman - o mais liza a demanda agregada se a velocidade da moeda for estável.
famoso monetarista-no início deste capítulo exemplifica essa Mas às vezes a economia experimenta choques, como mudan-
POLÍTICA DE ESTABILIZAÇÃO 271

1ãe ças da demanda por moeda, que fazem com que a velocidade se ção efetiva se desviar da meta. Como a meta de PIB nominal
ma torne instável. A maioria dos economistas está convencida de a meta de inflação isola a economia das variações da velocida~
)ais que uma regra de política econômica precisa permitir que a de da moeda. Além disso, uma meta de inflação proporciona a
ni- oferta monetária se ajuste a vários choques na economia. vantagem política de ser fácil de explicar para o público.
os. Urna segunda regra de política econômica que os econo- Observe que todas essas regras são expressas em termos de
1ue mistas em geral defendem é a meta do PIB nominal. Sob essa alguma variável nominal: a oferta monetária, o PIB nominal
1ue norma, o Banco Central anuncia um curso planejado para o ou o nível de preços. Pode-se também imaginar regras de polí-
! n- PIB nominal. Se o PIB nominal eleva-se acima da meta, o tica econômica expressas em termos de variáveis reais. Por
:ra- Banco Central reduz a expansão monetária para conter a de- exemplo, o Banco Central pode tentar fixar uma meta para a
manda agregada. Se cai abaixo da meta, o Banco Central au- taxa de desemprego em 5% . O problema dessa regra é que nin-
menta a expansão monetária para estimular a demanda agre - guém sabe exatamente qual é a taxa natural de desemprego. Se
ivo
gada. Como uma meta de PIB n ominal poss ibilita que a polí- o Banco Central escolhesse urna meta para a taxa de desem-
iva
tica monetária se ajuste a variações da velocidade da moeda, prego abaixo da taxa natural, o resultado seria a aceleração da
tr a
a maioria dos economistas acredita que levaria a uma estabi- inflação. Inversamente, se o Banco Central escolhesse uma
um
lidade maior do produto e dos preços do que uma regra polí- meta para a taxa de desemprego acima da taxa natural, o resul-
tica mon etarista. tado seria a aceleração da deflação. Por esse motivo, os econo-
Uma terceira regra de política econômica defendida com mistas raramente defendem regras para a política monetária ex-
freqüência é a meta de inflação. Sob essa norma, o Banco Cen - pressas exclusivamente em termos de variáveis reais, mesmo que
--, tral anunciaria uma meta para a taxa de inflação (em geral as variáveis reais, tais como o desemprego e o PIB real, sejam
baixa), para depois ajustar a oferta monetária quando a infla- as melhores medidas do desempenho da economia.
sso

,te, ESTUDO DE CASO - - - - - - - - - - - - - .


eve
por META DE INFIAÇÀO: POLÍTICA ECONÔMICA POR do banco central é discricionária. As metas de inflação são em
Os NORMA ou DISCRICIONÁRIA RESTRITA? geral fixadas como uma banda - uma taxa de inflação de 1 a
são Desde o final da década de 1980, muitos bancos centrais do 3%, por exemplo - em vez de um número determinado. A s-
ino sim, o banco central pode escolher em que ponto da banda quer
mundo - inclusive os da Austrália, do Canadá, da Finlândia,
de Israel, da Nova Zelândia, da Espanha, da Suécia e do Reino se situar. Além disso, o banco central às vezes tem permissão
Unido - adoraram algum modo de meta de inflação. Às vezes para aj ustar as metas de inflação, pelo menos temporariamen-
.sso te, se algum evento exógeno (como um choque de oferta iden-
a meta de inflação assume a forma de um banco central anun-
ciando suas intenções de política econômica. Outras vezes tem tificado com facilidade) empurra a inflação além da banda que
tais fo i anunciada com antecedência.
. de a fo rma de uma lei n acional, que define as metas da política
monetária. Por exemplo, a Lei do Reserve Bank da Nova À luz dessa fl exibilidade, qual é o propósito da meta de in-
~as . . flação? Embora a meta de inflação deixe o banco central prati-
das Zelândia , de 1989, determinou ao banco central "formular e
implementar política monetária com a meta econômica de al- car alguma política econômica discricionária, a meta determi-
lCa,
cançar e manter a estabilidade do nível geral de preços". A lei na como essa política discricionária deve ser usada. Quando um
ido banco central é orientado a "fazer a coisa certa", é difícil
omitiu, de maneira conspícua, a menç ão a qualquer outra meta
_J concorrente, como estabilidade do produto, emprego, taxas de considerá-lo responsáve l, porque as pessoas podem discutir por
juros ou taxas de câmbio. Embora o Federal Reserve dos Esta- toda a eternidade qual é a coisa certa, em qualquer circunstân-
dos Unidos não tenha adotado uma meta de inflação, alguns cia específica. Em contraste, quando um banco central anun-
membros do Congresso têm proposto leis que exigiriam que o cia uma meta de inflação, o público pode julgar mais facilmen-
~ as Fed tomasse essa providência. te se o banco central está cumprindo à meta. Assim, embora a
das Devemos interpretar a meta de inflação como um tipo de meta de inflação não deixe o banco central de mãos atadas,
,ci- compromisso prévio com uma regra de política econômica? aumenta a transparência da pblítica monetária e, no processo,
)rü- Não completamente. Em todos os países que adotaram a meta faz com que as autoridades do banco central sejam mais respon-
de inflação , uma parcela considerável da política econômica sáve is por suas ações. 6
!Vi-
eri-
:re-
ios-
tbi-
vel.
an- 'Veja Ben S. Bernanke e Frederic S. Mishkin, "!nflation Targeting: A New Framework for Monetary Policy?",Journa! of Economic Perspectives li (primavera de 1997): 97-116.
272 CAPÍTULO 14

ESTUDO DE C A S O - - - - - - - - - - - -
A REGRA DE POLITICA MONETÁRIA DE JOHN TAYLOR ta John Taylor propôs uma regra simples para a taxa de finan-
(E DE ALEN GREENSPAN?) ciamento federal:
Se você quisesse determinar taxas de juros para alcançar pre-
ços estáveis, ao mesmo tempo em que e_vita grandes osc ilações Taxa de Financiamento Federal N ominal= Inflação+ 2,0
do produto e no emprego, como faria? E exatamente essa a in- + 0,5 (Inflação - 2,0) - 0,5 (Hiato do PIB).
dagação que A lan Greenspan e outros dirigentes do Federal
Reserve devem se fazer todos os dias. O instrumento de políti- O hiato do PIB é o percentual em que o PIB real fica aquém da
ca econômica de curto prazo que o Fed utiliza agora é a taxa de sua taxa natural.
financiamento federal: a taxa de juros de curto prazo pela qual A regra de Taylor faz com que a taxa de financiamento fe.
os bancos fazem empréstimos uns aos outros. Sempre que o dera! - a taxa nominal menos a inflação - reaja à inflação e
Federal Open Market Committee se reúne, determina um ob- ao hiato do PIB. Segundo essa norma, a taxa de financiamento
jetivo para a taxa de financiamento federal. Os operadores de federal real é igual a 2% quando a inflação é de 2% e o PIB se
títulos do Fed são então instruídos a realizar operações de open- encontra em sua taxa natural. Para cada ponto percentual que
market para alcançar a meta desejada. a inflação aumenta acima de 2% , a taxa de financiamento fe.
A parte difíci l do trabalho dll Fed é escolher a meta para a dera! real aumenta em 0,5%. Para cada púnto percentual que
taxa de fin anc iamento federal. Duas diretrizes são e\·identes. o PIB cai abaixo da sua taxa natural, a taxa de financiamento
Primeiro, quando a inflação aumenta, a taxa de financiamen- federal real cai em 0,5%. Se o PIB aumenta acima de sua taxa
,J,f ,i. to federal de,·e subir. Um aumento da taxa de Juros significar,i natural, de tal modo que o hiato do PIB é negat ivo, a taxa de
'.J!I ' . uma oferta monerári,1 menm e, eYentualmente, investimento financiamento federa l real sobe de acordo.
...,, .. '
mennr , produto menor, desemprego maior e inflação reduzida . Uma maneira de considerar a regra de T aylor é como um
... J '
_,,,.. , :
q,4 ' '·
Segundo, quando a ati\'idade econômica real diminui - tal complemento (em vez de um substituto) à meta de inflação.
1. 1:J , ..
, ,11, ... .. como refletem o PIB rea l ,lu o desemprego - , a taxa de finan- Como no estudo de caso anterior, a meta de inflação oferece
. ........ ...'
·•
....a .~
~ ;
ciamento federal deve cair. Uma diminuição da taxa de juros um plano para o banco central no médio prazo, mas não res-
signific,mi uma oferta mnnenkia maior e, e\·entualmente, in- tringe suas decisões de política econômica mês a mês. A regra
\'estimento maior, produto maior e desemprego menor. de T aylor pode ser um bom procedimento operacional de cur-
' ·' oi • , ,...· O Fed precisa ir além dessas diretrizes gerais, no entanto, e to prazo para se alcançar uma meta de inflação de médio prazo.
::;;i ::.
decidir quanto reagir a variações da inflação e da atividade Segundo a regra de T aylor, a política monetári a reage direta-
econômica real. P,nn ajudar a tomar essa decisão, o ecnnomis- mente à inflação, como deve fazer qualquer meta de inflação

t ·- . , ,j . ·

n•, , ., , .. .

. ..' ,' ..
,..... ~-
~· •. • ' -1 •

6
Regra de Taylor
5

3
2 ~ - ~ -- ~ -- ~ -_.__ _....__ __.._ __,__ _ .,___ __.__ __,__ _.....__ __.__ _ ....L.._ _ _.__

1987 1988 1989 1990 199 1 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Ano

Fig. 14-2 A Federal Funds Rate: Efetiva e Sugerida Esta figura mostra a Federal Funds Rate, a troca de juros de curto prazo pela qual os bancos
fazem empréstimos uns aos outros. Também mostra a Federal Funds Rate sugerida pela regra monetária de John Taylor. Observe que as duas séries
se deslocam quase juntas.
Fome: Federal Reserve Board . U. S. Department of Commeroe e cálculos elo autor. Para implementar aregra de Taylor, a taxa de inflação é medida como a variação percentual do deflator do
PIB ao longo elos quatro trimestres anteriores. O hiato do PIB é medido como duas vezes o desvio ela taxa de desemprego de 6%.
l

POLITICA DE ESTABil.IZAÇÃO 273

de banco central. Mas também reage ao hiato do produto, que nanciamento federal efetiva e a taxa determinada pela regra
pode ser considerado uma medida das pressões inflacionárias. proposta de Taylor. Observe como as duas séries se mantêm
A regra de Taylor para política monetária não é apenas sim- estreitamente juntas. A regra monetária de John Taylor pode
ples e razoável, mas também se assemelha ao comportamento ser mais do que uma sugestão acadêmica. Pode ser a regra que
de fato do Fed ultimamente. A Fig. 14-2 mostra a taxa de fi- Alan Greenspan e seus colegas adotam subconscientemente.7

ESTUDO DE CASO
A INDEPENDÊNClA DO BANCO CENTRAL de diferentes países para formular um índice de independência
Suponha que você estivesse incumbido de escrever a consti- de banco central. O índice baseia-se em várias características,
tuição e as leis de um país. Você concederia ao presidente do como a extensão dos mandatos dos diretores, o papel dos re-
país autoridade sobre as políticas econômicas do banco central? presentantes do governo no conselho do banco e a freqüência
Ou permitiria que o banco central tomasse decisões livre de tal de contato entre o governo e o banco central. Em seguida, os
influência política? Em outras palavras, pressupondo-se que a pesquisadores examinaram a correlação entre independência
rolítica monetária seja discricionária, em vez de ser estabele- do banco central e desempenho macroeconômico.
cida rm regras, quem de\'e fonnuhí-la! Os resultados desses estudos são surpreendentes: os bancos
Os raíses variam muito na maneira como respondem a essa centrais mais independentes apresentam uma forte associação
questão. Em alguns países, o banco central é um órgão do go- com inflação mais baixa e mais estável. A Fig. 14-3 apresenta
\'erno; em outros, n banco central é em grande parte indepen- um gráfico de dispersão da independência do banco central e
dente. Nos Esudns Unidos, os diretores do Fed são designa- da inflação média do período de 1955 a 1988. Os países que
dos relo presidente para mandatos de 14 anos. Não podem tinham um banco central independente, como Alemanha,
ser afastadus, mesmo que o presidente se tome insatisfeito com Suíça e Estados Unidos, tendiam a ter uma inflação média bai-
suas dec isões. Essa estrutura institucional proporciona ao Fed xa. Países que tinham um banco central com menos indepen-
um grau de ind ependência semelhante ao desfrutado pela dência, como Nova Zelândia e Espanha, tendiam a ter uma
5upreme Court. inflação média mais alta.
Muitos pesquisadores têm investigado os efeitos da estrutu- Os pesquisadores também descobriram que não há relação
ra constitucional na política monetária. Eles examinaram as leis entre independência do banco central e atividade econômica

lnAação
9
média
Espanha
8
Nova Zelândia
ltcília
7 Reino Unido
Austrália Dinamarca
6 França/Noruega/Suécia

s Japão
Canadcí
Bélgica Holanda Estados Unidos
4
Suíça
3 Alemanha

2
0,5 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5
Índice de independência do banco central

Fig. 14· 3 Inflação e Independência do Banco Central Esse gráfico de dispersão apresenta a experiência internacional com a independência
do banco central. As evidências mostram que os bancos centrais mais independentes tendem a produzir taxas de inflação menores.
Fonte: Figura 1a. pág ma 155. de Alberto Alesina e Lawrence H. Summers. "Cent,al Bank [ndependence and Macroeconomic Perfo1mance: Some Comparative Evidence"..Joumal ot Money.
Credit and Banking25 (maio de 1993): 151-162 A inflaçào média é para o período de 1955 a 1988.

;John B. Taylor, "Toe [nflarion/Ourput Variabilicy Tradeoff Revisited", em Goals, Guidelines, and Corurraints Facing Monetary PolicyrnLlkers (Federal Reserve Bank of Bosron,
1994).
274 CAPÍTULO 14

real. Em particular, a independência do banco central n ão se países um almoço grátis: proporciona o benefício da inflação
correlaciona com desemprego médio, instabilidade do desem- mais baixa sem qualquer custo aparente. Essa descoberta levou
prego, crescimento médio do PIB real ou a instabilidade do PIB alguns países, como a Nova Zelândia, a reformularem suas leis
real. A independência do banco central parece oferecer aos para conceder mais independência ao banco central. 8

14-3 CONCLUSÃO: FAZENDO POLÍTICA ECONÔMICA EM


UM MUNDO INCERTO
Neste capítulo, examinamos se a política econômica deve as- O papel dos economistas no processo de formulação de po-
sumir um papel ativo ou passivo ao responder às oscilações lítica econômica vai além de oferecer conselhos aos seus for-
econôm icas, e se a política econômica deve ser conduzida por muladores. Até mesmo os economistas enclausurados nos méios
regra ou ser disc ricionária. Há muitos argumentos nos dois la- acadêmicos influenciam a política econômica indiretamente
dos dessas questões. Tal\'ez a única conclusão clara seja que não por meio de suas pesquisas e de seus textos. N a conclusão de A
hú nenhuma argumentação irrefurável a favor de qualquer vi- T eoria Geral, John Maynard Keynes escreveu que
são específica da pl1lírica macroecln16mica. An final, você deve
avaliar os \·ários argumentos, tanto econômicos quanto políti- ,is idéias dos ecunomistas e dos filósofos políticos, quando estão
1: cos, e decidir por si mesmo que tipo de papel o governo de ve cercos e quand o estão errados, são mais poderosas do que se
1,
desempenhar para tentar estahili:ar a economia. costuma imaginar. Na \'erdade , o mundo é regido por pouco
1 • mais. Os hlimens práticos, que se consideram isentos de in-
Para o melhor ou para o pior, os economistas desempenham
'' flu êncic1s inceleccuais, são em geral esc rav os de algum econo-
1' papel fundamental na formulação da política econômica. Por mista falecido. Os loucos com autoridade, que ouvem vozes
ser a economia complexa , esse pape l é muitas vezes difícil. Mas no ar, extraem seu frenesi dlls textos publicados há alguns anos
tarnhém é inev it,1vel. Os economistas nfü1 podem cruzar os hra- por algum escribc1 acc1dêmico.
ços e esperar até que o conhecimento da economia seja aper-
feiçoado antes de darem um conselho. Alguém deve aconse - Isso é válido ainda hoj e com<) era em 1936, ocasião em que
..,.... lhar agora os fnrm ulaJores de p,1lítica econômica. Esse trah,1- Keynes escreveu ... só que agora o escriha acadêmico é, com fre-
lho , por mais difíci l que seja às ve:es, cahe c1os economistas. qüên cia , o próprio Keynes.

1- .

RESUMO
1. Os defensores da p<llítica econt11nica atiYa cuns ideram que nô mica inepta é uma fonte freqüente de osci lações econô-
a ecünomia estc1 sujeira ,1 freqüentes choques que levam o micas.
prndutn e o emp regu a osc ilações desnecessárias, a menos 3. Os defensores da política econômica discricionária argumentam
que haja uma resposta de política llllmet,'íria ou fisca l. Mui- que ela proporciona mais flexihilidade aos fonnuladores de po-
tos acham que a política econé'itnica tem sido hem-sucedida lítica econômica para reagir a diversas situações imprevistas.
n a estahili:açào da ecnmimia.
4. Os defensores das regras de política econômica argumentam
2. Os defens-m.'~ da política econúmica passi\'a argumentam que não se pode confiar no processo político. Acham que
yue as tenratiYas de se e~tahili:,u .1 economia , uma \'e: q ue os políticos cometem erros freqüentes na condução da polí-
a política 1m1net,hia e a política fiscal operam com hi arns tica econômica, e às vezes a utilizam para at ingir seus pró-
longos e ,·arhh·eis, acaham sendo desem1hili:adoras. Além prios objetivos eleitorab. Além disso, os defensores das re-
disso, acham que nosso atua l conhecimentn da econo mia gras de política econômica argumentam que é necessário um
é muito limiwdo para se r útil n a formu lação de uma polí- compromisso com uma regra fixa para se resolver o proble-
tica de es tahilização hem-sucedida, e que a política eco- ma da inconsistência temporal.

' Para uma apresentação mais cnmpleta dessas descoherras e referências para a grande literatura sohre independência do banco central. veja Alberto Alesina e Lawrence H. Sum·
mers, "Central Bank Independence and 1' lacroeconmn ic Performance: Some Comparative Ev idence",Journal of Mone~, Credit , and Banking Z5 ( maio de 199 3 ): 151-1 62. Para
um estudo que questiona o vínculo entre inflação e independênc ia do banco central, veja Marta Campillo e Jeffrey A. Miron, "Why Does lnflation Differ Across Countries 1", em
Chrisrina D. Romer e David H. Romer, eds., Reducing ln/là!ion: Motiuation and Srrategy (Chicago: Universiry of Chicago Press, 1997), 335-362 .
-,

POLÍTICA DE ESTABILIZAÇÃO 275

. .. .. · :.:.,,,;:;,.
;:.'.'

CONCEITOS-CHAVE
Defasagem interna e externa Indicadores básicos Ciclo econômico político
Estabilizadores automáticos Crítica de Lucas Inconsistência temporal
Monetaristas

QUESTÕES PARA REVISAO


1. O que é defasagem interna e defasagem externa? Qual delas cem a 4. Como a interpretação da história macroeconômica afeta a opinião
defasagem interna mais longa: a política monetária ou a política de uma pessoa sobre a política macroeconômica?
fiscal? Qual tem a defasagem externa mais longa 1 Por quê?
5. O que se quer dizer com "inconsistência temporal" da política eco,
2. Por que a previsão econômica mais acurada romaria mais fácil para nômica? Por que os formuladores de política econômica podem ser
os formuladores de política econômica estabilizar a economia? tentados a repudiar um anúncio que fizeram antes? Nessa situação,
Descreva duas maneiras pelas quais os economistas tentam prever qual é a vantagem de uma regra de política econômica?
os dese nvol\'hnentos da economia.
6. Relacione três regras de política econômica que o banco central
3. Descreva a crítica de Lucas. pode seguir. Qual dessas você defenderia 1 Por quê?

PROBLEMAS E APLICAÇÕES
1. Suponha que o intercâmbio entre desemprego e inflação seja de- b. Os dois partidos se revezam.
terminaLfo pela curva de Phi!lips:
z. Quando as cidades aprovam leis limitando os aluguéis que os pro-
U = U" - Ct ( 1T - TI''), prietários podem cobrar por seus apartamentos, as leis em geral
em que li indica a taxa de desemprego, u" a taxa natural, 1T a taxa aplicam-se aos prédios já existentes, isentando os prédios que ain-
de inflação e TI' a taxa de inflação esperada. Além disso, suponha da não foram construídos. Os defensores do controle do aluguel
que o Partido Democrata segue semrre uma po lítica econômica de argumentam que essa isenção garante que a medida não vai
alta expansão monetária, enquanto o Partido Republicano sem- desestimular a construção de novas unidades habitacionais. Ava-
pre segue uma política econômica de baixa expansão monetária. lie esse argumento à luz do problema da inconsistência tempornl.
Que padrão de "ciclo econômico político" de inflação e desemprego 3. Procure na Internet o site do Federal Reserve (www.federalreserve.gov).
você pnderi a prever nas condições a seguir? Procure e leia um comunicado à imprensa, discurso no Congresso
a. A cada quatro anos, um dos partidos assume o controle, com ou relatório sobre uma recente política monetária. O que diz?('
base em um carn-ou-cc1roa aleatório. (Dica: Qual será a infla- que o Fed está fazendo? Por quê? O que você acha das recentes
ção esperada antes da eleição?) decisões de política do Fed?
Apêndice

INCONSISTÊNCIA TEMPORAL E A
TROCA ENTRE INFLAÇÃO E
DESEMPREGO

Neste ,1pêndice, examinaremos de maneira mais analítica o vel determinado de inthção. Enquanto os agentes privados
argumento da inconsistência temporal, mais em favor das po- aceitarem que o banco central es tá comprometido com essa
r.:l: ;! líticas de regra~ do que das discricionárias. Este material foi norma, o nível de inflação esperado será o nível que o hanco
tt • .i., .1
;:'Ji, 1:: relegado a um apêndice porque precisaremos usar cálculo." central tem o compromisso de produzir. Como a inflação espe-
"·· · Suponha que a curva de Phillips descreva a relação entre rada é igual à inflação efetiva ( 'Ti" = 1T), l) desemprego estará
1••~ ,.··
' .,,
...... ., inflação e desemprego. Seja u a taxa de desemprego, u" a taxa em sua taxa natural (u = u") .
. J.; •1.1·• ·

1~ ,11 : •H
natural de desemprego, 1T a taxa de inflação e 1T" a taxa de in- Qual é a norma ideal? Uma vez que n desemprego está em
1~:::::;:> flação esperada, o desemprego é determinado por sua taxa natural independentemente do nível de inflação de-
!,:.h:::· terminado pela regra, não há benefício em ter qualquer infla-
u = u" - a(1T - 1T'· ).
ção. Portanto, a regra fixa ideal exige que o banco central pro-
O desemprego é haixo quando a inflação supera a inflação es- duza inflação zero.
perada, e alto quando a inflação cai abaixo da inflação espera- Segundo, considere a rolítica monetária discricion,íria, a
~.-..:::: .:t. da. O parámetro a determina quanto o desemprego reage à qual funciona da seguinte maneira:
~'.!'.j11::~. inflação não esperada.
,.~::t : :!· Para simplificar, suponha também que o banco central es- 1. Os agentes privados formam suas expectat ivas de inflação
t ,., ,,, . . 7r'-'.
colha a taxa de inflação. Em termos mais realistas, é claro que
~•·11 ,i "
,,. ,,, ,., . .. o banco central só c.1ntn1la a inflaçfü, de maneira imperfeita, 2. O banco central escolhe o nível de inflação 7T efetivo.
por meio d,1oferta monetária. Para propósitos de ilustração, no 3. Com base na inflação esperada e na intbção efeti\·a, o de-
. ...
1:·~·: .'. :·: ..
...... ,
.........,. entanto, é útil pressupor que o hanco central pode controhir a semprego é determinado .
inflação de maneira perfeita. Soh essa disposiç,i.o, o banco central minimiza sua perda L(u,
O hanco central gosta de desemprego haixo e inflaç ão hai- 7T ), sujeita à restrição imposta pela cun·a de Phillips. Quando
xa. Supl1nha que o custo de desemprego e inflação, tal como roma sua decisão sobre a taxa de inflação, o hanco central con-
percehido pelo hanco central, pode ~er representado como sidera j,í determinada a inflação esperada.
L(u , TI) = u + -y-rr:, Para de,cohrir que resultadl) obteríamos soh uma política
econômica discricinnüria, devemns examinar qual nível de
em que o parfünerro '/ representa quanto o hnncu central não inflação o banco central escolheria. Substituindo a cun·a de
gl)Sta de inflação em relação aú desemprego. L( u, 7T) é chama- Phillirs na função de perda do hmco central, obtemos
do de função de perda. O objeri,·o do banco central é fazer com
que a perda seja a menor possh·el. L( u, 1T) = u" - a( 1T - TI') + "'/Ti:.
Tendo especificado como a economia opera e qual é o ob- Observe que a perda do banco central é negativamente relaci-
jetivo do hanco central. compararemos a política monetária por onada com a inflação inesperada (o segundo termo da equa-
regra fixa e discriciomíria. ção) e positivamente relacionada com a inflação efetiva (o
Primeiro, consideremos a política econômica sob uma re- terceiro termo). Para descobrir o nível de inflaçà~, que mini-
gra fixa. Uma regra compwmete o banco central com um ní- miza essa perda , diferencie em relação a 1T para obter

"O material deste apêndice foi extraído de Finn E. Kydland e Edward C. Prescott, "Rules Rather Than Oiscretion: The lnconsistency of Optimal Plans",Joumal of Political Economy
85 (junho de 1977: 47 3-492; e Robert J. Barro e David Gordon, "A Positive Theory ofMonetary Policy in a Natural Rate Model", ]oumal of Politiçal Economy 91 (agosto de
1983): 589-610
l 1

POLÍTICA OE ESTABILIZAÇÃO 277

dL/d1r = -a + Z-y1r. central não pode fazer com que agentes privados esperem uma
A perda é minimizada quando essa derivada é igual a zero. inflação zero.
Resolvendo para 1r, obtemos Suponha, por exemplo, que o banco central simplesmente
anuncie que seguirá uma política econômica de inflação zero.
1r = a/(2-y). Esse anúncio, por si só, não pode ser digno de crédito. Depois
Qualquer que seja o nível de inflação esperado pelos agentes que os agentes privados formaram suas expectativas de infla-
privados, esse é o nível de inflação "ideal" para o banco cen- ção zero, o banco central tem o incentivo de voltar atrás em
tral escolher. É claro que os agentes privados racionais com- seu anúncio, a fim de diminuir o desemprego. (Como acaba-
preendem o objetivo do banco central e as restrições que a curva mos de verificar, depois que as expectativas são determinadas,
de Phillips impõe . Por isso, esperam que o banco central esco- a política ideal do banco central é fixar a inflação em 'IT = a/
lha esse nível de inflação. A inflação esperada é igual à infla- (2-y ), independentemente de 1Tº.) Os agentes privados compre-
ção efetiva [1r< = .,,. = a/(Z.y )J e o desemprego é igual à taxa endem o incentivo para voltar atrás, e por isso não acreditam
natural (u = u"). no anúncio no primeiro momento.
Agora, compare o resultado da política econômica discrici- Essa teoria de política monetária tem um importante
onária ideal com fi resultado da política econômica com regra corolário. Em uma circunstância, o banco central com política
ideal. Nos dois casos, o desemprego está em sua taxa natmal. econômica discricionária alcança o mesmo resultado que o
Mas a política econtnnica discricionária pm\·oca mais inflação hanco central comprometido com uma regra fixa de inflação
do que a política econômica com regra. Portanto, política eco- zero. Se o hanco central detesta a inflação muito mais do que
nômica discricionária ideal é pior do que a política econômica com detesta o desemprego (de tal modo que 'Y é muito grande), a
regra ideal. Isso é verdade mesmo que o banco central, através inflação sob a política econômica discricionária é quase zero,
da política econômica disc riciomiria, esti\'esse tentando mini- porque o banco central tem pouco incentivo para aumentar a
mizar sua perda, L(u, 'TT). inflação. Essa descoberta proporciona alguma orientação para
Pode parecer estranho, a princípio, que o banco central aqueles que têm a incumbência de indicar os dirigentes do ban-
possa alcançar um resultado melhor por se comprometer com co central. Uma alternativa para se impor uma regra fixa é esco-
uma regra fixa. Por que o banco central com política econô - lher alguém que tenha profunda aversão à inflação.Talvez seja
mica di~cricionária não pode imitar o banco central compro - por isso que até mesmo políticos liberais (Jimmy Carter, Bill
metido com uma regra de inflação zero? A resposta é que o Clinton), mais preocupados com o desemprego do que com a
banco central está empenhado em um jogo com agentes pri- inflação, às vezes indicam conservadores para o comando do
vadús que têm expectativas racionais. A menos que esteja Federal Reserve (Paul Volcker, Alan Greenspan), que estão
comprometido com uma regra fixa de inflação zero, o hanco mais preocupados com a inflação.

MAIS PROBLEMAS E APLICAÇOES


1. Na década de 1970, nos fatadns Unidos, a taxa de inflação e a n1xa L{u, 1r) = u: + -y-rr 2.
narurnl de desemrrego suhiram. Usaretmis esse modelo de inconsis- S iga passos se melhantes aos que foram desenvolvidos no texto
tência temporal para examinar o ienõmen o. Suponha que a rolíri- para resolver a taxa de inflação sob política econômica disc ricio-
ca econômica seja discriciomíria. n,íria.
a. No modelo mi como foi de,envnlvido aré aqui, o que acL1ntece e. Agora, o que acontece com a taxa de inflação quando a rnxa
com a taxa Je intlaçiin quand,1 a raxa natural de desemprego nmural de desemprego sobe?
illltnenta? d. Em 1979, o presidente Jimmy Carcer escolheu o cunservaJor
h. Vamús a,c:orn mudar um ruucú o modeln, suro nJu que a fun- Paul Volcker para dirigir o Federal Reserve. Segundo esse mo-
ção ele rerd,1 do hancn central sej,i quadnitic1, tantll n.1 infla- delo, o que deveria ter acontecido com a inflaçãLl e o desem-
ção quanto no desempregll. Ou seja, prego?
pz

Capítulo 15

DíVIDA DO GOVERNO

Bem-aventurados os jovens, pois herdanio a clivida nacional.


- ffrrh:n Houver

Quando um governo gasta mais do que arrecada em impos- orçamentários das décadas de 1980 e 1990 figuram entre os
tos, toma emprestado do setor privado para financiar o dé- piores erros de política econômica desde a Grande Depres-
ficit nacional. A acumulação de empréstimos do passado é são. Outros, no entanto, acham que a importância dos défi-
a dívida do governo. O debate sobre o montante apropria- cits é mínima. Este capítulo analisa os vários aspectos do
do de dívida do governo nos Estados Unidos é tão antigo debate.
quanto o próprio país. Alexander Hamilton achava que "uma Começamos pela análise dos números. A Seção 15-1 exa-
dívida nacional, se não for excessiva, será para nós uma bên- mina o tamanho da dívida do governo dos Estados Unidos,
ção nacional". James Madison, por sua vez, argumentava que em comparação com a dívida de outros países e com a dívi-
"uma dívida pública é uma praga pública". Com efeito, a lo- da que o país teve no passado. Também faz. uma breve ava-
calização da capital nacional foi escolhida como parte de um liação sobre o que o futuro pode reservar. A Seção 15-2 dis-
acordo em que o governo federal assumiu as dívidas doses- cute por que mensurar as variações da dívida do governo não
tados na guerra da Revolução Norte-Americana: como os es- é tão simples e cão objetivo quanto possa parecer. Com efei-
tados do Norte dos EUA tinham dívidas maiores, a capital to, alguns economistas argumentam que as medidas tradici-
·1 ·;;
ficou no Su 1. onais são tão enganadoras que devem ser completamente
Embora tenha aumentado e diminuído ao longo dos anos, ignoradas.
a atenção para a dívida do governo foi especialmente in- Depois, estudamos como a dívida do governo afeta a eco-
tensa durante as duas últimas décadas do século XX. Co- nomia . A Seção 15-3 descreve a visão tradicional da dívida
meçando no início da década de 1980, o governo federal do governo , segundo a qual ao governo tomar emprestado,
dos Estados Unidos passou a ter enormes déficits orçamen- reduz a poupança nacional e desloca a acumulação de capi-
tários, em parte por causa do aumento dos gastos, em parte tal. Essa abordagem é aceita pela maioria dos economistas, e
por causa da redução de impostos . Em conseqüênci a, a dí- tem sido implícita na análise da política fiscal ao longo deste
vida do governo, expressa como percentual do PIB, dobrou livro. A Seção 15-4 trata de uma abordagem alternativa, cha-
de aproximadamente 26% em 1980 para 50% em 1995 . Ao mada de equivalência ricardiana, defendida por uma pequena
final da década de 1990, o déficit orçamentário estava ou- mas influente minoria de economistas. Segundo a abordagem
tra vez sob controle, e passou a haver até um superávit or- ricardiana, a dívida do governo não influencia a poupança
çamentário . Depois, os formuladores de política econômi- nacional e a acumulação de capital. Como veremos, o debate
ca passaram a tratar da questão da rapidez com que a dívida entre a abordagem tradicional e a ricardiana sobre a dívida
deve ser paga. do governo surge de divergências quanto à maneira como os
O grande aumento da dívida do governo norte-america - consumidores reagem à política econômica relativa à dívida
no de 1980 a 1995 não tem precedentes na história do país. do governo.
A dívida do governo, na maioria das ocasiões, cresce em pe- A Seção 15-5 trata dos outros aspectos do debate sobre a
ríodos de guerra ou depressão; os Estados Unidos, porém, não dívida do governo. Começa por examinar se o governo deve
experimentaram nem uma coisa nem outra durante esse pe- tentar sempre equilibrar seu orçamento; se não, quando um
ríodo. Não surpreende que o episódio tenha desencadeado déficit ou superávit orçamentário é desejável. Também es-
renovado interesse entre os economistas e os formuladores tuda os efeitos da dívida do governo na política monetária,
de política econômica sobre os efeitos econômicos da dívi - no processo político, e o papel de um país na economia mun-
da do governo. Alguns consideram que os grandes déficits dial.
~
l
1
DIVIDA DO GOVERNO 279

15-1 O TAMANHO DA DÍVIDA DO GOVERNO


Comecemos por uma perspectiva da dívida do governo. Em 2001, Em termos históricos, a principal causa de aumentos na dí-
a dívida do governo federal dos Estados Unidos era de $3,2 vida do governo são as guerras. A proporção entre dívida e PIB
trilhões. Se dividirmos esse número por 276 milhões, que é o aumenta de maneira brusca durante as guerras, e cai lentamente
número de habitantes dos Estados Unidos, descobriremos que a em tempos de paz. Muitos economistas acham que esse padrão
parcela de cada pessoa da dívida do governo era de cerca de histórico é a maneira apropriada de administrar a política fis-
$11.600. Obviamente, não se trata de um número trivial - cal. Como analisaremos mais plenamente neste capítulo, o fi-
poucas pessoas podem abrir mão de $11.600. Mas, se comparar- nanciamento de guerras por meio de déficit público parece
mos essa dívida com aproximadamente $1 milhão que uma pes- ótimo, uma vez que propicia a estabilidade da arrecadação tri-
soa típica vai ganhar ao longo de sua vida produtiva, a dívida do butária e a eqüidade entre gerações. Um exemplo de um gran-
governo não parece tão catastrófica quanto às vezes se imagina. de aumento da dívida do governo em tempo de paz ocorreu
Uma maneira de julgar o tamanho da dívida de um gover-
durante a década de 1980 e início da década de 1990, quando
no é compará-la com a dívida que outros países acumularam.
o governo federal dos Estados Unidos teve déficits orçamentá-
A Tabela 15-1 mostra a dívida do governo de 19 países impor-
rios substanciais. Muitos economistas criticaram esse aumento
tantes, expressa como percentual do PIB de cada país. No topo
da lista, estão países hast<inte endividados, como Japão e itá- da dívida do goYerno, alegando que ela impunha um ônus às
lia, que acumularam uma dívida que supera o PIB anual. No gerações futuras sem justificati\'a.
fim, estão Noruega e Austrália, que acumularam dívidas rela- Em meados da década de 1990, o governo federal dos Es-
tivamente pequenas. Os Estados Unidos situam -se na faixa tados Unidos começou a controlar o déficit orçamentário.
intermediária. Pelos padrões internacionais, o governo norte- Uma combinação de aumento de impostos, cortes de gastos e
americano não é muito pródigo nem muito frugal. rápido crescimentl, econômico fez com que a razão entre a
Ao longo da história dos Estados Unidos, a dívida do governo dív ida e o PIB se estabilizasse, para depois declinar. A expe-
federal variou de maneira substancial. A Fig. 15-1 mostra a pro- riência recente tem levado alguns observadores a pensar que
porção entre a dídda federal e o PIB desde 1791. A dívida do a explosão da dívida do governo é coisa do passado. Mas, como
governo, relativa ao tamanho da economia, varia de quase zero sugere o próximo estudo de caso, o pior ainda pode estar por
na década de 1830 ao máximo de 107% do PlB em 1945. acontecer.

TABELA 15-1 Em Quanto os Governos do Mundo Estão Endividados?


Dívida do Governo como Dívida do Governo como
País Percentual do PIB País Percentual do PIB
Japão 119 Irlanda 54
Itália 108 Espanha 53
Bélgica 105 Finlândia 51
Canadá 101 Suécia 49
Grécia 100 Alemanha 46
Dinamarca 67 Áustria 40
Reino Unido 64 Holanda 27
Estados Unidos 62 Austrália 26
França 58 Noruega 24
Portugal 55

Fonte: Economic Outlook, da OCDE. Os dados baseiam-se em esti.mati'las de dMda bruta do go'lerno e no PIB de 2001 .
F

280 CAPITULO 1S

Razão entre
Dívida e PIB 1,2

Segunda Guerra Mundial

0 ,8

Guerra da
0,6 Revolução Norte-
Americana Primeira
Guerra
0,4 Mundial

0,2

l: 1811 1831 1851 1871 1891 1911 1931 1951 1971 1991 2001
: 1' Ano
1: :
... Fig. 15-1 A Razão entre a Dívida do Governo e o PIB desde 1790 A dívida do governo federal dos Estados Un idos em poder do público,
l ,
relativa ao tamanho da economia norte-americana, aumenta bruscamente durante as guerras e declina devagar em tempos de paz. A exceção é o
período desde 1980, quando a razão entre dívida e PIB aumentou sem a ocorrência de um grande conflito militar.
Fonce.· U. S. Department of Treasury. U. S Department of Commerce e T. S. Berry. "Prnduct1on and Pôpulation Since 1789", Bostwick Paper No. 6, Richmond, 1988.

rr•J
• •• q

r .:.. ESTUDO DE CASO


,, . ,.
• ,,:
1-.,·:.: o FUTURO FISCAL: BOAS E MÁS NOTÍCIAS qualquer mudança da política econômica, a dívida do governo
:: :·: O que o futuro reserva para os formuladores de política fiscaU seria saldada até 2008.
A previsão econômica está longe de ser precisa, e é fácil ser Esses superávits tinham origem em várias fontes . George
cético em relação aos prognósticos. Mas não é possível promo- Bush, o pai, assinara um aumento de impostos em 1990, en-
ver uma boa política econômica se seus formuladores apenas quanto Bill Clinton sancionara outro em 1993. Por causa des-
olham para trás. Em conseqüência, os economistas no CBO ses aumentos de impostos, a receita fiscal federal, como
(Congressional Budget Office*) e em outros órgãos do gover- percentual do PlB, alcançou seu nível mais elevado desde a
,.,.
\

no norte-americano estão sempre tentando prever o futuro para Segunda Guerra Mundial. Depois, no final da década de 1990,
determinar quais problemas e quais oportunidades podem se a produtividade se acelerou, provavelmente por causa dos avan-
desenvolver. ços da tecnologia da informação. O intenso cresc imento da
Quando George W. Bush entrou na Casa Branca, em 2001, renda levou a um aumento da receita fiscal. o que fez com que
o cenário fiscal que o governo dos Estados Unidos tinha pela o orçamento do governo federal passasse de déficit para supe-
frente era ambíguo. Em particular, dependia da maneira como rávit.
se considerava o futuro. Houve um debate sobre a maneira de reagir ao superávit
Em um horizonte de dez a vinte anos, as perspectivas pare- orçamentário. O governo podia usar os grandes superávits pro-
ciam favoráveis. O governo federal dos Estados Unidos admi- jetados para pagar a dívida, aumentar seus gastos, cortar im-
nistrava um grande superávit orçamentário. Como percentual postas, ou alguma combinação dessas possibilidades. O novo
do PlB, o superávit projetado para ZOO 1 era o maior desde 1948. presidente republicano, George W. Bush, propôs um corte de
Além disso, esperava-se que o superávit crescesse ainda mais impostos de $1,6 trilhão ao longo de 10 anos, cerca de um
com o passar do tempo. O superávit era tão grande que, sem quarto dos superávits projetados. Os democratas no Congresso

•Departamento do Congresso dos Esrndos Unidos responsáYel pelo orçamento do governo daquele país. (N.T. )
1 DÍVIDA DO GOVERNO 281

defendiam uma redução fiscal menor e um aumento dos gas- Segundo o CBO, se não houver mudanças da política fiscal, a
tos do governo. O resultado final foi uma lei de compromis- dívida do governo como percentual do PIB começará a subir
so, que cortou impostos, embora menos do que Bush defen- por volta de 2030, e alcançará o auge histórico por volta de
dia. 2060. A essa altura, o orçamento do governo vai escapar ao
Enquanto o horizonte de 10 an os parecia favorável, o pa- concrole, 1
norama fiscal em um prazo mais longo era mais inquietante. O É claro que todas as previsões econômicas devem ser consi-
problema é demográfico. Os avanços da tecnologia médica têm deradas com algum ceticismo, ainda mais as que tentam proje-
aumentado a expectativa de vida, enquanto melhoras das téc- tar o que vai acontecer com meio século de antecedência. Os
nicas de controle da natalidade e mudanças das normas sociais choques econômicos podem alterar a receita e a despesa do
reduziram o número de filhos que as pessoas têm. Por causa governo. Por exemplo, apenas meses depois de assumir a presi-
desses desenvolvimentos, os idosos estão se tomando uma par- dência dos Estados Unidos, George W. Bush viu o panorama
cela cada vez maior da população. Em 1990, havia 21 idosos fiscal começar a mudar. Primeiro, o declínio da atividade eco-
para cada 100 pessoas em idade produtiva (dos 20 aos 64 anos); n ômica em 2001 reduziu a receita fiscal. Depois, os ataques
as projeções são de que esse número vai aumentar para 36 até terroristas em setembro de 2001 induziram a um aumento dos
o ano 2030. Essa mudança demográfica tem profundas impli- gastos do governo. Os dois desenvolvimentos reduziram os
rnções para a política fiscal. Cerca de um terçn do orçamento supenívits do governo projetados ao final do mandato. Quan-
do gl1\'ernl) federal dos Estados Unidos é rese1 ·;1do às aposen- do a edição miginal deste li\'ro esta\'a prestes a ser impressa,
tadorias, pensões e cuidados de sa úde para os id()sos. Quanto hada considerável incerteza quanto aos futuros gastos do go-
mais pessoas fa:em jus a esses "direitos". como são às vezes cha- n~rnn e quanto à taxa de avanço tecnológico, dois determinan-
mados, mais aumenta automaticamente o gasto do governo at) tes fundamentais da situação fiscal.
longo do tempo, empurrando n orçamenw parn o déficit. Uma coisa, no entanto, é evidente: os idosos estão se tor-
A magnitude dessc1s pressões nrçarnent,'írias foi documenta- nando uma parcela cada vez maior da população, e esse fato
J,
o
da em um relatório do CBO, di\'l1lgado em outuhrn de 2000. moldados desafios fücais nas décadas futuras.

15-2 PROBLEMAS DE MEDIÇAO


l O déficit nrçament,friu dn ,gm·erno é igu.1 l ,1u gasrn do gover- O déficit orçamentário tal crnm1 costuma ser medido, nl"i
no menus a receita , o que, por sua ,·e:, iguala a quantidade de entanto, não corrige a inflação. Para entender como é grande
nn,·a dh·ida que u gon·rrn1 precisa emirir para financiar suas o errn a que isso indu:, reflita sohre o exemplo a seguir. Supo-
operações. Essa defini ção pode parecer hastante si mples, mas nha que a díYida real do governo não varia; em outras palavras,
e
na ,·erdade rn dehates s,,hre pnlítica fiscal decorrem da ma- o orçamento est,'í equilihrado em termos reais. Nesse caso, a
neira como o déficit orçament,frin de\'e ser mensurado. Al- dídda nominal deve estar suhindo à taxa dc1 inflação. Ou seja,
guns econnmisras acham que n déficit, tal como é mensurado
o
atualmente, não constitui um l,nm indiec1dor d,1 posição da .l.D/D = 1r,
a
política fiscal. O u seja, eles acham que o déficit orçamentá- em que 1T é a taxa de inflação e D é o \'o lume de dídda do go-
),
rio não avalia com precisão n impacto da política fiscal na ,·erno. Issn implica que
econ,)tnia de hnje . ou o ônus que é lançado para as futuras
a gerações de contrihuintes. Nesta seção, discutiremos t.J.Uatrn
e prç1hlemas da mensuração que se costuma fo:er do déficit nr- O gc)\'erno consideraria a variação da dívida nominal ~D , e
çament,fri,1. relataria um déficit orçamentário de 1rD. Por isso, a maioria dos
.t
economistas acha que o déficit orçamentário relatado é exage-
PRIMEIRO PROBLEMA DE MEDIÇÃO: rad,) no montante 1rD.
Podemos apresentar o mesmo argumento de outra maneira.
INFLAÇÃO O déficit é o gasto do governo menos a receita do governo. Parte
o
e A menos cuntn)Yersa das questões de medição é a correçao da do gasto é constituída pelos juros pagos sobre a dívida do go-
n inflação. Quase todos os economistas estão de acordo em que verno. O gasto deve incluir apenas os juros reais pagos sobre a
o a dívida do governo deve ser medida em termos reais, não em dívida rD, não os juros nominais pagos iD. Corno a diferença
termos nominais. O déficit medido deve ser igual à variação entre a taxa de juros nominal i e a taxa de juros reais ré a taxa
da dívida real do governo, não à variação da dívida nominal. de inflação ,r , o déficit orçamentário é exagerado em ,rD.

:congressional Budget Office, The Lonp;-Term Budger Outlook, 2000.


282 CAPITULO 15

Essa correção da inflação pode ser grande, ainda mais quan- Os economistas e os fromuladores de política econômica
do a inflação é alta; e pode também, com bastante freqüência, divergem quanto ao uso, ou não, pelo governo do orçamento
mudar nossa avaliação da política fiscal. Por exemplo, em 1979 de capital. (Muitos governos estaduais norte-americanos já 0
o governo federal norte-americano informou um déficit orça- utilizam.) Os que se opõem ao orçamento de capital argumen-
mentário de $28 bilhões. A inflação foi de 8,6%, e a dívida do tam que o sistema, embora superior em princípio ao sistema
governo em poder do público no início do ano ( excluindo-se o atual, é difícil de implementar na prática. Os defensores do
Federal Reserve) era de $495 bilhões. O déficit, portanto, era orçamento de capital argumentam que até mesmo um tratamen-
exagerado em to imperfeito dos ativos de capital é melhor do que ignorá-los
por completo.
1rD = 0,086 X $495 bilhões
= $43 bilhões.
Corrigido pela inflação, o deficit orçamentário informado de TERCEIRO PROBLEMA DE MEDIÇÃO:
$28 hilhões se transforma em um superávic orçamentário de $15 PASSIVOS NÃO-CONTABILIZADOS
bilhões! Em outras palavras: embora a dívida nominal do go-
Alguns economistas argumentam que o déficit orçamentário
verno estivesse aumentando, a dÍ\·ida real do governo diminuía.
medido é enganador porque exclui alguns importantes passi-
vos do governo. Pense, por exemplo, nas aposentadorias dos
SEGUNDO PROBLEMA DE MEDIÇÃO: funcionários públicos. Esses trabalhadores prestam serviços ao
governo hoje, mas parte de sua remuneração é transferida para
Anvos DE CAPITAL o futuro. Em essência, esses trabalhadores estão fazendo um
Muitos economistas acham que uma avaliação acurada do défi- empréstimo ao governo. Seus futuros benefícios representam
cit orçamentário do governo exige a contahilização também dos um passivl) do governo, não muito diferente da dívida do go-
ativos do governo, não apenas dos passivos. Em particular, quan- verno. Contudo, esse passivo não é incluído como parte da
do medimos o déficit geral do governo, devemos subtrair os ati- dívida do governo; e a acumulação desse passivo não é incluí-
vos da dí\'ida. Portanw, o déficit orçamentário deve ser medi- da como parte do déficit orçamentário. Segundo algumas esti-
do como a variação da dívida menos a variação dos ativos. mativas, esse passivo implícito é quase tão grande quanto a
É verdade que as pessoas e as empresas tratam de ativo e dívida oficial do governo.
passivo de maneira simétrica. Quando uma pessoa roma em- De modo semelhante, reflita sobre o plano de Seguridade
prestado para comprar uma casa, não di::emos que ela está in- Social. Sob alguns aspectos, o sistema é como um plano de
correndo em um déficit orçamentário. Em vez disso, contraha - aposentadoria. As pessoas pagam uma parte de seus rendimen-
lançamos o aumento no ativo (a casa) com o aumento na dívi- tos ao sistema quando jovens, esperandü receber benefícios
da (a hipoteca), e registrnmos que não houve mudança na ri- quando envelhecerem. Talvez os futuros benefícios acumula-
queza líquida. Tal\'ez de\'êssemos tratar as fmanças do gover- dos da Seguridade Social devam ser incluídos no passivo do
no da mesma maneira. governo. As estimativas sugerem que o passivo futuro do go-
Um procedimento de orçamento que leva em consideração verno com a Seguridade Social (menos os futuros impostos da
o ativo, assim como o passivo, é chamado de orçamento de Seguridade Social) é três vezes maior que a dívida oficialmen-
capital porque contahiliza as variações do capital. Suponha, por te medida do governo.
exemplo , que o governo venda um de seus prédios de escritóri- Pode-se argumentar que as responsabilidades da Seguridade
os, ou uma parte de seus terrenos, usando o que recebeu para Social são diferentes da dívida do governo, porque o governo
diminuir sua dÍ\·ida. Pelos atuais procedimentos orçamentári- cem a capacidade de mudar as leis que determinam os benefí-
os, o déficit relatado seria menor. Pelo orçamento de capital, a cios. Em princípio, porém, o governo sempre pode optar por
receita recebida na venda não diminuiria o déficit, porque a não pagar rodas as suas dívidas: o governo só paga suas dívidas
redução da dívida seria contrabalançada por uma redução do porque optou por assim fazer. As promessas de pagar os porta-
ativo. De maneira semelhante, pelo orçamento de capital, o dores da dívida do governo pode não ser fundamentalmente di-
governo tomar emprestado para financiar a aquisição de um ference das promessas de pagar os futuros beneficiários da
hem de capital não aumentaria o déficit. Seguridade Social.
A maior dificuldade com o orçamento de capital é o fato de Um meio hastante difícil de medir é o passivo de contingên-
ser difícil determinar quais gastos do governo devem ser cia, aquele que só é devido se ocorrer um evento especial. Por
contabilizados ccimo gastos em capital. Por exemplo, o sistema exemplo, o governo garante muitas formas de crédito privado,
de rodovias interestaduais deve ser contabilizado como um ativo como empréstimos estudantis, hipotecas para famílias de ren-
do governo? Em caso positivo, qual é o seu valor? E o que dizer da baixa e média, depósitos em bancos e em instituições de
do arsenal de armas nucleares? O gasto com educação deve ser poupança e de empréstimo. Se o tomador paga o empréstimo,
tratado como um gasto em capital humano? Essas questões di- o governo nada paga; se o tomador é inadimplente, o governo
fíceis devem ser respondidas se o governo quiser adotar um efetua o pagamento em seu lugar. Quando oferece essa garan-
orçamento de capital. tia, o governo assume um passivo de contingência provenien-
T ÜÍVIDA DO GOVERNO 283

,ica te da inadimplência do devedor. Esse passivo de contingência, ficit orçamentário de pleno emprego). O déficit ciclicamente ajus-
nto no entanto, não se reflete no déficit orçamentário, em parte tado baseia-se em estimativas de quais seriam o gasto e a recei-
áo porque não está definido o valor monetário que se possa deter- ta fiscal do governo se a economia estivesse operando à sua taxa
en- minar. natural de produto e emprego. O déficit de ajuste cíclico é uma
ma medida útil, porque reflete as mudanças de política fiscal, mas
do não o estágio atual do ciclo econômico.
QUARTO PROBLEMA DE MEDIÇÃO:
en-
·los o CICLO ECONÔMICO RESUMINDO
Muitas variações do déficit orçamentário do governo ocorrem
automaticamente em reação a uma economia flutuante. Por Os economistas divergem na importância que atribuem a esses
exemplo, quando a economia entra em recessão, os rendimen- problemas de medição. Alguns acham que os problemas são tão
tos caem; com isso, as pessoas pagam menos imposto de renda. graves que o déficit orçamentário medido é quase sem sentido.
Os lucros caem; por isso, as empresas pagam menos imposto de A maioria leva muito a sério esses problemas de medição, mas
renda. Mais pessoas passam a ter direito à ajuda do governo, ainda assim considera que o déficit orçamentário medido é um
rio
como assistência social e seguro-desemprego, o que faz com que indicador útil da política fiscal.
;si-
fos o gasto do governo aumente. Mesmo sem qualquer mudança A lição indiscutível é que, para avaliar plenamente o que a
das leis que regem a trihutação e o gasto, o déficit orçament,í- política fiscal está fazendo, ns economistas e os formuladores
ao
ara rio aumenta. de política econômica devem verificar mais do que apenas o
JIU Essas variações auromáticas do déficit não são erros de medi- déficit orçamentário medido. Na verdade, é o que acontece. Os
3ffi ção, porque o governo realmente toma mais emprestado quan- documentos orçamentários preparados todos os anos pelo Office
do uma depressão reduz a receita fiscal e aumenta o gasto gover- of Management and Budget* contêm muitas informações de-
~o--
da namental. Mas essas variações tomam mais difícil a utilização talhadas sohre âs finanças do governo, inclusive dados sobre
uí- do déficit para monitoração das mudanças da política fiscal. Ou gastos em capital e programas de crédito.
;ti- seja, o déficit pode aumentar ou cair porque o governo mudou a Nenhuma estatística econômica é perfeita. Sempre que ve-
)a política fiscal, ou porque a economia mudou de direção. Para mos um número noticiado na mídia, precisamus saher o que se
alguns propósitos, seria bom saber o que esrj ocorrendo. trata de uma medição e o que está deixando de fora. Isso acon-
.de Para resolver esse problema, o governo calcula um déficit tece em particular com os dados sobre a dÍ\·ida do governo e o
de orçamentário ciclicamente ajustado (às vezes chamado de dé- déficit orçamentário.
:n-
los
la- F.STUDO DE CAS()
do
:o- CONTABILIDADE INTERGERACIONAL mos a política fiscal, portanto, não devemos nos preocupar com
da Um crítico rigoroso das atuais medidas do déficit nrçament,i- impostos ou gastos em qualquer ano isolado. Em vez disso, de-
n- rio é o economista Laurence Korlikoff. Ele argumenta 4ue o vemos examinar os lmpostns pagos e as transferências recehi-
déficit orçament,frio é como o imperador famoso que não usa- das pelas pessoas ao longo da vida inteira. A conrahilidade
de va roupas: todos vêem claramente o problema, mas ninguém intergeracional mede o impacrn da política focal nos rendimen-
:10 está disposto a admiti-lo. Kotlikoff escreYe: "Nn nível concei- tos permanentes de diferentes geraçôes.
fí- tuai, o déficit orçament,irio é um conceito falido, em termos A cnntahilidade intergeracional conta uma história muito
0[ intelectuais. Em nível prático, há tantos déficits ofici.,lis que u diference da 4ue encontramos fil) déficit orçamentário sobre a
'orçamento equilihrado' perdeu rodo e 4ualquer significado." política fiscal dos Estados Unidos. No começo da década de
las
·a- Kotlikoff considera 4ue há uma "necessidade urgente de troCir 1980, o governo norte-americano cortou impostos, iniciando
uma forma superada, enganadora e fundamentalmente não- um longo período de grandes déficits orçamentários. A maio-
H-
econômica de medida de política fiscal, ou seja, o déficit orça- ria dos comentaristas alega que as geraçôes mais velhas bene-
3a
mentário, por uma contabilidade intergerac1onal". ficiaram-se à custa das gerações mais novas durante esse perío-
A contahilidade intergeracional, o novo meio de Kotlikoff do, porque os jovens herdaram a dívida do governo. Kotlikoff
n-
para avaliar a influência da política fiscal, baseia-se na idéia de admite que esses cortes fiscais aumentaram o ônus dos jovens,
or
que o bem-estar econômico de uma pessoa depende de sua renda mas argumenta que essa análise padronizada ignora o impacto
o,
durante a vida. (Essa idéia está fundamentada na teoria do de muitas outras mudanças da política fiscal. Sua contabilida-
n-
comportamento do consumidor durante o ciclo de vida de de intergeracional mostra que os jovens foram atingidos com
:le
Modigliani, que examinaremos no Cap. 16.) Quando avalia- um impacto ainda maior durante as décadas de 1950, 1960 e
o,
10
n-
:i- *Órgão do governo dos Estados Unidos responsável pelo orçamento. (N. Rev. Téc.)
284 CAPÍTl1LO 15

1970. Durante esses anos, o governo norte-americano aumen- Apesar da argumentação de Kodikoff, é pouco provável que
tou os benefícios da Seguridade Social para os idosos e finan- a contabilidade intergeracional substitua o déficit orçamentá-
ciou o gasto maior por meio da tributação sobre as pessoas em rio. Esse sistema alternativo também tem defeitos. Por exem.
idade economicamente ativa. Essa política redistribuiu a ren- pio, para calcular o ônus fiscal total sobre diferentes gerações,
da tirando dos mais jovens, mesmo que isso não tenha afetado é preciso estabelecer pressupostos sobre a política futura, o que
o déficit orçamentário. Durante a década de 1980, as reformas é passível de contestação . Não obstante, a contabilidade
da Seguridade Social im·erterarn essa tendência, beneficiando intergeracion a l oferece uma perspectiva útil no debate sobre
as gerações mais mwas. política fiscal.'
' - - - -- - -- - - ··- - - · - - - ________ __ _______ ..

15-3 A VISÃO TRADICIONAL DA DÍVIDA DO GOVERNO


Imagine que ,·ocê é um economista yue traba lha para n ,misrn da curva de demanda agregada. No curto prazo, quando
Congressional Budget Office (CBOl. \lrlcê recehe uma carta us preços são rígidos, a expansão da dema nda agregada leva a
dll presidente do Cnmite eh: lln.;;mwmu cl, 1 Sernidn : um prudtltll m ai,lr e desemprego menor. Ao longu do tempo, à
rneciida que ,1::: preç,ls se ajustam, ,1 eco11L)mi.1 rerorn,1 ;í. taxa na-
Pre:aJl1 Ec,,11<nnisrn ,1,, Cfü ): rural ,le pwdurn; e a dt'tnandn agregaJa maiur resulta em um
O C,ingr1cs,u e:;n\ pre,re, ,1 pPnckr:H ><>br,· ,, 1'e,li cl,1 J,, Prc,i- ní,· e l de preçli, mainr.
denre de cnrt;l r t,,du., ,,, imp,,.,n» em 20'\, . .'\n r,·, ,lc ckci,lir se· Parn entender cllmn u comércio in t ernacinnal afeta sua
endl,ss,11nc1s c1 r,·clid,, , m,·u c,,mirt· g,1,t;lri:1 ,k ílT ,ua ,m,i li,v. \'is-
lumhrnmns ruuc1 rn,,ihi lidack ,k rt·clu :ir ,, _g;l:-fl' dll gll\'C'!"l1ll.
,in;1lise, ,·ucê recorre ,lll,
modelos de ecurwmia aberra ana-
l badlls nus Caps, 5 e 12. O nwdeln , ·isto nu Car. 5 mostra
A,, im , n CLlrrt' fi~c:11 signitiGiri.1 um a1 1111c'nt,, ,1,, cl0tk ir , >ri,·,111wn-
que as pesM1, tS, quando a pnupança nacional d ecl ina, come-
t,1nn. C llmLl o curte fi,c ,1! L' , , ,l0t'ic it , >J\;ll1ll'll t; in,, ,1t'cr;iri,n11 ;1 L'L'< ,.
nn1nin ~ u h~n1-cstar ec~ 1nl}1nicl1 i..l{1 p;1í:,;~ çam a financí:ir ín1·esrimentl1s tmnando empr6t imo n o ex-
Aten(i l ):-.:11nentt\ tc riur, u que acarreta um déficit na h,l lança comercia l. Em-
1 ,.
l'rL·,i,kml' J,, \. :, •mirê· h,ir,1 u tluxu líq ukh1 de entrada de G1pital elo e xterior dimi-
nua" efeiro Lhi mudanç :1 da pulíric.1 fbcal suhe a acumula-
Antes de respo nder an .,cn.1d1>r. \' ll(C· .1 br,· SL'U m:mu:il ,k çã" de capital nus Esrndns Unidos, ,l país torna-se endivi-
economia rredileto - e,tt' , l' i:hirn - J'.lL1 , ·l'ritk ;ir ,1 c]llt' ,,, clad" c'm relaç ih, ,l nutr,is p.ibes . .A. mudança da p,1lírica fis-
mndelos rre\"i': t'tn r :1 r:1 uma r:il rnucLmç.1 d;1 !'•>lfti c;i t'i,c:1 1. c,11 r,1m hc\ m caus,1;11·alori:ação du cll'íbr, u que tnrna ,is bens
1, 1 ·: ~

Parn analis,1r us efeirns dessn mud:in ç;1 cli: p, ,Jíric:1 tisc:tl nn cx tn1ll1S mai s har,n us nos E,rad,1s Unidos e os hens inter-
::·:·r·
longo pra: o, Yncê c,)nsult:111, m,,dd"s LJUL' :111,il is,1 m, 1, n, \S C;1ps. nos m:li s canis nll exti:rinr . O mndclu Mundell -Fleming, que
1,1, . 'la 8. O mndelu estud:1d11 nn C:1p. ) m , 1,t r:1 qu ,· um Cl,rtt' tbc,il , ·imos n u Ca 1,. 12, mnsrra que ;1 ,·aluri:,,ção du dólar e a
estimula o gast,1 du ninsumiclur t ' rL·-lu: ,1 ]'' ill)',mç:1rn1Ci1111;1!. qu e Lb resulLmte d as explwtaç,"'>es líqui,bs reduze m o impacto
A reduçãu da pnUJ'd nç.1 n1m1ent.1 :1 r.1x ,1 ,k jun 1,,, 1q t1e ,leslnc1 exp:msi o nista de currn pra:o da mu Llança fiscal so bre a pro-
1,,1 ,

:·r:· o Ín\'CStimentn. O mnddll de cre,cimL'nt, 1 dt' S, ilu11·, :1 1' 1Tsen- duç;'tll e ll c'mprego.
tado nu C a p. i, mostra qut.' ,, in 1·esr imcntt 1 111 ,1i,; h:iix, i en:ntu- Com meios esses m,1del,ls cm menre . nicê cscre1·e suares-
:r.:: alme nte le,·a ,1 um e,tnqu e c:1pir,1l ele L',Wdll e,racilln :í ri,, me- 1'' 1sr:1:
nor e a um nín:I menPr ,le pr"du t, ,. Um.1 ,·e: L[Ut.' cllncluímo,
no Cap . 8 que a cc,1t1L1tni,1 du, E,tadu, Unid, 1, tem tnL'J"\(l~ c:1- l"rc,hl,, s~n;1,l, ,r:
pital Lfo que nn t.',t;1,k1 esrnciun.ín,1 ela Rl·.era ,le l1urn (u e~t.1- Um c,mc focal financi.1,l,, f'llT ro m,1,b, ck cmpréstim,1 d,, gu-
dL) estaci,)n,írill com ,1 m;íxim,, ,k c, msum"), 11 quecLi ,ln c ciri - 1·cm,1 tL"ri ,1 muir, is et'ciro., n,1 eu,nomia . O imp;1ctt1 imedi.iro do
u,rre fr,c,11 scri-,1 estim ula r,, .~a,to du c,,n,unlidrn. O .~asw maior
tal de estado estaciunárill ,ignifici menus c ,111sum,1 L' rc,l uç:iP
, j,, (1ll1, UI11Ídor atc'Ll il l'CllI1tHUt;l, nu CllrTll e nn iong,1 rrn:us,
dn hem -estar econt1m ÍC\ 1.
N,1 cu rl'l1 l'r.l:c>. "gasto m;li o r chi cun,umid,,r aumentaria a
Para a nalisar l \ S efeirn, da m ucb n ç,1 ,k pnlíric:1 fbc:1L nu ,lc·m,incLi l''LH ht·n, e ,er\'i,;o,. ass im ele\·andn n prudutn e l) em·
e uno prazo ,·ocê recorre ao mndeln !S-L\ 1. 11(), C;1ps. 1(' e 11. pre_gll. A;; taxas de jurns raml:iérn subiriam, no en tanto , j,í yue os
Esse modelo mostra que um curre t i.,c1 l esrimuh ll g;t,tl1 du inl't·,ricl,,rc, teriam de cnrnpNir plir um tluxu menm de po upan-
consumidor, o que implica um desl, lc1menro expaminnista d,1 ç,1. As t,1x as de jums maiores dese,timuh1riam n investimento e
curva IS. Se não há qualquer mud,mça da 11olítica m unetMia, ince11ti1·,1ri ,1m ;10 fluxo d e capital d,1 exteriur. O dólar aumenta·
o deslocamento da cur\'a IS le\'a a um de;;lncnnento expnnsi- ria d e valor em relaçi"ío às müedas estrangeiras. e as empresas düs

:Laurence J. Kndiknff, Genernriunnl Acc1J1mm1~: 1':1M,m;i \\"ho r,I\·.,. ,md \\;"he11. Jrir \'Cha1 \l;'e S11e11d \N1l\':1 Y11rk: The Frt·e Pre,s. 1992). Pare\ um,l al'aliaçJ" d,, lirni, ,·ej a David
M. Cutler. Book Re,·iell', Nmiona/ TaxJ01m1'1I 'i6 \m.1rç11 de 199, ): 61-67. Veja r,m1hém ",imrósin s11hre contahiliJade intergeracinm,l na ediçào dn inverno de 1994 do ] oumal
of Economic Perspecriws .
DÍV IDA DO GOVERNO 285

e Estados Unidos se tom ariam menos compe t itivas nos me rcados O senador replica:
internacionais.
N o longo prazo, a poupança nacional menor causada pelo cor- Pre2ado Econ omista do CBO:
te fi scal significaria um estoque de capital menor e uma dívida Obrigado por sua carta. Suas observações fazem sentido para
;, mim. Mas ontem meu comitê ouv iu o depoimento de uma proe-
exte rna maior. Portanto, o produto do país se ri a menor, e uma
e parcela maior do produto seria devida a estrangeiros. minente economista, que se declarou "ricardiana", e que chegou a
e É difícil julga r o efe ito ge ral d o co rte fi scal n ü bem-es rnr uma conclusão mui to diferente. Ela disse que o corte fiscal. por sí
e da economin. As at uai s gerações se beneficiariam de c,.m sumn sô, não estimularia,> gasw do consumidor. Concluiu que, por isso,
maior e de emprego maior, mesmo que a inflaçãu rambém pu - n déficit m çamentário n J1) sofreria rodos os eteitos que você rela-
J ci,,m,u. O que est:i acontecendo?
desse ser m,lior . As geraçôes fumras arca ria m co m gra nd e par-
te do ô nus d os défi c its ,nça ment,í riLJs de hoj e: n ascer iam em Atenciosamente,
um país co m um esrnque d e capira l men o r e uma clí\·kb ex te r- Preside nte do Comitê
n a maior.
Depo is d e esrud ar a próxi m a seção, você escreve de novo
Seu fid , er,·idnr. parn o senadnr, explicamh, em deta lhes o debate sobre a equi-
J Ewnnmisrn dn CBO ,·alência ricardüma.
a
à
,.
Ll 15-4 A VISAO RICARDIANA DA DIVIDA DO GOVERNO
A , ·isào tradi c inna l da d fr ida do gon:rn,i ~'n:-ssup,"ie que us cnn - l'nde-se cnn, iderar esse argumento de o utra maneira. S upo-
a sumidores, q uandn ,1 gnvernt1 redu: tis impos tos e assum e um nh.1 qu t' " [!tl\Trnu t,1me e mprestados $ 1.000 d o cidadão típi-
défici t t1rçament,í rin, reagt' lll ,, seus rendimenrn, mnh1res, ele- co, par.i uincl'd e r ;t esse cidad iio um corte fisca l d e $1.000. Em
a pois de dedu:idns ns impnsrns. gastando m :m. U m ,1 ,· is,ill :1!- esst'nci.1. L'Ss:1 r,o lít ica t·cun i'1 mica é o mesmo que dar ao cida-
ternari\·a, chamada de equivalência ricardiana, qu t:'sti,111:1 ,·sse dãt1 11111 títu lu ,ln .l!11,·ern,1 d e$ l.000 como presente. Um lado
pressupusrt1. Sl'gundo ,1 , ·is;in ric nrdi.1t1,1, us c,111,umiJorc.s sfüi d, 1 ríntl,, di:: ··l) g, i\·ern,i dL·,·e ,Kl purtador deste título $1.000
pre \'idt•ntl'S e, l'"r i,s,1, haseia m seus gasr,is nàu apcn:is 11,1 rt: n - m ,Hs juru,." l) ,n 1m, lacl,i Ji:: "Você, contribuinte, deve ao
da ,ituaL mas ramhé m n :1 renda c,pcrnd .i n,i furun1. C "n111 ,·L·- .l!1n·nn" S i .l'C'li nui, jurn,." Nu rot,il , .,1 presente d e um título
remtis cm ma is det,1 1!1l'.S nu Cap. L6, o u1nsum i,h ir prt'\·ide nt e ,lc) g,)q' JT\ti p,ir,1 u c i,l;1dii,1 típic o n ãu torna esse cidadão m a is
est,i nn e~sênc ia ck muit,ls m odnn .is ft',1ri,1s Sllhre , , con,unu 1. rico ,1 u 111.ti, l'' 'l'rt'. p, ,rqut' o ,·alm dn títuln é contrabalançado
A \·isfü1ric ardi:m ,, da dh·id,1 d,l gt1Yern t1 ap li c 1,1 l,\:ic1 cl1) c,,n- p e lti \ ,1 l, 1r d,1 ,1h-i.g;11,'. àti fi scal ti.c t ura.
0

sumíd u r preYidL'nTL' p,1rn an,1li,.ir us efe irus Lb t'n líric,1 fi,c:11. () p rinc:Íi'i,, gcr:11 L; que a dÍ\· ida d11 ~C?'"~ r_t_l':? é eq uiva lente
e ,H1, impll,ttis ft-;tt n-os t', ,l' 11, cnn, umid o res são bastante preví -
d cntL':<., ,s in1p, ,.sr,,., futuni., ,.'iu equ h·a lente, at1s i;11postos cor-
a A LóGICA BÁSICA DA EQUIVALÊNCIA
) n.'ntL'S . P, lrtan t, ,. fi11,11K i,ir,, gr>,·erno com dívida é eq~i~;al;-;{_
RICARDIANA r·L;-;-i tin,1ric i:í-l. 1 nnn impu,r.1s. Essa visão é chamada cte equit1a-
Pense na re ,1ç ,it1 ,ll' um Clln su mi,h>r rre,· idcntl' ,1n e, 1rr L' ti,c,I J~i 11cc,1 ricorclit1nn. cll't1lll\lÍll,lÇ:'i1) de,·ida ,10 fo1ntis,i eêon,1misc-ãJZi
qu e t> C,1rnirê Lle 0 1-.;amL·ntu ,ltl ~cnad,l est,í c,n1s idvr:111d11. (: .:'~-~u !1; xr:: n1,·1_c1 FZ ka rdtJ, que foi u rrimeiro ª rra ~1~ J~ ;~-
ct ms11midt 1r r,),k r;ic i, ,ci11,1r ,Li SL'g uinrc m,nwir,1 : nwnr11 r,',íri c:1,.
· A im 1, Iic::1t),, cL1 cqu 1\·,110nc i,\ ricardiana é que um corte fís -
() ~, l\·en1t l l':;r;l C\ ,rranlh, in1J'< ,:-;h ,:,; ~L·n1 pbnt•~ p;ira rt•Ju:i r t 1 ~eu ga~l' t l. ~·,dti11:í11ci:ÍLk1 l~' ,r clh·ida de ix,1 n Cl1nsunm inalterado. As fa-
E.,,il pt ,l ít it:a <'ê< ,ni•mir ,1 altL·r,1111,·u ê11nj u1m, Jc , 'I" ,rruni,l.1,k,/ E.-1, ,1 L mílias 1'1,ur; 1m ,1 rL' n, l.t disp,iníYel extra para paga r a ohrig;°âção
)
n1ais rict , pnr c1usa llessc Ct1rrc fiscal? l)en1 l.·t111:--t11ni r lllili~ .> H~ê;il fuiL1r.1 q ue ,, corte fo.,c.,l acarrêr:l-:- Esse ,ltunento d~-poü~
r Tah·t': n,i,,. Cl g<1\·,·rn,, l',t:í fin,HKi ,m ,!1> " ( 1>lTl' fi ,cil ê< m1 11m 1:;-:lt1ça pl:l\.,l,b e-, ;mp~·nsa ex;it,;m e11té ~1decrésc imo d a poupa~!
J~tkir llíÇ:llnl' nr,íri<,. Em algum lll<H11L'nh, n,, turun,,,, g,,n·m,, tL·r,í pLIT>fic.:i. A p,iu p:111ç;1 11,1C i,1na l - a soma da p o upanç a púhlíci1
a de :1ument:1r im p,,,r,,, rarn l'ªf.!ilr ,1 ,lh·icb t' 11, jurll,, ,1Cm1ntla,lo,.
com :.1...1',1~,:mç;1 rr i,·ad,1 - p erma nece a mesma. O corte fis-
P11r iss1 l, ,1 p, ll íriêa na n: rda,le rq,resen ra um corrt' fbc1l hllj l', qul'
c~ie:·p,1rr-.111tt1, n;\tl te l11 L]Ua lque~ LiOS efe-itOS q~1e;-,~-n á lise tràdi-
se r:í :K<>mpa nh,1Li11 de um .unn<:nr,, dt· imp,i.stn, nu futuru. () c,,rre
fbc.11 s,'> mt' l'n>purci, ma uma rt'n,b tr;msit,'ina que, e,·en tu almen- L'. it1t1.Jl p re,·ê. ·
re, st:r.Í tunw,h1 ,le n1lta. Sen,lo ,issirn, n fü l es tou em situaç;i1l me - .A hSgirn--;'.la cqu irnlênc ia ricardiana não significa que todas
lh llr, e 1m1merei "cpnsum,1 inalteraclu. as mud,mç:is da ptllític,1 fiscal são irrele,·anres. As mudanças
d ,1 plll írica fisctl influenc iam n g,1st o do consumidor se influ-
O consum idor pre,·iden te compreende que u fato d e ti gt1,·e r- enciarem as comrras do governo. presentes nu futuras. Supo-
n o to mar e mprestado h o je \·a i significar impostos maiores n o nha , ror exet'nplo, que o gove rno corte impostos hoje porque
futuro. Um corte fiscal financiado pela dív ida do governo n ão planeja reduzir as compras do gove rno no futuro. Se o consu-
reduz o ônus fiscal; apen as promove um reescalonamento. Por- midor emende que esse corte fi scal não ex ige um aumento de
tanto, n ão deve estimular o con sumidor a gastar mais. impostos futuros, sente-se mais rico e aumenta seu consumo.
286 CAPÍTULO 15

Observe, porém, que é a redução das compras do governo, em ração as mudanças futuras dos impostos e~idas~olíti-
vez da redução dos impostos, que estimula o consumo: o anún- ~-ás· ;é;n·ô~ic~s át~ai~ do governo: u~-~ort~ fiscal fin~n~-
cio de uma redução futura das compras do governo aumentaria dõ-por dívida lev<1rá essa pessCJa.,_~--~cr~ditar qu~ .s~a_~enda
o consumo hoje, mesmo que os impostos atuais permaneces- pen:naneni:"e aumentou, mesmo que isso não tenha ocorct'd;'
sem inalterados, porque implicaria tributos mais baixos em al- ô corte tÍscal~ portat~to-, levari(a um consumo maiÕr- é a·umã
gum momento no futuro. P.~~p~~ç~ ~a~ionai'menor. · --· ·· ·· ·· · ·· -· · · · ·-

Restrições de Empréstimo A visão ricardiana da dívida


CONSUMIDORES E IMPOSTOS FUTUROS do governo pressupõe que os consumidores baseiam seu gasto
A essência da visão ricardiana é que as pessoas, quando optam não apenas na renda atual, mas também na renda permanen-
por consumir, avaliam racionalmente os impostos futuros, im- te, que inclui tanto a renda atual quanto a renda esperada no
plícitos na dívida do governo. Mas até que ponto os consumi- futuro . Segundo a visão ricardiana, um corte fiscal financia-
dores são previdentes? Os defensores da visão tradicional da do por dívida aumenta a renda atual, mas não altera a renda
dívida do governo acreditam que a perspectiva de impostos n em o consumo permanente . Os defensores da visão tradici-
futuros não tem uma influência tão grande no consumo atual, onal da dívida do governo argumentam que a renda atual é
como pressupõe a \·isão ricardiana. Aqui estão alguns de seus mais importante do que a renda permanente para os consu-
,1rgumenros.' midores que enfrentam restrições compulsórias de emprésti-
mo. Uma restrição de empréstimo é um limite sobre quanto uma
Miopia O s defensores da visão ricardiana de política fiscal pessoa pode tomar emprestado de bancos ou de outras insti-
:1 : '.
, 1, ., pressupõem que as pessoas são racionais qÜ-anêlotomáiucteci- tuições financeiras.
Pl : • sões come) a parcelá da renda· que podem consumir e a parcela Uma pessoa que deseje consumir mais do que permite sua
......
.J . que devem pol__lp,1r. Quando l)J~~?::e!r:1~:!~:.mª .~~~_:;_tado 12arà renda atual - talvez porque espera uma renda maior no fu-
pagar o gasto atual, os consumidores racionais projetmn os turo - sô precisa tornar emprestado. Se não pode tomar em-
impostos futuros necessários para sustentar essa dh:ida. Àssi;~~ ·· prestado para financiar o consumo atual, ou se só pode to-
a Yisão ricm·diana pressupõe que as pessoas têm considerá\·el mar emprestada uma quantia limitada, .a renda atual deter-
Cúnhecimento e 1:1::_evidência. -. mina li gasto, independentemente de qual possa ser a renda
l... .....
u,•·1·
Um argumento possível em favor da visão tradicio11al dos permanente. Nesse caso, um corte fiscal financiado pela

:.1 ::..
cortes fiscais é qt~~ as pess9~s~~~-_l~Í_l~f'es_, ta!_y_ez porg~e ~-~o dí,·ida aumenta a renda atual e, em conseqüência, o consu-
compreendam plenamente as implicações dos déficits nrça- mo, mesmo que ,1 renda futura seja mais baixa. Em suma,
ment,frios do gO\·erno. É possí\:el que algw,:i.asii~s-~-,;-ii_g..'~ . ~ quando corta os impostos atuais e aumenta os impostos fu-
regras práticas, _simples e não muito rac ionais ao decidirei~ turos, o governo está concedendo um empréstimo aos con-
sohre quanto poupar. Suponha, por exemplo, que uma pes- tribuintes. Para uma pessoa que queria obter um emprésti-
,1 ! ,.
soa aja na- suposiçjo de que os impostos futu;os serão iguai; mo, mas era incapaz de fazê-lo, o corte fiscal amplia as opor-
'.1ºs impostos_<_1tu,~is. ~ss_a r.e.s,soa deixar,'Í de levar ern. c~msiª~-:. tunid,1des e e~timula o consumo.

"•
1,I ',

,. .
• .• .. 1·
i - -- ·- ESTUDO DL C/\S()
0 EXPERIMENTO DE RETENÇÃO NA FONTE, Que efeitli se poderia prever para essa política? Segundo a
DE GEORGE BUSH lógica da equi\'alência ricardiana, os consumidores deveriam
No início de 1992, o presidente George Bush adotou uma po- compreender que os recursos permanentes continuavam
lítica nova para lidar com a recessão persistente dos Estados inalrerados, e por isso poupariam a parte extra do salário recebi-
Unidos. Por decreto executh·o, haixnu o montante de reten- do, a fün de cohrir a ohrigação fiscal iminente. George Bush, no
ção na fonte do imposto de renda dos trahalhadores. A ordem entantn, alegou que sua medida proporcionaria "dinheiro que as
nãu reduzia o montante de imposto de renda deYido pelo pessoas poderão usar para ajudar a pagar vestuário, educação ou
trabalhador; apenas adiava o pagamento. O salário maior que a compra de um carro novo". Ou seja, ele estava convencido de
os trabalhadores levavam para casa, durante 1992, seria con- que ns consumidores gastariam a renda extra, estimulando assim
trabalançado pelo pagamento maior de imposto - ou por de- a demanda agregada e ajudando a economia a se recuperar da
volução menor - quando o imposto de renda se tornasse de- recessão. Bush parecia pressupor que os consumidores eram mí-
vido, em abril de 1993. opes, ou tinham restrições de empréstimo compulsórias.

'Para um levantamento do debate sobre a equivalência ricardiana, veja Douglas Bemheim, "Ricardian Equivalence: An Evaluation ofTheory and Evidence", NBER Macroeco-
nomics Annual (1 98 7): 263-303. Veja também o simpósio sohre déficits orçamentários na edição de rrimavera de 1989 do]oumal of Economic Perspectivas .

1
DÍVIDA DO GOVERNO 287

ti- É difícil avaliar os efeitos concretos dessa política econô- inverter o efeito do decreto executivo de Bush. Quarenta e
.a- mica com os dados agregados, porque muitas outras coisas três por cento disseram que gastariam a renda extra. Assim,
da ocorriam na mesma ocasião. Contudo, há algumas evidênci- frente a essa mudança de política econômica, uma maioria da
lô: as, de um levantamento feito por dois economistas pouco população planejava agir de acordo com os postulados da te-
na depois que a medida foi anunciada. Os pesquisadores pergun- oria ricardiana. Seja como for, em parte Bush estava certo:
tavam às pessoas o que fariam com a renda extra. Cinqüenta muitas pessoas planejavam gastar a renda extra, mesmo que
e sete por cento dos pesquisados disseram que a poupariam, entendessem que a conta do imposto de renda no ano seguinte
da usariam para pagar dívidas, ou ajustariam sua retenção para seria mais alta. 4
to
n-
10
a- Gerações Futuras Além da miopia e das restrições de em- ansiosas por aproveitar a oportunidade de consumir à custa
da préstimo, um terceiro argumento em favor da visão tradicio- dos filhos.
: i- nal da dívida do governo é que os consumidores esperam que Segundo a análise de Barro, a unidade relevante na tomada
lé os impostos futuros implícitos recaiam não apenas súhre eles, de decisão não é o indivíduo, cuja vida é finita, mas a família,
u- mas também sohre as gerações futuras. Suponha, por exemplo, que continua para sempre. Em outras palavras, um indivíduo
ti- que o governo corte impostos hoje, emita títulos de 30 anos para decide quanto consumir com hase não apenas em sua própria
na financiar o déficit orçamentário e, depois de 30 anos, aumente renda, mas também na renda de futuros membros de sua famí-
ti- os impostos para pagar o empréstimo. Nesse caso, a dívida do lia. Um corte fiscal financiado por dívida pode aumentar a renda
governo representa uma transferência de riqueza da próxima que o indivíduo recebe durante a vida, mas não aumenta os
ua geração de contrihuintes (que vai enfrentar o aumento de im- recursos gerais da família. Em vez de consumir a renda extra do
u- postos) para a atual geração de contrihuintes (que obtém o corte corte fiscal, o indivíduo a poupa, deixando-a corno herança para
n- fiscal) . Essa transferência aumenta os recursos permanentes da os filhos, que assumirão a futura ohrigação fiscal.
0-
geração atual, e com isso aumenta seu consumo. Em suma, um Podemos perceher agora que o debate sohre a dívida do go-
:r- corte fiscal financiado por dívida estimula o consumo, porque verno é, na verdade, um debate sobre o comportamento do con-
da concede à atual geração a oportunidade de consumir, à custa sumidor. A visão ricardiana pressupõe que os consumidores têm
:la da próxima geração. um longo horizonte de tempo. A análise que Barro faz da famí-
u-
O economista Rohert Barro apresentou uma réplica há- lia indica que o horizonte de tempo do consumidor, assim como
La,
bil a esse argumento, apoiando a visão ricardiana . Barro ar- o do governo, é de fato infinito. Contudo, é possível que os con-
u-
gumenta que , como as gerações futuras são os filhos e tietos sumidores não levem em conta as obrigações fiscais das gera-
n-
da geração atual, não devem ser vistas como agentes econô- ções futuras. Talvez esperem que se us filhos sejam mais ricos
micos independentes. Em vez disso, alega ele, o pressuposto do que eles são, e por isso aproveitam a oportunidade de con-
ti-
)I•
adequado é que as gerações atuais importam -se com as gera- sumir à custa dos filhos. O fato de que muiras pessoas deixam
ções futuras. Esse altruísmo entre as gerações é evidenciado heranças mínimas - ou nenhuma - para os filhos é coerente
pelos presentes que muitas pessoas dão aos filhos, C<,)m fre- com essa hipótese. Para essas famílias com herança zero, um
qüência em forma de herança por ocasião de suas mortes. A corte fiscal financiado pela dÍ\·ida altera o consumo ao
existência de herança sugere que muitas pessoas não estão redistribuir a riqueza entre as gerações. 5
1
ia
1m ESTUDO DE CASO
.m
)i- POR QUE OS PAIS DEIXAM HERANÇA? Um grupo de economistas sugeriu que os pais usam a herança
O dehate sohre a equivalência ricardiana é em parte um de- como um meio de controlar os filhos. Muitas vezes, os pais
:10
bate sohre a maneira como as diferentes gerações estão li- querem que os filhos façam determinadas coisas por eles, como
as
ou gadas umas às outras . A defesa da visão ricardian a por telefonar para casa regularmente e visitá-los nos feriados . Tal-
de Rohert Barro haseia-se no pressuposto de que os pais dei- vez os pais usem a ameaça implícita da deserdação para induzir
ltn xam herança para os filhos porque se importam com eles. os filhos a serem mais atenciosos.
da Mas o altruísmo é mesmo o motivó pelo qual os pais dei- A fim de testar esse "motivo de herança estratégica", os econo-
1í- xam herança? mistas examinaram os dados sobre a freqüência com que os filhos

'Marchew D. Shapim e Joel Slemrod, "Consumer Response to rhe Timing of lncome: Evidence From a Change in Tax Wirhholding", American Economic Re11ieu• 85 (março de
:co- 1995 ): 274-283.
;Robert J. Barro, "Are Government Bonds Net Wealth'",]oumal of Political Economy 81 (1974): 1095-1 117.
288 CAP!TULO 15

visitam os pais. Descobriram que, quanto mais ricos os pais, mais da, como a aposentadoria que reverte para o fundo financeiro torn
1
freqüentes são as visitaS dos filhos. Houve outro resultado ainda mais a morte do beneficiado, não estimula os filhos a visitarem os pais.
impressionante: só a riqueza que pode ser deixada como herança Essas constatações sugerem que pode haver mais coisa nos relacio,
induz a visitas mais freqüentes. A riqueza que não pode ser herda- namentos entre as gerações do que o mero altruísmo.6

FAZENDO UMA ÜPÇÃO A política fiscal estimulará o consumo, como sustenta a visão
tradicional? Ou os consumidores compreenderão que sua ren-
Depois de tomar conhecimento das visões tradicional e da permanente está inalterada, e por isso contrabalançam 0
ricardiana sobre a dívida do governo, você deve fazer dois gru- déficit orçamentário com uma poupança privada maior?
pos de perguntas. Segundo, por que você apóia uma determinada posição? Se
Primeiro, com que visão você concorda? Se o governo cor- concorda com a visão tradicional da dívida do governo, qual é
ta impostos h oje, assume um déficit orçamérltário e aumenta o motivo? Os consumidores deixam de compreender que em-
impos tos no futuro, como a política fiscal afetará a economia? préstimos maiores do governo hoje significam impostos maio-

SAIBA MA.Is
Ricardo sobre a Equivalência Ricardiana
David Ricardo foi um corretor de títulos milionário e um 1.000 libras. Ele precisaria ter uma vaga noção de que 50 libras
dos maiores economistas de todos os tempos. Sua contribui- por ano seriam pagas pela posteridade, n ão por ele; mas se ele
ção mais irctportante foi o livro Principies of Political Economy deixa a fortuna para o filh o, e a deixa onerada com esse impos-
and Taxation, de 181 7, em que desenvolveu a teoria da van- rn perpétuo, onde está a diferença se ele deixar 20.000 libras
com o imposro ou 19.000 libras sem o imposto?
,- tagem comparativa, que os economistas ainda usam para
14, ,

explicar os ganhos do comércio internacional. Ricardo foi Embora considerasse equivalentes esses métodos alternati-
,_,
,_ também membro do Parlamento britânico, onde pôs em vos de finanças do governo, Ricardo achava que outras pes-
"
1~ • prática suas teorias. Opôs-se às leis do trigo, que restringi- soas não pensariam da mesma maneira:
am o comércio internacional de grãos.
Ricardo interessava-se por meios alternativos pelos quais As pe~oas que pagam impostos [.. .) não aJministrarn suas ques-
o governo poderia pagar seus gastos. Em artigo publicado em tões particulares de acordo. Somos propensos a pensar que a
1820, intitulado Essay on the Fundíng System, ele teceu con - guerra ~ onerosa apenas n,i proporçãt) em que somos chama-
siderações sobre o exemplo de uma guerra que custa 20 mi- dos, no momento, a financiá-la por meio dos impostos, sem
lhões de libras. Observou que, se a taxa de juros fosse de 5%, refletir sobre a prod vel J uraçi\o desses imp()5tus.
a despe~a poderia ser financiada com um imposto único de
Portanto, Ricardo duvidava de que as pessoas fossem racio-
20 milhões de libras, um imposto perpétuo de l milhão de
n ais e previdentes o bastante para projetarem as futuras
libras ou um imposto de 1,2 milhão de libras durante 45 anos.
obrigações fiscais .
Ele escreveu:
Como formulador de política econômica, Ricardo leva-
Em termos de ecunomia, não há diferença real entre as dife- va a sério a dívida do governo. Certa ocasião, ele declarou
rentes maneiras pois 20 milhões de libras em um ún ico paga- no Parlamento britânico:
mento , 1 milhão de libras por ano para sempre, ou 1.200.000
libras durante 45 anos dão exatamente o mesmo valor. Este se ria o país mais feli~ do mundo, com um progresso e pros-
peridade além dos poderes da imaginação para conceber, se nos
Ricardo tinha consciência de que a questão envolvia o vín.- livrássemos de dois grandes males: a dív ida nacional e as leis
culo entre as gerações: do trigo.

Seria difícil convencer um homem que possuísse 20.000 libras , É uma das grandes ironias da história do pensamento eco-
ou qualquer outra soma, de que um pagamento perpétuo de 50 nômico o fato de que Ricardo rejeitasse a teoria que hoje
libras por ano seria tão oneroso quanto um único imposto de tem o seu nome.

' B. Douglas Bemheim, Andrei Shleifer e Lawrence H. Surnmers, "The Stratégic Bequest Motive", Journal of Polirical Economy 93 (1985 ): 104;. J076 .
DIVIDA DO GOVERNO 289

>m res amanhã? Ou ignoram os impostos futuros, seja porque têm vemo. À primeira vista, esse episódio parece confirmar, de
tis. restrições de empréstimo, seja porque os impostos futuros re- maneira decisiva, a visão tradicional. Os grandes déficits orça-
io- cairão sobre as gerações futuras, com as quais não sentem qual- mentários coincidiram com baixa poupança nacional, eleva-
quer vínculo econômico? Se você apóia a visão ricardiana, acha das taxas de juros reais e um grande déficit na balança comer-
_J
que os consumidores são bastante previdentes para perceberem cial. Com efeito, os defensores da visão tradicional da dívida
que o empréstimo do governo hoje resultará em impostos futu- do governo costumam alegar que a experiência da década de
ros cobrados de seus descendentes? Você acredita que os con- 1980 confirma sua posição.
;ão sumidores pouparão a renda extra para contrabalançar a obri- Contudo, os que defendem a visão ricardiana da dívida do
:n- gação fiscal futura? governo interpretam esses eventos de maneira diferente. Tal-
1 O Podemos esperar que as evidências nos ajudem a decidir vez a poupança fosse baixa na década de 1980 porque as pes-
entre essas duas visões da dívida do governo. Mas, quando os soas sentiam-se otimistas quanto ao futuro crescimento eco-
Se economistas examinam episódios históricos de grandes déficits nômico, um otimismo que também refletia no mercado de
ti é orçamentários, as evidências não são conclusivas. A história ações em alta. Ou talvez a poupança fosse baixa porque as
m- pode ser interpretada de diferentes maneiras. pessoas esperavam que o corte fiscal levaria eventualmente
10- Reflita, por exemplo, sobre a experiência da década de 1980. não a impostos mais altos, mas sim, como Reagan prometia,
Os grandes déficits fiscais, causados em parte pelo corte fiscal a um gasto menor do governo. Como é difícil descartar qual -
promovido por Reagan em 1981, parecem oferecer um experi- quer dessas interpretações, persistem as duas visões da dívida
mento natural para se testarem as duas visões da dívida do go- do governo.

15-5 OUTRAS PERSPECTIVAS SOBRE A DÍVIDA DO GOVERNO


Os debates sohe a dívida do governo têm muitos aspectos. Até orçamento equilibrado exigiria que o governo aumentasse im-
aqui, examinamos as visões tradicional e ricardiana da dívida postos ou reduzisse o gasto em uma recessão, mas essas ações
dn g,werno. Segundo a visão tradicional, um déficit orçamen- diminuiriam ainda mais a demanda agregada.
trhio do governo expande a demanda agregada e estimula o
produto n o curto prazo , mas desloca o capital e reduz o Nivelação Fiscal Um déficit ou superávit orçamentário pode
crescimento econômicn no longo prazo. De acordo com a vi- ser usado para reduzir a distorção de incentivos causada pelo
são ricardiana, um déficit orçamentário do governo não tem sistema fiscal. Como você já deve ter aprendido nos cursos de
qualquer desses efeitos, porque os consumidores compreendem microeconomia, elevadas taxas de impostos impõem um custo
que um déficit orçamentário representa apenas o adiamento de à sociedade, desestimulando a atividade econômica. Um im-
um ônus fiscal. Com essas duas teorias ao fundo, considere agora posto sobre os ganhos do trabalho, por exemplo, reduz o incen-
nirias outras perspectivas sobre a dívida do governo. tivo para que as pessoas trabalhem por longas horas. Como esse
desincentivo toma-se bastante alto com elevadas taxas de im-
postos, o custo social total dos tributos é minimizado pela ma-
ÜRÇAMENTOS EQUILIBRADOS VERSUS
nutenção de taxas relativamente estáveis, em vez de serem al-
POLÍTICA FISCAL IDEAL tas em alguns anos, baixas em outros. Os economistas chamam
Nüs fatados Unidus. muitas constituições estaduais exigem que essa política de nivelação fiscal. Para manter as taxas fiscai s ni-
gm·er!1l>s estaduais tenham um orçamento equilibrado. Um tó- veladas, é necessário um déficit em anos de renda excepcional-
pico recorrente do derate político é se a Constituição federal mente baixa (recessões) ou de gasto excepcionalmente alto
.1
deYeria exigir tamrém um orçamento equilibrado para o go- (guerras).
verno federal. A maioria dos economistas se opõe a uma regra
rigorosa exigindo que o governo equilibre seu orçamento. Há Redistribuição lntergeracional Um déficit orçamentário
>S três motivos pelos quais a política fiscal ideal pode às vezes pode ser usado para transferir um ônus fiscal da geração atual
is implicar déficit ou superávit orçamentário. para as futuras gerações. Por exemplo, alguns economistas ar-
gumentam que, se a atual geração trava uma guerra para man-
Estabilização Um déficit ou superávit orçamentário pode ter a liberdade, as gerações futuras também se beneficiam, e
)-
ajudar a estabilizar a economia. Em suma, uma regra de orça- devem arcar com uma parte do ônus. Para passar adiante uma
e
mento equilibrado revogaria os poderes automáticos de estabi- parte dos custos da guerra, a atual geração pode financiar a
lização do sistema de impostos e transferências. Quando a eco- guerra com um déficit orçamentário. O governo pode mais tarde
nomia entra em recessão, há uma queda automática dos impos- reescalonar a dívida, cobrando impostos da próxima geração.
tos e um aumento automático das transferências. Embora aju- Essas considerações levam a maioria dos economistas a re-
dem a estabilizar a economia, essas reações automáticas tam- jeitar uma regra rigorosa de orçamento equilibrado. Uma regra
bém levam o orçamento para o déficit. Uma regra rigorosa de de política fiscal precisa, no mínimo, levar em consideração os
290 CAPÍTULO 15

episódios recorrentes, como recessões e guerras, durante os quais ro, e o mais importante de tudo, os formuladores de política
um déficit orçamentário é uma política econômica razoável econômica em todas as partes do governo sabem que a infla-
como resposta. ção é uma péssima solução para problemas fiscais.

EFEITOS FISCAIS NA POLÍTICA MONETÁRIA DÍVIDA E O PROCESSO POLITICO


Em 1985, Paul Volcker declarou ao Congresso norte-america- A política fiscal não é feita por anjos, mas por um processo
no que "o tamanho concreto e potencial do déficit orçamen- político imperfeito. Alguns economistas preocupam-se com que
tário [... ] aumenta o ceticismo quanto à nossa capacidade de a possibilidade de financiar o gasto do governo pela emissão de
controlar a oferta monetária e conter a inflação". Uma década dívida tome esse processo político ainda pior.
depois, Alan Greenspan alegou que "uma redução substancial Essa idéia tem uma longa história. O economista Knut
do déficit potencial de longo prazo dos Estados Unidos vai bai- Wicksell, do século XIX, alegou que, se o benefício de algum
xar de modo significativo as expectativas de inflação no longo tipo de gasto do governo superasse o custo, deveria ser possível
prazo". Esses dois presidentes do Fed aparentemente viam um financiar esse gasto de uma maneira que recebesse apoio unâ-
vínculo entre política fiscal e política monetária. nime dos eleitores. Concluiu que o gasto do governo só deve
Examinamos essa possibilidade pela primeira vez no Cap. 4. ser efetuado quando conta com apoio quase unânime. No caso
Como ressaltamos, uma maneira de um governo financiar um de financiamento de dívida, no entanto, Wicksell preocupa-
déficit orçamentário é simplesmente emitir moeda, política va-se com o fato de que "os interesses [dos futuros contribuin-
econômica que leva a uma inflação maior. Com efeito, quan- tes] não estão absolutamente representados, ou então são re-
l: .:
:.. i
do alguns países experimentam uma hiperinflação, a razão tí- presentados de maneira inadequada na assembléia que aprova
1 • pica é que os formu ladores de políticas fiscais estão contando os impostos".
, ,, .
J, com o tributo da inflação para pagar alguns dos seus gastos. O Muitos economistas voltaram a esse tema recentemente. Em
final da hiperinflação quase sempre coincide com uma refor- seu livro Democracy in Deficit, de 1977, James Buchanan e Ri-
ma fiscal, que corta grandes parcelas do gasto do governo, re- chard Wagner argumentaram em defesa de uma regra de polí-
duzindo assim a necessidade de senhoriagem. tica fiscal de orçamento equilibrado, sob a alegação de que "terá
li .: Além desse vínculo entre o déficit orçamentário e a infla- ó efeito de levar o custo real dos desembolsos públicos à cons-
Jf!• l ·
t . . .. . ção, alguns economistas sugerem que um alto nível de dívida ciência dos tomadores de decisões; e tenderá a dissipar os as-
pode também estimular o governo a criar inflação. Como a pectos ilusórios de 'alguma coisa por nada' da opção fiscal". De
? ::.. maior parte da dívida do governo é especificada em termos modo semelhante, Martin Feldstein (antigo crítico dos déficits
:: :.:t
nominais, o valor real da dívida cai quando o nível de preços orçamentários, que foi assessor econômico de Ronald Reagan)
sobe. Essa é a habitual redistribuição entre credores e devedo- argumenta que "somente 'a restrição orçamentária mais rigo-
res causada pela inflação inesperada: aqui, o devedor é o go- rosa' de ser obrigado a equilibrar o orçamento" pode forçar os
, ,1, ,
verno e o credor é o setor privado. Mas esse devedor, ao con- políticos a julgarem se "os benefícios do gasto realmente justi-
trário de outros, tem acesso à máquina de imprimir moeda. Um ficam o custo".
j • . ,,
alto nível de dívida pode estimular o governo a emitir moeda, Esses argumentos levaram alguns economistas a defende-
.1 .. . aumentando assim o nível de preços e reduzindo o valor real rem uma emenda constitucional que exigiria que o Congres-
....,, de suas dívidas . so norte-americano só aprovasse um orçamento equilibra-
Apesar dessas preocupações quanto a um possível vínculo do. Muitas vezes essas propostas contêm cláusulas de exce-
entre dívida do governo e política monetária, há poucas evi- ção para ocasiões de emergência nacional, tais como guer-
dências de que esse vínculo seja importante nos países mais ras e depressões, quando um déficit orçamentário é uma
desenvolvidos. Nos Estados Unidos, por exemplo, a inflação era política econômica razoável como reação . Alguns críticos
alta na década de 1970, embora a dívida do governo fosse bai- dessas propostas argumentam que, mesmo com as cláusulas
xa em relação ao PIB. Os formulad ores de políticas monetárias de exceção, tal emenda constitucional deixaria os formula-
puseram a inflação sob controle no início da década de 1980, dores de política econômica de mãos atadas. Outros alegam
no momento em que os formuladores de políticas fiscais assu- que o Congresso se esquivaria com facilidade às exigências
miam grandes déficits orçamentários e aumentavam a dívida de orçamento equilibrado, por meio de manobras contábeis.
do governo. Assim, embora a política monetária possa ser im- Como essa discussão deixa claro o debate sobre a conveni·
pulsionada pela política fiscal em algumas situações, tal como ência de uma emenda de orçamento equilibrado é tão polí-
ocorre durante um período de hiperinflação, essa situação pa- tico quanto econômico.
rece não ser a norma na maioria dos países hoje em dia. Há
vários motivos para isso. Primeiro, a maioria dos governos pode
DIMENSÕES INTERNACIONAIS
financiar o déficit vendendo a dívida e não precisando de de-
pender da senhoriagem. Segundo, os bancos centrais muitas A dívida do governo pode afetar o papel de um país na econo·
vezes têm independência suficiente para resistir às pressões mia mundial. Como já ressaltamos no Cap. 5, quando o déficit
políticas pela política monetária mais expansionista. Tercei- orçamentário de um governo reduz a poupança nacional, leva
DíVIDA DO GOVERNO 291

:a com freqüência a um déficit na balança comercial, o que, por colapso do valor da moeda e um aumento das taxas de juros.
a- sua vez, é financiado por empréstimos contraídos no exterior. Como mostramos no Cap. 12, foi exatamente isso o que acon-
Por exemplo, muitos observadores têm culpado a política fis- teceu no México, no início da década de 1990, quando a
cal norte-americana pela recente mudança da situação dos Es- inadimplência parecia provável.
tados Unidos, que passou de grande credor da economia mun- Segundo, altos níveis de dívida do governo, financiada por
dial para grande devedor. Esse vínculo entre déficit orçamen- empréstimos externos, podem reduzir a influência política de
,o tário e déficit da balança comercial leva a dois efeitos adicio- um país nas relações internacionais. Esse medo foi enfatizado
1e nais da dívida do governo. pelo economista Ben Friedman em seu livro Day of Reckoning,
ie Primeiro, níveis elevados de dívida do governo podem au- de 1988. Friedman escreveu: "O poder e a influência inter-
mentar o risco de que uma economia experimente fuga de ca- nacionais têm cabido, em termos históricos, aos países cre-
llt pital, um declínio abrupto da demanda pelos ativos de um país dores. Não é coincidência que a América tenha se destacado
m nos mercados financeiros internacionais. Os investidores in- como uma potência mundial na mesma ocasião da transição
el ternacionais estão conscientes de que um governo sempre pode de país devedor[ ... ] para a condição de país credor, fornecen-
â- lidar com sua dívida pelo recurso simples da inadimplência. Esse do capital de investimento para o resto do mundo." Friedman
,e método já é usado desde 1335, quando Eduardo III, rei da In- sugere que, se os Estados Unidos continuarem a incorrer em
,o glaterra, deixou de pagar suas dívidas aos banqueiros italianos. grandes déficits na balança comercial, acabarão perdendo
a- Mais recentemente, vários países latino-americanos tornaram- parte da sua influência internacional. Até agora, os registros
:1- se inadimplentes em sua dívida, na década de 1980. A Rússia não têm sido favoráveis a essa hipótese: os Estados Unidos
e- fez a mesma coisa em 1998. Quanto maior o nível de dívida do passaram por outra década de déficits comerciais, mas conti-
governo, maior a tentação de inadimplência. Assim, à medida nuam a ser uma superpotência, com um papel de liderança.
'ª que a dívida do governo aumenta, os investidores internacio- Mas outros eventos - como o colapso da União Soviética
m nais podem passar a temer a inadimplência, e corram os em- - talvez contrabalancem a queda da influência política que
.i- préstimos. Se essa perda de confiança ocorre de repente, o re- os Estados Unidos teriam experimentado por seu crescente
lí- sultado podem ser sintomas clássicos da fuga de capital: um endividamento.

.s-
s-
)e ESTUDO DE CASO - - - - - - - - - - - - - .
.ts
1) ÜS BENEFÍCIOS DE TÍTULOS INDEXADOS pecificados em termos nominais, os dois lados assumem um risco
:>- Em 1997, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos que não é produtivo nem necessário. Os novos títulos indexados
as começou a lançar títulos que pagam uma remuneração com base eliminam esse risco de inflação.
:i- no índice de preços ao consumidor. Esses títulos pagam uma Além disso, os novos títulos oferecem três outros benefícios:
taxa de juros baixa, de cerca de 3,5%; assim, um título de $1.000 Primeiro, os títulos podem estimular o setor privado a co-
e- rende apenas $35 ao ano de juros. Mas esse pagamento de ju- meçar a lançar seus próprios títulos indexados. A inovação fi-
s- ros cresce com o nível geral de preços, medido pelo IPC. Além nanceira, até certo ponto, é um bem público. Depois que uma
a- disso, quando o principal de $1.000 é pago, o montante é tam- inovação foi introduzida no mercado, a idéia torna-se não-ex-
e- bém reajustado pelas mudanças no IPC. A taxa de 3,5%, por- clusiva (não se pode impedir as pessoas de usá-la) e não-con-
r- tanto, é uma taxa de juros real. Os professores de macroecono- corrente (o uso da idéia por uma pessoa não diminui o uso dela
ia mia não precisam mais definir a taxa de juros real como uma por outras pessoas). Assim como um mercado livre não fornece-
JS idéia abstrata. Podem abrir o New Yark Times, apontar para o rá de maneira adequada os bens públicos da defesa nacional e
as registro de crédito e dizer: "Esta é uma taxa de juros nominal, e da pesquisa básica, também não suprirá de modo apropriado a
a- esta é uma taxa de juros real". (No Reino Unido e em vários inovação financeira. Os novos títulos do Tesouro podem ser
m outros países, há muito que os professores podem fazer isso , considerados uma solução para essa falha de mercado.
as porque os títulos indexados são negociados ali há anos.) Segundo, os títulos reduzem o incentivo do governo para
.s . É claro que não foi para facilitar o ensino da macroecono- produzir inflação de surpresa. Depois dos grandes déficits orça-
.i- mia que o Tesouro norte-americano resolveu indexar uma parte mentários das décadas de 1980 e 1990, o governo dos Estados
.í- da dívida do governo. Isso foi apenas uma conseqüência exter- Unidos é agora um devedor substancial. Suas dívidas são
na positiva. O objetivo era introduzir um novo tipo de título especificadas quase totalmente em termos de dólares. O que é
do governo que beneficiasse ao mesmo tempo o portador e o exclusivo do governo federal, em contraste com a maioria dos
contribuinte. Esses títulos constituem uma proposta de vanta- devedores, é a sua capacidade de poder imprimir a moeda de
gem para todos, pois isolam os dois lados da transação do risco que precisa. Quanto maiores as dívidas nominais do governo,
J- da inflação. Os portadores devem apreciar a taxa de juros real maior o seu incentivo para reduzi-las por meio da inflação. A
:it que ganham, enquanto os contribuintes devem apreciar a taxa troca do Tesouro para a dívida indexada reduz esse incentivo
'ª de juros real que pagam. Quando os títulos do governo são es- de potencial problemático.
292 CAPITULO l 5

Terceiro, os títulos proporcionam dados que podem ser úteis sura a inflação esperada como o diferencial entre os rendimen-
para a política monetária. Muitas teorias macroeconômicas tos da dívida nominal e os rendimentos da dívida indexada.
apontam para a inflação esperada como uma variável funda- Se a inflação esperada está acima da meta, o Banco Central
mental para explicar a relação entre inflação e desemprego. Mas reduz a oferta monetária. Se a inflação esperada está abaixo
qual é a inflação esperada? Uma maneira de medi-la é a pes- da meta, o Banco Central expande a oferta monetária. Dessa
quisa dos previsores privados. Outra maneira é verificar a dife- maneira, o Banco Central pode usar a previsão de inflação do
rença entre os rendimentos dos títulos nominais e os rendimen- mercado de títulos para garantir que a oferta monetária cres-
tos dos títulos reais. ça à taxa necessária para manter a inflação próxima da meta.
No passado, os economistas propuseram uma variedade de Os novos títulos indexados do Tesouro, portanto, provavel-
normas que poderiam ser usadas para conduzir a política mo- mente trarão muitos benefícios: menos risco de inflação, mais
netária, como mostramos no capítulo anterio.r. Os novos tí- inovação financeira, melhores incentivos para o governo, po-
tulos indexados expandem o número de regras possíveis. Aqui lítica monetária mais informada, e uma vida mais fácil para
está uma idéia: o Banco Central anuncia um objetivo para a professores e estudantes de macroeconomia.;
raxa de inflação. Depois, rodos os dias, o Banco Central men-

15-6 CONCLUSAO
,
:.'. !
.. .
;_;:.
A política fiscal e a dívida do governo são fundamentais no de- do George W. Bush entrou na Casa Branca, em 2001, o debate
bate político nos Estados Unidos. Quando Bill Clinton tomou- político foi sobre a rapidez com que o governo deveria pagar
,,,,
· , · s. se presidente, em 1993, fez com que a redução do déficit orça- suas dívidas.
.,,
, 1, tc " mentário fosse urna alta prioridade de sua administração. Quan- Este capítulo examinou algumas das questões econômicas
do os republicanos assumiram o controle do Congresso, em que se encontram por trás dessas decisões de política econômi-
1995, pressionaram por uma redução do déficit ainda mais rá- ca. C omo vimos, os economistas não conseguem chegar a um
pida do que Clinton propusera. Esses esforços conjuntos, com acordo total sohre a mensuração ou os efeitos da dívida do go-
1114 .t·· ·
!t1 .. ~ .•. alguma sorte para ajudar, levaram o orçamento do governo fe- verno. Diante da profunda importância do tema, parece não
deral de déficit para superávit ao final da década de 1990. Quan- haver muita dúvida de que o debate continuará por muitos anos.

1:: :r RESUMO
1· 1•1, ,.
11 .,1·, .. ,
1. A atual dívida do governo federal dos Estados Unidos é de 3. Segundo a visão tradicional da dívida do governo, um corte
. ......
H l, 11 , tamanho moderado, em comparação com a dívida de ou- fiscal financiado por dívida estimula o consumidor a gastar
1 , . ....
tros países, ou em comparação com a dívida que os Esta- e diminui a poupança nacional. Esse aumento do gasto do
dos Unidos j á tiveram ao longo de sua história. A década consumidor leva a uma demanda agregada maior e uma ren-
de 1980 e o início dos anos 1990 foram excepcionais, por- da maior no curto prazo, mas também leva a um estoque de
que a proporção da dívida em relação ao PIB aumentou, capital menor e a uma renda menqr no longo prazo.
embora fosse um período de paz e prosperidade. Desde
4, Segundo a visão ricardiana da dívida do governo, um corte
1995 , a proporção entre dívida e PIB tem declinado de
fiscal financiado por dívida não estimula o consumidor a
maneira substancial.
gastar, porque não aumenta os recursos gerais do consumi-
2. As medidas padrões do déficit orçamentário são medidas dor: apenas transfere o pagamentos de impostos do presen·
imperfeitas de política fiscal, porque não corrigem os efei- te para o futuro . O dehate enrre as visões tradicional e
tos da inflação, não compensam as variações do passivo do ricardiana da dívida do governo é, em última análise, um
governo com as variações de seu ativo, omitem por completo debate sobre a maneira como os consumidores se compor-
algumas obrigações e não corrigem os efeitos do ciclo eco- tam. Os consumidores são racionais ou míopes ? Enfrentam
nômico. restrições de empréstimo compulsórias ? Estão economica-

;Para saber mais sobre títulos indexados, veja John Y. Campbell e Robert ). Shiller, "A Scorecard for Jndexed Government Debt", NBER Macroeconomics Annual ( 1996): 155·
197; e David W. Wilcóx, "Policy Watch: The Incroduccion of lndexed Govemment Debt in the Unired States", The JouTTUll o/ Economic Perspecti~es 1Z(inverno de 1998): 219-
m.
DÍVIDA DO GOVERNO 293

mente ligados às gerações futuras por meio de heranças al- mentários podem estimular a expansão monetária excessi-
truístas? As visões dos economistas sobre a dívida do gover- va e, assim, levar a uma inflação maior. A possibilidade de
no dependem das respostas a essas perguntas. assumir déficits orçamentários pode estimular os políticos a
5. A maioria dos economistas se opõe a uma regra rigorosa que onerarem de maneira indevida as gerações futuras, ao de-
exija um orçamento equilibrado. Um déficit orçamentário terminarem os impostos e o gasto do governo. Um alto ní-
pode às vezes ser justificado pela necessidade de estabiliza- vel de dívida do governo pode acarretar o risco de fuga de
ção no curto prazo, nivelação fiscal ou redistribuição capital e diminuir a influência do país no mundo. Os eco-
intergeracional do ônus fiscal. nomistas divergem sobre quais desses efeitos consideram
6. A dívida do governo pode, em potencial, ter outros efeitos. mais importantes.
Uma grande dívida do governo ou grandes déficits orça-

CONCEITOS-CHAVE
Orçamenrn dt> capital Défic1t orçamentário ciclicamente ajustado Equivalência ricard iana

QUESTOES PARA REVISÃO


L O que fo i excepcional na política fiscal dos Estados Unidos de 1980 5. Segundo a visão ricardiana da dívida do governo, como um com~
a 1995?
fiscal financiado por dívida afeta a poupança pC1blica, a poupança
2. Por que muitus economistas projetam uma divida do govemu e défi- privada e a poupança nacional?
cits orçament:írios cada ve: maillres ao lllngo das próximas décadas? 6. Você acredita na visão tradicional ou na visiío ricardiana da dívi-
3. Descreva quatro prnblemas 4ue afetem a mensuração do déficit da do governo? Por quê?
orçame ntário do gnverno. 7. Dê três motivos pelos quais um déficit orçament,írio pnde ser uma
4. Segundo a vis.io tradicional da dí,·icla do governo, como u111 corte hoa opção de política econômica.
fiscal financiad,1 por dívida afern a poupança púhlica, a pourança 8. Pnr que o nível de dívida do governo afeta os incentivos do gover-
privada e a poupança nacional ? no em relação à emissão de moeda!

PROBLEMAS E APLICAÇOES
l. A 1º de abril de 1996. a rede dt! fast -frmd Taco Bell publicou um tanto o tributo quanto os benefícios. Para simplificar, pressuponha
anúncill de p;ígina inteira no Neu' York Times com o seguinte co- que o Congresso anuncie que os aumentús vão durar por um ano
municadtl: "Num esforço de ajudar a dívida nacional. a Taco Bel! apenas.
rema satisfação de anunciar que concordamos em ad4uirir o Liberry ,1. Cotno você supõe que essa mudança afetaria a economia? (Dica:
Bell, o Sino da Liherdade, um dos mainres resoums históricos do pense a respeito da propensão marginal a consumir dos jovens
nosso p,1fa. O sino sení agorn chamado de Taco Libeny Bell, cr>m e dos idosos.)
pleno acesso para visitas do rúblico norte-americano . Esperamos h. Sua resposta depende de saber se as gerações têm um vínculo
que nossa iniciativa leve outras empresas a ações semelhantes, altruísta?
dando sua contribuição rara reduzir a dívida do país." Ações desse
tipo, por parte de empresas dos Estados Unidos, reduziriam de faro 4. Avalie a utilidade da contabilidade intergerac ional pela perspec-
a dívida nacional. tal como é agora medida 1 Como sua resposta tiva de alguém que acha que as gerações têm entre si um vínculo
mudaria se o governo dos Estados Unidos adotasse o orçamento altruísta. Agora, avalie a utilidade da contabilidade intergeracional
de capital? Você acha que essas ações representam uma redução pela perspectiva de alguém que acha que muitos consumidores
verdadeira na dívida do governo 1 Acha que a Taco Bel! foi séria enfrentam restrições de empréstimo compulsórias.
em seu plano? (Dica: observe a data.) 5. O déficit orçamentário de ajuste cíclico é o déficit orçamentário cor-
2. Elabore uma carta para o senador descrito na Seção 15-3, expli- rigido pelos efeitos do ciclo econômico. Em outras palavras, é o
cando e avaliando a visão ricardiana da dívida do governo. déficit orçamentário que o governo teria se o desemprego estives-
se à taxa natural. (É chamado também de déficit orçamentário de
3. O sistema de Seguridade Social cobra um tributo dos trabalhado- pleno emprego.) Alguns economistas propõem a regra de que o dé-
res e paga benefícios aos idosos. Suponha que o Congresso aumente ficit orçamentário de ajuste cíclico seja sempre equilibrado. Campa-
294 CAPITULO 15

re essa proposta com uma regra de equilíbrio orçamentário rigoro- Unidos, como percentual do PIB. Que suposições são feitas sobre
so. Qual é preferível? Que problemas você percebe na norma que gastos do governo, impostos e crescimento econômico? Você acha
exige um orçamento equilibrado de ajuste cíclico? que essas suposições são razoáveis? Se os Estados Unidos experi-
mentam um declínio da produtividade, como a realidade vai dife-
6. Recorrendo à biblioteca ou à Internet, descubra algumas projeções
rir da projeção? (Dica: um bom lugar para procurar é www .cbo.gov.)
recentes para o curso futuro da dívida do governo dos Estados

,,,,

.,
·--·

.~
......

:r
Parte 6

MAIS SOBRE A MICROECONOMIA


POR TRÁS DA MACROECONOMIA
Capítulo 16

CONSUMO

O nmmmo é o unico ohjetíw, e /.lrnpósito de toda produção.


- Adam Smirh

Como as famílias decidem quanto de se us ren,~imentos consu- surtos de crescimento e das recessões. O modelo IS-LM, dos
mir hoje e quanto poupar para o fururn ! Esta é uma questão Caps. 10 e 11, mostra que mudanças dos planos de gasto dos
microeconômica, porque trata dü comportamento dos agentes consumidores podem ser uma fonte de choques para a econo-
econômicos individuais. Sua resposta, no entanto, tem conse- mia, e que a propensão marginal a consumir é um determinan-
qüências macroeconômicas. Como ressaltamos em capítulos te dos multiplicadores de política fiscal.
anteriores, as decisões de consumo das famílias afetam a ma- Em capítu los anteriores, explicamos o consumo com uma
neira como se comporta a economia como um todo, tanto no função que relaciona o consumo com a renda disponível: C =
longo prazo quanto no curto prazo. C(Y - T). Essa aproximação permitiu-nos desenvolver mode-
A decisão de consumo é crucial para a análise de longo pra- los simples para análise de longo prazo e de curto prazo, mas é
zo, por causa do seu papel no crescimento econômico. O mo- simples demais pani proporcionar uma explicação completa do
delo de crescimento de Solow, dos Caps. 7 e 8, mostra q.ue a comportamento do et)nsumidor. Neste capítulo, examinamos
taxa de poupança é um determinante fundamental do estoque a função de consumo em mais detalhes, e também desenvolve-
de capital de estado estacionário, e, por isso, do nível de bem- mos uma explicação mais meticulosa do que determina o con-
estar econômico. A taxa de poupança mede quanto de sua renda sumo agregado.
a atual geração está guardando, para o seu próprio futuro e para Desde que a macroeconomia se tornou um campo de estu-
as gerações futuras . do, muitos economistas têm escrito sobre a teoria do compor-
A decisão de consumo é crucial para a análise de curto pra- tamento do consumidor, sugerindo meios alternativos de in-
zo, por causa do seu papel na determinação da demanda agre- terpretar os dados sohre consumo e renda. Este capítu lo apre-
gada. O consumo constitui dois terços do PIB; portanto, as os- senta as posições de se is proeminentes economistas para mos-
cilações do consumo representam um elemento essencial dos trar os di\'ersos métodos de explicação do consumo.

16-1 JOHN MAYNARD KEYNES E A FUNÇÃO CONSUMO


Começamos o estudo do consumo com a Teoria Geral de John onal, e dados detalhados sohre o comportamento das famílias
Maynard Keynes, que foi publicada em 1936. A função consu- individuais a partir de le\'antamentos. Como escreyeu na dé-
mo foi um ponto central na teor ia das osc ilações econômicas cada de 1930, no entanto, Keynes não dispunha da vantagem
de Keynes, passando a desempenhar um papel fundamental na desses dados, nem dos computadores necessários para a análise
análise macroeconômica desde então. Consideraremos o .que de conjuntos de dados tão grandes. Em \'eZ de basear-se em
Keynes pensou sobre a função consumo, e depois verificaremos análise estat ística, Keynes fez conjecturas sobre a função con-
que enigmas surgiram quando suas idéias foram confrontadas sumo, fundamentado na introspecção e na observação casual.
com os dados. Em primeiro lugar e o mais importante, Keynes conjecturou
que a propensão marginal a consumir - a quantidade
consumida com um dólar adicional de renda - situa-se entre
As CONJECTURAS DE KEYNES zero e um. Ele escreveu que "a lei psicológica fundamental, na
Os economistas de hoje, ao estudarem o consumo, baseiam-se qual temos o direito de nos basear, com grande confiança[ ...],
em técnicas sofisticadas de análise de dados. Com a ajuda de é que os homens estão dispostos, como regra geral e em média,
computadores, analisam os dados agregados sobre o comporta- a aumentar seu consumo à medida que a renda aumenta, mas
mento da economia em geral a partir das contas de renda naci- n ão tanto quanto o aumento da renda". Ou seja, quando uma
298 CAP1TULO 16 1
pessoa ganha um dólar extra, em geral gasta uma parte e poupa consumo, apresentada na Fig. 16-1, é mostrada como uma
outra. Como vimos no Cap. 1O, quando desenvolvemos a cruz reta.
keynesiana, a propensão marginal a consumir era crucial nas Observe que essa função consumo apresenta as três propri-
recomendações de política econômica de Keynes sobre de que edades que Keynes propôs. Satisfaz a primeira propriedade de
maneira reduzir o desemprego disseminado. O poder da políti- Keynes porque a propensão marginal a consumir e situa-se en-
ca fiscal para influenciar a economia - tal como expresso pe- tre zero e um; com isso, a renda superior leva a um consumo
los multiplicadores de política fiscal - deriva do feedback en- maior e também a uma poupança maior. Essa função consumo
tre renda e consumo. satisfaz a segunda propriedade de Keynes porque a propensão
Segundo, Keynes pressupôs que a razão entre o consumo e a média a consumir PMC é
renda, chamada de propensão média a consumir, cai à medi-
da que a renda sobe. Ele pensava na poupança como um luxo, PMC = C(Y = E fY + e.
e por isso esperava que os ricos poupassem uma proporção maior
de sua renda do que os pobres. Embora não fosse essencial para
e
À medida que y aumenta, /Y cai; com isso, a propensão média
a consumir C/Y também cai. E, finalmente , essa função consu-
a análise do próprio Keynes, o postulado de que a propensão
média a consumir diminui à medida que aumenta a renda tor- mo satisfaz a terceira propriedade de Keynes porque a taxa de
nou-se uma parte central do início da economia keynesiana. juros não é incluída na equação como um determinante do
Em terceiro lugar, Keynes pensava na renda como o deter- consumo.
minante primário, e que a taxa de juros não tem um papel im-
portante. Essa conjectura representa um contraste acentuado Os SucEssos EMPímcos INICIAIS
com as convicções dos economistas clássicos que o precederam.
Os economistas clássicos sustentavam que uma taxa de juros Logo depois que Keynes propôs a função consumo, os econo-
mais alta estimula a poupança e desestimula o consumo. Keynes mistas começaram a coletar e examinar dados para testar suas
admitiu que a taxa de juros podia influenciar o consumo, como conjecturas. Os primeiros estudos indicavam que a função con-
uma questão de teoria. Contudo, escreveu que "a conclusão sumo keynesiana é uma boa aproximação da maneira como os
principal sugerida pela experiência, em minha opinião, é que consumidores se comportam.
a influência da taxa de juros sobre o gasto individual de uma Em alguns desses estudos, os pesquisadores examinaram fa.
tenda dada no curto prazo é secundária e relativamente insig- mílias, coletando dados sobre consumo e renda. Descobriram
nificante". que as famílias com renda superior consumiam mais, o que con·
Com base ne ssas três conjecturas, a função consumo firma que a propensão marginal a consumir é maior do que zero.
keynesiana é muitas vezes escrita como Também descobriram que as famílias com renda superior pou-
pavam mais, o que confirma que a propensão marginal a con-
e= E +cY, C >O, O< e< 1, sumir é menor que um. Além disso, os pésquisadores descobri-
ram que as famílias com renda superior poupavam uma fração
em que e é consumo, y é renda disponível, e é uma cons- maior da sua renda, o que confirma que a propensão média a
tante e c é a propensão marginal a consumir. Essa função consumir cai à medida que a renda sobe. Assim, os dados con-

Consumo, C

PMgC .·
. 1 .. .
e
JPM~.-·····
.' 1 ~PMC
1

Renda, Y

Fig. 16-1 A Função Consumo Keynesiana A figura mostra uma função consumo com as três propriedades que Keynes conjecturou, Primeiro, a
propensão marginal a consumir e situa-se entre zero e um. Segundo, a propensão média a consumir cai à medida que a renda sobe. Terceiro, o
consumo é determinado pela renda atual.
ObseNação:A propensão marginal a consumir, PMgC, é a inclinação da função consumo. A propensão média a consumir, PMC = C!Y, é igual à inclinação de uma reta traçada da origem até
um ponto na função de consumo.
CONSUMO 299

firmavam as conjecturas de Keynes sobre as propensões margi- assim fosse, o baixo consumo levaria a uma demanda inadequa-
nal e média a consumir. da por bens e serviços, resultando em depressão, depois que
Em outros estudos, os pesquisadores examinaram dados agre- cessasse a demanda do governo em tempo de guerra. Em ou-
gados sobre consumo e renda no período entre as duas guerras tras palavras, com base na função consumo keynesiana, esses
mundiais. Em anos em que a renda era excepcionalmente bai- economistas previram que a economia experimentaria o que
xa, corno ocorreu nas profundezas da Grande Depressão, tanto chamaram de estagnação secular - uma longa depressão, de
o consumo quanto a poupança eram baixos, indicando que a duração indefinida-, a menos que a política fiscal fosse usada
propensão marginal a consumir situa-se entre zero e um. Além para expandir a demanda agregada.
disso, durante esses anos de renda baixa, a razão entre consu- Felizmente para a economia - mas infelizmente para a fun-
mo e renda era elevada, confirmando a segunda conjectura de ção consumo keynesiana - , o final da Segunda Guerra Mun-
Keynes. Finalmente, como a correlação entre renda e consu- dial não lançou os Estados Unidos em outra depressão . Embo-
mo era tão forte, nenhuma outra variável parecia ser impor- ra as rendas fossem muito maiores depois da guerra do que an-
tante para explicar o consumo. Assim, os dados também con- tes, essas rendas superiores não causaram grandes aumentos da
firmavam a terceira conjectura de Keynes, de que a renda é o taxa de poupança. A conjectura de Keynes, de que a propen-
determinante primordial da maneira corno as pessoas optam por são média a consumir cairia à medida que a renda subisse, pa-
consumir. recia não se sustentar.
A segunda anomalia surgiu quando o economista Simon
Kumets elaborou novos dados agregados sobre consumo e ren-
ESTAGNAÇÃO SECULAR, SIMON KUZNETS E o da, desde 1869. Kuznets coligiu esses dados na década de 1940,
ENIGMA DO CONSUMO e mais tarde ganharia o Prêmio Nobel por sua obra. Desco-
briu que a proporção entre consumo e renda era extraordina-
Embora a função consumo keynesiana tenha alcançado suces- riamente estável de uma década para outra, apesar dos gran-
sos iniciais, duas anomalias logo se destacaram. Ambas envol- des aumentos da renda ao longo do período estudado. Mais
vem a conjectura de Keynes de que a propensão média a con- uma vez, a conjectura de Keynes, de que a propensão média a
sumir cai à medida que a renda sobe. consumir cairia à medida que a renda subisse, parecia não se
A primeira anomalia tornou-se patente depois que alguns sustentar.
economistas fizeram uma previsão sinistra - e, como se cons- O fracasso da hipótese de estagnação secular e as descober-
tatou depois, equivocada - durante a Segunda Guerra Mun- tas de Kuznets indicavam que a propensão média a consumir é
dial. Com base na função consumo keynesiana, esses econo- bastante estável por longos períodos. Esse fato apresentava um
mistas raciocinaram que, à medida que as rendas da economia enigma, que motivou muito do trabalho subseqüente sobre
aumentassem no decorrer do tempo, as famílias consumiriam consumo. Os economistas queriam saber por que alguns estu-
uma fração cada vez menor de suas rendas. Receavam que po- dos confirmavam as conjecturas de Keynes, enquanto outros
deria não haver uma quantidade suficiente de projetos de in- as refutavam. Ou seja, por que as conjecturas de Keynes se
vestimentos lucrativos para absorver toda essa poupança. Se mantinham nos estudos de dados sobre famílias e nos estudos

Consumo, C
Função consumo
de longo prazo
(PMC constante)
~

Função consumo
de curto prazo
(PMC negativamente inclinada)

Renda, Y

a Fig. 16-2 O Enigma do Consumo Os estudos de dados de famílias e de prazos curtos mostraram uma relação entre consumo e renda semelhante
o ao que Keynes conjecturou. Na figura, essa relação é chamada de função consumo de curto prazo. Mas o estudo de prazos longos observou que a
propensão média a consumir não varia sistematicamente com a renda. Essa relação é chamada de função consumo de longo prazo. Observe que a
função consumo de curto prazo tem uma propensão média a consumir negativamente inclinada, enquánto a função consumo de longo prazo tem
uma propensão média a consumir constante.
300 CAPÍTULO 16
1
de períodos curtos, mas falhavam quando se examinavam pe- Na década de 1950, Franco Modigliani e Milton Friedman
propuseram, em separado, explicações sobre essas descobertas
ríodos longos?
A Fig. 16-2 ilustra o enigma. As evidências sugeriam que havia aparentemente contraditórias. Mais tarde, os dois economis-
duas funções consumo. Para os dados sobre famílias e períodos tas ganharam o Prêmio Nobel, em parte por causa de seu tra-
curtos, a função consumo keynesiana parecia funcionar bem. Para balho sobre o consumo. Mas, antes de examinarmos como
os períodos longos, no entanto, a função de consumo parecia ter Modigliani e Friedman tentaram resolver o enigma do consu-
uma propensão média a consumir constante. Na Fig. 16-2, essas mo, devemos analisar a contribuição de Irving Fisher para a
duas relações entre consumo e renda são chamadas de funções teoria d o consumo. Tanto a hipótese do ciclo de vida de
consumo de curto prazo e função consumo de longo prazo. Os Modigliani quanto a hipótese da renda permanente, de
economistas precisavam explicar como essas duas funções con- Friedman, baseiam-se na teoria do comportamento do consu-
sumo podiam ser coerentes uma com a outra. midor proposta muito antes por Irving Fisher.

16-2 IRVING FISHER E A ESCOLHA INTERTEMPORAL


A função cnnsumo in trndu:ida por Keynes relacitma o consu- do determinado pode ser maior ou menor que a renda nesse
mo arual Ct)m a renda atual. No entanto, essa relação é, na período.
melhor das hipóteses, incompleta. Quando as pessoas decidem Considere como a renda do consumidor em do is períodos
quanto consumir e quanto poupar, consideram o presente e o restringe o consumo nos dois períodos. No primeiro período, a
futuro. Quanto mais consumo desfrutam hoje, menos poderão poupança é igual à renda menos o consumo. Ou seja,
desfrutar amanhã. Ao enfrentarem essa troca, as famílias de- S = Y1 ~ C1,
vem o lhar para a renda que esperam receber no futuro e o con-
em que Sé a poupança. No segundo período, o consumo é igual
sumo de bens e sen·iços que esperam ser capazes de ter.
à poupança acumulada, inclusive os juros recebidos sohre essa
,, O economista lrYing Fisher desenvoh·e~t o modelo com que
•' poupança, mais a renda do segundo período. Ou seja,
•· os economistas analisam como consumidores racionais e rre-
•'
Yidentes efetuam opções interremporais - ou seja, as opç ões C 2 = (1 + r)S + Y2,
...
t'
envolvend,'l períodos diferentes. O modelo de Fisher ressalta em que ré n raxa de juros real. Por exemplo, se a taxa de juros
•..
~··· as restrições que os consumklores enfrentam, suas preferênci- real é de 5%, para cada $1 de poupança no período um o con-
as, e como essas restrições e preferências juntas determinam suas sumidor ccinta com um extra de $1,05 de consumo no período
escolhas Je consu mo e poupança. dois. Como não há terceiro período, o consumidor não poupa
r. no segundo período.
Cahe ressaltar que a vari<'í vel S pode representar poupança
A RESTRIÇÃO ORÇAMENTÁRIA
ou empréstimo, e que essas equações funcionam nos dois ca-
INTERTEMPORAL sos. Se o consumo no primeiro período é inferior à renda no
'"·
I r -,
'
A maiorin das pessnas rreferiria aumentar a qu,1ntidade ou a prí1t1eíro período, o consumidor está poupando e S é maior que
,:.,.:r
qualidade dos bens e se n·iços que conrnme: usar melhores rou- :ew. Se o consumo no primeiro período é maior que a renda
l'-· ·1
"· pas, comer em restaurantes melhnres, ou a assistir mais filmes . no primeiro período, o consumidor est,'Í tomando emprestado
O mori,·o de as ressoas consumirem menos do que desejam é o e S é menor que zero. Para simplificar, partimos do princípio
de que a taxa de juros para tomar emprestado é a mesma taxa
fato de o consumo ser restritn pela renda. Em outras palaYras,
os consumidores defrontam-se com um limite do quanto po- de jurns que se paga para a poupança.
Para ohter a restrição orçamentária do c,msumidor, combi-
dem gastar, chamado de restrição orçamenrária. Ao decidirem
ne as duas equações precedentes. Substitua,, primeira equação
quanto consumir hoje em oposição a quanto poupar para o
por S na segunda equação, para ohrer
futuro, eles enfrentam uma restrição orçamentária intertem,
poral, que mede os recursos totais disponíveis para o consumo C 2 = (1 + r)(Y 1 - C 1) + Y2•
hoje e no futuro. Nosso primeiro passo para desenvolYer o Para tornar a equação mais fácil de interpr etar , devemos
modelo de Fisher é examinar essa restrição em detalhe. rearranjar os termos. Para pôr todos os termos do consumo jun-
Para simplificar, examinaremos a decisão com que se defron- tos, leve (1 + r )C 1 do lado direito para o lado esquerdo da equa-
ta um consumidor que vive por do is períodos. O período um ção a fim de obter
representa a juventude do consumidor, e o período dois repre-
senta a velhice do consumidor. O consumidor ganha a renda (1 + r)C 1 + C 2 = (1 + r)Yt + Yr·
Y1 e consome C 1 no período um, e ganha a renda Y1 e consome Agora, divida os dois lados por 1 + r para obter
C 2 no período dois. (Todas as variáveis são reais - ou seja,
ajustadas à inflação.) Como o consumidor tem a oportunidade C 1 +~=YI + l .
de tomar emprestado e poupar, o consumo em qualquer perío- l+r l+r
i -
CONSUMO 301

Esta equação relaciona o consumo nos dois períodos com a ren- Consumo no
da nos dois períodos. É a maneira padrão de se expressar a res- segundo período, C2
B Restrição
trição orçamentária intertemporal do consumidor. orçamentária
É fácil interpretar a restrição orçamentária intertemporal do consumidor
do consumidor. Se a taxa de juros é zero, a restrição orçamen-
tária mostra que o consumo total nos dois períodos é igual à
renda total nos dois períodos. No caso usual, em que a taxa
de juros é maior que zero, o consumo futuro e a renda futura
são descontadas pelo fator 1 + r. Esse desconto deriva dos
juros ganhos com a poupança. Em suma, como o consumidor
ganha juros sobre a renda corrente que é poupada, a renda
futura vale menos que a renda corrente. Da mesma maneira, e
como o consumo futuro é pago pela poupança que ganhou y1 y1 + y /( 1 + r)
juros, o consumo futuro custa menos que o consumo corren- Consumo no primeiro período, C1
te. O fator 1/( l + r) é o preço do consumo do segundo perí-
odo medido em termos do consumo do primeiro período: é a Fig. 16-3 A Restrição Orçamentária do Consumidor A figura mos-
quantidade de comumo do primeiro período a que ü consu- tra as combi!1ações de consumo no primeiro e no segundo períodos que
midor de,·e renunciar para ohter l unidade de consumo do o consumidor pode escolher. Se escolhe os pontos entre A e B. o consu-
segundo período. midor consome menos que a sua renda no primeiro período e poupa o
A Fig. 16-3 mostrn em gráfico a restrição orçamentária resto para o segundo período. Se escolhe os pontos entre A e C, ele con-
do consumidor. H á três pontos marcados nessa figura. No some mais do que a sua renda no primeiro período e toma emprestado
para compensar a diferença.
ponto A, o consumidor consome exatamente sua renda em
cada período (C 1 = Y1 e C, = YJ; assim, não h á poupança
nem empréstimo entre os do is períodos . No ponto B, o con-
sumidor nada consome no primeiro período (C 1 = O) e poupa cissim, o consumo do primeiro período C I é Y 1 + Y)( 1 + r). É
toda a renda; assim, o consumo no segundo período C, é claro que essas são apenas três das muitas combinações de
(1 + r)Y , + Y,. No rontn C, o consumidor planeja não primeiro e segundo períodos que o consumidor pode se per-
consumir nada no segundo período (C, = O), e rnma empres- mitir: rndos os pontos na linha, de B a C, estão disponíveis
tado tanto quantn ros, Í\'el contra a renda do segundo período; para o consumidor.

SAIBAMA.Is
Valor Presente, ou por que um Prêmio de $1.000.000 Vale Apenas $623.000
",
O uso do ágio ou dedução na restrição orçamentária do con- À luz dessa definição, podemos ver uma nova interpretação
sumidor ilustra um fato importante da vida econômica: um da restrição orçamentária do consumidor em nosso proble-
dólar no futuro é menos valioso do que um dólar hoje. lsso ma de consumo em dois períodos. A restrição orçamentária
é verdade porque um dólar hoje pode ser depositado numa intertemporal enuncia que o valor presente do consumo
conta que renda juros e gerar mais do que um dólar no futu- deve ser igual ao valor presente da renda.
ro. Se a taxa de juros é de 5%, por exemplo, um dólar hoje O conceito de valor presente tem muitas aplicações.
pode se tomar $1,05 no próximo ano, $1, 1025 em dois anos, Suponha, por exemplo, que você ganhou na loteria um prê-
$1,1576 em crês anos, ... , ou $2,65 em 20 anos. mio de um milhão de dólares. Esses prêmios são em geral
Os economistas usam um conceito chamado valor presente pagos ao longo de um prazo: digamos, $50.000 por ano du-
para comparar quantidades monetárias de períodos diferen- rante 20 anos. Qual é o valor presente desse prêmio dilata-
tes. O valor presente de qualquer quantia no futuro é a quan- do? Aplicando a fórmula precedente para cada um dos 20
tia que seria necessária hoje, pelas taxas de juros disponí- pagamentos e somando os resultados, descobrimos que o
veis, para gerar essa quantia futura. Assim, se você receberá prêmio de um milhão de dólares, com a dedução de uma taxa
X dólares em T anos e a taxa de juros é r, o valor presente de juros de 5%, tem um valor presente de apenas $623.000.
desse pagamento é ( Se o prêmio fosse pago como um dólar por ano, durante um
milhão de anos, o valor presente seria de apenas $20!) Às
Valor Presente = X/(1 + r)T. vezes um milhão de dólares não é tanto quanto parece.

i
~
p:
302 CAPITULO 16
1
PREFERÊNCIAS DO CONSUMIDOR O consumidor é igualmente feliz em todos os pontos numa
determinada curva de indiferença, mas prefere algumas curvas
As preferêncías do consumidor em relação ao consumo nos dois de indiferença a outras. Como prefere mais consumo a menos
períodos podem ser representadas por curvas de indiferença. consumo, o consumidor prefere as curvas de indiferença mais
Uma curva de indiferença mostra as combinações de consumo altas em vez das mais baixas. Na Fig. 16-4, o consumidor prefe-
no primeiro período e no segundo período que tornam o con- re os pontos na curva IC 2 aos pontos na curva IC 1•
sumidor igualmente feliz. O conjunto de curvas de indiferença oferece uma classifi-
A Fig. 16-4 mostra duas das muitas curvas de indiferença do
cação completa das preferências do consumidor. Indica que 0
consumidor. O consumidor é indiferente entre as combinações
consumidor prefere o ponto Z ao ponto W, mas isso pode ser
W, X e Y, porque todas se situam na mesma curva. Não surpre-
óbvio porque o ponto Z tem mais consumo nós dois períodos.
ende que, se o consumo no primeiro período é reduzido, diga-
Mas comparemos o ponto Z com o ponto Y: o ponto Z tem mais
mos do ponto W para o ponto X, o consumo n o segundo perí-
consumo no período um e menos no período dois. Qual é 0
odo deve aumentar, para manter o consumidor igualmente fe -
preferido: Z ou Y? Como Z está em uma curva de indiferença
liz. Se o consumo no primeiro período é reduzido de novo, do
ponto X para o ponto Y, a quantidade extra de consumo exigida mais alta do que Y, sabemos que o consumidor prefere o ponto
para compensação no segundo período é maior. Z ao ponto Y. Assim, podemos usar o conjunto de curvas de
A inclinação em qualquer ponto da curva de indiferença indiferença para classificar quaisquer combinações de consu-
mostra quanto de consumo no segundo período o consumidor mo no primeiro e no segundo períodos.
exige para ser compensado por uma redução de 1 unidade do
consumo n o primeiro período. Essa inclinação é a taxa margi- OTIMIZAÇÃO
nal de substituição entre o consumo no primeiro período e o
consumo no segundo período. Indica a taxa pela qual o consu- Depois de examinar a restrição orçamentária e as preferências
midor está disposto a substituir o consumo no primeiro perío- do consumidor, podemos considerar a decisão sobre quanto
do pelo consumo no segundo período. consumir. O consumidor gostaria de ter a melhor combinação
Observe que as curvas de indiferença da Fig. 16-4 não são possível de consumo nos dois períodos - ou seja, na curva de
retas; em conseqüência, a taxa marginal de substituição depende indiferença mais alta possível. Mas a restrição orçamentária
dos níveis de consumo nos dois períodos. Quando o consumo exige que o consumidor também se situe acima ou abaixo da
no primeiro pedodo é alto e o consumo no segundo período é reta orçamentária, porque essa reta mede os recursos totais que
baixo, como n o ponto W, a taxa marginal de substituição é estão à sua disposição.
baixa: o consumidor exige um pequeno consumo extra no se- A Fig. 16-5 mostra que muitas curvas de indiferença cruzam
gundo período para renunciar a 1 unidade de consumo no pri- a reta orçamentária. A curva de indiferença mais alta que o
meiro período. Quando o consumo do primeiro período é bai- consumidor pode obter sem violar a restrição orçamentária é
xo e o consumo do segundo período é alto, como no ponto Y, aquela que mal toca na reta orçamentária, que na figura é a
a taxa marginal de suhstituição é alta: o consumidor exige muito curva IC 1. O ponto em que a curva e a linha se tocam -o ponto
consumo adicional no segundo período para renunciar a 1 uni- O, de "ótimo" - é a melhor combinação de consumo nos dois
dade de consumo no primeiro período. períodos que o consumidor pode se permitir.
., ..l"

Consumo no
segundo período,
C2

Consumo no primeiro período, C1


Fig. 16-4 As Preferências do Consumidor As curvas de indiferença representam as preferências do consumidor sobre o consumo no primeiro
período e no segundo período. Uma curva de indiferença dá as combinações de consumo nos dois períodos que deixam o consumidor igualmente
feliz . A figura mostra duas das muitas curvas de indiferença. As curvas de indiferença mais altas, como IC2 , são preferidas em vez das curvas de
indiferença mais baixas, como IC,. O consumidor fica igualmente feliz nos pontos W, X e Y, mas prefere o ponto Z aos pontos W, X ou Y.
CONSUMO 303

Consumo no
segundo período,
C2

Consumo no primeiro período, C1

Fig. 16·5 O Ponto Ótimo do Consumidor O consumidor alcança seu nível mais alto de satisfação ao escolher o ponto da restrição orçamentária
que está na curva de indiferença mais alta. No ponto ótimo. a curva de indiferença é tangente à restrição orçamentária.

Observe que, no nível ótimo, a inclinação da curva de indi- mento da renda. Um aumento em Y, ou Y2 desloca a restrição
ferença é igual à inclinação da reta orçamentária. A curva de orçamentária para fora, como na Fig. 16-6. A restrição orça-
indiferença é tangente à reta orçamentária. A inclinação da mentária maior permite que o consumidor escolha uma com-
curva de indiferença é a taxa marginal de substituição TMS, e binação melhor de consumo no primeiro e no segundo perío-
a inclinação da linha orçamentária é 1 mais a taxa de juros real. dos - ou seja, o consumidor pode agora alcançar uma curva
Concluímos que, no ponto O, de indiferença mais alta.
TMS = l + r. Na Fig. 16-6, o consumidor reage à mudança em sua restri-
ção orçamentária optando por mais consumo nos dois perío-
O consumidor escolhe o consumo nos dois períodos, de tal modo que
dos. Embora não esteja implícita apenas na lógica do modelo,
a taxa marginal de substituição é igual a 1 mais a taxa de juros real.
essa situação é a mais usual. Se um consumidor quer mais de
um bem quando sua renda aumenta, os economistas chamam
COMO AS VARIAÇÕES DA RENDA AFETAM o isso de bem normal. As curvas de indiferença na Fig. 16-6 ba-
CONSUMO seiam-se na suposição de que o consumo no período um e o
consumo no período dois são ambos de bens normais.
Agora que já examinamos como o consumidor toma a decisão A conclusão fundamental da Fig. 16-6 é de que o consumi-
de consumo, examinaremos como o consumo reage a um au- dor, quer o aumento da renda ocorra no primeiro ou no segun-

Consumo no
segundo
período, C2

NoVf! restrição
tJrfilltnentiJiía

Consumo no primeiro período, C1


Fig. 16·6 Um Aumento da Renda Um aumento da renda do primeiro período ou da renda do segundo período desloca a restrição orçamentária
para fora. Se o consumo no período um e o consumo no período dois são de bens normais. esse aumento da renda eleva o consumo nos dois períodos.
304 CAPITULO 16

do período, estende o consumo pelos dois períodos. Esse com- dois períodos. Aqui, o consumidor passa do ponto A para 0
portamento é às vezes chamado de nivelamento do consumo. ponto B. Pode-se constatar que, para as curvas de indiferença
Como o consumidor pode tomar emprestado e emprestar en- traçadas nessa figura , o consumo no primeiro período cai e 0
tre um período e outro, o período da renda é irrelevante para consumo no segundo período aumenta.
quanto é consumido hoje (exceto, é claro, pelo fato de se de- Os economistas decompõem o impacto de um aumento na
duzir a taxa de juros da renda futura). A lição dessa análise é taxa de juros real sobre o consumo em dois efeitos: um efeito
que o consumo depende do valor presente da renda atual e da renda e um efeito substituição. Os manuais de microecono-
renda futura; ou seja, de mia estudam esses efeitos em detalhes. Aqui, vamos sintetizá-
los em breve palavras.
Valor Presente da Renda= Y1 + Y, O efeito renda é a mudança do consumo que resulta do
1+ r movimento para uma curva de indiferença mais alta. Como o
consumidor é poupador em vez de tomador de empréstimo (o
Ohserve que essa conclusão é muito diferente daquela a que que é indicado pelo fato de que o consumo no primeiro perío-
Keynes chegou. Keynes propôs que o consumo corrente de uma do é inferior à renda do primeiro período), o aumento da taxa
pessoa depende em grande /)arte da sua renda corrente. O modelo de juros deixa-o em Situação melhor ( como reflete o movimento
de Fisher diz L/W? , em i·ez disso, o cnnsumo haseia-se no.~ recursos para uma curva de indiferença mais alta). Se o consumo no
que o con rnmidnr esj),:ra ter no lon.f(o de .ma dda.
períndo um e l) consumo no período dois são ambos de bens
normais, n consumidor vai querer estender essa melhora no
COMO AS VARIAÇÕES DA TAXA DE JUROS REAL bem-estar aos do is períodos. Esse efe ito renda tende a fazer com
que o consumidor queira mais consumo nos dois períodos.
AFETAM o CONSUMO O efeito suhstituição é a mudança do consumo que resulta
Vamos agora usar o modelo de Fisher para considerar como uma da mudança no preço relativo do consumo nos dois períodos.
variação da taxa de juros real altera as opções dn consumidor. Há Em particular, o consllmo no período dois torna-se menos dis-
dois casos a considerar: tl caso em qu"' n consumidor poupa m) pendioso em relação aü consumo no períod ü um quando a taxa
início e o caso em que u consumidor toma emprestado no início. de juros snhe. Ou seja, como a taxa de juros real alferida da
,l
Examinaremos a4ui \\ caso da poupança; Prohlema 1, ao final poupança é mais alta, o consumidor deve agora reduzir o con-
d\1 capítulo, pede que n1cê analise n caso d,1 empréstimo. sumo no primeiro período para ohter uma unidade extra de
A Fig. 16- 7 1m1strn que um aumento da taxa de juros real consumo no segundo período. Esse efeito substituição tende a
gira a reta urçament,íria do C\msumidt)r em tnrno Jo ponto (Y1, fazer com que o consumidor orte por mai~ consumo no perío-
'r':}, o que alrern ,1 quant idade de consumn que ele esculhe nns dn dois e menos cnnsumn no período um.

Consumo no
segundo período, C2
Nova restrição
orçamentária

yl . . .. .. ... . . . ... .
Restrição
orçamentária inicial
....
LlC1
Consumo no
Y, primeiro período, C1

Fig. 16-7 Um Aumento na Taxa de Juros Um aumento da taxa de juros faz a reta orçamentária girar em torno do ponto (Y1, Y2 ). Nesta figura , a
taxa de juros mais alta reduz o consumo no primeiro período em ó.C: e aumenta o consumo no segundo período em 6..C2.
CONSUMO 305

A opção do consumidor depende ao mesmo tempo do efei- Consumo no


to renda e do efeito substituição. Os dois efeitos atuam para segundo período, C2
aumentar a quantidade de consumo no segundo período; por Restrição
isso, podemos concluir, com absoluta confiança, que um aumen- orçamentária
to da taxa de juros real eleva o consumo no segundo período.
Mas os dois efeitos têm impactos opostos sobre o consumo no
primeiro período; assim, a elevação da taxa de juros tanto pode
aumentar ou reduzir o consumo. Portanto, dependendo do tama-
nho relativo dos efeitos renda e substituição, um aumento da taxa
Restrição de
de juros pode estimular ou deprimir a poupança . empréstimo

RESTRIÇÕES À TOMADA DE EMPRÉSTIMO


O modelo de Fisher pressupõe que, além de poupar, o consu-
midor pode tomar emprestado. A capacidade de tomar empres-
tado permite que o consumo atua l supere a renda atual. Em Y, Consumo no
suma, quando n cm1sumidor roma emprestado, ele consome primeiro período, C1
hoje uma parte da sua renda futura . Para muitas pessoas, no Fig. 16-8 Uma Restrição de Empréstimo Se o consumidor não pode
entanto, essa tomada de empréstimo é impossível. Por exem- tomar emprestado, enfrenta a restrição adicional de que o consumo no
plo, um estudante que deseja aproveitar as férias de v.erão pro- primeiro período não pode ultrapassar a renda do primeiro período. A área
,·avelmente não será capaz de financiar a viagem com um em- sombreada representa a combinação do consumo no primeiro e no se-
préstimll bandrio. Examinaremos como a análise de Fisher gundo períodos que o consumidor pode escolher.
mud,1 se n consumidor não pode tomar emprestado.
A incapacidade de tomar empréstimo impede que o consu-
mo atua l ultrapasse a renda arual. Uma restrição à tomada de cional do consumidor é chamada de restrição de empréstimo
empréstimo, portanto, pode ser expressa como ou, às vezes, de restrição de liquidez.
C 1 s; Y1• A Fig. 16-8 mostra como essa restrição de empréstimo li-
mita o conjunto de opções do consumidor. A opção do con-
Essa desigualdade enuncia que o consumo no período um deve sumidor deve satisfazer ao mesmo tempo a restrição orçamen-
ser mennr nu igual à renda no período um. Essa restrição adi- tária intertemporal e a restrição de empréstimo. A área som-

(a) A Restrição de Empréstimo (b) A Restrição de Empréstimo


Não É Compulsória É Compulsória
Consumo no Consumo no
segundo período, C2 segundo período, C2

Y, Consumo Y, Consumo
no primeiro no primeiro
período, e, período, C1

Fig . 16-9 O Ponto Ótimo do Consumidor com uma Restrição de Empréstimo Quando o consumidor enfrenta uma restrição de empréstimo,
há duas situações possíveis. No gráfico (a}, o consumidor escolhe que o consumo no primeiro período será inferior à renda do primeiro período;
assllll, a restrição de empréstimo não é compulsória e não afeta o consumo em qualquer período. No gráfico (b), a restrição de empréstimo é compul-
sória. O consumidor gostaria de tomar emprestado e escolher o ponto D. Mas, corno o empréstimo não é permitido, a melhor opção disponível é o
ponto E. Quando a restrição de empréstimo é compulsória, o consumo no primeiro período é igual à renda do primeiro período.
306 CAPÍTULO 16
1
breada representa as combinações de consumo no primeiro resultado. O melhor que o consumidor pode fazer é consumir a
período e no segundo período que satisfazem as duas restri- renda no primeiro período, representada pelo ponto E.
ções. A análise das restrições de empréstimo leva-nos a concluir
A Fig. 16-9 mostra como essa restrição de empréstimo afeta que há duas funções de consumo. Para alguns consumidores, a
a decisão de consumo. Existem duas possibilidades. No gráfico restrição de empréstimo não é compulsória, e o consumo nos
(a), o consumidor deseja consumir, no período um, menos do dois períodos depende do valor atual da renda permanente, Y1
que ganha. A restrição de empréstimo não é compulsória, e por + [Y2/(1 + r) . Para outros consumidores, a restrição de emprés-
isso não afeta o consumo. No gráfico (b), o consumidor gosta- timo é compulsória, e a função de consumo é C 1 = Y1 e C 2 ::::
ria de escolher o ponto D, no qual ele consome no período um Y 1• Portanto, para esses consumidores que gostariam de tomar em-
mais do que ganha, mas a restrição de empréstimo impede esse prestado mas não podem, o consumo só depende da renda atual.

ESTUDO DE CASO
A ELEVADA TAXA DE POUPANÇA DO JAPÃO Uma razão para que as famílias desejem com freqüência to-
O Japão tem uma das mais altas taxas de poupança do mundo, mar empréstimo é a compra da casa própria. Nos Estados Uni-
fato importante para se compreender o desempenho da sua eco- dos, uma pessoa pode em geral comprar uma casa dando uma
nomia no curto e no longo prazos. Por um lado, muitos econo- entrada de 10% do valor do imóvel. Quem pretende comprar
mistas acham que a taxa de poupança do Japão é uma explica- casa no Japão não pode tomar emprestado o necessário para
ção para o rápido crescimento que o país experimentou nas dé- isso: comumente é preciso dar entrada de 40%. Além disso,
cadas subseqüentes à Segunda Guerra Mundial. Com efeito, o os preços dos imóveis residenciais são mais altos no Japão,
modelo de crescimento de Solow, desenvolvido nos Caps. 7 e 8, principalmente porque o preço do terreno é mais alto. Uma
mostra que a taxa de poupança é um determinante primordial família japonesa tem que poupar muito, se quiser possuir um
do nível de renda de estado estacionário de um país. Por outro dia sua própria casa.
..•'. lado, alguns economistas argumentam que a elevada taxa de Embora as res.crições de empréstimo expliquem em parte a
poupança do Japão contribuiu para o seu declínio durante a dé- alta taxa de poupança do Japão, há muitas outras diferenças
cada de 1990. A poupança elevada significa um gasto baixo do entre Japão e Estados Unidos que contribuem para a diferença
consumidor, o que se traduz, segundo o modelo IS-LM, dosCaps. nas taxas de poupança. O sistema fiscal japonês es timula a
1Oe 11 , em baixa demanda agregada e renda reduzida. poupança, ao taxar pouco a renda do capital. Além disso, as
Por que, em comparação com os norte-americanos os japo-
diferenças culturais podem levar a diferenças nas preferências
neses consomem uma fração muito menor da renda? Uma ex-
do consumidor quanto a consumo corrente e consumo futuro.
plicação é o faro de que, no Japão, é mais difícil para as famíli-
Um proeminente economista japonês escreveu: "Os japoneses
as tomarem emprestado. Como o modelo de Fisher mostra, uma
simplesmente são diferentes. São mais avessos ao risco e mais
família que enfrenta uma restrição de empréstimo compulsó-
pacientes. Se isso é verdade, a implicação de longo prazo é que
ria consome menos do que faria sem a restrição de emprésti-
mo. Por isso, as sociedades em que as restrições de empréstimo o Japão absorverá toda a riqueza do mundo. Recuso-me a co-

..... r

são comuns tenderão a ter taxas de poupança mais altas. mentar essa explicação." 1

16-3 FRANCO MODIGLIANI E A HIPÓTESE DO CICLO DE VIDA


Em uma série de trabalhos publicados na década de 1950, Fran- gundo o modelo de Fisher, o consumo depende da auferida ren-
co Modigliani e os co laboradores A lbert Ando e Richard da ao longo da vida da pessoa. Modigliani enfatizou que a ren-
Brumberg usaram o modelo de comportamento do consumidor da varia sistematicamente ao longo da vida das pessoas, e que
de Fisher para estudar a funç ão de consumo. Um de seus obje- a poupança permite que os consumidores transfiram a renda dos
tivos era resolver o enigma do consumo: ou seja, explicar as momentos em que a renda é alta para os momentos em que ela
evidências aparentemente conflitantes que surgiam quando a é baixa. Essa interpretação do comportamento do consumidor
função consumo de Keynes era confrontada com os dados. Se- formou a base para sua hipótese do ciclo de vida. 2

'Fumio Hayashi , "Why Is ]apan's Saving Rate Só Apparently High?", NBER Mocroeconomics Annual (1986): 147-210.
:Para referências sobre a grande massa de artigos sobre a hipótese do ciclo de vida, um bom começo é a conferência que Modigliani fez quando ganhou o Prêmio Nobel. Franco
Modigliani. "Life Cycle, Individual Thrifc, and che Weal th ofNacions", Amerimn Economic Review 76 (junho de 1986): 297-313.
.,
'i
CONSUMO 307

A HIPÓTESE Essa equação enuncia que o consumo depende da renda e da


riqueza. Um $1 extra de renda por ano aumenta o consumo em
Um motivo importante pelo qual a renda pode variar ao longo $0,60 por ano, e um $1 extra de riqueza aumenta o consumo
da vida de uma pessoa é a aposentadoria. A maioria das pesso- em $0,02 por ano.
as planeja parar de trabalhar por volta dos 65 anos; e espera que, Se cada pessoa da economia planeja o consumo dessa ma-
a partir da aposentadoria, sua renda caia. Mas as pessoas não neira, a função consumo agregada é praticamente a mesma da
querem uma queda grande em seu padrão de vida, tal co~o é função consumo individual. Em particular, o consumo agrega-
medido pelo consumo. A fim de manter o consumo depois de do depende da riqueza e da renda. Ou seja, a função consumo
se aposentarem, as pessoas precisam poupar durante os anos de da economia é
vida economicamente ativa. Verificaremos o que esse motivo
para se poupar acarreta para a função consumo. C = aW + l3Y,
Pense em um consumidor que esperava viver mais T anos,
em que o parâmetro ct é a propensão marginal a consumir de-
tem riqueza W e espera receber a renda Y até se aposentar, da-
corrente da riqueza, e o parâmetro 13 éa propensão marginal a
qui a R anos. Que nível de consumo o consumidor escolherá se consumir decorrente da renda.
desejar manter um nível aproximado de consumo ao longo de
sua vida?
Os recursos do consumidor ao longo de sua vida são com- IMPLICAÇÕES
postos pela riqueza inicial W e pelos auferidos ao longo de sua
A Fig. 16-10 mostra em gráfico a relação entre consumo e renda
vida de R X Y. (Para simplificar, estamos supondo uma taxa de
prevista pelo modelo do ciclo de vida. Para qualquer nível de
juros zero; se a taxa de juros fosse maior que zero, precisaría-
riqueza W dado, o modelo gera uma função consumo convenci-
mos levar em consideração também os juros ganhos sobre a
onal semelhante à que foi apresentada na Fig. 16-1. Observe, no
poupança.) O consumidor pode dividir seus recursos de roda
entanto, que a interseção da função consumo, que mostra o que
sua vida entre os T anos de vida que lhe restam. Pressupomos
aconteceria com o consumo se a renda caísse a zero, não é um
que ele desej e alcançar o padrão de consumo mais estável possí-
valor fixo, como na Fig. 16-1. Em vez disso, a interseção aqui é
vel ao longo de sua vida. Para isso, ele divide esse total de W +
aW e, portanto, depende do nível de riqueza.
RY igualmente entre os T anos, e em cada ano consome
Esse modelo de ciclo de vida do comportamento do consu-
C = (W + RY)/T. midor pode resolver o enigma do consumo. Segundo a função
consumo do ciclo de vida, a propensão média a consumir é
Podemos escrever essa função consumo da pessoa como
C/Y = á(W/Y) + l3.
C = (1/T)W + (R!T)Y.
Como a riqueza não varia proporcionalmente à renda de pes-
Por exemplo, se o consumidor espera viver mais 50 anos e tra-
soa para pessoa e de ano para ano, devemos constatar que a
balhar durante 30 desses anos, T = 50 e R = 30, e com isso a
renda elevada corresponde a uma baixa propensão média a
função consumo é
consumir, quando verificamos os dados entre indivíduos ou
C = 0,02W + 0,6Y. períodos curtos. Nos períodos mais longos, no entanto, a riqueza

Consumo, C

aW

Renda, Y

Fig. 16-10 A Função Consumo do Ciclo de Vida O modelo do ciclo de vida diz que o consumo depende da riqueza tanto quanto da renda. Em
outras palavras, a interseção da função de consumo depende da riqueza.
r 308 CAPÍTULO 16

Consumo, C

aW,

Renda, Y

:1::! Fig. 16-11 Como as Mudanças na Riqueza Deslocam a Função Consumo Se o consumo depende da riqueza, um aumento da riqueza desloca
,i,, .I a função consumo para cima. Assim, a função consumo de curto prazo (em que a riqueza é constante) não continuará sendo válida no longo prazo
1~ :. : :.

.~.. :• Gá que a riqueza aumenta com o tempo)


J., .,,
.... .
J ...
e a renda crescem juntas, resultando em uma razão constante medida que a riqueza aumenta, a função consumo desloca-se
W/Y e, com isso, em uma propensão média a consumir cons- para cima, como na Fig. 16-11. Esse deslocamento ascendente
tante. evita que a propensão média a consumir caia à proporção que
Para apresentar o mesmo ponto de maneira um pouco dife- a renda aumenta. Dessa maneira, Modigliani resolveu o enig-
rente, pense em como a função consumo muda ao longo do ma do consumo decorrente dos dados de Simon Kuznets.
tempo. Como a Fig. 16-10 mostra, para qualquer nível de ri- O modelo do ciclo de vida também faz diversas outras pre-
queza dado, a função consumo do ciclo de vida parece com visões. A mais importante é a de que a poupança varia ao lon-
..
,'" ,'f'. aquela que foi sugerida por Keynes. Mas essa função só é válida go da vida de uma pessoa. Se uma pessoa começa a vida adulta
.. 1.,. a curto prazo, quando a riqueza é constante. No longo prazo, à sem riqueza, vai acumulá-la durante seus anos de vida econo-

,. ,...•
11 1-,.,.

1. ,....
$

Renda

Poupança
/
Consumo

Aposentadoria Fim da
começa vida
Fig. 16-12 Consumo, Renda e Riqueza no Ciclo de Vida Se o consumidor mantém o consumo estável ao longo de sua vida (como indica a reta
de consumo horizontal), poupará e acumulará riqueza durante seus anos economicamente ativos, e depois despoupará e reduzirá sua riqueza duran·
te a aposentadoria.
..,
CONSUMO 309

micamente ativà, para depois usufruir a riqueza durante os anos hipótese do ciclo de vida, como as pessoas querem um consu-
de aposentadoria. A Fig. 16-12 ilustra a renda, o consumo e a mo estável ao longo da vida, os jovens que estão trabalhando
riqueza do consumidor ao longo de sua vida adulta. Segundo a poupam, enquanto os velhos que se aposentam despoupam.

ESTUDO DE CASO
O CoNsuMo E A PouPANÇA oos IDosos A explicação da poupança precaucional não é totalmente
Muitos economistas têm estudado o consumo e a poupança dos persuasiva, porque os idosos podem, de modo geral, fazer um
idosos. Suas descobertas acarretam um problema para o mode- seguro contra esses riscos. Como proteção contra a incerteza
lo do ciclo de vida. Ao que tudo indica, os idosos não despou- relativa ao prazo de vida, eles podem comprar anuidades de se-
pam tanto quanto o modelo prevê. Em outras palavras, os ido- guradoras. Por uma taxa fixa, as anuidades oferecem um fluxo
sos não esgotam sua riqueza tão depressa quanto se poderia es- de renda que dura enquanto o beneficiado viver. As incertezas
perar se estivessem tentando manter o mesmo consumo pelos relativas a despesas médicas devem ser em grande parte evita-
anos de vida que lhe restam. das por programas de seguro de saúde governamentais para ido-
Há duas explicações principais para que os idosos não sos e deficientes, e pelos planos de empresas privadas.
despoupem na mesma medida em que o modelo prevê. Cada uma A segunda explicação para que os idosos não despoupem é
sugere uma direção para pesquisas adicionais sobre o consumo. a possibilidade de eles quererem deixar herança para os filhos.
A primeira explicação é que os idosos estão preocupados Os economistas têm proposto várias teorias sobre o relaciona-
com despesas imprevisíveis. A poupança adicional que deri- mento entre pais e filhos e o motivo da herança. No Cap. 15,
va da incerteza é chamada de poupança precaucional. Urna examinamos algumas dessas teorias e suas implicações para o
razão para a poupança precaucional dos idosos é a possibili- consumo e a política fiscal.
dade de viver mais tempo do que o esperado e, assim, ter de De modo geral, a pesquisa sobre os idosos sugere que o mo-
prover para um prazo de aposentadoria mais longo do que a delo de ciclo de vida mais simples não explica plenamente o
média. Outra razão é a possibilidade de doença e de grandes comportamento do consumidor. Não resta a menor dúvida de
gastos com serviços médicos . Os idosos podem reagir a essa que prover a aposentadoria é um motivo importante para se
incerteza poupando mais , a fim de estarem mais bem prepa- poupar, mas outros motivos, como a poupança precaucional e
rados para as emergências. heranças, também parecem importantes. 1

16-4 MILTON FRIEDMAN E A HIPÓTESE DA RENDA PERMANENTE


Em um livro publicado em 1957, Milton Friedman propôs A HIPÓTESE
a hipótese da renda permanente para explicar o compor-
Friedman sugeriu que devemos considerar a renda Y como a
tamento do consumidor. A hipótese da renda permanen-
soma de dois componentes, renda permanente, Y1', e renda
te de Friedman complementa a hipótese do ciclo de vida
transitória, yr_ Ou seja,
de Mod ig liani: ambas tornam a teoria do consumidor, de
Irving Fisher, para argumentar que o consumo não deve y = yr + yr_
depender apenas da renda atual. Mas, diferentemente da A renda penuanente é a parte da renda que as pessoas esperam que
hipótese do ciclo de vida, que enfatiza que a renda segue persista no futuro. A renda transitória é a parte da renda que as pesso-
um padrão regular ao longo da vida de uma pessoa, a hi- as não esperam que persista. Dito de outro modo, renda permanente
pótese da renda permanente enfatiza que as pessoas expe- é a renda média, e renda rransirória é o desvio aleatóriodessa média.
rimentam variações aleatórias e temporárias em suas ren- Para entender como podemos separar a renda nessas duas
das de ano para ano.+ partes, considere os seguintes exemplos:

'Para saber mais sobre consumo e poupança dos idosos, veja Albert Ando e Arthur Kennickell, "How Much (or Little) Life Cycle Saving Is There in Micro Datar', em Rudiger
Dombusch, Stanley Fischer e John Bossons, eds., Macraeconomics and Firnmce : Essays in Honor of Franco Modigliani (Cambridge, Massachusetts: MlT Press, 1986); e Michael
Hurd, "Research on the Elderly: Economic Status, Retirement, and Consumption and Saving",Journal of Economic Lit.erature ZS (junho de 1990): 565-589.
'Milton Friedman, A Theory of ,he Consumpcion Function (Princeton, New Jersey: Princecon University Pcess, 1957).
310 CAPITULO 16
l !

:,. Maria, que é formada em Direito, ganhou mais este ano IMPLICAÇÕES
do que John, que abandonou os estudos no curso secun-
dário. A renda maior de Maria resultou de renda perma- A hipótese da renda permanente soluciona o enigma do con-
nente maior, porque sua instrução superior continuará a sumo ao sugerir que a função consumo keynesiana padrão uti-
lhe proporcionar um salário maior. liza as variáveis erradas. Segundo a hipótese da renda perma-
> Sue, uma plantadora de laranjas da Flórida, ganhou me- nente, o consumo depende da renda permanente; muitos estu-
n os do que o habitual este ano, porque uma geada des- dos da função de consumo, no entanto, tentam estabelecer uma
truiu sua colheita. Bill, um plantador de laranjas da relação entre o consumo e a renda atual. Friedman argumen-
Califórnia, ganhou mais do que o usual, porque a geada tou que esse problema de erros nas variáveis explica as descober-
na Flórida provocou um aumento no preço das laranjas. tas aparentemente contraditórias.
A renda maior de Bill resultou de uma renda transitória Examinemos o que a hipótese de Friedman acarreta para a
maior, porque ele tem maior probabilidade do que Sue propensão média a consumir. Divida os dois lados da sua fun-
de ter um clima favorável no próximo ano. ção de consumo por Y para obter

Esses exemplos mostram que diferentes formas de renda têm PMC = C/Y = a'i"/Y.
diferentes graus de persistência. U ma boa instrução proporcio- Segundo a hipótese da renda permanente, a propensão média
na uma renda maior em caráter permanente, enquanto o bom a consumir depende da razão entre á renda permanente e a
tempo proporciona uma renda maior apenas em caráter transi- renda corrente. Quando a renda corrente aumenta temporari-
tório. Embora seja possível imaginar casos intermediários, é útil amente acima da renda permanente, a propensão média a con-
manter as coisas simples, supondo que há apenas dois tipos de sumir cai temporariamente; quando a renda corrente cai tem-
renda: permanente e transitória. porariamente abaixo da renda permanente, a propensão mé-
Friedman raciocinou que o consumo deve depender princi- dia a consumir aumenta temporariamente.
palmente da renda permanente, porque os consumidores usam
Considere agora os estudos dôs dados das famílias. Friedman
a poupança e o empréstimo para estabilizar o consumo em re-
raciocinou que esses dados refletem uma combinação de renda
ação a mudanças transitórias da renda. Por exemplo, se uma
permanente e renda transitória. As famílias com renda perma-
pessoa recebeu um aumento permanente de $10.000 por ano,
nente alta têm proporcionalmente um consumo maior. Se toda
..,. seu consumo aumentaria nesse valor. Contudo, se a pessoa
ganhou $10.000 na loteria, não consumiria tudo em um ano .
a variação da renda corrente deriva do componente permanen-

·-..' Em vez disso, estenderia o consumo extra pelo resto da vida.


Pressupondo-se urna taxa de juros zero e um prazo de vida res-
te, a propensão média a consumir será a mesrna em todas as
famílias . Mas algumas das variações da renda derivam do com-
tante de 50 anos, o consumo aumentaria em apenas $200 por ponente transitório, e as famílias com renda transitória maior
ano em reação ao prêmio de $10.000. Portanto, os consumido- não têm um consumo maior. Assim, os pesquisadores consta-
res gastam a renda permanente, mas poupam em vez de gasta- tam que as famílias de renda alta têm, em média, uma propen-
rem a maior parte da renda transitória. são méd ia a consumir mais baixa.
.....,.. Friedman concluiu que devemos considerar a função con- De modo semelhante , considere os estudos das séries de tem-
.... po. Friedman argumentou que as oscilações de ano para ano
.sumo como, aprox imadamente,
:.) da renda são dominadas pela renda transitória. Portanto, anos
,,, e = aY", de alta renda devem ser anos de baixa propensão média a con-
· ·:
em que a é uma constante que mede a fração da renda perma- sumir. Mas, em longos períodos - digamos, de uma década para
nente consumida. A hipótese da renda permanente, tal como outra- , a variação na renda vem do componente permanen-
expressa por essa equação, enuncia que o consumo é proporci- te. Por isso, em prazos longos, deve -se observar uma propensão
onal à renda permanente . média a consumir constante, como Kuznets descobriu.

ESTUDO DE CASO
Ü CORTE FISCAL DE 1964 E A SOBRETAXA FISCAL DE 1968 Portanto, as mudanças transitórias dos impostos só terão um efei-
A hipótese da renda permanente pode nos ajudar a interpretar to mínimo no consumo e na demanda agregada. Para que uma
como a economia reage a mudanças da política fiscal. Segun- mudança nos impostos tenha um efeito considerável na deman-
do o modelo IS-LM dos Caps. 10 e 11, os cortes fiscais estimu- da agregada, é preciso que essa mudança seja permanente.
lam o consumo e aumentam a demanda agregada, enquanto os Duas mudanças de política fiscal - o corte fiscal de 1964 e a
aumentos fiscais diminuem o consumo e reduzem a demanda sobretaxa fiscal de 1968 nos Estados Unidos - ilustram esse
agregada. A hipótese da renda permanente, no entanto, prevê princípio. O corte fiscal de 1964 foi popular. Foi anunciado como
que o consumo reage apenas a variações da renda permanente. uma grande e permanente redução das taxas de impostos. Como
CONSUMO 311
'
examinamos no Cap. 10, essa mudança de política fiscal teve o te, com uma sobretaxa temporária - em essência, um aumen-
efeito desejado de estimular a economia norte-americana. to dos impostos de um ano. A sobretaxa não teve o efeito dese-
A sobretaxa fiscal de 1968 ocorreu em um clima político jado de reduzir a demanda agregada. O desemprego continuou
muito diferente. Tomou-se lei porque os assessores econômi- a cair, e a inflação continuou a subir.
cos do presidente Lyndon Johnson acreditavam que o aumen- A lição a ser aprendida com esses episódios é que uma aná-
to do gasto do governo na Guerra do Vietnã estimulara exces- lise completa da política fiscal deve ir além da simples função
sivamente a demanda agregada. Para contrabalançar esse efei- consumo keynesiana; deve levar em consideração a distinção
to, recomendaram um aumento de impostos. Mas Johnson, entre renda permanente e renda transitória. Se os consumido-
consciente de que a guerra já era impopular, receava as reper- res esperam que uma mudança fiscal seja temporária, será me-
cussões políticas de impostos mais altos. Concordou, finalmen- nor o impacto no consumo e na demanda agregada.

16-5 ROBERT HALL E A HIPÓTESE DO PASSEIO ALEATÓRIO


A hipótese da renda permanente baseia-se no modelo de esco- recebem notícias que os levam a rever suas expectativas. Por
lha intercemporal de Fisher. Surge da idéia de que os consumi- exemplo, urna pessoa que recebe uma promoção inesperada
dores prev identes baseiam suas decisões de consumo não ape- aumenta o consumo, enquanto a pessoa que é rebaixada ines-
nas em sua renda corrente, mas também na renda que esperam peradamente diminui o consumo. Em outras palavras, as vari-
receber no futuro. Assim, a hipótese da renda permanente des- ações do consumo refletem "surpresas" sobre a renda ao longo
taca que o consumo depende das expectativas das pessoas. da vida. Se os consumidores usam todas as informações dispo-
A pesquisa recente sobre o consumo tem combinado essa níveis em termos ideais, então só devem ficar surpresos com os
visão do consumidor com o pressuposto de expectativas racio- eventos que são inteiramente imprevisíveis. Portanto, as vari-
nais. O pressuposto de expectativas racionais enuncia que as ações do consumo devem também ser imprev isíveis. 5
pessoas usam todas as informações disponíveis para fazer pre-
visões ideais sobre o futuro. Como mostramos no Cap. 13, esse
pressuposto pode ter profundas implicações para os custos de IMPLICAÇÕES
contenção da inflação. Pode também ter implicações profun- O método das expectativas racionais no consumo tem impli-
das para o estudo do comportamento do consumidor. cações não apenas para a previsão, mas também para a análise
das políticas econômicas. Se os consumidores seguem a hipótese
dn rendn permanente e têm expectativas racionais, apenas as mu-
A HIPÓTESE danças de políticas econômicas inesperadas infiuenciam o consumo.
O economista Robert Hall foi o primeiro a projetar as impli- Essas mudanças de políticas econômicas passam a ter efeito quando
cações das expectativas racionais para o consumo. Demons- eles mudnm as expectativas. Suponha, por exemplo, que o Con-
trou que, se a hipótese da renda permanente estiver correta, gresso aprove hoje um aumento de impostos para entrar em
e se os consumidores têm expectativas racionais, as variações vigor no próximo ano. Nesse caso, os consumidores recebem a
do consumo ao longo do tempo devem ser imprevisíveis. notícia sobre suas rendas ao longo de suas vidas quando o Con-
Quando as variações de uma variável são imprevisíveis , diz- gresso aprova a lei (ou mesmo antes, se a aprovação do projeto
se que essa variável segue um passeio aleatório. Segundo Hall, era previsível). A notícia faz com que os consumidores reve-
a combinação da hipótese da renda permanente com as ex- jam suas expectativas e reduzam o consumo. No ano seguinte,
pectativas racionais indica que o consumo segue um passeio quando o aumento de impostos entra em vigor, o consumo
aleatório. permanece inalterado, pois não há qualquer notícia nova.
Hall raciocinou da seguinte maneira. Segundo a hipótese da Assim, se os consumidores têm expectativas racionais, as
renda permanente, os consumidores enfrentam uma renda flu- autoridades influenciam a economia não apenas por meio de
tuante, e tentam da melhor maneira possível manter o consu- suas ações, mas também por meio da expectativa do público
mo constante ao longo do tempo. A qualquer momento, os quanto a suas ações. As expectativas, no entanto, não podem
consumidores optam por um nível de consumo com base em ser observadas diretamente. Por isso, muitas vezes é difícil sa-
suas expectativas correntes de suas rendas ao longo de suas vi- ber como e quando as mudanças da política fiscal alteram a de-
das. Com o passar do tempo, eles mudam o consumo, porque manda agregada.

;Robert E. Hall. "Stochastic lmplications of the Llfe Cycle-Permanent lncome Hypothesis: Theory and Evidence", Joumal of Po!iticat Economy 86 (abril de 1978): 971-987.
312 CAPÍTULO 16
1
ESTUDO DE CASO
As VARIAÇÕES PREVISÍVEIS DA RENDA LEVAM A VARIAÇÕES consumo já em reação a essa informação. Assim, as variações
PREVISÍVEIS DO CONSUMO? previsíveis da renda não deveriam acarretar variações previsí-
Entre os muitos fatos relativos ao comportamento do consu- veis do consumo.
midor, um é impossível de contestar: a renda e o consumo os- Os dados sobre consumo e renda, porém, parecem não sa-
cilam juntos ao longo do ciclo econômico. Quando a econo- tisfazer essa implicação da teoria do passeio aleatório. Quando
mia entra em recessão, a renda e o consumo caem; quando a se espera que a renda caia $1, o consumo cairá em média, ao
economia cresce, a renda e o consumo aumentam rapidamen- mesmo tempo, cerca de $0,50. Em outras palavras, as variações
te. previsíveis da renda acarretam variações previsíveis do consu-
Por si só, esse fato não diz muito sobre a versão de expecta- mo que têm aproximadamente a metade do seu tamanho.
tivas racionais da hipótese da renda permanente. A maior par- Por que isso acontece? Uma possível explicação para esse
te das oscilações de curto prazo é imprevisível. Assim, quando comportamento é que alguns consumidores podem deixar de
a economia entra em recessão, o consumidor típico recebe más ter expectativas racionais. Em vez disso, podem basear suas
notícias sobre sua renda vitalícia, e por isso o consumo natu- expectativas de renda futura, em termos excessivos, na renda
ralmente cai. E quando a economia cresce, o consumidor típi- corrente. Assim, quando a renda aumenta ou cai (até mesmo
co recebe boas notícias, e por isso o consumo aumenta. Esse em termos previsíveis), eles agem como se recebessem notícias
comportamento não viola necessariamente a teoria do passeio sobre seus recursos ao longo da vida e mudam o consumo de

..,,
aleatório, segundo a qual é impossÍ\'el prever variações do con- acordo. Outra possível explicação é que alguns consumidores
sumo . têm restrição de empréstimo, e por isso baseiam seu consumo
,,,,.1 Suponha, no entanto, que pudéssemos identificar algumas apenas na renda atual. Independentemente da explicação cor-
,.., variações previsíveis da renda. Segundo a teoria do passeio ale- reta, a função consumo original de Keynes começa a parecer
,.1
.•.
I\ ', atório, essas variações na renda não devem levar os consumi- mais atraente. Ou seja, na determinação do gasto do consumi-
dores a rever seus planos de gasto. Se os consumidores espera- dor, a renda atual tem um papel maior do que sugere a hipóte-

....•'
' ':•
vam que a renda subisse ou caísse, deveriam ter ajustado seu se do passeio aleatório.1'

..,.....
..
16.6 DAVID LAIBSON E A PRESSAO POR
GRATIFICAÇAO IMEDIATA
..r: Keynes sustentou que a função consumo era uma "lei psicoló- o suficiente para a aposentadoria. Em outra pesquisa referente
"'
gica fundamental". Contudo, como vimos, a psicologia vem de- à geração do baby-boom, perguntou-se aos entrevistados qual
sempenhando um papel mínimo no estudo subseqüente do era o percentual da renda que eles poupavam e o percentual
consumo. A maioria dos economistas pressupõe que os consu- que eles achavam que eles deveriam poupar. A falta de pou-
.,, midores são maximizadores racionais da utilidade, que sempre pança foi em média de 11 pontos percentuais .
•-. avaliam suas oportunidades e planos a fim de obter a maior Segundo Laibson, a insuficiência Je poupança está relacio-
satisfação ao longo da vida. Esse modelo de comportamento nada com outro fenômeno: a pressão da gratificação imediata.
humano foi a base de todo o trabalho de lrdng Fisher e Robert Pense nas seguintes questões:
Hall sobre a teoria dn consumo.
Questão 1: Você prefere (A) um bombom hoje ou (B)
Mais recentemente, os economistas começaram ,1 retomar 11
dois bombons amanhã?
psicologia. Eles têm sugerido que as decisões de consumo não são
Questão 2: Você prefere (A) um bombom em 100 dias ou
tomadas pelo homo economicus ultra-racional, mas sim por seres
(B) dois bombons em 101 dias?
humanos reais, cujo comportamento pode estar longe do racio-
nal. O mais proeminente economista que introduz a psicologia Muitas pessoas confrontadas com essas opções responderão A
no estudo do consumo é David Laibson, professor de Harvard. à primeira questão e B à segunda. De certa maneira, elas são
Laibson observa que muitos consumidores consideram-se mais pacientes no longo prazo do que no curto prazo.
tomadores de decisão imperfeitos. Em um levantamento do Isso aumenta a possibilidade de que as preferências dos con-
público americano, 76% disseram que não estavam poupando sumidores possam ser inconsistentes no tempo: eles podem alce-

"John Y. Campbell e N. Gregory Mankiw, "Consumprion, lncome, and lnrerest Rates: Reinterpreting rhe Time-Series Evidence", NBER Macroeconomics Annual ( 1989): 185-
216;Jonarhan Parker, "The Response of Househnld Consumption to Predicrable Changes in Social Securicy Taxes", American Economic Review 89 (setembro de 1999): 959-973;
e Nicholas S. Souleles, "The Response of Household Consumprion m lncnme Tax Refunds", American Economic Re~iew 89 (setembro de 1999): 94 7-958.
i
CONSUMO 313

rar suas decisões simplesmente porque o tempo passa. Uma mesmo que amanhã cortará gastos e passará a poupar mais para
pessoa confrontada com a questão 2 pode escolher B e esperar a aposentadoria. Mas, quando o amanhã chega, as promessas
o dia extra para o bombom extra. Mas, depois que os 100 dias estão no passado, e um novo eu assume o controle da tomada
passam, ela é confrontada com a questão 1. A pressão por gra- de decisão, com seu próprio desejo de gratificação imediata.
tificação imediata pode induzi-la a mudar de idéia. Essas observações suscitam tantas questões quantas respon-
Vemos esse tipo de comportamento em muitas situações na dem. O foco renovado dos economistas na psicologia vai ofe-
vida. Uma pessoa que está fazendo dieta pode servir-se pela recer uma compreensão melhor do comportamento do consu-
segunda vez ao jantar, prometendo a si mesma que comerá midor? Oferecerá novas indicações para que, por exemplo, a
menos no dia seguinte. Uma pessoa pode fumar mais um cigar- política fiscal estimule a poupança? É muito cedo para dizer,
ro, enquanto se promete que será o último. E um consumidor mas sem dúvida essas questões estão em primeiro plano na agen-
pode se esbaldar em um shopping cemer, enquanto promete a si da da pesquisa econômica!

16-7 CONCLUSAO
Na obra de seis proeminentes economistas, apresentamos uma Em outras palavras, a renda atual é ape nas um determinante
progressão das posições sobre o comportamento do cnnsumi- do con~umo agregado.
dor. Keynes propôs que o consumo depende em grande parte Os economistas continuam a dehater a importância desses
da renda corrente. Desde então, os economistas têm argumen- determinantes do consumo. Permanece a divergência a respei-
tado que os consumidores compreendem que enfrentam uma to, por exemplo, da influência das taxas de juros no gasto do
decisão intertemporal. Os consumidores prevêem seus recur- consumidor, a prevalência das restrições de empréstimo e na
sos e suas necessidades futuros , o que indica uma função con- importância dos efeitos psicológicos. Os economistas às vezes
sumo mais complexa do que a proposta por Keynes. A suges- divergem quanto à política econômica porque pressupõem di-
tão de Keynes foi de uma função consumo com a forma ferentes funções consumo. Por exemplo, como ressaltamos no
Consumo = [(Renda Corrente). capítulo anterior, o dehate sobre os efeitos da dívida do gover-
no é em parte um debate sohre os determinantes do gasto do
Os crabalhos recentes, em vez disso, sugerem que
consumidor. O papel fundamental do consumo na avaliação da
Consumo política econômica com certeza manterá o interesse dos eco-
f(Renda Corrente, Riqueza, Renda Futura faperada, nomistas pelo estudo do comportamento do consumidor por
Taxas de Juros). muitos e muitos anos.

RESUMO
1. Keynes conjecturou que a propensão marginal a consumir quanto o consumidor puder poupar e emprestar, o consumo
situa-se entre zero e um, que a propensão média a comumir depende dos seus recursos ao longo de suas vidas.
cai à medida que a renda sohe, e que a renda corrente é o
3. A hipótese do ciclo de vida, de Modigliani, enfatiza que a
principal determinante do consumo. Estudos de dados de renda \·aria de maneira um tanto previsível ao longo da vida
famílias e de curtos períodos confirmaram as conjecturas de de uma pessoa, e que os consumidores usam a poupança e o
Keynes. Contudo, estudos de prazos longos não descobriram empréstimo para manter o consumo estável ao longo da vida.
qualquer tendência de a propensão média a consumir cair à Segundo essa hipótese, o consumo depende da renda e da
medida que a renda sobe. riqueza.
2. O trabalho recente sobre o consumo decorre do modelo do 4. A hipótese da renda permanente de Friedman enfatiza que
consumidor de Irving Fisher. Nesse modelo, o consumidor as pessoas experimentam oscilações permanentes e oscila-
enfrenta uma restrição orçamentária intertemporal e esco- ções transitórias em sua renda. Como os consumidores po-
lhe o consumo para o presente e para o futuro, a fim de al- dem poupar e emprestar, e porque querem manter seu con-
cançar o mais alto nível de satisfação durante a vida. En- sumo estável, o consumo não reage muito à renda transitá-

'Para saber mais sobre esse assunto, veja David L,ibson, "Golden Eggs and Hyperbol ic Discounring", Quarterly ]oumal of Economics 62 (maio de 1997): 443-477; e George-
Marios Angelerns, David Laibson, Andrea Repetto, Jeremy Tobacman e Srephen Weinberg, "The Hyperbolic Buffer Stock Model: Calibration, Simularion, and Empmcal Evi-
dence''. Jouma! ofEconomic Perspecrives. 15 (3) (verão de 2001): 47-68.
,..
314 CAPITULO 16
T
i

ria. O consumo depende principalmente da renda perma- cebem notícias sobre seus recursos ao longo de suas Vi-
nente. das .
5. A hipótese do passeio aleatório de Hall combina a hipó- 6. Laibson sugeriu que os efeitos psicológicos são importantes para
tese da renda permanente com a suposição de que os con- se compreender o comportamento do consumidor. Em parti-
sumidores têm expectativas racionais sobre a renda futu- cular, como as pessoas têm um forte desejo de gratificação
ra. Sugere que as variações do consumo são imprevisíveis, imediata, podem apresentar comportamento inconsistente no
porque os consumidores só mudam o consumo quando re - tempo, e podem acabar poupando menos do que gostariam.

CONCEITOS-CHAVE
Propensão marginal a consumir Bem normal Poupança precaucional
Propensão média a consumir Efeito renda Hipótese da renda permanente
Restrição orçamentária intertemporal Efeito substituição Renda permanente
Desconto Restrição de empréstimo Renda transitória
Curvas de indiferença Hipótese do ciclo de vida Passeio aleatório
Taxa marginal de substituição

QUESTOES PARA REVISAO


L Quais foram as três conjecturas de Ke ynes sobre a função consumo? se defronta com uma restrição de empréstimo compulsória e o caso
2. Descreva a evidência que fo i coerente com as conjecturas de Keynes em que isso não acontece.
e as evidências que foram incoerentes. 5. Explique por que as variações do consumo são imprevisíveis se os
3. Como as hipóteses do ciclo de vida e da renda permanente resol- consumidores seguem a hipótese da renda permanente e têm ex-
vem as evidências aparentemente contraditórias relativas ao com- pectativas racionais.
portamento de consumo? 6. Dê um exemplo em que alguém pode exibir preferências inconsis-
4, Use o modelo de consumei de Fisher para analisar um aumento da tentes no tempo.
renda no segundo período. Compare o caso em qt1e o consumidor

PROBLEMAS E APLICAÇÕES
1. O capítulo usa o m0delo Fisher para examinar uma mudança n a 3. O capítulo analisa o modelo de Fisher para o caso em que o consu-
taxa de juros em um consumidor que poupa parte de sua renda do midor pode poupar ou emprestar a uma taxa de juros repara o caso
primeiro período. Suponha, em vez disso, que o consumidor seja em que o consumidor pode poupar a essa taxa, mas não pode abso-
um tomador de empréstimo. Como isso altera a análise? Analise lutamente tomar emprestado. Reflita agora sobre o caso interme-
os efeitos renda e substituição no consumo nos dois períodos. diário, em que o consumidor pode poupar a uma taxa r. e tomar
emprestado a uma taxa r1., em que r. < r 1••
2. Jack e J ili seguem o modelo de consumo de dois períodos de Fisher. a. Qual é a restrição orçamentária do consumidor no caso em que
Jack ganha $100 no primeiro período e $100 no segundo período. ele consome menos do que a sua renda no período um?
Jili nada ganha no primeiro período, mas ganha $ 21 Ono segundo. b. Qual é a restrição orçamentária do consumidor no caso em que
Os dois podem comar emprestado ou emprestar à taxa de juros r . ele consome mais do que sua renda no período um?
a. Você observa tanto Jack quanto Jill consumindo $100 no pri- c. Mostre em gráfico as duas restrições orçamentárias e sombreie
meiro período e $100 no segundo período. Qual é a taxa de juros a área que representa a combinação de consumo no primeiro
r? período e no segundo que o consumidor pode escolher.
b. Suponha que a taxa de juros aumente. O que acontecerá com d. Agora, acrescente ao gráfico as curvas de indiferença do con-
o consumo de Jack no primeiro período? Jack se encontra em sumidor. Mostre três resultados possíve is: um em que o consu-
melhor ou pior situação do que antes de a taxa de juros subir? midor poupa, outro em que ele toma emprestado, e mais outro
c. O que acontecerá com o consumo de Jill no primeiro período em que ele não poupa nem torna emprestado.
quando a taxa de juros aumentar? Jill está em melhor ou pior e. O que determina o consumo no primeiro período em cada um
situação do que antes de a taxa de juros subir? dos três casos?
CONSUMO 315

4. Explique se as restrições de empréstimo aumentam ou diminuem Você considera que o mais realista é o caso (a) ou o caso (b)?
a capacidade da política fiscal de influenciar a demanda agregada
em cada um dos seguintes casos: 6. Os demógrafos prevêem que a parcela de idosos da população au-
a. Um corte fiscal temporário. mentará ao longo dos próximos 20 anos. O que o modelo do ciclo
b. Um futuro cone fisc al anunciado. de vida prevê para a influência dessa mudança demográfica na taxa
de poupança nacional?
5. No estudo da hipótese do ciclo de vida do texto, pressupõem-se 7. Um estudo mostrou que os idosos que não têm filhos despoupam
que a renda é constante durante o período antes da aposentadoria. mais ou menos à mesma taxa que aqueles que têm filhos. O que
Para a maioria das pessoas, no entanto, a renda aumenta ao longo esse levantamento pode indicar sobre o motivo pelo qual os ido-
da vida. Como esse crescimento da renda influencia o padrão de sos não despoupam tanto quanto prevê o modelo do ciclo de vida?
consumo e de acumulação de riqueza ao longo da vida mostrado 8. Considere duas contas de poupança que pagam a mesma taxa de
na Fig. 16-2 nas seguintes condições? juros. Uma conta permite que você retire o dinheiro quando qui-
a. O s consumidores podem tomar emprestado, de modo que sua ser. A segunda exige que você comunique as retiradas com 30 dias
riqueza pode ser negativa. de antecedência. Que conta você preferiria? Por quê? Você pode
b. Os consumidores enfrentam restrições de empréstimo, o que imaginar uma pessoa capaz de fazer a opção oposta? O que essas
impede a riqueza de cair abaixo de zero. opções dizem sobre a teoria acerca da função consumo 7
Capítulo 17

INVESTIMENTO

O investimento é o mais volátil dos componentes do PIB. Há três tipos de gasto com investimento. O investimento
Quando o gasto com bens e serviços cai durante um período em capital fixo privado inclui os equipamentos e as estruturas
de recessão, boa parte do declínio em geral decorre de uma que as empresas compram para usar na produção. O investi-
queda do gasto com investimento. Na profunda recessão dos mento em residência inclui os imóveis novos que as pessoas
Estados Unidos em 1982, por exemplo, o PIB real caiu $105 compram para morar ou para alugar. O investimento em esto-
bilhões do seu pico, no terceiro trimestre de 1981, para o pon- que inclui os bens que as empresas guardam em armazenagem,
to mais baixo, no quarto trimestre de 1982. O gasto com in- inclusive matéria-prima e suprimentos, trabalho em processo
vestimento no mesmo período caiu $152 bilhões, representando e produtos acabados. A Fig. l 7-1 mostra o investimento total
mais do que toda a queda do gasto. e seus três componentes nos Estados Unidos desde 1970. Pode-
Os economistas estudam o investimento para compreender se constatar que todos os tipos de investimentos diminuem de
melhor as oscilações da produção de bens e serviços da econo- modo substancial durante as recessões, como aparece nas áreas
mia. Os modelos de PIB que estudamos em capítulos anterio- sombreadas da figura.
res, tal como o modelo JS-LM, nos Caps. 10 e 11, baseavam-se Neste capítulo, desenvolveremos modelos de cada tipo de
em uma função investimento simples, relacionando investi- investimento para explicar essas oscilações. Os modelos vão es-
mento com a taxa de juros real: I = I(r). Essa função enuncia clarecer as seguintes questões:
que um aumento da taxa de juros real reduz o investimento.
> Por que o investimento é negativamente relacionado com
Neste capítulo, examinaremos mais ,i fundo a teoria subjacen-
a taxa de juros?
te a essa função investimento.

Bilhões de
dólares de 1996 2.000

1.750

1.500

1.250

1.000 Total

750

500

250

Ql------------------------------
- 2 5O L-.,__-'--.,__-'----.,__.l.-_.__...__...__...__...__...___.__.__._..L-...J.....-'-..L---'--'---'--'---'---'-- ' --'--'--'--'--'-
1980 1985 1990 1995 2000
1970 1975
Ano

Fig. 17-1 Os Três Componentes do Investimento A figura mostra o investimento total, o investimento em capital fixo privado, o investimento
residencial e o investimento em estoques nos Estados Unidos de 1970 a 2001. Observe que todos os tipos de investimento diminuem de modo subs-
tancial durante os períodos de recessão, que são indicados pelas áreas sombreadas.
Fonte.· U. S. Department of Comme, ce .
INVESTIMENTO 317

> O que causa deslocamento da função investimento? Ao final do capítulo, voltaremos a essas questões e apresen-
> O que faz o investimento aumentar durante os períodos de taremos as respostas que os modelos oferecem.
crescimento econômico e diminuir nos períodos de recessão ?

17-1 INVESTIMENTO EM CAPITAL FIXO PRIVADO


A maior parcela de gasto com investimento, representando
cerca de três quartos do total, é o investimento em capital fixo
o PREÇO DE ALUGUEL DO CAPITAL
privado. O termo "privado" significa que esses bens de investi- Vamos primeiro considerar a empresa de produção típica. Como
mento são comprados por empresas para uso em produção fu- examinamos no Cap. 3, essa empresa decide quanto capital
tura. O termo "capital fixo" significa que esse gasto é para ca- alugar pela comparação de custo e benefício de cada unidade
pital que vai permanecer instalado por algum tempo, em com- de capital. A empresa aluga o capital a um custo de aluguel R e
paração com o investimento em estoque, que será usado ou vende sua produção a um preço P; o custo real de uma unidade
vendido mais tarde, no curto prazo. O investimento em capi- de capital para a empresa de produção é R/P . O beneffcio real
tal fixo privado inclui tudo, desde aparelhos de fax até fáhri- de uma unidade de capital é o produto marginal do capital
cas, desde computadores até ,·eículos da empresa. PMgK, a produção extra que se obtém com mais uma unidade
O modelo padrão de investimento em capital fixo privado de capital. O produto marginal do capital declina à medida que
é chamado de modelo neoclássico de investimento. O mode- aumenta a quantidade de capital: quanto mais capital a empresa
lo neoclássico examina os benefícios e os custos que as empre- tem, menos uma unidade adicional de capital ela aumentará
sas têm com a posse de bens de capital. O modelo mostra como em sua produção. O Cap. 3 concluiu que, para maximizar o
o nível de investimento - o acréscimo ao estoque de capital lucro, a empresa aluga capital até que o produto marginal do
- relaciona-se com o produto marginal do capital, com a taxa capital diminua e se torne igual ao preço real de aluguel.
de juros e com as regras tributárias relativas às empresas. A Fig. 17-2 mostra o equilíbrio no mercado de aluguel de
Para desenvolver o modelo, imagine que h á dois tipos de capital. Pelas razões já analisadas, o produto marginal do capi-
empresas na economia. As empresas de produção produzem bens tal determina a curva da demanda. A curva de demanda é ne-
e serviços usando capital alugado. As empresas de locação efe- gativamente inclinada pon,1ue o produto marginal do capital é
tuam todos os investimentos na economia; compram capital e baixo quando o nível de capital é alto. Em qualquer ponto no
alugam para as empresas de produção. É claro que a maioria das tempo, a quantidade de capital da economia é fixo, e por isso a
empresas na economia de fato desempenha as duas funções: curva de oferta é vertical. O preço real de aluguel de capital
produzem bens e serviços, e investem em capital para produ- ajusta-se para equilihrar oferta e demanda.
ção futura. Nossa análise é mais simples, no entanto, se sepa- Para enrender quais varh'íveis influem no preço de equilí-
rarmos essas duas atiYidades, imaginando que ocorrem em brio de aluguel, consideraremos uma função de produção espe-
empresas diferentes. cífica. Como o apêndice do Cap. 3 analisa, muitos economis-

Preço real de aluguel, R/ P


Oferta de capital

K Volume de capital, K

Fig. 17-2 O Preço de Aluguel do Capital O preço real de aluguel do capital ajusta-se para equilibrar a demanda por capital (determinada pelo
produto marginal do capital) e a oferta fixa de capital.
318 CAPITULO 17

tas consideram a função de produção Cobb-Douglas uma boa 2. Enquanto a empresa de locação está alugando o capital, 0
aproximação da maneira como a economia real transforma preço do capital pode mudar. Se o preço do capital cai, a
capital e trabalho em bens e serviços. A função de produção empresa perde, porque seu ativo diminuiu de valor. Se o
Cobb-Douglas é preço do capital sobe, a empresa ganha, porque seu ativo
aumentou de valor. O custo dessa perda ou ganho é -ÁPi:;.
Y = AKªV - ª, (O sinal de menos está aqui porque estamos medindo cus-
em que Y é produto, K é capital, L é trabalho, A é um parâme- tos, não benefícios.)
tro para se medir o nível de tecnologia e a é um parâmetro entre 3. Enquanto está alugado, o capital sofre desgaste, chamado de
zero e um, que mede a participação do capital no produto. O depreciação. Se 8 é a taxa de depreciação - a fração de valor
produto marginal do capital da função de produção Cobb- perdida por causa do desgaste - o custo em dólar da depre-
Douglas é ciação é 8PK.
PMgK = aA(L/K) 1 - ª. O custo total de aluguel de uma unidade de capital por um
Como o preço de aluguel é igual ao produto marginal do capi- período é, portanto,
tal em equilíbrio, podemos escrever Custo do Capital= iPK - ÁPK + 8PK
R/P = cxA(L/K) 1 - ". = Pdi - ÁPK/PK + õ).
Essa expressão identifica as variáveis que determinam o preço O custo do capital depende do preço do capital, da taxa de ju-
real de aluguel. Mostra o seguinte: ros, da taxa à qual os preços do capital variam, e a taxa de de-
preciação.
> Quanto mais baixo o capital instalado, mais alto o preço Por exemplo, considere o custo de capital de uma empresa
real de aluguel. de aluguel de carros. A empresa compra carros por $10.000 cada,
> Quanto maior o trabalho empregado, maior o preço real e os aluga para outras empresas. A empresa arca com uma taxa
de aluguel do capital.
de juros ide 10% ao ano. Portanto, o custo de juros iPK é de
> Quanto melhor a tecnologia, maior o preço real de alu-
..,. $1.000 para cada carro de propriedade da empresa. Os preços
guel do capital.
dos carros sobem 6% ao ano. Assim, excluindo a depreciação,
Os eventos que reduzem o capital instalado ( um terremo- a empresa obtém um ganho de capital ÁPK de $600 por ano.
,.\. to), ou aumentam o emprego ( uma expansão da demanda agre- Os carros depredam a 20% ao ano. Portanto, a perda decor-
-
,• gada), ou melhoram a tecnologia (uma descoberta científica)
aumentam o preço real de equilíbrio de aluguel do capital.
rente do desgaste õPK é de $2.000 por ano. Assim , o custo de
capital da empresa é
Custo de Capital = $1.000 - $600 + $2.000
,JI o CUSTO DO CAPITAL = $2.400.
,,,
... Considere agora as empresas de locação. Essas empresas, tal O custo da empresa de aluguel de carro em manter um carro
como as locadoras de automóveis, simplesmente compram bens em seu capital instalado é de $2.400 por ano.
de capital e oferecem para alugar. Como nosso obJetivo é ex- Para tornar a expressão do custo de capital mais simples
"''·: plicar os investimentos feitos pelas empresas de locação, come- e mais fácil de interpretar, suponha que o preço de bens de
cemos pelo benefício e o custo de se possuir capital. capital aumenta com os preços de outros bens. Neste caso,
O benefício de se possuir capital é a receita de se alugar para ÁPK/PKé igual à taxa geral de inflação 'lT. Como i - 'lT é igual
as empresas de produção. A empresa de locação recebe o preço à taxa de juros real, podemos escrever o custo de capital
real de aluguel do capital R/P para cada unidade de capital que como
possui e aluga.
O custo de se possuir capital é mais complexo. Para cada Custo de Capital = PK(r + õ) .
período durante o qual ela aluga uma unidade de capital, a Essa equação enuncia que o custo de capital depende do preço
empresa de locação arca com três custos. do capital, da taxa de juros real e da taxa de depreciação.
1. Quando uma empresa de locação toma emprestado para com- Finalmente, queremos expressar o custo de capital relativo
prar uma unidade de locação, deve pagar juros sobre o emprés- a outros bens da economia. O custo real de capital - o custo
timo. Se PK é o preço de compra de uma unidade de capital e de comprar e alugar uma unidade de capital, medido em uni-
i é a taxa de juros nominal, então iPK é o custo dos juros. Ob- dades de produto da economia, é
serve que esse custo de juros persistiria mesmo que a empresa
Custo Real do Capital= (PJP)(r + 8).
de locação nãO tivesse de tomar emprestado: se a empresa de
locação compra uma unidade de capital usando seu próprio Essa equação enuncia que o custo real do capital depende do
dinheiro, perde os juros que poderia ganhar se o tivesse apli- preço relativo de um bem de capital PK/P, da taxa de juros real
cado. Em qualquer dos casos, o custo dos juros é iPK. r e da taxa de depreciação õ.
INVESTIMENTO 319

ÜS DETERMINANTES DO INVESTIMENTO essa empresa aumenta seu capital instalado se o produto mar-
ginal do capital supera o custo do capital. Assim, podemos es-
Considere agora, a decisão de uma empresa de locação sobre crever
aumentar ou diminuir seu capital instalado. Para cada unidade
de capital, a empresa obtém uma receita real R/P e arca com o LiK = ln [PMgK - (PJ P)(r + õ)],
custo real (PK/P)(r + 6). O lucro real por unidade de capital é
em que In( ) é a função que mostra quanto o investimento lí-
T axa de Lucro = Receita - Custo quido reage ao incentivo para investir.
= R/P - (PK/P)(r + 6) . Podemos agora derivar a função de investimento. O gasto
total em investimento de capital fixo privado é a soma do in-
Como o preço real de aluguel em equilíbrio é igual ao produto
vestimento líquido e a substituição do capital depreciado. A
marginal do capital, podemos escrever a taxa de lucro como
função investimento é
Taxa de Lucro= PMgK - (PK/P)(r + õ).
I = ln [PMgK - (PK/P)(r + õ)] + õK.
A empresa de locação tem lucro se o produto margin al do ca-
pital for maior que o custo do capital. Há uma perda se o pro- O investimento de capital fixo privado depende do produto
duto margin al for menor que o custo do capital. marginal do capital, do custo do capital e do montante de de-
Podemos agora perceber os incentivos econômicos que se preciação.
encontram por trás da decisão de investimento da empresa de Esse modelo mostra por que o investimento depende da taxa
locação. A decisão da empresa em relação ao capital instalado de juros. Uma diminuição da taxa de juros real reduz o custo
- ou seja, se aumenta,o ou deixa que deprecie - depende de de capital. Portanto, aumenta o lucro oriundo da posse de ca-
determinar se é lucrativo possuir ou alugar capital. A variação pital , e incentiva a acumulação de mais capital. De maneira
do capital instalado, ch amada de investimento líquido, depen- semelhante, um aumento da taxa de juros real eleva o custo do
de da diferença entre o produto marginal do capital e o custo capital e faz com que as empresas reduzam seu investimento.
do capital. Se ô produto margiTll!l do capital supera o custo do ca- Por esse motivo, a curva de investimento relacionando o in-
pital, as empresas consideram lucrativo aumentar o capital instala- vestimento com a taxa de juros é negativamente inclinada,
do. Se o produto marginal do capital fica aquém do custo do capi- como no gráfico (a) da Fig. 17-3.
tal, elas deixam o capital instai.ado diminuir . O modelo também mostra o que causa o deslocamento da
Podemos agora perceber também que a separação da ativi- curva de investimento. Qualquer evento que aumente o pro-
dade econômica entre empresas de produção e empresas de duto marginal do capital eleva a lucratividade do investimen-
locação, embora útil para esclarecer nosso pensamento, não é to e faz com que a curva de investimento se desloque para fora,
necessária para a conclusão sobre a maneira como as empresas como no gráfico (b) da Fig. 17-3. Por exemplo, uma inovação
decidem quanto investir. Para uma empresa que ao mesmo tem- tecnológica que aumenta o parâmetro A da função de produ-
po utiliza e possui o capital. o benefício de uma unidade extra ção eleva o produto marginal do capital e, para qualquer taxa
de capital é o produto marginal do capital, e o custo é o custo de juros dada, também aumenta a quantidade de bens de capi-
do capital. Tal como uma empresa que possui e aluga capital, tal que a empresa de locação deseja comprar.

(a) A Função Investimento Negativamente Inclinada (b) Deslocamento da Função Investimento


Taxa de juros Taxa de juros
real, r real, r

Investimento, 1 Investimento,/

Fig. 17-3 A Função Investimento O gráfico (a) mostra que o investimento em capital fixo privado aumenta quando a taxa de juros cai. Isso acon·
tece porque uma taxa de juros mais baixa reduz o custo do capital e faz com que possuir capital seja mais lucrativo. O gráfico (b) mostra um deslo-
camento para fora da função investimento, o que pode ser decorrente de um aumento do produto marginal do capital.
r 320 CAPITULO 17

Finalmente, pense no que acontece à medida que esse ajus- ciação como um custo. Ou seja, baseia a depreciaçãó no quan-
te do capital instalado continua ao longo do tempo. Se o pro- to custaria hoje substituir o capital depreciado. Em contraste,
duto marginal começa acima do custo de capital, o capital ins- sob as leis tributárias, as empresas deduzem a depreciação usan-
talado aumentará e o produto marginal do capital cairá. Se o do o custo histórico. Ou seja, a dedução da depreciação baseia-
produto marginal do capital começa abaixo do custo de capi- se no preço do capital quando foi originalmente adquirido. Em
tal, o capital instalado cairá e o produto marginal subirá. Even- períodos de inflação, o custo de substituição é maior que o cus-
tualmente, à medida que o capital instalado se ajusta, o produ- to histórico, e por isso o imposto sobre a pessoa jurídica tende
to marginal do capital aproxima-se do custo do capital. Quan- a diminuir o custo da depreciação e exagerar o lucro. Em con-
do o capital instalado alcança um nível de estado estacionário, seqüência, a lei fiscal percebe um lucro e cobra um imposto
podemos escrever mesmo quando o lucro econômico é zero, o que faz com que
seja menos atraente possuir capital. Por essa e por outras razões,
PMgK = (PK/P)(r + õ) . muitos economistas acham que o imposto de renda sobre pes-
Assim, no longo prazo, o produto marginal do capital é igual soa jurídica é um desestímulo ao investimento.
ao custo real do capital. A velocidade do ajuste ao estado esta- O crédito fiscal ao investimento é um dispositivo tributá-
cionário depende da rapidez com que as empresas ajustam seu rio que incentiva a acumulação de capital. O crédito fiscal ao
capital instalado, n que, por sua vez, depende dn custo de cons- investimento reduz os impostos de uma empresa em determi-
truir, entregar e instalar capital no\'o. 1 nado montante para cada dólar gasto em bens de capital. Como
a empresa recupera parte de seu gasto em novo capital com
impostos mais baixos, o crédito reduz o preço efetivo de uma
IMPOSTOS E INVESTIMENTO unidade de capital PK. Assim, o crédito fiscal ao investimento
reduz o custo de capital e aumenta o investimento.
,.., As leis trihuté'irias influenciam de muitas maneiras (is incenti-
Muitos economistas acham que o crédito fiscal ao investi-
,! vos às empresas para acumularem capital. Às vezes os formula-
:,· mento é uma maneira efetiva de estimular n investimento. Em
dores de política econômica mudam as leis tribut,írias para al - 1985, o crédito fiscal ao investimento era de 10% nos EUA.
terar a função investimento e influenciar a demanda agregada. Mas a reforma fiscal de 1986, que reduziu o imposto de renda
Consideraremos aqui dois dns mais imporrantes dispositi\'OS da sohre pessoa jurídica, também el iminou o crédito fiscal ao in-
...
.!
tributação sühre empresas: n imposto de renda sobre pessoa
jurídica e o crédito fiscal ao im·estimento .
\·estimento. Quando Bill Clinton candidatou-se à presidência
em 1992, uma de suas propostas era o restabelecimento do cré-
:: O imposto de renda sobre pessoa jurídica é um imposto dito fiscal ao investimento. Essa mudança da lei fiscal, no en-
sohre os lucros das empresas. Ao longo da maior parte dos últi - tanto, não se consumou.'
.~ mos 40 anos, a tarifa de imposto de renda sohre pessoa jurídica
:r::. nos EUA foi de 46 %. A tarifa foi redu:ida para H'X, em 1986,
1-.il e depois aumentada para 35 % em 1993. O MERCADO DE AçõEs E o Q DE ToBIN
O efeicn dn impnsrn de renda sobre pessl)a jurídica depende Muitos economistas consideram que h,i uma ligação entre as
da maneira como a lei define "lucro" para pmpósitl)S de tribu - oscilações do investimento e as oscilações do mercado de ações.
tação. Suponha, primeirri, que a lei definisse lucrn como fize- O rermo ação refe re-se às frações do capital das empresas, e
.....
.•..
mos antes: o preÇl) de aluguel du capital menos o custo doca- mercado de ações é o lugar em que essas ações são negociadas,
pital. Nesse caso, embora as empresas partilhem uma fraç ;.'in de a Bolsa de Valores. Os preços das ações tendem a ser altos quan-
seus lucros cnm ll goyerm1 , ainda seri.1 racional o iln·estimento do as empresas têm muitas oportunidades de investimento lu-
se o preço de aluguel do capital ultrapassasse (l custo dn capi- crati\'o, já que essas oportunidades de lucro significam uma
tal; ou o de~inxe,timentu, se n preç,1 de aluguel ficar aquém do renda futura maior para os acionistas. Porcantl), os preços das
custo do carirnl. Um imposto st1hre o lucro, medido dessa ma- ações refletem os incenti\'os para investir.
neira , não alteraria ns incentiwls an investimento. O economista James Tohin, ganhadl)f do Prêmio Nobel,
Contudo, por causa da definição de lucro pela lei fiscal , ri propôs que as empresas haseassem suas decisões de investimento
imposto Je renda sohre pessoa jurídica afeta as decisôes de in - na seguinte proporção, que é hoje chamada q de Tobin:
vestimento. H,1muitas diferenças entre a definiçãn de lucro da
lei e a nossa. Uma grande diferença é o tratamento da depreci - Valor de Mercado do Capital lnstalado
ação. Nossa definição de lucro deduz o valor corrente da depre- q = Custo de Suhstituição do Capital Instalado·

'Os economistas muitas vezes medem os bens de capital em unidades de maneira que o preço de 1 unidade de capital é igual ao preço de 1 unidade de outros bens
e serviços (P, = P). Esse foi o método adotado implicitamente no Cap. 7, por exemplo. Neste caso, a condição de estado estacionário diz que o produto mar-
ginal do capital líquido da depreciação, PMgK - 8, é igual à taxa de juros real r.
' Para saber mais sobre a maneira como os impostos influenciam o investimento, veja Robert E. Hall e Dale W. Jorgenson, "Tax Policy and lnvesrment Behav-
ior" , American Economic Review 57 (junho de 1967): 391-414 .
.,,
l: 1
INVESTIMENTO 321

O numerador do q de T obin é o valor do capital da economia bre o capital instalado. Esses lucros fazem com que seja desejá-
tal como determinado pelo mercado de ações. O denominador vel possuir empresas de locação, pois aumenta o valor de mer-
é o preço do capital se fosse adquirido hoje. cado das ações, indicando um alto valor de q. Da mesma ma-
Tobin raciocinou que o investimento líquido deve depen- neira, se o produto marginal do capital fica aquém do custo do
der de q ser maior ou menor que l. Se q é maior que 1, o mer- capital, as empresas incorrem em perdas de seu capital instala-
cado de ações avalia o capital instalado em mais do que seu custo do, indicando um baixo valor de mercado e um baixo valor de
de substituição. Nesse caso, os empresários podem aumentar o q.
valor de mercado das ações da empresa comprando mais capi- A vantagem do q de T obin como uma medida do incen-
tal. Inversamente, se q é menor que 1, o mercado de ações ava- tivo ao investimento é o fato de que ele reflete a lucrativi-
lia o capital em menos do que seu custo de substituição. Nesse dade futura esperada do capital, assim como a lucratividade
caso, os empresários não substituirão o capital à medida que ele corrente. Suponha, por exemplo, que o Congresso dos EUA
se desgasta. decida uma redução do imposto de renda sobre pessoa jurí-
Embora, à primeira vista, a teoria do investimento de T obin dica , a entrar em vigor no próximo ano. Os lucros mais al-
possa parecer muito diferente do modelo neoclássico desenvol- tos esperados elevam o valor das ações hoje, aumentam o q
vido antes, na Yerdade as duas teorias guardam entre si uma de T obin, e com isso estimulam o investimento hoje . Ou
estreita relação. Para entender essa realção, devemos compre- seja, a teoria do investimento do q de Tobin enfatiza que as
ender que n q de Tobin depende dos lucros esperados do capi- decisões de investimento dependem não apenas das políti-
tal instalado, no presente e no futuro. Se o produto marginal cas correntes, mas também das políticas que se espera que
do capital supera o custo do capital, as empresas têm lucro so- prevaleçam no futuro. 1

ESTUDO DE CASO
Ü MERCADO DE AçõES COMO UM INDICADOR timento deslocou-se para dentro: o investimento é mais baixo
ECONÔMICO a qualquer taxa de juros dada. Em conseqüência, a demanda
"O mercado de aç0e.s pre\'iu nove das últimas cinco recessões." agregada por bens e serviços se contrai, levando a menos pro-
Esse é o famoso comentfüio irônico de Paul Samuelson sohre a duto e menos emprego.
confiahilidade Lfo mercado de ações como um indicador eco- Há duas outras explicações para que os preços das ações es-
nômico. O mercado de aç<'ies, na verdade, é hastante instável, tejam relacionados com a atividade econômica. Primeiro, por
e pode apresentar fi.1lsos sinais sohre o futuro da economia. Não ser a ação parte da riqueza das famílias, uma queda dos preços
se de,·e, no entanto, ignorar a ligação entre o mercado de ações das ações coma as pessoas mais pobres, e portanto diminui o
e a ecomimi,1 real. A Fig. 17-4 mostra que as variações no mer- gasto do consumidor, o que também reduz a demanda agrega-
cado de ações muitas \'e:es refletem variações do PIB real. Sem- da. Segundo, uma queda dos preços das ações pode refletir más
pre que o mercado de ações experimenta um declínio substan- notícias sobre progresso tecnológico e crescimento econômi-
cial, há ra:ões para temer que uma recessão possa ser iminente. co no longo prazo. Nesse caso, isso significa que a taxa natural
Por que l)S preços das ações e a atividade econômica ten- de produto- e, também, a oferta agregada - estará se expan-
dem a oscilar juntos! Uma explicação é dada pela teoria do q dindo mais lentamente no futuro do que se esperava antes.
de Tt1bin, junto com n modelo da demanda agregada e da ofer- Essas relações entre o mercado de ações e a economia real
ta agregada. Suponha, por exemplo, que você oherve uma não são ignoradas pelos formuladores de política econômica,
yueJa dos preç,)s Jas ações. Como ~J cusrn de substituição do tais como os diretores do Federal Reser\'e. Com efeito, como o
capital é h.1srante es t,Í\·el, uma queda do mercado de ações está mercado de üções muitas vezes antecipa variações do PIB real,
em geral ass,Kiada ,l uma queda do q de Tohin. Uma queda de e como os dados sohre n mercado de ações estão disponíveis
q reflete o pessimismo dos investidores quanto à lucratividade mais depressa do que os dados sohre ú PIB, o mercado de ações
corrente ü ll futura Lfo capital. Isso significa que a função inves- é um indicador econômico observado com a maior atenção.

'Para sal>er mais sobre a relação entre o modelo neoclássico de investimento e a teoria q, veja Fumio Hayash i, "Tobin's Marginal q and Average q: A Neoclas-
sical Approach", Econometrica 50 (janeiro de 1982): 213-224; e Lawrence H. Summers, "T axation and Corporate lnvestment: A q-Theory Approach", Brookings
Papers on Economic Ac1it'i1y (198l:l) : 67-140.
322 CAPITULO 17

Preços de Ações PIB Real PIB real,


Preços d_e a.!ões, (escala da direita)
60 (escala da esquerda) 10 % de variação
% devanaçao
sobre 50 sobre
quatro 8 quatro
trimestres 40 trimestres
anteriores anteriores
30 6
20
4
10
O I---\-NJLl:í-ll~ .Y.-J.;4--II-W------l-+-H-.:.._i....f.---'.::iu.:+-lt....--=-»til---f----111-'-
2
- 10
-20 o
1 '
-30 yi
~
'., -2
<
- 40
-50 L...J.....L....1...-J-------'--'--.L....J.__....._,_L....J._._..J..._J-------'-_.__~__....._,_,.____.._._~-------'-_.__~~_,_~~~ - 4
1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000
Ano
~!
,i
-.~. Fig. 17-4 O Merc.ado de Ações e a Economia A figura mostra a associação entre o mercado de ações e a atividade econômica real. Usando dados
)'
.
..,. ,,·
,..i.
,
trimestrais, de 1965 a 2001 , a figura apresenta a variação percentual de um ano anterior da Média Industrial Dow Jones (um índice de preços de
ações das grandes empresas industriais norte-americanas) e do PIB real. A figura mostra que o mercado de ações e o PIB tendem a se mover juntos,
mas que a associação está longe de ser precisa.
..:...:,
... Fonte: U. S. Department ot Commerce .

,.....
• ..!
=:: RESTRIÇÕES AO FINANCIAMENTO as famílias determinem seu consumo com base na renda atual,
:s... Quando uma empresa quer investir em capital novo, como por
em vez de basear-se na renda permanente; as restrições ao fi-
nanciamento fazem com que as empresas determinem seu in-
exemplo, construir uma nova fábrica, muitas vezes levanta os vestimento com base no fluxo de caixa atual, em vez de na lu-
recursos necessários nos mercados financeiros. Esse financiamen- cratividade esperada.
to pode assumir várias formas: obtenção de empréstimo em ban- Para entender o impacto das restrições ao financiamento,
cos, venda de títulos ao público, ou venda de participação nos pense no efeito de uma curta recessão sobre o gasto com inves-
lucros futuros no mercado de ações. O modelo neoclássico pres- timento. Uma recessão reduz o emprego, o preço de locação do
supõe que, se uma empresa está disposta a pagar o custo do capi- capital e os lucros. Se esperam que à recessão seja de curta du-
tal, os mercados financeiros tomarão os recursos disponíveis. ração, no entanto, as empresas vão querer continuar a inves-
Mas às vezes as empresas enfrentam restrições ao financia, tir, sabendo que seus investimentos serão lucrativos no futuro.
mento: limites sobre o montante que podem levantar nos mer- Ou seja, uma recessão curta terá apenas um pequeno efeito sobre
cados financeiros. As restrições ao financiamento podem im- o q de Tobin. Para as empresas que podem levantar recursos
pedir que as empresas efetuem investimentos lucrativos. Quan- no mercado financeiro, a recessão deve ter apenas um peque-
do uma empresa é incapaz de levantar recursos no mercado fi- no efeito sobre o investimento.
nanceiro, o montante que ela pode gastar em bens de capital O oposto ocorre com as empresas que enfrentam restrições
fica limitado ao montante que ela está ganhando no momen- ao financiamento. A queda dos lucros corrente restringe o
to. As restrições ao financiamento influem no comportamen- montante que essas empresas podem gastar com novos bens de
to de investimento das empresas da mesma maneira que as res- capital, e podem impedi-las de fazer investimentos lucrativos.
trições ao empréstimo influenciam o comportamento de con- Assim, as restrições ao financiamento podem tornar o investi-
sumo das famílias. As restrições de empréstimo fazem com que mento mais sensível às condições econômicas atuais. 4

4
Para trabalho empírico que confirma a importância dessas restrições de financiamento, veja Steven M. Fazzari, R. Glenn Hubbard e Bruce C Petersen, "Fi-
nancing Constraints and Corporate lnvestmenr", Brookings Papers on Economic Activity (1988:l): 141-195.
,l i
INVESTIMENTO 323

ESTUDO DE C A S O - - - - - - - - - - - -
CRISES BANCÁRIAS E APERTOS DE CRÉDITO zes de cumprir essa função. As restrições ao financiamento tor-
Ao longo da história, problemas no sistema bancário têm mui- nam-se mais comuns, e alguns investidores são obrigados are-
tas vezes coincidido com declínios da atividade econômica. nunciar a projetos de investimento que têm potencial de lu-
Aconteceu, por exemplo, na Grande Depressão na década de cro. Esse aumento das restrições ao financiamento é às vezes
1930 (que estudamos no Cap. 11). Logo depois do início da chamado de aperto de crédito.
Depressão, muitos bancos se tomaram insolventes à medida que Podemos usar o modelo IS-LM para interpretar os efeitos de um
o valor dos seus ativos caía abaixo do valor dos passivos. Esses aperto de crédito no curto prazo. Quando se nega crédito a inves-
bancos foram obrigados a suspender suas operações. Muitos tidores potenciais, a demanda por bens de investimento cai a qual-
economistas estão convencidos de que as inúmeras falências de quer taxa de juros. O resultado é um efeito contracionista na curva
bancos durante esse período ajudam a explicar a profundidade IS. Isso reduz a demanda agregada, o produto e o emprego.
e a persistência da Depressão. Os efeitos de um aperto de crédito no longo prazo são mais
Padrões semelhantes, embora menos rigorosos, podem s.er bem compreendidos pela perspectiva da teoria do crescimento,
observados mais recentemente. Nos Estados Unidos, a recessão com sua ênfase na acumulação de capital como fonte de
de 1990 veio na esteira de uma crise de poupança e emprésti- crescimento. Quando um aperto de crédito impede que algu-
m0. Problemas do sistema bancário também tiveram uma par- mas empresas invistam, os mercados financeiros deixam de
ticipação no declínio recente do Japão (como vimos no Cap. distribuir a poupança nacional para seu melhor uso. Projetos
11) e na crise financeira na Indonésia e em outras economias de investimento menos produtivos podem tomar o lugar de
asiáticas (Cap. 12). projetos mais produtivos, reduzindo o potencial da economia
Por que com tanta freqüência as crises bancárias se encon- para produzir bens e serviços.
tram no centro das crises econômicas? Os bancos desempenham Por causa desses efeitos, os formuladores de política econô-
um importante papel na distribuição de recursos financeiros: mica do Banco Central e de outros setores do governo estão
servem como intermediários entre as pessoas que têm renda que sempre tentando monitorar a saúde do sistema bancárió do país.
querem poupar e as pessoas que têm projetos de investimentos O objetivo é evitar as crises bancárias e os apertos de crédito, e
lucrativos mas precisam tomar emprestado para investir. Quan- também, quando ocorrem, reagir mais depressa, para atenuar a
do os bancos se tornam insolventes ou quase, são menos capa- ruptura resultante na economia.;

17-2 INVESTIMENTO EM RESIDÊNCIAS


Nesta seção, estudaremos os determinantes do investimento em existente de imóveis. Em um momento no tempo qualquer, a
residências. Começamos por apresentar um modelo simples do oferta de imóveis é fixa. Representamos esse estoque com uma
mercado imobiliário. O investimento em residências abrange curva de oferta vertical. A curva de demanda por imóveis é
a aquisição de imóvel novo por pessoas que planejam hahitá- negativamente inclinada, porque os preços altos fazem com que
lo, e por locadores que planejam alugar para outros. Para man- as pessoas residam em imóve is menores, partilhem residências
ter as coisas simples, no entanto, é útil imaginar que todos os ou, às vezes, até se tomem desabrigadas. O preço dos imóveis
imóveis são ocupados pelo proprietário. ajusta-se para equilibrar oferta e demanda.
O gráfico ( b) da Fig. 17-5 mostra como o preço re !ativo dos
imóveis determina a oferta de novas residências. As empresas
Ü EQUILÍBRIO DO ESTOQUE E O FLUXO DE de construção compram material e contratam mão-de-obra para
ÜFERTA construir imóveis, e depois os vendem pelo preço de mercado.
Os custos dependem do nível geral de preços P (que reflete o
O modelo tem duas partes. Primeiro, o mercado do estoque custo da madeira, dos tijolos, do reboco etc.), e sua receita de -
existente de imóveis determina o preço de equilíbrio. Segun- pende do preço dos imóveis PH. Quanto mais alto o preço rela-
do, o preço dos imóveis determina o fluxo de investimento tivo do imóvel, maior o incentivo para que se construam imó-
residencial. veis, e mais imóveis são cónstruídos. O fluxo de novos imóveis
O gráfico (a) da Fig. 17-5 mostra como o preço relativo do - investimento residencial- depende, portanto, do preço de
imóvel PH/P é determinado pela oferta e demanda do estoque equilíbrio fixado no mercado de imóveis existentes.

' Para uma análise da experiência dos Estados Unidos em 1990, veja Ben S. Bemanke e Cara Lown, "The C redit Crunch", Brooking; Papers on Economic Activity
(1991:2): 205-228.
i
324 CAPÍTULO 17

(a) O Mercado Imobiliário (b) A Oferta de Novos Imóveis


Preço PH/ P Oferta
Oferta
relativo de
imóveis, PH / P

Demanda

Estoque de capital imobiliário, KH Fluxo de investimento em imóveis, /H

Fig. 17-5 A Determinação do Investimento em Imóveis O preço relativo dos imóveis ajusta-se para equilibrar oferta e demanda do volume
existente de capital imobiliário. O preço relativo determina então o investimento em imóveis, o fluxo de novos imóveis erguidos pelas empresas de
construção.

Esse modelo de investimento residencial é semelhante ao em residências. A curva de demanda por imóveis pode se deslo-
da teoria q de investimento fixo no negócio. Segundo a teoria car por várias razões. Um crescimento econômico aumenta a
q, o investimento fixo no negócio depende do preço de merca- renda nacional e, com isso, a demanda por imóveis. Um grande
do do capital instalado relativo ao custo de substituição; esse aumento da população, às vezes por causa de imigração, também
preço relativo, por sua vez, depende dos lucros esperados em aumenta a demanda por imóveis. O gráfico (a) da Fig. 17-6
possuir capital instalado. Segundo esse modelo para o merca- mostra que um deslocamento expansionista da demanda aumenta
do de imóveis, o investimento residencial depende dQ preço o preço de equilíbrio. O gráfico (b) mostra que o aumento do
relativo dos imóveis. O preço relati\'O dos imóveis, por sua vez, preço dos imóveis aumenta o investimento em residências.
depende da demanda púr imóveis, o que depende do aluguel Um determinante importante da demanda por imóveis é a
imputado que as pessoas esperam receber de seus imóveis. As- taxa de juros real. Muitas pessoas fazem empréstimo - hipo-
sim, o preço relativo dos imóveis desempenha mais ou menos tecas - para comprar suas casas; a taxa de juros é o custo do
o mestn<.i papel no investimento residencial que o q de Tobin empréstimo. Mesmo as poucas pessoas que não necessitam to-
desempenha no investimento em capital fixo privado. mar emprestado para comprar uma casa reagirão à taxa de ju-
ros, urna vez que a taxa de juros é o custo de oportunidade de
elas acumularem riqueza em forma de imóveis, em vez de
VARIAÇÃO DA DEMANDA POR IMÓVEIS depositá-la no banco. Urna redução da taxa de juros, portanto,
Quando a demanda por imóveis varia, o preço de equilíhrio dos aumenta a demanda por imóveis, elevando os preços e o inves-
imóveis varia; e essa variação, por sua vez, afeta o investimento timento desse setor.

(a) O Mercado Imobiliário (b) A Oferta de Novos Imóveis


Preço PH/P
relativo de um Oferta Oferta
imóvel, PH/P I'

·••••••····•.r•··· ·· ·····
Estoque de capital imobiliário, KH Fluxo de
investimento
em imóveis, /H

Fig. 17-6 Um Aumento da Demanda por Imóveis Um aumento da demanda por imóveis, às vezes devido a uma queda da taxa de juros, eleva
os preços dos imóveis e o investimento imobiliário.
INVESTIMENTO 325

Quando alguém faz uma hipoteca para comprar uma casa, o deiro custo de se tomar emprestado para comprar uma casa,
banco muitas vezes fixa um teto para o volume do emprés- porque o preço do imóvel normalmente não vai subir com
timo. Esse teto depende da renda da pessoa e da taxa de ju- a taxa geral de inflação. As normas do banco, no entanto,
ros do mercado. Uma exigênda típica de banco é que o determinam o uso das taxas de juros nominais quando se cal-
pagamento mensal da hipoteca - incluindo juros e a amor- cula o valor da hipoteca que uma pessoa pode ter. Por causa
tização do principal - não ultrapasse 28% da renda mensal dessas normas, o investimento residencial depende tanto da
do tomador. taxa de juros nominal quanto da taxa de juros real.
A Tabela 17-1 mostra como a taxa de juros afeta o teto do

.:::.~~=..~ \
empréstimo. O comprador da casa própria no exemplo tem
uma renda de $30.000, e está se candidatando a uma hipote-
ca de 30 anos. Pressupõe-se que o banco adote o limite pa- TABELA 17s1 ; .·óv
.:.·m
.•~e··1.:s..:
drão de 28% sobre o volume do empréstimo. il·lJ. .. : ~.., .

Como se pode perceber, se o comprador da casa própria Suposições: hipoteca de 30 anos, renda anual de $30.000,
está no limite do empréstimo, como acontece com muitos, limite de 28% sobre pagamento de hipoteca
pequenas variações das taxas de juros podem ter uma gran-
de influência sobre o montante que ele pode gastar na com- Taxa de Juros Empréstimo Máximo Possível
pra de um imóvel. Um aumento de 8 para 10% da taxa de
juros reduz o empréstimo máximo de $95.398 para $79. 766, 5% $130.397
6 116.754
uma queda de 16%. Um aumento da taxa de juros, portan-
7 105.215
ro, reduz a demanda por imóveis, o que por sua vez acarreta B 95.398
uma queda dos preços e do investimento em imóveis. 9 86.997
Cabe ressaltar - e ó fato é um tanto enigmático - que 10 79.766
os bancos fazem esse cálculo tomando por base a taxa de juros 11 73.504
nominal, em vez da real. A taxa de juros real mede o verda- 12 68.053

As LEIS TRIBUTÁRIAS E os lMóVEis permite que os proprietários deduzam os pagamentos de juros


nominais quando calculam a renda tributável. Como a taxa de
As leis rrihutárias, assim como afetam a acumulação de inves- juros nominal sobre as hipotecas aumenta quando a inflação
timento em capital fixo privado, ramhém afetam a acumula- sobe, o valor desse subsídio é mais alto com taxas de inflação
ção de investimento em imóveis. Nesse caso, no entanto, seus mais altas. Quando as taxas de inflação e de juros nominais
efeitos são quase o oposto. Em vez de desincentivar o investi- aumentaram de modo substancial na década de 1970, os bene -
mento, como o imposto de renda sobre pessoa jurídica faz com fícios trihutários dos proprietários de imóve is também se tor-
as empresas, o imposto de renda sohre pessoa física estimula as naram maiores. Quando as taxas de inflação e de juros nomi-
famílias a investirem em imóveis. nais caíram, na década de 1980 e início da década de 1990, os
Pode-se considerar o proprietário de um imóvel como um benefícios tributários tornaram -se menores.
proprietário que tem a si mesmo como inquilino. Mas ele é um Muitos economistas têm criticado o tratamento tributário
proprietário com um tratamento trihutário especial. Nos Esta- dispensado à propriedade de imóve is. Acham que, por causa
dos Unidos, o imposto de renda não exige que ele pague im - desse subsídio, os Estados Unidos investem demais em imóveis,
postó sohre o aluguel imputado (o aluguel que "paga" a si mes- em comparação com outras formas de capital. Defendem uma
mo), mas permite que ele deduza os juros da hipoteca. Em suma, redução do subsídio, talvez pela eliminação da dedutibilidade
quando calcula sua renda tributável, o proprietário pode sub- dos juros da hipoteca e o uso de uma receita tributária extra
trair parte do custo de possuir um imóvel, mas não precisa acres- para baixar os impostos. A reação política a essa idéia é mista;
centar qualquer dos benefícios. emhora os eleitores gostem de reduções de impostos, os propri-
O tamanho desse subsídio para a propriedade de imóveis etários de imóveis não estão dispostos a renunciar ao subsídio
depende da taxa de inflação. A exp licação é que a lei fiscal aos juros da hipoteca que usufruíram por tantos anos.
326 CA.PITULO 17
l
17-3 INVESTIMENTO EM ESTOQUE
O investimento em estoque - os bens que as empresas põem tar que isso ocorra. Esse motivo para a manutenção de estoque
em armazenamento - é ao mesmo tempo insignificante e de é chamado de evitação do esgotamento do estoque.
grande significado. É um dos menores componentes do gas- Uma quarta explicação para a manutenção de estoque é
to, com uma média de 1% do PIB. Contudo, sua extraordiná- determinada pelo processo de produção. Muitos bens exigem
ria volatilidade faz com que esse tipo de investimento seja fun- diversas etapas de produção, e por isso levam algum tempo para
damental para o estudo das oscilações econômicas. Nos perí- serem produzidos. Quando um produto está apenas parcialmen-
odos de recessão, as empresas deixam de reabastecer seus es- te pronto, seus componentes são contados como parte do esto-
toques à medida que os bens são vendidos, e o investimento que da empresa. Esses estoques são chamados de trabalho em
em estoque torna-se negativo. Numa recessão típica, mais de processamento.
metade da queda do gasto vem do declínio do investimento
em estoque.
Ü MODELO DE ESTOQUES ACELERADOR
Como há muitos motivos para se manterem estoques, há mui-
POR QUE É NECESSÁRIO MANTER ESTOQUE tos modelos de investimento em estoque. Um modelo simples,
O estoque serve a muitos propósitos. Antes de apresentar um que explica muito bem os dados, sem endossar qualquer moti-
modelo para explicar as oscilações do investimento em esto- vo em particular, é o modelo acelerador. Esse modelo foi de-
:t que, analisaremos alguns dos motivos pelos quais as empresas senvolvido há cerca de meio século, e é às vezes aplicado a to-
mantêm estoques . dos os tipos de investimento. Vamos aplicá-lo aqui ao tipo em
....1•
I~"!
Uma vantagem do estoque é manter o nível de produção ao que funciona melhor: o investimento em estoque.
.
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longo do tempo. Pense em uma empresa que experimenta sú-
bitos crescimentos e quedas das vendas. Em vez de ajustar a
O modelo de estoque acelerador pressupõe que as empresas
mantêm um estoque de bens que é proporcional ao seu nível
produção para acompanhar as oscilações das vendas, a empre- de produção. Há vários motivos para essa suposição. Quando a
sa pode descobrir que é mais barato produzir bens num ritmo produção é alta, as empresas manufatureiras precisam de mais
constante. Quando as vendas estão baixas, a empresa produz materiais e suprimentos disponíveis, e têm mais bens ainda no
mais do que vende, e guarda os bens extras em estoque. Quan- processo de produção. Quando a economia está crescendo, as
do as vendas estão altas, a empresa produz menos do que ven- empresas de varejo querem ter mais mercadorias nas pratelei-
de, tirando bens do estoque. Esse motivo para se manterem ras para mostrar aos clientes. Assim , se N é o estoque da em-
estoques é chamado de nivelamento da produção. presa e Y é a produção, então
:1: Uma segunda explicação para a manutenção de estoques
é o fato de que o estoque pode possibilitar à empresa operar
N = l3Y,
com mais eficiência. As lojas de varejo , por exemplo, podem em que 13 é um parâmetro que reflete quanto em estoque as
vender mercadorias de modo mais efetivo se tiverem bens dis- empresas desejam manter como uma proporção da produção.
poníveis para mostrar aos clientes. As empresas de produção O investimento em estoque I é a variação do estoque W.
mantêm estoques de peças sobressalentes para reduzir o tem- Portanto,
po em que a linha de montagem pode ficar fechada quando
uma máquina quebra . Sob alguns aspectos, podemos consi-
I = ilN = l3ilY.
derar os estoques como um fator de produção: quanto maior O modelo acelerador prevê que .o investimento em estoque é
o estoque que uma empresa mantém, mais bens ela pode pro- proporcional à variação da produção. Quando a produção au-
duzir. menta, as empresas querem manter um estoque maior; com isso,
Um terceiro motivo para a empresa manter estoque é evitar o investimento em estoque é alto. Quando a produção cai, as
o esgotamenro dos bens quando as vendas se tomam inespera- empresas querem manter um estoque menor; por isso, permi-
damente altas. As empresas muitas vezes precisam tomar deci- tem que o estoque diminua, e o investimento em estoque tor-
sões antes de terem conhecimento do nível de demanda dos na-se negativo .
consumidores. Um editor, por exemplo, antes de saber se um Podemos agora compreender por que o modelo é chamado
novo livro terá boa aceitação, tem que decidir quantos exem- de acelerador. Como a variável Y é a taxa pela qual as empre-
plares deve imprimir. Se a demanda supera a produção e não sas produzem bens, ilY é a "aceleração" da produção. O mode-
há estoques, o bem ficará indisponível por um determinado pe- lo diz que o investimento em estoque depende do fato de a
ríodo, e a empresa perderá vendas e lucros. O estoque pode evi- economia estar aumentando ou diminuindo sua velocidade.
INVESTIMENTO 327

ESTUDO DE CASO - - - - - - - - - - - - - . . . .
A COMPROVAÇÃO DO MODELO ACELERADOR dor. A reta traçada através desses pontos mostra a seguinte
Para verificar como o modelo acelerador se ajusta aos dados, relação:
veja a Fig. 17 •7. A figura é um gráfico de dispersão que apre-
senta os dados anuais das contas de renda nacional dos Estados
I = 0,2iiY.
Unidos. No eixo horizontal está a variação do PIB real. No eixo Para cada $1 que o PIB aumenta, há $0,20 de investimento
vertical está o investimento em estoque real. em estoque.
A relação positiva entre a mudança no PIB e o investi-
mento em estoque comprova a predição do modelo acelera-

Investimento em 100
estoque (bilhões de
dólares de 1996)

-20 1982 /1
191s ;
1980
-40 '---- - - - ' - - - ---'-- -- -'---- ---'-------'-- ---'-------'----
- 200 -100 o 100 200 300 400 soo
Variação do PIB real (bilhões de dólares de 1996)

Fig. 17-7 A Comprovação do Modelo Acelerador Este gráfico de dispersão mostra que o investimento em estoque é alto em anos em que o PIB
real sobe, e baixo em anos em que o PIB real cai.
Fonte: U. S. Department of Commerce.

ESTOQUE E TAXA DE JUROS REAL estoque. Portanto, um aumento da taxa de juros real reduz o
T ai como outros componentes do investimento, o investimento investimento em estoque. Por exemplo, na década de 1980,
em estoque depende da taxa de juros real. Quando mantém um muitas empresas adotaram planos de produção "just-in-time",
bem em estoque e o vende amanhã, em vez de vendê-lo hoje, que tinham como objetivo reduzir o tamanho dos estoques ao
a empresa abre mão da taxa de juros que poderia ganhar entre produzir bens pouco antes da venda. As elevadas taxas de juros
hoje e amanhã. Assim, a taxa de juros real mede o custo de reais que prevaleceram durante a maior parte dessa década são
oportunidade de se manter estoque. uma possível explicação para essa mudança da estratégia em-
Quando a taxa de juros real sobe, manter estoques torna- presarial.
se mais dispendioso; assim, as empresas racionais reduzem seu
328 CAPITULO 17

17-4 CONCLUSÃO
O propósito deste capítulo foi examinar em detalhes os deter- da sobre pessoa jurídica, alteram os incentivos ao investimen-
minantes do investimento. Olhando retroativamente os mo- to, e com isso deslocam a função investimento.
delos de investimento, é possível observar três temas. Terceiro, é natural esperar que o investimento seja volátíl
Primeiro, todos os tipos de gasto em investimento são in- ao longo do ciclo de negócios, porque o gasto em investimento
versamente relacionados com a taxa de juros real. Uma taxa depende tanto do produto da economia como da taxa de ju-
de juros mais alta aumenta o custo do capital para as empresas ros. No modelo neoclássico de investimento em capital fixo
que investem em instalações e equipamentos, aumenta o cus- privado, o nível de emprego mais elevado aumenta o produ-
to da tomada de empréstimo para os compradores de imóveis to marginal do capital e o incentivo ao investimento. O pro-
residenciais, e aumenta o custo da manutenção de estoque. duto mais elevado também aumenta os lucros da empresa, e
Assim, os modelos de investimentos desenvolvidos aqui justi- com isso reduzem-se as restrições de financiamento com que
ficam a função investimento que usamos ao longo deste livro. algumas empresas enfrentam. Além disso, a renda maior ele-
Segundo, há várias explicações para os deslocamentos da va a demanda por imóveis, o que por sua vez aumenta os pre-
função investimento. Uma melhora na tecnologia disponível ços dos imóveis e o investimento nesse setor. O produto mai-
aumenta o produto marginal do capital, e eleva o investimen- or aumenta o estoque que as empresas desejam manter, esti-
to em capital fixo privado. Um aumento da populaçãn ele\·a a mulando o investimento em estoque. Nossos modelos prevê-
demanda por imóveis, e amplia o investimento residencial. em que um crescimento econômico de\·e estimular o investi-
Ainda mais importante, várias políticas econômicas, tais como mento e uma recessão deve reduzi-lo. É exatamente o que
mudanças do crédito focal ao investimento e o imposto de ren- observamos.

RESUMO
1. O produto marginal do capital determina o preço real de 4. Em contraste com o pressuposto do modelo neoclássico, as
aluguel do capital. A taxa de juros real, a taxa de deprecia- empresas nem sempre conseguem levantar recursos para fi-
ção e o preço relativo dos bens de capital determinam o custo nanciar o investimento. As restrições ao financiamento
do capital. De acordo com o modelo neoclássico, as empre- tomam o investimento dependente do fluxo de caixa cor-
sas investem se o preço de aluguel é ma ior que o custo do rente das empresas.
capital, e desinvestem se o preço de aluguel é menor que o
5. O in\'estimento imohiliário depende dl) preço relativo dos
custo do capital.
imóveis. O preço dos imóveis, por sua vez , depende da de-
2. Várias partes do código tributário federal norte -americano manda por imóveis e de sua oferta corrente fixa. Um aumen-
influenciam o incentivo ao investimento. O imposto de to da demanda por imóveis, que às vezes se deve a uma que-
.,...
renda sobre pessoa jurídica desincentiva o investimento, e da da taxa de juros, aumenta os preços dos imôveis e o in·
o crédito fiscal ao investimento - que agora foi revogado vesrimento imohiliário.
nos Estados Unidos - estimula-o.
6. As empresas têm vários motivos para manterem estoques de
3. Uma maneira alternativa de expressar o modelo neoclássico hens: ni ve lamento da produção, o uso do estoque como fa-
é enunciar que o investimento depende do q de T obin, a tor de produção, evitação do esgotamento do estoque, e cra-
razão entre o valor de mercado do capital instalado e o cus- halho em processamento. Um modelo de investimento em
to de suhstiruição. Essa proporção reflete a lucratividade estoque que funciona hem, sem endossar qualquer motivo
atual e futura esperada do capital. Quanto maior é q, maior em particular, é o modelo acelerador. Segundo esse mode-
é o valor de mercado do capital instalado em relação ao custo lo, os estoques dependem dl) nível do PIB, e o investimento
de substituição, e maior o incentivo ao mvesrimento. em estoque depende de variações do PIB.

CONCEITOS-CHAVE
Investimento em capital fixo privado Investimento líquido Restrições ao fin anciamento
Investimento em residência Imposto de renda sohre pessoa jurídica Nivelamento da produção
Investimento em estoque Crédito fiscal ao investimento Estoque como um fator de produção
Modelo neoclássico de investimento Ação Evitação de esgotamento do estoque
Depreciação Mercado de ações Trabalho em processamento
Custo real de capital q de Tobin Modelo acelerador
INVESTIMENTO 329

QUESTÕES PARA REVISÃO


L No modelo neoclássico de investimento em capital fixo privado, 3. Explique por que um aumento da taxa de juros reduz o investimento
em que condições as empresas acham que é lucrativo aumentar seu em imóveis.
capital acionário? 4. Relacione quatro motivos pelos quais as empresas mantêm esto-
2. O que é o q de Tobin, e o que tem a ver com investimento? que.

PROBLEMAS E APLICAÇÕES
L Use o modelo neoclássico de investimento para explicar o impac- em que a é uma constante entre zero e um, que mede a influên-
co de cada um dos seguintes acontecimentos no preço de aluguel cia da renda nacional sobre o investimento, e b é uma cons-
do capital, no custo do rnpirnl e no investimento: tante maior que :ero, que mede a influência da taxa de juros
a. Uma política monetária antiíntlacinnária aumenta a taxa de no investimento. Use o modelo IS-LM p,ua considerar o im-
Juros re"I. pacw m\ curro prn:o de um ,1umenrn das ecimpras do governo
h. Um terrnmow destrói parte dc1 capital instnladn. sohre a renda nacional)' . a raxa de juros r, consumo C e inves-
e. A imigração de trabalhadores estrangeiros aumenta o tamanho timento I. Corno essa função investimento pode alterar a con-
da força de trah1lho. clusão que ll modelo básico IS-LM indica!
2. Suponha que o governo aplique um imposto às companhias de 4. Quando o mercado Je ações entra em colapso, como aconteceu
petróleo igual a uma proporção do valor das suas reservas de pe- nos Estados Unidos em outuhro de 1929 e em outubro de 1987,
tróleo. (O governo assegura às empresas que o imposto é ape- como o Banco Central deve reagir? Por quê 1
nas provisório.) Segundo o modelo neocl,'ÍSsico, que efeito o im-
5. É ano de eleição, e a i;:conomia está em recessão. O candidato da
posto terá sobre o investimento em capital fixo privado pores-
oposição fa: campanha com base n,1 aprovação J e um crédito fis-
sas empresas? E se essas empresas ri verem restrições ao financi- cal ao investimento, que entraria em vigor no ano seguinte à sua
amento?
posse. Que impacto essa promessa de campanha reria nas condi-
3. O modeln lS-LM, desenvnlvidn nos Caps. 10 e l 1, pressupõe que ções econômicas durante o ano em curso?
o investimento depende apenas da rnxa de juros. Contudo, ncissas 6. Os Estados Unidos tiveram um grande mnnento da taxa de natali-
teorias de investimento sugerem que o investimento pode depen- dade na década de 1950. As pessoas nascidas nesse surto popula-
der também da renda n,Kinnal: a renda maior pode induzir as ci,mal ,1lcançarnm a vida adulta e começaram a fonn,1r suas pró-
empres,1s .i investirem mais. prias famílias na década de l 970.
a. Explique por que o investimento pode depender da renda na- a. Use o modelo de investimento em imóveis para prever o im-
cional. pacto desse evento nos preços dos imóveis e no investiment,1
b. Suponha que o investimento seja determinado por imobikfrio.
I = l + aY, b. Para os anos de 1970 e 1980, calcule o preço real dos imóveis,
medido como o detbcor do investimento imobiliário dividido
em que a é uma CLmstanre entre :ero e um, que mede a influên- pelo detlator do PIB. O que voce encontrou? O resultado é
cia da renda nacional no investimento. Com o investimenrn coerente com n modelo? (Dica: Uma boa fonte de dados é o
determin,.ido dessa maneira , quais são os multiplicadores de Economic Report of rhe President, que é publicado anualmenre
política fiscal no 1nc1delo da cru: keynesiana ? Explique. nos EUA.)
e. Suponha que o investimento dependa tanto da renda quanto 7. As leis rributárias dos Estados Unidos incentivam o investimento
da taxa de juros. Ou seja, a função investimento é em i1m'>,·eis e desincenrivam <) investimento em capital privado.
I = I + aY - br. Quais são os efe itos dessa pulírica no longo pra:o 1 (Dica: Pense a
respeito do mercado de trabalho.)
r
!
Capítulo 18

OFERTA MONETÁRIA E DEMANDA


POR MOEDA

Desde o inicio do.~ tempos hmwe npenas três grnndcs invenções; o fogo, ct roda e o b(lnco central.
- Will Rugers

A oferta e a demanda por moeda são cruciais para muitas ques- rio desempenha papel fundamental na determinação da ofer-
tões em macroeconomia. No Cap. 4, estudamos como os econo- ta monetária, e analisamos vários instrumentos de política
mistas empregam o termo "moeda", como o banco central con- econômica que o banco central pode usar para alterar a ofer-
trola a quantidade de moeda, e como a política monetária afeta ta monetária. Na Seção 18-2, tratamos dos motivos que há
os preços e as taxas de juros no longo prazo, quando os preços por trás da demanda por moeda, e analisamos a decisão das
são flexíveis. Nos Caps. 10 e 11, constatamos que o mercado mo- famílias sobre quanto de moeda manter em seu poder. Tam-
netário é um elemento fundamental no modelo IS-LM, quedes- bém mostramos como recentes mudanças do sistema finan-
creve a economia no curto prazo, quando os preços são rígidos. ceiro tornaram indefinida a distinção entre moeda e outros
Este capítulo examina mais a fundo a oferta e a demanda ativos, e como esse desenvolvimento complica a condução da
por moeda. Na Seção 18-1, mostramos que o sistema bancá- política monetária.

18-1 OFERTA MONETÁRIA


O Cap. 4 introduziu o conceito de "oferta monetária" de ma- Para compreender a oferta monetária, devemos entender a in-
neira bastante simplificada. Definimos, naquele capítulo, a teração entre papel-moeda e depósitos à vista, e como a políti-
quantidade de moeda como o número de dólares em poder do ca econômica do Banco Central influencia esses dois compo-
público, e partimos do princípio de que o Banco Central con- nentes da oferta monetária.
trola a oferta monetária aumentando ou diminuindo o núme-
ro de dólares em circulação por meio de operações de open-
market. Embora seja uma boa abordagem inicial, essa explica-
RESERVA BANCÁRIA DE 100°/o
ção é incompleta, porque omite o papel do sistema bancário Comecemos por imaginar um mundo sem bancos. Nesse mun-
na determinação da oferta monetária. Apresentaremos agora do, toda moeda assume a forma de papel-moeda, e a quantida-
uma explicação mais completa. de de moeda é simplesmente a quantidade de moeda que está
Nesta seção, veremos que a oferta monetária é determinada em poder do público. Para essa análise, suponhamos que haja
não apenas pela política econômica do Banco Central, mas $1 .000 de moeda na economia.
também pelo comportamento das famílias (que possuem moe- Agora, introduza os bancos. De início, suponha que os ban-
da) e dos bancos (nos quais se mantém moeda). Começaremos cos aceitem depósitos mas não fazem empréstimos. O único
por recordar que a oferta monetária inclui tanto papel-moeda propósito dos bancos é proporcionar um lugar seguro para os
em mãos do público quanto os depósitos à vista em bancos que depositantes guardarem sua moeda.
as famílias podem usar para transações, tais como contas cor- Os depósitos que os bancos receberam, mas não empresta-
rentes. Ou seja, indicando a oferta monetária por M, o papel- ram, são chamados de reservas. Algumas reservas são guarda-
moeda por C e os depósitos à vista por D, podemos escrever das nos cofres dos bancos, em todo o país, mas a maior parte
fica em um banco central, tal como o Federal Reserve nos EUA.
Oferta Depósitos Em nossa economia hipotética, todos os depósitos são manti-
Monetária Papel-moeda + à Vista dos como reservas: os bancos simplesmente aceitam os depósi-
M e + D. tos, guardam a moeda em reserva, deixando assim até que o
......

OFERTA MONETÁRIA E DEMANDA POR MOEDA 331

depositante faça uma retirada ou preencha um cheque contra meiro Banco mantém $200 dos $1.000 em depósitos de reser-
seu saldo. Esse sistema é chamado de reserva bancária de va e empresta os restantes $800.
100%. Observe que o Primeiro Banco aumenta a oferta monetá-
Vamos supor que as famílias depositem todos os $1.000 da ria em $800 quando faz esse empréstimo. Antes que o emprés-
economia no Primeiro Banco. O balanço patrimonial do Pri- timo seja efetuado, a oferta monetária é de $1.000, igual aos
meiro Banco - sua declaração contábil de ativo e passivo - depósitos no Primeiro Banco. Depois que o empréstimo é
seria o seguinte: concedido, a oferta monetária passa a ser de $1.800: o
BALANÇO PATRIMONIAL DO PRIMEIRO BANCO depositante ainda tem um depósito à vista de $1.000, mas
agora o tomador de empréstimo tem $800 em moeda. Portan-
Ativo Passivo
to, em um sistema de reserva bancária fracionária, os bancos cri-
Reservas $1000 Depósitos $1.000 am moeda.
O ativo do banco são os $1.000 que o banco mantém como A criação de moeda não pára no Primeiro Banco. Se o
reservas; o passivo do banco são os $1.000 que o banco deve tomador deposita esses $800 em outro banco (ou se o tomador
aos depositantes. Diferentemente dos bancos em nossa econo- usa os $800 para pagar alguém que depois deposita), o proces-
mia, esse banco não faz empréstimos, e por isso não terá lucro so de criação de moeda continua. Aqui está o balanço do Se-
com seu ativo . É de se pressupor que o banco cobre dos gundo Banco:
depositantes uma pequena taxa para cobrir seus custos. BALANÇO DO SEGUNDO BANCO
Qual é a oferta monetária nessa economia? Antes da cria-
Ativo Passivo
ção do Primeiro Banco, a oferta monetária era os $1.000 em
papel-moeda. Depois da criação do Primeiro Banco, a oferta Reservas $160 Depósitos $800
monetária é os $1.000 em depósitos à vista. Um dólar deposi- Empréstimos $640
tado em um banco reduz o papel-moeda em $1 e aumenta os
O Segundo Banco recebe os $800 em depósito, mantém
depósitos em $1; portanto, a oferta monetária permanece a
20%, ou $160, em reserva, e depois empresta $640. Assim,
mesma. Se o banco mantém 100% dos depósitos em reserva, o sis-
o Segundo Banco cria $640 de moeda. Se esses $640 são de-
tema bancário não afeta a oferr.a monetária.
positados no Terceiro Banco, este banco mantém 20%, ou
$128, em reserva, e empresta $512 , resultando no seguinte
RESERVA BANCÁRIA FRACIONÁRIA balanço:
Imagine agora que os bancos comecem a usar uma parte de seus
BALANÇO DO TERCEIRO BANCO
depósitos para conceder empréstimos - por exemplo, para
famílias que estão comprando uma casa, ou para empresas que Ativo Passivo
querem investir em novas instalações e equipamentos. A van-
Reservas $128 Depósitos $640
tagem para os bancos é que podem cobrar juros sobre os em- Empréstimos $512
préstimos. Os bancos devem manter algumas reservas, para es-
tarem disponíveis sempre que os depositantes quiserem fazer re- E o processo continua. A cada depósito e empréstimo, mais
tiradas. Mas, desde que o montante de novos depósitos seja moeda é criada.
aproximadamente igual ao montante de retiradas, um banco Embora possa continuar para sempre, esse processo de cri-
não precisa manter rodos os depósitos em reserva. Assim, os ação de moeda não cria uma quantidade infinita de moeda.
hanqueiros têm um incentivo a fazer empréstimos. Quando isso Com rr indicando a proporção entre depósito e reserva, a
acontece, temos a reserva bancária fracionária , um sistema pelo
quantidade de moeda que os $1.000 originais criam é a se-
qual os hancos mantêm apenas uma fração de seus depósitos
guinte:
em reserva.
Aqui está o balanço do Primeiro Banco depois que efetua Depósito Original = $1.000
um empréstimo: Empréstimo do Primeiro Banco = (1 - rr) X $1.000
Empréstimo do Segundo Banco = (l - rr)' X $1.000
BALANÇO DO PRIMEIRO BANCO Empréstimo do Terceiro Banco = (l - rr) ' X $1.000
Ativo Passivo

Reservas $200 Depósitos $1 .000


Empréstimos $800
Oferta Monetária Total = [l + (1 - rr) + (1 - rr f
Esse balanço pressupõe que a proporção entre reserva-depósito - + (l - rr)3 + ... ]X $1.000
a fração de depósitos mantida em reservs1- é de 20%. O Pri- = (1/rr) X $1.000
332 CAPÍTULO 18

Cada $1 de reserva gera $(1/rr) de moeda. Em nosso exem- Nosso modelo mostra como a oferta monetária depende da base
plo, rr = 0,2; portanto, os $1.000 originais geram $5.000 em monetária, da razão reserva-depósito e da razão moeda-depósito.
moeda. 1 Permite-nos examinar como a política do Banco Central e as op-
A capacidade do sistema bancário de criar moeda é a dife- ções dos bancos e famílias influenciam a oferta monetária.
rença básica entre os bancos e outras instituições financeiras. Começamos com as definições de oferta monetária e base
Conforme discutimos anteriormente no Cap. 3, os mercados monetária:
financeiros têm a importante função de transferir os recursos
M =C + D,
existentes na economia das famílias que querem poupar parte
de sua renda para o futuro, para as famílias e firmas que querem
B=C + R.
tomar emprestado para comprar bens de investimento a serem A primeira equação enuncia que a oferta monetária é a soma
usados futuramente na produção. O processo de transferência da moeda e dos depósitos à vista. A segunda equação enuncia
de fundos dos poupadores para os tomadores de empréstimo é que a base monetária é a soma da moeda e das reservas bancá-
chamado de intermediação financeira. Muitas instituições atu- rias. Para resúlver a oferta monetária como uma função das três
am na economia como intermediadoras financeiras: os exem- variáveis exógenas (B, rr, e cr), comece dividindo a primeira
plos mais prúeminentes são o mercado de ações, o mercado de equação pela segunda, para obter
títulos e o sistema bancário. Dessas instituições financeiras, ape-
nas os hancm têm autoridade legal para criar at1,·os ( tais como M C+D
-----
contas correntes) que fazem parte da oferta monet,í.ria. Portan- B C+R
to, os bancos são as únicas instituições que influem diretamen-
te na oferta monetária . Depois, divida tanto a parte superior quanto a inferior da ex-
.1
Note que embora o sistema bancário com reserva fracionária pressão à direita por D.
crie moeda, ele não cria riqueza. Quando um banco empresta M CID+ 1
parte de suas resen·as, ele permite que o tomador de emprésti-
.. 1
mo se habilite a fazer transações e, por conseguinte, aumentar B CID+ R/D
,,,.
......
.,,1
a oferta monetária. Mas o tomador de empréstimo também esn1 Observe que CID é a razão moeda-depósito cr, e que RID é a razão
assumindo uma dívida com o banco, de forma que o emprésti- reserva-depósito rr. Efetuando essas substituições, e transferin-
...
o• mo não o faz mais rico. Em outras palavras, a criação de moeda do o B do lado esquerdo para o lado direito da equação, obtemos
...'
:::
pelo sistema banc-'\rio aumenta a liquidez da economia, e não
sua riqueza. M= cr +1 X B.
CT + 7T
... UM MODELO DA ÜFERTA MONETÁRIA Esta equação mostra como a oferta monetária depende das três

.,..,.,..
u ..lf Agora que vimos como os bancos criam moeda, examinaremos variáveis exógenas.
~

em mais detalhes o que determina a oferta monetária. Apre- Podemos agora constatar que a oferta monetária é propor-
sentamos aqui um modelo da oferta monetária sob reserva ban- cional à base monetária. O fator de proporcionalidade, (cr +
cc'íria fracionária. O modelo tem três variáveis exógenas: 1)/(cr + rr), é indicado como m, sendo chamado de multipli-
>- A base monetária B é o número total de dólares em po-
cador monetário. Podemos escrever
der do público como papel-moeda C e dos bancos como M= m X B.
reservas R. É controlada diretamente pelo Banco Cen-
tral. Cada dólar da base monetária geram dólares em moeda. Como
>- A razão reserva-depósito rr é a fração de depósitos que a base monetária tem um efeito multiplicado sobre a oferta
os bancos mantêm em reserva. É determinada pelas po- monetária, a base monetária é às vezes chamada de moeda de
líticas financeiras dos bancos e pelas leis que regulamen- alta potência.
tam os bancos. Aqui está um exemplo numérico que descreve de maneira
> A razão moeda-depósito cr é a quantidade de moeda C aproximada a economia dos Estados Unidos hoje. Suponha que
que as pessoas retêm, como urna fração do seu ativo em a base monetária B seja de $500 bilhões, a razão reserva-depó-
depósitos à vista D. Reflete as preferências das famílias sito rr seja 0,1 e a razão moeda-depósito seja 0,6. Nesse caso, o
sobre a forma de moeda que desejam manter. multiplicador monetário é

'Now maremdrirn: O últimn passo na derivação da oferta monetária coral urili:a o resulcado algébrico da soma de uma série geométrica infinita (que usamos antes para calcular
n multiplicador. no Cap. LO). Segundo esse resultado, se x é um número entre - 1 e 1, então
] + X + X: + / + ... = [/(! - X) .

Nesta arlicação. x = (1 - rr).


OFERTA MONETÁRIA E DEMANDA POR MOEDA 333

0,6 + 1 = 2,3. Central compra títulos do público, os dólares que ele paga por
m=
0,6 + 0,1 esses títulos aumentam a base monetária, e com isso aumen-
tam a oferta monetária. Quando o Banco Central vende títu-
e a oferta monetária é
los ao público, os dólares recebidos reduzem a base monetária
M = 2,3 X $500 bilhões= $1.150 bilhões. e com isso diminuem a oferta monetária. As operações de mer~
cado aberto constituem o instrumento de política econômica
Cada dólar da base monetária gera 2,3 dólares em moeda; por-
que o Banco Central utiliza com mais freqüência. Na verdade,
tanto, a oferta monetária total é de $1.150 bilhões.
o Banco Central conduz operações de mercado aberto nos mer-
Podemos agora constatar como variações das três variáveis
cados de títulos quase todos os dias da semana.
exógenas - B, rr e cr-fazem com que a oferta monetária varie.
As exigências de reservas são regulamentações do Banco
1. A oferta monetária é proporcional à base monetária. Assim, Central que impõem aos bancos uma razão reserva-depósito
um aumento da base monetária aumenta a oferta monetá- mínima. Um aumento das exigências de reservas aumenta a
ria na mesma proporção. razão reserva-depósito, e com isso baixa o multiplicador mo-
2. Quanto menor a razão reserva-depósito, mais empréstimos netário e a oferta monetária. As mudanças das exigências de
os bancos efetuam, e mais moeda os bancos criam de cada reservas constituem o menos usado dos três instrumentos de
dólar de reserva. Assim, uma redução da razão reserva-.de- política do Banco Central.
pósito aumenta o multiplicador monetário e a oferta mone- A taxa de redesconto é a taxa de juros que o Banco Central
tária. cobra quando efetua empréstimos aos bancos. Os bancos tomam
3. Quanto menor a razão moeda-depósito, menos dólares da emprestado do Banco Central quando se vêem com poucas re-
base monetária o público retém como papel-moeda, mais servas, insuficientes para atender às exigências de reservas. Quan-
dólares da base os bancos mantêm como reservas e mais to menor a taxa de redesconto, mais baratas se tomam as reser-
moeda os bancos podem criar. Assim, uma redução da razão vas emprestadas e mais os bancos tomam emprestado no guichê
moeda-depósito aumenta o multiplicador monetárt\.) e a de desconto do Banco Central. Assim, uma redução da taxa de
oferta monetária. redesconto aumenta a base monetária e a oferta monetária.
Embora esses três instrumentl)S - operações de mercado
Com esse modelo em mente, podemos examinar os meios pe-
aberto, exigências de reservas e taxa de redesconto - conce-
los quais o Banco Central influencia a oferta monetária.
dam ao Banco Central um poder substancial pc1ra influenciar a
oferta monetária, o Banco Central não pode controlar essa ofer-
Os TRES INSTRUMENTOS DA POLÍTICA ta monetária com absoluta perfeição. O critério dos bancos na
condução de seus negócios pode fazer com que a oferta mone-
MONETÁRIA
tária mude de uma maneira que o Banco Central não anteci-
Em capítulos anteriores, formulamos um pressuposto simpli- pava. Por exemplo, os bancos podem optar por manter reser-
ficador de que o Banco Central controla a oferta monetária vas em excesso - ou seja, acima das exigências de reservas.
diretamente. Na verdade, o Banco Central controla a oferta Quanto mais alto o volume de reservas em excesso, maior a
monetária indiretamente, alterando a base monetária ou ara- razão reserva-depósito, e menor a oferta monetária. Como ou-
zão reserva-depósito. Para fazer isso, o Banco Central tem à tro exemplo, o Banco Central pode não controlar precisamen-
sua disposição três instrumentos de política monetária: as ope- te o \'olume que os hancos tomam emprestado no guichê de
rações de mercado aberto, as exigências de reservas e a taxa redesconto. Quanto menos os bancos tornam emprestado, me-
de re-desconto. nor a hase monet,'íria, e menor a oferta nwnetária. Por isso, a
As operações de mercado aberto são as compras e vendas oferta monetária às vezes segue rumo, que n Banco Central não
de títulos do gm·emo pelo Banco Central. Quando o Banco planejava.

ESTUDO DE CASO
FALÊNCIAS BANCÁRIAS E A OFERTA MONETÁRIA NA DÉCADA pósico - referentes a 1929 e 19 33 são apresentadas na T ahela
DE 1930 18-1. Pode-se constatar que a queda da oferta monetária não
Entre agosto de 1929 e março de 1933, a oferta monetária nos pode ser atribuída a uma diminuição da base monetária; na
Estados Unidos caiu 28 %. Como ressaltamos no Cap. 11, al- verdade, a base monetária aumentou 18% durante esse perío-
guns economistas acham que esse grande declínio da oferta do. Em vez disso, a oferta monetária caiu porque o multiplica-
monetária foi a principal causa da Grande Depressão. Mas não dor monetário diminuiu de 38%. O multiplicador monetário
examinamos por que a oferta monetária caiu de maneira tão caiu porque as razões moeda-depósito e reserva-depósito subi-
drástica. ram de maneira considerável.
As três variáveis que determinam a oferta monetária - a A maioria dos economistas atribui a queda do multiplica-
base monetária, a razão reserva-depósito e a razão moeda-de- dor monetário ao grande número de falências bancárias no
334 CAPITULO 18
"'
início da década de 1930. De 1930 a 1933, mais de 9.000 ban-
cos suspenderam suas operações, muitas vezes inadimplentes
com os depositantes. As falências bancárias fizeram com que a
oferta monetária caísse, alterando o comportamento de Agosto de 1929 Março de 1933
depositantes e banqueiros.
As falências bancárias aumentaram a razão moeda-depósi- Oferta Monetária 26,5 19,0
Papel-moeda 3,9 5,5
to, diminuindo a confiança pública no sistema bancário. As
Depósitos à vista 22,6 13,5
pessoas temiam que as falências bancárias pudessem continu-
ar, e passaram a considerar o papel-moeda corrente uma forma Base Monetária 7,1 8,4
Papel-moeda 3,9 5,5
mais desejável de moeda do que os depósitos à vista. Quando
Reservas 3,2 2,9
retiravam seus depósitos, elas esgotavam as reservas dos ban-
cos. O processo de criação de moeda foi invertido à medida que Multiplicador Monetário 3,7 2,3
os bancos reagiam a reservas menores reduzindo o saldo de em- Razão reserva-depósito 0,14 0,21
Razão moeda-depósito 0,17 0.41
préstimos pendentes.
Além disso, as falências bancárias aumentaram a razão re- Fonte: Adaptado de Milton Friedman e Anna Schwartz, A Monetary His-
serva-depósito, ao tomarem os banqueiros mais cautelosos. tory of the United States. 1867-1960(Princeton. NewJersey: Princeton Uni-
Depois de observarem muitos bancos quebrarem, os banquei- versity Press. 1963), Apêndice A.

ros tomaram-.se apreensivos com a perspectiva de operar com


um pequeno volume de reservas. Por isso, aumentaram as re-
servas muito acima do mínimo legal. Assim como as famílias
reagiram à crise bancária mantendo em seu poder mais papel- Fed poderia ter reagido à queda do multiplicador monetário
moeda em relação aos depósitos, os banqueiros reagiram man- aumentando a base monetária ainda mais do que fez. Qual-
tendo mais reservas em relação aos empréstimos. Juntas, essas quer dessas ações provavelmente teria evitado uma queda
mudanças causaram uma grande queda do multiplicador mo- grande da oferta monetária, o que poderia reduzir a gravida-
netário. de da Grande Depressão.
Embora seja fácil explicar por que a oferta monetária caiu, Desde a década de 1930, foram implementadas muitas me-
é mais difícil decidir se a culpa pode ser atribuída ao Federal didas que tornam menos provável, hoje em dia, uma queda tão
Reserve dos EUA, o Banco Central dos EUA. É possível ar- grande e tão repentina do multiplicador monetário. Mais im-
gumentar que a base monetária não diminuiu; portanto, não portante ainda, o sistema federal de seguro dos depósitos pro-
deve ser culpado. Os críticos da política econômica do Fed tege os depositantes quando um banco vai à falência . Essa po-
durante esse período apresentam dois argumentos. Primeiro, lítica mantém a confiança pública no sistema bancário, e evita
grandes oscilações da razão moeda-depósito. O seguro dos de-
,' alegam que o Fed deveria ter assumido um papel mais incisi-
vo na prev enção das falências dos bancos, atuando como um pósitos tem um custo: ao final da década de 1980 e início da
emprestador de última instância quando os bancos precisavam década de 1990, o governo federal dos EUA teve grandes des-
de liquidez, durante as corridas bancárias. Isso teria ajudado pesas para salvar da insolvência muitas instituições de poupança
..·,1 a manter a confiança no sistema bancário, e evitado a grande e crédito. Seja como for, o seguro dos depósitos ajuda a estabi-
queda no multiplicador monetário. Segundo, ressaltam que o lizar o sistema bancário e a oferta monetária.

18-2 DEMANDA POR MOEDA


Podemús agora passar para o outro lado do mercado monetá- (M/P).i = L(i , Y).
rio, e examinar o que determina a demanda por moeda. Em ca-
Empregamos essa função de demanda por moeda quando exa-
pítulos anteriores, usamos as funções mais simples de demanda
minamos a relação entre moeda e preços, no Cap. 4, e quando
por moeda. Começamos pela teoria quantitativa, que pressu-
desenvolvemos o modelo JS-LM, nos Caps. 10 e 1 L
põe que a demanda por encaixes monetários reais é proporcio-
É claro que há muito mais a se dizer sobre o que determina
nal à renda. Ou seja, a teoria quantitativa pressupõe
quanto de moeda as pessoas optam por reter. Assim como os
(M/P)º = kY, estudos da função consumo baseiam-se nos modelos microeco-
nômicos da decisão de consumo, os estudos da função de de-
em que k é uma constante que avalia quanto de moeda as pes- manda por moeda baseiam-se nos modelos microeconômicos
soas querem reter para cada dólar de renda. Depois, considera- sobre as decisões sobre demanda por moeda. Nesta seção, tra-
mos uma função de demanda por moeda mais geral e mais rea- taremos primeiro, em termos gerais, das diferentes maneiras de
lista, que pressupõe que a demanda por encaixes monetários se projetar um modelo de demanda por moeda. Depois, desen-
reais depende da taxa de juros e da renda: volveremos um modelo proeminente.
OFERTA MONETÁRIA E DEMANDA POR MOEDA 335

Lembre-se de que a moeda serve para três funções: é uma moeda.) Um aumento de W eleva a demanda por moeda, por-
unidade de conta, uma reserva de valor e um meio de troca. A que a riqueza maior significa um portfólio maior.
primeira função - a moeda como unidade de conta - não gera, Do ponto de vista das teorias de portfólio, podemos consi-
por si só, qualquer demanda por moeda, porque é possível regis- derar nossa função de demanda por moeda, L(i, Y), uma sim-
trar preços em dólar sem manter nenhum dólar. Em contraste, a plificação útil. Primeiro, ela usa a renda real Y como um subs-
moeda só pode servir às duas outras funções se as pessoas a pos- tituto para a riqueza real W. Segundo, a única variável de re-
suírem. As teorias de demanda por moeda enfatizam o papel da muneração incluída é a taxa de juros nominal, que é a soma da
moeda como estoque de valor ou como meio de troca. remuneração real sobre títulos com a inflação esperada (ou seja,
i = r b + 'TT'). Segundo as teorias de portfólio, no entanto, a
função de demanda por moeda deve incluir também a remu-
TEORIAS DE PORTFÓLIO DE DEMANDA POR
neração esperada sobre outros ativos.
MOEDA As teorias de portfólio são úteis para se estudar a deman-
As teorias de demanda por moeda que enfatizam o papel da da por moeda? A resposta depende de qual medida monetá-
moeda como um estoque de valor são. chamadas de teorias de ria estamos considerando. As medidas monetárias mais es-
portfólio. Segundo essas teorias , as pessoas retêm moeda como tritas, como Ml, incluem apenas o papel-moeda e os depó-
parte do seu portafólio - ou carteira - de ativos. A idéia chave sitos em conta corrente. Essas formas de moeda podem ter
é que a moeda oferece uma combinação diferente de risco e taxas de juros muito baixas, ou até zero. Há outros ativos -
remuneração se comparada a outros ativos. Em particular, a como contas de poupança, títulos do Tesouro, certificados
moeda oferece uma remuneração (nominal) segura, enquanto de depósitos e fundos mútuos - que proporcionam taxas de
os preços de ações e outros títulos podem subir ou descer. As- juros mais altas e têm as mesmas características do papel-
sim, alguns economistas têm sugerido que as famílias optam por moeda e das contas correntes. Os economistas dizem que a
reter moeda como parte do seu portfólio ótimo. 1 moeda (M 1) é um ativo dominado: como reserva de valor,
As teorias de portfólio prevêem que a demanda por moeda ele existe junto com outros ativos, que sempre são melho-
deve depender do risco e da remuneração oferecidos pela mo- res. Portanto, não é ideal para as pessoas reter moeda como
eda e pelos vários ativos que as famílias podem ter em vez de parte do seu portfólio de investimentos, e as teorias de
moeda. Além disso, a moeda deve depender da riqueza totaL portfólio não podem explicar a demanda por essas formas
porque a riqueza mede o volume do portfólio a ser distribuído dominadas de moeda.
entre moeda e ativos alternativos. Por exemplo, podemoses- As teorias de portfólio são mais plausíveis como teorias de
crever a função de demanda por moeda como demanda por moeda se adotamos uma medida monetária am-
pla. As medidas amplas incluem muitos dos ativos que domi-
(M/P)-1 = L(r,, r", '!T", W),
nam o papel-moeda e as contas correntes. M2, por exemplo,
em quer, é a remuneração real esperada sobre o capital, r 1, é a inclui as contas de poupança e os fundos mútuos do mercado
remuneração real esperada sobre títulos, '71'" é a taxa de infla- financeiro. Quando examinamos por que as pessoas retêm ati-
ção esperada e W é a riqueza real. Um aumento em r, ou r" re- vos em forma de M2, em vez de ações ou outros títulos, as consi-
duz a demanda por moeda, porque os outros ativos tornam-se derações de portafólio de risco e retorno podem ser predomi-
mais atraentes. Um aumento de TI'. também reduz a demanda nantes. Ou seja, embora as teorias de portfólio possam não ser
por moeda, porque a moeda torna-se menos atraente. (Lem- plausíveis quando aplicadas a M 1, podem ser eficientes para
bre-se de que -1T'" é a remuneração real esperada para se reter explicar a demanda por M2 ou MJ.

ESTUDO DE CASO - - - - - - - - - - - - - - .
PAPEL-MOEDA E A ECONOMIA INFORMAL Parte desse papel-moeda é usado pelas pessoas que movi -
Quanto em papel-moeda você tem neste momento na cartei- mentam a economia informal - ou seja, aquelas que estão
ra? Quantas notas de $100/ empenhadas em atividades ilícitas, como o tráfico de drogas,
Nos Estados Unidos, hoje, a quantidade de papel-moeda e aquelas que tentam esconder renda ou sonegar impostos. As
por pessoa é de cerca de $2.000. Cerca de metade é em no- pessoas cuja riqueza foi adquirida ilegalmente podem ter me-
tas de $100. A maioria das pessoas acha esse fato surpreen- nos opção para investir seu portfólio: ao manterem dinheiro
dente, porque retém montantes muito menores, em valores em bancos, ações ou outros títulos, elas assumem um risco maior
menores. de detecção. Para os criminosos, o papel-moeda pode ser um

;James Tobin, "Liquidity Preference as Behavior Toward Risk", Review of Economic Siudies 25 (fevereiro de 1958): 65-86.
336 CAPÍTULO 18

ativo sobre o qual não se tem controle: calvez seja o melhor real da moeda. Um traficante de drogas que tenha $20.000 em
estoque de valor disponível. papel-moeda paga um imposto inflacionário de $2.000 por ano
Alguns economistas apontam a grande quantidade de pa- quando a taxa de inflação é de 10%. O imposto inflacionário é
pel-moeda na economia informal como uma razão para que um dos poucos impostos que as pessoas que movimentam a
alguma inflação seja desejável. Lembre-se de que a inflação é economia informal não podem sonegar. 3
um imposto sobre o detentor de moeda, porque corrói o valor

TEORIAS TRANSACIONAIS DA DEMANDA POR é constante durante o ano.) Quanto dinheiro a pessoa deve
manter no processo de gas tar esse montante? Ou seja, qual é o
MOEDA volume ótimo de saldos médios de caixa?
As teorias da demanda por moeda que enfatizam o papel do Reflita sobre as possibilidades. A pessoa pode sacar os Y
dinheiro como um meio de troca são chamadas de teorias dólares no início do ano, e gastar o dinheiro gradativamente.
transacionais. Essas teorias reconhecem que o dinheiro é um O gráfico (a) da Fig. 18-1 mostra quanto dinheiro ela mantém
ativo dominado e ressaltam que as pessoas podem levar consi- ao longo do ano nesse plano. O dinheiro em seu poder no iní-
go, para fazer Cl)tnpras, al1 contrário de outros ath·os. Essas te- cio do ano é Y, e no final do ano é zero, com uma média de Y/
orias explicam melhor por que as pessoas mantêm recursos 2 ao longo do ano .
monetários restritos, tais como papel-moeda e dinheiro em Um segundo plano possível é fazer dois saques no banco.
conta corrente, em vez de manterem ativos como contas de pou- Nesse caso, ela retira Y/2 dólares no início do ano, gasta
pança ou títulos dn T esouro. gradativamente esse montante durante a primeira metade do
As teorias transacionais d a demand a por moeda assumem ano, e depois vai de novo ao banco, a fim de retirar Y/2, para a
muitas formas, dependendo da maneira como se modela o pro- segunda metade do ano. O gráfico (b) da Fig. 18-1 mostra que
cesso de ohtenção de dinheiro e rea lização das transações. To- o dinheiro em poder da pessoa ao longo do ano varia entre Y/
das essas teorias pressupõem que o dinheiro tem o custo de pro- 2 e zero, cnm uma média de Y/4. Esse plano tem a vantagem de
porcionar uma haixa taxa de remuneração e o benefício de tor- que menos dinheiro ê mantido em média, o que faz com que a
,.
!t : nar as transaçi'les mais Cl)nvenien tes . As pessoas decidem quan- pessoa renuncie a menos juros ; mas tem a desvantagem de exi-
,..lc ro dinheiro manter equilibrando esses custos e benefícios. gir duas viagens ao banco em vez de uma.
1::· Para entender como as teorias transaciona is explicam a fun - Em termos mais gerais, suponha que a pessoa faça N viagens
:5
1. .
ção de demanda por moeda, apresentamos um modelo proemi- ao banco durante o ano. Em cada ida, ela retir;.:i Y/N dólares;
nente desse tipo. O modelo Baumol, Tobin foi desenvolvido depo is, gasta o dinheiro gradativamente, ao longo do seguinte
..
:r.:
,"
,.,.'!
na década de 1950 pelos economistas William Baumol e James
Tohin e aré hoje conrinun a ser uma das principais teorias da
1/N-ésimo do ano. O gráfico (c) da Fig. 18- 1 mostra que o di-
nheiro em poder da pessoa varia entre Y/N e zero, com a média
demanda por moeda. 4 de Y/(2N).
A questão é a seguinte: qual é a escolha ótima de N? Quan-
to maior for N menos dinheiro a pessoa mantém em média, e a
o MODELO BAUMOL-TOBIN DE menos juros ela renuncia. Mas, à medida que N aumenta, tam-
'"'.,.{ ADMINISTRAÇÃO DE CAIXA hérri cresce a inconveniência de freqüentes idas ao hanco.
Suponha que o custo de ir ao banco seja um muntante fi xo
O modelo Balllnul-Tohin analba l)S custos e benefícios de se F. Podetfü)S considerar F como representando o valor do tem-
mante r dinheiro em caixa. O henefício de manter dinheiro esn1 po gasto para ir e voltar do hanco, além de esperar na fila, para
n ,1 cm1\'eniência: as pessoas mantêm dinheiro para evitar uma fazer a retirada. Por exemplo, se uma viagem ao hanco leva 15
ida ao hmcl) cada ve: que desejam comprar alguma coisa. O minutos e o sahirio da pessoa é de $12 por hüra, então Fé $3.
custo dessa conveniência está nos juros a que renunciam, os Além disso, indique a taxa de juros por i; como o dinheiro não
juros que receheriatn se deix.,ssem o dinheiro em uma conta rende juros, i mede o custo de se oportunidade de manter o
de poupança. dinheiro.
Para entender como as pessoas trocam esses custos e henefí- Agora, podemos examinar a escolha ótima de N, que deter-
c ios, considere urn a pessoa que planeja gastar Y dólares mina a demanda por moeda. Para qualquer N, o montante
gradativamente , ao longo de um ano. (Para simplificar, supo- médio de dinheiro mantido é Y/(2N); assim, os juros a que se
nha que o nível de preços seja constante; por isso, o gasto real renuncia são iY(2N). Como Fé o custo por ida ao banco, o custo

'Para ler mais sobre a grande quantidade de papel-moeda, ve ja Case M. Srrenkle, "The Case of Missing Currency", Joumal of Economic Perspectives 7 (outono de l 993 ): l 75-184.
'William BaumoL "The Transacrions Demand for Cash: An lnventory Theoretic Arproach", Qwmetl) Joumal of Economics 66 (novembro de 1952): 545-556; e James Tobin,
0

"The lnrerest Elasr iciry of the Transactions Demand for Cash", Review of Economics and Suuistics (agosto de 1956): 241-247.
ÜFERTA MONET,\R!A E DEMANDA POR MOEDA 337

(a) Dinheiro Mantido em Poder com (b) Dinheiro Mantido em Poder com
Uma Viagem ao Banco Duas Viagens ao Banco
Dinheiro mantido Dinheiro mantido
y

· · · · · · · · · · · · · · · · · · ·Média = Y/ 2 Y/2
••••••••• • ••• •
Média== Y/4
• • •· 4. • •••••• •• • • •

Tempo 1/2 Tempo

(c) Dinheiro Mantido em Poder com


N Viagens ao Banco
Dinheiro mantido

Média== Y/ 2N
\
YN
........ . .. . . . . . .. \ ...

1/ N lTempo

Fig. 18-1 Dinheiro Mantido ao Longo do Ano A média de dinheiro mantido depende do número de viagens que urna pessoa faz ao banco por ano.

total de se empreenderem viagens ao banco é FN. O custo to· Até aqui, interpretamos o modelo Baumol-T obin como um
tal com que a pessoa ,1rca é a soma dos juros a que se renuncia modelo da demanda por pape l-moeda. Ou seja, usamos tal
e dn cusro das viagens ao banco: modelo para explicar a quantidade de dinheiro mantido fora
Custo dos hancos. Mas pode-se interpretar o modelo de uma maneira
Torai = Juros a que ,e Renuncia + Custo de Viagens mais amp la. Imagine uma pessoa que mantém um portfólio
= iY/(2N) + FN. de ativos monetários (papel -moeda e contas correntes) e ati-
vos não-monetários (ações e ou tros títulos). Os ativos mone-
Quanto maior o númern de viagens N , a menos juros se renun- tários são usados para transações, mas oferecem uma taxa de
cia, e maior u custo de se ir a.o banco. retorno baixa. Considere i como a diferença no retorno entre
A Fig. 18-2 mostra cmno o custo total depende de N. Há
ativos monetários e não-monetários, e F o custo de transfe-
um valor de N que minimiza o custo total. O valor ótimo de N,
rência de at ivos não-monetários para ativos monetários, tal
inJicadLJ cumo N · , é'
como a taxa de corretagem. A decisão de com que freqüência
iY pagar a taxa de corretagem é análoga à decisão de com que
N* = freqüência se deve ir ao banco. Portanto, o modelo Baumol-
\ 2F.
T obin descreve a demanda dessa pessoa por ativos monetári-
A média de dinheim mantido em poder é os. Ao mostrar que a demanda por moeda é positivamente
Média de Dinheiro Mantido = Y/(ZN*) rel acionada ao gasto Y e negativamente à taxa de juros i, o
modelo gera uma justificativa microeconômica para a função
iYF de demanda por moeda, L(i,Y), que temos usado ao longo
= f2i· deste livro.
Essa expressão mostra que a pessoa mantém mais dinheiro Uma implicação do modelo Baumol-Tobin é que qualquer
se o custo fixo de ir ao banco F for mais alto, se a despesa Y for variação de F, o custo fixo de ir ao banco altera a função de
mais alta, ou se a taxa de juros i for mais baixa. demanda por moeda - ou seja, muda a quantidade de moeda

;Nora matemática: Derivar essa expressão da escolha ótima de N exige cálculo simples. Diferencie o custo total C em relação a N para ohrer
dC/dN = -,YN-'/2 + F.
No ponto ótimo, dC/dN = O, o que proporciona a fórmula para N•.
"i

338 CAPITuLO 18

Custo

_..,"",<-........,,.,,,. ~
•• -..--· ·"( Custo das viagens
-· ao banco = FN

N.. Número de viagens ao banco, N

Número. de viagens que


minimiza o custo total

Fig. 18-2 O Custo de se Manter Moeda Os juros a que se renuncia. o custo de idas ao b anco e o custo total dependem do número de idas N. Um
valor de N, indicado como N* . minimiza o custo total.

demandada para qualquer taxa de juros e renda dada. É fácil contas. Contudo, um aumento dos salários reais aumenta F, ao
imaginar os eventos que podem influenciar o custo fixo. A aumentar o valor do tempo. E um aumento das taxas bancárias
expansão dos caixas automáticos, por exemplo, reduz F, ao re- aumenta F diretamente. Assim, embora o modelo Baumol-
duzir o tempo necessário para se efetuar uma retirada de dinhei- Tobin nos dê uma função de demanda por moeda bastante es-
ro. De modo semelhante, o surgimento do hanco pela Internet pecífica, não nos dá motivo para crer que essa função perma-
reduz F ao tornar mais fácil a transferência de recursos entre necerá necessariamente estável ao longo do tempo.

ESTUDO DE CASO
ESTUDOS EMPÍRICOS SOBRE A DEMANDA POR MOEDA dade-renda da demanda por moeda é maior que 1/2, e que a
Muitos economistas têm estudado dados sobre moeda, renda e elasticidade da taxa de juros é menor que 1/2. Assim, em-
taxas de juros, para aprender mais sobre a função demanda por bora possa captar parte da história que há por trás da função
moeda. Um propós ito desses estudos é avaliar como a deman- de demanda por moeda, o modelo Baumol-Tobin não é to-
da por moeda reage a variações da renda e das taxas de juros. A talmente correto.
sensibilidade da demanda por moeda a essas duas variáveis Uma possível explicação para a deficiência do modelo
determina a inclinação da curva LM; assim, influi na maneira Baumol-Tobin é o fato de que algumas pessoas podem ter me-
como as políticas monetária e fiscal afetam a economia. nos critério sobre a moeda que mantêm do que o modelo
Outro propósito dos estudos empíricos é testar as teorias de presupõe. Por exemplo, considere uma pessoa que deve ir ao
demanda por moeda. O modelo Baumol-T obin, por exemplo, banco uma vez por semana para depositar seu cheque de paga-
faz predições precisas sobre a maneira como renda e taxas de mento; enquanto está no banco, ela aproveita para retirar o di-
juros influenciam a demanda por moeda. A fórmula de raiz qua- nheiro necessário para a semana seguinte. Para essa pessoa, o
drada do modelo indica que a elasticidade-renda da demanda número de viagens ao banco, N, não se altera se houver mu-
por moeda é 1/2: um aumento de 10% da renda deve levar a danças no gasto ou na taxa de juros. Como N é fixo, a média
um aumento de 5% da demanda por encaixes monetários re- de dinheiro mantido (Y/ZN) é proporcional ao gasto e insensí-
ais. Também indica que a elasticidade-juros da demanda por vel à taxa de juros.
moeda é de 1/2: um aumento de 10% da taxa de juros (diga- Imagine agora que o mundo seja povoado por dois tipos de
mos, de 10% para 11 %) deve levar a uma redução de 5% na pessoas. Algumas obedecem ao modelo Baumol-Tobin, e por
demanda por encaixes monetários reais. isso têm elasticidade-renda e elasticidade-juros de 1/2. As ou-
A maioria dos estudos empíricos sobre demanda por mo- tras têm um N fixo, e por isso têm uma elasticidade-renda de 1
eda não confirma essas predições. Constata que a elastici- e uma elasticidade-juros de zero. Nesse caso, a demanda por
ÜFERTA MONETÁRIA E DEMANDA POR MOEDA 339

moeda total parece com uma média ponderada das demandas elasticidade-juros estará entre 1/2 e zero, como constatam os
dos dois grupos. A elasticidade-renda estará entre 1/2 e 1, e a estudos empíricos. 6

INOVAÇÃO FINANCEIRA, QUASE-MOEDA E O FIM Uma resposta a esse problema é usar uma definição abran-
gente de moeda que inclua a quase-moeda. Contudo, como há
DOS AGREGADOS MONETÁRIOS uma infinidade contínuo de ativos no mundo, com característi-
A análise macroeconômica tradicional agrupa os ativos em duas cas variadas, não está claro como escolher um subconjunto para
categorias: aqueles usados como meio de troca e também como classificar de "moeda". Além disso, se adotarmos uma defini-
estoque de valor (papel-moeda, contas correntes) e aqueles ção abrangente de moeda, a capacidade do Banco Central de
usados apenas como estoque de valor (ações, outros títulos, controlar essa quantidade pode ser limitada, porque muitas
contas de poupança). A primeira categoria de ativos é chama- formas de quase-moeda não têm exigência de reservas.
da de "moeda". Neste capítulo, estudamos a oferta e a deman- A instabilidade da demanda por moeda causada pela quase-
da de moeda. moeda tem sido um problema prático importante para os Ban-
Embora a distinção entre ativos monetários e ativos não- cos Centrais. Em fevereiro de 1993, o presidente do Fed, Alan
monetários continue a ser um instrumento teórico útil, ultima- Greenspan, anunciou que o Fed dispensaria menos atenção aos
mente tornou-se mais difícil usá-la na prática. Em parte por agregados monetários do que fizera no passado. Os agregados,
causa da desregulamentação dos bancos e outras instituições disse ele, "não parecem oferecer indicações confiáveis dos de-
financeiras, e em parte por causa da melhora na tecnologia da senvolvimentos econômicos e das pressões sobre os preços". É
informação, a década passada testemunhou uma rápida inova- fácil compreender por que Alan Greenspan chegou a essa con-
ção financeira . O s ativos monetários como contas correntes clusão naquele momento. Ao longo dos 12 meses anteriores, o
outrora não rendiam juros; hoje, rendem taxas de juros do M 1 crescera à taxa extremamente alta de 12 %, enquanto o M2
mercado, e são comparáveis a ativos não-monetários como es- experimentara uma taxa extremamente baixa de 0,5%. Depen-
toques de valor. Os ativos não-monetários como ações e ou- dendo do peso que era atribuído a cada uma dessas duas medi-
tros títulos eram outrora inconvenientes para comprar e ven- das, a política monetária foi muito frouxa ou muito rigorosa,
der; hoje, os fundos mútuos permitem que os depositantes man- ou algum ponto intermediário.
tenham títulos em seus portafóli.os e façam retiradas pelo ex- Dali por diante, o Fed conduziria a política pela fixação de
pediente simples de preencher cheques contra suas contas. Es- uma taxa sobre fundos federais, que é a taxa de juros de curto
ses ativos n:fo-monetários que adquiriram em parte a liquidez prazo à qual os bancos fazem empréstimos uns aos outros. Ajus-
da moeda são chamados de quase-moeda. taria a taxa de juros almejada em resposta a variações das ccm-
A existência da quase-moeda complica a política monetá- dições econômicas, mas permitiria que a oferta monetária fi-
ria, ao tornar instável a demanda por moeda. Como a moeda e zesse o que fosse necessário para manter a taxa de juros no alvo.
a quase-moeda são substitutos muito próximos, as famílias po- Se o desempenho subseqüente da economia serve de parâme-
dem facilmente trocar seus ativos de uma forma para outra. Essas tro, essa política de ignorar os dados sobre os agregados mo-
mudanças podem ocorrer por pequenas razões, e não refletem netários demonstrou ser um procedimento operacional bas-
necessariamente mudanças do gasto. Assim, a ve locidade da tante efetivo. No período depois desse comunicado, os Esta-
moeda torna-se instável, e a quantidade de moeda oferece si- dos Unidos tiveram uma estabilidade macroeconômica aci,
nais fal hos sobre a demanda agregada. ma da média.

18-3 CONCLUSÃO
A moeda está no centro de grande parte da análise macroeco- curto prazo. A ascensão da quase-moeda nos últimos anos mos-
nômica. Os modelos de oferta monetária e de demanda por trou que ainda há muito para se aprender. O desenvolvimento
moeda podem ajudar a esclarecer os determinantes do nível de de modelos microeconômicos confiáveis sobre moeda e quase-
preços no longo prazo e as causas das oscilações econômicas no moeda continua a ser um desafio para os macroeconomistas.

''Para saber mais sobre os estudos empíricos de demanda por moeda, veja Stephen M. Goldfeld e Daniel E. Sichel, "The Demand for Money", Handbook of Monetary Economics,
vol. 1 (Amsrerdam: North-Holland, 1990), 299-356; e David Laidler, The Demandfor Mone1: Theories and Evidence, 3• ed. (Nova York: Harper & Row, 1985).
'i
r
1
340 CAPÍTULO 18

RESUMO
1. O sistema de reserva bancária fracionária cria moeda, porque 4. As teorias de portfólio da demanda por moeda realçam 0
cada dólar de reserva gera muitos dólares de depósitos à vista. papel da moeda como um estoque de valor. Prevêem que a
demanda por moeda depende do risco e a remuneração so-
z. A oferta monetária depende da base monetária, da razão
bre a moeda e os ativos alternativos.
reserva-depósito e da razão moeda-depósito. Um aumento
da base monetária leva a um aumento proporcional da ofer- 5. As teorias transacionais da demanda por moeda, tal como 0
ta monetária. Uma diminuição da razão reserva-depósito ou modelo Baumol-Tobin, realçam o papel da moeda como
da razão moeda-depósito aumenta o multiplicador monetá- meio de troca. Prevêem que a demanda por moeda depende
rio, e com isso a oferta monetária. positivamente do gasto e negativamente da taxa de juros.
3. O Banco Central muda a oferta monetária usando três ins- 6. As inovações financeiras têm levado à criação de ativos com
trumentos de política econômica. Pode aumentar a base mo- muitos dos atributos da moeda. Essas quase-moedas tomam
netária ao efetuar no mercado aberto uma compra de títu- a demanda por moeda menos estável, o que complica a con-
los, ou pode baixar a taxa de redesconto. Pode reduzir ara- dução da política monetária.
zão reserva-depósito ao reduzir as exigências de reservas.

CONCEITOS-CHAVE
Reservas Razão moeda-depósito Reservas em excesso
Reserva bancária de 100% Multiplicador monetário Teorias de portfólio
Balanço patrimonial Moeda de alta potência Ativo dominado
Reserva bancária fracionária Operações de mercado aberto Teorias transacionais
Intermediação financeira Exigências de reserva Modelo Baumol-Tobin
Base monetária Taxa de redesconto Quase-moeda
Razão reserva-depósito

QUESTOES PARA REVISAO


1. Explique como os bancos criam moeda. 5. Segundo o modelo Baumol-Tobin, o que determina com que fre-
2. Quais são as três maneiras pelas quais o Banco Central pode in- qüência as pessoas vão ao banco 7 O que essa decisão tem a ver com
fluir na oferta monetária? a demanda por moeda?

3. Por que uma crise bancária pode levar a uma queda da oferta mo- 6. De que maneira a existência de quase-moeda complica a condu-
netária7 ção da política monetária?

4, Explique a diferença entre teorias de portfólio e transacionais da


demanda por moeda.

PROBLEMAS E APLICAÇOES
1. A ofe rta monet'ária caiu durante os anos de 1929 a 1933, por- c. Qual das duas mudanças foi mais responsável pela queda da
que aumentaram a razão moeda -depósito e a razão reserva-de- oferta monetária 7
pósito . Use o modelo da oferta monetária e os dados da Tabela
18-1 para responder às seguintes perguntas hipotéticas sobre esse 2. Para aumentar a receita fiscal, o governo dos Estados Unidos im·
episódio: pôs em 1932 um imposto de dois centavos de dólar sobre che-
a. O que aconteceria com a oferta monetária se a razão moeda- ques preenchidos contra depósitos em contas bancárias. (Em
depósito fosse aumentada, mas a razão reserva-depósito perma- dólares de hoje, esse imposto era de cerca de 25 centavos de dó-
necesse a mesma? lar por cheque.)
b. O que aconteceria com a oferta monetária se a razão reserva- a. Como você acha que o imposto sobre cheques afetou a razão
depósito permanecesse a mesma? moeda-depósito? Explique.
OFERTA MONETÁRIA E DEMANDA POR MOEOA
341
e
,
1
1
1
1

b. Use o modelo de oferta monetária sob reserva bancária e. Na prática, com que freqüência você vai ao banco, e quanto
fracionária para mostrar como esse imposto afetou a oferta você retira ?
monetária. f. Compare as previsões do modelo Baumol-Tobin sobre O seu
c. Agora, use o modelo IS-LM para avaliar o impacto desse im- comportamento. O modelo descreve como você realmente se
posto na economia. O imposto sobre cheques foi uma boa po- comporta? Se não, por quê ?Corno você mudaria o modelo para
lítica para se implementar em plena Grande Depressão? tomá-lo uma descrição melhor do seu comportamento?
3. Suponha que um surto de assaltos estenda-se por todo o país, tor- 5. No Cap. 4, definimos a velocidade da moeda como a razão entre
nando maior a probabilidade de que sua carteira seja roubada. A gasto nominal e a quantidade de moeda. Vamos agora usar o mo-
partir do modelo Baumol-Tobin, explique (em palavras, não em delo Baumol-Tobin para examinar o que determina a velocidade.
equações) como essa onda de crimes afetará a freqüência ótima de a. Lembrando que a posse média de dinheiro é igual a Y/(ZN),
escreva a velocidade como uma função do número de viagens
idas ao banco e a demanda por moeda.
ao banco N . Explique o resultado.
4. Vejamos o que o modelo Baumol-Tobin diz sobre a freqüência com b. Utilize a fórmula para o número ideal de viagens para expres-
que você deve ir ao banco para retirar dinheiro. sar a velocidade como uma função de gasto Y, a taxa de juros i,
a. Quanto você compra por ano com papel-moeda (em oposição e o custo de uma viagem ao banco F.
a cheques ou cartões de crédito)? Esse é o seu valor de Y. c. O que acontece com a velocidade quando a taxa de juros sobe?
b. Quanto tempo você leva para ir ao banco? Quanto você ganha Explique.
por hora 1 Utilize esses dois dados para calcular seu valor de F. d. O que acontece com a velocidade quando o nível de preço sobe?
e. Qual a taxa de juros que você ganha com o dinheiro que deixa Explique.
em sua coma bancária? Esse é o seu valor de i. (Não deixe de e. À medida que a economia cresce, o que deve acontecer com a
escrever i em forma decimal - ou seja, 6% deve ser expresso velocidade da moeda? (Dica : Pen se na maneira como o
como 0,06. ) crescimento econômico influenciará Y e F .)
d. Segundo o modelo Baumol-Tobin, quantas vezes você deve ir f. Suponha agora que o número de viagens ao banco seja fixo, em vez
ao banco a cada ano, e quanto você deve retirar de cada vez? de discricionário. O que essa suposição indica sobre a velocidade?
-.f _., •• . - ...; .... ~,·-·;

Capítulo 19
; 1

i: i
1

AVANÇOS DA TEORIA DO
CICLO DE NEGÓCIOS

Qual é a melhor maneira de explicar as oscilações de curto prazo à exclusão das variáveis nominais para explicar as oscilações
do produto e do emprego? Como as políticas monetária e sfiscal econômicas de turto prazo.
reagem a essas oscilações? A maioria dos economistas acha que Em contraste, a nova economia keynesiana baseia-se no
essas perguntas são mais bem respondidas pelo uso do modelo pressuposto de que os modelos de equilíbrio de mercado, tal
de demanda agregada e de oferta agregada, que este livro de- como a teoria do ciclo real de negócios, não podem explicar as
senvolveu e aplicou meticulosamente. Contudo, ao nos apro- oscilações econômicas de curto prazo. Em A Teoria Geral,
ximarmos do final do livro, daremos um passo para mais perto Keynes recomendou que os economistas abandonassem o pres-
da fronteira da pesquisa econômica moderna, examinando o suposto clássico de que salários e preços ajustam-se rapidamente
incessante debate sobre a teoria das oscilações econômicas de para equilibrar os mercados. Enfatizou que a demanda agrega-
curto prazo. Este capítulo estuda duas linhas recentes da pes- da é um determinante primário da renda nacional a curto pra-
quisa: a teoria do ciclo real de negócios e a economia zo. Os economistas conhecidos como neokeynesianos aceitam
neokeynesiana. essas conclusões básicas, e por isso defendem modelos com sa-
Começamos pela análise dos ciclos reais de negócios, um lários e preços rígidos.
ponto de vista defendido por uma pequena mas significativa Em sua pesquisa, os neokeynesianos tentam desenvolver
..•·

minoria de economistas. Segundo essa teoria, as oscilações eco-
nômicas de curto prazo devem ser explicadas enquanto se man-
mais plenamente a abordagem keynesiana das oscilações eco-
nômicas. Muitos neokeynesianos aceitam o modelo IS-LM
têm os pressupostos do modelo clássico, que usamos para estu- como a teoria da demanda agregada, e tentam, em sua pesqui-
dar o longo prazo. Mais importante ainda, a teoria do ciclo sa, apurar a teoria da oferta agregada. Esse trabalho tenta ex-

,\ econômico real pressupõe que os preços são perfeitamente fle- plicar como salários e preços se comportam no curto prazo pela
xíveis, mesmo no curto prazo. Quase toda análise microeconô- identificação mais precisa das imperfeições de mercado que
mica baseia-se no pressuposto de que os preços se ajustam para fazem com que salários e preços sejam rígidos e levem a econo-
equilibrar os mercados. Os defensores da teoria do ciclo eco- mia a se desviar da sua taxa natural. Estudaremos essa pesquisa
nômico real argumentam que a análise macroeconômica deve na segunda metade do capítulo.
se basear no mesmo pressuposto. Ao apresentar o trabalho dessas duas escolas de pensamen-
Como pressupõe a perfeita flexibilidade de preços, a teoria to, o presente capítulo assume uma abordagem que é mais des-
do ciclo real de negócios é coerente com a dicotomia clássica: critiva do que analítica. O estudo em detalhes de recentes de-
nesta teoria, as variáveis nominais, como a oferta monetária e senvolvimentos teóricos exigiria mais matemática do que é
o nível de preços, não influenciam as variáveis reais, como o apropriado neste livro. Contudo, mesmo sem os modelos for-
produto e o emprego. Para explicar as oscilações das variáveis mais, podemos avaliar o rumo da pesquisa, e ter uma noção de
reais, a teoria do ciclo real de negócios enfatiza as mudanças como diferentes economistas estão usando o pensamento mi-
reais da economia, tais como as mudanças nas tecnologias de croeconômicó para melhor compreender as oscilações macro-
produção. O "real" da teoria do ciclo real de negócios refere-se econômicas. 1

'Para um tratamento mais formal das questões examinadas aqui, veja os Caps. 4 e 6 de David Romer, Adl!anced Macroeconomics, 2• ed. (Nova York: McGraw-Hill, 2001 ).
AVANÇOS DA TEORIA DO CICLO DE NEGÓCIOS 343

19-1 A TEORIA DOS CICLOS REAIS


DE NEGÓCIOS
Quando estudamos o crescimento econômico, nos Caps. 7 e 8, Podemos também supor que um dia uma tempestade atinge a
descrevemos um processo relativamente suave. O produto cres- ilha. Como a tempestade toma difícil a atividade ao ar livre, a
cia à medida que população, capital e tecnologia disponível produtividade cai: cada hora gasta em pesca ou fabricação de redes
evoluíam ao longo do tempo. No modelo de crescimento de proporciona uma produção menor. Em resposta, Crusoe decide
Solow, a economia aproxima-se de um estado estacionário em passar menos tempo trabalhando, esperando o fim da tempesta-
que a maioria das variáveis cresce junta, a uma taxa determi- de em sua cabana. O consumo de peixe e o investimento em redes
nada pela taxa constante de progresso tecnológico. caem, assim como o PIB. A economia de Crusoe está em recessão.
Mas o processo de crescimento econômico é necessariamen- Suponha ainda que um dia Crusoe é atacado por nativos.
te tão estável como pressupõe o modelo de Solow? Talvez o pro- Enquanto se defende, ele tem menos tempo para o lazer. As-
gresso tecnológico e o crescimento econômico ocorram de ma- sim, a demanda crescente por defesa impulsiona o emprego da
neira desigual. Talvez haja choques na economia que induzem economia de Crusoe, em particular na "indústria de defesa". Até
as oscilações de curto prazo nas taxas naturais de produto e certo ponto, Crusoe passa menos tempo pescando para consu-
emprego. Para entender como isso pode acontecer, considere mir. Em escala mais ampla, ele passa menos tempo fazendo re-
uma analogia famosa, que os economistas tomaram empresta- des, porque é fácil adi;u essa tarefa por algum tempo. Assim, o
da ao escritor Daniel Defoe. gasto em defesa desloca o investimento. Como Crusoe passa
mais tempo no trabalho, o PIB (que agora inclui o valor da
defesa nacional) aumenta. A economia de Crusoe experimen-
A ECONOMIA DE ROBINSON CRUSOE ta um crescimento de tempo de guerra.
Robinson Crusoe é um marinheiro que naufraga numa ilha O que é notável nessa história de surtos de crescimento e
deserta. Como vive sozinho, sua vida é simples. Mas ele preci- recessões é a sua simplicidade. Nesta história, as oscilações da
sa tomar muitas decisões econômicas. Refletir sobre as decisões produção, do emprego, do consumo, do investimento e da produti-
de Crusoe - e de que maneira elas mudam em relação às mu- vidade são todas uma reação natural e desejável de uma pessoa às
danças das circunstâncias - esclarece muita coisa sobre as mudanças inevitáveis das circunstancias. Na economia de Crusoe,
decisões que as pessoas enfrentam em economias maiores e mais as oscilações nada têm a ver com política monetária, preços
complexas. rígidos ou qualquer tipo de colapso de mercado.
Para manter tudo bem simples, imagine que Crusoe se em- Segundo a teoria dos ciclos econômicos reais, as oscilações
penha apenas em umas poucas atividades. Crusoe passa parte de nossa economia são muito parecidas com as oscilações da
do seu tempo desfrutando de lazer, quiçá nadando em uma das economia de Robinson Crusoe. Os choques em nossa capaci-
praias de sua ilha. O resto do tempo ele passa trabalhando, dade de produzir bens e serviços (assim como a mudança das
pescando ou colhendo fibras para fazer redes de pesca. As duas condições meteorológicas na ilha de Crusoe) alteram as taxas
formas de trabalho rendem um bem valioso: os peixes são o naturais de emprego e produto. Esses choques não são necessa-
consumo de Crusoe, e as redes o seu investimento. Se fôsse- riamente desejáveis, mas são inevitáveis. Depois que os cho-
mos calcular o PIB da ilha de Crusoe, somaríamos o número ques ocorrem, é desejável pata o PIB que emprego e outras
de peixes pescados e o número de redes fabricadas (pondera- variáveis macroeconômicas oscilem em resposta.
dos por algum "preço" para refletir a avaliação relativa desses A parábola de Robinson Crusoe, como qualquer modelo em
dois bens por Crusoe). economia, não é apresentada como uma descrição literal da
Crusoe distribui seu tempo entre o nado, a pesca e a fabrica- maneira como a economia opera. Em vez disso, tenta encon-
ção de redes, com base em suas preferências e oportunidades dis- trar a essência do fenômeno complexo que chamamos de ciclo
poníveis. É razoável presumir que Crusoe otimiza. Ou seja, ele de negócios. A parábola consegue alcançar esse objetivo? Os
surtos de crescimento e recessões das modernas economias in-
escolhe as quantidades de lazer, consumo e investimento que são
dustriais são mesmo como as oscilações na ilha de Robinson
melhores para ele, diante das restrições impostas pela natureza.
Crusoe? Os economistas não chegam a um acordo quanto à
Ao longo do tempo, as decisões de Crusoe mudam, à medi-
resposta a essa pergunta; e, portanto, discordam quanto à vali-
da que ocorrem choques em sua vida. Por exemplo, suponha
dade da teoria do ciclo real de negócios. Na essência do deba-
que, em um determinado dia, um grande cardume passa pela
te, há quatro questões básicas:
ilha. O PIB aumenta na economia de Crusoe por dois motivos.
Primeiro, sua produtividade aumenta: com um grande cardu- > A interpretação do mercado de trabalho: As oscilações
me na água, Crusoe pesca mais peixes por hora de pescaria. do emprego refletem as variações voluntárias da quanti-
Segundo, o emprego de Crusoe aumenta. Ou seja, ele decide dade de trabalho ofertado?
reduzir temporariamente o lazer, a fim de trabalhar mais e apro- > A importância dos choques tecnológicos: A função de
veitar tal oportunidade excepcional de pesca. A economia de produção da economia experimenta grandes deslocamen-
Crusoe está prosperando. tos exógenos no curto prazo?
344 CAPÍTULO 19

> A neutralidade da moeda: As variações da oferta mone- seja, os ganhos de trabalhar no primeiro verão em relação aos
tária só têm efeitos nominais? ganhos de trabalhar no segundo verão - é
> A flexibilidade de salários e preços: Os salários e preços
ajustam-se de maneira rápida e completa para equilibrar
Sa1ano . Intertempora1 = (1 + r)Wi .
,. Re1ativo
oferta e demanda? Wz
Independentemente de se considerar a parábola de Robinson Trabalhar no primeiro verão é mais atraente se a taxa de juros
Crusoe como uma analogia plausível para o ciclo de negócios, for mais alta, ou se o salário for alto em relação ao salário que
a consideração dessas quatro questões é instrutiva, porque cada se espera que prevaleça no futuro.
uma trata de problemas fundamentais do funcionamento da Segundo a teoria do ciclo real de negócios, todos os traba-
economia. lhadores efetuam essa análise de custo-benefício quando deci-
dem se trabalham ou se desfrutam o lazer. Se o salário for tem-
porariamente alto ou se a taxa de juros for alta, é um bom tem-
A INTERPRETAÇÃO DO MERCADO DE po para se trabalhar. Se o salário é temporariamente baixo ou
TRABALHO se a taxa de juros é baixa, é um bom tempo para desfrutar o lazer.
A teoria do ciclo real de negócios usa a substituição inter-
A teoria do ciclo real de negócios enfatiza a idéia de que a quan-
tidade de trabalho ofertada em qualquer momento dado depen- temporal do trabalho para explicar por que emprego e produto
de dos incentivos com que os trabalhadores se deparam, assim oscilam. Os choques na economia que fazem a taxa de juros
como Robinson Crusoe muda seu esforço de trabalho volunta- subir ou o salário ser temporariamente alto levam as pessoas a
riamente, em reação à mudança de circunstâncias. Quando são quererem trabalhar mais. O aumento do esforço no trabalho
bem recompensados, os trabalhadores mostram-se dispostos a aumenta o emprego e o produto.
trabalhar mais horas; quando as recompensas pelo trabalho são Os críticos da teoria do ciclo real de negócios acham que
reduzidas, os trabalhadores mostram-se dispostos a trabalhar as oscilações do emprego não refletem mudanças no montante
menos horas. Às vezes, se a recompensa pelo trabalho é muito que as pessoas querem trabalhar. Eles estão convencidos de
pequena, os trabalhadores optam por se abster por completo de que o emprego desejado não é muito sensível ao salário real e
trabalhar - pelo menos em caráter temporário. Essa disposi- à taxa de juros real. Argumentam que a taxa de desemprego
ção de distribuir as horas de trabalho ao longo do tempo é cha- oscila substancialmente ao longo do ciclo de negócios. O de-
mada de substituição íntertemporal de trabalho. semprego elevado em épocas de recessão sugere 4ue o merca-
Para entender como a substituição intertemporal afeta a do de trabalho não faz uma compensação: se as pessoas optas-
oferta de trabalho, considere o seguinte exemplo. Urna estu- sem voluntariamente por não trabalhar em épocas de recessão,
dante que está concluindo o segundo ano da faculdade dispõe não se considerariam desempregadas. Esses críticos concluem
de duas férias de verão antes da formatura. Ela deseja trabalhar que os salários não se ajustam para equilihrar oferta de traba-
em um desses verões (a fim de poder comprar um carro depois lho e demanda de trabalho, como pressupõem os modelos de
de se formar), e descansar na praia durante o outro verão. Como ciclo real de negócios.
ela deve escolher em qual verão trabalhar? Em resposta, os defensores da teoria do ciclo real de negóci-
Defina W 1 como o salário real no primeiro verão e Wccomo os argumentam que as estatísticas de desemprego são difíceis
o salário real que ela espera no segundo verão. Para escolher de interpretar. O simples fato de 4ue a taxa de desemprego é
em que verão trabalhar, a estudante compara esses dois salári- alta não significa que a substituição intertemporal do trabalho
os . Contudo, como ela pode obter juros sobre o dinheiro ga- não seja importante. As pessoas que optam voluntariamente
nho antes, um dólar ganho no primeiro verão é mais valioso por não trabalhar podem se consider::ir desempregadas, a fon
do que um dólar ganho no segundo verão. Defina r como a taxa de poderem receber os benefícios do seguro-desemprego. Ou
de juros real. Se a estudante trabalhar no primeiro verão e pou- podem se considerar subempregadas, porque estariam dispos-
par sua renda, ted ( 1 + r)W 1 um ano depois. Se trabalhou no tas a trabalhar se lhes fosse oferecido o salário que recehem na
segundo verão, terá W, . O salário relativo intertemporal-ou maioria dos anos.

ESTUDO DE CASO - - - - - - - - - - - - - - - .
o ESTUDO DA SUBSTITUIÇÃO INTERTEMPORAL substituível em termos interternporais, as pessoas que estão à
Como a substituição intertemporal do trabalho é fundamental espera de aumento do salário real deveriam trabalhar pouco hoje
para a teoria do ciclo econômico real, muita pesquisa tem sido e muito no futuro. As pessoas que esperam reduções do salário
feita para verificar se ela é um determinante importante da ofer- real deveriam trabalhar muito hoje e desfrutar o lazer no futuro.
ta de trabalho. A pesquisa examina dados sobre salários e horas A maioria dos estudos de oferta de trabalho constata que as
para verificar se as pessoas alteram o quanto trabalham em rea- variações esperadas do salário real levam apenas a pequenas va-
ção a pequenas variações do salário real. Se o lazer fosse altamente riações das horas trabalhadas. As pessoas parecem não reagir a

,.
AVANÇOS DA TEORIA DO CICLO OE NEGÓCIOS 345

variações esperadas do salário real com a redistribuição subs- de ser perfeitos. Por exemplo, para estudar a oferta de traba-
tancial do lazer ao longo do tempo. Essa evidência sugere que lho, precisamos de dados sobre salários; mas, quando uma pes-
a substituição intertemporal não é um determinante da oferta soa não está trabalhando, não observamos o salário que ela
de trabalho tão importante quanto alegam os teóricos do ciclo poderia ganhar ao aceitar um emprego. Assim, embora a mai-
real de negócios. oria dos estudos de oferta de trabalho encontre poucas evidên-
Essa evidência, no entanto, não convence todo mundo. Um cias de substituição intertemporal, isso não encerra o debate
motivo é o fato de que os dados, com freqüência, estão longe sobre a teoria do ciclo real de negócios.2

A IMPORTÂNCIA DOS CHOQUES Os críticos da teoria do ciclo real de negócios não acredi-
tam que a economia experimente grandes choques tecnológi-
TECNOLÓGICOS
cos. Um pressuposto mais comum é que o progresso tecnológi-
A economia de Crusoe oscila por causa das mudanças climáti- co é gradativo. Os críticos argumentam que a r egressão
cas, o que induz Crusoe a alterar seu esforço de trabalho. Na te- tecnológica é particularmente implausível: a acumulação de
oria do ciclo real de negócios, a variável análoga é a tecnologia, conhecimento tecnológico pode ser mais lenta, mas é difícil
que determina a nossa capacidade de transformar insum\)S (ca- imaginar que possa ocorrer uma reversão.
pital e trabalho) em produto (bens e serviços). A teoria pressu- Os defensores respondem com uma visão mais ampla dos
põe que nossa economia experimenta oscilações da tecnologia, choques tecnológicos. Argumentam que hâ muitos eventos
e que essas .oscilações da tecnologia acarretam oscilações do pro- que, embora não sendo literalmente tecnológicos , afetam a
duto e do emprego. Quando a tecnologia de produção displinÍ- economia tanto quanto ús choques tecnológicos. Por exem-
vel melhora, a economia produz mais, e os salários reais sobem.
plo, o mau tempo, a aprovação de leis de proteção ambiental
Por causa da substituição intertemporal de mão-de-obra, a tec-
rigorosas, ou aumentos dos preços internacionais do petróleo
nologia melhorada também leva a um aumento do emprego. Os
têm efeitos semelhantes a mudanças adversas da tecnologia:
teóricos do ciclo real de negócios muitas vezes explicam as épo-
reduzem nossa capacidade de converter capital e trabalho em
cas de recessão como períodos de "regressão tecnológica". Segun-
bens e serviços. É uma questão em aberto se esses eventos são
do esses modelos, a produção e o emprego caem durante as
recessões porque a tecnologia de produção disponível se deteri- bastante comuns para explicar a freqüência e a magnitude dos
ora, baixando o produto e reduzindo o incentivo ao trabalho. ciclos de negócios.

ESTUDO DE CASO
O REsíouo DE Soww E o CicLO EcoNôM1co A Fig. 19- l mostra o resíduo de Solow e o crescimento do
Para demonstrar o papel dos choques tecnológicos na geração produto no período de 1948 a 1999. Observe que o resíduo de
de ciclos econômicos, o economista Edward Prescott examinou Solow oscila consideravelmente. Ele nos diz, por exemplo, que
os dados dos insumos da economia (capital e trabalho) e seu a tecnologia piorou em 1982 e melhorou em 1984. Além dis-
produto (PIB). Para cada ano, ele calculou o resíduo de Solow: so, o resíduo de Solow tem urna estreita ligação com o produ-
a variação percentual do produto menos a variação percentual to: nos anos em que o produto cai, a tecnologia piora. Segundo
dos insumos, em que insumos diferentes são ponderados púr suas Prescott, essas grandes osc ilações do resíduo de Solow mostram
proporções nos fatores de produção. O resíduo de Solow mede que os choques tecno lógicos constituem uma importante fon-
a porção de crescimento do produto que não pode ser explicada te de oscilações econômicas.
pelo crescimento no capital ou trabalho. Prescott interpreta-o Mas a interpretação de Prescott para essa figura é contro-
como uma medida da taxa de progresso tecndógicn. ; versa. Muitos economistas acham que o resíduo de Solow não

'0 artigo clássico que ressalta o papel da substi1uiçã0 interte.mpnral nn mercado de 1rabalhn é o de Robert E. Lucas.. Jr.. e Leonard A. Rapping, "Real Wages, Employment and
lnflatinn", JourMI of Polirical Econom1 77 (setembro/outubro de 1969): 721-75 4. Para uma noção d,) trabalho empírico que lança dúvidas s,>hre essa hipótese, veja Joseph G.
Alrnnji. "lncerremroral Sub.sriturion in Labor Supply: Evidence Fwm t\Hcm Data", ]ou.mal of Polirical Economy 94 (junhn de 1986, Pàrte 2): SI 76-S2l5; e Laurence Bali,
"lntertemporal Substitutinn and Consmlints on Labor Supply: Evidence From Panei Data". Economic lnquiry 28 (Üucubro de 1990): 706-724. Para um estlldo recente que relata
evidências em favor da hip,\tese, veja Casey B. Mulligan. "Subsciturion Over Time: Another Lnok ar Life Cycle Labor Supply", NBER Macroeconumics AnnUlll 13 ( 1998).
'O apêndice do Cap. 8 mostra que o resíduo de Solow é

llA .\ Y ilK tiL


- = - - u - - ( l - u)-
A Y K L '
em que A é o fator rotai de produtividade, Y o produto, K o capital Lo trabalho e ex a participação da renda do capital.
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346 CAPÍTULO 19

Percentual por ano


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-2 Resíduo de Solow

- 4 L-~~-'-~~--'--~~-'-~~--'-~ ~--'-~~----'L--~ ~ ' -~ ~ -'-~~--'--~ ~ .......~ ~-'-~


1945 1950 1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000
Ano

Fig. 19-1 Crescimento do Produto e o Resíduo de Solow O resíduo de Solow, que alguns economistas interpretam como uma medida dos
choques tecnológicos. oscila com a produção de bens e serviços da economia.
Ponte: U. S. Depattment oi Commerce. U. S. Department of Labor e cálculos do autor.

representa de maneira acurada as mudanças da tecnologia em organizar o estoque, receber certo treinamento e realizar ou-
curtos períodos. A explicação padronizada para o comporta- tras tarefas úteis que as medidas padrões de produção não cos-
mento cíclico do resíduo de Solow é que ele resulta de dois tumam incluir. Se for esse o caso, então a produção é subesti-
problemas de mensuração. mada em épocas de recessão, o que também faria com que o
Primeiro, durante as épocas de recessão, as empresas podem resíduo de Solow medido fosse cíclico por outras razões que não
continuar a empregar trabalhadores de que não necessitam, a a tecnologia.
fim de tê-los disponíveis quando a economia se recupera. Esse Portanto, os economistas podem interpretar o comporta-
fenômeno , chamado de armazenamento de trabalho, significa mento cíclico do resíduo de Solow de diferentes maneiras. Os
que o insumo trabalho é superestimado em épocas de recessão, teóricos do ciclo real de negócios apontam a baixa produtivi-
porque é provável que os trabalhadores armazenados não este- dade nas épocas de recessão como evidência de choques tec-
jam trabalhando tanto quanto o habitual. Em conseqüência, o nológicos adversos. Outros economistas acham que a produti-
resíduo de Solow é mais cíclico do que a tecnologia de produ- vidade medida é baixa nos períodos de recessão porque os tra-
ção disponível. Em época de recessão, a produtividade medida balhadores não estão trabalhando tanto como de costume, e
pelo resíduo de Solow cai, mesmo que à tecnologia não tenha porque a maior parte da sua produção não é mensurada. Infe-
mudado, simplesmente porque os trabalhadores armazenados lizmente, não há evidência clara da importância do armazena-
sentam-se à espera do fim da recessão. mento do trabalho e da má mensuração cíclica da produção.
Segundo, quando a demanda é baixa, as empresas podem Por isso, persistem diferentes interpretações para a Fig. 19-1.
produzir coisas que não são mensuradas com facilidade. Em Essa divergência é uma das partes do debate entre defensores e
épocas de recessão, os trabalhadores podem limpar a fábrica, críticos da teoria do ciclo real de negócios. 4

'Para conhecer os dois lados.desse debate, veja Edward C. Prescott, "Theory Ahead of Business Cycle Measurement", e Lawrence H. Summers, "Some Skeptical Observations on
Real Business Cycle Theory". Os dois artigos saíram em Quarrerly Review , Federal Reserve Bank de Minneapolis (outono de 1986).
AVANÇOS DA TEORIA Do CICLO DE NEGÓCIOS 347

A NEUTRALIDADE DA MOEDA associadas a períodos de alto desemprego. A política monetá-


ria parece ter uma forte influência sobre a economia real.
Assim como a moeda não tem papel na economia de Crusoe, a Os defensores da teoria do ciclo real de negócios argumen-
teoria do ciclo real de negócios pressupõe que a moeda em nossa tam que seus críticos confundem a direção da causalidade en-
economia é neutra, mesmo no curto prazo. Ou seja, presume- tre moeda e produto. Tais defensores alegam que a oferta mo-
se que a polftica monetária não afeta variáveis reais, tais como netária é endógena: as oscilações do produto podem causar
produto e emprego. Não só a neutralidade da moeda dá nome oscilações da oferta monetária. Por exemplo, quando o produ-
à teoria do ciclo real de negócios, mas também a neutralidade to aumenta por causa de um choque tecnológico benéfico, a
é o pressuposto mais radical da teoria. demanda por moeda aumenta. O Banco Central pode reagir
Os críticos argumentam que as evidências n ão confirmam a com a elevação da oferta monetária para atender à demanda
neutralidade da moeda no curto prazo. Ressaltam que as redu- maior. Essa reação endógena da moeda à atividade econômica
ções do crescimento da moeda e a inflação estão quase sempre pode dar a ilusão de não-neutralidade monetária. 5

ESTUDO DE CASO
TESTE DA NEUTRALIDADE DA MOEDA década de 1930: a morte de Scrong deixou um vácuo de poder
É difícil determinar a direção da causalidade entre oscilações no Fed, o Banco Central dos EUA que impediu uma reação vi-
na oferta monetária e oscilações do produto. A única manei- gorosa à medida que as condições econômicas se deterioravam.
ra segura de determinar causa e efeito seria a condução de um Em outras palavras, a morte de Strong, como a moeda do Ban-
experimento controlado. Imagine que o Banco Central fixasse co Central dando coroa, foi um evento aleatório que levou a
a oferta monetária segundo algum processo aleatório. Todo uma política monetária mais contracionista. 6
mês de janeiro, o presidente do Banco Central tiraria cara ou Um estudo mais recente, de Christina Romer e David
coroa. Cara determinaria uma política monetária expansio- Romer, segue os passos de Friedman e Schwarcz. Os Romers
nista para o ano todo; coroa, uma política contracionista. leram com todo o cuidado as minutas das reuniões do Comitê
Depois de alguns anos, saberíamos com confiança quais os de Mercado Aberto do Federal Reserve , que determina a polí-
efeitos da política mon etária. Se o produto e o emprego em tica monetária. O Fed parece ter deslocado seu foco de políti-
geral sobem quando a moeda cai em cara e em geral caem ca econômica para a redução da taxa de inflação. Os Romers
quando dá coroa, ent ão poderemos concluir que a política argumentam que esses dados são, em suma, o equivalente da
monetária tem efeitos reais. Contudo, se o cara-ou-coroa do moeda do Banco Central dando coroa. Em seguida, mostram
Banco Central não tivesse qualquer relação com o desempe- que a economia norte-americana experimentou um declínio do
nho econômico subseqüente, poderíamos concluir que os te - produto e do emprego depois de cada uma dessas datas. Por-
óricos do ciclo de n egóc ios estão certos quanto à neutralida- tanto, as evidências dos Romers parecem indicar a n ão-neu-
de da moeda. tralidade da moeda no curto prazo .i
Infelizmente para o progresso científico mas felizmente para As interpretações da história, no entanto, são sempre passí-
a economia, os economistas não têm permissão para conduzir veis de contestação. Ninguém pode ter certeza do que teria
experimentos assim. Em vez disso, devemos extrair o que pu- acontecido na década de 1930 se Benjamin Strong vivesse. Da
dermos dos dados que a história nos oferece. mesma maneira, nem todos estão convencidos de que os dados
Um estudo clássico na história da política monetária é o li- dos Romers são tão exógenos quanto o cara-ou-coroa: calvez o
vro de Milton Friedman e Anna Schwartz, A Monetary History Fed estivesse de fato reagindo a eventos que teriam causado o
ofthe UnitedStates , 1867-1960 , de 1963. Esse livro descreve declínio do produto e do emprego mesmo sem a sua ação. As-
os eventos históricos que moldaram as decisões sobre política sim, embora a maioria dos economistas esteja convencida de
monetária e os eventos econômicos que resultaram dessas de- que a política monetária tem um importante papel no ciclo
cisões. Friedman e Schwartz alegam, por exemplo, que a morte econômico, esse julgamento baseia-se na acumulação de evi-
em 1928 de Benjamin Strong, presidente do Federal Reserve dências de muitos estudos. Não há absolutamente prova
Bank de Nova York, foi uma causa da Grande Depressão da irrefutável que convença a todos .

'Robert G. King e Charles 1. Plosser, "Money, Credit and Prices in a Real Business Cyde", American Economic Re~iew 74 (junho de 1984 ): 363-380.
' Milton Friedman e Anna J. Schwartz, A Monerary History of the United Srates , 1867-1960 (Princeton, New Jersey: Princeton University Press, 1963).
:christina Romer e David Romer, "Does Monetary Policy Matter? A New Test in the Spirit of Friedman and Schwam", NBER Macroeconomics Annual (1989): IZl-170.
348 CAPÍTULO 19

A FLEXIBILIDADE DE SALÁRIOS E PREÇOS de preços flexíveis é superior, em termos metodológicos, ao


pressuposto de preços rígidos, porque liga a teoria macroeco-
A teoria do ciclo real de negócios pressupõe que salários e pre-
nômica mais estreitamente à teoria microeconômica.
ços ajustam-se depressa para equilibrar os mercados, assim como
Os críticos ressaltam que muitos salários e preços não são
Crusoe sempre alcança seu nível ideal de PIB sem qualquer
flexíveis. Acham que essa inflexibilidade explica tanto a exis-
impedimento de uma falha de mercado. Os defensores dessa
tência do desemprego quanto a neutralidade da moeda. Para
teoria acham que as falhas de mercado decorrentes de salários
e preços rígidos não são importantes para que se compreendam explicar por que os preços são rígidos, eles se baseiam nas vári-
as oscilações econômicas. Também acham que o pressuposto as teorias neokeynesianas, que explicaremos na próxima seção. 6

19-2 A ECONOMIA NEOKEYNESIANA


A maioria dos economistas é céptica em relação à teoria dos possível que os custos de menu tão pequenos ajudem a expli-
ciclos reais de negócios, e ach a que as oscilações do produto e car as recessões, que custam tão alto para a sociedade? Os pro-
do emprego no curto prazo representam desvios da taxa natu- ponentes respondem que pequeno não significa irrelevante:
ral da economia. Consideram que esses desvios ocorrem por- embora sejam pequenos para a empresa individual, os custos
que salários e preços são lentos a se ajustarem às mudanças nas de menu podem ter grandes efeitos na economia como um todo.
condições econômicas. Como examinamos nos Caps. 9 e 13, Segundo os defensores da hipótese do custo de menu, para
essa rigidez faz com que a curva de oferta agregada de curto prazo compreender por que os preços se ajustam lentamente deve-
seja positivamente inclinada em vez de ser vertical. Em conse- mos reconhecer que há extemalidades n o ajuste de preços: uma
qüência, as oscilações da demanda agregada causam oscilações redução de preços por uma empresa beneficia outras empresas
do produto e do emprego no curto prazo. da economia. Quando uma empresa baixa os preços que ela
Mas por que exatamente os preços são rígidos? A pesquisa cobra, baixa ligeiramente o nível médio de preços, e com isso
neokeynesiana vem tentando responder a essa pergunta pelo aumenta os encaixes monetários reais. O aumento dos encai-
estudo da microecon omia que há por trás do ajustamento de xes monetários reais expande a renda agregada (ao deslocar para
preços no curto prazo. Ao fazer isso, tenra situar as teorias tra- fora a curva LM). A expansão econômica, por sua vez, aumen-
dicionais de oscilações de curto prazo em uma base teórica mais ta a demanda pelos produtos de todas as empresas. Esse impac-
firme. to macroeconômico do ajuste de preços de uma única empresa
sohre a demanda pelos produt0s de todas as outras empresas é
chamado de externalidade da demanda agregada.
Os PEQUENOS CusTos DE MENU E AS Na presença dessa extemalidade da demanda agregada, os
EXTERNALIDADES DA DEMANDA pequenos custos de menu podem tornar os preços rígidos, e essa
rigidez pode ter um grande custo para a sociedade. Suponha que
AGREGADA
uma empresa originalmente fixe seu preço muito alto, e mais
Uma das razões pelas quais os preços não se aj ustam imediata- tarde deva decidir se vai ou não reduzi-lo. A empresa toma essa
mente no curto prazo é o fato de haver custos no ajuste de pre- decisão pela comparação do benefício do corte de preços -
ços. Para mudar seus preços, uma empresa pode precisar enviar vendas e lucros maiores - com o custo do ajuste do preço.
novos catálogos aos consumidores, distribuir no\'as listas de Contudo, por causa da extemalidade da demanda agregada, o
preços aos vendedores, ou imprimir, no caso de um restauran- benefício do corte de preços para a sociedade superaria o bene-
te, novos menus. Esses custos de ajuste de preços, chamados de fício para a empresa. A empresa ignora essa extemalidade quan-
custos de menu, le\'am as empresas a ajustarem os preços de do roma a decisão; portanto, pode decidir não pagar o cusro de
modo intermitente em vez de contínuo. menu e não cortar preços, mesmo que o corte de preços seja
Os economistas discordam quanto a se os custos de menu socialmente desejável. Por isso, os preços rígidos podem ser ideais
explicam a rigidez dos preços no curto prazo. Os cépticos res- para os que fixam os preços, mesmo que sejam considerados indese~
saltam que os custos de menu são em geral mínimos. Como é jáveis para a economia como um todo. 9

'Para saber mais súhre a teoria ,b ciclo ernnômirn real, veja N. Gregory Mankiw, "Real Business Cydes: A New Keynesian Perspective",Jouma! of Economic Per,pecci,•es 3 (verão
de 1989): 79-90; Bennett T. McCallum, "Real Business Cycle Models", em R. Barro, ed., Modem Business Cycle Theor)' (Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press,
1989), 16-50; e Charles I. Plnsser, "Under,canding Real Business Cycles",Joumal of Economic Pmpecciws 3 (verão de 1989): SI- 77.
''Para saber mais sobre esse assunto, veja N. Gregory Mankiw, "Small Menu Coses and Large Business Cycles: A Macrneconomic Model of Monopoly", Quanerl)' Journal of
Economics 100 (maio de 1985): 529-537; George A. Akerlof e Janet L. Yellen, "A Near Racional Model of the Business Cycle, With Wage and Price Inercia", Quarrerl)' Joumal
of Economics I 00 (Suplemento de 1985 ): 823-838: e Olivier Jean Blanchard e Nobuhiro Kiyotaki, "Monopohstic Competition and che Effeccs of Aggregate Demand", American
Economic Review 77 (setembro de 1987): 647-666.
AVANÇOS DA TEORIA DO CICLO DE NEGÓCIOS 349

RECESSÕES COMO FALHA DE período de recessão, e cada empresa obtém lucro de apenas $15.
Se as duas empresas diminuem seus preços, os encaixes mone-
COORDENAÇÃO tários reais são altos, evita-se uma recessão, e cada empresa tem
Alguns economistas neokeynesianos sugerem que as recessões um lucro de $30. Embora as duas empresas prefiram evitar uma
resultam de uma falha de coordenação. Em épocas de recessão, recessão, nenhuma pode fazer isso por sua própria iniciativa.
a produção é baixa, os trabalhadores estão desempregados e as Se uma empresa diminui seu preço, mas a outra não a acompa-
fábricas ficam ociosas. É possível imaginar distribuições de re- nha, segue-se uma recessão. A empresa que efetua a redução
cursos em que todos alcançam uma situação melhor - por de preço obtém apenas $5, enquanto a outra consegue $15.
exemplo, a produção e o emprego altos na década de 1920 eram A essência dessa parábola é que a decisão de cada empresa
claramente preferíveis à produção e emprego baixos da década influencia o conjunto de resultados disponíveis. para a outra.
de 1930. Se a sociedade não consegue alcançar um resultado Quando uma empresa reduz seu preço, melhora a posição da
que seja viável e que todos prefiram, então os membros da so- outra empresa, que pode assim evitar a recessão. Esse impacto
ciedade de alguma maneira falharam na coordenação. positivo da diminuição de preço de uma empresa nas oportu-
Problemas de coordenação podem ocorrer nos cenários de nidades de lucro de outra empresa podem surgir de uma exter-
salários e preços, porque aqueles que os determinam devem se nalidade da demanda agregada.
antecipar à ação de outros fixadores de salários e preços. Ao Que resultado deveríamos esperar nessa economia? Por um
negociar salários, os líderes sindicais preocupam-se com as con- lado, se cada empresa espera que a outra diminua seu preço,
cessões que outros sindicatos vão ol:,ter. Ao fixar preços, as amhas o farão, proporcionando o resultado preferido, em que
empresas mantêm-se atentas aos preços que outras empresas vão cada qual ganha $30. Por ourro lado, se cada empresa espera
cobrar. que a outra mantenha seus preços, as duas o farão, resultando
Para entender como uma recessão pode ocorrer como uma na solução inferior, em que cada uma ganha $15. Qualquer
falha de coordenação, considere a seguinte parál:,ola. A eco- desses resultados é possível: os economistas dizem que são equí-
nomia é constituída por duas empresas. Depois de uma queda ltbrios múltiplos.
da oferta monetária, cada empresa deve dec idir se diminui seu O resultado inferior, em que cada empresa ganha $15, é um
preço, com base na meta de maximização do lucro. O lucro de exemplo de falha de coordenação. Se as duas empresas pudes-
cada empresa, no entanto, não depende apenas da decisão de sem coordenar, ambas cortariam seus preços e alcançariam o
determinação de preço da empresa, mas também da decisão resultado preferido. No mundo real, ao contrário do que ocor-
tomada pela outra empresa. re em nossa parábola, a coordenação é muitas vezes difícil,
As opções com que cada empresa se defronta estão relacio- porque o número de empresas fixando preços é grnnde . A mo-
nadas na Fig. 19-2, que mostra como os lucros das duas empre- ral da história é que os preços podem ser rígidos apenas porque as
sas dependem de suas ações. Se nenhuma empresa diminui seus pessoas esperam que o sejam , mesmo que essa rigidez não seja do
preços, os encaixes monetários reais são haixos, segue-se um interesse de ninguém. 1''

Empresa 2
Diminui Preço Mantém Preço Alto

Diminui Empresa 1 gan ha $30 Empresa 1 ganha $5


Preço Empresa 2 ganha $30 Empresa 2 ganha $15
Empresa 1
Mantém
Empresa 1 ganha $15 Empresa 1 ganha $15
Preço Empresa 2 ganha $5 Empresa 2 gan ha $1 S
Alto

Fig. 19-2 Fixação de Preços e Falha de Coordenação A figura mostra um "jogo" hipotético entre duas empresas. cada uma das quais está
decidindo se corta os preços, depois de uma queda da oferta monetária. Cada empresa deve escolher uma estratégia sem conhecer a estratégia que
a outra empresa escolherá. Oue resultado você esperaria?

"Para saber mais sobre falha de coordenação, veja Russell Coopere Andrew John, "Coord inating Coordination Faílures in Keynesian Models", Quarterly Joumal of Economics
103 (1988): 441 -463; e Laurence Bali e David Romer, "Sricky Prices as Coordination Failure", American Economic Revie•,! 81 (junho de 1991 ): 539-552.
350 CAPITULO 19

11
ESTUDO DE C A S O - - - - - - - - - - - -
1

EVIDÊNCIAS EXPERJMENTAIS EM JOGOS DE sados com pequenos montantes de dinheiro, dependendo de


COORDENAÇÃO quantos pontos marcavam no jogo.
1, i
O que acontece quando os agentes econômicos, como as em- Pense na estratégia que você escolheria se estivesse partici-
presas em nossa parábola, enfrentam um problema de coor- pando do jogo da Fig. 19-2. Lembre-se de que você não conhe-
denação? Será que eles conseguem de alguma maneira optar ce a estratégia do outro jogador: sabe apenas que o outro está
pelo resultado preferido, sabendo que esse resultado deixa as diante da mesma decisão que você. Você diminuiria seu preço,
duas em situação melhor? Ou será que eles falham na coorde- ou o manteria alto? Sua estratégia mudaria se as recompensas
nação ? n o canto superior esquerdo fossem de $100 em vez de $30? E se
Uma maneira de responder a essa questão é pela experimen- fossem de apenas $16?
tação. Em duas pesquisas, estudantes voluntários foram convi- As evidências experimentais mostram que os atores econô-
dados a participar de esquemas de coordenação, como o "jogo" micos nem sempre coordenam escolhendo o resultado preferi-
da Fig. 19-2. Para manter o anonimato, os estudantes jogavam do. A ocorrência da coordenação depende das cifras específicas
uns contra os outros por meio de terminais de computador. Para da recompensa; portanto, varia de jogo para jogo. Mas, em al-
garantir que o jogo fosse sério, os estudantes eram recompen- guns jogos, o resultado mais comum é a falha de coordenação. 11

A IRREGUIARIDADE DE SAIÁRIOS E cronizadas, rodas podem aumentar seus preços juntas, não
afetando os preços relativos.) Se os fixadores de preços em 15
PREÇOS de maio fazem pequenos ajustes ein seus preços, as outras em-
Nem todos na economia fixam salários e preços ao mesmo tem- presas farão pequenos ajustes quando chegar a sua vez, em 12
po. Em vez disso, o ajuste de salários e preços através da econo- de junho, porque tamhém querem evitar mudanças no preço
mia é irregular. Essa irregularidade retarda o processo de coorde- relativo. E assim por diante. O nível de preços aumenta lenta-
nação e ajuste de preços. Em particular, a irregularidade faz com mente em decorrência de pequenos aumentos de preços nos dias
que o nível geral de salários e preços ajuste-se gradativamente, mes- 1 e 15 de cada mês. Por isso, a irregularidade faz com que o nível
mo quando salários e preços individuais mudam com freqüência. geral de preços se ajuste devagar, porque nenhuma empresa
Considere o exemplo a seguir. Suponha primeiro que a fi- deseja ser a primeira a anunciar um aumento substancial de
xação de preços seja sincronizada: cada empresa ajusta seu pre- preço.
ço no primeiro dia de cada mês. Se a oferta monetária e a de- A irregularidade também afeta a determinação de salário.
manda agregada aumentam no dia 10 de maio, o produto será Considere, por exemplo, de que maneira uma queda da oferta
maior de 10 de maio a 1º de junho, porque os preços são fixa- monetária opera através da economia. Uma oferta monetária
dos durante esse intervalo. Mas em 1º de junho todas as em- menor reduz a demanda agregada, o que, por sua vez, exige uma
presas aumentarão seus preços, em resposta a uma demanda queda proporcional dos salários nominais para se manter o ple-
maior, acabando com o surto de crescimento. no emprego. Cada trabalhador pode estar disposto a aceitar um
Suponha agora que a fixação de preços seja irregular: meta- salário nominal menor se todos os outros salários caírem pro-
de das empresas fixa preços no primeiro dia de cada mês, e porcionalmente. Mas cada trabalhador reluta em ser o primei-
metade os fixa no dia 15. Se a oferta monetária sobe em 10 de ro a ter um corte de pagamento, sabendo que isso significa, pelo
maio, metade das empresas pode aumentar seus preços em 15 menos em caráter temporário , uma queda em seu salário rela-
de maio . Mas é provável que essas empresas não aumentem tivo. Como a fixação de salários é irregular, a relutância de cada
muito seus preços. Como metade das empresas não vai mudar trabalhador em reduzir seu salário primeiro faz com que o nível
seus preços no dia 15, um aumento de preços de qualquer em- geral de salários reaja lemamente às variações da demanda
presa elevará o preço relativo dessa empresa, acarretando a per- agregada. Em outras palavras, a fixação irregular de salários
da de clientes. (Em contraste, se todas as empresas estão sin- individuais torna rígido o nível geral de salários.12

11
Russell Cooper, Douglas V. DeJong, Robert forsythe e Thomas W. Ross, "Selection Criteria in Coordinacion Games: Some Experimental Resulcs", Ametican EconomicRevie«'
80 (março de 1990): 218-233; e John B. Van Huyck, Raymond C. Bactalio e Richard O. Beil, "Tacit Coordination Games, Strategic Uncercainty, and Coordination Failure",
American Economic Review 80 (março de 1990): 234-148.
"Para mais informação sobre os efeitos da irregularidade, veja John Taylor, "Staggered Price Serting in a Macro Maciel", American Economic Review 69 (maio de 1979 ): 108, J13;
e Oliver J. Blanchard, "Price Asynchronization and Price Levei lnertia", em R. Dombusch e Marío Henrique Simonsen, eds., lnflatian, Debt and Indexation (Cambridge, Massa-
chusetts: MIT Press, 1983): 3-24.
AVANÇOS DA TEORIA DO CICLO DE NEGÓCIOS 351

ESTUDO DE CASO
SE VOCÊ QUER SABER POR QUE AS EMPRESAS TÊM PREÇOS
RíGIDOS, PERGUNTE A ELAS
Até que ponto os preços são rígidos, e por que eles são rígidos? Esta tabela baseia-se em respostas à seguinte questão: Com
que freqüência os preços de seus produtos mais importantes
Como já destacamos, essas questões estão na essência das teori- mudam em um ano típico?
as neokeynesianas sobre oscilações econômicas de curto prazo
(assim como no modelo tradicional de demanda agregada e oferta Freqüência Percentual de empresas
agregada). Em um estudo intrigante, o economista Alan Blinder Menos de uma vez 10,2
atacou essas questões diretamente, fazendo um levantamento das Uma vez 39,3
empresas acerca de suas decisões de ajuste de preços. 1,01 a 2 15,6
Blinder começou por perguntar aos executivos de empres.as 2.01 a 4 12,9
com que freqüência eles mudavam seus preços. As respostas, 4.01 a 12 7,5
sintetizadas na Tabela 19-1, oferecem duas conclusões. Primei- 12,01 a 52 4,3
52,01 a 365 8,6
ro, os preços rígidos são bastante comuns. A empresa típica da
Mais de 365 1,6
economia ajusta seus preços uma ou duas vezes por ano. Segun-
do, há grandes diferenças entre as empresas na freqüência do Fonte: Tabela 4.1. Alan S. Blinder, "On Sticky Príces: Academic Theories Meet
ajuste de preços. Cerca de 10% das empresas mudam preços com the Real World" , em N.G. Mankiw, ed., Monetary Policy(Chicago: Uníversity
ofChicagoPress, 1994).117-154.
mais freqüência do que uma vez por semana, e mais ou menos

TABELA 19-2 Teorias da Rigidez de Preços


Percentual de
Teoria e Breve Executivos que
Descrição Aceitam a Teoria
Falha de coordenação: 60,6
As empresas evitam mudanças de preços, esperando que as outras mudem primeiro
Preço baseado no custo com retardo: 55,5
Os aumentos dos preços são protelados até o aumento dos custos
Retardo na entrega, no serviço etc.: 54,8
As empresas preferem variar outros atributos do produto, como retardas na entrega, no se!Viço ou na qualidade do produto
Contratos tácitos: 50,4
As empresas concordam tacitamente em estabilizar preços, talvez por questào de "justiça" com consumidores
Contratos explícitos: 35,7
Os preços são fixados por contratos explícitos
Custos do ajuste de preços: 30,0
As empresas incorrem em custos ao mudarem seus preços
Elasticidade procíclíca: 29,7
As curvas de demanda tomam-se menos elásticas ao se deslocarem para dentro
Pontos de precificação: 24,0
Determinados preços (por exemplo, $9,99) têm um significado psicológico especial
Estoques: 20,9
As empresas variam estoques em vez de preços
Custo marg:inal constante: 19,7
O custo marginal é horizontal e os aumentos são constantes
Adiamentos hierárquicos: 13,6
As protelações burocráticas retardam as decisões
Julgamento de qualidade por preço: 10,0
As empresas temem que os clientes confundam corte de preços com redução da qualidade
Fonte: Tabelas 4.3 e 4.4, Alan S. Blinder, "On Sticky Prices: Academic Theories Meet the Real World", em N.G. Mankiw. ed., Monetary Policy (Chicago: University
ofChicago Press, 1994). 117-154.
352 CAPÍTULO 19

o mesmo percentual muda seus preços com menos freqüência setor, e que a rigidez dos preços é um fenômeno macroeconô-
do que uma vez por ano. mico, sem uma explicação microeconômica única.
Blinder indagou depois aos executivos por que não muda- Entre as 12 teorias, a falha de coordenação encabeça a lista.
vam seus preços com mais freqüência. Em particular, explicou Segundo Blinder, essa é uma descoberta importante, porque su-
aos executivos 12 teorias econômicas de preços rígidos, e pe- gere que a teoria da falha de coordenação explica a rigidez dos
diu que julgassem a eficácia com que uma daquelas teorias des- preços, o que, por sua vez, explica por que a economia experi-
crevia suas empresas. A Tabela 19-2 sintetiza as teorias e clas- menta, no curto prazo, oscilações em tomo da sua taxa natural.
sifica-as pelo percentual de executivos que aceitaram a teoria. Ele escreve: "A implicação de política econômica mais óbvia do
Observe que cada uma dessas teorias foi endossada por alguns modelo é que a fixação mais coordenada de salários e preços -
dos executivos, e cada qual também foi rejeitada por um gran- alcançada de alguma maneira - poderia melhorar o bem-estar.
de número. Uma interpretação é que teorias diferentes aplicam- Mas, se isso for difícil ou impossível, a porta está aberta para a
se a empresas diferences, dependendo das características do política monetária ativista para curar as recessões." 13

19-3 CONCLUSAO
Os recentes desen\'olvimentos da teoria sobre oscilações eco- Para avaliar abordagens alternativas, os economistas
nômicas de curto prazo lemhram-nos que não compreendemos engajados em pesquisas usam uma ampla variedade de evidên-
essas oscilações econômicas tão hem quanto gostaríamos. As cias, como pudemos observar nos cinco estudos de caso deste
questões fundamentais sobre a economia permanecem abertas capítu lo. Eles têm usado dados da microecomomia para estu-
ao dehate . A rigidez de salários e preços é chave para compre- dar a substituição inter.temporal. dados da macroeconomia para
endermos as oscilações ecnni'>micas? A política monetáia tem explicar o comportamento cíclico da tecnologia, as atas das
efeitos reais ? reuniões do Banco Central para testar a neutralidade da moeda,
A maneira como os economistas respondem a essas questões expe rimentos para avaliar a probabilidade de falha de coorde-
afeta o modo como eles consideram o papel da política econô- nação, e pesquisas para julgar teorias de rigidez dos preços. Os
mica. Os economistas que acrediram que salários e preços são economistas diferem quanto às evidências que consideram mais
rígidos, como os que adotam as teorias neokeynesianas, acham convincentes, e por isso a teoria das oscilações econômicas con-
muitas vezes que a política monetária e a política fiscal devem tinua a ser uma fonte de debates freqüentes e veementes.
se r usadas para se tentar estabilizar a economia. A rigidez de Emhorn este capítulo tenha dividido a pesquisa recente em
preços é um tipo de fa lha de mercado, e de ix a em aherto a pos- duas áreas distintas, nem todos os economistas situam-se de
sihilid;\de de qt1e as políticas econômicas do governo possam maneira definida em um lado ou outro. Ao longo do tempo,
aumentar o hem-estar econômico da sociedade como um todo. mais economistas têm tentado incorporar às suas pesquisas ar-
Em contraste, a teoria do ciclo real de negôcios sugere que gumentos das duas ahordagens. A teoria do ciclo real de negó-
a influência do governo sohre a economia é limitada e que, cios enfatiza a otimização intertemporal e o comportamento cal-
mesmo que o governo pudesse estabilizar a economia, não de- cado nas expectativas rac iona is, enquanto a te,1ria neo-
veria tentar. Segundo essa teori<1 , DS altos e baixos dD ciclo keyne siana ressalta a importância da rigidez dos preços e de
econômico são as reações naturais e eficientes da economia às outras falhas de mercado. Cada vez mais, as teorias na frontei-
mudanças das possibilidades tecnológicas. O modelo padrão do ra da pesquisa fundem muitos desses elementos para avançar
ciclo rea I de negócios não inclui qua lquer tipo de falha de nossa compreensão sobre as osci lações econômicas. É esse tipo
mercado. Nesse modelo, a "mão invisível" do mercado orienta de trabalho que torna a macroeconomia um instigante campo
a economia para uma alocação ideal dos recursos. de estudo.

RESUMO
1. A teoria dos cic los econômicos reais é uma explicação clássica e a flexibilidade de salários e preços. Segundo essa
para as oscilações econômicas de curto prazo baseada nos teoria, as oscilações econômicas constituem a reação
pressupostos do modelo clássico, incluindo a dicotomia natural e eficiente da economia a mudanças das cir-
.1
.j,

:r "Para saber mais sobre esse estudo, veja Alan S. Blinder, "On Sticky Prices: Academic Theories Meet the Real World", em N. G. Mankiw, ed., Monerary Policy (Chicago:
University of Chicago Press, 1994): 117-154; ou Alan S. Blinder, Elie R. D. Canetti, David E. Lebow e Jeremy E. Rudd, Asking Abouc Prices: A New Approach ro Unders randing
Price Srickiness (Nova York: Russell Sage Foundation, 1998).
A VANÇOS DA TEORIA DO CICLO DE NEGÓCIOS 353

cunstâncias econômicas, especialmente a mudanças da demanda agregada e oferta agregada, e tenta oferecer uma
tecnologia. explicação melhor do motivo pelo qual salários e preços
2. Os defensores e os críticos da teoria do ciclo real de negóci- são rígidos no curto prazo. Uma teoria neokeynesiana
os não estão de acordo se .as oscilações de emprego repre- sugere que até os pequenos custos de ajuste de preços po-
sentam substituição inrertemporal do trabalho, se os cho- dem ter grandes efeitos macroeconômicos, por causa das
ques de tecnologia causam mais oscilações econômicas, se a externalidades da demanda agregada. Outra teoria suge-
política monetária afeta as variáveis reais, e se a rigidez de re que as recessões ocorrem como um tipo de falha de co-
salários e preços no curto prazo é importante para a com- ordenação. Urna terceira teoria sugere que a irregulari-
preensão das oscilações econômicas. dade dos ajustes de preços faz com que o nível geral de
3. A pesquisa neokeynesiana sobre as oscilações econômi- preços reaja com lentidão às mudanças das condições eco-
cas de curto prazo baseia -se n o modelo tradicional de nômicas.

,1
1

CONCEITOS-CHAVE
Te,)ri,1 dn cicl,, real de negócios Resíduo de Solow ExrernaliJade da demanda agregada
Ecúnomia neokeynesiana Armazenamento de trahalhu Falha de coúrdenação
Suh,tituiçfiLl inkrtemporal de tr.ih,1lho Cust,is Je menu

QUESTÕES PARA REVISÃO


1. Cú1nt1 a teori,1 d,1 cicln real de negócios explica as oscilações do 3. Como a irregularidade Jo ajuste de preços pelas empresas indivi-
emi,reg,,: duais afeta o ajuste do nível geral de preços, acnrretândo uma con-
2. Quai, sfü1 a, quatro divergências h,1sicas do debate sobre a teoria trnção monetária 1
,lo ciclo real de negôci,1, ? 4. Segundo pesquisas, com que freqüê·ncia a empresa típica muda seus
preços? Como seus executivos explicam a rigidez de seus preços'

PROBLEMAS E APLICAÇOES
l. Segundo a tcuria Ju cicki real de negôcios, os choques tecnológi- 3. A falha de coordenação é uma idéia que tem muitas aplicaçôes.
cos, pcrrn,1nentt's l' trnnsitórins, devem ter efeitos muito diferentes Aqui está uma: Andy e Ben estão dirigindD uma empresa juntos.
na ecun, ,mia. Use .1par.íhola Je Rohinson Crusoe para comparar os Se ambos trabalham bastante, a empresa é um sucesso, e cada qual
cfritns ele um clmque rr;insirôrio (hllm tempo com duração espera- consegue $ l 00 de lucro. Se um deles deixa de tr,1balhar bastante,
cb de p,1uc ns dias ap1ma,) e um choque permanente (l.nna mudança a empresa é menos bem-sucedida, e cada ~nn ganha $70. Se ne-
benéfic1 11l>S padriit•s dn tempo). Que choque teri.i um efeiw maior nhum dos do is trabalha bastante, n empresa é ainda menos bem-
sol-,re "esforçL1 cum tr,1halho de Crusoe? E sobre ,1 PIB ? É possí\'cl sucedida, e cada qual recebe $60 de lucro. Trnhalhar bastante exi-
que um de;;ses ch,1ques l'L'Ssa reduzir o esfi.,rço com trahalhci' ge um esforço no valor de $20.
2. Sup,mha <.jue us pri:ços sejam plenamente tlexí\'eis e que o produ- a. Arme esse ''jogo" como na Fig. 19-2.
to da economia osci le por causa dos choques tecnológicos, como b. Que resultado Andy e Ben prefeririam 1
enunci,1 a reuria dn ciclo real de negócios. c. Que resultado ocorreria se cada um esperasse que o sócio tra-
a. Se o Banco Central mantém a oferta monetária constante, o que halhasse bastante?
acontecerá rnm o nível de preçns à medida que o produtn osc ila ' d. Que resultado ocorreria se cada um esperasse que o sócio fosse
h. Se o Federal Reserve ajusta a oferta monetária para estabilizar indolente '
o nível de preços, o que acontecerá com a oferta monetária à e. Essa é uma boa descrição do relac ionamento entre sócios? Por
medida que o produto oscila? que sim, ou por que não?
c. Muitos economistas têm observado que as oscilações da oferta 4. (Este problema usa a microeconomia básica.) O capítulo examina
monetária são positivamente relacionadas com as oscilações do as decisões de ajustes de preços de empresas com custos de menu.
produto. Isso é uma evidência contra a teoria do ciclo real de Este problema propõe que você considere a questão em termos mais
negócios? analíticos, no caso simples de uma única empresa.
J
li·:
.
354 CAPÍTULO 19

,·, a. Faça um diagrama descrevendo uma empresa monopolista, in- ço e a quantidade vendida. Mostre a área que representa a per-
1 clusive com uma curva de demanda negativamente inclinada da de lucro do preço excessivo. Mostre a área que representa a
e uma curva de custo. (Para simplificar, suponha que o custo perda de excedente do consumidor.

·,.
marginal seja constante, e por isso a curva de custo é horizon- c. A empresa decide se diminui seu preço comparando o lucro
tal.) Mostre o preço e a quantidade que maximizam o lucro. extra de um preço inferior com o custo de menu. Ao tomar
Mostre as áreas que representam lucro e o excedente do consu- essa decisão, que extemalidade a empresa está ignorando? Em
1: midor a esse ponto ótimo. que sentido a decisão de ajuste de preço da empresa é
b. Suponha agora que a empresa tenha anunciado antes um au- ineficiente?
mento de preço ligeiramente acima do ideal. Mostre esse pre-
.._.,

Epílogo

o QUE SABEMOS,
o QUE NÃO SABEMOS

\1:.· tfld!J.~ . i~ L'L·r:.1 11nn i:H d .'i ,.lu IHi!ihlfl {u.,sem r,(,;,!il."i \:m filo. 1.l<. rn/in.'i ...lr1tll."i, 1"1il11 d1egL1riarn
1
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.\ ;,.;i ,nd econ,)rn rcu >L11 J J ir, ,J,, ir, ,, 1nu· un ; ,."1 ,1 i / Uil,'· , , /" i • ,n, l H~. -,; , , l~ (n1ru l , ~-" . nn~ , fii lf, t rn1 ·,, :, , 1/1];, ·1·; ,. ,:; ·· , ! Ji, ,/!·~ k.r t't' Ort()}uicu .
F IIH ! rn ~:r.u,Íli l 'H l t·t' ::- ,t umíl ,irn !lri n,1. 11n1 111\lnnndHi • ,Li t>le.'l:!t.1. 1Jltc.." tl /itit·i (lltt' }H o 11os:; ui ,t !l:·dr l·,,nt:iu.\;)l', ltt.'el·tada.,·
-- .li ,h n :\ L.11·11.u\.l f-: cy1w,

O primeiro capítulo deste livro enuncia que o propósito da macroe- cípios que quase rodos os macroeconomistas aceitam, e nos
conomia é compreender os eventos econômicos e melhorar a políti- quais podemos nos basear quando tentamos analisar eventos
ca econômica. Agora que desenvolvemos e usamos muitos dos mais ou formular políticas econômicas. Mas há também muitas ques-
importantes modelos econômicos da caixa de ferramentas dos ma- tões sobre a economia que permanecem abertas ao debate.
croeconomistas, podemos avaliar se eles alcançaram esses objetivos. Nesse último capítulo, revisamos de maneira sucinta as lições
Qualquer avaliação justa da macroeconomia hoje deve ad- fundamentais da macroeconomia, e examinamos as mais pre-
mitir que se trata de uma ciência incompleta. Há alguns prin- mentes questões não-resolvidas.

AS QUATRO LIÇOES MAIS


IMPORTANTES DA MACROECONOMIA
Começamos com quatro lições que apareceram várias vezes ao Os modelos dos Caps. 3, 7 e 8 identificam os determinantes
longo do livro, e que seriam endossadas pela maioria dos eco- do PIB no longo prazo. No longo prazo, o PIB depende de fato-
nomistas de hoje. Cada lição nos diz como a política econômi- res de produção - capital e trabalho - e da tecnologia para
ca pode influenciar uma variável econômica fundamental - transformar capital e trabalho em produto. O PIB cresce quan-
produro, inflação ou desemprego - no longo prazo ou no cur- do os fatores de produção aumentam, ou quando a tecnologia
to prazo. disponível melhora.
Essa lição tem um corolário óbvio, mas importante: a polí-
tica pública só pode elevar o PIB no longo prazo pela melhora
L1çÃo 1: No LoNGo PRAZo, da capacidade produtiva da economia. Há muitas maneiras pe-
A CAPACIDADE DE UM PAÍS DE PRODUZIR BENS las quais os formuladores de política econômica podem tentar
fazê-lo. Políticas econômicas que aumentam a poupança naci-
E SERVIÇOS DETERMINA o PADRÃO DE VIDA DE onal - seja por meio da maior poupança pública ou da maior
SEUS CIDADÃOS. poupança privada- acabam levando a um estoque de capital
maior. Políticas que aumentam a eficiência do trabalho -
Entre todas as medidas de desempenho econômico introduzidas como as que melhoram a educação ou aumentam o progresso
no Cap. 2 e usadas ao longo do livro, a que melhor mede o bem- tecnológico - levam a um uso mais produtivo do capital e do
estar econômico é o PIB. O PIB real mede a produção total de trabalho. Políticas que melhoram as instituições de um país -
bens e serviços da economia; ou seja, mede a capacidade de um como as investigações de corrupção pública - levam a uma
país de satisfazer as necessidades e os desejos de seus cidadãos. acumulação maior de capital e a um uso mais eficiente dos re-
A questão mais importante em macroeconomia talvez seja o cursos econômicos. Todas essas políticas aumentam a produ-
que determina o nível e o crescimento do PIB. ção de bens e serviços da economia e, com isso, o padrão de
356 EPILOGO

vida. É menos evidente, no entanto, qual é a melhor maneira inflação. No Cap. 4, constatamos que, segundo o efeito Fisher,
de aumentar a capacidade produtiva da economia. a inflação alta eleva a taxa de juros nominal (de forma que a
taxa de juros real não é afetada) . No Cap. 5, vimos que a in-
flação alta leva a uma depreciação da moeda no mercado de
LIÇÃO 2: No CURTO PRAZO, câmbio.
A DEMANDA AGREGADA INFLUI NA Os determinantes no longo prazo do desemprego são muito
diferentes. Segundo a dicotomia clássica - a irrelevância de
QUANTIDADE DE BENS E SERVIÇOS QUE UM
variáveis nominais na determinação de variáveis reais - , o
pAÍS PRODUZ. crescimento da oferta monetária não afeta o desemprego no lon-
Embora a capacidade da economia de ofertar bens e serviços seja, go prazo. Como mostramos no Cap. 6, a taxa natural de desem-
no longo prazo, o determinante exclusivo do PIB, no curto pra- prego é determinada pelas taxas de separação de emprego e ob-
zo o PIB depende também da demanda por bens e serviços. A tenção de emprego, que por sua vez são determinadas pelo pro-
demanda agregada tem uma importância fundamental, porque cesso por busca de emprego e pela rigidez do salário real.
os preços são rígidos no curto prazo. O modelo IS-LM, desen- Assim, concluímos que a inflação e o desemprego persisten-
volvido nos Caps. 1O e 11, mostra o que causa mudanças da tes são problemas que não têm relação entre si. Para combater
demanda agregada e, pmranto, as oscilações do PIB no curto a inflação no longo prazo, os formuladores de política econô-
prazo. mica devem reduzir o crescimento da oferta monetária. Para
Como no curto prazo a demanda agregada influi no produ- combater o desemprego, eles devem alterar a estrutura dos mer-
to, todas as variáveis que afetam a demanda agregada podem cados de trahalho. No longo prazo, não há rroca entre inflação
influenciar as oscilações econômicas. A política monetária, a e desemprego.
política fiscal e os choques nos mercados monetários e de bens
são muitas vezes responsáveis pelas mudanças de ano para ano
do produto e do emprego. Como a demanda agregada é crucial LIÇÃO 4: No CuRTo PRAZO,
para as oscilações de curto prazo, os formuladores de política OS f OMULADORES DAS POLÍTICAS
econômica monitoram atentamente a economia. Antes de efe-
MONETÁRIA E FISCAL ENFRENTAM UMA TROCA
tuarem qualquer mudança das políticas monetária ou fiscal, eles
querem saber se a economia está crescendo ou caminhando para ENTRE INFLAÇÃO E DESEMPREGO.
uma recessão. Embora no longo prazo a inflação e o desemprego não estejam
relacionados entre si, no curto prazo há uma troca entre essas
LIÇÃO 3: No LONGO PRAZO, A TAXA duas variáveis, que é ilustrado pela curva de Phillips de curto
prazo. Como examinamos no Cap . 1 ,, os formuladnres de po-
DE CRESCIMENTO DA QUANTIDADE DE lítica econômica podem usar as políticas monetcíria e fiscal para
MOEDA DETERMlNA A TAXA DE expandir a demanda agregada, o que diminui o desemprego e
INFLAÇÃO, MAS NÃO AFETA A TAXA aumenta a inflação. Ou plidem usar essas políticas para con-
trair a demanda agregada, o que aumenta o desemprego e bai-
DE DESEMPREGO. xa a inflação.
Além do PIB, a inflaçãn e u desemprego figuram entre as me- Os formuladores de política econômica defrontam-se com
didas mais atentamente vigiadas do desempenho econômico. uma troca fixa entre inflação e desemprego apenas no curto
O Cap. 2 examinou como essas duas variáveis são medidas, e prazo. Ao lúngo do tempo, a curva de Phillips de curro prazo
capítulos subseqüentes desenvolveram modelos para explicar desloca-se por dois motivos . Primeiro, L)S choques de oferta,
como elas süo determinadas. tais como as mudanças do preço do petróleo, mudam a troca
A arnílise Je longo prazo do Cap. 4 realça que o crescimento de curto prazo; um choque de oferta adverso acarreta para
Ja oferta monetária é o dererminante último da inflação. Ou esses formuladores a difícil ~)pçãn entre inflação maior ou de-
seja, no longo prazo, uma moeda perde o valor real ao longo do semprego maior. Segundo, quando as pessoas mudam suas ex-
tempo se e apenas se o banco central emitir mais e mais moe- pectativas sobre a inflação, a troca de curto prazo entre in -
da. Essa lição pode explicar a variação década a década da taxa flação e desemprego muda. O ajuste das expectativas garan-
de inflação que temos observado nos Estados Unidos, assim te que o intercâmbio só ocorra no curto prazo. Ou seja, ape-
como as hiperinflações, muito mais drásticas, que vários países nas no curto prazo o desemprego se desvia da sua taxa natu-
experimentam de tempos em tempos. ral, e apenas no curto prazo a política monetária tem efeitos
Também examinamos muitos dos efeitos no longo prazo reais. No longo prazo, o modelo clássico dos Caps. 3 a 8 des-
do elevado Crescimento da quantidade de moeda e da alta da creve o mundo.
0 QUE SABEMOS, O QUE NÃO SABEMOS 357

AS QUATRO QUESTÕES NÃO-RESOLVIDAS MAIS


IMPORTANTES DA MACROECONOMIA
Até aqui, examinamos algumas das lições amplas sobre as quais que o persistente crescimento sustentado dos padrões de vida
a maioria dos economistas poderia estar de acordo. Agora, pas- exige um incessante progresso tecnológico. Apesar de todo 0
saremos para quatro questões sobre as quais h á um incessante trabalho intenso sobre as novas teorias de crescimento endó-
debate. Algumas das divergências envolvem a validade de te- geno, focalizando as decisões sociais que determinam o pro-
orias econômicas alternativas; outras dizem respeito à maneira gresso tecnológico, os economistas não podem oferecer uma
como a teoria econômica deve ser aplicada à política econô- receita confiável para assegurar o crescimento. A boa notícia
mica. é o fato de que, por volta de 1995, o crescimento da produti-
vidade nos Estados Unidos se acelerou, encerrando o período
de redução do crescimento iniciado em meados da década de
QUESTÃO 1: COMO OS FORMULADORES DE 1970. Não se sabe ao certo, porém, quanto tempo esse afor-
POLÍTICA ECONÔMICA DEVEM TENTAR tunado desenvolvimento vai durar, e se vai se estender ao resto
do mundo.
AUMENTAR A TAXA NATURAL DO
PRODUTO DA ECONOMIA?
A taxa natural do produto da economia depende da quantida-
QuESTÃO 2: Os FORMULADORES DE
de de capital, da quantidade de trabalho e do nível da tecnolo- POLÍTICA ECONÔMICA DEVEM TENTAR
gia. Qualquer política econômica destinada a aumentar o pro- ESTABILIZAR A ECONOMlA?
duto no longo prazo deve ter como objetivo o aumento da quan-
tidade de capital, a melhora do uso do trabalho, ou o progresso O modelo de oferta agregada e demanda agregada desenvolvi-
da tecnologia disponível. Não há, no entanto, uma maneira do nos Caps. 9 a 13 mostra como vários choques na economia
simples e sem custo de alcançar esses objetivos. causam oscilações econômicas, e como as políticas monetária
O modelo de crescimento de Solow, dos Caps. 7 e 8, mostra e fiscal podem influenciar essas oscilações. Alguns economis-
que o aumento da quantidade de capital exige o aumento da tas acham que os formuladores de política econômica devem
taxa de poupança e de investimento. Por isso, muitos econo- adotar essa análise na tentativa de estabilizar a economia. Eles
mistas defendem políticas para aumentar a poupança nacional. estão convencidos de que as políticas monetária e fiscal devem
O mode lo de Solow, porém, também mostra que elevar o esto- tentar compensar os choques, a fim de manter o produto e o
que de capital ex ige um período de consumo reduzido para as emprego perto de suas taxas naturais.
gerações atuais. A lguns argumentam que os formuladores de Mas, como destacamos no Cap. 14, outros são cépticos quan-
política econômica não devem incentivar as gerações atuais a to à nossa capacidade de estabilizar a economia. Esses econo-
fazerem esse sacrifício, porque o progresso tecnológico garante mistas citam as longas e variáveis demoras inerentes à tomada
que as gerações futuras tenham uma situação melhor do que as de decisões econômicas, a deficiência das previsões econômi-
atuais. Além disso, até mesmo os que defendem o aumento da cas, e nossa compreensão ainda restrita da economia. Conclu-
poupança e do investimento discordam quanto à maneira de em que a melhor política econômica é a passiva. Além disso,
incentivar a poupança adiciona l, e se n investimento deve ser muitos economistas ac ham que os formuladores de política eco-
em fábricas e equipamentos de propriedade privada ou em infra- nômica também são com freqüência oportunistas, ou adotam
estrutura pública, ta l como estradas e escolas. políticas inconsistentes no tempo. Concluem que eles não de-
Para melhorar o uso que a economia faz da sua força de tra- vem ter arbítrio sobre as políticas monetária e fiscal; em vez
balho, a maioria dos formuladores de política econômica gos- disso, devem estar comprometidos a seguir uma regra fixa de
taria de baixar a taxa natural de desemprego . Contudo, como política econômica.
ressaltamos no Cap. 6, essa não é uma tarefa fácil. A taxa na- Uma questão relacionada é se os benefícios da estabilização
tural de desemprego poderia provavelmente ser reduzida pela econômica - pressupondo-se que seja possível alcançar a es-
diminuição dos benefícios do seguro-desemprego (o que aumen- tabilização - seriam grandes o u pequenos. Sem qualquer mu-
taria o esforço da busca por emprego dos desempregados), ou dança da taxa natural de desemprego, a política de estabiliza-
pela diminuição do salário mínimo (o que levaria os salários ção só pode reduzir a magnitude das oscilações em torno da taxa
para mais perto dos níveis de equilíbrio). Essas políticas, no natural. Assim, a política de estabilização bem-sucedida elimi-
entanto, também seriam prejudiciais para os membros da soci - naria os surtos de crescimento rápido tanto quanto as recessões.
edade mais necessitados e, por isso, não alcançam um consen- Alguns economistas têm sugerido que o ganho médio da esta-
so entre os economistas. bilização seria pequeno.
A elevação da taxa de progresso tecnológico é, de acordo Finalmente, nem todos os economistas endossam o modelo
com alguns economistas, o objetivo mais importante para a de oscilações econômicas desenvolvido nos Caps. 9 a 13, que
política pública. O modelo de crescimento de Solow mostra pressupõe preços rígidos e a não-neutralidade da moeda. Segun-
358 EPÍLOGO

do a teoria do ciclo real de negócios, que analisamos no Cap. netária desinflacionária não afetará a produção de bens e ser-
19, as oscilações econômicas constituem a reação ideal da eco- viços da economia.
nomia à mudança da tecnologia. Essa teoria sugere que os Outros economistas acham que o custo de reduzir a infla-
formuladores de política econômica não devem estabilizar a ção é muito maior do que indicam as estimativas usuais da pro-
economia, mesmo que isso fosse possível. porção de sacrifício. As teorias da histerese, estudadas no Cap.
13, sugerem que uma recessão causada por política econômica
desinflacionária poderia elevar a taxa natural de desemprego.
QUESTÃO 3: ATÉ QUE PONTO A Nesse caso, o custo de redução da inflação não é apenas uma
INFLAÇÃO É CUSTOSA, E ATÉ QUE PONTO A recessão temporária, mas um nível de desemprego mais persis-
tentemente alto.
REDUÇÃO DA INFLAÇÃO É CUSTOSA?
Como os custos da inflação e da desinflação permanecem
Sempre que os preços estão subindo, os formuladores de políti- abertos ao debate, os economistas às vezes oferecem conselhos
ca econômica enfrentam a questão de adotar políticas para re- conflitantes aos formuladores de política econômica. Com mais
duzir a taxa de inflação. Para tomar essa decisão, eles devem pesquisas, talvez seja possível alcançar um consenso sobre os
comparar o custo de permitir que a inflação continue ao custo benefícios da inflação baixa e a melhor maneira de alcançar esse
de reduzi-la . O s economistas, porém, não podem oferecer esti- objetivo.
1: mativas acuradas de qualquer dos dois custos.
1 O custo da inflação é um tópico sobre o qual os economis-
1 ;
tas e os leigos muitas vezes discordam. Quando a inflação che- QUESTÃO 4: ATÉ QUE PONTO A DÍVIDA DO
gou a 10% ao ano nos EUA, no final da década de 1970, as pes- GOVERNO É UM GRAVE PROBLEMA?
quisas de opinião mostravam que o público considerava a in-
A dívida do governo é um permanente tema de dehate entre
flação um grande problema econômico. Contudo, como mos-
os formuladores de política econômica. Nos Estados Unidos,
tramos no Cap. 4, os economistas, quando tentam identificar
grandes déficits orçamentários fizeram com que a proporção da
o custo social da inflação, só podem apontar para o custo da
dívida do governo em relação ao PIB dobrasse de 1980 para
sola de sapato, para o custo de menu, para os custos de um sis-
1995, um evento sem precedentes em tempo de paz. O orça-
tema fiscal não-indexado e assim por diante. Esses custos tor- mento do governo federal foi posto sob controle ao final da
nam-se elevados quando o país experimenta a hiperinflação, década de 1990, passando a haver até um superávit, mas os
mas parecem relativamente pequenos às taxas moderadas de formuladores de política econômica tiveram de enfrentar a
inflação experimentadas na maioria das grandes economias. questão da rapidez com que se deve pagar a dívida. Além disso,
Alguns econo1rtistas acham que o público confunde inflação muitos economistas acham que os déficits orçamentários po-
com outros problemas econômicos que coincidem com a infla- dem tomar a ocorrer quando a grande geração do chamado
ção. Por exemplo, o crescimento da produtividade e os salários baby-boom alcançar a idade da aposentadoria, começando a
reais diminuíram na década de 1970; alguns leigos podem ter receber os benefícios que o governo oferece aos idosos.
considerado a inflação a causa do retardamento nos salários A maioria dos modelos adorados neste livro, assim como a
reais. Mas é também possível que os economistas estejam en- maioria dos economistas, adoram a visão tradicional da dívida
ganados; talvez a inflação acarrete de fato um custo elevado, e do governo. Segundo essa abordagem, quando o governo tem
ainda precisamos descohrir por quê. um déficit orçamentário e assume a dívida, reduz a poupança
O custo de redução da inflação é um tópico acerca do qual nacional, o que por sua vez leva a um investimento menor e a
os economistas muitas vezes divergem entre si. Como exami· um déficit comercial. A longo prazo, leva a um estoque de ca-
namos no Cap. 13, a posição padrão - tal como descrita pela pital em estado estacionário menor e a uma dívida externa
curva de Phillips de curto prazo - é que a redução da inflação maior. As pessoas que defendem a visão tradicional concluem
exige um período de produto baixo e desemprego alto. Segun- que a dívida do governo acarreta um ônus para as gerações fu-
do essa posição, o custo de redução da inflação é medido pela turas.
razão de sacrifício, que é o número de pontos percentuais do Contudo, como mostramos no Cap. 15, alguns economis-
PIB de um ano a que se deve renunciar para reduzir a inflação tas são cépticos em relação a essa avaliação. Os defensores da
em 1 ponto percentual. visão ricardiana da dívida do governo ressaltam que um déficit
Alguns economistas acham que o custo de reduzir a infla- orçamentário meramente representa uma substituição de im-
ção pode ser muito menor do que indicam as estimativas usu- postos futuros por impostos atuais. Desde que os consumidores
ais da proporção de sacrifício. Segundo a abordagem das expec- sejam previdentes, como pressupõe as teorias do consumo apre-
tativas racionais, tratada no Cap. 13, se uma política econô- sentadas no Cap. 16, eles pouparão hoje para atender à futura
mica desinflacionária é anunciada com antecedência e é digna obrigação fiscal de seus filhos. Esses economistas acreditam que
de crédito, as pessoas ajustarão suas expectativas rapidamente; a dívida do governo tem apenas um pequeno efeito sobre a
com isso, a desinflação não precisa causar uma recessão. Segun- economia.
do os modelos do ciclo real de negócios, estudados no Cap. 19, Outros economistas ainda acham que as medidas usuais de
os preços são flexíveis e a moeda é neutra; assim, a política mo- política fiscal são falhas demais para serem de grande proveito.
0 QUE SABEMOS, O QUE NÃO SABEMOS 359

Eles estão de acordo em que as opções do governo em relação tamanho da dívida do governo. Segundo esses economistas,
a impostos e gastos têm grande influência sobre o bem-estar de devemos parar de focalizar o tamanho da dívida do governo e
diferentes gerações. Mas muitas dessas opções não refletem no nos concentrar nos impactos geracionais das decisões fiscais.

CONCLUSAO
Os economistas e os formuladores de política econômica devem essas questões, e expandir nosso conhecimento. O desafio para
lidar com ambigüidades. O atual estado da macroeconomia ofe- os formuladores de política econômica é usar o conhecimento de
rece muitas percepções, mas também deixa muitas questões em que dispomos agora para melhorar o desempenho econômico. São
aberto. O desafio para os economistas é encontrar respostas para desafios formidáveis, mas nenhum dos dois é insuperável.
'" I .....

GLOSSÁRIO

Acíclico: Movimento sem direção consistente no ciclo econô- Choque: Variação exógena de uma relação econômica, como
mico. (Cf. contracíclico, procíclico.) a curva de demanda agregada ou de oferta agregada.

Agregado: Total da economia como um todo. Choques de demanda: Eventos exógenos que deslocam a cur-
va de demanda agregada.
Ajuste sazonal: A remoção das oscilações regulares de uma
variável econômica que ocorre como uma função da época Jo Choques de oferta: Eventos exógenos que alteram a cun·a de
ano. oferta agregada.

Apreciação: Aumento do valor de uma moeda em relação a Ciclo econômico: Oscilações que atingem toda a economia em
outras moedas no mercado de câmbio. (Cf. depreciação.) relação ao produto, à renda e ao emprego.

Arbitragem: O ato de se comprar um item em um mercado e Ciclo econômico político: As oscilações do produto e do em-
vendê-lo por um preço maior em outro mercado , a fim de lu- prego resultantes da manipulação da economia para fins elei-
crar com o diferencial de preços dos dois mercadós. torais.

Armazenamento de trabalho: Fenômeno Je empresas empre- Comércio equilibrado: Siruação em que o valor das importa-
garem trahalhadores de que não precisam quando a demanda ções é igual ao valor das exportações; assim, as exportações lí-
por seus produtos é baixa, para que ainda possam contar com quidas são iguais a zero.
esses trahalhadores quando ,1 demanda se recuperar.
Compras do governo: Bens e serviços comprados pelo gover-
Ativo dominado: Ativo que oferece um retomo inferior em
no. (Cf. pagamentos de transferência.)
comparação com outro ativo, em todas as realizações possíveis
da incerteza futura .
Concorrência: Situação em que há muitos indivíduos ou em-
presas, de tal modo que as ações de qualquer um não influenci -
Balança comercial: As receitas das exportações menos os pa- am os preços do mercado.
gamentos das importações.
Consumo: Bens e serviços adquiridos pelo consumidor.
Balanço: Demonstração contáhil que mostra ativos e passivos.
Conta da renda nacional: O sistema de conta que mensura o
Banco central: A instituição responsável pela condução da PIB e muitas outras estatísticas correlatas.
política monetária, como o Federal Reserve nos Estados Uni-
dos. Contracíclico: Movimento na direção oposta do produto, dos
rendimentos e do emprego, ao longo do ciclo econômico; au-
Base monetária: A soma de papel-moeda e reservas hancárias; menta durante as recessões e cai durante as recuperações. (Cf.
também chamada de moeda de alta potência. acíclico, procíclico.)

Bem normal: Bem que um consumidor demanda em maior Contratados: T rahalhadores que já estão empregados e que, por
quantidade quando sua renda aumenta. isso, têm uma influência sobre a negociação salarial. (Cf. não-
contratados.)

Capital: 1. O estoque de equipamentos e estruturas usados na Crédito fiscal de investimento: Dispositivo do imposto de
produção. 2. Os recursos para se financiar a acumulação de renda de pessoa jurídica que reduz o imposto de uma empresa
equipamentos e estruturas. quando há uma aquisição de novos bens de capital.
GLOSSÁRIO 361

Crítica de Lucas: O argumento de que a análise da política Déficit orçamentário: Insuficiência de receita em relação aos
econômica tradicional não leva em consideração de maneira gastos.
adequada o impacto das mudanças da política econômica nas
expectativas das pessoas. Déficit orçamentário ciclicamente ajustado: O déficit orça-
mentário ajustado com relação à influência do ciclo econômi-
Cruz keynesiana: Modelo simples de determinação de renda, co sobre o gasto do governo e a receita fiscal; o déficit orça-
baseado nas idéias da Teoria Geral de Keynes, que mostra como mentário que ocorreria se o produto e o emprego da economia
variações do gasto podem ter um efeito multiplicado na renda estivessem em suas taxas naturais. Também chamado de défi-
agregada. cit orçamentário de pleno emprego.

Curva de demanda agregada: Relação inversa entre o nível Déficit orçamentário de pleno emprego: Ver déficit orçamen-
de preços e a quantidade do produto demandada que deriva tário ciclicamente ajustado.
da interação entre o mercado de bens e o mercado monetá-
rio. Deflação: Diminuição do nível geral de preços. (Cf. desinfla-
ção, inflação.)
Curva de oferta agregada: A relação entre o nível de preços e
a quantidade agregada de produção das empn:,as. Deflação de dívida: T eoria segundo a qual uma queda inespe-
rada no nível de preços redistribui a riqueza real de devedores
Curva de Phillips: Relação inversa entre inflação e desempre- para credores, e com isso reduz o gasrn total da economia.
go; em sua forma moderna, relaç ão entre inflação, desemprego
cíclico, inflação esperada e choques de oferta derivada da cur- Deflator: Ver deflator do PIB.
va de oferta agregada de curto prazo.
Deflator do PIB: A razão entre o PIB nominal e o PIB real;
Curva IS: Relação inve rsa entre a taxa de juros e o nível de uma medida do nível geral de preços que mostra o custo da cesta
renda que ocorre no mercado de bens e serviços. (Cf. modelo de bens produzidos corretamente em relação ao custo dessa cesta
IS-LM, curva LM.) em um ano-base.

Curva LM: A relação direta entre a taxa de juros e o nível de Depósitos à vista: Ativos que são mantidos nos bancos e po-
renda (enquanto se mantém constante o nível de preços), que dem ser usados a qualquer momento para efetuar transações,
ocorre no mercado de encaixes monetários reais. (Cf. modelo como contas correntes.
IS-LM, curva IS.)
Depreciação: 1. A redução do estoque de capital que ocorre
Curvas de indiferença: Representação gráfica de preferências ao longo do tempo por causa do envelhecimento e do uso. 2.
que mostra combinações diferentes de hens que provocam o Uma queda do valor de uma moeda em relação a outras moe-
mesmo nível de satisfação. das no mercado de câmbio. (Cf. aprec iação.)

Custo da sola do sapato: O custo da inflação de se reduzir o Depressão: Recessão muito profunda.
encaixe monetário real, tal como a inconveniência de se pre-
cisar ir com mais freqüência ao banco. Desconto: A redução no \·alor de gastos e recebimentos futu-
ros, em comparação com os gastos e recebimentos correntes,
Custo de capital: Montante a que se renuncia por se manter resultante da existência de uma taxa de juros positiva.
uma unidade de capital por um período, inclusive juros, depre-
ciação, e o ganho ou perda decorrente da variação do preço do Desemprego cíclico: O desemprego associado às oscilações eco-
capital. nômicas de curto prazo; o desvio da taxa de desemprego da sua
taxa natural.
Custo de menu: O custo de se mudar um preço.
Desemprego estrutural: Desemprego resultante da rigidez sala-
rial e do racionamento do emprego. (Cf. desemprego friccionai.)
Defasagem externa: O tempo entre uma ação de política eco-
nômica e sua influência n a economia. (Cf. defasagem inter- Desemprego friccionai: Desemprego que ocorre porque é necessá-
n a.) rio tempo para que os trabalhadores procurem empregos que se adap-
tem melhor a seus gostos e habilidades. (Cf. desemprego estrutural.)
Defasagem interna: O tempo entre um choque que atinge a
economia e a ação de política econômica adotada para respon- Desinflação: Redução da taxa à qual os preços estão subindo.
der ao choque. (Cf. defasagem externa.) ( Cf. deflação, inflação. )
-----
362 GLOSSÁRIO

Deslocamento (crowd out): Redução do investimento que Efeito renda: Variação do consumo de um bem resultante de
ocorre quando a política fiscal expansionista aumenta a taxa um movimento para uma curva de indiferença superior ou in-
de juros. ferior, mantendo-se constante o preço relativo. (Cf. efeito subs-
tituição.)
Desvalorização: Ação do banco central para diminuir o valor
de uma moeda sob um sistema de taxas de câmbio fixas. (Cf. Efeito substituição: Variação do consumo de um bem resul-
valorização.) tante de um movimento ao longo de uma curva de indiferença
causado por uma variação do preço relativo. (Cf. efeito renda.)
Dicotomia clássica: A separação teórica das variáveis reais e
nominais no modelo clássico, indicando que as variáveis no- Eficiência do trabalho: Variável do modelo de crescimento de
minais não influenciam as variáveis reais. (Cf. neutralidade da Solow que mensura a saúde, a educação, as habilidades e os co-
moeda.) nhecimentos da força de trabalho.

Dupla coincidência de vontades: Situação em que duas pes- Elasticidade: Variação percentual de uma variável causada por
soas têm exatamente o bem que a outra quer. uma variação de 1% de outra variável.

Encaixes monetários reais: Quantidade de moeda expressa


Economia aberta: Economia em que as pessoas podem se em- em termos da quantidade de bens e serviços que ela pode
penhar livremente no comércio internacional de bens e capi- comprar; a quantidade de moeda dividida pelo nível de pre-
tal. (Cf. economia fechada.) ços (M/P).
·,. Economia aberta grande: Economia aberta que pode influen- Equação Fisher: Equação que enuncia que a raxa de juros
ciar sua taxa de juros doméstica; economia que, por causa de nominal é a soma da taxa de juros real e da inflação esperada
seu tamanho, pode ter um impacto substancial nos mercados (i = r + 71"') .
internacionais e, em particular, na taxa de juros internacional.
(Cf. economia aberta pequena.)
Equação quantitativa: Identidade que enuncia que o produto
da oferta monetária e a velocidade da moeda são iguais ao gas-
Economia aberta pequena: Economia aberta que toma a taxa
to nominal (MV = PY); somada ao pressuposto da velocidade
de juros como dada pelos mercados financeiros internacionais;
constante, explicação do gasto nominal chamada de teoria
economia que, em virtude do seu tamanho, tem um impacto
quantitativa da moeda.
mínimo nos mercados internacionais e, em particular, na taxa
de juros internacional. (Cf. economia aberta grande.)
Equilíbrio: Situação de equilíbrio entre forças opostas, como
o equilíbrio entre oferta e demanda em um mercado.
Economia fechada: Economia que não pratica comércio inter-
nacional. (Cf. economia aberta.)
Equilíbrio geral: O equilíbrio simultâneo de todos os merca-
Economia informal: Transações econômicas que são ocultas dos da economia.
para sonegar impostos ou esconder atividade ilícita.
Equivalência ricardiana: Teoria segundo a qual os consumi-
Economia neokeynesiana: Escola de pensamento segundo a dores previdentes antecipam plenamente os impostos futuros
qual as oscilações econômicas só podem ser explicadas por ad- indicados pela dívida do governo; assim, a tomada de emprés-
mitir um papel para alguma imperfeição microeconômica, como timo pelo governo hoje somada a um aumento dos tributos no
salários ou preços rígidos. futuro para pagar a dívida tem na economia o mesmo efeito de
um aumento de imposto hoje.
Efeito Fisher: A influência um-para -um da inflação esperada
sobre a taxa de juros nominal. Estabilizador automático: Política que reduz a amplitude de
oscilações econômicas sem mudanças regulares e deliberadas
Efeito Mundell~Tobin: Queda da taxa de juros real que ocor- da política econômica; por exemplo, um sistema de tributação
re quando um aumento da inflação esperada eleva a taxa de que automaticamente reduz impostos quando a renda cai.
juros nominal, baixa os encaixes monetários reais e a riqueza
real, e com isso reduz a poupança e aumenta o consumo. Estado estacionário: Condição em que as variáveis fundamen-
tais não variam.
Efeito Pigou: Aumento do gasto do consumidor que resulta
quando uma queda do nível de preços aumenta o encaixe mo- Estagflação: Situação de queda do produto e aumento dos pre-
netário real, e com isso a riqueza do consumidor. ços; a combinação de estagnação e inflação.
GLOSSÁRIO 363

Estoque (ou ação): 1. Variável mensurada como uma quanti- Função de consumo: Relação que mostra os determinantes de
dade em um ponto determinado do tempo . (Cf. fluxo.) 2. Par- consumo; por exemplo, uma relação entre consumo e renda
tes da propriedade de uma empresa. disponível, C = C(Y - T).

Evitação de esgotamento do estoque: O motivo para se man- Função de demanda por moeda: Função que mostra os deter-
terem estoques, segundo o qual as empresas mantêm bens dis- minantes da demanda por encaixes monetários reais; por exem-
poníveis para evitar o esgotamento se houver um aumento ines- plo, (M/P)d = L(i,Y).
perado das vendas.
Função de produção: Relação matemática que mostra como
Exigências de reserva: Regulamentos impostos aos bancos pelo as quantidades dos fatores de produção determinam a quanti-
dade de bens e serviços produzidos; por exemplo, Y = F(K, L).
banco central que especificam uma razão mínima de reserva-
depósito.
Função de produção Cobb-Douglas: Função de produção da
forma F(K, L) = AKªV-~, em que K é capital, L é trabalho e
Expectativas adaptativas: Abordagem que pressupõe que as pes- A e a são parâmetros.
soas formam suas expectativas de uma variável com base nos
valores recém-observados da variável. (Cf. expectativas racio- Fundos de empréstimo: O fluxo de fundos disponíveis para fi-
nais.) nanciar a acumulação de capital.

Expectativas racionais: Abordagem que pressupõe que, em ter-


mos ideais, as pessoas usam todas as informações disponíveis Hiperinflação: Inflação extremamente alta.
- inclusive informações sobre políticas econômicas correntes
e potenciais - para prever o futuro. (Cf. expectativas adapta- Hipótese da renda permanente. T eôria do consumo segundo
tivas.) a qual as pessoas optam pelo consumo com base em sua renda
permanente, e usam a poupança e o empréstimo para nivelar o
Exportações: Bens e serviços vendidos a outros países. consumo em resposta a variações transitórias da renda.

Exportações líquidas: Exportações menos importações. Hipótese da taxa natural: Premissa de que as oscilações da
demanda agregada influenciam o produto, o emprego e o de-
Externalidade da demanda agregada: O impacto macroeconô- semprego apenas a curto prazo, e que a longo prazo essas vari-
mico do ajuste dos preços de uma empresa na demanda pelos áveis retornam aos níveis indicados pelo modelo clássico.
produtos de todas as outras empresas.
Hipótese do ciclo de vida: T eoria de consumo que enfatiza o
papel da poupança e do empréstimo como transferência de re-
Falha de coordenação: Situação em que tomadores de decisão cursos dos tempos da vida em que a renda é alta para os tempos
alcançam um resultado que é inferior a todos por causa da sua da vida em que a renda é baixa, como ocorre entre os anos de
incapac idade n a escolha conjunta de estratégias que resultari- atividade e os anos de aposentadoria.
am em um resultado preferido.
Histerese: A influência de longa duração da história, como
Fator de produção: Insumo usado para produzir bens e serv i- ocorre na taxa natural de desemprego.
ços; por exemplo, capital ou trabalho.

Federal Reserve (o Fed): O banco central dos Estados Uni - Identidade de conta da renda nacional: Equação que mostra
que o PIB é a soma de consumo, investimento, compras do
dos.
governo e exportações líquidas.
Fluxo: Variável medida como uma quantidade por unidade de
Importações: Bens e serviços comprados de outros países.
tempo. (Cf. estoque.)
Imposto de renda sobre pessoa jurídica: Imposto cobrado so-
Fluxo líquido de saída de capital: Fluxo líquido de recursos que bre o lucro contábil das empresas.
estão sendo investidos no exterior; a poupança interna menos
o investimento interno; também chamado de investimento Imposto inflacionário: A receita aumentada pelo governo por
externo líquido. meio da emissão de moeda; também chamada de senhoriagem.

Força de trabalho: As pessoas da população que estão empre- Inconsistência de tempo: Tendência das autoridades públicas
gadas ou estão procurando emprego. de anunciar políticas econômicas com antecedência a fim de
364 GLOSSÁRIO

influenciar as expectativas dos tomadores de decisão privados, Investimento líquido: O montante de investimento após a subs-
e depois adotar políticas econômicas diferentes quando essas tituição do capital depreciado; a variação do estoque de capital.
expectativas foram criadas e tiveram conseqüências.
Investimento residencial: Novas habit:=i.ções compradas por
Indicadores básicos: Variáveis econômicas que oscilam antes pessoas para residir e por locadores para alugar.
do produto da economia, e assim sinalizam a direção das osci-
lações econômicas. IPC: Ver índice de preços ao consumidor.

Índice de indicadores básicos: Ver indicadores básicos.


Lei de Okun: A relação inversa entre desemprego e PIB real,
Índice de preços ao consumidor (IPC): Medida do nível geral segundo a qual uma diminuição de 1% no desemprego é asso-
de preços que mostra o custo de uma cesta fixa de bens de con- ciada a um crescimento adicional do PIB real de aproximada-
sumo em relação ao custo da mesma cesta em um ano básico. mente 2%.

Índice de preços de Laspeyres: Medida do nível de preços ba- Líquido: Aquilo que é imediatamente conversível em meio de
seada em uma cesta de bens fixa . (Cf. índice Paasche de preços.) troca; usado facilmente para efetuar transações.

Índice Paasche de preços: Medida do nível de preços baseada Lucro: A renda dos proprietários de firmas; receita da firma
em uma cesta de bens em constante mudança. (Cf. índice de menos seus custos. (Cf. lucro contábil, lucro econômico.)
preços de Laspeyres.)
Lucro contábil: Montante de receita que resta para os donos
Inflação: Aumento do nível geral de preços. (Cf. deflação, da firma após todos os fatores de produção exceto o capital te,
desinflação.) rem sido compensados. (Cf. lucro econômico, lucro.)

Inflação de custos: Inflação resultante dos choques na oferta Lucro econômico: Montante de receita restante para os pro-
agregada. ( Cf. inflação de demanda.) prietários de uma empresa depois que todos os fatores de pro-
dução foram pagos. (Cf. lucro contábil, lucro.)
Inflação de demanda: Inflação resultante de choques na de-
manda agregada. ( Cf. inflação de custos.)
MI, M2, M3: Várias medidas do estoque de moeda, em que os
Instinto animal: Ondas exógenas - e talvez de profecias auto- números maiores significam uma definição mais ampla de moeda.
realizadoras - de otimismo e pessimismo soi:lre o estado da eco-
nomia que, segundo alguns economistas, influenciam o nível Macroeconomia: Estudo da economia como um rodo. (Cf.
de investimento . microeconomia.)

Intermediação: Ver intermediação financeira. Mecanismo de transmissão monetária: Processo pelo qual as
variações da oferta monetária influenciam o montante que as
Intermediação financeira: Processo pelo qual os recursos são famílias e as empresas desej am gastar em bens e serviços.
alocados das pessoas que desejam poupar uma parte de sua ren-
da para consumo futuro, indo para as pessoas e empresas que Meio de troca: O item amplamente aceito em transações de
desejam tomar emprestado para comprar bens de investimen- bens e serviços; uma das funções da moeda. (Cf. reserva de valor,
to para produção futura. unidade de conta.)

Investimento: Aquisição de bens por pessoas e por empresas Mercado de ações: Mercado em que partes da propriedade de
com a finalidade de aumentar seu estoque de capital. uma empresa (ações) são compradas e vendidas.

Investimento em estoque: Variação da quantidade de bens que Microeconomia: O estudo dos mercados individuais e dos
as empresas mantêm em estoque, inclusive materiais e supri- tomadores de decisões. (Cf. macroeconomia.)
mentos, trabalho em processo e bens acabados.
Modelo: Representação simplificada da realidade, muitas ve-
Investimento externo líquido: Ver fluxo líquido de saída de zes utilizando diagramas ou equações, que mostram como as va-
capital. riáveis interagem entre si.

Investimento fixo privado: Equipamentos e estruturas que as Modelo acelerador: Modelo segundo o qual o investimento
empresas compram para uso na produção futura. depende da variação do produto.
GLOSSÁRIO 365

Modelo Baumol-Tobin: Modelo de demanda por moeda que Moeda: O estoque de ativos usados para transações. (Cf. moe-
pressupõe que as pessoas escolhem manter a quantidade ideal da-mercadoria, moeda fiduciária.)
de moeda ao comparar o custo de oportunidade da renúncia aos
juros por reter moeda e o benefício de se efetuar idas menos Moeda de alta potência: A soma do papel-moeda e as reservas
freqüentes ao banco. bancárias; também chamado de base monetária.

Modelo clássico: Modelo econômico derivado das idéias dos Moeda fiduciária: Moeda que não tem utilidade intrínseca e
economistas clássicos, ou pré-keynesianos; modelo baseado nos que é valorizada apenas porque é usada como moeda. (Cf.
pressupostos de que salários e preços ajustam-se para equilibrar moeda-mercadoria, moeda.)
mercados, e que a política monetária n ão influencia as variá-
veis reais. (Cf. modelo ke ynesiano.) Moeda-mercadoria: Moeda que tem utilidade intrínseca e que
seria valiosa mesmo que não servisse como moeda. (Cf. moeda
Modelo de crescimento de Solow: Modelo que mostra como fiduciária, papel-moeda.)
a poupança, o crescimento da população e progresso tecno-
lóg ico determinam o nível do padrão de vida e seu cresci- Monetarismo: Doutrina segundo a qual as variações da oferta
mento. monetária constituem a principal causa das oscilações econô-
micas, indicando que uma oferta monetária estável pode levar
Modelo de equilíbrio de mercado: Modelo que pressupõe que a uma economia estável.
os preços ajustam-se livremente para equilibrar oferta e de-
manda . Mudança setorial: Mudança na composição da demanda en-
tre indústrias ou regiões.
Modelo de informação imperfeita: Modelo de oferta agregada
que enfatiza que as pessoas nem sempre conhecem o nível ge- Multiplicador: Ver multiplicador de compras do gove rno,
ral de preços, porque não podem observar os preços de todos os multiplicador monetário, ou multiplicador tributário.
bens e serviços da economia.
Multiplicador de compras do governo: A ,·ariação da renda agre-
gada resultante da variação de um dólar das compras do governo.
Modelo de percepção equivocada do trabalhador: Modelo de
oferta agregada que enfatiza que os trabalhadores às vezes per-
Multiplicador monetário: Aumento da oferta de dinheiro re-
cebem de maneira incorreta o nh·el geral de preços.
sultante de um aumento de uma unidade na hase monetária.
Modelo de preços rígidos: Modelo de oferta agregada que
Multiplicador tributário: Variação na renda agregada resultan-
enfatiza o lento ajuste dos preços de bens e serviços.
te da variação de uma unidade monetária nos tributos.
Modelo IS-LM: Modelo de demanda agregada que mostra o
que determina a renda agregada a um determinado nível de NAIRU: Taxa de desemprego não-inflacionária - T ONI. Si-
preços, pela arl,ílise da interação entre o mercado de bens e o gla inglesa de non-accelerating infiation rate of unemployment.
mercado monetário . (Cf. curva IS, curva LM.) Tamhém conhecida como taxa natural de desemprego.

Modelo keynesiano: Modelo deri\'ado das idéias da Teoria Ge- Não-contratados: T rahalhadores que não estão empregados e, por-
ral de Keynes; mode lo haseado nos pressupostos de 4ue salários tanto, não têm influência na negociação salarial. (Cf. contratados.)
e preços não se ajustam para equilibrar os mercados e que a de-
manda agregada determina o produto e o emprego da econo- Neutralidade da moeda: A propriedade de que uma variação
mia. (Cf. modelo clássico.) da oferta monetári a não influencia variáveis re a is. (Cf.
dicotomia clássica.)
Modelo macroeconométrico: Modelo que utiliza dados e téc-
nicas estatísticas para descrever a economia em termos quan- Neutralidade monetária: Ver n eutralidade da moeda.
titativos, em vez de apenas qualitativos.
Nivelamento da produção: Motivo para se manterem estoques
Modelo Mundell-Fleming: O modelo IS -LM para uma peque- segundo o qual uma empresa pode reduzir seus custos manten -
na economia aberta. do constante a quantidade de produção, e deixando que o es-
toque responda às oscilações das vendas.
Modelo neoclássico de investimento: Teoria segundo a qual
o investimento depende do desvio do produto marginal doca- Nominal: Medido em moeda corrente; não ajustado pela in-
pital oriundo do custo do capital. flação. (Cf. real.)
366 GLOSSÁRIO

Operações de mercado aberto (open-market): A compra ou Poupança: Ver poupança nacional, poupança privada e pou-
venda de títulos do governo pelo banco central, com o propó- pança pública.
sito de aumentar ou diminuir a oferta monetária.
Poupança nacional: A renda de um país menos o consumo e as
Orçamento de capital: Procedimento de contabilidade que compras do governo; a soma das poupanças privada e pública.
mensura tanto os ativos quanto o passivo.
Poupança precaucional: Poupança extra que resulta da in-
Orçamento equilibrado: Orçamento em que as receitas são certeza com relação, por exemplo, à longevidade ou à renda
iguais aos gastos. futura.

Poupança privada: Renda disponíve l menos o consumo.


Padrão-ouro: Sistema monetário em que o ouro serve como
moeda, ou em que toda moeda é conversível em ouro. Poupança pública: Receitas do governo menos gasto do gover-
no; o superávit orçamentário.
Pagamentos de transferência: Pagamentos do governo para
pessoas que não são feitos em troca de bens e serviços, tais como Preço de aluguel do capital: Montante que se paga para alu-
os pagamentos da Seguridade Social. (Cf. compras do gover- gar uma unidade de capital.
no.)
Preço de fator: Montante pago por uma unidade de um fator
Papel-moeda: A soma das notas de dinheiro e moedas de produção.
" '>j fracionárias em circulação.
I Ih
·i Preços flexíveis; Preços que se ajustam rapidamente para equi-
,,' Paridade do poder de compra: Abordagem segundo a qual os librar oferta e demanda. (Cf. preços rígidos.)
.i bens devem ser vendidos pelo mesmo preço em todos os paí-
:,
.· ,
·, ses, indicando que a taxa de câmbio nominal reflete as diferen- Preços rígidos: Preços que se ajustam lentamente, e por isso
1··:
ças dos níveis de preços. nem sempre equilibram ofena e demanda. (Cf. preços flexíveis.)
Passeio aleatório: O caminho seguido por urna variável cujas
Problema de identificação: Dificuldade de se isolar urna rela-
variações ao longo do tempo são imprevisíveis.
ção específica entre dados quando duas ou mais variáveis estão
inter-relacionadas de mais de uma maneira.
PIB: Ver produto interno bruto.
Procíclico: Movimento na mesma direção do produto, da ren-
PNB: Ver produto n acional bruto.
da e do emprego ao longo do ciclo econômico; queda durante
as recessões e aumento n as recuperaçõe s. ( Cf. acíclico ,
Política contracionista: Política econômica que reduz a demanda
agregada, a renda real e o emprego. (Cf. política expansionista.) contracíclico.)

Política de acomodação: Política econômica que produz o efeito Produtividade total dos fatores: Medida do nível de tecnolo-
1 de um choque, e com isso impede que o choque seja disruptivo; gia; a quantidade de produção por unidade de insumo, em que
,t!,.. por exemplo, uma política econômica que aumenta a deman- insumos diferentes são combinados sobre a base das quotas de

1 • da agregada em reação a um choque de oferta adverso, man- fatores. (Cf. resíduo de Solow.)
1:
tendo estáveis o efeito do choque nos preços e mantendo a taxa
(,i natural do produto. Produto interno bruto (PIB}: Renda total auferida interna-
1; mente, incluindo-se a renda obtida pelos fatores de produção
Política de estabilização: Política pública que visa a reduzir a de propriedade externa; o gasto total com bens e serviços de
!I
i gravidade das oscilações econômicas de curto prazo. produção interna.
!

rj·
Política expansionista: Política econômica que aumenta a demanda
agregada, a renda real e o emprego. (Cf. política contracionista.)
Produto marginal decrescente: C aracterística de uma função
de produção, pela qual o produto marginal de um fator cai à
medida que a quantidade do fator aumenta, enquanto todos os
Política fiscal: A opção do governo em relação aos níveis de outros fatores se mantêm constantes.
!
íl, gasto e tributação.
,i
j:: Produto marginal do capital (PMgK): A quantidade de pro-
;_:· Política monetária: A opção do banco central quanto a oferta dução extra gerada quando o insumo capital é aumentado em
,:,
r
. !~
de moeda. uma unidade.
ÜLOSSÁRJO 367

Produto marginal do trabalho (PMgL): A quantidade de pro- Renda transitória: Renda que as pessoas não esperam que per-
dução extra gerada quando o insumo trabalho é aumentado em sista no futuro; renda corrente menos a renda normal. (Cf. renda
uma unidade. permanente.)

Produto nacional bruto (PNB): Renda tocai de todos os ha- Reserva bancária de 100%: Sistema em que os bancos mantêm
bitantes de um país, inclusive a renda de fatores de produção todos os depósitos em reserva. (Cf. reserva bancária fracionária.)
usados no exterior; o gasto total com a produção de bens e ser-
viços do país. Reserva bancária fracionária: Sistema pelo qual os bancos
mantêm apenas alguns de seus depósitos em reserva. (Cf. re-
Progresso tecnológico aumentativo do trabalho: Avanço na serva bancária de 100%.)
capacidade produtiva que aumenta a eficiência do trabalho.
Reserva de valor: Maneira de transferir o poder aquisitivo do
Propensão marginal a consumir (PMgC ou Cmg): O aumen- presente para o futuro; uma das funções da moeda. (Cf. meio
to do consumo resultante de um aumento de um dólar na ren- de troca, unidade de conta.)
da disponível, consumo marginal.
Reservas: A moeda que os bancos receberam de depositantes
Propensão média a consumir (PMC): A razão entre consu- mas não usaram para fazer empréstimos.
mo e renda (C/Y).
Reservas em excesso: Reservas mantidas pelo banco acima do
montante determinado pelas exigências de reserva.
q de Tobin: A razão entre o valor de mercado do capital insta-
lado e seu custo de suhstituição. Resíduo de Solow: O crescimento da produtividade do fator
total, medido como a variação percentual do produto menos a
Quase-moeda: Ativos que são quase tão úteis quanto moeda variação percentual dos insumos, em que os insumos são pon-
para se usar em transações; por isso, são substitutos próximos derados pela sua participação nos fatores. (Cf. produtividade
da moeda. total dos fatores.)

Quota: Ver quota de importação. Restrição de empréstimo: Restrição sobre o montante que uma
pessoa pode tomar emprestado de instituições financeiras, li-
Quota de fator: Proporção da renda total paga a um fator de mitando a capacidade dessa pessoa de gastar sua renda futura
produção. hoje; também chamada de restrição de liquidez.

Quota de importação: Limite legal sobre a quantidade que pode Restrição de financiamento: Limite da quantidade de recur-
ser importada de um bem. sos que uma empresa pode levantar - tal como por meio de
empréstimo - a fim de adquirir capital.

Razão de sacrifício: O número de pontos percentuais do PIB Restrição de liquidez: Restrição ao montante que uma pessoa
real de um ano a que se deve renunciar para reduzir a inflação pode tomar emprestado de uma instituição financeira, o que
em 1%. limita a capacidade da pessoa de gastar hoje sua renda futura;
também chamada de restrição ao empréstimo.
Real: Medido em moeda de poder aquisitivo constante; ajus-
tado pela inflação. (Cf. nominal.) Restrição orçamentária: O limite que a renda impõe ao gasto.
(Cf. restrição orçamentária intertemporal.)
Recessão: Período prolongado de queda da renda real.
Restrição orçamentária intertemporal: Restrição orçamentá-
Regra de ouro: A taxa de poupança no modelo de crescimento ria aplicada ao gasto e à renda em mais de um período. (Cf. res-
de Solow que leva ao estado estacionário em que o consumo trição orçamentária.)
por trabalhador (ou consumo por unidade de eficiência do tra-
balho) é maximizado. Retornos constantes de escala: Propriedade de uma função de
produção pela qual um aumento proporcional de todos os fa-
Renda disponível: Renda restante depois do pagamento dos tores de produção leva a um aumento da produção na mesma
impostos. proporção.

Renda permanente: Renda que as pessoas esperam que persis- Rigidez salarial: A falha dos salários em se ajustarem para equi-
ta no futuro; renda normal. (Cf. renda transitória.) librar oferta e demanda de trabalho.
368 GLOSSÁRIO

Risco moral: Possibilidade de comportamento desonesto em Taxa de juros: Preço de mercado ao qual os recursos são trans-
situações em que o comportamento é monitorado de maneira feridos entre o presente e o futuro; o retorno da poupança e o
imperfeita; por exemplo, na teoria de salário de eficiência, a custo de tomar emprestado.
possibilidade de que os trabalhadores de baixa remuneração
possam se esquivar das responsabilidades, correndo o risco de Taxa de juros internacional: A taxa de juros predominante
serem descobertos e demitidos. nos mercados financeiros internacionais.

Taxa de juros nominal: O retorno da poupança e o custo de se


·l Salário: O montante pago por uma unidade de trabalho. tomar emprestado, sem ajuste pela inflação. (Cf. taxa de juros real.)
1,:

Seguro-desemprego: Programa do governo pelo qual os traba- Taxa de juros real: O retorno da poupança e o custo do em-
lhadores desempregados podem receber benefícios por um de- préstimo depois do ajuste pela inflação. (Cf. taxa de juros no-
j terminado período depois da perda do emprego. minal.)
!1 Seleção adversa: Separação desfavorável de pessoas, por sua
' Taxa de juros real ex ante: Taxa de juros real antecipada quan-
própria opção; por exemplo, na teoria do salário de eficiência, do se efetua um empréstimo; a taxa de juros nominal menos a
quando um corte de sahírio induz os bons trabalhadores a saí- inflação esperada. (Cf. taxa de juros real ex post.)
rem e os mau~ rrahalhadores a permanecerem na empresa.
Taxa de juros real ex post: Taxa de juros real cohrada de fato;
Senhoriagem: A receita aumentada pelo governo por meio da
a taxa de juros nominal menos a inflação. (Cf. taxa de juros
emissão de moeda; também chamada de imposto inflacionário.
real ex ante.)
Substituição intertemporal de trabalho: A disposição das pes-
soas de trocarem o trabalho em um período pelo trabalho em Taxa de participação na força de trabalho: Percentual da po-
períodos futuros, pulação adulta que participa na força de trabalho.

Superávit orçamentário: Excesso de receit,1 em relaçâl1 aos Taxa de redesconto: Taxa de juros que o hanCl) central cobra
gastos. quando faz empréstimos aos hancos.

Taxa marginal de substituição (TMS): Taxa à qual um con-


Tarifa: Um trihuto sohre hens importados. sumidor está disposto a renunciar a uma quantidade de um bem,
em troca de maior quantidade de um outro hem; a inclinação
Taxa de câmbio: Tax,1 à qual um país efetua câmhio nús mer- da curva de indiferença.
cados internacionais. (Cf. taxa de câmhio nominal, taxa de
cfünbio real.) Taxa natural de desemprego: A taxa de desemprego de esta-
do estacionário; a taxa de desemprego em torno da qual a eco-
Taxa de câmbio fixa: T axa de câmhio que é determinada pela nomia gravita no longo prazo.
disposição do banco central de comprar e vender a moeda do-
méstica pelas moedas estrangeiras a um preço predetermina- Teorema de Euler: Resultado matemático que os economis-
f': do. (Cf. taxa de câmhio flutuante.) tas usam para mostrar que o lucro econômico deve ser zero se a
função de produção tem retornos de escala constantes, e se os
Taxa de câmbio flutuante: Taxa de câmbio que o banco cen - fatores são remunerados no valor de seus produtos marginais.
tral permite variar em reação a mudanças das condições eco-
nômicas e das políticas econômicas. (Cf. taxa de câmbio fixa.) Teoria da preferência pela liquidez: Modelo simples da taxa
de juros, haseado nas idéias da Teoria Geral de Keynes, segun-
Taxa de câmbio nominal: A taxa à qual a moeda de um país é do o qual a taxa de juros ajusta-se para equilihrar a oferta e a
negociada com a moeda de outro país. (Cf. taxa de câmbio, taxa demanda dos encaixes monetários reais.
de câmbio real.)
Teoria de crescimento endógeno: Modelos de crescimento eco-
Taxa de câmbio real: Taxa à qual os bens de um país são tro- nômico que tentam explicar a taxa de mudança tecnológica.
cados pelos bens de outro país. (Cf. taxa de câmbio, taxa de
câmbio nominal.) T eoria do ciclo real de negócios: Teoria segundo a qual as os-
cilações econômicas podem ser explicadas por mudanças reais
Taxa de desemprego: Percentual de pessoas da força de traba- da economia (como mudanças da tecnologia) e sem qualquer
lho que não têm emprego. participação das variáveis nominais ( como a oferta monetária).
GLOSSÁRIO 369

Teoria q de investimento: Teoria segundo a qual o gasto em Unidade de conta: A medida em que preços e outros registros
bens de capital depende da razão entre o valor de mercado do contáveis são registrados; uma das funções da moeda. (Cf. meio
capital instalado e seu custo de substituição. de troca, reserva de valor.)

Teoria quantitativa da moeda: Abordagem que enfatiza que Unidades de eficiência do trabalho: Mensuração da força de
as variações da quantidade de moeda levam a variações do gas- trabalho que incorpora tanto o número de trabalhadores quanto
to nominal. a eficiência de cada trabalhador.

Teorias de portfólio da demanda por moeda: Teorias que ex-


plicam a quantidade de dinheiro que as pessoas optam por man- Valor adicionado: O valor da produção de uma empresa me-
ter, e que ressaltam o papel do dinheiro como reserva de valor. nos o valor dos bens intermediários que a empresa adquiriu.
(Cf. teorias transacionais da demanda por m:oeda.)
Valor imputado: Estimativa do valor de um bem ou serviço que
Teorias do salário de eficiência: Teorias da rigidez do salário
não é vendido no mercado e que, por isso, não tem um preço
real e do desemprego, segundo as quais às empresas aumentam
de mercado.
a produtividade do trabalho e os lucros ao manterem os salári-
os reais acima do nível de equilíbrio.
Valor presente: Montante atual que é equivalente a um
montante a ser recebido no futuro, levando-se em conside-
Teorias transacionais da demanda por moeda: Teorias que ex-
ração os juros que podem se r obtidos durante o intervalo de
plicam a quantidade de dinheiro que as pessoas optam por
manter, e ressaltam o papel do dinheiro como meio de troca. tempo.
(Cf. teorias de portfólio da demanda por moeda.)
Valorização: Ação empreendida pelo banco central para au-
Título: Documento que representa uma dívida que paga juros mentar o valor de uma moeda sob um sistema de taxa de câm-
do emitente, em geral uma empresa ou o governo. bio fixa. (Cf. desvalorização.)

Trabalhadores desencorajados: Pessoas que deixaram a força Variável endógena: Variável que é explicada por um modelo
de trabalho porque acham que há pouca esperança de conse- específico; variável cujo valor é determinado pela solução do
guirem um emprego. modelo. (Cf. variável exógena.)

Trabalho em processo: Bens em estoque que estão em proces- Variável exógena: Variável que um modelo qualquer considera
so de finalização. dada; variável cujo valor independe da solução do modelo. (Cf.
variável endógena.)

União monetária: Grupo de economias que decidiram partilhar Velocidade da moeda: A razão entre gasto nominal e a oferta
uma moeda comum, e assim ter uma política monetária comum. monetária; a taxa à qual a moeda troca de mãos.
~

INDICE

Números de páginas seguidos de f indicam figura; números de páginas seguidos de n indicam notas de
rodapé; números de páginas seguidos de t indicam tabelas.

A Ano-base, preços do, 16 Bali, Laurence, 116n , 244n, 253n, 254n,


Anseios, dupla coincidência de, 54 345n, 249n
w. Anuidades, 309 Bancos centrais. Veja também Sistema dn Federal
ill Ações, mercado de, 320
Acordo de Livre Cnmércio Norte-Americano Apertos de crédito, 3 23 Reserve ( Fed), 56
:·I (NAFTA ), 227 Aprender fazendo, fenômeno, l 4 7 alvo de inflação pelos, 271
i Acumulação de capital, 12 3-131 Argentina hiperinflação na Alemanha e, 71
eleitos de poupança sol,re o crescimento e, hiperinflação em, 70 independência dos, 273-274, 2 73f
'1ti,.
129-131, 129[ preço do Big Mace taxa de d.mbin de, 95t Barro, Robert J., 44n, 151 n, 2 76n, 287
estado estac ionário e, 125, 126[ Armadilha da liquidez, 209 Barsky, Robert B., Zün, 6411, 24 ln
exemplo n uméric11 de abnrdagem de estado Armazenamento de trabalho, 346 Base monetária , 332
estacionário e, 126-129 Armênia, inflação e taxa de juros nominal na, 63f Batrnlio, Raymond .C., .35011
exemplo numérico de abnrdagem de estadn AS. Ve1a Oierta agregada (OA); Curva de oferta Baum, L. Frank, 68
esrncionário e, 1281 agregada Baumol, William, 336
nterrn e demanda de bens e. 124 Ataques Beil, Richard O., 350n
AD. Veja Demanda agregada (DA) ; Curva da especulativos, 2 30 Bélgica, dívida dn governo na , 279t
demanda agregada terrmistas, choques devidos a, 199 Benjamin, Daniel K .. 44n
Administração de caixa, mnclelo Baumol-Tobin Atividades bancárias. Veja t{lmbém Bancos Bens
centrais; Sistema do Federal Reserve (Fed) e :,;erviç0s
de, H6. H7f. 338[
Adnlescentes, desempreg,, enrre , 111 colapso de bancos na década de 19 30 e, .3J3 bens nMmais, 303
criação da moeda por bancos e, 331 compras de . Veja C,msumo; Compras do
África do Sul
descnl,errn de oun, na, 68 crises l,ancárias e, 323 governo
reserva demanda p,,r. Veja Demanda
preço do Big Mac e taxa ele câmbio da , 95t
de 100%, 331 diversidade de, nn PIB, 14
Ajuste(s)
fracionári·~, 3 31 equilíbrio em mercado de , 41
de custo de vida (COLAs), 23
Ativos fluxo internacional de, 77-80
sa:onal, 2ô
de capital intermediários, no PIB, 15
Akerlof, Ge,uge A. , 69n, 348n
deprec iaçào de. Veja Depreciação oferta de. Veja Oferta
Alasca, descol,erra de nurn n n, 68
dívida do governo e, 282 pnidução de. Veja Capital; Preços de
Alemanha
depreciação de. Veja Depreciação fatores; Fatores de produção; Trabalho
banco central da, 2 7 3
dominados, 333 usados, no PIB, 14
crescimento
Aumento de compras do governo, 18 1[ normais, 303
econômico da. 128
ropulacicmal e renda per capim na , 139[ Austráli a Bernanke, Ben S., 204n, 271 n, 32 3n
descoberta do ouro na, 68 Bernheim, B. O<iuglas, 28611, 288n
dívida do governo na, 279t
dívida dn governo na, 279, 279t Berry, T.S., 280n
hiperintlação na , 5.3, 71, 72f, 93, 93f
importações e exportações como percentual , preço do Big Mace taxa de câml,io da, 95t Blanchard, Olivier Jean, 25411, 348n, '150n
Ausrria, dívida do governo na, 279c Blinder, Alan S., 66n, 165n, 35 1. 352, 35211
dn PIB na, 78f
inflação A versão ao ri.scn, 6 7 Bolívia, hiperinflação na, 70
e expansão monetária na, 60f Brasil
e taxa Je juros nominal na, 63f B crescimento ropulacional e renda per capita
preço do Big Mac e taxa de câmbio da, 9 5t no, 139[
taxa Baby-boom, geração, desemprego entre, 115 inflação e expansão monetária, 60[
de câmbio entre Estados Unidos e, 93, 93f Balança comercial, 78-79, 79c preço do Big Mac e taxa de câmbio, 95t
de investi mento e renda per capita na, l.30f demanda por investimento e, 83, 84f taxa de investimento e renda per capita no,
Alesina, Alberto, 269n, 273n, 274n polírica(s) 130[
Altonji, Joseph G., 345n comerciais e, 91, 9lf Brown, Charles, 111 n
Alvo de inflação, 2 71 fiscal externa e, 8 2-83, 83f Brown, E. Cary, 20411
América Latina, inadimplênc ia de dívida da, 291 fiscal interna e, 82, 82f Brumberg, Richard, 306
Ando, Albert, 306, 309n taxa(s) Bryan, William Jennings, 68
Angeletos, George-Marios. 3 I3n de câmbio reais e, 86, 88f Buchanan, James, 290
Angell, N orman, 55n de juros internacional e. 81, 82f Bulgária, inflação e expansão monetária na, 60f
Angola, inflação e expansão monetária em, 60[ Balanço patrimonial, 331 Bulow, Jeremy !., 114n
ÍNDICE 37}

Bush, George H . W ., 3, 85, 280 Ciclos econômicos. Veja também Depressões; Costa do·Marfim
Bush, George W., 3, 183, 280, 281. 286, 292 Oscilações econômicas; Grande Depressão; crescimento populacional e renda per capita
Recessão, 163 na, 139[
e dívida do governo e, 282 taxa de investimento e renda per capita na, 130[
economia neokeynesiana e. Veja Economia Council of Economic Advi.sers , 261
Cagan, Phillip, 75n neokeynesiana Credibilidade, para acabar com a hiperinflação, 76
Camarões, crescimento populacional e renda per políticos, 268 Crédito fiscal
capita em, 139{ reais. Veja Teoria do ciclo real de negócio de investimento, 320
Câmbio externo. Veja também Taxas de câmbio; Cigarros como moeda, 54 por rendimento recebido, 111
T axas de câmbip fixas; Taxas de câmbio Cingapura Crescimento
flutuantes; Taxas de câmbio nom inais; Taxas crescimento populacional e renda per capita econômico. Veja cambém Modelo de
de câmbio reais em, 139/ crescimento de Solow
mercado de, 100, 101[ fontes de crescimento econômico em, 158 acumulação de faror versus eficiência da
Ca mpbell,John Y., 292n, 312n inflação e taxa de juros nominal em, 63[ produção e, 15 L
Campillo, Marta, 274n preço do Big Mac e taxa de câmbio de, 95t convergência e, 150
Canadá taxa de investimento e renda per capita do Japão e da Alemanha no pós-guerra, l 28
crescimento populacional e renda per capita em, l30f equilibrado, l 50
no, 139[ Cipotla, Carlo M., 38n fontes de, 156-159
dívida do governo no, 279c Clark, Kim B., 114n poupança relacionada com, 129-131 , 129/
importações e exportações como percentual Clinton, Bill, 3, 85, 112,147,280,292 ,320 redução internacional em, 14 7- I 49, l 4Br
d,) PlB no, 78/ Cmg · propensão marginal a consumir, 38, 39/ populacional, 136-1 39
inflação e exp,insãn monetária no, 60[ Cnhh, Charles, 50 efeit,)S s,,bre ,) modeln de cresc imento de
NAFTA e, 227 COLA · rnst-.of-living allowance (ajustes de Solow, 137, 137[
preço do Big Mac e taxa de câmbio do, 95t custo de vida) , 23 estado estacionário com, 136, 13 7[
taxa de investimenw e renda per capita no, Colosio, Luis Donaldo, 227 renda per capita relacionada com, l 38, U9f
Comércio. Veja tamném Exportações líquidas Crises de dívida
130f equilibrado, 79 asiática, de 1997 a I 998, 228
Canctt i, Elie R.D., 352n
importações e exportações como percentual inad implência latino-americana e, 291
Capital
do PIB e, 77. 78[ mexicana, de 1994 a I995, 227
aumentns de, crescimento econômico e, l 56
termos de. Veja Taxas de câmbio reais Crítica de Lucas, 265
CUSC0S do, l 18
Comitê do Federal Reserve, 56 Crowding-ouc de investimento, 43, 4.3/
demanda por, 36
Compras. Veja Consumo; Compras do governo Crusoe, Rohinson, 343
fluxo internacional de, 77-80
do governo Cruz keynesiana, l 78-18.3
humano, 146
aumento nas, poupança e, 4.3 , 4 3[ compras do governo e, 180, L8 1f
ní,·el
componentes de despesa/gasto e, l 9, I 9t equilíhrio e, 179, 179/, 180[
da Regra de Ouro do. Veja Nível de curva IS e, 194, 195[ gasto planejado e, I 78, L79/
capital dr\ Regra de Ouro demanda relacionada rnm, .39 imposws e, 182, 182{
de estado estacinnárin de. Veja Nível de Comunismo, 3.3 Curto prazo
capital de estadn esta e ionário Cnngressional Budget Office, 26 l curva da oferta agregada a, 169-171, l 69f- l 70f
preço Conselho longo prazo versus, l 64
de aluguel dn, 317/ de Assessores Econômicos, 183 modelo IS -LM nn, 201-203, 203/
.capital e, 318 monetário, 230 Curva
real dn aluguel de, 37 ConsoL,, 44 da demanda agregada (DA), 165-168
prndurn marginal dn, 36 Consumo. Veja também Função de consumo, álgehra de, 213
Card, David, 11 1 297.314 chc,ques de demanda e, 172 , 172/
Cmtcr, Jimmy, 3 como crnnpnnentes de despesa/gastn e, deslocamentos em, 167- 168, 167/
Casaquistão, inflação e taxa de juros nom inal 18-19, 19t equação de 4uantidade como, 166, I 66[
1111, 63[ demanda relacionada com, 38, .39/ inclinação negativa da , 166
CBO · Congressinnal Budget Office hipótese modelo IS-LM e, 200, 20 1, 202[
(Departamento do Congresso dos EUA) , 280, do passeio aleatório, H 1-1 12 de indiferença, 302, .lOZf
28 1,283 da renda permanente de, 309-311 de oferta agregada (OA), 168-171
Cecchctti, Stephen G., 165n do ciclo de vida de, 306-309 a curto prazo, 169-171, 169f-l 70f
Centro de An,ilise Econômica (Bureau of inconsistência de t.empo de preferência e, 312 a lnngo prazo, 168, 168[, I 70-171,
Ecnnomics Analysis), 12 opção intertempornl e. Veja Opção I 70f, 171[
C hade intertcmpnral cht14ues de oferta e, 172, l 73f, l 74f.
crescimento p,,puhicinna l e renda per variações n o, decorrentes de mudanças na 173-175
capita, 139{ renda, 312 derivação da curva de Phillips de, 246-248
taxa de investi mentP e renda per capita no, Conta, moeda c,,mo unidade de , 54 diferenças internacionais em, 244
130, 130f Contabi lidade de Phillips
Chang, Clara, 112 da renda nacional, 13 a curto prazo, 250, 250/
C hile, preço do Big Mace taxa de câmbio do, 95t componentes da renda nas, 20 desinflação e taxa de sacrifício e, 250
China PIB e. Veja Produto interno bruto (PIB) expectativas adaptativas e inércia de
política demográfica na, 138 intergeracional, 28.3 inflação e, 248
preço do Big Mac e taxa de câmbio da, 951 Contas de renda nacional, poupança nas, expectativas racionais e, 252
Choques, l 72 41-43. 42[ forças mudando a inflação e, 248
de demanda, l 72, 172[ Convergência, 150 histerese e, 254
de oferta, 172, 173-175, 173/, 174[, 247,249 Cooper, Russell, 349n inconsistência temporal e, 276-277
causados pela OPEP, 249 Coréia do Sul política monetária e fiscal e, 356
.c urva de Phillips e, 247 crise da dívida de 1997 a 1998 na, 228 IS . Veja i.ambém Modelo IS-LM, 177, 178-186
no modelo IS-LM, 199 déficits comerciais da, 84 álgebra de, 212
tecnológicos, na teoria de ciclo real de fontes de crescimento econômico na, 158 cruz keynesiana e, l 78-183
negócio, 34 5 preço do Big Mac e taxa de câmbio da, 95t em economia aberta grande, 235-238
372 ÍNDICE

interpretação de fundos emprestáveis, determinantes de, 38-41 extensão do problema de, 358
1.84-186, 186/ em equilfbrio. Veja Equilíbrio medição da, 281-284
política fiscal e deslocamentos na, 184, 185/ por capital, 36 orçamentos eq1Jilibrados 11ersus política fiscal
taxa de juros e investimento e, 183, 184/ por fatores de produção, 34-37 ótima e, 289
IS*, 216, 217{ por fundos emprestáveis, 41-43, 42/ processo político e, 290
LM. Veja também Modelo /S-LM, 186-190 por imóveis, variações na, 324, 324/ tamanho da, 279-281, 279f, 280f
álgebra da, 213 por investimento visão
em economia aberta grande, 235, 236/ balança comercial e, 83, 84f ricardiana da, 285-289
interpretação da equação quantitativa de, em economia aberta grande, 102 tradicional de, 284-285
189 mudanças na, 45, 45f Dolarização, 230
política monetária e, 189, i90f, 195, 196/ taxas de câmbio reais e, 90, 90f Dominguez, Kathryn M., 264n
renda e demanda por moeda e, 188, 189{ por moeda. Veja também Sistema do Federal Dornbusch, Rudiger, 7ln
teoria da preferência pela liquidez e, 186- Reserve (Fed); Política monetária, 333 Douglas, Paul, 50
188, 187/, 188/ curva LM e, 188, 189/ Dupla coincidência de anseios, 54
LM*, 216, 2L8f estudos empíricos sobre a, 338
Custo(s) inflação e expansão monetária de, 59, E
da intlação. Veja também Custos sociais da 59{, 60[
inflação, 66 inovação financeira, quase-moeda, e fim Economia(s)
da sola de sapato, 66 de agregados monetários e, 339 aberta(s). Veja Economia aberta grande;
de capical, 318 modelo Baumol-Tobin de administração Modelo Mundell-Fleming; Economia aberta
de hiperinflação, 69- 71 de caixa e, 336, 337[, 338f pequena, 38, 77-96
de inflação. Veja wmbém Custos sociais da taxa de juros nominal e, 64-65 demanda agregada nas. Veja Modelo
inflaçào, '58 teorias Munde!I-Fleming
de menl), 66, 248 de portfólio da, 333 fluxos internacionais de capital e bens e,
da inflação, 66 transacionais da, 336 77-80
de vida, mensuração. Veja Índice de preços ao por trabalho, 3 6f grande, 99-105
consumidor (IPC) Democracy in Deficit (Buchanan e Wagner), 290 Estados Unidos como, 96
hist6riws, 320 Departamento de Estatística do Trabalho fluxo líquido de capital para o
real de capital, .318 (Bureau ofLabor Scatistics), 21, 23, 116, 117!
s,,ciais da inflação, 65-69 exterior, 99, 99/
Depósiros à vista, S6 modelo a curto prazo de, 235-238, 236/
inflação esperada e, 66, 67 Depreciação, 318 modelo de, 100
inflação não-esperada e, 6 7 estoque de capital e, 125
visão do leigo e reação clássica aos, 65 políticas econômicas, 101-103, lOJf
Depressões. Veja também Grande Depressão, 4 regra prática para, 236
Cutler, David M., 284n Desconto, 301
pequena, 80-86
Desempregados, 112, 254
avaliação de política econômica e,
D Desemprego, 106-118, 106{
83-86
determinantes do, 356
demanda agregada em. Veja Modelo
David, Pau l A., 149n duração do, 114
Mundell-Fleming
Da~ of Recknning (Friedman), 291 entre adolescentes, 111
influência de política sobre balanças
Defasagem estrutural, 110-114, llOf
comerciais de, 81-83
enrre implementação e efeicos da política leis do salário mínimo é, 110-112
mobilidade de capital e taxa de juros
~conômica, 262 salários de eficiência e, 113
internaciona l e, 80
externa, 262 sindicatos e negociação coletiva e, 112, 127t
interna, 262 europeu, aumento no, 116, l l 7f modelo de, 81, 82f
Déficits friccionai, l 08-109 taxas de câmbio e. Veja Taxas de câmbio
rnmerciais, 79 política econômica e, 109 fechadas, 38
da Coréia do Sul, 84 nos Esrados Unidos, tendências nos, 115 informais, 16
dos Estados Unidos, 84, 85, 85/ padrões de, 114-1 l.8 moeda e, 333
gêmeos, 8.5 troca com inflação. Veja Curva de Phillips PIB e, 16
nr,;amentários. Veja também Dívida do Desinflação mundial, dívida do governo e, 290
governo, 40 expectativas racionais e, 252 neokeynesiana, 342, 348-352
ajuste cfdico (rlen,, emprego), 282 taxa de sacrifício e, 250 irregularidade de salários e preços e, 350
ciclicamente de ajuste, 283 Despesas/gastos componentes da, 18-19, 19t pequenos custos de menu e extemalidades
de pleno ~mprego. 282 Oi T ella, Rafael, 118n da demanda agregada e, 248
déficit comercial e, 85 Diagrama de t1uxo circular, I 3, 13/, 31, 32/, 41-43 recessões como falha de coordenação e,
taxa de poupança e, 14 5 Dickens, William T., 69n 349, 349f
Det1açi\n, efeitos , 4 Dicotomia clássica, 72 Economistas keynesianos, sohre reduções fiscais
i, desestabilizadores de, 206, 206{ Diferenciais de taxas de juros, 225-228 para estimular a economia, 183
•i
estah ilizadores de, 206 crises financeiras e, 22 7-228 Eduardo III, rei da Inglaterra, 291
! Det1amr do PIB, 16 no modelo Mundell-Fleming, 226, 226f Efeito
1 IPC t•ersus, ZI-2 3, 22f risco-país e expectativas de taxa de câmbio renda, 304, 305
1
Defoe, Daniel, 343 e,225 substiruição, 304, 304!
DeJnng, Douglas V., 350n Dinamarca Eficiência do trabalho, 142
Demanda crescimento populacional e renda per capita Egito
acumulação de capital e, 124 na, 139/ crescimento populacional e renda per capita
agregada (DA), 356 dívida do governo na, 279c no, 139f
e Modelo /S,LM. Veja Curva IS; Modelo preço do Big Mace taxa de câmbio da, 951 taxa de investimento e renda per capita no,
/S-LM ; Curva LM taxa de investimento e renda per capita na, 130f 130/
em economia aberta. Veja Modelo Dívida do governo. Veja também Déficits Employment Act, de 1946, 261
Mundell-Fleming orçamentários, 278-293 Empregados, 112, 254
de investimento em economia aberta dimensões internacionais da, 290 Empresas
grande, 103/ efeitos sobre a pol.ítica monetária, 290 competitivas, tomada de decisões, 33
ÍNDICE 373

delocação,317 importações e exportações como percentual preços de, 33, 34f, 3 7


de produção, 31 7 do PIB nos, 78f Fazzari, Steven M., 322n
decisões competitivas confrontando, 33 inflação e expansão monetária nos, 60/ Federal Open Market Committee (FOMC), 56,
demanda por fatores, 34-3 7 inflação nos, 4, 5f, 93, 93f, 248, 249f 200,272
estoques de. Veja Estoques; Investimento em e taxa de juros nominal nos, 63f Feldstein, Martin, 290
estoques movimento da Prata Livre nos, 68 Felicidade, segredos de, 118
investimento econômico fixo e. Veja NAFTA e, 227 Finlândia
Investimento fixo negociação coletiva nos, 112 crescimento populacional e renda per capita
produção por. Veja Capital; Preços de fatores; PIB real per capita nos, 4, 4f na, 139[
Fatores de produção; Trabalho; Produção política monetária contracionista durante a dívida do govemo na, Z79t
Encaixe monetário real , 58 Guerra Civil Americana e, 171 taxa de investimento e renda per capita na, I30f
Equação população idosa nos, 309 Fischer, Stanley, 61n, 7ln, 240n
Fisher, 61 preço do Big Mac e taxa de câmbio do, 95t Fisher, efeito, 61-64
quantitativa, 57 senhoriagem nos, 61 Fisher, Irving, 61, 63,264,300,309,312
como demanda agregada, 166, 166f sistema de Seguridade Social nos, 145-146 Fleming, J. Marcus, 21 Sn
curva LM e, 189 superávits orçamentários dos, 40 Fluxos, 14
Equilíbrio; 41-4 7 taxa(s) de conhecimento, 147
cruz keynesiana e, 179, l 79f, 180f de câmbio entre Alemanha e, 93, 93f de saída de capital líquido
de curto prazo no mQdelo IS-LM, 201-203, 203f de investimento e renda per capita nos, mudanças do, em economia aberta
de mercado, 9 130, 130f grande, I04f
efeitos da política fiscal no, 43-45 de juros nos, 99-100 líquido de capital para o exterior, 79
mudanças na demanda por investimento e, durante a década de 1990, 209 deslocamentos do, em economia aberta
45, 45/ união monetária. nos, 229 grande, 103, 104[
múltiplos, 349 Estagflação, choques de oferta causados por, 174 mudanças do, em economia aberta
no curto prazo no modelo IS-LM, 190, 191f Estagnação secular, 299, 299f grande, 103
política Estatísticas. Veja também Taxa de desemprego, 25 FMI (Fundo Monetário Internacional), 227
fiscal e, 194 Estoque(s), 14, 326-327 FOMC (Federal Üpen Market Committee),
monetária e, l 95, l 96f como fatores de produção, 3 26 200, 272
no mercado de capital, crescimento do, e estado Força de trabalho. Veja também Desemprego;
de bens e serviços , 41 estacionário, 125, l 26f Taxa de desemprego; Sindicatos e rigide:
financeiro, 41-43, 42[ de trabalho em processamento, 326 salarial, 24
Equivalência ricardiana, 278, 285-289 modelo acelerador de, 326, 327f entrada e saída de, 116, l l 7r
consumidores e impostos futuros e, 286-288 no PIB, 15 Ford Motor Company, 113
lógica básica de, 285 razões para se manterem, 326 Ford, Oerald, 3
visão tradicional da dívida do governo, 289 taxa de juros real e, 327 Ford, Henry, 113
Esgotamento de idéias, redução da produtividade Euro, 229 Formuladores de políticas, desconfiança
internacional e, 148 Europa. Veja também países espec fficos dos, 267
Espanha desemprego na, 116, 117f Forsythe, Robert, 350n
dívida do governo na, 279t felicidade e satisfação na, 118 França
inflação na, 254 Peste Negra na, preços de fatores e, 3 7 crescimento populacional e renda per capim
preço do Big Mace taxa de câmbio na, 95t união monetária na, 229 na, 139[
Essay on the Funding System (Ricardo). 288 Evitação do esgotamento do estoque, 326
Estabilização dívida do governo na , 279t
Ex ante, taxa de juros real, 63 importações e exportações como percentual
desejabilidade de, 358 Ex post, taxa de juros real, 63
orçamentos equilibrados e, 289 do PIB na, 78f
Exigências de reserva, 333 inflação e taxa· de juros nominal na, 6 3[
Estabilizadores automáticos, 262 Expectativas
Estados Unidos preço do Big Mac e taxa de câmbio da, 95r
adaptativas, curva de Phillips e, 248 taxa de investimento e renda per capita
alvo de intlação nos, 271 crítica de Lucas e, 265
banco central dos. Veja Sisrema do Federal na, 130f
de mudanças na taxa de câmbio, diferenciais Friedman, Ben, 291
Reserve (Fed)
da taxa de juros e, 226 Friedman, Milton, 59, 205, 243f, 247, 261. 270,
choques em 2001 nos, 199
racionais, desinflação e, 252 300,309,310,347
como economia aberta grande, 96
Exportações Froot, Kenneth A., 94n
contabilidade intergeracional nos, 283
como percentual do PIB, 77, 78f Fuga de capital, 291
crescimento
líquidas, 78 Função,9
do PIB real nos, 163, 163f
populacional e renda per capita nos, 139/ componentes de despesa/gasto e, 19, l 9r de consumo, 38, 39/, 297-300
curva de Phillips para os, 25 3, 253t no modelo Mundell-Fleming, 216, 217f conjecturas de Keynes sobre, 297, 298f
défkits Externalidades tecnológicas, 14 7 demanda de bens e, 124
comerciais nos, 84, 85, 85f estagnação secular e, 299
orçamentários. Veja Déficits orçamentários F sucessos empíricos iniciais, 298
.desempenho h istórico da economia· dos, 4, de demanda por moeda, 58
4f, 5f Fair, Ray C., 264n de perda, 2 76
desemprego nos, 4, 5f, 115 Falha de coordenação, recessões como, 349, 349f de produção, 32
dív ida do governo nos. Veja Dívida do Fatores de produção. Veja também Capital; Cobb-Douglas, 50-51
governo Acumulação de capital; Trabalho, 32 oferta de bens e, 124, 125[
economia sob presidentes republicanos e acumulação de, eficiência de produção produto marginal decrescente e, 35, 35f
democratas nos, 268, 26St versus, 151 de produção Cobb-Douglas, 127,318
estabilidade da economia durante a década de aumentos nos, crescimento econômico e, 156 Fundo Monetário lncernacional (FMI), 227
1990, 266, 266t demanda da empresa por, 34-37 Fundos emprestáveis
fontes de crescimento econômico nos, distribuição da renda n acional para. Veja curva IS e, 184-186, I86f
158, 158t Teoria neoclássica de distribuição mercado de, 100, 101/
Grande Depressão nos, 263, 264f estoques como, 326 oferta e demanda de, 4 l-4 3, 4Zf
374 ÍNDICE

G Histerese, 254 dívida do governo e, 281


Holanda, dívida do governo na, 279t esperada
Gastos Hong Kong, fontes de crescimento econômico custos sociais da, 66
efetivos, 178 em, 158 renda e, 206/, 207
em diagrama de fluxo circular, 13, 13[ Horizontes de tempo, 164-165 exagero de IPC, 23
planejados, cruz keynesiana e, 178, 179[ Hubbard, R. Glenn, 322n intercâmbio com desemprego. Veja Curva de
totais, PIB como, 12 Hungria, preço do Big Mace taxa de câmbio da, 95t Phillips
Geórgia, expansão monetária na, 60f Hurd, Michael, 309n moeda, preços e, 58-60
Goldfeld, Stephen M., 339n NAIRU e, 248
Gordon, David, 276n 1 não-esperada, custos da, 67
Gordon, Robert J., ZS2n nos Estados Unidos, 248, 249[
Governo, dívida do. Veja Déficits orçamentários; ldentidade(s), 57 taxas
Dívida do governo da contabilidade da renda nacional, 18 de câmbio nominais e , 92, 93f
Grã-Bretanha. Veja Inglaterra; Reino Unido Ignorância, crítica de Lucas e, 265 de juros e, 61-64
preço do Big Mace taxa de câmbio da, 95t Importações como percentual do PIB, 77, 78f Infra-estrutura, 146
Grande Depressão lmposto(s) Inglaterra. Veja também Reino Unido
análise de modelo IS-LM, 204t-205t, 203-208 cortes para estimular econpmia, 199 dívida de, governo da, 291
causas da, 265, 347 curva IS e, 195, 196[ Inovação financeira , 339
erros de previsão, 263 de renda de pessoa jurídica, 320 Instinto animal, 199
falta de antecipação da, 264[ déficits comerciais e , 84, 85 Intermediação financeira, 332
função de consumo durante, 299 dívida do governo e, 281 Intermediários, 32.3
hipótese equivalência ricardiana e, 286-288 lnvest imento( s), H 7-32.1
de gasto da, 203 hiperint1ação e, 70 componentes de despesa/gasto e, 18-19, l 9t
monetária da, 205, 106[ hipótese de renda permanente .e, 310 crowding out de, 43, 43[
possibilidade de recorrência , 207 inflacionário, 53, 60, 336 curva IS e, 183. 184[
redução da produtividade in ternacional e, 148 investimento e, 320 de equilíbrio, 136
Gray, Jo Anna, 240n em residência, 325 definição, 19
Grécia redistribuição intergeracional de carga fiscal demanda
dívida do governo na, 279t e, 289 por, mudanças na, 45, 45f
senhoriagem na, 61 redução relacionada cnm, 38, 40f
Greenbacks, 171 de, e poupança, 45 distribuição, 146
Greenspan, Alan, 267, 272, 290, 139 para estimular economia, 183 em capital fixo privado, 316
Griliches, Zvi, 153n taxas de juros e, 40 custo de capital e, 318
Guerra. Veja uimhérn guerras específicas Inconsistência temporal determinanres de , 319, .3 l9f
Civil Americana e política monetária curva de Phillips e, 276-277 impostos e, 320
i contracionista, 171 de política discricionária, 269-270 preço de aluguel do capital e, 317, J l 7f
1 da Revolução Norte-Americana Indexação, 67 em estoques. Veja também Estoques, 31 3n
1
. díl'ida do governo e, 280[ Índ ia em residência, 316, 323-326
' 1·
senhoriagem e, 61 crescimento populacional e renda per capiw equilíbrio de estoque e oferta de fluxo e,
de Secessão e dívida do governo, 280f na, 139[ 32 3, 324[
senhmiagem e, 61 taxa de invest imento e renda per capita na, impostos e, 325
taxas de juros e, 44, 44f variações na demanda por imóveis e,
l30f
324, 324[
lndicadnres econômicos
esmque de capital e, 125
H básicos, 26 3
externo líquido, 79
mercado de ações corno, 321. 322[
fixo
Hat>iração Índice(s)
mercado de ações e q de Tobin e, 320
investimento em. Veja Investimento em de indicadores econômicos básicos, 263
resrtiç<'íes ª" financiamento e, n2
residência de preços. Veja também Índice de preços ao
líquidó, 319
no PIB, 15 consumidor (IPC); Deflator do PIB, 21
modelo neoclássico de, 316-328
Hall , Robert E., l07n, 15 ln, 3 l], 312, 320n ao consumidor (IPC), 12, 21-23
IPC. Veja Índice de preços ao consumidor (IPC)
Hami lton, Alexander, 270. 278 deflator do PIB versus, 21- 23, 22f
Irlanda
Hamilton, James D., 175n exagero da intlaçãn por, 23
dívida dn governo na. 279c
Hayashi, Fumio, 321 n preço da cesta de bens e, 21 inflação em, 25 4
Herança , 287 Laspeyres. Veja wmbém Índice de preços an Israel
Hesron, Alan, L39n consumidor (IPC) crescimento populacional e renda per capita
Hicks, John R., 177n Indonésia em, 139f
Hiperintlação, 53, 61 , 69-72 crescimento populacional e renda per capita hiperinflaçfü, em , 70
causas da, 71- 72 na, 139f preço do Big Mace taxa de câmbio de, 95t
!·, credibilidade para acabar com, 76 crise da dívida de 1997 a 1998 na, 228 taxa de investimento e renda per capita
'1· ·
custos da, 69- 71 preço do Big Mac e taxa de câmbio da, 95t em, L30f
i'
!• Hipotecas, tamanho de, 325 taxa de investimento e renda per capita na, 130:f Itália
Hipótese Inflação. Veja também Deflação; Desinflação; crescimento populacional e renda per capita
da renda permanente, 309- 311 Hiperinflação, 53 na, 139f
implicações da, 310 benefício da, 68 dívida do governo na, 279, 279t
da taxa natural, 254 custo da. Veja também Custos sociais da importações e exportações como percentual
do ciclo de vida, 306-309 inflação, 358 do PIB na, 78f
implicações do, 307, 308[ custos sociais da. Veja Cusros sociais da inflação na, 254
do gasto da Grande Depressão, 203 inflação e taxa de juros nominal, 63f
do passeio aleatório, 311-312 de custo, 248 preço do Big Mace taxa de câmbio da, 95t
implicações da, 311 de demanda, 248 senhoriagem na, 61
monetária da Grande Depressão, 205, 206[ determinanres da, 356 taxa de investimento e renda per capita na, 130[
ÍNDICE 375

J M de preço rígido, 243


de rigidez salarial, 240, 24 lf
Japão MacCulloch, Robert J., 11811 e demanda agregada, 165
crescimento Macroeconomia DRI (Data Resources lncorporated), 198, 198t
econômico do, 128 lições importantes de, 355-356 econômicos. Veja também modelos
populacion al e renda per capita.n o, 139f questões não-resolvidas de, 357-359 específicos. 6-1 O
declínio econômico durante a década de razões para se estudar, 3-5 estatísticas e, 25
1990, 207 Maddison, Angus, 148n funções e, 7
dívida do governo no, 279, 279t Madison, James, 278 número de , 8
importações e exportações como percentual Mágico de Oz, O. (Baum) , 68 pensamento micmeconômico e, 9
do PIB no, 78/ Malás ia, preço do Big Mac na, e taxa de pressupostos simplificadores e, 7
inflação câmbio, 95t variáveis endógenas e exógenas e, 6, 6f-8f
e _expansão monetária no, 60f Mankiw, N. Gregory, 146n, 151n, 244n, 312n, grande e abrangente , 257 -258
e taxa de juros nominal no, 63/ 348n IS-LM . Veja também Curva IS; C ruz
preço do Big Mac e taxa de câmbio do, 95r Marx, Karl, 33, 150 keynesiana ; Curva LM , 177-192, 194-209
taxa McCallum, Bennett T., 348n álgebra do, 212
de investimen to e renda per capita no, McK inley, W illiam, 68 armadilha da liquidez e, 209
130, 130[ Mecanisrn() de transmissão monetária, 196 choques no, 199
de juros durante a década de 1990 no , 209 Medida como cearia da demanda agregada, 200-203
de poupança nn, 306 de dinheiro efic ácia da política fiscal e monetária e, 214
John, Andrew, 349n ML 56t, 57 equilíbrio no curto prazo no, 190, !91[
Jnh nsnn, Lyndnn, 31 l MZ, 56t, 57 Grande Depressão e, 203-208, 204r-205t
Jnnes, Charles 1. , 15111 , !5Zn M3, 56t, 57-60 no curto pram e no longo pra:o,
Jnrgenson, Dale W., 320n em cadeia do PIB real, l 7 201-203 , 203/
Juros líqu idos na renda nacional. ZO oscilações explicadas por, 194-200
monetária C. 56r, 57
Me io de troca, moeda corno, 54 versão de economia aberta do. Ve;a
K Mercadn(s) Modelo Mundell-Fleming
de ações, 320 macroeconômicos, L98, L98r
Kat:. bwrence F., 10911, 111 , l Un como indicadnr econômico, 321, 1,22/ Mundell-Fleming, 215-233, 218/
KenneLly. Jnhn F.. 183 com nível de preço instável, 231-232.,
de hens no modelo Mundell-Fleming, 216, 217/
Kennickdl, Arthur, 309n 231[, 232[
de trabalho, teoria do ciclo real de negócios
Keynes, Jnhn Maynard, 69,177,178,186,199, d iferenc iais de taxa de juros e, 225-228
e, 344
241. 266,274. 312. 313 mercado de hens e curva IS* e, 216
financeiros, equ ilwrin nos, 41-43, 42/
snr,re funçifo de consum,1, 297, 298/ mercado monerário e curva LM* e, 216, 218/
monetário, no mode lo de Mundell-Fleming,
King. Rn\,ert G., 34 711 política no, 224. 225 t
216, 218/ pressuposto básico <lo, 216
King,Steph enR. , 252n
México taxas de câmbio fixas e, 221 -225, 229-230
Kiyntaki, Nnhuhiro, 348n
crescimenrn populacional e renda per capita
Klennw, Péter J.. 15111 taxas de câmbio flutuantes e, 217-221,
no, 139/ 229-BO
Kochi n , Lev is A., 44n
crise da dívida de 1994 a 1995 no, 227 neoclássico de investimento. Veja taml>ém
Kotlikoff, Laurence J., 28 l
Krueger, Alan, 111 NAFTA e, 227 Investimento füw , 317
Krugman, Paul R., l l 8n, 209n preço dn Big Mac e caxa de câmhin do, 95t Mnd igliani , Franco, 300, 306, 308
Kuwait, intlaçãn e exr ansãn monetária no , 60f taxa de investimen to e renda per capita no, Moeda, 53-57
Ku:n ets, Simon, 299, 308, 310 130, 130/ corrente, 56
Kydla nd, Finn E. , 276n Meyer, Bruce D. , 109n modelo Cagan e, 75-76
Micrneconomiat 9 criação por bancos, 33 1
Miron, Jeffre y A., 20n, 274n custo de reter, 64
L M ishkin, Frederic S., 271 n de alta pntência, 332
Mohilidade de capital demanda por. Veja Demanda por moeda
Laihson, David, 312, 3!3n, 339n
Lei( s) no modelo Mundell -Fleming, 216 economia informal e, 333
da Recei ta de 19 32, 204 taxa de juros internacional e, 80 fiduciária, 54. 55
de O kun , 24, 25/, 247 Modelo(s). Veja Modelos econômicos; modelos funções da, 54
de Reforma Fiscal de 1986, 320 específicos futura
dos Padrões de T rabalho Justns de ! 9 38 (Fair abrangen te , 257-258 modelo Cagan e, 75-76
Labor Standard Act ), 11 0 aceleradnr de im·entárin,, 1, 26, 327/ preços cnrrenres e, 64, 65/
Lenin, Vladimir llich , 69 Baumol-Tobin de administração de caixa, liquidez da, 54
Lilien, Da\'id M. , 116n 336, Bi, B8f na ilha Yap, 55
Liquide: , 54 Ca~an, 75-76 neutralidad e da, 34 7
Littlefield, Henry M., 68n Dara Resources lnrnrporared (DR!), 198, 198r oferta de. Veja Oferta monetária
Locação no PIB, 15 de cresc imento de Snlnw, 123-139, 123r, 142- padrão ouro e. Veja Padrão ouro
Longo pra:o 149, 343, 357 quantidade de , medida de, 56t, 57
curto pra:o versus, 164 acumulação de capital e, 123- 13 l receita de emissão de, 60
curva da oferta agregada em, 168, 168/, cresc imento populacional e, 136- 139, 137f Moeda- mercadoria, 54
170- 171, 170{, 171[ nível de capital da Regra de O uro e, Moffitr, Roberr, 116n
modelo IS-LM no, 201-203, 203f !3!-136 Monetaristas, 270
Lown , Cara, 3.2 3n polít ica econômica e, 144-149 Monetary Hiswry of the United States (Friedrnan e
Lucas, Rohert E., Jr .. 152n, 243n, 244 , 265, 265n, progresso tecnológico no, 14 2-144 Schwartz), 347
345n taxa de poupança e, 306 Mudanças
Lucro(s) , 34 de equilíbrio geral. Veja também Modelos; percentuais, recursos aritméticos pata
.contábil , 3 7 Equilíbrio, 47 trabalhar com, I 7
econômico, 3 7 de oferta agregada setoriais no desemprego nos EUA, 115
na renda nacional, 20 de informação imperfeita, 242 Mulligan, Casey B., 345n
376 ÍNDICE

Multiplicador( es) em equilíbrio. Veja Equilíbrio Peru


de compras do governo, 180 monetária. Veja também Sistema do Federal crescimento populacional e renda per capita
de imposto, 182, 182[ Reserve (Fed); Política monetária, 330-339 no, 139[
monetários, 332 controle da, 330 exportações de estanho do, 70
Mundell, Robert A., 2.15n crescimento de, inflação e desemprego e taxa de investimento e renda per capita no, 130[
Mussa, Michael, ?ln inflação e desemprego e, 356 Pesquisa
durante a década de 1930, 333 e desenvolvimento, microeconomia de, 153
N modelo de, 332 Euro-Barometer, 118
reserva bancária Peste Negra, preços de fator e, 3 7
NAITA (Acordo de Livre Comércio Norre- de 100%, 331 Pererson, Bruce C., 322n
Americano), 227 fracionária e, 331 Phelps, Edmund, 131n, 247
NAIRU - Non-Accelerating Inílation Rate of taxas de câmbio fixas e, 221, 222[ Phillips, A. W., 247
Unemployment ( taxa de desemprego não- Okun, Arthur M., 24n, 183n, 252n Phillips, curva de. Veja rambém Curva de
inflacionária - TDN l. Também conhecida Omã, inflação e expansão monetária em, 60[ Phillips, 246-254
como taxa natural de desemprego), 248, 251 Opção incertemporal, 300-306 derivação de curva de oferta agregada, 246, 24 7
Negociação coletiva e rigidez salarial, 112, 127c otimi:ação e, 302, 303[ PIB. Veja Produto interno bruto (PIB)
Neutralidade da moeda, 73,347 preferências do consumidor e, 302, 302[ nominal
Nevins, Alan, 113 restrição (ões) deflator do PIB e, 16
Newton, Isaac, 153 orçamentária interremporal e, 300, 301/ PIB real versus. 16
Nicarágua, inflação e expansão monetária na, 60[ sobre empréstimo e, 304, .305/ real, 4
I' Nigéria, inflação e taxa de juros nominal na, 63f variação(ões) crescimento nos Estados Unidos, 163, 163[
Nível na renda e, 303, 303[ deflaror do PIB e, 16
de carital na taxa de juros real e, 304, 304f medidas de cadeia de, l 7
da Regra de Ouro, L3 l-136, 132[, 1Bf OPEP. VeJa Organi:ação dos Países E:<p,,rradores per capita, nos Estados Unidos, 4, 4[
descoberta, exemrlo numérico de, de Petróleo (OPEP} PIB nominal versus, 16
il! 133, U4t Operações de mercado aberto, 56, 33 3 Pigou, Arthur, 206
transição para estado esta e innário da Orçamenro(s) Pigou, efeito, 206
Regra de Ouro e, l H. l35f de capital, 2S2 Plnsser, Charles 1., 347n, 348n
1:::
li. de estado estacionário, 125 , 127[ equilibrados, 40 PNB - produto nacional bruto, !9
PNL - produto nacional líquido, 20
!. acesso para, 126-129, 128t política fiscai ótima t•ersus, 2S9
com crescimento porulaci,,nal, Organi:ação dos Países Exportadores de Petrólen Poder
136, 13 7f (OPEP) de compra, paridade do , 93-95
1:.
com rrogresso tecnológico, 14 2-144, choque, causados pela, 247,249 de monopólio de sindicatos e rigidez salarial,
143[, 144! mudanças setoriais causadas pela, l l 5 112. 127t
transição rara estado esrnc ionári<> da redução da rroduri,·idade internacional e, Pnlítita(s)
Regra de Ourp e, ll4, 115[ 147-149 comercial, 91, 91[
de preços Oscilaçôes ecnni\micas. Veja também Ciclos em economia aberta grande, 103, 104[
aumento no . Veja Hirerintlaçãn econômicns; Depress,ies; Grande Depressão; taxas de câmbi o
; instável, modelo Mundell-Fleming wm, Temia do ciclo real de negócio; Recessão, 163/, fixas e, 224, 225[
2:H-212, 23lf, 232f 16 'l-175 flutuantes e, 220, 220[
1
1 Modelo Cagan e, 75 -76 demanda agregada e, 165-168 de esrabili:açào, 172-175, 261-274
red uçã<> no. Veja Deflação hori:ontes de tempo e, 164-165 ath·a -11ersus rassiva, 261-267
de rwduçâp de piem> emprego, 168 oferta agregada e, 168- 171 choques

il
1,1
natural de produção, 168
Nivelamento
da pwduçãn, 326
política de estabili:ação e, l 72- 175
sa~onal, 20
Oswald, Andrew J., 118n
Otimi:ação, 9, 302, 30.3/
de demanda e, 172 , l 72f
deofertae, 173-175, 173/
crític,1 de Lucas da, 265
defasagen·, entre implementação e efeitos
do consumo, 304
j:'
fiscal, 289 Ouro, descoberta e refino de, 6S da,262

n
1:
Nixon, Richard, 3
Nnrdhaus, William, 268n p
papel dns eC()nnmistas na formulação de
política na, 274
previsão econômica e, 263-264
Noruega, dívida do g,wern,> na, 279r
ti Nnte, Federal Reserve , 56
Nova Zelândia
Paa,che , índices. Veja tamhém Deflatnr dn PIB, 21
Padràn( ,ies)
registro histórico da, 265-267
regra versu., critério para condução, 267-27 4
J:i banco central da, 273, 274
discricionária, 267-271
de vida inpmsistênc ia temporal da, 269-270
preço do Big Mac e taxa de câmbio da, 95r caracidade de rrodu:ir e, 356 econômicas. Veja também Política Íiscal;
Reserve Bank da, 271 cnrn·ergência e, 150
11!
Política monetária; Política de
ouro, 54 estahilieação; Política comercial
"I!, o durante a Guerra Civil Americana, 171 análise com mode los macroeconômicos,
·1, internac ional, 222 198, l 98t
Observadores do Fed , 62 Paquistão aval iação, 8.3-86
Oferta, 33 crescimento populacional e renda rer capita norma ,,ersus critério para conduta de,
acumulação de capital e, 124 no, lWf 267-274
agregada (OA). Veja também Economia taxa de investimento e renda per capira no, 130[ para promover o crescimento, 144-149
neokeynesiana, 239-254, 245/, 246/ Paridade do poder de compra, 93-95, 94f questões não-resolvidas relacionadas
curva de Phillips e. Veja Curva de Phillips Parker, Jonathan A., 241n, 31Zn com, 357
modelo Partido Greenback, l 71 fiscal. Veja também Compras do governo;
de informação imperfeita de, 242 Passeio aleatório, 311 Impostos
de preço persistente de, 243 Passivo cruz keynesiana e, 180-182, l8lf, 182[
de rigidez salarial, 240, 24 lf de contingência, 28.3 curva
de bens e serviços, 33 não-contabilizado, dívida do governo e, 282 de Phillips e, 356
de fundos emprestáveis, 41-43, 42[ Perry, George L., 69n !Se, 180-182, 18lf, 182f, 184, 185[, 194
ÍNDICE 377

eficácia da, 214 real do aluguel de capital, 37 marginal a consumir (Cmg), 38, 39f, 297
equilíbrio de curto prazo e, 194 rígidos, 9, 164, 243, 351 , 35lt média a consumir, 298
externa Preferências do consumidor Proporção entre reserva e depósito, 3 31
e balança comercial, 82 -83, 83/ função de consumo e, 302, 302{
e taxas de câmbio reais, 89, 90/ inconsistência de tempo das, 312 Q
em economia aberta grande, 102, 102/ Prescott, Edward C., 276n, 345, 346n
ideal, orçamentos equilibrados versus, 2.89 Previsão econômica, 263-264 q de Tobin, 320,321
interação com política monetária, 196, Primeira Guerra Mundial, dívida do governo e, 280{ Qualidade do trabalhador, redução da
197{. 198 Primeiro relatório sobre o crédito público produtividade internacional e, 148
interna (Hamilton), 270 Quase-moeda, 339
e balança comercial, 82, 82[ Principies of Political Economy and T axation Quênia
e taxas de câmbio reais, 88, 89{ (Ricardo), 288 crescimento populacional e renda per capita
em economia aberta grande, 102, Prisioneiros de guerra, moeda em campos de, 54 no, 139{
102{, 235, 237f Privatização do sistema de seguridade social. inflação e taxa de juros nominal no, 63f
poupança relacionada com, 43-45 145-146 taxa de investimento e renda per capita
taxas de câmbio Problema de identificação, 46, 47f no, 130/
fixas e, 222, 223[ Problemas de erros nas variáveis, 310
flutuantes e, 218, 219[ Processo político
industrial, 14 7 desconfiança do, 267
R
monetária. Veja tamhém Sistema do Federal dívida d,J govemn e, 290
Radford, R. A., 55n
Reserve (Fed); Oíerca monetária, 56 Produção. Veja também Produrn interno bruro
Raff, Daniel M. G., 114n
cnntracinnista, Guerra Civil Atncricana (PIB); Renda nacinna!
Rapping, Leonard A., 345n
e, 171 capacidade para, p.1drãn de vida e, .l 56
Ra:ão
curva da ecunomia, ,1ierta e demanda de, 4 l
moeda-depósito , 332
de Phillips e, 356 eficiência da, acumulação de fator i ·ersus, 151
resen·a-depósito, 332
LM e, 189, 190{, 195, l 96f fatores de. Veja Capital; Preços de fatores;
Reagan, Ronald, 3, 84, 290
efeitos fiscais na, 290 Fatores de produçã,1; T rnbalho
Recessão, 4
efidcia da, 214 nível (natural) Jc plen.1 c•mprego, 168
com,, falha de conrdenação, 349, 349f
em economia aberta grande, 2 36, 2 l8f Produtividade
nos Esradns Unidns, 199
equlií\,m, de curro prazo e, 195, 196f desemprego e, 11 5
Regra para condução de política econf>mica, 267 ,
instrument,1s de , 33 3 n1édü1
270-274
interação com a p,,lírica fiscal, 196, dn capiwl, 51
Reichsbank, 71
197[, 198 dn trah,lhn, 5l
Reino Unido. VeJa também Inglaterra
regras de cnnduçà,1 da, 270-274 reduç.'in internacinn.11 na, 147-149, 148c
total dos fatores, 14 7, 158 crescimento populacional e renda per capita
taxas
n<i, 1 l9f
de câml:,io fixase, 223, 22 3f Produto. Veja wmhJm PIB; Renda naci,m,tl
dívida do g,wern,1 no, 279t
de cámbio flutuantes e, 219, 2 l 9f 111cemn brum (PIB), 12-21
.iltemati\'as parn, 19 guerras e taxas de juros no, 44, 44f
de juros e, 188, 200
cálculn Jn, 14-16 impnrraçi'ics e exportações çnmo percentual
Polc"inia, preçn do Big Mace taxa de câmbio da, 95 t
c,,mpnncntes de desp6a/gastn e, 18-19, l 9r d,1 PIB nn, 78/
População idosa
inllàção e taxa de jurns nominal no, 63f
consumo e pnupança d,i, 109 crescimenw dn. V<?ja Crescimencn
t:cnnl1micn; T t-:tlricl J<1 crescin1cnto
taxa de investimento e renda per capita m,, l .30f
crescimento da, 281
endôgcn<l; Mndeln de crcsc ünentc) de Remuneraçião de empregados em renda
Portugal, dívida dn gnvemn em, 279t
Posen, Adam S., 208n Snlnw nacional. 20
Poupança dctlan>r dn rm
e, 16, 21-2 \ 22{ Renda
curva LM e, l88, 189{
alterandna, 145-146 dcscmpregn e ki de Okun, 24, 25f
crescimenm econômicn e, 129-lll, 129{ itnpnrrnçõcs e expnrr..1ç()es como de lncaçãn na renda nacional, 20
mudanças na, política fiscal e, 43-45 percentual dn, 77, 7Sf de· proprietários na renda nacional, 20
no Japãn, 306 medichs cm cadei.t de, l 7 disponível, 38
nferta e demanda de fund,is emprestáveis e, mudanças de percentual ,: , 17 em diagrama de fluxo circular, 13, Uf
41-43, 42{ nominal. Vej,, PIB m>minal medidas da. Veja também Produto interno
precaucional. 309 m,l. Veja PIB re.il l',rurn (PIB); PIB nnminal; PIB real, 19
privada, 42 renda, g.Nn e t1uxn cirrnhtr e, 1 \, 1\f nacional, 20
púl-ilica, 42 visà(1 distribuição para fatores de produção. V ~Ja
taxa de avaliação da, 144 de gam, tncal dn, 12 Temia nencbssica de distribuição
variação inte rnacional na, 129-1 li, 130f de renda tnral dn, l 2 divisão da, 37
Prara Livre, mm·imentn eh, 68 n1arginc.ll permanente, 309
Prazo, taxas de juros e, 40 decrescente, 35, \Sf pessoal, 20
Preços. Veja cambém Índice de preços an dn capical (PMgK), 36 disp,,ní,·el, 20
consumidcir ([PC); Det1ação; Hiperint1açan; demanda por capirnl e, \6 transitória, 309
Inflação Íunçã,, de produçiin Col:,l,.Oouglas e, 51 variações na, consumo e, 303, 303[, J 12
ano-base, 16 ,li, trabalho (PMgL), 35, "i5f Rentenbank, 71
caindn, hipótese monetária da Grande demanda por capital, 36{ Reperco, Andrea, 3 Un
Depressão e, 206[ funçào de produção Cobl:,-Douglas e, 5 l Republica
de aluguel do capital, 317, .3l 7f nacional bruto (PNB), 19 Democrática do Congo, inflação e expansão
de fatores, 33, 34, 34[, 37 nacional líquido (PNL), 20 monetária na, 60[
dinheiro corrente, futuro e, 64, 65f taxa natural do, aumentn, 357 Tcheca, preço do Big Mac e taxa de câmbio
dos Big Macs, taxa de câmbio e, 94-95, 95t Progresso tecnológico do, 95t
em queda, hipótese monetária da Grande crescimento econôm ico devido ao, 157 Reserva
Depressão e, 205 estimulando, 14 7 bancária
flexíveis, 8, 9, 348 no modelo de crescimento de Solow, 142-144 de 100%, 331
moeda, inflação e, 58-60 Propensão fracionária, 331
378 ÍNDICE

Sistema influência de política nas, 88


de valor, dinheiro como , 54
do Federal Res.erve (Fed), 261 de depreciação, 125, 126f
em excesso, 333
alvo de inflação e, 271 de desemprego, 4, 12, 23-26, 24f
Resíduo de Solow, 157
Grande Depressão e, 34 7 não-inflacionária - TDNL Também
ciclo econômico e, 345, 346!
independência do, 2 73 conhecida como taxa natural de
Restrição
Monetário Europeu, 229 desemprego - NAIRU, 106-108, 248
ao financiamento, 322
de empréstimo, 286, 305 , 305f Slemrod, Joel, 287n estimativas da, 251
de liquidez , 305, 305f Solon, Gary, 241n natural, 106/, 248,251
orçamentárias, 300 Solow, Robert M., 123n, 149, 158n, 248 nos Estados Unidos, 4, Sf
intertempora is, 300, 301f Sorrentino, Constance, 112 PIB e Lei de Okun, 24, 25[
Retornos constantes de escala, 33 Souleles, Nicholas S., 312n variação entre grupos demográficos,
Retornos de escala, constantes, 33 Spiegelman, Robert G ., 11 On 114, 115
Revolução Americana , senhoriagem e, 61 Sprenkle, Case M., 336n de fundos federais , 200
Ricardo, David, 285, 288 Sta iger, Douglas, 251 de inflação, 4
Rigidez salarial e desemprego estrutural. Stock, James H ., 251 nos Estados Unidos, 4. 5f
110-114, llOf Strong, Benjamin, 347 de juros
Risco Substiruição armadilha da liquide: e, 209
de crédito, taxas de juros e, 40 intertemporal de trabalho, 344 curva IS e, 183, 184/
moral, 113 taxa marginal de, 302 diversidade de, 40
Risco-país , diferenciais de taxas de juros e, 225 Suécia efeito Fisher e, 61-63
Rockoff, Hugh, 68n dívida do governo na, 2791 inflação e, 61-64
Rndrigue:-Clare. Andres, 151 n negociação coleriva na, 112 internac iona is, 80, 99-100
R<,goff. Kenneth, 94n preço dn Big Mac e taxa de câmhio da, 95 t mobilidade dn capital e, 80
Romer, Christina D., 266, 34 7 Suíça mohilidade de capital e, 80
Romer, David, 146n, 151n, 244n, 342n, 347n, 349n banco central da, 273 no Reino UnidP, guerras e, 44. 44!
Romer, Paul M., l47n. l52n preço dn Big Mac e taxa de câmhio da, 9 5t nominais, 39, 61
Ross, Thomas W., 350n Summers, Lawrence H. , 114n, 254n, 273n, 288n, demanda e m,,eda, 64-65
Rocemhcrg, Julio, 244n l21n, 346n intlaçã<, e, 62, 62/, 6.lf
Rudd. Jeremy E., 552n Summers, Robert, 139n no século XIX, 6.l
Rússia, preço dn Big Mace taxa de cãmbi,, da, 95r Sumner, Sente, 241n política monetária e, 188
Superávirs reais, 39, 40/, 61
comece ia 1, 79 estoques e, 327
s nrçamentários, 40-4 l <'XQnl<' , 63
taxa de poupança e, 145 <'X pose, 6.1
Sala-i-Martin, Xavier, 15 ln variaçi',e.s nas, consumo e , 304, .l04f
1
Salário de participação da força de rrahalho, 24
de eficiência, 113 T de redesconto, l .l 3
flexíveis, 348 de sacrifício, 2 50
mínimn, 110-112 Tailàndia
marginal Je suhsricuição, 102
real, 36, 36f crise da ,lívida de 1997 a 1998 na, 228
natural de desempreg,', 106-108. 107{
comportamento cídiw d11. 241, 242/ preço do Big Mac e taxa de càmHo da, 95t
estimativas da, 251
concracíclicn, 241 Taiwan natural do produc,,, aumento, l5 7
prncíclico, 241 fomes de crescimencn econômico em, 158
Taylnr, John B., 272. 350n
rigide, do , desemprego estrururnl e, 110- preçn dp Big Mace taxa de câmhi,, da, 95t T ecn t)logia da inÍ<1nnaçãt1, cresc ímennl
114, l lOf Taxa(s) ecnnômicn e, 149
rígidos, 9 de cârn hin, 86-9 5 T corema de Euler, l 7
Sargent, Thomas J , 7 ln, 252 ataques especulativos, conselhos Tenria. Ve;Jú Mndelns eccin()mícns; tcnrias
Satisfaç~o. fomes de, 118 monetárins, e dolarb1çãn !', 2 ,D c~pec íficas
Schwam, Anna J ., 59, 205, l4 7 fixa.s, 221-225 da detlação da d(,·idn, 206
Se.gunda Guerra Muncfoi l comercial e, 22 4. 22 5f da preferência pda li4uidec, 186-188, 187f. l88f
crescimcnt~, ecnné1nü co llP Jc1pãn e Ja determinação da oferta mnncc,\ria por, Je pnrrfúlio de demanda p,,r moeda , 3 l 3
Alemanha depnis da, 128 22 l. 222f d,, ciclo real de ncgôdo, 342-348
dívida do governo e, 280f política çho4ues tecnológicos e, 345
reduçã,J da produtividade internacional fiscal e, 222, 22 lf ecnrn,mia de Rohin,,,n Crnsoe t', 343
e, 148 mnnerária e, 22.l, 22.lf fle xibilidade de salários e preços e, 348
Seguridade S(1cial, 2 l rnxas de câmbio flu tuantes 1·crsus, mercado de trabalho e, 344
reforma da , 145 -146 229-230 neutralidade da moeda e, 347
Seguro flutuantes, 217 -22 1 dn cresci menrn endógeno, 151-15 l
de saúde, 309 pnlítica micrneconomia de pesquisa e
li .
t para idosos, 309 comercial e, 220, 220f desenvolvimenrn e, 15 3
1
Seguro-desemprego, 109 fiscal e, 218, 219[ modelo
i classificação de experiência de, 109 monetária e, 219, 219f básico para, 15 2
Seleção adversa, 113 taxas de câmbin fixa., t ·ersus , 229-230 de dnis setores para a, 15 2
Senhoriagem, 60 informações de jornal das, 87 Geral do Emprego, do Juroe da Moeda (Keynes),
Serviços. Veja Bens e serviços mudanças esperadas nas, diferenças de 177, 178,186,241 ,266,274, 297,342
Shapirn, Matrhew D., 23n, 264n, 287n taxas de juros e, 226 neoclássica de distribuiçãP, 33-38
Shiller, Robert J. , 66, 292n nominais, 86 dec isões que as empresas competitivas
Shimer, Robert, l l6n determinantes das, 92 enfrentam e. 33
Shleifer, Andrei, 288n reais, 86 demanda de fatores pela empresa e, 34-37
Sichel, Daniel E., 339n balança comercial e, 86, 88/ divisão da renda nacional e, 3 7
Silver, Stephen, 24 ln determinantes das, 88, 89/ preços de fatores e, 33, 3 4/, 3 7
Sindicatos e rigidez salarial. 112, 127t e preços do Big Mac, 94-95 quantitativa da moeda, 56r
ÍNDICE 379
l
circulação da moeda e, 57 u Velocidade
dinheiro, preços, inflação e, 58-60 da moeda constante, pressuposto da, 58
funç ão de demanda por moeda e, 58 Uganda de circulação da moeda, 57
pressuposto da velocidade constante e, 58 crescimento populacional e renda per capita renda da moeda, 5 7
renda e, 57 em, 139f Volcker, Paul, 188, 249, 253, 253t, 290
transacional de demanda por moeda, 336 taxa de investimento e renda per capita em,
Termos de comércio. Veja Taxas de câmbio reais 130, 130f w
Tigres Asiáticos. Veja Hong Kong; Cingapura; União monetária, 229
Coréia do Sul; Taiwan Unidade de conta, moeda como, 54 Wagner, Richard, 290
Títulos Uruguai, inflação e taxa de juros nominal no, 63f Washington, George, 270
indexados, 291 Utilidade, 9 Watson, Mark W., 251
junk, 40 Weil, David N., 146n, 151n
municipais, 40 V Weinberg, Stephen, 313n
taxas de juros e preços de, 62 Wilcox, David W. , 23n, 292n
T obacman, Jeremy, 313n Valor Woodbury, Srephen A., 110n
Tobin, James, 320, 333, 336 adicional do PIB, 15
T rabalhadnres corrente, 320 y
desencorajados, 23, 116, ll 7r imputado, PIB e, 15
em tempo parcial. 11 7t moeda como reserva de, 54 Yellen, Janet L. , l 13n, 348n
marginais, 11 7e presente, 30 l Young, Alwyn, 159n
Tral:,alho. \'eja também Desemprego; Taxa de Van Huyck, John V. , ViOn
desemprego; Sindic~rn, ~ rigide: salaria l Variaçôe, sernriais, 108 z
aun1~ntos nn, cre:;cimento e-cúnt1n1ico e. 156 Varhíveis
demanda por, 36f endógenas, 6, 6f-8f Zimbábue
eiic iência do, 142 exógenas, 6, 6f-8f crescimento populacional e renda per capita
Troca, moeda com,, mei<, de, 54 nominais, n em, U9f
T ufte, Edward , 268n reais, 73 taxa de investimento e renda per capita em, 130
...,

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Fone: (OXX!i) 3104-2000- Fax (OXX12) 3!04-2016

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